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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E FILOSOFIA


GRADUAÇÃO EM LICENCIATURA EM HISTÓRIA

NORDESTINO: UMA IDENTIDADE REGIONAL E DE GÊNERO

Lucas Carvalho Santa Barbara

FEIRA DE SANTANA
(Agosto de 2017)
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E FILOSOFIA
GRADUAÇÃO EM LICENCIATURA EM HISTÓRIA

NORDESTINO: UMA IDENTIDADE REGIONAL E DE GÊNERO

Lucas Carvalho Santa Barbara

Resenha apresentada à professora Maria


Aparecida Prazeres Sanches como requisito
parcial para conclusão da disciplina de CHF184 –
História do Brasil III.

FEIRA DE SANTANA
(Agosto de 2017)
Nordestino: uma identidade regional e de gênero
ALBUQUERQUE JÚNIOR, Durval Muniz de. Nordestino: invenção do “falo” – uma história do
gênero masculino (1920-1940). 2. ed. São Paulo: Intermeios, 2013.

Durval Muniz de Albuquerque Júnior é graduado em Licenciatura Plena em História pela


Universidade Estadual da Paraíba (1982), mestre (1988) e doutor (1994) em História pela
Universidade Estadual de Campinas, além de possuir dois pós-doutorados, um pela Universidade
de Coimbra (Portugal) e outro pela Universidade de Barcelona (Espanha). É professor
permanente do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de
Pernambuco e professor titular da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Com
experiência em História e ênfase em Teoria e Filosofia da História, Albuquerque Júnior
desenvolve estudos e pesquisas sobre gênero, Nordeste, masculinidade, identidade, cultura,
biografia histórica, produção de subjetividades e história das sensibilidades. Autor de várias
livros e textos, dentre os quais se destacam os livros A invenção do Nordeste e outras artes
(1999) e História: a arte de inventar o passado – Ensaios de teoria da história (2007).
Após desbravar a criação de uma região em A invenção do Nordeste e outras artes
(1999), em Nordestino: invenção do “falo” – uma história do gênero masculino (1920-1940),
originalmente publicado em 2003, Albuquerque Júnior desbravou a invenção de um sujeito
regional, o nordestino, segundo ele um cruzamento de identidade regional e de gênero.
Postulando a invenção do nordestino entre os anos finais da década de 1910 e inícios da
década de 1920, o historiador se utiliza das noções de discurso, de Michel Foucault, e de
práticas, de Michel de Certeau, para perseguir a concatenação de diferentes identidades espaciais
na identidade regional do nordestino entre 1920 e 1940.
O livro, para além da Introdução, está separado em duas grandes partes, sendo estas
divididas em várias seções, que por sua vez, são algumas vezes subdivididas. A primeira parte
está dividida em quatro seções; a segunda, em seis. No texto introdutório o autor localiza o
campo teórico de sua pesquisa, se opondo a formas anteriores de se fazer história,
particularmente no que diz respeito à história dos excluídos, das mulheres e de gênero, além de
delimitar objetivos e problemas do seu estudo. Na primeira parte o autor persegue o que entende
como a feminização da sociedade: a primeira seção trata da visão que se tinha das mudanças
sociais como feminização dos costumes; a segunda, da visão da República como uma figura
feminina; a terceira, da cidade como um ambiente não familiar, contraposta à familiaridade do
campo; na quarta, do que considera a invenção do patriarcalismo. Na segunda parte, ele
historiciza o que denomina como a invenção de um macho, o nordestino: na primeira seção trata
da relação entre a emergência da ideia de Nordeste e o nordestino; a segunda seção trata de uma
versão eugênica do homem; a terceira, de uma versão telúrica; a quarta, da versão rústica do
mesmo; na quinta ele elenca as identidades que constituíram o nordestino; na sexta e última
seção, que também serve de conclusão para o livro, Albuquerque Júnior concatena as conclusões
anteriores da obra para sistematizar o processo da invenção do nordestino.
Na primeira parte do livro, “A feminização da sociedade”, utilizando como fontes
principais o livro Ordem e Progresso de Gilberto Freyre, um livro de memórias de Júlio Belo e
artigos de articulistas do jornal Diário de Pernambuco, Albuquerque Junior reconstitui as
condições históricas da invenção do conceito de patriarcalismo.
Na primeira seção desta parte, o autor demonstra como identificava-se e qualificava-se
negativamente um nivelamento social que provinha de fatores internos – Abolição e advento da
República – e externos – a modernidade e o avanço da sociedade capitalista burguesa urbano-
industrial. Esse nivelamento, visto como horizontalização, foi lido como uma feminização da
sociedade, a partir da metáfora do nivelamento entre os sexos: homens e mulheres tornam-se
cada vez mais parecidos – e a moda é a maior expressão disso –, mulheres se virilizam e homens
se desvirilizam.
A progressiva predominância das formas de sociabilidade urbanas sobre as rurais, em
grande parte resultado dos discursos médico-higienistas e da moda, foi interpretado pelo discurso
tradicional-regionalista como um processo no qual a sociedade se torna delicada, não somente
nas cidades nem as mulheres, mas também nos meios rurais e os homens. Quanto aos homens,
sua delicadeza e desvirilização são responsabilizadas pela decadência da sociedade tradicional,
sua economia e suas formas de sociabilidade.
A nova dinâmica socioeconômica muda os moldes da educação no Brasil. Enquanto as
novas elites priorizam o ensino técnico, os filhos e netos dos senhores patriarcais se tornam
bacharéis; o que, ao mesmo, os distancia social e afetivamente da sociabilidade patriarcal e da
nova sociabilidade pautada pela técnica e individuação capitalista burguesa. O discurso
tradicionalista liga a figura do intelectual à da mulher, vendo nisto mais um traço da feminização
da sociedade: enquanto os homens se feminizam pela intelectualidade, as mulheres que tentam se
inserir no meio intelectual são rechaçadas por aqueles.
A valorização do casamento romântico, de tipo burguês, que tem por consequência a
redefinição das relações intrafamiliares, o que diminuiu o poder do pai, era vista como mais um
indício da feminização e horizontalização da sociedade: havia mais afeto entre pais e filhos
(sentimentalismo atribuído ao feminino); o pai já não decidia quem casaria com seus filhos; o
amor surge como um problema; a figura da criança ganha autonomia.
Crescia também, tido como outro sinal de feminização dos costumes, a preocupação com
a inversão sexual, ainda chamada de sodomia, mas que aos poucos, com a preocupação crescente
que o discurso médico demonstra por estas relações, se taxará de homossexualismo e, em
contraposição aos status de pecado e crime, ganhará status de doença.
Na segunda seção, Albuquerque Junior demonstra como a República era vista como uma
mulher, em contraposição com o Império, visto como homem: para os seus defensores, a
República era a mulher ideal. A política republicana era desvirilizada, tendo na figura dos seus
presidentes civis (porque os militares seriam o masculino ordenador), elementos femininos
desordeiros e passivos. Logo a mulher ideal se tornaria a velha decrepita, figura que surge diante
da percepção de que o novo regime político não trouxe tanta renovação assim, pois, dentre outros
fatores, conservavam velhas figuras políticas do Império. Como demonstram os seus discursos,
as antigas elites agrárias parecem ter sentido com mais força o que liam como feminização e
desvirilização da política republicana. Exemplo radical disso, é a reação forte diante da entrada
das mulheres na política: as lutas entre os gêneros pelo poder se tornam mais explícitas.
Na terceira seção, o autor discorre sobre os discursos em torno da superação da cidade
sobre o campo. A nova cidade é vista como um espaço não familiar, é vista ainda como mulher.
A preponderância dela, portanto, seria mais um indício de feminização da sociedade, que ocorria
com as novas sociabilidades urbanas. Às mudanças no âmbito dos costumes era atribuía-se
discursivamente duas características associadas ao feminino: frivolidade e histeria, que
corresponderiam à superficialidade e à efemeridade. O aumento da prostituição, dos casos de
suicídio, as epidemias, o alcoolismo, as mudanças alimentares, as mudanças no modo de ser e se
relacionar na rua: tudo isso fazia parte de um processo de desvirilização. A modernidade também
é apresentada como feminina nesses discursos tradicional-regionalistas, uma mulher devoradora,
tendo na industrialização um forte elemento antipatriarcal,desvirilizante dos homens.
Modernização, urbanização e industrialização favoreceriam a confusão nas fronteiras de gênero e
a horizontalização entre homens e mulheres.
Tendo apresentado um mapeamento das condições históricas do surgimento do conceito
de patriarcalismo, na última seção dessa primeira parte do livro Albuquerque Junior sustenta a
tese de que Freyre cunhou este aquele conceito para responder àquilo que o discurso regionalista
e tradicionalista – do qual fora um autor – identificava como uma feminização da sociedade. O
patriarcalismo, mais que um conceito, é uma metáfora para uma ordem social em vias de
desaparecimento, para uma forma de relacionamento social. O patriarcalismo, mais que um
instrumento de leitura do passado, fora um instrumento de reação ao presente. Esta tese só foi
possível com o esforço de historicização do conceito e de suas condições históricas.
A segunda parte do texto, “A invenção de um macho”, utilizando-se de memórias,
literatura, cordéis, e textos de articulistas de jornais, o autor historiciza a invenção do sujeito
nordestino, que, segundo ele, nasce na segunda metade da década de 1910, melhor se configura e
se afirma definitivamente (juntamente com a ideia de Nordeste) nas décadas de 1920 e 1930,
respectivamente. O nordestino e o Nordeste nasceram do discurso das elites do Norte,
regionalistas e tradicionalistas, que se produzia em reação às modificações sociais desde o final
do século XIX. Constrói-se então, o que se dizia a realidade nordestina e o homem nordestino. A
figura do nordestino, ainda, será a concatenação de diversos tipos regionais, dos quais o discurso
eugenista estiveram na base, a partir de um determinismo biológico. Acompanha a constituição
deste sujeito nordestino também o discurso antropogeográfico ou biogeográfico, que define os
tipos de acordo com um determinismo biológico. Completando a tríade de discursos
concatenados pelo discurso regionalista, o discurso sociológico e antropológico oferecerá a
contribuição culturalista na definição do nordestino, contribuição esta explicada pelas
contestações que os dois discursos anteriores estavam passando no período; o nordestino seria
também fruto de uma “hereditariedade cultural”, marcada pela violência e espírito de liberdade.
Constituído pelo agenciamento de imagens e enunciados constitutivos de tipo regionais
anteriores, o nordestino é fruto da concatenação dos seguintes tipos: o sertanejo, o brejeiro, o
praieiro, o vaqueiro, o senhor de engenho ou coronel, o caboclo, o matuto, o cangaceiro, o
jagunço, o beato e o retirante. O sertanejo será sobreposto, protótipo do nordestino. Todos
aqueles tipos, porém, são masculinos e rurais. Eis, portanto, os traços definidores do nordestino:
[...] será um tipo rural, que não se identifica com o mundo moderno, reativo ao processo
de transformações que, desde o século XIX, implantava uma sociedade tipicamente
capitalista e burguesa no país; reativo ao processo de implantação de uma sociedade
urbano-industrial. Ele representará uma tradição agrária e patriarcal, quando não
escravista. Será o bastião de uma sociedade artesanal e folclórica, que estaria
desaparecendo. Será, definido, acima de tudo, como uma reserva de virilidade, um tipo
masculino, um macho exacerbado, que luta contra as mudanças sociais que estariam
levando à feminização da sociedade (p. 208-9).
O nordestino, naqueles discursos, antes de ser homem é macho; uma masculinidade
extremamente marcada pela competitividade, não raro violenta, falocêntrica. No nordestino se
encontram acontecimentos históricos, frutificam-se operações de construção de um sujeito
histórico.
Este livro de Durval de Albuquerque Junior, mais que uma peça historiográfica, é a
demonstração que o historiador é capaz de articular teoria e dados empíricos sem perdas para
nenhum dos lados. Uma obra densa, teoricamente complexa, mas de escrita clara e cativante.
Bastante articulado com a produção historiográfica sobre o tema que estuda, Albuquerque Junior
demonstra como se deve proceder a crítica historiográfica e a superação da pesquisa histórica.
Enfim, uma bela articulação conceitual entre Foucault e Certeau, na qual discursos e práticas
aparecem interligados, em circularidade, como diz o próprio autor na Introdução de seu trabalho.

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