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No reino dos porquês

Educador defende a curiosidade da criança como o melhor currículo de ensino para se


praticar em casa e na escola
Fernanda Portela

Mal o filho nasce e os pais já começam a se preocupar com seu futuro.

Querem o melhor para ele em tudo: brinquedos, escola, professores, amizades. A melhor
educação possível para que a criança se torne um adulto bem preparado para a vida. E onde
está essa boa educação? "Na própria criança, na sua imensa curiosidade, no grande
laboratório que é sua vida dentro de casa", diz o mineiro de Boa Esperança, Rubem Alves,
69 anos, pai de três filhos, pedagogo, doutor em filosofia, psicanalista, autor de livros
infantis e de educação. Nesta entrevista a CRESCER, Rubem comenta idéias que estão em
seu último livro, Conversas sobre Educação (Verus Editora, 2003). Mostra como os pais
podem ser grandes mestres para seus filhos, sem se preocupar com teorias ou métodos
pedagógicos. "Eles só precisam participar do mundo da criança, se interessar e responder às
suas perguntas. Nessa convivência, sem hora para aprender, sem respostas certas, notas ou
provas, está o melhor currículo da educação", resume Rubem.

Você critica a escola porque diz que ela se dedica ao ensino das respostas certas e isso
é fatal para a curiosidade das crianças, justamente o que as motiva a aprender. Como
os pais podem aproveitar melhor essa curiosidade dos filhos?

Educar é provocar perguntas. São elas que desafiam a inteligência. Por 70 mil anos, antes
de haver escolas, os pais ensinaram de forma competente seus filhos. E qual era o
"programa"? A vida. Não havia prova nem notas. As situações vividas provocavam o
aprendizado de forma natural. Agora, com a correria da vida moderna, os pais
"terceirizaram" a educação. Contrataram as escolas para educar. Uma das minhas pacientes
me dizia outro dia: "Eu não tenho tempo para educar a minha filha". E eu respondi: "Eu
nunca eduquei os meus filhos". "Mas como?", ela perguntou admirada. "Eu só vivi com
eles", respondi. Porque é nessa convivência que a criança faz perguntas e aprende o que
interessa. Só a casa já é um imenso laboratório para ela.

De que forma?

Eu escrevi um artigo com o título Casas Que Emburrecem. A casa que emburrece é aquela
toda certinha, em que tudo está no lugar, não tem fechadura para consertar e a criança não
tem permissão para fazer suas explorações. Mas a casa que provoca a inteligência é cheia
de tranqueiras, livros, revistas, ferramentas, jogos, quebra-cabeças, livros de arte, objetos
inúteis que provocam a curiosidade da criança. Casa que é laboratório, em que a criança vai
aprender sobre química na cozinha, por exemplo. Elas adoram cozinhar porque gostam de
brincar com o fogo, e assim conhecem os alimentos e suas propriedades, podem viajar pelo
mundo da culinária chinesa, italiana, francesa, pernambucana. Numa casa se estuda
história, pois cada objeto tem uma história. Estuda-se biologia, porque a vida se encontra
em todos os lugares, até nos fungos.

Mas tudo isso não exige mais tempo com os filhos?

Não é uma questão de tempo, mas de interesse. Os pais abandonaram o mundo das
crianças. Perderam a capacidade de fazer perguntas, deixaram de se fascinar pelo que vêem.
Chegam do trabalho cansados, vão assistir à TV e os filhos vão dormir e acabou. E com
isso eles perdem os filhos. Num domingo, eu fui a um parque e vi uma cena que me deixou
triste. Era um pai com uma filha. Ela estava no balanço e o pai a empurrava
automaticamente com a mão esquerda e com a mão direita segurava o jornal que lia.
Pensei: esse pobre diabo ainda vai se arrepender amargamente por ter considerado o jornal
mais importante do que a filha. Um dia esse balanço vai estar vazio... São oportunidades
como essa que os pais não devem deixar escapar. Nesses momentos é que podem surgir
aquelas perguntas de criança: Por que a borboleta voa? Por que o céu é azul e não
vermelho? Por que a água fervente amolece a cenoura e endurece o ovo? São coisas
interessantes não só para a criança, para os adultos também.

Os pais têm que entrar na brincadeira?

A questão toda é que os pais deixaram de ser crianças. O que faz a criança não é tanto a
brincadeira, é a curiosidade. Nietzsche, meu filósofo preferido, dizia que o mais alto grau
de maturidade que um adulto pode atingir é quando ele recupera a seriedade que tinha ao
brincar na infância. A brincadeira da criança é muito séria, assim como suas perguntas. E,
se os pais não sabem resolvê-las, é uma maravilha dizerem: "Meu filho, não sabemos, mas
vamos investigar". Assim a criança vai aprender que os pais não sabem tudo, mas que vão
tratar de saber: "Nossa, mas como é que você faz essa pergunta? Que fantástico! Vamos
tentar descobrir". Aí os pais vão ensinar para o filho a delícia que é pesquisar. Procurar nos
livros, navegar na Internet para satisfazer uma curiosidade. Hoje os saberes se modificam
rapidamente e o principal é saber pesquisar. Mas, para que tudo isso seja divertido, é
absolutamente essencial que os pais se interessem pelas perguntas de seus filhos e que as
crianças percebam que eles não são detentores da verdade. Assim podem ser amigos,
compartilhar as descobertas.

Esse aprendizado não pode gerar conflitos com o que a criança aprende na escola?

O conflito faz parte do aprendizado. Vou dar um exemplo. Minha filha estava no primário -
eu ainda falo primário, mas agora é ensino fundamental. Ela tinha dificuldades com um
problema de matemática. Fui tentar ajudá-la e comecei a fazer um raciocínio diferente. Ela
disse: "Não, papai, tem que ser do jeito da professora". Eu argumentei que há muitos
caminhos para se chegar a um determinado lugar, mas ela insistia no caminho da
professora. Estabeleceu-se um conflito. Não consegui ensinar a matemática. A professora
triunfou, mas até hoje minha filha é ruim de matemática.

O que você aprendeu com essa experiência?


É o que estou sempre tentando transmitir aos pais e professores: que o aprendizado se
revela na capacidade que tenho de fazer alguma coisa e não repetir respostas. Aprendi a
fazer uma moqueca quando faço uma moqueca, aprendi a ler quando consigo ler. É uma
competência ligada a uma necessidade da vida. Agora, esse saber que é pedido no
vestibular não dá competência alguma.

Mas é o que ensina a escola...

Nesse assunto, já disse e vou repetir: Os pais, hipnotizados pelo vestibular, tornaram-se os
maiores inimigos da educação. Só querem que os filhos passem no vestibular. Não querem
saber o que aprendem. Pode imaginar um adolescente que vive em uma zona de violência
tendo que aprender quais são as enzimas que entram na digestão? O que ele faz com isso?
Perde o interesse em aprender e quer simplesmente o diploma. Outro dia eu via umas
tirinhas do Calvin. O pai o repreendia por causa de suas notas baixas. "Você precisa
estudar!", diz o pai. E Calvin: "Eu não quero estudar". "Mas você gosta tanto de ler sobre
dinossauros", observa o pai. "É, eu gosto", diz Calvin. "E por que você não gosta de ler na
escola?", pergunta o pai. "Porque lá não tem livro sobre dinossauro". É tão óbvio. Na escola
não tem as coisas que interessam as crianças.

Por que a educação ficou assim?

Porque os adultos abandonaram o mundo das crianças. Aí tudo fica chato e elas começam a
perder a curiosidade que motiva a aprender, o encantamento natural que têm com todas as
coisas. Com a concha vazia do caramujo, a teia de aranha, o arco-íris. Dessas experiências
da vida vem a curiosidade e o aprendizado. E ser curioso não tem fim. É uma coceira que
dá na cabeça e faz a gente viajar em todas as direções.

Como saber se o filho está numa boa escola?

Para mim, só existe um critério: se a criança sente alegria em ir à escola, se sente saudade
de lá. Porque aprender é muito divertido e é só com prazer que se aprende. Aprendizagem
sofrida é logo esquecida.

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