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Referenciação e Ensino:

análise de livros didáticos

Leonor Werneck dos Santos


(Org.)

Faculdade de Letras
Universidade Federal do Rio de Janeiro

!
1 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
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Leonor Werneck dos Santos
(Org.)

Referenciação e Ensino:
análise de livros
didáticos

Rio de Janeiro
UFRJ
2013
2 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
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Copyright ©2013 da Organizadora

Ficha catalográfica

R332 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos /


Leonor Werneck dos Santos (Org.) - Livro
eletrônico – Rio de Janeiro: Faculdade de Letras
da UFRJ, 2013.
382p.

ISBN: 978-85-8101-011-3

Livro eletrônico
Modo de acesso: www.lenorwerneck.com ;
www.lingnet.pro.br

1. Língua Portuguesa – Estudo e ensino. 2.


Livros didáticos – Brasil. I. Título II. SANTOS,
Leonor Werneck.

CDD 469.071
3 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
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Sumário

Apresentação
Leonor Werneck dos Santos 05

A referenciação e a construção de sentido do texto:


um caminho a percorrer
Amanda Heiderich Marchon 07

A abordagem da referenciação em livros didáticos


de Língua Portuguesa do Ensino Fundamental
Fabiana Gonçalo
Manuela Colamarco 35

Um olhar sobre as estratégias de referenciação nos


manuais didáticos do Ensino Médio
Fábio Gusmão da Silva 80

Processos referenciais: a construção de sentidos em


turmas de EJA
Karine Oliveira Bastos 120
4 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
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Os processos de referenciação nos livros didáticos:
análise de textos jornalísticos
Luana Machado 164

A construção de objetos de discurso pelo léxico: uma


abordagem relevante ao ensino
Mário Acrisio Alves Junior 207

A abordagem (ou não) da referenciação em dois


livros didáticos do Ensino Médio
Natália Rocha Oliveira Tomaz 246

A referenciação em duas coleções didáticas


Matheus Odorisi Marques 280

Propostas de atividades 323

Sobre os autores 378


5 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
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Apresentação

Profa.!Dra.!Leonor!Werneck!dos!Santos!(UFRJ)!
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Este!e:book!é!composto!de!oito!artigos!elaborados!como!
trabalho! de! conclusão! do! curso! de! pós:graduação! “Leitura,!
referenciação! e! argumentação! em! gêneros! textuais! jornalísticos”,!

oferecido!por!mim,!no!primeiro!semestre!de!2012,!na!Faculdade!
de! Letras! da! UFRJ.! O! objetivo! principal! desta! publicação! é!
divulgar! debates! teóricos! que! travamos! durante! o! curso! sobre!
referenciação,! argumentação! e! a! aplicação! desses! temas! ao!
ensino,! por! meio! da! análise! de! alguns! livros! didáticos! de! Ensino!
Fundamental! e! Médio,! especificamente! a! partir! de! textos!
midiáticos.!
Como! proposta! de! trabalho! final! para! o! curso,! cada! um!
dos! autores! dos! artigos! aqui! reunidos! se! debruçou! sobre! duas!
coleções! didáticas! de! Ensino! Fundamental,! Médio! ou! EJA,!
escolhidas!por!terem!sido!aprovadas!recentemente!no!Programa!
Nacional! de! Livro! Didático! (PNLD/2012).! A! análise! dos! livros!
abarcou!se!e!como!a!referenciação!(ou!os!processos!referenciais,!
ou! ainda! a! coesão! referencial)! era! abordada! teoricamente,! se!
6 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
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havia! atividades! sobre! referenciação! com! base! em! textos! da!
mídia,! se! o! Manual! do! Professor! tratava! do! tema! e! se! havia!
alguma! associação! entre! os! processos! referenciais! e! a!
argumentação.!Ao!final!de!cada!artigo,!um!dos!textos!midiáticos!
presentes!em!uma!das!coleções!foi!escolhido!para!elaboração!de!
novas!atividades,!incluindo!referenciação.!
Ao!final!deste!e:book,!anexei!atividades!elaboradas!pelos!
alunos! do! curso! (autores! deste! e:book)! e! discutidas! em! sala,! a!
partir! de! notícias! de! internet! sobre! a! tragédia! que! se! abateu!
sobre! a! Serra! Fluminense! em! 2011,! após! dias! de! chuvas! fortes.!
Nosso! objetivo! é! mostrar! como! é! possível! elaborar! atividades!
mesclando! leitura,! análise! linguística! e! produção! textual,! tendo!
como!foco!a!referenciação.!!

Profa. Dra. Leonor Werneck dos Santos


UFRJ – maio de 2013.
7 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
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A referenciação e a construção de
sentido do texto: um caminho a
percorrer

MARCHON,!Amanda!Heiderich!(UFRJ)!
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1. INTRODUÇÃO
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Há! muito! já! se! sabe! que! o! fracasso! escolar,! nas! séries!
iniciais! ou! mesmo! no! Ensino! Médio,! está! intimamente!
relacionado! à! questão! da! leitura( e! da! escrita( –( resultado! da!
enorme!dificuldade!que!a!escola!tem!de!estabelecer!novas!e!mais!
eficazes! metodologias! para! o! desenvolvimento,! por! parte! do!
aluno,! das! diversas! competências! linguísticas,! tributárias! do! ato!
de! ler:escrever:falar:ouvir! e! da! aprendizagem! formal! desses!
processos.! ! Pesadelo! de! muitos! alunos! e! dor! de! cabeça! para!
tantos!professores,!a!deficiência!de!ler!um!texto!e!compreender!
sua! mensagem! tornou:se! um! problema! constante! em! escolas!
públicas!e!particulares!em!todo!o!país.!!
Segundo! os! Parâmetros! Curriculares! Nacionais! (2001,!
p.21),!!
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O! domínio! da! língua! tem! estreita! relação! com! a!
possibilidade! de! plena! participação! social,! pois! é!
por! meio! dela! que! o! homem! se! comunica,! tem!
acesso! à! informação,! expressa! e! defende! pontos!
de! vista,! partilha! e! constrói! visões! de! mundo,!
produz!conhecimento.!!

Assim,!também!acreditamos!que!o!aluno!deva!entender!o!texto!
como! uma! forma! importante! de! comunicação.! Dessa! forma,!
muito!mais!que!mera!decodificação!de!signos!e!palavras,!o!atos!
de! ler! e! de! escrever! são! fundamentais! não! apenas! para! a!
formação! acadêmica! do! estudante,! mas! também! para! sua!
formação!cidadã.!
!
O! texto! não! representa! a! materialidade! do!
cotexto,!nem!é!somente!o!conjunto!de!elementos!
que! se! organizam! numa! superfície! material!
suportada!pelo!discurso;!o!texto!é!uma!construção!
que! cada! um! faz! a! partir! da! relação! que! se!
estabelece!entre!enunciador,!sentido/referência!e!
coenunciador,! num! dado! contexto! sociocultural.!
(CAVALCANTE,!2011,!p.!17)!
!

! Todavia,! vimos! que! toda! a! proposta! dos! PCN! para! o!


ensino! de! Língua! Portuguesa! não! condiz,! na! íntegra,! com! a!
realidade! do! processo! ensino/aprendizagem.! Diversos! fatores!
podem! ser! apontados! para! tal! descompasso,! entre! eles! os!
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inúmeros!problemas!de!ordem!político:econômica,!a!tripartição!e!
o!isolamento!entre!as!disciplinas!de!Língua!Portuguesa,!Redação!
e! Literatura,! a! não! utilização! do! texto! como! unidade! de! ensino!
etc.!!
! Há!décadas,!vários!teóricos!se!debruçam!sobre!a!questão!
do! papel! e! da! importância! das! aulas! de! Língua! Portuguesa.!
Recentes! trabalhos! apontam! para! uma! reflexão! acerca! de!
algumas! perguntas! do! tipo:! ‘Por( que( /( para( que( ensinar( Língua(
Portuguesa?’;!‘Para(quem?’;(‘Como?’;(‘Quais(tópicos(priorizar(em(
um( “aqui”( e( em( um( “agora”( determinados?’.( Há,! sem! dúvidas,!
respostas! satisfatórias! e! bem! argumentadas! para! todas! essas!
interrogações.!Travaglia!(2002,!p.17),!por!exemplo,!declara!que!o!
principal!objetivo!do!ensino!de!Língua!Portuguesa!é!desenvolver!
a! competência! comunicativa! dos! falantes! em! diversas! situações!
de!comunicação.!
Porém,! apesar! de! todo! o! caminho! aberto! por! tantos!
estudiosos! do! assunto! em! torno! da! língua! materna,! as! aulas! de!
Português!ainda!privilegiam!os!exercícios!de!metalinguagem,!nos!
quais!a!análise!sintática,!por!exemplo!(reduzida,!pois,!a!atividades!
de! classificação! e! de! nomenclatura),! parece! ser,! tanto! para!
alguns! discentes! quanto! para! tantos! outros! docentes,! o! ponto!
máximo!do!estudo!linguístico.!
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Não! questionamos,! no! entanto,! que! as! propostas! de!
metalinguagem! tenham! importância.! O! que! aventamos! é! outra!
percepção:! a! de! que! aquele! tipo! de! exercício! não! deveria!
representar!um!fim!em!si!mesmo.!
Geraldi!(1998,!p.!63:64)!propõe!que:!
!
Todas!estas!considerações!mostram!a!necessidade!
de! transformar! a! sala! de! aula! em! um! tempo! de!
reflexão! sobre! o! já:conhecido! para! aprender! o!
desconhecido! e! produzir! o! novo.! É! por! isso! que!
atividades! de! reflexão! sobre! a! linguagem!
(atividades! epilinguísticas)! são! mais! fundamentais!
do! que! a! aplicação! a! fenômenos! sequer!
compreendidos!de!uma!metalinguagem!de!análise!
construída! pela! reflexão! de! outros.! Aquele! que!
aprendeu! a! refletir! sobre! a! linguagem! é! capaz! de!
compreender!uma!gramática!–!que!nada!mais!é!do!
que! o! resultado! de! uma! (longa)! reflexão! sobre! a!
língua;! aquele! que! nunca! refletiu! sobre! a!
linguagem! pode! decorar! uma! gramática,! mas!
jamais!compreenderá!seu!sentido.!
!
Portanto,!tomando!por!base!o!grande!desafio!imposto!ao!
professor! de! Língua! Portuguesa! de! qualquer! segmento! –! prover!
meios! para! que! os! alunos! pensem! e! usem,! adequada! e!
criticamente,! a! língua! materna! a! cada! situação! social–,!
analisaremos!se!as!coleções!Português(Linguagens!e!Projeto(Eco(
abordam! a! referenciação! associando:a! à! construção! de! sentido.!
Além!disso,!proporemos!atividades!de!leitura!a!respeito!de!textos!
da!mídia.!
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2. REFERENCIAÇÃO E CONSTRUÇÃO DE
OBJETOS DE DISCURSO
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A!linguagem!humana!tem!o!poder!não!só!de!criar!e!nomear!
o!mundo,!mas!também!de!possibilitar!a!interrelação!com!o!outro!e!
com!a!coletividade.!Nessa!perspectiva,!a!linguagem!verbal!é,!então,!
a!matéria!do!pensamento!e!o!veículo!de!comunicação!social.!
Segundo! Koch! (2007,! p.! 7),! os! diferentes! modos! de!
considerar! a! linguagem! humana! têm! sofrido! transformações.!
Historicamente,!há!três!posicionamentos!em!relação!à!língua:!como!
representação! (“espelho”)! do! mundo! e! do! pensamento;! como!
estrutura,!instrumento!(“ferramenta”)!de!comunicação;!como!forma!
(“lugar”)!de!ação!e!interação.!
De! acordo! com! a! noção! da! língua! como! o! lugar! de!
interação! –! perspectiva! adotada! atualmente! pela! Linguística! de!
Texto,! base! teórica! deste! artigo! –,! os! sujeitos,! por! participarem!
ativamente! no! contexto! em! que! estão! inseridos,! são! atores! nas!
situações! comunicativas! que! buscam! influenciar! um! ao! outro.! A!
comunicação,!portanto,!decorre!da!indissociável!relação!entre!os!
interlocutores,! para! que! se! possa! depreender! das! palavras! seus!
sentidos! concretos.! É! na! interação! verbal! que! a! língua! se! faz!
significante!e!assume!as!marcas!do!sujeito.!!
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Assim,! ao! conceber! a! comunicação! como! um! processo!
interativo,! muito! mais! amplo! do! que! a! mera! transmissão! de!
informações,!diversos!teóricos!refutam!“a!hipótese!de!um!poder!
referencial! da! linguagem,! que! seria! fundado! ou! legitimado! por!
uma! ligação! direta! e! verdadeira! entre! as! palavras! e! as! coisas”!
(MONDADA! e! DUBOIS,! 2003,! p.! 18:19.! Com! essa! nova!
perspectiva,!o!termo!referência(foi!substituído!por!referenciação,!
como!explicam!Koch,!Morato!e!Bentes!(2005,!p.!8):!
!
Tal! mudança! de! perspectiva! [...]! é! assinalada! pela!
substituição! do! termo! referência( por!
referenciação,! visto! que! passam! a! ser! objeto! de!
análise! as! atividades! de! linguagem! realizadas! por!
sujeitos! históricos! e! sociais! em! interação,! sujeitos!
que!constroem!mundos(textuais(cujos!objetos!não!
espelham!fielmente!o!“mundo!real”,!mas!são,!isto!
sim,! interativamente! e! discursivamente!
constituídos! em! meio! a! práticas! sociais,! ou! seja,!
são! objetos( de( discurso.! A! relação! língua:mundo!
passa! a! ser,! pois,! interpretada,! não! meramente!
aferida! por! referentes! que! ou! representam! o!
mundo!ou!“autorizam”!sua!representação.!(Grifos!
das!autoras).!!
!
! A!referenciação!é,!portanto,!uma!atividade!discursiva,!em!
que! o! sujeito! constrói! e! reconstrói! referentes! no! interior! do!
próprio!texto,!influenciado!pelo!contexto!de!comunicação!e!não!
apenas! por! meras! reproduções! pré:existentes! da! realidade.!
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Dessa!forma,!esses!referentes!passam!a!ser!chamados!objetos(de(
discurso,! diante! das! razões! sociocognitivas! que! determinam! sua!
construção.! Sobre! essa! atividade,! Cavalcante! (2011,! p.! 15:16)!
destaca:!!
! !
O!ato!de!referir!é!sempre!uma!ação!conjunta.!Para!
a! Linguística! do! Texto,! hoje,! fazemos! referência! a!
algo! quando! nos! reportamos! a! pessoas,! animais,!
objetos,! sentimentos,! ideias,! emoções,! qualquer!
coisa,! enfim,! que! se! torne! essência,! que! se!
substantive! quando! falamos! ou! escrevemos.! É! na!
interação,!mediada!pelo!outro,!e!na!integração!de!
nossas!práticas!de!linguagem!com!nossas!vivências!
socioculturais! que! construímos! uma!
representação! –! sempre! instável! –! dessas!
entidades!a!que!se!denominam!referentes.!!
!
Em! relação! a! essa! instabilidade! dos! referentes,! Koch!
(2006,! 0.! 80:81)! concebe! que! “os! objetos! de! discurso! são!
dinâmicos,! ou! seja,! uma! vez! introduzidos,! podem! ser!
modificados,! desativados,! reativados,! transformados,!
recategorizados,! construindo:se! ou! reconstruindo:se,! assim,! seu!
sentido! no! curso! da! progressão! textual.”.! Nessa! construção! de!
sentido,! Koch! e! Elias! (2008,! p.125:126)! destacam! as! seguintes!
estratégias! de! referenciação:! construção/ativação,!
reconstrução/reativação!e!desfocalização.!
14 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
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A! construção! consiste! na! introdução! de! um! objeto! de!
discurso!até!então!não!mencionado.!A!expressão!linguística!que!o!
representa!é!posta!em!foco,!ficando!esse!objeto!de!discurso!em!
evidência! no! texto.! A! introdução! pode! ser! nãoJancorada! –!
quando!um!objeto!de!discurso!totalmente!novo!é!introduzido!no!
texto! sem! qualquer! associação! com! elementos! presentes! na!
superfície!textual!ou!na!situação!de!comunicação!–!ou!ancorada(
–! quando! um! novo! objeto! de! discurso! é! ativado,! com! base! em!
algum!tipo!de!associação!semântica!com!elementos!presentes!no!
cotexto!ou!no!contexto!sociocognitivo,!como!ilustra!o!exemplo!a!
seguir!(cf.!KOCH!e!ELIAS,!2008,!p.127):((
(

!
(

De! acordo! com! as! autoras,! “no! último! quadrinho! da!


tirinha,! foi! introduzido! um! novo! referente! –! o! vinho! –! que!
associamos! aos! elementos! cotextuais! alcoólatra! e! vício! no!
primeiro!quadrinho!e!ao!contexto!sociocognitivo”!(ibid.).!
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Para! que! o! texto! apresente! progressão,! além! da!
introdução! de! novos! referentes! textuais,! faz:se! necessário! que!
outros!sejam!retomados!por!meio!de!uma!forma!referencial,!de!
modo!que!o!objeto!de!discurso!permaneça!em!foco,!criando:se,!
assim,! as! cadeias! referenciais.! Esse! processo! de! manutenção!
implica! uma! recategorização! do! objeto! de! discurso! que,! como!
discutimos,! se! transforma,! assumindo,! pela! relação! com!
expressões! cotextuais,! outros! traços! semânticos.! Koch! e! Elias!
(2008,!p.!131)!para!exemplificarem,!destacam!o!trecho!a!seguir,!
em! que! a! retomada! referencial! é! feita! por! meio! da!
pronominalização:! os! termos! sublinhados,! “ela”! e! “o”! remetem,!
respectivamente,!a!Blanche!e!a!Heitor.!!
!
Em!uma!manhã!ensolarada,!Heitor!encontrou!uma!linda!cachorinha,!pequena!
e! toda! branquinha,! e! deu! a! ela! o! nome! de! Blanche.! Todos! os! dias,! perto! da!
hora! do! almoço,! Blanche! ficava! junto! ao! portão,! esperando! Heitor! chegar! da!
escola.!Ela!dava!pulos!de!alegria!quando!o!via.!
!
Fonte:!ROSA,!Nereide!S.!Santa!e!BONITO,!Angelo.!Crianças(famosas:(VilaJLobos.(São!Paulo:!Callis,!
1994.!
!
Por!fim,!podemos!considerar!que,!quando!um!novo!objeto!
de! discurso! é! introduzido,! ele! passa! a! ocupar! a! posição! focal.! O!
objeto! retirado! de! foco,! contudo,! permanece! em! estado! de!
ativação! parcial,! disponível! para! a! utilização,! a! fim! de! dar!
continuidade!à!cadeia!referencial!anteriormente!criada.!!!!
16 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
Segundo! Cavalcante! (2010,! p.! 53),! há! tipos! variados! de!
processos! referenciais! que! colaboram! para! a! construção! de!
sentido! dos! textos.! A! autora! considera! que! todo! processo!
referencial! é! viabilizado! por! um! dispositivo! remissivo,! uma!
propriedade! de! apontar! para! um! dado! objeto! reconhecível! a!
partir!de!pistas!muito!diversificadas.!Nessa!perspectiva,!propõe!a!
divisão!dos!processos!referenciais!em!duas!possibilidades:!
!
Se! as! entidades! são! introduzidas! no! texto! pela!
primeira! vez,! isto! é,! se! elas! ainda! não! foram!
citadas! antes! no! texto,! então! estamos! diante! de!
ocorrências! de! introdução( referencial.! Se! os!
referentes!já!foram!de!algum!modo!evocados!por!
pistas! explícitas! no! cotexto,! então! estamos! em!
presença! de! continuidades! referenciais,! isto! é,! de!
anáforas.! (CAVALCANTE,! 2010,! p.! 54! –! grifos! da!
autora)!
!
As! anáforas! diretas! retomam! referentes! previamente!
introduzidos! e,! assim,! estabelecem! uma! relação! de!
correferencialidade! entre! o! elemento! anafórico! e! o! seu!
antecedente.!As!anáforas!indiretas!caracterizam:se!pela!ativação!
de!um!referente!textual!não!condicionado!morfossintaticamente!
por! um! sintagma! nominal! anterior.! Trata:se,! pois,! de! uma!
estratégia! de! introdução! de! um! novo! objeto! de! discurso! que!
mantém! alguma! associação! cognitivo:discursiva! com! elementos!
17 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
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!
nominais! presentes! no! cotexto,! como! a! tirinha! que! retrata! um!
bêbado!no!confessionário,!exemplo!reproduzido!anteriormente.!
! Cavalcante! (2010,! p.! 71)! considera! a! anáfora!
encapsuladora! como! um! tipo! peculiar! de! anáfora! indireta,!
porque! não! retoma! nenhum! objeto! de! discurso! pontualmente,!
mas!se!prende!a!conteúdos!espalhados!no!texto.!
De! acordo! com! Koch! (2008,! p.105),! o! “encapsulamento”!
representa! uma! atividade! metadiscursiva! em! que! se! sumarizam!
partes!do!discurso,!seja!por!um!pronome!ou!por!uma!expressão!
nominal,!conforme!ilustram!Koch!e!Elias!(2008,!p.!138):!!
!
PARECE!BRINCADEIRA,!MAS!É!CIÊNCIA!
!
Um!homem!lagarto,!uma!mulher!que!morreu!três!vezes,!
um!animal!que!come!a!si!mesmo.!Fenômenos!incríveis!
revelados!através!de!uma!visão!científica!única.!
!
Discovery!Channel!
!
No! exemplo! apresentado,! a! expressão! nominal!
“fenômenos! incríveis”! encapsula! as! informações! “um! homem!
lagarto,! uma! mulher! que! morreu! três! vezes! e! um! animal! que!
come! a! si! mesmo”,! bem! como! denuncia! a! voz! do! enunciador!
diante!de!fatos!que!o!espantam.!
18 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
Quando! a! forma! coesiva! que! encapsula! a! informação!
difusa! no! contexto! precedente! ou! subsequente! é! representada!
por! um! sintagma! nominal,! cria:se! um! novo! objeto! de! discurso,!
processo! a! que! chamamos! de! rotulação.! “Em! outras! palavras,! o!
rótulo! vai! categorizar! o! segmento! resumido! de! uma! certa!
maneira,! de! acordo! com! a! avaliação! que! o! locutor! faz! do! seu!
conteúdo!ou!de!sua!enunciação.”!(KOCH,!2008,!p.105).!Portanto,!
toda! rotulação! é! um! encapsulamento,! mas! nem! todo!
encapsulamento!é!uma!rotulação.!
!
3. A REFERENCIAÇÃO NOS LIVROS
DIDÁTICOS
!
!
Respaldados!nos!conceitos!teóricos!sobre!a!referenciação!
e!a!construção!de!objetos!de!discurso,!passamos!a!avaliar!como!
esse! tema! é! abordado! e! de! que! forma! é! trabalhado! nas!
atividades!de!leitura!e!de!produção!textuais!nas!duas!coleções!de!
livros!didáticos!analisadas.! Em! virtude! da! influência! que! os! textos!
midiáticos!exercem!sobre!a!sociedade,!procuramos!também!avaliar!
como! o! assunto! é! estudado! em! textos! da! mídia! nos! referidos!
manuais!didáticos.!!
19 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
! A! coleção! Português( Linguagens,! composta! por! um!
volume! para! cada! série! do! Ensino! Médio,! é! dividida! em! três!
partes! distintas:! Literatura;! Língua:! uso! e! reflexão;! Produção!
Textual.! ! Embora,! no! Manual! do! Professor,! os! autores! se!
proponham! a! percorrer! um! caminho! diferente! do! trilhado! pela!
gramática! tradicional! –! cujo! foco! recai! sobre! a! classificação!
metalinguística! e! a! imposição! de! usos! –,! não! encontramos,! ao!
longo!dos!volumes,!exercícios!que!contemplem!a!relação!entre!os!
conteúdos! gramaticais! e! as! questões! de! ordem! textual! e!
discursiva.!
Pelo! contrário,! a! revisão! dos! capítulos! sobre! classes! de!
palavras! confirmou! a! postura! normativa! que! caracteriza! os!
compêndios! didáticos:! os! livros! separam,! por! critérios!
morfossintáticos! e! semânticos,! as! classes! gramaticais,!
apresentando! uma! série! de! classificações! e! prescrições!
metalinguísticas,! numa! abordagem! totalmente! desarticulada! ao!
processo!de!referenciação.!!
No! capítulo! 5,! do! volume! 1,! intitulado! Introdução( à(
Semântica,! observamos! que! são! descritas! as! relações! de!
sinonímia,! hiponímia! e! hiperonímia.! Contudo,! os! autores,! na!
explanação!teórica!e!nos!exercícios!não!associam!esses!conceitos!
à!manutenção!de!objetos!de!discurso,!tampouco!se!aventuram!a!
20 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
falar! sobre! recategorização,! um! estudo! que! poderia! contemplar!
as!promessas!de!relacionar!o!conteúdo!e!as!questões!discursivo:
textuais,!feitas!no!Manual!do!Professor.!As!atividades,!de!forma!
geral,! apresentam:se! descontextualizadas,! com! o! simples!
objetivo! de! levar! os! alunos! a! reproduzirem! a! nomenclatura! dos!
conceitos! estudados,! como! mostra! o! exercício! reproduzido! a!
seguir:!
!
Leia!estes!grupos!de!palavras:!

• honestidade,!fidelidade,!preguiça,!sinceridade,!!
! perseverança!
• verde,!vermelho,!amargo,!alaranjado,!cor:de:
! rosa!
• colibri,!borboleta,!beija:flor,!pardal,!canário!
!
a) Em!cada!grupo!de!palavras,!existe!uma!que!não!
pertence! ao! mesmo! campo! semântico! das! demais.!
Indique:a,!
!
b) As! palavras! de! cada! grupo! que! pertencem! ao!
mesmo!campo!semântico!podem!ser!hipônimos!de!um!
hiperônimo.!Quais!são!esses!hiperônimos?!!
!
!
(CEREJA!&!MAGALHÃES,!2010,!vol.!1,!p.!141)!
!
!
Embora,!a!cada!capítulo!do!estudo!gramatical,!os!autores!
apresentem! uma! seção! que! busca! associar! o! conteúdo! à!
21 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
construção! de! sentido! do! texto,! os! exercícios! propostos! não!
contemplam,! de! forma! aprofundada,! a! função! referencial! das!
classes!de!palavras.!No!estudo!do!substantivo!e!do!adjetivo,!por!
exemplo,! não! se! faz! qualquer! menção! à! função! dos! sintagmas!
nominais! na! criação! de! cadeias! coesivas,! tampouco! à!
possibilidade!de!esses!elementos!contribuírem!para!a!criação!de!
objetos!de!discurso!e,!consequentemente,!para!a!argumentação.!
O! exercício! que! mais! se! aproxima! do! estudo! referencial,! sugere!
um! trabalho! com! anáfora! indireta,! tendo! por! base! o! poema!
Família,!de!Carlos!Drummond!de!Andrade.!
!
FAMÍLIA!
!
Três!meninos!e!duas!meninas,!
sendo!uma!ainda!de!colo.!
A!cozinheira!preta,!a!copeira!mulata,!
o!papagaio,!o!gato,!o!cachorro,!
as!galinhas!gordas!no!palmo!da!horta!
e!a!mulher!que!trata!de!tudo.!
!
A!espreguiçadeira,!a!cama,!a!gangorra,!
o!cigarro,!o!trabalho,!a!reza,!
a!goiabada!na!sobremesa!de!domingo,!
o!palito!nos!dentes!contentes,!
o!gramofone!rouco!toda!noite!
e!a!mulher!que!trata!de!tudo.!
!
O!agiota,!o!leiteiro,!o!turco,!
o!médico!uma!vez!por!mês,!
o!bilhete!todas!as!semana!
branco!!Mas!a!esperança!verde.!
22 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
A!mulher!que!trata!de!tudo!
e!a!felicidade.!
!
Na!primeira!estrofe,!entre!os!membros!da!família,!são!mencionados!a!mulher,!
as!crianças,!os!empregados,!os!animais.!Só!não!é!mencionado!explicitamente!
o!homem,!que!também!deve!fazer!parte!da!família.!
!
a)!Levante!hipóteses:!Por!que,!provavelmente,!a!menção!ao!homem!não!foi!!!!
explicitada?!
!
b)!Apesar!de!o!homem!não!ter!sido!mencionado!de!modo!explícito,!é!possível!
metonimicamente!supor!sua!presença,!por!meio!de!alguns!nomes.!Levante!
hipóteses:!que!substantivos!podem!estar!relacionados!ao!homem?!
!
(CEREJA!&!MAGALHÃES,!2010,!vol.!2,!p.!35)!
!
Apesar! dessa! iniciativa,! não! se! faz! qualquer! menção! à!
função! dos! sintagmas! nominais! na! criação! de! cadeias! coesivas,!
durante! o! estudo! do! substantivo! e! do! adjetivo,! tampouco! à!
possibilidade!de!esses!elementos!contribuírem!para!a!criação!de!
objetos!de!discurso!e,!consequentemente,!para!a!argumentação.!!
Nesses!capítulos,!os!autores!poderiam!explorar!o!uso!dos!
substantivos! comuns! e! próprios! não! na! sua! potencialidade!
instituída! pela! tradição! gramatical,! que! os! vê! como! elementos!
lexicais! neutros! e! restritos! ao! seu! papel! nomeador,! mas! na!
possibilidade!de!gerarem!significações!além!do!que!está!expresso!
no! texto,! na! construção! de! objetos! discursivos.! O! mesmo! pode!
ser! dito! em! relação! à! adjetivação,! pois,! quando! os! adjetivos!
aparecem! no! discurso,! representam! o! interesse! do! enunciador!
23 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
em!comunicar!uma!descrição!objetiva!ou!uma!apreciação!sobre!o!
referente,! constituindo:se,! pois,! em! um! importante! recurso!
argumentativo.!
No!que!tange!aos!numerais!e!artigos,!importantes!classes!
de! palavras! para! o! processo! de! referenciação,! mais! uma! vez,!
constatamos! que! o! tratamento,! nesta! coleção,! é! restrito! à!
nomenclatura! gramatical.! Em! relação! aos! primeiros,! os! autores!
chegam! a! diferenciar! numeral! substantivo! de! numeral! adjetivo,!
porém! nada! abordam! sobre! a! relação! desse! tema! como! o!
processo! de! referenciação.! Quanto! aos! artigos,! até! verificamos!
que! alguns! exercícios! propõem! a! observação! dos! diferentes!
efeitos! de! sentido! obtidos! pela! utilização! ou! não! dos! artigos!
definidos! e! dos! artigos! indefinidos,! entretanto! a! potencialidade!
discursiva! desse! fenômeno! não! é! relacionada,! diretamente,! à!
criação! de! objetos! discursivos,! além! de,! em! geral,! as! frases! em!
estudo!aparecerem!sem!a!devida!contextualização.!
!
Nas!frases!a!seguir,!explique!a!diferença!de!sentido!conferida!a!
elas! pela! presença! ou! pela! ausência! do! artigo! definido! nas!
expressões!destacadas.!
!
a)!Ela!pretende!ser!professora!um!dia.!
Ela!pretende!ser!a!professora!um!dia.!
!
b)!Pedro,!esta!é!minha!irmã.!
Pedro,!está!é!a!minha!irmã.!
24 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
!
(CEREJA!&!MAGALHÃES,!2010,!vol.!2,!p.!74)!
!
!
! A! única! abordagem! que! mais! se! aproxima! do! estudo! da!
referenciação! foi! encontrada! na! apresentação! dos! pronomes!
demonstrativos.!Nessa!seção,!os!autores!abordam!a!possibilidade!
de! esses! pronomes! evidenciarem! as! relações! correferenciais!
projectivas! e! retrospectivas,! além! de! atuarem! na! desconstrução!
da! ambiguidade! referencial,! quando! dois! ou! mais! referentes!
podem!ser!reativados!no!contexto.!!!

!
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!(CEREJA!&!MAGALHÃES,!2010,!vol.2,!p.100)!
!
25 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
Embora! os! capítulos! que! tratem! do! estudo! gramatical!
estejam! na! seção! intitulada! Língua:( uso( e( reflexão,! os! exercícios!
propostos,!em!sua!maioria,!são!pautados!em!curtas!histórias!em!
quadrinhos! ou! em! enunciados! descontextualizados! e! pouco!
refletem!sobre!a!atividade!linguística.!São!priorizados!os!aspectos!
prescritivos! e! descritivos! da! gramática,! o! que! vai! de! encontro! à!
afirmação!feita!no!Manual!do!Professor:!!
(
...esta! obra! concentra! aspectos! que! pertencem!
tanto! à! gramática! normativa! –! em! seus! aspectos!
prescritivos! (normatização! a! partir! de! parâmetros!
da! variedade! padrão:! ortografia,! flexões,!
concordâncias,! etc.)! e! descritivos! (a! descrição! das!
classes! e! categorias! :! quanto! à! gramática! de! uso!
(que!amplia!a!gramática!internalizada!do!falante)!e!
ainda! à! gramática! reflexiva! (que! explora! aspectos!
ligados! à! semântica! e! ao! discurso).! (Manual! do!
Professor,!p.!20)!
!
! !
Assim,! encontramos! textos! midiáticos! apenas! na! parte! de!
Produção! Textual,! porém! as! atividades! se! voltam! para! a! estrutura!
dos! gêneros! em! foco! (notícia,! reportagem,! anúncio! publicitário,!
editorial,! entrevista! etc.)! além! de! algumas! questões! de!
compreensão! textual.! Nenhuma! alusão! é! feita! aos! processos!
referenciais!ou!à!construção!de!objetos!de!discurso.!!
! Em! relação! à! segunda! coleção! analisada,! Projeto( Eco(
Língua( Portuguesa,! chamou:nos! a! atenção,! a! superficialidade!
26 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
com!que!o!conteúdo!gramatical!é!trabalhado!–!ao!contrário!das!
muitas!unidades!destinadas!à!Literatura.!!
! No! que! tange! ao! estudo! das! classes! de! palavras,! por!
exemplo,!o!volume!2!apresenta!um!único!capítulo!que!descreve!
as!dez!classes,!sem!qualquer!sistematização!teórica.!Apesar!de!o!
capítulo! ser! intitulado! Classes( de( palavras( e( construção( de(
sentido( nos( textos,! os! exercícios! não! trabalham! essa! relação! e!
tampouco!fazem!alusão!ao!processo!de!referenciação.!
! Encontramos,! no! volume! 3,! um! único! capítulo! –!
Progressão( textual( –,! que,! entretanto,! limita:se! ao! estudo! da!
repetição!de!palavras!no!texto,!ora!como!recurso!de!construção,!
ora!como!defeito!textual,!como!ilustra!o!exercício!a!seguir,!numa!
atividade!com!tirinhas:!

!
Qual!é!a!ideia/informação!repetida!por!três!vezes!na!tira?!
Explique!como!é!construída!a!progressão!textual!
(ALVES!&!MARTIN,!2010,!vol.!3,!p.!304)!
!
27 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
!
! Como!sugestão!de!gabarito,!as!autoras!destacam!que!a!
progressão! textual! é! construída! no! plano! visual! e! não! no! texto!
escrito.!Isso!porque!a!mudança!de!sentimentos!dos!personagens!
é!percebida!em!sua!expressão!facial.!
! Em! relação! aos! textos! midiáticos,! quase! nada!
encontramos,! nesta! coleção:! nos! exercícios! gramaticais,! o! texto!
literário! é! priorizado;! na! parte! de! produção! textual,! apenas! os!
gêneros! notícia,! reportagem! e! artigo! de! opinião! são!
superficialmente! descritos,! embora,! no! Manual! do! Professor,! as!
autoras!garantam!que!
!
O! texto! não! é! somente! ponto! de! partida! para! a!
reflexão! sobre! a! língua! –! ele! é! igualmente! ponto!
de!chegada.!Nesta!coleção,!a!prática!de!produção!
textual! recebe! tratamento! organizado! e!
estruturado,! fornecendo! ao! aluno! ferramentas!
para! a! concepção! inicial! de! sua! produção,! o!
planejamento! e! a! execução! textual.! (Manual! do!
Professor,!p.!12)!
!!!!
!
4. A RERENCIAÇÃO NOS TEXTOS DA
MÍDIA: PROPOSTAS DE ATIVIDADES
!
Diante! da! ausência! de! um! estudo! dirigido! sobre!
referenciação!e!construção!de!objetos!de!discurso,!com!base!em!um!
28 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
editorial! apresentado! no! volume! 2! da! coleção! de! Cereja! e!
Magalhães,! apresentaremos! algumas! propostas! de! atividades! que!
contemplam! esses! temas! tão! importantes! para! a! compreensão! e!
produção!textuais.!!
!
!!!!!!!!!!!!!!!!PROPAGANDA!A!SER!LIMITADA!
!
É! grande! a! força! do! lobby! !
de! cervejarias,! TVs! e! agências! de!
propaganda.! Mais! uma! vez,!
conseguiu! evitar! que! a!
publicidade! de! cervejas! fosse!
equiparada!a!das!demais!bebidas!
alcoólicas! e! proibida! das! 6h! às!
21h.!!
O! projeto! de! lei! do!
Executivo! restituindo! um! pouco!
de!lógica!à!legislação!que!regula!a!
propaganda! de! álcool! estava!
pronto! para! ser! votado.! Mas! um! !
acordo! entre! parlamentares! e!
governo!conseguiu!retirar!a!urgência!da!proposta,!que!agora!fica!sem!
prazo!para!ir!ao!plenário.!A!julgar!pelos!precedentes,!isso!dificilmente!
ocorrerá! antes! dos! Jogos! Olímpicos! de! Pequim,! em! agosto,! ou! quem!
sabe!da!Copa!de!2014.!!
Em!termos!de!saúde!publica!e!ciência,!não!há!justificativa!para!
tratar! a! publicidade! de! bebidas! alcoólicas! de! qualquer! gradação! de!
forma!diversa!da!do!tabaco,!que!é!vedada!quase!totalmente.!!
O! álcool! é! uma! droga! psicoativa! com! elevado! potencial! para!
provocar! dependência.! Estudo! da! Organização! Mundial! da! Saúde!
atribui!ao!abuso!etílico!3,2!%!das!mortes!ocorridas!no!planeta!(cerca!de!
1,8!milhão!de!óbitos!anuais).!Metade!delas!tem!como!causa!doenças,!e!
a! outra! metade,! ferimentos.! No! Brasil,! dados! da! Secretaria! Nacional!
29 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
Antidrogas! (2005)! apontam! que! 12,3%! da! população! entre! 12! e! 65!
anos!pode!ser!considerada!dependente.!!
Não! se! trata! de! proibir! o! consumo! de! álcool,! mas! esses!
números! deixam! claro,! por! outro! lado,! que! ninguém! deveria! ser!
estimulado! a! beber.! A! propaganda! é! uma! atividade! legítima! para! a!
esmagadora! maioria! dos! produtos! e! serviços! existentes.! O! caso! das!
drogas! lícitas! é! uma! exceção.! A! Constituição! Federal,! em! seu! artigo!
220,!prevê!restrições!
a!esse!tipo!de!publicidade.!!
Não! faz,! portanto,!
sentido! a! campanha! que! a!
Associação!Brasileira!de!Agencias!
de! Publicidade! mantém! desde! o!
final! de! abril,! afirmando! que! a!
restrição! à! publicidade! de!
cervejas! teria! o! mesmo! efeito!
que! proibir! "a! fabricação! de!
abridores!de!garrafa".!!
Louvar! as! virtudes! reais!
ou! imaginarias! de! abridores! de!
garrafa!não!costuma!levar!jovens!
a! consumir! quantidades!
crescentes! de! drogas!
psicotrópicas.! Já! a! propaganda!
de!cerveja!o!faz.!!
(
Folha(de(São(Paulo,(11/05/2008(
!
! Propostas!de!atividades!
!
!
1)!Ao!longo!do!texto,!o!objeto!de!discurso!“cerveja”!é!retomado!por!diversas!
expressões!nominais.!!
!
a)!Transcreva!duas!expressões!nominais.!
!!
30 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
R.:!O!objeto!de!discurso!cerveja!é,!ao!longo!do!texto,!retomado!por!expressões!
como!“drogas!lícitas”,!“álcool”,!“drogas!psicotrópicas”.!
!
b)!De!que!forma!essas!expressões!nominais!que!retomam!o!objeto!de!discurso!
“cerveja”!colaboram!para!o!projeto!argumentativo!do!texto?!!
!
R.:!Todas!as!expressões!nominais!que!retomam,!ao!longo!do!texto,!o!objeto!de!
discurso! “cerveja”! reforçam! o! caráter! destrutivo! da! bebida.! O! próprio!
substantivo!“droga”!tem!seu!sentido!negativamente!marcado.!!
!
2.!No!4º!parágrafo,!são!apresentadas!expressões!quantitativas!diferentes!para!
se!referir!às!mortes!provocadas!pelo!consumo!de!álcool.!
!
a)!Quais!são!essas!expressões.!!
!
R.:!As!expressões!são!3,2%!e!1,8!milhão.!
!
b)!Em!que!contexto!essas!expressões!foram!empregadas?!
!
R.:! Para! se! referir! às! mortes! provocadas! pelo! consumo! de! álcool,! o! texto!
emprega!o!percentual!3,2%,!que,!inicialmente,!pode!parecer!pequeno.!Porém,!
esse! valor! logo! é! especificado! pelo! alarmante! número! absoluto! 1,8! milhões,!
mostrando! que! muitas! pessoas! têm! suas! vidas! ceifadas! por! conta! do! abuso!
etílico.!
!
3.! A! progressão! textual! é! resultado! de! um! conjunto! de! procedimentos!
linguísticos! por! meio! dos! quais! se! estabelecem,! entre! segmentos! do! texto,!
relações!de!interdependência.!Sabendo!disso,!responda:!
!
a)!Que!expressão,!empregada!no!5º!parágrafo,!retoma!o!conteúdo!do!4º?!
!
R.:!A!expressão!“esses!números”,!empregada!no!5º!parágrafo!faz!referência!às!
mortes! provocadas! pelo! consumo! de! álcool,! item! destacado! no! parágrafo!
anterior.!
!
b)!Por!que!tal!expressão!denuncia!a!opinião!do!enunciador!sobre!a!proibição!
das!propagandas!de!cerveja?!!
!
31 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
R.:! Como! é! elevado! número! de! mortes! relacionadas! à! bebida! alcoólica,! o!
enunciador! sugere! que! esse! consumo! não! seja! estimulado! por! meio! das!
propagandas,!que!deveriam,!então,!ser!proibidas.!
!
4.! Considerando! as! estratégias! de! sedução! e! convencimento! empregadas!
pelos! textos! publicitários,! no! penúltimo! parágrafo,! a! propaganda! da!
Associação! Brasileira! de! Agências! Publicitárias! compara! dois! elementos! do!
texto.!
!
a)!O!que!está!sendo!comparado?!
!
R.:! A! Associação! Brasileira! de! Agências! Publicitárias! compara! o! ato! de!
restringir!as!propagandas!de!bebidas!alcoólicas!ao!ato!de!proibir!a!fabricação!
de!abridores!de!garrafa.!
!
a)!Explique!a!crítica!implícita!nesta!comparação.!
!
R.:! Na! tentativa! de! justificar! que! as! propagandas! de! bebidas! alcoólicas! não!
deveriam! ser! restringidas,! por! não! incitarem! diretamente! o! consumo! das!
mesmas,!a!Associação!Brasileira!de!Agências!Publicitárias,!num!tom!irônico!e!
exagerado,!sugere!que!a!fabricação!de!abridores!de!garrafas!também!deveria!
ser!proibida,!uma!vez!que!seu!uso!está!relacionado!ao!consumo!etílico,!por!ser!
o!instrumento!utilizado!para!abrir!o!recipiente!em!que!a!bebida!está!contida.!
!!

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
!
Guiados! pelos! postulados! da! atual! fase! da! Linguística! de!
Texto,! analisamos! como! a! referenciação! é! tratada! em! duas!
coleções! de! livros! didáticos! destinadas! ao! Ensino! Médio:!
Português(Linguagens!e!Projeto(Eco(–(Língua(Portuguesa.!Embora!
se! configure! como! importantes! estratégias! de! interpretação! e!
produção! textuais,! o! trabalho! com! a! construção! de! objetos! de!
32 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
discurso! e! de! cadeias! referenciais! quase! não! aparece! nos!
manuais!escolares!em!tela.!
Como!proposta!didática,!ressaltamos!que!a!leitura!é!uma!
atividade! imprescindível! em! qualquer! área! do! conhecimento.!
Textos!de!natureza!diversa!exigem!diferentes!abordagens!para!se!
chegar! ao! seu! significado.! Todo! professor,! portanto,! deve! estar!
comprometido!com!a!formação!de!leitores!críticos!que!aprendam!
a! pensar! sobre! o! pensamento! dos! outros! e! cheguem! a! produzir!
seus!próprios!pensamentos.!Para!isso,!a!leitura!precisa!extrapolar!
as!linhas!do!texto,!as!páginas!dos!livros,!buscando!significados!em!
outros!textos,!outros!livros,!outras!vivências.!!
De! acordo! com! os! Parâmetros! Curriculares! Nacionais! de!
Língua!Portuguesa!para!o!Ensino!Fundamental:!!
(
Formar! um! leitor! competente! supõe! formar!
alguém! que! compreenda! o! que! lê;! que! possa!
aprender! a! ler! também! o! que! não! está! escrito,!
identificando!elementos!implícitos;!que!estabeleça!
relações! entre! o! texto! que! lê! e! outros! textos! já!
lidos;! que! saiba! que! vários! sentidos! podem! ser!
atribuídos! a! um! texto;! que! consiga! justificar! e!
validar! sua! leitura! a! partir! da! localização! de!
elementos!discursivos.”!PCN!(1997,!p.!54)!!
!
! Com! base! nesses! pressupostos! e! considerando! que! a!
leitura! e! a! escrita! sejam! atividades! de! interação! entre! sujeitos,!
33 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
acreditamos! que! o! estudo! sistemático! do! processo! de!
referenciação! nos! livros! didáticos! –! embora! seja! um! caminho!
ainda! a! percorrer! –! muito! possa! contribuir! para! se! alcançar! um!
dos! objetivos! principais! do! ensino! de! língua! materna,! previstos!
pelos! Parâmetros! Curriculares! Nacionais:! desenvolver! a!
competência! comunicativa! do! aluno,! integrando,! enfim,! texto! e!
gramática.!!
!
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
!
BRASIL.! Secretaria! de! Educação! Fundamental.! Parâmetros(
curriculares( nacionais:( língua( portuguesa.! 3.! ed.! Brasília:!
MEC/SEF,!2001.!
!
CAVALCANTE,! M.;! PINHEIRO,! C.;! LINS,! M.! da! P.;! LIMA,! G.!
Dimensões! textuais! nas! perspectivas! sociocognitiva! e!
interacional.! In:! BENTES,! A.C.;! LEITE,! M.! Q.! (org.).! Linguística( de(
texto( e( análise( da( conversação:! panorama! das! pesquisas! no!
Brasil.!São!Paulo:!Cortez,!2010.!p.!225:261.!
!
GERALDI,! João! Wanderley.! Linguagem( e( ensino.( Exercícios( de(
militância(e(divulgação.!Campinas:SP:!ALB!&!Mercado!das!Letras.!
1998.!
!
KOCH,!Ingedore.!Desvendando(os(segredos(do(texto.(!São!Paulo:!
Cortez,!2002.!
!
______.!A(interJação(pela(linguagem.(10.!ed.!São!Paulo:!
Contexto,!2007.!
34 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
!
______.! Como! se! constroem! e! reconstroem! os! objetos:de:
discurso.! In:! Anais( do( XIII( Congresso( da( Associação( LatinoJ
Americana(de(Estudos(do(Discurso((ALED),!2008.!p.!99:114.!
!
______;! MORATO,! Edwiges! Maria;! BENTES,! Anna! Christina.!
Referenciação(e(discurso.(São!Paulo:!Contexto,!2005.!
!
______;! ELIAS,! Vanda.! Ler( e( compreender:! os! sentidos! do! texto.!
São!Paulo:!Contexto,!2008.!
!
MONDADA,!Lorenza;!DUBOIS,!Daniele.!Construção!dos!objetos!de!
discurso! e! categorização:! Uma! abordagem! dos! processos! de!
referenciação.!In:!CAVALCANTE,!
Mônica!Magalhães;!RODRIGUES,!Bernardete!Biasi;!CIULLA,!Alena.!
(Org.).!Referenciação.(São!Paulo:!Contexto,!2003.!p.!17:52.!
!
TRAVAGLIA,! Luiz! Carlos.! Gramática( e( interação:( uma( proposta(
para(o(ensino(de(gramática(no(1º(e(2º(graus.!8ª.!ed.!São!Paulo:!
Cortez,!2002.!
(
!
!
MANUAIS DIDÁTICOS
!
ALVES,! Hernandes! Roberta! e! MARTIN,! Lia! Vilma.! Língua(
Portuguesa.!São!Paulo:!Editora!Positivo,!2009.!
!
CEREJA,! William! Roberto! e! MAGALHÃES,! Thereza! Cochar.!
Português(linguagens!(volumes!1,!2!e!3).!7ª!ed.!reformulada,!São!
Paulo:!Editora!Moderna,!2009;!
35 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!

A abordagem da referenciação em
livros didáticos de Língua
Portuguesa do Ensino
Fundamental
GONÇALO,!Fabiana!(UFRJ/!CNPq)!
COLAMARCO,!Manuela!(UFRJ/!CAPES)!

1. INTRODUÇÃO

!! Este! artigo! tem! por! objetivo! reunir! as! contribuições! do!


processo!de!referenciação!para!um!trabalho!mais!produtivo!com!
o!texto!em!sala!de!aula!no!Ensino!Fundamental,!principalmente!
no! que! se! refere! às! atividades! de! leitura! e! interpretação.! Para!
isso,!nosso!objeto!de!análise!são!duas!coleções!de!livros!didáticos!
de!língua!portuguesa!(doravante,!LDP),!Viva(Português!e!Tudo(é(
Linguagem,! ambas! da! Editora! Ática,! aprovadas! pelo! PNLD:EF:
2011!e!que!estão!sendo!utilizadas!nas!redes!pública!e!privada!até!
2013.!Nessas!coleções,!nos!concentramos!nos!textos!midiáticos,!
verificando!se!eles!são!relacionados!a!atividades!de!referenciação!
e,! em! caso! positivo,! como! essas! atividades! são! realizadas.! Além!
36 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
disso,! buscamos! observar! se! há! algum! tipo! de! atividade,! nesses!
LDP,! que! vise! associar! a! questão! da! referenciação! à!
intencionalidade! dos! autores! no! momento! da! produção! de! seus!
textos.!!
!! A! escolha! pelo! corpus! em! questão! deve:se! a! sua!
relevância!no!cenário!atual!e!à!recorrência!dos!textos!midiáticos!
nos! LDP.! Além! disso,! sabe:se! que,! no! que! concerne! a! alguns!
gêneros!textuais!do!grupo!dos!textos!jornalísticos!(reportagem!e!
notícia,!por!exemplo),!é!recorrente!a!fala!–!inclusive!nas!escolas!–!
de!que!esses!textos!caracterizam:se!pela!imparcialidade!de!seus!
autores.!Como!não!acreditamos!na!neutralidade!de!um!discurso,!
ou!seja,!entendemos!que!todo!produtor!de!um!texto!atribui!uma!
intenção!ao!que!escreve/fala,!conforme!postulam!Beaugrande!e!
Dressler! (1981),! procuramos! verificar! se! os! LDP! buscam,! de!
alguma! maneira,! ao! tratar! da! referenciação,! abordar! a! questão!
da! intencionalidade,! também! nesses! textos! tão! historicamente!
marcados!por!uma!suposta!imparcialidade.!
! Para! desenvolver! este! trabalho,! adotamos! como! suporte!
teórico!estudos!sobre!a!referenciação,!com!base!na!Linguística!do!
Texto,!destacando!as!obras!de!Koch!(2004,!2006,!2008),!Koch!&!
Elias! (2006),! Marcuschi! (2008),! Cavalcante! et( alii! (2003),!
Cavalcante!(2011),!Mondada!(2001),!dentre!outros.!
37 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
! De! acordo! com! a! Linguística! do! Texto! (doravante,! LT),!
partimos,! primordialmente,! da! defesa! de! que! a! referenciação! é!
uma! atividade! discursiva,! ou! seja,! de! que! o! texto! é! organizado!
para! ser! o! próprio! lugar! da! interação! de! sujeitos! sociais! que!
compartilham!todos!os!seus!conhecimentos!com!a!finalidade!de!
atingir! as! suas! propostas! de! sentido.! Diante! dessa! perspectiva!
sociointeracional,! os! objetos:de:discurso! são! construídos! e!
reconstruídos!pelos!enunciadores!por!meio!de!escolhas!dentre!as!
inúmeras! alternativas! que! a! língua! oferece! para! designar! um!
referente.!Sobre!essa!visão!do!texto,!Koch!(2008,!p.!188)!afirma:!
!
[o! texto! é]! um! construto! histórico! e! social,!
extremamente! complexo! e! multifacetado,! cujos!
segredos! é! preciso! desvendar! para! compreender!
melhor! esse! “milagre”! que! se! repete! a! cada! nova!
interlocução! –! a! interação! pela! linguagem,!
linguagem! que,! como! dizia! Carlos! Franchi,! é!
atividade(construtiva.![grifos!da!autora]!!
!
!
!! Neste! artigo,! então,! será! abandonada! a! visão!
representacional! e! estática! da! tradição! escolar,! que! opta! pelo!
termo! “coesão! referencial”,! tendo! em! vista! que! a! referenciação!
vai! muito! além! dessa! posição,! tratando:se! de! uma! operação!
colaborativa!entre!os!parceiros!da!interação,!fazendo!com!que!os!
referentes! sejam! construídos! no! e! pelo! discurso! e,!
38 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
consequentemente,! sejam! chamados! de! objetos:de:discurso.!
Esses!objetos!podem!ser!recategorizados!de!diversas!formas,!e!a!
escolha! de! cada! um! deles! é! carregada! de! valores! e!
posicionamentos!ideológicos.!Em!outras!palavras,!a!referenciação!
trabalha! com! a! intenção! do! produtor! do! texto,! pois! ele! opera!
sobre! o! material! linguístico! de! que! dispõe,! selecionando:o! de!
acordo!com!a!melhor!adaptação!ao!seu!ponto!de!vista,!a!fim!de!
concretizar! sua! proposta! de! sentido.! Logo,! ele! rompe! com! uma!
possível! neutralidade! e! mostra! o! seu! posicionamento! diante! do!
que!é!dito.!!
!! Desse! modo,! ao! considerar! esse! processo! como! uma!
atividade! discursiva! de! (re)! construção! de! objetos:de:discurso,!
percebemos! que! ele! é! estrategicamente! intencional.! Nessa!
perspectiva,! é! possível! relacionar! a! referenciação! à! orientação!
argumentativa,!pois!sempre!que!enunciamos,!objetivamos!atuar!
sobre! os! parceiros! da! interação! e! obter! deles! determinadas!
reações!(KOCH,!2002),!impondo!ou!orientando!o!nosso!modo!de!
se! referir! como! o! mais! verdadeiro.! Segundo! Adam! (1992,! apud!
SANTOS,!2007),!o!enunciador!constrói!o!discurso!para!modificar!
representações,! crenças,! comportamentos! e! opiniões! do!
interlocutor.!
39 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
! Tendo! em! vista! a! dificuldade! que! cerca! o! trabalho! dos!
professores! com! o! texto! em! sala! de! aula,! acredita:se! que! os!
mecanismos!referenciais!possam!servir!de!instrumento!para!que!
o!docente!oriente!melhor!seus!alunos.!Segundo!Travaglia!(2005),!
somente!através!do!texto,!o!professor!desenvolve!a!competência!
comunicativa! dos! alunos,! fazendo:os! lidar! de! modo! eficaz! com!
sua!língua!materna!nas!mais!variadas!situações!de!comunicação.!!
!! Nossa!hipótese,!ao!pensar!este!trabalho,!era!a!de!que!as!
coleções! analisadas,! mesmo! que! se! caracterizem! por! serem! de!
qualidade,! abordariam! ainda! de! forma! precária! a! questão! da!
referenciação,! principalmente! em! sua! relação! com! a!
intencionalidade.! Sabemos! que,! na! academia,! esse! tema! é!
bastante!estudado!e!sua!relevância!é!inquestionável.!No!entanto,!
ainda!há!muito!que!fazer!para!levá:lo!até!a!sala!de!aula.!!
!! Por! último,! ao! final! da! análise,! com! vias! a! auxiliar!
professores! que! se! interessem! pelo! tema! em! questão,!
elaboraremos! atividades! de! compreensão! relacionadas! à!
referenciação! com! base! em! um! texto! extraído! de! um! dos! LDP!
analisados.!
!
!
!
40 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
2. ABORDAGEM TEÓRICA

2.1.1 A Linguística do Texto

! Na! década! de! 60,! na! Europa,! houve! o! surgimento! da!


Linguística! do! Texto,! que! estabeleceu! o! texto! como! a! principal!
fonte! de! investigação! dos! fatos! linguísticos,! no! lugar! do! então!
estudo! da! palavra! isolada! e! da! frase! descontextualizada.! Até! a!
primeira!metade!da!década!de!70,!a!preocupação!básica!era!em!
relação!aos!mecanismos!interfrásticos,!ou!seja,!componentes!do!
sistema! gramatical,! como! correferência,! pronominalização,!
artigo,!ordem!das!palavras,!dentre!outros!usos!que!garantiam!o!
estatuto! de! texto,! sendo! este! visto! como! um! produto.! O! objeto!
de! estudo! principal! era,! então,! a! coesão,! o! que! fez! com! que!
surgissem! diversas! gramáticas! do! texto.! Nesse! período,! ainda,! a!
coesão!era!confundida!com!a!coerência!que,!por!sua!vez,!era!tida!
apenas!como!uma!propriedade!ou!característica!do!texto.!!
!! A! partir! da! segunda! metade! da! década! de! 70,! houve! a!
adoção! da! perspectiva! pragmática! (“virada! pragmática”),!
defendendo!o!texto!como!a!unidade!básica!de!interação!humana,!
considerado!no!processo!mesmo!de!sua!constituição,!e!não!mais!
um! produto! acabado! e,! por! isso,! os! elementos! que! revelam! as!
41 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
intenções! dos! falantes! deveriam! ser! levados! em! conta.! Na!
década! de! 80,! o! texto! passou! a! ser! visto! como! o! resultado! de!
processos! mentais! (“virada! cognitivista”),! com! o! postulado! de!
que! se! deviam! levar! em! conta! os! saberes! armazenados! na!
memória! que! os! parceiros! da! comunicação! possuem! para!
explicar! as! operações! responsáveis! pela! forma! como! os! textos!
são!criados!e!utilizados.!A!LT!foi,!então,!buscar!explicações!para!
as! inferências,! através! da! memória,! da! atenção,! das!
representações!mentais!etc.!
! !Além! disso,! a! partir! de! 1980,! rediscute:se! a! dicotomia!
entre!texto!e!discurso,!para!se!assumir!uma!perspectiva!textual:
discursiva,!uma!vez!que!o!texto!não!deve!ser!visto!simplesmente!
como!uma!superfície!material!que!conduz!ao!discurso,!mas!como!
indissociável! dele! e! definido! pelo! uso! (cf.! KOCH,! 2002,! 2004;!
MARCUSCHI,!2008;!CIULLA!E!SILVA,!2008).!Adam!(2008)!também!
postula! que! texto! e! discurso! devem! ser! pensados! de! forma!
contextualizada! e! articulada! e,! por! isso,! ele! considera! a! LT! um!
subdomínio! da! área! mais! ampla! da! análise! das! práticas!
discursivas.!
! Porém,! a! concepção! atual! da! LT! foi! estabelecida! na!
década! de! 90! (“virada! discursiva”),! baseando:se! na! perspectiva!
de! Bakhtin! (GOMES:SANTOS! et( alii,! 2010).! O! texto! começou! a!
42 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
receber! um! tratamento! de! ordem! sociocognitiva:interacional,!
pois! não! podia! ser! entendido! apenas! como! resultado! de!
processos! cognitivos.! Passou:se,! então,! a! questionar! a! divisão!
entre! exterioridade! e! interioridade,! postulada! pelas! ciências!
cognitivas! clássicas,! no! que! concerne! à! separação! que! opera!
entre!fenômenos!mentais!e!sociais.!!
!! Fundamenta:se! a! ideia! de! que! tais! operações! não!
ocorrem!apenas!na!mente!do!indivíduo,!mas!são!o!resultado!da!
interação! de! várias! ações! conjuntas! praticadas! por! ele! (KOCH,!
2004,! p.! 29/! 30),! não! sendo! somente! resultado! de! processos!
cognitivos,!mas!interacionais.!Dessa!forma,!a!partir!da!concepção!
de!base!sociocognitiva:interacional,!o!texto!passa!a!ser!entendido!
como! “lugar! de! interação( entre! atores! sociais! e! de! construção!
interacional! de! sentidos”! (KOCH,! 2004,! introdução).! Isso! implica!
dizer!que!texto!e!contexto!estão!intimamente!ligados.!
!! Dentro!dessa!perspectiva,!a!LT!trouxe!uma!mudança!para!
o!estudo!do!texto,!estabelecendo!que!o!leitor!deve!ser!capaz!não!
só! de! entender! as! mensagens! veiculadas! pelos! diversos! textos,!
como! precisa,! ainda,! identificar! as! intenções! comunicativas! de!
seus! autores,! trazendo! à! tona! conhecimentos! armazenados! em!
sua!memória,!reconhecendo!os!diversos!tipos!e!gêneros!textuais!
e! as! diferentes! estratégias! de! referenciação! e! sequenciação!
43 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
(KOCH,! 2004).! Modificando! toda! uma! tradição! de! estudo! do!
texto,! a! LT! desconstrói! a! relação! de! hierarquia! autor:leitor,! em!
que! o! segundo! deve! apenas! coletar! informações! isoladas! que!
estariam!“prontas”!para!ele!dentro!de!um!“produto!acabado”.!!
!! Assim,! passa:se! a! entender! o! texto! como! o! resultado! da!
interação!de!elementos!sociais,!cognitivos!e!linguísticos,!e!a!sua!
compreensão! mobiliza! recursos! cognitivos! e! pragmáticos.! Indo!
ainda! um! pouco! mais! além,! Cavalcante! et( alii! (2010,! p.! 228)!
postulam!que:!
!
[...]! o! texto! é! a! unidade! funcional! que! não!
somente! permite! a! interação,! como! também!
viabiliza!diversas!formas!de!representar!o!mundo,!
de!transformá:lo!e!de,!a!um!só!tempo,!reconstruir:
se! a! partir! dessa! dinâmica! emergência! dos!
sentidos,! que! envolve! toda! espécie! de!
heterogeneidades! enunciativas,! dentre! elas! as!
relações!intertextuais!e!interdiscursivas.!!
!
!
Para! a! LT,! os! interlocutores! são! compreendidos! como!
sujeitos! que,! dialogicamente,! nele! se! constroem! e! por! ele! são!
construídos!(KOCH,!2008).!Desse!modo,!um!texto!seria!originado!
por! uma! multiplicidade! de! operações! cognitivas! interligadas! e!
sua! produção! de! sentidos! se! realizaria! com! base! nos! elementos!
linguísticos! presentes! na! sua! superfície! e! na! sua! forma! de!
44 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
organização.!No!entanto,!a!percepção!desses!sentidos!requer!não!
apenas! a! mobilização! de! um! vasto! conjunto! de! saberes,! como!
também!a!sua!reconstrução!no!momento!da!interação!verbal.!À!
LT!caberia,!então,!desenvolver!estratégias!de!descrição!e!análise!
textuais!capazes!de!dar!conta!desses!processos.!!
Uma! vez! apresentada,! em! termos! gerais,! a! teoria! que!
determinará! a! forma! pela! qual! o! corpus! desta! pesquisa! será!
analisado,! expomos,! a! seguir,! os! conceitos! que! mais!
particularmente! interessarão! a! este! trabalho:! intencionalidade,!
escolhas!lexicais!e!referenciação.!
!

2.2 A relação entre a


intencionalidade, as escolhas
lexicais e a construção dos
sentidos

!
O! texto,! isto! é,! o! discurso! produzido! pelo! sujeito! ao!
significar!o!mundo!de!acordo!com!o!lugar!social!e!ideológico!que!
ocupa,! é! definido! por! Orlandi! (2007,! p.! 77)! como! uma! “[...]!
unidade! de! significação! cuja! relação! com! as! condições! de!
produção!é!constitutiva”.!O!texto!é!visto,!portanto,!não!como!um!
emaranhado!de!frases!soltas!ou!como!uma!composição!apartada!
do! mundo,! mas! sim! como! algo! cujo! sentido! torna:se! inteligível!
45 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
apenas! na! esfera! da! enunciação,! ou! seja,! do! contexto! social,!
ideológico,! político! em! que! fora! produzido.! Consoante! Fiorin!
(1996,! p.! 30),! “o! discurso! não! é! uma! grande! frase! nem! um!
aglomerado!de!frases,!mas!um!todo!de!significação”.!
O! sentido! do! discurso! é! dotado! de! um! caráter! dialógico!
(MUSSALIM,!2001).!Isso!implica!dizer!que!o!significado!do!que!se!
diz!se!constrói!no!âmbito!do!interdiscurso,!isto!é,!no!diálogo!com!
outros! discursos.! Nada! do! que! se! enuncia! é! completamente!
original.! Tudo! o! que! se! diz! é! cortado! por! inúmeros! outros!
discursos! que! entram! na! formação! do! que! o! próprio! sujeito! é! e!
pensa.!Assim,!ao!significar!o!mundo!em!seu!discurso,!o!indivíduo!
encontra:se!influenciado!por!inúmeros!outros!dizeres.!
! Entendemos! que! a! linguagem! é! caracterizada! por! uma!
orientação!argumentativa,!sendo!encarada!como!forma!de!ação,!
isto!é,!levar!o!outro!a!fazer!X.!Por!trás!de!qualquer!discurso,!há!a!
intenção!de!se!transmitir!ideologia(s),!na!acepção!mais!ampla!do!
termo,!uma!vez!que!tudo!que!diz!respeito!à!linguagem!tem!uma!
subjetividade! inerente,! pois! todos! nós! somos! sujeitos! que! têm!
intenções! e! objetivos! delimitados! e! que! buscamos! convencer! o!
outro! das! nossas! ideias! e! fazer! com! que! ele! chegue! às! mesmas!
conclusões!que!nós.!Logo,!se!o!sujeito!sempre!age!para!ser!aceito!
de!modo!que!suas!opiniões!sejam!mais!bem!recebidas!do!que!as!
46 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
dos! outros,! a! neutralidade! é! um! mito,! haja! vista! que! até! o!
discurso! que! se! declara! “neutro”! tem! a! intenção! de! ser! o! mais!
objetivo!possível,!conforme!evidencia!Koch!(2011,!p.!17).!
A! LT! estabelece! que,! além! de! entender! as! mensagens!
veiculadas! pelos! vários! textos,! o! leitor! precisa! conseguir!
identificar! as! intenções! comunicativas! de! seus! autores.! De! que!
modo! se! chega,! então,! a! essas! intenções! ou! mesmo! –! por! que!
não!dizer!–!a!essas!ideologias?!Certamente,!por!meio!do!material!
linguístico!presente!no!texto.!Conforme!assevera!Sarfati!(2010,!p.!
28),! “todo! material! linguístico,! constituído,! principalmente,! de!
elementos!e!de!microssistemas!lexicais,!organiza!a!expressão!da!
subjetividade!linguística”.!
Desse!modo,!de!forma!mais!específica,!podemos!entender!
que! “pela! escolha! vocabular,! o! autor! de! um! texto! busca!
expressar!seu!ponto!de!vista!em!relação!ao!mundo!que!o!cerca,!
emitindo! juízo! de! valor”! (PAULIUKONIS,! 2005,! p.! 126).! Isso!
porque,!ao!fazer!a!escolha!por!determinado!item!lexical,!o!autor,!
necessariamente,!deixa!de!escolher!outros!que!poderiam!ocupar!
aquela!mesma!posição.!Assim,!quando!se!usa,!por!exemplo,!um!
termo! pejorativo! como! “pivete”! (ao! se! referir! a! um! menino! de!
rua),!opta:se!por!um!vocábulo!específico!dentro!de!um!grupo!de!
outras! palavras! que! são,! consequentemente,! silenciadas!
47 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
(“menino! de! rua”,! “menor! abandonado”,! entre! outros),! o! que!
provoca! efeitos! de! sentido! diferentes,! condicionados! pela!
intenção!de!quem!enuncia.!
Concordamos,!então,!com!Marcuschi!quando!ele!afirma:!!
!
Com! uma! visão! de! língua! como! atividade! sócio:
interativa! [...]! e! uma! hipótese! sócio:cognitiva,!
tentamos! superar! a! noção! meramente!
representacionalista! e! referencialista! da! língua,!
para! privilegiar! as! relações! intersubjetivas!
instauradas! pelos! interlocutores! mediante! os!
recursos!linguísticos.!(MARCUSCHI,!2004,!p.!273)!
!
!
2.3 O processo de Referenciação
!
Dentro! das! abordagens! da! LT,! a! referenciação! destaca:se!
como! importante! estratégia! para! introduzir! novas! entidades! ou!
referentes! no! texto! (KOCH! e! ELIAS,! 2006)! e! constitui! um!
elemento!basilar,!uma!vez!que!a!ela!são!atribuídas!as!funções!de!
imprimir!sentido!ao!texto!e!de!contribuir!para!sua!progressão.!!
Ressalta:se! que! o! processo! de! referenciação! também! está!
relacionado! à! ideia! de! escolha! vocabular,! tratada! na! seção!
anterior! deste! artigo,! uma! vez! que,! ao! selecionar! um! referente!
lexical! (um! substantivo! isolado! ou! um! substantivo! determinado!
por! adjetivo(s)! dentro! de! uma! expressão! nominal)! para! ocupar!
48 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
determinada!posição!no!texto,!o!autor!deixa!de!escolher!outros!
referentes! também! possíveis! naquele! contexto! e! é! isso! que,!
como!vimos,!manifesta!sua!intenção.!!
! A!presença!do!enunciador!no!discurso!ocorre,!justamente,!
por! meio! dessas! escolhas! referenciais! que! ele! faz,! isto! é,! ele! se!
revela! no! texto! pela! referenciação,! marcando! o! seu! ponto! de!
vista.! Mesmo! quando! se! esforça! para! ser! isento! de!
posicionamento,! toma! um! determinado! partido.! Conforme!
Rabatel! (2005,! p.121),! “o! modo! de! apresentação! dos! referentes!
comporta!saberes!e!marcas!de!um!modo!de!falar,!perceber!e/ou!
pensar!que!aponta!para!determinado!enunciador”.!!
! A!nomeação!de!um!referente!envolve!uma!reflexão!sobre!
o! próprio! dizer,! o! que! faz! com! que! a! seleção! referencial! mais!
apropriada! se! dê! com! base! no! receptor,! nos! propósitos!
comunicativos,!no!contexto,!no!gênero!textual!em!questão!etc.!O!
produtor! textual! pode! ter! a! intenção! de! criticar! algo,! de!
ressignificar! um! termo! em! evidência,! de! causar! humor,! dentre!
outras! opções,! fazendo! com! que! haja! uma! grande! instabilidade!
nessa!nomeação!dos!referentes.!
!! Durante! muito! tempo,! a! questão! da! referência! foi!
entendida! e! estudada! como! uma! forma! de! representação! do!
“mundo! real”! no! co:texto.! As! formas! linguísticas! utilizadas! para!
49 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
retomar! ou! antecipar! algo,! na! superfície! textual,! deveriam! ser!
selecionadas! de! acordo! com! critérios! de! correspondência! e!
veracidade! em! relação! ao! mundo! exterior! que,! por! sua! vez,!
estava!pronto!para!ser!espelhado!(cf.!CAVALCANTE!et(alii.,!2010).!!
!! É! nessa! perspectiva! de! reflexo! da! realidade! que! está! a!
noção! tradicional! de! coesão! referencial,! que! concebe! a!
linguagem! como! transparente! e! considera! os! referentes! como!
objetos! do! mundo,! excluindo! o! contexto! e! a! construção! de!
efeitos! de! sentido.! Em! outras! palavras,! a! noção! de! “fazer!
referência!a!algo”!dizia!respeito!a!algo!estritamente!linguístico:!a!
relação! entre! palavras! isoladas! e! referentes! do! mundo! real!
prontos!para!serem!etiquetados!e!manipulados!de!modo!rígido.!!
!! Posteriormente,! alguns! estudiosos,! como! Mondada,!
Apothéloz! &! Reicher:Béguelin! e! Koch,! voltaram:se! para! a!
necessidade! de! considerar! uma! perspectiva! sociocognitiva! e!
interacionista! no! que! diz! respeito! à! referência,! entendendo! que!
referentes! são! construtos! culturais! presentes! na! cena! de!
enunciação,! que! podem! ser! transformados! dentro! da! situação!
comunicativa.! De! acordo! com! essa! concepção,! as! formas!
linguísticas! selecionadas! devem! ser! avaliadas! segundo! a!
adequação!aos!propósitos!e!às!ações!em!curso!dos!enunciadores,!
que!compartilham!a!mesma!sociedade,!isto!é,!trata!a!língua!como!
50 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
uma! negociação! entre! indivíduos! e! exclui! uma! possibilidade! de!
mundo! excessivamente! estabelecido! e! delimitado,! “pronto! para!
receber!uma!etiqueta!lexical!incontestável!e!válida!para!todos!os!
sujeitos”!(CORTEZ,!2003,!p.!24).!
Por!conta!disso,!os!referentes!são!considerados!objetos!de!
discurso!e!não!apenas!objetos!do!mundo!(MONDADA!e!DUBOIS,!
1995);!são!“representações!semióticas!instáveis!(constantemente!
reformuláveis)! e! não! entidades! da! realidade! preexistentes! à!
interação”!(CAVALCANTE!et(alii,!2010,!p.!233).!Eles!são!dinâmicos!
e,! assim,! uma! vez! introduzidos,! podem! ser! modificados,!
desativados,! reativados,! transformados! ou! recategorizados.! Por!
esta! via,! constroem:se! ou! reconstroem:se! os! sentidos! do! texto.!
Isso! faz,! então,! com! que! entendamos! a! referenciação! como! um!
“processo! em! permanente! reelaboração,! que,! embora! opere!
cognitivamente,! é! indiciado! por! pistas! linguísticas! e! completado!
por!inferências!várias”!(CAVALCANTE!et(alii,!2010,!p.!234).!!
Os! processos! referenciais! se! dividem! em! duas!
possibilidades:! (i)! introdução( referencial,! quando! entidades! são!
introduzidas! no! texto! pela! primeira! vez;! e! (ii)! ! anáforas,! que!
supõem! “uma! retomada! ou! continuidade! referencial! de! uma!
entidade! qualquer! já! introduzida! no! texto,! não! importa! de! que!
maneira”! (CAVALCANTE! et( alii,! 2010,! p.! 237).! É! importante!
51 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
ressaltar! que,! para! que! haja! uma! anáfora,! é! necessário! que! as!
expressões! referenciais! anafóricas! estejam! ancoradas! em! pistas!
do! cotexto,! que! podem! apontar! para! trás! (remissões(
retrospectivas),!ou!para!frente!(remissões(catafóricas).!!
A! progressão! referencial! pode! se! efetivar! através! das!
estratégias!de!correferencialidade,!quando!um!objeto!de!discurso!
é! completamente! recuperado! pelo! termo! anafórico! ou! “pela!
menção! de! expressões! que,! embora! não! representem! o! mesmo!
referente!citado,!estão!de!algum!modo!ligadas!a!outras!âncoras!
linguísticas! do! cotexto! e! operam! uma! espécie! de! referência!
indireta,!que!nem!por!isso!deixa!de!ser!anafórica”!(CAVALCANTE,!
2011,!p.!36).!!
Assim,! a! anáfora! direta! distingue:se! da! anáfora! indireta!
pelo!fato!de!que,!na!primeira,!há!a!retomada!do!mesmo!objeto!
de!discurso!(recategorizado!ou!não)!e,!na!segunda,!não!acontece!
essa!retomada.!Ou!seja,!é!a!presença!ou!a!ausência!da!estratégia!
de!correferencialidade!que!vai!determinar!um!ou!outro!processo,!
respectivamente!(CAVALCANTE!et(alii,(2010)1.!!

1
! Ressaltamos! que! decidimos! por! adotar,! neste! trabalho,! a! visão! mais! atual!
sobre!a!distinção!entre!anáforas(diretas!e!anáforas(indiretas!(CAVALCANTE!et(
alii.,!2010;!CAVALCANTE,!2011).!!
52 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
Como! síntese! do! que! foi! dito,! faremos! uso! do! quadro! de!
Cavalcante! (2011,! p.! 38),! em! relação! aos! processos! referenciais!
atrelados!à!menção:!
!
Processos!referenciais!atrelados!à!menção!
Introdução! Anáfora!(continuidade!referencial)!
Referencial! !
! Anáforas! !!!Anáforas!indiretas!!
Diretas!(Correferenciais)! !!!(Não!correferenciais)!

!
Finalmente,! a! manutenção! dos! objetos! de! discurso! pode!
realizar:se! através! de! recursos! de! ordem! gramatical! (pronomes,!
elipses,! numerais,! advérbios! locativos,! etc.)! ou! de! ordem! lexical!
(reiteração! de! itens! lexicais,! sinônimos,! hiperônimos,! nomes!
genéricos,! expressões! nominais,! etc.),! que! evidenciam! as!
escolhas!do!sujeito:enunciador!no!seu!querer:dizer.!!
!
!
3. ASPECTOS METODOLÓGICOS DA
PESQUISA
!
!! O! corpus! sob! análise! constitui:se! de! textos! do! ramo!
midiático,! pertencentes! aos! gêneros! notícia,! artigo! de! opinião,!
editorial! e! reportagem.! Esses! textos! encontram:se! em! duas!
53 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
coleções,! da! Editora! Ática,! de! livros! didáticos! para! o! Ensino!
Fundamental!(sexto!a!nono!anos),!aprovadas!pelo!PNLD:EF:2011:!
a! coleção! Viva( Português,! escrita! por! Elizabeth! Campos,! Paula!
Cardoso! e! Sílvia! de! Andrade,! e! a! coleção! Tudo( é! Linguagem,!
escrita! por! Ana! Borgatto,! Terezinha! Bertin! e! Vera! Marchezi.! Em!
ambas!as!coleções,!avaliamos!também!o!livro!do!professor.!Dessa!
forma,!temos!um!total!de!oito!livros!e,!nesses!livros,!70!textos!e!
387! exercícios! foram! analisados.! É! importante! destacar! que!
apenas!contabilizamos!os!textos!a!partir!dos!quais!foram!criados!
exercícios!de!análise!linguística!e/ou!textual.!Ou!seja,!textos!que!
serviram!unicamente!para!exemplificar!determinado!conceito!ou!
como! ilustração! não! foram! contabilizados! neste! trabalho,! uma!
vez! que! nosso! objetivo! era! justamente! analisar! os! exercícios!
propostos!pelos!LDP.!
!! A!partir!do!levantamento!desse!corpus,!buscamos!verificar!
se!o!tema!referenciação!é!abordado!em!atividades!relacionadas!a!
esses! textos! e,! em! caso! positivo,! como! essa! abordagem! é!
realizada! pelos! livros! didáticos.! A! nossa! escolha! pelo! que! seria!
um! exercício! de! referenciação! deu:se! com! base! na! proposta!
teórica! adotada! nessa! pesquisa! e! apresentada! no! item! anterior!
deste!artigo!e!não!conforme!o!que!é!apresentado!pelos!LDP.!
54 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
Neste!trabalho!há,!desse!modo,!o!desenvolvimento!de!duas!
etapas,! a! saber:! (i)! uma! análise! quantitativa! para! mostrar! as!
ocorrências! das! atividades! com! referenciação! em! relação! ao!
número! total! de! exercícios! dos! textos;! e! (ii)! uma! análise!
qualitativa,! de! cunho! analítico:descritivo,! buscando! observar! a!
qualidade! das! atividades! encontradas,! no! que! tange! à!
contribuição!para!uma!leitura!mais!produtiva!por!parte!do!aluno,!
principalmente! em! relação! às! escolhas! lexicais! reveladoras! de!
intencionalidade!do!autor!do!texto.!!
!

4. RESULTADOS

4.1.1 Coleção Viva Português


!
!
Na! coleção! de! LDP! Viva( Português,! no! livro! do! sexto! ano,!
encontramos! três! reportagens.! Em! uma! delas,! “Festas! e!
brincadeiras!no!Xingu”,!da!Folha(de(S.(Paulo,!sobre!curiosidades!
indígenas,!o!livro!propõe!uma!atividade!mencionando!o!processo!
de!referenciação!ao!tratar!rapidamente!o!estudo!dos!sinônimos.!
Porém,! induz! o! aluno! a! pensar! que! a! repetição! de! palavras! é!
obrigatoriamente! ruim! e!que,!por!isso,! devemos!usar!sinônimos!
55 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
para! evitá:la,! como! pode! ser! visto! no! exercício! em! questão,!
extraído!do!LDP:!
! !
Para!garantir!a!relação!entre!as!partes!de!um!texto,!é!comum!o!autor!retomar!
informações!já!dadas.!Nessas!retomadas,!os!substantivos!são!muito!úteis,!pois!
podemos! trocar! um! substantivo! por! outro! de! sentido! parecido! (sinônimo)! e,!
assim,!evitar!a!repetição!de!palavras.!
Exercite!esse!recurso!reescrevendo!os!trechos!abaixo!no!caderno.!Substitua!os!
termos! destacados! por! outros! de! significado! semelhante! evitando! repetir!
palavras!já!empregadas.!
a) “Entre!as!crianças!camaiurás!são!muito!comuns!as!brincadeiras:!além!de!
imitar! a! dança! e! o! canto! dos! adultos,! as! crianças! do! sexo! masculino!
brincam! de! bicicleta! e! de! atirar! flechas.! As! crianças! do! sexo! feminino!
contaram!que!gostam!de!brincar!de!catiguá!(boneca)!e!mostraram!como!
fazem! uma! boneca! com! flores! do! pequizeiro! enfiadas! num! graveto”! .!
(Adaptado!de!Folha(de(S.(Paulo,!19/7/2003)!R:!os!meninos,!as!meninas.!
b) “Depois! de! flechar! a! boneca! e! de! dançar! em! grupo,! cada! índio! de! uma!
aldeia!tenta!acertar!sua!flecha!num!adversário!da!outra!aldeia”.!(Idem)!R:!
tribo/!povoação.!

!
!! Além! disso,! essa! atividade! se! mostra! mecânica! para! o!
aluno!e!em!nada!contribui!para!a!leitura!do!gênero!em!questão,!
podendo! ser! feita! com! qualquer! outro! texto,! de! qualquer! outro!
gênero,! pois! não! gera! a! reflexão! por! parte! do! estudante.! As!
outras! duas! reportagens! encontradas! não! mencionam! aspectos!
referenciais! em! suas! questões! de! interpretação! e,! além! disso,!
neste! livro,! não! há! nenhuma! ocorrência! dos! outros! gêneros!
midiáticos!pesquisados!(editorial,!notícia!e!artigo!de!opinião).!
56 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
!! No!livro!do!sétimo!ano,!há!um!total!de!seis!reportagens!e!
quatro! notícias,! porém! não! há! ocorrência! de! atividades! com! a!
referenciação! envolvendo! esses! textos.! Também! não!
encontramos! editoriais! nem! artigos! de! opinião.! Por! sua! vez,! no!
livro!do!oitavo!ano,!dentre!os!quatro!gêneros!aqui!analisados,!há!
apenas!uma!notícia,!que!também!não!traz!menção!às!estratégias!
referenciais!em!seus!exercícios.!!
!! Por! fim,! no! livro! do! nono! ano,! há! seis! reportagens,! uma!
notícia,!seis!artigos!de!opinião!e!nenhum!editorial.!Em!relação!a!
um!desses!artigos!(“A!epidemia!da!beleza”,!da!Folha(de(S.(Paulo),!
há! uma! atividade! que! busca! fazer! com! que! o! aluno! saiba!
identificar!expressões!nominais!que!recuperem!um!referente!no!
texto! (no! caso,! “crianças! e! adolescentes”).! Novamente,! o!
exercício! é! automático,! como! pode! se! observar! abaixo,!
restringindo:se!a!um!trabalho!de!localização!para!o!aluno,!em!vez!
de!enfatizar!a!diferença!entre!usar!“crianças!e!adolescentes”!e!os!
outros!referentes!sugeridos!pelo!gabarito.!
!
Os! seis! primeiros! parágrafos! apresentam! as! informações! que! motivaram! a!
composição!do!artigo.!!
O!primeiro!parágrafo!apresenta!as!pessoas!de!quem!se!fala!no!texto:!crianças!
e! adolescentes.! Observe! que! o! artigo! tratará! desse! grupo! e,! para! confirmar!
essa! informação,! basta! buscar! nos! cinco! parágrafos! seguintes! as! outras!
expressões!usadas!para!referir:se!a!ele.!Identifique:as.!!
57 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
R:!jovens!brasileiros,!parte!expressiva!de!uma!geração,!atual!geração.!!

!
! Na! tabela! abaixo,! esses! resultados! podem! ser! observados! de!
forma!mais!clara:!!
!

Total!de!
Total!de! Total!de!
GÊNERO!TEXTUAL! exercícios!sobre!
textos! exercícios!
referenciação!
Artigo!de!opinião!! 06! 21! 1!
Editorial! :! :! :!
Notícia! 06! 12! 0!
Reportagem! 15! 80! 1!
TOTAL! 27! 113! 2!
!
Tabela! 1:! análise! quantitativa! dos! exercícios! de! análise! dos! textos!
midiáticos!na!coleção!Viva(Português.(
!
!
4.2 Coleção Tudo é Linguagem

Na! segunda! coleção! analisada,! Tudo( é( linguagem,! a!


quantidade! de! exercícios! sobre! referenciação! foi! mais!
significativa.! Ao! mesmo! tempo,! porém,! essa! coleção! apresenta!
um!número!bem!maior!de!textos!para!análise!e!de!exercícios.!Na!
tabela!a!seguir,!esses!números!ficam!mais!evidentes:!!
!
Total!de! Total!de! Total!de!
GÊNERO!TEXTUAL!
textos! exercícios! exercícios!sobre!
58 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
referenciação!
Artigo!de!opinião!! 11! 88! 2!
Editorial! 02! 25! 0!
Notícia! 17! 71! 1!
Reportagem! 13! 90! 4!
TOTAL! 43! 274! 7!
!
Tabela! 2:! análise! quantitativa! dos! exercícios! de! análise! dos! textos!
midiáticos!na!coleção!Tudo(é(linguagem.(
!
Artigos! de! opinião,! notícias! e! reportagens! aparecem! nos!
quatro! livros! da! coleção;! o! editorial! só! é! encontrado! no! do! 9º!
ano.!!
No!livro!do!6º!ano,!a!partir!de!uma!reportagem!da!revista!
Quatro( Rodas,! “Parque! Nacional! Marinho! de! Abrolhos! –!
Caravelas”,! o! aluno! é! convidado! a! perceber! que! a! expansão! de!
um! sintagma! nominal! por! meio! da! utilização! de! adjetivos! pode!
determinar! a! intenção! do! autor! do! texto.! Temos,! assim,! um!
exercício! de! construção! do! referente! associado! à!
intencionalidade:!
!
Se! você! fosse! convidado! para! produzir! um! folheto! que! tivesse! o! objetivo! de!
encantar! turistas! e! convencê:los! a! visitar! Abrolhos,! as! qualidades! do! lugar!
poderiam!ser!ampliadas!por!meio!de!mais!adjetivos!e!locuções!adjetivas.!!
59 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
Por! exemplo,! a! expressão:! “...! área! cheia! de! recifes! de! coral...”! poderia! ficar!
assim:!...!área!cheia!de!deslumbrantes!e!coloridos!recifes!de!coral...!ou!então!...!
área!cheia!de!recifes!de!coral!de(cores(intensas...(
No! trecho! a! seguir,! estão! presentes! substantivos! que! nomeiam! os! pontos!
principais! de! Abrolhos.! Cabe! a! você! ampliar! as! frases,! enriquecendo:as! com!
adjetivos!e!locuções!adjetivas!para!encantar!o!leitor!e!convencê:lo!a!visitar!o!
local:!
Conheça!Abrolhos,!um!parque!nacional!marinho,!onde!há!ilhas,(fauna(marinha!
e!aves.!Há!ainda!passeios!em!águas!claras.!

!
O!exercício!em!questão,!no!entanto,!apresenta!problemas.!
Primeiro,!ao!mostrar!para!o!aluno!que!os!adjetivos!modificam!o!
referente! e,! por! isso,! manifestam! uma! intencionalidade,! os!
autores!sugerem!que!se!mude!o!gênero!textual:!não!se!trata!mais!
de! uma! reportagem,! mas! sim! de! “um! folheto! que! tivesse! o!
objetivo! de! encantar! turistas”.! Ou! seja,! reafirma:se,!
indiretamente,! a! falsa! ideia! de! que! uma! reportagem! não!
manifesta! a! intencionalidade! de! seu! autor.! Além! disso,! a! frase!
que!deverá!ser!modificada!pelos!alunos!é!uma!frase!solta,!criada!
unicamente!para!o!exercício.!Desse!modo,!o!texto!base!é!deixado!
de!lado!na!continuidade!do!exercício.!
No! segundo! livro! da! coleção,! do! 7º! ano,! ao! abordar! o!
conceito! de! “sujeito! oculto”,! pede:se! que! o! aluno! perceba! que!
esse! tipo! de! sujeito! evita! repetições! excessivas! no! texto.! No!
60 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
mesmo!capítulo,!em!outro!exercício,!o!autor!aborda!novamente!
a!questão!da!repetição!a!partir!da!reportagem!da!Revista!Isto(é,!
intitulada!“Sapo:boi”:!
!
No! trecho! sobre! o! sapo:boi,! as! repetições! foram! evitadas! por! meio! de! três!
recursos:!
• Sujeito!oculto;!
• Expressão!sinônima!ou!equivalente;!
• Pronome.!
Transcreva:!
a) As!expressões!sinônimas!ou!equivalentes!que!substituem!“sapo:boi”;!
R:!“esse!réptil”;!“o!bicho”.!
b) O!pronome!utilizado!para!evitar!a!repetição.!
R:!“ele”.!

!
Da! mesma! forma! que! observamos! na! coleção! Viva(
Português,!essa!atividade!mostra:se!mecânica!para!o!aluno!e!não!
contribui! para! a! leitura! do! gênero! em! questão,! pois! poderia! ser!
feita! com! qualquer! outro! texto,! de! qualquer! outro! gênero.! Da!
mesma! forma,! reforça:se! a! ideia! de! que! as! repetições! em! um!
texto!não!são!legítimas!e!devem!ser!evitadas.!!
O! livro! do! 8º! ano! traz! apenas! um! exercício! de!
referenciação:!após!a!leitura!do!artigo!de!opinião!“Insegurança”,!
publicado! na! Publifolha,! pede:se! que! o! aluno! identifique! a!
expressão! que,! na! continuidade! do! texto,! pode! ser! considerada!
61 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
equivalente! à! palavra! que! dá! título! ao! texto,! “insegurança”.!
Desse!modo,!o!aluno!deve!perceber!que!o!referente!“segurança!
perdida”! retoma! o! objeto! de! discurso! “insegurança”.! Temos,!
mais! uma! vez,! um! exercício! mecânico! sobre! um! texto! que! trata!
do! tema! da! adolescência! de! maneira! crítica.! Ao! retomar!
“insegurança”!por!“segurança!perdida”,!evidenciando,!ainda,!que!
essa! “segurança! perdida”! relaciona:se! ao! adolescente,! o! autor!
evidencia!uma!clara!oposição!entre!a!criança!e!o!adolescente.!Se!
a!segurança!deste!foi!perdida,!significa!que,!no!passado,!em!sua!
época! de! criança,! ele! a! tinha.! Quantas! discussões,! então,!
poderiam!surgir!a!partir!dessa!constatação,!que!tem!como!base!a!
retomada!de!um!referente?!
Por! último,! o! livro! do! 9º! ano! apresenta,! no! capítulo! sobre!
editorial,!uma!longa!discussão!sobre!os!“mecanismos!de!coesão”,!
termo! introduzido! no! livro! do! 8º! ano,! a! partir! da! análise! de! um!
texto! narrativo.! No! entanto,! nessas! duas! situações,! a! coleção!
entende!por!“mecanismos!de!coesão”!o!uso!de!conectivos,!o!que!
não! nos! interessa! nesse! trabalho,! pois! não! se! configura! como!
estratégia! de! referenciação.! Algumas! páginas! mais! à! frente,! o!
livro!do!9º!ano!faz!menção!ao!uso!de!pronomes!como!estratégia!
de! coesão! textual,! utilizando,! desse! modo,! novamente! o! termo!
“coesão”.! Aqui,! no! entanto,! os! textos! analisados! são! crônicas,!
62 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
tirinhas,! letras! de! música! e! poemas,! ou! seja,! gêneros! não!
midiáticos! e! que,! portanto,! não! são! objeto! de! análise! desta!
pesquisa.!!
Neste! mesmo! livro,! a! partir! do! texto! “A! mãe! de! todas! as!
guerras”,! reportagem! publicada! na! revista! Superinteressante,! os!
autores! propõem! o! seguinte! exercício,! que! se! encontra! no!
capítulo!sobre!a!coerência!textual:!
!
No! texto,! o! autor,! depois! de! informar! o! que! é! o! “engenho! conhecido! como!
trebuchet”,! retoma! essa! expressão! por! meio! de! outros! termos,! que!
acrescentam! características! à! sua! descrição! da! máquina:! “o! monstro”! e! “o!
colosso”.!
O! emprego! dos! termos! monstro! e! colosso! é! coerente! com! a! opinião! que! o!
autor!expressou!no!olho!da!reportagem:!“...!as!máquinas!–!e!não!o!homem!–!é!
que! decidiam! as! batalhas”.! Que! relação! existe! entre! esses! termos! e! a!
afirmação!do!seu!autor?!
Sugestão! de! resposta:! pelo! emprego! dos! termos! “monstro”! e! “colosso”,! o!
autor! enfatiza! o! poder! da! máquina,! reforçando! sua! opinião! de! que! o! que!
decide!as!batalhas!são!as!máquinas!e!não!a!força!humana.!!!
!
Conforme! percebemos,! trata:se! de! um! exercício! que!
associa!referenciação!e!intencionalidade!(ou!argumentatividade),!
na! análise! de! uma! reportagem,! mostrando,! assim,! que! também!
nesse!gênero!o!jornalista!manifesta,!no!texto,!sua!posição.!Além!
disso,! por! esse! exercício! estar! situado! no! capítulo! referente! à!
coerência! textual,! entende:se! que! coesão! e! coerência! não! são!
categorias!distintas,!mas!uma!está!intrinsecamente!relacionada!à!
63 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
outra.! Seria! interessante! que! o! exercício! explicitasse! essa! ideia,!
uma! vez! que! ele! é! direcionado! a! alunos! do! 9º! ano! que! já! têm!
maturidade!para!compreender!essa!relação.!

4.3 Aprofundando um pouco mais a


análise
!
Ao observarmos as duas coleções em conjunto, chegamos,
então, ao seguinte resultado para a quantidade – e porcentagem –
de exercícios sobre referenciação a partir de textos midiáticos nas
duas coleções analisadas:

Total!de! Percentual!de!
Total!de!
COLEÇÃO! exercícios!sobre! exercícios!sobre!
exercícios!
referenciação! referenciação!
Viva(Português( 113! 2! 1,8%!
Tudo(é(Linguagem(( 274! 7! 2,6%!
TOTAL! 387! 9! 2,3%!

Tabela! 3:! análise! quantitativa! dos! exercícios! de! referenciação! a! partir!


de!textos!midiáticos!nas!coleções!Viva(Português!e!Tudo(é(linguagem.(

Confirmando!nossa!hipótese,!percebe:se!que!a!quantidade!
de!exercícios!sobre!referenciação!ainda!é!bem!pequena!nos!LDP,!
correspondendo! a! apenas! 2,3%! do! total! de! exercícios! dos! oito!
livros!das!duas!coleções!analisadas.!!
64 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
Olhando! mais! detidamente! para! cada! um! dos! nove!
exercícios! encontrados! nas! coleções! Viva( Português( e! Tudo( é(
linguagem,! podemos! dividi:los! em! categorias:! (i)! exercícios! que!
visam!à!eliminação!da!repetição!no!texto,!seja!solicitando!que!o!
aluno! reescreva! um! trecho! eliminando! as! repetições,! seja!
pedindo!que!o!aluno!identifique!a!estratégia!ou!o!termo!utilizado!
para! evitar! uma! repetição;! (ii)! exercícios! que! relacionam!
referenciação! e! intencionalidade! (cf.! exercícios! transcritos! e!
comentados!na!seção!anterior);!e!(iii)!exercícios!que!pedem!que!
o!aluno!identifique!o!referente!que!foi!retomado!ou!que!retoma!
determinada! expressão.! Na! tabela! a! seguir,! observamos,! em!
números,!como!ocorre!a!divisão!dos!exercícios!nas!coleções!Viva(
Português(e!Tudo(é(linguagem:!
!
!
!
!
!
Coleção!! Coleção!!
Tipo!de!Exercício! TOTAL!
Viva!Português! Tudo!é!linguagem!
Eliminação!da! 5!
repetição!em!um! 1! 4!
texto!
Referenciação!e! 0! 2! 2!
65 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
intencionalidade!
Recuperação!do! 2!
1! 1!
referente!!

Tabela! 4:! tipos! de! exercício! de! referenciação! nas! coleções! Viva(
Português!e!Tudo(é(linguagem.(
(
A! distribuição! desses! exercícios! pelas! duas! coleções! em!
conjunto!ocorre,!então,!da!seguinte!maneira:!

Percentual!dos!Xpos!de!exercício!de!
referenciação!nas!coleções!analisadas!

Eliminação*da*
22%! repetição*
Intencionalidade*
56%!
22%!
Recuperação*do*
referente**

Gráfico! 1:! ! percentual! dos! tipos! de! exercício! de! referenciação! a! partir!
de! textos! midiáticos! das! coleções! Viva( Português! e! Tudo( é( linguagem!
em!conjunto.(
Desse! modo,! a! partir! de! uma! análise! mais! detalhada,!
percebemos! que! 78%! dos! exercícios! encontrados! que! tratam,!
indiretamente,! da! referenciação! correspondem! a! atividades!
sobre!a!eliminação!de!uma!repetição!ou!sobre!a!recuperação!de!
66 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
um! referente,! exercícios! que,! da! forma! como! foram! propostos,!
mostraram:se!sempre!muito!mecânicos,!não!exigindo!reflexão!do!
estudante.! Não! se! pede,! por! exemplo,! que! o! aluno! perceba! o!
efeito! de! sentido! que! uma! repetição! pode! dar! ao! texto.!
Repetições! podem! ser! legítimas! e! têm! um! importante! papel! na!
construção! do! sentido! do! texto.! Da! mesma! forma,! os! exercícios!
de!recuperação!de!um!referente!restringem:se!a!um!trabalho!de!
localização!para!o!aluno,!que!não!é!levado!a!perceber!a!diferença!
entre! usar! um! ou! outro! referente! ou! ainda! que,! ao! escolher!
determinado!referente,!o!autor!opta!por!um!vocábulo!específico!
dentro! de! um! grupo! de! outras! palavras! também! possíveis! para!
aquele! contexto.! Essa! escolha,! claramente,! é! condicionada! pela!
sua!intenção!ao!produzir!aquele!texto.!
Além! disso,! conforme! exposto! na! seção! anterior,! dos! dois!
exercícios! que! associam,! indiretamente,! referenciação! e!
intencionalidade,!apenas!um!configura:se!verdadeiramente!como!
um! exercício! de! análise! textual! voltado! para! formar! um! aluno!
capaz!de!ler!criticamente!um!texto.!O!exercício!do!livro!do!6º!ano!
da!coleção!Tudo(é(linguagem,!como!vimos,!acaba!por!desvincular!
o! exercício! sobre! a! intencionalidade! do! texto! que! estava! sendo!
analisado.!!
67 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
Desse! modo,! tanto! quantitativamente! quanto!
qualitativamente! a! abordagem! das! estratégias! de! referenciação!
pelos!LDP!ainda!deixa!muito!a!desejar,!principalmente!no!que!diz!
respeito! a! sua! relação! com! a! intencionalidade,! tema! tão!
importante! para! exercitar! a! reflexão! e! o! pensamento! crítico! do!
estudante.! Assim,! na! seção! que! se! segue,! propomos! algumas!
atividades! de! análise! textual! envolvendo! os! conceitos! de!
referenciação! e! intencionalidade,! a! título! de! exemplificação! do!
que!comentamos!até!aqui.!(
(
5. PROPOSTA DE ATIVIDADES
!
A! atividade! a! seguir! foi! proposta! com! base! em! trechos! de!
dois! editoriais! presentes! no! livro! do! 9º! ano! da! coleção! Tudo( é(
linguagem,!ambos!retirados!do!jornal!Folha(de(São(Paulo.!Como!
nosso! intuito! era! mostrar! alguns! exemplos! de! exercícios! que!
podem!ser!propostos!sobre!referenciação!e,!também,!sobre!sua!
relação!com!a!intencionalidade,!transcrevemos,!aqui,!apenas!um!
pequeno! trecho! de! cada! editorial.! Os! textos! na! íntegra!
encontram:se!no!Anexo.!!
!
EDITORIAL!1!–!CONTRA!AS!ARMAS!(fragmento)!
68 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
“O!veto!às!armas!pode!ser!interpretado!como!uma!limitação!ao!
direito! de! autodefesa,! o! qual,! mais! do! que! garantia! legal,! é! um!
instinto! biológico.! Está! entre! as! atribuições! do! Estado,! todavia,!
definir! regras! para! o! exercício! de! certas! atividades! e! fixar! os!
requisitos!para!a!concessão!de!licenças.!Ninguém!tem!seu!direito!
de!ir!e!vir!ameaçado!pelo!fato!de!não!poder!dirigir!um!carro!sem!
possuir! habilitação.! E! não! resta! dúvida! de! que! a! decisão,! entre!
nós,!está!sendo!tomada!por!caminhos!democráticos.”!
!
EDITORIAL!2!–!NÃO!BASTA!VETAR!ARMAS!(fragmento)!
“Ao! que! indicam! algumas! pesquisas,! o! referendo! sobre! a! venda!
de! armas! de! fogo,! previsto! para! outubro,! resultará! na! proibição!
desse!tipo!de!comércio.!A!restrição!–!alardeada!por!alguns!como!
uma! panaceia! contra! a! violência! –! precisa! ser! considerada! com!
cautela,!para!não!alimentar!mais!ilusões.!
! É! isto! que! indica! a! reportagem! publicada! segunda:feira!
por!esta!Folha.![...]”!
!
!
EXERCÍCIOS!
1) Os! editoriais! 1! e! 2! apresentam! opiniões! opostas! sobre! a!
proibição!do!comércio!de!armas!de!fogo!no!Brasil.!O!primeiro!
69 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
é! a! favor! e! o! segundo,! contra.! Sendo! assim,! COMPARE! as!
expressões:! “veto! às! armas”! e! “proibição! desse! tipo! de!
comércio”.! De! que! modo! as! expressões! transcritas!
anteriormente! evidenciam! os! diferentes! pontos! de! vista! dos!
autores!dos!editoriais!1!e!2?!

R:! O! autor! que! é! a! favor! da! proibição,! mostra! que! as! “armas”!
serão!vetadas.!Ou!seja,!algo!ruim,!que!é!responsável!pela!morte!
de!muitas!pessoas!inocentes.!Já!o!autor!que!é!contra!a!proibição,!
fala! que! “esse! tipo! de! comércio”! será! proibido,! ou! seja,! uma!
expressão!bem!mais!leve!e!suave!do!que!“armas”.!“Esse!tipo!de!
comércio”! sugere! que! se! trata! apenas! de! mais! um! tipo! de!
comércio,!como!outro!qualquer.!
!
2) Ainda! a! partir! das! expressões! “veto! às! armas”! e! “proibição!
desse!tipo!de!comércio”,!faça!o!que!se!pede.!

a) IDENTIFIQUE! as! expressões! que,! na! continuidade! dos!


fragmentos,!retomam!“veto!às!armas”!e!“proibição!desse!
tipo!de!comércio”,!respectivamente.!
R:!“Decisão”!e!“restrição”.!!
!

b) Por! que! a! oposição! entre! as! duas! opiniões! é! reforçada!


através!das!escolhas!lexicais!dos!autores!ao!se!referirem!a!
esse! fato! pelas! expressões! transcritas! por! você! no! item!
anterior?!
R:! “Decisão”! é! um! termo! mais! neutro! que! não! tem,!
necessariamente,! uma! carga! semântica! negativa! ou! positiva.! Já!
70 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
“restrição”!significa!“proibição”,!“falta”,!o!que!dá!a!ideia!de!algo!
ruim.!
!
3) O!autor!do!texto!2,!no!comentário!entre!os!travessões,!refere:
se!à!“proibição!desse!tipo!de!comércio”!como!“uma!panaceia!
contra!a!violência”.!!

a) PROCURE! no! dicionário! um! significado! para! “panaceia”,!


adequado!ao!contexto.!
R:! O! aluno! deverá! escolher! a! opção! do! dicionário! que! define!
panaceia! como! sendo! uma! espécie! de! remédio,! de! solução!
milagrosa!para!todos!os!males.!!
!

b) Que! posição! é! reforçada! por! meio! dessa! escolha! do!


autor?!Justifique!sua!resposta.!
R:!Uma!solução!milagrosa!para!todos!os!males!não!é!algo!sério,!
confiável.! Logo,! reafirma:se! a! ideia! de! que! a! proibição! do!
comércio!de!armas!não!resolverá,!verdadeiramente,!o!problema!
na!violência!no!país.!!
!
4) No! texto! 2,! o! pronome! “isto”! retoma! não! apenas! uma!
expressão,! mas! toda! uma! ideia! presente! no! parágrafo!
anterior.!!

a) IDENTIFIQUE!a!ideia!que!é!retomada!por!este!pronome.!!
R:!A!ideia!de!que!“o!referendo!sobre!a!venda!de!armas!de!fogo,!
previsto! para! outubro,! resultará! na! proibição! desse! tipo! de!
comércio”.!!
71 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
!

b) Se! a! opinião! do! autor! do! texto! 2! ! fosse! outra,! por! que!
outra!expressão!ele!poderia!substituir!o!pronome!“isto”?!
Você!poderá!reescrever!toda!a!frase!para!melhor!adequá:
la!à!expressão!escolhida.!
Sugestão! de! Resposta:! A! reportagem! publicada! segunda:feira!
por!esta!Folha!indica!esta!vitória.!!!!
!
!
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
!
Segundo!os!Parâmetros!Curriculares!Nacionais:!!
!
Toda! educação! comprometida! com! o! exercício! da!
cidadania!precisa!criar!condições!para!que!o!aluno!
possa!desenvolver!sua!competência!discursiva.![...]!
A! área! Linguagens,! Códigos! e! suas! Tecnologias!
objetiva! ampliar! a! competência! do! educando,!
permitindo:lhe,! entre! outros! aspectos:! analisar,!
interpretar! e! aplicar! os! recursos! expressivos! das!
linguagens![...](BRASIL:!98:99;![grifos!nossos]).!!
!
Além! disso,! postula:se! que! o! ensino! de! língua! portuguesa,!
no! intuito! de! desenvolver! a! competência! discursiva! do! aluno,!
deve! se! pautar! em! três! grandes! pilares:! a! análise! linguística,! a!
prática!da!leitura!e!a!prática!da!produção!de!textos.!!
Desse! modo,! justifica:se,! mais! uma! vez,! a! relevância! do!
estudo!das!estratégias!de!referenciação!no!Ensino!Fundamental.!
72 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
A! observação! dessas! estratégias! parte! da! análise! do! material!
linguístico!do!texto,!uma!vez!que!o!estudante!precisa!identificar!
os! referentes! introduzidos! e! retomados! nele,! compreendendo! a!
cadeia!referencial!formada!naquele!texto!a!ser!analisado.!A!partir!
da! observação! desses! referentes,! o! aluno! recupera! sentidos! do!
texto! e! compreende! a! sua! progressão.! Além! disso,! a! cadeia!
referencial! determina! a! orientação! argumentativa! proposta! no!
texto.! Percebendo! isso,! a! leitura! do! aluno! passa! a! um! estágio!
mais! reflexivo! e! crítico.! Por! fim,! ao! entender! que! as! escolhas!
lexicais! e! a! construção! dos! referentes! podem! marcar! uma!
intencionalidade,! sua! prática! de! produção! textual! também!
poderá!apresentar!mais!argumentatividade!e!coerência.!
Assim,!apesar!da!indiscutível!importância!da!referenciação!
para!o!ensino!de!língua!portuguesa!(cf.!SANTOS!E!TUPPER,!2011),!
ainda! há! pouco! material! sobre! o! tema! disponível! para! o! Ensino!
Fundamental.!Como!vimos!neste!trabalho,!mesmo!em!LDP!mais!
modernos!e!atualizados,!não!encontramos!de!forma!significativa!
exercícios! sobre! as! estratégias! de! referenciação,! principalmente!
em!sua!relação!com!a!intencionalidade.!!
Reafirmamos! que! esses! conceitos,! embora! vastamente!
discutidos! no! meio! acadêmico,! ainda! estão! muito! timidamente!
presentes!na!educação!básica.!Faz:se!urgente,!desse!modo,!levar!
73 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
até!a!sala!de!aula!as!descobertas!do!meio!acadêmico!por!meio!de!
metodologias!e!materiais!didáticos!a!serem!desenvolvidos,!como!
os!exercícios!propostos!neste!artigo.!(
!

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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74 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
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______;!ELIAS,!V.!M.!Ler(e(compreender:(os(sentidos(do(texto.!
São!Paulo:!Contexto,!2006.!!
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NEGRI,! L.;! FOLTRAN,! M.! J.;! OLIVEIRA,! R.! P.! de! (orgs.).! Sentido( e(
significação( em( torno( da( obra( de( Rodolfo( Ilari.! São! Paulo:!
Contexto,!2004.!p.!263!:!298.!
!
______.!Produção(textual,(análise(de(gêneros(e(compreensão.!São!
Paulo:!Parábola,!2008.!
75 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
!
MONDADA,!L.!Gestion!Du!topic!e!organisation!de!la!conversation.!
In(:!Cadernos(de!Estudos(Linguísticos,!2001,!v.41.!p.!7:36.!!
!
______.;! DUBOIS,! D.! Construction! des! objets! de! discours! et!
categorization:!une!approche!des!processus!de!référenciacion.!In:!
BERRENDONNER,! A.!;! REICHLER:BÉGUELIN,! M:J.! (eds).! Du(
syntagme( nominal( aux( objetsJdeJdiscours.! SN! complexes,!
nominalization,! anaphors.! Neuchâtel:! Institut! de! Linguistique! de!
l’Université!de!Neuchâtel,!1995.!p.!273:302.!
!
MUSSALIM,!F.!Análise!do!discurso.!In:!MUSSALIM,!F.;!BENTES,!A.!
C.! Introdução( à( Linguística( 2:( domínios( e( fronteiras.! São! Paulo:!
Cortez,!2001.!
!
ORLANDI,! E.! P.! As( formas( do( silêncio:( no( movimento( dos(
sentidos.!6.!ed.!Campinas:!Editora!da!Unicamp,!2007.!
!
PAULIUKONIS,!M.!A.!L.!Ensino!do!léxico:!seleção!e!adequação!ao!
contexto.! In:! ______.;! GAVAZZI,! S.! (orgs.)! Da( língua( ao( discurso:(
reflexões( para( o( ensino.! Rio! de! Janeiro:! Lucerna,! 2005.! p.! 103:
128.!!
!
RABATEL,! Alain.! La! part! de! l’énonciateur! dans! la! construction!
interactionnelle!des!points!de!vue.!Marges(linguistiques!9,!2005,!
p.!115:136.!!
!
SANTOS,! M.! I.! dos.! A! organização! da! argumentação! sob! a!
perspectiva!do!plano!composicional.!In:!CAVALCANTE,!M.;!et(alii.!
Texto( e( discurso( sob( múltiplos( olhares:( gêneros( e( seqüências(
textuais.!Rio!de!Janeiro:!Lucerna,!2007.!
!
76 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
SANTOS,! Leonor! Werneck! dos;! TUPPER,! Letícia.! Abordagem!
textual! nos! livros! didáticos! de! ensino! médio:! referenciação,!
gêneros! e! tipologias! textuais.! In:! Simpósio! Internacional! de!
Gêneros! Textuais! (SIGET),! 4,! Natal,! 2011.! Anais...,! Natal:! UFRN,!
2011.!1!CD:ROM.!
!
SARFATI,! G.! Princípios( da( análise( do( discurso.! São! Paulo:! Ática,!
2010.!
!
TRAVAGLIA,! L.! C.! Gramática( e( interação:! uma( proposta( para( o(
ensino(de(gramática.!10.!ed.!São!Paulo:!Cortez,!2005.!
!

ANEXO

Editorial!“Contra!as!armas”!
!
A! Câmara! dos! Deputados! deve! aprovar! em! breve! o!
projeto!de!decreto!legislativo!que!define!a!pergunta!a!ser!feita!no!
referendo! nacional! sobre! armas.! Se! não! houver! alterações,! os!
eleitores! brasileiros! serão! convocados! em! algum! domingo! de!
outubro!próximo!a!responder!à!pergunta:!"O!comércio!de!armas!
de! fogo! e! munição! deve! ser! proibido! no! Brasil?".! Esta! Folha!
defende!o!"sim".!
Fá:lo! não! por! considerar! a! proscrição! total! o! mais!
adequado! nem! por! julgar! que! a! medida,! se! aprovada! e!
convertida! em! lei,! será! capaz! de! conter! as! ações! cada! vez! mais!
ousadas! de! criminosos,! mas! porque,! diante! das! alternativas,! as!
vantagens!da!proibição!parecem!superar!em!muito!os!problemas!
por!ela!acarretados.!
Ao! longo! do! debate,! defendeu:se! neste! espaço! a!
proibição! do! porte,! restrições! à! venda! e! o! direito! do! cidadão!
manter!arma!em!sua!residência.!Alertou:se,!também,!para!o!risco!
77 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
de! um! plebiscito! criar! falsas! ilusões! sobre! a! eficácia! da! medida!
num!país!em!que!as!armas!em!mãos!de!civis,!cidadãos!de!bem!ou!
marginais,! advêm,! em! larga! escala,! do! comércio! clandestino,!
sobre! o! qual! o! veto! à! venda! regular! não! teria! efeito,! salvo,!
possivelmente,!o!de!estimulá:lo.!
Além! de! sua! dimensão! simbólica,! a! vantagem! da!
proibição,!desde!que!aliada!a!ações!sistemáticas!para!reprimir!a!
venda! ilegal,! está! na! possibilidade! de! reduzir! significativamente!
um! tipo! muito! específico! de! homicídio! :o! motivado! por! causas!
fúteis:,!bem!como!os!acidentes!com!armas!de!fogo.!Esse!ganho,!
ao!que!indicam!as!estatísticas,!seria!importante.!Na!Grande!São!
Paulo,! por! exemplo,! 60%! dos! homicídios! são! cometidos! por!
pessoas!sem!histórico!criminal!e!por!motivos!banais,!como!brigas!
de! trânsito,! discussões! em! bares! e! outras! situações! em! que! o!
destempero! e! os! efeitos! do! álcool! se! associam! à! existência! de!
uma! arma! à! mão! para! produzir! uma! tragédia.!
A! esse! respeito,! a! campanha! de! desarmamento,! que! recolheu!
mais!de!300!mil!artefatos!principalmente!em!São!Paulo!e!no!Rio!
de! Janeiro,! parece! já! estar! produzindo! resultados! auspiciosos.!
Estudo! divulgado! nesta! semana! indica! que! internações!
hospitalares!relacionadas!a!ferimentos!por!tiros!caíram!10,5%!em!
SP!e!7%!no!RJ!desde!o!início!da!coleta.!
O! veto! às! armas! pode! ser! interpretado! como! uma!
limitação! ao! direito! de! autodefesa,! o! qual,! mais! do! que! uma!
garantia! legal,! é! um! instinto! biológico.! Está! entre! as! atribuições!
do! Estado,! todavia,! definir! regras! para! o! exercício! de! certas!
atividades! e! fixar! os! requisitos! para! a! concessão! de! licenças.!
Ninguém! tem! seu! direito! de! ir! e! vir! ameaçado! pelo! fato! de! não!
poder!dirigir!um!carro!sem!possuir!habilitação.!E!não!resta!dúvida!
de! que! a! decisão,! entre! nós,! está! sendo! tomada! por! caminhos!
democráticos.!
Assim,! se! o! plebiscito! determinar! que! o! poder! público! deve!
proibir! a! comercialização! e! circunscrever! o! porte! de! armas! a!
78 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
militares,!policiais!e!algumas!outras!categorias,!não!se!deverá!ver!
aí! um! atentado! aos! direitos! e! garantias! fundamentais,! mas!
apenas! mais! uma! das! clássicas! regulamentações! da! vida! em!
sociedade.!
Tal! decisão! não! vai,! como! já! se! disse,! impedir! que!
traficantes! e! outros! representantes! do! crime! organizado!
consigam!o!armamento!leve!ou!pesado!de!que!se!utilizam.!Para!
isso!seriam!necessárias!outras!medidas,!que!o!poder!público!tem!
falhado!em!adotar.!Diante!do!caminho!que!o!debate!seguiu,!não!
resta!dúvida,!porém,!que!o!melhor!a!fazer!é!votar!pelo!"sim"!no!
plebiscito,! na! convicção! de! que! a! restrição! às! armas,! sem! ferir!
direitos!fundamentais,!venha!a!contribuir!para!preservar!vidas!e!
tornar!melhor!a!sociedade!brasileira.!!
(Folha(de(São(Paulo,!15!de!maio!de!2005,!p.!A2)!
!
!
Editorial!“Não!basta!vetar!armas”!
!
Ao!que!indicam!algumas!pesquisas,!o!referendo!sobre!a!venda!de!
armas! de! fogo,! previsto! para! outubro,! resultará! na! proibição!
desse! tipo! de! comércio.! A! restrição! :alardeada! por! alguns! como!
uma! panacéia! contra! a! violência:! precisa! ser! considerada! com!
cautela,!para!não!alimentar!mais!ilusões.!
É!isto!que!indica!reportagem!publicada!segunda:feira!por!
esta! Folha.! Segundo! especialistas! consultados,! a! proibição! do!
comércio!terá!efeitos!limitados!sobre!a!violência.!Uma!vez!que!a!
maior!parte!do!crime!emprega!armamento!ilegal!(segundo!dados!
oficiais! apenas! 7,5%! das! armas! existentes! no! Brasil! são!
registradas),! o! veto! certamente! não! funcionará! para! refrear! a!
ação! de! criminosos.! Mais! preocupante! ainda,! a! medida! poderá!
ter!o!efeito!funesto!de!estimular!ainda!mais!o!contrabando,!caso!
não! seja! acompanhada! de! ações! eficazes! contra! o! comércio!
clandestino.!
79 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
Se!bem!sucedida,!a!proibição!deverá!ser!eficaz!na!redução!
dos!assassinatos!motivados!pelas!chamadas!"causas!fúteis",!além!
dos! acidentes! com! armamento.! Estima:se! que! mais! da! metade!
dos!homicídios!no!país!seja!cometida!por!motivos!triviais,!como!
discussões! no! trânsito,! desentendimentos! em! bares! e! outras!
desavenças!cotidianas!:sendo!a!maior!parte!deles!levada!a!cabo!
com! armas! de! fogo! de! pequeno! porte.!
Para!obter!resultados!mais!significativos!seria!necessário!integrar!
o!veto!ao!comércio!de!armas!a!um!conjunto!de!políticas!públicas.!
Além!dos!sempre!lembrados!esforços!na!área!social,!com!
ações! comunitárias! e! educativas,! é! indispensável! trabalhar! pelo!
melhor! aparelhamento! e! integração! das! polícias.! É! igualmente!
fundamental! enfrentar! a! terrível! mazela! que! é! a! impunidade.!
Sem! uma! polícia! que! apure! com! eficiência! e! uma! Justiça! que!
puna! com! mais! presteza,! os! progressos! nessa! área! continuarão!
pequenos.!
!
(Folha(de(São(Paulo,!27!de!julho!de!2005,!p.!A2)!
80 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
Um olhar sobre as estratégias de
referenciação nos manuais
didáticos do Ensino Médio
!
SILVA,!Fábio!Gusmão!(UFRJ)!
!
!
!
1. INTRODUÇÃO
!
As! competências! e! habilidades! elencadas! pelos!
Parâmetros!Curriculares!nacionais!para!o!Ensino!Médio!(PCNEM),!
no! que! tange! ao! Ensino! de! Língua! Portuguesa,! buscam!
desenvolver! no! aluno! seu! potencial! crítico,! sua! percepção! das!
múltiplas!possibilidades!de!expressão!linguística!e!sua!capacidade!
como! leitor! efetivo! dos! mais! diversos! gêneros! textuais!
representativos!da!nossa!cultura.!!
Esses! documentos! explicitam! que! o! uso! da! língua,! em!
textos!orais!e!escritos,!deveria!ser!o!eixo!norteador!do!ensino!de!
língua! materna.! Levando! em! conta! esse! preceito,! um! programa!
sério! e! comprometido! com! o! desenvolvimento! das! habilidades!
linguísticas! do! aluno! somente! pode! ser! concebido! se! o! texto!
estiver!no!centro!de!qualquer!prática!de!ensino.!
81 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
De! acordo! com! Antunes! (2009,! p.! 51),! é! fácil! encontrar!
razões! que! fundamentem! a! relevância! dessa! proposta,! já! que!
entender! o! fenômeno! da! linguagem! constitui! uma! tarefa! tanto!
mais! fecunda! quanto! mais! se! pode! compreender! os! diferentes!
processos! implicados! em! seu! funcionamento! concreto,! o! que!
leva,! necessariamente,! ao! domínio! do! texto,! em! seus! múltiplos!
desdobramentos! cognitivos,! linguísticos,! discursivos! e!
pragmáticos.! Para! essa! pesquisadora,! o! texto! envolve! uma! teia!
de! relações,! de! recursos,! de! estratégias,! de! operações,! de!
pressupostos,! que! promovem! a! sua! construção,! seus! modos! de!
sequenciação,! que! possibilitam! seu! desenvolvimento! temático,!
sua! relevância! informativo:contextual,! sua! coesão! e! sua!
coerência.!
Nessa! mesma! concepção,! Jurado! e! Rojo! (2006,! p.! 39),!
aludem!que!é!por!meio!do!contato!com!os!textos!que!o!aluno!é!
capaz! de! refletir! sobre! as! possibilidades! de! usos! da! língua,! ao!
analisar!os!elementos!que!determinam!esses!usos!e!as!formas!de!
dizer:! o! contexto,! os! interlocutores,! os! gêneros! discursivos,! os!
recursos!utilizados!pelos!interlocutores!para!dizer!o!dito!e!o!não:
dito.!
Um! dos! recursos! mais! relevantes! para! a! produção! e! a!
compreensão! de! sentidos! em! qualquer! texto,! de! acordo! com!
82 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
Cavalcante!(2012,!p.!13),!é!o!processo!empregado!diariamente!na!
escrita,!na!fala!e!na!enunciação!digital,!mas!pouco!trabalhado!nas!
atividades! e! no! âmbito! escolar:! as! formas! de! nos! referirmos! a!
objetos,! pessoas,! sentimentos,! ações! ou! a! qualquer! entidade,!
caracterizadas!como!estratégias!de!referenciação.!
Esse! processo! textual:discursivo! possibilita! a! amarração!
das!ideias!dentro!de!uma!unidade!de!sentido,!além!de!assegurar!
a! progressão! textual! e! de! colaborar! para! o! desenvolvimento! da!
argumentação! nos! textos.! Já! que! a! referenciação! é! pouco!
explorada!nas!atividades!escolares,!acreditamos!que!é!relevante!
verificar! de! que! maneira! as! reflexões! teóricas! referentes! a! essa!
temática! perpassam! pelos! manuais! didáticos! escritos!
recentemente,! bem! como! de! que! forma! os! autores! abordam!
conceitos! inerentes! a! esse! tópico! nos! livros! aprovados! pelo!
último! PNLD! 2012! (Programa! Nacional! do! Livro! Didático)! para! o!
Ensino!Médio.!
Diante! disso,! o! presente! artigo! tem! como! propósito!
analisar,! em! duas! coleções! de! Língua! Portuguesa! para! Ensino!
Médio,! a! abordagem! da! referenciação! e! a! sua! relação! com! as!
atividades! de! leitura! e! de! produção! textual.! A! primeira! é! a!
coleção! Ser( protagonista,( organizada! por! Ricardo! Gonçalves!
Barreto,!das!Edições!SM,!!e!a!segunda!é!o!Projeto(ECO,!elaborada!!
83 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
pelas! autoras! Roberta! Hernandes! e! Vima! Lia! Martin,! da! Editora!
Positivo.!
As! reflexões! inerentes! aos! pressupostos! teóricos! sobre!
referenciação! são! explanadas! pelo! viés! de! Koch! (2004,! 2005! e!
2009),!Cavalcante!(2005,!2011!e!2012),!Marcuschi!e!Koch!(2002),!
Koch!e!Elias!(2006!e!2009)!e!Marcuschi!(2005).!Após!abordagem!
teórica,! será! exposta! a! análise! dos! dois! manuais! didáticos,!
levando! em! conta! o! tratamento! dado! à! referenciação! nas!
atividades! de! leitura! e! produção! textual.! Ao! final! deste! artigo,!
serão! propostas! algumas! atividades,! à! luz! da! teoria! exposta,!
tendo! como! base! um! texto! midiático! contemplado! por! um! dos!
materiais! didáticos! que! foram! analisados,! com! intuito! de! aludir!
de!que!forma!esse!tópico!pode!ser!explorado!pelo!professor!em!
sua!prática!docente.!
!
2. ALGUMAS QUESTÕES TEÓRICAS SOBRE
REFERENCIAÇÃO
!
O! que! se! sabe! hoje! sobre! referenciação! começou! na!
Suíça,! quando! Lorenza! Mondada,! em! 1994,! propôs! “tratar! da!
descrição! de! processos! discursivos! que! se! verificam! na!
introdução! de! um! objeto,! nos! ajustes! que! ele! sofre! quando! vai!
84 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
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participando! da! configuração! complexa! de! um! texto! e! na!
passagem! de! um! objeto! a! outro.”! (CAVALCANTE,! 2011,! p.! 9)!
Dessa! forma,! falava:se! não! de! referentes! como! entidades! da!
realidade!externa!do!mundo,!entretanto,!de!objetos!de!discurso,!
aqueles! que! emergem! da! elaboração! discursiva! de! um! saber!
compartilhado! e! que! intervêm! nas! formas! estruturantes! de! um!
texto!e,!ao!mesmo!tempo,!são!por!elas!condicionadas.!
Nesse!mesmo!período,!Apothéloz!também!aludia!sobre!os!
“objetos! de! discurso! como! constructos! culturais! cuja!
representação! na! memória! discursiva! dos! interlocutores! era!
alimentada! pela! própria! atividade! linguística.”! (Id.( Ibid.)! Desde!
então,!estudos!sobre!esses!fenômenos!linguísticos!que!envolvem!
esse! pressuposto! antropológico! do! referente! vêm! sendo!
analisados!nas!mais!diversas!pesquisas!no!âmbito!da!linguagem.!
Em! toda! produção,! seja! escrita! ou! falada,! há! um!
pressuposto! de! que,! em! seu! desenvolvimento,! se! faça!
constantemente!referência!a!algo,!a!alguém,!a!fatos,!a!eventos!e!
a! sentimentos,! que! se! mantenham! em! foco! referentes!
introduzidos!por!meio!de!operação!de!retomada!e,!ainda,!que!se!
desfocalizem!referentes!introduzidos!anteriormente!e!os!deixem!
em! stand( by,! para! que! outros! referentes! sejam! introduzidos! no!
discurso.!Essas!estratégias,!por!meio!das!quais!são!construídos!os!
85 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
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objetos:de:discurso,!ou!referentes,!e!mantidos!ou!desfocalizados,!
na!produção!de!qualquer!texto,!são!chamadas!de!referenciação.!
Por!referenciação,!entendemos!o!nome!dado!às!diversas!
formas! de! introdução,! no! texto,! de! novas! entidades! ou!
referentes.!Quando!esses!referentes!são!retomados!mais!adiante!
ou!servem!de!base!para!a!introdução!de!novos!referentes,!temos!
o! que! se! denomina! progressão! referencial.! Koch! (2005,! p.! 79)!
baseia:se! na! suposição! de! que! a! referenciação! constitui! uma!
atividade! discursiva,! pressuposto! esse! que! implica! uma! visão!
não:referencial! da! língua! e! da! linguagem.! Posição! também!
defendida!por!Mondada!&!Dubois!(1995,!citado!por(Koch,!2005,!
p.! 79)! que! postulam! uma! instabilidade! das! relações! entre! as!
palavras!e!coisas:!
!
Assim,! não! se! entende! a! referência! no! sentido!
mais! tradicionalmente! atribuído,! como! simples!
representação! extensional! de! referentes! do!
mundo! extramental:! a! realidade! é! construída,!
mantida!e!alterada!não!somente!pela!forma!como!
nomeamos! o! mundo,! mas,! acima! de! tudo,! pela!
forma!como!interagimos!com!ele:!interpretamos!e!
construímos! nossos! mundos! através! da! interação!
com!o!entorno!físico,!social!e!cultural.!A!referência!
passa! a! ser! considerada! como! resultado! da!
operação! que! realizamos! quando,! para! designar,!
representar!ou!sugerir!algo,!usamos!um!termo!ou!
criamos! uma! situação! discursiva! referencial! com!
essa! finalidade:! as! entidades! são! vistas! como!
86 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
objetos:de:discurso! e! não! como! objetos:do:
mundo.!(KOCH,!2005,!p.!79)!
!
Para! Apothéloz! (apud! Cavalcante,! 2005,! p.! 124),! o!
processo!de!referenciação!não!se!completa!no!simples!emprego!
de! expressões! referenciais,! mas! vai! muito! além! disso,! porque! o!
referente! é! concebido! a! partir! de! um! conjunto! de! ações,! pelo!
modo! com! que! os! co:enunciadores! ajustam! suas! ações!
conversacionais! e! pela! maneira! da! construção! dos! sentidos! em!
cada!evento!comunicativo.!
Entendem! Mondada! e! Dubois! (apud! Koch,! 2009,! p.! 32)!
que! as! categorias! empregadas! para! a! descrição! do! mundo!
alteram:se! tanto! diacrônica! quanto! sincronicamente,! seja! nos!
discursos!ordinários,!seja!nos!discursos!científicos,!elas!são!antes!
plurais! e! mutáveis! do! que! fixadas! normativa! e! historicamente.!
Essas! autoras,! segundo! Koch,! “salientam! que! é! necessário!
considerar!a!referência!aos!objetos!do!mundo!físico!e!natural!no!
seio! de! uma! concepção! geral! dos! processos! de! categorização!
discursiva!e!cognitiva,!assim!como!são!considerados!nas!práticas!
situadas!dos!sujeitos.”!(Id.(Ibid.)!
Assim,!a!língua!não!existe!fora!dos!sujeitos!sociais!que!a!
falam,! fora! dos! eventos! discursivos! nos! quais! esses! sujeitos!
intervêm! e! nos! quais! mobilizam! suas! percepções,! seus! saberes,!
87 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
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seja!na!ordem!linguística!ou!na!ordem!sociocognitiva.!!Enfim,!em!
seus!modelos!de!mundo,!que!não!são!estáticos,!(re)!constroem:
se! tanto! sincrônica! como! diacronicamente,! dentro! das! diversas!
cenas! enunciativas,! de! modo! que,! assim! que! se! passa! da! língua!
para! o! discurso,! faz:se! necessário! mobilizar! conhecimentos! –!
socialmente!compartilhados!e!discursivamente!(re)!construídos!–
,! bem! como! situar:se! dentro! de! contingências! históricas,! para!
que!se!possa!proceder!aos!encadeamentos!discursivos.!
Marcuschi! e! Koch! (2002,! p.! 38)! defendem! que! “a!
discursivização! ou! textualização! do! mundo! por! meio! da!
linguagem! não! consiste! em! um! simples! processo! de! elaboração!
de!informações,!mas!num!processo!de!(re)!construção!do!próprio!
real”,! ! pois,! sempre! que! utilizamos! uma! forma! simbólica,!
manipulamos! a! própria! percepção! da! realidade! de! maneira!
significativa.!!A!proposta!de!substituir!a!noção!de!referência!pela!
noção! de! referenciação! emana! desse! conceito,! já! que! tanto! a!
referenciação! quanto! a! progressão! referencial! fazem! parte! da!
construção! e! reconstrução! de! objetos:de:discurso,! ou! seja,! os!
referentes! de! que! se! fala! não! espelham! diretamente! o! mundo!
real,!não!são!simples!rótulos!para!designar!as!coisas!do!mundo,!
uma! vez! que! são! construídos! e! reconstruídos! no! interior! do!
próprio!discurso,!de!acordo!com!a!percepção!de!mundo!de!cada!
88 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
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um,! das! crenças! e! das! atitudes,! além! dos! propósitos!
comunicativos.!!
De! acordo! com! Koch! (2005,! p.! 79),! a! referenciação!
constitui! uma! atividade! discursiva.! O! sujeito! opera,! por! ocasião!
da! interação! verbal,! sobre! o! material! linguístico! que! tem! à! sua!
disposição! e! procede! a! escolhas! significativas! para! representar!
estados! de! coisas,! de! modo! condizente! com! a! sua! proposta! de!
sentido.! As! formas! de! referenciação! são! escolhas! do! sujeito! em!
interação!com!outros!sujeitos,!em!função!de!um!querer:dizer.!!
Para!Koch!e!Elias!(2006,!p.!124),!não!devemos!confundir!
os! objetos:de:discurso! com! a! realidade! extralinguística,! já! que!
eles!a!reconstroem!no!próprio!processo!de!interação.!Ou!seja,!a!
realidade! é! construída,! mantida! e! alterada! pela! forma! como,!
sociocognitivamente,! interage:se! com! ela:! interpreta:se! e!
constroem:se! mundos! por! meio! da! interação! com! o! entorno!
físico,!social!e!cultural!(KOCH,!2009).!
Na! constituição! da! memória! discursiva,! enquanto!
operações! básicas,! estão! envolvidas! as! seguintes! estratégias! de!
referenciação:!
!
a)! construção/ativação:! pela! qual! um! “objeto”!
textual! até! então! não! mencionado! é! introduzido,!
ativado! na! memória,! passando! a! preencher! um!
nódulo! (“endereço”! cognitivo,! locação)! na! rede!
89 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
conceptual! do! modelo! de! mundo! textual:! a!
expressão!linguística!que!o!representa!é!posta!em!
foco! na! memória! de! trabalho,! de! tal! forma! que!
esse!“objeto”!fica!saliente!no!modelo.!
b)! reconstrução/! reativação;! um! módulo! já!
presente!na!memória!discursiva!é!reintroduzido!na!
memória! operacional,! por! meio! de! uma! forma!
referencial,! de! modo! que! o! objeto:de:discurso!
permanece!saliente!(o!nódulo!continua!em!foco).!
c)! desfocalização,! passando! a! ocupar! a! posição!
focal.! O! objeto! retirado! de! foco,! contudo!
permanece! em! ativação! parcial! (stand( by),!
podendo! voltar! à! posição! focal! a! qualquer!
momento;! ou! seja,! ele! continua! disponível! para!
utilização!imediata!na!memória!dos!interlocutores.!
(KOCH,!2009,!p.!33!e!34)!!
!
Pela! repetição! constante! de! tais! estratégias,! estabiliza:
se,! por! um! lado,! o! modelo! textual;! por! outro,! porém,! este!
modelo!é!continuamente!reelaborado!e!modificado!por!meio!de!
novas! referenciações.! Dessa! forma,! os! nódulos! (endereços!
cognitivos,! locação)! já! existentes! podem! ser! modificados! ou!
expandidos!a!todo!momento,!de!modo!que,!durante!o!processo!
de! compreensão,! desdobra:se! uma! unidade! de! representação!
extremamente!complexa!pelas!sucessivas!e!interminentes!trocas!
de!novas!categorias!e/!ou!avaliações!acerca!do!referente!(KOCH,!
2009,!p.!34).!
Nessas! trocas! de! novas! categorias,! notamos! que! a!
construção!e!a!reconstrução!do!referente!não!intervêm!somente!
90 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
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de! um! saber! construído! linguisticamente! pelo! próprio! texto! e!
pelos!conteúdos!que!podem!ser!inferidos!a!partir!dos!elementos!
linguísticos!tomados!por!premissas,!devem:se!levar!em!conta!não!
só! os! conhecimentos! lexicais,! os! pré:requisitos! enciclopédicos! e!
culturais! e! os! lugares! comuns! argumentativos! de! uma!
determinada! sociedade,! mas! os! saberes,! as! opiniões! e! os! juízos!
compartilhados! no! momento! da! interação! entre! o! locutor! e! o!
público! com! quem! ele! dialoga! e! do! qual! espera! uma!
concordância.!Se!esse!leitor!se!enquadrar!na!imagem!construída!
pelo! produtor! do! texto,! essa! reação! será! de! consenso.! No!
entanto,! se! a! imagem! criada! pelo! produtor! do! texto! for!
equivocada,!essa!reação!poderá!ser!de!dissenso.!
No! modelo! textual,! os! referentes! podem! ser!
introduzidos! pela! ativação! ancorada! e! não! ancorada.! A!
introdução!será!não!ancorada!quando!um!objeto:de:discurso,!ou!
referente,! totalmente! novo! é! introduzido! no! texto! e! esse! é!
representado! por! uma! expressão! nominal! que! opera! uma!
primeira! categorização! do! referente.! Já! a! ativação! ancorada!
acontece!sempre!que!um!novo!objeto:de:discurso!é!introduzido!
no! texto,! levando! em! conta! algum! tipo! de! associação! com!
elementos! já! citados! e! presentes! no! cotexto! ou! no! contexto!
sociocognitivo!dos!interlocutores.!
91 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
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De! acordo! com! Cavalcante! (2011,! p.! 54),! os! processos!
referenciais! se! dividem! em! duas! possibilidades.! Se! as! entidades!
são!introduzidas!no!texto!pela!primeira!vez,!ou!seja,!se!não!foram!
ainda!citadas!antes!no!texto,!tem:se!a!ocorrência!de!introdução!
referencial.! Entretanto,! se! os! referentes! já! foram! de! alguma!
forma!evocados!por!meio!de!pistas!explícitas!no!contexto,!tem:se!
a!presença!de!continuidades!referenciais,!isto!é,!de!anáforas.!
Marcuschi!(2005,!p.!54!e!55)!elucida!que,!originalmente,!
o! termo! anáfora,! na! retórica! clássica,! designava! a! repetição! de!
uma! expressão! ou! de! um! sintagma! no! início! de! uma! frase.! Na!
acepção!técnica!de!hoje,!anáfora!anda!longe!da!noção!original!e!
o! termo! é! usado! para! designar! expressões! que,! no! texto,! se!
reportam! a! outras! expressões,! enunciados,! conteúdos! ou!
contextos! textuais! (retomando:os! ou! não)! contribuindo! assim!
para!a!continuidade!tópica!e!referencial.!As!anáforas!diretas!(AD)!
retomam! referentes! previamente! introduzidos! e! assim!
estabelecem! uma! relação! de! correferência! entre! o! elemento!
anafórico!e!seu!antecedente.!
Mas,! além! delas,! há! também! as! anáforas! indiretas! e! as!
associativas.! As! anáforas! indiretas! (AI),! de! acordo! com! Koch! e!
Elias!(2006,!p.!128),!são!caracterizadas!pelo!fato!de!não!existir!no!
cotexto!um!antecedente!explícito.!As!anáforas!indiretas!(AI)!são!
92 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
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caracterizadas!“pela!menção!de!um!novo!referente!relacionado!a!
outro,! distinto,! e! já! citado! anteriormente,! ou! relacionado! a!
alguma! pista! formal! do! texto,! como! um! verbo,! por! exemplo”!
(CAVALCANTE,!2011,!p.!61).!
Segundo!Marcuschi!(2005,!p.!53),!a!anáfora!indireta!(AI)!
é! geralmente! constituída! por! expressões! nominais! definidas,!
indefinidas!e!pronomes!interpretados!referencialmente!sem!que!
lhes!corresponda!um!antecedente!(ou!subsequente)!explícito!no!
texto.! Para! esse! mesmo! autor,! trata:se! de! uma! estratégia!
endofórica! de! ativação! de! referentes! novos! e! não! de! uma!
reativação! de! referentes! já! conhecidos,! o! que! constitui! um!
processo! de! referenciação! implícita.! De! uma! maneira! geral,! as!
(AI)! evidenciam! essencialmente! três! aspectos:! “primeiro,! a! não!
vinculação! da! anáfora! com! co:referencialidade,! segundo,! a! não:
vinculação! da! anáfora! com! a! noção! de! retomada;! terceiro,! a!
introdução!de!referente!novo.”!(id.,(p.!60!e!61)!
Esse! processo! de! referenciação! é! constituído! com! base!
em!elementos!mentais!e!é!muito!mais!comum!a!sua!produção!do!
que!se!pode!imaginar,!já!que!desempenham!um!papel!relevante!
tanto!na!progressão!quanto!na!coerência!do!texto.!!
De! acordo! com! os! estudos! de! Koch! (2002! e! 2004)! e! de!
Marcuschi! (2005),! respaldados! em! Schwarz! (citado! por( Koch! e!
93 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
Elias,! 2009,! p.! 136),! as! anáforas! indiretas! (AI)! podem! ser!
constituídas! com! base,! por! exemplo,! em! modelos! cognitivos,!
inferências! ancoradas! no! mundo! textual! ou! em! relações!
semânticas! inscritas! nos! sintagmas! nominais! definidos,!
particularmente!as!relações!meronímicas!(relações!parte:todo).!!
Conforme! Cavalcante! (2011,! p.! 62),! alguns! estudiosos!
pleiteiam,!ainda,!uma!subdivisão!dentro!das!anáforas!indiretas:!
!
Os! estudos! convergem! para! duas! abordagens! do!
fenômeno:! uma! estreita,! que! se! apoia! em!
restrições! léxico:estereotípicas;! outra! ampla,! que!
diz!não!se!limitar!a!tais!restrições.!Esse!duplo!olhar!
para!as!relações!anafóricas!indiretas!redundou!em!
decisões! classificatórias! distintas.! Certos! autores!
preferiram! restringir! o! fenômeno! às! ligações!
fundadas,! em! princípio,! em! associações! que!
seriam,! supostamente,! apenas! semântico:lexicais,!
deixando!à!margem!as!situações!que!requeressem!
outros! tipos! de! inferência! –! é! o! caso! de! Kleiber!
(2001).!Outros!autores,!como!Schwarz!(2000),!por!
exemplo,! optaram! por! propor! duas! classes! de!
referência!indireta:!
:! ! ! as! anáforas! associativas! –! seriam!
“conceitualmente!baseadas”;!
:! as! anáforas! inferenciais! –! seriam!
“inferencialmente! baseadas”;! englobariam! muitos!
outros! casos! em! que! a! recuperação! do! referente!
indireto! exigisse! percepções! da! situação!
enunciativa,! informações! do! conhecimento!
culturalmente! compartilhado,! dados! fornecidos!
pelo! próprio! desenvolvimento! textual! e!
argumentativo!etc.!(CAVALCANTE,!2011,!p.62)!
!
94 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
Entretanto,! outros! autores! como! Apothéloz! e! Reichler:
Béguelin! (1999),! decidiram:se! por! não! distinguir! as! anáforas!
indiretas,! aglutinando:as! todas! num! único! conjunto! de! anáforas!
associativas,! alegando! que! não! importa! a! origem! da! âncora! em!
que!se!apoia!o!anafórico!indireto,!nem!importa!a!forma!como!ele!
se! manifesta,! uma! vez! que! o! importante! é! o! mecanismo!
inferencial!envolvido!no!processo.!
Para!Koch!e!Elias!(2006,!p.!128),!as!anáforas!associativas!
introduzem! um! referente! novo! no! texto! pela! exploração! de!
relações! meronímicas,! ou! seja,! toda! vez! em! que! um! dos!
elementos! da! relação! pode! ser! considerado,! de! alguma! forma,!
ingrediente!do!outro.!
Além! desses! objetos,! há! outros! casos! de! introdução! de!
novos! objetos:de:discurso,! que! podem! também! incluir! as!
chamadas!nominalizações!ou!rotulações,!quando!se!designa,!por!
meio!de!um!sintagma!nominal,!um!processo!ou!estado!expresso!
por! uma! proposição! ou! proposições! precedentes! ou!
subsequentes! no! texto.! Neste! caso,! entretanto,! o! processo! de!
inferência! é! diferente! daquele! mobilizado! no! caso! das! anáforas!
associativas!e!indiretas.!As!nominalizações!são!consideradas!por!
Francis!(apud!Koch,!2009,!p.!36)!como!rotulações!resultantes!de!
encapsulamentos! operados! sobre! predicações! antecedentes! ou!
95 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
subsequentes,! ou! seja,! sobre! processos! de! seus! actantes,! os!
quais! passam! a! ser! representados! como! objetos:acontecimento!
na!memória!discursiva!dos!interlocutores.!!
Por!meio!da!estratégia!da!nominalização,!erigem:se,!em!
objetos:de:discurso,! conjuntos! de! informações! expressas! no!
texto! precedente! –! informação:suporte! –,! segundo! Apothéloz! e!
Chanet! (1997,! citado! por! Marcuschi! e! Koch,! 2002,! p.! 32),! que!
anteriormente!não!tinham!tal!estatuto.!
No!que!se!refere!às!nominalizações,!é!preciso!distinguir!
entre!a!operação!de!nominalização!propriamente!dita,!que!é!de!
natureza! anafórica,! e! a! expressão! utilizada! para! efetuar! tal!
operação.!Enquanto!operação,!a!nominalização!atribui!o!estatuto!
de! referente! ou! objeto:de:discurso! a! um! conjunto! de!
informações! que! anteriormente! não! possuíam! tal! estatuto,!
assinalando! simultaneamente! uma! mudança! de! nível! e! uma!
condensação! da! informação.! Do! ponto! de! vista! da! distância!
comunicativa,! essa! operação! retoma,! pressupondo! a! sua!
existência,! um! processo! que! foi! significado! predicativamente,!
que! acaba! de! ser! posto.! Como! forma! anafórica,! por! sua! vez,! a!
nominalização! é! uma! forma! linguística:! o! substantivo! –!
predicativo.!
96 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
As! formas! nominais! referenciais! respondem,!
simultaneamente,! pelos! dois! grandes! processos! de! construção!
textual:! retroação! e! prospecção.! Elas! desempenham! também!
funções!cognitivas!de!grande!importância!para!o!processamento!
textual.! Como! forma! de! remissão! a! elementos! citados!
anteriormente! no! texto,! ou! sugeridos! pelo! cotexto! precedente,!
elas!possibilitam!a!sua!(re)!ativação!na!memória!do!interlocutor:!
a! alocação! ou! focalização! na! memória! ativa! (ou! operacional)!
deste.!!
Além! disso,! por! outro! lado,! ao! operarem! uma!
recategorização!ou!refocalização!do!referente!ou,!em!se!tratando!
de! nominalizações,! sumarizando! e! rotulando! as! informações:
suporte,! elas! têm,! ao! mesmo! tempo,! função! predicativa.! Esse!
caso! é! chamado! de! formas! híbridas,! referenciadoras! e!
predicativas,! porque! veiculam! tanto! informações! dadas! quanto!
informações!inferíveis!e!novas.!!
Marcuschi! e! Koch! (2002,! p.! 31),! aludem! que! a!
referenciação! por! meio! de! expressões! nominais! definidas!
desempenha! papel! relevante! na! organização! textual! e,!
consequentemente,! na! construção! do! sentido.! Esses! elementos!
desempenham! um! aspecto! importantíssimo! no! processo! de!
97 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
textualização!e!é!de!grande!relevância!para!a!coesão!e!coerência!
textual.!!
Nesse! mesmo! trabalho! de! Marcuschi! e! Koch! (2002,! p.!
39),! é! mencionado! que! há! dois! tipos! dessas! formas,! designadas!
expressões!referenciais!definidas:!as!descrições!definidas,!que!há!
muito! tempo! vêm! sendo! objeto! de! estudo! da! lógica! e! da!
semântica;!e!as!formas!nominais!(nominalizações),!com!as!quais!
se! referencia,! por! meio! de! um! sintagma! nominal! (nem! sempre!
deverbal),!um!processo!anterior!expresso!por!uma!proposição.!As!
descrições! nominais! definidas! são! caracterizadas! pelo! fato! de!
operarem! uma! seleção! –! entre! as! diversas! propriedades! de! um!
referente! –! reais,! co(n):textualmente! determinadas! ou!
intencionalmente! atribuídas! pelo! locutor! em! dada! situação! de!
interação.!
Koch! (2005,! p.! 87)! elucida! que! o! uso! de! uma! descrição!
nominal! implica! uma! escolha! dentre! as! propriedades! ou!
qualidades!capazes!de!caracterizar!o!referente.!Escolha!esta!que!
será! feita! em! cada! contexto! em! razão! do! projeto! comunicativo!
daquele!que!produziu!o!texto.!Essa!autora!ressalta!também!que,!
em! geral,! trata:se! da! ativação! dos! conhecimentos! pressupostos!
como! partilhados! com! o(s)! interlocutor! (es),! ou! seja,! a! partir! de!
98 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
um!background!!tido!por!comum,!de!características!ou!traços!do!
referente!que!o!locutor!procura!ressaltar!ou!enfatizar.!
A! escolha! de! determinada! descrição! definida! pode! ter!
função! avaliativa,! isto! é,! trazer! ao! leitor/ouvinte! informações!
relevantes!referentes!às!opiniões,!crenças!e!atitudes!do!produtor!
do!texto,!auxiliando:o,!dessa!forma,!na!construção!do!sentido.!O!
locutor! utiliza! uma! descrição! definida! com! o! objetivo! de! dar! a!
conhecer! ao! interlocutor,! com! os! mais! variados! propósitos,!
propriedades! ou! fatos! relativos! ao! referente! que! acredita!
desconhecido! do! parceiro.! ! Em! geral,! o! emprego! dessas!
expressões! nominais! anafóricas! opera! a! recategorização! de!
objetos:de:discurso,! isto! é,! tais! objetos! serão! reconstruídos! de!
determinada!forma,!de!acordo!com!o!projeto!do!enunciador.!
Além!dessas!expressões!referenciais,!há!ainda!a!anáfora!
especificadora,!que!acontece!nos!contextos!em!que!é!necessário!
um! refinamento! da! categorização.! Essa! anáfora! é!
frequentemente! introduzida! por! um! artigo! indefinido.! Segundo!
Koch!(2009,!p.!39),!esse!fato!é!pouco!registrado!na!literatura!da!
linguística,! pois! esse! tipo! de! anáfora! permite! trazer,! de! forma!
compacta,! informações! novas! que! se! referem! ao! objeto! de!
discurso,!conforme!o!exemplo:!
!
99 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
Uma! catástrofe! ameaça! uma! das! últimas! colônias!
de! gorilas! da! África.! Uma! epidemia! de! Ebola! já!
matou! mais! de! 300! desses! grandes! macacos! no!
santuário!de!Lossi,!no!noroeste!do!Congo.!Trata:se!
de! uma! perda! devastadora,! pois! representa! o!
desaparecimento! de! um! quarto! da! população! de!
gorilas!da!reserva.!(grifo!nosso).!
!
Um! outro! aspecto! é! que,! de! acordo! com! essa! mesma!
autora,!em!certas!paráfrases!feitas!por!expressões!nominais,!elas!
funcionam! como! anáforas! definicionais! ou! didáticas,! e! essas!
expressões!propiciam!a!projeção!na!memória!de!um!novo!léxico.!
Ela!menciona!ainda!que!a!função!das!expressões!referenciais!não!
é!apenas!referir,!mas,!como!são!multifuncionais,!elas!contribuem!
para! elaborar! o! sentido,! indicando! pontos! de! vista,! assinalando!
direções! argumentativas,! sinalizando! dificuldades! de! acesso! ao!
referente! e! recategorizando! os! objetos! presentes! na! memória!
discursiva.!
Assim,!a!referenciação!no!discurso,!bem!como!as!demais!
atividades! de! produção! de! texto! de! sentido,! constitui! uma!
construção! de! cunho! sociocognitivo! e! interacional.! Nessa!
concepção! interacional! (dialógica)! da! língua,! os! sujeitos! são! os!
atores,!ou!melhor,!os!construtores!sociais!que!dialogicamente!se!
constroem! no! texto,! o! próprio! lugar! da! interação,! e! por! ele! são!
construídos.!
100 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
Portanto,! todos! esses! referentes! aludidos! constituem!
objetos:de:discurso! que,! construídos! sociocognitivamente! no!
bojo!da!interação,!são!altamente!dinâmicos,!já!que!transformam!
e!reconstroem:se!constantemente!no!curso!de!uma!interação.!
!
3. ANÁLISE DA ABORDAGEM DA
REFERENCIAÇÃO NOS MANUAIS DIDÁTICOS
!
A! análise,! feita! em! duas! coleções! de! Língua! Portuguesa,!
tem!como!respaldo!os!conceitos!teóricos!inerentes!às!estratégias!
de! referenciação.! Pretendemos! avaliar! ! de! que! forma! esse!
mecanismo! de! textualização! é! elucidado! nos! dois! manuais!
analisados! e! de! que! maneira! essa! temática! perpassa! pelas!
atividades! de! leitura! e! de! produção! textual,! contempladas! por!
duas! coleções! aprovadas! pelo! PNLD! 2012! (Plano! Nacional! do!
Livro!Didático)!para!o!Ensino!Médio.!
A! primeira! coleção,! Ser( Protagonista,! composta! por! três!
volumes!–!cada!um!deles!destinados!a!uma!das!séries!do!Ensino!
Médio! –,! é! segmentada! em! três! partes! distintas:! Literatura,!
Linguagem! e! Produção! de! texto.! Nela,! não! existe! uma! parte!
específica! para! o! trabalho! com! a! leitura,! entretanto,! é! possível!
verificar! que! ao! longo! dos! três! anos! há! atividades! que! tem! por!
101 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
objetivo! explorar! as! diferentes! estratégias,! como,! por! exemplo,!
compreensão!geral!do!texto,!produção!de!inferências,!bem!como!
localização!e!retomada!de!informações!nos!textos!abarcados!por!
esse! manual.! ! Com! relação! à! produção! escrita,! observamos! que!
são!elaboradas!atividades!com!base!no!trabalho!com!os!gêneros!
textuais,!enfatizando!sempre!a!prática!de!escrita!em!seu!universo!
de!uso!social!e!indicando!as!condições!ideais!da!produção.!
Nesse! material,! verificamos! que! são! incluídos! tópicos!
inerentes! às! estratégias! de! referenciação,! conforme! podemos!
observar! em! uma! das! passagens! retiradas! da! página! 341! do!
primeiro! volume! da! coleção,! cujo! objetivo! é! explicitar! os!
mecanismos!de!articulação!empregados!no!texto:!
!

!
!
102 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
Cabe! ressaltar! que! tanto! o! conceito! de! referenciação!
quanto! às! atividades! alusivas! a! essa! temática! são! especificadas!
no! material! escrito.! Além! disso,! é! possível! encontrar! na! coleção!
outros! fragmentos! que! mencionam! o! trabalho! com! a! coesão!
textual,! mais! especificamente! com! o! mecanismo! coesivo! de!
referenciação,! como! se! verifica! em! mais! um! fragmento! da!
coleção,!que!consta!na!página!296,!do!volume!1:!
!

!
!
Percebemos! que! há! uma! preocupação,! por! parte! dos!
autores,! em! aplicar! os! conceitos! relativos! às! estratégias! de!
referenciação!aos!exercícios!propostos!de!leitura!e!de!produção!
103 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
textual!ao!longo!do!material!escrito,!com!intuito!de!que!os!alunos!
apreendam! tais! recursos! e! apliquem:nos! no! momento! da!
elaboração!dos!diferentes!gêneros!textuais.!!
Isso! fica! evidente! em! uma! das! propostas! de! produção!
textual! no! livro! do! primeiro! volume,! página! 343,! em! que! os!
autores! mencionam:! “O! resumo! precisa! eliminar! repetições!
desnecessárias.! Para! isso,! pode! fazer! uso! da! referenciação.”!
Nessa! mesma! atividade,! há! outra! sinalização! para! o! aluno:! “Ao!
reescrever!o!seu!resumo,!observe!se!você!usou!adequadamente!
esse! recurso,! deixando! claros! os! referentes! antecipados! ou!
retomados!por!outras!palavras.”!!
Além! de! abordar! a! estratégia! de! referenciação! nas!
diferentes!propostas!de!produção!textual,!os!autores!aludem!que!
há! imbricação! dos! mecanismos! de! referenciação! com! os!
diferentes!sentidos!produzidos!na!escolha!de!um!e!não!de!outro!
vocábulo! para! a! elaboração! de! um! texto.! ! No! momento! da!
apresentação!do!!artigo,!é!descrito!que!o!falante!pode!se!referir!a!
um! elemento! presente! ! na! situação! de! enunciação! ou! ao!
conhecimento!partilhado!com!seu!interlocutor;!pode!retomar!ou!
antecipar! um! outro! elemento! do! texto! e! ainda! indicar! que! o!
substantivo! que! antecede! é! entendido! de! maneira! genérica,!
como!integrante!de!uma!categoria.!
104 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
Na! abordagem! da! classe! de! palavras! relacionada! aos!
números,! os! autores! mencionam! que! os! numerais! colaboram!
para! a! clareza! e! coesão! do! texto,! antecipando! ou! retomando!
elementos! em! sequência! e! evitando! repetições! desnecessárias.!
Para! a! explanação! dos! pronomes,! é! aludido! que! as! palavras!
pertencentes! a! essa! classe! situam! as! pessoas! do! discurso,!
indicando! elementos! textuais! e! situacionais! e! que,! dentro! do!
texto,! atuam! como! mecanismos! coesivos! de! anáfora! (retomada!
de!um!referente)!e!catáfora!(antecipação!de!um!referente).!!
Já! para! a! explicação! dos! verbos,! é! mencionado! que! a!
ancoragem! é! um! momento! importante! do! planejamento! da!
produção!textual,!em!que!o!produtor!do!texto!toma!consciência!
de!qual!é!o!seu!papel!em!relação!ao!que!enuncia!e!à!situação!de!
enunciação.!Por!fim,!na!explanação!dos!advérbios,!salientam!que,!
como! elementos! coesivos,! podem! fazer! referência! a! outro!
elemento! do! texto,! retomando:o! ou! antecipando:o! (coesão!
referencial).! Ainda,! eles! podem! assinalar! a! ordenação! da!
sequência! temporal,! permitindo! a! continuidade! das! ideias.!
Nesses! dois! casos,! os! advérbios! estabelecem! relações! entre! as!
partes!do!texto,!contribuindo!para!a!progressão!textual.!
Nessa! coleção,! encontra:se! um! excelente! recurso! para!
desenvolver! trabalhos! relacionados! às! estratégias! de!
105 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
referenciação,!bem!como!levar!o!aluno!a!refletir!sobre!o!uso!da!
língua,!a!importância!das!escolhas!linguísticas!para!a!elaboração!
de! um! texto,! além! dos! efeitos! de! sentido! que! produzirá! ao!
escolher! uma! e! não! outra! forma! para! referenciar! os! objetos! de!
seu! texto! na! interação! com! outros! sujeitos! nas! mais! variadas!
situações!discursivas!das!quais!participa.!
Já! com! relação! à! análise! da! coleção! Projeto( Eco,! não!
verificamos! a! mesma! abordagem! no! que! tange! à! referenciação.!
Esse! material! é! composto! de! 3! volumes,! cada! um! destinado! a!
uma!série!do!Ensino!Médio.!Cada!volume!é!constituído!por!três!
partes! ! (Literatura,! A! Língua! em! uso! e! Produção! de! texto),!
divididos!em!unidades.!
Os!textos!apresentados!nessa!coleção!estão!mais!voltados!
para! a! Literatura,! uma! vez! que! grande! parte! dos! conteúdos!
apresentados!na!coleção!é!destinada!ao!estudo!dessa!disciplina,!
o!que!torna!o!ensino!dos!elementos!linguísticos,!de!leitura!e!de!
produção!textual!desigual!se!comparado!à!Literatura.!!O!trabalho!
com!a!produção!textual!e!com!as!questões!gramaticais!ganha!um!
espaço!pouco!significativo!se!comparado!aos!conteúdos!voltados!
para! o! aspecto! literário.! Assim,! os! tópicos! inerentes! à!
textualidade!e!às!questões!gramaticais!são!vistos!de!uma!forma!
bastante! superficial.! As! classes! de! palavras,! que! aparecem! no!
106 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
volume! 2,! são! apresentadas! de! uma! maneira! superficial,! não!
tecendo!nenhuma!relação!com!os!mecanismos!de!textualização.!
Na! coleção,! não! existe! qualquer! menção! quanto! aos!
elementos! de! referenciação,! apenas! no! volume! 3,! destinado! ao!
terceiro! ano! do! Ensino! Médio,! há! uma! alusão! à! coesão! e! à!
coerência!textuais:!!
!
Você!já!deve!ter!ouvido!afirmações!como!
“Um! bom! texto! deve! ter! coesão! e! coerência”.! Na!
prática,!isso!significa!que!deve!ocorrer!articulação!
entre!as!estruturas!linguísticas!e!as!ideias!do!texto!
deve! estar! conectadas! entre! si.! Um! dos! critérios!
para!definir!que!se!está!diante!de!um!texto!e!não!
de! um! amontoado! de! palavras! soltas! é! o! texto!
apresentar! coesão.! Normalmente,! a! coesão! se! dá!
pelo! uso! de! mecanismos! linguísticos! como! a!
retomada! do! que! já! foi! escrito! e! a! utilização! de!
uma! sequência! de! ideias! conectadas.! Assim,! a!
coesão! pode! ser! definida! como! a! interligação!
entre!as!diversas!palavras!que!compõem!o!texto!e!
está!mais!relacionada!à!forma.!
Para! que! o! texto! apresente! também!
coerência,!é!preciso!que!haja!produção!de!sentido!
entre!as!ideias!do!texto.!Ou!seja,!não!basta!que!as!
ideias! estejam! interligadas! gramaticalmente,! é!
preciso! que! haja! conexão! de! sentido! entre! elas.!
Assim,! a! coerência! está! mais! relacionada! ao!
sentido!do!texto.!(p.!255:256)!
!
Esses! dois! tópicos,! tão! importantes! para! a! produção! de!
qualquer! gênero! textual,! são! comentados! apenas! no! último!
107 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
volume! da! coleção,! entretanto! deveriam! nortear! todas! as!
atividades!voltadas!para!o!trabalho!com!a!textualização,!desde!a!
primeira!série!do!Ensino!Médio.!Um!outro!conteúdo,!progressão!
textual,!relacionado!aos!mecanismos!de!referenciação!é!elencado!
na! página! 300! desse! mesmo! volume,! mas! apenas! citado,! não! é!
desenvolvido! nenhum! conceito! e! tampouco! há! atividades!!
alusivas! a! essa! temática.! Logo,! poucas! informações! e! atividades!
referentes! às! estratégias! de! referenciação! podem! ser!
encontradas! nessa! coleção,! que! ainda! não! privilegia! uma!
abordagem! mais! atual! no! ensino! de! língua! materna,! bem! como!
não! contempla! a! referenciação,! fenômeno! textual:discurso! tão!
importante!para!o!desenvolvimento!das!habilidades!de!leitura!e!
de! produção! textual! na! construção! do! sentido! dos! diferentes!
gêneros.!
!
4. PROPOSTAS DE ATIVIDADES DE
REFERENCIAÇÃO

Nesta! seção,! são! apresentadas! algumas! atividades!


relacionadas!às!estratégias!de!referenciação,!com!o!propósito!de!
mostrar! algumas! abordagens! dos! fenômenos! referenciais! que!
podem! ser! aplicados! na! prática! docente! no! ensino! de! leitura,!
compreensão! e! de! produção! textual.! O! texto! escolhido! para! a!
108 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
elaboração! das! atividades! foi! retirado! do! primeiro! volume,!
página! 259,! da! coleção! Ser( Protagonista,! uma! das! obras!
analisadas!neste!trabalho.!
!
Brasileira!descobre!“orfanato”!de!estrelas!
Uma! astrônoma! brasileira! da! Nasa! anunciou! ontem! ter! encontrado!
um! conjunto! de! estrelas! "órfãs",! nascidas! fora! de! grandes! galáxias.! Duilia! de!
Mello,!cientista!do!Centro!Goddard!de!Voos!Espaciais,!da!agência!americana,!
descobriu!esses!pequenos!aglomerados!de!estrelas!jovens!na!forma!de!bolhas!
azuis!no!espaço!sideral.!!
O!"orfanato"!estelar!foi!identificado!pela!brasileira!ao!cruzar!imagens!
do! satélite! Galex,! que! capta! luz! ultravioleta,! e! do! Observatório! Nacional! de!
Radioastronomia!dos!EUA,!que!"enxerga"!ondas!de!rádio.!!
"Eu!tinha!visto!as!bolhas!azuis!com!o!Galex,!mas!com!as!imagens!de!
rádio!vi!que!havia!mais!alguma!coisa!ali",!disse!Mello.!A!região!era!uma!nuvem!
de! hidrogênio,! local! onde! normalmente! se! formariam! estrelas.! Mas! era!
rarefeita!demais!para!ser!um!berçário!viável.!!
Astrônomos! russos! já! tinham! olhado! para! aquela! área! do! espaço! na!
década! de! 1980,! mas! com! um! telescópio! menos! potente.! "Na! época,!
apareciam! umas! duas! ou! três! estrelas,! mas! com! o! [telescópio]! Hubble! nós!
pudemos! ver! que! são! 2.000",! disse! Mello.! A! descoberta! foi! anunciada! no!
encontro!anual!da!AAS!(Sociedade!Astronômica!Americana),!no!Texas.!!
O!Hubble!foi!crucial!para!a!descoberta!de!Mello,!detalhada!em!estudo!
a!ser!publicado!na!revista!"The!Astronomical!Journal".!Só!com!as!imagens!do!
telescópio! espacial! foi! possível! descobrir! as! idades! das! estrelas! vistas.! Como!
109 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
elas!são!"jovens"!com!menos!de!30!milhões!de!anos!(daí!sua!coloração!azul),!
só!podem!ter!sido!produzidas!ali,!e!não!importadas!de!galáxias!próximas.!!
Ao! lado! das! imagens! da! descoberta,! os! cientistas! também!
apresentaram!uma!proposta!de!explicação!para!o!fato!de!o!grupo!de!estrelas!
ter!nascido!"no!meio!do!nada".!Normalmente,!a!formação!estelar!ocorre!em!
zonas! de! alta! densidade! de! gases,! e! tais! regiões! só! existem! dentro! das!
galáxias.!!
As! bolhas! azuis! encontradas! por! Mello! não! estão! em! uma! região!
como! essa,! mas! vivem! uma! condição! especial.! Elas! estão! no! meio! de! duas!
galáxias!próximas,!que!se!deslocam!e!interagem!entre!si!por!meio!da!força!da!
gravidade,!dando!origem!a!fenômenos!inusitados.!!
Alguns! astrônomos! acreditam! que! as! duas! galáxias! (e! mais! uma! galáxia:anã)!
passaram! "de! raspão"! uma! perto! da! outra! há! cerca! de! 200! milhões! de! anos,!
num!evento!em!que!umas!"roubaram"!algumas!estrelas!da!borda!das!outras.!!
A! quase:colisão! também! criou! uma! zona! de! turbulência! na! área! de!
gás!rarefeito,!possibilitando!então!que!algumas!estrelas!nascessem!em!região!
menos! densa.! Na! fronteira! turbulenta,! a! matéria! conseguia! se! agregar! com!
mais!facilidade.!!
Segundo!Mello,!a!existência!de!estrelas!desse!tipo!pode!explicar!por!
que! o! Universo! está! "poluído"! com! nuvens! de! elementos! mais! pesados! que!
hidrogênio! e! hélio! (e! que! fornecem! a! matéria:prima! para! a! formação! de!
planetas).!!
Esses! elementos! são! produzidos! nos! núcleos! de! estrelas! velhas! e!
expelidos!quando!elas!morrem.!A!morte!de!estrelas!dentro!de!galáxias,!porém,!
não!deixa!sujeira!espalhada,!pois!ela!é!contida!pela!gravidade!galáctica.!!
GARCIA,!Rafael.!Folha!de!S.!Paulo,!9!jan.!2008.!
!
110 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
1.!Identifique!no!fragmento!que!segue!todos!os!termos!que!
retomam!os!vocábulos!destacados:!
Uma! astrônoma! brasileira! da! Nasa! anunciou! ontem! ter! encontrado!
um!conjunto!de!estrelas!"órfãs",!nascidas!fora!de!grandes!galáxias.!Duilia!de!
Mello,!cientista!do!Centro!Goddard!de!Vôos!Espaciais,!da!agência!americana,!
descobriu!esses!pequenos!aglomerados!de!estrelas!jovens!na!forma!de!bolhas!
azuis!no!espaço!sideral.!!
O!"orfanato"!estelar!foi!identificado!pela!brasileira!ao!cruzar!imagens!
do! satélite! Galex,! que! capta! luz! ultravioleta,! e! do! Observatório! Nacional! de!
Radioastronomia!dos!EUA,!que!"enxerga"!ondas!de!rádio.!!
"Eu!tinha!visto!as!bolhas!azuis!com!o!Galex,!mas!com!as!imagens!de!
rádio!vi!que!havia!mais!alguma!coisa!ali",!disse!Mello.!A!região!era!uma!nuvem!
de! hidrogênio,! local! onde! normalmente! se! formariam! estrelas.! Mas! era!
rarefeita!demais!para!ser!um!berçário!viável.!!
!

!
Astrônoma!brasileira:!Duilia(de(Mello,(brasileira,(Mello.(
Conjunto! de! estrelas! “órfãs”:! esses( pequenos( aglomerados( de(
estrelas( jovens( na( forma( de( bolhas( azuis,( orfanato( estrelar,( as(
bolhas(azuis.(
Salétile!Galex:!Galex(
!
111 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
2.!Complete!os!espaços!que!seguem,!estabelecendo!
designações!alternativas!para!os!objetos!do!discurso!
sublinhados,!atendendo!ao!que!se!pede:!
!
a)!Uma!expressão!nominal!definida:!
!“Uma! astrônoma! brasileira! da! Nasa! anunciou! ontem! ter!
encontrado! um! conjunto! de! estrelas! "órfãs",! nascidas! fora! de!
grandes! galáxias.! ( A( cientista( descobriu! esses! pequenos!
aglomerados! de! estrelas! jovens! na! forma! de! bolhas! azuis! no!
espaço!sideral.”(
!
b)!Um!hiperônimo!
“Só!com!as!imagens!do!telescópio!espacial!foi!possível!descobrir!
as! idades! das! estrelas! vistas.! Como! os( astros! são! "jovens"! com!
menos!de!30!milhões!de!anos!(daí!sua!coloração!azul),!só!podem!
ter!sido!produzidas!ali,!e!não!importadas!de!galáxias!próximas.”!
!
3.!Assinale!a!proposição!em!que!o!antecedente!do!termo!
sublinhado!não!pode!ser!localizado!no!mesmo!segmento!do!
texto!que!está!entre!aspas:!
!
112 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
a)! “Uma! astrônoma! brasileira! da! Nasa! anunciou! ontem! ter!
encontrado! um! conjunto! de! estrelas! "órfãs",! nascidas! fora! de!
grandes!galáxias.!Duilia!de!Mello,!cientista!do!Centro!Goddard!de!
Vôos!Espaciais,!da!agência!americana,!descobriu!esses!pequenos!
aglomerados! de! estrelas! jovens! na! forma! de! bolhas! azuis! no!
espaço!sideral.”!
b)! “Só! com! as! imagens! do! telescópio! espacial! foi! possível!
descobrir! as! idades! das! estrelas! vistas.! Como! elas! são! "jovens"!
com! menos! de! 30! milhões! de! anos! (daí! sua! coloração! azul),! só!
podem! ter! sido! produzidas! ali,! e! não! importadas! de! galáxias!
próximas.”!
c)! “Normalmente,! a! formação! estelar! ocorre! em! zonas! de! alta!
densidade! de! gases,! e! tais! regiões! só! existem! dentro! das!
galáxias.”!
d)! “A! morte! de! estrelas! dentro! de! galáxias,! porém,! não! deixa!
sujeira!espalhada,!pois!ela!é!contida!pela!gravidade!galáctica.”!
e)( “Segundo( Mello,( a( existência( de( estrelas( desse( tipo( pode(
explicar( por( que( o( Universo( está( "poluído"( com( nuvens( de(
elementos(mais(pesados(que(hidrogênio(e(hélio((e(que(fornecem(a(
matériaJprima(para(a(formação(de(planetas).”((
!
113 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
4.! Assinale! a! alternativa! em! que! o! vocábulo! destacado! não!
retoma!outro(s)!elemento(s)!citado(s)!anteriormente.!
!
a)!“!O!‘orfanato’!estelar!foi!identificado!pela!brasileira!ao!cruzar!
imagens!do!satélite!Galex,!que!capta!luz!ultravioleta,!e!do!
Observatório!Nacional!de!Radioastronomia!dos!EUA...”!
b)(“(‘Eu(tinha(visto(as(bolhas(azuis(com(o(Galex,(mas(com(as(
imagens(de(rádio(vi(que(havia(mais(alguma(coisa(ali’,(disse(
Mello.”(
c)! “Elas! estão! no! meio! de! duas! galáxias! próximas,! que! se!
deslocam! e! interagem! entre! si! por! meio! da! força! da! gravidade,!
dando!origem!a!fenômenos!inusitados.”!
d)! “Alguns! astrônomos! acreditam! que! as! duas! galáxias! (e! mais!
uma! galáxia:anã)! passaram! ‘de! raspão’! uma! perto! da! outra! há!
cerca! de! 200! milhões! de! anos,! num! evento! em! que! umas!
‘roubaram’!algumas!estrelas!da!borda!das!outras.”!
e)! “Segundo! Mello,! a! existência! de! estrelas! desse! tipo! pode!
explicar! por! que! o! Universo! está! "poluído"! com! nuvens! de!
elementos!mais!pesados!que!hidrogênio!e!hélio!(e!que!fornecem!
a!matéria:prima!para!a!formação!de!planetas).”!!
!
114 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
5.!Na!coesão!textual,!os!pronomes!são!empregados,!muitas!
vezes,!com!o!objetivo!de!ligar!o!que!está!sendo!dito!e!o!que!já!
foi!enunciado!anteriormente.!Assinale!a!alternativa!em!que!o!
pronome!não!estabelece!ligação!com!o!que!já!foi!mencionado!
anteriormente!nas!passagens!que!seguem.!
!
a)! “Uma! astrônoma! brasileira! da! Nasa! anunciou! ontem! ter!
encontrado! um! conjunto! de! estrelas! "órfãs",! nascidas! fora! de!
grandes!galáxias.!Duilia!de!Mello,!cientista!do!Centro!Goddard!de!
Voos!Espaciais,!da!agência!americana,!descobriu!esses!pequenos!
aglomerados! de! estrelas! jovens! na! forma! de! bolhas! azuis! no!
espaço!sideral.”!
b)(“Como(elas(são(‘jovens’(com(menos(de(30(milhões(de(anos((daí(
sua( coloração( azul),( só( podem( ter( sido( produzidas( ali,( e( não(
importadas(de(galáxias(próximas.”(
c)! “Elas! estão! no! meio! de! duas! galáxias! próximas,! que! se!
deslocam! e! interagem! entre! si! por! meio! da! força! da! gravidade,!
dando!origem!a!fenômenos!inusitados.”!
d)! “As! bolhas! azuis! encontradas! por! Mello! não! estão! em! uma!
região! como! essa,! mas! vivem! uma! condição! especial.! Elas! estão!
no!meio!de!duas!galáxias!próximas,!que!se!deslocam!e!interagem!
115 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
entre! si! por! meio! da! força! da! gravidade,! dando! origem! a!
fenômenos!inusitados.”!
e)! “Esses! elementos! são! produzidos! nos! núcleos! de! estrelas!
velhas! e! expelidos! quando! elas! morrem.! A! morte! de! estrelas!
dentro!de!galáxias,!porém,!não!deixa!sujeira!espalhada,!pois!ela!é!
contida!pela!gravidade!galáctica.”!
!
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
!
O! estudo! dos! processos! de! referenciação! constitui! uma!
temática! de! extrema! relevância! na! tessitura! textual.! Isso! ocorre!
não! somente! porque! eles! exercem! funções! textual:discursivas!
que!servem!para!organizar,!construir!argumentações!e!introduzir!
referentes,! mas! também! porque! desempenham! funções!
discursivas! dos! processos! referenciais,! como! a! introdução! de!
novos! referentes! e! da! recategorização,! o! encapsulamento! de!
orações! inteiras! do! contexto,! a! organização! e! a! centração! das!
partes! do! texto,! a! marcação! da! heterogeneidade! enunciativa,! o!
convite! para! a! ativação! na! memória,! a! identificação! dos!
participantes!e,!ainda,!a!estratégia!argumentativa!de!colocar!em!
cena!várias!vozes!no!texto/!discurso!(CAVALCANTE,!2012,!p.!133!
e!134).!
116 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
Por! esse! motivo,! a! abordagem! desses! fenômenos!
referenciais! deve! ser! priorizada! no! ensino! de! língua! materna,! já!
que! esse! conteúdo! pode! ter! uma! aplicação! direta! ao! ensino! de!
compreensão! e! de! produção! textual! por! haver! uma! estreita!
relação!entre!a!referenciação!e!os!outros!recursos!de!organização!
da! textualidade! e! das! articulações! interdiscursivas! para! a!
configuração!geral!dos!sentidos.!
Mesmo!que!alguns!manuais!recomendados!pelo!catálogo!
do! PNLD! 2012! (Programa! Nacional! do! Livro! Didático)! para! o!
Ensino!Médio!ainda!não!estão!em!consonância!com!as!recentes!
pesquisas! no! campo! da! linguística,! uma! vez! que! abordam! de!
forma! pouco! aprofundada! as! estratégias! de! referenciação,! ou!
ainda,! não! mencionam! nem! oportunizam! atividades! inerentes! a!
essa! temática,! conforme! se! verificou! na! coleção! Projeto( Eco,! há!
outros! manuais,! como! os! da! coleção! Ser( Protagonista,( que!
apresentam,! de! forma! consistente,! avanços! significativos! na!
explanação!dos!principais!tópicos!inerentes!à!referenciação.!!
A! coleção! Ser( Protagonista! teceu! relações! importantes!
entre!as!classes!de!palavras!e!os!sentidos!produzidos!pela!escolha!
de! um! ou! de! outro! vocábulo! para! a! composição! dos! diversos!
textos! que! são! produzidos! tanto! no! âmbito! escolar! quanto! nos!
elaborados! nas! diferentes! situações! vivenciadas.! Além! disso,!
117 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
mostrou!conceitos!relevantes!para!definir!as!principais!formas!de!
referenciar! e! trouxe! propostas! de! atividades! que! contemplam! a!
aplicação! das! estratégias! de! referenciação,! tanto! na! leitura!
quanto! na! produção! textual,! tão! importantes! para! o!
desenvolvimento!da!coerência!e!da!argumentação!no!texto.!
Sabemos! que! os! materiais! didáticos! não! representam! o!
único! caminho! para! desenvolver! as! competências! e! as!
habilidades!que!devem!ser!trabalhadas!na!escola.!Entretanto,!no!
momento!em!que!o!professor!escolher!um!manual!didático!para!
auxiliar!a!sua!prática!docente,!ele!deve!estar!atento!à!abordagem!
dos! conteúdos,! bem! como! às! propostas! de! trabalho! para! o!
desenvolvimento! das! competências! linguísticas! do! seu! aluno,!
uma! vez! que! muitos! manuais! didáticos! distanciam:se! dos! novos!
estudos!e!das!recentes!pesquisas!feitas!no!campo!da!Linguística!
de!Texto!e,!por!isso,!têm!um!longo!caminho!a!percorrer.!
!
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
!
ABAURRE,!M.!B.!M.;!RODRIGUES,!A.!C.!S.!Gramática(do(Português(
Falado.! Volume! VIII:! Novos! estudos! descritivos.! Campinas,! SP:!
Editora!da!Unicamp,!2002.!
!
ANTUNES,!I.!Língua,(texto(e(ensino:!outra!escola!possível.!São!
Paulo.!Parábola!editorial,!2009.!
118 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
!
BRASIL.!PCN(+(Ensino(Médio.!Parte!II:!Linguagens,!códigos!e!suas!
tecnologias!(PCNEM+).!Brasília,!Secretaria!de!Educação!
Fundamental!MEC,!s.d.!
!
______.!Parâmetros(Curriculares(Nacionais!–!ensino!médio.!Parte!
II:!Linguagens,!códigos!e!suas!tecnologias!(PCNEM).!Brasília,!
Secretaria!de!Educação!Fundamental!MEC,!2000.!
!
CAVALCANTE,!M.!Referenciação:!sobre!coisas!ditas!e!não!ditas.!
Fortaleza:!Edições!UFC,!2011.!
!
______.!!Os(sentidos(do(texto.!São!Paulo:!Contexto,!2012.!
!
______.!Leitura,!Referenciação!e!Coerência.!In:!ELIAS,!V.!M.!
(orgs.)!Ensino(de(Língua(Portuguesa:!oralidade,!escrita!e!leitura.!
São!Paulo:!Contexto,!2011.!
!
JURADO,!S.;!ROJO,!R.!A!Leitura!no!Ensino!Médio:!O!que!dizem!os!
documentos!oficiais!e!o!que!se!faz?!In:!BUZEN,!C.!&!MENDONÇA,!
M.!(orgs.)!Português(no(Ensino(Médio(e(Formação(do(Professor.!
São!Paulo:!Parábola,!2006.!
!
______.!Os(sentidos(do(texto.!São!Paulo:!Contexto,!2012.!
!
______.! Anáfora! e! dêixis:! quando! as! retas! se! encontram.! In:!
KOCH,! I.! V;! MORATO,! E.! M;! BENTES,! A.C! (orgs)! Referenciação( e(
discurso.!São!Paulo:!Contexto,!2005.!p.!125:149.!
!
KOCH,! I.V.! As( tramas( do( texto.! Rio! de! Janeiro:! Editora! Nova!
Fronteira,!2009.!
!
119 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
______.! Desvendando( os( segredos( do( texto.! São! Paulo:! Cortez!
Editora,!2005.!
!
______.! Introdução( à( linguística( textual.! São! Paulo:( Martins!
Fontes,!2004.!!!!!
!
______;! ELIAS,! V.! M.! Ler( e( compreender:! os! sentidos! do! texto.!!
São!Paulo:!Contexto,!2006.!
!
______.! Ler( e( escrever:! estratégias! de! produção! textual.! São!
Paulo:!Contexto,!2009.!
!
MARCUSCHI,! Luiz! A.! Produção( textual,( análise( de( gêneros( e(
compreensão.!São!Paulo:!Parábola!Editorial,!2008.!
!
______.! Anáfora! indireta:! o! barco! textual! e! suas! âncoras.! In:!
KOCH,! I.! V;! MORATO,! E.! M;! BENTES,! A.C! (orgs)! Referenciação( e(
discurso.!São!Paulo:!Contexto,!2005,!p.!53:101.!
!
_______!;!KOCH,!I.!V.!Estratégias!de!referenciação!e!progressão!
referencial!na!língua!falada.!In:!Gramática(do(Português(Falado.!
Vol.!VIII:!Novos!estudos!descritivos.!Campinas,!SP:!UNICAMP,!
2002.!
!
!
MANUAIS DIDÁTICOS:
!
ALVES,!R.!H;!MARTIN,!V.!L.!Projeto(Eco(Língua(Portuguesa.!3!V.!
Curitiba:!Positiva,!2010.!
!
BARRETO,!R.!G!(org).!Ser(protagonista!:!Português!1º!ano:!ensino!
médio.!3!V.!!São!Paulo:!Edições!SM,!2010.!!! !
120 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
Processos referenciais: a
construção de sentidos em turmas
de EJA
BASTOS,!Karine!Oliveira!(UFRJ)!
!
!
!
1. INTRODUÇÃO
!
! Não! há! dúvida! de! que! a! Linguística! de! Texto,! desde! seu!
surgimento,!sempre!teve!o!compromisso!de!por!o!texto!em!lugar!
de! destaque! no! ensino! de! língua! materna.! Não! por! acaso,! os!
primeiros! estudos! do! Brasil! voltados! para! a! leitura! e! para! a!
escrita,!muito!embora!ainda!privilegiassem!a!superfície!textual,!já!
lidavam! com! a! noção! de! “referência”! quando! tinham! como!
objeto!a!coesão!e,!a!seguir,!a!coerência.!!
Essa!ponte!teoria:prática!proposta!pelos!estudos!textuais,!
como! se! nota,! é! cara! para! quem! pretende! atrelar,! de! fato,!
pesquisa! a! ensino,! sobretudo! considerando! os! desafios! já!
enfrentados!em!relação!a!esse!aspecto!pelos!estudos!linguísticos!
de! uma! forma! geral.! Nesse! sentido,! assumindo! o! texto! como!
unidade! de! ensino,! é! preciso! compreender! que! a! forma! como!
121 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
este! é! trabalhado! em! sala! de! aula! traduz! o! modo! como! é!
conceituado.! Uma! aula! de! coesão! que! se! proponha! apenas! a!
destacar! alguns! elementos! coesivos! que! retomam! outros!
anteriormente! expressos,! por! exemplo,! não! leva! em! conta! a!
concepção! sociocognitivo:dialógica! da! língua,! tampouco! o! texto!
como!lugar!de!interação.!
! Se!o!trabalho!com!o!texto!é!considerado!central!em!sala!
de! aula,! cabe! refletir! como! essa! prática! precisa! ocorrer.! Os!
Parâmetros! Curriculares! Nacionais! (PCN),! implantados! em! 1998!
pelo! MEC! –! cujas! propostas! trazem! reflexos! dos! princípios! da!
Linguística! Textual! –! defendem! a! perspectiva! “uso:reflexão:uso”!
para! o! ensino! da! língua! materna.! Propõe:se,! desse! modo,! um!
trabalho!que!dê!foco!às!práticas!de!leitura,!produção!de!texto!e!
análise! linguística.! Em! outras! palavras,! é! preciso! valorizar! a!
abordagem!dos!diferentes!gêneros!na!escola,!isto!é,!dos!usos!da!
língua! em! situações! concretas,! de! modo! que! a! leitura! e! a!
produção!de!texto!não!sejam!somente!exercícios!constantes!em!
sala! de! aula,! senão! que! estejam! atrelados! à! prática! de! reflexão!
sobre! a! língua,! sobre! os! objetivos! do! texto,! sobre! os! papéis! dos!
interlocutores! e! sobre! todas! as! estratégias! utilizadas! tanto! na!
leitura!quanto!na!produção.!É!o!que!se!entende!–!e!se!defende!–!
por!ensino!produtivo,!nos!termos!de!Travaglia!(2006).!
122 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
! No! entanto,! longo! é! o! caminho! que! une! teorias! e!
orientações!à!prática!pedagógica,!principalmente!porque!ainda!é!
possível!observar!reflexos!de!um!ensino!prescritivo,!que!pouco!se!
compromete!com!o!uso!efetivo!da!língua!e,!de!modo!mais!grave,!
pouco! se! implica! em! termos! de! uma! postura! mais! crítica! diante!
das!diferentes!situações!sociais.!A!título!de!exemplo,!se!observa!o!
equívoco! no! tratamento! dado! nas! escolas! à! teoria! dos! gêneros!
textuais.! De! fato,! podemos! considerar! esta! teoria! um! avanço!
para! o! ensino! da! língua,! todavia! reduzir! esse! trabalho! à!
classificação! dos! gêneros! mais! se! aproxima! da! abordagem!
tradicional!da!gramática!–!tão!criticada!atualmente!–!do!que!de!
uma!proposta!de!ensino!realmente!produtivo.!
Essas! questões! são! observadas! tanto! no! discurso! do!
professor! em! sala! de! aula! quanto! nos! manuais! didáticos!
destinados! às! diferentes! séries! do! Ensino! Fundamental! e! do!
Ensino! Médio.! Na! Educação! de! Jovens! e! Adultos! (EJA),! por!
exemplo,!modalidade!carente!de!manuais!didáticos!e!de!políticas!
públicas! que! valorizem! as! especificidades! dos! estudantes,! esse!
quadro! se! torna! ainda! mais! preocupante.! Dessa! forma,! as!
reflexões! acerca! do! ensino! da! língua! materna! perpassam!
questões!ainda!mais!amplas!e,!justamente,!por!isso,!deveriam!se!
intensificar! para! além! do! âmbito! acadêmico,! porque! são!
123 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
fundamentais! em! todo! campo! da! educação.! O! modo! como! o!
texto! está! inserido! em! sala! de! aula,! nesse! caso,! torna:se! ponto!
central!na!reflexão!sobre!o!ensino,!não!somente!por!conta!da!sua!
importância! nesse! contexto,! mas! principalmente! porque! usá:lo!
arbitrariamente! pode! trazer! mais! danos! do! que! proveitos! nesse!
processo.!!
Assim,! a! fim! de! unir! pesquisa! a! ensino,! pretendemos,!
neste!artigo,!conduzir!esta!reflexão!a!partir!da!análise!de!manuais!
didáticos! destinados! a! séries! da! Educação! Básica,! de! modo! que!
seja! possível! discutir! sobre! como! a! referenciação,! importante!
fenômeno! textual:discursivo,! é! abordada! nestes! manuais.!
Optamos! pela! análise! de! duas! coleções! de! livros! didáticos!
destinados! às! séries! finais! do! Ensino! Fundamental! da! Educação!
de! Jovens! e! Adultos,! quais! sejam:! Viver,( aprender,! de! Heloisa!
Ramos!et!alii,!e!Tempo!de!Aprender,!de!Cícero!de!Oliveira!et!alii.!
Ambas!as!coleções!são!organizadas!de!modo!multidisciplinar,!isto!
é,! abarcam,! em! todos! os! seus! volumes,! conteúdos! de! todas! as!
disciplinas! com! base! na! perspectiva! de! integração! do! currículo.!
Porém,!serão!analisadas!apenas!as!seções/unidades!destinadas!à!
Língua!Portuguesa.!
Cabe! ressaltar! que! a! opção! pelo! material! da! EJA! decorre!
da! escassez! de! materiais! produzidos! para! essa! modalidade! de!
124 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
ensino,! que,! dentre! tantos! desafios,! enfrenta! o! estigma! de!
educação! compensatória,! supletiva! e! emergencial.! É! possível!
supor,!nesse!caso,!que!este!estigma!se!reflete!no!próprio!ensino!
de!língua,!tornando!ainda!mais!necessária!a!discussão.!!
!
2. REFERENCIAÇÃO: ALGUNS
PRESSUPOSTOS TEÓRICOS
!
! Levando! em! conta! a! importância! da! Linguística! de! Texto!
para! o! trabalho! com! o! texto! em! sala! de! aula,! é! possível! afirmar!
que! os! estudos! acerca! da! referenciação! contribuíram!
significativamente! nesse! processo,! sobretudo,! em! termos! de!
desenvolvimento! da! escrita! e! da! leitura.! Nesse! sentido,! cabe!
apresentar!os!pressupostos!teóricos!que!nortearam!a!análise!do!
tratamento!da!referenciação!nos!livros!didáticos.!!
! Assim,!discutir!as!concepções!de!texto!assumidas!ao!longo!
do! tempo! torna:se! tarefa! fundamental! para! compreender! os!
desafios! teórico:metodológicos! enfrentados! pelo! ensino! da!
língua! e,! principalmente,! para! repensar! os! objetivos! deste!
trabalho!em!sala!de!aula.!Koch!(2002),!ao!relacionar!os!conceitos!
de! leitura,! sujeito,! língua! e! sentido,! distingue! algumas!
concepções!de!texto.!!
125 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
Segundo! a! autora,! os! estudos! iniciais! assumiam! a! língua!
como! representação! do! pensamento! do! autor! e,! portanto,! o!
texto!como!produto!deste!pensamento,!de!modo!que!caberia!ao!
leitor!apenas!o!papel!passivo!de!captar!as!ideias!do!autor.!No!que!
se! refere! ao! ensino,! o! caráter! moralizante! predominava! nas!
escolas,!bem!como!na!sociedade!de!uma!forma!geral,!em!meados!
do! século! XX.! Basta! rever! o! conteúdo! ideológico! presente! nos!
textos,!que!enfatizava!o!amor!pátrio!e!uma!boa!conduta!cidadã.!
Em! seguida,! os! estudos! apontavam! para! uma! concepção!
de!língua!como!código,!ou!seja,!o!foco!antes!voltado!para!o!autor!
passa! a! se! voltar! para! o! texto! –! considerado! produto! da!
codificação! de! um! emissor! a! ser! decodificado! pelo! receptor.! A!
leitura,!com!base!nessa!linha!de!entendimento,!caracterizava:se!
como!mera!prática!de!reconhecimento!das!informações!contidas!
no!texto.!!
É!justamente!essa!concepção!que!ainda!se!vê!refletida!no!
ensino! da! língua.! Basta! observar! as! propostas! de! atividades! de!
leitura/interpretação! em! sala! de! aula:! muitos! exercícios! se!
destinam! somente! a! avaliar! a! capacidade! do! estudante! de!
localizar! informações! expressas! no! texto! –! atividades! muito!
pouco! comprometidas! com! a! formação! de! um! leitor! autônomo,!
crítico,! capaz! de! fazer! inferências,! criar! hipóteses! e! reformular!
126 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
ideias.!Não!é!à!toa!que,!ainda!hoje,!quando!um!professor!propõe!
questões! que! exijam! minimamente! a! realização! de! inferências!
por! parte! do! aluno,! encontra! pouco! retorno,! uma! vez! que! os!
estudantes!estão!acostumados!à!prática!de!buscar!no!texto!todas!
as! respostas.! Nesse! caso,! é! possível! compreender! por! que! a!
referenciação! também! recebe! no! ensino! uma! abordagem! que!
ainda! valoriza! a! superfície! textual! –! restringindo:se! à! expressão!
dos! elementos! –! em! detrimento! a! uma! visão! mais! ampla! do!
texto,! que! a! trate! como! uma! atividade! discursiva! de! construção!
de!sentidos.!!
Atualmente,! a! LT! defende! a! concepção! sociocognitivo:
dialógica! da! língua,! que! leva! em! conta! a! interação! autor:texto:
leitor,!nos!termos!de!Koch!(2007).!Em!outras!palavras,!assume:se!
o! texto! como! lugar! de! interação! e! de! constituição! dos! sujeitos!
enquanto! construtores! sociais.! A! leitura,! com! base! nessa!
perspectiva,! corresponde! a! uma! atividade! interativa! de!
construção! de! sentidos,! que! não! ocorre! somente! por! meio! dos!
elementos! explícitos! na! superfície! textual,! senão! por! meio! da!
ativação! de! um! conjunto! de! saberes! e! experiências! dos! sujeitos!
envolvidos.! Nesse! sentido,! um! ensino! comprometido! com! esta!
concepção!não!pode!ignorar!uma!gama!de!implícitos!oferecidos!
no!decorrer!da!leitura!com!os!quais!se!pode!trabalhar!em!sala!de!
127 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
aula.!Como!bem!defende!Pauliukonis!(2011,!p.!243),!“em!vez!de!
se!procurar!o!que!o!texto!diz,!procurar!analisar!como!o!texto!diz!
e! por! que! diz! o! que! diz! de! um! determinado! modo”.! É! um!
caminho! que! busca! fugir! da! imposição! dos! significados! únicos! e!
hegemônicos!do!texto!e!alcançar!um!ensino!produtivo!da!língua.!
Essa!concepção!de!língua,!texto!e!leitura!vai!ao!encontro!
do!que!se!entende!por!práticas!de!letramento.!Em!outros!termos,!
defende:se! que! a! alfabetização! esteja! atrelada! às! práticas! de!
letramento,!uma!vez!que!ler!não!se!trata!apenas!de!uma!prática!
de! decodificação,! mas! de! uma! atividade! de! construção! de!
sentidos! necessariamente! relacionada! ao! contexto! sócio:
histórico:cultural! em! que! os! sujeitos! se! inserem.! Nesse! sentido,!
deve!ser!proposta!da!escola!tornar!esta!atividade!cada!vez!mais!
complexa,!de!modo!que!os!estudantes,!no!decorrer!do!processo!
de! ensino:aprendizagem,! estejam! expostos! às! práticas! de!
letramento!escolar!e!social!e,!aos!poucos,!sejam!capazes!não!só!
de! localizar! informações! no! texto,! mas! também! de! fazer!
inferências,! formular! hipóteses,! avaliar! criticamente! e! alcançar!
sua!autonomia!leitora.!
! Podemos! dizer,! então,! que! a! perspectiva! da! interação!
social! também! norteou! os! estudos! ligados! à! referenciação,!
considerada! esta! um! processo,! uma! atividade! discursiva! de!
128 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
construção! e! reconstrução! de! referentes! e,! portanto,! um!
fenômeno!de!grande!importância!para!a!produção/compreensão!
de!textos.!!
Os! referentes,! por! sua! vez,! são! objetos! do! discurso! –!
representados!ou!não!por!expressões!referenciais!–!introduzidos!
e! ajustados! de! acordo! com! os! conhecimentos! compartilhados!
entre! os! sujeitos,! até! que! dão! lugar! a! outro! objeto.! Segundo!
Cavalcante!(2011,!p.15),!!
!
são! entidades! que! construímos! mentalmente!
quando! enunciamos! um! texto.! São! realidades!
abstratas,! portanto! imateriais.! (...)! não! são!
significados,! embora! não! seja! possível! falar! de!
referência!sem!recorrer!aos!traços!de!significação,!
que!nos!informam!do!que!estamos!tratando,!para!
que!serve,!quando!empregamos.!(...)!também!são!
formas,! embora,! em! geral,! realizem:se! por!
expressões!referenciais.!
!
Portanto,! o! ato! de! referir! está! condicionado! a! uma! ação!
conjunta! (CAVALCANTE,! 2011)! e! traduz! o! próprio! entendimento!
de! leitura! como! interação! autor:texto:leitor.! Isso! significa! dizer!
que! somente! a! partir! desta! interação! a! coerência! do! texto! é!
construída.!Cabe!ao!professor!de!língua!materna,!portanto,!ficar!
bastante! atento! a! essa! questão,! de! modo! que! não! reduza! o!
processo!de!leitura!em!sala!de!aula!à!simples!captura!de!ideias!do!
129 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
texto,!justamente!porque!os!sentidos!–!e!a!coerência!–!não!estão!
exatamente! apontados! ali.! Além! disso,! como! o! ato! de! referir!
exige! negociação! entre! interlocutores,! deve:se! levar! em! conta!
principalmente!a!pluralidade!de!leituras!e!sentidos!(KOCH,!2007).!
! Ainda!no!âmbito!do!ensino,!o!estudo!sobre!referenciação!
torna:se! ainda! mais! relevante! para! que! o! aluno! compreenda!
como! se! estrutura! o! texto.! Em! outras! palavras,! é! importante!
também! que! ele! perceba! o! papel! dos! referentes! na! construção!
de! tópicos! discursos! –! seja! quanto! à! sua! manutenção,! seja!
quanto!à!sua!progressão!–!de!modo!que!torne!disponível!para!o!
processo! de! leitura! e! de! escrita! toda! sorte! de! estratégias!
referenciais:! introdução! referencial,! anáforas,! encapsulamento,!
dêixis.! Assim,! compreendendo! a! interação! autor:texto:leitor!
quando!estuda!referenciação,!certamente!terá!mais!condições!de!
assumir! os! papéis! ora! de! autor,! ora! de! leitor,! consciente! dos!
exercícios!de!construção!de!objetos!do!discurso!e!de!construção!
de!sentidos.!!
! Cavalcante! (2012,! p.! 133),! ao! tratar! das! funções! textual:
discursivas! das! expressões! referenciais,! defende! que! os!
processos!referenciais!
!
(...)! exercem! funções! textual:discursivas! que!
podem! servir! para! organizar,! argumentar,!
130 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
introduzir! referentes,! entre! outras! possibilidades.!
Isso! não! quer! dizer! que! devemos! acreditar! que!
existe! um! antecedente! ou! um! “gatilho”! explícito!
que! ative! essas! formas! de! retomada,! mas! que! a!
elaboração! global! do! texto! nos! fornece! pistas!
sobre! o! que! põe! essas! estratégias! em!
funcionamento.!
!
! Assim,! outra! questão! importante! de! ser! abordada! no!
ensino!de!língua!materna!é!a!relação!que!se!pode!conferir!entre!
o! processo! de! referenciação! e! a! intencionalidade! do! texto.!
Marquesi! (2007,! p.! 217)! reassalta! que! “tratar! da! referenciação!
exige! que! se! pense! não! apenas! na! abordagem! linguística,! mas!
também! na! cognitiva,! estando! ambas! estreitamente! imbricadas,!
já! que! são! concernentes! às! práticas! e! aos! discursos”.! O! ato! de!
referir,! por! exemplo,! pode! estar! a! serviço! da! argumentação! e!
esta! correlação! torna:se! fundamental! no! processo!
produção/compreensão!de!texto.!
! Como! se! nota,! a! referenciação! encontra:se! no! seio! da!
discussão!da!Linguística!!de!Texto!e,!nesse!sentido,!se!esta!linha!
teórica! tem! contribuído! significativamente! para! o! protagonismo!
do! texto! em! sala! de! aula,! certamente! os! estudos! referenciais,!
desenvolvidos! com! base! na! perspectiva! sociocognitiva:dialógica,!
assumem! um! papel! ainda! mais! importante! nesse! processo,!
sobretudo! porque! estão! diretamente! implicados! nas! práticas! de!
131 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
produção/compreensão! de! texto.! Cabe,! portanto,! refletir! como!
acontece! esta! abordagem! nos! manuais! didáticos! destinados! à!
Educação!Básica.!
!
3. ANÁLISE DA REFERENCIAÇÃO NOS
LIVROS DIDÁTICOS DE EJA
!
! Como! foi! dito! anteriormente,! a! opção! pelos! manuais!
didáticos! destinados! à! Educação! de! Jovens! e! Adultos! decorre!
principalmente! da! escassez! de! materiais! produzidos! para! essa!
modalidade! de! ensino.! É! possível! conferir,! por! exemplo,! que! o!
Guia!dos!livros!didáticos!do!Programa!Nacional!do!Livro!Didático!
2011! da! EJA! apresenta! somente! duas! coleções! destinadas! às!
séries! finais! do! Ensino! Fundamental! –! justamente! as! que! foram!
selecionadas! para! esta! análise.! Cabe! ressaltar! que! o! número!
reduzido!de!obras!se!deve,!inclusive,!à!regulamentação!tardia!do!
PNLD! da! EJA:! a! Alfabetização! de! Jovens! e! Adultos! foi!
contemplada!em!2007!e,!somente!em!2010,!o!Programa!passou!a!
abarcar!todas!as!séries!do!Ensino!Fundamental.!!
! O! Guia! reforça! a! ideia! de! que! é! preciso! valorizar! a!
diversidade!e!a!heterogeneidade!desse!público!de!estudantes.!No!
entanto,! essa! questão! é! colocada! como! um! desafio! a! ser!
132 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
enfrentado! pelo! professor:! “(...)! o! educador! que! atua! na! EJA!
enfrenta! muitos! desafios! em! seu! cotidiano.! A! começar! pelo!
reconhecimento!dos!saberes!que!os!estudantes!jovens!e!adultos!
já! trazem! consigo! fruto! de! suas! experiências! de! vida”! (BRASIL,!
2011,!p.!19).!De!fato,!existe!heterogeneidade!em!turmas!de!EJA,!
no!entanto!é!preocupante!notar!que!as!demais!turmas!–!que!não!
fazem! parte! desta! modalidade! de! ensino! –! possam! ser!
consideradas! homogêneas! ou! turmas! que! não! trazem! consigo!
saberes! e! experiências! de! vida.! Esse! questionamento! torna:se!
fundamental,! principalmente,! porque! os! reflexos! de! uma!
concepção! de! educação! como! esta! podem! ser! observados,! por!
exemplo,!no!ensino!de!língua!materna,!foco!da!análise!proposta!
por!este!artigo.!
Assim,! como! base! para! análise! dos! manuais! didáticos!
destinados!à!EJA,!cabe!refletir!sobre!a!própria!concepção!de!EJA!
que! se! pretende! defender! aqui.! Embora! esta! modalidade! de!
ensino! carregue! o! estigma! de! educação! supletiva,! emergencial,!
em! que! os! sujeitos! retornam! à! sala! de! aula! para! recuperar! um!
“tempo! perdido”,! é! preciso! considerar! que! estudantes! de! EJA!
fazem! parte! de! um! grupo! social! vulnerabilizado! pelo!
sucateamento! do! sistema! de! educação! pública! e,! portanto,! são!
estes! mesmos! sujeitos! que! devem! ser! capazes! de,! mais! do! que!
133 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
resistir! a! um! cenário! que! lhes! seja! imposto,! transformar! sua!
própria!realidade!e!a!do!meio!em!que!estejam!inseridos.!Por!isso,!
é! urgente! o! reconhecimento! de! suas! potencialidades! como! ser!
cognitivo,!histórico!e!cultural,!capaz!de!promover!transformações!
da!estrutura!social.!
! Nesse! sentido,! cabe! ao! professor! assumir! os! materiais!
didáticos,! sobretudo,! os! destinados! a! este! público! como! uma!
possibilidade!discursiva!de!elaboração!de!sua!contrapalavra.!
!
O! material! didático! é! mais! uma! possibilidade! de!
réplica!do!diálogo!que!nos!constitui,!devendo!estar!
disposto! não! só! a! “ensinar”! ou! “explicar”! algo! ao!
educando,! a! “guiar! corretamente”! os! passos! do!
educador,!mas!permita!a!elaboração!de!críticas,!a!
construção! de! enunciados,! a! alteração! de! suas!
próprias! palavras,! assim! como! a! ressignificação!
das!palavras!do!autor!(STAUFFER,!2007,!p.172).!
!
! Bagno! (2010,! p.! 36),! por! sua! vez,! ao! defender! o! uso! do!
livro!didático!no!ensino!de!língua!materna,!pontua:!
!
Defendo! os! LD! porque,! num! país! onde! o!
alfabetismo! pleno! é! uma! ave! rara,! essas! obras!
constituem! um! dos! poucos! veículos! da! cultura!
letrada! disponíveis! em! muitos! círculos! familiares.!
Com! a! universalização! do! ensino,! com!
praticamente! todas! as! crianças! frequentando! a!
escola! e! com! os! programas! governamentais! de!
distribuição! maciça! de! material! didático,! os! LD!
134 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
passaram! a! habitar! lares! onde,! até! então,! quase!
não! existia! material! impresso.! Diversas! pesquisas!
que,! no! caso! específico! dos! livros! de! língua!
portuguesa,! essas! obras! constituem! importantes!
agentes! de! letramento! para! inúmeras! famílias! e!
comunidades! que,! mesmo! com! um! domínio!
rudimentar! da! leitura,! encontram! nos! LD! contos,!
poesias,!histórias!em!quadrinhos,!letras!de!música,!
notícias! de! jornal,! entrevistas,! receitas! culinárias,!
curiosidades! científicas,! ilustrações,! caricaturas,!
fotografias,! mapas,! anúncios! publicitários,!
reproduções! de! quadros! famosos! e! de! outras!
obras!de!arte!(...)!
!
! Nesse!contexto,!pretende:se!iniciar!uma!análise!dos!livros!
didáticos! pautada! na! concepção! sociocognitiva:dialógica! da!
língua,! que! esteja,! portanto,! atenta! à! necessidade! de! reflexão!
acerca!do!ensino!de!língua!materna.!
!
3.1. Coleção Viver, aprender
!
! !Viver,(aprender!é!uma!das!coleções!aprovadas!pelo!PNLD!
de!EJA!2011!para!as!séries!finais!do!Ensino!Fundamental.!!A!obra!
é! organizada! em! quatro! volumes! multi! e! interdisciplinares,! de!
modo! que! cada! um! se! estrutura! em! torno! de! um! tema! geral! a!
partir! do! qual! se! desenvolvem! os! conteúdos! dos! seguintes!
componentes! curriculares:! Língua! Portuguesa,! Língua! Inglesa,!
Arte! e! Literatura,! Matemática,! Ciências! Humanas:! História! e!
135 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
Geografia,! e! Ciências! Naturais.! Os! temais! gerais,! por! sua! vez,! se!
organizam! a! partir! da! seguinte! ordem:! Contextos! de! vida! e!
trabalho;! Por! uma! vida! melhor;! Mundo! em! construção;! e!
Identidades.!
! Em! todos! os! volumes,! na! parte! destinada! à! Língua!
Portuguesa,!há!uma!apresentação!inicial!da!proposta!de!trabalho!
nesta!área,!sendo!possível!conferir!as!concepções!de!língua,!texto!
e! leitura! defendidas.! No! primeiro! volume,! sob! o! título! “As!
palavras,! os! sentidos”,! o! texto! inicial! trata! da! “necessidade! de!
haver! alguém! para! testemunhar! as! coisas”! (p.! 11)! e,! com! base!
nessa! reflexão,! defende:! “Toda! língua! é! composta! por! um!
conjunto! de! signos! linguísticos! convencionalmente! organizados,!
que! servem! à! interação! e! à! comunicação! entre! as! pessoas”! (p.!
11).!Assim,!reforça:!“o!que!define!um!texto!não!é!a!presença!ou!a!
ausência! de! palavras,! mas! o! sentido! ou! os! sentidos! que! o! autor!
pretendeu! alcançar! quando! o! criou,! uma! certa! unidade,! que! é!
perceptível! para! quem! o! lê,! ouve! e! vê”! (p.! 12).! É! possível!
perceber! que,! ao! mesmo! tempo! em! que! se! defende! uma! visão!
sociointeracionista,! há! uma! distinção! marcada! entre! “leitura”! e!
“audição”! em! “lê”! e! “ouve”,! o! que! traduz! uma! discussão! pouco!
ampliada!sobre!o!que!vem!a!ser!leitura!de!um!texto.!No!entanto,!
em!seguida,!é!apresentado!um!olhar!mais!claro!para!a!questão:!
136 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
“(...)! não! é! possível! ler! sem! interpretar.! A! interpretação! de! um!
texto! não! ocorre! depois,! mas! durante! a! leitura.! (...)! o! leitor! vai!
estabelecendo! relações! entre! as! ideias! apresentadas,! refletindo!
sobre! a! maneira! como! o! texto! foi! organizado,! inferindo! a!
intenção!do!autor!(...)”!(p.!12).!!
No!terceiro!volume,!sob!o!título!“O!texto,!o!leitor”,!o!texto!
inicial! mantém! a! defesa! de! que! a! leitura! é! uma! atividade! de!
interação.! Assim,! adianta! para! o! estudante:! “Este! é! nosso!
objetivo:!que!você!se!envolva!com!a!palavra!e!adquira!confiança!
para! participar! ativa! e! essencialmente! da! construção! de! sentido!
de! diversos! tipos! de! texto”.! Nessa! linha! de! entendimento,!
acrescenta!que!“há!muitas!maneiras!de!interagir!ou!dialogar!com!
um!texto!e!(...)!por!esse!motivo!é!que!as!interpretações!variam.!
Um!texto!pode!ter!significados!diferentes,!pois!cada!leitor!o!lê!de!
um!jeito!diferente”!(p.!11).!Em!seguida,!conclui!que!“a!interação!
entre!leitor!e!autor!é!a!essência!do!ato!de!ler”!(p.!12).!
As! concepções! de! língua,! texto! e! leitura! apresentadas!
inicialmente! dão! conta! de! atender,! de! uma! forma! geral,! a! uma!
proposta!de!ensino!produtivo,!que!considere!a!perspectiva!“uso,!
reflexão,!uso”!colocada!pelos!PCN.!Cabe,!nesse!sentido,!conferir!
se! essas! concepções! vão! se! refletir,! de! fato,! nas! atividades!
propostas! no! decorrer! dos! volumes! da! coleção! Viver,( aprender.!
137 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
Para!tanto,!o!foco!de!análise!passa!a!se!voltar!para!o!tratamento!
da!referenciação!nos!livros!didáticos.!
Já! no! primeiro! volume,! na! primeira! atividade! proposta! –!
intitulada! “diálogo! com! o! texto”! (p.! 15)! –,! é! possível! observar!
como! a! forte! relação! entre! referenciação! e!
produção/compreensão!do!texto!é!bem!abordada.!!
!

Ao!ver!o!abandono!da!velha!casa:!o!mato! Ao!ver!o!abandono!tão!perto!de!mim!que!

a!crescer!das!paredes! dava!

Ao! ver! os! desenhos! de! mofo! espalhados! até!para!lamber!

nos!rebocos!carcomidos! Pensei!em!puxar!o!alarme!

Ao! ver! o! mato! a! subir! no! fogão,! nos! Mas!o!alarme!não!funcionou.!

retratos,! A!nossa!velha!casa!ficou!para!os!morcegos!

nos!armários! e!!

E!até!na!bicicleta!do!menino!encostada!no! os!gafanhotos.!

batente!da!casa! E! os! melões:de:são:caetano! que! subiram!

Ao!ver!o!musgo!e!os!limos!a!tomar!conta! pelas!

do!batente! Paredes!já!estão!dando!frutos!vermelhos.!
! !
BARROS,! Manoel! de.! Retrato! do! artista!
quando! coisa.! 3.! ed.! Rio! de! Janeiro:!
Record,!2002.!P.!73!

Dentre!as!primeiras!questões!acerca!da!leitura!do!poema!
de! Manoel! de! Barros,! está! a! tarefa! de! resgatar! elementos! da!
paisagem! que! recuperem! o! sentido! de! “abandono”,! termo!
138 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
mencionado! no! primeiro! verso! “Ao! ver! o! abandono! da! velha!
casa:!o!mato!a!crescer!das!paredes”.!Assim,!é!preciso!que!o!aluno!
identifique! ao! longo! do! poema! elementos! que! indiquem!
abandono,! tais! como:! “o! mato! a! crescer! das! paredes”! e! “os!
desenhos!de!mofo!espalhados!nos!rebocos!carcomidos”.!Nota:se,!
nesse!caso,!que!a!estratégia!do!encapsulamento!é!explorada!sem!
que!se!exija!do!aluno!classificá:la.!!
Em!seguida,!há!uma!análise!longa!e!detalhada!de!todo!o!
poema,! que! ressalta,! dentre! vários! aspectos! da! leitura,! a!
importância! dos! processos! referenciais! para! a! construção! de!
sentidos,!como!se!comprova!no!trecho!destacado:!!
!
Essa! relação! do! “eu”! do! poema! com! a! casa! fica!
ainda! mais! evidente! no! final! do! texto:! a! “velha!
casa”,! do! verso! 1,! é! chamada! de! “nossa! velha!
casa”,! no! verso! 15.! Esse! “eu”,! então,! está!
envolvido! com! o! lugar.! Repare! que! a! escolha! não!
foi! “minha! casa”.! Ao! dizer! “nossa”,! o! “eu”! revela!
uma! experiência! familiar! com! o! local.! (RAMOS,!
Heloisa!et!alii,!2009,!v.!1,!p.!17)!!
!
Em! outro! momento! do! primeiro! volume,! a! noção! de!
“referenciação”! retorna,! mas! ainda! sem! sistematização! do!
conteúdo.! Assim,! com! base! na! leitura! da! crônica! de! Moacyr!
Scliar,! intitulada! “Não! roubarás”! (p.! 61),! a! primeira! questão!
propõe:!
139 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
!

1) O!texto!tem!um!subtítulo:!
“Tinha!certeza!de!que,!se!entrasse!numa!igreja!para!roubar,!mais!
cedo!ou!mais!tarde!seria!castigado”!
Títulos! e! subtítulos! podem! dar! pistas! do! que! vai! acontecer! numa!
narrativa.!A!certeza!do!castigo!se!confirmou?!O!assaltante!foi!castigado?!
Como?!
!
O! objetivo! é! fazer! com! que! o! estudante! perceba! que! os!
sentidos! vão! sendo! construídos! ao! longo! da! leitura! e! que! as!
estratégias! de! referenciação! contribuem! para! tal.! Nesse! caso,! a!
leitura!do!título!e!do!subtítulo!da!crônica!permite!que!se!crie!uma!
série! de! expectativas! quanto! ao! desenrolar! da! história:! o! termo!
“roubar”,! por! exemplo,! sugere! a! existência! de! um! assaltante! na!
história,! assim! como! “castigo”! por! um! roubo! à! igreja! sugere!
“ação!divina”.!
Se,! no! primeiro! volume! da! coleção,! a! prática,! de! fato,! se!
coloca! como! reflexo! das! concepções! assumidas! inicialmente,! no!
segundo,!as!atividades!que!abarcam!os!estudos!referenciais!não!
revelam! o! mesmo,! principalmente! porque! a! sistematização! do!
conteúdo! e! os! exercícios! propostos! parecem! se! restringir! à!
superfície! textual.! Assim,! já! no! início! do! volume,! aborda:se! o!
emprego! de! alguns! pronomes,! com! base! na! ideia! de! que! são!
140 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
usados!para!“evitar!repetições!de!algumas!palavras,!ou!seja,!(...)!
substituem! substantivos! ou! expressões! mencionados! antes”! (p.!
14).!Essa!explicitação!tem!como!objetivo!principal!discutir!o!uso!
dos! pronomes! pessoais! retos! e! oblíquos,! relacionando! esta!
discussão! à! questão! da! variação! linguística,! quando! são!
mencionados! os! usos! na! “linguagem! informal”! e! na! “norma!
culta”.! Em! seguida,! são! propostos! alguns! exercícios! que! não!
apresentam!relação!com!texto!algum,!de!modo!que!as!frases!de!
cada! questão! foram! criadas! sem! relação! com! algum! tema!
norteador!que!seja.!Uma!atividade,!por!exemplo,!propõe!que!se!
reescrevam! frases,! substituindo! os! sintagmas! nominais! ou!
preposicionais!por!pronomes!pessoais!(p.!21):!
!

4.! Leia! as! frases! abaixo! e! reescreva:as! substituindo! a! palavra! repetida,! que!
está!sublinhada,!por!um!dos!seguintes!pronomes:!ele!–!ela!–!o!–!a!–!lhe;!eles!–!
elas!–!os!–!as!–!lhes.!
a)!Minha!amiga!é!uma!pessoa!maravilhosa.!Minha!amiga!sabe!como!manter!as!
amizades.!
b)!O!rapaz!mudou:se,!mas!o!carteiro!localizou!o!rapaz.!
c)!O!rapaz!mudou:se,!por!isso!o!carteiro!não!conseguiu!localizar!o!rapaz.!
Outra!atividade!sugere!que!se!siga!um!modelo!(p.!26):!

7.!Leia!o!modelo!e,!a!seguir,!complete!as!frases.!
(((((((((((É(preciso(estudar(as(regras.(
141 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
((((((((((É(preciso(estudáJlas.(
a) Eu!gostaria!de!admirar!o!país.!
Eu!gostaria!de!___________________________________!
b) Não!consegui!ouvir!o!pedido.!
Não!consegui!____________________________________!
c) Esqueci:me!de!grifar!as!palavras.!
Esqueci:me!de!___________________________________!
!
O! terceiro! volume! da! coleção! se! inicia! com! a! mesma!
lógica!do!primeiro:!com!base!na!proposta!“diálogo!com!o!texto”,!
é!apresentada!uma!análise!do!conto!“Essas!meninas”,!de!Carlos!
Drummond!de!Andrade.!Antes!disso,!em!consonância!com!o!que!
se! entende! por! construção! de! sentidos,! algumas! questões! pré:
textuais! sugerem! que! o! aluno! reflita,! dentre! outros! aspectos,!
sobre!o!título!e!discorra!sobre!suas!expectativas!para!o!decorrer!
da!leitura!(p.!14).!!
!

Essas!meninas!
!!!!!As!alegres!meninas!que!passam!na!rua,!com!suas!pastas!escolares,!às!vezes!
com! seus! namorados.! As! alegres! meninas! que! estão! sempre! rindo,!
comentando! o! besouro! que! entrou! na! classe! e! pousou! no! vestido! da!
professora;!essas!meninas,!essas!coisas!sem!importância.!
!!!!!O!uniforme!as!despersonaliza,!mas!o!riso!de!cada!uma!as!diferencia.!Riem!
alto,!riem!musical,!riem!desafinado,!riem!sem!motivo;!riem.!
142 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
!!!!!Hoje! de! manhã! estavam! sérias,! era! como! se! nunca! mais! voltassem! a! rir! e!
falar! coisas! sem! importância.! Faltava! uma! delas.! O! jornal! dera! a! notícia! do!
crime.!O!corpo!da!menina!encontrado!naquelas!condições,!sem!lugar!ermo.!A!
selvageria!de!um!tempo!que!não!deixa!mais!rir.!
!!!!!As! alegres! meninas,! agora! sérias,! tornaram:se! adultas! de! uma! hora! para!
outra,!essas!mulheres.!
!
ANDRADE,!Carlos!Drummond!de.!Contos!plausíveis.!!
Rio!de!Janeiro:!Record,!1998.!p.!172.!
!
Em! seguida,! a! própria! análise! do! texto! explora! a!
importância! dos! processos! referenciais! para! a! construção! de!
sentidos.! Só! é! possível! compreender,! por! exemplo,! a!
transformação!de!“essas!meninas”!–!título!do!texto!–!em!“essas!
mulheres”! –! expressão! que! fecha! o! texto! –! a! partir! das!
inferências! realizadas! quanto! à! “notícia! do! crime”.! Se! a!
abordagem! dessa! questão,! ao! contrário,! se! restringisse! à!
superfície! textual,! certamente! teria! comprometido! uma! leitura!
mais!ampla!do!conto.!!
Em! outro! momento! da! análise,! a! dêixis! é! explorada! sem!
que!para!isso!seja!necessária!a!sua!classificação.!Há!uma!frase!do!
texto! que! faz! menção! ao! acontecimento! trágico:! “O! corpo! da!
menina! encontrado! naquelas! condições,! em! lugar! ermo”.! Na!
análise,! o! sintagma! “naquelas! condições”! é! destacado! a! fim! de!
143 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
que! se! reflita! com! o! leitor! sobre! a! questão! do! conhecimento!
compartilhado:!
O!leitor!contemporâneo,!que!convive!diariamente!
com! o! tipo! de! violência! urbana! a! que! Drummond!
está! se! referindo,! sabe! perfeitamente! que!
“naquelas!condições”!deve!significar!que!a!menina!
havia!sofrido!violência!física,!podia!talvez!até!estar!
nua.!(RAMOS,!Heloisa!et!alii,!2009,!v.3,!p.!15)!
!
A!riqueza!da!leitura,!muitas!das!vezes,!está!no!“não!dito”!
e,!se!a!referenciação!é!explorada!como!um!processo!a!serviço!da!
produção/compreensão! do! texto,! da! construção! de! sentidos,! é!
sinal!de!que!a!atividade!apresentada!nesta!coleção!cumpre!o!que!
se! defende! inicialmente! em! termos! de! um! ensino! produtivo! da!
língua,! sobretudo! porque! está! comprometida! com! a! formação!
crítica!do!leitor.!
Por! fim,! o! quarto! volume! da! coleção! busca! explorar! a!
produção! textual,! discutindo,! em! especial,! o! processo! de!
construção! do! texto! argumentativo.! Nessa! perspectiva,! o! texto!
inicial! –! intitulado! “Tecendo! o! texto”! –! retoma! o! conceito! de!
texto! apresentado! nos! volumes! anteriores! e! defende! a!
importância! de! sua! unidade,! isto! é,! a! necessidade! de!
entrelaçamento!dos!fios!do!“tecido”!para!formar!um!todo.!Assim,!
pontua:! “Deve! haver! afinidade! entre! as! várias! ideias! que!
compõem!o!texto,!e!elas!também!devem!estar!dispostas!em!uma!
144 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
ordem! lógica”! (p.! 11).! E,! como! a! atenção! está! voltada! para! a!
escrita,! reforça:! “se! seguirmos! essas! orientações,! nosso! texto!
dará! ao! leitor! todas! as! possibilidades! de! ser! compreendido”! (p.!
11).!
Logo! em! seguida,! portanto,! “coesão! e! coerência”! se!
colocam! como! o! primeiro! ponto! de! discussão! do! volume,! uma!
vez! que! a! “unidade”! mencionada! no! texto! inicial! é! atribuída! a!
esses!dois!conceitos,!assim!definidos:!
!
A! coerência! tem! a! ver! com! o! sentido,! a! lógica!
entre!as!ideias,!e!a!coesão!tem!a!ver!com!o!modo!
como! as! partes! do! texto! estão! encadeadas.! Na!
maioria!das!vezes,!a!coesão!conta!com!elementos!
linguísticos.! Em! alguns! casos,! o! elemento!
linguístico!responsável!pela!coesão!pode!interferir!
na!coerência.!(RAMOS,!Heloisa!et!alii,!2009,!v.4,!p.!
13)!
!
Desse!modo,!na!análise!inicial!do!texto!“Os!indesejáveis!
ratos”,!de!Francisco!Luiz,!é!possível!perceber!uma!atenção!dada!à!
interação!autor:texto:leitor,!uma!vez!que!se!coloca:!

!!!!!Você!compreendeu!tudo!o!que!o!autor!do!texto!
apresentou!porque!acompanhou!o!encadeamento!
das! ideias,! ou! seja,! você! se! beneficiou! da!
estratégia(de(coesão!que!foi!usada!no!texto.!Outro!
fator! que! contribuiu! para! sua! compreensão! foi! a!
estratégia( de( coerência! que! o! autor! usou.! No!
texto,!todas!as!ideias!estão!relacionadas!e!voltadas!
a! um! objetivo,! que! é! o! de! mostrar! as! doenças!
145 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
causadas! pelos! ratos.! (RAMOS,! Heloisa! et! alii,!
2009,!v.4,!p.!14)!

!
No!entanto,!no!detalhamento!da!análise,!notamos!que!os!
exemplos! dados! para! reforçar! o! que! se! entende! por! coesão!
fragilizam! a! concepção! dialógica! antes! defendida,! porque!
propõem! um! olhar! restrito! à! superfície! textual.! Em! outros!
termos,!o!que!se!discute!a!respeito!de!coesão!está!ligado!apenas!
à! ideia! de! retomada! de! elementos! anteriormente! expressos! no!
texto.!Os!próprios!exemplos!destacados!pela!análise!comprovam!
isso:! “naquela! época”,! “essa! doença”,! “esses! animais”.! Embora!
seja!também!relevante!tratar!desses!exemplos!básicos,!a!análise!
fica! comprometida! porque! não! avança! na! discussão,! tampouco!
comenta!sobre!o!processo!de!construção!da!coerência,!defendida!
inicialmente.!!
Em! seguida,! são! propostos! exercícios! que! seguem! a!
mesma!lógica!da!análise!(p.!22):!
!

a) Cada! expressão! sublinhada! no! texto! remete! o! leitor! a! algo! que! foi!
tratado!antes.!Escreva!que!ideias!são!retomadas!por:!
!
• isso!_______________________________________________!
• nesses!ambientes!_____________________________________!
146 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
• esse!tipo!de!solo!______________________________________!
• o!material!___________________________________________!
!
!
Em!linhas!gerais,!é!importante!dizer!que!a!coleção!Viver,(
aprender,!no!que!se!refere!à!abordagem!acerca!da!referenciação,!
apresenta!algumas!análises!pertinentes,!reflexo!de!uma!proposta!
de! trabalho! comprometida! com! a! formação! crítica! do! leitor.! No!
entanto,! os! volumes! 2! e! 4,! em! especial,! acabam,! de! alguma!
forma,! contradizendo! a! concepção! defendida,! porque! propõem!
apenas! exercícios! que! se! restringem! ao! âmbito! da! superfície!
textual.! Em! última! instância,! percebemos! a! falta! de! unidade!
entre!todos!os!volumes,!de!modo!que!uns!se!relacionam!mais!do!
que!outros!à!concepção!sociointeracionista:dialógica!da!língua.!
!
3.2. Coleção Tempo de aprender
!
Organizada! em! quatro! volumes! multidisciplinares,! esta!
coleção! abarca! sete! componentes! curriculares,! quais! sejam:!
Língua! Portuguesa,! Matemática,! História,! Geografia,! Ciências!
Naturais,! Língua! Inglesa! e! Artes.! Embora! se! proponha! um!
trabalho!pedagógico!disciplinar!–!ao!contrário!do!que!se!entende!
por!interdisciplinaridade!–,!há!uma!tentativa!de!articulação!entre!
147 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
os! componentes,! de! modo! que! cada! volume! se! estrutura! em!
torno! de! dois! eixos! temáticos,! explorados! por! todas! as!
disciplinas:! “Identidade”,! e! “Cidadania! e! leitura”! no! primeiro!
volume;! “Meio! ambiente”,! e! “Saúde! e! qualidade! de! vida”! no!
segundo;! “Cidadania! e! cultura”! e! “cultura! de! paz”! no! terceiro;!
“Trabalho! e! consumo”! e! “Globalização! e! novas! tecnologias”! no!
quarto.!!
! Ao! contrário! da! primeira! coleção! analisada,! Tempo( de(
aprender!não!propõe!uma!reflexão!mais!ampla!acerca!da!língua.!
Os! textos! apresentados! no! início! de! cada! unidade! ou! de! cada!
capítulo!se!restringem!a!discutir!–!muito!brevemente!–!os!temas!
que! serão! abordados,! resgatando! para! isso! algumas! prováveis!
memórias! de! jovens! e! adultos.! No! entanto,! falta! um! “conversa”!
mais! intensa! com! o! estudante! sobre! algumas! questões! que!
seriam! pertinentes! para! o! ensino! da! língua! materna,! que!
pudessem! trazer! reflexos! da! própria! concepção! defendida! de!
língua,!texto!e!leitura,!por!exemplo.!São!poucas!as!vezes!em!que!
essa! “conversa”! acontece! e,! em! geral,! quando! acontece,! não!
apresenta!grandes!desdobramentos,!como!o!caso!a!seguir!(p.!25):!
!

Ampliando!o!tema!
!!!!!Para!você,!a!língua!também!é!uma!forma!de!retratar!um!povo,!uma!cultura,!
148 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
uma!pessoa?!A!língua!que!falamos!também!constitui!nossa!identidade?!Leia!o!
texto!a!seguir...!
!!!!A!língua!falada!representa,!igualmente,!uma!das!mais!imediatas!marcas!de!
identidade!social:!
“A! fala! de! uma! pessoa! pode! indicar! seus! sentimentos,! o! tipo! de!
personalidade!que!tem,!quem!é.!Alguns!modos!de!falar!são!indicadores!
de!características!demográficas,!tais!como!idade,!sexo,!ocupação,!grau!e!
tipo!de!educação,!nação!ou!região!de!origem”.!(Robinson,!1977:68)!
!
Dino!Preti!(Org.).!Léxico(na(língua(oral(e(na(escrita.!!
São!Paulo:!Humanitas/FFLCH/USP,!2003.!
! !
É! possível! perceber! que! a! proposta! de! “ampliação! do!
tema”,! embora! abarque! uma! discussão! interessante,! se!
apresenta! de! forma! isolada,! refletindo! a! falta! de! uma! maior!
organicidade!das!discussões.!
! Focando!a!análise!para!o!tratamento!da!referenciação,!no!
primeiro! volume! da! coleção,! pouco! se! observa! a! respeito! desse!
tema.! A! título! de! exemplo,! a! proposta! de! atividade! a! seguir!
aborda!o!processo!referencial!de!encapsulamento!(p.!30):!
!

Atenção!!Compro!gavetas,!! ! Preciso!guardar!minhas!lembranças,!
compro!armários,! As!viagens!que!não!fiz,!
cômodas!e!baús.! Ciranda,!cirandinha!
! E!o!gosto!de!aventura!
Preciso! guardar! minha! Que!havia!nas!manhãs.!
149 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
infância,! !
Os!jogos!da!amarelinha,! Preciso!guardar!meus!talismãs!
Os!segredos!que!contaram! O!anel!que!me!deste!
Lá!no!fundo!do!quintal.! O!amor!que!tu!me!tinhas!
! E!as!histórias!que!eu!vivi.!
! !
Roseana!Murray.!Classificados!
poéticos.!São!Paulo:!Companhia!
Editora!Nacional,!2004.!
!

1. Que! palavras! ou! expressões! ajudam! a! construir! o! ambiente!


da!infância!presente!no!texto?!Transcreva:as.!
!
A! expressão! referencial! infância! é! retomada! ao! longo! do!
texto! pelos! referentes! jogos( de( amarelinha,! ciranda,! cirandinha,!
gosto(de(aventura,!entre!outros.!No!entanto,!o!tratamento!dado!
à!referenciação!se!esgota!nessa!questão,!ou!seja,!desperdiça!um!
desdobramento! maior,! que! pudesse! provocar/exigir! uma! leitura!
mais! crítica! por! parte! do! aluno,! mais! comprometida! com! a!
reflexão! acerca! da! língua! e! de! todas! as! estratégias! do! texto! e!
menos!preocupada!com!a!busca!de!respostas!no!poema.!
! No! segundo! volume! da! coleção,! há! outros! poucos!
exemplos!de!atividades!que!se!proponham!a!tratar!dos!processos!
de! referenciação.! Assim,! com! base! na! leitura! de! uma! notícia!
150 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
publicada! na! internet,! há! questões! que! tratam! da! relação! entre!
título!e!subtítulo!do!texto!(p.!35),!assim!apresentados:!
!

Calada!mais!uma!voz!de!defesa!dos!povos!da!floresta!
Irmã(Dorothy(Stang(é(assassinada(a(sangue(frio(no(Pará(
!
! No! entanto,! as! questões,! como! se! notam! a! seguir,! não!
propõem! uma! discussão! mais! ampla! sobre! as! estratégias!
referenciais!utilizadas!no!texto!(p.!36).!
!

b) A!quem!se!refere!a!manchete?!
c) A!manchete!diz!o!que!significa!essa!pessoa!para!a!comunidade?!
d) Para! você,! o! que! quer! dizer! “uma! voz! de! defesa! dos! povos! da!
floresta”?!
! !
Os! exercícios! poderiam! tratar! da! forte! relação! que! se!
pode! estabelecer! entre! referenciação! e! intencionalidade! do!
texto.! Apesar! de! o! gênero! ser! uma! notícia! e! ter! como! objetivo!
principal! informar,! há! um! posicionamento! assumido,! que! está!
refletido! nas! estratégias! de! referenciação! utilizadas.! Os! termos!
“calada”! e! “uma! voz! de! defesa”! dizem! muito! sobre! a!
argumentação! construída.! É! possível! observar! também! que! a!
expressão! referencial! “calada”,! presente! no! título,! é!
151 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
recategorizada! por! outra! expressão! referencial! no! subtítulo:!
“assassinada”.! Tratar! dessas! questões,! sem! dúvida,! contribuiria!
para!a!formação!crítica!do!leitor,!proposta!que!deveria!ser!central!
no!ensino!da!língua!materna.!
No! último! volume! da! coleção,! os! poucos! exercícios!
encontrados!que!abordam!a!referenciação!se!restringem!a!tratar!
da!substituição!de!elementos!expressos!no!texto!por!pronomes.!
Assim,! no! estudo! dos! pronomes! demonstrativos,! se! observam!
questões!como!(p.!11):!
!

a) Na! frase! “–! Que! está! fazendo! esta! gente,! seu! José! Felismino?”,! a!
palavra!esta!se!refere!a!que!outra!palavra!do!texto?!
!
2.! Na! frase! “Aquilo! era! todos! os! dias,! fizessem! eles! muito! ou! fizessem!
pouco”,! a! palavra! aquilo! refere:se! a! que! situação?! Explique! sua! resposta!
com!base!nas!informações!do!texto.!
!
! Quanto! à! sistematização! dos! conteúdos,! é! possível!
conferir! uma! abordagem! bastante! tradicional.! No! decorrer! da!
análise! dos! quatro! volumes,! vão! surgindo! quadros! que!
apresentam,! a! cada! momento,! uma! classe! de! palavra! diferente.!
Com!os!pronomes,!por!exemplo,!acontecem!deste!modo:!ora!se!
discutem!os!pessoais,!ora!os!possessivos,!ora!os!demonstrativos.!
152 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
No!entanto,!em!nenhum!momento,!notamos!o!uso!do!pronome!
relacionado!às!estratégias!de!referenciação.!!
! Em! linhas! gerais,! podemos! afirmar! que! a! coleção! Tempo(
de( aprender! não! parece! acompanhar! as! discussões! teóricas! a!
respeito!do!ensino!da!língua,!tampouco!dos!estudos!textuais.!No!
que!diz!respeito!aos!processos!referenciais,!esse!atraso!se!mostra!
ainda!maior.!!
!
4. REFERENCIAÇÃO: ALGUMAS
PROPOSTAS DE ATIVIDADES
!
Assumindo! o! texto! como! lugar! de! interação! e! de!
constituição! dos! sujeitos! como! construtores! sociais,! seguindo! a!
concepção! sociocognitivo:dialógica! da! língua,! torna:se!
fundamental! atrelar! pesquisa! a! ensino.! Em! outras! palavras,! é!
possível! perceber! o! quanto! o! ensino! de! língua! materna! precisa!
ainda!se!articular!com!os!estudos!textuais,!a!fim!de!promover,!de!
fato,! a! formação! de! leitores! críticos.! Nesse! sentido,! com! o!
objetivo!de!trazer!contribuições!para!o!trabalho!com!o!texto!em!
sala! de! aula,! propomos,! a! seguir,! algumas! atividades! que!
contemplem!o!estudo!dos!processos!referenciais.!
153 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
Para!isso,!foram!selecionados!dois!textos!midiáticos!que!já!
estavam! inseridos! na! coleção! Tempo( de( aprender,! analisada!
neste!artigo.!Ambos!os!textos!fazem!parte!da!unidade!“Trabalho!
e! consumo”,! abarcada! no! volume! 4.! Portanto,! vale! reforçar! que!
as! atividades! propostas! terão! os! estudantes! das! séries! finais! do!
Ensino!Fundamental!da!EJA!como!público!alvo.!
!
1ª!proposta!de!atividade:!
!

QUESTÃO! PRÉ:TEXTUAL:! Observe! o! título! do! texto! que! você! irá!


ler!e,!com!base!no!seu!conhecimento!de!mundo,!explique!o!jogo!
de!sentidos!proposto.!

Sugestão! de! resposta:! Elizabeth( é( o( nome( da( rainha( da(


Inglaterra,(muito(conhecida(pelo(mundo(todo.(Portanto,(o(jogo(de(
sentidos(está(na(relação(entre(“Elizabeth”(e(“rainha”.(
!

ENTREVISTA!

Elizabeth,!rainha!do!campo!
Mulher! do! líder! João! Pedro! Teixeira,! das! Ligas! Camponesas! da!
Paraíba,! assassinado! por! latifundiários,! ela! esteve! com! Jango! e! continua!
acreditando!na!reforma!agrária.!
Ela!é!que!se!pode!chamar!de!símbolo!da!resistência.!Por!tudo!o!que!passou!
154 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
na!vida,!desde!que!fugiu!de!casa!aos!15!anos!para!se!casar!com!um!
operário!semialfabetizado,!e!foi!desprezada!pela!família,!até!ter!de!sair!de!
Sapé,!na!Paraíba,!fugindo!da!perseguição!da!ditadura!militar,!para!São!
Gabriel,!no!Rio!Grande!do!Norte,!onde!viveu!na!clandestinidade,!com!um!
nome!falso,!por!vários!anos.![...]!

Passados! quarenta! anos! do! golpe! que! derrubou! João! Goulart,!


Elizabeth!Teixeira,!79!anos!completados!no!dia!13!de!fevereiro,!lembra!como!
se!fosse!hoje!tudo!o!que!passou.!E,!embora!conserve!a!calma!de!quem!muito!
viveu!e!aprendeu!com!a!vida,!não!foge!de!perguntas!e!se!inflama!quando!lhe!
perguntam! sobre! questões! políticas! antigas! ou! atuais,! principalmente! se! o!
assunto!é!a!reforma!agrária,!pela!qual!ela!aprendeu!a!lutar!com!o!pai!de!seus!
onze!filhos,!João!Pedro,!fundador!das!Ligas!Camponesas!na!Paraíba.!
Apesar! de! todo! sofrimento! que! passou,! além! do! assassinato! do!
marido! e! da! perda! de! três! filhos,! [...]! Elizabeth! não! guarda! mágoas! nem!
rancor,!embora!deixe!transparecer!uma!infinita!tristeza!no!olhar.!
!
Como! a! senhora! se! sente! sendo! homenageada! pelas! mulheres!
paraibanas!como!símbolo!de!luta!e!resistência?!
Eu!me!sinto!muito!feliz!pela!consideração!das!companheiras!à!minha!
pessoa.! Isso! é! uma! coisa,! minha! filha,! que! deixa! a! gente! emocionada.! As!
mulheres!se!lembrarem!de!mim,!na!idade!em!que!estou,!já!velha,!isso!é!muito!
gratificante.!Essas!mulheres!tão!valorosas,!que!lutam!no!dia:a:dia!para!ver!se!
melhoram!as!condições!do!nosso!povo.!
!
A!senhora!também!foi!homenageada!recentemente!no!Paraná,!pelo!
MST...!
Pois! é,! eu! estive! lá! e! fiquei! muito! comovida.! Tinha! muita! gente,!
155 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
muitos! companheiros,! muitos! jovens.! Eles! queriam! saber! a! história! de! João!
Pedro,! como! tinha! sido! a! luta! dele! aqui! na! Paraíba.! Lembrei! muito! do! que! o!
João! Pedro! me! falava,! quando! chegava! naquelas! fazendas,! naqueles! sítios!
daquela!época,!e!via!crianças!morrendo!de!fome,!sem!direito!à!alfabetização,!
numa!situação!muito!difícil,!e!ele!sonhava!que!um!dia!tudo!isso!ia!melhorar,!
que! ia! ser! implantada! uma! reforma! agrária! para! que! o! homem! do! campo!
tivesse!condições!de!sobreviver!dignamente!com!suas!famílias.!E!até!hoje!isso!
não!se!concretizou.![...]!
Lourdinha!Dantas.!Revista!Caros(amigos.!nº!n19,!mar.!2004.!

!
1. Com!base!na!leitura!do!texto,!responda:!
a) Por!que!Elizabeth!é!designada!rainha!do!campo?!
Sugestão!de!resposta:!Elizabeth(é(designada(rainha(do(
campo,( principalmente,( porque( era( esposa( do( líder(
João( Pedro( Teixeira,( fundador( das( Ligas( Camponesas(
da(Paraíba.(
b) Destaque!do!texto!expressões!que!fazem!referência!à!
Elizabeth.!
Sugestão! de! resposta:! As( expressões( que( fazem(
referência(à(Elizabeth(são(“mulher(do(líder”(e(“símbolo(
da(resistência”.(
!
c) O! Movimento! dos! Trabalhadores! Rurais! Sem! Terra!
(MST),! muitas! vezes,! é! noticiado! na! mídia! com! uma!
156 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
conotação! negativa.! É! o! caso! de! algumas! manchetes!
de!jornal!que!fazem!referência!ao!Movimento!usando!
termos! como! “invasores! de! terra”,! por! exemplo.! Ao!
contrário! disso,! é! possível! perceber! que! o! texto!
“Elizabeth,! rainha! do! campo”! assume! um!
posicionamento!favorável!ao!MST.!Explique!como!esse!
posicionamento! é! marcado! pelas! estratégias! de!
referenciação!observadas!no!texto.!
Sugestão! de! resposta:! Há( expressões( no( texto( que(
refletem( esse( posicionado( favorável( ao( MST:( “luta”,(
“resistência",(dentre(outras.(
!
2ª!proposta!de!atividade:!
!

Medida!afirmativa!
!!!!!!!!!!!Há! uma! proposta! simplista! e,! ao! final! das! contas,! inadequada! de!
combater! a! desigualdade! no! acesso! ao! ensino! superior! no! Brasil:! o!
estabelecimento! de! cotas! em! universidades! públicas,! seja! para! negros,!
seja! para! alunos! do! ensino! médio! oriundos! de! escolas! públicas.! Estados!
como!a!Bahia!e!o!Rio!de!Janeiro!optaram!por!essa!via,!que,!além!de!dúbia!
na! origem! (como! selecionar! afrodescendentes! ou! como! garantir! que! o!
estudante! da! escola! pública! seja! necessariamente! carente?),! atenta!
contra!o!princípio!meritocrático!que!deve!prevalecer!quando!o!assunto!é!
157 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
ensino!superior.!
!!!!!!!!!!Felizmente,!na!esfera!federal!houve!resistência!à!ideia!das!cotas.!O!
atendimento! à! justa! demanda! pela! ruptura! da! segregação! social! no!
acesso! ao! ensino! superior,! nessa! instância,! começa! a! dar:se! de! outra!
maneira.! Em! medida! provisória! editada! na! terça:feira,! criou:se! um!
programa! federal! para! transferir! recursos! a! iniciativas! –! seja! na! área!
pública,!seja!na!privada!–!como!a!instalação!de!cursos!pré:vestibulares!ou!
a!concessão!de!bolsas!de!estudo!a!alunos!negros,!índios!e/ou!carentes.!
!!!!!!!!!!Não!se!trata,!portanto,!de!abrir!uma!porta!privilegiada!de!acesso!a!
vagas! universitárias.! Trata:se! de! proporcionar! melhores! condições! de!
disputa! por! uma! vaga! a! alunos! de! estratos! sociais! historicamente!
marginalizados.! Trata:se,! também,! de! ajudar! financeiramente! um! aluno!
pobre!que!já!tenha!conquistado!a!vaga,!dando:lhe!um!incentivo!para!que!
faça!o!curso!até!o!fim.!
!!!!!!!!!!Evidentemente! esse! tipo! de! iniciativa,! embora! conceitualmente!
melhor!que!a!das!cotas,!também!é!um!paliativo.!A!solução!definitiva!virá!
somente! quando! o! Estado! brasileiro! puder! proporcionar! uma! educação!
básica! e! média! de! nível! equiparável! à! das! melhores! instituições!
particulares.! Massificar! o! ensino! de! qualidade! continua! a! ser! um! dos!
maiores!desafios!para!que!a!democracia!no!Brasil!se!enraíze!socialmente.!
Folha!de!S.!Paulo,!29!ago.!2002.!
!
!
1. O!editorial!Medida(afirmativa(discute!a!temática!das!cotas!
em!universidades!públicas.!Com!base!na!leitura:!
!
158 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
a) Destaque! do! texto! algumas! expressões! que! fazem!
referência!ao!título!medida(afirmativa.!
Sugestão! de! resposta:! As( expressões( que( fazem(
referência(à(medida(afirmativa(são(“proposta(simplista(
e( (...)( inadequada”,( “estabelecimento( de( cotas( nas(
universidades(públicas”,(entre(outras.(
!
b) É! possível! perceber! que! o! texto! assume! um!
posicionamento! diante! da! temática! das! cotas! no!
acesso! ao! ensino! superior! público.! Diga! se! este!
posicionamento!é!contrário!ou!favorável!ao!sistema!de!
cotas,! fundamentando:se! nas! estratégias! referenciais!
utilizadas!no!texto.!
Sugestão! de! resposta:! O( texto( apresenta( um(
posicionamento( contrário( ao( sistema( de( cotas( no(
acesso( a( universidades( públicas.( É( possível( perceber(
isso( por( meio( das( expressões( referenciais( utilizadas:(
“proposta( simplista( e( (...)( inadequada”,( “via( (...)( dúbia(
na(origem”,(“porta(privilegiada”,(entre(outras.(!
!
! Certamente,! outras! questões! sobre! referenciação!
poderiam!ser!formuladas!com!base!nesses!textos.!No!entanto,!as!
159 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
questões! apresentadas! foram! eleitas,! principalmente!
considerando! a! forte! relação! que! estabelecem! com! a!
interpretação!dos!textos,!de!modo!que!um!olhar!mais!crítico!por!
parte!do!estudante!é!exigido!no!decorrer!da!leitura.!!
Assim,!as!questões!relativas!ao!texto!“Elizabeth,!rainha!do!
campo”!pretendem!que!o!aluno!recupere!o!conhecimento!de!que!
Elizabeth!é!nome!de!rainha!e!perceba,!ao!longo!da!leitura,!o!que!
vem!a!ser!a!“rainha!do!campo”.!Ao!mesmo!tempo,!é!importante!
ressaltar!que!a!seleção!deste!texto!do!livro!didático!considerou!o!
posicionamento! favorável! ao! MST,! discussão! bastante!
pertinente,!em!especial!em!turmas!de!EJA.!!
O! mesmo! se! pode! dizer! a! respeito! do! tema! tratado! no!
editorial!–!sistema!de!cotas!em!universidades!públicas!–!uma!vez!
que!esse!debate!é!fundamental!para!a!formação!de!tal!público.!A!
argumentação! do! texto! –! contrária! ao! sistema! de! cotas! –! é!
construída! por! meio! de! expressões! que! fazem! referência! à(
medida( afirmativa( anunciada! no! título.! Assim,! uma! formação!
crítica! do! leitor! deve! estar! comprometida! não! somente! com! a!
identificação! dessas! marcas! linguísticas! no! texto,! senão! com! o!
posicionamento!crítico!dos!estudantes!leitores.!
! !!
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
160 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
!
! O! presente! artigo! propôs! discutir! a! abordagem! dos!
processos!referenciais!no!ensino!de!língua!materna.!Assim,!com!
base! na! concepção! sociocognitivo:dialógica! da! língua,! que!
assume! o! texto! como! lugar! de! interação! e! de! constituição! dos!
sujeitos!enquanto!construtores!sociais,!buscamos!refletir!sobre!a!
importância! do! trabalho! com! o! texto! em! sala! de! aula,! de! modo!
que!também!faça!parte!dessa!reflexão!o!papel!do!ensino!quanto!
à!formação!crítica!de!leitores.!
! Nesse! sentido,! a! partir! da! análise! do! tratamento! dado! à!
referenciação! pelos! livros! didáticos,! pudemos! constatar! que!
ensino!e!pesquisa!ainda!precisam!dialogar.!Em!geral,!percebemos!
uma! abordagem! que! privilegia! a! superfície! textual,! isto! é,! que!
atrela! o! estudo! da! referenciação! aos! exercícios! de! retomada! de!
elementos! anteriormente! expressos! no! texto,! muitas! vezes!
ignorando! a! relevância! dos! processos! referenciais! para! a!
construção!de!sentidos.!!
! Diante! dessa! questão,! é! preciso! admitir! que! alguns!
equívocos! percebidos! no! tratamento! dado! à! referenciação! nos!
livros! didáticos! refletem,! de! modo! mais! grave,! concepções! de!
língua,! texto! e! leitura! que! pouco! –! ou! nada! –! consideram! a!
interação! autor:texto:leitor.! Nesse! sentido,! torna:se! ainda! mais!
161 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
difícil! um! ensino! que! se! proponha! a! tratar! da! dinâmica! de!
construção! dos! objetos! do! discurso,! dos! efeitos! cognitivo:
discursivos! da! referenciação! e! desta! como! um! fenômeno!
fundamental!no!processo!de!construção!de!sentidos.!
! Nesse! caso,! é! preciso! reforçar:! a! superficialidade! que! se!
critica! nos! exercícios! sobre! referenciação! propostos! nos! livros!
didáticos! é! a! mesma! que,! talvez,! permeie! a! relação! entre!
pesquisa!e!ensino.!!
!

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Educação(e(Saúde.!Rio!de!Janeiro:!EPSJV!/!Fiocruz,!2007,!p.!159:
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TRAVAGLIA,! L.! C.! Gramática( e( interação:( uma( proposta( para( o(
ensino(de(gramática.!11.!ed.!São!Paulo:!Cortez.!
163 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
!
MANUAIS DIDÁTICOS
!
OLIVEIRA,! Cícero! de.! et! alii.! Tempo( de( Aprender.! Educação! de!
Jovens! e! Adultos:! 6º! ao! 9º! ano! do! Ensino! Fundamental,! 2.! ed.!
IBEP.!São!Paulo:!2009.!
!
RAMOS,! Heloisa! et! alii.! Viver,( aprender.! Educação! de! Jovens! e!
Adultos:! segundo! segmento! do! ensino! fundamental.! São! Paulo:!
Global:!Ação!Educativa,!2009.!!!!
164 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
Os processos de referenciação nos
livros didáticos: análise de textos
jornalísticos
MACHADO,!Luana!(UFRJ)!
!
!
!
1. INTRODUÇÃO
! !
! O!livro!didático!é!o!principal!mediador!dos!conhecimentos!
partilhados! entre! professores! e! alunos:! os! docentes! tomam:no!
como!principal!norteador!na!busca!do!que!aplicar!durante!o!ano;!
os! discentes,! por! sua! vez,! concebem:no! como! principal!
reservatório!de!saber.!Sendo!assim,!há!anos!a!elaboração!desse!
material! é! discutida,! com! vistas! ao! seu! aprimoramento,! não! só!
em! relação! ao! conteúdo,! mas! também! às! questões!
metodológicas!e!novas!demandas!educacionais.!
A! mais! recente! reformulação! foi! instaurada! pelos!
Parâmetros! Curriculares! Nacionais! (PCN),! na! década! de! 90,! que!
trouxeram! orientações! inovadoras! para! os! docentes.! Em! Língua!
Portuguesa,! os! avanços! foram! de! grande! importância,! uma! vez!
que! a! língua! deveria! passar! a! ser! estudada! do! ponto! de! vista!
sociointeracional.!
165 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
!
Nessa! perspectiva,! língua! é! um! sistema! de! signos!
específico,! histórico! e! social,! que! possibilita! a!
homens! e! mulheres! significar! o! mundo! e! a!
sociedade.! Aprendê:la! é! aprender! não! somente!
palavras! e! saber! combiná:las! em! expressões!
complexas,!mas!apreender!pragmaticamente!seus!
significados! culturais! e,! com! eles,! os! modos! pelos!
quais! as! pessoas! entendem! e! interpretam! a!
realidade!e!a!si!mesmas.!(PCN,!1998,!p.20)!
!
Dessa! forma,! o! trabalho,! estritamente! voltado! para! itens!
gramaticais,! utilizando! o! texto! como! mero! pretexto,! cedeu!
espaço! para! estudos! de! interpretação! e! produção! textual! dos!
mais! variados! gêneros.! Além! de! observar! os! tópicos! gramaticais!
por!meio!da!tríade!uso>reflexão>uso.!
!
O! modo! de! ensinar,! por! sua! vez,! não! reproduz! a!
clássica! metodologia! de! definição,! classificação! e!
exercitação,! mas! corresponde! a! uma! prática! que!
parte!da!reflexão!produzida!pelos!alunos!mediante!
a! utilização! de! uma! terminologia! simples! e! se!
aproxima! progressivamente,! pela! mediação! do!
professor,!do!conhecimento!gramatical!produzido.!
(PCN,!1998,!p.29)!
!
Todavia,! tudo! isso! é! o! que! propõem! os! PCN,! não!
necessariamente! o! que,! realmente,! trazem! os! manuais.! Estudos!
apontam!as!diferenças!entre!o!que!determinam!os!PCN!e!o!que!
aparece! nos! livros! didáticos! de! língua! portuguesa! (LDP),!
166 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
mostrando! que,! na! teoria,! os! LDP! já! estão! sendo! concebidos!
segundo! as! orientações! estabelecidas.! Entretanto,! ao! serem!
analisados,! percebe:se! que! parte! das! antigas! práticas! continua!
sendo! executada.! Os! estudos! de! tópicos! gramaticais,! por!
exemplo,!ainda!são,!de!certa!forma,!descontextualizados,!não!se!
levando! em! consideração! a! teoria! sociointeracional! proposta.!
Assim,!continuam!sendo!trabalhados!com!base!em!fundamentos!
que!não!mais!dão!conta!dos!fenômenos!da!língua!e!de!um!ensino!
libertador.!
Portanto,!em!meio!a!este!cenário!confuso!entre!o!que!se!
propõe! e! o! que! realmente! é! posto! em! prática,! este! artigo! visa!
investigar,!em!duas!coleções!voltadas!para!o!Ensino!Fundamental!
(EF),! do! segundo! segmento,! sua! adequação! aos! PCN! quanto! ao!
assunto! “processos! de! referenciação”.! Analisaremos,! neste!
trabalho,!de!que!maneira!o!tópico!é!abordado!pelos!livros,!bem!
como! as! atividades! propostas.! A! ideia! é! ver! se,! realmente,! está!
sendo! realizada! uma! abordagem! sociointeracional! ao! serem!
explicados!os!processos!de!referenciação!e!sua!aplicabilidade!nos!
textos!das!coleções.!
Cabe!ressaltar!que,!em!virtude!do!grande!volume!de!texto!
presente! em! cada! coleção,! de! gêneros! variados,! para! a! análise!
167 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
das!atividades!foram!selecionados!os!textos!jornalísticos,!a!fim!de!
tornar!a!apreciação!mais!enxuta!e!objetiva.!
Para! realizar! tal! investigação,! este! artigo! se! fundamenta!
nos! pressupostos! teóricos! da! Linguística! Textual,! conforme!
Cavalcante! (2011),! Koch! (2011),! Koch! e! Elias! (2011),! Koch! e!
Fávero,!(2008),!Koch!e!Marcuschi!(1998),!Marcuschi!(2001),!com!
foco! nos! processos! de! referenciação,! segundo! uma! abordagem!
sociointeracional.! No! item! a! seguir,! serão! aprofundados! os! seus!
conceitos!dessa!abordagem.!
!
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1. A Linguística de Texto
!
Até! a! década! de! 60,! os! estudos! sobre! a! linguagem!
voltavam:se! para! a! gramática! da! frase,! do! enunciado.! Porém,! a!
necessidade! de! preencher! algumas! lacunas! deixadas! pelas!
gramáticas! normativas! motivou! o! surgimento! desse! novo! ramo!
de! estudo:! a! Linguística! de! Texto! (LT),! termo! primeiramente!
empregado! por! Weinrich! (1966,! 1967,! apud! FÁVERO! e! KOCH,!
2008,!p.11).!!
Segundo!Fávero!e!Koch!(ibidem),!a!LT!tem!“como!objeto!
particular!de!investigação,!não!mais!palavra!ou!a!frase,!mas!sim!o!
168 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
texto,!por!serem!os!textos!a!forma!específica!de!manifestação!da!
linguagem”.!Assim,!o!domínio!de!análise!deixou!de!ficar!restrito!a!
frases! retiradas! de! obras! literárias,! ou! até! mesmo! inventadas!
para! a! realização! dos! estudos! gramaticais.! O! texto,! tanto! oral!
quanto!escrito,!passou!a!ser!o!cerne!das!investigações,!com!todas!
as! suas! relações! lógico:semânticas,! o! que! permite! concebê:lo!
como!uma!unidade!de!sentido.!
Dentro! do! quadro! da! LT,! texto! é! todo! objeto! que! tem!
textualidade.! Para! Beaugrande! e! Dressler! (1981,! apud! KOCH! e!
TRAVAGLIA,! 1999),! são! sete! os! fatores! que! determinam! sua!
existência:!a!situcionalidade,!a!intencionalidade,!a!aceitabilidade,!
a!informatividade,!a!intertextualidade!e!a!coesão!e!a!coerência!–!
sendo! as! cinco! primeiras! externas! ao! texto! e! as! duas! últimas!
centradas!no!texto.!!
Com!base!nisso,!não!só!os!itens!cotextuais,!mas!também!
os!contextuais!passaram!a!fazer!parte!dos!estudos!do!texto,!que!
começou! a! ser! enxergado! como! um! construto! socialmente!
construído,! criado! por! uma! pessoa,! dirigido! a! outra(s)! com!
objetivos!e!finalidades,!de!maneira!interativa.!Isto!é,!
!
O!texto!passa!a!ser!considerado!o!próprio!lugar!da!
interação!e!os!interlocutores,!como!sujeitos!ativos!
que! –! dialogicamente! –! nele! se! constroem! e! são!
construídos.! Desta! forma! há! lugar,! no! texto,! para!
169 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
toda! uma! gama! de! implícitos,! dos! mais! variados!
tipos,! somente! detectáveis! quando! se! tem,! como!
pano! de! fundo,! o! contexto! sociocognitivo! dos!
participantes!da!interação”!(KOCH,!2011,!p.!17)!!!
!
Dentro!dessa!abordagem,!um!dos!aspectos!citados!acima!
–! a! coesão! –! é! enxergado! de! outra! forma.! A! coesão! não! se!
encaixa! mais! na! conceituação! de! um! simples! mecanismo! da!
estrutura! superficial! do! texto,! capaz! de! realizar! retomadas! e!
projeções! correferenciais.! Sua! análise! tem! como! preocupação! a!
forma! como! é! estruturada! na! superfície! textual,! aliada! aos!
elementos!sociocognitivos,!para!a!criação!de!sentido.!!!
Na! segunda! metade! da! década! de! 90,! o! estudo! desses!
aspectos! textuais! ganhou! espaço! e! novas! análises.! Assim,! a!
expressão! Referenciação! veio! à! tona,! com! trabalhos! de! diversos!
estudiosos! tentando! organizar! e! explicitar! os! processos!
referenciais! que! não! só! ocorrem! na! superfície! textual,! mas!
também!no!processo!interacional.!
!
2.2. Referência e Referenciação
!
A! Referência! é! preocupação! constante! dos! estudiosos! da!
linguagem,!principalmente!daqueles!que!querem!entender!como!
as! línguas! se! referem! ao! mundo.! Segundo! Cavalcante! (2011,!
170 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
p.19),! tal! estudo,! “por! um! longo! tempo,! ocupou! a! mente! dos!
filósofos!da!linguagem!e!dos!lógicos,!bem!antes!de!interessar!aos!
linguistas”.!!
Existem! duas! visões! bem! opostas! em! relação! ao! tema.! A!
primeira!entende!que!há!uma!completa!correspondência!entre!as!
palavras! e! as! coisas,! ou! seja,! a! língua! é! um! “espelho! da!
realidade”.! Referir! significa,! portanto,! usar! meios! linguísticos!
para! representar! objetos:do:mundo,! de! maneira! estável! e!
discretizada.!
! A! outra! visão,! mais! atual,! na! qual! se! fundamenta! este!
artigo,! baseia:se! na! concepção! de! que! “a! língua! é! heterogênea,!
opaca,!histórica,!variável!e!socialmente!constituída,!não!servindo!
como!mero!instrumento!de!espelhamento!da!realidade.”!(KOCH!
e! MARCUSHI,! 1998,! p.! 173).! Assim,! os! elementos! referidos! em!
um! texto! deixam! de! ser! objetos:do:mundo! e! passam! a! ser!
considerados! objetos:do:discurso.! Ou! seja,! entidades! que! são!
construídas!no!e!pelo!discurso.!!
Como! afirmam! Marcuschi! e! Koch! (1998,! p.! 5),! não! é! o!
caso!de!
!
negar! a! existência! da! realidade! extra:mente,! nem!
estabelecer! a! subjetividade! como! parâmetro! do!
real.! Nosso! cérebro! não! opera! como! um! sistema!
fotográfico! do! mundo,! nem! como! um! sistema! de!
espelhamento,! ou! seja,! nossa! maneira! de! ver! e!
171 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
dizer! o! real! não! coincide! como! o! real.! Ele!
reelabora! os! dados! sensoriais! para! fins! de!
apreensão!e!compreensão.!E!essa!reelaboração!se!
dá! essencialmente! no! discurso.! Também! não! se!
postula! uma! reelaboração! subjetiva,! individual:! a!
reelaboração!deve!obedecer!a!restrições!impostas!
pelas! condições! culturais,! sociais,! históricas! e,!
finalmente,! pelas! condições! de! processamento!
decorrentes!do!uso!da!língua.!
!
De! acordo! com! esta! concepção,! os! referentes! não! são!
estáveis!e!pré:existentes,!mas!criados!e!recriados,!de!acordo!com!
o!ponto!de!vista!dos!interlocutores.!Assim,!não!cabe!mais!usar!o!
termo!Referência,!associado!a!uma!visão!representacionalista!da!
língua,! estática.! ! O! termo! mais! apropriado! é! Referenciação,! que!
traz!a!noção!de!processo,!atividade!dinâmica!que!se!constitui!na!
interação!discursiva.!
Quanto! a! essa! nova! perspectiva,! segundo! Koch! (2001,! p.!
81),!
!
Esta!posição!implica,!necessariamente,!uma!noção!
de! língua! que! não! se! esgota! no! código,! nem! seja!
concebida! apenas! como! um! sistema! de!
comunicação! que! privilegia! o! aspecto!
informacional! ou! ideacional.! A! discursivização! ou!
textualização!do!mundo!por!via!da!linguagem!não!
se!dá!como!um!simples!processo!de!elaboração!de!
informação,! mas! de! (re)construção! do! próprio!
real.! Ao! usar! e! manipular! uma! forma! simbólica,!
usamos!e!manipulamos!tanto!o!conteúdo!como!a!
estrutura! dessa! forma.! E,! deste! modo,! também!
172 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
manipulamos!a!estrutura!da!realidade!de!maneira!
significativa.! E! é! precisamente! neste! ponto! que!
reside! a! ideia! central! de! substituir! a! noção! de!
referência! pela! noção! de! referenciação,! tal! como!
postulam!Mondada!e!Dubois!(1995).!
!
2.3. A Referenciação
!
Segundo!Koch!e!Elias!(2011,!p.!123),!!
!
denomina:se! referenciação! as! diversas! formas! de!
introdução,! no! texto,! de! novas! entidades! ou!
referentes.!Quando!tais!referentes!são!retomados!
mais!adiante!ou!servem!de!base!para!a!introdução!
de! novos! referentes,! tem:se! o! que! se! denomina!
progressão!textual.!(grifos!do!autor).!!
!
Além! disso,! tanto! a! referenciação! quanto! a! progressão!
textual! estão! envolvidas! na! “construção! e! reconstrução! de!
objetos!de!discurso”!(ibidem).!Entretanto,!as!duas!estratégias!são!
englobadas! pelo! nome! Referênciação,! que! é,! portanto,! uma!
atividade!discursiva.!
Em! obra! recente,! Cavalcante! (2011)! descreve! toda! a!
evolução! dos! estudos! de! referenciação! e! busca! formatar! um!
quadro!teórico!com!os!diferentes!tipos!de!processos!referenciais.!
Com!base!nessa!obra,!e!também!em!textos!de!Koch!e!Marcuschi,!
explicitaremos!tais!processos!e!suas!caraterísticas.!!
!
173 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
2.3.1. Os processos referenciais:
Introdução referencial e
anáfora direta
!
Assim!como!Koch,!Marcuschi!e!outros!autores,!Cavalcante!
afirma! que! os! processos! inferenciais! se! dividem! em! dois!
agrupamentos! principais:! a! introdução! de! novos! referentes! e! a!
manutenção!desses!referentes!no!texto.!!
O!primeiro!grupamento!caracteriza:se!pelo!aparecimento!
de! entidades! no! texto! pela! primeira! vez,! recebendo! o! nome! de!
introdução( referencial,! como! observamos! no! exemplo! de!
Cavalcante!(2011,!p.!54):!
!
O!sujeito!chega!para!o!padre!e!pergunta:!
–! Padre,! o! senhor! acha! correto! alguém! lucrar! com! os!
erros!dos!outros?!
–!É!claro!que!não,!meu!filho!!
–!Então!me!devolve!a!grana!que!eu!te!paguei!para!fazer!
o!meu!casamento.!

(piada,!As(melhores(piadas(de(Casseta(e(Planeta,!v.4).!
!
! No! exemplo! em! questão,! os! termos! “sujeito”! e! “padre”!
introduzem!referentes!que!ainda!não!foram!citados!no!texto.!Ou!
seja,!aparecem!pela!primeira!vez,!sem!nenhum!antecedente.!
174 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
! O! segundo! agrupamento,! responsável! pela! manutenção!
dos! referentes! no! texto,! denominado! pela! autora! como! “reino!
das! anáforas”! (2003,! p.! 108),! diz! respeitos! aos! processos!
anafóricos,! sejam! eles! diretos,! indiretos,! com! dêiticos! ou! sem!
dêiticos;! de! maneira! remissiva,! prospectiva,! ou! para! ambas! as!
direções.! A! fim! de! podermos! apresentar! suas! especificidades,!
apresentaremos!as!anáforas(diretas!(AD)!e!as!anáforas(indiretas!
(AI)! em! tópicos! distintos.! Em! virtude! do! espaço,! não! serão!
tratadas,!aqui,!as!nuances!dos!dêiticos.!
! As! anáforas( diretas! se! caracterizam! pela! relação! de!
correferencialidade! entre! dois! elementos! do! texto.! Isto! é,! um!
termo! é! retomado! de! maneira! direta! por! outro! elemento! do!
contexto,!como!vemos!no!exemplo!de!Koch!e!Elias!(2011,!p.!124):!
!
Nova!espécie!de!ave!é!descoberta!na!Grande!SP!
O! Ibama! anunciou! ontem! a! descoberta! de! uma!
nova!ave,!o!bicudinho:do:brejo:paulista.!
O!Stymphalornissp.nov!(a!terminação!indica!que!o!
animal! não! recebeu! a! denominação! definitiva! da!
espécie)! foi! encontrado! pelo! professor! Luís! Fábio!
Silveira,!do!Departamento!de!Zoologia!da!USP,!em!
áreas! de! brejo! nos! municípios! de! Paraitinga! e!
Biritiba:Mirim,!na!Grande!São!Paulo,!em!fevereiro.!
O! pássaro! tem! pouco! mais! de! 10! centímetros! de!
comprimento,! capacidade! pequena! de! voo! e!
penugem!cinza.!
!
175 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
! A! introdução! referencial,! sublinhada,! é! retomada! pelas!
anáforas! diretas,! destacadas! em! cinza.! Observe! que! é! possível!
ancorar! cada! retomada! na! introdução! referencial,! presente! no!
cotexto.!
! Cabe! ressaltar! que,! segundo! Cavalcante! (2003),! as!
correferências! podem! ser! de! três! tipos:! co:significativas,!
recategorizadora!sou!nenhuma!das!duas:!
1) Anáfora! correferencial! co:significativa:! termo! retomado!
por! meio! de! expressões! sinônimas! ou! repetições! (apesar!
de! nem! toda! repetição! ser,! necessariamente,! co:
significação).!
2) Anáfora! correferencial! recategorizadora:! retomada! por!
meio! da! “renomeação”! do! termo,! conforme! as!
necessidades! e! estratégias! discursivas,! podendo! ser!
realizada! por! hiperônimos,! expressões! definidas,! nomes!
genéricos! e! pronomes! Como! afirma! a! autora:! as!
recategorizações!
!
remodulam! a! forma! de! designação,!
transformando:a,! ou! seja,! recategorizando:a,! ou!
pela! utilização! de! um! termo! superordenado,! para!
que! o! enunciador! se! esquive! de! repetições!
estilisticamente!indesejáveis,!ou!pela!utilização!de!
expressões! com! alguma! carga! avaliativa.”!
(CAVALCANTE,!2003,!p.!110)!!
176 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
3) Anáforas! correferenciais! não:co:significativas! e! não:
recategorizadoras:! retomadas! realizadas! por! meio! de!
pronomes!pessoais.!
!
Essas! subdivisões! são! válidas! para! as! anáforas!
correferenciais!totais.!A!autora!divide!as!anáforas!correferenciais!
em!totais!e!parciais;!para!esta!última,!as!estratégias!são!outras:!!
!
Para!não!confundir!com!as!anáforas!indiretas,!que!
se! instauram! muitas! vezes! por! uma! relação! de!
parte:todo,!optamos!por!circunscrever!estes!casos!
às! repetições! do! sintagma! antecedente,!
precedidas! de! um! quantificador,! ou! de! um!
adjetivo,!imprimindo!ao!anafórico!a!idéia!de!parte!
de! um! conjunto! não:unitário.! Por! vezes,! o! nome!
nuclear! é! elidido! por! economia! lingüística! e! por!
razões!de!estilo![...]!(CAVALCANTE,!2003,!p.!112)!
!
!
! Percebe:se,!portanto,!que,!independente!das!subdivisões,!
para! as! anáforas! diretas! o! importante! é! ressaltar! o! seu! valor!
correferencial.!A!âncora!do!termo!referido!está!presente!no!texto!
de! maneira! clara.! É! possível! identificá:la! sem! grandes! esforços!
cognitivos.!
! ! !
!
177 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
2.3.2. A questão das anáforas
indiretas
!
Opostamente! às! AD,! as! anáforas! indiretas! (AI)! são!
caracterizadas! por! não! apresentar! correferencilidade! com!
nenhum!termo!do!texto.!Segundo!Marcuschi!(2001,!p.!217),!a!AI,!
geralmente,!é!
!
constituída! por! expressões! nominais! definidas! ou!
pronomes! interpretados! referencialmente! sem!
que! lhes! corresponda! um! antecedente! (ou!
subseqüente)!explícito!no!texto.!Tratamos!de!uma!
estratégia! endofórica! de! ativação! de! referentes!
novos! e! não! de! uma! reativação! de! referentes! já!
conhecidos,! o! que! constitui! um! processo! de!
referenciação!implícita.!!
!
!
! !Em! conformidade! com! o! autor,! Koch! (2011,! p.! 107)!
afirma!que!as!anáforas!indiretas!consistem!
!
no! emprego! de! expressões! definida! anafóricas,!
sem! referente! explícito! no! texto,! mas! inferível! a!
partir!de!elementos!nele!explícitos,!isto!é,!trata:se!
de!uma!configuração!discursiva!em!que!se!tem!um!
anafórico! sem! antecedente! literal! explícito! [...],!
que!pode!ser!reconstruído,!por!inferência,!a!partir!
do!co:texto!precedente.!
!
178 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
! Na! mesma! linha! de! raciocínio,! Cavalcante! (2011,! p.! 58)!
explicita! que! ocorre! a! AI! quando! não! há! correferencialidade!
entre! os! termos! (o! introduzido! e! o! retomado)! e,! por! isso,! é!
necessário! recorrer! a! nexos! cognitivos! mais! complexos.Para!
corroborar!tal!descrição,!a!autora!utiliza!o!seguinte!exemplo:!
!
O!Prefeito!foi!visitar!o!hospício!a!cidade.!Chegando!
na! biblioteca,! percebe! que! tem! um! louco,! de!
cabeça! para! baixo,! pendurado! no! teto.!
Preocupado,!comenta!com!o!diretor!do!hospício:!
–!O!que!é!que!esse!louco!está!fazendo!aí!no!teto?!
–!Ele!pensa!que!é!um!lustre.!
–! Mas! é! muito! perigoso,! ele! pode! cair! e! se!
machucar.!
–!Por!que!vocês!não!o!tiram!do!teto?!
–!Mas!e,!à!noite,!como!é!que!a!gente!vai!fazer!para!
ler!no!escuro?!
!
(piada,!Coleção!50(piadas(–(loucos,!de!Donaldo!
Buchweitz)!
!
! A! partir! do! exemplo,! a! autora! mostra! que! os! termos!
“Prefeito”! e! “hospício”! introduzem! novos! referentes.! Outros!
termos! e! expressões,! como! “esse! louco”! e! “ele”,! retomam! um!
referente! presente! no! texto! de! maneira! direta:! “um! louco”.!
Porém,!“biblioteca”,!“diretor”!e!“um!louco”!são!exemplos!de!AI,!
pois!se!referem!à!expressão!“hospício!da!cidade”!não!de!maneira!
direta,!mas!por!relações!metonímicas!e!funcionais.!A!“biblioteca”!
179 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
faz!parte!do!hospício,!já!“diretor”!e!“um!louco”!são!agentes!desse!
ambiente.!
Percebe:se,! assim,! que! a! AI! tem! uma! dupla! função.! Nos!
dizeres! de! Marcuschi! (2001,! p.! 224),! ela! produz! uma!
“tematização! remática”,! porque! ativa! um! novo! referente! e,! ao!
mesmo! tempo,! o! ancora! em! um! universo! textual! já! dado.!
Segundo!o!autor!(ibidem):!
!
Há,!pois,!algo!similar!a!uma!ativação:reativação!na!
continuidade! do! domínio! referencial.! Assim,!
podemos! dizer! que! a! AI! é! uma! espécie! de! ação!
remática! e! temática! simultaneamente! na! medida!
em!que!traz!a!informação!nova!e!a!velha,!ou!seja,!
produz!uma!"tematização!remática.!
!
!
Marcuschi!(2001,!p.!226)!propõe!ainda!uma!tipologia!das!
AI,! subdividindo:as! em! dois! tipos:! tipos! semanticamente!
baseados!e!tipos!conceitualmente!baseados:!
!
Para! sua! solução,! os! tipos! (I)! exigem! estratégias!
cognitivas! fundadas! em! conhecimentos!
semânticos! armazenados! no! léxico! (mais!
especificamente! ligadas! a! âncoras! lexicais!
precedentes)! e! estão! vinculados! a! papéis!
semânticos.! Já! os! tipos! (II)! exigem! estratégias!
cognitivas! fundadas! em! conhecimentos!
conceituais! baseados! em! modelos! mentais,!
conhecimentos! de! mundo! e! enciclopédicos! (mais!
especificamente! vinculados! ao! modelo! de! mundo!
180 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
textual! presente! no! co(n)texto)! e! mais! ligados! a!
processos!inferenciais!gerais.!
! !
! Ao! final! de! seu! estudo,! o! autor! postula! ainda! que! as! AI!
possam!ser!um!caso!de!subespecificação!da!língua,!em!relação!a!
uma! das! máximas! griceanas! –! “seja! relevante”.! De! acordo! com!
essa!máxima,!não!devemos!ser!simplistas!demais,!em!um!texto,!a!
ponto! de! deixar! lacunas,! porém! não! devemos! ser! prolixos!
demais,! explicitando! a! mais! do! que! seria! necessário.! Dessa!
forma,!a!AI!funcionaria!como!pistas!de!informações!inferíveis!por!
parte!do!receptor,!que!auxiliam!o!entendimento.!
!
2.3.3. As anáforas indiretas
encapsuladoras
!
Segundo! Cavalcante! (2011,! p.! 73),! as! anáforas!
encapsuladoras! são! tidas! como! um! tipo! peculiar! de! AI,! uma! vez!
que! não! retomam! nenhum! objeto:do:discurso! pontualmente,!
mas!se!referem!a!conteúdos!espalhados!pelo!texto.!Assim,!!
!
há! uma! recuperação! difusa! de! informações! e! que!
este! é! o! traço! mais! típico! das! anáforas!
encapsuladoras;!é!o!que!lhes!confere!o!caráter!de!
anáfora!também!indireta:!ser!não!correferencial!e!
ter!um!poder!de!resumir!informações!cotextuais!e!
contextuais.!
181 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
!
! Ainda! segundo! a! autora,! o! que! diferencia! as! AI!
propriamente!ditas!das!encapsuladoras!é!o!poder!destas!últimas!
de! resumir,! sintetizar! conteúdos! proposicionais,! inteiros,!
precedentes! ou! subsequentes.! Há! autores! que! especificam! os!
rótulos!de!maneira!distinta!das!anáforas!encapsuladoras.!Porém,!
não!faremos!essa!distinção!aqui,!seguindo!o!mesmo!raciocínio!de!
Cavalcante!(2011).!
! Para! exemplificar! as! anáforas! encapsuladoras,! vejamos!
um!exemplo!de!Koch!e!Elias!(2011,!p.!130).!
!
Gosto! de! beber! uma! cervejinha,! falo! palavrão! e!
não!vou!deixar!de!ter!amizade!com!alguém!por!ser!
gay,!assim!como!acredito!que!o!uso!da!camisinha!é!
importante!para!prevenir!doenças!e!até!mesmo!a!
gravidez”,! diz! Érika! Augusto! da! Silva,! 20,! cabelos!
avermelhados,!quatro!furos!na!orelha.!
O! depoimento! não! faria! diferença! se! tivesse! sido!
colhido! em! um! colégio! ou! numa! rave.! Mas! o!
ambiente! de! Érika! é! outro.! Única! católica!
praticante! da! família,! neta! de! evangélicos,! ela!
frequenta!um!grupo!de!jovens!católicos!há!quatro!
anos! e! vai! à! igreja! pelo! menos! duas! vezes! por!
semana.!
182 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
Em! agosto,! pretende! realizar! um! desejo! antigo:!
participar! de! sua! primeira! Jornada! Mundial! da!
Juventude.! [...]! Fonte:! Folha! de! S.! Paulo,! 10! abr.!
2005.!

!
O!Primeiro!referente!(sublinhado)!sumariza!tudo!o!que!foi!
dito!pela!entrevistada.!Assim,!não!é!possível!encontrar!um!termo!
específico! ao! qual! o! referente,! “o! termo”,! se! ligue.! O! mesmo!
ocorre! para! o! referente! destacado! em! cinza.! A! única! diferença!
entre! os! dois! é! que! o! primeiro! é! retrospectivo,! e! o! segundo,!
prospectivo.!
Cabe! ressaltar,! ainda,! o! valor! avaliativo! presente! nas!
anáforas! encapsuladoras.! Ao! resumir! conteúdos! proposicionais!
em! uma! determinada! expressão! ou! termo,! a! escolha! lexical!
realizada!apresenta!o!ponto!de!vista!do!enunciador,!contribuindo!
para!a!“transmissão!de!impressões!avaliativas!e!para!a!condução!
argumentativa!do!texto”!(CAVALCANTE,!2011,!p.!76).!
Para!tentar!agregar!tudo!o!que!foi!dito!até!agora,!abaixo!
segue! o! quadro,! criado! por! Cavalcante! (2011,! p.60),! a! fim! de!
sintetizar!os!processos!de!referenciação.!
!
!
!
183 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
Processos!referenciais!atrelados!à!menção!
Anáforas!
Anáforas!Indiretas!(não!correferenciais)!
Introdução!
Anáforas!Diretas! Anáforas!Indiretas!
Referencial! Anáforas!Indiretas!
(correferenciais)! Propriamente!
Encapsuladoras!
Ditas!

!
3. O QUE OS LDLP FALAM SOBRE
REFERENCIAÇÃO
!
Com! base! no! aporte! teórico! aqui! explicitado! e! também!
nas!orientações!dos!PCN,!será!feita!uma!análise!de!duas!coleções!
de!LDLP:!Português:(a(arte(da(palavra,!de!Gabriela!Rodella,!Flávio!
Nigro!e!João!Campos;!e!Português:(ideias(&(linguagens,!de!Dileta!
Delmanto! e! Maria! Da! Conceição! Castro.! Tal! análise! visa!
identificar! a! maneira! como! tais! materiais! abordam! os! processos!
de!referenciação.!
A! fim! de! tornar! o! levantamento! mais! objetivo,! cada!
coleção! será! abordada! separadamente.! Além! disso,! para! a!
apreciação! das! atividades! propostas,! serão! levados! em!
consideração!apenas!os!textos!jornalísticos,!em!virtude!o!espaço!
para! a! investigação.! Ao! final! das! análises,! serão! propostas!
atividades!a!partir!de!um!texto!presente!em!uma!das!coleções.!
184 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
Vale! esclarecer! que! ambas! as! coleções! foram! aprovadas!
pelo! PLND:EF/2011,! consideradas! de! boa! qualidade! e!
condizentes!com!os!PCN.!Assim,!a!análise!a!seguir!não!pode!ser!
tomada! como! base! para! crítica! da! coleção! em! sua! totalidade,!
pois!será!feita!uma!reavaliação!de!um!único!aspecto.!
!
3.1. COLEÇÃO PORTUGUÊS: A ARTE
DA PALAVRA
!
3.1.1. Análise Teórica
!
Nesta! coleção,! cada! capítulo! focaliza! um! gênero! textual!
específico! para! trabalhar! os! itens! relacionados! à! língua:!
interpretação! textual,! produção! textual,! oralidade! e!
gramática.Cada! capítulo! divide:se,! basicamente,! em! três! partes:!
estudo!do!texto,!expressão!escrita!e!oral!(às!vezes!os!dois,!outras!
apenas!um!deles)!e!estudo!da!língua.!
O! primeiro! conteúdo! relacionado,! de! alguma! forma,! aos!
processosde! referenciação! aparece! no! volume! do! 6°! ano,! no!
tópico! que! fala! sobre! o! uso! dos! Pronomes.! Após! uma! extensa!
explanação!gramatical!das!características!e!uso!dos!pronomes,!os!
autores! citam,! em! três! linhas,! que! eles! “são! importantes!
185 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
elementos! na! construção! do! texto”! (p.! 137).! Afirmam! também!
que! “como! eles! muitas! vezes! se! referem! a! substantivos! que! já!
apareceram! antes,! acabam! criando! ligações! entre! as! diversas!
partes! do! texto”! (p.! 137).! Entretanto,! a! questão! não! é!
aprofundada.! Abaixo! desse! comentário! há! um! exercício! de!
identificação!de!referentes.!
Até!mesmo!as!questões!relativas!às!pessoas!do!discurso!(o!
caráter!dêitico!dos!pronomes!pessoais,!por!exemplo),!apontadas!
e! discutidas,! anteriormente,! na! parte! teórica! deste! volume,! não!
são! retomadas! nessa! atividade.Abordar! esse! aspecto! seria! de!
grande! valia,! principalmente! porque! o! gênero! trabalhado! no!
capítulo!são!as(cartas(e(outras(correspondências.!
No! Manual! do! Professor,! ao! final! do! livro,! consta! a!
seguinte!orientação:!!
!
Aqui! [se! referindo! ao! tópico! sobre! pronomes]! se!
tratam! de! atividades! de! identificação! das! pessoas!
do! discurso! a! partir! dos! pronomes! em! textos!
narrativos! e! dissertativos,! assim! como! atividades!
de! substituição! de! repetições! por! pronomes,!
sempre! enfatizando! a! coesão! textual! (grifos!
nossos).!(p.!63)!
!
186 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
No! entanto,! percebe:se! que! a! “ênfase”! na! coesão! não! é!
trabalhada,!e!o!único!aspecto!coesivo!dos!pronomes!explicado!é!
a!pura!e!simples!substituição.!
No!último!capítulo!do!volume!direcionado!ao!6°!ano,!que!
trata!do!gênero!notícia,!a!coesão!é!retomada!como!um!tópico!de!
estudo!específico.!Todavia,!mais!uma!vez!o!aspecto!enfocado!é!a!
substituição:! na! página! 224,! há! uma! notícia! e,! a! partir! dela,!
trabalha:se! o! conceito! da! substituição! como! estratégia! com! o!
seguinte!comentário:!
!
Quando! escrevemos! um! texto,! temos! alguns!
recursos!para!nos!referir!a!uma!palavra!que!já!foi!
usada!alguma!vez!nele.!!
Um! desses! recursos! é! substituir! essa! palavra! por!
um!pronome![...].!
Outra! maneira! de! evitar! repetições! é! substituir! a!
palavra! já! usada! por! uma! outra! que! tenha! um!
sentido!equivalente.!
!
! A!explanação,!mais!uma!vez,!é!bem!resumida!e!centrada!
na! simples! substituição! por! pronome.! Agora,! os! autores!
adicionam!ainda!o!caráter!de!o!substantivo!realizar!essa!função,!
mas! não! exploram! suas! potencialidades.! No! próprio! texto!
exposto! por! eles,! uma! notícia! que! relata! um! assalto! a! uma!
joalheria,! fica! patente! a! capacidade! de! o! substantivo! funcionar!
como!uma!anáfora!recategorizadora!e!de!apresentar!o!ponto!de!
187 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
vista! do! enunciador.! Na! manchete! da! notícia,! aparece! o! termo!
“ladrão”,! retomado! pelos! termos! “homem”,! “distraído! rapaz”,!
“ele”! e! “mané”.! Porém,! a! peculiaridade! da! escolha! lexical! no!
momento! da! substituição! por! parte! do! enunciador! não! é!
discutida,!mesmo!havendo,!no!capítulo,!um!tópico!específico!que!
apresenta!a!ilusória!neutralidade!nos!textos!jornalísticos.!
! Nos! volumes! do! 7°! e! 9°! anos! da! coleção! em! análise,!
nenhum! dos! tópicos! faz! referência! aos! processos! de!
referenciação.!Apenas!no!volume!do!8°!aparece!a!seção!“Coesão:!
a!substituição”,!retomando!o!tópico,!mas!com!enfoque!um!pouco!
mais! aprofundado.! Os! autores! levantam! a! questão! da!
recategorização,! das! novas! possibilidades! de! sentido! cada! vez!
que!um!termo!é!retomado!por!um!sinônimo.!!
!
A! substituição! de! uma! palavra! por! um! sinônimo!
ou! por! uma! palavra! de! sentido! aproximado!
garante! que! o! texto! seja! construído! de! maneira!
encadeada,! pela! retomada! dos! mesmos! tópicos.!
Dessa! maneira,! a! continuidade! do! assunto! é!
preservada.! Além! disso,! a! cada! nova! palavra,!
novos! sentidos! são! atribuídos! ao! que! se! diz,!
enriquecendo:se!o!texto.!(p.!35)!
!
Porém,! a! explanação! se! resume! ao! trecho! destacado!
acima! e,! posteriormente,! não! há! atividades! que! estimulem! a!
capacidade!do!aluno!em!encontrar!termos!referentes!e!as!novas!
188 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
concepções!que!eles!agregam!aos!termos!retomados.!Há!apenas!
um!exercício,!reproduzido!a!seguir:!
!
1.!Releia!o!trecho!da!biografia!de!Paulo!Coelho,!abaixo,!e!observe!as!palavras!
grifadas.!
Paulo! Coelho! de! Souza! nasceu! em! uma! chuvosa! madrugada! de! 24! de! agosto!
de! 1947,! dia! de! São! Bartolomeu,! na! Casa! de! Saúde! São! José,! no! Humaitá,!
bairro! de! classe! média! do! Rio! de! Janeiro,! Brasil.! Nasceu! morto.! Os! médicos!
previam! dificuldades! naquele! parto,! o! primeiro! da! jovem! dona! de! casa! Lygia!
Araripe!Coelho!de!Souza,!de!23!anos,!casada!com!o!engenheiro!Pedro!Queima!
Coelho!de!Souza,!de!33!anos.!O!bebê!não!seria!apenas!o!primogênito!do!casal,!
mas!também!o!primeiro!neto!dos!quatro!avós!e!o!primeiro!sobrinho!de!tias!e!
tios!de!ambos!os!lados.!Os!exames!iniciais!apontavam!um!risco!considerável:!a!
criança! parecia! ter! ingerido! uma! mistura! fatal! de! mecônio! –! ou! seja,! suas!
próprias! fezes! –! com! líquido! amniótico.! Depois! disso,! só! um! milagre! o! faria!
nascer!com!vida.!Inerte!no!ventre!materno,!sem!manifestar!qualquer!intenção!
de! mover:se! em! direção! ao! mundo,! o! recém:nascido! teve! de! ser! retirado! a!
fórceps.!
!
Fernando!Morais.!O(mago.!São!Paulo:!Planeta,!2008.!P.!63.!
!
a. A!quem!elas!se!referem?!
b. Qual! nova! informação! a! palavra! primogênito! traz! a! respeito! do!
biografado?!Se!necessário,!procure!as!palavras!desconhecidas!no!dicionário.!

!
189 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
Observa:se,!nessa!atividade,!que!o!texto,!apesar!de!curto,!
oferece! uma! gama! de! palavras! que! podem! ser! discutidas! e!
analisadas,!porém!os!autores!se!restringem!a!apenas!uma!delas!–!
“primogênito”.!Além!disso,!poderiam!!orientar,!de!alguma!forma,!
a! ideia! de! que! as! anáforas! não! fazem! referência! apenas! ao!
cotexto,! mas! também! aos! conhecimentos! partilhados,! uma! vez!
que!consideraram!o!primeiro!referente,!“Paulo!Coelho!de!Souza”,!
uma! AD,! em! vez! de! ! uma! introdução! referencial;! assim,! já! se!
parte! do! pressuposto! de! que! sabemos! de! quem! se! trata! e!
queremos! apenas! ler! sua! história! de! vida.! Isso! acontece! porque!
essas! informações! foram! apresentadas! no! capítulo,!
anteriormente! à! questão,! e! foram! esclarecidas.! Dessa! forma,! a!
retomada!é!possível,!mas!precisa!de!inferências.!
Concluindo,! na! abordagem! teórica! desta! coleção,! apesar!
de! haver! um! movimento! na! tentativa! de! apresentar! algumas!
estratégias! de! referenciação,! elas! continuam! a! ser! vistas! sob! a!
ótica! rígida! da! coesão.! Isto! é,! como! um! ! mero! mecanismo! de!
articulação! da! estrutura! textual,! a! fim! de! evitar! repetições! e!
deixar! o! texto! mais! enxuto,! excluindo! todo! o! aparato!
sociointeracional!que!a!elas!se!associa.!
!
190 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
3.1.2 Análise das Atividades com
textos jornalísticos
!
Na!coleção!em!análise,!os!textos!jornalísticos,!no!primeiro!
volume,!aparecem!no!capítulo!que!versa!sobre!o!gênero!notícia.!
Em! nenhuma! das! atividades! é! trabalhada! a! referenciação.! Em!
apenas!uma!delas,!na!página!210,!há!um!exercício!que!explora!o!
conceito! de! associação.! Ele! pede! que! o! aluno,! a! partir! da!
manchete,! correlacione! a! notícia! a! uma! determinada! sessão! do!
jornal.! Porém,! não! há! nenhuma! conceituação! prévia! sobre! esse!
tipo!de!conhecimento!trabalhado!na!questão.!
No!segundo!volume,!destinado!ao!7°!ano,!há!alguns!textos!
jornalísticos! no! capítulo! que! trabalha! o! gênero! entrevista,! mas!
nenhuma! das! atividades! referentes! aos! textos! ao! menos!
tangenciam!o!estudo!da!referenciação.!
No! terceiro! volume! (8°! ano,! p.! 67),! que! trata! do! gênero!
textual! teatro,! há! um! texto! jornalístico! da! Folha! de! São! Paulo.!
Nas! atividades! propostas! sobre! o! texto,! há! uma! questão! sobre!
anáfora! direta.O! texto! em! questão! versa! sobre! uma! Companhia!
de!teatro!(Companhia!do!Feijão)!e!sua!última!adaptação,!a!qual!
fez!muito!sucesso.!No!texto,!é!utilizada!a!expressão!“camaleões!
do! Feijão”! para! retomar! “atores”,! fazendo! referência! a! sua!
191 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
capacidade! de! transformarem:se! em! diversos! personagens.!
Observe!o!trecho:!
!
Montagem!mergulha!público!no!silêncio!dos!excluídos!
Sergio!Salvia!Coelho!–!Crítico!da!Folha!
[...]!
!!!!!!!!!!!!Pedro!Pires!e!Zernesto!Pessoa,!adaptadores!e!encenadores,!entrelaçam!
20! contos! curtos! com! uma! arrojada! sintaxe! cinematográfica,! a! partir! de!
improvisos!de!atores!preparados!não!só!para!trocar!de!personagem!sem!apoio!
de! figurino! ou! maquiagem,! como! sugerir! o! cenário! pela! marcação! e! fazer! a!
sonoplastia!em!cena.!
E! esses! camaleões! do! Feijão! também! alternam:se! na! narração,! indicando!
mudanças!de!tempo!e!local!às!quais!o!resto!do!elenco!se!adapta!em!segundos,!
e!na!paisagem!sonora,!por!onomatopeias!e!discretas!percussões.!!
[...]!! ! ! !!!!!!!!!!!
Folha(de(S.(Paulo,!quinta:feira,!17!de!abril!de!2003.!

!
A! atividade! se! destacada! por! não! se! restringe! à!
identificação! do! referente! apenas.! Ela! pede! também! que! se!
explique!o!que!o!texto!quis!dizer!com!a!expressão!utilizada!para!
realizar!a!retomada.!Dessa!forma,!o!aluno!tem!que!ter!entendido!
todo! o! conteúdo! proposicional! anterior! para! chegar! ao!
significado!da!expressão,!criando!uma!recategorização!do!termo!
192 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
retomado! “atores”.! No! entanto,! é! o! único! texto! jornalístico! em!
todo!o!volume.!
Por! fim,! no! último! volume! da! coleção! (9°! ano),! há! um!
texto!opinativo,!da!Folha!de!São!Paulo.!Nas!atividades!propostas!
em!relação!a!esse!texto!(p.!192),!há!uma!questão!que!trabalha!o!
conceito!de!anáfora!prospectiva!a!partir!do!título!do!texto,!mas,!
nesse!caso,!a!explora:se!apenas!o!reconhecimento!do!referente.!
Reproduzimos!abaixo!a!parte!inicial!do!artigo!para!vermos!como!
a! expressão! referente! ao! termo! “atividade”,! no! título,! é!
esclarecida!logo!no!início!do!texto:!
!
Atividade!expõe!tensão!entre!direitos!
Gilberto!Dimenstein!–!Colunista!da!Folha!
A! pichação! é! umas! das! expressões! mais! visíveis! da! instabilidade!
humana.! São! mais! do! que! rabiscos.! São! uma! forma! de! estabelecer! uma!
relação! de! pertencimento! coma! comunidade! –! mesmo! que! por! meio! da!
agressão!–!e,!ao!mesmo!tempo,!de!dar!ao!autor!um!sentido!de!autoridade.![...]!
Folha!de!S.!Paulo,!21!jan.!2006.!!

!
A! questão! pede! para! que! o! aluno! identifique,! segundo! o!
texto,!qual!é!atividade,!mas,!nesse!caso,!não!explora!nada!além!
da!simples!identificação!de!referente.!Entretanto,!cabe!ressaltar!
que!é!a!primeira!de!oito!atividades!sobre!o!texto.!Assim,!poderia!
193 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
ser! considerada! uma! atividade! de! reconhecimento,! introdutória!
para!as!demais!questões.!
!
3.2. COLEÇÃO PORTUGUÊS: IDEIAS E
LINGUAGENS
3.2.1. Análise Teórica
!
A! coleçãoé! dividida! em! unidades! e,! cada! uma! delas,!
aborda! um! tema.! Cada! unidadetrabalha,! basicamente,! os!
seguintes! itens:! estudo! do! texto,! expressão! escrita! e! oral! e!
estudo!da!língua.!
No! primeiro! volume! da! coleção,! voltado! ao! 6°! ano,! os!
substantivos! são! abordados! na! unidade! 3.! Após! toda! a!
explanação! gramatical! sobre! essa! classe! de! palavras,! há! uma!
atividade!em!que!o!conceito!de!coesão!é!pontuado:!
!
3.!Quando!escrevemos,!precisamos!nos!preocupar!
em! “amarrar”! as! frases,! observar! se! possuem!
vínculo! entre! si,! para! não! deixar! o! nosso! leitor!
perdido.! Há! vários! recursos! que! conferem! coesão!
a! um! texto.! Um! deles! é! a! correta! retomada! de!
palavras! que! já! foram! mencionadas,! sem! precisar!
repeti:las!o!tempo!todo.!Você!pode,!por!exemplo,!
empregar! um! substantivo! abstrato! para! retomar!
um!verbo!que!já!foi!enunciado!anteriormente.!(p.!
97)!
!
194 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
! Ao!observarmos!o!enunciado!da!atividade,!já!percebemos!
o! conceito! de! coesão! e! o! uso! dos! substantivos,! segundo! as!
autoras:! evitar! repetições.! Em! relação! à! questão! em! análise,!
especificamente,! é! trabalhada! a! alternância! entre! verbo! e!
substantivo,! como! mostra! o! modelo! apresentado! pelas!
estudiosas:! “Quando! ouviram! o! sinal,! os! alunos! correram! em!
direção!ao!pátio,!atropelando:se!uns!aos!outros.!A!corrida!só!foi!
interrompida! com! a! chegada! da! diretora”! (p.! 97).! Em! momento!
algum! o! caráter! recategorizador! das! retomadas! exercidas! pelos!
substantivos!e!sua!importância!nos!textos.!
! Ainda!no!primeiro!volume,!na!unidade!8!(p.!216),!o!tópico!
pronomes! é! trabalhado! sem! mencionar! sua! relação! com! as!
estratégias!de!retomadas!e!seu!caráter!“neutro”.!Porém,!em!uma!
das! atividades! propostas,! exige:se! o! reconhecimento! dos!
referentes!em!um!pequeno!texto,!reproduzido!a!seguir:!
!
Espertinho!
No!parque,!o!garoto!pede!dinheiro!a!sua!mãe!para!dar!a!um!velhinho.!
Sensibilizada,!ela!dá!o!dinheiro,!mas!lhe!pergunta:!
:!Para!qual!velhinho!você!vai!dar!o!dinheiro,!meu!querido?!
:!Para!aquele!que!está!gritando!“Olha!a!pipoca!quentinha!”.!

!
195 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
Em! nenhum! dos! demais! volumes! é! discutida,! de! alguma!
forma,! a! questãoda! referenciação.! Ou! seja,! apenas! no! 6°! ano! é!
feita!uma!tímida!menção!teórica!sobre!o!assunto,!que,!nos!anos!
posteriores,!não!é!retomado.!
Cabe!aqui!um!comentário!sobre!um!conceito!que!aparece!
no!último!volume,!dentro!do!tópico!Produção(Textual.!As!autoras!
intitulam! o! assunto! como! A( importância( da( focalização,! com! o!
objetivo! de! apresentar! como! os! textos! focalizam! determinados!
objetos:de:discurso! e! “obscurecem”! outros,! deixando!
transparecer!o!ponto!de!vista,!a!ótica!do!enunciador.!As!autoras,!
nesse! momento,! falam! especificamente! de! textos! descritivos! e!
narrativos,!mas!poderiam!aproveitar!o!assunto!para!trabalhar!as!
estratégias! de! referenciação,! que! têm! o! caráter! de,! como!
apontam! Koch! e! Elias! (2011,! p.! 125:126),! introduzir! objetos:de:
discurso,!retomá:los!(manter!em!foco)!e!desfocalizá:los.!
!
3.2.2. Análise das atividades
com textos jornalísticos
!
Em!virtude!de!a!coleção!ora!em!análise!ser!organizada!em!
temas,!os!textos!jornalísticos!encontram:se!distribuídos!ao!longo!
da!coleção.!Serão!observadas!as!atividades!propostas!relativas!a!
196 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
esses!textos,!independente!da!unidade!em!que!apareçam,!a!fim!
de! analisarmos! se,! ao! menos! nos! exercícios,! os! processos!
dereferenciação!são!trabalhados.!
Após! buscar! em! cada! volume! os! textos! jornalísticos,!
constatamos! que! a! maior! parte! deles! aparece! como! textos! de!
“reflexão”,!no!início!das!unidades,!ou!fazendo!parte!da!coletânea!
de!textos!para!auxiliar!na!produção!textual.!Isto!é,!nesses!casos,!
não!há!atividades!relativas!ao!texto.!
Os! poucos! textos! jornalísticos! vêm! com! perguntas!
relacionadas!à!identificação!de!informações!explícitas,!tais!como!
o! que! aconteceu?,! onde?,! quando?! etc.,! e! à! tipologia! textual,!
com! foco! na! estrutura! –! manchete,! lead,! subtítulo,! corpo! do!
texto.!
Dessa! forma,! percebemos! que! a! coleção! não! aborda! o!
conceito! da! referenciação! de! forma! teórica,! nem! propõe!
exercícios! que! levem! os! alunos! a! uma! reflexão! acercados!
processos! referenciais! na! constituição! de! um! texto,! como! a!
retomada! por! diferentes! escolhas! vocabulares,! ou! mesmo! as!
anáforas! indiretas! e! encapsuladoras.! Além! disso,! nesta! coleção,!
os! textos! jornalísticos! não! são! trabalhados! do! ponto! de! vista!
sociointeracional.! As! explicações! e! atividades! se! restringem! a!
197 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
determinar!a!estrutura!do!texto!e!fazer!uma!análise!superficial!de!
seus!elementos.!
!
4. PROPOSTA DE ATIVIDADE
!
As! análises! realizadas! mostraram! que! as! atividades!
(quando!há)!que!utilizam!os!conceitos!de!referenciação!ainda!os!
trabalham! de! maneira! tímida! e! pouco! aprofundada.! Poucas! são!
as! questões! que! exigem! dos! alunos! uma! reflexão! além! da!
substituição! de! termos.! Não! há! um! trabalho! voltado! para! a!
análise! textual,! fazendo! os! alunos! pensarem,! no! caso! das!
anáforas!diretas,!o!que!determinadas!escolhas!lexicais!geram!no!
texto.! Os! demais! tipos! de! anáfora! nem! sequer! aparecem! nas!
atividades.!
Sendo! assim,! a! partir! de! um! texto! do! gênero! notícia,!
propomos! aqui! algumas! atividades! que! poderiam! constar! nos!
livros! didáticos.! A! seguir,! ! reproduzimos! a! notícia,! retirada! da!
coleção!Português:(a(arte(da(palavra((vol.!1,!p.!221).!!
!
!
!
!
198 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
Uol!tecnologia!–!12/12/2006!–!10h16!
Homem! na! Alemanha! acompanha! roubo! de! sua!
casa!no!Brasil!pela!Web!
por!Alberto!Alerigi!
SÃO!PAULO!(Reuters)!–!A!tecnologia!ajudou!a!
evitar! um! assalto! no! litoral! de! São! Paulo! neste! fim!
de! semana,! quando! um! empresário! que! estava! na!
Alemanha! viu! imagens! de! sua! residência! sendo!
roubada! por! um! ladrão.! As! imagens! foram!
transmitidas! por! câmeras! conectadas! à! internet! de!
sua!casa!e!o!ladrão!foi!preso!depois!que!a!polícia!foi!
acionada.!
O! empresário! estava! na! cidade! alemã! de!
Colônia!e!recebeu!um!alerta!em!seu!celular!vindo!da!
casa!litorânea,!no!outro!lado!do!Atlântico.!
O!alerta!foi!acionado!no!dia!10!pelo!sistema!
de! segurança! da! casa,! localizada! na! praia! de!
Pernambuco,!no!Guarujá.!
O! empresário! ligou! seu! laptop! após! receber!
o! aviso! eletrônico! de! invasão! de! sua! residência! e!
pela!internet!conseguiu!ver!uma!pessoa!rondando!e!
usando!objetos!da!casa.!
199 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
A! vítima! então! avisou! sua! mulher,! que!
chamou! as! autoridades! e! manteve! contato! com! a!
polícia!durante!o!cerco!da!residência.!
“Ela! passou! detalhes! para! a! gente! de! como!
era!o!ladrão!e!onde!ele!estava!enquanto!estávamos!
cercando!a!casa”,!contou!à!Reuters,!por!telefone,!o!
cabo! Américo! Rodrigues,! da! 5a! companhia! do! 21°!
Batalhão! do! Interior! da! Polícia! Militar.! “Isso! foi!
crucial!para!que!a!gente!agisse!com!objetividade.!A!
ação! não! demorou! mais! que! 15! minutos”,!
acrescentou!o!policial!que!participou!do!cerco.!
Segundo! ele,! o! ladrão! usou! uma! escada! da!
própria!residência!para!entrar!na!casa!pelo!primeiro!
andar.!
Os! donos! puderam! ver! o! ladrão! provando!
roupas,! e,! quando! os! policiais! entraram! na! casa,!
uma!série!de!objetos,!entre!eles!eletrodomésticos!e!
ferramentas,! estavam! embalados! em! sacos! na!
cozinha,!prontos!para!serem!levados.!
O! ladrão! não! desconfiou! que! estava! sendo!
vigiado!a!milhares!de!quilômetros!de!distância.!
200 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
“Ele!ficou!surpreso!quando!soube!que!estava!
sendo! visto! por! câmeras! pela! internet”,! disse!
Rodrigues.!
Os! donos! da! casa! foram! procurados! pela!
Reuters,! mas! não! puderam! ser! encontrados! para!
comentar!o!ocorrido.!
Folha!Online.!Disponível!em:!
http://tecnologia.uol.com.br/ultnot/reuters/2006//
12/12/ult3949u596.jhtm.!Acesso!em:!21!ago.!2008.!
!
Questões:!
1! –! Muitas! foram! as! formas! utilizadas! por! essa! notícia! para!
retomar!diversos!referentes.!Preencha!a!tabela!abaixo!com!essas!
formas.!
!
Homem!! Ladrão! Américo!Rodrigues!
empresário! pessoa! policial!
vítima! ele! ele!
donos! ! Rodrigues!
!
2! –De! acordo! com! a! leitura! do! texto,! podemos! afirmar! que! o!
homem! que! colocou! câmeras! em! sua! casa! pode! ser! retomado!
como!“a!vítima”?!Justifique!sua!resposta.!!
201 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
R:!Sim,!pois!ele!teve!sua!casa!assaltada,!sendo,!assim,!alvo!de!um!
crime,!a!vítima.!
3!–!Podemos!entender!como!encapsuladores!termos!de!natureza!
nominal!ou!pronominal!que!resumem!indiretamente!informações!
do!texto!e!do!contexto.!Assim,!analisando!a!fala!do!cabo!Américo!
Rodrigues!(6°!parágrafo),!quando!diz!“Isso!foi!crucial”,!ao!que!ele!
se!refere?!!
R:!O!policial!se!refere!ao!fato!de!a!mulher!do!empresário!ter!dado!
detalhes! da! movimentação! do! ladrão! e! de! como! ele! era! para! a!
polícia!enquanto!a!casa!era!cercada.!
4! –! Na! manchete! da! notícia,! aparece! a! expressão! “Web”,! que!
está! diretamente! ligada! à! área! tecnológica.! Ao! longo! do! texto,!
outras! expressões! do! campo! semântico! da! tecnologia! surgem!
para! explicar! a! maneira! como! o! assalto! foi! evitado.! Retire! do!
texto!essas!palavras.!
R:! “câmeras! conectadas! à! internet”,! “celular”,! “sistema! de!
segurança”,!“laptop”,!“aviso!eletrônico”!e!“internet”.!
5! –! Nos! três! primeiros! parágrafos,! o! texto! usa! algumas!
expressões! alternando! os! artigos! que! a! precedem.! Identifique!
que!expressões!são!estas!e!justifique!essa!alternância.!
R.:! um! empresário/o! empresário;! um! ladrão/o! ladrão! e! um!
alerta/o! alerta.! O! texto! precede! as! expressões! com! artigo!
202 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
indefinido! quando! estas! aparecem! pela! primeira! vez! no! texto,!
isto! é,! não! são! de! conhecimento! do! leitor,! pois! não! foram!
citadas!antes.!Quando!realiza!a!retomada,!o!texto!utiliza!o!artigo!
definido,! deixando! para! o! leitor! a! pista! de! que! este! termo! já! é!
conhecido,!já!apareceu!anteriormente.!
!
! Essas! são! algumas! possibilidades! de! abordagem! das!
estratégias! de! referenciação! que! poderiam! ser! cobradas! nos!
livros! didáticos.! Não! queremos,! com! isso,! postular! que! a! teoria!
completa! seja! abordada,! especificando! o! nome! dos! processos! e!
suas! peculiaridades.! Queremos,! antes,! que,! no! momento! do!
trabalho! com! os! textos,! seja! realizado! um! percurso! que! leve! o!
aluno! a! enxergar! esses! mecanismos,! tão! importantes! para! a!
construção! textual! e! para! uma! leitura! menos! ingênua! e! mais!
crítica!de!qualquer!gênero.!
! !
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
!
! As! orientações! dos! PCN! de! Língua! Portuguesa,! baseadas!
em! estudos! de! longa! data,! buscam! um! ensino! mais! crítico! e!
reflexivo,! uma! metodologia! que! leve! o! aluno! a! refletir! sobre! o!
203 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
uso! da! língua,! e! não! apenas! a! classificar! e! identificar! termos! e!
elementos!gramaticais.!
! Entretanto,! no! tocante! ao! ensino! das! estratégias! de!
referenciação,! as! tentativas,! quando! existem,! são! tímidas! e! sem!
uma! apreciação! teórica! bem! fundamentada.! Apesar! de! os! PCN!
orientarem! um! trabalho! com! o! texto! sob! o! ponto! de! vista!
sociointeracional,!entendendo!o!texto!como!o!lugar!da!interação!
–como! Koch! e! Marcuschidefendem! desde! a! década! de! 60! –,! na!
realidade!dos!livros!didáticos!isso!ainda!não!acontece.!
! Os! autores! ainda! repassam! os! conhecimentos! coesivos!
sob!o!rótulo!da!substituição!com!o!objetivo!de!evitar!repetições!
desnecessárias.!Como!essas!substituições!são!feitas,!quais!são!as!
suas! consequências,! os! seus! efeitos! discursivos,! nada! disso! é!
discutido!nas!duas!coleções!analisadas.!
! Em! consequência! disso,! os! professores! podem! acabar!
passando! adiante! tais! conhecimentos! ultrapassados,! pois!
também!não!têm!a!seu!dispor!um!material!que!dê!suporte!a!seu!
autodesenvolvimento.! Sem! um! local! adequado! de! consulta,! que!
no! geral! é,! em! primeira! instância! o! LD,! o! profissional! não!
consegue! se! atualizar! em! relação! a! alguns! conteúdos! e!
abordagens! e! não! tem! tempo! de! organizar! materiais! paralelos!
para!suprir!tantas!lacunas.!
204 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
! Enfim,! na! análise! feita! em! relação! à! abordagem! da!
referenciação! nos! livros! didáticos! de! Língua! Portuguesa! do!
segundo!ciclo!do!ensino!fundamental,!podemos!perceber:!
!
:! que! não! há! uma! correspondência! da! perspectiva! de! ensino!
indicada!pelos!PCN!e!os!LD;!
:! quando! há! algum! item! que! se! aproxime! das! estratégias! de!
referenciação,! este! ainda! é! abordado! de! maneira! superficial,!
restringindo! a! retomada! à! substituição! de! termos! para! evitar!
repetições;!
:!o!manual!do!professor!não!alicerça!o!docente!quanto!à!teoria!e!
metodologia!de!estudo!do!fenômeno;!
:!as!atividades!propostas!não!exigem!do!aluno!reflexões!de!cunho!
sociointeracional.Solicitam,! grande! parte! das! vezes,! apenas! a!
identificação!dos!termos!retomados!nos!textos!por!substantivos!
equivalente!e!pronomes.!
!
! Sendo!assim,!é!necessário!pensar!como!incluir!o!processo!
de! referenciação! nos! LDLP,! a! fim! de! tornamos! os! discentes!
leitores!mais!astuciosos!e!críticos,!mostrando:lhes!que!um!texto!
vai!muito!além!do!que!está!escrito.!Abrir!seus!olhos!para!além!do!
papel,!para!que!eles!possam!perceber!os!mecanismos!de!que!eles!
205 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
mesmos!se!valem!no!momento!de!escrever!um!texto!e,!após!essa!
consciência,!possam!escrever!textos!ainda!melhores.!
!
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
!
CAVALCANTE,! M.! M.! Expressões! referenciais! –! uma! proposta!
classificatória.Caderno( de( Estudos.( Linguísticos,! Campinas,!
vol.!44,!2003.!p.!105:118.!
!
______.! Referenciação:( sobre( as( coisas( ditas( e( não( ditas.!
Fortaleza:!Edições!UFC,!2011.!
!
KOCH,!I,!G.!V.!&!MARCUSCHI,!L.!A.(Processos!de!referenciação!na!
produção! discursiva.! D.E.L.T.A.,! vol.! 14,! Número! especial,!
1998.!p.!169:190.!
!
______.!TRAVAGLIA,!L.!C.!Texto(e(coerência.!São!Paulo:!Contexto,!
1999.!
!
______.!FÁVERO,!L.!L.!Linguística(Textual:(Introdução.!São!Paulo:!
Cortez,!2008.!!
!
______.! Desvendando( os( segredos( do( texto.! São! Paulo:! Cortez,!
2011.!
!
______.!ELIAS,!V.!M.!Ler(e(Compreender(os(sentidos(do(texto.!São!
Paulo:!Contexto,!2011.!
!
MEC/SEF:! SECRETÁRIA! DE! EDUCAÇÃO! FUNDAMENTAL.!
Parâmetros(Curriculares(Nacionais:(terceiro(e(quarto(ciclos(do(
ensino(fundamental:(língua(portuguesa.!Brasília,!1998.! !
206 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
MARCUSCHI,! L.! A.! Anáfora! Indireta:! o! barco! textual! e! suas!
âncoras.Revista( Letras,! n°.! 56,! Curitiba:! Editora! da! UFPR,!
2001.!p.!217:258.!
!
______.! KOCH,! I.! V.! Estratégias! de! referenciação! e! progressão!
referencial! na! língua! falada.! In! ABAURRE,! M.B.! (org.)!
Gramática( do( português( falado,! vol.! VIII,! Campinas:! Ed.! da!
UNICAMP/FAPESP,!1998.p.!31:56.!
!
!
MANUAIS DIDÁTICOS

RODELLA,! G.! NIGRO,! F.! &! CAMPOS,! J.! Português:( a( arte( das(
palavras.!São!Paulo:!AJS,!2009.!
!
DELMANTO,! D.&! CASTRO,! M.! C.! Português:( ideias( e( linguagens.!
13°!ed.!São!Paulo:!Saraiva,!2009.!
207 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
A construção de objetos de
discurso pelo léxico: uma
abordagem relevante ao ensino

ALVES!JÚNIOR,!Mário!Acrisio!(UFRJ)!

1. INTRODUÇÃO

Considerando! que! os! processos! referenciais,! além! de!


garantirem! o! encadeamento!e!a!coerência!textuais,!constituem:
se! como! excelentes! ferramentas! de! persuasão,! sobretudo!
quando,!em!sua!base,!os!elementos!linguísticos!empregados!são!
da! ordem! do! léxico,! este! artigo! focaliza! a! abordagem! da!
referenciação! no! ensino! de! língua! portuguesa.! Como! alvo! de!
análise,! tomamos! duas! coleções! de! livros! didáticos! de! língua!
portuguesa!dirigidas!ao!ensino!fundamental.!

Para! além! do! papel! meramente! coesivo! dos! elementos!


referenciais,!o!debate!sobre!suas!funções!argumentativas!é!hoje!
uma! das! mais! relevantes! discussões! em! pauta! nos! estudos!
textual:discursivos.! Embora! muitos! autores,! desde! os! trabalhos!
208 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
inaugurais! de! Mondada! e! Dubois! (MONDADA,! 1994;! MONDADA!
&!DUBOIS,!1995)!sobre!“a!construção!dos!objetos!de!discurso”,!já!
apontem! para! a! natureza! intencional,! ideológica! e! subjetiva! da!
referenciação,! é! necessário! dizer! que! o! tema! não! se! esgota,!
principalmente! no! que! concerne! à! sua! aplicação! nas! atividades!
de!leitura,!compreensão!e!produção.!

Partindo! desses! princípios! e! apoiando:se! em! um! quadro!


teórico! já! definido! pela! linguística! interacional,! este! trabalho!
segue!dividido!em!outras!cinco!seções:!nas!próximas!três,!serão!
retomados!os!aspectos!teóricos!sobre!a!referenciação,!bem!como!
o!papel!argumentativo!dos!objetos!de!discurso!–!com!focalização!
das!modalidades!anafóricas!–,!a!partir!de!autores!consagrados!na!
área,!como!Mondada!e!Dubois!(2003),!Koch!e!Marcuschi!(1998),!
Koch! (2004,! 2005),! Marcuschi! (2004,! 2005)! e! Cavalcante! (2011);!
na! quinta,! será! observado,! primeiramente,! se! e! como! o! tema! é!
abordado! nos! livros! didáticos! analisados! e,! em! seguida,! serão!
propostas! atividades! em! torno! de! um! texto! jornalístico! extraído!
de!uma!das!coleções;!a!última!parte!é!dedicada!às!considerações!
abstraídas!a!partir!da!articulação!entre!o!percurso!teórico!feito!e!
as!análises!desenvolvidas.!

!
209 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
2. O PARADIGMA DA REFERENCIAÇÃO

A! fim! de! discutir! questões! teóricas! concernentes! ao!


quadro! amplo! da! referenciação! e,! na! seção! seguinte,! sobre! a!
função!de!orientação!argumentativa!das!expressões!referenciais!
no!texto,!estabelecemos!um!diálogo!entre!autores!reconhecidos!
por! dedicar! boa! parte! de! suas! pesquisas! ao! estudo! do! tema! no!
campo!mais!amplo!das!teorias!do!texto!e!do!discurso.!

Uma!vez!que!a!questão!da!referência!é!assunto!dos!mais!
frequentes! nos! debates! sobre! a! relação! entre! linguagem! e!
mundo,! é! importante,! a! princípio,! trazer! à! tona! a! lembrança! de!
que!a!teoria!da!referenciação!surge!como!uma!resposta!a!outro!
modelo! teórico! que! corresponde! a! uma! visão! puramente!
referencialista!da!linguagem,!na!qual!referir!significa!representar!
diretamente! e! extensionalmente! os! objetos! do! mundo.! Essa!
tendência! pressupõe! a! estaticidade! da! língua! e! não! considera! a!
interferência! dos! sujeitos! na! construção! dos! sentidos,! o! que!
ilustra!claramente,!na!crítica!de!Mondada!e!Dubois!(1995,!p.19),!
“um!poder!referencial!da!linguagem!que!é!fundado!ou!legitimado!
por! uma! ligação! direta! (e! verdadeira)! entre! as! palavras! e! as!
coisas”.!
210 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
Alves!Jr.!(2011)!comenta!que,!ao!questionar!a!concepção!
referencialista,! essas! autoras! operam! um! aprofundamento! na!
noção! de! referência,! descartando! a! suposta! relação! de!
correspondência! e! estabilidade! entre! as! palavras! e! as! coisas.!
Passa:se,!então,!no!contexto!da!virada!cognitivista,!a!considerar!
as!experiências!perceptiva!e!cognitiva!no!quadro!da!significação!
referencial,! na! busca! por! compreender! “como! as! atividades!
humanas,!cognitivas!e!linguísticas!estruturam!o!mundo!e!lhe!dão!
um! sentido”! (MONDADA! &! DUBOIS,! 1995,! p.20).! No! interior!
desse! novo! paradigma,! não! se! focalizam! mais! as! relações!
referenciais!em!si,!mas!o!processo!desencadeado!a!partir!dessas!
relações:!a!referenciação.!

O! paradigma! cognitivo! logo! é! ampliado! para! uma!


perspectiva! sociointeracionista,! e! passa:se! a! conceber! o! papel!
ativo! dos! sujeitos! na! construção! de! sentidos! no! (e! pelo)! texto.!
Essa! mudança! de! uma! tendência! extensionalista! da! linguagem!
para!uma!de!teor!interacional!e!discursivo!é!bem!explicitada!por!
Koch! e! Marcuschi! (1998,! p.173),! no! que! tange! à! atividade!
referencial:!

Referir! não! é! mais! atividade! de! "etiquetar"! um!


mundo! existente! e! indicialmente! designado,! mas!
sim!uma!atividade!discursiva!de!tal!modo!que!os!
referentes(passam!a!ser!objetosJdeJdiscurso(e!não!
211 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
realidades!indepndentes.!Não!quer!isso!dizer!que!
tudo! se! transforma! numa! panacéia! subjetivista,!
mas! que! a! discretização! do! mundo! pela!
linguagem!é!um!fenômeno!discursivo.!Em!outros!
termos,! pode:se! dizer! que! a! realidade! empírica,!
mais! do! que! uma! experiência! estritamente!
sensorial! especularmente! refletida! pela!
linguagem,! é! uma! construção! da! relação! do!
indivíduo!com!a!realidade.!

Enfim,!o!estudo!da!referenciação!permite!uma!formulação!
cada! vez! mais! consensual! de! que! os! referentes! ou! objetos! de!
discurso!são!construídos!e!reconstruídos!pelos!sujeitos!–!“atores!
sociais”!–!no!curso!das!atividades!cognitivo:discursivas!que!são!as!
práticas! de! linguagem.! Nesse! novo! paradigma! não! há! espaço!
para! se! afirmar! que! a! realidade! é! concebida! em! termos! de!
correspondência!com!um!mundo!previamente!discretizado,!pois!
isso!eliminaria!a!singularidade!de!cada!ato!de!enunciação,!o!qual,!
sabe:se,!diz!respeito!a!um!evento!discursivo!único!e!irrepetível.!

No! bojo! dos! processos! de! referenciação,! estão! os!


elementos! lexicais,! por! meio! dos! quais! fica! mais! evidente! o!
caráter!variável!das!relações!entre!linguagem!e!mundo,!por!ser!o!
léxico,! de! acordo! com! Marcuschi! (2004,! p.270),! “o! nível! da!
realização! linguística! tido! como! o! mais! instável,! irregular! e,! até!
certo! ponto,! incontrolável”.! Grosso! modo,! é! dito! que! tal!
212 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
instabilidade! é! fruto! da! variabilidade! das! situações! de! interação!
com! que! os! indivíduos! se! deparam! e,! em! contrapartida,! da!
limitação!do!léxico,!quando!considerado!em!sua!sistematicidade.!

Em!um!nível!discursivo,!que!inclui!a!língua,!mas!também!o!
contexto! sociocognitivo! e! os! atores! sociais! envolvidos! na!
interação!com!suas!ações!e!intenções,!o!funcionamento!do!léxico!
está! muito! mais! ligado! às! atividades! de! manuseio! da! língua! por!
seus! usuários,! isto! é,! como! eles! agem! sobre! o! léxico! para!
produzir! sentido.! Em! síntese,! são! os! contextos! linguístico! e!
sociocultural! que! definem! o! sentido! de! determinada! expressão!
nominal!empregada!em!uma!situação!de!interação.!Por!exemplo,!
o! termo! “furacão”! pode! se! referir! (e! essas! acepções! não! são!
raras):! a! uma! mulher! que! causou! um! enorme! reboliço!
sentimental! ao! passar! pela! vida! de! um! homem;! a! uma! banda!
musical! de! sucesso! que! tem! levantado! muitos! seguidores;! ou,!
mesmo!em!seu!sentido!mais!primitivo,!ao!fenômeno!natural!que!
costuma!causar!grandes!estragos!onde!ocorre.!

3. REFERENCIAÇÃO, LÉXICO E ENSINO


213 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
!!

Como!frutos!dos!processos!de!referenciação,!é!posto!que!
os! objetos! de! discurso! são! construídos! pelos! sujeitos! no! curso!
dos! eventos! discursivos! “em! função! de! um! querer:dizer”,! como!
afirma! Koch! (2005,! p.35).! Dessa! forma,! a! autora! atesta! que! as!
escolhas!lexicais!não!são!aleatórias,!mas!operadas!de!acordo!com!
os!propósitos!comunicacionais!e!com!a!situação!de!comunicação.!

Dito!isto,!é!possível!pensar!na!relevância!dessas!escolhas!
quando!a!intenção!do!sujeito!é!persuadir!o!interlocutor,!levando:
o!a!aderir!a!uma!ideia,!a!uma!proposta!sobre!o!mundo.!No!que!se!
refere!às!expressões!nominais!referenciais,!vale!destacar!que!não!
é! apenas! o! nome! nuclear! que! pode! assumir! um! papel! de!
orientador! argumentativo,! mas! também! os! modificadores!
nominais! que! eventualmente! entram! nessas! construções.! Basta!
pensar! nos! termos! em! destaque! nas! seguintes! construções:! o!
furacão! devastador,! a! cena! impressionante,! sérios! problemas,!
notável! saber.! Imaginar! tais! expressões! sem! os! termos!
destacados!leva!a!concluir!o!forte!papel!avaliativo!que!cumprem!
ao!serem!empregadas!como!formas!referenciais.!

Koch! (2005,! p.35)! defende! que,! quando! expressões!


nominais! são! empregadas,! “uma! de! suas! funções! textual:
214 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
interativas!específicas!é!a!de!imprimir!aos!enunciados!em!que!se!
inserem,! bem! como! ao! texto! como! um! todo,! orientações!
argumentativas! conformes! à! proposta! enunciativa! do! seu!
produtor”.!

É! necessário! esclarecer,! quando! se! fala! em! orientação!


argumentativa,!que!a!noção!de!argumentação!a!que!essa!função!
se! refere! em! nada! se! refere! àquela! ligada! à! estrutura!
argumentativa! ou! ao! modo! de! organização! argumentativo!
(CHARAUDEAU,! 2008).! Tal! conceito! diz! respeito! ao! nível!
macrotextual,!e!pode:se!dizer,!didaticamente!falando,!que!é!um!
conceito!mais!produtivo!no!ensino!de!produção!de!textos!do!que!
no! de! leitura.! A! função! de! orientação! argumentativa! das!
expressões!nominais!referenciais!é!assim!denominada!por!conta!
do! caráter! avaliativo! de! certas! construções,! e! diz! respeito,! pois,!
ao!nível!microtextual.!Basta!verificar,!ao!longo!de!um!texto,!como!
essas! expressões,! quando! são! avaliativas,! orientam! o! leitor! em!
direção! a! um! posicionamento,! um! ponto! de! vista! colocado! no!
texto.!

Partindo! desse! pressuposto,! defendemos! que! as!


atividades! com! textos! em! sala! de! aula! devem! contemplar! a!
abordagem! da! referenciação,! por! entendermos! que! os!
mecanismos!de!operação!desse!processo!dão!estrutura!e!sentido!
215 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
aos! textos.! Esse! posicionamento! encontra! apoio! na! seguinte!
afirmação!de!Cavalcante!(2011b,!p.157):!

Cremos! que! explorar,! em! sala! de! aula,! os! papéis!


que!os!processos!de!referenciação!desempenham!
na!construção!dos!textos!e!dos!discursos!é!muito!
importante! para! o! desenvolvimento! das!
habilidades! de! leitura! e! de! produção! textual! (...)!
[e]! para! a! melhoria! no! desempenho! da!
(re)construção!da!coerência.!

Também! os! autores! de! livros! didáticos! de! língua!


portuguesa! não! podem! negar! esse! conteúdo,! haja! vista! sua!
ligação!direta!com!a!“competência!textual”!ou!“comunicacional”,!
tão!claramente!especificadas!nos!PCN.!Mas,!mesmo!que!os!livros!
didáticos!não!ofereçam!tal!conteúdo,!o!professor!deve!estar!apto!
e!bem!disposto!a!trabalhá:lo!a!partir,!por!exemplo,!de!um!texto!
do! próprio! livro,! levando:se! em! conta! que! este! não! é! um!
instrumento! único! e! autônomo! de! ensino/aprendizagem.! Ao!
discutir! sobre! o! que! se! poderia! levar! sobre! os! processos! de!
referenciação! ao! ensino,! Cavalcante! (2011b,! p.165)! recomenda!
que!“mergulhar,!pacientemente,!junto!com!os!alunos,!nesse!mar!
de! riquezas! é! uma! oportunidade! a! que! o! professor! de! língua!
portuguesa!não!deveria!se!furtar”.!
216 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
É! com! essa! visão! sobre! a! relevância! dos! processos! de!
referenciação!para!o!ensino!de!língua!portuguesa!que!o!presente!
artigo! busca! propor! a! abordagem! específica! da! função!
argumentativa! projetada! a! partir! das! (re)categorizações!
avaliativas,! as! quais,! no! amplo! universo! das! estratégias!
referenciais,! transformam! os! referentes! pela(s)! mudança(s)! de!
designação! ao! longo! do! texto.! Para! Matos! (2005),! essas!
transformações!por!que!passam!os!objetos!de!discurso!resultam!
de! decisões! semântico:estruturais! determinadas! por! fatores!
extralingüísticos,! tais! como! os! propósitos! comunicativos! e/ou!
persuasivos!do!locutor.!

Assim,! o! trabalho! em! sala! de! aula! com! a! argumentação,!


observando! os! índices! lexicais,! é! um! campo! muito! farto! e!
interessante!a!explorar,!e!seguir!esse!caminho!a!partir!da!noção!
de! recategorização! avaliativa! parece! ser! uma! opção! produtiva!
como!proposta!de!ensino!numa!perspectiva!textual.!

Considerando,! pois,! a! referenciação! como! um! fenômeno!


discursivo,! que! consiste! na! introdução,! manutenção! e/ou!
reconstrução!de!objetos!de!discurso,!o!que!se!apresenta!a!seguir,!
de! forma! bem! sucinta,! são! os! pressupostos! dos! processos!
referenciais.! Para! isso,! entendemos! ser! necessário! acompanhar!
217 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
de! perto! alguns! aspectos! vinculados! à! noção! de! progressão(
referencial!claramente!abordada!em!Koch!(2002;!2004).!

Koch! (2004,! p.60)! defende! que! “a! referenciação,! bem!


como! a! progressão! referencial,! consistem! na! construção! e!
reconstrução! de! objetos! de! discurso”.! Para! a! autora! (2002),! na!
construção! de! um! modelo! textual,! estão! envolvidos! três!
princípios!básicos!de!referenciação:!

1.!ativação:!ocorre!quando!um!referente!textual!é!introduzido!de!
forma! inédita! no! texto,! permanecendo! a! expressão! linguística!
que!o!representa!cognitivamente!disponível!na!memória!de!curto!
termo;!

2.! reativação:! um! nódulo! (“endereço”! cognitivo,! locação)! já!


introduzido!é!reativado!por!meio!de!uma!forma!referencial;!

3.! de:ativação:! desloca:se! o! foco! de! atenção! para! um! outro!


referente! textual,! desativando:se! o! referente! anterior.! O!
referente!anteriormente!em!evidência,!contudo,!“continua!a!ter!
um! endereço! cognitivo! (locação)! no! modelo! textual”,! podendo!
ser!reativado!a!qualquer!momento.!

!
218 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
Retomando!Schwarz,!Koch!(2002,!p.83)!salienta!que,!“pela!
repetição! cíclica! de! tais! procedimentos,! estabiliza:se,! por! um!
lado,! o! modelo! textual;! por! outro! lado,! porém,! ele! é!
continuamente! elaborado! e! modificado! por! meio! de! novas!
referenciações”.! Ainda! conforme! a! autora! (id.,! p.85),! o! uso! de!
pronomes! ou! elipses,! de! expressões! nominais! definidas! e! de!
expressões! nominais! indefinidas! são! as! principais! estratégias! de!
progressão!referencial,!que!“permitem!a!construção,!no!texto,!de!
cadeias! referenciais! por! meio! das! quais! se! procede! à!
categorização! ou! recategorização! discursiva! dos! referentes”.! A!
seguir,!será!dado!prosseguimento!a!essa!discussão,!privilegiando:
se!as!modalidades!anafóricas.!

4. AS MODALIDADES ANAFÓRICAS

!Desde! o! advento! da! Linguística! de! Texto,! a! questão! da!


correferência! é! constantemente! abordada.! Nos! momentos!
iniciais,! os! processos! correferenciais! (anafóricos! e! catafóricos)!
constituíam! basicamente! o! centro! do! estudo! das! relações!
referenciais.! Eram! poucos! os! autores! que! faziam! referência,! por!
exemplo,! às! anáforas! indiretas,! hoje! consideradas! fenômenos!
219 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
remissivos! não! correferenciais.! Ainda! nesse! momento! inicial,!
também,! pouco! se! considerava! a! possibilidade! de! retomada!
anafórica!de!porções!textuais!de!maior!ou!menor!extensão,!como!
acontece! com! muita! frequência! quando! do! uso! de!
demonstrativos,!geralmente!neutros!(isto,!isso,!aquilo,!o)!(KOCH,!
2004,!p.04).!

Resumidamente,! o! que! se! considerava,! nas! primeiras!


abordagens! do! tema,! eram! as! relações! coesivas,! anafóricas! ou!
catafóricas,!com!retomada!explícita!de!elementos!textuais.!Aliás,!
somente!em!estudos!mais!recentes!sobre!progressão!referencial!
é! que! tem! sido! conferido! maior! espaço! às! relações! referenciais!
anafóricas!operadas!entre!dois!(ou!mais)!itens!lexicais!do!texto,!o!
que,!de!acordo!com!Jubran!(2003,!p.95),!

“engloba! e! ultrapassa! a! definição! tradicional! de!


anáfora! como! estratégia! de! retomada,!
geralmente! pronominal,! de! um! item! lexical!
colocado! anteriormente! no! texto,! com!
correferencialidade! entre! os! elementos! em!
relação”.!

Com! a! evolução! dos! estudos! em! Linguística! de! Texto! e,!


sobretudo,!com!a!abordagem!interacionista!da!linguagem,!cresce!
220 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
o! interesse! pelo! fenômeno! da! referenciação,! bem! como! por!
outras!questões!decorrentes!(progressão!referencial,!progressão!
tópica,!formas!de!articulação!textual!e!outras),!e!hoje!é!mais!do!
que! consensual! que! o! emprego! de! formas! de! ativação!
‘ancoradas’! –! isto! é,! formas! remissivas! cuja! interpretação! é!
viabilizada! por! inferenciação! ou! por! associação,! a! partir! de! um!
frame!ou!de!conhecimentos!enciclopédicos!–!constituem!fatos!da!
língua,! e! mais:! configuram:se! como! formas! dinamicamente!
atuantes!na!progressão!do!texto!e!na!organização!do!discurso.!

Às! anáforas! correferenciais,! ficam! reservados! casos! de!


retomada!direta,!alguns!dos!quais!ocorrendo:!

• quando!o!núcleo!da!forma!nominal!repete,!na!íntegra!ou!
parcialmente,! o! núcleo! do! antecedente! que! está! sendo!
retomado;!

• quando!a!retomada!ou!a!predição!referencial!se!efetuam!
por! meio! de! expressões! sinônimas! ou! quase:sinônimas!
(parassinônimas);!

• quando! a! retomada! se! dá! por! meio! de! um! hiperônimo,!


um!nome!genérico,!ou!de!uma!descrição!nominal.!
221 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
!

Sobre!as!anáforas!diretas!(AD),!Marcuschi!(2005,!p.55)!faz!
uma!observação!esclarecedora:!

Em! geral,! postula:se! que! as! AD! retomam!


referentes! previamente! introduzidos,!
estabelecendo! uma! relação! de! correferência!
entre! o! elemento! anafórico! e! seu! antecedente.!
Parece! haver! uma! equivalência! semântica! e,!
sobretudo,! uma! identidade! referencial! entre! a!
anáfora! e! seu! antecedente.! Na! realidade,! a!
anáfora!direta!seria!uma!espécie!de!substituto!do!
elemento! por! ela! retomado.! A! noção! de!
correferencialidade! é! nestes! casos! crucial,!
embora!nem!sempre!se!dê!de!modo!estrito.!

! Para!além!das!formas!não!ancoradas,!representadas!assim!
pelas! anáforas! diretas,! há! ainda! que! registrar! certos!
“movimentos! abruptos,! fusões! e! alusões”,! correspondentes! às!
formas! ancoradas! de! ativação! pelas! quais! “a! progressão! textual!
renova!as!condições!de!textualização!e!a!consequente!produção!
de!sentido”!(cf.!KOCH,!2002,!p.85).!São!casos!em!que!as!relações!
anafóricas!ocorrem!com!base!em!um!já!dito!ou!no!que!será!dito,!
mas!trata:se!de!uma!relação!sugerida!pelo!cotexto,!ou!seja,!uma!
relação! indireta,! motivo! pelo! qual! são! assim! nomeadas! as!
anáforas( indiretas.! De! modo! geral,! sempre! que! um! objeto! de!
222 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
discurso!é!introduzido!sob!o!modo!do!dado,!em!virtude!de!algum!
tipo!de!associação!passível!de!ser!estabelecida!via!inferenciação,!
caracteriza:se!um!caso!de!anáfora!indireta.!

! A!literatura!sobre!o!tema!é!clássica,!e,!somente!a!título!de!
rememoração,! retoma:se! um! exemplo! extraído! de! Koch! (2004,!
p.65):!

Uma!das!mais!animadas!atrações!de!Pernambuco!é!o!trem!do!forró.!
Com!saídas!em!todos!os!fins!de!semana!de!junho,!ele!liga!o!recife!à!
cidade!de!Cabo!de!Santo!Agostinho,!um!percurso!de!40!quilômetros.!
Os! vagões,! adaptados,! transformam:se! em! verdadeiros! arraiais.!
Bandeirinhas! coloridas,! fitas! e! balões! dão! o! tom! típico! à! decoração.!
Os! bancos,! colocados! nas! laterais,! deixam! o! centro! livre! para! as!
quadrilhas.!

! Não!é!complexo!observar!a!relação!entre!os!termos!trem,!
vagões! e! bancos,! mas! essas! relações! não! se! estabelecem! no!
texto! de! forma! direta,! ou! seja,! não! se! trata! de! uma! relação!
correferencial!entre!esses!elementos.!No!processo!de!leitura,!não!
há!dificuldade!para!a!compreensão,!porém!é!certo!que!o!esforço!
cognitivo!é!mais!complexo!do!que!numa!relação!direta.!
223 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
! Ao! abordar! o! uso! das! rotulações! (nominalizações)! no!
texto,! Francis! (2003)! fala! de! uma! “referência! difusa”! para!
designar!a!situação!em!que!não!é!possível!delimitar!precisamente!
a! porção! do! discurso! que! uma! expressão! rotuladora! encapsula.!
Nesses! casos,! certamente! a! interpretação! dessas! formas!
anafóricas! requer! uma! complexa! atividade! sociocognitiva.! A!
autora!atenta!para!o!fato!de!que!“nem!sempre!é!possível!decidir!
onde! se! encontra! o! limite! inicial! de! sua! base! de! referência”!
(p.200).! O! exemplo! a! seguir,! extraído! de! Alves! Jr.! (2011,! p.39),!
ilustra!essa!constatação:!

“Sob!a!justificativa!de!conter!a!criminalidade,!a!polícia!paulista!mata!
cada! vez! mais.! Relatos! sobre! abusos! policiais! e! casos! de! inocentes!
assassinados! por! engano! por! PMs! aumentaram! de! modo! alarmante!
este!ano,!chocando!a!população!e!até!as!autoridades!do!Estado.!Em!
2009,!a!Polícia!Militar!matou!524!pessoas!em!supostos!confrontos!em!
São! Paulo! –! 33,7%! a! mais! do! que! em! 2008.! De! janeiro! a! março,! a!
letalidade!saltou!40,8%,!se!comparada!ao!primeiro!trimestre!do!ano!
passado.! E! apesar! do! banho! de! sangue! não! se! verificou! a! alegada!
redução!nos!índices!de!criminalidade.!Os!delitos!contra!o!patrimônio!
permanecem! em! níveis! elevados! e! os! homicídios,! que! vinham! em!
queda! desde! o! início! da! década,! voltaram! a! crescer! [...]! Embora! a!
explosão!de!truculência!seja!preocupante,!especialistas!afirmam!que!
a! Polícia! Militar! não! está! fora! de! controle,! mas! sim! sob! um!
224 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
equivocado! comando! das! autoridades! responsáveis! por! ela”! (ISTOÉ,!
19:05:2010!:!Reportagem).!

!!

Embora! seja! possível! proceder! a! algumas! suposições,! a!


tarefa! de! delimitar! com! precisão! a! exata! porção! de! texto!
encapsulada!pelas!expressões!a!letalidade,!o!banho!de!sangue!e!
explosão!de!truculência!se!torna!complexa.!

Assim,!pode!ser!que!o!referente!transformado!em!objeto!
de! discurso! pelo! rótulo! o! banho! de! sangue! seja! o! período!
anterior! [De! janeiro! a! março,! a! letalidade! saltou! 40,8%,! se!
comparada!ao!primeiro!trimestre!do!ano!passado.]!ou!até!os!dois!
períodos! anteriores! [Em! 2009,! a! Polícia! Militar! matou! 524!
pessoas!em!supostos!confrontos!em!São!Paulo!–!33,7%!a!mais!do!
que! em! 2008.! De! janeiro! a! março,! a! letalidade! saltou! 40,8%,! se!
comparada!ao!primeiro!trimestre!do!ano!passado].!E!não!se!pode!
desprezar! o! fato! de! que! todo! o! conteúdo! anterior! ao! sintagma!
nominal! o! banho! de! sangue! pode! ser! compreendido! como! a!
porção! de! discurso! por! ele! encapsulada.! E! o! que! dizer! da!
expressão! metafórica! explosão! de! truculência,! cujo! referente!
não!é!possível!delimitar?!
225 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
Certamente,!as!três!rotulações!em!evidência!formam!uma!
cadeia! referencial! em! que! a! força! argumentativa! do! texto! é!
sugerida!por!uma!gradação,!de!acordo!com!a!ordem!em!que!elas!
aparecem! –! (1ª)! a! letalidade,! (2ª)! o! banho! de! sangue! e! (3ª)!
explosão! de! truculência.! Assim,! a! estratégia! argumentativa! se!
configura! pela! ascensão! avaliativa! das! três! expressões! no! texto,!
sendo!a!1ª!a!mais!neutra!e!a!3ª!a!que!expressa!um!juízo!de!valor!
mais! evidente! –! se! é! que! podemos! falar! em! uma! escala!
argumentativa.!

O! exemplo! acima! evidencia! o! papel! do! sujeito! nas!


escolhas! lexicais! para! essas! construções.! Nesse! sentido,! Koch!
(2001,! p.84)! destaca! que! “a! escolha! da! metáfora! adequada! é!
importante! para! realizar! a! avaliação! e,! em! decorrência,!
estabelecer!a!orientação!argumentativa!do!texto”.!

Francis!(2003,!p.211)!encara!a!rotulação!como!um!recurso!
de! coesão! textual,! mas! não! deixa! de! mencionar! o! poder! dos!
rótulos! ao! “adicionar! algo! novo! ao! argumento! indicando! a!
avaliação! do! escritor! das! proposições! que! eles! encapsulam”.! A!
autora!considera!ainda!que!“a!extensão!precisa!do!discurso!a!ser!
seccionada! pode! não! importar:! é! a! mudança! de! direção!
assinalada!pelo!rótulo!e!seu!ambiente!imediato!que!é!de!crucial!
importância!para!o!desenvolvimento!do!discurso”!(p.200).!
226 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
É!nessa!função!argumentativa!que!a!seção!seguinte!deste!
trabalho! se! concentra,! e! ela! não! se! restringe! somente! às!
rotulações.! Ocorre! também! por! meio! de! anáforas! diretas! e!
indiretas.! A! classificação! das! rotulações! como! uma! espécie! de!
anáfora! indireta! não! será! discutida! e! é! bem! explorada! por!
Cavalcante!(2011b).!

O! que! interessa! aqui! é! que! o! papel! argumentativo!


desempenhado!pelas!expressões!referenciais!anafóricas!é!algo!a!
ser!considerado!nas!atividades!de!leitura,!e!muito!relevante!para!
a!formação!de!leitores!conscientes!e!críticos,!que!saibam!avaliar!
as! opiniões! expressas! em! um! texto,! podendo! aderir! ou! não! a!
elas.!

5. REFERENCIAÇÃO NOS LIVROS


DIDÁTICOS

5.1 Análise das coleções

! Nesta! seção,! serão! breves! análises! de! duas! coleções! de!


livros!didáticos!de!língua!portuguesa,!buscando!observar!se!elas!
contemplam! a! abordagem! da! referenciação! por! meio! de!
227 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
expressões!nominais!–!bem!como!sua!função!argumentativa!–!e!
que!relevância!é!dada!ao!tema!em!cada!uma!delas.!As!coleções!
são!destinadas!ao!ensino!fundamental!regular.!São!elas:!Para(ler(
o( mundo,! publicada! pela! Editora! Scipione! e! elaborada! pelas!
autoras!Graça!Sette,!Maria!Angela!Paulino!e!Rozário!Starling;!e!A(
aventura( da( linguagem,! publicada! pela! Editora! Dimensão! e!
elaborada! pelos! autores! Luiz! Carlos! Travaglia,! Maura! Alves! de!
Freitas!Rocha!e!Vânia!Maria!Bernardes!Arruda:Fernandes.!

5.1.1 Para ler o mundo

Nesta!coleção,!no!volume!dedicado!ao!6º!ano,!a!primeira!
evidência!de!abordagem!da!referenciação!é!observada!na!seção!
Gramática(em(uso,!em!que!se!fala!sobre!“a!função!dos!numerais!
na! organização! de! um! texto”! (p.84)! e! sobre! as! formas! como!
certos! itens! lexicais! são! usados! para! se! referirem! a! nomes! e!
expressões! do! cotexto.! Esse! procedimento! se! repete! na! página!
132,!focalizando:se!a!“função!dos!substantivos!e!dos!numerais!na!
construção! da! notícia”.! Ainda! nesta! página,! encontramos! uma!
atividade!relevante!de!interpretação!escrita!de!uma!notícia!cujo!
título! é! “Vira:lata! salva! garotos! de! ataque! de! pit( bull”.! Na!
228 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
atividade,! é! requerido! que! se! identifiquem,! dentre! quatro!
alternativas,! aquelas! que! confirmem! que! “a! jornalista,! além! de!
contar! os! fatos,! manifesta! sua! opinião”! através! de! marcas!
linguísticas!de!manifestação!da!subjetividade.!
No! volume! destinado! ao! 7º! ano,! observamos! que,! em!
poucas! linhas,! os! autores! exploram! recursos! linguísticos!
empregados!para!retomar!ideias!(p.!44,!139),!elencando!nomes,!
pronomes! e! outras! expressões.! No! entanto,! nenhuma! atividade!
envolvendo!referenciação!e!argumentação!é!encontrada.!
No! volume! do! 8º! ano,! destacamos! a! menção! às!
retomadas! por! meio! de! pronomes,! sinônimos,! hiperônimos! e!
repetição! de! palavras! (reiteração),! embora! os! autores! não!
explorem!essas!estratégias,!tão!comuns!na!progressão!referencial!
dos! textos! e! muito! produtivas! como! mecanismos!
argumentativos.! Um! exercício! na! página! 202! aborda! “a! função!
argumentativa! dos! adjetivos! na! reportagem”.! Nele,! é! requerido!
que!se!identifiquem!adjetivos!que!expressem!avaliações!positivas!
dos! redatores! de! uma! reportagem! em! alguns! trechos.! Não!
observamos,!no!entanto,!o!cuidado!em!avaliar!o!adjetivo!em!seu!
contexto!linguístico!de!ocorrência,!como!a!expressão!referencial!
em!que!ele!se!insere!–!no!caso,!construções!como!belas!ruínas,!o!
antigo!pelourinho!e!estado!bruto.!
229 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
O! último! volume! (9º! ano),! ao! contrário! do! que! se!
esperava,! não! apresenta! avanços! significativos! quanto! à!
abordagem! da! referenciação.! Como! a! maioria! dos! textos!
empregados!no!volume!é!do!universo!literário,!os!autores!optam!
por! destacar! fenômenos! como! os! coloquialismos,! elementos! da!
narrativa,!além!de!privilegiarem!conteúdos!gramaticais.!
!

5.1.2 A aventura da linguagem

A! maior! evidência! de! abordagem! da! referenciação! nesta!


coleção!é!verificada!na!seção!Aprendendo(mais(sobre(coesão,!que!
não!aparece!em!todos!os!capítulos!dos!volumes.!
No! volume! destinado! ao! 6º! ano,! já! é! mencionada,! por!
exemplo,! a! substituição! de! palavras,! expressões! ou! trechos! por!
um! pronome,! a! fim! de! evitar! a! repetição! desnecessária,!
relacionar! os! elementos! do! texto! e! garantir! a! manutenção! do!
tema.! Da! mesma! forma,! a! elipse! também! é! elencada! como!
estratégia! de! coesão.! Ainda! no! mesmo! volume,! a! substituição!
pronominal! e! a! elipse! são! retomadas,! e! os! autores! acrescem,!
como! elementos! de! coesão,! os! advérbios! (“lá”,! “aqui”,! “ali”),! os!
pronomes!demonstrativos!(“isto”,!“isso”,!“aquilo”)!e,!por!fim,!as!
230 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
anáforas! construídas! a! partir! de! um! substantivo,! formando!
expressões! nominais.! Entre! as! atividades! propostas,! os! autores!
questionam!sobre!a!diferença!entre!o!emprego!de!um!pronome!e!
o!emprego!de!uma!expressão!nominal!no!texto.!A!partir!de!uma!
sequência!de!texto,!os!autores!sugerem:!
!
Discuta(com(seus(colegas(e(diga(qual(é(a(diferença(entre(o(
emprego(de(“ele”(em(vez(de(“o(doido”.(

!
Destacam,!assim,!a!ideia!de!que!quando!um!autor!usa!um!
substantivo!como!recurso!de!coesão,!ele!escolhe!um!termo!que!
ajuda!a!mostrar!sua!opinião!sobre!o!assunto!(p.!241).!O!mesmo!é!
dito! sobre! os! adjetivos.! Nas! palavras! dos! autores,! “ao! usar! os!
adjetivos,! quando! falamos! ou! escrevemos! damos! características!
dos!seres,!ou!melhor,!apresentamos!os!seres!como!os!vemos!ou!
percebemos”!(p.214).!
No! volume! destinado! ao! 7º! ano,! todas! as! definições! e!
explicações! encontradas! no! volume! anterior! são! revisitadas! de!
forma! breve,! e! na! primeira! aparição! do! tema! “coesão”,! os!
autores! mostram! como! os! numerais! (“primeiro”! /! “primeira”;!
“segundo”! /! “segunda”...)! podem! ser! produtivos! elementos! de!
retomada/referência.! Em! seguida,! é! proposta! uma! produção! de!
231 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
texto! usando! esses! elementos.! As! atividades! propostas! neste!
volume! já! se! mostram! consideravelmente! mais! complexas! e!
relevantes,! entrando! em! evidência! os! efeitos! de! sentido! e! a!
subjetividade! provocados! pelo! emprego! de! certas! expressões!
coesivas,! especificamente! no! texto! jornalístico! (cf.! seção!
“Aprendendo! mais! sobre! coesão”,! p.! 117).! Como! atividades! de!
compreensão,!os!autores,!após!uma!reportagem!apresentada!nas!
páginas!109:112,!propõem:!
!
Na(reportagem,(o(jornalista(utilizaJse(de(termos(diferentes(para(
se(referir(à(Maria(Marreta(como,(por(exemplo,(menina!pobre,(a!
primeira! e! única! boxeadora! amazonense! e! campeã! brasileira.(
Essa(forma(de(fazer(a(referência(é(uma(estratégia(que(possibilita(
ao( produtor( do( texto( construir( uma( imagem( progressiva( de(
Maria( Marreta,( ou( seja,( cada( termo( acrescenta( novas(
informações(e(ideias(a(respeito(da(mesma(pessoa(ou(ser.(
!1.( Que( outros( termos( são( empregados( no( texto( para(
caracterizar(Maria(Marreta?(
2.(Que(efeito(de(sentido(o(jornalista(acarretaria(se(tivesse(usado(
apenas(Maria(Marreta(em(todo(o(texto?(

!
São! atividades! desse! tipo! que,! a! nosso! ver,! estimulam! o!
senso! crítico! dos! alunos,! e! os! textos! jornalísticos! são! excelentes!
ferramentas! para! a! formação! de! leitores! competentes,! que!
232 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
saibam!avaliar!as!opiniões!alheias!e,!ao!mesmo!tempo,!expressar!
seus!próprios!pontos!de!vista.!
No! volume! destinado! ao! 8º! ano,! a! retomada! do! tema! é!
acompanhada!de!uma!novidade:!os!autores!mostram,!na!página!
335,! que,! entre! os! elementos! que! apontam! para! um! referente!
textual,! estabelecendo! a! coesão,! existem! aqueles! que!
“antecipam!outros!que!vão!aparecer!no!texto”,!o!que!caracteriza!
a! referência! prospectiva! (ou! catáfora).! Em! seguida,! propõem!
exercícios! de! identificação! dos! referentes! antecipados! por!
pronomes! e! expressões! nominais! que! atuam! prospectivamente.!
A! função! argumentativa,! no! entanto,! não! é! explorada! de! forma!
relevante!neste!volume.!
O!volume!destinado!ao!9º!ano!traz,!na!seção!Aprendendo(
mais(sobre(organizadores(textuais,!a!ideia!de!que!certas!palavras,!
expressões!ou!frases!“contribuem!para!articular!as!partes!de!um!
texto,! marcar! mudanças! no! assunto! tratado! ou! no! modo! de!
abordá:lo”!(p.57),!garantindo,!entre!outros!aspectos,!a!coerência!
do! texto.! Alguns! desses! organizadores! textuais! (“a! partir! deste!
momento”,! “depois! disso”,! “por! esta! razão”),!
consequentemente,!atuam!como!elementos!referenciais,!embora!
isso!não!seja!mencionado.!
!
233 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
6. PROPOSTAS DE ATIVIDADES
!

O!texto!a!seguir,!extraído!do!volume!do!7º!ano!da!coleção!
Para(ler(o(mundo,!será,!após!sua!transcrição,!o!ponto!de!partida!
para! uma! série! de! atividades! que! propomos! aqui! com! a!
finalidade! de! explorar! a! função! argumentativa! de! certas!
expressões! referenciais.! Trata:se! de! uma! reportagem!
originalmente!publicada!no!Correio!Brasiliense.!

A! opção! por! propor! atividades! a! partir! de! um! texto!


extraído! da! coleção! Para( ler( o( mundo! decorre! da! menor!
relevância!dada!ao!tema!nesta!coleção,!visto!que,!nela,!é!possível!
ampliar! as! possibilidades! de! abordagem! da! referenciação.! Vale!
destacar,!contudo,!que!o!texto!é!bem!trabalhado!nas!atividades!
propostas! na! coleção! –! inclusive! no! que! se! refere! à! questão! da!
função! argumentativa! das! expressões! nominais! referenciais! –,! e!
que!o!objetivo!aqui!é!menos!o!de!lançar!um!olhar!crítico!do!que!o!
de! oferecer! alternativas! ao! professor! de! língua! portuguesa! que!
faz!uso!desta!coleção.!

Menino! resistiu! a! preconceitos! e! se! tornou! desenhista! de! projetos!


arquitetônicos!
234 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
Conceição(Freiras(–(Correio(Brasiliense(

Tarzan! era! o! apelido! do! professor! de! educação! física! da! 3ª!
série! do! Colégio! Parisiense,! uma! escola! particular! do! Rio! de! Janeiro!
nos!anos!40.!O!homem!era!forte,!alto,!louro,!como!cabia!a!um!rei!das!
selvas.!Havia!um!único!aluno!negro!na!sala.!Chamava:se!Willy,!tinha!8!
anos,!era!o!único!filho!de!Antônio!Bezerra!de!Mello,!motorista!de!táxi!
e! de! Carmem,! dona! de! casa! e! bordadeira.! E! sobrinho! único! de! tios!
maternos.! “Fui! o! menino! mais! paparicado! do! mundo”,! conta! hoje!
Willy,!65!anos!depois!do!acontecimento!que!se!segue.!

! O! professor! de! educação! física! pediu! aos! alunos! que!


corressem! em! volta! do! campo! de! futebol.! E! só! poderiam! parar! de!
correr!quando!ele!determinasse.!E!Tarzan!o!fazia!chamando!cada!um!
pelo!nome:!Pedro,!João,!Estefânia!e...!“Miquimba”!(em!iorubá,!termo!
depreciativo! que! pode! significar,! num! xingamento,! “coisa”! ou!
“macaquinho”).! “Miquimba,! para!”,! Tarzan! ordenou! olhando! para!
Willy.! “Esse! não! sou! eu”,! disse! para! si! mesmo! o! menino! negro.!
“Miquimba,! pode! parar!”.! O! garotinho! continuou! correndo! e!
repetindo:! “Esse! não! sou! eu”.! Willy! correu! até! que! as! pernas!
perderam!as!forças!e!ele!caiu.!Resultado:!Tarzan!lhe!deu!uma!bronca!
e! um! castigo.! Como! dever! de! casa! teria! de! preencher! uma! folha! de!
papel! almaço,! da! primeira! à! última! linha,! com! a! frase:! “Devo!
obedecer!meus!professores”,!método!pedagógico!muito!comum!nos!
anos!40!e!que!duraria!mais!um!bom!tempo.!
235 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
Dona!Carmem!condoeu:se!com!a!tripla!humilhação!do!filho,!
a! de! ter! sido! chamado! de! Miquimba,! a! de! ter! levado! uma! bronca! e!
ainda!a!de!ter!de!cumprir!um!castigo.!Mãe!e!filho!temiam!pela!reação!
do! pai,! um! negro! orgulhoso! da! cor! da! pele! que! convivia! com!
intelectuais!nos!bares!do!Rio!de!Janeiro!e!que!tinha!visto!de!perto!a!
vida! dos! negros! num! dos! países! mais! segregacionistas! do! mundo,! à!
época,!os!Estados!Unidos.!

“Cumpra!o!castigo,!entregue!para!o!professor,!mas!se!ele!te!
chamar!de!Miquimba!novamente,!aja!do!mesmo!jeito!que!agiu”.!Filho!
e!mãe!recobraram!as!forças.!E!ela!passou!a!noite!bordando!o!nome!
do!garoto!no!casaco!que!ele!usava!nos!dias!de!frio.!No!dia!seguinte,!o!
aluno! negro! do! professor! louro! chegou! à! mesa! dele,! entregou! o!
castigo,! apontou! o! dedinho! para! o! bordado! e! disse:! “Este! é! o! meu!
nome”.!

Orgulho!e!herança!

Willy!Bezerra!de!Mello!tem!esse!nome!em!homenagem!a!um!
grande! amigo! do! pai,! durante! o! tempo! em! que! morou! nos! Estados!
Unidos.! No! início! do! século! 20,! Antônio! Bezerra! de! Mello! largou! a!
cidade! onde! nasceu,! Recife,! para! fugir! de! uma! epidemia! de! varíola,!
tomou!um!navio!às!margens!do!Rio!Capiberibe!e!passou!13!anos!no!
país!da!Ku!Klux!Klan.!Mas!os!filhos!e!oito!dos!nove!netos!de!Willy!têm!
nomes! africanos.! Os! filhos:! Kenya,! Mali,! Luena,! e! os! gêmeos! Ialê! e!
Kwane.!
236 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
Antes! de! cultivar! o! orgulho! pela! história! da! resistência! dos!
negros!às!humilhações!dos!brancos,!Willy!sempre!gostou!de!desenhar!
formas! arquitetônicas! (e! mais! tarde! formas! geométricas,! além! de!
figuras! negras).! Seu! traço! está! em! algumas! das! grandes! obras! de!
Brasília.!Ele!foi!um!dos!desenhistas!do!Departamento!de!Urbanismo!e!
Arquitetura!da!Novacap,!desde!o!tempo!do!barracão!construído!onde!
hoje! é! o! Palácio! da! Justiça.! Detalhou! projetos! de! arquitetura! de!
dezenas!de!obras!modernistas!da!cidade.!Os!banheiros!do!Congresso!
Nacional,! por! exemplo,! saíram! dos! esquadros! de! Willy.! Com! a!
inauguração!da!cidade,!o!desenhista!foi!chefiar!a!fiscalização!de!obras!
da!Novacap,!depois!trabalhou!na!Fundação!Cultural.!

Quando!veio!para!Brasília,!em!1958,!o!menino!que!correu!até!
cair!já!era!um!homem,!tinha!23!anos.!Deixou!no!Rio!uma!namorada!
firme,! hoje! sua! ex:mulher,! e! uma! mãe! apreensiva:! “Onde! é! Goiás?!
Ninguém! sabe! onde! é! Goiás?”.! Era! longe.! Depois! de! mais! de! três!
horas! de! vôo,! Willy! desceu! no! aeroporto! de! Brasília! e! procurou! por!
um!carro!na!Novacap!que!o!estaria!esperando.!Era!um!sábado,!15!de!
agosto! de! 1958.! Havia! muitos! táxis,! alguns! jipes! e! um! caminhão!
amarelo!com!a!inscrição!da!empresa!que!administrou!a!construção!de!
Brasília.! Todos! os! passageiros! encaminharam:se! para! a! saída,!
entraram! nos! táxis! e! nos! jipes! e! foram! embora.! “Ficamos! só! eu! e! o!
caminhão.!Eu!digo:!Bom!o!jeito!é!pegar!uma!carona!ir!para!um!hotel!e!
esperar!segunda:feira”.!

Bom!humor!
237 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
!

Procurou! pelo! motorista! do! caminhão! que! também! estava!


meio! atrapalhado.! “Estou! esperando! um! gringo! e! o! homem! não!
apareceu”.!Foi!quando!Willy!desconfiou!do!que!estava!acontecendo:!
“Como!é!o!nome!desse!gringo?”.!E!o!motorista:!“Um!tal!de!Willy”.!E!o!
tal! de! Willy:! “É,! eu! estava! esperando! um! carro,! veio! um! caminhão.!
Você! estava! esperando! um! gringo,! veio! um! negro.! Desse! jeito!
ninguém!ia!achar!ninguém”.!

O!artista!plástico!Olumello!e!o!desenhista!Willy!são!a!mesma!
pessoa.!Olumello!(“seu!Mello”,!em!iorubá)!foi!a!composição!que!Willy!
encontrou! para! se! livrar! da! inveja! que! tinha! do! nome! africano! dos!
filhos.!“Eu!ia!carregar!nome!de!gringo!pro!resto!da!vida?”,!pergunta!o!
artista,! meio! brincando,! meio! exercendo! seu! infatigável! ativismo!
negro.!Desde!menino,!Willy!fortaleceu!raízes!africanas.!Aos!12!anos,!
já! pertencia! à! Irmandade! de! Nossa! Senhora! do! Rosário! e! São!
Benedito!dos!Homens!Pretos,!ordem!religiosa!criada!entre!os!séculos!
17! e! 18! para! proteger! sob! o! manto! do! sincretismo! religioso,! negros!
escravos!e!libertos.!Ele!e!a!ex:mulher,!Lydia,!são!históricos!militantes!
do!movimento!negro,!primeiro!no!Rio!de!Janeiro,!depois!em!Brasília.!

Do! gosto! pelo! traço! livre! do! risco! arquitetônico,! do! fervor!
com!que!cultivou!a!herança!cultural!africana,!da!influência!de!Rubem!
Valentim! e! Athos! Bulcão! nasceu! o! artista! plástico! Olumello! que,!
desde!o!1º!Salão!de!Arte!Moderna!de!Brasília,!participa!de!exposições!
coletivas! e! individuais.! Sua! obra! está! no! acervo! do! Museu! Afro,! em!
São!Paulo.!Mas!a!maior!parte!dela!–!bico!de!pena,!colagem!tapeçaria,!
238 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
pintura!em!acrílico!–!está!nas!paredes!e!nos!armários!de!sua!casa,!no!
Guará!2.!

[...]!

! Proposta!de!atividade!1:!

O!texto!fala!sobre!a!trajetória!do!artista!plástico!Olumello.!Vários!
nomes! e! expressões! são! usados! para! se! referir! a! ele,! tais! como!
“menino”! (título)! e! “um! único! aluno! negro”! (linhas! 3! e! 4),! esta!
última,! aliás,! estrategicamente! utilizada! tendo! em! vista! a!
temática! do! preconceito! racial.! Nos! parágrafos! 2,! 4! e! 7,!
identifique! e! transcreva,! após! atenta! leitura,! outras! expressões!
que!façam!referência!ao!protagonista!e!que!reforcem!a!discussão!
sobre!racismo!no!texto.!

Gabarito:( “o( menino( negro”( (linha( 13);( “o( aluno( negro( do(
professor(louro”((linha(29);(“o(menino(que(correu(até(cair”((linha(
49).(

! Proposta!de!atividade!2:!
239 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
Em! sua! opinião,! qual! é! o! objetivo! do! texto! ao! reiterar! o! termo!
Tarzan! para! se! referir! ao! professor! de! educação! física! nos!
primeiros!parágrafos?!

Gabarito:! Provavelmente( para( enfatizar( as( características( físicas(


dele( –( forte,( alto( e( louro( –( em( oposição( ao( aluno( negro.( Assim,(
fica(mais(evidente(a(atitude(preconceituosa(contra(o(menino.!

! Proposta!de!atividade!3:!

No! 5º! parágrafo,! a! que! se! refere! a! expressão! “país! da! Ku! Klux!
Klan”?!Que!relação!pode!haver!entre!tal!expressão!e!a!temática!
abordada! no! texto?! (Você! pode! pesquisar! em! sites! de! busca! ou!
consultar! seu! professor! de! história! sobre! o! que! veio! a! ser! a! Ku!
Klux!Klan).!

Gabarito:( A( expressão( retoma( Estados( Unidos,( e( é( assim(


empregada( devido( à( fama( pela( qual( este( país( ficou( conhecido(
devido(a(um(violento(movimento(segregacionista(denominado(Ku(
Klux(Klan,(que(teve(início(no(século(19(e(se(estendeu(até(meados(
do(século(seguinte.(TratavaJse(de(uma(ordem(de(homens(adeptos(
ao( protestantismo( e( ao( ideal( da( supremacia( branca,( e( que,( por(
conta(de(seu(obstinado(preconceito,(agrediam(de(diversas(formas(
e(matavam(pessoas(negras(em(certas(regiões(dos(EUA.(
240 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
Já( que( o( texto( fala( sobre( um( personagem( que( teve( que( lutar(
contra( o( preconceito( racial,( podemos( notar( que( a( expressão( “o(
país(da(Ku(Klux(Klan”(realça(essa(ideia.(

! Proposta!de!atividade!4:!

a)! Como! Olumello! (ou! Willy)! encarou! a! difícil! trajetória! de!


preconceitos!durante!sua!vida?!

Gabarito:!Ele(encarou(com(muita(firmeza(e(coragem,(pois(apesar(
das( dificuldades( impostas( a( ele( e( à( família,( conseguiu( se( tornar(
um(importante(artista.!

b)! Nos! dois! últimos! parágrafos! do! texto,! o! personagem! central!


passa! a! ser! categorizado! por! meio! de! algumas! expressões! que!
acentuam! sua! ascensão! profissional.! Identifique! e! transcreva!
algumas!dessas!expressões.!

Gabarito:! “o( artista( plástico( Olumello”( (linha( 65);( “o( desenhista(


Willy”((linha(65);(“o(artista”((linha(68).!

! Proposta!de!atividade!5:!
241 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
Explique! a! que! parte! do! texto! se! refere! a! expressão! “o!
acontecimento! que! se! segue”! (linha! 7).! De! que! maneira! você!
qualificaria!esse!“acontecimento”!utilizando!um!adjetivo?!

Gabarito:! essa( expressão( faz( referência( a( um( fato( ocorrido( com(


Olumello( nos( tempos( de( escola,( ocasião( em( que( sofreu(
preconceito(por(parte(de(seu(então(professor(de(educação(física.(
PodeJse(dizer(que(a(expressão(resume,(de(forma(antecipada,(todo(
o(parágrafo(seguinte.(

Em( minha( opinião,( esse( foi( um( acontecimento( “triste”,( “infeliz”,(


“desagradável”,(“marcante”(etc.(

7. CONCLUSÕES

! A! trajetória! percorrida! desde! as! considerações! teóricas!


até!a!análise!das!coleções!e!as!propostas!de!atividades!constitui:
se,!a!nosso!ver,!em!uma!dupla!finalidade:!a!de!chamar!a!atenção!
sobre! as! ricas! contribuições! de! uma! abordagem! textual:
discursiva,!como!perspectiva!teórica,!para!o!ensino!de!português;!
e! a! de! demonstrar! ao! professor! possibilidades! de! aplicar! essa!
abordagem!a!partir!de!uma!excelente!coletânea!de!textos!que!é!
242 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
o! livro! didático.! Afinal,! o! professor! pode! propor! atividades! que!
não! são! contempladas! no! livro! didático,! e! que,! a! depender! do!
contexto!escolar,!podem!ser!mais!apropriadas.!

! A!reportagem!transcrita!na!seção!anterior!mostra!que!não!
são! somente! os! gêneros! textuais! de! caráter! opinativo! os!
responsáveis!por!defender!pontos!de!vista.!Muitas!pesquisas!têm!
confirmado! que! a! impessoalidade! no! texto! é! uma! ilusão,! e! que!
alguns! dos! gêneros! ditos! informativos! se! revestem! de! uma!
máscara! de! neutralidade! para! camuflar! a! parcialidade! da!
instância!enunciativa,!que!é!caracterizada!pela!subjetividade.!

Buscamos! mostrar,! dessa! forma,! que! certas! expressões!


constituem!marcas!que!denunciam!essa!subjetividade!nos!textos,!
que!é!o!que!os!tornam!veiculadores!de!pontos!de!vista,!opiniões,!
avaliações!sobre!fatos,!pessoas,!objetos.!Assim,!a!identificação!de!
índices! contextuais! que! levam! à! recategorização! do! referente! é!
muito!eficiente!para!se!observar!como!o!objeto!de!discurso!pode!
ser!introduzido,!transformado!e/ou!desativado!de!acordo!com!os!
propósitos!comunicativos!do!autor!do!texto.!

! Acreditamos! que! dedicar! mais! tempo! e! importância! aos!


aspectos!argumentativos!da!referenciação!no!ensino!de!língua!é!
um! caminho! muito! produtivo! para! a! formação! de! leitores!
243 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
conscientes,! que! não! se! deixam! levar! pela! opinião! que! o! texto!
apresenta,! mas! que! avaliem! os! pontos! de! vista! expressos,!
podendo!concordar!ou!não!com!eles.!

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALVES! Jr.,! M.! A.! A( estratégia( discursiva( da( rotulação:! léxico,!


argumentação!e!textualidade.!Dissertação!(Mestrado!em!Estudos!
Linguísticos)! –! Centro! de! Ciências! Humanas! e! Naturais,!
Universidade!Federal!do!Espírito!Santo!–!UFES,!Vitória,!2011.!!
!
CAVALCANTE,!M.!M.!Leitura,!referenciação!e!coerência.!In:!ELIAS,!
V.! M.! (org.).! Ensino( de( língua( portuguesa:! oralidade,! escrita,!
leitura.!São!Paulo:!Contexto,!2011a.!p.!183:195.!
(
______.!Referenciação:!sobre!coisas!ditas!e!não!ditas.!Fortaleza:!
Edições!UFC,!2011b.!
!
______!et(al.!Dimensões!textuais!nas!perspectivas!sociocognitiva!
e!interacional.!In:!BENTES,!A.!C.;!LEITE,!M.!Q.!Linguística(de(texto(
e(análise(da(conversação:!panorama!das!pesquisas!no!Brasil.!São!
Paulo:!Cortez,!2010.!p.!225:261.!
!
CHARAUDEAU,! P.! Linguagem( e( discurso:! modos! de! organização.!
São!Paulo:!Contexto,!2008.!
!
FRANCIS,! Gill.! Rotulação! do! discurso:! um! aspecto! da! coesão!
lexical!de!grupos!nominais.!In:!CAVALCANTE,!Mônica!Magalhães;!
244 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
RODRIGUES,!Bernadete!Biasi;!Ciulla,!Alena!(Orgs.).!Referenciação.!
São!Paulo:!Contexto,!2003.!p.!191:228.!
!
JUBRAN,!Clélia!Cândida!Abreu!S.!O!discurso!como!objeto:de:
discurso!em!expressões!nominais!anafóricas.!Cadernos(de(
estudos(lingüísticos!(homenagem!a!Ingedore!Koch),!nº!44.!
Campinas:!IEL/Unicamp,!jan./jun.!2003.!p.!93:104.!
!
KOCH,! I.! G.! V.! Referenciação! e! orientação! argumentativa.! In:!
KOCH,!I.!V.;!MORATO,!E.!M.;!BENTES,!A.!C.!(orgs.).!Referenciação(
e(discurso.!São!Paulo:!Contexto,!2005.!p.!33:52.!
!
______.! Introdução( à( linguística( textual.! São! Paulo:! Martins!
Fontes,!2004.!
!
______.! Desvendando( os( segredos( do( texto.! São! Paulo:! Cortez,!
2002.!
!
______.! A! referenciação! como! atividade! cognitivo:discursiva! e!
interacional.! Caderno( de( estudos( linguísticos,! nº! 41.! Campinas:!
IEL/Unicamp,!jul./dez.,!2001.!p.!75:89.!
!
______;! MARCUSCHI,! L.! A.! Processos! de! referenciação! na!
produção!discursiva.!Revista(DELTA,!nº!14,!1998.!p.!169:190.!
!
MARCUSCHI,! L.! A.! Anáfora! indireta:! o! barco! textual! e! suas!
âncoras.!In:!KOCH,!Ingedore!G.!V.!MORATO,!Edwiges!M.!BENTES,!
Anna! C.! Referenciação( e( discurso.! São! Paulo:! Martins! Fontes,!
2005.!p.!53:101.!
!
______.!O!léxico:!lista,!rede!ou!cognição!social?!In:!NEGRI,!L.!et(al!
(org.).! Sentido( e( significação:! em! torno! da! obra! de! Rodolfo! Ilari.!
São!Paulo:!Contexto,!2004.!p.!263:284.!
245 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
!
MATOS,! J.! C.! As( funções( discursivas( das( recategorizações.!
Dissertação! (Mestrado! em! Linguística),! Programa! de! Pós:
Graduação!em!Linguística,!Universidade!Federal!do!Ceará!–!UFC,!
Fortaleza,!2005.!
!
MONDADA,!L.;!DUBOIS,!D.!Construção!dos!objetos!de!discurso!e!
categorização:! uma! abordagem! dos! processos! de! referenciação.!
In:! CAVALCANTE,! M.! M.! et! al.! (Orgs.).! Referenciação.! São! Paulo:!
Contexto,!2003.!p.!17:52.!
!
COLEÇÕES ANALISADAS
!
SETTE,! G.;! PAULINO,! M.! A.;! STARLING,! R.! Para( ler( o( mundo.! São!
Paulo:!Scipione,!2009.!
!
TRAVAGLIA,!L.!C.;!ROCHA,!M.!A.!F.;!ARRUDA:FERNANDES,!V.!M.!B.!
A(aventura(da(linguagem.!Curitiba:!Editora!Dimensão,!2009.!
246 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
A (nã0) abordagem da
referenciação em dois livros
didáticos do Ensino Médio

TOMAZ,!Natália!Rocha!Oliveira!(UFRJ)!

1. INTRODUÇÃO
!
A!década!de!1990!representa!um!marco!para!a!Linguística!
de!Texto.!Isso!porque,!na!Suíça,!Lorenza!Mondada!introduzia!os!
primeiros! estudos! acerca! da! referenciação,! fundamentais! para!
redefinir! o! que! antes! se! convencionou! chamar! de! Mecanismos(
coesivos.!
Hoje,! além! de! Mondada,! Dubois,! Koch! e! Marcuschi! são!
nomes! indispensáveis! para! os! estudos! da! referenciação,! junto! a!
muitos! outros! pesquisadores! que! vêm! discutindo! novas! formas!
de! enxergar! os! processos! coesivos! no! texto.! É! fundamental,!
portanto,! percebermos! a! grande! transformação! do! conceito! de!
referente! como! uma! construção! coletiva! que! é! partilhada! entre!
os!coparticipantes!da!enunciação.!!
247 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
Assim,! após! o! contato! com! esses! estudos,! parece:nos!
difícil! ainda! enxergar! a! referenciação! como! uma! relação( entre(
expressões( referenciais( e( marcas( cotextuais( explícitas!
(CAVALCANTE!et!al.,!2010,!p.!235)!quando!sabemos!que,!além!de!
elementos!linguísticos,!esse!processo!é!também!cognitivo.!!
A!partir!desse!panorama,!analisaremos,!neste!artigo,!duas!
coleções! de! livros! didáticos! do! Ensino! Médio,! muito! diferentes!
entre! si! no! que! se! refere! ao! tratamento! da! referenciação:!
Português:( contexto,( interlocução( e( sentido,! de! Maria! Luiza! M.!
Abaurre,!Maria!Bernadete!M.!Abaurre!e!Marcela!Pontara!(Editora!
Moderna),! e! a! coleção! Viva( Português( J( Ensino( Médio,! de!
Elizabeth! Campos,! Paula! Marques! Cardoso,! Silvia! Letícia! de!
Andrade!(Editora!Ática).!Nosso!objetivo!é!analisar!criticamente!o!
que!se!diz!ou!o!que!se!poderia!dizer!sobre!referenciação!nesses!
livros!didáticos,!considerando!que!são!livros!aprovados!pelo!MEC!
para!uso!em!sala!de!aula.!!
De!acordo!com!os!PCN!de!Língua!portuguesa,!o!ensino!da!
Língua! deve! ser! baseado! em! três! objetivos! essenciais:! leitura,!
produção! textual! e! análise! linguística.! Segundo! Koch! e! Elias!
(2006,!p.!11):!
!
248 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
!!O!sentido!de!um!texto!é!construído!na!interação!
texto:sujeitos! e! não! algo! que! preexista! a! essa!
interação.! A! leitura! é,! pois,! uma! atividade!
interativa! altamente! complexa! de! produção! de!
sentidos,! que! se! realiza! evidentemente! com! base!
nos!elementos!linguísticos!presentes!na!superfície!
textual!e!na!sua!forma!de!organização,!mas!requer!
a!mobilização!de!um!vasto!conjunto!de!saberes!no!
interior!do!evento!comunicativo.!

!
Dessa! forma,! para! integrar! o! conjunto! de! saberes! aos!
mecanismos!linguísticos,!o!estudo!da!referenciação!deveria!fazer!
parte!dos!livros!didáticos.!Nesse!processo!coesivo,!há!elementos!
linguísticos! com! múltiplas! funções:! indicar! pontos! de! vista,!
conduzir! os! direcionamentos! argumentativos,! recategorizar!
objetos! do! discurso.! Se! esse! estudo! é! ignorado,! o!
reconhecimento! da! unidade! do! texto! por! parte! do! aluno! pode!
não! se! efetivar.! Essa! falta! de! abordagem! da! referenciação! nos!
livros!didáticos!pode!culminar!em!uma!análise!estanque!de!frases!
soltas! que! não! correspondem! a! enunciados,! tampouco! fazem!
sentido!fora!de!contexto.!
Ainda! que,! neste! breve! artigo,! apenas! duas! coleções!
tenham! sido! privilegiadas,! nosso! maior! objetivo! é! tentar!
compreender!o!processo!de!referenciação!à!luz!da!Linguística!de!
249 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
Texto,! relacionar! a! teoria! existente! à! realidade! da! sala! de! aula!
por! meio! dos! livros! didáticos! e! propor! possibilidades! de!
abordagem! do! assunto! nesses! livros.! O! material! didático! de!
Língua! Portuguesa! deve! ser! uma! tentativa! de! tornar! a! Língua!
pertinente! para! a! vida! dos! alunos,! fazer! uma! real! integração!
entre! as! áreas! básicas! em! que! se! divide! o! ensino! de! língua!
materna! e! formar! leitores! críticos,! falantes! e! escritores! mais!
competentes.!
!
2. OS PROCESSOS DE REFERENCIAÇÃO
!
Nos!anos!de!1980,!a!noção!de!referente!era,!certamente,!
bem!diferente!da!visão!atual.!Entendia:se!como!referenciação!o!
processo! cotextual! pelo! qual! um! elemento! do! texto! remetia! a!
outro! com! que! tivesse! uma! relação! interpretativa.! Essa! visão,!
difundida! por! grandes! nomes,! como! Halliday! e! Hasan! (apud!
CAVALCANTE! et! al.,! 2010),! foi,! sem! dúvida,! muito! importante!
para! os! avanços! dos! estudos! da! Linguística! de! Texto,! já! que! a!
limitação! dessa! classificação! gerou! a! necessidade! de! se!
ampliarem!os!estudos!para!além!da!superfície!do!texto.!
A! partir! desses! estudos,! o! conceito! de! referente! foi! se!
aprofundando! e! passou! a! ser! definido! como! uma! entidade!
250 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
mental,! construída! coletivamente! pelos! participantes! da!
enunciação.!Assim,!não!se!pode!negar!que,!em!muitos!casos,!ele!
está! relacionado! às! estruturas! sintático:semânticas! e! escolhas!
lexicais!presentes!no!enunciado,!mas,!acima!de!tudo,!o!contexto!
sociodiscursivo! e! cultural! é! fundamental! para! que! os!
participantes! da! enunciação! cheguem! à! plena! comunicação.!
Portanto,! podemos! afirmar! que! a! noção! de! referenciação! passa!
por! aspectos! linguísticos,! sociocognitivos,! discursivos! e!
interacionais.!
Segundo! Cavalcante! (2011),! o! referente,! nessa!
perspectiva,! é! uma! entidade! abstrata,! imaterial,! projetada! pelo!
enunciador! na! situação! de! comunicação! com! seu! interlocutor.!
Essa! representação! do! referente! varia! tanto! para! o! enunciador!
quanto! para! seu! coenunciador,! ainda! que! se! trate! do! mesmo!
objeto!de!discurso.!É!uma!realização,!pois,!subjetiva!e!instável.!A!
linguista! considera! ainda! que,! ao! fazer! referência! a! algo,! damos!
essência! substantiva! a! uma! entidade! abstrata.! Daí! serem! os!
sintagmas! nominais! –! e! também! os! pronomes! substantivos! –! as!
formas! mais! comuns! para! nomear! um! referente,! incluindo:se!
nesse!processo!os!sintagmas!adverbiais.!
251 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
Segundo! Koch! e! Elias! (2006),! ao! construirmos! referentes!
textuais,! podemos! empregar! três! estratégias:! a! introdução(
(construção),!a!retomada((manutenção)!e!desfocalização.!!
A! introdução! ocorre! quando! um! “objeto”! ou! referente! é!
introduzido! pela! primeira! vez! em! um! texto! a! partir! de! uma!
expressão!linguística!que!se!destaca,!que!é!focalizada!no!texto.!
Já! a! retomada! acontece! se! houver! a! reativação! de! um!
referente! já! expresso! no! texto,! mantendo! o! objeto! de! discurso!
em! evidência.! É! importante! ressaltar! que! quando! não! há!
manutenção!de!um!“objeto”!introduzido!explicitamente!no!texto,!
trata:se! do! caso! das! anáforas! indiretas,! em! que! os! seus!
referentes! não! podem! ser! recuperados! pelo! cotexto,! o! que!
veremos!mais!adiante.!
A! desfocalização,! por! sua! vez,! trata! da! sobreposição! de!
um!novo!referente!que!passa!a!ser!o!foco!do!texto!em!um!dado!
momento,! reduzindo! a! evidência! de! “objeto”! anterior.!
Entretanto,! Koch! e! Elias! (2006,! p.! 126)! afirmam! que! “O! objeto!
retirado! de! foco,! contudo,! permanece! em! estado! de! ativação!
parcial!(stand(by),!ou!seja,!ele!continua!disponível!para!utilização!
imediata!sempre!que!necessário”.!
Tomando! como! base! as! introduções! referenciais,! se! a!
criação! de! um! referente! se! estabelece! por! instâncias! de! ordem!
252 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
subjetiva,! podemos! afirmar! que! as! expressões! referenciais!
carregam! pontos! de! vista.! A! referenciação,! portanto,! pode!
revelar! a! intencionalidade! do! enunciador! e! orientar! o!
interlocutor! na! construção! dos! sentidos,! que,! ainda! assim,!
dependerão! das! vivências! socioculturais! particulares! de! ambos,!
num! processo! singular,! inédito! e! que! não! se! repete.! Sobre! esse!
teor! argumentativo! dos! processos! de! referenciação,! Cortez!
(2005,!p.!318)!afirma!que:!
!
[...]! referência! como! um! processo! realizado! no!
discurso! e! [...]! referentes! como! objetos:de:
discurso,! que,! apresentados,! construídos! e!
desenvolvidos!discursivamente,!contribuem!para!a!
orientação!argumentativa!do!texto!e!a!articulação!
de!um!“projeto!de!sentido”.!!

!
A! ideia! de! Cortez! só! pode! ser! compreendida! se!
entendermos!que!a!referenciação!é!uma!forma!pessoal!de!ler!o!
mundo,! se! considerarmos! as! coisas! do! mundo! como! referentes!
construídos! e! reconstruídos! no! discurso.! Assim,! a! referenciação!
consiste! na! construção! de! objetos! de! discurso,! não! como!
referentes! presentes! no! mundo,! já! que! é! o! sujeito! que! está! no!
centro!da!criação!do!discurso,!e!depende!do!ponto!de!vista!dos!
253 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
participantes! da! enunciação! e! do! contexto! de! interação.! De!
acordo! com! Marquesi! (2007,! p.! 218),! “a! realidade! é! construída,!
mantida! e! alterada! não! somente! pela! forma! como!
sociocognitivamente! se! interage! com! ele:! interpretam:se! e!
constroem:se! mundos! por! meio! da! interação! com! o! entorno!
físico,! social! e! cultural”.! Considerando! que! não! há! uma! única!
versão! do! mundo! ou! verdade! universal! sobre! ele,! podemos!
afirmar! que! toda! referência! é! construída! de! maneira! social! e!
intersubjetivamente! pelos! sujeitos! enunciadores,! de! modo! que!
nenhum!enunciado!é!neutro.!
Quando! passamos! a! enxergar! os! processos! de!
referenciação! como! construções! coletivas,! percebemos! que! um!
objeto! de! discurso! é! dinâmico! o! suficiente! para! que! a!
manutenção! do! tópico,! na! progressão! textual,! passe! por!
modificações,! desativações! ou! reativações.! A! essas!
transformações!chamamos!recategorização!de!um!referente.!!
Assim,! os! processos! referenciais! recategorizáveis! estão!
presentes!no!transcurso!da!interação,!pois!são!responsáveis!por!
comprovar! que! um! objeto! de! discurso! se! reconfigura,! se!
transforma,! seja! em! estruturas! sintático:semânticas,! seja! pela!
apreensão!do!contexto!sociodiscursivo!e!cultural!do!enunciador!e!
de!seu!coenunciador.!
254 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
!
3. AS ANÁFORAS NOS PROCESSOS DE
REFERENCIAÇÃO
!
Outro!conceito!que!se!ampliou!nos!estudos!da!Linguística!
de! Texto! é! a! anáfora.! Antes! caracterizada! como! expressões!
referenciais!do!cotexto!que!fazem!remissão!a!outro!elemento!do!
texto,!a!anáfora!passou!a!abarcar!também!uma!dimensão!em!que!
não! há! mais! obrigatoriedade! em! explicitar! a! expressão!
referencial.! É! preciso! reiterar! que! estamos! tratando! da! anáfora!
como! um! processo! de! referenciação! atrelado! aos! aspectos!
linguísticos,! sociocognitivos,! discursivos! e! interacionais.! Assim,!
não! há! mais! espaço! para! uma! visão! apenas! linguística,! que!
privilegie!unicamente!o!campo!cotextual,!relacionada!à!anáfora.!
Essas! transformações! no! campo! da! referenciação! implicam!
alterações! nos! estudos! não! só! das! anáforas,! mas! também! das!
introduções! referenciais,! já! que! o! antecedente! de! uma! anáfora!
pode!não!estar!explícito!no!cotexto.!
Quando! tratamos! das! introduções! referenciais,! estamos!
nos! referindo! a! expressões! que! não! estão! relacionadas! a!
elementos! anteriores! do! cotexto,! são! referentes! novos.!
Entretanto,!quando!uma!expressão!referencial,!por!meio!de!uma!
255 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
remissão!direta,!alude!a!esses!referentes!novos,!então!temos!um!
caso!de!anáfora,!mais!precisamente!de!uma!anáfora!direta,!ainda!
que!nessa!anáfora!o!referente!seja!recategorizado.!
A! distinção! crucial! entre! uma! anáfora! direta! e! uma!
indireta!está!na!relação!entre!essas!formas!de!referência!e!seus!
termos:âncora.! Por! âncora! entende:se! a! relação! de! inferência!
entre! uma! expressão! referencial! e! conhecimentos! diversos!
ativados! pela! memória! dos! coenunciadores.! ! Dessa! forma,! as!
âncoras!são!fundamentais!para!os!dois!tipos!de!anáforas,!seja!em!
uma!relação!correferencial!–!anáforas!diretas!–!seja!em!uma!não!
correferencialidade!–!anáforas!indiretas.!
Nos!casos!em!que!ocorrem!anáforas!diretas,!a!expressão!
referencial! recupera! o! mesmo! objeto! de! discurso! antes!
introduzido.! Entretanto,! se! nos! voltamos! para! as! anáforas!
indiretas,! percebemos! que! o! que! se! recupera,! na! verdade,! são!
referentes! novos! não! depreensíveis! do! cotexto! anterior,! mas!
pressupostos! por! meio! de! pistas! do! contexto! ou! âncoras!
presentes!no!texto.!Vejamos!o!que!diz!Koch!(apud!CAVALCANTE,!
2011,!p.!57!:!58)!a!esse!respeito:!
!
As!anáforas!indiretas,!por!seu!turno,!caracterizam:
se! pelo! fato! de! não! existir! no! cotexto! um!
antecedente! explícito,! mas! sim! um! elemento! de!
256 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
relação! (por! vezes! uma! estrutura! complexa),! que!
se! pode! denominar! âncora! (SCHWARZ,! 2000)! e!
que!é!decisivo!para!a!interpretação;!ou!seja,!trata:
se! de! formas! nominais! que! se! encontram! em!
dependência! interpretativa! de! determinadas!
expressões! da! estrutura! textual! em!
desenvolvimento,! o! que! permite! que! seus!
referentes! sejam! ativados! por! meio! de! processos!
cognitivos! inferenciais! que! mobilizam!
conhecimentos! dos! mais! diversos! tipos!
armazenados!na!memória!dos!interlocutores.!

!
Nessa! perspectiva,! parece:nos! claro! que! a! melhor!
distinção!entre!a!anáfora!direta!e!a!indireta!está!na!manutenção!
de!um!referente!já!explicitado!para!aquela!e!na!não!retomada!do!
mesmo! referente! para! esta.! As! anáforas! indiretas! não!
apresentam! um! antecedente! explícito! no! cotexto,! mas! âncoras!
que! são! essenciais! como! elementos! de! relação! entre! os!
significados.!!
Sendo!anáforas!diretas!ou!indiretas,!o!importante!é!que!a!
progressão! referencial! é! projetada! no! texto! por! processos! de!
inferência! requisitados,! nesse! caso,! pelas! anáforas! a! partir! da!
troca!coletiva!entre!os!participantes!da!enunciação.!
!
257 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
4. ENCAPSULADORES: UM TIPO
ESPECIAL DE ANÁFORA INDIRETA
!
Ao!falar!de!anáforas!indiretas,!não!podemos!nos!esquecer!
de! que! há! um! tipo! particular! muito! comum! nos! textos:! os!
encapsuladores.!Sua!classificação!como!anáfora!indireta!decorre!
da! retomada! ou! antecipação! de! um! referente! que! recupera!
informações! espalhadas,! não! pontuais! do! texto,! por! isso! não!
conseguimos!encontrar!termos:âncora!na!superfície!do!texto.!Já!
a! sua! natureza! encapsuladora! está! relacionada! à! capacidade! de!
resumir,!sintetizar!conteúdos.!
Criados!a!partir!de!uma!informação!velha!com!referências!
novas! e! resumitivas,! os! encapsuladores! podem! trazer! consigo!
mais!do!que!a!simples!retomada!sintética!de!referentes.!Também!
podem!ser!cruciais!na!argumentação,!quando!por!meio!de!certas!
escolhas!lexicais!um!ponto!de!vista!é!defendido.!Para!esse!fim,!as!
recategorizações! de! referentes! são! muito! empregadas! nos!
encapsulamentos,! já! que! indicam! a! forma! particular! como! o!
enunciador!enxerga!o!referente.!
A! visão! de! Francis! (apud! CAVALCANTE,! 2011)! a! respeito!
dos! rótulos! apresenta! algumas! singularidades! em! relação! aos!
encapsuladores.! Para! a! autora,! os! rótulos! são! também! formas!
258 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
resumitivas! de! conteúdos! do! texto,! mas! dispõem! de! um! traço!
essencial:!manifestam:se!por!sintagmas!nominais.!!
Parece:nos! que! a! visão! de! Cavalcante! em! não! distinguir!
rótulos!de!encapsuladores!é!a!mais!coerente!para!nosso!estudo,!
voltado! à! aplicação! da! referenciação! nos! livros! didáticos! e! em!
sala!de!aula,!uma!vez!que!a!função!textual!de!ambos!é!a!mesma!–!
sintetizar!conteúdos.!
Portanto,! devemos! destacar! a! função! coesiva! dos!
encapsuladores.! Seu! emprego! auxilia! na! progressão! e!
manutenção! de! tópicos! discursivos,! porque! marca! o!
encerramento! de! uma! porção! textual,! direcionando! o!
interlocutor!para!o!próximo!estágio.!
!
5. ANÁLISE DA REFERENCIAÇÃO NOS
LIVROS DIDÁTICOS
!
Nas! coleções! de! livros! didáticos! Português:( contexto,(
interlocução( e( sentido! e! Viva( Português( –( ambas! voltadas! ao!
Ensino! Médio! e! aprovadas! pelo! PNLD! –,! podemos! constatar! a!
precariedade! da! abordagem! sobre! a! temática! da! referenciação.!
Segundo!o!Guia!PNLD!2012!de!Língua!Portuguesa!para!o!Ensino!
Médio!(p.!12:13):!
259 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
!
Experimentando! diferentes! caminhos,! e! com!
diferentes! graus! de! eficácia,! todas! elas! trazem!
textos,! informações,! conceitos,! noções! e!
atividades! capazes! de! colaborar,! em! maior! ou!
menor! medida,! com! os! objetivos! oficiais!
estabelecidos! para! cada! um! dos! quatro! grandes!
objetos! de! ensino! da! disciplina:! leitura,! produção!
de! textos! escritos,! oralidade! e! conhecimentos!
linguísticos.!

!
É! surpreendente! perceber! que! a! ausência! de! um! estudo!
que! privilegie! a! referenciação! como! um! processo! coesivo!
diretamente!relacionado!à!leitura,!à!produção!de!textos!escritos!
ou!orais!e!aos!conhecimentos!linguísticos!não!tenha!sido!notada,!
já! que! se! consideram! as! duas! coleções! aqui! tratadas,! além! das!
demais!que!constam!do!guia,!como!satisfatórias!nesses!aspectos.!
!!
5.1. Coleção Viva Português
!
Tomando! por! base! a! coleção! Viva( Português( J( Ensino(
Médio,! de! Elizabeth! Campos,! Paula! Marques! Cardoso! e! Silvia!
Letícia! de! Andrade! (Editora! Ática),! percebemos! que! há! muitas!
propostas! interessantes,! como! a! concretização! por! parte! dos!
260 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
alunos! de! projetos! diversos! que! se! baseiam! nos! mais! variados!
gêneros.!Esse!projetos!são!divididos!por!etapas!ao!longo!do!ano!e!
devem! ser! orientados! pelo! professor! a! partir! da! divisão! em!
grupos! de! alunos.! Porém,! as! etapas! dos! projetos! que! se!
relacionam!ao!texto!escrito!ou!oral!não!aproveitam!para!abordar!
os! conceitos! imbricados! no! campo! da! referenciação.! Aliás,! essa!
temática! não! é! mencionada! no! volume! da! 3ª! série,! último! ano!
letivo! do! aluno,! que,! teoricamente,! está! prestes! a! ingressar! no!
Ensino! Superior.! Assim,! o! reconhecimento! e! emprego! de! certas!
referências!pode!se!tornar!tarefa!difícil!para!o!universitário,!que!
se!depara!com!um!ambiente!mais!exigente!no!campo!da!leitura!e!
da!escrita.!
No!volume!1,!destinado!à!1ª!série,!encontramos!algumas!
menções! à! referenciação.! No! entanto,! as! autoras,! nesses! casos,!
permaneceram! adotando! uma! visão! já! ultrapassada! sobre! os!
processos! de! referenciação,! focando! apenas! em! marcas!
cotextuais,! perspectiva! que! já! se! ampliou,! conforme! vimos! no!
início! deste! artigo.! Vejamos,! por! exemplo,! a! atividade! proposta!
no!referido!volume!(p.!89):!
!
Lisbela!e!o!prisioneiro!!
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!Osman!Lins!
[...]!
261 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
Lisbela:! Meu! pai,! a! Vitória! está! parecendo! uma!
terra!sem!dono.!(Vendo!Leléu).!Ah,!o!senhor!!
Leléu:!Visitando!os!amigos.!
Lisbela:!Agora,!vamos!ter!sossego!lá!em!casa.!
Leléu:!Queira!Deus.!
Lisbela:!Então,!lhe!prenderam!de!novo.!
Leléu:! Me! prenderam,! dona,! mas! eu! acho! que!
valeu!a!pena.!Só!poder!ver!a!senhora!outra!vez!!
Ten.! Guedes:! Você! não! tem! o! que! fazer! aqui,!
Lisbela?!Pode!voltar,!não!fale!com!esse!homem.!
Lisbela:!O!que!é!que!tem?!O!senhor!não!achou!que!
podia!levá:lo!lá!pra!casa?!
Ten.!Guedes:!Aquilo!foi!um!erro.!Um!erro!triste.!
Lisbela:! Quero! que! ele! saiba! de! uma! coisa:! eu! fui!
contra!aquela!história!de!levá:lo.!
Leléu:!Por!quê?!
Lisbela:!Não!era!direito.!
Leléu:! (Com! alívio.)! Ah,! sim!! Com! isso,! me!
contento.! Mas! fiquei! triste! quando! não! lhe! vi!
naquele!dia.!A!senhora,!no!circo.!Tinha!me!batido!
tantas!palmas!!
Ten.!Guedes:!Vá!pra!casa,!Lisbela.!
Lisbela:! (Sem! dar:lhe! atenção.)! Como! é! que! você!
pode! se! lembrar! de! mim?! Todo! mundo! bateu!
palmas.!
Leléu:! Eu! só! via! as! da! senhora,! moça.! Num!
domingo! de! tarde.! A! senhora! estava! na! segunda!
262 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
fila! de! cadeiras,! de! blusa! branca! e! uma! fita! verde!
no!cabelo.!Eu!vi.![...]!
4)!Os!textos!lidos!neste!capítulo!são!compostos!de!
diversas! frases! que! formam! uma! unidade.! Essa!
unidade! resulta! do! emprego! de! alguns! recursos!
coesivos.!Por!exemplo:!aquilo!que!foi!dito!em!uma!
frase!é!retomado!nas!frases!seguintes!com!outras!
palavras,! assim! o! autor! pode! fazer! o! assunto!
avançar,! ao! mesmo! tempo! que! mantém! o! leitor!
sempre! ligado! à! ideia! central! do! texto.! ! Releia! o!
trecho! que! vai! da! fala! 43! (Meu! pai,! a! Vitória! está!
parecendo...)! à! 58! (Eu! só! via! as! da! senhora...)! do!
texto!Lisbela(e(o(prisioneiro.!
a)! Quais! são! os! termos! empregados! nas! falas! de!
Lisbela! para! essa! personagem! se! dirigir! ou! se!
referir!a!Leléu?!!
b)!Que!termos!são!empregados!nas!falas!de!Leléu!
para! essa! personagem! se! dirigir! ou! se! referir! a!
Lisbela?!!

!
Acrescentemos! ainda! que! as! respostas! são,! segundo! o!
gabarito! presente! no! livro,! respectivamente:! “o! senhor,! lhe,! lo,!
ele,! você”! e! “dona,! a! senhora,! lhe,! (d)a! senhora,! moça”.! Há,!
inclusive,! uma! nota! para! o! professor! no! rodapé! desta! mesma!
página:!“Prof.(a),!chame!a!atenção!dos!alunos!para!o!fato!de!que!
263 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
os!termos!encontrados!nos!itens!a!e!b!são!pronomes!pessoais!e!
de!tratamento”.!
A!redução!da!importância!da!referenciação!é!tão!explícita!
em! ocorrências! como! essa,! que! tendemos! a! acreditar,! a! partir!
dessa! forma! de! abordagem,! que! o! assunto! se! restringe! a!
aspectos! gramaticais,! já! que! apenas! os! pronomes! recebem!
importância!nos!processos!coesivos.!
!Em!outro!momento,!ainda!no!volume!1,!a!explicitação!da!
análise! da! referenciação! como! uma! relação! entre! termos! do!
cotexto!é!reiterada!por!meio!de!um!box!(p.!230):!“A!coesão!é!a!
ligação! entre! os! elementos! de! um! texto”.! Por! essa! lógica,! fica!
evidente! que! a! visão! privilegiada! se! restringe! a! elementos!
cotextuais!apenas.!
Com! relação! ao! volume! 2! para! a! 2ª! série,! da! mesma!
coleção! Viva( Português,! encontramos! uma! referência! à! anáfora,!
porém!numa!perspectiva!desatualizada.!Vejamos!a!definição!e!o!
exemplo! de! anáfora! (p.! 71)! constante! do! volume! que! estamos!
analisando:!
!
Anáfora!é!um!recurso!linguístico!de!coesão!textual!
em!que!um!termo!gramatical!(pronome,!advérbio,!
substantivo)! recupera! um! outro! termo! ou!
expressão.!
264 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
As( pessoas( saíam( aos( poucos( da( igreja.( O(
problema(é(que(o(lugar(estava(muito(quente.(

(
É! importante! relembrar! que,! segundo! as! concepções! da!
LT,!a!anáfora!teve!sua!dimensão!textual!ampliada,!a!ponto!de!não!
apresentar! mais! a! obrigatoriedade! de! explicitar! a! expressão!
referencial! no! texto,! o! que! vai! de! encontro! ao! que! as! autoras!
determinam!em!sua!coleção!no!Manual!do!Professor.!
Na!continuação!dessa!conceituação!de!anáfora,!o!volume!
passa! a! abordar! os! processos! de! hiperonímia! e! hiponímia.! Aqui!
também!não!há!novidades:!o!assunto!se!restringe!a!vocabulário!
geral! ou! específico! e! são! apresentados! sem! relação! com! a!
referenciação.! Koch! e! Elias! (2006),! por! exemplo,! tratam! da!
hiperonímia!e!homonímia!como!casos!de!anáfora(especificadora,!
já! que! são! formas! refinadas! de! especificação! de! um! referente.!
Seria!interessante!que!as!autoras!demonstrassem,!ao!menos,!que!
hiperônimos!e!hipônimos!são!conceitos!relacionados!à!anáfora!e!
não! separassem! os! dois! assuntos! como! se! fossem! tópicos!
distintos.!
De! modo! geral,! se! analisarmos! quantitativamente! os!
momentos!em!que,!de!alguma!maneira,!a!coleção!Viva(Português!
menciona!a!referenciação,!ainda!que!com!outras!nomenclaturas,!
265 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
chegaremos! à! conclusão! de! que! os! volumes! praticamente!
ignoraram! a! existência! do! assunto.! A! abordagem! é! rápida,!
pontual!e!restrita!aos!dois!primeiros!volumes.!Qualitativamente,!
é! preciso! que! haja! atualização! sobre! os! processos! de!
referenciação.!
!
5.2. Coleção Português: Contexto,
interlocução e sentido
!
Diferentemente! da! coleção! anterior,! os! volumes! de!
Português:( Contexto,( interlocução( e( sentido,! de! Maria! Luiza! M.!
Abaurre,!Maria!Bernadete!M.!Abaurre!e!Marcela!Pontara!(Editora!
Moderna),! parecem! estar! no! caminho! para! uma! visão! mais!
moderna! acerca! dos! processos! de! referenciação.! Porém,! esse!
progresso!está!particularmente!presente!em!apenas!um!volume,!
o! que! compromete! a! proposta! da! coleção! como! um! todo! se!
analisarmos!os!demais!volumes.!
Tal! qual! ocorreu! em! Viva( Português,! também! não!
encontramos! qualquer! menção! à! referenciação! no! volume! 3! da!
coleção!Português:(Contexto,(interlocução(e(sentido.!Os!capítulos!
da! parte! de! gramática! ficam! restritos! ao! estudo! das! orações,!
crase!e!!pontuação.!Ainda!nessa!parte,!a!unidade!4,!“Articulação!
266 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
dos! termos! na! oração”,! poderia! tratar! do! referente,! mas!
concordância! e! regência! são! os! conceitos! aprofundados! ali.! Em!
seguida,! em! outra! parte,! “Produção! de! texto”,! privilegiam:se! as!
características! de! gêneros! textuais.! Em! vários! gêneros!
apresentados!pelas!autoras,!a!referenciação!poderia!ser!inserida,!
seja! abordando! sua! importância! na! construção! de! sentido! dos!
textos,!ou!mesmo!na!elaboração!textual.!Nada!disso!ocorre.!
No!volume!1,!há!vários!momentos!em!que!a!referenciação!
poderia!estar!mais!clara.!As!autoras!exploram!teorias!e!exercícios!
voltados,!por!meio!das!variações!linguísticas,!a!gírias!ou!jargões.!
Afirmam! que! quem! não! tem! conhecimento! específico! das!
referências! dessas! expressões! não! compreenderá! os! termos.! E!
ainda! acrescentam! que! essas! expressões! fazem! parte,! muitas!
vezes,! do! vocabulário! de! um! grupo! específico! e! definem! quem!
são!os!interlocutores!do!texto.!!
Embora! não! mencionem! diretamente! os! conceitos!
envolvidos! na! referenciação,! as! autoras! valorizam,! na! relação!
comunicativa!de!expressões!e!significados,!o!aspecto!interacional!
do!discurso,!o!que!já!é!um!fator!positivo!na!coleção.!
O!volume!1!traz!ainda!(p.!265)!uma!parte!que!se!intitula!
“Usos! das! relações! lexicais! na! construção! da! coesão! textual”,!
porém! dá:se! ênfase! a! retomadas! vocabulares! de! referentes!
267 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
explícitos.!Por!outro!lado,!as!autoras!valorizam!a!ideia!de!campo!
semântico! como! fator! responsável! pelas! relações! de! sentido!
construídas!em!um!texto.!
As! autoras! surpreendem! nesse! mesmo! volume! quando!
comentam! o! texto! “Vaguidão! específica”,! de! Millôr! Fernandes,!
em! que! a! falta! de! referentes! explícitos! é! o! elemento! de! humor!
para!o!leitor.!Após!o!texto,!afirmam!(p.!243):!
!
A!leitura!do!texto!sugere!que!essas!duas!mulheres!
sabem! muito! bem! sobre! o! que! estão! falando.! O!
leitor,! porém,! não! é! capaz! de! identificar! as!
referências! que! podem! atribuir! um! sentido!
específico! aos! enunciados! do! diálogo.! Isso!
acontece! porque! ele! não! tem! conhecimento! do!
contexto!em!que!se!produziu!essa!interlocução.!O!
humor! do! texto! nasce! da! impossibilidade! de!
compreensão!da!conversa!das!duas!mulheres.!
Esse! texto! é! um! exemplo! extremo! da! exploração!
de!uma!característica!marcante!da!linguagem:!ela!
é! indeterminada.! Isso! significa! que! a!
responsabilidade!por!dizer!ou!não!dizer!algo,!pelo!
grau! de! explicitação! a! que! se! quer! chegar,! pela!
escolha!de!enunciados!ambíguos,!é!do!falante,!que!
tem! sempre! um! trabalho! a! realizar! a! partir! das!
268 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
possibilidades! que! a! língua! coloca! à! sua!
disposição.!

!
Nesse! fragmento,! podemos! notar! a! valorização! das!
autoras! aos! aspectos! linguísticos,! sociocognitivos,! discursivos! e!
interacionais! dos! processos! de! referenciação.! Seria! interessante!
que! se! destacasse! a! importância! da! construção! coletiva! do!
referente!a!partir!do!papel!fundamental!também!do!interlocutor.!!
Já! no! volume! 2,! as! autoras! retrocedem! dessa! visão,! por!
exemplo,! quando! em! um! box! definem! anáfora! como! “processo!
linguístico!por!meio!do!qual!um!termo!recupera!outro!termo!que!
o!antecedeu!em!um!texto”!(p.!368).!Fica!claro!que!estão!tratando!
do! conceito! antigo! de! anáfora,! que! privilegiava! apenas! os!
mecanismos!linguísticos!explícitos!do!texto.!
O!volume!2!traz,!inclusive,!uma!seção!dedicada!à!coesão!e!
coerência,!tratando!dos!conceitos!de!anáfora!e,!agora,!catáfora.!
A! abordagem,! no! entanto,! se! volta! apenas! para! os! mecanismos!
linguísticos! de! retomada! ou! antecipação,! de! substituição,! de!
repetição! ou! reiteração! e! de! contiguidade.! O! volume! 2! não!
amplia!o!conceito!de!referente!como!ocorreu!no!volume!1.!
Assim,! comparando! as! coleções! Português:( Contexto,(
interlocução( e( sentido! com! Viva( Português,! percebemos! grande!
269 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
diferença! em! relação! à! abordagem! sobre! referenciação.!
Acreditamos!que,!se!houvesse!uma!continuidade!nos!volumes!2!e!
3! do! estudo! feito! no! volume! 1! em! Português:( Contexto,(
interlocução( e( sentido,! os! conceitos! de! referenciação! poderiam!
ser!construídos!pelos!alunos!de!forma!mais!completa,!intrínseca!
e!natural!ao!chegarem!à!3ª!série,!mas!o!que!vimos!foi!um!estudo!
que! principia! em! uma! razoável! abordagem! da! referenciação! no!
volume!1!e!desaparece!nos!dois!volumes!seguintes.!
!
6. PROPOSTAS DE ATIVIDADES
!
Com! base! nos! conceitos! mais! recentes! relacionados! à!
referenciação!e!tendo!em!vista!a!abordagem!insuficiente!ou!nula!
–! em! alguns! momentos! –! desse! estudo! pelas! coleções! aqui!
analisadas,! propomos! atividades! baseadas! no! texto! “Um! tipo!
inesquecível”,! de! Silvio! Lancellotti,! retirado! de! Viva( Português,!
volume!3!(p.!248):!
!
Um!tipo!inesquecível!
Silvio!Lancellotti!
Criada! em! 1922,! a! revista! Seleções( do( Reader’s(
Digest,! até! hoje! publicada! em! mais! de! 70! países,!
ostenta! uma! rubrica! que! sempre! me! fascinou:! “O!
270 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
Meu! Tipo! Inesquecível”.! Pessoas! várias! enviam!
textos!a!respeito!de!outras!que,!de!alguma!forma,!
encantaram! os! seus! destinos.! Neste! começo! de!
2010! eu! utilizo! este! “Quintal! Paulistano”! a! fim! de!
eleger!meu!tipo!inesquecível!no!ano!que!acabou.!
Trata:se! de! Frederico! Marcondes! de! Carvalho,!
nascido! em! Santos,! em! março! de! 1981,! um!
produtor!do!“Pontapé!Inicial”,!o!programa!matinal!
do! qual,! eventualmente,( participo! no! canal! ESPN!
Brasil.! Filho! de! um! neurologista! e! de! uma!
enfermeira,! por! incrível! que! pareça,! Frederico!
padeceu! no! parto.! O! cordão! umbilical! se! enrolou!
no! seu! pescoço! e! praticamente! o! enforcou.! Por!
falta! do! oxigênio! crucial,! se! tornou! um! deficiente!
físico,!na!sua!mobilidade!e!na!sua!fala.!
Deficiente?!Absolutamente,!não.!À!parte!o!fato!de!
ele! torcer! para! o! “Peixe”,! em! que! fulgurou! um!
certo!Pelé,!que!Frederico!jamais!viu!jogar!ao!vivo!e!
em! cores.! Um! absurdo! de! inteligência! e! de!
criatividade,! ele! aprendeu,! nas! suas! palavras,! “a!
aceitar! o! fato! de! ser! diferente”.! Completou,! em!
escolas! convencionais,! o! curso! colegial.! E! se!
diplomou!em!jornalismo.!
Na! faculdade,! mesmo! com! todas! as! dificuldades!
de!dicção,!conduziu!um!programa!de!rádio!no!qual!
alinhavou! entrevistas! inesquecíveis! com! Mário!
Soares,! líder! político! de! Portugal,! com! o!
271 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
presidente! Fernando! Henrique! Cardoso! e! com!
Chico!Buarque.!
O! esforço! e! o! sucesso! cativaram! José! Trajano,!
diretor! da! ESPN,! que! lhe! abriu! um! espaço,! em!
2004.!Apaixonado!por!música,!dono!de!uma!vasta!
coleção! de! CDs! de! todos! os! estilos,! da! MPB! ao!
fado,!do!jazz!ao!tango,!ele!é!hoje!responsável!pela!
trilha!sonora!que!escolta!o!“Pontapé”.!
Do! chefe,! recebe! broncas,! quando! escorrega,!
como! qualquer! funcionário! da! emissora.!
Invariavelmente,! porém,! responde! com! um! bom!
humor!cativante.!
Emociona! testemunhar! o! seu! esforço! e! a! sua!
competência.! E! saber! que! Frederico,! atualmente,!
faz! aulas! de! teclado! e! de! canto.! Que! Frederico,!
apesar!das!dificuldades!na!fala!e!na!mobilidade,!é!
um! jovem! feliz.! Eu! o! admiro.! Aqui,! peço! que! ele!
enquadre! e! dependure! este! “Quintal”! na! parede!
do!seu!quarto.!
Revista!da!Folha,!10!jan.!2010.!Folhapress.!

!
1) Ao! caracterizar! Frederico! Marcondes! de! Carvalho,!
no! 3º! parágrafo,! o! escritor! Silvio! Lancellotti! demonstrou! não!
concordar!com!a!escolha!do!time!do!amigo.!Frederico!torce!para!
o!“Peixe”.!Apesar!de!não!haver!referência!direta!no!texto,!a!não!
272 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
ser! uma! pista! de! que! Pelé! foi! jogador! desse! time,! você! saberia!
identificar!de!que!clube!se!trata?!
Trata:se!do!Santos,!time!no!qual!Pelé!se!consagrou.!
!
2) “Rubrica”! é! uma! palavra! que! pode! apresentar! vários!
significados:!
I!:!Assinatura!abreviada.!
II!:!Descrição!em!detalhes!sobre!como!um!ator!deve!encenar!
seu!personagem!no!teatro.!
III!:!Programa!ou!atração!de!rádio!ou!televisão.!
a) O!significado!de!“rubrica”!no!1º!parágrafo!do!texto!
corresponde! a! algum! dos! sentidos! acima?! Em! caso! negativo,!
explique!qual!é!o!seu!significado.!
Não.! Rubrica! significa! coluna! ou! seção! da! revista! a! que!
Silvio!Lancellotti!se!refere.!
b) Que!passagens!ou!expressões!referem:se!à!palavra!
“rubrica”!e!dão!pistas!de!seu!significado?!
O! próprio! nome! da! seção,! “O! Meu! Tipo! Inesquecível”,!
para!onde!as!pessoas!enviam!“textos!a!respeito!de!outras!que,!de!
alguma!forma,!encantaram!os!seus!destinos”.!
!
273 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
3) Os!processos!coesivos!são!fundamentais!para!que!
haja! progressão! textual.! Nesse! sentido,! a! referenciação! é!
comumente! empregada! nos! textos! para! retomar! ou! antecipar!
termos!ou!ideias!compartilhadas!com!o!leitor.!Baseando:se!nisso,!
complete! o! quadro! abaixo! com! fragmentos! do! 2º! parágrafo! do!
texto!que!cumpram!as!funções!especificadas!em!cada!coluna:!
!
Expressão!introduzida!pela! Expressão!que!a!retoma!
primeira!vez!no!parágrafo!
Frederico!Marcondes!de! um!produtor!do!“Pontapé!
Carvalho! Inicial”!!!/!
! Filho!de!um!neurologista!e!de!
! uma!enfermeira!

“Pontapé!Inicial”! o!programa!matinal!
!
!
4) Antes!mesmo!de!falar!sobre!Frederico!Marcondes!
de! Carvalho! no! 2º! parágrafo,! o! autor! antecipa! essa! referência,!
utilizando! uma! determinada! expressão! no! 1º! parágrafo.!
Destaque:a! e! comente! a! respeito! da! escolha! dessa! expressão!
para!tratar!de!Frederico.!
A!expressão!“meu!tipo!inesquecível”!no!final!do!primeiro!
parágrafo! já! antecipa! a! referência! a! Frederico! Marcondes! de!
Carvalho.!A!escolha!dessa!expressão!se!deve!ao!autor!considerar!
274 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
que! Frederico! é! uma! pessoa! que! marcou! sua! vida,! seu! tipo!
inesquecível,!já!que!só!são!escolhidas!pessoas!que!“encantaram”!
o!destino!de!alguém.!
!
5) A!referenciação!pode!ocorrer!em!um!texto,!muitas!
vezes,!por!meio!da!omissão!de!um!termo!ou!até!por!outro!termo!
ou! expressão! que! tenha! relação! de! significado! com! o! anterior.!
Releia!o!trecho!seguinte,!retirado!do!1º!parágrafo!do!texto:!
Pessoas(várias(enviam(textos(a(respeito(de(outras((...)!
A! referência! adequada! que! se! pode! fazer! do! termo!
destacado!indica!que!se!trata!de:!
a) situações.!
b) publicações.!
c) pessoas.!
d) revistas.!
e) rubricas.!
!
7. CONCLUSÃO
!
Não! são! poucos! os! artigos! publicados! acerca! da!
preocupação!de!muitos!especialistas!em!Língua!Portuguesa!com!
o! livro! didático! usado! nas! escolas.! A! inquietação! desses!
275 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
profissionais! é! justificada! pela! qualidade! duvidosa! de! alguns!
manuais!levados!à!sala!de!aula,!que,!devendo!ser!uma!fonte!de!
estímulo!e!desafio!para!o!discente,!acabam!se!transformando!em!
um! fim! em! si! mesmo.! Apesar! de! apresentarem! uma! razoável!
variedade! de! textos! que! permitem! um! bom! trabalho! da!
construção!do!referente,!esses!livros!perdem!a!oportunidade!de!
fazê:lo,!quando!privilegiam,!ora!questões!puramente!gramaticais,!
ora!interpretações!sem!propósito.!
A!referenciação!parece:nos!de!vital!importância!porque!se!
relaciona! à! cadeia! de! construção! dos! sentidos,! essenciais! à!
interpretação!e!à!produção!textual.!É!por!meio!dela!que!o!aluno!
constrói! inferências! e! se! posiciona! como! enunciador! ou! como!
coenunciador!em!uma!interação.!Enfocar,!nos!livros!didáticos,!os!
processos! de! referenciação! é! propiciar! ao! aluno! um!
aprofundamento!em!um!estudo!concreto,!que!se!reflete!no!seu!
cotidiano!e!que,!portanto,!ele!reconhecerá!como!fundamental.!
Dessa!forma,!os!livros!didáticos!devem!se!preocupar!com!
essa! proposta! se! querem! atender! aos! Parâmetros! Curriculares!
Nacionais.! A! visão! dos! PCN! de! Língua! Portuguesa! do! Ensino!
Médio!(p.!5)!acerca!da!linguagem!é!bastante!clara:!
!
276 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
A! linguagem! é! considerada! aqui! como! a!
capacidade! humana! de! articular! significados!
coletivos! e! compartilhá:los,! em! sistemas!
arbitrários! de! representação,! que! variam! de!
acordo!com!as!necessidades!e!experiências!da!vida!
em! sociedade.! A! principal! razão! de! qualquer! ato!
de!linguagem!é!a!produção!de!sentido.!

!
E!ainda:!
!
Não!há!linguagem!no!vazio,!seu!grande!objetivo!é!
a!interação,!a!comunicação!com!um!outro,!dentro!
de!um!espaço!social,!como,!por!exemplo,!a!língua,!
produto!humano!e!social!que!organiza!e!ordena!de!
forma! articulada! os! dados! das! experiências!
comuns! aos! membros! de! determinada!
comunidade!linguística.!!

!
Dentre!os!diversos!processos!envolvidos!na!construção!do!
sentido,!a!referenciação!também!deve!ter!seu!espaço!assegurado!
pelos! livros! didáticos! e! pelos! professores! em! sala! de! aula.! Se! a!
linguagem! está! íntima! e! diretamente! relacionada! à! vida! em!
sociedade,! ao! indivíduo! e! às! experiências! comuns! com! que! vai!
construindo! seu! repertório! de! conhecimento,! o! estudo! da!
277 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
referenciação! também! deve! figurar! em! meio! a! tantos! pretextos!
para!usos!do!texto.!!
Todo! esse! conhecimento! beneficia! os! estudantes,! que!
têm! o! privilégio! de! compreender! melhor! o! processo! de!
referenciação! nos! diversos! textos! –! orais! e! escritos! –! que!
produzem,! leem! ou! ouvem.! No! entanto,! as! escolas! e! os! livros!
didáticos! não! têm! contribuído! para! o! alcance! desse! ideal,!
reproduzindo!–!muito!raramente!–!visões!ultrapassadas!sobre!as!
questões! que! envolvem! a! referenciação! textual! ou! sequer!
mencionando! a! existência! desse! assunto! –! o! mais! comum! dos!
casos,!como!vimos!nas!duas!coleções!analisadas.!
A! abordagem! da! referenciação! nas! duas! coleções! que!
analisamos! está! muito! aquém! do! que! deveria.! Ainda! assim,!
Português:( contexto,( interlocução( e( sentido! parece! considerar!
uma! relativa! importância! do! assunto,! já! que! em! certos!
momentos! menciona:o! de! acordo! com! as! novas! teorias! da!
Linguística!de!Texto,!o!que!não!ocorre!com!!Viva(Português.!
É! preciso! que! leitura! e! produção! textual! sejam! o! centro!
dos!estudos!de!Língua!portuguesa!em!sala!de!aula.!Para!tanto,!a!
referenciação!deve!ser!incluída!efetivamente!nos!livros!didáticos,!
que,! muitas! vezes,! norteiam! o! trabalho! do! professor.! Se! a!
abordagem! desse! assunto,! presente! no! ambiente! escolar! e! na!
278 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
vida!do!aluno,!fosse!considerada!com!a!mesma!importância!que!
os! estudos! dos! aspectos! gramaticais! do! texto! têm! nesses! livros,!
certamente!a!situação!da!referenciação!seria!outra.!!
!
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
!
BRASIL.! Guia! de! livros! didáticos:! PNLD! 2012:! Língua! Portuguesa.!
Brasília:! Ministério! da! Educação,! Secretaria! de! Educação! Básica,!
2011.!
!
______.! Parâmetros! Curriculares! Nacionais! –! Ensino! Médio,!
Língua!portuguesa.!Brasília:!Ministério!da!Educação,!Secretaria!de!
Educação!Média!e!Tecnológica/MEC,!1999.!
!
CAVALCANTE,! Mônica! Magalhães.! Referenciação:( sobre( coisas(
ditas(e(não(ditas.!Fortaleza:!EdUFC,!2011.!
!
CORTEZ,!Suzana.!Referenciação!e!ponto!de!vista:!constituição!de!
instâncias! discursivas! para! orientação! argumentativa! na! crônica!
de!ficção.!In:!KOCH,!Ingedore!V.;!MORATO,!Edwiges!M.;!BENTES,!
Anna! C.! (Orgs.)! Referenciação( e( discurso.! São! Paulo:! Contexto,!
2005,!p.!317!–!338.!
!
KOCH,! Ingedore! Grunfeld! Villaça;! ELIAS,! Vanda! Maria.! Ler( e(
Compreender( os( sentidos( do( Texto.! Ed.! São! Paulo:! Contexto,!
2006.!
!
MARQUESI,! Sueli.! Referenciação! e! intencionalidade:!
considerações! sobre! escrita! e! leitura.! In:! CARMELINO,! A.! C.;!
PERNAMBUCO,!J.;!FERREIRA,!L.!A.!(Orgs.).(Nos(caminhos(do(texto:(
279 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
atos( de( leitura.( Col.! Mestrado! em! Linguística,! v.! 2.! São! Paulo:!
EdUnifran,! 2007.! p.! 215:233.! (Disponível! em!
http://publicações.unifran.br/index.php/coelcaoMestradoEmLing
uistica/issue/view/59)!
!
LIVROS DIDÁTICOS
!
ABAURRE,!Maria!Luiza!M.;! ABAURRE,!Maria!Bernadete!M.;!
PONTARA,! Marcela.!Português:!contexto,!interlocução!e! sentido.!
3!v.!São!Paulo:!Moderna,!2010.!!
!
CAMPOS,! Elizabeth;! CARDOSO,! Paula! Marques;! ANDRADE,! Silvia!
Letícia.!Viva!português.!3!v.!São!Paulo:!Ed.!Ática,!2011.!!
280 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
A referenciação em duas coleções
didáticas
!
MARQUES,!Matheus!Odorisi!(UFRJ)!
!
!
!
!
1. INTRODUÇÃO
!
! Quando! pensamos! no! estudo! da! língua! portuguesa! em!
salas!de!aula!brasileiras,!várias!questões!vêm!à!tona.!Uma!delas,!
primordial,! mas! que! há! séculos! constitui! um! problema! não!
resolvido,!é!o!ensino!da!língua!não!vinculada!ao!texto.!A!negação!
da! textualidade! no! ensino! imprime! um! caráter! sistemático! às!
análises,! fazendo! com! que! sejam! geralmente! superficiais! .! Esse!
fato! lembra:nos! uma! ! comparação! feita! por! Marcos! Bagno,! que!
lança! mão! do! exemplo! da! água! e! do! peixe.! Para! o! autor,! seres!
humanos!são!como!peixes!que!vivem!imersos!em!linguagem,!das!
quais! possuem! uma! dependência! intrínsica.! Essa! relação!
peixe/água! também! pode! ser! pensada! no! que! toca! à! relação!
entre!a!linguagem!e!o!texto.!Uma!palavra!ou!uma!frase!solta,!fora!
do! contexto,! seria! como! um! peixe! fora! d'água,! teria! sua!
existência! comprometida.! Bagno! (Bagno,! 2012! p.! 12)! diz! que! “o!
281 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
texto!é!o!ambiente!natural!para!qualquer!palavra,!qualquer!frase.!
Fora!do!texto,!a!palavra!sufoca,!a!!palavra!estrebucha!e!morre.”.!
! Podemos!lançar!mão!de!outra!comparação!para!tratar!da!
questão,!ao!pensarmos!no!papel!das!palavras!como!ativadores!de!
sentido,! o! que! já! leva! o! nosso! pensamento! para! teorias! da!
Linguística!Textual!mais!moderna.!Pensemos!em!um!tangram!(ver!
imagem!1),!que!é!um!quebra!cabeça!chinês.!Muito!antigo,!o!jogo!
é! formado! por! sete! peças! :! 5! triângulos,! 1! quadrado! e! 1!
paralelogramo! –! que! combinadas,! podem! formar! mais! de! 1500!
figuras! diversas.! O! jogo! é! utilizado! para! treinar! habilidades! de!
rociocínio!lógico!em!aulas!de!matemática.!

Ilustração+1:"Formas"do"jogo"Tangram!
! !
!
Ao! combinarmos! as! peças! do! jogo,! formamos! imagens! que! dão!
sentido! às! simples! formas! geométricas! que! constituem! o!
282 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
Tamgram,!transformando!a!linguagem!matemática!na!linguagem!
representacional!dos!desenhos,!como!podemos!ver!na!figura!2:!
!

Ilustração+2:"Imagens"formadas"a"partir"das"formas"do"Tangram!
!
! Podemos! pensar! que! as! palavras! ou! frases! soltas! são! as!
formas!geométricas!que!compõem!o!jogo.!Cada!uma!delas!é!uma!
forma!que!funciona!separadamente,!assim!como!cada!palavra!ou!
construção! ativa! um! sentido.! Porém,! o! que! dá! base! para! que! a!
linguagem!adquira!existência!é!a!dimensão!textual,!assim!como!a!
linguagem!geométrica!das!figuras!do!tangram!adquire!existência!
representacional! ao! se! combinarem.! O! estudo! de! formas!
283 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
separadas! das! figuras! do! tangram! nada! nos! diz! sobre! as!
possibilidades! imagéticas! que! elas! possibilitam.! Cada! figura!
montada! com! as! peças! traz! à! tona! sentidos! diversos! que! fazem!
parte! de! contextos! diversos,! numa! cadeia! significativa! e!
correlacional,! o! que! torna! a! busca! pelo! sentido! uma! tarefa!
profunda! e! fascinante.! Isolar! as! peças,! assim! como! isolar! as!
palavras!nos!estudos!da!língua!portuguesa,!!é!fugir!dessa!análise.!!
! O! problema! maior! ocorre! quando! privamos! os! alunos!
desses! processos! em! sala! de! aula,! numa! prática! perpetuada!
durante! gerações,! que! ensina! o! aluno! a! fazer! análises! pontuais!
dos! elementos! linguísticos.! E! o! que! cada! vez! mais! está! sendo!
discutido,!até!mesmo!pelo!MEC!como!podemos!ver!no!conteúdo!
cobrado! pelo! ENEM,! é! a! questão! da! língua! amparada! sempre!
pelo! texto:! palavras,! frases,! orações,! imagens,! e! tudo! mais! que!
constitui!linguagem!sendo!analisadas!em!seus!habitats!naturais.!
! O! artigo! que! aqui! apresentamos! busca! analisar! como!
manuais! que! auxiliam! os! professores! de! ensino! fundamental! a!
orientar! os! alunos! em! relação! a! questões! textuais! tratam! um!
ponto! fundamental:! a! referenciação.! Esse! ponto! relaciona:se! de!
maneira!cíclica!com!a!visão!de!texto!como!base!para!o!estudo!da!
língua.! Se,! por! um! lado,! para! entendermos! a! referenciação! é!
necessária! a! visão! do! todo,! da! dimensão! textual,! estudando!
284 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
referenciação!solidificamos!essa!mesma!ideia,!de!texto!como!um!
constructo! relacional.! A! necessidade! de! ensinar! referenciação!
para! a! compreensão! do! processo! produtivo! e! interpretativo! do!
texto!justifica!uma!abordagem!comprometida!das!operações!que!
utilizamos!para!tal,!que!constroem!sentidos!por!meio!de!ativação!
e! reativação! de! conceitos,! e! exercitam! também! uma! das! mais!
importantes!!funções!da!linguagem:!a!ideologia.!
!
2. SOBRE O CONCEITO DE TEXTO
!
! É! mais! fácil! definirmos! o! que! não! constitui! texto! do! que!
definir! o! que! é! texto,! já! que! compartilhamos! da! ideia! de! que!
“conjuntos! aleatórios! de! palavras! ou! frases! não! constituem! um!
texto”! (Bagno,! 2010! p.! 30).! Outro! consenso! é! ! que! textos!
preveem! inicialmente! situações! comunicativas! que! envolvem!
emissores!e!interlocutores!e!pressupoem!um!evento!social,!com!
algum!propósito!e!alguma!função!em!um!deteminado!contexto.!
A!concepção!de!ato!comunicativo!leva!o!texto!a!um!patamar!em!
que! operam! ações! que! vão! além! da! linguística,! como! as! ações!
sociais!e!cognitivas.!
! Koch! (2010)! percorre! algumas! definições! de! texto!
lançadas!ao!longo!dos!estudos!da!Linguística!de!Texto.!A!autora!
285 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
afirma! que,! quando! a! língua! era! vista! como! representação! do!
pensamento,! o! texto! era! considerado! como! um! produto! lógico!
do! pensamento! do! autor,! o! que! dava! ao! leitor! o! papel! de!
captador! desse! pensamento! e! de! suas! intenções! (cf.! Koch! 2010!
p.11)! ,! em! um! exercício! como! procurar! ideias! em! um! saco! de!
frases.!Já!quando!a!língua!é!vista!como!uma!estrutura,!o!sujeito!
do! texto! torna:se! assujeitado! pelo! sistema,! preso! em! amarras!
estruturais.!Nessa!visão!de!língua!como!um!código,!o!texto!acaba!
se! tornando! um! produto! de! codificação! de! um! emissor! a! ser!
codificado!pelo!leitor,!em!um!processo!explicado!por!uma!visão!
simples!e!horizontal!da!teoria!da!comunicação!de!Jakobson.!Uma!
fuga! a! essas! possíveis! simplicações! do! texto! seria! justamente! a!
concepção! interacional! ! da! língua,! na! qual! os! sentidos! ! são!
construídos!na!interação.!
! Essa!nova!abordagem!conceitual!do!texto!justifica:se!pela!
necessidade!de!abandonar!a!noção!de!que!ele!seja!um!produto,!
para! passar! a! observá:lo! como! processo,! dinâmico,! social! e!
cognitivo.! Pauliukonis! (2009)! discorre! sobre! o! real! processo!
interpretativo! de! que! se! constitui! a! leitura! de! um! texto!
considerando!uma!abordagem!processual:!
!
286 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
Um! novo! enfoque! de! texto! visto! como! discurso!
tem! por! objetivo! considerar! a! importância! da!
compreensão! do! seu! sentido! global! pelo! exame!
dos!mecanismos!produtores!desse!sentido.!Em!vez!
de!simplesmente!fixar!o!conteúdo!das!proposições!
–! ou! o! que! o! texto! diz! –! evidenciar! o! processo!
interacional! entre! um! enunciador! e! um! leitor,! o!
qual!se!torna!um!co:enunciador!do!texto;!analisar!
como! o! texto! diz! algo! e,! ao! dizer,! que! efeitos! de!
sentido! consegue! transmitir! e,! ainda,! o! mais!
importante:!de!que!meios!linguísticos!e!operações!
discursivas!se!vale!a!estruturação!textual!como!um!
todo!

!
! O!texto!é!antes!de!mais!nada,!um!processo!de!construção!
de! sentido,! e! como! o! sentido! é! algo! dinâmico,! não! estático,! o!
texto! teria! essa! mesma! característica.! Dessa! forma,! o! papel! do!
leitor! é! ativo,! no! momento! em! que! constrói! sentido! e! acessa!
informação! necessárias,! guiado! pelos! rastros! deixados! pelo!
autor.!!
! Observemos! o! exemplo! abaixo,! retirado! da! coluna! do!
jornalista!Ancelmo!Góis,!do!site!do!jornal!O(Globo:!

!
!
287 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
(1)!Dilma!perdeu!
Dilma! viajou! a! Salvador! no! fim! da! tarde! de! ontem! para! um!
comício!do!petista!Nelson!Pelegrino.!
Pelo! programa,! coitada,! estaria! no! avião! de! volta! a! Brasília! na!
hora!do...!capítulo!final!de!“Avenida!Brasil”.!
(disponível! em! http://oglobo.globo.com/rio/ancelmo/,! acessado!
em!20/010/2012)!

!
! A! pequena! nota,! característica! das! postagens! na! coluna!
do!jornalista,!tem!como!título!uma!oração!em!que!o!sujeito!é!a!
presidente!Dilma,!seguido!de!um!verbo!sem!seu!complemento.!O!
sentido! produzido! pelo! complemento! omitido! na! oração,!
somente! é! captado! se! pensarmos! em! um! ambiente! textual!
sociocognitivo.!O!que!está!em!jogo!no!título!da!nota!está!muito!
além!do!publicado!no!jornal.!O!texto!inclui!a!situação!enunciativa!
em! que! temos! o! último! capítulo! de! uma! novela! televisiva! de!
grande!sucesso!de!audiência,!“Avenida!Brasil”,!cuja!exibição!era!
esperada! por! muitos! telespectadores.! Há,! no! texto,! um! eco!
situacional,! provocado! por! várias! notícias! vinculadas! na! semana!
em! que! o! capítulo! em! questão! seria! exibido,! de! que! “todos”,!
incluindo! personalidades! como! políticos! e! celebridades,! iriam!
assistir! o! final! do! folhetim.! O! título! da! nota,! então,! nega! essa!
288 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
expectativa! de! que! todo! mundo! assistiu,! ao! informar! que! a!
presidente! perdeu.! Nota:se! que! o! complemento! incialmente!
omitido! no! título! só! aparece! no! final! do! texto.! O! vazio! inicial!
deixado!pelo!autor!é!recuperável!tanto!textualmente!no!sentido!
strictu( sensu,! quando! o! termo! omitido! aparece! no! final,! quanto!
socialmente,! já! que! a! informação! de! que! todos! assistiriam! o!
programa!é!obtida!por!conhecimento!de!mundo.!
! Segundo!Paulikonis!(2009),!o!conceito!que!temos!de!texto!
influencia! o! tipo! de! abordagem! prática! que! faremos! e! ! os!
elementos!que!levaremos!em!consideração!para!a!sua!análise!e!
produção.!Transportando!esse!pensamento!para!a!sala!de!aula,!o!
conceito! de! texto! como! discurso! é! fundamental! para! que! se!
trabalhe! de! maneira! efetiva! os! mecanismos! linguísticos! que!
levam! à! construção! e! manutenção! de! ideias! dentro! do! texto.!
Dentre!esses!mecanismos,!temos!a!referenciação.!
! Partimos,! então! da! noção! de! texto! como! processo!
cercado!por!fatores!sociais!e!psicológicos.!!!Ao!olhar!para!o!texto!
sob!essa!perspectiva,!ele!não!será!“uma!superfície!material!que!
conduz! ao! discurso”! (Koch! 2002),! mas! indissociável! dele,! assim!
como! de! seu! uso,! “das! relações! culturais,! sócio:históricas,! em!
processos! intercognitivos,! considerados! sob! uma! perspectiva! de!
289 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
cognição! interacionalmente! situada”! (Cavalcante! et! al.,! 2010,! p.!
227).!
! O! constructo! textual! é! formado! por! mecanismos! que!
levam! o! leitor! a! construir! sentidos! a! acessar! a! realidade,!
contribundo! de! maneira! co:autoral.! Veremos! adiante! como! a!
referenciação!é!valiosa!dentre!esses!mecanismos.!
!
3. SOBRE A REFERENCIAÇÃO
!
! O!dinamismo!do!texto!como!processo!cria!uma!condição!
para!que!haja!nele!uma!mobilidade!de!sentidos,!constituindo!um!
jogo! contínuo! de! ativação! de! referentes.! Estes,! vistos! sob! uma!
ótica! cognitivista,! constituirão! elementos! que! contribuem! para!
que!conceitos!sejam!elevados!na!mente!do!leitor,!o!que!colabora!
para!o!acesso!do!conhecimento!linguístico!e!de!mundo.!
! Essa! visão! torna! complexos! os! fatores! textuais,! como! a!
coesão,! construída! em! parte! por! práticas! referenciais.!
Precisamos,! antes! de! tudo,! ! prever! o! leitor! como! atuante! do!
processo,! para! que! se! estabaleçam! esses! tipos! de! de! fatores.!
Cavalcante!et!al.!(2010,!p!227)!tocam!na!questão!ao!introduzir!o!
conceito!de!processos!referenciais:!“A!ideia!de!que!os!processos!
referenciais! se! edificam! nas! representações! mentais! dos!
290 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
interlocutores,!num!jogo!de!negociação!que!envolve!estratégias!
inferenciais! ainda! pouco! explicadas,! encontra:se! baseada! em!
autores! que! já! a! debatem! há! algum! tempo.”! Dessa! maneira,! a!
referenciação! está! vinculada! diretamente! a! processos!
interacionais!de!contrução!textual.!Ainda!segundo!os!autores,!os!
referentes! possuem! características! instáveis,! por! poderem! ser!
acessados! e! reacessados,! construídos! e! reconstruídos,! não!
existindo! senão! no! ato! da! enunciação.! A! referenciação! é! assim!
definida:!
!
A! referenciação! é! o! processo! pelo! qual,! no!
entorno! sociocognitivo:discursivo! interacional,! os!
referentes! se! (re)constroem.! Trata:se,! portanto,!
de!um!ponto!de!vista!cognitivo!discursivo,!e!é!por!
isso!que!se!diz!que!a!referenciação!é!um!processo!
em!permanente!reelaboração,!que,!embora!opere!
cognitivamente,!é!indicado!por!pistas!linguísticas!e!
completado! por! inferências! várias.! (Cavalcante! et!
al,!2010,!p!233)!

!
! Assumimos,! portanto,! que! a! referenciação! depende! de!
interação! e! construção! de! sentido.! Ao! ! assumir! também! que!
texto!e!contexto!não!são!instâncias!separadas!e!incluir!o!discurso!
e! o! conceito! de! enunciação! ao! processo,! tornamos! a!
291 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
referenciação!também!um!ato!cognitivo!e!interacional.!Segundo!
Cavalcante! (2011,! p! 21)! “não! poderíamos! falar! de! referência!
considerando! apenas! a! palavra! fora! de! contexto,! em! estado! de!
dicionário![…],!pois!só!se!identifica!o!referente!correspondente!a!
um!nome!quando!se!analisa!o!enunciado!e!o!contexto!de!uso!em!
que!esse!nome!foi!empregado”!.!
! Cavalcante! (2011)! divide! os! processos! referenciais! entre!
aqueles! nos! quais! introduzimos! o! referente! pela! primeira! vez,!
chamados! de! introduções! referenciais,! e! aqueles! com! os! quais!
damos!!continuidade!ao!referente,!que!já!foi!evocado!!no!texto,!
as! anáforas.! Estas! podem! ser! diretas,! cujo! referente! está!
presente! de! maneira! mais! substancial! e! concreta! no! texto,! que!
recuperam!algo!mencionado!diretamente!;!ou!indiretas,!quando!
a! menção! de! um! novo! referente! relaciona:se! a! outro! citado!
anteriormente!de!maneira!a!configurar!uma!pista!formal!no!texto!
para! o! seu! reconhecimento,! como! se! o! dado! já! fosse! velho! (cf.!
Cavalcante,!2011!p.!61).!Observemos!o!texto!seguinte:!
!

!
(2) "Mendigo! de! Curitiba"! é! conhecido! por! moradores! do!
centro!da!cidade!e!seria!usuário!de!crack!
292 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
! Depois! de! virar! um! dos! assuntos! mais! comentados! do!
Facebook,! nesta! quarta:feira! (17),! após! ter! uma! foto! sua!
compartilhada!cerca!de!37!mil!vezes,!o!homem!que!vem!sendo!
chamado! nas! redes! sociais! de! o! “mendigo! de! Curitiba”! virou!
alvo! de! especulações.! A! reportagem! do! UOL! foi! até! a! praça!
Tiradentes,!local!no!centro!da!capital!paranaense!onde!a!foto!foi!
feita,! para! conversar! com! usuários! de! drogas,! comerciantes! e!
integrantes! do! Movimento! Nacional! da! População! de! Rua!
(MNPR)!e!descobriu!que!o!rapaz!é!conhecido!na!região.!
! Segundo! o! Movimento! Nacional! da! População! de! Rua!
(MNPR),! que! auxilia! moradores! de! rua,! ele! chegou! a! ser!
encaminhado!para!a!Casa!de!Acolhimento!São!José.!"O!problema!
dele! é! o! crack”,! afirmou! Regiane! da! Silva! Keppe,! integrante! da!
organização.!
Os! comerciantes! da! região! também! lembram! da! figura.!
"Ele!aparece!aqui!quase!toda!noite.!Parece!meio!louco,!acho!que!
por! causa! das! drogas”,! afirmou! Jefferson! Alves! Leite,! que!
trabalha! em! uma! barraca! de! cachorro:quente! no! local.! O!
proprietário!do!estabelecimento,!Edgar!Weber,!também!conhece!
o!rapaz:!“Essa!história!só!vai!deixar!ele!mais!perdido”,!afirmou.!
! Uma! funcionária! da! região,! que! não! quis! se! identificar,!
disse:!"Ele!é!bonito!mesmo,!devia!ser!modelo."!
293 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
! Mas! não! é! só! pela! beleza! que! o! rapaz! é! lembrado! pelas!
pessoas! que! circulam! no! centro! de! Curitiba.! Segundo! Luciano!
Romão,!proprietário!de!um!quiosque!na!praça,!o!morador!de!rua!
é! “muito! chato”! e! nem! mesmo! os! outros! usuários! de! drogas!
gostam! dele.! “Ele! fica! ‘zanzando’! por! aqui.! Enche! o! saco! das!
pessoas,!pede!coisas!e!depois!sai!por!aí,!sem!rumo”,!disse.!
! “O! cara! vive! andando,! é! pilhado,! e! perturba! um! pouco,!
mas! não! chega! a! incomodar”,! afirmou! Carlos! Humberto,! mais!
conhecido!como!“Pulga”,!um!morador!de!rua!da!área.!
! Benedito!Antonio!da!Silva,!atendente!de!uma!lanchonete!
ali,! também! confirma! que! o! “mendigo! de! Curitiba”! costuma!
perambular! pela! praça.! “Olha,! ele! dorme! por! aí.! Sempre! o! vejo!
na! hora! do! almoço! ou! um! pouco! antes.! Não! incomoda,! mas!
dizem!que!ele!realmente!é!um!chato.”!
!
(disponível! em! http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas:
noticias/2012/10/18/mendigo:de:curitiba:e:usuario:de:crack:e:
preocupa:a:familia.htm,!acessado!em!20/10/2012)!

!
! O! texto! acima! dá! informações! sobre! um! morador! de! rua!
que! virou! uma! celebridade! de! internet! após! ter! sua! foto!
divulgada!por!um!usuário!na!rede!social!Facebook,!sua!aparência!!
294 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
destoa!da!maioria!dos!mendigos.!No!título!da!reportagem,!há!o!
que! podemos! classificar! como! introdução! referencial! em!
"Mendigo!de!Curitiba".!Não!há!nada!presente!anteriormente!no!
texto! que! remeta! ao! referente,! o! que! não! nos! possibilita!
construí:lo!previamente.!Por!outro!lado,!há!termos!no!corpo!do!
texto!que!tornam:se!pistas!ou!indícios!que!nos!levam!a!construir!
e! reconstruir! o! referente! inicial! do! mendigo.! Em! um! primeiro!
momento,! o! termo! o! homem! que! vem! sendo! chamado! nas!
redes! sociais! de! o! “mendigo! de! Curitiba”! é! o! start( para!
ativarmos! o! que! já! foi! mencionado! no! título,! porém! com! a!
informação!acrescida!de!que!o!título!veio!dos!usuários!de!redes!
sociais.! Logo! após,! temos! termos! como! o! rapaz,! ! dele,! ! figura,!!
ele,! ! e! o! morador! de! rua,! que! apontam! para! o! referente!
introduzido! incialmente,! suportando! a! construção! de! sentido,!
além!de!guiar!o!leitor!a!ler/construir!o!texto!como!uma!unidade.!
Esses!elementos!são!chamados!de!anáforas.!!
! Elementos! introdutórios! e! anafóricos! constituem! um!
recurso! que! constitui! para! o! enunciador! a! possibilidade! de!
trabalhar! com! o! sentido.! Pode! ser! também! uma! maneira! de!
deixar!pistas!que!podem!levar!o!leitor!a!construir!um!sentido!de!
cunho!ideológico.!Observe!o!exemplo!a!seguir:!
!
295 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
!

!
(3)!Dilma!inicia!'road!show'!eleitoral!
Presidente!começou!por!Salvador,!na!sexta,!e!segue!a!agenda!de!
campanha!neste!sábado!com!comícios!em!Campinas!e!São!Paulo!
!
A! presidente! Dilma! Rousseff! iniciou,! na! sexta:feira,! uma!
série! de! comícios! de! apoio! a! correligionários! e! a! aliados! neste!
segundo!turno!das!eleições!municipais.!Os!locais!escolhidos!têm!
em! comum! candidatos! adversários! de! partidos! que! estão! no!
arco!de!alianças!nacional!ou!que!são!apoiados!por!políticos!que!
poderão! estar! unidos! contra! ela! na! disputa! pela! reeleição!
presidencial!em!2014.!
Salvador! foi! a! primeira! parada! do! périplo! de! Dilma.! Em!
caso! de! vitória! de! ACM! Neto! (DEM),! adversário! de! Nelson!
Pelegrino! (PT),! a! capital! baiana! poderá! se! transformar! num!
centro! forte! de! oposição! tanto! ao! governo! estadual! de! Jaques!
Wagner!(PT)!quanto!ao!governo!federal.[...]!
!
(disponível! em! http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/dilma:
inicia:road:show:eleitoral!acessado!em!20/10/2012)!

!
296 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
! Em! (3)! podemos! observar! como! as! escolhas! referenciais!
têm! finalidades! maiores! do! que! apenas! indicar! elementos! no!
texto.! No! título! da! matéria,! usa:se! a! expressão! em! inglês! road(
show( como! introdução! referencial! para! os! comícios! que! a!
presidente! brasileira! Dilma! Roussef! realizará! com! candidatos!
apoiados! pela! sua! legenda! partidária.! O! site! Dictionary.com!
define! road( show! como! “a( show,( as( a( play( or( musical( comedy,(
performed(by(a(touring(group(of(actors.”2.!Ao!chamar!os!comícios!
de! road( show,( ! define:se! o! ato! como! uma! peça! de! teatro,! algo!
encenado! e! falso,! e! os! políticos! participantes! como! atores,! ou!
seja,! pessoas! que! interpretam! uma! realidade! fictícia.! Impossível!
não!perceber!a!carga!de!julgamento!na!definição.!O!referente!é!
retomado! via! anáfora! pelo! elemento! mais! genérico! comícios,!
seguido!por!uma!série!de!comícios!e!finalmente!por!périplo,!que!
significa!uma!viagem!que!tem!como!retorno!o!ponto!de!partida,!
termo! que! retira! um! sentido! político! maior! dos! atos! da!
presidente.! Quando! trata! dos! políticos! que! Dilma! apoiará,! a!
introdução!referencial!é!feita!com!os!termos!correligionários!e!a!
aliados,! que! contêm! explícito! o! interesse! político! partidário! do!
apoio.! O! texto! é! um! exemplo! de! como! o! julgamento! ideológico!!

2! Um! show,! como! uma! peça! ou! comédia! musical,! performada! por! um!
grupo!de!atores!que!viajam.!(tradução!nossa)!
297 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
está!presente!no!ato!de!referenciar,!já!que!o!texto!é!impregnado!
de! um! pensamento! contra! o! ato! de! apoio! da! presidente! aos!
prefeitos! aliados! do! PT.! Esse! pensamento! subjaz! nas! escolhas!
lexicais!das!operações!referenciais,!que!deixam!pistas!que!podem!
conduzir!o!leitor!a!formar!os!conceitos!sugeridos!na!enunciação.!
! !A!importância!desses!recursos!referenciais!parece!não!ser!
entendida! em! vários! manuais! didáticos.! O! que! vemos!
comumente! no! que! toca! à! referenciação! nos! livros! de! ensino!
fundamental!é!um!tratamento!do!fenômeno!simplesmente!como!
indicador! de! referentes.! Essa! visão! diminui! o! valor! de! anáforas!
reduzindo:as!a!elementos!indicadores!que!realizam!uma!simples!
troca! de! uma! palavra! para! outra.! Veremos! a! seguir! os! poucos!
momentos!em!que!duas!coleções!de!livros!didáticos!lançam!mão!
de! atividades! e! pequenas! discussões! sobre! a! referenciação,! e!
onde!haveria!espaço!para!tal.!
!
4. SOBRE A REFERENCIAÇÃO NAS
COLEÇÕES
!
! Nossa!análise!pretende!investigar!como!a!referenciação!é!
tratada! em! duas! coleções! de! livros! didáticos! voltados! para! o!
298 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
segundo!segmento!do!ensino!fundamental:!Para(Viver(Juntos,!da!
Editora!SM,!e!Diálogo,!da!Editora!FDT.!!
! Sabemos! que,! dentre! as! funções! do! estudo! da! Língua!
Portuguesa! na! escola,! destaca:se! a! produção! de! textos.!
Preparamos!nossos!alunos!para!situações!reais!de!comunicação,!
constituindo!nosso!objetivo!e!preocupação!maior!formar!leitores:
produtores,!que!dominem!as!técnicas!textuais!em!vários!âmbitos,!
para! que! sejam! capaz! de! produzir! e! entender! textos! variados.!
Nos!Parâmetros!Curriculares!Nacionais!de!Língua!Portuguesa,!em!
vários!momentos!o!professor!é!orientado!sobre!a!importância!de!
formar!primeiramente,!antes!de!aluno!de!Língua!Portuguesa,!um!
leitor! em! Língua! Portuguesa.! É! sublinhada! a! importância! de!
tornar!o!aluno!um!cidadão!que!utilize!a!língua!de!maneira!não!só!
eficiente!gramaticalmente,!mas!também!comunicativa:!
!
A! linguagem! verbal! possibilita! ao! homem!
representar! a! realidade! física! e! social! e,! desde! o!
momento! em! que! é! aprendida,! conserva! um!
vínculo! muito! estreito! com! o! pensamento.!
Possibilita!não!só!a!representação!e!a!regulação!do!
pensamento! e! da! ação,! próprios! e! alheios,! mas,!
também,! comunicar! idéias,! pensamentos! e!
intenções! de! diversas! naturezas! e,! desse! modo,!
influenciar! o! outro! e! estabelecer! relações!
interpessoais! anteriormente! inexistentes.! Essas!
diferentes! dimensões! da! linguagem! não! se!
excluem:! não! é! possível! dizer! algo! a! alguém! sem!
ter!o!que!dizer.!E!ter!o!que!dizer,!por!sua!vez,!só!é!
299 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
possível! a! partir! das! representações! construídas!
sobre! o! mundo.! Também! a! comunicação! com! as!
pessoas!permite!a!construção!de!novos!modos!de!
compreender! o! mundo,! de! novas! representações!
sobre! ele.! A! linguagem,! por! realizar:se! na!
interação! verbal! dos! interlocutores,! não! pode! ser!
compreendida!sem!que!se!considere!o!seu!vínculo!
com!a!situação!concreta!de!produção.!É!no!interior!
do! funcionamento! da! linguagem! que! é! possível!
compreender! o! modo! desse! funcionamento.!
Produzindo! linguagem,! aprende:se! linguagem.!
(Parâmetros! Curriculares! Nacionais! de! Língua!
Portuguesa,!página!22)!
!
!
! Como! já! destacado,! a! referenciação! não! pode! ter! um!
papel! meramente! formal! e! indicativo! dentro! do! texto,! já! que! é!
uma!ferramenta!que!cria!uma!gama!de!possibilidades!de!criação!
de!sentido!e!expressa!ideologia.!
!
4.1. Coleção Para Viver Juntos
!
! Os!livros!da!coleção(Para(Viver(Juntos!apresentam!!muitos!
textos! em! todas! as! suas! unidades,! que! se! estuturam! a! partir! de!
um! gênero! textual! comum.! Desse! gênero,! são! apresentados! de!
início! dois! textos! principais,! e! trechos! de! textos! ! menores! no!
momento! dos! exercícios.! Em! cada! unidade! há! o! que! o! livro!
chama!de!“Reflexões!Linguísticas”,!seção!com!questões!textuais!e!
300 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
gramaticais.! A! proposta! do! livro! se! preocupa! em! fazer! o! aluno!
perceber! a! estrutura! superficial! do! texto,! trabalhando! com!
esquemas! e! quadros.! Porém,! ao! lermos! os! exercícios! de!
estruturas,! que! podem! ser! úteis! ao! trabalhar! pontos! como!
tópicos! textuais,! esperamos! que! o! livro! toque! em! questões! um!
pouco! mais! profundas,! como! a! referenciação,! o! que! raramente!
acontece.!
! No!livro!de!sexto!ano!da!coleção,!que!se!dedica!ao!estudo!
principalmente! de! textos! narrativos! e! de! classes! de! palavras,! a!
questão! da! referenciação! aparece,! não! nomeada,! em! somente!
dois!momentos.!Vejamos:!
301 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
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Ilustração+3:"página!64,$extraída$de$Costa$(2009),$6o$ano!
302 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
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! O!exercício!3,!que!faz!parte!da!lição!sobre!pronomes,!trata!
da!ambiguidade!referencial!no!uso!do!pronome!“ela”,!que!é!uma!
anáfora!direta.!No!exemplo!da!anedota,!a!anáfora!pode!ter!como!
referente!dois!elementos,!“cachorra”!e!“minha!casa”,!causando!o!
mal!entendido!que!é!o!motivo!do!humor.!Constitui!um!exercício!
simples! que,! com! a! orientação! do! professor,! pode! servir! para!
demonstrar!como!mesmo!em!casos!de!anáforas!diretas,!em!que!
podemos! “setar”! os! elementos,! o! processo! não! é! tão! simples!
assim,! e! ainda! frisar! a! importância! desse! tipo! de! processo,! cujo!
mal! uso! pode! comprometer! a! intenção! enunciativa,! ou! criar! o!
efeito,!no!caso,!o!humor.!
! Observemos! a! próxima! página! do! volume! do! 6º! ano,!
última!menção!ao!processo!referencial!no!livro:!
303 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
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Ilustração+4:"página"215,"extraída"de"Costa"(2009)"6o"ano!
!
304 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
! A!seção!!fala!especificamente!do!papel!coesivo!do!uso!do!
pronome,! cuja! atribuição! demonstrada! é! referencial.! Os!
exercícios! são! de! identificação! de! referentes,! em! que! o! aluno!
precisa! identificar! o! elemento! substituído! pelo! pronome.! Há!
também! questões! de! cada! que! provocam! reflexão! sobre! a!
operação,! como! a! letra! “d”! do! exercício! 1,! que! leva! o! aluno! a!
pensar!no!referente!do!pronome!possessivo,!ou!a!letra!“b”,!que!
questiona! o! uso! do! “esses”! a! fim! de! fazer! com! que! o! aluno!
chegue! a! pensar! na! função! restritiva! e! recaptulativa! do! uso!
referencial.!Esse!momento!torna:se!oportuno!para!a!discussão!do!
papel!da!referenciação!na!estrutura!do!texto.!
! Ao! observarmos! o! livro! dedicado! ao! 7º! ano! da! coleção,!
nos! deparamos! com! mais! atividades! ! sobre! a! referenciação.!
Vejamos!a!página!extraída!do!volume:!
305 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!

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Ilustração+5:"página"59,"extraída"de"Costa"(2009,)"7o"ano!
!
! O! primeiro! exercício! trabalha! a! referenciação! como!
recurso!de!criação!de!sentido!no!texto,!no!caso,!a!expectativa.!O!
uso! do! pronome! “ela”! repetitivamente! faz! com! que! o! leitor!
306 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
procure!o!referente,!que!não!havia!sido!antecipado.!As!questões!
de! interpretação! que! seguem! o! texto! conduzem! o! aluno! a! uma!
pequena! reflexão! sobre! o! efeito,! mas! não! sobre! o! processo!
referencial.! O! exercício! seguinte! traz! outro! trecho! do! mesmo!
texto,! em! que! o! referente! fica! mais! explícito,! o! que! causa! um!
estranhamento!pela!“descoberta”!do!leitor.!!
! Na! página! 177! do! volume! 7,! temos! uma! pequena!
definição! de! coesão! textual,! acompanhada! de! exercícios! que!
ultrapassam!a!esfera!da!“indicação!direta”!atribuída!a!operações!
de! referenciação,! ao! dar! espaço! para! que! se! trabalhe! o!
julgamento! ou! avaliação! presentes! em! determinações,!
adjetivações!e!substituições.!!
! Ao! analisarmos! o! livro! do! 8º! ano,! chegamos! à! conclusão!
de! que! o! assunto! da! referenciação! não! é! abordado.! Apesar! de!
tratar! de! estratégias! coesivas! em! alguns! momentos,! estas! se!
restringem!ao!uso!de!conjunções!–!é!abordado!um!pouco!de!seus!
papéis!semânticos!–!neste!volume.!!
! No!último!volume!da!coleção!Para(Viver(Juntos!de!Ensino!
Fundamental,! a! questão! da! referenciação! é! tratada! em! apenas!
dois!momentos,!mas!de!maneira!superficial.!Vejamos!o!primeiro:!
307 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!

!
Ilustração+6:"página"25,"extraída"de"Costa"(2009),"9o"ano!
308 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
! O!exercício!sobre!o!texto!dos!gatos!tem!como!objetivo!a!
localização! de! termos! que! subtituem! “gatos”! e! “Egito”.! Poderia!
ser! incluído! um! item! que! dissesse! respeito! aos! “ratos”,! que! no!
texto! são! anaforicamente! retomados! como! “roedores”.! Uma!
discussão!sobre!a!hiperonímia!seria!oportuna,!,!com!o!objetivo!de!
fazer!o!aluno!perceber!a!relação!de!maior!abrangência!semântica!
de! termos! como! “bichanos”! e! “animais”! ,! em! contrapartida! aos!
mais!específicos,!como!o!referente!“gatos”.!No!momento!em!que!
o! livro! didático! lista! os! recursos! que! evitam! a! repetição! de!
palavras,!o!professor!atento!poderia!introduzir!a!ideia!de!que!as!
substituições! não! são! ingênuas,! mas! partem! de! escolhas! do!
enunciador,!o!que!enriqueceria!a!atividade.!
! Em! um! segundo! momento,! na! página! 91,! o! livro! volta! a!
tratar! de! substituição! de! termos,! dessa! vez! com! pronomes!
relativos,!sem!aprofundar!o!assunto.!
!
4.2. Coleção Diálogo
!
! Os!livros!da!coleção!Diálogo!trabalham!em!suas!unidades!
com! textos! bases! seguidos! de! atividades! textuais! e! gramaticais,!
seguindo!o!modelo!da!maioria!dos!livros!didáticos.!O!diferencial!
da!coleção!é!a!presença!de!atividades!em!que!o!texto!é!abordado!
309 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
também! em! jogos,! e! o! trabalho! com! textos! orais,! pouco!
presentes!nos!manuais!de!ensino!fundamental.!Ao!final!de!cada!
unidade,! a! coleção! apresenta! sempre! um! projeto,! que!
constituem!atividades!interessantes!para!a!produção!textual.!
! A! respeito! da! referenciação,! ao! analisarmos! o! volume!
indicado! para! o! 6º! ano,! encontramos! alguns! exercícios! que!
abordam! superficialmente! a! questão! da! construção! referencial.!
Em! algumas! interpretações! de! textos,! como! a! da! página! 108,! é!
pedido! ao! aluno! que! encontre! no! texto! o! que! lhe! dá! “o! tom!
fantasioso”,!ou!“o!mistério”.!Sabemos!que!a!escolha!lexical!está!
envolvida!nesse!processo!de!construção!do!que!o!livro!chama!de!
“tom!do!texto”,!e!esses!momentos!são!boas!oportunidades!para!
o!professor!trabalhar!tal!assunto.!Quando!o!mesmo!volume!fala!
de!pronomes,!aborda:se!a!anáfora!direta!(nas!páginas!11!e!135),!
mas! em! exercícios! que! são! somente! de! identificação! do!
referente.!!
! No! volume! voltado! para! o! sétimo! ano! da! coleção,! a!
referenciação! é! trabalhada! novamente! como! um! instrumento!
para! evitar! a! repetição! de! termos,! atrelado! ao! estudo! dos!
pronomes.! Um! exemplo! de! exercícios! retirado! do! 7º! volume! do!
livro!da!coleção!é!reproduzido!a!seguir.!
310 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!

!
Ilustração+7:"página"212,"extraída"de"Beltrão"(2009),"7o"ano!
!
!
311 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
! Se! no! sétimo! volume! da! coleção! a! referenciação! é!
trabalhada!em!um!único!momento,!no!oitavo!ela!não!aparece.!Já!
no! volume! nove,! temos! uma! rápida! abordagem! do! assunto,! na!
introdução! de! estudos! da! semântica.! Na! página! reproduzida! a!
seguir,! o! livro! traz! definições! de! algumas! relações! de! sentido! e!
seu!uso!na!referenciação.!
312 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!

!
Ilustração+8:"página"39"extraída"de"Beltrão"(2009)"9o"ano!
!
313 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
! É! um! momento! propício! ! para! o! professor! abordar! a!
questão!dos!hipônimos!e!hiperônimos,!já!que!o!livro!!cita!seu!uso!
para! a! “retomada! de! elementos! textuais! na! produção! de! textos!
orais! e! escritos”.! Infelizmente,! após! o! quadro! destinado! a! essas!
relações! de! sentido,! tal! questão! não! é! abordada! nos! exercícios!
posteriores,! cabendo,! mais! uma! vez,! ao! professor! sanar! essa!
deficiência.!
!
5. PROPOSTA DE EXERCÍCIOS
!
! Na!seção!destinada!à!análise!pontuamos!que!o!volume!8!
da! coleção! Para( Viver( Juntos( não! apresenta! atividades!
relacionadas! à! referenciação.! Notamos,! porém,! muitas!
oportunidades!perdidas!de!abordagem!do!uso!da!referenciação,!
já!que!encontramos!vários!textos!midiáticos!e!opinativos!no!livro,!
como!o!artigo!de!opinião!e!carta!de!leitor,!que!apresentam,!esse!
tipo!de!recurso.!O!texto!seguinte,!extraído!da!página!239,!é!um!
desses!exemplos!em!que!a!referenciação!poderia!ser!trabalhada:!
314 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!

(
Ilustração!7:!recorte!da!página!239!extraída!de!Costa!(2009)!8o!ano!
!
! O!texto!reproduzido!é!uma!resposta!de!um!leitor!a!outro!
texto,! também! presente! no! livro,! sobre! testes! de! produtos! com!
animais!de!laboratório.!A!rede!de!referenciação!criada!pelo!texto!
é! um! dos! recursos! argumentais! que! sustentam! a! opinião! do!
315 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
leitor,! que! se! coloca! contra! os! testes.! Observamos! que! logo! na!
primeira! frase,! os! testes! com! animais! são! introduzidos!
referencialmente! como! “crimes! contra! os! animais”.! ! Outra!
estratégia! que! colabora! na! argumentação! de! que! não! se!
admitem! os! testes! contra! os! animais! é! construída! pela!
introdução! referencial! presente! na! quinta! linha,! em! que!
“humanos”!é!definido!como!“uma!espécie”,!na!mesma!frase!em!
que! temos! “as! outras! espécies”.! Definir! humanos! como! espécie!
não! é! um! ato! textual! desprovido! de! ideologia:! sublinha! que!
somos!uma!espécie!como!as!demais,!estabelece!igualdade!entre!
os!seres!humanos!e!os!outros!animais,!mais!especificamente,!os!
que! são! utilizados! para! testes.! A! criminalização! dos! testes! é!
realizado! pelo! texto! ainda! quando! este! a! define,! de! maneira! a!
tornar! mais! grave,! como! tortura.! Essa! definição! é! sustentada!
quando! se! usa! os! termos! “mutilar! e! cegar”! (linha! 13)! e! “infligir!
tanta! dor”! (linha! 15),! que! se! encaixam! na! ideia! de! tortura! que!
compartilhamos!mentalmente.!
! Dessa!forma,!concluímos!que!o!texto!exemplificado!seria!
um! bom! instrumento! para! se! trabalhar! referenciação,! assunto!
não! tratado! neste! volume! de! 8º! ano! da! coleção.! Segue,! então,!
uma! sugestão! de! exercícios! que! poderiam! acompanhar! o! texto!
para!sanar!tal!falta:!
316 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
!
Sugestões! de! exercícios! relativos! ao! texto! “Pesquisa! com!
animais”!
!
1) Como! percebemos! que! este! texto! tem! como! base! um!
outro?!
2) Identifique! e! retire! do! texto! o! sintagma! nominal!
responsável! pela! introdução! do! assunto! principal! a! ser!
abordado.!!
3) Podemos! dizer! que! a! introdução! do! assunto! principal!
simplesmente! lança! o! conceito! ou! há! nela! um!
julgamento?!Explique.!
4) Sobre!o!trecho:!“Uma!espécie!que!deseja!prolongar!a!vida!
de!seus!indivíduos!à!custa!da!tortura!de!demais!espécies!
não!merece!ser!salva”!(linha!5!e!6),!responda:!
a)!A!que!espécie!o!texto!primeiramente!se!refere?!!
b)!Como!são!referenciados!os!animais!utilizados!nos!testes?!!
c)!Podemos!dizer!que!as!referenciações!destacadas!em!“a”!e!
“b”! são! escolhas! ideológicas?! O! que! essas! escolhas!
demonstram?!
5) No! texto,! os! testes! com! animais! são! caracterizado! como!
tortura.!Localize!um!trecho!que!comprove!a!afirmativa.!
317 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
6) Marque!os!itens!presentes!no!texto!que!sustentam!que!os!
testes!com!animais!são!torturas:!
(!!!)!lucro!financeiro!
(!!!)!experimentos!
(!!!)mutilar!e!cegar!
(!!!)!cura!do!câncer!
(!!!)!infligir!tanta!dor!
(!!!)!privados!da!natureza!e!do!convívio!apropriado!com!a!sua!
espécie!
!
Gabarito!sugerido!
!
1) Através! da! introdução! do! texto,! que! informa! que! é! “em!
relação! à! reportagem! Vetada( na( UE,( cobaia( é( usada( no(
Brasil”,!além!da!citação!do!que!dizem!os!entrevistados!de!
tal!reportagem.!
2) Crimes(contra(os(animais.(
3) Há! um! julgamento! negativo! por! tratar! as! experiências!
como!crimes.(
4) (
a) Aos!humanos.(
b) Demais(espécies.(
318 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
c) Sim.! As! escolhas! demonstram! que! o! autor! do! texto!
considera! que! humanos! e! outros! animais! pertencem! a!
mesma! categoria,! por! tratar! ambos! como! espécies! de!
animais.!Esse!pensamento!é!um!argumento!para!que!haja!
uma! igualdade! de! tratamento! em! relação! a! todas! as!
espécies!de!animais,!indo!contra,!portanto,!os!testes!que!
utilizam!animais!como!cobaias.(
5) São(cães,(camundongos(e(coelhos,(dentre(outras(espécies,(
cujas( peles( e( cujos( olhos( são( submetidos( a( substâncias(
corrosivas,(cancerígenas,(etc.(
6) Terceiro,!quinto!e!sexto!itens.(
!

!
! Os! exercícios! sugeridos! têm! como! objetivo! tratar! os!
pontos! discutidos! que! são! trazidos! à! tona! por! meio! da!
referenciação.!!Percebemos!que!pouco!é!trabalhado!em!relação!à!
referenciação! que! foge! ao! estudo! dos! pronomes,! e! que! não! se!
trate! de! operações! de! anáfora! direta.! Esse! fato! pode! ser!
contornado! pelo! professor! ao! utilizar! também! outros! tipos! de!
fontes!e!preparar!exercícios!extras!ao!conteúdo!do!livro!didático.!!
!
!
319 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
6. CONCLUSÃO
!
! Percebemos,! na! breve! análise! aqui! realizada! que! a!
referenciação! é! tratada! de! maneira! superficial! nos! manuais!
didáticos.! Se! considerarmos! que! os! livros! didáticos! aqui!
escolhidos! são! de! coleções! recentes! e! aprovadas! pelo! MEC,!
concluiremos! que:! (i)! há! uma! continuidade! da! tradição! de!!
abordagem! dos! processos! referenciais! somente! como! índices!
textuais;! e! (ii)! há! uma! despreocupação! das! editorias! em! cobrar!
tal!estudo!como!importante!para!o!desenvolvimento!de!um!leitor!
com!plenas!habilidades!textuais.!
! Ao!reduzir!o!estudo!dos!processos!referenciais!ao!estudo!
dos!pronomes!nos!livros!avaliados,!cria:se!a!ideia!de!que!eles!são!
as! únicas! ferramentas! para! esse! tipo! de! operação.! De! maneira!
geral,!na!tradição!escolar,!a!referenciação!está!ligada!somente!ao!
uso! dos! pronomes,! enquanto! ! percebemos! que! ao! tratar! de!
referenciação! por! sinônimos,! por! exemplo,! há! muitas! questões!
mais!interessantes!que!poderiam!ser!trabalhadas,!como!no!caso!
das! construções! com! hiperônimos,! pouco! trabalhados! nos!
manuais.!!!
! Outro!ponto!é!a!forma!como!a!referenciação!é!trabalhada!
nos! livros! didáticos:! somente! com! anáforas! diretas.! ! ! O! aluno!
320 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
pode! pensar! que! essa! é! a! única! forma! de! criar! uma! referência!
anafórica.!Mesmo!com!exemplos!em!que!utilizamos!os!pronomes!
para! referenciar,! é! possível! criar! uma! discussão! mais! ampla,!
como!demonstrado!com!o!cartaz!na!seção!anterior.!
! Pontuar! questões! como! ideologia! na! referenciação,! uso!
do! encapsulador! ou! anáforas! indiretas,! com! as! devidas!
adaptações!segundo!o!nível!de!cada!série,!exigem!raciocínio!mais!
profundo! do! que! simplesmente! indicar! referentes.! O! material!
midiático!presente!no!dia!a!dia!dos!alunos!contém!diversos!usos!
que! passam! despercebidos! para! a! descrição,! mas! cumprem! seu!
papel! comunicativo.! Fazer! com! que! os! alunos! percebam! esses!
usos! e! se! apropriem! deles! está! diretamente! ligado! ao!
compromisso!de!formar!leitores!capazes!e!ativos,!construtores!e!
modificadores!de!pensamento.!!
! Promover!análises!linguísticas!utilizando!material!em!uso!
é! ensinar! utilizando! como! base! o! texto,! compromisso! que! deve!
ser!comum!a!todo!professor!de!língua.!Porque!restringir!o!estudo!
da! referenciação! na! maioria! dos! casos! na! seção! de! estudo! de!
pronomes?! Por! que! não! incluí:la! nos! estudos! de! sinônimos,!
aprofundando!a!questão!da!intenção!do!autor!na!escolha!lexical,!
e!até!mesmo!quando!se!estuda!morfologia,!como!nos!casos!em!
que! a! criação! de! nomes! a! partir! de! verbos! ou! no! sentido!
321 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
contrário! se! faz! por! conta! de! uma! necessidade! de! referência! e!
não!repetição?!Todas!essas!questões!devem!ser!preocupações!do!
professor,! que,! mesmo! quando! amparado! por! manuais!
incompletos,!deve!procurar!trabalhar!com!a!língua!em!uso.!
!
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
!
ANTUNES,! I.! Análise( de( textos:( fundamentos! e! práticas.! São!
Paulo:!Parábola,!2010.!
!
BRASIL.! Secretaria! de! Educação! Fundamental.! Parâmetros(
curriculares( nacionais:( língua( portuguesa.! 3.! ed.! Brasília:!
MEC/SEF,!2001.!
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CAVALCANTE,! M.M.! Referenciação:( Sobre! Coisas! Ditas! e! Não!
Ditas.!Fortaleza:!Edições!UFC,!2011.!
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CAVALCANTE,!M.!M.!et!!al.!Dimensões!textuais!nas!perspectivas!
sociocognitiva! e! interacional.( In:! BENTES,! A.! C.! &! LEITE,! M.! Q.!
Linguística(de(texto(e(análise(da(conversação.!São!Paulo:!Cortez,!
2010.!
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PAULIUKONIS,! M.! A.! L.! Desafios! atuais! no! ensino! de! língua:!
reflexões! e! propostas.! In:( Diadorim,( n.6.! Rio! de! Janeiro:! UFRJ,!
2009.!p.!37:54.!
!
!
!
!
322 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
LIVROS DIDÁTICOS ANALISADOS
!
BELTRÃO,!E.!L.!S.!Diálogo.!São!Paulo:!FDT,!2009.!vol.!6:9.!
!
COSTA,!C.L.!Para(Viver(Juntos.!São!Paulo:!Edições!SM,!2009.!vol6:
9.!
323 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
Propostas de atividades

!
As!atividades!a!seguir!foram!elaboradas!pelos!autores!dos!artigos!
deste! e:book,! com! base! em! notícias! de! jornal! (versão! online)! a!
respeito! das! chuvas! que! atingiram! a! Serra! Fluminense! (RJ),! em!
janeiro! de! 2011.! São! atividades! pensadas! para! alunos! de! Ensino!
Fundamental! e! Médio,! propondo! leitura,! produção! e! análise!
linguística,! enfatizando! aspectos! relacionados! aos! processos!
referenciais.! Algumas! questões! apresentam! sugestões! de!
gabarito,!em!vermelho.!
!
!
!
TEXTO!1:!Aniversário!da!tragédia!na!serra!terá!bolo!de!lama!
Em! Teresópolis,! Petrópolis! e! Nova! Friburgo,! uma! série! de!
atividades!vai!marcar!o!aniversário!da!enxurrada!que!matou!mais!
de!900!pessoas.!Na!programação,!há!missas!e!protestos!
!
324 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
Chuva destrói calçamento no bairro Jardim Califórnia, em Nova
Friburgo (Severino Silva/ Ag. O Dia)

A tragédia da região serrana do Rio de Janeiro, que deixou mais de 900 mortos,
completa um ano nesta quinta-feira. De lá para cá, os habitantes desses
municípios têm enfrentado dias de penúria e desilusão, sobretudo após os
escândalos de corrupção. Em Nova Friburgo, um bolo de lama será levado para
a Praça Demerval Barbosa Moreira, no Centro, às 17h, para lembrar o
aniversário do desastre, num protesto contra a falta de ações concretas das
autoridades.
"Até agora, só vimos lama. Então, nada mais justo que um bolo de lama.
Tivemos a tragédia climática e também a política. São três prefeitos em um ano.
A instabilidade política é muito grande. Até agora, não temos nenhuma casa
construída e sequer um projeto", afirma Edil Nunes, coordenador do Fórum
Sindical Popular.
Durante os últimos 12 meses, o processo de reconstrução dos municípios
atingidos manteve-se nos noticiários mais pelos escândalos de corrupção do que
por resultados concretos. Dos 780 milhões de reais destinados pela União para
obras de habitação, contenção de encostas e prevenção de desastres, pouco mais
de 100 milhões foram empregados.
Em Friburgo, suspeitas de desvios de verba levaram ao afastamento do prefeito
em exercício, Dermeval Barbosa Moreira Neto. Ele passara a ocupar o cargo
em setembro de 2010, quando o prefeito Heródoto Bento de Mello sofreu um
acidente na Suíça. Hoje, o município está nas mãos do presidente da Câmara de
Vereadores, Sérgio Xavier. Mas ainda há rumores sobre um possível retorno de
Demerval ao posto.
Em Teresópolis, a situação é bastante parecida. Primeiro, denúncias de desvios
de verba levaram ao afastamento do prefeito Jorge Mario Sedlack, que teve o
mandato cassado por unanimidade pelos vereadores. Então, o vice-prefeito
Roberto Pinto assumiu, mas morreu de infarto apenas dois dias após sua posse.
Acabou sobrando para o presidente da Câmara, Arlei de Oliveira Rosa.
Nesta quinta-feira, haverá uma série de manifestações em Teresópolis. A
programação começa às 14h, com o encontro das famílias dos desaparecidos na
Praça Santa Teresa, no Centro. Às 17h, haverá a leitura de uma carta aberta das
vítimas da tragédia de janeiro do ano passado. Ainda está programado um
minuto de silêncio, às 18h. "Teremos a adesão até dos ônibus, que vão parar
durante o minuto de silêncio. Pedimos que todos na cidade parem o que
estiverem fazendo", afirma Nina Benedito, diretora da Associação das Vítimas
das Chuvas de Teresópolis (Avit).
Como forma de lembrar as vítimas da catástrofe, a prefeitura de Teresópolis
inaugura, às 15h, no Cemitério Municipal Carlinda Berlim, um memorial em
homenagem aos 392 mortos do município. Também será celebrada uma missa
325 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
ecumênica às 19h, no Ginásio Poliesportivo Pedro Jahara (Pedrão), local que
chegou a servir de abrigo para as vítimas da chuva.
A maioria dos eventos é organizada por ONGs, que pedem à população para
pendurar bandeiras brancas nas janelas de casa e fitas nos carros. Também estão
previstas manifestações e protestos isolados, pela manhã, em bairros castigados
pelas chuvas de 2011.
Em Nova Friburgo, representantes de movimentos sociais se reúnem a partir
das 14h, na Praça Demerval Barbosa Moreira, no Centro. Com a presença de
psicólogos, o intuito é relembrar a tragédia. Às 17h, tem início um ato público
que deve seguir pelas ruas da cidade, com faixas e cartazes. Lá, as atividades
estão sendo articuladas pelo Fórum Sindical Popular, que congrega 23
sindicatos e mais a associação de moradores. Eles denunciam que mais de 2 mil
pessoas ainda vivem em área de risco e não recebem o aluguel social.
Em Petrópolis, haverá uma missa de um ano da tragédia, às 19h, na Igreja do
Divino, no Vale do Cuiabá. Os desabrigados e desalojados na enxurrada do ano
passado ainda aguardam a ajuda do poder público. Segundo a prefeitura,
atualmente está em andamento a construção de casas nos seguintes bairros:
Posse (144 unidades), na Mosela (140 unidades) e no Cuiabá (61 unidades em
parceria com a Firjan).

(Rafael lemos, Veja On line (12/01/2012 - 11:43)

1.!A!expressão!“bolo!de!lama”,!presente!na!manchete,!pode!ser!
interpretada!de!duas!maneiras!diferentes.!
!
a)!Explique!o!sentido!denotativo!da!expressão.!
Denotativamente,!a!expressão!“bolo!de!lama”!representa!o!bolo!
que!foi!levado!para!a!ruía,!durante!as!manifestações.!
!
b)!Explique!o!sentido!conotativo!da!expressão.!
Conotativamente,!o!“bolo!de!lama”!representa!a!corrupção!e!os!
desvios! de! verbas! públicas! relacionadas! à! reconstrução! das!
cidades!atingidas!pelas!chuvas!de!janeiro!de!2011.!!!
!
326 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
2.! Ao! longo! do! texto,! o! fenômeno! climático! que! ocorreu! na!
região! serrana! do! Rio! de! Janeiro,! em! 2011,! é! retomado! por!
diferentes!palavras.!Cite,!pelo!menos,!três!delas.!
“Tragédia!da!região!serrana”,!“desastre”,!“tragédia!climática”!são!
exemplos! de! expressões! que! fazem! referência! ao! fenômeno!
climático!que!ocoreu!na!região!serrana!do!Rio!de!Janeiro.!!
!
3.! No! texto,! o! advérbio! “lá”! aparece! nos! 1º! e! 9º! parágrafos.! É!
possível! dizer! que! ambos! apresentam! o! mesmo! referente?!
Justifique!sua!resposta.!
O!advérbio!lá,!no!1º!parágrafo,!tem!valor!temporal,!indica!o!dia!
em!que!ocorreu!a!tragédia!na!região!serrana.!Já!no!9º!parágrafo,!
o! advérbio! faz! referência! à! local! onde! ocorreriam! as!
manifestações.!
!
4.! Que! expressão! estabelece! a! coesão! entre! os! 4º! e! 5º!
parágrafos?!
A!expressão!“a!situação!é!bastante!parecida”!funciona!como!um!
elo!coesivo!entre!os!4º!e!5º!parágrafos.!
!
5.! Para! se! referir! às! pessoas! diretamente! atingidas! pelas! chuvas!
de! janeiro! de! 2011,! em! Teresópolis,! o! jornalista,! nos! 6º! e! 7º!
parágrafos,!emprega!cinco!diferentes!expressões.!Identifique:as.!
As! expressões! que! fazem! referência! à! pessoas! atingidas! pelas!
chuvas! são:! “desaparecidos”,! “vítimas! da! tragédia”,! “vítimas! da!
catástrofe”,!“mortos”,!“vítimas!das!chuvas”.!
!
6)!Explique!a!ironia!da!manifestação!dos!moradores!da!Serra!ao!
“comemorarem”! o! aniversário! da! tragédia! com! um! “bolo! de!
lama”,!conforme!informa!a!manchete!da!notícia.!
Se! é! comum! associarmos! aniversários! a! bolos! para!
comemoração,!então,!no!caso!dos!moradores!da!Serra,!o!bolo!é!
de!lama,!pois!em!seguida,!a!notícia!inclui!a!fala!do!coordenador!!
327 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
do!Fórum!Sindical!Popular!que!afirma!que!a!população!até!agora!
só!viu!lama,!daí!a!referência!ao!bolo!de!lama.!
!
7)!No!primeiro!parágrafo!do!texto,!a!expressão!desses(municípios!
faz! uma! referência! explícita! ou! implícita! a! conteúdos! do! texto?!
Justifique!sua!resposta,!indicando!quais!conteúdos!são!esses.!
Uma!referência!direta,!que!só!é!recuperada!quando!o!leitor!volta!
à! chamada! da! notícia,! abaixo! da! manchete:! “Teresópolis,!
Petrópolis!e!Nova!Friburgo”.!
!
8)! Pode:se! definir! dêixis! como! sendo! expressões! que! exigem! o!
conhecimento! do! lugar! ou! do! tempo! em! que! se! encontra! o!
enunciador.! !Assim,! transcreva! do! texto! ao! menos! duas!
expressões!dêiticas!e!justifique!suas!escolhas.!!
No!primeiro!parágrafo,!a!expressão!“nesta!quinta:feira”!é!dêitica,!
porque!só!pode!ser!compreendida!se!o!leitor!considerar!que!seria!
a! quinta:feira! da! semana! do! dia! 12! de! janeiro! de! 2012.! Já! no!
terceiro! parágrafo,! a! expressão! “Durante! os! últimos! 12! meses”!
também! necessita! de! que! o! leitor! saiba! que! se! trata! do! ano! de!
2011,!já!que!se!tem!como!referência!o!ano!atual,!2012.!
!
9)! Muitas! foram! as! formas! utilizadas! por! essa! notícia! para!
nomear! o! que! ocorreu! na! região! serrana! do! Rio! em! janeiro! de!
2011,! resumindo! e! ao! mesmo! tempo! revelando! um! ponto! de!
vista.!Cite!dois!termos!que!cumprem!essa!função!no!texto.!
A!notícia!trata!do!que!aconteceu!como!“tragédia”!e!“catástrofe”.!
!
10)!Releia!o!seguinte!parágrafo:!
Em( Teresópolis,( a( situação( é( bastante( parecida.( Primeiro,(
denúncias( de( desvios( de( verba( levaram( ao( afastamento( do(
prefeito( Jorge( Mario( Sedlack,( que( teve( o( mandato( cassado( por(
unanimidade( pelos( vereadores.( Então,( o( viceJprefeito( Roberto(
Pinto(assumiu,(mas(morreu(de(infarto(apenas(dois(dias(após(sua(
328 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
posse.( Acabou( sobrando( para( o( presidente( da( Câmara,( Arlei( de(
Oliveira(Rosa.!
!
A!afirmação!coloquial!e!de!tom!pessoal:!Acabou(sobrando(para(o(
presidente(da(Câmara((...)!não!deixa!claro!o!que,!de!fato,!“acabou!
sobrando”! para! o! presidente,! mas! é! possível! perceber! certa!
intenção! e! subjetividade! presentes.! Identifique! a! que! situação! a!
expressão!faz!referência.!
Tendo! em! vista! que! se! relata! o! que! aconteceu! com! os! dois!
prefeitos!anteriores,!fica!claro!que!o!presidente!da!Câmara!teve!
de! assumir! a! prefeitura! em! uma! situação! muito! difícil.! O! que!
sobrou!a!ele,!portanto,!foi!a!difícil!tarefa!de!assumir!o!mandato!
nas!condições!precárias!em!que!se!encontra!a!cidade.!!
!
!
TEXTO!2:!Uma!casinha!na!serra!

Muitos moradores das encostas de Teresópolis afirmam ter recebido


"certificados" de posse no governo de Mario Tricano, ex-prefeito por três
mandatos. Hoje processado sob a acusação de envolvimento no jogo do bicho,
ele é tido como o principal responsável por ocupações irregulares na cidade nos
últimos 20 anos.
Na vizinha Friburgo, houve a mesma combinação de negligência com o
interesse de criar currais eleitorais. As duas cidades da serra fluminense têm
perto de 20 mil pessoas em lugares de risco, sobressaltadas desde a tempestade
de 2011, que deixou 900 mortos na região.
Embora grande, o contingente equivale a menos de 6% da população dos dois
municípios. Resolver o problema não deveria ser difícil, mas a construção de
casas para a transferência dessa gente a locais seguros virou um périplo
burocrático-legal.
Em Friburgo, um terreno desapropriado pelo prefeito da época da tragédia -
Dermeval Barbosa, depois afastado sob a acusação de desviar verbas
emergenciais - revelou-se um pântano. Foi preciso esperar um ano para que o
Estado garantisse a posse de outra área, por R$ 2,8 milhões.
Em Teresópolis, os donos da fazenda onde serão erguidas as moradias
recorreram do valor fixado pelas autoridades, R$ 2 milhões. Pediram R$ 24
milhões, e só agora a Justiça bateu o martelo em R$ 11 milhões.
329 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
Para complicar o processo, nenhuma construtora apresentou-se no ano passado
para as obras, bancadas pelo programa federal Minha Casa, Minha Vida. Para
atrair interessados, o Estado negociou o aumento do valor de cada habitação, de
cerca de R4 50 mil para R$ 65 mil.
As primeiras unidades poderão ser entregues no fim do ano, mas os novos
bairros completos não ficarão prontos em menos de 18 meses. É menos
complicado fazer uma casa oscilante em cima do morro, e rezar para não
chover mais.
!
1.! Ao! ler! o! título! do! texto,! é! possível! pensar! que! a! expressão!
“casinha! na! serra”! pode! apresentar! uma! conotação! positiva! ou!
negativa.!!
!
a)!Explique!o!sentido!positivo!que!a!expressão!sugere.!
A!expressão!sugere!um!lugar!calmo,!bucólico.!
!!
b)!Ao!longo!do!texto,!esse!sentido!positivo!se!mantém?!Justifique!
sua!resposta.!
Os! termos! que! retomam! o! referente! “uma! casinha! na! ! serra”,!
mas,! ao! mesmo! tempo,! desconstroem! sua! imagem! bucólica! e!
sossegada! são:! “encostas”,! “ocupações! irregulares”,! “lugares! de!
risco”,!“pântano”.!
!
2.!Para!informar!sobre!a!ação!governamental!para!a!reconstrução!
das! cidades! atingidas! pelas! chuvas! de! janeiro! de! 2011,! há! no!
texto! emprega! outras! expressões! para! se! referir! à! “casinha! na!
serra”.!!
!
a)!Identifique!três!delas.!
Destacam:se! os! seguintes! termos:! “casas”,! “locais! seguros”,!
moradias”,!habitação”,!“unidades”,!novos!bairros”.!!
!
b)! Explique! o! porquê! da! mudança! na! forma! de! se! referir! às!
habitações.!
330 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
Para! se! referir! à! ação! governamental,! a! autora! emprega! termos!
mais!neutros,!sem!carga!emotiva,!já!que!as!construções!são!feitas!
em! série! e! não! remetem! a! lares,! famílias,! são! apenas! obras,!
números!para!o!governo,!produtos!vendidos!pelas!construtoras.!!
!
3.! Que! expressão,! empregada! no! 2º! parágrafo,! retoma! o!
conteúdo! do! 1º! e! também! denuncia! a! opinião! crítica! da! autora!
em!relação!à!política!habitacional!da!serra!fluminense?!
A!expressão!que!estabelece!a!coesão!entre!os!parágrafos!citados!
é:!“...houve(a(mesma(combinação(de(negligência(com(o(interesse(
de(criar(currais(eleitorais.”(
!
4.!São!apresentadas!expressões!quantitativas!diferentes,!nos!2º!e!
3º! parágrafos,! para! se! referir! às! pessoas! que! habitam! áreas! de!
risco.!
!
a)!Quais!são!essas!expressões.!
As!expressões!são!“20!mil!pessoas”!e!“6%!da!população”!
!
b)!Em!que!contexto!essas!expressões!foram!empregadas?!
No!3º!parágrafo,!a!autora!emprega!um!número!absoluto!(20!mil)!
para!mostrar!que!ainda!é!alarmante!a!quantidade!de!pessoas!que!
mora! em! áreas! de! risco.! Entretanto,! no! 4º! parágrafo,! a!
porcentagem! evidencia! que! esse! número! equivale! a! apenas! 6%!
da!população!total,!o!que!representa!um!problema!relativamente!
pequeno! e! que,! por! isso,! já! deveria! ter! sido! resolvido! pelas!
autoridades.!!
!
5.! O! emprego! do! adjetivo! “menos! complicado”! sugere! a!
comparação!entre!dois!elementos!do!texto.!!
!
a)!O!que!está!sendo!comparado?!
331 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
O! texto! apresenta! uma! comparação! entre! “fazer! uma! casa!
oscilante! em! cima! do! morro,! e! rezar! para! não! chover! mais”! e!
esperar! que! as! autoridades! providenciem! locais! seguros! para! a!
população!atingida!pelas!chuvas!de!janeiro!de!2011.!!
!
b)!Explique!a!crítica!implícita!nessa!comparação.!
O! texto! chama! a! atenção! para! a! morosidade! e! desinteresse! do!
governo! em! resolver! o! problema! habitacional! das! pessoas!
atingidas!pelas!chuvas.!!
!
!
TEXTO!3:!Personagenswsímbolo!da!tragédia!na!serra!fluminense!
contam!como!vivem!
Susto!e!tensão!pela!enxurrada!fizeram!Tainá!entrar!em!trabalho!
de!parto.!Dona!Ilair!foi!salva!da!correnteza!com!ajuda!de!vizinhos!
por! uma! corda.! Pai! e! filho! que! ficaram! soterrados! por! 15! horas!
foram!resgatados!com!vida.!!
!

No estado do Rio de Janeiro, um ano depois da destruição provocada pelas


chuvas na Região Serrana, o Jornal Nacional reencontrou alguns personagens-
símbolo da tragédia. A reportagem é de Bette Lucchese.
332 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!

“Quando chove, a gente fica pensativo. Pensa: ‘ai meu Deus, será que vai cair
barranco de novo?”, diz Tainá.
“Esquecer, a gente não vai esquecer nunca”, garante Dona Ilair.
“A fé é tudo. Se você não viver a fé, você não vive a vida”, destaca Wellington.
Marcos André completou um ano. Poucas horas antes de o menino nascer, a
família viveu momentos de pavor, quase foi arrastada pela enxurrada, que
destruiu a casa. O susto e a tensão fizeram Tainá entrar em trabalho de parto.
Ela estava grávida de oito meses.
A equipe de reportagem do JN junto com os bombeiros ajudou a jovem através
do Globocop.
A adolescente, de 16 anos, não é mais a mesma: “Com a tragédia e com a
chegada do meu filho, mudou muita coisa. A nossa família está muito mais
unida, graças a Deus”, ela conta.
Todos os meses, a família de Tainá depende de R$ 500 do governo para pagar o
aluguel. Casa simples, cheia de problema. “Fica muito difícil para gente dormir,
fazer alguma coisa dentro de casa”, ela diz.
Ela espera que as casas prometidas para Teresópolis fiquem logo prontas: “Que
saia logo, porque viver no aluguel é muito ruim, é muito difícil”.
Um ano atrás, um prédio em São José do Vale do Rio Preto passava por uma
reforma. O que ninguém poderia imaginar é que uma corda, deixada na
cobertura pelo pintor, ajudaria a salvar uma vida.
“Aquilo ali foi a mão de Deus mesmo. Você viu que aperto. A casa dele
despencando, eu só ali”, lembra Dona Ilair.
O cachorro de estimação, a casa dela, do irmão e de vizinhos foram levados
pela correnteza. Mas Dona Ilair diz que teve a oportunidade de nascer de novo.
Com a vida nova, vieram presentes do programa Caldeirão do Huck.
“Ganhei uma casa. Um cachorro novo, uma cadela nova. Tenho meus filhos
vivos, graças a Deus, com saúde. Isso é importante na vida da gente”, afirma.
Uma das encostas que deslizaram em janeiro de 2011 fica no centro de Nova
Friburgo. Os destroços das casas foram retirados, se não fosse um
estacionamento aberto na região, pouco teria mudado. No local, pai e filho
ficaram soterrados por 15 horas.
Os bombeiros ouviram um pedido de socorro. E quando finalmente retiraram o
sobrevivente, o que parecia inacreditável aconteceu: no meio de toneladas de
escombros, surgiu o pequeno Nicolas. Alguns minutos depois, o pai que salvou
o filho mantendo o bebê apertado contra o peito também fiu retirado.
“Eu juntava saliva na boca para dar nele. Para, pelo menos, molhar a boca
dele”, lembra Wellington.
A família dormia na hora do desastre. A mulher de Wellington não resistiu e
morreu na hora. A sogra também. “As pessoas falam: ‘o sobrevivente’. Não! O
sobrevivente, não, a pessoa que está aprendendo, realmente, a dar valor ao que
333 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
tem dar valor, dar importância ao que tem que dar importância, valorizar o que
tem que ser valorizado: família, amigos”, garante.
Wellington é um pai dedicado. Nicolas está com um ano e meio. “Com ele,
aprendi viver. Essa é a palavra”.
“A Região Serrana está precisando de apoio. Não de palavras, de apoio. Você
vê notícias de superfaturamento, de desvio de verbas. Atitude! Vamos cobrar,
vamos cobrar”, pede Wellington.

Jornal Nacional (Edição do dia 13/01/2012, Atualizado em 13/01/2012


21h15)http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2012/01/personagens-
simbolo-da-tragedia-na-serra-fluminense-contam-como-vivem.html

1.!Segundo!a!reportagem!do!Jornal!Nacional!sobre!a!tragédia!na!
serra! fluminense,! a! quem! o! termo! “personagens:símbolo”! faz!
referência?!Por!que!eles!recebem!esse!nome?!
!
O! termo! faz! referência! à! adolescente! Tainá,! à! Dona! Ilair,! ao!
Wellington! e! seu! filho! (Nicolas).! São! considerados! personagens:
símbolo!por!terem!sobrevivido!à!tragédia!de!modo!inacreditável:!
Tainá! entrou! em! trabalho! de! parto! logo! após! sua! família! quase!
ter! sido! arrastada! pela! enxurrada,! tendo! a! sua! casa! destruída;!
Dona!Ilair!conseguiu!se!salvar!com!uma!corda!deixada!pelo!pintor!
na! cobertura! do! prédio;! e! Wellington! e! o! filho! ficaram! 15! horas!
soterrados.!
!
2.! As! anáforas! encapsuladoras! são! aquelas! que! não! recuperam!
um! referente! específico,! mas! conteúdos! inteiros! do! texto,!
precedentes! e/ou! consequentes,! a! fim! de! resumi:los.! Com! base!
nisso,!observe!a!seguinte!fala!de!Dona!Ilair!e!responda!ao!que!se!
pede:!
“Ganhei! uma! casa.! Um! cachorro! novo,! uma! cadela! nova.! Tenho!
meus!filhos!vivos,!graças!a!Deus,!com!saúde.!Isso!é!importante!na!
vida!da!gente”.!!
!
334 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
a)! Qual! termo! está! funcionando! como! uma! anáfora!
encapsuladora!nesse!trecho?!O!pronome!demonstrativo!“isso”.!
b)! O! que! essa! anáfora! está! recuperando?! Recupera! toda! a! fala!
anterior!de!Dona!Ilair!(o!fato!de!ela!ter!ganhado!uma!casa!e!uma!
cadela!novas!e!de!ter!os!filhos!vivos,!com!saúde).!
!
3.! De! acordo! com! a! leitura! do! texto,! podemos! afirmar! que!
Wellington! se! identifica! com! o! referente! “o! sobrevivente”,!
atribuído!pelas!pessoas!a!ele?!Justifique!sua!resposta.!!
Não.!Ele!não!se!considera!um!sobrevivente,!mas!alguém!que!está!
aprendendo! a! dar! valor! ao! que! realmente! importa! na! vida:! a!
família!e!os!amigos.!
!
4.! Identifique,! no! texto,! palavras! ou! expressões! que! façam!
referência!à!Tainá,!uma!das!sobreviventes.!
“Ela”;!“a!jovem”;!“a!adolescente”.!
!
5.! Algumas! expressões! referenciais! só! fazem! sentido! se! forem!
analisadas! dentro! do! contexto,! ou! seja,! exigem! o! conhecimento!
do! lugar,! da! pessoa! e! do! tempo! em! que! se! encontra! o!
enunciador.! Diante! disso,! observe! os! fragmentos! a! seguir,! com!
depoimentos!das!vítimas!da!tragédia,!e!responda!ao!que!se!pede:!
“Quando!chove,!a!gente!fica!pensativo.!Pensa:!‘ai!meu!Deus,!será!
que!vai!cair!barranco!de!novo?’”(Tainá)!
“A!casa!dele!despencando,!eu!só!ali”!(Dona!Ilair)!
!
a)! Destaque! os! elementos! dêiticos! de! cada! depoimento.! “a!
gente”;!“dele”;!“eu”;!“ali”.!
b)! Indique! as! referências! de! cada! um! desses! elementos,!
considerando!o!contexto!em!que!se!encontram.!
“a! gente”! =! Tainá! e! sua! família;! “dele”! =! algum! vizinho;! “eu”! =!
dona!Ilair;!“ali”!=!dona!Ilair!segurando!na!corda!para!se!salvar.!
!
335 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
!
TEXTO! 4:! No! meio! da! serra! fluminense,! o! grito! dos!
sobreviventes! ainda! reverbera,! um! ano! depois:! “não! está! tudo!
bem”!!
!
Vem cá, moça. A gente precisa falar o que tá acontecendo aqui: não tá
tudo bem”.
A frase foi o primeiro contato da reportagem do UOL com moradores
da região serrana do Rio, no início deste mês, na viagem de quatro dias pelos
municípios mais afetados pela enchente e pelos deslizamentos do fatídico 12 de
janeiro de 2011. A partir da capital, a equipe seguiu para Petrópolis,
Teresópolis e Nova Friburgo --em ordem crescente, onde foi registrada a
maioria das quase 1.000 mortes consideradas pelas estatísticas oficiais.
A autora é uma comerciante de Petrópolis --ou melhor: “do distrito de
Itaipava” (como tantas vezes a administração local fez questão de ‘corrigir’, nos
primeiros dias após a tragédia, a pretexto de o turismo ‘em Petrópolis’ não ser
afetado). Dos 74 mortos registrados no município, todos eram do distrito.
Todos, de um vilarejo rural conhecido como vale do Cuiabá e do qual pouco
sobrou.
O curioso é que, uma palavra mudada aqui, outra ali, com um tom de
revolta mais ou menos acentuado, isso seria ouvido até o último dia de jornada
da equipe. Mais que “moradores” da região serrana, as pessoas fazem questão
de se apresentar como “sobreviventes” daquele que ficou marcado como o pior
desastre natural da história do Brasil.
E se revoltam: 12 meses depois, não bastasse muito pouco ter sido
recuperado, tentar esquecer os momentos de maior desespero é uma luta diária
tão árdua quanto recuperar o bem material que se perdeu. Afinal, os escombros
e a infraestrutura urbana destruída estão ali tão presentes quanto as encostas que
ainda exibem, ameaçadoras, as marcas da destruição.

“As crianças crescem com essas imagens aí na cabeça”, lamenta seu Sebastião,
comerciante em Teresópolis. Não só elas, seu Sebastião.

Os esqueletos da destruição e as placas oficiosas


Nas três cidades, as localidades mais afetadas pelos deslizamentos
guardam entre si a semelhança de ainda portarem muitos esqueletos do que
restou de casas, hotéis, pousadas e bares.
Guardam também a riqueza de detalhes com que cada sobrevivente
lembra do próprio apuro na madrugada do dia 12 de janeiro e do destino de
parentes e amigos mortos ou salvos em galhos de árvores. E uma queixa
comum: segundo uma gama variada de entrevistados, administrador público
336 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
pouco ou nada é visto nesses pontos, ainda que o talonário do IPTU (Imposto
Predial Territorial Urbano), em alguns bairros, tenha vindo em 2012 com
reajustes consideráveis.
Em Teresópolis, uma situação curiosa: a contar pelas volumosas placas
anunciando investimentos, a recuperação da cidade vai de vento em popa. Lama
no que era um importante ponto turístico como a Cascata do Imbuí e pichações
de “corrupto” em algumas dessas mesmas placas contradizem a propaganda
oficial da recuperação a olhos vistos.

A sabedoria popular do "enxuga-gelo" e as flores do caminho


Gíria para ineficiência, a expressão “enxugar gelo” é outra a que os
sobreviventes das três cidades recorrem para avaliar as poucas obras em
andamento. Não é difícil compreender o sentido: montes de areia na beira de
um rio que precisa ser desassoreado, aprende uma criança na aula de Ciências, é
facilmente transportável para o mesmo rio pela ação do tempo.
Casas à beira de encostas nuas, se aprende com a experiência do fato
vivido, são risco iminente e chance fácil para o azar. Estradas inacessíveis a
quem delas depende para escoar a produção, ensina o homem do campo, é falta
de comida na mesa --ou uma incômoda dependência da boa vontade de quem
assume o papel do Estado em ação voluntária, mas de alcance limitado.
O “não tá tudo bem” de dona Sandra, comerciante em Petrópolis --pois
é para a prefeitura de lá que ela paga impostos, não Itaipava--, tem um corpo
definido para a equipe ao fim da viagem. Seja pelo que se ouve, seja pelo que
se vê.
Mas algumas flores que insistem em surgir em meio a rochas imensas
que rolaram sobre o bairro de Campo Grande, em Teresópolis, ajudam a
apontar algum caminho de mudança: seja pela artista plástica que recolheu
dezenas de cães da enchente, seja por dona Maria, de Nova Friburgo, que
mostra a casinha sendo refeita cômodo por cômodo ao lado de duas vira-latas
que recolheu dos escombros, seja pelos jipeiros que deixam o conforto do fim
de semana no Rio para levar água e comida a isolados na zona rural --isolados
um ano depois.
São os exemplos pontuais, ainda que singelos, que ajudam a afastar
algumas nuvens pesadas da serra fluminense. E a prontidão de um "a resposta
será dada nas urnas”, como a reportagem ouviu nas três cidades neste 2012 de
eleições municipais, é a que talvez, lá adiante, explique ao comerciante do
devastado Vale do Cuiabá a dúvida expressada sob um sol forte das duas da
tarde: “será possível que todo ano vai ser a mesma tragédia?”

Em tempo: a qualidade da reconstrução do que foi destruído e do recomeço de


uma nova etapa de desenvolvimento dependem também da resposta que a
Justiça dará aos desvios de dinheiro público constatados nos últimos 12 meses
337 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
por órgãos como MPF (Ministério Público Federal) e MPE (Ministério Público
Estadual), além de CGU (Controladoria Geral da União).
Como simples e sabiamente definiriam os sobreviventes, chega de
enxugar gelo.

Janaína Garcia, Do UOL, em São Paulo. Notícias UOL -


17/01/2012 06h00 http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-
noticias/2012/01/17/no-meio-da-serra-fluminense-o-grito-dos-
sobreviventes-ainda-reverbera-um-ano-depois-nao-esta-tudo-
bem.htm

1.! De! acordo! com! o! texto,! explique! qual! a! diferença! entre! usar!
“distrito! de! Itaipava”! e! usar! “Petrópolis”! para! se! referir! ao! local!
da!tragédia.!!
As! vítimas! da! tragédia! dizem! que! são! de! Petrópolis,! mas! a!
administração! local! prefere! falar! que! o! acidente! aconteceu! no!
distrito! de! Itaipava! para! que! o! turismo! de! Petrópolis! não! seja!
afetado!e,!assim,!para!que!eles!não!tenham!prejuízo!financeiro.!
!
2.!Transcreva!do!texto!duas!expressões!que!a!jornalista!usa!para!
se! referir! ao! episódio! de! enchentes! e! deslizamentos! na! serra!
fluminense.!
“enchente!e!deslizamentos!do!fatídico!12!de!janeiro!de!2011”!e!
“o!pior!desastre!natural!da!história!do!Brasil”.!
!
3.! Explique! como! as! expressões! destacadas! na! resposta! acima!
contribuem!para!transmitir!um!ponto!de!vista!acerca!da!tragédia.!
Ao! usar! essas! expressões,! a! jornalista! reforça! a! ideia! de! que! o!
acontecimento! foi! muito! grave! e! acentua! a! revolta! diante! do!
pouco! que! foi! feito! um! ano! depois! para! resolver! ou! amenizar! a!
situação.!!
!
338 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
4.! Segundo! o! texto,! explique! como! as! vítimas! da! tragédia! se!
referem!a!si!mesmas.!
Elas! se! referem! a! si! mesmas! como! “sobreviventes”,! porque! a!
referência! de! “moradores! da! região! serrana”! se! tornou! pouco!
diante!da!gravidade!da!situação!pela!qual!passaram.!
TEXTO! 5:! O! município! de! Teresópolis,! um! dos! mais! afetados!
pelas! chuvas! do! começo! do! ano! passado! no! Rio! de! Janeiro,!
ainda!tenta!se!recuperar!dos!estragos!deixados.!
!
Um ano depois das fortes chuvas e dos deslizamentos que deixaram centenas de
mortos e destruíram comunidades inteiras, a cidade de Teresópolis, na região
serrana do Rio de Janeiro, ainda tenta se reconstruir e retomar a normalidade do
dia a dia. A prefeitura de Teresópolis afirma que, somente no município, que
continua em estado de calamidade pública, as enchentes e desabamentos
ocorridos na madrugada de 12 de janeiro de 2011 deixaram 392 mortos
confirmados, além de 180 desaparecidos, nas 80 localidades atingidas.
No bairro de Campo Grande, o deslizamento
de terra causado pelo acúmulo de água no topo de um morro causou uma
enxurrada de lama e pedras que praticamente dizimou a comunidade, a mais
atingida pelo desastre. A tragédia atingiu outras localidades, como o bairro de
Posse.
Somado com os de outros municípios da serra fluminense, como Nova Friburgo
e Petrópolis, o número de mortos devido às chuvas de janeiro de 2011 superou
os 900, segundo dados das prefeituras. O Ministério Público do Rio de Janeiro
(MPRJ) aponta que 345 pessoas estão desaparecidas, segundo dados de março
do ano passado.

Posse

Na Estrada da Posse, rota que leva às áreas mais devastadas em


Teresópolis, muitas propriedades que foram destruídas pela enchente e pelos
desabamentos estão sendo reerguidas aos poucos, enquanto outras, que ficavam
à beira do rio Paquequer, foram totalmente demolidas. Nos bairros adjacentes à
estrada, como Granja Florestal e Cascata do Imbuí, muros de contenção estão
sendo construídos à beira de encostas, para evitar novos deslizamentos. Já as
paredes das casas interditadas pela Defesa Civil apresentam inscrições em
vermelho, com as iniciais de cada bairro ("CI" para Cascata do Imbuí e "CG"
para Campo Grande, por exemplo) seguidas de um número de identificação.
O economista Martinho Ferreira dos Santos, 63 anos, mora no bairro da Posse
há sete, junto da mulher. Ambos estavam em casa na madrugada de 12 de
339 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
janeiro de 2011, quando ocorreu o deslizamento. "Eu estava dormindo e não
ouvi nada na hora, foi a minha mulher que disse que havia alguém na rua
pedindo socorro", disse Santos à BBC Brasil.
A residência do economista - uma casa de dois pisos, construída há 70 anos em
um terreno de 2 mil m²- fica à beira do córrego do Príncipe, que vem do bairro
vizinho de Campo Grande e corta o bairro da Posse. Um ano após o desastre, o
córrego, que "mal encobria o pé da gente", segundo Santos, ganhou volume e
força, ficando com mais de 1 m de profundidade. "Foi promovido a rio", ironiza
o morador.
No dia da tragédia, no entanto, o córrego deu lugar a uma enxurrada de lama e
rochas que vinham da direção do bairro do Campo Grande. A casa do
economista, assim como as de seus vizinhos, ficou dois meses sem água e luz, e
chegou a ser interditada, devido ao risco de novos desabamentos. Tomado pela
lama, o terreno de Santos acabou sendo invadido até por animais, como um
cavalo de raça. "Era um mangalarga lindo, mas todo machucado", diz.
Hoje, supervisionando reparos feitos no portão de entrada de sua propriedade, o
economista diz não ter medo de uma nova tragédia, mas afirma que as ações do
poder público para recuperar a sua zona são lentas demais. "A gente vê muros
de contenção sendo feitos em outros lugares, o que é importante, mas aqui foi
feita muito pouca coisa."

Campo Grande
Mais adiante, fica Campo Grande, o bairro mais afetado pelo desastre. Poucas
pessoas são vistas circulando pela localidade, aparentemente semiabandonada.
Retroescavadeiras ainda trabalham no local, tentando remover a terra que chega
a quase 2 m de altura por sobre alguns pontos da estrada. Um verdadeiro mar de
rochas enormes agora faz parte da paisagem local, que parece intocada desde os
desabamentos de janeiro de 2011. Em todo o bairro, dezenas de casas
semidestruídas estão vazias, interditadas pela Defesa Civil.
Estima-se que dezenas de corpos ainda estejam encobertos pela lama e pelos
escombros. Moradores afirmam que, há uma semana, ossos humanos foram
desenterrados por funcionários das obras de recuperação. Uma das residências
liberadas para morar é a do motorista Anísio Siqueira da Silva, 52 anos. Ele
afirma que não tem medo de permanecer no local, mesmo que a parte dos
fundos, onde residia a sua filha, tenha sido abandonada por ordem da Defesa
Civil.
Nos fundos, à beira do Córrego do Príncipe, ele aponta para o local onde
moravam seis sobrinhos seus. Todos foram mortos pela enxurrada de 2011, diz
o motorista. Além deles, segundo Silva, vários vizinhos morreram ou
desapareceram devido à tragédia, "Moro aqui desde que eu nasci. O que tinha
que acontecer, já aconteceu, não tenho medo de ficar", diz Silva, que mora
junto da mulher e de quatro filhos.
340 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
A família do motorista chegou a ficar dois meses em um abrigo, mas conseguiu
voltar para casa sem maiores perdas. Agora, Silva diz que aguarda uma maior
ação do governo para melhorar a estrutura do bairro. "Tem que ajeitar a rua,
trazer os ônibus de volta, dar luz para quem precisa, ajudar a gente", afirma o
morador.

Caleme
No bairro do Caleme, outra localidade fortemente atingida pelos deslizamentos,
moradores aguardam a liberação definitiva das autoridades para permanecer em
casas situadas em áreas de risco moderado, chamadas de "linha amarela".
Segundo a Defesa Civil de Teresópolis, as construções localizadas na "linha
amarela" ficam próximas de áreas com risco de desabamento, mas sem
apresentar risco iminente - diferentemente das zonas mais perigosas,
interditadas permanentemente, conhecidas como "linha vermelha".
A dona de casa Raquel Laje Siqueira, 25 anos, mora na "linha amarela", perto
de um morro que desabou em janeiro de 2011. No topo do morro, cerca de 200
m acima da rua, duas rochas grandes são visíveis em meio à terra molhada pela
chuva. Mesmo com essa aparente ameaça, Raquel diz que não cogita sair de
casa, e que não tem medo que aconteça um novo desastre. "Quando é para
acontecer, acontece em qualquer lugar", disse ela, que mora com marido e um
filho. A Defesa Civil alega que um laudo técnico do Departamento de Recursos
Minerais (DRM) do Estado do Rio apontará se a "linha amarela" será liberada
ou não para ser habitada.
O presidente da Associação dos Moradores e Amigos do Caleme (Amac), Jeová
dos Santos Silva, conta que uma das medidas de prevenção adotadas foi a
entrega de um pluviômetro pelo governo do Estado à sua entidade. Quando o
aparelho indicar chuvas acima de 60 mm, um alerta é feito via rádio à Defesa
Civil. Além disso, duas sirenes foram instaladas no bairro, além da fixação de
placas indicando rotas de fuga em caso de enchentes e deslizamentos.
No entanto, Silva diz que ainda faltam medidas de saúde no bairro, como a
criação de um posto de atendimento e ações para evitar doenças como a
leptospirose. A prefeitura de Teresópolis afirma que o governo federal repassou
ao município R$ 7,241 milhões, sendo que cerca de R$ 1 milhão foi bloqueado,
segundo a administração municipal, devido a problemas administrativos
ocorridos na gestão do prefeito Jorge Mário (PT), afastado no ano passado.
O restante das verbas, de acordo com a prefeitura, foi utilizado para locar
equipamentos para a limpeza das áreas atingidas e para o atendimento às
vítimas. Já o governo do Estado liberou para Teresópolis R$ 4,19 milhões, que
foram utilizados, segundo a prefeitura, para a compra de medicamentos e
materiais para o atendimento de saúde. O saldo restante, de R$ 1,854 milhão,
está sendo aplicado na recuperação de postos de saúde, de acordo com a
administração municipal.
341 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!

http://noticias.terra.com.br/brasil/noticias/0,,OI5552774-EI8139,00-
Um+ano+apos+chuvas+Teresopolis+ainda+guarda+marcas+da+tragedia.html

1.! Identifique! no! fragmento! que! segue! todos! os! termos! que!
retomam!os!vocábulos!destacados:!
!
Um! ano! depois! das! fortes! chuvas! e! dos! deslizamentos! que!
deixaram!centenas!de!mortos!e!destruíram!comunidades!inteiras,!
a! cidade! de! Teresópolis,! na! região! serrana! do! Rio! de! Janeiro,!
ainda!tenta!se!reconstruir!e!retomar!a!normalidade!do!dia!a!dia.!
A! prefeitura! de! Teresópolis! afirma! que,! somente! no! município,!
que! continua! em! estado! de! calamidade! pública,! as! enchentes! e!
desabamentos!ocorridos!na!madrugada!de!12!de!janeiro!de!2011!
deixaram! 392! mortos! confirmados,! além! de! 180! desaparecidos,!
nas!80!localidades!atingidas.!
No! bairro! de! Campo! Grande,! o! deslizamento! de! terra! causado!
pelo! acúmulo! de! água! no! topo! de! um! morro! causou! uma!
enxurrada! de! lama! e! pedras! que! praticamente! dizimou! a!
comunidade,! a! mais! atingida! pelo! desastre.! A! tragédia! atingiu!
outras!localidades,!como!o!bairro!de!Posse.!
!
2.!Leia!o!fragmento:!
!
O! economista! Martinho! Ferreira! dos! Santos,! 63! anos,! mora! no!
bairro! da! Posse! há! sete,! junto! da! mulher.! Ambos! estavam! em!
casa!na!madrugada!de!12!de!janeiro!de!2011,!quando!ocorreu!o!
deslizamento.!"Eu!estava!dormindo!e!não!ouvi!nada!na!hora,!foi!a!
minha! mulher! que! disse! que! havia! alguém! na! rua! pedindo!
socorro",!disse!Santos!à!BBC(Brasil.!
A!residência!do!economista!:!uma!casa!de!dois!pisos,!construída!
há!70!anos!em!um!terreno!de!2!mil!m²:!fica!à!beira!do!córrego!do!
Príncipe,!que!vem!do!bairro!vizinho!de!Campo!Grande!e!corta!o!
342 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
bairro! da! Posse.! Um! ano! após! o! desastre,! o! córrego,! que! "mal!
encobria!o!pé!da!gente",!segundo!Santos,!ganhou!volume!e!força,!
ficando!com!mais!de!1!m!de!profundidade.!"Foi!promovido!a!rio",!
ironiza!o!morador.!
!
Todas! as! palavras! que! seguem! retomam! a! expressão! O!
economista!Martinho!Ferreira!dos!Santos,!exceto:!letra!B!
!
a)!ambos!!!!!!!!!!!!!!!!b)!alguém!!!!!!!!!!!!!!c)!Santos!!!!!!!!!!!!d)!o!morador!!!!!!!!!!
e)!economista!
!
3.! Assinale! a! proposição! em! que! o! antecedente! do! termo!
sublinhado!não!pode!ser!localizado!no!mesmo!segmento!do!texto!
que!está!entre!aspas:!letra!D!
!
a)!“Mais!adiante,!fica!Campo!Grande,!o!bairro!mais!afetado!pelo!
desastre.! Poucas! pessoas! são! vistas! circulando! pela! localidade,!
aparentemente!semiabandonada.”!
b)! “Poucas! pessoas! são! vistas! circulando! pela! localidade,!
aparentemente! semiabandonada.! Retroescavadeiras! ainda!
trabalham!no!local,!tentando!remover!a!terra!que!chega!a!quase!
2!m!de!altura!por!sobre!alguns!pontos!da!estrada.”!
c)! “Um! verdadeiro! mar! de! rochas! enormes! agora! faz! parte! da!
paisagem!local,!que!parece!intocada!desde!os!desabamentos!de!
janeiro!de!2011.”!
d)! “Um! verdadeiro! mar! de! rochas! enormes! agora! faz! parte! da!
paisagem!local,!que!parece!intocada!desde!os!desabamentos!de!
janeiro!de!2011.”!
e)!“Mais!adiante,!fica!Campo!Grande,!o!bairro!mais!afetado!pelo!
desastre.! Poucas! pessoas! são! vistas! circulando! pela! localidade,!
aparentemente!semiabandonada.”!
!
!
343 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
4.! Assinale! a! alternativa! em! que! o! vocábulo! destacado! não!
retoma!outro(s)!elemento(s)!citado(s)!anteriormente.!letra!D!
!
a)! “Um! ano! depois! das! fortes! chuvas! e! dos! deslizamentos! que!
deixaram! centenas! de! mortos! e! destruíram! comunidades!
inteiras...”!
b)! “A! prefeitura! de! Teresópolis! afirma! que,! somente! no!
município,!que!continua!em!estado!de!calamidade!pública...”!
c)! “o! deslizamento! de! terra! causado! pelo! acúmulo! de! água! no!
topo!de!um!morro!causou!uma!enxurrada!de!lama!e!pedras!que!
praticamente!dizimou!a!comunidade...”!
d)!“O!Ministério!Público!do!Rio!de!Janeiro!(MPRJ)!aponta!que!345!
pessoas! estão! desaparecidas,! segundo! dados! de! março! do! ano!
passado.”!
e)!“Na!Estrada!da!Posse,!rota!que!leva!às!áreas!mais!devastadas!
em! Teresópolis,! muitas! propriedades! que! foram! destruídas! pela!
enchente!e!pelos!desabamentos...”!
!
5.!Leia!o!fragmento!que!segue!e!marque!o!referente!da!palavra!
sua:!letra!D!
!
“O!presidente!da!Associação!dos!Moradores!e!Amigos!do!Caleme!
(Amac),! Jeová! dos! Santos! Silva,! conta! que! uma! das! medidas! de!
prevenção! adotadas! foi! a! entrega! de! um! pluviômetro! pelo!
governo!do!Estado!à!sua!entidade.”!
!
a)! associação! dos! moradores! ! ! ! ! ! b)! amigos! do! Caleme! ! ! ! ! c)!
governo!do!Estado!!d)!Jeová!dos!Santos!Silva!!!!!!!!!!!!!e)!Amac!
!
!
6.!Leia!o!excerto:!
!
344 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
Mais! adiante,! fica! Campo! Grande,! o! bairro! mais! afetado! pelo!
desastre.! Poucas! pessoas! são! vistas! circulando! pela! localidade,!
aparentemente! semiabandonada.! Retroescavadeiras! ainda!
trabalham!no!local,!tentando!remover!a!terra!que!chega!a!quase!
2!m!de!altura!por!sobre!alguns!pontos!da!estrada.!Um!verdadeiro!
mar! de! rochas! enormes! agora! faz! parte! da! paisagem! local,! que!
parece!intocada!desde!os!desabamentos!de!janeiro!de!2011.!Em!
todo! o! bairro,! dezenas! de! casas! semidestruídas! estão! vazias,!
interditadas!pela!Defesa!Civil.!
!
Para! que! haja! progressão! do! texto,! o! autor! empregou! outras!
expressões!ou!palavras!para!retomar!o!vocábulo!Campo!Grande.!
Assinale!a!alternativa!em!que!aparece!um!termo!que!não!cumpre!
essa!função:!letra!E!
!
a)!o!bairro!!!!!!!!!!!b)!localidade!!!!!!!!!!!!c)!no!local!!!!!!!!d)!em!todo!o!
bairro!!!!!!!!!e)!a!terra!
!
!
7.!Leia:!
!
“A! casa! do! economista,! assim! como! as! de! seus! vizinhos,! ficou!
dois!meses!sem!água!e!luz,!e!chegou!a!ser!interditada,!devido!ao!
risco!de!novos!desabamentos.”!
!
a)!O!termo!as!destacado!no!texto,!faz!alusão!a!um!elemento!que!
não! aparece! de! forma! explícita! no! fragmento.! Pelo! contexto,! é!
possível!inferir!que!esse!elemento!de!coesão!refere:se!a!quê?!
b)!A!expressão!seus!vizinhos!refere:se!a!que!termo!mencionado!
no!texto!anteriormente?!
c)!A!forma!verbal!“ser!interditada”!refere:se!a!que!vocábulo?!
A!casa!do!economista!
!
345 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
8.!Leia:!
!
“Na!Estrada!da!Posse,!rota!que!leva!às!áreas!mais!devastadas!em!
Teresópolis,! muitas! propriedades! que! foram! destruídas! pela!
enchente! e! pelos! desabamentos! estão! sendo! reerguidas! aos!
poucos,!enquanto!outras,!que!ficavam!à!beira!do!rio!Paquequer,!
foram!totalmente!demolidas.”!
!
Analise! as! proposições! que! seguem! e! depois! assinale! a!
alternativa!incorreta:!letra!D!
!
a)! as! formas! verbais! “foram! destruídas”! e! “sendo! reerguidas”!
referem:se!a!“muitas!propriedades”.!
b)! na! passagem! “que! ficavam! à! beira! do! rio! Paquequer”,! a!
palavra! que,! de! forma! implícita,! retoma! a! expressão! “muitas!
propriedades”.!
c)! em! “rota! que! leva! ás! áreas! mais! devastadas...”! a! palavra! que!
refere:se!à!palavra!“rota”.!
d)! a! forma! verbal! “foram! totalmente! demolidas”! refere:se! a!
“áreas!mais!devastadas!em!Teresópolis...”!
e)!o!vocábulo!“outras”!retoma!o!termo!“muitas!propriedades”.!
!
!
9.!Considere!as!seguintes!sentenças:!letra!D!
!
I.! “Uma! das! residências! liberadas! para! morar! é! a! do! motorista!
Anísio!Siqueira!da!Silva,!52!anos.!Ele!afirma!que!não!tem!medo!de!
permanecer!no!local...”!
II.! “Ele! afirma! que! não! tem! medo! de! permanecer! no! local,!
mesmo! que! a! parte! dos! fundos,! onde! residia! a! sua! filha,! tenha!
sido!abandonada!por!ordem!da!Defesa!Civil.”!
346 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
III.!Ele!afirma!que!não!tem!medo!de!permanecer!no!local,!mesmo!
que! a! parte! dos! fundos,! onde! residia! a! sua! filha,! tenha! sido!
abandonada!por!ordem!da!Defesa!Civil.!
IV.! “Estima:se! que! dezenas! de! corpos! ainda! estejam! encobertos!
pela! lama! e! pelos! escombros.! Moradores! afirmam! que,! há! uma!
semana,!ossos!humanos!foram!desenterrados...”!
!
Com!base!apenas!nos!trechos!citados!acima,!identifique!aqueles!
em! que! as! expressões! grifadas! retomam! termos! citados,!
cumprindo!a!função!de!elementos!coesivos:!
!
a)!I,!II!e!IV!
b)!II,!III!e!IV!
c)!I,!III!e!IV!
d)!I,!II!e!III!
e)!III!e!IV!
!
!
10.! Na! coesão! textual,! os! pronomes! são! empregados,! muitas!
vezes,!com!o!objetivo!de!ligar!o!que!está!sendo!dito!e!o!que!já!foi!
enunciado! anteriormente.! Assinale! a! alternativa! em! que! o!
pronome! não! estabelece! ligação! com! o! que! já! foi! mencionado!
anteriormente!nas!passagens!que!seguem.!letra!D!
!
a)! "Eu! estava! dormindo! e! não! ouvi! nada! na! hora,! foi! a! minha!
mulher!que!disse!que!havia!alguém!na!rua!pedindo!socorro"!
b)!“A!casa!do!economista,!assim!como!as!de!seus!vizinhos,!ficou!
dois!meses!sem!água!e!luz,!e!chegou!a!ser!interditada...”!
c)!“Nos!fundos,!à!beira!do!Córrego!do!Príncipe,!ele!aponta!para!o!
local! onde! moravam! seis! sobrinhos! seus.! Todos! foram! mortos!
pela!enxurrada!de!2011,!diz!o!motorista.”!
d)!“Nos!fundos,!à!beira!do!Córrego!do!Príncipe,!ele!aponta!para!o!
local!onde!moravam!seis!sobrinhos!seus.”!
347 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
e)!“Mesmo!com!essa!aparente!ameaça,!Raquel!diz!que!não!cogita!
sair! de! casa,! e! que! não! tem! medo! que! aconteça! um! novo!
desastre.! "Quando! é! para! acontecer,! acontece! em! qualquer!
lugar",!disse!ela,!que!mora!com!marido!e!um!filho.”!
!
!
ww>! QUESTÃO! préwtextual! (TEXTO! 6):! Observe! a! manchete! da!
notícia!que!você!irá!ler!e!explique!com!suas!palavras!a!que!pode!
se! referir! a! expressão! destacada:! Um( ano( após( tragédia,( bairro(
de(Nova(Friburgo(parece(cidade(fantasma.!
!
TEXTO! 6:! Um! ano! após! tragédia,! bairro! de! Nova! Friburgo! parece!
cidade!fantasma!
Deslizamentos!que!atingiram!a!região!serrana!em!2011!causaram!
mais!de!900!mortes!
!
Repleto de casas destruídas e interditadas, o bairro de Córrego Dantas, em
Nova Friburgo, mais parece uma cidade fantasma, um ano depois da enchente e
dos deslizamentos que atingiram a região serrana do Rio de Janeiro, causando
mais de 900 mortes. De acordo com a Defesa Civil, 429 pessoas morreram em
Nova Friburgo devido à tragédia de janeiro de 2011.
Praticamente todos os bairros da cidade foram atingidos pelas enchentes e
desmoronamentos, inclusive o centro, onde vários prédios foram afetados. No
município, 44 pessoas continuam desaparecidas.
Situado entre dois morros e às margens do curso d'água que dá nome à
comunidade, Córrego Dantas foi o bairro mais afetado pelos deslizamentos de
terra e pelas fortes chuvas. Dezenas de casas tiveram as paredes totalmente
arrancadas. Várias delas estão sendo demolidas.
Praticamente todos os moradores já abandonaram o bairro. Alguns deles
acompanham os trabalhos das retroescavadeiras usadas para reverter o
assoreamento do Córrego Dantas, além dos tratores que realizam as
demolições. [...]
A Defesa Civil afirma que, além de Córrego Dantas, outros bairros fora do
centro urbano de Nova Friburgo que tiveram muitos danos devido às chuvas de
2011 foram Duas Pedras, Jardim Califórnia, Floresta, Jardinlândia e Campo do
Coelho. No centro da cidade, a vida parece ter voltado à normalidade, embora
muitos prédios ainda estejam interditados.
348 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
O teleférico localizado na praça do Suspiro, um dos principais cartões postais
da cidade, ainda não foi reaberto, já que a área onde ficam as suas torres foi
muito atingida. Além do teleférico, a igreja Santo Antônio, situada na mesma
praça, também está fechada.
Um abrigo municipal continua em funcionamento, onde cerca de 20 pessoas
que perderam suas casas estão instaladas, segundo a Defesa Civil. [...]

Rafael Spuldar, da BBC Brasil | 13/01/2012 às 07h41


http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2012/01/120112_teresopolis_cidade_
fantasma_rs.shtml

1.!Explique!como!título!e!subtítulo!se!relacionam.!
!
2.! Identifique! ao! longo! do! texto! as! expressões! anafóricas! que!
fazem!referência!ao!termo!tragédia,!apresentado!no!título.!
!!
3.!Com!base!na!leitura!do!texto,!indique!a!que!local!a!expressão!
cidade(fantasma(se!refere:!
(!!!)!Córrego!Dantas!!!!(!!!)!Duas!Pedras!!!!!!!!(!!!)!Jardim!Califórnia!!!!!!(!!!)!
Floresta!!!!!!!!!(!!!)!Jardinlândia!
(!!!)!Campo!do!Coelho!!!!!!!!!!(!!!)!Centro!da!cidade!
!
4.! Explique! por! que,! no! título! do! texto,! a! expressão! cidade(
fantasma!é!usada!para!caracterizar!um!bairro!de!Nova!Friburgo.!
!
!
TEXTO!7:!Tragédia!no!Rio:!abandono!já!dura!um!ano!
!
Em janeiro de 2011, região serrana foi palco de uma tragédia que deixou 918
mortos e 8,9 mil desabrigados. Até hoje, novas casas e sistema de prevenção
contra chuvas prometidos não foram entregues.
Um ano depois da tragédia que deixou 918 mortos e 8,9 mil desabrigados na
região serrana do Rio, o estado ainda não conseguiu entregar nenhuma das
cerca de 5 mil casas prometidas para as vítimas das chuvas. De acordo com a
secretaria de Obras, as primeiras unidades só deverão ser concluídas a partir de
março. Mas a maioria delas só ficará pronta em 2013. Vice-governador e
coordenador de infraestrutura do estado, Luiz Fernando Pezão culpou a
349 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
burocracia e a falta de interesse dos empresários pela demora: “Ali você não
tem uma área abundante, plana, segura para construções. Ou você está na
encosta ou na beira do rio. Isso dificulta muito. Áreas para as quais
conseguimos viabilizar o processo de desapropriação acabaram descartadas
pelo Ministério do Meio Ambiente. Então é difícil colocar estas pessoas de
novo em um lugar que não tenha problemas.”
Para mitigar o problema, o governo prometeu pagar aluguel social a 7.372
famílias até o fim de 2012. No entanto, muitas das famílias beneficiadas
voltaram para as casas interditadas pela Defesa Civil — por estarem em áreas
de risco — após as chuvas de 12 de janeiro de 2011. Outros permanecem em
locais improvisados. É o caso das 35 pessoas que invadiram um canteiro de
obras onde seria construído um hospital, em Sumidouro. Ou das famílias que
permanecem, desde fevereiro de 2011, num ambulatório transformado em
abrigo em Nova Friburgo. O abrigo tem hoje oito famílias remanescentes da
chuva de janeiro de 2011 instaladas em consultórios médicos transformados em
quartos. São 36 pessoas, sendo 16 crianças e 12 adolescentes. O secretário
municipal de Ação Social, Josué Ebenézer, diz que quatro delas recebem o
aluguel social há alguns meses. E que as outras devem passar a receber o
benefício este mês, um ano depois da tragédia. [...]

Publicado em 13/01/2012
http://www.gazetadopovo.com.br/vidaecidadania/conteudo.phtml?id=1212317
350 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!

5.! Observe! o! título! do! texto! II! e! explique! como! é! possível!


confirmar!o!tempo!que!dura!o!abandono!referente!à!tragédia!no!
Rio.!
!
6.! Considerando! o! gênero! textual! notícia! e! suas! características!
sociocomunicativas,!pode:se!dizer!que!este!texto!teria!a!mesma!
função!enunciativa!se!lido!daqui!a!alguns!anos?!!
!
7.! Observe! a! frase! destacada! no! quarto! parágrafo! do! texto! I:!
Praticamente( todos( os( moradores( já( abandonaram( o( bairro.(
Compare:a!com!o!título!do!texto!II:!Tragédia(no(Rio:(abandono(já(
dura( um( ano.! Explique! a! diferente! interpretação! da! expressão!
abandono!nesses!trechos.!
!
8.! Identifique! ao! longo! do! texto! II! as! expressões! anafóricas/! os!
termos! que! fazem! referência! ao! termo! abandono,! apresentado!
no!título.!

9.!Observe!as!seguintes!frases!destacadas!do!texto!2!e!explique!a!
que!problema!cada!uma!se!refere.!
!
Então(é(difícil(colocar(estas(pessoas(de(novo(em(um(lugar(que(não(
tenha(problemas.((Última!frase!do!segundo!parágrafo)!
!
Para( mitigar( o( problema,( o( governo( prometeu( pagar( aluguel(
social( a( 7.372( famílias( até( o( fim( de( 2012.! ! (Primeira! frase! do!
terceiro!parágrafo)!
!
10.! Observe! o! que! diz! o! vice:governador! e! coordenador! de!
infraestrutura! do! Estado,! Luiz! Fernando! Pezão,! e! reflita:! a!quem!
se! refere! o! pronome! em! destaque?! Ele! se! refere! a! alguém! em!
especial!ou!é!usado!com!valor!indeterminado?!!
351 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
!
Ali( você( não( tem( uma( área( abundante,( plana,( segura( para(
construções.( Ou( você( está( na( encosta( ou( na( beira( do( rio.( Isso(
dificulta(muito.(
!
!
TEXTO! 8:! Secretaria! de! Estado! de! Turismo! lança! campanha!
publicitária!da!Região!Serrana!
!
A campanha “Suba a Serra do Rio de Janeiro e veja a vida de um novo
ângulo”, que foi inteiramente filmada e fotografada na Região Serrana (com o
apoio das cidades envolvidas: Nova Friburgo, Petrópolis e Teresópolis), mostra
as belezas e o prazer de descobrir ou redescobrir destinos maravilhosos,
segundo o diretor de Marketing da TurisRio, Guto Graça.
Na cidade do Rio de Janeiro, aproveitando o grande fluxo de turistas
por ocasião da Rio+20, a Secretaria de Estado de Turismo está fazendo uma
grande cobertura de mobiliário urbano e marca presença também nos cinemas
da cidade neste mês de junho.
Tanto na TV aberta como na TV fechada, foi feita uma vasta cobertura
e um planejamento de mídia que segue critérios técnicos para melhor
otimização dos investimentos.
Chegar ao produto final foi uma construção que teve nas figuras do
secretário de Estado de Turismo, Ronald Azaro, e do Ministro Gastão Vieira, o
exemplo do trabalho em parceria entre as esferas de poder. Um resultado
objetivo que seguiu uma linha clara de trabalho, que vem sendo posta em
prática, de somar forças. E através deste alinhamento, cada envolvido pode se
sentir parte integrante de um todo. Seja no Estado, em Brasília ou nos
municípios de Nova Friburgo, Petrópolis e Teresópolis.
Segundo a secretária de Turismo de Nova Friburgo, Bianca Tempone
Felga, que participou de reuniões, junto com representantes dos municípios de
Teresópolis e Petrópolis na Secretaria de Estado de Turismo, sobre a proposta
de Campanha para a Região Serrana, a veiculação deste material chega em boa
hora na Região Serrana e no Estado. Segundo Bianca, o momento é de mostrar
ao Rio de Janeiro e a todo Brasil que a região está recuperada e aguardando a
visita dos turistas.

http://novafriburgo.rj.gov.br/2012/06/secretaria-de-estado-de-turismo-lanca-
campanha-publicitaria-da-regiao-serrana/#ixzz1y0vkaPPg Publicado em 12 de
junho de 2012
352 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
11.! Diferente! dos! primeiros! textos,! é! possível! notar! que! o! texto! III!
apresenta!referências!positivas!em!relação!à!região!serrana!um!ano!
após!a!destruição!causada!pelas!chuvas.!Destaque!do!texto!algumas!
expressões!que!comprovam!isso.!
!
12.! Por! que! o! texto! III,! em! especial,! apresenta! essas! referências!
positivas! em! relação! à! cidade! de! Nova! Friburgo! e! a! toda! região!
serrana!do!Rio?!
!
13.! Observe! que,! no! texto! III,! a! secretária! de! turismo! Bianca!
Tempone! Felga! afirma! que! a! região! serrana! está! recuperada,!
sem,! no! entanto,! mencionar! a( condição( de( destruição! da! qual! a!
região!se!recuperou.!Essa!omissão!foi!intencional?!Justifique.!
!
14.! Forme! um! grupo! com! outros! dois! colegas! de! sua! turma.! O!
grupo! deverá! montar! uma! encenação! de! um! telejornal,! com! os!
seguintes! personagens:! o! prefeito! de! uma! cidade! da! região!
serrana! do! Rio! de! Janeiro,! uma! vítima! das! fortes! chuvas! e! o!
jornalista.!De!acordo!com!a!fala!de!cada!personagem!a!respeito!
da! condição! atual! da! região! serrana,! a! turma! terá! como! tarefa!
registrar! as! expressões! referenciais! que! apresentam,!
explicitamente,! como! cada! enunciador! avalia! a! condição! das!
regiões! atingidas! pelas! fortes! chuvas.! Em! seguida,! a! turma!
discutirá! sobre! a! função! argumentativa! da! referenciação! na!
construção!do!texto.!!
!
!
TEXTO! 9:! Chuvas! deixam! pelo! menos! cinco! mortos! na! região!
serrana!do!Rio!de!Janeiro!
353 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
Maior( parte( dos( problemas( se( concentra( no( município( de(
Teresópolis(
A forte chuva registrada nesta sexta-feira no Rio de Janeiro castigou os
moradores da região serrana. Pelo menos cinco pessoas morreram no início da
noite no município de Teresópolis, segundo o Corpo de Bombeiros do estado
fluminense. Em Nova Friburgo, também na serra, um rio transbordou e alagou
ruas e casas. As informações são da Globo News.
As mortes ocorreram em Teresópolis, nos bairros de Bom Retiro, onde
dois corpos foram encontrados nos escombros de um desabamento, Santa
Cecília e Quinta Lebrão, além da comunidade Pimentel. Em Quinta Lebrão, um
adolescente morreu soterrado por um muro que desabou. Já em Santa Cecília,
uma mulher foi localizada embaixo dos escombros.
Segundo o comandante do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro,
Sérgio Simões, o número de desalojados e desabrigados passa de 500.
De acordo com a Defesa Civil do Rio de Janeiro, o sistema de alerta
sonoro foi acionado nos pontos da cidade com maior risco de deslizamento.
Houve pelo menos oito desabamento no município. A chuva obrigou a Polícia
Rodoviária Federal a bloquear totalmente a rodovia Rio-Teresópolis.

http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/noticia/2012/04/chuvas-deixam-pelo-menos-
cinco-mortos-na-regiao-serrana-do-rio-de-janeiro-3719803.html Zero Hora
Rio Grande do Sul - Região castigada 06/04/2012 | 23h15 Atualizada em
07/04/2012 | 04h11

1)! Que! efeito! de! sentido! gera! a! expressão! “pelo! menos”,!


presente!na!manchete!da!notícia?!
!
2)! Após! ler! a! notícia,! quais! seriam! os! problemas! apontados! no!
subtítulo!“Maior!parte!dos!problemas!se!concentra!no!município!
de!Teresópolis”?!
!
3)!Observe!o!início!do!segundo!parágrafo!da!notícia,!que!começa!
referindo:se!a!algumas!mortes!que!ocorreram!em!Teresópolis.!!
a:!Que!mortes!são!essas?!
b:! É! a! primeira! vez! que! essas! mortes! são! citadas! no! texto?! Se!
não,!onde!apareceram!pela!primeira!vez.!
!
354 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
4)! Além! da! tragédia! com! as! moradias! e! ! as! mortes,! qual! foi! a!
outra!consequência!da!forte!chuva?!!
!
!
TEXTO!10:!Chuva!forte!castiga!região!serrana!do!Rio!de!Janeiro!

Temporal em Nova Friburgo e Teresópolis mata cinco pessoas e


deixa cerca de mil desabrigadas. Defesa Civil mandou homens e
máquinas para trabalhar na remoção de entulhos

Rio de Janeiro (ABr) - Pouco mais de um ano depois da tragédia que atingiu
cidades da região serrana do do Rio de Janeiro, matando cerca de mil pessoas e
deixando centenas de desaparecidos, as chuvas voltam a castigar as cidades de
Nova Friburgo e Teresópolis. Em Teresópolis, pelo menos cinco pessoas
morreram e cerca de mil estão desabrigadas. Elas foram deslocadas para
alojamentos disponibilizados pela prefeitura. O último dos cinco corpos, que
estava soterrado, foi resgatado no final da madrugada. A vítima é uma mulher
ainda não identificada, moradora do bairro de Santa Cecilia, um dos mais
atingidos pelo temporal.
Segundo a Defesa Civil do estado, em pouco mais de quatro horas
choveu na região serrana 160 milímetros, volume que se esperava para todo o
mês. Em consequência, segundo o Inea, todos os rios da região serrana estão
em estágio de atenção.
A chuva só deu uma trégua por volta das 23h de ontem, mas o dia
amanheceu nublado na região, o que levou o Instituto Estadual do Ambiente
(Inea) a divulgar boletim colocando os municípios de Petrópolis, Teresópolis e
Nova Friburgo em estado de vigilância, assim como Macaé e todas as cidades
localizadas no norte e noroeste do estado.
O secretário estadual de Defesa Civil e comandante-geral do Corpo de
Bombeiros do Rio de Janeiro, coronel Sérgio Simões, esteve na região
acompanhando os trabalhos de auxílio às vítimas e de resgate das pessoas
ilhadas. Por medida de segurança, a concessionária que administra a Rio-
Teresópolis fechou o trecho da serra, entre o km 89 e o km 104, por volta das
19h da sexta-feira, e só o reabriu às 23h30.
Na RJ-142, um deslizamento de terra na estrada que liga os distritos de
Mury a Lumiar levou à interdição parcial da rodovia e os motoristas devem
dirigir com a atenção redobrada.
O governo do Estado do Rio de Janeiro enviou a Teresópolis 10
caminhões e cerca de 80 homens para remover a lama que se acumulou nas ruas
e prometeu mandar retroescavadeiras e caminhões-pipa para reforçar o
355 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
trabalho da defesa civil. De acordo com informações da assessoria de imprensa,
um posto de comando foi montado na sede da Secretaria Municipal de
Segurança Pública, na Várzea, com equipes da Defesa Civil e de Segurança
Pública, a fim de concentrar informações e determinar as ações de pronto-
atendimento aos moradores das áreas atingidas.
O sistema de alerta sonoro foi acionado em comunidades com áreas de
risco e moradores estão sendo orientados a seguir para os pontos de apoio. Por
medida de precaução, equipes também foram mobilizadas em Nova Friburgo,
onde o Rio Bengalas permanece em estágio de atenção. Também houve
interdição de um trecho da RJ-142, em Nova Friburgo, que liga os distritos de
Mury e Lumiar.
Na manhã deste sábado, a prefeitura de Teresópolis lançou um apelo
pedindo a doação de água potável, cestas básicas e colchonetes para atender
aos desabrigados. Segundo a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social,
as doações podem ser entregues no Ginásio Pedrão. Já os colchonetes e cestas
básicas estão sendo providenciados pela prefeitura, em parceria com o Governo
do Estado.

Tribuna do Norte Publicação: 08 de Abril de 2012 às 00:00


http://tribunadonorte.com.br/noticia/chuva-forte-castiga-regiao-serrana-do-rio-
de-janeiro/217067

1)! De! acordo! com! o! texto,! foi! a! primeira! vez! que! uma! tragédia!
como!essa!aconteceu!na!Região!Serrana?!Justifique!sua!resposta:!
!
2)! A! quem! se! refere! o! pronome! de! terceira! pessoa! no! trecho!
“Elas! foram! deslocadas! para! alojamentos”,! no! segundo!
parágrafo?!
!
3)! O! que! significa! a! expressão! “deu! uma! trégua”,! no! terceiro!
parágrafo?!
!
4)!O!texto!informa!que!a!estradas!foram!bloqueadas!“por!medida!
de!precaução”,!o!que!significa!dizer!isso?!!
!
356 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
5)! No! último! parágrafo,! o! redator! informa! sobre! o! pedido! de!
doação!e!utiliza!a!palavra!“apelo”!para!fazer!referência!a!ele.!Que!
efeito!de!sentido!é!gerado!por!essa!escolha!vocabular?!!
!
!
TEXTO!11!(fragmentos):!Os!esquecidos!da!Região!Serrana!
Há! um! ano,! sete! municípios! da! região! viviam! a! pior! tragédia!
climática! da! história! do! país.! Hoje,! moradores! ainda! convivem!
com!o!medo!quando!começa!a!chover.!
!
Os esquecidos da Região Serrana
Moradores se desesperam ao menor sinal de chuva, desabrigados sofrem com
desinformação, obras andam em ritmo lento e corrupção traga recursos da
reconstrução. Quase um ano depois, Fórum conta histórias desoladoras da
região que protagonizou a pior tragédia climática brasileira.
Entre a noite do último dia 11 de janeiro e a manhã do dia seguinte, um
temporal de proporções épicas atingiu a região serrana do estado do Rio de
Janeiro. Em 24 horas, choveu o previsto para o mês inteiro. Nos dias seguintes,
as imagens da catástrofe e o número de mortos não deixaram dúvidas: aquela
foi a maior tragédia climática da história do Brasil. [...] Quase um ano depois,
às vésperas de outro verão chuvoso, Fórum visitou a região para saber o que
feito e como estão vivendo os sobreviventes da tragédia.

“Vocês estão medindo minha casa pela metade”


O caminho até o ponto final do Vale do Cuiabá, em Itaipava, distrito de
Petrópolis, é longo. São pelo menos 30 minutos de ônibus entre o centro
petropolitano e Itaipava, onde fica a fábrica de cerveja de mesmo nome, e
outros 40 até a região que foi devastada pelas chuvas de janeiro. O lugar é
famoso por abrigar mansões luxuosas de políticos e capitães da indústria
fluminense, haras e pousadas chiques.
Moradores contam que, semanas depois da catástrofe, donos de haras
ofereceram polpudas recompensas para quem encontrasse pedaços dos cavalos
perdidos entre os escombros. Só assim eles poderiam receber os seguros pagos
pelos animais. Entre as muitas mortes que ocorreram ali, as que mais
comoveram a opinião pública foram oito familiares do economista Erik Conolly
de Carvalho, executivo do Icatu. Ele perdeu três filhos, os pais, a irmã, o
cunhado e o sobrinho. A casa em que estava o grupo pertencia a Ângela
Gouvêa Vieira, cunhada de Eduardo Gouvêa Vieira, presidente da Federação
das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan). Moradora da região desde que nasceu,
357 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
há 67 anos, a aposentada Edilma Vieira desenha no ar um mapa imaginário do
Vale do Cuiabá e mostra onde estava a casa com a família Conolly. “Só sei que
era gente importante. Quando os repórteres chegavam aqui, iam direto para
lá”. [...]
José Fonseca está inconformado porque funcionários do governo demoliram o
que sobrou da casa sem avisá-lo. “Tinha um monte de telha, maçanetas e outros
materiais que eu podia ter vendido”. Assim como todos os presentes na hora da
inspeção, Fonseca não tem ideia de quando, ou mesmo se vai receber uma casa
nova ou indenização do governo, como foi prometido com pompa e
circunstância pelo governador Sérgio Cabral no calor dos acontecimentos.
Apesar de receberam um aluguel social do governo de até R$ 500, os
moradores reclamam que nenhuma das casas prometidas há quase um ano foi
construída. [...]

Solução é sair de casa


Dez meses depois da tragédia, qualquer sinal de chuva causa pânico nos
moradores de Nova Friburgo. Quando a água começa a cair com um pouco
mais de veemência, mães correm para buscar os filhos nas escolas,
comerciantes fecham as portas e o medo se instala no rosto das pessoas. Em
Friburgo, os sinais das chuvas de janeiro ainda são visíveis no centro da cidade,
que é cortada por um rio. Na Praça do Suspiro, o teleférico, que era a grande
atração turística do local, está do mesmo jeito que estava em 12 janeiro. As
cadeiras ainda estão lá, como em um trem fantasma abandonado. [...]
De fato, poucas intervenções urbanas foram realizadas no período, e o ritmo
das obras em andamento é lento. Técnicos são unânimes em dizer que não há
mais tempo de fazer nada além de preparar um esquema de retirada das famílias
de áreas de risco em caso de chuva forte. “As primeiras habitações só ficarão
prontas no verão de 2013. Fizemos análises de investimentos e concluímos que
não foi investido quase nada em Defesa Civil e contenção de encostas”, afirma
o deputado estadual Luiz Paulo Correa da Rocha (PSDB), presidente da CPI da
Região Serrana. Ele aponta para o caos político da região, onde dois prefeitos, o
de Nova Friburgo e o de Teresópolis, foram cassados, entre outros motivos, por
desvios de verbas emergenciais. Mas pontua que falta organização ao governo
estadual. “A CPI não achou informações centralizadas sobre o que está sendo
feito. As demandas caíram na rotina das secretárias. O ideal era que a operação
toda ficasse em um centro”.
Um secretário municipal da Região Serrana que cuida da interface com o
governo estadual nos projetos de reconstrução conversou longamente com a
reportagem, mas pediu que seu nome fosse preservado. Ele concorda com a
avaliação do presidente da CPI e vai além. “Além de o processo estar dividido
em muitas secretarias, o estado não divide responsabilidades com as prefeituras.
O governador não abre mão do poder político das obras. Ocorre que a máquina
358 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
do estado é paquidérmica”. Ele cita um exemplo. “Colocaram duas dragas e três
caminhões para fazer a dragagem em um trecho de rio, mas mandaram despejar
a terra a 30 quilômetros de distância. Resultado: os caminhões são enchidos
rapidamente e demoram horas para ir, despejar a terra e voltar. As dragas ficam
paradas quase o dia inteiro. O cara que tomou essa decisão está no Rio de
Janeiro e não conhece a região”. Ele diz, ainda, que ficará feliz se o estado
conseguir construir 380 das 1,5 mil casas prometidas na sua cidade até 2013.
Detalhe: todos os prefeitos da Região Serrana são aliados do governador Sérgio
Cabral. [...]

Pelo ralo
Além da lentidão do governo estadual, as cidades da Região Serrana sofrem
com o caos político local. Grande parte dos recursos enviados pelo governo
federal para ajudar na reconstrução das cidades escorreu pelo ralo da mais
mesquinha corrupção. Relatórios do Tribunal de Contas da União (TCU) e da
Controladoria Geral da União apontaram irregularidades em contratos sem
licitação assinados pelas prefeituras e governo do estado.
Em Nova Friburgo, nada menos que R$ 10 milhões enviados de Brasília
evaporaram. O Ministério Público Federal instaurou dez inquéritos civis
públicos na cidade. Em Teresópolis, o MP revelou um esquema entre
empreiteiras e autoridades, que cobrava até 50% de propina na execução de
obras. Em Nova Friburgo, o TCU mostrou que a prestação de contas enviada
pela prefeitura estava cheio de buracos. Nenhuma das prefeituras das cidades
atingidas conseguiu fazer uma prestação de contas decente. O Ministério da
Integração Nacional enviou R$ 30 milhões para serem divididos entre os
municípios. [...]
Antes de deixar a Região Serrana, assisti a uma reunião da CPI municipal das
chuvas na Câmara dos Vereadores de Nova Friburgo. Apenas sete pessoas,
entre elas quatro jornalistas locais, acompanhavam o depoimento do secretário
José Ricardo Carvalho. Sentado ao lado de seu advogado, ele tentava convencer
os vereadores da mesa diretora que o dinheiro desapareceu por causa do caos da
chuva. “As circunstâncias eram muito precárias. Havia dificuldade na oferta de
serviço. Não era todo mundo que tinha confiança de receber ou queria arriscar
seus equipamentos. Não havia internet. Quando a equipe dizia que a empresa
era idônea, eu assinava”. À medida que as perguntas se tornaram mais
específicas e passaram a citar nominalmente contratos, valores e erros de
procedimento, o advogado passou a bater boca com os depoentes. Formou-se
então um grande teatro. Enquanto isso, assessores observavam pela janela a
chuva que caía cada vez mais forte...
(In:
http://www.revistaforum.com.br/conteudo/detalhe_noticia.php?codNoticia=966
0/, acesso em 31 de maio de 2012) Por Pedro Venceslau [12.01.2012 14h15]
359 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
TEXTO!12:!Um!ano!após!a!tragédia,!o!medo!de!novas!chuvas!
Um!dos!laços!culturais!mais!fortes!a!unir!o!Brasil!e!a!Suíça,!a!bela!
Nova!Friburgo,!no!Rio!de!Janeiro,!atravessa!momentos!de!tristeza!
pela!proximidade!de!uma!data!que!ninguém!na!cidade!gosta!de!
lembrar.!
!
Em 12 de janeiro, se completará um ano da tragédia, causada pelas fortes
chuvas de verão, que custou a vida de 918 pessoas (além de 215 desaparecidos)
em sete municípios da Região Serrana do Rio, fazendo a metade dessas vítimas
em Nova Friburgo.
Apreensiva, a população friburguense vê a volta das chuvas fortes,
acompanhada da constatação de que quase nada foi feito pelo poder público
para evitar novos deslizamentos e enchentes nos inúmeros pontos vulneráveis
da cidade.
Após passar a noite de Ano-Novo sob chuva fina, Nova Friburgo reviveu o
pesadelo durante a madrugada do dia 2 de janeiro, quando as pancadas de
chuva e a elevação das águas de alguns rios que cortam a cidade fizeram soar
sirenes de alarme em 14 bairros, o que acabou gerando algum pânico entre a
população.
Segundo o serviço meteorológico, naquele dia choveu em 24 horas cerca de 100
milímetros, ultrapassando o limite de segurança previamente estabelecido pela
Defesa Civil. Não houve vítima na cidade, mas foram registrados pequenos
deslizamentos de terra nas localidades de Mury, Braunes e Campo do Coelho.
A Praça do Suspiro, principal ponto turístico de Nova Friburgo e que sequer
havia sido restaurada, voltou a sofrer deslizamentos, tornando-se símbolo da
difícil situação em que se encontra a cidade.
Quase totalmente destruído pela força das águas e das rochas trazidas pela
enxurrada há um ano, o bairro de Córrego D’Antas viu o rio Bengalas
transbordar novamente e assustar a população: “Quando chove, ninguém
dorme”, disse a costureira Maria da Penha de Souza, em imagem captada pelas
câmeras de televisão.
A preocupação dos moradores é grande, pois no último dia 19 de dezembro
uma forte pancada de chuva fez o rio subir, invadir algumas casas e, para
desespero de muitos, arrastar a ponte que, improvisada há um ano, serve como
único ponto de contato entre Córrego D’Antas e o resto do mundo. Somente
após esse incidente, a Defesa Civil anunciou a construção de uma ponte
definitiva no local.
É em Córrego D’Antas que a Associação Fribourg-Nova Friburgo, que
administra a aplicação de parte dos donativos oferecidos pela Suíça à cidade
brasileira, toca o projeto de construção de uma creche.
360 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
Diretor cultural da Casa Suíça de Nova Friburgo, Maurício Pinheiro, relata o
ambiente na cidade: “As pessoas estão com medo, principalmente aqueles que
moram em áreas de risco. Medo da chuva, medo dos deslizamentos, medo de
ter medo. Esse assunto está sempre presente, mesmo nos momentos de lazer. O
problema maior é que mesmo as chuvas moderadas são capazes de inundar as
ruas, uma vez que as galerias continuam obstruídas e os rios assoreados em
diversos pontos”.
A volta das chuvas de verão e dos riscos de nova tragédia tornou evidente a
morosidade na reconstrução das cidades da Região Serrana do Rio. O
governador Sérgio Cabral foi o primeiro a reconhecer o atraso: “Ainda temos
uma tarefa gigantesca pela frente, e essa recuperação não se conclui em um
ano”, disse.
O prefeito em exercício de Nova Friburgo, Sérgio Xavier, afirma que seu
antecessor - Demerval Barbosa Neto, afastado em novembro por decisão da
Justiça - iniciou apenas 40% das obras necessárias à recuperação da cidade.
Demerval foi afastado do cargo por sonegar ao Ministério Público informações
no inquérito que investiga o desvio das verbas destinadas pelo governo federal
à recuperação de Nova Friburgo.
(In:
http://www.swissinfo.ch/por/especiais/Tragedia_e_reconstrucao_na_Regiao_Se
rrana/Um_ano_apos_a_tragedia,_o_medo_de_novas_chuvas.html?cid=319223
78, acesso em 31 de maio de 2012)
: 01. Fevereiro 2012 - 10:08Por Maurício Thuswohl, swissinfo.ch

!
1.! O! título! do! texto! I! trata! dos! “esquecidos! da! Região! Serrana”.!
IDENTIFIQUE! as! expressões! que,! nos! dois! primeiros! parágrafos,!
representam!esses!“esquecidos”.!
!
2.! Ainda! nessa! primeira! parte! da! matéria,! o! autor! utiliza! cinco!
expressões! para! se! referir! ao! que! aconteceu,! em! janeiro,! na!
Região!Serrana!do!Rio!de!Janeiro.!!
!
a)!IDENTIFIQUE!essas!expressões.!
b)!Que!ideia!é!reforçada!por!meio!dessas!escolhas!lexicais?!
!
3.! Observe! as! expressões! abaixo,! utilizadas! no! texto! I! para! se!
referir!a!diferentes!personagens!que!sofreram!com!as!chuvas!da!
361 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
Região! Serrana! (todas! as! expressões! encontram:se! no! segundo!
parágrafo! da! segunda! parte! da! matéria,! “Vocês! estão! medindo!
minha!casa!pela!metade”).!!
!
Moradores! –! donos! de! haras! –! familiares! do! economista! Erik!
Conolly!de!Carvalho!–!o!grupo!–!Moradora!da!região!desde!que!
nasceu.!
!
a)!SEPARE!essas!personagens!em!dois!grupos,!tendo!em!vista!sua!
denominação.!!
b)! De! que! modo! a! diferença! na! denominação! dessas! pessoas!
reforça!a!ideia!de!desigualdade!que!há!entre!elas?!
c)! IDENTIFIQUE! a! expressão,! presente! na! fala! da! moradora!
Edilma! Vieira,! que! reforça! ainda! mais! essa! situação! de!
desigualdade.!
!
4.! A! Revista( Fórum,! periódico! de! onde! o! texto! I! foi! retirado,!
caracteriza:se! por! buscar! “uma! visão! de! mundo! diferente! da!
presente! nos! grandes! meios! de! comunicação”.! RELEIA! o! trecho!
transcrito!a!seguir!e!EXPLIQUE!de!que!modo!as!escolhas!lexicais!
do!texto!deixam!subentendida!uma!crítica!à!imprensa!tradicional.!!
“Entre( as( muitas( mortes( que( ocorreram( ali,( as( que( mais(
comoveram( a( opinião( pública( foram( oito( familiares( do(
economista(Erik(Conolly(de(Carvalho,(executivo(do(Icatu.”(
!
5.!No!terceiro!parágrafo!da!segunda!parte!do!texto!I,!o!jornalista!
afirma! que! Fonseca! não! sabe! quando! vai! receber! uma! “casa!
nova”.!!
!
a)! IDENTIFIQUE! a! expressão! que,! na! continuidade! desse!
parágrafo,!substitui!o!referente!“casa!nova”.!
b)!Ao!fazer!essa!substituição,!qual!ideia!se!está!defendendo?!
!
362 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
6.!Observe!a!descrição!que!é!feita!da!promessa!de!Sérgio!Cabral!
ainda!neste!terceiro!parágrafo:!!
“Assim( como( todos( os( presentes( na( hora( da( inspeção,( Fonseca(
não( tem( ideia( de( quando,( ou( mesmo( se( vai( receber( uma( casa(
nova(ou(indenização(do(governo,(como(foi(prometido(com(pompa(
e( circunstância( pelo( governador( Sérgio( Cabral( no( calor( dos(
acontecimentos.”!
!
a)! Pode:se! dizer! que,! no! trecho! sublinhado,! a! descrição! foi!
utilizada! em! função! de! uma! argumentação,! ou! seja,! manifesta!
um! ponto! de! vista?! JUSTIFIQUE! sua! resposta! com! base! nas!
escolhas!lexicais!do!autor.!
b)!IDENTIFIQUE!a!expressão!que,!no!trecho!transcrito,!refere:se!
ao! período! da! tragédia! e! ! EXPLIQUE! como! ela! manifesta! um!
ponto!de!vista!do!texto.!
!
7.!Luiz!Paulo!Correa!e!um!secretário!municipal!da!Região!Serrana!
foram!ouvidos!pelo!jornalista!do!texto!I.!Embora!ambos!apontem!
para!o!caos!político!da!região,!o!secretário!municipal!é!bem!mais!
enfático!em!suas!críticas.!!
!
a)!Se!Luiz!Paulo!Correa!quisesse!ser!mais!incisivo!em!sua!crítica,!
por! que! outro! referente! ele! poderia! substituir! a! expressão!
“demandas”!em!“As!demandas!caíram!na!rotina!das!secretárias”.!
b)! IDENTIFIQUE! o! referente! utilizado! pelo! secretário! para! se!
referir!à!pessoa!que!criou!a!estratégia!para!fazer!a!dragagem!em!
um!trecho!de!um!rio.!Ao!ler!essa!expressão,!que!imagem!o!leitor!
cria!dessa!pessoa?!!
c)! O! secretário! municipal! também! descreve! a! “máquina! do!
estado”.!Pode:se!dizer!que!essa!descrição!foi!utilizada!em!função!
de! uma! argumentação,! ou! seja,! manifesta! um! ponto! de! vista?!
JUSTIFIQUE!sua!resposta!com!base!nas!escolhas!lexicais.!
!
363 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
8.! No! último! parágrafo! do! texto! I,! o! jornalista! trata! da! “reunião!
da!CPI!municipal!das!chuvas”.!!
!
a)! IDENTIFIQUE! a! expressão! que,! na! continuidade! desse!
parágrafo,! substitui! o! referente! “reunião! da! CPI! municipal! das!
chuvas”.!
b)! Ao! fazer! essa! substituição,! que! ideia! o! jornalista! está!
defendendo?!
!
9.!No!último!parágrafo!do!texto!I,!o!jornalista!é!bastante!irônico.!
EXPLIQUE!o!porquê!dessa!ironia.!!
!
10.!Compare!os!trechos!a!seguir!que!tratam!de!um!mesmo!ponto!
turístico!de!Friburgo:!!
“Na( Praça( do( Suspiro,( o( teleférico,( que( era( a( grande( atração(
turística(do(local,(está(do(mesmo(jeito(que(estava(em(12(janeiro.(
As( cadeiras( ainda( estão( lá,( como( em( um( trem( fantasma(
abandonado.”!(Texto!I)!
“A(Praça(do(Suspiro,(principal(ponto(turístico(de(Nova(Friburgo(e(
que(sequer(havia(sido(restaurada,(voltou(a(sofrer(deslizamentos,(
tornandoJse( símbolo( da( difícil( situação( em( que( se( encontra( a(
cidade.”!(Texto!II)!
!
a)! IDENTIFIQUE! o! elemento! que,! no! texto! I,! refere:se! ao!
teleférico! e! o! elemento! que,! no! texto! II,! refere:se! à! Praça! do!
Suspiro.!
b)! Tendo! em! vista! sua! resposta! à! questão! anterior! (11a),!
DIFERENCIE! os! dois! textos! no! que! diz! respeito! à! linguagem!
utilizada!para!criticar!a!situação!da!Região!Serrana!hoje.!
!
12.!Observe!o!trecho!a!seguir,!retirado!do!texto!II:!
“Medo(da(chuva,(medo(dos(deslizamentos,(medo(de(ter(medo.”(
364 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
Sabe:se! que,! com! vistas! à! redação! de! um! texto! mais! elegante,!
costumam:se! evitar! repetições! de! vocábulos.! Entretanto,! há!
casos! em! que! tais! repetições! são! legítimas,! como! no! trecho!
acima.!EXPLIQUE!qual!é!o!sentido!da!recorrência!do!substantivo!
“medo”!no!período.!

!
TEXTO!13:!FÚRIA!CLIMÁTICA:!Tragédia!no!RJ!coloca!o!Brasil!no!
mapawmúndi!das!catástrofes!
Calamidade!natural!na!região!serrana!do!Rio!foi!o!terceiro!maior!
desastre!em!número!de!mortes!no!ano!passado,!segundo!a!ONU!
!
As inundações e os deslizamentos de terra na região serrana do Rio de Janeiro,
que vitimaram pelo menos 900 pessoas no verão de 2011, colocaram o Brasil
em posição de destaque mundial nas estatísticas de tragédias climáticas. O
episódio foi o terceiro maior desastre natural em número de mortes entre os
registrados no ano passado, ficando atrás apenas do terremoto seguido de
tsunami no Japão, que totalizou 19.846 mortes em março, e das tempestades
tropicais nas Filipinas em dezembro, com 1.430 mortes.
Os dados fazem parte de um levantamento da Estratégia Internacional para
Redução de Desastres, órgão das Nações Unidas, e do Centro de Investigação
sobre a Epidemiologia dos Desastres. O mapeamento divulgado em janeiro
mostrou que 302 desastres naturais foram registrados em 2011 no mundo,
provocando a morte de 29.782 pessoas e afetando 206 milhões. A quantidade
de desastres é inferior à de 2010, que teve 373 ocorrências.
Apesar dessa queda, a tendência observada nos últimos 20 anos é de
crescimento, analisa o diretor do Centro de Apoio Científico em Desastres da
Universidade Federal do Paraná, Renato Eugênio de Lima. Ele aponta que, a
médio prazo, existem países que vêm contabilizando cada vez mais prejuízos e
vítimas, entre eles o Brasil. “Começamos a aparecer [na lista de países com
mais mortes] há cerca de três a quatro anos. Agora, existe a necessidade de
esforço nacional para reverter essa tendência”, diz.
A tragédia no Rio é considerada a maior da história brasileira. No ano passado,
o Brasil reportou seis desastres naturais significativos, ficando na nona posição
entre os países com mais ocorrências, de acordo com o levantamento.

Preparo
O estudo destaca que países com renda média e alta registraram grandes
catástrofes, apesar de terem mais recursos para melhorar os sistemas de
365 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
prevenção. O Brasil, por exemplo, gasta 8,5 vezes mais em reconstrução do que
em prevenção, de acordo com um levantamento da ONG Contas Abertas.
Falta no país um planejamento urbano para o crescimento ordenado das
cidades, observa o professor de Geografia da Pon-tifícia Universidade Católica
do Rio de Janeiro Marcelo Motta. “As chuvas torrenciais são o único problema
natural no Brasil e nós não sabemos lidar com ele”, afirma, lembrando que o
país está livre de outros desastres como terremotos, vulcões e furacões.
Para o engenheiro florestal e advogado Paulo de Tarso Lara Pires, pós-
doutorando em Direito Ambiental e Desastres Naturais na Universidade de
Berkeley, a população brasileira vem sofrendo com desastres naturais
considerados de fácil solução, mas de grande impacto. Ele aponta que o Brasil
começa a se preparar, mas sem uma política clara de prevenção. “No caso do
Brasil, quanto maior o investimento público em obras de prevenção e quanto
mais preparada estiver a população, menores serão os riscos de que esses
eventos se transformem em desastres naturais.”
04/02/2012 Bruna Maestri Walter
http://www.jornaldelondrina.com.br/online/conteudo.phtml?id=1220164

TEXTO!14:!Após!um!ano,!mais!de!200!continuam!desaparecidos!
na!serra!do!Rio!
!
Ainda restam 215 pessoas desaparecidas desde as fortes chuvas que causaram
enchentes e desabamentos em diversos municípios da região serrana do Rio de
Janeiro há exatamente um ano, deixando mais de 900 mortos confirmados.
Atualizados no início de janeiro, os números do PIV (Programa de
Identificação de Vítimas) indicam que 137 pessoas ainda estão desaparecidas
no município de Teresópolis, enquanto Nova Friburgo tem 44, Petrópolis 18 e
Sumidouro uma; outros 15 desaparecidos não tiveram a localidade informada.
O Programa de Identificação de Vítimas faz parte de outro mais amplo, o Plid
(Programa de Localização e Identificação de Desaparecidos), mantido em
parceria entre o MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) e a Polícia Civil,
e que conta com a colaboração de outros órgãos públicos, como a Defesa Civil,
o Detran e o Corpo de Bombeiros.
A ação do programa consiste em identificar as pessoas cujo desaparecimento
foi comunicado por parentes.
Segundo o coordenador do Plid, o promotor de Justiça Pedro Borges, foram
feitas 698 comunicações relacionadas à tragédia na serra fluminense.
No caso de Teresópolis, onde comunidades inteiras foram dizimadas pela
enxurrada de lama e pedras, acredita-se que vários corpos ainda estejam
soterrados pelos escombros. Moradores afirmam que ossos humanos são
366 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
encontrados semanalmente por funcionários que trabalham em obras de
reparação.

Técnicas de identificação
A identificação das vítimas é feita basicamente por meio de três técnicas: a
papiloscopia (recolhimento de impressões digitais), exames de arcada dentária e
verificação de DNA.
O coordenador do Plid afirma que, para a identificação por meio de digitais, a
maior dificuldade é a decomposição dos corpos e os danos causados a eles
pelos desmoronamentos.
Já o exame de arcada dentária é dificultado, segundo ele, pelo fato de muitas
vítimas serem de baixa renda e não terem prontuário odontológico registrado
em dentistas.
Para a identificação por DNA, segundo Borges, a maior dificuldade decorre do
deterioramento dos restos mortais encontrados sob a lama e os escombros, que
gera a contaminação das amostras, prejudicando a análise.
Além disso, de acordo com o promotor, a dificuldade em fazer a identificação
por DNA é maior de acordo com o grau de parentesco da pessoa que busca com
a vítima encontrada. Se a relação for direta, como de mãe e filho, o trabalho é
mais rápido do que se os restos mortais forem de um familiar mais distante.
Segundo o coordenador do Plid, 110 mortos cujo desaparecimento foi
comunicado por parentes foram identificados por meio de exame papiloscópico.
Já o exame de arcada dentária permitiu a identificação de apenas duas vítimas,
enquanto 35 foram identificadas por meio de material genético.
Até janeiro deste ano, 342 pessoas cujo desaparecimento foi comunicado foram
encontradas com vida em seis municípios da serra fluminense.

Esperança
Àqueles que desejam pelo menos encontrar os restos de seus familiares, a fim
de realizar um sepultamento, o promotor pede que mantenham as esperanças.
"A Operação Serra (nome dado aos esforços para identificação das vítimas das
enchentes de 2011) só será encerrada quando zerarmos o número de
comunicações de desaparecidos", diz.
Borges diz que, mesmo um ano após a tragédia, muitas pessoas ainda são
localizadas com vida, por vários motivos. Um deles é o fato de que o
reaparecimento de diversos moradores dados como desaparecidos - que
somente estavam incomunicáveis durante as chuvas - acabou não sendo
relatado às autoridades.
"Já nessa semana houve o caso de uma pessoa que deixou sua família no
período exato da tragédia. Assim, o que parecia um desaparecimento devido à
chuva tratava-se tão somente de um abandono de lar", afirma o promotor.
367 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
"Ou seja, este é um universo variado. Nada pode ser presumido, tudo tem de ser
esgotado."

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/bbc/1033328-apos-um-ano-mais-de-200-
continuam-desaparecidos-na-serra-do-rio.shtml 12/01/2012 - 09h05 DA BBC
BRASIL

!
1.! Os! dois! textos! acima,! embora! tratem! do! mesmo! assunto,!
focalizam! aspectos! distintos.! Qual! é! o! foco! de! cada! um! dos!
textos?!
!
2.!A!tragédia!!à!qual!o!primeiro!texto!se!refere!diz!respeito!a!um!
acontecimento! recente,! ocorrido! há! poucos! dias?! Justifique! sua!
resposta! destacando! trechos! que! mostrem! o! momento! da!
tragédia.!
!
3.!Localize,!no!terceiro!parágrafo!do!primeiro!texto,!um!pronome!
pessoal! empregado! para! retomar! um! referente,! identificando!
esse!referente.!!
!
4.! As! palavras! “tragédia”,! “calamidade”,! “catástrofe”! e!
“desastre”,! entre! outras,! aparecem! com! frequência! no! primeiro!
texto.! Explique! como! o! emprego! desses! termos! pode! ajudar! o!
leitor! a! compreender! a! opinião! expressa! no! texto! sobre! o! que!
houve!na!região!serrana!do!Rio!de!Janeiro.!
!
5.! O! segundo! texto,! assim! como! o! primeiro,! fala! de!
acontecimentos!ocorridos!na!“região!serrana!do!Rio!de!Janeiro”.!
Supondo!que!você!não!conhece!o!Rio!e!que!não!acompanhou!as!
notícias! na! época! em! que! ocorreram! os! episódios,! é! possível!
identificar!essa!“região”!por!meio!da!leitura!do!texto?!Explique.!
!
368 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
7.!No!sétimo!parágrafo!do!texto!2,!o!termo!“três!técnicas”!aponta!
para! qual! referente?! É! possível! dizer! que! esse! termo! encapsula!
(resume)!o!referente?!Por!quê?!!
!
8.!Na!última!parte!do!segundo!texto,!a!que!ESPERANÇA!o!autor!
se!refere?!
!
9.! Que! diferença! há! entre! o! emprego! das! palavras! “pessoas”! e!
“vítimas”!ao!longo!do!texto?!
!
10.! Aponte,! no! segundo! texto,! alguns! adjetivos! que! contribuem!
para! compreender! o! ponto! de! vista! do! texto! sobre! os!
acontecimentos!noticiados.!
!
!
TEXTO!15:!Tragédia!na!Serra!
Em! 2011,! as! chuvas! impiedosas! causaram! destruição! na! região!
serrana! do! Rio! de! Janeiro! e! geraram! imagens! que! ficarão! para!
sempre!na!memória!do!país.!Um!ano!e!muitas!promessas!depois,!
a!situação!de!risco!insiste!em!permanecer.!
!
O ano passou rápido. As imagens ficaram na cabeça. Foi em fevereiro de 2011.
Subimos a região serrana do Rio de Janeiro em um dia nublado. Ligamos o
rádio e os locutores só falavam naquilo: um temporal destruiu bairros inteiros,
bombeiros procuram os mortos. O clima de emergência estava no ar.
Helicópteros mergulhavam e saíam das nuvens em missão de resgate. Carros de
polícia, caminhões carregados de água mineral, barreiras caídas – o clima era
de desastre.
Mas ninguém poderia imaginar o tamanho do desastre: 894 mortos, ruas
riscadas do mapa, famílias desfeitas e, no ar, o cheiro dos destroços molhados e
dos corpos esperando enterro em morgues improvisados. Como foi possível
tudo isso? Por que não estávamos preparados? Quais lições vamos aprender
com a tragédia? As perguntas se sucediam, mas não era um bom momento para
elas.
À medida que subia para o ponto mais atingido de Teresópolis – o bairro de
Campo Grande –, eu cruzava com as famílias batendo em retirada, com as
369 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
poucas coisas que salvaram, cachorros e gatos de estimação. Carregavam o que
podiam, inclusive a angústia de escolher o que salvar. Abraçada a um poodle, a
mulher o mostrava orgulhosamente. Mas a voz do marido, alguns metros atrás,
era implacável:
“O cachorro que estava velho e cego você deixou para trás.”
Naqueles primeiros momentos, ainda havia o risco de novas chuvas. Só usavam
máscaras os parentes que iam reconhecer corpos, os funcionários e os
voluntários no IML. Um caminhão frigorífico de uma peixaria foi colocado na
porta para recolher os corpos excedentes. Nem todos os moradores isolados
estavam a salvo. Às vezes, o mau tempo mantinha os helicópteros no solo.
Equipes de TV encontraram uma grávida em trabalho de parto. E a trouxeram,
perguntando com insistência, ao microfone, se estava se sentindo bem, se era
menino ou menina. Mas nem todos foram ajudados. Um homem retirou o corpo
do próprio filho dos escombros, conservou-o em uma geladeira, improvisou um
caixão e o enterrou.
Havia, então, dois obstáculos: os novos temporais e os boatos sobre arrastões e
rompimento de represas que não ocorreram. Em Friburgo, um repórter de TV
perguntava às autoridades o que fazer: “Fugir ou subir no prédio mais alto?” A
resposta: “Não sabemos, pode ser que os prédios desabem também”. Mas o
medo real era de um novo temporal. Alcancei para o bairro de Campo Grande,
quando todos o abandonavam, e passei algumas horas examinando os
escombros. No caminho, vi carros cobertos de lama, piscinas invadidas pelo
barro, portões soltos na rua, uma igreja isolada pelos escombros. Mas o que
impressionava era olhar para cima e ver a quantidade e o tamanho das pedras
que rolaram da montanha. Cheguei andando ao bairro destruído. Nosso Gol
ficou no caminho, incapaz de vencer os obstáculos – pedras, buracos,
inundações. Lá em cima, vi algo parecido com o fim do mundo. Não havia
quase nada em pé. O interior das casas estava revirado. Algumas pessoas
vasculhavam os escombros. As nuvens tornaram-se ameaçadoras e os
helicópteros passavam apressados. Alguém disse: “Olha a chuva aí!”.
Com a chuva batendo forte, descemos rapidamente. Voltaria muitas vezes, ao
longo do ano para entender o que passou e o que estava sendo feito para atenuar
a dor daquelas pessoas. Era uma promessa.

Fonte: http://www.rollingstone.com.br/edicao/edicao-65/tragedia-na-serra Ed.


65, Fev./2012, FERNANDO GABEIRA

!
1)( Ligamos( o( rádio( e( os( locutores( só( falavam( naquilo:( um(
temporal( destruiu( bairros( inteiros,( bombeiros( procuram( os(
mortos.!(1º!parágrafo)(
370 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
Embora!o!pronome!demonstrativo!“aquilo”,!no!que!diz!respeito!à!
coesão! textual,! seja! frequentemente! utilizado! para! retomar! um!
referente,!no!caso!acima,!seu!uso!foi!diferente.!Indique!a!que!ele!
se!refere!no!texto,!explicitando!também!sua!referência!temporal.!
No! texto,! o! pronome! “naquilo”! faz! referência! a! algo! posterior:!
“um! temporal! destruiu! bairros! inteiros,! bombeiros! procuram! os!
mortos.”! Sua! referência! temporal! revela! uma! lembrança! do!
autor,!ou!seja,!um!passado!distante,!nesse!caso,!o!ano!anterior.!
!
2)!Ao!empregar!a!palavra!“desastre”,!no!final!do!1º!parágrafo,!o!
autor!resume!subjetivamente!o!que!viu!em!fevereiro!de!2011!na!
região! serrana! do! Rio! de! Janeiro.! O! que! ele! considera! como!
“desastre”?!
Ele!caracteriza!como!desastre!um!temporal!que!atingiu!a!região!
serrana! do! Rio! de! Janeiro! e! destruiu! bairros! inteiros,! a!
necessidade!de!busca!de!sobreviventes!por!parte!dos!bombeiros,!
da!polícia!e!de!helicópteros!e!a!queda!de!barreiras.!
!
3)(Como(foi(possível(tudo(isso?!
A!pergunta!acima,!feita!por!Fernando!Gabeira!no!2º!parágrafo!do!
texto,! revela! o! espanto! do! autor! diante! da! gravidade! do!
problema.! Que! expressão! foi! usada! na! pergunta! que! gera! esse!
efeito?!Indique!a!que!ela!faz!referência.!!
A!expressão!“tudo!isso”,!pois!ao!questionar!sobre!a!possibilidade!
de! “tudo! isso”! ter! ocorrido,! o! autor! faz! referência! à! grande!
tragédia! que! houve,! seu! elevado! número! de! mortos! e! à!
modificação! do! mapa! da! cidade! devido! à! atual! inexistência! de!
certas!ruas.!
!
!4)! No! 5º! parágrafo,! fala:se! de! dois! obstáculos:! os( novos(
temporais(e(os(boatos(sobre(arrastões(e(rompimento(de(represas(
que(não(ocorreram.!
371 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
Por!que!foram!utilizados!artigos!definidos!para!determinar!essas!
dificuldades!se!era!a!primeira!vez!que!apareciam!no!texto?!
Porque! o! referente! já! era! conhecido! pelo! leitor! por! meio! da!
expressão!“obstáculos”,!citado!anteriormente.!
!
5)!Podemos!entender!como!encapsuladores!termos!de!natureza!
nominal! e,! às! vezes,! subjetiva! que! resumem! indiretamente!
informações!do!texto!e!do!contexto.!Assim,!analisando!o!último!
parágrafo!do!texto,!complete!o!quadro!abaixo!com!um!exemplo!
retirado!dessa!parte!do!texto!para!cada!coluna.!!
!
!
Termo!encapsulador! Referência!textual!retomada!
! !
! Voltaria!muitas!vezes,!ao!longo!
promessa! do! ano! para! entender! o! que!
! passou! e! o! que! estava! sendo!
feito! para! atenuar! a! dor!
daquelas!pessoas.!
!
!
6)!A!assinatura!da!autoria!do!texto!por!Fernando!Gabeira!atribui!
pessoalidade! e! subjetividade! à! descrição.! Identifique! elementos!
que!comprovem!a!afirmativa.!
!
7)! Identifique! no! primeiro! parágrafo! os! elementos! textuais! que!
criam!o!campo!semântico!de!guerra!e!o!cenário!apocalíptico!para!
a!referida!tragédia.!
372 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
8)! No! trecho! abaixo,! os! termos! separados! por! colchetes! têm!
funções! diferentes! em! relação! ao! mesmo! conteúdo.! Explique!
quais! são! essas! funções! que! fazem! os! termos! serem!
relacionados.!
!
"Mas! ninguém! poderia! imaginar! o! tamanho! do! [desastre]:! [894!
mortos,! ruas! riscadas! do! mapa,! famílias! desfeitas! e,! no! ar,! o!
cheiro! dos! destroços! molhados! e! dos! corpos! esperando! enterro!
em! morgues! improvisados.]! Como! foi! possível! tudo! [isso]?! Por!
que! não! estávamos! preparados?! Quais! lições! vamos! aprender!
com!a!tragédia?!As!perguntas!se!sucediam,!mas!não!era!um!bom!
momento!para!elas."!
!
9)! O! texto! promove! uma! mudança! de! tratamento! sobre! o!
assunto:!de!início,!o!que!houve!é!tratado!como!tragédia;!depois,!
passa:se! a! problematizá:lo! como! consequência! de! má!
administração.! Como! os! referentes! “culpa”,! ‘mecanismos”,!
“solução”!contribuem!para!essa!formação!de!sentido?!

!
TEXTO!16:!Tragédia!no!Rio:!abandono!já!dura!um!ano!
!
CALAMIDADE
Em janeiro de 2011, região serrana foi palco de uma tragédia que deixou 918
mortos e 8,9 mil desabrigados. Até hoje, novas casas e sistema de prevenção
contra chuvas prometidos não foram entregues
Somente parte das promessas foi cumprida:
Reconstrução de pontes
Das 75 prometidas, apenas uma foi entregue, sendo aberta ao tráfego semana
passada, ainda em obras.
Parques fluviais
Importantes para impedir a ocupação das margens de rios, eles ainda não saíram
do papel.
373 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
Centro operacional
O Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais foi criado
no fim de 2011, mas apenas 56 dos 251 municípios de alto risco de desastres
naturais do país contam com análise e mapeamento de riscos.
Sirenes e pluviômetros
O sistema de alerta foi instalado em 50 comunidades da Serra. Chegou a ser
acionado durante as chuvas do início deste mês, mas precisa ser ampliado.
Radares meteorológicos
Anunciados, eles só devem chegar em março de 2013.
Obras
Contenções não estão prontas

Um ano após os temporais provocarem 777 deslizamentos em sete municípios


da região serrana, fluminense a maioria dos pontos não recebeu obras de
contenção. O subsecretário de Interior do governo do estado, Affonso
Monnerat, estimou que R$ 1 bilhão ainda terão de ser gastos nas encostas para
torná-las seguras. Ele não incluiu os investimentos para recuperar áreas
consideradas de menor risco, por estarem em locais isolados. Na conta também
estão fora os R$ 147 milhões que estão sendo investidos em 30 pontos
considerados prioritários. As primeiras obras acabam este mês em Petrópolis,
mas a maioria deve prosseguir até março.
As obras se limitaram às cidades maiores. Os 30 pontos estão em Friburgo (8),
Teresópolis (12) e Petrópolis (10). Sumidouro, Bom Jardim, Areal e São José
do Vale do Rio Preto, que somaram quase 200 deslizamentos, ainda esperam
recursos. Em vistoria feita na região, porém, o CREA só encontrou oito pontos
em obras.
Um ano depois da tragédia que deixou 918 mortos e 8,9 mil desabrigados na
região serrana do Rio, o estado ainda não conseguiu entregar nenhuma das
cerca de 5 mil casas prometidas para as vítimas das chuvas. De acordo com a
secretaria de Obras, as primeiras unidades só deverão ser concluídas a partir de
março. Mas a maioria delas só ficará pronta em 2013. Vice-governador e
coordenador de infraestrutura do estado, Luiz Fernando Pezão culpou a
burocracia e a falta de interesse dos empresários pela demora: “Ali você não
tem uma área abundante, plana, segura para construções. Ou você está na
encosta ou na beira do rio. Isso dificulta muito. Áreas para as quais
conseguimos viabilizar o processo de desapropriação acabaram descartadas
pelo Ministério do Meio Am--biente. Então é difícil colocar estas pessoas de
novo em um lugar que não tenha problemas.”
Para mitigar o problema, o governo prometeu pagar aluguel social a 7.372
famílias até o fim de 2012. No entanto, muitas das famílias beneficiadas
voltaram para as casas interditadas pela Defesa Civil — por estarem em áreas
de risco — após as chuvas de 12 de janeiro de 2011. Outros permanecem em
374 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
locais improvisados. É o caso das 35 pessoas que invadiram um canteiro de
obras onde seria construído um hospital, em Sumidouro. Ou das famílias que
permanecem, desde fevereiro de 2011, num ambulatório transformado em
abrigo em Nova Friburgo. O abrigo tem hoje oito famílias remanescentes da
chuva de janeiro de 2011 instaladas em consultórios médicos transformados em
quartos. São 36 pessoas, sendo 16 crianças e 12 adolescentes. O secretário
municipal de Ação Social, Josué Ebenézer, diz que quatro delas recebem o
aluguel social há alguns meses. E que as outras devem passar a receber o
benefício este mês, um ano depois da tragédia.
O secretário estadual de Obras, Hudson Braga, sustenta que o estado deve
entregar, até março, 96 unidades habitacionais em Nova Friburgo. Segundo ele,
as casas já estavam sendo construídas antes da tragédia e serão compradas pelo
estado. Todas as outras, no entanto, só devem ser entregues a partir do fim do
ano. Segundo a secretaria, está em andamento, no âmbito do programa Minha
Casa, Minha Vida, a contratação de 5.459 unidades habitacionais e comerciais,
com investimento de R$ 452,6 mi--lhões. As primeiras 2.166 começam a ser
construídas este mês, segundo o governo. “Enfrentamos dificuldades para
encontrar áreas e levantar se essas áreas são seguras. Uma das que
identificamos como adequada foi avaliada em R$ 2 milhões, mas o proprietário
acabou pedindo R$ 10 milhões”, conta Hudson.
Outro problema, segundo o secretário, é o custo das construções. Ele diz que
foram feitas sete convocações, pelas regras da Caixa, para a apresentação de
propostas, uma por município, envolvendo 14 terrenos. Mas só cinco
entregaram propostas: duas para Teresópolis, uma para Friburgo, uma para São
José do Vale do Rio Preto e uma para Bom Jardim.

Fonte: Do jornal Gazeta do Povo, do Paraná. Texto publicado em 13/01/2012.


!
1)! A! estruturação! do! texto! jornalístico! permite! atribuições! de!
valor,! além! de! adiantar! o! assunto! tratado! para! o! leitor.!
Identifique! o! primeiro! elemento! estrutural! “da! página”! que!
realiza!essa!função!e!qual!a!ideia!introduzida.!(aba!da!página)!
!
375 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
2)! No! lead! da! matéria,! qual! a! relação! entre! o! elemento!
sublinhado! e! a! referência! mais! presente! para! o! ocorrido! na!
região!serrana?!
!
3)!De!que!maneira!os!elementos!sublinhados!no!texto!constroem!
a!ideia!de!que!o!ocorrido!teve!como!agente!a!natureza?!
!
!
Texto! 17:! Os! jornalões! como! cúmplices! da! tragédia! no! Rio! de!
Janeiro!
No momento em que este post é escrito, o número de mortos nas enchentes e
deslizamentos no Rio de Janeiro já chegam quase a três centenas. Parece apenas
um número, mas são famílias destroçadas, vidas reais que acabam de uma hora
para a outra e que causam sofrimentos múltiplos e intensos, muito mais fortes
do que os números são capazes de dizer.
Tragédias como essas se repetem. Nos dias anteriores aos acontecimentos do
Rio, fora São Paulo quem sofrera com problemas semelhantes. No início de
2010 foi a mesma coisa. Durante o último ano as enchentes se repetiram em
São Paulo. No Alagoas, também. Todos os Estados brasileiros enfrentam, em
medidas, níveis e momentos diferentes, esse tipo de dificuldade. E, tragédia
após tragédia, os diversos governos se dizem surpresos com a intensidade das
chuvas, culpam a população por jogar lixo nas ruas, culpam, literalmente, deus
e o mundo. E a mídia tradicional vai no mesmo embalo.
Dependendo do governo e do momento político, as causas estruturais dos
problemas são ignoradas. A responsabilidade do Estado é omitida pela velha
mídia, e nos casos mais recentes de São Paulo e do Rio de Janeiro foi / está
sendo desse jeito. Problemas de limpeza urbana e das vias de escoamento,
construções ilegais nas encostas (sejam mansões construídas por ricaços
irresponsáveis, sejam barracos construídos por quem não tem onde morar).
Praticamente ou totalmente ignoradas pela grande mídia as necessidades de
uma profunda reforma urbana, de fiscalização em áreas de risco, de maiores
cuidados de manutenção das estruturas das grandes cidades. Uma passagem
pelos portais dos três maiores jornais do país e pelo G1 mostra essa omissão.
Às 22h30 desta quarta-feira (13/01), são 40 chamadas nos quatro sites (nove no
376 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
G1, 14 no O Globo, dez na Folha de S. Paulo, sete no Estadão). Nenhuma das
40 chamadas refere-se às causas político-sociais da tragédia. Entre os quatro
textos principais, apenas duas rápidas referências a essas causas, no Estadão e
no O Globo. Mas bem rápidas. O que aconteceu foi, novamente, um verdadeiro
crime cometido pelo Estado contra a sociedade. Ao calar-se, a mídia torna-se
cúmplice dessas centenas de assassinatos.
Vale destacar que hoje as emissoras de televisão começaram a falar das
responsabilidades do governo do Rio de Janeiro, curiosamente omitidas no caso
de São Paulo.
Quarenta chamadas, nenhuma falando em causas além da chuva. Para não
responsabilizar ninguém, responsabiliza-se “a chuva” ou “as enxurradas”.
G1:
Chuva faz 267 mortes em três cidades do RJ
Dilma libera R$ 780 milhões para municípios atingidos por chuvas
Bebê é resgatado após 15 horas
Equipe que atuou no Bumba e no Haiti reforça buscas a vítimas
Chuva em SP e em Nova Friburgo ultrapassa média histórica, diz Inpe
Estilista morta em chuvas terá homenagem
Franco da Rocha decreta emergência (SP)
Veja imagens da tragédia no RJ
Enchente traz maior risco para a saúde

O Globo:
Já passa de 260 o total de mortos pelas enxurradas em 3 cidades da Região
Serrana
Tragédia deixa 16 mortos em um sítio em Petrópolis
Tragédia em Itaipava
Região Serrana pede alimentos, colchões e doações de sangue
Dilma Rousseff visita o Rio amanhã e deve liberar R$ 700 milhões
Cabral pede ajuda à Marinha
Mais de 15 frentes de ações emergenciais abertas, diz Minc
Veja fotos da tragédia na Serra
Pousada Tambo Los Incas é arrasada pela cheia em Itaipava
Nas redes sociais, preocupação com parentes
Em Itaipava estilista Daniela Conolly, 7 parentes e babá morrem
Chuvas deixam moradores incomunicáveis
Temporal deixou 75 mil clientes sem luz na Região Serrana
BR-116 está interditada

Folha:
Chuva mata ao menos 257 na região serrana do Rio; 130 são de Teresópolis
Escola vira necrotério em Nova Friburgo
377 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
Era inevitável abrir comporta, diz Sabesp
Veja imagens dos estragos causados pela chuva
Franco da Rocha (SP) permanece alagada
SP registra chuva do mês todo de janeiro
Dilma vai sobrevoar região serrana amanhã
Governo libera R$ 780 milhões para Estados afetados
Chuva destrói hotel e teleférico de Nova Friburgo
Lama dificulta ajuda, ouça relato do enviado

Estadão:
Chuva mata 257 pessoas na Serra do Rio
Previsão é de mais chuvas para a região
Marinha cede helicópteros para resgate
Tragédia é pior do que em Angra dos Reis, diz vice-governador do Rio
Dilma vai para o Rio nesta quinta
Estilista e família morrem em sítio
Diretor do Icatu perde oito familiares

Do blog Jornalismo B, do Rio Grande do Sul. Texto publicado em 12/02/2012

1)! O! texto! seleciona! alguns! título! de! manchetes! que! têm! como!
assunto!comum!a!tragédia!ocorrida!na!região!serrana.!Identifique!
e! transcreva! alguns! desses! títulos! que! sirvam! para! justificar! a!
seguinte!afirmativa!presente!no!sétimo!parágrafo!do!texto:!“Para!
não! responsabilizar! ninguém,! responsabiliza:se! 'a! chuva'! ou! 'as!
enxurradas'”.!!
!
2)! Como! o! texto! cria! a! forte! crítica! à! administração! pública!
lançando!mão!do!campo!semântico!de!"crime"?!
378 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
Sobre os autores

Amanda Heiderich Marchon


Doutoranda!em!Língua!Portuguesa!pela!Universidade!Federal!do!
Rio!de!Janeiro,!desenvolve!um!projeto!de!pesquisa!intitulado!As!
escolhas! lexicais! em! gêneros! jornalísticos:! uma! interface! com! o!
ensino! de! Língua! Portuguesa.! ! Atualmente,! é! professora! da!
Universidade!Candido!Mendes!e!de!colégios!públicos!e!privados!
em! Nova! Friburgo.! Na! Fundação! Centro! de! Ciências! e! Educação!
Superior! a! Distância! do! Estado! do! Rio! de! Janeiro! (Fundação!
CECIERJ),!trabalha!como!conteudista!do!Programa!Nova!EJA.!!
E:mail:!claraeamanda@hotmail.com!!
!
Fabiana Gonçalo
Mestre! em! Língua! Portuguesa! pela! Universidade! Federal! do! Rio!
de! Janeiro.! Bacharel! e! Licenciada! em! Letras!
(Português/Literaturas)! pela! mesma! instituição.! Integrante! do!
projeto! de! pesquisa! Abordagem! textual! no! ensino! de! Língua!
Portuguesa:!Problemas!e!Perspectivas!(Coord.:!Profa.!Dra.!Leonor!
Werneck!dos!Santos).!!
E:mail:!fabby_costa@yahoo.com.br!
!
379 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
Fábio Gusmão da Silva
Doutorando! em! Letras! Vernáculas! pela! Universidade! Federal! do!
Rio!de!Janeiro.!Professor!de!Língua!Portuguesa!do!Ensino!Médio,!
é! especialista! em! Linguística! Aplicada! ao! Ensino! de! Língua!
Portuguesa! pela! Universidade! Federal! do! Paraná,! pós:graduado!
em! Currículo! e! Prática! Educativa! pela! Pontifícia! Universidade!
Católica! do! Rio! de! Janeiro,! Mestre! em! Estudos! Linguísticos! pela!
Universidade!Federal!do!Paraná.!!
E:mail:!fabiogusmaos@bol.com.br!
!
Karine Oliveira Bastos
Mestranda!do!Programa!de!Pós:graduação!em!Letras!Vernáculas!
da! Universidade! Federal! do! Rio! de! Janeiro! (UFRJ),! com!
Bacharelado! e! Licenciatura! em! Letras! (Português/Literaturas)!
pela! mesma! instituição.! Atua! como! professora! de! Língua!
Portuguesa,! no! Município! do! Rio! de! Janeiro! e! na! Escola!
Politécnica!de!Saúde!Joaquim!Venâncio!(EPSJV/Fiocruz),!e!!como!
coordenadora!da!Educação!de!Jovens!e!Adultos!da!EPSJV/Fiocruz.!
E:mail:!karinebastos@terra.com.br!
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380 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
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Leonor Werneck dos Santos
Mestre!e!Doutora!em!Língua!Portuguesa!pela!UFRJ,!onde!leciona!
desde! 1995.! Foi! professora! de! Ensino! Fundamental! e! Médio! em!
escolas! particulares! e! na! rede! pública.! Atua! em! cursos! de!
graduação! e! pós:graduação,! incluindo! o! curso! de! Especialização!
em! Literatura! Infantil! e! Juvenil.! Já! participou! dos! programas! de!
seleção!de!livros!de!literatura!infantil!e!juvenil!Mais!Cultura/2007!
e! 2010! (Biblioteca! Nacional/MEC)! e! PNBE! (MEC),! além! de! ter!
participado! do! PNLEM/2009! (MEC).! Dentre! suas! publicações,!
estão! os! livros! Articulação! textual! na! literatura! infantil! e! juvenil!
(Lucerna),! Estratégias! de! leitura:! texto! e! leitor! (co:autoria,!
Lucerna),! Literatura! infantil! e! juvenil! na! prática! docente! (co:
autoria,! Ao! Livro! Técnico)! e! Análise! e! produção! de! textos! (co:
autoria,!Contexto).!!!
Email:!leonorwerneck@gmail.com!
Website:!www.leonorwerneck.com!!!!!!!!!
!
Luana Maria Siqueira Machado
Doutoranda!em!Língua!Portuguesa!pela!UFRJ,!Mestre!em!Língua!
Portuguesa! pela! mesma! instituição.! Atua! com! ! pesquisas! de!
interface! entre! as! áreas! Fonética! Acústica! e! Linguística! de!
Texto/Análise!do!Discurso,!vinculada!às!linhas!de!pesquisa!Língua!
381 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
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e! Ensino! e! Língua! e! Acústica.! Professora! da! Rede! Municipal! de!
Ensino!do!Rio!de!Janeiro.!!
E:mail:!luanaletrasufrj@gmail.com!
!
Manuela Colamarco
Doutoranda!em!Língua!Portuguesa!pela!Universidade!Federal!do!
Rio! de! Janeiro.! Mestre! em! Língua! Portuguesa! pela! mesma!
instituição,!onde!também!cursou!Bacharelado!e!Licenciatura!em!
Letras!(Português/Literaturas).!Integrante!do!projeto!de!pesquisa!
Abordagem!textual!no!ensino!de!Língua!Portuguesa:!Problemas!e!
Perspectivas.!(Coord.:!Profa.!Dra.!Leonor!Werneck!dos!Santos).!!
E:mail:!manucolamarco@gmail.com!
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Mário Acrisio Alves Junior
Doutorando! em! Letras! Vernáculas! pela! Universidade! Federal! do!
Rio! de! Janeiro.! Licenciado! em! Letras:Português,! com! Mestrado!
em! Estudos! Linguísticos! (2011)! pela! Universidade! Federal! do!
Espírito! Santo.! É! colaborador! do! programa! Universidade! Aberta!
do! Brasil! (UAB/CAPES),! pelo! qual! atua! como! tutor! EAD! de! pós:
graduação!lato!sensu.!!
E:mail:!marioalwes@hotmail.com!
!
382 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
!
Matheus Odorisi Marques
Professor! de! Língua! Portuguesa,! Redator! de! Conteúdo! on:line! e!
Revisor! de! Texto.! Doutorando! em! Língua! Portuguesa! na!
Universidade! Federal! do! Rio! de! Janeiro,! trabalha! com! o! aparato!
teórico! da! Linguística! Cognitiva,! com! o! qual! atualmente! estuda!
questões! morfológicas! de! formação! de! compostos! a! partir! do!
Inglês.!!
E:mail:!modorizi@gmail.com!!
!
Natália Rocha
Mestranda! em! Língua! Portuguesa! pela! Universidade! Federal! do!
Rio! de! Janeiro,! na! área! de! Análise! do! Discurso.! Graduada! em!
Letras! –! Português! /! Espanhol! pela! UFRJ! e! professora! de! Língua!
Portuguesa! e! Literatura! Brasileira! do! Colégio! e! Curso! Miguel!
Couto.! Também! é! coautora! do! material! didático! de! Língua!
Portuguesa!do!Ensino!Fundamental!do!Sistema!Miguel!Couto.!
E:mail:!natalia_roliveira@yahoo.com.br!
383 Referenciação e Ensino: análise de livros didáticos
!
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Ensino de Leitura:
Referenciação e Ensino:
fundamentos, práticas e
análise de livros
reflexões didáticos
para professores
da era digital

Leonor Werneck dos Santos

(Org.)

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