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POLÍCIA À PORTUGUESA
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POLÍCIA À PORTUGUESA
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Livros d’Hoje
Publicações Dom Quixote
[Uma chancela do Grupo LeYa]
Rua Cidade de Córdova, n.º 2
2610-038 Alfragide · Portugal
ISBN: 978-972-20-3716-7
www.livrosdhoje.pt
Por compromisso com os autores a revisão deste livro seguiu o Livro de Estilo do Público. (N. do T.)
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ÍNDICE
11 Prefácio
15 Introdução
19 1. Entregue aos bandidos…
25 2. Duas selvas, lobos e cordeiros…
41 3. Na rua, maltratados e com medo
49 4. Aquilo é só fachada
57 5. Carros, armas, tiros e processos
73 6. Carreira de tiro, pistolas e munições
79 7. Uma profissão filha da mãe
87 8. Da confusão da Quinta da Fonte ao preconceito étnico
97 9. Mulher, polícia e mãe
105 10. Uma esquadra fantasma
109 11. Trabalhar, ouvir e calar
119 12. Em busca da identidade perdida…
129 13. Filhos e enteados
141 14. Sindicatos, lutas e perseguições
159 15. PCP, CDS, o polícia portas e a PSD a Deus dará…
171 16. Um retrato dramático
Mata-te, tens aí uma pistola!
181 Conclusão
Brincar com os polícias…
185 Posfácio
Da Polícia ao V Império…
189 Anexos
.INTRODUÇÃO.
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.PREFÁCIO.
Fernando M. Contumélias
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.INTRODUÇÃO.
Mário Contumélias
.1.
ENTREGUE AOS BANDIDOS…
S
O desabafo é do «Agente Lopes». Tem 33 anos, está há
nove na PSP, na área metropolitana de Lisboa. É um homem
de estatura média, semelhante à da maioria dos portugueses.
Nem peso a mais, nem peso a menos, e de uma simpatia
desarmante. É discreto e está longe de ser um conversador,
mas a franqueza com que nos confessou as dores que sente
por estar nesta Polícia acabou por tornar-lhe a conversa mais
fluente. E tem uma explicação para a situação que acaba de
definir: «O problema foi criado por sucessivos governos que
deixaram a Polícia praticamente ao abandono. Embora este
ministro1 esteja a fazer um esforço…»
.2.
DUAS SELVAS, LOBOS E CORDEIROS…
S
«O polícia tem um ordenado semelhante ao do cidadão,
paga os seus impostos de igual forma, não pode aceitar qual-
quer tipo de ajuda, se não, está a ser corrompido. Como tem
de viver do salário, recorre aos gratificados para se ajudar,
mas isso significa fazer horas a mais. Dantes, o horário era
de oito horas, hoje é de seis mas temos de estar uma hora
antes e uma depois, o que vai dar às oito horas; a seguir vai
fazer-se um gratificado, no mínimo quatro horas, com mais
uma hora antes e outra depois. No total, dá cerca de 14 horas;
acrescentemos mais três horas para as refeições, dá dezassete
horas. Sobram sete horas. Nestas sete horas ele terá, também,
os seus assuntos pessoais… não sei quantas horas lhe sobram
24 Polícia à portuguesa | Fernando Contumélias • Mário Contumélias
1 Nome fictício.
Polícia à portuguesa | Fernando Contumélias • Mário Contumélias 25
S
Pode dizer-se que a PSP é uma instituição em crise, na
medida em que está ainda a viver uma fase de indefinição do
modelo a encontrar. Por um lado, é a própria Corporação que
deixa de ter cariz militar ou paramilitar, para se transformar
numa instituição cívica. Por outro, é a estrutura hierárquica
superior, que, acompanhando o processo, ao invés de ser asse-
gurada por oficiais vindos das Forças Armadas (FA), desig-
nadamente do Exército, passa a ser ocupada por oficiais com
formação superior em Ciências Policiais. Ora, durante esta
transição convivem todos – oficiais vindos das FA com ofi-
ciais saídos do Instituto Superior de Ciências Policiais e Segu-
rança Interna, e ainda com oficiais tarimbeiros , digamos
assim. São, no fundo, três «escolas», três maneiras de ver e
representar a PSP, três lógicas de acção. O resultado é pouco
harmónico e excessivamente conflitual.
O «Oficial superior Paulo», ele próprio apanhado no seio
desta transição, é, pela sua própria experiência, elucidativo
sobre as transformações e os conflitos que com elas convi-
vem, no seio da Polícia. «Entrei em 1980 para o curso de
guardas da PSP. Na época, tinha saído da tropa como oficial
miliciano, havia dificuldades de trabalho, e, como tal, pensei
numa perspectiva de emprego garantido. Por outro lado, tive
sempre a ideia de poder ajudar as pessoas e esperava concre-
tizar, na PSP, esses meus anseios.
«Na altura, tínhamos os Comissários de Polícia, que não
eram oficiais; os chefes de esquadra, e os oficiais dos quadros
Polícia à portuguesa | Fernando Contumélias • Mário Contumélias 27
S
«Quando acabei o curso de formação de guardas, fui colo-
cado em zona de serviço a Embaixadas. Era um pouco dife-
rente do policiamento de rua, não podíamos sequer dizer
bom dia às pessoas, se não tínhamos um processo disciplinar.
Se o subchefe de ronda nos encontrasse a falar com um cida-
dão, não nos perguntava o motivo, tínhamos era um processo
disciplinar de imediato, por estarmos distraídos. Digo isto
para se perceber a mentalidade que existia nessa altura, na
PSP. A formação desses superiores também era pouca; os
cursos eram dados por pessoas praticamente autodidactas,
algumas vindas do Ultramar e que, quando chegaram, para
serem chefes ou subchefes, fizeram um simples teste escrito
e foram promovidos.
«Os militares que estavam na PSP, na sua maior parte,
eram os que o Exército não queria e dispensava-os para a Polí-
cia. Ao longo dos anos, vários militares voltaram para o Exér-
cito, chegaram até a generais; seriam os melhores, os outros
ficaram na Polícia. A PSP nunca foi buscar os bons profis-
sionais ao Exército. Os militares que passaram para a PSP
continuaram a ser militares; “não basta vestir a pele de cor-
deiro a um lobo para haver só cordeiros”. Vestiram a farda
da PSP e os jornalistas passaram a dizer que já não havia mili-
tares na Polícia. Mentira, o cunho militar não está na farda
mas no interior da pessoa. Talvez por isso, ainda hoje, esta-
mos um pouco atrasados civicamente. Um pequeno exemplo
Polícia à portuguesa | Fernando Contumélias • Mário Contumélias 29
S
O quadro que o «Oficial superior Paulo» traça da Corpo-
ração policial não é tranquilizador, muito pelo contrário. Fica-
mos a saber que o filme não se resume à luta entre bons e
maus, polícias e bandidos, e que, no mínimo, ela decorre num
quadro de conflitualidade interna entre os bons, que prejudica
o seu desempenho de maneira, por vezes, até eventualmente
perversa, na luta contra os maus. Podemos, até, pensar que,
para além dos meios e dos treinos, falta uma ética reguladora
das relações internas no seio da Corporação, que faça dela um
todo coeso, capaz de enfrentar os desafios e os perigos do pre-
sente, que serão, inevitavelmente, maiores no futuro. E o mais
inquietante é que este quadro é confirmado, ao longo deste
livro, pelos depoimentos de outros actores, referidos nos capí-
tulos seguintes. É uma visão demasiado partilhada para ser
fruto das circunstâncias ou de qualquer tipo de preconceito.
Mas voltemos a ouvir o «Oficial superior Paulo», que, com
o seu relato, escurece ainda mais o quadro, já de si um tanto
negro, da situação na PSP…
«Neste momento, as relações entre oficiais, na Polícia, tra-
duzem-se no “salve-se quem puder”. O espírito de corpo é
exíguo, há uma luta desenfreada para ocupar cargos superio-
res e posições de privilégio. Os ‘militares’ estão de saída, vão
saindo aos poucos; os jovens, que já são Intendentes, lutam
Polícia à portuguesa | Fernando Contumélias • Mário Contumélias 31
S
E no GOE, onde já esteve, as coisas também se passam
assim? «Não! O GOE tem características completamente
diferentes. É uma unidade especial. Tem de haver confiança,
entreajuda e espírito de equipa entre todos; têm de ser muito
Polícia à portuguesa | Fernando Contumélias • Mário Contumélias 33
S
E como devemos nós, cidadãos, olhar actualmente para
a PSP? Como uma instituição de cariz militar, ou cívico?
O «Oficial superior Paulo» responde sem hesitações… – «Já
não se pode dizer que temos um modelo militar. Antes, dizia-
-se que a Polícia era militarizada, à semelhança da GNR,
embora esta fosse uma força paramilitar. A razão era muito
simples; inicialmente, não havia regulamentos próprios na
PSP, todos os regulamentos eram uma cópia dos do Exército,
adaptados à Polícia. Por exemplo, em 1996, na escola de Tor-
res Novas, ainda se obrigavam os alunos a fazer continência
na formação e, apesar de não haver legitimidade para tal obri-
gatoriedade, quem não o fizesse arriscava-se a uma punição
disciplinar. É a tal transição do militar para o cívico. Actual-
mente já somos cívicos, embora ainda haja alguma pressão
dentro do regulamento.
«Anteriormente, no estilo militar, o comandante dava uma
ordem e ela tinha de ser cumprida, mesmo que sem razão.
Ora isso, na PSP, já não pode acontecer; as chefias já não
Polícia à portuguesa | Fernando Contumélias • Mário Contumélias 37
.3.
NA RUA, MALTRATADOS E COM MEDO
S
«Somos maltratados pelo Estado e pelos governantes, que
não nos dão os meios para trabalharmos. A própria classe de
oficiais, que manda na Corporação, também devia exigir mais
aos governos, mas acomoda-se. Há muita desmotivação na
Polícia!», esta é, pelo menos, a visão do «Agente Pedro1», há
30 anos na PSP e dirigente do SPP. É um homem pragmá-
tico, com um ar sério. A expressão do rosto, por vezes grave,
altera-se quase constantemente para acompanhar as palavras,
1 Nome fictício.
40 Polícia à portuguesa | Fernando Contumélias • Mário Contumélias
.4.
AQUILO É SÓ FACHADA
S
Quem afirma o que acima se escreveu é o «Agente San-
tos», com 35 anos de serviço na PSP. Transparece nele o tra-
quejo da velha escola, de quem conhece a Polícia por dentro
e por fora. Alto, forte, de voz grave e ar sério, a sua franqueza
é patente na conversa, ao ponto de deixar perceber as dores
que sente por servir uma Polícia cansada, sem meios adequa-
dos e que tem vindo a perder autoridade. Do alto da sua expe-
riência profissional, confirma o que disseram outros colegas,
48 Polícia à portuguesa | Fernando Contumélias • Mário Contumélias
– Agora?, perguntei eu
– Sim! O seu serviço tem ambulâncias, portanto, tem de
chamar uma ambulância e baixar à enfermaria, disse o médico.
A Divisão tinha uma ambulância e lá chamo eu a ambulân-
cia; os meus colegas vieram, já eram duas e tal da manhã e
levaram-me para a enfermaria de Oeiras. Chegámos lá e o
portão estava fechado; os meus colegas da ambulância esti-
veram para aí meia hora a bater. O meu colega de serviço na
enfermaria estava a dormir mas lá acordou e veio ver o que
se passava. Nessa altura já eram três da manhã. Entrei e per-
guntei como era? O meu colega disse-me que tinha de dor-
mir no sofá, porque o armário onde estavam os lençóis estava
fechado e quem tinha a chave era o subchefe, que só chegava
de manhã; portanto, não havia lençóis para pôr na cama. Lá
fiquei no sofá. Eram nove e meia da manhã do dia seguinte
quando o subchefe chegou; deu-me os lençóis e disse-me que
para comer eu tinha de ir ao comando de Oeiras.
– Como? – perguntei. – Eu estou internado na enfermaria…
– Mas nós não trazemos cá a comida, disse o subchefe.
– Então eu que estou internado tenho de andar a pé uma
hora, para ir comer?
– Sim. E quando o doutor cá vier, se lhe receitar alguma
coisa, tem de arranjar alguém que lhe traga os medicamen-
tos de fora, respondeu o subchefe.
Felizmente, tinha o fato de treino vestido e, dez minutos
depois de ele me ter dito aquilo, cheguei à rua, apanhei o pri-
meiro táxi que passou e fui para casa.»
Compreensivelmente, o «Agente Santos» não lamenta o
facto de a «enfermaria» ter acabado. Mas não se sente feliz
por terem desaparecido, igualmente, outras coisas. Concre-
Polícia à portuguesa | Fernando Contumélias • Mário Contumélias 53
.5.
CARROS, ARMAS, TIROS E PROCESSOS
S
Nada do que acima se afirma parece, no entendimento dos
polícias que ouvimos, preocupar as hierarquias. Mas tudo isto
provoca uma crescente desmotivação entre os agentes da PSP
e põe em causa, ao menos parcialmente, a qualidade do apoio
que prestam aos cidadãos. Mas vamos por partes.
56 Polícia à portuguesa | Fernando Contumélias • Mário Contumélias
Carros…
1 Ver capítulo 4.
2 Nome fictício.
3 O «Agente Cartaxo», cujas afirmações aqui registamos no capítulo 13, contou-nos
um incidente, igualmente saboroso: «Numa ocorrência, íamos numa carrinha de nove
lugares e, de repente, saltou-nos a porta corrediça para a via pública. Foi uma sorte
não ter apanhado ninguém. Mas houve uma risada geral por parte da população, as
pessoas riem-se até por indignação; não entendem como é que podem acontecer estas
coisas à Polícia.»
Polícia à portuguesa | Fernando Contumélias • Mário Contumélias 57
Sono e álcool
1 Ver capítulo 1.
Polícia à portuguesa | Fernando Contumélias • Mário Contumélias 63
Bolsa e alguém terá dado a dica que ele devia ter dinheiro em
casa. Entraram-lhe no apartamento, amarraram-no a uma
cadeira, bateram-lhe para o forçar a dizer-lhes onde estava
o dinheiro, mas o homem não tinha dinheiro nenhum.
A mulher conseguiu fugir para uma casa de banho, barricou-
-se lá dentro e pela janela pediu ajuda. Eu ia a sair, dei com
aquela situação, liguei para a esquadra para mandar um carro
com urgência. Foi só isto que tive tempo de fazer.
«Logo de seguida, por causa dos gritos da senhora, os
assaltantes devem ter pensado que a Polícia não tardaria a
aparecer e resolveram sair do prédio. Eu estava à civil, tinha
o telefone na mão esquerda, estava a falar para a esquadra.
O primeiro a sair, assim que me vê com o telemóvel na mão,
dá-me dois tiros; não sei como não me acertou a sério, estava
à distância de um metro e era um revólver calibre 38. Só não
me mataram porque o assaltante estava a segurar o revólver na
ponta, ou seja, a arma não estava selada na mão, e os tiros
saíram desalinhados e apontaram para o chão; por isso, só
levei um tiro no pé direito, de outra forma tinha morrido. Eu
reajo ao fogo e atinjo o indivíduo no abdómen. Depois tive
de me atirar para o chão, porque os outros dois abriram fogo
contra mim. Aquilo foi um tiroteio desgraçado, e eu ainda fiz
mais dois disparos, já no chão. Quando tudo acabou, verifi-
quei que queria levantar-me e não conseguia…
«Entretanto, o indivíduo que eu tinha atingido foi arras-
tado pelos companheiros para dentro de um carro e puseram-
-se em fuga. Eu fiquei ali, no chão, até ser levado para o
hospital… Pergunta, o que é que ganhei com o meu acto?
Nada! Nem uma palmadinha nas costas. Tive foi um pro-
cesso-crime, que só foi arquivado em Abril de 2005 e o caso
66 Polícia à portuguesa | Fernando Contumélias • Mário Contumélias
.6.
CARREIRA DE TIRO, PISTOLAS E MUNIÇÕES
S
Claro que não acontece assim por razão de uma qualquer
congénita inabilidade comum à generalidade dos agentes.
O problema é que faltam as carreiras de tiro e o treino é quase
inexistente; o pouco que é feito decorre em moldes errados,
pelo menos na opinião de alguns agentes referidos neste
livro. O «Agente Melo» explica como as coisas se passam…
«Um elemento policial normal, segundo o novo plano
anual de tiro, dá 52 tiros num ano, antes de ir à prova de cer-
tificação, onde dá mais 26. O GOE dá 3000 por semana e
isso não é nada; os outros dão 78 num ano!»
Parece impossível que andem na rua, de arma à cintura,
agentes policiais cujo treino total em carreira de tiro, num
72 Polícia à portuguesa | Fernando Contumélias • Mário Contumélias
.7.
UMA PROFISSÃO FILHA DA MÃE
S
Mas o que é, afinal, ser polícia? O Subchefe Augusto, que
já ouvimos no capítulo anterior, sobre outras situações, tenta
explicar… «Só depois de passarmos pelas situações por que
passamos, fazemos um rewind e percebemos naquilo em que
nos metemos. Ser polícia é uma profissão filha da mãe. Isto
é assim: quem não tem amor à camisola, há muito tempo que
não anda na rua, já arranjou um posto. Os que andam na rua,
na maioria, têm amor à camisola. Depois há os castigados…
E o pessoal que vem à procura de emprego, ou com aquela
ideia romântica dos filmes de que vai apanhar os maus, ou
78 Polícia à portuguesa | Fernando Contumélias • Mário Contumélias
.8.
DA CONFUSÃO DA QUINTA DA FONTE
AO PRECONCEITO ÉTNICO
S
«A situação, na Quinta da Fonte 1, surgiu porque um
cigano ia no carro a bater na mulher e alguns negros foram
perguntar-lhe porque estava a fazer aquilo. Ele respondeu que
a mulher tinha vendido droga a um fulano, fiado. Gerou-se
uma patrulha por causa da droga; um deles fui eu. Vesti umas
calças de ganga e uma camisa, pus um boné ao contrário e
fomos “passear” pelas ruas de Lagos, para combater o pessoal
da droga. Encontrámos uns jovens. Um deles era o filho do
presidente da Câmara, ou da Junta de Freguesia da altura, já
não me lembro bem, que tinha uma caixa de fósforos cheia
de haxixe. Agarrámos nos moços, levámo-los para a esqua-
dra e comunicámos ao graduado de serviço, que fazia o expe-
diente. Eu fiquei no hall da esquadra, com os moços, em pé,
de frente para eles, com o chapéu virado ao contrário. De
repente, entram dois polícias, um subiu as escadas da esqua-
dra e o outro ficou na conversa com a sentinela, deve ter per-
guntado o que se estava a passar e o sentinela, não se referindo
a ninguém, disse só que os gajos tinham sido apanhados com
droga. Então, o tal polícia dirige-se a mim e manda-me sentar,
eu olhei para ele e disse-lhe que se sentasse ele, mandou-me
novamente sentar e agarrou no cassetete. Quando ele tirou
o cassetete, eu agarrei-o e disse-lhe que se ele fizesse alguma
coisa, eu é que o punha sentado. A sentinela ouviu o que se
passava e esclareceu que eu era o colega que tinha apanhado
os indivíduos, que estavam sentados. O polícia pediu-me des-
culpa; tinha-se enganado. Eu era negro e os detidos eram
brancos, percebem? É uma questão de mentalidade.»
E o «Graduado Madeira» avança outra história, outra expe-
riência vivida. «Um dia, estava eu a trabalhar, começo a ouvir
as comunicações e oiço uma em que se dizia que um grupo
de negros ia ser transportado para a esquadra onde eu estava.
Quando chegam à esquadra, eram três brancos e dois negros.
Eu questionei o arvorado do carro de patrulha sobre o “tal”
Polícia à portuguesa | Fernando Contumélias • Mário Contumélias 89
1 «Não estou a falar do actual Executivo, estou a falar de pessoas que por lá pas-
saram», esclarece o subchefe Augusto.
Polícia à portuguesa | Fernando Contumélias • Mário Contumélias 93
.9.
MULHER, POLÍCIA E MÃE
S
«Uma vez, chegou ao pé de mim uma senhora, à volta dos
70 anos, lavada em lágrimas, desesperadíssima. Era mãe de
um filho deficiente, com perturbações mentais gravíssimas,
que, anos atrás, tinha sido convencido a assinar um contrato
de compra de uns dias de férias por uns fulanos que quase
forçavam as pessoas assinar contratos de Time Sharing. O rapaz
nem sabia o que estava a assinar, mas o certo é que a senhora
começou a receber cartas dos advogados da empresa que
96 Polícia à portuguesa | Fernando Contumélias • Mário Contumélias
1 Nome fictício.
Polícia à portuguesa | Fernando Contumélias • Mário Contumélias 97
S
«Na PSP não nos dão o valor devido, consideram-nos cida-
dãos de terceira; não somos analisados como seres humanos
mas como números. Portanto, é como se não tivéssemos sen-
timentos, dificuldades, família, amigos, vida própria. Somos
movidos como peças de xadrez, somos tratados assim…
«Por exemplo, no meu caso não posso assumir compro-
missos pessoais, pois alteram-me o turno de serviço sem aviso
prévio e com o mínimo de explicações. Somos destacados sem
nos consultarem, é uma grande falta de respeito. Enquanto
profissional e enquanto ser humano, tenho direito à minha
vida pessoal com os meus filhos e a minha família; quantas
vezes tenho de me socorrer da minha mãe para ir buscar a
98 Polícia à portuguesa | Fernando Contumélias • Mário Contumélias
minha filha à escola… Mas tudo isto passa ao lado das hie-
rarquias. O factor humano não existe.
«A própria PSP não está sensibilizada para o facto de as
mulheres-polícias serem mães. A Polícia considera o agente
policial como um todo e esquece-se de que mulheres e homens
são diferentes, têm características e necessidades distintas.
Uma criança pequena necessita, por vezes, de mais cuidados
maternos do que de cuidados paternos, mas isso não está pre-
visto, não há sensibilização para isso. Pelo facto de sermos
em menor número, também não são criadas condições nas
esquadras, vestimo-nos num buraco qualquer. Na maioria
das esquadras não se pensa nos bidés, nas sanitas; nalguns
casos só há urinóis. A mulher está integrada na Polícia, mas
não como deveria estar, não em pleno. Vai sendo integrada
aos poucos. Por sermos uma minoria, e por receio de reta-
liações, nem sempre exigimos aquilo a que temos direito, e
alguns direitos até estão consagrados na Constituição. Na
Polícia fala-se nos direitos, liberdades e garantias dos cida-
dãos, mas nós não os temos. Essa parte é esquecida.
«Mesmo assim, é certo que houve uma melhoria em ter-
mos de respeito por nós, enquanto mulheres e profissionais.
Há muitos anos atrás, a mulher veio para a Polícia para os
serviços burocráticos, de atendimento de telefones, nunca
para o serviço operacional. Actualmente, a mulher-polícia faz
quase o mesmo trabalho que os homens, com excepção de
alguns serviços, que são completamente interditos. É o caso
das forças especiais, como o Corpo de Intervenção e o GOE,
em que não há mulheres operacionais. Ninguém aceita a can-
didatura de uma mulher para o CI ou para o GOE. Ora isto
não tem justificação. Conheço mulheres que eram capazes,
Polícia à portuguesa | Fernando Contumélias • Mário Contumélias 99
.10.
UMA ESQUADRA FANTASMA
S
«Há cerca de cinco anos, aquando das eleições para a
Câmara de Lisboa, o Dr. João Soares decidiu deitar abaixo a
Esquadra 41, da Musgueira, e deslocá-la, provisoriamente,
para os prédios do Bairro da Cruz Vermelha. A deslocação fez-
-se, mas João Soares não ganhou as eleições e lá ficámos nós,
nas instalações provisórias. É por isso que estamos numa
esquadra que só existe na teoria. Como já não há Musgueira,
não existe Esquadra da Musgueira. Mas a outra, onde esta-
mos, embora esteja sediada no Bairro da Cruz Vermelha, na
Rua Maria José da Guia, lote 14-B, não faz parte da orgânica
104 Polícia à portuguesa | Fernando Contumélias • Mário Contumélias
S
Quem nos fala da existência desta esquadra fantasma ou,
no melhor dos casos, quase clandestina, é o «Agente Mata»1,
um homem que «sonhava com uma Polícia digna, com meios
adequados; com uma Corporação capaz de tratar os seus efec-
tivos, com a mesma lealdade com que é tratada». Os sonhos
já se foram, trucidados pela experiência do quotidiano, vivido
numa PSP muito diferente do que idealizara. Ajudam a este
desencanto os «cerca de 18 processos-crime e uns 24 proces-
sos disciplinares» que já lhe caíram em cima; nem sabe ao
certo, já lhes perdeu a conta. Mas «foram todos arquivados,
não fui considerado culpado em nenhum». Porém, confessa
que, quando há um processo, «há sempre impacte, porque
temos de nos resguardar mais, o que é complicado. Quando
estamos perante um crime, não paramos para pensar. Se for
uma situação normal, pacata, tentamos resolvê-la da melhor
forma, ainda que se torne violenta. Nunca pensamos no que
pode acontecer, fazemos sempre o serviço e, no fim, logo
vemos. Contudo, os processos disciplinares causam sempre
.11.
TRABALHAR, OUVIR E CALAR
S
Algarvio de gema, há 21 anos na PSP, o «Agente Cartaxo» é
um homem bem-humorado, de sorriso constante. Um pouco
pesado, talvez tenha ultrapassado o peso que imaginamos
adequado a um polícia, mas nem assim parece que fosse inca-
paz de cumprir o serviço para o qual diz ter nascido e que o
faz sentir-se absolutamente realizado. Isto apesar de se encon-
trar aposentado compulsivamente e mau grado as mágoas,
próprias de quem não se vê tratado com justiça pela Corpo-
ração, que sempre quis servir. Quando entrou, ia cheio de ilu-
sões, que cedo perdeu.
108 Polícia à portuguesa | Fernando Contumélias • Mário Contumélias
.12.
EM BUSCA DA IDENTIDADE PERDIDA…
S
«Em 1978 fui para a tropa e abracei o espírito militar.
Depois, decidi concorrer à PSP e à GNR; fiquei bem nas duas,
mas optei pela PSP. Na altura, via a PSP como uma Força de
Segurança de topo, relativamente à GNR; quem tinha mais
capacidades ia para a Polícia, quem tinha menos ia para a
Guarda. Hoje, penso que se tivesse ido para a GNR o meu
1 A este propósito, veja-se o que diz o «Oficial Superior Paulo», citado no capí-
tulo 2 deste livro.
2 Nome fictício.
118 Polícia à portuguesa | Fernando Contumélias • Mário Contumélias
não tinha capacidade para lhas dar. Nesse ano, quando con-
corri a graduado, houve um Comissário que nos mandou
fazer uma redacção com um tema muito engraçado: o que
pensávamos que seria a Polícia do ano 2000; nós fantasiá-
mos. Eu era um idealista e fiz uma redacção em que via uma
Polícia do futuro que servia o cidadão, honesto e ordeiro, em
tudo o que ele necessitasse. Sempre foi esta a minha concep-
ção da Polícia – a Polícia é para defender os honestos, os tra-
balhadores e os justos, nunca os criminosos. Quando vim
para a PSP, não fazia ideia de que tinha de defender crimino-
sos, pensava que vinha defender pessoas de bem. Logo, a
minha fantasia para a Polícia do ano 2000 era a de uma ins-
tituição dedicada a assegurar os plenos direitos dos cidadãos
que contribuem para o progresso deste país.»
É certo que, nesse modelo militar, a Polícia dispunha de
«um meio, que é controverso, que é problemático e que
actualmente está posto de lado, mas que nos levava a funcio-
nar – a palavra de um polícia fazia fé em Juízo até prova em
contrário. Pode dizer-se que a Polícia cometia “atrocidades”,
com base nesse conceito e, porventura, até cometia; por vezes,
excediam-se os limites e os direitos dos cidadãos e havia abu-
sos de polícias que eram camuflados, mas o sistema não per-
mitia que esses abusos fossem por aí além. Os abusos eram
conhecidos e havia logo quem puxasse as orelhas a quem os
praticava; era o sistema militar. A hierarquia exigia tudo do
subordinado, mas, por sua vez, protegia-o. Tínhamos alguém
em quem confiar. Os superiores tinham a percepção de que
nos esforçávamos, mas que éramos humanos e, às vezes, errá-
vamos e esse erro era avaliado, para se perceber se era perdoá-
vel ou não.
Polícia à portuguesa | Fernando Contumélias • Mário Contumélias 121
.13.
FILHOS E ENTEADOS
S
O «Agente Miranda » tem 35 anos, estatura média e evi-
1
1 Nome fictício.
128 Polícia à portuguesa | Fernando Contumélias • Mário Contumélias
Parecia o Oeste…
.14.
SINDICATOS, LUTAS E PERSEGUIÇÕES
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António Ramos está aposentado compulsivamente, mas
isso não o impede de continuar à frente do SPP, a lutar pelo
que entende serem direitos dos profissionais de Polícia. É um
histórico do movimento sindical. Esteve nos Secos e Molha-
dos1, aquele que foi um dos momentos mais dramáticos da
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O SPP nasceu, em 1994, de uma cisão no seio da Associa-
ção Sindical dos Profissionais de Polícia – ASPP, por inicia-
tiva de um conjunto de dirigentes desta última, que, na altura,
a acusavam de «subserviência ao Partido Comunista Portu-
guês». Inicialmente, porque a lei apenas permitia a existên-
cia de associações, o SPP começou por se chamar APP/PSP
e todos os seus membros fundadores eram dirigentes nacio-
nais ou distritais da ASPP e membros integrantes da «Lista
B», que concorrera, em Abril desse mesmo ano de 1994, às
eleições para a ASPP e saíra derrotada.
Oito anos mais tarde, em 2002, quando os sindicatos foram
finalmente autorizados na PSP, a APP/PSP passou a desig-
nar-se Sindicato dos Profissionais de Polícia – SPP, nome que
mantém. Propõe-se «defender apenas os interesses dos polí-
cias e da Polícia». António Ramos, seu Presidente, é claro sobre
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Ser sindicalista, na PSP, tem consequências negativas gra-
ves, pelo menos é esse o entendimento do presidente do SPP,
António Ramos. E não está sozinho, muitos daqueles com
quem falámos partilha este entendimento.
Diz Ramos – «O nosso sindicato tem sido um dos mais
sacrificados, a nível de processos. Como somos um sindicato
frontal e aberto e pomos as questões sem qualquer rodeio,
estamos na linha da frente e temos sido alvo de vários pro-
cessos-crimes e disciplinares. Ainda agora me foi arquivado
mais um processo disciplinar. Quando falo, faço-o sempre
como dirigente sindical, é nesta qualidade que faço as inter-
venções. Nós temos uma lei sindical que prevê restrições e
que não podemos infringir. Eu nunca infringi nenhuma das
normas da lei sindical, nunca fui alvo de um processo-crime
ou disciplinar por estar a infringir aquelas normas, os pro-
cessos são sempre instruídos na minha qualidade de Agente
da Polícia. Ora, não faz sentido que eu e os meus colegas fale-
mos, a nível do país, na qualidade de dirigentes sindicais e
que depois nos apliquem um Regulamento Disciplinar de
1956, com alterações de 1990, ambos anteriores à lei que per-
mitiu a constituição dos sindicatos. Temos uma lei sindical
que prevê que eu possa desempenhar a minha função de sin-
dicalista e depois eles vêm com o Regulamento Disciplinar,
dizer o senhor infringiu o dever de aprumo e de zelo; é isto
que tem acontecido, a maioria dos nossos dirigentes a nível
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«Ser polícia é ter uma profissão de desgaste permanente.
Quando entramos na instituição, a família entra connosco
porque não podemos programar nada com a família; nós não
temos um fim-de-semana, não ficamos em casa nas pontes
ou nos feriados. O polícia tem um serviço rotativo, por tur-
nos; na melhor das hipóteses, a folga pode coincidir com o
sábado. Mas o polícia também tem família, só que as famí-
lias dos Agentes têm de fazer os seus programas de fim-de-
-semana sem eles, sozinhas, já sabem que é assim… Depois,
esta é uma profissão que lida com todo o tipo de situações,
fazemos de padre, de sacristão, de psicólogo, de psiquiatra,
temos o problema do stress. Quando saímos de casa, nunca
sabemos se voltamos a entrar, é uma profissão de risco. Eu
já propus a alguns responsáveis políticos que fizessem um
turno da noite, da uma às sete da manhã, numa cidade como
a Guarda ou a Covilhã, numa residência ou à porta de uma
embaixada ou da esquadra, para ver como é que eles se sen-
tiam; só uma noite.» Claro que ninguém aceitou o repto.
«Muitas vezes, faz-se serviço com temperaturas negativas,
com equipamentos desadequados, com fardamento desajus-
tado às condições climatéricas. O nosso fardamento tanto dá
para o Inverno como para o Verão, não temos fardamentos
distintos, como os outros polícias da Europa. Bem equipados,
com botas, com luvas, com capacetes, com fatos impermeá-
veis para o frio. Nós não. A dada altura, fiz serviço à beira do
rio Tejo… Muitas vezes, para me isolar do frio, punha esfe-
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PCP, CDS, O POLÍCIA PORTAS
E A PSD AO DEUS DARÁ…
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É verdade que a Polícia nunca foi tão partidarizada como
agora? «Isso já vem do início. O PCP apoiou-se nos sindica-
tos, nomeadamente na ASPP; o primeiro sindicato só conse-
guiu fazer-se porque o PCP o apoiou e continua a apoiar em
força. E, embora hoje digam que não, o partido continua por
trás da ASPP.
«Em 1984, só havia uma associação sindical, a ASPP. Já
existia, embora clandestinamente. Entretanto, começou a
guerra das associações, porque havia muitos indivíduos den-
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A nossa fonte é um homem com pouco mais de 50 anos, fisi-
camente em forma. É oficial superior de Polícia, veio das For-
ças Armadas e passou pelo GOE, logo nos primeiros tempos
da formação daquele Grupo Especial, era ministro da Admi-
nistração Interna o Engenheiro Ângelo Correia. Quando lhe
falámos na necessidade de compreender de que modo se
reflecte a política partidária na PSP, ponderou o assunto demo-
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«Quando o sentimento de insegurança sentido pelas popu-
lações é muito grande, há um aproveitamento por parte dos
Partidos políticos, nomeadamente os da Oposição, com o
objectivo de apanhar ali mais um trunfo para atacar o Governo.
Nessas ocasiões, os Partidos aparecem a oferecer apoio às Polí-
cias; é um aproveitamento político que fazem. Aproximam-se
de nós, dão-nos palmadinhas nas costas, são nossos amigos,
mas depois vão para o Governo, sobretudo aqueles dois par-
tidos (PS e PSD), e esquecem-se das promessas que fizeram;
fica tudo na mesma. Uns talvez dêem qualquer coisa mas
nunca o que prometeram.
1 Mark Felt, número dois da hierarquia do FBI na década de 70, foi a fonte de
informação dos jornalistas Carl Bernstein e Bob Woodward, do Washington Post, que
lhes permitiu fundamentar o que ficou conhecido como «Caso Watergate» e acabou
por levar à demissão do presidente dos EUA, então Richard Nixon. Jornalistas e
jornal mantiveram a fonte secreta mais de 30 anos, chamando-lhe, simplesmente,
Garganta Funda.
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Rumores…
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MATA-TE, TENS AÍ UMA PISTOLA!
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Sandra Coelho é a psicóloga clínica do Sindicato dos Pro-
fissionais de Polícia, SPP, desde há quatro anos. É uma
mulher bonita, cheia de energia, segura de si e de conversa
fácil. Apesar de não estar ao serviço da Corporação, mas de
um dos sindicatos de Polícia mais importantes, percebe-se
que tem uma proximidade com os agentes que acabou por
torná-la numa espécie de membro honorário da instituição,
eleita por eles. Durante a nossa conversa, em sede do sindi-
cato, onde presta apoio pro-bono, isto é, sem cobrar honorá-
rios, não houve quem não viesse cumprimentá-la com uma
atenção invulgar. Sandra confessa a enorme surpresa pela
Polícia que foi encontrar quando aceitou a missão para a qual
o sindicato a desafiou, e que agora conhece tão bem, como
se fosse realmente uma família.
tatam que não têm amigos como as outras pessoas, por exem-
plo.» Mas, passado o Verão, não desaparecem os problemas…
«Depois vem um período em que já não há férias, mas
existem outras envolventes – os livros escolares para os
filhos, a farda que tem de ser paga; toda esta gestão financeira
e laboral acaba por produzir um desajuste social com o civil
que o polícia tem de defender nas ruas. É mais um problema
para ele, enquanto pessoa, não para ele enquanto farda. Como
farda sabe que não tem muito mais para fazer – não dispara,
aguenta o máximo, se não, leva com um processo disciplinar.
É uma luta, uma ginástica mental, uma negociação interior,
que um agente no terreno tem de realizar com ele próprio
para decidir fazer ou dizer alguma coisa, como gritar a alguém
para parar; sacar, ou não, da arma. Anteriormente, tomavam
estas iniciativas, estes actos verbais, gestuais ou sublimina-
res mais facilmente; agora, o tempo de que precisam para
tomarem este tipo de decisões é muito maior e o desgaste
também.»
A psicóloga explica o aumento do número de consultas
igualmente com o facto de elas ocorrerem no sindicato, de
forma sigilosa; ao nível da Corporação as coisas são muito
diferentes. A consulta no sindicato é marcada directamente
com o psicólogo, os agentes «não precisam de vir fardados,
não precisam de se identificar». Mas os pedidos de ajuda ou
de baixa feitos directamente à instituição «são alvo, muitas
vezes, de injustiças, e as pessoas ficam revoltadas com deter-
minadas situações. Com boa vontade, despertaram o tipo de
problema que tinham, a vários níveis, formal, burocrático,
pessoal, físico», e, como consequência, «acaba por lhes ser
vedada uma promoção, um pedido de transferência, uma
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.1.
CONCLUSÃO
BRINCAR COM OS POLÍCIAS…
Mário Contumélias
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.1.
POSFÁCIO
DA POLÍCIA AO V IMPÉRIO…
Fernando M. Contumélias
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.1.
.ANEXOS.
BRINCAR COM OS POLÍCIAS…
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ORAGANOGRAMA DA PSP
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