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Nutrição e Suplementação
Esportiva
Professor Me. Murilo Dattilo
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Nutrição e Suplementação Esportiva
Introdução 3
Suplementação alimentar 24
Creatina 25
Cafeína 26
Referências bibliográficas 27
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Como há somente uma reação enzimática para que A quantidade de NAD+ é encontrada de maneira
a CP ressintetize a ATP, o sistema ATP-CP é um meio limitada na célula, o que faz necessário que, uma vez
de geração de energia altamente eficaz e instantâneo, que ela ganhe elétrons, os carreie até a mitocôndria
sustentando atividades musculares que dependam e os libere, estando apta a receber novos elétrons
de que isso ocorra rapidamente, como ocorre em provenientes da glicólise. Entretanto, destaca-se que,
modalidades de alta intensidade. Entretanto, os na ausência de oxigênio, o acesso à mitocôndria pelo
estoques de CP musculares são limitados, permitindo NADH+H+ é limitado, existindo assim a impossibilidade
que o tempo de geração de energia a partir desse de ser reciclado, prejudicando o funcionamento
sistema seja limitado a aproximadamente 8-12 da glicólise. Como mecanismo compensatório, o
segundos. NADH+H+ tem a capacidade de doar os elétrons para
o piruvato, originando ácido lático e reconvertendo-
Uma representação do uso de CP e da ressíntese se em NADH+H+.
de ATP é ilustrada abaixo.
A via glicolítica sustenta o fornecimento de energia
em modalidades que apresentem alta intensidade e
curta duração (até cerca de dois minutos), sendo a
glicose proveniente tanto dos estoques de glicogênio
muscular quanto da corrente sanguínea. Esta pode ser
oriunda do glicogênio hepático, da síntese endógena
de glicose no fígado ou da glicose proveniente da
alimentação.
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Em atividades com predominância aeróbia, a O piruvato, por sua vez, é convertido em acetil-
taxa de utilização de glicose ainda permanece muito CoA a partir da geração de mais uma molécula de
elevada. O que diferencia essa etapa do metabolismo NADH+H+, podendo reagir com o oxalacetato para
anaeróbio é que o piruvato e o NADH+H+ têm acesso formação do citrato e entrada no ciclo de Krebs.
à mitocôndria.
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O ciclo de Krebs atua como ponto central na musculatura esquelética, principalmente os de cadeia
obtenção de energia de forma aeróbia, pois é ramificada (leucina, isoleucina e valina) e, em menor
altamente especializado em gerar mais moléculas de escala, glutamato, aspartato e asparagina.
NADH+H+, de FADH2 (flavina adenina dinucleotídeo –
também considerada uma coenzima) e de GTP (que
é rapidamente convertida em ATP). Cada acetil-CoA DANO MUSCULAR INDUZIDO PELO
que entra no ciclo de Krebs origina três NADH+H+, EXERCÍCIO FÍSICO E RECUPERAÇÃO
um FADH2 e um GTP. TECIDUAL
Conforme o exercício físico se prolonga, é
fundamental que o organismo acione outro substrato Estrutura das células musculares
para geração de energia, já que os estoques de
As células musculares, ou miócitos, ou fibras
carboidrato no corpo são limitados. Portanto, a
musculares, são células multinucleadas, com
utilização de ácidos graxos passa a ser uma importante
características cilíndricas, formadas por uma
estratégia para atingir esse objetivo. Eles podem ser
membrana, denominada sarcolema, sendo seu
provenientes da lipólise dos triglicerídeos do próprio
citoplasma denominado de sarcoplasma. Elas
tecido muscular ou do adiposo subcutâneo e/ou
apresentam alta quantidade de proteínas, sendo
visceral. Esse é um caminho mais longo de utilização,
que cerca de 85% destas são formadas por actina e
tendo em vista a necessidade de primeiro mobilizá-
miosina, conferindo ao tecido muscular a capacidade
lo para depois utilizá-lo como substrato energético
de se contrair e movimentar o esqueleto (figura 6).
(oxidação propriamente dita).
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Por fim, logo acima do sarcolema, as células Dano induzido pelo exercício físico e
musculares também apresentam uma família
denominada células satélites, as quais se mantêm
reparação tecidual
em estado chamado quiescente (repouso) e, quando
Ao longo do dia, o tecido muscular sofre
ativadas, podem recuperar ou substituir uma outra
constantes danos, os quais são reparados a partir
previamente danificada. As células satélites têm a
da alta integração molecular para geração de novas
capacidade de atuar como “fornecedoras” de núcleos
proteínas e estruturas celulares, resposta responsável
para que ocorra a síntese proteica e a construção
por manter a massa muscular de um indivíduo sadio.
de novas proteínas no lugar de outras que podem
ter sido perdidas ou danificadas em decorrência de Algumas situações podem amplificar a magnitude
determinado estímulo lesivo, como observado após a do dano celular, a exemplo do exercício físico. No que
prática do exercício físico. diz respeito a essa prática, ela pode gerar dano tecidual
a partir da ação mecânica (composta principalmente
pela fase excêntrica da contração muscular, que é
aquela em que há alongamento das fibras musculares
– figura 8) ou química (que ocorre a partir da ação das
espécies reativas de oxigênio – EROs).
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Figura 10. Ciclo de ativação das células satélites e recuperação da fibra muscular danificada - Fonte: Zammit; Partridge; Yablonka-Reuveni, 2006.
A partir desse momento, a oferta nutricional danos celulares em grande magnitude. Como
especificamente de proteínas passa a desempenhar consequência, no período subsequente à prática,
papel relevante, partindo do princípio de que haverá a taxa de síntese proteica torna-se aumentada por
aumento da necessidade muscular por aminoácidos cerca de 48 a 72 horas, especificamente para actina e
para ressíntese proteica e regeneração tecidual. miosina, sendo essa resposta totalmente dependente
da oferta proteica proveniente da dieta. O resultado
Cada tipo de exercício físico impõe danos teciduais dessa maior síntese, em longo prazo, é o aumento
específicos, que requerem tempos distintos de da área de secção transversa das fibras musculares,
recuperação. Entretanto, o tempo médio necessário fenômeno denominado hipertrofia muscular.
para recuperação muscular está situado em torno de
48 a 72 horas. É interessante notar que, conforme o O exercício físico de característica aeróbia,
indivíduo se apresenta mais treinado, o dano muscular por outro lado, não requer aumento significativo
reduz-se (como mecanismo de adaptação e diminuição de miofibrilas (a não ser em modalidades nas
da resposta lesiva) e, consequentemente, o tempo de quais, além da característica prolongada, exista a
recuperação entre as sessões também é diminuído. presença de sobrecargas, como o ciclismo), e sim de
estruturas celulares que dependam principalmente
do oxigênio. Assim, dentre as principais adaptações
Adaptações musculares induzidas pelos
produzidas por modalidades com essa característica,
diferentes tipos de exercício físico destacam-se: aumento do número e densidade de
mitocôndrias; aumento das enzimas mitocondriais,
Como o exercício físico é considerado importante
principalmente aquelas do ciclo de Krebs e da cadeia
fator de estresse para a musculatura esquelética,
transportadora de elétrons; aumento de mioglobina,
repercutindo em dano celular, como mecanismo de
para melhora do transporte de oxigênio dentro da
defesa, além de se regenerar, o tecido se adaptará,
célula muscular; aumento de hexoquinase, que é a
visando diminuir o quadro estressor nas sessões
primeira enzima da glicólise, responsável por iniciar
subsequentes.
a utilização da glicose como substrato energético;
O exercício físico resistido, em especial, por e incremento da quantidade de GLUT-4, que são os
trabalhar com sobrecarga superior à utilizada na transportadores de glicose para o interior da célula
rotina diária do indivíduo, possui como principal muscular, proporcionando assim maior capacidade de
adaptação o aumento da quantidade de miofibrilas, captação dessa molécula para geração de energia.
visando sustentar essa sobrecarga sem que ocorram
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Portanto, sua incorporação ao plano nutricional é somente como o momento imediatamente antes do
crítica, devendo respeitar alguns aspectos básicos: treino/prova, mas sim as 24 ou 48 horas anteriores.
3. Tempo de descanso entre a primeira sessão - Após o exercício físico: tem o objetivo
de exercício físico e a segunda, seja no mesmo dia ou principal de repor os estoques de glicogênio hepático
no dia subsequente. e muscular, mas ressalta-se que esse momento não
se traduz somente pelo período próximo ao término
Para estruturação da oferta de carboidrato ao da modalidade, mas sim todo aquele que antecederá
longo do dia, o primeiro aspecto a ser levado em a realização da próxima sessão de treino/prova.
consideração é o volume de exercício físico praticado
diariamente, conforme descrito: Carboidratos antes do exercício físico
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Em contrapartida, os períodos de zero, uma ou reduzido. Além disso, a elaboração de refeições com
duas horas antes do exercício físico apresentam pouca alta densidade energética também recebe destaque,
ou nenhuma influência sobre o rendimento, sendo além do aumento de frequência alimentar, com
considerados como refeições de complementação consumo de refeições de volume reduzido.
dietética. Ressalta-se também que, nesses períodos,
o volume das refeições necessita ser menor, já Observação: para modalidades que forem
que a taxa de esvaziamento gástrico se torna praticadas com duração de até 60 minutos, não
reduzida durante o exercício físico, aumentando o há quantidade de carboidrato específica a ser
risco de desconfortos caso o volume de alimentos consumida antes do exercício físico, devendo ser
seja grande. Sendo assim, além do menor volume, respeitada simplesmente a quantidade diária total
sugere-se restrições quanto à presença de outros a ser administrada, de acordo com o planejamento
nutrientes, como proteínas e lipídios, além das dietético e a preferência do indivíduo.
fibras alimentares. De qualquer maneira, o aspecto
tolerância individual deve ser muito bem considerado, Carboidratos durante o exercício físico
pois alguns indivíduos podem ser mais ou menos
tolerantes, sendo esse o critério mais importante A manutenção da glicemia constante e a
para determinação do volume e dos itens alimentares minimização do uso do glicogênio hepático e
que comporão essas refeições. muscular são pontos de alta relevância durante a
prática esportiva. A diminuição da glicemia repercute
Em situações específicas, como competições, em diminuição da oferta de glicose para o cérebro,
a oferta de carboidratos já pode ser devidamente além de aumentar a cortisolemia, o que pode
planejada ao longo das 24 ou 48 horas que antecedem predispor a imunossupressão, principalmente em
o evento, conforme segue abaixo: modalidades de longa duração. Já a diminuição do
glicogênio muscular pode impactar diretamente, e de
- Preparação para eventos com duração > 90 forma negativa, o rendimento nos momentos finais
minutos (estratégia de abastecimento geral): 7 g a do exercício físico, já que é fonte de energia direta
12 g/kg de massa corporal ao longo das 24 horas. para geração da contração muscular.
- Preparação para eventos com duração > 90 A oferta de carboidrato durante o exercício físico
minutos (carga de carboidrato): 10 g a 12 g/kg/ surge como ferramenta capaz de controlar esses dois
dia ao longo das 36 ou 48 horas que antecedem aspectos, mas só passa a ter relevância em atividades
o evento, sem a necessidade de realizar a fase de com duração superior a 60 ou 90 minutos. Até esse
baixo consumo de carboidrato (protocolo antigo de volume, se os estoques de glicogênio hepático e
supercompensação de carboidrato – fase de depleção muscular forem altos no momento em que a atividade
seguida de compensação). for iniciada, sustentam a prática do exercício físico
por si só, não havendo melhoras de rendimento com
As opções de alimentos a ser incorporados à a oferta de carboidrato de origem exógena.
alimentação deverão respeitar diversos aspectos
da rotina individual, mas, conforme a necessidade Os carboidratos a ser administrados durante o
do nutriente aumenta, existe risco maior de exercício físico devem apresentar rápida velocidade
incapacidade de comportar grandes quantidades de de absorção e disponibilização para as células
alimentos. Portanto, o consumo daqueles com grande musculares, na ordem de 30 g a 60 g/hora de
quantidade de gordura e fibras, por apresentarem exercício físico (0,5 g a 1,0 g/min).
elevado poder de geração de saciedade, pode ser
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Dessa forma, os carboidratos devem apresentar rápida, resultando também em altas concentrações
índice glicêmico alto, podendo ser ofertados na forma de insulina. Esse hormônio é considerado “chave” na
líquida, em gel ou sólida. De preparação líquida, os ativação da enzima glicogênio sintase, potencializando
principais exemplos são: repositor hidroeletrolítico, a resposta de síntese do glicogênio.
que é a combinação de água, carboidratos e eletrólitos;
sacarose, dextrose e/ou maltodextrina dissolvidos A forma de administração preconizada pelo ACSM
em água; gel esportivo + água; e alimentos sólidos (2009), do ponto de vista prático, apresenta melhor
+ água. Qualquer uma dessas fontes apresenta aplicabilidade na rotina diária de um indivíduo.
índice glicêmico alto, sendo de rápida disponibilidade
para a corrente sanguínea, não existindo diferenças Para rotinas de exercício físico que apresentam
relevantes no que diz respeito à velocidade de descanso superior a oito horas entre as sessões, a
absorção. oferta de carboidrato não segue regra específica no
que diz respeito à quantidade e ao índice glicêmico.
Como a taxa de esvaziamento gástrico durante Assim, deve-se respeitar somente a quantidade diária
o exercício físico é diminuída em comparação ao específica para a duração de exercício praticada,
repouso, as opções a ser ingeridas devem apresentar distribuída de acordo com a preferência individual.
concentração variando entre 6% e 8%, a qual pode
ser calculada pela seguinte fórmula: Nota importante: a administração de carboidrato
após o exercício físico não estimula a síntese proteica
Concentração (%) = massa (g) / volume (ml) muscular e não “poupa” aminoácidos para serem
desviados para a síntese de proteínas. Esse assunto
Cabe destacar que a ingestão deve ser realizada será abordado em mais detalhes no tópico de
logo a partir dos primeiros minutos de exercício físico, proteínas.
já que a intenção é minimizar o uso do glicogênio
muscular e hepático.
Recomendações de proteínas
Carboidratos após o exercício físico
O exercício físico, de qualquer natureza, aumenta
as necessidades de aminoácidos pela musculatura
No período que sucede o treinamento físico ou a
esquelética, os quais serão determinantes para
prova, a reposição do glicogênio hepático e muscular
promoção das adaptações musculares e/ou
pode ou não ser critério emergencial. Para responder
regeneração tecidual. Este tópico, em especial,
tal questão, faz-se necessário saber qual é o tempo
será dividido em duas sessões: 1) proteínas para o
de descanso entre uma sessão e outra. Quando o
exercício físico resistido e 2) proteínas para o exercício
intervalo for inferior a oito horas, duas estratégias
físico prolongado.
podem ser adotadas:
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Essa afirmação dá-se pelo fato de que essa quais dessas proteínas têm capacidade de
quantidade de proteína, além de fornecer todos proporcionar tal resposta muscular: a caseína, a
os aminoácidos necessários para síntese proteica, whey protein ou a interação entre ambas.
possui quantidades suficientes de leucina, já
mencionada anteriormente por ser o elemento-chave a) Whey protein
para ativação da cascata de síntese proteica, a partir
da estimulação da mTOR. As proteínas do soro do leite são obtidas como
produto secundário à fabricação do queijo, com
Após o exercício físico resistido, uma série de o soro sendo submetido a um processo industrial
proteínas estimula a síntese proteica muscular, como subsequente para extração das proteínas. Estão
observado após a administração de albumina, soja, disponíveis no mercado três tipos de whey protein:
leite, caseína, whey protein (ou proteínas do soro do concentrada, isolada e hidrolisada.
leite – termo designado para definir o conjunto de
proteínas solúveis do soro do leite) e carne vermelha. A whey protein concentrada pode apresentar
Entretanto, fatores como a velocidade de digestão até cerca de 80% de proteínas, contendo frações
e a absorção dos aminoácidos podem influenciar muito pequenas de carboidrato (lactose) e lipídios.
de maneira muito significante a magnitude dessa A versão isolada apresenta como característica
resposta, tópico abordado na próxima seção. principal a ausência de carboidrato e lipídios, sendo
aplicável principalmente para dois públicos que não
Fonte alimentar toleram a versão concentrada, por apresentarem
alto grau de geração de gases intestinais e/ou
Em 2007, o leite de vaca foi considerado um intolerância à lactose. Já a versão hidrolisada é,
dos alimentos com melhor capacidade de atender normalmente, obtida a partir da whey protein
às necessidades musculares de aminoácidos após isolada, a qual é submetida ao tratamento enzimático
o exercício físico resistido. Isso foi observado na para fragmentação das suas proteínas, digerindo-as
administração desse alimento em comparação à parcialmente. Entretanto, existem dados na literatura
soja, que proporcionou maior taxa de incorporação científica que demonstram que a hidrólise da whey
de aminoácidos na musculatura e, em longo prazo protein não aumenta sua velocidade de absorção,
(treinamento), ganho aumentado de massa magra já que as proteínas extraídas do soro do leite já
nos indivíduos que o consumiram. são naturalmente de rápida digestão. Dessa forma,
o público que pode ser beneficiar das proteínas
O leite de vaca apresenta característica hidrolisadas é aquele que apresentam alergia a essas
heterogênea quanto às suas proteínas, possuindo proteínas, principalmente a beta-lactoglobulina, que
frações tanto de lenta (caseína, correspondente é aquela com maior potencial alergênico (inexistente
a 80%) quanto de rápida digestão (whey protein, no leite humano).
20%) e, assim, dupla cinética de aparecimento de
aminoácidos na corrente sanguínea. Esse padrão As proteínas derivadas do soro do leite
confere ao alimento o potencial de disponibilizar apresentam, além da rápida digestibilidade, que
aminoácidos para a musculatura esquelética (e todas é conferida pela sua alta estabilidade em pH ácido
as células do corpo) de maneira rápida (whey protein) (portanto, possuem rápido esvaziamento gástrico e
e sustentada (caseína). digestão principalmente no intestino delgado), altas
concentrações de aminoácidos essenciais e alto
Entretanto, levando em consideração a existência Escore de Aminoácidos Corrigido pela Digestibilidade
desses dois grandes conjuntos, cabe compreender Verdadeira das Proteínas (PDCAA).
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A caseína, embora apresente alta concentração de Após o término do exercício físico, a reversão do
aminoácidos essenciais e alto PDCAA, diferencia-se quadro de catabólico para anabólico é fundamental e,
da whey protein principalmente pela sua cinética de conforme descrito anteriormente, a rápida chegada
digestão e absorção. Por ser instável em pH ácido, uma de aminoácidos à musculatura faz-se necessária.
vez entrando em contato com o suco gástrico, forma Portanto, a whey protein (ou o leite de vaca) desponta
grandes globos sólidos no estômago, apresentando como a melhor opção de consumo no período pós-
então lenta taxa de esvaziamento gástrico e lenta exercício físico.
digestão e disponibilização dos seus aminoácidos
para a corrente sanguínea, consequentemente, para Pelo fato de a whey protein possuir rápido
a musculatura esquelética. esvaziamento gástrico e o pico de aminoácidos na
corrente sanguínea acontecer em cerca de 30 a
c) Whey protein X caseína – efeitos sobre a 60 minutos, a oferta dessa proteína também pode
musculatura em repouso e após o exercício físico ser realizada no período que antecede o exercício
resistido físico resistido, caso a rotina diária e/ou dietética do
indivíduo impeça o consumo após o término da sua
Quando analisado o efeito da administração de whey prática. Isso já foi investigado na literatura, e a síntese
protein ou caseína, tanto em repouso quanto após o proteica após o exercício físico nas condições de
exercício físico resistido, os resultados indicam que a consumo da proteína antes ou depois não apresenta
velocidade de disponibilização dos seus aminoácidos diferença significativa.
para a musculatura esquelética é ponto crítico para
estimulação da síntese proteica. Em repouso e após o Combinação de proteína + carboidrato para
exercício resistido, a estimulação pela whey protein é estimulação da síntese proteica muscular
cerca de 90% e 120% maior quando comparada com
a promovida pela caseína, respectivamente. Dados Classicamente, os carboidratos são conhecidos
similares também são encontrados em indivíduos como “poupadores” de aminoácidos e proteínas,
idosos, o que pode ser extremamente benéfico para permitindo a criação de uma rotina constante de
estes, já que a diminuição da progressão de perda combinação destes com aqueles, principalmente
de massa muscular e o seu desenvolvimento são de alto índice glicêmico. Tal prática, do ponto
pontos importantes na prevenção e tratamento da de vista hipotético, permitiria que o carboidrato
sarcopenia. desempenhasse papel energético, poupando assim
os aminoácidos para serem desviados para síntese
Por fim, a partir da comparação dessas duas fontes proteica. Caso a proteína fosse administrada, os
proteicas de maneira isolada, a whey protein passou aminoácidos desempenhariam papel duplo, ou
a ser considerada como a possuidora das “proteínas seja, atuariam como repositores energéticos e
ativas” do leite, configurando-se como as principais recuperadores da musculatura, diminuindo assim a
responsáveis por conferir a este o título de melhor capacidade de estimulação da síntese proteica.
alimento proteico.
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Além disso, sempre que a restrição energética for temperatura corporal relativamente estável, sendo
almejada, deve-se priorizar a oferta de ácidos graxos que situações tanto de hiper quanto hipotermia
essenciais, os quais apresentam papel imunomoluador representam grande risco à saúde, podendo culminar
importante, resultante da produção e expressão de em morte dependendo da magnitude de variação.
diversas citocinas, tanto com potencial inflamatório Esse comportamento é similar ao da glicemia, que é
quanto anti-inflamatório. Por exemplo, ácidos graxos uma outra prioridade do organismo.
da família ômega 6 são precursores de citocinas e
prostaglandinas pró-inflamatórias, enquanto que os Em condições de exercícios físico, a demanda
ômega 3 dão origem a citocinas e prostaglandinas energética é maior em comparação ao repouso
com potencial inflamatório menor, atuando assim (variável totalmente dependente da intensidade
como anti-inflamatórias. do exercício físico, ou seja, quanto mais elevada
a intensidade, maior a demanda energética) e,
A musculatura exercitada tem capacidade de assim, mais representativa será a produção de calor
produzir naturalmente as citocinas pró-inflamatórias, pelo organismo, contribuindo para elevação da
as quais desencadeiam aumento da captação de temperatura corporal. Por exemplo, durante o período
glicose e redução da atividade anabólica desse de repouso, o dispêndio energético está situado em
tecido, estabelecendo então um perfil pró-catabólico. torno de 1 kcal por minuto, ao passo que durante o
Além disso, no período de recuperação, momento exercício físico esse valor pode chegar a cerca de 20
em que existe o quadro inflamatório com finalidade kcal/minuto.
de reparação tecidual, essas citocinas são gatilho
importante para a ativação de cascatas intracelulares Uma vez estando presente tal situação, o corpo
envolvidas na destruição das estruturas celulares precisa apresentar mecanismos capazes de dissipar
danificadas. esse calor para o ambiente, estabilizando assim sua
temperatura. Dentre os mecanismos que permitem
Sendo assim, o perfil dietético de ácidos graxos essa troca de calor, podemos citar radiação, condução,
essenciais pode contribuir diretamente para tal convecção e evaporação. Os três primeiros não são
processo, sendo necessária razão ômega 6:ômega 3 mecanismos fisiológicos, ao passo que a evaporação
de aproximadamente 4-5:1. Considerando que a dieta sim, e depende, além de fatores ambientais, da
ocidental está marcada por uma razão de entre 15:1 regulação hipotalâmica.
e 40:1, isso implicaria ao organismo um desequilíbrio
na produção de substâncias pró e anti-inflamatórias. A radiação envolve a troca de calor a partir da
Como repercussões, por exemplo, poderia existir emissão de raios infravermelhos entre corpos, objetos
menor tempo de recuperação muscular entre as e o ambiente, não requerendo contato entre objetos
sessões e desequilíbrio nos mediadores imunes. ou corpos. Por exemplo, a radiação pode acontecer
entre o homem e o ambiente.
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Tendo todos esses conceitos estabelecidos, para cada quilo de massa corporal, pelo menos
é fundamental compreender o percentual de quatro horas antes, na forma de água ou bebidas
variação da massa corporal a partir da prática esportivas. Ressalta-se que, na grande maioria das
das diferentes modalidades esportivas e, assim, vezes a hiper-hidratação não é sugerida, pois iniciar
elaborar o planejamento de hidratação. Para isso, os o exercício físico com volume sanguíneo aumentado
procedimentos básicos são avaliar a massa corporal implica risco elevado de eliminação excessiva de
antes e depois do exercício físico e a quantidade líquidos durante o exercício físico, potencializando o
de líquidos e/ou alimentos ingeridos, conforme a risco de desidratação.
fórmula abaixo:
Durante o exercício físico, a administração de
Cálculo da taxa de sudorese líquidos deve considerar uma série de variáveis,
como: objetivos, umidade relativa do ar, temperatura
Passo 1: MC antes da atividade, em kg – MC após ambiente, taxa de sudorese, características das
a atividade, em kg = Delta de variação da MC, em kg modalidades (como intensidade e duração), acesso
às bebidas e tolerância individual. Nesse período, a
Passo 2: (Delta de variação da MC, em kg + intenção não é que o indivíduo termine o exercício
volume ingerido, em litros) – volume de urina, em sem variações da massa corporal, mas sim que
litros = Volume de suor, em litros ocorram reduções de até 2%, considerada a faixa
“adequada” de perda hídrica sem riscos à saúde e
Passo 3: Volume de suor, em litros x 1.000 para ao rendimento esportivo. Para isso, recomenda-se a
conversão de litros em mls administração de cerca de 200 ml a 250 ml para cada
15-20 minutos, com esse volume podendo chegar a
Passo 4: Volume de suor, em ml / minutos de
cerca de 2 litros por hora em situações específicas.
atividade = ml de suor/min de atividade
Tabela 2. Seleção de bebidas para
Legenda: MC, massa corporal. consumo durante o exercício físico.
Até 45 minutos Água
• Antes do exercício físico: hidratar-se e ter Alta TA e/ou URA, Repositor hidroeletrolítico,
independentemente com carboidrato na
tempo suficiente para eliminar possíveis excessos de da duração concentração de 6% a 8%
líquidos.
• Durante o exercício físico: repor líquidos e, Além do mais, é essencial que sejam estabelecidos
possivelmente eletrólitos, mantendo o estado hídrico critérios para a seleção do tipo de bebida, conforme
adequado, com perdas de até 2% da massa corporal. segue:
No período que antecede o exercício físico, é Uma vez utilizando-se um repositor hidroeletrolítico,
sugerida a administração de 5 ml a 7 ml de líquidos é sugerida a oferta de uma solução que contenha 0,5
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g a 0,7 g de sódio e 0,8 g a 2 gramas de potássio por ou alimentos em detrimento à água. Por exemplo,
litro de bebida. bebidas flavorizadas, com temperatura entre 10 ºC
e 15 ºC, aumentam a ingestão voluntária, facilitando
A concentração de 6% a 8% é preconizada em a reposição hídrica. Além do mais, a presença de
decorrência de o esvaziamento gástrico durante carboidrato contribui para a ressíntese de glicogênio,
o exercício físico ser drasticamente modificado em tanto muscular quanto hepático. Quando adicionado
comparação ao repouso. Esse fenômeno ocorre em sódio, este favorece a retenção de líquido no sangue,
função da redistribuição do fluxo sanguíneo do trato contribuindo para o estado de hidratação. Por fim,
gastrointestinal para a musculatura esquelética em existe uma série de vantagens quanto à administração
atividade. Portanto, bebidas com concentrações de alimentos nesse período, principalmente leite
maiores podem aumentar o risco de desconforto e frutas. O primeiro, além de conter água, possui
gástrico, podendo prejudicar também o rendimento eletrólitos que favorecem a retenção hídrica,
esportivo, sendo utilizadas em situações muito carboidrato e proteína, enquanto que as frutas, além
específicas, como em atividades em altitude elevada. de água, fornecem carboidratos e eletrólitos.
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Partindo desse princípio, cabe considerar a função Tabela 4. Funções biológicas de alguns minerais em
de cada um desses nutrientes no organismo, para que relação ao exercício físico (Adaptado de Lukaski, 2004).
o planejamento dietético atenda às recomendações Funções Sinais ou sintomas
de deficiência
diárias preconizadas pelas Dietary Reference Intakes.
Magnésio
Para isso, a seguir estão descritas as funções das
Metabolismo Fraqueza
principais vitaminas e minerais, com foco no exercício energético, muscular, náusea,
físico: condução nervosa, irritabilidade
contração
muscular
Tabela 3. Funções biológicas de algumas vitaminas em Ferro Síntese de Anemia, prejuízos
relação ao exercício físico (Adaptado de Lukaski, 2004). hemoglobina cognitivos,
Funções Sinais ou sintomas respostas anormais
de deficiência do sistema
imunológico
Tiamina (B1) Metabolismo de Fraqueza,
carboidratos e diminuição da Zinco Síntese de ácido Redução de
aminoácidos resistência, perda nucleico, glicólise, apetite, retardo
de massa corporal remoção do do crescimento,
e muscular dióxido de carbono respostas anormais
do sistema
Riboflavina (B2) Metabolismo Alterações de pele imunológico
oxidativo, cadeia e mucosa e da
transportadora função do sistema Cromo Metabolismo Intolerância
de elétrons nervoso central de glicose à glicose
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Nutrição e Suplementação Esportiva
Em 2010, a resolução de 27 de abril decretou o - Grupo D: Suplementos que não devem ser
último posicionamento da ANVISA, classificando os usados pelo atletas do AIS.
alimentos para atletas em diferentes categorias,
conforme segue: Com base na regulamentação brasileira, existem
algumas diferenças importantes sobre os produtos
- Suplemento hidroeletrolítico para atletas: que podem ser comercializados no mercado nacional
destinado a auxiliar a hidratação. em comparação ao internacional. Dado que nos
tópicos anteriores já foram abordados alguns itens,
- Suplemento energético para atletas: destinado a neste tópico falaremos dos dois restantes, creatina
complementar as necessidades energéticas. e cafeína.
- Suplemento de cafeína para atletas: destinado a Sua função está diretamente relacionada com a
aumentar a resistência aeróbia em exercícios físicos geração de energia a partir do sistema anaeróbio
de longa duração. alático (sistema ATP-CP). Por este ser sendo um
ponto crítico na geração de energia em modalidades
No quesito suplementação alimentar, cabe destacar de alta intensidade e curta duração, a suplementação
a importância do Instituo Australiano de Esporte de creatina passou a ser vista como uma possível
(AIS - http://www.ausport.gov.au/ais/nutrition) na estratégia capaz de aumentar o rendimento em
elaboração dos materiais científicos publicados, exercícios que apresentem tal característica.
categorizando as substâncias em quatro grupos:
Para isso, o primeiro aspecto a ser considerado é
- Grupo A: suplementos sustentados para uso em se a maior oferta de creatina exógena aumentaria
situações esportivas específicas e que são fornecidos os estoques intramusculares de CP. Nesse sentido,
aos atletas do AIS, com base na prescrição baseada na década de 1990, foi possível verificar que a
em evidências. suplementação da substância estava associada com
aumento dos estoques intramusculares em torno de
- Grupo B: suplementos que merecem pesquisas 20%.
futuras e que são considerados para consumo pelos
atletas do AIS somente para protocolos de pesquisa. Sua oferta é capaz de proporcionar diferentes
respostas de incorporação na musculatura
- Grupo C: suplementos que possuem poucas esquelética, sendo que indivíduos que possuem
evidências de resultados benéficos e não são menores concentrações basais (como vegetarianos)
fornecidos aos atletas do AIS. apresentam melhor resposta.
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- Sistema nervoso central, aumentando o alerta e HARRIS, J. A.; BENEDICT, F. G. A biometric study
diminuindo a percepção de esforço. of basal metabolism in man. Washington, DC:
Carnegie Institute of Washington, 1919. Publication
Embora existam todas essas ações, é sugerido n. 279.
que as propriedades de melhora do rendimento
esportivo em decorrência do uso de cafeína se deem HARTMAN, J. W. et al. Consumption of fat-free
principalmente pela sua ação no sistema nervoso fluid milk after resistance exercise promotes
central. Embora ela atue mobilizando ácidos graxos greater lean mass accretion than does
do tecido adiposo, não aumenta a oxidação de consumption of soy or carbohydrate in young,
gordura durante o exercício físico, não sendo hábil a novice, male weightlifters. American Journal of
ponto de reduzir a utilização do glicogênio muscular Clinical Nutrition, v. 86, n. 2, p. 373-81, 2007.
como fonte de energia.
LUKASKI, H. C. Vitamin and mineral status:
Sua utilização está fundamentada para diversas effects on physical performance. Nutrition, v. 20,
modalidades, sejam de longa duração, contínua ou n. 7-8, p. 632-44, 2004.
intermitente, ou de curta duração e alta intensidade,
tanto antes quanto durante o exercício físico. Os MOORE, D. R. et al. Differential stimulation of
protocolos atuais preconizam a sua aplicação de myofibrillar and sarcoplasmic protein synthesis
maneira mais “flexibilizada”, com dosagens de cerca with protein ingestion at rest and after
de 1 mg a 3 mg/kg, ao invés de se chegar ao limite resistance exercise. The Journal of Physiology, n.
de 6 mg/kg cerca de uma hora antes da prática, 587, pt. 4), p. 897-904, 2009.
minimizando também o risco de geração de efeitos
desagradáveis, tais como tremores, taquicardia, ROGERO, M. M.; TIRAPEGUI, J. Aspectos atuais
insônia e desidratação. sobre aminoácidos de cadeia ramificada e
exercício físico. Revista Brasileira de Ciências
Farmacêuticas, v. 44, n. 4, p. 563-75, 2008.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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casein, or soy protein isolate: effects on mixed
AMERICAN DIETETIC ASSOCIATION et al. muscle protein synthesis at rest and following
American College of Sports Medicine position resistance exercise in young men. Journal of
stand: nutrition and athletic performance. Applied Physiology, v. 107, n. 3, p. 987-92, 2009.
Medicine and Science in Sports and Exercise, v. 41,
TARNOPOLSKY, M. A. Caffeine and creatine
n. 3, p. 709-31, 2009.
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BURKE, L. M. et al. Carbohydrates for training 57, Suppl 2, p.1-8, 2010.
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TIRAPEGUI, J. Nutrição, metabolismo e
Suppl. 1, p. S17-27, 2011.
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CUNNINGHAM, J. J. Body composition and Janeiro: Atheneu, 2012.
resting metabolic rate: the myth of feminine
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