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A SOBREVIVÊNCIA DA RUA

Nuno Portas (Presidente da Associação Europan Portugal)

Esta notável exposição temática deve-se ao cientista proactivo que foi, ao longo da sua curta vida,

François Ascher.
Fundador do Instituto Cidade em Movimento, criado no seio da Fundação Peugeot Citröen, o
teórico da Metapolis (1985) procurou insistentemente passar mensagens aos mais diversos meios

profissionais e políticos sobre os problemas e as oportunidades do que considerava ser uma


transformação estrutural do sistema urbano da cidade, da contemporaneidade ou em termos de
Ascher, da hipermodernidade.

Transformação de que a mobilidade é um dos factores mais determinantes, causa e consequência

das mudanças económicas, socioculturais e portanto territoriais, que não cessam de nos perturbar

pela sua complexidade e imprevisibilidade.

Daí que o ICM tenha empreendido uma investigação sobre os espaços dos movimentos urbanos
que caracterizaram as sucessivas tendências e etapas deste último século de evidente turbulência

urbanística.

A “rua”, o mais característico e duradouro dos espaçamentos da história da urbanidade, o elemento

colectivo que separa-e-liga o edificado, constituindo eixos e nós, redes, ou limites…, antecedeu

quase sempre, como espaço que serve a sucessão e contingência dos habitats e a multiplicidade

das suas actividades.


A rua resistência secular, como conceito e como forma básica, não só pôde sobreviver à mais vasta

expansão urbana da cidade industrial e comercial do século XIX e décadas imediatas, mas teve
mesmo o principal papel regulador, dos “ensanches” das cidades-metrópoles.

É a conjunção temporal do fordismo (americano) com o modernismo (centro-europeu) que vai pôr
em causa a continuidade da rua como suporte gerador, quando esta se tinha já desdobrado em

múltiplas variantes – avenidas, bulevardes, diagonais, passeios públicos, praças, rotundas, túneis,

viadutos, estradas suburbanas, circunvalações, marginais…


Nestes anos 30 a 60 (ou do Espirit Nouveau à carta de Atenas) o anátema sobre a rua visava

permitir a liberdade de disposição no terreno dos edifícios, de grande altura e autonomia,

separados pelo seu negativo intersticial, dos chamados espaços “livres” ou “verdes”. Ao invés do
anterior e exemplar modelo nova-iorquino, a exaltação dos sólidos exigiria a liberdade de

disposição das “vias” como resposta racional aos modos de auto-deslocação, individual ou
colectiva, que a inovação tecnológica ofereceria aos cidadãos. Em teoria, a construção em altura,
generalizada e dispersa no espaço livre (sem a prisão dos arruamentos) e a fluidez da circulação
mecânica, agora em vias próprias, romperia os limites acanhados do meio urbano, favorecendo a
deslocalização das actividades e a absorção dos núcleos urbanos próximos – que mais tarde virá a

formar a cidade-território.
Assim, se o futurismo modernista entre-guerras tinha condenado as cidades herdadas
estranguladas pelos seus limites e apertadas nas suas ruas, a resposta seria construir de raiz novas
cidades como deviam ser: com estradas em vez de ruas (nalguns idiomas a mesma palavra serviria,

desde que não fossem “ruas-corredor”, coisa que quase sempre as caracterizou).

Do anátema à emergência
A nova teoria “iluminada” pressupunha os estados como grandes promotores e os arquitectos

como inventores privilegiados dos master-plans (ou plan-masse): planos de volumes, vazios e
traçados viários com as suas lógicas próprias e o mínimo de contacto entre eles. Eis a ruptura
higienista (hoje sustentável…) que o futuro imediato da expansão do estado-social associado à
reconstrução pós-bélica não confirmaria: as soluções “racionais” tornaram-se elas próprias novos

problemas, em poucas décadas. E podemos perguntar-nos: será que a herança pré-moderna, antes
considerada problema, voltou a ser solução?

Se o problema fosse só arquitectónico, as próteses ou as cosméticas nas áreas centrais que neste

último quarto de século se multiplicaram por toda a Europa, seriam a resposta esperada, desde que

os seus operadores e projectistas fossem os mais qualificados. Mas a verdade é que aquilo que

entretanto mudou na sociedade e na urbanidade foi tão profundo que não nos permite confiar em
terapêuticas tão simples e limitadas, como a de adicionar ao “palimpsesto” uma camada mais.

Mas a perturbação que se generalizou já atinge dimensões de “tsunami”: imigrações,

deslocalizações, extensões, desqualificações, evasões, gentrificações … E tudo isto em ambientes

de incerteza, conflitos de interesses, reduzida capacidade de regulação por parte das

Administrações, obrigando a estratégias de “refundação” em vez da simples “recuperação”. E se

falarmos de refundação, estamos perante a retomada da “rua” certamente sob novas versões e

dimensões e, uma vez mais, antecipando os novos traçados ao desenho e realização do edificado,
sempre mais contingentes, como nos ensinou a história.
A sobrevivência da rua não significa necessariamente o retorno das suas formas canónicas: as

mobilidades (modos e distância) e as sociabilidades (múltiplas) alteram substancialmente os dados,

privilegiando a (re)construção de redes multimodais em detrimento das apertadas malhas de


proximidade. A rua rejuvenesce na cidade densa mas terá de reinventar-se fora dela, na
fragmentação sempre inacabada da cidade extensiva, ou na arrumação das faixas “entre-cidades”.

No nosso ponto de vista o que permite falarmos de ruas – em relação aos restantes tipos de vias –
é a sua dupla função e sentido, de passagem e de paragem, ou seja, como espaço comum e espaço

de separação.
*

Os textos do Livro-Catálogo da exposição “A Rua é nossa, de todos nós” – com diversas autorias,

entre sociólogos, urbanistas, arquitectos – evocam e explicam com competência as novas


complexidades a que chegou a “rua que nos pertence”, juntando exemplos recentes de todos os
continentes, que mostram a variedade das situações e das respostas realizadas.
Por falta de meios e sobretudo de tempo, não foi possível juntar ao desfile algumas experiências

portuguesas recentes. Mas o caminho está aberto, à investigação e aos projectos inovadores,
ultrapassando as localizações de prestígio e de excepção que têm sido dominantes, para chegar às
situações correntes ou vulgares da nova cidade em formação, que mal se conhece ou se esquece.
Traduzindo a expressão de um famoso professor de Berkley com mais de meio século, “a cidade

que não tem lugares nem limites”, por causa ou consequência, já mal conhece as verdadeiras ruas,
praças ou jardins. Entre outras coisas que a exposição nos mostra.

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