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ABUSO DO PODER
Fala-se muito em abu-
ACAO D/nSTA
sos do poder- Mas, só
existem tais abusos por-
que existe Poder. Acabe-
se com este e seus abu-
sos acabarão.
Lord ACTON dizia:
"O poder corrompe; mas,
o poder absoluto corrom-
HENSARIO ANARQUISTA pe absolutamente". Ora,
Diretor: Sônia Oilicica Diretor Fundador: José OilíCiCa Administrador: Manuel Peres a tendência de todo po-
der é tornar-se absoluto.
Redação: Av. Treze de Haio, 23—9.° andar-sala 922 Acabando-se o Poder, aca-
ba-se a corrução!
ANO 11 N." 120 Rio de Janeiro, Agosto e setembro de 1957 PREÇO: Cr$ 2.00 Registro SI/P-214 de 8-3-1946 José Oiticica
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NA ACADEMIA BRASILEIRA. — A Academia que
tão triste conduta tivera em relação ao poeta anarquista
Martins Fontes, quando só Goulart de Andrade teve a di-
ECOS DA MORTE a iniciativa na luta e foram os que mais contribuíram
para pôr em debandada c exército espanhol
O anarquismo não é um partido, como disseste; é um
gnidade de não enxovalhar o seu voto, redime-se, agora,
homenageando a José Oiticica.
Falaram sobre o mestre, os acadêmicos Viriato Cor-
DE OITICICA movimento; êle tem a ventura de não obedecer a chefes,
a um João Mangabeira, por exemplo, socialista que nega
o auditório do Partido, para uma reunião com socialistas
reia, Levy Carneiro, Álvaro Lins, Peregrino Júnior. Não Por SERAPHIM PORTO
europeus, alegando que o Partido Socialista Brasileiro
falou Manuel Bandeia... e fêz bem... lucraram os aca- quista, era um dos homens mais corretos e dignos que não tem ligações internacionais. Estavas oerto e ouviste.
dêmicos... e Machado de Assis. conhecera, chefe de família exemplar". Sociahsmo à Mangabeira, à moda da casa.
Apesar de grandemente satisfeito, em virtude dos la- Não fosse Peregrino Júnior, acadêmico e Presidente, Se bem que te não pareça exeqüível o anarquismo,
ços de amizade que nos prendiam ao mestre, não pode- e diríamos não conhecer o significado da palavra apesar. as várias experiências práticas mostram que o é.
mos calar diante de dois passos do belo discurso de Vi- Mas, apesar de acadêmico e Presidente, parece ignorar Para que êle possa, no entanto, medrar por toda a
riato Correia e algumas palavras atribuidas, pelo "Jornal que a História do Anarquismo pode fazer desfilar diante parte, é preciso ir vencendo as várias resistências, à sua
do Comércio" de 7 de julho, a Peregrino Júnior. dos seus olhos, inúmeros vultos não só corretos e dignos propaganda. E' preciso desmascarar o mito da Rússia'
Diz Viriato: "O professor José Oiticica foi talvez o senão que de vastíssimo saber, como o genial Proudhon, que traz o trabalhador iludido e esperançoso. E' preciso
mais pacífico, o mais cândido dos anarquistas do mundo". o romancista Tolstói, o ex-príncipe, sábio Kropotkin, o mostrar que, enquanto houver Governo, há apressão, seja
Estas palavras mutilam a personalidade do mestre. grande geógrafo Elisée Reclus. êle de Atlee ou de Leon Blum. E' preciso mais lealdade
Viva êle, na memória dos amigos, como foi realmente: Quanto à ser chefe de família exemplar, apesar de no processo da luta, principalmente, por parte dos socia-
— um grande coração! Pacífico, não! Cândido, jamais! muitos não o serem, embora não sejam anarquistas, só listas, afim de não transformarem em movimentos elei-
Era partidário da revolução,.-e só não pegou em armas, todos não o são, porque, quase todos, acadêmicos ou não, toralistas, os movimentos que se criem, para esclareci-
porque, descobertos os planos, lhe fugiram as oportunida- ainda ignoram que só o anarquismo poderá remover as mento honesto do proletariado. Há bem pouco tempo foi
des. As opiniões que, antevendo os fatos, emitiu a com- múltiplas causas sociais, que fazem a humanidade infeliz. boicotado o M. O. S. (Movimento de Orientação Sindical),
panheiro destacado de Espanha, por ocasião da Guerra Oiticica, anarquista, era coerente, .sendo exemplar» por elementos que estavam mais interessados na caça do
Civil de 1936, para prevenir traições certas, podem ser de chefe de família. voto, do que no esclarecimento dos trabalhadores. O M.
um grande militante estudioso e observador... nunca, NO CORREIO DA MANHÃ. — Até tu, Osório Bor- O. S.: não se prestava para ninho de eleitores. E' preciso
porém, de um pacífico, de um cândido! Pacífico e cândi- ba?! Creio que conheces a Tolstói. Era anarquista cris- mostrar aos trabalhadores que não basta lutar por mai^-:
do, quem dera uma bofetada em Chefe de Polícia, 'p'or tão. Mas, nada tinha que ver com o cristianismo daqueles salário e menos horas de trabalho, porque a burguesia
tentar desrespeitá-lo?! cristãos, que engrossam as fileiras do Partido Socialista vai, na mesma proporção, aumentande c custo da vida.
Prossegue o ilustre acadêmico: "Era um anarquismo Brasileiro e que juram cega obediência a cardeais e pa- mas, que urge transformar a organização social, para
branco, azul ou côr de rosa, enfim de uma dessas cores pas. Houve, na Europa, uma corrente anarquista — os sairmos deste círculo vicioso.
que simbolizam doçura, paz, tranqüilidade". Nazarenos, anarquistas cristãos, que foram de uma bra- Hoje, no Brasil, somos poucos os anarquistas; a nos-
Parece desconhecer o ilustre acadêmico a significa- vura sem par. contra todas as injustiças sociais e que se sa ação nos sindicatos não é sentida, como o foi até 1918;
ção das cores no campo das lutas sociais. Aqui mesmo, negavam a pegar em armas, sob qualquer pretexto, não por isso, os políticos têm acesso a eles, mentem aos traba-
no Brasil, tivemos os Camisas-Verdes, Caquis, Azuis. Es- dando importância a prisões nem a fuzilamentos. Não te lhadores e são carregados em triunfo ridículo!
tes, de vida efêmera, do Prefeito Pedro Ernesto, antes de admirem, pois, que Oiticica fosse anarquista e rosa-cruz.
EM LEITURA. _ Na quarta página do n.° 2 cie Lei-
aderir à Aliança Nacional Libertadora, chegaram a des- De modo geral, são os anarquistas, nc campo filosó- tura, infeliz comentarista conseguiu, em tão curto espaço,
filar. Chamam-se amarelos, aos que traem a causa dos fico, ateus. Uns e outros, porém, na esfera política, olham atulhar o maior amontoado de asneiras, de que há memó-
trabalhadores. todos os Governos, quaisquer que eles sejam, tenham os ria na imprensa brasileira. Basta dizer que confunde,
Dizer que o anarquismo do Oiticica era côr de rosa, apelidos que tiverem, como instrumento de opressão. em tom doutorai, anarquismo com bolchevismo! O peso
é dizer que êle se fingia revolucionário, que se dizia re- E tu Osório, tão inteUgente. tão honesto, tão bravo, de tamanha ignorância preocupará, por certo, a O. N. U.!
volucionário por vaidade ou por tirar proveito, mas, que, ainda acreditas nas boas intenções dos governos! Diz haver sido o Oiticica, o último dos anarquistas.
de coração, não desejava transformação alguma. Este Quase fôste Presidente, mal que te não desejo. No Nada! Cá estamos para podermos testemunhar a igno-
é o sentido que êle, Oiticica, dava (e muitos dão) à citada palácio, ou te vergavas e te avacalhavas, ou, então, ro- rância maciça do comentarista!
expressão, sentido em que a empregou, em grupo reunido davas. Terminou dizendo: — "os gramáticos, esses, não têm
na sua residência, pouco antes do seu falecimento. Falaste em "um grupo anarquista", na Guerra Civil mais ofício, que mais vale quem pior escreve". Eis a ra-
Agora, as palavras atribuídas a Peregrino Júnior, da Espanha, de 1936 a 1939. Não sei que extensão dás ao zão pela qual escreveu tanta asneira, naquele seu Por-
Presidente da Academia: — ""...apesar de se dizer anar- "grupo". Mas, os componentes desse "grupo", tomaram tuguês, que o faz valer mais do que ninguém...
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JOSÉ' OITICICA Em começos de 1913 houve uma reunião de delegados de A LICAO DO PROLETARIADO
várias associações de classe do Rio, promovida pela comissão ESPANHOL
reorganizadora da Confederação Operária Brasileira, nomeada
Recordando alguma coisa pela Federação local, com o fim de coordenar esforços para des-
(Continuação da l.^^ pag.)
muitos políticos, defensores da de-
mocracia burguesa. Sendo, no ma-
envolver o movimento associativo profissional com caráter apo-
de sua tragetória no mo- lítico, isto é, orientação sindicalista-revolucinária. Ela teve lu-
gar na sede de uma sociedade localizada à rua S. Pedro, próxi-
pa da Europa, uma cabeça de al-
finete a extensão territorial da Es-
panha, e esta partida na metade,
mo à dos Andradas. com um terço no máximo genui-
vimento libertário Posterior a essa assembléia e no decorrer desse ano, Oiticica
entrou em contato com os elementos da Federação Operária do
namente proletária que viveu e
serviu à revolução, a projeção que
teve no mundo da exploração ca-
Por JOSÉ' ROMERO Rio de Janeiro, organismo sindical apolítico, cujo nome vinha pitalista e da tirania comunista foi
desde 1906, quando se realizou no Rio o 1.° Congresso Operário e continua sendo de enorme im-
Oiticica nos deixou para sempre. Nunca mais o tornaremos portância .
Brasileiro, mas que, entretanto, era uma continuação do mo-
a ver. Empreendeu a viagem que todos nós, mais dias menos A vida social-econômica da Es-
vimento operário do Rio, da antiga Federação das Associações panha anti-franquista se desenvol-
dias, teremos que fazer e da qual não. se regressa. As leis ine-
de Classe, fundada em 1903. Nessa altura a Federação tinha a veu sem capitalistas, mediante o
lutáveis da Natureza, na sua ação constante de transformação controle dos operários, a coletivi-
sua sede num sobrado no antigo Largo do Capim, situado entre
da força e da matéria, não poupam ninguém. zação e a administração dos pró-
as ruas General Câmara, S. Pedro e Andradas, na direção des-
, A's' 18 horas da tarde do dia 30 de junho do corrente, quan- prios trabalhadores. Tudo funcio-
ta última. nava sem governo e sem autorida-
do a luz do dia começava a desaparecer do firmamento, algumas
Um dia José Oiticica, com a sua inseparável pasta, subiu de. Fazia-se a guerra, não para
centenas de pessoas — (a família, amigos, discípulos e compa-
a escada do sobrado, entrando no recinto dos trabalhadores, que defender a pátria dos capitalistas,
nheiros de Ideal) — muitas com as lágrimas caindo, entrega- mas para destruir os traidores e
não tinham medo de ouvir falar do ideal anarquista e ler os seus
ram-no ao seio da Mãe-Terra. Por momentos, a mágoa que per- para instaurar o verdadeiro socia-
pensadores e propagadores; lugar perigoso segundo os burgue lismo .
dura no nosso íntimo quer embargar a ação da mente, que de-
ses caçadores de votos e demais defensores do regime capitalis- Praticava-se a verdadeira demo-
seja dizer alguma coisa sobre o companheiro que perdemos.
ta. Logo deparou com vários grupos, uns sentados e outros em cracia obreira, existindo os comi-
Reanima-se, porém, insiste e diz: "Aceita o inevitável com se- tês de relações, que trabalhavam
pé. Ao encontro dele, por ser pessoa desconhecida dos presen-
renidade; traça algumas linhas, ainda que pouco saibas do belo para fortalecer os sindicatos e res-
tes, foi um membro da comissão administrativa da Casa. Era tringir os partidos políticos. Veri-
idioma que o companheiro desaparecido com tanto carinho en-
ura companheiro, carpinteiro de profissão, mulato, natural de ficava-se a medida da capacidade»
sinava aos seus alunos." A memória desanuvia-se e recorda-se sindical do proletariado; corrigin-
de pessoas e fatos. Maceió, de quem, no momento, só recordamos o sobrenome, que
era França. do sempre erros conseguiam-se
O grande geógrafo e pensador anarquista Eliseu Reclus dis- acertos, demonstrando-se que .sem
— Que deseja o nosso amigo? perguntou-ihe. a ditadura do proletariado se po-
se: "O homem é a natureza formando consciência de si mesma".
—■ Desejava falar com o presidente ou diretores — respon- dia forjar uma sociedade nova.
Mas, do que não há dúvida é de que a consciência da maioria Podia-se viver sem padres, sem
deu Oiticica.
dos homens ainda continua endurecida, sonolenta, quase apa- liturgia e sem temor a Deus. O
— Aqui não temos presidentes, nem diretores — replicou amor não precisava de garantia
gada por força dos preconceitos acumulados através de séculos
í>'or sua vez o companheiro alagoano, criatura de temperamento oficial e se demonstrava trabalhan-
de ignorância, exploração, miséria e tirania de • uns sobre os
expansivo e alegre, agregando: Só há comissões administrati- do e lutando com o máximo de
outros. Quando, porém, esclarecido o pensamento, ela desperta abnegação, a inutilidade do govêi--
vas que executam as decisões das suas assembléias.
e compreende a verdadeira missão humana sobre a Terra, o no e toda sorte de coerções.
— Muito bem, — disse Oiticica — e a seguir pronunciou A unidade obreira era o signo
homem esforça-se e combate na medida da sua capacidaue fí-
mais algumas palavras que não recordamos bem, cujo sentido da resistência e o incentivo para
sica, moral e cultural para destruir os erros, iniquidades e in- a luta, na demonstração de que o
fora de haver encontrado alguma coisa do que desejava e lhe
justiças que deslustram a existência da humanidade, contribuin- trabalho une e a política divide
causava satisfação.
do para solidarizar e libertar, não somente a coletividade de sempre em proveito da tirania e
Depois conversou com os operários que lá estavam. Dessa da exploração. Carentes da solida-
que por ventura faça parte, mas o mundo todo, da opTessão e
época em diante não cessou o seu contato com o movimento riedade internacional, traídos pela
mazelas que dominam ainda a sociedade atual. II Internacional Socialista e pelo
sindicalista de ação direta, que perdurou até o começo da dita-
O companheiro José Oiticica possuía inteligência- esclareci- pregão nacionalista do comunismo,
dura getuliana, mais intimamente com o do Rio, entretahto. que roubou o ouro em troca do
da e incoirutível, vontade que não desfalecia, sentimentos apu- também, com o de S. Paulo. Por meio de conferências, paies "voluntários"' internacionais e de
rados; era tolerante com os seus semelhantes e intransigente trás e diálogos procurou distribuir aos companheiros de Ideal conselheiros importados da Rús-
na defesa do Ideal que abraçou: a doutrina anarquista. Foi um e aos trabalhadores em geral os conhecimentos que possuía so- sia, com o Comitê de Não Inter-
trabalhador incansável no exercício cotidiano da sua arte de bre a questão social, idioma, ciência, higiene e muitos outros, venção e com a enorme ajuda que
ensinar, não só como professor de português no Pedro 11, colé- o fascismo, a Igreja e o nazismo
necessários ao aumento de cultura do trabalhador, despida dos emprestavam ao bando dos traido-
gio padrão da República, como também nos curaos particulares rançosos preconceitos da sociedade capitalista. res, fomos afinal vencidos. Mas,
e como professor da Escola de Arte Dramática da Prefeitura do Assim procedeu na Liga Anticlerical do Rio de Janeiro. quem triunfou na Espanlia? E esta
Distrito Federal. Só impossibilitado por doença é que deixava é a lição que desejamos explicar.
1912/30 (?), onde sua atuação foi grande, esclarecendo cérebros Não obstante os 803 milhões de
de atender aos seus deveres e compromissos com os seus alunos. e estimulando vontades. Náo era somente contra o clericalismo dólares que Franco recebeu do ca-
Como escritor, a sua obra sobre filologia, literatura, crítica que êle pregava, era também contra os vícios, o álcool, o fumo pitalismo norte-americano, a Espa-
literária, poesia e o ideal anarquista, foi abundante. Se houver e outros. Tivemos ocasião de conhecer pessoas que, depois de nha está outra vez na situação que
alguém que, com o devido esmero e carinho, a possa reunir e já deixou imortalizada Quevedo ao
terem ouvido as suas conferências sobre os males que esses ví- dizer:
editá-la, certamente muito lucrará a cultura da geração presen- cios produzem, deixaram de fumar, tornaram-se abstêmios ou Não há de haver um espírito va-
te e vindoura, como também esclarecerá o que querem e dese- morigerados. Nessa Liga realizaram conferências, também, que lente?
jam os libertários. Sem-pre se há de sentir o que se
nos lembremos, o Dr. Coelho Lisboa, o tenente da Marinha Co-
Devemos citar o que nos disse um comp'anhelro no dia do diz?
riolano Martins e Cecília Meireles contribuindo dessa forma Nunca he há de dizer o que se sen-
seu sepultamento; que 48 h. antes de falecer esteve no seu es- para ilustrar o povo, ensinando-o a amar a liberdade e o livre te?
critório fazendo a revisão das provas dos artigos para o último pensamento. Sim, na Espanha de hoje, "amea-
número (118) de "Ação Direta", pedindo que lhe levasse com ça-se morte", mas a situação é
No decorrer de 1914 foi fundado um Centro de Estudos So- caótica e o regime está agonizan-
urgência a prova de página, pois, sempre fazia empenho em re- ciais, que teve a sua sede na rua General Câmara 335. Dos seus do. Já a gente se atreve a dizer
visar a matéria do periódico em segunda prova. Tal era o seu numerosos aderentes destacavam-se Oiticica; o velho João Gon- o que sente, e quer acabar com a
zelo para evitar que passassem erros da língua de que foi cul- çalves, de saudosa memória, contabilista; Cecílio Vilar, tipógra- tirania que posterga os direitos do
tor, e de que teve ocasião de cantar a beleza num soneto, se a trabalhador. Chegará outra vez a
fo. riograndenses os dois; Francisco Viotti, estudante de medi- hora de recolher a semente que
memória não me falha, intitulado "A Língua". cina, mineiro; e outros. foi semeada, e poderá ser expor-
A sua trajetória no movimento libertário e no meio sindical Nos começos de 1913 houve uma reunião plenária do mo- tada aos países de tirania e abso-
foi constante. Nos seus 75 anos de vida, durante 46, êle soube vimento anarquista do Brasil. As sessões, que duraram vários lutismo, já que temos de confiar
dispor de tempo para dedicá-lo à propaganda da redenção social, na força obreira adormecida pela
dias, tiveram lugar na sede da associação de classe dos empre propaganda dos partidos políticos.
coisa que êle fazia em diversos meios associativos. Entretanto, gados em hotéis, restaurantes e cafés, denominada Centro Cos- Repetir-se-á a história. Nenhuma
sempre viu que para destruir a exploração do homem pelo ho- mopolita, à sua do Senado, cedida gratuitamente pelos seus as tirania é eterna, nenhuma rehgião
mem, era preciso ensinar, esclarecer a mente dos trabalhadores, é infalível.
sociados. Na discussão dos assuntos postos à consideração da O que tem permanente sentido
dos quais foi um amigo dos mais sinceros e desinteressados até assembléia, José Oiticica tomou parte ativa nos debates sobre real e atual, é recordar que os tra-
os últimos momentos da sua existência. táticas, meios de propaganda e ética da doutrina. Certos pontos balhadores não têm pátria e que
Em 1912 tivemos a satisfação de ler o primeiro artigo de e maneiras de ver os problemas por êle ali expostos acham-se conquistar sua emancipação, é
obra só dos trabalhadores.
Oiticica de afirmação anárquica. (Ignoro se já o tinha feito em condensados na sua obra "A Doutrina Anarquista ao Alcance de
alguma outra publicação). Nele ressaltava a obra do mártir de Todos". Nessa reunião esteve representada a F. O. R. A. da
Montjuich e previa o triunfo do racionalismo libertário. Esse . Argentina por José Borobio, companheiro que estava de passa- pouco a teoria e olhem os fatos
que se desenrolam; verão sempre,
trabalho foi publicado no número especial de A Lanterna, de S. gem pelo Rio, de volta de uma viagem à Espanha e que, sendo em toda parte, a política servir de
Paulo, do dia 13-10-912, em recordação do 3.° aniversário do fu- membro de confiança desse organismo operário, foi autorizado arma para os dominadores, os po-
zilamento de Francisco Ferrer, o fundador da Escola Moderna a tomar parte em seu nome. derosos, e que, como arma, provou
de Barcelona em 1901. Tinha a seguinte epígrafe: "Francisco Prosseguiremos no próximo número recordando, ainda que um,a eficiência muito superior d
das religiões. Hoje o clero é posto
í'errer e a Humanidade Nova". Foi o primeiro que enviou para deficiente e pàlidamente descrita, a trajetória do compa- um pouco de lado, porque a sua
o citado 'periódico. nheiro José Oiticica no movimento libertário e sindical. eficiência na conservação d^a or-
dem existente é secundária, e a
política é melhor usada, porque é
uma arma mais segura. E o clero
FÁTIMA VOLTA AO BRASIL POLÍTICA E AÇÃO DIRETA tanto compreendeu isso, dizem os
libertários, que, para não desapare-
"S O L A R I D A D (Continuação da 1.» pag.)
Por EDGART RODRIGUES cer, fez-se também político, e até
natural, direto, mas indireto, des- socialista.
empresa "Fátima Sociedade Anô-
O B R E R A" viado pelos políticos, pela luta po-
Chegou a terras de Sta. Maria a Assim^ sintetizando:
, milagreira de Fátima. Vem mu- nima Ilimitada", mas há outros e à VENDA lítica. A luta pelos meios é a ação in-
os primeiros auxiliares da maior Depois, o caminho das urnas é
nida de bolsas, mas que bolsas
fundas e resistentes! e que cofres façanha deste meio século vinte.
São eles: José dos Santos Rito, Ma-
no(Em Largo úa Lapa
frente ae Ponto dos Bondes)
mais fácil, menos trabalhoso. Toda
a inércia, todos os impulsos de
direta:
A luta pelos fins é a ação direta.
blindados acompanram a pedinte Os socialistas libertários pregam
que prepara nova colheita na vi- nuel da Costa "Lamorosa^", Gilber- passividade que estão dentro do esta última, e a justificam. A pri-
nha do Senhor. Lá vem ela balan- to Fernandes dos Santos "Bicân- homem, predispõem a receber de meira é um desvio do verdadeiro
çando ao sabor das ondas do mar, caro^' e o fotógrafo Antônio de boa vontade turo quanto signifi- impulso hum.ano de ação que, no
naquele "Monstro diabólico a va- Campos. Esses inventores e cola- e engarrafada pelos monstros da que o menor esforço. A campanha oprimido, m.anifesta-se num im-
por, invenção do diabo". Seus te- boradores dos primeiros anos, fo- batina, água que tem proporciona- política tem essa miraculosa eficá- pulso de rebeldia.
soureiros são astutos, sagazes e ram apoiados e ajudados pela ca- do tantas curas, menos a do bis- cia. Desperta a passividade ao des- A segunda são os impulsos rea-
hábeis, para proceder a rigorosa beça mestra da Igreja e do Gover- po de Leiria há tantos anos para- viar os impulsos de ação para os lizando-se plenamente, plenamente
colheita, e que colheita!... no português, Cerejeira-Salazar. lítico. E quanto dinheiro rende meios, em vez dos fins. conscientes e criadores, com todo
Vem ao Brasil para festejar o que agora incita os novos tesou- cada garrafa da divina água? Po- O homem prefere acreditar que o seu, caráter de iniciativa. A pri-
quadragésimo aniversário (para reiros a correrem mundo em bus- bre povo! Pobre gente que, cheia a luta eleitoral é mais eficiente, meira cria massas e conserva-as
colher dinheiro, não) do burlesco ca de ouro e mais ouro, cruzeiros de medo às chamas do inferno en- porque o dispensa de uma ação como tal, isto é, como 7nassas de
invento dos padres D. José Alves e mais cruzeiros. Não acham que tregam a esses vigaristas os últi- mais trabalhosa. manobras, como multidões obedi-
Correia da Silva, (bispo de Leiria, já levaram bastante da outra visi- mos tostões que lhe restam para A crítica libertária vai ainda entes aos gestos e às palavras de
há muitos anos paralítico), Bene- ta a este Brasil. um café. Mas que tirocínio comer- mais longe e os argumentos pode- ordem dos líderes, chefes, etc. A
venuto Ferreira, Manuel Marques E o trabalhador que sustenta cial têm os administradores da riam encher volumes e volumes- segunda desenvolve no homem a
Ferreira e Abel Ventura do Céu com seus trabalho essa parasitada empresa. Que fabulosa habilidade Mas, em, síntese, os libertários capacidade criadora, porque não ti-
Faria. São estes os geniais inven- que vive à farta, não dá um pio adquiriram para apanhar a bolsa chamam a atenção para os socia- ra das massas o espírito de inicia-
tores daquela mina inesgotável, cheia do rico e os últimos cruzei- listas que ainda se iludem com as tiva e modela indivíduos, homens.
de discordância. Tudo corre às luta^ políticas, que se dispam de
daquela empresa milagreira que mil maravilhas, para os que ven- ros do miserável, do "sem camisa",
tantos escudos rende. Citamos suMS couraças ideológicas e da "Análise Dialética do Marxis-
dem aquela água de Fátima apa- porque senão, até esta levariam. ganga bruta de suas mistificações
apenas os nomes dos principais da nhada não se sabe em que fonte mo" — Editora Logos, São Paulo,
:o:—— — doutrinárias, que esqueçam um 1953
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