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Filosofia

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2
Filosofia

Enock Correia de Araújo


Gerson Francisco de Arruda Júnior
Hildeberto Alves da Silva Júnior

3
2018 by FATIN

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser


reduzida ou transmitida de qualquer modo ou qualquer outro meio, eletrônico
mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de
armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por
escrito, da FATIN.

Editores:
Gerson Francisco de Arruda Júnior
Hildeberto Alves da Silva Júnior
Stéfano Alves dos Santos

Supervisora de produção Editorial: Gerli Alves


Coordenadora de Produção Editorial: Hilgerly Gomes
Revisão: Thaís Henrique dos Santos da Matta
Assessoria Técnica: Thalyson Gomes
Capa: Hildeberto Alves
Diagramação: Flávio Marinho

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação CDD

Araújo, Enock Correia de; Arruda Júnior, Gerson Francisco de;


Silva Júnior, Hildeberto Alves da.

Filosofia / Enock Correia de Araújo, Gerson Francisco de Arruda;


Júnior; Hildeberto Alves da Silva Júnior. Filosofia, Igarassu, 2018. 163 p.

ISBN:

1. Filosofia. 2. Conhecimento. 3. Saberes.

CDD –

É proibida a reprodução total ou parcial deste livro.

4
Oi! Tudo bem? Sou Sr. FATIN, alguns já
me conhecem de outras disciplinas. Estarei
com você em cada unidade deste guia de
estudos. Vou aparecer trazendo assuntos
interessantes.
A você, desejo sucesso nesta nova disciplina!

“Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não


tiver amor, serei como o sino que ressoa ou como o prato que
retine. Ainda que eu tenha o dom de profecia e saiba todos os
mistérios e todo o conhecimento, e tenha uma fé capaz de mover
montanhas, mas não tiver amor, nada serei. Ainda que eu dê aos
pobres tudo o que possuo e entregue o meu corpo para ser
queimado, mas não tiver amor, nada disso me valerá. O amor é
paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se
orgulha. Não maltrata, não procura seus interesses, não se ira
facilmente, não guarda rancor. O amor não se alegra com a
injustiça, mas se alegra com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo
espera, tudo suporta”. (I Co 13:1-7).
Nunca se esqueça disto!

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6
SUMÁRIO

METODOLOGIA DE ESTUDO DA DISCIPLINA .......................... 13

UNIDADE 1 ........................................................................................... 15

TÓPICO 1 .............................................................................................. 17
FILOSOFIA: DEFINIÇÃO .................................................................. 17
INTRODUÇÃO ..................................................................................... 17
1.1 PROBLEMATIZAÇÃO .................................................................... 17
1.2 DEFINIÇÕES .................................................................................... 18
1.3 UTILIDADE...................................................................................... 22
1.4 ETIMOLÓGICA ............................................................................... 24
LEITURA COMPLEMENTAR ........................................................... 26
RESUMO DO TÓPICO 1 ..................................................................... 29
AUTOATIVIDADE ............................................................................... 30

TÓPICO 2 .............................................................................................. 31
DISCIPLINAS DA FILOSOFIA.......................................................... 31
INTRODUÇÃO ..................................................................................... 31
2.1 ÉTICA ............................................................................................... 31
2.2 FILOSOFIA SOCIAL E POLÍTICA ................................................. 32
2.3 ESTÉTICA ........................................................................................ 33
2.4 LÓGICA ............................................................................................ 33
2.5 RELIGIÃO ........................................................................................ 35
2.6 HISTÓRIA DA FILOSOFIA ............................................................ 35
2.7 FILOSOFIA DA HISTÓRIA ............................................................ 36
2.8 FILOSOFIA DA CIÊNCIA ............................................................... 36
2.9 EPISTEMOLOGIA ........................................................................... 37
2.10 METAFÍSICA ................................................................................. 37
2.11 FILOSOFIA DA MENTE ............................................................... 38
2.12 TEORIA DA AÇÃO ....................................................................... 38
LEITURA COMPLEMENTAR ........................................................... 39
RESUMO DO TÓPICO 2 ..................................................................... 41
AUTOATIVIDADE ............................................................................... 42

TÓPICO 3 .............................................................................................. 43
COMO SABER O CERTO................................................................... 43
INTRODUÇÃO ..................................................................................... 43

7
3.1 TEORIAS SOBRE O CERTO .......................................................... 43
3.2 O CORRETO E ERRADO PARA O CRISTÃO .............................. 47
3.3 RELAÇÃO ENTRE NORMAS E CONSEQUÊNCIAS ................... 48
LEITURA COMPLEMENTAR ........................................................... 51
RESUMO DO TÓPICO 3 ..................................................................... 53
AUTOATIVIDADE ............................................................................... 54

UNIDADE 2 ........................................................................................... 55

TÓPICO 1 .............................................................................................. 57
O QUE É A LÓGICA? ..................................................................... 8957
INTRODUÇÃO ..................................................................................... 57
1.1 DEFINIÇÃO DE LÓGICA ............................................................... 57
1.2 AS LEIS DO PENSAMENTO .......................................................... 58
1.2.1 Princípio da Identidade ................................................................ 59
1.2.2 Princípio da Não Contradição ..................................................... 60
1.2.3 Princípio do Terceiro Excluído ................................................... 60
1.3 DIVISÃO DA LÓGICA .................................................................... 61
1.3.1 Divisão da Lógica Clássica ........................................................... 62
1.3.2 Divisão da Lógica Clássica ........................................................... 62
LEITURA COMPLEMENTAR ........................................................... 64
RESUMO DO TÓPICO 1 ..................................................................... 78
AUTOATIVIDADE ............................................................................... 79

TÓPICO 2 ............................................................................................ 890


O QUE É UMA PROPOSIÇÃO? ........................................................ 89
2.1 DEFINIÇÃO DE PROPOSIÇÃO ..................................................... 89
2.2 SENTENÇA X PROPOSIÇÃO......................................................... 89
2.3 CLASSIFICAÇÃO DAS PROPOSIÇÕES ....................................... 89
LEITURA COMPLEMENTAR ........................................................... 85
RESUMO DO TÓPICO 2 ..................................................................... 88
AUTOATIVIDADE ............................................................................... 89

TÓPICO 3 .............................................................................................. 90
ARGUMENTOS .................................................................................... 90
3.1 DEFINIÇÃO DE ARGUMENTO ..................................................... 90
3.2 TIPOS DE ARGUMENTOS ............................................................. 90
3.2.1 Dedutivo......................................................................................... 90
3.2.2 Indutivo ......................................................................................... 91
3.3 VALIDADE E VERDADE ............................................................... 92

8
3.3.1 Relação entre verdade/falsidade e validade/invalidade............. 93
3.4 INDICATORES DE PREMISSAS E CONCLUSÃO ....................... 95
LEITURA COMPLEMENTAR ........................................................... 96
RESUMO DO TÓPICO 3 ..................................................................... 99
AUTOATIVIDADE ............................................................................. 100

TÓPICO 4 ............................................................................................ 102


O QUE É O CONHECIMENTO? ..................................................... 102
INTRODUÇÃO ................................................................................... 102
4.1 O QUE É A TEORIA DO CONHECIMENTO .............................. 102
4.1.1 O que é o conhecimento?............................................................ 103
4.1.2 A possibilidade do conhecimento .............................................. 104
4.1.3 A origem do conhecimento......................................................... 108
LEITURA COMPLEMENTAR ......................................................... 111
RESUMO DO TÓPICO 4 ................................................................... 113
AUTOATIVIDADE ............................................................................. 114

UNIDADE 3 ......................................................................................... 115

TÓPICO 1 ............................................................................................ 117


FÉ SOMENTE ..................................................................................... 117
INTRODUÇÃO ................................................................................... 117
1.1 SORËN KIERKEGAARD .............................................................. 118
1.2 KARL BARTH ................................................................................ 121
1.3 TERTULIANO ................................................................................ 123
LEITURA COMPLEMENTAR ......................................................... 125
RESUMO TÓPICO1 ........................................................................... 128
AUTOATIVIDADE ............................................................................. 129

TÓPICO 2 ............................................................................................ 130


RAZÃO SOMENTE ............................................................................ 130
2.1 KANT .............................................................................................. 130
2.2 SPINOZA ........................................................................................ 131
2.3 RACIONALISTAS MODERNOS ................................................ 1322
LEITURA COMPLEMENTARES .................................................... 134
RESUMO TÓPICO 2 ........................................................................ 1366
AUTOATIVIDADE ........................................................................... 1377

TÓPICO 3 .......................................................................................... 1388


RAZÃO E FÉ SE COMPLEMENTAM .......................................... 1388

9
3.1 JUSTINO ....................................................................................... 1388
3.2 CLEMENTE .................................................................................. 1399
3.3 AGOSTINHO ................................................................................ 1411
3.4 TOMÁS DE AQUINO .................................................................... 142
LEITURA COMPLEMENTAR ....................................................... 1477
RESUMO TÓPICO 3 .......................................................................... 150
AUTOATIVIDADE ............................................................................. 151

REFERÊNCIAS ................................................................................ 1522

10
APRESENTAÇÃO

Prezado (a) acadêmico (a),


Neste exato momento, você estudará conosco a disciplina
de filosofia. É o início de uma jornada divertida e séria, que te fará
descobrir novos horizontes de saberes que serão muito úteis em sua
jornada acadêmica e pessoal. O saber que você irá descobrir nestas
páginas te ajudará descobrir novos padrões de reflexão que servirão
para ampliar sua construção do saber.
A filosofia, hoje, tem sido procurada dado que sua utilidade
é destacada para a reflexão, análise e aplicação.
A filosofia sempre vai nos desafiar ao debate construtivo
sobre a realidade, a verdade, o conhecimento. É possível conhecer?
O que é a verdade? O que é a realidade e a realidade ulterior? Essas
e outras perguntas serão estudadas ao longo de nosso material de
estudos.
A filosofia não é só teoria, ou seja, ela não se detém apenas
à discussão de assuntos na sala de aula. Se assim fosse, sua
utilidade seria duvidosa. A filosofia exige de nós prática. Isso
mesmo! A cada conhecimento adquirido você deve sempre fazer a
pergunta: Como posso ajudar a mim e a meu próximo e contribuir
para melhorar o mundo com o conhecimento adquirido?
Nesse estudo, o comprometimento com a verdade deve estar
sempre em nossa mente. Gratidão sempre em nosso coração e amor

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sempre como a soma de que reconhecemos que tudo que somos,
temos e aprendemos vem de Deus. Nele (Deus) reside todo saber.
“A alegria que se tem em pensar e aprender faz-nos pensar e
aprender ainda mais” (Aristóteles).
Bons Estudos!
Enock Correia de Araújo

12
METODOLOGIA DE ESTUDO DA DISCIPLINA

EMENTA:

Buscar compreender o “estar-no-mundo”. Uma análise sobre a


atuação da filosofia. O filosofar como uma atitude natural da
humanidade. Abordar questões de ordem existencial. A relação
com o outro. O cotidiano e os valores. Problematizar a respeito de
“o quê”, “como”, “quando”, “onde” que se destina ao ato do
filosofar.

PROPÓSITO:
Esta disciplina objetiva alcançar as seguintes compreensões:

• Desenvolver os conhecimentos básicos da compreensão


filosófica;
• Conhecer os fundamentos filosóficos e sua relação com as
demais formas de conhecimentos;
• Analisar as conceituações e os critérios sobre a verdade;
• Perceber a relação da filosofia com a autoconsciência do outro e
de si mesmo.

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14
UNIDADE 1

Enock Correia Araújo

Filosofia
OBJETIVOS DA UNIDADE
Ao final da unidade você será capaz de:

 Problematizar e buscar definições e etimologia.


 Conhecer as disciplinas da filosófica.
 Entender como saber o certo.

GUIA DE ESTUDOS
A primeira Unidade se divide em:

TÓPICO 1 – PROBLEMATIZAÇÃO, DEFINIÇÕES,

UTILIDADE E ETIMOLOGIA

TÓPICO 2 – DISCIPLINAS FILOSÓFICAS

TÓPICO 3 – COMO SABER O CORRETO

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16
TÓPICO 1

FILOSOFIA: DEFINIÇÃO

INTRODUÇÃO

Neste primeiro tópico, trataremos de assuntos relacionados


à busca pela definição da filosofia: problematização, definições,
utilidade e etimologia.

1.1. PROBLEMATIZAÇÃO

É comum ao ser humano diante do que lhe causa espanto


ou admiração querer definir para entender o objeto em
perspectiva. Entretanto, dentre tantas coisas neste mundo que não
podemos obter uma única resposta, a filosofia é uma delas. Ela não
pode ser definida de modo simples e direto.

As diversas disciplinas científicas se caracterizam por


atuarem em uma determinada área do saber. A filosofia, no entanto,
se caracteriza por buscar entender qualquer objeto tomado como
investigação. Na verdade, o homem busca conhecer tudo. O
homem é curioso por natureza.

Para Mondin (2009, p.5), o homem é naturalmente filósofo,


“amigo da filosofia”. Ávido de saber, não se contenta em viver o
17
momento presente e aceitar passivamente as informações
fornecidas pela experiência imediata. Com seu olhar interrogativo,
quer conhecer o porquê das coisas, sobretudo o porquê da própria
vida.

Para conhecer a realidade em sua volta, a pessoa comum


elabora questionamentos e os resolvem sem o uso de métodos e
lógicas. Entretanto, há pessoas que se entregaram à tarefa de
investir sua energia psíquica para pesquisar e propor, de modo
definitivo, soluções pensadas exaustivamente e organizadas
metodologicamente. Essas pessoas são conhecidas como filósofos.

1.2. DEFINIÇÕES

Se a filosofia atende a uma função social, surge a pergunta:


o que é filosofia? É aí que temos várias compreensões de filósofo
para filósofo. Citando Edmund Husserl, Aranha e Martins (1998)
dizem que “ele sabe o que é filosofia, ao mesmo tempo em que não
sabe”. Essa posição reflete bem que definir filosofia é uma questão
filosófica. A seguir, temos as seguintes compreensões sobre
filosofia.

 A filosofia é uma cosmovisão de uma civilização.


Esta posição é generalista e significa entender a filosofia
como um agrupamento de pensamentos, virtudes e
comportamentos que são assimilados pela sociedade. Essa

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posição é generalista e dificulta entender claramente o que é
filosofia. Não há separação entre filosofia e pensamentos
gerais; entre filosofia e moralidade; e entre filosofia e
virtudes. É uma visão de um conjunto social e não
individual, que não define a labuta específica da filosofia.
Por isso, não podemos aceitá-la.

 A filosofia é sabedoria de vida. Esta definição de


filosofia é percebida como um resultado da atitude de
algumas pessoas sobre a vida moral, dedicando-se a
contemplação do cosmos e a aprender com ele a controlar
suas vidas de modo ético e sábio. Nesta concepção, a
filosofia seria uma contemplação da vida e dos homens na
direção de uma vida justa, sábia e feliz. Assim, podemos
entender que esta concepção superficialmente defende o
que se espera da filosofia e não diz o que realmente é a
função da filosofia.

 A filosofia é um esforço racional de entender o


cosmos como um todo organizado e possuidor de
sentido. Nesta definição, a filosofia se separa da concepção
religiosa sobre o universo. Ambas têm um fundamento
distinto. A filosofia se funda na razão e a religião na
revelação divina. A filosofia busca debater exaustivamente
o sentido e a sustentação da realidade. Esta definição é

19
complexa, porque diz que a filosofia concede a explicação
global do cosmos, o que se sabe ser impossível.

 A filosofia é o fundamento gnosiológico,


epistemológico e moral. A filosofia tem a preocupação de
saber se tal produção de determinado conhecimento é
racional ou não, examinando a origem, a forma e o
conteúdo relacionado às qualidades morais, políticas, artes e
culturas, entendendo as causas e as formas das ilusões e dos
preconceitos particular e grupal, com as atualizações
ocorridas na história dos conceitos, das ideias e dos valores.

 A filosofia estuda a consciência humana em suas


múltiplas dimensões: percepção, imaginação, memória,
linguagem, inteligência, experiência, reflexão,
comportamento, vontade, desejo e paixões, buscando
definir as formas e o conteúdo dessas dimensões de
interação entre o homem e o universo, entre o homem
consigo mesmo e com o outro.

Finalmente, a Filosofia tem o fito de estudar e interpretar


as ideias ou os significados gerais como: a realidade, o mundo, a
natureza, a cultura, a história, a subjetividade, a objetividade, a
diferença, a repetição, a semelhança, o conflito, a contradição, a
mudança, etc.

20
Não menosprezando a questão da essência da realidade, a
filosofia busca separar-se das ciências e das artes voltando sua
atenção para o mundo do tempo e do espaço em uma situação
particular: quando perdemos nossas certezas diárias e quando
outras áreas do saber ainda não elaboraram respostas para resolver
essas incertezas perdidas. Quando a ciência, a arte e o senso
comum não sabem o que dizer, a filosofia busca resolver os
conflitos agnósticos e de ceticismo a que somos acometidos.

A filosofia aprofunda o exame da questão de nossas


incertezas e se firma como análise (das circunstâncias da ciência,
da religião, da arte, da moral), reflexão (retorno da consciência
sobre si mesma para entender seu potencial para conhecimento,
sentimento e ação) e crítica (das ilusões e das ideias
preconceituosas individuais e coletivas, das teorias e práticas
científicas, políticas e artísticas). Essas funções devem ser dirigidas
para construções filosóficas de compreensões gerais. Ademais, a
filosofia é a busca do fundamento e do discernimento da realidade
em suas várias dimensões, indagando o que são as coisas, qual sua
permanência, e qual a necessidade interna que as transforma em
outras.

Para vislumbrar o universo espacial e temporal, a filosofia


precisa estudar tudo, a totalidade das coisas. Qualquer coisa pode
ser seu objeto de investigação. Como exemplo, temos: a ciência, a
religião, a política, a sociedade, a psicologia, a arte, a história, a
antropologia, etc.

21
Chauí (2000) descreve a análise de Kant de que as questões
basilares da filosofia são as seguintes:

O que podemos saber? Tratar-se da questão do


conhecimento, ou seja, a sustentação do pensamento
geral e particular.

Que podemos fazer? É a questão sobre a ética e a


manifestação humana, ou seja, as bases da ética, da
política, das artes, das técnicas e da história.

Que podemos aguardar? É a indagação sobre a


continuidade da existência humana após a morte, ou
seja, o pensamento religioso.

1.3. UTILIDADE

A questão do que é útil depende do ponto de vista ou


objetivo que se tenha em mente. Se a pessoa deseja saber sobre um
dado conhecimento para utilização imediáticas como a que serve à
formação profissional - engenharia, medicina, advocacia, etc., a
filosofia não se destina a esse fim e não será importante a quem
objetiva essa meta. Assim, a filosofia seria entendida como sem
utilidade.

Entretanto, já que ela não é de uma utilidade imediata,


pragmática, a filosofia é necessária. A filosofia proporciona um
vislumbre além da nossa perspectiva material e ascende à esfera do
ainda não descoberto, da atitude que deveria ser primordial e se
encontra alienada - o exercício do pensar sobre seus próprios
pensamentos, sentimentos e ações se tornando consciente de sua

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interioridade e dessa descoberta o que é capaz de mudar em si,
torna a filosofia relevante.

O autoconhecimento é primordial na busca do saber. Como


disse Sócrates: “Conhece-te a ti mesmo”. Todo saber deve iniciar
no autoconhecimento para depois se voltar para as coisas a nossa
volta. Ele inicia de dentro para fora. É preciso ir além da matéria
para enxergar o verdadeiro sentido da nossa existência. De superar
a si mesmo sempre para encontrar o novo. De não aceitar as coisas
passivamente sem antes compreendê-las. Nesse sentido, a filosofia
incomoda quando questiona quem está no poder por ser ela
libertária.

Aranha e Martins (2009, p.17), criticam os pensadores que


ficam do lado dos poderosos contra a liberdade humana ao dizerem
o seguinte:

É bem verdade, alguns dirão, sempre houve e ainda


haverá pensadores que bajulam os poderosos e
emprestam suas vozes e argumentos para defender
tiranos. Nesse caso, porém, estamos diante das
fraquezas do ser humano, seja por estar sujeito a
enganos, seja por sucumbir ao temor ou ao desejo de
prestígio e glória.

Chauí (2010, p. 29), apresenta algumas definições de


filosofia na concepção de alguns dos grandes filósofos da
humanidade:

Platão definia filosofia como “um saber verdadeiro


que deve ser usado em benefício dos seres humanos
para que vivam numa sociedade justa e feliz”

23
Kant afirmou que a filosofia “é o conhecimento que
a razão adquire de si mesma para saber o que pode
conhecer, o que fazer e o que pode esperar, tendo
como finalidade a felicidade humana”.

Espinosa afirmou que a filosofia “é um caminho


árduo e difícil, mas que pode ser percorrido por
todos, se desejarem a liberdade e a felicidade”.

Mondin (2009, p. 5), apresentou outras definições de


filosofia de grandes filósofos da humanidade:

Aristóteles disse que a filosofia estuda “as causa


últimas de todas as coisas”. Descartes afirmou que a
filosofia “ensina a bem raciocinar”. Hegel concebeu
a filosofia como o “saber absoluto”. Cícero definiu a
filosofia como “o estudo das causas humanas e
divinas das coisas”.

1.4. ETIMOLÓGICA

A palavra “filosofia” é de origem grega, e é composta pelos


termos “filos” e “sofia”. O termo “filos” significa aquele que é
amigável, ou amigo e deriva de “filia”, que significa amizade. O
termo “sofia” quer dizer sabedoria e dela vem a palavra “sofos”,
que origina o termo “sábio”. Sendo assim, unindo os dois termos,
teremos o significado etimológico de filosofia que é amizade pelo
saber ou amor pelo saber.

A filosofia está relacionada pela vontade do saber, por amar


o conhecimento e buscá-lo. Chauí (2010) diz que “filosofia indica a
disposição interior de quem estima o saber, ou o estado de espírito
da pessoa que deseja o conhecimento, o procura e o respeita”.

24
Foi Pitágoras, filósofo grego, quem primeiro usou o termo
“filósofo”, ao afirmar que só os deuses conheciam o saber absoluto,
enquanto os homens poderiam apenas desejá-lo ou amá-lo,
tornando-se um filósofo. A filosofia não visa à competição, capital
ou mercado, mas apenas o saber. A verdade está disponível a quem
estiver interessado e determinado a encontrá-la.

25
LEITURA COMPLEMENTAR

[O QUE É FILOSOFIA]

O problema crucial é o seguinte: a filosofia aspira a verdade


total, que o mundo não quer. A filosofia é, portanto, perturbadora
da paz.

E a verdade o que será? A filosofia busca a verdade nas


múltiplas significações do ser- verdadeiro segundo os modos do
abrangente. Busca, mas não possui o significado e substância da
verdade única. Para nós, a verdade não é estática e definitiva, mas
movimento incessante, que penetra o infinito.

No mundo, a verdade está em conflito perpétuo. A filosofia


leva esse conflito ao extremo, porém o despe de violência. Em suas
relações com tudo quanto existe, o filósofo vê a verdade revelar-se
a seus olhos, graças ao intercâmbio com outros pensadores e ao
processo que o torna transparente a si mesmo.

Quem se dedica à filosofia põe-se à procura do homem, escuta o


que ele diz, observa o que ele faz e se interessa por sua palavra e
ação, desejoso de partilhar, com seus concidadãos, do destino
comum da humanidade.

26
Eis por que a filosofia não se transforma em credo. Está em
contínua pugna consigo mesma.

Qual o papel da filosofia? Ensina, pelo menos, a não nos


deixarmos iludir. Não permite que se descarte fato algum e
nenhuma possibilidade. Ensina a encarar a catástrofe possível. Em
meio à serenidade do mundo, ela faz surgir a inquietude. Mas
proíbe a atitude tola de considerar inevitável a catástrofe. Com
efeito, apesar de tudo, o futuro depende também de nós.

Se fosse vigorosa em sua elaboração, convincente por seus


argumentos e digna de fé pela integridade de seus expositores, a
filosofia poderia tornar-se instrumento de salvação. Só ela tem o
poder de alterar nossa forma de pensamento.

Mesmo diante do desastre possível e total, a filosofia


continuaria a preservar a dignidade do homem em declínio. Numa
comunidade de destinos, que se apoie na verdade, o homem encara
face a face seja o que for.

Não se confunde o declínio com o nada. Em meio ao


desastre, a última palavra cabe ao homem, que ama e conserva
confiança incompreensível no fundamento das coisas. Para falar
sob forma de enigma: a origem de que brotaram o universo, a terra,
a vida, o homem e a História encerra possibilidades que nos são
inacessíveis. Enfrentando de frente o desastre, asseguramo-nos
dessas possibilidades.

27
Fazemos uma tentativa, à qual outras hão de seguir-se,
continuadamente. Mas, presentes, por um instante, nessa tentativa,
o amor e a verdade atestam tratar-se de mais que uma tentativa.
Uma palavra de eternidade foi pronunciada. Nenhum pensamento
suscetível de ser concretizado, nenhum conhecimento, nada de
fisicamente tangível, nenhum dos enigmas por nós mencionados
pode adentrar a eternidade.

Mas, para além de todos os enigmas, o pensamento penetra


no silencio pleno de insondável razão.

(JASPERS, Karl. Introdução ao pensamento filosófico. 3. ed. Trad. de


Leônidas Hegenberg. São Paulo: Cultrix. 1965, p. 138 e 147-148).

28
RESUMO DO TÓPICO 1

 Não podemos definir a filosofia de modo simples e direto.

 Há pessoas que se entregaram a tarefa de investir sua


energia psíquica para pesquisar e propor de modo definitivo
soluções pensadas, exaustiva e organizadas
metodologicamente, elas são conhecidas como filósofos.

 A filosofia é uma forma de saber, um saber puramente


racional.

 A finalidade da filosofia é a liberdade e a felicidade.

29
AUTOATIVIDADE

1. É possível definir a filosofia?

2. O que é filosofia?

3. Qual a utilidade da filosofia?

4. Como a filosofia pode contribuir para a consciência social?

30
TÓPICO 2

DISCIPLINAS DA FILOSOFIA

INTRODUÇÃO

Neste tópico, apresentaremos as disciplinas da filosofia. O


Objetivo é apresentar os assuntos mais discutidos pelos filósofos, a
saber, ética, filosofia social e política, estética, lógica, religião,
história da filosofia, filosofia na história, filosofia da ciência,
epistemologia, metafísica, filosofia da mente e teoria da ação.

2.1. ÉTICA

No meio filosófico, o estudo da ética teve atenção especial.


Diariamente lidamos com questões referentes à moralidade, e
decidimos entre o que é certo e o que é errado. A ética lida com
situações práticas. O termo “ética” tem vários significados: (1)
refere-se a regras ou princípios que indicam o que é permitido e o
que não é permitido: (2) refere-se aos princípios que guiam os
comportamentos; (3) o termo é usado para significar literalmente
uma área da filosofia – uma matéria teórica.

Para Geisler e Feinberg (1996), “o filósofo moral está


interessado na natureza da vida virtuosa, no seu valor último, e na

31
propriedade de certas ações e estilos de vida”. Também é um
estudo de conceitos éticos como bom, errado, certo, responsável,
deve e deveria. Outros sustentam que ela é um questionamento
normativo; avaliam objetivos e modos de vida se são relevantes.
Tem-se defendido que os princípios para uma ação universal ou
absoluta seja inaceitável. Outra vertente de oposição ao
universalismo de ação, pertencente à escola analítica do
positivismo lógico, defendem que expressões de princípios morais
não servem a todos, mas que no mínimo, servem para aprovação ou
desaprovação. Esta ideia ética chama-se emotivismo.

2.2. FILOSOFIA SOCIAL E POLÍTICA

Essa questão também está ligada a ética, por tratar do


comportamento coletivo da sociedade, seus fins. Analisa as atitudes
da sociedade e o papel do Estado em favorecer as metas sociais. Ao
tratar desse tema, Mondin (2009, p. 133) ao tratar desse tema
escreveu o seguinte:

O homem é um animal essencialmente político e


sociável, como já havia observado Aristóteles na sua
política. {...} o menor dos atos humanos e qualquer
realidade, por mais minúscula que seja, estão
envolvidos num regime social e político que os
dirige e os compenetra por toda parte. Assim, em
nosso tempo, os problemas sociais e políticos
adquiriram importância fundamental.

A questão política trata do entendimento do Estado. É


inquirido a sua origem, estruturação, forma de governo mais

32
adequada, e sua finalidade. Também trata de compreender a “sua
natureza ética e sua relação com a moralidade social, entre estado e
os cidadãos, entre estado e igreja, entre estado e partidos”.

2.3. ESTÉTICA

Falar de arte talvez não seja um hábito das pessoas em


geral. Entretanto, essa questão na filosofia foi pensada e vários
pensadores contribuíram na formação desse conceito. Talvez você
já discutiu com alguém e opinou sobre o gosto por alguma obra de
arte e não obteve êxito. Existe uma frase popular que diz: “gosto
não se discute”. Em filosofia, o gosto se discute, para entender seus
vários aspectos. Ideias de beleza, gosto e arte são analisadas no
ramo da filosofia chamada estética. Mas tal análise ultrapassa o
estudo desses termos e indaga sobre o estilo, propósito do criador, e
da imaginação criativa na arte. Questiona-se sobre a obra de arte,
sobre que fator ou fatores influenciam na produção de qualquer
objeto na área artística. Estuda-se a influência social e cultural da
arte, tanto para acomodar como para transformar a sociedade.

2.4. LÓGICA

A lógica não é filosofia. Ela é um instrumento utilizado pela


filosofia para produzir um saber organizado e correto do ponto de
vista da argumentação racional. Aristóteles é conhecido como o pai
da lógica. Ele criou o silogismo para apresentar o funcionamento

33
da lógica e demonstrar sua eficiência, mas também demonstrou
como identificar um argumento mentiroso ou um sofisma.

A lógica estuda o pensamento enquanto pensado.


Basicamente, a lógica está a nossa disposição para lidar com o
conhecimento por ser considerado complexo. Mondin (2009, p. 11)
nos diz que “a lógica não pressupõe uma gnosiologia, da qual é
antes de tudo um instrumento indispensável para atingir a verdade.
Ao contrário, pressupõe a psicologia. Pois é por meio desta que
vem a saber quais são os tipos de conhecimento de que a mente
humana é dotada. Obtidas essas informações (dadas pela
psicologia), a lógica trata de estudar as condições fundamentais que
possibilitam tais tipos de conhecimento e de estabelecer as normas
de seu funcionamento correto”.

A lógica é subdividida em três grandes ramos, cada um


visando seu propósito. A primeira, a lógica formal, objetiva a
análise das qualidades dos pensamentos para firmar as regras da
argumentação correta. A segunda, a lógica transcendental, investiga
o valor dos nossos conhecimentos, como eles se justificam como
verdadeiro. A terceira, a lógica matemática, que fornece as regras
sobre o relacionamento dos termos entre si, para, em seguida,
definir o tipo de explicação adequada, ao ser adotado.

34
2.5. RELIGIÃO
Nesse assunto, a filosofia se dedica a questionar a religião.
Desde que o homem surgiu, ele pratica a religião. A religião está
presente em todas as culturas. Não há uma cultura na história da
humanidade que não tenha expressado sua religiosidade. Dessas
experiências se pensa no homem como ser religioso.
Para Mondin (2009), “A religião, com efeito, é um
fenômeno real, típico do homem, porém é também um fenômeno
problemático e – ousarei dizer – o mais problemático de todos”. As
indagações dos filósofos são sobre os seguintes assuntos: a
natureza da religião; as características que definem as crenças nas
religiões; os argumentos sobre a existência de Deus; atributos de
Deus; linguagem religiosa; problema do mal.

2.6. HISTÓRIA DA FILOSOFIA

Esse ramo trata da questão de levantar as influências


ideológicas que contribuíram para o surgimento de diversas
filosofias. São observadas como tais filosofias persuadiram
sociedades e instituições, quem são os homens que as formularam e
como as escolas filosóficas foram fundadas e avançaram. Exemplo:
escola socrática, escola agostiniana, escola empirista, escola
racionalista etc.

35
2.7. FILOSOFIA DA HISTÓRIA

Essa disciplina nada tem a ver com a história da filosofia,


mas consiste numa crítica reflexiva sobre a ciência histórica
utilizando-se também de elementos analíticos e especulativos. O
filósofo histórico analisa conceitos e métodos históricos. Esse
estudo questiona a meta da explicação histórica; se o relato
histórico deve ser considerado objetivo; se o que diz um historiador
tem o mesmo peso da declaração cientifica; se a história é cíclica
ou linear; se existe ou não uma história universal.

2.8. FILOSOFIA DA CIÊNCIA

Segundo Cotrim (2002, p. 239), “a ciência se caracteriza


pela busca de conhecimento sistemático e seguro dos fenômenos do
mundo”. A ciência tem como uma de suas metas, tornar o mundo
compreensível de modo que o ser humano possa controlar a
natureza. O homem passa, através da ciência, a ser o administrador
da natureza mediante o conhecimento. Compete, portanto, ao
filósofo da ciência refletir sobre essa ambiguidade da ciência
(avanço tecnológico e regressão dos valores humanos), suas
pretensões, suas possibilidades, seus acertos e erros, buscando
compreender algumas questões, como, por exemplo: qual a
especificidade do saber científico, quais as condições e limites
desse conhecimento, qual o sentido da ciência para a vida humana,
quais os limites da atividade científica.

36
2.9. EPISTEMOLOGIA

Nesta disciplina, discute-se sobre a gênese e a natureza do


conhecimento. É um tema de destaque da filosofia, pois trata de
entender: como sabemos sobre algo? Como é possível justificar que
alguém sabe? É possível atingir a verdade de qualquer coisa? O que
nos fornece a percepção sensorial é verdadeiro? O que pensamos
sobre algo é o que o objeto é? O objetivo é se ocupar das
capacidades e incapacidades de quem sabe.

2.10. METAFÍSICA

A metafísica é uma disciplina complexa da filosofia. Ela


tem a ver com o nascimento da filosofia. O significado do termo
“metafísica” é “além da física”. Trata-se de estudar uma realidade
que está além da matéria. É o estudo do ser ou da realidade; é
analisar a existência e natureza do que é conhecido.

As questões que se busca entender são: quais os elementos


básicos e objetivos da realidade? Como definir o espaço e o tempo?
Todo efeito foi causado? Existem coisas universais, quem são?
Existe algo ou alguém imutável? Em fim, os pensadores antigos
chegaram a conclusão de que a composição da realidade era de
quatro elementos: água, ar, fogo e terra.

37
2.11. FILOSOFIA DA MENTE

Do desenvolvimento da metafísica, na contemporaneidade,


surgiu a filosofia da mente. Ela estuda a mente humana e também
sua ligação com o corpo. Questiona a possibilidade da construção
de inteligências artificiais que funcionam com a mente humana e
em que nível os homens são como máquinas. As questões
levantadas por essa disciplina são as seguintes: a mente humana
pode ser considerada uma realidade? Quais as características do
que é mental? A consciência tem relação com posturas mentais?
Que relação há entre mente e corpo? Como os homens são
parecidos como a máquina? É possível fazer inteligências artificiais
estruturadas como mentes?

2.12. TEORIA DA AÇÃO

Essa disciplina é nova no âmbito da filosofia e está ligada a


várias outras disciplinas filosóficas. Todas as áreas da filosofia não
avançariam sem as questões levantadas pela teoria da ação. Esta é
responsável pela praticidade da avaliação das diversas disciplinas
filosóficas. Eis algumas das questões feitas por essa disciplina: o
que é uma ação e como se relaciona com um fato? Que relação há
entre a ação e o desejo?

38
LEITURA COMPLEMENTAR

OS FILÓSOFOS E A FILOSOFIA

Filósofos diferentes têm posturas diversas com relação a esta


imagem institucional de sabedoria e compreensão. O filósofo que
descrevi até agora leva muito a sério o seu papel de guardião da
tradição: para ele a possibilidade e a alternativa são um risco
perigoso, do qual deve se proteger, e suas “demonstrações” têm
exatamente o objetivo de afastar do público ignorante o espectro da
catástrofe. Mas há, ainda, o filósofo que tem simpatia pelas
alternativas, que, na verdade, está convencido de que certa
alternativa (um tipo de sociedade, ou organização econômica, ou
legal, ou uma determinada prática científica) seja muito melhor que
a realidade atual: este se dedicará com fervor missionário a fazer
propaganda da sua alternativa preferida e a convencer o mundo de
seu trágico erro. E, por fim, há o filósofo mais desencantado (ou
mais cínico) que se rebela contra a imagem institucional, pelo
menos no nível do discurso, e que, portanto, mais naturalmente se
escuda atrás de outros tipos sociais: o escritor, o esteta, o
provocador. Este não crê saber como estão as coisas ou como
deveriam estar, não tem sabedoria à venda mas, no entanto,

39
continua a criticar toda a (presumível) sabedoria existente, a
revelar-lhe a ausência de fundamentos, não porque tenha algo
melhor fundamentado a oferecer, mas porque a sua tarefa, ou
paixão ou destino, é o de revelar a falta de fundamento de cada
crença, de cada prática, obrigar as pessoas a primeiro tipo; Platão e
Marx, do segundo; Sócrates e Nietzsche, do terceiro. E todos,
embora com motivações diferentes, deram a sua importante
contribuição para o alargamento das fronteiras do possível que
constituía o seu verdadeiro objetivo.

(BEMCIVENGA, Ermano. Giochiamo com la filosofia. Milão: Amoldo


Mondadori, 1990).

40
RESUMO DO TÓPICO 2

Conhecer as disciplinas da filosofia, que são frutos da curiosidade


dos pensadores do passado e do presente, é vital para conhecer e
entender a filosofia, pois é através dessas disciplinas que podemos
melhor entender a função da filosofia ou mesmo ter uma melhor
noção do que é filosofia. Cada disciplina estudada acima foi objeto
de estudo dos diversos filósofos, e hoje podemos vislumbrar toda
discussão que cada uma delas pode nos oferecer e, assim, poder
avançar em seu estudo.

41
AUTOATIVIDADE

 Faça uma crítica analisando os pontos fortes de cada


disciplina filosófica como também os pontos negativos que
podem ser encontrados em cada proposta epistemológica.

42
TÓPICO 3

COMO SABER O CERTO

INTRODUÇÃO

A questão de como saber o certo foi muito debatida ao


longo do tempo e por isso temos vários pontos de vista sobre esse
assunto. O que é correto? O que é bom? O que é errado? São
questões éticas de alta importância sobre o conhecimento e ações
humanas. Neste tópico, trataremos das teorias sobre o que é correto
e bom, bem como sobre o que certo na perspectiva cristã.

3.1. TEORIAS SOBRE O CERTO

Há quem entenda que quem tem o poder tem o direito. Tudo


que acompanha quem tem o poder, seja qual for, integra-se ao que
é certo. Na República de Platão, Trasímaco afirmava que “a justiça
existe no interesse da parte mais forte”. Conforme Geisler e
Feinberg (1996), os que discordam dessa posição distingue o poder
e a bondade, acreditando que é possível ser bom sem poder, e
poderoso sem bondade. Exemplo: ditadores, candidatos a cargo de
poder etc.

43
Outros defendem que o conceito de certo é definido pelo
grupo social a que o indivíduo está integrado. Ou seja, a orientação
sobre o que é correto é, na verdade, cultural. O resultado dessa
concepção é a relativização do conceito do que é certo, pois varia
de cultura para cultura. O que pode ser certo em uma cultura pode
não ser em outras.

Também há quem entenda que é o indivíduo que define o


que é certo ou errado, o bom e o ruim, conforme sua vontade. Essa
compreensão é conhecida como relativismo. Ou seja, o que é
correto para alguém, pode estar incorreto para outro alguém. O
pensamento do filósofo grego Protágoras “o homem é a medida de
todas as coisas” descreve bem essa concepção.

Ao discordar das posições individualistas, alguns acreditam


que o certo não é encontrado, nem na individualidade nem nas
sociedades individuais, mas na humanidade inteira. Esta julga o
que é certo e dessa perspectiva global surge à influência para a
decisão particular ou individual. A humanidade é quem determina
as coisas, incluindo o que é certo.

Outra posição antiga propõe o conceito de correto como a


ação moderada. O certo é encontrado no entremeio de atitudes
paradoxal. A moderação era compreendida como a via certa da
ação. Exemplo: a temperança se localiza entre a tolerância e a
insensibilidade. O orgulho é o termo médio entre vaidade e
humanidade. Enfim, a moderação pode ser uma boa orientação para

44
a vida prática em geral, mas não é uma clara descrição do que é
certo, do ponto de vista universal.

Existem alguns pensadores que negam a existência do que é


certo ou do que é errado. Estes pensadores são chamados de
antinomistas (contra-lei). Estes trocam o termo “deve” pela frase
“sinto”. A ética não é vista como mandamentos e sim como
manifestação do sentimento pessoal. A objeção a esse ponto de
vista está na concepção de que o correto ou verdadeiro é uma
questão de gosto. Este conceito de ética não descreve a realidade do
conceito “deve”. Como se pode basear “devo” como significando
“sinto”?

Por outro lado, temos a posição dos hedonistas (ética do


prazer), que definem o que é certo como sendo a experiência
prazerosa e a desprazeroza como a atitude errada. A revelação entre
certo e errado depende de uma situação prazer ou desprazer. A
proposta pode ser entendida como o fator que conduz ao ápice do
prazer e a redução da dor é a decisão correta a tomar.

A escola dos utilitaristas propõe, aprofundando o


hedonismo, que o certo é aquilo que traz “o maior bem para o
maior número de pessoas”. Geisler (2007) cita dois utilitaristas com
pontos de vista distintos: Bentham, que propôs que o bem deve ser
compreendido na esfera quantitativa – o quanto de prazer era
atingindo e por quanto tempo; e Stuart Mill, que focou no aspecto

45
qualitativo do bem, por acreditar que há bens físicos maiores que
outros.

Definir o bem ou o certo com base em algo será preciso


perguntar se esse algo é certo ou bom. Se o bem é o prazer, pode-se
questionar se o resultado trará o bem ou o mau. É preciso saber se o
objeto tomado como certo ou bom é de natureza boa ou correta. A
escolha do bem deve resultar da capacidade de que o desejo por ele
garanta sua finalidade.

Há quem defenda que o bem não pode ser essencialmente


compreendido. Geisler e Feinberg (1996) citando G. Moore, “o
bem é um conceito que não pode ser nem analisado nem definido”.
Na vertente de Moore, todo esforço de definir o bem ou certo não
passa de falácia natural. Ou seja, dizemos que o bem é bom
mediante a dedução de que naturalmente o bem é conhecido como
bom. A ideia de que o bem é bom é intuída. Conhecemos os
derivados do bem, mas não o próprio bem por não conseguir defini-
lo.

Pensadores cristãos procuraram oferecer uma solução


defendendo que o bem e o certo só podem ser assim pensados em
conformidade com o propósito divino e o errado como decisões
opostas aos propósitos de Deus. O bem não pode ser definido como
alguma coisa abaixo do que é uma realidade ulterior (além da
matéria, imaterial). Os propósitos divinos são eficazes e o conteúdo
bíblico preceitua sua vontade. Portanto, o bem e o correto estão

46
descritos na Bíblia tendo como seu autor o sumo bem (Deus). A
vontade de Deus é boa por ser ele bom.

3.2. O CORRETO E O ERRADO PARA O CRISTÃO

Dos pontos de vistas acima apontados, temos uma boa ideia


de como é complexa a questão do certo e do errado. Como
tentativas de explicar o fenômeno do certo e do errado, todas as
teorias acima deram sua contribuição para o debate. Na sequência,
veremos a proposta cristã do que seja o certo e o errado, de como
tais conceitos são elaborados.

O princípio do correto se baseia no caráter de Deus:


santidade, imutabilidade, justiça e amor. O Deus cristão é
compreendido não como arbitrário, ou dependente de algo maior
que ele mesmo. Sua vontade é seu caráter em ação, e nada é
superior a ele. Em Rm: 12.2, o apóstolo Paulo disse: “... A vontade
de Deus é boa perfeita e agradável”. Portanto, obedecer a vontade
de Deus é a forma correta de fazer o que é certo e bom. De que
forma podemos saber sua vontade? Mediante o universo, incluindo
a humanidade (Sl 19.1-4), e a Bíblia, as escrituras conhecida como
a sua palavra.

Toda humanidade criou códigos morais embasados em


princípios éticos que testificam a lei moral absoluta no interior do
homem (Rm 2.14,15). Entretanto, apesar dos princípios básicos de

47
ética adotados pelas diversas culturas, o homem vive aquém do que
desejaria viver. Isso se justifica pela natureza (moralidade humana)
caída e precisa de Cristo para redimi-lo (resgatá-lo moralmente e
espiritualmente).

A realidade da universalidade da lei moral é claramente


percebida nas ações dos não-cristãos, em acreditar no que deve ser
feito, apesar de não fazerem. O interessante aqui é a consciência do
que deve fazer que nos conduzam a posição de aceitar a lei moral
como absoluta. Então, pela existência da lei moral na existência
humana somos levados à ideia de que há uma vontade suprema
direcionando nossos comportamentos, ainda que pratiquemos ou
não.

3.3. RELAÇÃO ENTRE NORMAS E CONSEQUÊNCIAS

As normas foram criadas com a finalidade de controlar o


comportamento humano. Ela atende a necessidade de conscientizar
o indivíduo de que seu comportamento deve pautar em alguns
padrões pré-definidos para o bom funcionamento do ambiente em
que se encontra. Normatizar é informar que a liberdade individual
deve seguir as regras sociais para um melhor andamento da vida
social. Liberdade sem regras se torna libertinagem. Entretanto, as
normas foram criadas pelos homens para orientar as ações do
próprio homem para lhe trazer segurança e tranquilidade. Sem
normas a vida seria uma bagunça.

48
Não se pode viver a vida sem regras. Seja lá como for, todos
nós precisamos de normas para se conduzir de forma a respeitar os
outros e a nós mesmos. Somos seres morais e, como tais, temos que
nos comportar seguindo as normas, que são sempre sociais, doutra
forma, seríamos como animais, regidos apenas pelos instintos
fazendo sempre o que quisesse. Então, desde cedo aprendemos a
nos comportar para que possamos nos tornar cidadãos adaptados a
vida social e não sejamos indivíduos à margem da sociedade, que
cria a sua própria regra e se torna estranho e assustador.

Quando passamos a viver do nosso jeito, sem regras, como


fora da lei, a sociedade nos expulsa de sua companhia. Existem
várias maneiras de ser punido pela sociedade. Se você trabalha em
uma empresa e quer fazer as coisas do jeito que você acha que é
certo, recebe uma bronca; se teimar, recebe outra chamada; e, se
tornar a fazer de novo, é demitido. Outro caso é do filho que não
obedece aos pais. Geralmente é punido com palmadas, suspensão
de alguma coisa desejada, ficar na cadeira da reflexão, se alguém
tirar algum objeto de outrem poderá ser preso, etc. Sempre existe
consequência para quem desobedece às normas sociais. As
normais são vitais para os indivíduos e para a sociedade, logo,
nenhum grupo social pode sobreviver sem elas.

As normas e as punições variam de sociedade para


sociedade. No entanto, o que devemos atentar é que elas são uma
realidade. Se as normas não existissem, o caos seria instalado.
Como exemplo de caos, temos a guerra. Em estado de guerra, o

49
caos é instaurado e todas as desgraças acontecem por causa da
suspensão da lei. Nossa constituição brasileira reza que temos o
direito de ir e vir. No entanto, essa liberdade só funciona em estado
de paz e não de guerra. Em época de guerra, não há regras e as
coisas mais complexas, que em estado de paz onde a regra em
funcionamento não permitiria, socialmente acontecem. Não
existem normas em época de guerra e agente só sabe o valor dela
quando a perde.

50
LEITURA COMPLEMENTAR

DA DISTINÇÃO ENTRE CONHECIMENTO PURO E


EMPÍRICO

Não há dúvida de que todo o nosso conhecimento começa com a


experiência; do contrário, por meio do que a faculdade de
conhecimento deveria ser despertada para o exercício senão através
de objetos que toquem nossos sentidos e em parte produzem por si
próprios representações, em parte põem em movimento a atividade
do nosso entendimento para compará-las, conectá-las ou separá-las
e, desse modo, assimilar a matéria bruta das impressões sensíveis a
um conhecimento dos objetos que se chama experiência? Segundo
o tempo, portanto, nenhum conhecimento em nós precede a
experiência, e todo o conhecimento começa com ela. Mas, embora
todo o nosso conhecimento comece com a experiência, nem por
isso todo ele se origina justamente da experiência. Pois poderia
bem acontecer que mesmo o nosso conhecimento de experiência
seja um composto daquilo que recebemos por impressões e daquilo
que a nossa própria faculdade de conhecimento (apenas provocada
por impressões sensíveis) fornece de si mesma, cujo aditamento
não distinguimos daquela matéria-prima antes que um longo
exercício nos tenha chamado a atenção para ele e nos tenha tornado
aptos a abstraí-lo. Portanto, é uma questão que requer pelo menos
uma investigação mais pormenorizada e que não pode ser logo
despachada devido aos ares que ostenta, a saber, se há um tal
conhecimento independente da experiência e mesmo de todas as
51
impressões dos sentidos. Tais conhecimentos denominam-se a
priori e distinguem-se dos empíricos, que possuem suas fontes a
posteriori, ou seja, na experiência. (...) No que se segue, portanto,
por conhecimentos a priori entenderemos não os que ocorrem
independente desta ou daquela experiência, mas absolutamente
independente de toda a experiência. Opõem-se-lhes os
conhecimentos empíricos ou aqueles que são possíveis apenas a
posteriori, isto é, por experiência. Dos conhecimentos a priori
denominavam-se puros aqueles aos quais nada de empírico está
mesclado. Assim, por exemplo, a proposição: cada mudança tem
sua causa, é uma proposição a priori, só que não pura, pois
mudança é um conceito que só pode ser tirado da experiência.

(KANT, Immanuel. Crítica da razão pura. Trad. de Tânia Maria Bernkopf. São
Paulo: Nova Cultural, 1991. p. 25-26. (Os pensadores)).

52
RESUMO DO TÓPICO 3

Vimos neste tópico:

 Que é muito diversa a compreensão sobre o que é certo e

errado.

 Que, para o cristão, o critério de verdade está no modo do

ser de Deus.

 Que há uma relação entre a existência da lei e as

consequências sofridas pelos humanos quando a transgride.

53
AUTOATIVIDADE

1. O que você entendeu sobre as teorias que explicam o que é

correto?

2. Como podemos entender o que é bom?

3. É possível fazer o que é correto?

4. Por que a ideia de normas deve trazer consigo as

consequências?

54
UNIDADE 2

Gerson Francisco de Arruda Júnior

Lógica e Epistemologia:
Conceitos Introdutórios

OBJETIVOS DA UNIDADE
Ao final da unidade você será capaz de:

 Entender o que é a lógica e de que ela trata;


 Saber o que é uma proposição e seus tipos;
 Conhecer os tipos de argumentos e como
identificar premissas e conclusão;
 Definir o que é conhecimento;
 Caracterizar o conhecimento e as possibilidades de
obtê-lo.

GUIA DE ESTUDOS
A Segunda Unidade se divide em:

TÓPICO 1 – O QUE É A LÓGICA?

TÓPICO 2 – O QUE É UMA PROPOSIÇÃO?

TÓPICO 3 – ARGUMENTOS

TÓPICO 4 – O QUE É O CONHECIMENTO?

55
56
TÓPICO 1

O QUE É A LÓGICA?

INTRODUÇÃO

Apesar de ser uma disciplina da filosofia, a lógica está


presente em todas as nossas atividades. Ao abrirmos a nossa boca
para dar algum pronunciamento sobre o mundo ou ao pensarmos
algo sobre ele, precisamos da lógica. O presente tópico tem como
objetivo definir o que é a lógica e mostrar as suas divisões.

1.1. DEFINIÇÕES DE LÓGICA

Ao considerarmos o tema da lógica na filosofia, termos que


destacar dois importantes aspectos que caracterizam o estudo da
lógica.

O primeiro é o aspecto ontológico, visto que a lógica (do


grego “logos”) está intimamente ligada à racionalidade do mundo.
Esse aspecto está relacionado ao modo como o mundo é e como ele
se apresenta a nós. O segundo aspecto é o aspecto linguístico, que
está relacionado à linguagem e ao modo de dizer o mundo.

57
O aspecto linguístico é o aspecto que será considerado nas
seguintes definições de lógica. Pode-se definir a lógica como “o
estudo dos argumentos válidos”. Nesse caso, ela “é a tentativa
sistemática para distinguir argumentos válidos dos inválidos”
(NEWTON-SMITH, 2011, p. 13).

A lógica também pode ser concebida como “o estudo de


inferências válidas”. Desse modo, ela se caracteriza por se
apresentar como sendo “uma teoria da inferência” (SILVESTRE,
2011, p. 19). Sendo uma teoria da inferência, há dois aspectos
fundamentais que caracterizam a lógica. O primeiro deles é o
aspecto Inferencial, que se ocupa com o estudo das inferências
válidas; o segundo é o aspecto Representacional, que se ocupa
com o estudo de maneiras adequadas de representar enunciados.
Tais aspectos definem o escopo da lógica. Ou seja, ela se ocupa das
inferências válidas e do modo como os enunciados devem ser
simbolizados.

Outra maneira de definir a lógica é considerando-a como o


“estudo dos métodos e princípios usados para distinguir o
raciocínio correto do incorreto” (COPI, 1981, p. 19).

1.2. AS LEIS DO PENSAMENTO

Quando se estuda lógica, sobretudo a lógica clássica, é


imprescindível dirigir nossa atenção para as chamadas “Leis do

58
Pensamento”. Tais Leis são princípios fundamentais de todo o ser
(realidade), de toda a maneira correta de pensá-lo, e de toda a
maneira de se falar dele com sentido. Desse modo, as Leis do
Pensamento são princípios da Razão. Tais princípios são: o
Princípio da Identidade, o Princípio da Não Contradição, e o
Princípio do Terceiro Excluído. Cada um desses princípios ou leis
pode ser considerado a partir dos pontos de vista ontológico, lógico
e epistemológico.

1.2.1. Princípio da Identidade

O Princípio da Identidade talvez seja o princípio menos


difícil de ser entendido.

Do ponto de vista ontológico, ele pode ser anunciado da


seguinte maneira: “uma coisa é sempre idêntica a si mesma”. Por
exemplo: o lápis que agora tenho em minha mão é igual a ele
mesmo. Nada pode ser diferente de si mesmo.

Do ponto de vista lógico, o Princípio da Identidade é


descrito como uma identidade entre o todo e as suas partes, isto é,
“entre o todo e as suas partes há sempre uma identidade”.

Já do ponto de vista epistêmico, ele é assim apresentado:


“uma coisa é sempre pensada como igual a si mesma”.

59
1.2.2. Princípio da Não Contradição

A segunda Lei do Pensamento é o Princípio da Não


Contradição. Tal princípio foi assim anunciado pelo filósofo
Aristóteles, no livro gama da sua Metafísica: “O mesmo atributo
não pode pertencer e não pertencer à mesma coisa, ao mesmo
tempo e sob o mesmo aspecto” (ARISTÓTELES, 1969, III).

Do ponto de vista ontológico, tal princípio é assim descrito:


“nada pode ser A e não-A ao mesmo tempo e sob as mesmas
condições”. Por exemplo, ninguém pode ser pai e não-pai ao
mesmo tempo e sob as mesmas condições.

Do ponto de vista lógico, a Lei da Não Contradição é assim


apresentada: “um enunciado não pode ser, ao mesmo tempo,
verdadeiro e falso”.

Já do ponto de vista epistêmico, o Princípio da Não


Contradição é descrito da seguinte maneira: “não se pode pensar A
de algo (predicar) e negá-lo (negar a predicação), ao mesmo tempo
e sob as mesmas condições”.

1.2.3. Princípio do Terceiro Excluído

A última das Leis do Pensamento, mas não menos


importante do que as outras, é o Princípio do terceiro Excluído.

60
Do ponto de vista ontológico, tal princípio é entendido da
seguinte forma: “uma coisa é ou não é, não há meio termo”. Por
exemplo, alguém é professor ou não é professor. Ninguém pode ser
meio professor.

Do ponto de vista lógico, ele é muito simples de ser


anunciado: “dada uma proposição, podemos dizer que ela é
verdadeira ou falsa, a terceira opção é excluída”.

Já do ponto de vista epistêmico, a lei do Terceiro Excluído


pode ser assim apresentado: “quando pensada, uma proposição ou é
verdadeira ou é falsa, uma terceira opção é excluída”.

1.3. DIVISÃO DA LÓGICA

A lógica como disciplina da filosofia está dividida em dois


grupos: a Lógica Clássica e a Lógica Não-Clássica.

A Lógica Clássica é caracterizada por ser binária, isto é, ela


só admite dois valores de verdade, a saber, o verdadeiro e o falso.

Já a Lógica, ou melhor, as Lógicas Não-Clássicas não são


binárias e, exatamente por isso, admitem outros valores de verdade
além do verdadeiro e do falso.

61
1.3.1. Divisão da Lógica Clássica

A Lógica Clássica se divide em:

a) lógica PROPOSICIONAL (das proposições), que tem


como unidade base a proposição que exprime um acontecimento.
Ex: “O Brasil é um país da América Latina”. Esta lógica está ligada
à investigação dos juízos compostos e, por isso, é considerada
como uma lógica Interproposicional.

b) lógica de PREDICADOS, cuja unidade base são os


termos no interior da proposição. É uma lógica Intraproposicional.

1.3.2. Divisão da Lógica Não-Clássica

A Lógica Não-Clássica se divide em:

a) COMPLEMENTARES, que complementam a lógica


clássica com a introdução de novos operadores lógicos. São
exemplos de Lógicas Não-Clássicas complementares:

- Lógica Modal, que acrescenta os seguintes operadores


lógicos: possibilidade, contingência e necessidade.

- Lógica Deôntica, que acrescenta os operadores lógicos:


permitir, proibir, indiferente, obrigatório.

- Lógica do Tempo, que acrescenta os operadores lógicos


temporais: ontem, hoje, amanhã, agora.

62
b) NÃO-COMPLEMENTARES, concebidas como novas
lógicas, rivais da Lógica Clássica. Seu objetivo é superar os limites
teóricos da Lógica Clássica. São exemplos de Lógicas Não-
Clássicas Não-complementares:

- Lógica Trivalente, que acrescenta o valor de verdade


“indeterminado”. Ex: “Gerson dará aulas amanhã” tem valor
indeterminado, pois nem é verdadeiro, nem falso. Esse tipo de
lógica tenta romper com a lei do terceiro excluído.

- Lógica Paraconsistente, que admite que uma sentença e a


sua negação podem ser ambas verdadeiras. Esse tipo de lógica tenta
romper com a lei da não-contradição.

- Lógica Não-Reflexiva, é aquela para a qual o princípio da


identidade não vale em geral.

63
LEITURA COMPLEMENTAR

Limites do papel da lógica na filosofia

Aristóteles considerava a lógica um instrumento filosófico


imprescindível e a tradição escolástica cultivou a argumentação
estritamente silogística. No entanto, a cultura filosófica está hoje
dividida quanto ao papel da lógica na filosofia. Ao inaugurar a
filosofia da época moderna, Descartes introduziu também um
profundo desprezo pela lógica silogística, a única então conhecida,
enquanto instrumento filosófico. É irónico que os filósofos mais
argumentativos da época moderna, como Descartes e David Hume,
tenham desprezado o papel da lógica na filosofia. Esta atitude ficou
sem dúvida a dever-se às insuficiências da própria lógica silogística
e talvez também ao juízo nem sempre justo daqueles que, ao
procurar inovar numa dada área do conhecimento, sentem o legado
deixado pela tradição como um obstáculo incómodo aos seus novos
propósitos e métodos. É neste contexto que temos de entender a
afirmação de Kant de que a lógica era, já no seu tempo, uma
disciplina acabada e perfeita (Cf. Crítica da Razão Pura, BVIII).
Um século mais tarde, Frege e Russell iriam provar que Kant

64
estava profundamente enganado: muito havia ainda a fazer no
estudo da lógica.

O advento da lógica moderna de Frege e Russell cristalizou


duas atitudes antagônicas quanto ao papel da lógica na filosofia.
Por um lado, há filósofos que ignoram a lógica (seja ela moderna
ou silogística), à semelhança dos seus antecessores do
Renascimento. Por outro lado, filósofos houve, como Carnap, que
viram na lógica moderna o instrumento que em última análise
permitiria a solução dos problemas filosóficos. Hoje em dia já
ninguém partilha com Carnap esta crença errada nos poderes da
sintaxe da lógica dedutiva. No entanto, continua a fazer-se sentir
uma divisão quanto ao papel da lógica na filosofia. De um lado,
continuam aqueles que negam à lógica qualquer pertinência para a
filosofia e, do outro, aqueles que, apesar de não acreditarem que a
lógica possa resolver os problemas da filosofia, lhe reservam
todavia um papel importante. É a esse papel, e aos seus limites, que
resolvi dedicar estas páginas, sem pressupor por parte do leitor
qualquer conhecimento de lógica.

A natureza da lógica

O conhecimento humano tem duas fontes: a experiência e a


razão. Na linguagem filosófica é costume dizer-se que uma
proposição é a priori se a sua verdade pode ser conhecida sem

65
apelar para a experiência; e a posteriori se pelo contrário só
podemos conhecer a sua verdade através da experiência.

Um raciocínio é o processo pelo qual se chega a uma


conclusão, partindo de uma sequência de proposições, a que se
chamam premissas. As premissas e a conclusão podem ser a priori
ou a posteriori.

É necessário distinguir o conceito lógico de raciocínio do


conceito psicológico de raciocínio. O conceito psicológico de
raciocínio denota aquela atividade mental que os seres humanos
realizam desta ou daquela maneira, melhor ou pior, com prazer ou
não. O conceito lógico de raciocínio é uma abstração independente
de factores psicológicos. A lógica não estuda o fenómeno
psicológico do raciocínio; isso é estudado por parte da psicologia.
A lógica não é uma disciplina empírica acerca da maneira como as
pessoas raciocinam de facto. A lógica é uma disciplina a priori que,
entre outras coisas, estabelece as normas que as pessoas têm de
cumprir se desejam realmente alcançar o raciocínio correcto ou
válido. Se a lógica fosse uma disciplina empírica acerca da maneira
como as pessoas pensam de facto, teria de admitir como correctos
ou válidos aqueles raciocínios que a maioria das pessoas realizam
supondo serem correctos ou válidos. Mas a verdade é que os
raciocínios incorrectos ou logicamente inválidos não se tornam
válidos mesmo que todas as pessoas os tomem como válidos.

66
É necessário agora distinguir claramente a validade, ou a
correção de um raciocínio, da verdade. A validade é uma
propriedade dos raciocínios e não das proposições que os
compõem, ao passo que a verdade é uma propriedade das
proposições que compõem os raciocínios. Isto é, uma proposição
pode ser verdadeira ou falsa; mas não faz sentido dizer que é válida
ou inválida. Pelo contrário, um raciocínio é válido ou inválido mas
não faz sentido dizer que é verdadeiro ou falso. Esta não é uma
mera convenção, nem uma distinção meramente verbal; ela
corresponde à diferença que existe entre a avaliação de um
raciocínio e a avaliação de uma proposição. Avaliar uma
proposição é muito diferente de avaliar um raciocínio.

Quando avaliamos um raciocínio e sancionamos a sua


qualidade, afirmamos que ele nos “conduz” à verdade, assumindo
que as premissas são verdadeiras. Esta verdade a que ele nos
“conduz” é a proposição que se conclui. Assim, avaliar
positivamente um raciocínio é afirmar que, assumindo a verdade
das suas premissas, ele nos garante a verdade da conclusão. Logo,
temos de distinguir essa qualidade que os bons raciocínios têm, que
consiste em garantir a verdade das suas conclusões, da própria
verdade das suas conclusões: é preciso distinguir o comboio que
nos conduz ao Porto, do Porto.

A melhor forma de explicar a diferença entre verdade e


validade é através de um exemplo. Tome-se o seguinte raciocínio:

67
Sócrates e Platão eram egípcios.

Logo, Sócrates era egípcio.

Este raciocínio é claramente válido. Mas é a sua premissa


verdadeira? Pode ser verdadeira ou falsa; a lógica nada nos diz
sobre isso. E a sua conclusão é verdadeira ou falsa? A lógica
também não diz. O que a lógica afirma é que se a premissa for
verdadeira, então a conclusão também é verdadeira: é por isso que
é um raciocínio dedutivo válido. É aliás isso mesmo que é um
raciocínio dedutivo válido. Um raciocínio dedutivo válido é aquele
em que se as premissas forem verdadeiras, a conclusão também
será verdadeira. Claro está que se as premissas forem falsas a
conclusão pode ser falsa, ainda que o raciocínio seja válido.

A lógica estuda as leis da inferência dedutiva. A lógica


estuda as leis que permitem que de premissas verdadeiras se
derivem conclusões verdadeiras. A lógica não pode pronunciar-se
sobre a verdade das premissas de um raciocínio; afirma apenas que
a conclusão de um raciocínio é verdadeira se, e só se, (1) o
raciocínio for válido; e (2) as premissas forem todas verdadeiras.

Está claro que existem outros tipos muito comuns de


raciocínio: a indução e analogia. Mas nestes casos as conclusões
não se seguem logicamente das premissas. Um raciocínio indutivo
razoável é ainda um raciocínio dedutivamente inválido. Note-se

68
que as premissas de um raciocínio dedutivo tanto podem ser a
priori como a posteriori. Porém, as teorias e os argumentos
tipicamente filosóficos não só são dedutivos, como muitas vezes as
premissas desses argumentos são a priori, no sentido em que não
são confirmáveis ou refutáveis pela experiência. Teorias e
argumentos indutivos e com premissas a posteriori são típicos das
disciplinas empíricas como a história ou a física.

Verdade e ilusão

Se um raciocínio for válido ou correcto e se as suas


premissas forem verdadeiras, a sua conclusão também será
verdadeira. Está claro que podemos obter conclusões verdadeiras a
partir de premissas falsas com raciocínios inválidos; por exemplo:

Nenhum pássaro é preto.

Logo, algumas coisas pretas são pássaros.

Também podemos obter conclusões verdadeiras a partir de


premissas falsas com raciocínios válidos; por exemplo:

Sócrates era francês e Platão era grego.

Logo, Sócrates era francês ou Platão era grego.

69
Estes dois exemplos mostram como se pode chegar a
conclusões verdadeiras — o principal interesse dos filósofos —
partindo quer de premissas falsas, quer de raciocínios inválidos.
Chegámos por isso ao ponto em que os mais saudavelmente
cépticos perguntarão que papel poderá a lógica ter na filosofia,
considerando que podemos ter as seguintes situações:

1) raciocínios inválidos com premissas falsas e conclusões falsas;

2) raciocínios inválidos com premissas verdadeiras e conclusões


verdadeiras;

3) raciocínios inválidos com premissas verdadeiras e conclusões


falsas;

4) raciocínios inválidos com premissas falsas e conclusões


verdadeiras;

e ainda:

5) raciocínios válidos com premissas falsas e conclusões falsas;

6) raciocínios válidos com premissas falsas e conclusões


verdadeiras;

E que, para além de distinguir claramente os argumentos


válidos dos inválidos, a lógica só nos garante que

7) em raciocínios válidos com premissas verdadeiras as conclusões


são também verdadeiras.

70
Para responder a esta pergunta tenho de voltar a lembrar o
facto de que todo o conhecimento humano é fruto ou da
experiência ou do raciocínio. Se optarmos por uma postura
intelectual honesta não podemos deixar de nos perguntar como
poderemos nós distinguir o conhecimento verdadeiro da mera
ilusão. Que critério podemos nós usar que nos permita distinguir a
verdade da ilusão? A resposta depende do domínio de
conhecimento a que nos referimos. Se estamos no domínio do
conhecimento empírico temos a experiência como guia: ninguém
acredita numa proposição que afirma que todos os pássaros são
pretos quando o nosso canário é amarelo, ainda que esta seja
defendida por uma qualquer grande autoridade, com um léxico
terrorista e uma gramática barroca.

Mas como poderemos nós distinguir a verdade da ilusão, do


erro e da falsidade quando as proposições que proferimos estão
completamente fora do alcance da experiência? Se alguém nos
afirma que os humanos são essencialmente racionais, mas
acidentalmente bípedes, como reagir a esta afirmação? É
certamente muito diferente daquela outra que afirmava que todos
os pássaros são pretos. Nesse caso tínhamos a experiência para
confirmar ou refutar tal ideia. Mas agora não temos tal coisa. E se
estamos num domínio cognitivo não podemos considerar como
argumento o facto de essa pessoa afirmar ter tido uma experiência
mística em que essa verdade lhe foi revelada. Talvez ela pense que
teve essa experiência; mas como vamos nós conseguir distinguir a

71
experiência verdadeira que ela pensa que teve, da ilusão de que a
teve? Num contexto cognitivo é irrelevante apelar para
experiências pessoais que não podem ser repetidas por terceiros e
que nem eles próprios podem distinguir da mais banal das ilusões
— ainda que isso seja reconfortante de um ponto de vista afetivo e
pessoal (para aquelas pessoas que são pouco exigentes quanto ao
valor de verdade daquilo em que querem acreditar). Mas a ciência,
a filosofia e a arte não são pessoais mas sim públicas, discutíveis,
passíveis de controlo por terceiros. Não se aceita uma lei da física
que só se verifica no laboratório de um cientista quando ele está
sozinho; não se aceita uma proposição da filosofia para a qual não
há argumentos discutíveis, mas que o filósofo afirma sentir ser
verdadeira; não se aceita o valor de um quadro que ninguém
consegue jamais apreciar exceto aquele mesmo que o pintou.

Lógica, argumentos, filosofia

A tarefa da filosofia, tal como a tarefa das ciências, é


descobrir proposições verdadeiras. Mas ao contrário do que
acontece com as ciências empíricas, a experiência raramente
fornece à filosofia um critério para distinguir a verdade da
falsidade. Assim, apesar de a lógica parecer fornecer tão pouco, é
afinal o único meio seguro que temos para excluir argumentos que,
ainda que conduzam à verdade, o fazem de forma tal que não
podemos realmente saber se estamos perante a verdade ou perante a

72
ilusão. A lógica não pode decidir se as premissas são ou não
verdadeiras; a lógica não pode tão pouco decidir se a conclusão de
um raciocínio é verdadeira ou não; mas a lógica diz-nos se tal
conclusão resulta realmente ou não de tais premissas.

É a lógica que permite distinguir claramente os argumentos


válidos das falácias. Uma falácia é um argumento inválido que no
entanto parece ser válido. Quando o nosso campo de investigação
excede claramente a experiência, só a lógica permite evitar as
falácias. Repare-se no seguinte argumento: Tem de existir algo
que seja a causa de todas as coisas, porque todas as coisas têm
uma causa.

A generalidade das pessoas que desconhece lógica aceita


este argumento. No entanto ele é falacioso, como sabem aqueles
que conhecem os rudimentos mínimos de lógica para a
investigação filosófica. Repare-se que se alguém nos afirmar que
tem de existir alguém que seja a mãe de todas as pessoas porque
todas as pessoas têm uma mãe, já se vê claramente que o
argumento não é válido. Isto acontece porque a conclusão pode ser
verificada empiricamente: não existe uma pessoa que seja a mãe de
todas as pessoas. Mas este argumento é logicamente idêntico ao
argumento anterior; a forma lógica de ambos os raciocínios é a
mesma. Num caso temos proposições empiricamente verificáveis;
no outro não – mas temos a lógica que permite excluir
imediatamente também o primeiro argumento como inválido.

73
Repare-se num argumento típico da filosofia: o filósofo
quer defender a ideia de que o bem é o que dá prazer. Nós
perguntamos: por que diz você tal coisa? E ele responde: porque
isto, e porque aquilo, e porque aqueloutro; logo, o bem é o que dá
prazer. A lógica permite-nos dizer: não senhor, dessas premissas é
que não se pode derivar tal conclusão; esse raciocínio não é válido.
Até pode ser que o bem seja o que dá prazer; mas a proposição que
afirma que o bem é o que dá prazer não se pode derivar das
premissas apresentadas. Como não podemos ter dados empíricos
acerca de tal questão, vamos ter de arranjar outras quaisquer
premissas donde se possa derivar que o bem é o que dá prazer.

Há dois mil anos que os filósofos cristãos procuram um


argumento dedutivo para provar a existência do seu deus; mas até
hoje ninguém conseguiu. O que é também típico da filosofia: é que
a lógica diz-nos se um argumento é ou não válido; mas mesmo que
um argumento não seja válido pode ser que a sua conclusão seja
verdadeira. Mas quem a propõe tem de convencer a inteligência
dos outros filósofos; e o único recurso é arranjar um outro
argumento que seja válido.

Claro está que ainda que um filósofo conceba um


argumento válido para demonstrar que Deus existe, não se segue
que Deus existe de facto; segue-se apenas que se as premissas
desse argumento forem verdadeiras, Deus existe. Os filósofos
passam agora a discutir a verdade de uma ou outra premissa em
particular; e para argumentar a favor dessa premissa em particular

74
vamos ter outra vez o dilema: ou temos o critério da experiência
para confirmá-la ou temos de argumentar. Mas se temos de
argumentar (o que é tipicamente o caso da filosofia), temos outra
vez todo o processo a repetir-se. É isto que torna a filosofia muito
difícil.

O que torna a filosofia sublime é o carácter extraordinário


que a faz perguntar pelo que a experiência não pode alcançar, sem
desistir de exigir que se distinga a verdade da ilusão. Estas
perguntas podem ser incómodas para as pessoas que têm um forte
espírito técnico e um fraco espírito interrogativo, ou para as
pessoas que querem ter a todo o custo conforto espiritual, sem se
preocuparem muito em saber se aquilo que os conforta é ou não
realmente verdade. Mas a filosofia é fundamentalmente uma
atividade de fazer perguntas incômodas e tentar encontrar respostas
razoáveis.

Perguntas muito simples sobre as questões mais gerais da


realidade. Tão gerais que não podem ter uma resposta empírica. A
questão de saber o que é a consciência pode ser, num certo sentido,
respondida pelas ciências empíricas. Mas quando a neurofisiologia,
a psicologia e as ciências da cognição nos disserem o que é a
consciência, o problema filosófico sobre a natureza da consciência
continuará a existir. O filósofo dirá: “Sabemos agora o que é a
consciência e como funciona. Mas as coisas poderiam ou não ter
sido de outra maneira? Qualquer ser que possua consciência tem de
ter uma consciência como a nossa?” A questão filosófica sobre a

75
consciência fica sem dúvida enriquecida com a investigação
científica; mas não se confunde com ela. (Alguns filósofos
analíticos poderão achar este meu aparente antinaturalismo
chocante. Mas concordarão sem dúvida que o que caracteriza a
filosofia é um certo tipo de investigação conceptual; a questão de
saber que conexão tem essa investigação com as ciências empíricas
é posterior ao carácter conceptual da investigação filosófica. Aliás,
o que há de mais evidente nos filósofos naturalistas, como Quine, é
o facto de terem de defender a priori as suas doutrinas naturalistas:
nenhuma informação empírica pode ajudá-los a sustentar essa tese,
que por isso é tipicamente filosófica. O naturalismo não é uma tese
naturalista.).

As teorias filosóficas típicas não podem ser confirmadas ou


infirmadas pela experiência; ultrapassam-na. Só a lógica e a
discussão séria podem ajudar-nos a avaliar a verdade das suas
teorias, uma vez que queremos excluir do nosso estudo o apelo
irracional a experiências místicas. Mas como vimos, um argumento
válido nunca é conclusivo em filosofia porque é sempre possível
duvidar da verdade das premissas; por outro lado, um argumento
inválido pode ainda assim ter uma conclusão verdadeira. Assim, a
lógica não pode de forma alguma resolver os problemas da
filosofia; não pode pelo menos, seguramente, resolvê-los todos.
Mas é um instrumento básico sem o qual a tarefa do filósofo é
bastante mais confusa, correndo o risco de se tornar ou num
discurso autofágico, ou num veículo de divulgação disfarçada de

76
ideias pouco inteligentes que querem furtar-se à livre discussão. O
verdadeiro filósofo é aquele que procura satisfazer a sua
curiosidade intelectual pela verdade, nada sacrificando ao valor da
verdade; por mais que uma ideia seja pessoalmente reconfortante
para um intelectual, o seu compromisso é com a verdade, não com
o conforto; o seu compromisso é com a inteligência, não com a
crença injustificada. Quem poderá pretender que a garantia da
verdade de uma tese é o facto de o autor sentir que ela é
verdadeira? Não se trata de deitar o sentimento humano fora,
transformando assim as pessoas em máquinas destituídas de
sentimentos. Trata-se muito simplesmente de ser imperioso
distinguir a verdade da ilusão. Por mais que um pintor que não tem
qualquer domínio de qualquer técnica de pintura sinta que o mau
quadro que pintou é bom, temos de poder distinguir esse
sentimento que ele tem acerca do valor do seu quadro da verdade
acerca do valor do seu quadro.

(MURCHO, Desidério. Limites do papel da lógica na filosofia. Revista


Filosófica de Coimbra, n. 14, 1998, p. 389-399).

77
RESUMO DO TÓPICO 1

Nesse tópico, você aprendeu:

 A definição da Lógica enquanto disciplina da filosofia;

 A divisão da Lógica;

 As três importantes Leis do pensamento.

78
AUTOATIVIDADE

1. Escolha uma das definições de lógica aqui apresentada e


comente.

2. Exemplifique com proposições cada uma das Leis do


Pensamento.

3. Descreva como a lógica está divida e o que caracteriza cada


um de seus grupos.

79
TÓPICO 2

O QUE É UMA PROPOSIÇÃO?

2.1. DEFINIÇÃO DE PROPOSIÇÃO

Uma proposição é uma ideia expressa por uma sentença


declarativa/afirmativa, cujo significado está susceptível a um único
valor de verdade, ou seja, Verdadeiro ou Falso. São proposições as
seguintes frases: “Recife é a capital do estado de Pernambuco”;
“Moisés foi um grande profeta judeu”; “A terra é redonda”.

Na lógica, distingue-se proposição de sentença. Uma


sentença é qualquer sequência de palavras gramaticalmente correta.
Sentenças que não são proposições:

- “Você entendeu?” (É uma pergunta – sentença interrogativa);

- “Cuidado!” (É uma exclamação – sentença exclamativa);

- “Fecha a porta!” (É uma ordem – sentença imperativa);

Nenhuma dessas sentenças é uma proposição porque não


temos como decidir o seu valor de verdade. Uma sentença
declarativa que não expressa uma proposição é um enunciado.

80
2.2. SENTENÇAS X PROPOSIÇÕES

A relação entre a sentença e a proposição é muito


interessante e variada.

Pode ser o caso de termos duas sentenças, mas uma única


proposição. Por exemplo, quando afirmamos que “José quebrou a
cadeira” e “A cadeira foi quebrada por José”, expressamos duas
sentenças diferentes (uma voz ativa e a outra na voz passiva), mas
uma única proposição. Uma única ideia.

Contudo, pode ser o caso também termos uma única


sentença, porém mais de uma proposição. Por exemplo, quando
afirmamos “Todo homem ama uma mulher” ou quando dizemos
“José viu a moça com um binóculo”.

No primeiro exemplo, pode ser o caso de cada homem amar


uma única mulher, ou todos amarem a mesma mulher. Já no
segundo, quem está com o binóculo? Se for José, temos uma
proposição, se for a moça indicada, temos outra proposição
completamente diferente.

2.3. CLASSIFICAÇÃO DAS PROPOSIÇÕES

As proposições podem ser classificadas quanto à qualidade,


quantidade, modalidade, relação.

81
a) quanto à qualidade – aponta para a propriedade que a proposição
possui de ser afirmativa ou negativa.

Em uma proposição afirmativa, o predicado convém ao


sujeito. Ex: João é homem.

Em uma proposição negativa, o predicado não convém ao


sujeito. Ex: Lionel Messi não é cantor.

b) quanto à quantidade – destaca a extensão em que é tomado o


sujeito da proposição. Nesse aspecto, a proposição pode ser
Singular, Particular, Universal.

- Na quantidade Singular, o sujeito designa apenas um indivíduo, e


a proposição pode ser afirmativa (por exemplo, “este homem é
mortal”; “Messi é jogador”) ou negativa (por exemplo, “este
homem não é mortal”);

- Na qualidade Particular, o sujeito é tomado em parte da sua


extensão, ou seja, não refere apenas um indivíduo nem a totalidade
de sua classe. As proposições com a quantidade particular também
pode ser afirmativa (por exemplo, “Alguns homens são
professores”) ou negativa (por exemplo, “Alguns filósofos não são
gregos”).

- Na quantidade Universal, o sujeito é tomado em toda a sua


extensão, isto é, toda a classe a que pertence o sujeito é assumida.

82
Pode ser afirmativa (por exemplo, “Todos os homens são mortais”)
ou negativa (por exemplo, “Nenhum homem é mortal”).

c) quanto à modalidade – ressalta-se o tipo de modalidade existente


entre o sujeito e o predicado. Quanto à modalidade, uma
proposição pode ser Assertórica, Apodítica, Problemática.

- Na modalidade Assertórica (ou contingente), o predicado da


proposição convém, mas não necessariamente, ao sujeito. Por
exemplo, “a mesa é quadrada” (Ela poderia ser redonda ou
quadrada).

- Na modalidade Apodítica (ou necessária), o predicado da


proposição convém necessariamente ao sujeito. Por exemplo, “O
triângulo tem três lados”.

- Na modalidade Problemática (ou duvidosa), a afirmação ou


negação da proposição envolve certa possibilidade. Por exemplo,
“Passarei nas provas de exame” (Não sei ainda).

d) quanto à relação, as proposições podem ser Categórica,


Hipotética Condicional, Hipotética Disjuntiva.

- Categórica, quando a relação enunciada não está subordinada a


outra, nem se apresenta em alternativa a outra possibilidade. Por
exemplo: “Esta música é de Bach”.

83
- Hipotética Condicional, quando a relação é condicional. Por
exemplo: “Se estou atento, aprendo melhor”.

- Hipotética Disjuntiva, quando a relação é disjuntiva. Por


exemplo: “Ou eu falo, ou eu como”.

84
LEITURA COMPLEMENTAR

Proposição

Uma proposição é o conteúdo verdadeiro ou falso expresso


por uma afirmação. Usamos frases para exprimir proposições. Mas
nem toda a frase exprime uma proposição: ordens, perguntas,
conselhos só em casos especiais exprimem proposições.

Exemplos:

As seguintes frases exprimem a mesma proposição:

- Está a chover.

- Esta llooviendo.

- It is raining.

- Il pleut.

As seguintes frases exprimem a mesma proposição:

João ama Maria.

Maria é amada pelo João.

85
Discussão: Faz sentido pensar numa proposição como o significado
de uma frase. O significado de uma frase tem várias componentes:

Denotação: o estado de coisas que a frase afirma ser o caso.

Conotação: os sentimentos, ideias ou emoções provocadas


pela frase no auditor.

Ênfase: a importância relativa que o autor atribui aos


diferentes elementos da frase. Por exemplo, na frase “O fogo
enfurecia-se pelo monte” a denotação da frase é asserção de que
um fogo ocorre no monte. A conotação é a de que isso deve ser
temido (a palavra “enfurecia-se” implica cólera e perigo). O ênfase
desta frase está no próprio fogo. Se tivéssemos escrito “Pelo monte
enfurecia-se o fogo” a ênfase estaria no monte.

Os filósofos discutem bastante sobre o significado. Alguns


dizem que o significado é apenas a denotação. Outros dizem que é
a combinação apenas da denotação e da conotação. Outros ainda
(incluindo Stephen Downes) dizem que o significado é a
combinação dos três — denotação, conotação e ênfase.

Valor de Verdade

Uma proposição pode ter um dos seguintes valores de


verdade: Verdadeiro ou Falso.

86
Os filósofos discutem muito sobre o que constitui a verdade.
Por agora podemos usar uma caracterização muito simples:

“P” é verdadeira se e somente se P.

“P” é falsa se e apenas se não-P.

Exemplos:

A proposição “A neve é branca” é verdadeira se e somente se a


neve for branca.

A proposição “A neve é branca” é falsa se e somente se a neve não


for branca.

Por outras palavras, uma proposição é verdadeira se ela


descreve correctamente um estado do mundo, e será falsa se
descrever incorretamente um estado do mundo.

(DOWNES, Stephen. Proposição. Trad. e adap. de Júlio Sameiro. Disponível


em: https://criticanarede.com/proposit.html. Acesso: 20/06/2018)

87
RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico, aprendemos:

 O que é uma Proposição.

 A distinção entre Proposição e Sentença.

 Os tipos de Proposição.

88
AUTOATIVIDADE

1. Defina proposição.

2. Descreve a principal diferença entre sentença e proposição.

3. Caracterize os tipos de proposição, exemplificando cada uma


delas.

89
TÓPICO 3

ARGUMENTOS

3.1. DEFINIÇÃO DE ARGUMENTO

Um argumento é qualquer grupo de proposições tal que se


afirme ser uma delas derivada (logicamente) das outras. A
proposição derivada é chamada de conclusão; as outras, das quais
ela é derivada, são chamadas de premissas.

Nesse sentido, um argumento não é uma coleção de


proposições, nem também nenhuma proposição tomada em si
mesma, isoladamente, é uma premissa ou conclusão.

3.2. TIPOS DE ARGUMENTOS

Os argumentos dividem-se em dois grupos: Dedutivo e


Indutivo.

3.2.1. Dedutivo

Os argumentos dedutivos possuem as seguintes


características:

90
a) são argumentos cuja validade depende exclusivamente de sua
forma lógica;

b) em um argumento dedutivo é logicamente impossível que as


premissas sejam verdadeiras e a conclusão falsa. É, portanto, um
argumento conclusivo;

c) os argumentos dedutivos são não-ampliativos, isto é, tudo o que


está contido na conclusão já foi dito, ainda que implicitamente, nas
premissas;

d) as premissas de um argumento dedutivo fornecem provas


conclusivas;

e) os argumentos dedutivos são chamados válidos ou inválidos,


sem admitir graus de validade.

O exemplo clássico de um argumento dedutivo é o


conhecido silogismo:

Todos os homens são mortais

Sócrates é homem

Sócrates é mortal.

3.2.2. Indutivo

Os argumentos dedutivos possuem as seguintes


características:

91
a) os argumentos indutivos são ampliativos, ou seja, a conclusão
diz mais do que é afirmado nas premissas;

b) as premissas de um argumento indutivo fornecem provas não


conclusivas. A conclusão não é conclusiva, apenas muito provável;

c) os argumentos indutivos são chamados de fortes ou fracos,


segundo o grau de probabilidade.

O que segue é um exemplo de argumento indutivo:

Essa vacina funciona bem em macacos.

Essa vacina funciona bem em ratos.

Essa vacina funciona bem em porcos.

Logo, essa irá funcionar bem em seres humanos.

3.3. VALIDADE E VERDADE

Um dos temas importantes no estudo dos argumentos é a


relação entre a verdade ou falsidade das premissas e a validade ou
invalidade do argumento, no caso dos argumentos dedutivos.

Incialmente, convém destacar que “Verdadeiro” e “Falso”


são predicados das proposições. Já “Válido” e “Inválido” são
predicados de argumentos, e só podem pertencer a argumentos
dedutivos.

92
3.3.1. Relação entre verdade/falsidade e validade/invalidade

Eis um breve resumo da relação entre verdade/falsidade e


válido/inválido:

a) Todas as proposições Verdadeiras, argumento válido:

Todas as baleias são mamíferos. (V)

Todos os mamíferos têm pulmões. (V)

Logo, Todas as baleias têm pulmões. (V)

b) Todas as proposições Falsas, argumento válido:

Todas as aranhas têm seis patas. (F)

Todos os seres de seis patas têm asas. (F)

Logo, Todas as aranhas têm asas. (F)

c) Todas as proposições Verdadeiras, argumento inválido:

Se Temer tivesse todo o ouro do Banco Central, ele seria


um homem rico. (V)

Temer não tem todo o outro do Banco Central (V)

Logo, Temer não é um homem rico (V)

93
4) Todas as proposições Falsas, argumento inválido:

Todo engenheiro torce pelo Íbis. (F)

Cristiano Ronaldo é torcedor do Íbis. (F)

Logo, Cristiano Ronaldo é engenheiro. (F)

5) Todas as premissas Verdadeiras, conclusão Falsa.

Se Temer possuísse todo o ouro do Banco Central, seria


rico. (V)

Temer não tem todo o ouro do Banco Central (V)

Logo, Temer não é rico (F)

Esse argumento é inválido, pois é impossível que um


argumento válido tenha premissas verdadeiras e conclusão falsa.

Observações:

a) “Verdade” e “Falsidade” da conclusão não determinam a


“validade” ou “invalidade” de um argumento;

b) Do mesmo modo, a validade de um argumento não garante a


verdade de suas proposições;

94
3.4. INDICADORES DE PREMISSAS E CONCLUSÃO

Expressões que assinalam que a sentença que os contém é


uma conclusão.

Portanto, Por isso, Assim, Dessa maneira, Neste caso, Daí, Logo,
De modo que, Então, Assim sendo, Podemos deduzir que,
Podemos concluir.

Expressões que assinalam que a sentença que os contém é


uma premissa.

Pois, Desde que, Como, Porque, Assumindo que, Visto que,


Admitindo que, Em vista de, Dado que, Supondo que.

95
LEITURA COMPLEMENTAR

TIPOS DE ARGUMENTOS

Os raciocínios, quando expressos e materializados no


discurso, constituem enunciados argumentativos (argumentos)
através dos quais podemos encadear proposições (juízos) para
assim chegar a uma determinada conclusão.

De forma simples, podemos considerar que existem três tipos de


argumentos:

Dedutivo: “argumento cuja validade depende unicamente da sua


forma lógica, ou da sua forma lógica juntamente com os conceitos
usados”.

− Exemplo em que a validade depende da sua forma lógica: “Se os


animais têm direitos, têm deveres; dado que não têm deveres, não
têm direitos”. A forma, neste caso, é: “Se P, então Q; não Q; logo,
não P”.

− Exemplo em que a validade depende da sua forma lógica com os


conceitos usados: “A neve é branca; logo, tem cor”.

96
Nota: como podemos ver no seguinte exemplo: “Alguns filósofos
são gregos; logo, alguns gregos são filósofos”, não é verdade que
neste tipo de argumentos se parta sempre do geral para o particular.

“Raciocínio pelo qual de uma ou mais proposições conhecidas


(antecedente) se conclui necessariamente uma proposição
desconhecida (consequente) nelas, de algum modo, incluída e
implicada.”

Indutivo: “termo usado para falar de dois tipos diferentes de


argumentos: as generalizações e as previsões”.

− Uma generalização é um argumento cujas premissas são menos


gerais do que a conclusão. Por exemplo: “Alguns corvos são
pretos; logo, todos os corvos são pretos”.

− Uma previsão é um argumento cujas premissas se baseiam no


passado e cuja conclusão é um caso particular. Por exemplo:
“Todos os corvos observados até hoje são pretos; logo, o corvo do
João é preto”.

“Forma de argumento em que a verdade das premissas não basta


para assegurar a verdade da conclusão; isto é, no argumento
indutivo, a conclusão não surge como consequência necessária
(lógica) das premissas.” (L. Hegenberg, Iniciação à Lógica e à
Metodologia das Ciências).

Analógico: “consiste em estabelecer uma relação de semelhança


entre coisas distintas”.

97
“A analogia (…) baseia-se na comparação de objetos de duas
espécies diversas. (…) Objetos de uma espécie são bastante
semelhantes, sob certos aspectos, a objetos de outra espécie. (…)
Por analogia, sendo os objetos das duas espécies muito parecidos,
sob certos aspectos, conclui-se que eles serão parecidos em relação
a outros aspectos. Logo, os objetos da segunda espécie também
apresentam aquela propriedade que se sabe estar presente nos
objetos da primeira espécie.” (Wesley Salmon, Lógica).

(Extraído: https://filosofianoliceu.blogs.sapo.pt/8950.html)

98
RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico, aprendemos:

 O que é um argumento.

 Os tipos de argumentos.

 A relação entre verdade e validade.

99
AUTOATIVIDADE

1) Identifique premissas e conclusão nos textos abaixo.

Texto 1:

“Nada é demonstrável, a não ser que o contrário implique


contradição. Nada que é concebível distintamente implica uma
contradição. O que quer que concebamos como existente, nós
podemos também conceber como não existente. Não há ser,
portanto, cuja não existência implica uma contradição.
Consequentemente, não há ser cuja existência é demonstrável. Eu
proponho esse argumento como inteiramente decisivo e pretendo
basear nele toda a controvérsia”.

(Hume, Diálogos sobre a religião natural)

Texto 2:

“Não se parece com diamante. Não tem a dureza de diamante. Não


tem o seu brilho. Como pode ser diamante?”

100
Texto 3:

“As leis democráticas geralmente tendem a promover o bem-estar


do maior número possível de pessoas, pois elas emanam da maioria
dos cidadãos, que podem estar errados, mas que não podem estar
em conflito de interesses com eles próprios. As leis de uma
aristocracia, ao contrário, tendem a concentrar riqueza e poder nas
mãos da minoria, pois uma aristocracia, por sua própria natureza,
constitui uma minoria. Pode-se então ser afirmado, em geral, que o
propósito de uma legislação em uma democracia é mais útil para a
humanidade que aquele da legislação em uma aristocracia”.

(Tocqueville, A democracia na América)

101
TÓPICO 4

O QUE É CONHECIMENTO?

INTRODUÇÃO

De acordo com o filósofo grego Aristóteles, “todos os


homens têm, por natureza, o desejo de conhecer”. Essa afirmação
nos conduz a várias perguntas: O que é, de fato, o conhecimento?
Quais as suas possibilidades? Será que temos mais de um tipo de
conhecimento? Essas são as perguntas básicas respondidas pela
presente unidade.

4.1. O QUE É A TEORIA DO CONHECIMENTO?

A teoria do conhecimento é uma disciplina filosófica que


tem como objeto de estudo o conhecimento. Pode ser definida
como uma tentativa de compreender filosoficamente como se dá o
processo do conhecimento.

Segundo Hassen (1999), uma boa teoria do conhecimento


tem que dar conta de pelo menos 3 problemas principais: a) O que
é conhecimento; b) A possibilidade do conhecimento; c) A origem
do conhecimento.

102
4.1.1. O que é o conhecimento?

Na história do pensamento ocidental, vários pensadores e


filósofos se depararam com o desafio de definir conhecimento.
Embora divergentes em questões periféricas, a grande maioria
deles concordam que conhecer é estabelecer uma determinada
relação entre dois polos: por um lado, temos o sujeito do
conhecimento; do outro lado, encontramos o objeto do
conhecimento.

Nesse caso, conhecer seria uma relação entre um sujeito e


um objeto. Ao sujeito do conhecimento dá-se o nome de sujeito
cognoscente, e ao objeto do conhecimento dá-se o nome de objeto
cognoscível. O termo “cognoscente” designa algo capaz de
conhecer, ou seja, algo que possui uma estrutura cognitiva que lhe
permita conhecer. Já o termo “cognoscível” designa algo possível
de ser conhecido.

Em termos mais técnicos, uma definição clássica de


conhecimento é aquela que se encontra no diálogo platônico
Teeteto, e que ficou conhecida como a definição tripartite ou
tripartida de conhecimento. Desse ponto de vista, conhecimento é
definido como uma “Crença verdadeira justificada” (GETTIER,
1963). Ou seja, três condições (por isso “tripartida”) são
necessárias e suficientes para que haja conhecimento.

A primeira condição é a Crença, pois é impossível conhecer


algo sem acreditar nisso que se conhece. Por exemplo, se conheço

103
que Paris é a capital da França, então eu creio que Paris é a capital
da França.

A segunda condição é que a crença deve ser Verdadeira,


pois, para que haja conhecimento, aquilo em que acreditamos tem
que ser verdadeiro. Ou seja, a crença tem que ser verdadeira, pois,
se ela for falsa, não teremos conhecimento dela. Ninguém pode de
fato conhecer o que é falso.

A terceira condição é a crença verdadeira estar Justificada,


porque tenho que ter boas razões para aceitas as crenças
verdadeiras.

4.1.2. A possibilidade do Conhecimento

Em se tratando do tema possibilidade do conhecimento, o


ponto de partida é a definição de conhecimento como sendo uma
relação entre um sujeito cognoscente e um objeto cognoscível.
Assim, dentre as possibilidade de conhecimento, temos: o
Dogmatismo, Ceticismo, Subjetivismo ou Relativismo.

a) Dogmatismo

A palavra “dogma” é bastante conhecida e denota uma


“doutrina estabelecida”. Nesse sentido, o Dogmatismo defende que
a possibilidade do conhecimento é certa. Desse ponto de vista,

104
portanto, a relação entre o sujeito capaz de conhecer e o objeto
capaz de ser conhecido é assumida como sendo autoevidente.

Como todas as demais teorias sobre as possibilidades do


conhecimento, o Dogmatismo assume alguns pressupostos. Um dos
mais relevantes é o da acentuada confiança na capacidade da razão,
mais especificamente em sua capacidade de apreender (de modo
direto) aquilo o objeto do conhecimento. Desse modo, o sujeito
cognoscente é capaz de captar o objeto cognoscível diretamente,
isto é, sem qualquer mediação.

Outro pressuposto é que, para os dogmáticos, os objetos do


conhecimento são dados aos sujeitos como realmente são, ou seja,
são dados em “si mesmos”. Isso implica dizer, mais uma vez, que
durante o processo do conhecimento, não há qualquer mediação
durante o processo do conhecimento.

Na história do pensamento ocidental, vários pensadores


foram dogmáticos: Platão, Agostinho, Descartes, Leibniz, Wolff.

b) Ceticismo

O termo “cético” vem do grego skeptis e pode ser traduzido


por “dúvida”, “incredulidade” e “descrença”.

Como uma teoria do conhecimento, o Ceticismo contesta a


possibilidade da relação entre o sujeito cognoscente e o objeto

105
cognoscível. Nesse caso, o Ceticismo se constitui uma posição
epistemológica que defende uma teoria extremamente oposta à
teoria do Dogmatismo.

Do ponto de vista do Ceticismo, nenhum sujeito é capaz de


apreender o objeto. O ponto central do seu argumento é o de que,
no suposto processo do conhecimento, há tantas interferências – na
linguagem técnica da epistemologia: há tantos anuladores – no
modo como o sujeito percebe o objeto, que o impossibilita manter
uma relação que seja capaz de produzir qualquer tipo de
conhecimento.

Mas não há unanimidade no pensamento cético, e muitos


hoje classificam o ceticismo em, pelo menos, três tipos: Radical,
Metafísico e Metodológico.

O Ceticismo Radical, também chamado de Lógico ou


Absoluto, é o tipo de Ceticismo que nega qualquer tipo de
conhecimento. Definitivamente, não há conhecimento.

O Ceticismo Metafísico é mais flexível e nega apenas a


existência do conhecimento metafísico.

Por fim, há ainda o chamado Ceticismo Metodológico, que


não é bem uma expressão da teoria cética acerca do conhecimento,
mas está relacionado a um método. Tal método consiste em por em
dúvida tudo o que aparece como certo e verdadeiro à consciência,
eliminando tudo o que possibilita um conhecimento absoluto e

106
seguro. Esse método foi, por exemplo, utilizado por Descartes, na
sua busca por certezas inabaláveis.

Vários são os representantes do Ceticismo. Um dos mais


famosos é Pirro de Élis, que defenda a ideia segundo a qual não há
conhecimento. Para ele, todos os juízos deveriam ser suspendidos,
ou seja, nada é verdadeiro ou falso. De um modo menos radical
temos Carnéades, que afirma que um conhecimento estrito é
impossível. O máximo que podemos dizer é que dada proposição é
verossímil, mas nunca verdadeira. São céticos também: Sexto
Empírico, Montaigne, Hume, Bayle.

Contudo, algumas réplicas podem ser levantadas contra o


Ceticismo. A mais evidente delas é que a posição cética quanto ao
conhecimento é, por definição, incoerente e autodestruidora porque
expressa um conhecimento de que o conhecimento é impossível, ou
seja, como um cético sabe (conhece) que o conhecimento não é
possível?

De uma maneira mais pontual, somente o Ceticismo


Metafísico não é autodestruidor, porque ele não nega todo o tipo de
conhecimento, mas apenas o conhecimento metafísico. Isso faz
com que esse tipo de Ceticismo possa ser falso, mas não
contraditório.

107
c) Subjetivismo ou Relativismo

Outra posição epistemológica quanto à possibilidade do


conhecimento é o Subjetivismo e Relativismo. Em tese, não há
qualquer diferença entre ambos, pois negam a existência de
conhecimento universalmente válido.

Mais especificamente, tanto um quanto o outro admitem


que o conhecimento existe, mas é limitado em sua validade. O
Subjetivismo limita a validade do conhecimento ao sujeito que
conhece. Já o Relativismo limita a validade do conhecimento a
fatores externos ao sujeito, tais como: a cultura, o meio-ambiente,
ideologia, etc.

Apesar de ser uma posição epistemológica muito comum


hoje em dia, o Subjetivismo e o Relativismo têm como um de seus
principais representantes os Sofistas gregos. Dentre estes,
Protágoras tem o protagonismo por ter sido aquele que melhor
expressou a tese do relativismo com a ideia de “homem mensura”:
o homem é a medida de todas as coisas; das que são enquanto são,
e das que não são enquanto não são.

Há, porém, algumas réplicas que podem ser enunciadas


contra o Subjetivismo e Relativismo. A mais expressiva delas é
que, se o conhecimento é relativo, o conhecimento que subjetivistas
e relativistas possuem de que “o conhecimento é relativo” também
é relativo. Ou seja, o próprio conhecimento deles é relativo e,
portanto, sem qualquer validade universal.

108
4.1.3. A origem do conhecimento

Com relação à origem do conhecimento, a pergunta central


é a seguinte: onde ou em que é que a consciência de um sujeito
cognoscente se apoia para conhecer? Na história do pensar
ocidental, há duas respostas que são consideradas tradicionais: o
Racionalismo, Empirismo e o Intelectualismo.

Segundo o Racionalismo, a razão é a fonte de todo o


conhecimento. Já para o Empirismo, a experiência é a fonte de todo
o conhecimento. Várias são as características do Racionalismo e do
Empirismo. Em forma de quadro, temos:

Racionalismo Empirismo

Razão independe da experiência Razão depende da experiência

Admite a existência de ideias e Ideias e conceitos são adquiridos


conceitos inatos por meio da experiência sensorial

A consciência cognoscente retira A consciência cognoscente retira


seu conteúdo da razão seu conteúdo da experiência

Tem como base o método Tem como base a percepção


matemático e geométrico sensorial

Ênfase no conhecimento a priori Ênfase no conhecimento a


posteriori

Ênfase na dedução Ênfase na indução

Conhecimento necessário e de Conhecimento contingente e de


validade universal validade particular

Ligado ao Dogmatismo Ligado ao ceticismo metafísico

109
No caso do Intelectualismo, que é uma mediação entre o
Racionalismo e o Empirismo, tanto a razão quanto a experiência
participam na formação do conhecimento. Para os intelectualistas,
o conhecimento é um processo que se dá da seguinte forma: a
consciência do sujeito cognoscente retira seus conceitos da
experiência sensível.

Sendo assim, o Intelectualismo admite que há juízos


necessários ao pensamento, mas estes não são inatos; os elementos
do juízo são adquiridos e formados a partir da experiência sensível.
Por isso que ele se constitui uma mediação entre Racionalismo
(razão) e Empirismo (experiência sensível).

Os principais representantes dessa teoria epistemológica são


Aristóteles e Tomás de Aquino.

110
LEITURA COMPLEMENTAR

Da distinção entre conhecimento puro e


empírico

Não há dúvida de que todo o nosso conhecimento começa com a


experiência; do contrário, por meio do que a faculdade de
conhecimento deveria ser despertada para o exercício senão através
de objetos que toquem nossos sentidos e em parte produzem por si
próprios representações, em parte põem em movimento a atividade
do nosso entendimento para compará-las, conectá-las ou separá-las
e, desse modo, assimilar a matéria bruta das impressões sensíveis a
um conhecimento dos objetos que se chama experiência? Segundo
o tempo, portanto, nenhum conhecimento em nós precede a
experiência, e todo o conhecimento começa com ela. Mas, embora
todo o nosso conhecimento comece com a experiência, nem por
isso todo ele se origina justamente da experiência. Pois poderia
bem acontecer que mesmo o nosso conhecimento de experiência
seja um composto daquilo que recebemos por impressões e daquilo
que a nossa própria faculdade de conhecimento (apenas provocada
por impressões sensíveis) fornece de si mesma, cujo aditamento

111
não distinguimos daquela matéria-prima antes que um longo
exercício nos tenha chamado a atenção para ele e nos tenha tornado
aptos a abstraí-lo. Portanto, é uma questão que requer pelo menos
uma investigação mais pormenorizada e que não pode ser logo
despachada devido aos ares que ostenta, a saber, se há um tal
conhecimento independente da experiência e mesmo de todas as
impressões dos sentidos. Tais conhecimentos denominam-se a
priori e distinguem-se dos empíricos, que possuem suas fontes a
posteriori, ou seja, na experiência. (...) No que se segue, portanto,
por conhecimentos a priori entenderemos não os que ocorrem
independente desta ou daquela experiência, mas absolutamente
independente de toda a experiência. Opõem-se a eles os
conhecimentos empíricos ou aqueles que são possíveis apenas a
posteriori, isto é, por experiência. Dos conhecimentos a priori
denominavam-se puros aqueles aos quais nada de empírico está
mesclado. Assim, por exemplo, a proposição: cada mudança tem
sua causa, é uma proposição a priori, só que não pura, pois
mudança é um conceito que só pode ser tirado da experiência.

(KANT, Immanuel. Crítica da razão pura. Trad. de Tânia Maria Bernkopf. São
Paulo: Nova Cultural, 1991. p. 25-26. (Os pensadores)).

112
RESUMO DO TÓPICO 4

Neste tópico, você aprendeu:

 O que é o conhecimento.

 Uma caracterização geral sobre a teoria do conhecimento.

 As possibilidades e a origem do conhecimento.

113
AUTOATIVIDADE

1) Considere a definição clássica de conhecimento, discorrendo


sobre cada uma das partes que a constitui.

2) Descreve as principais tese do Dogmatismo Epistemológico e


critique-as.

3) Para você, na disputa entre Racionalismo e Empirismo quem


está com a razão? Argumente.

114
UNIDADE 3

Hildeberto Alves da Silva Júnior

Relação entre a fé e a razão


OBJETIVOS DA UNIDADE
Ao final da Unidade você será capaz de:

 Entender a importância da fé e da razão;


 Analisar as diversas teorias sobre a fé e o que pode
nos oferecer de seguro;
 Examinar as teorias da razão para saber os seus
limites e suas possibilidades;
 Buscar a melhor alternativa para a questão prática
entre a fé e a razão.

GUIA DE ESTUDOS

A Terceira Unidade se divide em três tópicos:

TÓPICO 1 – FÉ SOMENTE

TÓPICO 2 – RAZÃO SOMENTE

TÓPICO 3 – FÉ E RAZÃO SE COMPLEMENTAM

115
116
TÓPICO 1

FÉ SOMENTE

INTRODUÇÃO

A discussão sobre a relação entre fé e razão tem sido uma


das mais distintas questões debatidas ao longo dos tempos. Porém,
nem sempre há unanimidade quanto à natureza dessa relação. Nesta
unidade você estudará sobre os seguintes assuntos: a fé acima da
razão, a razão acima da fé, e a relação de complementariedade
entre fé e razão como sendo a melhor solução proposta.

Os cristãos tiveram que enfrentar o problema de associar a


fé com a filosofia para defendê-la ante seus acusadores. Muitos
cristãos utilizaram a filosofia; outros, porém, rejeitaram-na ou
criaram uma hierarquia da fé sobre a razão. Os cristãos tomaram
basicamente três atitudes diante da filosofia:

a) a de negação completa – filosofia era sinônimo de “sabedoria


pagã”;

b) a de absorção e adaptação da filosofia aos postulados cristãos;

c) a de caráter defensivo serviu para o exercício da apologética.

117
A verdadeira atividade filosófica cristã começa com os
Padres Apologetas, e a tese geral é de que só o cristianismo é a
verdadeira filosofia.

1.1 SORËN KIERKEGAARD

Inicialmente, quero apresentar as ideias dos opositores da


razão ou da filosofia, por não confiar 100% nas capacidades da
razão humana. Sorën Kierkegaard (1813-1855) é um dos opositores
que argumenta a gênese de sua desconfiança na razão com base no
pensamento cristão da doutrina do pecado. Conforme Kierkegaard,
a queda moral do homem o inviabiliza de conhecer a verdade
divina por rejeitar a Deus, por ser Deus um ser totalmente
transcendente e paradoxal ao que pensa o homem e para alcançar o
conhecimento de Deus o homem terá que dá um salto de fé
fechando os olhos para o racional e se entregar a Deus pela fé
somente. Ele acrescenta que quem não acredita em Deus não será
convencido através de provas, se faz necessário provar
racionalmente a existência de Deus, pois a única prova cristã é o
sofrimento de Cristo. A história não é suficiente para ajudar na
compreensão de Deus, a não ser que seja a de que Deus entrou na
história através de Jesus e a internalização dele pela fé.

Segundo Kierkegaard, o pai do existencialismo moderno, a


mente humana é totalmente incapaz de descobrir qualquer verdade
divina. Há várias razões para a incapacidade da razão humana. O

118
estado caído do homem. O homem está alienado, pelo pecado, de
um Deus santo. Realmente, Deus é uma “ofensa” a homens que
estão num estado perpétuo de rebelião contra Ele. O homem padece
o que Kierkegaard chamava uma “doença mortal” (o título de uma
das suas obras). A própria natureza do pecado do homem torna
impossível para ele conhecer a verdade acerca de um Deus pessoal,
visto ser este o próprio Deus a quem está apaixonadamente
desconsiderando ou rejeitando. A transcendência de Deus. O
homem não pode conhecer qualquer verdade acerca de Deus
porque Deus é “Totalmente Outro.” Deus não somente é uma
ofensa à vontade do homem, como também Ele é um “paradoxo” à
razão do homem. Embora Kierkegaard não alegue que o próprio
Deus é absurdo ou irracional, mesmo assim, Deus é suprarracional;
a verdade de Deus é paradoxal ou parece contraditória a nós.
Porque Deus transcende total- mente a razão, ou está “além” dela,
não há jeito da razão ir além de si mesma para Deus. Nenhum papel
positivo da razão. O melhor que a razão pode fazer é rejeitar o
absurdo ou o irracional, mas isso não pode ser de qualquer ajuda
positiva para atingir a verdade divi-na. A verdade cristã pode ser
conhecida somente por aquilo que Kierkegaard chamava um “salto
da fé.” Com isso quer dizer um puro ato da vontade contra
probabilidades racionais cegantes. Logo, um crente pode ir além da
razão para uma entrega pessoal a Deus pela fé somente. A
ilustração que Kierkegaard dá desta consideração é a resposta de
Abraão ao mandamento de Deus no sentido de sacrificar seu filho
amado, Isaque.

119
Pela fé somente, e sem qualquer justificativa ética ou
racional, Abraão subiu de boa mente ao monte Moriá para
sa-crificar seu filho Isaque em obediência a Deus. As provas são
uma ofensa a Deus. Conforme Kierkegaard, qualquer tentativa
racional no sentido de comprovar a existência de Deus é uma
ofensa contra Deus. É como um amante que insiste em comprovar a
existência da sua amada a outras pessoas enquanto a pessoa ama-
da está presente. Realmente, ninguém sequer começa a comprovar
Deus a não ser que já tenha rejeitado a presença de Deus na sua
vida, diz Kierkegaard. As provas são desnecessárias para os que
acreditam em Deus, e não convencem os que não acreditam. A
única “prova” do cristianismo é o sofrimento, conforme
Kierkegaard, pois Jesus disse: “Vem, toma a tua cruz, e segue-me”
(Marcos 10: 21b).

As evidências históricas não ajudam. Kierkegaard


perguntou: A felicidade eterna pode ser baseada em eventos
históricos? Sua resposta era um “não!” enfático e ressoante. O
eterno nunca pode ser baseado no temporal. O melhor que o
histórico pode fornecer é a probabilida-de - mas o crente precisa da
certeza antes de poder fazer o que Paul Tillich chamava “uma
entrega definitiva ao ulterior.” Somente pela fé no Transcendente é
que a pessoa pode trans-cender a probabilidade humana e histórica
e encontrar a Deus Como cristão, Kierkegaard acreditava que Deus
entrou no tempo em Cristo. Acredi-tava, também, que os eventos
da vida de Cristo eram históricos, inclusive Seu nascimento

120
virginal, Sua crucificação, e Sua ressurreição corpórea. Mesmo
assim, Kierkegaard acreditava que não havia meio algum de ter
absoluta certeza que estes eventos realmente ocorreram. Além
disto, Kierkegaard acreditava que a historicidade destes eventos
não era nem sequer importante. O fato significante não é a
historicidade de Cristo (em tempos passados) mas, sim, a
contemporaneidade de Cristo (no presente) dentro do crente, pela
fé. (Geisler, 1996, p.188)

1.2 KARL BARTH

Karl Barth é outro pensador que vai na mesma direção do


Kierkegaard. Barth argumentava que Deus é “Totalmente Outro” e
que pode ser conheci-do somente através da revelação divina.
Partindo da compreensão da queda moral do homem, ele afirma a
incapacidade do homem conhecer a Deus. O homem precisa de
uma ajuda para acessar a verdade de Deus e esta ajuda é a Bíblia, a
revelação. Não se chega a Deus pela razão, mas somente pela fé
pelo recurso que é a escritura, a Bíblia. Pela razão o homem não
tem condição de receber a revelação sobrenatural de Deus, mas é
Deus quem capacita o homem a receber a sua revelação.

Um dos teólogos mais famosos da Igreja Cristã


contemporânea é Karl Barth. Como Kierkegaard, Barth
argumentava que Deus é “Totalmente Outro” e que pode ser

121
conhecido somente através da revelação divina. A necessidade da
revelação sobrenatural. Barth, também, acreditava que o homem
caído é incapaz de conhecer um Deus transcendentemente santo.
Barth sustentava que todas as tentativas de se chegar a Deus
mediante a razão eram fúteis. É por isso que Barth se sentia
confortável ao escrever uma introdução a um livro escrito pelo ateu
Ludwig Feuerbach (1804-1872), que argumentava que Deus não é
nada mais que uma projeção da imaginação humana. Barth, no
entanto, sustentava que aquilo que o homem não pode fazer “de
baixo para cima” mediante a razão, Deus fez “de cima para baixo”
mediante a revelação sobrenatural.

Para Barth, a Bíblia é a localidade da revelação de Deus. É


o instrumento através do qual Deus fala. De si só, a Bíblia é apenas
o registro proposicional da revelação pessoal de Deus ao Seu povo,
mas a Bíblia fica sendo a Palavra de Deus para nós à medida que
Deus fala através das suas palavras humanas. O “não” de Barth à
revelação natural. Deus não nos fala através da natureza, porque o
homem está caído e, portanto, obscureceu e distorceu
completamente a revelação de Deus na natureza. Até mesmo a
“imagem de Deus” no homem não é um “ponto de contato” mas,
sim, um ponto de conflito entre Deus e o homem. Barth era
enfático no sentido de a mente humana não ter capacidade alguma
para conhecer a Deus. Na realidade, Barth respondeu à pergunta de
se o homem porventura tem a capacidade para receber a revelação
sobrenatural de Deus, com um livro chamado Nein [Não!] A razão

122
humana não tem a capacidade ativa nem passiva para a revelação
divina. Deus tem de dar sobrenaturalmen-te a capacidade de
entender Sua revelação, assim como dá a própria revelação.
(Geisler, 1996, p.189)

1.3 TERTULIANO

Um dos que demonstrou total desprezo da razão humana e


defende que a fé em Cristo e sabedoria humana se contradizem. Se
posiciona na rejeição completa da filosofia. “Atenas e Jerusalém
nada têm em comum”. Considerava a filosofia supérflua e um
verdadeiro perigo para o cristão.

Que tem a ver Atenas com Jerusalém? Ou a Academia com


a Igreja? Ou os hereges com os cristãos? A nossa doutrina vem do
pórtico de Salomão, que nos ensina a buscar o Senhor na
simplicidade do coração. Que inventem, pois, se o quiserem, um
cristianismo de tipo estoico e dialético! Quanto a nós, não temos
necessidade de indagações depois da vinda de Cristo Jesus, nem de
pesquisas depois do Evangelho. Nós possuímos a fé e nada mais
desejamos crer. Pois começamos por crer que para além da fé nada
existe que devamos crer. (BOEHNER; GILSON, 2000, p. 138).

Muitos ao falarem de Tertuliano afirmam que ele não foi


coerente com sua crença sobre a relação fé e razão. Entretanto,

123
Geisler diz que essa interpretação é um erro de semântica, pois
Tertuliano não empregou a palavra absurdo e sim estultícia. Muitos
citam a frase “creio por que é absurdo” pelo fato de defenderem
que ele a utilizou para rejeitar a filosofia. Entretanto, não é o que
pensa Geisler como podemos ler a seguir:

Tertuliano nunca empregou a palavra latina


absurdum. Ao invés disto, empregava a palavra
ineptum, que não subentende a contradição mas,
sim, simplesmente “estultícia.” Provavelmente não
estava alegando mais do que Paulo alegou em 1
Coríntios 1, que o evangelho parece “estultícia” ao
descrente. Noutras ocasiões, Tertuliano falava da
neces-sidade de empregar “a regra da razão.” Falava,
também, contra aqueles que estavam “satis-feitos
por terem simplesmente crido, sem um completo
exame das bases das tradições” em que acreditavam.
(GEISLER, 1996, p.193)

124
LEITURA COMPLEMENTAR

CONCILIAÇÃO ENTRE FILOSOFIA E RELIGIÃO

Vários filósofos procuraram conciliar Filosofia e religião.


Das tentativas feitas, mencionaremos três, cronologicamente mais
próximas de nós: a de Kant, a de Hegel e a da fenomenologia. A
crítica kantiana à pretensão da metafísica de ser ciência dirige-se à
Filosofia, quando esta assume o conteúdo de uma teologia racional
(demonstração racional da essência e existência de Deus), uma
psicologia racional (demonstração da imortalidade da alma) e uma
cosmologia racional (demonstração da origem e essência do mundo
ou Natureza).

A distinção entre fenômeno e nôumeno permite ao filósofo


limitar o campo do conhecimento teórico ao primeiro e impedir a
pretensão de teorizar sobre o segundo. A metafísica não é
conhecimento da essência em si de Deus, alma e mundo; estes são
nôumenos (realidade em si) inacessíveis ao nosso entendimento. A
religião, por sua vez, não é teologia, não é teoria sobre Deus, alma
e mundo, mas resposta a uma pergunta da razão que esta não pode
responder teoricamente: “O que podemos esperar?”. Qual o papel

125
da religião? Oferecer conceitos e princípios para a ação moral e
fortalecer a esperança num destino superior da alma humana. Sem
Deus e a alma livre não haveria a humanidade, mas apenas a
animalidade natural; sem a imortalidade, o dever tornar-se-ia banal.
Hegel segue numa direção diversa da de Kant. Para ele, a realidade
não é senão a história do Espírito em busca da identidade consigo
mesmo. Deus não é uma substância, cuja essência foi fixada antes e
fora do tempo, mas é o sujeito espiritual, que se efetua como sujeito
temporal, cuja ação é ele mesmo manifestando-se para si mesmo.

A mais baixa manifestação do Espírito é a Natureza; a mais


alta, a Cultura. Na Cultura, o Espírito se realiza como Arte,
Religião e Filosofia, numa sequência que é o aperfeiçoamento
rumo ao término do tempo. Isso significa que Deus se manifesta,
primeiro, como Arte nas artes; depois, como Religião nas religiões;
depois disso, como Estado nos estados; e, finalmente, como
Filosofia nas filosofias. Em lugar de opor religião e Filosofia,
Hegel faz da primeira uma etapa preparatória da segunda. A
fenomenologia, como vimos, descreve essências constituídas pela
intencionalidade da consciência, que é doadora de sentido à
realidade. A consciência constitui as significações, assumindo
atitudes diferentes, cada qual com seu campo específico, sua
estrutura e finalidades próprias. Assim como há a atitude natural (a
crença realista ingênua na existência das coisas) e a atitude
filosófica (a reflexão), há também a atitude religiosa, como uma
das possibilidades da vida da consciência. Quando esta se relaciona

126
com o mundo através das categorias e das práticas ligadas ao
sagrado, constitui a atitude religiosa.

Assim, a consciência pode relacionar-se com o mundo de


maneiras variadas – senso comum, ciência, filosofia, artes, religião,
de sorte que não há oposição nem exclusão entre elas, mas
diferença. Isso significa que a oposição só surgirá quando a
consciência, estando numa atitude, pretender relacionar-se com o
mundo utilizando significações e práticas de uma outra atitude. Foi
isso que engendrou a oposição e o conflito entre Filosofia e
religião, pois, sendo atitudes diferentes da consciência, cada uma
delas não pode usurpar os modos de conhecer e agir, nem as
significações da outra.

(CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ed. Ática, 2000, p. 400 –
401).

127
RESUMO TÓPICO1

Os pensadores ou padres da igreja que confiaram apenas na fé


desde os primórdios do cristianismo como no período moderno,
defendem categoricamente a crença na revelação, a Bíblia, e não na
razão ou filosofia. Que cada uma tem objetivos distintos e servem a
propósitos diferentes. No entanto, a preocupação deles era com a
não distorção das doutrinas ou do conteúdo bíblico e não
necessariamente com essa forma de saber que era a filosofia.

128
AUTOATIVIDADE

1. O que significa dizer que Deus é o totalmente outro?

2. Por que a razão não é capaz de alcançar a verdade, segundo


Kierkegaard?

3. De que modo o homem pode obter a verdade da revelação


divina?

4. Qual a razão para Tertuliano rejeitar a filosofia?

129
TÓPICO 2

RAZÃO SOMENTE

INTRODUÇÃO

Neste tópico queremos apresentar o ponto de vista dos


racionalistas sobre essa relação entre fé e razão e já adiantando que
defendem que nada pode ser conhecido pela revelação, mas apenas
pelo uso da razão. Na sequência estaremos apresentando os pontos
de vista de dois grandes filósofos modernos sobre a relação fé e
razão.

2.1 KANT

Emanuel Kant escreveu uma obra “Crítica da razão pura”


visando criticar a razão e encontrar um caminho para a fé, mas
terminou lançando as bases do agnosticismo moderno. Kant propõe
que vivamos como se Deus existisse, pois pela razão não há como
saber de sua existência. Ensina que se deve entender a revelação
através da razão prática ou razão moral. Kant não está preocupado
em provar se Deus se revela nas escrituras, a Bíblia ou se há
alguma verdade através dela, apenas leva todo foco para a distinção

130
entre fé e razão. O racionalismo geométrico. Começando com o
que Spinoza considerava os axiomas irredutíveis do pensamento
humano, “deduziu” todas as verdades necessárias acerca de Deus,
do homem, e o mundo. Primeiramente, segundo Spinoza, é
racionalmente necessá-rio concluir que há apenas uma “substância
no universo, da qual todas as coisas, inclusive todos os homens, são
meros modos ou momentos (trata-se claramente de um tipo de
panteísmo). Semelhantemente, o “mal” é apenas uma ilusão do
momento particular. O univer-so como um todo é bom, assim como
um mosaico como um todo é belo, a despeito da apa-rente feiura de
uma peça individual. (GEISLER, 1996, p. 204)

2.2 SPINOZA

Benedito Spinoza propõe que qualquer ideia defendida


como verdadeira que não seja axiomática deve ser rejeitada, seja
ela bíblica ou não. Surge então a pergunta: o que é axioma? O
racionalismo geométrico. Desse racionalismo geométrico e
axiomático se tornava possível pensar, inferir ou deduzir sobre
qualquer realidade e chegar a verdade. Sua conclusão sobre o
mundo foi a seguinte: só existe uma substância no universo da qual
todos participamos; o mal é uma ilusão passageira em nossa
realidade, pois a verdade é que tudo é bom. Através dos sentido não
se chega a verdade das coisas; ela só é alcançada mediante a

131
intuição racional. Sobre a bíblia, não acreditava em milagres, pois
era irracional e que Moisés não escreveu o pentateuco e nem o
recebeu através de uma revelação divina. Em seu racionalismo,
tudo deve funcionar de acordo com as leis da natureza, pois ela, a
natureza, é imutável e qualquer intervenção ou milagre é absurdo.
Desta forma, se qualquer parte da Bíblia não estiver de acordo com
a lei da natureza, os milagres, deve ser descartado por ser
inautêntico.

O racionalismo anti-sobrenatural. Poucos escritores no


mundo moderno eram mais militantemente anti-sobrenaturalistas
do que Spinoza. Aplicando seu racionalismo à Bí-blia, Spinoza
concluiu que Moisés não escreveu os primeiros cinco livros do
Antigo Testamento nem os recebeu em revelação da parte de Deus.
Considerava “irracional” acreditar nos milagres registrados na
Bíblia, ou em qualquer milagre que fosse. Disse: “Podemos,
portanto, ter absoluta certeza de que todo evento que é
corretamente descrito na Escritura necessariamente aconteceu,
como tudo o mais, de acordo com leis naturais”. (GEISLER, 1996,
p. 205).

2.3. RACIONALISTAS MODERNOS

Os racionalistas modernos se posicionaram de modo


distinto sobre tudo que demandasse milagre. Todo relato da Bíblia
que envolvesse a aceitação pela fé e não fosse capaz de ser

132
entendido racionalmente era deixado de lado, ignorado. Havia a
predileção mais pela ciência e filosofia, no tocante ao que elas
postulavam para chegar a verdade das coisas. Por exemplo: relato
do nascimento virginal de Jesus, morte e ressurreição, curas, todo
tipo de ações miraculosas atribuídas a Deus no Antigo e Novo
testamentos, eram interpretados como milagres e estes não podiam
ser aceitos por serem vistos como irracionais. Do contrário, estes e
outros relatos eram compreendidos como mitos ou lendas. Geisler
nos informa:

[...] grupo de homens que exaltava a razão acima da


revelação foram os deístas dos séculos XVII e
XVIII. Homens tais como Herbert de Cherbury
(1583-1648), Charles Bount (1654-1693), e John
Toland (1670-1722) minimizavam ou negavam os
elementos sobrenaturais da Bíblia. No nível mais
popular havia o norte-americano, Thomas Paine
(1737-1809), que no seu livro famoso, The Age o f
Reason, fez um ataque amargo contra numerosas
passagens da Escritura que, segundo lhe parecia,
contradiziam a razão humana. E Thomas Jefferson
literalmente cortou os milagres dos quatro
Evangelhos e colou os remanescentes
dessobrenaturalizados num livro para recortes. Foi
publicado mais tarde como A Bíblia de Jefferson.
Termina assim: “Ali deixaram Jesus, rolaram uma
grande pedra para a porta da sepultura, e partiram.”
O restante da história — a ressurreição de Cristo —
é um milagre que não pode, pensava Jefferson, ser
aceito pela sã razão. (GEISLER, 1996, p.206)

133
LEITURA
COMPLEMENTARES

DA DISTINÇÃO ENTRE CONHECIMENTO PURO E


EMPÍRICO

Não há dúvida de que todo o nosso conhecimento começa com a


experiência; do contrário, por meio do que a faculdade de
conhecimento deveria ser despertada para o exercício senão através
de objetos que toquem nossos sentidos e em parte produzem por si
próprios representações, em parte põem em movimento a atividade
do nosso entendimento para compará-las, conectá-las ou separá-las
e, desse modo, assimilar a matéria bruta das impressões sensíveis a
um conhecimento dos objetos que se chama

experiência? Segundo o tempo, portanto, nenhum conhecimento


em nós precede a experiência, e todo o conhecimento começa com
ela. Mas, embora todo o nosso conhecimento comece com a
experiência, nem por isso todo ele se origina justamente da
experiência. Pois poderia bem acontecer que mesmo o nosso
conhecimento de experiência seja um composto daquilo que
recebemos por impressões e daquilo que a nossa própria faculdade
de conhecimento (apenas provocada por impressões sensíveis)

134
fornece de si mesma, cujo aditamento não distinguimos daquela
matéria-prima antes que um longo exercício nos tenha chamado a
atenção para ele e nos tenha tornado aptos a abstraí-lo. Portanto, é
uma questão que requer pelo menos uma investigação mais
pormenorizada e que não pode ser logo despachada devido aos ares
que ostenta, a saber, se há um tal conhecimento independente da
experiência e mesmo de todas as impressões dos sentidos. Tais
conhecimentos denominam-se a priori e distinguem-se dos
empíricos, que possuem suas fontes a posteriori, ou seja, na
experiência. (...) No que se segue, portanto, por conhecimentos a
priori entenderemos não os que ocorrem independente desta ou
daquela experiência, mas absolutamente independente de toda a
experiência. Opõem-se-lhes os conhecimentos empíricos ou
aqueles que são possíveis apenas a posteriori, isto é, por
experiência. Dos conhecimentos a priori denominavam-se puros
aqueles aos quais nada de empírico está mesclado. Assim, por
exemplo, a proposição: cada mudança tem sua causa, é uma
proposição a priori, só que não pura, pois mudança é um conceito
que só pode ser tirado da experiência.

(KANT, Immanuel. Crítica da razão pura. São Paulo: Nova Cultural, 1991. p.
25-26.(Os pensadores)).

135
RESUMO TÓPICO 2

 1. Segundo Kant não é possível defender as ideias sobre


Deus mediante o uso da razão pura, mas apenas pela razão
prática, pela moral.

 Spinoza defendeu que racionalmente devemos entender


todas as coisas pela via das leis naturais, pois elas são
imutáveis e é assim que Deus se manifesta. Toda forma de
milagres deve ser rejeitada por se referir a uma suspensão
da lei natural.

 No período moderno toda a compreensão deve passar pelo


crivo da razão e ela se restringe a compreensão do natural e
rejeita o sobrenatural.

136
AUTOATIVIDADE

1. O que significa afirmar que a razão está acima da fé?

2. Por que Kant afirmou que não é possível defender a fé pela


razão pura?

3. É possível defender a fé?

4. Qual a definição racional de Spinoza para o que é verdadeiro?

5. Que motivo levaram os pensadores do período moderno a


rejeitarem os milagres?

137
TÓPICO 3

RAZÃO E FÉ SE COMPLEMENTAM

INTRODUÇÃO

Existiram pais da igreja ou padres da igreja que pensaram


de modo alinhado com a filosofia, exaltando as suas qualidades
como uma verdadeira revelação de Deus aos gregos. Essa posição é
entendida por Geisler como razão sobre a revelação e se trata da
posição de Justino, Clemente e Agostinho. Sendo este último, mas
alinhado quanto ao uso da filosofia em suas reflexões teológicas
não fazendo distinção, mas harmonização.

3.1 JUSTINO

Justino pensa na filosofia como aquilo que nos conduz a


Deus e nos une a Ele. A filosofia é a ciência do ser e do
conhecimento da verdade (verdade do logos). O cristianismo é a
verdadeira filosofia. É a única filosofia útil e segura. Os problemas
levantados pela filosofia grega são resolvidos pelo cristianismo.
Justino acreditava que os filósofos que conheceram e praticaram a
verdade, a fizeram apenas parcialmente. Eles tiveram parte no

138
logos. Porém, o logos em sua completude é Cristo, ou seja, um ser
pessoal. Sendo assim, “como de um fogo, acende-se outro fogo
sem que o fogo que acende seja diminuído, o logos acendeu os
filósofos antigos sem deixar de ser logos”. Seu nome entrou na
história por ter sido um grande apologista e cristão conforme a
seguinte citação. Os debates que empreendia com filósofos e não-
cristãos em defesa do cristianismo como filosofia verdadeira, e dos
próprios cristãos que sofriam a perseguição e martírio devido a sua
fé, levou-o a escrever para as autoridades e o senado romano.

Baseando-se em sua fé, no conhecimento filosófico e das


Escrituras, no exemplo de vida dos cristãos e servindo-se de
argumentos de autoridades que pleiteavam em favor dos cristãos,
Justino compôs duas Apologias que enviou ao Imperador Antonino
Pio e seus filhos e ao senado romano, tentando demonstrar que o
cristianismo é digno de ser observado, que os cristãos são pessoas
boas e sábias, que a perseguição aos mesmos é fruto de ignorância
e preconceito, e explica o que ocorre no culto cristão, seus
sacramentos e o motivo de rejeição dos ídolos.

3.2 CLEMENTE

Clemente tinha como objetivo central defender e aprofundar


a fé com o auxílio da filosofia. para esse fim propõe um conceito de
gnose cristã. Ele vê a filosofia como um instrumento necessário:

139
(1) na argumentação; (2) no fornecimento de armas para a defesa
da fé cristã. A fé e a razão não possuem natureza heterogênea. Não
há entre elas qualquer contradição, mas apenas uma relação de
dependência: uma não pode existir sem a outra. Para ele a fé: (1) é
a condição do conhecimento: a gnose pressupõe a fé; (2) é o
princípio e o fundamento da razão (filosofia); (3) é o critério da
verdade. Os filósofos misturaram o verdadeiro e o falso. Somente a
fé fornece o critério de separação. Como Justino, admite que os
homens que usaram a razão possuíram a centelha do logos divino.
Tiveram, assim, acesso à verdade, mas de modo parcial.

Podemos ver a relação da filosofia com Deus, no


pensamento de Clemente, através de duas perspectivas que ele nos
dá. Aquela das vicissitudes da história, onde ele avança uma
questionável influência das doutrinas do Judaísmo sobre os Gregos;
e a outra que é a principal para nós: o vínculo natural de Deus com
o homem pela razão. Clemente defende uma dependência da
filosofia grega em relação à sabedoria hebraica. O que existiria de
bom e elevado nos Gregos teria sua origem na Bíblia. Trata- se de
um argumento já tradicional do tempo de Clemente, que pôde ser
considerado uma tese fácil e preguiçosa 18, defendida pelo
Judaísmo alexandrino, e seguida pelos Padres Apologistas. {...}
Discutindo acerca da legitimidade da Filosofia, Clemente mostra
essa junção na própria constituição humana. Aos cristãos que
acusam a filosofia de ser obra humana, como por um desprezo ao
que é humano, ou até considerando-o como algo ruim, Clemente

140
responde afirmando que existe um parentesco natural entre Deus e
o homem. A natureza humana não é estranha a Deus, e de maneira
específica, essa co-naturalidade se dá pela razão, “enviada por
Deus”, que faz do homem “imagem divina”.

3.3 AGOSTINHO

Agostinho defendia que a razão é uma dádiva de Deus, dada


aos homens aquando da criação. O homem é um composto de
corpo e alma, e esta última é a sede da razão. Criados à imagem e
semelhança de Deus, Deus dotou o homem de razão. Agostinho
torna o homem superior aos demais seres criados. Agostinho
distingue duas funções da razão humana: a razão superior e a razão
inferior. Com a superior, os homens direcionam-se para as
realidades eternas e imutáveis; com a razão inferior, os homens
direcionam-se para as realidades físicas e visíveis.

Essas funções geram dois tipos de conhecimento: o


conhecimento adquirido por meio da razão superior (chamado
sapientia), e o conhecimento adquirido por meio da razão inferior
(chamado scientia). Scientia é o conhecimento de coisas
verdadeiras, porém temporais. Sapientia é o conhecimento de
coisas verdadeiras, porém eternas. A sapientia é superior à scientia
porque se preocupa com a aquisição da felicidade e do fim
principal do homem. Para Agostinho a fé não é algo exclusivo da

141
religião. Ela é indispensável para todo o conhecimento. A fé, nesse
caso, é uma pré-condição para todo conhecimento. “Crer para
compreender”. Pense no conhecimento do passado. Nós precisamos
ter fé nas fontes de informação, no testemunho das pessoas, nos
documentos, etc. Ex: descobrimento do Brasil. Nesse caso, a fé é
um conhecimento mediato, enquanto que a razão é um
conhecimento imediato, só dependendo (operando) nela mesma.

A fé, no sentido estrito, a fé cristã, tem a sua origem em


Deus. Agostinho relacionou a Fé x Razão: a fé não é uma forma
inferior de conhecimento, nem é inferior à razão. Aliás, a fé opera
na razão. A fé não substitui nem elimina a inteligência. Antes, a
promove e a estimula. Do mesmo modo, a razão não elimina a fé,
antes a fortalece e a clarifica. A razão é a condição primeira para o
próprio exercício da fé. Caminho: a razão possibilita o exercício da
fé; há o ato de fé; a fé estimula a razão a dar explicações dessa fé.
Alcançada a fé, a razão é chamada a explicar, na medida do
possível, o conteúdo da mesma. “Crer para compreender” …
“Compreender para crer”. Fé e razão são complementares, são os
dois lados de uma mesma moeda.

3.4 TOMÁS DE AQUINO

Na análise tomasiana a razão tem um papel relevante e pode


nos conduzir ao entendimento da fé. Desta forma, Tomás não via a

142
filosofia como uma inimiga e sim como amiga a partir do momento
que se valeu de Aristóteles. Tomás lançou mão da filosofia
aristotélica para fazer suas analises teológicas de aprofundamento
bíblico. Teve como meta entender profundamente Deus e elaborou
um modo de explicação para provar sua existência que ficou
conhecido como às cinco vias. Tomás se esforça para provar que a
razão não se opõe a fé, mas pode trabalhar a seu favor. A Suma
Teológica de Tomás é uma obra que reflete bem a reflexão racional
de pensar em assuntos teológicos pela via filosófica e de ser capaz
de não se distanciar dos dogmas da igreja, pois a igreja aprovou seu
pensamento e lhe conferiu o título de Doutor Angelicus. Não é que
ele pensasse na razão como superior a fé, mas que a primeira pode
ajudar na compreensão da segunda.

A existência de Deus pode ser comprovada. Aquino


reconhecia que nem todos os homens podem comprovar a
existência de Deus. Assim é por muitas razões. Primeiramente, a
mente é finita, e em segundo lugar, é falível. Além disto, a maioria
dos homens não tem tempo nem inclinação para dedicar-se à tarefa
árdua de elaborar uma prova filosófica. Por estas razões, disse
Aquino, é necessário aos homens primeiramente acreditarem na
existência de Deus — senão, poucos homens possuiriam o
conhecimento de Deus. De acordo com Aquino, a crença de que
Deus existe é necessária porque “a investigação do intelecto
humano tem, na sua maior parte, a falsidade presente com ela ... É
por isso que foi necessário que a certeza inabalável e a verdade

143
pura a respeito das coisas divinas fossem apresentadas aos homens
por meio da fé”. Resumindo: Aquino sustentava que o homem está
sujeito aos efeitos noéticos do pecado, ou seja: a influência do
pecado na sua mente. “Estamos obrigados a muitas coisas que não
estão dentro da nossa capacidade sem a graça saneadora — por
exemplo, a amar a Deus e ao nosso próximo.

O mesmo é verdadeiro no que diz respeito à crença nos


artigos de fé.” Mas, Tomás continua: “com a ajuda da graça temos
este poder.”2 A despeito das influências do pecado, pela fé na
revelação de Deus o homem recebe a capacidade, outorgada por
Deus, para vencer esta deficiência. Porque “o pecado não pode
destruir totalmente a racionalidade do homem, pois então já não
seria capaz do pecado.” Aquino sustentava que, com a ajuda da
revelação, o homem pode chegar a entender certas verdades de
Deus e até mesmo “comprová-las” filosoficamente.

Tomás fez uma lista de Cinco Vias” pelas quais a existência


de Deus pode ser comprovada, sendo que a mais importante é o
“Argumento Cosmológico” que se segue. (1) Existem coisas finitas
e mutáveis. (2) Cada coisa finita e mutável deve ser causada por
outra. (3) Não pode haver uma regressão infinita destas causas. (4)
Logo, deve haver uma primeira causa não causada de toda coisa
finita e mutável que existe. Aquino acreditava que este argumento
se baseava em premissas filosoficamente justificáveis que não
foram tiradas da revelação. O fato é, no entanto, que nenhuma
filosofia já elaborou semelhante prova do Deus cristão sem antes

144
ter sido influenciado pela revelação de Deus na Bíblia. As verdades
sobrenaturais são conhecidas somente pela fé. Não somente a fé é
prévia à razão ou ao entendimento da natureza de Deus, como
também algumas verdades de Deus, tais como a Trindade e outros
mistérios da fé, podem ser conhecidas somente pela fé.

Sabemos mediante a razão que Deus existe, mas é somente


pela fé que sabemos que há três pessoas num só Deus. A existência
de Deus pode ser comprovada. Aquino reconhecia que nem todos
os homens podem comprovar a existência de Deus. Assim é por
muitas razões. Primeiramente, a mente é finita, e em segundo lugar,
é falível. Além disto, a maioria dos homens não tem tempo nem
inclinação para dedicar-se à tarefa árdua de elaborar uma prova
filosófica. Por estas razões, disse Aquino, é necessário aos homens
primeiramente acreditarem na existência de Deus — senão, poucos
homens possuiriam o conhecimento de Deus. De acordo com
Aquino, a crença de que Deus existe é necessária porque “a
investigação do intelecto humano tem, na sua maior parte, a
falsidade presente com ela ... É por isso que foi necessário que a
certeza inabalável e a verdade pura a respeito das coisas divinas
fossem apresentadas aos homens por meio da fé”. Resumindo:
Aquino sustentava que o homem está sujeito aos efeitos noéticos do
pecado, ou seja, a influência do pecado na sua mente. “Estamos
obrigados a muitas coisas que não estão dentro da nossa capacidade
sem a graça saneadora — por exemplo, a amar a Deus e ao nosso
próximo. O mesmo é verdadeiro no que diz respeito à crença nos

145
artigos de fé.” Mas, Tomás continua: “com a ajuda da graça temos
este poder.”2 A despeito das influências do pecado, pela fé na
revelação de Deus o homem recebe a capacidade, outorgada por
Deus, para vencer esta deficiência. Porque “o pecado não pode
destruir totalmente a racionalidade do homem, pois então já não
seria capaz do pecado.”. Aquino sustentava que, com a ajuda da
revelação, o homem pode chegar a entender certas verdades de
Deus e até mesmo “comprová-las” filosoficamente. Tomás fez uma
lista de Cinco Vias” pelas quais a existência de Deus pode ser
comprovada, sendo que a mais importante é o “Argumento
Cosmológico” que se segue. (1) Existem coisas finitas e mutáveis.
(2) Cada coisa finita e mutável deve ser causada por outra. (3) Não
pode haver uma regressão infinita destas causas. (4) Logo, deve
haver uma primeira causa não causada de toda coisa finita e
mutável que existe. Aquino acreditava que este argumento se
baseava em premissas filosoficamente justificáveis que não foram
tiradas da revelação. O fato é, no entanto, que nenhuma filosofia já
elaborou semelhante prova do Deus cristão sem antes ter sido
influenciado pela revelação de Deus na Bíblia. As verdades
sobrenaturais são conhecidas somente pela fé. Não somente a fé é
prévia à razão ou ao entendimento da natureza de Deus, como
também algumas verdades de Deus, tais como a Trindade e outros
mistérios da fé, podem ser conhecidas somente pela fé. Sabemos
mediante a razão que Deus existe, mas é somente pela fé que
sabemos que há três pessoas num só Deus. (Geisler, 1996, p.210,
211)

146
LEITURA COMPLEMENTAR

JUSTINO, O MÁRTIR EM DEFESA DA FÉ


CRISTÃ

A primeira Apologia, escrita em torno de 155, foi enviada a


Antonino Pio “conclamando-o a dar um tratamento mais justo aos
cristãos e a revogar os decretos de perseguição”. Enquanto
explicava e defendia sua fé, discutia com as autoridades romanas
sobre o erro de perseguir os cristãos, afirmando que deveriam ser
unidas forças ao cristianismo para combater a falsidade dos
sistemas pagãos.

A segunda Apologia (considerada por muitos como um


anexo, adendo, da primeira) foi enviada ao senado romano por
volta do ano 160 d.C. Nesta, mostra com maior veemência e
inconformismo seu desagrado diante do injusto tratamento
dispensado aos cristãos e apresenta o Cristo-Logos como o agente
que executou o plano da criação e salvação divino. Destaca a
sabedoria dos filósofos como proveniente do Logos (Deus) e
afirma que Cristo é o Verbo, manifestado por nós, tornado corpo,
razão e alma. Ainda nessa apologia, atribui a Cristo a expressão
“Logos Spermatikos” (verbo seminal, ou semente da razão),

147
significando que dEle procedem todas as coisas. Em defesa dos
cristãos, apresentou o relato de exemplos de pessoas que haviam
sido perseguidas e mortas tão-somente pela fé em Cristo, muito
embora apresentassem uma vida digna.

A isso se opunha Justino em suas apologias, sendo sua


primeira meta defender os cristãos pelo tratamento injusto
recebido, que considerava como preconceito e ignorância, já que os
imperadores e governadores sentenciavam os cristãos somente por
prestarem um culto a um Deus diferente dos deuses gregos e
romanos. Justino enfatizou que os cristãos adoravam ao Deus
verdadeiro, ao Pai, Filho e Espírito Santo, com razão e verdade e,
por isso, não havia motivo para perseguir e matar os cristãos
somente pelo nome que professavam. Alegava ele que a vida e
exemplo dos cristãos demonstravam que os mesmos obedeciam às
leis de Roma, mas quanto à sua fé tinham em Deus seu líder maior.

Buscando um reino eterno, futuro, não estavam ameaçando


o reino terreno de Roma, prova disso que morriam serenamente,
crendo que suas vidas seriam restauradas para o reino de Deus. Sua
vida e conduta de paz deveriam ser seguidas pelas autoridades, pelo
código moral com que se conduziam, crendo que, um dia, estariam
diante de Deus e deveriam prestar contas de seus atos. Eram fiéis
pagadores de impostos, ensino dado por Jesus (Mt. 22:20-21) e sua
vida correta estava em acordo com a filosofia grega. Assim, os
cristãos, como o próprio Justino, adoravam a Deus, mas prestavam
obediência aos reis e governantes dos homens, como Cristo

148
ensinou. Assim, diante do senado romano e do imperador, Justino
defendeu o cristianismo como verdade, em suas Apologias. Essa
defesa foi importante, já que “a razão e a busca da verdade eram
muito valorizadas pela intelectualidade romana” e o cristianismo
deveria ser mostrado como uma crença racional. Utilizando-se da
crença do Logos, Justino demonstrou a verdade do cristianismo a
partir da vinda de Cristo, o Logos de Deus, predita por milhares de
anos pelos profetas hebreus, mediante o ensino do Espírito Santo.
Para Justino, portanto, o cristianismo era a “alta razão”, e Jesus era
o cumprimento das profecias antigas de que Ele viria como Filho
de Deus, e essas profecias eram anteriores aos filósofos gregos, o
que por si só já dava credibilidade a elas. Sendo o Logos a “razão
pré-existente, absoluta, pessoal, e Cristo a encarnação dele”, o
cristianismo contém a racionalidade necessária para ser aceito e
compreendido pela filosofia grega. Dessa maneira, defendendo o
cristianismo, Justino defendeu a fé cristã, referindo-se à fé em
Cristo como forma de justificação e transformação, sendo essa fé
totalmente racional.

(XAVIER, Erico Tadeu. Revista Último Andar, n. 24, dez./2014, p.20-21)

149
RESUMO TÓPICO 3

 Para Justino, a filosofia é a ciência do ser e do conhecimento


da verdade (verdade do logos) que conduz a Deus.

 Os filósofos gregos acessaram o logos divino e a fé é o critério


para distinguir o verdadeiro do falso.

 A fé e a razão se complementam

 A fé é indispensável para todo conhecimento

150
AUTOATIVIDADE

1. Como a filosofia é entendida por Justino, Clemente e

Agostinho?

2. De que maneira Justino propõe resolver as pendencias

deixadas pela filosofia?

3. Segundo Clemente, de que modo deveria defender a fé cristã?

4. O que diz Agostinho sobre a razão?

151
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