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O GRANDE ENIGMA

AO LEITOR

Nas pesadas horas da vida, nos dias de tristeza e de abatimento, abra este livro! Eco das vozes
do alto, ele lhe dará coragem, o induzirá à paciência e à submissão às leis eternas!
Onde e como eu pensei em escrevê-lo? Era uma noite de inverno, uma noite de passeio na costa
azul da Provença1.
O Sol2 se punha sobre o mar tranqüilo. Seus raios de ouro deslizavam sobre a onda
adormecida, iluminava com tintas calorosas o cume das rochas e dos promontórios; enquanto que a
esguia lua crescente se elevava em um céu sem nuvens. Sentia-se um grande silêncio envolvendo todas as
coisas. Somente, um longínquo sino soava o angelus vagarosamente. Pensativo, eu escutava os surdos
barulhos, os rumores, quase imperceptíveis das cidades do inverno, em festa, e as vozes que cantavam
em minha alma.
Meditava sobre a indiferença dos homens que se embriagam de prazeres, para melhor esquecer
o objetivo da vida, seus deveres imperiosos e suas pesadas responsabilidades. O mar acalentador, o
espaço que pouco a pouco se cobria de estrelas, os penetrantes odores dos mirtos e dos pinheiros, as
longínquas harmonias da calma da noite, tudo contribuía para disseminar em mim e ao meu redor um
sutil encantamento, íntimo e profundo.
E a voz me disse: publica um livro que nós te inspiraremos, um livrinho que resuma tudo o que
a alma humana deve conhecer para se orientar em seu caminho; publica um livro que demonstre a todos
que a vida não é algo em vão para que possamos deteriorá-la, ela é uma luta pela conquista do céu, uma
grande obra de aperfeiçoamento e uma séria edificação, uma obra regida por leis augustas e eqüitáveis,
acima das quais plana a Justiça eterna atenuada pelo Amor.
***
A Justiça! Se há neste mundo uma necessidade imperiosa para todos aqueles que sofrem, cuja
alma está dilacerada, não é ela a necessidade de crer, de saber que a justiça não é uma palavra vazia,
que há em algum lugar compensações para todas as dores, uma sanção para todos os deveres e um
consolo para todos os males?
Ora, quaisquer que sejam nossas opiniões políticas e nossas opiniões sociais, é preciso
reconhecer que a justiça absoluta, soberana, não existe em nosso mundo. As instituições sociais não a
comportam.
E mesmo se nós conseguíssemos corrigir e melhorar essas instituições, atenuando muitos males,
diminuindo o somatório de desigualdades e de miséria humanas, há causas de aflição, de cruéis
enfermidades inatas contra as quais seremos sempre impotentes, tais como: a perda da saúde, da visão,
da razão, a separação de seres amados e todo o imenso cortejo dos sofrimentos morais, tanto mais vivo
quanto o homem é mais sensível e a civilização mais depurada.
Apesar de todos os progressos sociais, nunca obteremos que o bem e o mal possuam, aqui
embaixo sua total sanção. Se há uma justiça absoluta, integral ela só pode existir no além! Porém, quem
nos provará que este além não é somente um mito, uma ilusão, uma quimera? As religiões, as filosofias
se foram; elas derramaram sobre a alma humana a rica veste de seus conceitos e esperanças.
Entretanto, a dúvida continuou no fundo da alma. Uma minuciosa e sábia crítica passou, pelo crivo,
todas as teorias antigas. Desse conjunto majestoso só restam ruínas.
Porém, sob todos os pontos do globo, se produziram fenômenos psíquicos. Variados, contínuos e
inumeráveis, eles traziam a prova da existência do mundo espiritual invisível, regido por princípios
rigorosos, tão imutáveis quanto os princípios que regem a matéria, mundo que ocultava em suas
profundezas o segredo de nossas origens e de nossos destinos 3. Uma nova ciência nascera, baseada nas
experiências, nas pesquisas e nos testemunhos de eminentes sábios; para ela, uma comunicação se
estabelece com esse mundo invisível que nos envolve e uma revelação poderosa inunda a humanidade
qual uma onda pura e regeneradora.
***
Nunca talvez ao longo de sua história, a França sentiu tão profundamente a oportunidade de
uma nova orientação moral. As religiões, dizemos, perderam seu prestígio. Os frutos envenenados do
materialismo se fazem presentes, em toda a parte, paralelos ao egoísmo e da sensualidade de uns se
desenvolvem a brutalidade e os anseios de outros. Atos de violência, de assassinatos e suicídios se
multiplicam. As greves possuem um caráter cada vez mais trágico. É a luta de classes4, o
desencadeamento de apetites e furores. A voz popular aumenta e reclama; o ódio dos pequenos para com
os que possuem e gozam tende a passar do campo das teorias para dos fatos. Os atos bárbaros,
destruidores de toda civilização se introduziram nos costumes do operariado.5 Se esse estado de coisas
se agravasse, ele nos levaria diretamente a guerra civil e a selvageria.

1
Tais são os resultados de falsa educação nacional. Há séculos, nem a escola, nem a Igreja
ensinaram ao povo o que ele tinha mais necessidade de conhecer: o porquê da existência, a lei do
destino com verdadeiro sentido de deveres e responsabilidades que a ele se unem. Disso resulta, de todas
as partes, do alto bem como do baixo, a desordem das inteligências e consciências, a confusão de tudo, a
desmoralização, a anarquia. Estamos ameaçados de falência social.
Será necessário descer até o fundo do abismo das misérias públicas para ver o erro cometido e
entender que é preciso buscar acima de tudo o raio de luz que iluminará a grande caminhada humana
sobre a sinuosa rota, através de charcos e rochas desmoronadas?6

PRIMEIRA PARTE
DEUS E O UNIVERSO

1. — O Grande Enigma

Há um objetivo, uma lei no Universo?


Ou esse universo não passa de um abismo, um pensamento se perde, na falta de um ponto de
apoio, onde ele esvoaça sobre ele mesmo como uma folha morta sob o sopro do vento?
Há uma força, uma esperança, uma certeza que possa nos elevar acima de nós mesmos em
direção a um objetivo superior, a um princípio, até um ser no qual se identifica o bem, a verdade, a
sabedoria; ou só existe em nós e ao nosso redor dúvida, incerteza e trevas?
O homem, o pensador, sonda com o olhar a vasta extensão. Interroga as profundezas do céu.
Nele procura a solução de dois grandes problemas: o problema do mundo, o problema da vida. Ele
considera o majestoso universo, no qual ele se sente como que afogado. Ele segue com os olhos a corrida
dos gigantes do espaço, sóis da noite, assustadores focos de luz cuja luminosidade percorrem as
imensidades sombrias. Ele interroga esses astros e mundos incontáveis, eles, porém, passam, mudos,
prosseguindo sua rota em direção a um objetivo desconhecido. Um esmagador silêncio plana sobre o
abismo, envolvendo o homem, o que torna esse universo ainda mais solene7.
Entretanto duas coisas saltam aos nossos olhos no Universo: a matéria8 e o movimento9; a
substância10 e a força11. Os mundos são formados por matéria e essa matéria, inerte por si mesma, se
move. Quem a faz mover-se? Qual é esta força que a anima? Primeiro problema. Mas o homem, do
infinito chama sobre si mesmo a atenção. Esta matéria e esta força universais, ele as encontra em si e com
elas um terceiro elemento com ajuda do qual ele conheceu, captou e mediu os outros: A Inteligência12.
A inteligência humana não é, contudo, sua própria causa em si mesma. Se o Homem fosse sua
própria causa ele poderia manter-se, conservar o poder da vida que nele se encerra; enquanto que este
poder sujeito a variações e enfraquecimentos escapa à sua vontade.
***
Se a Inteligência está no Homem, ela deve encontrar-se nesse Universo do qual ele faz parte
integrante. O que existe na parte deve se encontrar no todo. A matéria só é a roupagem, a forma sensível e
mutável, revestida pela vida; um cadáver não pensa nem se mexe. A força é um simples agente chamado
para sustentar as funções vitais. É, pois, a Inteligência que governa os mundos e rege o Universo.
Essa inteligência se manifesta através de leis sábias e profundas, organizadoras e conservadoras
do universo.
Todas as pesquisas, os trabalhos da ciência contemporânea contribuem para demonstrar a ação
das leis naturais, que uma Lei Suprema une, abraça, para constituir a universal harmonia. Através dessa
Lei, uma Inteligência soberana se revela como a própria Razão das coisas, razão consciente, unidade
universal para onde convergem, se ligam e se fundem todas as relações, local onde todos os seres vão
haurir força, luz e vida; Ser absoluto e perfeito, fundamento imutável e fonte eterna de toda ciência, de
toda verdade, sabedoria e amor.
***
Algumas objeções podemos, contudo, prever. Podem me dizer, por exemplo: as teorias sobre a
matéria, a força e inteligência, tais como formulavam antigamente as escolas científicas e filosóficas, já
tiveram o seu tempo. Conceitos novos as substituem. A física moderna13 nos demonstra que a matéria se
dissocia na análise, se converte em centros de forças e que a força se funde no éter universal14.
Sim, certamente, os sistemas envelhecem e passam; as fórmulas se desgastam, mas a idéia eterna
reaparece nas formas sempre novas e enriquecidas. Materialismo e espiritualismo são aspectos
transitórios do conhecimento. Nem a matéria nem o espírito são o que pensavam as escolas de outrora e
talvez a matéria, o pensamento e a vida estejam entrelaçados por estreitos laços que começamos a
entrever.

2
Entretanto, alguns fatos subsistem e alguns problemas se impõem. A matéria e a força se fundem
no éter, mas o que é o éter? Dizem que é a matéria primeira, o substratum15 definitivo de todos os
movimentos. O éter, ele mesmo, é cruzado por inúmeros movimentos: irradiações luminosas e caloríficas,
correntes de eletricidade e magnetismo. Ora, é necessário que esses movimentos estejam regulados de um
certo modo.
A força gera o movimento, mas ela não é a lei. Cega e sem guia ela não poderia produzir a
ordem e a harmonia no Universo. Elas, porém, são onipresentes. No ápice da escala das forças aparecem
a energia16 mental, a vontade, a inteligência que constrói e estabelece as leis17. A inércia, nos dirão, ainda
é relativa, já que a matéria é energia condensada18. Na realidade, todas as partículas constituintes de um
corpo se movimentam. Entretanto a energia armazenada nesses corpos só pode entrar em potência de ação
quando a matéria componente está dissociada. Não é o caso para os planetas, cujos elementos
representam a matéria em seu último grau de agregação. Seus movimentos não podem se explicar através
de uma força interna, mas sim pela intervenção de uma energia exterior.
“A inércia é, diz G. Le Bon19, a resistência, de causa desconhecida, que os corpos opõe ao
movimento ou a mudança de movimento. Ela é sujeita a mensurações e é essa medida que se define por
massa. Logo a massa é a medição da inércia da matéria e de seu coeficiente de resistência ao
movimento.”
Desde Pitágoras20 a Claude Bernard21, todos os pensadores afirmam que a matéria é desprovida
de espontaneidade. Fracassou toda tentativa de dar à substância inerte uma espontaneidade capaz de
organizar e explicar a força.
É preciso então retornar a necessidade de um primeiro motor transcendente para assim explicar o
sistema do mundo. A mecânica celeste não se explica por si própria, se impondo, então, a existência de
um motor inicial. A nebulosa primitiva, mãe do Sol e dos planetas, possuía um movimento giratório.
Porém, quem tinha iniciado esse movimento? Respondemos sem hesitação: Deus22!
***
É somente a ciência contemporânea que nos revela Deus, O Ser universal? O homem interroga a
história da Terra. Ele evoca a lembrança de múltiplas mortes, gerações que repousam sob a poeira dos
séculos. Ele interroga a fé crédula dos simples e a fé raciocinada dos sábios e por toda parte, acima de
opiniões contraditórias e disputas de escolas, acima das rivalidades das castas, de interesses e paixões, em
todos os lugares, ele vê os saltos, as aspirações do pensamento humano em direção a grande Causa que
vela, augusta e silênciosa, sob o véu misterioso das coisas.
Em todos os tempos e em todos os meios, o queixume humano se dirige para esse espírito divino,
para esta alma do mundo que se honra sob diversos nomes, mas que, sob diversas apelações —
Providência, grande Arquiteto, Ser supremo, Pai celeste — é sempre o centro, a Lei, a Razão universal, o
mundo se reconhece, se possui e reencontra sua consciência e seu eu.
E é assim que, acima desse incessante fluxo e refluxo de elementos passageiros e cambiantes,
acima desta variedade, dessa diversidade infinita dos seres e das coisas, que constituem o campo da
natureza e da vida, o pensamento encontra no universo esse princípio fixo, imutável, esta Unidade
consciente, no qual se fundem a essência e a substância, fonte primária de todas as consciências e de
todas as formas. Pois, consciência23 e forma24, essência25 e substância não podem existir uma sem a
outra. Elas se fundem para constituir essa Unidade viva, esse Ser absoluto e necessário, fonte de todos os
seres, que nós chamamos Deus.
A linguagem humana é, contudo, impotente para exprimir a idéia do Ser infinito. A partir do
momento que nos utilizamos nomes e termos, nós limitamos o que é sem limites. Todas as definições são
insuficientes e de certo modo, induzem ao erro. Entretanto, o pensamento tem necessidade de termos para
exprimir-se. O menos distanciado da realidade é aquele através do qual os padres egípcios designavam
Deus: Eu Sou, ou seja, eu sou o Ser por excelência, absoluto, eterno, do qual emanam todos os seres.
***
Um secular mal entendido divide, sobre essas questões, as escolas seculares. O materialismo via
no universo somente a substância e a força. Ele parecia ignorar os estados quintessenciados, as
transformações infinitas da matéria. O espiritualismo ainda só vê Deus como o princípio espiritual. Ele
considera como imaterial tudo o que não está ao alcance de nossos sentidos.
Ambos se equivocam. O mal entendido que os separam só cessará quando os materialistas virem
em seu princípio, e os espiritualistas em seu Deus, a fonte dos três elementos: substância, força,
inteligência, cuja união constitui a vida universal.
Para isso, basta entender duas coisas: admite-se que a substância está fora de Deus, Deus não é
infinito e, já que a consciência existe no mundo atual, evidentemente é necessário que ela se encontre no
que foi o Princípio desse mundo.
A ciência, porém, após se atrasar durante meio século nos desertos do materialismo e do
positivismo, após ter reconhecido a esterilidade deles, atualmente, modificou o seu caminho. Em todas as

3
áreas (física, química, biologia, psicologia,) ela caminha hoje com passos decididos em direção a grande
unidade que se entrevê na base de tudo. Em toda parte, ela reconhece a unidade de substância de forças e
leis. Por detrás de toda substância em movimento, a força se encontra, ela não deixa de ser senão a
projeção do pensamento, da vontade na substância. A eterna criação, a eterna renovação dos seres e das
coisas é somente a constante projeção do pensamento divino no universo.
Pouco a pouco, o véu se desfaz. O homem começa a entrever a grande evolução da vida na
superfície dos mundos. Ele vê a correlação das forças, a adaptação das formas e dos órgãos em todos os
meios. Ele sabe que a vida se desenvolve, se transforma e se depura na medida que ela percorre sua
imensa espiral. Ele entende que tudo está organizado visando um objetivo: o aperfeiçoamento contínuo
do ser e o aumento em si da soma do bem e do belo.
Mesmo aqui embaixo, ele pode seguir esta majestosa lei do progresso, através do lento trabalho
da natureza, desde as formas mais inferiores do ser, desde a célula verde flutuando no âmago das águas,
até o homem consciente, no qual se afirma a unidade da vida e, acima dele, de grau em grau, até o
infinito. Essa ascensão só se explica através da existência de um princípio universal, de uma incessante
energia, eterna, que penetra em toda natureza. É ela que regulamenta e estimula essa evolução colossal
dos seres e dos mundos em direção ao melhor e ao bem.
Deus, tal qual o concebemos não é o Deus do panteísmo oriental, que se confunde com o
universo, nem o Deus antropomórfico monarca do céu, exterior ao mundo, de que nos falam as religiões
do Ocidente. Deus é manifestado pelo universo que é a sua manifestação sensível, mas não se confunde
com ele. Assim como em nós há a unidade consciente, a alma, o eu que persiste no meio das
modificações incessantes da matéria corporal, desse modo no seio das transformações do universo e da
incessante renovação de suas partes, subsiste o Ser imutável que é a alma, a consciência, o eu que o
anima, que ele comunica o movimento e a vida.
Este grande Ser, absoluto, eterno, que conhece nossas necessidades, escuta nossos apelos, nossas
preces, que é sensível às nossas dores, é como imenso lar onde todos os seres, através da comunhão do
pensamento e do sentimento, vêm buscar forças, socorros, inspirações necessárias para guiá-los nas vias
de seus destinos, para sustentá-los nas suas lutas, consolá-los em suas misérias, reerguê-los em suas
fraquezas e em suas quedas.
***
Não procure Deus nos templos de pedra ou de mármore, Ó Homem, que deseja conhecê-lo, mas
sim no templo eterno da natureza, no espetáculo dos mundos que percorrem o infinito, nos esplendores da
vida que se expande em sua superfície, na visão de variados horizontes: planícies, vales, montanhas e
mares que te oferece a morada terrestre. Em toda parte, sob a claridade do dia ou sob o manto constelado
das noites, a beira de oceanos agitados bem como na solidão das florestas, se sabes recolher-te escutarás
as vozes da natureza e os sutis ensinos que ela murmura no ouvido daqueles que freqüentam seus retiros e
estudam seus mistérios.
A Terra singra silenciosamente no espaço. Esta massa de dez mil léguas de contorno desliza nas
ondas do éter como um pássaro no espaço, como um mosquito na luz. Nada trai sua imponente
caminhada. Nenhum ranger de rodas, nenhum murmúrio de ondas em suas entranhas. Silenciosa, ela
passa, ela gira entre suas irmãs do céu. Toda poderosa máquina do universo se agita; os milhões de sóis e
de mundos que a compõe, mundos juntos aos quais o nosso não passa de uma criança, todos se deslocam,
se entrecruzam, prosseguindo suas revoluções com espantosas velocidades, sem que nenhum som,
nenhum choque venha trair a ação desse gigantesco aparelho. O universo continua calmo, é o absoluto
equilíbrio; É a majestade de um misterioso poder, de uma inteligência que não se impõe, que se esconde
num âmago das coisas, cuja presença, porém se revela no pensamento e no coração e, tal como o abismo,
atrai o pesquisador.
Se a Terra evoluísse ruidosamente; se o mecanismo do mundo se elevasse com estrondo, os
homens apavorados se curvariam e acreditariam. Mas não! A obra formidável se realiza sem esforços.
Globos e sóis pairam no infinito, tão leves quanto plumas ao vento. À frente, sempre à frente! O giro das
esferas se realiza, guiado por uma potência invisível. A vontade que dirige o universo se esconde de todos
os olhares. Tudo é disposto de maneira que ninguém seja obrigado de nela crer. Se a ordem e harmonia
do Cosmos não são suficientes para convencer o homem ele é livre. Nada constrange o cético a ir até
Deus.
Assim é para as coisas morais. Nossas existências se desenvolvem e os eventos se sucedem sem
aparente ligação. Mas a imanente justiça sobrevoa sobre nós e regula nossos destinos, segundo um
princípio inevitável, através do qual tudo se encadeia em uma série de causas e efeitos. Seu conjunto
constitui uma harmonia que o espírito liberto de preconceitos, esclarecido por um raio de sabedoria,
descobre e admira.
Que sabemos nós do Universo? Nosso olhar só percebe uma área restrita do império das coisas.
Somente os corpos materiais, semelhantes a nós, o afetam. A matéria sutil e difusa nos escapam 26. Só

4
vemos o que há de mais grosseiro no que nos cerca. Todos os mundos fluídicos, todos os círculos onde se
agitam a vida superior, a vida radiosa, escapam aos olhares humanos. Só distinguimos os mundos pesados
e opacos que se movimentam nos céus. O espaço que os separa nos parece vazio. Em toda parte, parecem
se abrir enormes abismos. Errado, o Universo está cheio. Entre suas moradas materiais, no intervalo
desses mundos planetários, prisões ou galés flutuam no espaço, outras áreas da vida se estendem, vida
espiritual, vida gloriosa que os nossos sentidos grosseiros não podem perceber, pois sob essas radiações
eles se esfacelariam como um vidro sob o choque de uma pedra.
A sábia natureza limitou nossas percepções e sensações. Passo a passo ela nos conduz na trilha
do saber. É lentamente, etapa por etapa, vida após vida, que ela nos leva ao conhecimento do universo,
seja visível, seja oculto. O ser galga um a um os degraus da gigantesca escada que a Deus conduz. Cada
um desses degraus representa para ele uma longa série de séculos. Se os mundos celestes repentinamente
nos aparecerem sem véus, em todo seu esplendor, ficaríamos deslumbrados, cegos. Porém, nossos
sentidos exteriores foram medidos e limitados. Eles se desenvolvem e se depuram na medida em que o ser
se eleva na escala das existências e dos aperfeiçoamentos. O mesmo ocorre com o conhecimento e com a
aquisição das leis morais. O universo se revela aos nossos olhos na medida que a nossa capacidade de
entender suas leis se desenvolve e aumenta. Lenta é a incubação das almas sob a luz divina.
***
Para ti, ó potência suprema! Qualquer que seja o nome que te damos e por mais imperfeitamente
que tu sejas entendida é para ti, fonte eterna da vida, da beleza da harmonia, que ascendem nossas
aspirações, nossa confiança e nosso amor!
Onde estás? Em que céus profundos, misteriosos te escondes? Quantas almas acreditaram que
bastaria deixar a Terra para ti encontrar! Tu, porém continuas invisível no mundo espiritual e no mundo
terrestre, invisível para aqueles que não adquiriram a pureza suficiente para refletir teus divinos raios.
Tudo, porém revela e manifesta tua presença. Tudo o que na natureza e na humanidade canta e
celebra o amor, a beleza, a perfeição, tudo que vive e respira é uma mensagem de Deus. As forças
grandiosas que animam o universo proclamam a realidade da inteligência divina; ao lado delas, a
majestade de Deus se manifesta na história através da ação das grandes almas que, semelhantes a imensas
ondas, trazem paras as margens terrestres todas as potências da obra de sabedoria e de amor.
E Deus está também em cada um de nós, no templo vivo da consciência. É lá que é o lugar
sagrado o santuário onde se oculta a centelha divina.
Ó homens! Aprendam a mergulhar em si mesmos, a buscar nos recônditos mais íntimos do seu
ser interroguem-se no silêncio e no recolhimento. Assim vocês aprenderão a se conhecer, a conhecer a
potência escondida em vocês. É ela que eleva e faz brilhar no âmago de nossas consciências as santas
imagens do bem, da verdade, da justiça e é quando honramos essas imagens divinas, quando lhe
rendemos culto cada dia, que esta consciência ainda obscura se purifica e se esclarece. Pouco a pouco a
luz aumenta em nós. Assim como a aurora sucede a noite, como gradualmente, de uma maneira insensível
as sombras dão lugar à clareza do dia, assim como a alma se ilumina com as irradiações desse foco de luz
que nela está e que faz nascer o nosso pensamento em nosso coração formas sempre novas, sempre
inesgotáveis formas de verdade e de beleza. E esta luz é também uma harmonia profunda, uma voz que
canta na alma do poeta, do escritor, do profeta, que as inspira e lhes dita as obras grandes e fortes através
das quais eles trabalham a elevação da humanidade. Porém, somente eles percebem essas coisas que,
tendo comandado a matéria, se tornaram dignos dessa sublime comunhão através de esforços seculares,
aqueles cujo sentido íntimo se abriu para as impressões profundas e conhece o potente sopro que atiça a
chama do gênio, o sopro que passa sobre cabeças pensantes e faz estremecer os envoltórios humanos.

2. — Unidade Substancial do Universo

O universo é uno, apesar de ser aparentemente triplo. Espírito, força e matéria parecem ser os
modos, os três estados de uma substância imutável em seu princípio, variável infinitamente em suas
manifestações.
O universo vive e respira, animado por duas potentes correntes: a absorção e difusão. Através
dessa expansão, desse imenso sopro, Deus, o Ser dos seres, a Alma do universo, cria. Com o seu amor,
ele atrai para si mesmo. As vibrações do seu pensamento e de sua vontade, fontes primária de todas as
forças cósmicas, movimentam o universo e geram a vida.
A matéria, dizíamos, é um só modo, uma forma passageira da substância universal. Ela escapa a
analise e desaparece sob a objetiva dos microscópios, para se converter em sutis irradiações. Ela não tem
existência própria; as filosofias que a tinham por base repousavam sobre uma aparência, sob um tipo de
ilusão27.
A unidade do universo há muito negada e incompreendida, começa a ser entrevista pela ciência.
Há uns vinte anos, W. Crookes, ao longo de seus estudos sobre as materializações de Espíritos, descobrira

5
o quarto estado da matéria, o estado radiante, e essa descoberta, por suas conseqüências, iria revolucionar
todas antigas teorias tradicionais. Elas estabeleciam uma distinção entre matéria e força. Atualmente
sabemos que as duas se confundem. Sob a ação do calor, a matéria, mesmo a mais grosseira, se
transforma em fluidos, pois os fluidos se reduzem por sua vez em um elemento mais sutil que escapa a
nossa percepção. Toda matéria pode se reduzir em força, e toda força se condensa em matéria,
percorrendo assim um círculo incessante.
As experiências de Sir W. Crookes foram continuadas, confirmadas por uma legião de
pesquisadores. O mais célebre, Roentgen28, chamou raios X29as irradiações emanadas pelas ampolas de
vidro; Eles têm a propriedade de atravessar a maioria dos corpos opacos, que permitem perceber e
fotografar o invisível.
Logo após, Sr. Becquerel30 demonstrava propriedades de alguns metais em emitir obscuras
irradiações e que penetram na matéria, a mais densa, como os raios Roentgen, e impressionam as placas
fotográficas através das lâminas metálicas.
O radium31, descoberto pelo Sr. Curie32, produz calor e luz, de maneira contínua, sem se esgotar
de modo sensível. Os corpos submetidos a sua ação tornam-se radiantes. Apesar da quantidade de energia
irradiada por esse metal ser considerável a perda de substância material que a ela corresponde é quase
nula. W. Crookes calculou que cerca de cem anos seriam necessários para a dissociação de um grama de
radium33.
E bem mais. As engenhosas descobertas do Sr. G. Le Bon provaram que as irradiações são uma
propriedade genérica de todos os corpos. A matéria pode se desagregar indefinidamente; ela é energia
coagulada. Desta forma a teoria do átomo indivisível que desde dois mil anos serve de base para a física e
a química se desmorona e com ela, as clássicas distinções entre o ponderável e o imponderável 34. A
soberania da matéria, que era tida como absoluta e eterna, chegou ao fim.
É preciso reconhecer, o universo não é de forma alguma tal como ele parecia aos nossos frágeis
sentidos. O mundo físico é somente uma ínfima parte dele. Além do círculo das nossas percepções há
uma infinidade de forças e formas sutis que a ciência ignorou até hoje. O campo do invisível é bem mais
amplo e rico que o do mundo visível.
Em sua análise dos elementos que constituem o universo, a ciência tateou durante séculos, e
agora é preciso destruir o que ela com dificuldade edificou, o dogma científico da unidade irredutível e
indestrutível do átomo se esvai levando consigo todas as teorias materialistas. A existência dos fluidos
afirmada pelos espíritas há cinqüenta anos — o que lhes valeu muitas zombarias por parte dos sábios
oficiais — essa existência, a experimentação estabelece doravante de forma rigorosa.
Os seres vivos, também eles emitem radiações de natureza diferentes. Emanações humanas, que
variam de forma e de intensidade sob a ação da vontade, impregnam placas com misteriosa luz. Estes
influxos sejam nervosos ou psíquicos, conhecidos há muito tempo pelos magnetizadores espíritas, porém,
negados pela ciência, os fisiologistas constatam atualmente de forma irrecusável a realidade deles. Neste
caminho, encontramos o princípio da telepatia. As volições do pensamento, as projeções da vontade se
transmitem através do espaço, bem como as vibrações do som e as ondulações da luz e vão
impressionar(?) os organismos em simpatia com o do manifestante. As almas em afinidade de
pensamento e sentimento podem trocar seus eflúvios35, em variadas distâncias assim como os astros, que
trocam através dos abismos do espaço seus raios trêmulos. Descobrimos aí os segredo de fortes simpatias
e de invencíveis repulsões que experimentam alguns homens uns pelos outros a primeira vista.
A maioria dos problemas psicológicos: sugestão, comunicação em distância, ação e reação
ocultas, visão através dos obstáculos encontrarão aqui sua explicação. Estamos apenas na aurora do
verdadeiro conhecimento. Porém o campo de pesquisas está plenamente aberto, e a ciência vai caminhar
de conquista em conquista em uma via rica de surpresas. O mundo invisível se revela como a base do
universo, como a fonte eterna das energias físicas e vitais que animam o cosmos.
Deste modo cai, o principal argumento daqueles que negavam a possibilidade da existência dos
Espíritos. Eles não podiam conceber a vida invisível pela falta de um substratum, de uma substância que
escapa aos nossos sentidos. Ora encontramos ao mesmo tempo, no mundo dos imponderáveis, os
elementos constitutivos da vida desses seres e as forças que são necessárias para manifestar sua
existência.
Os fenômenos espíritas de toda espécie se explicam através do fato que um gasto considerável e
constante de energia pode se produzir sem desperdício aparente da matéria. Os transportes, a
desagregação e reconstituição espontâneas de objetos em quartos fechados; os casos de levitação, a
passagem dos Espíritos através de corpos sólidos, suas aparições e suas materializações, que provocaram
tanta surpresas, suscitaram tanto sarcasmos, tudo isso se torna fácil de admitir e de entender, assim que se
conhece o jogo de forças e dos elementos em ação nesses fenômenos. Essa dissociação da matéria, da
qual nos fala o Sr. G. Le Bon, e que o homem ainda é incapaz de produzir, os Espíritos possuem desde
muito as regras e as leis.

6
A aplicação dos raios X na fotografia não explica o fenômeno da dupla visão dos médiuns e o da
fotografia espírita? Com efeito, se as placas podem ser influenciadas pelos raios obscuros, através de
radiações da matéria imponderável que penetra nos corpos opacos, ??????? os fluidos quintessenciados
que compõe o envelope dos espíritos podem eles, sob certas condições, impressionar a retina dos
videntes, aparelho mais delicado e mais complexo que a placa de vidro.
É assim que o Espiritismo se fortifica a cada dia através da aquisição de argumentos retirados
das descobertas científicas e que acabarão por abalar os céticos mais endurecidos, mais radicais.
****
A grande querela secular que dividia as escolas filosóficas se reduz então a uma questão de
palavras nas experiências iniciadas por Sir W. Crookes, a matéria funde-se, o átomo se esvai; em seus
lugares aparece a energia. A substância é um Proteu36 que reveste mil formas inesperadas. Os gases, que
eram considerados como permanentes, se liquefizeram; o ar se decompõe em elementos bem mais
númerosos do que a ciência de ontem nos ensinava; a radiatividade, ou seja, a aptidão dos corpos a se
desagregarem emitindo eflúvios análogos aos raios catódicos, se revela um fato universal. Toda uma
revelação se realiza nas áreas da física e da química. Em todos os lugares ao nosso redor, vemos abrir-se
fontes de energia, imensos reservatórios de força, bem superiores em potência a tudo que se conhecia até
hoje37. A ciência caminha, pouco a pouco, em direção a grande síntese unitária, que é a lei fundamental da
natureza. Suas mais recentes descobertas têm um valor incalculável, nesse sentido pois elas demonstram
experimentalmente o grande princípio constitutivo do universo: unidade das forças, unidade das leis. O
encadeamento prodigioso das forças e dos seres precisa-se e completa-se. Constatamos que há uma
continuidade absoluta, não somente entre todos os estados da matéria, mais ainda entre esses e os
diferentes estados da força38.
A energia parece ser a substância única, universal. No estado compacto, ela reveste as aparências
que nós nomeamos matéria sólida, líquida, gasosa; de um modo mais sutil, ela constitui os fenômenos de
luz39, calor40, eletricidade, magnetismo41 e afinidade química42. Estudando a ação da vontade sobre os
eflúvios e as radiações, poderíamos talvez entrever o ponto, o ápice onde a força se torna inteligente, onde
a lei se manifesta e onde Pensamento se torna vida.
Tudo se une, se encadeia no universo. Tudo é regido pelas leis dos números, das medidas e da
harmonia. As manifestações mais elevadas da energia retêm a inteligência. A força se torna atração e
atração se torna amor. Tudo se resume num poder único e primordial, motor eterno e universal, para o
qual foram dados diversos nomes e que é somente o Pensamento, a Vontade divina. Essas vibrações
animam o infinito. Todos os seres, todos os mundos são embebidos nesse oceano das irradiações que
emanam do inesgotável lar.
Consciente de sua ignorância e de sua fraqueza, o homem continua confuso diante desta unidade
formidável que abraça todas as coisas e porta em si a vida das humanidades. Porém, ao mesmo tempo o
estudo do universo lhe abre fontes profundas de prazeres e emoções. Apesar de nossa enfermidade
intelectual, o pouco que entrevemos das leis universais nos deixam radiantes, pois na Potência ordenadora
das leis e dos mundos, pressentimos Deus, e, aí, adquirimos a certeza que o Bem, o Belo e a Harmonia
perfeita reinam acima de tudo.

3. — Solidariedade; Comunhão Universal.

Deus é o espírito da sabedoria, do amor e da vida, a potência infinita que governa o mundo. O
homem é finito, ele tem, contudo, intuição do infinito. O princípio espiritual que ele trás em si o leva a
investigar os problemas que ultrapassam os limites atuais de sua compreensão. Seu espírito prisioneiro da
carne, dela se distancia às vezes e se eleva em direção a campos superiores do pensamento, de onde lhe
vem essas altas aspirações freqüentemente seguidas por quedas na matéria. Daí resultam tantas pesquisas,
tantas tentativas e erros, a tal ponto que seria impossível distinguir a verdade no amontoado dos sistemas
e superstições que o trabalho das idades acumulou, caso as potências invisíveis não viessem trazer a luz
nesse caos.
Cada alma é uma emanação da grande alma universal, uma centelha emanada do foco eterno.
Nós nos ignoramos, e esta ignorância é a causa de nossa fraqueza e todos nossos males.
Estamos unidos a Deus através do laço estreito que liga a causa ao efeito e, somos tão
necessários a Sua existência quanto Ele a nossa. Deus, espírito universal, se manifesta na natureza, o
homem é na terra a mais alta expressão da natureza. Somos a obra e a expressão de Deus, ele é a fonte do
bem. Mas este bem só o possuímos no estado de germe, nossa incumbência nossa tarefa é de o
desenvolver. Nossas vidas sucessivas, nossa ascensão sobre a espiral infinita das existências, não tem
outro objetivo.
Tudo está escrito no fundo da alma com caracteres misteriosos: o passado, de onde emergimos e
o qual devemos aprender a sondar; o futuro, para o qual evoluímos, futuro este que edificaremos nós

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mesmos como a um monumento maravilhoso feito de pensamentos elevados, de ações nobres, de
devotamentos e de sacrifícios.
A obra a realizar por cada um de nós se resume em três palavras: saber, crer, querer; ou seja:
saber que nós possuímos em nós incalculáveis recursos; crer na eficácia de nossa ação sob os dois
mundos da matéria e do espírito; querer o bem direcionando os nossos pensamentos para o que é belo e
grandioso, adequando nossas ações com as eternas leis do trabalho, da justiça e do amor.
Provenientes de Deus, todas as almas são irmãs; todas as crianças da raça humanas estão unidas
pelos laços estreitos da fraternidade e solidariedade. Assim, os progressos de um de nós são percebidos
por todos, do mesmo modo que a queda de somente um já afeta o conjunto.
Da paternidade de Deus decorre a fraternidade humana; todos os laços que nos unem se
encaixam nesse fato. Deus, pai das almas deve ser considerado como o Ser consciente por excelência e
não como uma abstração. Mas aqueles que tem a consciência reta e são iluminados por um raio do alto,
reconhecem Deus, e o servem na humanidade que é sua filha e sua obra.
Quando o homem chegou do conhecimento de sua verdadeira natureza e de sua unidade, quando
esta noção entrou na sua razão e no seu coração, ele se elevou até a suprema verdade; ele domina do alto
as vicissitudes terrestres; ele encontrou a força que “remove montanhas,” que o torna vencedor na luta
contra as paixões, que o faz indiferente às decepções e a morte. Ele realiza o que o homem normal chama
de prodígios. Através de sua vontade e de sua fé, ele submete e governa a substância; ele quebra as
fatalidades da matéria; ele torna-se para os outros homens quase que um deus. Vários, em sua passagem
aqui embaixo alcançaram essas amplitudes de visões; somente o Cristo delas se imbuiu a ponto de ousar
dizer diante de todos: “Eu e meu Pai somos um; Ele está em Mim e eu estou Nele.”
Essas palavras, porém não se aplicam somente a ele; elas são verdadeiras para toda humanidade.
O cristo sabia que todo homem deve chegar a compreensão de sua natureza íntima, e neste sentido ele
dizia a seus discípulos: “Vos sois deuses.”43 Ele poderia ter acrescentado: Deuses em evolução!
É a ignorância de nossa própria natureza e das forças divinas latentes em nós é a idéia precária
que fazemos no nosso papel e das leis do destino que nos colocam a mercê da influencias inferiores, as
quais chamamos mal. Na verdade isso é somente falta de desenvolvimento. O estado de ignorância não é
por si só um mal, é somente uma das formas e condições necessárias para lei de evolução44. Nossa
inteligência não está amadurecida; nossa razão infantil tropeça nos acidentes do caminho, como
conseqüência o erro, as quedas, as provas, a dor. Mas todas as coisas serão um bem, se as consideramos
como meios de educação e elevação. A alma deve superá-las para atingir o conceito das verdades
superiores, a posse da parte de glória e de luz que fará dela uma eleita do céu, uma expressão perfeita da
Potência e do Amor infinitos. Cada ser possui os rudimentos de uma inteligência que alcançará a
genialidade, ele tem a imensidão dos tempos para desenvolvê-la. Cada vida terrestre é uma escola, escola
primária da eternidade.
Na lenta ascensão que leva o ser para Deus, o que nós procuramos acima de tudo, é a felicidade e
a ventura. Entretanto em seu estado de ignorância o homem não saberia atingir esses bens, pois ele os
procura quase sempre onde eles não estão e ele faz isso através de procedimentos cuja falsidade só lhe
vem aparecer após várias decepções e sofrimentos. São os sofrimentos que nos esclarecem; nossas dores
são lições austeras; elas nos ensinam que a verdadeira felicidade não está nas coisas da matéria,
passageiras e cambiantes, mas sim na perfeição moral. Nossos erros e falhas repetidas, as fatais
conseqüências as quais eles levam, acabam por nos trazer a experiência e ela nos conduz a sabedoria, ou
seja, ao conhecimento inato, a intuição da verdade. Quando chegar a esse terreno sólido, o homem sentirá
o laço que o une a Deus e caminhará com passo mais seguro, de etapa em etapa, em direção à grande luz
que jamais se apaga.
***
Todos os seres estão ligados uns aos outros e se influenciam reciprocamente. O universo inteiro
está submetido à lei da solidariedade45. Os mundos perdidos nas profundezas do éter, os astros que a
milhares de léguas de distância cruzam seus raios prateados, se conhecem se chamam e se correspondem.
Uma força que nós chamamos de atração os une através dos abismos do espaço.
Assim, sobre a escala da vida, todas as almas estão unidas por múltiplos laços. A solidariedade
que as liga é baseada na identificação de sua natureza, na igualdade de seus sofrimentos através dos
tempos, na similitude de seus destinos e seus fins.
Como os astros dos céus, todas essas almas se atraem. A matéria exerce sobre o espírito seus
misteriosos poderes. Assim como Prometeu46 sobre a sua rocha, ela o prende aos mundos obscuros. A
alma humana sente todas as atrações da vida inferior; mas igualmente percebe os chamados do alto.
Nesta laboriosa e sofrível evolução que arrasta os seres, há um falto consolador sobre o qual é
bom insistir: em todos os degraus de sua ascensão, a alma é atraída, ajudada e socorrida pelas Entidades
superiores. Todos os espíritos em caminhada são ajudados pelos seus irmãos mais adiantados e devem
ajudar por sua vez aqueles que estão abaixo deles.

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Cada individualidade forma um tipo de anel na grande corrente dos seres. A solidariedade que os
unem pode restringir um pouco a liberdade de cada um deles, porém se esta liberdade é limitada em
extensão, ela não o é em intensidade. Por mais limitada que seja a ação do anel, um único impulso pode
agitar toda a corrente.
Que coisa maravilhosa esta constante fecundação do mundo superior no mundo inferior. Dele
vêm todas as intuições geniais, as inspirações profundas, a revelações grandiosas. Em todos os tempos, o
pensamento elevado brilhou no cérebro humano. Deus, na sua eqüidade, não recusou seu socorro nem sua
luz a nenhuma raça ou povo. A todos, ele enviou guias, missionários e profetas. A verdade é uma e
eterna; ela penetra na humanidade através de raios sucessivos, na medida em que nossa compreensão
torna-se apta a assimilá-los.
Cada revelação nova é uma continuação da antiga. Este é o caráter do espiritualismo moderno,
que trás o ensinamento, um conhecimento mais completo do papel do ser humano, uma revelação de
poderes ocultos nele e também de suas íntimas relações com o pensamento superior e divino.
O homem, espírito encarnado, havia esquecido seu verdadeiro papel. Envolto na matéria, ele
perdia de vista os vastos horizontes de seu destino, desdenhava os meios de desenvolvimento de seus
recursos latentes, de se tornar mais feliz tornando-se melhor. A nova revelação vem lhe lembrar todas
essas coisas. Ela vem sacudir as almas adormecidas, estimular sua marcha, provocar sua elevação. Ela
ilumina os recônditos obscuros de nosso ser, nos fala de nossas origens e nossos fins, nos explica o
passado através do presente e nos abrem um futuro onde seremos livres para fazer muito ou pouco
segundo nossos atos.
***
A alma humana só pode realmente progredir na vida coletiva, quando trabalha em prol de todos.
Uma das conseqüências, dessa solidariedade que nos une, é que a visão do sofrimento dos outros
incomoda e altera a serenidade dos outros.
Assim, a preocupação constante dos espíritos elevados é a de levar, às regiões obscuras, às almas
atrasadas que estão nos caminhos da paixão e do erro, as irradiações do seu pensamento e dos élans do
seu amor. Nenhuma alma pode se perder; se todas sofreram, todas se salvarão. No meio de suas provas
dolorosas, a piedade e o afeto de suas irmãs os envolvem e os levam em direção, a Deus.
Como entender, com efeito, que os espíritos radiosos podem esquecer aqueles que eles amaram
em outras épocas, aqueles com quem dividiram suas alegrias, seus problemas e que ainda sofrem nas
estradas terrenas? O lamento daqueles que sofrem, daqueles a quem o destino acorrenta a mundos
retrógrados, chega até eles e suscita sua compaixão generosa, quando um desses apelos atravessa o
espaço, eles deixam as moradas etéreas para versar os tesouros de sua caridade nos sulcos dos mundos
materiais. Como as vibrações da luz, os élans de seu amor se propagam na extensão, levando consolo para
corações tristonhos, derramando sobre as feridas da humanidade o bálsamo da esperança.
Às vezes também, durante o sono, as almas terrestres atraídas por suas irmãs mais velhas
ascendem com muita energia até as alturas do espaço para impregnar-se dos fluidos vivificantes da pátria
eterna. Lá, espíritos amigos os envolvem, os encorajam, os reconfortam, acalmam suas angústias; depois
apagam pouco a pouco a luz em torno delas, para que a saudade dilacerante da separação não os destrua,
eles os reconduzem às fronteiras dos mundos inferiores. O acordar deles é melancólico, porém suave, e
ainda que esquecidas de sua jornada passageira pelas altas regiões, eles se sentem reconfortados e
continuam mais alegres as ocupações da existência aqui em embaixo.
***
Nas almas evoluídas, o sentimento de solidariedade torna-se suficientemente intenso para se
transformar em comunhão perpétua com seres e com Deus.
A alma pura comunga com toda natureza; ela se embebe dos esplendores da obra infinita. Tudo:
os astros do céu, as flores do campo, a canção do riacho, a variedade das paisagens terrestres, os
horizontes fugidios do mar, a serenidade dos espaços, tudo lhe fala com uma harmoniosa linguagem. Em
todas as coisas invisíveis a alma atenta, descobre uma manifestação do pensamento invisível que anima o
Cosmo. Para ela, ele se reveste de um aspecto impressionante. Ele torna-se o teatro da vida e da
comunhão universal, comunhão de seres uns com os outros e de todos eles com Deus, seu pai.
Não há distância para almas que se simpatizam. Assim como os mundos trocam suas irradiações,
através das profundezas estreladas, assim como as almas que se amam, se comunicam em conjunto
através do pensamento. O universo é também animado por uma vida poderosa; ele vibra como uma harpa
sob a ação divina. As irradiações do pensamento o percorrem em todos os sentidos; Elas transmitem as
mensagens de espírito a espírito através da vasta extensão. Esse universo que Deus povoou com
inteligências, afim de que elas o conhecessem, amassem e realizassem sua lei, ele o impregnou de sua
presença e o ilumina com sua luz e o esquenta com seu amor. A prece é a expressão mais elevada dessa
comunhão de almas. Considerando sob esse aspecto, ela perde toda analogia com as fórmulas banais, as
repetições monótonas tão usuais, para tornar-se assim um transporte do coração, um ato de vontade

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através do qual o espírito sai de sua servidão, (a matéria, as vulgaridades terrestres) para só assim penetrar
nas leis, nos mistérios, na potência infinita e a ela se submeter em todas as coisas: “Peça e você
receberá!” Tomada neste sentido, a prece é o ato mais importante da vida; é a aspiração ardente do ser
humano que sente sua pequenez e miséria e procura, pelo menos por um instante, colocar as vibrações de
seu pensamento em harmonia com a sinfonia eterna. É a obra da meditação que, no recolhimento e no
silêncio, eleva a alma até essas alturas celestes, nas quais ela aumenta suas forças, na qual ela se embebe
das irradiações da luz e do amor divinos. Porém quão poucos sabem orar! As religiões nos desaprenderam
a prece tornando-a um exercício ocioso às vezes ridículo.
Sob a influência do Novo Espiritualismo, a prece tornar-se-á mais nobre e digna. Ela será
realizada com mais respeito à Potência Suprema; com mais fé, mais confiança e mais sinceridade, com
um completo distanciamento das coisas materiais. Todas nossas ansiedades e incertezas acabarão, quando
tivermos entendido que a vida é uma comunhão universal, que Deus e todos seus filhos vivem juntos esta
vida. Então a prece tornar-se-á a linguagem de todos, a irradiação da alma que, em seus élans, põe em
movimento o dinamismo espiritual e divino. Seus benefícios se estenderão a todos os seres e
principalmente àqueles que sofrem, os ignorados da Terra e do espaço. Ela irá para aqueles nos quais
ninguém pensa e que se perdem na escuridão, na tristeza e no esquecimento, em face de um acusador
passado. Ela fará nascer neles novas aspirações, fortificará seus corações e seus pensamentos. Pois a ação
da prece não tem limites bem como a força e os poderes que ela opera no bem dos outros.
A prece, é bem verdade, não pode mudar as leis imutáveis; ela não poderia de modo algum
modificar nossos destinos; seu papel é de nos dar socorro e luz o que tornará mais fácil nossa tarefa na
Terra. A prece fervorosa abre todas as grandes portas da alma, através dessas aberturas os raios de força,
as irradiações do foco eterno penetram em nós nos vivificando.
Trabalhar com sentimento elevado, buscando um objetivo generoso e útil é também uma prece.
O trabalho é a prece ativa desses milhões de homens que lutam e penam na terra em proveito da
humanidade.
A vida do homem de bem é prece contínua, uma perpétua comunhão com seus semelhantes e
com Deus. Ele não tem mais necessidade de palavras nem formas exteriores para exprimir a sua fé. Ela se
expressa através de seus atos e todos seus pensamentos. Ele respira e se agita sem esforço, na atmosfera
fluídica pura, repleta de carinho pelos desafortunados, repleta de bem querer para toda humanidade. Essa
comunhão constante torna-se para ele uma necessidade, uma segunda natureza. Graças a ela os espíritos
de eleição se mantêm nas sublimes alturas de inspiração e de gênio.
Aqueles que vivem uma viva egoísta e material, cuja compreensão não se abre às influências do
alto, esses não podem saber quais impressões inefáveis nos oferece a comunhão da alma com o divino.
É ela, esta união estreita de nossas vontades com a Vontade suprema, que todos aqueles que
vendo a espécie humana cair nos abismos da decadência moral, procuram os meios de parar sua queda,
devem esforçar-se para realizá-la. Não há possível ascensão nem treinamento no bem se de vez em
quando o homem não se dirige para seu Criador e seu Pai, expondo-lhe suas fraquezas, incertezas,
misérias, lhe pedindo os socorros espirituais que são indispensáveis a sua elevação. Quanto mais essa
confissão, essa comunhão íntima com Deus se torna freqüente, sincera, profunda, mais a alma se purifica
e se corrige. Sob o olhar de Deus, ela examina, ela estabelece suas intenções, sentimentos e desejos; Ela
revê todos os seus atos e com esta intuição que lhe vem do alto, ela julga o que é bom ou ruim, o que é
preciso destruir ou cultivar. Só então ela compreende que o que vem do eu deve ser diminuído, dando
lugar à abnegação, ao altruísmo; que, no sacrifício de si mesmo, o ser encontra o mais poderoso meio de
elevação, pois mais ele se dá, mais ele engrandece. Desse sacrifício, ele faz a lei de sua vida, lei que ele
imprime no mais profundo de seu ser, com traços de luz, para que assim suas ações estejam marcadas
com a sua característica.
***
Em pé sobre a Terra, minha sustentação, minha nutrição e minha mãe, elevo meus olhares para o
infinito, sinto-me envolto em imensa comunhão da vida; os eflúvios da alma universal me impregnam
fazendo vibrar meu pensamento e meu coração; forças poderosas me sustêm, aumentando em mim a
existência. Em todos os lugares por onde minha vista se estende e, aonde minha inteligência vai, eu
decifro, eu contemplo a grande harmonia que rege os seres e, através de vias diversas, os guia em direção
a um único e sublime objetivo, em todos os lugares, vejo brilhar a Bondade, o Amor e a Justiça!
Ó meu Deus! Ó meu Pai! Fonte de toda sabedoria e de todo amor! Espírito supremo, cujo nome é
Luz, te ofereço os meus elogios e minhas aspirações! Que elas possam subir até ti como perfume das
flores, como os odores inebriantes dos bosques sobem até o céu. Ajude-me a sobrepor a via sagrada do
conhecimento, para uma compreensão mais elevada das tuas leis, para que se desenvolva em mim mais
simpatia e mais amor pela grande família humana. Pois sei que através de meu aperfeiçoamento moral,
através da realização, e aplicação ativa da caridade e da bondade em torno de mim e em proveito de
todos, me aproximarei de ti e merecerei melhor conhecer-te e assim me comunicar mais intimamente

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contigo na grande harmonia dos seres e coisas. Ajuda-me a desprender da vida material, a entender, a
sentir o que é a vida superior, a vida infinita. Dissipa a obscuridade que me envolve; depõe em minha
alma uma fagulha desse fogo divino que aquece e embrasa os espíritos da esfera celeste. Que a tua doce
luz e com ela os sentimentos de concórdia e de paz possam se espalhar sobre todos os seres!

4. — As Harmonias do Espaço

Uma das impressões que nos causa, à noite, a observação dos céus, é de um imperioso silêncio;
porém esse silêncio é apenas aparente; resultado da impotência dos nossos órgãos. Para seres mais bem
organizados, dotados de sentidos abertos aos sutis barulhos do infinito, todos os mundos vibram, cantam,
palpitam e suas vibrações casadas formam um imenso concerto.
Essa lei das grandes harmonias celestes podemos observar em nosso próprio sistema solar.
Sabe-se que ordem da sucessão dos planetas no espaço é regida por uma lei de progressão,
conhecida como a lei de Bode47. As distâncias dobram de planeta em planeta a partir do Sol. Cada grupo
de satélite obedece à mesma lei. Ora, esse modo de progressão tem um princípio e um sentido. Este
princípio se liga ao mesmo tempo às leis do número e da medida e às leis matemáticas e da harmonia48.
As distâncias planetárias são regidas segundo a ordem normal da progressão harmônica; elas
exprimem a ordem das vibrações desses planetas, e as harmonias planetárias, calculadas segundo essas
regras dão um acordo perfeito. Poderia se comparar o sistema solar a uma imensa harpa cujos planetas
representassem as cordas. Seria possível, diz Azbel, “reduzindo a progressão das distâncias planetárias
nas cordas sonoras, construir um instrumento completo e absolutamente afinado49.”
No fundo — e o que é maravilhoso — a lei que rege as relações do som, da luz, do calor é a
mesma que rege o movimento, a formação e o equilíbrio das esferas, ao mesmo tempo em que ela rege
suas distâncias. Esta lei é ao mesmo tempo a dos números, formas e idéias. É a lei da harmonia por
excelência: é o pensamento, é a ação divina vislumbrada!
A palavra humana é bem pobre, ela é insuficiente para exprimir os adoráveis mistérios da
harmonia eterna. Somente a escrita musical pode fornecer a síntese desses mistérios e comunicar sua
impressão estética. A música, língua divina, exprime o ritmo dos mundos, das linhas, das formas, dos
movimentos. É através dela que as profundezas se agitam e vibram. Ela preenche com suas ondas o
edifício colossal do universo, templo augusto onde ressoa o hino da vida infinita.
Pitágoras e Platão50 relatavam escutar a “música das esferas”, o africano, com eles ele contempla
as maravilhas celestes e o seguinte diálogo se estabelece:

“Então qual é, pergunta C. Cipião51, esta harmonia tão potente e doce que invade? — é,
responde o seu antepassado, a harmonia que formada por intervalos desiguais, porém combinados,
seguindo uma justa proporção, resulta da impulsão e do movimento das esferas e que fundindo os tons
graves e agudos e um comum acordo, fazendo de todas essas notas, são variadas, um melodioso
concerto. Tamanhos movimentos não podem realizar-se em silêncio.”

Quase todos os compositores de gênio que ilustraram a arte musical, tais como os Bach52, os
Beethoven53, os Mozart54, etc., declaram que percebiam as harmonias bem superiores a tudo, se pode
imaginar que lhes era impossível transcrevê-las. Beethoven enquanto compunha ficava fora de si,
extasiado em um tipo de êxtase, escrevia febrilmente, tentando em vão reproduzir esta música celeste que
o embevecia.
Para ser receptivo, a esse ponto, é preciso uma faculdade psíquica remarcável. Os raros humanos
que a possuem afirmam: todos aqueles que captavam o senso musical do universo encontraram a forma
superior, a ideal expressão da beleza e da harmonia eternas. As mais elevadas concepções do gênero
humano não passam de um eco longínquo, uma tênue vibração da grande sinfonia dos mundos.
A arte musical é a fonte das mais puras alegrias do espírito o segredo da vida superior, cujos
sentidos grosseiros, ainda, nos impedem de entender e de sentir sua potência e intensidade. Para aquele
que as absorve plenamente, o tempo não tem mais medida e a continuidade dos dias inúmeros parecem
ser um só. Porém, essas alegrias ainda ignoradas, a evolução nos levará a elas na medida em que nos
elevaremos na escala da existência e mundos.
Já conhecemos médiuns que percebem em estado de transe, suaves melodias. As lágrimas
abundantes que eles derramam são testemunho que suas sensações não são ilusórias.
Voltemos ao estudo do movimento das esferas e observemos que não há, até mesmo nas
exceções à regra universal da harmonia e nos desvios aparentes dos planetas, regras que não se expliquem
e não sejam temas de admiração. Elas constituem tipos de “diálogos de vibrações tão próximas que é
possível a unissom” e apresentam um charme estético a mais neste prodígio de beleza que é o universo.

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Um exemplo dos mais marcantes é o dos pequenos planetas55 ditos telescópico, que evoluem
entre Marte56 e Júpiter57, em número superior a 520. Ocupam um espaço de oitava inteira, dividido em
outros tantos graus de onde a probabilidade de que este conjunto de mundículos não constitua, como
criamos, um universo de dejetos, mas sim, o laboratório de vários mundos em formação, mundos cujo
estudo do céu nos dirá a gênese futura.
As grandes relações harmônicas que regem a situação respectiva dos planetas do nosso sistema
solar formam um total de quatro. Elas encontram sua aplicação:
Em primeiro lugar: do Sol a Mercúrio58, também, sob esse aspecto, as forças harmônicas estão
em trabalho, novos planetas se desenham;
Depois, de Mercúrio a Marte é a região dos pequenos planetas na qual se move nossa Terra, nela
ela tem um papel de dominante local com uma tendência a se distanciar do Sol para se aproximar das
harmonias planetárias superiores. Marte, componente desse grupo, e do qual distinguimos através de
telescópio, continentes, mares, canais gigantescos e todo um aparelho de uma civilização anterior a nossa.
Marte apesar de menor é mais equilibrado que a nossa Terra.
Os quinhentos planetas telescópicos constituem em seguida um intervalo de transição. Eles
formam como um colar de pérolas celestes, ligando o grupo dos planetas inferiores à cadeia imponente
dos grandes planetas, de Júpiter a Netuno59 e para o além. Esta cadeia forma a quarta relação harmônica
das notas decrescentes até o volume das esferas gigantes que a compõe. Neste grupo, Júpiter tem o papel
dominante —dois modos, maior e menor se combinam nele.
“Como na inversão harmônica do som, diz Azbel 60, é através de uma progressão constante que o
grupo antigo de Netuno a Júpiter afirma a formação de seus volumes. O caos de corpúsculos telescópicos,
que segue parou abruptamente esta progressão. Júpiter ficou lá, como um segundo Sol, no limiar dos dois
sistemas. Dos papéis de oitava e segunda dominante, ele passou ao de tônica secundária e relativa, para
exprimir o caráter do papel especial, evidentemente menor e relativo, em relação ao do Sol, que ele iria
preencher enquanto jovens formações se dispusessem além, o distanciando pouco a pouco, a ele e aos
mundos que ele tinha doravante em tutela, do astro do qual ele é o filho mais robusto.”
Ele é robusto, realmente, e bem imponente na sua caminhada, o colossal Júpiter, que eu gosto de
contemplar na calmaria das noites de verão, 1200 vezes maior que o nosso globo, escoltado por cinco
satélites, dentre eles Ganimedes61, tem o volume de um planeta. De pé sobre o mapa de sua órbita, de
maneira a aproveitar de uma igualdade perpétua de temperatura sob todas as latitudes, com dias e noites
com duração sempre uniformes ele é, além disso, composto de elementos de uma densidade quatro vezes
menor que os de nossa massiva residência, o que nos permite entrever para os seres que moram ou
morarão em Júpiter, facilidade de deslocamento, e possibilidade de vida aérea, que devem fazer dele uma
estada privilegiada. Que teatro magnífico da vida! Que cena de encantamento e de sonho é este gigante
astro!
Mais estranho e mais maravilhoso ainda é Saturno62, cujo aspecto é tão impressionante ao
telescópio, Saturno igual a oitocentos globos terrestres empilhados, com seu imenso diadema em forma
de anel e seus oito satélites, dentre os quais Titã63 se iguala em dimensão até mesmo a Marte.
Saturno, com rico cortejo que o acompanha na sua lenta revolução através do espaço, se constitui
ele sozinho, em um verdadeiro universo, imagem reduzida. É um mundo de trabalho e de pensamento, de
ciência e de arte, no qual as manifestações da inteligência e da vida se desenvolvem sob formas de uma
variedade e riqueza inimagináveis. Sua estética é sábia e complicada; o senso de belo nele se tornou mais
sutil e mais profundo através dos movimentos alternados, dos eclipses de satélites e de anéis, de todos os
jogos de sombra, luz, cor, nos quais as nuances se fundem em graduações desconhecidas aos olhos dos
terrestres e também através de harmoniosos acordes, tão emocionantes em suas conclusões analógicas
com aqueles do universo solar completo!
Vêm em seguida, nas fronteiras do império do Sol, Urano64 e Netuno, misteriosos e magníficos
planetas, cujo volume é igual a quase uma centena de globos terrestres reunidos, a nota harmônica de
Netuno seria: “o culminante acordo geral, o ápice do acordo maior de todo sistema.” Logo após, são
outros planetas longínquos, sentinelas perdidas de nosso agrupamento terrestre, são ainda desapercebidas,
porém pressentidas e até mesmo calculadas, segundo as influências que elas exercem sobre os confins do
nosso sistema longa cadeia que nos unem às outras famílias de mundos.
Um pouco além, se descortina o imenso oceano estrelar, abismo de luz e harmonia cujas
melodiosas ondas a tudo envolve e ninam nosso universo solar. Este universo tão vasto para nós, tão
frágil em relação ao além. É a região do desconhecido, do misterioso, que atrai sem cessar nosso
pensamento, o qual é impotente para mensurá-la, para defini-la, com milhões de sóis de todas as
grandezas, potências, seus astros duplos, múltiplos, coloridos, assustadores focos que iluminam as
profundezas, jorrando jatos de luz, de calor, de energia e que formidáveis velocidades levam na
imensidão, com seus cortejos de mundos, terras de céus invisíveis, porém supostos e, as famílias humanas
que neles habitam, os povos e as cidades, as civilizações grandiosas dos quais elas são o teatro.

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Em toda parte as maravilhas sucedem a outras maravilhas: grupos de sóis animados por
colorações diferentes, arquipélagos de astros, cometas desgrenhados, errando na noite de seu afélio, focos
agonizantes que se iluminam novamente e inesperadamente e flamejam no fundo do abismo, pálidas
nebulosas com formas fantásticas, fantasmas luminosos, cujas irradiações, nos diz Herschel65, levam dois
milhões de anos para chegar até nós, formidáveis gêneses do universo, berços e tumbas da vida universal,
voz do passado, promessa do futuro, esplendores do infinito!
E todos esses mundos unem suas vibrações em uma possante melodia. A alma liberta dos laços
terrestres e que alcança essas alturas ouve a voz profunda dos eternos céus!
***
Em seu conjunto, as relações harmônicas que regem as distâncias planetárias, representam
exatamente, como estabelecera Azbel66, a extensão de nosso teclado sonoro. As relações de oitava, ou
potências harmônicas são idênticas àquelas das distâncias e à lei dos movimentos. Nosso sistema solar
representa um tipo de edifício de oito andares, quer dizer, oito oitavas, como uma escala formada por
trezentos e vinte graus, ou ondas harmônicas, sobre a qual os planetas estão localizados, ocupando
“andares indicados pela harmonia de um acorde múltiplo perfeito”.
As dissonâncias são apenas aparentes ou passageiras. O acorde se encontra na base de tudo. As
regras de nossa harmonia musical parecem ser somente uma conseqüência, uma imperfeita aplicação da
lei da soberana harmonia que preside a caminhada dos mundos. Nós podemos então logicamente acreditar
que a melodia das esferas estaria inteligível para nosso espírito, caso nossos sentidos pudessem perceber
as ondas sonoras que povoam o espaço67.
A regra geral, por ser absoluta não é, entretanto estreita e rígida. Em alguns casos, como o de
Netuno, a harmonia relativa parece distanciada do princípio, nunca, entretanto de modo a sair dele. O
estudo dos movimentos planetários nos fornece sobre isso a demonstração evidente.
Nesta ordem de estudo, mais que em outros, vemos se manifestar em sua imponente grandeza, a
lei do Belo e Perfeito que regem o universo. Mal nossa atenção se volta para imensidões siderais que
imediatamente a sensação de estética torna-se intensa. Esta sensação vai aumentar ainda e elevar-se à
medida que se precisam as regras da harmonia universal, à medida que se retira para nós o véu que
ocultava os esplendores celestes.
Em toda parte encontraremos esta concordância que encanta e comove. Neste campo, nenhuma
destas discordâncias, dessas decepções, tão freqüentes no âmago da humanidade. Em toda parte se
desenvolve esta potência da beleza que leva ao infinito suas combinações, abraçando, em uma mesma
unidade, todas as leis em todos os sentidos: aritmética, geometria, estética68.
O universo é um poema sublime do qual nós mal começamos a soletrar o primeiro canto. Dele
percebemos apenas algumas notas, alguns murmúrios longínquos e enfraquecidos, imediatamente essas
primeiras letras do maravilhoso alfabeto musical nos enchem de entusiasmo. O que acontecerá quando
nos tornarmos mais dignos de interpretar a linguagem divina, quando compreenderemos e perceberemos
as grandes harmonias do espaço, o acorde infinito na infinita variedade, o cântico cantado por esses
milhões de astros que, na prodigiosa diversidade de seus volumes e movimentos, organizam suas
vibrações para uma sinfonia eterna?
Porém, perguntaremos o que diz essa música celeste, essa voz dos céus profundos.
Essa linguagem ritmada é o Verbo por excelência, aquele pelo qual todos os mundos e seres
superiores se comunicam entre si, se chamam através das distâncias; através dela, nós nos comunicaremos
um dia com outras famílias humanas que povoam o espaço estrelado.
É no princípio mesmo das vibrações que servem para traduzir o pensamento, a telegrafia
universal, veículo da idéia em todas as regiões do universo, através do qual as almas elevadas procedem a
câmbios perpétuos, a efusões da ciência, da sabedoria e do amor, comunicando de um astro a outro suas
obras comuns, do objetivo até o seu alcance, dos progressos até sua realização.
É ainda o hino que os mundos cantam para Deus, ao mesmo tempo canto de alegria, adoração,
lamento, prece, é a grande voz das esferas, a suprema harmonia dos seres e das coisas, o grito de amor
que se eleva eternamente em direção à Inteligência organizadora dos universos.
Quando então nós saberemos separar os pensamentos das banalidades quotidianas e os elevar
para esses cumes? Quando nós saberemos penetrar nesses mistérios do céu e entender que cada
descoberta realizada, cada conquista contínua nesta via de luz e de beleza, contribuem para enobrecer
nosso espírito, para engrandecer nossa vida moral e nos dar alegrias superiores a todas aquelas da
matéria?
Quando então compreenderemos que é aí nesse universo esplêndido que o nosso próprio destino
se desenvolve, e que estudá-lo é estudar o meio mesmo onde nós fomos chamados para reviver, para
evoluir sem cessar, nos impregnando cada vez mais com as harmonias que o preenchem? Que em tudo, a
vida se desabrocha em florações da alma? Que o espaço é povoado por sociedades inúmeras as quais o ser
humano está ligado através de leis de sua natureza e de seu futuro?

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Ah! Como eles são criaturas a lamentar todas aquelas que viram os seus olhos para não ver esses
espetáculos e seus espíritos para não ver esses problemas! Pois não há estudo mais impressionante, mais
comovente, nem revelação elevada de ciência e de arte, nem lição mais sublime.
Não, o segredo de nossa felicidade, nossa força, nosso futuro, não se encontra nas coisas
passageiras deste mundo, ele está nos ensinamentos do alto e do além. E os educadores das humanidades
são bem conscientes ou bem culpados, pois não sonham em elevar as almas para os ápices onde
resplandece a luz verdadeira.
Se a dúvida e a incerteza nos envolvem, se a vida nos parece pesada, se nós tateamos na noite
buscando um objetivo, se o pessimismo e a tristeza nos invadem, só devemos acusar a nós mesmo, pois o
grande livro infinito aqui está, aberto sob nossos olhos, com suas magníficas páginas no qual cada palavra
é grupo de astros, cada letra um Sol, o grande livro com o qual devemos aprender a ler o sublime
ensinamento. A verdade nele está escrita em letras de ouro e de luz, ela chama, solicita o nosso olhar.
Verdade — realidade mais bonita que todas as lendas e ficções.
É ela que nos fala sobre a vida indestrutível da alma, suas vidas renascentes na espiral dos
mundos, as inúmeras etapas na radiosa rota, a eterna busca do bem na infinita duração, na escalada dos
céus visando a conquista da plena consciência, a alegria de sempre viver, para sempre amar, sempre se
elevando, sempre adquirindo novas forças, virtudes mais elevadas e percepções mais amplas. E acima de
tudo a visão, a compreensão, a posse da eterna Beleza, a felicidade de penetrar nessas leis, de se associar
mais intimamente à obra divina e à evolução das humanidades.
Através desses magníficos estudos, a idéia de Deus se desprende mais majestosa e serena. A
consciência das harmonias celestes é como grandioso pedestal no qual se ergue augusta figura, Beleza
soberana, cujo brilho demasiado brilhante para nossos frágeis olhos continua ainda velado, mas brilha
levemente através da escuridão que o envolve.
Idéia de Deus, centro inefável para onde convergem e se fundam em uma síntese sem limites
todas as ciências, artes, verdades superiores, tu és a primeira e a última palavra das coisas presentes ou
passadas, próximas ou longínquas. Tu és a Lei, a causa única de todas as causas, a união absoluta,
fundamental, do Bem e do Belo, que buscam o pensamento que exige a consciência e no qual a alma
humana encontra sua razão de ser e a fonte inesgotável de suas forças, de suas luzes, suas inspirações!

5. — Necessidade da Idéia de Deus.

Nos capítulos precedentes, demonstramos a necessidade da idéia de Deus. Ela se confirma e se


impõe além e acima de todos os sistemas, filosofias e crenças. Também é livre de todo liame com
qualquer religião que nós façamos nesse estudo, na independência absoluta de nosso pensamento e
consciência. Pois, Deus é maior que todas as teorias e todos os sistemas. Eis porque ele não poderia ser
nem atingido nem diminuído pelos erros e falhas que os homens cometeram em seu nome. Deus plana
acima de tudo.
Deus está acima de todas as denominações, e se o chamamos Deus, é por falta de um nome
maior, como disse Victor Hugo69.
A questão de Deus é o maior dos problemas existente em nossas cabeças e cuja solução se liga
estreitamente imperiosamente ao problema do ser humano e seu destino, ao problema da vida individual e
da vida social.
Conhecimento da verdade sobre Deus, sobre o mundo e a vida é o que há de essencial, de
necessário, pois é ele que nos sustenta, inspira e dirige, mesmo sem o queremos. Essa verdade não é
inacessível, como veremos. Ela é simples e clara e está ao alcance de todos. Basta procurá-la sem
preconceitos, sem tomada de partido, com a ajuda da consciência e da razão.
Não lembraremos aqui as teorias, os inúmeros sistemas que religiões e escolas filosóficas
organizaram através dos séculos. Pouco nos importa as brigas, as cólera, às agitações vãs do passado
atualmente.
Para elucidar um tal assunto, temos atualmente recursos maiores que os do pensamento humano;
temos o ensino daqueles que deixaram a Terra, a apreciação das almas que tendo ultrapassado o túmulo
nos fazem ouvir, do seio do mundo invisível, suas opiniões, seus chamados e suas exortações.
É verdade que todos os Espíritos não estão igualmente aptos a tratar essas questões. Os espíritos
de além túmulo são como os homens. Nem todos estão igualmente desenvolvidos. Nem todos atingiram o
mesmo grau de evolução. Daí vêm as contradições, as diferenças de visão. Porém, acima da multidão de
espíritos obscuros, ignorantes, atrasados, há Espíritos eminentes que descem das altas esferas para
esclarecer e guiar a humanidade.
Ora o que dizem esses Espíritos sob a questão de Deus?
A existência da potência suprema é confirmada por todos os espíritos elevados. Aqueles dentre
nós que estudaram o Espiritismo filosófico sabem que todos os grandes Espíritos, todos aqueles cujos

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ensinos confortaram nossas almas, diminuíram nossas misérias, sustentaram nossas fraquezas são
unânimes em afirmar, em proclamar, em reconhecer a alta Inteligência que governa os seres e os mundos.
Dizem eles que esta Inteligência se revela mais brilhante mais sublime a medida que subimos os graus da
vida espiritual.
O mesmo acontece com escritores e filósofos espíritas, desde Kardec até nossos dias. Todos
confirmam a existência de uma causa eterna no universo.
“Não há efeito sem causa, disse Kardec, e para todo efeito inteligente há, forçosamente, uma
causa inteligente.” Eis o princípio no qual repousa o Espiritismo totalmente. Este princípio quando o
aplicamos nas manifestações do além demonstra a existência dos Espíritos. Aplicado no estudo do mundo
e das leis universais, ele demonstra a existência de uma causa inteligente no universo. É por isso que a
existência de Deus constitui um dos pontos essenciais do ensino espírita. Acrescento que ele é inseparável
do resto desse ensino, pois neste último, tudo se liga, se coordena, e encadeia. Que não nos falem em
dogmas! O Espiritismo não os comporta. Ele nada impõe; ele ensina. Todo ensinamento tem seus
princípios. A idéia de Deus é um dos princípios fundamentais do Espiritismo.
Nos dizem às vezes: Por que se preocupar com essa questão de Deus? A Existência de Deus não
pode ser provada! Ou ainda: a existência de Deus ou sua não existência não tem influência sobre a vida
das massas, sobre a vida da humanidade. Ocupemo-nos de algo mais prático; não percamos nosso tempo
com dissertações vãs e discussões metafísicas.
Então! Sem querer desagradar aqueles que sustentam tal discurso, repetirei que a questão de
Deus é a questão suprema, vital por excelência; responderei que o homem não pode dela se desinteressar,
por que o homem é um ser. O homem vive e lhe é importante saber qual é a fonte, a causa e a lei da vida.
A opinião que ele faz da causa, da lei do universo, esta opinião, o queira ou não, que ele o saiba ou não,
ela se reflete em seus atos em sua vida pública ou privada.
Qualquer que seja a ignorância do homem a respeito das leis superiores, na realidade, é segundo
a idéia que ele se faz dessas leis, tão vaga e confusa que ela possa ser, é segundo ela que ele age. Esta
opinião sobre Eus, sobre o mundo e a vida — observe que esses três temas são inseparáveis — essa
opinião, as sociedades humanas dela vivem ou dela morrem!
Ela que divide a humanidade em dois campos. Vê-se em toda parte famílias em desacordo, em
desunião intelectual, porque há vários sistemas sobre Deus: o padre inculcou um deles a mulher; o
professor ensinou outro ao homem, quando ele não lhe sugeriu a idéia do nada.
Essas disputas e contradições, aliás, se explicam. Elas têm a sua razão de ser. É preciso lembra-
se de que nem todas as inteligências alcançaram o mesmo ponto de evolução, que nem todas podem ver e
compreender da mesma maneira e em todos os sentidos. Daí haver tantas opiniões e crenças diversas. A
possibilidade que temos de compreender, julgar e discernir só se desenvolve em nós lentamente, de
século em século, de existência em existência. Nosso conhecimento e compreensão das coisas se
completam e se esclarecem na medida em que nos elevamos, na imensa escala dos renascimentos. Todo
mundo sabe: aquele que está ao pé de uma montanha não pode ver o que contempla aquele que alcançou
o seu pico. Porém, prosseguindo suas ascensão, um chegará a ver as mesmas coisas que o outro. O
mesmo ocorre com o Espírito em sua ascensão gradual. O universo só revela para ele pouco apouco, na
medida que sua capacidade de compreender as leis dele se desenvolve e aumenta.
Daí vêm os sistemas, as escolas filosóficas e religiosas que respondem aos diversos graus de
progresso dos espíritos que nela estão classificados e freqüentemente nelas se confinam.

6. — As Leis Universais.

Vamos repetir, todos os trabalhos científicos realizados há meio século nos demonstram a
existência e a ação das leis naturais. Essas leis estão religadas através de uma lei superior que as abraça
todas, as regulariza e as levam à unidade, ordem e harmonia. É através dessas leis, sábias e profundas,
ordenadoras e organizadoras do universo que A Inteligência suprema se revela.
Alguns sábios se opõem é bem verdade, que as leis universais são cegas. Mas como leis cegas
poderiam dirigir a marcha dos mundos no espaço, regular todos os fenômenos, todas as manifestações da
vida e tudo isso com uma precisão admirável? Se as leis são cegas diremos, evidentemente elas devem
agir ao acaso. Porém o acaso é a falta de direção, a ausência de toda inteligência que age. Ele é
inconcebível com a noção de ordem e harmonia. A idéia da lei nos parece então inseparável da idéia da
inteligência. A lei é a manifestação de uma inteligência, porque ela é obra de um pensamento. Sozinha,
ela pode dispor, administrar, todas as coisas no universo. E o pensamento não pode produzir-se sem a
existência de um ser que o gera.
Não há lei possível fora e sem o concurso da inteligência, da vontade que a dirige. Caso contrário
a lei seria cega, como dizem os materialistas, porém então ela iria ao acaso, a deriva. Seria exatamente

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como um homem que gostaria de seguir uma rota sem o socorro da vista e que cairia num fosso, findo
alguns passos. Assim nos é permitido afirmar que uma lei que seria cega não mais seria uma lei.
Acabamos de ver que as pesquisas da ciência demonstram a existência das leis universais.
Todos os dias, a ciência progride, freqüentemente sem se dar conta, é verdade, mas, porém ela caminha,
passo a passo, em direção a grande unidade que entrevemos no fundo das coisas.
Não há mesmo entre positivistas e materialistas que não sejam levados por esse movimento de
idéias. Eles para ele caminham sem se dar conta, em direção deste grandioso conceito que reagrupa todas
as forças, todas leis do universo. Com efeito, poderia se estabelecer que Auguste Comte70, Littré71, Dr.
Robinet72, todas escolas positivistas se entregam, sobre essas questões, as mais flagrantes contradições.
Eles rejeitam a idéia do absoluto, a de uma causa geradora e proclamam e até mesmo provam que “a
matéria é somente a manifestação sensível de um princípio universal.” Segundo eles, “toda ciência se
sobrepõe e acabam se reunindo em uma generalidade suprema que carimba sua unidade.” Segundo
Burnouf73, “a ciência está preste a alcançar uma teoria, cuja fórmula geral constataria a unidade da
substância, a invariabilidade da vida e sua união indissolúvel com o pensamento.”
Ora, o que é então essa trilogia da substância da vida e do pensamento, esta “generalidade
suprema, esta lei universal, este princípio único,” que presidem a todos os fenômenos da natureza, a todas
as metamorfoses, a todos os atos da vida, a todas as inspirações do espírito? O que é então este centro no
qual se resume e se confunde todo o que é, o que vive e o que pensa? O que é senão o absoluto, senão
Deus ele mesmo!
É verdade que se teima em recusar a inteligência e a consciência deste absoluto, desta causa
suprema, porém ficará sempre para se explicar como uma causa sem inteligência, cega, inconsciente pode
produzir todas as magnificências do Cosmo, todos os esplendores da inteligência, da luz e da vida sem
saber o que ela fazia. Como, sem consciência nem vontade, sem reflexão nem julgamento, pode produzi-
la, seres que refletiam, desejavam, julgavam e que são dotados de consciência e razão? Tudo vem de
Deus e para ele vai. Um fluido mais sutil que o éter emana do pensamento criador. Este fluido
demasiadamente quintessenciado para ser captado pela nossa compreensão, após sucessivas combinações
tornou-se o éter. Do éter saíram todas as formas graduadas da matéria e da vida. Alcançando o último
ponto da descida, a substância e a vida voltam a imenso ciclo das evoluções.
Já vimos, a ordem e a majestade do universo não se revelam somente no movimento dos astros,
na marcha dos mundos; Eles se revelam também de uma forma imponente na evolução e
desenvolvimento da vida na superfície desses mundos. Atualmente, pode-se estabelecer que a vida se
desenvolva, se transforme e se depura seguindo um plano pré-concebido; ela se aperfeiçoa na medida em
que percorre sua imensa rota. Começamos a entender que tudo é regulado visando um objetivo, que é o
progresso do ser que é a evolução contínua e a realização nele de formas sempre mais perfeitas em
beleza, em sabedoria e em moralidade.
Podemos notar ao nosso redor essa imperiosa lei do progresso através do lento trabalho da
natureza: desde as formas as mais inferiores, desde as infinitamente pequenas, os infusórios flutuando nas
águas se elevando de grau em grau na escala das espécies até o homem. O instinto torna-se sensibilidade,
inteligência, consciência, razão. Sabemos também que esta ascensão não para aí. Graças ao ensino do
Além, aprendemos que ela prossegue através dos mundos invisíveis, sob formas cada vez mais sutis; ela
continua de potência em potência, de glórias em glórias, até o infinito, até Deus. E esta grandiosa
ascensão da vida só se explica através de existência de uma vontade, de uma causa inteligente, de uma
energia incessante, que penetra e envolve toda a natureza: é ela que regula e estimula essa evolução
colossal da vida em direção ao Bem, o Belo, o Perfeito!
O mesmo ocorre no campo moral. Nossas existências se sucedem e se desenvolvem através dos
séculos. Os acontecimentos se seguem sem que vejamos o elo que os une. Porém a imanente justiça plana
sobre todas as coisas. Ela estabelece nossa condição segundo uma lei, segundo um infalível princípio.
Pensamentos, palavras, ações, tudo se encadeia, tudo se religa por uma série de causas e de efeitos que
são como a trama de nossos destinos74.
Insistimos em um ponto: foi graças a revelação dos Espíritos que a Lei de justiça nos apareceu
com seu caráter imponente, com suas amplas conseqüências e encadeamento prodigioso das coisas que
ela rege e domina.
***
Quando se estuda o problema da vida futura, quando se examina a situação do espírito após a
morte — esse é o tema capital das pesquisas psíquicas — nos vemos em presença de um fato
considerável, repleto de conseqüências morais. Constata-se um estado de coisas regido por uma lei de
equilíbrio e harmonia.
Assim que a alma ultrapassa a morte, ao despertar no mundo dos Espíritos, o quadro de suas
vidas passadas se desenvolve passo a passo em sua visão. Há nela como que um espelho que reflete
fielmente todos os atos realizados, para acusá-la ou glorificá-la. Sem distração nem fuga possíveis. O

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espírito é obrigado a contemplar-se a si mesmo, primeiro para se reconhecer ou para sofrer, e, mais tarde,
para se preparar para uma outra vida de progresso ou de reparação. De onde, para a maioria, o remorso, a
vergonha e o sofrimento!
Os ensinos do Além nos explicam que nada se perde, nem o bem nem o mau, que porém, tudo
está inscrito, se conserta, se resgata através de outras existências terrestres, difíceis e dolorosas.
Aprendemos igualmente que nenhum esforço é perdido e que nenhum sofrimento é inútil. O
dever não é uma vã palavra, e o Bem reina sem divisão acima de tudo. Cada um de nós constrói dia a dia,
hora a hora, freqüentemente sem o saber, seu próprio futuro. A condição que suportamos na atual vida foi
preparada por nossos atos anteriores, de igual forma nos edificamos no presente, as condições de nossa
vindoura existência. De onde, para o sábio a resignação ao que há de inevitável na vida atual de onde
também um possante estímulo para agir, devotar-se, preparar-se um melhor destino.
Aqueles que o sabem não temerão quando pensarem no que aguarda a atual sociedade, cujos
pensamentos, tendências e atos são demasiadamente inspirados pelo egoísmo ou por más paixões, a
sociedade atual que acumula acima dela fluídicas nuvens sombrias que possuem a tempestade em seu
seio?
Como não estaríamos amedrontados diante de tantas fraquezas morais, tantas corrupções que se
apresentam, apavorados, quando constatamos que o sentimento do bem tão pouco lugar ocupa em
algumas consciências, apavoradas enfim em reencontrar, no fundo de tantas almas humanas, o
enfraquecimento, a desmoralização, a falta de coragem e a desgosto pela vida?
E se nós sentimos isso, como hesitaríamos em afirmar diante de todos, a mostrar a todos esta lei
de justiça que os ensinos do Além nos mostram tão grande, imponente, esta lei que se executa por si
mesma, sem tribunal nem julgamento, que contudo, dela não escapa nenhum de nossos atos, lei que nos
revela uma diretriz inteligente do mundo moral, lei viva razão consciente do universo, fonte de toda vida,
de toda luz, de toda perfeição!
Eis o que é Deus. Quando essa idéia de Deus tiver penetrado no ensino em todos os espíritos e
consciências, compreenderemos que o princípio de justiça não é outra coisa que o admirável instrumento
através do qual a Causa suprema encaminha tudo à ordem e à harmonia, sentiremos que a idéia de Deus é
indispensável às sociedades modernas, que se enfraquecem e se perdem moralmente, pois não
compreendendo mais Deus, elas não podem regenerar-se. Então, todos os pensamentos, todas
consciências se voltarão para esse foco moral, essa fonte de eterna justiça que é Deus e veremos mudar a
face do mundo!
A justiça não é somente de origem social, como a revolução de 8975 tentou estabelecer. Ela vem
de mais alto; ela é de origem divina. Se os homens são iguais diante da lei humana, é porque são iguais
diante da lei eterna.
É assim porque somos todos originados de uma mesma fonte de inteligência e consciência,
porque somos todos irmãos, solidários uns com os outros, unidos em nossos destinos imortais. Pois a
solidariedade e a fraternidade dos seres só serão possíveis quando eles se sentirem unidos ao mesmo
centro comum. Somos as crianças de um mesmo Pai, pois a alma humana é uma emanação da alma
divina, uma centelha de pensamento universal.
Tudo, o visível e o invisível nos falam de Deus. A Inteligência o discerne, a razão e a
Consciência o proclamam.
Porém o homem não é somente razão e consciência, ele também é Amor. O que caracteriza o ser
humano, acima de tudo, é o sentimento, o coração. O sentimento é um privilégio da alma, é através dele
que ela se une ao que é bom, belo e grandioso, a tudo que merece sua confiança e pode ser sua base na
dúvida, sua consolação na dificuldade. Ora, todos essas formas de sentir e conceber nos revelam
igualmente Deus, pois a bondade, a beleza, a verdade só se encontram no ser humano ainda em estado
parcial, limitado, incompleto. A Bondade, a Beleza e a Verdade, só podem existir se reencontrarem seu
princípio, sua plenitude, sua fonte em um ser que as possui em um estado superior, em estado infinito.
A idéia de Deus se impõe a nós através de todas as faculdades de nosso espírito, ao mesmo
tempo em que fala aos nossos olhos através das maravilhas do universo. A inteligência suprema se revela
como a causa eterna na qual todos os seres vêm buscar a força, a luz e a vida. Este é o Espírito divino, o
espírito potente que se honra, sob tantos nomes distintos, mas que sob apelações diversas é sempre o
centro, a lei viva, a razão pela qual seres imundos sentem que vivem a razão pela qual eles se conhecem,
se renovam e se depuram.
Deus nos fala através das vozes do infinito. Ele nos fala, não por uma bíblia escrita ha séculos,
mas por uma bíblia que se escreve todos os dias, com suas letras majestosas que se chamam o oceano, os
mares, as montanhas, os astros do céu, por todas as doces e graves harmonias que se elevam do seio da
terra ou descem dos espaços etéreos. Ele nos fala ainda no santuário de nosso ser, nas horas de silêncio e
meditação. Quando os barulhos discordantes da vida material se calam, então a voz interior, a grande voz
desperta, se faz escutar. Esta voz sai das profundezas da consciência e nos fala de dever, progresso e

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ascensão. Há em nós um refúgio, como uma fonte profunda da qual pode jorrar jatos de vida, de amor, de
virtude e de luz. Nela se manifesta este reflexo, germe divino oculto em toda alma humana.
Por essa razão é que a alma humana é o mais belo testemunho que se mostra em favor da
existência de Deus: ela é uma irradiação da alma divina. Ela contém em estado embrionário todas as
potências e o seu papel, seu destino, consiste em pô-los em valorização ao longo de suas existência
inúmeras em suas transmigrações através dos tempos e dos mundos.
O ser humano, dotado de razão, é responsável, ele é suscetível de se conhecer e tem o dever de
se governar a si mesmo. Como disse João o evangelista: “a razão humana é esta a verdadeira luz que
ilumina todo homem vindo neste mundo” (João, I:9). A razão humana, já dissemos, é um brilho da razão
divina. Voltando até a sua origem, comunicando com a Razão absoluta, eterna, ela descobre a verdade,
compreende a lei e ordem universais. Assim digo a todos: ó homens, filhos da luz, ó meus irmãos!
Lembremo-nos nossa origem, lembremo-nos do objetivo durante a viagem da vida! Esqueçamos as coisas
que passam, pensemos nas coisas que ficam!
Não há dois princípios no mundo: o Bem e o Mal. O mal é somente o efeito de contraste, é o
que a noite é para o dia. Ele não tem existência própria. O mal é o estado de inferioridade e ignorância do
ser em via de evolução. Os primeiros degraus da imensa escada representam o que se chama o mal, porém
à medida que o ser se eleva, ele realiza o bem nele em torno de si. Por outro lado, o mal se atenua e se
esvai. O mal, já se disse, só é a ausência do bem. Se ele parece dominar ainda nosso planeta, é porque este
é um dos primeiros elos da cadeia, uma estada para almas elementares que começa na rude caminhada do
conhecimento, ou ainda almas culpadas em via de reparação. Nos mundos mais adiantados, o bem se
desenvolve e, de degrau em degrau, acaba reinando sem divisões.
O Bem por si mesmo é sem definição. Defini-lo seria diminuí-lo. É preciso considerá-lo não em
sua natureza, mas sim em suas manifestações.
Acima das fragrâncias, das formas e idéias, plaina o princípio de Belo e do Bem, último termo
que somos capazes de atingir através do pensamento, sem, contudo entendê-lo por completo. Há na nossa
enfermidade a dificuldade em captar a realidade última das coisas a sensibilidade, a inteligência e o
conhecimento entretanto, são para nós pontos de apoio, que permitem a alma os desprendimentos do seu
estado de inferioridade e incerteza e de se convencer que tudo no universo, as forças e os seres, tudo é
regido pelo bem e pelo belo. A ordem e a majestade do mundo, ordem física e ordem moral, justiça,
liberdade, moralidade, tudo repousa baseado em leis eternas, não há leis eternas sem um Princípio
superior sem uma Razão primeira, causa de toda a lei. Desta forma nem o ser humano, nem a sociedade
podem elevar-se e progredir sem a idéia de Deus, ou seja, sem justiça sem liberdade sem respeito por si
mesmo e sem amor, pois Deus que representa a perfeição é a última palavra, a suprema garantia de tudo o
que constitui a beleza, a grandeza da vida, de tudo o que faz a potência e harmonia do universo.

7. — A Idéia de Deus e a Experimentação Psíquica.

Até aqui em nosso estudo sobre a questão de Deus, mantivemo-nos no campo dos princípios.
Nesta área, a idéia de Deus nos aparece como a chave da abóbada da doutrina espiritualista. Vejamos
agora se ela não tem importância igual no campo dos fatos, da ordem experimental76.
A primeira vista pode parecer estranho escurar-se dizer que a idéia de Deus teria um papel
importante no estudo experimental, na observação dos fatos espíritas.
Observemos primeiro que há uma tendência por parte de certos grupos, a dar ao Espiritismo um
caráter principalmente experimental, a ligar-se exclusivamente ao estudo dos fenômenos e a negligenciar
o que tem um caráter filosófico, tendência a rejeitar tudo o que possa lembrar, por menor que seja, a
doutrina do passado, para se fixar no campo científico. Nesses meios, tem-se a tendência a distanciar a
crença e a afirmação de Deus como supérfluos, pelo menos como sendo impossível uma demonstração.
Pensam que deste modo atrairão homens de ciência, os positivistas, os livres-pensadores, todos aqueles
que sentem um tipo de aversão pelo sentimento religioso e por tudo o que tem uma aparência mística ou
doutrinária.
Por outro lado, gostar-se-ia de fazer do Espiritismo um ensino filosófico e moral, baseado sob os
fatos, um ensino suscetível de substituir as velhas doutrinas, os sistemas ultrapassados e satisfazer a
númerosas almas que buscam acima de tudo consolo para suas dores, uma filosofia simples, popular, que
acalmasse as tristezas da vida.
De um lado como de outro há multidões a satisfazer, mais de um que de outro, pois a multidão
daqueles que lutam e sofrem ultrapassa bastante a de homens de pesquisa.
Para defender essas duas teses, vemos de um lado e de outro, homens sinceros e convencidos a
cujas qualidades rendemos homenagem. Para quem devemos optar? Em que sentido convém orientar o
Espiritismo para garantir sua evolução? O resultado de nossas pesquisas e observações nos leva a

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reconhecer que a grandeza do Espiritismo, a influência que ele adquire sobre as massas se origina,
sobretudo de sua doutrina; os fatos são somente as bases sobre as quais o edifício se apóia. Certos! As
bases têm um papel essencial no prédio, porém, não é nas fundações, nas construções subterrâneas que o
pensamento e a consciência podem encontrar um abrigo.
Aos nossos olhos, a real missão do Espiritismo não é somente a de esclarecer as inteligências
através de um conhecimento mais preciso e completo das leis físicas do mundo, ela consiste, em
sobretudo, em desenvolver a vida moral dos homens, vida essa que o materialismo e o sensualismo
enfraqueceram demasiadamente. Exaltar a índole e fortalecer as consciências essa é a tarefa capital do
Espiritismo. Neste ponto de vista, ele pode ser um eficaz remédio contra os males que assaltam a
sociedade contemporânea, um remédio a este aumento inaudito de egoísmo e paixões, que nos empurra
para os abismos.
Cremos dever explicitar aqui nossa inteira convicção: não é tornando o Espiritismo
exclusivamente uma ciência positiva e experimental, nem eliminando o que há nele de elevado, o que
leva o pensamento acima dos horizontes estreitos, ou seja: a idéia de Deus, o uso da prece, que se
facilitará a tarefa dele, a contrário, assim o tornaríamos estéril, sem ação sobre o progresso das massas.
Certo! Ninguém melhor que nós para admirar as conquistas da ciência, sempre gostamos de
render justiça aos corajosos esforços dos sábios que recuam a cada dia os limites de desconhecido. A
ciência, porém, não é tudo. Sem dúvida ela contribuiu para esclarecer a humanidade, ela, contudo, sempre
se mostrou impotente para torná-la melhor e mais feliz.
A grandeza do espírito humano não se baseia somente em seu conhecimento, ela é também seu
ideal elevado. Não é a ciência nem a fé nem o entusiasmo que fizeram Joana d’Arc77, 1789, e todas as
grandes epopéias da história.
Os enviados do alto, os grandes predestinados, os videntes, os profetas não escolheram como
móvel a ciência, eles escolheram a crença. Eles não chocaram o cérebro, eles tocaram os corações. Todos
vieram para encaminhar nações em direção a Deus.
O que se tornou a ciência do passado? As ondas do esquecimento a submergiram, como o farão
com a ciência dos nossos dias. O que serão métodos e teorias atuais daqui a vinte séculos? Por outro lado,
os nomes dos grandes missionários sobreviveram através dos tempos. O que a tudo sobrevive, no desastre
das civilizações, é o que eleva a alma humana acima de si mesma, para um objetivo sublime para Deus!
Há ainda outra coisa. Mesmo nos limitando ao campo do estudo experimental há uma
consideração capital da qual nos devemos inspirar. É a natureza das relações existentes entre os homens e
o mundo dos espíritos, é o estudo das condições a preencher para retirar dessas relações os melhores
efeitos.
Assim se aborda estes fenômenos, ficamos chocados pela composição desse mundo invisível ao
nosso redor, com a característica dessas multidões de espíritos que nos cercam e querem sem cessar se
pôr em relações com os homens. Ao redor de nosso planeta atrasado, flutua uma forte vida, invisível,
dominada por espíritos zombeteiros e frívolos, aos quais se unem espíritos perversos e malfeitores. Há
também apaixonados, viciosos e criminosos. Eles deixarão a Terra com a alma cheia de ódio e o
pensamento alterado pela vingança, eles esperam na sombra o momento propício para satisfazer seus
rancores, suas raivas, através dos experimentadores imprudentes e descuidados que sem precaução nem
reserva abrem todas as extensas vias que permitem a comunicação de nosso mundo e dos Espíritos.
É deste meio que nos vêm mistificações sem número, audaciosos enganos, manobras que bem
conhecem os espíritas experimentados, pérfidas manobras que, em alguns casos levam, o médium a
obsessão, à possessão, à perda de suas mais belas faculdades. A tal ponto que certos críticos enumerando
as vítimas desses fatos e todos os abusos de correntes de uma prática imprudentes e frívolas do
Espiritismo, se perguntaram se não havia aí uma fonte de perigos, de misérias, uma nova causa de
decadência para a humanidade78.
Felizmente ao lado do mal está o remédio. Para nos livrarmos das influências ruins existe um
recurso supremo. Possuímos um meio forte para distanciar os espíritos do abismo e fazer do Espiritismo
um elemento de regeneração, uma base, um reconforto. Este recurso, esse preservativo é a prece, é o
pensamento dirigido para Deus! O pensamento de Deus é como uma luz que dissipa a sombra e distancia
os espíritos de trevas, é uma arma que dissipa os espíritos maus, nos preserva de suas ciladas. A prece
quando é ardente, improvisada e não um recitar monótono, possui um poder dinâmico e magnético
considerável79, ela atrai os espíritos elevados e nos garante sua proteção. Graças a eles podemos então nos
comunicar com aqueles que amamos sobre a Terra, aqueles que fora a carne de nossa carne e que, no
âmago dos espaços, estendem em seus braços para nós.
Constatamos várias vezes em nossa longa carreira de experimentar que uma reunião espírita,
quando todos os pensamentos e vontades se unem em um impulso forte, em uma convicção profunda,
quando elas sobem a Deus, através da prece, o socorro nunca faltou. Todas as vontades reunidas
constituem um feixe de forças, uma segura arma contra o mal. Para o chamado que se eleva ao céu há

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sempre um espírito que responde. Esse espírito protetor, por um convite do alto, vem dirigir nossos
trabalhos, afastar os espíritos inferiores; eles só deixam intervir aqueles cujas manifestações são úteis para
eles mesmos ou para os encarnados.
Aí temos um principio infalível. Com pensamento depurado e a elevação e direção a Deus, o
Espiritismo experimental pode ser uma luz, uma força moral, uma fonte de consolo. Sem elas, é a
incerteza, a porta aberta para todas as armadilhas do invisível. É uma saída aberta a todas as influências,
aos sopros dos abismos, a esses sopros de ódio, a essas tempestades do mal que passa sobre a humanidade
à semelhança de dilúvios e as cobrem de desordem e ruínas. Sim, é bom e necessário abrir os caminhos
para a comunicação com o mundo dos espíritos, mas antes de tudo é preciso evitar que esses caminhos
sirvam de invasão para nossos inimigos. Lembremo-nos que no mundo invisível, há muitos elementos
impuros. Abrir para eles uma via, seria jogar na Terra inúmeros males, seria entregar para espíritos
perversos uma multidão de almas fracas e desarmadas. Para entrar em contato com as potências
superiores, com os espíritos esclarecidos, é preciso vontade e fé, o absoluto desinteresse e a elevação dos
pensamentos. Fora dessas condições, o experimentador seria o joguete dos espíritos levianos.
“Semelhante atrai semelhante,” diz o provérbio. Com efeito, a lei das afinidades rege o mundo das almas
como o dos corpos.
Há então uma necessidade do ponto de vista teórico, como tanto do prático, necessidade do
progresso do Espiritismo em desenvolver o senso moral de unir-se às crenças fortes aos princípios
superiores, necessidade de não abusar das evocações e de só entrarem em comunicação com os espíritos
em condições de recolhimento e paz moral.
O Espiritismo foi dado ao homem como um meio de se esclarecer, de se melhorar, de adquirir as
qualidades indispensáveis a sua evolução. Se destruíssemos nas almas ou ainda negligenciássemos a idéia
de Deus e as aspirações elevadas, o Espiritismo poderia tornar-se algo perigoso. Eis porque não hesitamos
em dizer que se entregar às práticas espíritas sem depuração de pensamento e sem fortificá-los na fé e na
prece isto seria realizar uma tarefa funesta cuja responsabilidade cairia pesadamente sobre seus autores.
***
Chegamos a um ponto particularmente delicado da questão. Critica-se às vezes que os espíritas
não vivem sempre em harmonia com seus princípios, diz-se que neles o sensualismo, os apetites
materiais, o amor ao lucro ocupa um lugar considerável. Nos criticam, principalmente, as divisões
internas, as rivalidades de grupos e de pessoas que são um tão grande obstáculo à organização das forças
espíritas e de sua caminhada adiante.
Não nos convém insistir sobre esses propósitos, nós não queremos pronunciar aqui nenhum
julgamento desfavorável sobre ninguém. Nos permitam somente lembrar que não seria reduzindo o
Espiritismo ao papel de simples ciência de observação que se conseguiria diminuir ou atenuar essas
fraquezas. Pelo contrário só as agravaríamos. O Espiritismo exclusivamente experimental não teria mais
nem autoridade nem força moral necessária para ligar as almas. Alguns crêem ver no apagar da idéia de
Deus uma medida proveitosa para o Espiritismo. Nós diremos que a insuficiência atual desta noção e ao
mesmo tempo a insuficiência de nobres sentimentos e nobres aspirações é que causam a falta de coesão e
criam a dificuldade de organização do Espiritismo. É preciso lembrar uma coisa, na realidade quando a
idéia de Deus se enfraquece numa alma, a noção do eu, ou seja, da personalidade, imediatamente
aumenta, eleva-se a ponto de tornar-se tirânica e absorvente, uma dessas noções só pode crescer e se
fortificar em detrimento da outra. Quem adora a Deus, diz um pensador, adora a si mesmo!
O que é bom para os meios de experimentação espírita é bom para a sociedade inteira. A idéia de
Deus já o dissemos, se une estreitamente a idéia de lei, bem como a do dever e do sacrifício. A idéia de
Deus se une a todas as noções indispensáveis à ordem, à harmonia, à elevação dos seres e das sociedades.
Por isso, quando a idéia de Deus se enfraquece, todas essas outras noções diminuem; elas se desfazem
pouco a pouco para dar lugar ao personalismo, a presunção, a ódio de toda autoridade, de todo
direcionamento, de toda lei superior. E é assim que, passo a passo, degrau a degrau, chega-se a este
estado social que se traduz por uma divisa conhecida, que escutamos em todas as partes: Nem Deus, nem
Mestre! Abusamos tanto da idéia de Deus através dos séculos, em seu nome torturamos e imolamos tantas
vítimas inocentes; em nome de Deus banhamos tanto o mundo de sangue humano que o homem moderno
dá as costas para ele. Tememos que a responsabilidade desse estado de coisas cairá sobre aqueles que
fizeram do Deus de bondade e eterna misericórdia, um Deus de vingança e de terror. Porém não nos cabe
estabelecer responsabilidades. Nosso objetivo é de buscar um terreno de conciliação e de união, no qual
todos os bons espíritos poderão se reunir.
Apesar disso, os homens modernos, em sua maioria, não querem mais suportar acima deles nem
Deus nem lei, nem limites; não querem mais entender que a liberdade sem a sabedoria e sem a razão é
impraticável. A liberdade sem a virtude leva ao desregramento moral, este por sua vez conduz a
corrupção ao enfraquecimento dos caracteres e das consciências, em uma palavra: a anarquia. Somente
quando tivermos atravessado novas e mais rudes provas consentiremos na reflexão. Aí então a verdade

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nascerá e a grande palavra de Voltaire80 estará sob nossos olhos: “O ateísmo e o fanatismo são os dois
pólos de um mundo de confusão e de horror!” (Histoire de Jenni).
É verdade que falamos muito de altruísmo ou do amor à humanidade e pretendemos que este
sentimento seja suficiente. Porém como faremos do amor à humanidade uma coisa vivida, realizada,
enquanto que não conseguimos, não diria amar, mais somente suportar uns aos outros? Para agrupar os
sentimentos e as aspirações, é preciso um ideal forte. Pois bem, este ideal tu não encontrarás no ser
humano finito, limitado; tu não encontrarás nas coisas desse mundo, todas elas passageiras e transitórias.
Só existe um Ser infinito, eterno. Somente Ele é bastante grande para captar, absorver todos os ímpetos,
todas as forças, todas as aspirações da alma humana para acalentá-las e fecundá-las. Este ideal é Deus!
Mas o que é o ideal? É a perfeição. Deus sendo a perfeição realizada é ao mesmo tempo o ideal real, o
ideal vivo!

8. — A Ação de Deus no Mundo e na História.

Deus, fonte de inteligência e de amor, é tão indispensável à vida interior quanto o Sol o é para a
vida física!
Deus é o Sol das almas. É dele que emana essa força, ao mesmo tempo energia, pensamento, luz
que anima e vivifica todos os seres. Quando se pretende que a idéia de Deus é inútil, indiferente, isso
equivaleria dizer que o Sol é inútil indiferente à natureza e à vida.
Através da comunhão do pensamento, através da elevação da alma para Deus, produz-se um tipo
de penetração contínua, uma fecundação moral do ser, um desabrochar gradativo das potências ocultas
nele, pois essas potências: pensamento e sentimento só podem despertar e aumentar através de aspirações
elevadas, através dos ímpetos do nosso coração. Fora disso todas essas forças latentes hibernam em nós;
elas ficam inertes, adormecidas!
Falamos da prece. Vamos explicar essa palavra. A prece é a forma de expressão maior da
comunhão universal. Ela não é aos nossos olhos, o que tantas pessoas supõe: um recitar banal, um
monótono exercício freqüentemente repetido. Não, através da prece improvisada, a que não comporta
fórmulas, a alma se projeta para regiões superiores; nela, ela se recarrega de forças e de luz. Nela, ela
encontra um apoio que aqueles que desconhecem Deus e a comunhão com ele não podem nem conhecer
nem compreender. O orar é se voltar para o Ser eterno, é lhe expor nossos pensamentos e ações para
submetê-los a sua lei e fazer de sua vontade a regra de nossa vida; é conseguir a paz do coração, a
satisfação da consciência, em resumo: esse bem interior que é o maior, o mais indestrutível de todos os
bens!
Diremos então que desconhecer, negligenciar a crença em Deus e a comunhão de pensamento
que a ele se une, a comunhão à Alma do universo, com esse foco do qual emanam para sempre a
inteligência e o amor, isso seria, ao mesmo tempo desconhecer o que há de maior e desprezar as potências
interiores que fazem nossa verdadeira riqueza. Seria calcar aos pés nossa própria felicidade, tudo o que
pode fazer nossa elevação, glória e felicidade.
O homem que desconhece Deus e não quer saber quais forças, quais recursos, quais socorros
vêm Dele, da comunhão com Ele, este é comparado a um indigente que mora ao lado de palácios repletos
de tesouros e corre o risco da miséria diante da porta que lhe é aberta e pela qual tudo lhe convida a
entrar.
Às vezes, escutamos certos profanos dizerem: “eu não tenho necessidade de Deus!” Palavra
triste e deplorável, palavra orgulhosa daqueles que sem Deus, nada seriam e não teriam jamais existido. Ó
cegueira do espírito humano, cem vezes pior que a do corpo! Você já escutou a flor dizer: não preciso do
Sol? Já escutou a criança dizer: não preciso de pai; e o cego dizer não tenho necessidade da luz? Pois
bem, nós o sabemos, Deus não é somente a luz das almas; ele também é amor! E o amor é a força das
forças. O amor triunfa sobre todas potências brutais. Lembremo-nos de que se a idéia cristã venceu o
mundo antigo, se ela triunfou sobre a potência romana, sobre a força das armas, sobre o gládio dos
Césares, foi através do Amor! Ela venceu por essas palavras: “Feliz aqueles que tem a doçura, pois eles
possuirão a terra.”
E, com efeito, não há homem tão duro e tão cruel que não se desarme contra você, caso este
homem se convença que você quer o seu bem e sua felicidade, que você deseja-lhe isso de uma forma real
e desinteressada.
O amor é todo poderoso. Ele é o calor que faz derreter o gelo do ceticismo, do ódio, do furor, o
calor que vivifica as almas embotadas, preste porém a eclodir e se dilatarem sobre esse raio de amor.
Observemos: são as forças sutis e invisíveis que são as rainhas do mundo, as soberanas da Natureza. Veja
a eletricidade! Nada pesa e não aparece, entretanto ela é uma força maravilhosa; ela volatiliza os metais e
decompõe todos os corpos. O mesmo ocorre com o magnetismo que pode paralisar o braço de um

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gigante. Assim como o amor pode dominar a força e reduzi-la; ele pode transformar a alma humana,
princípio da vida em nós, sede das forças do pensamento. Eis porque Deus, sendo o foco do amor
universal, também é a potência suprema.
Se compreendêssemos a que alturas, a que grandes e nobres tarefas nosso espírito pode alcançar
através de uma compreensão profunda da obra divina, através de uma inserção do pensamento de Deus
em nós, seríamos arrebatados de admiração.
Há homens que acreditam que prosseguindo nossa ascensão espiritual acabaremos perdendo a
existência, para ir nos aniquilar no Ser supremo. Aí está um erro grave, pois é ao contrário, como indica a
razão e o confirma todos os grandes Espíritos: mais nos desenvolvemos em inteligência e moralidade,
mais nossa personalidade se delineia. O ser pode se ampliar e brilhar, ele pode se ampliar na percepção,
na sensação, na sabedoria, no amor sem contudo deixar de ser ele mesmo. Não verificamos isso através
dos Espíritos elevados que são personalidades fortes? E nós mesmos não sentimos que quanto mais
amamos mais nos tornamos suscetíveis de amar, que quanto mais nos compreendemos mais nos sentimos
capazes de sentir e entender?
Está unido com Deus é sentir, realizar o seu pensamento. Porém este poder de sentir, esta
possibilidade de ação do espírito não o destrói. Essa ação só o engrandece. E quando a alma alcança
certos graus de ascensão, ela torna-se, por sua vez, uma das potências, uma das forças ativas do universo,
ela torna-se um dos agentes de Deus na obra eterna, pois sua colaboração se estende infinitamente. Seu
papel é o de transmitir as vontades divinas aos seres que estão abaixo dela e o de atrair para ela a sua luz,
no seu amor, tudo o que se agita, luta e sofre nos mundos inferiores. Ela não se contenta com uma ação
oculta. Às vezes, ela encarna, toma um corpo e torna-se um desses missionários que passam como
meteoros na noite dos séculos.
Há outras teorias que consistem em crer que, quando, seguida as suas peregrinações, a alma
alcança a perfeição absoluta, a Deus, após longas estadas junto às beatitudes celestes, ela desce
novamente ao abismo material no mundo da forma, ao mais baixo degrau da escala dos seres, para
recomeçar a lenta, penosa e dolorosa ascensão que ela acabou de realizar.
Esta teoria não é mais admissível que a outra, para aceitá-la, seria necessário abstrair-se da noção
do infinito. Ora, esta noção se impõe, apesar de escapar a toda análise. Basta refletir um pouco, para
entender que a alma pode prosseguir sua marcha ascendente e se aproximar infinitamente do apogeu, sem
jamais atingi-lo. Deus é infinito! Ele é o absoluto! Nós só seremos em relação a ele, seres finitos,
relativos, limitados, apesar de nossos progressos.
O ser pode então evoluir, crescer sem parar, sem jamais realizar a absoluta perfeição.
Isto parece difícil de entender, mas haverá algo mais simples? Permitam-nos escolher um
exemplo ao alcance de todos, um exemplo matemático. Você pega uma unidade — ela é um pouco a
imagem do ser — você põe a unidade e a ela acrescenta a fração mais forte que você encontrar. Você se
aproximará do número 2 mais jamais o alcançará.
Nós, homens encarcerados na carne, temos dificuldade de fazer uma idéia do papel do espírito,
que possui em si todas as potências, todas as forças do universo, todas as belezas e os esplendores da vida
celeste, fazendo-os brilhar sobre o mundo. Porém o que podemos e devemos entender é que esses
espíritos fortes, esses missionários, esses agentes de Deus foram, como nós, homens de carne, cheios de
fraquezas e misérias. Se eles atingiram essas alturas, foi através de suas pesquisas e seus estudos,
aplicando a todos os seus atos a lei divina. Ora o que eles fizeram, cada um de nós pode fazer. Nós todos
temos em nós o germe de uma potência e de uma grandeza iguais a sua potência, iguais a sua
grandiosidade. Nós todos temos os mesmos destinos esplêndidos, nós todos temos o mesmo grandioso
futuro, só depende de nós realizá-lo através de nossas inumeráveis existências.
Graças aos estudos psíquicos, aos fenômenos telepáticos, estamos ao menos aptos a entender, a
partir de agora, que nossas faculdades não são limitadas aos nossos sentidos. Nosso espírito pode brilhar
além de nosso corpo, ele pode receber as influências dos mundos superiores, as impressões do
pensamento divino. A chamada do pensamento humano é ouvida pelo pensamento divino, a alma
quebrando as fatalidades da carne pode lançar-se em direção a esse mundo espiritual que é sua herança,
seu lar futuro. Por isso é preciso que cada um torne-se seu próprio médium e aprenda a se comunicar com
o mundo superior do espírito.
Este poder foi até hoje privilégio de alguns iniciados. Hoje, é preciso que todos o adquiram, e
que todo o homem consiga captá-lo, consiga entender as manifestações do pensamento superior. Ele pode
atingir através de uma vibração pura e sem mácula e, de um treinamento gradativo de suas faculdades.
***
A ação de Deus se revela no universo, no mundo físico e no mundo moral, não há um único ser
que não seja objeto de sua solicitude. Nós a vimos manifestar-se em sua majestosa lei do progresso que
preside a evolução dos seres e das coisas e os leva para um estado cada vez mais perfeito. Essa ação se
mostra igualmente na história dos povos. Podemos seguir através dos tempos esta grandiosa marcha, este

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impulso da humanidade em direção ao Bem, ao Melhor. Sem dúvida, há nessa caminhada circular muita
fraqueza e recuos, muitas horas tristes e sombrias, porém é preciso não esquecer que o homem é livre
para as suas ações. Seus males são quase sempre a conseqüência de seus erros de seu estado de
inferioridade. Não é uma escolha providencial que designa os homens destinados a trazer as grandes
inovações, as descobertas que contribuem para o desenvolvimento das civilizações?
Essas descobertas se encadeiam, elas aparecem umas após as outras, de forma metódica, regular,
a medida que elas podem se implantar com sucesso sobre os progressos anteriores.
O que demonstra, de forma brilhante, a intervenção de Deus na história é a aparição dos tempos
sonhados, das horas solenes, desses grandes missionários, que vêm estender a mão aos homens e os
recolocar na via perdida, ensinando-os a lei moral, a fraternidade, o amor a seus semelhantes, lhes dando
o grande exemplo de sacrifício de si pela causa de todos.
Algo mais imponente que o papel dos enviados divinos? Eles vêm, caminham no meio dos
povos. Em vão chovem sobre eles os sarcasmos e as zombarias. Em vão o menosprezo, o sofrimento os
espera. Eles caminham juntos! Em vão se forjam em torno deles os patíbulos e os cadafalsos. As
fogueiras se acendem. Eles vão, cabeça erguida, alma serena. Qual é então o segredo da força deles?
Quem os impulsiona assim adiante?
Acima das sombras da matéria e das vulgaridades da vida, mais alto que a Terra, mais alto que a
humanidade, eles vêem resplandecer esse foco eterno, do qual um raio os ilumina e lhes dá a coragem de
afrontar todas as dores, todos os suplícios. Eles contemplaram a verdade sem véu e, doravante, eles só
têm a preocupação de espalhar e, por ao alcance das multidões, o conhecimento das grandes leis que
regem as almas e os mundos!
Todos esses espíritos fortes declararam virem em nome de Deus e para executar sua vontade.
Jesus sempre o afirma: “É meu Pai, diz ele, quem me enviou.” E Joana d’Arc não foi menos precisa:
“Venho de parte de Deus, para livrar a França dos ingleses.”
No meio da noite pavorosa do décimo quinto século, nesse abismo de misérias e de dores no qual
soçobravam a vida e a honra de um a grande nação o que Joana trazia para a França traída, vencida,
agonizante? Era um socorro material, soldados, um exército? Não, o que ela trazia era a fé, a fé em si
mesma, a fé no futuro da França, fé em Deus! “Venho por parte do Rei do céu, dizia ela, eu vos trago os
socorros do céu.” E com esta fé, a França se ressurgiu, ela escapou da destruição e da morte!
O mesmo ocorre atualmente! Só há um remédio, seja ao ceticismo zombeteiro, seja à falta de
coragem, a essa desesperança que nos invade por toda parte. Só há um remédio para esse
enfraquecimento de pensamento e da consciência, para este desgosto pela vida, que se traduzem por
tantos suicídios. Este remédio é a fé em nós mesmos, aos nossos destinos imortais, a fé nesta Potência
suprema que nunca abandona aqueles que puseram sua confiança nela.
O único meio de salvar a sociedade em perigo e sua ameaça de sucumbir na anarquia é aumentar,
nos pensamentos e nos corações, todas as aspirações da alma humana para esta Potência infinita que é
Deus, é unir nossa vontade a sua e nos embebermos com sua lei: este é o segredo de toda força, de toda
elevação!
Ficaremos surpresos e maravilhados, ao nos adiantar nessa via esquecida, de reconhecer e
descobrir que Deus não é uma abstração metafísica, o ideal vago perdido nas profundezas do sono, um
ideal que só existe com dizem Vacherot81 e Renan82 quando nós nele pensamos! Não, Deus é um Ser
vivo, sensível consciente, Deus é uma realidade que age. Deus é nosso pai, nosso guia, nosso consolador,
nosso melhor amigo, por menos que lhe dirijamos nossos apelos e que lhe abramos nosso coração, ele nos
iluminará com sua luz, nos acalentará com o seu amor, ele derramará sobre nós sua alma imensa, sua
alma rica com todas as perfeições, para ele e com ele somente nos sentiremos verdadeiros irmãos; através
dele nos sentiremos felizes e fora dele só encontraremos escuridão, incertezas, decepção, dor e miséria
moral! Eis o socorro que Joana trazia a França, o socorro que o Espiritualismo Moderno tráz a
humanidade!
Pode-se dizer que o pensamento de Deus brilha sobre a história e sobre o mundo: ele inspira as
gerações e sua caminhada, apóia, eleva milhões de almas desoladas. Ele foi a força, a suprema esperança,
o último apoio aos aflitos, aos espoliados, aos sacrificados, quase todos aqueles que, através dos tempos,
sofreram a injustiça, a maldade dos homens e os golpes da adversidade!
Se vocês evocam a lembrança das gerações que se sucederam na Terra, em todos os lugares,
verão os olhares dos homens voltados para essa luz que nada poderá apagar nem diminuir!
Por isso dizemos: irmãos recolhei-vos no silêncio de suas moradas, elevai sempre para Deus os
impulsos de seus pensamentos e de seus corações, exponham-lhe suas necessidades, suas fraquezas, suas
misérias, e nas horas difíceis, nos momentos solenes de suas vidas, dirijam-lhe o apelo supremo.
Então no âmago de seu ser, escutarão como uma voz respondendo, consolando e socorrendo.
Essa voz lhes penetrará com uma emoção profunda, talvez ela fará jorrar lágrimas, vocês, porém, se
sentirão fortalecidos e reconfortados.

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Aprenda a orar no mais profundo de sua alma e não somente pelos lábios, aprenda a entrar em
comunhão com o seu Pai, aprenda a receber seus ensinamentos misteriosos, reservados não aos sábios e
aos fortes, mas às almas puras, aos corações sinceros.
Quando você quiser encontrar um refúgio contra as tristezas e as decepções da Terra, lembrem-
se que só há um meio: elevar o seu pensamento para essas puras regiões da luz divina onde as influências
grosseiras do nosso mundo não penetram. Os rumores das paixões, o conflito de interesses não chegam
até lá. Alcançando essas regiões, o espírito se distancia dessas preocupações inferiores, de todas as coisas
mesquinhas de nossa existência, ele plana acima da tempestade humana, além dos barulhos discordantes
da luta pela vida, pela riqueza, honras vãs, além de todas as efêmeras e cambiantes coisas que nos unem
aos mundos materiais. Lá em cima o espírito se esclarece, ele se imbui dos esplendores da verdade e da
luz. Ele vê, compreende as leis do seu destino.
Diante de amplas perspectivas de imortalidade, diante dos espetáculos dos progressos e das
ascensões que nos esperam na escala dos mundos o que são para nós as misérias da vida atual, as
vicissitudes do tempo presente?
Aquele que tem o seu pensamento em seu coração, esta fé ardente, esta absoluta confiança no
futuro, esta certeza que o eleva, este está encouraçado contra a dor. Ele continuará invulnerável no meio
das provas. Aí está o segredo de toda a força, de toda a valentia, o segredo dos inovadores, dos mártires,
de todos aqueles que através dos séculos, deram a sua vida por uma grande causa, de todos aqueles que
em meio a torturas, sob a mão de um carrasco, enquanto seus ossos e sua carne esmagados pela roda ou
pela estaca não eram mais que uma lama ensangüentada, encontravam ainda a força para dominar seus
sofrimentos e para afirmar a divina justiça, aqueles que sobre o cadafalso bem como sobre a fogueira já
viviam por antecipação a vida gloriosa e imorredoura do espírito!

9. — Objeções e Contradições.

Sendo o problema divino o mais vasto, o mais profundo dos problemas, já que ele engloba todos
os outros, ele deu lugar às teorias, a inumeros sistemas que correspondem a tantos degraus da
compreensão humana e a tantas etapas do pensamento na sua caminhada para o Absoluto.
Neste campo, abundam as contradições. Cada religião explica Deus a sua forma; cada teoria o
descreve a sua maneira e de tudo isso resulta uma confusão, um inextricável caos. Quantas formas
variadas da idéia de Deus, desde o fetiche do negro até Parabrahm,83 dos hindus até o Ato puro de São
Tomás! Desta confusão, os ateus tiraram argumentos para negar a existência de Deus, os positivistas para
declará-lo “desconhecidas.” Como remediar essa desordem como escapar a estas contradições? Da forma
mais simples, basta elevar-se acima das teorias e dos sistemas, o bastante para uni-los em seu conjunto e
no que eles têm de comum. Basta elevar-se até a grande Causa, na qual tudo se resume e se explica. A
estreiteza das visões desnaturou e comprometeu a idéia de Deus. Suprimamos então as barreiras e as
prisões, os sistemas fechados que se contradizem, se excluem, se combatem, para se colocar as visões
abrangentes dos conceitos superiores. A certa altura, a ciência, a filosofia, a religião, até então divididas,
opostas, hostis sob suas formas inferiores, se unem e se fundem em uma potente síntese que é a do
Espiritismo Moderno.
Assim se cumpre a lei da evolução das idéias. Após a tese temos a antítese. Nós tocamos a
síntese que resumirá todas as formas e crenças e isto será a glória do século vinte: tê-la estabelecida e
formulada.
Examinemos rapidamente as mais comuns objeções. A mais freqüente consiste em dizer: Deus
existe, se ele é, como vocês o pretendem, Bondade, Justiça, Amor, por que o mal e o sofrimento reinam
como mestres ao redor de nós? Deus é bom, milhões de pobres seres sofrem na alma e na carne. Tudo é
dor e dilaceração na vida de multidões. A inquietude é soberana sobre o nosso globo e ardente luta pela
existência nele faz cada dia inúmeras vítimas.
Como já demonstramos alhures84, o sofrimento é um forte meio de educação para as almas. Ele
desenvolve a sensibilidade, que já em si mesma um engrandecimento de vida. Às vezes, ele é uma das
formas da justiça, um corretivo aos nossos atos anteriores ou longínquos.
O mal é apenas a conseqüência da imperfeição humana. Se Deus tivesse feito os seres perfeitos,
o mal não existiria. Mas, então o universo seria fixo, imobilizado em sua monótona perfeição. A
magnífica ascensão das almas no infinito seria imediatamente suprimida. Nada mais a conquistar; nada
mais a desejar! Ora, o que seria uma perfeição sem méritos, sem esforços para obtê-la? Seria ela algum
preço aos nossos olhos?
Em resumo, o mal é somente o Menos evoluindo em direção ao Mais, o inferior em direção ao
superior, a alma em direção a Deus.

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Deus nos fez livres: daí, o mal, fase transitória de nossa ascensão. A liberdade é a condição
necessária da variedade na unidade universal. Sem ela, a monotonia teria feito um universo insuportável.
Deus nos deu a liberdade com esse impulso de vida inicial, através do qual, o ser evoluirá com seu
esforço próprio pelos espaços e tempos sem limites, na escala das vidas sucessivas, na superfície dos
mundos que povoam o espaço.
Nós emanamos de Deus assim como nossos pensamentos emanam de nosso espírito, sem o
fracionar nem diminuir. Livres e responsáveis, tornamo-nos senhores e artesãos de nossos destinos.
Porém, para desenvolver os germes e as forças que estão em nós, a luta é necessária, a luta contra a
matéria, contra as paixões, contra tudo o que chamamos de mal. Esta luta é dolorosa e os fracassos são
númerosos. Entretanto, pouco a pouco, adquire-se a experiência, a vontade se forja, o bem se desliga do
mal. Uma hora chega, na qual a alma triunfa sobre as influências inferiores, resgata-se e se eleva através
da expiação e da purificação, até a vida de bem aventurança. Ela compreende então, ela admira a
sabedoria e a previdência de Deus que, fazendo dela o juiz de seus próprios destinos, dispôs tudo de
forma a fazer surgir uma maior soma de felicidade final para cada um de nós.
A condição atual de toda alma é o justo resultado de suas existências passadas. O mesmo ocorre
com nossa existência presente que engendra dia a dia, pelos nossos livres atos, o destino que teremos no
futuro.
***
Outras objeções se apresentam. Há uma que não podemos esquecer, pois ela constitui uma das
questões capitais da filosofia. Nos perguntam: Deus é um ser pessoal ou ele é o Ser universal, infinito?
Ele não pode ser os dois, pois se diz que essas concepções são diferentes e mutuamente se excluem. Daí,
os dois grandes sistemas sobre Deus: deísmo e o panteísmo. Na realidade, esta contradição não passa de
um erro de ótica do espírito humano, que não sabe compreender nem a personalidade nem o infinito.
A verdadeira personalidade é o eu, a inteligência, a vontade, a consciência. Nada impede de
concebê-la sem limites, ou seja, infinita. Deus sendo a perfeição não pode ser limitado. Dessa forma se
conciliam duas noções em aparência contraditórias.
Outra coisa: Deus é desconhecido, como dizem os positivistas e dentre esses Berthelot? Ele é o
abismo dos gnósticos, a Isis velada dos tempos do Egito, o terrível e misterioso Santo dos Santos dos
Hebreus; ou Deus pode ser conhecido?
A resposta é fácil: Deus é desconhecido na sua essência, nas suas profundezas íntimas, porém,
ele se revela por toda a sua obra, no grande livro aberto sob nossos olhos e no fundo de nós mesmos.
Insiste-se ainda: o senhor nos disse que o objetivo essencial da vida, de todas nossas vidas, era o
de mergulhar cada vez mais na comunhão universal, para melhor amar e servir a Deus em seus desejos.
Deus não podendo ser conhecido em sua plenitude, como se poderia amar e servir o desconhecido?
Provavelmente, responderemos nós, não podemos conhecer Deus em sua essência; nós o
conhecemos através de suas admiráveis leis, através do plano que ele traçou para todas as existências e no
qual brilham sua justiça e sabedoria. Para amar Deus não é preciso separá-lo de sua obra, é necessário vê-
lo em sua universalidade, no fluxo da vida e do amor que ele versa sobre todas as coisas. Deus não é o
desconhecido, ele não é somente o invisível.
A alma, o pensamento, o bem, a beleza moral são também visíveis. Entretanto não devemos
amá-los? Amá-los ainda não é amar a Deus que é a fonte deles, já que ele é ao mesmo tempo o
pensamento supremo a perfeita beleza, o bem absoluto!
Não compreendemos em sua essência nenhum desses princípios. Entretanto, sabemos que eles
existem e não podemos escapar as suas influências nem dispensar de lhes render culto. Amando-se
somente o que conhecemos e entendemos o que amaríamos, limitados que estamos momentaneamente
pela nossa estreita compreensão terrena!
Àqueles que exigem absolutamente uma definição, poderia se dizer que Deus é o espírito puro, a
idéia e o pensamento puros. A idéia pura em sua essência não pode ser formulada sem ser imediatamente
diminuída ou alterada. Toda formula é uma prisão. Preso na prisão da palavra, o pensamento perde sua
luz, seu brilho quando não perde ainda seu real sentido e extensão. Empobrecido, deformado ele se torna
sujeito à crítica e vê cair o que ele tinha de mais comprovante em si mesmo.
Na vida do espaço, o pensamento é uma imagem brilhante. Comparado ao pensamento expresso
por palavras humanas, ele é o que seria uma moça plena de vida e de beleza comparada a mesma moça
deitada no seu túmulo, sob formas rígidas e glaciais da morte.
Entretanto, apesar da nossa impotência para expressar na sua plenitude a idéia de Deus, ela se
impõe, já o dissemos, uma vez que ela é indispensável a nossa vida. Acabamos de ver que o Bem, o
Verdadeiro, o Belo nos escapam em sua essência por eles serem de natureza divina. Nossa própria
inteligência é incompreensível para nós, precisamente porque ela encerra em si uma parcela divina que a
dota de augustas faculdades. Somente penetrando no mistério da alma humana, chegaremos um dia a
resolver o enigma do Ser Infinito.

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Deus está em nós e nós estamos nele. Deus é o grande foco da vida e do amor, do qual a alma é
uma centelha ou ainda um pequeno foco obscuro e velado, que contém, em estado embrionário, todas as
suas potências, a tal ponto que, se soubéssemos tudo que está em nós e que grandiosas obras podemos
realizar, transformaríamos o mundo e nos elevaríamos de um salto para a imensa via do progresso.
Para nos conhecer, é preciso então estudar Deus, pois tudo que está em Deus em nós está pelo
menos em estado embrionário. Deus é um espírito universal que se exprime e manifesta através da
natureza cuja expressão mais alta é o homem.
Todos os homens devem chegar a essa compreensão de sua natureza superior, pois é na
ignorância dessa natureza e dos recursos adormecidos em nós que temos a causa de nossas provas,
fraquezas e quedas.
Por isso diremos a todos: elevemo-nos acima de brigas de escola, de discussões e polêmicas vãs.
Elevemo-nos bastante alto para entender que somos apenas a engrenagem na cega máquina do mundo.
Somos filhos de Deus e como tais, estamos ligados estritamente com ele com sua obra, destinados a um
imenso objetivo perto do qual todo resto torna-se secundário; esse objetivo é a entrada na santa harmonia
dos seres e coisas que só se realizam com Deus e através de Deus!
Elevemo-nos até lá e sentiremos a potência que existe em nós, entenderemos o papel que somos
chamados a representar na obra do progresso eterno.
Lembremo-nos de que somos espíritos imortais. As coisas da Terra são para nós um degrau, um
meio de educação, de transformação. Podemos perder aqui embaixo todos os nossos bens terrestres. Que
importa? O que é necessário acima de tudo é aumentar, é arrancar de sua ganga grosseira este espírito
divino, esse Deus interior que está em todo homem, fonte de sua grandeza e de sua felicidade futura. Eis o
objeto supremo da vida!
Concluímos: Deus é a grande alma do universo, o foco de onde emana toda a vida, toda a luz
moral. Vocês não podem negligenciar Deus, assim como a Terra e os seres que vivem em sua superfície
não podem abster-se do foco solar. Se o Sol apaga-se de repente o que aconteceria? Nosso planeta
caminharia no vazio dos espaços, levando em sua caminhada a humanidade deitada para sempre em seu
sepulcro de gelo. Todas as coisas estariam mortas e o globo não passaria de uma necrópole imensa. Um
frio silêncio reinaria sobre as cidades adormecidas em seu derradeiro sono.
Pois bem! Deus é o Sol das almas! Apaguem a idéia de Deus e imediatamente a noite moral fará
sobre o mundo. É justamente porque a idéia de Deus é falsa, desnaturada por uns, recusada e desconhecia
por muitos outros que a atual humanidade erra em meio a tempestades sem piloto, sem bússola, sem guia,
vítima da desordem exposta a todos os acontecimentos.
Exaltar, aumentar a idéia de Deus liberá-la das escórias na qual a religião e os sistemas a
envolveram, este é o papel do espiritualismo moderno!
Se tantos homens ainda são incapazes de ver e compreender a suprema harmonia das leis dos
seres e das coisas, é porque suas almas ainda não entraram em seu sentido íntimo em comunhão com
Deus, ou seja, com esses divinos pensamentos que iluminam o universo e são a luz inquebrantável do
mundo.
Nos perguntamos, ao terminar, se conseguimos dar um parecer da idéia de Deus. A palavra
humana é bem fraca, bem seca e fria para tratar tal assunto. Somente a harmonia, ela mesma, a grande
sinfonia das esferas, a voz do infinito, poderia exprimir e tornar a lei universal. Há coisas tão profundas
que são sentidas e não descritas, somente Deus em seu ilimitado Amor pode nos revelar o sentido oculto
destas coisas. Essa alegria nos será dada se em nossa fé, em nosso impulso em direção à Verdade,
soubermos apresentar, `aquele que sonda os recôncavos mais misteriosos das consciências, uma alma
capaz de entendê-lo, um coração digno de amá-lo!

SEGUNDA PARTE
O LIVRO DA NATUREZA

10. — O Céu Estrelado.

Um livro grandioso, dissemos, está aberto sob nossos olhos e todo observador paciente pode ler
nele a palavra do enigma, o segredo da vida eterna.
Nele vemos que uma Vontade dispôs a majestosa ordem na qual vivem todos os destinos, se
movem todas as existências, palpitam todos os espíritos, todos os corações.
Ó alma! Aprende primeiramente a lição suprema que recai dos espaços sobre as frontes
preocupadas. O Sol está escondido no horizonte, seus últimos raios púrpuros ainda tingem o Céu; uma luz
terna indica que longe, um astro se obscura aos nossos olhos. A noite estende acima de nossas cabeças

26
sua cúpula constelada de estrelas. Nosso pensamento se recolhe e busca o segredo das coisas. Vamos
nos voltar para o Oriente. A Via-Láctea nos mostra uma imensa echarpe com suas miríades de estrelas,
tão coladas e tão distantes que parecem formar uma massa contínua. Em toda parte, na medida que a
noite se faz mais escura, outras estrelas aparecem, outras flamas se acendem como lâmpadas suspensas no
divino santuário. Através de insondáveis profundezas, esses mundos enviam uns aos outros seus raios
prateados; eles nos impressionam a distância e nos falam em uma linguagem.
Eles não brilham todos com a mesma potência e o poderoso Sirius85 não se compara a longínqua
86
Capela . Suas vibrações levaram séculos para chegar até nós, cada um desses raios é como um canto
uma melodia uma profunda voz. Assim se resumem esses cantos: “Nós também somos plataformas de
vida, de sofrimento e evolução. Milhares de almas realizam em nós destinos semelhantes aos vossos.”
Porém nem todos têm a mesma linguagem, pois uns são estadas de paz e de felicidade e outros
são mundos de luta, de expiação e reparação através da dor. Uns parecem dizer: Eu te conheci alma
humana, alma terrestre; eu te conheci e te verei novamente! Abriguei-te em meu seio no passado e tu
voltarás para mim. Eu te espero para guiar por sua vez os seres que vivem na minha superfície!
Então, mais além, esta estrela que parece perdida no fundo dos abismos dos céus cuja luz
trêmula mal é perceptível, nos dirá: sei que você passarás sobre as terras que formam meu cortejo a qual
irrigo com meus raios; sei que neles você sofrerá e se tornará melhor. Apresse-se para tua ascensão. Serei
e já sou tua amiga, pois em minha direção vêm teus pensamentos, chega até mim seu apelo, tua indagação
e tua prece a Deus.
Assim todas as estrelas entoam seu poema de vida e de amor, todas nos fazem ouvir uma forte
evocação do passado ou ainda do futuro. Elas são “moradas” de nosso Pai, as etapas, os espaços das rotas
do infinito e nela passaremos e também viveremos todos para um dia entrarmos na luz eterna e divina.
Espaços e mundos! Que maravilhas vocês nos reservam? Imensidões siderais, profundezas sem
limites, vocês dão a impressão da majestade. Em vocês sempre, em tudo estão a harmonia, o esplendor e a
beleza! Diante de vocês todos os orgulhos sucumbem, todas as glórias vãs desvanecem. Aqui percorrendo
seus imensos orbes são astros de fogo perante os quais nosso Sol não passa de uma pálida flama. Cada um
deles leva consigo um imponente cortejo de esferas que também são teatros da evolução. Lá, como na
Terra seres sensíveis vivem, amam e choram. Suas provas e lutas comuns criam entre eles laços de
afeição que aumentarão pouco a pouco. É assim que as almas começam a sentir os primeiros eflúvios
desse amor que Deus quer que todos conheçam. Bem além, no insondável abismo se movimentam
maravilhosos mundos, habitados por almas puras que conheceram o sofrimento e o sacrifício e
alcançaram o ápice da perfeição. Almas que contemplam Deus em sua glória e que vão, infatigavelmente,
de astros em astros em sistemas em sistemas, levar os divinos apelos. Ela já tem em si algo deste infinito
que se confunde com a eternidade.
Todas essas estrelas parecem nos sorrir como a amigos esquecidos. Seus mistérios nos atraem.
Sentimos que elas são a herança que Deus nos reserva mais tarde, nos séculos vindouros, conheceremos
essas maravilhas que o nosso pensamento apenas pressente. Nós percorreremos este infinito indescritível
através de uma língua limitada. Provavelmente há nesta ascensão, degraus tão númerosos que não
poderemos contá-los; nossos guias, porém nos ajudarão a superá-los, ensinando-nos a soletrar as letras de
ouro e de fogo da divina linguagem da luz e do amor, aí então, o tempo não terá mais medida para nós.
As distâncias acabarão. Não pensaremos mais nos caminhos obscuros tortuosos, escarpados, que já
seguimos no passado e aspiraremos as serenas alegrias dos seres mais avançados que traçam através de
feixes de luz nossa rota infinita. Os mundos onde vivêramos terão desaparecido, não passarão de poeira e
destroços; nós guardaremos, porém, a deliciosa impressão das felicidades absorvidas na superfície deles,
e fusões de corações que começaram a nos ligar com outras almas irmãs. Conservaremos a cara e
dolorosa lembrança dos males divididos, não estaremos mais separados daqueles que amamos, pois os
laços estão entre as almas bem como entre as estrelas. Através dos séculos e dos elos celestes, subiremos
juntos para Deus, para a grande família de amor que atrai todas as criaturas!

11. — A Floresta.

Ó! Alma Humana! Mergulhe na Terra, recolha-se; folheie as páginas do grande livro aberto a
todos os olhares; leia a história, da lenta formação dos mundos e da ação das imensas forças que
preparam o globo para a vida das sociedades nas camadas do solo que você escava.
Então escute! Escute as harmonias da Natureza, os ruídos misteriosos das florestas, os ecos de
montes e vales, o hino que a cascata murmura no silêncio da noite. Escute a grande voz do mar! Em toda
parte, ressoa o canto dos seres e das coisas, murmúrio da vida, a lamentação das almas que já sofrem
como nós e fazem um esforço para se desvencilhar do envelope material que as restringe.
A floresta expõe até o horizonte longínquo suas massas verdejantes que balançam sobre a brisa e
se curvam de colina em colina. Através de grandes folhagens, a luz se espalha em toalhas louras sobre o

27
tronco das árvores e sobre a relva; os sopros do vento brincam nos ramos. O outono acrescenta a sinfonia
das cores a esses prestígios, desde o verde amarelado até o selvagem ruivo e ao puro ouro; ela matiza e
torna ruiva as matas, pinta de ocre os castanheiros87, de púrpura as faias88, debulha as clareiras.
Penetremos nas folhagens. A medida em que se avança, a floresta nos envolve com seus eflúvios
e seus mistérios. Odores fecundos sobem do solo; as plantas exalam um sutil aroma. Um forte
magnetismo desprende-se das árvores gigantes nos invadindo e inebriando. Ao longe, dourados raios se
espalham em uma claridade que faz brilhar os troncos das bétulas89 como se fossem as colunatas de um
templo. Mais além, se erguem sombrias matas espessas, entrecortadas em linha direta através de uma
alameda que se estende a perder de vista seus arcos verdejantes, semelhantes a cúpulas de catedrais. De
todas as partes se abrem recônditos cheios de sombra e silêncio, profundas solidões que inspiram uma
certa emoção. Nele caminhamos sob espessas trevas, repletas de gotas de Sol.
Aqui, uma venerável faia encobre as bases de uma encosta com sua folhagem em forma de
cúpula. Lá, carvalhos90 inclinam sobre um espelho de um lago suas espessas folhagens. Uma árvore
secular patriarca dos bosques, respeitada pela foice e que três ou quatro homens não conseguiriam
abraçar, ela se ergue isolada elevada como uma igreja. Os raios freqüentemente a visitaram conseguindo
apenas quebrar suas ramagens, deixando-a cada vez mais em pé altaneira e protetora. Seu pé se incha com
monstruosas raízes, estofadas com musgos91 e coleópteros92 semelhantes a pedras preciosas, correm
sobre a sua rugosa casca.
Com uma triste solidão, pinheiros93 mostram seus fustes avermelhados e seus galhos torneados
em formas deliram. É um capricho da Natureza? O pinheiro é por excelência a árvore musical. Suas finas
e leves flechas balançam sobre o vento em melodias lamentadoras; seus ramos cantores estão plenos de
carinhos e de sussurros.
Como é bom vagar sob a silênciosa sombra impressionante dos extensos bosques, a margem de
um claro riozinho e pelos caminhos em forma de onda traçados pelas cabras. Como é confortável alongar-
se sobre o veludo dos musgos ou sobre o tapete de samambaias94, abaixo de algum rochedo de granito,
para seguir com o olhar a corrida dos escaravelhos95 dourados nas plantas, dos pequenos lagartos96 nas
pedras e ainda se deter em escutar o alegre tisnar nos pássaros! Um mundo invisível se anima e fala a
nossa volta: concerto dos infinitamente pequenos, ninando o repouso da terra. Insetos por miríades levam
o seu círculo com o raio de luz enquanto que no topo de uma faia, uma toutinegra97 canta em trinados
perolados. Aqui tudo é alegria de viver e fecunda metamorfose!
Junto a um buquê de árvores, uma fonte jorra entre rochedos; ela se expande sob um tapete de
pedras, entre as corriolas98 e as campânulas99, as hortelãs100 selvagens e os chapins101. Da represa
esculpida pelas suas águas para onde vem os chapins beberem água, a onda cristalina escorre gota a gota
e jaz docemente. Um grande pinheiro sombreia e protege a delicada concha. O vento balança suas
agulhas enquanto a fonte murmura o seu canto. Um raio de Sol vindo do ramo, põe mil reflexos brilhantes
sobre essa toalha límpida. No ar, libélulas102 dançam e saltitam; lindas moscas103 multicolores zumbem
no cálice das flores. Na tranqüila paisagem, a água corrente a tagarelar é um símbolo de nossa vida, que
surge das profundezas obscuras do passado e foge sem nunca parar em direção ao oceano dos destinos, no
qual Deus a conduz através de tarefas sempre mais elevadas, sempre novas. Pequena fonte, pequeno
riacho, amigos dos filósofos e dos pensadores, vocês me falam da outra margem para qual eu me dirijo a
cada segundo. Vocês me lembram que tudo ao nosso redor é uma lição, um ensinamento que sabe ver,
escutar, entender a linguagem dos seres e das coisas!
Porém, repentinamente, o vento sul se levanta; um sopro poderoso passa pela floresta que vibra
com um imenso órgão. Semelhante a um mar de esmeraldas, o grande fluxo vegetal aumenta pouco a
pouco, agita-se e sussurra. Um coro de sons invisíveis agita a imensa solidão. Troncos gigantes se
contorcem em longos gemidos. Pedidos, súplicas vêm das moitas, pensaríamos em rolamento de carros e
a
de tropas que se entrechocam. (aqui termina o uso da 1 edição)
O caminho sobe por uma planície e se envolve por um bosque de castanheiros. Essas árvores
centenárias balançam ao vento. Inclinando seus galhos bem carregados e pesados que parecem dizer ao
homem: “Peguem meus frutos, nos quais eu destilei o suco do meu âmago; colham meus galhos mortos,
que no inverno aquecerão teu lar. Pegue-os, porém não seja ingrato nem indiferente, pois toda natureza
trabalha para você. Não seja ingrato, senão as provas, as rudes lições da adversidade fatalmente virão
adocicar teu coração. Arrancar-te cedo ou tarde a indiferença, as dúvidas, os erros e orientar teu
pensamento em direção à compreensão da grande Lei.”
Breve a impressão muda e enternece. O vento se foi. A lande (charneca)104 sucedeu a floresta, os
tojos , as alfazemas106, as giestas107 seguem a augusta assembléia dos bosques. Sob uma elevação do
105

solo, ergue-se um alto monolito, no centro de um círculo de pedras limosas, algumas ainda em pé, outras
jazem sobre a relva, contando as histórias das raças milenares, seus sonhos, tradições e crenças. O
espetáculo dessas pedras enigmáticas nos faz mergulhar no abismo dos tempos. Elas exalam a saudade

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das coisas adormecidas, enquanto que, ao redor de nós, a natureza nos dá a sensação de uma eterna
juventude.
Sobre encostas, vales se abrem, córregos aparecem sob vastas e perfumadas moitas, fontes
brotam, puras e frescas; seus murmúrios inundam o vale. Através dos desfiladeiros, em uma baía azulada,
o Sol projeta reflexos em púrpura e dourada. Luzes de incêndio aparecem nos bosques. Atrás de nós, sob
as luzes do poente, a grande floresta do Estado108 ostenta seus imensos bosques, suas matas cerradas. Os
raios oblíquos do Sol atravessam as colunas e vão clarear longínquas solidões, das quais eles fazem
emergir folhagens multicores: ruivos variados, selvagem ouro, brilhantes vermelhos, cromo e laca, tudo
se ilumina e incandesce numa espécie de apoteose. Diante deste panorama feérico que me fascina, na paz
da noite, meu pensamento se exalta, elevando-se e dirigindo-se à causa de tantas maravilhas para
glorifica-la.
***
Tudo na floresta é encantamento, seja na primavera quando as seivas inundam suas mil artérias e
quando as jovens mudas verdejam em concorrência, seja quando o outono a decore com ardentes tintas
com cores privilegiadas, seja até no inverno, em uma mágica mudança em um palácio de cristal, os
simples ramos tombam ao peso da neve e se enchem de diamantes, transformando cada pinheiro em
árvore de natal.
A floresta não é somente um maravilhoso espetáculo, ela é ainda um contínuo ensinamento sem
cessar, ela nos fala das regras fortes, dos augustos princípios que regem toda a vida e presidem a
renovação dos seres e estações. Aos tumultuados e nervosos ela oferece seus profundos retiros, propícios
a reflexão. Aos impacientes ávidos de prazer, ela diz que nada é tão duradouro, se não deu trabalho nem
levou tempo para germinar, saindo da sombra para elevar-se ao céu. Para os violentos e impulsivos ela o
põe a visão de sua lenta evolução. Ela verte a calma para as almas febris. Simpáticas alegrias compatíveis
com as dores humanas, ela cuida dos corações machucados, consola, repousa, comunica, a todas as forças
obscuras, as energias escondidas em seu peito. A Lenda de Anteu109 continua sendo aplicável aos feridos
da existência, a todos aqueles que esgotaram suas faculdades, suas forças vitais nas ásperas lutas deste
mundo. Basta-lhes tomar contato com a natureza para encontrar, na virtude secreta que dela emerge
ilimitados recursos.
Quantas analogias e lições em todas as coisas! A glande do carvalho em seu modesto envelope
contém não somente todo o carvalho com seu majestoso desenvolvimento. A semente menor ainda
contém em seu alegre berço toda flor em sua graça, cor e perfume. A alma humana possui igualmente em
germe todo desenvolvimento de suas faculdades, de suas potências futuras. Se não tivéssemos ao alcance
de nossos olhos o espetáculo das metamorfoses vegetais, nos recusaríamos a crer Nele. As fases da
evolução das almas em seu eterno caminho nos escapam e não podemos compreender atualmente todo o
esplendor de seu futuro. Disso temos o exemplo, na personalidade desses gênios que passaram através da
história, como um brilho, deixando rastros de obras imperecíveis. Tais são as alturas, às quais podem
elevar-se almas as mais atrasadas na escala das inúmeras vidas com a ajuda desses dois essenciais fatores:
o tempo e o trabalho.
Desta forma a natureza nos mostra toda beleza da vida, o preço do esforço paciente e corajoso e
a imagem de nossos destinos infinitos. Ela no diz que tudo está em seu lugar no universo, mas também
que tudo evolui e se transforma, almas e coisas a morte é só aparente, aos tristes invernos sucedem as
remoçadas primaveras, repletos de seivas e promessas. A Lei de nossa existência não é diferente daquela
das estações. Após dias ensolarados de verão vem o inverno da velhice e com ele a esperança dos
renascimentos e de uma nova juventude. A natureza, como nós, ama e sofre. Em todo lugar, sob o fluxo
de amor que transborda no universo, encontra-se a corrente da dor, porém ela é salutar já que, quando
apura a sensibilidade do ser, ela desperta nele qualidades latentes de emoção, gentileza e lhe proporciona
um acréscimo de vida.
***
A floresta é a vestimenta da Terra e a verdadeira conservadora do globo. Sem ela, o solo levado
pelas chuvas retornaria rapidamente aos abismos da imensidão do mar. Ela retém as grossas gotas de
tempestade em seus tapetes de musgo, no emaranhado de suas raízes; ela os economiza para as fontes e os
devolve pouco a pouco, transformados, tornados fertilizantes e não mais devastadores. Em todo local
onde desaparecem as árvores, a Terra se empobrece, perde sua beleza. Gradualmente, vêm a monotonia, a
aridez e em seguida a morte. Regeneradora por excelência a respiração de suas milhares de folhas110
destila o ar e purifica a atmosfera.
Do ponto de vista psíquico, vimos que o papel da floresta não é menos considerável. Ela sempre
foi o abrigo do pensamento recolhido e sonhador. Quantas obras delicadas e fortes foram meditadas em
sua fresca, movimentada sombra, na paz de suas potentes e fraternas ramadas. Aqueles que possuem uma
alma de artista, de escritor, de poeta saberá usufruir a inspiração fecunda desta fonte viva.

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Com seu ritmo majestoso, a floresta ninou a infância das religiões. A arquitetura sagrada, em
suas mais audaciosas fileiras, copiou o trabalho da floresta. As naves góticas de nossas catedrais não são
elas somente a imitação, através de pedra, das mil colunas e volutas imponentes dos bosques? A voz dos
órgãos não é a brisa do vento que, de acordo com a hora, suspira nas roseiras ou faz gemer os grandes
pinheiros? A floresta serviu de modelo para manifestações as mais elevadas da idéia religiosa em seu
desabrochar estético. No início das eras, ela cobria quase totalmente a superfície do globo. Nada
impressionante, para nossos pais, a antiga e profunda floresta das Gálias, em sua misteriosa grandeza,
com seus santuários naturais, nos quais se realizavam sagrados rituais, seus retiros às vezes cheios de
horror, quando o barulho da tempestade soava os ecos dos bosques e que, do âmago dos
hallier(touceiras)111 saía o grito das feras; repleta de charme e de poesia quando voltava a calma, o céu
azul e uma clara luminosidade aparecia através dos galhos e que o canto dos pássaros celebrava a eterna
festa da vida.
De século em século, a alma céltica conservou a forte característica da primitiva floresta e o
amor aos seus santuários, jornadas de espíritos tutelares honrados por Vercigentórix112 e Joana d’Arc que
os escutavam na verde solidão essas vozes inspiradoras.
O espírito céltico é ávido por clareza e espaço, é apaixonado pela liberdade; ele possui uma
intuição profunda das coisas da alma que exigem uma revelação direta, uma comunhão pessoal com a
natureza visível e invisível. Eis porque ele estará sempre em oposição com a igreja romana, desafiadora
desta natureza e cuja doutrina é somente opressão e autoridade. Os druidas113 e os bardos114 foram
rebeldes a ela. Apesar da conquista romana e das invasões bárbaras, que facilitaram a expansão do
cristianismo, a alma céltica, por uma espécie de instinto, sempre se sentiu herdeira de uma fé maior e
mais livre que a romana.
Foi em vão que os monges tentaram impor ao espírto céltico a idéia do ascetismo e da renúncia,
a submissão a rígidos dogmas e ao conceito lúgubre da morte e do além, pois ele, em sua sede de saber,
de viver e de agir, escapará desse círculo estreito.
A idéia fundamental do druidismo é a evolução, a idéia do progresso e do desenvolvimento com
liberdade. Essa idéia foi tomada de certo modo da Natureza e completada através da revelação. Com
efeito, a impressão geral que sobressai do espetáculo do mundo é um sentimento de harmonia, uma noção
de encadeamento, uma idéia de objetivo e de lei, isso quer dizer das relações eternas dos seres e das
coisas. O conceito evolutivo aparece através do estudo dessas leis. Há uma direção, uma finalidade na
evolução, essa direção leva o conjunto das vidas, através de graduações insensível e secular, para um
estado sempre melhor.
O Cristianismo, ou melhor, o Catolicismo, abandonou aquela idéia, porém a nova ciência a ela
nos conduz. Primeiro, ela espiritualiza a matéria reduzindo-a em centros de forças. Ela nos mostra o
sistema nervoso se complicando cada vez mais na escala dos seres para chegar ao homem. As espécies
selvagens tendem a desaparecer diante da superioridade humana. Com desenvolvimento do cérebro, o
pensamento triunfa. A consciência realiza sua ascensão paralela. Há uma aproximação entre as leis
morais e as certezas físicas e biológicas. A ordem que se manifesta nos dois campos alcança conclusões
análogas: A natureza é plástica como a consciência, móvel como ela e sofre a influência do espírito
divino.
Sendo essa evolução a lei central do universo, o papel principal da ordem social é o de levá-la a
todos os seus membros. A vida é boa, útil e fecunda. Diante das perspectivas infinitas que ela nos abre
todos os sentimentos deprimentes (pessimismo, dúvida, tristeza, desespero) desaparecem para dar lugar às
aspirações imortais e à esperança indestrutível.
É esse gênio de nossa raça, nadando sob o fluxo das invasões, sobrevivendo a todas vicissitudes
da história, reaparecendo sob vinte formas diversas, após períodos de eclipse e de silêncio que explica a
grande missão e o brilho da França na obra da civilização. Mais que qualquer outra raça, os celtas, cujas
origens se perdem, no longínquo vertiginoso das eras, aproximam-se, através do hereditário instinto, do
mundo das causas e das fontes da vida. Assim como na ciência, como na filosofia, eles conseguiram
inúmeras vezes encaminhar o pensamento perdido ao sentimento da natureza e de suas leis reveladoras, a
um conceito mais claro dos princípios eternos. Se o entusiasmo e a fé céltica pudessem se apagar, haveria
menos luz e alegria no mundo, menos élan, apaixonados em direção à verdade e ao bem. A mais de um
século, o materialismo alemão enegreceu o pensamento, paralisou o seu progresso; podemos constatar em
torno de nós, os funestos resultados da influência dele. Porém, eis que o gênio céltico reaparece, sob a
forma do espiritualismo moderno, para esclarecer novamente a alma humana em sua ascensão; ele
oferece a todos aqueles cujos lábios estão ressecados, pelo amargo vento da vida, a taça da esperança e da
imortalidade.

12. — O Mar.

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Do tombadilho do navio que me leva, eu contemplo a imensidão das águas. Até os confins do
firmamento, o mar estende sua flexível toalha brilhante sob os raios do dia. Nem uma nuvem, nem um
sopro. O Sol do sul ilumina com fugidios clarões a crista das ondas e neste imenso espelho, sua luz
transforma-se em delicadas nuanças em arrepios diversos, envolvendo as ilhas, os cabos e as praias numa
leve claridade, adoçando o horizonte e idealizando as longínquas perspectivas. Os raros passageiros
fazem a sesta, o tombadilho está deserto. O silêncio só é alterado pelo barulho da hélice e do canto da
onda que acaricia os flancos do navio. Em toda parte ao nosso redor, reina uma profunda paz. Em
nenhum lugar senti uma impressão tão repousante. É como uma pacificação, uma serenidade, um
distanciamento de tudo, o esquecimento das pobres agitações humanas, uma dilatação da alma, um tipo
de volúpia de viver e de saber que viveremos sempre, a sensação de ser indestrutível como este infinito da
terra e do céu.
As costas douradas da Provença parecem fugir a proa do navio, orientada para a África, corta as
águas azuis. O Mediterrâneo é um feiticeiro sob seu céu azul. Todos os mares têm seu prestígio, sua
beleza, seja em dias de cólera e de fúria, com a comovente fascinação de suas águas espumantes, seja nas
horas de calma no esplendor de seus poentes. Seus horizontes sem limites levam a alma a contemplação
das coisas eternas e dos sonhos divinos. Quase todos os marinheiros são idealistas e crentes.
***
Nossas costas da França voltam-se para dois mares. O Mediterrâneo é bonito pela harmonia de
seus contornos, a limpidez de sua atmosfera, a riqueza de seus matizes. O oceano é imponente, tanto em
seus tumultos quanto em suas calmarias, com suas grandes ondas que varrem os gravetos duas vezes por
dia, seu céu agitado, freqüentemente sombrio e seu grande sopro purificador. É principalmente do alto
dos promontórios armoricanos que o oceano é majestoso de se ver em suas horas de ira, quando o fluxo
rola briguento sobre os recifes, grita nas enseadas profundas e secretas ou cai como um raio nas sombras
das cavernas perfuradas na rocha. A lamúria do mar tem algo de penetrante, de solene, que torna a solidão
mais triste e mais impressionante. Os gritos dos maçaricos115, dos alcatrazes116, das gaivotas117 que voam
em círculo no meio da tempestade, acrescentam isolamento a esta cena. Toda costa está branca de
espuma. Sob os pés do observador, o solo treme a cada golpe surdo da onda.
Do cabo de la Chevre118, da raz de Sein119, da ponta do Penmarch120, o espetáculo tem o
mesmo caráter de grandiosidade épica e selvagem. Em toda parte, aglomerados de rochas enegrecidas
prolongam o continente bem como fragmentos arrancados do esqueleto do globo pela fúria das águas.
Longas linhas de resquícios se estendem, testemunhando os combates seculares que o fluxo faz com o
difícil granito. É um caos formidável, no qual os elementos desencadeados em turbilhão jazem por terra.
Ela geme sob seus esforços redobrados.
***
O mar se acalmou; o vento se apaziguou. A noite caiu e o cintilar das estrelas ilumina o azul
profundo do céu. Os faróis de eclipse brilham, clareando as rotas ao largo. Fez-se silêncio, conturbado
apenas pela grande melopéia do oceano que se levanta lento grave e contínuo, semelhante a uma
salmodia ou a um encantamento. O que diz ele? Como todas as harmonias da natureza, ele fala da causa
suprema, da obra imensa e divina. Ele nos lembra o quanto o homem é pequeno em sua forma material,
diante da majestade das águas e do céu; quão grande ele é em sua alma, que pode abraçar todas as coisas,
saboreando suas belezas e delas desenvolver ensinamentos.
Qual homem não experimentou esse sentimento misterioso que nos retém, contemplativo e
sonhador, diante dos espetáculos do mar? Em uns, segundo o grau de evolução, é uma espécie de
espanto admirativo, misturado ao medo; em outros, é uma comunicação íntima e muda que os
invade completamente.
Cada elemento manifesta a seu modo os segredos da sua vida profunda. A alma humana, através
de seus sentidos interiores, percebe essa linguagem. As coisas se estendem em nossa direção, mas nem
sempre nos atinge. Nossa alma vai em direção as coisas, sem conseguir nelas penetrar completamente, ela
porém dela se aproxima o suficiente para sentir o parentesco que nos une, a natureza e nós, as ligações e
relações múltiplas e ocultas. Esta fusão com a alma universal se traduz por um entusiasmo de vida que
penetra em todos os nossos poros, júbilo que a palavra não saberia exprimir. O mar, a floresta, bem como
a montanha, age sob nossa vida psíquica, nosso sentimento e pensamento e através dessa comunhão
íntima, a dualidade da matéria e do espírito cessa um momento, para fundir-se na grande unidade que
tudo desencadeou. Nós nos sentimos associados a imensas forças do universo, destinados como elas,
porém de outra forma a representar um papel neste vasto teatro.
***
O mar é um grande regenerador. Sem ele a terra seria estéril e infecunda: em seu âmago se
elaboram as benfeitoras chuvas; todo o sistema de irrigação do globo nasce dele. A efusão de vida nele é
sem limites. Esta grande força salutar apesar de violenta e selvagem corrige, atenua nossas fraquezas
físicas e morais. Através do perpétuo perigo que ele apresenta, o mar é uma escola de heroísmo. Ele

31
comunica ao homem suas energias; ele dá a seu pensamento, a seu caráter, esse contorno sério, recolhido,
essa marca particular de calma e de gravidade que reside nas populações das costas. Seus sopros
vivificantes inundam ao mesmo tempo corpos e vontades, dando-lhes resistência e vigor. Ele também tem
seus fiéis, seus amantes, seus devotos. Apesar de suas cóleras, revoltas e constantes perigos aqueles que,
durante longo tempo, conviveram com ele não podem mais se separar; Eles estão ligados ao mar com
todas as fibras do seu ser.
O vasto mar é, para nós, uma imagem de potência, de extensão, de duração. Todos aqueles que o
descreveram comparam-no a um organismo vivo, eles dizem perceber em alguns dias de verão sua
pulsação. Os fluxos e refluxos são a respiração. Durante a noite, escutando a noite, o barulho monótono
da onda tinha sempre a impressão que o oceano respirava como um Leviatã121adormecido. Suas grandes
correntezas fazem brilhar o calor e a eletricidade até as extremidades do mundo.
Há em nosso planeta, dois intensos centros de vida: Java122 e o Mar das Antilhas123 que
contornam dois ciclos de vulcões, sedes formidáveis de vitalidade e atividade submarina. Dois enormes
rios duas enormes correntes marítimas neles desembocam, semelhantes a aortas e vão esquentar o
hemisfério Boreal. Maury124 as chamou: “duas vias lácteas do mar.” Outras correntes secundárias vão
fecundar o Oceano Índico125, banhando a vasta rede de ilhas, de recifes e bancos onde o trabalho dos
pólipos fixa as bases de um futuro continente.
Se o mar tem suas pulsações, ele possui seus espasmos e convulsões. Contudo, sua verdadeira
personalidade não se revela nos acidentes ou crises de sua superfície: As mais violentas tempestades só
agitam uma fraca parte de sua massa líquida. Para conhecê-la, é preciso estudá-la em suas misteriosas
profundezas. Nos profundos oito mil metros fervilha uma vida obscura, estranha, iluminado por
fenômenos de fosforescência que clareiam, como luzes fantásticas, a noite silênciosa do abismo.
Seres luminosos apresentam-se abundantes. Quando eles são atraídos a superfície, brilham um
instante como caudas de fogo, como ervas iluminadas, para, porém apagar-se imediatamente. Suas formas
são infinitamente variadas; elas apresentam os mais inesperados aspectos e cores: rosáceas de catedrais,
rosários de pérolas e de coral, lustres de cristal com ricos candelabros; estrelas marinhas126 tingidas de
verde, de púrpura e de azul. Esta aparição fugidia é um deslumbramento; ela nos dá uma fraca idéia das
maravilhas que as criptas secretas do mar ocultam. Depois são as mágicas vegetações, algas gigantes,
madrepérolas, esmaltes de cores surpreendentes, florestas de corais127, gorgônias128 e ísis129, um mundo
inteiro singular, primeiro nascimento da vida, esforço de um pensamento que aspira luz. Quanto mistério
no fundo dessas trevas! Quantos continentes engolidos, cidades outrora florescentes jazem também sob o
sudário das grandes águas!
Esse foi o enorme vale onde se elaboraram as primeiras manifestações de vida. Ainda hoje é a
mãe, a protetora fecunda através de quem se desenvolve existências prodigiosas, a seiva transbordante da
qual nada, nem a destruidora raiva do homem, nem as causas conjuntas da mortalidade, da luta, da guerra
entre as espécies, nada pode diminuir a intensidade. A potência da reprodução de certas famílias é tanta
que sem as forças que a combatem, atenuando os efeitos, o mar seria, há muito tempo, transformado em
uma massa sólida.
Os arenques130vagam em inumeráveis bancos, numa torrente de fecundidade131. Cada fêmea
possui em média cinqüenta mil ovos e cada ovo se multiplica por sua vez por cinqüenta mil. O
bacalhau132, que engole os arenques, possui nove milhões de ovos, um terço de seu peso e ele põe durante
nove meses do ano. O esturjão133 que devora o bacalhau, não é menos prolífico. Somente esses três, em
seu ardor de reprodução teriam conseguido preencher o oceano sem os elementos de morte que vem
restabelecer o equilíbrio. De onde vemos que o sacrifício torna-se benfazejo, pois sem o combate que as
espécies realizam, a harmonia seria rompida e a vida pereceria por seus próprios excessos.
Para o mundo dos mares, a obra essencial é amar e multiplicar! Quando se examina a água
salgada no microscópio, em certas regiões ela apresenta quantidade impressionante de ovos, de germes de
infusórios. O oceano é comparável a uma imensa cuba sempre em fermentação de existências, em
trabalho contínuo de nascimento. A morte nele encontra a vida: nos restos orgânicos dos seres destruídos,
outros organismos aparecem e se desenvolvem ininterruptamente.

13. — A Montanha.

Em certos pontos de nossas encostas o mar e a montanha se unem, um diante do outro. Eles se
opõem, um com a variedade de suas formas em silênciosa imobilidade, o outro com o barulho, o
movimento incessante na uniformidade. De um lado, a agitação sem trégua, do outro a majestosa calma.
A Natureza gosta desses contrastes. Os montes, ora ásperos e despidos, ora cobertos de verde,
erguem-se acima dos vales profundos e dos vastos horizontes do mar; locais graciosos ou austeros
decoram a toalha azul dos lagos. Acima de todas as coisas, se descortina o espaço, no âmago dos céus, os
astros prosseguem seu eterno trajeto.

32
A obra é variada em seus mínimos detalhes; mas, dos diversos elementos que a compõe,
despende-se uma potente harmonia da qual se revela a arte do Divino Autor. O mesmo ocorre no campo
moral. Há inúmeras almas, com aptidões infinitamente variáveis: almas ternas ou brilhantes, nobres ou
vulgares, tristes ou alegres, almas de fé, almas de dúvida, almas de gelo, almas de fogo! Todas parecem
se juntar, se confundir na imensa arena da vida. Dessas aparentes discordâncias, dessas atrações, desses
contrastes resultam as lutas, os conflitos, as raivas, os insensatos amores, as felicidades deliciosas e as
agudas dores. Porém, revirar contínuo, uma mistura se produz; trocas perpétuas se fazem; uma ordem
maior se faz. Os fragmentos das rochas, as pedras levadas pela chuva se transformam ao longo do tempo,
em pedras redondas e polidas. O mesmo ocorre com as almas: feridas, levadas pelo rio das existências, de
grau em grau, de vidas em vidas elas caminham na via das perfeições.
***
A França é admiravelmente dividida sob o aspecto montanhas. Elas cobrem um terço de sua
superfície e seguindo as latitudes, segundo a intensidade da luz que banha seus cumes, elas oferecem
aspectos e colorações de uma diversidade maravilhosa.
No nordeste, as Vosges134, com suas rochas de arenito135, furando o solo, os velhos burg136
suspensos como ninhos de águias a altura das nuvens e as sombras dos pinheirais como um tapete em
suas encostas.
Ao centro, o grande maciço vulcânico do Auvergne137, com suas crateras invadidas pelas águas e
suas longas cheires138 ou correntes de lavas, derramadas na base dos puys139 (das montanhas). Ao sul, é
a morna e fantástica região das Causses140, suas estreitas gargantas, suas falésias vermelhas, seus
abismos, seus riachos subterrâneos.
Como fundo a imenso quadro, uma série de montes se encadeia da Franco-Condado141 até o
Bearn . É a cadeia do Jura143, dos Alpes da Savóia144, da Dauphine145 e da Provença146, as encostas
142

ensolaradas do Mar Azul, o Estérel147 e os Cévennes148. Finalmente, a alta muralha dos Pirineus149, com
seus picos recortados, seus sublimes circos e suas românticas solidões.
Todas essas montanhas da França me são familiares. Eu as percorri freqüentemente. Posso dizer
que estas foram uma das raras felicidades de minha vida, a de saborear a contagiante beleza das
montanhas. A montanha é meu templo! Nela nos sentimos bem longe das vulgaridades deste mundo, bem
próximo ao céu, bem próximo a Deus!
Com o imprevisto de suas mudanças, a vista e o desenrolar de um maravilhoso espetáculo:
cumes com neve, geleiras encantadoras, escarpement150 formidáveis, cavernas, córregos tenebrosos,
pastagens, lagos, cascatas, cachoeiras, a montanha é uma fonte inesgotável de fortes impressões, de
elevadas sensações, e de fecundos ensinamentos.
Como faz bem, no frescor da aurora, impregnado pelos penetrantes odores da noite, subir as
encostas, com um grande cajado pontudo à mão e a mochila de alimentos às costas! Ao vosso redor tudo
é calma; a terra exala essa paz serena que mergulha nos corações e os atinge com uma íntima alegria. A
trilha é tão graciosa em seus contornos, a floresta plena de sombra e de misteriosa doçura! À medida que
você sobe, a perspectiva se estende, maravilhosas caminhadas mostram-se ao longe sobre os planaltos. As
cidades mostram suas manchas brancas entre o verde, entre a colheita, os matagais e os bosques. A água
dos lagos e dos rios formam um espelho como aço polido.
Mais além, a vegetação se faz rara; a trilha torna-se mais abrupta; ela enche-se de troncos de
árvores e de blocos desmoronados. Em toda parte, aparecem as florezinhas das altitudes: a arnica com
flores amarelas, os rododendros151, as saxífragas152, as íris153 azuis e brancas. Odores balsâmicos flutuam
no ar. Em toda parte, brotam águas, fontes límpidas. O murmúrio delas envolve a montanha com uma
doce sinfonia.
Estendido sobre os musgos, quantas horas não passei a escutar o tagarelar cristalino das fontes
entre os rochedos e a voz da torrente aumentando no grande silêncio! Tudo se idealiza nessas alturas. Os
apelos longínquos e os cantos melancólicos dos pastos, os sons dos sininhos dos rebanhos, a zanga das
águas subterrâneas, o lamurio do vento nos lariços154, tudo se torna melodia. Porém, eis a tempestade:
com sua voz possante, tudo se cala!...
Eu gosto de tudo na montanha: seus dias ensolarados, cheios de eflúvios e raios e suas noites
serenas sob milhões de estrelas que cintilam com mais força e parecem mais próximas de você. Gosto até
de suas tempestades e raios sobre os cimos.
A tempestade passou. A natureza retomou o seu ar de festa. Em toda parte, soa o cri-cri dos
gafanhotos155 e o barulho dos grilos156. Insetos de todas as formas e cores manifestam, a sua maneira, sua
alegria de viver, de embeber-se de ar e luz. Mais abaixo na floresta profunda, na floresta encantada, o
concerto de seres e coisas que domina o baixo cantante (basse-taille)157 do vento nos ramos: cantos de
pássaros, zumbir de insetos, melopéia dos riachos, das fontes e das cascatas, tudo isso o encanta,
envolvendo-o com o charme indefinido e irresistível. Retomemos nossa caminhada. Alguns esforços
ainda, ofegando, você atinge o cume. Que compensação a sua dificuldade! Um panorama imenso se

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descortina, uma paisagem incomparável subitamente se revela, espetáculo que maravilha o olhar e
preenche a alma com uma emoção religiosa.
Picos e mais picos se erguem na glória do amanhecer. Na linha do horizonte, picos solenes se
alinham, todos brancos de neve, com suas geleiras que o Sol faz brilhar como toalhas de prata. Entre seus
cumes enormes, abrem-se desfiladeiros nos quais aparecem ternos vales. Em direção ao norte, a cadeia
abaixa-se em leves ondulações e dá lugar a uma planície infinita. Os últimos contrafortes estão cobertos
por lindos bosques, pradarias refrescantes, pitorescas cidades. Além o desenvolvimento sem limite do
tapete verde e ouro dos campos, prados, campinas, urzes158, um tabuleiro de culturas, uma variedade de
tons, cores que se fundem em um longínquo vaporoso. Mais além ainda, o imenso mar resplandece sob o
infinito azul.
O tempo escoa, rápido, nessas alturas. Logo, é preciso pensar no retorno. Lentamente, o Sol
declina; os vales se enchem de sombra. Já, as silhuetas pretas dos grandes picos se dirigem para o céu
puro no qual acendem-se fogos estrelares. A voz da torrente aumenta, mais alta e mais grave na paz da
noite. Os rebanhos retornam unidos pelos pastores, sob o olhar vigilante dos cães. Os sinos dobram,
argentinos, convidando ao repouso e ao sono. As luzes se apagam uma a uma no vale. Minha alma
minada pelas harmonias da montanha dirige uma ardente homenagem ao Deus poderoso, ao Deus criador.
***
Jovens que me lêem, meu pensamento se dirige a vocês em um laço fraterno, para dizê-los:
aprendam a amar a montanha.
É o livro por excelência diante do qual todo livro humano é pequeno. Folheando suas grandiosas
páginas, mil belezas escondidas aparecerão, mil revelações que você não supõe. Vocês recolherão
preciosas alegrias que enriquecerão sua alma e a depurarão. Aprendam a ver, a ler e a ouvir. Encham os
seus olhos e corações com essas paisagens agrestes ou charmosas. Penetre na graça e na força bela, na
severidade e na doçura delas. Passo a passo, a antiga e venerável árvore, a torrente que jorra, o cume
altaneiro lhes ensinará sublimes lições que ficarão gravadas para sempre na sua memória e ninarão mais
tarde com doces lembranças as tristes e sombrias jornadas de seu declínio. Saibam compreender sua
linguagem. Suas vozes unidas compõem o hino de adoração que os seres e as coisas cantam para o
Eterno.
A montanha é uma bíblia, dizíamos nós, cujas páginas apresentam um sentido escondido, um
sentido profundo. Nas camadas das rochas, dobradas, modificadas pelos abalos sísmicos, vocês podem ler
a gênese do globo, as grandes epopéias da história do mundo antes da aparição do homem. Os
movimentos da casca terrestre, escrito ao redor de vós com letras gigantes, mostram a ação das forças
combinadas criando nossa morada comum. Depois será o lento trabalho das águas, gota a gota, cavando
os cirros e as gargantas, esculpindo colossos de granitos. Enfim, virá o estudo da flora e da fauna em sua
diversidade sem limites.
As erupções térmicas arrefecidas, os pórfiros159 gigantes falarão dos esforços da massa em fogo
elevando as cadeias com jatos agudos ou cúpulas arredondadas. Os vulcões160 são os orifícios
respiratórios da Terra, abaixo deles sente-se bem a violenta circulação e expansão de seiva e de vida que
sem essas ulcerações quebrariam o solo, destruiriam a casca planetária. As fontes quentes vos
demonstram que as entranhas do globo contêm ainda vida ardente, inflamada, pronta a jorrar e que a ação
do enorme temível ciclope torna sempre possível.
Do foco de luz central, do fundo do abismo sobem a superfície forças expansivas que
transformam os elementos liqüefazendo-os e carregando-os com desconhecidas eletricidades, em seu
impulso dirigindo-se ao Sol, cuja radiação as solicitam e as atraem através do espaço.
É o laboratório prodigioso no qual se elabora a grande obra, a preparação do amplo teatro onde
se representarão os dramas da vida.
Para todos aqueles que sabem amá-la e compreendê-la, a montanha é uma longa e profunda
iniciação.
***
A flor abre-se aos carinhos do Sol e as lágrimas do orvalho: igualmente a alma se expande, sob a
radiosa influencia da grande natureza. Sob essas impressões poderosas, tudo nela emociona-se e vibra.
Ela ora e sua prece é um grito de reconhecimento e de amor. Da prece, ela passa a contemplação, esta
forma superior do pensamento por onde se infunde misteriosamente em nós o sentido supremo, o sentido
divino da obra universal.
Só a contemplação não é suficiente. A verdadeira vida é a ação, a lei nos impõe a luta e a prova,
através delas, nós alcançaremos méritos. Nossos deveres, nossa tarefa cotidiana nos absorvem, nos
mantêm longe das puras fontes do pensamento. Eis porque é bom e salutar dirigir-se, de quando em
quando, para a Natureza, para nela nos recarregarmos com forças e inspirações. Todos que a
desconhecem ou ignoram dela padecem e se limitam. Àqueles que a amam, ela comunica o socorro

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moral, o viático necessário para caminhar, através das rochas e brumas da vida, em direção ao objetivo
supremo, luminoso, longínquo.
Assim como o mar, e mais ainda, a montanha é calmante e fortificante. Ela possui um princípio
regenerador que acalma os nervosos, que traz saúde aos degenerados, um meio de erguimento vital para a
frágil humanidade. Na montanha, as agitações febris, as preocupações da vida factícia e massacrante das
cidades se desfazem para dar lugar a uma maneira de existir mais simples e natural. A altitude é uma
escola de energia para aqueles que não foram demasiadamente enfraquecidos pela cidade. As vastas
perspectivas apuram o olhar. Os pulmões se dilatam com o ar puro dos cumes. Os obstáculos estimulam
nossos esforços, na ascensão, a escalada nos dá músculos de aço. Ao mesmo tempo em que as forças
físicas se desenvolvem, as potências intelectuais se reconstituem, as vontades se fortalecem. Habitua-se a
agir, a vencer, a desprezar a morte.
Mas a montanha tem seus perigos. Seus caminhos são escarpados e seus precipícios
atemorizantes. A vertigem vos espreita nas alturas. Lá, o vento é violento alguns dias e o trovão ralha
sempre. Ou ainda temos brumas repentinas que nos envolvem e nos escondem o perigo. Às vezes, é
preciso caminhar sob estreitas cornijas, entre o abismo e a avalanche, evitar as admiráveis fendas das
geleiras, descer as colinas escorregadias que terminam em fendas.
Ao longo das minhas excursões, escutei freqüentemente descer de eco em eco, a pesada
tempestade das quedas de pedras ou de massas de neve. Em tal local selvagem dos montes ou em tal
barranco devastado, você se vê de repente na presença de cruzes que marcam o lugar onde vários
viajantes pereceram.
Por outro lado, há também lá em cima todas as loucuras todas as harmonias da luz e dos
encantamentos que as planícies não conhecem. Nela percebemos a sinfonia universal e misteriosa de
barulhos, perfumes, cores, a doce e íntima música das brisas e das águas. Lá em cima, apreciamos melhor
a melancolia das noites, quando o odor dos prados e dos bosques sobem do âmago dos vales até os
cumes. Nesse momento, a alma do homem rompe os laços que o prendem a carne e plana no éter sutil.
Ela experimenta êxtases quase divinos.
Não é por acaso que os feitos mais consideráveis da história religiosa foram realizados nos
cumes. O Meru161, o Gatya162, o Sinai163, o Nebo164, o Tabor165 e o Calvário166 são altares extraordinários
dos quais sobe no ímpeto possante a prece dos grandes iniciadores.
Nas almas de elite, a majestade dos grandes espetáculos faz surgir os sentidos íntimos, as
faculdades psíquicas e se estabelece a comunhão com o invisível. Mas em diferentes graus quase todos
ressentem esta influencia. Nesses momentos, o que há de artificial ou vulgar em nossa existência se
desfaz para dar lugar a impressões sobre-humanas. É como uma claridade que se abre, em meio as nossas
trevas, através de fumaças negras que escondem de nós o céu e asfixiam ao longo dos tempos as mais
belas inteligências. Um momento e nós entrevemos o mundo superior celeste infinito. Aí então, as
irradiações do pensamento divino descem como orvalho na alma encantada.
Longe dos preconceitos e rotinas sociais a alma se expande livremente. Ela reencontra o seu
próprio gênio o Awen167 dos druidas. Suas seguras intuições lhe dizem que todos os sistemas são estéreis
e que somente a grande mãe natureza, o grande livro vivo pode nos ensinar a verdade, a beleza perfeita.
Nas horas de recolhimento profundo, seja quando o Sol derrame a prodigalidade de sua púrpura na
assembléia dos montes, seja quando a lua espalha sua prateada luz no silêncio formidável, um contato
solene estabelece-se entre a alma e Deus.
Essas grandes pausas da vida são indispensáveis para nos revigorar, nos reconhecer, nos
transportar para ver o objetivo supremo e para ele nos orientar com passo firme. Então, como os profetas,
nós descemos dos cumes maiores iluminados por uma claridade interior.
***
Aos chamados do meu pensamento, as recordações surgem em quantidade. Foi nos Pireneus,
uma ascensão no Pico de Ger,168 perto de Eaux-Bonnes.169 Para atingir a plataforma rochosa, uma
espécie de mirante que é o ápice da montanha, é preciso transpor de cócoras um cume de cinqüenta
metros, agudo como uma lâmina de navalha, acima de um vertiginoso abismo de dois mil pés. Que
contemplação! Toda cadeia central se descortina, desde os Montes Malditos170 até o Pico de Anie,171 cujo
cume negro emerge de um mar de nuvens como uma ilha no seio do oceano.
A atmosfera é tão pura, tão límpida que se distingue os contornos dos montes mais longínquos.
O Vignemale172, o grupo dos grandes picos do Bigorre173, com suas finas arestas e suas coroas de
geleiras, suas imaculadas neves se dirigem como fantasmas brancos sob a ardente luz do Sul. Graças à
transparência do ar, os picos espanhóis, situados a mais de cem quilômetros, se mostram com tanta
nitidez que cremos estarem bem próximos.
Eu os revejo como se fosse ontem, esses cumes grandiosos dominando as linhas de grandiosos
cumes que se sucedem até o final do horizonte: o enorme Baleïtous,174 e além, em um vasto espaço, o

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sombrio Monte Perdido.175 Mais próximo a nós as familiares formas do Monné,176 do Gabizos,177 as
pilastras do Marboré,178 a brecha de Roland,179 velhos conhecidos que eu saúdo de longe com prazer.
Uma serenidade inalterada envolve esta assembléia de gigantes, fixada em um conciliábulo
eterno. No primeiro plano, o pico granítico de Ossau,180 solitário e bravo, continua seu sonho de cem
séculos.
Lá embaixo, os cumes das serras avermelhadas que se encaminham para o sul pertencem ao
vertente espanhol, austero, devorado pelo Sol, mas tão rico de matizes. Desta vertente, explorei diversas
vezes as crateras primitivas tão desconhecidas e com difícil acesso as gargantas, abismos de onde
emergem cascatas, retumbam torrentes invisíveis que fizeram uma cama subterrânea no caos infernal. E
que caminhos, talhados em cornijas no âmago de paredes a prumo! Sob nossos pés, se abre o abismo, a
várias centenas de metros; acima de nossas cabeças, abutres com apetite voraz rodam em grandes
círculos. Entre essas cristas recortadas, estende-se o Bramatuero,181 corredor sinistro entrecortado por
nevadas e lagos congelados no qual, um padre italiano, que ia a Lourdes182 foi assassinado dias antes da
minha passagem. Mais além, escondido no fundo de uma cratera afunilada, com paredes abruptas e
desnudas, Panticosa183 estação termal espanhola. O local é isolado, do fundo das gargantas, eleva-se o
estrondo das águas, semelhante ao barulho de uma tropa em marcha ou ao rolar surdo dos tanques de
guerra.
Voltemos ao Pico de Ger. Sobre a geleira vizinha, o guia me mostrou um ponto negro imóvel
que eu tomei por um rochedo. Mas aos seus gritos o objeto se mexe, se desloca, escapa rapidamente, era
um cabrito montês.184 Os gritos do guia despertaram os ecos da montanha. De todos os cantinhos do
solo, dos barrancos inóspitos, das gargantas estreitas, saem milhares de vozes. Diríamos uma legião de
duendes, gnomos, de espíritos brincalhões. O efeito é arrebatador. Lancemos um último e longo olhar
sobre este panorama. Sob a cúpula azulada, as altas montanhas se colorem com tintas misturadas de uma
pureza e de uma riqueza incomparáveis. O Sol do sul espalha sobre elas uma profusão de claridade, um
jorro de luz dourada que aumenta ainda o prestigio de suas atormentadas e fantásticas formas. Um mundo
inteiro de torres, de agulhas de picos serrilhados de zimbórios, de campanários, de pirâmides que se
erguem sob o céu um embaralhamento de linhas às vezes rudes e feridas, outras vezes arredondadas pelo
lento trabalho das águas. Aqui e ali no intervalo, altas pastagens verdejantes, permeadas por estábulos de
onde sobem filetes de fumaças azuladas, percebemos as densas florestas que margeiam a fronteira,
brilhantes cascatas, lagos tranqüilos, sorridentes prados e planícies geladas, mornos desertos de pedras e
entulhos, ruínas de montanhas desabadas.
Diante desse espetáculo, todas as impressões se fundem na sensação do imenso. É um esplendor
de formas, de aspectos de cores, o qual não se pode descrever com as pálidas palavras de uma língua
terrestre. O homem se reconhece bem pequeno, todas suas obras lhe parecem efêmeras e pobres, diante
desses colossos. Basta um agitar desses e com um revirar de ombros todo trabalho humano se afunda
desaparecendo. Mas a alma eleva-se através do pensamento. O mundo de intuições e de sonhos desperta
nela. Ela sente que estes espetáculos são uma simples amostra das maravilhas que o destino lhe reserva,
em sua eterna ascensão de orbe em orbe, na sucessão dos tempos e dos mundos siderais.
O universo inteiro se reflete em nós como num espelho. O mundo invisível através de uma
transição insensível liga-se ao mundo visível. Acima reina a lei da harmonia que rege os dois. E a alma,
em sua contemplação, projeta fora dela mesma, de uma certa forma exteriorizada, neles penetra e os
abraça. Um momento, ela sentiu passar nela o grande frisson do infinito, ela comungou com o
pensamento supremo, ela entendeu que este só deu nascimento aos mundos para servir de degraus nas
ascensões do espírito.
***
Uma noite de julho, ao longo de uma caminhada solitária próxima de Eaux-Bonnes, eu me perdi
na montanha repleta do bosque de Gourzy185. A noite chegou e o retorno tornou-se impossível pelos
caminhos escarpados que o seguiram, me resignei a esperar o amanhecer sobre uma cama improvisada de
mato. Esta noite deixou em minha memória uma lembrança repleta de charme e profunda poesia. Quantas
impressões percebidas! Escutava os gritos, os apelos dos hospedes dos bosques: a raposa186, o galo da
charneca187, o grande mocho das montanhas188, com grito quase humano. A vida pululava ao meu redor,
misteriosamente, dela eu percebia os rumores, as leves palpitações.
Em uma fourré/touceira189, a pouca distancia, uma estranha iluminação chama minha atenção: é
uma assembléia de vaga-lumes190. Suas pequeninas lanternas verdes eram como constelações nos
arbustos, enquanto que no céu outras luminárias mais fortes brilhavam acima de minha cabeça. Segui
com os olhos durante esta noite, todo desfile da armada celeste, depois após a caminhada imponente das
estrelas, vi o sair da Lua cuja claridade tremula, escorrega pelas folhas e vem jogar-se sobre os musgos e
samambaias. Nenhum pensamento de medo perturba minha alma. Sinto-me rodeado por protetores
invisíveis, invadidos por uma espécie de inexprimível beatitude. A grande voz do Gave191 ressoa no
silêncio noturno, remetendo-me às coisas graves e profundas. Que diz ela? Ela diz a aspiração em direção

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ao divino; ela canta a imortalidade, a participação de todos os seres, seguindo suas medidas, a imensa
obra, a potente harmonia do mundo. Ela diz: “observe meu curso, é a imagem do teu destino. Agora eu
fujo, torrente violenta por entre blocos atormentados. Meu fluxo em cascatas onde se quebram em
espuma; porém mais tarde eu me tornarei um largo rio, entrecortados por ilhas, que corre imponente e
calmo através das esmeraldas dos prados, sob a opala do céu.” Eis o que diz a voz solene, extraordinária
de grandiosidade e eloqüência, enquanto contemplo os céus.
Lá em cima, outros problemas me atraem. Para onde vão esses mundos inumeráveis? Em virtude
de que força eles se movem, eles se procuram no seio do insondável abismo? Sempre no fundo de tudo
surge o pensamento de Deus, energia eterna, eterno amor! A mão que dirige os astros na extensão, neles
escreveu um nome com letras de fogo, um só nome! Todos esses mundos conhecem sua rota e sua missão
sagrada, eles os perseguem infalivelmente. Eles sabem que eles representam um papel no plano divino e
que se associam estreitamente. Todo segredo da Natureza ai está. Mares, florestas, montanhas não dizem
outra coisa. A Via-Láctea, que espalha através do espaço sua poeira de mundos, cedros gigantes que
estendem seus longos galhos acima de precipícios, a flor que se desabrocha sob os beijos do Sol, tudo nos
murmura: é a Ele que devemos o ser; é para ele que vivemos e morremos!
Sim, está aí o santuário onde a alma abre-se e expande com a visão do grande céu e de Deus, que
fez sua ordem e sublime beleza. Ai está o templo da religião eterna e viva, cuja lei fatal está escrita na
face da noites estreladas e nas profundezas da consciência humana!
Eis aqui a aurora, o majestoso nascer do Sol sobre os cumes longínquos. Tal como uma bola de
metal avermelhada o astro rei sobe ao horizonte. Primeiro, nos ápices recortados dos picos flamejantes na
luz nascente, assim como na véspera ela tinha rapidamente subido ao meu redor, a sombra desce com
igual velocidade. Como se um véu tivesse rasgado, todos os detalhes da floresta, as altas árvores, os
abruptos recortes dos rochedos, as sinuosidades do caminho clareiam. Surpreendente prestígio de cor! Em
um instante tudo se anima, treme, palpita; o céu e a terra vibram em um longo frisson. Acima da garganta
estreita, onde canta o Gave, a negra silhueta do pico Ossau se desenha nitidamente. E eu recomeço o
caminho do hotel, bem dizendo as circunstâncias que tinham permitido aproveitar tais espetáculos.
***
Outras impressões me esperavam nos Alpes192. Poderia se dizer com razão que os Pirineus,
através de suas formas esbeltas, impetuosas e elegantes representam o tipo feminino da montanha. Elas
possuem freqüentemente o charme e graça da mulher. Um véu leve cobre seus cimos soberbos. Outras
vezes, os jogos de luz as transfiguram fazendo-as montanhas-fadas.
Os Alpes com suas formas maciças, sua ossatura potente lembram mais o tipo masculino. Elas
simbolizam a força, a duração, a grandiosidade austera, elas parecem as barreiras gigantescas que marcam
as fronteiras do tempo e da eternidade.
Quando, pela primeira vez, contempla-se o Monte Branco193, esse gigante solitário, cujo ápice
domina a Europa, a gente se sente como que esmagado diante desta brancura semelhante a um
mortalha/linceul. Com efeito, sua aparência é a da morte. Entretanto, sob seu espesso casaco de gelo,
esconde-se uma vida sempre ativa, quente, fulgurante, que se manifesta e se expande através das fontes
borbulhantes Saint-Gervais-Les-Bains194.
Acrescente as cinqüentas léguas de geleiras que coroam os Alpes, seus vastos reservatórios
subterrâneos que são a origem dos maiores rios do Ocidente, jorrando fecundidade sobre tantas planícies
e vocês perceberão esta cadeia formidável.
No maciço de Oisans195, a sensação é tão viva quanto no Monte Branco. Do belvedere da Tête
de Maye, vemos se formar toda uma floresta de picos e agulhas, toda uma renda de granito. No dia que lá
subi, as geleiras brilhavam, fundindo lentamente sob os calores do Sol, de toda parte escoavam torrentes e
cascatas. O cair das águas, batendo no solo, produzia um barulho surdo que variava de hora em hora,
segundo o volume da massa líquida. Ao meu redor, o deserto, tão longe quanto a vista pode atingir,
nenhuma alma. O silêncio impressionante dos cumes me envolve. Só escuto o ralhar das águas e o
lamento do vento que agita as plantas e florezinhas alpestres. Uma flora maravilhosa estende-se nessas
alturas. Eis a edelweiss196 e a égrinette197 com seu frágil caule. As campainhas198 balançam suas
graciosas sinetas. Ao longe a genciana199 azul debruada de preto, tão superior em sua atitude; a
maravilhosa anêmona amarela200, tão procurada pelos botânicos; depois é a dafne201, a orquídea202, a
digitalis203, vinte espécies cujos nomes ignoro, em uma palavra, todo um pequeno mundo vegetal
desabrocha sob esse céu de fogo. O ar fica embalsamado.
Barrando o horizonte, está a Meije204, perigosa “comedora de homens” mostrando seus
contrafortes potentes que eleva um diadema de neve e gelo. O Pelvoux205, a Barre des Éscrins206 e outros
cumes ainda se erguem como uma família de titãs organizados em meio círculo.
***
Estamos na Grande Cartuxa207. Passei vários dias neste abrigo de paz e recolhimento. Explorei
os acessos, passeando sob as abóbadas sombrias da floresta que os abrigam, escutando a canção das

37
torrentes, os grandes órgãos dos ventos nos ramos, os apelos longínquos dos prados e dos lenhadores. Os
sons do sino do monastério me vinham nas asas da brisa, suas vibrações, em ondas sonoras, iam morrer e
renascer, depois se perdiam no findo das gargantas e nas descidas da montanha. De todos os lados, a
visão é limitada pelos cumes carecas, amargos e nus talhados pelas tempestades. Porém, o pensamento do
absoluto, do infinito envolve esses montes e o olhar de Deus paira sobre todas as coisas.
No grande silêncio do claustro, o relógio bate lentamente as horas. Quantas almas agitadas pelas
tempestades da vida vieram aqui buscar repouso e esquecimento! Essa mística cristã que as atraiu tem
profundezas de abismo que as fascinam. Provavelmente, ela se distancia em vários pontos, se
distanciando das realidades invisíveis. Ela cria, no cérebro do crente, todo um mundo de ilusões, de
quimeras supersticiosas impostas pelas tiranias dos dogmáticos. Entretanto ela não deixa de ter uma certa
beleza. Nas épocas de ferro e sangue, a vida monástica era o único refúgio para uma alma delicada e
estudiosa. Mesmo nos tempos modernos ela poderia ser, num certo aspecto, o meio de treinamento para
as coisas superiores, uma preparação para o além. É por isso, que, deste santuário alpino, brilham sobre
toda a região influências benfeitoras. Desde então, os monges desapareceram, a Cartuxa foi abandonada
e o local perdeu seu prestígio religioso.
Da tribuna reservada aos visitantes, assisti ao ofício da meia-noite. Três fracas luzes, espalhadas
na nave da capela, vazavam a escuridão profunda. Os cartuxos chegavam um a um, munidos com uma
pequena lanterna e tomavam seus lugares. Os Salmos começam: invocações, gritos de apelo de almas
destruídas: Deus in adjutorium meum intende!... “Meu Deus, venha em meu socorro! Senhor apresse-se,
eu sucumbo!.”
Esta lamentação do velho Jó que atravessou séculos e parece resumir toda a dor humana é a
lamentação dos corações partidos, de todos aqueles que se separam desta Terra de provas, na qual eles só
vêem desesperança, abandono e exílio, para buscar no seio do Pai ajuda e consolação.
Esses monges austeros que abandonam suas duras camadas para unir-se em pensamento a
humanidade sofredora, esses cantos de uma profunda tristeza que ressoam na hora onde tudo repousa, isto
é comovente.
Esses Salmos se sucedem em um ritmo lento, grave e solene. Dessas notas melancólicas, às
vezes monótonas, saem uma vez ou outra um grito de amor, verdadeira flor da alma que neste oceano de
misérias humanas sobe até o céu para implorar o criador. Depois, as frases dos Salmos se esvaem. Na
penumbra das cadeiras, os religiosos prostrados parecem mergulhados em meditação profunda.
Finalmente, explode o último chamado de Davi em sua penitência, o último suspiro da humanidade
retalhada, que um raio de esperança clareia e acalenta: De profundis clamavi ade te, Domine exaudi
vocem meam. “Das profundezas da minha dor, gritei por você, Senhor: escute a minha prece!”

***
O cemitério do convento tem aspecto lúgubre. Nenhuma laje, nenhuma inscrição marca as
tumbas. Na fossa põe-se simplesmente o corpo do cartuxo recoberto com seu hábito pregado sobre uma
tábua, sem caixão e o cobrem com a terra. Nenhum outro sinal, somente uma cruz designa a sepultura
deste passante pela vida, desse hóspede do silêncio, do qual ninguém, exceto o pregador, saberá seu nome
verdadeiro!
É a primeira vez que percorro esses longos corredores e esses solitários claustros? Não! Quando
sondo o meu passado, sinto tremer em mim a misteriosa cadeia que religa minha atual personalidade
àquelas dos séculos findados. Sei que, dentre os restos mortais que jazem aqui, neste cemitério há um
que meu espírito animou. Eu possuo um duvidoso privilégio de conhecer minhas existências
adormecidas. Uma delas acabou-se nesses lugares após os vinte anos de lutas da epopéia napoleônica, nos
quais a sorte me deixou cansado de tudo, desgostoso pela vida de sangue e de fumaça de tantas batalhas,
aqui vim buscar a paz profunda. Na série de nossas vidas sucessivas, uma existência monástica pode ser
útil se ela nos ensina o desapego das coisas mundanas, a concentração do pensamento, a austeridade dos
hábitos. No claustro, o espírito se libera das sugestões materiais e abre-se às divinas visões!
Seria bom que todas as almas descidas na carne conservassem a lembrança de seus antecedentes?
Não acho. Deus sabiamente fez velando a nossos olhos, pelo menos durante a difícil passagem pela vida
na Terra, a cenas trágicas, as falhas, os funestos erros de nossa própria história. Nosso presente é assim
aliviado, e a atual tarefa torna-se mais fácil. Sempre será cedo, em nosso retorno ao espaço, para ver
erguerem-se diante de nós fantasmas acusadores. Provavelmente muitos não precisam temer nada igual.
Que a paz esteja em seu espírito! Quanto a mim sei uma coisa: quando eu deixar a terra para retornar ao
além, as vozes do passado despertarão e gritarão, pois fui um culpado e o sangue envermelhou minhas
mãos. Porém as almas que pude esclarecer e consolar nesta vida se levantarão também, eu espero, para
pleitear a meu favor e o supremo julgamento será assim um pouco atenuado.

14. Elevação

38
Espírito, alma, você que percorre essas páginas de onde vem e para onde vai? Você sobe do
fundo do abismo e gravita os graus infinitos da escala da vida. Você vai para moradias eternas onde a
grande lei nos chama e para onde a mão de Deus nos conduz. Você vai em direção à luz, a sabedoria e a
beleza!
Contemple e medite! Em todos os lugares obras belas e fortes solicitam sua atenção. Estudando-
as você entenderá, com coragem e confiança o real sentimento de seu valor e seu futuro. Os homens já se
detestam e menosprezam porque ignoram a magnífica ordem na qual eles são estreitamente unidos.
Sua rota é imensa, porém o final ultrapassa em esplendor tudo o que podes conceber, agora você
parece bem pequeno no meio do colossal universo, você, porém é grande, graças ao seu pensamento
grande para destinos imortais.
Trabalhe, ame e ore! Cultive sua inteligência e seu coração! Desenvolva sua consciência, torne-a
maior e mais sensível. Cada vida é um espaço fecundo, do qual você deve sair purificado, pronto para
missões futuras, amadurecido para tarefas maiores e mais nobres. Assim, de esfera em esfera, de círculo
em círculo, você seguirá seu caminho, adquirindo forças e faculdades novas, unido aos seres que você
amou, que já vivera e que viverão com você.
Vocês evoluirão conjuntamente na espiral das existências, em meio a maravilhas inimagináveis,
pois o universo, bem como você mesmo, se desenvolve através do trabalho e mostra suas vivas
metamorfoses, oferecendo alegrias, satisfações sempre crescentes, sempre renovadas até aspirações e
puros desejos do espírito.
Nas horas de hesitação, volte-se para a Natureza: ela é a grande inspiradora, o templo augusto,
onde, sob misteriosos véus, o Deus escondido fala ao coração do sábio, ao espírito do pensador. Observe
o firmamento profundo: os astros que o povoam são as etapas de sua longa peregrinação às estações da
grande via para onde o destino lhe encaminha.
Venha! Elevemos nossas almas, plane um instante comigo, através do pensamento, entre os sóis
e os mundos! Mais ao alto, sempre mais alto no insondável éter! Lá longe, a Terra não passa de um ponto
na vasta extensão. Diante de nós e acima de nós, os astros se multiplicam. Em toda parte, esferas de ouro,
fogos de esmeralda, de safira, de ametista e de turquesa descrevem seus ritmados movimentos. Em
direção a nós, plana um astro enorme, arrastando cem mundos planetários na sua órbita, cem que evoluem
em sábias curvas. Apenas entrevisto, eis que ele já foge continuando sua rota ele e seu esplêndido
cortejo208. Após eles, se apresentam dez sóis de cores diferentes, agrupados em uma mesma atmosfera
luminosa que os cobre como uma echarpe de glória.
E sempre, os sistemas sucedem aos sistemas, paraísos ou ilhas flutuantes, mundos mágicos,
drapeados de azul, de ouro e de luz. Ao longe, cometas comuns, pálidas nebulosas das quais cada átomo
é um Sol adormecido209. Saiba uma coisa: todos esses mundos são moradias de outras sociedades de
almas. Até as longínquas estrelas cujas luzes trêmulas levam milhares de anos até nós, em toda a parte, a
família humana estende seu império, temos irmãos celestes em todos os lugares. Estamos destinados a
conhecer todas essas moradas e a desfrutar delas. Voltaremos a viver nessas terras do espaço em novos
corpos, para neles adquirir forças, conhecimentos, maiores méritos, para nos elevarmos ainda mais alto
em nossa viagem perpétua.
Tantos mundos, tantas escolas para a alma, tantos campos de evolução para cultivar nosso
entendimento e também para construir organismos fluídicos cada vez mais delicados, depurados,
brilhantes. Após lutas, tormentos, revezes de mil existências árduas, após provas e dores dos ciclos
planetários, virão séculos de felicidade nesses astros, cujas clarezas suavizadas projetam até nós raios de
paz e de alegria. Depois virão as missões bem-ditas, os nobres apostolados, a tarefa desejada de provocar
o acordar, a eclosão das almas adormecidas de ajudar a nossa vez, nossas irmãs mais jovens em suas
peregrinações através das regiões materiais.
Finalmente, atingiremos as sublimes profundezas, o céu de êxtase no qual vibra, mais possante,
mais melodioso o pensamento divino, nele o tempo e a distancia se esvaem, nele a luz e o amor unem
suas radiações, nele está a Causa das causas, na sua incessante fecundidade, ele dá eternamente a luz, a
vida eterna e a eterna beleza!
Atualmente, o céu não pode mais ser o que foi tanto tempo para a ciência humana, quer dizer um
espaço vazio, morno e deserto. O infinito se transforma e se anima. O círculo de nossa vida se alarga em
todos os sentidos. Nós nos sentimos unidos a este universo por mil laços. A vida dele é a nossa e a sua
história também. Fontes desconhecidas de sensação e meditação abrem-se. O futuro reveste-se de um
outro caráter totalmente diferente. Uma impressão profunda nos invade no pensamento de destinos tão
amplos. Para sempre, nós estamos unidos a tudo que vive, ama e sofre. De todos os pontos do espaço, de
todos os astros que brilha nesta extensão, partem vozes que nos clamam, as vozes de nossos
primogênitos, essas vozes nos dizem: “Caminha, caminha, eleve-se pelo trabalho, faça o bem, cumpra seu
dever. Venha até nós que, como você, sofremos e lutamos, padecemos neste mudo da matéria. Venha
continuar conosco tua ascensão em direção a Deus!.”

39
***
Dos espaços majestosos, reportamos nossos olhares sobre a Terra. Apesar de suas proporções
modestas, ela tem, nós sabemos, seus charmes e sua beleza. Cada lugar tem a sua poesia, cada paisagem
sua expressão, cada vale seu sentido particular. A variedade é tão grande nas pradarias de nosso mundo
quanto nos campos estrelados.
O verão é o sorriso de Deus! Nada é mais suave, mais envolvente que a apoteose de um belo dia
no qual tudo é carinho, doçura, luminosidade. A florzinha escondida na relva, o peixe que desliza nas
águas fazendo espelhar no Sol suas escamas de prata, o pássaro que canta suas notas no alto dos galhos, o
murmúrio das fontes, a canção misteriosa dos álamos210 e olmeiros211, o perfume selvagem das charnecas,
tudo isso nina o pensamento e acalenta o coração. Longe das cidades, encontramos a profunda calma que
penetra a alma, o repouso das lutas e decepções da vida. Somente então, compreendemos a verdade
dessas palavras: “O barulho é dos homens, o silêncio é de Deus!”.
A contemplação e meditação provocam o despertar das faculdades psíquicas e através delas todo
o mundo invisível abre-se às nossas percepções. Tentei, ao longo desta obra, exprimir as sensações
absorvidas do alto dos cumes ou à beira dos mares, descrever o charme dos crepúsculos e auroras, a
serenidade dos campos sob o nobre esplendor do Sol, o prodigioso poema das noites estreladas, a euforia
das noites enluaradas, o enigma das águas e bosques. Há momentos de êxtase, quando a alma projeta-se
fora de seu envelope e abraça o infinito, horas de intuição e entusiasmo, quando o influxo divino invade-
nos como uma onda irresistível, o pensamento supremo vibra e palpita em nós, ele brilha e por um
instante é o raio do gênio. Essas horas inesquecíveis, já as vivi algumas vezes e a cada uma delas,
acreditei que era visita, a penetração do Espírito. A elas devo a inspiração de minhas mais belas páginas e
melhores discursos.
Aquele que se recolhe no silêncio e na solidão, diante dos espetáculos do mar ou da montanha,
sente nascer, subir, aumentar em si imagens, pensamentos, harmonias que o deslumbram, encantam e
consolam das misérias terrestres e abrem para ele perspectivas da vida superior. Ele compreende então
que o pensamento de Deus nos envolve e penetra quando, longe das torpezas sociais, sabemos abrir-lhe
nossas almas e corações.
***
Certo podem-nos fazer muitas objeções. Nos disseram, por exemplo: “vocês ressaltaram as
belezas da natureza, mas nunca mostram sua feiúra. Ela não possui somente sorrisos e carícias: ela tem
revoltas, cóleras e enfurecimento. Vocês não falam dos monstros e dos flagelos que a deparam. Que
utilidades encontram vocês na existência de animais de caça, dos répteis e das plantas venenosas? Por que
há convulsão do solo, catástrofes e epidemias, todos os males que desencadeiam o sofrimento humano?”
É fácil responder. O Belo, diremos nós, precisa dos contrastes. Todos os artistas, pensadores,
escritores de valor bem o sabem. E quando constatamos que no conjunto dos mundos, a Terra ocupa um
lugar dos mais inferiores, que ela é, acima de tudo para espíritos jovens, uma escola, um estágio de luta,
de prova e às vezes de reparação, como se espantar que ela não seja dotada de todas as vantagens que
possuem os mundos superiores!
Os perigos, obstáculos e dificuldades de todos os tipos são fatores essenciais para o progresso,
tantas agulhadas que estimulam o homem no seu caminho, tantas causas que o fazem observar, esforçar-
se para vir a ser prevenido e comedido. É na alternância obrigatória do prazer e da dor que está o
princípio da educação das almas. Daí, a necessidade para os seres, dos mais rudimentares aos mais
desenvolvidos, de lutar e sofrer. O progresso não saberia realizar-se sem o indispensável equilíbrio dos
sentimentos opostos, a alegria e dor que se alternam do grandioso ritmo da vida. É, sobretudo a dor física
e moral que forma nossa experiência: a sabedoria humana é o prêmio.
Quanto aos movimentos sísmicos, tempestades, inundações, notemos que eles têm suas leis. Essa
lei basta conhecê-las para prever e atenuar seus efeitos. Quando se estuda o fenômeno da Natureza e o
pensamento penetra profundamente nas coisas, ele reconhece que o que é o mal na aparência em
realidade é um bem212.
A grandeza do espírito humano consiste em elevar-se acima da confusão, do caos, das
contingências até o conceito de ordem geral. Ele pode então se sentir em segurança, em meio aos perigos
do mundo, porque ele compreendeu as grandes leis que, como prêmio, alguns acidentes asseguram o
equilíbrio da vida e a salvação das raças humanas.
O homem no qual o sentido profundo, o sentido das coisas divinas não está desperto, em uma
palavra, o cético, qualquer que seja sua inteligência e saber em outras matérias, recusa-se a admitir suas
visões. Seria tão supérfluo insistir junto a ele como explicar a um cego de nascença os crepúsculos e as
auroras, os jogos de luz nas águas ou geleiras. É necessário a ele o choque da adversidade, o concurso das
circunstâncias dolorosas que o colocarão em contato direto com o seu destino e o farão sentir, ao mesmo
tempo, a utilidade do sofrimento, essas noções de sacrifício e de esperança na qual a vida toma seu
sentido real e elevado.

40
Somente então ele poderá penetrar no grande mistério do universo e compreender que tudo tem
sua razão de ser, que a dor também tem o seu papel e que podemos tirar partido da prova, da doença e até
da morte, já que segundo o uso que fizermos, ele concorrerá a nosso avanço e melhoria moral. A partir
daí a confiança e a fé o ajudarão a suportar pacientemente o inevitável, a abolir a melancolia presente, a
sofrer em paz. O conhecimento da lei lhe trará a certeza de melhores dias e de um futuro sem fim.
A partir desse momento sua vida terna, banal, incolor emitirá um raio de luz e de poesia, pois a
verdadeira poesia é feita da ressonância íntima da sinfonia eterna que existe em nós, do acorde de nossos
pensamentos, de nossos sentimentos e de nossos atos com a regra do nosso destino.
***
Falando como o fizemos ao longo dessas páginas, provavelmente, mais de uma vez seremos
acusados de misticismo. Mas, todos aqueles cuja sensibilidade, julgamento despertaram, se
desenvolveram sob golpe de provas e lutas da existência, estes saberão nos entender, ou seja, alguns
espíritos terra a terra são inclinados a tratar por místicos, alucinados, visionários todos aqueles cujas
percepções ultrapassam o círculo limitado de seus pensamentos habituais. Eles acreditam serem pessoas
muito positivas e práticas, quando na realidade; somente, almas evoluídas libertas de preconceitos e
paixões, indiferentes aos interesses materiais possuem a intuição das grandes e superiores realidades da
vida.
Em resumo, a Natureza e a alma são irmãs com diferença que uma evolui invariavelmente
seguindo um plano estabelecido e a outra traça ela mesmo, sobre uma página em branco, as grandes
linhas de seu destino. Elas são irmãs, pois as duas provêm de uma mesma causa eterna e mil laços a
unem. É o que explica o império da Natureza sobre nós. Ela age sobre as almas sensíveis como um
magnetizador sobre seu sujet, provocando o desprendimento do espírito de sua crisálida de carne. Então,
na plenitude de suas faculdades psíquicas, a alma percebe um mundo superior e divino que escapa a
maioria das inteligências. Não esqueçamos isto: tudo o que cai no sentido físico, tudo que é da área
material é passageiro, submetido à destruição, à morte, às realidades profundas e eternas, pertencem ao
mundo das causas, ao campo do invisível. Pertencemos nós mesmos a esse mundo em sua parte essencial
e imperecível de nosso ser.
Eis que, passo a passo, a experimentação psíquica e as descobertas resultantes propagam-se e
estendem-se. O conhecimento do duplo fluídico do homem, sua ação à distância antes e após o óbito, a
aplicação das forças magnéticas, a entrada em cena das potências invisíveis vêm demonstrar, a todo
observador atento, que o mundo dos sentidos é somente uma pobre e obscura prisão comparada ao campo
imenso e radioso aberto ao espírito213.
Os sentidos interiores e as faculdades profundas da alma estão adormecidos na maioria dos
homens que ignoram suas riquezas escondidas e seus poderes latentes. Por isso suas ações não possuem
base nem ponto de apoio. Daí tantas fraquezas e desfalecimentos. Porém a hora do despertar está
próxima, o homem aprenderá a conhecer a sua alma, a extensão de seus poderes e de seus atributos: a
partir daí a separação e a morte não existirão mais para ele, a maioria das misérias que nos afligem
desaparecerão. Nossos amigos do espaço virão mais facilmente nos visitar e corresponder-se conosco.
Uma comunhão íntima se estabelecerá entre o Céu e a Terra e a humanidade entrará em uma fase mais
elevada e mais bela de seu glorioso destino.
***
Com minha vista enfraquecida pelo trabalho, lanço ainda um olhar para esses céus que me
atraem e para essa Natureza que amo. Saúdo os mundos que serão mais tarde nossa recompensa: Júpiter,
Siriús, Orion214, as Plêiades215 e essas miríades de lares cujos raios trêmulos derramaram diversas vezes
em minha alma ansiosa a paz serena e inefáveis consolações.
Do espaço, volto o meu olhar para essa Terra que foi o meu berço e será o meu túmulo. Ó Terra!
Planeta, nossa mãe, campo de nossos labores e de nossos progressos, onde lentamente através da
obscuridade das idades, minha consciência eclodiu com a consciência da humanidade, flutuas no infinito,
ninada pelas vibrações potentes da vida que se agita no teu âmago. Diria-se uma harmonia confusa feita
de sussurros e choros, uma harmonia que eleva-se dentre os mares e continentes, vales e florestas, rios e
bosques e à qual se une ou se mescla ao lamento humano: murmúrio de paixões, palavras de dor, barulho
do trabalho e cantos de festas, gritos de raiva e choque de batalhões. Às vezes, também notas calmas e
graves dominam esses rumores: a melodia humana substitui as harmonias da natureza e o barulho das
forças em ação; cântico da alma supera servitudes inferiores e saúda a luz. Um canto de esperança eleva-
se a Deus como uma Hosana, uma prece.
É a tua alma, ó Terra! Ela acorda e faz um esforço para sair de sua ganga obscura, para mesclar
seu raio e sua voz com as irradiações e as harmonias dos mundos siderais. É a tua alma que canta a aurora
renascente de sua humanidade; pois ela acorda por sua vez, saindo de noite material, do abismo de suas
origens. A alma da humanidade, que é a da Terra, se busca ela aprende a se conhecer, a penetrar em sua
razão de ser, pressente seus grandes destinos e quer realizá-los.

41
Prossiga teu caminho, Terra que amo! Muitas vezes meu espírito buscou em teus elementos as
formas necessárias para a evolução. Durante séculos ignorante e bárbaro percorri teus caminhos, tuas
florestas, naveguei em teus oceanos, não sabendo nada das coisas essenciais nem do objetivo a atingir.
Mas eis que chegando a noite da vida, a essa hora crepuscular na qual uma nova etapa acaba, onde as
sombras sobem a vontade e cobrem tudo com seu véu melancólico, eu considero o caminho percorrido,
eu dirijo meu olhar avante, em direção a saída que se abrirá para mim no além em suas claridades eternas.
Nesta hora em que minh’alma se desprende pouco a pouco de seus entraves, ó Terra! Ela
prepara-se a te deixar, ela entende o objetivo e a lei da vida. Consciente de teu apelo e do meu,
reconhecido pelas tuas boas realizações, sabendo porque eu sou, e porque eu ajo e como deve se agir, eu
te abençôo, ó Terra! Por todas as alegrias e dores, pelas provas salutares que você me ofereceu, pois em
tudo que te devo: sensações, emoções, prazeres, sofrimentos, reconhece os instrumentos de minha
educação, de minha elevação. Abençôo-te e te amo, feliz quando eu te deixar com pensamento de voltar
mais tarde em uma existência nova para ainda trabalhar, sofrer e me aperfeiçoar contigo, contribuir com
meus esforços para teu progresso e para de meus irmãos, que são também teus filhos.

TERCEIRA PARTE
A LEI CIRCULAR — A MISSÃO DO SÉCULO XX

15. — A Lei Circular.


A Vida. — As Idades da Vida. — A Morte.

A lei circular preside a todos os movimentos do mundo, ela rege as evoluções da natureza, as da
história e as da humanidade. Cada ser gravita em um circulo, cada vida descreve um circuito, toda história
humana se divide em ciclos. Os dias, as horas, os anos, os séculos ecoam na órbita do espaço e do tempo
e renascem, pois seu fim, caso seja um, é precisamente o de retornar novamente ao princípio. Os ventos,
as nuvens, as águas, as flores, a luz seguem a mesma lei. Os ventos voltam em seus orbes enlaçando as
cavernas misteriosas das quais eles procedem.
O vapor volta para as alturas, formando as nuvens verdadeiros oceanos suspensos sobre nossas
cabeças. As nuvens que sobrevoam, imensos e móveis mares, tornam-se chuvas e novamente os rios e
riachos que elas já foram. Desta forma o Reno216, o Ródano217, o Danúbio218 e o Volga219 desfilaram
acima de nossas cabeças antes de escorrer aos nossos pés. É essa a lei, a lei da Natureza e da humanidade.
Todo ser já foi, ele renasce e eleva-se, evolui assim em uma espiral cujos orbes vão em crescendo sempre
mais, é por isso que a história impregna-se de um caráter cada vez mais universal: é o corso e ricorso que
nos fala o filósofo italiano Vico220.
Uma vez colocados esses princípios, gostaria de dedicar essa meditação ao estudo das idades da
vida humana: a juventude, a idade madura, o envelhecimento, a luz dessa grande lei e a morte como a
coroação e apoteose. Desses estudos elevar-se-á o grande princípio espiritualista da reencarnação, o único
que explica o mistério do ser e de seu destino.
É preciso renascer, é a lei comum do destino humano, também ela evolui em um círculo cujo
centro é Deus.
“Ninguém, dizia Jesus a Nicodemos, verá o reino de Deus — ou seja, não compreenderá a lei de
seu destino — se não renascer da água e do Espírito.”
A reencarnação é claramente explicada nestas palavras que Jesus adverte Nicodemos: é “ser
mestre em Israel e ignorar essas coisas.”
Quantos dentre nossos mestres contemporâneos merecem a mesma advertência! Há tantas
pessoas que se contentam com a noção superficial da vida e nunca são tentadas a olhar o fundo! É fácil
negar as coisas para exonerar-se do dever e do trabalho de estudar e compreendê-las! O positivista nunca
aborda o problema da origem nem dos fins, ele se contenta com o momento presente e o explora como
melhor possa.
Muitos homens, mesmo inteligentes, fazem como ele. Por outro lado o católico limita-se a crer
no que ensina a Igreja, que põe o mistério no começo e no fim da vida e alguns milagres no meio, quando
essas duas palavras foram pronunciadas milagre e mistério, inclinamo-nos, calamo-nos e cremos.
Por outro lado, os universitários durante longo tempo só acreditaram nos dados de
experimentação. Para eles, tudo o que não figurava em seus programas não tinha valor. Nunca os ídolos
de Bacon221 tiveram tantos adoradores. Assim, a ciência oficial só produziu pouco progresso desde
cinqüenta anos atrás até o pensamento moderno.
Entretanto o médico de nossos dias, tão ligado aos sistemas materialista da escola, começa a
sacudir o junco, é das camadas da medicina atual que saem os doutores mais autorizados e mais
advertidos do espiritualismo.

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A próxima geração será mais feliz e ainda mais bem dotada. Uma juventude cresce e não
demonstra nada de nenhum pedagogo e só se instrui na grande escola da Natureza e da consciência
íntima. Esta será realmente a juventude liberta, quer dizer independente da educação factícia, do método
empírico e convencional. Ela escuta as verdadeiras vozes, a voz interior, a voz subliminar do ser, aquela
que explica o homem ao homem e que resolve tão claramente que se pode fazer o teorema de seu destino.
É para essa juventude do amanhã que escrevo essas páginas, eu as dedico aos “iniciados” e aos
“avisados,” a todos aqueles que segundo a palavra do Mestre, têm olhos para ver e ouvidos para ouvir.
Voltemos então a lei circular da vida e do destino, quer dizer a doutrina da reencarnação.
Resumiremos brevemente o exposto cientifico, pois nosso objetivo não é fazer um trabalho
dogmático, mas unicamente entregarmos a efusões platônicas sobre a vida, suas fases, seu destino e
sobre a morte que aparentemente acaba com ela para permitir-lhe retomar seu curso.
***
O Nascimento — a união da alma com o corpo começa na concepção e só se completa no
nascimento. É o envelope fluídico que une espírito e germe, esta união se estreita sempre mais até o
momento em que ela se completa, quando a criança vem ao mundo. No intervalo da concepção e do
nascimento, as faculdades da alma estão pouco a pouco aniquiladas pelo poder sempre crescente da força
vital recebida dos genitores, que diminui o movimento vibratório do perispírito até o momento em que o
espírito da criança torna-se totalmente inconsciente. Esta diminuição vibratória dos movimentos fluídicos
acarreta a perda da lembrança das vidas anteriores das quais falaremos em breve.
O espírito da criança adormece em seu envelope material e na medida em que o momento do
nascimento aproxima-se, suas idéias se apagam bem como o conhecimento do passado, do qual ele não
tem mais consciência quando chega a luz do dia. Será somente através da desmaterialização final ou por
influências profundas de exteriorização na hipnose que a alma retomará seu desprendimento vibratório e
que reencontrará seu passado e o mundo adormecido de suas lembranças. Aí está a verdadeira gênese da
vida humana. As aquisições do passado estão latentes em cada alma, as faculdades não são destruídas,
elas possuem suas raízes no inconsciente e são mais aparentes quando elas progrediram mais que antes e
capitalizaram maiores conhecimentos, impressões, imagens, saberes e experiências. É isso que constitui
“o caráter” de cada indivíduo vivo lhe dando aptidões originais proporcionais ao seu grau de evolução.
A criança só possui de seus pais uma coisa: a força vital, a qual é preciso acrescentar certos
elementos hereditários. No momento de sua encarnação, o perispírito se une, molécula por molécula a
matéria do germe. Nesse germe, que deve constituir mais tarde o indivíduo, reside uma potência inicial
que resulta da soma dos elementos da vida do pai e da mãe, no momento da geração. Aquele germe
encerra uma energia potencial mais ou menos grande que, se transformando em energia ativa no decorrer
dessa nova encarnação, determina o grau de longevidade do ser.
É então sob a influência desta força vital emanada dos geradores que eles mesmos possuem de
seus ancestrais, que o perispírito desenvolve suas propriedades funcionais. Assim o duplo fluídico,
reproduz sob forma de movimento, o traço indestrutível de todos os estados da alma, desde seu primeiro
nascimento. Por outro lado, o germe material recebe a marca de todos os estados sucessivos do
perispírito: há um paralelismo vital totalmente lógico e harmonioso. O perispírito torna-se assim o
regulador e o suporte de energia vital modificado pela hereditariedade é assim que se forma o tipo
individual de cada um de nós. Trata-se do “mediador plástico” do filósofo escocês Wordsworth222, a rede
fluídica permanente através da qual passa a corrente de matéria fluente que destrói e reconstrói
incessantemente o mecanismo vivo. É a armadura invisível que sustenta interiormente a estátua humana.
O perispírito é o princípio de identidade física e moral que mantém indefectível, em meio as vicissitudes
do ser móvel e mutável o princípio do eu consciente. A memória que nos guarda a certeza íntima de nossa
identidade pessoal é o brilhoso reflexo desse perispírito.
Tal é a origem de nossa vida.
Na realidade somos unicamente filhos de nós mesmos. Os feitos aí estão para confirmar esta
assertiva. Os filósofos do século XVIII com seu sistema da alma comparado a uma mesa achatada (tabula
rasa) sobre a qual nada está escrita, equivocaram-se. Os doutores do generacionismo223 estavam mais
próximos da verdade, eles exageraram, entretanto a força de sua doutrina bem como suas conclusões.
Cada encarnação perispiritual tráz sem dúvida, modalidades novas na alma da criança que
reedita sua vida, mas ela encontra um terreno cultivado para isso. Platão tinha razão quando dizia:
“Aprender é lembrar-se.”
Assim explicam os fenômenos ilustres e a fisiologia dos grandes gênios mencionados na história:
a ciência dominando os de Pico de la Mirandola224, a intuição de Pascal225 reconstituindo aos treze anos
os teoremas de Euclides226 e Mozart compondo com a idade de doze anos uma de suas obras mais
célebres.

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Entretanto pode ocorrer o contrário, as leis da hereditariedade travando a manifestação do gênio,
pois o espírito molda o seu corpo, mas ele serve-se somente dos elementos disponíveis por essa
hereditariedade.
O que acabamos de dizer basta por enquanto para justificar cientificamente a doutrina iluminada
das vidas sucessivas.
Responderemos em poucas palavras a objeção daqueles que não param de dizer que nossas vidas
fossem múltiplas dela conservaríamos pelo menos uma vaga lembrança.
Vimos acima como e porque a memória de nosso passado se perde no momento de nosso
nascimento. Este eclipse parcial e momentâneo de nossas existências anteriores é totalmente necessário
para conservar intacta aqui embaixo a nossa total liberdade. Se nos lembrássemos muito facilmente,
haveria confusão na ordem lógica e fatal do destino, o mestre não disse em seu evangelho: “infelicidade
para aquele que tendo posto a mão na charrua olhe para trás.”
Para traçar um caminho reto e seguro, é preciso olhar adiante e fixar unicamente o futuro.
Contudo o esquecimento do passado não é nem absoluto nem definitivo. O perispírito, que registrou todos
os nossos conhecimentos, sensações e atos, acorda, sob a influência do hipnotismo as vozes profundas do
passado se fazem ouvir. Parecemos as árvores milenares de nossas florestas. Seus anos estão inscritos nos
círculos concêntricos de sua casca secular, assim cada idade de nossas existências sucessivas deixa uma
zona inalterável no perispírito que retrata fielmente as nuanças mais imperceptíveis de nosso passado e os
atos aparentemente apagados de nossa vida mental e de nossa consciência.
É, sobretudo na hora da morte, que o perispírito, preste a se separar, sente despertar na memória
visões adormecidas de existências passadas. A experiência de cada dia o confirma. Ouvimos dizer,
através de um médium de nossos amigos, que na sua juventude, estando preste a afogar-se, no momento
em que começava a asfixia, todos os quadros de sua vida desenrolaram-se em seu pensamento em uma
sucessão retrógrada com detalhes precisos acompanhados com sentimento de bem ou de mal para cada
ato de sua vida inteira. Era o julgamento espiritual que começava. Este julgamento, sabemos, não passa
de um balanço instantâneo da nossa consciência, que faz com que pronunciemos perante nós mesmos o
veredicto que fixa nossa chance no mundo novo onde entramos.
Agora que conhecemos a lei da existência, a doutrina científica da encarnação, será mais fácil
entender as vicissitudes de nossa viagem terrestre, as idades pelas quais passamos e o papel que cada
etapa da vida humana acaba de representar na harmoniosa economia de seu conjunto. Desta forma, a
juventude, a idade madura, o envelhecimento nos aparecerão em seu verdadeiro aspecto, com a alta luz
do espiritismo, saberemos apreciá-los e compreendê-los melhor. Morrer para reviver e viver para morrer e
para viver ainda, essa é a lei única e universal. O nascimento e a morte são somente pórticos luminosos
ou obscuros sob os quais precisamos passar para adentrar o tempo de nosso destino.
Coisa estranha! Esta ciência profunda da origem das coisas, esta gênese do ser, esta lei do
destino, a Antigüidade as conhecia e entendia infinitamente mais que nós. Os que começamos a
restabelecer e a provar cientificamente, a Grécia, o Egito e o Oriente o sabiam pela via intuição e
iniciação.
Era o fundo dos mistérios de Isis227 e de Eleusis228, espécie de representação dramática da
reencarnação das almas de sua entrada nos Hades229 e de sua depuração e de sua transmigração sucessiva.
Estas festas duravam três dias e traduziam em uma emocionante trilogia todo o mistério deste mundo e o
do além. Após estas iniciações solenes, os sábios eram consagrados por toda vida e os povos para os quais
só oferecíamos a simbologia e o hieróglifo dessas verdades esotéricas, os pressentiam sob a casca do
símbolo guardando assim o verdadeiro sentido da vida. Atualmente, esse sentido nós o perdemos. O
cristianismo primitivo, o de Jesus e seus apóstolos, ainda o possuía. A partir do momento que o espírito
grego em sua subtilidade criou a Teologia230, o sentido esotérico desapareceu e a virtude secreta dos
rituais hieráticos evaporou-se como a virtude de um sal insípido. A escolástica231 abafou a primeira
revelação sob suas montanhas de silogismos e argumentações especiais e sofisticadas.
A mitologia pagã tinha no mais alto grau a inteligência das origens e a noção da gênese vital.
Sob a forma de mitos poéticos transpirava a verdade iniciática, assim como sob a casca da árvore
transparece a seiva da vida.
***
É à luz do espiritismo que quero estudar as diversas fases da vida humana, unindo-as e
comparando-as, as estações alternadas que se sucedem no tempo.
Como Maurice de Guerin232, este avisado, iniciado, morto jovem bem como todos aqueles que
“são amados pelos deuses,” gostaríamos de poder também “penetrar nos elementos interiores das coisas,
elevar-nos aos raios das estrelas, a corrente dos rios e a da vida, até o âmago dos mistérios de sua gênese;
ser finalmente admitido pela grande natureza, na mais oculta de suas divinas moradas, quer dizer no
ponto de partida da vida universal. Lá surpreenderíamos certamente a causa primária do movimento e
compreenderíamos o primeiro canto dos seres em seu matinal frescor.”

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Esses dons intuitivos são em certos homens, uma das mais elevadas formas de mediunidade, pois
pode-se dizer que a mediunidade, una em seu princípio e multiforme em suas manifestações, é a
verdadeira iniciação íntima, a misteriosa língua dada pelo mundo superior a alma e ao pensamento
daqueles que ele elegeu para seus correspondentes aqui embaixo.
Meditemos então, com essa luz e com essas disposições, sobre o mistério da vida humana e as
secretas harmonias que presidem as suas fases sucessivas e as diferentes idades, verdadeiras estações da
alma que dão, cada uma a seu tempo, suas flores e seus frutos.
Os poetas cantaram a juventude com a opulência de seus dons, o brilho de suas cores, os saltos
de sua força, o charme de sua graça e beleza...
“A juventude é parecida com as florestas, diz ainda Maurice de Guerin, em seu imortal
Centauro, as florestas verdejantes, agitadas pelos ventos ela impulsiona de todos os ângulos os ricos
presentes da vida; sempre com algum profundo murmúrio e barulho em sua folhagem.”
A imagem é bela, sobretudo de justeza e verdade.
O que caracteriza a juventude é a opulência, o repleto de vida, a superabundância das coisas, o
salto em direção ao futuro. O devotamento, a necessidade de amar, de se comunicar, caracteriza este
período da vida no qual a alma, novamente unida a um corpo cujos elementos são novos e possantes,
sente-se capaz de empreender uma vasta carreira e promete a si mesmo longas esperanças.
A juventude tem uma importância capital, ela é a primeira orientação em direção ao destino.
Nela o esquecimento do passado é total; ele não mais existe e todas suas potências são guiadas para o
futuro. Eis porque os moralistas, todos os educadores concentraram sua experiência e seus esforços neste
prefácio da vida humana, do qual dependerá o livro inteiro. “A esperança da colheita está na semente,”
dizia Leibniz233, a promessa dos frutos está igualmente contida no sorriso das flores.
O cristianismo monacal e medieval alterou completamente a noção da vida e da educação.
Preconizando a feiúra física e o desprezo pelo corpo, ele não entendeu que a alma modela seu corpo,
assim como Deus modela a alma e que o corpo deve levar a assinatura dos dois, essa assinatura só pode e
deve ser a da beleza. Enquanto o nosso século ou o que virá não corrigir esse erro, ele nada terá feito para
o verdadeiro progresso do mundo. Embelezem os corpos se vocês quiserem as almas sadias e caminho
dos destinos nivelados. Não esqueçam, ó educadores futuros dos povos, que a feiúra é um mórbido
elemento.
É preciso refazer completamente a educação da juventude, se quisermos acelerar as vitórias e os
progressos do século que virá. É preciso que em torno dela, homens e coisas, artes e ciências, literatura,
tudo lhe fale de grandeza, nobreza, força, glória e de beleza.
Quando a juventude antiga ia concorrer anualmente nas festas gloriosas do Olimpo234, assim que
punha os pés na cidade célebre, ela era captada pela magia fascinante da Beleza. Os edifícios, com sua
impecável simetria, o Fórum com suas magníficas estátuas que representavam tanto a beleza de
Hércules235 quanto a de Apolo236, o concurso religioso do povo, a majestade dos templos, a harmoniosa
organização das festas, a coroas de mirto e de louro que respiravam o orgulho da vitória, tudo gritava para
os jovens efebos, vindos das extremidades do Ático para lutar nesse estádio: “Ó jovens homens, sejam
belos, altos, felizes, fortes!” Um pouco mais além, no santuário de Olímpia237 o Júpiter238 de Fídias239
resplendia imortal beleza, consagrava pelo gesto divino, esta lição solene e harmoniosa das coisas.
É preciso ressuscitar essa disciplina da atividade sagrada, se nós queremos refazer a juventude, a
força da humanidade.
Tudo atualmente recai sobre a ciência oficial como método, sobre a democracia, como princípio
social. Eis porque precisamente as duas estão ameaçadas. A ciência materialista esvai-se na dissecação e
na análise, ela decompõe ao invés de criar e disseca ao invés de agir. Por outro lado, a democracia, em
suas obras vivas, já possui os germes da decadência. Ela preconiza a mediocridade em todos os gêneros,
ela abole o gênio e não tem fé na força e o século XX começou com este balanço intelectual e moral
impotente e doloroso. O erro foi o de tomar a ciência como um ideal e democracia como um fim, pois que
todas as duas não passam de meios.
A juventude de amanhã deverá reagir vigorosamente contra essas duas idolatrias — a de hoje já
começa. — Há dentre nossos jovens alguns espíritos de elite, os iniciados, que freiam a rota e preparam o
êxodo e o caminho do espírito para o futuro. São os espiritualistas de bom quilate, os que sabem que lá
onde sopra o espírito está a verdadeira liberdade. Esta será a divisa da nova legião, da juventude livre,
liberta do entrave de errôneas disciplinas, a juventude interroga-se e ausculta-se a si mesma ouvindo suas
vozes íntimas e buscando entender seu destino, estudando o mistério e a lei da evolução.
Será o Reino do “Espírito,” pelo qual aspiram as almas amantes das alturas. Certo, o objetivo
ainda está longe de ser alcançado; será necessário pulverizar muitos ídolos cujo pedestal é rebelde ao
martelo demolidor, entretanto tudo nos orienta para este termo entrevisto pelos pensadores, além dos
horizontes de nossa idade, uma força nos leva a ele como um vento do largo empurra um esquife e nós

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esperamos antes de morrer poder saldar de longe a terra prometida que o Sol futuro iluminará com sua
gloria matinal e suas fecundas claridades.
***
A idade madura é na realidade a idade de ouro da vida, pois é a época da colheita, o messidor240
quando a maturação opera-se no coração, no espírito, no ser inteiro. As exuberâncias da juventude
clarearam-se como as alamedas, como as clareiras que o lenhador traçou na opulência da floresta. As
ilusões, os sonhos brilhantes esvaeceram-se. Sob a bruma dourada que recobria antigamente as coisas, vê-
se aparecer linhas graves, formas austeras da realidade.
Os que nos rodeiam não têm mais auréola poética que nossa imaginação criativa havia colocado,
o amor, ele mesmo, nos revelou alguma de suas fraquezas, talvez mesmo traições, enfim a virtude nos
provou que às vezes ela é somente uma palavra. Neste período da vida, um grande perigo ameaça a
maioria dos homens: o ceticismo. Infelicidade para aquele que se deixar invadir por esta larva doente que
neutraliza todas as forças da maturidade! É então, ao contrário, que o homem deve reaprumar-se e
despertar em si o santo entusiasmo da juventude. Feliz os homens cujo coração guardou a fé dos
primeiros dias!
Sem dúvida, a idade madura é menos poética, menos primaveril que a adolescência, as flores
caíram com o seu colorido e seu perfume, os frutos, porém, começam a aparecer como nos galhos de uma
árvore. Na juventude nos sentimos crescer, no meio da vida nos sentimos amadurecer e é uma das mais
nobres e produtivas etapas da evolução humana. A idade madura é, por excelência, o período da
plenitude, é o rio que corre transbordando e escoa, nos prados, riqueza e fecundidade.
Nas almas evoluídas, ricas do capital acumulado nas vidas anteriores, as grandes obras
escrevem-se ou delineiam-se na juventude; o gênio é adolescente, se podemos nos exprimir assim. A
maioria dos grandes homens da história sentiu desde sua primeira juventude subir ao horizonte do
pensamento a estrela que deveria um dia iluminar sua glória e sua imortalidade. Cristóvão Colombo241
era ainda criança quando as visões do novo mundo o assombravam; Rafael242 era imortal antes de atingir
a segunda juventude. Milton243 tinha doze anos quando germinou em seu pensamento as primeiras idéias
do Paraíso Perdido244, mas para a maioria dos homens, — pois o gênio é exceção, — o talento é a regra
comum. É na maturidade da vida, no meio da floresta, como se exprime Dante245, que se realizam os
grandes pensamentos bem como as grandes obras. Assim, a arte da vida consiste em preparar a idade
madura como o lavrador prepara apressadamente a colheita.
Seria necessário poder fazer durar muito tempo este período medieval de nossa existência no
qual a vida perispiritual atinge seu ápice, possuindo toda sua potência radiante e vibratória, e por isso é
necessário lhe conservar o mais longamente possível um alimento essencial de ação e de trabalho: um
sangue puro, um sistema nervosos disciplinados, um corpo vigoroso sadio: esse mens sana in corpore
sano que nos fala o sábio e que não passa do equilíbrio perfeito da vida física, intelectual e moral.
Compreende-se então quanto a harmonia e ordem do ser humano são coisas difíceis de se
organizar e de se conquistar. Quantas juventudes brilhantes e cheias de promessas caíram em abril como
flores!
O grande inimigo da idade madura, como da vida inteira, é o egoísmo. O homem se diminui, se
mata pela necessidade de prazer. As paixões carnais e cerebrais queimam o homem por dois lados, se
podemos dizê-lo: elas esvaziam a massa do cérebro e do coração. O sangue não rejuvenesce
suficientemente rápido a ponto de retardar o envelhecimento, é assim que mais rápido do que deve a
morte chega. É preciso se dar para depois se reconstruir — o sacrifício é um elemento conservador, diz o
mestre que aquele que se preocupa excessivamente em guardar a sua vida, por isso mesmo a compromete
e a perde: “Não há ninguém que viva tanto tempo na Terra quanto aquele que está sempre preparado para
morrer.” “Eles te chamam, tu foges, diz o poeta à morte; quero viver, tu vens!”
A idade madura é o verão de nossa existência terrestre; Como a estação ardente, ela é feita de
ardores, plena de luz; o amanhecer nela é manhã; o pôr do Sol radioso e as noites clareadas
suntuosamente pelas estrelas. Nela sentimo-nos felizes em viver, tem-se consciência de sua força e
sabemos dela nos servir. É quando o homem atinge fisicamente e moralmente o ponto culminante da
beleza. Há uma beleza na idade madura, ela é a verdadeira. Um de nossos erros é o de crer que a beleza
da juventude é mestre da vida, falta entretanto a esta seu elemento principal, que é a força resultante do
equilíbrio geral e harmonioso do ser.
A idade madura é a idade da vitória, a adolescência revela a rosa e o mirto, a maturidade da vida
reserva-se os louros. O trabalho, a inspiração, o amor reúnem-se para lhe trançar suas coroas: é a hora
solene quando os trunfos se posicionam aos seus pés. Todas as divindades lhe sorriem e amparam; a viril
fortuna e o gênio tutelar da pátria o convidam para o sacrifício em seus altares.
***
A velhice é o outono da vida, em seu último declínio, ela será o inverno. Só de pronunciar a
palavra velhice, sentimos um frio subir ao coração, a velhice, segundo estimativa comum dos homens, é

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decrepitude e ruína, ela une todas as tristezas males, dores da vida, é o prelúdio melancólico e desolado
do adeus final.
Há aí um grave erro. Primeiro em regra geral nenhuma fase da vida humana está totalmente
deserdada dos dons da natureza, menos ainda das bênçãos de Deus. Por que a última etapa de nossa
existência, a que precede imediatamente a coroação dos destinos, seria ela mais triste que as outras? Seria
uma contradição — e isso não poderia existir na obra divina — onde tudo é harmonia como em uma viva
composição de um concerto impecável. Ao contrário, a velhice é bela, grande, santa, vamos estudá-la um
pouco a luz pura e serena do espiritualismo.
Cícero246 escreveu um eloqüente tratado da velhice. Sem dúvida encontramos nessas páginas
célebres algo do harmonioso gênio deste grande homem, entretanto, é uma obra puramente filosófica e
que só contém visões frias, uma estéril resignação e puras abstrações.
É sobre outro ponto de vista que devemos nos colocar, para entender e admirar esta peroração
augusta da existência terrestre. A velhice recapitula todo o livro da vida, ela resume os dons das outras
épocas de existência, sem as ilusões, as paixões nem os erros. O idoso viu o nada de tudo que ele deixa,
ele percebeu a certeza de tudo o que vai vir, ele é um vidente. Ele sabe, ele crê, ele vê e aguarda. Em
torno de sua cabeça, coroada com brancos cabelos como a fita hierática dos antigos pontífices, ele plana
uma majestade sacerdotal. Apesar dos reis, em alguns povos eram os anciões que governavam.
A velhice é ainda e apesar de tudo uma das belezas da vida e certamente uma de suas mais
elevadas harmonias.
Diz-se sempre: que belo velho! Se a velhice não tivesse sua estética particular por que esta
exclamação?
É preciso não esquecer, contudo que em nossa época “há como já dizia Chateubriand247 muitos
velhos — o que não é a mesma coisa — e poucos idosos.” O idoso, com efeito, é bom, indulgente, ama e
encoraja a juventude, seu coração não envelheceu, enquanto que os velhos são ciumentos mal
intencionados e severos; se nossas jovens gerações não têm mais o culto de antigamente pelos ancestrais,
não é precisamente porque os velhos perderam a sua grande serenidade, a benevolente amabilidade que
fazia antigamente a poesia dos lares antigos? A velhice é santa, ela é pura como a primeira infância, é por
isso que ela aproxima-se de Deus e que vê mais claro e mais longe nas profundezas do infinito.
Ela é, na realidade, um início de desmaterialização. A insônia que é característica comum desta
idade é uma prova material. A velhice assemelha-se a uma vigília prolongada, a vigília da eternidade e o
idoso é como a sentinela avançada sobre a extrema fronteira da vida, ele já tem um pé na terra prometida
e vê a outra margem e a segunda vertente do destino. Daí resultam essas “ausências estranhas,” essas
prolongadas distrações que tomamos por um enfraquecimento mental e que são na realidade mais que
momentâneas explorações no além, ou seja, fenômeno de expatriação passageira. Eis o que nem sempre
se compreende. A velhice diz-se freqüentemente: é a noite da vida, a madrugada. A noite da vida, é
verdade, mas há tão belas noites e crepúsculos do Sol que possuem reflexos de apoteose! É a madrugada,
é verdade, mas a madrugada é tão bela com a sua vestimenta de constelações! Como a madrugada a
velhice tem suas vias lácteas, seus caminhos brancos e luminosos, reflexos esplêndidos de uma longa via
plena de virtude, bondade e honra!
A velhice é visitada pelos espíritos do invisível, ela tem iluminações instintivas, um dom
maravilhoso de adivinhação e profecia, ela tem a mediunidade permanente e seus oráculos são eco da voz
de Deus. Eis porque as bênçãos do idoso são duas vezes santas, devemos guardar em nosso coração as
últimas palavras do idoso que morre, como um eco longínquo de uma voz amada por Deus e respeitada
pelos homens.
A velhice, quando digna e pura, parece o nono livro da sibila248 que a ele exclusivamente tem
um valor de todos os outros, pois ele os recapitula e resumindo todo o destino humano, ele anula os
outros livros.
Continuemos nossa meditação sobre a velhice e estudemos o trabalho interior que nela se realiza.
“De todas as histórias, disseram, a mais bela é a das almas.” E isso é verdade. É bom penetrar nesse
mundo interior e nele surpreender as leis do pensamento, os momentos secretos do amor.
A alma do velho é uma cripta misteriosa clareada pela aurora inicial do Sol do outro mundo.

***
Assim como as iniciações antigas se realizam nas salas profundas das pirâmides, longe do olhar
e do barulho dos mortais distraídos e inconscientes, é semelhante na cripta subterrânea da velhice onde se
realizam as iniciações sagradas que inauguram as revelações da morte.
As transformações, ou melhor, as transfigurações operadas nas faculdades da alma pela velhice
são admiráveis. É o trabalho interior se resume em uma palavra: a simplicidade. A velhice é
eminentemente simplificadora de todas as coisas. Ela simplifica inicialmente o lado material da vida; ela
suprime todas as necessidades factícias, as mil necessidades artificiais que a juventude e a idade madura

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haviam criado para nós e que tinham feito de nossa complicada existência um verdadeiro escravagismo,
uma servidão, uma tirania. Nós já o dissemos acima: É um começo de espiritualização.
O mesmo trabalho de simplificação se realiza na inteligência. As coisas adquiridas tornam-se
mais transparentes, ao fundo de cada palavra encontramos a idéia, ao fundo de cada idéia entrevê-se
Deus.
O velho possui uma faculdade preciosa: a de esquecer. Tudo o que foi fútil, inútil na sua vida,
apaga-se, ele só guarda na memória como no fundo de um crisol, o que foi substancial.
A ponte do velho não tem nada mais da atitude orgulhosa e provocadora da juventude e da idade
viril; ele se curva sob o peso do pensamento como a espiga madura.
O velho curva a cabeça e a inclina sobre seu coração. Ele aplica-se em converter em amor tudo o
que resta nele, de faculdades, vigor e tornar lembranças. A velhice não é então uma decadência: ela é real,
um progresso, uma caminhada adiantada, em direção ao termo: sob essa ótica é uma benção do céu.
A velhice é o prefácio da morte, é o que a torna santa como a vigília solene que faziam os
Iniciados antigos antes de levantar o véu que encobria os mistérios. A morte é, pois, uma iniciação.
Todas as religiões, todas as filosofias tentaram explicar a morte, bem poucas conservaram seu
verdadeiro caráter. O Cristianismo a divinizou, seus santos a olharam nobremente face-face, seus poetas a
enalteceram como sendo uma libertação. Entretanto os santos do catolicismo só viram nela a exoneração
das servidões da carne, a expiação do pecado e, por causa disso, os rituais funerários da liturgia católica
divulgam um tipo de terror sobre essa peroração, entretanto tão natural, da existência terrestre.
A morte é simplesmente um segundo nascimento, deixamos esse mundo da mesma maneira que
nele adentramos, segunda a ordem da mesma lei.
Algum tempo antes da morte, um trabalho silêncioso realiza-se. A desmaterialização já começou.
Através de certos sinais, poderá anos constatá-lo, se aqueles que acompanham o moribundo não
estivessem distraídos com as coisas de fora. A doença representa aqui um papel considerável. Ela acaba
em alguns meses, em algumas semanas, alguns dias talvez, o que o lento trabalho da idade preparara: é a
obra da “dissolução” falada pelo apostolo Paulo249. Essa palavra “dissolução” é bem significativa; ela
indica claramente que o organismo se desagrega e que o perispírito se desprende do resto da carne com a
qual ele estava cercado.
O que se passa neste supremo momento que todas as línguas chamam de “agonia,” ou seja, o
último combate? Nós o pressentimos e advinhamos. Um grande poeta moribundo traduziu esse instante
solene através desse verso:
“Aqui está o combate da morte e do dia.”
Com efeito, a alma entrou em um estado crepuscular; ela está no limite extremo, na fronteira dos
dois mundos e é visitada pelas visões iniciais daquele no qual ela entrará. O mundo que ela deixa lhe
envia os fantasmas da lembrança e todo um cortejo de espíritos chegam-lhe do lado da aurora. Nunca se
morre sozinho, bem como jamais nascemos sozinhos.
Os invisíveis que o conheceram, amaram, assistiram, aqui embaixo, vêm ajudar o moribundo a
se desvencilhar das últimas cadeias do cativeiro terrestre.
Nesta hora solene, as faculdades aumentam, a alma semiliberta dilata-se; ela começa a voltar
para sua atmosfera natural, a retomar sua vida vibratória normal e é por isto que neste instante ocorrem,
em alguns moribundos, curiosos fenômenos de mediunidade. A Bíblia está cheia de supremas revelações.
A morte do patriarca Jacó250 é o tipo realizado da desmaterialização e de suas leis. Seus doze filhos estão
reunidos em torno de seu leito como se fosse coroa funerária. O velho se recolhe e após ter recapitulado
seu passado, suas lembranças, ele profetiza a cada um deles o futuro de sua família e de sua raça. Sua
visão se estende mais longe ainda: ele percebe na extremidade dos tempos aquele que deve um dia
recapitular toda a mediunidade secular da velha Israel: o Messias251 e ele o demonstra como o último
descendente de sua raça, aquele a resumirá toda a glória da posteridade de Jacó. Nenhum faraó, em seu
orgulho, não morreu em tanta grandeza quanto este velho obscuro e ignorado que expirava em um canto
da terra de Gessen252.
Voltemos ao ato da morte em si. A desmaterialização se realizou, o perispírito se desprendeu do
invólucro carnal, que vive ainda algumas horas, alguns dias talvez, com uma vida puramente vegetativa.
Dessa forma os estados sucessivos da personalidade humana se desenvolvem em ordem inversa daquele
que presidiu o nascimento. A vida vegetativa que começara no seio maternal apaga-se dessa vez, a última;
a vida intelectual e a vida sensitiva só as vigésimas primeiras partidas.
O que se passa então? O Espírito, ou seja, a alma e seu invólucro fluídico e conseqüente um, o
Eu, leva a última impressão moral e física que o impressionou na Terra, ele a guarda durante um tempo
mais ou menos prolongado segundo seu grau de evolução. Eis porque é importante cercar a agonia dos
moribundos com palavras doces e santas, com pensamentos elevados, pois só esses, os últimos reunidos,
esses últimos gestos, essas últimas imagens que se imprimem na folha do livro subliminal da consciência;

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é a última linha que lerá o morto assim que entrar no além, ou antes assim que ele tiver consciência de seu
novo mundo do ser.
A morte é então, em realidade, uma passagem, é uma transição e uma translação. Se nós
devêssemos emprestar da vida moderna uma imagem, nós a compararíamos voluntariamente a um túnel.
Com efeito, a alma progride no desfile da morte mais ou menos lentamente, segundo seu grau de
desmaterialização e espiritualidade.
As almas superiores, que sempre viveram nas altas esferas do pensamento e de virtude
atravessam essa escuridão com a rapidez do expresso que desemboca em um instante na plena luz do
vale; mas é o privilégio de um pequeno número de espíritos evoluídos: são os eleitos e os sábios.
Não falaremos aqui dos criminosos, dos seres animalizados, dos instintos grosseiros, que
viveram, ou antes, vegetaram durante toda uma existência no ambiente do vício ou na cloaca do crime.
Para esses é a noite e a noite repleta de hediondos pesadelos. Nós temos dificuldades, entretanto, em
acreditar que as fronteiras do Além e a passagem de tempo para a vida errática sejam povoadas por esses
seres pavorosos que os ocultistas chamam de elementais.
É preciso ver nisso somente símbolos e imagens, reflexos das paixões, dos vícios, dos crimes que
os perversos cometeram aqui embaixo. Pensemos aqui somente nas vidas comuns, nas existências que
seguem tranqüilamente as fases lógicas de seu destino. É a condição comum da maioria dos mortais.
A alma entrou na sombria galeria: ela nela continua na obscuridão ou ainda em uma penumbra
próxima da luz. É o crepúsculo do além — os poetas felizmente perceberam esse estado e descreveram
esse meio-dia um semidia, esse claro obscuro do mundo extraterrestre.
Aqui, as analogias entre o nascimento e a morte são gritantes. A criança leva várias semanas,
antes de fixar a luz e tomar consciência do que a cerca. Seus olhos não estão ainda abertos, não mais que
a irradiação de seu pensamento.
Assim, o recém nato ao mundo invisível continua, ele também, algum tempo antes de tomar
consciência de sua modalidade do ser e do destino. Ele escuta ao mesmo tempo os murmúrios longínquos
ou próximos dos dois mundos. Ele entrevê os movimentos e os gestos que ele não saberia precisar nem
definir. Imerso na quarta dimensão, ele perde a noção precisa da terceira, na qual ele havia até então
sempre evoluído. Ele não se dá conta nem da quantidade? Do número, nem do espaço, nem do tempo, já
que esses sentidos que, como vários instrumentos óticos lhe ajudavam a calcular, a medir e pesar, são
fechados repentinamente como uma porta condenada para sempre.
Que estranho estado este o da alma que tateia como um cego, sobre o caminho do além!
Entretanto esse estado é real.
Neste momento, as influências magnéticas da prece, da lembrança do amor podem representar
um papel considerável e acelerar a chegada da clareza reveladora que vão iluminar esta consciência ainda
adormecida, esta alma “em dor” de seu destino. A prece, neste caso, é uma verdadeira evocação; é o grito
da chamada alma indecisa e irresoluta. Eis porque o esquecimento dos mortos, as negligências de seu
culto são culpadas e se merecem de nós mais tarde esquecimentos semelhantes.
Contudo, esse período de transição, essa parada no túnel da morte são absolutamente necessárias,
como preparação para a visão de luz que deve suceder a obscuridão. É preciso que os sentidos psíquicos
se proporcionem gradualmente ao novo lar que vai esclarecê-los. Uma passagem súbita, desta vida para
outra, sem nenhuma transição seria um deslumbramento que causaria uma desordem prolongada. Natura
non facit saltus, diz o grande Lineu253; esta lei rege paralelamente as etapas progressivas do
desprendimento espiritual. É preciso que a visão da alma se expanda, que o pássaro da noite, quanto pode
fixar o despertar da aurora, fortaleça sua pupila e possa, como a águia, olhar o Sol em face com um olhar
intrépido. Este trabalho de preparação realiza-se progressivamente, durante a parada mais ou menos
prolongada no túnel que precede a vida errática propriamente dita; pouco a pouco a luz se faz,
inicialmente muito pálida, como a madrugada inicial que se levanta no crista dos montes, depois, a
madrugada sucede a aurora; esta luz, a alma entrevê o novo mundo que ela habita, ela se lê e se
compreende, graças a uma luz sutil que a penetra em toda sua essência.
Gradualmente, todo seu destino, com suas vidas anteriores e, sobretudo com a noção consciente
e reflexa da última, vai se revelar como em um clichê cinematográfico vibrante e animado. O espírito
então entende o que ele é, onde está e o que vale.
As almas vão de um instinto infalível da esfera proporcionada a seu grau de evolução, a sua
faculdade de iluminação, a sua amplidão atual de perfectabilidade. As afinidades fluídicas as
encaminham, como uma doce, porém imperiosa brisa que empurra um barquinho, em direção a outras
almas similares com as quais elas vão se unir em uma espécie de amizade, de parentesco magnético e
assim a vida, uma vida verdadeiramente social, mas com um grau superior, se reconstitui, absolutamente,
como outrora aqui embaixo, pois a alma humana não saberia renunciar a sua natureza. Sua estrutura
íntima, sua faculdade de brilho lhe impõem a sociedade que ele merece, no além se refazem as famílias,
os grupos de alma, os círculos dos espíritos, segundo as leis de afinidade e simpatia.

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O purgatório é visitado pelos anjos, dizem os místicos teólogos. O mundo errático é visitado,
dirigido, harmonizado pelos Espíritos superiores, diremos nós.
Na Terra sempre houve e terá os iniciados, dentre gênios, santos iluminados. São os
predestinados, os missionários que receberam por função o avanço do mundo na verdade e na justiça, do
custo de seus esforços, de suas lágrimas e às vezes de seu sangue.
As elevadas missões da alma não cessam nunca: os Espíritos sublimes que construíram e
melhoraram seus semelhantes sobre a Terra, continuam em um mundo superior, em um quadro mais
amplo, seu apostolado de luz e sua redenção de anos.
É assim, como dizíamos no início dessas páginas, que a história eterna recomeça e torna-se cada
vez mais universal. A lei circular que preside ao eterno progresso dos estados e dos mundos se
desenvolve sem cessar nas esferas e nos orbes cada vez maiores; tudo recomeça no alto, em virtude da
mesma lei que faz tudo evoluir aqui embaixo. Todo o segredo do universo está lá.
As almas que possuem consciência de ter perdido sua última existência compreendem a
necessidade de reencarnar e se preparar para isso. Tudo se agita, tudo se movimenta nessas esferas
sempre em vibração e em movimento: É a atividade incessante, contínua, progressiva, eterna.
O trabalho dos povos na Terra não é nada em comparação ao trabalho harmonioso do Invisível.
Lá em cima, nenhum entrave material, nenhum obstáculo carnal para esses transportes, desencoraja ou
torna lento o progresso. Nenhuma hesitação, nem ansiedade, nem dúvidas. A alma vê o fim, ela conhece
os meios e se lança nessa direção para atingi-lo. Quem nos descreverá a Harmonia dessas inteligências
imaculadas, o esforço dessas vontades retas, o impulso desses amores mais fortes que a morte?
Que língua poderá um dia reproduzir sublime e fraterna comunicação desses espíritos que
mantêm entre si diálogos vibrantes como a luz, sutis como os perfumes, nos quais cada vibração
magnética possui seu eco na alma de Deus? Assim é a vida celeste: a vida eterna e são essas as
perspectivas que a morte nos oferece indefinidamente! Ó homem! Compreende teu destino, se digno e
feliz por viver; não blasfemes a lei de amor e bondade que traça diante de ti caminhos tão amplos e
radiosos! Aceita a vida como ela é, com suas fases, alternativas e vicissitudes; ela é somente o prefácio, o
prelúdio de uma vida maior, na qual planarás como uma águia na imensidão, após ter se arrastado
penosamente em um mundo material e imperfeito.
Não é então através de um hino fúnebre que é preciso acolher a morte, mas sim por um canto de
vida, pois não é o astro da noite que se levanta, cruel. Mas sim a estrela radiante da verdadeira manhã.
Canta, ó alma, hino triunfal, a hosana do século novo, no qual tudo nascerá para destinos mais
gloriosos. Eleva-te sempre mais alto na pirâmide infinita de luz e como o herói da lenda de Excelsior vá
implantar tua barraca nos Tabors — radiante do Incomensurável, do Eterno!

16. — A Missão do século XX.

Quando lançamos um rápido olhar no conjunto da História, esse verdadeiro livro do destino dos
povos, parece que cada século tem um papel especial a preencher, uma missão particular a exercer na
caminhada da humanidade.
O século XX parece ter uma vocação superiora a de todos os outros.
Em sua primeira metade, ele vê o desabamento de tudo o que foi passado. Em sua segunda
metade, vai estabeler um tribunal, feito de beleza, luz, justiça, que nossos contemporâneos saúdarão como
uma longínqua miragem desse novo mundo do pensamento e da ciência, assim como Cristóvão Colombo
pressentiu a aproximação de um continente desconhecido.
A transição não se fez sem sobressaltos, sem choques violentos. O espetáculo das decomposições
que se produzem seria lamentável, se nós não soubéssemos que para grandes ruínas sucedem as grandes
ressurreições.
A História, com efeito, só apaga para escrever, o pensamento só demole para reconstruir: é a lei
de evolução, a caminhada lógica da humanidade.
Nós assistimos a queda das religiões, ou ainda, rituais e formas culturais; pois a religião em seu
princípio e sua essência, ou seja, no entusiasmo da alma em direção ao infinito, a aspiração das
inteligências para o ideal divino, a religião é indestrutível como a Verdade, inesgotável com o Amor,
inalterável como o Belo. O que deve perecer e tende cada vez mais a desaparecer, são velhas fórmulas
dogmáticas, os farisaísmos antigos, as disciplinas arcaicas. É todo um aparelho sacerdotal e oculto dos
ídolos.
A religião católica, em particular, abate-se sob o peso de suas falhas seculares.
A Igreja romana é somente, há muito tempo, uma potência política. Seus pontífices desdenharam
sua missão, seus padres perderam o sentido de iniciação profunda e sagrada dos primeiros cristãos.

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Assim se acentuou pela abolição da Concordata254 e pela atitude do papa ao longo da última
guerra, a ruptura entre a Igreja e a sociedade moderna, cisão entre o espírito de Roma e aquele do século.
Assistimos igualmente o desabamento da ciência, não a verdadeira como o pretendia Sr.
Brunetière255, pois essa não pode perecer — é como um trabalhador que nunca se dá por vencido — mas
sim da ciência materialista, a que dominou o mundo durante mais de 100 anos.
Há meio século, Ernest Renan publicava um livro sobre o Futuro da Ciência, livro hábil e
concebido, que teve uma certa notoriedade. Nele profetizava o desaparecimento, brevemente, do mistério
que sob diversas formas, se propõe como um desafio ao pensamento humano. O mistério subsistiu... Ele
se multiplicou, graças à descoberta recente da radioatividade dos corpos e com o desenvolvimento dos
fenômenos psíquicos.
Outros exemplos nos farão ver até que ponto a ciência oficial, proclamando suas vitórias sobre a
matéria, se mostrou impotente para resolver as grandes questões que trataram a alma humana e as suas
faculdades.
Em seus Enigmas do Universo, Haeckel256 escreveu: “Enquanto o enigma da substância, que
recapitula todos os outros enigmas, não for resolvido, não haverá nada, de fato para a satisfação do
espírito humano”.
Henri Poincaré257, um dos mestres da Ciência moderna, que a morte ceifou em meio de seus
trabalhos, demonstrava em um de suas últimas obras que a ciência só é ainda uma hipótese e confessava
que “todas as leis da física devem ser revisadas.”
O Sr. d’Arsonval258 manteve aproximadamente a mesma linguagem em seus cursos no Colégio
de França.259
Vejamos agora o que dizia, sobre esse assunto William James260, reitor da Universidade de
Harvard261, nas últimas páginas de seu belo livro: A Experiência Religiosa. Ele declara não poder “sem
ouvir uma admoestação interior” se por na atitude do Homem de Ciência se representando que não há
nada fora da sensação e das leis da matéria. E algumas linhas além:
“Toda a experiência humana em sua vivante/viva realidade me leva irresistivelmente a sair dos
estreitos limites onde a ciência pretende nos cercar. O mundo real é constituído diferentemente, bem
mais rico e bem mais complexo que aquele da ciência.”
É precisamente este mundo real, o mundo psíquico, que a maioria de nossos sábios não querem
conhecer; ao invés de estudar, como eles o deveriam, a vida em suas elevadas manifestações, eles se
perdem na análise infinitesimal; eles só vêem por assim dizer a poeira das coisas e das idéias.
Sempre faltou a ciência oficial a independência e a liberdade. Ela se desviou primeiro ao se
submeter servilmente, a autoridade da Igreja; em seguida, se enfeudando nas doutrinas materialistas do
século XVIII e, logo depois, ao panteísmo germânico. Finalmente, há mais de um século, ela tornou-se o
satélite do positivismo, essa doutrina incompleta, que se desinteressa sistematicamente do maior
problema que o espírito humano quer e deve resolver, o de sua origem e de seu destino. Ela se limita a
levar pelo mundo suas fórmulas secas e banais, semelhante a Vitória Áptera 262que, desprovida de asas, se
via condenada a se arrastar sem voar até os cumes.
A ciência cética colocou a lei do número como base de tudo. Desde então, a vida tornara-se um
tipo de álgebra cujas equações nos levavam a uma ou várias desconhecidos. Era ir em sentido contrário
da natureza; pois o homem existe para criar e não para decompor; para agir e não unicamente para
analisar. Esse sistema negativo tinha tornado estéreis os trabalhos de nossos sábios e, é assim, que vemos
pouco a pouco se enfraquecer sob nossos olhos as características e as consciências, a arte, o ideal e o belo.
Com efeito, a ciência, desconheceu a lei de estética, consagrando o naturalismo que disseca a
vida, ao invés de desenvolvê-la. Na moral, ela preconizou o determinismo, que põe em princípio a
impotência do esforço e a renúncia à ação. Na ordem social, o esmigalhar infinito dos poderes e das
responsabilidades produz por momentos um estado de coisas que confina a desordem e a confusão.
A ciência tinha por missão construir uma sociedade sobre bases novas; ela destruiu sem nada
edificar. Perdendo de vista os grandes cumes, os grandes focos do pensamento, a ciência cética esfriou o
coração humano. Ela destruiu o ideal elevado que poetiza a vida, tornando-a suportável, eis porque as
gerações que nascem parecem desiludidas e exigem outra coisa.
O problema político possui grande intensidade. Sob o impulso dos eventos, a maioria das
instituições monárquicas desmoronou e a democracia triunfante se desenvolve sobre suas ruínas, mas em
seu seio uma crise intensa causa estragos. Os elementos da anarquia crescem e se estendem. A sorte da
ciência materialista e a do socialismo atual são correlativos: eles se inspiram nos mesmos métodos e
mesmas fórmulas.
É necessário reconhecer, a democracia socialista de nossos dias se encontra em desacordo com o
princípio em si da Revolução263. Essa era essencialmente individualista: ela queria dar a cada um a livre
iniciativa de seus atos pessoais. O regime atual age diferentemente, ele tende a nivelar todas as
individualidades fortes e a passar lógicas da igualdade de direito a igualdade de fato; ele vai até o

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coletivismo, ou seja, até a negação da pessoa humana e a sua absorção no campo social. Não é o
Estatismo que nos livraria das mediocridades, ao contrário, ele seria por natureza o protetor dele. Não é a
regulamentação do trabalho pela coletividade que dará ao proletariado a felicidade que os utópicos nos
fazem ver.
Os homens são iguais, dirão: Em seu sentido histórico restrito à fórmula pode parecer exata; mas
não se trata aqui de uma igualdade real, absoluta. Se os homens são iguais em direitos, eles sempre serão
desiguais em inteligência, em faculdades, em moralidade. Afirmar o contrário seria negar a lei de
evolução, que, naturalmente não age com a mesma eficácia sobre todos os indivíduos.
Homem livre sobre terra livre! Tal será o ideal social do futuro. É preciso, porém ater-se à
necessidade prévia de um outro fator, a Fraternidade, que sozinha, através da harmonia, pode equilibrar a
liberdade.
Os séculos se dissiparam desde a heróica época dos primeiros cristãos, quando esses vendiam o
que eles possuíam para que os apóstolos distribuíssem o ganho entre todos, segundo as necessidades de
cada um. Onde reencontraremos... Não será nos hábitos atuais, caracterizados pelo egoísmo; Ele está
nas aspirações da alma humana, nesse movimento que agita os povos de um lado a outro da Terra; Ele
está no longínquo das eras futuras!... Este princípio de verdadeira fraternidade, lembrado por Mably264
aos homens da Revolução?
Acabamos de reprisar as ruínas que o Séc. XX já viu se produzir. Falaremos agora das
renovações que este ser prepara e realizará.
É sempre pela ordem intelectual que as grandes renovações começam. As idéias precedem e
preparam os feitos. É a lógica da história e a lei do progresso humano.
O abuso dos métodos e procedimentos de análise quase nos pereceram. Por conseguinte, são as
grandes sínteses e os conceitos de conjunto que devemos preparar. Eis que um novo ponto de vista se
estabelece sobre todas as coisas.
Para aplicar métodos novos, faz-se necessários novos homens. Para a ciência livre do amanhã,
faz-se necessários espíritos livres.
Enquanto os homens desta geração, submetidos às disciplinas da Igreja ou da Universidade, não
tiverem desaparecido, só poderemos esboçar a obra de redenção do espírito humano. A Igreja com suas
confissões, a Universidade com suas provas falsearam as competências da alma e oprimiram os saltos do
pensamento. Os corações, as inteligências se curvaram sobre si mesmos; mas ninguém teve o tempo nem
o espaço necessário para sentir e viver plenamente. Entretanto, o trabalho de renovação se prepara. O
Século XIX e o começo do XX viram aparecer precursores. Os gênios não tardaram em vir.
A cada época da História contamos um certo número de espíritos que pertencem mais ao século
vindouro do que ao século no qual vivem e, por isso mesmo, assemelham-se aos expulsos superiores, a
seres estrangeiros, inquietantes para seus contemporâneos.
Shakespeare265 escreveu: “Os grandes acontecimentos projetam diante de si sua sombra antes
que sua presença sacuda o universo.”
Ora os precursores viram esta sombra grandiosa se desenhar em seu caminho com formas
flexíveis e potentes; eles pressentiram as coisas e adivinhavam as leis. Eis aí o sinal de sua eleição
intelectual e de sua vocação; significa a razão de seu isolamento, de seu abandono, de seus sofrimentos
em meio a multidão que não podia compreendê-los.
Eventos surgiram com sua grandeza trágica. Durante mais de quatro anos os povos combateram
em chances formidáveis. A guerra prosseguiu sua obra de ruína e morte, porém, ao mesmo tempo ela
varreu outros erros, ilusões e quimeras. Sob o sopro da tempestade as nuvens se entrecortaram, um
cantinho do céu azul apareceu.
O século XIX foi o século da matéria; o século XX será o do espírito. O século XIX pesquisando
a natureza fez surgir energias desconhecidas; o século XX nos revelará forças espirituais superiores a
tudo o que o homem sonhou e o estudo dessas forças nos conduzirá a solução do problema da vida e da
morte.
Os precursores são grandes diante da História! São eles que iluminam o caminho da humanidade
sobre a longa sola de seus destinos. Eles se parecem aos antigos corredores do estádio antigo citado por
Lucrécio266 e que passam de mão em mão a pira sagrada da inspiração. Sem eles, as renovações
intelectuais do mundo não encontrariam nem os caminhos abertos nem os espíritos preparados. Dentre
eles citamos contemporâneos: Allan Kardec, Jean Reynaud, Flammarion, Victor Hugo, Crookes,
Myers267, Lodge268, etc.
O livro de Myers sobre A Personalidade Humana termina por uma bela síntese espiritualista. O
autor demonstra que primeiro é necessário explicar o homem ao homem. Ensina, diz ele, a conhecer o
homem leva ao conhecimento de Deus e do universo. É o que já havia aconselhado o poeta inglês Pope269
em seu Ensaio sobre o Homem.
Mas, as gerações passam e esse estudo essencial do homem interior continua negligenciado.

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O século XIX consagrou incalculáveis recursos, imensos trabalhos de estudo do universo
material, estendem prodigiosamente o campo de suas observações e experiências; mas o mundo ainda
ignora a constituição íntima do ser humano e das leis de seu destino.
Como conseqüência, nossos legisladores se encontram na impossibilidade de governar. Como,
dirigir homens, administrar um povo quando ignorarmos e fingimos ignorar o grande princípio da vida!
Daí de onde saiu a doença de que sofre hoje nosso país.
O formidável problema do trabalho, com suas múltiplas dificuldades não tem outra origem que
este erro capital. Quiseram ver na pessoa humana apenas um corpo a ser nutrido e explorado, e, partindo
desse princípio, só se preocuparam com suas necessidades materiais. A luta pela vida tornou-se tão brutal
quanto era nos tempos bárbaros.
O mal é grande e não é com sistemas empíricos que o curaremos. Não será nem no Socialismo
em sua forma atual, nem no Coletivismo que encontraremos os remédios.
É preciso procurar primeiros as causas e atacá-las. Ora, elas são como que constitucionais ao
homem é necessário corrigir seus erros, combater suas paixões, agindo mais no indivíduo que na massa. É
a ele que devemos esclarecer, emendar, é preciso cultivar e desenvolver o homem interior em cada
personalidade viva se quisermos passar do reino da matéria para o reino do espírito.
Para a ciência nova, é necessário homens que conhecam a fundo as leis superiores do universo, o
princípio da vida imortal e a grande lei da evolução, que é uma lei de amor e não uma loi d'airain270,
como disse Haeckel.
Há uma doutrina ao mesmo tempo velha como o mundo e jovem como o futuro porque ela é
eterna, sendo a verdade, uma doutrina que resume toda as noções fundamentais da vida e do destino: é o
Espiritismo, cujo livro de Myers, citado acima, é o comentário científico. O espiritismo aparece no
mundo; ele deborda por todos os lados.
Qual a sociedade sábia, a revista semanal, o jornal diário que não trata de seus fenômenos, suas
manifestações, seja para negar; criticar, mascarar ou combatê-los?
O Espiritismo é a questão do momento presente, o problema universal. Não é mais possível ficar
indiferente diante dele!...
É precisamente porque esta invasão espiritual preenche os dois mundos e preocupa o pensamento
humano que cremos dever insistir nos deveres que nos cabem em face desta fé nova, a esta jovem e forte
ciência que oferece provas irrefutáveis da vida após a morte e contém em germe todas as ressurreições do
futuro!...
Lembremos, para terminar, o caráter essencial do Espiritualismo Moderno não é um sistema
novo vindo reunir-se a outros sistemas, nem um conjunto de teorias vãs. É um ato solene do drama da
evolução humana que está começando, uma revelação que ilumina ao mesmo tempo as profundezas do
passado e as do futuro, que faz surgir a poeira dos séculos, as crenças adormecidas, animando-as com
uma flama nova e as faz renascer completando-as.
É um potente sopro que desce dos espaços e corre o mundo; sob sua ação, todas as grandes
verdades despertam. Majestosas, elas emergem da escuridão dos tempos, para representar o papel que o
pensamento divino as destina. As grandes coisas se fortalecem no recolhimento e no silêncio. No aparente
esquecimento do século, elas buscam as novas energias. Elas se voltam para si mesmas e prepara-se para
futuras tarefas.
Acima das ruínas dos templos, civilizações apagadas e impérios destruídos, acima do fluxo e
refluxo das marés humanas, eleva-se uma voz que grita: Os tempos são vindos, os tempos chegaram!
Das profundezas estreladas, os Espíritos descem em legiões sobre a terra, para combater o
combate da luz contra as trevas. Não são mais os homens, nem os sábios, nem os filósofos que trazem
uma nova doutrina. São os gênios dos espaços que vêm entre nós e assopram para nosso pensamento os
ensinamentos necessários para regenerar o mundo. São os Espíritos de Deus! Todos aqueles que possuem
o dom da clarividência os percebem, planando acima de nós, mesclando-se com nossos trabalhos, lutando
ao nosso lado para a reconquista — redenção e ascensão da alma humana.
Grandes coisas preparam-se. Que os trabalhadores do pensamento ergam-se, se querem
participar na missão oferecida por Deus a todos os que animam e servem a verdade.

Notas Complementares

N.1 - Sobre a necessidade de um motor inicial para explicar os movimentos planetários sobre
esse assunto, o professor Bulliot escreve na “Revista do Bem”:
Inevitavelmente, dizia Aristóteles271, todos os seres que compõe a natureza se dividem a priori
em três categorias: os que recebem o movimento sem dá-lo, os que o recebem e o transmitem a outros
corpos, continuando como simples agentes de transmissão; finalmente, as fontes primárias do movimento
que dão algo de sua plenitude sem nada receber de fora. A necessidade de buscar fora dos corpos a fonte

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primária dos movimentos que os anima é evidente na hipótese estritamente mecânica de Descartes272,
segundo a qual os corpos privados de toda atividade própria continuam absolutamente passivos, liberados
que são pelos impulsos externos. Mas, qualquer que seja a hipótese que se faça sobre a natureza íntima da
matéria, basta, para justificar a necessidade de recorrer a um motor primeiro, encontrar nos corpos um
movimento ou uma classe de movimentos que não se explica pelas forças comuns.
“Ora, esta classe de movimentos se acha realizada nas revoluções dos planetas que gravitam em
torno do Sol, centro do sistema. Esse movimento de translação quase circular ou elíptico, deve-se ao
concurso de duas forças: uma força de gravitação, que tende ininterrupta e a fazer cair os planetas sobre o
céu, seguindo a vertical, e uma força centrífuga, que tende a lançá-los longe em linha reta, seguindo a
tangente da órbita. Ora, de onde vem esta força centrífuga? Unicamente de um impulso primitivo, dado
uma vez por todas os planetas, na origem de suas evoluções, por uma causa estranha.
Este impulso é em todos os pontos análogo ao que uma criança comunica a uma pedra, fazendo-a
virar rapidamente com a ajuda de uma funda. Nenhuma força natural saberia dar a razão disso. Assim
Newton273 não hesitou em pronunciar essas grandes palavras, ao final de seus: Princípios Matemáticos da
Filosofia Natural: “O mundo não se explica pelas leis da Mecânica274.” Em um impulso entusiástico, sua
grande alma alça-se em direção Daquele que pode com sua mão possante, lançar os mundos sobre a
tangente de sua órbita. Nunca a ciência humana, nem o gênio do homem elevaram-se tão alto quanto
nesta célebre página, digna coroação desse livro grandioso.
“Com Kant275 e Laplace276, a astronomia dá um passo à frente.”
Ela estabelece a hipótese de uma ampla nebulosa animada por um possante movimento de
rotação sobre si mesma. Em seguida a este movimentos, os planetas se destacam um a um, como de si
mesmo, da massa comum, cuja parte central dará nascimento ao Sol. Desde então parece que tudo mudou
e que a idéia de Deus tornou-se estranha a astronomia. Laplace não pronuncia nem uma única vez essa
palavra. Porém estritamente sob o ponto de vista da explicação dos fatos, esse silêncio é fundado? De
maneira nenhuma a questão continua para nós exatamente o que ela era para Newton. Após, como antes a
hipótese da nebulosa, o problema é o mesmo. Se nada faz equilíbrio com a gravidade sempre presente e
sempre em movimento, os planetas caem; elas se precipitam em linha reta para o Sol. Ou melhor, nada
vem separá-la da nebulosa em comum. O movimento giratório desta pode sozinho fornecer a força
centrifuga indispensável. E então coloca-se novamente e nos mesmos termos, o fatal problema que
tentávamos em vão silenciar: De onde vem o movimento giratório que faz equilíbrio com o peso?
“Kant, unicamente, tentou responder: da gravidade e das forças repulsivas desenvolvidas através
pelos choques interatômicos. Kant não era matemático, ele o demonstra muito bem aqui. Em virtude do
princípio da igualdade de ação e reação, as moléculas, após o choque, desenvolvem a mesma força viva
em uma direção quanto na direção contrária, da esquerda para a direita bem como da direita para
esquerda. Elas são incapazes, por conseguinte de gerar na nebulosa a menor rotação de conjunto.
“Imóvel inicialmente, a nebulosa continuará eternamente, e falta de força viva, os planetas não se
formarão. Se eles se separaram, com efeito, da massa central, é porque esta girava sobre si mesma, e se
ela girava é porque a mesma potência criadora, evocada ostensivamente por Newton, havia, formando-a,
impresso esse movimento.
“Os astrônomos do Observatório de Paris, interrogados, Senhores Wolf277 e Puiseux278, não
fizeram dificuldade para reconhecê-lo: A hipótese invocada por Kant, conclui Sr. Puiseux, deve ser vista
como inoperante.” “É preciso um primeiro motor,” escreve Sr. Wolf. (Esta é também a opinião de
Camille Flammarion, consagrada em suas obras).
“E, no fundo, implicitamente, Laplace não diz talvez outra coisa; pois se ele não nomeia Deus
com todas as letras, ele fala de uma nebulosa em estado giratório e diversas vezes ele escreve que em seu
movimento conjunto, a soma das áreas descritas por suas moléculas em torno do eixo é necessariamente
nula. Logo, ele também se reconhecia, como Newton, incapaz de explicar os movimentos do Sistema
Solar somente através das leis da mecânica.”
No 2 - Sobre as Forças desconhecidas.
A força, já o dissemos, na página 30, tem um certo grau de evolução e inteligência. Piobb279
inspirando-se em Flammarion pode escrever: “Resulta das experiências realizadas, um raio globulário
possui uma estabilidade considerável. Pode-se tocá-la com uma lâmina metálica e trocá-la de lugar sem a
descarregar. Além disso, constatamos que o trovão não era atraído por um pára-raio e que esse não
protegia de forma alguma as residências. Por outro lado, parece que ele se dirige algumas vezes como um
ser inteligente. Ele opera mil fantasias, tanto com violência, mas freqüentemente com calma e mostra-se
de certo modo refletir em suas ações.
Dir-se-ia que ele é capaz de certos conceitos! Em sua maneira de abrir, virando o trinco, uma
porta ou uma janela, de folhear um livro, de deslocar objetos, ela demonstra, uma lógica rudimentar que
até aqui só se reconhecia nos seres vivos.”
(Psiquê, nov. 1914, pág. 159)

54
A respeito das imensas fontes de energia de que falamos na pág. 30, G. Le Bon escreveu:
“Voltando as causas das emissões de eflúvios podendo se desprender de todos os corpos com uma
vertiginosa velocidade, constataríamos a existência de uma energia intra-atômica, desconhecida até hoje e
que ultrapassa, entretanto todas as forças conhecidas por sua colossal grandiosidade. Nós só sabemos
liberá-la em quantidades fracas, porém do cálculo dessa quantidade pode-se deduzir que se fosse possível
desprender inteiramente toda energia contida em um grama de uma matéria qualquer; ele poderia produzir
um trabalho igual aquele obtido pela combustão de várias toneladas de carvão.
A matéria nos aparece como um reservatório enorme de energia. A constatação da existência
dessa nova força continua ignorada durante tanto tempo, apesar de sua formidável grandeza, nos revelará
imediatamente uma fonte tão misteriosa ainda de energia manifestada pelos corpos durante sua
radioatividade.
(Revista Científica, 17 outubro de 1903).
No 3 - As maravilhas celestes: Dimensões e volumes das estrelas.
As dimensões de certas estrelas são formidáveis. Nosso Sol é, o sabemos, 1.300.000 vezes maior
que a Terra, mas Sirius o ultrapassa 12 vezes em grandeza e Procyon280 16 vezes; Deneb281 do Cisne282, a
2a maior estrela da Grande Ursa283; Vega284, o belo Sol azul da Lira; Pollux285, Gêmeos286, são também
estrelas grandiosas, faróis gigantes disseminados na noite sideral e junto aos quais nosso Sol não passaria
de um ponto luminoso. Então, eis Capela ou a Cabra, astro gigantesco 5.800 vezes maior que o Sol,
Arcturus que apesar de sua terrível distância, brilha ainda com um brilho que eclipsa todos os astros de
nosso céu boreal, e finalmente Bételgeuse287 da constelação de Orion.
Esta vez, a imaginação a mais fantástica não encontra mais palavras para exprimir essa terrível
visão. Essas duas estrelas, Arcturus e Bételgeuse valem cada uma vários milhares de sóis como o nosso;
entre elas e nosso astro do dia, há quase a mesma proporção que entre o Sol e a Terra.
E, entretanto a astronomia encontrou uma estrela que as eclipsava ainda. Para percebê-la é
preciso ganhar as regiões austrais, onde ela brilha na constelação do Navio288; é Canopus, a mais potente
estrela conhecida até hoje, pois ela corresponde a 8.760 sóis reunidos.
Dentre todos os astros estudados no telescópio e dos quais tentamos medir a distância, a luz; o
calor e o movimento próprio, Canopus acabou de ser objeto de especial estudo por parte de um astrônomo
inglês, Sr. Walkey, membro da sociedade real de astronomia de Londres. Esse estudo tenderia a mostrar
que esse prodigioso Sol poderia ser o centro de nosso universo.
A distância de Canopus seria de 489 anos-luz, ou seja, raio luminoso que nos chegam hoje dessa
estrela deve ter saído em 1426.
Este astro formidável não é, entretanto o pivô em torno do qual evolui nosso Sol; é em torno de
Alcione, estrela da constelação das Plêiades, que nosso sistema solar realiza em 22 milhões e meio de
anos uma de suas grandes evoluções, e um raio de luz de Alcione deve viajar durante 715 anos antes de
poder atingir nossa Terra. Há estrelas cujas luzes só nos chega após 5.500 anos. O grupo das Plêiades se
compõe de um milhão de estrelas, das quais só sete são visíveis a olho nu. Alcione é de 3a grandeza, mas
coisa remarcável, essas estrelas principais são animadas de um movimento uniforme e paralelo, o que
explicaria que sua atração seja mais possante ainda que a da gigantesca Canopus.

Quadro de Matérias

O CÉU E A TERRA

I
Durante o ano passado, os habitantes da Terra testemunharam fatos astronômicos tão diversos
quanto impressionantes. No início, foi, durante vários meses, o majestoso Júpiter 289 seguindo seu curso
através do espaço. Quando pensamos que este brilhante planeta é doze mil vezes maior que o nosso, nos
sentimos reduzidos a proporções que nos impõem modéstia e humildade. Entretanto esse mundo
grandioso não passa de um átomo na imensidão dos céus!
Após, foi Marte, nosso vizinho, vindo do ponto mais próximo da Terra 290 e oferecendo assim a
nossos astrônomos um campo de observações mais fáceis. A essa distância relativamente curta, Marte
projetava até o horizonte seu brilho avermelhado.
Com a aproximação do inverno, o céu se cobrira; um véu de nuvens encobria nosso globo.
Através da espessa bruma, durante semanas, meses, não se destinguia mais nenhuma estrela na morna
extensão.
Mas de repente, com ao sinal de uma varinha mágica, a noite de Natal, data memorável, o véu se
descobrirá e as esplêndidas constelações do Sul apareceram. Não as havia visto fazia um ano, e,

55
entretanto, apesar da minha fraqueza de meus recursos visuais, suas formas me eram familiares, eu as
saudava com fervor.
Eu me pergunto às vezes o que experimentam os outros homens diante da claridade celeste;
quanto a mim, não pude contemplá-los sem emoção, pois parece que os conheço há séculos e cada uma
dessas irradiações é como uma mensagem de verdade, de sabedoria e de amor. É possível se pudéssemos
observá-los sob um único ponto na Terra, as multidões aí iriam para aproveitar o espetáculo, mas como
podemos observá-lo freqüentemente e em todo lugar, os homens passam indiferentes para correr a algum
cinema fumeux, ou bem a outras distrações mais comuns ainda. De modo que Deus poderia se dizer:
para que serve semear essas maravilhas sob seus olhos, porque esta profusão de riquezas se ela não faz
vibrar nem seu pensamento, nem seu coração?
Em que consistia então essa prodigiosa visão? O gigante Orion coroado com seu diadema de
astros parecia tomar de assalto (monter à l’assaut) os céus. Essa constelação formidável, se a ela
acrescentarmos o cortejo que a precede e que a segue, representa talvez a mais opulenta região do espaço.
Sua brilhante cintura, a massa de estrelas que observamos em suas profundezas, duas nebulosas
misteriosas já fazem de Orion um espetáculo incomparável. Em seguida, eis Sirius, a mais brilhante
estrela do sul, Sirius cuja luz branca é um símbolo da juventude e de vibrante vida e Procyon seguida
com seu possante satélite.
Antes de Orion, e como para abrir sua imponente caminhada, a colossal Aldebaran pintada de
púrpura e azul. Enfim, como iniciantes (avant coureur), as Plêiades, prodigiosos aglomerados (amas)
de longínquos sois que se cria ser o pivô em torno do qual gravita nosso sistema sideral em um seqüência
incalculável de séculos.
O espetáculo ofertado pelos luares do inverno ultrapassa tudo o que a ciência humana pode
conceber. Sabemos que o telescópio descobre, em suas profundezas, os milhões de estrelas que são
também sóis, em sua maioria superiores em potência e grandiosidade ao nosso.291
Todos esses focos irradiam, na extensão universal, ondas de luz, correntes de ondas, torrentes de
(rés), gigantescas esmeraldas, topázios, ametistas, safiras, rubis, prodigiosos diamantes da crina (écrin)
celeste.
Entretanto a parte invisível do vasto universo é mais maravilhosa ainda que a parte visível. Para
conhecê-la é preciso recorrer as revelações dos Espíritos, e, é o que faremos várias vezes ao longo desses
artigos. Elas nos dizem que, em todos os lugares, mundos fluidicos se multiplicam (déployer), mundos
invisíveis unem entre si os mundos conhecidos. Em toda parte, teorias de almas percorrem a imensidão,
visitando as humanidades incontáveis. Em toda parte, intercâmbios realizam-se, intercâmbios de forças,
de irradiações, de pensamentos, vulgarizando conhecimentos adquiridos.
E em tudo isso brilha a imensa solidariedade dos seres e dos mundos prosseguindo sua evolução
sob a égide de uma lei de justiça, progresso e harmonia.
A ciência do homem ainda é impotente para compreender e explicar toda a beleza e a grandeza
do cosmos.
Sem dúvida, ela obteve consideráveis resultados, ela pesou os mundos, calculou suas massas,
analisou sua luz, mediu seus movimentos e distâncias, previu os eclipses e descobriu as leis de atração e
de gravidade, sem entretanto defini-los. Ela acumula os resultados, as fórmulas e ainda permanece só nas
aparências sem penetrar no profundo sentido do universo. Ela hesita ainda sobre a questão do saber se
esses mundos são ou serão habitados. Ora, podemos nos perguntar em que sentido os mundos foram
edificados, se não para tornar-se lugares habitáveis, “lares” segundo a palavra de Cristo. Tudo neles está
disposto para a vida, cujas formas são variadas e infinitamente múltiplas.
Vejamos também essa estranha anomalia: astrônomos continuam realistas! Sua ciência nada
sobre a intensa e espantosa vida que preenche o espaço; ela ignora o plano do conjunto e a grandiosa
evolução dos seres, de degrau em degrau, nessa imensa escala. É aí que há o essencial a conhecer na obra
divina. Somente o ensino dos espíritos pode dar um sentido elevado, uma alma ao Universo!
Das profundezas siderais, voltemos a nosso planeta. A Terra é como um grão de poeira na
imensidão dos espaços, mas, em relação a nós, são formigas humanas, e, é uma massa enorme de 10000
léguas de contorno, que desliza sem barulho sobre as ondas do éter. Na realidade, não há medidas no
infinito; para calcular as distâncias e os movimentos dos astros, é preciso números tão fantásticos que eles
acabam não dizendo nada a nosso pensamento, que fica esmagado pelo peso dos numerais.
Não há grandeza nem pequenez (petitesse) absolutas, e, a força criadora colocou tanta
genialidade na estrutura de um átomo quanto na dos gigantescos sistemas estelares.
Apesar de sua mediocridade (exigüité), a Terra tem seu charme e beleza. O panorama dos
montes e dos mares desperta na alma uma impressão quase tão viva quanto a visão das noites estreladas.
Essa impressão não se exprime jamais por palavras, mas, sim, freqüentemente, por uma silenciosa
contemplação, por uma admiração muda, admiração essa mais viva na medida em que a alma possui
internamente, o senso de harmonia e beleza.

56
Às vezes, compararam nosso planeta com um organismo vivo. As pontes, rios, riachos, seriam
suas veias e artérias. Admira-se com prazer a circulação metódica das águas, que pela evaporação, pelas
nuvens e chuvas, dão ao Solo seus elementos de fecundidade. Sobre os mares, duas grandes correntes
quentes saindo de Cuba, das Antilhas e de Java, levam seus fluidos até às extremidades do globo. E, que
contraste na superfície! Os pólos não passam de simples pontos matemáticos que nada distinguem das
paisagens (environnant): A do Norte se encontra no meio de um vasto oceano congelado. A do Sul está
no centro de um continente (merissé de - aglomerado de gelo - banquises). Ao redor deles, se estendem
duas calotas terrestres congeladas de milhares de quilômetros, regiões desoladas de solidão e morte.
Enquanto que no Equador e sob os trópicos se estende uma vida luxuriante sob todas as formas que a
natureza sabe vestir-se.
O globo onde nós vivemos poderia ser comparado a um ovo cuja clara representaria a crosta
superior e a gema a parte ignea (ignée), ou seja, o fogo central. Este faz sempre um esforço para alcançar
a superfície e se ele parece adormecido ele apresenta às vezes despertares terríveis, eles fazem tremer as
camadas terrestres e vêm conturbar a obra frágil das gerações.
O que são as fracas forças humanas diante dessa potência que levanta montanhas, provoca
erupções vulcânicas e no raz da maré empurra os fluxos, muralhas líquidas, a tomarem de assalto
(assaut) os continentes?
A face atormentada da Lua nos oferece grandioso espetáculo, a visão do conjunto das desordens
causadas ao Solo pelas convulsões subterrâneas. Hoje, é um mundo morto cujo fogo central parece
extinto, apagado. Mas, pode-se ler sua história nas perturbações da superfície, em seus imensos circos,
suas crateras, das quais alguns medem até 50 km de diâmetro, em todos os detalhes pitorescos que ela nos
oferece, principalmente, em seu primeiro quarto, quando os jogos de sombra e luz dão ao seu aspecto
um relevo atraente. Somos surpreendidos pelo contraste existente entre as dimensões desse pequeno
globo e a potência das forças plutonianas que o trabalharam durante muito tempo.
Nada semelhante há em nosso planeta, pelo menos a esse nível. Entretanto, mesmo na nossa
França se nós alcançarmos o Pico do Puy du Dôme, podemos observar a longa cadeia de crateras que se
sucedem de Norte ao Sul em linha reta. Se reconstituirmos na imaginação o período de atividade quando
todos esses vulcões expeliam correntes de lavas, podemos seguir seus rastros durante léguas inteiras, é o
que os campesinos designam como “Cheires”, temos a grandiosa visão do dinamismo que sacudia o
globo. O Solo de Auvergne, assim como a região dos montes Dôme, os montes Dore e Pantal, é
cravejado (crevassé) de crateras extintas, e, invadidos pelas águas. O mais impressionante é o lago
Pavin, corta vasta e profunda, com suas paredes de porphyre que coroa um círculo de florestas. Pela
brecha por onde escorriam antigamente as lavas, atualmente, passam as águas límpidas do rio Couze. Pelo
sendeiro que rodeia o lago, através da floresta (sombria) ombreuse atinjo o planalto elevado que domina
várias crateras, entre elas a de Moncineire ou a montanha de cinzas. Este é um dos lugares mais
maravilhosos de nosso país. A natureza selvagem (forouche) das primeiras idades da Terra, nele se
revela sob roupagem mutante de águas e bosques.
(203) Pelas emanações sulfurosas e a lama quente, que ainda encontramos em alguns locais de
Auvergne, podemos crer que a atividade subterrânea ainda não cessou e que um despertar de forças
plutonianas é ainda possível.
Independente das erupções vulcânicas, podemos perceber a existência de um fogo central. À
medida que abrimos o Solo, o calor aumenta, ele torna-se intenso em algumas minas. Mesmo em Paris,
há, acerca de 600 m de profundidade, um lençol líquido, cujas águas quentes, jorram por todos os poços
artesianos da capital. Os fenômenos idênticos se reproduzem no Saara, e, em vários pontos do planeta,
principalmente, na China.
A vida se manifesta nesses meios, sob a forma de peixes cegos, crustáceos, conchas, etc., que
surgem lá fora através da sonda submarina (forage).292 Acrescentaremos, sob esses aspectos, as
considerações enunciadas por um Espírito, que disse ter sido engenheiro e geólogo, em sua precedente
existência terrestre, e, que agora se entrega do espaço ao estudo dos mundos.

“Eu me interessei na formação do globo, e me interroguei como ele vivia, e, tento conhecer,
agora, como ele perecerá. Como vive ele? Ele vive pelas vibrações das moléculas orgânicas materiais,
espalhadas pela superfície e que Puisent certos elementos gasosos em vossa atmosfera, fenômeno que
vossos sentidos imperfeitos não são capazes de perceber.
Cada parcela de matéria orgânica, mesmo vegetal, vibra. Ondas agem, no menor fragmento da
pedra, bem como, sobre a menor folha.
Há dois elementos distintos: o que anima o espírito, e, o que anima a matéria. Eles se unem,
quando a matéria está sutilizada (?).
Em seu conjunto, o Globo é vivo, já que produz uma atração. Tudo o que produz uma atração,
revela uma vida interior. A chama subterrânea existe, ainda, no núcleo central. Todo corpo celeste, no

57
início, é nebuloso e radiante e sob a carbonização de suas partes mais materiais, esse foco radiante se
envolve com uma Pelure, com uma camada, com uma crosta que vai se condensando através de gradual
resfriamento.
A chama central é necessária, pois as moléculas fluídicas as mais materiais, a medida que
penetram no Solo, vão se transformar, como o oxigênio do ar vos transforma o sangue, enquanto que
seus dejetos são evaporados, liquidados pelo fogo subterrâneo.
Esse fogo subterrâneo é entretido alimentado pelo hidrogênio e outros gases originários de
fissuras através da crosta terrestre. A pressão é mantida constantemente graças à válvulas criadas pelos
vulcões, as fissuras submarinas e outras fendas (crevasse).
Em uma existência próxima me deterei ao campo do pensamento puro. Eu deixarei as ciências.
Terei guardado/ acumulado bastante positivíssima para dar a minha razão uma força que ajudará a
aquisição de uma equilibrada sensibilidade e que poderá entregar-se inteiramente aos problemas
metafísicos."

O espírito acrescenta que, em uma próxima reunião, ele nos falará sobre as correntes astrais e sua
influência na vida do globo.

(247) O Céu e Terra.

II

Representemos pelo pensamento esse globo de 10.000 léguas de contorno, suspenso no vazio
imenso dos espaços, impulsionado por movimentos complexos são: a translação e a rotação, cujas
principais forças misteriosas das quais não conhecemos nem as causas nem os efeitos. Habituado a ser
rebocado pelo Sol para a longínqua Constelação de Hércules293 na velocidade de 20 km/seg., ele
ultrapassa 2.215 milhões de quilômetros em sua corrida anual ao redor do astro central.
Nesse turbilhão que o faz girar sobre si mesmo ao redor de um eixo ideal chamado linha dos
pólos, a Terra se desloca sob impulsão dessa potência formidável que movimenta os mundos sem parada
e que mergulha o pensamento em um abismo sem fundo.
Se você quer constatar o deslocamento do globo no espaço, penetre numa floresta profunda um
belo dia de verão e, chegando ao seio da floresta (futaies), deite-se sobre a relva e as samambaias;
observe os cumes das árvores que se balançam e os clarões do céu azul. Você perceberá o movimento da
Terra e sentirá o ritmo universal dos mundos em sua corrida através do infinito
Durante muito tempo, os homens pensaram que a Terra era imóvel, mas, na realidade, tudo está
em movimento no universo, desde o átomo o mais ínfimo até o mais grandioso Sol. Nosso planeta, com
sua fiel companheira a Lua, é levado através do espaço sempre seguindo o Sol; a ilusão de sua
imobilidade vem da falha de consciência desse movimento, pois tudo o que nos cerca se movimenta
conosco.
(247) Até o Sol com seu magnífico cortejo de planetas e satélites, se movimenta na vasta
extensão que o separa dos demais sistemas. É assim que para alcançar a estrela Sol mais próxima de nós,
a do Centauro, o raio de luz que viaja a 300.000 km/seg., levaria dois anos e meio. Abismos semelhantes
separam os diversos sistemas estelares. E entendemos que eles podem evoluir seguramente sem jamais se
encontrarem. E nosso Sol não passa de um simples elemento do enorme formigueiro de astros que
denominamos Via Láctea, que é levada através do infinito a uma velocidade de 600 km/seg.
Essa Via Láctea que se descortina sobre nossas cabeças durante o verão, sob a forma de
lenço/cachecol iluminado, é composta por um bilhão de sóis e seu comprimento é tamanho que seria
necessário a luz 35.000 anos para percorrê-la sempre com a velocidade de 300.000 km/seg. Esses
números ultrapassam a imaginação.
Além da Via Láctea, outros universos estelares se apresentam em números incalculáveis, a uma
distância tal que se pudéssemos ir a cavalo sobre um raio de luz, seriam necessários 110.000 anos para
atingi-los.
(248) Mas, chegando lá, veríamos ainda abrirem-se diante de nós outros espaços mais amplos e
profundos, povoados por miríades de sóis e esferas que poderíamos atravessar incessantemente em nossa
corrida sem jamais atingir os confins do mundo sideral.
Esses longínquos aglomerados (amas) estelares, essas nebulosas, as formas mais bizarras:
espirais, ervas, leques que revelam a ação de forças prodigiosas. Os grandes espaços que as separam são
reservatórios de incalculáveis energia potente dinamismo ao qual o Cosmo inteiro está submetido.
Queremos nos dar conta das distâncias que separam os astros. Basta o seguinte cálculo:
Tomando como unidade de medida a distância da Terra à Lua que é de 100.000 léguas, lembremos que o

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Sol é 400 vezes mais distante de nós e que, para alcançar a estrela mais próxima, é necessário multiplicar
esse número por 10.000.
A respeito do movimento da Terra, uma dificuldade se apresenta explicações se impõem.
Sabemos que, seguindo a Lei Universal da Gravitação, os corpos celestes se atraem na razão de sua massa
e de sua proximidade respectiva. Resulta daí que, em sua trajetória anual em torno do Sol, a terra deveria
descrever uma órbita exatamente circular. Ora, não é bem assim, sua órbita é elíptica.

“A órbita da Terra, disse Littré (Dic.pag. 1328), é uma elipse quase circular, na qual o Sol, é o
foco”.
Galileu já demonstrara o movimento da Terra e dos outros planetas em suas órbitas elípticas,
em torno do Sol (Volt. Philos., II, 230).

Camille Flammarion escreve:

“As grandes desigualdades seculares e periódicas atingem/alteram o movimento da Terra. A


combinação das massas planetárias acrescenta a essas ilegalidades de perturbações de menor valor que
incomodam/alteram a elipticidade da órbita, fazem ondular a curva, atraem até às vezes o centro de
gravidade do sistema planetário fora do Sol e modificam assim a forma elíptica das órbitas”.

Para explicar a excentricidade da órbita terrestre, os astrônomos recorreram a duas hipóteses:


Nossa esfera, dizem uns, quando se encontra em sua inclinação máxima sobre seu eixo, em conseqüência
do achatamento dos pólos, só expõe/apresenta uma pequena superfície submetida a sua atração. Outros,
em maior número, acham essa explicação insuficiente, preferindo recorrer à influência dos planetas
exteriores: Marte, Júpiter, etc...
É certo que quando Júpiter, cuja massa iguala 1.200 vezes à da Terra, se encontra em sua mais
curta distância desse planeta, ele exerce sobre ele sua possante atração e pode provocar desvios em sua
rota. Mas, a situação desses globos, em relação à nossa, muda constantemente.
As perturbações resultam da aproximação de dois planetas em sua evolução não são
contestáveis. Não é após a tormenta causada na marcha de Urano que Leverrier294 estabeleceu a existência
do Planeta Netuno? É ainda nas perturbações produzidas por Netuno que pode-se ver a influência de
outros globos mais longínquos cuja posição e a natureza não puderam ainda ser determinadas, mas, cuja
realidade está confirmada pelas indicações dos Espíritos.
(249) Eles atribuem a forma elíptica da órbita terrestre a uma outra causa . Sabe-se que toda
elipse possui dois focos. Um deles é ocupado pelo Sol, o outro seria por um astro que nem nossos
sentidos rudimentares, nem nossos instrumentos de ótica não podem perceber. Trata-se, dizem os
Espíritos: “de um foco invisível, não luminoso, mas, que possui as radiações vibratórias de uma tamanha
força que lhe representa o papel de um regulador, de um propulsor, cujos elétrons formam um centro
atrativo suficiente para fazer desviar o planeta. Desses focos atrativos, há um grande número ainda
ignorado por vós”.
O Espírito geólogo nos promete retornar a esse tema e nos falar com mais detalhes desse foco
invisível, a ação que ele exerce sobre o movimento da Terra e a economia geral do globo. Enquanto
esperamos, ele nos fala nesses termos sobre as forças que sustentam a vida de nosso planeta:

"A vida do globo terrestre, sob o ponto vista geológico, recebe um alimento especial do espaço
por suas veias e também através de vegetais e minerais que servem de fios condutores aos fluidos. As
plantas respiram o oxigênio para sua própria vida, mas, elas também transportam em seus fluidos os
elementos materiais que devem dar ao Solo os nectar/sucos nutrientes.
Nós dissemos que antes de sua condensação a Terra foi gasosa e incandescente. No dia em que
elementos extraterrestres não transportarem mais irradiações do Sol, de um lado e de outro os elementos
necessários á vida material do Solo, o globo se esfacelará após um resfriamento mais ou menos longo.
Como se formam no espaço a certa distância de vossa Terra, as moléculas fluídicas contendo os
elementos que devem entreter a vida do globo?
Além de vossa atmosfera, nas camadas fluídicas contendo as substâncias nutrientes
provenientes dos déchets da vida dos seres desencarnados. O perispírito ou envelope fluídico desses
seres é animado/alimentado por seu pensamento. Esse pensamento, irradiando em torno dele, produz
uma irradiação/ um gasto de forças que se traduzirá pela formação de uma substância fluídica. Ela
resulta da reação do pensamento, o que é comparável à transformação da luz em calor. Tomando essa
comparação, você entenderá melhor o fenômeno.
Assim com o ser desencarnado alimenta seus pensamentos além da atmosfera, vosso globo se
alimenta dessas matérias fluídicas, oriundas de forças transformadas em fluídos orgânicos. Sob a ação

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dessas correntes superiores e pela atração do núcleo incandescente, essas forças fluídicas orgânicas se
projetarão em vossa crosta e a manterão. É preciso haver equilíbrio entre o núcleo incandescente e as
forças fluídicas orgânicas chamadas extra atmosféricas e os feixes fluídicos oriundos de seres
desencarnados.
Indiretamente, os desencarnados agem a revelia (a leur insu) sobre a vida planetária dos
mundos correspondentes à sua evolução. É por isso, que de uma forma geral, quando um ser
desencarnado é muito evoluído não há na vizinhança atmosférica o mundo onde ele passou sua última
existência.
As estações, mais ou menos regulares podem variar segundo a qualidade dos feixes e das
correntes que atravessam a vida universal e que podem influenciar as camadas fluídicas orgânicas
mencionadas. Você pode constatar que nas regiões florestais, a vida é mais regular que nas regiões
desmatadas. O chamado dos cumes das árvores se faz mais facilmente, e os fluidos distribuídos nas
massas florestais são mais regeneradores. As águas dos oceanos atraem, também, os fluidos orgânicos
das regiões extra-atmosféricas, mas, alternando e modificando sua velocidade. É o regulador das ondas
fluídicas. O mar retorna para essas ondas, o hidrogênio e certos gases que ajudam a penetrar nas
camadas orgânicas necessárias à vida da crosta terrestre.
(249) A transformação das forças produzidas pelos seres desencarnados é variável. É ainda
uma causa das flutuações na vegetação e até na atmosfera imediata de vossa Terra.
(250) Você sabe que cada ser desencarnado troca seus pensamentos com os seres
desencarnados, seus vizinhos, a vida geológica é mais ou menos intensa, segundo as quantidades de
forças fluídicas orgânicas oriundas da transformação dos dejetos (déchets) dinâmicos dos
desencarnados.
Você vê que não somente há uma relação psíquica entre os encarnados e desencarnados, mas,
há uma correlação entre as forças dispensadas pelos desencarnados e a vida do invólucro terrestre.
Eu me proponho, manter na (entretenir) nossa próxima conversa, a forma como as correntes
vem bater na Terra. Eu resumiria o lugar que ele ocupa na escala dos mundos. Vocês, encarnados, se
encontram bem baixo na classificação da vida universal e nós mesmos, quando desencarnamos, nós
levaremos os estigmas da matéria terrestre e nós não podemos ir a todos os lugares aspirados."

O espírito acrescenta que o estudo desenvolvido terá longa vida. Ele espera nos trazer
informações pessoais e a colaboração dos viajantes do espaço, dos missionários. É um trabalho árduo,
mas, que promete ser interessante.

(297) O Céu e Terra.

III

Uma noite de verão me perdi/afastei na floresta dos Pirineus295, pude contemplar em seu
conjunto o desfile imponente dos astros nos quais só vemos geralmente uma parte, cada noite na hora do
descanso, e fiquei impressionado. A Lua se levantara, seus 14 raios trêmulos deslizavam através dos
galhos e se destribuiam (jouaient) sobre os musgos e samambaias que eu, estava em uma moita
improvisada.
(298) Uma paz serena pusera descia/caía dos espaços. Ao longe, a voz grave de uma corrente
soava no silêncio da noite. Tudo concorria para dar a essa cena um caráter augusto e sagrado. Eu me
sentia em um templo imenso, sob a proteção de uma divindade tutelar e da Terra, meu pensamento
ascendia até essas regiões superiores que são o objetivo de toda evolução e que nossa alma é chamada a
conhecer e possuir. Uma profunda e íntima comunhão se estabelecia entre mim e esse vasto universo do
qual somos parte integrante mesmo sem sabermos. As pessoas privadas de faculdades medianimicas
(mediatrices) me perguntam como fazer para entrar em contato com o invisível. A essa pergunta, eu
respondo: fuja do barulho das cidades, da ação trepidante de todos esses veículos que levam ao caminho
da morte. Embrenhe-se na floresta profunda. É na solidão dos grandes bosques que julgamos melhor a
vaidade das coisas humanas e a loucura das paixões. Nessas horas de recolhimento, parece que um
diálogo interior se estabelece entre a alma humana e as potências do além. Todas as vozes da natureza se
unem; os sopros misteriosos da noite, os murmúrios que a Terra e o espaço cochicham/sussurram a
ouvidos atentos, tudo nos fala das coisas divinas nos esclarece/fornece conselhos de sabedoria e nos
ensina o dever.
É o que dizia Jeanne d’Arc a seus interrogadores de Rouen, que lhe perguntavam se ela sempre
escutava as vozes:

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“O barulho das prisões me impedem freqüentemente de percebê-las, porém, me levassem em
alguma floresta eu as escutaria perfeitamente”.

A parcela da eternidade à qual temos direito nos une estreitamente a esse esplêndido universo do
qual somos, como espíritos, um elemento eterno (impérissable). Associados a esses destinos, seu futuro é
o nosso. Nós seguimos com ele e nele nossa evolução; participaremos de sua obra, a sua vida, em medida
sempre crescente. No alto, as sociedades inúmeras que proliferam nessas esferas, nesses astros, nos
reservam surpresas, satisfações, alegrias: instituições, criações de arte e de beleza, poesia dos cultos, etc.,
que superam tudo o que o pensamento pode sonhar. As fantasmagorias da imaginação a mais simples são
bem fracas diante da realidade desnorteante (éblouir). Deus fez muito bem em nos revelar esses
esplendores por um tempo, de revelá-los pouco a pouco, durante nossa ascensão, pois a visão dessas
maravilhas teria explodido nossos sentidos psíquicos e perturbado profundamente nossos jovens espíritos,
insuficientemente, preparados. Porém, nós podemos pela intuição, entrever e compreendera extensão das
riquezas que nos estão reservadas. Quando eu interrogo esses milhões de mundos, na serenidade da noite,
parece que suas sutis irradiações, respondem aos meus pensamentos e apelos.
Os resultados obtidos pela telegrafia sem fio na superfície do nosso pequeno planeta permitem
supor que uma transmissão não é possível através dos abismos do espaço. A luz, nos dizem, supera
300.000 km/seg., mas, o pensamento desconhece distâncias.
Em meio a cruéis preocupações causadas pela guerra e desde então nas horas de inquietação de
nossos perturbados tempos, essa contemplação e as meditações me oferecem a calma do espírito e a
serenidade da alma. Conseqüentes são influências de paz, de doce harmonia que esses astros espalham
(299) fartamente sobre a Terra. Nelas encontrei uma fonte inesgotavel (intarissable) de consolo e
esperança.
Diante de tal espetáculo como as coisas da Terra se reduzem, se rapetir, se desfazem! Esses
conflitos de povos e de classes, essas lutas de nações e de raças, possuem realmente mais importância que
a invasão de uma casa pelas formigas ou os combates de alguns insetos em um canto da pradaria, para a
conquista de um pedaço de grama ou de uma raiz? É preciso, contudo não esquecer que essas agitações,
esses dramas, essas matanças, ao fundo, é sempre a alma terrestre que tenta seus primeiros passos no
campo das existências. É sempre a alma terrestre que procura pôr em ação suas paixões juvenis e
numerosas, suas forças desordenadas até o momento em que a dor, o sofrimento, as lágrimas lhe ensinem
a regular esse exercício, até o momento em que o conhecimento das leis Divinas o orientem para o bem,
enquanto que, quase sempre aqui em baixo, essas forças sejam consagradas às obras do mal.
Para percebermos a posição ocupada pela Terra na escala dos mundos, é preciso primeiro
lembrar que essas condições astronômicas e as leis da vida na superfície. A Terra é bem inclinada sobre a
eclíptica, o que leva a uma grande variedade de climatizações e estações e também perturbações
atmosféricas que degeneram sempre em tempestades causadoras de desordens e catástrofes.
A ciência pesou os mundos calculando suas potências atrativas. Ela nos indica, por exemplo, que
Júpiter e Saturno possuem um peso análogo ao da madeira de carvalho (hêtre) e do pinheiro. Em Marte, o
peso dos corpos é a metade do peso na Terra. É em nosso planeta que a matéria parece atingir seu
máximo em densidade e peso. Assim seus habitantes estão curvados sob um peso esmagador e são
submetidos a múltiplas necessidades e renovadas. Suas faculdades de locomoção são restritas e o tempo
que eles podem consagrar ao estudo é bem limitado.
Parece, à primeira vista, que a Terra ocupa um dos mais baixos degraus da escala das esferas e
que a vida nela reúne condições bem sofríveis. É o lote das humanidades inferiores, composta por
espíritos jovens, fogosos, ardentes e que precisam submeter-se às leis da necessidade, a obrigação do
trabalho para disciplinar seus esforços. Vidas ociosas (oisives) e fáceis, em meio mais favorecido
provocaria sua deteriorização, permitindo desenvolver seus vícios, seus instintos grosseiros e
continuariam estéreis, sem lucro para sua evolução. Dentre eles, se encarnam espíritos mais adiantados,
para instruí-los, mostrar-lhes o caminho e realizar junto a eles, missões iniciáticas. Espíritos esses que
sofrem com o contato com espíritos atrasados que não os compreendendo eles são ciumentos, invejosos e
lhes causam às vezes cruéis tormentos. Esses nobres espíritos recolhem, nessas vidas de abnegação, os
elementos de um progresso mais rápido e os mais de inserção no âmago de sociedades melhores.
Apesar das guerras, epidemias e catástrofes de toda sorte, a população do globo aumenta sem
cessar. Ela quase dobrou desde a idade média. Esse crescimento provém de almas vindas de raros
planetas inferiores à Terra, ou ainda, satélites, onde a vida é mais precária, mais pobre ainda que a nossa.
(300) Não se espantem por ser o progresso moral tão lento em nosso planeta. As almas, chegadas
à Terra com suficiente e grande aperfeiçoamento, dela se distanciam com a morte, para ir juntar-se à
sociedades mais favorecidas. Só há excepção para aquelas que voltam, na condição de missionários. Por
outro lado, as inúmeras chegadas de almas provenientes de mundos inferiores a nós fazem com que se o
progresso material é sensível de século em século, o estado moral fique quase estacionário; os bruscos

61
ressaltos (ressaut) de barbárie nos demonstram isso claramente. Para que o meio terrestre se purifique
(s’assainir) moralmente, seria necessário uma suspensão das chegadas dos mundos inferiores e uma
intervenção mais eficaz dos espíritos elevados vindo participar as renascenças terrestres, a fim de
estimular na via do bem nossa pobre humanidade atrasada. Um simples olhar sobre os mundos vizinhos
bastaria para nos mostrar a superioridade das condições de vida em sua superfície. Dissemos que em
Marte, o peso da matéria é a metade que sobre a Terra. De onde observamos os trabalhos gigantescos que
acreditamos observar com a ajuda de nossos telescópios, quando esse planeta se encontra em conjunção
com o nosso.
Júpiter e Saturno, ao invés de serem inclinados, são diretos/retos sobre seus eixos, o que
oferece/fornece uma quantidade de luz e calor sempre idênticas às diferentes regiões de sua superfície,
ou seja há uma perfeita regularidade de temperatura e clima. Suas massas 1.200 e 800 vezes superiores à
da Terra, e, seu esplêndido cortejo de satélites, fazem deles magníficas moradas. Porém, o que lhes dá
uma vantagem incomparável é a pouca densidade de sua substância, o que repercute sobre todas as
formas e condições de existência e oferece a seus habitantes meios de acomodação (deplacer), de
locomoção, uma leveza de estrutura e de apresentação, uma redução das necessidades que constituem em
seu conjunto, um modo de vida ideal, bem diferente dos aspectos miseráveis de nossa vida terrestre.
O sistema saturnino, com os seus largos anéis e seu cortejo de 10 satélites, dos quais Titã é quase
tão volumoso quanto a Terra é por si só um verdadeiro pequeno universo, um grupo original e diferente
que não possui equivalente no nosso sistema Solar.
Nossos meios de observação não nos permitem nunca analisar as condições de habitabilidade dos
mundos mais longínquos, mas, se nós pudéssemos estudar a composição dos outros sistemas, nós
reconheceríamos facilmente que todos esses mundos se sucedem e se graduam para formar uma cadeia
que o espírito percorre nas suas inúmeras vidas, encontrando neles meios infinitamente mais perfeitos de
existências, de trabalho e de aperfeiçoamento. Assim, a lei moral de grande ascensão será confirmada
pelo conhecimento dos meios e dos procedimentos através dos quais esta ascensão se realiza no infinito
dos espaços e dos tempos. O pensamento/saber que somos convidados a percorrer essa escada imensa, a
aproveitar todas essas riquezas, a penetrar nesses mistérios, à medida em que se desenvolvem nossas
faculdades e méritos, esse pensamento atenua as tristezas da hora presente e reanima nossa coragem
abrindo-nos perspectivas para um grandioso/imenso futuro.
Diante desse maravilhoso equilíbrio de forças e vida, do ideal real e de mundos sonhados, todas
as contradições se desfazem, as críticas se calam, o homem (301) curva-se e adora! Um tipo de respeitoso
temor o invade. Ele imagina/sonha que Aquele que construiu esses formidáveis sistemas, que
multiplicou os arquipélagos de sóis, jogou a profusão no insondável, esses focos brilhantes, fez também o
coração da mulher, o gênio do homem e que ele é o criador de nossa alma. Ele é nosso pai, nosso guia,
nosso melhor amigo.
Logo, por que crer?
Deus não dispôs todas as coisas para o nosso bem? Porém, esse bem, Ele quer que com Sua
ajuda, nós trabalhemos a fim de realizá-lo através de nossos longos esforços, através de uma lenta e
profunda educação.
Assim, a rude escola das renascentes vidas oferece a alma sempre mais amplidão e brilho. Cada
prova, cada dor suportada com paciência, aumenta sua dilatação, seu desabrochar, ao mesmo tempo que
sua maior participação na comunhão eterna e infinita. Então, abrem-se nela fontes, cada vez mais
abundantes de alegrias e sensações, elementos de felicidade dos quais dificilmente nós podemos fazer
uma idéia na nossa presente condição. Somente, algumas almas privilegiadas as entrevêem nos momentos
de “Nirvana psíquico” e êxtase.
Elevemos sempre nossos olhares e pensamentos para essas alturas sublimes. De todos os
estudos, o dos céus é o mais certo/seguro para nos inspirar serenidade, confiança e fé. Um dia virá
em que todos os filhos dos homens, aprenderão a conhecer e admirar Deus na sua obra. Nesse dia, a
ciência e a religião, terão encontrado seu traço de união definitivo, a forma por excelência, capaz de
desenvolver nossas faculdades, esclarecer nosso espírito aquecendo nossos corações.
Acabamos de falar sobre a escala dos mundos e do modesto lugar que ocupa nosso planeta. A
esse respeito, nós obtivemos do “Espírito Geólogo” as seguintes informações que vem precisar e
completar nossas considerações pessoais. Lembremos que nosso colaborador invisível, anunciara esse
estudo sobre as grandes correntes que animam nosso globo. Veremos que ele manteve sua promessa.296

"Vocês não ignoram que vossa Terra está suspensa, assim como todo o sistema Solar, no lugar
que ela deve ocupar no espaço infinito. Esse lugar corresponde, exatamente, a seu grau de evolução e
vida que ela recebe lhe é transmitida por correntes fluídicas suscetíveis de serem assimiladas pelos
elementos que a compõem e que podem servir à continuidade da vida física e moral dos seres orgânicos
que vivem em sua superfície.

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Já lhes disse, anteriormente, que forças impregnam nosso mundo; elas saem de um plano
superior, que nós mesmos, espíritos, não podemos analisar, mesmo no espaço, pois nossa sutileza não é
suficiente para registrar as leis superiores que só conheceremos à medida que evoluímos.
A vida nos mundos e nos espaços interplanetários está sujeita/submetida igualmente às leis da
evolução. Elas revelam pouco a pouco as inteligências, os conhecimentos necessários para a
compreensão do funcionamento da vida universal. Eu confesso que até eu, que entendo melhor que
vocês, encarnados, as leis vitais, além de um certo ponto meu espírito não descobre mais a chave de um
problema que, porém, um dia nos será permitido conhecer. (302) Sou forçado a abordar essas
considerações gerais. Pois, sem isso, a vida encarnada e fluídica não poderia receber nenhuma
explicação lógica. As correntes que emanam das regiões vibratórias superiores vão transmitir vida aos
mundos intermediários e distribuir a energia para as células vivas primárias (minerais), as células vivas
secundárias (vegetais) e as células vivas terciárias (textura/carnation). Esta textura se divide em dois
ramos: a textura animal e a textura humana. A animal recebe as mesmas vibrações do ponto de vista
físico.
Porém, a bola fluídica que deve animar esses corpos não possui a mesma essência, já que o
animal vê seu instinto composto por moléculas fluídicas em parte tomadas da matéria, enquanto que o
ser humano já é mais apurado uma conseqüência de sua evolução através das vidas sucessivas.
As correntes vitais são comparáveis ao sistema circulatório; as veias e artérias entretêm a vida
sobre os mundos que povoam os espaços. Esses mundos, naturalmente, possuem uma evolução diferente
e seguindo essa evolução, só reterão das correntes vitais o que podem assimilar.
No caso presente, nossa Terra pode ser classificada na categoria dos mundos saindo do período
1º ou seja, mundos nos quais a espiritualidade humana começa a se libertar e a mostrar sua
superioridade sobre a vida das diferentes espécies.
Os minerais, vegetais, animais que são imediatamente na vizinhança do ser humano, são
adaptados as necessidades e exigências da vida dos seres pensantes. Sobre outros mundos, menos
evoluídos, a 3ª categoria de seres que corresponderia aos seres humanos de vossa Terra é sensivelmente
idêntico categoria animal de vosso planeta. Então, as duas categorias de seus inferiores que vivem
nesses mundos menos evoluídos são naturalmente menos ricos em vibrações e de uma forma geral a vida
nele é menos evoluída. Nessas condições, as correntes vitais superiores só têm uma ação indireta e
pouco sensível. Quando o planeta começa a se formar, após a condensação dos gases, as correntes
agem, do ponto de vista físico em um só sentido; mais a vida do planeta se acentua, mais a atração dos
fluidos vitais superiores se fará sentir e terá um efeito evolutivo suficiente.
Ao lado dessas correntes vitais superiores provenientes de planos divinos, há outras correntes
secundárias vindas de mundos mais evoluídos que o vosso e nos quais os seres menos materiais possuem
o poder de transmitir forças, diretivas que independente de sua vontade, se concretiza em fenômenos
metereológicos, físicos e mesmo fluídicos. As grandes correntes vindas dos planos superiores fornecem
os elementos que nomeamos as centelhas divinas e da cadeia dos mundos mais evoluídos, partem, ao
lado de grandes artérias, outras correntes que estabilizam e alimentam uma vida que deve prosseguir na
evolução.
Em geral, um ser humano passa, quando ele adquiriu através de um trabalho, qualidades
necessárias de sutileza, densidade, de brilho, passa, dizia, para um mundo mais evoluído que o vosso e já
possui a capacidade de vos enviar seus pensamentos, na esperança que essas forças vos ajudarão na
vida presente. Há no vosso sistema planetário, em Marte, Júpiter, Saturno, seres bastante sutis para
transmitir/trocar pensamentos de forma corrente e a distância, em um dado momento, quando esses
pensamentos são bem condensados, é possível aos seres que vivem nesses mundos enviar para vocês suas
“diretivas”: previsão de eventos, explicação sobre certos fenômenos e, é graças a essa coordenação dos
seres dos três planetas de vosso sistema que vocês começam a entender há alguns anos as teorias das
ondas que só estão embrionárias, pois, vocês devem conseguir, um dia, quando vossos cérebros poderão
assimilar suficientemente os fenômenos vibratórios, trocar vossos pensamentos com o dos seres do
mesmo sistema solar.
Foi através da força de trabalho que seres cuja densidade não é a mesma que a vossa puderam
captar as forças dos planos superiores. Foi o que os permitiu evoluir no sentido espiritual e tentar por
sua vez engajar vosso planeta nessa evolução. Não creiam que, mesmo passando perto de vocês, essas
grandes correntes superiores vos deixem uma vibração aproveitável, vossa natureza humana não possui
elementos vibratórios suficientes para absorver os fluidos sutis que compõem essas correntes.
(303) Se, por exemplo, vocês colocarem uma lasca de madeira em contato com uma máquina
estática, vocês não conseguirão fazer vibrar a madeira. Logo, essa matéria não é suficientemente
sensível para vibrar sob a ação de certas correntes. É preciso comparar a madeira à natureza de seu
planeta; é lógico que as vibrações das grandes correntes vitais não atingem a vossa humanidade. Se, ao

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contrário, vocês colocarem um balão sem ar, em contato com a mesma máquina estática, ou com um
aparelho produtor de ondas, vocês perceberão facilmente as ondas e suas qualidades vibratórias.
Atualmente, vossa humanidade, sem vibrar sob a ação das grandes correntes superiores dos
planos divinos, sofreu um começo de evolução suscetível de lhe gravar/imprimir certas ondas que agem
na espiritualidade, como a máquina estática ou o gerador de ondas atuará no vácuo. Nesse momento,
para resumir, vocês, não podem na Terra, analisar os princípios vibratórios das grandes correntes
superiores divinas pois vossa natureza humana sendo composta de dois elementos, um material e outro
espiritual, está parcialmente paralisada e não pode adaptar-se à sutileza das forças superiores. Mas,
como nas leis de evolução tudo deve ser aprendido e conhecido um dia, as grandes correntes quando
passam por mundos mais evoluídos em vosso sistema dão à humanidade desses mundos mais fluídicos a
possibilidade de lhes transmitir em doses pequenas os segredos da vida universal."

Ao final da sessão, o Espírito Geólogo, nos anuncia que vai explorar outros planetas para neles
estudar as convicções da existência. Ele começará por Marte e nos relatará, em um próximo encontro, o
resultado de suas observações.
O problema da vida universal seduziu pesquisadores audaciosos, porém, assim que eles quiseram
examiná-lo minuciosamente, eles se depararam com dificuldades intransponíveis. Era a enfermidade de
nossa ciência, resultando do campo restrito de nossas observações e a profunda ignorância do homem
durante séculos, a respeito da vida invisível e de suas leis. Foi somente dos Espíritos o estabelecimento
das relações entre os homens e o mundo dos espíritos que alguns dados puderam ser recolhidos nessa
vasta e imponente pergunta. Allan Kardec, foi o 1º a tratá-la com certa amplitude, na Gênese. Outros
espíritos eminentes, ditaram uma ordem de informações que continuaram inéditas, mas, que seria útil
valorizar/ressaltar.
Não creiamos que todos os espíritos possam percorrer as regiões longínquas do espaço e alçar até
as fontes da vida universal. A maioria é retida na atmosfera terrestre pela natureza de seus fluidos e não
podem chegar até os planetas mais próximos. A liberdade (338) dos espíritos, seu campo de ação, está
sempre em relação com o grau de pureza, de sutileza de seu perispírito ou corpo astral.
Em sua longa evolução, nos diz um espírito, a alma ou mônada divina, se combina aos elementos
múltiplos das raças, famílias, nações, humanidades, acrescentando sem cessar a sua aquisição elementos
fornecidos por esses meios transitórios se conformando a regras harmônicas cuja sinfonia musical pode
nos dar uma idéia. O segredo da evolução é para a alma, por seu ritmo particular em harmonia com as
vibrações dos mundos superiores e divinos.
Dentre os espíritos de nosso conhecimento, alguns se transportam para Marte ou Vênus; outros
mais depurados, atingem Júpiter. O espírito “geólogo” explora uma grande parte do sistema solar. Assim,
também, há os que são atraídos para mundos pertencentes a outras famílias estelares e cujas irradiações se
harmonizam com sua natureza íntima. Sozinhos, os espíritos superiores podem percorrer a imensidão,
mas, quase todos estão encarregados com missões segundo sua elevação.
A assistência, a colaboração dessas almas não se adquire sem dificuldade e para obtê-las é
necessário oferecer a elas certas qualidades morais e possuir um objetivo desinteressado.
Suponhamos conseguir essa assistência: nós nos encontramos em presença de uma nova
dificuldade, a que nos encontramos antigamente quando queríamos expor as regras de arte e beleza na
vida do espaço. Quer dizer fazer entender o que está acima de nossa compreensão. Essa dificuldade se
representa cada vez que se quer exprimir em linguagem humana coisas sobre-humanas.
Aqui a impotência das palavras é clara; cada língua, sendo expressão do gênio de um povo,
representa seu grau de civilização. Ela se constituiu lentamente, através dos séculos, com os esforços de
gerações de pensadores e responde exatamente a seu estado atual de adiantamento. Por isso mesmo, ela se
encontra imprópria para definir os conceitos até aqui inabordados.
Assim que o círculo restrito de nossos conhecimentos aumenta, assim que se abrem perspectivas
novas no infinito, imediatamente a insuficiência de nossa língua aparece para definir os fenômenos novos
e leis ignoradas. Essa insuficiência torna-se ainda mais sensível quando, acima do alçar voo (essor) do
pensamento humano, a revelação dos espíritos nos guia para planos superiores de vida .
Alguns criam neologismos, crendo responder dessa forma às necessidades da ciência, mas, eles
só atingem/alcançam um tipo de jargão pseudo-científico que torna ainda mais confusas e embaralhadas
as perguntas que eles gostariam de elucidar.
Nossos espíritos guias preferem contentar-se com locuções e imagens arquivadas no cérebro dos
médiuns. E há ainda uma condição difícil de realizar: a possibilidade de encontrar um intermediário que
ofereça recursos necessários para a transmissão das mensagens com toda a precaução e clareza desejáveis
se precisa-se resumir em linhas simples e concisas os ensinamentos dos espíritos guias diria: A lei
suprema do universo é o bem e o belo, e a evolução dos seres através dos tempos e dos mundos tem por
objetivo a conquista lenta e gradativa dessas duas formas da perfeição.

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(339) Mas a compreensão humana não se contenta com fórmulas, lhe é necessário imagens, que
precisamente a natureza nos ofereceu em profusão. Por exemplo, a vida da árvore não é a imagem clara
da evolução da alma? Todas duas elaboram-se no seio da matéria, nela mergulham raízes profundas para
absorver os sucos nutrientes. Tal é a vida da alma encarnada nos mundos planetários. Depois ela se
desliga, sobe pouco a pouco em direção à luz e assim como a árvore estende seus ramos, ela aumenta sua
potência de irradiação nos meios onde vive, sobe ainda para desabrochar e alçar/aspirer para o céu.
A verdade é que somos levados por uma forte corrente evolutiva em direção a elevados destinos.
Essa noção é capaz de revolucionar a vida social, sob todas asa suas formas, pois ela dá a nossa existência
na Terra um sentido mais abrangente e mais elevado.
Sem negar seu passado, a hora é chegada para a humanidade renunciar às arcaicas fórmulas e de
engajar-se, resolutamente, em uma via nova feita de luz e liberdade. Os males de nossos tempos provêm
do que nós persistimos em viver de um ideal que se tornou estéril e até mais, freqüentemente, sem
nenhum ideal, enquanto que o universo abre ao pensamento seus infinitos horizontes, o império da vida,
escada prodigiosa na qual tudo nos convida a subir em seus degraus.
O ensino dos espíritos, como um raio do alto, vem dissipar nossas trevas e nos mostrar o
caminho do futuro. O homem, porém, semelhante ao prisioneiro saindo de sua cela, ou ao cego que,
repentinamente, recupera a visão, continua e se ofusca (ebloui) diante do brilho do dia e hesita a
aventurar-se na nova trilha.
No meio de nosso século tumultuado, sob o golpe das provas passadas, o pensamento se agita, a
consciência desperta, e, nos perguntamos para que tantos progressos materiais se o homem só tornou-se
mais infeliz e ruim? Muito fizemos para a matéria, ou seja, para o corpo, mas o que foi feito para o
espírito, que é a verdadeira fonte de vida em nós? O espírito foi negado, desconhecido, menosprezado por
uns; os outros só o entreviram através do véu de fórmulas desgastadas.
A alma da França está enferma, é ela que precisamos curar. O único remédio, é um mais elevado,
um raio mais intenso do pensamento que possa penetrar e regenerar. Esse raio vem do além com os
princípios de uma imensa transformação humanitária e social.
Nós deixamos a palavra ao espírito “geólogo” que, apesar das dificuldades que ele experimenta
ao interpretar um tal tema, se esforçou para nos dar uma idéia da vida universal e de suas leis. Na sessão
seguinte, um outro espírito, que nossos guias dizem ser o de Pierre Curie, veio confirmar os ensinamentos
do “geólogo” através de uma palestra de suas próprias visões que reproduziremos em 2º lugar:

"O infinito é vasto campo vibratório permeado de estações que são os mundos. Cada um deles
respira nas fontes da vida universal uma alma própria capaz de Entretenir em seu sistema particular um
movimento . independente, igualmente, em relação aos seres que vivem em sua superfície.
Há uma lei, que não poderia eu apreciar em todas as suas conseqüências, que os sistemas da
vida, à medida que nos elevamos, brilham com uma nova e mais compreensível luz.
(340) Hoje vocês conhecem a teoria vibratória, ao passo que, há somente 100 anos vocês
ignoravam quase tudo sobre ondas e raios derivados das fontes irradiantes.
Considerando os múltiplos focos que iluminam o espaço, vocês compreenderão que a vida
astral não é uma palavra vã, que os seres que vivem nesses mundos não são conformados como vocês.
Cada ser, finalmente, é um pequeno centro dinâmico, como cada mundo é uma estação de energia na
rota que percorrem os feixes vibratórios formando as artérias da vida universal.
O campo de ação dos humanos começa, ligeiramente, a expandir-se. Vossos pais poderiam se
perguntar como viviam os habitantes dos outros mundos. Ora, eles vivem sob a influência de forças
especiais. Para vocês, humanos, qual é a fonte de vossa vida? Ela vem, simplesmente, de uma molécula
emanada do foco superior, procriando um animismo e um dinamismo individual.
Se você admite que essa centelha de vida irradiante anima o ser humano, por que não
aconteceria o mesmo com a vida de vosso planeta? Mas, como o planeta não possui uma personalidade
pensante, de onde ele recebe sua fonte de vida? Além das centelhas irradiantes vindas do foco divino, há
forças produzidas pela projeção das centelhas de vida no âmago dos espaços. Essas forças, por reflexo,
possuem uma vida, relativa, menos elevada que as vidas pensantes, seu conjunto constituirá as forças da
natureza.
Logo, para os mundos há dois degraus: 1º - As forças da vida superior irradiante formando
seres pensando e vibrando por sua própria vontade. Em seguida as forças da natureza animadas pelo
reflexo das forças de vida e compostas por fluidos de característica especial que segundo a elevação dos
mundos, se materializam mais ou menos e ajudarão a homogeneidade e ao equilíbrio da vida em cada
sistema planetário.
Quando um ser humano respira, seu sangue está regenerado pelo ar puro. No sentido real e
figurado, o espírito retira a vida no espaço da mesma forma que vocês retiram o ar da atmosfera."

65
Na sessão do dia 26 de junho, o “geólogo”, retido no planeta Marte para continuação do estudo
da vida em sua superfície, foi o espírito de Pierre Curie que veio em seu lugar para ditar, verbalmente,
essas páginas:

"É sob o impulso de vossos guias que venho ter esse 1º contato. Trabalho incutindo no espírito
dos humanos elementos das forças que constituem as veias e artérias da vida supra terrestre. Quando o
espírito adaptou-se ao sistema da vida mundial, ele sente todas as correntes da vida fluídica que
circulam através dos espaços e pode se assim o desejar, fazer uma análise. Eu estudo a marcha das
forças que são como uma síntese da criação. Mesmo no espaço, onde somos livres, nosso espírito
desencarnado encontra barreiras, como na Terra nossa inteligência se choca com as impossibilidades.
Eu creio que vocês descobrirão em breve novas irradiações, consecutivas do radium, possuindo
bastante/muita sutileza e potência vibratória para captar e transmitir ondas transportando diretamente
o pensamento dos desencarnados. Vocês ignoram que a troca de pensamento dos seres é
mantida/sustentada no espaço por uma categoria especial de ondas ainda desconhecidas na Terra. O
que é o pensamento?
O pensamento é formado por um grupo de moléculas vibratórias impregnadas de vibrações do
subconsciente. O pensamento íntimo vem subconsciente e da consciência. Quando um ser humano pensa,
ele solta/emite ao redor de seu cérebro um tipo de nuvem fluídica que é a resultante das vibrações
internas que reagem nas miríades de ondas que cercam sua personalidade.
É preciso analisar, materialmente falando, essas miríades de pequenos corpos e agrupar os
sistemas de ondas segundo sua capacidade, seu brilho, seu grau de luminosidade e a velocidade inicial.
O radium por um lado, que é o corpo natural que, mais desprende irradiações; por outro lado,
a eletricidade que possui elementos tomados da vida universal, formam nos vossos conhecimentos
humanos, os dois pilares (jalons) que devem guiar vossos estudos sobre o infinito.
(341) Mais o ser humano se impregna de materialismo, menos as vibrações luminosas e
irradiantes atuam sobre ele. Para vos liberar desse materialismo é necessário ter:
Primeiro — Vontade de exteriorizar-se/afastar-se do mundo de vulgares prazeres;
Segundo — Envolver-se/Manter-se cercado por um raio de alta freqüência;
Terceiro — Desenvolver vosso espírito e vossa consciência de modo a estabelecer em vós um
estado de equilíbrio suficiente para atingir o potencial das principais forças vitais do espaço.
Vosso Espiritismo é um meio, já que vosso pensamento, apelando para as forças exteriores,
formará um tipo de indução que permitirá as ditas forças chegarem até vocês.
Vossa Terra ocupa um dos planos mais imperfeitos. Sobe-se na escala da evolução na medida
em que o materialismo diminui se purifica (s'epure). Meu pensamento já pressente os mundos
superiores, mais é necessário que eu trabalhe meu perispírito adapte-se aos diferentes meios fluídicos
onde desejo penetrar.
Há uns 20 anos, na Terra, uma orientação se esboçou nesse sentido. Já forneceram informações
a vocês; dentro em pouco, relativamente, pois o tempo não conta no espaço, uma descoberta sensacional
fará avançar a doutrina espiritualista. Mas, é necessário nos proteger das influências malignas que,
perturbando vossa consciência, lhe retirarão a sutileza vibratória necessária para receber revelações,
intuições controladas e elevadas para que da Terra, vocês tenham a pré-ciência da vida do além."

Perguntamos ao espírito Pierre Curie o que ele pensa dos meios científicos atuais e se ele não
tenta influenciar seus antigos colegas.
Resposta:

"— Os sábios de todas as nacionalidades deverão se apoiar/basear nas precisões mecânicas e


visuais. No dia em que a ciência puser nas mãos dos sábios honestos (consciencieux) um corpo
liberando irradiações cuja sutileza vibratória suficiente para levar os pensamentos ultra-superiores, o
sábio se tornará, automaticamente, espiritualista.
O sábio já é orientado, ele busca, ele não é tão materialista quanto o homem comum. A ciência
é um ideal para ele e é ela que lhe dará, um dia, quando descobrir novos horizontes, brilhantes e
vibratórios, os meios para controlar e admitir as novas forças que marcarão diretamente seu espírito e
consciência.
A teoria das ondas representa o 1º escalão da ascensão. O radium, colocado no primeiro
patamar dessa escada e o 1º local de suporte. Esse suporte servirá para atingir o segundo patamar
oferecendo a possibilidade de suportar/agüentar a luz nova que dará aos cérebros faculdades suficiente
para entender o jogo de forças que forma a vida do infinito.

66
É útil orientar os cérebros que raciocinam em direção as teorias relativamente novas da
irradiação, sua fórmula e utilidade Para entender a caminhada dos mundos, sua formação e correlação
das vidas, é necessário vos apoiar na teoria inicial e iniciadora das irradiações pelas ondas.
Vim sob inspiração de vosso amigo “geólogo” que precisa que vocês sejam esclarecidos sobre
o problema das irradiações para fazê-los entender as coisas, que sem isso vocês não poderão assimilar."

(Abordaremos em breve o estudo do planeta Marte e de suas condições de habitabilidade).

67
68
1
Provença — região do sudeste da França, compreendendo os departamentos de Alpes-de-Haute-Provence, Var, e Bouches-
du-Rhône e partes dos departamentos de Vaucluse e Alpes-Maritimes. Provença faz fronteira ao leste pela Itália, ao sul pelo
Mar Mediterrâneo, e a oeste pelo rio Ródano. (N.T.).
2
Sol  Elemento central do sistema solar, o Sol é a estrela mais próxima da Terra possui l,4 milhões de quilômetros de
diâmetro – constituída por ¾ de hidrogênio e o restante, essencialmente, de hélio, com traços de elementos mais pesados –
está a uma distância média de l50 milhões de quilômetros da Terra.
Sua massa é da ordem de 2.l030 kg é suficiente para que a matéria sob a ação das forças gravitacionais continue agrupada e
não se espalhe no espaço, apesar da agitação resultante de sua temperatura que de 6.000 C, na superfície, eleva-se a,
aproximadamente, l5 milhões de graus, no centro. O Sol brilha reluz uma energia de 3,8. l02l6W/ seg. transformando o
hidrogênio em hélio, durante as reações de fusão nuclear, que ocorrem no seu núcleo; é essa energia que mantém a vida em
nosso planeta. (N.T.).
3
Ver Leon Denis, No Invisível: Espiritismo e Mediunidade. Id., Cristianismo e Espiritismo: Provas Experimentais da
Sobrevivência. (N.A.).
4
Luta de classes — Segundo as palavras do Manifesto comunista, “a história de todas as sociedade existentes até hoje é a
história das lutas de classe.” Mas essa tese mereceu diferentes qualificações desde que foi pela primeira vez formulada.
Engels a modificou, referindo-a à história escrita (nota à edição inglesa de 1888 do Manifesto comunista), para que se
levassem em conta as comunidades primitivas, nas quais as divisões de classes ainda não haviam aparecido. (N.T.).
5
Na primeira edição encontra-se o seguinte texto: Saqueamos as fábricas; quebramos as máquinas; sabotamos as
ferramentas industriais. (N.T.).
6
Na primeira edição encontra-se o seguinte texto: Novembro de 1910. (N.T.).
7
Esse silêncio é relativo e resulta unicamente da imperfeição de nossos sentidos. (N.A.).
8
Matéria — termo geralmente aplicado em ciência, para qualquer coisa que ocupe lugar no espaço com os atributos de
gravidade e inércia. Na física clássica, matéria e energia são consideradas dois conceitos distintos que formam a base dos
fenômenos físicos modernos embora, seja possível transformar matéria em energia e energia em matéria, dessa forma
quebrando a distinção entre os dois conceitos. Na filosofia a matéria tem sido considerada a base do mundo físico, embora
certos filósofos da escola do idealismo neguem que a matéria exista independente da mente. (N.T.).
9
Movimento — O estudo do movimento faz parte de um dos ramos da física chamado mecânica, normalmente o conceito
de movimento está relacionado intimamente com os conceitos de espaço e tempo. O estudo do movimento esta nas raízes do
pensamento ocidental. Filósofos gregos como Zenão e Aristóteles estabeleceram conceitos diferentes dos atuais, que
dominaram o pensamento ocidental da Antigüidade ate quatrocentos anos atrás. A partir de Galileu, Kepler, Newton e
Einstein a visão de como entendemos o movimento se modificou radicalmente do pensamento clássico da Antigüidade.
(N.T.).
10
Substância (do latim, sub: sob + stare: estar, aquilo que esta sob) — Muitas tendências e disputas filosóficas relacionam
com idéias associadas a esse termo. A substancia de uma coisa pode ser: (I) a sua essência; (II) aquilo que pode existir por si
e não requer um sujeito para existir, tal como as propriedades necessitam dos objetos de que são propriedades; (III) em
conseqüência, aquilo que tem propriedades.
11
Força — Ação ou influencia sobre um objeto que causa uma aceleração. (N.T.).
12
Inteligência — Em termos gerais, a capacidade de lidar flexível e eficazmente com problemas práticos e teóricos.
Segundo Palhano no seu Dicionário de Filosofia Espírita, “é o atributo do espírito (...) nesse sentido, os Espíritos são os
seres inteligentes do Universo. Deus é a inteligência suprema do Universo ...(a inteligência) é incontestavelmente um
atributo de Deus e do espírito.” (N.T.).
13
Física moderna — Por volta de 1880, o desenvolvimento da física parecia estável; a maioria dos fenômenos podia ser
descrita pela mecânica de Newton, pela teoria eletromagnética de Maxwell, termodinâmica e pela mecânica estatística de
Boltzman. Somente alguns problemas tais como a determinação das propriedades do éter, e a explanação do espectro de
radiação dos sólidos e gases, aparentavam sem solução. Esses fenômenos sem explicação, contudo formaram as bases de
uma revolução que aumentaram com uma serie de descobertas notáveis na ultima década do século dezenove: a descoberta
dos raios X por Roentgen em 1895; a do elétron por Tomson em 1895; da radioatividade por Becquerel em 1896; e do efeito
fotoelétrico por Hertz em 1887 a 1899. Juntamente com os resultados desconcertantes dos experimentos de Michelson e
Morley e da descoberta dos raios catódicos, as evidencias experimentais derrubaram todas as teorias disponíveis para
explicá-las. Dois grandes desenvolvimentos durante as três primeiras décadas do século vinte, a teoria quântica e a teoria da
relatividade, explicaram essas descobertas, resultando em novas pesquisas, e mudaram a compreensão da física como
conhecemos hoje. (N.T.).
14
Éter universal — O éter luminoso, postulado pelos físicos do século dezenove, era o meio que permeava todo o espaço e
onde existiam as ondas eletromagnéticas (N.T.).
15
Substratum — O lado oculto e sombrio da substancia. (N.T.).
16
Energia — Energia e definida como a capacidade de realizar trabalho. Energia associada com movimento é conhecida
como energia cinética e energia associada com posição é chamada de energia potencial. Energia existe de varias formas:
mecânica, térmica, química, elétrica, radiante e atômica. Todas as formas de energia são convertidas por processos
apropriados.
No caso das energias psíquicas elas devem a movimentação da matéria a nível perispiritual. (N.T.).
17
G. Le Bon, apesar de reticências (A Evolução da Matéria, p. 275), é obrigado a reconhecer: “Todas essas operações tão
precisas, tão admiravelmente adaptadas ao um objetivo, são dirigidas por forças que se conduzem exatamente como se elas
possuíssem uma clarividência muito superior a razão. O que elas realizam a cada instante está bem acima de tudo que
pode realizar a ciência mais adiantada.” (N.A.).
17.1
G. Le Bon — Gustave Le Bon, fundador da Psicologia Social. 1841— 1931. Escreveu inúmeras obras. dentre as quais
se destacam: "A psicologia das multidões", "A psicologia do socialismo", "A psicologia das revoluções", "As opiniões e as
crenças".
Em "As opiniões e as crenças", depois de discutir os recursos metodológicos de análise da Psicologia, Le Bon explica o
papel do prazer e da dor, para então avaliar as características do consciente e inconsciente. De forma brilhante, apresenta as
várias formas de lógica: biológica, afetiva, coletiva, mística e racional. Dai em diante, passa a analisar as opiniões e crenças,
sua gênese, desenvolvimento, transformação, propagação. Não deixa de discutir a morte das crenças. É uma obra de incrível
atualidade, talvez tenham conseguido aprofundá-la, superar ainda não. (N.T.).
18
Matéria é energia condensada — “Qualquer aprendiz de ciência elementar, no Planeta, não desconhece que a chamada
matéria densa não é senão a energia radiante condensada. Em última análise, chegaremos a saber que a matéria é luz
coagulada, substância divina, que nos sugere a onipresença de Deus.” Ver Andre Luiz, “E A Vida Continua”, capitulo 9.
(N.T.).
19
Revue Scientifique, 17 de outubro de 1903. (N.A.).
20
Pitágoras — Filósofo e matemático grego. 582?—500? a.C. Sua doutrina influenciou fortemente Platão. Nascido na ilha
de Samos, Pitágoras foi instruído nos ensinos dos primeiros filósofos Jônicos: Tales, Anaximandro e Anaximenes.
Argumenta-se que Pitágoras retirou-se de Samos devido à decepção com o tirano Policrates. Em aproximadamente 530 a.C.
Pitágoras estabelece-se em Crotona, uma colônia grega no sul da Itália, onde fundou um movimento com objetivos
religiosos, políticos e filosóficos, conhecido como Pitagorico. A filosofia de Pitágoras era conhecida somente pelos seus
discípulos. (N.T.).
21
Claude Bernard — Fisiologista francês. 1813 — 1878. Reconhecido como o fundador da medicina experimental.
Nascido em Saint-Julien. Em 1834 Bernard inscreveu-se na Escola de Medicina de Paris, e após alguns anos obteve uma
posição no laboratório do Collège de France, onde trabalhou sob a supervisão do Fisiologista francês François Magendie.
Bernard colou grau em 1843 e continuou a fazer uma serie de importantes descobertas na fisiologia. Em 1846 através de
experimentos em coelhos e outros animais, Bernard descobriu o papel do pâncreas na digestão. Devido as suas descobertas
importantes, Bernard tornou-se um cientista proeminente durante a sua vida. Após a sua morte em 1878, Bernard recebeu
um funeral publico — a primeira vez que um cientista recebia tal honra na França. (N.T.).
22
Veja nota complementar # 1 no fim da obra (N.A.).
22.1
Ver também O Consolador, de Emmanuel, pergunta numero 18 (N.T.).
23
Consciência — The inherent knowledge or sense of right and wrong. Our conscience is the innate wisdom of our soul,
along with all we have learned from our past lives
24
Forma — Form and idea are terms used to translate the Greek word eidos (plural eide). "Idea" is a misleading translation,
because for Plato, the eide do not exist in the human mind.
According to Plato's view, there is a form for every corresponding type of object in reality: forms of dogs, human beings,
mountains, colors, courage, love, and goodness. Indeed, for Plato, God is identical to the Form of the Good. Forms exist in a
"Platonic heaven," and when people die, their souls achieve reunion with the forms. Plato makes it clear that souls originate
in this "Platonic heaven" and have recollection of it even in life. (N.T.).
25
Essência — In philosophy, essence is the attribute (or set of attributes) that make an object or substance what it
fundamentally is, and that it has necessary, in contrast with accident, properties that the object or substance has contingently
and without which the substance could have existed. The notion of essence has acquired many slightly but importantly
different shades of meaning throughout the history of philosophy; most of them derive from its use by Aristotle and its
evolution within the scholastic tradition.
26
Atualmente não conhecemos nem podemos conhecer, em sua essência, nem o espírito nem a matéria. (N.A.).
27
“A matéria, disse W. Crookes, é somente uma forma de movimento.” (Proc. Roy. Soc., # 205, pág. 472). (N.A.).
28.1
W. Crookes — físico e químico inglês. 1832 – 1919. Estudou no Colégio Real de Química. Uma herança, permitiu criar
seu próprio laboratório. Ele dirigiu o Chemical News durante 40 anos, aproximadamente. A observação de um novo risco
em um espectro, o conduziu à descoberta do Tálio (l86l), do qual ele estudou as propriedades. Nessa época, ele inventou o
Radiômetro, ampola de vidro preenchida com um gás de baixa pressão, que nela giram, se a luz incide sobre ela 4 folhas
metálicas, com um dos lados pintados de preto. Crookes inventou o tubo cátodo frio, que tem o seu nome e que permitiu,
posteriormente, a Röentgen, descobrir os Raios X.
Após Plücker e Hitforf, Crookes estudou as propriedades do Raio Catódico. Constatando, nitidamente, seu desvio para um
campo magnético, ele pensou que se tratava de partículas carregadas negativamente, porém, não pôde identificá-las como
elétrons, o que J.J.Tomsom fez, 20 anos depois. Em l903, ele concebeu o Espintariscópio, aparelho com tela fluorescente,
permitindo a detecção das partículas alfa. Interessou-o, também, diversos problemas de química aplicada, tais como,
tingimento dos tecidos e o uso dos esterco/ ceva, azotados. O Espiritismo, foi, também, uma de suas grandes preocupações.
Ele foi recebido na Real Sociedade, em l863. (N.T.).
28
Roentgen (Wilhelm C.) — físico alemão. Lennep in Bergischen — l845 — Munique — l923. Desde infancia viveu nos
Países Baixos. Foi aceito na Escola Tecnica de Ultrecht (Holanda), mas, sem dúvidas sobre suas capacidades, ele não pôde
ingressar na Universidade.
Foi, em seguida, para o Instituto Politécnico de Zurique, estudar engenharia mecânica. Tornou-se assistente do Físico
August Kundt e continuou com ele quando ele foi nomeado na Universidade de Würzburg. Nem ele, esperava tal colocação,
visto não ter percorrido o Cursus (Caminho) exigido. Não dispondo de um laboratório, ele teve que aprender, sozinho, a
montar sua aparelhagem. Revelou-se meticulosos observadores, capazes de distinguir os mínimos efeitos dos fenômenos,
tais como, a compressibilidade dos sólidos e dos líquidos.
Ele acompanhou Kundt a Estrasburgo (alemã, na época), ensinando a física teórica no Instituto de Física. Suas pesquisas
visavam os calores específicos dos gases e a condução térmica dos cristais. Junto a Kundt ele procedeu a medidas bem
precisas da rotação do plano de polarização da luz, quando ele atravessa um gás. Tenacidade recompensada, pois em l879,
Röentgen obteve uma cadeira na Universidade de Giessen, na Hesse, onde passou 9 anos e onde consolidou, através de seus
trabalhos, sua reputação científica. Ele descobriu que um dielétrico transparente torna-se birefringente, sob a influência de
um campo elétrico. Esse fenômeno é conhecido como “Efeito Kerr”, o escocês John Kerr fez essa descoberta. Röentgen
estudou, também, durante esse período os fenômenos piezo-elétricos e piroelétricos.
Porém, mais importantes, foram suas pesquisas sobre as relações entre eletricidade e magnetismo. A teoria eletromagnética
de James Clerk Maxwell, previa que quando um dielétrico é submetido a um campo eletrostático variável, aí se cria um
campo magnético. A experiência de Henry Rowland não tendo conseguido convencer (fls.4) a realidade do efeito
observado, Röentgen resolveu fazer essa verificação. Ele conseguiu isso, deslocando o vidro entre placas de um
condensador carregado, e, demonstrando que a Teoria de Maxwell era, quantitativamente, exata. Como ele demonstrara que
esse deslocamento do dieletrique tinha os mesmos efeitos que uma corrente, o fenômeno foi designado “Corrente de
Röentgen”. Lorentz tirou partido dessa descoberta, para estabelecer a teoria corpuscular da eletricidade.
A Universidade de Würzburg ofereceu Röentgen uma cadeira de Física, e, ao mesmo tempo, a direção do Instituto de Física.
Primeiro, ele estudou os efeitos da pressão sobre as propriedades físicas dos sólidos e líquidos. Em l895, ele fez a
descoberta dos raios x, que o tornou célebre. Ele realizou experiências sôbre o raio catódico, com um tubo de Crookes, para
estudar seu poder de penetração. Ele observou que o papel cartão= papelão, coberto com platinocianido de barium, que
servia para cobrir o tubo, emitia uma luminescência. Ele estabeleceu que o fenômeno tinha sua fonte na parede do tubo
oposto ao cátodo., na parte do vidro que recebia os raios catódicos. Ele estudou as propriedades dessa nova emissão,
estabelecendo que ela se propaga em linha reta, com mais força que os raios catódicos, (fls.5)e, que ela não sofria nem
reflexão nem refração. Ele observou que esses raios x, como os chamou (e que possuem esse nome na Alemanha), são
insensíveis tanto quanto a um campo elétrico quanto ao magnético, mas, que possuíam poder elevado de penetração.
Descobriu sua capacidade de tornar visíveis os ossos, o que lhe valeu, imediatamente, fama mundial. Quanto à natureza
desses raios, ele imaginou sua interpretação, como emissão eletromagnética de alta freqüência, isso coube, porém, a Max
von Laue (l8l2).
Em l900, Röentgen deixou Würzburg, onde tornara-se reitor, foi para Munique ocupar uma cadeira de Física e como diretor
do Instituto de Física. Bem ocupado com carga administrativa, ele se interessou, ainda, pelos cristais, estudando sua
condutividade elétrica e os efeitos da emissão. Em l90l, recebeu o primeiro Prêmio Nobel de Física, pela descoberta dos
raios x. Ela lhe valeu outros reconhecimentos, dentre os quais o título de Doutor Honorário em Medicina da Universidade
de Würzburg. (N.T.).
29
Raios X — Irradiação eletromagnética, mesmo tipo que a luz, porém, de freqüência mais elevada, descoberta por
Röentgen ao final do Século XIX. (N.T.).
30
Becquerel (Antoine Henri) — Físico francês. Paris — 1852 — Le Croisic — 1908. Henri Becquerel, filho de A. E. Becq
e neto de A. C. Becq, realizou seus estudos no Liceu Luís, O Grande, na Escola Politécnica e também na Escola de (pag.6)
Pontes e Calçadas. Graças ao seu casamento com L. Z. M. J., ele tornou-se genro de J. C. Jamin, acadêmico e físico. Para
não derrogar/anular a tradição ele foi titular da cadeira de Física do Museu de História Natural (l892) e membro da
Academia de Ciências (l889). Politécnico e Engenheiro de Pontes e Calçadas, ele começou/fez pesquisas em ótica sobre a
polarização; sobre o infra vermelho e sobre a absorção da luz pelos cristais. Em l896, estudando os raios x, ele constatou
que um sal de Urânio luminescente, produzia um brilho desconhecido: Uma placa fotográfica era sensível a ele, mesmo no
escuro, esses raios não se refletiam e não se refratavam. Em l903, ele recebeu o Prêmio Nobel de Física junto com Marie e
Pierre Curie. (N.T.).
31
Radium — (Ra) é o mais pesado dos elementos alcalinos terrosos; seu n. atômico é Z=88. Ele se encontra em estado
natural em fraca proporção na autonita, carnotita e pecheblenda, no qual foi descoberto, em l898, pelo casal Curie. (N.T.).
32
Curie (Marie e Pierre) — Casal de físicos. Marie Sklodowska. Varsóvia — l867 — Sancellmoz — l934. Pierre l859 —
Paris — id. — l906. Eles são um símbolo: ele resume o século da radioatividade com a descoberta do radium; ela foi duas
vezes Prêmio Nobel, encarnando as aspirações científicas e feministas da Sociedade Moderna.
Em l895 os dois se casaram. O casal descobriu o “Polonium”, o “Radium”. Os estudos dos Curie são essenciais, pois , vão
(pag.7) desabrochar/continuar, após intervenção de outros físicos, ao atual modelo do átomo. Assim nasceu, em l9ll, o
modelo do átomo retomado por Bohr e A. Sommerfeld, no modelo da mecânica ondulatória.
Em 1903, o Casal Curie e Henri Becquerel, receberam o Prêmio Nobel de Física. Em 1905 Pierre Curie é eleito para a
Academia de Ciências. No ano seguinte ele é, mortalmente, ferido por um caminhão; Marie retoma as aulas de Física Geral,
dadas por seu marido, na Sorbonne, sendo a l. mulher titular de uma cadeira na Universidade. Em l9l0, ela publica o lo.
Tratado de Radioatividade e um ano, após, recebe o Prêmio Nobel de Química, por seus estudos sobre o Radium. (N.T.).
33
Ver G. Le Bon, Revue Scientifique, 24 de outubro de 1903, pág. 518. (N.A.).
34
Ha séculos afirmava-se e defendia-se a teoria dos átomos sem nada saber deles Berthelot a qualifica de “romance
engenhoso e sutil.” (Berthelot, A Síntese Química, 1876, pág. 164) Vê-se, disse Le Bon que “alguns dogmas científicos não
possuem mais consistências que as divindades de eras remotas.” (N.A.).
34.1
Berthelot (Marcellin) — Químico, historiador e político. Paris — l827 – id. — 1907. Excelente aluno em todas as
disciplinas, desde essa época já era amigo de Ernest Renan. Dirigiu seus estudos para a dilatação do gás. No Colégio de
França, realiza a síntese do Álcool Metílico (l863). Ele foi o precursor do termo Dinâmica. Publicou memórias e várias
obras teóricas, dentre as quais: As Origens da Alquimia (l885), A Química na Idade Média (l893), A Revolução Química –
Lavoisier (l890). (N.T.).
35
Eflúvios — O mesmo que fluidos. (N.T.).
36
Proteu — Em grego Prôteus. Deus do Mar, filho de Oceanos e Tetis ou de Posseidon, para quem ele cuidava do rebanho
de monstros marinhos. Predizia o futuro apesar de não gostar de fazê-lo. (N.T.).
37
Ver nota complementar no. 2, no final desta obra. (N.A.).
38
“Os produtos da dissociação dos átomos, diz G. Le Bon, constituem uma substância intermediária por suas propriedades
entre os corpos ponderáveis e o éter imponderável, ou seja, entre dois mundos profundamente separados até aqui” (Revue
Scientifique, 17 de Outubro de 1903).
“As observações precedentes diz ainda este eminente químico, parecem provar que os diversos corpos simples derivariam
de uma matéria única. Esta matéria primitiva seria produzida por uma condensação do éter” (Revue Scientifique, 24 de
Outubro de 1903). (N.A.).
39
Luz — Light is electromagnetic radiation with a wavelength that is visible to the eye (visible light) or, in a technical or
scientific context, electromagnetic radiation of any wavelength. The elementary particle that defines light is the photon. The
three basic dimensions of light (i.e., all electromagnetic radiation) are:
• Intensity (or amplitude), which is related to the human perception of brightness of the light,
• Frequency (or wavelength), perceived by humans as the color of the light, and
• Polarization (or angle of vibration), which is only weakly perceptible by humans under ordinary circumstances.
Due to the wave-particle duality of matter, light simultaneously exhibits properties of both waves and particles. The precise
nature of light is one of the key questions of modern physics.
40
Calor — Generally, heat is a form of energy transfer associated with the different motions of atoms, molecules and other
particles that comprise matter when it is hot and when it is cold. High temperature bodies from which there will often be
high heat transfer can be created by chemical reactions (such as burning), nuclear reactions (such as fusion taking place
inside the Sun), electromagnetic dissipation (as in electric stoves), or mechanical dissipation (such as friction). Heat can be
transferred between objects by radiation, conduction and convection. Temperature, defined as the measure of an object to
spontaneously give up energy, is used as a measure of the internal energy or enthalpy, that is the level of elementary motion
giving rise to heat transfer. Heat can only be transferred between objects, or areas within an object, with different
temperatures (as given by the zeroth law of thermodynamics, and then, in the absence of work, only in the direction of the
colder body (as per the second law of thermodynamics).
41
Eletricidade e magnetismo — Electromagnetism is the physics of the electromagnetic field; a field encompassing all of
space which exerts a force on particles that possess the property of electric charge, and is in turn affected by the presence
and motion of those particles. (N.T.).
42
Afinidade química — chemical affinity, historically, refers to the "force" that causes chemical reactions. In current use, it
can be defined as electronic properties by which dissimilar chemical species are capable of forming chemical compounds.
Chemical affinity can also refer to the tendency of an atom or compound to combine by chemical reaction with atoms or
compounds of unlike composition. The following statement, made by Ilya Prigogine, summarizes the concept of affinity:
“All chemical reactions drive the system to a state of equilibrium in which the affinities of the reactions vanish.”
The term affinity has been used figuratively since c.1600 in discussions of structural relationships in chemistry, philology,
etc., and reference to "natural attraction" is from 1616. According to chemistry historian Henry Leicester, the influential
1923 textbook Thermodynamics and the Free Energy of Chemical Reactions by Gilbert N. Lewis and Merle Randall led to
the replacement of the term “affinity” by the term “free energy” in much of the English-speaking world.
43
João, X, v. 34. (N.A.).
44
Lei de evolução — Desde Darwin, a evolução das espécies é um fato estabelecido, sua explicação continua hipotética.
Várias teorias se sucedem, e, ainda hoje a idéia, segundo a qual a evolução se faz no sentido de um progresso contínuo, é
posta em questão. (N.T.).
45
Lei da solidariedade — (N.T.).
46
Prometeu — filho de Jaspes e pai de Decalião, da raça dos Titans. Atlas, irmão de Prometeu, foi condenado por Zeus, a
carregar a abóboda do céu e o pesado mundo. (N.T.).
47
Lei de Bode — Lei de Bode – Astrônomo alemão. Hamburgo — l747 — Berlim— l826. Ele encontrou uma fórmula
simples para avaliar a distância entre o Sol e os planetas. (N.T.).
48
Veja Azbel, Harmonie des Mondes, passim. (N.A.).
49
Idem, idem, página 29. (N.A.).
50
Platão — Em grego Platôn. Atenas — 427 a.C. — id. — 347 a.C. Filósofo grego. Seus estudos abrangeram todas as áreas
que constituem, atualmente, a disciplina filosófica. Seus diálogos são de extraordinária beleza literária e marcaram a história
da Filosofia. (N.T.).
51
Cipião, o africano — Em latim Publius Cornelius Scipio Africanus. Político e general romano. ? — cerca 235a.C. —
Liternum — 183 a.C. Ele destruiu Cartago, venceu Asdrubal e eliminou os Cartaginenses da Península Ibérica. (N.T.).
52
Bach (Johann Sebastian Bach)  Em alemão, Johann Sebastian Bach. Compositor alemão. Eisenach —l865 — Leipzig
— l750. Foi o criador do Concerto para piano e da Música de Câmara Moderna. Aperfeiçoou todas as formas de música de
seu tempo, exceto a ópera. Deixou a marca de um artesão da música. Dentre suas obras destacamos: 6 Concertos de
Brandemburgo (l72l), Paixão segundo São João (l722), Missa em “Si” Menor (l732, l737, l749), Oratório de Natal (l734).
(N.T.).
53
Beethoven (Ludwig van)  Compositor alemão. Bonn — 1770 — Viena — 1827. O primeiro período da carreira de
compositor demonstra aquisição progressiva do estilo clássico, marcado, anteriormente, por Haydn e Mozart.
O próximo período é de um estilo monumental, e, finalmente, o ciclo interior e vocal. Ele foi o protótipo do artista moderno,
pôs a Arte Musical a serviço do Pensamento. Algumas obras: Sonata n.l4, op.27 “Clair de Lune”, Os Quartetos
Razoumovski (l806) e as nove Sinfonias. (N.T.).
54
Mozart (Joannes Chrysostomus Wolfgangus Theophilus, dito Wolfgang Amadeus)  Compositor austríaco.
Salzburgo — 1756 — Viena — 1791. Atingiu a perfeição em todos os gêneros musicais. Além da criança prodígio, cujo
talento fascinava. Este criador genial soube tirar proveito de suas experiências. A beleza melódica, a perfeição formal, a
riqueza de harmonia e tímbres, caracterizam suas grandes obras. Deixou mais de 600 obras.
55
Pequenos planetas — Asteróides. O Sistema Solar conta 9 grandes satélites, planetas e grande quantidade de pequenos
satélites, asteróides ou pequenos planetas e cometas.
Os asteróides são os “descendentes diretos” dos planetóides que ajudaram na formação dos planetas. Há centena de milhares
deles, de tamanho, forma, cor e composição diferentes. Estima-se em um milhar de asteróides que ultrapassam 30 km de
diâmetro e l milhão os de mais de l km de diâmetro. (N.T.).
56
Marte — Marte é o quarto planeta a partir do Sol e o mais distante dos planetas telúricos. Seu diâmetro (6.796 km) é
superior à l/2 do da Terra. Sua massa representa um décimo da massa terrestre. (N.T.).
57
Júpiter —Júpiter é o protótipo dos planetas gigantes. Diâmetro de l43.000 km, sua massa é o dobro da dos outros planetas
juntos. Ele gira em torno do Sol em ll anos e l0 meses a uma distância de 780 milhões de km. (N.T.).
58
Mercúrio — É o planeta mais próximo do Sol. É um pequeno corpo de 4.880 km de diâmetro, um pouco maior que a Lua.
Seu giro em torno do Sol, realiza-se em 88 dias a uma distância média de 58 milhões de km. (N.T.).
59
Netuno — Netuno leva l65 anos para girar em torno do Sol, com uma distância de 4,5 bilhões de km. Possui 49500 km de
diâmetro e sua massa representa l7 vezes a da Terra. Gira em torno de si em l6 horas. (N.T.).
60
Azbel, Harmonie des Mondes, p. 13. (N.A.).
61
Ganimedes — Em grego Γανυμήδης, é a maior lua de Jupiter e a maior lua de todo sistema solar; é maior em diametro
que Mercurio, mas com metade da sua massa. Sendo bem maior que Plutão, Ganimedes é o único satelite, além da Lua, que
pode ser visto a olho nu — mas somente em condições ideais de observação. (N.T.).
62
Saturno — É um planeta gigante que se parece com Júpiter, l20500 km de diâmetro.Seus anéis formam um espetáculo
celeste excepcional. Somente seus anéis são visiveis, porém, todos os planetas gigantes os possuem. (N.T.).
63
Titã — É o maior satélite de Saturno com 5l50 km de diâmetro, foi descoberto por Huygens em l655. Gira em torno de
seu planeta em l6 dias com distância média de l220000 km. (N.T.).
64
Urano — Urano é um planeta gigante cujo diâmetro é 4 vezes o da Terra e sua massa é l5 vezes superior. Gira em torno
do Sol em 84 anos com distância de 3 bilhões de km. Possui a particularidade de girar em torno de um eixo quase deitado
sobre o plano de sua trajetória em torno do Sol.. (N.T.).
65
Herschel (sir William) — Astrônomo inglês de origem alemã. Hanover — 1738 — Slough — Buckinghamshire — 1822.
Criador da astronomia estrelar, auxiliou no progresso de todas as áreas da astronomia. (N.T.).
66
Azbel, Harmonie des Mondes, p. 10. (N.A.). AZBEL. Harmonie des mondes: loi des distances & des harmonies
planétaires précédée d'un exposé et suivie de notes complémentaires sur l'esthétique des planètes avec application au clavier
de leur h
H. Robert & Cie, Paris 1903, 16,5x25cm, relié. Edition originale. Reliure à la bradel en plein cartonnage, dos lisse muet,
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67
“Sr. Emile Chizat, diz Azbel (La musique dans l´Espace), constata que o jogo de órgão, dito “vozes celestes” não é mais
que a aplicação musical intuitiva do papel importante “das idéias de estrela”. É provável que as manifestações sinfônicas
serão feitas ulteriormente, sobre este caso que poderia reservar ao público inesperadas impressões. Possam elas somente,
ajudar a trazer de volta nossas músicas terrestres” que se perdem, até as noções um pouco mais elevadas e reais do
sacerdócio da harmonia que elas deveriam espalhar por nós”. (N.A.).
68
“Nos seus cálculos harmônicos, diz Azbel (Harmonie des Mondes, p. 30), o sentido de quantidade do Número se encontra
sempre esclarecido e completado pelo sentido da Nota, ou seja pelo sentido da qualidade harmônica que o número
comporta”. (N.A.).
69
Victor Hugo  Escritor francês. Besançon — 1802 — Paris — 1885. O gênio de Victor Hugo está presente em todos os
gêneros literários que ele transforma e apodera-se – do romance ao drama, da poesia à crítica, da ode ao panfleto. Como na
facilidade de se fazer autor de grandes papéis públicos: de líder do romantismo ao Patriarca da República, esse virtuose
oficial e escandaloso, acumula a celebridade de Notável e a glória do exilado; esse burguês ceifa a tirania de Napoleão III,
defende os comunards e denuncia a pena de morte. (N.T.).
70
Auguste Comte  Filósofo francês. Montpellier — 1798 — Paris — 1857. Ele foi admitido em l8l4 na Escola
Politécnica, fechada 2 anos mais tarde, devido a agitações republicanas, tendo Comte como um dos mentores. Inaugura em
l830, um curso público e gratuito de Astronomia popular que durará l7 anos. Em l826, inaugurou seu Curso de Filosofia
Positiva (l830-l842). Publica de l85l a l854, seu Sistema de Política Positiva. Seu túmulo, no Cemitério Père Lachaise,
contém a “fórmula sagrada” do positivismo: “O amor por princípio e a ordem por base; o progresso por objetivo”. (N.T.).
71
Littré (Émile)  Lexicógrafo, médico e filósofo francês. Paris — 1801 — id — 1881. Possui paixão pelos estudos. Após
brilhantes estudos de medicina, recusou fazer o doutorado. Será, entretanto, membro fundador de 2 revistas médicas e
traduzirá as obras completas de Hipócrates (l839-l86l). Participou das jornadas republicanas de l830. (N.T.).
72
Robinet (Jean-François-Eugène) — Médecin et publiciste. Vic-sur-Seille, Meurthe — 1825 — Paris —1899. Venu à
Paris étudier la médecine (1847), il prend part à la révolution de 1848 (où il est blessé, ainsi qu'aux journées de février.
Initié au positivisme en 1849 par le docteur Segond. Auditeur enthousiaste des cours publics d'Auguste Comte, il adhère au
positivisme religieux. Reçu membre de la Société positiviste en 1851. Désigné par Comte en 1855 comme l'un de ses treize
exécuteurs testamentaires. Médecin d'Auguste Comte (qui suit peu ses prescriptions), il l'assiste dans ses derniers moments.
Sa maison de La Ferté-sous-Jouarre devient un foyer positiviste actif à partir de 1859. Adversaire résolu de l'Empire,
combattant du 2 décembre et ardent républicain, il est en 1870 maire du VIe arrondissement. Accusé d'avoir favorisé
l'insurrection, il doit démissionner. Elu membre de la Commune, refuse d'y siéger, mais proteste ensuite avec vigueur contre
la répression. Aide, avec le groupe positiviste, un grand nombre de proscrits à y échapper. Par la suite prend la tête de
nombreuses initiatives en faveur de l'amnistie. Fondateur et principal collaborateur de la revue La Politique Positive (1872-
1873).
Oeuvres. Paroles prononcées aux funérailles d'Auguste Comte le 8 septembre 1857, Paris, Dunod, 1857, Notice sur
l'oeuvre et sur la vie d'Auguste Comte, Paris, Dunod, 1860, Le Positivisme et l'économie politique (en coll. av. P. Laffitte,
La France et la guerre, La réorganisation de l'armée, Considérations sur la répression de la médecine dite illégale 1858,
Paroles prononcées sur la tombe de madame Sophie Thomas, fille adoptive d'Auguste Comte le 7 décembre 1861... an nom
de la Société positiviste, Paris, Dunod, 1862, Lettres sur les animaux par Georges Leroy, 4e éd. précédée d'une introduction,
Paris, Poulet-Malassis, 1862, Lettre à M. Emile de Girardin sur l'économie positiviste (non signé), Paris, 1864, Lettres sur
l'hippophagie, Paris, 1864, Danton. Mémoire sur sa vie privée, Paris, 1865, Compte rendu, 1871, M. Littré et le positivisme,
Paris, 1871, Le dix août et la symbolique positiviste, Paris, 1873, La Nouvelle Politique de la France : Relations extérieures,
Paris, 1875, Le procès des dantonistes, d'après les documents, Paris, Leroux, 1878, "Finissons Paris", Observations sur
l'édilité moderne, Paris, 1879, Le positivisme et M. Littré (extrait de la Revue occidentale), Paris, 1881, La philosophie
positive. Auguste Comte et M. Pierre Laffitte, Paris, Alcan, "Bibliothèque utile", 1881, La Politique positive et la question
tunisienne (1881), La question des loyers, Paris, 1882, La politique coloniale, 2e éd. Paris, 1883, Danton : Mémoire sur sa
vie privée, 3e éd., Paris, 1884, Aux Electeurs de 1885, les machines à tuer (1885)Pour les Nègres (1885), Danton émigré :
Recherches sur la diplomatie de la république (an 1er, 1793, Paris, 1887, Danton homme d'Etat, Paris, 1889, Les portraits de
Danton, Paris, 1889, Auguste Comte et M. Aulard à propos de la révolution, Paris, 1893, Condorcet, sa vie et son oeuvre
(1743-1794), Paris, Quantin, 1893, Révolution française 1789-1815, d'après les leçons de M. Pierre Laffitte, 2e éd. av.
appendice Discours sur Danton et Championnet, Paris, 1895, Danton et Victor Hugo, "Le mouvement religieux à Paris
pendant la Révolution", in Collection de l'histoire de Paris
73
Burnouf (Eugène)  Orientalista francês. Paris — 1801 — id. — 1852. Decifrou “a língua iraniana de Avesta , o
avestico”, é o autor de uma introdução à história do budismo (l845). (N.T.).
74
Ver L. Denis, Le Problème de l’Être et de la Destinée, idem. (N.A.).
75
1789  Entre l789 e l799 a França foi palco de agitações, cujas influências persistiram no cotidiano do século. XX: a
Revolução proclamou os direitos dos homens, instituiu igualdade civil e o sistema métrico, criou os departamentos
regionais, a escravidão, fez um panteão para os heróis e mártires do país. Entretanto, popularizou guilhotina e o terror,
desencadeou as catástrofes econômicas e demográficas, provocou mudanças sociais e abre caminho para as revoluções do
século XIX. (N.T.).
76
Ver notas complementares nos 4, 5 e 6, no final da obra. (N.A.).
77
Jeanne d´Arc  Heroína francesa. Domrémy — 1412 — Rouen — 1431. A pequena camponesa da Lorena que
comandou as tropas do rei de França, devolvendo confiança a Carlos VII, nos terríveis dias da Guerra dos Cem Anos, desde
sempre foi um mito. Seu destino, apesar de controvérsias, é o da autêntica heroína popular. (N.T.).
78
Ver J. Maxwell, Phénomène Psychiques, págs. 232 a 255. — Leon Denis, Das L´Invisible, Cap. XXII. — Ver também
Resumo do Congresso Espírita de Bruxelas, 1910, págs. 112, 124. (N.A.).
74.1
J. Maxwell  (N.T.)
79
Já obtivemos prova objetiva disso, através das placas fotográficas. Em estado de prece, através do contato dos dedos
conseguimos impregnar as placas de irradiações muito mais ativas de eflúvios mais intenso que no estado normal. (N.A.).
80
Voltaire  Escritor francês. Paris — 1694 — id. — 1778. Irônico, sarcástico, combateu durante toda sua vida a força da
razão, do humanismo e da tolerância das luzes. Foi celebrado pelos revolucionários. Sua vida não está isenta de
contradições. (N.T.).
81
Vacherot (Étienne) — Escritor francês. Torcenay — 1809 — Paris — 1897. He was educated at the École Normale, and
returned thither as director of studies in 1838, after some years spent in provincial schoolmasterships. In 1839 he succeeded
his master Cousin as professor of philosophy at the Sorbonne. His Histoire critique de l'école d'Alexandrie (3 vols. 1846-
51), his first and best-known work, drew on him attacks from the Clerical party which led to his suspension in 1851. Shortly
afterwards he refused to swear allegiance to the new imperial government, and was dismissed the service. His work
Démocratie (1859) led to a political prosecution and imprisonment. (N.T.).
82
Renan (Joseph Ernest)  Historiador e filósofo francês. Tréguier — 1823 — Paris — 1892. Teve uma infância religiosa,
entrou no Seminário de Saint Sulpice onde estudou filosofia, teologia e filologia hebraica. Perdeu a fé e deixou Saint
Sulpice. Estudou, então, filosofia. (N.T.).
83
Parabrahm — Em sanscrito “Além de Brahma”, para os hindus, a alma suprema de Deus. The Supreme Infinite
Brahma, "Absolute" - the attributeless, the secondless reality. The impersonal and nameless universal Principle. (N.T.).
84
Ver Après la Mort, segunda parte. — Le Problème de l´Être de la Destinée, cap. XVIII e XIX. (N.A.).
85
Sirius  Estrela α da constelação do Cão Maior. É a mais brilhante do céu e possui uma acompanhante, que é uma Anã
Branca. Distância: 8, 7 anos-luz. (N.T.).
86
Capela  Palavra latina, “cabrinha”. Estrela α da constelação do Cocheiro. É uma estrela dupla. Distância: 45 anos-luz.
(N.T.).
87
Castanheiros  Originária do Mediterrâneo, a Castanea Sativa, pertence à família das fagaceas. Altura: 30 m, árvore de
longa vida, tronco reto e maciço que se ramifica para formar uma copa alta e arredondada. (N.T.).
88
Faias  O carvalho comum ou Fágus Sylvática, está presente na Europa Central e Ocidental. Sua madeira branca e
pesada, possui textura fina e compacta. É muito usada na ornamentação de parques e jardins. (N.T.).
89
Bétulas  Segundo classificação de Lineu, distingue-se duas espécies: a bétula verrugosa (Betula pendula), originária da
Europa e Sibéria e a bétula pubescente (B. pubescens) originária da Islandia, do Norte da Europa e Sibéria. Bétula
verrugosa, altura: 30m, tronco reto e galhos finos. Betula pubescente, altura: 20m. Casca cinza ou amarela, folhas mais
triangulares e menores. (N.T.).
90
Carvalhos  Le genre Quercus est le plus vaste des fagacées; il comprend des arbres de grande taille aux feuilles
caduques ou persistantes, rarement entières, le plus souvent lobées, dentées ou dentelées. Les fleurs mâles sont regroupées
en chatons pendants, les femelles sont isolées ou réunies en petits groupes. Le fruit sec, de type akène, est un gland plus ou
moins profondément inséré dans une cupule garnie d'écailles parfois épineuses. Le genre comprend de nombreuses espèces
parmi lesquelles le chêne-liège (Quercus suber), le chêne kermès (Quercus coccifera) et le chêne pédonculé (Quercus
pedunculata). (N.T.).
91
Musgos  Eles fazem parte do grupo de vegetais agrupando mais de 20.000 espécies que se localizam no chão dos
bosques, como tapetes vegetais úmidos. São capazes de colonizar meios mais diversos que os das plantas com flores.
(N.T.).
92
Coleópteros  Reúnem um número de espécies oito vezes maior que o dos vertebrados e seu inventário não está acabado.
Eles causam danos à agricultura. Estima-se mais ou menos 450.000 espécies conhecidas quase a metade dos insetos e um
terço do mundo animal. Representantes: Escaravelhos, joaninha, vaga-lumes.
(N.T.).
93
Pinheiros  Existem mais ou menos l20 espécies. Árvores com altura e desenvolvimento variado, característica é agulhas
com pontas, longas ou curtas, reunidas em grupos de 2, 3, 4 ou 5. (N.T.).
94
Samambaias  Apresenta organização simples, se comparada a plantas com flor. Possui órgãos das plantas superiores:
raiz, caule e folhas. Algumas espécies podem atingir l2 metros. (N.T.).
95
Escaravelhos  O mais conhecido é o Escaravelho Sagrado de 32 mm, presente na Europa, Ásia e África.
(N.T.).
96
Lagartos  Gênero dos répteis. São diurnos e se alimentam de presas. (N.T.).
97
Toutinegra  Gênero dos pássaros (Sylvia). Bico magro e possui patas adaptadas ao mergulho.(N.T.).
98
Corriolas  Gênero das convolvuláceas das regiões temperadas. Agrupa, aproximadamente, 250 espécies. (N.T.).
99
Campânulas  Gênero das campanuláceas, agrupa, aproximadamente, 300 espécies. A flor em forma de sino pode ser
azul, branca, amarela ou violeta. (N.T.).
100
Hortelãs  Gênero (Mentha) de Labias, agrupa, aproximadamente, l5 espécies. (N.T.).
101
Chapim  Família dos Parideos, pássaros pequenos, ágeis, de hábitos insetívoro. Presentes na Eurásia, na América do
Norte e na África. (N.T.).
102
Libélulas  Pertencem à ordem dos Odonates. Há mais de 4.500 espécies. Vindas da pré-história elas são insetos
primitivos que estão entre os primeiros conquistadores do espaço aéreo. (N.T.).
103
Moscas  Espécie dos insetos dípteros brachycères e cyclonhaplus. São essencialmente diurnos. São, muitas vezes,
vetores de doenças. (N.T.).
104
Lande  Formação vegetal característica de solos pobres, ácidos, da região atlântica européia. Constituídas por arbustos,
tojos, giestas, ervas e samambaias. (N.T.).
105
Tojo  gênero de Leguminosas da Europa, compreende, aproximadamente, l5 espécies. São arbustos cujas folhas são
escamas ou espinhos. (N.T.).
106
Alfazema  A lavanda (Lavandula angustifolia) é uma planta com númerosos galhos cinzas, suas flores são azuladas.
Ela fornece uma essência utilizada na farmácia e perfumaria. (N.T.).
107
Giesta  Originária da Europa Ocidental. Altura: 2 metros, é um arbusto muito ramoso, cujos galhos são de um verde
brilhante. As flores grandes e amarelas são isoladas em grupos de duas. É usado como remédio e tintura. (N.T.).
108
Grande floresta do Estado — Une forêt domaniale est une étendue plus ou moins vaste portant un peuplement d'arbres
relativement dense, dont la gestion et la propriété appartiennent à l'État.
En France, sa gestion est assurée par l'Office National des Forêts. (N.T.).
109
Lenda de Anteu  Em grego Antaios. Gigante, filho de Gaia e Possêidon, o deus do elemento líquido. Como ele
encontrara suas peças quando tocava o solo, Heracles o separou da terra para sufocá-lo. (N.T.).
110
Uma bétula, diz O. Reclus, agita sozinha duzentas mil folhas e outro gigante tropical agita um milhão. (N.A.).
111
Espinheiro — Conjunto maciço de arbustos, denso. (N.T.).
112
Vercigentórix  Chefe gaulês. Nascido em país auverno, circa 72 a.C. — Roma, 46 a.C. Herói da guerra das Gálias, ele
tentou organizar a resistência dos gauleses contra César e suas legiões romanas. Seu nome significa “grande rei dos
guerreiros” e o sufixo “rix” é encontrado somente nos grandes chefes das tribos gaulesas. (N.T.).
113
Druidas  Formavam uma casta sacerdotal, eles eram os herdeiros e depositários da tradição e do saber célticos.;
representavam o papel de juizes nos negócios públicos e privados e na política, influenciando na eleição dos chefes e nas
assembléias de seu povo. Segundo César, a preparação e iniciação dos druidas formados na Bretanha, durava 20 anos. Os
druidas acreditavam na transmigração ou metempsicose e na imortalidade da alma. Eles praticavam os sacrifícios humanos
e celebravam seus ritos nos bosques eleitos para esse fim (A colheita do zimbro só era feita na Gália). O druidismo que,
segundo César, nasceu na Grande Bretanha e se estendeu à Irlanda, à Gália e a Bretanha, desapareceu sob o efeito da
conquista romana e do cristianismo. Parece ter sobrevindo até o século V, na Irlanda, onde foi combatido por São Patrick -
São Patrício. (N.T.).
114
Bardos  Do latim bardus. Entre os celtas eles eram os poetas encarregados de festejar os feitos dos chefes.
Redescobertas no século XVIII, as obras bardas, especialmente, as de gaélicos, exerceram uma grande influência sobre os
escritores pré-românticos. (N.T.).
115
Maçaricos (courlis)  Gênero de pássaro charadriiformes scolopacidés, com longas patas, bico longo e curvado.
(N.T.).
116
Alcatraz (goéland)  Nome dado a vários pássaros lariformes, do gênero Larus. Tamanho médio, 70 cm.
(N.T.).
117
Gaivotas (mouette)  Pássaros do gênero Larus. Tamanho médio, 40 cm . A plumagem é branca, preta e cinza. (N.T.).
118
Cabo de la Chevre — Le cap de la Chèvre est le cap méridional de la presqu'île de Crozon, dans l'ouest de la Bretagne.
Orienté vers le sud, il fait face à la côte nord du cap Sizun et ferme la baie de Douarnenez.
Constitué de lande, de bruyères et de pins maritime, le cap a conservé un aspect sauvage et un paysage magnifique, avec
également quelques petits villages aux maisons en pierre typiques. Au bout du cap, par beau temps on peut apercevoir le cap
Sizun et l'île de sein, l'ensemble de la baie de Douarnenez, la pointe de Pen-Hir, la pointe Saint-Mathieu et les
îles Ouessant et Molène.
Le cap de la Chèvre verra prochainement la réintroduction de moutons qui viendront entretenir les landes du Conservatoire
du littoral. (N.T.).
119
Raz de Sein  Paredão rochoso da Costa Bretã, altura 72 m, situado diante da Ilha de Sein e local turístico. (N.T.).
120
Ponta do Penmarch  Comuna do Tunistério (Quimper) na península de Penmarch, 6.272 habitantes. Local de pesca e
conservas. (N.T.).
121
Leviatã  Leviatã na Bíblia (Livro de Jó), monstro marinho simbolizando o Demônio ou talvez o paganismo, ele foi
vencido por Jeová. (N.T.).
122
Java (Mar de)  Mar de pouca profundidade entre Java ao Sul, Bornéu ao Norte e Sumatra a Oeste. Confunde-se a Este
com o Mar de Flores. (N.T.).
123
Mar das Antilhas — Mar Interior, de 2.600.000 km2. Situado a Este da América Central é chamado Mediterrâneo
Americano ou Mar do Caribe. (N.T.).
124
Maury (Matthew Fontaine Maury) — American astronomer, astrophysicist, oceanographer, meteorologist,
cartographer, author, geologist, educator. 1806 – 1873. He was nicknamed Pathfinder of the Seas and Father of Naval
Oceanography and Naval Meteorology and later, Scientist of the Seas, due to the publication of his extensive works in his
books, especially Physical Geography of the Sea 1855, the first extensive and comprenhensive book on oceanography to be
published. Maury made many important new contributions to charting winds and ocean currents, including pathways for
ships at sea. (N.T.).
125
Oceano Índico — Oceano Índico, se distingue dos dois outros grandes oceanos do globo com sua modesta superfície de
75 milhões de km2. Sua faixada Setentrional estende-se do Oriente-medio petroleiro até a Indochina, passando pela Índia.
(N.T.).
126
Estrelas marinhas  Os estelerideos são animais em forma de estrelas com 5 pontas, medindo de l a 60 cm de diâmetro.
Apresenta espinhos. São marinhos e sedentários, vivem no fundo dos mares. (N.T.).
127
Corais  Há várias espécies. As colônias podem atingir proporções consideráveis; a Grande Barreira Australiana
estende-se por 2.500 km. (N.T.).
128
Gorgônias  Ordem dos Cnidarios, anthozoarios octocoraliarios. Constituem colônias fixas arborecentes e coloração
variada. (N.T.).
129
Ísis  Isis hippuris — Isis coral genus — In the family Isididae belonging to the Order of soft corals, is a species of coral
found in the Western Pacific Ocean. (N.T.).
130
Arenques  Nome vernacular de duas espécies de peixes clupeidos: clupea harengus, do Atlântico Norte, e clupea
pallasii, do Pacífico Norte. Consome-se o arenque fresco ou salgado, sêco ou defumado. (N.T.).
131
Perto do Havre, um pescador, diz Michelet, encontrou oitocentos mil arenques em sua rede. Em um porto da Escócia
fizeram onze mil barris de peixes em uma só noite. Cem mil marujos vivem somente da pesca de bacalhau. (N.A.).
132
Bacalhau .Espécie (Gadus callarias ou morhua) de peixes gadiformes gadideos, de corpo longo, ligeiramente estreito,
de cor variável, pintado de marrom, pode medir até l,50 m, predador de organismos marinhos (calmars, harengs, églefins,
etc.). É comercializado fresco, salgado ou congelado. (N.T.).
133
Esturjão  Nome vernacular dos representantes da familia dos Acipenserideos. Peixes com corpo longo, sem dentes. Há,
aproximadamente, l5 espécies, podendo atingir 3 m e peso de 300 kg. Seus ovos são consumidos como caviar. O esturjão
comun (Acipenser sturio), qui peut atteindre jusqu'à 3 m de long pour un poids de 300 kg ne subsiste plus guère — du
fait de la pollution et d'une pêche intensive — que dans la mer Noire. (N.T.).
134
Vosges  cadeia de montanhas, nordeste da França. Estende-se por aproximadamente 190 km de norte a sul paralela ao
rio Reno. Os picos mais altos estão localizados mais ao sul atingindo a altura de 1435 m. (N.T.).
135
Arenito  Dura, sonora, cinza ou branca é uma mistura de argila e areia. É muito usado na fabricação da cerâmica,
desde o Egito antigo e a civilização persa. (N.T.).
136
Burg — Castelo da região dos Vosges (N.T.).
137
Auvergne — Região do Maciço Central. É uma das maiores seções deste maciço, localizada na parte central, é uma
região de antigos rios de lava e gargantas desgastadas de vulcões (puys). (N.T.).
138
Cheires — Corrente de lava solidificada. (N.T.).
139
Puys ou Dômes (chaîne des) — No centro do Maciço Central Francês, a cadeia dos Puys ou Dômes, constituem um belo
relevo vulcânico com l465 m . Essa cadeia faz parte do Parque Natural dos Vulcões da Auvergne. (N.T.).
140
Causses — Planaltos elevados (entre 700 e l.200 m de altitude). Composta espessas camadas de calcário. Há os grandes
causses (Comtal, Sevérac, Larzac, Sauveterre e Méjean) e as Causses Quervy (Martel, Gramat e Limogne). (N.T.).
141
Franco-Condado — Capital, Besançon. Valorizada pelas montanhas do Jura. O turismo é complementado pela visita às
termas. (N.T.).
142
Béarn — Localizada nos Pirineus, é uma antiga província francesa, junto com o País Basco francês tornou-se um único
departamento. É uma região de altas montanhas — pico de Anie – 2.504 m e Pico do Midi d’Ossan – 2.885m . Seu nome
deve-se a uma cidade galo-romana Beneharnum. (N.T.).
143
Jura — Maciço montanhoso europeu, estende-se pela França, Suíça e Alemanha. Entre os Vosges e os Alpes, o Jura
possui a forma de um croissant de 250 km de extensão por 50 km de largura. (N.T.).
144
Savóia (Alta) — É um dos oito departamentos da Região Ródano-Alpes. Limites: ao Norte, o Lago Leman e a fronteira
suíça; ao Sul, Chablais, Bornes e Bauges; a Oeste, Faucigny, Annecy e Chablais; a Este, o Vale de Chamonix, é ligado ao
Vale da Aosta, pelo túnel do Monte-Branco. É uma região turística bem diversificada. Atrações principais, o Mar de Gelo e
a cadeia dos Alpes com agulha do Midi – 3.842 m. (N.T.).
145
Daufine — Antiga província francesa da região dos Alpes. Capital: Grenoble. Limites: Savoia, ao Norte, Ródano a
Oeste, Provença ao Sul e a Este a Itália. Há belas paisagens no maciço da Grande Cartuxa e de Oisans. E, Grenoble está
próxima a várias estações de esportes de inverno. (N.T.).
146
Provença-Alpes-Côte d'Azur — Esta região é limitada pelo Ródano, o Mediterrâneo, a front Slahara e o conjunto
Ródano-Alpes. Representa 39% do território regional. Principais cidades: Nice, Menton, Cannes, Grasse e Antibes. O
turismo ocupa o 2º lugar, após Ile de France, e as cidades mais conhecidas são: Saint Tropez, Arignon, Arles, Aix en
Provence. (N.T.).
147
Esterel (maciço do) — Esse maciço situa-se entre Cannes e Fréjus. Ponto culminante Monte Vinagre 6l8m. (N.T.).
148
Cévennes  Forma uma longa espinha dorsal. O Parque de Cévennes foi construído em l970. Nesse local viveram
númerosos protestantes e no século XVIII houve sangrenta guerra religiosa. (N.T.).
149
Pirineus  Essa cadeia de montanhas situa-se entre Europa Continental e a quase ilha ibérica. Seus limites: O
mediterrâneo, o Atlântico, os países catalão e basco. A França e a Espanha separaram-se por uma fronteira fixada em l659
sobre a linha do cimo. 430 km franceses e 5l0 km espanhóis. Pontos culminantes: Pic d’ Aneto 3.404m (Espanha) e Pic d’
Anie 2504 m (França). Pontos turísticos: Cerco de Gavarnie, Pico do Midi, Pico d’ Ossau e Canigou, parques naturais,
grotas pré-históricas, castelos cátaros, fortalezas medievais, abadias e cidades pitorescas. (N.T.).
150
Escarpamento — Descida abrupta como nos Vosges. (N.T.).
151
Rodendro  Arbusto de 60 cm com galhos rígidos e tortuosos. Folhagem . Sempre viva densa e brilhante. Folhas
vermelhas. Ela vive cerca de l00 anos. (N.T.).
152
Saxífraga  Gênero das Saxifragaceas. Plantas abundantes nas montanhas, cultivadas nos jardins, possuem 300 espécies
diferentes. (N.T.).
153
Iris  genre d'Iridacées renfermant plus de 200 espèces distribuées dans l'hémisphère Nord, dotées pour la plupart de
feuilles équitantes et caractérisées par des fleurs complexes à trois étamines portées par les trois pétales externes et opposés
aux trois stigmates pétaloïdes. Une soixantaine d'espèces sont cultivées dans les jardins. Parmi celles-ci, on distingue les iris
à tubercule et les iris rhizomateux, les plus communs, dont Iris germanica, florentina et pallida; leur rhizome est utilisé en
parfumerie, car il fournit par dessiccation des cétones isomères de la parmone des violettes.
154
Lariço  Larix decidua. Conífera originária dos Alpes e das Cascates. Atinge 40m. Sua madeira é pesada e compacta,
perfumada e rica em resina. Sua resistência e belo aspecto o fazem perfeito para construção e marcenaria. (N.T.).
155
Gafanhotos  Medem 40 a 60 mm. Seu ciclo de vida dura l ano. Eles infestam mais de 20 % do planeta. É capaz de
comer seu próprio peso em vegetais, diariamente, 2 a 3 g . As nuvens possuem centenas de milhões. (N.T.).
156
Grilo  Família dos gryllidés. Mede de 20 a 30 mm. O canto é feito pelos machos ao final da primavera e início do
verão. (N.T.).
157
Baixo — A mais grave voz de homens, mais grave que o barítono com a qual é freqüentemente confundida. (N.T.).
158
Urze (bruyère)  Gênero das ericaceas encontrada nas charnecas. Agrupa cerca de 600 espécies de plantas lenhosas.
(N.T.).
159
Pórfiro  Rocha ígnea na qual são pegos os cristais brutos. Trata-se de uma textura e não, especificamente, de uma
rocha. (N.T.).
160
Vulcão  A maior parte dos vulcões possui uma forma de cone cuja descida é menor, quando a lava é mais fluida,
líquida. Maiores vulcões. Mauna Loa – Havaí mais 9000 m com 5 crateras. Andes chilenos: Ojos del Salado, 6885 m;
Llullaillaco, 6723 m. (N.T.).
161
Meru — Mount Meru or Mount Sumeru is a sacred mountain in Hindu mythology considered to be the center of the
universe. It is believed to be the abode of Brahma and other deities of both religions. The mountain is said to be 80,000
leagues (450,000 km) high and located in Jambudvipa, one of the continents on earth in Hindu mythology. Many Hindu
temples, including Angkor Wat, the principal temple of Angkor in Cambodia, have been built as symbolic representations
of the mountain. (N.T.).
162
Gatya — Montanha da India onde Buda recebeu sua revelação. (N.A.).
163
Sinai  Em árabe Shibh Djaziat Sina. O Sinaï, l'«Arabie Pétrée» dos antigos, é uma península de 25000 a 30000 km2 na
extremidade norte do Mar Vermelho. Nesse local ocorreram: a estada de Moisés e dos hebreus unidos do Egito. Ela ocupa a
parte norte do planalto calcário de gesso craie e Silex. (N.T.).
164
Nebo — Em hebreu: ‫הר נבו‬, Hār Nēvō, Arabic: ‫جبل نيبو‬, Jabal Nībū is an elevated ridge that is approximately 817 metres
above sea level, in what is now western Jordan. The view from the summit provides a panorama of the Holy Land, and to
the north, a more limited one of the valley of the River Jordan. The West Bank city of Jericho is usually visible from the
summit, as is Jerusalem on a very clear day. According to the final chapter of Deuteronomy, Mount Nebo is where the
Hebrew prophet Moses was given a view of the promised land that God was giving to the Hebrews. "And Moses went up
from the plains of Moab to Mount Nebo, the top of Pisgah, which is opposite Jericho." (Deuteronomy 34:1).
According to Jewish and Christian tradition, Moses was buried on this mountain by God himself, and his final resting place
is unknown. Scholars continue to dispute whether the mountain currently known as Nebo is the same as the mountain
referred to in the Torah. (N.T.).
165
Tabor  Em hebreu, Har Tavor, em árabe Djabal Tur. Montanha de Israel na Galiléia, entre Nazaré e o lago de Tiberíade
— 588 m. Lugar da transfiguração de Cristo. (N.T.).
166
Calvário  Em aramaico Golgotha. Localizada a Noroeste de Jerusalém, local das execuções capitais onde Cristo foi
crucificado. No século IV foi construída a Basílica do Santo Sepulcro. É chamado, também, de Gólgota. (N.T.).
167
Awen — Welsh word historically used to describe the divine inspiration of gifted bards in Welsh legend, and sometimes
ascribed to musicians and poets today. (N.T.).
168
Pico de Ger — Ápice do vale d'Ossau no departamento dos Pirineus Atlanticos. (N.T.).
169
Eaux-Bonnes — Comunidade francesa, situada no departamento dos Pireneus Atlânticos e na região de Aquitânia.
(N.T.).
170
Montes Malditos — Maciço dos Pireneus Centrais, nordeste da Espanha, próximo a fronteira francesa. Seu ponto
máximo é o Pico de Aneto (3404 m), também o mais alto dos Pireneus.
171
Pico de Anie  Ápice dos Pirineus Centrais (Altos Pirineus) ao sul de Cauterets, ponto culminante do lado francês e da
coroa fronteiriça, 3298 m. Cercado por 4 galerias (Ossove é a mais extensa da cadeia), apresenta ao norte uma parede de
800 m que domina o Lago de Gaube. (N.T.).
172
Vignemale  sommet calcaire des Pyrénées centrales (Hautes-Pyrénées), au S. de Cauterets, point culminant du versant
français et de la crête frontière; 3 298 m. Entouré de quatre glaciers (dont l'Ossoue, le plus étendu de la chaîne), il présente
au N. une paroi de 800 m dominant le lac de Gaube. (N.T.).
173
Bigorre  Região dos Pirineus Centrais Franceses. Principal cidade, Tarbes. Montanha — Pico do Midi de Bigorre –
2872 m . (N.T.).
174
Baleïtous — El Balaitus es un macizo granítico de los Pirineos, situado en la frontera entre España y Francia, que marca
el comienzo por el este de los Altos Pirineos. El pico Balaitus (de 3.144 metros de altura) es el primero de los Pirineos que
sobrepasa los 3.000 m desde la costa atlántica. Parece que su nombre proviene de las palabras francesas "bat" (valle) y
"laytouse" (leche).
Se sitúa entre el español Valle de Tena (Sallent de Gállego) y el francés Val d'Azun.
175
Monte Perdido  (Em espanhol Monte Perdido). Pico dos Pirineus Centrais Espanhóis, acima, do Circo de Gavarnie –
3.355 m. (N.T.).
176
Monné — Le Moun Né ou Pic de Monné est un sommet des Pyrénées dans le massif du Barbat. Situé au nord du Grand
Barbat, il culmine à 2724 mètres, entre la station thermale de Cauterets et la vallée d'Estaing en Val d'Azun.
177
Gabizos — Le col du Soulor, point de passage vers l'Aubisque et les Pyrénnées Atlantiques, représente un des passages
mythiques du Tour de France. Il est aussi une des entrées de l'Espace ski de fond du Val d'Azun.
Le Gabizos n'est pas le point culminant du Val d'Azun, mais il est celui qui se voit le plus. Les premières neiges le
transforme en seigneur royal trônant et veillant sur la vallée du haut de ses 2639 mètres. Il vous accompagne pendant toute
la durée de la montée au Soulor.
178
Marboré  Maciço calcário dos Pirineus, cercado por geleiras, domina o Circo de Gavanie -3.355 m, no Monte Perdido.
(N.T.).
179
Brecha de Roland — Le site de la brèche de Roland est l'un des plus connu des Pyrénées centrales. Cette faille est
impressionnante de par sa taille et sa position. Elle est visible depuis de nombreux points du cirque de Gavarnie. La légende
raconte que c'est Roland qui a entaillé la muraille avec son épée Durandal.
180
Ossau [Midi d'Ossau (pico do)]  Ápice dos Pirineus (Pirineus Atlânticos), próximo à fronteira espanhola. (N.T.).
181
Bramatuero — Bramatuero, Lagos do. Situados en el macizo granítico de Panticosa junto a la frontera francesa, forman
dos unidades situadas entre los 2.300-2.600 m. de alt. En 1957 se embalsó el Bramatuero bajo, de 14 Ha. de superficie, y en
1961 el alto, de 29 Ha., destinándose sus aguas a la producción de energía eléctrica. Desaguan en el embalse de Bachimaña.
Los ibones son pequeños lagos de montaña, generalmente de origen glaciar, situados en el Pirineo, generalmente por encima
de los 2000 m. Son, en muchos casos, el principio de los ríos de Aragón.
182
Lourdes  Altos Pirineus (Argelès – Gazost). 16300 habitantes. Gruta de Massabielle, local de peregrinação, em 1858
Bernadette Soubirous diz ter visto a Virgem. Há basílicas edificadas em 1876 e 1958 (Santo Pio X, subterrânea). Igreja
Romana (séc. XV), Castelo (Séc. XIII – XVII) e Museu dos Pirineus. (N.T.).
183
Panticosa — É una localidad de la provincia de Huesca, situada en la comarca del Alto Gállego en España. Panticosa es
un pueblo de montaña de unos 600 habitantes en el que se encuentra la estación de esquí alpino Panticosa los Lagos. Su
economía está basada en el turismo ya que dispone de numerosos hoteles y restaurantes que se llenan al completo en
invierno y en verano. Está situado en el valle de Tena a pocos kilómetros de Formigal y de Sallent de Gállego; el pueblo
más cercano a Panticosa es El Pueyo de Jaca, de apenas 100 habitantes, en el que hay un albergue al que todos los inviernos
acuden niños de los colegios para esquiar en la estación y en verano acuden colonias también infantiles y juveniles. A pocos
kilómetros de Panticosa se encuentra un balneario de aguas termales donde se dan cita personas de todo el país para
relajarse en sus termas. En este municipio se encuentra situada la estación de esquí de Panticosa - Los Lagos.
184
Cabrito montês — Rupicabra dos Pirineus, Rupicapra pyrenaica.
185
Bosque de Gourzy — Floresta ao redor do pico de Gourzy, em Eaux-Bonnes.
186
Raposa  Há dois gêneros dos canídeos: Vulpes e Alopex. O primeiro é mais conhecido, compreende cerca de 10
espécies com tamanho médio de 50 a 80 cm. O outro tipo é a raposa polar – espécie única. (N.T.).
187
Galo da charneca  Tetrao urogallus, o macho (varia de 53 a 90 cm). Pode possuir cores pretas e marrons e outros
azulados. As fêmeas vão do marron ao cinza. (N.T.).
188
Mocho das montanhas  Athene noctua. Possui topete de cada lado da cabeça, o que o distingue das corujas. O
maior deles, o Mocho grande duque, é o maior (67 a 70 cm, envergadura 1,70 m).
189
Fourré  État de développement de la futaie: les tiges des arbres encore garnies de branches depuis la base
forment un peuplement serré et de pénétration difficile. Insetos coleopteros.As fêmeas possuem órgãos luminosos que
servem para atrair o macho no vôo. (N.T.).
190
Vaga-lume  Gênero lampyris. Insetos coleopteros. As fêmeas possuem órgãos luminosos que servem para atrair o
macho no vôo. (N.T.).
191
Gave  Nome das torrentes dos Pirineus Centrais, entre o Pico d´Anie e o Marboré. (N.T.).
192
Alpes  Do Mediterrâneo à Áustria, os Alpes descrevem um enorme arco montanhoso de 1.200 km . Principais estações
de esqui: Megève, Val–d’Isère, Alpe-d’Huez, Lallagne. Há 9 parques naturais. (N.T.).
193
Monte Branco  Alpes franceses da Savoia, a montanha tem uma altitude de 4808 m, é o mais alto cume da Europa
Ocidental. O maciço estende-se sobre 45 km entre a França , a Itália e a Suíça. A floresta de carvalho, Faia, pinheiros e
epicea (tipo de pinheiro), vai até 2500 m. Após, somente, neve. Há um túnel, de 11,6 km, que sobe o Monte Branco que une
França e Itália. (N.T.).
194
Saint-Gervais-les-Bains  Estação termal – Le Fayet e de esportes de inverno com 807 m de altitude. (N.T.).
195
Oisans  Oisans-Alpes Dauphiné, Vale da Romanche Tourismo: Parque nacional dos Ecrins e estações de esqui. Alpe-
d’Huez, Les deus-Alpes e Bourg-d’Oisans. (N.T.).
196
Edelweiss  Em alemão, edel “nobre” e weiss “branco”. Flor da espécie Leontopodium Alpinum. Cor amarelo claro.
Também conhecida como Pata de Leão. (N.T.).
197
Egrinette —(N.T.).
198
Campainha — La campanule à feuilles rondes (Campanula rotundifolia) est une plante herbacée du genre des
Campanules et de la famille des Campanulacées.
199
Genciana  Família das gencian gentianacée, da qual fazem parte a pervenche? ... e o louro rosa. São muito conhecidas
graças ao licor e ao vinho produzidos com elas. Esse gênero possui cerca de 600 espécies. (N.T.).
200
Anêmona amarela  (de anémo-, cette fleur étant censée s'ouvrir au vent). Anêmona amarela gênero que agrupa cerca
de l25 espécies. Flores muito cultivadas em jardins. (N.T.).
201
Louro  [pl. lauriers-sauce]: espèce (Laurus nobilis) Arbusto cultivado por suas folhas aromáticas; utilizado como
condimento e como planta decorativa ( Máximo 7m ). (N.T.).
202
Orquídea  genre d'Orchidées agrupa cerca de 35 espécies da Eurásia e da África. A orquídea amarelo claro e a púrpura
são freqüentes nos Alpes. (N.T.).
203
Digitalis  genre de Scrofulariacées d'Eurasie Dedaleira. Dela se extrai, de suas pétalas, a digitalina ou ainda a
heterosidade. Suas plantas são usadas para ornamentação de jardins. (N.T.).
204
Meije  Cume cristalino dos Altos–Alpes no maciço de Oisans; 3983 m no Grande Pico do Meije.
205
Pelvoux  Maciço Cristalino dos Alpes do Norte ( Isère e Altos Alpes ). Faz parte do Parque Nacional dos Écrins. (N.T.).
206
Écrins (barre des)  Ponto culminante dos Alpes do Dauphiné, no maciço de Pelvoux, 4l03 m . Pertence ao Parque
Nacional dos Écrins, criado em l973, sobre 108.000 ha. (N.T.).
207
Maciço da Grande Cartuxa  Maciço da Grande Cartuxa. Maciço do pré Alpes do Dauphiné, entre Chambéry e
Voreppe, ao norte de Grenoble. O Pico de Chamechaude possui 2.082 m. Lá, está o monastério da Grande Cartuxa, fundado
por São Bruno, em l084. As edificações lá encontradas datam de l688. (N.T.).
208
As estrelas cujo distanciamento faz parece imóveis, se movem em todos os sentidos, em virtude de leis pouco
conhecidas. Os movimentos formidáveis levam cada lar sideral em um turbilhão infinito. Nosso sistema solar dirige-se com
grande velocidade para a constelação de Hércules205.1 e transpõe em 65.000 anos uma distância igual a que nos separa da
estrela mais vizinha de nós, α  do Centauro205.2. Nosso astro central é dos mais modestos sóis: Canopo205.3 e Arcturo205.4 o
superam em proporções assustadoras. Visto de suas superfícies, nosso ????? lar seria um o ponto imperceptível. (N.A.)
205.1
Hercules  Hércules. Constelação visível na primavera e no verão. Estrela principal α Herculis ou Ras Algethi (Rosto
do Suplicante), é uma gigante vermelha distante 700 anos – luz, grande como 680 diâmetros solares. (N.T.).
205.2
Centauro  Constelação austral que engloba Próxima Centauri, a estrela mais próxima de nós. (N.T.).
205.3
Canopo  Estrela alfa da Constelação da Carina. É uma super gigante branca, a mais brilhante do céu, após, Sirius
(magnitude aparente – 07 ). Distância: 550 anos-luz. (N.T.).
205.4
Arcturo  (grec arktouros, "o guardião dos ursos"). Étoile α de la constellation du Bouvier, l'une des plus brillantes du
ciel. Magnitude aparente: 0,05. Distancia aproximadamente. 36 A.L. (N.T.).
209
Segundo as observações telescópicas e a fotografia celeste, a ciência estabeleceu que nosso universo se compõe de um
bilhão de estrelas. Camille Flammarion209.1 crê que este universo não é o único. Nada prova que este bilhão exista só no
infinito e que por exemplo, não haja um segundo, um terceiro, um quarto e cem mil universos parecidos aos outros. Esses
universos podem estar separados por espaços absolutamente vazios, desprovidos de éter e consequentemente, invisíveis
uns aos outros. Parece que já conhecemos estrelas que não pertencem a nosso universo sideral. Podemos citar como
exemplo, Newcomb209.2, a estrela 1830 do catálogo de Groombridge209.3, a mais rápida cujo movimento foi determinado.
Avaliam-na 320000 metros por segundo e a força atrativa de nosso universo inteiro não pode ter determinado esta
velocidade. Segundo toda probabilidade, esta estrela vem de fora e atravessa nossos espaços como um projétil. O mesmo
pode se dizer na 9352 do catálogo de Lacaille209.4 e mesmo de Arcturo, a quarta estrela em grandeza das estrelas visíveis e
da α  de Cassiopéia209.5(Conferencia, agosto de 1906).
Acrescentemos que as potências da natureza são sem limite tanto na extensão quanto na duração. A luz que percorre
300.000 quilômetros por segundo, leva vinte mil anos para atravessar a via-láctea, formigueiro de estrelas do qual fazemos
parte. Essas famílias ou nebulosas são inúmeras e são descobertas novas todos os dias como por exemplo a segunda de
Orion, cuja extensão espanta a imaginação. Vivemos no absoluto sem limites, sem começo e sem fim. Ver também para
mais detalhes nota complementar número três ao final dessa obra. (N.A.).
209.1
Flammarion (Camille)  Flammarion, Camille, astrônomo francês, Montigny-le-Roi, próximo de Langres, l842 —
Juvisy-Sur-Orge, próximo de Paris — l925). Seu pai vivia do comércio de tecidos e de uma mercearia. Após 27 injustiças
de um sócio os Flammarions, arruinados, mudaram-se para Paris. Camille continuou em sua região, tendo o pensionato pago
pelo Cura de Langres e as despesas da escola custeadas pela professora da catedral. Chega a Paris, em l856, e, foi aprendiz
de escultor. O trabalho lhe permite seguir um curso à noite, na Associação Politécnica, e, também, escrever um estudo do
mundo primitivo, intitulado, modestamente, Cosmologia Universal, modificado em l885 para “O Mundo Antes da Aparição
do Homem”.
Após ter trabalhado com Le Verrier, no Observatório de Paris, Flammarion começou a trabalhar com o célebre mecânico
celeste Charles–Eugène Delaunay. Em l876, ele retorna ao observatório, e, dois anos, após, publica pesquisas sobre as
estrelas duplas. Ele, em vida, apresentou mais de 60 resultados de pesquisa.
Seu livro a Astronomia Popular, foi uma edição acessível a todos, ao preço de l0 centavos. Um ano, após, As Estrelas e as
Curiosidades do Céu, e Pequena Astronomia Descritiva. Ele visava vulgarizar a astronomia. Ganhou de Méret, seu
admirador, um observatório, em Juvisy-Sur-Orge. (N.T.).
209.2
Newcomb (Simon)  Matemático e astrônomo americano. Wallace — Nova-Escócia — l835 — Washington — l909. Il
définit les valeurs des constantes de précession et de nutation de la Lune et celles de la parallaxe solaire. (N.T.).
209.3
Catálogo de Groombridge The name by which A Catalog of Circumpolar Stars, compiled by the English astronomer
Stephen Groombridge (1755-1832), is commonly known. Groombridge began observations at Blackheath, London, in 1806,
and retired from the West Indian trade in 1815 to devote his full attention to the project. His catalogue, listing 4,243 stars
located within 50° of the north celestial pole and having apparent magnitudes (N.T.).g
209.4
Catálogo de Lacaille — Abbe Nicholas Louis de la Caille. 1713 — 1762. Compiled a catalog of 3 times 14 nebulous
objects. Of these, 8 or 9 are classified as non-existent in the older literature, although Vehrenberg gives a NGC number for
one of them. (N.T.).
209.5
Cassiopéia — Nome de uma constelação próxima do pólo norte celeste, com cerca de 30 estrelas visíveis a olho nu.
(N.T.). Hed humously in 1838.
210
Álamo (peuplier)  Populus alba. É uma árvore originária do oeste da Europa. Altura média 35 m. (N.T.).
211
Olmeiro (l'orme champêtre)  Árvore originária do norte da África. Pode viver cinco séculos. Altura máxima, 40 m .
Sua madeira possui lindo aspecto e durabilidade. (N.T.).
212
Ver Après La Mort, cap. IX. (N.A.).
213
Ver Christianisme et spiritisme, preuves experimentales de la survivance; Dans l’Invisible, e Le Problème de l’Être et de
la Destinée. (N.A.).
214
Orion  Constelação Equatorial, é a mais espetacular de todas. As duas estrelas mais brilhantes são, Betelgeuse e Rigel.
(N.T.).
215
Plêiades  Nome dado pelos antigos a um grupo de sete estrelas brilhantes da Constelação do Touro. Por extensão,
designa a aglomeração galática das quais, elas são as mais brilhantes. (N.T.).
216
Reno  Nascente na Suíça, faz fronteira com a Alsácia , a parte ocidental da Alemanha, e, passa pelos Países Baixos. O
eixo desse rio reflete uma realidade cultural e histórica. (N.T.).
217
Ródano  É o mais potente rio francês. Seu vale é uma das vias essenciais de circulação da Europa.
218
Danúbio  Em alemão, Donau, em tcheco e em croata Dunaj, em húngaro Duna, en servo-croata, em bulgaro e em
russo Dunav, em romeno Dunarea; do latim, Danubius).
Segundo rio europeu, após, o Volga, 2875 km . É o único que corre em direção ao oriente. Não apresenta unidade física.
(N.T.).
219
Volga  Rio russo, o mais longo da Europa, 353l km. (N.T.).
220
Vico (Giambattista)  Filósofo italiano. Nápoles — l668 — idem — l744. De Galileu, Vico reteve que só conhecemos
o que fazemos, nós mesmos. Crê que a Providência, é o motor oculto de uma história, a qual os poros colaboram. É
precursor do Século XIX, afirmando que a História é um fato, totalmente, humano. Ele usa a plologia para extrair
conclusões filosóficas e históricas. Kant, Comte, Heider, Hegel e Noce, reconheceram suas dúvidas para com Vico. (N.T.).
221
Bacon (Francis), lo. Barão de Verulam, lo. Visconde de Saint-Albans, jurista, filósofo e historiador inglês l56l —
Londres — id — 1626. Ele marca a ruptura com a visão escolástica do mundo e os preconceitos que não resistem à prova
das experiências. (N.T.).
222
Wordsworth (William)  Poeta inglês. Cockermouth – 1770 — Ambleside — 1850. Visto por seus contemporâneos
Coleridge e Carlile, como o maior poeta e o mais profundo filósofo de seu tempo. Atualmente, só apresenta-se na literatura
inglesa um número reduzido de poemas nostálgicos, taxados de didáticos e moralistas. Principais obras The Ruined Cottage
(1797) e Prelude. (N.T.).
223
Geração espontânea  Aristóteles distinguia Categoria de Seres Vivos: os que nascem de uma semente e os que
nascem da podridão. Idéia que subsiste até o Século XIX. O primeiro a recusá-la foi o italiano Francisco Redi e mais tarde
Pasteur, durante 5 anos prova para a Academia de Ciências que não há geração expontânea. (N.T.).
224
Pico de la Mirandola (João)  Em italiano, Giovanni Pico della Mirandola. Pico de la Mirandola. Humanista e filósofo.
Mirandola — 1463 — Florença —1494. Foi discípulo de Marsilio Ficini (l433 – l499). Filósofo irrequieto, com visões
exacerbadas, ele deu ao humanismo um significado especulativo, pois coloca o homem como o centro de toda realidade.
(N.T.).
225
Pascal (Blaise)  Filósofo, matemático e físico francês. Clermont-Ferrand — 1623 — Paris —1662. Autor da apologia
da religião cristã, conhecida sob o título póstumo de Pensamentos. Foi um dos grandes filósofos do século XVII cuja obra é
marcada por uma crítica radical ao racionalismo filosófico moderno: “O homem não passa de um caniço roseau, o mais
frágil da natureza, porém, é um caniço que pensa”. (N.T.).
226
Euclides  Em grego Eukleidês. Matemático grego. ? — ? — ? — 3a.C. Viveu antes de Arquimedes, na Cidade de
Alexandria. Principal obra: Os elementos, obra de referência para a história da filosofia. (N.T.).
227
Isis  Isis, irmã e esposa de Osiris e mãe do deus solar Horus. Seth, com ciúmes de seu irmão Osiris, o matou e jogou
seu corpo, em pedaços, no Nilo. Ajudada por Anubis Chacal, Isis se une a ele, gerando Horus, que terá por missão, vingar
seu pai. Isis é considerada a grande mágica, protetora de mães e crianças e guardiã dos lares. (N.T.).
228
Éleusis  Em grego moderno, Elefsima. Cidade grega a 20 km o oeste de Atenas. É um dos sítios sagrados da Grécia
antiga, local dos Mistérios. (N.T.).
229
Hades  Em grego, Haidês, “O Invisível”. Deus dos infernos, para os gregos, sempre confundido com Plutão. Ele é filho
de Cronos e Rea. (N.T.).
230
Teologia  Termo inventado por Platão (Discurso Sobre os Deuses), designar a parte da mitologia consagrada aos
deuses. Em seguida, foi usado para explicar, racionalmente, as crenças religiosas. Atualmente, o termo é usado, segundo
experiências eclesiásticas e culturais. (N.T.).
231
Escolástica  Engloba a totalidade do ensino dado nas escolas européias do Século IX até o Século XVII. Pode ser
entendida como: o ensino daqueles que subordinam a filosofia, a teologia e a razão a fé. No século XX , houve um
movimento neo-escolástico criado pelo Cardeal Mercier e por Jacques Maritain. (N.T.).
232
Guérin (Maurice de)  Poète français. Château du Cayla — près d'Albi — 1810 — id. — 1839). Ami de Lamennais, il
écrivit des poèmes en prose d'une beauté harmonieuse et sensuelle, qu'admira Baudelaire, et qui expriment un sentiment
païen de la nature (le Centaure, posth. 1840; la Bacchante, posth. 1861). Son journal intime, le Cahier vert, révèle
l'inquiétude de son esprit et la profondeur de sa vie intérieure. Avec sa sœur Eugénie âme intensément religieuse, qui
recueillit et publia ses écrits et laissa également un Journal, il échangea une correspondance passionnée. (N.T.).
233
Leibniz (Gottfried Wilhelm)  Philosophe et mathématicien allemand. Leipzig — 1646 — Hanovre — 1716. Le
philosophe mathématicien du Grand Siècle et de l'aube des Lumières a subordonné ses investigations à la recherche d'une
science universelle dévoilant éléments et structure, raison et processus, variété et unité, harmonie et beauté. Par la «mathesis
universalis», il faisait communiquer entre eux les mondes du fini et de l'infini, les sciences et les arts, la philosophie et la
religion. (N.T.).
234
Olimpo  Em grego, Olumpos, atualmente, Ólimbos. Situado entre a Tessália e a Macedonia, altura 2.9l7m. Na Grécia
Antiga, representava o reino dos deuses, tornando-se sinônimo de céu. Seis são os soberanos da la. Geração: Zeus,
Possêidon, Ares, Deméter, Hera e Hestia, aos quais se acrescentarão seis ou oito divindades da segunda geração, filhos de
Zeus, em sua maioria. (N.T.).
235
Hércules  Em latim, Hércules. Semi–deus romano, corresponde a Heracles dos gregos. (N.T.).
236
Apolo, Phébos ou Phœbos  Em grego, Phoibos “o Brilhante”. Filho de Teus e Leto, irmão gêmeo de Artemisa, era o
mais bonito dentre os 12 grandes deuses. Representou a Ciência, a Música e a Poesia. (N.T.).
237
Olímpia  Em grego Olumpia, hoje, Olimbia. Cidade grega a noroeste do Peloponeso, desenvolveu-se próxima às
ruínas do Célebre Santuário de Zeus Olimpiano. Lá, instalou-se em 776 a.C. os primeiros jogos olímpicos. Nesse templo
estava a mais famosa estátua da Antigüidade, esculpida por Fídias, a estátua criselefantina de Zeus (N.T.).
238
Júpiter ou Zeus  Júpiter. Deus supremo. É um deus do céu, da chama e dos raios. Ele é soberano e justiceiro. É o
Mestre do Universo. (N.T.).
239
Fídias  Em grego Pheidias. Escultor grego. Atenas — c. 490 a.C. — ? — c. 430 a.C. É considerado um dos maiores
escultores da Grécia Antiga. Sua obra marca o apogeu da arte ateniense do século V a.C., a idade de ouro da escultura ática.
(N.T.).
240
Messidor  Em latim messis, monção e em grego dôron, oferenda. Segundo mês do calendário republicano francês de l9
– 20 de junho a l8 – l9 de julho. (N.T.).
241
Colombo (Cristóvão)  Navegador de origem italiana. Gênova — 1450 ou 1451 — Valladolid — 1506. Primeira
viagem — Após negociações com os Reis Católicos de Espanha, Isabel e Fernando II de Aragão, ele descobre São
Salvador, Cuba e São Domingo;
Segunda viagem — Descobre o restante das Antilhas e volta sem ouro para a Espanha;
Última viagem. Explora a Costa de Honduras, porém, não encontra ouro. (N.T.).
242
Rafael  Em italiano Raffaello Santi ou Sanzio. Pintor e arquiteto italiano. Urbino — 1483 — Roma — 1520. É a
própria encarnação do Classicismo do Renascimento. Em Florença, ele compõe a Virgem no Campo (1506). Em Roma,
protegido por Julio II e Leão X, ele funda seu atelier. Realiza trabalhos para o Palácio do Vaticano, para a Capela Sistina e
para alguns outros mecenas. Como arquiteto, foi responsável, após, Bramante, pela reconstrução da Basílica de São Pedro.
Foi, também, um dos autores da conservação dos monumentos antigos de Roma. (N.T.).
243
Milton (John)  Poeta e panfletário inglês. Londres — 1608 — id. — 1674. Escreveu duas obras primas líricas, Alegro
e Penseroso (1632).Posiciona-se entre os maiores poetas épicos. Seu lirismo é rico de inspiração antiga, porém, percebemos
uma pesquisa constante de perfeição, de medida na expressão, de pureza de estilo. (N.T.).
244
Paraíso Pedido, O  Poema de John Milton, 1658. Associa à inspiração bíblica, uma forma clássica e pagã. Escreve,
em seguida, O Paraíso reconquistado (1662), a epopéia explora o Antigo Testamento. (N.T.).
245
Dante (Dante Alighieri, dito)  Poeta e humanista italiano. Florença — 1265 — Ravena — 1321. Viveu no centro de
profundas transformações históricas de sua época. Sua obra maior foi a Divina Comédia: Todas as paixões humanas estão
presentes nas 3 partes, com um realismo que se traduz pela capacidade de conduzir cada elemento da viagem fantástica a
uma interpretação histórico – social precisa bem mais do que uma representação do inferno e do paraíso. (N.T.).
246
Cícero  Em latim Marcus Tullius Cícero. Homem político, orador e escritor romano. Arpinum — 106 a.C. — Formies,
43 a.C. Marcus Tullius Cícero, recebeu educação de mestres latinos e gregos. Foi pretor e Cônsul de Haia. Em seus tratados
políticos procura unir política e judiciário a um fundamento filosófico, por essa visão, será um dos autores favoritos do
Século das Luzes. Como orador, ocupa posição de destaque graças à sua eloqüência judiciária e política. (N.T.).
247
Chateaubriand (François René, visconde de)  Escritor e homem político francês. Saint-Malo — 1768 — Paris —
1848. Viveu durante um dos períodos mais movimentados da história de França. Ele apresenta sua vida no prefácio de
Memórias do Além Túmulo: “Desde minha juventude até 1800, fui soldado e viajante; de 1800 a 1814, sob o Consulado e o
Império, tive uma vida literária; após a Restauração, passei à vida política”. Sua obra mais conhecida foi o Gênio do
Cristianismo (1802) obra apreciada por Bonaparte. (N.T.).
248
Sibilas (Livros)  Em latim, libri Sibyllini ou Fatales. Conjunto de oráculos sagrados confiados a um colégio cujos
padres farão a interpretação.
Sibilas (oráculos)  Antigüidade, Recueil de 14 volumes d'oracles d'origine grecque, mais d'inspiration judéo-chrétienne,
rassemblés à la fin de l'Antiquité. (N.T.).
249
Paulo  Apóstolo do Cristianismo, apóstolo dos gentios. Tarso — Cilicia, entre 5 e 15 aprox. a.C. — Roma — 67). Foi o
único dos apóstolos que não reconheceu Cristo. Deixou epístolas que são escritos canônicos sobre as quais a Igreja fundou
seu ensino doutrinal.
Judeu, nasceu cidadão romano. E se converteu ao Cristianismo. Foi um grande missionário. São Paulo deixa uma mensagem
aos homens: Somente o real amor tem a força da lei. (N.T.).
250
Jacó  Patriarca hebreu, filho de Isaac e Rebeca, é considerado o ancestral do povo israelita. Ele se casará com duas
filhas de Laban, Léa e Raquel. Terá 12 filhos que serão os ancestrais das 12 tribos de Israel.
251
Messias  Em hebreu, le terme «machiâh» désignait «l'oint», Messias. Na Bíblia, é uma designação para os reis de
Israel ou grandes padres. Após, refere-se aos profetas e depois O Enviado de Deus. A imagem de desenha em dois
conceitos: O primeiro é o de um rei glorioso, para estabelecer um reino de paz e justiça; o segundo é aquele que terá uma
missão espiritual, o servidor que sofre. (N.T.).
252
Gessen ou Goshen  Em grego Gesen. Antiga região situada a este do Gessen, delta do Nilo, onde séjournèrent les
Hébreux avant l'Exode. (N.T.).
253
Lineu (Carl von)  Naturalista sueco. Råshult — 1707 — Uppsala — 1778. Ele estabeleceu um método de classificação
dos vegetais. Foi o criador da nomenclatura binária, o nome científico das plantas e animais, se compõe de duas palavras
latinas designando o gênero e a espécie, podendo ter, também, o nome do descobridor da espécie. Ex.: A Rana Esculenta
Lineu ou a rã verde. (N.T.).
254
Concordata (A)  É uma ato diplomático usado pelo papado e pelo governo para regular relações e determinam juntos
as condições da vida da Igreja nesse país. São atos importantes, raros e solenes.
255
Brunetière (Ferdinand)  Crítico literário e universitário francês. Toulon — 1849 — Paris — 1906. Diretor da Revista
dos Dois Mundos (1893). Crê na superioridade da literatura clássica. (N.T.).
256
Haeckel (Ernst)  Biólogo alemão. Potsdam — 1834 — Iéna — 1919. Propagador do evolucionismo, reinterpretou
nessa perspectiva os dados embriogênicos e deles tirou sua “lei biogenética fundamental”. Ele seria o autor do termo
“ecologia”. (N.T.).
257
Poincaré (Henri)  Matemático e físico francês. Nancy —1854 — Paris — 1912. Foi professor de Claude Bernard. Fez
númerosos trabalhos sobre problemas circulatórios, sobre o calor animal e sobre o uso terapêutico das correntes de Alta
Freqüência e sobre o vácuo como isolante térmico com fins biológicos. Ele aperfeiçoou o telefone, interessou-se por vários
aparelhos para a prática médica. (N.T.).
258
Arsonval (Arsène d')  Physicien et biologiste français. La Borie — Haute-Vienne — 1851 — id. — 1940. Préparateur
de Claude Bernard, il devint professeur au Collège de France. Il est l'auteur de nombreux travaux, sur les troubles
circulatoires, sur la chaleur animale (il mit au point une méthode pour en mesurer la déperdition) et sur l'utilisation
thérapeutique des courants de haute fréquence (la darsonvalisation), enfin, sur l'utilisation du vide comme isolant thermique
à des fins biologiques (1888). On est également redevable à d'Arsonval de deux thérapeutiques nouvelles: celle des agents
physiques et celle des extraits organiques (en collaboration avec Brown-Séquard). En 1879, associé à P. Bert, il perfectionna
le téléphone dû à Graham Bell. Il s'intéressa également à l'automobile, à l'introduction des rayons X dans la pratique
médicale (meuble d'Arsonval-Gaiffe), au galvanomètre magnéto-électrique (galvanomètre Despiez-d'Arsonval, dont les
réalisations modernes ont longtemps conservé le principe). En 1881, il fut l'un des principaux animateurs du congrès
international des électriciens qui unifia le système des unités. (N.T.).
259
Colégio de França — Foi uma iniciativa tomada em 1529, por Francisco I, sob a inspiração do grande humanista
Guillaume Budé. (N.T.).
260
James (William)  Filósofo americano. New York — 1842 — Chocorua — New Hampshire — 1910. Mestre de análise
psicológica. É uma das grandes figuras do pragmatismo. Sustentou uma doutrina metafísica do “universo pluralista”. (N.T.).
261
Harvard (universidade)  O mais antigo colégio americano, fundado em 1636, por John Harvard em Cambridge,
Massachusetts. (N.T.).
262
Vitória Áptera, templo de Atenas Nikê  Próximo aos propileus, esse edifício em miniatura, foi realizado a partir dos
planos do Arquiteto Callicrates. Foi erguido em mármore pentélico, na entrada da Acrópole. (N.T.).
263
Ver 1789.(N.T.).
264
Mably (Gabriel Bonnot de)  Moralista, historiador e economista francês. Grenoble — 1709 — Paris — 1785. Foi um
adversário dos fisiocratas. Reformista, ele denunciou a propriedade privada como causa de injustiça e ociosidade. (N.T.).
265
Shakespeare (William)  Poeta dramático inglês. Stratford-on-Avon — 1564 — id. — 1616. Podemos distinguir em
seu teatro 3 períodos: a juventude 1590 – 1600, marcada por entusiasmo elizabetano, época das comédias e afrescos
históricos (A Megera Indomada, Romeu e Julieta; outro período (l600 – 1603), é o das tragédias alternadas com comédias
(Hamlet, Otelo, O Rei Lear), e, após, 1608, começam as peças romanescas (A Tempestade). Sua obra está entre as cinco
mais lidas, mundialmente. (N.T.).
266
Lucrécio  Em latim, Titus Lucretius Carus. Poeta latino. c. 91 a.C. — 55 a.C. Seu poema De natura rerum, tentava
introduzir no mundo romano o pensamento epicuriano. Nos seis livros que compõem essa obra, Lucrécio trata da teoria
atomista de Epicuro e de Demócrito, através dos temas sobre a psicologia, a cosmologia, a história da cultura e a explicação
dos fenômenos naturais. (N.T.).
267
Myers —
268
Lodge (Sir Oliver Joseph)  Físico inglês. Penkhull — Staffordshire — 1851 — Lake — 1940. Ele aperfeiçoou e
vulgarizou o cohéreum (aparelho sem–fio, de telegrafia), de Branly e efetuou, notavelmente, diversos trabalhos sobre a
propagação das ondas eletromagnéticas. (N.T.).
269
Pope (Alexander)  Poeta e ensaísta inglês. Londres — 1688 — Twickenham — 1744. Grande tradutor de Homero,
editor de Shakespeare. Compôs poemas filosóficos cujo mais célebre é Ensaio sobre o homem. (N.T.).
270
Loi d’airain : nom donné par Lassalle à la loi qui réduit, en régime capitaliste, le salaire de l’ouvrier au minimum vital.
271
Aristóteles, dito o Estagirita  Em grego, Aristotelês. Filósofo grego. Estagira — Macedônia — 384 a.C. — Chalcis,
322 a.C. Foi o principal fundador da tradição intelectual ocidental com Platão, seu mestre. Desenvolveu um corpo de
doutrinas que engloba todas as ordens do saber e da atividade humana de seu tempo. Ofereceu o modelo para a futura
sistematização e classificação do conhecimento. (N.T.).
272
Descartes (René)  Filósofo francês. La Sibyllière — 1596 — Estocolmo — 1650. Matemático e físico. Na matemática,
ele criou a álgebra dos polinômios, e, juntamente, com Fermat, a geometria analítica. Sua física mecanicista e sua teoria de
animais máquinas, serviram de base para a ciência moderna. O cogito “Penso, logo existo”, ou cogito ergo sum, em latim,
abre para a filosofia uma nova via. Ele prova, ontologicamente, a existência de Deus. (N.T.).
273
Newton (Sir Isaac)  Matemático, físico e astrônomo inglês. Woolsthorpe — Lincolnshire — 1642 — Londres — 1727.
Suas idéias revolucionaram o curso da ciência e o conceito que o homem tinha do mundo. Ele consagrou parte de sua vida
às pesquisas alquímicas e à especulações teológicas, que ele preferiu guardar em segredo. Seu trabalho criador abrange:
Inúmeros conceitos, quando matematiza os fenômenos da cor ou introduz a Lei da Gravidade Universal; a Síntese dos
Trabalhos de Galileu, Descartes e Huygens. (N.T.).
274
Mecânica  Science du mouvement des corps matériels, de ses causes et de ses effets, la mécanique constitue
certainement l'un des archétypes de la physique. Son origine se confond avec la naissance de l'intérêt que les hommes
portent aux phénomènes naturels, puis aux techniques qu'ils ont élaborées. À maints égards, l'évolution et les récents
développements de la mécanique sont exemplaires: sa systématisation, en particulier, est caractéristique du changement
profond qui marqua au XVIe siècle la naissance de la physique moderne.(N.T.).
275
Kant (Emmanuel)  Filósofo alemão. Königsberg — 1724 — id. — 1804. Sua doutrina abrange todos os campos do
pensamento e renova, totalmente, as perspectivas da antropologia, da metafísica, da lógica, da moral, e da estética. Sua
filosofia tenta responder a três questões: “O que posso saber?”; “O que devo fazer ?; “o que me é permitido esperar?” Ele
situa a razão no centro do mundo. A moral Kantiana diz que cada um é responsável pela humanidade, através da realização
tranqüila e cotidiana de suas tarefas. (N.T.).
276
Laplace (Pierre Simon, marquês de)  Matemático, físico e astrônomo francês. Beaumont-en-Auge — 1749 — Paris
— 1827. Bem jovem ingressou na Escola Militar, como professor de matemática. Suas pesquisas voltaram-se para a
astronomia e para as leis das probabilidades. Aplicou suas técnicas matemáticas ao estudo das órbitas e cometas. (N.T.).
277
Wolf (Max)  Astrônomo alemão. Heidelberg — 1863 — id. — 1932. Descobriu 228 asteróides, utilizando técnicas
fotográficas e, também, estereocomparador, inventado por ele. (N.T.).
278
Puiseux (Victor)  Astrônomo e matemático francês. Argenteuil — 1820 — Frontenay — 1883. Interessou-se pela
mecânica celeste e pelas aplicações dos trabalhos de Cauchy, nas funções algébricas. (N.T.).
279
Piobb (Pierre) — Conde Pierre Vincenti-Piobb. Paris — 1874 — id. — 1942. La véritable œuvre de Piobb, ce sont les
ouvrages qu’il a publiés sur l’occultisme. Il faut donc nous étendre un peu plus sur ce sujet. A ce propos, il n’est pas inutile
de signaler que l’on chercherait en vain sa signature dans les revues d’astrologie ou d’occultisme, sauf, toutefois, en 1935,
dans Votre Bonheur : il y donna une série de mémoires qui amusèrent et intriguèrent beaucoup le grand public. En dehors
de ces article, il n’a fait paraître que des livres sur des sujets ésotériques. (N.T.).
280
Procyon  Estrela α da Constelação do Cão Maior. É uma estrela dupla. Distância de 11,5 anos-luz. (N.T.).
281
Deneb  Em árabe, al Dhanab al Dajajah, “a cauda da galinha”. Estrela α da Constelação do Cisne. É uma
supergigante branca. Distância de 1.600 anos-luz. (N.T.).
282
Cisne  Constelação boreal, na Via Láctea, formada pelas estrelas Deneb, Beta do Cisne, Gama do Cisne e Epsilon do
Cisne. (N.T.).
283
Ursa  Nome de duas constelações próximas do Polo Norte Celeste. A Ursa Maior e Ursa Menor, ela, também, é
conhecida como a Constelação do Cocheiro. (N.T.).
284
Véga  Estrela α da Constelação da Lira. Distância de 26 anos-luz. (N.T.).
285
Pollux  Em grego Poludeukês. Estrela ß da Constelação de Gêmeos. É uma gigante vermelha. Distância de 35 anos-luz.
(N.T.).
286
Gêmeos  Constelação cujas principais estrelas são Castor e Pollux. (N.T.).
287
Bételgeuse  Estrela da Constelação de Orion. Distância de 520 anos-luz. (Seu nome vem da corruptela do árabe, Ibt al-
Jauzah, “l'aisselle du géant”.) Distância de 520 anos-luz. Ela é uma super gigante vermelha. Sua luminosidade é 10.000
vezes maior que a do nosso céu. (N.T.).
288
Navio — Argo Navis — Era uma grande constelação meridional. Foi dividida em Carina (quilha), Puppis (popa) e Vela
(velame); as designações de Bayer, entretanto, não foram mudadas, de modo que α e β estão em Carina, γ e δ em Vela, ε em
Carina, ζ em Puppis e assim por diante. Por outro lado, Pyxis, a constelação da Bússola, embora ocupe uma área que havia
sido considerada como os mastros do Argo, possuem designações de Bayer próprias.
289
Júpiter — L.D. se refere a oposição de Júpiter em relação ao Sol, colocando-se mais próximo possível da Terra que
ocorreu em 06 de junho de 1924. (N.T.).
290
Marte — A oposição de Marte ocorreu em 24 de agosto de 1924. (N.T.).
291
Ver C. Flammarion: Anuário Astronômico de 1925. É por obras do ilustre astrônomo que comecei a me iniciar na ciência
dos mundos, a mais bela de todas as ciências! (N.A.).
292
Ver Braille Magazine, 24 de agosto, segundo Revista “A Natureza”. (N.A.).
293
Hércules (constelação) — Hércules é a quinta maior das 88 constelações modernas. Era também uma das 48
constelações de Ptolomeu. Foi nomeada em homenagem a Hércules, um antigo herói grego.
Características notáveis — Hércules não possui nenhuma estrela de primeira magnitude.
Mu Hércules está a 27.4 anos-luz da Terra. O Apex Solar, isto é, o ponto no céu que marca a direção para onde o Sol está se
movendo em sua órbita ao redor do centro da Via Láctea está localizado em Hércules, perto de Vega, nas vizinhaças da
constelação de Lyra. (N.T.).
Objetos notáveis no céu — Hércules possui dois notáveis aglomerados globulares: M13, o aglomerado globular mais
brilhante no hemisfério norte, e M92.
294
Urbain Jean Joseph Le Verrier — Saint-Lô, 11 de março de 1811 — Paris, 23 de setembro de 1877 — Foi um
matemático e astrónomo francês especializado em mecânica celeste. Tornou-se conhecido pela contribuição à descoberta do
planeta Netuno. (N.T.).
295
Ver Capítulo 13. (N.T.).
296
Ver Revista Espírita de julho, último. (N.A.).

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