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ENSAIO

Tessitura investigativa: a pesquisa científica no campo


humano-social

Latif Antonia Cassab


Curso de Serviço Social, Faculdade Estadual de Ciências
Econômicas de Apucarana (FECEA-Paraná)

Tessitura investigativa: a pesquisa científica no campo humano-social


Resumo: Este artigo contextualiza sobre o significado da pesquisa compreensiva para o campo investigativo das ciências humano-sociais.
Enfatiza, em específico, os procedimentos necessários para o desenvolvimento da pesquisa científica, considerando determinados aspectos
e desdobramentos, como requisitos importantes para o êxito na produção de conhecimento. Aborda, de forma sumária, o uso de fontes quali-
quantitativas na captação de dados e o suporte filosófico. A posse do conhecimento sobre processos de pesquisa, além de condição primária
e essencial para o desenvolvimento de atividades investigativas científicas, é o pressuposto para planejar, elaborar e desenvolver um trabalho
investigativo, que se constitua na produção de um determinado saber válido perante a comunidade científica e a sociedade. O conhecimento
sobre pesquisa possibilita ao pesquisador desvelar as práticas sociais que constrói e outras que atravessam o seu fazer profissional,
arraigando a cidadania, em cujos horizontes se contemplam a democracia, os direitos e a construção da paz.
Palavras-chave: pesquisa compreensiva, elementos quali-quantitativos, elementos filosóficos.

Investigative Contexture: Scientific Research in the Human-Social Field


Abstract: This article analyzes the significance of comprehensive research for the human-social sciences. It specifically emphasizes the
procedures needed for the development of scientific research, considering certain factors and consequences as important requisites for
success in the production of knowledge. It briefly addresses the use of qualitative and quantitative sources in capturing data and
establishing philosophic support. The possession of knowledge about research processes, in addition to being a primary and essential
condition for the development of scientific research activities, is necessary for planning, preparing and undertaking research, which is
constituted in the production of a certain knowledge considered valid by the scientific community and society. Knowledge about
research allows the researcher to unveil the social practices that construct and interact with her professional activity, which is rooted to
citizenship, and which contemplates democracy, rights and the construction of peace.
Key words: comprehensive research, qualitative-quantitative elements, philosophic elements.

Recebido em 05.01.2007. Aprovado em 02.04.2007.

Rev. Katál. Florianópolis v. 10 n. esp. p. 55-63 2007


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Introdução produto – que recebe a marca dos condicionantes


sociais vigentes, com fins propostos e objetivos a al-
Os efeitos da globalização da economia, as alte- cançar. Caracteriza-se por um estudo de questões
rações na esfera do Estado nacional, os novos desa- ou focos de interesses muito amplo; manifesto em
fios aos trabalhadores/as da área social e a subsis- procedimentos, interações cotidianas, que no decor-
tência do intuito de arraigar a dimensão da cidadania rer do processo, à medida que o estudo se desenvol-
entre os setores sociais ainda excluídos, redobram a ve, torna-se mais direto e específico. Ou seja, trata-
importância na produção de conhecimentos científi- se de um estudo determinado por um problema.
cos, em patamares que se contemple a democracia, Várias são as razões para determinar uma pes-
a ampliação dos direitos e a construção da paz em quisa, podendo dividi-las em dois grandes grupos: os
tempos de violência. de razões intelectuais e os de razões práticas.
Assim, é muito importante colocar-se com muita A pesquisa é um inquérito ou exame cuidadoso
clareza que discutir a prática social passa, fundamen- para descobrir novas informações ou relações, pos-
talmente, pela questão da pesquisa. Através da pes- sibilitando ampliar e verificar o conhecimento exis-
quisa torna-se possível vislumbrar outros horizontes de tente. É requerida quando não se dispõe de informa-
conhecimento, desvelar outros fluxos de força políti- ção suficiente para responder ao problema ou quan-
ca, permitindo às profissões as atualizações e do a informação disponível está em estado de desor-
contemporaneizações necessárias para fazerem fren- dem, que não pode ser adequadamente relacionada
te às múltiplas questões de ordem social, com as quais ao problema. A pesquisa é importante pelo fato de
se comprometem e que a atravessam em seu fazer. A proporcionar respostas significativas à solução dos
preocupação com este tema pode ser constatada atra- problemas de ordem prática, que são propostos.
vés da realização de vários eventos científicos na área É usual falar em pesquisa mencionando-a como
de pesquisa, promovidos por entidades de categorias simples coleta de dados, no entanto, a pesquisa cien-
profissionais, no decorrer das últimas décadas. tífica pode ser entendida como forma de observar,
O vínculo entre trabalho, pesquisa e ciência tem verificar e explanar fatos para os quais o homem
sido uma tônica do discurso contemporâneo, ressal- necessita ampliar a compreensão que já possui a res-
tando que todos os profissionais que constroem suas peito dos mesmos. A pesquisa supõe curiosidade,
atividades, a partir de uma prática social, que lida criatividade, interrogação, superação da aparência,
diretamente com a interpretação da realidade pelos opção teórica, entre outras coisas.
seus interlocutores, devem ter noções de procedimen- A ação de se propor um projeto de conhecimento e
tos de investigação. empreender as atividades que conduzam a esse co-
Neste sentido, o presente trabalho, através de uma nhecimento é que recebe, comumente, o nome de pes-
reflexão teórica e metodológica, inscreve-se no esfor- quisa, termo que é empregado para designar, também,
ço em apresentar a pesquisa qualitativa e a defesa do o resultado final do processo, isto é, a investigação
emprego dos procedimentos metodológicos, de forma pronta e verbalmente comunicada. Fazer pesquisa é,
acertada, pelos pesquisadores que atuam na área hu- portanto, fazer ciência, ou, em outras palavras, dispor-
mano-social, para a produção de conhecimentos. Acre- se a conhecer cientificamente, com investigações mais
dito que o conhecimento sobre pesquisa e o uso ade- profundas, alguma coisa e efetivar tal intenção.
quado de um suporte investigativo proporcionem ao Possui dois princípios gerais, válidos na investiga-
profissional e pesquisador uma melhor compreensão ção científica, que podem ser assim sintetizados: a
das práticas sociais que constrói, desenvolve, e de ou- relação entre subjetividade e objetividade e sistema-
tras que atravessam o seu fazer profissional, em dire- tização de informações fragmentadas. Indica, ainda,
ção à garantia dos direitos de cidadania, na perspecti- princípios particulares, aqueles que são válidos para
va da democracia e da construção da paz. a pesquisa, em determinado campo do conhecimen-
to, e os que dependem da natureza especial do objeto
da ciência em pauta.
A pesquisa científica Assim, a pesquisa é um procedimento formal, com
método de pensamento reflexivo, que requer um tra-
Medos e incertezas espelham, entre um tamento científico, e se constitui no caminho para se
vértice e outro, conhecer a realidade ou para se descobrir verdades.
a intrínseca relação entre o sujeito que Para Gatti (1998), o grande objetivo da pesquisa
conhece e o fenômeno tem sido responder aos problemas emergentes ao
que procura compreender, investigar. conhecimento humano, compreendendo-os e situan-
Maria Lucia Rodrigues do-os e, preferencialmente, identificando e formulando
possíveis soluções aos problemas que ainda estão por
Pesquisar é desenvolver uma atividade – como vir, antecipando desta forma respostas para solucioná-
um processo, onde a preocupação maior é com o los ou minimizá-los. O que pressupõe política de fo-

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mento dos órgãos que estimulam e apoiam pesqui- pontos de vista dos indivíduos, suas experiências e
sas, constância e continuidade no trabalho, e pesqui- cultura, compreendendo-os não apenas no campo do
sadores dedicados a temas preferenciais por perío- pensamento, mas enquanto um sentimento, materia-
dos longos, caracterizando uma certa especificidade lizado no âmbito prático do cotidiano. Deve, por isso,
em sua contribuição ao conhecimento científico. encontrar meios de checá-los, discutindo-os aberta-
O problema abordado pela mente com os partícipes do
pesquisa qualitativa apresen- processo de pesquisa ou con-
ta-se como um obstáculo, per- Fazer pesquisa é, portanto, frontando-os com outros pes-
cebido parcialmente e de for- quisadores para que possam
ma fragmentada pelos sujei-
fazer ciência, ou, em outras ser ou não confirmados.
tos envolvidos – pesquisador palavras, dispor-se a conhecer Assim, busca-se romper
e pesquisado, através de uma com padrões pré-determina-
análise assistemática. A par- cientificamente, com investiga- dos de pesquisa e propõe-se
tir de uma imersão do pesqui- a investigação da condição de
sador na vida e no contexto e ções mais profundas, alguma vida dos indivíduos, os desafi-
circunstância em que o pro- os que lhes são impostos coti-
blema surge e se desdobra, coisa e efetivar tal intenção. dianamente, considerando os
este vai se definindo e sendo aspectos políticos que perpas-
delimitado, o que requer, do sam por esta construção hu-
pesquisador “[...] contatos duradouros com os infor- mana e social – incluindo não apenas as relações
mantes que conhecem esse objeto e emitem juízos econômicas de seus sujeitos, mas as experiências,
sobre ele”(CHIZZOTTI, 1991, p. 81). hábitos, tradições, maneira de viver ou resistir às trans-
Enunciar problemas requer experiência e formações em suas lutas diárias, permitindo que se
maturação perante uma temática. O problema se avalie a maneira de como essas experiências são ela-
configura como uma questão que não tem uma res- boradas em termos culturais. Assim, “[...] a história
posta plausível imediata ou evidente, assim sendo, é objeto de uma construção cujo lugar não é o tempo
necessita-se de esforços específicos, metódicos na homogêneo e vazio, mas um tempo saturado de
obtenção de respostas. Desta forma, o início de um ‘agoras’” (BENJAMIN, 1994, p. 229).
procedimento investigativo parte de um problema Neste fazer, privilegia-se a concepção de que os
adequadamente formulado, cientificamente exeqüível, homens fazem sua própria história – e, conseqüente-
pela via dos procedimentos eleitos, coerente com a mente, a sabem contar muito bem! – enfatizando a
natureza da abordagem pretendida e disposto em uma transmissão pela oralidade, seja através das canções,
perspectiva de análise (GATTI, 2002, p. 57). cantos populares, poesias, como também pinturas,
Os dados coletados, obtidos nessas pesquisas, são fotografias, festas e outros acontecimentos comemo-
colhidos em situações onde os sujeitos da pesquisa tran- rativos, denotando, nos meandros das escolhas e sig-
sitam e constroem sua vida – onde os modos de vida, nificados, o caráter político da vida (FENELON, 1995).
as culturas, as experiências eclodem. Neste processo, Como toda ação humana, o fazer pesquisa quali-
os registros dos dados são analisados, geralmente por tativa não exclui dos sujeitos da pesquisa – pesquisa-
um processo indutivo (raciocínio em que de fatos par- dor e pesquisado – o caráter político de suas ativida-
ticulares se tira uma conclusão genérica), rico em des- des, pois não existe neutralidade política. Ao contrário,
crições de pessoas, situações, acontecimentos; inclu- o fazer pesquisa qualitativa é um exercício político,
indo transcrições de entrevistas e de depoimentos, fo- encharcado de intencionalidades. Segundo Martinelli
tografias, desenhos e extratos de vários tipos de docu- (1994), ao produzirmos o desenho da pesquisa e ao
mentos. Os dados qualitativos expressam descrições elegemos os prováveis sujeitos que dela participarão,
minuciosas de situações, acontecimentos, sujeitos, ex- temos como referência um projeto político singular, que
periências, atitudes, crenças e pensamentos; e podem se conecta a projetos mais amplos, e que pode estar
contar com fragmentos ou passagens completas de referido ao projeto de sociedade que defendemos.
documentos, correspondência, registros. Neste sentido, o contato direto com o sujeito da
O pesquisador mantém um contato estreito e di- pesquisa é condição sine qua non para captar a per-
reto com a situação onde os fenômenos ocorrem. cepção que ele detém sobre sua vida e os aspectos
Ao considerar os diferentes pontos de vista dos sociais que a engendram; bem como para não
indivíduos, os estudos qualitativos possibilitam ilumi- desconectá-lo de sua estrutura, “[...] buscando enten-
nar o dinamismo interno das situações, geralmente der os fatos, a partir da interpretação que faz dos mes-
inacessível ao observador externo. Os significados mos em sua vivência cotidiana” (MARTINELLI, 1994,
impressos pelas pessoas às coisas e à sua vida de- p. 14). O resultado das ‘falas’ e observações feitas
vem ser focos de atenção do pesquisador, o qual pre- pelo pesquisador não pode ser produto de um sujeito
cisa de acuidade com suas percepções, ao revelar os postado fora das significações que os indivíduos atri-

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buem aos seus atos; mas deve expressar o desvelamento O pesquisador, através da abordagem qualitativa,
do sentido social que os indivíduos constroem em suas investiga seqüências importantes de eventos como
interações cotidianas (CHIZZOTTI, 1991). testemunha-chave e, particularmente, observa como
O exercício de pesquisa pela via qualitativa, para esses eventos são determinados no contexto em que
Martinelli (1994), subentende alguns pressupostos. ocorrem, com predomínio da história e da cultura.
Primeiramente, o reconhecimento da singularidade O qualitativo-quantitativo tem como diferença sua
do sujeito que se expressa e, como conseqüência, o natureza epistemológica: enquanto as abordagens de
segundo pressuposto trata da importância em conhe- áreas como exatas trabalham com equações, esta-
cer a experiência social do sujeito e não apenas a tística e outros instrumentos quantificáveis, apreen-
sua circunstância de vida – a qual se expressa, por dendo os fenômenos, objetos de pesquisa, em “[...]
exemplo, pelas condições materiais, diferentemente sua região visível, ecológica, morfológica e concreta,
do que é dado pelo modo de vida, que expressa a a abordagem qualitativa aprofunda-se no mundo dos
forma como é ela engendrada a partir, principalmen- significados das ações e relações humanas, um lado
te, da inserção em uma dimensão cultural. O que não perceptível e não captável em equações, médias
conduz ao terceiro pressuposto: o conhecimento da e estatísticas” (MINAYO, 2000, p. 22).
experiência social do sujeito, a qual deve ser apreen- Porém, os universos dos dados qualitativos e quan-
dida pelo pesquisador, valendo-se das metodologias titativos não se opõem, mas antes se complementam,
compreensivas, para conhecer os significados atri- pois a realidade expressa por eles interage dinamica-
buídos pelo sujeito à sua trajetória de vida. mente, excluindo qualquer dicotomia.
A pesquisa qualitativa surge contrapondo-se à Muitos têm sido os equívocos conceituais sobre
forma positivista de conhecer e produzir conhecimen- as posturas epistemológicas, os procedimentos
tos – reconhecidos como objetivos e científicos e que metodológicos, os instrumentos e as análises dos da-
buscam, nos fenômenos em estudo, as leis de causa dos, no âmbito da pesquisa qualitativa e quantitativa.
e efeito ou relações funcionais deterministas – para Um dos equívocos, que considero como o mais
o âmbito das ciências humano-sociais. sério, pode ser cometido na relação do pesquisador
Advoga a pesquisa compreensiva, que o cenário frente ao rigor científico. Na tentativa de sustentar
humano-social é constituído pela complexidade, por a veracidade dos dados e sua análise, confrontando
contradições existentes nos fenômenos e permeado a crueza da objetividade versus subjetividade, muitos
pela imprevisibilidade e originalidade das relações pesquisadores procuram ‘mesclar’ os instrumentos
interpessoais e sociais, necessitando de uma no processo de pesquisa, sem a devida adequação
especificidade epistemológica e, conseqüentemente, epistemológica. Transportam técnicas que permitem
metodológica ao fazer ciência. No entanto, ao con- a quantificação com outros procedimentos que vi-
trapor-se ao modelo de estudos pautado pelas ciên- sam explicitar fatos e emitir previsões, provenientes
cias físicas e naturais, apropriado pelo campo das da tradição positivista – a qual defende uma lógica
ciências humano-sociais, é necessário conhecer, mi- formal e neutra, considerando a realidade exterior
nimamente, sua origem e desdobramentos. Para re- ao indivíduo e a apreensão de um fenômeno de
matar, recorre-se às palavras de Gatti (2002, p. 47): forma fragmentada – com outros estatutos
“Tudo isso corresponde a uma construção histórica, epistemológicos no desenvolvimento da pesquisa. Ou
que se mostrou possível e talvez até necessária em seja, imprime uma conduta formal, neutra, objetiva
certo contexto da civilização ocidental”. no momento empírico da investigação e confronta o
material colhido com outros embasamentos teóricos,
filosóficos que traduzam outras maneiras de
O Elemento quali-quantitativo pesquisar o social.
Tal condição não permite que o resultado da pesqui-
A pesquisa qualitativa tem como preocupação um sa alcance uma coerência, uma veracidade, pois os da-
nível de realidade que não pode ser quantificado – a dos colhidos e as análises realizadas, tendo como supor-
compreensão e a explicação da dinâmica das rela- te um constructo teórico diferente dos que foram utili-
ções sociais, as quais, por sua vez, são depositárias zados no manejo da técnica, são incompatíveis.
de crenças, valores, atitudes e hábitos, A opção do pesquisador e a consistência teórica
correspondendo a um espaço mais profundo das re- que embasa a utilização do método são fundamentais
lações, dos processos e dos fenômenos. à construção de conhecimentos e à sua validação.
Enfatiza-se a vivência, a experiência, a A pesquisa desenvolvida com os princípios da tra-
cotidianidade e também a compreensão das estrutu- dição positivista faz do processo investigativo uma
ras e instituições como resultados da ação humana experimentação: através de uma lógica hipotética-
objetivada, o que faz das práticas sociais, da lingua- dedutiva, busca-se a veracidade ou não das hipóte-
gem e outros aspectos da vida social, aspectos ses pela via da dedução matemática.
inseparáveis um do outro. Segundo Baptista (1994, p. 20),

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Os dados são visto como coisas isoladas, aconteci- processo de pesquisa, ora para designar as técnicas
mentos físicos captados em um instante de obser- usadas em pesquisa.
vação. Os fenômenos são os sensíveis e aparentes Os termos qualitativo e quantitativo devem ser
e tem significados os mais constantes e freqüentes, empregados para diferenciar técnicas de coleta ou
cujas variáveis são controladas e/ou manipuladas tipo de dados obtidos, diferente das denominações
para explicar os problemas analisados. A coleta de empregadas para determinar o tipo de pesquisa – é
dados é acumulativa e linear, a freqüência de inci- importante distinguir entre o método de abordagem e
dências é controlada e mensurada, a analise é feita os procedimentos de investigação e análise. Entre
mediante correlações estatísticas. A avaliação do eles deve haver coerência, mas, sobretudo, há que
processo de conhecimento se dá a partir de critérios se deixar claro quais são o método e as técnicas ade-
de representatividade probabilística da amostra e dos quados ao problema a investigar.
dados, pela pseudo objetividade e neutralidade do Neste sentido, a flexibilidade é essencial a este
pesquisador, pela separação entre fato e valor (neu- fazer, pois “Para desenvolver esta flexibilidade, com
tralidade axiológica como principio metodológico). competência, é preciso, no entanto, que se exercite o
O pesquisador descreve e prediz. pesquisar, que se partilhe os problemas e dúvidas, os
impasses” (GATTI, 1998, p. 36). A combinação ade-
Contrários a tais pressupostos, os paradigmas da quada de formas metodológicas enriquece e ilustra
pesquisa qualitativa afirmam que a realidade é uma muitíssimo um trabalho de pesquisa.
construção social, realizada por sujeitos partícipes desta
– inclusive o pesquisador, que não está alheio à vida.
Os fenômenos são compreendidos a partir de uma O elemento filosófico
perspectiva social histórica, ou seja, a origem e as con-
seqüências, bem como os seus desdobramentos são No âmbito da pesquisa qualitativa, em uma trajetó-
frutos de uma relação social histórica entre os sujeitos ria histórica, algumas são as orientações filosóficas que
que constroem a sociedade e a vida a cada dia. subsidiam a produção do conhecimento. Das consti-
O objeto não se reveste de tuições filosóficas, uma que
neutralidade e inércia, mas en- considero importante refere-se
contra-se encharcado de sig- O uso da abordagem ao materialismo dialético – por
nificados e relações com o priorizar a dinâmica das rela-
meio no qual está inserido, é dialética possibilita não só ções entre sujeitos e objeto de
determinado e determinante. A abarcar o conjunto de rela- estudo no processo de conhe-
metodologia qualitativa busca cimento, valorizar os vínculos
apreender, do objeto, seus as- ções que constrói o modo de do agir com a vida social dos
pectos específicos e aconteci- homens e desvelar as oposi-
mentos no próprio cenário em conhecimento exterior ao ções contraditórias presente
que ocorrem, e “Deixam a ve- entre o todo e as partes. Neste
rificação das regularidades sujeito, mas também as re- sentido, a dialética considera
para se dedicarem à análise que o objeto de pesquisa deve
dos significados que os indiví- presentações sociais que ser entendido em suas deter-
duos dão às suas ações, no minações e transformações
espaço que constroem suas traduzem o mundo dos signi- dadas pelos sujeitos – compre-
relações, [...]”. Mais, os valo- ficados. endendo-o inserido e parte de
res estão postos no processo uma relação intrínseca de opo-
de investigação e a lógica é sição e complementaridade, na
conceptual; a seqüência do conhecimento ocorre “[...] ambiência social, entre o pensamento e a base materi-
em um continuum, com associações, dissoluções, al. Defende, também, a necessidade de se trabalhar
construções nas próprias interpretações, procurando com a complexidade, com a especificidade e com as
compreender a causalidade, a realidade e o mundo. diferenciações que existem. A abordagem dialética
Há emergência das contradições e o conhecimento se reconhece a realidade como complexa, heterogênea
funda na própria ação” (BAPTISTA, 1994, p. 21 e 22). e contraditória, nas diversas facetas, nas diversas pe-
Trata-se, assim, de diferentes posicionamentos culiaridades que a compõem.
quanto a fazer pesquisa no âmbito humano-social. O trabalho de pesquisa, embasado na epistemo-
De diferentes concepções de mundo, de vida, de ser logia materialista dialética proposta por Marx (1993),
humano, de sujeitos sociais. São direções opostas para propõe não apenas buscar a compreensão do todo,
a obtenção de conhecimentos. implicando em conhecer o fato de forma total, mas,
Um outro equívoco refere-se ao uso dos termos principalmente, em realizar, neste processo, movi-
qualitativo e quantitativo, usados ora para designar o mentos reflexivos sobre a realidade global, que re-

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sultem em uma definição, em um conceito, nos quais · O pensamento é prático-crítico o tempo todo,
o objeto em estudo apareça com o máximo de sua pois o conhecimento, produto de profunda re-
vivacidade. O uso da abordagem dialética possibili- flexão, combina, articula o pensado com o real
ta não só abarcar o conjunto de relações que cons- – é na práxis, na realidade que se deve de-
trói o modo de conhecimento exterior ao sujeito, mas monstrar a verdade, o poder, o caráter do pen-
também as representações sociais que traduzem o samento sobre o real (MARX, 1993).
mundo dos significados. “A dialética pensa a rela- Neste processo de compromisso do pensamento
ção da quantidade como uma das qualidades dos com o pensado, da reflexão sobre a reflexão, sempre
fatos e fenômenos. Busca encontrar, na parte, a crítica, a teoria participa da constituição do objeto.
compreensão e a relação com o todo; e a
interioridade e a exterioridade como constitutivas A categoria que se constrói pela reflexão e que tem
dos fenômenos”(MINAYO, 2000, p. 24-25). como por assim dizer, esses momentos lógicos, ela
A análise dialética implica em uma visão crítica do é vista na pesquisa que se desenvolve objetiva-
real, impregnada de atributos e desdobramentos: mente aqui, ou lá, ela tem a ver com um fato diante
· A realidade não se dá a conhecer imediatamente, do qual o pesquisador se debruça, fato esse que
é necessária uma reflexão demorada, reiterada ele procura conhecer pela reflexão, desvendando
obstinadamente, para que os diversos aspectos relações, processos, e estruturas que constituem
possam se tornar visíveis e decodificados. esse fato. [...] a categoria é a explicação dialética,
· À medida em que o processo reflexivo avan- ela apanha o movimento do real. A vida no real. E
ça, novos dados são detectados, articulados e em apanhando a vida no real ela percorre esses
incorporados formando um caminho contínuo vários momentos lógicos da reflexão. Então, a
que parte da aparência à essência, com des- historicidade do real, que é inegável em todas as
cobertas e significados entre a parte e o todo, Ciências Sociais (IANNI, 1986, p. 16-17).
o singular e o universal.
· O pensamento, ao se debruçar sobre um obje- No entanto, as categorias, como referências teó-
to, descobre, desencanta as determinações que ricas, devem ser apropriadas pelo pesquisador, com-
o constituem – pela reflexão, pela abstração. preendendo-as como parte de um contexto e com
Assim, desvendam-se as determinações que um sentido, sem se esquecer da teoria que as infor-
constituem o real, o concreto imediato, que, ma e da realidade que as constitui. Faz parte da ação
para Ianni (1986, p. 15), significa o empírico, o do pesquisador, compreender como “[...] as catego-
dado sensível, a realidade primeira com a qual rias de referência teórica são preenchidas de con-
se defronta a reflexão. Determinações as quais teúdo pela realidade concreta dos sujeitos investiga-
não devem ser desprezadas, pois estas se re- dos e, como tal, são também uma construção do pes-
criam, retomam-se, surgindo com novas ex- quisador” (GUSMÃO, 2001, p. 87).
pressões, na medida em que a reflexão pros- As teorias devem ser entendidas como explicações
segue e as desvenda – como sexo, profissão, de uma realidade mais ampla do que aquela que se
nível de escolarização – e que são constitutivas obtém pelo olhar, devem ser capazes de uma genera-
do indivíduo. Porém nem todas detêm a mes- lização de seus pressupostos, mas não significa que
ma ponderação, apesar de várias e muitas tenham que ser gerais e vagas, pois assim se tornariam
constituírem o real e serem imprescindíveis superficiais e perderiam a capacidade da explicação.
para que se compreenda esse mesmo real e O momento de investigação empírica reveste-se
constituírem o objeto – assim, o concreto ex- de importância e responsabilidade, não somente pela
pressa as sínteses das múltiplas determinações reconstrução do real, mas principalmente, quando o
que o constitui, revelando-se como uma uni- defronta com os fundamentos teóricos que iluminam
dade de diversidades. a análise e a interpretação deste real, possibilitando a
· A realidade está sempre impregnada de inter- esta mesma teoria uma outra reconstrução. Este pro-
pretações que precisam ser desvendadas para cedimento exige do pesquisador cuidados e atenção
que se possa entender as relações dos pro- permanentes com o aporte teórico, para não confun-
cessos, das tendências históricas presentes – di-lo com metodologia ou técnicas de investigação.
o que implica um diálogo crítico, um debate Desta forma, entende-se que deve haver uma refle-
com as interpretações existentes e com a pró- xão contínua sobre a realidade aliada ao diálogo com
pria realidade. a teoria, expressando a forma com que a pesquisa se
· O que pressupõe que o pensamento impregna desenvolverá, bem como a metodologia a seguir.
a história ao mesmo tempo em que a história No processo de conhecimento, as teorias desem-
impregna o pensamento, com fortes influênci- penham determinadas atribuições: esclarecem melhor
as recíprocas no sentido da constituição do real o objeto de estudo; propiciam problematizações mais
e do pensado. consistentes, com maior propriedade de conhecimen-

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to; permitem maior transparência na organização dos por que a busca científica da verdade não termina
dados; e, ainda, iluminam a análise dos mesmos já or- nunca. A história da ciência pode ser escrita como
ganizados. A teoria abarca um conjunto de proposi- uma permanente troca de espelhos e de imagens –
ções – que são construções lógicas – e conceitos – sem fim (ALVES, 2000, p. 9).
que são construções de sentido –, ordena os dados e
os processos, possibilitando fixar melhor o recorte do Neste sentido, o pesquisador deve sempre se man-
que deve ou não ser examinado e construído. ter com o espírito aberto, com atenção vigilante e metó-
Sem uma opção teórica coerente, não é possível dica, com vontade e empenho, ou seja, com uma parti-
fazer pesquisa. O máximo que se consegue é obser- cipação crítica, que lhe possibilite descobrir e construir
var e descrever uma realidade na sua visibilidade mais uma explicação mais próxima possível do real, satisfa-
imediata, na aparência dos fatos, mas, de modo al- zendo o nível de exigência requerida para esse empre-
gum, compreendê-la e, ainda, de nela poder intervir e endimento, cujo referencial é o projeto de pesquisa.
transformar. O pesquisador fica sem um ‘chão’ e sem É necessário ao pesquisador ter claro ao olhar o
um ‘norte’, não sabe exatamente o que pretende e que olha, a natureza e a forma desse olhar e consi-
muito menos como chegar onde imagina querer che- derar, ainda, o lugar de onde se olha. O olhar, assim
gar. Assim, constrói no máximo “[...] um painel como o ouvir e escrever, são faculdades sociocultu-
sintomatológico da realidade investigada, vale dizer, rais, pré-requisitos para a integração e participação
que apenas mapeia superficialmente os sintomas do social; mas em um processo de pesquisa – apesar de
social” (GUSMÃO, 2001, p. 77). não se constituírem como únicos atos cognitivos –
Desta forma, atribui-se enorme importância aos carecem de um preparo teórico, um olhar treinado,
elementos teórico e prático – os quais desempenham que não apenas descreva o que vê, mas compreenda
papel essencial para a explicação do real – no campo as mediações dadas entre os objetos singulares e a
da produção de conhecimento, pela via da reflexão realidade na qual estão imersos, sendo a participa-
dialética. ção, condição fundamental para “[...] aprofundar a
Segundo Marx (1993), não cabe à teoria a preo- observação e se colocar por inteiro numa relação
cupação em saber se o pensamento humano expres- intersubjetiva, em que se situam o pesquisador e o
sa uma verdade objetiva, mas ao confrontá-lo com a pesquisado, é através dos mesmos que se produz
realidade – através da práxis – o homem deve de- conhecimentos” (GUSMÃO, 2001, p. 75-76). Desta
monstrar o caráter terreno de seu pensamento. forma, torna-se imprescindível a aquisição e com-
O movimento de reflexão, que conduz a repensar o preensão de uma matriz teórica que informe o olhar,
pensamento que conhece, indica que o importante é a qualificando-o e o habilitando, caso contrário “[...] a
relação existente entre a teoria explicadora e aquilo prática do pesquisador acaba por simplificar e mes-
que ela explica – relação esta que se apresenta no mo banalizar a importância e significado da observa-
objeto do conhecimento como fato científico construído. ção participante, quase sempre transformada em
Porém, por maior que seja o rigor, o controle impresso participação observante” (GUSMÃO, 2001, p. 75).
ao processo de conhecimento do real pesquisado, este Aliado a esse requisito, durante um processo
sempre será mais rico do que a teoria que a ele se investigativo, em inúmeras situações, é preciso que o
reporta. A eficácia do controle nunca é plena. pesquisador assuma posturas de um ‘estrangeiro’,
A ciência como um jogo de linguagem deseja, ao ou seja, ao mesmo tempo em que é parte de um gru-
usar as palavras, produzir imagens fiéis dentro do po, ser um outro. Tal condição possibilita haver luz
espelho da mente. para se ler, cuidando de ‘ver’ as pistas e sinais que
“[...] preenchem um mapa de experiência e assim,
O que é um bom espelho? Um bom espelho é aque- permite apreender a vida do outro a partir de sua
le que apenas reflete, no seu dentro virtual, o real própria vida, a partir da própria experiência”
que está fora dele. O objetivo do jogo que se chama (GUSMÃO, 2001, p. 81).
ciência é produzir redes de palavras que sejam a Não satisfazer tais condições conduz à incoerên-
imagem espetacular do que está do lado de fora. A cia metodológica, e acarreta sérias conseqüências
essa identidade entre coisa e imagem se dá o nome quanto ao que se observa – ao como e ao porquê se
de verdade (as palavras ‘reflexão’ e ‘especulação’ observa – instaurando uma confusão entre objetivo
derivam respectivamente, de reflexo e de espelho ... e objeto da pesquisa.
speculum). É bem verdade que essa situação de Mais, na relação entre o sujeito que se empenha
igualdade entre coisa e imagem não acontece nun- em conhecer e o objeto de sua preocupação, exis-
ca. E, mesmo se acontecesse, não teríamos formas tem outros aspectos que devem ser considerados e,
de saber que a identidade estava ocorrendo. Os conseqüentemente, sua orientação pelo real, para for-
espelhos de que dispomos distorcem sempre as coi- mação do conhecimento.
sas, e as imagens de palavras que vemos no discur- Quanto ao sujeito, o pensamento não existe inde-
so da ciência são sempre caricatura. Essa é a razão pendentemente de alguém que o pense, ao mesmo

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tempo em que só existe como coisa pensada, inseri- processo investigativo avança, não estando, portanto,
do em um contexto social, portanto, fruto de uma solto ou perdido por aí, para ser encontrado (GUSMÃO,
historicidade singular e que envolve tempo e espaço 2001, p. 76). Assim, apesar de todo esforço para se
diverso dos sujeitos da pesquisa, quais sejam: sujeito dirigir ao objeto, a relação que propicia o seu conheci-
pesquisador e sujeitos pesquisados. mento tem como fundamento a teorização aceita no
Nesta reciprocidade de sujeitos, “A questão da sub- momento como dando conta dele, mesmo que parcial-
jetividade encontra-se por inteiro em toda esta discus- mente. Feitas tais apreciações, conclui-se que o con-
são e, como tal, é parte integrante da pesquisa, neces- creto pensado é fruto de um pensamento que, ao mes-
sitando, porém, ser objetivada como condição de se mo tempo em que se constitui e desenvolve, articula-
tornar fonte de conhecimento” (GUSMÃO, 2001, p. 81). se e participa da constituição do real, portanto, pode
O que confere importância em se saber, com preci- ser considerado como prático-teórico ou prático-críti-
são, quem são os sujeitos, como eles assimilam a pre- co, mesmo porque não há como separar as lutas em-
sença do pesquisador e da própria pesquisa. E que preendidas no social e a produção intelectual, manten-
tipo de interferência em seu mundo isso representa. do a coerência e a seriedade que um processo de pes-
O pesquisador, como detentor de um projeto, não quisa requer na busca de um conhecimento que se
se posiciona como um definidor de situações, mas pretende como verdadeiro.
traz consigo uma cultura que lhe dita os hábitos, as
maneiras de proceder, as normas a seguir, as prefe-
rências. Aprende a pensar se comunicando com os Conclusão
que o cercam e se apropria desta linguagem, incor-
porando a forma de pensar que ela contém como A posse do conhecimento sobre processos de
própria. Mais ainda, apresenta-se como possuidor pesquisa é condição primária e essencial para o de-
de tudo aquilo que ele já ‘conhece’ sobre o objeto senvolvimento de atividades investigativas científicas.
de estudo, através da “[...] experiência individual, Este é o pressuposto para planejar, elaborar e desen-
dos grupos e da sociedade, no que dela ficou guar- volver um projeto de pesquisa, um trabalho
dado na memória, constituindo as pré-noções; e investigativo, cujo horizonte se constitua na produ-
através das teorias codificadas que lhe servem de ção de um determinado conhecimento válido perante
apoio, fornecendo-lhe as noções a respeito do que a comunidade científica e a sociedade.
procura, conceitos, relações, previsões” (CARDO- O desvelamento das problemáticas sociais, enquan-
SO, 1971, p. 9). Trata-se, então, de um ser social to problemas investigativos, requer a apropriação com-
que pensa em condições socialmente definidas. petente da metodologia indicativa, que melhor alcance
Desta forma, a relação en- e envolva o objeto a ser conhe-
tre pensamento e objeto não é cido, e das teorias que ilumi-
fruto exclusivo de cada ser ... a pesquisa se presta narão o cenário e subsidiarão
pensante individual e específi- as análises das categorias elei-
co, mas está baseada na expli- mais a uma reflexão mediata tas no processo investigativo,
cação parcial concretamente em um percurso ininterrupto
aceita pela sociedade ou pelo que imediata, fornecendo de abstrações.
grupo social a que se reporta. No suceder dos tempos, a
Tais explicações, base elementos à análise e reflexão pesquisa tem se mostrado
para o estabelecimento da re- do problema e do contexto como uma extraordinária via
lação com o objeto a pesquisar, para responder aos problemas
constituem parte do conheci- que o insere, mas não solucio- emergentes, postos aos conhe-
mento que a ciência elaborou cimentos humanos, compre-
e cuja utilização social condu- na pequenos impasses do endendo-os e situando-os e,
ziu à sedimentação do saber preferencialmente, identifican-
socializado, sendo que seu uso cotidiano... do e formulando possíveis
como saber depende de sua soluções, antecipando, desta
adequação à experiência. Mas forma, respostas para solucio-
também, a teoria “[...] não é só o domínio do que ná-los ou minimizá-los. Paralelamente, é importante
vem antes para fundamentar nossos caminhos, mas e necessário reconhecer que a pesquisa não resolve
é também um artefato nosso como investigadores, toda e qualquer questão, porém suas respostas sem-
quando concluímos, ainda que provisoriamente, o pre servirão para fundamentar e orientar ações que,
desafio da pesquisa” (MINAYO, 2000, p. 20). realmente, solucionem problemas ou mesmo possibi-
Quanto ao objeto, este se materializa, apresentan- litem uma melhor qualidade de vida. Assim, a pes-
do-se com forma, conteúdo e significado, através de quisa se presta mais a uma reflexão mediata que
uma construção de ordem intelectual, à medida que o imediata, fornecendo elementos à análise e reflexão

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do problema e do contexto que o insere, mas não MINAYO, M. C. de S. Ciência, técnica e arte: o desafio da
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