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O potencial dos espaços vacantes e arruinamentos na Revitalização Urbana

Uma proposta de Requalificação para o Sítio da Fabrica da Samaritana

Mariana Rosa Faustino Rodrigues


(Licenciado)

Projeto Final de Mestrado para a obtenção do Grau de Mestre em


Arquitetura

Orientação Científica:
Professor Doutor José Manuel Aguiar
Coorientação:
Professor Doutor João Rafael Santos

Proposta de Tema para Trabalho Final de Mestrado

Lisboa, FA ULisboa, Janeiro, 2018

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Índice

Título | Subtítulo …………………………………………………………………………………...……….3


Introdução ………………………………………………………………………………………...………3|4
Objetivos…………………………………………………………………………………….………………5
Questões de trabalho | Hipóteses ……………………………………………...……………………...5|6
Conceitos| Palavras chave………………………………………………...………………………………6
Estado de Conhecimento | Estado da Arte
• Ler e analisar o território………………………………………………………..…..7|11
• Programar no território e no espaço urbano………………………………….…11|17
• Projetar…………………………………………………………………...…………17|21
Metodologia……………………………………………………………………………………..…..…21|22
Calendarização……………………………………………………………………………………………22
Estrutura do Trabalho Final de Mestrado………………………………………………..…………..…23
Listagem de referências e bibliografia……………..………………………………………….……24|25

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Título: O potencial dos espaços vacantes e arruinamentos na revitalização urbana
Subtítulo: Uma proposta de requalificação para o sítio da Fábrica da Samaritana

Introdução

A paisagem urbana das cidades contemporâneas é caracterizada por espaços vacantes,


espaços que foram abandonados e caíram em esquecimento. Tratam-se de antigas construções
que foram desprezadas e consequentemente degradadas pela ação do tempo e do homem, sendo
que muitas delas apresentam hoje um elevado estado de arruinamento. Dentro desde grupo de
espaços abandonados podemos ainda verificar terrenos que foram deixados vagos por antigas
empresas que faliram ou simplesmente abandonaram o local para se instalarem em outro lugar,
restos de edifícios demolidos, edificações que nunca chegaram a ser concluídas, tal como espaços
sobrantes ou “vedados” adjacentes a loteamentos em terrenos com declive muito acentuado ou
com risco de alagamento ou em terrenos entre vias rápidas, representam uma grande categoria
de espaços abandonados que têm um grande impacto na paisagem da cidade.
As perfurações no tecido urbano da cidade são muitas vezes desprezadas ou vistas como
ilegítimas. Estes espaços são conotados com o vazio, a desolação e a morte. As fábricas e outros
edifícios devolutos e em estado de arruinamento são vistos como fracassos económicos,
individuais e políticos impressos na paisagem e, também como a fragilidade humana em relação
ao tempo. As interrupções no tecido urbano são vistas como imperfeições devido à conotação
estabelecida entre o urbano e o artificializado. Devido a este pensamento dominante a resposta
dada aos espaços vacantes tem sido contraria-los através de operações de regeneração urbana
milionárias que visam reverter o arruinamento, atrair novos residentes e fomentar a economia, e a
revitalizar a cidade através do preenchimento dessas perfurações por edificações.
O presente trabalho final de curso do Mestrado Integrado em Arquitetura da Universidade
de Lisboa tem como principal tema – O potencial dos espaços vacantes e arruinamentos na
Revitalização Urbana - e segue o desenvolvimento da temática de Laboratório de Projeto IV em
contexto de Regeneração, Revitalização e Requalificação Urbana.
O projeto de intervenção urbana e arquitetónica, tem como área de estudo o Vale de
Chelas, mais precisamente o complexo da antiga Fabrica da Samaritana, localizada no sítio de
Xabregas. O grande objetivo do trabalho é mostrar um olhar diferente sobre os espaços vacantes
e arruinamentos da área de intervenção e equacionar hipóteses de intervenção alternativas aos
modelos convencionais de regeneração urbana para voltar a dar vida a este espaço. Pretendo
mostrar como os espaços vacantes possuem a capacidade de redesenhar a cidade fragmentada.
Só é possível alcançar uma intervenção urbana e arquitetónica adequada para o projeto em
questão através do estudo prévio da importância dos espaços vacantes urbanos e os benefícios
que estes trazem à cidade.
Todos os elementos urbanos que constituem e dão carater à cidade têm de ser
previamente estudados. Visto que a intervenção é numa parte da cidade de Lisboa, uma cidade
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consolidada, é fundamental que haja uma grande compreensão e estudo do papel de elementos
como o espaço público de modo a obter uma ideia sólida da forma como estes influenciam o
desenho do espaço. Elementos como a rua, a praça e o quarteirão têm como grande função
produzir vida urbana e são um importante instrumento arquitetónico na tarefa de fazer cidade.
Recorrendo a novas estratégias de requalificação urbana que respeitem sempre o “sentido
e memória do lugar” e atendam às caraterísticas do local procuro desenvolver novas formas de
conectar os diversos espaços vacantes na cidade perfurada, não sendo mais vistos como espaços
negativos, mas sim como nova oportunidade de fazer cidade. Assim, com a articulação dos
espaços pretendo criar um novo elemento urbano que ajude a alcançar uma nova forma de viver
cidade. É na revitalização do complexo da fábrica da Samaritana que irão ser retratados os
objetivos e conceitos em estudo. Pretende-se reestabelecer na área de intervenção as vivências
sociais e o sentido comunitário característico da cidade de Lisboa. Pretende-se, ainda, a projeção
de espaços públicos capazes de criar relações de caráter coletivo e de proximidade.
De forma a analisar os propósitos desta problemática tão presente, recorre-se a autores
que tenham feito abordagens e reflexões relativas aos temas a desenvolver, primeiro numa
abordagem teórica, fazendo uma reflexão sobre o modo com que os abandonos nas cidades
contemporâneas são vistos e mostrando que estes espaços abandonados não são negativos, mas
sim oportunidades para a revitalização urbana. Procuro ainda realçar a importância do valor
ecológico e paisagístico destes espaços mostrando, uma vez mais, o importante papel dos
interstícios no tecido urbano da cidade na construção de um futuro urbano mais sustentável. O
método de recolha de informação consiste na analise de informação de diversos tipos de
documentos bem como a analise in situ da área de projeto. Simultaneamente procede-se à analise
e interpretação de casos de estudo/exemplos que estabeleçam referências com o tema em
análise. Por fim, é através do projeto urbano/arquitetónico e programático que irão ser refletidas
todas as intenções abordadas ao longo do trabalho escrito, de modo a complementar todo o
trabalho de investigação.
A proposta de revitalização para a zona em estudo deverá passar pela articulação e a
relação entre os espaços edificados de habitação (Vila Flamiano) e espaços de caráter mais social,
de trabalho e cultural (Fabrica da Samaritana) e o espaço público virado à partilha.

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Objetivos:

Numa perspetiva diferente daquilo que se tem vindo a desenvolver nos projetos de
regeneração, este trabalho pretende explorar um olhar diferente sobre os espaços vacantes e
arruinamentos da área da Fábrica da Samaritana e equacionar hipóteses de intervenção
alternativas aos modelos convencionais de regeneração urbana para voltar a dar vida a este
espaço. Novas estratégias adaptativas que não entendam o abandono urbano como um facto
necessariamente negativo são necessárias e deve tirar-se partido das virtualidades dos espaços
abandonados.

- Identificar e caracterizar os espaços urbanos abandonados.

- Compreender o porquê do abandono dos espaços urbanos no Vale de Chelas.

- Perceber as potencialidades dos espaços urbanos abandonados considerando o seu contexto


ecológico, social, histórico, cultural e identitário.

- Conceber novas soluções urbanísticas e arquitetónicas para reapropriar a zona do Cemitério das
fábricas, sem esquecer o sentido e a memória do lugar, ou seja, que preservem os seus valores
históricos e identitários.

Questões de trabalho| Hipóteses

Ler e analisar o território

• Como é possível conseguir uma leitura e clara perceção da evolução dos diferentes usos
do território e consequentes transformações no tecido urbano? Que transformações se
espera alcançar com a implementação e integração de novos usos no território?

• Quais foram os fatores que influenciaram as transformações no tecido urbano levando ao


surgimento de espaços vacantes?

• Qual foi o papel da população local nas transformações que se deram no tecido urbano?

• Quais são as ações (de poder público) de intervenção nos processos urbanos e na
produção do espaço urbano e arquitetónico que orientam as transformações do território
e de que forma se adequam às suas constantes alterações?

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Programar no território e no espaço urbano

• O que significa reurbanização e regeneração no contexto da cidade de Lisboa?

• Como podem os espaços abandonados e arruinamentos ser aproveitados a favor da


construção de um projeto de cidade mais sustentável e inclusiva?

• O que poderão ser futuramente os espaços pós-industriais? De que modo a


(re)qualificação de um espaço urbano pós-industrial poderá estabelecer novos padrões
de organização e utilização dos territórios urbanos?

• Que funções poderão ter as antigas fábricas e espaços vacantes que sejam desejáveis
para a cidade e não comprometam os seus valores históricos, sociais e identitários?

• Como conseguir um correto planeamento de espaços de uso partilhado num processo de


reurbanização?

Projetar

• Como é que a formalização do contacto entre o novo e o existente pode condicionar todo
o projeto arquitetónico?

• Como se consegue alcançar uma simultânea coexistência e relação entre a estrutura nova
e a pré-existente sem descaraterizá-la?

• Quando se deve optar por intervenções reversíveis?

Conceitos | Palavras chave

Xabregas | Cidade pós-industrial | Retração urbana | Cidade perfurada | Espaços vacantes |


Terrain Vague | Arruinamento | Espaços de oportunidade | Revitalização | Requalificação

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Estado de conhecimento | Estado da arte

Os espaços vacantes representam acontecimentos importantes no tecido estrutural de


uma cidade, (re)desenhada por épocas de mudança e transformação. Observa-se que estes
espaços vagos foram outrora espaços úteis, mas que devido a diferentes processos económicos
e sociais - depostos das suas atividades - tornaram-se em espaços degradados. A sua degradação
urbana influencia diretamente nas práticas sociais e culturais de uma cidade e tem a capacidade
de fragmentar e desarticular o espaço urbano. No entanto, estes espaços são uma oportunidade
de regeneração da cidade, que através de novas estratégias de requalificação, é possível a
transformação de um espaço considerado por muitos negativo, num espaço positivo. Os espaços
vacantes são uma parte integrante da cidade, suscetíveis de uma dinâmica social necessária na
relação humana. É necessário ir à reconquista do espaço.
O Vale de Chelas, nomeadamente o sítio de Xabregas apresenta-se hoje como um espaço
abandonado, fragmentado, com presença de ruínas, o conhecido Cemitério das Fábricas, embora
tenha um enorme potencial. Com a reabilitação deste espaço pretende-se tornar a zona num lugar
“vivo” e adaptado à população atual, servindo-a de equipamentos que auxiliem o seu dia a dia.
O presente capítulo organiza-se em três partes: ler e analisar o território, programar o território
e o espaço urbano, e projetar.

Ler e analisar o território

Autores:

Filipe Folque (1856)


Silva Pinto (1910)
Paula Cristina Ferreira – “A Freguesia do Beato na História”
José Saramago de Matos – “Caminho do Oriente: Guia histórico. Vol. II.”
Solá – Morales – “Terrain Vague”
G.-J. Hospers
Sofia Morgado – Tese de doutoramento
Arquivo Municipal de Lisboa:
www.arquivomunicipal.cm-lisboa.pt
Dados INE

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1. Cidade Ribeirinha

A água é o fator principal da formação de muitas cidades uma vez que se trata de um
elemento de ligação, a cidade não tem de ter um fim no começo da água, uma vez que esta pode
ser um prolongamento da própria cidade realçando a relação entre a cidade e a água. Trata-se
elemento primordial no desenvolvimento urbano. Podemos verificar a influencia do Rio no caso de
Lisboa e a necessidade desta ligação no nosso século após o declínio de muitas industrias.
Lisboa é caracterizada pela relação da Cidade com o Rio, é um diálogo de uma cidade entre
a terra e o estuário. Há e sempre houve uma clara relação entre a Cidade e o Rio que molda toda
a morfologia e ordenamento da cidade. O Valor das frentes ribeirinhas e o seu potencial a nível
urbano são fatores inegáveis no processo de devolução do rio à cidade de Lisboa.
A Cidade e o Rio traduzem a identidade de Lisboa, o diálogo de uma cidade entre a terra e o
estuário. Ao longo dos tempos, como se constata nas cartografias históricas de Filipe Folque
(1856) e Silva Pinto (1910), deram-se constantes conquistas de território ao rio, o que mostra que
sempre houve uma vontade de modelação da cidade. A cidade de hoje deve a sua morfologia aos
desejos e planos de outrora. Verifica-se um percurso temporal na história de Lisboa que consolidou
a sua atual relação com o rio, a relação com a água foi-se alterando ao longo dos tempos, nunca
permaneceu igual. Nos últimos cem anos houve várias conquistas e alterações, no entanto é ainda
hoje necessária a reativação das relações que foram perdidas entre a cidade e o rio, é necessário
um processo de requalificação destas relações.

1.1- Relação entre o Vale, a Cidade e o Rio – O caso de Xabregas

O Vale de Chelas, nomeadamente o sítio de Xabregas caracterizava-se por terrenos agrícolas


e alguns conventos e quintas. O local tinha distinção devido à forte relação com o Tejo e, como se
observa na cartografia de Filipe Folque (1856) e de Silva Pinto (1910), o antigo caminho do Oriente,
a Estrada de Xabregas de hoje, estabelecia ligação do centro de Lisboa ao norte de Portugal.
Com o passar dos tempos várias barreiras de carater físico e natural impediram a relação
contínua com o resto da cidade. Verifica-se que as grandes infraestruturas e redes viárias criam
uma separação evidente da zona poente das áreas fragmentadas da região oriental.
O Vale é caraterizado pelos acentuados declives, pela topografia e pelo rio, sendo estes as
barreiras naturais em questão e que outrora garantiram as caraterísticas rurais do local. As
industrias eram apenas fixadas perto da margem do Tejo, uma vez que facilitava o recebimento
de mercadorias, o que fomentou o crescimento industrial do Vale (FIGUEIREDO et al., 1995, p.46).
O Vale de Chelas tornou-se numa zona industrial e consequentemente acolheu o operariado
com a construção de vilas operárias. Assim tornou-se uma zona de procura por parte da população
já que fomentou novas oportunidades de empregabilidade e nível de vida mais alto.
Por outro lado, como fator decisivo do crescimento do local em estudo temos o caminho-de-
ferro que teve origem em Lisboa no século XIX. Este meio de transporte foi o grande contributo
para a incrementação da industria e consequentemente para as mudanças a nível social e
económico.
A chegada do transporte férreo foi um marco na nossa história, tal se verificou em Lisboa
devido à dinamização da industria. Por outro lado, é um marco na paisagem dado que cria
infraestruturas como é o exemplo da ponte da zona em estudo, ponte de caminho-de-ferro de

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Xabregas. A ponte de Xabregas contribuiu para a expansão da rede portuária com o plano de
salientar a importância de Lisboa a nível da Península Ibérica (FIGUEIREDO et al., 1995, p.47).
O Vale de Chelas tornou-se um grande polo industrial, deu-se uma autentica Revolução
Industrial, tornando-se o maior centro industrial de Lisboa. As fábricas implantadas no local eram
de grande valor: A Fábrica de Fiação de Xabregas (a conhecida Fábrica da Samaritana), A Fábrica
de Moagem a Vapor Aliança, A Fábrica do Tabaco Lisbonense (instalada no antigo Convento de
São Francisco de Xabregas) e a Fábrica de Fiação e Tecidos Oriental (a conhecida Fábrica das
Varandas). Estas fábricas foram um grande impulso para a industria de Xabregas e evidentemente
do Vale de Chelas (FIGUEIREDO et al., 1995, p.53) em simultâneo com a fixação do porto de
Lisboa durante o Séc. XX.
No que se refere à Industria do Tabaco é necessário ter presente não só a longa duração do
seu processo de fabricação na Fábrica de Xabregas, bem como o número de armazéns que foram
construídos nos terrenos conquistados ao rio.
As obras do Porto de Lisboa, a Oriente, foram a causa da progressiva alteração deste espaço,
causando o desaparecimento de grande parte do areal da Praia da Marabana, transformada hoje
num cais de contentores. A industria e o comércio uniformizaram a linha da margem fluvial e, por
outro lado, conquistaram mais terrenos ao Rio.
Após a Industrialização de Xabregas a paisagem campestre e a paisagem límpida do Tejo
foram trocadas por um lugar industrial que caiu no abandono, espaços devolutos, presença de
ruínas e várias vilas operárias, o conhecido Cemitério das Fábricas (MATOS et al., 1999. P.41).
Do ponto de vista social são claros vários problemas, sendo que a maioria da população é
envelhecida e de classe baixa.
O objetivo é que as áreas que caíram em abandono voltem à atividade através de novos usos,
ou seja, é fundamental que as industrias que outrora deram vida e sustento económico a esta área
de Lisboa voltem a colocar o Vale de Chelas no contexto da cidade e voltem a criar uma
contribuição para o crescimento do local.

2- Espaços vacantes no tecido urbano

Vacante pelo próprio sentido da palavra. Vacante porque o destino o impôs. Vacante por
ser indeterminado no espaço. Espaços vacantes, ou espaços expectantes, mostram uma incerteza
na imagem da cidade. Muitos destes lugares são completamente rejeitados pela cidade,
permanecendo num estado de incompletude e sobrevivência, permanecendo sem um propósito.
Trata-se de espaços esquecidos e abandonados repletos de seres biológicos e onde o controlo
do homem é quase ou mesmo inexistente. Estes espaços predominam as cidades
contemporâneas. Mesmo assim, não deixam de possuir memória e sentido do lugar, continuam a
ser lugares com história, e identidade. Estes espaços que criam a descontinuidade do tecido
urbano, sendo muitos deles incomunicáveis, são denominados de vazios urbanos. Mas vazio em
que perspetiva? Existem mesmo vazios urbanos?
Os espaços vacantes são espaços esquecidos e renegados pela cidade, mas que têm um
grande potencial para a revitalização urbana. Uma das primeiras reflexões sobre estes espaços
do tecido urbano foi da autoria de Solá-Morales, o arquiteto que apresentou, em 1995, de forma
muito clara, uma visão sobre o que constituíam estes espaços, alcançando uma definição que
consegue englobar todos os diferentes tipos de espaços que se inserem nos vazios urbanos. Usou

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a expressão Terrain Vague para definir o conceito de terreno abandonado e esquecido. Mais tarde
o conceito foi traduzido em Vazio Urbano. Estes “vazios” não têm necessariamente de serem
espaços inativos, eles podem ter um grande papel na definição da imagem urbana, como são
exemplo grandes praças.
Segundo Sofia Morgado “Este tipo de espaços, frequentemente considerados nada ou
vazios, contêm testemunhos e caracteres próprios originados pelas suas condições geográficas
ou por influência de determinadas formas de ocupação humana. Assim, os espaços
aparentemente carentes de sentido tornam-se progressivamente mais evidentes e protagonistas,
ainda que silenciosos, na formação da metrópole.”

3 – Surgimento dos espaços vacantes no tecido urbano – Contexto histórico

Pode-se dizer que os espaços vacantes surgiram pela primeira durante a 2ª Guerra
mundial que causou uma grande destruição em muitas cidades da Europa. Com a guerra muitas
cidades ficaram com os seus centros completamente devastados dando origem a espaços
vacantes que só deles restou as memórias do passado.
Algumas das cidades afetadas pela guerra ainda apresentam hoje espaços vagos no seu
centro. Foram recuperadas áreas do seu tecido urbano, no entanto com o processo de
industrialização deu-se a expansão em direção à periferia e o seu centro caiu em esquecimento.
Estes espaços esquecidos têm potencial na revitalização da cidade. É fundamental
recuperar estes espaços de modo a trazer novamente a população para o centro e para a cidade.
Posteriormente, devido ao grande desenvolvimento industrial e aos antigos portos
localizados no interior das cidades portuárias houve a necessidade de localizar os portos sempre
entre a cidade e a água de modo a facilitar a transportação de produtos. Foi devido a esta
necessidade que surgiram os aterros, ocorrendo crescimento da cidade em direção ao rio, e
também, para um maior crescimento industrial.
Nos anos 70 deu-se uma crise económica cujas consequências foram a diminuição da
produção industrial, o consequente aumento generalizado dos preços dos produtos, o aumento da
taxa de desemprego e a falência de indústrias como a indústria têxtil, a construção naval, entre
outras.
Com a crise dos anos 70 deu-se uma reorganização dos portos e muitas industrias
abandonaram a cidade, umas devido ao seu encerramento, outras devido a uma tentativa de
minimização dos espaços que ocupavam, assim como havia uma crescente necessidade de
estarem mais perto dos nós de autoestradas que foram surgindo. Com isto diversos espaços
industriais de muitas cidades caíram em abandono. São locais que perderam a sua função, mas
mantiveram as suas estruturas, apresentando hoje muitas delas um visível estado de degradação
e algumas estão mesmo em ruína.
Diversas cidades estão perfuradas e com espaços que caíram em abandono mesmo em
áreas da frente ribeirinha, áreas com um enorme potencial que estão completamente fechadas à
população, quebrando cada vez mais a relação entre a cidade e a água.

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No urbanismo, tradicionalmente, nunca foi o abandono, mas sempre o crescimento a
grande preocupação e o tema de todas as reflexões. A urbanística moderna surgiu no século XIX
ligada à necessidade de encontrar soluções de habitat adequadas para uma população urbana
em explosão, e essa permaneceu a sua missão fundamental ao longo da maior parte do século
XX. No último quartel do século XX, inesperadamente, os urbanistas viram-se confrontados com
dinâmicas até então desconhecidas na evolução das cidades. De repente constataram que não
só áreas centrais de aglomerações como até regiões urbanas inteiras, em vez de crescerem,
perdiam população e atividades económicas. O abandono irrompia como uma nova força
modeladora da paisagem urbana, o que pareceu a urbanistas e cientistas urbanos contranatural.
Conceitos como o de “contraurbanização” (Berry 1980) e “desurbanização” (van den Berg et al.
1982), surgidos então para descrever a nova realidade, exprimem bem a estranheza sentida.

4 – Papel dos espaços urbanos vacantes

Perceber que vocação e utilidade estes espaços podem ter numa ótica de
desenvolvimento urbano sustentável adaptado a um contexto de encolhimento urbano é essencial.
Isso significa, como têm defendido alguns autores, saber substituir as velhas preocupações
focadas em contrariar o encolhimento urbano por abordagens novas que saibam aceitar este
fenómeno e utilizá-lo em prol da melhoria do ambiente urbano, tanto mais que, como dizia G.-J.
Hospers, “a qualidade de vida numa cidade não depende necessariamente da densidade
populacional”. Dentro desta perspetiva, o argumento que vou defender neste trabalho é que os
espaços vacantes urbanos têm valor ecológico e paisagístico e podem servir positivamente na
construção de uma cidade mais salubre, ambientalmente sustentável e biofílica.
O papel dos espaços vacantes é de grande importância dado que são espaços
fundamentais na vida da população, mas como espaços estruturados, ou seja, como espaços
vagos que foram pensados.

Programar no território e no espaço urbano

Autores:

Vítor Mestre – “Regeneração Urbana – Parte I”


Dulce Moura – “ A revitalização urbana: contributos para a definição de um conceito operativo”
Nuno Portas – “As transformações do espaço urbano” – Em Políticas Urbanas II
Françoise Choay – “Alegoria do Património”
José Aguiar – “O Futuro da Memória da Manutenção Militar”

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1. Regeneração e revitalização de Áreas Industriais

A regeneração e a revitalização visam criar continuidades entre diferentes tecidos urbanos ou


recriar continuidades que foram perdidas ao longo dos tempos através da eliminação das barreiras
e zonas de conflito que levaram ao surgimento de zonas degradadas que descaracterizaram o
local não só ao nível do território, mas também a nível das relações sociais. Esta ocorrência é
clara no território de Xabregas.
O sítio de Xabregas tem potencial para criar espaços de apoio à comunidade, ou seja, espaços
de recreio e lazer e também espaços de comércio e serviço que tornem o local num polo atrativo
ao criar emprego e satisfazer as necessidades da população.
A Regeneração Urbana deverá atender a todas as necessidades, tanto de teor social como
económico e cultural maioritariamente através do auxilio das organizações representativas das
comunidades locais e também de investidores privados e públicos. Como cita Vítor Mestre A
regeneração urbana é muito mais do que apenas a reabilitação de edifícios e/ou dos espaços
exteriores e privados bem como a correção e/ou reforço das infraestruturas básicas instaladas e
outras fundamentais para se interagir em rede dentro e fora de casa, do bairro, da cidade, do país
(MESTRE, parte I, 2012).
Por sua vez, a revitalização urbana pretende fomentar estratégias e processos de inclusão e
integração que criem novos projetos. O objetivo deste trabalho é alcançar um aumento e melhoria
a nível das relações territoriais de modo a obter melhorias na vida social. A revitalização urbana
trata-se de um instrumento de gestão coletiva do território com capacidade para utilizar como
recursos próprios, programas urbanos muito diferentes, de carater mais social, económico ou
cultural (MOURA el al., 2005, p.21). Assim será possível a revitalização e regeneração do tecido
social e económico de Xabregas.
Os espaços vacantes são vistos na maioria das vezes de forma crítica. As propostas mais
frequentes de intervenção nestes espaços são operações de regeneração urbana que visam
reverter as ruínas e preencher os espaços vagos com nova construção, muitas vezes trata-se de
grandes investimentos financeiros.
É fundamental ter um olhar diferente sobre as paisagens urbanas que caíram em abandono.
O valor paisagístico e ecológico destes espaços é muito importante na escala da cidade, uma vez
que se trata de interstícios selvagens que têm um grande potencial na construção de um futuro
urbano mais sustentável.

2- Valor paisagístico e ecológico dos espaços vacantes da cidade

Será abordado o Paisagismo Naturalista negando quaisquer intervenções que fujam aos
modelos convencionais de regeneração urbana. Vou apresentar casos de estudo/exemplos onde
se aplica esta forma de intervenção urbana.
Os espaços vacantes que se encontram no tecido urbano são uma oportunidade para a
cidade do ponto de vista ecológico. Estes espaços têm um enorme potencial tanto paisagístico
como estético e funcional e contribuem e promovem a biodiversidade e a salubridade.
Maioritariamente estes espaços expectantes apresentam formações ecológicas, tais como
estruturas verdes abandonadas ou jardins que muitas vezes também têm um papel social, como
são exemplo espaços de produção alimentar e espaços recreativos, embora pouco cuidados

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(Foster 2014). Deste modo, os espaços vagos da cidade podem ser um importante reforço para a
estrutura ecológica urbana, complementando os espaços verdes da cidade.
As estruturas verdes urbanas têm um papel fundamental na redução dos impactos
ambientais provocados pelo crescimento urbano. Verifica-se que estas estruturas melhoram a
qualidade do ar, reduzem a ilha de calor, regulam a hidrologia urbana, controlam a erosão,
reduzem a poluição sonora, aumentam a biodiversidade entre outros benefícios como os de
caráter psicológico, estético e socioeconómicos, refletindo-se na salubridade do homem. Contudo,
também é fundamental calcular os custos, sobretudo os de manutenção de modo a alcançar a
melhor solução.

3 – Casos de estudo/exemplos

3.1- Parc des Buttes Chaumont – Paris

Diversas cidades ao redor do mundo têm adotado um movimento de conversão dos


espaços vacantes abandonados em parques. Este tipo de intervenção não é uma novidade. Como
exemplo temos a reforma urbana da cidade de Paris que se deu entre os anos de 1852 e 1870,
guiada pelo Barão Haussmann.
O Parc des Buttes Chaumont em Paris, criado pelo engenheiro Jean-Charles Alphand e
pelo paisagista Jean-Pierre Barillet, os mesmos que foram responsáveis pela grande maioria de
parques e jardins construídos e reformados durante a gestão do barão.
O parque em estilo paisagista inglês, com traçado orgânico, de aproximadamente 25
hectares que se localiza no sítio de uma antiga pedreira de extração de calcário foi usada na
construção e reforma urbana da cidade, e posteriormente desempenhou a função de lixeira. É um
dos primeiros exemplos de grande sucesso da recuperação de uma paisagem urbana degradada
através da conversão num parque paisagista. O parque é visto como um verdadeiro exemplo da
arte da paisagem na reconversão de espaços abandonados.
Hoje, após algumas reformas, uma delas entre 2003 e 2006, o Buttes Chaumont mantém
a mesma aparência e os elementos de quase 150 anos atrás. Ele possui cerca de cinco
quilômetros em caminhos e trilhas, com diferentes alturas, seis entradas principais e nove
secundárias.
O parque é marcado por dois riachos artificiais, criados a partir das águas do canal de
Saint-Martin e do canal de L’Ourcq, formam um lago de dois hectares: um deles, antes de chegar
ao destino final, segue até uma cascata que desagua numa gruta de 30 metros de altura,
‘ornamentada’ por estalactites artificiais. A gruta situa-se na antiga entrada das pedreiras. No meio
do lago erge-se um rochedo-ilha, formado por rochas sobrepostas e betão, com 30 metros de
altura, no topo do qual está o templo de Sybille. Criado pelo arquiteto Gabriel Davioud, em 1869,
é uma réplica do templo de Tivoli, localizado perto de Roma. Do alto da construção, temos uma
das vistas mais bonitas de Paris, principalmente de Montmartre.
Vários canteiros de flores estão espalhados por todo o parque, assim como as árvores,
muitas das quais centenárias e outras exóticas, como acácias, tílias, cedros, entre outras. No

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parque é possível realizar diversas atividades entre as quais fazer piqueniques. O lugar possui
três restaurantes e vários quiosques de apoio ao parque. Durante o verão, acontecem diversos
eventos ao ar livre, como concertos e festivais de cinema.
O Parc des Buttes Chaumont todos os anos, atrai mais de três milhões de visitantes, entre
os quais os próprios parisienses.

3.2- Gas Works Park – Seattle

Grande parte dos projetos de recuperação de espaços devolutos para a criação de


parques urbanos data a época pós-industrial. A corrente da arquitetura pós-industrial surge nos
anos 70 do século passado, entre o Modernismo tardio e o início do Pós-Modernismo, e carateriza-
se pelo elogio das tecnologias, a exibição das redes e a opção por deixar as infraestruturas à vista,
ou seja, o gosto pela estética industrial, num momento em que as fábricas abandonadas começam
a ser vistas como património industrial.
O Gas Works Park, localizado em Seattle, possui vestígios da única planta de gaseificação
de gás dos Estados Unidos ainda existente. A planta esteve em funcionamento entre 1906 e 1956.
Em 1962 esta propriedade foi adquirida pela cidade de Seattle para fins de recreio público. O
parque foi criado pelo arquiteto paisagista Richard Haag e aberto ao público em 1975,
inscrevendo-se nesta estética pós-industrial, uma vez que tira partido da preexistência da antiga
fábrica de gás abandonada na composição paisagística, preservando as estruturas fabris como
celebração da memória histórica e sentido do lugar, do seu valor estético e do seu potencial para
novos usos. Algumas das peças permaneceram como ruínas e decoram o ambiente num belo
contraste, como é o caso das torres de gaseificação preservadas chamadas de “cracking” torres.
Enquanto outras peças foram revitalizadas e transformadas em espaços para recreação. Como é
o caso da caldeira convertida num lugar para piquenique com mesas e churrasqueiras, e o antigo
exaustor/compressor transformado num espaço coberto com um labirinto de máquinas coloridas
para diversão das crianças. As áreas verdes abertas servem para receber o público em atividades
individuais, de grupo, ou mesmo plateias durante eventos.
Os solos contaminados da área de intervenção do Gas Works Park foram removidos,
criando uma colina artificial denominada Great Mound, um dos pontos com vista panorâmica sobre
o lago (Lake Union) e a cidade de Seatle. Richard Haag ganhou com este projeto um prémio de
excelência concedido pela sociedade americana de paisagistas. E desde a sua abertura em 1975,
o Gas Works Park já ganhou inúmeros prémios de design e inovação. O projeto do Gas Works
Park é considerado revolucionário no que se refere à recuperação de áreas industriais e solos
contaminados. Ganhou destaque nacional e internacional em termos de preservação ambiental,
sendo hoje um modelo.

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3.3 - Landschaftspark - Duisburg-Nord

O Landschaftspark em Duisburg-Nord, situado em Duisburg, no Ocidente da Alemanha,


foi desenhado nos finais da década de 80 pela Latz & Partners, uma empresa de Arquitetura
Paisagista e construído entre 1990 e 1999. Teve como inspiração o Gas Works Park.
Este parque foi implantado no local onde se situava a antiga Metalúrgica, cuja empresa
que explorava, a Thyssen, fechou as suas operações em 1985, devido a mudanças na produção
de aço e da globalização deste mercado.
Após o fecho destas instalações, a International Building Exhibition Emscher Park, abriu
um concurso de ideias para que este antigo espaço industrializado fosse reabilitado como um
parque, mas que ao mesmo tempo deixasse o testemunho do seu passado industrial.
A empresa de Peter Latz foi a escolhida para reabilitar este lugar num novo parque urbano.
Preservando a memória do lugar manteve todas as estruturas industriais. A combinação da
industria com a Natureza resulta num lugar cheio de memórias, sentimentos e associações ao seu
passado. Trata-se de um espaço re-naturalizado, que dá a ideia que a Natureza está
reconquistado as estruturas em aço e ferro que predominam naquela área, ao mesmo tempo que
redefine diferentes usos para cada uma das estruturas, deixando presente uma leitura do passado
industrial que outrora aquele lugar teve.
Na sua conceção temos de considerar que o Duisburg-Nord é um conjunto de complexos
parques que operam como sistemas independentes, que no seu todo constituem um enorme
Parque. Estes sub-parques ou subsistemas apenas se conectam em certos pontos através de
elementos específicos, visuais ou meramente elementos imaginários.
A infraestrutura e edifícios industriais ocupam cerca de 20 hectares de toda a área. Foram
convertidos para usos culturais e corporativos.
Por exemplo, o edifício onde ficava o Gasometer foi transformado num espaço para aulas
de mergulho, pequenos lagos foram aplicados onde antes existia água para arrefecer as caldeiras
e fornos, os Cooling Tanks. As linhas férreas foram convertidas em ciclovias com exceção de um
trajeto que permite ao utilizador efetuar uma viagem nostálgica pelo parque, num comboio a vapor.
A Arquitetura Paisagística neste parque assume-se como um conceito que assenta no
desenvolvimento urbano com princípios ecológicos, sociais e culturais onde a “natureza” irá
conquistar o seu espaço lado a lado com a infraestrutura que é preservada.
O parque pós-industrial de 230 hectares é reconhecido como um sucesso quer pelo seu
milhão de visitantes por ano, quer pelo custo de manutenção considerado baixo, orçamento em 4
milhões de euros por ano.

3.4- The High Line – Nova Iorque

O The High Line foi construído entre 2009 e 2014 em Nova Iorque. Trata-se de um parque
linear com uma extensão de 2,4 km, e uma área de 2,7 hectares, planeado numa antiga linha
ferroviária desativada que atravessa três bairros da cidade (Meatpacking, West Chelsea e Hell’s
Kitchen/Clinton) sobre um viaduto elevado a 8 metros de altura. O projeto The High Line alcançou
fama internacional devido ao facto de resultar de um movimento de resistência cívico que se opôs
ao desmantelamento da antiga linha ferroviária pretendido pelas autoridades locais, reclamando a

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criação de um jardim suspenso inspirado na vegetação espontânea que ao longo dos anos fora
colonizando o viaduto abandonado.
O projeto foi desenvolvido sobre um plano de plantação de Piet Oudolf, sob coordenação
do arquiteto paisagista James Corner. Este parque de pequenas dimensões recebe 4,5 milhões
de visitantes, mas tem um custo anual de manutenção muito elevado, que chega aos 4,6 milhões
de euros, suportados em 90% pelos Friends of the High Line e em 10% pelo New York City
Department of Parks.

Estratégias como as descritas anteriormente consistem em substituir os terrenos vacantes


por espaços verdes de lazer que configuram soluções permanentes. Németh e Laghorst em 2014
puseram em causa esta opção, devido ao facto de não serem muito adequadas ao contexto de
incerteza em que a gestão urbana é feita e devido aos seus custos de investimento que são
inevitavelmente mais altos do que em soluções temporárias.
Através de um correto planeamento, gestão e desenho, é possível que os espaços
abandonados não edificados cumpram missões semelhantes aos dos espaços verdes,
nomeadamente nas vertentes ecológica, estética e social, sem serem transformados em parques
e objeto de planos integrais de replantação.
Deste modo, Németh e Laghorst apresentam um modelo de utilização flexível que envolve
usos temporários dos espaços vacantes como infraestruturas verdes, assumindo a sua natureza
preliminar. Os espaços vagos das cidades podem ser valorizados como espaços para usufruto
coletivo de lazer e infraestruturas verdes espontâneas, suscetíveis de diversas utilizações apenas
com intervenções mínimas no sentido de abrir o seu acesso e qualificar os seus usos, ou corrigir
eventuais situações de risco que possam estar neles presentes.

3.5- Tempelhofer Feld - Berlim

Um caso que pode vir a ser um modelo paradigmático nesta lógica de reutilização de
espaços urbanos abandonados por novos usos temporários ou intermédios é o antigo aeroporto
de Berlim, desativado em 2008, e que deu origem ao Tempelhofer Feld, um parque público de 387
hectares onde pistas de ciclismo, de skate e de patins em linha usam agora as antigas pistas de
aterragem.
Em todo o caso, convém ter presente que a maioria dos espaços urbanos abandonados
não edificados são parcelas pequenas, com formas irregulares e de localização dispersa, o que
releva o desafio de os integrar na estrutura ecológica urbana. Da perspetiva da arquitetura
paisagista, para a qual as intervenções podem ser de caráter temporário ou permanente consoante
o local e o futuro planeamento urbano, esta forma alternativa de abordagem aos espaços urbanos
abandonados é aceitável, viável e pode até constituir um desafio particularmente interessante. De
facto, está em sintonia com uma tendência naturalista no design de espaços verdes que, não
sendo de agora, tem vindo a ganhar peso nos últimos tempos, privilegiando o espontâneo, o
orgânico e o autêntico, no que também pode ser visto como um elogio ao ecológico e ao selvagem.

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No que diz respeito à vegetação, muitas vezes os planos de plantação têm sido inspirados
pela estética das associações espontâneas das plantas na paisagem. Esta visão naturalista tanto
engloba planos de plantação exclusivamente compostos com plantas autóctones, como com a
incorporação de plantas introduzidas (exóticas). O ‘selvagem’ não é espontâneo e sim produto de
um minucioso (e dispendioso) plano de plantação.

Projetar
Autores:
F. Nietzsche
Carta de Veneza
Carta do Restauro

1- Identidade e memória

“O Homem se admira de si mesmo por não poder aprender a esquecer e por sempre se ver
novamente preso ao que se passou (…) Incessantemente uma folha se destaca da roldana do
tempo, cai e é carregada pelo vento – e, de repente, é trazida de volta para o colo do homem.
Então, o homem diz: “eu lembro-me”.
F. Nietzsche
Se analisarmos uma cidade como Lisboa, verificamos que a sua estrutura urbana é
preenchida por espaços vacantes. Uma das principais origens destes espaços foi a crise do
modelo industrial, designado pelo fenómeno da desindustrialização. Normalmente são espaços
caracterizados por grandes áreas territoriais, localizadas em lugares privilegiados de uma cidade,
como as frentes ribeirinhas. Brownfields, ou, terrenos contaminados pelo abandono de antigas
indústrias, são agora memória de uma época de mudança e transformação.
Os espaços vacantes são assim entendidos não pela atividade industrial decorrida, mas
pelos empreendimentos que um dia foram desativadas, sofreram a ação do tempo e, com a
consequente degradação natural, transformaram-se em zonas consideradas por muitos “mortas”.
Para uns, estes espaços em aberto são um “erro a ser corrigido” para outros, são um
espaço de oportunidade. Qualificados por lugares de ninguém, é no coração de Berlim, que estes
espaços de oportunidade foram ocupados ilegalmente por estruturas espontâneas que acolhiam
imigrantes, artistas, sem-abrigos, criando um sentido comunitário e uma identidade própria.
Tacheles é exemplo desta forma de apropriação de espaço transformando, e nos dias de hoje
numa atração turística. Trata-se de lugares com identidade e que são uma parte integrante na
cidade, onde não deixam de ser a memória de um passado, que se impõe no presente, evocando
um futuro.

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2 - Ruínas na cidade

As Ruínas são um tema pouco abordado nos estudos urbanísticos, possivelmente por serem
vistos como indesejados e mesmo como anomalias. No entanto, a verdade é que estão muito
presentes na imagem das cidades contemporâneas.
Os arruinamentos e os abandonos dão-se de forma aleatória e inesperada causando
interrupções no tecido urbano e levando à fragmentação nos centros urbanos e nas periferias.
Nos estudos de caráter urbano a reflexão acerca da ruína não é um tema comum. Há exceção
dos trabalhos sobre a reflexão das potencialidades dos espaços abandonados e vacantes de Solà
Morales, 1995.
A Ruína pode ser definida como um objeto exposto à ação erosiva do tempo, tanto por meios
naturais como pelo homem. Pode definir-se, ainda, como uma alusão à nossa memória e sentidos,
captando o nosso interesse. As ruinas e edifícios vazios povoam as paisagens urbanas
contemporâneas e mesmo assim são muito negligenciadas nos estudos urbanos.
Embora associadas ao abandono e mortalidade, as ruínas captam e fascinam o olhar do
homem. Há um desejo de conservação e destaque para que estas sejam contempladas. Este
sentimento causado no ser humano surge da contrariedade de sentimentos que elas nos
provocam: são a prova de que houve uma vida repleta de acontecimentos cuja história
desconhecemos. No entanto, são também a perceção de que nesse lugar algo foi perdido e caiu
no abandono mostrando-nos que tudo é efémero.
Os espaços abandonados e em ruínas são, também, vistos como metáforas de uma
urbanidade apocalíptica. Um amplo consenso foi gerado sobre a necessidade de reverter estes
espaços que caíram em abandono. No enteando talvez o acolhimento das ruínas não seja
necessariamente um desenvolvimento negativo, muito pelo contrário. O objetivo da memória do
lugar é resguardar o passado para servir o presente e o futuro. Há a necessidade de olhar para o
abandono humano de forma positiva.

3- Ruínas e espaços abandonados no Vale de Chelas – pensar a transitoriedade no


urbano e desenhar novas soluções

O “Cemitério das Fábricas” é caracterizado pela presença de ruínas de antigas fábricas e de


espaços vacantes na cidade, tornando-se imprescindível a criação de um projeto que incorpore as
ruínas. Este trabalho visa criar novas soluções urbanísticas e arquitetónicas para alcançar a
reapropriação do património industrial no sítio da Fábrica da Samaritana, inserido no conhecido
“Cemitério das Fábricas”. O trabalho abordará também o significado sociocultural, os usos sociais
e o valor ecológico dos lugares que caíram no abandono. A Ruína e os espaços que caíram em
abandono são espaços privilegiados que merecem soluções de planeamento que valorizem a sua
natureza heterotópica.

4 - Casos de estudo – Antigos edifícios industriais

Como caso de estudo apresento o projeto Lx Factory, em Alcântara, Lisboa, que se relaciona
com o tema em estudo. Com a queda da Industrialização o complexo industrial esteve inativo por
muitos anos, sendo apenas reerguido em 2008 com o projeto de reabilitação e reconversão de

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novos usos. Este projeto criou em espaço multiusos de apoio à comunidade mesmo não sendo
um lugar que se relaciona com a área envolvente. Este projeto preserva a memória do lugar, a sua
identidade e história. O espaço, cujo ambiente industrial permanece tornou-se único devido à
grande diversidade de usos que nele podemos encontrar que vão desde eventos, a concertos a
espaços de trabalho como bibliotecas, restauração e atividades no âmbito da arquitetura, design
e também fotografia. O lugar tornou-se um ponto de referência nacional e internacional que
convida a população de todas as faixas etárias.

Outro exemplo, caso de estudo estudado no início do semestre, é o ZAP’ADOS, um Skatepark


e Centro Jovem em Calais, França, que foi em tempos uma fábrica de amendoim torrado, um
edifício industrial comum sem características proeminentes. O edifício caiu em abandono por
alguns anos sendo degradado e vandalizado, tornando-se numa estrutura pouco segura, até que
em 2011 foi reabilitado.
Os Bang Architects aproveitaram ao máximo a estrutura do edifício existente de modo a
economizar custos e reduzir a pegada de carbono. O espaço foi aberto através dos painéis de
betão pré-fabricados das fachadas de modo a obter bons pontos de vista e luz natural para o
centro do edifício. Hoje em dia é um edifício chamativo e transparente, devido ao revestimento da
fachada numa malha de metal expandido. O Edifício, que se insere num cenário urbano devastado
torna-se visível. A sua presença imponente convida os potenciais utilizadores, jovens e curiosos a
usufruírem deste espaço.

5- Identidade arquitetónica – Caso de Projeto

O projeto arquitetónico é indissociável da forma como o novo se relaciona com a


envolvente construída, com a paisagem urbana, ou no caso da reabilitação, uma pré-existência.
Verifica-se que o que pretendemos construir é sempre suportado por uma base concreta, dotada
de características que lhe conferem um carácter e uma identidade, ou seja o seu "Genius Loci".
A identidade não pode nunca ser vista como um conceito estático, uma vez que esta
mesma identidade que reconhecemos num determinado momento na pré-existência, é já o
resultado da passagem do tempo, de todas as intervenções, e do próprio significado que aquele
objeto ganhou naquele lugar, por determinadas pessoas. Muitos dos edifícios que existem para
reabilitar já se encontram num elevado estado de degradação, o que significa que uma parte da
sua identidade já se perdeu, pois, o local acompanhava a necessidade de evolução dos seus
utilizadores e fazia com que estes se revessem com ele.
A Compreensão do edifício, ou seja, a compreensão do que nos diz, o que diz ao espaço
em que se insere, e o que diz às pessoas que o conhecem, torna-se assim um passo fundamental
para a compreensão da sua identidade, e consequentemente da abordagem mais indicada para a
sua Reabilitação, de forma a conferir-lhe uma identidade que responda às necessidades atuais,
mas que respeite sempre o que foi anteriormente, ou seja, a pré-existência.
Na Reabilitação que proponho para a Fábrica da Samaritana, e após uma apreciação da
condição e da identidade em parte perdida do conjunto arquitetónico, embora tentendo sempre
recriar fragmentos da memória do lugar, verifico que não é possível recriar o “Genius Loci”, e
também nunca pretendi fazê-lo, pois o grande objetivo é conseguir que à semelhança da

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identidade, que não é “estática”, o “espírito do lugar” atinja, também, uma dimensão que seja
compatível com a sociedade atual.

6 - Diálogo Arquitetónico entre o Novo e o Existente – Caso de Projeto

A identidade arquitetónica, à semelhança de quaisquer elementos que façam parte do


projeto pressupõem indispensavelmente um diálogo entre o novo e a pré-existência, ou seja entre
linguagens arquitetónicas, entre materialidades e entre as diferentes épocas. O diálogo entre o
novo e o existente é uma das principais finalidades do projeto arquitetónico.
Possibilidades de estratégias a adotar num projeto entre o novo e o existente:
• pode intervir numa perspetiva mais conservadora e "historicamente determinista de
conservação";
• pode intervir de forma a que haja uma clara rutura com o pré-existente;
• ou pode intervir numa perspetiva de transição em continuidade com o pré-existente com
base numa interpretação qualificada que procure uma maior qualidade interventiva.
Independentemente da escolha, deve-se acima de tudo conseguir alcançar uma harmonia
entre todas as partes do todo, de modo que a relação entre os espaços e tempos seja agradável.
No projeto que proponho para a Fábrica da Samaritana a estratégia passa por distinguir
claramente o novo do pré-existente, no entanto numa perspetiva de continuidade, utilizando a
materialização como transição de tempos. Com esta abordagem, procuro criar um diálogo
coerente entre as várias partes do projeto e evitar uma leitura fragmentada.

Fábrica da Samaritana – Intervenção

• Criar um edifício que se desenvolve dentro das paredes-mestras da antiga fábrica,


preservando a identidade e imponência que caracteriza o edifício.

• Criar relação interior-exterior por exemplo através da continuidade do pavimento para o


interior criando um efeito de galeria interna que estabelece o acesso aos elementos que
se encontram no piso térreo.

• “Levar” o exterior para o interior e interior para o exterior.

Fábrica da Samaritana – Proposta de Usos


Lazer + Cultura + Trabalho
• Criar um estacionamento subterrâneo;
• Restaurantes;

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• Bares (Implementar vida noturna na área);
• Auditório / cinema;
• Espaço expositivo;
• Espaços de trabalho / coworking;
• Biblioteca.

Armazéns devolutos (no recinto da Fábrica da Samaritana) – Proposta de usos

• Ateliers de Trabalho;
• Habitação (adjacente às vilas);

Zona Ribeirinha (área a delimitar) – Proposta de usos


• Ciclovia;

• Restaurantes / Bares (ideia de aproveitar alguns dos contentores);

• Espaço para concertos e outros espetáculos ao ar livre;

• Cais de barcos (embarcação de recreio).

Metodologia

A metodologia adotada será uma metodologia baseada em casos de estudo com uma
abordagem de carácter qualitativo e quantitativo. As referências e o projeto a ser realizado serão
base para uma análise profunda de modo a apreender semelhanças, particularidades e diferenças.
De modo a conseguir o entendimento desta análise recorro a várias técnicas de recolha e análise
de informação, através de documentos, visitas ao local, inquéritos, etc.
A primeira fase consiste na pesquisa através de documentos como livros, artigos e textos
que procura a definição conceptual da investigação e a obtenção de um âmbito de estudo. O
conceito será a base do projeto e ajudara a dar respostas a múltiplos futuros intuitos do projeto.
Esta fase passa assim por uma investigação mais teórica e casos de estudo nacionais e
internacionais mais práticos. Vai consistir numa recolha, seleção e crítica de documentos e textos.
A segunda fase consiste na analise do sítio de modo a obter conhecimentos aprofundados
da estrutura urbana, da história do local e da análise social e humana. Para a obtenção de
informação relevante serão consultados documentos históricos, planos já implementados e
projetos para a zona (projeto dos NPK, NoVOID) e estudo in situ através de visitas ao terreno.
A terceira fase consiste na elaboração de desenhos que apresentem as conclusões
alcançadas na fase 2. Primeiramente elaboração de desenhos de detenção de situações, seguidos
de desenhos da proposta, princípios estruturais e a sua relação com a situação existente, e por
fim desenhos de ideias de projeto e síntese conceptual.

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A quarta fase deixa a análise e passa a incidir sobre a solução arquitetónica, ainda que
pouco desenvolvida. Nesta fase continua a haver uma grande consulta de casos de estudo de
estratégias urbanas e arquitetónicas implementadas noutros locais (Nacionais e Internacionais).
A quinta fase consiste numa revisão dos usos.
Na sexta fase, a partir da proposta esquemática já concretizada, aprofunda-se a proposta
à escala do território e do edificado.
A fase oito corresponde à elaboração do desenho arquitetónico da solução resolvendo-se
problemas específicos da arquitetura da proposta desde a escala 1/200 à escala 1/20.
A elaboração do documento escrito acompanha o projeto, ou seja, vai decorrer ao longo
do tempo uma vez que acompanha as descobertas e mudanças ao longo da evolução do projeto.
Na última fase serão executadas as peças finais de apresentação do projeto.

Calendarização

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Estrutura do Projeto Final de Mestrado

Agradecimentos
Resumo
Abstract
Índice geral
Índice de figuras/quadros
Lista de Abreviaturas
Introdução: I. Justificação temática
II. Objetivos
III. Metodologia
IV. Organização sequencial da Tese
Capítulo I Enquadramento teórico e contextualização
Capítulo II Casos de estudo
Capítulo III Análise do território
Capítulo IV Relatório do Projeto Final de Mestrado
Conclusão
Bibliografia
Anexos

23
Bibliografia

AGUIAR, José; ROSA, Daniela (editores), O Futuro da Memória da Manutenção Militar. 2015-2016
Conservação, Resaturo e Reabilitação. Lisboa: FAULisboa, 2016 Livro digital

BRITO-HENRIQUES, Eduardo, Arruinamento e regeneração do espaço edificado na metrópole do


século XXI: o caso de Lisboa, Em Revista Digital EURE, Vol 43, Nº 128, Janeiro de 2017

CHOAY, F. 1992. L allégorie du patrimoine. Paris: Editions du Seuil

CHOAY, F. 2007. A regra e o modelo: sobre a teoria da arquitetura e do urbanismo. 2ª ed. Casal
de Cambra: Caleidoscópio.

FIGUEIREDO, Paula Cristina Ferreira; SANDRA, Paula Sanchez. A Freguesia do Beato Na


História. Edição da Junta de Freguesia do Beato. Lisboa, 1995.

MATOS, José Sarmento de; PAULO, Jorge Ferreira. Caminho do Oriente: Guia histórico. Vol. II.
Livros Horizonte, 1999.

MOREIRA, Inês. “Após a fábrica”. Aquitectura e Arte ARQA. Lisboa: Edição, Futurmagazine. N122

SALGUEIRO, Teresa Barata . Lisboa, Periferia e Centralidades. Oeiras: Celta Editora, 2001.

Bibliografia | Teses de Doutoramento / Mestrado

KONG, Mário. Arquitectura Industrial – uma abordagem – Central Tejo, Dissertação de Mestrado
em Reabilitação da Arquitectura e Núcleos Urbanos, Lisboa: Faculdade de Arquitectura da
Universidade Técnica de Lisboa, 2001.

Webgrafia - Artigos

A Emergência de Novas Centralidades: O Caso de Lisboa – Texto de Francisco Manuel Serdoura


Disponível em:
http://www.academia.edu/395221/A_EMERG%C3%8ANCIA_DE_NOVAS_CENTRALIDADES_O
_CASO_DE_LISBOA

24
Arruinamento e regeneração do espaço edificado na metrópole do século xxi: o caso de Lisboa –
Eduardo Henriques
Disponível em:
repositorio.ul.pt/bitstream/10451/.../1/Arruinamento%20e%20regeneração_EBH.pdf

Carta de Veneza. Congresso Internacional de Arquitectos e de técnicos de Monumentos Históricos


II. Veneza, Maio 1964. [Consult. 14 Outubro 2015]. Disponível em
http://www.igespar.pt/media/uploads/cc/CartadeVeneza.pdf

Industrial Heritage (TICCIH). Nizhnytagil, Julho 2003. [Consult. 14 Outubro 2015]. Disponível em
http://www.mnactec.cat/ticcih/pdf/ntagilPortuguese.pdf

Inovação nas políticas urbanas – Modelos de regulação e sistemas de governança –Texto de João
Cabral
Disponível em: http://fcsh.unl.pt/geoinova/revistas/files/n10-2.pdf

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