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Geringonça autocrática

Uma estratégia voltada a corroer o Estado de Direito


e a Constituição
31.jul.2020 às 23h15

Nas últimas três décadas, formou-se um certo consenso entre


economistas, cientistas políticos e juristas de que as instituições
importam para o desenvolvimento econômico e político das sociedades,
uma vez que podem contribuir para estabilizar expectativas, incentivar a
cooperação entre adversários e restringir o oportunismo e a violência.

Quando bem concebidas são capazes, inclusive, de transformar vícios


privados em bem público. É o caso do sistema de freios e contrapesos,
onde a ambição e mesmo a vaidade daqueles que ocupam postos no
parlamento e nos tribunais contribuem para colocar limites e controlar
aqueles que, no governo, têm a espada e a bolsa a seu dispor.

Isso não significa que as pessoas sejam menos importantes, pois, no


final do dia, elas é que operam as instituições. Por melhor que seja o
desenho de uma determinada instituição, se ela for ocupada por pessoas
incompetentes ou avessas às suas funções e finalidades, tendem à
inoperância e deterioração.

Impedido pelo jogo institucional de criar um regime autocrático por meio


da alteração de leis e dispositivos constitucionais, como ocorreu na
Hungria, na Turquia, na Polônia e mesmo na Rússia e na Venezuela, o
atual governo tem investido em subverter a ordem constitucional pela
nomeação de autoridades incompetentes e/ou dispostas a comprometer
e sabotar as instituições sob o seu comando.

Trata-se de montar uma espécie de gerigonça autocrática, voltada a


corroer o Estado de Direito e inibir a eficácia da Constituição.

A decisão do Ministério da Justiça de promover uma investigação de


natureza meramente intimidatória e destituída de qualquer
fundamentação legal em relação a "policiais antifascistas", que se abateu
também sobre intelectuais que se notabilizam pela defesa da
democracia, como Paulo Sérgio Pinheiro e Luís Eduardo Soares, é mais
um exemplo desse percurso parainstitucional que vem sendo trilhando
de forma sistemática pelo governo.

Nessa toada, ministérios como o da Saúde, do Meio Ambiente, da Justiça


e dos Direitos Humanos, além de outras esferas voltadas à
implementação e proteção de direitos na administração, vão se
transformando em verdadeiras ameaças à vida, à saúde e às liberdades
das pessoas, à integridade de populações indígenas ou à preservação do
meio ambiente.

Não ultrapassamos nesta semana a assustadora marca de 90 mil mortes


relacionadas à pandemia ou quebramos recorde de queimadas,
letalidade pela polícia ou invasão de terras indígenas, por mero acidente.
São conquistas de um (des)governo obcecado em ocupar e emascular
as instituições democráticas.

Avesso que foi à prepotência, à intolerância e a todas as formas de


injustiça, não espanta que Ranulfo de Melo Freire tenha nos legado a sua
ausência neste momento em que sobeja a boçalidade, dentro e fora dos
tribunais.

Nos estertores do regime militar, fez da 5ª Câmara Criminal do antigo


Tribunal de Alçada Criminal, ao lado de Alberto da Silva Franco e um
seleto grupo de desembargadores, um oásis de proteção de direitos.
Saiu dali para ajudar José Carlos Dias na difícil tarefa de humanizar as
prisões; missão que nunca abandonou, como registra Marcos Fuchs do
Instituto Pro Bono.

Ranulfo era um minimalista. Convidado a dizer algumas palavras em


tributo a seu amigo Antonio Angarita —outro extraordinário— na FGV, foi
ao púlpito e apenas sorriu. Estava feita a maior das homenagens. Ranulfo
é a prova de que, sobre todas as coisas, as pessoas importam.

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