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UNIVERSIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DO ESTADO

E REGIÃO DO PANTANAL - UNIDERP

AMANDA OLIVEIRA DE MELLO MELONI


JULIANA JACOB MACEDO

OBCECADOS PELA BELEZA – A vida dos anoréxicos e


bulímicos de Campo Grande

CAMPO GRANDE – MS
2008
2

AMANDA OLIVEIRA DE MELLO MELONI


JULIANA JACOB MACEDO

OBCECADOS PELA BELEZA – A vida dos anoréxicos e


bulímicos de Campo Grande

Livro-reportagem apresentado como


exigência para conclusão do Curso
de Graduação em Comunicação
Social, habilitação em Jornalismo,
oferecido pela Universidade para o
Desenvolvimento do Estado e da
Região do Pantanal - UNIDERP sob
a orientação do Prof. MSc. Clayton
Wander Nascimento de Sales.

CAMPO GRANDE - MS
2008
3

Dedicamos...

Aos nossos familiares por serem as razões


do nosso trabalho e esforço, pela
compreensão e principalmente por acreditar
na gente, sempre nos dando ajuda nos
momentos mais difíceis.
4

AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar queremos agradecer a Deus, por iluminar nossos


caminhos e nos auxiliar na conclusão de todas as etapas deste trabalho.
Ao professor mestre Clayton Sales, pela orientação, paciência para
conosco, principalmente por nos agüentar em tantos devaneios e por ter sido
fonte de nosso aprendizado e conhecimento.
Aos professores que fizeram parte de nosso caminho e aprendizado
durante o curso de Jornalismo e que contribuíram de alguma maneira para que
hoje chegássemos onde estamos hoje.
Aos todos os nossos amigos, pela compreensão e por nos terem nos
entendido e ajudado muito neste momento tão importante de nossas vidas.
E por fim, aos nossos pais que sempre confiaram no nosso potencial e
acreditaram na gente, sempre nos dando apoio, incentivo em todos os
momentos da nossa vida, principalmente esses quatro difíceis anos de
faculdade.
5

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.....................................................................................................6

PRIMEIRA PARTE – Beleza e vaidade – “Antigas Buscas”


 Capítulo I - Beleza e vaidade – “Antigas Buscas”...............................14
 Anorexia: Busca excessiva pelo corpo ideal........................................18
 Bulimia: Medos e exageros..................................................................20

SEGUNDA PARTE – Depoimento das vítimas de anorexia e bulimia


 Anorexia X bulimia: quem ganha e quem perde neste round ?.........24
 Capítulo II – Jovem é feliz mesmo tendo bulimia................................28
 Capítulo III – Anorexia X Mundo da Moda ..........................................34
 Capítulo IV – Jovem distorcia sua imagem a se ver no espelho........41
 Capítulo V – Gravidez x Anorexia e bulimia ......................................46
 Capítulo VI – Paixão platônica leva jovem ao mundo da anorexia ....52
 Capítulo VII – Garota vomita para ser que nem a Barbie ..................57

TERCEIRA PARTE – Relato dos especialistas


 Psicologia o primeiro passo para o tratamento ...................................64
 Psiquiatra não trata só loucura ............................................................68
 O prazer aliado ao cardápio balanceado ...........................................70
 Desordem alimentar pode ser tratada .................................................74
 O movimento x prazer de ser saudável ...............................................78

CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................82

REFERÊNCIAS.................................................................................................86

ANEXOS

Anexo I
 Remédios de anorexia e bulimia..........................................................91
 Remédios usados.................................................................................91
6

 Tipos de Tarjas.....................................................................................92
 Algumas Recomendações....................................................................93
 Auto-medicação....................................................................................94
 Cuidados especiais..............................................................................95
 Dados da receita médica......................................................................95

Anexo II
 Fotos de Anoréxicas e Bulímicas.........................................................97
7

Introdução

Anorexia e Bulimia foi o tema escolhido para o nosso livro-


reportagem. A justificativa principal da escolha foi para que fosse
melhor divulgado e houvesse melhor compreensão da sociedade e
dos jovens e suas famílias sobre essas doenças. Neste trabalho,
abordamos histórias desde a pré-adolescência até a vida adulta de
pessoas que têm ou tiveram algum ou os dois transtornos.

Segundo Lima (1993, p. 7), diante da dissipação de fatos no


jornalismo, o livro-reportagem se materializa como um veículo de
comunicação bastante próprio, que dinamiza e trabalha com uma
série de possibilidades na grande reportagem, aumentando o
conhecimento, aprofundando um tema, de uma forma como não é
tratado nos jornais diários.

A proposta de escrever um livro sobre anorexia e bulimia se


explica no papel do jornalismo de registrar fatos e histórias. É
imprescindível escrevê-lo para mostrar que mais de um milhão de
pessoas, tanto homens quanto mulheres no mundo, entre 10 e 45
anos, sofrem de anorexia e/ou bulimia. Não esquecendo que o nosso
desafio é, também, mostrar o que são essas doenças, como
começam, de onde vieram, quais as causas e os tratamentos. Tudo é
claro, baseado principalmente, nas histórias de vida dos jovens
entrevistados.

De acordo com Lopes (2003, p. 174), anorexia é muito mais


comum em mulheres adolescentes que em homens. Comenta:

Trata-se de uma doença causada pela perda deliberada de peso do paciente.


È mais comum no sexo feminino, sobretudo durante a fase da adolescência;
porém, pode aparecer em mulheres e homens, independentemente da idade.
Essa perda de peso, não é resultado da falta de apetite, mas é causada pelo
8

fato de negar a alimentação. Normalmente o paciente cisma com uma parte


do corpo, o que o faz se enxergar sempre gordo, embora, por vezes, esteja
no peso certo, ou até abaixo, desencadeando a chamada distorção da
realidade [...].

Anorexia tem vários conceitos e um deles, de acordo com o site


“UOL Boa Saúde”, tem a ver com o hipotálamo, que controla o sono,
o apetite e a temperatura corporal. Então, segundo a página, a
anorexia “a origem da síndrome é hipotalâmica, mas, se essa
disfunção hipotalâmica é um problema primário ou secundário à
perda de peso, ainda não está totalmente esclarecido”. Já a bulimia,
de acordo com o dicionário Houaiss, é o “distúrbio do apetite
caracterizado por episódios incontroláveis, chamados de acessos de
hiperfagia, que, independentemente da anorexia nervosa, ocorrem ao
menos duas vezes por semana durante três meses ou mais”.

No mundo inteiro, independentemente de raça, credo, cor ou


qualquer outra característica física, adolescentes que querem chamar
atenção para si ou que se consideram fora do contexto social onde a
sociedade valoriza indivíduos em contrário dos obesos, param de
comer e acabam chegando aos extremos da anorexia e da bulimia: a
morte. Foi observando a desinformação da sociedade sobre esse
tema, que se justificou a intenção de produzir um livro-reportagem –
que é uma grande reportagem aprofundada sobre um tema livre, de
interesse público – para que, assim, possamos esclarecer à
sociedade, sobre a importância dessas patologias, fazendo com que
isso de alguma maneira possa contribuir para evitar mais mortes de
crianças, jovens e até adultos, que possam vir a ter ou os até mesmo
os que já apresentam esses distúrbios.

Escrever um livro sobre o tema permite uma maior liberdade de


escrever. A forma como será descrito no texto tende a passar uma
maior compreensão da origem da doença e a obsessão pela beleza,
relatando alguns acontecimentos. É importante transmitir às pessoas
9

que não presenciam essas tragédias, essas doenças, o fato, a emoção


e dramaticidade, que não são mostrados pela televisão.

Historiar um livro-reportagem é registrar uma grande e boa


reportagem. Devido a isso, o jornalismo literário é a forma que mais
nos atrai, pois não se tem um lead no primeiro parágrafo, como nas
matérias jornalísticas, mas todas as seis perguntas básicas e
essenciais para um bom texto como: O que? Por quê? Como? Onde?
Quando? Quem? e até Quantos? vão estar distribuídas durante todo o
texto a ser desenvolvido.

Essa forma de jornalismo literário zela por tentar atrair o leitor,


por meio de uma linguagem diferente, longe das frases mecânicas e
frias utilizadas no jornalismo diário. Dessa maneira, o jornalismo
literário torna-se um instrumento mais ativo do que a escrita do
jornalismo cotidiano, já que um livro-reportagem é um material mais
extenso. Ao contrário, deve dar informações de uma forma mais
simples, acessível e eficaz, unindo o aprofundamento dos fatos com
uma exposição que explore “pontos” diferenciados, focados nos
personagens e nos acontecimentos.
A descrição dos ambientes, das feições, dos gestos,
sentimentos que demonstram ansiedade, desconforto, liberdade de
falar dos entrevistados foi feita de forma literária, com um texto solto
e dinâmico, para que não fosse cansativo, e que qualquer pessoa
entenda o que desejamos passar. Além disso, há várias fotos,
desenhos e figuras retratando as doenças.

Tomando o jornalismo como o processo de divulgação contínua


de fatos, histórias, acontecimentos para a sociedade, mostrando que
determinados problemas podem ser entendidos, resolvidos ou
prevenidos, é que se justifica a escolha do tema e o formato de
apresentação do nosso trabalho.
10

O livro-reportagem é o exercício de escrever literariamente uma


grande, extensa e detalhada reportagem na forma de livro, de forma
diferente de todos, ou seja, ativo, bastante individual, pessoal, às
vezes, sobre algo polêmico, e que segue algumas regras na hora de
escrever. Lima (1993, p. 7) avalia de uma forma mais abrangente o
conceito:

Livro-reportagem é um produto cultural contemporâneo bastante peculiar.


Mais que simples repetidor de padrões e formas de praticar a comunicação
jornalística com o público esse veículo renova e dinamiza principalmente
quando trabalha, com todo o seu arsenal de possibilidades, a grande
reportagem.

De acordo com o dicionário Aurélio, “livro” significa publicação


não periódica impressa, com no mínimo 49 páginas, excluídas as
capas, e “reportagem” significa a cobertura de um acontecimento. A
verossimilhança também está contida no texto de Lima (1993, p. 8),
que diz: “Um livro, você sabe, é a publicação não periódica que reúne
um conjunto de folhas, geralmente impressas, formando uma unidade
individualizada, cujos símbolos identificados por excelência são um
título e uma capa especifica”.

Para que possamos entender o livro-reportagem, é preciso


apresentar algumas características dele, que o conceituam de uma
forma simples e fácil de ser entendida. O livro-reportagem nem
sempre procura tratar de um tema atual, fugindo dos conceitos
antigos e padrões do que chamamos de jornalismo “cotidiano”. Além
disso, o texto de uma reportagem solta, rica em detalhes, que não
seja rebuscado, mas de uma linguagem acessível, agradável e de um
jeito que prenda e conquiste o leitor a querer ler mais e mais, não
deixando o livro ser repetitivo e cansativo, viajando no mundo do
autor.
Lima (2003, p. 143) ainda cita o jogo do aprofundamento e o
fato da escrita ser leve e solta, atraindo o leitor:
11

O jogo consiste em captar o leitor, atraí-lo do seu mundo mental e


emocional, cativá-lo para abstrair-se – do momento da leitura, ou nos
momentos dos diversos segmentos que constituem a leitura de ma obra
escrita – desse mundo, em alguma medida, para o mergulho no universo
particular contido, representativamente, no livro. Por associações de idéias,
memórias, identificações e projeções – nos níveis intelectuais, emocionais -,
o leitor pode sentir-se algo familiarizado com o mundo contido no livro,
inclinando a penetrá-lo.

O livro-reportagem traz grandes vantagens ao seu leitor. Além


de contar uma história atual, ou seja, um tema que seja de interesse
público, e além de ser um texto solto, ele faz com que o leitor
navegue no conhecimento daquilo que se pode dizer moderno, ou
presente na nossa sociedade, como é explicado no texto de Lima
(1993, p. 7): “[...] Recuperando para o leitor a gratificante aventura
da viagem pelo conhecimento da contemporaneidade”. Contudo, o
texto tende a misturar história, literatura e jornalismo, dando a idéia
da informação.

Resolvemos abordar mais a frente como foi o nosso processo de


pesquisa e de entrevista com os nossos entrevistados bulímicos e
anoréxicos. Foi um processo longo. Primeiramente entramos em
contato com eles via MNS e ORKUT para ver quem poderia contar
suas histórias. Chegamos a ter pessoas fora do Brasil querendo nos
dar seus depoimentos.

Depois de sabermos um pouco sobre todas as histórias,


conversamos entre nós para decidimos quais seriam os nossos
entrevistados. Depois de muita conversa, chegamos a conclusão de
que seria interessante mostrar que jovens de Campo Grande também
tinham essas doenças.

Assim que decididas, resolvemos abordar nossos entrevistados.


Demoramos três semanas para convencê-los a contar suas histórias e
fazer com que eles tivessem confiança em nós para darmos
prosseguimento as nossas entrevistas. Posteriormente, para
12

podermos fazer as entrevistas levamos aproximadamente mais três


ou quatro semanas até finalizarmos as nossas histórias.

Quanto mais o autor tiver acesso a dados, tanto na hora de


escrever informações importantes para o seu livro-reportagem, mais
completo, amplo e cheio de detalhes, melhor será para o seu leitor
que vai ter mais conhecimento sobre o tema abordado, que também
é desconhecido pelo leitor. Por isso, a atração do leitor pelo tema.
Diante disso, Lima (2004, p. 40) afirma que “o aprofundamento
extensivo, ou horizontal, quando o leitor é brindado com dados,
números, informações, detalhes que ampliam quantitativamente sua
taxa de conhecimento do tema”.

A construção de uma grande e bem feita reportagem precisa


passar por alguns processos até chegar na hora de escrever. O fator
principal e importante do texto no livro-reportagem é a fluência, ou
seja, aquilo que é natural, espontâneo e fácil, juntamente, com aquilo
que produz o efeito desejado pelo autor, cumprindo a tarefa do
jornalista que é de informar.

No texto da reportagem, o autor não precisa dar sua opinião,


caso não queira, e pode ser escrito tanto na primeira pessoa e, em
seguida, pode mudar para a terceira pessoa, desde que não atrapalhe
o andamento do texto e seu ritmo, e a ordem das cenas a serem
descritas.

O objeto básico e importante no jornalismo é o acontecimento,


a história, fazendo com que o jornalista resuma os fatos mais
relevantes para a sociedade. Caso o tema precise de uma
abrangência maior, como no livro-reportagem “Obcecados pela
beleza – a vida dos anoréxicos e bulímicos de Campo Grande”, é
necessário mostrar a realidade sob diversos aspectos.
13

Para ilustrar mais, sobre o jornalismo e o autor, Lima (1993, p.


10) descreve:

O instrumento básico para o relato jornalístico é a notícia, forma de


comunicação que condensa a reprodução dos fatos sociais. Mas como a
temas que requerem abordagem mais ampla, o jornalismo desenvolveu, ao
longo do tempo, uma forma de mensagem mais rica, cujo teor procura
redimensionar a realidade sob um horizonte de perspectivas onde não são
raro existem várias dimensões dessa mesma realidade.

O livro-reportagem, juntamente com o jornalismo, possui alguns


aspectos interessantes e vantajosos que outros não têm como o
poder de detalhar os acontecimentos, de um tema, de uma história.
Esse veículo proporciona a escrita em equipe ou individualmente. Ele
também não exige periodicidade, não se limita a ficar preso à
quantidade de linhas, nem com o “lead” ou com o relato dos
detalhes, ou das informações mais importantes no primeiro
parágrafo, como toda regra de um texto jornalístico. Lima (2005, p.
18) verifica a participação do jornalismo da escrita no livro-
reportagem:

É a ampliação do relato simples, raso, para uma dimensão textual. Em


especial, esse patamar de maior amplitude é alcançado quando se pratica a
grande reportagem, aquela que possibilita o mergulho de fôlego dos fatos e
em seu contexto, oferecendo, seu autor ou aos seus autores, uma dose
ponderável de liberdade para escapar aos grilhões normalmente importantes
pela fórmula convencional do tratamento da notícia, com lead e com as
pirâmides.

A vantagem desse aprofundamento no tema é, além do melhor


conhecimento, a ida ao resgate do passado, a compreensão do
presente e as possibilidades do futuro. Esse trecho é amplamente
explicado por Lima (2004, p. 45) “[...] pode o livro-reportagem
escapar do passado, embora mergulhe nele, focalizar o presente, mas
também avançar ao futuro, antecipando a continuidade do atual,
mediante seus desdobramentos, no que virá a ser”. Esse tipo de
mídia só consegue aproximar o leitor da realidade, quando o escritor
sugere uma viagem aos princípios ou padrões sociais aceitos ou
14

mantidos por um indivíduo, mostrando as realidades de forma clara e


objetiva.

O autor pode ser observador-participante, que é aquele que, ao


mesmo tempo, observa e participa, tentando compreender os
comportamentos. Pode escrever sobre algo que aconteceu, acontece
ou pode acontecer, caso haja interesse, informando a todos e
orientando sobre algum acontecimento do mundo.

Quando os escritores tiverem passado por todos esses


processos, ele pode começar a escrever seu livro-reportagem. Após o
livro ser escrito, vem o processo final da edição, que inclui o projeto
gráfico, a correção do texto, a capa, a diagramação, a escolha das
fotos, o título do livro, entre outros.

Lima (1993, p. 34 - 37) consegue ser mais objetivo, quando


ressalta:

A construção da grande reportagem passa pelas etapas de pauta, captação,


redação e edição. A pauta, ponto de partida, roteiro e banaliza-guia da
produção da reportagem nasce mais solta na forma de livro porque o autor
normalmente não se encontra preso à periodicidade que escraviza o ritmo de
trabalho nas grandes redações. [...] O instrumento por excelência da
captação é a entrevista. E esta pode ser mais interativa e esclarecedora do
que normalmente se pratica na imprensa [...]

Medina (1995, p. 93) ainda hierarquiza tudo até a finalização do


trabalho do autor, que está escrevendo o livro-reportagem:

Reportagem – Todo o trabalho de campo, desenvolvido na captação de


informações. Ai se incluem pautas, levantamento de dados, no arquivo da
empresa jornalística (pesquisa), atividade do repórter através da sua
observação do acontecimento e através das entrevistas que a realizam.
Especificamente se identificam como reportagem já editada uma matéria
mais ampla e mais complexa que a notícia.

Escrever um livro sobre um tema polêmico não é fácil, mas


denominamos como um desafio a ser cumprido. Este livro foi
necessário ser escrito para que abordemos todos os conceitos da
15

beleza e que a obsessão por ela leva a essas doenças de hoje em dia.
É com ele que poderemos demonstrar isso em detalhes, de forma
mais solta, dinâmica e com fotos, para que o leitor saiba mais sobre
esse tema que não é tão divulgado quanto deveria ser.
16

Primeira Parte – Beleza e


vaidade – Antigas Buscas
17

CAPÍTULO 1: Beleza e vaidade – “Antigas Buscas”

Quando eu entro na história o roteiro é só pra mim


Não agüento essa história que não quer me ver assim
Poderosa, Preciosa, generosa até demais
Minha imagem dá o brilho no cenário dos mortais

Quando eu chego nos lugares viro o centro da atenção


Umas morrem de inveja, outros morrem de paixão
Poderosa, Luxuosa, caridosa até demais
Com esse mundo tão cafona limitado dos mortais
Meu nome é Vaidade
Não nasci pra Amélia

Eu não quero saber quanto é


Vaidade é pra quem pode
Vai dizer que você não quer?

(Vaidade – Luciana Mello)


Composição: Desconhecido

Segundo o dicionário Houaiss, a palavra “beleza” vem do latim


belleza que significa qualidade, propriedade, caráter ou virtude do
que é belo; manifestação característica do admirável.

Por isso, não é necessário ir muito longe para ver como as


pessoas são capazes de ficar horas e horas em frente a um espelho,
seja se maquiando, penteando o cabelo ou até mesmo vendo em que
parte do corpo tem gordurinhas que precisam ser liberadas.

Muitos acreditam que a indústria da vaidade começou a existir


há pouco tempo, pois, o “vício” das pessoas de quererem ficar cada
vez mais vaidosas, já vem de longas décadas.
18

Isso pode ser percebido através dos estudos que vêm sendo
feito ao longo dos anos, mostrando que o ser humano continua se
cuidando cada vez mais, principalmente da aparência, por ter medo
de não ser aceito pela sociedade. Aliás, quem não adora ficar horas
em frente ao espelho se produzindo?

Acessórios como escovas de cabelo, pintura para o rosto


existem desde o Egito Antigo. A beleza e a estética sempre foram os
principais utensílios para saber quais são os sonhos das mulheres e
homens. Nas tribos da Birmânia - localizada entre a China e a Índia –
as mulheres, por exemplo, para serem consideradas belas pela
sociedade em que elas vivem, têm o costume de alongar seus
pescoços usando como instrumento argolas de cobre.

Aqui no Brasil, as indígenas têm o hábito de utilizar o “puxo”


(ato ou efeito de alongar), pois elas fazem isso para aumentar as
partes do corpo como, por exemplo, a orelha, os lábios e outras
diversas partes do corpo. As mulheres brasileiras também são
capazes de fazer tratamento para ficar mais jovem, ou deixar tudo
em cima, como tirar as rugas, colocar bótox, assim como colocar
silicone, entre outros.

crédito: netviagens.com crédito:Estivaltur.pt


19

O padrão de beleza ao longo da história jamais se manteve


estável, estando sempre em constante mudança. Até a algum tempo
atrás, a beleza era mostrada por meio de pessoas que às vezes eram
magras e outras vezes gordinhas. Isso dependia muito da moda e da
época.

A busca pela magreza ou corpo ideal, não é o objetivo principal


só da sociedade na qual nós vivemos nos dias de hoje. Isso vem de
longas décadas. O diferencial entre as épocas é o grau de
importância que hoje é dado com relação à beleza.

Ultimamente, muitas mulheres fazem qualquer coisa,


principalmente para se tornarem magérrimas e ser consideradas mais
saudáveis, flexíveis para poder realizar atividades, no qual muitos
ainda acham que os gordinhos não podem praticar, por não ter essa
capacidade física que a sociedade acha que os magros têm.

É importante fazer um retrospecto para vermos onde e desde


quando a beleza surgiu e qual o grau de importância era dada em sua
devida época, já que a mesma veio aumentando de geração em
geração.

O histórico do belo começou lá na Grécia Antiga, onde a beleza


começou a ser observada por causa dos objetos que na época eram
considerados exuberantes e decoravam o ambiente, como pinturas e
esculturas. Platão e Aristóteles complementavam-se, mostrando a
completa simetria e estrutura da beleza nas artes.

Na Idade Média, a intenção de estudar a estética surgiu


independente de outros ramos filosóficos. Depois, com o filósofo
alemão Alexander Gottlieb Baumgarten com o qual designou a ciência
que trata do conhecimento sensorial que chega à apreensão do belo
e se expressa nas imagens da arte, e em 1750, com Immanuel Kant,
20

outro filósofo alemão é que designou uma ciência de estudo do belo e


da beleza no âmbito geral, como das formas físicas e nos objetos.

Já no Brasil, Ariano Suassuna, dramaturgo, romancista e poeta


brasileiro, em sua obra “Iniciação a Estética”, trabalha de forma
curiosa com o que é considerado bonito e feio, e onde isso chegaria e
quais os problemas que poderiam causar.

Nos séculos XV, XVI e XVII, as pessoas eram definidas da cintura


para cima como um corpo esteticamente bonito, esguio, ou como
dizem nos dias de hoje, em excelente forma física. Depois da virada
do século XIX, em 1900, as manequins representavam as mulheres
mais velhas, pois tinham quadris mais largos e também seios
grandes, como por exemplo, a modelo Isadora Duncan. Nos dias
atuais, esse tipo de mulher, é considerada “gostosa”, ou seja, mulher
com corpo, com carne.

Já em 1920, as modelos começaram a mostrar seus corpos em


desfiles. As pernas já ganham destaque e os seios começam a ser
aceitos pela sociedade. Em 1940, durante os anos das guerras, as
modelos parecem menores. No final dessa década, as criações da
marca Christian Dior aumentam e as modelos ficam com as cinturas
mais finas que os anos anteriores, dando mais destaque.

Antigamente, eram comuns as pessoas acreditarem que ser


belo era um ser abençoado, pois nem todas as pessoas eram belas. A
mulher bela, por exemplo, dependia dos próprios esforços para ser
assim. Com o desenvolvimento do meio urbano, as mulheres
passaram a sair para a rua e ter mais contato com outras pessoas, o
que provocou o movimento de seus corpos, tornando-os mais
flexíveis.
21

A idéia que milhares de pessoas têm até os dias de hoje, de que


“só é feio quem não cuida da própria beleza”, foi “salva” pelo
surgimento da cirurgia plástica nos anos 60. Ser “feio ou mal
cuidado” significava não ter vontade própria ou auto-estima, até
porque a cirurgia plástica era um grande motivo para poder se cuidar
e não ser obesa para o resto da vida.

A moda nos anos 70 começou a ser estudada no Brasil com a


revista “Manequim”, depois do golpe militar, em 1964, onde a
repressão era constante e o cenário era de total censura. As revistas
mostravam as últimas tendências da moda industrial e isso entrava
em conformidade com o novo ideal de moda feminina, ou seja, estava
surgindo o estilo da mulher executiva.

A moda refletia através do corte das roupas, formas e estilos,


mas também sinalizava para a feminilidade através do realce dos
quadris, com o desejo de independência. Dessa forma, houve uma
redefinição da silhueta feminina. As revistas apontavam para um
novo imaginário feminino que consumia cada vez mais, fazendo
crescer a produção industrial do vestuário.

Foi nos anos 80, que as manequins começam a aparecer com


seus corpos mais definidos. É nessa época também que ganham
destaque Brooke Shields, Joan Colins, entre outras. Em 1990, as
modelos adotam a imagem de carne e osso (esquelética). Foi nessa
época que surgiram Kate Moss, Julia Roberts e também apareceu o
caso da brasileira bicampeã de surf Andréa Lopes, que na época
chegou a pesar 39 kg por causa da anorexia.

Longe da disputa pela vaidade com a mulher, a beleza


masculina veio à tona em 1994, quando o jornalista inglês Mark
Simpson criou o termo “metrossexual”, que mostra que o homem se
22

preocupa muito mais com sua aparência, mas sem ter jeito de ser
mulher.

Até os dias de hoje, esse padrão que “nasceu” na década de 90


está presente na vida de várias mulheres conhecidas. Como exemplo,
temos a modelo Gisele Bunchen e Giane Albertoni.

O cuidado com a beleza não é mais somente com mulheres,


mas também com homens, crianças, adolescentes e adultos, que se
cuidam continuamente para sempre manter o corpo em forma.

ANOREXIA: Busca excessiva pelo corpo


ideal

“Às vezes eu reflito a luz do sol.


Às vezes eu começo pelo fim.
Apagaram minha lua e o meu lençol,
Nunca mais cobria o sangue em mim.

Eterno o nome que andava a pé,


Para me derrubar no fundo do céu.
Acharam o resto desse velho imortal
Que era tão forte que a si mesmo matou.

E esqueceu que o forte pode morrer.


E esqueceu que o sol encobre você.
E avancei, avancei, avancei, avancei.

O mistério foi a fonte que me fez colar


Nos olhos de alguém que sempre me estudou.
Meu karma foi tão forte a ponto de acreditar
Que a brincadeira dela, sem brinquedo quebrou.

E esqueceu que o forte pode morrer.


E esqueceu que o sol encobre você.
E Avancei, avancei, avancei, avancei”.

Anorexia - Karma Negativo


Composição: desconhecido
23

Além de uma reflexão sobre o culto à beleza, o foco do trabalho


concentra-se nos distúrbios patológicos da “anorexia” e da “bulimia”,
decorrente da técnica de estabelecer os padrões de beleza. A
anorexia é conceituada como um transtorno alimentar que existe há
muitos anos, desde a época do Egito. Essa doença nunca foi
divulgada como deveria e nunca foi levada a sério, pois, a maioria das
pessoas até hoje não sabe realmente o seu verdadeiro conceito.
Sabe-se apenas que anorexia é não comer, ou passar dias sem
comer, até chegar à morte.

crédito: http://www.esramada.pt

Quem faz parte das histórias de anorexia, são, na maioria,


mulheres (95%) e em alguns casos, os homens (5%), mas não deixa
de estar fora dessa porcentagem, mesmo que insignificante.

Na Idade Média, surgiu o que mais tarde se veio a denominar de


anorexia mística, que é diferente do que hoje conhecemos de
anorexia. O primeiro caso de anorexia foi em uma mulher no ano de
1694, diagnosticado pelo inglês Thomas Morton, que deu como
“caquexia nervosa” e a transcreveu como “atrofia nervosa”, sem
qualquer sintoma aparente.

Já a anorexia nervosa, que conhecemos nos dias de hoje,


nasceu com William Gull a partir do ano de 1873, referindo-se à falta
de apetite, decorrente de um estado doentio e não a qualquer
problema estomacal. Foi a partir do século 20, mais especificamente
nos anos 70, que as pessoas começaram a estudar seriamente sobre
24

anorexia nervosa e três grandes nomes contribuíram para isso: Hilde


Bruch, Arthur Crisp e Gerald Russel.

Hilde Bruch foi quem chamou a atenção pela primeira vez para
a agitação para a vontade de transformação da imagem física das
pessoas que sofrem de anorexia. Já Arthur Crisp, foi quem definiu a
anorexia como uma “fobia de peso”, por causa do medo excessivo
que se tem de engordar e modificar seu corpo, distorcendo-a, o que
inclui as dificuldades psicológicas, sociais, biológicas, emocionais de
encarar as transformações da pré-adolescência e da adolescência. No
ano de 1970, Gerald Russel, propôs pela primeira vez as três
principais características da anorexia:

1. Preocupação exagerada com comida e sentimento de


perda de controle;
2. Problemas psicológicos que são acarretados pelo medo
doentio de engordar;
3. Uso de remédios, laxantes, chás, diuréticos com o
objetivo de emagrecer.

Crédito: acordapraweb.com

BULIMIA: Medos e Exageros


25

Só pensava em comer e comer sem parar


Depois corria pro banheiro vomitar
Fazer um tratamento nem pensar!
Por que não tinha dinheiro pra pagar

Bulimia... Doença bem fudida!


Bulimia... não faz mais parte da minha vida!

Chega aos poucos sem sentir


Quando vê já faz parte de ti
Te deixa baixo astral,e com vontade de sumir
Por favor, alguém me ajuda!
Não sei mais o que fazer...
Por que minha imagem no espelho,
Eu não agüento nem mais ver!

(refrão)

Anacrônicos – Bulimia
Composição: desconhecido
Contribuição - Henrique Pulga

A bulimia nervosa é conceituada como alterações endócrinas


(referente às glândulas de secreção interna), como a ausência de
menstruação na mulher e a falta de apetite sexual nos homens.

De acordo, com o site da “Universidade Federal do Ceará –


faculdade de medicina”, a palavra “bulimia nervosa”, vem do grego
“bous” (boi) e “limos” (fome), atribuindo-se a uma fome exagerada
de comer muito como a de um boi. Contudo, esse transtorno
alimentar, foi visto como um desvio de irregularidades.

As ingestões descontroladas de alimentos, em geral são


rápidas. Não se pensa muito no que está comendo, pois o mais
importante é comer. São casos de verdadeiras “misturas” de
alimentos, onde os “doentes bulímicos” só interrompem a ingestão,
quando terminam de comer ou quando são surpreendidos comendo
escondido.
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A bulimia nervosa, na maioria dos casos, começa por uma


obrigação real ou imaginária pela perda de peso, decorrente do
desagrado com o próprio corpo. Doentes bulímicos, costumam
centrar seus pensamentos baseando-se em sua aparência física.
Anseios de baixa auto–estima dependem do efeito de seus
procedimentos para conseguir o corpo desejado. Isso tudo funciona
como se outras importâncias pessoais ficassem em segundo plano ou
até mesmo como se não existissem. Acontece mais quando o foco é a
sua aparência física, fazendo com que a pessoa se isole das outras,
evitando reuniões sociais ou viagens, quando não se sentem em
condições de preencher os requisitos, que a sociedade impõe.
Conseqüentemente, a pessoa acaba tendo sentimentos de
ansiedade, tristeza, raiva, entre tantos outros, na maioria das vezes,
no final do dia e ou à noite.

Segundo o site “Brasil Escola”, a bulimia começou a ser


estudada em 1940, quando foi apresentada junto com a anorexia.
Russel teve uma importante participação nessa época, pois ele criou
um trabalho que se tornou muito importante na diferenciação da
bulimia nervosa com os outros transtornos alimentares, como, por
exemplo, da anorexia nervosa.

Foi a partir dos anos 60, que o interesse pelos transtornos


alimentares começou a crescer no campo da pesquisa e no público
em geral, com o aumento de divulgação na mídia, pois várias pessoas
famosas começaram a ter esse transtorno, por causa da valorização
da aparência física, como o caso da atriz Sally Field, que lutou
durante três anos contra a anorexia e, por isso, acabou ganhando
grande destaque nessa época.

Até os anos 70, a bulimia não tinha sido reconhecida como um


transtorno psiquiátrico, pois só apareceu no Manual Diagnóstico e
Estatístico de Transtornos Mentais III (DSM III) nos anos 80. Depois
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disso, houve uma enorme conscientização sobre o transtorno e o


aperfeiçoamento das técnicas do diagnóstico e dos procedimentos de
tratamento. Hoje em dia, tanto a anorexia quanto a bulimia não
ganham tanto destaque como deveriam ter, apesar de infelizmente,
levarem muitas pessoas a morte.

Em sondagens feitas antes de escrever esse capítulo,


perguntamos a 100 pessoas se elas tinham noção do que eram esses
transtornos. 50% das pessoas não tinham noção do que eram; 45%
sabiam o básico - sabiam apenas que anorexia era deixar de comer, e
a bulimia era vomitar - e 5% sabiam o que realmente eram essas
patologias.

Infelizmente essa é a realidade que vemos, pois, infelizmente


essa grande porcentagem contribui para a morte de muitas meninas
e meninos, já que a maioria não sabe o perigo e o risco de querer
ficar magra (o), mas de uma forma que não é tão saudável.
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Nessa segunda parte do livro, histórias de jovens com

Segunda Parte – Depoimentos


das vítimas de anorexia e bulimia

transtornos alimentares como a Anorexia e Bulimia serão abordadas.


Falar da história de cada um aqui é de mera relevância para que os
jovens, suas famílias e a sociedade em geral compreendam mais
sobre as doenças.
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Aqui são explicitados sintomas, medos, exageros, que são


características dessas patologias, o que para os jovens é bom para se
identificarem, para as famílias saber se um filho faz algo como se
esconder no banheiro ou não almoçar junto com a família, e para a
sociedade ver um pouco mais sobre o que são e como são encarados
já que não há o conhecimento ou que haja apenas o conhecimento
superficial do assunto em questão.

É importante ressaltar que todos os nomes são fictícios para


que haja a preservação da identidade das nossas (os) entrevistadas
(os), já que a relevância não são as pessoas e sim, suas histórias.

Não podemos esquecer de que todos esses jovens que


entrevistamos são apenas de Campo Grande. Quisemos mostrar que
não é somente nas metrópoles que existem pessoas com essas
doenças, mas sim, no mundo todo, até mesmo onde menos
imaginamos.

Gostaríamos que essas entrevistas realmente surtissem efeitos


e muitos de vocês, sejam jovens, crianças, ou até mesmo adultos,
compreendam e vejam pelo lado crítico o que essa doença pode
causar se levada muito à sério.

Anorexia X bulimia: quem ganha e quem perde neste


round ?

Você se preocupa
Com o que aparece na mídia
Com opiniões alheias
E padrões de beleza!
Esquece de notar quem realmente é você
O que você tem de melhor!

Anorexia[você está doente]


Anorexia[você está doente]
30

Não seja mais uma garota reprimida


Que se esconde dos outros por não ser bonita
Esqueça todos esses padrões de beleza
Que te privam daquilo que é o melhor da vida!

Anorexia[você esta doente]


Anorexia[você esta doente]

Anorexia (Anna) - Clotildes

Tudo começou em uma noite de terça-feira. Eram apenas seis


horas da tarde. Depois da checagem geral de e-mails e verificação de
mensagens no Orkut, como rotineiramente, decidimos por um
momento começar a procurar o tema já definido do nosso futuro
Trabalho de Conclusão de Curso. Este que sairá daqui alguns meses!

Depois de longas conversas pessoalmente e muitas vezes via


MSN, já que estávamos correndo contra o tempo para conseguir
coletar informações para esse livro, discutimos muito sobre qual tema
de fato iria ser abordado. Depois de meses de conversas e indecisões,
nos decidimos e resolvemos iniciar a procura do tema escolhido.

Primeiramente fizemos um MSN e um Orkut sobre o tema, para


entrar em contato com os nossos futuros entrevistadores.
Adicionamos todos, sem exceção, os jovens que queriam nos contar
suas histórias. Até nos surpreendemos com a quantidade de pessoas
que realmente queriam contribuir para o nosso trabalho.

No começo foi tudo excitante. Não achávamos que seria tão


fácil assim conseguir fontes para tal, pelo preconceito e pela
exposição dos envolvidos. Talvez até pelo fato de não achar um tema
que realmente nos desse motivação para seguir em frente. Pensamos
31

que se caso não conseguíssemos, mudaríamos de tema pela


trigésima sexta vez.

Foi quando de repente achamos algumas comunidades e


resolvemos arriscar um recado, pois pensando bem, achamos que
não sairíamos perdendo. O máximo que aconteceria era levarmos um
NÃO.

Vendo que não obtínhamos as respostas necessárias,


resolvemos procurar novamente nas comunidades, só que agora em
vez de deixar recados, e encontrar pessoas que sofrem ou sofreram
esses transtornos.

Foi aí, que, participando dessas comunidades, resolvemos


interagir até mesmo com o intuito de adquirir confiança das nossas
futuras fontes. Primeiro de tudo criamos um e-mail para que
pudéssemos ser adicionadas, e futuramente receber depoimentos
sobre o assunto em questão.

Depois de termos adicionado tantos jovens, entre eles meninas


e meninos, ficamos totalmente pasmas ao saber que tinham pessoas
de outros países como Uruguai, Canadá, Portugal, entre outros, que
gostariam de contribuir para o nosso temido desafio. Acreditamos que
depois disso, de vermos aproximadamente 100 pessoas no nosso
MSN que queriam falar com a gente, conseguiríamos escolher dentre
tantos os que realmente eram de Campo Grande para nos relatar
suas histórias.

A reciprocidade das fontes para contar sua história, sobre o que


sofreram e principalmente para alertar outros (as) jovens, foi além do
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esperado. A nossa segunda surpresa depois de explicar o objetivo, e


ver tantas pessoas querendo relatar suas histórias, foi à quantidade
de meninas e meninos que sofrem desse mal. Não imaginávamos que
essa doença atingisse um grande número de jovens. Achávamos sim
que teriam bastante, mas essa grande proporção não era tão
esperada por nós.

Quando resolvemos mesmo encarar o desafio atenuante,


decidimos entrar no MSN e ficamos admiradas com a quantidade de
adolescentes e adultos querendo falar e até mesmo desabafar sobre
o assunto. Eram tantas janelas, que nos dificultou as respostas.
Ficamos estarrecidas com a gravidade dos casos, ao mesmo em que
estávamos felizes por termos passado confiança em receber tais
depoimentos.

Além desses jovens, decidimos encontrar profissionais


relacionados ao tema para nos dar informações necessárias sobre o
assunto em questão. É claro que eles jamais poderiam ter faltado ao
nosso livro, já que nós por saber um pouco mais sobre anorexia e
bulimia, nos achamos leigas para dar informações tão importantes e
necessárias para a explicação dos casos.

Graças a Deus, depois de muita procura atenuada e


sacrificante, quase sem esperanças, conseguimos encontrar médicos
(as) entendidos no assunto, dispostos a nos explicar a fisiologia da
doença.

Depois de tantas conversas, tantos questionamentos nossos


querendo cada vez mais saber sobre o dia a dia das meninas e
meninos escolhidos, e como tudo havia começado, que não
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queríamos mais sair da frente do computador, ansiando cada vez


mais por novas histórias.

Fazia apenas quatro horas que estávamos em frente ao


computador, e cada vez mais em nossos Orkuts chegavam recados
de jovens que queriam falar de sua história de vida, e sempre
dispostos a nos relatar fatos impressionantes. O engraçado de tudo
isso, era que os mesmos não tinham vergonha de falar o que tinham
passado, do mal que tinham sofrido. E também de saber que a
bulimia e a anorexia estavam totalmente relacionadas, pois muitas
vezes começava com uma e terminava com a outra.

Quando percebemos, estávamos dispostas, não somente a


saber sobre a doença ou o que havia em cada rosto e inocência de
tantas meninas e meninos, mas também a ajudá-los a superar tal
crise que ainda destruía essas vidas. Depois de encerrada a primeira
parte do projeto, que era de conhecer esses jovens – mas que foi
além de uma simples apresentação -, percebemos que ainda havia
muito a nos comunicar com eles, para saber cada vez mais e mais.
Em tão pouco tempo de conversa, envolvemo-nos tanto, que a
vontade era estar presente na vida de cada um ou cada uma para
poder ajudá-los pessoalmente.

A seguir emocionantes histórias vão conduzi-lo a um mundo


totalmente desconhecido onde a surpresa, a emoção e a realidade
vão tomar conta de vocês.

Capítulo II – Depoimentos das vítimas de anorexia e


bulimia

- Pra mim, vomitar é como pentear meu cabelo, é uma


rotinha diária, comenta Felipe*
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Bulimia ilusão de ser feliz

São quatro horas da tarde de um domingo ensolarado.


Acabamos de chegar à casa do nosso entrevistado Felipe*. È a nossa
primeira entrevista e estamos animadas, apesar de um pouco
amedrontada.

No começo estávamos bastante nervosas por pensar se


saberíamos conduzir essa entrevista, pois se trataria de uma
conversa sobre a vida de Felipe*. Era uma casa que fica em um local
de classe média em Campo Grande.

Quando Felipe* foi nos atender na porta, ele estava vestindo


uma bermuda jeans e uma camiseta preta ajustada ao corpo. Ele tem
estatura mediana e é um pouco magro e de cara nos apresentou ter
17 anos. Nós duas entrevistadoras estávamos usando calça jeans e
uma de nós blusa branca com detalhes na frente e a outra blusa rosa.

Essa foi a primeira vez que nos víamos pessoalmente, pois só o


conhecíamos por fotos através do Orkut e muitas conversas no MSN.
Na porta da casa dele mesmo, nos apresentamos e cumprimentamos.
Felipe* foi bastante simpático com nós duas.

Em seguida, ele pediu que entrássemos em sua sala, e ali nos


instalamos até o final da conversa. No começo estávamos apenas nós
e ele, mas no meio da entrevista chegou sua amiga Beatrice*.

Desde o primeiro contato no Orkut e posteriormente no MSN,


mostrou-se bem solícito. Decidimos fazer a entrevista em partes para
que não ficasse cansativa e também assim poderíamos saber mais
detalhes. Por isso pedimos que Felipe* começasse descrever sua
infância e os primeiros sinais a doença.
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Na sala da casa de Felipe*, tinham dois sofás de dois lugares.


No que estava perto da janela nós nos sentamos e no da porta estava
Felipe* junto com sua amiga Beatrice* que vestia uma blusinha
branca mostrando a barriga e calça jeans.

Felipe* sempre foi um menino tímido em relação aos colegas,


vizinhos e até mesmo familiares. Nunca se interessou em fazer
academia, mesmo sendo um garoto que já foi considerado como
gordo.

Ao perguntar sobre sua época na escola, ele não se sente bem


ao lembrar, fica inquieto e cheio de lágrimas nos olhos, pois sua
aparência o incomodava bastante. Nessa parte da entrevista ele nos
contou que seus amigos, tiravam sarro dele, por ter sido gordinho e
também que ele não gostava de brincadeiras como “Verdade ou
Desafio” (brincadeira na qual ficamos em uma roda de pessoas e
giramos uma garrafa no meio desse círculo e em quem parar o bico
da garrafa faz a pergunta ou dá o desafio pra quem estiver com a
outra parte apontada.).

- Eu não gostava desse tipo de brincadeira porque no fundo


sabia que me sentiria ofendido, apesar de sempre ter levado na
brincadeira todos os apelidos que as pessoas me davam.

Felipe* também não gostava de ter contato próximo com as


garotas. Preferia deixar para os amigos, porque sabia que não
chamava a atenção delas. Ele teve uma infância tranqüila em Campo
Grande, apesar de seu pai possuir um temperamento bem forte.

Beatrice* chegou à sala onde estava sendo realizada a


entrevista. Apresentamo-nos e logo perguntamos se ela também
tinha bulimia.
36

- Não tenho bulimia, nem anorexia apesar de ser magrinha. Sou


magra de ruim, pois adoro comer. (risos)

Ela é um pouco mais baixa que seu amigo. Tem cabelos claros,
na altura do ombro, e olhos cor de mel. Depois de termos conversado
um pouco com Beatrice*, retomamos a nossa entrevista com Felipe*.

Ele já estava se sentindo mais a vontade nessa parte da


entrevista e já não ficava se mexendo de um lado para outro no sofá
que estava sentado, estava bem à vontade com as pernas cruzadas
em forma de índio.

Quando criança, Felipe* só teve contato com um primo, pois


toda sua família não era de Campo Grande. Perguntamos se ele
ligava para a moda, o que acabou por nos responder que não.

- Eu só gostava de me ver no espelho, porque sempre quis


emagrecer.

Mesmo preocupado com a estética corporal, ele não tinha força


de vontade, pois amava comer, comer, comer. Sua empregada fazia
comidas gostosas, o que o fazia não resistir e comer exageradamente
e compulsivamente.

Um dia comeu tanto, que começou a se sentir culpado por ter


sido tão guloso. O que ele resolveu fazer? Vomitar. Achava que isso o
aliviaria de consumir calorias e de ficar mais gordo ainda, já que tinha
visto tanto alguns amigos fazerem. Nesse instante, nos
surpreendemos quando perguntamos sobre sua doença. Felipe* se
sentiu nervoso, gesticulando muito e inquieto no sofá apesar de nos
contar um fato que, a nosso ver, foi tremendamente assustador:
37

- Pra mim, vomitar é como pentear meu cabelo, é uma rotinha


diária – comenta.

Ele não se lembra ao certo quando decidiu que queria


emagrecer, mas que apenas queria emagrecer, custe o que custasse.
Felipe* acredita que foi vendo na televisão e também nas revistas os
corpos malhados dos artistas, quando resolveu mudar de vida e de
corpo né?!.

Nós entrevistadoras, já estávamos mais a vontade, fazendo com


que a entrevista fosse mais bem conduzida. Apesar de expressar em
nossas faces uma feição assustadora a cada revelação, não deixamos
transparecer para não o assustar ou intimidar.

- Na época eu tinha uma amiga próxima que também era


gordinha, mas ela já fazia regime e então me passou uma dieta, que
era bastante simples e fácil de executar.
Ele nos contou que o regime se chamava cetônico, e consistia
em comer carne vermelha e alface, além de beber água. Por ver que
esse regime estava dando certo, a vontade de querer emagrecer se
tornou cada vez mais forte. Chegou a pesar 57 kg, comparados com
os 70 kg que já pesou.

Nervoso e um pouco agitado ao falar sobre a doença, Felipe*


mais uma vez nos surpreendeu:

- Nunca pensei na morte, pois pra mim, não tenho bulimia. Sou
normal como vocês. Doente são essas modelos e meninas
magérrimas, não eu, pois eu sei o que estou fazendo, ele admite.

Todas as vezes que Felipe* exagerava e comia muito, em


seguida ia ao banheiro de sua casa, alegando que ia tomar banho,
ligava a torneira, o chuveiro e ao invés de realmente tomar banho,
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preferia vomitar tudo o que tinha comido, para que a culpa não o
atormentasse.

- Já passei o dia todo, tendo ingerido apenas um picolé, e


mesmo assim resolvi vomitar porque achava que tinha engordado só
por causa disso.

Foi vomitando direto e fazendo o mesmo processo de ligar a


torneira e o chuveiro que sua mãe começou a supor o que podia estar
acontecendo. Tinha percebido que o filho andava estranho nas
atitudes e não comia como antes, além de ver em seu quarto que
possuía um monte de revistas de dieta. No começo achou normal,
mas quando realmente se deu conta, desconfiou que algo de errado
estivesse acontecendo. Via em Felipe* muitas atitudes diferentes
como, por exemplo, estar sempre com os olhos vermelhos e
inchados. Por isso decidiu verificar escondido para que Felipe* não
desconfiasse de nada.

Ao perguntar o que estava acontecendo, Felipe* mentia ao dizer


que não havia nada, com medo de sua mãe brigar e contar para o
pai, do qual ele tinha muito medo. Assim que descobriu realmente o
que seu filho fazia, a primeira reação de Elenice*, mãe de Felipe*, foi
querer levar o filho ao psicólogo.

Ao saber da descoberta da mãe, Felipe* resolveu despistar a


mãe, alegando que ela estava imaginando coisas e resolveu que toda
vez que quisesse vomitar, iria ao escritório de seu pai, que fica na
esquina da sua casa, alegando que ia telefonar, mas ia mesmo pra
vomitar.

Em seguida, Felipe* pediu licença que ele gostaria de ir à


cozinha e já voltava. Enquanto isso, conversávamos com Beatrice*.
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Ele foi até a cozinha da sua casa e trouxe um pratinho com brigadeiro
mole e perguntou se também queríamos.

Depois que ele voltou da cozinha, nos contou que tudo começou
aos 15 anos e dura até hoje com seus 20 anos. Ao ficar mais velho e
ainda com a doença, Felipe* arrumou um emprego.

- Eu trabalho, mexo com dietas e Herbalife que são multi –


vitaminas. Mas não posso comer na hora que estou trabalhando.

Felipe* diz não tomar esses suplementos ou shakes que


substituem a alimentação, pois acha que isso também pode engordar.

Quando perguntamos se ele se considerava uma pessoa infeliz,


ele disse que não, porque seu sonho sempre foi emagrecer e hoje
esse sonho se tornou realidade, mesmo tenho consciência que é uma
batalha diária e perigosa. Ficamos mais uma vez surpresas, quando
perguntamos o que ele achava de fazer uma dieta saudável com uma
nutricionista, sem se preocupar em parar de comer, e mais uma vez
ele nos espantou.

- Acho que isso é coisa de menina. E também não me considero


bulimico. Não tomo refrigerante porque fiquei sabendo que demora
mais para ser digerido do que uma alimentação. O resto, eu como de
tudo, só pelo prazer de comer, e vomitar depois.

De repente, um momento de silencio. Não conseguíamos falar


nada e ele também não disse mais nada. Aliás, não sabíamos o que
falar.

Felipe* nos revela que ainda sobre recaída, e vomita de vez em


quando, mas como ele mesmo diz, isso faz parte do seu cotidiano, e
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não pretende parar. Hoje, com 64 kg e medindo 1,77 m, sua meta é


chegar aos 43 kg.

Quase no final da conversa ao falarmos da influência da mídia e


das revistas de dietas, Felipe* nos interrompe e diz que a mídia só
fala sobre anorexia e bulimia e que não tem mais nada de
interessante pra falar. Ele admite saber que anorexia é quando se
para de comer e bulimia quando se come demais e em seguida
vomita tudo. Mas não sabe o porquê, ou quando começou.

- Não me interesso em saber mais sobre esses transtornos, pois


sei que não sou doente e não preciso saber. Não gosto nem de
comentar muito sobre isso, o que pra mim é natural, e para mim isso
se torna normal perante as outras pessoas.

Mesmo ele sendo uma pessoa totalmente magra, ele gosta de


brincar com as pessoas chamando-as de gordas, pois um dia ele
também foi chamado assim.

Despedimo-nos de Felipe* e entramos no carro que nos


esperava na frente de sua casa.

No caminho pra nossas casas, conversamos um pouco pasmas


sobre a entrevista que tivemos com esse garoto que não admite ter
bulimia e percebemos que o mesmo assim como os outros, são
pessoas normais tendo uma doença como a de Felipe*.

Ir à escola, conversar com seus amigos, sair pra baladas, são


coisas do dia a dia desses jovens que não deixam ninguém perceber
que eles têm bulimia se caso eles não contarem.
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Por um lado, ficamos satisfeitas por ter dado tudo certo e ter
saído melhor que esperávamos e por outro lado, triste por ver que é
uma doença perigosa no qual não conseguimos convencê-lo disso.

CAPÍTULO III -

- Elas faziam dietas sem acompanhamento de nutricionista,


ficavam sem comer por alguns dias, tomavam chás junto
laxantes, além de ficarem horas na academia,
relatou Cínthia

Mundo da moda: Um passo para anorexia

Chegou mais um dia de relatar uma próxima história. Cínthia*


era a próxima entrevistada para o nosso desafiante livro. Saber de
mais uma história era emocionante e pelo que pudemos perceber em
encontros diferentes, hoje seria um dia de muitas emoções, pois já
que tínhamos noção que seria uma história triste perto das outras.

O grande dia chegou. Lá fora estava bastante calor. Era um


sábado de sol. Então resolvemos antes de irmos até o prédio dela,
passar em alguma padaria pra tomarmos um picolé, para conversar,
e discutir como seria feita a entrevista, para depois irmos ao encontro
de Cínthia*. Pegamos nosso celular e procuramos o telefone dela para
confirmar o endereço onde a mesma aproveitou para nos explicar de
uma maneira bem mais fácil de chegar lá.

Anotamos e terminamos de nos deliciar com nosso picolé de


chocolate e entramos no carro novamente, mas agora para ir fazer a
entrevista. Estávamos ansiosas como em todas as outras.
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Novamente tivemos que parar, só que dessa vez em num posto


para colocar gasolina no carro, por que senão, não conseguiríamos
chegar nunca ao local que estávamos indo.

Depois de termos abastecido, finalmente conseguimos chegar à


frente do prédio de Cinthia*. Descemos e fomos falar com o porteiro.
Ele perguntou quem éramos nós. Identificamo-nos como amigas de
Cínthia* e dissemos também que ela estava esperando a nossa visita.

Seu apartamento fica em uma região bem valorizada da capital.


Depois que o porteiro já sabia quem éramos, abriu o portão e fomos
em direção a entrada do prédio onde logo avistamos o elevador, que
iria nos levar ao 23° andar, onde Cínthia* mora.

Quando ainda estávamos dentro do elevador, encontramos com


um amigo que pra nossa surpresa também conhecia Cínthia*.
Despedimo-nos dele e tocamos a campainha do apartamento e ao se
abrir, demos de cara com uma mulher muito bonita, loira de cabelos
longos, alta e de olhos claros, que aparentava ter 23 anos. Ela estava
usando um vestido todo florido. Apresentamo-nos e cumprimentamo-
la.

Cínthia* disse para entramos e ficarmos a vontade. Já dentro


do seu apartamento, ela nos levou até o seu escritório, contendo um
sofá de couro branco perto da porta, um armário com muitos livros e
fotos de família e uma mesa de escritório com um computador onde
seria realizada a nossa entrevista.

Ela se mostrou agradável e disponível. No começo ficamos


acovardadas, mas depois de um bate bola enquanto íamos em
direção ao escritório, ficamos mais a vontade.
43

O apartamento era lindo, todo decorado com móveis de


primeira linha. Até achamos que ela seria uma jovem como
denominam hoje me dia de “patricinha”. Mas não nos empolgamos
com a primeira impressão. Depois de conversarmos e nos apresentar,
vimos que estávamos erradas, pois Cínthia* além de ser uma jovem
que freqüentava a alta sociedade e usava roupas de marca, era
simpática e humilde.

Fomos bem sinceras, dizendo qual era o objetivo do trabalho,


fazendo com que ela nos conhecesse mais e vice versa. Isso ajudou
muito para que pudéssemos realizar o nosso propósito.

Cínthia* estava à vontade, e falou que esclareceria todas as


nossas possíveis dúvidas e também que teria todo o tempo
necessário para nos ajudar. Disse também que estava disposta
justamente por saber o quanto já sofreu com essa doença e o quanto
queria ajudar outras pessoas a enxergar e mostrar o que essas
patologias podem fazer na vida de uma pessoa que também entra
para esse mundo.
Pedimos para ela nos contar como foi sua infância, para
posteriormente entrarmos na parte da doença.

- Tudo começou quando eu tinha de 10 para 11 anos. Minha


infância foi tranqüila, meus pais sempre realizaram todos meus
desejos e também prezávamos muito a união familiar. Alias, até hoje.
Só que na escola a história não era bem assim.

Desde criança Cinthia* sempre foi gordinha e seu maior sonho


era ser modelo. Para realizar o sonho da filha, sua mãe Regina* foi
com ela em uma agência de modelo e ao conversar com o dono, o
mesmo disse que a jovem não tinha perfil, pois era gorda demais
apesar de ser alta pra sua idade na época.
44

Posteriormente, isso geraria um trauma na vida de Cínthia*.

O escritório onde estávamos era grande, e nas paredes


estavam pendurados vários belos quadros e tinha uma estante com
vários livros, dois sofás de três lugares cada e a mesa outra ela
trabalhava no seu computador.

Mesmo estando à vontade, ela gesticulava muito ao se lembrar


detalhadamente de sua infância.

- Meu grande sonho era ser modelo, mas eu sabia que isso
nunca iria se acontecer, por ser rechonchudinha. No colégio todos
viviam rindo de mim, por ser assim.

Cínthia* teve vários apelidos, como elefante, dumbo, bolinha,


hipopótamo, apelidos que a magoavam demais, mesmo se mostrando
forte na frente dos outros, fingindo que não ligava para as ironias.
Apenas sabia que quando chegasse em casa, choraria de raiva por
longas horas, mas sempre escondido dos pais, pois ela não queria
que eles soubessem.

Ao perguntar aos seus pais o porquê de ser tão gorda, os


mesmos sempre negavam e diziam que seus coleguinhas tinham
inveja dela por sempre ser a primeira da turma, a mais inteligente.

Foi ai que resolveu ser igual às meninas da sua sala, ou seja,


magra. Pediu então para os pais matriculá-la em uma academia, pois
assim ela poderia perder alguns quilinhos. No começo eles não
queriam, mas depois eles aceitaram.

Nas primeiras semanas, Cínthia* começou a ficar desesperada,


pois não via resultados. Perguntou as amigas ser era assim mesmo, e
45

elas contaram que emagreciam sim, mas com apenas grande


detalhe:

- Elas faziam dietas sem acompanhamento de nutricionista,


ficavam sem comer por alguns dias, tomavam chás junto com
laxantes, além de ficarem horas na academia, relatou Cínthia*.

Ela achou o MÁXIMO os “conselhos maravilhosos” que suas


amigas lhe passaram. Então resolveu que iria fazer as mesmas
coisas.

Passados três meses de pura adrenalina, um dia fazendo


esteira, ela começou a passar mal, mas mesmo assim, continuou a
correr. De repente sua visão começou a escurecer, até que desmaiou.

A única coisa que se lembra é que estava no leito do hospital.


Ao se ver naquele estado, foi ficando nervosa ao comentar tal fato,
que Cínthia* desabafou:

- Achei que naquele momento fosse morrer. Não sei se me


sentia feliz por ter emagrecido ou triste por ter causado isso ao
mesmo tempo. Não sei realmente qual era o meu sentimento. A única
coisa que aconteceu foi que comecei a chorar compulsivamente com
medo dos meus pais descobrirem que eu queria emagrecer de uma
forma como aquela. Eles iriam me matar quando soubessem.

Cínthia* gesticulava as mãos de uma maneira exagerada e


chegou a nos ocorrer que estivesse nervosa ao se lembrar do
ocorrido. Nessa hora, sua empregada foi o escritório para perguntar
se queríamos beber alguma coisa. Dissemos que queríamos água.

Cínthia* tinha apenas 11 anos e media 1,69m e apenas 40 kg,


sendo que seu peso era de 85 kg. Depois de sair do hospital, Cínthia*
46

se sentia a mais gorda de todas, mesmo sabendo que já tinha


emagrecido o suficiente. Achava que tinha banhas e isso ainda a
atormentava. Queria de todo o jeito emagrecer mais e mais.

Minutos depois, a empregada dela, nos levou a água que


pedimos e então Cínthia* continuou contando sua história.

Estávamos bastante felizes em saber que a entrevista estava


correndo bem, apesar da história de vida da jovem ser bastante
triste.

- Foi a partir daí que eu comecei a ficar dias e dias sem comer e
usando laxantes e dietas para emagrecer.

Nessa hora Cinthia* ficou emocionada, caia lágrimas de seu


rosto ao se lembrar que certo dia, ela tomou tanto laxante, que não
conseguiu ir para o colégio durante vários dias, bem na semana que
tinha provas e ela quase reprovou por ter faltando seguidamente.

Ao mesmo tempo enquanto ouvíamos Cínthia* relatar a parte


triste de sua história, nos emocionamos, que quando vimos,
estávamos chorando junto com ela.

- Lembro-me que os meus pais descobriram minha doença por


eu estar magérrima. Queriam a todo custo me levar ao médico, mas
eu não queria ir de jeito nenhum por sentir medo, pois, queria
continuar emagrecendo custe o que custasse. Era o meu sonho
querer ser modelo, mas eu sabia que isso só iria acontecer se eu
fosse muito magra.

Como estava perto do Natal, os pais de Cinthia* ameaçaram a


única filha dos três irmãos, que eram alguns anos mais velhos que
ela, dizendo que se ela não fosse ao médico, não iria ganhar os
47

presentes que tanto queria, além de contar para seus irmãos e


amigos. Mesmo morrendo de medo, ela foi.

Nessa hora em que Cínthia* estava nos contando isso tudo, ela
gesticulava muito as mãos e balançava compulsivamente seu pé
esquerdo.

De repente, seu celular tocou e teve que sair do escritório pra


atender. Enquanto isso, ficamos conversando uma com a outra sobre
o que estávamos achando da entrevista. Não demorou muito e
Cínthia* logo voltou e nos pediu desculpa, mas tinha que atender o
celular, por que era sua mãe.

- Bom, vamos continuar. Recordo que quando o médico me


perguntou por que eu estava indo lá, eu apenas disse: Não sei. Meus
pais que quiseram me trazer aqui, porque se eu não viesse não iria
ganhar meus presentes de Natal.

Foi ai que o doutor que estava me atendendo, resolveu


perguntar para minha mãe qual era a razão de eu estar ali.

Ela se lembra que sua mãe foi acordá-la para ir ao colégio e


colocou a mão na testa da filha e viu que estava com muita febre.
Cínthia* nos contou que nesse dia, ela estava com 39,5 de febre. Foi
então que sua mãe, não pensou duas vezes e ligou para o marido e
disse que tinham que levar a filha urgentemente ao pronto socorro.

Cínthia* nos revelou que nesse dia o médico depois que a


examinou, passou alguns remédios para baixar a febre.

- Infelizmente nessa época, o médico que eu fui, não reparou


que eu estava muito magra, pois ele não falou nada. Uma das únicas
48

coisas que ele falou, foi que se a febre não passasse, era para os
meus pais me levarem no consultório dele.

A jovem se mexia bastante no sofá enquanto estávamos


conversando. E nós estávamos apreensivas para saber o que estava
ainda por vir.

Depois de duas semanas que Cínthia* tinha ido ao médico, em


uma tarde, ela encontrou com uma amiga que era alguns anos mais
velhos que ela.

- Durante alguns minutos que eu conversei com essa minha


amiga, ela me disse que eu estava muito magra e que ela achava que
eu estava com anorexia. Eu, é claro, disse que não, que ela estava
ficando doida de dizer que eu estava magra. Ela falou que iria me
levar em uma psicóloga amiga dela. Relutei dizendo que não
precisava coisa nenhuma de ir consultar psicóloga, nem psiquiatra,
nem ninguém, mas não adiantou não. Tive que ir do mesmo jeito.
Cínthia* foi levada à psicóloga pela amiga que depois de ter
examinado a garota, contou pra elas que se Cínthia* demorasse mais
alguns dias para procurar ajuda, ela iria acabar morrendo.

- Graças a Deus, essa minha amiga me obrigou a ir fazer essa


consulta, porque caso eu não fosse, hoje provavelmente eu não
estaria aqui contando pra vocês a minha história e sim morta.

Ficamos bastante emocionadas e choramos ao saber dessa


revelação.

Ela nos contou também que ficou bastante feliz quando ficou
sabendo que queríamos que relatasse sua história, porque ela sabia
que ela estaria ajudando outros jovens que entraram para o mundo
da anorexia ou querem entrar.
49

Hoje em dia, Cínthia* já tem consciência que essa doença não


tem cura, mas ela faz tratamento com psicóloga, psiquiatra e
nutricionista há aproximadamente 3 anos.

Vimos que estava tarde e tínhamos que ir pra faculdade.


Despedimo-nos, ela nos acompanhou até o elevador e de lá fomos
sozinhas até o carro, onde tinha gente nos esperando para nos
levarmos embora.

CAPITULO IV -

- O máximo de dias que consegui ficar sem comer foi de


dois dias, falou Mariana*

Ela se via obesa no espelho

A próxima entrevistada é uma menina ex-anoréxica, a qual


denominamos Mariana*. Depois de ter conversado com alguns jovens,
nos sentimos fascinadas com nossa entrevista de hoje. Contar
50

histórias de vidas não é simplesmente relatar, é viver junto a eles e


voltar ao passado imaginando e participando onisciente de suas
histórias.

Marcar o local da entrevista não foi tão difícil. É claro que


marcamos no lugar mais acessível para nossa entrevistada. Assim
que chegamos ao local, esperamos um pouco e logo em seguida
nossa entrevistada chegou. Antes de irmos para a sala que ela
estuda, passamos em um dos blocos para que ela pudesse pegar um
cigarro com um amigo e a chave da sala. Em seguida, fomos com ela
até a cantina comprar coca-cola.

Mariana*, é de estatura mediana e magra, tem cabelo castanho


escuro na altura do ombro e olhos também. Ela vestia uma blusa
preta, calça jeans e estava usando sandália anabela, aquelas de
plataforma.

Andamos mais um pouco até chegarmos de fato na sala onde


seria a entrevista. Era uma sala grande, com várias carteiras
alinhadas. Tivemos que esperar um pouquinho até a luz acender.
Além de nós, estava uma colega de sala que não participou da
entrevista.

Nós sentamos nas primeiras carteiras perto da porta para que


ela pudesse fumar seu cigarro. Mariana* se sentia a vontade, até
parecia que nós conhecíamos há anos.

Enquanto esperávamos a luz da sala acender, explicamos pra


ela como a entrevista seria realizada.

- Mariana*, vamos fazer algumas perguntas, e as que você não


quiser responder, não precisa, ok?
51

Mariana* concordou na hora em nos contar toda sua história de


vida sem esconder nada. Então perguntamos:

Sua infância foi tranqüila? Conte-nos um pouco.

- Sim, foi tranqüila, mesmo eu tenho perdido meu pai, quando


criança. Meus avôs sempre foram presentes na minha vida e da
minha irmã, porque minha mãe trabalhava bastante, mas mesmo
assim, quando tinha tempo, ficava com agente.

Mariana* sempre morou aqui em Campo Grande e sempre foi


bastante mimada pela mãe e pelos avôs.

Perguntamos se a razão de ter tido anorexia foi por causa da


perda do pai, mas ela nós revelou que o grande motivo foi sua
separação com o ex- namorado. Além desse motivo, Mariana* sempre
teve que conviver com a “paranóia” da mãe em relação a ser gorda,
justamente por causa da sua irmã que era cheinha.

Apesar de essa ser a nossa terceira entrevistada, estávamos


mais nervosas que ela. Mariana* viu o nosso nervosismo e nos fez
relaxar, nos deixar bem à vontade para podemos perguntar o que
quiséssemos.

Saber que seu ex-namorado a tinha largado, sem saber qual o


motivo da separação e ver sua mãe sempre reclamando do peso de
sua irmã, fez Mariana* fugir das reclamações da mãe e por isso
decidiu querer sempre ser magrinha, apesar de gostar de comer
muita massa e pouco doce. Mariana* entrou no mundo da anorexia
quando tinha 16 anos e no auge da doença seu peso foi de 41 kg e
sua altura era de 1,60.
52

A jovem na época, praticava esportes como natação, no qual


fez cinco anos por causa de sua bronquite, pois não ligava muito para
beleza, dando mais importância na pré-adolescência onde seu corpo
começou a se desenvolver e perceber o quanto era paquerada.

Mariana* quando criança não gostava de roupas que


mostrassem o corpo, como as outras meninas, pois, tinha muita
vergonha. Tinha vários apelidos na escola como linguicinha, nana
banana, mas isso não a deixava triste.

Então, perguntamos se ela gostava de sair. Nesse momento,


Mariana* mexia no cabelo e nos disse que sempre gostou, pois seu
relacionamento com os amigos sempre foi bastante tranqüilo
principalmente com as meninas. Já com os meninos, era um pouco
mais perturbado, pois eles paqueravam bastante ela, deixando – a
sempre muito envergonhada.

- Eu era a mais nova da minha turma, pois como eu tinha o


corpo bastante desenvolvido então não parecia tanto.

Depois que ela já estava na adolescência, Mariana* estava com


16 anos e no colegial terminou seu namoro, o que acabou gerando
uma depressão profunda, deixando-a vários dias trancada em seu
quarto o que conseqüentemente ocasionou o início da anorexia.

- Ele simplesmente chegou um dia do nada e terminou nosso


namoro. Parecia que o mundo tinha desabado em mim.

Mariana* tentou conversar com ele para tentar entender o


motivo da separação, mas ele foi muito cético ao declarar que não
queria mais, e não sabia o porquê. Nessa época Mariana* entrou em
depressão. Achou que sua mãe iria a ajudar a superar o
relacionamento terminado, mas não foi isso que aconteceu, pois
53

sabia que ela mesma teria que se virar sozinha e tentar superar o
acontecido.

Mariana* continuou mexendo bastante em seu cabelo. Parecia


um pouco agitada nas cadeiras da sala de aula, mas como nos viu
“preocupada”, ela nos disse que era um tique.

- O máximo de dias que consegui ficar sem comer foi de dois


dias, falou Mariana*.

Nessa época ela se sentia gorda, mesmo ter sido sempre muito
magra. Ao ver sua imagem no espelho, acabava distorcendo e
querendo de qualquer jeito emagrecer.

Mariana* era assinante da revista Capricho, aproveitava e fazia


sempre os testes sobre beleza que mostrava que as garotas de hoje
em dia eram gordas em relação às jovens que apareciam na revista.
Mariana* também assinava a revista “Caras”, já que essa era uma
revista onde apareciam muitos corpos malhados e esbeltos que dão
invejas nas jovens.

Essas duas revistas acabaram influenciando bastante Mariana*,


pois ela não sabia das conseqüências que a doença poderia trazer pra
sua vida. Mariana* desde a pré–adolescência foi bastante vaidosa,
mas isso acabou passando dos limites, por ver que a maioria das
pessoas eram magras.

- Na época eu não achava que tinha anorexia, pois nunca


conversei com minha mãe e nem com meus avôs sobre isso.

Mesmo mexendo bastante em seu cabelo, durante a entrevista,


Mariana* não demonstrou que estava nervosa, pois, depois de várias
54

conversas pelo MSN ficamos tentando convencê-la de fazer a


entrevista pessoalmente.

Nos primeiros contatos que tivemos com ela via MSN e também
através de conversas pelo telefone, ela nos passava a impressão que
estava um pouco receosa de nos contar sua história, mas desde o
começo deixamos bem claro o nosso principal objetivo, que não
pretendíamos de forma alguma revelar seu nome e que o seu
depoimento só seria usado para trabalho de conclusão de curso e isso
acabou deixando Mariana* mais a vontade, o que a fez aceitar na
hora.

Quem acabou ficando um pouco receosa com essa entrevista


fomos nós, pois várias vezes tentamos marcar com ela, mas por
algumas razões, e uma delas foi que como cada uma de nós mora em
um local diferente da capital, isso acabou fazendo com que
desmarcássemos as entrevistas de última hora. Até que um dia,
quando estávamos conversando nos três, Mariana* deu a idéia de
fazermos à entrevista na universidade que ela estuda.

No dia marcado choveu até um pouco antes de irmos para o


encontro. Achamos que ela fosse desistir e marcar outro dia para
realizarmos a entrevista. Chegamos até conversar com ela para
deixarmos para fazer outro dia, mas ela pediu para esperar até um
pouco antes da entrevista para ver se a chuva passava.

Por sorte depois de várias horas chovendo forte, acabou


parando o que não atrapalhou de realizar a nossa entrevista com
Mariana*. Estava disposta a nos relatar

- Consegui superar a doença, quando eu tinha 18 anos e meio,


pois tive que ir várias vezes ao psicólogo e também na época, minha
mãe e meus amigos me ajudaram bastante a superar isso.
55

Hoje em dia, Mariana* já tem quase 21 anos e pesa 55,5 kg e só


de vez em quando tem recaídas, mas mesmo assim, continua fazendo
de tudo para ter uma vida tranqüila com seus familiares, amigos e
namorado.

Quando estava indo nos levar até a saída da universidade,


fomos conversando com ela e se dispôs a procurar algumas fotos da
época que ela teve a doença para colocarmos no nosso livro, assim
que tivesse tempo.

Já na frente da universidade, nos despedimos, pois também


tínhamos que ir pra aula. Falar com Mariana* e saber de sua história
de vida, nos deixou um pouco triste, apesar de tentarmos não nos
envolver muito com os relatos, mas não conseguimos. Choramos,
abraçamos e a felicitamos principalmente por ter superado mais uma
etapa de sua vida.

CAPÍTULO V -
56

Grávida e separada do namorado, Antônia* engordou


30kg, passando de 50kg para 80 kg. Ao se olhar no espelho e
ver o quanto tinha engordado, Antônia* resolveu parar de
comer, e quando comia alguma coisa, fazia o possível e o
impossível pra vomitar.

Gravidez inesperada levou a anorexia e bulimia

Numa manhã de quarta-feira batemos um papo bastante


descontraído por MSN com Antônia* e depois de termos nos
apresentado, dissemos que queríamos entrevistá-la. Ela adorou a
idéia e de cara aceitou. Marcamos para ir a sua casa no que seria o
próximo sábado. Anotamos o endereço e telefone dela, caso a gente
precisasse.

Tivemos uma semana bastante corrida, pois tínhamos que ir


atrás de mais jovens para contar sua história. Então, o sábado logo
chegou e fomos para casa da nossa entrevistada. Eram apenas 8
horas da manhã e já estávamos na lá na frente. Tocamos a
campainha e quem nos atendeu foi dona Filomena*, mãe dela.
Antônia* tinha ido levar a filhinha na casa do pai.

Dona Filomena* nos convidou para entrarmos e esperarmos a


nossa entrevistada na sala. Enquanto isso, a mãe de Antônia* nos
mostrou algumas fotos de sua filha e também de sua netinha, a
Paloma* na qual estavam expostas em vários portas – retratos, além
de conversarmos por alguns minutos com ela.

A sala da casa não era muito grande, mas era bem arrumada.
Nem parecia que a tinha uma criança, de tão arrumado o lugar.

Depois de alguns minutos esperando, Antônia* enfim chegou.


Ela estava vestida com uma blusa um pouco larga, short colorido e
57

nos pés, rasteirinha. Ela é baixinha com o cabelo “chanel” e


vermelho. Cumprimentamo-nos e logo começamos a entrevista.

Primeiro pedimos para que ela nos contasse como tinha sido
sua infância, pois assim, seria mais fácil de conduzir a entrevista e
também ela iria se soltando aos poucos, ao invés de logo de cara,
falarmos sobre a época que ela entrou para o mundo da bulimia e da
anorexia.

- A minha infância foi bastante tranqüila. Passei toda no interior


de São Paulo, numa cidadezinha chamada Itatiba. Lá eu morava com
meus pais e meus três irmãos. Nas férias vínhamos sempre pra
Campo Grande, na casa dos nossos avôs e de alguns primos também.

Enquanto Antônia* estava sentada com os pés em cima do sofá


e contando sobre sua infância, percebemos que ela não parava de
estralar os dedos tanto das mãos, quanto dos pés.

Perguntamos quais eram as brincadeiras que ela gostava.


Contou-nos que curtia passar os finais de tarde, jogando bola com os
vizinhos e conversar com amigos.

De repente um grande segredo veio à tona: Antônia* nos


contou que foi em um desses dias de brincadeira que conheceu o pai
de sua filha.

Ficamos bastante curiosas em saber sobre isso, então pedimos


para ela nos contar. Mas é claro, se ela quisesse.

- Claro que eu aceito sim, não tem problema nenhum. Bom, ele
é primo de um amigo nosso, que morava na mesma rua que eu, e um
dia ele foi junto brincar com a gente de pega-pega. Depois desse
58

encontro nos vimos mais algumas vezes, até ficarmos juntos


definitivamente.

Antônia* disse que uma vez, eles foram tomar sorvete que
ficava na pracinha da cidade e ele contou pra ela que sua irmã estava
muito magra e isso estava deixando seus pais bastante preocupados.

- Ele me contou que ela tinha lido numa revista que se ficasse
alguns dias sem comer, poderia emagrecer. Essa foi à única vez que
eu me lembro de ter escutado alguma pessoa comentar sobre
anorexia. Nessa época eu nem sabia o que era essa doença, até
então desconhecida por mim.
- Na hora que ele me contou, fiquei horrorizada e pensei: - Isso
nunca vai acontecer comigo. Infelizmente foi ao contrário. Depois de
três anos, numa tarde de domingo comecei a ter muitos enjôos e
passei vários dias mal. Nisso, descobri que estava grávida. Foi um
choque e tanto pra mim, quanto pra ele. Quando ele ficou sabendo
sumiu por um tempo da minha vida. Em seguida tive uma forte
depressão, pois não queria mais sair de casa. Eu passava 24 horas
por dia no quarto e comia tudo que via pela frente.

Nessa parte do depoimento Antônia* ficou bastante


emocionada. Até perguntamos se ela gostaria que marcássemos
outro dia, mas ela nos disse que estava tudo bem e que poderíamos
continuar. Queria muito que soubéssemos de seu problema para que
assim pudéssemos ajudá-la.

Grávida e separada do namorado, Antônia* engordou 30 kg,


passando de 50 kg para 80 kg. Ao se olhar no espelho e ver o quanto
tinha engordado, Antônia* resolveu parar de comer, e quando comia
alguma coisa, fazia o possível e o impossível pra vomitar.
59

- Infelizmente não me importava com o bebê que estava


esperando, pensava só em mim, em emagrecer e até morrer, não me
importando com a gravidez, já que tinha perdido o grande amor da
minha vida mesmo. Então se a criança não sobrevivesse, não estava
nem ai. É claro que naquela época, eu estava muito depressiva,
porque hoje em dia eu dou a minha vida pela minha filha.

Conseqüentemente, Antônia* parou de exagerar na comida, e


parou definitivamente de comer. Passado uma semana, e vendo que
a filha não saia mais do quarto nem mesmo pra comer, dona
Filomena* desconfiou que estivesse acontecendo algo de errado, já
que Antônia* só queria dormir e ir direto ao banheiro para vomitar,
mesmo que fosse só água.

Assim, a mãe dela resolveu conversar com o marido para eles


tivessem uma conversa séria com a filha, já que desconfiava que
Antônia* estava aprontando alguma coisa.

- Quando entramos no quarto, vimos Antônia* desmaiada no


chão com uma caixa de remédios ao seu lado, totalmente vazia.
Imediatamente a pegamos e levamos ao hospital, disse Filomena*
bastante emocionada.

Nessa parte da entrevista, quem se emocionou também, fomos


nós, mas pedimos para ela continuar mesmo assim.

- Chegando lá, o médico que me atendeu descobriu que eu


estava intoxicada e desacordada havia alguns minutos. Perceberam
que eu estava tendo hemorragia interna e acabaram me internando
imediatamente na UTI, diz Antônia*.

Dona Filomena* nos conta que ficou apavorada, pois não queria
perder a filha, nem a neta:
60

- Me senti culpada por não ter percebido antes o que estava


acontecendo já que sabia que algo grave estava ocorrendo com
minha filha e minha neta.

Passado 5 horas de puro nervosismo o médico que atendeu


Antônia* informou aos pais o que estava acontecendo com ela. Então,
eles pediram para ele contar de uma vez só. Antônia* sofria de
bulimia e anorexia nervosa. De cara eles não entenderam nada, pois
apenas sabíamos que era grave pela expressão do médico.

- O Dr. Marcelo Guimarães*, nos contou que Antônia* teria que


ficar em observação por alguns dias, principalmente por causa da
criança, mas adiantou que a mesma não corria risco de morte,
desabafou a mãe dela.

Como eles não tinham muito que fazer, a não ser esperar,
resolveu então ir a uma livraria procurar algum livro ou revista que
falasse sobre essas doenças. Só que infelizmente eles não acharam
nadinha.

Depois que Antônia* e sua mãe contaram um pouco da história,


perguntamos qual cidade isso tinha acontecido.

- Aconteceu aqui em Campo Grande, pois se tivesse sido em


Itatiba, com certeza eu teria morrido.

A mãe de Antônia* balançava bastante as mãos e as passava


nos finos e curtos cabelos, quando nos disse que sua filha ficou
internada durante dois meses na UTI, porque estava bastante
desidratada e precisava recuperar um pouco do peso por causa do
bebê.
61

- Me lembro, que quando fiquei internada, - relata Antônia* -


tudo era razão de choro. Na época o meu médico, disse que era por
causa da gravidez, pois eu estava bastante sensível. Depois de uma
semana que eu já tinha recebido alta, tive que voltar ao hospital
novamente, só que dessa vez pra ganhar minha vida. Que Graças a
Deus nasceu com muita saúde.

Até hoje, os médicos que a atenderam não sabem como o bebê


não teve nenhuma complicação por causa do seu estado de saúde
que era bastante grave.

Uma vez em que seus pais e seus irmãos foram para casa
descansar, Antônia* teve que ficar por algumas horas no hospital
sozinha.

Em razão disso, ela aproveitou e desobedeceu a enfermeira e


foi até o banheiro vomitar tudo que tinha comido naquele dia. Depois
veio o arrependimento que a fez contar para sua mãe e foi ai que
Antônia* resolveu se esforçar ao máximo pra sair o mais rápido
possível de lá e não prejudicar o bebê estava esperando.

- Nos primeiros 15 dias, minha filha não aceitava comer nada,


por que achava que iria engordar, mesmo que tomasse água, disse
Filomena*.

Atualmente, Antônia* conseguiu controlar tanto a anorexia


quanto a bulimia. Pra isso ser possível, duas vezes na semana ela faz
seções de psicoterapia com uma psicóloga e também faz
acompanhamento com um neurologista e segue uma dieta
balanceada, feita exclusivamente pra ela, conformo orientações de
uma nutricionista.
62

- Tenho consciência que essas doenças que tive, não tem cura,
posso ter recaídas a qualquer momento, mas posso controlar. Então,
sigo todas as orientações dos especialistas, porque sei que tenho
uma filha que é minha vida, tenho ela pra criar e não posso morrer,
diz Antônia* emocionada.

Emocionada, nós, depois de 2 horas de bate-papo a nossa


entrevista chegou ao fim. Apesar de ser mais uma história triste,
como todas as outras e tínhamos consciência de que seria assim
mesmo, estávamos satisfeitas e felizes, pela entrevista ter corrido
como gostaríamos.
63

CAPÍTULO VI -

- Quando eu tinha apenas 15 anos de idade, me


apaixonei loucamente pelo meu professor de matemática.

Paixão platônica leva ao mundo da anorexia

Numa linda tarde de domingo ensolarado, resolvemos ir


caminhar na avenida Afonso Pena, para caminhar ao ar livre e
descansar um pouco da nossa rotineira vida de estudantes. Chegando
lá, avistamos um amigo nosso que estava com seu primo. Edson* que
era nosso amigo há 2 anos, veio nos cumprimentar e logo nos
apresentou seu primo Caio*

Conversamos por alguns minutos com eles e no meio da


conversa Edson* perguntou sobre o andamento do nosso TCC
(trabalho de conclusão de curso). Contamos que estávamos
escrevendo um livro sobre anorexia e bulimia e que precisávamos de
depoimentos de jovens que tivessem ou ainda tinham algumas
dessas duas essa doença. Foi então que Caio*, primo do nosso amigo,
nos contou que ele tinha anorexia.

Ficamos surpresas e perguntamos se ele aceitava nos relatar


sua história, lembrando sempre prometer o sigilo do seu nome.

Ele achou bastante interessante a idéia do livro, mas disse que


precisava pensar se iria dar seu depoimento ou não, porque não
queria que a mãe ficasse sabendo.
64

- É que se ela ficar sabendo vai ficar brava comigo. Só o meu


primo Daniel*, o Edson* e agora vocês que sabem.

Dissemos pra ele que não precisava se preocupar, por que seu
nome não seria revelado de forma alguma. Ele gostou de saber, mas
disse que iria pensar mesmo assim. Cada uma passou o número do
celular pra ele e vice – versa.

Passado uma semana, Caio* nos ligou e disse que estava


aceitando dar seu depoimento. Marcamos para ir a sua casa, numa
quarta-feira à noite.
A quarta-feira chegou e lá estávamos nós mais uma vez na
frente da casa do entrevistado e agora era a vez de conversarmos
com Caio*, um garoto que tem anorexia.

Tocamos o interfone e Caio* mesmo que veio nos atender.

Ele estava usando uma calça jeans preta escura, blusa do São
Paulo e nos pés estava usando tênis. Caio* é alto, tem cabelos e olhos
castanhos claro, e a pele bem bronzeada.

Cumprimentamo-nos e cada uma disse o nome pra ele.


Entramos em sua casa, que por sinal era bonita, com uma sala
grande, muitos quadros de vários pintores conhecidos e também
alguns porta-retratos com fotos dele e da sua irmã.

Ele nos disse que a entrevista, seria realizada no escritório, e


então o acompanhamos até o local.

Era um escritório bastante diferente dos que vai tínhamos visto.


Esse tinha dois andares. No primeiro era da sua irmã e o outro dele.
Tivemos que subir uma escada para ir até o segundo andar.
65

Quando chegamos à porta, ele apenas digitou uma senha num


aparelhinho digital e se abriu. Entravamos e ele nos disse que era
para ficarmos a vontade, além de podermos perguntar tudo que
desejássemos, por que ele estava disposto a responder todas nossas
eventuais dúvidas.

Pedimos a ele que nos contasse um pouco sobre sua infância,


como de costume, para começar nossa longa e exaustiva entrevista
de uma forma bem leve.

- Passei toda minha infância aqui em Campo Grande, mas não


foi muito tranqüila, porque meus pais se separam quando eu tinha
apenas um ano e meio e minha irmã 12 anos. Por causa disso,
tivemos que ser criados pelos nossos avôs maternos, porque mamãe
trabalhava o dia todo e não tinha tempo de cuidar da gente.

Infelizmente, durante a infância, Caio* não teve muito contato


com os pais. Tudo o que ele precisava, tinha que recorrer aos seus
avôs, porque sua mãe nunca tinha tempo. Ele e a irmã já chegaram
ficar uma semana inteira sem vê-la. E o pai ele nem se lembra a
última que o viu.

Em um determinado momento da entrevista, o que nos deixou


bastante tristes e chateadas, Caio* lembrou-se de um aniversário em
que a mãe simplesmente não se lembrou da data.

- Tirando essas lembranças tristes, as outras que tenho são


bastante alegres, pois apesar de não convivido quase com meus pais,
sempre estava em contato com minha irmã, meus avôs e primos.
66

Apesar de antes da entrevista Caio* ter estado nervoso; quando


começamos a conversar, ele já se encontrava mais tranqüilo e até
parecia que já nos conhecíamos há bastante tempo.

Quando ele ia começar contar sua história, seu celular tocou e


ele saiu do escritório para atender. Logo que voltou, disse que tinha
uma coisa para contar e que nos deixaria de boca aberta quando
soubéssemos, já que era um segredo seu.

Ficamos entusiasmadas e curiosas para saber o que era, e


assim a verdade veio a tona.

- Quando eu tinha apenas 15 anos de idade, me apaixonei


loucamente pelo meu professor de matemática. Só que como eu era
bastante gordinho, tinha certeza que ele não iria nem olhar pra mim.
Então, resolvi parar de comer, pois eu sabia que se eu fizesse isso iria
emagrecer, por que já tinha lido numa revista, desabafou.

Realmente ficamos bastante surpresa com a revelação dele. É


que não esperávamos que fosse alguma coisa desse tipo o que ele ia
nos contar.

- Cheguei a ficar uma semana sem comer nada. Água eu


também já não bebia mais, por que eu tinha medo de engordar. No
começo, como eu não via resultados, resolvi cortar de vez a água.
Comer? Só quando tinha algum jantar em casa, pra ninguém
desconfiar que estivesse de regime, mas depois que passava, ficava
mais alguns dias sem comer.

Enquanto conversarmos, ele estava com uma caneta nas mãos


e não parava de girá-la no ar.
67

Nessa época, sempre que Caio* se olhava no espelho, via-se


mais gordo do que realmente estava. Por causa disso, resolveu que
não iria mais comer quando tivesse jantares em sua casa. Resolveu
dar desculpas dizendo que já tinha jantado e que precisava dormir
pra acordar cedo e ir pro colégio. Sua avó nunca desconfiou de nada,
ao contrário do avô que achava que cada vez mais o neto estava
mais magro. Chegou a comentar com sua esposa, mas ela sempre
dizia que era por que Caio* estava em fase de crescimento.

- Teve um dia, que eu estava no colégio e de repente, me senti


mal e desmaiei. Só fui acordar algumas horas depois já no hospital.
Foi lá que fiquei sabendo que estava com anorexia nervosa. Na hora,
fiquei desesperado, porque não sabia o que iria acontecer comigo e
não queria que minha mãe, meus avôs e minha irmã ficassem
sabendo da minha doença. Pedi então para que meus amigos não
comentassem nada com eles, pois eu mesmo queria fazer isso.

Já faz três anos que Caio* tem anorexia nervosa e até hoje,
apenas seu primo Daniel* e outro primo, o Edson* sabem da doença.
Ele faz o possível e o impossível para ninguém mais descobrir, porque
sabe que quando alguém ficar sabendo, a primeira pessoa que irão
contar, vai ser pra mãe dele.

Mais uma revelação “bombástica” de Caio*:

- Minha mãe, ficou bastante chateada, quando ela descobriu


que sou homossexual. Se imaginasse que também sou anoréxico,
com certeza ela ia ter um “treco” e ia falar que estou louco e que
preciso de tratamentos, mas sei que isso não é verdade.

Mesmo Caio* ter estado bastante tranqüilo durante a entrevista,


não parou de brincar com a caneta que estava em suas mãos.
68

- Na metade do ano passado, resolvi procurar ajuda, mas


infelizmente não consegui, porque na época eu estava desempregado
e não queria pedir dinheiro pra minha mãe, porque ela iria querer
saber pra que eu estava querendo dinheiro. Resolvi então, desistir de
procurar ajuda.

Caio* nos contou que antes de ser anoréxico, chegou a pesar 90


kg e atualmente está com 47 kg e tem 1.75 de altura.

- Tenho consciência que estou muito magro, por causa da


minha altura, mesmo assim quero chegar aos 39 kg. Pra isso
acontecer, estou usando laxantes e fico alguns dias sem comer. Teve
uma vez que passei o dia todo com apenas dois copos de águas no
estômago, mesmo assim eu não sinto fome, pois já estou
acostumado. Já é super comum isso pra mim.

- No começo da doença, eu tentava vomitar depois que comia


alguma coisa, mas como as vezes que tentei não foram bem
sucedidas, resolvi então só ficar sem comer. É bem melhor! Assim
ninguém desconfia de nada (risos).

Antes de encerrarmos a nossa entrevista, perguntamos se ele


tinha medo de morrer e ele nos resolveu que não. Que seu objetivo
estava sendo realizado e para que isso acontecesse, ele não mediria
esforços para conseguir.

Pois bem, agradecemos Caio* pela entrevista, despedimo-nos e


fomos embora. Antes de ir embora comentamos uma com a outra a
tranqüilidade do comentário sobre a morte. Mas o que poderíamos
fazer se ele pensava assim???

Essa foi à história de mais um jovem que tem anorexia. Seu


depoimento é bastante emocionante e triste. Ficamos muito mal por
69

não termos conseguido fazê-lo entender o perigo da doença, ficamos


contentes pela graça de ter conseguido finalizar e escrever mais uma
história de vida.

CAÍTULO VII -

[...] eles me disseram que sua amiga, tinha dito que as


Barbies são magras, por que simplesmente vomitam sempre
que comem. Achei o máximo, mesmo sabendo que Barbies são
apenas bonecas que não falam. Mesmo assim gostei da
resposta que eles me deram.

Bulimica para ser como a Barbie

Tínhamos ido à casa de uma amiga tomar tereré e contamos


pra ela que estávamos finalizando a faculdade, e o que nos
atormentava um pouco eram as noites sem sono por causa do nosso
livro sobre “anorexia e bulimia”.

Ela ficou surpresa e nos contou que sua melhor amiga tem
bulimia. Essa seria a última jovem que iríamos entrevistar para o
nosso livro, pois antes dela já tínhamos escolhidos mais algumas
histórias para colocar no trabalho.

Perguntamos se ela poderia nos passar o número do telefone


dessa garota, e ela disseram que sim. Mas antes, explicamos que
70

precisávamos conversar com a jovem por que estávamos atrás de


pessoas que aceitassem dar seu depoimento.

Quando chegamos em casa, a primeira coisa que fizemos foi


ligar pra Andrezza*.

Falamos pra ela que quem tinha passado o número do seu


telefone tinha sido a Anna Paula*, sua melhor amiga.

Quando contamos o nosso propósito de escrever um livro sobre


anorexia e bulimia para ajudar tanto as meninas quanto as famílias e
a sociedade de saber mais sobre essa doença que mata por ano
várias pessoas, ela disse que estaria disponível na quarta-feira de
tarde para conversarmos. Só que infelizmente na quarta, ela teve
alguns compromissos e tivemos que desmarcar.

No outro dia (quinta-feira), Andrezza nos ligou às 16h50 dizendo


que estaria livre às 18h pra fazermos à entrevista. Então confirmamos
o endereço, nos arrumamos, pegamos os materiais que iríamos usar
e fomos pra casa dela.

Chegando lá, batemos palma e quem abriu o portão pra nós foi
sua empregada, a dona Regina*. Levou-nos até a o quarto, onde foi
nossa conversa com Andrezza*.

Ela não era muito alta, tinha os cabelos ruivos, seus olhos eram
esverdeados, tinha sardas no rosto e ela estava usando uma calça
jeans com uma bata e nos pés estava de sapato fechado.

O quarto de Andrezza* onde seria nossa entrevista não era


muito grande, mas também não muito pequena. Tinha alguns objetos
em cima da mesa, parede rosa choque e sua cama de solteira.
71

Enquanto estávamos nos preparando pra entrevista, Andrezza*


chegou com seu cachorrinho poodle no colo. Cumprimentamo-nos e
mais uma vez dissemos a razão na qual nos levou entrar em contato
com ela.

- Fiquei muito feliz em pode colaborar com vocês. Eu sempre


quis contar minha história para alguém, mas nunca quiseram escutar.
Agradeço de coração por estarem me dando essa oportunidade.
Obrigada mesmo!!!!

Nós estávamos muito felizes por conseguir mais uma pessoa


para que pudéssemos continuar o nosso grande desafio: levar o
conhecimento e essas tristes histórias à sociedade.

Em seguida como de costume, pedimos pra ela nos contar


sobre sua infância.

- Hum... Minha infância foi perfeita. Eu viajava muito para o


exterior. Pelo menos uma vez por mês, eu ia pros EUA, porque meus
pais têm empresa lá. Minha família sempre foi muito unida.

Como Andrezza* era a mais nova entre seus dois irmãos, eles
sempre a mimaram muito.
-Me lembro, que quando eu tinha uns quatro anos e meus
irmãos 17 e 18 anos, meus pais começaram deixá-los me levar pra
passear de carro. Eu adorava, pois eles faziam todas minhas
vontades. Compravam todos doces que eu queria.

Ela estava calma, apesar de ter sido a primeira vez que estava
contando sua história para alguém.
72

Quando Andrezza* era criança, além de gostar de passear de


carro com os irmãos, também curtia bastante, brincar de bonecas e
de Barbie com suas amigas.

- Teve uma vez que perguntei para minha mãe, por que as
minhas barbies eram tão magras, pois eu queria ser que nem elas.
Mas minha mãe me disse que não sabia. Então, como não gostei da
resposta dela, resolvi perguntar para os meus irmãos. Eles disseram
que não sabiam também, mas que iriam perguntar para uma amiga
deles e que depois me contava.

Passado umas duas semanas, eles ainda não tinham me dado a


resposta, então resolvi perguntar novamente pra eles. Foi ai que eles
me disseram que sua amiga, tinha dito que as Barbies são magras,
por que simplesmente vomitam sempre que comem. Achei o máximo,
mesmo sabendo que Barbies são apenas bonecas que não falam.
Mesmo assim, gostei da resposta que eles me deram.

Andrezza*, então resolveu fazer a mesma coisa, pois, seu sonho


era ser que nem suas Barbies. Magra e Bela!

Durante nossa conversa com Andrezza* que estava sentada na


cama com as pernas cruzadas em forma de índio, brincava com seu
poodle que estava em seu colo, além de expressar muita
tranqüilidade enquanto falava.

Quem estava bastante nervosa eram nós, que não parávamos


de estralar os dedos.

Nas primeiras vezes, ela usava os dedos para vomitar o que


com o tempo foi sendo substituído pelo cabo da escova de dente e
pelo seu pente de cabelo. Depois de alguns meses, já não estava
73

mais precisando usar nenhum objeto pra forçar o vômito, por que ele
já saia “sozinho”.

- Pra ninguém da minha casa desconfiar, eu vomitava dentro de


uma sacolinha de supermercado e depois colocava na lixeira de
alguma casa, bem afastada da minha. Uma vez minha mãe, me viu
com uma sacolinha dessas e me perguntou o que tinha dentro e eu
claro, disse que eram os cocozinhos do meu cachorro, pois não queria
que ela ficasse sabendo que na verdade era vômito.

Passaram-se três anos desde que Andrezza* vomitava toda vez


que comia alguma coisa, mas em um certo dia, sua mãe resolveu
levá-la ao médico pra fazer alguns exames de rotina.

Nisso, foi descoberto que sua filha estava com bulimia. Na hora
que o médico falou isso pra Dona Maytê*, mãe de Andrezza*, da
doença da jovem, ela ficou desesperada, pois não sabia como iria
contar para seu marido nem pros filhos.

- Minha mãe chorou tanto nesse dia, que fiquei com muita dó
dela. Não contei pra ela, porque não queria que ficasse preocupada
comigo e ela não iria deixar eu vomitar sempre que comesse alguma
coisa.

Desse dia em diante, Andrezza* se esforçou a máximo pra não


vomitar mais. Nos primeiros meses, ela achou que não iria conseguir,
pois toda hora ela tinha vontade de ir ao banheiro e colocar pra fora
tudo aqui que tinha comido. Até mesmo quando ela escovava os
dentes, minutos depois já estava no banheiro novamente, só para
vomitar.
74

- Pensei que não iria conseguir ficar sem vomitar, por que já
estava acostumada. Já era rotina pra mim. Fiz isso durante três anos,
mas graças a Deus, atualmente já consigo controlar a doença.

Hoje em dia Andrezza*, faz tratamentos com psicólogo,


psiquiatra, e também com uma nutricionista, mesmo sabendo que se
não cuidar, pode ter recaídas e pra ela voltar fazer parte do mundo
das bulímicas, é mais fácil do que ela imagina.

Depois do seu cachorrinho ter ficado no colo, ela resolveu


colocá-lo no chão e ficar acariciando-o com o pé.

- Antes de começar os tratamentos com os especialistas, eu não


tinha idéia da gravidade dessa doença. Só fui saber depois que
comecei fazer os tratamentos. No começo do tratamento pensei que
fosse morrer! Fiquei desesperada.

Andrezza* faz tratamento há dois anos e não teve mais


recaídas. Com apenas 12 anos e pesando 70kg, anormal para sua
idade, com a bulimia chegou a pesar 28kg.

A dificuldade para uma pessoa aceitar que tem a doença é


difícil, pois para eles o que importa é ser magro, independente do que
é preciso para que isso aconteça.

A obsessão pela vaidade e pela busca do belo é tão grande que


muitas vezes o medo de morrer nem é tão grande.

- Quanto tinha essa doença não tinha medo de morrer. Achava


que se morresse magra morreria feliz.

Tanto a bulimia quanto a anorexia estão associadas com a


depressão. Tanto as meninas quanto os meninos tem crise de feiúra,
75

de se achar gordo mesmo que não esteja, e isso é crise de auto-


estima.

Muitas vezes por ser um pouco gordinho, na escola muitos


meninos colocam apelidos o que “favorece” negativamente para o
começo dessas doenças.

E com Andrezza* não foi diferente. Na escola tinha muitos


apelidos o que a deixava com sua auto-estima lá embaixo.

-Tinha apelidos como gorda, orca, baleia, elefante. Meus amigos


zoavam muito de mim e sempre me falavam que eu ia ficar assim pra
sempre. A partir daí, resolvi mostrar pra eles que jamais seria assim.
O grande problema é que não me preocupei em emagrecer com
saúde.

Andrezza* no começo queria emagrecer de qualquer jeito, custe


o que custasse. Não se importava com sua saúde. Queria apenas
mostrar pros outros que conseguia e pronto.

Infelizmente, Andrezza* ficou nessa durante três longos anos,


mas quanto foi levada a um especialista e o mesmo detectou sua
doença, Andrezza* aceitou facilmente por ver o perigo que estava
correndo.

Hoje, sabe que foi apenas uma fase, e não quer mais isso pra si
própria. Consegue emagrecer saudavelmente comendo de tudo em
pequenas proporções e não exagerando.

Apesar de ter tido problemas de estômago, na gengiva e na


boca, Andrezza* não esta totalmente curada, mas está em fase de
tratamento. O mais importante é que sabe que o tratamento pode ser
76

longo, e não se importa com isso. Sabe que o mais importante é


saber controlar a doença.

- Quis contar minha história para mostrar as meninas e meninos


que tem tanto anorexia e ou bulimia, que essa doença não nos leva a
lugar algum. E quem está achando que é bom emagrecer assim, não
sabe os problemas que dá.

Feliz da vida ao nos contar sua triste história de vida, Andrezza*


nos contou muitas coisas dessa sua triste fase, o que infelizmente
não deu pra colocar no livro. Mas não pelo fato de não querermos,
mas sim por serem muitas as situações constrangedoras.

Choramos junto com ela, felizes por ver que foi descoberto a
doença a tempo de voltar para o caminho certo, o do tratamento.

- Não tenho vergonha disso que contei a vocês. Tenho orgulho


de mim mesma de ver que consegui em tempo sair dessa, relata.

São muitas as histórias de vida tristes, o que nos deixa


totalmente emocionadas. Claro que em alguns casos, como este, o
final é feliz, mas em outros não. Mas temos certeza que um dia, essas
meninas e meninos vão acordar e ver a realidade em que se
encontram.
Enquanto isso, nosso desafio continua, mas agora teremos que
ir em busca dos especialistas da área médica para que eles possam
nos contar quais são os procedimentos que eles usam quando um
jovem com essas doenças o procuram pela primeira vez, ou até
mesmo para pedir ajuda.
77
78

Terceira Parte – Especialistas

Nessa parte do livro, resolvemos abordar detalhadamente e nos


aprofundar nas questões médicas, sobre o método dos médicos
79

escolhidos, os que têm mais participação nos casos de bulimia e


anorexia.

O objetivo principal é detalhar os procedimentos desses


especialistas caso tivessem um paciente com sintomas de anorexia e
de bulimia em seu consultório.

Os médicos escolhidos foram: nutricionista, para a questão da


alimentação; psicólogo para falar sobre o que se passa na mente
desses jovens; psiquiatra, para complementar o psicólogo, para
recomendar a medicação caso a psicologia não consiga resolver;
preparador físico para ajudar através do exercício físico um jovem
anoréxico e bulimico, na qualidade de vida; e o endocrinologista, para
mostrar o qual a ação dos hormônios nesses jovens.

*
* *

Dificuldades de conscientização dos jovens podem atrapalhar


no progresso do tratamento

Psicologia o primeiro passo para o tratamento

Ser um psicólogo não é tarefa fácil e não é para qualquer um. A


palavra psicologia vem do grego que significa “alma”, e é a ciência que
estuda os processos mentais (sentimentos, pensamentos, razão), além das
emoções, a forma de pensar e o comportamento do ser humano.

Embora existam diversas áreas e linhas de atuação, a psicologia


busca o conhecimento e o desenvolvimento humano individualmente
ou em grupo. Além disso, a psicologia possui algumas linhas, como: a
abordagem centrada na pessoa, gestalt, o psicodrama, a psicanálise,
80

a linha comportamental, a análise transacional e a psicologia


transpessoal.

Falar com especialistas também não é fácil. Entender sua


linguagem para passar para a sociedade é uma das tarefas mais
difíceis de ser jornalista. Mas encaramos como mais uma experiência,
o que nos faria além de aprender muitas coisas sobre essas doenças,
ajudar diversas pessoas que não sabem sobre elas.

Apesar de estarmos ansiosas com a nossa primeira e primordial


entrevista, pelo fato de ser a chave para o tratamento desses jovens,
fomos até o consultório da Renata. Esperar para ser atendidas nos
deu um frio na barriga enorme. Parecíamos crianças com medo de
conhecer a nova escola.

Encorajamos-nos, fizemos uma oração para que tudo corresse


perfeitamente como o planejado. E assim decorreu.

Em seguida, a secretária de Renata nos chamou para que


adentrássemos a sala do consultório. Quando entramos, Renata
vestida seu jaleco branco. Tinha pele clara, cabelos nem claros e nem
escuros, olhos castanhos e estatura mediana. Renata pediu para que
nos sentássemos e ficássemos a vontade para perguntar o que
gostaríamos de saber.

De imediato começamos a falar novamente sobre o nosso livro


que era um projeto de final de curso. Sua primeira pergunta foi
porque escolhemos esse tema para fazemos um livro, já que a
mesma o considerava complexo demais.

Respondemos a Renata que os dois motivos principais de


fazermos o livro- reportagem, eram o fato dos meios de comunicação
não aprofundarem sobre essas patologias e fazer com que tanto os
81

jovens, suas famílias e a sociedade em geral conhecessem mais um


pouco sobre essas doenças.

Em seguida, Renata super simpática e adorável nos deixou bem


à vontade para interrompê-la quando não entendêssemos alguma
coisa que ela falasse. Parecia mais uma conversa de amigas, do que
de médica com duas jornalistas.

Achar que seria tão fácil assim não era o que imaginávamos.
Ficamos certas de que iríamos conseguir mais essa etapa do nosso
trabalho. E resolvemos abrir com a pergunta chave de ouro:
- Renata, explique-nos qual o procedimento do psicólogo no
tratamento de pacientes anoréxicos e bulímicos? Perguntamos.

- A paciente tem que já ter passado por uma avaliação médica e


psiquiátrica para ver qual foi o diagnóstico.

Se caso já os jovens tenham passado por esses profissionais é


necessário saber qual o médico que a encaminhou para a
psicoterapia que é o trabalho do psicólogo.

A ajuda do psicólogo para uma anoréxica e uma bulímica é de


imprescindível importância. E em uma primeira consulta com essas
pacientes é necessário ter certeza de que a menina ou menino tem a
doença para se poder pensar em um tratamento. A psicóloga Renata
do Valle nos explica o primeiro procedimento.

Além do médico, precisa ser trabalhado a auto-imagem, a auto-


estima, onde a imagem corporal que ele tem é totalmente distorcida,
e a mesma se vê gorda, quando não está.
82

- Tanto a anorexia quanto a Bulimia estão associadas com a


depressão e por isso o tratamento medicamentoso com
antidepressivos é fundamental.

A psicoterapia é uma ação que complementa o médico


psiquiatra, já que somada a medicamentos existe maior possibilidade
de obter melhores resultados do que qualquer uma delas
separadamente. Além disso, é recomendável o psicólogo fazer um
psicodiagnóstico que consiste em um diagnóstico psicológico que é
realizado após solicitação ao psicólogo.

- O psicodiagnóstico tem o objetivo de clarear alguma dúvida ou


dificuldade no tratamento de um paciente.

O exame é realizado utilizando entrevistas (inicial, anamnese) e


aplicação de testes psicológicos para confirmar ou descartar
hipóteses levantadas durante as entrevistas.

Além disso, uma boa psicoterapia é indicada ao paciente para


ajudar a prevenir e identificar recaídas. Em alguns casos,
principalmente os mais graves, deve-se proceder com a internação
para o restabelecimento da saúde.

- É freqüente acontecer as recaídas, por isso é necessário um


profissional que estabeleça com um paciente um vinculo de confiança
duradouro - explica.

A psicoterapia deve ser associada a uma orientação familiar,


acompanhamento multidisciplinar com outros profissionais como
nutricionista, para estabelecer um plano alimentar, o endocrinologista
para corrigir as possíveis alterações metabológicas provocadas.
83

O tratamento de uma anoréxica e/ou bulímica não tem tempo


específico. Isso varia conforme a gravidade do caso do jovem.
Portanto, pode ser um “início de quadro”, descoberto recente a
doença ou pode ter tido várias internações médicas, sem que tenha
todo o atendimento psicológico.

- Muitas vezes, a família só faz o atendimento médico e não


procura o psicológico quando há melhora do quadro clinico do jovem.

Tanto para os jovens que possuem bulimia ou anorexia o


procedimento de um psicólogo é igual já que às vezes as duas estão
associadas, e fazem parte de um transtorno alimentar no qual o
objetivo principal é o emagrecimento, seja ele por parar de comer ou
vomitar.

Depois de quase duas horas de entrevistas agradecemos a


Renata pela colaboração, nos despedimos e fomos embora.

Saindo do consultório felizes, nos sentimos realizadas por achar


uma médica tão disponível e entendida sobre o assunto abordado.
Renata nos ajudou muito esclarecendo dúvidas desconhecidas por
nós e muitos jovens também tem, além dela conseguir falar em uma
linguagem fácil de ser entendida, para podermos assim, passar aos
nossos queridos leitores para que eles também entendam um pouco
mais sobre essas doenças que atingem milhões de jovens no mundo
todo.
A explicação de um profissional relacionado com essas doenças,
é imprescindível para o esclarecimento de todos, já que temos
certeza que muitos jovens ou até mesmo suas famílias, conseguirão
compreender e entender mais, e poder assim ajudar a diagnosticar se
os mesmos tem essas doenças ou não.
84

*
* *

O uso de medicação no tratamento e recuperação

Psiquiatra não trata só loucuras


85

Não adianta falar da psicologia sem passar pela psiquiatria. Os


dois médicos caso não haja rendimento somente na análise de
consciência dos jovens com a psicoterapia, é imprescindível a ajuda
de um médico psiquiatra que ajude no tratamento com a inclusão de
medicação.

Antes de adentrarmos nas explicações é importante esclarecer


o que é a psiquiatria e o que ela compreende.

A palavra Psiquiatria deriva do Grego e quer dizer "arte de curar a


alma". Ela é uma especialidade da medicina que lida com a prevenção,
atendimento, diagnóstico, tratamento e reabilitação das doenças mentais
em humanos, sejam elas de cunho orgânico ou funcional, tais como
depressão, doença bipolar, esquizofrenia, transtornos de ansiedade e
anorexia e bulimia.

A meta principal da psiquiatria, é o alívio do sofrimento psíquico e o


bem-estar psíquico. Para isso, é necessária uma avaliação completa do
doente, com perspectivas biológica, psicológica, sociológica e outras áreas
afins.

E foi assim, procurando saber mais sobre essa especialidade


que conhecemos Rodrigo Ferreira Abdo, que é perito em anorexia e
tratamentos relacionados a transtornos alimentares.

Até chegarmos até Rodrigo, tivemos um trabalho bem árduo.


Primeiro entramos no site da Uniderp, fomos à parte de "Graduação"
e depois no link "Cursos". Em seguida procuramos "Medicina". Já no
link desse curso, fomos à parte que tem o nome do corpo docente
(professores), e clicamos um por um dos nomes. Tentamos falar com
todos os médicos da listagem, mas ninguém queria nos ajudar a
esclarecer sobre essas doenças. Quando cheguei à vez de ver o nome
do Rodrigo, resolvemos então mandar e-mail pra ele, para ver se ele
aceitava nos ajudar no nosso propósito.
86

Como Rodrigo é um médico muito ocupado, com muitos


pacientes, e não tinha horário em sua agenda, ele mesmo perguntou
se a nossa entrevista poderia ser via e-mail. Porque assim quando
estivesse mais tranqüilo em casa, poderia nos atender de forma mais
tranqüila onde pudesse nos dar toda a atenção necessária e
responder nossas perguntas.

Já que não tínhamos tido sucesso com nenhum outro


resolvemos aceitar entrevista-lo dessa forma.

Ao ver que iríamos entrevistar um homem, ficamos com medo,


receio, já que nossa outra médica tinha sido mulher. Mas fomos
confiantes de que seria mais uma colaboração pra nossa história.

Fizemos todas as perguntas necessárias e básicas para


entendermos um pouco sobre os transtornos. Rodrigo respondeu
detalhadamente e de bom grado nossas dúvidas.

Vimos que quando o psicólogo fizer a avaliação inicial e o


diagnóstico clínico de sua patologia nos pacientes com transtornos
alimentares como anorexia e bulimia, é necessário mais uma vez,
deixá-los consciente da doença, fazendo com que ele ou ela comece a
ter noção e que fazer o tratamento é necessário para conseguir
melhorar.

O diagnostico desses transtornos alimentares é clínico. Os


exames complementares servem apenas para indicar
comprometimentos do paciente como alterações menstruais,
metabólicas, nutricionais e da personalidade. Por isso, além do
acompanhamento do psicólogo e psiquiatra que é o médico, devem
ser necessários avaliações de um endocrinologista bem como de uma
nutricionista para ajudar no tratamento.
87

- O tratamento preferencial além desses especialistas, é


relevante à família fazer parte do tratamento por se tratar de uma
patologia crônica bastante complexa, onde a duração é longa e
definido caso a caso - relata o psiquiatra Rodrigo.

A anorexia e bulimia são transtornos alimentares e


compartilham sintomas, bem como de tratamentos semelhantes. O
importante é lembrar-se da individualidade de cada paciente e do
contexto onde o mesmo está inserido.

É comum acontecer às transições durante a vida entre os pólos


de anorexia e bulimia em um mesmo paciente.
- A questão principal não é o término do tratamento, mas deve-
se pensar no controle dos sintomas da patologia e na qualidade de
vida que esse paciente adquiriu com o tratamento - explica.

Geralmente, trata-se de pacientes que vão ser acompanhados


ao longo de vários anos, o que se chama de tratamento de
manutenção.

O fundamental de todo o tratamento é a psicoterapia


acompanhada da nutricionista, e aí, dependendo do caso, o psiquiatra
entra com o medicamento.

- Alguns pesquisadores negam-se a medicar pacientes com


anorexia e bulimia. Entretanto, esses pacientes se beneficiam muito
do uso de psicofármacos tais como antidepressivos, estabilizadores
de humor e ansiolíticos (tranqüilizantes) - diz.

É importante sempre lembrar que a associação desses


transtornos com a dependência química de anorexígenos
88

(medicamentos para anorexia) entre adolescentes e mulheres adultas


é muito grande, chegando a ser um problema de saúde pública.

Como Rodrigo falou muitas coisas técnicas, tivemos que


mandar diversos e-mails requerendo-o para que pudesse nos explicar
de forma mais fácil para que pudéssemos transcrevê-los.

Sem problema nenhum e cheio de disposição, Rodrigo em


seguida nos retornou o e-mail com as dúvidas respondidas e
detalhadas. No começo achávamos que não íamos conseguir dar
conta, por ser muito difícil de achar os especialistas quanto na hora
de transcrever aos nossos leitores de forma acessível. Mas com
dedicação e muito trabalho, mais uma entrevista tinha sido realizada.

*
* *

O uso rígido do cardápio é importante para se chegar à cura

O prazer aliado ao cardápio balanceado

A Bulimia e a Anorexia são doenças no qual já foi citado acima,


envolvem vários tipos de especialistas, cada qual com seu tratamento
diferenciado para cada situação ou paciente.

Nesse caso, resolvemos abordar de um âmbito geral, como uma


situação bem comum da anorexia e bulimia que é a falta de
alimentação para as anoréxicas e o exagero da ingestão de alimentos
e conseqüentemente depois o arrependimento para as (os) bulímicas
(os).
89

Dia de semana ensolarado. Silvia também é uma médica muito


ocupada. Desde o momento em que a achamos na internet e
mandamos um e-mail falando sobre o nosso propósito, a mesma se
dispôs inteiramente em nos ajudar. Mais uma etapa do nosso
processo seria realizado.

Dessa vez, a entrevista seria um pouco diferente do normal.


Seria via MSN, já que ser médica é se doar de corpo e alma a sua
profissão. E com Silvia não seria diferente. Mandamos um e-mail
agradecendo a oportunidade e perguntamos onde e como seria mais
fácil realizar nosso encontro.

É claro que ela preferiu ser via internet, aliás, essa é uma das
melhores ferramentas que auxiliam na abordagem de um tema, ainda
mais esse quando se é complexo demais. No e-mail pedimos seu MSN
e assim marcamos em uma terça-feira à noite, já que Silvia poderia
somente nesse horário.

Na hora combinada lá estávamos nós duas autoras do livro


conversando o que seria melhor abordar durante a entrevista. Em
seguida, a nutricionista entrou no MSN empolgada, nos
bombardeando com milhares de perguntas sobre o nosso livro-
reportagem.

Respondemos a todas, é claro, com o maior detalhe possível


para que ela entendesse a finalidade do nosso trabalho. Em seguida
nos elogiou, e disse que agora sim, estaria pronta para as nossas
perguntas.

Antes de começarmos a conferência, pedimos para que Silvia


nos dissesse como é o processo de uma paciente com anorexia e
90

bulimia, e como é o procedimento com essas jovens anoréxicas,


desde essa primeira consulta até a finalização do processo.

- Meninas, primeiramente, é preciso conquistar a sua confiança


acima de tudo. Estes pacientes normalmente não admitem a sua
doença, tem dificuldade em aceitar isso. Até mesmo agem sem receio
de suas conseqüências, relata Silvia.

Os tipos de pacientes que são consultados são espertos em


"burlarem" o tratamento, e enganarem facilmente os que estão a sua
volta, o que condiz com o que é escutado por eles nas entrevistas
feitas.

A nossa conversa estava bem engraçada e interessante, pois


parecia conversa de amigas, de comadre, e não de médica e
jornalistas. Até o que achamos o máximo o fato de que durante nossa
conversa Silvia falava com a gente de uma forma tão acessível que
até estranhamos, comentando isso com ela.

Ela nos respondeu dizendo que tanto para nós quanto para
escrevermos, seria de mais fácil entendimento. Ela ressaltou ainda
que não gostava de falar tecnicamente porque senão teria que
explicar tudo de novo as pacientes e aos seus familiares.

- Eu prefiro conversar como amiga, mãe e filha (o), orientando


sempre dos perigos da doença, explicando que eu posso ajudá-la
caso ela tenha força de vontade. Sempre deu certo, nos explica Silvia.

A nutricionista nos explica que a primeira fase do tratamento é


uma fase educativa. É necessário abordar questões sobre
alimentação saudável, conceitos sobre saúde, padrões de fome e
saciedade, fontes de nutriente, recomendações nutricionais.
91

- Devemos mostrar as conseqüências da restrição de alimentos,


as carências e, principalmente os perigos das purgações
(compensações), como vômito forçado, uso de medicamentos como
diuréticos, laxativos, relata a nutricionista.

O acompanhamento da família é fundamental para que haja o


esclarecimento da doença, dos riscos, e também do tratamento e
caso haja alguma dúvida, somente o especialista pode responder.

Já em relação ao tempo de tratamento, o mesmo não tem prazo


para terminar, pelo contrário, é longo como qualquer tratamento
psicológico. Depende muito da pessoa. Pode durar até muitos anos.

- Hoje em dia, existe muito preconceito da sociedade com as


doenças psiquiátricas. Existem até pais que não dão importância à
doença, tratam como se fosse "frescura" – explica Silvia.

Provavelmente, o médico deve pedir algum exame que meça


albumina, hemograma completo, para ver se há alguma deficiência já
instalada.

Silvia ainda explica o que deve ser feito antes de começar a


reeducação alimentar.

- Para o paciente com anorexia e bulimia nervosa, é necessário


fazer uma avaliação nutricional. Para os pacientes com anorexia,
normalmente eles estão bem abaixo do peso - diz.

Depois da avaliação com o paciente, é necessário fazer uma


dieta para que o peso seja recuperado. Entretanto, a quantidade
inicial dos alimentos é pequena, e vai se aumentando
progressivamente, até que as necessidades sejam atendidas.
92

Para as pacientes com anorexia, deve-se tomar cuidado para


não causar Síndrome da Realimentação ao iniciar a dieta.

- Esta síndrome causa hipofosfatemia, hipocalemia,


hipomagnesemia, intolerância à glicose, e arritmias cardíacas
(aceleração), por isso deve se iniciar com uma quantidade baixa de
alimentos e ser evoluída gradativamente - ressalta.

Uma refeição balanceada, com quantidades mínimas, é uma


dieta que contenha uma fonte de carboidrato, proteína, lipídios,
vitaminas e minerais necessárias para o corpo humano. E
conseqüentemente vai-se aumentando a quantidade até atingir as
necessidades.

Os com anorexia nervosa, normalmente são desnutridos, por


isso é feita uma dieta para recuperar o peso. Já para bulímicos, é
necessário atuar de acordo com o estado nutricional dele. Pode ser
tanto com peso normal, levemente sobrepeso ou abaixo do peso,
onde a dieta varia de acordo com o estado nutricional dele.

- O tratamento deve ser multidisciplinar: com psicólogo,


psiquiatra, clínico geral e nutricionista são fundamentais. É
importante abordar também a questão da imagem corporal, por isso
deve-se esclarecer sobre peso ideal, desnutrição, obesidade - diz.

É interessante o paciente, tanto bulímica com anoréxica, fazer


um diário alimentar dizendo o que ele comeu durante o dia, quanto
comeu, a hora, local, se houve purgação, e o sentimento relacionado.

- Isso serve para que o paciente tenha uma auto-monitoração. É


de ótimo resultado. Assim, o paciente consegue se auto-avaliar e fica
mais fácil de nós especialistas avaliarmos - explica.
93

A dieta para pessoas bulímicas é diferente. Normalmente


encontramos indivíduos com peso normal ou levemente acima ou
abaixo do peso. Diferentemente da anorexia nervosa em que
encontramos desnutridos.

Uma das metas principais para se chegar a um controle e


possivelmente uma cura, é a melhora do psicológico e emocional do
paciente e dos comportamentos alimentares.

*
* *
Endocrinologista só para bulímicos????

Desordem alimentar pode ser tratada

Depois de termos conversado com uma psicóloga, um


psiquiatra e uma nutricionista, fomos indicadas a entrar em contato
com algum endocrinologista que faz parte da equipe multidisciplinar
dessas patologias, que são a anorexia e bulimia.

E por isso conversamos com a médica Luciana M. Sobreira para


saber qual o seu papel dentro da equipe que ajuda na melhora e no
tratamento da anorexia e bulimia.

Conseguimos o telefone da Dra. Luciana, através da lista


telefônica, na parte de endocrinologistas. Tentamos ligar para vários
consultórios atrás de algum médico que fosse dessa área e que
aceitasse nos ajudar. De todos os que ligamos, essa doutora foi a
mais solicita.

A primeira vez que ligamos em seu consultório, pedimos para


sua secretária passar o endereço de e-mail dela, por que assim
poderíamos explicar melhor como seria o procedimento de entrevista,
94

para depois marcarmos um horário para irmos conversar


pessoalmente com ela.

No mesmo dia, mandamos e-mail pra ela e no outro dia já


tínhamos resposta. Então ligamos novamente em seu consultório, só
que dessa vez foi para marcarmos um horário para com ela. A
secretária dela nos perguntou se poderia ser na sexta-feira final da
tarde, dizemos que sim.

O dia da entrevista finalmente chegou e lá estamos nós para


fazer entrevista com uma endocrinologista, que iria falar quando esse
tipo de profissional trata um paciente que tem transtornos
alimentares.

Quando chegamos, tivemos que esperar uns cinco minutos na


recepção e logo fomos chamadas.

Apresentamo-nos e logo de cara a médica, foi nos aconselhando


e dizendo que era importante colocarmos no livro que os pacientes
anoréxicos não procuram o “endócrino” com freqüência, pois são
mais comuns casos de bulimia, porque geralmente a pessoa não
altera o peso e por causa da compulsão alimentar, acaba causando a
obesidade.

- Essas desordens alimentares podem ser transformadas em


doenças cardíacas, insuficiência real, osteoporose e aumento na
mortalidade. Por isso no primeiro contato com o doente, é primordial
fazer uma anamnese (bateria de perguntas) completa – ressalta
Luciana.

Essa bateria de perguntas serve para o médico obter mais


informações a respeito do paciente. E no caso do endocrinologista,
pergunta-se sobre a queixa principal, os sintomas, a duração do
95

quadro, e também se deve perguntar sobre os aspectos psicológicos,


como está a auto-estima, como se vê.

Isso acontece porque as anoréxicas têm muita alteração de


auto-imagem, se vêem gordas e sempre infelizes com o peso, além
de ansiedade, como está o sono.

- Na área clinica é importante perguntar hábitos alimentares,


funcionamento intestinal, se sente dispepsia (azia, queimação no
estômago) - explica.

Não esquecendo que é importante fazer o Índice de Massa


Corporal, o IMC (peso dividido por altura ao quadrado) baixo no
exame físico, chama atenção, na anorexia. Já na bulimia, o endócrino
pode verificar se há machucados nas mãos do paciente pela tentativa
incessante de indução ao vômito e geralmente se há a alteração nas
unhas e nos cabelos.

Como a anorexia e a bulimia são doenças diferentes,


conseqüentemente o tratamento também. A bulimia se apresenta
com binge (compulsão) recorrente, onde se ingere grande quantidade
de comida em curto tempo.

- São adotados comportamentos compensatórios inapropriados


para não ganhar peso, como indução de vômito, abuso de laxantes
diuréticos e enema - diz.

Além disso, há também uma obsessão constante por comida,


em alguns casos o peso é normal. Geralmente é uma desordem
crônica (duração maior que 6 meses), em 10 a 20% se transforma em
outras doenças como anorexia, compulsão e obesidade.
96

Para os endocrinologistas, é mais fácil tratar a bulimia que a


anorexia, pois é uma doença mais comum, há melhor adesão ao
tratamento, há maior noção que existe um problema e há melhor
resposta aos tratamentos.

- Para tratar uma bulímica usam-se antidepressivos, como o


Topiramato. Os tricíclicos não funcionam bem. Os inibidores da
recaptação da serotonina, entre eles a fluoxetina, tem melhor
resposta. A fluoxetina é usada em maior dose, 60 mg por dia. Os
ansiolíticos, como benzodiazepínicos não são muito recomendados -
complementa.

Já para o tratamento da anorexia, como há apresentação do IMC


(Índice de massa corporal) abaixo de 17,5, há uma perda de peso
auto-induzida, imagem corporal distorcida, alterações endócrinas no
eixo hipotálamo-hipofisário e desordens no crescimento (pacientes
logo após a puberdade).

Existem também comorbidades psiquiátricas, como depressão,


ansiedade, transtorno obsessivo-compulsivo, desordens afetivas. O
tratamento farmacológico não é o de primeira linha (deve-se fazer
terapia, e se há risco de vida a paciente deve ser internada).

- Dentre as medicações, os antidepressivos tricíclicos, têm


como efeito colateral sedação e ganho de peso, por isso são bem
indicados. Os inibidores da recaptação da serotonina são bons, a
fluoxetina é usada desde os anos 90 e traz ganho de peso, melhora
da depressão e do comportamento obsessivo compulsivo - explica.

Geralmente a duração desses tratamentos varia de seis a 12


meses, no mínimo, dependendo da gravidade do caso. São doenças
altamente delicadas e precisam acompanhamento com especialistas
que tratam desse tipo de doenças.
97

Outros exames são importantes fazer para detectar a gravidade


da bulimia como: exames de sangue que incluem perfil lipídico
(colesterol), glicemia, proteínas totais e frações, cálcio e magnésio,
zinco e vitamina B12, função renal e hepática e perfil hormonal do
eixo hipotálamo-hipofisario (função da tireóide, dos ovários). Pode-se
pedir também endoscopia digestiva alta para avaliar se há esofagite
ou gastrite pela indução do vômito. Na anorexia pode-se pedir uma
densitometria óssea para avaliar osteoporose, ocasião em que a
osteopenia é freqüente e persistente.

- É importante a relação médico-paciente mais estabelecida


para falar sobre essas patologias - explica.

A ligação do endócrino com transtornos alimentares é


geralmente por tratar mais compulsão e obesidade, mas, eles podem
ser a conseqüência de bulimia e anorexia na adolescência.

O endócrino pode avaliar as alterações que essas doenças


estão trazendo no organismo, pois, acabam causando alterações
hormonais, como amenorréia, e osteopenia.

- O endócrino pode prevenir esse quadro, além de dar suporte


ao tratamento psiquiátrico e psicoterápico – finaliza.

Essas desordens exigem uma equipe multidisciplinar, pois


derivam de todo o cuidado e toda paciência, desde o paciente
portador da doença e de sua família.

*
98

A educação corporal faz bem para o corpo, saúde e para a


mente

O movimento X O prazer de ser saudável

Antes de explicarmos sobre a questão física dos jovens com


anorexia e ou bulimia, temos que esclarecer alguns pontos
importantes que são primordiais para que o preparador físico faça sua
parte dentro do processo clínico.

1. Em primeiro lugar, tanto a paciente anoréxica quanto a


bulímica tem que ter passado primeiramente pelo psicólogo e
psiquiatra e pela nutricionista e fazer exatamente o que mandam
cada especialista. Para esse último, é relevante seguir o cardápio
corretamente.
2. Em segundo lugar, é necessário que ambas as pacientes
tenham conhecimento da doença e queiram mudar.

Depois de entendidos esses dois pontos, podemos dar


prosseguimento ao nosso desafio que é analisar do ponto de vista
“educacional”, e ver o que o especialista em Educação Física,
Gustavo Barbieri, pode fazer para melhorar a vida dessas pacientes.
99

Conhecemos Gustavo, através de um amigo incomum que


temos. Pegamos o telefone desse preparador físico com esse nosso
amigo e entramos em contato com ele. Ele foi bastante simpático
dizendo que estava disposto em nos ajudar no que precisássemos.

Então marcamos um dia para irmos a sua casa conversar sobre


a função do preparador físico durante o tratamento do anoréxico e
bulimico.

O dia chegou e lá estávamos na frente da casa de Gustavo.


Tocamos a campainha e quem nos atendeu, foi sua empregada a
dona Maria. Ela nos convidou para entrar e disse que iria chamar ele.
Minutos depois, ele estava lá pronto para ser entrevistado.

Bom, para começar temos que entender que essas duas


doenças têm processos diferentes para o profissional dessa área.

Ao mesmo em que começávamos conversar com Gustavo, o


mesmo nos ofereceu tereré, dizendo que era bom e digestivo.
Aceitamos na hora. E assim, Gustavo nos explicou sobre anoréxicas e
bulímicas.

- Primeiro, uma não come e a outra come em curtos períodos


de tempo. Não posso passar um treino igual para as duas já que
ambas tem problemas diferentes. – explica.

O educador, nesse caso Gustavo, tem que entender o problema


das pacientes e fazer uma avaliação física nela, onde é visto índice de
massa corporal, índice de gordura, chances de problemas cardíacos,
etc.

Além dessa avaliação, Gustavo faz uma bateria de perguntas


sobre a vida dessas pacientes onde é observado se bebem, fumam,
100

usam drogas, se a digestão é boa, se dormem bem, se vão para


balada, se tem problema de coração, de pressão, etc., para que assim
possa ver qual treinamento adequado para essas pacientes.

- Na verdade, tenho que ter o acompanhamento dessa paciente


com a nutricionista e com o psicólogo. Além disso, elas têm que ter
consciência de que tem um problema e querem ter uma estética boa
com uma excelente qualidade de vida, já que ambas não se
preocupam com isso.

No caso da anoréxica que é magra ou magérrima, é de principal


relevância analisar o fator genético, junto com a bateria de perguntas
e a avaliação feita. E aqui, o treino que vai ser passado a seguir é
apenas algo superficial, o que seria o mais indicado passar, já que a
paciente não foi analisada profundamente.

- Para uma pessoa que é magérrima, é levando em


consideração que ela faz exercícios físicos exageradamente para
emagrecer, eu passaria um treino de hipertrofia muscular combinado
com treino aeróbico - relata Gustavo.

Na verdade o treino de hipertrofia é para acelerar o


metabolismo da paciente além de trabalhar com o estímulo da fibra
2A que serve para ganhar massa muscular e poder trabalhar todo o
corpo.

O que se deve lembrar é que o aumento de massa muscular é


diferente do aumento de peso.

- Para que ela recupere seu corpo e que tenha uma estética boa
junto com a melhora na qualidade de vida, o treino tem que ser
combinado com a periodização, que é um treino em longo prazo.
101

O importante para essa paciente é que, além de comer


corretamente seguindo o cardápio, ela não vai aumentar sua gordura
corporal, vai apenas voltar ao seu corpo normal e não ter a
preocupação com o risco de morte.

O ganho da massa muscular acontece na recuperação do treino,


ou seja, quando ela estiver em repouso, porque há a
supercompensação de proteína que é a ingestão necessária de
proteínas necessária para o corpo humano.

- É importante fazer a combinação da hipertrofia muscular junto


com o treino aeróbico, que libera a endorfina que é o hormônio do
prazer, e faz com ela tenha uma sensação agradável de sentir bem e
estar com a saúde em dia - afirma.

Já para a bulímica que come em curtos períodos de tempo e


depois se arrepende do ato e vomita, é necessário também da
consciência em primeiro lugar, seguido da avaliação, da anamnese
(bateria de perguntas) e seguir o cardápio da nutricionista. O treino
para a recuperação do peso e para o aumento da qualidade de vida é
bem diferente.

-Nesse caso seria interessante passar o treino de resistência


que é a predominância do uso da gordura como fonte de energia,
fazendo–a emagrecer, seguido é claro, do treino aeróbico, que traz a
perda de peso que é o objetivo principal, combinado com a saúde.

A seguir, você confere abaixo as vantagens do treino de


resistência:

• Permite treinar a intensidades superiores às conseguidas


com os métodos contínuos, o que conduz a adaptações mais rápidas
e significativas.
102

• A manipulação das variáveis envolvidas (nº de repetições,


séries, intervalos, distâncias, etc.) permite escolher com rigor os
efeitos pretendidos, pelo que se obtém grande eficiência.
• A vantagem é para aqueles que querem adquirir maior
resistência, condicionamento físico, seja musculação ou treino
aeróbico, etc.

Não existem desvantagens nesse treino, pois o mesmo,


beneficia quem for praticá-lo.

Esse tipo de treino estimula a fibra número 1 que está contida


nos músculos da perna e barriga e só vai trazer resultados se o
professor estiver acompanhando o treino e a paciente. É claro, que a
força de vontade de ambas de se transformar e ter uma vida normal,
sendo “magra”, mas com saúde, é um dos pontos principais para a
realização.

Escrevendo este capítulo, vimos que os especialistas dependem


mutuamente um do outro para que as pessoas com transtornos
alimentares possam obter resultado em seu tratamento.

Esses jovens não dependem somente dos especialistas para


que isso aconteça, e sim principalmente da aceitação do doente e do
incentivo dos familiares e amigos, fazendo com que assim o
tratamento seja realizado com sucesso.
103

Considerações Finais

Elaborar uma conclusão final de um curso não é uma tarefa


fácil. Há o momento da pesquisa onde devemos procurar em
bibliotecas das universidades e em sites para ver se não há a
existência deles, fazendo com que seja uma tarefa árdua, onde é
treinada a paciência. Depois de pesquisado e escolhido o tema, é
necessário determinar a metodologia que vai ser trabalhada dentro
desse tema, ou seja, o que vai ser abordado.

Escolher a anorexia e a bulimia como tema e escrever sobre


ele, foi muito trabalhoso, porém, muito satisfatório em questão de
aprendizagem. Concluímos que para iniciar o livro, deveríamos
recorrer a publicações de história, filosofia, medicina, psiquiatria e
psicologia, entre outras, para que pudéssemos mostrar a história
dessas doenças, já que os meios de comunicação trabalham as
matérias de forma superficial.

Associado com a anorexia e bulimia, está falar sobre a busca


excessiva e antiga pelo belo. Desde muitos anos atrás, o homem (ser
humano), buscava a beleza e a forma física, não só para atrair o sexo
oposto, mas como para mostrar a saúde e a aparência física. Depois
de tantos livros pesquisados para escrever sobre a história da beleza,
resolvemos mostrar as histórias de vida de jovens, tanto meninas
como meninos, que tem ou tiveram essas doenças.

Tivemos que restringir a pessoas da capital sul-mato-grossense,


já que falarmos de todas as pessoas que possuem algumas dessas
104

doenças, poderia inviabilizar o trabalho. Tanto que ao entramos em


contato com esses jovens, descobrimos pessoas de outros estados e
também de outros países. Foi impactante ver que jovens possuíam
essas doenças, e que eram coisas sérias, que não se devia brincar.
Depois recorremos à nossa tecnologia e fomos diretamente ao orkut,
em comunidades de anorexia e bulimia.

Como vimos à dificuldade de conseguir pessoas de Campo


Grande para nos dar depoimentos sobre suas histórias de vida,
resolvemos posteriormente deixar recados nessas comunidades e
fizemos uma, composta por pessoas que tinham “Anna” e “Mia”
(abreviação de anorexia e bulimia), e ver se pessoas resolviam nos
ajudar. Não esquecendo que, no perfil, falamos que o que nos
importava eram as histórias e não os nomes, e acreditamos que, por
isso, meninas e meninos resolveram nos ajudar a continuar nosso
desafio.

Jovens nos adicionaram na comunidade e a partir daí, deixamos


recados nos orkut’s falando superficialmente sobre o nosso trabalho e
pedimos e-mail ou MSN para que pudéssemos explicar como ocorreria
a entrevista, já que os mesmos tinham aceitado a dar seu
testemunho.

Graças a Deus, conseguimos muitas histórias, tanto de meninas


quanto meninos que fizeram com que finalizássemos mais uma parte
do nosso desafiador livro-reportagem.

Posterior a essa parte dos depoimentos, resolvemos abordar a


questão dos medicamentos usados por esses jovens. É claro que não
foi uma tarefa fácil, mas conseguimos com uma farmácia que ela nos
ajudasse a descobrir quais são os remédios usados e também sobre
as tarjas, já que a maioria desses remédios não pode ser usada a
qualquer hora e sem a indicação de um médico.
105

Antes de finalizarmos o livro, achamos de real importância falar


com os médicos, cada um dentro da sua especialidade clínica para
ver o processo e a influência deles dentro do tratamento desses
jovens. Por isso, entrevistamos nutricionista, endocrinologista,
preparador físico, psicólogo e psiquiatra que são os que têm mais a
ver no tratamento dessas doenças.

Na última parte do livro-reportagem, colocamos algumas fotos,


mapas para que houvesse mais a compreensão da sociedade e para
esses jovens e para suas famílias, já que como foram mencionados
acima, os meios de comunicação tratam dessas doenças de modo
totalmente superficial.

Foi gratificante escrever o livro porque, além de falarmos vários


aspectos que ajudam a entender mais sobre as doenças, fez-nos
perceber que são patologias fatais e que deve ter cuidado especial e
que não é só vaidade, mas vai além, muito além de ser bonita, ter um
corpo bonito. Acaba se tornando uma obsessão, do qual muitos
desses jovens não sabem o perigo e o que realmente causam se não
descobrir a tempo.

Ser jornalista é olhar sempre todas as matérias e todos os tipos


de reportagens com um olhar clínico. E fazer isso não é simples não.
Há muita técnica por trás. Quando abordamos o que sai nas mídias
sobre anorexia e bulimia, vimos que muito do que sai publicado, é
superficial. Tudo isso, porque são apenas alguns meios de
comunicação que tratam do assunto de uma forma ampla,
aprofundada, falando sobre a história, tratamento, o que elas
causam, quais são os riscos, etc.
106

Além disso, quisemos fazer um livro-reportagem justamente


para falar mais sobre esse tema que não é tão divulgado ou é pouco
trabalhado nos meios de comunicação de massa. A ânsia pelo corpo
ideal, hoje bem menos roliço do que os corpos das musas de pintores
e escultores da Renascença continuam difundidos, talvez, não do jeito
que deveria, mas ainda é disseminada pelos meios de comunicação.

Não foi possível localizar levantamentos sobre o número de


publicações voltadas ao culto ao corpo, mas basta ir à banca de jornal
para se perceber a fartura de revistas e livros sobre dietas, forma
física e cirurgias plásticas. Podemos ver que as principais revistas
semanais de interesse geral dedicaram diversas reportagens de capa
ao potencial transformador das operações que remodelam o corpo.

Por trás dessas reportagens do culto ao físico bem definido, seja


esculpido com dietas à base de remédios e muita malhação, seja por
bisturis em salas cirúrgicas, há toda uma complexa rede de lucros
capaz de movimentar bilhões de reais por ano. Envolve em graus
diversos, desde os meios de comunicação e as academias de
ginástica até a indústria farmacêutica, as clínicas e os médicos
especializados em plásticas estéticas.

O jornalismo tem que ir além do básico, preocupando-se com as


técnicas que devem ser seguidas, mas investigando aquilo que o
leitor não sabe e vai fazê-lo entender mais sobre o tema em questão.

A conquista ideal de um corpo perfeito centrado na magreza


influencia o desenvolvimento dos transtornos alimentares, mas não
age isoladamente. Fatores familiares e genéticos também estão
presentes. A primeira vez que ouvimos falar sobre essas doenças,
107

jamais imaginávamos saber que milhares de jovens no mundo inteiro


tivessem anorexia e/ou bulimia.

Aprendemos muito sobre essas duas doenças e concluímos que


a anorexia é um transtorno alimentar caracterizado por uma rígida e
insuficiente dieta alimentar e estresse físico. Já a bulimia é um
transtorno alimentar associado com a anorexia que tende a ser
compulsiva na alimentação, seguidos de culpa, por causa do ganho
de peso. Para eliminar esse excesso, as pessoas bulímicas exercitam-
se demais, vomita o que come e faz uso excessivo de laxantes e
diuréticos.

Além de saber mais sobre isso, aprendemos muito com a


história dela, vendo que existe desde muitas décadas atrás, assim
como soubemos sobre os efeitos dos remédios que são usados de
forma indevida como a automedicação e também saber mais o
processo dos especialistas quando o assunto é tratar de uma pessoa
anoréxica e bulímica.

Como o nosso digníssimo pintor Leonardo da Vinci disse em


uma sábia frase é que “aprender é uma coisa que nunca se cansa,
nunca tem medo e nunca se arrepende”.
108

REFERÊNCIAS

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(http://boasaude.uol.com.br/lib/ShowDoc.cfm?
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(http://houaiss.uol.com.br/busca.jhtm?verbete=bulimia&stype=k). Acesso em:
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DIMENSTEIN, Gilberto; KOTSCHO, Ricardo. A aventura da Reportagem. 4.


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Janeiro, 2007. Disponível em:
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(http://www.kalunga.com.br/revista/revista_marco_04.asp). Acesso em: 20 set.
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MEDINA, Cremilda de Araújo. Entrevista: Diálogo Possível. 3. ed. São Paulo:


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110

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TAVARES, Antônio. Brincos Romanos...ou a "Beleza na Antiguidade".


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romanosou-beleza-na.html). Acesso em: 20 set. 2007.
111

ANEXOS
112

Anexo I - Remédios de Anorexia e Bulimia

Remédios Usados

Nessa parte, vamos abordar os remédios mais usados pelas


anoréxicas. Remédios para as bulímicas, não é necessário citar, já
que para elas o uso de pentes, cabos e mãos já são suficientes para
forçar o vômito.

 Nome comercial: Absten, mais conhecido como Mazindol.


(produto psicoterápico).
 Tarja: Preta (venda sobre prescrição médica)
 Quantidade: 20 comprimidos contendo 1mg.
 ***Anorexígeno***
 Características: Produz efeito sobre o centro de controle de
apetite no hipotálamo e diminui a fome mediante a alteração do
controle químico da transmissão do impulso nervoso.
 Riscos:
• secura da boca;
• confusão ou depressão mental;
• taquicardia;
• nervosismo ou inquietude;
• insônia;
• diarréia;
• dores estomacais;
• diminuição sexual e de libido;

 Nome comercial: Desobesi-M, mais conhecido como


cloridato de femproporex.
 Tarja: Preta (venda sobre prescrição médica)
113

 Quantidade: 30 comprimidos contendo 25mg.


 ***Anorexígeno***
 Características: Causa depressão do apetite e diminuição da
acuidade pelo sabor e odor, o que leva a uma redução da
ingestão de alimentos. Ocasiona aumento da atividade física, e
contribui para a perda de peso.
 Riscos:
• Vertigem;
• Tremor;
• Irritabilidade;
• Fraqueza;
• Arritmia;
• Insônia;
• Dor de cabeça;
• Calafrios;
• Alteração na libido, etc.

Os remédios chamados Inibex e Sibutramina são mais usados


para obesidade e obesidade mórbida.

Linguagem das Tarjas

Para melhor compreensão sobre o risco e o grau de


necessidade da prescrição médica, os medicamentos são distinguidos
com uma linguagem de tarjas impressas em suas embalagens.

Tarja Preta: o remédio com tarja preta, mostra que o


medicamento é de elevado risco, e não pode ser usado sem
determinação médica podendo ser vendidos somente com
apresentação da receita.
114

Esses tipos de receitas ficam retidas nos estabelecimento


distribuidor do medicamento e são recolhidas, pelos serviços públicos
de saúde.

Tarja Vermelha: o medicamento com tarja vermelha é de


menor risco, ou seja, embora também seja vendido apenas com
receita médica, não representa risco de vida, mas apenas de efeitos
colaterais.
É importante que obtenha orientação médica correta para
utilizá-lo.

Tarja amarela: esta tarja deve constar na embalagem dos


medicamentos genéricos e deve conter a inscrição G e Medicamento
Genérico escritos em azul.

Sem Tarja: a ausência de tarja não é um indicador de que o


medicamento possa ser usado sem contra-indicação. A única
vantagem desse medicamento é que não há necessidade da
apresentação da receita médica.

Fonte: Legislação para Consumidores Brasileiros

Algumas Recomendações

Para o uso de devidos medicamentos, há sempre algumas


precauções que devemos tomar para evitar certos tipos de
problemas. Assim, podemos usufruir a melhor forma e sabermos o
que deve ser feito ou não.

Essas são as mais importantes que devemos saber, que são:


115

• Os medicamentos devem ser mantidos fora do alcance de


crianças e animais domésticos para evitar intoxicações;
• Os medicamentos devem ser guardados em locais frescos,
arejados, bem ventilados e protegidos da luz e umidade;
• As sobras de medicamentos utilizados devem ser jogadas fora,
principalmente antibióticos, colírio, remédio nasal e otológico;
• Os pacientes que usam mais de um medicamento ao mesmo
tempo, não devem deixá-los fora da embalagem para evitar
confusões;
• Nunca se devem usar medicamentos sem receita médica,
mesmo que ele já tenha sido receitado numa ocasião anterior;
• Nunca se deve utilizar a mesma receita mais vezes, sem o
conhecimento do médico;
• O medicamento precisa de tempo para agir. É absolutamente
errado imaginar que aumentando a dose do medicamento, o
efeito será mais rápido. Pelo contrário, esta atitude poderá
resultar em conseqüências graves para a saúde do usuário;
• Não se deve usar quaisquer medicamentos com base em
propaganda veiculadas em jornais, TV’s e rádios. Os
medicamentos só serão úteis quando o organismo realmente
precisa deles, se usados corretamente e com equilíbrio;
• O consumidor nunca deverá insistir com o médico para que ele
receite um determinado medicamento. O médico sempre sabe
qual o remédio mais adequado ao paciente;
• O medicamento indicado deve ser tomado durante todo o
período estabelecido pelo médico;
• O paciente não pode mudar a forma de tomar e nem
interromper o tratamento sem conhecimento do médico.

Se durante o tratamento, o medicamento provocar alguma


reação que não foi alertada pelo médico, ele deve ser avisado
imediatamente, e parar o uso.
116

Auto-medicação

Se automedicar é uma coisa que normalmente as pessoas


fazem por achar que se conhecem e conhecem o problema que tem.

Só que esse tipo de medicação não pode ser feita sem o


conhecimento do problema, pois, em algumas situações ou em
determinados pacientes, estas complicações podem ser fatais.

As maiores incidências de problemas com auto-medicação


estão ligados à intoxicação e às reações de hipersensibilidade ou
alergia manifestada por pequena irritação.

É que o uso do medicamento sem o acompanhamento do


médico especialista, pode esconder alguns sintomas e depois a
doença volta a se manifestar de forma mais grave.

Por outro lado, quando houver o descuido do tratamento,


reduzindo ou interrompendo o uso do medicamento antes de atingir a
dosagem e o tempo de tratamento prescrito pelo médico, pode ter o
aparecimento de outras doenças devido ao agravamento da primeira.

Exemplo: um simples resfriado, por exemplo, pode


transformar-se em pneumonia, e às vezes levar a morte.

Antes de se automedicar, procure um especialista e mostre a


ele o seu problema, pois, somente ele, poderá te ajudar e medicar
aquilo que condiz ao seu problema.

Cuidados Especiais
117

Nessa parte, queremos mostrar quais são as atenções que você


deve ter, ao adquirir ou consumir um medicamento. Por isso, não se
esqueça de verificar as sugestões abaixo.

Nome do remédio: Ao comprar o remédio é importante conferir se o


nome, a composição e as características do medicamento recebido
estão corretas.

Prazo de validade: É importante conferir a data de validade na


embalagem do medicamento. O consumidor não deve usar
medicamento com prazo de validade vencido e nem deve aceitar
medicamentos com embalagem amassada, rasgada ou sem rótulo.

Dosagem ou potência: Os medicamentos de um mesmo nome e


marca podem ser vendidos em embalagens infantis ou adultas, ou
mesmo com dosagens mais altas ou baixas, assim, a receita deverá
indicar e o consumidor deverá conferir se o medicamento adquirido é
exatamente o mesmo prescrito pelo médico, tanto na dosagem
quanto na composição.

Bula: As informações contidas na bula são importantes e prestam


várias informações ao consumidor, como especificação da fórmula,
modo de usar, contra-indicações, efeitos colaterais e demais
precauções quanto ao seu uso.

Dados da Receita Médica

É a receita médica dada pelo especialista, prescrita em razão


das informações obtidas do paciente e dos exames que foram
realizados e analisados, que deverá condizer o aproveitamento da
utilidade do medicamento com a menor possibilidade de efeitos
colaterais.
118

Este equilíbrio não deriva somente do tipo e características do


medicamento, mas também da forma de utilização e da dosagem em
relação ao tempo.

Por tudo isto, a receita contém, além do medicamento, a sua


quantidade total, a sua dosagem, os horários e modos de seu uso.

Ao receber uma receita, o paciente deve observar se as


informações e observações estão legíveis, se entendeu todo o seu
conteúdo e se não há mais nada a esclarecer. A receita deve conter:

• Nome e endereço do paciente;


• Nome do medicamento, tipo e quantidade receitada, horário de
tomá-lo, duração do tratamento e o modo de usá-lo;
• Data, assinatura e número de registro do médico no Conselho
Regional de Medicina.

Importa observar, que somente o médico ou especialista do seu


problema que vai estar habilitado e tem o dever de esclarecer as
dúvidas que o paciente possa ter sobre a doença, o medicamento
prescrito e o tratamento recomendado.

Para maior comodidade e economia o consumidor poderá


solicitar ao seu médico que faça constar também da receita o nome
genérico (composto ativo) do medicamento para que, havendo
conveniência, possa substituí-lo sem problemas.

A substituição de qualquer medicamento prescrito pelo médico,


somente pode ser ocorrer nesta hipótese, quando o medicamento
substituto contenha o mesmo composto ativo do medicamento
substituído.

Anexo II – Fotos de anoréxicas e bulímicas


119

O que a obsessão pela beleza resulta...

Crédito: http://br.geocities.com

Crédito: galileu.globo.com
120

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121

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122

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126

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127

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128

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129

crédito: invivo.fiocruz.br
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crédito: invivo.fiocruz.br
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Só que...

crédito: editoramythos.com.b

Será que a sua opção foi


pela cura???

Porque se olhar no espelho


e se amar...

NÃO TEM PREÇO!!!


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