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850/13
Sugestão bibliográfica: Crime Organizado – Comentários à Lei sobre crime organizado – Lei
12.850/13, Rogério Sanches Cunha e Ronaldo Batista Pinto, Editora Juspodivm.
ASPECTO MATERIAL
Art. 1º Esta Lei define organização criminosa e dispõe sobre a investigação criminal, os
aplicado.
No ano de 1995, foi editada a Lei 9.034 dispondo sobre a utilização de meios operacionais
para a prevenção e repressão de ações praticadas por organizações criminosas. Apesar de
louvável, a inciativa veio acompanhada de falhas, chamando atenção a ausência de definição
do próprio objeto da lei: organização criminosa. O legislador criou uma lei prevendo
instrumentos de combate ao crime organizado (investigação por meio de agente infiltrado,
ação controlada etc.), porém, não definiu o conceito de crime organizado ou organização
criminosa. A não definição do objeto da lei tratava-se de erro crasso do legislador.
1ª: a definição dada pela Convenção de Palermo é muito ampla, genérica, violando a
taxatividade, desdobramento lógico do princípio da legalidade.
2ª: a definição dada pela Convenção vale para as relações com o direito internacional, e não
com o direito interno.
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3ª: as definições dadas pelas convenções ou tratados internacionais jamais valem para reger
nossas relações com o direito penal interno. No Brasil, somente lei cria crime e comina pena.
Há várias fontes formais imediatas, mas somente a lei pode criar crime e cominar pena. O
tratado internacional, a despeito de ser considerado fonte formal imediata, não pode criar
crime e cominar pena.
Essa crítica foi defendida por Luís Flávio Gomes e adotada pelo STF no HC 96.0007/SP.
Esse HC foi um divisor de águas. Nele, o STF anunciou que tratados e convenções
internacionais não podem criar crimes e cominar penas, ou seja, não podem incentivar um
direito penal interno incriminador (valeria apenas para direito penal interno não
incriminador). Foi uma provocação ao legislador, que deveria criar uma lei em que se
definisse o conceito de organização criminosa.
Foi assim que nasceu a Lei 12.694/12, em que o legislador definiu organização criminosa
para o direito penal interno.
Art. 2o Para os efeitos desta Lei, considera-se organização criminosa a associação, de 3
qualquer natureza, mediante a prática de crimes cuja pena máxima seja igual ou superior
A Lei 12.850/13, editada menos de um ano após a Lei 12.694/12, por sua vez, reviu o
conceito, definindo organização criminosa no parágrafo 1º do seu artigo inaugural.
natureza, mediante a prática de infrações penais cujas penas máximas sejam superiores a
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A definição de organização criminosa atualmente utilizada é a trazida pela Lei 12.850/13.
Mediante a prática de crimes cujas penas Mediante a prática de infrações penais cujas
máximas seja igual ou superior a 4 anos ou penas máximas sejam superior a 4 anos ou
sejam de caráter transnacional sejam de caráter transnacional
A Lei 12.850/13 exige quatro ou mais pessoas para que esteja caracterizada uma
organização criminosa.
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Cuidado, pois a Lei 12.694/12 não foi revogada pela Lei 12.850/13. Apenas a definição de
organização criminosa foi revogada pela nova lei, de forma que os demais dispositivos da Lei
12.694/12 coexistem com a Lei 12.850/13. A Lei 12.694/12 criou, por exemplo, a
possibilidade do julgamento por órgão colegiado em primeiro grau em se tratando de crime
praticado por organização criminosa.
Portanto, as Leis 12.694/12 e 12.850/13 coexistem, tendo sido revogada a primeira somente
no que se refere ao conceito de organização criminosa (art. 2º).
É possível trabalhar com os meios especiais de obtenção de prova (agente infiltrado, ação
controlada etc.) previstos na Lei 12.850/13, mesmo que ausente organização criminosa? É
preciso lembrar que a figura do agente infiltrado foi criada principalmente para investigar
organizações criminosas e a ação controlada para permitir um flagrante em uma organização
criminosa. Seria, então, possível utilizar esses meios quando não se trata de uma
organização criminosa ou é imprescindível a caracterização da organização criminosa?
O parágrafo 2º do art. 1º, da Lei 12.850/13 autoriza, desde que reunidos alguns requisitos.
reciprocamente;
internacional, por foro do qual o Brasil faça parte, cujos atos de suporte ao terrorismo,
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Dessa forma, os meios especiais de obtenção de prova podem ser utilizados em infrações
penais previstas em tratado ou convenção internacional quando, iniciada a execução no
País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente e em
organizações terroristas internacionais, reconhecidas segundo as normas de direito
internacional, por foro do qual o Brasil faça parte, cujos atos de suporte ao terrorismo, bem
como os atos preparatórios ou de execução de atos terroristas, ocorram ou possam ocorrer
em território nacional, dispensando-se a caracterização da organização criminosa.
Até o advento da Lei 12.850/13, organização criminosa não era crime, e sim forma especial
de praticar crime. Organização criminosa não tinha tipo penal, muito mesmo pena, mas
apenas consequências.
Lei 12.850/13
Antes Depois
Organização criminosa não tinha pena, Possui tipo próprio com pena privativa de
somente consequências. Ex.: membro de liberdade.
organização criminosa podia sofrer a sanção
disciplinar do RDD.
2. Art. 2º
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa, sem prejuízo das penas
Com a nova Lei, a figura da organização criminosa deixou de ser “apenas” forma de se
praticar crimes para se tornar delito autônomo, punido com reclusão de 3 a 8 anos.
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permanente, ou seja, a organização criminosa que começou antes da Lei, mas continua após
o advento da Lei 12.850/13, pode sofrer os rigores da nova Lei.
Em relação ao sujeito ativo, trata-se de crime comum, plurissubjetivo (exige número plural
de agentes, no mínimo quatro pessoas), de condutas paralelas (umas auxiliando as outras).
Não se computa agente infiltrado. O agente infiltrado não tem o animus associativo, seu
objetivo é desmantelar a associação criminosa, e não integrá-la.
Partindo-se da definição de organização criminosa (art. 1º, §1º), fica claro que a associação
além da pluralidade de agentes, demanda estabilidade e permanência, com estrutura
ordenada e divisão de tarefas. Faltando qualquer um desses requisitos, ainda que haja a
pluralidade de agentes, não estará configurado o delito de organização criminosa. Nesse
caso, possível configurar-se mero concurso de pessoas ou o crime de associação criminosa
do art. 288 do CP, antigamente chamado de quadrilha ou bando.
Requisitos:
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Caso desapareça a estabilidade e a permanência, haverá mero concurso de pessoas.
É imprescindível que a reunião seja efetivada antes da deliberação dos delitos. Caso primeiro
deliberem os delitos, para somente depois as pessoas reunirem-se em associação para
praticar os delitos certos e determinados, haverá mero concurso de pessoas. Ex.: se Rogério
se associa a Carlos e Renato e, depois de associados, deliberam os crimes que a associação
irá praticar, além de presentes os demais requisitos, trata-se de organização criminosa. Caso
Rogério primeiro delibere os crimes e depois disso saia atrás de pessoas para lhe ajudar a
praticá-los, tratar-se-á de mero concurso de pessoas.
2.4. Voluntariedade
2.5. Consumação
i) que o agente pode ser preso em flagrante enquanto não desfeita a associação ou
enquanto não abandoná-la (art. 303 do CPP);
iii) enquanto não cessada a permanência, aplica-se a Lei nova, ainda que mais grave (Súmula
711 do STF).
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Havendo delitos efetivamente praticados pela associação, esses crimes serão absorvidos? Os
agentes respondem apenas pelos crimes praticados, de forma que o crime de associação
criminosa é absorvido, respondem apenas pela organização criminosa e os crimes praticados
são por ela absorvidos ou os agentes respondem por todos os crimes, em concurso material?
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa, sem prejuízo das penas
Assim, para punir a organização criminosa, não é preciso que os crimes sejam efetivamente
praticados pela associação, mas se ocorrerem, serão punidos em concurso material com o
crime do art. 2º da Lei 12.850/13.
O crime de organização criminal admite tentativa? De acordo com a maioria, não é possível a
tentativa. Os atos praticados com a finalidade de formar a associação são atos preparatórios
e, portanto, impuníveis.
O art. 2º, parágrafo 1º, da Lei 12.850/13 enuncia que na mesma pena (reclusão de 3 a 8
anos) incorre quem impede ou de qualquer forma embaraça a investigação penal que
envolva organização criminosa.
§ 1o Nas mesmas penas incorre quem impede ou, de qualquer forma, embaraça a
O art. 2º, parágrafo 1º, da Lei 12.850/13, tutela a administração da justiça, e não mais a paz
pública.
3.2. Sujeitos
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Em relação ao sujeito ativo, trata-se de crime comum e monossubjetivo (concurso eventual).
O agente não pode estar envolvido ou ter concorrido, de qualquer modo, para a formação
ou funcionamento da organização criminosa. Caso tenha se envolvido ou de qualquer forma
concorrido para a formação ou funcionamento da organização criminosa, responderá pelo
art. 2º, caput, da Lei 12.850/13. Nessa situação, o parágrafo 1º seria um pós factum
impunível.
Pune-se:
i) impedir;
Investigação Processo
Há duas correntes:
1ª corrente: a omissão não pode ser suprida, pois seria analogia incriminadora, violando o
princípio da legalidade (Cezar Roberto Bitencourt).
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Cuidado, pois o crime é de execução livre, podendo ser praticado com violência, grave
ameaça, fraude etc. Aliás, usando o agente, na obstrução, de violência ou grave ameaça
contra autoridade ou qualquer outra personagem atuante na persecução penal, não há que
se cogitar do crie de coação no curso do processo, tipificado no art. 344 do CP, punido com
pena de 1 a 4 anos de reclusão. Prevalece, na hipótese, o princípio da especialidade.
Conclusão outra gera um absurdo inaceitável, desafiando a proporcionalidade e a
razoabilidade.
Exemplos:
i) Fulano embaraça investigação de organização criminosa da qual não faz parte, ameaçando
pessoas não ligadas a persecução penal. Estará configurado o art. 2º, §1º, da Lei 12.850/13,
punido com pena de 3 a 8 anos.
ii) Fulano embaraça investigação de organização criminosa da qual não faz parte, ameaçando
o Delegado de Polícia ou testemunhas. Nesse caso, estará configurado o crime do art. 2º,
§1º, da Lei 12.850/13, punido com pena de 3 a 8 anos. Não pode configurar o crime do art.
344 do CP, que tem pena de 1 a 4 anos.
Rogério entende que o agente não poderia ser punido com menos ameaçando o mais e ser
punido com mais ameaçando o menos. Para ele, constitui violação da proporcionalidade e
da razoabilidade.
3.4. Voluntariedade
3.5. Consumação
O art. 2º, parágrafo 2º, da Lei 12.850/13 é uma causa de aumento de pena e assim dispõe:
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§ 2o As penas aumentam-se até a metade se na atuação da organização criminosa houver
Trata-se de agravante de pena, semelhante a do art. 62, I, do CP, a ser considerada pelo
magistrado na segunda fase do cálculo da pena.
É uma hipótese de aplicação da teoria do domínio do fato. Trata-se do autor que domina o
fato, autor genuíno do crime.
O parágrafo 4º, do art. 2º, da Lei 12.850/13 volta a prever causas de aumento de pena.
exterior;
independentes;
Rogério entende que a causa de aumento que tende a aparecer em provas de concurso é a
do inciso V, que trata da transnacionalidade da organização.
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ficará sem aplicação, pois essa circunstância aparece como elementar do tipo do art. 1º, sob
pena de configurar-se bis in idem.
O parágrafo 5º, do art. 2º, da Lei 12.850/13 prevê uma medida cautelar.
ou instrução processual.
Esta medida cautelar está prevista no art. 319, VI, do CPP, pressupondo o binômio: a)
periculum in mora e b) fumus boni iuris, como toda e qualquer cautelar.
Pode ser decretada em qualquer fase da persecução penal, e não apenas na fase do
inquérito policial, abrangendo a fase da investigação ou do processo.
Diferentemente do art. 92 do CP cujo parágrafo único exige decisão motivada do juízo para
gerar este efeito, a Lei de Organização Criminosa repetiu o espírito da Lei de Tortura, em que
a perda do cago, emprego ou função é automática, dispensando-se motivação.
Portanto, como já ocorre na Lei de Tortura (art. 1º, §5º), o efeito é automático, dispensando
decisão motivada do magistrado.
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A finalidade do dispositivo é garantir a eficiência da investigação policial, impedindo
omissões decorrentes de corporativismo.
a) colaboração premiada;
b) agente infiltrado;
O legislador criou crimes para inibir comportamentos que prejudiquem esses meios
extraordinários de obtenção de prova.
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10.1. Art. 18
Art. 18. Revelar a identidade, fotografar ou filmar o colaborador, sem sua prévia
O art. 5º, II, da Lei 12.850/13 assegura ao agente colaborador sigilo quanto à identidade.
O art. 5º, V, da Lei 12.850/13, por sua vez, enuncia que é direito do agente colaborador não
ter sua identidade revelada por qualquer meio de comunicação sem sua prévia autorização.
Em relação ao sujeito ativo, o crime é comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa. A
vítima é o Estado, periclitado na sua tarefa de obtenção de provas e o próprio agente
colaborador.
Atenção, pois nas três formas de execução, é imprescindível que o autor do crime haja sem
prévia autorização por escrito do agente colaborador. O fato será atípico se a pessoa tiver
autorização por escrito do agente colaborador.
Consuma-se o crime com a prática de qualquer dos núcleos, sendo perfeitamente possível a
tentativa. Trata-se de crime plurisubssistente (a execução pode ser fracionada em vários
atos).
10.2. Art. 19
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Este crime pune o agente colaborador.
Art. 19. Imputar falsamente, sob pretexto de colaboração com a Justiça, a prática de
infração penal a pessoa que sabe ser inocente, ou revelar informações sobre a estrutura
Junto com a administração da justiça, o art. 19 tutela de forma mediata, a honra da pessoa
inocente a quem o colaborador imputou a prática da infração penal.
Figura como sujeito ativo o agente colaborador, nos termos do art. 4º, da Lei 12.850/13. Nos
termos do art. 4º, §14, o agente renuncia, na presença de seu defensor, o direito ao silêncio
e presta o compromisso de dizer a verdade.
A vítima imediata é o Estado, além da pessoa objeto da injusta provocação (vítima eventual
mediata).
Haverá o crime quando o fato imputado jamais ocorreu – é a chamada falsidade que recai
sobre o fato – ou, quando real o acontecimento, não foi a pessoa apontada o seu autor – a
falsidade recai sobre a autoria do fato.
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Diferentemente da denunciação caluniosa (art. 339 do CP), dispensa-se que da falsa
imputação ocorra a instauração de procedimento oficial em face do inocente imputado. No
crime do art. 339 do CP é imprescindível que seja instaurado procedimento oficial.
Pune-se apenas a título de dolo. O agente deve saber que pratica colaboração caluniosa ou
fraudulenta.
É indispensável que o sujeito ativo tenha consciência de que a imputação a pessoa inocente
é falsa. A dúvida pode configurar dolo eventual.
Na segunda parte (colaboração fraudulenta), deve saber que as informações reveladas são
inverídicas. De acordo com a leitura do tipo, a dúvida parece configurar fato atípico.
Obviamente, a boa-fé exclui o dolo. Ex.: agente colaborador acreditava que as informações
eram verídicas, ainda que efetivamente não sejam.
10.3. Art. 20
Art. 20. Descumprir determinação de sigilo das investigações que envolvam a ação
Figura como sujeito ativo apenas personagem que atua na persecução penal de organização
criminosa. Trata-se de delito próprio, são as pessoas que em razão do cargo devem guardar
sigilo. Isso, contudo, não impede que particular concorra para o crime.
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Sujeito passivo é o Estado administração. São vítimas mediatas os outros personagens que
tiveram a segurança periclitada por conta da ação de outro servidor que violou o sigilo da
ação controlada ou da infiltração de agentes.
A conduta punida pelo tipo consiste em descumprir determinação (legal ou judicial) de sigilo
das investigações que envolvam a ação controlada e a infiltração de agentes. O sigilo pode
ser imposto por lei ou pelo magistrado.
relativa à ação praticada por organização criminosa ou a ela vinculada, desde que mantida
investigações.
O art. 10 acrescenta:
Existe o crime mesmo que a revelação se dê a outro funcionário sem acesso ao segredo.
Havendo justa causa para a revelação do sigilo poderá ser excluído o caráter criminoso do
fato.
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Consuma-se com a revelação do sigilo. Se praticado por ação, admite tentativa. A tentativa
também é admitida em caso de omissão imprópria.
10.4. Art. 21
ou do processo:
Figura como sujeito ativo qualquer pessoa a quem se dirige a requisição (e que tenha poder-
dever de obedecê-la). Trata-se de crime comum.
Pune-se o agente recusar (não aceitar) ou omitir (deixar de fazer) dados cadastrais, registros,
documentos e informações requisitadas pelo juiz, Ministério Público ou delegado de polícia,
no curso de investigação ou do processo.
De acordo com os arts. 15, 16 e 17, da Lei 12.850/13, não só o juiz, como também delegado
e Ministério Público terão acesso direto a determinados dados cadastrais. Ex.: itinerários de
viagens, números das contas bancárias etc.
A consumação se dá com a recusa ou omissão. Trata-se de crime omissivo próprio, que não
admite tentativa.
O parágrafo único do art. 21 pune com a mesma pena quem, de forma indevida, se apossa,
propala, divulga ou faz uso dos dados cadastrais de que trata a Lei.
Parágrafo único. Na mesma pena incorre quem, de forma indevida, se apossa, propala,
divulga ou faz uso dos dados cadastrais de que trata esta Lei.
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Apesar do silêncio da redação típica, parece evidente que os cadastros devam conter
informações sigilosas.
Atenção, pois o art. 24 da Lei 12.850/13 alterou o art. 288 do CP, que passa a se chamar
associação criminosa e vigorar com a seguinte redação:
Art. 24. O art. 288 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal),
“Associação Criminosa
Art. 288. Associarem-se 3 (três) ou mais pessoas, para o fim específico de cometer
crimes:
Tabela explicativa:
Art. 288 do CP (antes da Lei 12.850/13) Art. 288 do CP (depois da Lei 12.850/13)
Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos Pena – reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos
Parágrafo único. A pena aplica-se em dobro, Parágrafo único. A pena aumenta-se até a
se a quadrilha ou bando é armado metade se a associação é armada ou se
houver a participação de criança ou
adolescente
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ASPECTO PROCESSUAL
1. Introdução
Art. 1o Esta Lei define organização criminosa e dispõe sobre a investigação criminal, os
aplicado.
Art. 3o Em qualquer fase da persecução penal, serão permitidos, sem prejuízo de outros
I - colaboração premiada;
específica;
específica;
Veja que o caput do art. 3º fala em persecução penal. Portanto, pelo menos em tese, os
meios de obtenção de prova podem ser utilizados na investigação ou no curso do processo.
O artigo indica alguns meios de obtenção de prova que podem ser utilizados na investigação
de crimes praticados por organizações criminosas. Contudo, nem todos os meios de
obtenção de prova estão regulamentados na Lei 12.850/13, que dispõe apenas sobre
colaboração premiada, ação controlada, acesso a registro de ligações telefônicas e
telemáticas e dados cadastrais, assim como infiltração por policiais.
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1.2. Distinção entre meios de obtenção de prova e meios de prova
A Lei fala em meios de obtenção de prova e não em meios de prova. As expressões não são
sinônimas e é preciso ter cuidado com a terminologia.
Fontes de prova são as pessoas ou coisas exteriores ao processo e que têm algum
conhecimento sobre o fato delituoso. É tudo o que está relacionado ao fato delituoso. São
anteriores ao processo e sua introdução no processo ocorre através dos meios de prova.
Ex.: busca domiciliar é um meio de obtenção de prova. É preciso ter em conta que busca e
apreensão não são um único meio de obtenção de prova. A busca pode ser pessoal ou
domiciliar. Pode haver busca sem apreensão.
As TEI são ferramentas sigilosas, postas à disposição do Estado para a apuração e persecução
de crimes graves, que exijam o emprego de estratégias investigativas distintas das
tradicionais que se baseiam normalmente em prova documental ou testemunhal. São novos
procedimentos investigatórios. Caracterizam-se por dois elementos: sigilo e dissimulação.
O sigilo é inerente à eficácia das TEI. Na dissimulação, vez por outra, o Estado se vale de
métodos dissimulados para que o acusado não tome conhecimento do procedimento
investigatório. Foram pensadas para o crimes de tráfico de droga e foram posteriormente
utilizadas em relação ao crime de organização criminosa.
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Meios de prova, por fim, são os instrumentos através dos quais as fontes de prova são
introduzidas no processo. Os meios de prova, ao contrário das fontes, referem-se a
atividades endoprocessuais, desenvolvidas perante o juiz. O contraditório e a ampla defesa
são elementos inerentes para a caracterização dos meios de prova.
3. Colaboração premiada
A colaboração premiada é tratada de forma detalhada nos arts. 4º, 5º, 6º e 7º da Lei
12.850/13. Esses dispositivos constituem um regramento geral da colaboração premiada.
Está relacionada à ideia da traição. O Estado acaba interessando-se por essa traição. As
organizações criminosas possuem um caráter coeso muito marcante e o Estado reconhece
que não possui meios de obter informações senão por intermédio de um dos integrantes
desse grupo.
A origem está relacionada ao direito anglo-saxão, principalmente aos EUA e Itália (no
combate à máfia). Utiliza-se a expressão crown witness.
Colaboração premiada nada mais é do que uma técnica especial de investigação ou meio de
obtenção de prova por meio do qual o Estado oferece ao coautor ou partícipe um prêmio
legal, em troca de informações relevantes para a persecução penal. Trata-se de uma
negociação. O Estado é incapaz de resolver o problema da criminalidade e realiza uma troca
com o criminoso oferecendo prêmios em troca de informações. Os prêmios vão desde uma
causa de diminuição de pena até uma possível extinção da punibilidade pelo perdão judicial.
A expressão colaboração premiada deve ser compreendida como gênero do qual a delação
premiada é uma das espécies. A delação premiada pressupõe que a pessoa incrimine os
comparsas. Fala-se, portanto, em delação quando houver a incriminação de comparsas pelo
coautor ou partícipe. O acusado confessa a prática delituosa e incrimina antigos comparsas.
A delação é também denominada chamamento de corréu.
Há outras espécies de colaboração premiada. O acusado pode ser útil não apenas
identificando seus comparsas, mas também prestando outras informações relevantes. Ex.:
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acusado ajuda com a localização da vítima com sua integridade física preservada. Neste
caso, não há delação e sim colaboração premiada.
A expressão delação premiada deve ser evitada, pois traz em si a ideia pejorativa de traição.
Renato Brasileiro sugere que em provas utilize-se a expressão colaboração premiada caso o
candidato perceba que o examinador faz tal distinção. Contudo, a tendência é que
examinadores mais antigos não façam tal distinção, utilizando as expressões como
sinônimas.
Renato Brasileiro pondera que tal entendimento não é o majoritário. Isso porque falar em
ética e moral dentro de uma organização criminosa soa contraditório. As organizações
criminosas não prezam pela ética e moral. Ex.: integrantes do PCC determinam, de dentro do
presídio, julgamento sumários, execução de policiais etc.
Não há como negar que é perfeitamente possível a colaboração premiada sem qualquer
violação da ética e da moral que sequer existem dentro de uma organização criminosa.
O direito ao silêncio está previsto no art. 5º, LXIII, da CR. Tal dispositivo estabelece que o
preso será informado de seus direitos entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe
assegurada a assistência da família e de advogado.
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É um dos desdobramentos do direito à não autoincriminação. Ninguém é obrigado a
colaborar com sua própria destruição.
Há, ainda, o crime do art. 19 da Lei 12.850/13 que trata de imputar falsamente a prática de
crime a pessoa que sabe ser inocente ou divulgar informação falsa sobre a organização
criminosa.
Art. 19. Imputar falsamente, sob pretexto de colaboração com a Justiça, a prática de
infração penal a pessoa que sabe ser inocente, ou revelar informações sobre a estrutura
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em verdade, opta pelo não exercício do direito ao silêncio. Trata-se de impropriedade do
legislador, pois o acusado continua tendo o direito ao silêncio, mas fez uma opção
consentida e informada de que não exerceria o direito ao silêncio.
O colaborador, obviamente, não responde por falso testemunho porque ele é um dos
coautores ou partícipes e não testemunha do crime, portanto, não pode responder pelo
crime.
Em relação ao crime do art. 19, no RE 561.704, o STF entendeu que o direito ao silêncio não
dá ao acusado o direito de praticar o crime de falsa identidade, por não ser um direito
absoluto. É muito comum que a pessoa pratique a falsa identidade para esconder um
passado criminoso. Não há plausibilidade em afirmar que o acusado poderia cometer crimes
em decorrência de seu direito ao silêncio. O acusado, portanto, não é obrigado a produzir
prova contra si mesmo, mas o direito ao silêncio não lhe concede o direito de imputar
falsamente crimes a terceiros inocentes.
Não há como negar que a colaboração premiada já estava inserida no CP, principalmente a
partir da Reforma de 1984. Há, por exemplo, o arrependimento posterior, arrependimento
eficaz, atenuantes de pena para a confissão espontânea, art. 159, §4º etc.
i) Lei 8.072/90
Art. 8º Será de três a seis anos de reclusão a pena prevista no art. 288 do Código Penal,
ii) CP
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art. 159.
toda a trama delituosa terá a sua pena reduzida de um a dois terços. ( Incluído pela Lei nº
9.080, de 19.7.1995)
Art. 16. Qualquer pessoa poderá provocar a iniciativa do Ministério Público nos crimes
descritos nesta lei, fornecendo-lhe por escrito informações sobre o fato e a autoria, bem
Parágrafo único. Nos crimes previstos nesta Lei, cometidos em quadrilha ou coautoria, o
judicial toda a trama delituosa terá a sua pena reduzida de um a dois terços. (Parágrafo
v) Lei 9.613/98
art. 1º.
§ 5o A pena poderá ser reduzida de um a dois terços e ser cumprida em regime aberto ou
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Há uma novidade, pois além da diminuição de pena pode haver fixação do regime inicial de
cumprimento de pena aberto ou semiaberto, independentemente do cumprimento dos
requisitos previstos no art. 44 do CP.
Faculta-se, ainda, ao juiz, deixar de aplicar a pena (perdão judicial com a consequente
extinção da punibilidade) ou substituí-la por pena restritiva de direitos.
Cuidado com a conjunção alternativa “ou”. Na antiga Lei de Lavagem de Capitais, esses
requisitos eram cumulativos. A conjunção “ou” indica alternatividade para a concessão do
benefício legal.
A Lei de Lavagem estabelece que a colaboração deve ser espontânea. Para fins de concessão
dos benefícios legais, a colaboração precisa de fato ser espontânea ou basta ser voluntária?
Cuidado, pois voluntariedade e espontaneidade não se confundem.
Espontâneo é algo que parte do indivíduo. O próprio agente deve resolver colaborar, a ideia
deve partir dele. Isso não é necessário para fins de colaboração premiada. O Estado não se
preocupa se o agente recebeu algum tipo de incentivo.
A colaboração, portanto, não precisa ser espontânea, e sim voluntária. Será beneficiado
tanto o indivíduo que espontaneamente resolveu colaborar quanto aquele que resolveu
colaborar após a influência de alguém. O indivíduo somente não poderá ser constrangido a
colaborar.
Art. 13. Poderá o juiz, de ofício ou a requerimento das partes, conceder o perdão judicial e
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Essa é a Lei de Proteção às Testemunhas, por isso a doutrina entende que a colaboração
premiada nela prevista pode ser usada como regramento geral e não apenas para
determinado crime, como nos demais dispositivos citados.
(um) a 2/3 (dois terços) da penalidade aplicável, nos termos deste artigo, com pessoas
físicas e jurídicas que forem autoras de infração à ordem econômica, desde que
colaboração resulte:
investigação.
Art. 87. Nos crimes contra a ordem econômica, tipificados na Lei no 8.137, de 27 de
dezembro de 1990, e nos demais crimes diretamente relacionados à prática de cartel, tais
acordo de leniência, nos termos desta Lei, determina a suspensão do curso do prazo
leniência.
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Art. 4o O juiz poderá, a requerimento das partes, conceder o perdão judicial, reduzir em
até 2/3 (dois terços) a pena privativa de liberdade ou substituí-la por restritiva de direitos
processo criminal, desde que dessa colaboração advenha um ou mais dos seguintes
resultados:
A Lei prevê três possíveis prêmios legais: diminuição de pena em até 2/3, substituição por
pena restritiva de direitos e concessão de perdão judicial.
Entretanto, a Lei não determinou para qual crime poderá ser utilizada a colaboração
premiada. Isso porque, atualmente, organização criminosa passou a ser crime, mas o agente
responderá também pelos crimes praticados pela organização. Seria apenas para o crime de
organização criminosa ou também para os crimes praticados pela organização criminosa?
Renato pondera que certamente haverá discussão, mas entende que onde a lei não restringe
não é dado ao interprete fazê-lo, por isso a colaboração premiada poderia ser utilizada em
todos os crimes.
Objetivos:
iv) a recuperação total ou parcial do produto ou do proveito das infrações penais praticadas
pela organização criminosa;
v) a localização de eventual vítima com a sua integridade física preservada. O legislador não
tratou da integridade psicológica da vítima.
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Esses objetivos são alternativos. A própria Lei deixa isso claro quando determina que da
colaboração deve advir um ou mais dos resultados.
Claro que se o indivíduo tem mais de uma informação objetivamente eficaz é interessante
que ele traga todas ao processo, para ser agraciado com o prêmio máximo que é a
concessão do perdão judicial com a consequente extinção da punibilidade.
Cuidado para não achar que prestadas as informações o indivíduo receberá necessariamente
o prêmio legal. Renato cita o caso de um investigador de polícia que se associou a criminosos
para o cometimento do crime de sequestro. Nesse caso, não há que se falar em prêmio
legal, na medida em que o acusado era um agente do Estado, incumbido exatamente da
investigação de crimes. Para Renato, nessa hipótese, a concessão de diminuição de pena ou
extinção da punibilidade seria totalmente descabida.
judicial ao colaborador, ainda que esse benefício não tenha sido previsto na proposta
É preciso ter cuidado, todavia, porque o STF possui posicionamento proferido no julgamento
da AP 470 (caso do Mensalão), questão de ordem 03, no sentido de que o prêmio da
colaboração premiada não pode ser concedido no início do processo. Por mais que o
indivíduo resolva colaborar, ele terá de ser objeto de denúncia.
poderá ser suspenso por até 6 (seis) meses, prorrogáveis por igual período, até que sejam
30
denúncia se o colaborador:
Ex.: acusado indica o local em que se encontra a vítima no momento em que ela ainda se
encontra com vida. Caso a polícia chegue ao local e encontre a vítima morta, o agente não
será beneficiado, haja vista que a vítima não foi encontrada com a integridade física
preservada.
Até o advento da Lei 12.850/13 não havia previsão expressa desse acordo que, no entanto,
era feito na prática.
Esse acordo informal, entretanto, é deveras perigoso para o criminoso, pois não há
segurança de que os benefícios legais serão de fato levados em consideração pelo juiz. O juiz
sequer participou ou homologou o acordo.
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Há quem entenda que o delegado de polícia poderia celebrar esse acordo. Renato adverte
que esse posicionamento somente deve ser defendido em provas para delegado. Em outros
concursos, o ideal é defender que o delegado pode sugerir ao criminoso a celebração do
acordo, mas a efetiva celebração deve ser realizada com a presença obrigatória do membro
do MP, titular da ação penal.
Art. 6o O termo de acordo da colaboração premiada deverá ser feito por escrito e conter:
necessário.
Cuidado, pois o acordo de celebração da colaboração não é condição sine qua non para a
concessão dos benefícios legais. O acordo existe para dar aos envolvidos maior segurança
jurídica, mas não se pode admitir que ao criminoso somente sejam concedidos os prêmios
legais se houver acordo escrito.
Não se deve permitir que o juiz tenha papel de protagonismo na celebração do acordo, em
razão da garantia da imparcialidade. Não há como negar que haveria graves prejuízos à
imparcialidade do juiz.
O papel do juiz é de distância, exatamente para preservar sua imparcialidade. A Lei foi
categórica nesse sentido:
Art. 4º.
§ 6o O juiz não participará das negociações realizadas entre as partes para a formalização
32
O juiz não participa das negociações, das tratativas do acordo. Ou seja, o juiz não deve
conversar com o criminoso e oferecer-lhe um acordo de colaboração premiada, mas é óbvio
que deverá intervir.
Alguns doutrinadores entendem que o juiz jamais deve intervir no acordo. O problema é que
se o juiz não participa em momento algum, a concessão do prêmio no processo poderia
restar inviabilizada (o juiz poderia alegar que o promotor ofereceu o prêmio e que esse não
é o seu entendimento).
podendo para este fim, sigilosamente, ouvir o colaborador, na presença de seu defensor.
Portanto, o juiz não participa das tratativas, mas o acordo deverá ser a ele remetido para
homologação. A intervenção do juiz é necessária para fins de homologação, em que ele
deverá verificar sua regularidade, legalidade e voluntariedade, podendo, para este fim,
sigilosamente, ouvir o colaborador, na presença de seu defensor.
§ 8o O juiz poderá recusar homologação à proposta que não atender aos requisitos legais,
Não há dúvidas que a colaboração premiada poderá ser celebrada durante a investigação. E
é nesse momento que ela se revela mais eficaz, pois é na investigação que o Estado precisa
de informações relevantes para o esclarecimento do crime.
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Até pouco tempo atrás, isso era discussão meramente doutrinária. Ocorre que desde o
advento da Lei 12.683/12 isso passou a ser uma realidade.
§ 5o A pena poderá ser reduzida de um a dois terços e ser cumprida em regime aberto ou
A Lei 12.683/12 acrescentou a expressão “a qualquer tempo”, isto é, mesmo após o trânsito
em julgado da sentença condenatória. A colaboração premiada pode ser celebrada, assim,
durante a execução criminal. É preciso ter em conta que pode haver a colaboração premiada
após o trânsito em julgado da sentença condenatória, mas as informações ainda assim
devem ser objetivamente eficazes. Um bom exemplo é o criminoso que cumpre pena pelo
crime de lavagem de capitais e decide colaborar para a localização do produto do crime e
das infrações antecedentes.
§ 5o Se a colaboração for posterior à sentença, a pena poderá ser reduzida até a metade
A colaboração premiada após o trânsito em julgado pode ser útil para diminuição de pena
ou progressão de regime, ainda que ausentes os requisitos objetivos.
É possível condenar um acusado exclusivamente com base nas informações obtidas com a
colaboração premiada?
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Atualmente, é o que prevê o §16 da própria Lei:
Art. 4º.
§ 16. Nenhuma sentença condenatória será proferida com fundamento apenas nas
Trata-se da regra de corroboração. Andrey Borges de Mendonça trata dessa regra. Não basta
que o criminoso confesse a prática delituosa e identifique os demais coautores. Ele deverá,
ainda, trazer fontes de prova aptas a confirmar as informações por ele prestadas. Ex.: agente
indica um coautor e um telefone que ele utiliza para conversar sobre o tráfico, para que a
polícia possa interceptar.
4. Ação controlada
4.1. Conceito
i) Lei 9.034/95
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A antiga e revogada Lei 9.034/95 já previa a ação controlada. A Lei 9.034/95 foi revogada
pela Lei 12.850/13.
Art. 2º Em qualquer fase de persecução criminal são permitidos, sem prejuízo dos já
II - a ação controlada, que consiste em retardar a interdição policial do que se supõe ação
praticada por organizações criminosas ou a ela vinculado, desde que mantida sob
ou valores poderão ser suspensas pelo juiz, ouvido o Ministério Público, quando a sua
2012)
Essa hipótese configura a ação controlada. O juiz, por exemplo, em uma investigação de
lavagem de capitais, poderia determinar o sequestro de bens hoje. Mas, sabe que isso
poderia obstar a localização de outros bens, na medida em que poderiam ser adotadas
medidas para camuflar os demais bens. Retarda-se, portanto, a intervenção para adotá-la
em momento mais eficaz sob o ponto de vista da colheita de provas.
Art. 53. Em qualquer fase da persecução criminal relativa aos crimes previstos nesta Lei,
são permitidos, além dos previstos em lei, mediante autorização judicial e ouvido o
Parágrafo único. Na hipótese do inciso II deste artigo, a autorização será concedida desde
colaboradores.
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Art. 8o Consiste a ação controlada em retardar a intervenção policial ou administrativa
relativa à ação praticada por organização criminosa ou a ela vinculada, desde que mantida
A antiga Lei não exigia autorização judicial para a ação controlada. Por isso, alguns
doutrinadores referiam que a ação controlada era descontrolada, pois não havia
necessidade de prévia autorização policial. A polícia levava em frente a ação controlada e
ninguém ficava sabendo disso. A ação controlada, inclusive, era utilizada como falso álibi
para justificar a conduta de policiais corruptos. Não havia controle sobre a ação controlada.
A Lei 9.613/98 estabelece que a ação pode ser suspensa pelo juiz. A Lei 11.343/06 também
exige prévia autorização para a ação controlada.
Renato entende que a necessidade de autorização judicial prévia é um erro, pois a ação
controlada exige rapidez e a autorização judicial pode levar dias para ser analisada. Na visão
de Renato, a Lei 12.850/13 andou bem, pois não prevê a necessidade de prévia autorização
judicial. A Lei prevê apenas que deverá haver prévia comunicação ao juiz competente.
Cuidado, pois a Lei não exige prévia autorização judicial, como faz a Lei 11.343/06. A Lei
12.850/13 apenas diz que o retardamento da intervenção policial ou administrativa será
previamente comunicado ao juiz competente. Não se pode confundir autorização com
comunicação ao juiz.
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a autoridade policial remeta ofício ao juiz competente comunicando o início da ação
controlada.
Cuidado, pois o exemplo de ação controlada da Lei de Lavagem de Captais não pode ser
chamado de flagrante prorrogado, pois a Lei fala em “ordem de prisão”, ou seja, a prisão é
efetuada com prévia autorização judicial. A única prisão que não precisa de ordem prévia é a
prisão em flagrante. O ideal é entender que a prisão em flagrante continua sendo obrigatória
na Lei de Lavagem. A ação controlada na Lei de Lavagem refere-se a uma possível prisão
preventiva ou temporária.
Na ação controlada, a intervenção pode ser retardada, mas a prisão posterior não pode ser
efetuada a qualquer tempo. É preciso ter em conta que a CR estabelece que ninguém será
preso, salvo em flagrante delito ou com prévia ordem judicial. No momento posterior, a
prisão somente poderá ser efetuada pela autoridade policial se o agente estiver em situação
de flagrância ou se existir ordem judicial.
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Ex.: pacote enviado de SP com droga para outra localidade. Ao invés de haver a
interceptação em SP, as autoridades interceptam a droga no local de destino.
5. Agente infiltrado
5.1. Conceito
Agente infiltrado consiste em uma técnica especial de investigação, por meio da qual um
agente do Estado é inserido dissimuladamente no seio de uma organização criminosa com o
objetivo de indicar fontes de prova aptas a desarticular a organização criminosa.
A primeira lei que tratou do agente infiltrado foi a revogada Lei de Organização Criminosa.
i) Lei 9.034/95
Art. 2o Em qualquer fase de persecução criminal são permitidos, sem prejuízo dos já
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procedimentos típicos de polícia judiciária. O STJ declarou a ilegalidade desse procedimento
investigatório.
Art. 53. Em qualquer fase da persecução criminal relativa aos crimes previstos nesta Lei,
são permitidos, além dos previstos em lei, mediante autorização judicial e ouvido o
especializados pertinentes;
Na antiga Lei das Organizações Criminosas, agentes de inteligência também poderiam ser
infiltrados. Esse dispositivo foi revogado.
Particulares podem colaborar como agentes infiltrados? Em uma prova que traga texto de
lei, a resposta deve ser negativa, na medida em que a Lei não faz menção a particulares.
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Há, entretanto, alguns doutrinadores que sustentam ser possível que a colaboração
premiada seja utilizada de maneira concomitante com a infiltração. Em um caso concreto,
entendeu-se que seria interessante que o colaborador permanecesse no seio da organização
criminosa, como agente infiltrado, para a descoberta de novas fontes de prova. Seria a única
hipótese, admitida pelo professor Vladimir Aras, de infiltração por particular.
i) prévia autorização judicial do juízo competente. Essa autorização judicial deverá ser
fundamentada e sigilosa. Nessa decisão, o juiz deve estabelecer os limites da atuação do
agente infiltrado, determinando os crimes que poderão ou não ser praticados pelo agente
infiltrado.
É preciso ter cuidado com a teoria do juízo aparente. Na interceptação telefônica essa teoria
fica mais clara, pois a interceptação deve ser autorizada pelo juiz competente. O problema é
que às vezes, no momento inicial das investigações, o juiz competente aparenta ser um e,
com o prosseguimento das investigações, verifica-se que o crime seria da competência de
outro juiz. Surge o seguinte questionamento: a interceptação decretada por um juiz cuja
competência descobriu-se posteriormente ser de outro juiz é válida? Deverá ser considerada
válida em razão da teoria do juízo aparente.
O juízo competente deve ser verificado de acordo com os elementos probatórios então
existentes.
ii) indícios de infração penal – fumus comissi delicti e periculum libertatis. No momento de
decretar a medida, o juiz deve demonstrar que há indícios de infração penal de que trata o
art. 1º da Lei 12.850/13. Cuidado, pois a infiltração pode ser utilizada no crime de
organização criminosa e para os crimes por ela praticados, como também para infrações
penais previstas em tratado internacional de caráter transnacional e organizações terroristas
internacionais.
Veja que a Lei não exige indícios de autoria, mas apenas elementos da probabilidade da
prática de crimes.
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haver outro procedimento investigatório menos gravoso, apto a atingir a mesma finalidade
no caso concreto. O juiz também deve sopesar o risco inerente à infiltração policial, pois um
agente de polícia passará a agir como se fosse um criminoso. Haverá risco pessoal e para sua
família. Esse risco também deve ser considerado pelo juiz.
A Lei 12.850/13 prevê um prazo mais elástico, de 6 meses, renovável desde que haja
comprovada necessidade.
Art. 10.
§ 3o A infiltração será autorizada pelo prazo de até 6 (seis) meses, sem prejuízo de
O prazo limite de 6 meses se aplica para cada decisão judicial. Próximo ao final do prazo,
deverá haver nova decisão prorrogando o prazo por mais até 6 meses e assim
sucessivamente. O que eventualmente for descoberto sem que o prazo tivesse sido
renovado será considerado prova ilícita.
Agente infiltrado é um agente de polícia que obtém autorização judicial para ser introduzido
dissimuladamente em uma organização criminosa, de modo a coletar informações
necessárias para o desmantelamento da associação. A atuação do agente infiltrado é inerte,
isto é, o agente não deve incentivar novas práticas delituosas. Deve apenas tomar
conhecimento das práticas criminosas que serão praticadas.
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Essa atuação caracteriza um flagrante esperado, pois não há ação de provocação da prática
criminosa.
Não se confunde com o agente provocador que pode ser tanto um particular quanto um
policial. Não depende de prévia autorização judicial e tem papel proativo, induzindo o
criminoso a praticar delitos, adotando, ao mesmo tempo, precauções para que o crime não
se consume.
O agente infiltrado não deve induzir novas práticas delituosas. Deve adotar posicionamento
inerte para a colheita de informações.
Quando o juiz defere uma autorização para a infiltração do agente ele deve estabelecer
limites para essa atuação. O agente infiltrado, quando entra na organização criminosa, será
obrigado a praticar crimes para não levantar suspeitas dos criminosos. Ou seja, o agente
deverá participar da prática de alguns crimes para que as informações sejam obtidas.
O art. 10 da Lei 12.850/13 determina que o magistrado estabeleça limites para a atuação do
agente infiltrado. O problema é que o legislador não diz quais são esses limites.
Renato pondera que, diante do silêncio da lei, o ideal é entender que o juiz poderia autorizar
apenas a prática de crimes de perigo, abstrato ou concreto. Ex.: autorização judicial para que
o agente se infiltre e pratique o crime de tráfico de drogas, além do crime de organização
criminosa. O crime de tráfico é de perigo abstrato e, pelo menos em tese, não resultará na
morte de uma pessoa.
Não se admite, porém, autorização judicial para a prática de crimes de dano pelo agente
infiltrado. Ex.: extorsão mediante sequestro, lesão corporal. Isso porque os fins não
justificariam os meios.
43
E se, diante da situação fática, o agente infiltrado se veja obrigado a praticar outros crimes
que não crimes de perigo para que sua verdadeira identidade não seja descoberta?
A maioria da doutrina, entende que nesse caso o agente não responde pelos crimes que seja
obrigado a praticar. Há parte minoritária da doutrina sustentando que nesse caso haveria
uma causa extintiva da punibilidade (o fato seria típico, ilícito e culpável, mas não seria
punível). A melhor posição para concurso é defender que o agente infiltrado não responde
pelo crime em razão de causa excludente da culpabilidade por inexigibilidade de conduta
diversa.
Art. 13. O agente que não guardar, em sua atuação, a devida proporcionalidade com a
Parágrafo único. Não é punível, no âmbito da infiltração, a prática de crime pelo agente
O agente infiltrado, ademais, será coagido pelos demais integrantes a praticar os crimes e
não se pode exigir dele conduta diversa. Por isso essa conduta não seria culpável.
II - ter sua identidade alterada, aplicando-se, no que couber, o disposto no art. 9o da Lei
testemunhas;
III - ter seu nome, sua qualificação, sua imagem, sua voz e demais informações pessoais
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preservadas durante a investigação e o processo criminal, salvo se houver decisão judicial
em contrário;
Não é dado ao juiz revelar a identidade do agente infiltrado. Renato não entende como uma
decisão judicial poderia revelar essas informações. O direito do acusado de acompanhar os
depoimentos não é absoluto e a revelação da identidade do agente infiltrado acarretará em
risco de morte. Trata-se da figura da testemunha anônima. É a testemunha que não tem sua
identidade e qualificação reveladas. A discussão quanto à validade da testemunha anônima
já foi decidida pelo STF no julgamento do HC 90.321, no qual entendeu ser plenamente
possível, desde que haja decisão do juiz no sentido da necessidade de se preservar a
identidade da testemunha.
IV - não ter sua identidade revelada, nem ser fotografado ou filmado pelos meios de
Art. 20. Descumprir determinação de sigilo das investigações que envolvam a ação
O art. 15 da Lei 12.850/13 é muito semelhante ao art. 17-B da Lei 9.613/98, com redação
dada pela Lei 12.683/12.
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reserva de jurisdição, na medida em que esses dados só poderiam ser obtidos pelo MP e
pela polícia mediante autorização judicial. Esse posicionamento deve ser adotado em provas
de Defensoria.
Renato pondera que não se pode superdimensionar o direito à intimidade. Além disso, o MP
e o delegado somente poderão ter acesso a informações sobre qualificação pessoal, filiação
e o endereço mantidos pela Justiça Eleitoral, empresas telefônicas, instituições financeiras,
provedores de internet e administradoras de cartão de crédito. Essas informações, para
Renato, são de conhecimento público e dizem respeito à identidade da pessoa. Ex.: o MP
não pode, sem autorização judicial, quebrar o sigilo de dados bancários e financeiros.
Art. 17. As concessionárias de telefonia fixa ou móvel manterão, pelo prazo de 5 (cinco)
anos, à disposição das autoridades mencionadas no art. 15, registros de identificação dos
interurbanas e locais.
Esse dispositivo vem sendo questionado pela doutrina. Paccelli entende que é
inconstitucional, pois dá a impressão de que MP e delegado poderiam ter acesso ao registro
de dados telefônicos independentemente de autorização judicial e isso violaria o direito à
intimidade e vida privada.
7.1. Origem
A formação do juízo colegiado está relacionado aos recentes homicídios de quatro juízes
(Leopoldino Marques do Amaral, Antônio José Machado Dias, Alexandre Martins e Patrícia
Accioli).
A partir do momento em que juízes começam a ser vítimas das organizações criminosas,
surge a ideia do juízo colegiado. A ideia constou do II Pacto Republicano de Estado,
celebrado no ano de 2009.
A ideia básica é que através da criação do juízo colegiado, formado por três magistrados, se
consiga tornar a decisão um pouco mais impessoal. Quando a decisão judicial é proferida por
um único magistrado, é possível que o integrante da organização criminosa queira se vingar
dessa pessoa. O criminoso corporifica sua raiva em uma única pessoa. O juízo colegiado
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pretende que essa decisão seja um pouco mais impessoal, despersonalizando a decisão
judicial.
A ADI 4.144 foi apreciada em 2012 e se refere a uma Lei estadual de Alagoas. Trata-se da Lei
6.806/07, que criou um juízo colegiado composto por cinco juízes para o julgamento das
organizações criminosas.
A Lei federal que tratou do assunto foi a Lei 12.694/12. Porém, muitos estados da federação
já demonstravam preocupação com a matéria, ao criar varas especializadas para julgar
organizações criminosas.
Um dos juízes do colegiado é o juiz natural que, através de sorteio, convoca outros dois
magistrados.
A ADI 4.144 é importante, pois nela o STF enfrenta a possibilidade de uma lei estadual dispor
sobre o assunto. Além disso, trata da possibilidade de uma lei estadual prever a criação de
juízo colegiado e a possibilidade de definir o conceito de organização criminosa.
Lei estadual não pode dizer o conceito de organização criminosa, ainda que invocando a
Convenção de Palermo, pois isso viola o princípio da legalidade. No HC 96.007, o STF decidiu
que organização criminosa somente pode ser definida por lei federal aprovada pelo
Congresso Nacional.
O STF decidiu que Lei estadual pode dispor sobre a formação do juízo colegiado, pois o
assunto estaria no âmbito da organização judiciária de cada estado.
Por fim, o Tribunal entendeu que não há problema na criação do juízo colegiado, da mesma
forma que existem as Juntas Eleitorais, Turmas Recursais e julgamento pelo Tribunal do Júri,
todos órgãos colegiados. Não há violação ao juiz natural, pois não há prejuízo para a
imparcialidade. Aliás, um magistrado coagido, ameaçado não poderá julgar com
imparcialidade e independência. É importante entender que o juízo colegiado não é a regra,
mas há essa possibilidade, caso seja constatado risco para a integridade física do juiz.
Com o advento da Lei, houve quem sustentasse que o legislador teria criado a figura do juiz
sem rosto.
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A figura do juiz sem rosto ou secreto foi utilizada na Colômbia e no Peru. Trata-se de um juiz
em relação ao qual não há qualquer conhecimento. A decisão é, inclusive, apócrifa. O juízo
colegiado tem rosto, no entanto, em vez de um rosto há três. A Lei criou, portanto, um juízo
colegiado, pois a qualificação dos juízes é conhecida. A única restrição é que não deve haver
menção a eventual voto divergente.
todos os seus integrantes, serão publicadas sem qualquer referência a voto divergente de
qualquer membro.
Art. 1o Em processos ou procedimentos que tenham por objeto crimes praticados por
organizações criminosas, o juiz poderá decidir pela formação de colegiado para a prática
III - sentença;
acarretam risco à sua integridade física em decisão fundamentada, da qual será dado
§ 2o O colegiado será formado pelo juiz do processo e por 2 (dois) outros juízes escolhidos
grau de jurisdição.
i) crimes praticados por organização criminosa. Pelo menos em tese, não se pode utilizar o
juízo colegiado para julgamento do crime de associação criminosa. Deve-se utilizar qual
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conceito de organização criminosa, a do art. 2º da Lei 12.694/12 ou a do art. 1º da Lei
12.850/13?
Renato sustenta que em um ordenamento jurídico não podem existir dois conceitos para o
mesmo instituto. Portanto, se a Lei 12.850/13 é posterior e tratou de maneira diversa, o art.
2º da Lei 12.694/12 foi tacitamente revogado, de forma que o conceito de organização
criminosa deve ser extraído do art. 1º, §1º, da Lei 12.850/13.
natureza, mediante a prática de infrações penais cujas penas máximas sejam superiores a
Cuidado, pois a Lei 12.694/12 não foi inteiramente revogada, mas apenas no que diz
respeito ao conceito de organização criminosa.
ii) decisão judicial fundamentada em que deve apontar quais são os riscos à sua integridade
física ou psicológica ou de seus familiares.
Qualquer ato processual pode ser praticado pelo juízo colegiado. O rol trazido pelo art. 1º da
Lei 12.694/12 é meramente exemplificativo. A formação do colegiado poderá ser feita a
qualquer momento, seja durante as investigações, o processo ou mesmo na execução penal.
Esse entendimento é extraído dos exemplos de atos trazidos pelo rol do art. 1º.
Há doutrinadores que sustentam que o colegiado deve ser formado a cada ato processual.
Para Renato, esse entendimento viola a necessidade de celeridade processual, de forma que
não é proporcional. Uma vez formado o colegiado, poderá decidir qualquer questão
processual posterior.
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