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ISSN: 2175-9774
REFERÊNCIA:
INTRODUÇÃO
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ausência de computadores disponíveis e ligados à internet – o que varia, é claro,
conforme a região do país.[3]
Antes de passarmos à discussão sobre os usos do ciberespaço no ensino de
literatura, é interessante refletirmos sobre como esse novo meio tem revolucionado a
produção e a circulação de objetos culturais, especialmente de textos literários.
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dizer ridículo. Em contrapartida, publicar no ciberespaço é ter a garantia de ser lido em
qualquer lugar do planeta que tenha um computador conectado à web.
4. Interatividade autor-leitor no processo de criação - A publicação no ciberespaço
possibilita uma interação com os leitores através do espaço de comentários, fóruns ou
chats, o que não acontece quando o escritor publica apenas pelo meio impresso. No caso
da publicação de um romance em blogs ou sites, assim como se fazia nos folhetins dos
jornais nos séculos XVIII e XIX, o autor tem a vantagem de acompanhar diretamente os
comentários dos leitores e de interagir/dialogar com eles durante o processo de
escritura. Um caso exemplar e surpreendente, além dos sites de fanfictions, é o
experimento de elaboração da comédia policial Os anjos de Badaró, de Mario Prata,
escrita com a colaboração dos leitores de seu site (http://marioprataonline.com.br)
durante seis meses.
5. Recursos multimídia - Uma revista eletrônica (assim como um e-book) pode dispor de
recursos tais como imagens em movimento, vídeos e arquivos de som, além dos
hiperlinks, o que no caso de uma publicação impressa não acontece - salvo outras
mídias lhe acompanhem como encarte, mas isso não garante uma interação orgânica de
imagens e sons com o texto, ou seja, a incorporação dessas outras linguagens na
estrutura do texto.
6. Criação de redes de afinidades entre escritores e/ou leitores – A publicação em sites
ou blogs possibilita através de links com outras publicações ou autores afins o
estabelecimento de redes, o que favorece a divulgação do trabalho e o estabelecimento
de comunidades de produtores e leitores. Exemplos são o Portal Literal (cuja curadoria
é de Heloísa Buarque de Hollanda) e o blog As escolhas afectivas, criado pelo argentino
Aníbal Crístobo, e que propõe uma curadoria autogestionada de poesia “de forma que
um autor publique seus poemas e também mencione outros autores, que, por sua vez,
farão o mesmo” (GUADALUPE, 2008, p. 698).
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Mas o fato é que as atuais mídias tornam palpável o que antes era uma realidade em
potencial, conforme apontam Frederico Fernandes (2008, p. 115) e Alessandra Navarro
Fernandes (2008, p. 126), respectivamente, nas citações abaixo.
Não considero esses novos tipos e gêneros textuais como uma evolução da
literatura, mas como novas formas literárias que inevitavelmente surgem com as
mudanças nas condições de produção. E cabe a todos explorá-las, seja na condição de
leitor ou de autor. E a distância entre um e outro no mundo do ciberespaço tem sido
reduzida na medida em que essas novas tecnologias aliadas aos hipertextos permitem
que o leitor os reorganize a sua maneira fazendo “a eleição daquilo que vai ser lido e
como será lido. (LIMA, 2008, p. 60). Essa possibilidade de o internauta ser o capitão do
barco na viagem da leitura pelo oceano do ciberespaço coloca em xeque tais conceitos
(principalmente ser ele for capitão de um navio pirata). Diga-se de passagem, as ideias
de autoria e texto já vinham sendo problematizadas, antes mesmo do boom da internet,
no próprio campo literário a partir de filósofos e críticos como Michel Foucault e
Roland Barthes. Por isso me parece que novamente o ciberespaço, mais do que criar
novas realidades, gêneros ou textos, está é potencializando certas escrituras e seus
desejos antes latentes, mas aprisionados pelos limites da folha impressa.
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Além do mais, o uso dessas novas tecnologias e em especial do computador conectado à
web só pode trazer benefícios se bem fundamentado e planejado. O ciberespaço com
sua organização em rede, que permite os enlaces intra e extratextuais que caracterizam o
hipertexto, potencializa o desejo de um ensino interativo e dialógico capaz de romper
com a passividade do aluno, tornando-o um construtor do conhecimento juntamente
com o professor, que deixa de ser um simples transmissor. É nessa perspectiva que se
encontra a proposta de Maria João Gomes (2005) quanto à utilização de blogs no
ensino. Segundo ela, eles podem ser usados como recurso ou estratégia pedagógica.
Enquanto recurso são possíveis os seguintes usos pedagógicos dos blogs:
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Em conjunto, con la estructura hiper e inter-textual el escrito se
convierte em um objeto comunicativo más abierto (que admite
actualizaciones continuadas), versátil (permite diversidad de
itinerarios), interconectado (relacionado com el resto de recursos
enciclopédicos de la red) y significativo (multiplica sus posibilidades
interpretativas).
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a) os oficineiros não se veem e podem permanecer anônimos
(representados apenas pelos nicknames), de tal modo que isso
possibilita uma maior desinibição e por conseguinte uma maior
sinceridade nos comentários;
b) propicia que o foco das discussões e críticas fique centrado
nos textos produzidos pelos oficineiros (e não nas pessoas que
escrevem).
O que caracteriza esta prática é menos a relação do sujeito com suas escrita no
instante em que escreve, mas esta mesma relação focalizada no momento em que outro
intervém no produto de sua escritura.
Assim, a adoção do sistema de comunicação por computadores confere a essa
oficina um funcionamento interativo que a constitui como um lugar visibilidade dos
sujeitos vem dos textos lançados para discussão. Trata-se de um modelo de ateliê de
escrita em que , graças ao aparato da interação virtual, os participantes só se contatam
mutuamente, através de seus respectivos escritos.
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8) Intensificação emocional: consiste na escrita de uma narrativa em que os personagens
passam a viver um conflito novo e intenso, que não se encontra necessariamente no
texto original.
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Confraria do Vento - http://www.confrariadovento.com/ - Editores: Márcio-André,
Ronaldo Ferrito e Victor Paes – 23 edições eletrônicas e uma impressa .
Corsário - http://www.corsario.art.br/
Critério - http://www.revista.criterio.nom.br – Editor: Marcelo Chagas – 9 edições.
Entre Textos - http://www.portalentretextos.com.br/ - Editor: Dlson Lages Monteiro
(com conselho editorial). Se encontra no ano 6, número 60.
Germina - www.germinaliteratura.com.br/index1.htm -
27a edição 2008 (desde 2003).
Máquina do Mundo – Editor Charles Kiefer – Porto Alegre – 6 edições on-line em
2005 - http://www.bestiario.com.br/maquinadomundo/especial.htm.
Portal Literal - http://portalliteral.terra.com.br/ - 6 anos no ar. Curadoria: Heloísa
Buarque de Hollanda. Atua como comunidade on-line que produz e debate cultura em
ambiente colaborativo, permitindo aos usuários construir coletivamente seu conteúdo.
Projeto Outras Palavras - http://outraspalavras.arteblog.com.br/ - Blog que funciona
como revista de literatura, arte e educação do Projeto Outras Palavras – DLE-UEM –
Apresenta arquivos sonoros dos programas radiofônicos Outras Palavras (Radio UEM-
FM 106,9) – Coordenação, apresentação e edição: Marciano Lopes.
Revista Etc - http://www.revistaetcetera.com.br/ - início 2001 – edição 22 (atual 2008).
Editor Sandro Saraiva.
Sibila - http://www.sibila.com.br/ – Editor: Régis Bonvicino.
Tanto - http://www.tanto.com.br/ - Editor: Luiz Edmundo Alves.
Usina de Letras - http://www.usinadeletras.com.br - Atua como comunidade on-line
que produz e debate cultura em ambiente colaborativo, permitindo aos usuários
construir coletivamente seu conteúdo.
Web Livros - http://www.weblivros.com.br/ - Editor: Reynaldo Damazio
Zunái - http://www.revistazunai.com.br/ - Editores: Cláudio Daniel – Rodrigo de Souza
Leão – 15 edições (2005-8).
REFERÊNCIAS
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FERNANDES, A. N. Faces da poesia no meio digital: experimentação estéticas e
influências simbolistas. In: CORRÊA, A. A. (org.) Ciberespaço: mistificação e
paranóia. Londrina: Universidade Estadual de Londrina, 2008. p. 118-127.
GOMES, M. J.; LOPES, António Marcelino. Blogues escolares: quando, como e por
quê? Disponível em:
https://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/6487/1/gomes2007.pdf. - Acesso
em 10 de agosto de 2009.
LÉVY, P. Cibercultura. (Trad. de Carlos Irineu da Costa). São Paulo: Editora 34, 1999.
[1] O artigo é fruto de pesquisas desenvolvidas como atividade dos projetos Literatura, leitura e escrita
no ciberespaço (blog http://ciberensino.blogspot.com) e Práticas de leitura e escrita no ciberespaço,
ambos coordenados pela profa. Dra. Alice Aurea Penteado Martha (UEM).
[2] Sobre esse importante debate, há vários ensaios no livro Além das redes de colaboração, organizado
por Nelson de Luca Pretto e Sérgio Amadeu da Silveira (Salvador: EDFBA, 2008). Também é ilustrativo
o ensaio “Autoria, leituras e bibliotecas no meio digital”, de José Luis Jobim (JOBIM, 2005).
[3] Ao menos aqui no Paraná, todas as escolas estaduais (ou a maioria) receberam do governo estadual
em torno de 20 computadores para equipar seus laboratórios de informática.
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