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Quadro 1
Caracterização das crianças em função da Escola, cidade, país, turma, ano e género,
Setembro de 2005
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O concelho de Barcelos e o município de Florianópolis caracterizam-se por serem espaços no sector secundário e terciário. Ambos
são afectados pelo desemprego, sobretudo feminino. Em relação à origem social das crianças, por referência ao capital escolar e
económico das famílias, predominam níveis de instrução baixos e salários baixos. Pertencem, na sua maioria, a classes baixas e
médias-baixas.
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Tomás, C. (2008). A investigação sociológica com crianças: caminhos, fronteiras e travessias in Lucia
Rabello de Castro e Vera Lopes Besset (orgs.). Pesquisa-intervenção na infância e juventude. Rio de
Janeiro: Trarepa/FAPERJ, 387-408.
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espera-se delas que se comportem como crianças mas são criticadas pelas
suas infantilidades; é suposto que brinquem absorvidamente quando se
lhes diz para brincar, mas não se compreende porque não pensam em
parar de brincar quando se lhes diz para parar; espera-se que sejam
dependentes quando os adultos preferem a independência, mas deseja-se
que tenham um comportamento autónomo; deseja-se que pensem por si
próprias, mas são criticadas pelas suas ‘soluções’ originais para os
problemas (1985 cit in Pinto e Sarmento, 1997:13).
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As interrogações que se colocaram no início da investigação, inevitavelmente vagas, foram: Que imagens têm as crianças de si
mesmas e das outras crianças? Como vêem o seu papel e sua acção/participação em várias escalas (local, nacional e global)? Que
concepções e imagens de direitos da criança têm? Como compreendem o mundo e o seu papel no mundo, nomeadamente na sua
relação com os direitos da criança?
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a necessidade de serem reconhecidas como tal, num mundo sujeito à dominação de uma
cultura hegemónica.
Em suma, as culturas infantis viajaram, o que envolveu o movimento de pessoas,
mas também o de materiais, inscrições e informação, utilizando as tecnologias de
comunicação e de informação disponíveis.
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realidade em estudo e que não se esquecem” (Estanque, 2000:267). Por vezes, a falta de
entusiasmo de algumas crianças pelas actividades que se estavam a desenvolver, o facto
de não falarem comigo, de não entender sobre o que estavam a conversar, os códigos, a
língua e as linguagens utilizadas, nomeadamente o sotaque, no caso de Barcelos e o
português do Brasil, condicionaram muitas vezes a compreensão dos discursos das
crianças. Também a desconfiança de algumas crianças sobre o meu papel na sala de
aula e a resistência inicial a conversarem comigo sobre aspectos dos seus mundos e a
darem a sua opinião sobre algumas temáticas, deixavam-me preocupada e ansiosa. No
entanto, e apesar destas angústias e preocupações nunca terem cessado, elas deram
origem à assunção de que: “todas as acções que podem ser observadas devem ser
equacionadas pelo investigador e, portanto, também as acções ou os gestos de
fechamento ou de evitamento são interessantes para a pesquisa” (Estanque, 2000:267).
Nesta perspectiva, indagar, como era objectivo da investigação, acerca das
imagens das crianças sobre si mesmas, sobre outras crianças, sobre os direitos da
criança e sobre o mundo é algo de tão importante quanto complexo, porque não se trata
apenas dos aspectos sociais, políticos e económicos, mas também dos aspectos
culturais, ou seja, da cartografia simbólica, dos espaços onde se cruzam o imaginário, a
fantasia, a ludicidade, a história, o contexto, as relações sociais e a memória. O
imaginário pode ser o campo do ilusório mas mesmo assim é o lugar, defende Balibar,
onde se “conta histórias, o que quer dizer que se tem a potencialidades de inventar
histórias” (1998 cit in Canclini, 1999:33).
Para escrever sobre a infância é necessário lê-la e compreendê-la, mesmo que
muitas vezes ela se mostre, à primeira abordagem, ilegível, incompreensível, talvez até
inacessível. Escrever sobre infância é, afinal, uma tentativa de mapear a multiplicidade
dos sentidos, as múltiplas vozes e as diferentes escalas onde as crianças se movem e são
movidas. Mas essa tentativa terá que ser feita na não perpetuação da tradição (Waters,
1999), recorrendo a um trabalho de tradução4: “um procedimento capaz de criar uma
inteligibilidade mútua entre experiências possíveis e disponíveis sem destruir a
identidade” (Santos, 2003:737). A pergunta que se coloca seguidamente é: o que
traduzir?
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Este conceito foi desenvolvido na Teoria do Actor-Rede. Surgiu no âmbito da Etnometodologia nos anos 70 e tem como
protagonistas Bruno Latour e Michel Callon. Esta teoria é também conhecida por Sociologia do Conhecimento Científico porque faz
uma reflexão sobre a ciência e a problemática da ordem social. Nesta perspectiva, considera-se a dissolução de fronteiras entre o
domínio do social e do natural, ou seja, imputam-se as características humanas a elementos não-humanos.
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A visita a esta creche foi uma das actividades que realizei, por motivos
profissionais ligado à actividade de docência, no âmbito do intercâmbio de
investigadores entre a Universidade Federal de Santa Catarina e a Universidade do
Minho e que aqui conto como um dos múltiplos episódios que foram acontecendo e que
caracterizam os constrangimentos com que nos fomos deparando.
Na questão relativa às múltiplas formas da linguagem, há que considerar a
diferença entre o português de Portugal e o português do Brasil, que algumas vezes foi
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motivo de angústia e nos “obrigou”, como vimos no episódio contado em cima, a uma
reciclagem linguística e discursiva (Keating, 2001).
As diferenças do português foram sempre motivo de observação por parte das
crianças de ambos os países, tanto na leitura das cartas e mensagens que trocaram, como
na curiosidade em procurar as diferenças na forma de falar e de escrever e na
compreensão do que eu e as crianças dizíamos. Como poderemos observar através dos
seguintes excertos, as questões linguísticas foram centrais no desenvolvimento desta
investigação:
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MicroMundos é uma ferramenta multimédia, dirigida a crianças dos 6 a 12 anos, que permite criar projectos incorporando filmes,
fotografias, grafismos, textos e animação.
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preferidos e realizar uma oficina de pintura. Verificamos, pois que estas estratégias
sugeridas pelas crianças contrariam todas as actividades pensadas inicialmente para
discutir as questões dos direitos da criança e as temáticas do o intercâmbio entre elas.
No trabalho de tradução surgiram o que designamos por estratégias e processos de
resistência, ruptura e confronto (Tomás, 2006) utilizados pelas crianças no
desenvolvimento das actividades ou das conversas: elas não fazem, propõem o que
querem fazer, falam uns com os outros, “fazem de conta” que não me ouvem, “fazem
ouvidos de mercador”, cantam, saem da sala ou do local onde estamos a conversar,
põem ponto final na conversa ou na actividade quando ela não lhes está a agradar ou a
motivar. Aliado a isto, há ainda o facto de termos conseguido chegar apenas a algumas
crianças, ou seja, apesar da relação criada entre mim e as crianças, nem todas quiseram
participar efectivamente no trabalho de investigação. Todos estes factos assinalados
decorrem das contingências e resultam da própria pesquisa no terreno (Estanque, 2000).
Este jogo simbólico foi importante como possibilidade de ultrapassar uma visão e
postura adultocêntricas e permitir abertura às propostas das crianças e professoras,
promovendo, desta forma, espaços de participação de modo a desocultar coisas de
crianças, a partir do seu mundo e das suas práticas que, de outra forma, permaneceriam
ocultas. Cada grupo de crianças decidiu o que colocar em confronto multicultural, desde
os temas às formas de expressão: cartas, música, jogos, fotografias, vídeos, desenhos,
jogos, painel, entre outros. Estas decisões foram sujeitas à revisão ao longo do trabalho.
Foi este processo de articulação e negociação que promoveu o aparecimento de outras
questões, como a questão das identidades, do racismo, dos preconceitos e estereótipos, o
que contribuiu para novos avanços no âmbito da tradução. É importante referir que
assumimos que, mesmo assim, ficaram por desvelar e compreender saberes e práticas e
que há silêncios demasiado inaudíveis e insondáveis para serem alvo de um processo de
tradução.
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A terminologia extend case method surgiu pela primeira vez na Manchester School of Social Antropology. O método de estudo de
caso alargado caracteriza-se pelos seguintes pressupostos: reconstrução de teorias; explicação genética - explicações baseadas em
resultados particulares; o significado do caso que se estuda diz respeito àquilo que nos revela sobre o mundo onde se insere;
comparação entre fenómenos similares para explicar as diferenças; explicações societais; totalidade localizada num contexto
externo; o objecto de análise é a situação/causalidade que provém da ligação invisível entre os elementos; estabelece macro-
fundações da microsociologia e a mudança social é explicada pelos movimentos sociais (Burawoy, 1998; Estanque, 2000; Mendes,
2003).
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lógica comparativa, o que Dodier e Baszanger (1997 cit in Mendes, 2000:19) designam
de etnografia combinatória, ou seja, que relaciona a colecção singular de recursos entre
os quais as pessoas se devem deslocar e a generalização a partir do estudo do terreno.
Os modos de construção dessa etnografia são, segundo George Marcus: seguir as
pessoas; seguir as coisas; seguir as metáforas; seguir os argumentos, as histórias e
alegorias e seguir as vidas ou as biografias (1998 cit in Mendes, 2000).
Como podemos verificar, não se utiliza apenas um método, recusa-se mesmo um
monoteísmo metodológico (Bourdieu, 1989) mas utilizando uma multiplicidade de
métodos.
No entanto, a investigação não pode ser reduzida à noção acrítica e empírica de
‘diferença’; deve integrar a problemática do conflito entre poder e saber e a questão de
“ouvir a voz das crianças”, o que significa reconhecer que as crianças têm múltiplas
linguagens, nem sempre acessíveis aos adultos porque estão fora da sua “capacidade
auditiva”. Como se faz, então, esse acesso? Através de dispositivos metodológicos e
analíticos e através da reflexão sobre o próprio percurso da pesquisa permitem-nos abrir
caminho para a compreensão das linguagens das crianças, para a construção de um
modelo interpretativo e explicativo. Um processo longo, inacabado e sujeito a reflexões
permanentes.
É necessário referir que não se trata de traduzir essas múltiplas linguagens das
crianças num discurso único, mas de as tornar inteligíveis.
A investigação sobre a infância e as crianças pressupõe não só uma boa
fundamentação teórico-metodológica e uma aplicação eficaz dos instrumentos de
recolha de dados, mas também uma capacidade de adaptação ao meio e aos sujeitos,
uma grande sensibilidade e uma notável abertura de espírito face ao desconhecido ou
imprevisto, e uma habilidade e intuição para desvendar os registos ocultos, o que
permite uma avanço no conhecimento dos mundos sociais das crianças e um
enriquecimento para o investigador (Silva, 2002).
Trata-se, afinal, de explicitar a reflexão das práticas sociais das crianças como
meio crítico de construir a teoria e o conhecimento, através da sistematização
alternativa (Gabarrón e Landa, 1994), que é o princípio da investigação participativa.
Foi nosso objectivo promover, nos diversos espaços e contextos, actividades e
circunstâncias de aprendizagem mútuas, flexíveis, abertas e horizontais entre as
crianças, investigadora e professoras, e de (re)negociação contínua de todo o processo
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de investigação e dos interesses dos actores envolvidos. Este processo não obedeceu
“nem a uma coerência inalterável, nem a uma ordem sem brechas e, portanto, não foi
concebida como um produto acabado e pronto a usar” (Ferreira, 2004:98). As
actividades foram sempre desenvolvidas um processo de articulação8, que aponta para a
forma como os actores envolvidos no trabalho de investigação, crianças, investigadora e
professoras, “geram interpretações das suas acções e experiências através do discurso e
da expressão em situações específicas, e como essas interpretações estão
constitutivamente ligadas às suas acções” (Nunes, 2001: 39).
Não é possível, na minha opinião, o desenvolvimento de pesquisas com crianças
desconsiderando as experiências e conhecimentos que as mesmas têm e que
incorporaram como parte da sua socialização e participação na vida social. Além disso
a, o processo activo de integração e articulação com as crianças, no desenvolvimento da
pesquisa, foi a condição e o ponto de partida para novas problematizações sobre a
infância e as crianças e a apropriação de novos conhecimentos e, em última instância, da
própria teoria no campo das ciências sociais.
A interacção constante entre a investigadora-participante, as professoras e as
crianças centram-se num conjunto de actividades desenvolvidas que tanto motivou
como constrangeu a investigação e a acção. Esta interacção caracterizou-se por um
envolvimento flexível, ou seja, um processo de ligação a “outras pessoas que estejam na
iminência de promover – de maneira formal ou de outras maneiras – processos
participativos (…) através da experiência que tais processos oferecem aos que neles
participam, a capacidade de outros virem a fazer o mesmo” (Taylor, 2003:548-549). Por
outras palavras, um processo caracterizado por uma “cumplicidade” entre a
investigadora e as crianças.
Accionar um processo teórico-metodológico reflexivo foi outras das premissas
deste trabalho de investigação, porque as teorias e metodologias que não se auto-
observem, auto-examinem, que não sejam reflexivas, estarão condenadas a entorpece-
se. Daí a necessidade que alguns investigadores sentiram na defesa e promoção de outro
tipo de metodologias no estudo das e com as crianças (Prout 2000, 2002; Alderson e
Morrow, 2003; Ferreira, 2004; Sarmento, 2005; Soares, 2005; Tomás, 2006), uma vez
que os métodos, a técnicas e as ferramentas conceptuais que vigoraram durante muito
8
Para saber mais sobre o conceito de articulação ver Bhabha (1994). O autor “aponta para as maneiras como os actores sociais
geram interpretação das suas acções e experiências através do discurso e da expressão em situações específicas, e como essas
interpretações estão constitutivamente ligadas às suas acções” (Bhabha, 1994 cit in Nunes, 2001:39).
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tempo para o estudo da infância, para a compreensão dos seus mundos, se revelaram
inadaptadas, desprovidas de significado e incapazes de analisar as culturas infantis.
Desta forma, tornou-se impreterível a auto-reflexividade, ou seja, o
questionamento sistemático e permanente sobre aquilo que observámos, que
caracterizámos e que investigamos. Essa reflexão deve ser utilizada para nos orientar na
pesquisa com crianças, tornando-se uma mais valia no sentido dela podermos extrair
novos aprofundamentos teórico-metodológicos e evitarmos algumas armadilhas, como o
adultocentrismo.
Segundo Santos (1989: 87), a ciência torna-se reflexiva:
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Chegada a um porto
A reivindicação de um estatuto científico autónomo para a infância implica não
subsumir "naturalmente" o seu estudo no de outros temas, supostamente mais
abrangentes. Ignorar a teia de cumplicidades que a integram, no tempo histórico ou no
espaço social, com objectos próximos, pode ter o efeito perverso de a transformar num
“gueto” fechado sobre si próprio, e de favorecer visões essencialistas dos mundos
sociais e culturais das crianças, o que contraria o desafio da explicação sociológica.
É fundamental que a Sociologia da Infância explore as relações dialécticas entre
microanálise e macroanálise no estudo da infância. A infância não obedece a lógicas de
demonstração mas a lógicas de descoberta, de discussão permanente e aberta,
considerando que as crianças têm o direito de participar na construção do conhecimento.
Trata-se de imaginar um futuro como um movimento em que todas as racionalidades
possam contribuir, inclusive a das crianças.
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Referências Bibliográficas
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