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ECOS DA MORTE DE OITICICA Ver

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ABUSO DO PODER
Fala-se muito em abu-

ACAO D/nSTA
sos do poder- Mas, só
existem tais abusos por-
que existe Poder. Acabe-
se com este e seus abu-
sos acabarão.
Lord ACTON dizia:
"O poder corrompe; mas,
o poder absoluto corrom-
HENSARIO ANARQUISTA pe absolutamente". Ora,
Diretor: Sônia Oilicica Diretor Fundador: José OilíCiCa Administrador: Manuel Peres a tendência de todo po-
der é tornar-se absoluto.
Redação: Av. Treze de Haio, 23—9.° andar-sala 922 Acabando-se o Poder, aca-
ba-se a corrução!
ANO 11 N." 120 Rio de Janeiro, Agosto e setembro de 1957 PREÇO: Cr$ 2.00 Registro SI/P-214 de 8-3-1946 José Oiticica

Mas... o sargento foi subindo

A tragédia c/os ditadores (tenente, capitão, coronel, general,


presidente da república). Depois...
o ex-sargento julgou que era dono
A LIÇÃOdo PROLETARIADO
absoluto de Cuba e começou a
i
Por MANUEL PERES conspirar contra todos os governos,
até que finalmente conseguiu de-
ESPANHOL
GUATEMALA por o de Prio Socarras, para assu- Por JAIME R. MAGRINA
mir o poder como ditador.
Há dois anos, o povo da Guate- Surge agora a sublevaçâo popu- A história política e social da "gringos"'; se naqueles tempos os
mala tinha uma existência relati- lar contra a sua ditadura, e o bra- Espanha marca novos rumos em norte americanos submetem os es-
vamente calma, e não diremos fe- vo Bautista de há 27 anos, o que julno de 1936. Se o'predomínio de panhóis que submetiam os povos
liz, porque a felicidade não é pos- tanto falou de liberdade, o que uma religião falsária e decadente das colônias e o povo da penínsu-
sível em regime/ capitalista. Em afirmava na praça pública que era obriga, em 1942, os reis católicos la, e na guerra de libertação ven-
toao caso, as reformas agrárias do necessário exterminar todos os ti- a expulsar os judeus, e a monar- cem o militarismo espanhol a ser-
então presidente Jacobo Arbens, ranos do continente, sentindo-se quia absoluta de Carlos I vence viço exclusivo da monarquia, a
que arrancou as terras dos "trusts" impotente para vencer os guerri- os comuneiros de Castela e as chegada de Alfonso Xili, lb02, as-
estrangeiros para dividi-las entre lheiros do bravo Fidel Castro, or- "germanias" de Valência e Maior- sinala a inutilidade dos partido?
os camponeses pobres, antes sub- dena àsua polícia que disperse à ca; se uma guerra para impor um políticos e do próprio governo es-
metidos à mais degradante misé- bala as manifestações organizadas rei dura sete anos, e entre liberais panhol.
ria, e outras reformas de caráter nas ruas de Santiago, nas quais da rainha Isabel II e do preten O proletariado espanhol, que já
social e político, colocaram aquela figuravam, em sua maioria, mu- dente Carlos — ambos irmãos — tem personalidade em 1870, e que
nação num plano de superioridade lheres e crianças. incendeia-se uma guerra civil que procura viver à margem dos par-
em relação a muitas das suas ir- Os governantes do continente termina em Luchana em 1839; se tidos políticos, acelera á degenera-
niás do continente. não protestam contra estas infâ- para provar a República em 1873, ção do regime e proclama a imo-
Não tardou que os reacionários mias. Bem possível é que aguar- fazem-se matar os espanhóis, até ralidade do sistema capitalista.
nacionais e estrangeiros, alarma- dem que aconteça a Bautista o que o general Pavia, dissolvendo Apesar das constantes repressões,
Afirmam alguns com notória má dos com a p'olítica liberal de Ar- mesmo que aconteceu a Somoza e as Cortes e com a ajuda do gene- o movimento obreiro espanhol or-
fé, e outros por ignorarem a bon- bens e o incremento das organiza- Castilho Armas, para então decre- ral Martinez Campos, proclamar ganiza seus sindicatos, suas fede-
dade dos nossos ideais, que o anar- ções proletárias, dessem inicio a tarem luto oficial por três dias.., rei um Bourbom chamado Alfon- rações, os ateneus operários, e rea-
quismo é a desordem, o caos, a ne- uma campanha de descrédito con- porque, afinal, a época não é boa so XII; se com a monarquia se liza congressos socialistas, alimen-
gação absoluta da civilização e das tra o presidente e seu governo, para os ditadores da América La- perdem as colônias de Cuba e Por- tando ainda sua própria impren-
normas fundamentais que regem afirmando que pretendiam instau- tina. to Rico junto com as Filipinas, sa, para propaganda de suas idéias,
a chamada sociedade moderna. rar o comunismo na Guatemala. Quem com ferro mata... graças ao poderio militar dos suas táticas e suas finalidades.
Respondendo a uns e outros eu A revolta para derrubá-lo foi or- No ano de 1896 já se publicava
afirmo com orgulho que sábios ganizada dentro e fora da fron- em Madrid o diário anarquista
como o grande geógrafo Eliseu Re- teira. "Tierra Y Libertad". "La Federa-
clus; pensadores como Leão Tols-
toi, Pedro Kropótkin, Miguel Ba-
Castillo Armas foi o instrumen-
to dócil do imperialismo, que lhe
CUIDADO COM OS QUE GOVERNAM | cion", órgão das Sociedades Obrei-
Falando na Associação Norte-Americana para o Progresso ras (Centro Federal, Barcelona,
kúnin, Han Ryner, Luísa Michel, facilitou armas e dinheiro. Desta Calle Mercaders 42) já se publica-
Rudolf Rocker, Proudhon, Errico forma, traindo sua própria pátria, da Ciência, declarou o Professor Pitirim A. Sorokin, da Uni- va em 1809 6ob a direção do anar-
Malatesta, Pietro Gori, Sébastlen Castiljo conseguiu triunfar, ins- versidade de Harvard, que os governantes são o grupo mais cri- quista Rafael Farga Pellicer. Com
i<'aure, i<'reaerico Urales e muitos taurando, cora a sua ditadura, um tais antecedentes de organização
1'^TÍn^C- ^-í^ tí^vrr^T^ o fio Tro^+P , TTTV> minoso das populações a que pertencem. A proporção de as-
soldado da própria guarda presi- sassinos observada entre governantes vai a 25 por cento e mes- ^ *'-^^'-*to'-^-*^^'- I^^V>P*1M, C mcvmc"
vocneã, Pedro Vaiima, José Pu- to operário revolucionário ê fina-
jois, e Fábio Luz; e o grande mes- dencial pôs fim a estas infâmias, mo a 100 por cento, segundo afirma aquele mestre de Harvai'd. lista espanhol estava já bastante
tre José Uiticica, cuja morte emo- disparando a sua arma contra o maduro em 1936, tendo experiên-
cionou o mundo inteiro, defende- ditador, que tombou fulminado As pesquisas do Professor Sorokin sobre a criminalidade
cia da Comuna de Paris (1870), da
ram sempre com grande entusias- numa das galerias do palácio. de governantes abrangem monarcas ingleses, russos, franceses, insurreição anarco-sindicalista ' de
mo o lüeal anarquista. Eu, que detesto todas as tira- alemães, austríacos e turcos, presidentes de República e chefe.^ 1932, e do movimento de aliança
Profunaamente numano, o anar- nias, não lamentei a morte de So- pbreira de 1934 em Astúrias. Ade-
moza e de Castillo Armas, víti- de governo em geral. Entre os assassinios praticados por gover-
quismo luta pela conquista de um mais, já tinha vivido as greves ge-
munao meinor, no quai nao exista mas, ambos, de seus próprios cri- nantes, disse êle, figuram parricídios, matricídios, exorlcídios,
rais de 1902, 1909, 1917 e todas as
a exploração ao homem pelo ho- mes. Guardei, porém, luto em meu fratricídios, etc. conspirações do tempo da ditadu-
mem, o que será possível com a coração pelos dois jovens idealis- A descobertta da energia atômica e das armas nucleares ra do general Primo de Rivera,
sociauzaçao ae toaas as riquezas, tas, que ao exterminá-los sacrifica- pai do fundador da Falange.
ram suas próprias vidas pela cau- impõe aos cientistas a obrigação de encontrar um meio de evi-
que serão patrimônio comum da Chegado o momento de medi-
coietiviaade, assegurando a todos sa sublime da liberdade e da jus- tar o mau uso de suas realizações por grupos criminosos e egoís-
rem-se as forças do progresso e
uma existência livre, próspera e tiça humana. tas e, especialmente, pelos governos. da reação, a CNT da Espanha e o
íeuz. "E' pouco duvidoso", advertiu o Professor Sorokin, "que, anarquismo, ao vencer em Madrid
ü-ssevera o anarquismo que nin- CUBA e em Barcelona, derrotando os
guém tem o aireiio ae atentar con- dentro de uma ou duas décadas, as armas nucleares passem a facciosos que pretendiam anular
tra a viua cios seus semelhantes. Quem não recorda?... Há 27 mãos criminosas. E não há certeza de que os governantes das a constituição e o regime da Re-
Justameiite por isso comoatemoíj anos o mundo inteiro admirava o nações não cheguem a fazer uso execrável dessas armas, lan- pública, demonstram sua capaci-"
a gueira, as üitaauras e a tirania bravo sargento Fulgêncio Bautis- dade de organização e as profun-
ta que, à frente de uma subleva- çando a humanidade em guerras civis ou internacionais".
em touos os seus aspectos, porque das raízes que têm entre as mas-
guerra e tirania sao sinônimos de ção popular, punha fim à odiosa Os grupos governantes de hoje, na opinião do mencionado sas trabalhadoras e o próprio
uor, ae moite e desesperaçao. Para ditadura a que estava submetido professor, são, possivelmente, os mais perigosos para o bem- povo.
nos o atentaao pessoal so tem jus- o povo cubano pelo então presi- estar do gênero humano. Já existe hoje uma enorme bi-
tificação quanao o extermínio de dente. Coronel Geraldo Machado y bliografia da revolução espanho-
uma vida tem como objetivo evi- Morales, considerado na época Os recentes feitos das ciências físicas e biológicas também la, que serve p^ra dar abundantes
como o tirano mais cruel do sé- clamam pelo abandono de muitas teorias das ciências sociais informações da capacidade revolu-
tar que milhares de outras vidas culo.
sejam cruelmente sacrificadas. Nos seus primeiros tempos, Bau- por serem cientificamente insustentáveis. Segundo o Professor cionária da C.N.T. São livros do
Esta declaração de princípios Sorokin, entre as teorias que estão exigindo revisão de alto a mais variado valor e alcance, não
tista seguiu uma política de cunho só de escritores adictos a nossas
vem a propósito da crítica que vou mais ou menos liberal, dando aos
fazer, nesta crônica, sobre aconte- baixo ou o abandono definitivo, acham-se a teoria freudiana de idéias, como por exemplo "La Ca-
governos que então se constituí- p'ersonalidade e do comportamento humano e a teoria darwi- talufía Rebelde" de Georges Os-
cimentos verificados ultimamente ram todo o seu apoio, já que tinha
em algumas repúblicas do Conti- niana de luta pela existência. well.
assumido a chefia suprema do No dia 14 de julho de 1936, o
nente Americano. exército, a fim de que a sua Pátria (Trnscrito de O GLOBO, de 19-6-1957). f Comitê Nacional da C. N. T. com
pudesse reconquistar as liberda-
NICARÁGUA des que Machado havia suprimido. sede em Zaragoza, num manifesto
dizia: "Nós, que não defendemos
Há pouco tempo um jovem pa- a República, mas que combatemos
triota de tendência liberal, com sem trégua o fascismo, daremos a
sacrifício de sua própria vida, ma- de desviar esses impulsos, tão pe- contribuição de todas as forças de
tou a tiros o ditador da Nicarágua, rigosos, para fins muito mais in-
Coronel Anastácio Somoza, que du-
rante muitos anos foi o tirano su-
premo daquela pequena e mártir
Política e ^ção Direta teressantes aos senhores do mun-
do. Uma campanha política custa
muito dinheiro e muito trabalho.
que dispomos pai'a derrotar os ver-
dugos históricos do proletariado
espanhol".
A promessa do C. N. da C. N.
Repiiblica. Por Mário Ferreira dos Santos Toda a carga ativa das massas, T. foi cumprida, mas sucedeu que
A imprensa oficial e os gover- prestes a explodir, é canalizada os verdugos históricos do proleta-
A ação direta deixa que o im- conquistas, ajudam, também, a habilmente para a campanha elei-
nantes de todo o continente pro- pulso ativo do homem se manifes- desmoralizar o socialismo e a apre- riado espanhol, com a ajuda do Va-
testaram, indignados contra esse toral. Distribuição de manifestos, ticano, do fascismo e do nazismo,
te com toda a sua pureza, sem os sentar aos olhos do povo o regime pregação de cartazes, aliciamento
atentado que consideravam como desvios que o viciam, e levá-o à capitalista como algo de impres- secundados pelo capitalismo, além
um insulto aos próprios sentimen- criptível e sólido, como algo de de eleitores, comícios eleitorais, da descarada intervenção da Rús-
ação verdadeiramente socialista, trabalho, trabalho, trabalho que se
tos humanos, esquecendo que mi- ao desejo ãe erguer os irmãos da eterno. sia — ver os livros de Santillan,
lhares de vidas haviam sido sacri- E que melhor para tal que os gasta, esforços inauditos perdidos. Rocker e Garcia Pradas — conse-
passividade para a ação, da inér- Mas se esse esforço fosse emprega-
ficadas pela tirania de Somoza du- cia para a rebeldia. Ela é criado- "parlamentos", onde se debatem guiram salvar o capitalismo, a
rante os largos anos do seu do- tôdg,s as idéias e se aumenta a con- do para uma ação direta das mas- Igreja e toda a reação espanhola,
ra, porque transforma cada um sas, para a educação socialista dos
mínio . num ser responsável de ação so- fusão do povo? Que melhor que as contra o proletariado.
campanhas políticas, essas "adorá- oprimidos, para ensinar-lhes os Mas, de 19 de julho de 1936 a 29
Esqueceram, também, esses go- cialista. meios práticos de luta, de organi-
Por isso a política é arma mais veis dormideiras", esse ópio das de março de 1939, na Espanha se
vernantas que o grande patriota zação econômica e para uma vida fez uma guerra e uma revolução
Coronel Sandino, que durante mui- amada pela burguesia. A burgue- multidões, que lhes dão a suave socialista, seriam mais úteis. E'
sia inteligente do mundo inteiro e doce ilusão de que estão reali- que servirá de lição ao mundo do
tos meses empolgou o mundo com preciso mostrar, exclamam os li- trabalho, já que tem mais impor-
sua luta titânica pela independên- não combate os partidos políticos zando socialismo e construindo o bertários, que o caminho do socia-
cia da Nicarágua, ameaçada pela operários senão aparentemente ■ seu amanhã, através de pedacinhos lismo não é um caminho de rosas,
tância que a própria fracassada
Ataca-os, acusando-os de revolucio- de papéis, postos religiosamente revolução alemã dos social-demo-
intervenção estrangeira, fora as- mas um caminho de lutas, de gran- cratas Ebert e Noske; mais pro-
sassinado por ordem de Somoza, o nários e exigentes, para iludirem nas urnas silenciosas?
as massas, para fazê-las acredita- A burguesia sabe que os parti- des sacrifícios, de lágrimas, de do- ftmdidade que a Comuna Húnga-
qual, depois de fazer uma aliança res, de ingentes esforços. ra de Bela Kun; maior conteúdo
com o herói popular, a pretexto de rem que realmente eles são revo- dos operários são o seu melhor Toda essa carga ativa que se
lucionários. Mas a burguesia inte- aliado, o aliado silencioso, o aliado social que não importa qual outra
ajudá-lo na sua campanha de li- concentra nas multidões explora- revolução anterior; que obrigou
bertação, preparou uma cilada ligente sabe perfeitamente que es- indireto. Com suas agitações elei-
ses partidos são os melhores guar- torais, eles dão vasão às forças do das, não deve ser aproveitada, mas inclusive a revisão tática do mar-
para que um grupo de sicários desviada. Não deve ter o seu curso xismo e ao arrependimento de
o assassinassem pelas costas... diães de seus tesouros, porque, ao proletariado, aos desejos de rebel-
Esse era Anastácio Somoza. darem às ynassas uma ilusão de dia do proletariado. E' xima forma (Cont. na pag. 4) (Cont. na pag. 4)

unesp^ CZedap
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Página 2 AÇÃO DIRETA Agosto e setembro de 1957
NA ACADEMIA BRASILEIRA. — A Academia que
tão triste conduta tivera em relação ao poeta anarquista
Martins Fontes, quando só Goulart de Andrade teve a di-
ECOS DA MORTE a iniciativa na luta e foram os que mais contribuíram
para pôr em debandada c exército espanhol
O anarquismo não é um partido, como disseste; é um
gnidade de não enxovalhar o seu voto, redime-se, agora,
homenageando a José Oiticica.
Falaram sobre o mestre, os acadêmicos Viriato Cor-
DE OITICICA movimento; êle tem a ventura de não obedecer a chefes,
a um João Mangabeira, por exemplo, socialista que nega
o auditório do Partido, para uma reunião com socialistas
reia, Levy Carneiro, Álvaro Lins, Peregrino Júnior. Não Por SERAPHIM PORTO
europeus, alegando que o Partido Socialista Brasileiro
falou Manuel Bandeia... e fêz bem... lucraram os aca- quista, era um dos homens mais corretos e dignos que não tem ligações internacionais. Estavas oerto e ouviste.
dêmicos... e Machado de Assis. conhecera, chefe de família exemplar". Sociahsmo à Mangabeira, à moda da casa.
Apesar de grandemente satisfeito, em virtude dos la- Não fosse Peregrino Júnior, acadêmico e Presidente, Se bem que te não pareça exeqüível o anarquismo,
ços de amizade que nos prendiam ao mestre, não pode- e diríamos não conhecer o significado da palavra apesar. as várias experiências práticas mostram que o é.
mos calar diante de dois passos do belo discurso de Vi- Mas, apesar de acadêmico e Presidente, parece ignorar Para que êle possa, no entanto, medrar por toda a
riato Correia e algumas palavras atribuidas, pelo "Jornal que a História do Anarquismo pode fazer desfilar diante parte, é preciso ir vencendo as várias resistências, à sua
do Comércio" de 7 de julho, a Peregrino Júnior. dos seus olhos, inúmeros vultos não só corretos e dignos propaganda. E' preciso desmascarar o mito da Rússia'
Diz Viriato: "O professor José Oiticica foi talvez o senão que de vastíssimo saber, como o genial Proudhon, que traz o trabalhador iludido e esperançoso. E' preciso
mais pacífico, o mais cândido dos anarquistas do mundo". o romancista Tolstói, o ex-príncipe, sábio Kropotkin, o mostrar que, enquanto houver Governo, há apressão, seja
Estas palavras mutilam a personalidade do mestre. grande geógrafo Elisée Reclus. êle de Atlee ou de Leon Blum. E' preciso mais lealdade
Viva êle, na memória dos amigos, como foi realmente: Quanto à ser chefe de família exemplar, apesar de no processo da luta, principalmente, por parte dos socia-
— um grande coração! Pacífico, não! Cândido, jamais! muitos não o serem, embora não sejam anarquistas, só listas, afim de não transformarem em movimentos elei-
Era partidário da revolução,.-e só não pegou em armas, todos não o são, porque, quase todos, acadêmicos ou não, toralistas, os movimentos que se criem, para esclareci-
porque, descobertos os planos, lhe fugiram as oportunida- ainda ignoram que só o anarquismo poderá remover as mento honesto do proletariado. Há bem pouco tempo foi
des. As opiniões que, antevendo os fatos, emitiu a com- múltiplas causas sociais, que fazem a humanidade infeliz. boicotado o M. O. S. (Movimento de Orientação Sindical),
panheiro destacado de Espanha, por ocasião da Guerra Oiticica, anarquista, era coerente, .sendo exemplar» por elementos que estavam mais interessados na caça do
Civil de 1936, para prevenir traições certas, podem ser de chefe de família. voto, do que no esclarecimento dos trabalhadores. O M.
um grande militante estudioso e observador... nunca, NO CORREIO DA MANHÃ. — Até tu, Osório Bor- O. S.: não se prestava para ninho de eleitores. E' preciso
porém, de um pacífico, de um cândido! Pacífico e cândi- ba?! Creio que conheces a Tolstói. Era anarquista cris- mostrar aos trabalhadores que não basta lutar por mai^-:
do, quem dera uma bofetada em Chefe de Polícia, 'p'or tão. Mas, nada tinha que ver com o cristianismo daqueles salário e menos horas de trabalho, porque a burguesia
tentar desrespeitá-lo?! cristãos, que engrossam as fileiras do Partido Socialista vai, na mesma proporção, aumentande c custo da vida.
Prossegue o ilustre acadêmico: "Era um anarquismo Brasileiro e que juram cega obediência a cardeais e pa- mas, que urge transformar a organização social, para
branco, azul ou côr de rosa, enfim de uma dessas cores pas. Houve, na Europa, uma corrente anarquista — os sairmos deste círculo vicioso.
que simbolizam doçura, paz, tranqüilidade". Nazarenos, anarquistas cristãos, que foram de uma bra- Hoje, no Brasil, somos poucos os anarquistas; a nos-
Parece desconhecer o ilustre acadêmico a significa- vura sem par. contra todas as injustiças sociais e que se sa ação nos sindicatos não é sentida, como o foi até 1918;
ção das cores no campo das lutas sociais. Aqui mesmo, negavam a pegar em armas, sob qualquer pretexto, não por isso, os políticos têm acesso a eles, mentem aos traba-
no Brasil, tivemos os Camisas-Verdes, Caquis, Azuis. Es- dando importância a prisões nem a fuzilamentos. Não te lhadores e são carregados em triunfo ridículo!
tes, de vida efêmera, do Prefeito Pedro Ernesto, antes de admirem, pois, que Oiticica fosse anarquista e rosa-cruz.
EM LEITURA. _ Na quarta página do n.° 2 cie Lei-
aderir à Aliança Nacional Libertadora, chegaram a des- De modo geral, são os anarquistas, nc campo filosó- tura, infeliz comentarista conseguiu, em tão curto espaço,
filar. Chamam-se amarelos, aos que traem a causa dos fico, ateus. Uns e outros, porém, na esfera política, olham atulhar o maior amontoado de asneiras, de que há memó-
trabalhadores. todos os Governos, quaisquer que eles sejam, tenham os ria na imprensa brasileira. Basta dizer que confunde,
Dizer que o anarquismo do Oiticica era côr de rosa, apelidos que tiverem, como instrumento de opressão. em tom doutorai, anarquismo com bolchevismo! O peso
é dizer que êle se fingia revolucionário, que se dizia re- E tu Osório, tão inteUgente. tão honesto, tão bravo, de tamanha ignorância preocupará, por certo, a O. N. U.!
volucionário por vaidade ou por tirar proveito, mas, que, ainda acreditas nas boas intenções dos governos! Diz haver sido o Oiticica, o último dos anarquistas.
de coração, não desejava transformação alguma. Este Quase fôste Presidente, mal que te não desejo. No Nada! Cá estamos para podermos testemunhar a igno-
é o sentido que êle, Oiticica, dava (e muitos dão) à citada palácio, ou te vergavas e te avacalhavas, ou, então, ro- rância maciça do comentarista!
expressão, sentido em que a empregou, em grupo reunido davas. Terminou dizendo: — "os gramáticos, esses, não têm
na sua residência, pouco antes do seu falecimento. Falaste em "um grupo anarquista", na Guerra Civil mais ofício, que mais vale quem pior escreve". Eis a ra-
Agora, as palavras atribuídas a Peregrino Júnior, da Espanha, de 1936 a 1939. Não sei que extensão dás ao zão pela qual escreveu tanta asneira, naquele seu Por-
Presidente da Academia: — ""...apesar de se dizer anar- "grupo". Mas, os componentes desse "grupo", tomaram tuguês, que o faz valer mais do que ninguém...

estas ela se sente mais à vontade,

A pioposito da missa Saciilega desde que, é claro, não venham a


prejudicá-la em seus interesses A VOZ DA OVELHA
Receita para "apurar" a raça
criados. Mas sempre ao lado das
autoridades, legal ou ilegalmente Por FREI MALAVENTURA
Por OSVALDO SALGUEIRO instituídas. Até .s^e. ,dá ao luxo d.e Meus caros ouvintes. A palestra de sua intimidade. Logo... cuida-
o caso da chamada "missa sa- Mas, no dia seguinte, através da tal ostentação através de clichês de hoje é bastante interessante e do com êle.
crílega" tomou proporções de es- mesma limprensa, a conjversação divulgados pela imprensa. E se
entre os chamados governos de- instrutiva. O tema encontrámo-lo Ainda sobre mulatos, o padre
cândalo e as coisas chegaram a deixava de ser particular e de per-
tal ponto \que o deputado Carlos tencer apenas ao cardeal, para per- mocráticos a Igreja não se sente no jornal "A Cruz", dirigido, ori- Artur Costa escreveu, no mesmo
Lacerda veio a São Paulo especi- tencer ao público. Teria, ela real- muito à vontade, é porque, apesar entado e colaborado por gente de jornal, a seguinte nota:'
almente para se penitenciar pe- mente sido satisfatória para o sr, de todos os pesares, nem sempre minha grei, isto é, uma categoria "Castanhola veio visitar-me on-
rante o cardeal dom Carlos Car- Carlos Lacerda? permitem fazer o que quer.
de indivíduos que segundo opinião tem pela manhã e ficou de con-
melo.
Vejamos. Voltemos, porém, para terminar, do autor de "A Religião ao Alcan- versa até quase meio-dia.
Dado o modo como aquele foi Disse o deputado ao cardeal "que à vaca fria, isto é, ao encontro ha- ce de Todos", não podem ser clas- O que agora o preocupa, diz êle,
recebido por este, é intuitivo que sua atitude política de combate ao vido entre o deputado e o cardeal,
o que irritou o cardeal não foi a sificados como homens nem como é a situação geral do país.
governo estava absolutamente_ de provocado pela tal "missa sacrí- mulheres: são padres. Por conse-
"missa sacrílega" em si, mas o acordo com os princípios cristãos; Acha que o povo está esgotan-
escândalo que, em torno do acon- que êle, como filho da Igreja, ti- lega". guinte, "A Cruz", como órgão ca- do as suas reservas de paciência.
tecimento, o sr. Carlos Lacerda nha dever sagrado de combater tólico, deveria ser escrito com um E não sabe aonde isto vai par,ar.
provocou. De fato, se o Presiden- Além de outras palavras duras,
um governo que, estribado na ile- primor de linguagem, expressões Aumenta o custo da vida e faltam
te da República leu, durante o ofí- galidade, tantos 'males estava cau- dom Carlos Carmelo disse a Car-
cio religioso,' qualquer coisa es- sando à nação". Mas o cardeal res- los Lacerda, que este já antes ha- e conselhos baseados no mais pu- os meios de transporte. Já não se
tranha ao mesmo e. isto implica p'ondeu-lhe que não, que êle não via propalado inverdades a seu ro estilo, escoimado de frases ma- pode comer uma bôa feijoada com
em sacrilégio, o que se poderá di- era um cristão e que "próprio de lévolas e mal intencionadas.
zer do procedimento de tantas e respeito, afirmando que a can- um calicezinho de parati para abrir
um cristão é acatar as autorida- o apetite.
tantas beatas, que, geralmente, no des, respeitá-las e cooperar com didatura Eduardo Gomes "tinha Mas tal não ocorre no menciona-
decorrer da missa, de rosário en- elas para a paz e o bem comum, sido queimada pelo próprio dom do jornal, principalmente na seção Castanhola gosta duma pinga
tre as mãos, fingem rezar mas que coisa que o sr. Carlos Lacerda não Carlos". E logo depois disso "Um pouco de tudo", escrita e as- antes do almoço, e inclui a cacha-
de soslaio, aevoram ^om o olhar' estava fazendo. Os ensinamentos sinada pelo padre Artur Costa. ça entre os gêneros de primeira
a rica indumentária da vizinha Carlos Lacerda declarava aos jor-
da Igreja eram diametralmente necessidade.
para depois comentá-la com rique- opostos ao modo de agir do depu- nalistas, conforme eu já disse, que Numa de suas últimas colabora-
za de detalhes? E o. que dizer de tado udenista". Não sabemos, se sentia satisfeito com a conver- ções, publicada na edição de 7/7 Procuro animar Castanhola, lem-
tantos e tantos sacrilégios prati- mesmo porque êle não nô-lo dis- sação que tivera com o cardeal, último, encontramos algumas refe- brando-lhe que tudo vai melhorar
cados, através dos séculos, por tan- se, o que é que dom Carmelo en- mas que tal conversação só ao car- com a mudança de nossa capital
tos e tantos prelados, isto é, den- tende por "paz e cooperação com rências ao sexo feminino e aos
tro do próprio seio da Igreja? B as autoridades instituídas, para o deal pertencia. mulatos que merecem ser regis- para Brasília
quem duvide disto, que leia, por bem comum." Mas não há dúvida trados, pois trata-se de matéria Mas o mulato perde, desta vez,
exemplo, "Os crimes dos Papas", de que os ensinamentos da Igreja Notem bem, o cardeal disse ao
(ou material), de que nós, padres, a calma e solta um palavrão que
de Lachatre, obra de autor iaôneo são e sempre o foram de obediên- deputado que este o havia acusado
de queimar a candidatura de Edu- somos mestres indiscutíveis. eu não esperava de sua idade nem
ie a mais completa do gênero. cia cega, incondicional, aos gover-
nos, salvo nos tempos em que, da- do respeito que me deve."
Evidentemente, ao tentar fazer ardo Gomes. Neste caso, cabe-nos Como a predileção do padre Ar-
das certas circunstâncias, ela se o direito de perguntar: o que é que Após a leitura do que o padre
borrasca em copo com água, o te- sentia com forças para dominá-los tur Costa pelos mulatos é bastan-
terá provocado a vinda de Carlos Artur Costa escreveu sobre as sol-
merário líder da UDN nada sabe e se sobrepor a eles. O p'róprio te significativa, vejam a resposta
sobre sacrilégios. Seja como for, Lacerda à presença de dom Car- teironas e os mulatos, recorro ao
Cristianismo, nos seus primórdios, dada pelas colunas de "A Cruz"
não há dúviua de que no caso hou- já prega a obediência aos potenta- los Carmelo afim de se peniten- livro já mencionado "A Religião
ve a segunda intenção da explo- a uma filha-de-Maria que o censu-
dos. Saul, depois São Paulo, que ciar? O respeito que a Igreja lhe ao Alcance de Todos", à procura
ração política. foi, no seu tempo, o maior anima- rou por ter escrito algo injurioso
merece, na qualidade de seu filho, de uma classificação para o "dis-
Mas, que das palavras acima dor do Cristianismo, em sua epís- sobre as solteironas: "Dona Chi-
ou o receio de também vir a ser tinto" colaborador do jornal "A
não se infira, por caridade, a jus- tola aos romanos, versículo 13, diz: ca — perdoe-me este aportuguesa-
tificação das falhas, ou de uma "Que toda pessoa se submeta às queimado? Mas esta é outra con- Cruz". E encontro a seguinte:
mento de sua graça) — escreve-
pequena falha, se assim se pode autoridades superiores, porque não versa. Conversa que só a Carlos "Padre esperto. — E' aquele que
há autoridade que não venha de me numa linguagem de cozinhei-
dizer, do governo. Isto seria um Lacerda pertence... não tem necessidade de estudar
absurdo, mormente dentro dos Deus e as autoridades que existem ra, para censurar a minha crítica
grande coisa. O seu instinto dei-
princípios libertários. Os aconte- foram instituídas por Deus. Os às solteironas.
cimentos históricos têm demons- que se oponham à autoridade, re- xa-lhe compreender facilmente to
trado, até ao presente, que todos sistem à ordem que "Deus estabe- Ora, eu não tenho culpa se Dona dos os mistérios da Igreja, que se
os governos são falhos, porque o leceu e os que resistem atrairão rH>a<KKHJtKHKHKHKKKK«KHÍíH>ÍK>' Chica ainda não encontrou mari- reduzem a viver à custa dos fiéie.
falhar é a sua essência, a sua ra- um castigo sobre si mesmos". do. E aqui estou para fazer-lhe o Este padre burla-se intimamente
zão de ser. E tudo o que na con- Se em seus delírios de ordem re- processo de casamento, se trouxer
vivência humana é falho, deve ser da Igreja e de toda a teologia e
ligiosa S. Paulo era, geralmente, a certidão de batismo e os outros
condenado. tão confuso e nebuloso, sob o pon- com suas espertezas e sagacidade
to de vista político foi bem claro documentos exigidos pela Cúria. consegue uma promoção de bispo
Após o encontro que o sr. Car- A questão é só descobrir o noi-
los Lacerda teve com dom Carme- e preciso quanto às suas recomen- ou alguma prelasia rendosa. Ge-
lo, aquele disse, em suas curtas dações de submissão incondicional vo. Há muito mulato por aí que ralmente são jesuítas os padres as-
declarações à imprensa, que a con- às autoridades, posto que estas, gostaria de apurar a raça, casan-
segundo êle, são instituídas por sim classificados".
versação fora para êle, Lacerda, do-se com mulher branca, nacio- Após estas considerações que
muito satisfatória. E contando, Deus. Esta doutrina, S. Paulo a
levou até às relações sociais e de nal ou estrangeira..." vieram a calhar para definir o co-
evidentemente, com a discrição do família, cujas conseqüências ainda
cardeal assim terminou: "Tratou- Que tal a linguagem do padre laborador de "A Cruz", nada mais
se de um encontro entre um ca- hoje estamos sofrendo. Costa e a sua afirmativa sobre mu- resta a dizer hoje aos que me dão
tólico e seu cardeal. Foi, portan- Assim sendo, a Igreja, nas cha- latos? Não resta dúvida que fala o prazer de sua atenção, lendo as
to, uma conversa particular. E a madas democracias, finge-se de
conversa pertence a êle e não a democrata e nas ditaduras ela se por experiência própria. Se não palestras que são publicadas re-
mim". patenteia ditatorial. E' que entre é êle mesmo, é alguém que priva gularmente pela AÇÃO DIRETA.

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Agosto e setembro de 1957 AÇÃO DIRETA Página 3

^^>^^^$^^<$^$>^^^^<$^í><$>^'$^$^M>'M^$^$'4>^^ do. Realmente, esse seria o crime


Nossos livros mais pavoroso da ditadura, matar
a índole generosa, liberal e altiva
NOTAI ESPARSAS "Na Inquisição do Salazar", por
Luís Portela e Edgart Rodri-
no movimento subterrâneo e den-
tro dos cárceres da reação, fica-se
do povo transformando-o em mas-
sa passiva, amorfa, castrada e sub-
Por GUTIERREZ missa. Mas isto não é verdade. As
gues. Edição Germinal — Rio. ■conhecendo a bravura e a astúcia cartas de Luís Portela e Edgart
nos ardis empregados para a troca Rodrigues podem ser tomadas
JUVENTUDE _ Estava eu na minha infância, ptois ape- de notícias, para a comunicação
A bibliografia do movimento re- como um símbolo da alma revolu-
nas 12 anos contava, quando, olliando para um ano atrás, via, volucionário debaixo de regimes com os companheiros de ideal. cionária, da coragem, do espírito
lá, em Porto Artur, massacrarem-se homens que nada enten- ditatoriais, se é vasta em alguns Enrirjuece este livro um apên- indomável do povo português. E'
diam de fronteiras nem de história e geografia, mas porque países, no caso de Portugal deixa dice com a biografia de numerosas este sem dúvida um dos principais
eram obrigados à força ou, por imbecil fanatismo, acreditava muito a desejar. Torna-se portan- vítimas do salazarismo e, ainda, aspetos do livro, a sua virtude
to louvável a esforço da Editora
que, do lado de lá, estava o inimigo. Eu, criado num meio Germinal dando a público, no Rio
tipicamente religioso, habituado a fazer o sinal da cruz em to- de Janeiro, este volume de cartas Luís Portela
dos os lugares onde me encontrasse e a tirar meu chapèuzinho trocadas entre dois companheiros, e
ao passar em frente a uma igreja, revoltei-me contra tanta car- um dentro e outro fora da prisão,
revelando o que nos cárceres do Edgard Rodrigues
nificina. Quatro anos mais tarde, na gloriosa Eíspanha de An- estado fascista português se pas-
selmo Lorenzo e Unamuno; na rebelde Barcelona, na indomá- mava e o que ocorria no mundo
\'el Catalunha, as heróicas mulheres do povo, atiravam-se à oprimido e ansioso de liberdade.
rua para evitar a continuação da carnificina no Marrocos. A Dos dois autores, um é falecido
luta foi titânica. As mulheres tiveram a seu lado a gloriosa e o outro teve a virtude de conser-
var tais documentos, trazendo-os
juventude das escolas e das oficinas, transformando Barcelona finalmente p'ara o Brasil e reali-
num verdadeiro campo de batalha; e a semana sangrenta de zando pacientemente a sua coor-
Barcelona teve seu epílogo no-dia 13 de outubro de 1909, com denação.
o fuzilamento do educador Francisco Ferrer y Guardiã. Por Na "Introdução" faz o autor so-
todo o mundo, a juventude tremeu de ódio e de revolta. brevivente, Edgart Rodrigues, um
retrospecto do movimento operá-
A juventude vibra.. Bismark, Lénin e Trotski, Musso- rio em Portugal, e deve-se notar
Ime. .. Três falas, três tiranias. E a juventude vibra ao ver que fica evidenciada a tendência
tombar os tiranos... E a juventude vibra cantando hossanas anarquista dos sindicatos, ou seja
o anarco-sindicalismo do operaria-
ao porvir. E, agora, camaradas, quando meus cabelos de bran- do português.
co estão pintauos, que vemos? Nada?! Não. Estuda a juven- Sabemos que desde os primór-
lude estudiosa e anela por um porvir de paz e de venturas; dios do movimento associativo re-
estuda a juventude de nossos dias, que à rua sai gritando volucionário era a bandeira do so-
airás de um caudilho, ou ao caudilho vaia nas praças públicas. cialismo que ali se desfraldava; a
evolução fez-se naturalmente para
Que enorme nobreza de sentimentos têm aquelas crianças que o sindicalismo, repelindo-se as to-
nas ruas caem, como caiu Durruti ao defender um Ideal, ao nahdades ditatoriais do marxismo
protestar contra uma tirania! boichevista, quando este se expan-
dia no após-guerra de 1918, em fa-
E a nobreza de sentimentos, emoldurada por uns cabelos vor do anarquismo, que é a ver-
■.leg-üs que procuram tingir-se de neve na heróica luta pela dadeira liberdade de pensamento
ledenção de um povo. E' a juventude, é o sangue, é a vida e ação. Disto fui testemunha na
que viora, que lateja, que estua ao sacrificarem-se em prol da época de 1920-1926, e é com satis-
fação que vejo Edgart Rodrigues
liberdade, camaradas. registar na "Introdução" do seu expressivo documentário a eluci- maior, porque a par da indigna-
As juventudes de hoje são os alicerces da sociedade do livro a repulsa à Internacional Co- dar episódios diversos daquela ção ante a sorte e o destino de
munista no 3.° Congresso Operá- época. tantas vítimas tombadas no cami-
futuro. Não importa que um ou outro tombe na luta; são as nho, nos alenta e faz confiar na
rio Nacional da Covilhã em 1921, Tem-se notado infelizmente uma
balisas indicando o roteiro do futuro: Espártaco, João Huss, no qual a Juventude Sindicalista, certa impressão de falta de ener- capacidade de quantos, em Portu-
Giordano Bruno, Galileu, Marat, Sofia Perovskaia, Ferrer, Dur^ pela voz do seu representante, fez gia, de revolta, do povo português gal ou no exílio, sabem que, se lu-
ruti... símbolos de uma Idéia, construtores do futuro. rejeitar uma proposta de adesão ante a opressão política ali reinan- tar pela liberdade é um dever, po-
da Confederação Geral do Traba- te há 30 anos, como se aquele gê- der lutar por ela é uma felicidade.
lho à Internacional Sindicalista nio revolucionário de tantas jor- P. FERREIRA DA SILVA
Vermelha. E mais tarde, no ano nadas históricas houvesse feneci- -:o:-
de 1924, em obediência às resolu-
ções do mesmo Congresso, o ple-
Po r incrive que pareça... biscito promovido pela C. G. T.,

...Deus já tem uma estação de


Por P. B. J.
cedorà. Desembaraça-te desse ti-
que deu ensejo à manifestação de
104 sindicatos a favor da adesão
à Associação Internacional dos'
Primeira conferência
rádio no Brasil! E' força de ex- rano imaginário e sacode o jugo Trabalhadores (anarco-sindicalis-
pressão, mas fato consumado: a
Legião da Boa Vontade, com di-
nheiro dos seus adeptos, conseguiu
dos indivíduos que pretendem ser
os representantes dele na terra."
"Quando te tiveres emancipado
ta), enquanto somente seis foram
pela organização boichevista e cin-
co se abstiveram de qualquer pro-
anarquista americana
comprar uma estação de rádio, nunciamento . PARTICIPANTES — A Conferência Anarquista America-
dos Deuses do Céu e da Terra;
pomposamente batizada como "a quando te tiveres desembaraçado Este farto volume incorpora-se na, convocada pela Comissão Continental de Relações Anar-
estação de Deus". Que dirão a dos chefes de cima e dos de baixo; à história da perseguição nazi-fas-
cista em todo o mundo. Nas suas quistas, realizou-se em Montevidéu, de 14 a 21 de abril p. p.,
isto a Rádio" Jornal do Brasil", quando tiveres levado à prática
a Vera Cruz, os católicos, em fim, esse duplo gesto de libertação, en- 144 cartas palpita o espírito revo- com a participação de delegados das seguintes organizações:
que não se cansam de proclamar, tão, mas somente então, — ó meu lucionário dos autores ,e t)intam-se, Federação Libertária Argentina; Relações Internacionais Anar-
aos quatro ventos, que Deus está irmão! sairás do inferno em que com as cores trágicas mas verda- quistas (Argent.), que congrega várias agrupações do país,
em toda a 'p'arte, vê tudo e penetra te encontras para entrar no céu deiras de um período sangrento,
em todos os corações? as misérias da traição e o heroís- como "La Protesta", "La Obra", Libre Palabra", grup'os de
que tu realizarás! Deixarás as tre-
Se isso fosse verdade, para que vas da tua ignorância, para abra- mo das vítimas da nova inquisi- La Plata e Cordoba e elementos individuais; Centro de Cultura
uma estação de rádio, exclusiva- çar as puras claridades da tua in- ção, que tem sido tanto o escuro Social e "Nossa Chácara" (Brasil, S. Paulo); Grupo Anarquis-,
mente para êle, se tem a faculda- teligência, desperta, já, da influ- das masmorras como a atmosfera ta do Rio de Janeiro "Ação Direta"; Grupo Libertário. de Porto
de de orientar o pensamento de ência letárgica das religiões". do país subjugado. Paralelamente,
toda a Humanidade em torno de fatos conhecidos e secretos da Alegre (Brasil, R. G. S.); Federação Anarquista Internacio-
—o) * (o—
Bua "majestade divina''? Falemos guerra civil espanhola e da cola- nal do Chile; Associação Libertária Cubana; Federação Anar-
claro. Se Deus existe, não precisa boração do fascismo português quista Uruguaia. Mandaram sua adesão e informações por es-
de estação de rádio nem de pro- Anarquia rrão é desordem. com os "nacionalistas" sao revela-
Os anarquistas querem realizar dos, graças à correspondência man- crito a Liga Libertária dos E. U. A., a Federação Anarquista
paganda, porque, tendo poder abso- a ordem pelo acordo livre e li-
luto sobre tudo e todos, bem po- tida entre os dois companheiros Mexicana, a Agrupação Anarquista Panamenha, a Federação
deria ter criado exclusivamente vre federação do simples ao durante os anos de 1932 a 1937. Anarquista do Peru e companheiros de Santo Domingo, Haiti,
seres de bons sentimentos para composto. Acordo livre entre os Com a vantagem do testemunho
indivíduos, livre acordo entre BolLvia e Equador.
evitar futuramente ter que gover- de quem viveu os acontecimentos,
grupos, livre acordo entre mu- TEMÁRIO — I — Estudo da Realidade Americana. II —
nar o mundo a ferro e a fogo, pro- nicípios, livre acordo entre po-
vocando guerras e semeando epi- vos. Pronunciamento sobre os problemas latino-americanos. III —
demias para liquidar "seus filhos". melhor compreensão, embora me
Emile Royer (Defesa dos custasse ao começo. Nunca aban- Pronunciamento sobre os problemas mundiais. IV — Relações
Portanto, Deus não existe e, con-
sequentemente, os poderes que lhe anarquistas ante o Supremo donei essas excursões pelos cantos e coordenação do movimento anarquista: A) No plano ameri-
são atribmdos são pura fantasia. Tribunal de Bruxelas). cano: 1 — Informe da C. C. R. A.: 2 — Informe das delega-
mais tenebrosos da miséria social,
A propósito, vale a pena ler um ções; 3 — C. C. R. A. (Funcionamento, integração, apoio, ta-
folheto intitulado "Deus existe? — ainda que não o fazendo com o
refas, etc); 4 — Formas concretas de colaboração entre os
eis a questão", de Sebastião Fau-
re, editado pela "Editorial Semen-
A MISÉRIA SOCIAL mesmo zelo que nos primeiros
movimentos do continente. B) No plano mundial: 1 — Co-
Como muitos outros, acreditei terrfp'os de minha residência em
teira", de S. Paulo. Eis alguns pe- Londres. Como a pouco e pouco missão de Relações Internacionais Anarquistas (C. R. I. A.);
ríodos do aludido folheto: "Tu, lei- em minha juventude firmemente
tor, que me lês, abre os olhos, exa- que o pioramento da miséria so- fiz fama entre os camaradas lon- 2 — Formas concretas de colaboração entre os movimentos
mina, observa, compreende. O céu cial levaria os homens gradativa- drinos de ser bom conhecedor da- dos diversos países; 3 — Congresso Mundial Anarquista; 4 —
de que te falam sem cessar, o céu, mente à consciência das causas queles distritos da mais negra po- Biblioteca e Arquivo Internacional Anarquista (B. A. I. A.).
com ajuda do qual, procuram in- breza, recomendavam-me nos anos V — Realizações Anarquistas. VI — Declarações.
sensibilizar a tua miséria, anes- profundas da sua existência indi-
tesiar os teus sofrimentos e afo- gna. Desde então persuadí-me que posteriores hóspedes do continen- Os pronunciamentos, as resoluções e os acordos, dada a
gar os gemidos que, apesar de tu- essa fé era uma ilusão perigosa, te para que lhes servisse de guia. importância e a profundidade com que foram tratados, mere-
do, saem de teu peito, é um céu Minhas impressões permaneceram
irracional, um céu deserto. Só o como tantas outras crenças vazias, cem a divulgação, o que passaremos a fazer a partir do pró-
teu inferno é povoado, é positivo." que havíamos tomado incondicio- inalteráveis, muito embora as con- ximo número. Destacamos, pela oportunidade e significação,
"Levanta-te homem! E, direito, nalmente da geração anterior. Mi- clusões que delas deduzi se tenham as seguintes declarações:
altivo, rebelde, declara guerra im- nhas passagens pelos lugares da modificado muito no passar dos
placável ao Deus que há tanto tem- anos. * De solidariedade com a C. N. T., a F. A. I. e as Ju-
po impõe aos teus irmãos e a ti mais espantosa miséria fizeram os-
ventudes Libertárias espanholas, por sua resistência e luta
próprio uma veneração embrute- cilar essa fé e me capacitaram para Há uma etapa da miséria mate-
contra a tirania franquista. * Admiração pelos que, sob o bár-
rial e espiritual em que o ser hu-
baro despotismo bolchevique, mantêm acesa a chama da espe-
mano torna-se incapaz de qualquer
rança de liberdade e fim do totalitarismo comunista-marxista.
Nós anarquistas, como todas as pessoas de coração, pensa- elevação interna. Não nego que as
mos que a humanidade não se fez para estar amontoada como * De apoio à greve mantida há oito meses pela Federação
crises sociais e econômicas que re-
rebanho e viver vida bestial e infamante; necessita de completa de Obreiros em Construções Navais da Argentina. * De re-
pentinamente aparecem e de for-
liberdade para desenvolvimento de suas forças e capacidades. púdio a toda legislação repressiva, como a execranda lei 4.144
Com o comunismo livre, os homens associam-se livremente se- ma grave, podem alentar os seres
da Argentina. * De saudação ao artista e homem livre Pablo
gundo suas afinidades, produzem livremente segundo suas ca- humanos em certas circunstâncias
pacidades e consomem livremente segundo suas necessidades. Casais, formulando votos ipor seu restabelecimento. * De
à rebelião decidida, mas somente
Essa liberdade geral torna-se a base da vida, as aptidões desen- solidariedade com os operárias e estudantes mortos eu perse-
por ter-lhes ficado viva a lembran-
volvem-se, os caracteres melhoram com o bem estar e os homens, guidos em Cuba e no Chile. ■* De repúdio ao Tratado de De-
já não tendo em frente essa terrível inquietude do incerto ama- ça de tempos melhores. Mas quem
fesa do Atlântico Sul.
nha, consideram-se felizes trabalhando para o intrêsse geral na nunca conheceu melhor passado e
medida de suas forças... Concluo dizendo que, quanto mais nasceu na miséria mais profunda, Em resumo, podemos afirmar que a Conferência realizou-
liberdade houver e bem estar, menos crimes ocorrerão. Numa em poucos casos é capaz de resis- se num clima de muita cordialidade, de afetuoso companhei-
sociedade anarquista, o raro criminoso será olhado como um
doente cujo estado necessita de obsevações e cuidados. tir, porque a vida já o aniquilou rismo, tendo sido todas as resoluções tomadas por aôrdo geral,
física e espiritualmente na mais sendo raros os casos em que não se alcançou unanimidade,
Emile Royer (Defesa dos anarquistas ante o Supremo Tri-
bunal de Bruxelas). tenra juventude. não se verificando votação em nenhuma instância.
(Rudolf Rocker, "Na Borrasca")

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Página 4 AÇÃO DIRETA Agosto e setembro de 1957
JOSÉ' OITICICA Em começos de 1913 houve uma reunião de delegados de A LICAO DO PROLETARIADO
várias associações de classe do Rio, promovida pela comissão ESPANHOL
reorganizadora da Confederação Operária Brasileira, nomeada
Recordando alguma coisa pela Federação local, com o fim de coordenar esforços para des-
(Continuação da l.^^ pag.)
muitos políticos, defensores da de-
mocracia burguesa. Sendo, no ma-
envolver o movimento associativo profissional com caráter apo-
de sua tragetória no mo- lítico, isto é, orientação sindicalista-revolucinária. Ela teve lu-
gar na sede de uma sociedade localizada à rua S. Pedro, próxi-
pa da Europa, uma cabeça de al-
finete a extensão territorial da Es-
panha, e esta partida na metade,
mo à dos Andradas. com um terço no máximo genui-
vimento libertário Posterior a essa assembléia e no decorrer desse ano, Oiticica
entrou em contato com os elementos da Federação Operária do
namente proletária que viveu e
serviu à revolução, a projeção que
teve no mundo da exploração ca-
Por JOSÉ' ROMERO Rio de Janeiro, organismo sindical apolítico, cujo nome vinha pitalista e da tirania comunista foi
desde 1906, quando se realizou no Rio o 1.° Congresso Operário e continua sendo de enorme im-
Oiticica nos deixou para sempre. Nunca mais o tornaremos portância .
Brasileiro, mas que, entretanto, era uma continuação do mo-
a ver. Empreendeu a viagem que todos nós, mais dias menos A vida social-econômica da Es-
vimento operário do Rio, da antiga Federação das Associações panha anti-franquista se desenvol-
dias, teremos que fazer e da qual não. se regressa. As leis ine-
de Classe, fundada em 1903. Nessa altura a Federação tinha a veu sem capitalistas, mediante o
lutáveis da Natureza, na sua ação constante de transformação controle dos operários, a coletivi-
sua sede num sobrado no antigo Largo do Capim, situado entre
da força e da matéria, não poupam ninguém. zação e a administração dos pró-
as ruas General Câmara, S. Pedro e Andradas, na direção des-
, A's' 18 horas da tarde do dia 30 de junho do corrente, quan- prios trabalhadores. Tudo funcio-
ta última. nava sem governo e sem autorida-
do a luz do dia começava a desaparecer do firmamento, algumas
Um dia José Oiticica, com a sua inseparável pasta, subiu de. Fazia-se a guerra, não para
centenas de pessoas — (a família, amigos, discípulos e compa-
a escada do sobrado, entrando no recinto dos trabalhadores, que defender a pátria dos capitalistas,
nheiros de Ideal) — muitas com as lágrimas caindo, entrega- mas para destruir os traidores e
não tinham medo de ouvir falar do ideal anarquista e ler os seus
ram-no ao seio da Mãe-Terra. Por momentos, a mágoa que per- para instaurar o verdadeiro socia-
pensadores e propagadores; lugar perigoso segundo os burgue lismo .
dura no nosso íntimo quer embargar a ação da mente, que de-
ses caçadores de votos e demais defensores do regime capitalis- Praticava-se a verdadeira demo-
seja dizer alguma coisa sobre o companheiro que perdemos.
ta. Logo deparou com vários grupos, uns sentados e outros em cracia obreira, existindo os comi-
Reanima-se, porém, insiste e diz: "Aceita o inevitável com se- tês de relações, que trabalhavam
pé. Ao encontro dele, por ser pessoa desconhecida dos presen-
renidade; traça algumas linhas, ainda que pouco saibas do belo para fortalecer os sindicatos e res-
tes, foi um membro da comissão administrativa da Casa. Era tringir os partidos políticos. Veri-
idioma que o companheiro desaparecido com tanto carinho en-
ura companheiro, carpinteiro de profissão, mulato, natural de ficava-se a medida da capacidade»
sinava aos seus alunos." A memória desanuvia-se e recorda-se sindical do proletariado; corrigin-
de pessoas e fatos. Maceió, de quem, no momento, só recordamos o sobrenome, que
era França. do sempre erros conseguiam-se
O grande geógrafo e pensador anarquista Eliseu Reclus dis- acertos, demonstrando-se que .sem
— Que deseja o nosso amigo? perguntou-ihe. a ditadura do proletariado se po-
se: "O homem é a natureza formando consciência de si mesma".
—■ Desejava falar com o presidente ou diretores — respon- dia forjar uma sociedade nova.
Mas, do que não há dúvida é de que a consciência da maioria Podia-se viver sem padres, sem
deu Oiticica.
dos homens ainda continua endurecida, sonolenta, quase apa- liturgia e sem temor a Deus. O
— Aqui não temos presidentes, nem diretores — replicou amor não precisava de garantia
gada por força dos preconceitos acumulados através de séculos
í>'or sua vez o companheiro alagoano, criatura de temperamento oficial e se demonstrava trabalhan-
de ignorância, exploração, miséria e tirania de • uns sobre os
expansivo e alegre, agregando: Só há comissões administrati- do e lutando com o máximo de
outros. Quando, porém, esclarecido o pensamento, ela desperta abnegação, a inutilidade do govêi--
vas que executam as decisões das suas assembléias.
e compreende a verdadeira missão humana sobre a Terra, o no e toda sorte de coerções.
— Muito bem, — disse Oiticica — e a seguir pronunciou A unidade obreira era o signo
homem esforça-se e combate na medida da sua capacidaue fí-
mais algumas palavras que não recordamos bem, cujo sentido da resistência e o incentivo para
sica, moral e cultural para destruir os erros, iniquidades e in- a luta, na demonstração de que o
fora de haver encontrado alguma coisa do que desejava e lhe
justiças que deslustram a existência da humanidade, contribuin- trabalho une e a política divide
causava satisfação.
do para solidarizar e libertar, não somente a coletividade de sempre em proveito da tirania e
Depois conversou com os operários que lá estavam. Dessa da exploração. Carentes da solida-
que por ventura faça parte, mas o mundo todo, da opTessão e
época em diante não cessou o seu contato com o movimento riedade internacional, traídos pela
mazelas que dominam ainda a sociedade atual. II Internacional Socialista e pelo
sindicalista de ação direta, que perdurou até o começo da dita-
O companheiro José Oiticica possuía inteligência- esclareci- pregão nacionalista do comunismo,
dura getuliana, mais intimamente com o do Rio, entretahto. que roubou o ouro em troca do
da e incoirutível, vontade que não desfalecia, sentimentos apu- também, com o de S. Paulo. Por meio de conferências, paies "voluntários"' internacionais e de
rados; era tolerante com os seus semelhantes e intransigente trás e diálogos procurou distribuir aos companheiros de Ideal conselheiros importados da Rús-
na defesa do Ideal que abraçou: a doutrina anarquista. Foi um e aos trabalhadores em geral os conhecimentos que possuía so- sia, com o Comitê de Não Inter-
trabalhador incansável no exercício cotidiano da sua arte de bre a questão social, idioma, ciência, higiene e muitos outros, venção e com a enorme ajuda que
ensinar, não só como professor de português no Pedro 11, colé- o fascismo, a Igreja e o nazismo
necessários ao aumento de cultura do trabalhador, despida dos emprestavam ao bando dos traido-
gio padrão da República, como também nos curaos particulares rançosos preconceitos da sociedade capitalista. res, fomos afinal vencidos. Mas,
e como professor da Escola de Arte Dramática da Prefeitura do Assim procedeu na Liga Anticlerical do Rio de Janeiro. quem triunfou na Espanlia? E esta
Distrito Federal. Só impossibilitado por doença é que deixava é a lição que desejamos explicar.
1912/30 (?), onde sua atuação foi grande, esclarecendo cérebros Não obstante os 803 milhões de
de atender aos seus deveres e compromissos com os seus alunos. e estimulando vontades. Náo era somente contra o clericalismo dólares que Franco recebeu do ca-
Como escritor, a sua obra sobre filologia, literatura, crítica que êle pregava, era também contra os vícios, o álcool, o fumo pitalismo norte-americano, a Espa-
literária, poesia e o ideal anarquista, foi abundante. Se houver e outros. Tivemos ocasião de conhecer pessoas que, depois de nha está outra vez na situação que
alguém que, com o devido esmero e carinho, a possa reunir e já deixou imortalizada Quevedo ao
terem ouvido as suas conferências sobre os males que esses ví- dizer:
editá-la, certamente muito lucrará a cultura da geração presen- cios produzem, deixaram de fumar, tornaram-se abstêmios ou Não há de haver um espírito va-
te e vindoura, como também esclarecerá o que querem e dese- morigerados. Nessa Liga realizaram conferências, também, que lente?
jam os libertários. Sem-pre se há de sentir o que se
nos lembremos, o Dr. Coelho Lisboa, o tenente da Marinha Co-
Devemos citar o que nos disse um comp'anhelro no dia do diz?
riolano Martins e Cecília Meireles contribuindo dessa forma Nunca he há de dizer o que se sen-
seu sepultamento; que 48 h. antes de falecer esteve no seu es- para ilustrar o povo, ensinando-o a amar a liberdade e o livre te?
critório fazendo a revisão das provas dos artigos para o último pensamento. Sim, na Espanha de hoje, "amea-
número (118) de "Ação Direta", pedindo que lhe levasse com ça-se morte", mas a situação é
No decorrer de 1914 foi fundado um Centro de Estudos So- caótica e o regime está agonizan-
urgência a prova de página, pois, sempre fazia empenho em re- ciais, que teve a sua sede na rua General Câmara 335. Dos seus do. Já a gente se atreve a dizer
visar a matéria do periódico em segunda prova. Tal era o seu numerosos aderentes destacavam-se Oiticica; o velho João Gon- o que sente, e quer acabar com a
zelo para evitar que passassem erros da língua de que foi cul- çalves, de saudosa memória, contabilista; Cecílio Vilar, tipógra- tirania que posterga os direitos do
tor, e de que teve ocasião de cantar a beleza num soneto, se a trabalhador. Chegará outra vez a
fo. riograndenses os dois; Francisco Viotti, estudante de medi- hora de recolher a semente que
memória não me falha, intitulado "A Língua". cina, mineiro; e outros. foi semeada, e poderá ser expor-
A sua trajetória no movimento libertário e no meio sindical Nos começos de 1913 houve uma reunião plenária do mo- tada aos países de tirania e abso-
foi constante. Nos seus 75 anos de vida, durante 46, êle soube vimento anarquista do Brasil. As sessões, que duraram vários lutismo, já que temos de confiar
dispor de tempo para dedicá-lo à propaganda da redenção social, na força obreira adormecida pela
dias, tiveram lugar na sede da associação de classe dos empre propaganda dos partidos políticos.
coisa que êle fazia em diversos meios associativos. Entretanto, gados em hotéis, restaurantes e cafés, denominada Centro Cos- Repetir-se-á a história. Nenhuma
sempre viu que para destruir a exploração do homem pelo ho- mopolita, à sua do Senado, cedida gratuitamente pelos seus as tirania é eterna, nenhuma rehgião
mem, era preciso ensinar, esclarecer a mente dos trabalhadores, é infalível.
sociados. Na discussão dos assuntos postos à consideração da O que tem permanente sentido
dos quais foi um amigo dos mais sinceros e desinteressados até assembléia, José Oiticica tomou parte ativa nos debates sobre real e atual, é recordar que os tra-
os últimos momentos da sua existência. táticas, meios de propaganda e ética da doutrina. Certos pontos balhadores não têm pátria e que
Em 1912 tivemos a satisfação de ler o primeiro artigo de e maneiras de ver os problemas por êle ali expostos acham-se conquistar sua emancipação, é
obra só dos trabalhadores.
Oiticica de afirmação anárquica. (Ignoro se já o tinha feito em condensados na sua obra "A Doutrina Anarquista ao Alcance de
alguma outra publicação). Nele ressaltava a obra do mártir de Todos". Nessa reunião esteve representada a F. O. R. A. da
Montjuich e previa o triunfo do racionalismo libertário. Esse . Argentina por José Borobio, companheiro que estava de passa- pouco a teoria e olhem os fatos
que se desenrolam; verão sempre,
trabalho foi publicado no número especial de A Lanterna, de S. gem pelo Rio, de volta de uma viagem à Espanha e que, sendo em toda parte, a política servir de
Paulo, do dia 13-10-912, em recordação do 3.° aniversário do fu- membro de confiança desse organismo operário, foi autorizado arma para os dominadores, os po-
zilamento de Francisco Ferrer, o fundador da Escola Moderna a tomar parte em seu nome. derosos, e que, como arma, provou
de Barcelona em 1901. Tinha a seguinte epígrafe: "Francisco Prosseguiremos no próximo número recordando, ainda que um,a eficiência muito superior d
das religiões. Hoje o clero é posto
í'errer e a Humanidade Nova". Foi o primeiro que enviou para deficiente e pàlidamente descrita, a trajetória do compa- um pouco de lado, porque a sua
o citado 'periódico. nheiro José Oiticica no movimento libertário e sindical. eficiência na conservação d^a or-
dem existente é secundária, e a
política é melhor usada, porque é
uma arma mais segura. E o clero
FÁTIMA VOLTA AO BRASIL POLÍTICA E AÇÃO DIRETA tanto compreendeu isso, dizem os
libertários, que, para não desapare-
"S O L A R I D A D (Continuação da 1.» pag.)
Por EDGART RODRIGUES cer, fez-se também político, e até
natural, direto, mas indireto, des- socialista.
empresa "Fátima Sociedade Anô-
O B R E R A" viado pelos políticos, pela luta po-
Chegou a terras de Sta. Maria a Assim^ sintetizando:
, milagreira de Fátima. Vem mu- nima Ilimitada", mas há outros e à VENDA lítica. A luta pelos meios é a ação in-
os primeiros auxiliares da maior Depois, o caminho das urnas é
nida de bolsas, mas que bolsas
fundas e resistentes! e que cofres façanha deste meio século vinte.
São eles: José dos Santos Rito, Ma-
no(Em Largo úa Lapa
frente ae Ponto dos Bondes)
mais fácil, menos trabalhoso. Toda
a inércia, todos os impulsos de
direta:
A luta pelos fins é a ação direta.
blindados acompanram a pedinte Os socialistas libertários pregam
que prepara nova colheita na vi- nuel da Costa "Lamorosa^", Gilber- passividade que estão dentro do esta última, e a justificam. A pri-
nha do Senhor. Lá vem ela balan- to Fernandes dos Santos "Bicân- homem, predispõem a receber de meira é um desvio do verdadeiro
çando ao sabor das ondas do mar, caro^' e o fotógrafo Antônio de boa vontade turo quanto signifi- impulso hum.ano de ação que, no
naquele "Monstro diabólico a va- Campos. Esses inventores e cola- e engarrafada pelos monstros da que o menor esforço. A campanha oprimido, m.anifesta-se num im-
por, invenção do diabo". Seus te- boradores dos primeiros anos, fo- batina, água que tem proporciona- política tem essa miraculosa eficá- pulso de rebeldia.
soureiros são astutos, sagazes e ram apoiados e ajudados pela ca- do tantas curas, menos a do bis- cia. Desperta a passividade ao des- A segunda são os impulsos rea-
hábeis, para proceder a rigorosa beça mestra da Igreja e do Gover- po de Leiria há tantos anos para- viar os impulsos de ação para os lizando-se plenamente, plenamente
colheita, e que colheita!... no português, Cerejeira-Salazar. lítico. E quanto dinheiro rende meios, em vez dos fins. conscientes e criadores, com todo
Vem ao Brasil para festejar o que agora incita os novos tesou- cada garrafa da divina água? Po- O homem prefere acreditar que o seu, caráter de iniciativa. A pri-
quadragésimo aniversário (para reiros a correrem mundo em bus- bre povo! Pobre gente que, cheia a luta eleitoral é mais eficiente, meira cria massas e conserva-as
colher dinheiro, não) do burlesco ca de ouro e mais ouro, cruzeiros de medo às chamas do inferno en- porque o dispensa de uma ação como tal, isto é, como 7nassas de
invento dos padres D. José Alves e mais cruzeiros. Não acham que tregam a esses vigaristas os últi- mais trabalhosa. manobras, como multidões obedi-
Correia da Silva, (bispo de Leiria, já levaram bastante da outra visi- mos tostões que lhe restam para A crítica libertária vai ainda entes aos gestos e às palavras de
há muitos anos paralítico), Bene- ta a este Brasil. um café. Mas que tirocínio comer- mais longe e os argumentos pode- ordem dos líderes, chefes, etc. A
venuto Ferreira, Manuel Marques E o trabalhador que sustenta cial têm os administradores da riam encher volumes e volumes- segunda desenvolve no homem a
Ferreira e Abel Ventura do Céu com seus trabalho essa parasitada empresa. Que fabulosa habilidade Mas, em, síntese, os libertários capacidade criadora, porque não ti-
Faria. São estes os geniais inven- que vive à farta, não dá um pio adquiriram para apanhar a bolsa chamam a atenção para os socia- ra das massas o espírito de inicia-
tores daquela mina inesgotável, cheia do rico e os últimos cruzei- listas que ainda se iludem com as tiva e modela indivíduos, homens.
de discordância. Tudo corre às luta^ políticas, que se dispam de
daquela empresa milagreira que mil maravilhas, para os que ven- ros do miserável, do "sem camisa",
tantos escudos rende. Citamos suMS couraças ideológicas e da "Análise Dialética do Marxis-
dem aquela água de Fátima apa- porque senão, até esta levariam. ganga bruta de suas mistificações
apenas os nomes dos principais da nhada não se sabe em que fonte mo" — Editora Logos, São Paulo,
:o:—— — doutrinárias, que esqueçam um 1953

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