Sunteți pe pagina 1din 12

rt=RESUMO:

a) Apresentação do projeto.
T U B O é um projeto que visa a criação de um espetáculo solo e um ciclo de ações
formativas aberto ao público, ambos desenhados para ocorrer em equipamentos
culturais especificamente relevantes nos temas de pesquisa abordados aqui -seja pela
sua localização territorial ou ações de suporte e acolhida a sujeitos inseridos em
situação de vulnerabilidade e dissidência sexual e de gênero.
Os temas abordados nesta pesquisa vem sendo desenvolvidos pela coletividade Faca
Transversal de forma totalmente independente. A partir das temáticas e provocações
suscitadas no texto: Pode um Cu Mestiço Falar? - da escritora e artista visual
decolonial, Jota Mombaça (RN), - surgiu o desejo de materializar em um trabalho
cênico/performático o exercício crítico de repensar a relação com o próprio corpo e
com a produção de pensamento como um todo. Esse texto, somado às proposições
teórico-práticas de autoras como Grada Kilomba, Paul Preciado e Suely Rolnik, nos
levou a compreender que os processos históricos de territorialização dos corpos
(através de marcadores sociais como gênero, sexualidade e raça) e de silenciamento
de saberes não-hegemônicos moldam nossa relação com o conhecimento e com o
corpo. A partir disso, nos questionamos sobre a possibilidade de subverter a ordem
vigente, inventada e monopolizada pelo norte global: o pensamento eurocêntrico.
Desejamos apontar outros caminhos para uma relação menos hierárquica e violenta
com os pensamentos e corporalidades de populações subalternizadas: pessoas trans,
negres, indígenas e mulheres. Sendo o nosso grupo formado majoritariamente por
pessoas que fazem parte dessas experiências de vida ameaçadas por esse sistema de
mundo colonial, branco, patriarcal e cisnormativo, o projeto de inventar outros corpos
e outros conhecimentos é uma urgência artística e existencial para nós.

Esse trabalho vem sendo gestado e planejado há alguns anos, sendo encabeçado inicialmente
pela artista Maia de Paiva, sem qualquer suporte financeiro institucional. A pesquisa surgiu em
2017, através da provocação artística de Janaína Leite (Grupo XIX), em seu laboratório criativo
chamado Feminino Abjeto. Em 2018, o trabalho provisoriamente intitulado “Manifesto Ku”
teve sua primeira abertura de processo, no espaço da Cia. Fragmento de Dança, no projeto
“Terça Aberta no Kasulo”. Depois de repensada e renomeada, em 2019, surgiu a oportunidade
de apresentação (abertura de processo) da pesquisa em formato de cena curta no 20º Festival
de Cenas Curtas do Galpão Cine Horto (MG) e na “Ocupação Teatro de Arena Conta AI-5” (SP).
No percurso T U B O passou por inúmeras transformações, houve a chegada de parceiras e a
constituição da Faca Transversal (formado por majoritariamente por nordestinas, mulheres e
pessoas LGBTQI+), além de a própria atriz/performer ter vivenciado seu próprio processo de
transição de gênero, passando a identificar-se como uma pessoa trans não-binária. Esses
processos foram revelando o caráter de experimentação fundamental do trabalho não só
artisticamente como para as próprias artistas envolvidas, que se transformam e se questionam
constantemente a partir das questões encontradas.
Esse traço fundamental de experimentação do material cênico movido por transformações
pessoais das artistas envolvidas na pesquisa, aliando vida e arte, salienta a proximidade entre
aspectos da linguagem da performance e os objetivos criativos deste grupo de artistas.
Analisando o desejo da performance de se inserir no domínio do político, do cotidiano, do real,
em oposição aos paradigmas convencionais do teatro, Josette Féral aponta aspectos cruciais
para o deslocamento provocado pela perfomance. Segundo a autora, essa linguagem “toma
lugar no real e enfoca essa mesma realidade na qual se inscreve, desconstruindo-a”,
localizando assim o performer na função de “descontruir a realidade, os signos, os sentidos e a
linguagem”. E é a partir desses aspectos que trazemos para o centro da pesquisa cênica o
corpo em sua potência desestabilizadora de saberes hegemônicos e normas estéticas
tradicionais da construção cênica. Constrói-se então uma cena que desafia e borra os limites
entre linguagens, que convoca o espectador a reorganizar o próprio entendimento dos signos
da cena, que provoca o performer a reelaborar sua própria vivência através da performance
individual ou coletivamente.
Deste modo, habitando entre as fronteiras de linguagem, entre o teatro e a
performance, o espetáculo pode ser entendido como um solo construído por muitas
pessoas. T U B O se propõe a ser um convite-disparador direcionado simultaneamente
às componentes do grupo e ao público. Em cena trabalha-se, através da integração das
áreas nela envolvidas, com o conceito de “palestra-corpo” revelando a falência da
linguagem racional tradicional, e apostando na descolonização e libertação do corpo e
das ideias como caminho para o surgimento de outras formas de se comunicar.
Investiga-se por meio de procedimentos dramatúrgicos, sonoros e físicos a possibilidade de
inversão da ordem racional e falocêntrica, que domina os corpos e a produção de
conhecimento, através da inversão concreta do que chamamos de tubo digestivo-
comunicacional: que vai da boca ao cu. Esse tubo, para nós e para a própria Jota Mombaça, é
uma síntese de relações binárias de poder: norte-sul, racional-animal, masculino-feminino.
Diante disso, apostamos nessa inversão como possibilidade de subverter as certezas que
temos do mundo, acreditando na possibilidade de integrar outros órgãos do corpo e outros
saberes na construção da comunicação. O cu é, nesse sentido, um órgão símbolo da abjeção e
marginalidade imposta aos corpos e pensamentos dissidentes. A escolha dele, enquanto fim
do tubo, sul do corpo, e órgão que desinforma marcadores sociais (como gênero e
sexualidade) é assim justificada. O cu é elemento catalisador do trabalho, a partir de uma nova
centralidade dada a ele deseja-se irradiar outras formas de mover-se, comunicar-se, pensar-se
e relacionar-se.

Compreendemos ainda que essa hegemonia dos corpos brancos, cisgêneros, masculinos,
heterossexuais, bem como dos pensamentos produzidos por esses corpos, é o que produz o
que se chama de “epistemicídio”. Esse termo é utilizado por diversas pensadoras/es críticas/os
ao eurocentrismo e racismo para se referir ao processo de apagamento de outras formas de
vida e pensamento (epistemologias), imposto aos territórios e povos colonizados. Desta forma,
nosso grupo propõe através desse projeto desenvolver um espaço de propagação,
fortalecimento e materialização dessas outras epistemologias dissidentes: decoloniais, negras
e transgêneras. Isso se dará tanto através do desenvolvimento e circulação do nosso
espetáculo, quanto através das atividades formativas que desenvolveremos. Uma delas é o
seminário “DA BOCA AO SUL: ciclo de diálogos e partilhas de saberes de insubmissos”, que
contará com a participação de membros do grupo, além de artistas e intelectuais convidadas
com o intuito de promover rodas de conversa e debates abertos ao público. Outra frente
dessas atividades pedagógicas serão as oficinas: “CORPOS-PALESTRA: convocando corpos a
falar em cena”, que serão ofertadas pelas pessoas da equipe como forma de
compartilhamento de procedimentos criativos e de incentivo à criação de jovens artistas. Cabe
ressaltar que essas atividades constituem papel fundamental do projeto uma vez que
funcionam tanto como espaço formativo coletivo para o grupo e para o público em geral,
quanto como uma plataforma de fortalecimento de pessoas dissidentes, que vivenciam algum
tipo de marginalização das suas experiências.

Por fim, cabe ressaltar que esse trabalho é pautado fundamentalmente no desejo de encontro,
fortalecimento e propagação de saberes produzidos por corpos LGBTQI+ e negros. Diante
disso, buscamos gerar um encontro entre público e artistas envolvidas/os com a finalidade de
repensar as relações com o próprio corpo e com os outros corpos, bem como com suas
práticas no mundo e com os saberes adquiridos e produzidos. A circulação do trabalho em
seus muitos desdobramentos (espetáculo, seminário e oficinas) prioriza instituições
notoriamente engajadas com a lida e acolhimento de tais sujeitos inseridos em zonas de
vulnerabilidades, assim como territórios notoriamente marcados por essas vivências. Ao
escolhermos a Casa1 e o Centro Cultural da Diversidade como instituições parceiras,
ressaltamos a importância das mesmas na acolhida de pessoas LGBTQI+ em situação de rua
-no caso da Casa1-, assim como no esforço em construir um espaço de conscientização política
e democratização cultural nos arredores de seus territórios. Já a Oficina Cultural Oswald de
Andrade, importante instituição cultural e espaço de produção artística na cidade, se localiza
na região central de São Paulo, espaço sabidamente desigual e historicamente marcado como
território frequentado pela população LGBTQIA+, sobretudo por pessoas transexuais relegadas
à situação de marginalidade. Ressaltamos, portanto, a importância de articularmos ações com
tais instituições e fortalecer, assim, projetos social e culturalmente tão relevantes para o
fortalecimento da cidadania na cidade. Deste, modo, compreendemos o público desses
espaços como público-alvo, ao mesmo tempo em que convocamos ao diálogo públicos que
estejam interessados nessas temáticas. Esse projeto é fruto do desejo coletivo de se somar aos
movimentos e produções que ousam projetar e construir outros mundos, nos quais nossas
vidas não sejam alvo de constante ameaças e nos quais relações menos violentas e predatórias
sejam possíveis entre nós mesmas e outras populações. Acreditamos que descolonizar os
corpos, os pensamentos e as vidas é um meio de produzir aqui e agora estratégias de
sobrevivência e existências mais plurais e respeitosas neste mundo.
O desafio de promover o exercício de descolonização dos corpos, do pensamento e da vida dos
sujeitos atingidos pelas ações deste projeto, seja enquanto espectadores ou enquanto
oficineiros, somente pode ocorrer abrindo-se espaço para dar voz às demandas próprias
desses sujeitos através da linguagem artística. Uma relação de diálogo se estabelece ao
possibilitarmos o contato com a experiência estética de assistir às apresentações do solo, ao
dialogarmos nos seminários propostos com temas referentes ao contexto de tais sujeitos, ao
convidarmos tais participantes a manipularem a linguagem artística para dar vazão aos seus
próprios desejos criativos. Essa escuta aberta aos territórios de troca em que nos localizaremos
se alinha com o que alguns autores nomeiam de dinâmica de democracia cultural, onde o foco
está em promover aos cidadãos o acesso e controle da produção artística, escutando suas
vontades e necessidades criativas. Queremos não apenas escutar tais vozes, mas aprender
com tais respostas, assim como questionar nossa própria produção artística.
Em suma, a escuta e o diálogo fundamentam nossos objetivos de construir esse espaço de
troca e experimentação artística através da performance. Compreendemos o
compartilhamento de saberes não hegemônicos, a reflexão critica a respeito da
descolonização dos corpos, com espectadores e participantes das ações formativas deste
projeto como essenciais numa prática emancipatória. Aliamos a isso nossa visão sobre o
caráter político da experiência estética que a performance apresenta, como também na
possibilidade dessas práticas e trocas artísticas se tornarem duradouras a partir da apropriação
da linguagem.

b) Relevância
TUBO é um projeto que funciona como um desdobramento artístico de questões que
atravessam profundamente as pessoas que compõem o grupo, todas nós praticamos formas
de reinventar nossas existências nesse mundo colonial, cisgênero, patriarcal, branco e
racionalista. Compreendemos ainda esse trabalho como parte de uma movida coletiva que
vem tomando o mundo de assalto questionando a “História oficial”, apontando para a
descolonização dos conhecimentos e para a invenção de outros corpos e práticas. Assim
sendo, TUBO funciona como uma plataforma de criação e encontro entre pessoas (artistas,
pensadoras e público) que desejam embaralhar as fronteiras e os limites totalizantes impostos
aos corpos e ao saberes. Esse trabalho tem como finalidade fortalecer essas produções que
desafiam as regras impostas pelo sistema, se somando a elas e se propondo a alcançar outros
públicos que ainda não estejam familiarizados ou tenham aprofundado a reflexão sobre essas
discussões e práticas.

Para fundamentar a pesquisa, tomamos principalmente as produções de artistas e pensadoras


como Jota Mombaça, Paul Preciado, Grada Kilomba e Suely Rolnik como influências
fundamentais que apontam outras formas de produzir e estar no mundo. Esses pensamentos
constituem as pesquisas de todas as áreas do trabalho, não só como tema, mas principalmente
nos instigando a desenvolver uma experimentação específica com cada linguagem (iluminação,
sonoplastia, figurino, dramaturgia e atuação) que visa des-hierarquizar as relações entre cada
uma e experimentar outros caminhos criativos.

Nossa pesquisa estética e formal é marcada pela forte influência de trabalhos tanto engajados
politicamente, como representativos da experimentação de linguagem desenvolvida por
corpos dissidentes na arte contemporânea. Dialogamos com algumas contribuições teóricas
acerca de performance e teatro performativo, como as contribuições de Josette Féral em sua
análise sobre a inserção da performance no âmbito do político e do real, radicalizando o
encontro entre artista e público no aqui agora; a diluição da noção de personagem e o
afastamento da representação mimética; além de uma dramaturgia não calcada no drama ou
em qualquer construção linear. Em contraponto a isso, Christine Greiner propõe a noção de
performatividade enquanto um operador de desestabilização de outras linguagens,
promovendo novos rearranjos dos signos da cena em detrimento das construções tradicionais.
Tais apontamentos teóricos são percebidos também em exemplos adotados por este projeto
como referenciais, como os trabalhos de Janaína Leite, da dupla Kenia Dias e Ricardo Garcia e
do grupo E Quem é Gosta?, com seu espetáculo Isto é um Negro (2018); como também a
pesquisa de artistas da dança-performance como como Maikon K e das pernambucanas Flávia
Pinheiro e Kildery Iara. Também entendemos que para o nosso trabalho a influência da
produção audiovisual do movimento pós-pornô e da música experimental e eletrônica como
elementos importantes de diálogo entre nossa coletividade e outras produções de pessoas
LGBTI+. Para além dessas influências, buscamos aprofundar princípios de trabalhos que viemos
desenvolvendo enquanto coletividade nos aproximarmos de novos materiais sempre dando
enfoque à fricção e subversão das linguagens racionais e hegemônicas, e com desejo de poder
agregar mais colaboradoras/es. (meio confuso).

Cabe ressaltar ainda que desenvolvemos um diálogo direto com uma das artistas que nos
influencia: Kildery Iara, que se disponibilizou a integrar a nossa equipe como provocadora
artística durante um mês de residência. A diretora, atriz, bailarina e performer desenvolve uma
pesquisa que tem muitas afinidades com nossa, nos parecendo muito rica a oportunidade de
trazê-la para colaborar conosco tanto na sala de ensaio, como em uma das oficinas que
ofereceremos e no próprio seminário. Sua presença reafirma o nosso compromisso com a
difusão e fortalecimento da produção de artistas negras, trans e de pesquisa contra-
hegemônica, possibilitando que o TUBO conecte a produção artística contemporânea do país.
(não explicou o que Iara faz, quais são seus princípios de pesquisa, etc).

É justamente nessa perspectiva do nosso compromisso com esse universo temático e prático,
que pensamos em aprofundá-lo tanto em cena, convocando as/os espectadores a refletirem
sobre suas próprias formas de estar e agir no mundo, quanto nas nossas contrapartidas, que
consistem – além da gratuidade das entradas para o espetáculo - em atividades formativa
gratuitas e abertas ao público. Elas serão divididas em duas frentes:
- “DA BOCA AO SUL: ciclo de diálogos e partilhas de saberes de insubmissos”
Com este seminário visamos realizar 6 encontros, distribuídos ao longo de duas semanas, que
funcionarão nos formatos de roda de conversa ou mesa de debate, a depender do interesse
das convidadas e do tema de enfoque. (qual a diferença?) Para essa etapa do projeto objetiva
compartilhar tanto saberes de cada membro da Faca Transversal, incluindo nossa provocadora
cênica, como de convidadas especialistas em alguma questão específica a partir do
cruzamento dos seguintes eixos-temáticos:
(meio confuso)
- filosofias e pensamentos decoloniais
- construção de corporalidades dissidentes (LGBTI+ e negras)
- reinvenção e resistência a partir da arte
- formações artísticas contra-hegemônicas
Cabe salientar ainda que o seminário “DA BOCA AO SUL” será desenvolvido em parceria com a
Coletividade MARSHA! – grupo de produção de festas e festivais LGBTI+ - e será sediado tanto
no Centro de Cultura e Acolhimento LGBT - Casa1, quanto na Oficina Cultural Oswald de
Andrade. Desta forma, objetivamos tanto nos aproximar do nosso público alvo, quanto acessar
outros públicos interessados.

- “CORPOS-PALESTRA: convocando corpos a falar em cena”


Essa atividade consiste em uma oficina, que será ofertada em duas edições, nos espaços da
Casa1 e do Centro de Cultura da Diversidade (CCD), voltada para o público de jovens artistas,
principalmente LGBTI+, mulheres e pessoas negras. A oficina ofertada terá as pessoas da
coletividade Faca Transversal como orientadoras, buscando compartilhar nossos
procedimentos de criação ao longo de quatro dias com o grupo de pessoas inscritas. A noção
de “palestra-corpo” por nós desenvolvida será investigada junto às/aos participantes com a
finalidade de que cada pessoa desenvolva sua própria performance a partir do material que
seu corpo desejar “palestrar”. O último dia visa uma intervenção urbana com o
compartilhamento desses “resultados”, dando forma ao nosso anseio de fomentar a criação de
outras jovens artistas dissidentes.
Nos parece importante ressaltar que essas atividades materializam o TUBO como plataforma
de encontro, sendo momentos fundamentais inclusive para o desenvolvimento deste solo.
Inspiradas pela multiartista, Linn da Quebrada, que diz se entender como “eco, porque soul
uma legião. Um legião dissonante e desbocada”, entendemos o TUBO como um solo composto
por um corpo em cena, mas na verdade apresentando uma coletividade enorme de pessoas
que reinventam seus corpos, questionam os conhecimentos hegemônicos e apontam outros
caminhos de mundo e vida. Esse trabalho é uma forma de estabelecer diálogo do teatro com
outras linguagens artísticas e outros campos de conhecimento, um trabalho que ecoa e se
soma aos movimentos de transformação, resistência e reinvenção do mundo.

c) Sinopse.
T U B O é uma palestra-corpo sobre a falência. Existe uma boca que desnorteia, um corpo que
colapsa e um cu que comunica. A opção por desenvolver uma palestra, ora cientifica, ora em
movimentos, revela a busca por uma concepção mais integrada dos saberes com o próprio
corpo – sendo ele aqui entendido como uma geografia em constante disputa. Tal disputa se
estabelece no embate entre a dominação da racionalidade falocêntrica e a expressividade do
corpo como um todo. Investiga-se em cena a possibilidade de inversão dessa ordem a partir do
que chamamos de tubo digestivo-comunicacional: que vai da boca ao cu. Quais horizontes de
corpas são possíveis vislumbrar a partir da subversão desse tubo? Talvez essa seja uma
tentativa de dançar o impossível no agora. 

A pesquisa se desenvolve entre as fronteiras da dança, teatro e performance, e tem como


disparador inicial o texto “Pode um Cu Mestiço Falar?”, de Jota Mombaça. T U B O propõe uma
prática de descolonização do corpo e dos conhecimentos produzidos a partir dele.  O tubo
“biológico” é uma síntese de relações binárias de poder: norte-sul, racional-animal, masculino-
feminino. Por isso, a escolha do cu – fim do tubo e órgão desinformador de marcadores sociais
e de gênero – como elemento fundamental no trabalho: um possível epicentro de outra
linguagem, outra corpa, outra epistemologia. O exercício de tensionar a ordem racional binária
é um projeto de vida, do qual essa pesquisa decorre enquanto desdobramento artístico: um
convite à descolonização em cena e fora dela.

d) Proposta de dramaturgia
Para esse espetáculo entendemos que a noção de dramaturgia apenas como texto não é capaz
de abarcar as demandas específicas dessa pesquisa. Por isso, adotamos a percepção de
dramaturgia da cena como algo que engloba a relação com as palavras e com a linguagem
corporal. O conceito-chave encontrado para o desenvolvimento deste projeto é a noção de
palestra-corpo, que será desenvolvido a muitas mãos conjuntamente pela equipe de criação
corporal, a atriz-performer e a dramaturgista.

Considerando o caráter inventivo e subversivo proposto pela temática do trabalho, o


procedimento dramatúrgico consistirá na construção de um jogo entre a estética do monólogo
e da palestra, com toda sua discursividade acadêmica, intelectualizada, organizada e
monótona; e uma linguagem corporal da dança-performance - envolvendo dinâmicas de crise
do movimento, exaustão, quedas, perda de controle, repetição e tensão dos limites do corpo.
A fricção dessas linguagens é o que nos interessa enquanto meio de revelar a falência da
linguagem tradicional e a necessidade de busca por outras linguagens. Busca-se com a
dramaturgia da cena construir um percurso que parte de uma certa ordem racional, com
textos bem estruturados, científicos e cheios de certeza. Partindo em direção a uma crescente
“desorganização” das ideias e do corpo, através dúvida, com críticas, questionamentos e
procedimentos físicos que produzem perda de controle, inversão da verticalidade, ativação do
eixo boca-cu e metamorfose da imagem humana.
A noção de performatividade empregada por Christine Greiner ao apontá-la como um
operador de desestabilização de linguagens alia-se aqui aos intuitos da dramaturgia em
construir-se também como uma dramaturgia performativa, experimento trânsito entre
elementos fronteiriços de outras linguagens, provocando reorganizações dos signos da cena,
realocando a importância da palavra enquanto objeto a ser dessacralizado na boca do ator-
performer. Busca-se aqui, portanto, uma dramaturgia que “escove a contra-pelo” ao
materializar artisticamente reflexões aqui propostas, alinhada aos objetivos maiores deste
projeto de descolonização do pensamento, da vida, e da linguagem artística.

Em um primeiro momento, o texto busca escancarar as fissuras do pensamento moderno-


colonial, apontando críticas a grandes pensadores que fundamentam implicitamente a ordem
do pensamento ocidental (como Descartes, Platão e Hegel) e ao discurso médico-científico,
que estigmatiza e regula os corpos. Assim sendo, há um esforço dramatúrgico fundamental de
introduzir, através da linguagem teatral, o público ao pensamento das principais pensadoras
que fundamentam o projeto: Jota Mombaça, Paul Preciado, Grada Kilomba e Suely Rolnik. No
entanto, ao longo do percurso se tornará evidente que a linguagem utilizada pelo mundo
racional não dá conta de explicitar todas as rupturas de epistemologia que esses pensamentos
apresentam, tornando-se cada vez mais presente a necessidade de explicar através do corpo.
Essa transição se dará principalmente pelos procedimentos corporais supracitados, levando a
dramaturgia de corpo a ter uma predominância maior a partir desse momento, bem como por
procedimentos de embaralhamento da lógica gramatical, como o “texto-acúmulo”
apresentado pela diretora e coreógrafa, Kenia Dias. Sendo essa técnica bastante utilizada pela
nossa dramaturgista, Lara Duarte, em seus processos criativos junto a outros grupos e
espetáculos.

A linguagem falada e a palavra não bastam para a apresentação dessa outra forma de pensar e
existir, e assim nasce um novo corpo que comunica-se com outros órgãos. Compreendemos a
linguagem como algo que é monopolizado pela boca e pela palavra, portanto desejamos
tensionar essa lógica investigando mecanismos de comunicação com outras partes do corpo,
inclusive o cu – “parente renegado” da boca. Evidencia-se assim que o que entendemos por
dramaturgia para esse projeto envolve o desenvolvimento de um texto em palavras e de um
texto em corpo - e dos textos mistos entre eles. A partir disso compreendemos a presença do
preparador de corpo e da diretora de movimento também como trabalhos de construção
dramatúrgica. Logo, nos parece necessário evidenciar a importância do processo de pesquisa
corporal através de práticas apontadas pela educação somática (principalmente a técnica
Body-Mind Centering), pela pesquisa com dança-performance, pelas práticas de capoeira (da
própria atriz-performer, Maia de Paiva) e pelas próprias bagagens de experiências da equipe
que trabalha nesta área. Outra presença importante nesse processo é a da nossa provocadora
artística, Kildery Iara, que desenvolve uma pesquisa próxima temática e esteticamente desse
trabalho, inclusive na relação entre palavra e corpo.

Outro ponto fundamental da nossa dramaturgia, é uma busca pelo diálogo direto com o
público, sem a mediação de uma personagem ou figura que não a da atriz/performer presente
em cena no momento. Há uma forte influência da noção de “palestra-performance”
recorrente nas artes cênicas contemporâneas, bem como a compreensão desse espetáculo
principalmente como um espaço de troca de saberes, ou seja, buscamos estabelecer uma
conversa aberta com quem nos assiste. Não compreendemos o saber por nós produzido como
hierarquicamente superior ao do público e é justamente isso que desejamos criticar nos
saberes hegemônicos. Desta forma, a presentificação da cena é um fator fundamental do
trabalho, através da total inexistência de uma quarta parede e da lida com a materialidade do
corpo da atriz/performer, do espaço de apresentação e da presença das expectadoras/es.

Enquanto materiais-base para a escrita da dramaturgia, nos utilizaremos da leitura de textos


das/os autoras/es mencionados acima, bem como de materiais de dramaturgia pessoal das
integrantes do grupo. A noção de “autoescrituras performativas”, apresentada por Janaína
Leite em seu livro homônimo, aqui também nos é muito cara, uma vez que o trabalho fala da
subversão e descolonização de um corpo e se utilizará também de experiências pessoais das
pessoas do grupo em seus processos de descobrimento e reinvenção dos seus corpos, seja no
processo de transição de gênero, ou de reconhecimento racial dos seus corpos ou de
empoderamento sobre suas identidades. Acreditamos assim que as práticas de sobrevivência e
existências das mulheres, pessoas LGBTQIA+ e negras são também fonte de conhecimentos
profundos sobre o enfrentamento e descolonização do mundo ocidental. Serão também
materiais de criação as pesquisas corporais com educação somática e o treinamento da
capoeira, ambas práticas que possibilitam a expansão do repertório do corpo e da consciência
da movimentação, sendo assim base para toda preparação corporal e produção de partituras
coreográficas do trabalho.

Desta forma, a subversão da ordem e invenção de práticas de des-hierarquização dos saberes


não são apenas tema do trabalho, como também constituem nossas escolhas estéticas e de
procedimentos criativos. Apostamos que essa pesquisa dramatúrgica provocará a espectadora
a também deslocar-se de uma recepção e compreensão passiva do texto, expandindo leituras
e caminhos, mais do que apresentando respostas fechadas e diretas. A dramaturgia da cena
servirá também como caminho de reflexão das questões por ela colocadas, revelando que há
textualidade, memória e discursos do corpo que são tão relevantes quanto as palavras e o
pensamento racional. lindu

e) Concepção de cenário, figurino, iluminação e música.


A criação em todas as áreas desse projeto será fundamentalmente influenciada pelos
pensamentos e práticas de descolonização do nosso imaginário. Assim sendo,
buscamos apostar na experimentação e diálogo com produções de artistas trans e
negres, sempre tomando as experiências criativas desses corpos como caminhos de
redescoberta da utilização de cada uma das linguagens. E nesse sentido
compreendemos a participação da equipe “técnica” como necessariamente criativa e
diretamente participativa do processo de levantamento dos materiais cênicos e
dramatúrgicos, incluindo suas fundamentais intervenções e proposições de
procedimentos. Iluminação, figurino, cenografia e música serão elementos vivos que
estarão contracenando com a atriz nesse solo de muitas presenças. Por isso, cada uma
das pessoas que ocupam os lugares de criação nessas linguagens são artistas que vem
desenvolvendo suas pesquisas pessoais no trabalho de ressignificação desses
elementos a partir de outras corporalidades.

A ambiência e trilha sonora a ser desenvolvida é fortemente influenciada pelas


produções de música experimental, principalmente a partir da experiência sonora de
bandas como PORUU (PE), Hrönir (PB) e Rua do Absurdo (PE), onde se investiga a
improvisação, produção de novas texturas, utilização de instrumentos não-
convencionais e sonoridades livres de padrões melódicos. Essas produções
instrumentais nos interessam pela capacidade de expandir a leitura sobre a cena, além
de gerarem um diálogo direto com a proposição de desorganização do pensamento e
dos sentidos. Outra referência sonora forte é o circuito de música independente queer,
negra e underground que já faz parte da pesquisa e produção da DJ e sonoplasta,
Paulete LindaCelva. A partir da contribuição da artista, há a exploração de sonoridades
que produzem experiências de imersão e abertura para outros imaginários, que são
mecanismos fundamentais para o universo estético e temático do espetáculo.

Já no figurino há uma influência direta da pesquisa desenvolvida pela figurinista,


Bioncinha de Oliveira, com o que se chama na moda de upcycle – procedimento de
criação que envolve reutilização de peças de roupa e transformação de materiais
descartados ou subutilizados pela indústria têxtil. Assim sendo, agrega-se à pesquisa o
universo da ressiginificação e subversão das roupas, bem como seus padrões de corpos
e gêneros, apresentando outros caminhos para a relação com a vestimenta. Algumas
referências estéticas desse trabalho são a estilista trans, Vicente Perrotta e o trabalho
estético da multiartista, Linn da Quebrada, ambas representando o trabalho visual
muito presente nas comunidades de pessoas trans e travestis. Além disso, há também
uma pesquisa com a utilização de máscaras que des-identifiquem a atriz-performer,
proporcionando uma investigação também com o apagamento das fronteiras de
identidade de um corpo. Ambas referências buscam incorporar à cena mecanismos de
questionamento da imagem da atriz-performer, possibilitando movimentos amplos e o
próprio deslocamento da função de um figurino que pode transmutar o corpo em
outras figuras.
Para a pesquisa de iluminação vislumbramos incorporar uma relação direta com o
público, dialogando com a proposta de palestra, assim sendo uma iluminação que
permita o encontro entre atriz-performer e as/os espectadores. Por outro lado, na
intenção de materializar em luz a discussão em torno dos apagamentos de outras
epistemologias impostas pelo pensamento normativo, desejamos trabalhar com a
relação de claro-escuro, luz-sombra. (hmmm será?) Entendemos este como um
mecanismo para a criação do jogo de revelar, ou não, determinadas questões ou
movimentações, colocando o público como também participantes do movimento de
apagamento ou desvelamento. Outro fator importante para o trabalho será a
experimentação com improviso simultâneo à cena, que é também uma pesquisa que
vem sendo desenvolvida pela iluminadora, Cyntia Monteiro, como um procedimento
criativo para incorporar a iluminação enquanto presença da cena em diálogo constante
com seu material performático.

Por fim, para a cenografia desejamos construir um espaço cênico versátil que abarque
tanto os momentos de ampla movimentação e dança, como os momentos de
monólogo e “palestra”. Assim sendo, desejamos trabalhar com poucos objetos cênicos
que tenham funções objetivas na cena e remetam ao imaginário que estamos
construindo, seja atráves de mesas e cadeiras de um ambiente de palestra, seja
através da utilização da projeção digital de imagens e textos que dialoguem (por
aproximação ou oposição à cena). A própria relação com os locais de apresentação é
algo a ser explorado pela cenografia, desenvolvendo formas de romper com o
distanciamento entre o trabalho e o público, permitindo livre circulação das/os
expectadoras. Assim como para a iluminação, a presença da relação claro-escuro e luz-
sobra é algo determinante para o desenvolvimento dessa cenografia, permitindo
inclusive a exposição do espaço cênico sem grandes recursos que o transformem. O
momento presente, aqui e agora, com a materialidade do local de apresentação é
muito importante para o espetáculo, portanto o desejo de uma cenografia que se
transforma de acordo com a circulação do trabalho.

f) Previsão da(s) cidade(s) que receberá(ão) as ações do projeto.


Para esse projeto compreendemos a cidade de São Paulo como um espaço de hierarquias e
dominações múltiplas, sendo o centro um espaço de constante disputa pela existência de
corpos dissidentes. Assim sendo, entendemos a necessidade de ocupar esse centro expandido
da cidade se somando às produções efervescentes e potentes de tantas pessoas LGBTIA+ e
racializadas. Assim sendo, decidimos focar nosso trabalho na parceria com espaços que
fortalecem essas produções e que democratizam o acesso desses corpos a diversos
conhecimentos. Nossas ações foram então planejadas da seguinte forma:
- Temporada do espetáculo na Oficina Cultural Oswald de Andrade (9 apresentações)
- Temporada do espetáculo no Centro Cultural da Diversidade (4 apresentações)
- Oficina “Corpo-Palestra” na Casa1 (4 dias)
- Oficina “Copo-Palestra” no Centro Cultural da Diversidade (4 dias)
- Seminário “DA BOCA AO SUL” na Oficina Cultural Oswald de Andrade e na Casa1 (6 dias).

(argumentar melhor a escolha do centro)

g) Cronograma de execução.

h) Plano de divulgação
Como plano de divulgação do T U B O, prentendemos fixar e entregar cartazes de
divulgação do espetáculo nas regiões em torno de onde acontecerão as apresentações,
bem como nosso seminário, além de distribuí-los e difundi-los em espaços culturais,
escolas, universidades e além parcerias junto a grupos e espaços que trabalham com o
público LGBTQIA+, como a Casa1 e a Coletividade Marsha! Para ampliar o impacto do
projeto, haverá também campanhas em redes sociais, através da criação de páginas no
Facebook e Instagram, que contarão com impulsionamento financeiro, contando
também com a parceria de divulgação das coletividades parceiras. Concomitante à
divulgação virtual iremos contratar serviço de assessoria de imprensa, a fim de atingir
mídias de comunicação impressa gratuitas e privadas, principalmente as de circulação
local.

Contamos ainda com o próprio seminário “DA BOCA AO SUL: ciclo de diálogos e partilhas
de saberes de insubmissos” e as oficinas como formas de aproximação de públicos
interessados pelo universo temático do espetáculo, assim como formas de divulgação das
atividades que se seguirão a cada uma delas.

(tá pobre)

i) Orçamento detalhado, conforme modelo de planilha no Anexo I.


2) Em caso de compra de equipamento de qualquer natureza, deverá ser expressamente
justificado o motivo da compra e o destino do equipamento adquirido após a conclusão do
projeto.

j) Currículo artístico do proponente.

k) Ficha técnica com a relação dos participantes, incluindo identificação do CPF e a


descrição da função no projeto.
l) Breve currículo dos principais integrantes do projeto (máximo de 20 linhas para
cada currículo).

m) Vídeo explicativo do projeto (não obrigatório).

n) Anexos:
1) Obrigatório: Opção de Cessão dos Direitos Autorais, conforme Anexo II, caso haja, ou
Declaração Negativa de Opção de Cessão de Direitos Autorais, conforme anexo III.
2) Obrigatório: Termo de Compromisso assinado, conforme Anexo IV ou Anexo V.
3) Não obrigatório: Carta(s) de Anuência do(s) local(is) de realização, caso haja.
4) Não obrigatório: Cópia do texto de dramaturgia, caso haja.
5) Não obrigatório: Informações adicionais.

6.2.2. DOCUMENTAÇÃO PARA PROPONENTE PESSOA FÍSICA


a) Declaração de Inscrição, conforme Anexo VI.
b) Cópia simples do documento de identidade oficial do proponente, contendo o número do
R.G. e foto;
c) Cópia simples do CPF (válido) do proponente ou documento de identidade que contenha o
número do CPF.

S-ar putea să vă placă și