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074 • 1,30€ • Quarta-feira, 19 de Agosto de 2020 • Director: Manuel Carvalho Adjuntos: Amílcar Correia, Ana Sá Lopes, David Pontes, Tiago Luz Pedro Directora de Arte: Sónia Matos
RICARDO ROJAS
Pode haver dez
vezes mais plástico
no Atlântico do que
se pensava
Destaque, 2/3
Toneladas de plásticos na praia do Cabo Haitiano, no Haiti. Cientistas acreditam que haverá até 21 milhões de toneladas de microplásticos nos 200 metros superiores do oceano
ISNN-0872-1556
2 • Público • Quarta-feira, 19 de Agosto de 2020
DESTAQUE
POLUIÇÃO
CENTRO NACIONAL OCEANOGRÁFICO DO REINO UNIDO
O Atlântico
pode ter
(pelo
menos) dez
vezes mais Teresa Sofia Serafim
mais plástico do que se estimava.
Para se saber bem quais os danos
Os contaminantes de plástico
foram identiÆcados através de uma
plástico A
que a poluição de plásticos está a cau- técnica de imagem de espectroscopia
poluição de plásticos é um sar, é preciso fazer quantiÆcações e analisaram-se só microplásticos
dos problemas da actualida- robustas da sua acumulação em dife- (partículas que têm um tamanho infe-
de. Mas qual a verdadeira rentes ambientes. Porém, esta quan- rior a cinco milímetros de diâmetro).
dimensão deste problema? tiÆcação pode ser bem mais difícil em Os microplásticos são formados pela
Quanto plástico está mesmo locais mais remotos, como nos ocea- deterioração de peças maiores de
do que se
a ser lançado para o ambien- nos. “De forma a determinarmos os plástico no mar ou surgem ainda em
te? Continuamente, equipas de cien- perigos da contaminação do plástico terra pela lavagem de têxteis sintéti-
tistas têm vindo a quantiÆcar o lixo de para o ambiente e para os humanos, cos, pela abrasão de pneus ou já
plástico em vários ambientes. Ontem, precisamos de boas estimativas da incorporados em produtos de limpe-
dois cientistas do Centro Nacional quantidade e das características des- za para o corpo e cosméticos. Tam-
OceanográÆco, do Reino Unido, apre- te material, como entra no oceano, bém só foram estudados três tipos de
pensava
sentaram os resultados da sua conta- como se degrada e quão tóxicas plásticos — o polietileno, o polipropi-
bilização de microplásticos no oceano podem ser as suas concentrações”, leno e o poliestireno —, que estão
Atlântico. De acordo com o estudo nota Richard Lampitt, cientista do entre os que causam mais poluição.
que publicam na revista cientíÆca Centro Nacional OceanográÆco e um Resultado: estima-se que a massa
Nature Communications, estima-se dos autores do trabalho. “invisível” de microplásticos nos 200
que haverá entre 12 e 21 milhões de Como tal, juntamente com metros superiores do Atlântico seja
toneladas de microplásticos de três Katsiaryna Pabortsava, quis quantiÆ# entre 12 e 21 milhões de toneladas. Ao
tipos acumuladas nos 200 metros car a poluição de plásticos no Atlân- todo, os cientistas detectaram mais
superiores desse oceano, e isto em tico. Para isso, recolheram amostras de 7000 partículas de microplásticos
apenas 5% dele. Portanto, se até ago- de água do oceano em 12 localizações por metro cúbico de água do oceano.
Cientistas do Reino Unido quantiÄcaram ra se julgava que haveria entre 17 e 47 ao longo de 10.000 quilómetros de Katsiaryna Pabortsava assinala ainda
os “invisíveis” microplásticos em 5% do milhões de toneladas de todo o tipo
de plástico pelo Atlântico inteiro e
trajectos de norte a sul do oceano
Atlântico. Em cada local, os cientistas
que estas estimativas correspondem
a apenas 5% do oceano Atlântico.
oceano Atlântico. Aperceberam-se de agora se estima que haja entre 12 e 21 Æltraram grandes volumes de água de
milhões de toneladas só de microplás- três profundidades, entre os dez e os Quantidade subestimada
que a quantidade de plástico que se ticos de três tipos, quer dizer que há 200 metros. Este trabalho foi realiza- E qual é quantidade que se pensa (ou
julgava que tinha chegado a este oceano mais plástico neste oceano do que se
pensava. A equipa sugere que o Atlân-
do de Setembro a Novembro de 2016
na 26.ª expedição cientíÆca do tran-
pensava) que existe em todo o Atlân-
tico? De acordo com a literatura cien-
estará muito subestimada tico pode ter, pelo menos, dez vezes secto do Atlântico meridional. tíÆca, a quantidade de plástico que
Público • Quarta-feira, 19 de Agosto de 2020 • 3
PAULO PIMENTA
A cientista Katsiaryna
Pabortsava com uma
bomba de água usada
na recolha de amostras
para o estudo; ao todo,
estima-se que há 12
a 21 milhões de
microplásticos de três
tipos em 5% do Atlântico
RICARDO ROJAS/REUTERS
te que tinha entrado no oceano desde
1950, porque estudos anteriores não
tinham quantiÆcado as concentra-
ções dos “invisíveis” microplásticos
sob a superfície. “A nossa investigação
é a primeira a fazer isso em todo o Muitos resíduos de plástico têm o oceano como destino
Atlântico, desde o Reino Unido até às
[ilhas] Falklands [ou Malvinas, para
os argentinos].” Que quantidade de plástico
Fechar a torneira do plástico
Por sua vez, Richard Lampitt salienta
chega por ano ao oceano?
que os resultados do estudo demons-
tram que os cientistas tinham “um
conhecimento totalmente inadequa- de fabricantes Plastics Europe.
do” de factores tão simples como a Teresa Firmino E, desde 1950 até 2015, já se produ-
quantidade de plásticos no oceano. ziu um total de 8300 milhões de tone-
S
“As nossas estimativas das quantida- e os plásticos que todos os ladas — destas, 6300 milhões torna-
des despejadas no oceano estavam dias utilizamos numa imensi- ram-se lixo, referia um artigo de 2017
maciçamente subestimadas.” dão de coisas acabarem no na revista Science Advances intitulado
Com base em estimativas de estu- lixo e se não forem reciclados “Produção, uso e destino de todos os
dos de 2015 e de 2017 de outra equipa, ou reaproveitados, o mais plásticos alguma vez fabricados.” Foi
Katsiaryna Pabortsava indica-nos que certo é que terminem num a partir dos anos de 1950 que os plás-
se calcula que tenham entrado no único sítio — o oceano. Levados pelos ticos começaram a ser produzidos em
oceano, a nível global, entre 117 e 292 esgotos, arrastados pelas chuvas e larga escala. Do total de todo o lixo
milhões de toneladas de lixo plástico. pelos rios, é aí que este produto ubí- plástico que já criámos, apenas 9% foi
Para já, a cientista pede que se evitem quo da civilização moderna termina reciclado, enquanto 12% foi incinera-
as extrapolações feitas no seu estudo os seus dias úteis ao serviço dos seres do e 79% foi parar a aterros ou despe-
para os outros oceanos. “Espero que humanos e começam muitos outros jado no ambiente. E foi assim que
as fontes e a sua magnitude sejam problemas, desde a morte de espécies muitos dos resíduos plásticos tiveram
diferentes para os oceanos PacíÆco e animais enroladas ou empanturradas como destino o oceano. Se as tendên-
comuns que quantiÆcámos nos 200 Índico”, conÆdencia. “Isto mostra a de plásticos até à sua contaminação cias actuais se mantiverem, estimava
metros superiores são representati- importância de se fazerem análises pela ingestão de fragmentos plásticos o artigo na Science Advances, em 2050
vos das concentrações destes conta- semelhantes às que Æzemos no Atlân- muito pequenos que confundem com teremos 12.000 milhões de toneladas
minantes no resto do Atlântico, então tico noutras bacias oceânicas.” alimentos e, por essa via, o problema de plástico como lixo, em aterros e
a sua massa em todo o Atlântico pode- E como se pode minimizar a polui- é-nos devolvido e vem parar à dieta disseminado pelo ambiente.
rá ser de, pelo menos, 200 milhões ção de plástico no oceano? Katsiaryna humana. A dimensão desta crise O plástico é agora o material de
Como sociedade, de toneladas”, extrapola Katsiaryna
Pabortsava. Isto quer dizer que pode
Pabortsava diz que, em primeiro
lugar, se deve evitar que chegue lá.
ambiental está directamente relacio-
nada com a quantidade de plástico
fabrico humano mais abundante no
planeta, a seguir ao aço e ao cimento,
temos de ser mais haver, pelo menos, cerca de dez vezes “Temos de fechar a ‘torneira do plás- que todos os anos chega ao oceano. frisava esse artigo cientíÆco da equipa
ESPAÇO PÚBLICO
O poderio ofensivo do Paris Saint-Germain É muito interessante observar as dinâmicas
fez ontem toda a diferença na meia-final da de poder dos partidos e no caso do PSD, o
Liga dos Campeões, frente ao Leipzig. O maior partido da oposição, é curioso analisar
clube francês dominou o jogo e só no início o os passos que vão sendo dados para tentar mudar o
adversário alemão conseguiu dar alguma réplica. “actual estado das coisas”. Após Rio ter aberto a
Depois do primeiro golo, que chegou cedo, o PSG porta a um eventual entendimento eleitoral com o
não permitiu que o acesso à sua primeira final da Chega, o que fez arrepiar muitos sociais-democratas,
Champions fosse posto em causa. Hoje saberá se eis que forças internas se movem para que o PSD
joga frente ao Bayern ou frente a um velho apoie Isaltino Morais em 2021, do qual se afastou em
Thomas Tuchel conhecido, o Lyon. (Pág. 32) J.J.M. Rui Rio 2005 por ser arguido. Que dirá Rio? (Pág. 8) J.J.M.
Q
posições críticas da oposição. Claro Ana Mendes Godinho não disse ao que reconheçamos o duríssimo
uando uma ministra diz (numa que é essencial. Expresso o que ontem veio dizer que caderno de encargos desta ministra
entrevista ao Expresso) num Sabemos agora que a ministra, fez. Que leu o relatório e reagiu. Ou (ocupa um dos cargos mais difíceis
relatório de uma entidade aÆnal leu o relatório. Como pediu à seja, que agiu como lhe competia nestes tempos de pandemia), mesmo
credível como a Ordem dos sua equipa técnica que lhe para aceder a toda a informação que admitamos que o seu
Médicos que retratava um produzisse uma “análise minuciosa” possível sobre uma matéria que a desempenho é, como diz António
cenário de horrores num lar onde do seu teor. Chegámos pois ao ponto própria sabia ser grave, ao ponto de Costa, “excepcional”, há coisas que
morreram 18 pessoas com covid-19, em que vemos a ministra corrigir o ter remetido cerca de um mês antes não se admitem a quem tem
seria de esperar que os jornais ou a que disse exactamente porque os um inquérito do ministério sobre o responsabilidades sobre a vida de
oposição encolhessem os ombros e custos políticos da “polémica lar de Reguengos para o Ministério populações fragilizadas. Dizer que
esquecessem essas declarações? O artiÆcial” começavam a pesar. E Público. Podemos acreditar que tudo não leu documentos aterradores e
primeiro-ministro acha que sim. vimos o empenho de António Costa não passou de uma gaffe, que a sensíveis sobre a área que tutela é
Acha que as críticas feitas à ministra em depreciar o incidente, a ministra foi ingénua, que pedir a sua uma dessas coisas.
do Trabalho e da Solidariedade são manifestar apoio a Ana Mendes demissão nesta hora crítica é
apenas “polémicas artiÆciais”, que Godinho e a enaltecer a sua obra no insensato ou que chegou a hora de manuel.carvalho@publico.pt
CARTAS AO DIRECTOR
Venda de drogas moralista e não tenho nada contra Morrer por morrer popular do meu querido pai. Esta
na via pública quem consome ou procura as morra o meu pai, pandemia mata sobretudo velhos,
drogas, mas acho absolutamente pessoas há muito retiradas da vida
Como apaixonado de Lisboa, indecente e uma péssima imagem
que é mais velho activa, do contacto social e na
adoro passear e desfrutar a pé da para a cidade de Lisboa que andem maioria dos casos ligadas ao
minha cidade, até por uma pessoas a traÆcar droga em plena Um dia, já não sei em que mundo pelo afecto de um número
questão de bem-estar. Sei também via pública desta forma, às vezes enquadramento, o meu pai saiu-se reduzido de familiares, eles
que Portugal tem uma das mais mesmo agressiva. Podem dizer que com esta. Que me deixou, jovem próprios absorvidos pela cizânia
avançadas (e elogiada é pequeno tráÆco de drogas, que adulto na altura, chocado. E foi dos dias. Estas mortes acontecem
internacionalmente) políticas de não é punível por lei, mas é tráÆco. preciso vir uma peste para no anonimato dos lares para
combate à droga e E como tal as autoridades têm de compreender na totalidade a idosos, no recesso das habitações
toxicodependência do mundo e actuar, porque se trata de uma crueza desta máxima. Constato um familiares, na indiferença das
por isso parece ultrajante que questão de segurança e liberdade. baixar generalizado da guarda à camas dos hospitais. Morrem
As cartas destinadas a esta secção passeando várias vezes, como Entre tantas outras questões que minha volta. O rapaz que me cobra pessoas que deixaram de ser
devem indicar o nome e a morada aconteceu hoje (infelizmente nos afectam actualmente e apesar o combustível já não usa luvas ou socialmente relevantes e, por isso,
do autor, bem como um número ainda com poucos turistas), pela da complexidade da situação em máscara. O meu mecânico, dois parece que a pandemia só existe na
telefónico de contacto. O PÚBLICO Baixa entre os Restauradores, Rua que vivemos, gostaria que Portugal, patrões e mais de vinte comunicação social e nas
reserva-se o direito de seleccionar e Augusta e o Terreiro do Paço, seja em geral, e Lisboa, em particular, empregados, nunca usaram. Idem preocupações de algumas pessoas
eventualmente reduzir os textos não abordado várias vezes de uma continuassem a ser um bom na drogaria onde compro os públicas. Mas é gente que tem
solicitados e não prestará forma acintosa e até intimidante exemplo de liberdade e tolerância, parafusos das minhas artesanias tanto gosto e vontade de viver
informação postal sobre eles. cara a cara por traÆcantes de mas também de segurança, no que caseiras. Alguns dos meus amigos como o meu Ælho de 20 anos.
droga e tudo feito nas barbas da diz respeito ao tráÆco de droga, começam a convidar-me para suas Nossos concidadãos com iguais
Polícia Municipal e da PSP, que até ainda por cima feito à vista de casas. Etc. Cansaço do direitos e que já cumpriram
tem uma esquadra, salvo erro, na todos e com a displicência de toda conÆnamento? Necessidade de integralmente muitos dos seus
Email: cartasdirector@publico.pt Rua da Conceição. a gente a fazer de conta que não vê. continuar ganhando a vida? Isto deveres.
Telefone: 210 111 000 Não sou propriamente um José Vieira Mendes, Lisboa para a regressar à sabedoria José Pombal, Canelas
Público • Quarta-feira, 19 de Agosto de 2020 • 5
ESCRITO NA PEDRA
A margem
Todos os erros humanos são fruto da impaciência.
Interrupção prematura de um processo ordenado, obstáculo das marés
artificial levantado em redor de uma realidade artificial
Franz Kafka (1883-1924), escritor
SEM COMENTÁRIOS GAZA
MOHAMMED SALEM/REUTERS
É
Miguel Esteves Cardoso
Ainda ontem
o tempo em que se fala de marés
estando com os pés dentro do
oceano — ou até os ombros.
As marés são coisas muitíssimo
bem combinadas. Ora vejamos.
Dêem-me só um segundo para
molhar a cabeça. Em cada 24
horas há duas marés-baixas e
duas marés-cheias. Durante o
Verão podemos tomar banho das
nove da manhã até às nove da noite.
Durante essas 12 horas há uma
maré-baixa e uma maré-cheia. Quem gosta
de tomar banho na maré-cheia (ou na
maré-baixa) tem todos os dias uma
oportunidade de o fazer. É muito bom
começar a tomar banho uns minutos antes
da maré-cheia e sentir o mar a encher até
parar, Æcar um tempinho parado e depois
virar e começar a vazar. As ondas que
empurravam mais começam a empurrar
um bocadinho menos — e a puxar um
bocadinho mais.
Mas a melhor altura para tomar banho é
quando está meia-praia, a três horas da
maré-cheia e a três horas da maré-baixa. E
todos os dias nas 12 horas em que está dia
há duas meias-praias. Ora duas meias-praias
— uma a encher e outra a vazar, cada uma
com encantos próprios — é muita areia para
qualquer camioneta.
Mais bonito ainda é o facto de as marés se
atrasarem 40 e tal minutos todos os dias. Se
EM PUBLICO.PT está meia-praia às 14 horas num dia, no dia
seguinte estará a um-quarto para as três.
É como se a praia esperasse por nós,
TikTok cria site a desmentir A Ladra de Fruta, do Prémio Sharon Stone pede aos compensando os nossos atrasos. Ou, para
Presidente dos EUA. E Trump Nobel da Literatura Peter americanos que “não votem quem gosta de ir à praia todos os dias à
cria conta em site rival Handke num assassino” mesma hora, é como se o mar Æcasse
sempre diferente para não ser sempre a
A TikTok tem de encontrar compradora Leia o primeiro capítulo do romance Actriz partilhou no Instagram como a mesma coisa. A maré está sempre um
norte-americana até Novembro — a Oracle publicado em 2017, dois anos antes do covid-19 está a afectar a sua família e apela bocadinho mais cheia ou mais vazia do que
juntou-se à corrida publico.pt/tecnologia Nobel publico.pt/culturaipsilon ao voto nos democratas publico.pt/impar na véspera. É quase um truque barato.
6 • Público • Quarta-feira, 19 de Agosto de 2020
ESPAÇO PÚBLICO
N
políticos tenham o seu bem estirpe benigna) no caldo cultural e social em
como princípio norteador germinação para o pós-pandemia, cujo
sentido ainda ninguém prevê.
ão perpassa pela química Custa perceber como a ministra da Cultura
cerebral de ninguém não respondeu na linha de “trabalhamos
responsabilizar o Governo pelas todos os dias para aliviar as situações
mortes dos doentes com covid ou gritantes, mas hoje estamos a promover o
pela crise económica que nos trabalho de outros artistas, também afetados
engolirá. A pandemia não é um pela pandemia”. E a ministra da Segurança
falhanço governativo (ao Social não tenha dito “claro que é grave o que
contrário das nossas crises ocorreu em Reguengos, não se pode aceitar
anteriores). que idosos sejam assim negligenciados, foi
Nem sequer a inexistência de um falhanço do Estado perante os mais
turistas (atualmente a maior talhada na vulneráveis, há versões discordantes do que
economia) se pode pôr nos ombros do se passou, iremos averiguar”.
ministro dos Negócios Estrangeiros ou de um Sobretudo porque do primeiro-ministro se
falhanço por estarmos nas listas negras da nota parecido. António Costa preferia uma
covid. Na verdade, são os escorregadios solução para a covid à sueca, pese embora o
turistas que evitam viajar fora da bolha muito maior número de mortos. (E de
protetora dos seus automóveis, seja o MNE sequelas pós-covid. E de nos trucidar ainda
bem sucedido ou mal. Temos de sobreviver mais o turismo.) A opinião pública e o
com os turistas peninsulares. Nas minhas Presidente da República empurraram-no
semanas de férias pelo Norte vi bem esta para fechar a economia. Numa reviravolta
realidade. No Douro, cheio de nacionais, por curiosa (mas não inesperada: os
vezes não se conseguia marcar mesa para recém-convertidos são sempre mais
jantar. No Minho, portugueses e espanhóis Çuorescente as passagens imprescindíveis — que o Ministério Público estava a investigar. ardentes), o socialista antiausteridade
mantinham hotéis e restaurantes com para que a ministra possa dizer, com Em duas, opinou que se deve aguardar pela viciou-se nos bons resultados económicos e
ocupação respeitável. No Porto, os verdade, que o leu. Porque, repito, conclusão da investigação. Depois da — paixão assolapada — nas contas públicas
restaurantes onde vão os portuenses morreram pessoas. Dezoito. entrevista, reiterou a sugestão. Quão com rédea curta.
continuavam cheios. Já os que dependem Sintomaticamente, conveniente. Sucede que vivemos tempos com eleitores
dos turistas além Pirenéus estavam tanto a diretora-geral Seria de esperar que no ano da graça de procurando nos políticos duas coisas. Alínea
penosamente vazios. da Saúde como o 2020 os políticos percebessem que a a, identiÆcação. Alínea b, que se preocupem
E no entanto. Nota-se em demasia, no secretário de Estado avaliação política (e técnica) do que gira na com os eleitores. Em boa verdade, a palavra
Governo, descanso por poder culpar tudo no da Saúde correram, órbitra do Estado não se esgota nem se reduz certa não é “preocupem”. Mais a tradução
vírus. Pior: percebe-se uma indiferença A propósito das em conferência de à existência ou não de crimes. Pode não ter do inglês “care”. Está ali entre o gostar e o
perturbante perante as mortes e a pobreza imprensa, a garantir existido crime nenhum em Reguengos. De cuidar dos eleitores.
gerada pela pandemia. Há uma inquietante mortes dos que leram o dito resto, havendo, convenientemente para a A competência fria, mecânica e
postura de frieza e calculismo com as idosos no lar de relatório sobre o lar resposta cínica da ministra, só saberemos burocrática não é suÆciente para agradar. As
realidades com que as pessoas vivem — e
morrem.
Reguengos, a de Reguengos. A
ministra Marta
dentro de anos. Porém, esperar-se-ia que a
ministra percebesse com Çuidez que a
pessoas exigem, genuinamente, que os
políticos tenham o seu bem como princípio
O último exemplo foram as palavras da ministra Temido exigiu investigação criminal não é necessária para norteador. Escalpelizando os tribalismos
ministra da Segurança Social, Ana Mendes
Godinho, na entrevista ao Expresso. A
parecia explicações à ARS,
que também
concluir que algo correu profundamente mal
em Reguengos.
políticos, vemos que perdoam
incompetências, erros, até corrupção —
propósito das condições arrepiantes das comentar o produziu relatório. Mas Ana Mendes Godinho não está desde que os políticos as convençam que
mortes dos idosos no lar de Reguengos de extravio de Mas nem só da não sozinha. A ministra da Cultura Graça lutam por elas.
Monsaraz. Morreram pessoas; ocorreu falta leitura de relatórios Fonseca também teve a sua já famosa e Pois bem, as mensagens “não há problema
de cuidados atempados para prevenir alguma vivem os pecados da infame tirada de responder com o convite se morrerem mais uns milhares desde que o
contágios; os não infetados foram papelada ministra. Ana para o drink de Æm de tarde a uma pergunta déÆce não descambe”, “não interessa que
negligenciados de forma grave. Mas a
ministra parecia comentar, no máximo, o
urgente do Mendes Godinho
entendeu — outra
sobre ajudas alimentares aos trabalhadores
do setor audiovisual. Mais uma ministra
uns tantos não tenham comida, vamos lá ao
nosso drink glamouroso” e “morreram
extravio de alguma papelada urgente do ministério vez: o assunto desvalorizando a pobreza que caiu que nem velhotes mas não tem importância porque
ministério. envolve mortes — um piano em cima de toda uma classe de não há crime” não são de índole a aquecer o
A aÆrmação de não ter lido o relatório da reduzir uma possível trabalhadores das atividades culturais: Æcou coração dos eleitores nem convencê-los que
Ordem dos Médicos é assassina. Claro que má conduta à — não é recurso estilístico — sem dinheiro o Governo “cares”. Teme-se que mais umas
ninguém espera que a ministra leve o eventualidade de para o supermercado. semanas e tenhamos algum ministro
relatório para a cama como leitura antes de existirem crimes. Por Certo: as respostas aos jornalistas das duas dando-nos ralhetes para não sermos piegas.
dormir. Mas deseja-se que dê aos assessores três vezes na ministras são falta de habilidade política e
e estes lhe assinalem com marcador entrevista referiu cansaço. Mas são mais. Revelam uma frieza, Economista. Escreve à quarta-feira
Público • Quarta-feira, 19 de Agosto de 2020 • 7
ESPAÇO PÚBLICO
A
Assembleia da República, sempre que a democracia Analytica. É hora de nos opormos ao aumento
O
e também, lamentavelmente, Mais uma tentativa de empobrecimento recua avança a barbárie? de um sentimento generalizado de impotência
de irrelevância da vida democrática. democrática, entre nós irresponsavelmente
Tudo com o acordo e participação do morte de George Floyd, ajudado pelas últimas decisões políticas.
aperfeiçoamento dos sistemas maior partido da oposição. Não parece mas estrangulado em público por um A nossa incapacidade para analisar os riscos
democráticos é um processo é verdade, o que só pode ser explicado à luz polícia, indignou o mundo. Há um a que estamos expostos e a informação que
complexo e longo, envolvendo de uma fraqueza (estrutural) do atual par de anos, no auge de uma temos à luz dos ensinamentos da história
os atores políticos e a cidadania, presidente do PSD e da sua direção, e da sua discussão política, um homem contemporânea é alimentada pela tendência
com as suas insubstituíveis fraca prestação, evidenciando a ausência de jovem, prosélito de Bolsonaro, para valorizar o que está facilmente
funções. Implica liberdade, Æscalização ao Governo, Æscalização essa matou pelas costas, com 12 disponível. Num rumo que devemos
responsabilidade e que naturalmente lhe incumbiria. facadas cobardes, um homem combater, quantas vezes teremos de ver os
solidariedade, bem como o Não há dúvidas de que quem exerce o velho, apoiante de Lula e do PT. desmandos antidemocráticos, xenófobos e
funcionamento exemplar das poder não só tem maioria parlamentar — Alcindo Monteiro e Bruno Candé homofóbicos, que se vão multiplicando pela
instituições. Os atributos de numa coligação morreram na rua às mãos de fanáticos, porque Europa, para nos darmos conta de que eles
uma verdadeira cidadania. contranatura que o não eram brancos. Por email, um grupo estão a chegar à nossa sociedade? Aos
Assim sendo, o progressivo afastamento suporta — como nacionalista, a Nova Ordem de Avis — portugueses pobres, aos portugueses que
entre responsáveis políticos e cidadania, a passou a ter a Resistência Nacional, ameaçou três deputadas integram as diversas minorias étnicas da nossa
corruptela da liberdade, responsabilidade e cumplicidade, para e sete outros cidadãos, a quem deram 48 horas sociedade, para além de uma economia que
solidariedade ou a sua perversão não dizer a para deixarem o país. Recorde-se que a “Nova valorize o trabalho e
institucional, só nos podem conduzir a
processos de falência sistémica das
O mais estranho subserviência do
maior partido da
Ordem” foi um conceito político que fez escola
durante o III Reich, proclamando a
promova o bem-estar
colectivo, que não
democracias, com entorses que, de forma é como é que o oposição em superioridade da raça ariana e o extermínio apenas o
mais ou menos clara, as vão debilitando e maior partido questões tão dos judeus, dos homossexuais, dos negros, enriquecimento
por Æm matando. As referidas perversões
podem ser intencionais ou terem na sua da oposição essenciais para a
democracia.
dos ciganos e dos deÆcientes. Nestes actos
temos todo um programa de futuro, se nada
É urgente desmesurado do
capital, falta uma
origem uma diminuição da capacidade sem cede agora à O PSD for feito. Paulatinamente, as maiores combater os justiça igual para
assunção da mesma.
Tudo isto só pode potenciar o crescimento
tentação da parlamentarmente
entrou em estado de
atrocidades banalizam-se e na sociedade
consumista em que vivemos tornam-se
argumentos todos, que sirva todas
as culturas mas não
dos populismos — de esquerda e de direita — chamada da negação e também, insuÆcientes as reacções dos que lutam por socialmente tolere um só
e dos extremismos ideológicos para quem os aranha: vem, lamentavelmente, um viver mais solidário e mais justo. De modo tenebrosos da comportamento que
sentimentos primários são elemento de irrelevância. PS e falsamente complacente, assistimos a uma ponha em perigo a
essencial, quais sanguessugas deleitadas diz a aranha à PSD tornaram-se prática política, judicial e policial que permite extrema-direita coexistência pacíÆca
com uma generalizada insatisfação social, mosca. E a assim viveiros de a criação e funcionamento de organizações criminosa entre cidadãos, a
económica e política. fenómenos políticos que professam e proclamam ideologias democracia e a
Num contexto como o que vai descrito, mosca tem ido. extremistas, o fascistas e nazis, coisa que o Artigo 46.º, n.º 4, Constituição, falta
quem exerce o poder e quem exerce a O resto sabe-se primeiro mais por da Constituição, claramente proíbe. uma organização
oposição deveria ter um papel indeclinável
na defesa do bem comum. Mas não é o que
como acaba acção e o segundo
mais por omissão.
É nisto que estamos, quatro décadas e meia
depois de nos termos livrado de 48 anos do
social e política liberta
das clientelas
está a suceder entre nós: não raro o poder Tudo somado, os fascismo beato de Salazar? Quatro décadas e partidárias e falta uma
demite-se em matérias essenciais, com o Æto extremismos fazem meia depois de Abril, o que falta fazer para escola exigente, que
da sua própria conservação ou irrompe em o seu caminho à recordar à consciência cívica da sociedade que anule as diferenças e não as agrave.
terrenos que lhe são alheios e a oposição esquerda e à direita sempre que a democracia recua avança a A facilidade com que a democracia tolera o
demite-se, em função da sua fraqueza e, como extremismo barbárie? O que há de comum entre estas uso de estereótipos e preconceitos racistas
ostensiva, ferindo os pilares democráticos e gera extremismo, as manifestações do que de mais negro para estigmatizar e catalogar comunidades
abrindo caminho a espaços de totalitarismo pulsões racistas, caracteriza a natureza humana, senão a inteiras talvez seja o corolário da sua, até hoje,
e a intolerância. religiosas e culturais emergem. desumanização de uma sociedade que incapacidade para remover as desigualdades
São os casos paradigmáticos do Partido O mais estranho é como é que um partido retrocede mesmo naquilo que dávamos por estruturais e crónicas da nossa sociedade, que
Socialista e do Partido Social Democrata, de centro, o maior partido da oposição, um adquirido e onde muitos chegam a negar o favorece uns e discrimina outros. É redutor
supostamente o maior partido da oposição. grande partido estruturante da nossa próprio holocausto? No mundo, passámos o reduzir o problema à dicotomia clássica
Ora, às oposições exige-se-lhes que democracia, um partido que imprimiu último século a constituir depósitos de armas esquerda versus direita. Mas é urgente remover
Æscalizem o poder, não que abdiquem dessa durante muitos anos, no governo, um rumo sofisticadas e a engendrarmos estratégias a extrema-direita criminosa da equação e
Æscalização. Mas foi precisamente o que o de desenvolvimento ao nosso país, cede fratricidas, que enriquecem poucos e combater os seus argumentos
atual presidente do PSD tem vindo a fazer: agora à tentação da chamada da aranha: desgraçam muitos. No mesmo oceano onde intelectualmente primários e socialmente
abdicou de Æscalizar, como lhe competia. vem, diz a aranha à mosca. E a mosca tem uns se banham em férias, morrem outros que tenebrosos, remetendo-a ao bordel, que é, de
As recentes alterações ao regimento da ido. O resto sabe-se como acaba. fogem da guerra e procuram trabalho e pão descrença na humanidade.
Assembleia da República e as recentes para que os filhos sobrevivam.
alterações legislativas referentes aos debates Advogada. Escreve quinzenalmente As condições para que os movimentos Professor do ensino superior.
parlamentares, viabilizadas pelo PSD, à quarta-feira populistas fortifiquem cresceram. A decantada Escreve quinzenalmente à quarta-feira
8 • Público • Quarta-feira, 19 de Agosto de 2020
POLÍTICA
Ângelo Pereira vê Isaltino Morais
como candidato “viável” do PSD
A proposta terá de ser feita pela concelhia do PSD de Oeiras e aceite pela comissão política nacional,
mas o líder da distrital de Lisboa considera que Isaltino Morais “pode ser um grande candidato”
MÁRIO CRUZ/LUSA
Autárquicas 2021
São José Almeida
O presidente da distrital de Lisboa
do PSD, Ângelo Pereira, aÆrmou ao
PÚBLICO que considera Isaltino
Morais como um candidato “viável”
para receber o apoio do PSD nas
autárquicas de 2021. “Não sei se vai
acontecer ou não, tem de haver con-
cordância da direcção nacional e tem
de ser a concelhia a indicar, mas é
um nome que acho viável” e “pode
ser um grande candidato”, aÆrmou
Ângelo Pereira.
“Isaltino Morais foi um grande
autarca do PSD, um autarca mode-
lo”, em Oeiras, e “continua, como
independente, a ser um grande
autarca”, sublinha o líder da distrital
de Lisboa, que foi candidato à autar-
quia oeirense pelo PSD, em 2017. O
social-democrata não deixa de frisar
que Isaltino Morais cumpriu a sua
pena de dois anos de prisão, em 2013
e 2014, por crimes de fraude Æscal
qualiÆcada e branqueamento de
capitais, citando o líder do partido:
“Como Rui Rio disse, já cumpriu a
pena e é um homem livre.”
Questionado, na RTP3, a 29 de
Julho, sobre se era possível o PSD vir
a apoiar a recandidatura de Isaltino,
Rio aÆrmou: “Em Portugal, penso
que não há prisão perpétua, foi con-
denado, cumpriu a pena, saiu, tem Isaltino Morais venceu as autárquicas de 2017 depois de cumprir parte da pena de prisão efectiva e voltou a ser eleito em Oeiras
direito à vida. Não estou a dizer com
isto que vem para o PSD.” O líder do sado de fraude Æscal e branquea- está fechada, mas não acho inviável, como excepção os candidatos a pre-
PSD lembrou que, actualmente, Isal- mento de capitais, julgado, conde- é uma solução, se houver concordân- sidente de câmara das capitais de
tino Morais “é independente”. nado e cumpriu pena de prisão efec- cia da concelhia e da direcção.” distrito, nomeadamente em Lisboa
Hoje com 70 anos, Isaltino Morais tiva e depois de libertado voltou a Explicando o processo de selec- e Porto”. Nestes casos, “a escolha
presidiu, em nome do PSD, à Câma- candidatar-se como independente ção de candidatos Æxado por deli- destes candidatos, embora em diá-
ra de Oeiras entre 1985 e 2002, quan- Não sei se vai em 2017, vencendo de novo. beração da comissão política, em 15 logo com as estruturas locais, será da
do integrou o Governo de Durão Ângelo Pereira considera que de Junho, Ângelo Pereira diz que exclusiva responsabilidade da comis-
Barroso como ministro das Cidades,
acontecer ou não, “nesta fase é prematuro” dar como “entre Setembro e Dezembro” é o são política nacional do PSD”.
Ordenamento do Território e mas é um nome adquirid
adquirido que o PSD vai ou não vai período de “discussão interna” para O regulamento prevê ainda que
Ambiente. Em 2003, demitiu-se na apoiar uma
u recandidatura do seu ex- as “concelhias se reunirem e decidi- “os presidentes de câmara municipal
sequência de uma notícia de O Inde-
que acho militante e dirigente. “Temos de
militant rem quem indicam”. Esses nomes que possam e queiram recandidatar-
pendente, de acordo com a qual tinha de
viável. Pode cumprir as regras estabelecidas pela são enviados para as respectivas se, serão recandidatos”. E estabele-
contas na Suíça não declaradas ao direcção nacional”, defende o líder distritais, que “aprovam e enviam ce: “Exceptuam-se situações excep-
Tribunal Constitucional.
ser um do PSD/Lisboa,
PSD/ sublinhando que para a direcção nacional”. Entre cionais, designadamente casos con-
Em 2005, perante a decisão da grande “Ru
Rui Rio disse que não queria discu-
Ru
“Rui Janeiro e Março, as candidaturas são cretos em que estejam em causa
direcção do PSD liderado por Mar- tir candidaturas na praça aprovadas pela comissão política situações judiciais ou de natureza
ques Mendes de não o apoiar por ser
candidato pública”. nacional. político-partidária local, cuja decisão
arguido, Isaltino Morais saiu do par- Ângelo Pereira Ainda assim, Ângelo Na deliberação da comissão polí- Ænal será da comissão política nacio-
tido e candidatou-se como indepen- Líder do Pereira defende: “Vejo [o tica sobre a estratégia autárquica, a nal, analisando caso a caso.”
dente, continuando à frente da PSD/Lisboa apoio a Isaltino Morais] que o PÚBLICO teve acesso, lê-se,
câmara até 2012. Entretanto foi acu- como uma solução que não porém, que “este princípio tem sao.jose.almeida@publico.pt
Público • Quarta-feira, 19 de Agosto de 2020 • 9
POLÍTICA
+9,90€
QUINTA, 20 AGO
COM O PÚBLICO
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volume da colecção “Operação Overlord”, que celebra o 76.º aniversário do Desembarque na
Normandia. Neste livro entre no Berghof, o chalé de Hitler nos Alpes da Baviera, em plena
madrugada do desembarque, que apanhou o Führer e os altos dignitários alemães de surpresa.
Saiba tudo sobre esta heróica operação militar que pôs fim à II Guerra Mundial na colecção
completa de 6 volumes, disponível em loja.publico.pt.
Colecção de 6 livros inéditos em português. PVP unitário 9,90€. Preço total da colecção 59,40€. Periodicidade semanal à Quinta-feira,
entre 16 de Julho e 20 de Agosto. Stock limitado.
Público • Quarta-feira, 19 de Agosto de 2020 • 11
POLÍTICA
Breves
Plano Carta aberta
PSD quer melhorar Camisolas As ofertas declaradas pelos deputados Escritores contra o
eficiência energética racismo, a xenofobia
DANIEL ROCHA
Sondagem Afeganistão
Marcelo mais longe Militares entregam
dos 70% e Ventura 200 kits de colheita
em segundo lugar para testes
Marcelo Rebelo de Sousa caiu Os militares do Exército
nas intenções de voto da Português, integrados na missão
sondagem da Intercampus da NATO “Resolute Support”, no
deste mês sobre as Afeganistão, entregaram 200
presidenciais feita para o Jornal kits de colheita para testes à
de Negócios e Correio da covid-19 no hospital da base
Manhã. O actual Presidente da militar do Aeroporto
República, que em Julho tinha Internacional Hamid Karzai, em
70,8% das intenções de voto, Cabul. Nesta fase estão
desceu quase três pontos e Desde o início da actual sessão que, por terem sido avaliadas em A contabilidade foi apresentada presentes cerca de 52 nações,
fixou-se nos 67,7%. O candidato legislativa, foram registadas pela menos de 150 euros (valor-limite ontem pelo Diário de Notícias, perfazendo um total de 4000
e deputado único do Chega, secretaria-geral da Assembleia para aceitar presentes sem os que concluiu não ter havido pessoas, entre militares e civis.
André Ventura, passou de 5% da República apenas duas ofertas declarar), foram devolvidas aos registo de qualquer viagem Os kits foram doados pela força
para 10,1% (segundo lugar). aos deputados: duas camisolas parlamentares. oferecida. militar portuguesa.
12 • Público • Quarta-feira, 19 de Agosto de 2020
SOCIEDADE
Responsável de saúde pública está
no ‘grupo de risco’ e não visitou lar
Médico de 70 anos foi contratado por
quatro meses. “Os recursos na área da
saúde pública são muito escassos”,
justiÄca o presidente da Administração
Regional de Saúde do Alentejo
José Robalo frisou, porém, que a
Covid-19 autoridade de saúde pública local
Alexandra Campos não depende da ARS, mas sim da
Direcção-Geral da Saúde (DGS). O
O surto de covid-19 no lar de Reguen- delegado de saúde coordenador é o
gos de Monsaraz, que provocou a primeiro nível da saúde pública a
morte de 18 pessoas, espelha a gritan- actuar neste tipo de situações.
te falta de recursos humanos adequa- Depois, há ainda um responsável a
dos para lidar com uma situação nível regional. Ambos são os “bra-
desta gravidade. Um exemplo para- ços” no terreno da autoridade de
digmático: o médico que é a autorida- saúde pública nacional, dirigida por
de de saúde pública local, um clínico Graça Freitas. O PÚBLICO tentou
de 70 anos que foi contratado por obter uma reacção da DGS e do
quatro meses no âmbito das medidas médico, sem sucesso.
extraordinárias de combate à pande- O relatório da auditoria da OM, que
mia decretadas pelo Governo, não não é o único (há ainda pelo menos
terá visitado o lar de idosos por per- mais três documentos com versões
tencer a “grupo de risco” devido à sua diferentes do que sucedeu no lar),
idade avançada, revela o relatório da inclui uma cronologia que revela atra-
auditoria que a Ordem dos Médicos sos, descoordenação e, em última
(OM) realizou na instituição. análise, alegada negligência, uma vez
O médico terá resolvido “delegar” que alguns dos idosos foram encon-
esta função numa enfermeira espe- trados pelos médicos de família des-
cialista em controlo de infecção que tacados para lhes dar apoio nos pri-
apenas terá visitado o lar em 23 de meiros dias “desidratados” e “desnu-
Junho, uma semana depois de conhe- tridos”. Vários estariam há alguns
cido o primeiro caso de covid-19 no dias sem tomar a medicação habitual
edifício onde residiam 84 idosos. Foi para as suas doenças crónicas, por-
também nesse dia que uma equipa da que muitos funcionários Æcaram
Segurança Social visitou o lar, de acor- infectados e em quarentena. Estes
do com o relatório da OM. médicos garantem ter avisado as enti- sem” os doentes no lar. De resto, frisa, mos quartos e partilhado corredores
Como é que um médico de 70 anos dades competentes, nomeadamente a ARS do Alentejo apenas tem funções e casas de banho.
pode desempenhar as funções de a ARS do Alentejo, da falta de condi- administrativas, como as de garantir Quatro dias depois, os médicos do
autoridade de saúde pública durante ções para poderem prestar os cuida- que o número de proÆssionais de saú- centro de saúde de Reguengos de
uma pandemia de covid-19, doença dos adequados aos idosos, até por- de é adequado e fornecer equipa- Monsaraz destacados para fazer a
que se sabe ser mais letal à medida que não haveria no lar fármacos para Não passa de todo mentos e materiais. E assegura que avaliação inicial dos idosos infectados
que a idade avança? Foi o médico, que situações de emergência, nem equi- foram disponibilizados todos os mate- reportaram à direcção do ACES e à
já era o delegado de saúde coordena- pamentos de protecção individual em
pela minha cabeça riais solicitados. “Nenhum proÆssio- autoridade de saúde pública, através
dor no Agrupamentos dos Centros de número suÆciente. que as pessoas nal de saúde Æcou infectado”, diz. de email, as “péssimas” condições do
Saúde (ACES) do Alentejo Central, que José Robalo explica que respondeu, Voltando à cronologia do relatório lar. Dois dias mais tarde, uma equipa
se disponibilizou para permanecer no a pedido do Ministério da Saúde, às
estavam a actuar da OM, esta revela atrasos inexplicá- da Segurança Social visita o equipa-
Serviço Nacional de Saúde “mesmo críticas feitas pela OM numa “pronún- de má-fé veis em várias etapas do processo. O mento. E ainda terão sido necessários
depois de ter completado 70 anos, o cia”, um documento cuja divulgação primeiro caso foi diagnosticado a 17 três dias para se estabelecerem os
que aconteceu justamente quando a remeteu para a tutela. “O ministério Filipa Lança de Junho: uma funcionária do lar circuitos dos doentes infectados, que
pandemia de covid-19 “eclodiu em não vai revelar documentos que ain- Ordem dos Médicos com 40 anos que acabou por morrer. foram alojados no primeiro andar,
Portugal”, adiantou ao PÚBLICO o da estão em análise”, respondeu o O delegado de saúde articulou no dia tendo o rés-do-chão Æcado como zona
presidente da Administração Regional gabinete da ministra Marta Temido. seguinte com o director do ACES o “limpa”.
de Saúde (ARS) do Alentejo, José Roba- Já depois de ter sido acusado de rastreio dos funcionários e dos uten- Finalmente, só a 2 de Julho é que o
lo. “Continuou no activo e foi contra- ameaçar com processos disciplinares tes do lar, mas o rastreio prolongou- Plano Municipal de Emergência em
tado [pela ARS] por quatro meses, os médicos de família — supostamen- se por três dias. Entretanto, segundo Reguengos de Monsaraz foi activado
como está previsto nas medidas de te por estes terem denunciado a falta a OM, alguns doentes que ainda não e o presidente da câmara anunciou
combate à pandemia, porque os nos- de condições — , o presidente da ARS constavam da lista de infectados que os utentes infectados iam ser
sos recursos na área de saúde pública retorquiu que o fez, sim, mas apenas terão permanecido “misturados” transferidos para um pavilhão, o que
são muito escassos”, justiÆcou. para evitar que estes “abandonas- com “doentes positivos” nos mes- se concretizou no dia seguinte.
Público • Quarta-feira, 19 de Agosto de 2020 • 13
Situação em Portugal
Em 18 de Agosto às 14h30
Casos
confirmados 54.448
Novos casos diários
Novos
casos 214
1784 39.936
1000
500
Mortes Recuperados 0
Fonte: DGS 2 Mar. Abr. Mai. Jun. Jul. Ago.
NUNO VEIGA/LUSA
SOCIEDADE
SOCIEDADE
MARKO DJURICA/REUTERS
LOCAL
Pescadores de traineira com um
caso de covid não saem para o mar
Associação Pró-Maior Segurança dos
Homens do Mar e armador defendiam
que a tripulação devia ser autorizada a
regressar à pesca mas os 19 homens
acabaram a cumprir a quarentena
que “os contactos de alto risco de
Vila do Conde exposição devem manter o isola-
Patrícia Carvalho mento proÆláctico até ao 14.º dia,
após a data da última exposição de
Os testes à covid-19 realizados a 19 risco, mesmo com resultado de teste
pescadores de uma traineira de Vila laboratorial negativo durante o
do Conde, depois de um companhei- período de isolamento”. A violação
ro ter sido infectado pela doença, do conÆnamento obrigatório, acres-
deram resultados negativos, mas a centa-se, “pode conÆgurar crime de
tripulação do Virgílio Miguel acabou desobediência”. A ARSN indicava
por Æcar em terra, para cumprir a que ia continuar a acompanhar “a
quarentena obrigatória de 14 dias. evolução da situação”.
Ontem o presidente da Associação Em Vila do Conde há uma outra
Pró-Maior Segurança dos Homens do embarcação, a José Dinis, parada há
Mar, José Festas, defendia que o bar- cerca de duas semanas, depois de
co devia poder sair para o mar já esta oito dos seus tripulantes terem resul-
noite, mas quer o armador quer este tados positivos no teste à covid-19.
dirigente acabaram por acatar a Desde então que estão de quarente-
ordem das autoridades, depois de na. Mas este caso é diferente do que
um contacto da Administracção está a opor as autoridades de Saúde
Regional de Saúde do Norte. aos pescadores, insiste José Festas.
Durante o dia de segunda-feira, “O outro barco ainda está parado,
foram realizados 31 testes à covid-19 porque foi a tripulação toda que foi
na associação dirigida por José Fes- infectada. Aqui não. Temos um caso,
tas. Entre estes pescadores estavam uma embarcação desinfectada, que
19 membros de uma embarcação da esteve parada de domingo para
pesca da sardinha, depois de se ter segunda-feira e de segunda-feira
sabido nesse mesmo dia que um para hoje, mas agora não se justiÆca.
vigésimo elemento da companha A nossa opinião é que o barco deve RENATO CRUZ SANTOS
estava infectado com o novo corona- sair, embora a última decisão seja do rio, conÆrma isso mesmo. “Tivemos
vírus. Os restantes eram outros ele- mestre”, insistia. um enorme período sem qualquer
mentos da comunidade piscatória, Também Manuel Marques, arma- caso. Mais recentemente, houve um
alguns dos quais tinham estado nos dor e dirigente da Associação de caso numa embarcação polivalente
estaleiros de Vila do Conde, onde, Armadores de Pesca do Norte, defen- na área de Peniche, mas que foi
segundo José Festas, há outros dois dia que o barco em que há apenas resolvido após um período de qua-
casos de infecção. “Os 31 testes um caso de infecção devia poder sair rentena”, diz.
deram negativo”, disse ao PÚBLICO para o mar. “Não tem lógica o barco
José Festas, acrescentando: “Agora Æcar parado quando 99% da tripula- Associação fez 550 testes
o barco tem de ir para o mar, à noite. ção deu negativo. O homem pode ter O dirigente, que é também o coorde-
Já estou a falar com o secretário de sido infectado em terra, em casa, nador regional do Governo para o
Estado Eduardo Pinheiro, porque a tudo menos no barco. Além disso, Algarve nas questões relacionadas
Saúde não pode mandar nisto.” não há refeições a bordo, não há com a covid-19, recusa-se a comentar
Ao PÚBLICO, fonte da secretaria refeitório nem nenhum sítio onde se o caso concreto que se vive em Vila
de Estado garante que Eduardo troquem objectos, cada um usa o seu do Conde, por estar nas mãos de
Pinheiro, responsável pelo acompa- fato, botas e luvas e trabalha-se nor- Eduardo Pinheiro, aÆrmando ape-
nhamento da covid-19 na região não malmente ao ar livre. Espero que [as nas, e em termos gerais, que “as
ia comentar a situação, mas, numa autoridades de Saúde] mudem de regras são Æxadas pelas autoridades
nota de imprensa, a Administração ideias, porque não tem lógica o bar- de saúde”. Sobre o facto de não
Regional de Saúde do Norte (ARSN) co Æcar parado quando todos os terem existido mais casos relaciona-
conÆrmou a intenção de que os pes- outros pescadores tiveram testes José Festas considera que dades piscatórias do país consegui- dos com embarcações de pesca,
cadores desta embarcação cumpram negativos”, diz. estando o barco desinfectado ram passar relativamente incólumes realça o esforço feito nesse sentido.
o período de quarentena de 14 dias, Depois dos receios iniciais com as e a tripulação com um teste pelo período, até agora, mais difícil “Fizemos testes no início da campa-
lembrando que as normas em vigor consequências da pandemia na acti- negativo deveriam poder ir para da doença. Ao PÚBLICO, o secretário nha, acções de informação e sensibi-
da Direcção-Geral da Saúde indicam vidade piscatória, as várias comuni- o mar, o que a lei não permite de Estado das Pescas, José Apoliná- lização, foi distribuído equipamento
Público • Quarta-feira, 19 de Agosto de 2020 • 17
ECONOMIA
Legislação laboral alterada a cada
dois dias durante a pandemia
Resposta legislativa à pandemia na área laboral é uma teia
que já confundiu os próprios serviços do Estado. Entre leis,
decretos, despachos e resoluções, saíram 88 documentos em
cinco meses e meio deste ano, desde o início do surto no país
O advogado frisa, no entanto, que, em layoff poderia, mesmo assim, ser
Trabalho nalguns casos, houve erros que pode- obrigado a trabalhar “a título tempo-
Victor Ferreira riam ter sido evitados ou corrigidos rário” em “funções não compreendi-
e Pedro Crisóstomo mais cedo — refere-se, por exemplo,
à exclusão inicial dos microempresá-
das no contrato de trabalho”.
Além disso, limpou a referência às
Quando a Organização Mundial da rios dos apoios da covid-19 ou aos férias dos trabalhadores quando deÆ#
Saúde declarou a pandemia a 11 de “lapsos” nos apoios aos trabalhadores niu que o layoff seria prorrogável
Março, Portugal tinha iniciado a pro- independentes, onde “nem sempre mensalmente, “até um máximo de
dução legislativa da covid-19 nove dias existiu um alinhamento” da prática seis meses”.
antes, com um despacho das minis- com a lei. Porém, esta portaria já rectiÆcada
tras do Trabalho e da Modernização É disso que se queixam empresá- e modiÆcada só sobreviveria mais oito
Administrativa a ordenar aos empre- rios, trabalhadores, patrões, sindica- dias. Acabou revogada, a 26 de Mar-
gadores públicos a elaboração de um tos, partidos da oposição: nalguns ço, e substituída por um diploma que
plano de contingência. E, a partir aí, casos importantes, como o layoff sim- signiÆcou uma correcção à correcção.
o Çuxo legislativo não mais parou. pliÆcado, a resposta de emergência Mas este mesmo diploma seria corri-
Até 15 de Agosto (decorridos 168 confundiu as partes, exigiu correc- gido logo dois dias depois, porque o
dias) já foram publicados 88 docu- ções, clariÆcações, alterações e, em original não era claro sobre o despe-
mentos legais com impacto no mun- situações extremas, deu origem a dimento de trabalhadores. O decreto
do laboral, o que representa quase diplomas revogados em poucos dias. proibia despedimentos de “trabalha-
um documento novo a cada dois dias dores abrangidos” pelo layoff, mas
nestes cinco meses e meio. Corrigir a correcção não se referia aos outros. E, por isso,
Uma compilação da Direcção-Geral O melhor exemplo será a Portaria o Governo apressou-se a publicar
do Emprego e das Relações de Traba- 71-A/2020, de 15 de Março, assinada uma declaração de rectiÆcação,
lho (DGERT) permite ver todos os pela ministra do Trabalho, Ana Men- estendendo a proibição a todos,
decretos-leis, leis, resoluções do Con- des Godinho, que criou apoios como enquanto durasse o layoff e nos dois
selho de Ministros, despachos, porta- o layoff. Um dia depois, a 16 de Mar- meses após o Æm do apoio.
rias, declarações de rectiÆcação, ço, surgiu uma primeira declaração
recomendações e decretos presiden- de rectiÆcação, para corrigir erros Acertar à terceira
ciais criados desde 2 de Março. Nal- de remissão para artigos da portaria As mudanças continuaram: entre
guns casos, são diplomas que visam — algo simples mas necessário para Abril e Junho, teria mais quatro ver-
especiÆcamente regras do mundo o texto fazer sentido; e logo dois dias sões diferentes, modiÆcadas por
laboral ou medidas Æscais que afec- depois surge uma nova portaria outros tantos decretos que alteravam
tam empresas e trabalhadores. Nou- para “alterar e clariÆcar algumas um ou mais pontos do diploma origi-
tros, como os decretos presidenciais situações”. nal. A alteração mais recente, de
do estado de emergência, são textos Depois de queixas dos patrões, o Junho, serviu para prolongar a medi-
mais genéricos de resposta à evolução executivo reduziu (de três meses para da por mais um mês, até 31 de Julho
da covid-19, mas que também afectam dois) o período de referência para — o que foi feito através de um decre-
as relações de trabalho. calcular as quebras de facturação. E to que, ele mesmo, teve uma altera-
Mas se estes são tempos de excep- ouvindo os sindicatos, eliminou a alí- ção. É que o mesmo diploma criava o
cionalidade na produção de leis, são nea que referia que um trabalhador complemento de estabilização, um Algumas medidas excepcionais por causa da pandemia foram publicadas
também de exigência para quem tem apoio de 100 a 351 euros para cada
de lidar com todas essas alterações. trabalhador que esteve um mês em tos legais em 168 dias são reveladores PÚBLICO ter noticiado essa prática
“Não têm sido tempos fáceis para layoff. Acontece que a prática assente da pressão a que o mundo laboral — que continua a ser contestada pela
quem faz direito do trabalho, pelo no texto inicial levou à exclusão de Æcou sujeito por causa da pandemia, CGTP, pelo jurista Fausto Leite e pela
momento de excepcionalidade”, diz trabalhadores cujo mês de layoff não o emaranhado de ligações cruzadas própria presidente do Sindicato dos
o advogado na área do direito laboral coincidisse com um mês civil comple- na produção legislativa ajuda a expli- Inspectores do Trabalho.
Pedro da Quitéria Faria, da sociedade Não têm sido to, algo que o executivo acabou por car a diÆculdade de interpretação e Entretanto, o decreto do layoff sim-
Antas da Cunha Ecija & Associados, corrigir (“clariÆcar”, nas palavras do informação que, por vezes, afecta os pliÆcado foi substituído porque, a 1
para quem a quantidade de legislação
tempos fáceis para Governo) no último Conselho de próprios serviços do Estado. de Agosto, entrou em vigor o apoio à
e informação procedimental produ- quem faz direito Ministros. O melhor exemplo é a Autoridade retoma progressiva, que tem um
zida deve ser encarada com uma para as Condições do Trabalho (ACT). decreto próprio, o 46-A/2020. E
“dose de tolerância” excepcional,
do trabalho, pelo Entendimentos contrários Inspectores disseram a trabalhadores embora este ainda não tenha sido
pois, vinca, “não havia nenhum legis- momento de DescodiÆcar todos estes textos é que era ilegal serem enviados para alterado, a DGERT e o ministério já se
lador que tivesse as ferramentas como abrir matrioscas: quando se férias durante o layoff, mas as direc- viram obrigados a prestar informa-
necessárias para, com eÆcácia e
excepcionalidade destapa um texto legal podem desco- ções da ACT e a DGERT tiveram um ções complementares para dissipar
sucesso, lidar com estes efeitos”. Pedro da Quitéria Faria, advogado brir-se ligações a outros. Se os 88 tex- entendimento diferente depois de o dúvidas sobre o regime aplicável da
Público • Quarta-feira, 19 de Agosto de 2020 • 19
6
Apoio extraordinário à redução
da actividade económica dos
trabalhadores independentes
já vai na sexta versão legislativa
desde Março
RICARDO LOPES
Além das modulações que foi situações de quebra da actividade, o
conhecendo ao longo dos meses, ao apoio é proporcional a essa redução,
seu lado surgiram mais três apoios com os limites já então deÆnidos.
complementares que, nalguns aspec- Quando chega o início de Maio, o
tos, são uma extensão desse primeiro, apoio passa a abranger os gerentes de
pois pretenderam cobrir as situações sociedades por quotas e é alargado o
em que os trabalhadores não podem universo de PME abrangidas. Julho
aceder àquela primeira prestação. chega com mais mudanças: desta vez,
Até agora, as quatro medidas cria- a lei passa a fazer referência a “geren-
das para os trabalhadores a recibos tes das micro e pequenas empresas”
verdes, desprotegidos, proÆssionais que “tenham ou não participação no
liberais e empresários em nome indi- capital da empresa” e aos empresá-
vidual já conheceram dez mudanças. rios em nome individual.
E quando se olha para cada uma das A quinta alteração surge em Agos-
versões encontram-se várias altera- to: o apoio deixa de se aplicar apenas
ções de pormenor que fazem toda a aos cidadãos abrangidos exclusiva-
diferença e que, nalguns casos, vie- mente pelo regime dos trabalhadores
ram alterar os requisitos de acesso e independentes (e os gerentes de
diÆcultar a compreensão. PME), para abarcar aqueles que pas-
Veja-se o que se passou com o apoio sem recibos em complemento do
à quebra da actividade dos trabalha- trabalho por conta de outrem “e não
dores abrangidos exclusivamente auÆram, neste regime, mais do que”
pelo regime dos trabalhadores inde- 438,81 euros, ou seja, o valor do Inde-
pendentes, o tal instrumento que está xante de Apoios Sociais em 2020.
agora na sexta versão em cinco meses Enquanto decidia estas modiÆca-
e meio. O Governo começou por criar ções, o Governo criava, em paralelo,
uma medida que afunilava a possibi- as tais três medidas complementares.
lidade de os trabalhadores indepen- No início de Maio, o executivo criou
dentes serem apoiados, ao ver que a “medida extraordinária de incenti-
aÆnal havia um universo signiÆcativo vo à actividade proÆssional” — e
de pessoas excluídas, e foi alargando embora tenha este nome, pretende
as possibilidades de entrada, ora alte- apoiar quem estivesse em quebra de
rando a primeira medida (cinco alte- actividade, dirigindo-a também para
rações), ora criando, ao lado dessa os trabalhadores independentes, mas
norma, três outras medidas de apoio para aqueles que não preenchessem
diferentes (na prática representaram as condições de acesso ao primeiro
mais três mudanças). E duas delas, apoio, porque tinham iniciado a acti-
por sua vez, também já sofreram alte- vidade há menos de 12 meses ou por-
rações (duas alterações). que, embora tenham começado há
Por exemplo, na primeira versão, mais de 12 meses, não têm descontos
de 13 de Março, o Governo entendeu suÆcientes. Medida esta que, entre-
que Æcariam abrangidos apenas os tanto, também sofreu uma alteração,
trabalhadores que tivessem cumprido em Agosto.
a obrigação contributiva “em pelo Naquela mesma altura de Maio, é
menos três meses consecutivos há posta em marcha uma outra medida,
pelo menos 12 meses”, deixando logo com o nome “enquadramento de
de fora muitos trabalhadores a reci- situações de desprotecção social”.
mesmo antes de ser decretado o estado de emergência a 18 de Março bos que trabalham de forma intermi- Desta vez, pretendeu abranger as pes-
tente (como acontece na cultura). soas que não se encontravam obriga-
TSU, sobre as condições de acesso e como está pensado hoje e que, adver- Logo nos primeiros dias de Abril, toriamente abrangidas por um regi-
sobre o cálculo dos salários e o apoio te, poderá levar muitas empresas a
Nalguns casos fez uma primeira correcção: mudou me de Segurança Social. Também
ao pagamento dos subsídios de decidirem não entrar nesta nova importantes, a redacção da norma, passando a sofreu uma alteração, estando agora
Natal.
No caso do layoff simpliÆcado, o
medida e a avançarem com despedi-
mentos.
como o layoæ incluir quem tivesse descontado para
a Segurança Social “em pelo menos
na segunda versão.
Um terceiro apoio, que ainda está
advogado Pedro Quitéria de Faria simpliÄcado, três meses seguidos ou seis meses a ser operacionalizado, chama-se
considera que teria sido mais vanta- O caso dos recibos verdes interpolados há pelo menos 12 “apoio extraordinário a trabalhado-
joso estender ou recriar a medida Há outros exemplos desta teia com-
a resposta meses”. Na mesma altura surge outra res” e destina-se a cobrir quem não
inicial, em vez de criar a nova medida plexa de diplomas. Um caso singular de emergência alteração de monta: em vez de incluir tem “acesso a qualquer instrumento
de apoio à retoma progressiva, por- dessas mudanças foi o que se passou quem estivesse em paragem da acti- ou mecanismo de protecção social”
que, antecipa, isso criará entraves às com o apoio extraordinário à redução
confundiu vidade (pois estavam excluídas que- nem a qualquer uma das três medidas
próprias empresas. E diz que o Gover- da actividade económica dos traba- as partes e exigiu das de 80% ou 90%), passou a abarcar anteriores.
no ainda está a tempo de “emendar a lhadores independentes, que já vai na todos os que tivessem uma quebra de
mão”, sendo preferível fazer novas sexta versão desde Março e até já
correcções facturação igual ou superior a 40%. voferreira@publico.pt
alterações do que deixar tudo tal mudou de nome. E a meio de Abril, nova alteração: nas pedro.crisostomo@publico.pt
20 • Público • Quarta-feira, 19 de Agosto de 2020
ECONOMIA
O
Os dados disponibilizados deverão secretário de Estado para a Habitação (MIH), que tem ção “que permitiria a qualquer cida- A Anacom tem estado a analisar o
ter “um grau de pormenor que seja Transição Digital, André a tutela da área das dão saber se tinha cobertura de desempenho dos serviços móveis a
útil para apoiar” os consumidores na Azevedo, diz que o Governo comunicações, e a entidade rede”), o secretário de Estado refe- nível nacional e já concluiu que, em
“escolha da empresa” que lhe vai está a trabalhar para que a reguladora do sector, a riu-se aos dados sobre as infra-estru- regiões como o Alentejo e o Norte, e
fornecer os serviços, refere o ante- tarifa social da Internet “possa Anacom. turas dos vários operadores como em particular nas zonas rurais, há
projecto de diploma. ser concretizada até ao final do “O desenho específico da “informação preciosa”. zonas com cobertura inexistente (no
“Até agora, se qualquer um de nós ano de 2020”. medida e a respectiva forma de Norte, as diÆculdades notaram-se
perguntasse aos operadores ou à Frisando que “o acesso à financiamento” ainda não estão Levantamento geográÄco mesmo no serviço de voz, no estabe-
Anacom como estava a cobertura no conectividade e ao mundo fechados, adiantou o Esta informação permitirá ao Estado lecimento e retenção de chamadas).
país”, receberia informação “vaga, digital constituem factores governante. Estes aspectos desenvolver políticas públicas e, O Governo já revogou as medidas
parcelar, incompleta”, admitiu o críticos de sucesso para uma “estão, nesta fase, a ser eventualmente, abrir novos concur- excepcionais de combate à pande-
secretário de Estado. estratégia de inclusão digital e avaliados”. sos para resolver o problema das mia que durante uns meses suspen-
“Demos um prazo razoável para social”, como a desenhada pelo Sobre esta matéria, o áreas onde estes serviços de conec- deram a obrigação da Nos e da Voda-
que essa informação fosse cedida Governo no Plano de Acção secretário de Estado das tividade ainda não chegam, adian- fone de reforçarem as velocidades
voluntariamente e a partir de agora para a Transição Digital, André Comunicações, Alberto Souto tou. de referência das suas ofertas de
achamos que está na altura de exigir- Azevedo explicou, em de Miranda, adiantou O anteprojecto de diploma que banda larga móvel em 320 freguesias
mos que sejam prestadas essas infor- declarações ao PÚBLICO, que a recentemente no Parlamento transpõe as novas orientações euro- do país, de acordo com as obrigações
mações com rigor e que o levanta- medida tem vindo a ser que está em causa um peias prevê que o regulador faça um decorrentes do leilão de 4G, em 2011,
mento da cobertura das diferentes “trabalhada de forma articulada” “desconto no preço da Internet levantamento geográÆco das redes pelo que as empresas terão de reto-
redes móveis e Æxas de cada um dos entre o Ministério da Economia básica, que permita fazer tudo o em Portugal. Devem Æcar cadastra- mar esse processo, imposto pela
operadores seja entregue pelas ope- e da Transição Digital (METD), o que é preciso para estudar e das as redes de banda larga existen- Anacom.
radoras [à Anacom]”, acrescentou o Ministério das Infra-Estruturas e trabalhar”. tes no território nacional, mas tam-
governante. bém “os planos” dos operadores ana.brito@publico.pt
Público • Quarta-feira, 19 de Agosto de 2020 • 21
ECONOMIA
MANUEL ROBERTO
Breves
Layoff
UGT rejeita incentivos
Verão
ãoo
a “despedimentos
encapotados”
A UGT rejeita que as empresas
Companhia aérea é detida pela Região Autónoma dos Açores que recorreram ao layoff
simplificado beneficiem de
MUNDO
Membro do Hezbollah
condenado por morte de Hariri
Juízes dizem que não há provas suÄcientes para condenar os outros três suspeitos pela explosão
que matou ex-primeiro-ministro libanês e outras 21 pessoas em Fevereiro de 2005
PIROSCHKA VAN DE WOUW/REUTERS
Líbano
Maria João Guimarães
O tribunal internacional especial que
julgou o assassínio do antigo ministro
libanês Rafiq Hariri considerou o
principal suspeito, Salim Jamil
Ayyash, culpado das acusações de
assassínio e atentado terrorista.
Os outros três acusados pelo crime,
em que um camião-bomba matou o
principal político sunita libanês e
outras 21 pessoas em Beirute, foram
declarados inocentes.
Os acusados foram julgados à reve-
lia, o seu paradeiro é desconhecido
(o líder do movimento xiita Hezbollah,
Hassan Nasrallah, disse que nunca
seriam levados a tribunal, nem em
“300 anos”; o movimento considera
o tribunal parte de um complot contra
si).
O veredicto do tribunal criado com
o apoio da ONU foi o culminar de uma
sessão de mais de quatro horas em
que foi detalhado o processo de vigi-
lância do antigo primeiro-ministro
Rafiq Hariri, uma decisão original-
mente com 2700 páginas da qual foi
feito um resumo de 150 páginas.
O trabalho da acusação assentou
na análise de dados de vários telemó-
veis, anónimos, e que contactavam
apenas uns com os outros. Ainda que
fosse possível estabelecer que alguns
eram usados como telefones secun-
dários, não foi possível ultrapassar a O veredicto deste tribunal com apoio da ONU fica muito atrás do que diziam as investigações iniciais
“dúvida razoável” de que apenas
foram usados pelos suspeitos. Líbano na sequência de uma revolta de justiça independente, por outro, hipótese mais provável é que esteja foi primeiro-ministro até Janeiro,
Os juízes disseram que as provas pelo atentado que matou o antigo diminuiu a importância deste vere- morto, mas não há qualquer prova. assistiu à leitura da sentença e no final
mostram que o principal acusado, primeiro-ministro. dicto, com o foco agora na investiga- Quanto ao verdadeiro bombista sui- declarou que a aceitava, mas acres-
Salim Jamil Ayyash, tinha “um dos ção à explosão no porto, e um medo cida, não há qualquer indicação de centou que esperava que fosse feita
seis telefones usados pela equipa Sem provas generalizado de que esta não seja quem seja. justiça, pedindo ao Hezbollah que
encarregada do assassínio”, e foi por E seriam assim Teerão e Damasco imparcial e que os mais altos respon- O veredicto fica muito atrás de “oferecesse sacrifícios”, já que o
isso condenado por cometer um que teriam razões para assassinar sáveis sejam poupados. resultados de investigações iniciais, assassino pertencia ao movimento,
homicídio e um atentado terrorista. Hariri. No entanto, “não há provas de Nadim oury, do centro de estudos lembra o New York Times, lembrando segundo o diário libanês Daily Star.
Ayyash era membro do Hezbollah. que a liderança do Hezbollah tenha Arab Reform Initiative, comenta que a do juiz alemão Detlev Mehlis, que O movimento xiita é conhecido
O tribunal falou ainda de uma clara tido qualquer envolvimento no assas- o equivalente a este veredicto seria “se mencionava 20 suspeitos, incluindo pela disciplina e cadeia de comando
motivação política do crime, notando sínio de Hariri e não há prova directa depois do 11 de Setembro um tribunal vários altos responsáveis libaneses e como se fosse um exército, daí que
que Hariri, se preparava para dispu- do envolvimento sírio”, disse o juiz considerasse culpados os pilotos dos sírios. Mehlis concluiu a sua missão outro filho de Hariri, Bahaa Hariri,
tar eleições. O multimilionário sunita David Re. aviões mas não tivesse ideia nenhuma após seis meses, após ter sido avisado tenha declarado “inconcebível” que
que foi a cara da reconstrução de Bei- O anúncio do veredicto, que estava sobre quem ordenou o ataque”. de dois planos para o assassinar. membros de um movimento do
rute após a guerra civil (1975-1990) marcado para a semana da explosão Aos mistérios que ficaram por res- Mais tarde, em 2008, um investiga- Hezbollah “fossem tomar café e deci-
tinha ligações próximas com os EUA, no porto de Beirute, e foi por isso ponder junta-se o do destino do dor dos serviços secretos libaneses, dissem de moto próprio assassinar
França e países do Golfo, era adver- adiado para ontem, era aguardado jovem que gravou uma falsa reivindi- essencial no desmontar da rede dos Hariri”, uma das mais importantes
sário político do Hezbollah, e opunha- com expectativa. Mas a explosão cação do ataque: sabe-se apenas que telemóveis que dá base ao caso, foi figuras políticas do país.
se à presença síria no Líbano — as mudou muito: se por um lado, levou não foi ele o bombista suicida e que assassinado com um carro-bomba.
forças sírias acabaram por sair do a um fortalecimento da reivindicação desapareceu; o tribunal diz que a O filho de Rafiq Hariri, Saad, que mguimaraes@publico.pt
Público • Quarta-feira, 19 de Agosto de 2020 • 23
MUNDO
YAUHEN YERCHAK/EPA
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26 • Público • Quarta-feira, 19 de Agosto de 2020
CULTURA
Sabotage fecha portas e faz soar
o alarme no underground
Ao Äm de sete anos de actividade, o
clube do Cais do Sodré despede-se com a
promessa de um regresso em local e data
a deÄnir. A pandemia poderá fazer mais
estragos num circuito preso por Äos
rança, Não há margem para arriscar,
Concertos sobretudo quando as contas bancá-
André Borges Vieira rias de muitos destes espaços come-
çam a secar. A atrasar o desfecho
Quando, no ano passado, se anuncia- menos desejável estão algumas
va a possibilidade de um Æm prema- acções de solidariedade movidas
turo para o Sabotage, um dos pilares pelo próprio circuito, levadas a cabo
do underground lisboeta, os motivos por outros parceiros do sector, ou
eram diferentes dos que agora exis- por gente anónima que se uniu pela
tem. Dar continuidade a um projecto mesma causa.
que vive para dar espaço a um circui- No caso do Sabotage, a situação
to que não é para massas, sem grande tornou-se irremediável. É com um
margem para o lucro, tornava-se “até já” que se despedem do Cais do
incompatível com os planos de Sodré, com a certeza de que não seria
senhorios que se agarraram ao turis- viável prolongar os estragos de seis
mo para garantirem negócios Ænan- meses de paragem.
ceiramente mais apelativos. Mudar Nuno Rabino, um dos programa-
para outro local estaria dependente dores, adianta ao PÚBLICO conside-
de outros factores — a incapacidade rar não ser possível a adaptação do
de acompanhar a inÇação das rendas clube aos moldes desenhados pela
em Lisboa colocara este clube de DGS, que no mês passado voltou a
música estabelecido há sete anos no permitir a actividade de bares e dis-
Cais do Sodré em sobressalto. cotecas, mas adaptados ao formato
A estocada Ænal foi dada agora, em que funciona a restauração.
quase um ano depois, por um motivo
que em 2019 não estava no horizonte Dois mil concertos ao vivo
de nenhum dos responsáveis pelo A despedida do Sabotage faz-se com
projecto que completou sete anos de um registo de quase dois mil concer-
actividade em 2020. O Sabotage vai tos ao vivo. O último foi com Suzie
mesmo fechar portas e fá-lo por não and the Boys em cima de um palco PAULO PIMENTA
ter força para fazer frente ao rasto de que serviu de tubo de ensaio a muitas Depois de sete
destruição que a covid-19 está a dei- das bandas emergentes do cenário anos de
xar também nas artes de palco — sec- nacional e a nomes internacionais, actividade e
tor sem imunidade de grupo garanti- que por cá nunca teriam tocado se dois mil
da no geral, e com mais baixas no não existissem espaços com esta concertos ao
circuito alternativo. dimensão e missão, pelo menos antes vivo, o
A primeira baixa já tinha sido con- de chegarem a um patamar em que Sabotage, no
tabilizada no início do mês, mais a conseguem actuar para uma plateia Cais do Sodré,
norte, com o fecho do Club de Vila de alguns milhares. O programador em Lisboa,
Real. Com a actividade parada desde e DJ residente da casa recorda os cali- fecha portas.
Março, muitos são os espaços que fornianos The Mystery Lights, que em Outros, com a
correm o risco de sucumbir. Sinais 2017 lá tocaram quando ainda não mesma
que deixam o underground numa tinham chegado a um público mais dimensão e
posição frágil, largado à sorte da evo- amplo e depois voltaram a Portugal, missão,
lução de um vírus que ainda não mar- mas para tocar no Vodafone Paredes poderão
cou hora para abalar, e com alguns de Coura — e regressaram à sala do seguir-se-lhe.
responsáveis por projectos semelhan- Cais do Sodré para novo concerto em O dono do
tes a considerarem não existir apoios Outubro do ano passado. Barracuda, no
estatais à medida das necessidades. Na memória de Nuno Rabino Æca- Porto (foto em
A inexistência de coordenadas da rão outros concertos, como o dos baixo), diz que
Direcção-Geral da Saúde (DGS) que britânicos The Pretty Things, na últi- continua com
não passem pela adaptação dos ma digressão que Æzeram antes da agenda activa
negócios a equivalentes a pastela- morte do frontman Phil May, em Maio por “carolice”
rias também faz crescer a insegu- deste ano. Ou concertos de Mão Mor-
Público • Quarta-feira, 19 de Agosto de 2020 • 27
S É R I E
200 anos da
ANDREIA GOMES CARVALHO
ta e dos Parkinsons, que “chegaram
quase a esgotar três noites segui-
Social. A renda tem sido perdoada
pelo senhorio, mas terá de a devolver
Revolução
Liberal
das”. mais tarde.
“Bares que são proprietários dos Por agora pede só novas indica-
espaços ainda vão conseguindo ções: “Se houvesse uma data de
aguentar-se mais um tempo. Mas regresso dada pela DGS já não era
muitos dos que estão a arrendar vão mau.” Enquanto espera, o pessimis-
desaparecer”, acredita. Acertando na mo vai aumentando. “A luz que vejo
previsão que faz, antecipa que os pal- ao fundo do túnel é a de um comboio No dia 24 de Agosto de 1820 um pronunciamento
cos que existem de norte a sul que que vem com muita velocidade, sem no Porto começou a demolir o Antigo Regime
permitiam a bandas portuguesas “dar espaço para sairmos da linha”, atira. e a instalar o liberalismo em Portugal.
uns 10-15 concertos por ano” vão Já António Oliveira, responsável Numa série de trabalhos entre os dias 15 e 27,
enfrentar diÆculdades maiores. pelo Woodstock 69, em Campanhã,
Fechando aquele que diz ter sido vai conseguindo minimizar os danos. o PÚBLICO conta-lhe a história de um dos
sempre o “elo mais fraco desta engre- O clube de rock sempre teve activida- períodos mais violentos, dramáticos
nagem”, o Çuxo de bandas “vai enfra- de aberta como café-bar. Por isso, e transformadores da História
quecer”, reÇectindo-se imediatamen- essa parte do negócio vai funcionan- de Portugal
te em “menos oportunidades” para do. Mas como espaço de concertos
as mesmas. não abre desde Março. Porém, há já
Traduzindo por miúdos, por “elo perspectiva de voltar a fazê-lo. Mas
mais fraco” quer dizer espaços de “sempre com bandas nacionais”. A 5
dimensão reduzida, como é o caso do de Setembro, com uma lotação redu-
Sabotage, que tem capacidade para zida a “30 pessoas”, os Jesus The
168 pessoas. Em muitos dos concertos Snake fazem o concerto do regresso.
tiveram prejuízo e dependiam “do
último bilhete vendido” para atingir Acções de solidariedade
o valor do cachet de uma banda. Várias iniciativas de apoio foram sur-
“Qualquer sopro e isto cai tudo”, aÆr- gindo para minimizar danos. Foi
ma, acreditando que a pandemia está assim que Rodas conseguiu garantir
a encher o peito de ar para fazer ainda as despesas deste mês. Em Julho, a
mais estragos. editora-distribuidora Raging Planet
O clube do Cais do Sodré encerra deu início a uma acção que se prolon-
numa altura em que os concertos da gará até ao Ænal de Setembro, para
dimensão que albergou durante sete ajudar muitos destes espaços. O res-
anos já não existem. Mas Nuno Rabi- ponsável, Daniel Makosch, criou oito
no não diz adeus sem dar esperança packs de CD diferenciados por géne-
ao público da casa. “Será um até já”, ros musicais e cuja receita, depois de
garante. E, adianta, José Maria Sousa, vendidos por 25 euros, reverte para
Ana Paula Flores e Carlos Costa, o uma entidade à escolha do compra-
núcleo duro do espaço, preparam um dor, de uma lista de quase duas deze-
regresso e uma possível reformula- nas de espaços de concerto, publica-
ção. O Sabotage começou por ser uma ções ou associações. “Queria chegar
distribuidora e editora, antes de pas- a mais, mas alguns espaços prescin-
sar a clube. Nuno Rabino avança que diram em prol de quem achavam
o futuro pode passar por integrar precisar mais”, explica.
A luz que vejo ao todas as vertentes que o projecto já Muitas outras acções estão também
teve. Por agora, ainda não estão à pro- a decorrer, como leilões de álbuns da
fundo do túnel é a cura de novo local. “Não faria sentido colecção pessoal de anónimos que
de um comboio dar esse passo quando não há pers- decidem ajudar ou com bandas a ven-
pectivas para o regresso à actividade. derem discos a reverterem para a
que vem com Por agora, vamos hibernar.” mesma causa. De 15 a 27 de Agosto, com
muita velocidade, A segurar o negócio por Æos está Por agora, Makosch diz terem sido Maria de Fátima Bonifácio,
Rodas, proprietário do clube Barra- vendidos 65 packs. A meta é vender e textos de: Conceição Meireles
sem espaço para cuda, no Porto — a única actividade pelo menos cem. Brevemente, está Pereira, Eugénio dos Santos,
sairmos da linha que teve desde Março foi feita em con- prevista a criação de novos packs. O Maria de Fátima, Sá e Melo
certos via streaming. Os concertos são objectivo prende-se com a necessida- Ferreira, Fernando Dores Costa,
Rodas transmitidos com donativo opcional. de de ajudar espaços que acredita
Gaspar Martins Pereira,
Proprietário do Barracuda, Mas das dezenas que já foram realiza- funcionarem como “recruta” para
Leia também Isilda Monteiro, Jorge Fernandes
no Porto dos, “apenas um deu algum dinhei- bandas que depois atingem patama-
em publico.pt Alves,Luís Alberto Alves,
ro”. Continua com agenda activa por res com outra projecção. Mas, subli-
“carolice”, que não lhe paga as con- nha, há muitas bandas, nalguns géne- Luís Miguel Queirós, Maria
tas. No último mês, adianta, a conta ros, que “vivem nesse patamar”: “Se Série exclusiva do Carmo Serén, Otília Lage
da empresa chegou a “zeros”. E todos esse patamar desaparecer essas ban- para assinantes e Sérgio Veludo
os meses continua a pagar Segurança das vão perder visibilidade.”
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Público • Quarta-feira, 19 de Agosto de 2020 • 29
CULTURA
Artes Livros
Lucinda Canelas Livro de J.K. Rowling
Recrutamento apontado ilustrado por crianças
às minorias e formação portuguesas
antidiscriminação para os A edição portuguesa do novo
funcionários são algumas livro infantil da autora da saga
das medidas a implantar Harry Potter, J.K. Rowling,
intitulado O Ickabog, chegará
Enquanto lidava com os problemas a Portugal em Novembro e
decorrentes de meses de encerra- incluirá os desenhos das 34
mento ditados pela pandemia, crianças que vencerem um
incluindo um déÆce de 15 milhões de concurso de ilustração ontem
dólares, o Museu Guggenheim de lançado. O original, escrito há
Nova Iorque enfrentou também fortes mais de dez anos para ser lido
críticas à falta de diversidade dos seus aos filhos da autora, foi
funcionários, dos curadores convida- publicado online em Maio para
dos e da origem dos artistas represen- ajudar a entreter crianças, pais
tados na colecção, no programa de e cuidadores confinados. A
exposições e nas aquisições com que Presença, que edita Rowling
vai expandindo o acervo. Para dar em Portugal, disponibilizou o
resposta ao coro que se levantou con- regulamento do concurso em
tra o seu “racismo entrincheirado”, a www.presenca.pt/
instituição apresentou anteontem um ickabogconcurso. Os direitos
programa a dois anos que tem por de autor do livro reverterão a
objectivo criar mecanismos para favor de projectos de auxílio a
denunciar actos de discriminação e grupos afectados pela
desenvolver políticas de promoção O museu é acusado de promover “o racismo, a supremacia branca e outras práticas discriminatórias” pandemia de covid-19.
da diversidade, tanto nos bastidores
como na oferta do museu. recrudescer, nem às queixas que dente, que, diz o New York Times, Wright, nunca houve uma exposição
As medidas anunciadas pelo direc- chegaram à administração há dois deverá dar a conhecer as suas conclu- a solo de um artista negro, de uma Música
tor do museu, Richard Armstrong,
incluem, por exemplo, parcerias com
meses, através de duas cartas.
A primeira, de 22 de Junho, assina-
sões no Outono. artista não-branca ou de um artista
transgénero.
Salão Brazil leva
instituições de ensino historicamente da pelo departamento curatorial, Ir mais longe Mas o Guggenheim está longe de quatro concertos a
ligadas à comunidade afro-americana
tendo em vista a abertura de novas
exigia reformas urgentes para que o
o ambiente de trabalho do museu
Reconhecendo que o museu fez, des-
de 2010, esforços para ser mais inclu-
ser o único museu norte-americano
a enfrentar críticas devido às suas
Santa Clara-a-Velha
vagas proÆssionais, estágios pagos deixe de “promover o racismo, a sivo, os autores deste programa a dois práticas discriminatórias. O Salão Brazil, sala de
para estudantes cujas origens estão supremacia branca e outras práticas anos que a porta-voz do Guggenheim, Em Detroit, duas das principais concertos da Baixa de
sub-representadas entre os funcioná- discriminatórias”. A segunda, que Sarah Eaton, deÆniu ao Art Newspa- instituições culturais da cidade viram Coimbra, vai dinamizar quatro
rios, e a criação de um cargo de gestão reunia 220 assinaturas de antigos e per como uma “iniciativa dos funcio- os seus directores afastados após pro- fins de tarde no Mosteiro de
dedicado ao acompanhamento de actuais funcionários (o grupo que nários” com forte apoio do director testos dos funcionários. O Museu de Santa Clara-a-Velha, entre 12 e
todas as iniciativas destinadas a asse- desencadeou a iniciativa A Better do museu e da administração, dizem Arte Contemporânea de Detroit des- 20 de Setembro. A sala
gurar uma maior diversidade no Guggenheim), pedia à administração que é preciso ir mais longe. pediu Elysia Borowy-Reeder na regressa aos concertos após a
Guggenheim, além de uma comissão que trabalhasse no sentido de “des- A comissão que o elaborou (um sequência de uma carta aberta em habitual paragem do mês de
encarregue de assegurar que as com- mantelar o racismo sistémico” da consultor externo e oito funcionários que 77 colaboradores denunciaram a Agosto e quer “aproveitar os
pras para o acervo não deixam de instituição. Entre as suas exigências do museu, grupo que inclui, segundo sua “gestão de recursos humanos últimos dias de Verão num dos
fora artistas BIPOC (sigla para Black, estava uma investigação interna à Eaton, seis pessoas não-brancas) tóxica” e “agressões de conotação locais mais extraordinários da
Indigenous and People Of Color). For- exposição Basquiat’s Defacement: The garante que os visitantes do Gugge- racista”; por sua vez, o Instituto de cidade”, anunciou o Jazz ao
mações anti-racismo para os trabalha- Untold Story, a primeira em 80 anos nheim estão longe de reÇectir a diver- Arte de Detroit afastou Salvador Centro Clube, entidade que
dores também estão previstas. de história do museu a ter um comis- sidade racial de Nova Iorque e reco- Salort-Pons, responsabilizando-o pela gere o Salão Brazil. Actuarão,
O programa implica reajustes nas sário convidado (no caso, uma menda que se alarguem os horários “cultura de trabalho hostil e caótica” por esta ordem, a dupla
práticas de recrutamento e contrata- comissária) negro. em que a política de bilheteira é ali instalada. conimbricense de música
ção, órgãos de decisão mais inclusi- Foi precisamente a curadora Chaé- “pague o que quiser”. Em Cleveland Jill Snyder, há 23 improvisada Marcelo dos Reis
vos, uma política de aquisições mais dria LaBouvier quem denunciou o De acordo com um estudo de 2018, anos directora do Museu de Arte Con- & Miguel Falcão (dia 12), o
atenta às minorias e um trabalho ambiente do museu, ao partilhar no 73% dos visitantes do museu identiÆ# temporânea, demitiu-se depois de ter músico Luís Severo (dia 13), os
especíÆco com públicos que costu- Twitter que trabalhar com Nancy cam-se como brancos, ao passo que cancelado, sem consulta prévia de The Twist Connection (dia 19)
mam Æcar à porta, resume a publica- Spector, a directora artística da casa, a população branca da cidade se Æca outros membros da sua equipa, uma e, finalmente, Ricardo Toscano
ção The Art Newspaper. tinha sido “a experiência proÆssional pelos 43%. E se são poucos os não- exposição de Shaun Leonardo inspi- & Gabriel Ferrandini (dia 20).
Esta nova atitude do Guggenheim mais racista” da sua vida. brancos a visitar o museu, são tam- rada nos homens e rapazes negros e Os concertos decorrem às
não é alheia, naturalmente, às movi- O museu respondeu de imediato bém poucos os nele representados. latinos mortos às mãos da polícia. 18h30 e o preço dos bilhetes
mentações Black Lives Matter que a ao repto do A Better Guggenheim, No espaço da rotunda do icónico edi- vai dos cinco aos 12 euros.
morte brutal de George Floyd fez contratando um advogado indepen- fício desenhado por Frank Lloyd lcanelas@publico.pt
30 • Público ClassiÄcados • Quarta-feira, 19 de Agosto de 2020
Público ClassiÄcados • Quarta-feira, 19 de Agosto de 2020 • 31
PRIMEIRA PARAGEM: de preferência, antes de 5 de novembro de 2020 para indicar a natureza da sua objeção. Isto permitirá ao
Cedente e ao Cessionário comunicar quaisquer alterações na audiência e, sempre que possível, abordar
quaisquer dúvidas manifestadas antes da audiência.
UMA OBRA-PRIMA À luz das orientações atuais do Governo em relação à Covid-19, convém observar que é possível que a
audiência possa ocorrer remotamente através de um serviço de teleconferência. Solicita-se, caso pretenda
DA FICÇÃO CIENTÍFICA comparecer à audiência (quer presencialmente, quer pelo seu representante), que informe o Cedente e o
Cessionário (utilizando os dados de contacto indicados supra) logo que possível e, de preferência, antes de
5 de novembro de 2020. Isto permitirá ao Cedente e ao Cessionário fornecer todos os dados necessários
para comparecer à audiência, se esta for realizada remotamente.
Qualquer pessoa que apresenta qualquer objeção ao Regime, ou considere que possa ser afetada
negativamente pelo mesmo, mas que não pretenda comparecer à audiência, pode prestar declarações sobre
OFEREÇA
o Regime, avisando por escrito o Cedente e o Cessionário para a morada indicada supra, ou contactando
através dos números de telefone indicados supra, seja qual for o caso, logo que possível e, de preferência,
COLECÇÃO NOVELA GRÁFICA VI antes de 5 de novembro de 2020. Todas as declarações serão fornecidas ao Tribunal Superior na audiência.
Fundada em 1988 pelo Professor Doutor Carlos Garcia, a Associação Portuguesa de Familiares e Amigos de Doentes de Alzheimer
- Alzheimer Portugal é uma Instituição Particular de Solidariedade Social. É a única organização em Portugal, de âmbito nacional,
especificamente constituída para promover a qualidade de vida das pessoas com demência e dos seus familiares e cuidadores. Tem cerca
de dez mil associados em todo o país.
Oferece Informação sobre a doença, Formação para cuidadores formais e informais, Apoio domiciliário, Apoio Social e Psicológico e
Consultas Médicas da Especialidade.
Como membro da Alzheimer Europe, a Alzheimer Portugal participa ativamente no movimento mundial e europeu sobre as demências,
procurando reunir e divulgar os conhecimentos mais recentes sobre a Doença de Alzheimer, promovendo o seu estudo, a investigação das
suas causas, efeitos, profilaxia e tratamentos.
Contactos
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Centro de Dia Prof. Dr. Carlos Garcia: Av. de Ceuta Norte, Lote 1, Loja 1 e 2 - Quinta do Loureiro, 1350-410 Lisboa - Tel.: 21 360 93 00
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Delegação Norte: Centro de Dia “Memória de Mim” - Rua do Farol Nascente n.º 47A R/C, 4455-301 Lavra - Tel. 229 260 912 | 226 066 863 - E-mail: geral.norte@alzheimerportugal.org
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Núcleo do Ribatejo: R. Dom Gonçalo da Silveira n.º 31-A, 2080-114 Almeirim - Tel. 24 300 00 87 - E-mail: geral.ribatejo@alzheimerportugal.org
SÁBADO, 22 AGO Núcleo de Aveiro: Santa Casa da Misericórdia de Aveiro - Complexo Social da Quinta da Moita - Oliveirinha, 3810 Aveiro - Tel. 23 494 04 80 - E-mail: geral.aveiro@alzheimeportugal.org
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uma nova Idade do Gelo, circula um comboio que nunca pára, o último EDIFÍCIO
DIOGO CÃO
bastião da civilização! É este o ponto de partida de O Expresso do DIOGO
DOCA CÃO
DE ALCÂNTARA
Amanhã, “uma das melhores bandas desenhadas de ficção científica NORTE,
DOCA DELISBOA
ALCÂNTARA
(JUNTO AO
NORTE, LISBOA
alguma vez criadas” (The Independent). Da autoria do único argumen- MUSEU
(JUNTODO AOORIENTE)
tista a ganhar o Grande Prémio de Angoulême, este verdadeiro livro HORÁRIO:
MUSEU DO ORIENTE)
2.ª – 6.ª FEIRA: 9H – 19H
HORÁRIO:
de culto inspirou o filme Snowpiercer, de Bong Joon-Ho (realizador SÁBADO: 11H – 17H
de Parasitas), e a mais recente série homónima da Netflix.
MAIS INFORMAÇÕES: loja.publico.pt | 210 111 010
32 • Público • Quarta-feira, 19 de Agosto de 2020
DESPORTO
Muitos milhões depois, o PSG
chegou ao palco que ambicionava
Quase uma década depois de ser adquirido pela Qatar Sports Investment, o clube de Paris apurou-se
pela primeira vez para a final da Liga dos Campeões após vencer no Estádio da Luz o RB Leipzig, por 0-3
DAVID RAMOS/EPA
do PSG formado por Neymar e Icardi
RB Leipzig 0 foi anulado pelo clube de Bérgamo,
e, por isso, Tuchel abdicou do argen-
tino, colocando Neymar como falso
“9”, Di María na direita e Mbappé na
Paris Saint-Germain 3
Marquinhos 13’, Di María 42’,
esquerda. A estratégia resultou.
Bernat 56’ De regresso ao Estádio da Luz,
onde há 11 meses tinha iniciado a cam-
Estádio da Luz, em Lisboa. panha europeia com um triunfo fren-
te ao Benfica, Nagelsmann foi mais
RB Leipzig Gulácsi, Klostermann
(Orban, 83’), Upamecano, Mukiele,
previsível. Com fama de alterar com
Laimer a61’ (Halstenberg, 62’), regularidade os seus sistemas tácti-
Kampl (Adams, 64’), Sabitzer, cos, o mais jovem treinador (33 anos)
Angeliño, Nkunku (Forsberg, 46’), a marcar presença numa meia-final
Olmo (Schick, 46’), Poulsen a79’.
Treinador Julian Nagelsmann
da Champions apostou no desenho
mais habitual: 4x1x4x1 a defender;
PSG Rico, Kehrer, Kimpembe a45’, 3x5x2 a atacar. A mobilidade do ata-
Thiago Silva, Bernat, Marquinhos, que francês revelou-se, no entanto,
Paredes (Draxler, 83’), Herrera (Verratti,
fatal para a estratégia alemã.
83’), Di María (Sarabia, 87’), Neymar,
Mbappé (Choupo-Moting, 86’). Fazendo pressão alta, o PSG conse-
Treinador Thomas Tuchel guiu impedir que o RB Leipzig repe-
tisse a boa exibição dos “quartos”
Árbitro Björn Kuipers (Holanda) frente ao Atlético, em que teve posse
e espaço para transições, colocando
ainda pressão nos defesas alemães
Positivo/Negativo que, embora fortes fisicamente, reve-
lam limitações técnicas.
Paris Saint-Germain Superior desde o início, o PSG dei-
Depois de um apuramento xou o primeiro aviso logo aos 4’
muito sofrido nos Marquinhos e Neymar celebram o primeiro golo da noite, no Estádio da Luz (Neymar acertou no poste), mas cerca
quartos-de-final, frente à de dez minutos depois chegou o pri-
Atalanta, os parisienses 1994), uma presença numa meia-final meiro golo: após um livre de Di María,
regressaram ao Estádio da Crónica de jogo da Taça dos Campeões Europeus REACÇÕES Marquinhos, de cabeça, voltou a mar-
Luz com uma atitude David Andrade (1995), muitas dívidas e pouco crédito car — o brasileiro fez também um
completamente diferente
na meia-final. Sem os A história começou no Verão de 2011,
junto da sociedade parisiense. No
entanto, o primeiro cheque de Nasser
“Foi difícil voltar ao jogo contra a Atalanta.
Com uma atitude positiva, o RB
individualismos habituais, o quando o emir Sheikh Tamim bin Al-Khelaifi, o indigitado presidente do depois do segundo golo, Leipzig reagia de forma tímida (Poul-
PSG foi uma verdadeira
equipa e Thomas Tuchel
Hamad Al Thani, do Qatar, um dos
homens mais ricos do mundo, apli-
clube, não deixou dúvidas sobre as
ambições árabes: na primeira época,
porque o PSG tem muita sen teve uma boa oportunidade aos
25’), mas a superioridade do PSG era
soube anular os principais cou uma fracção da fortuna do seu gastou 100 milhões em reforços. qualidade. O futebol é óbvia e, antes do intervalo, mais uma
trunfos do RB Leipzig. O país num clube de futebol, mas ape- Sem surpresas, desde 2011-12 a luta assim. O bilhete para a perda de bola da defesa alemã foi
apuramento para a final do
próximo domingo é
nas nove anos e muitos milhões
depois, o Paris Saint-Germain chegou
pelo título em França passou a ser
uma corrida sem história — a conquis-
final está bem entregue” aproveitada por Di María, que mar-
cou no regresso à Luz.
inteiramente merecido ao palco que tanto ambicionava. Num ta da Ligue 1 pelo Mónaco, de Leonar- Ao intervalo, Nagelsmann sur-
para o clube de Paris. duelo entre técnicos alemães, Tho- do Jardim, foi a excepção que confir- J. Nagelsmann preendeu ao substituir dois dos seus
mas Tuchel ganhou o confronto com ma a regra —, mas para os investidores RB Leipzig jogadores mais talentosos (Olmo e
Julian Nagelsmann Julian Nagelsmann e, de forma clara, do Qatar o alvo nunca foi escondido: Nkunku), mas no ataque os alemães
Ninguém retira ao jovem os parisienses garantiram em Lisboa o objectivo era chegar ao topo do provocaram pouca mossa e, na defe-
técnico o mérito de ter um lugar na Ænal da Liga dos Cam- futebol europeu. Mais de mil milhões “Tenho jogadores que sa, os erros continuaram: Bernat
conseguido colocar o RB peões. Com golos de Marquinhos, Di de euros depois gastos em reforços, estão habituados a jogar aproveitou um deslize de Mukiele
Leipzig numa meia-final da María e Bernat, o campeão francês o PSG nunca esteve tão perto de trans- para fazer o 0-3.
Liga dos Campeões, mas o derrotou o RB Leipzig (0-3) e vai formar a fama em sucesso. com pressão e que gostam Com um terço do duelo ainda por
treinador alemão nunca defrontar, no domingo, o vencedor Seis dias depois de sofrer para de jogos decisivos. disputar e jogando como uma verda-
conseguiu encontrar
soluções para ganhar a
da meia-Ænal entre Bayern e Lyon.
Quando, em Maio de 2011, foi anun-
ultrapassar a competência da Atalan-
ta, Tuchel abordou o confronto com
Mostrámos qualidade deira equipa, o PSG garantia, de for-
ma justa, o lugar para o palco que
batalha táctica com o ciado que a Qatar Investment Autho- o clube do seu país com uma estraté- e determinação” tanto procurava. Segue-se o Bayern
compatriota e amigo rity ia adquirir 70% das acções do gia diferente. Sem Di María (castiga- ou uma inédita final 100% francesa.
Thomas Tuchel. PSG, o clube de Paris tinha no currí- do) e com Mbappé limitado fisica- Thomas Tuchel
culo dois títulos franceses (1986 e mente (jogou 30 minutos), o ataque PSG dandrade@publico.pt
Público • Quarta-feira, 19 de Agosto de 2020 • 33
DESPORTO
PAUL CHILDS/ACTION IMAGES
A intensidade Feddal é o
do Bayern contra mais recente
o apetite do Lyon reforço
do Sporting
“Estou entusiasmado com a equi-
Futebol pa. Temos uma grande intensidade e Futebol
Nuno Sousa qualidade. Isso dá-nos conÆança.
Estou calmo, porque a equipa está “Leões” apresentaram
A segunda meia-final da muito bem, mas sabemos que temos
o central marroquino
de ter a mesma intensidade do jogo
Liga dos Campeões opõe e o médio Pedro Gonçalves
com o Barcelona para prosseguir para
o grande favorito a um a Ænal”, avalia Hans-Dieter Flick, que no mesmo dia, elevando
Portugal tem neste ano grande visibilidade no desporto motorizado outsider que já deixou dois depois de ter pegado na equipa como para quatro as contratações
gigantes pelo caminho técnico interino assinou, em Abril,
Os últimos tempos
brasileiros de
D. João VI
200 anos da Revolução Liberal. D. João VI habituou-se
ao Rio de Janeiro e, depois de o perigo de Napoleão se ter
desvanecido, insistiu em Äcar no Brasil. Regressaria
em 1821 pressionado pela revolução que não só reclamava
a sua presença na metrópole como exigia a instauração
de um regime constitucional
Maria do Carmo Serén
A
té março de 1817, quando D. um mapa incorreto e uma abstração. sil de D. João, que ele sempre que Real, os seus novos palácios da admi-
João VI soube, desnortea- Por isso mesmo a viagem de vinda visitara a mãe, até 1816, tinha o cui- Ter uma ex-colónia nistração, os jardins e praças ajardi-
do, que Pernambuco, a
dois mil quilómetros a nor-
em 1807-8 fora um pesadelo e imagi-
nar regressar a Portugal, como insis-
dado de percorrer para avaliar do
estado das obras que decretara. Era americana como nadas crescendo sobre os antigos
pântanos, as tipografias, o jornal, a
te do Rio, se tinha autopro-
clamado como república,
tia a Grã-Bretanha através do seu
irritante representante residente, o
sempre tratado com respeito afetuo-
so. Quem lhe queria fazer pedidos,
sede da realeza era biblioteca, (que pedidos insistentes
desde 1815 faziam chegar livros raros
já se tinham desenrolado pacata-
mente os dez melhores anos da sua
irlandês Strangford, estava fora de
questão. O reino unido de Portugal
fora dos beija-mãos frequentes no
palácio, fazia-os chegar no caminho
não só uma bela de Portugal), as ruas pavimentadas,
onde corriam as águas canalizadas
vida. Conhecia Pernambuco, tinha e Brasil satisfazia o ideal imperial de e D. João anotava. Apesar de um gru- diferença, como junto às casas, com belas livrarias,
desembarcado na Baía em 1808, mas
o resto do Brasil reduzia-se à cres-
João VI e, tudo o indica, da maioria
dos brasileiros.
po de controlo ir à frente, com chi-
cote, afastando a população da via, uma garantia de ferrarias, lojas de moda e os cabelei-
reiros, alfaiates, chapeleiros, modis-
cente área da capital, que ele man-
dara aplanar, aterrar os pântanos
Ter uma ex-colónia americana
como sede da realeza era não só uma
D. João estava atento e mandava
parar.
crescimento e tas de franceses que também eram
professores de línguas, num contex-
que a rodeavam, abrir estradas até
às diversas colinas que eram o hori-
bela diferença, como uma garantia
de crescimento e negócio. As colinas
O duque de Loulé, condenado à
morte em Portugal como colabora-
negócio. As colinas to colorido, que D. João não queria
deixar.
zonte da cidade, que agora descia até arborizadas, mas com estradas de cionista, conseguiu viajar para o arborizadas do Rio, O Jardim Botânico e o Horto Real
a praia.
Os reis absolutos da Modernidade
acesso, enchiam-se de pequenas
quintas e palácios de diplomatas
Brasil e pedir perdão ao rei; esperou
a passagem da carruagem real e ati- mas com estradas de foram dos primeiros a ser definidos,
junto à base do Corcovado. A acli-
mostravam-se pouco e não viajavam.
Também para D. João, o imenso Bra-
internacionais, músicos, artistas e
cientistas célebres, da nobreza de
rou-se para o chão na sua frente. Foi
perdoado e os seus bens restituídos. acesso, enchiam-se matização de plantas era um dos
prazeres de D. João. Por sua ordem
sil que ele queria a todo o transe
aumentar, com as guerras no Sul, era
corte e D. Carlota e dos comerciantes
mais endinheirados. O Rio era o Bra-
Era este Brasil, representado pelo
Rio de Janeiro, com o seu Teatro
de palácios foi experimentado o chá, que não
resultou e, em seguida, o café que
Público • Quarta-feira, 19 de Agosto de 2020 • 35
de Proust
Daniel Jonas
Pág. 39
DR
xou escapar, pela cegueira da sua o deixam desembarcar e segue para
aprendizagem absolutista e pela sua
inércia natural, as transformações
A 22 de Abril de 1821, Londres.
Só em outubro a revolta se conhe-
do mundo, das sociedades e do pen- o príncipe D. Pedro, ce no Rio, com grande entusiasmo
samento. Os europeus em visita
espantavam-se com o atraso da com a tropa realista, nos revolucionários e na tropa por-
tuguesa. Com o adiamento habitual,
moda, vestuário, penteados, limpe-
za e rituais do poder. D. João não se
invade a bolsa [no o rei apenas a 23 de fevereiro de 1821
decreta que D. Pedro seguirá para
preocupou com a educação dos
filhos, nem mesmo do herdeiro. D.
Rio de Janeiro] e Portugal e no Brasil seriam criadas
Cortes. Não resultou. A 26 de feve-
Pedro, decidido a fornecer uma boa provoca um reiro, muito cedo, reúnem-se tropas
educação aos filhos, dizia que ele e
o irmão seriam os últimos Bragança massacre, sendo os portuguesas veteranas, com artilha-
ria pesada em frente ao Teatro. Às
mal-educados. Viviam separados, D.
João com Maria Teresa, a mais velha,
corpos enterrados cinco da manhã, D. Pedro corre até
lá, com o decreto de aceitação da
D. Pedro e D. Miguel e o sobrinho
Dom Pedro Carlos, de quem real-
em segredo. É o futura Constituição portuguesa. Os
soldados exigem que mude o gover-
mente gostava e que morre em 1812, último acto absoluto no, sugerem 12 nomes. O príncipe
já casado com a prima Maria Teresa;
as outras irmãs com a mãe. Como o do rei D. João VI. Dias regressa às sete com novo decreto
aceitando tudo, mas os revoltosos
protocolo exigia a assistência da mis-
sa, (às sete da manhã) e o almoço em
depois, a Corte exigem a presença do rei e o seu jura-
mento. Nova corrida e o rei aparece
conjunto, a família reunia-se diaria-
mente, embora Dona Carlota, por
regressa a Portugal e jura observar, proteger e manter
perpetuamente a Constituição, exata-
doença, faltasse muito. Sempre dili- mente como seria feita em Portugal
gente, D. João trabalhava de manhã uma com Fernando VII, outra com pelas Cortes.
e do fim da tarde até às onze da noi- D. Carlos, o irmão ultramontano, É, aparentemente, o fim do abso-
te, com os conselheiros e com os adiou-se e as princesas foram sós lutismo; o rei, em pânico, anuncia a
ministros. Saía para a cidade ou para sem a mãe e o pai, no navio que leva- sua partida para Lisboa e D. Pedro
o Jardim Botânico depois da sesta. va Beresford. como regente do Brasil constitucio-
A sua presença tornou o Rio uma O período da tensão iniciado com nal. Mas haveria ainda um massacre
das cidades de tendência neoclássica a revolta em Pernambuco, em março arbitrário na bolsa, onde se reunia
mais procuradas das Américas. Os de 1817, a que o exército leal pôs ter- uma assembleia para formar as Cor-
Bragança que Napoleão dissera ir mo, executando vinte oficiais, man- tes, mas falam do ouro do Banco do
riscar do mapa souberam resistir. teve-se pois, apesar da República Brasil que o rei levará consigo e, rapi-
Napoleão escreveu nas suas memó- durar apenas 75 dias, o alastramento damente, aprovam a Constituição de
rias que D. João fora o único que o de revoltas em Paraíba do Norte, Rio Cádis. A 22 de abril, D. Pedro, com
conseguira enganar. O rei ia a poucos Grande do Norte e Ceará, assustara tropas realistas, invade a Bolsa e pro-
dias na viagem de regresso, em 1821, D. João e a Corte. As duas cerimónias voca o massacre, sendo os corpos
quando Napoleão morreu em Santa marcadas para esse ano, a aclamação enterrados em segredo no Arsenal
Helena. do rei e o casamento de D. Pedro da Marinha. É o último ato absoluto
com Dona Clementina, filha do impe- do rei D. João. A 25 de abril, a Corte,
criou uma era económica. A Missão O embarque da família real A pressão para voltar rador da Áustria, foram adiadas. o rei e o resto da família embarcam
Artística Francesa, com Lebreton, e da Corte para o Brasil, Desde 1814 que D. João sofria a pres- Em Portugal soube-se da revolta para Portugal em 13 navios com
preparava a futura Academia de um quadro do século XIX são britânica para regressar a Portu- de Pernambuco, que se iniciara por 4000 cortesãos, chegando ao Tejo a
Belas Artes. Era obviamente uma atribuído ao pintor gal. Canning fora enviado para o perseguição a militares maçónicos e 4 de julho de 1821. Antes de desem-
cultura esclavagista, com mais de Nicolas-Louis-Albert Delerive esperar em Lisboa, pois Strangford uma conspiração antibritânica foi barcar, o rei teve de assinar a sua
um terço da população escrava ou garantira o seu regresso se uma frota descoberta. Beresford, depois de concordância com a Constituição,
de libertos, o que facilitava as obras. inglesa o fosse buscar; pediu o envio prender o grupo e o chefe da Maço- tendo os representantes das Cortes
Os escravos trabalhando na via nos engenhos que deram o nome aos de três navios que chegaram a 28 de naria o general Gomes Freire de uma reação ambígua: muitos deles
pública, com correntes, ou carre- engenheiros, pois o Brasil resistia dezembro, saindo, sem o rei, em Andrade, a 26 de maio faz o julga- ajoelharam para beijar a mão do rei,
gando água e alimentos, madeira ou desde 1815 ao fim da escravatura que abril de 1815. A Corte portuguesa mento em segredo: 12 executados e que parecia desfalecer.
móveis, com as famílias como amas, a Grã-Bretanha começara a impor, e desmentira a combinação e foi o Gomes Freire enforcado, estripado
criadas de sala, de rua ou de apoio, que não respondem às necessidades enviado britânico que regressou com e as cinzas espalhadas. Estes dois As Cortes vintistas e a
escravos de soldados levando as de uma cultura esclavagista que tem eles a Londres. Canning aguentou acontecimentos irão criar a mesma
sombra de José Bonifácio
suas armas, os de carpinteiros ou mãos a mais para o trabalho. No Con- em vão um ano em Lisboa, até se reação de revolta. Sabendo, em 1820,
metalúrgicos carregando os utensí- gresso de Viena, onde Talleyrand despedir. Beresford também o que- da inesperada reviravolta que faz do A elaboração de uma Constituição
lios de trabalho manual totalmente teve a ideia de tornar o Brasil reino ria de volta, foi ao Rio com os 5000 fugitivo Riego, um herói, Beresford surgira como um utensílio: um rei
desvalorizado, fez ver os cariocas unido a Portugal, apenas se aceitou veteranos pedidos, Saldanha e os viaja de novo para o Rio para conse- constitucional era manobrável e não
como preguiçosos. interromper o tráfico de escravos dois batalhões a cavalo; D. João fê-lo guir o regresso do rei ou de um mem- só regressaria como seria obrigado
Ao contrário da metrópole, os por- com a América do Norte. marechal do exército e entreteve-o bro da família real. Chega em maio, a acabar com o protetorado britâni-
tos não tinham guindastes, nada Com uma certa cultura, razoavel- com vistorias às instalações milita- não convence o rei e, a dez dias no co. Em outubro de 1820 saem as ins-
apontava para uma civilização indus- mente inteligente e bastante astuto res. De resto, a rainha morrera em mar sabe da revolução liberal de 24 truções para eleição de deputados
trial. As máquinas nem eram usadas na avaliação das perdas, D. João dei- março e o casamento das duas filhas, de agosto no Porto e em Lisboa não num total de cem, que incluem c
36 • Público • Quarta-feira, 19 de Agosto de 2020
DR
Passos Manuel
as colónias e 72 para o reino do Bra-
sil, mas só viajam 46. Como na
metrópole, dominavam as profissões
liberais, os homens de leis, 10% de
O Vintismo na formação
militares, e, embora o Brasil elegesse
um arcebispo (da Baía), e Portugal o
de Évora, a percentagem de religio-
sos brasileiros era maior, 30%.
Nas Cortes, apenas os radicais, (do
antigo Sinédrio e alguns militares) se
distinguem de uma maioria de con-
servadores que acabam submeten-
do-se-lhes, mas os deputados brasi-
de uma esquerda liberal
leiros são todos revolucionários, da
revolta de Pernambuco, Baía ou Maria do Carmo Serén
outras, incluindo os padres, que
A
tinham saído recentemente da pri- s representações, incluindo José, pois é nesse ano que nasce, em
são. Entre eles contava-se o irmão de as fotografias que restam junho, a sua irmã Ana. Parece haver
José Bonifácio de Andrade, António de Passos Manuel e seu uma qualquer combinação entre
Carlos, por São Paulo. Com os depu- irmão Passos José — a forma ambos, já que mesmo no seu tempo
tados de São Paulo seguiam as únicas de os distinguir na câmara se aceitavam as datas de 1800 e 1801
instruções escritas para o congresso, dos deputados —, mostram- para os seus nascimentos. Havia uma
redigidas por José Bonifácio e que nos vestidos ao modo da Guarda ligação intensa entre os dois. Manuel
defendiam a defesa da integridade e Nacional, casaca negra e laço da mes- escreveria que os dois irmãos Passos
indivisibilidade dos reinos unidos. ma cor, em volta do pescoço, o que são dois gémeos como Castor e Polus.
As Cortes abrem a 24 de janeiro de mais relevava da austeridade e sim- Outras vezes, os dois lados de uma
1821, em março tornara-se presiden- plicidade dos deputados vintistas. O moeda, a insistência é de Manuel.
te Manuel Fernandes Tomás e os Vintismo é a memória ativa desses E, de facto a vida política, o jornal
deputados brasileiros tomam assen- tempos radicais em que se enterrava que criam em Coimbra, O Grito do
to a 24 de março de 1822, pois as Cor- o Antigo Regime — o absolutismo e o Povo, as Memórias políticas diversas,
tes podiam funcionar com dois ter- senhorialismo — e se instituía a liber- o Setembrismo ou a Patuleia é obra
ços dos deputados e só viriam 46 do dade de acordo com a Declaração dos comum, a retórica de Manuel, a pre-
Brasil. Quando estes iniciam os tra- direitos do homem e do cidadão. É cisão de José. Isto torna-se claro da
balhos já era claro que a Constituinte também um processo de um novo Constituição de 1838, prática, simples
pretendia reduzir o Brasil ao estatu- D. João VI liberalismo de esquerda que ganhou e concisa, fundamentalmente criada
to de colónia que já fora. Entretanto as suas características ideais com por José, sem Manuel. Com mais pro-
D. Pedro começara a ouvir José Boni- Moeda, doutor em Direito e Filoso- Europa exigida pelas Cortes e que é Passos Manuel, que, depois da emi- tagonismo de Manuel no breve gover-
fácio, que deixara Portugal em 1818, fia, responsável das sementeiras e a origem do famoso Fico! do prínci- gração em Paris, nas barricadas con- no setembrista (demite-se, cansado
com licença de ida e volta, para pedir pinhais, desembargador no Porto e, pe. tra Carlos X e a entronização de Luís e doente em 1837) e com um papel
ao rei que libertasse o irmão António em 1807, superintendente do rio As instruções tinham sido seguidas Filipe, já não define o processo pelo bem menor na Patuleia, desencadea-
Carlos preso por participação na Mondego. Na Guerra Peninsular faz pelos deputados brasileiros, que rea- lema de Rocha Loureiro A Constitui- da e organizada por José. Magda
revolta de Pernambuco e ficara como parte do Corpo Militar Académico de firmam a sua intenção de manter os ção, nada mais; a Constituição, nada Pinheiro sugere que o regulador de
conselheiro do rei. Coimbra, sendo presidente do Corpo reinos unidos, recusando a existên- menos, que o seu governo setembris- Passos Manuel foi a doença, idêntica
José Bonifácio nascera em Santos, na 3.ª invasão, tendo ainda a incum- cia de um partido independentista. ta, afinal, não restaurou. Deixando o à de Marat, obrigando-o a banhos de
viera estudar em Coimbra, fizera o bência de produzir balas para as Mas são tão humilhados e persegui- governo em 1837, afirma que cumpri- mar sucessivos, com febres altas e
curso de Filosofia e Matemática e o armas de fogo do Corpo Militar. Em dos que deixam as Cortes e o país. As ra o seu ideal de soberania popular: vagas de quistos, lacerações e feridas
curso jurídico, tornara-se membro 1812 é nomeado secretário perpétuo Cortes tinham extinto os tribunais do rodear a monarquia de instituições abertas que não saravam. Quando
da Academia das Ciências e o seu da Academia das Ciências. Brasil e enviado uma reestruturação republicanas. separados, Manuel deixa a política.
fundador, o duque de Lafões obteve Em 1820, já conselheiro do rei, D. das províncias, subordinando-as a si Nascidos em Guifões, Matosinhos, Mas Passos Manuel era um homem
para ele e dois colegas uma excursão João envia-o numa excursão minera- e chamando os procuradores. em anos difíceis de assinalar, pois vistoso e um grande tribuno, eloquen-
científica pelas escolas e cidades lógica em São Paulo. É vice-presiden- A 16 de fevereiro, D. Pedro cria emendados no livro de registo, de te, enérgico, apoiando-se em factos
mineiras da Europa. Partem em 1790 te em São Paulo em julho de 1821. procuradores-gerais para as Provín- resto em seriações de páginas do ano verificáveis. José era um homem de
e em Paris veem o fim dos Girondi- Escreve a D. Pedro a carta que o cias que, ao contrário do pai, come- de 1802 para José, (emendado para ação e trabalho, organizador, que
nos e o início do Terror com Robes- aconselha a ficar no Brasil, recusan- çara a visitar, a conselho de J. Boni- 1801) e 1805, emendado para 1806 vivia o momento, pouco exaltado e
pierre. Contacta com os maiores do a acintosa viagem de estudo pela fácio, sem corte, com três ou seis para Manuel, em todo o caso nunca bastante pragmático.
sábios do tempo, Lavoisier, Jussieu, amigos, cobrindo quilómetros a Manuel nasceria em 1801, o ano que O Vintismo estará presente no
von Humboldt, Werner, (criador da cavalo e ganhando popularidade, se aponta quer para ele, quer para Setembrismo, na Regeneração, com
1.ª classificação mineralógica), Volta As Cortes abrem Numa breve visita a São Paulo recebe o Acto Adicional à Carta e, de certo
em Itália, sendo elogiado em todos
os países e pertencido às suas acade- a 24 de Janeiro no caminho cartas das Cortes, acu-
sando-o de crime de lesa-majestade
modo, no primeiro e, durante longos
anos, único deputado republicano na
mias. Com Werner, que chega a ultra-
passar, torna-se um cientista respei- de 1821, em Março contra o rei e outras de J. Bonifácio e
Dona Clementina incitando-o a ser
Assembleia, Rodrigues de Freitas,
amigo e colaborador no jornal de
tado, escrevendo Memórias Científi-
cas em todas as academias de que se
tornara-se firme. É aí que declama o famoso
Grito do (rio) Ipiranga, Liberdade ou
José, O Eco Popular e seu dedicado
discípulo.
torna membro, incluindo a da Sué-
cia, onde descobre quatro novas
presidente Manuel morte! A 13 de Outubro, depois de
recusar o desembarque de tropas
Curiosamente, na emigração, iro-
nizavam que eles queriam ser reis. Na
espécies minerais. Fernandes Tomás enviadas de Portugal, é aclamado Belenzada, o jovem marido de D.
Depois de dez anos de aprendiza-
gem, regressa, em 1800 a Lisboa, e a 24 desse mês imperador. Em Novembro morria
Manuel Fernandes Tomás.
Maria II criaria o mito ao perguntar
com ironia a Manuel Passos: Monsieur
iniciando viagens de reconhecimen-
to mineiro na Estremadura e Beira,
os 46 deputados Investigadora integrada do
le roi Passos comment vont vos sujets à
Lisbonne? Os tais súbditos que ronda-
é professor de Metalurgia na Univer-
sidade, intendente-geral das Minas,
que vieram do Brasil CITCEM-FLUP, professora
auxiliar convidada da
vam próximos eram os Guardas
Nacionais e o povo, numa temporária
diretor do laboratório da Casa da tomam assento Universidade Lusófona do Porto Passos Manuel soberania popular.
Público • Quarta-feira, 19 de Agosto de 2020 • 37
19º Beja
BRIDGE SUDOKU Sines
16º 24º
14º 33º
Dador: Sul jogada singular que torna este jogo Problema 1-1,5m
Vul: NS 100% seguro — último pau do morto
para a balda do 5 de ouros da mão! Seja 9922
Sagres
NORTE
qual for o defensor que fique com a Dificuldade: 17º 25º
Faro
mão. Vejamos caso a caso: — se jogar 20º 33º
Ƅ QJ95 ouros, o Valete ficará automaticamen-
Fácil
Ɔ Q76 20º
te apurado se a distribuição for 4-2 ou
Ƈ J432 o último ouro se 3-3; — se atacar copas, 0,5-1m
ƅ 32 só temos de deixar correr para garantir Açores
duas vazas nesse naipe; — se voltar a Corvo
jogar paus, o corte e balda permitirá Graciosa
Terceira
OESTE ESTE eliminar uma das perdentes de copas, Solução do Flores
Ƅ 82 Ƅ- cedemos apenas uma copa e um pau. S. Jorge 19º 24º
problema 9920 17º 25º
Ɔ J854 Ɔ K92 Genial!
24º
Ƈ 97 Ƈ Q1086 24º Pico
ƅ KJ1096 ƅ AQ8754 Considere o seguinte leilão: 2m
Faial
Oeste Norte Este Sul 19º 24º
2m S. Miguel
SUL
1Ɔ 1Ƅ 2Ɔ
3Ƈ passo passo ? 19º 24º
Ƅ AK107643 Ponta
Ɔ A103 23º Delgada
Ƈ AK5 O que marcaria, com a mão seguinte?
Ƅ J87 Ɔ Q74 Ƈ K3 ƅ Q5432 1,5m
0,5-1m
ƅ- Madeira Sta Maria
QUESTIONÁRIO DE PROUST
“Sou uma joiinha dum moço”
FERNANDO VELUDO/NFACTOS
Qual a sua ideia de felicidade
perfeita?
Certas coisas que não pareciam
assim tão perfeitas e felizes num
presente passado.
Qual é o seu maior medo?
Não conseguir valer aos meus
Ælhos.
Na sua personalidade, que
característica mais o irrita?
Achar que estou certo.
E qual o traço de personalidade
que mais o irrita nos outros?
Acharem que estão certos.
Que pessoa viva mais admira?
Sendo eu protestante, chamaria
sua santidade ao Papa Francisco.
Mas todos aqueles que lutam
contra a corrupção são amigos da
humanidade.
Qual a sua maior extravagância?
Gostar de hotéis.
Qual o seu estado de espírito
neste momento?
Respondão.
Qual a virtude que pensa estar
sobrevalorizada?
Não mentir.
Em que ocasiões mente?
Eu não minto.
O que menos gosta na sua
aparência física?
Alguns centímetros a mais,
desnecessários para se viver em
Portugal.
Daniel
Entre as pessoas vivas, qual a
que mais despreza? Jogar no casino. Por outro lado, A sua característica mais Pessoas que se lancem ao mar ou
Todo o que vê no outro um degrau ainda bem. marcante? às chamas para irem resgatar
da sua escadaria pessoal. E não são Se pudesse mudar alguma coisa Ser uma joiinha dum moço. pessoas em apuros, quem luta
Jonas
poucos. em si o que é que seria? O que mais valoriza nos amigos? pelos seus direitos, mais ainda
Qual a qualidade que mais Alguma tendência para a Lealdade e interesse pelo estado da quem luta pelos direitos dos
admira num homem? insatisfação, contrastando com arte dos seus amigos. outros, mártires conhecidos,
Não ser mulher. alguma tendência para o Quem são os seus escritores mais ainda mártires
E numa mulher? contentamento. favoritos? desconhecidos.
Não ser homem. O que considera ter sido a sua Proust é um deles. Milton, Pessoa, Quais os nomes próprios de que
Diga uma palavra — ou frase —
que usa com muita frequência.
maior realização?
Não sou cineasta.
Poeta e dramaturgo Ruy Belo, Huysmans,
Shakespeare... é uma lista
mais gosta?
Rapazes: Mateus, Tomás, Damião.
Georges, anda ver o meu país de Se houvesse vida depois da interminável, receio bem. Yeats, Raparigas: Viridiana, Edviges,
marinheiros! morte, quem ou o quê gostaria têm teclados e não sabem o que Hemingway, Cervantes. Catarina.
O quê ou quem é o maior amor de ser? fazer com aquilo. Quem é o seu herói de ficção? Qual o seu maior
da sua vida? Um zombie ou um anjo da guarda Qual o seu maior tesouro? Corto Maltese seria um deles. D. arrependimento?
Como diria Turgueniev, pais e (não necessariamente vivendo na Dormir com razoável longevidade Quixote outro. Sandokan. Des Não ter pensado melhor.
Ælhos. Guarda). e acordar. Esseintes. Como gostaria de morrer?
Aonde e quando se sente mais Onde prefere morar? O que considera ser o cúmulo da Com que figura histórica mais Não gostaria.
feliz? Gostaria de viver bergmanamente miséria? se identifica? Qual o seu lema de vida?
Numa canção. numa casa ao pé dum lago com um Roubar a pobres. Jesus Cristo. Como diria o sargento Phil
Que talento não tem e gostaria barquinho que raramente haveria Qual a sua ocupação favorita? Quem são os seus heróis na vida Esterhaus em A Balada de Hill
de ter? de usar, como aquelas pessoas que A desocupação. real? Street, “Let’s be careful out there.”
Quarta-feira, 19 de Agosto de 2020
CONSOANTE MUDA
E
para beneÆciar todos os parceiros Até aqui tudo o que está dito Baixos para darem uma voltinha de apoio para fazermos a única
da União Europeia, e todos de uma atrás é já bem conhecido. O que é em sistemas Æscais ainda mais política que é capaz de fazer frente
ntre os liberais — no sentido forma ou de outra tiram ou podem novidade é a notícia que o escandalosamente laxistas, trata-se à atual crise, que é transnacional.
menos histórico e mais tirar partido dela — mas também os Financial Times divulgou esta de concorrência desleal que tem Se os neerlandeses acordarem
retórico que o termo tem principais beneÆciários de um semana, segundo a qual tem de ser combatida amarrando as de facto para a realidade de que
ganho nas últimas décadas — desajuste entre estas liberdades e a estado a ganhar cada vez mais empresas a um qualquer dique de frugalidade com os impostos dos
corre muito uma frase de inexistência de regras que apoio uma proposta de lei betão. Bravo pelo despertar tardio! outros é refresco, mas com os
Margaret Thatcher segundo a impeçam a concorrência tributária neerlandesa “que atingiria as A segunda forma é mais nossos impostos dói a valer, talvez
qual “o problema do socialismo é desleal — o que é péssimo, porque multinacionais com milhares de construtiva. Note-se, em primeiro seja esta a altura para lhes propor
quando o dinheiro dos outros signiÆca que os impostos milhões em impostos a benefício lugar, que sempre houve as soluções mais eÆcazes para o
acaba”. O problema deste tipo de muitíssimo baixos que os Países dos Países Baixos” se estas neerlandeses que estiveram contra problema que agora os aÇige: uma
liberalismo mutante, ou Baixos permitem que as decidissem abandonar a sua o estabelecimento do seu país deÆnição comum europeia dos
neoliberalismo, feito de multinacionais paguem na sua jurisdição Æscal. Mais novidade como paraíso Æscal. No Parlamento lucros da empresas e, por
desregulação de mercados, cortes jurisdição são relativos a ainda é que pelos vistos a lei Europeu cheguei a endereçar consequência, da base tributária
às provisões públicas de serviços e transações realizadas noutros funciona ainda antes de ser sequer perguntas à Comissão Europeia empresarial; e a criação de
ódio ao legado do maior países europeus e correspondem aprovada, porque a multinacional sobre se o esquema holandês não impostos europeus sobre
economista liberal do século XX, aos recursos perdidos dos estados Unilever “anunciou que teria de poderia ser uma violação das leis multinacionais que em muito
John Maynard Keynes, é que ele que nos fazem falta para as nossas reverter a sua decisão de se de concorrência europeias, e o beneÆciam do mercado único e
sim só é possível de sustentar com escolas e hospitais, estradas e transferir de Roterdão para o co-autor dessas perguntas era o que não terão hipótese de o
o dinheiro dos outros. parques nacionais, jardins de Reino Unido se a iniciativa fosse meu colega da Esquerda Verde ignorar nem dele fugir.
Consideremos os Países Baixos. infância e bibliotecas. O problema aprovada”. neerlandesa Bas Eickhout. O autor Se estas medidas Æzerem
Nos últimos anos, o Governo do da suposta frugalidade Há duas maneiras de olhar para da proposta que atualmente ganha caminho, será bom para eles e para
holandês (nascido em Haia) Mark neerlandesa é que é feita à custa estas notícias. Uma delas, apoios nos Países Baixos é também nós. Refresco para todos! Talvez
Rutte tem alardeado a sua dos recursos dos outros. O inevitável, passa pelo uso do um político da Esquerda Verde, na até lhes mandemos umas garrafas
reputação de “frugal”, ou opositor problema da nossa austeridade é sarcasmo. AÆnal, quando os Países oposição, Bart Snels. O que isto nos de vinho verde daquele com que os
a qualquer plano orçamental que ela é a consequência direta dos Baixos celebram acordos segundo diz é que em vez de cedermos à ministros das Ænanças
europeu ambicioso, assente em milhares de milhões de euros que os quais a deÆnição de lucro tentação de pormos países contra neerlandesas parecem tão
boas contas nacionais. Ora, como perdemos todos os anos (para o permite às empresas — entre elas, países na União Europeia, faríamos obcecados.
sabemos, os Países Baixos são os início da década de 2010, praticamente todas as portuguesas bem em lembrar-nos que dentro
principais beneÆciários das estimavam-se as perdas do PSI-20 — pagarem apenas de cada país da UE há sempre Historiador
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