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ALMANAQUE DA

ADVOCACIA PÚBLICA:
ESTUDOS DE QUARENTENA

João Pessoa/PB, junho 2020


SUMÁRIO

1. CONCEITO DE FAZENDA PÚBLICA ................................................................... 15


1 CONCEITO PROCESSUAL DE FAZENDA PÚBLICA ...................................... 16
2 REFERÊNCIAS ................................................................................................... 23

2. PRERROGATIVAS DA FAZENDA PÚBLICA ....................................................... 24


1 ASPECTOS INICIAIS .......................................................................................... 25
2 PRERROGATIVAS PROCESSUAIS DA FAZENDA PÚBLICA ......................... 26
2.1. Aspectos gerais dos prazos e suas peculiaridades ............................................................26
2.1.1. Dos prazos ..................................................................................................................26
2.1.2. Da forma de aplicação dos prazos à Fazenda Pública .............................................27
2.1.3. Da não aplicabilidade do prazo em dobro................................................................29
Não se aplica ao processo objetivo de controle abstrato de constitucionalidade a norma que
concede prazo em dobro à Fazenda Pública. ...............................................................................31
3 OUTRAS CARACTERÍSTICAS PROCESSUAIS ESPECÍFICAS ........................ 34
3.1. Da intimação pessoal para Fazenda Pública .....................................................................35
3.1.2. Intimação e prazo .............................................................................................................35
3.1.2. Intimação pelo próprio advogado / negócio processual e intimação ..........................36
3.2 Honorários advocatícios ..........................................................................................................36
4 CONCLUSÃO: OUTROS INSTITUTOS ESPECÍFICOS ................................... 38
5 REFERÊNCIAS ................................................................................................... 39

3. A FAZENDA PÚBLICA COMO AUTORA PROCESSUAL. PRINCIPAIS AÇÕES.


ASPECTOS GERAIS ................................................................................................... 40
1 ASPECTOS INICIAIS ........................................................................................... 41
2 CONCEITO E ABRANGÊNCIA .......................................................................... 41
3 REPRESENTAÇÃO JUDICIAL .......................................................................... 42
4 A FAZENDA PÚBLICA EM JUÍZO .................................................................... 43
5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................... 50

4. AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO, CONTESTAÇÃO E REVELIA DA FAZENDA


PÚBLICA ..................................................................................................................... 51
1 AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO ...................................................................... 52
2 CONTESTAÇÃO ................................................................................................. 53
3 REVELIA ............................................................................................................. 54
4 BIBLIOGRAFIA................................................................................................... 54

5. INTERVENÇÃO ANÔMALA ................................................................................ 56


1 CONCEITO E CARACTERÍSTICAS .................................................................. 57
2 NATUREZA JURÍDICA ...................................................................................... 58
3 PROCEDIMENTO ............................................................................................... 61
4 COMPETÊNCIA ................................................................................................. 62
4.1. A Fazenda Pública como interveniente na causa .............................................................62
4.2. Fazenda Publica como recorrente.........................................................................................63
4.2.1. Processos em trâmite na justiça estadual ........................................................................63
5 OBSERVAÇÕES .................................................................................................. 64
5.1. Ação rescisória .........................................................................................................................64
5.2. Mandado de segurança ...........................................................................................................64
6 BIBLIOGRAFIA................................................................................................... 65

6. PEDIDO DE SUSPENSÃO DO PODER PÚBLICO .............................................. 66


1 CONCEITO ......................................................................................................... 67
2 NATUREZA JURÍDICA ...................................................................................... 67
3 LEGITIMADOS ................................................................................................... 67
4 LEGISLAÇÃO PERTINENTE............................................................................ 68
5 APLICAÇÃO DO PEDIDO DE SUSPENSÃO .................................................... 70
6 CONSIDERAÇÃO GENÉRICAS......................................................................... 70
7 REFERÊNCIAS ................................................................................................... 72

7. TUTELA PROVISÓRIA CONTRA O PODER PÚBLICO ..................................... 73


1 JURISDIÇÃO E TUTELA PROVISORIA ............................................................ 74
2 TUTELA PROVISORIA ...................................................................................... 74
3 TUTELA PROVISORIA CONTRA A FAZENDA PÚBLICA .............................. 75
3.1 Das vedações legais ..................................................................................................................76
3.2. Meios de impugnação contra a concessão de tutela provisória em face da Fazenda
Pública .............................................................................................................................................80
3.3 Estabilização da tutela satisfativa requerida em caráter antecedente contra a Fazenda
Pública .............................................................................................................................................81
3.4 Tutela de evidencia contra a Fazenda Pública. .......................................................................82
8. PRESCRIÇÕES NAS AÇÕES QUE ENVOLVEM A FAZENDA PÚBLICA.......... 83
1 ASPECTOS INICIAIS .......................................................................................... 84
2 CONCEITO ......................................................................................................... 85
3 NATUREZA JURÍDICA ...................................................................................... 85
4 PRESCRIÇÕES NAS AÇÕES QUE ENVOLVEM A FAZENDA PÚBLICA ...... 86
5 CONCLUSÃO ...................................................................................................... 89
6 REFERÊNCIAS ................................................................................................... 90

9. DECADÊNCIA NAS AÇÕES QUE ENVOLVEM A FAZENDA PÚBLICA .......... 93


1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 94
2 ANÁLISE, PELO JUIZ, DA PRESCRIÇÃO E DA DECADÊNCIA EM FAVOR
DA FAZENDA PÚBLICA ........................................................................................... 95
3 PRAZO DA DECADÊNCIA EM FAVOR DA FAZENDA PÚBLICA ................. 96
4 REFERÊNCIAS ................................................................................................... 97

10. REMESSA NECESSÁRIA...................................................................................... 98


1 CONCEITO ......................................................................................................... 99
2 NATUREZA JURÍDICA ...................................................................................... 99
3 HIPÓTESES DE CABIMENTO ......................................................................... 99
3.1 Prevista no CPC/2015 .............................................................................................................99
3.1.1 Quando a sentença for “proferida contra a União, os Estados, o Distrito Federal, os
Municípios e as respectivas autarquias e fundações de direito público” ................................99
3.1.2 Da “sentença que julgar procedentes, no todo ou em parte, os embargos à execução
fiscal” ........................................................................................................................................ 100
3.2 Casos especiais ....................................................................................................................... 101
3.2.1 Decisão interlocutória de mérito proferida contra a Fazenda Pública ....................... 101
3.2.2 Honorários de sucumbência .......................................................................................... 101
3.2.3 Remessa necessária na ação popular ............................................................................. 102
3.2.4 Remessa necessária na ação de improbidade administrativa e na ação civil pública . 102
3.2.5 Remessa necessária em mandado de segurança ........................................................... 102
3.2.6 Sentença proferida nos casos em que fazenda pública figura como assistente simples
do réu ........................................................................................................................................ 103
3.2.7 Remessa necessária e sentença arbitral ......................................................................... 103
3.2.8 Remessa necessária e as decisões interlocutórias não agraváveis - aplicação do § 1º do
art. 1.009 do CPC .................................................................................................................... 103
4 PROCEDIMENTO ............................................................................................. 104
5 HIPÓTESES DE DISPENSA DA REMESSA NECESSÁRIA ............................ 105
6 BIBLIOGRAFIA.................................................................................................. 106

11. SISTEMA CONSTITUCIONAL DE PRECATÓRIOS ......................................... 108


1 INTRODUÇÃO AO SISTEMA DE PRECATÓRIOS ......................................... 109
2 ORDEM E CRONOLOGIA ................................................................................ 109
3 A NATUREZA DO CRÉDITO ........................................................................... 113
3.1 Fracionamento ....................................................................................................................... 114
4 PROCESSAMENTO DO PRECATÓRIO........................................................... 116
5 SEQUESTRO ...................................................................................................... 120
6 CORREÇÃO E JUROS DE MORA ..................................................................... 122
7 ESTUDO DA ADI 4357 STF – PARTE 1 ............................................................. 124
8 ESTUDO DA ADI 4357 STF – PARTE 2 ............................................................. 128
8.1 RE 870.947 – Tema 810 ....................................................................................................... 128
8.2 Jurisprudência do STJ – Tema 905 ...................................................................................... 129
9 COMPENSAÇÃO, CESSÃO E FINANCIAMENTO .......................................... 133
9.1 Compensação ......................................................................................................................... 133
9.2 Cessão ..................................................................................................................................... 134
9.3 Financiamento ....................................................................................................................... 135
10 EC 94 E 99 E SISTEMA ESPECIAL ................................................................... 137
10.1 EC 62.................................................................................................................................... 137
10.2 EC 94 e EC 99 ..................................................................................................................... 137
11 RPV E LEI 13.463/17 ........................................................................................... 143
12 BIBLIOGRAFIA.................................................................................................. 146

12. IMPUGNAÇÃO DE CUMPRIMENTO E PODER PÚBLICO ............................ 147


1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 148
2 LITISCONSÓRCIO ATIVO ............................................................................... 148
3 INÍCIO DO PRAZO PARA IMPUGNAR (30 DIAS)........................................... 149
4 DO EFEITO SUSPENSIVO DA IMPUGNAÇÃO .............................................. 149
5 REJEIÇÃO LIMINAR DA IMPUGNAÇÃO ....................................................... 150
6 DA RESPOSTA DO EXEQUENTE ................................................................... 151
7 DO CONTEÚDO DA IMPUGNAÇÃO – ART. 535, CPC ................................... 152
7.1 Da “falta ou nulidade da citação se, na fase de conhecimento, o processo correu à revelia”
(inciso I do art. 535 do CPC) ...................................................................................................... 153
7.2 Da “ilegitimidade de parte” (inciso II do art. 535 do CPC) ............................................... 154
7.3 Da “inexequibilidade do título ou inexigibilidade da obrigação” (inciso III do art. 535 do
CPC) ............................................................................................................................................. 154
7.4 Decisão fundada em lei ou ato normativo considerado inconstitucional pelo Supremo
Tribunal Federal (art. 535, § 5º do CPC) ................................................................................... 154
7.5 Do “excesso de execução ou cumulação indevida de execuções” (inciso IV do art. 535 do
CPC) ............................................................................................................................................. 156
7.6 Da “incompetência absoluta ou relativa do juízo da execução” (inciso V do art. 535 do
CPC) ............................................................................................................................................. 158
17.7 De “qualquer causa modificativa ou extintiva da obrigação, como pagamento, novação,
compensação, transação ou prescrição, desde que supervenientes ao trânsito em julgado da
sentença” (inciso VI do art. 535 do CPC) ................................................................................. 159
8 REFERÊNCIAS .................................................................................................. 160

13. EXECUÇÃO FISCAL............................................................................................ 161


1 NOÇÕES INTRODUTÓRIAS............................................................................ 162
2 PROCEDIMENTO ............................................................................................. 163
2.1. Termo de inscrição e certidão de dívida ativa .................................................................... 163
2.2. Sujeito passivo ...................................................................................................................... 164
2.3. Petição inicial ........................................................................................................................ 164
2. 4 Citação e prazo para pagamento ......................................................................................... 165
2. 5 Penhora e arresto.................................................................................................................. 166
3 EMBARGOS À EXECUÇÃO .............................................................................. 168
4 PEDIDO DE PARCELAMENTO ...................................................................... 169
5 EXCEÇÃO DE PRE-EXECUTIVDADE ............................................................ 169
6 PRESCRIÇÃO ..................................................................................................... 170
7 RECURSOS ......................................................................................................... 172
8 JURISPRUDÊNCIA ............................................................................................ 172
9 CONCLUSÃO ..................................................................................................... 178
10 REFERÊNCIAS .................................................................................................. 178

14. RECLAMAÇÃO CONSTITUCIONAL NAS AÇÕES DA FAZENDA .................. 179


1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS............................................................................ 180
2 CONCEITO ........................................................................................................ 180
3 FUNDAMENTO................................................................................................. 181
3.1 Hipóteses Constitucionais............................................................................................... 181
3.2 Hipóteses Legais .................................................................................................................... 183
4 NATUREZA JURÍDICA ..................................................................................... 184
4.1 Cabimento nos tribunais e contra decisão do próprio tribunal ......................................... 185
4.2 Decisão transitada em julgado .............................................................................................. 186
5 PROCEDIMENTO ............................................................................................. 187
6 LEGITIMIDADE ................................................................................................ 190
6.1 Legitimidade ativa .................................................................................................................. 190
6.2 Legitimidade passiva.............................................................................................................. 190
7 INFORMATIVOS E ENUNCIADOS QUE TRATAM DA RECLAMAÇÃO ...... 191
8 TÓPICO COBRANDO NA PROVA DA AGU 2015 – BANCA CESPE ............... 194
9 CONCLUSÃO ..................................................................................................... 195
10 REFERÊNCIAS .................................................................................................. 196

15. MANDADO DE SEGURANÇA E FAZENDA PÚBLICA .................................... 198


1 BREVE HISTÓRICO ......................................................................................... 199
2 CONCEITO E FINALIDADE ............................................................................ 199
3 NATUREZA JURÍDICA E OBJETO .................................................................. 199
4 ESPÉCIES DE MANDADO DE SEGURANÇA ................................................. 200
5 FORMAS DE TUTELA....................................................................................... 200
6 DIREITO LÍQUIDO E CERTO ......................................................................... 201
7 AUTORIDADE PÚBLICA E O ATO ILEGAL OU ABUSO DE PODER .......... 201
8 PRAZO DE IMPETRAÇÃO ............................................................................... 202
9 MANDADO DE SEGURANÇA CONTRA ATO LEGISLATIVO ...................... 203
10 MANDADO DE SEGURANÇA CONTRA ATO JUDICIAL .............................. 203
11 MANDADO DE SEGURANÇA CONTRA ATO DISCIPLINAR E POR
COMPENSAÇÃO TRIBUTÁRIO .............................................................................. 203
12 PARTES NO MANDADO DE SEGURANÇA .................................................... 204
13 COMPETÊNCIA ................................................................................................ 205
14 PROCEDIMENTO ............................................................................................. 205
15 MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO...................................................... 207
16 REFERÊNCIAS .................................................................................................. 209

16. AÇÃO POPULAR E FAZENDA PÚBLICA.......................................................... 210


1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 211
2 CONCEITO ........................................................................................................ 211
3 OBJETO .............................................................................................................. 211
4 COMPETÊNCIA ................................................................................................ 212
5 LEGITIMIDADE ATIVA.................................................................................... 213
6 LEGITIMIDADE PASSIVA ................................................................................ 214
7 PESSOA JURÍDICA INTERESSADA ................................................................. 214
8 ASPECTOS PROCEDIMENTAIS ...................................................................... 215
8.1 Petição inicial ......................................................................................................................... 215
8.2 Documentação pertinente .................................................................................................... 216
8.3 Citação .................................................................................................................................... 216
8.4 Prazo de defesa ...................................................................................................................... 216
8.7 Sentença ................................................................................................................................. 217
8.8 Coisa julgada .......................................................................................................................... 217
8.9 Remessa necessária ................................................................................................................ 218
8.10 Recursos ............................................................................................................................... 219
8.11 Cumprimento de sentença .................................................................................................. 219
9 BIBLIOGRAFIA.................................................................................................. 219

17. AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA E FAZENDA


PÚBLICA ................................................................................................................... 221
1 NOÇÕES INTRODUTÓRIAS............................................................................ 222
2 PARALELO ENTRE ACP E LIA ....................................................................... 223
3 ESPÉCIES DE ATO DE IMPROBIDADE ......................................................... 223
4 COMPETÊNCIA ................................................................................................ 228
5 LEGITIMIDADE ATIVA.................................................................................... 229
6 LEGITIMIDADE PASSIVA ................................................................................ 229
7 PROCEDIMENTO ............................................................................................. 229
8 PRESCRIÇÃO ..................................................................................................... 231
9 JURISPRUDÊNCIA ............................................................................................ 232
10 CONCLUSÃO ..................................................................................................... 235
11 REFERÊNCIAS .................................................................................................. 235

18. DESAPROPRIAÇÃO DO PODER PÚBLICO ..................................................... 237


1 ASPECTOS INICIAIS ......................................................................................... 238
1.1 Pontos mais importantes ...................................................................................................... 238
1.2 Legislação ............................................................................................................................... 238
1.3 Etiqueta mental ...................................................................................................................... 238
2 DIREITO DE PROPRIEDADE E FUNDAMENTOS CONSTITUCIONAIS .. 238
3 MODALIDADES DE INTERVENÇÃO E CONCEITO DE DESAPROPRIAÇÃO
239
4 OBJETO .............................................................................................................. 239
5 DESAPROPRIAÇÃO DE BENS PÚBLICOS ..................................................... 240
6 PRESSUPOSTOS ................................................................................................ 240
7 HIPÓTESES DE DESAPROPRIAÇÃO .............................................................. 241
7.1 Desapropriação comum ........................................................................................................ 241
7.2 Desapropriação especial urbana ........................................................................................... 241
7.3 Desapropriação especial rural ............................................................................................... 243
7.4 Desapropriação confisco ...................................................................................................... 243
8 PROCEDIMENTO DA DESAPROPRIAÇÃO ................................................... 244
8.1 Legislação ............................................................................................................................... 244
8.2 Competência na desapropriação .......................................................................................... 244
8.3 Fases do procedimento ......................................................................................................... 246
8.3.1 Fase declaratória ............................................................................................................. 246
8.3.2 Fase executória ............................................................................................................... 247
9 AÇÃO DE DESAPROPRIAÇÃO ......................................................................... 247
9.1 Jurisdição e cognição judicial na desapropriação (aula disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=l3whenE9fi4) ............................................................... 247
9.2 Imissão provisória na posse .................................................................................................. 248
9.3 Desistência da desapropriação.............................................................................................. 249
9.4 Sentença ................................................................................................................................. 249
10 VALORES ACESSÓRIOS NA DESAPROPRIAÇÃO .......................................... 250
10.1 Correção monetária ............................................................................................................. 250
10.2 Juros compensatórios (aula disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=zys0SkqG8mI) ............................................................. 250
10.3 Juros moratórios .................................................................................................................. 251
10.4 Honorários advocatícios ..................................................................................................... 251
11 AÇÃO DE DESAPROPRIAÇÃO RURAL ........................................................... 252
12 DESAPROPRIAÇÕES DIFERENCIADAS ........................................................ 254
12.1 Desapropriação privada ...................................................................................................... 254
12.2 Desapropriação indireta ...................................................................................................... 254
13 SITUAÇÕES ESPECÍFICAS NA DESAPROPRIAÇÃO ..................................... 256
13.1 Direito de extensão ............................................................................................................. 256
13.2 Tredestinação e retrocessão ................................................................................................ 257
14 DESAPROPRIAÇÃO POR ZONA ...................................................................... 258
15 DESAPROPRIAÇÃO POR DOMÍNIO ÚTIL..................................................... 259
16 SÚMULAS SOBRE DESAPROPRIAÇÃO........................................................... 259
17 COMO O ASSUNTO FOI COBRADO EM PROVAS: ........................................ 260
17.1 Objetivas .............................................................................................................................. 260
17.2 Subjetivas.............................................................................................................................. 266
18 REFERÊNCIAS .................................................................................................. 267

19. APELAÇÃO E PODER PÚBLICO ....................................................................... 268


1 CONCEITO ........................................................................................................ 269
2 CABIMENTO ..................................................................................................... 269
3 APELAÇÃO COMO MEIO DE IMPUGNAÇÃO DAS DECISÕES
INTERLOCUTÓRIAS ............................................................................................... 269
4 EFEITOS DA APELAÇÃO ................................................................................. 269
5 PROCEDIMENTO NA APELAÇÃO ................................................................. 270
6 PRESSSUPOSTOS DE ADMISIBILIDADE ....................................................... 271
6.1 TEMPESTIVIDADE........................................................................................................... 271
6.2 PREPARO ............................................................................................................................. 271
7 JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE DO RECURSO DE APELAÇÃO ................... 272
8 JURISPRUDÊNCIA EM DESTAQUE ............................................................... 273
9 DAS ATRIBUIÇÕES DO RELATOR NA APELAÇÃO ...................................... 274
10 TÉCNICA DE AMPLIAÇÃO DO COLEGIADO................................................ 274
11 JURISPRUDÊNCIA EM DESTAQUE ............................................................... 275
12 REFERÊNCIAS .................................................................................................. 275

20. RECURSOS ESPECIAL E EXTRAORDINÁRIO E PODER PÚBLICO ............ 276


1 RECURSO EXTRAORDINÁRIO ....................................................................... 277
1.1 Cabimento .............................................................................................................................. 277
1.1.1 Pressupostos genéricos cumulativos ............................................................................. 277
1.1.1.1 Decisão de única ou última instância ..................................................................... 277
1.1.1.2 Prequestionamento .................................................................................................. 277
1.1.1.3 Repercussão geral .................................................................................................... 278
1.2 Requisitos específicos............................................................................................................ 281
1.2.1. Decisão que contrariar dispositivo constitucional (art. 102, III, a CF). .................... 281
1.2.2 Decisão que declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal (art. 102, III, b,
CF) – RExt e o controle difuso de constitucionalidade ....................................................... 282
1.2.3 Decisão que julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face da Constituição
Federal (art. 102, III, c, CF) .................................................................................................... 282
1.2.4 Decisão que julgar válida lei de governo local contestado em face de lei federal (art.
102, III, d, CF). ........................................................................................................................ 282
1.3 Jurisprudência ........................................................................................................................ 282
2 RECURSO ESPECIAL ........................................................................................ 285
2.1 Cabimento .............................................................................................................................. 285
2.1.1 Pressupostos cumulativos .............................................................................................. 285
2.1.1 Decisão de única ou última instância ........................................................................ 285
2.1.2. Decisão proferida por tribunal ................................................................................. 285
2.1.3 Prequestionamento ..................................................................................................... 286
2.2 Pressupostos alternativos ...................................................................................................... 287
2.2.1. Decisão que contrariar ou negar vigência a tratado ou lei federal (art. 105, III, a CF).
................................................................................................................................................... 287
2.2.2 Decisão que julgar válido ato de governo local contestado em face de lei federal (Art.
105, III, b, CF). ........................................................................................................................ 287
2.2.3 Decisão que der a lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído outro
tribunal (Art. 105, III, c, CF). ................................................................................................. 287
2.3 Jurisprudência ........................................................................................................................ 288
3 ASPECTOS COMUNS ........................................................................................ 290
3.1 Tempestividade. Dispensa de preparo. Procedimento ....................................................... 290
3.1.1 Interposição .................................................................................................................... 291
3.1.2 Dissídio jurisprudencial e comprovação ....................................................................... 291
3.2 Admissibilidade...................................................................................................................... 291
3.3 Hipóteses de cabimento e mérito – conflito ....................................................................... 293
3.4 Efeitos dos recursos federais ................................................................................................ 294
3.4.1 Efeito devolutivo ............................................................................................................ 294
3.4.2 Efeito suspensivo ............................................................................................................... 295
4 JULGAMENTO POR AMOSTRAGEM .............................................................. 295
4.1 Cabimento .............................................................................................................................. 295
6.2 Instauração ............................................................................................................................. 295
6.3 Suspensão dos processos que versem sobre a mesma controvérsia jurídica .................... 296
6.4 Procedimento......................................................................................................................... 299
6.5 Eficácia ultra partes e vinculante do julgamento ................................................................ 301
5 PRÁTICA ............................................................................................................ 302
5.1 Estrutura do REsp/RExt ..................................................................................................... 302
6 BIBLIOGRAFIA.................................................................................................. 303
21. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA NAS AÇÕES DA
FAZENDA ................................................................................................................. 305
1 CONCEITO ........................................................................................................ 306
2 REQUISITOS...................................................................................................... 306
2.1 Direito civil (Lei 10.406/2002) ............................................................................................. 306
2.2 Direito do consumidor (Lei 8.078/90) ................................................................................ 307
2.3 Direito tributário (Lei 5.172/66) .......................................................................................... 307
2.4. Direito econômico (Lei 12.529/2011) ................................................................................ 307
2.5. Direito ambiental (Lei 9.605/1998) .................................................................................... 307
2.6. Direito do trabalho (Decreto-Lei 5.452/43) ...................................................................... 307
3 REGULAMENTO PROCESSUAL ..................................................................... 308
3.1. Cabimento ............................................................................................................................. 308
3.2. Legitimados ........................................................................................................................... 308
3.3 Procedimento......................................................................................................................... 308
4 JURISPRUDÊNCIA ............................................................................................ 308
4.1. Direito civil ........................................................................................................................... 308
4.2. Direito processual civil ......................................................................................................... 312
5 BIBLIOGRAFIA.................................................................................................. 313

22. PRERROGATIVAS PROCESSUAIS DA FAZENDA PÚBLICA NA JUSTIÇA DO


TRABALHO .............................................................................................................. 315
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 316
2 FAZENDA PÚBLICA ......................................................................................... 316
2.1 Isonomia material e formal ................................................................................................... 317
2.2 Prerrogativas processuais ...................................................................................................... 318
2.3 Interpretação e alcance das prerrogativas ............................................................................ 320
3 As prerrogativas processuais da Fazenda Pública na Justiça do Trabalho ............ 320
3.1 Formas de comunicação dos atos processuais trabalhistas ................................................ 321
3.2 Recursos ................................................................................................................................. 321
4 JURISPRUDÊNCIA SOBRE O TEMA ............................................................... 321
5 REFERÊNCIAS .................................................................................................. 322

23. TERCEIRIZAÇÃO E PODER PÚBLICO ........................................................... 323


1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 324
2 TERCEIRIZAÇÃO NO ÂMBITO DO PODER PÚBLICO ................................ 325
3 RESPONSABILIDADE DO ENTE PÚBLICO ANTE A TERCEIRIZAÇÃO
ILÍCITA ..................................................................................................................... 327
4 REFERÊNCIAS .................................................................................................. 329

24. CONTESTAÇÃO DO PODER PÚBLICO NA JUSTIÇA DO TRABALHO ........ 330


1 ASPECTOS GERAIS ........................................................................................... 331
2 CONTESTAÇÃO NO PROCESSO DO TRABALHO ........................................ 332
3 PRAZO ................................................................................................................ 332
4 REVELIA ............................................................................................................ 333
5 PRELIMINARES ................................................................................................ 334
6 MÉRITO ............................................................................................................. 335
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 336
6 REFERÊNCIAS .................................................................................................. 336

25. RECURSO ORDINÁRIO DO PODER PÚBLICO NA JUSTIÇA DO TRABALHO


................................................................................................................................... 337
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 338
2 CONCEITO E CABIMENTO ............................................................................ 338
3 JUÍZO DE RETRATAÇÃO ................................................................................. 339
4 EFEITOS ............................................................................................................ 339
5 PROCEDIMENTO NO RITO ORDINÁRIO .................................................... 339
6 PRIVILÉGIOS DA FAZENDA PÚBLICA NO RECURSO ORDINÁRIO ......... 339
7 REFERÊNCIAS .................................................................................................. 340

26. RECURSO DE REVISTA DO PODER PÚBLICO NA JUSTIÇA DO TRABALHO


................................................................................................................................... 341
1 NATUREZA DO RECURSO DE REVISTA ....................................................... 342
2 COMPETÊNCIA PARA JULGAMENTO .......................................................... 342
3 CABIMENTO ..................................................................................................... 343
4 PRESSUPOSTOS RECURSAIS ESPECÍFICOS ................................................. 347
4.1 Prequestionamento ................................................................................................................ 347
4.2 Transcendência ...................................................................................................................... 351
4.3 Necessidade de impugnar todos os fundamentos do acórdão recorrido .......................... 353
4.4 Ausência de jurisprudência contrária à tese de revista........................................................ 354
5 SOBRE A IMPOSSIBILIDADE DE REEXAME DE FATOS E PROVAS ......... 354
6 RECURSOS DE REVISTA REPETITIVOS ....................................................... 355
7 REFERÊNCIAS .................................................................................................. 355

27. JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE E PODER PÚBLICO. PRINCIPAIS DECISÕES


JURISPRUDÊNCIAIS ............................................................................................... 357
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 358
2 RESERVA DO POSSÍVEL .................................................................................. 358
3 JULGADOS SOBRE IMPLEMENTAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS NO
ÂMBITO DA SAÚDE ................................................................................................ 360
4 RESPONSABILIDADE DOS ENTES PÚBLICOS ............................................ 361
5 FORNECIMENTO DE MEDICAMENTOS NÃO CONTIDOS NA LISTA DO
SUS 361
6 FORNECIMENTO DE MEDICAMENTOS NÃO REGISTRADOS PELA A
ANVISA...................................................................................................................... 363
7 REFERÊNCIAS .................................................................................................. 364

28. MEDIDA CAUTELAR FISCAL ........................................................................... 365


1 ASPECTOS INICIAIS ......................................................................................... 366
2 CONCEITO ........................................................................................................ 366
3 NATUREZA JURÍDICA ..................................................................................... 366
4 PROCEDIMENTO ............................................................................................. 367
4.1 Legitimados passivos ............................................................................................................. 368
4.2 Requisitos da petição inicial e competência ........................................................................ 368
5 CONSIDERAÇÕES GENÉRICAS ..................................................................... 369
6 POSICIONAMENTO JURISPRUDENCIAL ..................................................... 370
7 CONCLUSÃO ..................................................................................................... 372
8 REFERÊNCIAS .................................................................................................. 372
CONCEITO DE FAZENDA PÚBLICA

1. CONCEITO DE FAZENDA
PÚBLICA

ALMANAQUE DA ADVOCACIA PÚBLICA por Ubirajara


Casado

Em quarentena, João Pessoa/ PB, 10 de junho de 2020


15
1 CONCEITO PROCESSUAL DE FAZENDA PÚBLICA
Chamo de conceito processual justamente porque, para que se tenha ideia da utilização
racional da expressão, necessário se faz analisar que o termo Fazenda Pública não se confunde
com o conceito de Administração seja em sentido subjetivo, seja em sentido objetivo. O nome
Fazenda relaciona-se às finanças, dinheiro, Erário que, ao final, é quem sofre as consequências
econômicas decorrentes de eventuais condenações processuais. A expressão foi utilizada nos
códigos processuais de 1939, 1973 e é trinta e cinco vezes repetida no de 2015, razão pela qual o
termo é consagrado na doutrina e na legislação.
O renomado José dos Santos Carvalho Filho disse:

Em algumas espécies de demanda, as pessoas de direito público têm sido nominadas de


Fazenda Pública, e daí expressões decorrentes, como Fazenda Federal, Fazenda Estadual e
Fazenda Municipal. Trata-se de mera praxe forense, usualmente explicada pelo fato de que o
dispêndio com a demanda é debitado ao Erário da respectiva pessoa. Entretanto, Fazenda
Pública igualmente não é pessoa jurídica, de modo que, encontrando-se tal referência no
processo, deverá ela ser interpretada como indicativa de que a parte é a União, o Estado, o
Município e, enfim, a pessoa jurídica a que se referir a Fazenda1.

Assim, Fazenda Pública é a expressão que se emprega sempre que a pessoa jurídica de
direito público estiver ocupando o polo de uma ação judicial. Entende-se, por pessoa jurídica de
direito público as que integram a Administração Pública Direta e Indireta, com exceções, dos
entes federados, de forma que não temos como deixar de analisar o art. 4º do Decreto-lei nº
200/1967 que organiza a Administração Federal, vejamos:

Art. 4° A Administração Federal compreende:

I – A Administração Direta, que se constitui dos serviços integrados na estrutura administrativa


da Presidência da República e dos Ministérios.

II – A Administração Indireta, que compreende as seguintes categorias de entidades, dotadas


de personalidade jurídica própria:

a) Autarquias;

b) Empresas Públicas;

c) Sociedades de Economia Mista.

d) Fundações Públicas.

1CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 22. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris,
2009. p. 1044.
16
Assim, pelo modelo do Decreto-lei nº 200/1967, pode-se concluir que a Administração
Direta compreende a União, os Estados, Municípios, Distrito Federal e Territórios bem como
todos os órgãos que compõem essa estrutura, contudo, referidos órgãos não são dotados de
personalidade jurídica, justamente por isso que não se admite o ingresso de ação judicial para
demandar contra o Ministério do Planejamento ou a Secretaria de Saúde de determinado Estado
ou Município.
Em legislação mais atual, o Código Civil em seu artigo 41, diz que as pessoas jurídicas de
direito público interno são a União, os Estados, o Distrito Federal e os Territórios, os Municípios,
as autarquias, inclusive as associações públicas e as demais entidades de caráter público criadas
por lei.
Por Administração Indireta entende-se tratar das autarquias, fundações públicas,
empresas públicas e sociedades de economia mista. Contudo, as empresas públicas e sociedades
de economia mista representam justamente as pessoas jurídicas dotadas de personalidade de
direito privado.
Se Fazenda Pública é a pessoa jurídica de direito público em juízo, por óbvio, temos que
afastar do conceito processual as empresas públicas e sociedades de economia mista. Assim,
adverte o Leonardo Carneiro da Cunha2 quando diz:

À evidência, estão excluídos do conceito de Fazenda Pública as sociedades de economia mista


e as empresas públicas. Embora integrem a Administração Pública indireta, não ostentam
natureza de direito público, revestindo-se da condição de pessoa jurídica de direito privado, a
cujo regime estão subordinadas. Então, quando se alude à Fazenda Pública, na expressão não
estão inseridas as sociedades de economia mista nem as empresas públicas, sujeitas que são ao
regime geral das pessoas jurídicas de direito privado.

Nos termos da Constituição Federal, as empresas públicas e as sociedades de economia


mista não poderão gozar de privilégios fiscais não extensivos às do setor privado (art. 173,
parágrafo 2º, CF/88). Assim, a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil, por exemplo, não
integram o conceito de Fazenda Pública e não podem lançar mão das prerrogativas processuais
das pessoas jurídicas de direito público.
Por “demais entidades de caráter público criadas por lei” citadas no art. 41 do Código
Civil, podemos incluir as Agências Reguladoras e Agências Executivas, as quais são verdadeiras
autarquias, razão pela qual integram o conceito de Fazenda Pública.
Percebe-se que o que distingue, nitidamente, a pessoa jurídica que integra o conceito de
Fazenda Pública é a sua natureza pública, dessa natureza decorre a vinculação e com ela todas as

2 CUNHA, Leonardo José Carneiro da. A Fazenda Pública em Juízo.7. ed. São Paulo: Dialética, 2009. p. 18.
17
prerrogativas que carregam referidos entes em juízo. Não há nenhum ato adicional, processual
ou não, para a possibilidade de utilização dessas prerrogativas.
Assim, teríamos o seguinte:
Fazenda Pública
Integram o conceito processual Não integram o conceito processual
Pessoa jurídica de direito público Pessoa jurídica de direito privado
União;
Estados, Distrito Federal e Territórios;
Municípios; Empresas públicas;
Autarquias; Sociedades de Economia Mista.
Fundações Públicas;
ECT (STF, ACO-QO 765 RJ).

Há, contudo, uma exceção legal. Veja o art. 12 do Decreto-lei nº 09/1969: “Art. 12 – A
ECT gozará de isenção de direitos de importação de materiais e equipamentos destinados aos
seus serviços, dos privilégios concedidos à Fazenda Pública, quer em relação a imunidade
tributária, direta ou indireta, impenhorabilidade de seus bens, rendas e serviços, quer no
concernente a foro, prazos e custas processuais.”
Perceba que esse dispositivo legal concede à Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos
as mesmas prerrogativas inerentes à Fazenda Pública, assim temos uma empresa pública que
integra o conceito de Fazenda Pública. Veja que há conflito normativo entre o disposto no art.
173, parágrafo 2º, CF/88 com o art. 12 do Decreto-lei nº 09/1969, já que a Constituição impede
que a empresa pública tenha privilégios não extensivos ao setor privado.
A questão foi decidida, em último grau, pelo Supremo Tribunal Federal3 assim:

1. A prestação do serviço postal consubstancia serviço público [art. 175 da CB/88]. A Empresa
Brasileira de Correios e Telégrafos é uma empresa pública, entidade da Administração Indireta
da União, como tal tendo sido criada pelo decreto-lei nº 509, de 10 de março de 1969.
2. O Pleno do Supremo Tribunal Federal declarou, quando do julgamento do RE 220.906,
Relator o Ministro MAURÍCIO CORRÊA, DJ 14.11.2002, à vista do disposto no artigo 6o do
decreto-lei nº 509/69, que a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos é “pessoa jurídica
equiparada à Fazenda Pública, que explora serviço de competência da União“.(CF, artigo 21,
X).

3ACO-QO 765 RJ, Trbunal Pleno, Ministro Marco Aurélio, DJe-211 DIVULG 06-11-2008 PUBLIC 07-11-2008
EMENT VOL-02340-01 PP-00141.
18
O STF, com isso, entende recepcionado pela CF/88 o art. 12 do Decreto-lei nº 09/1969
permitindo com que a ECT, embora empresa pública, seja considerada pessoa jurídica de direito
público, tenha prerrogativas de Fazenda Pública e se submeta ao regime de precatórios4.
Sobre o regime de precatórios e empresa pública, importante destacar a decisão do STF,
1ª Turma, no RE 627242 AgR5 que explicita “embora, em regra, as empresas estatais estejam
submetidas ao regime das pessoas jurídicas de direito privado, a jurisprudência do Supremo
Tribunal Federal é no sentido de que “entidade que presta serviços públicos essenciais de
saneamento básico, sem que tenha ficado demonstrado nos autos se tratar de sociedade de
economia mista ou empresa pública que competiria com pessoas jurídicas privadas ou que teria
por objetivo primordial acumular patrimônio e distribuir lucros. Nessa hipótese, aplica-se o
regime de precatórios” (RE 592.004, Rel. Min. Joaquim Barbosa). 2. É aplicável às companhias
estaduais de saneamento básico o regime de pagamento por precatório (art. 100 da Constituição),
nas hipóteses em que o capital social seja majoritariamente público e o serviço seja prestado em
regime de exclusividade e sem intuito de lucro. 3. Provimento do agravo regimental e do recurso
extraordinário.”
A informação sobre a excepcionalidade da ECT é relevante para as provas objetivas e
especialmente se o candidato estiver prestando concurso para o cargo de advogado da ECT já
que, em termos processuais, sua atuação se assemelhará a dos procuradores das demais pessoas
jurídicas de direito público que integram o conceito de Fazenda Pública, inclusive no processo do
trabalho6.
Perceba-se, em última análise, que a ECT presta serviço público essencial e, portanto, foi
integrada ao conceito de Fazenda Pública, contudo, essa matemática não funciona de forma
automática a permitir que, por exemplo, Estados e Municípios criem empresas públicas
prestadoras de serviço público essencial com prerrogativas inerentes à Fazenda Pública. O caso
da ECT é exceção isolada que não serve de parâmetro reprodutor para Estados, Distrito Federal
e Municípios, não obstante, o STF tenha entendido estender o regime de precatórios as empresas
públicas quando o capital social seja majoritariamente público e o serviço seja prestado em regime
de exclusividade e sem intuito de lucro.
A jurisprudência, portanto, nos força a atualizar o quadro de integrantes do conceito
processual de Fazenda Pública além de destacar a hipótese na qual as empresas públicas gozam
do regime de precatórios:

4 “Os bens, as rendas e os serviços da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos são impenhoráveis, e a execução
deve observar o regime de precatórios. 2. Nas comarcas onde não há Vara da Justiça Federal, os Juízes Estaduais são
competentes para apreciar a execução fiscal.” RE 393032 AgR, 1ª Turma, Min. Cármen Lúcia, 27/10/2009.
5 RE 627242 AgR, 1ª Turma, Min. Marco Aurélio, 02/05/2017.
6 PROC. Nº TST-RR-782/2002-411-04-00.1.

19
Fazenda Pública
Integram o conceito processual Não integram o conceito processual
Pessoa jurídica de direito público Pessoa jurídica de direito privado
União;
Estados, Distrito Federal e Territórios;
Municípios; Empresas públicas;
Autarquias; Sociedades de Economia Mista.
Fundações Públicas;
ECT (STF, ACO-QO 765 RJ).

Gozam da prerrogativa de precatórios da Fazenda Pública


As empresas públicas quando o capital social seja majoritariamente público e o serviço seja
prestado em regime de exclusividade e sem intuito de lucro.
RE 627242 AgR, 1ª Turma, Min. Marco Aurélio, 02/05/2017.

Um ponto que sempre é levantado quando se trata do conceito de Fazenda Pública é


sobre a Ordem dos Advogados do Brasil, é natural a curiosidade sobre a possibilidade ou não do
uso das prerrogativas inerentes às pessoas jurídicas de direito público.
Como já vimos, é a natureza jurídica de direito público, com exceção da ECT, que
determina o ingresso da pessoa jurídica no conceito de Fazenda Pública. Nesses termos, é
necessário indagar qual a natureza jurídica da Ordem dos Advogados do Brasil.
O STF respondeu essa indagação quando do julgamento da ADI 3026. Nela, o STF foi
levado a decidir se os quadros administrativos da OAB deviam ser preenchidos somente mediante
concurso público. Para adentrar na análise dessa exigência o Supremo teve, necessariamente, que
definir a natureza jurídica da Ordem. Assim disse a Suprema Corte7:

Não procede a alegação de que a OAB sujeita-se aos ditames impostos à Administração Pública
Direta e Indireta.
A OAB não é uma entidade da Administração Indireta da União. A Ordem é um serviço
público independente, categoria ímpar no elenco das personalidades jurídicas existentes no
direito brasileiro.
A OAB não está incluída na categoria na qual se inserem essas que se tem referido como
“autarquias especiais” para pretender-se afirmar equivocada independência das hoje chamadas
“agências”.

7ADI 3026 DF, Tribunal Pleno, Min. Eros Grau, DJ 29-09-2006 PP-00031 EMENT VOL-02249-03 PP-00478, 8 de
Junho de 2006.
20
Por não consubstanciar uma entidade da Administração Indireta, a OAB não está sujeita a
controle da Administração, nem a qualquer das suas partes está vinculada. Essa não-vinculação
é formal e materialmente necessária.
A OAB ocupa-se de atividades atinentes aos advogados, que exercem função
constitucionalmente privilegiada, na medida em que são indispensáveis à administração da
Justiça [artigo 133 da CB/88]. É entidade cuja finalidade é afeita a atribuições, interesses e
seleção de advogados. Não há ordem de relação ou dependência entre a OAB e qualquer órgão
público.

Resta claro que o STF entendeu ter a OAB natureza jurídica sui generis, considerando-a
única e especial eis que suas atividades não se restringem à esfera corporativa, mas alcançam feição
institucional. Para o STF, a OAB não se sujeita ao controle do TCU nem à exigência
constitucional do concurso público para provimento de cargos. Não sendo pessoa jurídica de
direito público, não integra o conceito de Fazenda Pública para fins processuais. Por fim, é sempre
bom lembrar que a OAB possui suas causas julgadas pela Justiça Federal nos termos do art. 58, §
8º da Lei nº 9.649/1998.
Até o fechamento do presente post, pende de análise no STF a ADI 5367, apensa a ADC
36, por meio da qual o Ministério Público Federal quer ver declarada inconstitucional norma que
permite com que os conselhos de fiscalização de profissões regulamentadas admitam pessoas sem
a necessidade de realizar concurso público. No julgamento, a exemplo do que aconteceu com a
OAB na ADI 3026, o Supremo terá que necessariamente firmar a natureza jurídica dos conselhos
de fiscalização profissional para decidir sobre a obrigatoriedade ou não do concurso. De todo
modo, embora pendente de julgamento, é preciso analisar a manifestação da Advocacia-Geral da
União que defende a natureza jurídica de autarquias peculiares aos conselhos de fiscalização de
profissões regulamentadas, ou seja, “alheias à estrutura da Administração Pública indireta,
sobretudo em razão da ausência de vinculação e de supervisão ministerial8
Assim, forçoso concluir que se estão os conselhos de fiscalização de profissões
regulamentadas alheios à estrutura da Administração Pública Indireta, não integram o conceito
de Fazenda Pública para fins processuais.
Mais uma vez, completemos nosso quadro que sintetiza as pessoas que integram o
conceito processual de Fazenda Pública:
Fazenda Pública
Integram o conceito processual Não integram o conceito processual
Pessoa jurídica de direito público Pessoa jurídica de direito privado
União; Empresas públicas;

8 Retirado do Parecer do Ministério Público Federal No 155.397/2016-AsJConst/SAJ/PGR na ADI 5367.


21
Estados, Distrito Federal e Territórios; Sociedades de Economia Mista;
Municípios; OAB (natureza jurídica sui generis – ADI
Autarquias; 3026, STF);
Fundações Públicas; Conselhos de fiscalização de profissões
ECT (STF, ACO-QO 765 RJ). regulamentadas (ADI 5367, pendente de
julgamento, mas segundo manifestação da
AGU na ADI são autarquias peculiares
alheias à estrutura da Administração Pública
indireta).

Conselhos de fiscalização de profissões regulamentadas (ADI 5367, pendente de


julgamento, mas segundo manifestação da AGU na ADI são autarquias peculiares alheias à
estrutura da Administração Pública indireta).
Encerro o post com uma curiosidade sobre o nome “Fazenda” na seara processual. No
caso da União, como veremos a seguir, a representação processual se dá de forma bifurcada, ou
seja, as causas que envolvem matéria fiscal, nos termos da Lei Complementar 73/93, são de
atribuição da Procuradoria da Fazenda Nacional e as demais, residualmente, são de atribuição dos
Procuradoria-Geral da União a cargo dos Advogados da União.
Ora, imagine, por exemplo, que João, militar, ingressa com a ação judicial para discutir
duas situações de decorrem da sua situação de saúde: a. sua reforma militar; e b. a isenção de
imposto de renda. Percebe-se que para a situação a, a representação da União se dá por meio de
um Advogado da União (PGU), enquanto que para a situação b a representação da União se dá
por meio de um Procurador da Fazenda Nacional (PGFN), assim, a representação da União, na
mesma ação, se dará por duas contestações, cada qual assinada pelo procurador competente e
discutindo apenas a situação que lhe cabe representar nos termos da Lei Complementar 73/93.
A curiosidade está justamente no fato de que, ao nominar as partes do processo, a Justiça
Federal tem o costume de informar UNIÃO para os processos representados pelos Advogados
da União e FAZENDA NACIONAL para os processos representados pelos Procuradores da
Fazenda Nacional. Assim, na situação hipotética apresentada, embora haja um único réu na ação,
temos duas denominações para a União, a UNIÃO em si e a FAZENDA NACIONAL,
obviamente, cada qual sendo devidamente e pessoalmente intimado dos atos processuais para a
devida manifestação nos termos do art. 183 do CPC/2015.
Assim, da próxima vez que se deparar com processo judicial cuja parte seja a FAZENDA
NACIONAL, saiba tratar-se da União sendo representada pela PGFN em matéria fiscal.

22
2 REFERÊNCIAS
[1] CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 22. ed. Rio de
Janeiro: Lumen Juris, 2009. p. 1044.
[2] CUNHA, Leonardo José Carneiro da. A Fazenda Pública em Juízo.7. ed. São Paulo: Dialética,
2009. p. 18.
[3] ACO-QO 765 RJ, Trbunal Pleno, Ministro Marco Aurélio, DJe-211 DIVULG 06-11-2008
PUBLIC 07-11-2008 EMENT VOL-02340-01 PP-00141.
[4] “Os bens, as rendas e os serviços da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos são
impenhoráveis, e a execução deve observar o regime de precatórios. 2. Nas comarcas onde não
há Vara da Justiça Federal, os Juízes Estaduais são competentes para apreciar a execução fiscal.”
RE 393032 AgR, 1ª Turma, Min. Cármen Lúcia, 27/10/2009.
[5] RE 627242 AgR, 1ª Turma, Min. Marco Aurélio, 02/05/2017.
[6] PROC. Nº TST-RR-782/2002-411-04-00.1.
[7] ADI 3026 DF, Tribunal Pleno, Min. Eros Grau, DJ 29-09-2006 PP-00031 EMENT VOL-
02249-03 PP-00478, 8 de Junho de 2006.
[8] Retirado do Parecer do Ministério Público Federal No 155.397/2016-AsJConst/SAJ/PGR na
ADI 5367.

23
PRERROGATIVAS DA FAZENDA PÚBLICA

2. PRERROGATIVAS DA
FAZENDA PÚBLICA

ALMANAQUE DA ADVOCACIA PÚBLICA por Lilian


Poliane Nunes e Luciana Patrícia de Andrade Amorim
Madruga

Quarentena - João Pessoa/ PB, 10 de abril de 2020


24
1 ASPECTOS INICIAIS

Por: Luciana Amorim

A Fazenda Pública ostenta condição diferenciada das demais pessoas físicas ou


jurídicas de direito privado, em razão da própria atividade de tutelar o interesse público.
Quando em juízo, por atuar no processo, em virtude da existência de interesse público, está
defendendo o erário e para que possa, contudo, atuar de maneira melhor e mais ampla
possível, é preciso que se lhe confiram condições necessárias e suficientes para tanto.
Dessa feita, as “vantagens” processuais conferidas à Fazenda Pública revestem o
matiz de prerrogativas que decorrem do princípio da igualdade, no sentido aristotélico de
tratar os iguais de forma igual e os desiguais de forma desigual. Como corolário dessa
isonomia formal e material as prerrogativas processuais da Fazenda Pública se predestinam
a conferir-lhe alguns “privilégios” necessários a defesa do interesse público.
Assim, entre os quais podemos trazer à tona os prazos processuais, que para
manifestação nos autos, de forma geral, são contados em dobro. De igual modo, temos: a
competência, os honorários advocatícios, a remessa necessária (diante da qual as decisões de
primeiro grau contra a Fazenda Pública devem se submeter às instâncias superiores para que
se tornem efetivas), entre outros.
Por outro lado, há prerrogativas que decorrem do direito material envolvido ou da
própria natureza das pessoas jurídicas de direito público, vejamos, por exemplo: o ônus da
prova que é, em regra, atribuído ao particular, em razão da presunção de legitimidade dos
atos administrativos.
Enfim, neste mesmo norte, as execuções contra a Fazenda Pública somente se
processam através de requisitório de pequeno valor (RPV) ou através de precatórios, ambos
possuindo rito próprio. Ademais, contra o Poder Público não se operam os efeitos da revelia,
a intimação deve ser pessoal e a garantia estendida a toda Advocacia Pública, Ministério
Público e Defensoria Pública, respondendo estes, de forma pessoal, desde que ajam com
dolo ou fraude no exercício de suas funções.

25
2 PRERROGATIVAS PROCESSUAIS DA FAZENDA PÚBLICA

Por: Lilian Nunes


O Código de Processo Civil de 2015 (CPC/2015) traz na sua essência a Supremacia
do Interesse Público, base axiológica inerente das prerrogativas da Fazenda Pública, em razão
dos direitos de ordem coletiva e suas especificidades, sendo pressuposto para as demandas
envolvendo o Poder Público, além de outros princípios a serem observados.
Assim, citaremos algumas características específicas voltadas à Fazenda Pública que
devem ser observadas, e estas não devem destoar da aplicação da razoabilidade e da busca
efetiva do interesse público.

2.1. Aspectos gerais dos prazos e suas peculiaridades

2.1.1. Dos prazos


Os prazos processuais em seu sentido “lato sensu” dividem-se em próprios ou
impróprios. Os prazos próprios são aqueles fixados para as partes envolvidas na demanda
processual, a não observância acarretará como consequência, a preclusão. Os prazos
impróprios são firmados na lei, servem de norteadores para aplicabilidade na relação
processual, em regra, seus destinatários são os magistrados e serventuários da justiça, porém,
sua inobservância não ocorrerá qualquer tipo de preclusão.
No tocante aos prazos legais, estes são postos na lei e presentes na maioria dos atos
processuais, apesar da previsão, a parte interessada pode praticar atos antes do término do
lapso temporal, observado o art.225. De igual modo, podem ser expandidos pelo juiz (art.
139,IV); convencionado entre as partes (art. 190); como reduzidos nos casos de prazos
peremptórios (art. 222,§1º), todos CPC/2015.
Não menos importante, os prazos judiciais são aqueles que envolvem a atuação do
juiz, em busca de sanar alguma omissão legislativa, nos casos de complexidade de algum ato
processual, pontua-se, não da causa per si. Outrossim, em situações que a lei indique cases
específicos (art. 76), bem como quando delimita indicativos de prazos como parâmetro a ser
observado pelo magistrado.
Ademais, a doutrina faz menção ao prazo misto que seria nos casos em que a lei não
fixa prazo certo, determinado pelo juízo competente, desde que estabelecido dentro dos
limites impostos na própria lei, ou seja, engloba os prazos: legais/próprios e
judiciais/impróprios. Exemplo: Art. 970 CPC/2015, que compele ao Relator a fixação

26
mínima de 15 dias e máximo de 30 dias após a citação do réu, para, querendo, se manifestar
em ação rescisória.
No entanto, Leonardo da Cunha defende que esse prazo deve ser considerado como
judicial (impróprio), em razão da determinação posta pelo juízo, tendo em vista que a lei é
mero parâmetro fixador.
Após essas considerações, ressalta-se que os prazos da Fazenda Pública são
próprios, uma vez que ao demandar em juízo, passa à condição de parte, sem prejuízo da
preclusão temporal, nos casos de desobediência ao prazo prescrito.

2.1.2. Da forma de aplicação dos prazos à Fazenda Pública


a) Prazo em dobro: Diferentemente do preconizado no código de 1973, o CPC/ 2015
em seu art. 183, unificou o prazo em dobro para todas as manifestações da Fazenda Pública,
in verbis:

Art. 183. A União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e suas respectivas


autarquias e fundações de direito público gozarão de prazo em dobro para todas as suas
manifestações processuais, cuja contagem terá início a partir da intimação pessoal.
§ 1º A intimação pessoal far-se-á por carga, remessa ou meio eletrônico.

§ 2º Não se aplica o benefício da contagem em dobro quando a lei estabelecer, de


forma expressa, prazo próprio para o ente público.

No entanto, observa-se que o próprio dispositivo traz a ressalva da não aplicação do


prazo em dobro (§2º), quando a lei de forma expressa fixar prazo próprio “stricto sensu”, como
vislumbramos no próprio CPC (ex: art. 535 e art.910, entre outros), além das leis esparsas
(ex: prazos da Lei de Ação Popular, etc.). Portanto, o Poder Público deve observância a esses
regramentos e a seguir outras situações serão postas.

b) Contagem em dias úteis: O art. 219 CPC/2015 prevê que a contagem é feita apenas
dos dias úteis (exclui-se o primeiro dia e inclui-se o final), tanto dos prazos legais, quanto dos
judiciais, não contam os feriados. Contudo, aplica-se essa contagem apenas aos prazos
processuais, ou melhor, aqueles contados dentro do processo. Vide: Enunciado 89 – I
Jornada de Direito Processual Civil e do Conselho da Justiça Federal.

27
Observa-se que o código não conceitua especificamente o que são dias úteis, o art.
216 CPC é um norteador que, por exclusão, o que não for feriado será dia útil para fins
forense.
Acrescenta-se que só serão considerados feriados os declarados em lei, não sendo
praticados atos processuais nesses dias, exceto em casos urgentes e nos atos prescritos no
art. 212, § 2º c/c art. 214 CPC/2015. Frisa-se que os atos processuais serão praticados em
dias úteis, com fulcro no art. 212 CPC, porém, observar a ressalva do §2º.
Ademais, não são considerados feriados os dias de pontos facultativos ou nos casos
circunstanciais de fechamento do fórum ou tribunal. Vide: Lei 1.408/1951 (art. 1º, 2º, 5º); Lei
9.093/1995 (trata dos feriados civis e religiosos); Lei 662/1949 (redação dada pela Lei
10.607/2002 – art. 1º); Lei 6.802/1980 (menciona dia 12 de outubro como feriado nacional);
Lei 5.010/1966 (art. 62, II a IV).
Por fim, O STJ exarou entendimento que a quarta-feira de cinzas será considerada
como dia útil. (EDcl no AgRg no AResp 69.665/RO).

c) Litisconsórcio: O prazo posto no art. 229 para esse instituto, não se aplica
cumulativamente com o art. 183, ambos CPC/2015. Os preceitos têm aplicabilidades
diversas de acordo com Guilherme Barros, ou seja, a prerrogativa do prazo em dobro do art.
183 não é duplicada novamente quando a Fazenda Pública é litisconsorte em demanda
processual. Exemplo: Proposta ação de conhecimento tendo a Fazenda Pública como um
dos litisconsortes, o prazo para contestação do ente público é de 30 dias (art. 183 c/c 219),
de igual modo, 30 dias para outra parte da demanda processual litisconsorcial (art. 229 c/c
art. 335 c/c art. 219).
Além do mais, destaca-se, o prazo em dobro para o litisconsórcio não será aplicado
nos autos de processo eletrônico (art. 229, §2º).

d) Recesso forense (20 de dezembro a 20 de janeiro): Durante esse lapso temporal,


nos moldes do art. 220 CPC, o prazo processual é suspenso, não são férias coletivas, apenas
sua suspensão. No entanto, os atos processuais são executados normalmente, não correndo
o prazo, voltando após o primeiro dia útil posterior a 20 de janeiro.
Quanto às atribuições dos Magistrados, dos auxiliares da Justiça, dos membros da
Advocacia Pública, Ministério Público, Defensoria Pública serão exercidas normalmente,
ressalvados: os recessos locais, feriados previstos em lei, as férias individuais e o recesso da
Justiça Federal que se aplica aos tribunais superiores. No caso dos Juizados Especiais, a

28
suspensão também é aplicada. Vide En. 269 (art.220) do Fórum Permanente de
Processualistas Civis.
Leonardo da Cunha defende que neste ínterim, surgindo algum ato a ser consumado
pelo Ente Fazendário, deverá ser intimado e o prazo correrá dentro da normalidade, uma
vez que a Advocacia Pública continua atuando nesse período, exceto os advogados que estão
em período de férias, mesmo nos processos judiciais sob a responsabilidade deles, outros
procuradores darão continuidade aos atos da demanda processual.
Não obstante, entende o doutrinador que se na lide estiver composta com os entes
do §1º do art. 220, por exemplo, uma Ação Civil Pública contra União ou Estado, além das
práticas dos atos processuais, o transcurso do prazo é legítimo, bem como a realização de
audiências.
Diferentemente, aponta Guilherme Barros quando faz menção em sua obra à
doutrina de Daniel Amorim que defende, em suma, nos casos em que os atos não carecem
da presença das partes nesse intervalo, ficam retardados para contagem a partir do primeiro
dia útil depois de findar o recesso.
Portanto, apesar da divergência doutrinária, na prática, a suspensão do prazo nesse
período não afetará a Fazenda Pública, salvo nos recessos supracitados e nos feriados
ocorridos durante esse percurso temporal.

2.1.3. Da não aplicabilidade do prazo em dobro

Inicialmente, cumpre registrar a ressalva do art. 183, §2º do CPC/2015 “Não se aplica
o benefício da contagem em dobro quando a lei estabelecer, de forma expressa, prazo próprio para o ente
público”, ou melhor, existem os prazos próprios expressos no referido código, além dos
previstos em leis esparsas, não se aplicando contagem em dobro à atuação da Fazenda
Pública, vejamos algumas situações a seguir:

a) Prazos judiciais: São aqueles prazos fixados pelo próprio juízo (como já dito) para
o cumprimento de determinado ato ou manifestação processual determinado por prazo fixo.
A doutrina de Guilherme Barros entende que nesses casos, se o despacho for genérico (“x”
dias) e posto ao cumprimento para ambas as partes, uma delas sendo o Poder Público, o
caput do art. 183 caberia ser observado, isto é, o prazo em dobro.

29
No entanto, existem algumas ponderações que pairam dúvidas, vejamos o exemplo:
“comprove o Estado em 5 (cinco) dias o cumprimento da liminar”, nesse caso, o despacho
judicial foi direcionado à Fazenda Pública.
Então, se diante de uma exegese estrita do dispositivo, essa situação teria prazo em
dobro para Fazenda. Porém, se apreciado de forma ampla, ao se tratar de prazo fixado para
o ente público praticar o ato posto pelo poder judiciário, não teria sentido aplicar a contagem
em dobro, considera-se o prazo simples.
Desse modo, a última interpretação exarada parece a mais acertada, segundo
Guilherme Barros, evitando discussões apenas voltadas ao prazo em dobro, que causaria
recursos, entendimentos diversos nas instâncias judiciais e, consequentemente, impactaria na
efetividade processual.
Por conseguinte, existem as leis esparsas que determinam os prazos próprios que
não terão contagem em dobro, quando presente à Fazenda Pública em Juízo, como veremos
a seguir:
b) Lei dos Juizados Especiais Federais (Lei nº 10.259/2001): O art. 9º estabelece
prazo próprio para manifestação do Poder Público.
A Lei dos Juizados Especiais da Fazenda Pública (Lei 12.153/2007) postula no art.
7º, o prazo próprio a ser observado, nestes termos:

Lei nº 10.259/2001
Art. 9º Não haverá prazo diferenciado para a prática de qualquer ato processual
pelas pessoas jurídicas de direito público, inclusive a interposição de recursos,
devendo a citação para audiência de conciliação ser efetuada com antecedência
mínima de trinta dias.
Lei 12.153/2007
Art. 7o Não haverá prazo diferenciado para a prática de qualquer ato processual
pelas pessoas jurídicas de direito público, inclusive a interposição de recursos,
devendo a citação para a audiência de conciliação ser efetuada com antecedência
mínima de 30 (trinta) dias.

c) Prazos nas Ações de Controle (ADI/ADC): Nas ações de controle desde 2014 até
2019, havia divergências no Supremo Tribunal Federal (STF) se seria aplicado ou não o prazo
em dobro no controle concentrado.

30
Em suma, no ARE 661288/2014, a primeira turma entendeu que se aplicaria o prazo
em dobro, mesmo diante do controle concentrado. No mesmo dia, por curiosidade, a
segunda turma no ARE 753432/2014 divergiu o entendimento, e proferiu decisão pela
inaplicabilidade do prazo em dobro sobre as ações objetivas (ressalta-se, à época, o
dispositivo questionado era o art. 188, do revogado CPC/1973).
Com o passar do tempo, essa divergência causava insegurança jurídica, porém, sanada
na ADI 5.814, apreciada pelo Plenário do STF, Rel. Min. Roberto Barroso, em 06/02/2019.
Na ocasião, os Ministros firmaram entendimento sobre a NÃO aplicação do prazo em dobro
nos processos objetivos. Logo, frisa-se, na atualidade considerar o previsto no art. 183 do
CPC/2105. Segue síntese do julgado:
Não se aplica ao processo objetivo de controle abstrato de constitucionalidade a norma
que concede prazo em dobro à Fazenda Pública.
Não se conta em dobro o prazo recursal para a Fazenda Pública em processo objetivo,
mesmo que seja para interposição de recurso extraordinário em processo de fiscalização
normativa abstrata. As prerrogativas processuais dos entes públicos, tal como prazo
recursal em dobro e intimação pessoal, não se aplicam aos processos em sede de controle
abstrato. Não se aplica ao processo objetivo de controle abstrato de constitucionalidade a
norma que concede prazo em dobro à Fazenda Pública. Assim, por exemplo, a Fazenda
Pública não possui prazo recursal em dobro no processo de controle concentrado de
constitucionalidade, mesmo que seja para a interposição de recurso extraordinário. STF.
Plenário ADI 5814 MC-AgR-AgR/RR, Rel. Min. Roberto Barroso; ARE 830727 AgR/SC,
Rel. para acórdão Min. Cármen Lúcia, julgados em 06/02/2019 (Info 929).
Fonte: Dizer o Direito (pesquisa: 10/04/2020)

d) Prazos referentes aos Estados estrangeiros - Pessoa Jurídica de Direito Público


Externo – art. 42, Cód. Civil: Observa-se que por ter personalidade de ente público, imagina-
se que deveria ser aplicado o prazo em dobro, contudo, inexiste previsão legal sobre esse
ente estrangeiro no art. 183 do CPC.
Ressalta-se julgado do Superior Tribunal de Justiça (STJ), sob a égide do antigo CPC
com fulcro no art. 188. Naquela ocasião, em síntese, o Ministro Relator entendeu que a
prerrogativa do prazo em dobro não seria aplicada aos Estados estrangeiros, desassiste razão
ao agravante nos pontos levantados; tanto na consagração do princípio da igualdade dos
Estados, este devendo ser observado nas relações externas entre os Estados nas decisões da
Assembleia Geral das Nações Unidas e, não, nos privilégios processuais de ordem interna;
quanto à justificava das dificuldades burocráticas, esta não deveria ser contemplada, além do
não convencimento do argumento, a defesa estava sendo realizada por advocacia privada.
Restando pela inaplicabilidade da prerrogativa processual do prazo em dobro ao
Estado estrangeiro. (Vide: STJ, 3ª Turma, AG 297.723/SP, Rel. Min. Antônio de Pádua
Ribeiro, j. 08.06.2000, DJ 14.08.2000, p. 172).

31
Assim, segundo Gilberto Barros, ainda prevalece o entendimento pretérito, uma vez
que não há novos julgados que tratem do art. 183 do CPC e, mesmo na ausência, tal
dispositivo mencionado corrobora com o entendimento pretérito esposado.

e) Prazo em ação rescisória: Sabe-se que as ações rescisórias devem observância aos
art. 319 c/c 968 requisitos e, art. 966 e seguintes todos CPC.
No tocante ao ajuizamento de ação rescisória, o CPC nada tratou sobre
prerrogativa aplicada à Fazenda Pública. Dessa forma, aplica-se, regra geral, o prazo de 2
(dois) anos para o ajuizamento, contados do trânsito em julgado da última decisão proferida
no processo (art.975), corroborando com o entendimento do STF que declarou a
inconstitucionalidade de alterações legislativas que visavam a aplicação do prazo em dobro.
(Vide: ADIN n°1753 e nº 1910).
Nos casos de ação rescisória tendo como objeto a transferência de terra pública
rural deve ser observada uma ressalva, pois a Lei nº 6.739/1979 prevê o prazo de 8 (oito)
anos para o ajuizamento dessas ações (Vide: art. 8º). O STF, em apertada síntese, entendeu
constitucional o dispositivo legal, por não se aplicar indiscriminadamente, apenas em
situações restritas de imóveis rurais com problemas de grilagem (prática antiga de
envelhecimento de documentos, no intuito de ter a posse de determinada área rural com
papéis falsificados e através dessa prática, ao colocar grilos em caixas, obtinham-se os papéis
envelhecidos para o ajuizamento). Ps: Mesmos precedentes ADIN n°1753 e nº 1910.
Leonardo Cunha pontua que o artigo acima está pautado no princípio da
razoabilidade como defendido, de igual modo, pelo citado Humberto Ávila que preconiza a
razoabilidade em vários sentidos, um deles como diretriz para vincular uma norma jurídica
ao seu mundo atual, noutro, como base para duas grandezas: a medida a ser adotada e o
critério a ser utilizado.
Desse modo, não se tem prazo diferenciado para o ajuizamento de ação rescisória,
salvo nos casos de ajuizar ações correlatas aos casos de grilagem, como exposto.
No que tange à defesa do ente público em ação rescisória, é importante fazer
algumas breves ponderações. Nos casos existem divergências quanto à aplicação ou não do
prazo em dobro, uma vez que o STJ e o STF sob a égide do código de 1973 entendiam que
dobrava. No entanto, com o advento do CPC/2015 paira essa dúvida, uma vez que o art.
970 fixa um parâmetro entre 15 a 30 dias a ser observado para manifestação da Fazenda
Pública e nada acrescentou sobre essa prerrogativa.

32
Assim, devido à lacuna legislativa, não se aplicaria o prazo em dobro para defesa do
ente público. Porém, a doutrina entende que o posicionamento do STJ estaria válido, ou seja,
o prazo seria dobrado se, no caso concreto, o Relator entender e justificar em seu despacho
de forma expressa a aplicação dessa prerrogativa, nos termos do art. 183 CPC.

f) Prazos em mandado se segurança (MS): A Lei nº 12.016/2009 prevê prazo próprio


de 10 dias para manifestação em MS. Então, caso a autoridade coatora for citada para prestar
informações ou quando a mesma interpuser seu próprio recurso não terá prazo em dobro,
conforme a doutrina.
No entanto, caso o ente público a qual faz parte realizar sua defesa recursal, via
apelação, agravos, recurso ordinário, recurso extraodinário e/ou especial, o prazo específico
de cada peça aplica-se conjuntamente com o art.183 CPC.
Logo, a Fazenda Pública tem a prerrogativa do prazo em dobro, nas condições acima
postas e, acrescenta-se, o En. 5 do I Fórum Nacional do Poder Público – “A dilação de
prazos processuais previstas no art. 139,VI do CPC, é compatível com o Mandado de
Segurança”; ou seja, diante do caso concreto, o juiz pode dilatar o prazo no MS pautado no
dispositivo supra.
Finalizando, o STJ firmou que na impetração de MS na esfera penal, não se aplica o
prazo em dobro.
(Vide: STJ, 5ª Turma, RMS 8.021/MG, Rel. Min. Felix Fischer, j. 15.04.1997,
DJ 19.05.1997, p. 20.651; STJ, 5ª Turma, EDcl no AgRg no RMS 36.050/PI, Rel. Min.
Laurita Vaz, j. 22.10.2013, DJe 05.11.2013).

g) Prazo recursal em pedido de suspensão: Cumpre registrar que o pedido de


suspensão está previsto em várias leis esparsas, mas será adentrado em tópico específico no
presente Almanaque. O que importa saber no momento é da aplicação ou não do prazo em
dobro no pedido de suspensão. Vejamos que STF (SS 3740 AgR/ 2012) e STJ (SS 4.119 AgR
– ED-ED/ 2010), não reconheceram o prazo em dobro. Entretanto, em 2015, o STJ - AgRg
no AgRg na SLS 1.955/DF, assentou que caberia o prazo em dobro, gerando insegurança
jurídica na temática, de acordo com Guilherme Barros.
Com efeito, após a edição do CPC/2015, no ponto de vista teórico, o autor entende
que seria aplicado o prazo em dobro baseado no art. 183 caput, defendendo que não caberia
prazo simples por ser ato de natureza recursal. Ainda acrescentou que essa divergência do

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STF e STJ tem caráter de “jurisprudência defensiva”, isto é, no intuito de evitar julgar os
méritos dos recursos que lhe são interpostos dessa natureza.
Por fim, de forma sucinta, Leonardo Cunha defende que o pedido de suspensão por
ser específico da Fazenda Púbica não se aplica o prazo em dobro, pautado no STF e art. 183,
§2º do CPC.

h) Prazo para contestação em Ação Popular: Nas contestações em Ação Popular, não
se aplica o prazo em dobro e nem o regramento do CPC, deve ser observado o prazo próprio
previsto na Lei nº 4.717/1965, art. 7º, inciso IV, que prevê o prazo de 20 dias para contestar,
prorrogável até mais 20 dias, a critério do magistrado. Logo, afastam-se a aplicação dos arts.
183 e 229 ambos CPC.

i) Prazo para impugnação ao cumprimento de sentença e embargos à execução pela


Fazenda Pública: É cediço que a impugnação ao cumprimento de sentença ocorre diante dos
títulos executivos judiciais, em desfavor ao Poder Público e o CPC prevê prazo de 30 dias
para impugnação da Fazenda Pública. De igual modo, os embargos à execução ocorrerão
nos casos de execução fundada em títulos extrajudiciais, também preconiza o CPC prazo de
30 dias para o ente se manifestar. Logo, prazo específico para o Poder Público, não
computado em dobro. (Vide: arts. 534, 535 e 910, todos CPC).

j) Prazo em audiência de conciliação de mediação: No procedimento comum, o CPC


prevê que para início do procedimento deve observar o art. 334 (audiência de conciliação ou
mediação). A doutrina entende que seria aplicado o prazo em dobro, por não haver regra
específica para Fazenda, dispondo do art. 183, caput.
Ocorre que, o art. 334, §4º veda essas audiências quando o litígio não admite
autocomposição. A celebração de acordos pelo Poder Público ainda é muito limita, em razão
do interesse coletivo e da vedação aos advogados públicos para tal prática, bem como lei
própria do ente deve estabelecer quais as hipóteses permitidas e limites para a realização.
Assim, defende a doutrina que caberia prazo em dobro, porém, ressalta-se que não
existe previsão legal para o cômputo em dobro, caberia uma interpretação conjunta dos
arts. 334 e 183 do CPC.

3 OUTRAS CARACTERÍSTICAS PROCESSUAIS ESPECÍFICAS


Por: Lilian Nunes

34
3.1. Da intimação pessoal para Fazenda Pública

Inicialmente, frisa-se que a intimação dos entes políticos (União, Estados, Municípios
e Distrito Federal), bem como suas respectivas autarquias e fundações se dará perante o
órgão da Advocacia Pública responsável por sua representação (art. 269, §3º do CPC), aqui
se acrescenta uma observação, a CRFB/88 não prevê a obrigatoriedade de órgão específico
para os municípios, de igual modo, assentado pelo STF (Vide: RE 225777).
Contudo, os municípios que possuem procuradorias próprias são representados por
seus advogados públicos e têm a prerrogativa da intimação pessoal, nos termos do CPC.
Por conseguinte, alguns pontos importantes em tópicos, extraídos da doutrina de
Leonardo Cunha.
a) A Fazenda Pública goza de prerrogativa de intimação pessoal em qualquer
processo, independente de sua condição de: parte, interessada ou amicus curiae. (En. 7º, I
Fórum Nacional do Poder Público);
b) A intimação pessoal ocorre também nos juizados especiais. (En. 29, II Fórum
Nacional do Poder Público);
c) A intimação pessoal da Fazenda Pública se dá por carga, remessa ou meio
eletrônico. Ressalta-se que o endereço eletrônico não é destinado a efetivação de intimação,
deve ser feita por portal próprio por consulta eletrônica ou com fulcro no art. 5º da Lei
11.419/2206;
d) A publicação no órgão oficial é meio de intimação (art. 272 CPC – princípio da
publicidade), porém, não se aplica à Advocacia Pública que deve ser intimada pessoalmente.
(En. 8º, I Fórum Nacional do Poder Público e En. 401 do Fórum Permanente de
Processualistas Civis);
e) Nos processos eletrônicos – a intimação é realizada por meio eletrônico,
preferencialmente, só se não for possível ou frustrado (art. 246, §§1º e 2º, 270, 1.050 e 1.051
– CPC);
f) Caso seja retirado os autos do cartório ou secretaria pelo Advogado Público
ocasiona a intimação de qualquer decisão no processo, mesmo pendente de publicação (art.
272, §6º).

3.1.2. Intimação e prazo

a) Quando a intimação é feita por carga, o dia do começo da contagem do prazo é o


dia da carga (art. 231, VIII – CPC);

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b) Segundo o STJ, quando a intimação feita por remessa, inicia-se no dia da remessa
dos autos com vistas ou, se as datas não coincidirem, do recebimento deste pelo servidor do
órgão. (STJ, 5ª Turma, EDcl no RHC 43.374/PA, Rel. Min. Laurita Vaz, j. 22.04.2014, DJe
30.04.2014);
c) Intimação por autos eletrônicos, nos moldes do art. 231, V, CPC.

3.1.2. Intimação pelo próprio advogado / negócio processual e intimação

a) O CPC faculta ao advogado realizar a intimação do advogado da outra parte, como


posto no art. 269, §1º. No entanto, é inaplicável para intimação de advogado público, uma
vez que o Poder Público deve ser intimado pessoalmente, por carga, remessa ou meio
eletrônico. Logo, defeso intimação por ofício.
b) O En. 30 (II Fórum Nacional do Poder Público) prevê a celebração de negócio
jurídico processual pela Fazenda sobre formas de intimação, ou seja, caso seja difícil a
realização por carga, remessa ou meio eletrônico, o ente público pode acordar meios que
agilizem a intimação, como exemplo: por oficial de justiça, via postal ou outro meio, desde
que acordado anteriormente.

3.2 Honorários advocatícios

Os honorários advocatícios do direito processual público tiveram nova roupagem


com o advento do CPC/2015. O código antigo favorecia mais o ente público que o
particular, já que indicava a apreciação equitativa do juiz para fixá-los, não sendo altos para
não onerar o erário público (posto no revogado art. 20,§4º).
Apesar dessa prerrogativa do Estado ser tutela para defesa do interesse público, os
honorários não são meros acessórios, o ente deve ser condenado a pagar a parte adversa o
valor que lhe é cabível, nem mais, nem menos.
Assim, afastada a exclusiva apreciação equitativa do código anterior, o novo CPC
trouxe parâmetros para que o juízo possa fixar tais valores, aproximando o regime de
honorários contra o Poder Público do regime geral dos particulares, mesmo que não na
totalidade, como aponta Guilherme Barros.
O art. 85, §3º traz a previsão dos honorários quando a Fazenda Pública for parte, os
percentuais decrescem de acordo com o aumento do valor da condenação, caso a sentença
seja líquida, se não for, deve ser observado o §4º do dispositivo em apreço.

36
Art. 85. A sentença condenará o vencido a pagar honorários ao advogado do
vencedor.
(...)

§ 3º Nas causas em que a Fazenda Pública for parte, a fixação dos honorários
observará os critérios estabelecidos nos incisos I a IV do § 2º e os seguintes
percentuais:

I - mínimo de dez e máximo de vinte por cento sobre o valor da condenação ou


do proveito econômico obtido até 200 (duzentos) salários-mínimos;

II - mínimo de oito e máximo de dez por cento sobre o valor da condenação ou


do proveito econômico obtido acima de 200 (duzentos) salários-mínimos até
2.000 (dois mil) salários-mínimos;

III - mínimo de cinco e máximo de oito por cento sobre o valor da condenação
ou do proveito econômico obtido acima de 2.000 (dois mil) salários-mínimos até
20.000 (vinte mil) salários-mínimos;

IV - mínimo de três e máximo de cinco por cento sobre o valor da condenação


ou do proveito econômico obtido acima de 20.000 (vinte mil) salários-mínimos
até 100.000 (cem mil) salários-mínimos;

V - mínimo de um e máximo de três por cento sobre o valor da condenação ou


do proveito econômico obtido acima de 100.000 (cem mil) salários-mínimos.

§ 4º Em qualquer das hipóteses do § 3º:

I - os percentuais previstos nos incisos I a V devem ser aplicados desde logo,


quando for líquida a sentença;

II - não sendo líquida a sentença, a definição do percentual, nos termos


previstos nos incisos I a V, somente ocorrerá quando liquidado o julgado;

III - não havendo condenação principal ou não sendo possível mensurar o


proveito econômico obtido, a condenação em honorários dar-se-á sobre o valor
atualizado da causa;

IV - será considerado o salário-mínimo vigente quando prolatada sentença


líquida ou o que estiver em vigor na data da decisão de liquidação. (...)

Resumo do §3º:
Valor da condenação ou Percentuais mínimos e
do proveito econômico máximos dos honorários
Até 200 salários mínimos Entre 10% e 20%
De 200 até 2.000 salários mínimos Entre 8% e 10%
De 2.000 até 20.000 salários mínimos Entre 5% e 8%

37
De 20.000 até 100.000 salários Entre 3% e 5%
mínimos
Acima de 100.000 salários mínimos Entre 1% e 3%

Por fim, destaca-se que apenas foram mencionados breves comentários sobre o
instituto, devendo ser estudado mais a fundo, em razão da existência de vários pormenores.

4 CONCLUSÃO: OUTROS INSTITUTOS ESPECÍFICOS


Por: Lilian e Luciana
Preliminarmente, frisa-se que alguns dos institutos abaixo estarão presentes nesse
Almanaque de forma mais aprofundada, aqui, citam-se apenas como destaque algumas
prerrogativas da Fazenda Pública, então vejamos: competência, tutela,
prescrição/decadência, remessa necessária, precatórios, incidente de resoluções de demandas
repetitivas - IRDR, incidente de assunção de competência - IAC, entre outros que serão
abordados. No entanto, façamos breves comentários sobre competência, IRDR e IAC.
a) COMPETÊNCIA – Deve ser observado o art. 109 da CRFB/88, nas causas que
incluem a União, além dos arts. 45, 46,§5º, 51, 52, nesses dois últimos, ver os parágrafos
únicos, bem como sobre modificação de competência, ênfase nos arts. 55, 56, 57, todos do
CPC. Lembrando que nas ações perante os Juizados Especiais nas demandas contra a União,
a competência é absoluta.
Quanto à competência territorial, temos regras especiais aos vulneráveis. (Vide: art.
53, I a III; art. 1.048, ambos CPC, além do art. 9º, VII da Lei 13.146/2015).
Por fim, engloba a observância de Regimentos Internos, Leis ordinárias e LOJE´s.
b) IRDR e IAC – O CPC impõe como dever dos tribunais protegerem a segurança
jurídica, uniformizando sua jurisprudência, em virtude do princípio da igualdade (art.926).
Assim, temos a presença do IRDR e IAC, há quem questione essas regras
diferenciadas à Fazenda Pública, no tocante à validade ou constitucionalidade, mas o
regramento prevalece e será observado nas demandas processuais.
De forma breve, O IAC é a criação de um precedente; tem caráter preventivo; seu
regramento é estabelecido no Regimento Interno; trata-se de questão de direito com grande
repercussão geral; tem como legitimados: Relator, Ministério Público- MP e Defensoria
Pública- DP; o acórdão tem efeitos “erga omnes”, exceto revisitação de tese; previsão legal no
art.947 do CPC.
Quanto ao IRDR, busca estabilizar a isonomia e a segurança jurídica; tem caráter
repressivo; está previsto nos arts. 976 a 987 do CPC; seus requisitos são cumulativos (art.

38
976); tem como legitimados: Parte interessada, MP e DF; o MP pode atuar como “custos iuris”
– art. 976, §2º; é imperioso dar publicidade (art. 979).

Diante do exposto, o presente material seguirá com os demais tópicos voltados à


Fazenda Pública em Juízo e esperamos ter contribuído com essa parte estudada e compilada.

“É fazendo que se aprende a fazer aquilo que se deve aprender a fazer”


Aristóteles.

5 REFERÊNCIAS

A FAZENDA PUBLICA EM JUIZO - 16ªED.(2019). Autor: Leonardo Carneiro da


Cunha. Editora: Forense;
O PODER PÚBLICO EM JUÍZO - 9º ED.(2019). Autor: Guilherme Freire de Melo
Barros. Editora: JusPODIVM;
SITE: https://www.dizerodireito.com.br - Acesso em: 10 abril de 2020;
CURSO: O PODER PÚBLICO EM JUÍZO – EDIÇÃO GRATUITA – APROVAÇÃO
PGE – PROFESSORA: SABRINA DOURADO - ANO: 2020.

39
A FAZENDA PÚBLICA COMO AUTORA PROCESSUAL. PRINCIPAIS AÇÕES.
ASPECTOS GERAIS

3. A FAZENDA PÚBLICA
COMO AUTORA
PROCESSUAL. PRINCIPAIS
AÇÕES. ASPECTOS GERAIS

ALMANAQUE DA ADVOCACIA PÚBLICA por


Fernanda Cibelle Rodrigues dos Santos

Em quarentena em Brasília/DF, 03 de maio de 2020

40
1 ASPECTOS INICIAIS
Fazenda Pública é a expressão utilizada pela legislação para designar a presença em
juízo de pessoa jurídica de direito público interno. Seu tratamento processual é distinto, pois
goza de prerrogativas processuais, bem como há institutos processuais e procedimentos
afetos apenas a si.
Nesse sentido, a produção legislativa sobre direito processual destina leis e
dispositivos específicos para disciplinar a presença do ente público em Juízo. Como
exemplos, podemos citar a Lei do Mandado de Segurança (Lei nº 12.016/2009), a Lei de
Execuções Fiscais (Lei nº 6.830/80), a Lei de Ação Popular (Lei nº 4.717/65), a Lei do
Mandado de Injunção (Lei nº 13.300/2016), entre outros. De igual forma, no novo Código
de Processo Civil, há dispositivos que disciplinam de forma específica a atuação processual
da Fazenda Pública.

2 CONCEITO E ABRANGÊNCIA
Tradicionalmente, a classificação adotada pelos administrativistas divide a
Administração Pública em Direta e Indireta (art. 37, caput, da CF e art. 4º do DL 200/1967).
A Administração Direta compreende os Entes federativos (União, Estados, Distrito Federal
e Municípios) e seus respectivos órgãos.
Por outro lado, a Administração Pública Indireta compreende as entidades
administrativas que exercem funções administrativas e possuem personalidade jurídica
própria (art. 37, XIX, da CF e art. 4º, II, do DL 200/1967). São elas: autarquias, fundações,
empresas públicas e sociedades de economia mista – as duas primeiras, pessoas jurídicas de
direito público, voltadas à atuação de funções típicas do Estado; as duas últimas, de direito
privado, autorizadas por lei a atuarem em atividades econômicas, ao lado dos particulares.
Importante destacar que as prerrogativas das autarquias e fundações públicas de
direito público decorrem da personalidade jurídica de direito público, sendo desnecessária a
adoção de qualquer ato processual.
Fora desse conceito, estão as pessoas jurídicas de direito privado, ainda que haja a
participação societária do Poder Público. Sociedade de economia mista e empresa pública
são pessoas jurídicas de direito privado, criadas para exercer atividade econômica, ao lado
dos particulares (art. 173, § 2º, da CF) e não podem usufruir de prerrogativas processuais não
extensíveis a seus pares no mercado.
Situação peculiar é a da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos – ECT que,
embora seja constituída como empresa pública, o Supremo Tribunal Federal1 decidiu por

41
incluí-la no conceito de Fazenda Pública, por ser entidade voltada à prestação de serviço
público da União (art. 21, X, da CF), de modo a atribuir-lhe o regime jurídico processual dos
entes públicos9.

3 REPRESENTAÇÃO JUDICIAL
Os entes públicos são representados em juízo por seus procuradores, os advogados
públicos, conforme previsão dos artigos 131 e 132 da Constituição Federal. A assessoria
jurídica, judicial e consultiva, da União é realizada pela Advocacia-Geral da União, regulada
pela Lei Complementar nº 73/1993. Em relação à execução da dívida ativa de natureza
tributária, a União é representada pela Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (art. 131,
§3º, da CF).
Nos Estados e no Distrito Federal, a prestação de serviços jurídicos é feita pela
Procuradoria-Geral respectiva, que deve ser organizada em carreira, cujo ingresso depende
de concurso de provas e títulos (art. 132 da CF), sendo inconstitucional norma estadual que
autoriza a ocupante de cargo em comissão o desempenho das atribuições de assessoramento
jurídico, no âmbito do Poder Executivo (ADI 4261).
Advirta-se que os poderes de representação do ente público são estipulados em lei
para aquele que exerce o cargo de procurador. Assim não há necessidade de juntar
procuração nos autos para exercer plena e validamente a defesa dos interesses do ente
público que o procurador representa.
Na esfera municipal, não há previsão constitucional para a criação obrigatória de
Procuradorias-Gerais. O art. 75, III, do Código de Processo Civil estabelece que a
representação judicial dos municípios pode ser feita pelo prefeito ou por procurador.
Isso não significa que o CPC confira ao prefeito capacidade postulatória. A indicação
do prefeito se deve em razão de não haver procuradores concursados em todos os
municípios brasileiros. Nesses casos, o prefeito é citado e constitui advogado, a quem outorga
procuração para representar o ente público na demanda judicial10.

9 (...) 2. O Pleno do Supremo Tribunal Federal declarou, quando do julgamento do RE 220.906, Relator
o Ministro MAURÍCIO CORRÊA, DJ 14.11.2002, à vista do disposto no artigo 6o do decreto-lei nº
509/69, que a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos é "pessoa jurídica equiparada à Fazenda
Pública, que explora serviço de competência da União (CF, artigo 21, X)". (...) (ACO 765 QO, Relator(a):
Min. MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão: Min. EROS GRAU, Tribunal Pleno, julgado em
01/06/2005, DJe-211 DIVULG 06-11-2008 PUBLIC 07-11-2008 EMENT VOL-02340-01 PP-00141 RTJ
VOL-00207-03 PP-00928).(Grifo Acrescido)
10 BARROS, Guilherme Freire de Melo. Poder Público em Juízo Para Concursos. 9.ed. Salvador: Editora

Juspodivm. 2019. p. 30.

42
4 A FAZENDA PÚBLICA EM JUÍZO
As prerrogativas processuais da Fazenda Pública, fundamentadas no princípio da
indisponibilidade do interesse público, podem ser assim exemplificadas11:
a) Foro Privativo: compete à Justiça Federal processar e julgar as causas em que a
União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na condição de
autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência, acidente de trabalho e sujeitas à
Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho (art. 109, I, da CF). As causas envolvendo as
sociedades de economia mista, federais, estaduais e municipais são processadas e julgadas
perante a Justiça Estadual (Súmula 556 do STF).
b) Intimação Pessoal: o art. 183 do CPC prevê a necessidade de intimação pessoal
dos advogados públicos. Contudo, no âmbito dos Juizados Especiais Federais, a Fazenda
Pública não tem a prerrogativa de intimação pessoal12.
c) Prazos Diferenciados: as pessoas jurídicas de direito público possuem prazo em
dobro para todas as suas manifestações processuais (art.183 do CPC). Importante lembrar
que na contagem dos prazos processuais, estabelecidos por lei ou pelo juiz, computar-se-ão
somente os dias úteis (art. 219 do CPC).
Destaquem-se algumas exceções à regra do prazo em dobro para as manifestações
da Fazenda Pública:
c.1. O Supremo Tribunal Federal (STF) entende que a regra que confere prazo em
dobro à Fazenda Pública para recorrer não se aplica aos processos objetivos, que se referem
ao controle abstrato de leis e atos normativos (ADI 5814);
c.2. O art. 183, §2º, do CPC prevê que quando a legislação específica estabelecer
prazos próprios, não cabe prazo em dobro para o ente público (exemplo: prazo de 20 dias,
prorrogável por mais 20 dias, para contestar a ação popular, na forma do art. 7º, IV, da Lei
nº 4.717/1965).
c.3. Ação Rescisória: Não se aplica qualquer benefício de prazo à Fazenda Pública no
manejo de Ação Rescisória prevista no artigo 975 do Novo CPC, ou seja, é de dois anos
contados do trânsito em julgado da última decisão proferida no processo.

11 OLIVEIRA, Rafael Carvalho Rezende de. Curso de Direito Administrativo. 8.ed.Rio de Janeiro: Método,
2020. P. 808 e ss.
12 4. Tema 549 da Tese de Repercussão Geral do STF: A prerrogativa processual da Fazenda Pública Federal
de receber intimações pessoais, nos termos do art. 17 da Lei 10.910/2004, não tem aplicação no âmbito do
procedimento dos Juizados Especiais Federais.

43
O prazo para resposta da ação rescisória está previsto no art. 970 do CPC, o qual
prevê que o relator ordenará a citação do réu, designando-lhe prazo nunca inferior a 15
(quinze) dias nem superior a 30 (trinta) dias.
O STJ ainda não se manifestou no sentido de aplicar a dobra processual nessa
situação, mas há precedente permitindo a aplicação sob a égide do CPC/1973 (REsp nº
363.780/RS). Contudo, para Leonardo Carneiro da Cunha13 esta aplicação estaria equivocada
por exceder o prazo previsto no próprio art. 970 do CPC.
c.4. No Mandado de Segurança, o prazo em dobro deverá ser aplicado apenas para
os recursos, mas não para a manifestação da autoridade coatora, pois esta não é considerada
ente público (Fazenda Pública), mas como agente público ou que, em razão de sua função,
faz a vez deste.
d) Suspensão de liminares e de sentenças: as pessoas jurídicas de direito público podem
requerer a suspensão de liminar ou de sentença perante o Presidente do Tribunal ao qual
couber o conhecimento do respectivo recurso para evitar grave lesão à ordem, à saúde, à
segurança e à economia públicas. A prerrogativa encontra-se consagrada em diversos
diplomas normativos: art. 15 da Lei nº 12.016/2009 (5 dias), art. 12, §1º, da Lei nº 7.347/1985
(5 dias), art. 4º, da Lei nº 8.437/1992.
e) Intervenção anômala ou amicus curiae: possibilidade de intervenção das pessoas
jurídicas de direito público nas causas cuja decisão tenha potencial reflexos, diretos ou
indiretos, de natureza econômica (art. 5º, parágrafo único, da Lei nº 9.469/1997).
f) Remessa Necessária: Sujeitam-se ao duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito
senão depois de confirmada pelo Tribunal, as sentenças: (i) proferida contra a União, os Estados, o
Distrito Federal, os Municípios e suas respectivas autarquias e fundações de direito público, bem
como as que (ii) que julgar procedentes, no todo ou em parte, os embargos à execução fiscal (art. 496
do CPC).
Advirta-se que há situações previstas no CPC em que o reexame necessário é afastado
(art. 496, §§3º e 4º):

Art. 496 (...)


§ 3º Não se aplica o disposto neste artigo quando a condenação ou o proveito econômico
obtido na causa for de valor certo e líquido inferior a:
I - 1.000 (mil) salários-mínimos para a União e as respectivas autarquias e fundações de
direito público;
II - 500 (quinhentos) salários-mínimos para os Estados, o Distrito Federal, as respectivas
autarquias e fundações de direito público e os Municípios que constituam capitais dos
Estados;
III - 100 (cem) salários-mínimos para todos os demais Municípios e respectivas
autarquias e fundações de direito público.

13CUNHA, Leonardo Carneiro da. A FAZENDA PÚBLICA EM JUÍZO. 14. Ed. Rio de Janeiro: Editora
Forense, 2017, p. 49.

44
§ 4º Também não se aplica o disposto neste artigo quando a sentença estiver fundada em:
I - súmula de tribunal superior;
II - acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de
Justiça em julgamento de recursos repetitivos;
III - entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de
assunção de competência;
IV - entendimento coincidente com orientação vinculante firmada no âmbito
administrativo do próprio ente público, consolidada em manifestação, parecer ou súmula
administrativa.

g) Despesas Judiciais: A Fazenda Pública somente pagará as despesas judiciais ao


final do processo, se vencida na demanda (art. 91 do CPC). O ente público não precisa
efetuar o depósito prévio (5% sobre o valor da causa) para a propositura de ação rescisória
(art. 968, §1º, do CPC) ou para interposição de recursos (art. 1º-A da Lei nº 9.494/1997). A
Fazenda Pública é dispensada do preparo recursal (art. 1.007, §1º, do CPC).
No que diz respeito à multa prevista no art. 1.026 do CPC, o qual prevê que a
oposição de embargos de declaração protelatórios pode gerar multa de até 2% (dois por
cento) sobre o valor da causa, podendo chegar a 10% (dez por cento) e gerar a necessidade
de pagamento como condição para interposição de qualquer recurso, o §3º do referido
dispositivo legal excepciona a situação da Fazenda Pública, ou seja, esta pode interpor
recurso, recolhendo a multa ao final do processo.
Também merece destaque a previsão de multa por ato atentatório à dignidade da
justiça e litigância de má-fé (art. 77, §2º, do CPC). A penalidade não pode ser aplicada contra
os advogados públicos. Segundo o art. 77, §6º, do CPC, eles não estão sujeitos à punição em
razão de sua atuação profissional e eventual responsabilidade disciplinar decorrente de atos
praticados por esses profissionais no exercício de suas funções deve ser apurada pelo
respectivo órgão de classe ou corregedoria, a quem o magistrado oficiará.
h) Honorários de advogado: De acordo com o art. 85 do CPC, a sentença condenará
o vencido a pagar honorários ao advogado do vencedor, devendo em cada caso fixar os
valores (mínimo de 10 e máximo de vinte por cento sobre o valor da condenação, do proveito
econômico obtido ou, não sendo possível mensurá-lo, sobre o valor da causa atualizado),
devendo o Juiz analisar: (i) o grau de zelo profissional: (ii) o lugar de prestação do serviço;
(iii) a natureza e a importância da causa; (iv) o trabalho realizado pelo advogado e o tempo
exigido para o seu serviço.
Quando a Fazenda Pública for parte, além das balizas acima retratadas, devem ser
obedecidos os critérios previstos no art. 85, §3º, do CPC:

Art. 85 (...)
§ 3º Nas causas em que a Fazenda Pública for parte, a fixação dos honorários observará
os critérios estabelecidos nos incisos I a IV do § 2º e os seguintes percentuais:

45
I - mínimo de dez e máximo de vinte por cento sobre o valor da condenação ou do
proveito econômico obtido até 200 (duzentos) salários-mínimos;
II - mínimo de oito e máximo de dez por cento sobre o valor da condenação ou do
proveito econômico obtido acima de 200 (duzentos) salários-mínimos até 2.000 (dois
mil) salários-mínimos;
III - mínimo de cinco e máximo de oito por cento sobre o valor da condenação ou do
proveito econômico obtido acima de 2.000 (dois mil) salários-mínimos até 20.000 (vinte
mil) salários-mínimos;
IV - mínimo de três e máximo de cinco por cento sobre o valor da condenação ou do
proveito econômico obtido acima de 20.000 (vinte mil) salários-mínimos até 100.000
(cem mil) salários-mínimos;
V - mínimo de um e máximo de três por cento sobre o valor da condenação ou do
proveito econômico obtido acima de 100.000 (cem mil) salários-mínimos.

O §5º prevê que a condenação contra a Fazenda Pública ou o benefício econômico


obtido pelo vencedor ou o valor da causa for superior ao valor previsto no inciso I do § 3º,
a fixação do percentual de honorários deve observar a faixa inicial e, naquilo que a exceder,
a faixa subsequente, e assim sucessivamente.
Para explicar a regra acima, importante mencionar o esclarecimento de Leonardo
Carneiro da Cunha14:
“Tome-se como exemplo um caso em que o valor da condenação, do benefício
econômico obtido ou o valor da causa seja equivalente a 200.000 (duzentos mil) salários
mínimos. Nesse caso, os honorários terão seu valor fixado da seguinte forma: entre 10%
(dez por cento) e 20% (vinte por cento) sobre 200 (duzentos) salários mínimos ao que se
acresce a fixação entre 8% (oito por cento) e 10% (dez por cento)
sobre 1.800 (mil e oitocentos) salários mínimos adicionada da fixação entre 5% (cinco
por cento) e 8% (oito por cento) sobre 18.000 (dezoito mil) salários mínimos. Daí se
adiciona mais uma fixação entre 3% (três por cento) e 5% (cinco por cento) sobre 80.000
(oitenta mil) salários mínimos, somando-se mais outra fixação entre 1% (um por cento)
e 3% (três por cento) sobre 100.000 (cem mil) salários mínimos”.

Por fim, acrescente-se a previsão do §19 que prevê a possibilidade de os advogados


públicos receberem honorários de sucumbência, nos termos da lei.
Nessa esteira, Leonardo Carneiro da Cunha15 observa que:

“Para que os advogados públicos percebam os honorários de sucumbência, é preciso que


haja uma lei regulamentando a divisão, os valores, os detalhes do recebimento por cada
um deles no âmbito da respectiva procuradoria. A simples previsão do parágrafo 19 do
art. 85 do CPC não é suficiente para que os advogados públicos percebam os honorários.
É necessária a edição de uma lei própria regulamentando sua percepção pelos advogados
públicos. A lei a ser editada não pode, todavia, suprimir esse direito nem subtrair sua
titularidade.
Nesse sentido, o enunciado 384 do Fórum Permanente de Processualistas Civis: ‘A lei
regulamentadora não poderá suprimir a titularidade e o direito à percepção dos
honorários de sucumbência dos advogados públicos’.”

14 CUNHA, Leonardo Carneiro da. Op. Cit. p. 119.


15 CUNHA, Leonardo Carneiro da. Op. Cit. p. 115.

46
O ordenamento jurídico consagra diversas ações judiciais que podem ser ajuizadas
pela Fazenda Pública16.
Inicialmente, de forma mais genérica, à Advocacia Pública compete a representação
judicial da União (AGU), Estado, Distrito Federal (PGE) e do Município (PGM), ajuizando
ações para a tutela dos interesses dos respectivos entes. Para tanto, regra geral, ajuízam as
ações respeitando os requisitos genéricos da petição inicial previsto no art. 319 e seguintes
do CPC.
Além da atuação genérica, há em diversas leis a previsão de legitimidade ativa para
atuação da advocacia pública, com requisitos de petições iniciais mais específicas, a saber:
a) Ação Civil Pública: A legitimidade ativa do Ente público para ajuizar Ação Civil
Pública está prevista no art. 5º, III, da Lei nº 7.347/1985. O art. 1º do destacado diploma
normativo traz as hipóteses, em rol exemplificativo, do cabimento da Ação Civil Pública para
responsabilizar por danos morais e patrimoniais causados contra o meio ambiente, ao
consumidor, aos bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico,
a qualquer outro direito difuso ou coletivo, por infração da ordem econômica, à ordem
urbanística, à honra e à dignidade de grupos raciais, étnicos ou religiosos e ao patrimônio
público e social.
Destaque-se, ainda, a legitimidade da Fazenda Pública para ajuizar Ação Civil Pública
prevista em outros diplomas normativos: Pessoa com Deficiência (art. 3º da Lei nº
7.853/1989); Consumidor (art. 82 da Lei 8.078/1990); ECA (art. 210 da Lei nº 8.069/1990),
Idoso (art. 81 da Lei 10.741/2003).
b) Ação Civil Pública por ato de improbidade administrativa: O fundamento
constitucional é o art. 37, §4º, da CF. Como fundamento legal, temos o art. 1º, IV, da Lei nº
7.347/1985 e o art. 17 da Lei nº 8.429/1992. Importante observar que os atos de
improbidade estão previstos no art. 9º (enriquecimento ilícito), art. 10 (prejuízo ao erário),
art. 11 (violação aos princípios da administração pública).
c) Desapropriação: Importante destacar os diplomas normativos que dispõem
sobre a desapropriação:

• Decreto-Lei nº 3.365 de 21/06/1941: Dispõe sobre desapropriação


por utilidade pública;

8. Este tópico foi construído em grande parte com base nas aulas do Curso Definitivo de Segunda Fase
16
ministrado pelo Professor Ubirajara Casado na EBEJI, ministrado no ano de 2020.

47
• Lei n.º 4.132 de 10/09/1962: Define os casos de desapropriação por
interesse social e dispõe sobre sua aplicação;
• Decreto-Lei n.º 1.075 de 22/01/1970: Regula a imissão provisória na
posse em imóveis residenciais urbanos;
• Lei Complementar n.º 76 de 06/07/1993: Dispõe sobre o
procedimento contraditório especial, de rito sumário, para processo
de desapropriação de imóvel rural por interesse social para fim de
Reforma Agrária.
Além disso, a Constituição Federal traz quatro tipos de desapropriação:
• Desapropriação Ordinária (art. 5° XXIV);

• Desapropriação – Urbanística (art. 182, §4º, III da CF) – ocorre na


situação em que há o descumprimento da função social da
propriedade por imóvel urbano;

• Desapropriação para Fins de Reforma Agrária (Art. 184 da CF) –


desapropriação no qual o imóvel rural não está cumprindo a sua
função social;

• Desapropriação-Confisco (art. 243) – ocorre nas hipóteses nas quais


em propriedades urbanas ou rurais forem localizadas plantas
psicotrópicas ou a exploração de trabalho escravo.

d) Execução Fiscal: À Fazenda Pública compete, privativamente, a cobrança


judicial da dívida ativa da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, nos termos da Lei
nº 6.830/1980.
Merece destaque que no caso de condenação patrimonial imposta pelos Tribunais de
Contas, somente o ente público beneficiário tem legitimidade para propor ação de execução
(ARE 823347, REsp 1687904 / MG).
e) Mandado de Segurança Coletivo: O art. 21 da Lei nº 12.016/2009 não prevê a
legitimidade do Ente público para impetrar Mandado de Segurança Coletivo.
Nesse sentido, há precedente antigo do STF:

(...) MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO: QUESTÃO DE


LEGITIMIDADE EXTRAORDINÁRIA DE ESTADO-MEMBRO EM DEFESA
DE INTERESSES DA SUA POPULAÇÃO. AO ESTADO-MEMBRO NÃO SE
OUTORGOU LEGITIMAÇÃO EXTRAORDINÁRIA PARA A DEFESA,
CONTRA ATO DE AUTORIDADE FEDERAL NO EXERCÍCIO DE
COMPETÊNCIA PRIVATIVA DA UNIÃO, SEJA PARA A TUTELA DE
INTERESSES DIFUSOS DE SUA POPULAÇÃO - QUE E RESTRITO AOS
ENUMERADOS NA LEI DA AÇÃO CIVIL PÚBLICA (L. 7.347/85 - , SEJA PARA
A IMPETRAÇÃO DE MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO, QUE E
OBJETO DA ENUMERAÇÃO TAXATIVA DO ART. 5., LXX DA
CONSTITUIÇÃO. ALÉM DE NÃO SE PODER EXTRAIR MEDIANTE
CONSTRUÇÃO OU RACIOCINIO ANALOGICOS, A ALEGADA
LEGITIMAÇÃO EXTRAORDINÁRIA NÃO SE EXPLICARIA NO CASO,

48
PORQUE, NA ESTRUTURA DO FEDERALISMO, O ESTADO-MEMBRO NÃO
E ÓRGÃO DE GESTAO, NEM DE REPRESENTAÇÃO DOS INTERESSES DE
SUA POPULAÇÃO, NA ORBITA DA COMPETÊNCIA PRIVATIVA DA UNIÃO..
(MS 21059, Relator(a): Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, Tribunal Pleno, julgado em
05/09/1990, DJ 19-10-1990 PP-11486 EMENT VOL-01599-01 PP-00039 RTJ VOL-
00133-02 PP-00652)

f) Mandando de Injunção Coletivo: Também não há previsão de legitimidade ativa


dos entes públicos para impetrar Mandado de Injunção Coletivo (art. 12 da Lei nº
13.300/2016).
Hermes Zaneti Jr. e Leonardo Garcia17 explicam que “a ausência de legitimação ativa
para entes públicos é justificável, pois eles tenderão a ser os réus – eles são os omissos (art.
3º, in fine). Ficaria estranha a sua legitimação extraordinária”.

Art. 3º São legitimados para o mandado de injunção, como impetrantes, as pessoas


naturais ou jurídicas que se afirmam titulares dos direitos, das liberdades ou das
prerrogativas referidos no art. 2º e, como impetrado, o Poder, o órgão ou a
autoridade com atribuição para editar a norma regulamentadora. (Grifos
acrescidos).

g) Juizados Especiais: Há a Lei nº 10.259/2001 (Lei dos Juizados Especiais no


âmbito da Justiça Federal), que no art. 3º prevê a competência do Juizado Especial Federal
Cível processar, conciliar e julgar causas de competência da Justiça Federal até o valor de
sessenta salários mínimos, bem como executar suas sentenças.
O art. 3º, §1º traz as hipóteses de exclusão de determinadas ações do Juizado Especial
Federal:
(i) as referidas no art. 109, incisos II, III e XI, da Constituição Federal, as ações de
mandado de segurança, de desapropriação, de divisão e demarcação, populares, execuções
fiscais e por improbidade administrativa e as demandas sobre direitos ou interesses difusos,
coletivos ou individuais homogêneos;
(ii) sobre bens imóveis da União, autarquias e fundações públicas federais;
(iii) para a anulação ou cancelamento de ato administrativo federal, salvo o de
natureza previdenciária e o de lançamento fiscal;
(iv) que tenham como objeto a impugnação da pena de demissão imposta a servidores
públicos civis ou de sanções disciplinares aplicadas a militares.
Por sua vez, a Lei nº 12.153/2009 dispõe sobre a criação dos Juizados Especiais da
Fazenda Pública no âmbito dos Estados, Distrito Federal, Municípios e Territórios e no
art. 2º prevê que é de competência dos Juizados Especiais da Fazenda Pública processar,

ZANETI Jr. Hermes. GARCIA, Leonardo de Medeiros. Direitos Difusos e Coletivos. 9.


17

Ed. Salvador: Juspodivm, 2018.p. 520.


49
conciliar e julgar causas cíveis de interesse dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios
e dos Municípios, até o valor de 60 (sessenta) salários mínimos.
O §1º traz as ações que não poderão ser processadas e julgadas pelos Juizados
Especiais da Fazenda Pública:
(i) as ações de mandado de segurança, de desapropriação, de divisão e demarcação,
populares, por improbidade administrativa, execuções fiscais e as demandas sobre direitos
ou interesses difusos e coletivos;
(ii) as causas sobre bens imóveis dos Estados, Distrito Federal, Territórios e
Municípios, autarquias e fundações públicas a eles vinculadas;
(iii) as causas que tenham como objeto a impugnação da pena de demissão imposta
a servidores públicos civis ou sanções disciplinares aplicadas a militares.

5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARROS, Guilherme Freire de Melo. Poder Público em Juízo Para Concursos. 9.ed.
Salvador: Editora Juspodivm. 2019.
CASADO, Ubirajara. Curso Definitivo de Segunda Fase. Curso EBEJI, ministrado no ano
de 2020.
CUNHA, Leonardo Carneiro da. A FAZENDA PÚBLICA EM JUÍZO. 14. Ed. Rio de
Janeiro: Editora Forense, 2017.
OLIVEIRA, Rafael Carvalho Rezende de. Curso de Direito Administrativo. 8.ed.Rio de
Janeiro: Método, 2020.
ZANETI Jr. Hermes. GARCIA, Leonardo de Medeiros. Direitos Difusos e Coletivos. 9. Ed.
Salvador: Juspodivm, 2018.

50
AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO, CONTESTAÇÃO E REVELIA DA
FAZENDA PÚBLICA

4. AUDIÊNCIA DE
CONCILIAÇÃO,
CONTESTAÇÃO E REVELIA
DA
FAZENDA PÚBLICA

ALMANAQUE DA ADVOCACIA PÚBLICA por


Lidiane Mesquita Dias

Em quarentena em Brasília/DF, 09/04/2020

51
1 AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO
Uma das grandes novidades do CPC/15 é sobre o momento da audiência de
conciliação, que agora ocorre antes da apresentação da contestação.

Assim, recebida a petição inicial, não sendo o caso de improcedência liminar, será
designada audiência de conciliação.

Segundo o art. 334, § 4º, II, do CPC, a audiência não será realizada quando não se
admitir a autocomposição. ATENÇÃO! Isto não significa que o Ente Público estará
automaticamente desobrigado a participar da audiência de conciliação. Neste sentido,

En. 673/FPPC: “A presença do ente público em juízo não impede,


por si, a designação da audiência do art. 334.”

A designação ou dispensa da audiência de conciliação será determinada por meio de


despacho fundamentado, observando essencialmente a natureza dos interesses no litígio.

Desta forma, via de regra, versando o litígio sobre interesse público indisponível, o juiz
determinará a dispensa da realização da audiência. No entanto, há casos excepcionais em que
a Advocacia Pública possui autorização para celebrar acordos e, desde que a Fazenda faça
ampla e prévia publicidade sobre tais hipóteses, poderá ser designada audiência de
conciliação.

Corroborando o entendimento,

En. 24/JDPC: “Havendo a Fazenda Pública publicizado ampla e


previamente as hipóteses em que está autorizada a transigir, pode o
juiz dispensar a realização da audiência de mediação e conciliação,
com base no art. 334, § 4º, II, do CPC, quando o direito discutido
na ação não se enquadrar em tais situações.”
Segundo o professor Ubirajara Casado, a possibilidade de acordo pela Advocacia
Pública é situação excepcional e, normalmente, acontece em ações de massa, como por
exemplo, uma gratificação que a Administração realmente deve a um número de servidores
e estabelece condições de acordo para pôr fim aos processos existentes e evitar processos
futuros.

Sistematizando, podemos compreender a questão da seguinte forma:

Audiência de Conciliação e Fazenda Pública

52
Interesse público
Regra Dispensa da audiência
indisponível

Autorização normativa
para a Advocacia pública
Exceção Designação da audiência
celebrar acordos +
publicidade ampla e prévia

2 CONTESTAÇÃO
A contestação é a peça mais frequente na prática da advocacia pública. Dada a sua
importância, sobreleva o estudo dos arts. 335 a 342, CPC, em especial as preliminares de
mérito constantes do art. 337, CPC.

Caso a audiência não seja realizada ou reste frustrada, o Poder Público terá o prazo
de 30 dias úteis para apresentar a contestação (arts. 335, 183 e 219, CPC).

De um modo geral, a contestação submete-se a 3 regras:

1) princípio da concentração (art. 336, CPC): o réu deve concentrar na


contestação toda matéria de defesa, sob pena de preclusão. Não se submetem à
preclusão as exceções previstas no art. 342 do CPC: (i) fato ou direito superveniente;
(ii) matérias que competem ao juiz conhecer de ofício; e (iii) questões que, por
expressa autorização legal, possam ser formuladas a qualquer tempo e juízo.

2) princípio da eventualidade (art. 336, CPC): o réu deve apresentar todos os


argumentos que tiver, ainda que contraditórios entre si, pois, na eventualidade de ser
rejeitado o primeiro, haverá um segundo; na eventualidade de ser rejeitado o
segundo, haverá um terceiro, e assim por diante.

3) ônus da impugnação específica dos fatos (art. 341, CPC): o réu deve se
manifestar sobre os fatos narrados na petição inicial, presumindo-se verdadeiros
aqueles não impugnados, salvo se não for admissível, a seu respeito, a confissão (art.
341, I, CPC).

A doutrina assente que as regras 1 e 2 são aplicáveis à Fazenda Pública. Assim, no


intuito de coletar dados e reunir toda a matéria de defesa, o procurador deverá expedir ofício
ao órgão público ou entidade responsável pela matéria objeto do litígio (por exemplo, oficiar

53
a Secretaria de Segurança Pública em demanda que versa sobre responsabilidade civil por
fuga de presos).

No entanto, a regra 3 apresenta divergência doutrinária quanto à sua aplicação à FP,


de forma que pode ser assim esquematizada:

● Para Fredie Didier, a FP se submete ao dever de impugnação específica.


● Para Leonardo da Cunha, a FP não se submete ao dever de impugnação
específica. A ausência de impugnação não fará com que se opere a presunção de
veracidade, pois litígios contra o Poder Público não admitem confissão (341, I, CPC).
● Para Guilherme Barros, a FP pode ou não se submeter ao dever de
impugnação específica, o que dependerá da natureza do litígio. Se o litígio versar
sobre direitos indisponíveis a FP não tem o ônus da impugnação específica.
Excepcionalmente, tratando a lide de direitos disponíveis, haverá dever de
impugnação específica.

O procurador não precisa apresentar procuração, pois o poder de representação


judicial do ente público decorre da posse e do exercício do cargo.

3 REVELIA
Segundo a regra geral do CPC, será revel o réu que não contestar a ação, e presumir-
se-ão verdadeiras as alegações de fato formuladas pelo autor (art. 344, CPC).

No entanto, a revelia não produz o efeito da presunção de veracidade se o litígio


versar sobre direitos indisponíveis (art. 345, II, CPC).

Conforme lição de Leonardo Carneiro, os atos públicos presumem-se legítimos,


assim, mesmo na hipótese de revelia, deve o magistrado determinar a instrução do feito para
que a parte autora possa se desincumbir do seu onus probandi. Por isso, em demanda proposta
em face da Fazenda Pública, cabe ao autor comprovar as alegações contidas em sua petição
inicial, sob pena de resultar na improcedência da demanda.

4 BIBLIOGRAFIA
BARROS, Guilherme Freire de Melo. Poder Público em Juízo para concursos, 7. ed., rev.,
atual. e ampl. - Salvador: JusPODIVM, 2017.
CASADO, Ubirajara. A Fazenda Pública é obrigada a participar de audiência de conciliação
prévia (art. 334, CPC/15)?”, disponível em https://blog.ebeji.com.br/a-fazenda-publica-e-
obrigada-a-participar-de-audiencia-de-conciliacao-previa-art-334-cpc-15/. Acesso em
09/04/2020.

54
CUNHA, Leonardo Carneiro da. A Fazenda Pública em juízo. - 15. ed. rev., atual. e ampl. -
Rio de Janeiro: Forense, 2018.

55
INTERVENÇÃO ANÔMALA

5. INTERVENÇÃO
ANÔMALA

ALMANAQUE DA ADVOCACIA PÚBLICA por


Aparecida Tatiana Gomes Barbosa Consalter

Em quarentena em São Paulo - SP, em 10/04/2020

56
1 CONCEITO E CARACTERÍSTICAS

De acordo com o caput do art. 5º. da Lei n. 9.469, de 10 de julho de 1997, a União
poderá intervir nas causas em que os entes da Administração Pública indireta pertencentes à
esfera federal figurarem como autores ou réus:

“Art. 5º A União poderá intervir nas causas em que figurarem,


como autoras ou rés, autarquias, fundações públicas,
sociedades de economia mista e empresas públicas federais”.

Tem-se, portanto, uma presunção absoluta de interesse jurídico da União, o que


autoriza a sua intervenção, a qualquer tempo, em qualquer um dos polos da relação, desde
que nele se encontre algum ente federal.
O seu parágrafo único, todavia, oferece maior amplitude, abarcando genericamente
todas as pessoas jurídicas de direito público:

“Parágrafo único. As pessoas jurídicas de direito público


poderão, nas causas cuja decisão possa ter reflexos, ainda que
indiretos, de natureza econômica, intervir,
independentemente da demonstração de interesse jurídico,
para esclarecer questões de fato e de direito, podendo juntar
documentos e memoriais reputados úteis ao exame da matéria
e, se for o caso, recorrer, hipótese em que, para fins de
deslocamento de competência, serão consideradas partes”.

Dessa forma, entende-se como intervenção anômala (também conhecida como


intervenção anódina ou intervenção especial dos entes públicos) aquela promovida pelas
pessoas jurídicas de direito público, em que não se exige a demonstração de interesse jurídico
relevante, bastando apenas a simples manifestação da vontade de intervir, baseada na
potencialidade da decisão gerar efeitos reflexos, mesmo que indiretos, de natureza
econômica.
Trata-se, pois, de mais um instituto de direito processual civil colocado à disposição
exclusiva do Poder Público.

57
Características:

a) Aplica-se a qualquer pessoa jurídica de direito público;


b) Incide em todos os tipos de demanda (ainda que a causa envolva apenas
particulares), salvo no âmbito dos Juizados Especiais, porquanto não se admite
intervenção de terceiros;
c) A qualquer tempo;
d) Não depende de interesse jurídico ou que a esfera jurídica da Fazenda Pública
possa vir a ser atingida;
e) Fundada na potencialidade de eventual lesão econômica, ainda que indireta ou
reflexa, que leve a obstaculizar a consecução das finalidades do Estado
(fundamentação jurídica).

2 NATUREZA JURÍDICA

Destaca-se que há divergência doutrinária envolvendo o tema. Para alguns, o instituto


nada mais é que uma modalidade de intervenção de terceiro, como aponta o julgado do STJ,
nos seguintes termos:

PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. VIOLAÇÃO


DO ART. 535 DO CPC.NÃO-OCORRÊNCIA. AÇÃO DE
INDENIZAÇÃO C/C PERDAS E DANOS AJUIZADA
CONTRA A CAIXA ECONÔMICA FEDERAL.
ILEGITIMIDADE DA UNIÃO PARA MANEJAR
RECURSO DE APELAÇÃO. INAPLICÁVEL, NO CASO, O
ART. 5º, CAPUT E § ÚNICO, DA LEI N. 9.469/97,
PORQUANTO INEXISTENTE CAUSA PENDENTE
(ART. 50, CAPUT, DO CPC) A JUSTIFICAR A
INTERVENÇÃO NA MODALIDADE ASSISTÊNCIA
SIMPLES. RECURSO ESPECIAL NÃO CONHECIDO.
1. Não se há falar em violação do art. 535 quando o Tribunal
de origem se manifesta acerca de todas as questões relevantes
e essenciais ao desate da controvérsia, tal como lhe fora posta
e submetida. É de se notar que os dispositivos de que a
recorrente pretendia prequestionamento diziam respeito ao

58
mérito do recurso, circunstância que torna a análise
despicienda, porquanto a apelação não foi sequer conhecida.
2. Nos termos do art. 5º, caput, da Lei n. 9.469/97, "a União
poderá intervir nas causas em que figurarem, como autoras ou
rés, autarquias, fundações públicas, sociedades de economia
mista e empresas públicas federais". Por outro lado, o § único
do mencionado artigo proclama que "as pessoas jurídicas de
direito público poderão, nas causas cuja decisão possa ter
reflexos, ainda que indiretos, de natureza econômica, intervir,
independentemente da demonstração de interesse jurídico,
para esclarecer questões de fato e de direito, podendo juntar
documentos e memoriais reputados úteis ao exame da matéria
e, se for o caso, recorrer, hipótese em que, para fins de
deslocamento de competência, serão consideradas partes".
3. Portanto, não se está diante de hipótese de litisconsórcio
necessário, nem mesmo de assistência litisconsorcial. O
mencionado dispositivo, ao explicitar a finalidade da
intervenção - para esclarecer questões de fato e de direito,
podendo juntar documentos e memoriais reputados úteis ao
exame da matéria e, se for o caso, recorrer -, por exegese
lógica, também deixa claro que se trata de intervenção ad
coadjuvandum, ou seja, está-se diante de intervenção simples.
Com efeito, conquanto a Lei n. 9.469/97 autorize a intervenção
da União em feitos dessa natureza, esta receberá o processo
no estado em que se encontra (art. 50, § único, do CPC), não
havendo cogitar-se em recurso contra decisões proferidas
antes de sua participação.
4. Por outro lado, nos termos do caput, do art. 50, do CPC, para
a admissão da intervenção de terceiros na modalidade
assistência simples, é antecedente necessário a existência de
causa pendente, vale dizer, causa cuja decisão não transitou
em julgado, circunstância não verificada na espécie. Em
realidade, a sentença contra a qual a União manejou apelação
- sentença de liquidação por arbitramento -, há muito,

59
transitara em julgado, inexistindo, com isso, o aludido
requisito.
5. Vale dizer, portanto, que a União não pode recorrer em
processo onde não havia sua intervenção regular, porquanto o
acórdão proferido em sede de liquidação de sentença já
transitara em julgado, ficando-lhe ressalvada, contudo, a
discussão futura quanto à justiça da decisão.
6. As matérias concernentes ao mérito do recurso restam
prejudicadas.
7. Recurso especial não conhecido.
(REsp 708.040/RJ, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO,
QUARTA TURMA, julgado em 19/02/2009, DJe 09/03/2009)

Leonardo Carneiro da Cunha18, no entanto, assinala a semelhança e as diferenças


entre os institutos em questão:

INTERVENÇAO ANÔMALA ASSISTÊNCIA


- forma espontânea de intervenção de - forma espontânea de intervenção de
terceiro terceiro
- possui interesse econômico (indireto ou
- possui interesse jurídico
reflexo) no resultado do processo
a) assistente litisconsorcial: pratica todos os
atos processuais, sem limitação
b) assistente simples: pratica todos os atos
- atuação limitada, salvo quando recorre
processuais, desde que não contrarie a
vontade do assistido

Por sua vez, há autores que defendem que a intervenção anômala tem natureza de
amicus curiae, considerando que a pessoa jurídica de direito público ingressará no processo
com o escopo de levar ao conhecimento do juízo os seus interesses institucionais, ou seja, o
interesse público. Guilherme Freire de Melo Barros explica que nessa hipótese “o papel
desempenhado pelo ente público é de chamar a atenção do julgador para a importância e as
consequências da decisão a ser proferida. A participação do Estado amplia e aprofunda o
debate jurídico naquele litígio e reduz o déficit democrático da atuação do Poder Judiciário,

18A Fazenda Pública em juízo, 15ª. ed., Rio de Janeiro: Forense, 2018, ISBN 978-309-7968-3. E-book, p.
173-174.

60
conferindo maior grau de legitimidade àquela decisão que, posteriormente, pode influenciar
outros litígios ou a conduta administrativa e trazer reflexos sociais significativos”19.

3 PROCEDIMENTO
A concretização dessa intervenção se faz pelo imediato comparecimento da Fazenda
Pública em juízo, com a apresentação de provas, memoriais e documentos considerados úteis
ao desfecho da controvérsia.
Uma vez requerida a intervenção anômala pelo Poder Público, as partes originárias
deverão ser intimadas para se manifestarem sobre o tal pedido, podendo questionar a
presença ou não de interesse econômico, em respeito aos princípios da ampla defesa e do
contraditório.
Observa-se que a atuação da Fazenda se limita ao esclarecimento das questões de
fato e de direito, ou seja, de pontos controvertidos (para tanto, repisa-se, poderá juntar
documentos e memoriais de interesse para a lide). Os pontos incontroversos, por sua vez,
poderão ser abordados somente se disserem respeito à matéria conhecível de ofício pelo juiz.
Leonardo Carneiro da Cunha pontua que “à evidência, o interveniente, nessa
hipótese, não detém poderes para apresentar contestação ou qualquer outro tipo de resposta,
nem dispõe de todos os ônus e faculdades que são conferidos às partes no processo. É que
o ponto somente se torna controvertido, ou seja, a questão somente surge no processo com
a contestação que contenha a impugnação específica sobre aquele ponto. Se fosse possível à
pessoa jurídica de direito público, na intervenção anômala, contestar, seria ela que estaria
fazendo surgir a questão no processo, não sendo o caso de prestar esclarecimentos sobre
uma questão, a qual, para assim se qualificar, surgiu de uma contestação já apresentada. Daí
não ser possível que a Fazenda Pública apresente contestação ou qualquer outro tipo de
resposta”20.
Além disso, a Fazenda Pública, a fim de garantir o seu interesse econômico, poderá
recorrer, ocasião em que passará a exercer todos os poderes e ônus de quem interpõe recurso

19 O Poder Público em juízo para concursos, 5ª. ed, Salvador: JusPodivm, 2015, p. 124..

20 Ob. cit., p. 165.

61
(por exemplo: atuação no Tribunal, sustentação oral 21 etc.). Dessa forma, sua atividade
deixará de ser limitada, passando a figurar como parte.

Em suma, a pessoa jurídica de direito público poderá:

a) Esclarecer pontos controvertidos (pontos incontroversos: somente matérias que


possam ser conhecidas de ofício);
b) Juntar documentos úteis à demanda e apresentar memoriais; e
c) Recorrer.

4 COMPETÊNCIA

4.1. A Fazenda Pública como interveniente na causa

Como a sua atuação é limitada, restringindo-se a esclarecer questões, juntar


documentos e apresentar memoriais, não há modificação de competência, pois, de acordo
com o art. 109, inciso I da CF, ela somente modificará quando a União ou outra pessoa
jurídica de direito público federal figurar como autora, ré, assistente ou opoente.
Vale ressaltar que, nos termos da súmula 150 do STJ, “compete à Justiça Federal
decidir sobre a existência de interesse jurídico que justifique a presença, no processo, da
União, suas autarquias ou empresas públicas”.
Márcio André Lopes Cavalcante22 esclarece que a súmula é aplicada nas hipóteses em
que está tramitando na justiça estadual uma causa que não envolva os referidos entes do art.
109, inciso I da CF. Caso decidam ingressar no feito como autores, réus, assistentes ou
opoentes, o juiz de direito responsável declinará da sua competência, remetendo os autos à
justiça federal, para a devida análise da legitimidade ou do interesse envolvido.
Conforme prescreve a súmula 254 do STJ 23 , decidindo o juízo federal pela
impossibilidade de intervenção, os autos retornarão à justiça estadual, que não poderá
reexaminar a decisão denegatória.
Observa-se que a assistência e a oposição são as únicas formas de intervenção em
que o terceiro ingressa no processo de forma espontânea, não precisando, portanto, ser

21 O Enunciado n. 55 aprovado no III Fórum Nacional do Poder Público, que ocorreu em 2017, dispõe que
“é cabível a sustentação oral pelas pessoas jurídicas de direito público quando intervierem na forma do
art. 5º, parágrafo único, da Lei nº 9.469/97”.
22 Súmulas do STF e do STJ anotadas e organizadas por assunto, 2ª.ed., Salvador: JusPodivm, 2017, p. 115.
23 “A decisão do Juízo Federal que exclui da relação processual ente federal não pode ser reexaminada no

Juízo Estadual”. (Súmula 254, CORTE ESPECIAL, julgado em 01/08/2001, DJ 22/08/2001, p. 338)

62
intimado, nem citado para fazer parte da demanda. Quando o ente federal é citado, passa a
ser réu, deslocando a competência para a Justiça Federal.

4.2. Fazenda Publica como recorrente


Ao interpor recurso, repisa-se, a União ostentará a condição de parte, conforme
prevê expressamente a parte final do parágrafo único do art. 5º., da Lei n. 9.469/97. Logo,
haverá o deslocamento de competência para a justiça federal.
Caso a interposição do recurso seja a primeira manifestação da Fazenda Pública no
processo, o prazo para tanto deverá ter o mesmo termo inicial do prazo para recurso das
demais partes.
Qualquer provimento, seja ele definitivo ou provisório, exarado por um juízo de
primeira instância, poderá ser revisto pelo tribunal ao qual esteja vinculado. Dessa maneira,
se for exarado por um juiz federal ou juiz estadual que esteja exercendo jurisdição federal
(art. 109, §3º, CF), o recurso deverá ser interposto perante o Tribunal Regional Federal que
abranja aquela área geográfica .

4.2.1. Processos em trâmite na justiça estadual

O problema se encontra quando a decisão ou sentença for proferida por um juiz


estadual. Nessa situação, compete ao respectivo Tribunal de Justiça apreciar o recurso
interposto pela União ou ente federal, conforme prescreve a súmula 55 do STJ (“Tribunal
Regional Federal não é competente para julgar recurso de decisão proferida por juiz estadual
não investido de jurisdição federal”).
Caso o STF ou o STJ anule o acórdão proferido pela justiça estadual, competirá ao
Tribunal de Justiça reexaminar a matéria, tendo em vista o retorno ao status quo ante.
Leonardo Carneiro da Cunha assinala que a eventual execução que vier a ser
proposta, deverá ser processada na justiça federal24. Logo, a regra prevista no art. 516, inciso
II do CPC25 não se aplicaria ao caso, considerando o disposto no art. 5º., parágrafo único, da
Lei n. 9.469/97. Desse modo, retornando os autos do Tribunal Superior, o magistrado
estadual deverá reconhecer de ofício a sua incompetência e encaminhá-los para à justiça
federal, competente26.

24 Ob. cit., p. 169.


25 “Art. 516. O cumprimento da sentença efetuar-se-á perante: (...)
II - o juízo que decidiu a causa no primeiro grau de jurisdição”
26 Pois uma vez que a União ou ente federal adquira a condição de parte, há a atração da competência

para a justiça federal (art. 109, inciso I, da CF).

63
5 OBSERVAÇÕES
5.1. Ação rescisória
Conforme já explicitado, ao interpor recurso, a pessoa jurídica de direito público é
considerada parte e, portanto, é alcançada pela coisa julgada. Desse modo, não poderá
rediscutir a decisão final em qualquer outra demanda idêntica, sendo-lhe permitido,
entretanto, ajuizar ação rescisória (art. 967, inciso I, do CPC).
Todavia, se não tiver adquirido a condição de parte na demanda originária, não
poderá ajuizar ação rescisória, com fundamento no parágrafo único do art. 5º. da Lei n.
9.469/97, visto que o inciso II do art. 967, do CPC, exige interesse jurídico do terceiro
interessado, ao contrário do referido parágrafo único, que invoca o mero interesse
econômico. Tal situação afasta, consequentemente, a legitimidade ativa da Fazenda Pública
para tanto, podendo, não obstante, ingressar no feito como interveniente, com base no
dispositivo em debate.
A Fazenda Pública também está autorizada a ajuizar PEDIDO DE SUSPENSÃO
DE LIMINAR OU DE SEGURANÇA, considerando que o poder de recorrer permite o
manejo de instrumentos processuais destinados a assegurar o resultado útil do processo,
razão de ser das medidas cautelares27.

5.2. Mandado de segurança

O STJ entende não ser cabível a intervenção anômala do Poder Público em mandado
de segurança, pois não se admite intervenção de terceiros em seu procedimento.
Nesse sentido:

PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. MANDADO DE


SEGURANÇA. PEDIDO DE INGRESSO NO FEITO. CONDIÇÃO DE
ASSISTENTE LITISCONSORCIAL OU INTERVENÇÃO ANÔMALA.
VEDAÇÃO DO § 2º DO ART. 10 DA LEI 12.016/2009 E
INAPLICABILIDADE DO ART. 5º, PARÁGRAFO ÚNICO, DA LEI
9.469/97.
PRECEDENTES DO STJ E DO STF.
1. Agravo regimental interposto contra decisão na qual foi indeferido o
pedido de ingresso no feito mandamental no polo passivo, na condição de
assistente litisconsorcial ou como interveniente anômalo.

27 Leonardo Carneiro da Cunha, ob. cit., p. 170.

64
2. O Supremo Tribunal Federal já fixou que "(...) o rito procedimental do
mandado de segurança é incompatível com a intervenção de terceiros, ex
vi do art. 24 da Lei nº 12.016/09, ainda que na modalidade de assistência
litisconsorcial, na forma da jurisprudência remansosa do Supremo
Tribunal Federal (....)" (MS 32.074/DF, Relator Min. Luiz Fux, Primeira
Turma, Processo Eletrônico publicado no DJe-217 em 5.11.2014.).
3. Em caso, todo similar ao encontrado no presente feito, a Primeira Seção
já manteve o indeferimento de entidade da Administração Pública federal
indireta que postulava o ingresso no feito mandamental para auxiliar na
defesa da autoridade coatora e da União; no caso, restou assentado que "a
jurisprudência vem se consolidando no sentido de considerar incompatível
o instituto da assistência simples com o rito e a finalidade do mandado de
segurança" e que "não se aplica ao mandado de segurança o art. 5º,
parágrafo único, da Lei n. 9.469/1997, que confere à pessoa jurídica de
direito público o privilégio de intervir como assistente em qualquer causa"
(AgRg no MS 15.298/DF, Rel. Ministro Og Fernandes, Primeira Seção,
DJe 14.10.2014).
Agravo regimental improvido.
(AgRg no MS 16.702/DF, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS,
PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 14/10/2015, DJe 22/10/2015)

6 BIBLIOGRAFIA

ARAÚJO, José Henrique Mouta Araújo e PEIXOTO, Marco Aurélio Ventura, Poder
Público em juízo. Salvador: JusPodivm, 2018.

BARROS, Guilherme Freire de Melo, O Poder Público em juízo para concursos, 5ª.ed,
Salvador: JusPodivm, 2015

CAVALCANTE, Márcio André Lopes, Súmulas do STF e do STJ anotadas e organizadas


por assunto, 2ª.ed., Salvador: JusPodivm, 2017.

CUNHA, Leonardo Carneiro da, A Fazenda Pública em juízo, 15ª. ed., Rio de Janeiro:
Forense, 2018, ISBN 978-309-7968-3. E-book.

DONIZETTI, Elpídio, Curso didático de direito processual civil, 22ª ed., São Paulo:
Atlas, 2019, ISBN 978-85-97-02023-6. E-book.

65
PEDIDO DE SUSPENSÃO DO PODER PÚBLICO

6. PEDIDO DE SUSPENSÃO
DO PODER PÚBLICO

ALMANAQUE DA ADVOCACIA PÚBLICA por


Marília Aguida da Silva Pinto

Em período de quarentena em Maceió/AL, 03 de abril de 2020

66
67

PEDIDO DE SUSPENSÃO DO PODER PÚBLICO

1 CONCEITO
O pedido de suspensão é o instrumento usado apenas pelo poder público, para
suspender liminar ou sentença judicial, nas ações movidas em face do Poder Público ou de
seu agentes, quando houver manifesto interesse público ou, em regra, flagrante
ilegitimidade, a fim de evitar grave lesão a determinados bens jurídicos públicos, quais
sejam, a ordem, saúde, segurança e/ou economia pública. O pedido de suspensão é
comumente chamado de pedido de suspensão de segurança.
O instituto está previsto para provimentos que violem o interesse público em
qualquer tipo de ação, sejam interlocutórias ou sentenças, tem o efeito de retirar a
executoriedade de decisão (suspendê-la), mantendo-a inalterada.
Segundo o pensamento de Celso Antônio BANDEIRA DE MELLO, o “interesse
público deve ser conceituado como o interesse resultante do conjunto dos interesses que os
indivíduos pessoalmente têm quando considerados em sua qualidade de membros da
Sociedade e pelo simples fato de o serem” (BANDEIRA DE MELLO, 2005, p. 51).

2 NATUREZA JURÍDICA

Quanto a natureza jurídica existe uma enorme divergência entre a doutrina e a


jurisprudência parte da doutrina entende o pedido de suspensão como um incidente
processual, um sucedâneo recursal com o fim de dar efeito suspensivo à decisão. Já o
entendimento do Superior Tribunal de Justiça e do Supremo Tribunal Federal é
pacificado no sentido de ser um julgamento político administrativo. Não haveria juízo
meritório na questão e, por isso, não seria ato puramente jurisdicional.

3 LEGITIMADOS
Quanto à legitimidade, o pedido de suspensão pode ser intentado por:

a) pessoa jurídica de direito público da administração direta (União, Estados,


Distrito Federal e Municípios), autarquias e fundações;

b) agências reguladoras;
c) órgãos despersonalizados, desde que a decisão afete prerrogativa institucional ou
provoque conflito entre órgãos da pessoa jurídica de direito público[1];

d) Ministério Público;

e) concessionária de serviço público, que, apesar de constituir-se em pessoa jurídica


de direito privado, pode intentar pedido de suspensão se houver interesse público[2];

f) Prefeito Municipal alijado do exercício do mandato por liminar[3].

g) quem tem legitimidade para ação coletiva[4].

4 LEGISLAÇÃO PERTINENTE

O pedido de suspensão não está regrado em uma única lei, esse vem previsto de forma
esparsa nos diplomas legislativos apresentados:
Lei 7347/85 Lei de Ação Civil Pública

Art. 12: (...)

§ 1º A requerimento de pessoa jurídica de direito público interessada, e para


evitar grave lesão à ordem, à saúde, à segurança e à economia pública, poderá o
Presidente do Tribunal a que competir o conhecimento do respectivo recurso
suspender a execução da liminar, em decisão fundamentada, da qual caberá agravo
para uma das turmas julgadoras, no prazo de 5 (cinco) dias a partir da publicação do
ato.

Lei 8437/92

Art. 4º: Compete ao presidente do tribunal, ao qual couber o conhecimento do


respectivo recurso, suspender, em despacho fundamentado, a execução da liminar
nas ações movidas contra o Poder Público ou seus agentes, a requerimento do
Ministério Público ou da pessoa jurídica de direito público interessada, em caso de
manifesto interesse público ou de flagrante ilegitimidade, e para evitar grave lesão à
ordem, à saúde, à segurança e à economia públicas.

§ 1° Aplica-se o disposto neste artigo à sentença proferida em processo de ação


cautelar inominada, no processo de ação popular e na ação civil pública, enquanto
não transitada em julgado.

§ 2º O Presidente do Tribunal poderá ouvir o autor e o Ministério Público, em


setenta e duas horas. (Redação dada pela Medida Provisória nº 2,180-35, de 2001)

68
§ 3º Do despacho que conceder ou negar a suspensão, caberá agravo, no prazo
de cinco dias, que será levado a julgamento na sessão seguinte a sua interposição.
(Redação dada pela Medida Provisória nº 2,180-35, de 2001).

§ 4º Se do julgamento do agravo de que trata o § 3o resultar a manutenção ou o


restabelecimento da decisão que se pretende suspender, caberá novo pedido de
suspensão ao Presidente do Tribunal competente para conhecer de eventual recurso
especial ou extraordinário. (Incluído pela Medida Provisória nº 2,180-35, de 2001).

§ 5º É cabível também o pedido de suspensão a que se refere o § 4o, quando


negado provimento a agravo de instrumento interposto contra a liminar a que se
refere este artigo. (Incluído pela Medida Provisória nº 2,180-35, de 2001).

§ 6º A interposição do agravo de instrumento contra liminar concedida nas


ações movidas contra o Poder Público e seus agentes não prejudica nem condiciona
o julgamento do pedido de suspensão a que se refere este artigo. (Incluído pela
Medida Provisória nº 2,180-35, de 2001).

§ 7º O Presidente do Tribunal poderá conferir ao pedido efeito suspensivo


liminar, se constatar, em juízo prévio, a plausibilidade do direito invocado e a urgência
na concessão da medida. (Incluído pela Medida Provisória nº 2,180-35, de 2001).

§ 8º As liminares cujo objeto seja idêntico poderão ser suspensas em uma única
decisão, podendo o Presidente do Tribunal estender os efeitos da suspensão a
liminares supervenientes, mediante simples aditamento do pedido
original. (Incluído pela Medida Provisória nº 2,180-35, de 2001).

§ 9º A suspensão deferida pelo Presidente do Tribunal vigorará até o trânsito


em julgado da decisão de mérito na ação principal.

Lei 9.407/97

Art. 16. Quando o habeas data for concedido e o Presidente do Tribunal ao qual
competir o conhecimento do recurso ordenar ao juiz a suspensão da execução da
sentença, desse seu ato caberá agravo para o Tribunal a que presida.

Lei 12.016/09

Art. 15. Quando, a requerimento de pessoa jurídica de direito público


interessada ou do Ministério Público e para evitar grave lesão à ordem, à saúde, à
segurança e à economia públicas, o presidente do tribunal ao qual couber o
conhecimento do respectivo recurso suspender, em decisão fundamentada, a
execução da liminar e da sentença, dessa decisão caberá agravo, sem efeito
suspensivo, no prazo de 5 (cinco) dias, que será levado a julgamento na sessão
seguinte à sua interposição.

§ 1º Indeferido o pedido de suspensão ou provido o agravo a que se refere o


caput deste artigo, caberá novo pedido de suspensão ao presidente do tribunal
competente para conhecer de eventual recurso especial ou extraordinário.

69
§ 2º É cabível também o pedido de suspensão a que se refere o § 1o deste artigo,
quando negado provimento a agravo de instrumento interposto contra a liminar a
que se refere este artigo.

§ 3º A interposição de agravo de instrumento contra liminar concedida nas


ações movidas contra o poder público e seus agentes não prejudica nem condiciona
o julgamento do pedido de suspensão a que se refere este artigo.

§ 4º O presidente do tribunal poderá conferir ao pedido efeito suspensivo


liminar se constatar, em juízo prévio, a plausibilidade do direito invocado e a urgência
na concessão da medida.

§ 5º As liminares cujo objeto seja idêntico poderão ser suspensas em uma única
decisão, podendo o presidente do tribunal estender os efeitos da suspensão a
liminares supervenientes, mediante simples aditamento do pedido original.

5 APLICAÇÃO DO PEDIDO DE SUSPENSÃO

O pedido de suspensão é feito por meio de uma petição, com o fundamento do


Poder Público estar preste a sofrer ameaça de seus interesses públicos primários – ordem,
segurança, saúde e economia públicas; juntamente com a petição vai as copias do processo
aptas a demostrar a procedência da medida suspensiva.

O pedido de suspensão é dirigido ao presidente do Tribunal competente par


conhecer do respectivo recurso.

DECISÃO DE: RECURSO PARA:


JUIZ DE DIREITO ESTADUAL PRESIDENTE DO TJ
JUIZ FEDERAL PRESIDENTE DO TRF
JUIZ ESTADUAL em exercício de
PRESIDENTE DO TRF
JURIDIÇÃO FEDERAL
STJ OU STF VAI DEPENDE DA
ORGÃO FRACIONÁRIO DE
MATÉRIA SE SERÁ
TRIBUNAL (MONOCROMÁTICA OU
INFRACONSTITUCIONAL OU
COLEGIADA)
CONSTITUCIONAL.

6 CONSIDERAÇÃO GENÉRICAS

A jurisprudência dos Tribunais Superiores já havia estabelecido que não se aplica a


prerrogativa de prazo em dobro para recurso interposto no incidente de suspensão

70
conforme, o CPC/15 que diz, a prerrogativa de prazo em dobro não se aplica quando se
tratar de prazo próprio para o Poder Público (art,183, § 2º).

Sendo a decisão do Pleno ou Órgão Especial desfavorável ao ente público caberá


novo pedido de suspensão (LMC, art. 4º, §4º; LMS, art. 15º, § 1º).

A interposição de agravo de instrumento contra a tutela provisória não prejudica,


nem condiciona a apreciação do pedido de suspensão (LMC, art. 4º, § 6º; LMS, art. 15º, §
3º), pois cada instituto possui natureza jurídica distinta o agravo de instrumento tem natureza
de recurso e busca reforma ou anulação da decisão interlocutória ao passo em que o pedido
de suspensão se classifica com incidente processual e busca sustar a eficácia da decisão, a
impedir produção de efeitos. Portanto o ente público pode se valer dos dois institutos pedido
de suspensão e agravo de instrumento, além de eventual reclamação.

O presidente do Tribunal ao receber o pedido de suspensão pode conceder efeito


suspensivo liminar antes mesmo de conhecer o mérito, devido ao entendimento que é um
caso de urgência e com a plausibilidade do direito apresentado pelo Estado.

Concedido o pedido de suspensão, fica sobrestada a eficácia da tutela de urgência


concedida em desfavor do ente público, seus efeitos vigoram até o trânsito em julgado da
ação principal. Embora não haja previsão similar na Lei de Mandado Segurança a
jurisprudência entende que o pedido de suspensão em mandado de segurança segue a mesma
solução, ou sejas, os efeitos ficam sobrestados até o trânsito em julgado.

Como já foi editada em súmula: Súmula 626 STF


A suspensão da liminar em mandado de segurança, salvo determinação em contrário
da decisão que a deferir, vigorará até o trânsito em julgado da decisão definitiva de
concessão da segurança ou, havendo recurso, até a sua manutenção pelo Supremo
Tribunal Federal, desde que o objeto da liminar deferida coincida, total ou
parcialmente, com o da impetração.

A exceção somente surge em caso de determinação expressa em contrário da


presidência no momento da concessão do pedido da suspensão.
Contra as decisões proferida no bojo do pedido de suspensão, não cabe a
interposição de recursos especial ou extraordinário.

71
7 REFERÊNCIAS

PODE PÚBLICO EM JUÍZO – 7ª ED (2017) autor: Guilherme Freire de Melo Barros.


Editora Jus Podvim.
https://jus.com.br/artigos/55640/analise-do-pedido-de-suspensao-de-seguranca-
conforme-os-tribunais-superiores-o-novo-codigo-de-processo-civil-e-a-legislacao-
especifica/1
https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-processual-civil/fazenda-publica-em-
juizo-da-suspensao-da-liminar-da-seguranca-e-da-tutela-antecipada/
[1] SCARTEZZINI, Jorge Tadeo Goffi Flaquer. Suspensão de Segurança. São Paulo: RT,
2010.n.4.1.1, p.109-110 apud CUNHA, Leonardo Carneiro da. A fazenda Pública em juízo.
13ª ed. totalmente reformulada. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p.610.

[3] STF, Pleno, SS444 AgR/MT, Rel. Min. Sydney Sanches, j.20.05.1992, DJ 04.09.1992, p
14.088.

[4] Nesse sentido: VENTURI, Elton. Suspensão de liminares e sentenças contrárias ao Poder
Público. São Paulo: RT, 2005.n.5.1.5,p.83-86 apud CUNHA, Leonardo Carneiro da. A
fazenda Pública em juízo. 13ª ed. totalmente reformulada. Rio de Janeiro: Forense, 2016,
p.611.

72
TUTELA PROVISÓRIA CONTRA O PODER PÚBLICO

7. TUTELA PROVISÓRIA
CONTRA O PODER PÚBLICO

ALMANAQUE DA ADVOCACIA PÚBLICA por Leda


Franzon Rezende

Em quarentena em Goiânia/GO, 10 de abril de 2020

73
1 JURISDIÇÃO E TUTELA PROVISORIA
Jurisdição é o poder/função/atividade conferido ao Estado para aplicar o direito a
um caso concreto em busca da uma solução justa para a lide.
A inafastabilidade da jurisdição é princípio de matriz constitucional, e constitui
garantia de acesso à justiça, consagrado no artigo 5, XXXV da CF/88.
O artigo 3°, caput, do CPC revela tal princípio ao dispor o direito do cidadão de
provocar uma resposta do judiciário diante da lesão a algum direito.
No intuito de tornar efetivo o acesso à tutela jurisdicional, em casos que exigem a
célere intervenção do juiz, foram criados instrumentos jurídicos para salvaguardar o
provimento final de mérito.
As tutelas provisórias têm esta função, conforme esclarece HUMBERTO
TEODORO JUNIOR:
“O manejo dessas técnicas redunda nas tradicionais medidas cautelares,
que se limitam a conservar bens ou direitos, cuja preservação se torna
indispensável à boa e efetiva prestação final, na justa composição do litígio,
por isso, se qualificam tais medidas como conservativas. Dessas técnicas
também podem surgir provimentos que antecipam provisoriamente resultados
materiais do direito disputado em juízo, motivo pelo qual as medidas
provisórias que ostentem tal característica se denominam medidas
satisfativas. O novo Código sistematizou, ainda, dentro das tutelas sumárias,
as que se prestam a proteger provisoriamente situações jurídicas substanciais reveladoras
da existência de direitos subjetivos reconhecíveis prima facie,
hipótese em que a tutela provisória se denomina tutela da evidência”. (, pg. 896/897,
Theodoro Júnior, Humberto, Curso de Direito Processual Civil – vol. I. -60. Ed. –Rio de
Janeiro: Forense, 2019.)

2 TUTELA PROVISORIA
O Novo CPC, nos artigos de 294 a 311, disciplina a tutela provisória como gênero,
da qual são espécies: a tutela de urgência e a tutela de evidencia.
Cassio Scarpinella Bueno esclarece:
“É correto entender a tutela provisória, tal qual disciplinada pelo CPC de
2015, como o conjunto de técnicas que permite ao magistrado, na presença de
determinados pressupostos, que gravitam em torno da presença da “urgência”
ou da “evidência”, prestar tutela jurisdicional, antecedente ou
incidentalmente, com base em decisão instável (por isso, provisória) apta a
assegurar e/ou satisfazer, desde logo, a pretensão do autor, até mesmo de
maneira liminar, isto é, sem prévia oitiva do réu.” (pg. 413, Bueno, Cassio Scarpinella,

74
Manual de direito processual civil: volume único – 5 ed. – São Paulo: Saraiva Educação,
2019).
Classificação da tutela provisória:
a) urgência: artigo 300 CPC, fundamenta-se na existência de um risco à efetividade
da tutela definitiva, em razão do tempo.
a.1) cautelar e antecipada:
-cautelar: conservativa provisional de urgência: art. 305 CPC
-antecipada: satisfativa provisional de urgência: art. 303 CPC
a.2) antecedente e incidental:
-incidental: aquela que é formulada no curso do processo. Pode ser cautelar
ou antecipada.
-antecedente: formulada antes que o pedido principal tenha sido apresentado.
Pode ser cautelar ou antecipada.

b) evidencia: artigo 311 do CPC, satisfativa provisional, fundamenta-se na


evidencia do direito de uma das partes, redistribuindo o ônus do tempo no processo
em razão da isonomia. Não necessita haver uma situação de perigo.

3 TUTELA PROVISORIA CONTRA A FAZENDA PÚBLICA


Para garantir a integridade do erário diante das inúmeras demandas contra a Fazenda
Pública, o legislador infraconstitucional resguardou em diversas leis situações que impedem
decisões contra a Fazenda Pública em tutela provisória.
O CPC/2015, no artigo 1.059, dispõe que a tutela provisória requerida contra a
Fazenda Pública se submete às restrições previstas na Lei 12.016/2009 e Lei 8437/1992, in
verbis:
Art. 1.059. À tutela provisória requerida contra a Fazenda Pública aplica-se o disposto
nos arts. 1º a 4º da Lei nº 8.437, de 30 de junho de 1992 , e no art. 7º, § 2º, da Lei nº
12.016, de 7 de agosto de 2009 .
Tais hipóteses impeditivas foram disciplinadas na legislação que rege a matéria, qual
seja:
a) Lei 8.437/92, de 30 de junho de 1992,
b) os arts. 1º e 2º-B da Lei 9.494/97
c) o art. 7º, §§2º e 5º da Lei 1.2016/2009,
d) art. 29-B da Lei 8.036/90

75
O artigo 1° da Lei 9.494/1997,50 “veda a outorga de tutela antecipada nas hipóteses
legais em que vedadas as liminares (Lei 4.348/1964, art. 5º; Lei 5.021/1996, art. 1º, § 4º; Lei
8.437/1992, art. 1º)”, in verbis:
Art. 1º Aplica-se à tutela antecipada prevista nos arts. 273 e 461 do Código
de Processo Civil o disposto nos arts. 5º e seu parágrafo único e 7º da Lei
nº 4.348, de 26 de junho de 1964, no art. 1º e seu § 4º da Lei nº 5.021, de
9 de junho de 1966, e nos arts. 1º, 3º e 4º da Lei nº 8.437, de 30 de junho
de 1992.
A inconstitucionalidade material do artigo 1° da Lei 9.494/97 foi questionada através
da ADC n° 4, por violação ao principio da inafastabilidade da jurisdição e do amplo acesso
ao Judiciário (CF, art. 5, inciso XXXV). Fora deferida cautelar na ADC para suspender as
execuções de todas as decisões judiciais deferitórias de pedidos de antecipação de tutela em
desfavor da Fazenda Pública, que determinassem incorporações em folha de pagamento ou
imediato pagamento de atrasados sob o fundamento de serem devidos aumentos de
vencimentos, ou reclassificações ou equiparações de servidores públicos, vedados pelas
disposições legais a que faz remissão o art. 1°, da Lei n.° 9.494, de 10 de setembro de 1997.
Por fim, o STF julgou constitucional o dispositivo atacado asseverando que a referida lei
“não cria limitações ao direito do magistrado manifestar o poder do estado, presente que as
limitações guardam consonância com o sistema positivo.” (ADC 4-MC/DF, Rel. Min.
Sidney Sanches, DJ de 21-5-1999.)
Leonardo Carneiro da Cunha, ao tratar do tema, conclui que:
“(...) Não há inconstitucionalidade na vedação. Nas hipóteses previstas em lei, não é
possível, em principio, haver a tutela de urgência contra a Fazenda Pública. Pode, porém,
o juiz, demonstrando fundamentadamente, que a hipótese reclama uma regra de exceção,
afastar a norma e conceder medida. O certo, e enfim, é que tais restrições reclamam
exegese restritiva, somente sendo vedada a tutela de urgência nos casos expressamente
indicados no dispositivo legal.” (CUNHA, Leonardo Carneiro da. A fazenda Pública em
juízo. 13ª ed. totalmente reformulada. Rio de Janeiro: Forense,
2016, p.306)
Portanto, uma vez atendidos os pressupostos legais fixados no art. 294 e sgs. do
CPC/2015 e observadas as restrições estabelecidas na Lei nº 9.494/97 (art. 1º) –, tornar-se-
á lícito ao magistrado deferir a tutela antecipatória requerida contra a Fazenda Pública.

3.1 Das vedações legais

a) Lei 9494/97:

76
Estendeu a disciplina restritiva do mandado de segurança e
ações cautelares para a antecipação dos efeitos da tutela:
Art. 1º Aplica-se à tutela antecipada prevista nos arts. 273 e 461 do Código de Processo
Civil o disposto nos arts. 5º e seu parágrafo único e 7º da Lei nº 4.348, de 26 de junho de
1964, no art. 1º e seu § 4º da Lei nº 5.021, de 9 de junho de 1966, e nos arts. 1º, 3º e 4º
da Lei nº 8.437, de 30 de junho de 1992.
Art. 2o-B. A sentença que tenha por objeto a liberação de recurso, inclusão em folha de
pagamento, reclassificação, equiparação, concessão de aumento ou extensão de
vantagens a servidores da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
inclusive de suas autarquias e fundações, somente poderá ser executada após seu trânsito
em julgado. (Incluído pela Medida provisória nº 2.180-35, de 2001)
Marcio André Lopes Cavalcante em comentários ao Informativo 766 do STF,
esclarece:
1) A decisão proferida na referida ADC 4 não impede toda e qualquer
antecipação de tutela contra a Fazenda Pública. Somente está proibida a
concessão de tutela antecipada nas hipóteses listadas no art. 1º da Lei n.
9.494/97, que deve ser interpretado restritivamente. A título de exemplo,
o STF afirma que pode ser concedida tutela antecipada em lides
previdenciárias, considerando que tal vedação não está elencada no
dispositivo acima mencionado.
Nesse sentido: Súmula 729-STF: A decisão ADC-4 não se aplica à
antecipação de tutela em causa de natureza previdenciária. No julgado
noticiado no Informativo 766, o STF afirmou que seria possível a
concessão de tutela antecipada tratando sobre férias de servidores
públicos, considerando que isso não envolve a reclassificação ou
equiparação de servidores públicos nem a concessão de aumento ou
extensão de vantagens (STF. Plenário. Rcl 4311/DF, red. p/ o acórdão
Min. Dias Toffoli, julgado em 6/11/2014).
2) O STF admite que o juiz conceda a tutela antecipada tratando sobre os
assuntos do art. 1º da Lei n. 9.494/97 desde que essa antecipação ocorra
na própria sentença de mérito. Isso não afronta o que foi decidido na ADC
4/DF. Confira: “A concessão, em sentença de mérito, de antecipação dos
efeitos da tutela em face do Poder Público não afronta a autoridade da
decisão proferida ao exame da ADC 4/DF.” (STF. 1ª Turma. Rcl 8902
AgR, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 05/08/2014).

77
3) É permitida a concessão de tutela antecipada determinando a promoção
do servidor ou a sua inclusão em curso de habilitação, ainda que isso gere,
como efeito secundário, a concessão de vantagem pecuniária (STF. 1ª
Turma. Rcl 8902 AgR, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 05/08/2014).
(CAVALCANTI, Marcio André Lopes. Informativo Esquematizado:
informativo 766/STF. DIZER O DIREITO. Disponivel em:
https://dizerodireitodotnet.files.wordpress.com/2014/11/info-766-
stf1.pdf.

b) Lei 12.016/09:

Está previsto no artigo 7°, inciso III, que o magistrado ao despachar a inicial poderá
de forma liminar ordenar a suspensão do ato que gerou a interposição do mandado de
segurança, desde que preenchidos os requisitos legais. Mas, no mesmo artigo o § 2º e 5°,
disciplinam as seguintes restrições:
Art. 7o :
§ 2.º Não será concedida medida liminar que tenha por objeto a
compensação de créditos tributários, a entrega de mercadorias e bens
provenientes do exterior, a reclassificação ou equiparação de servidores
públicos e a concessão de aumento ou a extensão de vantagens ou
pagamento de qualquer natureza.
§ 5o As vedações relacionadas com a concessão de liminares previstas
neste artigo se estendem à tutela antecipada a que se referem os arts.
273 e 461 da Lei no 5.869, de 11 janeiro de 1973 - Código de Processo
Civil.
Portanto, a Lei 12.016/09 veda em quatro hipóteses a concessão de medida liminar
em face da fazenda pública:

1- compensação de créditos tributários,


2-entrega de mercadorias e bens provenientes do exterior;
3- reclassificação ou equiparação de servidores públicos e concessão de aumento ou
a extensão de vantagens; e
4- pagamentos de qualquer natureza.

Ainda, o § 3° do artigo 14 da Lei 12.016/09 impede a execução provisória, devendo


aguardar o transito em julgado da apelação, in verbis:

78
Art. 14. Da sentença, denegando ou concedendo o mandado, cabe
apelação.
§ 3o A sentença que conceder o mandado de segurança pode ser executada
provisoriamente, salvo nos casos em que for vedada a concessão da
medida liminar.
Nos dois primeiros casos, quais sejam, a vedação a compensação de créditos
tributários e a entrega de mercadorias e bens provenientes do exterior, se justificam diante
do risco da irreversibilidade das medidas, uma vez que, efetuada a compensação ou a entrega
da mercadoria, dificilmente o particular teria condição de reestabelecer o status quo ante.
No entanto, é necessário verificar adequadamente as decisões judiciais diante do caso
concreto, pois se não houver esse risco e a apreensão implicar meio indireto de cobrança de
tributo, será possível a concessão de tutela de urgência, conforme entendimento sumulado
do STF:

Súmula 70: É inadmissível a interdição de estabelecimento como meio coercitivo


para cobrança de tributo.
Súmula 323: É inadmissível a apreensão de mercadorias como meio coercitivo para
pagamento de tributos.
Súmula 547: Não é lícito à autoridade proibir que o contribuinte em débito adquira
estampilhas, despache mercadorias nas alfândegas e exerça suas atividades
profissionais.

Portanto, as exceções acima elencados buscam evitar o uso abusivo das medidas
liminares em face do Poder Público com consequências danosas ao erário.

c) Lei 8.437/92

Também aplicou as restrições previstas no mandado de segurança às ações cautelares


propostas contra as pessoas jurídicas de direito público:

Art. 1° Não será cabível medida liminar contra atos do Poder Público, no procedimento
cautelar ou em quaisquer outras ações de natureza cautelar ou preventiva, toda vez que
providência semelhante não puder ser concedida em ações de mandado de segurança, em
virtude de vedação legal.

§ 1° Não será cabível, no juízo de primeiro grau, medida cautelar inominada ou a sua
liminar, quando impugnado ato de autoridade sujeita, na via de mandado de segurança, à
competência originária de tribunal.

§ 2° O disposto no parágrafo anterior não se aplica aos processos de ação popular e de


ação civil pública.

79
§ 3° Não será cabível medida liminar que esgote, no todo ou em qualquer parte, o objeto
da ação.

§ 4° Nos casos em que cabível medida liminar, sem prejuízo da comunicação ao dirigente
do órgão ou entidade, o respectivo representante judicial dela será imediatamente
intimado. (Incluído pela Medida Provisória nº 2,180-35, de 2001)

§ 5o Não será cabível medida liminar que defira compensação de créditos tributários ou
previdenciários. (Incluído pela Medida Provisória nº 2,180-35, de 2001)

Ainda o artigo 3° da Lei 8.437/92 confere efeito suspensivo ao recurso em decisão


que importe reclassificação funcional, outorga ou adição de vencimentos, in verbis:

Art. 3° O recurso voluntário ou ex officio, interposto contra sentença em processo


cautelar, proferida contra pessoa jurídica de direito público ou seus agentes, que importe
em outorga ou adição de vencimentos ou de reclassificação funcional, terá efeito
suspensivo.

d) Lei 8.036/90

Trata das liminares em mandado de segurança a respeito do FGTS no art. 29-B da


Lei 8.036/1990, in verbis:

Art. 29-B. Não será cabível medida liminar em mandado de segurança, no procedimento
cautelar ou em quaisquer outras ações de natureza cautelar ou preventiva, nem a tutela
antecipada prevista nos arts. 273 e 461 do Código de Processo Civil que impliquem saque
ou movimentação da conta vinculada do trabalhador no FGTS. Incluído
pela Medida Provisória nº 2.197-43, de 2001)

f) CPC/2015

Também tratou do tema no artigo 1.059, in verbis:

Art. 1.059. À tutela provisória requerida contra a Fazenda Pública aplica-se o disposto
nos arts. 1º a 4º da Lei nº 8.437, de 30 de junho de 1992 , e no art. 7º, § 2º, da Lei nº
12.016, de 7 de agosto de 2009 .

3.2. Meios de impugnação contra a concessão de tutela provisória em face da


Fazenda Pública

O poder público para atacar a decisão que concede tutela provisória poderá se valer
dos seguintes meios:

- agravo de instrumento: inciso I do art. 1015 do CPC/15,

80
- reclamação: art. 988 CPC,

-pedido de suspensão: art. 15 da Lei 12,016/09

3.3 Estabilização da tutela satisfativa requerida em caráter antecedente contra a


Fazenda Pública

Uma das principais inovações na tutela provisória no CPC/15 foi a possibilidade de


a parte quando a urgência for contemporânea à propositura da demanda, pleitear tutela
provisória satisfativa de forma antecedente que tornar-se-á estável, se da decisão que a
conceder não for interposto o respectivo recurso.

Assim disciplina o artigo 304 do CPC:

Art. 304. A tutela antecipada, concedida nos termos do art. 303 , torna-se estável se da
decisão que a conceder não for interposto o respectivo recurso.

§ 1º No caso previsto no caput , o processo será extinto.

§ 2º Qualquer das partes poderá demandar a outra com o intuito de rever, reformar ou
invalidar a tutela antecipada estabilizada nos termos do caput .

§ 3º A tutela antecipada conservará seus efeitos enquanto não revista, reformada ou


invalidada por decisão de mérito proferida na ação de que trata o § 2º.

§ 4º Qualquer das partes poderá requerer o desarquivamento dos autos em que foi
concedida a medida, para instruir a petição inicial da ação a que se refere o § 2º, prevento
o juízo em que a tutela antecipada foi concedida.

§ 5º O direito de rever, reformar ou invalidar a tutela antecipada, previsto no § 2º deste


artigo, extingue-se após 2 (dois) anos, contados da ciência da decisão que extinguiu o
processo, nos termos do § 1º.

§ 6º A decisão que concede a tutela não fará coisa julgada, mas a estabilidade dos
respectivos efeitos só será afastada por decisão que a revir, reformar ou invalidar,
proferida em ação ajuizada por uma das partes, nos termos do § 2º deste artigo.

Logo, concede-se uma tutela provisória satisfativa de urgência antecedente, sendo


que na ausência recurso do réu a decisão estabiliza e o processo é extinto. Privilegiou-se a
técnica da monitória, criando-se um microssistema com o art. 304 e 700 a 702, todos do
CPC.
Quanto à possibilidade de estabilização da tutela de urgência contra a Fazenda
Pública, Leonardo Carneiro da Cunha, leciona:

“ Nos casos em que se permite a tutela de urgência contra o Poder Público, é possível
haver a tutela satisfativa antecedente, com a consequente estabilização. Não se permite
estabilização pra antecipar condenação judicial e permitir imediata expedição de
precatório ou de requisição de pequeno valor. Isso porque a expedição de precatório ou

81
de requisição de pequeno valor exige prévia coisa julgada. Nesse sentido, “Tem-se uma
incompatibilidade entre a lógica do procedimento entre a lógica do procedimento
(urgencia), com a necessidade de prévia inscrição em precatório.”

(...)

Não é porem, passível de remessa necessária a decisão que concede a tutela de urgência
contra a Fazenda Pública. A estabilização, para ocorrer, não depende de remessa
necessária. Isso porque, a estabilização, como se viu, não se confunde com a coisa
julgada.” (CUNHA, Leonardo Carneiro da. A fazenda Pública em juízo. 15ª ed.
totalmente reformulada. Rio de Janeiro: Forense,
2018, p.316).

3.4 Tutela de evidencia contra a Fazenda Pública.

A tutela de evidencia está presente no art. 311 do CPC, sendo uma técnica processual
que favorece a parte com direito mais evidente, mesmo que não haja situação de perigo.
Admite-se a concessão de tutela de evidencia em face da Fazenda Pública, no entanto
deve-se observar as várias limitações existentes na legislação.
Para Leonardo Carneiro da Cunha, “cabe a tutela provisória de evidencia contra a
Fazenda Pública ressalvados os casos de vedação legal quanto à hipótese do inciso IV do art.
311 do CPC”.
Atenção: não será possível a expedição de precatório de forma provisória, por
violação ao art. 100 da CF e ao principio da isonomia.

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PRESCRIÇÕES NAS AÇÕES QUE ENVOLVEM A FAZENDA PÚBLICA

8. PRESCRIÇÕES NAS
AÇÕES QUE ENVOLVEM A
FAZENDA PÚBLICA

ALMANAQUE DA ADVOCACIA PÚBLICA por


Pedro Henrique Leal dos Santos.

Em quarentena em Maceió/AL, 16 de junho de 2020.

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1 ASPECTOS INICIAIS
Tradicionalmente, entende-se por prescrição como a perda ou a extinção do direito de
ação. Contudo, tal concepção está totalmente ultrapassada, visto que, na realidade, a prescrição
abarca a pretensão.
É sabido que o direito a uma prestação ou mesmo um direito subjetivo tem como
correlativo um respectivo dever jurídico. Todavia, se o dever jurídico não for cumprido
espontaneamente, no tempo e no modo pré-determinados, surge para o titular do direito a
pretensão, isto é, o poder de exigir do devedor o cumprimento da sua obrigação. (CUNHA, 2012,
p. 71)
Logo, resta evidente que a prescrição não alcança o direito, nem a ação, como antes se
pensava, mas sim a pretensão.
Assim sendo, o direito subjetivo, a partir da sua exigibilidade, dá origem à pretensão. De fato,
somente quando o direito passa a ser exigível, emerge ao seu titular o poder de pleitear do
obrigado a realização do direito, caracterizando a pretensão. Cumpre esclarecer que essa exigência
não comporta qualquer ação, de modo que ao exercer pretensão o sujeito detentor do direito não
age contra ninguém, mas tão somente exige a realização do seu direito, limitando-se a aguardar a
satisfação por parte dos destinatários (MARINONI, 1999, pp. 207-208).
Enquanto o exercício da pretensão faz supor que o devedor, premido, atenda ao seu dever
jurídico, a ação, por sua vez, consiste na prática de atos materiais voltados contra o sujeito passivo,
independentemente do seu comportamento. Em resumo, ao se falar em pretensão, o titular do
direito apenas exige o seu cumprimento, aguardando o correlato atendimento pelo obrigado. Ao
passo que na ação, não há atitude passiva de espera do cumprimento, mas sim a prática de atos
conducentes à realização ou concretização do direito.
Geralmente, quando é violada a pretensão, surge a ação material, que consiste no poder de
impor um direito àquele que está obrigado ao seu cumprimento. A pretensão constitui o grau de
exigibilidade do direito e a obrigação de submissão ao adimplemento. Já a ação material constitui o
grau de impositividade do direito, surgindo, via de regra, apenas com a violação da pretensão.
(MELLO, 2003, p. 183).
Dessa maneira, nasce a ação de direito material, consistente em atos concretos praticados
pelo titular do direito contra para fazer valer, coativamente, a regra que lhe é favorável (CUNHA,
2012, pp. 71-72). No entanto, o exercício dessa ação de direito material pelo próprio detentor do
direito é vedada pelo sistema jurídico brasileiro atual, devendo o Estado ser o responsável por
esta atividade, que se dá por meio de provocação, haja vista que o Judiciário se queda inerte até
que exista o impulso para que ele atue. Tal ato se concretiza por meio da ação de direito processual.
85

Portanto, por meio da ação de direito processual, o indivíduo detentor do direito material
provoca o Estado, para que – no uso de sua jurisdição – possa estratificar a prática de atos que
corporificarão a ação de direito material (CUNHA, 2012, p.72). Em outras palavras, a ação de direito
material é exercida pelo Estado-juízo, por meio de providências satisfativas ou mediante a prática
de atos concretos voltados à realização específica do direito da parte interessada.

2 CONCEITO
Para este estudo, adotar-se-á o conceito de prescrição como sendo o encobrimento da
pretensão que atinge consequentemente a ação (CUNHA, 2018, p. 85).
É notório que a prescrição serve para trazer a paz e a segurança pública, tornando um
limite temporal à eficácia das pretensões e das ações. Segundo Beviláqua, a prescrição atua como
“uma regra de ordem, de harmonia e de paz, imposta pela necessidade da certeza das relações
jurídicas” (1944, p. 459). Já para Pontes de Miranda, prescrição é “a exceção, que alguém tem,
contra o que não exerceu, durante certo tempo, que alguma regra jurídica fixa, a sua pretensão ou
ação”.
Desta feita, tem-se que a prescrição nada mais é que a perda da pretensão de um direito, a
qual gera como consequência, a perda da ação.

3 NATUREZA JURÍDICA
De início, cumpre esclarecer que há divergência na doutrina a respeito da natureza jurídica
da prescrição. Uma parte entende que a prescrição é fato jurídico que ocorre compulsoriamente
após o decurso do prazo (PAULO, 1983, apud SOUZA, 2005).
Por outro lado, a corrente majoritária da doutrina entende que a prescrição é defesa
indireta de mérito pertencente ao direito material, cujo meio impugnatório é a arguição de uma
exceção substancial. A prescrição é uma exceção de natureza substancial. Tais exceções são
utilizadas, precisamente, contra as pretensões, e não contra os direitos nem contra as ações
(AMORIM FILHO, 1960).
A mera inércia do titular da pretensão, porém, não faz desaparecer o direito que não foi
tutelado, pois o não exercício de um direito não lhe tira a força. Com a prescrição ocorre apenas
o perecimento do exercício do direito não exercido oportunamente pelo credor, ou seja, o direito
subjetivo do credor fica restringido.
Com a prescrição o direito do credor é fragilizado, mas não desaparece em razão apenas
da longa inércia do titular em fazer atuar a pretensão nascida do inadimplemento do devedor
(THEODORO JUNIOR, 2007, p. 51).

85
86

Logo, o mero decurso do prazo é insuficiente para caracterizar a ocorrência da prescrição,


conforme a teoria da prescrição como fato jurídico defende. O STJ tem publicado diversos
acórdãos em que não acolhe a tese firmando seu entendimento no sentido de que a prescrição é
uma exceção substancial.
Nesse sentido, segue a jurisprudência do STJ:

Desapropriação indireta. Criação de parques estaduais. Prescrição. Acórdão que, ao afastá-la,


adentrou no 'an debeatur'. c.p.c., art. 471. Ofensa. Caracterização. Sumula n. 456/STF.
Inaplicação a espécie.
I – [...]
II - Não pode ser aceita a alegação de que a questão relativa a restrição do direito de
propriedade foi decidida apenas incidentemente, no julgado anterior, para fins de afastar a
prescrição. com efeito, esta consubstancia exceção substancial e, portanto, uma preliminar de
mérito. Quem a alega não nega o direito pleiteado pelo autor. apenas alega fatos que, tendo
por conteúdo um direito seu, afasta os efeitos dos fatos constitutivos da demanda alvitrados
por quem a propôs. Divisa-se, nesse panorama, que, para se declarar a prescrição, o correto
seria que, primeiro, se verificasse achar-se o autor ao amparo do direito material invocado, cuja
paralisia e pretendida pelo réu via alegação do prazo extintivo. Todavia, a pratica mostra que,
em regra, a prescrição é decretada sem adentrar-se na pretensão deduzida em juízo. Não há
nenhum mal que isso ocorra. O que não se pode admitir, porém, é que, tendo o tribunal
adentrado na questão de fundo para repelir a prescrição, venha, depois, no julgamento da
mesma causa, decidir de forma diversa aquela matéria meritória, como ocorreu na espécie.
IV - Recurso especial conhecido e parcialmente provido, nos termos do voto do relator. (STJ
- Superior Tribunal de Justiça. Classe: Resp – 51101. Órgão julgador: Segunda Turma. DJ
data:13/03/1995. Relator: Antônio de Pádua Ribeiro).

Assim, é inegável que a prescrição possui natureza substancial que atinge a pretensão do
titular do direito a ser assistido, e não a ação ou o direito, devendo a prescrição ser atacada por
meio de exceção de natureza substancial.

4 PRESCRIÇÕES NAS AÇÕES QUE ENVOLVEM A FAZENDA PÚBLICA


Para prescrição em favor da Fazenda Pública, além de observar as disposições trazidas
pelo Código Civil, aplicam-se as regras do Decreto-lei 20.910, de 6 de janeiro de 1932 e,
igualmente, aquelas hospedadas no Decreto-lei 4.597, de 19 de agosto de 1942.
Observe o texto do art. 1º do Decreto-lei 20.910, de 6 de janeiro de 1942 (BRASIL), veja:
“as dívidas passivas da União, dos Estados e dos Municípios, bem assim todo e qualquer direito
ou ação contra a Fazenda federal, estadual ou municipal, seja qual for a natureza, prescrevem em
5 (cinco) anos, contados da data do ato ou fato do que se originarem”.
Vale ressaltar que a prescrição quinquenal também atinge as fundações e as autarquias
públicas de todos os entes públicos, quer seja Municipal, Estadual, Federal ou Distrital.
Nesse sentido, o art. 2º do Decreto-lei 4.597/1942:
Art. 2º O Decreto nº 20.910, de 6 de janeiro de 1932, que regula a prescrição quinquenal,
abrange as dívidas passivas das autarquias, ou entidades e órgãos paraestatais, criados por lei e
mantidos mediante impostos, taxas ou quaisquer contribuições exigidas em virtude de lei

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federal, estadual ou municipal, bem como a todo e qualquer direito e ação contra os mesmos
(BRASIL)
Um detalhe importante a ser enaltecido é que uma das diferenças entre a prescrição e a
decadência é que as ações declaratórias são, em regra, imprescritíveis. Todavia, nada impede que
o legislador lhes atribua prazos prescritivos ou decadenciais, pois o legislador tem o poder de
escolha da eficácia do prazo, podendo determinar um prazo de prescrição ou decadência, ou
deixa-la perpétua. Para a Fazenda Pública, tal regra não se aplica, sendo, de modo geral, todas as
ações prescritíveis, ressalvadas as de indenização por tortura (CUNHA, 2018, p. 88).
Visto isto, fica evidente que a regra da prescrição para a Fazenda Pública, quer seja a
Administração Pública direta, ou por meio da Administração Pública indireta, pelo fenômeno da
descentralização, excetuando-se as empresas públicas, as sociedades de economia mista e as
fundações sem ser de direito público, é de 05 anos. Entretanto, é possível que haja prazos
prescricionais distintos, como na hipótese de desapropriação indireta, cujo prazo prescricional é
de 10 (dez) anos (CUNHA, 2018, p. 88). Assim, salvo os casos específicos de prazo prescricional,
para a Fazenda Pública a aplicação da perda da pretensão se dá com o alcance do lustro
prescricional.
Em relação aos prazos prescricionais dos entes da Administração Pública de direito
privado, cabe mencionar que não são aplicadas as mesmas regras que da Administração Pública
de direito público. Neste ponto, é importante lembrar que a elas incidem as prescrições previstas
no Código Civil e, tanto é verdade, que o STJ editou a súmula 39 (BRASIL, 1992) com o seguinte
teor: “Prescreve em vinte anos a ação para haver indenização, por responsabilidade civil,
de sociedade de economia mista”.
Por outro lado, ao se referir as ações que possuem como objeto a relação de trato
sucessivo, cabe salientar que o titular desse direito só poderá pleitear as prescrições vencidas antes
dos últimos 05 anos da propositura da ação. Nesse sentido, também há a Súmula 85 do STJ:
Nas relações de trato sucessivo em que a Fazenda Pública figure como
devedora, quando não tiver sido negado o próprio direito reclamado, a
prescrição atinge apenas as prestações vencidas antes do quinquênio
anterior à propositura da ação (BRASIL, 1993).
A aludida Súmula 85 do STJ aplica-se tão somente às situações de trato sucessivo, assim
caracterizadas quando há omissão ou quando a Administração não se pronuncia expressamente
sobre o pleito da parte interessada, passando a agir sem prévio pronunciamento formal. Assim,
na hipótese, por exemplo, de não se ter procedido a reajuste de vencimentos ou de não se ter
reenquadrado ou reclassificado o servidor, no que pese disposição legal determinando o

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reenquadramento ou a reclassificação, aí sim seria caso de trato sucessivo, aplicando a Súmula 85


do STJ, visto que cada pretensão estaria sendo renovada a cada mês (CUNHA, 2018, p. 90).
Já nas hipóteses em que houver expresso pronunciamento da Fazenda Pública, a
prescrição de trato sucessivo se aplica do momento da ciência do ato administrativo denegatório,
momento em que se inicia a contagem do prazo de 05 anos.
Nesse espeque, cabe uma ressalva: não se aplica a súmula nº 85 do STJ na hipótese de lei
de efeitos concretos. Sendo seus efeitos suportados pelo suposto titular do direito, que a partir
dali teve modificada sua situação ou passou a suportar uma eventual lesão, tem-se que o marco
inicial do prazo é a data da publicação da lei, não se aplicando a Súmula 85 do STJ.
Inclusive, o entendimento do Superior Tribunal de Justiça é nesse sentido:
[...] é pacífica a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça no
sentido de que lei que suprime vantagem ou gratificação possui
efeitos concretos, sendo a suspensão do pagamento da rubrica nos
meses subsequentes mero reflexo do ato originário, situação que
não caracteriza relação de trato sucessivo [...] (BRASIL, 2012).

A existência de lei ou ato de efeitos concretos afasta a aplicação da Súmula 85 do STJ. Se


o sujeito que se diz lesado não promover sua demanda dentro dos 5 (cinco) anos a que se reporta
o art. 1º do Decreto 20.910/1932, contados a partir do início de vigência da lei que causou a
alegada lesão, perderá o direito, pois haverá extinção dos efeitos jurídicos, ante a manifesta
consumação da decadência, denominada pelo STJ “prescrição do fundo do direito” (CUNHA,
2018, p. 91).
Continuando a falar de prescrição, é fundamental destacar a possibilidade de sua
interrupção. Nesse contexto, é possível que haja uma interrupção da prescrição, como prevê o
art. 8º do Decreto-lei 20.910/1932 (BRASIL). Contudo, o marco dessa paralisação foi alterado,
revogando o art. 7ª do referido Decreto-lei que não contava da citação inicial. Tal entendimento
foi derrubado com o advento do Código Civil de 2002, que em seu art. 202, I aduz que o marco
inicial para prescrição se dá do ato que ordena a citação (CUNHA, 2018, p. 92).
Doutra banda, é fundamental mencionar a súmula 383 do STF, que afirma que:

A prescrição em favor da Fazenda Pública recomeça a correr, por dois


anos e meio, a partir do ato interruptivo, mas não fica reduzida aquém
de cinco anos, embora o titular do direito a interrompa durante a
primeira metade do prazo (BRASIL, 1998).

Para facilitar o entendimento, tome o exemplo de que a hipótese em que a interrupção se


operou quando somente se tinha passado 1 (um) ano. Nesse caso, interrompida a prescrição,
recomeça a correr pelo prazo de 4 (quatro) anos, computando-se, no total, 5 (cinco) anos.
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Por outro lado, caso a interrupção tenha ocorrido quando já ultrapassados mais de dois
anos e meio, recomeça a correr pelo prazo de dois anos e meio. Imagine-se, por exemplo, que,
no momento interruptivo, já se passaram 3 (três) ou 4 (quatro) anos. Nessa hipótese, a interrupção
faz com que se volte a correr a prescrição pelo prazo de dois anos e meio; haverá, no total, cinco
anos e meio, no primeiro exemplo, e seis anos e meio, no segundo exemplo (CUNHA, 2018, p.
93).
Desta feita, quando o titular do direito a interrompa durante a primeira metade do prazo,
a prescrição recomeça a correr pelo prazo restante, de forma que se totalizem os 5 (cinco) anos.
Nem poderia ser diferente, sob pena de se reduzir, injustamente, o prazo quinquenal, quando a
interrupção se operasse antes dos primeiros dois anos e meio, prejudicando o alegado credor
diligente que exerça, desde logo, sua pretensão (CUNHA, 2018, p. 93).
Outro ponto importante a citar sobre prescrições nas ações que envolvam a Fazenda
Pública são as hipóteses previstas no Código Civil que são menores que a regra do lustro, como
a reparação civil, prevista no art. 206, §3º, V? Para estas hipóteses, o art. 10 do Decreto-lei
20.910/1932 prevê que serão aplicados, de maneira excepcional ao lustro, os prazos menores que
beneficiam a Fazenda Pública. Assim, aos prazos prescricionais menores e que favorecem a
Fazenda Pública serão aplicados, em respeito ao art. 10 do decreto supra mencionado.
Por fim, ao falar em prescrição na fase de execução face a Fazenda Pública, não há muito
mistério, pois, após a fase de conhecimento, inicia-se outro prazo prescricional de igual período
que na fase de conhecimento. Este pensamento foi sedimentado pela jurisprudência do STF,
inclusive se tornando matéria sumulada, de número 150, com o seguinte teor: “Prescreve a
execução no mesmo prazo de prescrição da ação” (BRASIL, 2013). Assim sendo, fica
perfeitamente demonstrado que tanto o legislador, como o Poder Judiciário buscaram padronizar
o sistema de prescrição no Ordenamento Jurídico brasileiro, ao se referir em Fazenda Pública,
mantendo sempre o padrão de quinquenal.

5 CONCLUSÃO
Ante todo o exposto, quebrou-se o tabu de que a prescrição seria a tradicional perda do
direito da ação, mas, na verdade é a perda da pretensão, tornando-se ato fato jurídico caducificante
(MELLO, 2003).
Para a Fazenda Pública, o Decreto-lei 20.910/1932 definiu de maneira categórica a
prescrição quinquenal, também chamada de lustro. Porém, o mesmo diploma legal traz exceções
a sua aplicabilidade, principalmente no art. 10 que permite a aplicação de prazos menores de
prescrição à Fazenda Pública desde que seja mais benéfica. Também dá o arbítrio ao legislador

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de criar prazos prescricionais distintos, como no caso de desapropriação indireta, que é de 10


(dez) anos.
Para melhor esquematizar as súmulas que abarcam o tema da prescrição ante a Fazenda
Pública, segue a tabela:
Súmula Preceito
150, STF Prescreve a execução no mesmo prazo de prescrição da ação.
A prescrição em favor da Fazenda Pública recomeça a correr, por
dois anos e meio, a partir do ato interruptivo, mas não fica reduzida
383, STF
aquém de cinco anos, embora o titular do direito a interrompa
durante a primeira metade do prazo.
Nas relações de trato sucessivo em que a Fazenda Pública figure
como devedora, quando não tiver sido negado o próprio direito
85, STJ
reclamado, a prescrição atinge apenas as prestações vencidas antes
do quinquênio anterior à propositura da ação
Prescreve em vinte anos a ação para haver indenização, por
39, STJ
responsabilidade civil, de sociedade de economia mista

Dentre as súmulas apresentadas, cabe destaque a de número 39 do STJ, pois ela diferencia
a aplicação da prescrição quinquenal para os entes da Administração Pública regidas pelo direito
privado, no caso, as sociedades de economia mista, as empresas públicas e as fundações de direito
privado.
Dessa maneira, não há dúvidas de que o tema de prescrição das ações que envolvem a
Fazenda Pública é de essencial relevância para todos que atuam no Direito, não só contra ou a
favor da Fazenda Pública, mas de modo geral, a fim de que haja melhor compreensão desse
sistema e não gere conflitos com a decadência. Esta última extingue a eficácia do direito, da ação,
da pretensão ou da exceção, enquanto a primeira apenas encobre a eficácia da pretensão ou da
ação. Além dessa diferença, o prazo de prescrição pode ser interrompido, suspenso ou
renunciado. Já o prazo decadencial não pode ser objeto de interrupção, suspensão ou renúncia.
Poderá, contudo, haver impedimento, suspensão ou interrupção na hipótese de constar expressa
ressalva legal (CC/2002, art. 207). É o que sucede com a regra de retroação da interrupção da
prescrição, aplicável à decadência por expressa dicção do § 4º do art. 240 do CPC.

6 REFERÊNCIAS

AMORIM FILHO, Agnelo. Critério Científico para Distinguir a Prescrição da Decadência e para
identificar as Ações Imprescritíveis. In: Tex Pro. Disponível em:
<http://www.tex.pro.br/wwwroot/06de2003/prescricaoedecadencianonovocodigocivil.htm>.
Acesso em: 18 de mar. 2020.

BEVILÁQUA, Clóvis. Código Civil dos Estados Unidos do Brasil comentado. 7. ed. Rio de
Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1944. v. 1, n. 1.

90
91

BRASIL. Decreto-lei 4.597/1942. Disponível em:


<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/1937-1946/Del4597.htm>. Acesso em:
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_______. Decreto-lei 20.910/1932. Disponível em:


<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/Antigos/D20910.htm>. Acesso em: 03 abril
2020.

_______. Resp – 51101. Órgão julgador: Segunda Turma. DJ data:13.03.1995. Relator: Antônio
de Pádua Ribeiro. Disponível em: <http://www.stj.jus.br>. Acesso em: 03 abril 2020.

_______. 2ª Turma, REsp 1.270.895/RJ, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 15.09.2011, DJe
21.09.2011. No mesmo sentido: STJ, 2ª Turma, AgRg no REsp 1.263.087/SE, Rel. Min. Castro
Meira, j. 1º.03.2012, DJe 12.03.2012.

_______. Súmula 150 do STF. Segunda turma, julgado em 08.04.1992. DJ data: 20.04.1992.
Disponível em:
<http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/menuSumarioSumulas.asp?sumula=2127>.
Acesso em: 03 abril 2020.

_______. Súmula 383 do STF. Segunda seção, julgado em 08.04.1992. DJ data: 20.04.1992.
Disponível em:
<http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/menuSumarioSumulas.asp?sumula=2533>.
Acesso em: 03 abril 2020.

_______. Súmula 39 do STJ. Segunda seção, julgado em 08.04.1992. DJ data: 20.04.1992.


Disponível em:
<https://scon.stj.jus.br/SCON/sumanot/toc.jsp?livre=(sumula%20adj1%20%2739%27).sub.
#TIT1TEMA0>. Acesso em: 03 abril 2020.

_______. Súmula 85 do STJ. Corte Especial, julgado em 18.06.1993. DJ data: 02.07.1993.


Disponível em: <https://scon.stj.jus.br/SCON/sumanot/toc.jsp>. Acesso em 03 abril 2020.

CUNHA, Leonardo Carneiro da. A Fazenda Pública em juízo. 10 ed. São Paulo: Dialética,
2012.

_______, Leonardo Carneiro da. A Fazenda Pública em juízo. 15 ed. São Paulo: Forense,
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MELLO, Marcos Bernardes de. Teoria do fato jurídico: plano da eficácia – 1ª parte. São
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SOUZA, José Paulo Soriano de. Ensaio sobre a natureza jurídica da prescrição no Direito
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91
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THEODORO JR, Humberto. As novas reformas do código de processo civil. Rio de Janeiro:
Forense, 2007.

92
93

DECADÊNCIA NAS AÇÕES QUE ENVOLVEM A FAZENDA PÚBLICA

9. DECADÊNCIA NAS AÇÕES


QUE ENVOLVEM A FAZENDA
PÚBLICA

ALMANAQUE DA ADVOCACIA PÚBLICA por Vanessa


Forte Ferreira.

Em quarentena em Rio Grande do Sul, 16 de junho de 2020.

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1 INTRODUÇÃO
A decadência, assim como a prescrição, tem o intuito de impedir a eternização dos conflitos,
ou seja, impedir que certas posições jurídicas permaneçam ad eternum, garantindo que, após
determinado lapso temporal, ocorra a extinção dessas posições jurídicas.
Ao longo das décadas, o conteúdo dos institutos da decadência e da prescrição se
confundiram, eles não possuíam contornos muito bem definidos, porém a evolução da ciência
jurídica atual permitiu a definição das características de cada instituto.
Tanto é que, para o estudo da decadência, cabe pontuar algumas diferenças desse instituto
em relação ao instituto da prescrição 28.
Enquanto o prazo de prescrição tem na pretensão sua gênese (art. 189, CC29), os direitos
desprovidos de pretensão – exigibilidade de um direito subjetivo, ocorrida a partir de uma lesão
– são atingidos pela decadência, caso não exercidos nos prazos extintivos que lhe são próprios.
Em outras palavras, o direito subjetivo extingue-se pela prescrição, enquanto o direito potestativo
se extingue pela decadência.
Segundo Agnelo Amorim Filho, somente há pretensão se houver lesão. E somente há lesão
nos direitos a uma prestação, isto é, nos direitos de crédito, nas demandas destinadas a cobrança
de crédito. Em outros termos, só há prescrição se a demanda for condenatória. Por sua vez, os
direitos não sujeitos a uma lesão, ou seja, que não se relacionam com um crédito/débito, não
geram pretensão, não estando, portanto, sujeitos à prescrição. Os direitos potestativos e aqueles
postulados em ações constitutivas, quando sujeitos, para serem exercidos, a um prazo fixado em
lei ou em contrato, devem ser exercitados nesse prazo, que é de decadência. Consumado o prazo
opera-se a decadência. Já as ações declaratórias são, para Agnelo Amorim Filho, imprescritíveis
ou perpétuas.
O prazo de prescrição pode ser interrompido, suspenso ou renunciado. Já o prazo
decadencial não pode ser objeto de interrupção, suspensão ou renúncia. Realmente, a decadência
não tem seu prazo suspenso, interrompido nem impedido, contrariamente ao que ocorre com a
prescrição. Poderá, contudo, haver impedimento, suspensão ou interrupção na hipótese de
constar expressa ressalva legal (art. 207, CC). É o que sucede com a regra de retroação da
interrupção da prescrição, aplicável à decadência por expressa dicção do § 4º do art. 240 do CPC.

Art. 207, CC. Salvo disposição legal em contrário, não se aplicam à decadência as normas que
impedem, suspendem ou interrompem a prescrição.

28Há uma tabela com as principais diferenças entre os institutos ao final deste arquivo.
29Art. 189. Violado o direito, nasce para o titular a pretensão, a qual se extingue, pela prescrição, nos prazos a
que aludem os arts. 205 e 206.
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Art. 240, CPC. A citação válida, ainda quando ordenada por juízo incompetente, induz
litispendência, torna litigiosa a coisa e constitui em mora o devedor, ressalvado o disposto
nos arts. 397 e 398 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil) 30 .
§ 1º A interrupção da prescrição, operada pelo despacho que ordena a citação, ainda que
proferido por juízo incompetente, retroagirá à data de propositura da ação.
[...]
§ 4º O efeito retroativo a que se refere o § 1º aplica-se à decadência e aos demais prazos
extintivos previstos em lei.

2 ANÁLISE, PELO JUIZ, DA PRESCRIÇÃO E DA DECADÊNCIA EM FAVOR


DA FAZENDA PÚBLICA
Para efeito processual, é relevante observar que há uma distinção entre decadência legal e
decadência convencional. Aquela decorre de previsão legal, ao passo que esta consta de disposição
contratual, estatutária ou convencional. Enquanto a prescrição é regulada, exclusivamente, pela
lei, a decadência pode ter seu prazo fixado em lei ou em negócio jurídico.
Estando o prazo decadencial previsto em lei, não poderá ser alterado por vontade das
partes, porquanto se figura nula a renúncia à decadência legal, conforme dispõe o art. 209 do CC:
“é nula a renúncia à decadência fixada em lei”.
Há casos, contudo, em que os contratantes poderão fixar prazo de decadência, obedecidos
os limites estabelecidos em lei, a exemplo do que sucede com a retrovenda (art. 505, CC) e com
a preempção ou direito de preferência (art. 513, CC), hipóteses em que poderá haver fixação de
prazo convencional de decadência, não sendo possível, entretanto, o desbordo dos limites
máximo e mínimo impostos pela lei.

Art. 505, CC. O vendedor de coisa imóvel pode reservar-se o direito de recobrá-la no prazo
máximo de decadência de três anos, restituindo o preço recebido e reembolsando as
despesas do comprador, inclusive as que, durante o período de resgate, se efetuaram com a sua
autorização escrita, ou para a realização de benfeitorias necessárias.
Art. 513, CC. A preempção, ou preferência, impõe ao comprador a obrigação de oferecer ao
vendedor a coisa que aquele vai vender, ou dar em pagamento, para que este use de seu direito
de prelação na compra, tanto por tanto.

Põe-se em relevo tal distinção na medida em que deve o juiz conhecer de ofício da
decadência legal (art. 210, CC), não podendo fazê-lo no tocante à decadência convencional, se
bem que essa última possa ser alegada a qualquer momento pela parte interessada (art. 211, CC).
Art. 210. Deve o juiz, de ofício, conhecer da decadência, quando estabelecida por lei.

30 Art. 397. O inadimplemento da obrigação, positiva e líquida, no seu termo, constitui de pleno direito em mora
o devedor.
Parágrafo único. Não havendo termo, a mora se constitui mediante interpelação judicial ou extrajudicial.
Art. 398. Nas obrigações provenientes de ato ilícito, considera-se o devedor em mora, desde que o praticou.

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Art. 211. Se a decadência for convencional, a parte a quem aproveita pode alegá-la em qualquer
grau de jurisdição, mas o juiz não pode suprir a alegação.

À evidência, a decadência, seja a legal, seja a convencional, não se sujeita à preclusão.

Significa que é lícito ao réu, depois da contestação, poder alegar a decadência (art. 342, II e
III, CPC). A decadência legal poderá ser objeto de alegação superveniente, por competir ao juiz
dela conhecer de ofício (art. 342, II), sendo franqueada a alegação posterior da decadência
convencional em virtude de expressa autorização legal (art. 211, CC; art. 342, III, CPC).

Art. 342, CPC. Depois da contestação, só é lícito ao réu deduzir novas alegações quando:
[...]
II - competir ao juiz conhecer delas de ofício;
III - por expressa autorização legal, puderem ser formuladas em qualquer tempo e grau de
jurisdição.

3 PRAZO DA DECADÊNCIA EM FAVOR DA FAZENDA PÚBLICA


Em se tratando de Fazenda Pública, além das disposições do Código Civil, aplicam-se as
regras contidas no Decreto 20.910, de 6 de janeiro de 1932 e, igualmente, aquelas hospedadas no
Decreto-Lei 4.597, de 19 de agosto de 1942.

Primeiramente é importante pontuar que pouco importa se a legislação aqui será referida
aludir à prescrição, porque antes do Código Civil de 2002 todos os prazos extintivos, seja de
prescrição, seja de decadência, eram denominados, pela legislação de regência, prazo de
prescrição.

Ou seja, qualquer pretensão que seja formulada em face da Fazenda Pública está sujeita a
um prazo prescricional/decadencial de 5 (cinco) anos. Cabe explicar que no conceito de Fazenda
Pública inserem-se não somente a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, mas
também suas autarquias e fundações públicas. Essa é a regra inserta no art. 2º do Decreto-lei
4.597/1942.

Art. 2º O Decreto nº 20.910, de 6 de janeiro de 1932, que regula a prescrição qüinqüenal,


abrange as dívidas passivas das autarquias, ou entidades e órgãos paraestatais, criados por lei e
mantidos mediante impostos, taxas ou quaisquer contribuições, exigidas em virtude de lei
federal, estadual ou municipal, bem como a todo e qualquer direito e ação contra os mesmos .

Não gozam desse prazo diferenciado as sociedades de economia mista e as empresas


públicas. O art. 2º do Decreto-lei 4.597/1942, ao se referir a todo e qualquer direito e ação, está
a estabelecer a decadência de direitos exercitáveis contra a Fazenda Pública.

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Seja de decadência, seja de prescrição, todos os direitos, pretensões, ações, exceções


exercidos contra a Fazenda Pública sujeitam-se ao prazo de 5 (cinco) anos, ressalvados aqueles
de menor prazo, tal como assegura o art. 10 do Decreto 20.910/193231.

O Código Civil de 1916 previa prazos prescricionais/decadenciais bastante amplos, de até


20 anos (arts. 177 a 179). Tais prazo eram válidos para os particulares. No entanto, em relação
aos sujeitos do direito processual público, a matéria sempre esteve regulada pelo Decreto n°
20.910/32, cujo artigo 1º estabelece:

Art. 1º As dívidas passivas da União, dos Estados e dos Municípios, bem assim todo e qualquer
direito ou ação contra a Fazenda federal, estadual ou municipal, seja qual for a sua natureza,
prescrevem em cinco anos contados da data do ato ou fato do qual se originarem.
Segue tabela com as principais diferenças entre os institutos da decadência e da prescrição:

Decadência Prescrição
Direito Potestativo. Direito Subjetivo.
Ações constitutivas ou anulatórias. Demanda condenatória32.
Prazo NÃO pode ser interrompido, suspenso Prazo pode ser interrompido, suspenso ou
ou renunciado, salvo expressa ressalva legal. renunciado.
Regulada pela lei (decadência legal).
Regulada em contrato (decadência Regulada pela lei.
convencional).
Juiz não pode reconhecer de ofício a Juiz pode reconhecer de ofício, pois decorre
decadência CONVENCIONAL. de lei.
Prazo de 5 (cinco) anos, ressalvados aqueles de menor prazo.

4 REFERÊNCIAS
CUNHA, Leonardo Carneiro da. A Fazenda Pública em Juízo. Rio de Janeiro: FORENSE,
2018, p.88-99.
BARROS, Guilherme Freire de Melo. Poder Público em Juízo para concursos. Salvador:
JusPODIVM, 2016, p.67-69.

31 Art. 10. O disposto nos artigos anteriores não altera as prescrições de menor prazo, constantes das leis e
regulamentos, as quais ficam subordinadas às mesmas regras.
32 Em relação às ações meramente declaratórias (arts. 19 e 20 do CPC), não há que se falar em prazo prescricional

ou decadencial.
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REMESSA NECESSÁRIA

10. REMESSA NECESSÁRIA

ALMANAQUE DA ADVOCACIA PÚBLICA por Lislane


Tavares Romano

Em quarentena em Campina Grande/PB, 12 de junho 2020

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1 CONCEITO
A remessa necessária, obrigatória por imposição legal, consiste no reexame, pela instância
superior, da sentença proferida pelo juízo a quo, como condição de sua eficácia, ainda que não
tenha havido nenhum recurso das partes.
Cumpre ao juiz, nos casos em que a remessa necessária incide, determinar de ofício a remessa
dos autos à instância superior, ainda que as partes não tenham recorrido. Enquanto não o fizer, a
sentença não transita em julgado. E se o juiz não determinar a remessa, caberá ao presidente do
Tribunal avocar os autos.

Súmula 423 do STF: Não transita em julgado a sentença por haver omitido o recurso ex
officio, que se considera interposto ex lege.

2 NATUREZA JURÍDICA
A doutrina tradicional e majoritária reconhece a remessa necessária como não sendo um
recurso, pois a ela faltam quase todas as características inerentes aquele, a saber:
a) a voluntariedade – o recurso depende da vontade daqueles que podem recorrer; a
remessa é necessária, independe da vontade dos litigantes;
b) o inconformismo - a remessa necessária será realizada, ainda que todos os litigantes
estejam de acordo com a sentença;
c) as razões - o recurso vem sempre acompanhado de razões, e a remessa não;
d) o prazo de interposição – o recurso tem prazo para ser interposto, todavia, a remessa
é feita a qualquer tempo, sob pena de a sentença não transitar em julgado.
O que há em comum entre a remessa necessária e o recurso é que, em ambos, os autos
serão remetidos à instância superior, para reapreciação do que foi decidido.

3 HIPÓTESES DE CABIMENTO
3.1 Prevista no CPC/2015
3.1.1 Quando a sentença for “proferida contra a União, os Estados, o Distrito Federal, os
Municípios e as respectivas autarquias e fundações de direito público”

O inciso I do art. 496 do CPC estabelece que a remessa necessária somente se opera em
relação às sentenças proferidas contra a União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e
suas respectivas autarquias e fundações públicas. Neste leque, devemos incluir as agências
reguladoras, pois elas têm natureza autárquica, sendo autarquias especiais, logo estão abrangidas
nesta previsão legal. Todavia, iremos excluir as pessoas de direito privado, ou seja, não haverá
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remessa necessária, nas sentenças proferidas contra essas pessoas, aqui incluídas, as empresas
públicas e as sociedades de economia mista.
E em razão do disposto no §1º do art. 496 do CPC, só haverá remessa necessária, se não
houver apelação. Interposta a apelação, não se terá, a remessa necessária, pois restarão
apresentadas no bojo daquela, as razões, os argumentos ou fundamentos para tentar convencer
o tribunal a modificar a decisão.
E se a apelação for parcial?
Haverá a remessa necessária quanto à parte não atacada na apelação parcial.
Cabe esclarecer que se o ente público não interpuser o referido recurso, não decorrerá a
preclusão lógica ou a aceitação tácita da sentença, capazes de impedir o reexame da causa em
segundo grau de jurisdição, pois o que se tem, aqui, é um privilégio da Fazenda Pública, o qual
consiste na garantia de contar com a apreciação do mérito, em duas instâncias, ainda quando o
ente público tenha descurado de interpor o recurso cabível. Naturalmente, a coisa julgada não
ocorre senão a partir da confirmação da sentença pelo tribunal.

Enunciado 432 do Fórum Permanente de Processualistas Civis: “A interposição de


apelação parcial não impede a remessa necessária”.

3.1.2 Da “sentença que julgar procedentes, no todo ou em parte, os embargos à execução fiscal”

Essa hipótese está elencada no inciso II do art. 496 e fala da procedência dos embargos
na execução fiscal. Logo, se os embargos opostos a Fazenda Pública são julgados procedentes,
terá havido sucumbência do Poder Público, havendo a obrigação da remessa necessária.
E quando é a Fazenda Pública que ajuíza os embargos à execução?
O Superior Tribunal de Justiça tem entendido que não haverá remessa necessária na
hipótese de improcedência de embargos à execução ajuizados pela Fazenda Pública, nas hipóteses
de execução contra ela aforada. É certo que, neste caso, estamos diante de uma sentença proferida
contra a Fazenda Pública, já que foi ela quem apresentou os embargos que estão sendo
desacolhidos. No entanto, no STJ está pacificado o entendimento de que como o inciso II do art.
496 fala apenas do acolhimento dos embargos à execução fiscal, no caso de desacolhimento dos
embargos à execução ajuizada pela Fazenda não haverá remessa necessária. Nesse sentido: AgRg
no AREsp 766.072/PR, de 17/12/2015, Rel. Min. Benedito Gonçalves.
Caso o juiz julgue procedente a exceção de pré-executividade e extinga a execução fiscal,
será obrigatória, em regra, a remessa necessária, aplicando-se por analogia o art. 475, II do CPC
1973 (at. 496, II do CPC/2015). Se o executado apresenta exceção de pré-executividade e a

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Fazenda Pública, ao ser intimada, concorda com o argumento do excipiente, o juiz irá extinguir a
execução. Nesse caso, a jurisprudência entende que não haverá reexame necessário porque o
Poder Público anuiu. Se a execução fiscal for extinta porque o Fisco cancelou a inscrição de dívida
ativa que lastreava a execução também não haverá reexame necessário, porque a própria Fazenda
Pública reconheceu que não havia título executivo.
Jurisprudência do STJ: “Não se sujeita ao reexame necessário, ainda que a
Fazenda Pública tenha sido condenada a pagar honorários advocatícios, a sentença que
extinguiu execução fiscal em razão do acolhimento de exceção de pré-executividade pela
qual se demonstrara o cancelamento, pelo Fisco, da inscrição em dívida ativa que
lastreava a execução. STJ. 2a Turma. REsp 1.425.603 – CE, Rel. Min. Herman Benjamin,
julgado em 22/05/2014 (Info 544)

3.2 Casos especiais

3.2.1 Decisão interlocutória de mérito proferida contra a Fazenda Pública

Ao juiz é possível proferir uma decisão interlocutória de mérito (decisão com presunção
fumus boni iuris) contra a Fazenda Púbica.
Uma decisão interlocutória de mérito não tem efeito de sentença, mas, ainda assim é capaz
de barrar pretensões e gerar coisa julgada, acarretando uma execução imediata,
independentemente de caução (CPC, art. 356, § 2º). Portanto, se houve decisão de mérito contra
o Poder Público, é preciso que haja o reexame pelo tribunal respectivo.
Cuidado com as decisões que não resolvem o mérito, pois segundo a jurisprudência do STJ,
para elas não se admite a remessa necessária
Enunciado 17 do I Fórum Nacional do Poder Público – Brasília/DF: “A decisão parcial
de mérito proferida contra a Fazenda Pública está sujeita ao regime da remessa
necessária”.

3.2.2 Honorários de sucumbência


Toda e qualquer condenação imposta contra a Fazenda Pública sujeita-se à remessa
necessária, ainda que seja relativa aos honorários de sucumbência.
OBS: Há remessa necessária quanto ao capítulo da sentença que condena a Fazenda Pública ao
pagamento de honorários ao advogado. Se, porém, tal sentença não resolve o mérito, não há
remessa necessária, nem mesmo quanto à parte relativa aos honorários advocatícios.
Súmula 325 do STJ: “A remessa oficial devolve ao Tribunal o reexame de todas as parcelas
da condenação suportadas pela Fazenda Pública, inclusive dos honorários de advogado”.

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3.2.3 Remessa necessária na ação popular

Na ação popular está sujeita à remessa necessária, a sentença contrária ao autor, seja ou
não de mérito. Com efeito, assim dispõe o art. 19 da Lei 4.717/1965: “A sentença que concluir
pela carência ou pela improcedência da ação está sujeita ao duplo grau de jurisdição, não
produzindo efeito senão depois de confirmada pelo tribunal (...)”.
E se o autor popular desistir da ação?
Se o autor popular desistir da ação, abre-se prazo para que qualquer outro cidadão ou o
Ministério Público possa assumir a condição de autor e, então, o processo prosseguir. Não
havendo a assunção da condição de autor por quem quer que seja, o juiz vai extinguir o processo
sem resolução do mérito em razão da desistência, não havendo, em tal hipótese, remessa
necessária.

3.2.4 Remessa necessária na ação de improbidade administrativa e na ação civil pública

O entendimento jurisprudencial é que a regra da remessa necessária relativa à ação popular


aplica-se analogicamente à ação de improbidade administrativa e à ação civil pública.
JURISPRUDÊNCIA: “Por aplicação analógica da primeira parte do art. 19 da Lei nº
4.717/65, as sentenças de improcedência de ação civil pública sujeitam-se
indistintamente ao reexame necessário”. Recurso Especial 1.220.667/MG, Rel. Min.
Herman Benjamin.
JURISPRUDÊNCIA: “ Não se admite o cabimento da remessa necessária, tal como
prevista no art. 19 da Lei n o. 4.717/65, nas ações coletivas que versem sobre direitos
individuais homogêneos. Ex: ação proposta pelo MP tutelando direitos individuais
homogêneos de consumidores”. STJ. 3a Turma. RESP 1.374.232-ES, Rel. Min Nancy
Andrighi, julgado em 26/09/2017 (Info 612).

A sentença que concluir pela carência ou pela improcedência de ação de improbidade


administrativa está sujeita ao reexame necessário, com base na aplicação subsidiária do
CPC e por aplicação analógica da primeira parte do art. 19 da Lei n o 4.717/65. STJ. 1 a

Seção. REsp 1.220.667 – MG, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 24/05/2017 (Info
607).

3.2.5 Remessa necessária em mandado de segurança

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O § 1º do art. 14 da Lei 12.016/2009 estabelece que, “concedida a segurança, a sentença estará


sujeita obrigatoriamente ao duplo grau de jurisdição”.
No mandado de segurança, haverá remessa necessária não porque a sentença foi proferida
contra a União, o Estado, o Município, o Distrito Federal ou qualquer outro ente público, mas
porque se trata de sentença concessiva da segurança; concedida a segurança, independentemente
da condição da parte demandada, ainda que se trate de sentença contra empresa pública ou
sociedade de economia mista, haverá a remessa necessária.

3.2.6 Sentença proferida nos casos em que fazenda pública figura como assistente simples do réu
Nos casos em que a Fazenda Pública figura como assistente simples do réu, não há
remessa necessária, caso o réu venha a ser derrotado. Entretanto, se o réu, também ostenta a
condição de pessoa jurídica de direito público, nessa circunstância, haverá a remessa necessária
não porque há um ente público como assistente, mas sim por haver outro que figura como réu.

3.2.7 Remessa necessária e sentença arbitral

De acordo com o § 1º do art. 1º da Lei 9.307/1996, acrescido pela Lei 13.129/2015, o


Poder Público pode se submeter à arbitragem. Por ser um processo convencional, e não haver a
divisão entre instâncias, a sentença arbitral proferida contra a Fazenda Pública não se submete à
remessa necessária.
Enunciado 164 do Fórum Permanente de Processualistas Civis: “A sentença arbitral
contra a Fazenda Pública não está sujeita à remessa necessária”.

3.2.8 Remessa necessária e as decisões interlocutórias não agraváveis - aplicação do § 1º do art.


1.009 do CPC
Como a remessa necessária serve para que se opere efetivamente o trânsito em julgado da
decisão, ela abrange a sentença não apelada, como também, todas as interlocutórias não
agraváveis.
Não sendo interposta apelação, a remessa necessária devolve, também, todas as decisões
interlocutórias que poderiam ter sido impugnadas na apelação, mas não o foram.
Em caso de apelação parcial, a remessa necessária devolve ao tribunal o capítulo da
sentença não impugnado na apelação e as interlocutórias não agraváveis a esse capítulo
relacionadas.
Entretanto, havendo apelação parcial, as decisões interlocutórias que sejam comuns a
todos os capítulos e aquelas relacionadas ao capítulo apelado terão de ser expressamente atacadas
na apelação, sob pena de preclusão.

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4 PROCEDIMENTO
Seja a remessa feita pelo juiz a quo ou provocada pela avocação do processo, o tribunal
sempre julgará a remessa necessária (art. 496, § 2º). Na segunda instância, o julgamento do duplo
grau de jurisdição necessário se sujeita à regra do art. 932 do CPC, a qual autoriza o relator a
decidir o recurso de forma singular.
Deve ser observado a vedação à reformatio in pejus, não sendo possível que o tribunal, ao
julgar a remessa necessária, agrave a situação da Fazenda Pública, não podendo, nem mesmo
alterar o capítulo da sentença relativo a juros e a correção monetária se a mudança agravar a
condenação imposta à Fazenda Pública.
Aplica-se à remessa necessária, respectivamente, o disposto no art. 1.008 do CPC, (a
decisão que a julga substitui a sentença reexaminada) e o disposto no art. 935 do CPC, (devendo
seu julgamento ser incluído em pauta, com a antecedência de, pelo menos, cinco dias, sob pena de
nulidade e se a remessa necessária não for julgada na sessão designada, deverá ser novamente
incluída em pauta, a não ser que o julgamento tenha sido adiado para a primeira sessão seguinte).
Discute-se se o artigo 1.013, § 3º, I do CPC poderia ser aplicado à remessa necessária.
Esse dispositivo autoriza o tribunal a julgar o pedido, ainda que a primeira instância tenha julgado
o processo extinto sem resolução de mérito, desde que todos os elementos necessários para tanto
já estejam nos autos. Conquanto, o artigo esteja no capítulo da apelação, não há óbice a que seja
aplicado à remessa necessária. Se a Fazenda Pública, por exemplo, promove demanda contra o
particular, julgada extinta sem resolução de mérito, haverá remessa necessária, na qual o Tribunal
poderá julgá-lo, desde que todos os elementos necessários estejam nos autos. E ao fazê-lo, poderá
julgar o pedido procedente ou improcedente. Não haverá reformatio in pejus neste último caso,
porque esta pressupõe que a primeira instância tenha examinado a pretensão.
No julgamento da remessa necessária, admite-se sustentação oral pelos advogados de
ambas as partes; o julgamento da remessa necessária terá preferência se assim for solicitado (CPC,
art. 936, II), mas terá mais preferência aquele em que houver sustentação oral (CPC, art. 936, I).
A técnica de julgamento do art. 942, prevista quando houver julgamento não unânime,
não se aplica à remessa necessária.
Em caso de remessa necessária, nenhuma das partes pode valer-se da apelação adesiva,
pois, nesse caso, as partes já sabem, antecipadamente, que haverá o encaminhamento dos autos
ao tribunal, não estando presente um dos requisitos do recurso adesivo, qual seja, a conformação
inicial com o julgado, destinada a obter o imediato trânsito em julgado.
Na verdade, o procedimento da remessa necessária rege-se por analogia ao que se aplica
a apelação.

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Súmula 45 do STJ: “No reexame necessário, é defeso, ao tribunal, agravar a condenação


imposta à Fazenda Pública”.
Enunciado 34 do Fórum Nacional do Poder Público: “Viola a proibição da reformatio in
pejus o agravamento, em remessa necessária, dos juros e correção monetária
estabelecidos em sentenças condenatórias contra a Fazenda Pública”.

5 HIPÓTESES DE DISPENSA DA REMESSA NECESSÁRIA


Primeiro, precisamos saber que para que haja dispensa da remessa necessária, é preciso
que o juiz a ela faça expressa menção na sentença.

As hipóteses de dispensa da remessa necessária estão previstas nos parágrafos 3º e 4º do


art. 496 do CPC.

O §3º do art. 496, visa afastar a remessa nos casos em que a sucumbência da Fazenda
for de pequena monta, sendo tais valores considerados no momento em que a sentença é
proferida, portanto, irrelevante o valor da causa.
Sendo o proveito líquido e certo inferior a cada um desses valores mencionados a seguir,
dispensada está a remessa necessária:
a) mil salários mínimos na esfera federal;
b) quinhentos salários mínimos na esfera estadual, para o Distrito Federal, as respectivas
autarquias e fundações e, no caso de Municípios que são capitais de seu Estado; e
c) cem salários mínimos em relação aos demais entes municipais e respectivas autarquias
e fundações de direito.
Sendo a Fazenda Pública ré, não haverá a remessa se a condenação, ou o proveito
econômico obtido pelo autor, limitar-se a esse montante e se for autora, se a diferença entre o
que foi pedido e o que for obtido não ultrapassar esse valor.
Também não haverá remessa necessária das sentenças fundadas em:
I) súmula de tribunal superior;
II) acórdão proferido em julgamento de recurso repetitivo pelo STF ou pelo STJ (arts.
1.036 e s.); e
III) em entendimento fixado em incidente de resolução de demandas repetitivas (arts.
976 e s.) ou de assunção de competência (art. 947);
IV) orientação vinculante consagrada no âmbito administrativo do ente público
sucumbente, consolidada em manifestação, parecer ou súmula administrativa.
Se no âmbito da Administração Pública, houver recomendação de não se interpor
recurso, essa recomendação vincula o advogado público em casos de remessa necessária,
105
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portanto, a remessa deverá ser dispensada pelo juiz, que terá conhecimento ou tomará
conhecimento dessa recomendação, pois a Administração Pública amplamente a divulgará para
que todos possam saber de sua existência.
As hipóteses de exclusão do §4º do art. 496 justificam-se, seja qual for o valor da
sucumbência da Fazenda, uma vez que, a remessa só serviria para retardar o desfecho do
processo, sem resultado útil para a Fazenda, diante da existência de jurisprudência consolidada
nos tribunais.
Também não haverá remessa necessária das sentenças proferidas no Juizado Especial
Federal, ainda que contra a Fazenda Pública, nos termos do art. 13 da Lei n. 10.259/2001; nem
das sentenças proferidas nos Juizados Especiais da Fazenda Pública no âmbito dos Estados, em
conformidade com o disposto no art. 11 da Lei n. 12.153/2009.
Enunciado 18 do I Fórum Nacional do Poder Público – Brasília/DF: “A dispensa da
remessa necessária prevista no artigo 496 §§ 3º e 4º, CPC, depende de expressa referência
na sentença”.
Súmula 490 do STJ: “A dispensa do reexame necessário, quando o valor da condenação
ou do direito controvertido for inferior a 60 salários mínimos, não se aplica a sentenças
ilíquidas”.

Jurisprudência do STJ: “Após a entrada em vigor do Código de Processo Civil de 2015, é


dispensável a remessa necessária nas sentenças ilíquidas proferidas em desfavor do INSS,
cujo valor mensurável da condenação ou do proveito econômico seja inferior a mil salários
mínimos. A Súmula 490-STJ não se aplica às sentenças ilíquidas nos processos de
natureza previdenciária a partir dos novos parâmetros definidos no art. 496, § 3º, I, do
CPC/2015”. STJ. 1ª Turma. REsp 1.735.097-RS, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em
08/10/2019 (Info 658).
Jurisprudência do STJ: “As ações previdenciárias, mesmo nas hipóteses em que
reconhecido o direito do segurado à percepção de benefício no valor do teto máximo
previdenciário, não alcançarão valor superior a 1.000 salários mínimos. Assim, não
obstante a aparente iliquidez das condenações em causas de natureza previdenciária, a
sentença que defere benefício previdenciário é espécie absolutamente mensurável, visto
que pode ser aferível por simples cálculos aritméticos, os quais são expressamente
previstos na lei de regência, e, invariavelmente, não alcançará valor superior a 1.000
salários mínimos”. STJ. 1ª Turma. REsp 1.844.937/PR, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia
Filho, julgado em 12/11/2019.

6 BIBLIOGRAFIA
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Vade Mecum de Jurisprudência Dizer o Direito – 3. ed.
rev.atual e ampl. – Salvador: JusPodivum, 2017.
CUNHA, Leonardo da. A Fazenda Pública em Juizo – 15. ed. rev. atual. e ampl. – Rio de Janeiro:
Forense.

106
107

PINHO, Humberto Dalla Bernardina de. Manual de Direito Processual Civil Contemporâneo –
2. ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 2020.
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil – Vol I: Teoria Geral do
Direito Processual Civil, Processo de Conhecimento, Procedimento Comum – 60. ed. – Rio de
Janeiro: Forense, 2019.

107
108

SISTEMA CONSTITUCIONAL DE PRECATÓRIOS

11. SISTEMA
CONSTITUCIONAL DE
PRECATÓRIOS E RPV

ALMANAQUE DA ADVOCACIA PÚBLICA por Izamara


Cavalcante da Silva.

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109

Em quarenta em Suzano/SP, 03 de abril de 2020

1 INTRODUÇÃO AO SISTEMA DE PRECATÓRIOS

Os precatórios e as requisições de pequeno valor constituem a forma de pagamento das


condenações da Fazenda Pública transitadas em julgado e seu tratamento é constitucional, de tal
modo que, para alteração de tal tratamento é necessário emenda constitucional.
O Supremo Tribunal Federal ao julgar as Ações Diretas de Inconstitucionalidade nº 4357
e 5679 (obs.: julgamentos ainda estão pendentes de finalização), ainda que indiretamente, também
alterou o regime dos precatórios. Em assim sendo, para análise completa do tema, passaremos
por todos esses pontos, partindo, ab initio, da configuração originária do sistema constitucional de
precatórios e RPV.
Tabela sistematizando o sistema constitucional de precatórios com suas alterações:

Sistema Constitucional de Precatórios


EC 62/2009 ADI 4357 STF EC 94/2016 EC 99/2017
Jurisprudência

2 ORDEM E CRONOLOGIA

Art. 100 – CF/88 – Redação Original

À exceção dos créditos de natureza alimentícia, os pagamentos devidos pela Fazenda


Federal, Estadual ou Municipal, em virtude de sentença judiciária, far-se-ão exclusivamente
na ordem cronológica de apresentação dos precatórios e à conta dos créditos respectivos,
proibida a designação de casos ou de pessoas nas dotações orçamentárias e nos créditos
adicionais abertos para este fim.

O sistema constitucional de precatórios consiste na formulação de uma lista ordenada de credores


que permite ao Estado se organizar orçamentariamente para que possa liquidar as contas
decorrentes de sentenças judiciais transitadas em julgado.

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110

A partir da leitura do art. 100 temos duas situações: i) precatório que visa pagar crédito
comum; ii) precatório que visa pagar crédito de natureza alimentícia, que goza de prioridade
constitucional.
Súmula 144 – STJ: Os créditos de natureza alimentícia gozam de preferência, desvinculados os
precatórios da ordem cronológica dos créditos de natureza diversa.
Súmula 655 – STF: A exceção prevista no art. 100, caput, da Constituição, em favor dos créditos
de natureza alimentícia, não dispensa a expedição de precatório, limitando-se a isentá-los da
observância da ordem cronológica dos precatórios decorrentes de condenações de outra natureza.

Sistema original
Lista comum Lista alimentícia
Prioridade

A redação original do art. 100 impõe, assim, que os precatórios são pagos a partir de um
critério de natureza do crédito: se for de natureza alimentícia, o crédito goza de prioridade, já se
for de natureza comum, não.
No entanto, o art. 100 CF/88 sofreu alterações das emendas constitucionais 62 e 94 e
atualmente está assim redigido:

Art. 100. Os pagamentos devidos pelas Fazendas Públicas Federal, Estaduais, Distrital e
Municipais, em virtude de sentença judiciária, far-se-ão exclusivamente na ordem
cronológica de apresentação dos precatórios e à conta dos créditos respectivos,
proibida a designação de casos ou de pessoas nas dotações orçamentárias e nos créditos
adicionais abertos para este fim. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 62, de
2009). (Vide Emenda Constitucional nº 62, de 2009)

Há que se observar que o precatório estabelece uma lista de prioridade em relação a uma
situação no concernente à natureza do crédito, proibida a designação de casos ou de pessoas. É
a natureza do crédito que gerou a expedição do precatório que define para qual lista ele vai ser
apresentado, a fim de que, assim, ele respeite a ordem cronológica para apresentação de
pagamento da respectiva lista.

§ 1º Os débitos de natureza alimentícia compreendem aqueles decorrentes de salários,


vencimentos, proventos, pensões e suas complementações, benefícios previdenciários e

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indenizações por morte ou por invalidez, fundadas em responsabilidade civil, em virtude


de sentença judicial transitada em julgado, e serão pagos com preferência sobre todos
os demais débitos, exceto sobre aqueles referidos no § 2º deste artigo. (Redação dada
pela Emenda Constitucional nº 62, de 2009).

A regra para os débitos de natureza alimentícia não muda muito em relação ao


estabelecido na redação originária, isto é, mantém-se a prioridade em relação aos débitos de
natureza comum, o que muda é a exceção do parágrafo segundo.

§ 2º Os débitos de natureza alimentícia cujos titulares, originários ou por sucessão


hereditária, tenham 60 (sessenta) anos de idade, ou sejam portadores de doença grave, ou
pessoas com deficiência, assim definidos na forma da lei, serão pagos com preferência
sobre todos os demais débitos, até o valor equivalente ao triplo fixado em lei para os
fins do disposto no § 3º deste artigo, admitido o fracionamento para essa finalidade,
sendo que o restante será pago na ordem cronológica de apresentação do precatório.
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 94, de 2016)

Esse é o sistema constitucional derivado de precatório advindo das alterações


perpetradas pelas emendas constitucionais 62 e 94. Nele, como se vê, temos duas listas de
prioridades, eis que estabelecida superpreferência.
A primeira lista, de superprioridades, também é composta de débitos de natureza
alimentícia, mas engloba somente os seguintes titulares: i) idosos que tenham 60 anos de idade ou
mais; ii) portadores de doenças graves; iii) pessoas com deficiência; iv) sucessores hereditários de
tais credores originários.
Obs. 01: Essa lista tem um limite de valor, isto é, ela é formada apenas por débitos de
natureza alimentícia no importe de até 3 vezes o valor da requisição de pequeno valor do ente
e é admitido o fracionamento para tanto, de tal modo que, se ultrapassado tal montante, o
restante será pago na ordem cronológica de apresentação do precatório na lista de prioridade
alimentícia comum.
Obs. 02: Informativo 670 do STJ. Definido que a preferência do § 2º do art. 100 da
Constituição Federal não pode ser reconhecida mais de uma vez em um mesmo precatório. Ou
seja, se uma pessoa é idosa e deficiente ela não pode ter reconhecida a superpreferência duas
vezes no mesmo precatório para que receba até 6x (2x3) o valor do RPV. Seu direito de
superpreferência vai ser contabilizado como se ela atendesse somente uma das condições (ela
receberá apenas 3x o valor da RPV e o restante será pago na ordem cronológica de apresentação
111
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do precatório), sob pena de extrapolar-se o limite previsto na norma constitucional. Portanto, as


hipóteses autorizadoras de preferência (idade, doença grave ou deficiência) devem ser
consideradas, isoladamente, em cada precatório, ainda que tenha como destinatário um mesmo
credor. Ressalva: é possível, mais de uma vez, o reconhecimento ao credor do direito à preferência
constitucional no pagamento de precatório, ainda que no mesmo exercício financeiro, desde que
se observado o limite do § 2º, art. 100, da CF, em cada um dos precatórios (ou seja, pode ser
reconhecida a superpreferência mais de uma vez em precatórios diferente mesmo que
expedidos/apresentados no mesmo exercício financeiro.
A segunda lista de prioridade é a já conhecida, que engloba todos os débitos de
natureza alimentícia, sem limite de valor e, ademais, agora, o sobressalente dos débitos de natureza
alimentícia prioritários em virtude da sua titularidade.
Por fim, a terceira lista é a de débitos de origem comum, que não possui prioridade.

Esquematizado:

Sistema Derivado de Precatório – fruto das emendas constitucionais 62 e 94


Sem prioridade Prioridade 2 Prioridade 1
Lista Comum Lista alimentícia comum Lista alimentícia
1. Idoso (a partir de 60
anos)
2. Portadores de doença
grave
3. Pessoas com deficiência
4. Sucessores hereditários
do credor originário
Até o triplo do RPV do
ente (limite)
Além do triplo (vai para a
lista de prioridade 2)

Um dos problemas que surgiram desse novo sistema foi o dos idosos, cuja faixa etária foi
fixada como 60 anos. Explica-se. A emenda constitucional 62, que criou a superprioridade do
idoso, fixou que era preciso se ter 60 anos na data da expedição do precatório ou até a data da
expedição do precatório. No entanto, o Supremo Tribunal Federal na ADI 4357 declarou

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inconstitucional tal prelação, por afronta à isonomia, a fim de abranger todos os idosos que
fizessem 60 anos na pendência do pagamento do precatório.

A emenda constitucional 94, por fim, retirou a restrição da EC 62.

Observação: O critério da natureza do crédito ainda é utilizado no sistema constitucional


de precatórios derivado das alterações das emendas constitucionais 62 e 94, uma vez que apenas
criou-se lista de prioridade que abarca crédito de natureza alimentar superprioritário.

Importante: a limitação da ordem cronológica é estabelecida pelo vencimento do


precatório, ou seja, o critério temporal precede à natureza. Com isso, pode se perguntar: é
possível que um crédito da lista de comum, sem prioridade, seja pago antes de um precatório da
lista de prioridade 1? Sim, é possível, desde que estejamos diante de precatórios expedidos em
anos diferentes. Veja-se:

CONSTITUCIONAL - RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA -


PRECATÓRIOS DE NATUREZAS DIVERSAS - PAGAMENTO DE
PRECATÓRIO COMUM ANTES DE PRECATÓRIO ALIMENTAR -
VENCIMENTO ANTERIOR DO PRECATÓRIO COMUM - INOCORRÊNCIA
DE QUEBRA DA ORDEM DE PREFERÊNCIA - RECURSO NÃO PROVIDO.
A ordem cronológica deve ser averiguada dentro de cada uma das classes de
precatórios: comum ou alimentar.
O pagamento de precatório comum antes do de natureza alimentar não representa
quebra da ordem de preferência constitucionalmente estabelecida, quando têm
vencimentos distintos.
Hipótese em que o precatório comum está datado de 2003 e o alimentar de 2005.
Se não houve preterição no pagamento não se pode falar de sequestro de recursos
públicos para pagamento coercitivo.
Recurso ordinário não provido.
STJ. RMS 35089/MG
OU SEJA: Precatórios sujeitos ao mesmo vencimento: as prioridades devem ser
respeitadas na ordem da tabela acima. Precatórios sujeitos a vencimento diferentes:
critério temporal é analisado de forma prévia à natureza alimentar.

3 A NATUREZA DO CRÉDITO
Crédito
Comum Alimentar

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§ 1º Os débitos de natureza alimentícia


compreendem aqueles decorrentes de
salários, vencimentos, proventos, pensões e
suas complementações, benefícios
previdenciários e indenizações por morte
ou por invalidez, fundadas em
responsabilidade civil, em virtude de
sentença judicial transitada em julgado, e
serão pagos com preferência sobre todos os
demais débitos, exceto sobre aqueles
referidos no § 2º deste artigo. (Redação dada
pela Emenda Constitucional nº 62, de
2009).

O rol do art. 100, § 1º, é taxativo ou exemplificativo?


Para o STF e STJ é exemplificativo. Existem outros créditos alimentares para além
daqueles que a Constituição estabeleceu como no rol do § 1º, do art. 100. Ex. honorários
sucumbenciais, não está no rol, mas é crédito alimentar.

3.1 Fracionamento

§ 8º É vedada a expedição de precatórios complementares ou suplementares de valor pago,


bem como o fracionamento, repartição ou quebra do valor da execução para fins de
enquadramento de parcela do total ao que dispõe o § 3º deste artigo. (Incluído pela
Emenda Constitucional nº 62, de 2009).

O que a Constituição quer evitar são anomalias, burlas que visem o fracionamento para
submissão à requisição de pequeno valor ou qualquer outra anomalia jurídica decorrentes do
fracionamento do montante devido pelo ente federado. É salutar ao Poder Público, ao sistema
de justiça e à administração de pagamento desses valores que não haja fracionamento.
Exceção: não há como olvidar da exceção ao fracionamento, já explicitada, que é a
referente aos pagamentos de créditos de natureza alimentícia de titulares que gozam de
superpreferência, de tal modo que os créditos dessa espécie que ultrapassem o limite de valor

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(triplo do RPV o ente) admitido para lista podem ser fracionados, incluindo-se o restante na lista
de prioridade de créditos de natureza alimentícia comum.
Observações:
I. Exigência do trânsito em julgado para expedição de precatório
Obs.: pode ser expedido precatório em processo e ainda haver saldo a pagar.
Explica-se: há a possibilidade de trânsito em julgado de capítulos de decisões judiciais, ou seja,
pode ser expedido precatório desta parte, que já transitou em julgado, enquanto ainda está
pendente discussão as demais questões/capítulos.

II. Precatório do incontroverso


Antes a Fazenda defendia a impossibilidade de expedição de precatório da parte
incontroversa. No entanto, a jurisprudência se sedimentou no sentido de que não constitui
fracionamento a expedição de precatório relativo à parcela incontroversa, enquanto discute-se a
parte controversa, desde que seja seguido o regime imposto ao pagamento integral do débito. Ou
seja, se a soma (o débito integral) se sujeita a precatório, as partes controversa e incontroversa
também deverão ser pagas mediante precatório, não podendo ser liquidadas por meio de
requisição de pequeno valor, sob pena de violação à vedação de fracionamento.

III. Destaque dos honorários contratuais e fracionamento


O destaque dos honorários contratuais não é considerado pela jurisprudência
como fracionamento de precatório. Isto é, se o advogado tem com a parte um contrato para
prestação de serviços de advocacia, é possível que quando da expedição de precatório o advogado
requisite o destaque do valor a receber a título de honorários contratuais do valor do respectivo
precatório. Isso não é considerado fracionamento.

IV. Honorários sucumbenciais são créditos alimentares do advogado e seguem


pagamento próprio sujeito ao valor que lhe cabe
Jurisprudência se firmou no sentido de que os honorários sucumbenciais são
autônomos, possuem vida própria. Ou seja, quando condena-se ao pagamento de valor x ao autor,
por exemplo, esse é o crédito dele, sendo que a condenação em honorários sucumbenciais ao seu
patrono se dá de forma paralela, autônoma, pois tal valor pertence ao advogado. São créditos
distintos, que se sujeitam a regras diferentes a depender do valor, não havendo que se falar em
fracionamento. Vale destacar, ainda, que honorários sucumbenciais são créditos alimentares,
ainda que o crédito do cliente (autor, réu, afins) não tenha essa natureza, seguindo, repise-se,

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pagamento próprio sujeito ao valor que lhe cabe, isto é, precatório, RPV, também
independentemente do regime a que se sujeita o crédito do cliente.

V. Honorários sucumbenciais fixados em litisconsórcio ativo facultativo simples


em execução contra a fazenda pública.
Não é possível o fracionamento do crédito de honorários advocatícios em
litisconsórcio ativo facultativo simples em execução contra a Fazenda Pública por frustrar o
regime de precatório. A quantia devida a título de honorários é uma só, fixada de forma global,
pois se trata de um único processo e, portanto, consiste em título a ser executado de forma una
e indivisível. Sendo assim, em outras palavras, não é possível o fracionamento da execução dos
honorários advocatícios decorrentes de uma única ação proposta contra a Fazenda Pública por
vários litisconsortes ativos facultativos. O STF afirmou que deve ser proibido o fracionamento
justamente porque a verba honorária é autônoma e pertence ao advogado, um só titular, a
despeito da existência de múltiplos titulares do crédito advindo da ação. Não há que se confundir.
Logo, seu pagamento de forma fracionada, por RPV, seria uma burla ao art. 100, § 8º.
(Informativo 929, STF)

4 PROCESSAMENTO DO PRECATÓRIO
Apresentação do precatório: resolvido o valor a ser pago no processo e submetendo-se o
crédito ao pagamento pela via do precatório, o juiz expede ofício ao presidente do Tribunal
respectivo conforme lista de prioridade:
- precatório de crédito alimentar de idoso, portador de doença grave ou pessoa com
deficiência, bem como seus sucessores hereditários (lista superprioritária – ou prioridade 1)
- precatório de crédito alimentar comum (lista prioritária – ou prioridade 2)
- precatório de crédito comum (lista s/ prioridade)

Pagamento do precatório:

§ 5º É obrigatória a inclusão, no orçamento das entidades de direito público, de verba


necessária ao pagamento de seus débitos, oriundos de sentenças transitadas em julgado,
constantes de precatórios judiciários apresentados até 1º de julho, fazendo-se o
pagamento até o final do exercício seguinte, quando terão seus valores atualizados
monetariamente. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 62, de 2009).

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O § 5º, art. 100, da CF estabelece o período de graça constitucional, no qual a despeito


de ocorrer a atualização monetária dos valores dos precatórios, não há a incidência de juros
moratórios.

Apresentação (período anual) Pagamento


1 de janeiro de 2016 Pagamento até 31 de dezembro de 2017
a (31/12/2017)
1 de julho de 2016

2 de julho de 2016 Pagamento até 31 de dezembro de 2018


a (31/12/2018)
31 de dezembro de 2016
(Como se fossem apresentados até 1 de
julho de 2017)

Lógica:
No momento em que o Poder Público é condenado em sentença transitada em julgado e
esse valor se sujeita à expedição de precatório há que se entender que esse montante ainda não
“existe”, isto é, o Estado não dispõe desse valor. Por isso deve ser concedido lapso temporal para
que haja organização financeira apta a alocar tal montante no orçamento. Nesse contexto, se fosse
imposto o pagamento de precatórios apresentados após julho do ano anterior, não haveria tempo
hábil para inclusão de tais valores nas leis orçamentárias, tendo em vista as datas-limite para suas
apresentações. Ex. se for apresentado precatório em dezembro de 2016, não há como inclui-lo
na Lei Orçamentária Anual de 2017, a qual foi discutida, necessariamente, de julho a dezembro
de 2016 (segundo semestre do ano anterior ao ano de sua vigência).
Isto é, as requisições de precatório precisam ser incluídas no orçamento, pois o dinheiro
para pagá-las ainda não “existe”. A discussão da lei orçamentária acontece no segundo semestre,
logo, o Congresso Nacional saberá exatamente quanto terá que alocar em termos de recursos para
pagamento de precatórios apresentados até o dia 1/7 do ano em curso para pagamento no ano
posterior.
Quem paga?
Poder Executivo diretamente ao credor. Isto porque o Poder Executivo estabelece a
dotação orçamentária a disponibilidade do poder judiciário para pagar os precatórios devidos aos
credores.

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Importante: Ainda que se tenha condenações em face da União Federal em face de uma
ação ajuizada por servidor público federal do Poder Judiciário, esse valor não sai da dotação
orçamentária do Poder Judiciário, mas sim da dotação orçamentária do Poder Executivo
destinada ao pagamento de Precatórios.

§ 6º As dotações orçamentárias e os créditos abertos serão consignados diretamente ao


Poder Judiciário, cabendo ao Presidente do Tribunal que proferir a decisão exequenda
determinar o pagamento integral (...)

Perceba que, no orçamento, os valores destinados ao pagamento de precatórios não saem


dos orçamentos de cada Poder, se ação foi ajuizada contra a União por conta de erro judiciário e
dela surgiu um precatório expedido de 2 milhões de reais, esse valor não será debitado do
orçamento do Judiciário, ainda que se trate de valor devido em virtude de erro perpetrado pelo
Judiciário (ou, no caso acima, que se trata de valor devido a servidor público do judiciário).

Quem realiza o pagamento?

Poder Judiciário por meio de procedimento administrativo.

Natureza Jurídica do processamento:

Súmula 733/STF: Não cabe recurso extraordinário contra decisão proferida no


processamento de precatórios.

Súmula 311/STF: Os atos do presidente do tribunal que disponham sobre


processamento e pagamento de precatório não têm caráter jurisdicional.

Natureza jurídica de procedimento administrativo, ou seja, não é atividade judicial, não


cabendo recurso, portanto, das decisões do presidente.

§ 7º O Presidente do Tribunal competente que, por ato comissivo ou omissivo, retardar


ou tentar frustrar a liquidação regular de precatórios incorrerá em crime de
responsabilidade e responderá, também, perante o Conselho Nacional de Justiça.
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 62, de 2009).

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Questões pertinentes à execução (juros e Presidente do Tribunal quando usurpa a


correção monetária) competência do juízo da execução

Resolvidas pelo juiz de 1º grau (processo Dessa decisão:


judicial, civil, regido pelo CPC) - Não cabe recurso (natureza administrativa
do processamento)
- Cabe Mandado de Segurança

Exceção da Lei 9.494/97 e jurisprudência do STJ


Lei 9.494/97 Exceção: STJ – RMS 44.630/SP 2015 –
Art. 1º - E. São passíveis de revisão, pelo permitiu, pelo Presidente do Tribunal, a
Presidente do Tribunal, de ofício ou a exclusão de juros moratórios e
requerimento das partes, as contas compensatórios quando do processamento
elaboradas para aferir o valor dos administrativo do precatório indevidamente
precatórios antes de seu pagamento ao incluídos da execução.
credor.
Aqui permitiu-se que na revisão da L.
Obs.: Em tese, apenas para atestar a 9.494 além da verificação da
regularidade formal das contas! regularidade formal fosse procedida a
exclusão dos juros moratórios e
compensatórios indevidamente
incluídos.

Em suma: todas as questões pertinentes ao valor do precatório são de alçada do juiz da


execução (aqui cabe recurso, é processo judicial, regido pelo CPC). Na parte de expedição do
precatório, pelo Presidente do Tribunal, estamos diante de procedimento administrativo (não é
ato jurisdicional), de tal modo que não cabe recurso de houver algum abuso, apenas MS.
Exceções: A Lei 9.494/97 permite ao Presidente do Tribunal a realização de uma revisão de
contas quando do pagamento, em tese ela é feita só para atestar a regularidade formal das contas,
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mas o STJ permitiu que nessa revisão sejam excluídos juros moratórios/compensatórios
indevidos.

5 SEQUESTRO

Determina-se o pagamento integral, no entanto, se houver preterição do direito de


preferência (caso em que será garantida tal preferência) ou falta de alocação orçamentária (sendo
garantido o recebimento do valor) impõe-se o sequestro.

O sequestro é a medida que bloqueia verba do ente público para pagamento de precatório que
não foi pago da forma correta nos termos estabelecimentos na Constituição Federal.

Hipóteses
Preterição do direito de preferência Falta de alocação orçamentária suficiente
para o pagamento do precatório

§ 6º As dotações orçamentárias e os créditos abertos serão consignados diretamente ao


Poder Judiciário, cabendo ao Presidente do Tribunal que proferir a decisão exequenda
determinar o pagamento integral e autorizar, a requerimento do credor e
exclusivamente para os casos de preterimento de seu direito de precedência ou de
não alocação orçamentária do valor necessário à satisfação do seu débito, o
sequestro da quantia respectiva. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 62, de
2009).

Natureza do sequestro no sistema de precatórios:

É medida cautelar em tese, mas aqui tem natureza satisfativa, uma vez que é procedido
o bloqueio e entrega do que é devido ao credor do precatório.

Legitimidade ativa no requerimento de sequestro em caso de preterição:

Credor ou credores que foram preteridos. Ex.:

Lista de precatórios
120
121

1º PAGO
2º PENDENTE
3º PENDENTE
4º PENDENTE
5º PAGO
6º PENDENTE

Legitimados ativos: credores: 2, 3 e 4.


Sendo que o credor 2 atua em nome próprio, pois foi o primeiro a ser preterido. Já os
credores 3 e 4 atuam como substitutos processuais, pois possuem interesse e legitimidade
decorrentes, afinal, só receberão após o credor 2.
Credor 6 não tem legitimidade ativa para nada, pois não foi preterido.

Lista de precatórios
1º Está tranquilo - pago
2º Atua em nome próprio
3º Atua em substituição processual ao credor
2
4º Atua em substituição processual ao credor
2
5º Legitimado passivo no requerimento de
sequestro
6º Não tem legitimidade

Legitimidade passiva no requerimento de sequestro em caso de preterição:

i. Ente público
ii. Credor que recebeu fora da ordem
iii. Ambos em litisconsórcio passivo facultativo (teoria mais aceita)

Ausência de alocação de recursos no orçamento:

121
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Outra hipótese de sequestro de verba pública advém da ausência da alocação de recursos


no orçamento dentro do limite da graça constitucional estabelecido, que é até o final do exercício
financeiro. Nesse sentido dispõe, inclusive, o art. 104 do ADCT:

ADCT
Art. 104. Se os recursos referidos no art. 101 deste Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias para o pagamento de precatórios não forem tempestivamente liberados,
no todo ou em parte: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 94, de 2016)

I - o Presidente do Tribunal de Justiça local determinará o sequestro, até o limite do valor


não liberado, das contas do ente federado inadimplente; (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 94, de 2016)

6 CORREÇÃO E JUROS DE MORA

CORREÇÃO MONETÁRIA JUROS DE MORA


Conceito: Refere-se à atualização do Conceito: Refere-se à penalidade
valor o que impede a corrosão da aplicada ao credor em decorrência do
quantia pelo decurso do tempo atraso no pagamento da obrigação
(inflação)
SEMPRE DEVIDA DEVIDO APENAS QUANTO
CONSTATADO O ATRASO NO
PAGAMENTO DO PRECATÓRIO
Art. 100 [...] 1. Graça Constitucional (após a expedição
§ 5º É obrigatória a inclusão, no orçamento do precatório)
das entidades de direito público, de verba
necessária ao pagamento de seus débitos, Se o precatório pode ser pago até o final do
oriundos de sentenças transitadas em exercício financeiro de um determinado
julgado, constantes de precatórios ano, logo, em tese a incidência dos juros de
judiciários apresentados até 1º de julho, mora se aplicam a partir de 1/1 do ano
fazendo-se o pagamento até o final do subsequente.
exercício seguinte, quando terão seus
valores atualizados monetariamente. O período de graça constitucional está
(Redação dada pela Emenda Constitucional livre dos juros de mora, uma vez que não
122
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nº 62, de 2009). há atraso no pagamento dentro deste lapso


temporal. Rememore-se: o período da graça
Importante: a atualização monetária antes constitucional é estipulado para que o
do pagamento impede a expedição de Estado possa alocar recursos do seu
precatório complementar, proibido nos orçamento, bem como proceder aos
termos do parágrafo 8º. devidos pagamentos.

§ 8º É vedada a expedição de precatórios SV – 17 – STF


complementares ou suplementares de valor Durante o período previsto no parágrafo 1º
pago, bem como o fracionamento, do artigo 100 da Constituição (agora
repartição ou quebra do valor da execução parágrafo 5º, depois da EC 62), não incidem
para fins de enquadramento de parcela do juros de mora sobre os precatórios que nele
total ao que dispõe o § 3º deste artigo. sejam pagos.
(Incluído pela Emenda Constitucional nº
62, de 2009). 2. Entre cálculo e expedição (antes da
expedição do precatório)

“Incidem os juros da mora no período


compreendido entre a data da
realização dos cálculos e a da requisição
ou do precatório” – TESE EM
REPERCUSSÃO GERAL 579431

STJ, recentemente, aderiu à jurisprudência


do STF (tem vídeo do professor sobre isso)

Pagamento dos juros de mora:

Realiza-se através de precatório complementar, constituindo-se exceção ao art. 100, §


8º, da CF, não sendo considerado fracionamento. Sendo que o precatório complementar para
pagamento dos juros de mora deve ser requerido pelo credor ao juiz do cumprimento de sentença,
dentro da mesma relação processual que gerou a expedição do precatório original, sem
necessidade de se criar processo/relação jurídico-processual para tanto.

Ausência de juros compensatórios em precatório:


123
124

Na expedição de precatório, pós expedição de precatório ou no precatório em si não


existe pagamento de juros de compensatórios, conforme se vê:

§ 12. A partir da promulgação desta Emenda Constitucional, a atualização de valores de


requisitórios, após sua expedição, até o efetivo pagamento, independentemente de sua
natureza, será feita pelo índice oficial de remuneração básica da caderneta de poupança, e,
para fins de compensação da mora, incidirão juros simples no mesmo percentual de juros
incidentes sobre a caderneta de poupança, ficando excluída a incidência de juros
compensatórios. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 62, de 2009).

De fato, assim, é possível concluir que não existem juros compensatórios em


precatórios. No entanto, cumpre relevar que podem existir juros compensatórios nos créditos
que geraram os precatórios (p. ex. desapropriação).

7 ESTUDO DA ADI 4357 STF – PARTE 1

Importante: o que foi fixado na ADI 4357 em relação à forma de cálculo da correção
monetária e juros de mora se aplica apenas aos precatórios já expedidos, ou seja, não se aplica
às condenações da fazenda ou processos de execução em curso. Em outras palavras, os processos
de execução ou cumprimento de sentença contra o Poder Público, que gerarão valores que serão
pagos via precatórios, também fazem incidir juros de mora e correção monetária, no entanto
sobre essa matéria quem determina as balizas é um Recurso Extraordinário do STF e não a ADI
4357, que destina-se, tão somente a fixar como tais serão aplicados aos precatórios já expedidos.

Forma de cálculo da correção monetária e dos juros de mora:

§ 12. A partir da promulgação desta Emenda Constitucional, a atualização de valores de


requisitórios, após sua expedição, até o efetivo pagamento, independentemente de sua
natureza, será feita pelo índice oficial de remuneração básica da caderneta de poupança, e,
para fins de compensação da mora, incidirão juros simples no mesmo percentual de juros
incidentes sobre a caderneta de poupança, ficando excluída a incidência de juros
compensatórios. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 62, de 2009).

124
125

Lei 9.494/97
Art. 1o-F. Nas condenações impostas à Fazenda Pública, independentemente de sua
natureza e para fins de atualização monetária, remuneração do capital e compensação da
mora, haverá a incidência uma única vez, até o efetivo pagamento, dos índices oficiais de
remuneração básica e juros aplicados à caderneta de poupança. (Redação dada pela Lei nº
11.960, de 2009) (Vide ADIN 5348 - Decisão do STF declaração parcial de
inconstitucionalidade)

O artigo 12, em sua redação dada pela EC 62, diz que a correção monetária dos
precatórios expedidos ocorre da mesma forma que se remunera os valores depositados em
caderneta de poupança. Ademais, é estabelecido que os juros de mora serão os mesmos incidentes
sobre a caderneta de poupança.

Nesse sentido, ainda, a Lei 9.494/97, em seu art. 1ºF que teve sua redação alterada pela
Lei nº 11.960/09, acompanhando a EC/09, estabeleceu os mesmos critérios: atualização
monetária e incidência de juros de mora nas condenações impostas à Fazenda Pública pelo feitas
pelos índices oficiais de remuneração básica e juros aplicados à caderneta de poupança.

Observação geral: A EC 62 ficou conhecida como a emenda constitucional do calote.


Motivo: é de conhecimento financeiro geral que a poupança não remunera quase nada, não
acompanhando nem mesmo a inflação, então essa forma de cálculo de correção monetária e juros
de mora configuraria verdadeiro calote.

ADI 4357
DOIS PROBLEMAS INICIAIS:

i. Expressão “independentemente de sua natureza”, uma vez que existem dois tipos
de créditos estabelecidos via precatório: (i) os créditos comuns/não-tributários e (ii) os tributários,
que decorreram de relações jurídicas processuais que discutiram com o Estado créditos/débitos
tributários ou direitos de natureza tributária. Quando utilizada tal expressão unificaram-se esses
dois tipos de crédito no mesmo sistema de correção monetária e juros de mora e o STF viu nisso
um problema.

ii. Índice oficial de remuneração básica da caderneta de poupança.


125
126

Tabela que esquematiza os pontos principais estabelecidos pela EC 92:

EC 92
CORREÇÃO MONETÁRIA JUROS DE MORA
Corrigidos pela poupança Juros simples pela poupança
JUROS COMPENSATÓRIOS
Inexistente
Expressão “independentemente de sua natureza”
Não diferencia créditos comuns e tributários

ADI 4537:

Obs.: aqui estão somente as disposições acerca da parte de juros e correção monetária
(lembrete: aplicável unicamente a precatórios já expedidos):

5. O direito fundamental de propriedade (CF, art. 5º, XXII) resta violado nas
hipóteses em que a atualização monetária dos débitos fazendários inscritos em
precatórios perfaz-se segundo o índice oficial de remuneração da caderneta de
poupança, na medida em que este referencial é manifestamente incapaz de
preservar o valor real do crédito de que é titular o cidadão. É que a inflação, fenômeno
tipicamente econômico-monetário, mostra-se insuscetível de captação apriorística (ex ante),
de modo que o meio escolhido pelo legislador constituinte (remuneração da
caderneta de poupança) é inidôneo a promover o fim a que se destina (traduzir a
inflação do período).

6. A quantificação dos juros moratórios relativos a débitos fazendários inscritos em


precatórios segundo o índice de remuneração da caderneta de poupança vulnera o
princípio constitucional da isonomia (CF, art. 5º, caput) ao incidir sobre débitos
estatais de natureza tributária, pela discriminação em detrimento da parte
processual privada que, salvo expressa determinação em contrário, responde pelos
juros da mora tributária à taxa de 1% ao mês em favor do Estado (ex vi do art. 161,
§1º, CTN). Declaração de inconstitucionalidade parcial sem redução da expressão
“independentemente de sua natureza”, contida no art. 100, §12, da CF, incluído pela
EC nº 62/09, para determinar que, quanto aos precatórios de natureza tributária,

126
127

sejam aplicados os mesmos juros de mora incidentes sobre todo e qualquer crédito
tributário.

7. O art. 1º-F da Lei nº 9.494/97, com redação dada pela Lei nº 11.960/09, ao reproduzir
as regras da EC nº 62/09 quanto à atualização monetária e à fixação de juros moratórios
de créditos inscritos em precatórios incorre nos mesmos vícios de juridicidade que
inquinam o art. 100, §12, da CF, razão pela qual se revela inconstitucional por
arrastamento, na mesma extensão dos itens 5 e 6 supra.

MODULAÇÃO DE EFEITOS – ADI 4357:

Em prol da segurança jurídica e a fim de não gerar passivo aos entes públicos, o STF
entendeu por bem conferir eficácia prospectiva à declaração de inconstitucionalidade. Sendo
assim, mantém-se a validade de todos os precatórios expedidos ou pagos até 25/03/2015, sendo
que, a partir de tal data, para fins de atualização monetária deve ser utilizado o índice IPCA-E e,
além disso, no concernente aos precatórios tributários deve ser observado o mesmo critério de
juros moratórios utilizado pelo respectivo ente. Veja-se:

2) conferir eficácia prospectiva à declaração de inconstitucionalidade dos seguintes


aspectos da ADI, fixando como marco inicial a data de conclusão do julgamento da
presente questão de ordem (25.03.2015) e mantendo-se válidos os precatórios
expedidos ou pagos até esta data, a saber:
2.1.) fica mantida a aplicação do índice oficial de remuneração básica da caderneta de
poupança (TR), nos termos da Emenda Constitucional nº 62/2009, até 25.03.2015, data
após a qual (i) os créditos em precatórios deverão ser corrigidos pelo Índice de Preços ao
Consumidor Amplo Especial (IPCA-E) e (ii) os precatórios tributários deverão observar
os mesmos critérios pelos quais a Fazenda Pública corrige seus créditos tributários; e
2.2.) ficam resguardados os precatórios expedidos, no âmbito da administração pública
federal, com base nos arts. 27 das Leis nº 12.919/13 e Lei nº 13.080/15, que fixam o IPCA-
E como índice de correção monetária;

Tabela que esquematiza o pagamento de precatórios com base no estabelecido na ADI


4357 (mudanças em relação ao sistema constitucional de precatórios estabelecido pela EC 62):

127
128

ADI 4357
CORREÇÃO MONETÁRIA JUROS DE MORA
Corrigidos pelo IPCA (fundamento: direito Crédito não tributário: juros simples pela
de propriedade) poupança (mantido)
Crédito tributário: juros iguais aos
aplicados pelo ente, enquanto credor
(fundamento: isonomia)
JUROS COMPENSATÓRIOS
Inexistente (mantido)
Expressão: “independentemente de sua natureza”
Expressão inconstitucional
MODULAÇÃO
Válida após 25/3/2015 Ressalvados os precatórios da União já
corrigidos monetariamente pelo IPCA-E
(Leis nº 12.919/13 e Lei nº 13.080/15). A
União não pode ir atrás da diferença.

8 ESTUDO DA ADI 4357 STF – PARTE 2


STF
ADI 4357 STF RE. 870.947
Decisão sobre aplicação de juros de mora e Decisão sobre aplicação de juros de mora e
correção monetária incidentes APENAS correção monetária incidentes sobre os
para precatórios já expedidos valores no curso do processo, antes da
expedição do precatório.

8.1 RE 870.947 – Tema 810

TESE 1
“O art. 1º-F da Lei nº 9.494/97, com a redação dada pela Lei nº 11.960/09, na parte
em que disciplina os juros moratórios aplicáveis a condenações da Fazenda
Pública, é inconstitucional ao incidir sobre débitos oriundos de relação jurídico-
tributária, os quais devem observar os mesmos juros de mora pelos quais a
Fazenda Pública remunera seu crédito tributário, em respeito ao princípio

128
129

constitucional da isonomia (CRFB, art. 5º, caput); quanto às condenações


oriundas de relação jurídica não-tributária, a fixação dos juros moratórios segundo
o índice de remuneração da caderneta de poupança é constitucional,
permanecendo hígido, nesta extensão, o disposto no art. 1º-F da Lei nº 9.494/97,
com a redação dada pela Lei nº 11.960/09”.

TESE 2
“O art. 1º-F da Lei nº 9.494/97, com a redação dada pela Lei nº 11.960/09, na parte
em que disciplina a atualização monetária das condenações impostas à Fazenda
Pública segundo a remuneração oficial da caderneta de poupança, revela-se
inconstitucional ao impor restrição desproporcional ao direito de propriedade
(CRFB, art. 5º, XXII), uma vez que não se qualifica como medida adequada a
capturar a variação de preços da economia, sendo inidônea a promover os fins a
que se destina”
.
Em suma, no RE 870.947 o STF fixou as mesmas balizas em termos de correção
monetária e juros de mora para as condenações impostas à Fazenda Pública (em trâmite) já
estabelecidas na ADI 4357 (vide tabela). A única diferença é que em 03/10/19 foram julgados os
ED’s opostos e o requerimento de modulação de efeitos neste caso foi indeferido.

8.2 Jurisprudência do STJ – Tema 905

I. Correção monetária: o art. 1º-F da Lei I.1 Impossibilidade de fixação apriorística


9.494/97 (com redação dada pela Lei da taxa de correção monetária.
11.960/2009), para fins de correção No presente julgamento, o estabelecimento
monetária, não é aplicável nas condenações de índices que devem ser aplicados a título
judiciais impostas à Fazenda Pública, de correção monetária não implica pré-
independentemente de sua natureza. fixação (ou fixação apriorística) de taxa de
atualização monetária. Do contrário, a
decisão baseia-se em índices que,
atualmente, refletem a correção monetária
ocorrida no período correspondente. Nesse
contexto, em relação às situações futuras, a
aplicação dos índices em comento,

129
130

sobretudo o INPC e o IPCA-E, é legítima


enquanto tais índices sejam capazes de
captar o fenômeno inflacionário.

i.2 Não cabimento de modulação dos


efeitos da decisão.
A modulação dos efeitos da decisão que
declarou inconstitucional a atualização
monetária dos débitos da Fazenda Pública
com base no índice oficial de remuneração
da caderneta de poupança, no âmbito do
Supremo Tribunal Federal, objetivou
reconhecer a validade dos precatórios
expedidos ou pagos até 25 de março de
2015, impedindo, desse modo, a rediscussão
do débito baseada na aplicação de índices
diversos. Assim, mostra-se descabida a
modulação em relação aos casos em que
não ocorreu expedição ou pagamento de
precatório.

O STJ prescreveu que não há como se determinar para o futuro ou de forma inconteste
e para sempre um índice de correção monetária. No entanto, no momento, os índices INPC e
IPCA-E são capazes de acompanhar a inflação.
Sendo assim, a correção monetária, nos termos do que está estabelecido no art. 1º F
depende da natureza do crédito e de índice de correção monetária que acompanhe a inflação no
momento (a depender do momento/data em que vai ser aplicado o índice). Sendo que sua redação
originária não é aplicável nas condenações impostas à Fazenda (mesmo entendimento do STF,
tendo em vista a violação ao direito de propriedade).
Por fim, fixou que não há que se falar em modulação de efeitos, senão no concernente
àquela de precatórios já expedidos, fixada pelo STF.

II. Juros de mora: o art. 1º-F da Lei 9.494/97 (com redação dada pela Lei 11.960/2009),
na parte em que estabelece a incidência de juros de mora nos débitos da Fazenda Pública

130
131

com base no índice oficial de remuneração da caderneta de poupança, aplica-se às


condenações impostas à Fazenda Pública, excepcionadas as condenações
oriundas de relação jurídico-tributária.

Ou seja, o STJ entendeu no mesmo sentido do quanto estabelecido pelo STF na ADI
4357 e RE 870.947.

III. ÍNDICES APLICÁVEIS A DEPENDER DA NATUREZA DA


CONDENAÇÃO

III.1 Condenações judiciais de natureza administrativa em geral.


Até dezembro de 2002 Posterior à vigência do Posterior à vigência da Lei
CC/2002 até 11.960/2009 11.960/2009
Juros de mora: Juros de mora Juros de mora segundo
0,5% ao mês correspondentes à taxa índice de remuneração da
SELIC, vedada a cumulação caderneta de poupança
com qualquer outro índice
de correção.
Correção monetária: Correção monetária: Correção monetária:
De acordo com os índices Incidência do IPCA-E a IPCA-E
previstos no Manual dos partir de janeiro/2001
Cálculos da Justiça Federal,
com destaque para
incidência do IPCA-E a
partir de janeiro/2001

III.2 Condenações judiciais referentes a servidores e empregados públicos


Até julho de 2001 De agosto/2001 a A partir de julho/2009
junho/2009
Juros de mora: Juros de mora 0,5% ao mês Juros de mora segundo
1% ao mês (capitalização índice de remuneração da
simples) caderneta de poupança
Correção monetária: Correção monetária: Correção monetária:
De acordo com os índices IPCA-E IPCA-E

131
132

previstos no Manual dos


Cálculos da Justiça Federal,
com destaque para
incidência do IPCA-E a
partir de janeiro/2001

III.3 Condenações judiciais referentes a desapropriações diretas e indiretas.


Existem regras específicas, no que concerne aos juros moratórios e compensatórios,
razão pela qual não se justifica a incidência do art. 1º-F da Lei 9.494/97 (com redação
dada pela Lei 11.960/2009), nem para compensação da mora nem para remuneração
do capital.

III.4 Condenações judiciais de natureza previdenciária.


Sujeitam-se à incidência do INPC, para fins de correção monetária, no que se refere
ao período posterior à vigência da Lei 11.430/2006, que incluiu o art. 41-A na Lei
8.213/91. Quanto aos juros de mora, incidem segundo a remuneração oficial da
caderneta de poupança (art. 1º-F da Lei 9.494/97, com redação dada pela Lei n.
11.960/2009).

III.5 Condenações judiciais de natureza tributária.


A correção monetária e a taxa de juros de mora incidentes na repetição de
indébitos tributários devem corresponder às utilizadas na cobrança de tributo pago
em atraso. Não havendo disposição legal específica, os juros de mora são calculados
à taxa de 1% ao mês (art. 161, § 1º, do CTN). Observada a regra isonômica e havendo
previsão na legislação da entidade tributante, é legítima a utilização da taxa Selic, sendo
vedada sua cumulação com quaisquer outros índices.

IV. PRESERVAÇÃO DA COISA JULGADA


Não obstante os índices estabelecidos para atualização monetária e compensação da mora,
de acordo com a natureza da condenação imposta à Fazenda Pública, cumpre ressalvar
eventual coisa julgada que tenha determinado a aplicação de índices diversos, cuja
constitucionalidade/legalidade há de ser aferida no caso concreto.

132
133

9 COMPENSAÇÃO, CESSÃO E FINANCIAMENTO


9.1 Compensação

§ 9º No momento da expedição dos precatórios, independentemente de regulamentação,


deles deverá ser abatido, a título de compensação, valor correspondente aos débitos
líquidos e certos, inscritos ou não em dívida ativa e constituídos contra o credor original
pela Fazenda Pública devedora, incluídas parcelas vincendas de parcelamentos, ressalvados
aqueles cuja execução esteja suspensa em virtude de contestação administrativa ou judicial.
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 62, de 2009).

§ 10. Antes da expedição dos precatórios, o Tribunal solicitará à Fazenda Pública devedora,
para resposta em até 30 (trinta) dias, sob pena de perda do direito de abatimento,
informação sobre os débitos que preencham as condições estabelecidas no § 9º, para os
fins nele previstos. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 62, de 2009).

O parágrafo 9º estabeleceu a possibilidade de a Fazenda Pública compensar eventuais


créditos que tenha junto ao credor do precatório (ou seja: credor do precatório também é devedor
da fazenda pública), referente a outros débitos que não estejam contemplados naquela relação
jurídica que gerou o precatório judicial. Promovendo-se, assim, verdadeiro encontro de contas.
Deste modo, o parágrafo seguinte institui direito de abatimento do Poder Público,
independentemente da concordância ou não do credor do precatório, determinando, no mais,
prazo de 30 dias para que a Fazenda Pública, após solicitação, envie resposta informando
eventuais débitos que possam ser compensados.
No entanto, o Supremo Tribunal Federal nas ADIs 4357 e 4425 estabeleceu a
inconstitucionalidade de tais dispositivos, de tal modo que a compensação de precatórios hoje,
no sistema constitucional, é impossibilitada porque declarada inconstitucional pelo STF.
Os argumentos utilizados pelo Supremo para a declaração de tal inconstitucionalidade
foram os seguintes: i) superioridade indevida do Poder Público, em desobediência ao devido
processo legal, contraditório e ampla defesa; ii) o particular não possui instituto semelhante
quando credor do Estado; iii) Estado possui meios eficazes de cobrar seus créditos de seus
devedores.
O STF nesse caso solicitou ao CNJ a realização de estudo acerca da possibilidade de futura
realização constitucional de compensação de precatório, nos moldes fixados, o qual seria
estabelecido via emenda constitucional. Nesse sentido, na ADI 4357, estabeleceu que admite-se

133
134

a possibilidade de compensação de precatórios, desde que se trate de direito do particular, a seu


critério e não como prerrogativa do Poder Público.

9.2 Cessão

§ 13. O credor poderá ceder, total ou parcialmente, seus créditos em precatórios a terceiros,
independentemente da concordância do devedor, não se aplicando ao cessionário o
disposto nos §§ 2º e 3º. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 62, de 2009).

§ 14. A cessão de precatórios somente produzirá efeitos após comunicação, por meio de
petição protocolizada, ao tribunal de origem e à entidade devedora. (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 62, de 2009).

Observações:
I. Não depende da concordância do devedor do precatório, ou seja, a Fazenda Pública
não tem o poder de obstar a cessão pela sua simples discordância

II. Perde-se a preferência ou superpreferência (superprioridade) e o valor passa a


obedecer a lista de créditos comuns
Obs.: No RE 631.537 leading case no tema 361 de repercussão geral foi definido que “a
cessão de crédito alimentício não implica a alteração da natureza”.
Parêntesis:
O Rel. do caso, Min. Marco Aurélio, entendeu que, ao implementar-se a transmudação da
natureza do precatório, prejudica-se, justamente, aqueles a quem a CF protege na satisfação de
direitos os credores ditos alimentícios. "Isso porque, consideradas as condições do mercado, se o
crédito perde qualidade que lhe é própria, a viabilizar pagamento preferencial, ocorre a perda de
interesse na aquisição ou, ao menos, a diminuição do valor".
O ministro proveu recurso para assentar a permanência da natureza do crédito tal como
revelada no ato da cessão. O voto foi acompanhado à unanimidade.

III. Por tribunal de origem entende-se o juízo da execução e o Tribunal responsável pelo
pagamento do precatório

134
135

IV. À Fazenda, dá-se, normalmente, apenas ciência, eis que se trata se negócio jurídico
realizado entre particulares, o qual, conforme exposto, não depende de concordância do Poder
Público

9.3 Financiamento

§ 17. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios aferirão mensalmente, em


base anual, o comprometimento de suas respectivas receitas correntes líquidas com o
pagamento de precatórios e obrigações de pequeno valor. (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 94, de 2016)

Duas análises:

Obrigação de pagamento, em 12 meses, de precatórios e requisitórios judiciais


Receita corrente líquida (mês de referência e os onze anteriores)

§ 18. Entende-se como receita corrente líquida, para os fins de que trata o § 17, o somatório
das receitas tributárias, patrimoniais, industriais, agropecuárias, de contribuições e de
serviços, de transferências correntes e outras receitas correntes, incluindo as oriundas do
§ 1º do art. 20 da Constituição Federal, verificado no período compreendido pelo segundo
mês imediatamente anterior ao de referência e os 11 (onze) meses precedentes, excluídas
as duplicidades, e deduzidas: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 94, de 2016)

I – na União, as parcelas entregues aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios por
determinação constitucional; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 94, de 2016)

II – nos Estados, as parcelas entregues aos Municípios por determinação constitucional;


(Incluído pela Emenda Constitucional nº 94, de 2016)

III – na União, nos Estados, no Distrito Federal e nos Municípios, a contribuição dos
servidores para custeio de seu sistema de previdência e assistência social e as receitas
provenientes da compensação financeira referida no § 9º do art. 201 da Constituição
Federal. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 94, de 2016)

135
136

§ 19. Caso o montante total de débitos decorrentes de condenações judiciais em


precatórios e obrigações de pequeno valor, em período de 12 (doze) meses,
ultrapasse a média do comprometimento percentual da receita corrente líquida
nos 5 (cinco) anos imediatamente anteriores, a parcela que exceder esse percentual
poderá ser financiada, excetuada dos limites de endividamento de que tratam os
incisos VI e VII do art. 52 da Constituição Federal e de quaisquer outros limites de
endividamento previstos, não se aplicando a esse financiamento a vedação de
vinculação de receita prevista no inciso IV do art. 167 da Constituição Federal. (Incluído
pela Emenda Constitucional nº 94, de 2016)

Exemplo:

PRECATÓRIOS e RPV
2013 – 2017 (média) 2019 Excedente
40% da RCL 45% da RCL 5% podem ser financiados,
escapando dos chamados
freios fiscais

§ 20. Caso haja precatório com valor superior a 15% (quinze por cento) do montante
dos precatórios apresentados nos termos do § 5º deste artigo, 15% (quinze por cento)
do valor deste precatório serão pagos até o final do exercício seguinte e o restante
em parcelas iguais nos cinco exercícios subsequentes, acrescidas de juros de mora
e correção monetária, ou mediante acordos diretos, perante Juízos Auxiliares de
Conciliação de Precatórios, com redução máxima de 40% (quarenta por cento) do
valor do crédito atualizado, desde que em relação ao crédito não penda recurso ou defesa
judicial e que sejam observados os requisitos definidos na regulamentação editada pelo
ente federado. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 94, de 2016)

Forma de proteção do Poder Público no concernente a precatórios de valores muito


elevados, resguardando, ainda, a própria fila de precatórios.

136
137

10 EC 94 E 99 E SISTEMA ESPECIAL
O sistema especial não tem origem na Constituição Federal, isto é, não nasceu junto com
a Magna Carta.
O constituinte originário estabeleceu um sistema constitucional de precatórios e RPV,
depositando sua confiança de que o Estado pagaria todas as suas dívidas decorrentes de decisões
judiciais na forma do quanto estabelecido. No entanto, na prática isso não ocorreu.
Realidade: O poder público não consegue quitar sua dívida de precatórios pelos mais
variados motivos.
Por conta disso, por diversas vezes o poder constituinte derivado tentou criar um sistema
especial de pagamento de precatórios com o fim de otimizar os recursos do Estado com a sua
obrigação de saldar suas condenações judiciais.
Os principais sistemas que foram criados são:

10.1 EC 62

Art. 100 [...]


§ 15. Sem prejuízo do disposto neste artigo, lei complementar a esta Constituição Federal
poderá estabelecer regime especial para pagamento de crédito de precatórios de
Estados, Distrito Federal e Municípios, dispondo sobre vinculações à receita corrente
líquida e forma e prazo de liquidação. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 62, de
2009).

O art. 97 do ADCT estabeleceu regime especial a ser utilizado pelos entes referidos no
parágrafo 15 enquanto ausente lei própria.
No entanto, o STF declarou inconstitucional o regime da EC 62 (instituído pelo art. 97
do ADCT), modulando, não obstante, seus efeitos para 5 anos em prospecção, ou seja, de 1º de
janeiro de 2016 a 2020 (obs.: essa medida do STF se tornou inócua, tendo em vista a
superveniência das emendas constitucionais 94 e 99, conforme se verá).

10.2 EC 94 e EC 99

Modificaram o regime especial do ADCT (do art. 97 – declarado inconstitucional pelo


STF), com previsão dos arts. 101 a 105.

10.2.1 ASPECTOS GERAIS DO REGIME – LEGITIMADOS, PRAZO,

137
138

ÍNDICE, VALORES ALOCADOS


Art. 101. Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios que, em 25 de março de 2015
(vem da ADI 4357), se encontravam em mora no pagamento de seus precatórios quitarão,
até 31 de dezembro de 2024, seus débitos vencidos e os que vencerão dentro desse
período, atualizados pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo
Especial (IPCA-E) (vem da ADI 4357), ou por outro índice que venha a substituí-lo
(jurisprudência do STJ – TEMA 905), depositando mensalmente em conta especial
do Tribunal de Justiça local, sob única e exclusiva administração deste, 1/12 (um
doze avos) do valor calculado percentualmente sobre suas receitas correntes
líquidas apuradas no segundo mês anterior ao mês de pagamento, em percentual
suficiente para a quitação de seus débitos e, ainda que variável, nunca inferior, em
cada exercício, ao percentual praticado na data da entrada em vigor do regime
especial a que se refere este artigo, em conformidade com plano de pagamento a ser
anualmente apresentado ao Tribunal de Justiça local. (Redação dada pela Emenda
constitucional nº 99, de 2017)

Conforme exposto, o regime constitucional comum de precatórios na prática não tem se


mostrado eficaz e, assim, os entes Federados não estão quitando suas dívidas advindas de
precatórios, o que, como se sabe, dá ensejo à medida satisfativa do sequestro. Nessa perspectiva,
o regime especial estabelece que os Estados, Distrito Federal e Municípios não terão imposição
de pagamento de todos os precatórios que foram expedidos e apresentados dentro do prazo
prescrito na CF para aquele exercício financeiro. Impõe-se, apenas, o depósito mensal em conta
especial do Tribunal de Justiça local, de 1/12 do valor calculado sobre suas receitas correntes
líquidas (cf. apuração descrita acima), em percentual suficiente para quitação de seus débitos.
Em outras palavras: o ente deve calcular o montante da dívida e dividir pelo total de meses
até o final do regime. Nesse sentido, deve estabelecer cronograma de desembolso de acordo com
a RLC (receita corrente líquida) e apresentá-lo ao Tribunal de Justiça local. Por fim, é importante
relevar que o percentual da RLC não pode ser inferior ao que foi pago entre 2012 e 2014 (quando
vigente a EC/2019).

10.2.2. FONTES ALTERNATIVAS DE RECEITA (art. 101, § 2º)

I - até 75% (setenta e cinco por cento) dos depósitos judiciais e dos depósitos
administrativos em dinheiro referentes a processos judiciais ou administrativos,

138
139

tributários ou não tributários, nos quais sejam parte os Estados, o Distrito Federal
ou os Municípios, e as respectivas autarquias, fundações e empresas estatais
dependentes, mediante a instituição de fundo garantidor em montante equivalente
a 1/3 (um terço) dos recursos levantados, constituído pela parcela restante dos depósitos
judiciais e remunerado pela taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e de
Custódia (Selic) para títulos federais, nunca inferior aos índices e critérios aplicados aos
depósitos levantados;

II - até 30% (trinta por cento) dos demais depósitos judiciais da localidade sob
jurisdição do respectivo Tribunal de Justiça, mediante a instituição de fundo
garantidor em montante equivalente aos recursos levantados, constituído pela
parcela restante dos depósitos judiciais e remunerado pela taxa referencial do Sistema
Especial de Liquidação e de Custódia (Selic) para títulos federais, nunca inferior aos
índices e critérios aplicados aos depósitos levantados, destinando-se: (Redação dada pela
Emenda constitucional nº 99, de 2017)

a) no caso do Distrito Federal, 100% (cem por cento) desses recursos ao próprio
Distrito Federal; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 94, de 2016)

b) no caso dos Estados, 50% (cinquenta por cento) desses recursos ao próprio
Estado e 50% (cinquenta por cento) aos respectivos Municípios, conforme a
circunscrição judiciária onde estão depositados os recursos, e, se houver mais de
um Município na mesma circunscrição judiciária, os recursos serão rateados entre
os Municípios concorrentes, proporcionalmente às respectivas populações, utilizado como
referência o último levantamento censitário ou a mais recente estimativa populacional da
Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE); (Redação dada pela
Emenda constitucional nº 99, de 2017)

III - empréstimos, excetuados para esse fim os limites de endividamento de que


tratam os incisos VI e VII do caput do art. 52 da Constituição Federal e quaisquer outros
limites de endividamento previstos em lei, não se aplicando a esses empréstimos
a vedação de vinculação de receita prevista no inciso IV do caput do art. 167 da

139
140

Constituição Federal; (Redação dada pela Emenda constitucional nº 99, de 2017)

Obs.:

Linha de crédito especial da União:

§ 4º No prazo de até seis meses contados da entrada em vigor do regime especial a que
se refere este artigo, a União, diretamente, ou por intermédio das instituições
financeiras oficiais sob seu controle, disponibilizará aos Estados, ao Distrito
Federal e aos Municípios, bem como às respectivas autarquias, fundações e
empresas estatais dependentes, linha de crédito especial para pagamento dos
precatórios submetidos ao regime especial de pagamento de que trata este artigo,
(Incluído pela Emenda constitucional nº 99, de 2017)

IV - a totalidade dos depósitos em precatórios e requisições diretas de pagamento


de obrigações de pequeno valor efetuados até 31 de dezembro de 2009 e ainda não
levantados, com o cancelamento dos respectivos requisitórios e a baixa das obrigações,
assegurada a revalidação dos requisitórios pelos juízos dos processos perante os
Tribunais, a requerimento dos credores e após a oitiva da entidade devedora, mantidas a
posição de ordem cronológica original e a remuneração de todo o período. (Incluído
pela Emenda constitucional nº 99, de 2017)

Obs.: Apesar de termos muitos precatórios não pagos, também temos muitos precatórios
pagos que estão rendendo nos bancos e os valores depositados nunca foram levantados,
sendo que tais valores, que estão parados, estão rendendo numerário aos próprios bancos.
A EC 99/2017, nesse sentido, determinou a reversão de tais valores ao próprio Poder
Público para pagamento de precatórios, como fonte alternativa de receita.

§ 3º Os recursos adicionais previstos nos incisos I, II e IV do § 2º deste artigo serão


transferidos diretamente pela instituição financeira depositária para a conta
especial referida no caput deste artigo, sob única e exclusiva administração do
Tribunal de Justiça local, e essa transferência deverá ser realizada em até sessenta dias
contados a partir da entrada em vigor deste parágrafo, sob pena de responsabilização

140
141

pessoal do dirigente da instituição financeira por improbidade. (Incluído pela Emenda


constitucional nº 99, de 2017)

Obs.: Todos os valores das fontes alternativas de receitas (exceto o montante decorrente
de empréstimos) não passam pela conta do Tesouro, portanto, vão diretamente para conta
especial administrada pelo TJ local.

Decisão do Barroso na ADI 5679 acerca da 94/2016 (medida cautelar):

Por ora, esse é o alcance da fumaça do bom direito, bastando, portanto, para remediar
tal risco, o deferimento parcial da cautelar, com a atribuição de interpretação conforme
à constituição, para explicitar, com efeitos vinculantes e gerais, que a utilização dos
recursos pelos Estados deve observar as seguintes condições:
(I) prévia constituição do fundo garantidor,
(II) destinação exclusiva para quitação de precatórios em atraso até 25.3.2015, e
(III) exigência de que os pertinentes valores sejam transpostos das contas de depósito
diretamente para contas vinculadas ao pagamento de precatórios, sob a administração
do Tribunal competente, afastando-se o trânsito de tais recursos pelas contas dos
Tesouros estaduais e municipais.

10.2.3 PAGAMENTO
Art. 102. Enquanto viger o regime especial previsto nesta Emenda Constitucional, pelo
menos 50% (cinquenta por cento) dos recursos que, nos termos do art. 101 deste Ato
das Disposições Constitucionais Transitórias, forem destinados ao pagamento dos
precatórios em mora serão utilizados no pagamento segundo a ordem cronológica
de apresentação, respeitadas as preferências dos créditos alimentares, e, nessas, as
relativas à idade, ao estado de saúde e à deficiência, nos termos do § 2º do art. 100
da Constituição Federal, sobre todos os demais créditos de todos os anos. (Incluído
pela Emenda Constitucional nº 94, de 2016)

§ 1º A aplicação dos recursos remanescentes, por opção a ser exercida por Estados,
Distrito Federal e Municípios, por ato do respectivo Poder Executivo, observada a
ordem de preferência dos credores, poderá ser destinada ao pagamento mediante
acordos diretos, perante Juízos Auxiliares de Conciliação de Precatórios, com
redução máxima de 40% (quarenta por cento) do valor do crédito atualizado, desde
que em relação ao crédito não penda recurso ou defesa judicial e que sejam observados os

141
142

requisitos definidos na regulamentação editada pelo ente federado. (Numerado do


parágrafo único pela Emenda constitucional nº 99, de 2017)

Rememore-se: no sistema constitucional de precatórios (sistema comum) a


superprioridade/superpreferência e a preferência e o crédito comum são analisados
obrigatoriamente dentro do ano de expedição do precatório. No mais, o critério temporal
prepondera sobre o da natureza do crédito. Já no regime especial, a natureza do crédito prevalece
sobre o critério temporal, não importando o ano de expedição do precatório. Ou seja, primeiro
serão pagos os créditos superpreferenciais, depois os preferenciais e depois os comuns,
utilizando-se, para tanto, pelo menos 50% dos recursos do regime especial.
Com o restante (outros 50%), por opção do ente federado e ato do respectivo Poder
Executivo, poderão ser feitos acordos com deságio de até 40%.

10.2.4 FRACIONAMENTO – EXCEÇÃO DO REGIME ESPECIAL


§ 2º Na vigência do regime especial previsto no art. 101 deste Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias, as preferências relativas à idade, ao estado de saúde e à
deficiência serão atendidas até o valor equivalente ao quíntuplo fixado em lei para
os fins do disposto no § 3º do art. 100 da Constituição Federal, admitido o
fracionamento para essa finalidade, e o restante será pago em ordem cronológica
de apresentação do precatório. (Incluído pela Emenda constitucional nº 99, de 2017)

Rememore-se: no sistema constitucional de precatórios é vedado o fracionamento (§ 8º,


art. 100, da CF). No entanto, o regime especial estabelece exceção, qual, seja, fracionamento para
fins de pagamento de créditos sujeito à superpreferência (limite: 5x RPV do ente federado). Obs.:
regime comum estabelece a mesma exceção, porém o limite é 3x RPV do ente federado.

10.2.5 SEQUESTRO E DESAPROPRIAÇÕES


Art. 103. Enquanto os Estados, o Distrito Federal e os Municípios estiverem
efetuando o pagamento da parcela mensal devida como previsto no caput do art. 101
deste Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, nem eles, nem as respectivas
autarquias, fundações e empresas estatais dependentes poderão sofrer sequestro
de valores, exceto no caso de não liberação tempestiva dos recursos. (Incluído pela
Emenda Constitucional nº 94, de 2016)

142
143

Parágrafo único. Na vigência do regime especial previsto no art. 101 deste Ato das
Disposições Constitucionais Transitórias, ficam vedadas desapropriações pelos
Estados, pelo Distrito Federal e pelos Municípios, cujos estoques de precatórios
ainda pendentes de pagamento, incluídos os precatórios a pagar de suas entidades
da administração indireta, sejam superiores a 70% (setenta por cento) das
respectivas receitas correntes líquidas, excetuadas as desapropriações para fins de
necessidade pública nas áreas de saúde, educação, segurança pública, transporte
público, saneamento básico e habitação de interesse social. (Incluído pela Emenda
constitucional nº 99, de 2017)

Ao contrário do regime comum, no regime especial só é permitido o sequestro de valores


nas seguintes hipóteses: i) preterição da ordem de pagamento; ii) ausência de repasse da parcela
mensal devida ao pagamento de precatórios ao respectivo Tribunal de Justiça.
Ademais, institui-se vedação à desapropriação por entes federados cuja dívida
concernente a precatórios pendentes de pagamento superar 70% da RCL, excetuando-se somente
as desapropriações para fins de necessidade pública nas áreas acima destacadas.

.2.6 POSSIBILIDADE DE COMPENSAÇÃO NOS TERMOS DA


JURISPRUDÊNCIA DO STF
Art. 105. Enquanto viger o regime de pagamento de precatórios previsto no art. 101 deste
Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, é facultada aos credores de
precatórios, próprios ou de terceiros, a compensação com débitos de natureza tributária
ou de outra natureza que até 25 de março de 2015 tenham sido inscritos na dívida ativa
dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios, observados os requisitos definidos
em lei própria do ente federado. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 94, de 2016)

O regime especial estabeleceu uma forma de compensação nos termos do que entendeu
a jurisprudência do STF, a qual, portanto, está vigente, sendo possível, portanto, a
compensação de precatórios, nos termos do art. 105, do ADCT, como faculdade do
credor.

11 RPV E LEI 13.463/17

143
144

A RPV é forma de pagamento menos burocrática dos débitos transitados em julgado do


Poder Público para com seus credores. Sendo que a diferença mais significativa entre os regimes
de pagamento – precatório e RPV – reside no fato de que enquanto no precatório há uma
alocação financeira posterior à expedição do valor, na requisição de pequeno valor os montantes
já estão disponíveis em orçamento para pagamento dos credores.

O que é pequeno valor?

União: até 60 salários mínimos (Lei 10.259/2001 – Lei dos Juizados Especiais Federais)

Estados e Municípios: lei própria. No entanto, há patamar mínimo, qual seja, o maior
benefício do Regime Geral de Previdência Social. Veja-se:

4º Para os fins do disposto no § 3º, poderão ser fixados, por leis próprias, valores distintos
às entidades de direito público, segundo as diferentes capacidades econômicas, sendo o
mínimo igual ao valor do maior benefício do regime geral de previdência social.

Em não havendo lei própria:

ADCT:

Art. 87. Para efeito do que dispõem o § 3º do art. 100 da Constituição Federal e o art. 78
deste Ato das Disposições Constitucionais Transitórias serão considerados de pequeno
valor, até que se dê a publicação oficial das respectivas leis definidoras pelos entes da
Federação, observado o disposto no § 4º do art. 100 da Constituição Federal, os débitos
ou obrigações consignados em precatório judiciário, que tenham valor igual ou inferior a:

I - quarenta salários-mínimos, perante a Fazenda dos Estados e do Distrito Federal;

II - trinta salários-mínimos, perante a Fazenda dos Municípios.

Parágrafo único. Se o valor da execução ultrapassar o estabelecido neste artigo, o


pagamento far-se-á, sempre, por meio de precatório, sendo facultada à parte
exequente a renúncia ao crédito do valor excedente, para que possa optar pelo

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145

pagamento do saldo sem o precatório, da forma prevista no § 3º do art. 100.

Cumpre observar que o parágrafo único do art. 87 ratifica a vedação ao fracionamento,


estabelecendo, contudo, que o credor do precatório pode renunciar ao valor excedente ao limite
do RPV, a fim de não se sujeitar à expedição de precatório.

Prazo para pagamento:


No prazo de 2 meses a partir da requisição (art. 535, § 3º, II, CPC/15).
Lei 13.463/2017 estabelece o retorno à conta do Tesouro dos requisitórios de pequeno
valor que não foram levantados no prazo de 2 anos. Professor indica a sua leitura.
Anotações relevantes acerca da Lei 13.463/2017:
1. Atualmente, no âmbito federal, apenas Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil
gerenciam os pagamentos de precatórios e RPV. Alguns doutrinadores alegam a
inconstitucionalidade deste dispositivo (art. 1º), sob o fundamento de que afronta a isonomia e a
livre concorrência, tendo em vista ser estabelecida a contratação direta, com dispensa de licitação,
dos referidos bancos.
2. O valor do precatório é atualizado pelo índice do banco e o valor a ser pago é corrigido
pelo índice legal, sendo assim é possível que haja sobejo, o qual pertencerá ao Poder Judiciário,
que poderá destinar até 10% para pagamento de perícias realizadas em ação popular. Obs.: muitos
doutrinadores entendem que deveriam ser inclusas nesse rol a ação civil pública e as ações
coletivas (art. 1º, parágrafo único).
3. O art. 2º da L. 13.463/17 dá a mesma solução da receita alternativa do regime especial,
qual seja, o retorno à conta do Tesouro dos valores dos precatórios e RPV federais expedidos e
cujos valores não tenham sido levantados pelo credor e estejam depositados há mais de dois, com
a única diferença do marco temporal (aqui 2 anos, lá valores depositados até 31/12/2009 e ainda
não levantados).

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146

12 BIBLIOGRAFIA
Curso: Sistema Constitucional de Precatórios e RPV – EBEJI – Professor: Ubirajara Casado.

Informativo 929 do STF comentado pelo Dizer o Direito.


https://dizerodireitodotnet.files.wordpress.com/2019/02/info-929-stf-1.pdf.

STF. Acompanhamento processual RE 870.947.


http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=4723934.

146
147

IMPUGNAÇÃO DE CUMPRIMENTO E PODER PÚBLICO

12. IMPUGNAÇÃO DE
CUMPRIMENTO E PODER
PÚBLICO

ALMANAQUE DA ADVOCACIA PÚBLICA por Vanessa


Fortes Ferreira

Em quarentena em Rio Grande do Sul, 16 de junho de 2020

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1 INTRODUÇÃO
No cumprimento de sentença, a Fazenda Pública se defende por meio de impugnação, e
não pela oposição de embargos. A impugnação é uma defesa e, sendo necessária, deve ser
apresentada no prazo de 30 (trinta) dias contados da data da intimação da petição que requerer o
cumprimento da sentença. Os embargos, por sua vez, também são uma forma de defesa da
Fazenda Pública, porém devem ser opostos quando se tratar de execução fundada em título
extrajudicial, sendo que ostentam natureza de ação ou demanda judicial. Seguem algumas
distinções:

Impugnação Embargos
Defesa ao cumprimento de sentença Defesa de execução de título extrajudicial
Prazo de 30 dias
Natureza de ação de conhecimento
Fase de um processo já em curso
(autônoma)
Conteúdo da defesa restrito ao rol taxativo Conteúdo da defesa é amplo e irrestrito (art.
do art. 535, CPC 910, § 2º, CPC)

2 LITISCONSÓRCIO ATIVO
O cumprimento de sentença contra a Fazenda Pública pode ser promovido em
litisconsórcio ativo. No entanto, cada litisconsorte deve requerê-lo apresentando sua
correspondente memória de cálculo, conforme o disposto no §1º do art. 534 do CPC:

Art. 534. No cumprimento de sentença que impuser à Fazenda Pública o dever de pagar
quantia certa, o exequente apresentará demonstrativo discriminado e atualizado do crédito
contendo:
[...]
§ 1º Havendo pluralidade de exequentes, cada um deverá apresentar o seu próprio
demonstrativo, aplicando-se à hipótese, se for o caso, o disposto nos §§ 1º e 2º do art. 113 .
Na hipótese de haver uma grande quantidade de litisconsortes, a ponto de dificultar a
impugnação da Fazenda Pública, o juiz pode limitar a presença deles, aplicando o § 1º do art. 113
do CPC. Ou, a Fazenda Pública pode fazer esse pedido antes de apresentar a impugnação, o que
interromperá o seu prazo, conforme o § 2º do art. 113 do CPC. Ou seja, tal prazo será
integralmente devolvido à Fazenda Pública a partir da intimação da decisão que acolher ou rejeitar
o pedido de limitação do número de litisconsortes.

Art. 113. Duas ou mais pessoas podem litigar, no mesmo processo, em conjunto, ativa ou
passivamente, quando:
[...]
§ 1º O juiz poderá limitar o litisconsórcio facultativo quanto ao número de litigantes na fase
de conhecimento, na liquidação de sentença ou na execução, quando este comprometer a
rápida solução do litígio ou dificultar a defesa ou o cumprimento da sentença.

148
149

§ 2º O requerimento de limitação interrompe o prazo para manifestação ou resposta, que


recomeçará da intimação da decisão que o solucionar.

3 INÍCIO DO PRAZO PARA IMPUGNAR (30 DIAS)


O prazo de 30 (trinta) dias para impugnar é específico, sendo próprio para a Fazenda
Pública. Logo, não deve ser contado em dobro (art. 183, § 2º, CPC). Cabe ressaltar que se
computam apenas os dias úteis (art. 219, CPC).
A intimação para apresentar a impugnação é pessoal, podendo ser realizada de três formas:
por carga, por remessa ou por meio eletrônico (art. 183, CPC).

Art. 183. A União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e suas respectivas autarquias
e fundações de direito público gozarão de prazo em dobro para todas as suas manifestações
processuais, cuja contagem terá início a partir da intimação pessoal.
§ 1º A intimação pessoal far-se-á por carga, remessa ou meio eletrônico.
§ 2º Não se aplica o benefício da contagem em dobro quando a lei estabelecer, de forma
expressa, prazo próprio para o ente público.

O início do prazo para impugnar será “o dia da carga, quando a intimação se der por meio
da retirada dos autos, em carga, do cartório ou da secretaria” (art. 231, VIII, CPC).
Quando for o caso de intimação por remessa, segundo entendimento do STJ33, o início do
prazo será o do dia da remessa dos autos com vista, ou, no caso das datas não coincidirem, será
o do dia do recebimento dos autos pelo servidor do órgão, e não do dia que o representante
manifestar, por escrito, a ciência do teor da intimação.
Quando a intimação ocorrer por meio eletrônico, o início do prazo para impugnar será o
do dia útil seguinte à consulta ao teor da intimação ou ao término do prazo para que a consulta
se dê (art. 231, V, CPC).

Forma de Intimação Início do prazo para impugnar (30 dias)


Carga Dia da carga.
Dia da remessa ou dia do recebimento dos
Remessa
autos por servidor do órgão.
Dia útil seguinte à consulta do teor da
Meio Eletrônico
intimação.

4 DO EFEITO SUSPENSIVO DA IMPUGNAÇÃO


A impugnação apresentada pela Fazenda Pública no cumprimento de sentença é dotada de
efeito suspensivo. Normalmente, o efeito suspensivo nos procedimentos executivos ocorre com
a garantia do juízo por meio da penhora, da caução ou do depósito (art. 525, §6º, CPC). No

33 STJ, 5ª Turma, EDcl no RHC 43.374/PA, Rel. Min. Laurita Vaz, j. 22.04.2014, DJe 30.04.2014
149
150

entanto, a Fazenda Pública não se sujeita à penhora, ao depósito, nem à caução, não precisando
garantir o juízo. Além disso, para que a expedição de precatório ou requisição de pequeno valor
– RPV seja expedido é necessário o trânsito em julgado da decisão que julgar a impugnação (art.
100, §§ 3º e 5º, CF), ou seja, que não haja mais qualquer discussão acerca do valor a ser executado.

Art. 100. Os pagamentos devidos pelas Fazendas Públicas Federal, Estaduais, Distrital e
Municipais, em virtude de sentença judiciária, far-se-ão exclusivamente na ordem cronológica
de apresentação dos precatórios e à conta dos créditos respectivos, proibida a designação de
casos ou de pessoas nas dotações orçamentárias e nos créditos adicionais abertos para este
fim.
[...]
§ 3º O disposto no caput deste artigo relativamente à expedição de precatórios não se aplica
aos pagamentos de obrigações definidas em leis como de pequeno valor que as Fazendas
referidas devam fazer em virtude de sentença judicial transitada em julgado.
[...]
§ 5º É obrigatória a inclusão, no orçamento das entidades de direito público, de verba
necessária ao pagamento de seus débitos, oriundos de sentenças transitadas em julgado,
constantes de precatórios judiciários apresentados até 1º de julho, fazendo-se o pagamento até
o final do exercício seguinte, quando terão seus valores atualizados monetariamente.

Por essa razão, a impugnação (ou embargos à execução fundada em título extrajudicial)
apresentada pela Fazenda Pública deve, forçosamente, ser recebida no efeito suspensivo, pois,
enquanto não se tornar incontroverso ou definitivo o valor cobrado, não há como expedir o
precatório ou RPV. Observe-se que toda lei orçamentária que é aprovada estabelece, em um dos
seus dispositivos, que somente incluirá dotações para o pagamento de precatórios cujos processos
contenham certidão de trânsito em julgado da decisão exequenda (ou certidão de trânsito em
julgado dos embargos à execução ou, em seu lugar, certidão de que não tenham sido opostos
embargos ou qualquer impugnação aos respectivos cálculos).

Quando a impugnação for parcial, “a parte não questionada pela executada será, desde logo,
objeto de cumprimento” (art. 535, § 4º, CPC) expedindo-se o precatório ou RPV. A parte
questionada, por sua vez, acarreta a suspensão imediata do cumprimento da sentença.

5 REJEIÇÃO LIMINAR DA IMPUGNAÇÃO


Apresentada a impugnação, o juiz poderá rejeitá-la liminarmente, quando intempestiva ou
quando verse sobre matéria não prevista no art. 535 do CPC, caso em que deve ser considerada
manifestamente protelatória.

Art. 535. A Fazenda Pública será intimada na pessoa de seu representante judicial, por carga,
remessa ou meio eletrônico, para, querendo, no prazo de 30 (trinta) dias e nos próprios autos,
impugnar a execução, podendo arguir:
I - falta ou nulidade da citação se, na fase de conhecimento, o processo correu à revelia;
II - ilegitimidade de parte;
III - inexequibilidade do título ou inexigibilidade da obrigação;
IV - excesso de execução ou cumulação indevida de execuções;
V - incompetência absoluta ou relativa do juízo da execução;
150
151

VI - qualquer causa modificativa ou extintiva da obrigação, como pagamento, novação,


compensação, transação ou prescrição, desde que supervenientes ao trânsito em julgado da
sentença.

A impugnação deve ser intempestiva quando, obviamente, não for atendido o prazo
previsto para a sua apresentação. Do mesmo modo, no art. 535 do CPC há um rol de matérias
passíveis de serem tratadas na impugnação. Logo, serão incabíveis a apresentação de outras
matérias.
Além dessas duas possibilidades, o executado quando alegar excesso de execução, que é
uma das matérias do art. 535, porém não declarar na impugnação o valor que entende correto a
ser executado também terá a impugnação rejeitada liminarmente, conforme o disposto no art.
535, § 2º do CPC.

Art. 535. A Fazenda Pública será intimada na pessoa de seu representante judicial, por
carga, remessa ou meio eletrônico, para, querendo, no prazo de 30 (trinta) dias e nos
próprios autos, impugnar a execução, podendo arguir:
[...]
§ 2º Quando se alegar que o exequente, em excesso de execução, pleiteia quantia
superior à resultante do título, cumprirá à executada declarar de imediato o valor que
entende correto, sob pena de não conhecimento da arguição.

Da decisão que rejeitar liminarmente a impugnação, cabe agravo de instrumento. A lista


taxativa de decisões agraváveis, prevista no art. 1.015 do CPC, não se aplica à fase de cumprimento
de sentença. No cumprimento de sentença, todas as decisões interlocutórias são agraváveis, nos
termos do parágrafo único do mesmo artigo.

Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que versarem sobre:
[...]
Parágrafo único. Também caberá agravo de instrumento contra decisões interlocutórias
proferidas na fase de liquidação de sentença ou de cumprimento de sentença, no processo de
execução e no processo de inventário.

6 DA RESPOSTA DO EXEQUENTE
No caso de a impugnação não ser rejeitada liminarmente, o juiz irá recebê-la. Em seguida,
deverá determinar a intimação do exequente para se manifestar. Não há previsão legal quanto ao
prazo para manifestação do exequente, já que a execução corre a seu favor.
Por essa razão deve o exequente manifestar-se no prazo assinado pelo juiz que levará em
consideração a complexidade do ato (art. 218, § 1º). Caso o juiz não se manifeste acerca do prazo
de resposta do exequente, esse será de cinco dias (art. 218, § 3º).
Mesmo que o exequente, intimado para se manifestar, não o faça, isso não implicará
qualquer presunção de veracidade quanto ao afirmado pelo executado. Isso porque a sentença

151
152

que se executa é título executivo, gozando de presunção de certeza, liquidez e exigibilidade,


estando, ademais, acobertada pela preclusão e, tratando-se de execução definitiva, pela coisa
julgada. Ao executado incumbe o ônus das provas das alegações que fizer, não se operando a
presunção de veracidade dos fatos alegados, em razão de simples inércia do exequente, ao deixar
de se pronunciar sobre a impugnação.
Quando processada e rejeitada a impugnação também caberá agravo de instrumento, já que
a sua rejeição se faz por decisão interlocutória do juiz.
Caso acolhida a impugnação para extinguir a execução, terminada essa fase do processo,
caberá apelação. Por outro lado, acolhida a impugnação para diminuir o valor da execução ou
suprimir alguma parcela cobrada, seguindo o cumprimento de sentença com um valor menor,
caberá agravo de instrumento.
Julgado o agravo de instrumento ou a apelação, caberão recurso especial e extraordinário,
desde que presentes seus requisitos específicos. De todas as decisões cabem, desde que haja
omissão, obscuridade, contradição ou erro material, embargos de declaração.

7 DO CONTEÚDO DA IMPUGNAÇÃO – ART. 535, CPC


A Fazenda Pública, no cumprimento de sentença, somente pode alegar as matérias
relacionadas no art. 535 do CPC. O rol é taxativo.

Art. 535. A Fazenda Pública será intimada na pessoa de seu representante judicial, por carga,
remessa ou meio eletrônico, para, querendo, no prazo de 30 (trinta) dias e nos próprios autos,
impugnar a execução, podendo arguir:
I - falta ou nulidade da citação se, na fase de conhecimento, o processo correu à revelia;
II - ilegitimidade de parte;
III - inexequibilidade do título ou inexigibilidade da obrigação;
IV - excesso de execução ou cumulação indevida de execuções;
V - incompetência absoluta ou relativa do juízo da execução;
VI - qualquer causa modificativa ou extintiva da obrigação, como pagamento, novação,
compensação, transação ou prescrição, desde que supervenientes ao trânsito em julgado da
sentença.

A Fazenda Pública poderá tratar apenas de vícios, de defeitos, de questões da própria


execução ou suscitar causas impeditivas, modificativas ou extintivas da obrigação, desde que
supervenientes à sentença.
Ressalvadas a falta ou nulidade de citação, se o processo correu à revelia (inciso I) e a coisa
julgada inconstitucional (art. 535, § 5º do CPC), à Fazenda Pública não se permite alegar questões
anteriores à sentença, restringindo-se a suscitar matéria que diga respeito à própria execução ou
que seja superveniente ao trânsito em julgado da sentença. E isso porque as questões anteriores
à sentença já foram alcançadas pela preclusão ou pela coisa julgada, não devendo mais ser revistas
na execução.
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153

Art. 535. A Fazenda Pública será intimada na pessoa de seu representante judicial, por carga,
remessa ou meio eletrônico, para, querendo, no prazo de 30 (trinta) dias e nos próprios autos,
impugnar a execução, podendo arguir:
[...]
§ 2º Para efeito do disposto no inciso III do caput deste artigo, considera-se também inexigível
a obrigação reconhecida em título executivo judicial fundado em lei ou ato normativo
considerado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal, ou fundado em aplicação ou
interpretação da lei ou do ato normativo tido pelo Supremo Tribunal Federal como
incompatível com a Constituição Federal , em controle de constitucionalidade concentrado ou
difuso.

Feitas essas observações, cumpre examinar as matérias que podem ser alegadas na
impugnação ao cumprimento da sentença contra a Fazenda Pública (art. 535 do CPC).

7.1 Da “falta ou nulidade da citação se, na fase de conhecimento, o processo correu à


revelia” (inciso I do art. 535 do CPC)

Proferida sentença em desfavor da Fazenda Pública, em “processo que correu à sua revelia”
quer porque não fora citada, quer porque o fora de maneira defeituosa, tal sentença está
contaminada por vícios transrecisórios, e esses defeitos são arguidos na impugnação ao
cumprimento de sentença. A impugnação veicula, nesse sentido, uma querela nullitatis, ou seja, a
Fazenda Pública postula a nulidade da sentença, a fim de que seja reiniciada a fase de
conhecimento.

Mesmo diante de vícios de tal gravidade, há possibilidade de suprimento do defeito pelo


comparecimento do réu no processo (art. 239, § 1º, CPC). Se a Fazenda Pública, regularmente
intimada para cumprir a sentença proferida em processo com tal defeito, comparecer e não o
apontar, convalidado estará o vício pela preclusão.

Art. 239. Para a validade do processo é indispensável a citação do réu ou do executado,


ressalvadas as hipóteses de indeferimento da petição inicial ou de improcedência liminar do
pedido.
§ 1º O comparecimento espontâneo do réu ou do executado supre a falta ou a nulidade da
citação, fluindo a partir desta data o prazo para apresentação de contestação ou de embargos
à execução.

Caso realmente se comprove que a citação foi inexistente ou inválida, deverá o juiz acolher
a impugnação para anular a sentença, reiniciando toda a fase de conhecimento. Isso somente
poderá ocorrer se a Fazenda Pública tiver, na fase de conhecimento, sido revel. Ou seja, mesmo
que ausente ou inválida a citação, caso a Fazenda apresente contestação, na fase conhecimento,
não deve ser acolhida a impugnação por não haver revelia.

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7.2 Da “ilegitimidade de parte” (inciso II do art. 535 do CPC)


A Fazenda Pública pode, em sua impugnação, alegar a ilegitimidade das partes na fase de
cumprimento de sentença. Não há possibilidade de discutir a legitimidade relativa à própria demanda
cognitiva, já que se trata de assunto já alcançado pela preclusão e, até mesmo, pela coisa julgada.
Embora o inciso II do art. 525 do CPC esteja normalmente relacionado à legitimidade ad
causam, também é lícito, com base nele, arguir-se a ilegitimidade processual ou, até mesmo, a ausência
de capacidade processual, como um defeito de representação processual, desde que esteja
relacionado ao cumprimento de sentença.

7.3 Da “inexequibilidade do título ou inexigibilidade da obrigação” (inciso III do art. 535


do CPC)
Haverá inexequibilidade quando a decisão não ostentar a natureza de título executivo
judicial ou quando lhe faltarem os atributos da respectiva obrigação (certeza e liquidez). A
obrigação é inexigível quando penda alguma condição ou termo que iniba a eficácia do direito
reconhecido na sentença. A obrigação consubstanciada no título executivo precisa ser certa,
líquida e exigível.
Por exemplo: o exequente pode se valer de sentença submetida a recurso com efeito
suspensivo ou de sentença rescindida. No caso de interposta apelação com efeito suspensivo, a
exigibilidade ainda não existe, não podendo ser promovido o cumprimento da sentença. No caso
de cumprimento de sentença já rescindida por ação rescisória, será inexequível o título, devendo
o executado apresentar impugnação.

7.4 Decisão fundada em lei ou ato normativo considerado inconstitucional pelo Supremo
Tribunal Federal (art. 535, § 5º do CPC)
O § 5º do art. 535 do CPC equipara à hipótese de inexigibilidade da obrigação a hipótese
conhecida na doutrina como “coisa julgada inconstitucional”.
O § 5º dispõe que “considera-se também inexigível a obrigação reconhecida em título
executivo judicial fundado em lei ou ato normativo considerado inconstitucional pelo Supremo
Tribunal Federal, ou fundado em aplicação ou interpretação da lei ou do ato normativo tido pelo
Supremo Tribunal Federal como incompatível com a Constituição Federal , em controle de
constitucionalidade concentrado ou difuso”.
Esse dispositivo prevê uma causa de inexigibilidade da obrigação, mutilando a relação
jurídica material, pois impede ou encobre o exercício da pretensão, a exemplo do que ocorre com
a prescrição. Permite-se ao executado resistir à satisfação do crédito suscitando a inexigibilidade
da obrigação.
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155

Não é toda sentença inconstitucional que pode ter seu cumprimento obstado. Segundo
Teori Albino Zavascki:
São apenas três, portanto, os vícios de inconstitucionalidade que permitem a utilização
do novo mecanismo: (a) a aplicação de lei inconstitucional; ou (b) a aplicação da lei a
situação considerada inconstitucional; ou, ainda, (c) a aplicação da lei com um sentido
(= uma interpretação) tido por inconstitucional. Há um elemento comum às três
hipóteses: o da inconstitucionalidade da norma aplicada pela sentença. O que as diferencia é, apenas,
a técnica utilizada para o reconhecimento dessa inconstitucionalidade. No primeiro caso
(aplicação de lei inconstitucional) supõe-se a declaração de inconstitucionalidade com redução
de texto. No segundo (aplicação da lei em situação tida por inconstitucional), supõe-se a técnica
da declaração de inconstitucionalidade parcial sem redução de texto. E no terceiro (aplicação
de lei com um sentido inconstitucional), supõe-se a técnica da interpretação conforme a
Constituição
A decisão do STF pode ter sido resultante do controle difuso ou concentrado da
constitucionalidade das leis, desde que, em ambos os casos, tenha sido proferida pelo Plenário. É
importante ressaltar que mesmo as decisões proferidas em controle difuso servem como
paradigma para a aplicação do mencionado dispositivo, tendo em vista a eficácia ultra partes e
paradigmática que vem sendo dada pelo STF a tais decisões, em fenômeno que já se designou de
“objetivação do controle difuso de constitucionalidade”. Para a aplicação do dispositivo é
desnecessária a resolução do Senado (art. 52, X do CF), suspendendo a vigência da lei.
A aplicação do dispositivo pressupõe, ainda: (a) que a decisão do STF tenha siso anterior à
formação do título judicial; (b) a lei – cuja inconstitucionalidade já tenha sido proclamada pelo
STF – deve ter sido essencial para a procedência do pedido.

Com efeito, a pretensão executiva somente pode ter sua eficácia encoberta se o
posicionamento do STF for anterior à sua prolação, de modo que ela tenha sido proferida com
um defeito genérico: já surgiu em desconformidade com a orientação do STF. Tanto é assim que o §
7º do art. 535 do CPC dispõe que a “decisão do Supremo Tribunal Federal referida no § 5º deve
ter sido proferida antes do trânsito em julgado da decisão exequenda”.
A regra não se aplica quando a decisão do STF tenha sido proferida posteriormente à
formação do título judicial. Proferida a decisão do STF após o trânsito em julgado, e não tendo
havido modulação de efeitos pela Corte Suprema, a hipótese será de ação rescisória, ajuizada
perante o tribunal competente, “cujo prazo será contado do trânsito em julgado da decisão
proferida pelo Supremo Tribunal Federal” (art. 535, § 8º do CPC).
A hipótese de cabimento da ação rescisória prevista no § 8º do art. 535 do CPC não se
confunde com a prevista no inciso V do art. 966 do mesmo diploma legal. Os pressupostos e a
contagem do prazo para exercício do direito à rescisão são diversos. Enquanto a rescisória do
inciso V do art. 966 tem seu prazo contado a partir do trânsito em julgado da última decisão
proferida no processo, a desse último tem seu prazo contado do trânsito em julgado da decisão
proferida pelo Supremo Tribunal Federal.

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Se o órgão jurisdicional decide contrariamente a entendimento já firmado pelo STF, será


possível ao executado, no posterior cumprimento de sentença, apresentar impugnação para
invocar a inexigibilidade do título (art. 535, § 5º do CPC). Nesse caso, a alegação tem por
finalidade obstar o cumprimento da sentença, encobrindo a pretensão executiva. A impugnação
não visa desfazer ou rescindir a decisão sob cumprimento; destina-se apenas a reconhecer sua
ineficácia, sua inexigibilidade, impedindo que se prossiga com o cumprimento da sentença. Para
desfazer ou rescindir a decisão, é preciso ajuizar a ação rescisória. Em tal hipótese, a rescisória
terá por fundamento o inciso V do art. 966, pois terá havido manifesta violação a norma jurídica:
o órgão julgador decidiu contrariando a norma construída pelo STF ao interpretar o
correspondente texto ou enunciado constitucional.
Enfim, se a desarmonia entre a decisão rescindenda e a orientação do STF for congênita,
caberá ação rescisória com fundamento no inciso V do art. 966 do CPC. A obrigação é
considerada inexigível, sendo possível, na impugnação ao cumprimento da sentença, alegar essa
inexigibilidade (art. 535, §§ 5º e 7º). Só que a impugnação se restringe a obter o reconhecimento
da inexigibilidade e a impedir o cumprimento da sentença; não desfaz ou rescinde nem permite a
repetição de valores já pagos em razão da decisão proferida pelo órgão julgador. Se se pretende
efetivamente desfazer ou rescindir a coisa julgado, aí será necessário o ajuizamento de ação
rescisória, que terá por fundamento o inciso V do art. 966 do CPC.
A distinção é importante. A impugnação apenas reconhece a inexigibilidade e impede o
cumprimento da sentença, não tendo o condão de desfazê-la nem de permitir que haja, por
exemplo, a repetição do que já foi pago voluntariamente. Se o executado pretende receber o que
pagou voluntariamente, terá de ajuizar ação rescisória para desfazer ou rescindir a decisão
exequenda e, então, repetir o valor pago.

7.5 Do “excesso de execução ou cumulação indevida de execuções” (inciso IV do art. 535


do CPC)
De acordo com o art. 780 do CPC, “o exequente pode cumular várias execuções, ainda que
fundadas em títulos diferentes, quando o executado for o mesmo e desde que para todas elas seja
competente o mesmo juízo e idêntico o procedimento”.
Ou seja, é possível a cumulação de várias execuções num mesmo processo. Para isso, é
preciso, porém, que o juízo seja absolutamente competente para processá-las, devendo todas
sujeitar-se ao mesmo procedimento. Se para cada execução corresponder um procedimento
próprio, não será possível a cumulação de execuções.
Nas situações em que não seja possível cumular as duas execuções, já que cada uma
submete-se a procedimento próprio, poderá a Fazenda Pública, se houver tal cumulação, ajuizar
156
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impugnação, a fim de que seja extinto o cumprimento de sentença. É possível, contudo, deixar
de acolher a impugnação para impor a extinção completa da execução, determinando-se, ao
contrário, o prosseguimento de apenas uma delas, em razão de a escolha a ser feita pelo exequente.
Em sua impugnação, pode o executado alegar excesso de execução, que ocorre, de acordo
com o § 2 º do art. 917 do CPC:

Art. 917. Nos embargos à execução, o executado poderá alegar:


[...]
§ 2º Há excesso de execução quando:
I - o exequente pleiteia quantia superior à do título;
II - ela recai sobre coisa diversa daquela declarada no título;
III - ela se processa de modo diferente do que foi determinado no título;
IV - o exequente, sem cumprir a prestação que lhe corresponde, exige o adimplemento da
prestação do executado;
V - o exequente não prova que a condição se realizou .

Se, em sua impugnação, a Fazenda Pública alegar excesso de execução, deverá demonstrar
em que consiste o excesso. Caso contrário, sua impugnação será rejeitada liminarmente (art. 535,
§ 2º do CPC). Havendo outras alegações além da de excesso de execução, essa última não será
apreciada se não houver a demonstração do valor que seria correto, prosseguindo-se o exame da
impugnação nos demais pontos.
É preciso, porém, fazer uma advertência: a regra tem aplicação nos casos em que o valor
da execução foi liquidado em fase própria ou, unilateralmente, pelo exequente, se isso for possível
por simples cálculos aritméticos.
Um exemplo demonstra a importância dessa ponderação. Imagine uma sentença que, em
uma demanda indenizatória, condenou a Fazenda Pública a ressarcir os lucros cessantes de uma
empresa de transporte de passageiros, pelo fato de ela não ter podido utilizar um de seus ônibus
durante determinado período. Na fase de liquidação, seria preciso provar a média de viagens feitas
pelo ônibus em mês, bem como a média da ocupação, tendo em vista determinada rota, a
lucratividade do negócio e ainda o percentual de beneficiários que têm direito a transporte gratuito
(como idosos) etc. Imagine que o credor, unilateralmente, entendendo tratar-se de situação que
permite “liquidação unilateral”, calcule o valor da obrigação e promova a execução. A Fazenda
Pública poderá discutir o “excesso de execução”, mas não terá como apresentar de pronto o valor
que entende devido, exatamente porque o cálculo desse montante não prescinde da produção de
provas em audiência e, pois, em contraditório. Nesses casos, há falta de liquidez da obrigação,
pois o título dependeria de uma liquidação pelo procedimento comum, e não por simples cálculo
do credor.
Na verdade, não incide, em casos como esse, a exigência de o executado demonstrar o valor
devido ou em que consistiria o excesso. É que, rigorosamente, tais casos não constituem hipóteses

157
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de excesso de execução, revelando-se como situações de iliquidez da obrigação. À Fazenda


Pública caberá, isto sim, apontar a iliquidez da obrigação, indicando a necessidade de uma
liquidação pelo procedimento comum ou por arbitramento.
Fora dessas hipóteses, verdadeiros casos de iliquidez, a Fazenda Pública, quando impugnar
alegando excesso de execução, deve demonstrar em que consiste o excesso, indicando o valor
que entende devido. A impugnação será parcial, podendo a execução prosseguir na parte
incontroversa, já com a expedição do precatório ou da RPV. Quanto à parte impugnada ou
controvertida, a execução ficará suspensa.

7.6 Da “incompetência absoluta ou relativa do juízo da execução” (inciso V do art. 535


do CPC)
O cumprimento da sentença deve ser instaurado e processado perante o juízo que decidiu
a causa em primeiro grau de jurisdição, ou, se a causa é de competência originária de tribunal,
deve a execução ser proposta no tribunal que proferiu o acórdão exequendo.

Art. 516. O cumprimento da sentença efetuar-se-á perante:


I - os tribunais, nas causas de sua competência originária;
II - o juízo que decidiu a causa no primeiro grau de jurisdição;
[...]

Na impugnação, a Fazenda Pública pode alegar a incompetência do juízo da execução, não


lhe sendo possível suscitar a incompetência do juízo quando à fase de conhecimento, por se tratar
de questão alcançada pela coisa julgada, a não ser que se trate de execução provisória (recurso).
Nesse último caso, poderá a incompetência ser alegada perante o tribunal, e não mais junto ao
órgão a quo.
Ainda que a sentença tenha sido proferida por juízo absolutamente incompetente, não se
permite mais que tal incompetência possa ser discutida após o trânsito em julgado, salvo no
âmbito da ação rescisória (art. 966, II do CPC), mas não no cumprimento da sentença ou
impugnação apresentada pelo executado.
Nos termos do art. 535, V do CPC, a incompetência do juízo da execução constitui matéria a
ser alegada na impugnação. De igual modo, a incompetência do foro é matéria de impugnação.
Enfim, tanto a incompetência absoluta como a relativa devem ser apresentadas em impugnação.
Não há diferença quanto à forma de suscitação. Logo, deve qualquer incompetência, relativa ou
absoluta, ser alegada na própria impugnação.
Cabe ressaltar que, por outro, a alegação de impedimento ou suspeição deve ser feita nos
termos dos art. 146 e 148 do CPC, em petição específica dirigida ao juiz do processo, fora do
âmbito da impugnação.
158
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17.7 De “qualquer causa modificativa ou extintiva da obrigação, como pagamento,


novação, compensação, transação ou prescrição, desde que supervenientes ao trânsito
em julgado da sentença” (inciso VI do art. 535 do CPC)
A Fazenda Pública, em sua impugnação, pode alegar qualquer fato impeditivo, modificativo
ou extintivo da obrigação, seja uma exceção substancial, seja uma objeção substancial. O elenco
de matérias constantes no inciso (pagamento, novação, compensação ou prescrição) é meramente
exemplificativo, de sorte que qualquer fato superveniente que impeça, modifique ou extinga a
obrigação pode ser alegado pela Fazenda Pública em sua impugnação.
É preciso, com efeito, que se trate de fato superveniente ao trânsito em julgado da decisão
exequenda. Se o fato foi superveniente à sentença, mas anterior ao trânsito em julgado, não
poderá ser alegado na impugnação, não estando contido na hipótese do inciso VI do art. 535 do
CPC.
A prescrição, para esse inciso, deverá atingir a pretensão executiva, e não a pretensão deduzida
na demanda de conhecimento.
É possível que a Fazenda Pública alegue uma compensação superveniente. Segundo anotado
em precedente do STJ : “É admissível a discussão quanto à compensação de valores restituídos
em ajuste anual de imposto de renda com o valor objeto de execução contra a Fazenda Pública
fundada em título judicial”34. Para alegar a compensação, à Fazenda Pública basta cumprir o que
dispões o art. 369 do Código Civil: “A compensação efetua-se entre dívidas líquidas, vencidas e
de coisas fungíveis”.
A transação pode ser celebrada após a sentença e, até mesmo, após o trânsito em julgado.
Celebrada transação após a sentença, não deve ser proposto cumprimento da sentença, sob pena
de ser ajuizada e acolhida a impugnação (art. 535, VI do CPC).
Se a transação for celebrada quando já proferida a sentença e ainda pendente apelação
perante o tribunal, o procedimento recursal deverá ser extinto em razão da homologação do
negócio jurídico pelo tribunal.
Se a transação se der após o trânsito em julgado, quanto os autos já retornaram ao juízo de
primeira instância para o cumprimento de sentença, será deste a competência para homologar a
transação no próprio procedimento executivo. Uma vez homologada a transação, é a decisão que
a homologou que passa a ser o título executivo, conforme art. 515, inciso II do CPC (Título sobre
o cumprimento da sentença).

34STJ, 2ª Turma, EDcl do REsp 910.692/DF, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 09.09.2008, DJe
12.11.2008.
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Art. 515. São títulos executivos judiciais, cujo cumprimento dar-se-á de acordo com os
artigos previstos neste Título:
[...]
II - a decisão homologatória de autocomposição judicial;

Pode ocorrer, porém, a transação sem a respectiva homologação judicial. Nesse caso, se
executada a sentença, em sua versão original, a Fazenda Pública poderá ajuizar impugnação,
reportando-se à transação e apresentando o seu respectivo instrumento.

8 REFERÊNCIAS
CUNHA, Leonardo Carneiro da. A Fazenda Pública em Juízo. Rio de Janeiro: FORENSE,
2018, p.338-352.

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EXECUÇÃO FISCAL

EXECUÇÃO FISCAL

ALMANAQUE DA ADVOCACIA PÚBLICA por Davi


Carpegiane de Sousa

Em quarentena em Açailândia/MA, 23 de abril de 2020


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1 NOÇÕES INTRODUTÓRIAS
A primeira abordagem que se deve fazer para entender o assunto é saber seus pressupostos
objetivos e subjetivos. Dito isto, facilita o estudo do instituto jurídico que é vital para a econômica
dos entes estatais.
No que concerne ao sujeito deve-se obrigatoriamente ter um ente público no polo ativo da
demanda e, objetivamente ter como título uma certidão de dívida ativa. Aprofundando merece
destaque as aulas introdutórias de direito tributário para conhecemos a estrutura anafórica de uma
certidão de dívida ativa.
Analise a linha do tempo para recorda-se como se constitui uma dívida ativa a ensejar a
execução fiscal:

Hipótese certidão de
de obrigação dívida
incidência tributária ativa

fato crédito Excução


gerador tributário fiscal
obrigação

Resumido o sujeito ativo sempre será o ente público. Por conseguinte, o objeto da ação é uma
certidão de dívida ativa, que de desenvolve na linha do tempo conforme acima se observa.
Lado outro, precisa-se entender o que seja execução no sentido jurídico do termo. Na lição de
Nelson Nery, preceitua que Execução fiscal é o procedimento que a Administração Tributária
brasileira utiliza para a cobrança judicial dos créditos públicos inscritos em dívida ativa. A inscrição em
dívida ativa é um controle prévio de legalidade da dívida, que torna o débito apto à cobrança.
A norma regulamentar da execução fiscal é a Lei nº 6.830/80. Nela se encontra as
especificações gerais, mas o CPC/2015 é usado subsidiariamente, caso ocorra lacuna.
Por fim, cabe mencionar que não é qualquer débito pertencente ao Estado que é passível de
cobrança via execução fiscal. Neste contexto, é imprescindível distinguir a dívida ativa tributária e não
tributária, nos moldes do art. 39, § 2º da Lei nº 4320/64, in verbis:

§ 2º - Dívida Ativa Tributária é o crédito da Fazenda Pública dessa natureza, proveniente de


obrigação legal relativa a tributos e respectivos adicionais e multas, e Dívida Ativa não Tributária
são os demais créditos da Fazenda Pública, tais como os provenientes de empréstimos compulsórios,
contribuições estabelecidas em lei, multa de qualquer origem ou natureza, exceto as tributárias, foros,
laudêmios, alugueis ou taxas de ocupação, custas processuais, preços de serviços prestados por
estabelecimentos públicos, indenizações, reposições, restituições, alcances dos responsáveis
definitivamente julgados, bem assim os créditos decorrentes de obrigações em moeda estrangeira, de
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subrogação de hipoteca, fiança, aval ou outra garantia, de contratos em geral ou de outras obrigações
legais.

Portanto, os débitos descritos acima constituídos e não adimplidos pelo devedor, pessoa física
ou jurídica, são passíveis de execução fiscal.

2 PROCEDIMENTO
Como já informado a ritualística da execução fiscal no Brasil é seguida no comando normativo
da Lei Federal nº 6830/80. Nela abrange os entes nas três esferas federativas e suas correspondentes
autarquias.
A lei destrinchar todas as nuances do procedimento. Especifica por exemplo a composição da
certidão de dívida ativa, petição inicial, ordem de penhora, recursos e extinção do feito. Feitas essas
considerações cabe minuciosamente abordamos os itens principais para conhecemos a lei do processo
executório fiscal.

2.1. Termo de inscrição e certidão de dívida ativa

A descrição resumida das exigências a que a lei atribui para validade do título esta disposto no
seu art. 2º, § 5 da referida norma. Os requisitos objetivos devem constar sob pena de ser declarada
nula e macular o processo de execução.
Sob esse prisma forçoso conhecemos para fins didáticos, pois sempre vem sendo alvo de
cobrança em provas, notadamente, objetivas. Vejamos a redação do parágrafo citado, ad literram:

5º O Termo de Inscrição de Dívida Ativa deverá conter:


I O nome do devedor, dos co-responsáveis e, sempre que conhecido, o domicílio ou
residência de um e de outros;
II O valor originário da dívida, bem como o termo inicial e a forma de calcular os juros de
mora e demais encargos previstos em lei ou contrato;
III A origem, a natureza e o fundamento legal ou contratual da dívida;
IV A indicação, se for o caso, de estar a dívida sujeita à atualização monetária, bem como o
respectivo fundamento legal e o termo inicial para o cálculo;
V A data e o número da inscrição, no Registro de Dívida Ativa; e
VI O número do processo administrativo ou do auto de infração, se neles estiver apurado o
valor da dívida.

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Os requisitos apresentados são preponderantes para atestar validade da inscrição e a partir de


então veracidade ao crédito. Lembrando que essas informações poderão até a sentença de primeira
instância ser alteradas. De modo que o prazo de impugnação será restabelecido.
Observada as formalidades, a certidão goza de presunção de legitimidade e liquidez. Todavia,
está não é absoluta podendo ser ilidida por prova verossímil do pagamento ou da ilegalidade do débito,
sendo possível manejar a figura da exceção de pré-executividade, que veremos adiante, ou as defesas
heterotópicas, conforme ensina Leonardo Carneiro da Cunha.

2.2. Sujeito passivo


Nota-se pelo inciso I do artigo acima citado o sujeito alvo da execução poderá ser o devedor
ou co-responsável. A lei foi bastante ampla a fim de perquirir o recebimento de seus créditos.
Neste enfoque a execução fiscal conforme dispõe o texto legal abrangente, insere a demanda
contra devedor, fiador, o espólio, a massa, o responsável e sucessores a qualquer título.
Outra oportunidade que se volta aos estudos do direito tributário para compreendemos com
a exatidão a figura do devedor e responsável. A teor do que dispõe o art. 121, CTN, que diz ser sujeito
passivo da obrigação principal o devedor e o responsável.
Com este mesmo raciocínio quis o legislador concatenar os institutos. De modo que na
execução fiscal o sujeito passivo objeto da cobrança é qualquer pessoa (natural ou jurídica) ou ficção
jurídica (espólio, massa) que poderá responder pelo debito.
Com isto, passemos aos requisitos objetivos da execução.

2.3. Petição inicial


Conforme dispõe o texto legal a PI deve seguir formalidades básicas a preencher os
pressupostos necessários de validade. A inicial descrita na lei estabelece que deva constar: a) Juiz a
quem é dirigida; b) o pedido; c) requerimento para citação.
Merece um analise especial primeiro item que dispõe necessariamente do contexto da
competência. O Juízo poderá este ser a justiça comum federal, estadual e as especializadas eleitoral e
trabalhista. O que define notadamente é qual a pessoa jurídica que emitiu a certidão de dívida ativa.
Atrelado a isto, não se pode olvidar que a competência da execução não se sujeita a concursos
de credores. Assim como, não é direcionada para a vara de falência em caso de recuperação ou
liquidação judicial de empresa.
Conquanto, merece ensejo lembramos que sua aprovação é de 1980, quando vigente o
revogado CPC/73. Convém memorar que no atual CPC/2015, introduziram-se novíssimas regras a
qual a inicial embora regulada pela lei de execução fiscal deve se guiar.

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A primeira, indispensável, é o valor da causa não se pode olvidar que tenhamos uma inicial que
não tenha esta formalidade. Além disso, é preponderante a juntada da certidão de dívida ativa, que
sem esta não se dará prosseguimento ao feito, sendo motivo de emenda da inicial.
É da praxe forense que se junte ainda cópia do processo administrativo que constituiu o crédito
fiscal. Contudo, merece destaque que não é exigência legal, por isso, qualquer indagação nesse sentido
é equivocado.
É salutar dispor o que preceitua o art. 6, § 2º da lei. Nesse dispositivo faculta a Fazenda para
otimizar o tempo comprimir no mesmo documento a inicial e a certidão de inscrição em dívida ativa.
Ainda nesse aspecto vale ressaltar que não exige pedido de produção de provas. Segundo
consta este seria presumido e caso necessite independe de requerimento apresentado na exordial.

2. 4 Citação e prazo para pagamento


Como expresso no CPC/2015, o ato de citação são a convocação do réu, executado ou o
interessado para integrar a relação processual. O conceito aqui também se aplica, todavia, as
peculiaridades de prazos e formalidades.
Nesse ponto, após entender o que serve a execução fiscal facilita entender que o executado
será citado para pagar dívida. A citação é realizada por ordem judicial, nesse despacho o juiz atesta a
regularidade da inscrição da dívida e dá tramitação ao feito.
Vale ressaltar que desse despacho os efeitos são bastante relevantes, uma vez que preceitua o
art. 8º, § 2º, desde sua realização a prescrição é interrompida, mesmo que advindo de juízo
incompetente.
Por oportuno, o débito que deverá ser realizado no prazo de 5 dias, aqui se aplica a contagem
de prazo em dias úteis, conforme entendimento no II ENCONTRO DO FONEF (FORUM
NACIONAL DE EXECUÇÃO FISCAL).
O débito é acrescido de juros, multa de mora e encargos indicados na certidão de dívida ativa.
E subsidiariamente redação do art. 827 do CPC/2015, já incluído os honorários advocatícios.
Dito isto, devemos nos ater as formalidades que determina a lei, posto que sua inobservância
poderá vir a ensejar nulidade do feito. Nesse contexto, a literalidade da lei é compreensível do ponto
de vista didático, vejamos:

Art. 8 ...
I. A citação será feita pelo correio, com aviso de recepção, se a fazenda Pública
não a requerer por outra forma;

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II. A citação pelo correio considera-se feita na data da entrega da carta no endereço do
executado, ou, se a data for omitida, no aviso de recepção, 10 (dez) dias após a entrega
da carta à agência postal;
III. Se o aviso de recepção não retornar no prazo de 15 (quinze) dias da entrega da carta à
agência postal, a citação será feita por Oficial de Justiça ou por edital;

IV. O edital de citação será afixado na sede do Juízo, publicado uma só vez no órgão oficial,
gratuitamente, como expediente judiciário, com o prazo de 30 (trinta) dias, e conterá,
apenas, a indicação da exeqüente, o nome do devedor e dos co-responsáveis, a quantia
devida, a natureza da dívida, a data e o número da inscrição no Registro da Dívida
Ativa, o prazo e o endereço da sede do Juízo.

Resumisse o quadro acima que á citação em regra é feita pelos correios com aviso de
recebimento (AR). Não havendo o retorno do recebimento no prazo legal se fará por oficial de
justiça.
Esclarece que a citação por hora certa é aplicada quando da intenção do executado se furtar
o recebimento da notificação judicial.
Por fim, por edital fixado na sede do Juízo com prazo de 30 (trinta) dias. Vale ressaltar que
sendo o executado ausente no país este prazo será de 60 (sessenta dias).
Conquanto, a primeira situação mencionada é na hipótese de ocorrer o adimplemento. No
entanto, rara é isso acontecer no mais das vezes o executado se contrapõe ao pedido insurgindo para
discutir o processo de execução.

2. 5 Penhora e arresto
A cadeia de atos processuais segue sua formalidade caso não se observe o prazo de pagamento
como explicitado acima. No mesmo despacho de citação o juiz já especifica que não ocorrendo o
pagamento deverá ser realizado penhora ou arresto de bens do devedor para garantir a dívida.
A penhora é realizada quando o devedor tem endereço certo, mas não apresenta garantia a
execução. Já no tocante ao arresto é evidenciado como o devedor não possui domicilio ou dele se
ocultar.
Nesse contexto, se resguarda o recebimento de crédito em vista da conduta incoerente do
devedor. Nota-se pelo texto legal a busca por soluções menos gravosas a fim de que possa dá a
oportunidade de defende-se, mas que compreendendo a contextualização a tendência é que se faça
ajustes para forçar o adimplemento.

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Nesse prisma, não possamos deixar de mencionar a tão famosa lista de preferências do art. 11
da lei. Nela está enumerada a sequência de bens que poderá recair a penhora ou arresto:

Art. 11 A penhora ou arresto de bens obedecerá à seguinte ordem:


I Dinheiro;
II Título da dívida pública, bem como título de crédito, que tenham cotação em
bolsa;
III Pedras e metais preciosos;
IV Imóveis;
V Navios e aeronaves;
VI Veículos;
VII Móveis ou semoventes; e
VIII Direitos e ações.

Nesse aspecto é importante saber que essa ordem prevalece pela especificidade sobre a disposta
no art. 835, CPC/2015. De igual modo, é coerente relatar que nos termos da súmula 417/STJ, a ordem
não é absoluta.
Convém esclarecer que atualmente os sistemas de bloqueios eletrônicos são comumente
utilizados e a figura do oficial de justiça penhorando ou arrestando bens do devedor foi ultrapassado.
O STJ, inclusive, possui decisão em repetitiva no sentido da impossibilidade da penhora antes
da citação. Ao julgar o REsp 1.377.507, a 1ª Seção definiu que o Fisco deve comprovar que tentou
localizar bens do devedor em todos os meios disponíveis para que o juiz determine o bloqueio do
patrimônio da empresa ou dos sócios apontados como responsáveis pelas dívidas fiscais.
Ainda segundo os ministros, cumprir todas as diligências inclui acionar o Bacen Jud, os
cartórios e os departamentos de trânsito para localização dos bens. Antes desses procedimentos, o
contribuinte deve ser comunicado (citado) sobre a execução e não ter pago o débito ou indicado bens
à penhora, como exige a legislação.
Embora do ponto de vista legal deveria ser apenas após a citação, todavia, como já informado
o entendimento da corte é resguardar o numerário nas contas para converter em depósito a garantir o
pagamento.
Mormente que realizada a constrição dos bens o devedor é intimado para querendo apresentar
sua defesa por meio de embargos. Cabe ressaltar que poderá ocorrer substituição da penhora, a
qualquer tempo, por depósito em dinheiro, fiança bancária ou seguro garantia.

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É de se ressaltar que se não houver oposição no tocante a constrição o bem será levado hasta
pública se imóvel ou adjudicado. A extensão de atos para a efeito depende do rito especial para
alienação dos bens.
Neste contexto, destaque que o procedimento será realizado por leilão púbico. O ato será
sempre precedido de divulgação em órgãos de publicidade para atestar que a parte teve a possibilidade
de remir o bem.
O edital de publicação será estabelecido prazo nunca inferior a 10 ou superior de 30. A qual
oferta oportunidade da parte interessada rever o bem de volta pagando o débito.
Importa mencionar que a Fazenda Pública pode adjudicar os bens penhorados. Antes do leilão,
se não apresentado embargos ou se este for rejeitados e, findo, caso não haja licitante, pelo preço da
avaliação ou havendo, preferencialmente, em igualdade de condição de melhor oferta, no prazo de 30
dias.

3 EMBARGOS À EXECUÇÃO
O modo do executado se contrapor as alegações da execução em regra é realizado pelos
embargos à execução. No diploma legal que rege a matéria está disposto no art. 16, o que nos
interessa nesse contexto é o inicio da contagem de prazo, uma vez que só será oposto em geral se
houver garantia do juízo.
Diante disso, a contagem ser iniciada a partir do depósito, da fiança bancária ou do seguro
garantia e ainda da intimação da penhora. Porem, cabe mencionar que o STJ já tem entendimento que
a parte comprovando não ter condições de assegurar a garantia do juízo excepcionalmente em analise
casuisticamente pode o magistrado dispensá-lo.
Feita estas considerações é vital que tercemos comentários qual o conteúdo da impugnação.
Nesse particular a lei não trouxe sua abordagem, com isto, coube ao CPC/2015 em seu artigo 917 e
incisos delinear as matérias possíveis de arguição.

Art. 917. Nos embargos à execução, o executado poderá alegar:


I. Inexequibilidade do título ou inexigibilidade da obrigação;

II. Penhora incorreta ou avaliação errônea;

III. Excesso de execução ou cumulação indevida de execuções;

IV. Retenção por benfeitorias necessárias ou úteis, nos casos de execução para entrega de
coisa certa;

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V. Incompetência absoluta ou relativa do juízo da execução;

VI. Qualquer matéria que lhe seria lícito deduzir como defesa em processo de
conhecimento.

O processo distribuído por dependência para sobrepor a execução. Este não tem efeito
suspensivo automático, uma vez que a parte deverá demonstrar a plausividade do seu direito para
obtenção dos seus efeitos até a decisão final.
A parte exequente será citada para no prazo de 30 (trinta dias) manifestar-se do seu teor. Logo
após se houver necessidade será designada audiência, todavia, sendo questão meramente de direito o
juiz já se pronunciará sobre mérito do pedido.
É interessante constar que as incidências de improcedência liminar e julgamento antecipado de
mérito são cabíveis nos embargos. De igual modo, observação importante a ser feita que sendo este
meramente protelatório o juiz deverá impor multa de 20% do valor da causa em favor do exequente.
A sua interposição poderá ser por carta, protocolado fora da jurisdição da execução. Sendo
esta com objeto alegação a despeito de nulidade ou irregularidade própria do juízo deprecado este
resolverá de pronto. Caso contrário voltará para o juízo de origem.
Por fim, é interessante mencionar que se acaso for julgado procedente a favor do executado, a
sentença deverá obrigatoriamente ser remetida ao Tribunal para confirmação pela remessa necessária
se o valor estiver compreendido no disposto do art. 496, § 3º, CPC/2015.

4 PEDIDO DE PARCELAMENTO
O executado não se opondo a penhora e não apresentando embargos poderá se utilizar do
parcelamento legal constante do art. 916, CPC. Reconhecendo o débito, depositando 30% (trinta por
cento) da dívida, acrescido de custas e honorários advocatícios, poderá ser deferido o restante em 6
(seis) parcelas, acrescidas de correção monetária e juros de 1 (um) por cento ao mês.
A parte será intimada a se manifestar, concluso o juiz terá 5 (cinco) dias para decidir. Mesmo
que não apreciado no prazo legal a parte é obrigada a consignar as parcelas vincendas facultando a
exequente levantá-la.
A inobservância desse rito dará continuidade a execução sem prazo de oposição de embargos.

5 EXCEÇÃO DE PRE-EXECUTIVDADE
Conforme exposto a certidão de dívida ativa goza de presunção de certeza e liquidez. Contudo,
essa prerrogativa poderá ser ilidida por prova inequívoca.
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Diante disto, o STJ sumulou o entendimento para autorizar o manejo da medida excepcional
sem a necessidade de propositura de embargos. Confira o teor da Sumula 319, STJ, in verbis: “A exceção
de pré-executividade é admissível na execução fiscal relativamente às matérias conhecíveis de ofício que não demandem
dilação probatória”
A doutrina entende que essas matérias são as que o magistrado a qualquer tempo possa analisar
sem a necessidade de requerimento. Dentre elas estão (nulidade da execução, ilegitimidade de parte,
falta de título, incompetência absoluta etc.).
A exceção não comporta formalidade especifica tendo sido admitida por simples petição.
Devendo, no entanto, abrir prazo para contraditório sob pena de nulidade.

6 PRESCRIÇÃO
A pretensão do recebimento de crédito se depara em prazos para sua extinção para constituí-
lo e quanto sua satisfação via demanda judicial. Esta ultima é a prescrição ela está estabelecida tanto
no CTN de modo que a Fazenda dispõe de prazo de cinco anos para propor ação de cobrança.
E consequentemente também na lei ora em analise, por sua vez internamente no processo.
Neste diapasão ela enseja a partir da paralisação processual por inércia do exequente.
O texto disposto no art. 40 e seus parágrafos especifica a possibilidade da prescrição
intercorrente na execução fiscal. Conquanto, ainda havia bastante dúvida acerca do tema, razão pela
qual o STJ editou a súmula 314 estabelecendo que “em execução fiscal, não localizados bens
penhoráveis, suspende-se o processo por um ano, findo o qual se inicia o prazo da prescrição
intercorrente”.
Fato que restou controvertido as peculiaridades qual seria o momento e a necessidade de
intimação da Fazenda para da inicio aos prazos. Diante disto, novamente o STJ agora no ano de 2018,
no julgamento do RESp 1.340.553 estabeleceu de forma minuciosa o instituto do referido artigo citado
explicitando a aplicabilidade no contexto prático, análise didaticamente:
1) O prazo de 1 (um) ano de suspensão do processo e do respectivo prazo prescricional
previsto no art. 40, §§ 1º e 2º da lei 6.830/80 – LEF, tem início automaticamente na data da ciência da
Fazenda Pública a respeito da não localização do devedor ou da inexistência de bens penhoráveis no
endereço fornecido, havendo, sem prejuízo dessa contagem automática, o dever de o magistrado
declarar ter ocorrido a suspensão da execução (tema 566).
Desta forma, com não localização do devedor ou não encontrados bens penhoráveis, haverá a
suspensão do processo por 1 (um) ano iniciando automaticamente na data da ciência da Fazenda
Pública. O despacho do magistrado, determinando a suspensão, deixa de ser condição indispensável
para início do lapso temporal.

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2) Juntando ou não petição da Fazenda Pública e apresentando ou não pronunciamento judicial


nesse sentido, findo o prazo de 1 (um) ano de suspensão inicia-se automaticamente o prazo
prescricional aplicável (tema 567).

Neste contexto, conclui-se ser prescindível o despacho do juízo informando o início do prazo
prescricional, ou qualquer peticionamento da Fazenda Pública quanto a ciência do fim do prazo de
suspensão. O contribuinte passou a ter o tempo como seu aliado, não dependendo de nenhuma
manifestação dos autos para que a prescrição intercorrente ocorra.
3) com isto somente a efetiva constrição de bens e a citação válida (embora por edital) são
capazes de interromper o curso da prescrição intercorrente, uma vez que não basta o mero
peticionamento, pedindo a realização de penhora (tema 568).
Com isto, a interpretação atual se perfaz o prazo de 6 (seis) anos – 1 ano da suspensão e mais
5 anos da prescrição da ciência do ente público que o devedor não foi localizado, sem que venha
ocorrer a citação mesmo que por edital, resultará na prescrição intercorrente da execução.
Diante do lapso temporal, o juízo fundamentadamente deverá indicando o termo inicial o
prazo de suspensão de um ano e os 5 anos de prescrição declarar a extinção da execução.

Extinção
inicio da fundame
execução inicio do prazo de ntada
suspensão- 01 ano

ciência da inicio
inexistência de automático do
bens e não prazo
localização do prescricional -
devedor 05 anos

Notadamente, com estas decisões do STJ restou definido o termo inicial e a desnecessidade de
intimação para inicio da contagem de prazos. Garantindo com isso a extinção da execução pelo lapso
temporal e não eternizando as execuções fiscais que não tem possibilidade de adimplemento.

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7 RECURSOS
A execução fiscal como se vê é consubstanciada em fases. Dentre elas aqui mencionamos a
citação, penhora, arresto, alienação e as defesas. No decorrer de seu procedimento é possível que o
juízo proferira decisões que possam combatida pelas partes.
Nesse contexto, merece destaque o parágrafo único do art. 1015 do CPC/2015, que regula as
hipóteses de interposição do Agravo de Instrumento. A redação do texto afirma que das decisões
interlocutórias cabe o recurso de agravo nas execuções.
Lado outro, da sentença que julgar os embargos também é passível de interposição por
apelação. Se os rejeitar esta será recebida apenas no efeito devolutivo, com isto, para obter a suspensão
deverá fundamentar seu pedido nos termos do art. 1002, § 3º, CPC.
Uma peculiaridade disposta na lei é a disposta no art. 34, que refere se aos embargos
infringentes. Nele aduz que das sentenças de primeira instância proferidas em execuções fiscais de
valor igual ou inferior a 50 (cinquenta) ORTN só se admitirão embargos infringentes e de declaração.
Os embargos infringentes, instruídos ou não com documentos novos, serão interpostos, no prazo de
10 (dez) dias, perante o mesmo juízo, em petição fundamentada. Ouvido o embargado no prazo de 10
(dez) dias, o juiz decidirá em seguida os embargos infringentes de alçada.

8 JURISPRUDÊNCIA
Ao longo dos anos a jurisprudência tem dado algumas orientações acerca da interpretação da
lei 6830/80. Neste enfoque por se tratar quase sempre de decisões infraconstitucional tem o STJ dado
a ultima palavra.
O trabalho não tem o condão de esgotar o assunto vista a sua abrangência e peculiaridades.
Nos itens anteriores já inserimos alguns entendimentos dentre os quais podemos citar a possibilidade
de ausência de segurança do juízo para a propositura de embargos e a interpretação do art. 40, que
dispõe sobre a prescrição intercorrente.
Outra que também é imprescindível é a também citada súmula 319/STJ, que autoriza a
apresentação de pré-executividade. Esta que garante o julgamento sem apresentar embargos.
E nesse particular quero trazer os entendimentos do Fórum nacional de Execução Fiscal,
que consolida esses entendimentos aclarando eficazmente a aplicabilidade da lei.

I ao III FONEF – Fórum Nacional de Execução Fiscal

ENUNCIADO Nº1

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A presunção de liquidez e certeza conferida à certidão de dívida ativa pelo art. 3º da LEF e pelo art.
204, caput, do CTN ilide a aplicação do art. 373, §1º, do novo CPC aos devedores que constam do
título executivo (Aprovado no I FONEF).

ENUNCIADO Nº 2
O art. 828 do novo CPC aplica-se às execuções fiscais, sem prejuízo de outras garantias do crédito
fazendário (Aprovado no I FONEF).

ENUNCIADO Nº 3
É possível a citação por hora certa nos processos de execução fiscal, com base no art. 830, §2º, do
novo CPC (Aprovado no I FONEF).

ENUNCIADO Nº 4
A ordem de preferência de bens penhoráveis, prevista no artigo 11 da LEF, prevalece sobre a do art.
835, caput, do novo CPC (Aprovado no I FONEF).

ENUNCIADO Nº 5
A execução fiscal ajuizada na Justiça Federal, em momento anterior à vigência da Lei 13.043/2014,
nela permanece, ainda que o domicílio do devedor não seja sede de Vara Federal, uma vez que o art.
75 da Lei 13.043/2014 restringe-se às execuções ajuizadas na Justiça estadual (Aprovado no I
FONEF).

ENUNCIADO Nº 6
É possível o redirecionamento da execução fiscal ao sócio-gerente e ou administrador na hipótese de
dissolução irregular, nos créditos tributários e não tributários (Aprovado no I FONEF).

ENUNCIADO Nº 7
Nos termos da Súmula 435 do STJ, “Presume-se dissolvida irregularmente a empresa que deixar de
funcionar no seu domicílio fiscal, sem a comunicação aos órgãos competentes, legitimando o
redirecionamento da execução fiscal ao sócio-gerente” (Aprovado no I FONEF).

ENUNCIADO Nº 8

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Compete ao exequente, no momento do pedido de redirecionamento, demonstrar que o sócio-gerente


ou administrador compunha o quadro societário, nessa condição, ao tempo da dissolução irregular
(Aprovado no I FONEF).

ENUNCIADO Nº 9
O termo inicial do prazo para o exequente requerer o redirecionamento conta-se da sua ciência da
dissolução irregular comprovada nos autos (Aprovado no I FONEF).

ENUNCIADO Nº 10
É possível o redirecionamento ao sócio-administrador ou gerente à época do fato gerador, desde que
o exequente comprove uma das hipóteses do art. 135 do CTN (Aprovado no I FONEF).

ENUNCIADO Nº 11
É possível a constrição patrimonial, mediante uso dos sistemas à disposição da Justiça Federal, antes
da efetiva citação do executado (Aprovado no I FONEF).

ENUNCIADO Nº 12
Nos termos do art. 11 da LEF, a constrição de ativos financeiros pelo sistema Bacenjud independe de
requerimento da parte exequente (Aprovado no I FONEF).

ENUNCIADO Nº 13
A menção à penhora contida no art. 11, I, da Lei 11.941/2009 deve ser interpretada de forma a
abranger qualquer constrição patrimonial judicial (Aprovado no I FONEF).

ENUNCIADO Nº 14
A renovação do pedido de BACENJUD deve vir acompanhada de prova mínima da atividade
financeira da parte executada. (Aprovado no I FONEF, com nova redação dada no III FONEF).
Redação anterior: A renovação do pedido de Bacenjud deve vir acompanhada de prova mínima da
atividade financeira da empresa (Aprovado no I FONEF).

ENUNCIADO Nº 15
Para grandes devedores, é cabível a quebra de sigilo bancário quando o resultado do Bacenjud se
afigure negativo, com efetiva prova de atividade da empresa (Aprovado no I FONEF).

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ENUNCIADO Nº 16
Cabe ao Juízo Federal deprecar a efetivação da penhora de faturamento quando a matriz ou filiais da
empresa executada funcionarem em local diverso da sede do juízo (Aprovado no I FONEF).

ENUNCIADO Nº 17
Com a criação do parcelamento especial da recuperação judicial, previsto na Lei 13.043/2014, o
deferimento da recuperação judicial não tem mais o efeito de suspender a execução fiscal enquanto
não realizado o parcelamento, dependendo a suspensão do adimplemento das parcelas (Aprovado no
I FONEF).

ENUNCIADO Nº 18
Na penhora de recebíveis, cabe constrição integral, sendo ônus do executado comprovar que o
montante penhorado inviabiliza suas atividades (Aprovado no I FONEF).

ENUNCIADO Nº 19
Considerando que os veículos estão sujeitos a acelerada depreciação, é possível a sua alienação
antecipada na execução fiscal (Aprovado no I FONEF).

ENUNCIADO Nº 20
O incidente de desconsideração da personalidade jurídica, previsto no art. 133 do NCPC, não se aplica
aos casos em que há pedido de inclusão de terceiros no polo passivo da execução fiscal de créditos
tributários, com fundamento no art. 135 do CTN, desde que configurada a dissolução irregular da
executada, nos termos da súmula 435 do STJ (Aprovado no II FONEF).

ENUNCIADO Nº 21
O incidente de desconsideração da personalidade jurídica, previsto no art. 133 do NCPC, é aplicável
aos casos em que há pedido de redirecionamento da execução fiscalda dívida ativa, com fundamento
na configuração de grupo econômico, ou seja, nas hipóteses do art. 50 do CC (Aprovado no II
FONEF).

ENUNCIADO Nº 22
Na execução fiscal, o art. 854 do CPC/2015 autoriza a indisponibilidade de ativos financeiros antes da
citação do executado, a título de arresto executivo (Aprovado no II FONEF).

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ENUNCIADO Nº 23
Na execução fiscal, os prazos processuais deverão ser contados em dias úteis, nos termos do art. 219
do CPC/2015 (Aprovado no II FONEF).

ENUNCIADO Nº 24
Os meios de expropriação dos bens do devedor previstos no CPC/2015 aplicam-se ao sistema de
cobrança das execuções fiscais (Aprovado no II FONEF).

ENUNCIADO Nº 25
Tendo em vista os princípios da cooperação e da boa-fé, aplicáveis à execução fiscal, resta preclusa a
alegação de impenhorabilidade, fundada no art. 854, §3º, I, do CPC/2015, quando a liberação do
excedente tenha decorrido de requerimento do executado (Aprovado no II FONEF).

ENUNCIADO Nº 26
Formada a convicção do juiz acerca do excesso de indisponibilidade, inicia-se o prazo de 24 horas
previsto no art. 854, §1º, do CPC/2015, para que seja determinado o levantamento do bloqueio do
montante excedente (Aprovado no II FONEF).

ENUNCIADO Nº 27
As medidas determinadas com base no artigo 139 do CPC são compatíveis com a execução fiscal,
desde que tenham relação com a satisfação do crédito e não afetem direitos alheios à esfera patrimonial,
podendo ser ordenadas de ofício pelo juízo (Aprovado no III FONEF).
ENUNCIADO Nº 28
A regra do art. 19, parágrafo primeiro, inciso I, da Lei 10.522/2002, sobre dispensa de condenação de
honorários da Fazenda Pública, é especial em relação ao artigo 89 do CPC (Aprovado no III FONEF).

ENUNCIADO Nº 29
O encargo legal previsto no artigo 1º do Decreto-lei 1025/1969 substitui, embargos ao devedor, a
condenação em honorários de advogado prevista no CPC (Aprovado no III FONEF).

ENUNCIADO Nº 30
O arresto, como medida executiva (artigo 7º, II da LEF e artigo 830 do CPC), é cabível após frustrada
tentativa de citação e pode ser efetuado pelo oficial de justiça, ou por meio eletrônico (BACENJUD),
antes mesmo da citação por edital (Aprovado no III FONEF).

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ENUNCIADO Nº 31
O arresto como medida cautelar incidental (artigo 301 do CPC), pode ser determinado nos próprios
autos da execução fiscal e é cabível quando necessário para garantir o resultado útil da execução,
mesmo antes de determinada a citação. O deferimento da medida cautelar pressupõe que esteja
demonstrado o risco concreto de alienação ou dissipação de bens ou valores, hipótese em que é
possível a decretação prévia da indisponibilidade de bens, inclusive por meios eletrônicos (RENAJUD
OU BACENJUD) (Aprovado no III FONEF).

ENUNCIADO Nº 32
O arresto, como medida executiva (artigo 7º, II da LEF e artigo 830 do CPC), é cabível após frustrada
tentativa de citação e pode ser efetuado pelo oficial de justiça, ou por meio eletrônico (BACENJUD),
antes mesmo da citação por edital (Aprovado no III FONEF).

ENUNCIADO Nº 33
A reiteração de pedidos de bloqueio por meio do sistema BACENJUD, quando frustradas tentativas
anteriores, pressupõe que sejam demonstrados indícios de mudança patrimonial pelo exequente que
justifiquem a nova medida (Aprovado no III FONEF).

ENUNCIADO Nº 34
A liberação de quantias excedentes bloqueadas por meio do BACENJUD (Artigo 854, inciso 1º do
CPC) pode ficar prejudicada caso haja determinação de arresto (cautelar ou executivo) ou penhora
ainda não cumpridos ou frustrados determinados em outros processos, contra o executado, pelo
mesmo juízo (Aprovado no III FONEF).
ENUNCIADO Nº 35
O reconhecimento de grupo econômico de fato, para fins tributário, não pode se basear
exclusivamente em decisões da Justiça do Trabalho (Aprovado no III FONEF).
ENUNCIADO Nº 36
O reconhecimento liminar da responsabilidade tributária de pessoas jurídicas integrantes de grupos
econômicos de fato é viável mediante a apresentação de um conjunto de indícios de ocorrência de
fraude fiscal, tais como a dissimulação de atos e negócios jurídicos, a utilização de interpostas pessoas
e uso de empresas desprovidas de atividade econômica para o cumprimento de obrigação acessória,
dentre outros (Aprovado no III FONEF).

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ENUNCIADO Nº 37
A competência do juízo da execução fiscal é plena até a aprovação do plano de recuperação judicial
pela assembleia-geral de credores, mediante a comprovação de regularidade fiscal pelo devedor,
enquanto esta perdurar (Aprovado no III FONEF).
ENUNCIADO Nº 38
Para fins de suspensão do procedimento de alienação, é ônus do executado comprovar que o bem
constrito no bojo da execução fiscal consta do plano de recuperação judicial (Aprovado no III
FONEF).
ENUNCIADO Nº 39
Não constando o bem do plano de recuperação judicial, compete ao devedor comprovar a sua
essencialidade para a efetividade do referido plano (Aprovado no III FONEF).

9 CONCLUSÃO
O Estado a partir da introdução da Lei 6830/80, estabeleceu mecanismos que pudesse ser
usado pela Fazenda a perquirir o adimplemento de crédito tributário não tributário.
Esta necessidade fez com que fosse necessária uma medida excepcional para usando de suas
prerrogativas alcançasse êxito. Somos cônscios que as necessidades da população são inúmeras e
somente com as receitas primárias o Estado não iria suportar o custeio.
Diante disso, com o aprimoramento da execução vem se conseguindo estabelecer uma
regularidade nas contas públicas. Posto que as demandas oriundas de execução dão margem a quase
70% das ações do judiciário. Tudo isto levando em conta a inadimplência do contribuinte que se evade
da obrigação tributária.
Portanto, a lei que como já mencionado tem sido modelada pelos entendimentos mordemos
tanto da jurisprudência como da aplacação subsidiaria do CPC é a principal ferramenta para
consecução do recebimento do ativo.

10 REFERÊNCIAS

A FAZENDA PUBLICA EM JUIZO - 16ªED.(2019). autor: Leonardo Carneiro da Cunha.


editora: Forense.
https://www.dizerodireito.com.br
Acesso em: 25 mar de 2020.
NERY JUNIOR, Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Código de processo civil comentado. 16.
ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016.
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RECLAMAÇÃO CONSTITUCIONAL NAS AÇÕES DA FAZENDA

RECLAMAÇÃO
CONSTITUCIONAL NAS AÇÕES
DA FAZENDA

ALMANAQUE DA ADVOCACIA PÚBLICA por Eduardo


Pontes Cruz

Em quarentena em João Pessoa/PB, 11 de abril de 2020


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1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
A reclamação constitucional nasceu na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal,
com base na teoria dos poderes implícitos, pelos quais os tribunais têm o poder de dar
efetividade as suas decisões, bem como de defender a própria competência. Em síntese, é
dizer que os tribunais têm o poder explícito de julgar e o implícito de garantir a efetividade
das suas decisões proferidas.
Importante ressaltar que esse instituto é genuinamente brasileiro, e com o advento da
Constituição Federal de 1988, veio a lume, expressamente, seu status constitucional, com
previsão para o STF e para o STJ, respectivamente nos dispositivos constitucionais 102, I, “l”
e 105, I, “f ”.
Não obstante, com a EC nº 45/2004, conhecida como a Reforma do Judiciário, a
reclamação constitucional alcançou ainda mais importância, pois passou a ter cabimento com
o fito de impor tanto o cumprimento de decisões proferidas no controle concentrado de
constitucionalidade, como para garantir a aplicação de enunciados das súmulas vinculantes
do STF. A referida emenda constitucional acrescentou o art. 103-A, no qual o seu §3º trata
de outra hipótese de cabimento da reclamação ao STF, qual seja: do ato administrativo ou
decisão judicial que contrarie ou aplique indevidamente enunciado de súmula vinculante.
Diante do contexto histórico, a reclamação era regulada pela Lei. 8.038/1990!
Entretanto, como o Código de Processo Civil de 2015 (arts. 988 a 993) passou a dispor sobre
esse instituto, garantindo sua evolução, ocorreu a revogação de alguns dispositivos daquela
lei, conforme se vislumbra no art. 1.072, IV do CPC.
De qualquer sorte, o novo diploma processual, na dicção do art. 988, traz as hipóteses
de cabimento, quais sejam: I – preservar a competência do tribunal; II – garantir a autoridade
das decisões do tribunal; III – garantir a observância de enunciado de súmula vinculante e de
decisão do Supremo Tribunal Federal em controle concentrado de constitucionalidade; IV –
garantir a observância de acórdão proferido em julgamento de incidente de resolução de
demandas repetitivas ou de incidente de assunção de competência. Contudo, imperioso
destacar que pelo § 5º, II, do mesmo artigo, é inadmissível a Reclamação “proposta para
garantir a observância de acórdão de recurso extraordinário com repercussão geral
reconhecida ou de acórdão proferido em julgamento de recursos extraordinário ou especial
repetitivos, quando não esgotadas as instâncias ordinária”.

2 CONCEITO

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Inicialmente, a Reclamação Constitucional foi enquadrada como direito


constitucional de petição (STF, ADI 2.212/CE, em 2003).
Contudo, o Planário do STF, no julgamento do RE 405.031/AL, em 2008, decretou
a inconstitucionalidade dos arts. 190 a 194 do RITST, os quais tratava da reclamação, e o Rel.
Min. Marco Aurélio, reputou inconstitucional a reclamação prevista no regimento interno do
TST (o entendimento foi no sentido de que seria inconstituconal criar ou prever a reclamação
constitucional em regimento interno). Neste mesmo julgamento, a Suprema Corte
reconheceu que o referido instituto possuía roupagem processual , cuja competência para
ser regulada se dá, privativamente, pela União, conforme art. 22, I, da Constituição Federal.
De toda sorte, podemos concluir que a Reclamação Constitucional é uma ação de
competência originária, tendo em vista que realiza a provocação da atividade jurisdicional do
Estado. Donde extraímos, de forma pontual que ela possui partes, causa de pedir e pedido e
sua decisão faz coisa julgada material (STF. Rcl 532/RJ. DJ 20.09.96).
Nesse norte, não há que se questionar a existência das partes, reclamante e reclamado;
da causa de pedir, nas hipóteses de usurpação da competência da corte ou ainda desobediência
de suas decisões; e, do pedido, quando ocorre a cassação do ato ou medida adequada à solução
da controvérsia.
Por conclusão, é acertada a conceituação de que a Reclamação Constitucional é uma
ação autônoma de impugnação, tal qual a ação rescisória, por exemplo. Raciocínio este que
se alinha com a ideia trazida pelo NCPC, especialmente quando inseriu o instituto analisado
no Livro III – Dos Processos nos Tribunais e dos Meios de Impugnação das Decisões
Judiciais, Título I – Da Ordem dos Processos e dos Processos de Competência Originária
dos Tribunais, Capítulo IX – Da Reclamação.

3 FUNDAMENTO
3.1 Hipóteses Constitucionais

Cabe reclamação constitucional, nos termos dos artigos 102,I, “l”, 105, I, “f ” e 103,
§ 3º, da Lei Maior, para as seguintes situações:

a) para preservar a competência do STF e do STJ

Hipótese que ocorre sempre que um órgão jurisdicional inferiror “se intromete” na
competência do STF ou do STJ.

Eis alguns exemplos que provocam reclamação no STF por usurpação da sua
competência:

a.1) sentença de procedência de ação civil pública, cujo pedido (e não causa de pedir)

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é a declaração de inconstitucionalidade de dispositivo de lei federal com eficácia erga omnes,


em virtude da competência privativa do STF para realizar o controle concentrado de
constitucionalidade dos atos normativos federais;

a.2) decisão proferida por tribunal local com quórum composto por maioria de mais
da metade dos desembargadores, por constituir burla à competência do STF prevista no art.
102, I, “n”, da CF;

a.3) decisão do presidente do STJ que inadmite recurso ordinário constitucional


fundado no art. 1.027, I, do CPC, tendo em vista que não lhe compete realizar juízo de
admissibilidade, mas sim ao STF. (vide enunciado 210 do FPPC).

Provocam reclamação no STJ, ou seja, são impugnáveis por invasão da sua


competência, dentre outras:

a.1) decisão do presidente de tribunal de justiça ou de tribunal regional federal que


inadmite recurso ordinário constitucional fundado no art. 1.027, II, “a”, do CPC, pois não
lhe compete realizar juízo de admissibilidade, mas sim ao STJ; (vide enunciado 209 do FPPC).

a.2) decisão do juiz federal que inadmite recurso ordinário constitucional fundado no
art. 1.027, II, “a”, do CPC, nos mesmos termos da hipótese anterior; (vide enunciado 208 do
FPPC).

b) para garantir a autoridade das decisões do STF e do STJ

Aqui, vamos nos ater a hipótese que melhor representa para o cabimento de
reclamação ao STF:

b.1) é a fundada na desobediência a decisão tomada em controle concentrado de


constitucionalidade. Diante desse quadro, é importante frisar que a decisão proferida em
processo objetivo, seja ela definitiva ou liminar, mesmo que ainda não referendada pelo
Plenário, possui eficácia erga omnes e de efeito vinculante, conforme a dicção do art. 102, § 2º
da CF. Nesta esteira, esse fato possibilita a qualquer interessado reclamar ao STF pelo seu
descumprimento (vide ADI 4.843 MC-ED-Ref/PB. Dje 19.02.15).

Não podemos deixar de ressaltar que já é pacífico na jurisprudência do STF que a


eficácia erga omnes e o efeito vinculante somente acobertam o dispositivo da decisão, o que se
resume no fato de não caber reclamação com base na transcendência dos motivos
determinantes da decisão tomada em controle abstrato de constitucionalidade.

Noutra banda, cabe reclamação constitucional no STJ:

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b.1) se o tribunal local recusar-se a apreciar ponto sobre o qual foi omisso, mesmo
depois de reconhecida, em sede de recurso especial, a ofensa ao art. 1.022 do CPC; (Vide STJ.
Rcl. 3.833/RS. Dje 07.02.11)

b.2) para cassar sentença judicial brasileira que contrarie sentença estrangeira
homologada anteriormente pelo STJ. (AgRg na Rcl 14.005/SP. Dje 05.10.15).

Por conseguinte, não podemos deixar de destacar o cabimento de reclamação ao STF


e ao STJ quando não observado os seus precedentes proferidos em julgamentos de recursos
repetitivos. Não obstante, para esta situação, faz-se necessário o esgotamento das instâncias
ordinárias para seu cabimento, como determina o art. 988, §5º, II, do CPC.

Enfim, devemos ainda nos atentar para o fato de que a reclamação não se sujeita ao
prequestionamento nem depende da demonstração de repercussão geral. E, frise-se, a
reclamação, por se tratar de uma ação, é passível até de emenda da sua inicial.

c) contra ato administrativo ou decisão judicial que contrarie enunciado da súmula


vinculante ou que seja aplicado de forma indevida.

Neste tópico, merece destaque quando se trata do ato da Administração Pública, pois,
nessa hipótese é necessário o esgotamento das vias administrativas, conforme prescreve o art.
7, §1º, da Lei 11.417/2006, norma esta que regulamenta a súmula vinculante do STF e cuida
da reclamação em seus arts. 7º, 8º e 9º (tais dispositivos continuam em vigor!).

Importante destacar que a EC/45, acrescentou o art. 103-A à Constituição Federal, e


seu §3º trata de outra hipótese de cabimento da reclamação ao Supremo Tribunal Federal,
quando o ato administrativo ou decisão judicial contrariar ou aplicar indevidamente
enunciado de súmula vinculante.

3.2 Hipóteses Legais

A Lei 13.105/2015, Código de Processual Civil, nos arts. 988 a 993, trata dos aspectos
da reclamação.

A Lei 11.417/2006, em que pese regulamentar a súmula vinculante do STF, nos seus
arts. 7º, 8º e 9º trata da reclamação.

O Código de Processo Penal Militar (aprovado pelo Decreto-lei 1.002/1969) prevê a


reclamação para o STM, em seus arts. 584 a 587, e a qualifica como recurso.

No entanto, quando se trata dos Regimentos Internos dos Tribunais, devemos


enaltecer que estes disciplinam ou devem disciplinar os procedimentos e estabelecer as

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competências de seus órgãos, o que nos deixa com a compreensão de que no tocante as regras
de competência, neles previstas, devem manter-se. Neste ínterim, corrobora o entendimento
de que é dos tribunais a atribuição de fixar a competência de seus órgãos internos, conforme
prevê o art. 96, I, da Constituição Federal.

4 NATUREZA JURÍDICA
A reclamação constitucional não deve ser confundida com a reclamação correicional,
pois, enquanto esta constitui medida administrativa com o fito de apurar omissão ou abuso
referente as atividades do juiz, ou seja, busca, através de fiscalização dessas atividades, puni-lo,
sem possibilidade de recurso, àquela, visa à impugnação de decisões judiciais e possui natureza
jurisdicional.

Portanto, podemos nos assegurar de que a reclamação é uma ação de competência


originária de tribunal, prevista na CF, nas Constituições Estaduais e no CPC, que tem o
objetivo de preservar a competência e garantir a autoridade das decisões dos tribunais, bem
como garantir a observância de decisão do STF em controle concentrado de constitucionalidade,
a observância de enunciados de súmula vinculante e de precedente proferido em julgamento de
casos repetitivos ou em incidente de assunção de competência.

Dentre tantas definições em relação a sua natureza jurídica, vale destacar a de Pontes de
Miranda, quando sinalizou expressando que “é um exemplo de ação autônoma de
impugnação de ato judicial, de natureza constitucional”.

De toda sorte, esse instituto, vale destacar, não serve para anular ou reformar uma
decisão, não tem o efeito substitutivo mencionado no art. 1008 do CPC. Daí fica mais fácil a
compreensão de que a reclamação provoca não a anulação ou reforma da decisão exorbitante,
mas sua cassação e aqui, frise-se, sem a necessidade de o órgão inferior proferir outra, ou
avocação dos autos, para a observância de competência do tribunal.

Não obstante as diversas discussões doutrinárias quanto à presença ou não na jurisdição


voluntária, para nós, atentos as questões direcionadas as atividades ligadas à atuação da Fazenda
Pública, devemos nos ater à compreensão de que a reclamação provoca o exercício de uma
jurisdição contenciosa.

Qual o entendimento do STF quanto à natureza jurídica da reclamação?

Segundo o STF, a reclamação não é recurso, nem ação, nem incidente processual, pois
considerou ser “manifestação do direito constitucional de petição previsto no art. 5º, XXXIV,
da CF.

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185

Contudo, com a devida vênia, em sentido contrário ao entendimento da Suprema Corte,


pois há na reclamação o exercício de pretensão à tutela jurídica do Estado, que se faz
por meio de uma ação ou demanda judicial, cujos elementos, conforme já citado no tópico
em que tratamos do seu conceito, possui partes, causa de pedir e pedido.

Com efeito, merece destaque algumas observações pertinentes a reclamação e sua


natureza jurídica, as quais nos esclarece sua natureza de AÇÃO:

I - Há na reclamação procedimento predefinido com observância do contraditório, não


podendo o tribunal proceder de ofício;

II – Ela depende de provocação da parte ou do MP (ou da Defensoria Pública), formando


novo processo;

III – É possível haver concessão de tutela provisória, cabendo recurso da decisão que a
defere ou indefere;

IV – O acórdão que julgá-la produz coisa julgada;

V – Sua propositura deve ser proposta por advogado, podendo ainda ser proposta pelo
Ministério Público que detém capacidade postulatória;

Não obstante, importante reafirmarmos as consequências desse enquadramento da


natureza jurídica da reclamação, pois, em síntese, nela encontraremos os requisitos da petição
(art. 319/CPC) e capacidade postulatória, sua decisão tem aptidão para formar coisa julgada
(podendo ser desfeita somente através de ação rescisória) e como se trata de uma ação, o
reclamante deverá efetuar o pagamento de custas para seu ajuizamento, e no final ocorrer a
condenação em honorários. Aqui, vale ressaltar que o STF entende que a reclamação não tem
natureza de ação, não devendo exigir custas nem condenação em honorários advocatícios!

4.1 Cabimento nos tribunais e contra decisão do próprio tribunal

Nos termos do art. 988, §1º, do CPC, a reclamação pode ser proposta perante
qualquer tribunal, bem como entende o STF que, caso haja previsão nas Constituições
Estaduais, é plenamente cabível para os respectivos tribunais de justiça.
De toda sorte, quando se prevê a viabilidade da reclamação para qualquer tribunal
há um importante reforço para o cumprimento dos deveres de coerência e integridade por
parte dos juízos, diante do que preleciona o art. 926 do CPC, se alinhando com sua utilidade
de efetivação dos seus julgamentos.
Como já é sabido, os tribunais passaram a ter o dever de uniformizar a própria
jurisprudência, cabendo-lhes a missão de mantê-la íntegra, coerente e estável.

185
186

Por fim, tal é a importância dos tribunais de seguir seus próprios precedentes, pois
se assim não for, estarão descumprindo os deveres impostos pelo art. 926 do CPC, como
também desatendendo ao disposto no caput do art. 927 do mesmo Diploma Processual,
especialmente aqueles firmados em julgamentos de casos repetitivos – art. 927, III – e os
oriundos do seu plenário ou órgão especial – art. 927, V. Por conclusão, havendo o
descumprimento em qualquer desses casos, caberá reclamação.

4.2 Decisão transitada em julgado

A reclamação proposta após o trânsito em julgado é inadmissível, nos termos do art.


988, §5º, I, do CPC. Até porque já é pacífico que esse instituto não é sucedâneo de ação
rescisória, não devendo, para tanto, ser utilizada como tal. Corrobora com tal afirmação a
súmula 734 do STF: “Não cabe reclamação quando já houver transitado em julgado
o ato judicial que se alega ter há desrespeitado decisão do Supremo Tribunal
Federal”.
Noutra ótica, apenas para enaltecer o que já fora dito, faz necessário ainda esclarecer
que não cabe a reclamação que tenha por fito desfazer, reformar, cassar, modificar decisão
transitada em julgado, pois, se assim fosse, estaria fazendo as vezes de uma ação rescisória.
Vamos a um exemplo que esclarece esse cenário. Imaginem uma decisão que esteja
sendo desrespeitada transitará em julgado, caberá reclamação, pois, conhecido e provido um
recurso extraordinário, por acórdão transitado em julgado, esse cabimento será contra a
decisão do juiz de primeira instância que determinar a execução de forma diversa do que
restou julgado pelo STF. Logo, a decisão do STF transitou em julgado, mas isso não é,
obviamente, óbice à reclamação.
Vale destacar o §6º, do art. 988, do CPC, que assim dispõe: “A inadmissibilidade ou
o julgamento do recurso interposto contra a decisão proferida pelo órgão reclamado não
prejudica a reclamação. Portanto, a reclamação tem efeito obstativo, impedindo o trânsito
em julgado.
Daí, em apertada síntese, dentre as hipóteses de cabimento da reclamação devemos
destacar:

I – Aquela que busca preservar a competência do tribunal;

II – A que visa garantir a autoridade da decisão do tribunal e aqui há algumas em especial,


dentre elas:

a) Contra ato que desrespeita enunciado de súmula vinculante;

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b) A que garante a observância de decisão do STF proferida em controle concentrado


de constitucionalidade;
c) A que possibilita a revisão de decisão proferida em ação declaratória de
constitucionalidade (Reclamação 4.374/PE do STF);
d) A que garante a observância de precedente proferido em julgamento de casos
repetitivos ou em incidente de assunção de competência;
e) Contra decisão em Juizados Especiais Cíveis (competência do STJ);
III – Reclamação como instrumento para realização da distinção;

IV – Reclamação como instrumento para interpretação da decisão do tribunal;

5 PROCEDIMENTO

De início, a reclamação tinha seu procedimento regulado pela Lei 8.038/90. Dela,
foram reproduzidos os dispositivos dos Regimentos Internos do STF, arts. 156 a 162, e do
STJ, arts. 187 a 192. Contudo, os dispositivos da referida lei foram revogados pelo art. 1.072,
IV, do CPC, logo, o procedimento desse instituto passou a ser regulado pelo CPC,
especificamente pelos arts. 988 a 993.

Das questões procedimentais da reclamação podemos destacar:

I – A questão documental, ou seja, prova pré-constituída;

II – Seguir os requisitos da petição inicial;

III – Distribuição ao presidente do tribunal, em seguida ao relator, sempre que


possível (prevenção do relator – art. 988, §§2º e 3º do CPC);

IV – Indeferimento da petição inicial ou julgamento de improcedência liminar do


pedido pelo relator (aplicam-se o arts. 321 e 332 do CPC à reclamação);

V – Possibilidade de concessão de tutela provisória (é, plenamente, possível!);

VI – Reclamação repetitiva (nesses casos, adota-se o procedimento próprio dos


recursos repetitivos);

VII – Prazo para ajuizamento da reclamação (não há prazo, bastando para tanto que
a decisão reclamada não tenha sido transitada em julgado);

VIII – Da ligação entre recurso e reclamação (destaca-se que se o recurso for


inadmitido ou for conhecido, mas não provido, o julgamento não prejudica a reclamação –
contudo, se o recurso for provido, a reclamação fica prejudicada e não se aplica o §6º, do art.
988, do CPC);
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IX – Ministério Público e sua intervenção na reclamação (aqui devemos ter muita


atenção com o art. 991 do CPC, pois lendo-o isoladamente, poderá nos fazer errar, tendo em
vista que sua interpretação deve ocorrer em sintonia com o sistema do código, vejamos: caso
a reclamação se coloque diante de uma das hipóteses gerais de intervenção prevista no art.
178, a intervenção ministerial impõe-se, APENAS, nesse caso; se a reclamação não se
subsome, o Ministério Público NÃO será intimado a intervir). Em síntese, não há razão para
o MP intervir em qualquer reclamação, assim como não há razão para intervir em qualquer
ação rescisória, conflito de competência ou procedimento de jurisdição voluntária. Dito isso,
haverá intervenção do MP nos casos em que esta se impõe.

Como qualquer outra demanda, a reclamação deve ser ajuizada por meio de uma
petição inicial dirigida ao presidente do tribunal, devendo ser observados os requisitos da
inicial, exigidos no art. 319 do CPC, bem como não deixar de conter a prova documental
necessária, em respeito ao que dispõe o art. 988, §2º, do CPC, pois, importante frisar que não
se admite, em seu processo, dilação probatória.

De qualquer sorte, como no processo da reclamação não há previsão de audiência


preliminar de mediação ou conciliação, não há necessidade de o reclamante informar, na sua
inicial, a opção pela realização dessa audiência (art. 319, VII, do CPC).

Por fim, segue uma tabela com fins didáticos para melhor ilustrar o
procedimento da reclamação, mostrando cada momento e o que ocorre ou deve ocorrer.

PRIMEIRO MOMENTO - Propositura da reclamação

A petição inicial da reclamação constitucional deverá ser proposta ao presidente do


tribunal, juntamente com a prova documental, tendo em vista que, como sabemos, nesse
processo não cabe dilação probatória! Vide art. 988, §2º, do CPC.

SEGUNDO MOMENTO – Autuação e Distribuição

Após a autuação e distribuição, caberá ao relator ao despachá-la:

► requisitará informações à autoridade a quem for imputada a prática do ato


impugnado, que as prestará em 10 dias;

► se necessário, ordenará a suspensão do processo ou do ato impugnado para evitar


dano irreparável;

► determinará a citação do beneficiário da decisão impugnada, que terá o prazo de 15


dias para apresentar contestação.

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Vide art. 989 do CPC.

TERCEIRO MOMENTO – Análise dos atos praticados até aqui

Nessa fase, decorridos os prazos para prestação de informações (10 dias) e para
oferecimento de contestação (15 dias), o Ministério Público, não sendo o reclamante,
terá vista dos autos por 05 dias. Vide art. 991 do CPC!

QUARTO MOMENTO – Inclusão da reclamação em pauta para julgamento

QUINTO MOMENTO – No Julgamento, após a exposição do relator

Na sessão de julgamento, as partes e o Ministério Público poderão sustentar suas razões,


sucessivamente, pelo prazo de 15 minutos cada. Vide art. 937, VI, do CPC

ÚLTIMO MOMENTO – Após o julgamento da reclamação

Após o julgamento da reclamação, o presidente da corte determinará o imediato


cumprimento da decisão, lavrando-se o acórdão posteriormente. Vide art. 993 do CPC

Tabela 1

Diante da tabela acima apresentada, poderá surgir o seguinte questionamento:

O que pode acontecer com a decisão que julga a reclamação?

Como ocorre em qualquer ação, o processo formado pelo ajuizamento da reclamação


provoca o exercício do juízo de admissibilidade e do juízo de mérito.

Portanto, duas situações podem ocorrer. Vamos a uma nova tabela para melhor
ilustrar.

Reclamação inadmitida Reclamação admitida

O que ocorrerá mediante uma para, então, ser acolhida ou


decisão que a extinga SEM rejeitada;
resolução de mérito. A rejeição se dá por uma decisão de
improcedência (eficácia declaratória!).

O acolhimento resulta na cassação, por


parte do tribunal, da decisão exorbitante
de seu julgamento ou, ainda, determina
medida adequada à solução da
controvérsia, nos termos do art.
992/CPC.

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Reclamação para preservação de Reclamação para garantir a autoridade da


competência decisão do tribunal

Nessa hipótese há o Nessa hipótese há o


reconhecimento da usurpação reconhecimento da
da competência; inobservância;

Desfazendo-se ou cassando-se o Desfazendo-se ou cassando-se a


eventual ato decisório que tenha sido decisão.
praticado pelo órgão reclamado. Atenção: É possível haver ORDEM
Atenção: É possível haver AVOCAÇÃO PARA A PROLATAÇÃO DE OUTRA
dos autos pelo tribunal (a depender da DECISÃO (a depender da hipótese).
hipótese).

Tabela 2

6 LEGITIMIDADE
6.1 Legitimidade ativa

Conforme dispõe o art. 988 do CPC, a legitimidade para intentar reclamação


cabe à parte interessada, isto é, ao sujeito prejudicado pelo ato, inclusive o terceiro
interessado e, conforme já mencionado anteriormente, ao Ministério Público, mesmo que
este, no processo originário, tenha autuado exclusivamente como fiscal da ordem jurídica.

No entanto, na hipótese do MP não ser o reclamante, deverá oficiar como custos legis,
como expressamente dispõe o art. 991do CPC. Não obstante os MPs Estaduais, diante da
ausência de unidade com o MPU, têm legitimidade para propor reclamação perante o STF
(STF. Rcl 11.055 ED/RS. Dje 19.11.14) e o STJ (STJ. EREsp 1.236.822/PR. Dje 05.02.16).
Ressalte-se que nesses casos, cabe ao MPF atuar, porém como fiscal da ordem jurídica.
De qualquer sorte, é imperioso não generalizarmos essa atuação dos MP’s, mesmo
porque os ramos do MPU, como o MPT e o MPDFT, não podem atuar perante o STF,
tendo em vista que essa atribuição é do Procurador-Geral da República quando se trata de
“oficiar” junto à Suprema Corte (STF. Rcl 14.746 AgR/DF. Dje 23/.11/15).

6.2 Legitimidade passiva


Estará no polo passivo da reclamação, a autoridade a quem foi imputada a prática
do ato impugnado. Entretanto, quando se tratar de reclamação proposta contra decisão

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colegiada, cabe ao presidente do órgão a sua representação em juízo. Além dessas autoridades,
deve, igualmente ser citada a parte beneficiária da decisão reclamada, conforme
determinação do art. 989, III, do CPC.
De forma complementar, importante ressaltar o que dispõe o art. 990 do CPC, pois
esse dispositivo nos ensina que qualquer interessado poderá impugnar o pedido do
reclamante. Por óbvio, para que ocorra essa intervenção, esse terceiro deverá demonstrar
interesse jurídico no julgamento da reclamatória, nos termos do art. 119 do
supramencionado Diploma Processual. Lembrando que esta intervenção é, meramente,
uma faculdade.

Por sua vez, resta-nos concluir que é preciso assegurar o contraditório ao beneficiário
do ato impugnado, justamente porque há o risco de decisão contrária a seu interesse, até
porque ele é réu na reclamação, em respeito ao princípio processual da proibição da decisão
surpresa, disposta no art. 9º do CPC.

7 INFORMATIVOS E ENUNCIADOS QUE TRATAM DA RECLAMAÇÃO

A intenção aqui não é exaurir todos os informativos nem os enunciados que tratam
da reclamação, até porque isso deixaria o material muito extenso e fugiria ao seu propósito.
Sendo assim, com o fito de nos auxiliar nos estudos sobre o instituto da reclamação,
reportaremos a alguns dos mais importantes informativos do STF e enunciados do FPPC
(Fórum Permanente de Processualistas Civis (Fórum Nacional do Poder Público), do FNPP
(Fórum Nacional do Poder Público e do CJF, vejamos:

Informativo(s) do STF:

A segunda turma NEGOU PROVIMENTO a agravo regimental interposto


contra decisão que negara seguimento a reclamação, em razão do não esgotamento das vias
ordinárias de impugnação, conforme previsto no art. 988, §5º, II, do CPC.

Na espécie, A RECLAMAÇÃO FOI AJUIZADA CONTRA ACÓRDÃO


PROFERIDO POR TRIBUNAL ELEITORAL, que, ao manter pena de inelegibilidade
fixada em sentença, teria desrespeitado o que decidido pelo STF no julgamento do RE
658.026/MG (DJE de 31.10.2014), com repercussão geral reconhecida. Em face do referido
acórdão, o recorrente também interpôs recurso especial eleitoral no TSE.

Segundo o agravante, a reclamação somente é cabível quando esgotados todos os


recursos ordinários na causa em que proferido o ato supostamente contrário à autoridade de
decisão do STF com repercussão geral reconhecida. Nesses termos, a hipótese de cabimento

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prevista no art. 988, §5º, II, do CPC deve ser interpretada restritivamente, sob pena do STF
assumir, pela via da reclamação, a competência de pelo menos três tribunais superiores (STJ,
TST e TSE), para o julgamento de recurso contra decisões de tribunais de segundo grau de
jurisdição.

O ministro Dias Toffoli acompanhou o ministro Teori Zavascki (relator), mas


ressalvou a aplicação do entendimento apenas aos casos provenientes da Justiça Eleitoral, em
razão das características específicas do recurso especial eleitoral e das particularidades da
composição do TSE. Rcl. 24686 ED-AgR/RJ, rel. Min. Teori Zavascki, julgamento em
28.10.2016 (Rcl-24686). Informativo 845.

Na ocorrência de conflito entre liberdade de expressão e informação e a tutela de


garantias individuais como os direitos da personalidade, é cabível a reclamação1 tendo como
parâmetro a ADPF 130.

“No julgamento da ADPF 130, o STF proibiu enfaticamente a censura de


publicações jornalísticas, bem como tornou excepcional qualquer tipo de intervenção estatal
na divulgação de notícias e de opiniões. (...) Ao determinar a retirada de matéria jornalística
de sítio eletrônico de meio de comunicação, a decisão reclamada violou essa orientação.
(RECLAMAÇÃO 18.638 CEARÁ).

Súmula do STF

Súmula 734 Não cabe reclamação quando já houver transitado em julgado o ato
judicial que se alega tenha desrespeitado decisão do Supremo Tribunal Federal.

Enunciados do FNPP
27. (art. 988, §4º e §5º, II, art. 1.030, §§ 1º e 2º e art. 1.042, Lei 13.105/15) Cabe
reclamação contra a decisão proferida no agravo interno interposto contra a decisão do
presidente ou vice-presidente do tribunal recorrido que negar seguimento ao recurso especial
ou extraordinário fundado na aplicação de entendimento firmado em repercussão geral ou
recurso repetitivo para demonstração de distinção. (I FÓRUM NACIONAL DO PODER
PÚBLICO BRASÍLIA, 17 E 18 DE JUNHO DE 2016).

58. (arts. 982, I, 988, II, e 1.037, II, CPC/15) A decisão que descumpre a determinação
de suspensão do processo de que tratam os arts. 982, I, e 1.037, II, do CPC configura hipótese
de cabimento de reclamação para garantir a autoridade da decisão do Tribunal. (III FÓRUM
NACIONAL DO PODER PÚBLICO SÃO PAULO, 09 E 10 DE JUNHO DE 2017).

192
193

Enunciados do FPPC

207. (arts. 988, I, 1,010, § 3º, 1.027, II, “b”) Cabe reclamação, por usurpação da
competência do tribunal de justiça ou tribunal regional federal, contra a decisão de juiz de 1º
grau que inadmitir recurso de apelação.

208. (arts. 988, I, 1.010, § 3º, 1.027, II, “b”) Cabe reclamação, por usurpação da
competência do Superior Tribunal de Justiça, contra a decisão de juiz de 1º grau que inadmitir
recurso ordinário, no caso do art. 1.027, II, ‘b’.

209. (arts. 988, I, 1.027, II, 1.028, §2º) Cabe reclamação, por usurpação da
competência do Superior Tribunal de Justiça, contra a decisão de presidente ou vice-
presidente do tribunal de 2º grau que inadmitir recurso ordinário interposto com fundamento
no art. 1.027, II, “a”.

210. (arts. 988, I, 1.027, I, 1.028, §2º) Cabe reclamação, por usurpação da competência
do Supremo Tribunal Federal, contra a decisão de presidente ou vice-presidente de tribunal
superior que inadmitir recurso ordinário interposto com fundamento no art. 1.027, I.

349. (arts. 982, § 5º e 988) Cabe reclamação para o tribunal que julgou o incidente de
resolução de demandas repetitivas caso afrontada a autoridade dessa decisão.

363. (arts. 1.036-1.040). O procedimento dos recursos extraordinários e especiais


repetitivos aplica-se por analogia às causas repetitivas de competência originária dos tribunais
superiores, como a reclamação e o conflito de competência.

558. (art. 988, IV, §1º; art. 927, III; art. 947, §3º) Caberá reclamação contra decisão
que contrarie acórdão proferido no julgamento dos incidentes de resolução de demandas
repetitivas ou de assunção de competência para o tribunal cujo precedente foi desrespeitado,
ainda que este não possua competência para julgar o recurso contra a decisão impugnada.

685. (arts. 988 e 1.042, § 4º; súmula do STF, n. 727). Cabe reclamação, por usurpação
de competência do Tribunal Superior, contra decisão do tribunal local que não admite agravo
em recurso especial ou em recurso extraordinário.

703. (arts. 988, II e §1º; 926) É admissível a reclamação contra acórdão de órgão
fracionário que viole entendimento vinculante do próprio tribunal.

704. (arts. 988, III e IV; 489, §1º, V e VI) Cabe reclamação baseada nos fundamentos
determinantes da decisão vinculante.

Enunciado do CJF

193
194

ENUNCIADO 64. Ao despachar a reclamação, deferida a suspensão do ato


impugnado, o relator pode conceder tutela provisória satisfativa correspondente à decisão
originária cuja autoridade foi violada.

8 TÓPICO COBRADO NA PROVA DA AGU 2015 – BANCA CESPE


A seguir, colocaremos uma das questões cobradas no concurso para Advogado da
União, na qual foram exigidos dos candidatos conhecimentos sobre “cabimento da reclamação
constitucional”, sobre a interpretação do STF quanto à competência originária para julgar
conflitos entre União e estados e, ainda, que fosse abordada a jurisprudência do STF relativa ao
cabimento de reclamação.
Com base na exigência da questão, será exposto um direcionamento de resposta
oferecida pelos procuradores federais, João Paulo Lawall Valle (Advogado da União) e Rodolfo
Soares Ribeiro Lopes (Procurador Federal), vejamos a questão:
(Cespe/AGU/Advogado/2015) Determinado estado-membro ajuizou, perante o juízo de
primeiro grau, ação contra a União questionando índice de atualização monetária previsto em convênio celebrado
com o ente central. O magistrado determinou a citação da União para que esta apresentasse resposta.
Considerando a competência originária so STF para processar e julgar causas e conflitos entre a União e os
estados, redija um texto dissertativo acerca do eventual cabimento de reclamação constitucional na situação
apresentada. Em seu texto: (i) cite as hipóteses em que é cabível reclamação constitucional;
(ii) discorra sobre a interpretação do STF a respeito da competência originária para
julgar conflitos entre União e os estados; (iii) aborde a jurisprudência do STF relativa
ao cabimento da reclamação em situações como a apresentada.
Sugestão de resposta apresentada:
A Constituicional Federal prevê em seu art. 102, I, “f”, a competência
originária do STF para o julgamento das causas e conflitos entre a União e os
Estados ou o DF, devendo ser considerada hipóteses especial e excepcional
de instauração de jurisdição originária de uma Corte Suprema, em rol taxativo
que merece interpretação restritiva , nos termos do que entende a
jurisprudência so STF.
(i) Por outro lado, sempre que haja a necessidade de a) preservação da
competência do Supremo e b) para a garantia da autoridade das decisões
proferidas pelo STF (CF, art. 102, I, l), poderá ser ajuizada a Reclamação
Constitucional. Portanto, ferida que seja uma hipótese de competência
originária do STF, caberá o ajuizamento de Reclamação com o objetivo de

194
195

assegurar que a questão jurídica seja olucionada originariamente pelo


Supremo. Resta saber se o enunciado ilustra tal contexto aberto à Reclamação
para preservação de competência.
(ii) A jurisprudência so STF, para além de ser observar formalmente quem
ocupaos polos ativos do processo (União e Estados ou DF), passou a exigir
um requisito substancial ou material que sirva à inauguração de sua
competência originária do art. 102, I, f,qual seja, a existência de efetivo
Conflito Federativo, apto a abalar o aquilíbrio entre os entes competentes da
Federação (art. 1º da CF). Assim, é indispensável que o direito controvertido
nos autos seja de tal forma envergadura que se revele capaz de abalar o pacto
Federativo, instaurando substancial conflito. Esse foi o caso, por exemplo,
do julgamento da Ação Popular da Raposa Serra do Sol, onde instaurada lide
entre a União e Estado membro, de envergadura apta a justificar a
excepcional hipótese de competência originária do STF.
(iii) É bastante comum em um Federalismo cooperativo a celebração de
convênios entre os entes, sendo que as querelas decorrentes de tais pactos
não são originariamente capazes de atingir o equilíbrio federativo, sob pena
de inviabilizar-se, inclusive, tais acordos de cooperação. Ainda mais quando
tal controvérsia é de índole meramente patrimonial – incidência de parcela
acessória (juros); portanto, o contexto enunciado não é apto a instaurar
Conflito Federativo substancial, apto a atrair a competência do STF.
Conclusivamente, não sendo caracterizado o conflito federativo no exemplo hipotético
proposto, não há que se falar em Reclamação Constitucional para presevação da competência
do STF, pois esta não se impõe.

9 CONCLUSÃO

A sistemática introduzida pela reclamação constitucional se mostra como meio hábil


para a defesa de direitos contra ilegalidade ou abuso de poder. Sendo assim, tem por finalidade
preservar a competência, garantir a autoridade e súmula vinculante. Senão, vejamos:

● quando se fala em preservar a competência do tribunal – são para os casos de


haver usurpação de sua competência;

● quando se fala de garantir a autoridade do tribunal – são para os casos de


descumprimento de decisão;

● quando se fala de garantir súmula vinculante – são para os casos que ocorrem

195
196

desrespeito à súmula vinculante, devendo, para tanto que o ato impugnado seja posterior à
referida súmula;

● quando se fala em decisão que tenha sido proferida em sede de controle


concentrado – são para os casos com efeito vinculante e erga omnes.

● quando for para garantir a observância de acórdão proferido em julgamento


de incidente de resolução de demandas repetitivas (IRDR) ou de incidente de
assunção de competência (IAC) – Art. 988,IV, CPC.

Em que pese, as situações acima descritas, é imperioso observar se já ocorreu trânsito


em julgado relativo ao ato impugnado, bem como, nas situações de ato administrativo ou
omissão, já deve ter ocorrido o esgotamento das vias administrativas para a proposição da
reclamação constitucional

Portanto, apresentadas as considerações pertinentes à reclamação constitucional,


devemos, por fim, atentarmos para a situação de recursos na reclamação, pois como já
asseverado, esse instituto se trata de uma ação originária de tribunal, não sendo ajuizada
perante juízos de primeira instância. Logo, das decisões proferidas em sede de reclamação os
recursos a serem utilizados são os embargos de declaração e das decisões proferidas pelo
relator cabe agravo interno, nos termos do art. 1.021 do CPC.

Outrossim, no caso de julgamento de reclamação por parte de tribunal de segunda


instância, cabe recurso especial, podendo, ressalve-se, de qualquer acórdão ser interposto
recurso extraordinário.

10 REFERÊNCIAS
PROCESSO CIVIL Vol. Único / Rinaldo Mouzalas, João Otávio Terceiro Neto e Eduardo
Madruga – 11ª ed., rev., ampl e atual. Salvador. Ed. JusPodivm, 2019
A FAZENDA PUBLICA EM JUIZO / Leonardo Carneiro da Cunha. - 15ª ed.
Rev., atual e ampl. – Rio de Janeiro: Forense, 2018.
ADVOCACIA PÚBLICA FEDERAL / organizadores: Leonardo Garcia e
Roberval Rocha – 2ª ed. Revista e atualizada – Salvador. Ed. JusPodivm, 2017.
https://forumfnpp.wixsite.com/fnpp/enunciados-aprovados-i-fnpp Acesso em: 09 de abril de
2020.
http://civileimobiliario.web971.uni5.net/wp-content/uploads/2017/07/Carta-de-
Florian%C3%B3polis.pdf Acesso em 10 de abril de 2020.
https://diarioprocessual.com/2018/03/20/enunciados-do-fppc-carta-de-recife-2018/ Acesso
em 10 de abril de 2020.

196
197

https://portal.stf.jus.br/processos/downloadPeca.asp?id=314268384&ext=.pdf
Acesso em 11 de abril de 2020.

file:///C:/Users/edupt/Downloads/copy_of_Enunciadosaprovadosvfpub.pdf
Acesso em 11 de abril de 2020.

197
198

MANDADO DE SEGURANÇA E FAZENDA PÚBLICA

MANDADO DE SEGURANÇA
E FAZENDA PÚBLICA

ALMANAQUE DA ADVOCACIA PÚBLICA por


Leandro Mártines Gonçalves de Amorim

Em quarentena em Cuiabá/MT, 10 de abril de 2020

198
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1 BREVE HISTÓRICO

Cumpre mencionar inicialmente, que parte da doutrina menciona que o mandado de


segurança surgiu na primeira Constituição da República, entretanto, este não é o
entendimento majoritário, qual defende sua origem na Constituição Federal de 1934, onde
estava previsto como instrumento para defesa de direito certo e incontestável, sendo
regulamentado posteriormente a Lei 191, de 16 de janeiro de 1936 e Lei 1.533, de 31 de
dezembro de 1951.
Nos dias atuais, o mandado de segurança individual e coletivo está regulado pelas
disposições contidas na Lei 12.016, de 07 de agosto de 2009. Insta lembrar, que o referido
instrumento esta encartado na Constituição Federal de 1988 em seu artigo 5º, incisos LXIX
e LXX, qual manteve em linhas gerais o writ constituído em 1946.
Assim, diante da breve análise, percebe-se que o mandado de segurança já faz parte
de nosso ordenamento jurídico a quase um século, estando sempre elencado nas
Constituições, com exceção da Constituição de 1937 e seus procedimentos estabelecidos em
Leis.

2 CONCEITO E FINALIDADE

Pode-se conceituar mandado de segurança como um instrumento ou ação


constitucional, manejado por pessoa física ou jurídica, para proteção de direito individual ou
coletivo, líquido e certo, não amparado por Habeas Corpus ou Habeas Data, estando previsto
no art. 5º, LXIX da CF:

LXIX - conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo,


não amparado por habeas corpus ou habeas data , quando o responsável pela
ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica
no exercício de atribuições do Poder Público;

Sua finalidade é proteger e evitar dano ou ameaça de lesão praticada por autoridade
pública ou agente particular investido dos poderes da administração pública, surtindo seus
efeitos contra atos vinculados ou discricionários.

3 NATUREZA JURÍDICA E OBJETO

199
200

O mandado de segurança é uma ação considerada especial, pois se trata de um


remédio processual constitucional, sendo a sua natureza jurídica de ação civil, no entanto,
nada impede sua impetração a nível de ato ou processo penal.
Seu objeto se dá por exclusão, logo residual, pois, não sendo cabível Habeas Corpus
ou Habeas Data, será possível a impetração do writ que busca impugnar atos estatais, que tem
caráter mandamental, ou seja, não é substitutivo de uma ação.

4 ESPÉCIES DE MANDADO DE SEGURANÇA

A ação mandamental é composta por duas espécies: preventiva e repressiva, pois


decorre do princípio da inafastabilidade do Poder Judiciário, também chamado de cláusula
de acesso à justiça ou de direito de ação que relembrando, nada mais é o direito de provocar
a prestação jurisdicional para garantia de direito.
Nesta esteira, o mandado de segurança preventivo será impetrado diante da
existência de fato que futuramente acarretaria em abuso ou violação de um direito líquido e
certo. Já no caso do mandado de segurança repressivo, o ato ou abuso de direito ilegal já
ocorreu.

5 FORMAS DE TUTELA
O writ poderá ser impetrado de forma individual ou coletivo. Sua diferença não está
na quantidade que preenche os polos, mas sim por razões técnicas elencadas taxativa no
artigo 5º, LXX:

LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por:


a) partido político com representação no Congresso Nacional;
b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída
e em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus
membros ou associados;

Assim, o mandado de segurança individual pode ser impetrado por qualquer pessoa,
física ou jurídica e até mesmo entes despersonalizados. Já o mandado de segurança coletivo,
qual postula-se direito alheio em nome próprio (substituição processual), seus legitimados
estão elencados de forma taxativa na Carta Republicana.
Por derradeiro, importante lembrar que a legitimidade passiva é a autoridade
administrativa que praticou o ato ilegal ou abusivo e não a pessoa de direito público ou
jurídica delegada, sendo denominada de autoridade coatora, podendo ser da Administração

200
201

Pública Direta ou Indireta, representantes de órgãos de partidos políticos e agente públicos


delegados.

6 DIREITO LÍQUIDO E CERTO


Em regra, para que o mandado de segurança alcance sua finalidade mandamental,
deve o direito postulado ser líquido e certo, isto significa que o impetrante deve demonstrar
prova pré-constituída. Em miúdos, o direito líquido e certo, que é uma condição da ação, é
todo aquele que no ato da impetração da demanda comprove através de provas documentais
seu direito, independentemente da fase de instrução processual.
No entanto, a exceção à regra se apresenta quando os documentos comprobatórios
estiverem em poder do próprio Poder Público, podendo neste caso, ser impetrado o writ nos
termos do artigo 6º, § § 1º e 2º da Lei 12.016/2009.
O Supremo Tribunal Federal pacificou que qualquer matéria jurídica, sendo ela
complexa ou não, poderá ser questionada em juízo, conforme Súmula 625 – Controvérsia
sobre matéria de direito não impede concessão de mandado de segurança. Já o
Superior Tribunal de Justiça, entende que quando se tratar de fornecimento de medicações,
o laudo médico, por ser documento unilateral, precisará passar pelo contraditório.
Logo, é um instrumento bastante utilizado no campo tributário, pois tem como fim
impedir ou desconstituir atos ilegais praticados por autoridades administrativas contra um
direito líquido e certo, que não seja amparado nem por habeas corpus nem por habeas data. Por
fim, ausente direito líquido e certo, o mandado será extinto sem resolução do mérito,
facultando a parte o uso do procedimento comum.

7 AUTORIDADE PÚBLICA E O ATO ILEGAL OU ABUSO DE PODER


Autoridade pública é todo sujeito que integra a Administração Pública, qual detém
competência e poder de decisão, estando elencado no § 3º do artigo 6º da Lei 12.016/2009,
“Considera-se autoridade coatora aquela que tenha praticado o ato impugnado ou
da qual emane a ordem para sua prática.”
Ainda conceituando o termo autoridade pública, podemos citar o artigo 1º, § § 1º e
2º da mesma Lei:
Art. 1º Conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo,
não amparado por habeas corpus ou habeas data, sempre que, ilegalmente ou
com abuso de poder, qualquer pessoa física ou jurídica sofrer violação ou houver
justo receio de sofrê-la por parte de autoridade, seja de que categoria for e sejam
quais forem as funções que exerça.

201
202

§ 1º Equiparam-se às autoridades, para os efeitos desta Lei, os representantes ou


órgãos de partidos políticos e os administradores de entidades autárquicas, bem
como os dirigentes de pessoas jurídicas ou as pessoas naturais no exercício de
atribuições do poder público, somente no que disser respeito a essas atribuições.
§ 2º Não cabe mandado de segurança contra os atos de gestão comercial
praticados pelos administradores de empresas públicas, de sociedade de
economia mista e de concessionárias de serviço público .

Neste liame, cumpre mencionar que o Presidente da República, quando de sua


competência, será considerado autoridade coatora em nomeação de magistrado, conforme
ensina a Súmula 627 do Supremo Tribunal Federal. De outra banda, preleciona a Súmula 266
da mesma Corte que “Não cabe mandado de segurança contra lei em tese.”
Finalmente, ato ilegal é toda ato administrativo, comissivo ou omissivo, que afronte
o princípio da legalidade. Abuso de poder ocorrerá quando a autoridade administrativa se
omitir ou desbordar dos limites de suas prerrogativas.

8 PRAZO DE IMPETRAÇÃO

O artigo 23 da Lei 12.016/2009, determina como prazo de impetração do mandado


de segurança será de 120 dias: “O direito de requerer mandado de segurança extinguir-
se-á decorridos 120 (cento e vinte) dias, contados da ciência, pelo interessado, do ato
impugnado.”, tendo como início o prazo a ciência do ato de forma pessoal ou através de
Diário Oficial.
O Superior Tribunal de Justiça, entende que os atos sucessivos se renovam
sucessivamente e que diante da omissão administrativa, “(...) não há prazo para
impetração do mandamus, uma vez que não há marco de início para contagem.”
O STF sedimentou o entendimento que a natureza jurídica do prazo do writ é
decadencial, podendo lei fixa-lo desta forma, conforme Súmula 632: “É constitucional lei
que fixa o prazo de decadência para impetração do mandado de segurança.” Mas,
vale destacar, que o próprio STF já relativizou referido prazo sustentando como base o
princípio da segurança jurídica (MS 25097, Relator(a): Min. GILMAR MENDES,
Segunda Turma, julgado em 28/03/2017).
Ainda, não será possível impetrar o mandamus quando tiver a possibilidade de recurso
administrativo com efeito suspensivo, devendo destacar neste ponto a Súmula 430 do STF:

202
203

“O pedido de reconsideração na via administrativa não interrompe o prazo para o


mandado de segurança.”

9 MANDADO DE SEGURANÇA CONTRA ATO LEGISLATIVO

A doutrina e os Tribunais Pátrio entendem ser possível a impetração do mandado de


segurança por parlamentar na elaboração da lei, votação de proposições ou na administração
do Legislativo, devendo referidos atos infringirem a Constituição ou normas regimentais e
ofender direitos ou prerrogativas do impetrante.

10 MANDADO DE SEGURANÇA CONTRA ATO JUDICIAL

A Lei 12.016/2009 veda o uso de mandado de segurança em seu artigo 5º, II, “ Art.
5º Não se concederá mandado de segurança quando se tratar: II – de decisão judicial
da qual caiba recurso com efeito suspensivo;”
Logo, em regra, não será cabível MS quando o recurso puder ser atribuído efeito
suspensivo, entretanto, poderá o juízo, por força da lei, atribuir a suspensão do mesmo
quando a lei não determinar tal premissa ao recurso.
Vale lembrar, que caberá o mandado de segurança contra ato judicial do Superior
Tribunal de Justiça em duas situações: inexistindo recurso apto à impugnação da decisão
judicial ou em decorrência de decisão teratológica por abuso de poder ou ilegalidade. A Corte
ainda sumulou: “Súmula 202. A impetração de segurança por terceiro, contra ato
judicial, não se condiciona a interposição de recurso.” e “Súmula 268 . Não cabe
mandado de segurança contra decisão judicial com trânsito em julgado.”

11 MANDADO DE SEGURANÇA CONTRA ATO DISCIPLINAR E POR


COMPENSAÇÃO TRIBUTÁRIO

Segundo entendimento jurisprudencial é possível a impetração do mandado de


segurança contra atos disciplinares. Já quanto, a possibilidade de impetrar mandado de
segurança no que tange a direito à compensação tributário, o STJ sumulou que o writ é a ação
adequada (Súm. 213) e que o MS não deve ser manejado para convalidar a compensação
tributária realizada pelo contribuinte (Súm. 460).

203
204

12 PARTES NO MANDADO DE SEGURANÇA

LEGITIMIDADE ATIVA
Todo aquela, pessoa natural ou jurídica, titular do direito líquido e certo, poderá
impetrar mandado de segurança, podendo ser citado como exemplos: o condomínio, o
espólio, a herança jacente, a massa falida, a sociedade de fato que tenham personalidade
judiciária.
Alguns entes não detêm legitimidade para postular por meio do procedimento
comum, entretanto, podem impetrar mandado de segurança quando buscam garantir ou
resguardar prerrogativa institucional, sendo eles os órgãos despersonalizados, tais como
Tribunal de Contas, Secretaria de Estado, Câmara dos Vereadores, entre outros.
Ainda, é pacífico no STF e STJ que o falecimento do impetrante acarretará na
extinção da ação por se tratar de direito personalíssimo e que só será possível a habilitação
caso o writ já esteja em fase de cumprimento (execução).

LEGITIMIDADE PASSIVA
Existe uma divergência doutrinária acerca da legitimidade passiva no mandado de
segurança, onde uma corrente sustenta a autoridade como parte passiva e a outra alega ser a
pessoa jurídica de direito público o polo passivo, sendo esta última que prevalece.

TEORIA DA ENCAMPAÇÃO
Ocorrendo a indicação errônea do responsável pelo ato no mandado de segurança, o
STJ consolidou a aplicação da teoria da encampação, entretanto, deverá ser observado os
seguintes requisitos específicos: a) vínculo hierárquico entre a autoridade da prestação de
informação e a que ordenou a prática do ato impugnado; b) ausência de modificação de
competência estabelecida na CF; c) defesa do mérito do litígio das informações prestadas.

INDICAÇÃO ERRÔNEA DA AUTORIDADE COATORA


O STJ tem julgado, em casos de indicação errônea da autoridade coatora, pela
possibilidade do juiz determinar a emenda a inicial ou corrigi-lo de ofício e não extinguir o
processo. Já a doutrina apresenta duas possibilidades: a) quando erro for apenas a autoridade
coatora, será considerada mera irregularidade; b) ocorrerá a extinção do writ quando indicar
autoridade coatora diversa da pessoa jurídica.

204
205

Por derradeiro, cabe mencionar os Enunciados do Fórum Permanente de


Processualistas Civil ns. 448 e 511, bem como os artigos 338 e 339 do Código de Processo
Civil, onde ambos afirmam ser possível a correção do polo passivo.

LITISCONSÓRCIO PASSIVO
É possível o litisconsórcio passivo nos termos do artigo 24 da Lei 12.016/2009, bem
como o litisconsórcio passivo necessário, instado no artigo 114 do CPC, devendo neste caso
o impetrante requerer ao juízo a citação, sob pena de extinção dos autos, nos termos da
Súmula 631 do STF.

MINISTÉRIO PÚBLICO
O Ministério Público atuará como fiscal da ordem jurídica, conforme preleciona o
artigo 12 da Lei 12.016/2009, tendo prazo de 10 dias para opinar, caso não o faça o juízo
poderá decidir necessariamente em 30 dias.

13 COMPETÊNCIA

Para se definir a competência para processar e julgar o mandado de segurança, se faz


necessário atentar-se a duas situações: a) a qualificação da autoridade como federal ou local
e, b) a graduação hierárquica da autoridade.

14 PROCEDIMENTO

O início do procedimento do mandado de segurança ocorre com o protocolo da


petição inicial, que segue os requisitos estabelecidos nos artigos 319 e 320 do CPC, sendo
notificado a autoridade coatora para que prestes informações, bem como a ciência do órgão
de representação jurídica, que deverá manifestar dentro prazo de 10 dias, contados da
juntada da notificação, percorrendo até a prolação da sentença e o cumprimento da decisão.

DA TUTELA PROVISÓRIA
A medida liminar (tutela) no mandado de segurança está prevista no artigo 7º, III da
Lei 12.016/2009, definindo que se faz necessário presente os requisitos da probabilidade do
direito e a possibilidade de ineficácia da medida, ao perigo de dano ou risco ao resultado útil

205
206

do processo (Art. 300, CPC), tendo seu efeito até a prolação da sentença, podendo ser
revogada ou cassada, retroagindo seus efeitos da decisão contrário (Súmula 405 do STF).
Nesta vereda, vale mencionar que caso o impetrante não tenha condições de prestar
caução e estando presentes todos os requisitos para a concessão da liminar, deverá o
magistrado concedê-la. Por fim, imperioso citar a alteração do artigo 16 da Lei 12.016/2009,
pela Lei 13.676/2018 em que sendo competência originária do tribunal, será assegurado a
defesa oral na sessão do julgamento do mérito ou do pedido da liminar.

SENTENÇA E DA POSSIBILIDADE DA DESISTÊNCIA DO WRIT


A sentença ou acórdão proferido em tribunal originário tem caráter mandamental ou
condenatória, não cabendo a condenação em honorários advocatícios em nenhuma instância,
conforme já sumulado pelo STJ nº 105 e STJ nº 512. Na sentença de improcedência liminar
prevista no artigo 332 do CPC aplica-se ao mandado de segurança, ficando sujeita a juízo de
retratação.
Imperioso mencionar, que de acordo com o posicionamento do STF, o impetrante
poderá desistir do mandado de segurança a qualquer tempo, mesmo com decisão de mérito
favorável ao impetrante (RE 669.367/RJ).

COISA JULGADA
Com a apreciação do mérito da demanda, forma-se a coisa julgada, não o sendo,
poderá ser impetrado novo mandado de segurança, caso esteja dentro do prazo, podendo
ainda ser proposta outro tipo de ação (Súmula 304 do STF).

REMESSA NECESSÁRIO
A remessa necessária está prevista no artigo 14, § 1º da Lei 12.016/2009, onde ensina
que “Concedido a segurança, a sentença estará sujeita obrigatoriamente ao duplo
grau de jurisdição.”, somente depois deste tramite ocorrerá o trânsito em julgado. Neste
ponto, o STJ entende que na concessão da segurança, a remessa necessária será possível
independentemente da pessoa que ocupe o polo passivo.

RECURSOS
Caberá agravo de instrumento, embargos de declaração, apelação, recurso especial e
recurso extraordinário, podendo ser interposto apelação também contra sentença que
indeferir a inicial.

206
207

Quando impetrado mandado de segurança originariamente em Tribunal e a decisão


do relator indeferir a liminar, caberá agravo interno. De outra banda, sendo improcedente o
MS no Tribunal caberá recurso ordinário, mas se a decisão for singular de relator deverá ser
interposto agravo interno.
Sendo o acórdão favorável ao impetrante, só caberá recurso extraordinário e especial
ao impetrado, não se aplicando o princípio da fungibilidade recursal segundo a Súmula 272
do ST: “Não se admite como ordinário recurso extraordinário de decisão denegatória
de segurança.”

PRAZOS RECURSAIS E PEDIDO DE SUSPENSÃO


Importante a contagem do prazo recursal, que para o impetrante inicia a partir da
publicação no Diário Oficial e ao impetrado com a intimação pessoal para a advocacia
pública. Já quanto ao pedido de suspensão, este consta no artigo 15 da Lei nº 12.016/2009:

Quando, a requerimento de pessoa jurídica de direito público interessada ou do


Ministério Público e para evitar grave lesão à ordem, à saúde, à segurança e à
economia públicas, o presidente do tribunal ao qual couber o conhecimento do
respectivo recurso suspender, em decisão fundamentada, a execução da liminar
e da sentença, dessa decisão caberá agravo, sem efeito suspensivo, no prazo de 5
(cinco) dias, que será levado a julgamento na sessão seguinte à sua interposição.

CUMPRIMENTO DE SENTENÇA
Para o cumprimento de sentença, se faz necessário verificar a pretensão do
impetrante e o conteúdo da sentença (mandamental e condenatória), devido ao silêncio da
Lei 12.016/2009. Sendo de cunho pecuniário, deverá ser observado as súmulas 269 e 271 do
STF, bem como, que a forma de pagamento será através de precatório ou requisição de
pequeno valor.

Súmula 269. O mandado de segurança não é substitutivo da ação de cobrança.


Súmula 271. Concessão de mandado de segurança não produz efeitos
patrimoniais em relação ao período pretérito, os quais devem ser reclamados
administrativamente ou pela via judicial.

15 MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO


O mandado de segurança coletivo está previsto no artigo 5º, LXX da CF e na Lei
12.016/2009, artigos 21 e 22, destacando a legitimidade ativa:

207
208

Art. 5º....
LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por:

a) partido político com representação no Congresso Nacional;

b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída


e em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus
membros ou associados;

Art. 21. O mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por partido político
com representação no Congresso Nacional, na defesa de seus interesses legítimos
relativos a seus integrantes ou à finalidade partidária, ou por organização sindical,
entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há,
pelo menos, 1 (um) ano, em defesa de direitos líquidos e certos da totalidade, ou
de parte, dos seus membros ou associados, na forma dos seus estatutos e desde
que pertinentes às suas finalidades, dispensada, para tanto, autorização especial.

Vale destacar as súmulas do STF também:

Súmula 69 . A impetração do mandado de segurança coletivo por entidade de


classe em favor dos associados independente da autorização destes.

Súmula 630 . A entidade de classe tem legitimação para o mandado de segurança


ainda quando a pretensão veiculada interesse apenas uma parte da respectiva
categoria.

Por fim, o professor Ubirajara nos ensina que, “conforme entendimento do STF,
estado-membro carece de legitimidade para propor ação contra a União em defesa
da população residente na unidade federada.”

OBJETO
A legislação prevê a tutela de direitos coletivos e individuais, sendo omisso ao direito
difuso, no entanto, a doutrina entende que o direito difuso poderá ser questionado na justiça,
inclusive via mandado de segurança.

LITISPENDÊNCIA COM PROCESSO INDIVIDUAL


Inexiste litispendência entre MS coletivo e individual, mas, uma vez impetrado o MS
coletivo, deverá o impetrante individual optar pelo prosseguimento ou não do mandamus
individual, tendo prazo de 30 dias, contados da intimação. Optando pela demanda individual,
não será beneficiado pela coletiva.

COISA JULGADA
Ocorrendo coisa julgada no mandado de segurança coletivo, dispõe o artigo 22 da
Lei 12.016/2009: No mandado de segurança coletivo, a sentença fará coisa julgada
limitadamente aos membros do grupo ou categoria substituídos pelo impetrante. O

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efeito do artigo 22 é ultra partes, mas os doutrinadores defendem que o MS coletivo em relação
a direitos difusos, sua sentença terá efeitos erga omnes.

16 REFERÊNCIAS

A Fazenda Pública em juízo / Leonardo Carneiro de Cunha. – 15. ed. Ver., atual e amp. –
Rio de Janeiro: Forense, 2018.

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AÇÃO POPULAR E FAZENDA PÚBLICA

AÇÃO POPULAR E
FAZENDA PÚBLICA

ALMANAQUE DA ADVOCACIA PÚBLICA por


Shirley Renata de Paula Mascarenhas

Em quarentena em Belo Horizonte/MG, 30 de abril de 2020

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211

1 INTRODUÇÃO
A Constituição Federal tutela inúmeros direitos e liberdades individuais e coletivos.
Essa tutela, consiste na garantia do exercício destes direitos e liberdades, bem como, na
previsão de medidas judiciais específicas para sanar ilegalidades ou abuso de poder que
possam, de alguma forma, lesioná-los.
Neste contexto, é interessante observar que a doutrina denomina estas medidas
judiciais previstas pela constituição, de remédios constitucionais. Isto porque, para cada tipo
de violação cometida, há uma medida judicial pertinente. É dizer, para cada tipo de violação,
há um remédio específico (uma medida judicial específica) para tratá-la.
A ação popular é uma destas medidas e visa a proteger o patrimônio público e a
moralidade administrativa. O que a torna interessante, é o fato de poder ser manejada por
qualquer cidadão, tornando-se, assim, um mecanismo de fiscalização da coisa pública.
Como parte da sua evolução história, é relevante pontuar que, a ação popular foi
prevista, inicialmente, na Constituição Federal de 1934. Após, deixou de ter previsão na
Constituição de 1937. Voltando a aparecer na Constituição de 1946 e sendo replicada em
todas as subsequentes.

2 CONCEITO
A ação popular está prevista no artigo 5º, LXXIII da Constituição Federal e é
regulamentada pela lei 4.717/65.
ART. 5º, LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise
a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à
moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando
o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus de sucumbência;

Segundo o professor Bernardo Gonçalves, o conceito de ação popular é:


“A ação popular é uma ação constitucional de natureza civil, atribuída a qualquer cidadão,
que visa a invalidar atos ou contratos administrativos que causem lesão ao patrimônio
público ou ainda à moralidade administrativa, ao patrimônio histórico e cultural e ao meio
ambiente”.
A ação popular pode ser preventiva, quando há ameaça de lesão aos objetos por ela
protegidos, neste caso, a medida judicial terá natureza impeditiva. E, é repressiva quando a
lesão já se perpetrou, aqui a medida judicial será corretiva.

3 OBJETO

A ação popular, prevista no art. 5º, LXXIII, da CF/88, objetiva tutelar:

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212

• o patrimônio público ou de entidade que o Estado participe;


• a moralidade administrativa;
• o meio ambiente;
• o patrimônio histórico e cultural.

Importante observar que, no conceito de patrimônio público também está incluso o


patrimônio imaterial, como o cultural, histórico, ambiental e moral, indo, portanto, além da
tutela do erário público.
Ademais, o artigo 4º da lei 4.717/65, traz um rol, meramente exemplificativo, de atos
ou contratos passíveis de nulidade em razão de ilegalidades ou abuso de poder.
Esta lei, em seu artigo 2º, ainda determina que, podem ser objeto da ação popular,
atos lesivos ao patrimônio público que contenham vícios de forma, ilegalidade do objeto,
inexistência de motivos, desvio de finalidade ou tenham sido praticados por autoridade
incompetente.
Fazendo aqui uma pequena conexão com direito administrativo, é importante
lembrar que, o artigo 2º da lei 4.717/65 é fundamental para a doutrina administrativa, pois,
dele se extraem os requisitos ou elementos do ato administrativo (sujeito/competência;
forma; motivo; finalidade e objeto).
Voltando ao tema, é preciso elencar, neste momento, o que não é objeto da ação
popular:
• Leis ou atos normativos em tese, assim como acontece com o mandado de
segurança;
• Atos jurisdicionais;
• Atos políticos;

4 COMPETÊNCIA

A competência da ação popular é o juízo monocrático de primeiro grau de jurisdição,


federal ou estadual (ou distrital), conforme o caso concreto. Esta previsão se encontra no
artigo 5º da lei 4.717/65.
A regra diz que o autor pode ajuizar a ação popular no foro do seu domicílio, mesmo
que o dano tenha ocorrido em outro local.
No entanto, o Superior Tribunal de Justiça relativizou este entendimento, e decidiu
que, no caso das ações que envolvem o rompimento da barragem em Brumadinho/MG, o

212
213

mais razoável é determinar que a ação popular que pede a responsabilização pelos danos
ocorridos seja julgada pelo juízo do local do fato. Vejamos:
Em face da magnitude econômica, social e ambiental do caso concreto
(responsabilidade civil e ambiental envolvendo o rompimento da barragem de
Brumadinho), é possível a fixação do juízo do local do fato para o julgamento
de ação popular que concorre com diversas outras ações individuais, populares e
civis públicas decorrentes do mesmo dano ambiental. STJ. 1ª Seção. CC 164.362-MG,
Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 12/06/2019 (Info 662).
Note-se, portanto, que se trata de situação específica e excepcional, adota pelo STJ
como forma de evitar o tumulto processual, justificada pela magnitude econômica, social e
ambiental do caso.
É necessário apontar que há uma exceção, quanto a competência do juízo
monocrático de primeira instancia. Pois, o Supremo Tribunal Federal é competente para as
causas previstas no artigo 102, I da Constituição Federal, das alíneas “n” e “f”
• Art. 102, I, n: interesse ou impedimento dos membros da magistratura local;
• Art. 102, I, f: conflito entre União e demais pessoas federadas, respectivamente.
Assim, uma ação popular proposta por um cidadão comum contra o Presidente da
República, será julgada pelo juízo monocrático de primeira instância. Pois, a definição da
competência na ação popular não leva em consideração as regras de foro por prerrogativa de
função.
Ademais, há regra pertinente à prevenção, na lei de ação popular. O art. 5º, § 3º, da
Lei nº 4.717/65, preceitua que a propositura da ação prevenirá a jurisdição do juízo para
todas as ações, que forem posteriormente intentadas contra as mesmas partes e sob os
mesmos fundamentos.

5 LEGITIMIDADE ATIVA
Conforme a previsão constitucional, a legitimidade ativa é do cidadão (CF/88, art.
5º, LXXIII), cuja prova se faz com o título eleitoral, ou com documento equivalente, a
exemplo da certidão de quitação da Justiça Eleitoral (Lei nº 4.717/65, art. 1º, § 3º).
A doutrina destaca que, haveria neste caso o fenômeno da substituição processual,
sendo o cidadão um legitimado extraordinário, vez que, a tutela de direitos difusos e
coletivos, pertencentes a toda a sociedade.
Importante observar que, o autor deve estar em pelo gozo dos seus direitos políticos.
E que, neste contexto, é suficiente a capacidade eleitoral. Logo, o cidadão de 16-17 poderá
ajuizar a ação popular se já tiver tal capacidade.
213
214

No entanto, é preciso ter muito cuidado neste ponto, já que há discussão doutrinária
quanto a necessidade ou não deste cidadão de 16-17, estar assistido para ingressar em juízo
(CF/88, art. 14, § 1º, II, c), havendo vozes nos dois sentidos.
Como dito, no tópico acima (da competência), não é necessário que o cidadão seja
eleitor no mesmo município onde ele ajuíza a ação popular. ajuizar a ação no foro do seu
domicílio, mesmo que o dano tenha ocorrido em outro local, ressalvando o caso excepcional
acima exposto (Brumadinho).
E, segundo a súmula 365 do Supremo Tribunal Federal, a pessoa jurídica não tem
legitimidade para propor ação popular (exatamente porque não possui capacidade eleitoral).

Súmula n° 365, do STF: “Pessoa jurídica não tem legitimidade para propor ação
popular”.

Por fim, sobre a atuação do Ministério Público na ação popular, temos duas questões
relevantes a pontuar:
• O artigo 6º, § 4º da lei 4.717/65, estabelece que o Ministério Público atua
como fiscal da ordem jurídica nas ações populares, sendo-lhe expressamente vedada a
assunção da defesa do ato impugnado ou dos seus autores;
• Já, no artigo 9º da mesma lei, contém previsão de que, acaso o autor da ação
dela desista ou haja a extinção sem resolução de mérito, o Ministério Público pode vir a
assumir a condução do processo.

6 LEGITIMIDADE PASSIVA
Segundo dicção do artigo 6º da lei 4.717/65, a legitimidade passiva fica a cargo de
todos aqueles que participaram da prática lesiva, ou dela se beneficiaram. Nestes termos,
alcançando, tanto pessoas físicas ou jurídicas, quanto, ações comissivas ou omissivas.
A doutrina chama a atenção para o fato de se tratar de um litisconsórcio necessário
e simples. Necessário, porque todos os envolvidos devem integrar o polo passivo. Simples,
porque a punição se dará na medida da responsabilidade de cada litisconsorte.

7 PESSOA JURÍDICA INTERESSADA


Trata-se de mais um aspecto interessante da ação popular. Denominado pela doutrina
como “intervenção móvel do poder público”.
A pessoa jurídica interessada (lesionada), tem a opção de escolher em qual polo da
ação quer ingressar, de acordo com o que determina o interesse público no caso concreto.
Segundo o artigo 6º, § 3º, da Lei nº 4.717/65, poderá a entidade lesionada:

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215

1) atuar no polo passivo, em defesa do ato impugnado;


2) abster-se de contestar o pedido ou;
3) atuar ao lado do demandante, contra os réus.
Aqui, chamamos a atenção para o fato de que, mesmo após a referida opção, é
possível a troca de polo.
Veja que, o artigo 17, indica a possibilidade de a pessoa jurídica promover o
cumprimento de sentença, mesmo que tenha contestado o feito. Ou seja, mesmo que tenha
atuado na defesa do ato impugnado, poderá posteriormente, atuar no polo contrário (ao lado
do autor), na fase de cumprimento da sentença.
A partir desta previsão legal, o Superior Tribunal de Justiça, no REsp 945.238/SP,
estabeleceu que não há preclusão do direito de migrar para o outro polo da ação

(...)” Não há falar em preclusão do direito, pois, além de a mencionada lei não
trazer limitação quanto ao momento em que deve ser realizada a migração, o seu
art. 17 preceitua que a entidade pode, ainda que tenha contestado a ação, proceder
à execução da sentença na parte que lhe caiba, ficando evidente a viabilidade de
composição do pólo ativo a qualquer tempo. Precedentes do STJ”. STJ, REsp
945.238/SP, Rel. Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma.

Ora, pensando pelo viés do interesse público, é pertinente este entendimento de que
a troca de polo da demanda é possível a qualquer tempo, pois à administração pública cabe
zelar pelo interesse público.
Assim, se no curso do processo for verificado o cometimento de lesão ao patrimônio
público e à moralidade administrativa, a pessoa jurídica interessada tem o dever
constitucional de se posicionar a favor do ressarcimento ou restabelecimento deste
patrimônio. Deste modo, a previsão legal e a jurisprudência do STJ acima mencionadas, vão
ao encontro deste dever, viabilizando a defesa efetiva do interesse público.

8 ASPECTOS PROCEDIMENTAIS

Ao contrário do que acontece com as demais ações constitucionais, que têm ritos
especiais, a ação popular segue o rito ordinário, observadas as especificidades da própria lei
da ação popular. Veja artigo 7º da lei 4.717/65.

8.1 Petição inicial

A causa de pedir da ação será a lesão ou ameaça de lesão a um dos bens jurídicos
tutelados no artigo 5º, LXXIII, da Constituição Federal.

215
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Devemos ainda apontar que, para o Superior Tribunal de Justiça, basta a


ilegalidade do ato administrativo por ofensa a normas específicas ou desvios dos
princípios da Administração Pública, dispensando-se a demonstração de prejuízo
material. STJ, AgInt no AREsp 949.377/MG, Rel. Ministro Herman Benjamin,
Segunda Turma, julgado em 09/03/2017, DJe 20/04/2017)
Ainda relativo à causa de pedir, é importante lembrar que, a ação popular não é um
instrumento processual apto a impugnar lei ou ato normativo em tese. No entanto, eventual
declaração incidental de inconstitucionalidade de ato normativo em ação popular, é possível.

8.2 Documentação pertinente

Com efeito, deve o autor da ação juntar todos os documentos aptos a comprovar a
lesão ou ameaça de lesão ventilada.
A lei 4717/65, disciplina a hipótese de que o autor possa lançar mão do seu direito
de petição para viabilizar a documentação necessária. Para tanto, o artigo 1º, §4º, preleciona
que cidadão poderá requerer às entidades, ali referidas, as certidões e informações que julgar
necessárias.
As certidões e informações, deverão ser fornecidas dentro de 15 (quinze) dias da
entrega, sob recibo, dos respectivos requerimentos, e só poderão ser utilizadas para a
instrução de ação popular (art.1º, §5º).
Por fim, a lei ressalva as hipóteses de sigilo impostos por lei, caso em que, o
fornecimento das informações e certidões poderá ser negado (art. 1º, §§ 6º e 7º).

8.3 Citação

Embora, haja previsão de citação por edital no âmbito da ação popular (artigo 7º da
lei), é preciso asseverar que, a regra é a citação pessoal dos réus e eventuais beneficiários.
Pois, é preciso garantir-lhes o contraditório e a ampla defesa.
A citação por edital só deve ser realizada se os envolvidos forem desconhecidos ou
estiverem, em local incerto.
Cabe ainda asseverar que, de acordo com o art. 183, § 1º, a Fazenda Pública possui a
prerrogativa de intimação pessoal, por meio de remessa, carga ou meio eletrônico, nos termos
do art. 183, § 1º, do CPC.

8.4 Prazo de defesa

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217

A lei 4.717/65, art.7º, IV, traz regramento específico quanto ao prazo para
apresentação de defesa, qual seja: 20 dias, prorrogável por mais 20 dias a critério do juízo.
O prazo é contado em dias úteis, pois se aplica, subsidiariamente, o artigo 219 do
CPC.
Contudo, por ser um prazo próprio, não se aplica o art. 183 do CPC, que prevê
contagem em dobro para a Fazenda Pública. Assim como, também não se aplica a
possibilidade de contagem em dobro de prazo para litisconsortes diferentes (art.229 CPC),
uma vez que, o art.7º, IV da lei 4.717/65 é expresso ao dizer que se trará de prazo comum a
todos.

8.5 – Tutela provisória

Conforme art. 5º, § 4º, da Lei nº 4.717/1965, há tutela provisória em sede de ação
popular. Reforça esse entendimento, a possibilidade de aplicação do disposto no artigo 300
e seguintes do CPC.
Caberá também, agravo de instrumento em face da decisão interlocutória que
concede ou denega a medida urgente. Assim como, será possível o pedido de suspensão, em
caso de medida desfavorável ao Poder público.

8.6 – ALEGAÇÕES FINAIS

O procedimento previsto na lei 4.717/65, art. 7º, V, dispõe sobre as alegações finais, que
deverão ser apresentadas em 10 dias.

8.7 Sentença
A sentença pode ser declaratória, desconstitutiva e/ou condenatória. A procedência
do pedido leva à invalidação do ato impugnado e à condenação dos réus à reparação dos
danos.
Não há necessidade de adiantamento de custas processuais e preparo no curso do
processo da ação popular. Estes, deverão ser pagos ao final, de acordo com o art. 10 da lei.
Sendo o autor vencedor, os réus serão condenados a pagar os ônus sucumbenciais
(despesas judiciais e extrajudiciais e honorários advocatícios – art. 12, da Lei nº 4.717/1965).
Porém, caso haja improcedência da ação, não há condenação em custas e honorários, exceto
se o juiz considerar que houve má-fé. E neste caso, o autor será condenado a pagar o décuplo
das custas, conforme artigo 13 da lei.

8.8 Coisa julgada

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218

O regramento aplicado aqui é diferente daquele utilizado no Código de Processo


Civil, pois:
• A sentença de improcedência por falta de provas, não forma coisa julgada,
podendo ser novamente deduzida a pretensão, mediante a apresentação de prova nova. Aqui
temos, o que a doutrina intitula de secundum eventum probationis;
• Quanto à sentença de procedência, ela terá eficácia de coisa julgada oponível
“erga omnes” (art. 18, lei 4.717/65). Aqui, a coisa julgada é secundum eventum litis;
Ainda é preciso destacar que, havendo a hipótese de sentença de improcedência por
insuficiência de provas, é possível que o réu apresente apelação, como o intuito de alterar a
motivação da sentença, buscando a declaração de falta de fundamento da pretensão, e por
consequência, a coisa julgada material.

8.9 Remessa necessária

Segundo o artigo 19 da lei 4.717/65, a remessa necessária em ação popular se dará


quando a sentença não acolher o pedido do autor, independentemente do fundamento, se
por improcedência do mérito ou extinção sem resolução de mérito.
A remessa necessária, na ação popular, não segue a lógica do julgamento desfavorável
ao Poder Público (previsto no CPC). Na ação popular, a remessa necessária ocorre se o
cidadão perde. A doutrina denomina este fenômeno de, reexame necessário invertido.
Importante observar que, o STJ entende ser possível a aplicação, por analogia,
do citado artigo 19, às ações de improbidade administrativa e às ações civis públicas,
vejamos:
A sentença que concluir pela carência ou pela improcedência de ação de
improbidade administrativa está sujeita ao reexame necessário, com base na
aplicação subsidiária do CPC e por aplicação analógica da primeira parte do art.
19 da Lei nº 4.717/65. STJ. 1ª Seção. EREsp 1.220.667-MG, Rel. Min. Herman
Benjamin, julgado em 24/5/2017 (Info 607).

O STJ entende que é possível aplicar, por analogia, a primeira parte do art. 19 da
Lei nº 4.717/65 paras as sentenças de improcedência de ação civil pública. Nesse
sentido: STJ. 2ª Turma. AgInt no REsp 1596028/MG, Rel. Min. Og Fernandes,
julgado em 26/09/2017.

Cuidado! O STJ ressalva as hipóteses de ações coletivas que versem sobre


direitos individuais homogêneos. Nestes casos, não haverá a aplicação do art. 19,
posto que, tais direitos não são considerados transindividuais, porque não atingem a

218
219

coletividade como um todo. STJ. 3ª Turma. REsp 1.374.232-ES, Rel. Min. Nancy
Andrighi, julgado em 26/09/2017 (Info 612).

8.10 Recursos

Os recursos previstos pela lei 4.717/65 são:


• Apelação com efeito suspensivo (art. 19, caput), contra a sentença de
procedência;
• Agravo de instrumento (art. 19, § 1º), contra as decisões interlocutórias;
O artigo 19, §2º, ainda dispõe que: das sentenças e decisões judiciais proferidas contra
o autor da ação e suscetíveis de recurso, poderá recorrer qualquer cidadão, bem como, o
Ministério Público.

8.11 Cumprimento de sentença

Haverá expedição de mandado ao órgão competente para que cumpra a decisão de


anular um ato administrativo.
Lado outro, sendo a sentença de condenação à reparação dos prejuízos causados, o
cumprimento de sentença obedecerá aos trâmites do Código de Processo Civil, artigos 523
e seguintes.
Se o autor não iniciar a fase de cumprimento da sentença, qualquer cidadão poderá
fazê-lo em seu lugar.
Decorridos 60 (sessenta) dias do trânsito em julgado, sem que o autor ou terceiro
promova a respectiva execução, o Ministério Público a promoverá nos 30 (trinta) dias
seguintes, sob pena de falta grave, nos termos do art. 16, da Lei nº 4.717/1965.
Lembrando que, conforme artigo 17, a pessoa jurídica interessada também poderá
assumir o polo ativo para cumprimento de sentença.
Por fim, tem-se que a ação popular prescreve em 5 (cinco) anos, de acordo com o
art. 21, da lei 4.717/65.

9 BIBLIOGRAFIA

CUNHA, Leonardo Carneiro. Fazenda Pública em juízo. 15. ed. Rio de Janeiro: Método,
2018.

BARROS, Guilherme Freire de Melo. Poder Público em juízo. Salvador: Juspodivm, 7. ed.,
2017.

219
220

RODRIGUES, Marco Rodrigues. A Fazenda Pública no processo. São Paulo: Atlas, 2. ed.,
2018.

LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. São Paulo: Saraiva, 20. ed. 2016.

GONÇALVES, Bernardo Fernandes. Curso de Direito Constitucional. Salvador. Juspodivm,


7. ed. 2015.

220
221

AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA E FAZENDA


PÚBLICA

AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE


IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA
e FAZENDA PÚBLICA

ALMANAQUE DA ADVOCACIA PÚBLICA por Davi


Carpegiane de Sousa

Em quarentena em Açailândia/MA, 08 de abril de 2020

221
1 NOÇÕES INTRODUTÓRIAS
Para compreensão expressiva do tema em comento imprescindível abordamos sua
contextualização dentro do que a doutrina chama de microssistema das ações coletivas. No Brasil, a
legislação foi progressivamente escrevendo a história da tutela coletiva, iniciando-se com a Lei de Ação
Popular (Lei n. 4.717/65), depois se ampliando com a aprovação da Lei de Ação Civil Pública (Lei
n. 7.347), em 1985. Desabrochou, enfim, com a Constituição Federal de 1988, seguida do Código de
Defesa do Consumidor em 1990 (Lei n. 8.072). Por conseguinte, vieram os códigos setorizados e os
estatutos, bem como as legislações especiais, as quais passaram a complementar e integrar o sistema
utilizado para a proteção dos interesses difusos, coletivos stricto sensu e individuais homogêneos.
Quando então ministro do Superior Tribunal de Justiça, o eminente Ministro Luiz Fux, delineou
o microssistema: “A lei de improbidade administrativa, juntamente com a lei de ação civil pública, da
ação popular, do mandado de segurança coletivo, do Código de Defesa do Consumidor e do Estatuto
da Criança e do Adolescente e do Idoso, compõem um microssistema de tutela dos interesses
transindividuais e sob esse enfoque interdisciplinar interpenetram-se e subsidiam-se [...]”.
Contudo, esse aspecto valorativo é exemplificativo, sobrevindo outras leis com conteúdo
normativo nele também inserido. Nesse quadro é pacifico, entre outras: as legislações referentes à
Habitação e Urbanismo (Estatuto da Cidade – Lei n. 10.257/2001 e Parcelamento do Solo – Lei n.
6.766/79); ao Meio Ambiente (Código Florestal – Lei n. 4.771/65; Estações Ecológicas e Áreas de
Proteção Ambiental – Lei n. 6.902/81; Lei da Política Nacional do Meio Ambiente – Lei n. 6.938/81;lei
que institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza – Lei n. 9.985/2000; Proteção
do Bioma Mata Atlântica – Lei n. 11.428/2006; Política Nacional de Biossegurança PNB – Lei n.
11.105/2005 etc.); aos Portadores de Deficiência (Política nacional da pessoa com deficiência – Lei n.
7.853/89; Prioridade de atendimento – Lei n. 10.048/2000; Promoção da acessibilidade – Lei n.
10.098/2000; Direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais – Lei n. 10.216/2001 etc.); à Saúde
(Lei Orgânica do SUS – Lei n. 8.080/90); à proteção do Patrimônio Público (Lei de Improbidade
Administrativa - Lei n. 8.429/92; Lei de Licitações e Contratos Administrativos – Lei n. 8.666/93), entre
outras.
Conquanto, composto de inúmeras leis esparsas esse microssistema tem entre essas duas leis
principais, CDC (Lei n. 8.072/90) e a lei a qual iremos aprofundar nesse estudo Lei de Ação Civil Pública
(Lei n. 7.347/85, como vetores elementares.
Com isto, requer que conhecemos seus conceitos, amplitude e aplicabilidade. Para que no
contexto da Lei de Improbidade Administrativa possa ser utilizada de modo compatível com os ditames
legais
2 PARALELO ENTRE ACP E LIA
Nesse particular é importante adentramos no estudo sistemático da Lei da Ação Civil Pública.
Para isto, mister se faz conhecer os bens jurídicos protegido pela norma, conforme dispostos no art. 1º
da lei, in verbis:

I- ao meio-ambiente;
ll - ao consumidor;
III – a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico;
IV - a qualquer outro interesse difuso ou coletivo. (Incluído pela Lei nº 8.078 de
1990)
V - por infração da ordem econômica; (Redação dada pela Lei nº 12.529, de 2011).
VI - à ordem urbanística. (Incluído pela Medida provisória nº 2.180-35, de 2001)
VII – à honra e à dignidade de grupos raciais, étnicos ou religiosos. (Incluído pela
Lei nº 12.966, de 2014)
VIII – ao patrimônio público e social. (Incluído pela Lei nº 13.004, de 2014)

Nesse enfoque precisamos então conhecer outros conceitos estes que agora estão dissipados no
CDC (Lei n. 8.072/90), são eles: I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste
código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas
por circunstâncias de fato; II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste
código, os transindividuais, de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas
ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base; III - interesses ou direitos
individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de origem comum.
Posto que a doutrina majoritária entende que a ação de improbidade administrativa é uma
espécie de ação civil pública, na medida em que tem por objeto a tutela de interesses de natureza difusa
(patrimônio público e moralidade administrativa). Entendimento este que foi consolidado pelo tribunal
da cidadania.
Face disso doutrina e jurisprudência sedimentaram a hipótese de ser propostaa ação civil pública
por ato de improbidade administrativa. Nesta seda, deverá ser usado o rito processual da Lei de
Improbidade Administrativa, (Lei nº 8429/90), subsidiariamente aplicada à lei do microssistema
processual coletivo da ACP e em havendo lacuna o CPC de 2015.

3 ESPÉCIES DE ATO DE IMPROBIDADE


Perante isso, é de vital importância conhecemos o que se caracteriza como improbidade
administrativa. A lei em comento originalmente trouxe três espécies, as quais são elencadas nos art. 9º,
10º e 11º, mais por alteração legislativa criou-se nova figura com o art. 10-A, classificados por sua
lesividade e gravidade de comportamento.
Na lição de Alexandre Mazza, em Manual de Direito Administrativo, assim os definiu:

223
a) atos de improbidade administrativa que importa enriquecimento ilícito: são as condutas
de maior gravidade, apenadas com as sanções mais rigorosas. Em regra, tais condutas causam aos cofres
públicos prejuízo associado a um acréscimo indevido no patrimônio do sujeito.
b) atos de improbidade administrativa que causam prejuízo ao erário: possuem gravidade
intermediária. Não produzem enriquecimento do agente público, mas provocam lesão financeira aos
cofres públicos;
c) atos de improbidade administrativa decorrentes de concessão ou aplicação indevida
de benefício financeiro ou tributário: também possuem gravidade intermediária. Não produzem
enriquecimento do agente público, mas provocam lesão financeira aos cofres públicos à medida que não
se observa os ditames para renunciar receita pública;
d) atos de improbidade administrativa que atentam aos princípios da administração
pública: comportamento de menor gravidade. Não desencadeiam lesão financeira ao erário, nem
acréscimo patrimonial ao agente.
Disto isto, vale ressaltar as incidências listadas na LIA para caracterizar o ato de improbidade.
Ademais, para facilitar a correlação abaixo disporá o animus do agente e sanção dispo
Art. 9 (...)
I - receber, para si ou para outrem, dinheiro, bem móvel ou imóvel, ou qualquer outra
vantagem econômica, direta ou indireta, a título de comissão, percentagem,
gratificação ou presente de quem tenha interesse, direto ou indireto, que possa ser
atingido ou amparado por ação ou omissão decorrente das atribuições do agente
público;
II - perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para facilitar a aquisição,
permuta ou locação de bem móvel ou imóvel, ou a contratação de serviços pelas
entidades referidas no art. 1° por preço superior ao valor de mercado;
III - perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para facilitar a alienação,
permuta ou locação de bem público ou o fornecimento de serviço por ente estatal por
preço inferior ao valor de mercado;
IV - utilizar, em obra ou serviço particular, veículos, máquinas, equipamentos ou
material de qualquer natureza, de propriedade ou à disposição de qualquer das
entidades mencionadas no art. 1° desta lei, bem como o trabalho de servidores públicos,
empregados ou terceiros contratados por essas entidades;
V - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta ou indireta, para tolerar
a exploração ou a prática de jogos de azar, de lenocínio, de narcotráfico, de
contrabando, de usura ou de qualquer outra atividade ilícita, ou aceitar promessa de tal
vantagem;
VI - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta ou indireta, para fazer
declaração falsa sobre medição ou avaliação em obras públicas ou qualquer outro
serviço, ou sobre quantidade, peso, medida, qualidade ou característica de mercadorias
ou bens fornecidos a qualquer das entidades mencionadas no art. 1º desta lei;
VII - adquirir, para si ou para outrem, no exercício de mandato, cargo, emprego ou
função pública, bens de qualquer natureza cujo valor seja desproporcional à evolução
do patrimônio ou à renda do agente público;
VIII - aceitar emprego, comissão ou exercer atividade de consultoria ou
assessoramento para pessoa física ou jurídica que tenha interesse suscetível de ser

224
atingido ou amparado por ação ou omissão decorrente das atribuições do agente
público, durante a atividade;
IX - perceber vantagem econômica para intermediar a liberação ou aplicação de verba
pública de qualquer natureza;
X - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta ou indiretamente, para
omitir ato de ofício, providência ou declaração a que esteja obrigado;
XI - incorporar, por qualquer forma, ao seu patrimônio bens, rendas, verbas ou valores
integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1° desta lei;
XII - usar, em proveito próprio, bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo
patrimonial das entidades mencionadas no art. 1° desta lei.

Art. 10 (...)
I - facilitar ou concorrer por qualquer forma para a incorporação ao patrimônio
particular, de pessoa física ou jurídica, de bens, rendas, verbas ou valores integrantes
do acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1º desta lei;
II - permitir ou concorrer para que pessoa física ou jurídica privada utilize bens, rendas,
verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no art.
1º desta lei, sem a observância das formalidades legais ou regulamentares aplicáveis à
espécie;
III - doar à pessoa física ou jurídica bem como ao ente despersonalizado, ainda que de
fins educativos ou assistências, bens, rendas, verbas ou valores do patrimônio de
qualquer das entidades mencionadas no art. 1º desta lei, sem observância das
formalidades legais e regulamentares aplicáveis à espécie;
IV - permitir ou facilitar a alienação, permuta ou locação de bem integrante do
patrimônio de qualquer das entidades referidas no art. 1º desta lei, ou ainda a prestação
de serviço por parte delas, por preço inferior ao de mercado;
V - permitir ou facilitar a aquisição, permuta ou locação de bem ou serviço por preço
superior ao de mercado;
VI - realizar operação financeira sem observância das normas legais e regulamentares
ou aceitar garantia insuficiente ou inidônea;
VII - conceder benefício administrativo ou fiscal sem a observância das formalidades
legais ou regulamentares aplicáveis à espécie;
VIII - frustrar a licitude de processo licitatório ou de processo seletivo para celebração
de parcerias com entidades sem fins lucrativos, ou dispensá-los
indevidamente; (Redação dada pela Lei nº 13.019, de 2014) (Vigência)
IX - ordenar ou permitir a realização de despesas não autorizadas em lei ou
regulamento;
X - agir negligentemente na arrecadação de tributo ou renda, bem como no que diz
respeito à conservação do patrimônio público;
XI - liberar verba pública sem a estrita observância das normas pertinentes ou influir
de qualquer forma para a sua aplicação irregular;
XII - permitir, facilitar ou concorrer para que terceiro se enriqueça ilicitamente;
XIII - permitir que se utilize, em obra ou serviço particular, veículos, máquinas,
equipamentos ou material de qualquer natureza, de propriedade ou à disposição de
qualquer das entidades mencionadas no art. 1° desta lei, bem como o trabalho de
servidor público, empregados ou terceiros contratados por essas entidades.
XIV – celebrar contrato ou outro instrumento que tenha por objeto a prestação de
serviços públicos por meio da gestão associada sem observar as formalidades
previstas na lei; (Incluído pela Lei nº 11.107, de 2005)

225
XV – celebrar contrato de rateio de consórcio público sem suficiente e prévia dotação
orçamentária, ou sem observar as formalidades previstas na lei. (Incluído pela Lei
nº 11.107, de 2005)
XVI - facilitar ou concorrer, por qualquer forma, para a incorporação, ao patrimônio
particular de pessoa física ou jurídica, de bens, rendas, verbas ou valores públicos
transferidos pela administração pública a entidades privadas mediante celebração de
parcerias, sem a observância das formalidades legais ou regulamentares aplicáveis à
espécie; (Incluído pela Lei nº 13.019, de 2014) (Vigência)
XVII - permitir ou concorrer para que pessoa física ou jurídica privada utilize bens,
rendas, verbas ou valores públicos transferidos pela administração pública a entidade
privada mediante celebração de parcerias, sem a observância das formalidades legais
ou regulamentares aplicáveis à espécie; (Incluído pela Lei nº 13.019, de
2014) (Vigência)
XVIII - celebrar parcerias da administração pública com entidades privadas sem a
observância das formalidades legais ou regulamentares aplicáveis à
espécie; (Incluído pela Lei nº 13.019, de 2014) (Vigência)
XIX - agir negligentemente na celebração, fiscalização e análise das prestações de
contas de parcerias firmadas pela administração pública com entidades
privadas; (Incluído pela Lei nº 13.019, de 2014, com a redação dada pela Lei nº
13.204, de 2015)
XX - liberar recursos de parcerias firmadas pela administração pública com entidades
privadas sem a estrita observância das normas pertinentes ou influir de qualquer
forma para a sua aplicação irregular. (Incluído pela Lei nº 13.019, de 2014, com a
redação dada pela Lei nº 13.204, de 2015)
XXI - liberar recursos de parcerias firmadas pela administração pública com entidades
privadas sem a estrita observância das normas pertinentes ou influir de qualquer forma
para a sua aplicação irregular. (Incluído pela Lei nº 13.019, de 2014) (Vigência)

Art. 10-A.
Constitui ato de improbidade administrativa qualquer ação ou omissão para conceder,
aplicar ou manter benefício financeiro ou tributário contrário ao que dispõem o caput e
o § 1º do art. 8º-A da Lei Complementar nº 116, de 31 de julho de 2003. (Incluído pela Lei
Complementar nº 157, de 2016) (Produção de efeito)

Art. 11 (...)
I praticar ato visando fim proibido em lei ou regulamento ou diverso daquele previsto,
na regra de competência;
II retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício;
III revelar fato ou circunstância de que tem ciência em razão das atribuições e que deva
permanecer em segredo;
IVnegar publicidade aos atos oficiais;
Vfrustrar a licitude de concurso público;
VI deixar de prestar contas quando esteja obrigado a fazê-lo;

226
VII revelar ou permitir que chegue ao conhecimento de terceiro, antes da respectiva
divulgação oficial, teor de medida política ou econômica capaz de afetar o preço de
mercadoria, bem ou serviço.
VIII descumprir as normas relativas à celebração, fiscalização e aprovação de contas de
parcerias firmadas pela administração pública com entidades privadas. (Vide Medida
Provisória nº 2.088-35, de 2000) (Redação dada pela Lei nº 13.019, de
2014) (Vigência)
IXdeixar de cumprir a exigência de requisitos de acessibilidade previstos na
legislação. (Incluído pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)
Xtransferir recurso a entidade privada, em razão da prestação de serviços na área de
saúde sem a prévia celebração de contrato, convênio ou instrumento congênere, nos
termos do parágrafo único do art. 24 da Lei nº 8.080, de 19 de setembro de
1990. (Incluído pela Lei nº 13.650, de 2018)

Concessão ou
Enriquecimento Lesão ao aplicação Contra os
Ilícito Erário indevida de Princípios
benefícios
Art. 10º da
Previsão legal Art. 9º da Lia Art. 10-Ada Lia Art. 11 da Lia
Lia
Não causam
Ensejam
prejuízo,
perda
mas
patrimonial,
Conceder, desatendem
Produzem uma desvio,
aplicar ou deveres de
vantagem apropriação,
Características manter honestidade,
patrimonial malbarateam
benefício imparcialida
indevida ento ou
contrario a lei de,
dilapidação
legalidade e
dos bens
lealdade as
públicos
instituições
Suspensão dos Direitos
8 a 10 anos 5 a 8 anos 5 a 8 anos 3 a 5 anos
Políticos
Multa Civil 3x 2x 3x 100x
Proibição de Contratar 10 anos 5 anos --- 3 anos
Dolo ou
Elemento Subjetivo Dolo Dolo Dolo
Culpa

Delineada as incidências trazidas pela lei, bem como o elemento subjetivo e suas penas, por
conseguinte, cabe descrever o procedimento aplicado.

227
4 COMPETÊNCIA
Neste contexto a lei não traz uma especificidade para delimitar a competência. Desta forma, ela
é determinada subsidiariamente pelo disposto no microssistema processual coletivo do art. 2 da Lei
7374/85.
Assim, prevalecerá a competência territorial, sendo o local do dano a defini - lá. A corte superior
também decidiu, que na hipótese de existirem ilícitos praticados em diferentes unidades da federação, o
que poderia, a princípio, caracterizar a abrangência nacional do dano, deve prevalecer a competência do
local alvo da maioria dos atos ímprobos deve prevalecer a competência do local alvo da maioria dos atos
ímprobos, em conformidade com os princípios da celeridade processual, ampla defesa e duração razoável
do processo.
Importa mencionar situações especiais para se delimitar a competência do Juízo. A regra contida
no art. 109, I, CF, dispõe que havendo interesse da União atrairá competência comum da Justiça Federal,
ao contrário, residualmente será da Justiça Estadual.

Todavia, não existe unanimidade do tema acima. Longe disso, por isso merece destaque
conhecemos as três correntes acerca do assunto.
1) A competência será da Justiça Federal: Inicialmente destaque-se que esse
entendimento é minoritário tanto na doutrina como na jurisprudência pátrias. Argumenta-se que não é o
fato de incorporar ou não o bem ao patrimônio do município o que realmente importa para fins de
fixação de competência, uma vez que todas as verbas que se destinam às obras, por exemplo, no final, se
incorporam ao patrimônio municipal. Nessa medida, o dado preponderante para afixação da competência
da Justiça Federal será a existência, ou não, de obrigação de prestação de contas ao órgão federal ou o
TCU, tendo sido a matéria assim sumulada no S T J: “Compete à Justiça Federal processar e julgar
Prefeito Municipal por desvio de verba sujeita a prestação de contas perante órgão federal ”
(Súmula 208);
2) A competência será da Justiça Estadual: Não compete à Justiça Federal processar e
julgar ação de improbidade administrativa, quando, em decorrência da celebração de convênio entre o
Município e a União, os valores dos recursos federais foram creditados e transferidos ao Município,
incorporados, portanto, ao patrimônio deste. Esse entendimento encontra respaldado na Súmula 209 do
STJ, que assim dispõe “Compete à Justiça Estadual processar e julgar prefeito por desvio de verba
transferida e incorporada ao patrimônio municipal”;
3) A fixação da competência depende da análise das pessoas que figuram nos pólos
da ação: Verifica-se, nesses casos, uma espécie de legitimidade ativa concorrente e disjuntiva entre a
União e o Município, entre o Ministério Público Federal e o Ministério Público Estadual, já que todos
têm interesse na apuração das irregularidades. Assim, para se identificar a jurisdição competente, basta
examinar se algum dos entes apontados no art. 109, I, da CF, figura na relação jurídica processual, na

228
condição de autor, réu, oponente ou assistente. Estando algum deles presente, a Justiça Federal será
competente; caso contrário, a competência será da Justiça Estadual. Anote-se que esse terceiro
entendimento vem sendo adotado pela 2ª Turma do STJ em decisões mais recentes sobre o tema. O
interesse processual na ação civil por improbidade administrativa transcende a mera aferição do
patrimônio econômico. Logo, não é correto afirmar que a União não tem interesse jurídico (da mesma
forma que não é válido afirmar que o Município envolvido também não o tem). Trata-se de legitimidade
ativa concorrente e disjuntiva. O mesmo raciocínio, mutatis mutandis, aplica-se ao repasse de verbas da
União aos Estados ou Distrito Federal.

5 LEGITIMIDADE ATIVA
Conforme se observa no texto legal trata-se de uma legitimidade concorrente disjuntiva. Sendo
que poderá ser proposta por todos, apenas um ou mais de um concorrente mente.
Nesse enfoque observa o disposto no art. 17 caput da Lei, ele atribui legitimidade ao Ministério
Público e as pessoas jurídicas interessadas. Essa relação pessoa jurídica e interesse é uma analise lógico
se entende as pessoas que sofreram lesão pela conduta ímprobo.
Com isto, deve ser contextualizado com o art. 1º o qual descreve os entes da administração direta
e indireta que serão alcançadas pela lei. Nesse interregno que inserimos a figura da Fazenda Pública como
sujeito ativo para propor ação de civil pública por ato de improbidade administrativa.

6 LEGITIMIDADE PASSIVA
O objetivo da lei foi extirpar do serviço público pessoas que não tem compromisso com a
finalidade pública de honestidade, eficiência e moralidade. Todavia, abrange não apenas os servidores,
mas qualquer pessoa que se aproveite dos benefícios da ação ou omissão de improbidade.
Convém mencionar que neste passo exige a jurisprudência do STJ do litisconsórcio passivo
necessário. Assim, para que o particular seja processado nos moldes da lei 8429/90 é obrigatório a
inclusão do agente público.
Nesse contexto a intenção do legislador foi bastante abrangente. Pois inseriu como sujeito passivo
terceiros beneficiados, pessoa jurídica ou física que concorra com ação.
Fazendo uma ligação se faz importante descrever que inclusive o herdeiro do ímprobo é
responsável civilmente na medida de seu quinhão hereditário, nos moldes do art. 8º. Sendo que deverá
devolver ao erário no limite do valor da herança.

7 PROCEDIMENTO
Cumpre de antemão mencionar que o procedimento contido na LIA é independente da seara
penal. Tendo como escopo o ressarcimento ao erário e a punição do servidor. Portanto, segue a regra
geral do contexto da separação das instâncias não incidido bis in idem.

229
Disto isto, é imprescindível já contextualizamos o art. 17º, § 1º, na qual se veda a transação, acordo
ou conciliações do que trata a lei. Tema que por muito foi discutido pelos tribunais, muito embora na
pratica é corriqueiro a propositura de TERMO de AJUSTE de CONDUTA.
No entanto, com a novel Lei 13.964/2019, conhecida com pacote anticrime alterou o texto da lei
para possibilitar a transação. Observe-se as principais mudanças no quadro abaixo.

A redação original da LIA não previa a possibilidade da realização de acordo. O artigo 17, §1º, na sua
redação original, dizia que era vedada a realização de acordo, transação ou conciliação.
Recentemente, o pacote anticrime (Lei 13.964/2019), trouxe o “acordo de não persecução cível”, ou
seja, o acordo que faz o Ministério Público ou Pessoa persecução cível”, ou seja, o acordo que faz o
Ministério Público ou Pessoa Jurídica de Direito Público com o investigado.
Assim, a redação atual do artigo 17, §1º, da LIA é a seguinte:
“Art. 17.§ 1º As ações de que trata este artigo admitem a celebração de acordo de não persecução cível,
nos termos desta Lei".
Observe que a novel redação do artigo remete aos "termos da Lei", porém, o artigo17-A, que disciplinava
a matéria, foi vetado, o que possibilita uma série de questionamentos tratados no vídeo do Professor
Ubirajara Casado sobre o tema, disponível no Youtube:
https://www.youtube.com/watch?v=R88oMfYwiXs IMPROBIDADE E PACOTE ANTICRIME: O
QUE VOCÊ PRECISA SABER
Outra grande novidade é interrupção do prazo de contestação quando as partes tiverem discutindo uma
solução consensual, por até 90 dias (art. 17, §10-A), nos seguintes termos:
"§ 10-A. Havendo a possibilidade de solução consensual, poderão as partes requerer ao juiz a
interrupção do prazo para a contestação, por prazo não superiora 90 (noventa) dias”.

Dessa forma, embora a norma que regula a transação tenha sido revogada é possível realizar
acordo de não persecução da ação civil por ato de improbidade. Como dito, mesmo que ainda sem um
norte, mas, certamente, o MP e a Fazenda Pública poderão realizar e os ajustes jurisprudenciais veremos
nos casos posteriores a partir das suas realizações.
Passando ao cerne da questão a propositura da Ação Civil por ato de improbidade Administrativa,
tem um procedimento próprio. Segue-se pelo rito ordinário, após instaurar o procedimento
administrativo, que deverá ser escrito, conter a qualificação e informações sobre os fatos, assim como as
provas que já se tenha conhecimento.
Essa representação poderá ser realizada como já dito no órgão do MP ou na Fazenda Pública que
dará continuidade ao tramite. A ritualista do procedimento segue-se de uma fase preliminar, que o réu
poderá apresentar uma manifestação por escrito, no prazo de 15 dias.

230
Nessa oportunidade, tem o réu o direito de apresentar argumentos que já poderá levar a extinção
do procedimento. Todavia, não se convencendo o Juízo dará decisão no prazo de 30 dias, para
prosseguimento e a citação do réu.
Salutar mencionar que dessa decisão é hipótese de discussão por intermédio de agravo de
instrumento.
Porem, não havendo irresignação, a parte citada para contestar e em seguida será designada
audiência. Nesse ponto, como menciona o art. 17, §12º será guiado pelo art. 221, caput e §1º, CPP.
Por fim, será proferida sentença, nos termos do art. 18 da lei. Aqui, se julgado procedente deverá
decretar a perda dos bens havidos ilicitamente determinará o pagamento ou a reversão dos bens,
conforme o caso a pessoa jurídica lesada.
Merece adendo nos efeitos da sentença no contexto do microssistema processual, vejamos:
a) A sentença de procedência na ação civil de improbidade administrativa faz coisa julgada erga
omnes;
b) A sentença de improcedência por falta de provas improcedência por falta de provas não faz
coisa julgada;
c) A sentença de improcedência por outros fundamentos improcedência por outros fundamentos
(ex.: atipicidade da conduta; inexistência do ato de improbidade; prova da ausência de participação etc.)
faz coisa julgada erga omnes.

Destaque que dessa sentença poderá haver impugnação por apelação.

8 PRESCRIÇÃO
Ponto que sempre merece abordagem, pois se trata do lapso temporal para o Estado agir. O texto
legal traz três situações, art. 23, que veremos literalmente para fixação:
I- Até cinco anos após o término do exercício de mandato, de cargo em comissão ou
de função de confiança;
II- Dentro do prazo prescricional previsto em lei específica para faltas disciplinares
puníveis com demissão a bem do serviço público, nos casos de exercício de cargo efetivo ou
emprego;
III. - até cinco anos da data da apresentação à administração pública da prestação de
contas final pelas entidades referidas no parágrafo único do art. 1o desta Lei. (Incluído pela Lei
nº 13.019, de 2014
Nesse prisma, a realidade fática à luz dos tribunais interpretou as hipóteses as quais devem ser
enfatizadas. No primeiro ponto, evidencia que a sucessão de mandados eletivos prorroga o prazo
prescricional ao último vínculo.

231
De igual modo, seguindo o raciocínio, programou norma para aplicabilidade da lei a partir do
conhecimento do fato pela Administração. Noutro contexto, que se refere aos particulares, editou o STJ
a Súmula 634, que reza: “Ao particular aplica-se o mesmo regime prescricional previsto na Lei
de Improbidade Administrativa para o agente público.”
Por fim, a prescrição não atinge a pretensão da Administração Pública de reivindicar o
ressarcimento dos danos causados ao erário. Consoante o disposto no art. 37, § 5º, da Constituição
Federal, a ação de ressarcimento por dano ao erário é imprescritível.
Aqui merece destaque o enunciado do STF, conforme dispõe:
O Tribunal, por maioria, apreciando o tema 897da repercussão geral, deu parcial provimento ao
recurso para afastar a prescrição da sanção de ressarcimento e determinar o retorno dos autos ao tribunal
recorrido para que, superada a preliminar de mérito pela imprescritibilidade das ações de ressarcimento
por improbidade administrativa, aprecie o mérito apenas quanto à pretensão de ressarcimento. Vencidos
os Ministros Alexandre do Moraes (Relator), Dias Toffoli, Ricardo Lewandowski, Gilmar Mendes e
Marco Aurélio. Em seguida, o Tribunal fixou aseguinte tese: “ São imprescritíveis as ações e
ressarcimento ao erário fundadas na prática de ato doloso tipificado na Lei de Improbidade
Administrativa”, vencido o Ministro Marco Aurélio. Redigirá o acórdão o Ministro Edson Fachin. Nesta
assentada, reajustaram seus votos, para acompanhar a divergência aberta pelo Ministro Edson Fachin, os
Ministros Luiz Fux e Roberto Barroso. Presidiu o julgamento a Ministra Cármen Lúcia. Plenário,
8.8.2018. (STF. Plenário. RE852475/SP, Rel. orig. Min. Alexandre de Moraes, Rel. para acórdão Min.
Edson Fachin, julgado em 08/08/2018.
Com isto, apenas ações que foram praticadas com dolo são imprescritíveis a luz do julgado da
Corte Suprema.

9 JURISPRUDÊNCIA
A lei de improbidade administrativa é sempre pauta dos nossos tribunais. Diante disto, trazemos
algumas decisões que esclareceram as incidências pratica do uso da norma.
1- Inexistência de foro por prerrogativa de função

Na linha do STF, a Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça decidiu revisitar o tema e, com
absoluta correção, retomou sua jurisprudência inicial, isto é, voltou a decidir pela inexistência de foro por
prerrogativa de função nas ações civis de improbidade administrativa. E o marco dessa retomada de
posição foi o julgamento, pela Corte Especial, do AgRg na Rcl 12.514-MT (j.16.09.2013), da relatoria
do Min. Ari Pargendler, no qual se decidiu que os Conselheiros dos Tribunais de Contas dos Estados
não possuem foro por prerrogativa de função nas ações de improbidade administrativa, justamente
porque a prerrogativa de foro prevista na CF para as ações penais não se estende às ações civis de
improbidade administrativa (Informativo STJ527).
2- Não ocorrência de improbidade aos sindicatos

232
De fato, os sindicatos, antes da Reforma Trabalhista, eram considerados por grande parte da
doutrina como sujeitos passivos de ato de improbidade, já grande parte da doutrina como sujeitos
passivos de ato de improbidade, já que recebiam contribuição sindical de origem pública, porque imposta
pelo Poder Público ao trabalhador. Por conta dessa natureza da contribuição, o sindicato poderia ser
sujeito passivo do ato de improbidade. Poderia. Ocorre que, após a Lei 13.467/2017 (Lei da Reforma
Trabalhista), contudo, a contribuição sindical depende de expressa autorização do trabalhador (o que é
constitucional pelo STF – ADI 5794), logo os sindicatos não podem mais ser considerados sujeitos
passivos da improbidade. A não ser que recebam subvenção. A não ser que recebam subvenção,
benefício, incentivo, nos termos do artigo 1o, parágrafo único, da LIA benefício, incentivo, nos termos
do artigo 1o, parágrafo único, da LIA.
3- Tortura de preso em delegacia
O STJ já teve a oportunidade de decidir que a tortura de preso custodiado em tortura de preso
custodiado em delegacia praticada por policial constitui ato de improbidade administrativa que atenta
contra os princípios da administração pública (STJ. 1ª Seção. REsp 1.177.910-SE, Rel. Ministro Herman
Benjamin, julgado em 26/8/2015, (Informativo 577).
4- Estagiários podem ser réus por improbidade administrativa
Estagiário que atua no serviço público, ainda que transitoriamente, remunerado ou não, está
sujeito a responsabilização por ato de improbidade administrativa. Isso porque o conceito de agente
público para fins de improbidade abrange não apenas os servidores públicos, mas todo aquele que exerce,
ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou
qualquer outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função na Administração
Pública. Além disso, é possível aplicar a lei de improbidade mesmo para quem não é agente público, mas
induza ou concorra para a prática do ato de improbidade ou dele se beneficie sob qualquer forma, direta
ou indireta. É o caso do chamado "terceiro", definido pelo art.3º da Lei nº 8.429/92. STJ. 2ª Turma.
REsp 1352035-RS, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 18/8/2015 (Informativo 568).
5- Todo e qualquer agente político pode ser processado pela prática de atos de
improbidade administrativa
No mês de maio de 2018, no julgamento da Pet 3240Agr/DF, o STF acolheu, por maioria dos
votos, a tese de que excepciona a aplicação da LIA apenas os atos de improbidade praticados pelo
Presidente da República, além de não existir foro por prerrogativa de função em ação por maioria de
votos(6x5), em 13.06.2007 (Informativo STF 471), relativa a uma ação de improbidade administrativa
ajuizada em face de Ministro de Estado de improbidade administrativa proposta contra agente político
(Informativo 901).

6- Voto de parlamentar não insere no contexto da LIA

233
“O ato legislativo típico está fora do âmbito de atuação da Lei 8.429/1992, seja por não operar
efeitos concretos, seja por esbarrar na imunidade material conferida aos parlamentares pela Constituição,
ainda que seja possível a presença do ato de improbidade durante a sua própria tramitação, sobretudo
quando o desvio é manifesto. Todavia, não é o caso. Recurso especial provido”. (REsp 1101359/CE,2ª
Turma, rel. Min. Castro Meira, j. 27/10/2009).
7- Voto com desvio de finalidade
A edição de leis que implementaram o aumento indevido nas próprias remunerações,
posteriormente camuflado em ajuda de custo desvinculada de prestação de contas, enquadra a conduta
dos responsáveis – tenham agido com dolo ou culpa – no art. 10 da Lei 8.429/1992, que censura os atos
de improbidade por dano ao Erário, sujeitando-os às sanções previstas no art. 12, II, da mesma lei”.
(REsp 723.494/MG, 2ª Turma, rel. Min. Herman Benjamin, j. 1º/09/2009)
8- Tramitação de Inquérito Civil pelo MP
É possível a abertura de inquérito civil pelo Ministério Público objetivando a apuração de ato
ímprobo atribuído a magistrado mesmo que já exista concomitante procedimento disciplinar na
Corregedoria do Tribunal acerca dos mesmos fatos, não havendo usurpação das atribuições da
Corregedoria pelo órgão ministerial investigante. A mera solicitação para que o juiz preste depoimento
pessoal nos autos de inquérito civil instaurado pelo Ministério Público para apuração de suposta conduta
ímproba não viola o disposto no art. 33, IV, da LC nº 35/79 (LOMAN). STJ. 1ª Turma. RMS37151-SP,
Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. para acórdão Min. Sérgio Kukina, julgado em
7/3/20177/3/2017 (Info 609)
9- Inocorrência de responsabilidade objetiva na LIA
A jurisprudência do STJ rechaça a responsabilidade objetiva na aplicação da Lei8.429/1992,
exigindo a presença de dolo nos casos dos arts. 9º e 11 - que coíbem o enriquecimento ilícito e o atentado
aos princípios administrativos, respectivamente, e ao menos de culpa nos termos do art. 10, que censura
os atos de improbidade por dano ao Erário. (REsp 414.697/RO, 2ª Turma, rel. Min. Herman Benjamin,
DJe 16/09/2010).
10- Prejuízo ao erário deve ser real
O ato de improbidade previsto no art. 10 da LIA exige para a sua configuração, necessariamente,
o efetivo prejuízo ao erário, sob pena da não tipificação do ato impugnado. A lesão ao erário, como
requisito elementar do ato de improbidade administrativa previsto no art. 10 da Lei 8.429/92, não pode
ser meramente presumida (REsp 805080/SP, 1ª Turma, rel. Min. Denise Arruda, j.23/06/2009)
11- Inaplicabilidade do princípio da insignificância na LIA
“Chefe de Gabinete do Município que utilizou veículo de propriedade municipal e força de
trabalho de três membros da Guarda Municipal para transportar utensílios e bens particulares” (REsp
892.818/RS,2ª Turma, rel. Min. Herman Benjamin, j. 11/11/2008).
12- Manter contrato precário na ADM quando lei exige concurso, incidência da LIA

234
A conduta do recorrente de contratar e manter servidores sem concurso público na
Administração amolda-se ao caput do art. 11 da Lei nº 8.429/1992, ainda que o serviço público tenha
sido devidamente prestado. (REsp 737.279/PR, 2ª Turma, rel. Min. Castro Meira, DJe 21/05/2008)
13- Medida cautelar
Está consolidado na jurisprudência do STJ o entendimento de que a decretação da
indisponibilidade de bens prevista no art. 7º da LIA prescinde da demonstração do risco de dano, seja
porque o periculum in mora, na hipótese, é presumido, porque o legislador instituiu, na hipótese, uma
espécie de tutela provisória de evidência.
14- Reexame necessário
A sentença que concluir pela carência ou pela improcedência de ação de improbidade
administrativa está sujeita ao reexame necessário, com base na aplicação subsidiária do CPC e por
aplicação analógica da primeira parte do art. 19 da Lei nº 4.717/65. STJ. 1ªSeção.EREsp 1220667-MG,
Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 24/5/2017 (Info2017 (Info607).607)

10 CONCLUSÃO
Como visto o tema é bastante extenso com inúmeros detalhes. Mas o foco principal foi criar esse
paralelo entre a ACP e a LIA. De todo modo não poderíamos deixar de destrinchar toda sistemática que
envolve a Lei de improbidade administrativa.
Descrevem-se minuciosamente cada incidência contida da lei e suas sanções. As perspectivas pelo
ângulo jurisprudencial, mormente, que alcança os casos práticos fazendo com que facilite a aplicabilidade
da norma.
Nesta esteira, o uso da Lei pela Fazenda Pública tem sido bastante difundido. Tendo em vista,
que a cadeia de responsabilidade também tem inserido o administrador omisso.
Assim, não apenas o Ministério Público como legitimado tem intentado a ações. De fato, é uma
norma contundente que deve ser usado ao bem do erário, a fim de evitar cada vez que servidores e
terceiros se beneficiam da coisa pública em proveito próprio.
Por fim, o uso da Ação Civil pública por ato de improbidade administrativa se faz com
fundamento que o erário é sim direito de difuso. Diante disso, a ocorrência de sua capitulação afeta a
todos de modo incidente, o que autoriza o uso de microssistema processual.

11 REFERÊNCIAS
A FAZENDA PUBLICA EM JUIZO - 16ªED.(2019). autor: Leonardo Carneiro da Cunha. editora:
Forense.
https://www.dizerodireito.com.br
https://ebeji.com.br/campus/pdf

235
MAZZA, Alexandre, MANUAL DE DIREITO ADMINISTATVO, Alexandre Mazza, 3. Ed. São
Paulo: Saraiva, 2013.
MEIRELLES, hely Lopes, DIREITO ADMINISTRATIVO BRASILEIRO, HELY LOPES
MEIRELES, 29ª Ed. Malheiros Editores. 2004.

236
DESAPROPRIAÇÃO DO PODER PÚBLICO

DESAPROPRIAÇÃO DO PODER
PÚBLICO

ALMANAQUE DA ADVOCACIA PÚBLICA por Reinaldo Costa


Pereira Abreu Maciel

Em quarentena em Maceió/AL, 12 de abril de 2020

237
1 ASPECTOS INICIAIS
1.1 Pontos mais importantes

- Desapropriação de bens públicos;


- Hipóteses de desapropriação;
- Desapropriação indireta;
- Tredestinação e retrocessão.

1.2 Legislação

- Constituição Federal.
- Código Civil.
- DECRETO-LEI Nº 3.365, DE 21 DE JUNHO DE 1941.
- LEI Nº 4.132, DE 10 DE SETEMBRO DE 1962.
- LEI Nº 8.257, DE 26 DE NOVEMBRO DE 1991.
- LEI N° 10.257, DE 10 DE JULHO DE 2001.

1.3 Etiqueta mental

- Conceitos em azul
- Princípios em verde
- Exceções em vermelho
- Classificações em tabela.

2 DIREITO DE PROPRIEDADE E FUNDAMENTOS CONSTITUCIONAIS


A Constituição Federal garante o direito de propriedade em seu artigo 5°, XXII, desde que seja
atendida a função social da propriedade, conforme o inciso XXIII, do mesmo artigo.
Sendo assim, de acordo com o Código Civil, a propriedade presume-se plena e exclusiva, até
prova em contrário. Com isso, o direito de propriedade se apresenta com três características: caráter
exclusivo, de forma que todos devem respeitá-lo (oponibilidade erga omnes); caráter absoluto (pleno),
o proprietário pode utilizar o bem da forma como melhor lhe interessar, desde que não prejudique ou
viole direitos e garantias fundamentais de terceiros, e respeite a função social da propriedade; caráter de
perpetuidade, sendo o direito imprescritível, perdurando até a morte do proprietário ou transmissão do
bem a outrem.
Nesse sentido, o exercício pleno do direito de propriedade deve estar de acordo com as finalidades
econômicas e sociais definidas em lei, de forma que, por exemplo, um proprietário de um imóvel

238
localizado em área de proteção ambiental é obrigado a respeitar as normas de proteção ao meio ambiente
mantendo um nível mínimo de preservação ambiental de acordo com o que disciplina a legislação.
Dessa forma, o Estado pode intervir na propriedade se assim for necessário na busca do interesse
da coletividade, restringindo o exercício dos direitos individuais, bem como o uso, gozo e disposição da
propriedade, fundamentando tal intervenção no seu poder de polícia e na supremacia do interesse
público sobre o privado, desde que devidamente justificada a conduta estatal.

3 MODALIDADES DE INTERVENÇÃO E CONCEITO DE DESAPROPRIAÇÃO


Dentro do instituto da intervenção existem dois tipos de intervenção do Estado na propriedade,
quais sejam: intervenção restritiva, onde o particular conserva o direito de propriedade, mas perde o
caráter absoluto (pleno), ficando a utilização do bem sujeita a limitações impostas pelo Estado;
intervenção supressiva, na qual o particular perde o caráter da perpetuidade, e o Estado transfere para si
a propriedade de terceiro, ficando suprimido o direito de propriedade anteriormente existente.
A desapropriação se enquadra na modalidade de intervenção supressiva, sendo conceituada
como forma originária de aquisição da propriedade, por meio da qual o ente público determina a
retirada de bem privado do seu proprietário, para que esse faça parte do patrimônio público, sempre
embasado no interesse público (sob pena de desvio de finalidade e antijuridicidade da intervenção) e com
a presença dos pressupostos constitucionais para sua prática, mediante pagamento de indenização
(concretiza a efetiva perda da propriedade), previamente definida, de forma justa ao proprietário.

4 OBJETO
Todos os bens de valor econômico sejam eles móveis ou imóveis, corpóreos ou incorpóreos,
públicos ou privados podem ser objetos de desapropriação, bem como, se admite a desapropriação
de direito de créditos e ações referentes a cota de sociedades em pessoas jurídicas. Por fim, se
admite a desapropriação incidente sobre direitos reais, como ocorre no caso de enfiteuse, em que se
admite a desapropriação do domínio útil, ou seja, da qualidade de enfiteuta de um determinado bem.
Ademais, a desapropriação do espaço aéreo ou do subsolo só se tornará necessária, quando
de sua utilização resultar prejuízo patrimonial do proprietário do solo.
Quanto as vedações ao poder de desapropriar, entende-se que a possibilidade de aquisição de
propriedade coercitivamente pelo poder público deve respeitar alguns limites, não sendo admitida em
face de alguns direitos e bens.
Dessa forma, NÃO são passíveis de desapropriação os direitos personalíssimos (tais como
a honra, intimidade, liberdade, entre outros); a moeda corrente no país, haja vista o dinheiro ser a forma
de pagamento para indenizar o bem expropriado, não obstante seja feita a ressalva da possibilidade de se
desapropriar dinheiro estrangeiro; desapropriação de pessoas, sejam elas físicas ou jurídicas, uma vez

239
que se tratam de sujeitos de direito e não de objetos, suscetíveis de apropriação, logo, a desapropriação
não se configura forma de extinção de uma pessoa jurídica.

5 DESAPROPRIAÇÃO DE BENS PÚBLICOS


Em relação aos bens públicos (incluem-se nesse conceito os bens das autarquias), conforme
dispõe o Decreto-lei 3.365/41, é admitida a desapropriação desde que haja previsão em lei
(expedida pela entidade expropriante) e seja obedecida a hierarquia federativa, onde o ente mais
abrangente pode desapropriar um bem do menos abrangente, mas o contrário não é permitido. A título
de exemplo, o Município NÃO pode expropriar bem da União ou do Estado, mas estes podem
desapropriar bem municipal, assim como a União pode desapropriar bem estadual.
Assim, o STF apresentou definição sobre os terrenos chamados “reservados” por meio da súmula
479, asseverando que: “As margens dos rios navegáveis são domínio público, insuscetíveis de
expropriação e, por isso mesmo, excluídas de indenização".
Por fim, quanto aos bens de empresas públicas e sociedades de economia mista é admitida a
desapropriação, visto que não são considerados bens públicos, e portanto os entes federativos podem
desapropriá-las, desde que ocorra prévia autorização por meio de decreto do Presidente da República.
Sobre o tema, o STF editou a súmula 157, que dispõe: “É necessária prévia autorização do Presidente
da República para desapropriação, pelos Estados, de empresa de energia elétrica.”

6 PRESSUPOSTOS
Para que ocorra a desapropriação são necessários dois pressupostos cumulativos, quais sejam
o interesse público e o pagamento de indenização.
No interesse público estão contidas a utilidade pública, onde o ente público tem a necessidade de
utilizar o bem diretamente, seja para uma obra pública ou para a prestação de um determinado serviço,
sendo a situação regulamentada no Decreto-lei 3.365/41, principalmente em seu artigo 5°; a necessidade
pública, que se verifica nas mesmas hipóteses em que se poderia imaginar uma situação de utilidade,
acrescida da urgência na solução do problema; e o interesse social, que são justificadas pela necessidade
de se garantir a função social da propriedade. Nestes casos, a desapropriação tem a intenção de reduzir
desigualdades sociais e conferir uma destinação social ao bem expropriado, mesmo que ele não seja
utilizado diretamente pelo ente estatal.
Ademais, as hipóteses previstas em lei para tanto NÃO são exaustivas, pois se tratam de conceitos
jurídicos indeterminados (diferente de indeterminável) que por sua vez ficam a critério da oportunidade
e conveniência do poder discricionário do administrador.
Por último, no que se refere ao pagamento de indenização, em regra, têm-se que o ente público
deve fazer o pagamento previamente à imissão na posse, de forma justa e em dinheiro. Entretanto, o
corpo da própria Constituição Federal pode trazer exceções onde algumas desapropriações não serão

240
efetivadas com pagamento de indenização prévia, justa e em dinheiro, ou seja, a legislação
infraconstitucional não pode criar espécies de desapropriação que excetuem o disposto no referido
dispositivo.

7 HIPÓTESES DE DESAPROPRIAÇÃO
7.1 Desapropriação comum
É aquela que depende da existência de uma situação de utilldade ou necessidade pública, ou,
ainda, da demonstração de uma hipótese de interesse social (XXIV, do art. 5°, CF/88). E ainda, precedida
de pagamento de valor indenizatório prévio, justo e em dinheiro.
Quanto a indenização, a mesma é considerada justa quando abarca o valor de mercado, danos
emergentes e lucros cessantes com correção monetária. Nesse sentido, se a desapropriação for efetivada
na via judicial, a estes valores serão acrescidos os honorários advocatícios e, quando couber, os juros
moratórias e compensatórios. Além disso, somente serão indenizadas as melhorias feitas até a data da
declaração de utilidade pública ou interesse social, com exceção das benfeitorias úteis e necessárias, pagas
ainda que executadas após esta data.
Sobre a área a ser desapropriada, conforme firmou o STJ, em caso de divergência entre a área
registrada e a área real do imóvel, a indenização será calculada somente sobre o espaço constante no
registro. Por sua vez, caso o imóvel tenha cobertura vegetal por meio da qual o proprietário
comprovadamente explora economicamente os recursos vegetais, o valor pago em face dessa porção será
diverso do atribuído ao restante.
Ademais, existindo débito para com a Fazenda Pública admite-se a dedução do valor indenizatório
para pagamento das dívidas, desde que estes valores já estejam inscritos e ajuizados. E ainda, se em
decorrência da desapropriação, o particular sofrer um dano extraordinário, poderão ser cumuladas, no
mesmo processo, a indenização decorrente da intervenção supressiva e aquela que decorre da
responsabilidade civil do Estado.
Por fim, a Lei 13.867/2019 dispõe que o proprietário, ao receber a notificação na desapropriação
por utilidade pública, poderá também pedir ao poder público que o valor da indenização seja definido
por meio de mediação ou arbitragem.

7.2 Desapropriação especial urbana


A desapropriação urbana deverá atender as exigências definidas no plano diretor da cidade, de
forma a atender à sua função social (art. 182, da CF/88). Sendo o plano diretor obrigatório para todas
as cidades que possuam mais de vinte mil habitantes, nas cidades que sejam integrantes de regiões
metropolitanas ou aglomerações urbanas, bem como nas áreas de especial interesse turístico e nos
municípios inseridos na área de influência de empreendimentos ou atividades com significativo impacto

241
ambiental de âmbito regional ou nacional e nas cidades incluídas no cadastro nacional de Municípios com
áreas suscetíveis à ocorrência de deslizamentos de grande impacto, inundações bruscas ou processos
geológicos ou hidrológicos correlatos.
Caso não seja cumprida a função social prevista no plano diretor da cidade, onde houver, algumas
restrições serão instituídas pelo poder público municipal de forma sucessiva e gradativa. E portanto, fica
a cargo do ente público municipal, mediante lei específica para área incluída no plano diretor, exigir, nos
termos da lei federal, do proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado, que
promova seu adequado aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de:
a) Parcelamento e edificação compulsórios:
A notificação deverá ser averbada no Cartório de Registro de Imóveis e realizada por funcionário
do órgão competente do Poder Público Municipal, ao proprietário do imóvel, ao proprietário do imóvel
ou a quem tenha poderes de gerência geral ou administração ou, por edital, quando for frustrada, por 03
vezes, a tentativa de notificação pessoal.
Assim, o proprietário deverá efetivar o parcelamento, a edificação ou utilização compulsória do
terreno. Notificado, o proprietário terá um ano para apresentar o projeto, protocolando-o no órgão
competente e, contados da apresentação do projeto, dois anos para começar as obras do
empreendimento com vistas a conferir a função social à propriedade. Esses prazos NÃO se interrompem
em caso de transmissão do imóvel por ato inter vivos ou causa mortis, e o novo proprietário se sub-roga
em todas as obrigações definidas no ato administrativo.
b) IPTU progressivo:
Se a medida anterior for insuficiente, será aplicado o IPTU progressivo no tempo, através da
majoração da alíquota, pelo prazo de cinco anos consecutivos.
A alíquota será progressiva por cinco anos consecutivos e está limitada a 15%, NÃO
podendo, em nenhuma hipótese, ultrapassar esse percentual. De um ano para outro, pode se acrescentar
na alíquota no máximo 100% do valor anterior, ou seja, é possível a duplicação anual da alíquota,
NÃO mais do que isso.
A Constituição proíbe que o poder público continue majorando o valor do tributo por mais de
cinco anos, mas NÃO VEDA que se mantenha na alíquota máxima, mesmo após escoado esse prazo.
c) Desapropriação especial urbana:
Escoado o prazo de cinco anos sem que o particular tenha tomado qualquer providência no
sentido de conferir função social ao bem, o ente municipal poderá decretar a desapropriação, com
indenização mediante a entrega de títulos da dívida pública, de emissão previamente aprovada pelo
Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas,
assegurados o valor real da indenização e juros legais de 6% ao ano.

242
A indenização justa refletirá o valor da base de cálculo do IPTU, descontado o montante
incorporado em função de obras realizadas pelo poder público na área onde o mesmo se localiza, e NÃO
computará a expectativa de ganhos, lucros cessantes e juros compensatórios.
Após a incorporação do bem ao patrimônio público, o Município deverá proceder ao adequado
aproveitamento do imóvel no prazo máximo de cinco anos, diretamente, pela alienação ou concessão
de terceiros, com observância à licitação.

7.3 Desapropriação especial rural


Conforme dispõe a Constituição Federal em seu artigo 186, a função social é cumprida quando a
propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei,
aos seguintes requisitos:
I - aproveitamento racional e adequado;
II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente;
III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho;
IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores.
Sendo assim, caso o proprietário NÃO cumpra a função social do imóvel rural, compete à União
desapropriar por interesse social, para fins de reforma agrária, o referido imóvel, mediante prévia e justa
indenização em títulos da dívida agrária, com cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no prazo
de até vinte anos, a partir do segundo ano de sua emissão, e cuja utilização será definida em lei.
Dessa forma, o decreto que declarar o imóvel como de interesse social, para fins de reforma agrária,
autoriza a União a propor a ação de desapropriação.
Não obstante a indenização seja paga mediante a emissão de títulos da dívida agrária, a Carta
Constitucional dispõe que as benfeitorias úteis e necessárias, presentes no bem quando da declaração
expropriatória, serão indenizadas em dinheiro.
Por fim, temos que são insuscetíveis de desapropriação para reforma agrária os terrenos
produtivos, ainda que descumpram a função social por qualquer outro motivo; e a pequena e média
propriedade rural, desde que o proprietário NÃO possua outra.

7.4 Desapropriação confisco


Trata-se de uma hipótese chamada pela doutrina de expropriação, por conta de NÃO ser
indenizável, onde são expropriados os bens móveis utilizados para o tráfico de drogas e os bens imóveis
utilizados para a plantação de psicotrópicos ilícitos, que são aqueles que permitem a obtenção de
substância entorpecente proscrita.
Quanto ao terreno a ser desapropriado, o STF tem entendimento de que todo o terreno deve
ser desapropriado, ainda que a plantação de psicotrópicos ou exploração de trabalho escravo
ocupe apenas uma parcela da propriedade.

243
Por se tratar de procedimento diferenciado das demais hipóteses de desapropriação, visto que
NÃO é indenizável, a desapropriação confisco segue procedimento diferente, regulado na Lei 8.257/91.
Assim, o procedimento da expropriação deve começar com a propositura da ação pela União, e
em seguida o juiz determinará a citação dos expropriados, no prazo de cinco dias, nomeando perito,
com prazo de oito dias para entregar o laudo em cartório.
A legislação determina que o réu terá dez dias para contestar e indicar assistente técnico, a contar
da juntada do mandado de citação nos autos, devendo o juiz determinar audiência de instrução e
julgamento para data NÃO superior a quinze dias, a contar da data da contestação, podendo o juiz
determinar a imissão da União na posse do imóvel, garantindo-se o contraditório posteriormente, durante
a fase de justificação.
Em seguida, na audiência de instrução, cada parte poderá indicar até cinco testemunhas, sendo
vedado o adiamento da audiência, salvo força maior.
Ao final da instrução, o juiz prolatará a sentença no prazo de cinco dias, passível de apelação em
quinze dias, e assim, o imóvel será incorporado ao patrimônio da União para que seja dada a finalidade
definida na Constituição.
Excepcionalmente, se a terra expropriada nos termos desta lei, após o trânsito em julgado da
sentença, NÃO puder ter em cento e vinte dias a destinação prevista na Constituição, qual seja a
destinação para fins de reforma agrária ou inclusão em programa de habitação popular, ficará incorporada
ao patrimônio da União, reservada, até que sobrevenham as condições necessárias àquela utilização.
Por fim, definiu o STF em sede de repercussão geral que é possível discutir culpa no bojo
do processo que trata da expropriação confisco, ou seja, deve-se demonstrar que o proprietário
tinha pelo menos ciência do que ocorria em sua propriedade, tendo incorrido ao menos em culpa
in vigilando ou in eligendo, e portanto a expropriação prevista no art. 243 da Constituição Federal
pode ser afastada, desde que o proprietário comprove que NÃO incorreu em culpa, ainda que
in vigilando ou in eligendo.

8 PROCEDIMENTO DA DESAPROPRIAÇÃO
8.1 Legislação
Primeiramente, temos o Decreto-lei 3.365/41 que regulamenta o procedimento das
desapropriações comuns, assim como a desapropriação especial urbana, visto que a lei 10.257/01 NÃO
estabelece normas para tal procedimento. Por sua vez, a desapropriação especial rural, para fins de
Reforma Agrária tem o seu procedimento regulamentado pela Lei Complementar 76/93, que sofreu
alteração pela Lei Complementar 88/96.

8.2 Competência na desapropriação

244
A competência para desapropriar apresenta-se de três formas diversas, sendo competência para
legislar, competência declaratória e competência para executar. Primeiramente, quanto a
competência para legislar que é exclusiva da União (privativa) por determinação expressa do artigo 22,
II, da Constituição Federal, e o mesmo artigo em seu parágrafo único determina que lei complementar
poderá autorizar os estados a legislar sobre questões específicas.
Sobre a competência declaratória, têm-se que é concorrente, ou seja, a atribuição para declarar
a utilidade ou necessidade pública e o interesse social dos bens privados para fins de desapropriação será
de todos os entes federativos (entes políticos). No entanto, deve ser respeitada a limitação territorial,
portanto, NÃO se admite que determinado estado da federação desaproprie bem privado situado em
outro estado. Esta restrição visa a garantir a independência dos entes federativos.
A regra que admite a declaração por todos os entes da federação permite algumas exceções.
Primeiramente nas desapropriações comuns admite-se que DNIT (Departamento Nacional de
Infraestrutura de Transportes – autarquia federal) e ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica)
possam, respectivamente, promover declaração de utilidade pública visando à implantação do Sistema
Nacional de Viação, nos moldes do artigo 82, IX, da lei 10.233/01, e declarar utilidade pública de bens
privados para fins de instalação de empresas concessionárias e permissionárias do serviço energia elétrica,
nos moldes definidos pela lei 9.074/95.
Ainda como exceção a regra, nas desapropriações especiais permite-se que: na
desapropriação especial urbana a competência para declarar o interesse público nesta expropriação
sancionatória se restringe ao Município, NÃO sendo possível que qualquer ente federativo declare o
interesse social. Ademais, somente os municípios que possuam plano diretor poderão se valer desta
espécie de desapropriação; na desapropriação especial rural a competência para a declaração de
interesse social é exclusivamente da União Federal, NÃO podendo ser exercida por outro ente
federativo; e na desapropriação confisco somente à União Federal compete efetivar esta espécie
expropriatória.
Em relação a competência para executar a desapropriação é atribuída, inicialmente, ao ente
federativo que declarou a utilidade pública ou interesse social, sendo tal competência incondicionada.
Pois, quem declara a necessidade no bem, poderá promover a desapropriação posterior.
Todavia, se admite a delegação da competência para executar a entes da Administração Indireta,
para concessionárias de serviços públicos, para consórcios públicos, firmados nos moldes da lei
11.107/05 e entidades da Administração Indireta, onde estes promoverão a desapropriação, mediante o
pagamento do valor indenizatório e imissão na propriedade.
Quanto a legitimidade passiva, o artigo 16 do Decreto-lei 3.365/41 diz que a mesma é do
proprietário do bem. Nesse sentido, em relação a citação do bem a ser desapropriado têm-se que o
referido artigo NÃO foi recepcionado pela Constituição Federal no que se refere a dispensa da citação

245
da mulher do proprietário, visto que dispensar a citação da mulher ou de um dos coproprietários ofende
o direito ao devido processo legal, revelando-se manifestamente inconstitucional.
Por fim, ainda sobre a legitimidade passiva, em havendo dúvida sobre quem é o proprietário do
bem, devem ser citados, na condição de litisconsortes passivos, todos aqueles que aparentam ser
proprietários, ou ainda se somente um suposto proprietário for citado, podem intervir, para atuar no
polo passivo, todos os demais que afirmem ser proprietários do bem.

8.3 Fases do procedimento

O procedimento expropriatório acontece em duas fases diferentes, quais sejam a declaração


efetivada pelo poder público, mediante decreto expropriatório ou lei de efeitos concretos, informando a
utilidade ou necessidade pública ou o interesse social no bem do particular, e a execução da
desapropriação, mediante o pagamento da indenização justa, prévia e em dinheiro e imissão na
propriedade.

8.3.1 Fase declaratória

Nesta fase o poder público informa que o bem apontado atende às necessidades públicas,
definindo qual a finalidade que será dada à propriedade, após sua aquisição pelo ente estatal. Durante
essa fase o bem ainda fica sob propriedade do particular, porém o Estado já exerce determinadas
restrições e pode se utilizar de sua força expropriatória.
Nesse sentido, a Declaração de Utilidade Pública pode ocorrer por meio de Decreto
Expropriatório editado pelo chefe do Poder Executivo, de acordo com o artigo 6º, do Decreto lei
3.365/41, ou mediante edição de lei de efeitos concretos realizada através de ato do Poder Legislativo.
Porém, se tal ato, de natureza discricionária, estiver viciado no que tange a legalidade pode sofrer controle
judicial e administrativo, com o exercício da autotutela.
Desse modo, na Declaração de Utilidade Pública são indispensáveis a identificação do bem que
será desapropriado de forma detalhada, informando as benfeitorias que estão presentes no momento da
declaração, o que será importante para a definição do valor da indenização; os recursos orçamentários
que serão utilizados para satisfação do direito do expropriado, conforme determina a Lei de
Responsabilidade Fiscal; a razão pela qual foi praticado o ato, apontando o dispositivo legal que justifica
a realização da desapropriação, conforme dispõe o artigo 50, da lei 9.784/99; a finalidade do ato de
desapropriação; e a identificação do sujeito passivo.
Por conta da força expropriatória do Estado implementada quando da Declaração de Utilidade
Pública surgem alguns efeitos, ainda que o bem não seja transferido imediatamente para o poder público.
Assim, o Estado pode ingressar no bem para fazer avaliações, medições, podendo se valer da força

246
policial, desde que com cautela e exercido sem excessos, sempre da forma menos gravosa ao
proprietário.
Há ainda a fixação do estado do bem por parte do Estado, que faz com que o particular NÃO
mais seja indenizado pelas alterações que fizer no bem, salvo as úteis, desde que autorizadas pela
Administração, ou necessárias, conforme assevera a súmula 23, do STF.
Porém, o poder público tem prazo para iniciar a desapropriação, sob pena de ver seu direito
caducar. Dessa forma, o ente público tem o prazo de cinco anos nas desapropriações por necessidade
ou utilidade pública, e dois anos para as desapropriações por interesse social, estando também nesse
prazo as desapropriações urbana e rural, visto que também ocorrem por interesse social.
Ademais, caso a ação seja proposta dentro do prazo de dois anos, porém se NÃO tiver sido o
réu citado ou for verificada demora na citação, abrem-se duas possibilidades manifestadas pelo STJ, onde
em caso de motivos inerentes ao judiciário NÃO há que se falar em prescrição ou decadência, no entanto,
se a citação não tiver sido promovida por culpa exclusiva do autor, verifica-se a decadência.

8.3.2 Fase executória

Essa fase se traduz basicamente no pagamento do valor da indenização, previamente fixado,


efetivando a imissão do poder público na posso de bem.
Nesse sentido, a execução pode se dar na via administrativa, onde o Estado e o particular entram
em acordo, sem a intervenção do Judiciário, e o pagamento é feito previamente a imissão na posse.
Importa dizer, que mesmo nessa via de execução, o particular pode posteriormente requerer em juízo
valores para complementar o preço anterior, conforme dispõe o artigo 34-A, §1°, do Decreto-lei
3.365/41.
Já se a execução for processada na via judicial, será necessária ação de desapropriação, proposta
pelo Administração Pública por conta da ausência de acordo ou mesmo por não se ter conhecimento de
quem é o proprietário do bem.

9 AÇÃO DE DESAPROPRIAÇÃO
9.1 Jurisdição e cognição judicial na desapropriação (aula disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=l3whenE9fi4)
Inicialmente cabe dizer onde a ação de desapropriação será proposta a depender do autor. Assim,
quando a União for autora, será proposta no Distrito Federal ou no foro da Capital do Estado onde for
domiciliado o réu, e sendo outro o autor, deve ser proposta no foro da situação dos bens.
Em seguida temos que a ação de desapropriação segue rito especial, conforme disposto no
Decreto-lei 3.365/41, no entanto a petição inicial deve obedecer os requisitos previstos no artigo 319,do
Código de Processo Civil, contendo ainda a oferta do preço, exemplar do contrato ou do jornal oficial

247
que houver publicado o decreto de desapropriação, ou cópia, e a planta ou descrição dos bens e suas
confrontações.
Ao despachar a inicial, o juiz indicará perito de sua livre escolha para proceder à avaliação dos
bens, sendo garantido ao autor e ao réu a indicação de assistente técnico do perito. Na sequência, salvo
por impossibilidade, será citado o réu para que se manifeste em quinze dias.
Se o ato de desapropriação, de natureza discricionária, estiver viciado pode sofrer controle
judicial, no que tange a legalidade, e administrativo, com o exercício da autotutela. Importa dizer que na
ação de desapropriação há uma limitação cognitiva, onde não se discute o mérito do decreto
expropriatório nem se investiga se há realmente necessidade ou utilidade pública, ou interesse social,
somente sendo permitido discutir o valor do preço, além de vícios do próprio processo de
desapropriação, e demais discussões devem ser feitas nas vias ordinárias (em ação direta distribuída por
dependência à ação principal), visto que não se discute, nem se disputa o domínio no âmbito da
desapropriação. E, com a definição de quem seja o proprietário, cabe a este comparecer nos autos da
desapropriação e comprovar esse reconhecimento judicial, a fim de poder levantar o valor depositado.
Desse entendimento pode-se depreender que na ação de desapropriação NÃO são cabíveis
institutos como a coisa julgada, exatamente porque a defesa somente pode versar sobre vícios no
processo judicial e discutir o preço; a reconvenção, exatamente porque esta amplia a cognição do juiz,
introduzindo outra demanda ao processo; e a oposição, visto que nela se discute a propriedade do bem.
No prosseguimento da ação, caso o particular concorde com o valor oferecido, o juiz deve
homologar o acordo. Porém, se NÃO houver concordância, o perito deve apresentar o laudo em cartório,
até cinco dias antes da data marcada para a audiência de instrução de julgamento, sendo admitido ao
perito requerer prazo maior para apresentação deste laudo, desde que o requerimento seja feito antes do
despacho saneador
Após, haverá audiência, e em seguida o juiz prolatará a sentença onde indicará os fatos que
motivaram seu convencimento e fixará o preço da indenização, assegurado o cabimento de apelação no
prazo de quinze dias.
Por fim, a revelia na desapropriação produz o efeito processual, de forma que caso o réu não
tenha advogado (não ocorre tal efeito se o réu tiver advogado) os prazos correrão das respectivas
publicações, porém não produz seu efeito material, não se presumindo correto, nem justo, nem adequado
o valor oferecido na petição inicial.

9.2 Imissão provisória na posse


Na desapropriação, como já foi dito, NÃO é possível que se discuta se haverá ou não a
transferência do bem, mas tão somente o valor a ser pago e aspectos processuais. Em face desse contexto
é que a lei de regência permite ao poder público efetivar posse provisória antes do fim da ação. Porém,
para imitir-se provisoriamente na posse, o Estado precisa declarar a urgência de tal medida, podendo ser

248
feita inclusive no próprio ato declaratório de utilidade pública ou interesse social, bem como, precisa
realizar o depósito em juízo do valor incontroverso de forma a garantir o pagamento mínimo,
obedecendo os critérios dispostos no artigo 15, do Decreto-lei 3.365/41, cuja sua constitucionalidade é
atestada pela súmula 652, do STF. A constitucionalidade do referido artigo é justificada pelo fato de que
o conceito da garantia de justa e prévia indenização refere-se a imissão definitiva na posse, não havendo
a mesma exigência quando da imissão provisória, e por isso a permissão da feitura do depósito do
pagamento mínimo (incontroverso).
Assim, declarada a urgência, o Estado terá o prazo de cento e vinte dias para requerer ao juízo
a imissão provisória, fazendo o depósito do valor incontroverso em juízo, sob pena de decair a declaração
de urgência. Esta declaração de urgência, se perdido o prazo, NÃO pode ser renovada, por sua própria
natureza. Ressalte-se que para a doutrina atual tal prazo não tem relevância prática quando o pedido de
urgência é feito durante o processo de desapropriação, vez que referida alegação apenas é feita por conta
do pedido de imissão provisória, e dessa forma, esse prazo nunca correrá.
Após a realização da imissão provisória na posse, determinada judicialmente, deverá ser registrada
no registro de imóveis competente e o réu poderá levantar por alvará judicial até 80% do depósito, ainda
que discorde do valor ofertado. O restante garante o juízo e só poderá ser levantado com a sentença.
Caso o expropriado levante a integralidade do depósito, presume-se que o valor depositado foi aceito e
o juiz homologará o acordo, por sentença, NÃO havendo a possibilidade de se questionar o pagamento.
Por fim, com a imissão provisória da propriedade, exclui-se a obrigação de pagamento de tributos
referentes ao bem pelo proprietário, inclusive o IPTU, tendo decidido o STJ que o proprietário
somente é responsável pelos impostos até a efetivação da imissão na posse provisória.

9.3 Desistência da desapropriação


A desistência da desapropriação por parte do poder público é possível enquanto não ocorrer o
pagamento do preço, poderá haver a desistência da ação de desapropriação, mesmo que já tenha ocorrido
o trânsito em julgado da sentença desapropriatória, visto que a consumação da desapropriação se dá com
o pagamento da indenização.
Ademais, em ocorrendo a desistência deve haver a revogação do ato expropriatório (lei ou
decreto) e devolução do bem expropriado, com a devida reparação por quaisquer danos causados
no imóvel, conforme dispõe o STF em sua jurisprudência.

9.4 Sentença
O juiz, em sentença motivada, estabelecerá indenização justa, e se o valor determinado for maior
do que o valor depositado, a diferença deverá ser paga pelo ente estatal, respeitando a ordem cronológica
de precatórios (precatório ou RPV). Nesse caso, incidem sobre a indenização algumas parcelas acessórias,
em razão da demora no cumprimento da ordem judicial, sobre os valores de indenização incidirão

249
algumas parcelas acessórias, a saber, a correção monetária, os juros compensatórios e juros moratórios e
os honorários advocatícios.
Importa dizer que da sentença que fixar o preço da indenização cabe apelação com efeito
meramente devolutivo, quando interposta pelo expropriado, e com ambos os efeitos, quando o recorrente
for o expropriante. E ainda, da sentença que, na desapropriação, condenar a Fazenda Pública em quantia
superior ao dobro da oferecida fica sujeita à remessa necessária, conforme dispõe o artigo 28, § 1º, do
Decreto-lei 3.365/1940.

10 VALORES ACESSÓRIOS NA DESAPROPRIAÇÃO


10.1 Correção monetária
A correção monetária trata da atualização da moeda buscando evitar que a inflação do período
provoque a diminuição do valor efetivamente pago, reduzindo, de fato a indenização justa, devendo tal
atualização ser determinada pelo magistrado. O cálculo deve ser feito a partir do momento da avaliação
efetivada pelo perito designado pelo juízo, sendo que a Constituição garante o direito à correção desde o
trânsito em julgado da sentença.
Com efeito, a correção deve incidir sobre o valor, 20% do todo, que não foi levantado pelo
particular, sendo que tal atualização monetária deve utilizar índices oficiais que retratem a inflação do
período, não sendo suficiente a aplicação do índice de correção utilizado para fins de atualização
da caderneta de poupança (como dispõe a Constituição), conforme decidiu o STF ao considerar
inconstitucional a expressão "índice oficial de remuneração básica da caderneta de poupança''.

10.2 Juros compensatórios (aula disponível em:


https://www.youtube.com/watch?v=zys0SkqG8mI)
Esse valor acessório é utilizado para compensar o expropriado por conta da perda da posse do
bem antes de receber a indenização justa. Visto que, havendo a imissão provisória na posse, o particular
deixa de usufruir do bem, levantando somente 80% do valor que o ente público entendeu devido.
Ao longo do tempo o tema de juros compensatórios em desapropriação sofreu várias mudanças,
sendo a última promovida em 2018, onde o STF definiu que os juros compensatórios passam a
incidir desde o momento em que o particular perde a posse do bem em questão, a partir da data
de imissão provisória na posse efetivada pelo poder público, no montante de 6% ao ano
aplicáveis à diferença entre os 80% pagos e o valor definido na sentença.
Ademais, ficou decidido que os juros compensatórios NÃO incidem sobre imóvel
improdutivo, visto que tal valor serve para reparar a perda de renda do proprietário, desde que
devidamente comprovada.

250
10.3 Juros moratórios
Os juros de mora são devidos em face da demora do Estado em cumprir com a obrigação disposta
na decisão judicial. Tais juros, conforme a legislação atual, passam a incidir a partir do dia primeiro de
janeiro do ano seguinte aquele em que o precatório (ou RPV) deveria ter sido pago, NÃO incidindo
durante o prazo constitucional para pagamento de precatórios judiciais, nos moldes da Constituição,
entendimento disposto inclusive na súmula 17, do STF.
Quanto ao percentual, têm-se que devem ser aplicados na proporção de 6% ao ano, conforme
dispõe o artigo 15-B, do Decreto-lei 3.365/41, com incidência no valor que o proprietário do bem não
levanta automaticamente, com a decisão final do processo.
Por fim, a jurisprudência do STJ a cumulação dos juros compensatórios e moratórios, na
forma da súmula 12, desde que não sejam aplicados simultaneamente, e portanto os juros
compensatórios devem incidir a partir da imissão provisória na posse até a sentença; e os juros
de mora somente começarão a incidir, neste mesmo processo, depois de transcorrido o prazo
constitucional para pagamento de precatórios.

10.4 Honorários advocatícios


Quanto aos honorários advocatícios, incidem na desapropriação somente sobre o valor da
sucumbência, ou seja, somente sobre o valor excedente ao arbitrado na sentença, conforme a súmula
617, do STF, uma vez que entende-se que o advogado contribuiu apenas para o recebimento do valor
que ultrapassa o que foi oferecido pelo Estado. Tais honorários devem ser arbitrados no valor de 0.5% a
5% (exceção a regra de até 20%).
Por fim, no âmbito dos valores acessórios como um todo, temos recente julgado do STF, onde o
tribunal analisou a constitucionalidade do art. 15-A do DL 3.365/41, incluído pela MP 2.183-56/2001, e
chegou às seguintes conclusões:
1) em relação ao “caput” do art. 15-A do DL 3.365/41:
1.a) reconheceu a constitucionalidade do percentual de juros compensatórios no patamar fixo
de 6% ao ano para remuneração do proprietário pela imissão provisória do ente público na
posse de seu bem;
1.b) declarou a inconstitucionalidade do vocábulo “até”;
1.c) deu interpretação conforme a Constituição ao “caput” do art. 15-A, de maneira a incidir
juros compensatórios sobre a diferença entre 80% do preço ofertado em juízo pelo ente público
e o valor do bem fixado na sentença;
2) declarou a constitucionalidade do § 1º do art. 15-A, que condiciona o pagamento dos juros
compensatórios à comprovação da “perda da renda comprovadamente sofrida pelo
proprietário”;

251
3) declarou a constitucionalidade do § 2º do art. 15-A, afastando o pagamento de juros
compensatórios quando o imóvel possuir graus de utilização da terra e de eficiência iguais a
zero;
4) declarou a constitucionalidade do § 3º do art. 15-A, estendendo as regras e restrições de
pagamento dos juros compensatórios à desapropriação indireta.
5) declarou a inconstitucionalidade do § 4º do art. 15-A;
6) declarou a constitucionalidade da estipulação de parâmetros mínimo (0,5%) e máximo (5%)
para a concessão de honorários advocatícios e a inconstitucionalidade da expressão “não
podendo os honorários ultrapassar R$ 151.000,00 (cento e cinquenta e um mil reais)” prevista
no § 1º do art. 27.
STF. Plenário. ADI 2332/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 17/5/2018 (Info 902).

11 AÇÃO DE DESAPROPRIAÇÃO RURAL


Trata-se de desapropriação disposta no artigo 184, da Constituição Federal, que é cabível sempre
que o imóvel não esteja cumprindo a função social definida pela própria Carta Constitucional, para fins
de reforma agrária, mediante o pagamento de indenização em títulos da dívida agrária, resgatáveis em até
vinte anos.
Como já foi dito, tal desapropriação é de competência exclusiva da União, regida pela Lei
Complementar 76/93, e deve ser proposta em no máximo dois anos.
A petição inicial deverá conter os requisitos previstos no artigo 319 do Código de Processo Cívil,
contendo, ainda, a oferta do preço e será instruída com o texto do decreto declaratório de interesse social
para fins de Reforma Agrária, publicado no Diário Oficial da União; as certidões atualizadas de domínio
e de ônus real do imóvel; o documento cadastral do imóvel; o comprovante de lançamento dos Títulos
da Dívida Agrária correspondente ao valor ofertado para pagamento de terra nua e comprovante de
depósito em banco oficial, ou outro estabelecimento, no caso de inexistência de agência na localidade, à
disposição do juízo, correspondente ao valor ofertado para pagamento das benfeitorias úteis e
necessárias; laudo de vistoria; e avaliação, com descrição do imóvel e memorial descritivo da área objeto
da ação, além das benfeitorias.
Em seguida, no prazo máximo de quarenta e oito horas, o juiz deverá despachar a inicial ou
imitir o expropriante no bem. Ao despachar, determinará a citação do expropriado para contestar e
indicar assistente técnico, se tiver interesse e expedir mandado ordenando a averbação do ajuizamento da
ação no registro do imóvel expropriando, para conhecimento de terceiros, e fará a citação na pessoa do
proprietário do bem, salvo em casos de falecimento. Ademais, o Ministério Público deve atuar como
fiscal da lei.
Na audiência de conciliação, realizada nos primeiros dez primeiros dias a contar da citação,
devem estar presentes o autor, o réu, estes dois primeiros citados por via postal, e o Ministério Público,

252
tendo como objetivo fixar a prévia e justa indenização. A audiência de conciliação NÃO suspende ou
interrompe o curso do processo.
Havendo acordo, será lavrado, em audiência, o termo assinado pelas partes e pelo representante
do parquet, sendo que, uma vez integralizado o valor acordado, nos dez dias úteis subsequentes ao
pactuado, o juiz expedirá mandado ao registro imobiliário, determinando a matrícula do bem expropriado
em nome do expropriante. No entanto, sem acordo, deverá ser apresentada contestação no prazo máximo
de quinze dias.
Com a apresentação de contestação abre-se prazo máximo de sessenta dias para a produção de
prova pericial, que se limitará aos pontos impugnados do laudo de vistoria administrativa. Assim, o juiz
designa perito do juízo, formulando os quesitos que julgar necessários, intimando o perito e os assistentes
para prestar compromisso, no prazo de cinco dias, assim como realizando a intimação das partes para
apresentar quesitos no prazo de dez dias.
Sobre os honorários periciais há jurisprudência recente do STJ, que dispõe o seguinte: Nas ações
de desapropriação por interesse social para fins de reforma agrária descabe a restituição, pelo
expropriado sucumbente, de honorários periciais aos assistentes técnicos do INCRA e do MPF.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.306.051-MA, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em
08/05/2018 (Info 626). Ainda envolvendo o INCRA, há julgado onde na ADI 3239/DF, em 2018, o
STF considerou válida a previsão do artigo 13, do Decreto-lei 4.883/03, que estabelece que o
INCRA poderá realizar a desapropriação de determinadas áreas caso os territórios ocupados
por remanescentes das comunidades dos quilombos estejam situados em locais pertencentes a
particulares, uma vez que em nenhum momento a Constituição afirma que são nulos ou extintos
os títulos eventualmente incidentes sobre as terras ocupadas por remanescentes das
comunidades dos quilombos.
Outro julgado importante sobre a área a ser desapropriada diz respeito a reserva florestal, onde
o STJ dispõe que não se encontrando averbada no registro imobiliário antes da vistoria, a reserva
florestal não poderá ser excluída da área total do imóvel a ser desapropriado para efeito de
cálculo da produtividade do imóvel rural.
Após, é determinada audiência no prazo máximo de quinze dias, onde será proferida a sentença
judicial, ou no máximo em trinta dias após a audiência. Na sentença será trazido o valor do imóvel, de
suas benfeitorias e dos demais componentes do valor da indenização. Caso condene o expropriante, em
quantia superior a 50% sobre o valor oferecido na inicial, fica sujeita a duplo grau de jurisdição. Ademais,
o valor estabelecido deve ser depositado pelo expropriante em dinheiro, para as benfeitorias úteis e
necessárias, inclusive culturas e pastagens artificiais, e em Títulos da Dívida Agrária, para a terra nua.
Sobre a indenização em desapropriação especial rural o STJ dispõe que o valor da indenização
deve ser contemporâneo à avaliação efetivada em juízo, tendo como base o laudo adotado pelo

253
juiz para a fixação do justo preço, pouco importando a data da imissão na posse ou mesmo a da
avaliação administrativa.
Em face da sentença, é cabível recurso de apelação com efeito simplesmente devolutivo, quando
interposta pelo expropriado, ou com efeito devolutivo e suspensivo, quando interposto pelo expropriante.
Caso a sentença seja reformada aumentando-se o valor, o expropriante depositará a diferença em quinze
dias.
Por fim, em relação aos honorários advocatícios, estes devem ser cobrados no valor de até 20%
entre o preço oferecido e o valor da indenização a ser fixado pelo juiz.

12 DESAPROPRIAÇÕES DIFERENCIADAS
12.1 Desapropriação privada
Diferentemente dos outros tipos de desapropriação, a desapropriação privada é regulada pelo
direito privado, com disposição no Código Civil, que determina a transferência compulsória de um bem
privado a outro particular, sem a intervenção estatal.
Sendo assim, o Código Civil admite esse tipo de desapropriação quando se tratar de imóvel de
extensa área, na posse ininterrupta e de boa fé, por mais de cinco anos, de considerável número de
pessoas, desde que elas tenham realizado, isoladamente ou em conjunto, obras e serviços de relevante
interesse social e econômico, baseando-se portanto no princípio da supremacia do interesse público sobre
o interesse privado, dado o intuito social da desapropriação.

12.2 Desapropriação indireta


Em alguns casos acontece de o poder público apossar-se de imóvel privado sem a realização da
desapropriação. Tal ato é ilegal, caracterizando um esbulho possessório, cabendo ao particular a
propositura da ação possessória. No entanto, se ainda em andamento ou já tiver sido concluída uma obra
pública antes da ação possessória ou antes da concessão da liminar, não será mais possível acolher o
pedido possessório. Sobrará ao particular a possibilidade de ser indenizado pela perda da posse do bem.
Trata-se de desapropriação onde o ente público não observa os procedimentos administrativos e
judiciais inerentes à desapropriação, se imitindo na posse de forma irregular e ilícita (requisito), sendo
também chamado de apossamento administrativo, e assegurada a responsabilização estatal se assim for
o caso. Entretanto, importa dizer que NÃO configura desapropriação indireta quando o Estado se
limita a realizar serviços públicos de infraestrutura em gleba cuja invasão por particulares
apresenta situação consolidada e irreversível, conforme dispõe o STJ no REsp 1.770.001-AM, de
2019.
Nesse tipo de desapropriação, é impossível que se reverta a situação (requisito) sem que fosse
causado dano a coletividade, dada a afetação ao interesse público já concretizada (efetivo

254
desapossamento)(requisito), e violação ao princípio da supremacia do interesse público sobre o privado.
Assim, à título de exemplo, o indeferimento de licença de edificação, sob o fundamento de que já houve
edição de decreto expropriatório relativamente ao imóvel, não permite a propositura de ação de
desapropriação indireta, bem como, NÃO cabe ação de desapropriação indireta se o indeferimento da
licença de edificação tiver como fundamento a existência de um plano de melhoramento público, pois
em ambos os casos não há desapossamento da área nem ato ilegal.
Em caráter exemplificativo, pode-se imaginar a atual pandemia de COVID-19 numa cidade onde
há poucos espaços de tamanho suficiente para a construção de um novo hospital para atender a alta
demanda de pacientes infectados pelo novo vírus. Então o poder público se apossa de imóvel privado
onde funciona o estacionamento de um shopping sem a realização do procedimento de desapropriação,
e lá constrói rapidamente um novo hospital público de referência para tratamento da doença. Nesse caso,
restaram configurados todos os requisitos da desapropriação indireta, e portanto, resta ao proprietário
do estacionamento requerer a devida indenização.
Excepcionalmente, é possível que o particular tente reverter a situação da desapropriação indireta
por meio de ação possessória visando a manter ou retomar a posse do bem, desde que o bem
expropriado ainda não esteja sendo utilizado em nenhuma finalidade pública.
Há ainda a possibilidade definida pelo STJ em 2017 de tal ação possessória ser convertida em
indenizatória, em respeito aos princípios da celeridade e economia processuais, a fim de
assegurar ao particular a obtenção de resultado prático correspondente à restituição do bem,
quando situação fática consolidada no curso da ação exigir a devida proteção jurisdicional, em
respeito ao artigo 499, do Código de Processo Civil, visto que seria descabido o ajuizamento de
outra ação quando o imóvel já foi afetado ao domínio público, mediante apossamento
administrativo.
Portanto, em regra, apenas é possível que se resolva a referida situação em perdas e danos
(indenização), por meio de ação de indenização por desapropriação indireta, conforme é possível se
extrair do artigo 35, do Decreto-lei 3.365/41, ou seja, a situação é o inverso do que normalmente
acontece na desapropriação conforme a disciplina constitucional, primeiro há a invasão do bem e
somente depois é que haverá a determinação do valor indenizatório, fazendo com que o particular seja
o autor da ação.
Ocorrido o apossamento administrativo, o particular terá, conforme recente entendimento
do STJ, em regra, dez anos para propor a ação de desapropriação indireta, ressalte-se que tal
prazo é aplicado por analogia ao prazo da usucapião ordinária. Entretanto, excepcionalmente,
o prazo pode ser de quinze anos se a parte interessada comprovar, concreta e devidamente, que
não foram feitas obras ou serviços no local, afastando a presunção legal de afetação ao interesse
público. Em tempo, têm-se por superada a súmula 119, do STJ, que dizia que o prazo para ajuizar a ação
de desapropriação era de vinte anos.

255
A competência para o julgamento desse tipo de ação se dá de acordo com o local da situação do
imóvel, conforme disposição do artigo 47, do Código de Processo Civil, por conta do caráter de direito
real aplicado a situação, ainda que se objetive o requerimento de indenização. E assim, o proprietário
propõe a ação, e receberá sua indenização por meio do sistema constitucional de precatórios (precatório
ou RPV).
Na propositura da ação (de procedimento comum na forma do Decreto-lei 3.365/1940) o autor
deve demonstrar que houve o apossamento indevido por parte do poder público, e, caso seja o autor o
titular do bem, deve demonstrar tal titularidade por meio de certidão de propriedade, esclarecendo e
precisando a descrição da área apossada com seus limites e confrontações. No entanto, se o autor for
mero possuidor, é desnecessária a comprovação da propriedade, pois o dano decorreu da simples perda
da posse, bem como não se faz necessária tal comprovação se o autor for promissário comprador, mesmo
que não tenha sido registrada a promessa de compra e venda no cartório de imóveis.
No pagamento da indenização devem incidir juros compensatórios, que devem ser contados
desde a efetiva ocupação do imóvel, conforme a súmula 69 do STJ dispõe, e correção monetária, na
forma da súmula 114, do STJ. Ademais, pode o ente público, em sua contestação, alegar compensação de
tributos não pagos pelo particular para que concretize o direito à indenização, mas não se deve exigir o
adimplemento de tributos como requisito para a satisfação do direito à indenização. Para a fixação do
valor da indenização é necessária perícia regular, e a sentença que julgar procedente o pedido fica sujeita
à remessa necessária.
Por fim, quanto aos honorários, o STJ determina que os limites percentuais estabelecidos
no art. 27, §§ 1º e 2º, do Decreto-lei 3.365/1941, relativos aos honorários advocatícios, aplicam-se
às desapropriações indiretas. E quanto aos honorários periciais, o STJ entende que devem ser
adiantados pela parte que requer a realização da perícia.

13 SITUAÇÕES ESPECÍFICAS NA DESAPROPRIAÇÃO


13.1 Direito de extensão
Trata-se do direito do proprietário de exigir que na desapropriação se inclua a parte restante do
bem expropriado, que se tornou inútil ou de difícil utilização, podendo ser alegado em qualquer tipo de
desapropriação, e deve abarcar inclusive os lucros cessantes da área remanescente quando houver
prejuízo ou impossibilidade de utilização da área restante.
Como requisitos temos que, na desapropriação rural caso seja intentada a desapropriação parcial,
o proprietário poderá requerer, na contestação, a desapropriação de todo o imóvel, quando a área
remanescente ficar reduzida a superfície inferior à da pequena propriedade rural, ou prejudicada
substancialmente em suas condições de exploração econômica, caso seja o seu valor inferior ao da parte
desapropriada.

256
Ainda sobre a desapropriação de imóvel rural, a jurisprudência vem se firmando no sentido de
que deverá ser considerado inaproveitável qualquer terreno menor que um "módulo fiscal", sem que,
nestes casos, seja necessário demonstrar que, de fato, NÃO é possível fazer a utilização do imóvel.
Ademais, o expropriado deve exercer o direito de extensão durante o procedimento
administrativo ou judicial, por meio de ação de procedimento comum, ou do contrário, sua inércia será
entendida como renúncia, visto que é inadmissível requerer a extensão após o terminada a
desapropriação.
No entanto, o STJ tem entendimento recente, de 2018, que flexibiliza essa regra, entendendo
que não há impedimento à postulação de indenização da área remanescente na contestação da
própria ação de desapropriação.

13.2 Tredestinação e retrocessão


A tredestinação ocorre quando o poder público confere ao bem expropriado finalidade diferente
da que foi exposta no decreto de desapropriação. Ocorre que, tal finalidade se divide em dois tipos, quais
sejam a finalidade genérica, que é o interesse público, e a finalidade específica, que é o fim para o qual
houve a desapropriação.
Assim, caso o ente público desvie a finalidade específica disposta no decreto de desapropriação,
mas mantenha a finalidade genérica, buscando o interesse público, a tredestinação será lícita. No entanto,
existem situações em que NÃO é permitida a tredestinação por conta da natureza da desapropriação,
como é o caso da desapropriação rural, destinada para reforma agrária, da desapropriação confisco,
destinada a reforma agrária e a programas de habitação popular, e da desapropriação comum, que não
admite a tredestinação quando se tratar de desapropriação para fins de implantação de parcelamento
popular destinado a pessoas de baixa renda.
À título de exemplo, o Estado pode desapropriar determinada área visando a construção de uma
escola, no entanto devido à pandemia da COVID-19, surge a necessidade de construir mais hospitais, e
assim, constrói-se uma unidade hospitalar nessa área, sendo tal ato dotado de licitude, vez que continuou
a buscar o interesse público, nesse caso restou configurada a tredestinação lícita. Já se o estado
desapropria essa área visando a construção de uma escola, mas ao tomar posse da área, resolve doá-la à
um clube de futebol para a construção de um novo estádio que seria de propriedade do clube, resta
configurada a tredestinação ilícita.
A tredestinação ilícita (adestinação) acontece quando o ente estatal deixa de utilizar o bem no
interesse social, não dando a ele a finalidade específica para o qual havia sido desapropriado, assim como
não garante a sua utilização na busca do interesse público. Dessa atuação do ente público surge a
obrigação do poder público de oferecer ao expropriado o direito de reaver o bem (retrocessão),
por conta de sua natureza real (regra), ou, se inviabilizada a devolução do bem, surge o direito

257
de reparar os danos daí decorrentes, transformando-se em direito de natureza pessoal (exceção),
conforme dispõe a jurisprudência atual do STJ e do STF.
Ademais, há alguns casos em que entende-se não haver possibilidade de retrocessão, como é o
caso da desapropriação para implantação de parcelamento popular, destinado às classes de menor renda,
onde a própria lei afirma isso. Em outros casos a doutrina é quem trata de tal impossibilidade como na
hipótese de desapropriação amigável, que se configura na prática em verdadeiro contrato de compra e
venda, ou na hipótese do poder público não fazer nada com o bem desapropriado, nem afetá-lo ao
interesse público e nem favorecer interesse particular, onde entende-se que a mera omissão por parte do
ente público NÃO gera direito à retrocessão, em razão da ausência de prazo legal para destinação pública
do bem desapropriado.
Por fim, a doutrina majoritária entende que no momento da retrocessão (reversão do
procedimento expropriatório) deverá ser feita uma nova avaliação do bem, devendo o particular pagar o
valor indenizatório do bem atualizado.

14 DESAPROPRIAÇÃO POR ZONA


Trata-se de desapropriação feita pelo ente estatal por conta de uma obra pública, onde o Estado
tem a necessidade de desapropriar a área que será utilizada para a efetiva realização da obra, bem como a
zona vizinha à essa principal.
Sendo assim, conforme o artigo 4°, do Decreto-lei 3.365/41, são duas as possibilidades para o
referido tipo de desapropriação, quais sejam, a área contígua necessária ao desenvolvimento da obra a
que se destina, ou as zonas que se valorizarem extraordinariamente, em consequência da realização do
serviço, ensejando valorização diferente à prédios vizinhos, que em condições normais teriam valores
equivalentes. Em qualquer caso, a declaração de utilidade pública deverá compreendê-las, mencionando-
se quais as indispensáveis à continuação da obra e as que se destinam à revenda.
Por fim, o STJ entende que na desapropriação, direta ou indireta, quando há valorização
da área remanescente não desapropriada em decorrência de obra ou serviço público, dispõe o
Estado de três instrumentos legais para evitar que a mais valia, decorrente da iniciativa estatal,
locuplete sem justa causa o patrimônio de um ou de poucos: a desapropriação por zona ou
extensiva, aplicável na hipótese de valorização geral extraordinária, a cobrança de contribuição
de melhoria, aplicável na hipótese de valorização geral ordinária, e o abatimento proporcional,
na indenização a ser paga, da valorização específica trazida ao imóvel.

258
15 DESAPROPRIAÇÃO POR DOMÍNIO ÚTIL
Primeiramente é necessário conceituar enfiteuse, que segundo o Código Civil de 1916, se dá
quando por ato entre vivos, ou de última vontade, o proprietário atribui à outro o domínio útil do imóvel,
pagando a pessoa, que o adquire, e assim se constitui enfiteuta, ao senhorio direto uma pensão, ou foro,
anual, certo e invariável.
Dessa forma, o domínio útil do imóvel pode ser objeto de desapropriação, e em havendo tal
procedimento, o valor a ser pago à título de indenização deve ser dividido entre o titular do domínio real
e o senhorio direto (proprietário do bem), na proporção de 83% para o primeiro, e de 17% para o
segundo, conforme dispõe o artigo 103, §2°, do Decreto-lei 9.760/46.

16 SÚMULAS SOBRE DESAPROPRIAÇÃO


Súmula 476 (STF): Desapropriadas as ações de uma sociedade, o poder desapropriante, imitido
na posse, pode exercer, desde logo, todos os direitos inerentes aos respectivos títulos.
Súmula 23 (STF): Verificados os pressupostos legais para o licenciamento da obra, não o impede
a declaração de utilidade pública para desapropriação do imóvel, mas o valor da obra não se incluirá na
indenização, quando a desapropriação for efetivada.
Súmula 561 (STF): Em desapropriação, é devida a correção monetária até a data do efetivo
pagamento da indenização, devendo proceder-se à atualização do cálculo, ainda que por mais de uma vez.
Súmula 416 (STF): Pela demora no pagamento do preço da desapropriação não cabe indenização
complementar além dos juros.
Súmula 617 (STF): A base de cálculo dos honorários de advogado em desapropriação é a diferença
entre a oferta e a indenização, corrigidas ambas monetariamente. •.
Súmula 652 (STF): Não contraria a Constituição o art. 15, § 1º, do Dl. 3.365/41 (Lei da
Desapropriação por utilidade pública).
Súmula 164 (STF): No processo de desapropriação, são devidos juros compensatórios desde a
antecipada imissão de posse, ordenada pelo juiz, por motivo de urgência.
Súmula 378 (STF): Na indenização por desapropriação incluem-se honorários do advogado do
expropriado.
Súmula 70- (STJ): Os juros moratórios, na desapropriação direta ou indireta, contam-se desde o
trânsito em julgado da sentença.
Súmula 12- (STJ): Em desapropriação, são cumuláveis juros compensatórios e moratórios.
Súmula 354- (STJ): A invasão do imóvel é causa de suspensão do processo expropriatório para
fins de reforma agrária.

259
Súmula 67- (STJ): Na desapropriação, cabe a atualização monetária, ainda que por mais de uma
vez, independente do decurso de prazo superior a um ano entre o cálculo e o efetivo pagamento da
indenização.
Súmula 131- (STJ): Nas ações de desapropriação incluem-se no cálculo da verba advocatícia as
parcelas relativas aos juros compensatórios e moratórios, devidamente corrigidas.
Súmula 141- (STJ): Os honorários de advogado em desapropriação direta são calculados sobre a
diferença entre a indenização e a oferta, corrigidas monetariamente.
Súmula 102- (STJ): A incidência dos juros moratórios sobre os compensatórios, nas ações
expropriatórias, não constitui anatocismo vedado em lei.
Súmula 114- (STJ): Os juros compensatórios, na desapropriação indireta, incidem a partir da
ocupação, calculados sobre o valor da indenização, corrigido monetariamente.
Súmula 113- (STJ): Os juros compensatórios, na desapropriação direta, incidem a partir da imissão
na posse, calculados sobre o valor da indenização, corrigido monetariamente.
Súmula 69- (STJ): Na desapropriação direta, os juros compensatórios são devidos desde a
antecipada imissão na posse e, na desapropriação indireta, a partir da efetiva ocupação do imóvel.
Súmula 56- (STJ): Na desapropriação para instituir servidão administrativa são devidos os juros
compensatórios pela limitação de uso da propriedade.

17 COMO O ASSUNTO FOI COBRADO EM PROVAS:


17.1 Objetivas

(CESPE - 2019 - MPC-PA - Procurador de Contas)


1. No que se refere à intervenção do Estado na propriedade privada, julgue os itens a seguir.
I Conforme o entendimento do STJ, o valor da indenização deve ser contemporâneo à avaliação.
II A CF previu o tombamento de todos os sítios detentores de reminiscências históricas dos antigos
quilombos.
III Os bens expropriados, uma vez incorporados à fazenda pública, não podem ser objeto de
reivindicação, salvo no caso de esta ser fundada em nulidade do processo de desapropriação.
IV Constitui exemplo de requisição administrativa a hipótese de o Estado, para a realização de eleições
municipais, utilizar escola privada somente durante o dia das eleições.

Estão certos apenas os itens


A I e II.
B I e III.
C II e IV.

260
D I, III e IV.
E II, III e IV.

(FCC - 2019 - SANASA Campinas - Procurador Jurídico)


2. Um município desapropriou um imóvel para instalação de uma unidade escolar, que funcionou
por aproximadamente dez anos. Em razão de diminuição da demanda de alunos para aquele grau de
ensino, houve desativação da unidade, com a consequente transferência dos estudantes para a unidade
mais próxima. No local, a Administração deu início a obras de adaptação para instalação de uma agência
ambiental. Os expropriados do terreno ingressaram com requerimento administrativo invocando
retrocessão. No que se refere a este direito e considerando o caso descrito,
A acarreta o direito subjetivo dos expropriados retomarem a posse do imóvel, somada à indenização
por perdas e danos em razão de não lhes ter sido oferecido o bem em retorno.
B os expropriados podem optar pela transferência dominial do imóvel a título gratuito ou pela
indenização no valor do bem, considerando que houve hipótese inequívoca de tredestinação.
C os expropriados não fazem jus ao deferimento do requerimento, considerando que o imóvel
desapropriado teve a destinação original atendida e a nova finalidade também configura utilização de
interesse público.
D há direito real de retrocessão por parte dos expropriados, considerando que a destinação indicada
na desapropriação deixou de subsistir, sendo imperiosa a concordância dos mesmos em relação à nova
finalidade.
E inexiste fundamento para o requerimento apresentado, considerando que o direito de retrocessão
dos expropriados é passível de ser invocado dentro dos cinco anos contados da imissão na posse do
imóvel pelo expropriante.

(FCC - 2019 - SANASA Campinas - Procurador Jurídico)


3. Jaime é dono de duas propriedades rurais no município onde reside: a Chácara Santa Paulina e a
Fazenda das Carolinas. A Chácara Santa Paulina é uma pequena propriedade, assim definida em lei,
improdutiva e que serve de lazer a Jaime e sua família, enquanto a Fazenda das Carolinas é uma grande
propriedade que cumpre sua função social, na qual se cultiva café e milho. Em conformidade com a
Constituição Federal de 1988, considerando apenas as informações fornecidas, para fins de reforma
agrária, a Chácara Santa Paulina é
A passível de desapropriação, uma vez que Jaime é proprietário também da Fazenda das Carolinas,
enquanto a Fazenda das Carolinas é insuscetível de desapropriação por ser uma propriedade produtiva.
B passível de desapropriação, assim como a Fazenda das Carolinas, uma vez que são insuscetíveis
de desapropriação apenas as médias propriedades rurais e desde que sejam estas produtivas.

261
C insuscetível de desapropriação, uma vez que é uma pequena propriedade rural, assim definida em
lei, do mesmo modo que a Fazenda das Carolinas, por ser uma propriedade produtiva.
D insuscetível de desapropriação por ser uma pequena propriedade rural, assim definida em lei,
enquanto a Fazenda das Carolinas é passível de desapropriação, uma vez que Jaime é proprietário também
da Chácara Santa Paulina.
E passível de desapropriação, assim como a Fazenda das Carolinas, uma vez que Jaime é proprietário
de mais de uma propriedade rural.

(FCC 2019 - AFAP - Analista de Fomento - Advogado)


4. A necessidade de implantação de unidades habitacionais destinadas a população de baixa renda e
a edificação de uma unidade hospitalar para atendimento da população em geral justifica, por parte do
Município, a
A edição de decreto de declaração de interesse social para a implantação das unidades habitacionais
e para construção da unidade hospitalar, porque este também se destina a baixa renda.
B desapropriação de áreas públicas ou particulares para instalação da unidade hospitalar e das
unidades habitacionais, em razão da prevalência da finalidade pública da medida.
C declaração de utilidade pública das áreas necessárias para as obras, precedida da comprovação da
existência da integralidade de recursos financeiros para edificação das obras indicadas, mesmo que estas
ultrapassem mais de um exercício.
D a desapropriação dos terrenos necessários à implantação das obras, cuja indenização, devido ao
interesse social que fundamenta a atuação do poder público, poderá ser paga em títulos da dívida pública
após a conclusão das obras.
E edição de decreto de declaração de interesse social, que justifica a implantação das unidades
habitacionais, bem como de declaração de utilidade pública, para implantação do equipamento público
destinado à unidade hospitalar.

(FCC - 2018 - Prefeitura de Caruaru - PE - Procurador do Município)


5. Na desapropriação:
A da sentença que fixar o preço da indenização caberá apelação com efeito devolutivo e suspensivo,
seja o apelante o expropriado ou o expropriante, fixados honorários, quando o valor indenizatório for
superior ao valor oferecido, entre 5 e 15% do valor da diferença.
B poderá o Judiciário examinar e decidir, no processo correspondente, se estão verificados ou não
os casos de utilidade pública, salvo quando disser respeito à segurança nacional.
C sua efetivação deverá ocorrer mediante acordo ou intentar-se judicialmente dentro de 10 anos, a
partir da data de expedição do decreto respectivo, findos os quais este prescreverá.

262
D a instância interrompe-se com o falecimento do réu, suspendendo-se em caso de perda de sua
capacidade civil, hipótese na qual o juiz nomeará Curador Especial para que o represente e prossiga no
feito.
E a citação far-se-á por mandado na pessoa do proprietário dos bens; a do marido dispensa a da
mulher; a de um sócio, ou administrador, a dos demais, quando o bem pertencer à sociedade; a do
administrador da coisa no caso de condomínio, exceto o de edifício de apartamento constituindo cada
um propriedade autônoma, a dos demais condôminos e a do inventariante, e, se não houver, a do cônjuge,
herdeiro, ou legatário, detentor da herança, a dos demais interessados, quando o bem pertencer a espólio.

(FCC - 2018 - Prefeitura de Caruaru - PE - Procurador do Município)


6. Em relação à desapropriação, é correto afirmar que
A por se tratar de matéria administrativa, compete a cada ente da Federação legislar sobre
desapropriação.
B na desapropriação por descumprimento da função social da propriedade rural, de competência
dos Estados, o pagamento é feito em títulos da dívida agrária, resgatáveis em até vinte anos, sendo as
benfeitorias úteis e necessárias pagas em dinheiro.
C é vedada aos Municípios a realização de desapropriação de imóvel rural.
D a desapropriação é forma derivada de aquisição de propriedade e, por conta disso, se a indenização
for paga a terceiro que não proprietário, a desapropriação se torna inválida.
E a desapropriação por utilidade pública deve ser efetivada mediante acordo ou intentada
judicialmente, no prazo de cinco anos, contados da data da expedição do decreto.

(FCC - 2018 - PGE-AP - Procurador do Estado)


7. Considere que, visando realizar obras de saneamento básico, o Estado do Amapá edita decreto
no qual declara a utilidade pública, para fins de desapropriação, de imóvel residencial urbano habitado
pelo respectivo proprietário, em favor da Companhia de Água e Esgoto do Amapá (CAESA). A referida
empresa estatal ajuíza a ação de desapropriação e, na petição inicial, alega urgência e requer a imissão
provisória no imóvel expropriando. Nesse caso,
A não deve ser concedida a imissão provisória, visto que a urgência deveria ser previamente
declarada no decreto de utilidade pública.
B se houver impugnação pelo expropriado, haverá arbitramento de indenização provisória pelo juiz,
que somente autorizará a imissão, se o expropriante complementar o depósito para que este atinja a
metade do valor arbitrado.
C não é possível imissão provisória, pois o direito à moradia se sobrepõe à conveniência da
Administração Pública.
D deve haver a citação do expropriado antes da decisão sobre a imissão provisória na posse.

263
E a empresa estatal nunca terá competência para ajuizar ação de desapropriação, que deve ser
proposta diretamente pelo ente que emitiu o decreto de utilidade pública.

(Texto das questões 8 e 9)


A administração pública promoveu a desapropriação de dois imóveis. No primeiro, o ato
expropriatório previa a construção de uma escola. No entanto, após três anos, construiu-se no local um
abrigo para moradores de rua. Quanto ao segundo, que já contava com edificação, a previsão era de que
o imóvel fosse aproveitado para servir de unidade de saúde pública, porém, nada foi feito e a edificação
permaneceu fechada.

(CESPE - 2018 - EBSERH – Advogado)


8. Com referência a essa situação hipotética, julgue o item que se segue.
Na situação relacionada ao segundo imóvel, o particular que teve seu bem desapropriado poderá
pleitear somente revisão do valor da indenização.
( ) Certo ( ) Errado

(CESPE - 2018 - EBSERH – Advogado)


9. Com referência a essa situação hipotética, julgue o item que se segue.
Ocorreu, no caso do primeiro imóvel, a tredestinação lícita.
( ) Certo ( ) Errado

(FCC - 2018 - PGE-TO - Procurador do Estado)


10. Considere que determinada Municipalidade precise desapropriar um terreno para instalação de
um equipamento público. Durante a avaliação pericial da área para identificação do valor do imóvel foi
apurado que o terreno apresentava contaminação do solo, decorrente da destinação pelo proprietário
para atividades não autorizadas. O ente público expropriante
A poderá pleitear a dedução do custo de descontaminação do valor da indenização, já que havia
responsabilidade do dono do terreno pela observância da legislação ambiental vigente.
B poderá desistir da desapropriação, diante do vício de legalidade, cabendo, contudo, indenização
em favor do proprietário do terreno, por não ter dado causa à desistência da área, esta que constituiu
decisão discricionária do ente.
C deverá necessariamente arcar com os custos de descontaminação, que não podem ser imputados
no valor da avaliação, sendo inerentes ao risco da aquisição.
D pode pleitear que a indenização devida ao proprietário da área seja posterior à desapropriação, e
não prévia, como usual, em razão da necessidade de ser incluído o custo de descontaminação da área.

264
E deve desistir da desapropriação, já que o valor estimado da indenização será necessariamente
superado em razão do custo de indenização.

(FCC - 2018 - PGE-TO - Procurador do Estado)


11. O Governo do Estado decidiu construir um conjunto habitacional popular em área urbana,
situada na região metropolitana de Palmas. Para tanto, verificou-se a existência de um terreno de dimensão
adequada, situado em área incluída no plano diretor e declarada passível de edificação compulsória por
lei municipal. Embora notificado há dez anos para promover a edificação no terreno, o proprietário
quedou-se inerte, sendo que há mais de cinco anos vem sendo aplicado o IPTU progressivo no tempo.
Nesse caso, o Governo do Estado
A deve encaminhar pedido de autorização à Assembleia Legislativa para a desapropriação do
terreno, visto que se trata de bem sob domínio municipal.
B poderá promover desapropriação por interesse social do imóvel, todavia mediante justa e prévia
indenização, em dinheiro.
C está impedido de promover a desapropriação do terreno, em vista da exclusiva competência
municipal para promover a desapropriação de áreas urbanas destinadas à habitação popular.
D poderá promover a desapropriação-sanção do terreno, com o pagamento de indenização em
títulos da dívida pública de emissão previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate de
até dez anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real da indenização e os juros
legais, por se tratar de terreno situado em região metropolitana.
E poderá editar decreto de desapropriação por interesse social, em benefício do município em que
está situado o imóvel, que ficará responsável pelo pagamento da indenização em títulos da dívida pública
de emissão previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate de até 10 anos, em parcelas
anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real da indenização e os juros legais.

(CESPE - 2017 - PGE-SE - Procurador do Estado)


12. À luz da doutrina e da jurisprudência sobre a intervenção do Estado na propriedade, assinale a
opção correta.
A Situação hipotética: Determinada propriedade rural é produtiva e cumpre sua função social em
metade de sua extensão, ao passo que, na outra metade, são cultivadas plantas psicotrópicas ilegais.
Assertiva: Nessa situação, eventual desapropriação recairá somente sobre a metade que se destina ao
cultivo de plantas psicotrópicas ilegais.
B Situação hipotética: Um estado emitiu decreto expropriatório para a construção de um hospital.
Após a execução do ato expropriatório, a região foi acometida por fortes chuvas, que destruíram um
grande número de escolas. Assertiva: Nessa situação, se determinar a alteração da destinação do bem para

265
a construção de escolas, o estado não terá obrigação de garantir ao ex-proprietário o direito de
retrocessão.
C Situação hipotética: Maria adquiriu um apartamento na cobertura de um edifício. Após a aquisição
do imóvel, com a averbação do registro, Maria pleiteou indenização contra o estado, considerando a
prévia existência de linha de transmissão em sua propriedade. Assertiva: Nessa situação, Maria terá direito
a indenização, desde que o prejuízo alegado não recaia também sobre as demais unidades do edifício.
D Situação hipotética: Um imóvel com área efetivamente registrada equivalente a 90% da sua área
real, de propriedade de Pedro, foi objeto de desapropriação direta. Assertiva: Nessa situação, o pagamento
de indenização a Pedro deverá recair sobre a totalidade da área real do referido imóvel.
E Um imóvel rural produtivo, mas que não cumpre a sua função social, poderá ser desapropriado
para fins de reforma agrária, segundo a CF.

(CESPE - 2017 - Prefeitura de Fortaleza - CE - Procurador do Município)


13. A respeito de parcelamento do solo, impacto de vizinhança, regularização fundiária de interesse
social, desapropriação e tombamento, julgue o item a seguir com base na legislação urbanística.
Em se tratando de desapropriação por utilidade pública em que a imissão prévia na posse tenha
se dado por ordem judicial e o ente expropriante tenha depositado em juízo o preço ofertado, é incabível
o pagamento de juros compensatórios.
( ) Certo ( ) Errado

(CESPE - 2017 - Prefeitura de Fortaleza - CE - Procurador do Município)


14. Acerca da intervenção do Estado na propriedade, das licitações e dos contratos administrativos,
julgue o seguinte item.
Segundo o entendimento do STJ, ao contrário do que ocorre em desapropriação para fins de
reforma agrária, é irregular, nos casos de desapropriação por utilidade pública, a imissão provisória na
posse pelo poder público.

GABARITO: 1-A; 2-C; 3-A; 4-E; 5-E; 6-E; 7-B; 8-E; 9-C; 10-A; 11-B; 12-B; 13-E; 14-E.

17.2 Subjetivas

(CESPE - 2014 – PGDF - Procurador do Distrito Federal)


O DF procedeu à desapropriação, por utilidade pública, de um terreno baldio situado em área
urbana de grande densidade demográfica, com o fim de edificar uma escola de ensino fundamental e,
após anos de inércia, construiu em parte (metade) do terreno um posto de saúde, tendo cedido, fora das
hipóteses legais, a parte remanescente a terceiros.

266
Em face dessa situação hipotética, responda, de forma fundamentada, às seguintes indagações.
a) Está caracterizada a tredestinação?
b) A destinação dada ao imóvel induz retrocessão?
c) O proprietário desapropriado tem direito à devolução de todo o imóvel, somente de parte dele (a
cedida a terceiros) ou somente a perdas e danos?

(CESPE – 2014 – PGE/BA – Procurador do Estado da Bahia)


Suponha a existência de um imóvel rural denominado Fazenda Bahia, cuja situação prática é assim
descrita: o imóvel é produtivo, mas a atividade nele exercida é orientada pelo desmate das áreas de
preservação permanente e de reserva legal, em contrariedade ao que dispõe a legislação específica,
verificando-se ilícitos contra o meio ambiente, conduzido como forma de ampliação da eficiência na
exploração.
Em face dessa situação hipotética, discorra sobre a possibilidade de desapropriação por interesse
social, para fins de reforma agrária, do imóvel rural Fazenda Bahia à luz da jurisprudência do STF,
abordando, necessariamente, os seguintes aspectos:
a) função social da propriedade e conceito jurídico de propriedade;
b) dimensão ambiental da função social da propriedade rural;
c) confronto entre o art. 185, II, e o art. 186, ambos da CF/1988.

18 REFERÊNCIAS
CARVALHO, Matheus. Manual de Direito Administrativo. 5° ed.. Salvador, 2018. Juspodivm.
CASADO, Ubirajara. STF muda tudo REGRA dos JUROS COMPENSATÓRIOS na
DESAPROPRIAÇÃO e CANCELA SÚMULA 618 (ADI 2332). Disponível em:
<https://blog.ebeji.com.br/stf-muda-tudo-regra-dos-juros-compensatorios-na-desapropriacao-e-
cancela-sumula-618-adi-2332/>. Acesso em: 05 de abril de 2020.
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Vade Mecum de Jurisprudência - Dizer o Direito. 4° ed.
Salvador, 2018. Juspodivm.
DA CUNHA, Leonardo Carneiro. A Fazenda Pública em Juízo. 16 ed.. Rio de Janeiro, 2019. Forense.
DIZER O DIREITO. Disponível em: <https://www.dizerodireito.com.br/>. Acesso em: 05 de abril
de 2020.
OLIVEIRA, Rafael. Curso de Direito Administrativo. 6 ed.. São Paulo, 2018.

267
APELAÇÃO E PODER PÚBLICO

APELAÇÃO E PODER PÚBLICO

ALMANAQUE DA ADVOCACIA PÚBLICA por João Maciel


Lopes

Em quarentena em Curitiba/PR, 11 de abril de 2020

268
1 CONCEITO

Apelação é recurso comum do sistema processual civil cabível contra sentença proferida em
qualquer tipo de procedimento (CPC, art. 1.009) e contra decisão interlocutória não recorrível em
separado (CPC, art. 1.009, §1º c/c 1.015), com a finalidade de obter, por meio do reexame pelo órgão de
segundo grau, a reforma ou invalidação do julgado.

2 CABIMENTO

Em regra, contra a sentença cabe apelação (CPC, art. 1.009).

Apesar de ter a natureza de sentença, algumas decisões não são impugnáveis por apelação. São,
portanto, exceção à regra do artigo 1.009 do CPC: recurso inominado (art. 41, Lei 9.099/1995); embargos
infringentes nas execuções de valor igual ou inferior a 50 OTN (art. 34, Lei 6.830/1980); recurso ordinário
constitucional em processo em que forem partes, de um lado, Estado estrangeiro ou organismo
internacional e, de outro, Município ou pessoa residente ou domiciliada no Brasil (CPC, art. 1.027, II,
“b”).

3 APELAÇÃO COMO MEIO DE IMPUGNAÇÃO DAS DECISÕES


INTERLOCUTÓRIAS
Todas as questões incidentais resolvidas na fase de conhecimento, desde que não sejam
impugnáveis por agravo de instrumento, poderão ser discutidas na apelação (CPC, art. 1.009, §1º).
A contrario sensu, se contra a decisão interlocutória for possível a interposição de agravo de
instrumento, seja nas hipóteses do rol do art. 1.015 do CPC ou com base na teoria da taxatividade
mitigada do STJ, a parte prejudicada tem o ônus processual de interpor o agravo de instrumento, sob
pena de preclusão, uma vez que não poderá deixar de questionar a decisão somente na apelação.
Como decorrência do princípio do contraditório (CPC, art. 9º) e da vedação à decisão surpresa
(CPC, art. 10), se as questões que não desafiaram agravo de instrumento forem suscitadas nas
contrarrazões, o recorrente será intimado para se manifestar, no prazo de 15 dias, exclusivamente a
respeito delas (CPC, art. 1.009, §2º).
Proferida decisão interlocutória que não esteja no rol do art. 1.015 do CPC ou não preenchidos
os requisitos da teoria da taxatividade mitigada criada pelo STJ para permitir a impugnação por meio de
agravo de instrumento, a parte poderá dela recorrer no momento da apelação.

4 EFEITOS DA APELAÇÃO
No sistema processual brasileiro, a regra é que os recursos sejam recebidos somente no efeito
devolutivo.

269
Poderá o relator atribuir efeito suspensivo (impróprio ou ope judicis) quando demonstrado a
probabilidade de provimento do recurso ou fundamentação relevante e perigo de risco de dano grave ou
de difícil reparação (CPC, art. 1.012, §4º).
Na apelação, essa lógica se inverte, porque a regra específica para esse recurso é o efeito
suspensivo automático (próprio ou ope legis) (CPC, art. 1.012), salvo nas hipóteses do §1º do mesmo
dispositivo.
Nesse sentido, a apelação será recebida apenas no efeito devolutivo, ou seja, não tem efeito
suspensivo automático, produzindo a sentença efeitos imediatos a partir da sua publicação, permitido o
seu cumprimento provisório (CPC, art. 1.012, §3º) quando homologa divisão ou demarcação de terras,
condena a pagar alimentos, extingue sem resolução do mérito ou julga improcedentes os embargos do
executado, julga procedente o pedido de instituição de arbitragem, confirma, concede ou revoga tutela
provisória e decreta a interdição.
Nesse sentido, em geral, a apelação é recebida nos efeitos devolutivo e suspensivo.
Além disso, parte da doutrina acrescenta o efeito obstativo, ou seja, a interposição da apelação
impede a formação da coisa julgada.
Efeito regressivo é a possibilidade de o órgão julgador rever a decisão por ele proferida. Trata-se
do chamado juízo de retratação.
O juízo de retratação consiste na possibilidade de o juízo, examinando o recurso, voltar atrás e
determinar o seguimento do processo. Na apelação, é cabível nas hipóteses dos artigos 331, 332, §3º e
485, §7º.

5 PROCEDIMENTO NA APELAÇÃO
A apelação deve ser interposta no prazo de 15 dias úteis (CPC, art. 219 c/c 1.003, §5º) ou 30 dias
úteis quando apresentada pela Fazenda Pública (CPC, art. 183 e 219 c/c 1.003, §5º), Ministério Público
(CPC, art. 180, 183 e 219 c/c 1.003, §5º) e Defensoria Pública (CPC, art. 180, 183 e 219 c/c 1.003, §5º).
Igual prerrogativa é conferida aos litisconsortes com diferentes procuradores de escritórios de
advocacia distintos (CPC, art. 229), exceto nos processos em autos eletrônicos (CPC, art. 229, §2º).
A apelação pode ser interposta pelo correio, sendo considerada como data de interposição o dia
da postagem (CPC, art. 1.003, §4º). Está, portanto, superada a Súmula 216 do STJ35 (Enunciado 96 do
FPPC36).

35 SÚMULA 216 STJ - A tempestividade de recurso interposto no Superior Tribunal de Justiça é aferida pelo registro no
protocolo da secretaria e não pela data da entrega na agência do correio. (Súmula 216, CORTE ESPECIAL, julgado em
03/02/1999, DJ 01/03/1999)
36 ENUNCIADO 96 do FPPC - Fica superado o enunciado 216 da súmula do STJ após a entrada em vigor do CPC.

270
O recurso pode ser interposto por sistema de transmissão de dados e imagens tipo fac-símile ou
outro similar, devendo os originais ser entregues em juízo, necessariamente, até cinco dias da data de seu
término (Lei 9.800/1999, art. 2º).
Com a informação do processo judicial (Lei 11.419/2006) essas formas de interposição perdem
a sua utilidade.
O recurso deve ser dirigido ao juízo de primeiro grau onde a decisão foi prolatada, devendo conter
os nomes e a qualificação das partes, a exposição do fato e do direito, as razões do pedido de reforma ou
de decretação de nulidade, o pedido de nova decisão (CPC, art. 1.010, I a IV).
Interposta a apelação, a parte contrária será intimada para apresentar contrarrazões no prazo de
15 dias úteis (CPC, art. 219 c/c 1.003, §5º) ou 30 dias úteis quando for apelada Fazenda Pública (CPC,
art. 183 e 219 c/c 1.003, §5º), Ministério Público (CPC, art. 180, 183 e 219 c/c 1.003, §5º) e Defensoria
Pública (CPC, art. 180, 183 e 219 c/c 1.003, §5º).
Igual prerrogativa é conferida aos litisconsortes com diferentes procuradores de escritórios de
advocacia distintos (CPC, art. 229), exceto nos processos em autos eletrônicos (CPC, art. 229, §2º).
No prazo das contrarrazões, poderá o recorrido apresentar apelação adesiva (CPC, art. 997, §2º
c/c 1.010, §2º). Nesse caso, dar-se-á vista ao recorrente principal para, querendo, apresentar resposta ao
recurso adesivo no prazo de 15 dias úteis (CPC, art. 219 c/c 1.010, §2º) ou 30 dias úteis quando recorrente
Fazenda Pública (CPC, art. 183 e 219 c/c 1.010, §2º), Ministério Público (CPC, art. 180, 183 e 219 c/c
1.010, §2º) e Defensoria Pública (CPC, art. 180, 183 e 219 c/c 1.010, §2º).
Em seguida, após essas formalidades, os autos serão remetidos ao tribunal, a quem compete
exercer o juízo único de admissibilidade do recurso de apelação (CPC, art. 1.010, §3º).

6 PRESSSUPOSTOS DE ADMISIBILIDADE
6.1 TEMPESTIVIDADE

A Fazenda Pública tem prerrogativa de prazo em dobro para todas as suas manifestações
processuais, e o termo inicial da contagem será a partir da intimação pessoal (CPC, art. 183).
É prerrogativa da Fazenda Pública a intimação pessoal, que poderá ser efetivada por carga,
remessa ou meio eletrônico (CPC, art. 183, §1º).
Para a Fazenda Pública, o prazo para a interposição de recurso conta-se da data em que intimada
pessoalmente da decisão, efetivada por carga, remessa ou meio eletrônico (CPC, art. 183, §1º c/c 1.003).
A apelação deve ser interposta no prazo de 15 dias úteis (CPC, art. 219 c/c 1.003, §5º) ou 30 dias
úteis quando apresentada pela Fazenda Pública (CPC, art. 183 e 219 c/c 1.003, §5º).

6.2 PREPARO
Os recursos estão, em regra, sujeitos a preparo, ou seja, ao pagamento das despesas processuais,
que compreendem as custas e o porte de remessa e retorno.

271
Nos autos eletrônicos, é dispensado o recolhimento do porte de remessa e retorno (CPC, art.
1.007, §3º).
Quando exigido, o preparo, inclusive porte de remessa e retorno, deve ser comprovado no ato
de interposição do recurso.
No regime processual de direito público, a Fazenda Pública está dispensada do recolhimento do
preparo nos recursos (CPC, art. 1.007, §1º), sem prejuízo do dever de reembolsar, no final do processo,
as despesas processuais feitas pela parte vencedora (Lei 9.289/96, art. 4º, I).

7 JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE DO RECURSO DE APELAÇÃO


Juízo de admissibilidade consiste no exame acerca da existência de condições que devem estar
presentes para que o tribunal possa analisar o mérito recursal.
Como visto, o juízo de admissibilidade da apelação é único, ou seja, é de incumbência exclusiva
do tribunal (CPC, art. 1.010, §3º).
Cabe ao juízo prolator da decisão recorrida tão somente determinar o cumprimento das
formalidades do art. 1.010, §§ 1º e 2º e, sem seguida, encaminhar o processo para o tribunal.
No tribunal, o juízo de admissibilidade é exercido pelo relator (CPC, art. 932, III e 1.011, II,
primeira parte).
O relator é aquele que primeiro toma conhecimento do processo e tem a atribuição de expor os
fundamentos da questão que será submetida ao colegiado para julgamento.
O recurso não será conhecido quando lhe faltar um ou mais dos seus pressupostos, como a
legitimidade, o interesse recursal, a tempestividade, o preparo e a regularidade formal (CPC, art. 932, III).
Nesses casos, antes de negar conhecimento ao recurso, deverá o relator conceder ao recorrente
o prazo de 5 dias para que seja sanado o vício ou complementada a documentação exigível (CPC, art.
932, p.u.).
Decorrido o prazo sem cumprimento ou, mesmo no prazo, o cumprimento for insuficiente, o
recurso não será conhecido. Trata-se do juízo negativo de admissibilidade.
Além de demonstrar a presença dos pressupostos recursais, o recorrente deverá impugnar
especificamente os fundamentos da decisão recorrida (regularidade formal – CPC, art. 932, III, parte
final).
O sistema processual não admite a impugnação genérica da decisão, sendo ônus do recorrente
expor as razões do pedido de reforma da decisão, cumprindo-lhe invalidar os fundamentos em que esta
se assenta.
Contra a decisão do relator que não conhece a apelação cabe agravo interno (CPC, art. 1.021) no
prazo de 15 dias úteis (CPC, art. 219 c/c 1.003, §5º) ou 30 dias úteis quando apresentada pela Fazenda
Pública (CPC, art. 183 e 219 c/c 1.003, §5º), Ministério Público (CPC, art. 180, 183 e 219 c/c 1.003, §5º)
e Defensoria Pública (CPC, art. 180, 183 e 219 c/c 1.003, §5º).

272
Se o relator receber a apelação, conhecendo-a, tem-se juízo positivo de admissibilidade,
podendo, inclusive monocraticamente negar ou dar provimento ao mérito.

8 JURISPRUDÊNCIA EM DESTAQUE

Sobre o art. 932, p.u., parte da doutrina defende a sua aplicação para todos os vícios de forma de
qualquer recurso, inclusive os excepcionais (Enunciado 197 FPPC37).

O prazo de cinco dias previsto no parágrafo único do art. 932 do CPC/2015 só se aplica aos
casos em que seja necessário sanar vícios formais, como ausência de procuração ou de
assinatura, e não à complementação da fundamentação. (ARE 953221 AgR, Relator(a): Min.
LUIZ FUX, Primeira Turma, julgado em 07/06/2016, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-164
DIVULG 04-08-2016 PUBLIC 05-08-2016) (Info 829)

O art. 932, parágrafo único do CPC/2015 só se aplica para os casos de regularização de vício
estritamente formal, não se prestando para complementar a fundamentação de recurso já
interposto. (AgInt no AREsp 1075210/SP, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA
TURMA, julgado em 23/05/2017, DJe 26/05/2017)

De outro lado, a jurisprudência do STJ nega aplicação do artigo 932, parágrafo único do CPC
para comprovação de feriado local.

O art. 1.003, § 6º, do CPC/15, diferentemente do CPC/73, é expresso no sentido de que "o
recorrente comprovará a ocorrência de feriado local no ato de interposição do recurso". A
intempestividade é tida pelo Código atual como vício grave e, portanto, insanável. Daí porque
não se aplica à espécie o disposto no parágrafo único do art. 932 do CPC/15, reservado às
hipóteses de vícios sanáveis. (AgInt no AREsp 957.821/MS, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, Rel. p/
Acórdão Ministra NANCY ANDRIGHI, CORTE ESPECIAL, julgado em 20/11/2017, DJe
19/12/2017)

A ocorrência de feriado local deverá ser comprovada, mediante documento idôneo, no ato da
interposição do recurso (CPC, art. 1.003, §6º). Logo, não é possível a comprovação, em agravo
interno, da ocorrência de feriado local ou suspensão do expediente forense no Tribunal de
origem. (AgInt no AREsp 1255609/AL, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA
TURMA, julgado em 12/06/2018, DJe 19/06/2018)

A intempestividade é tida pelo Código atual como vício grave e, portanto, insanável. Daí porque
não se aplica à espécie o disposto no parágrafo único do art. 932 do CPC/15, reservado às
hipóteses de vícios sanáveis. (AgInt no AREsp 957.821/MS, Rel. Ministro Raul Araújo, Rel. p/
Acórdão Ministra Nancy Andrighi, Corte Especial, julgado em 20/11/2017, DJe 19/12/2017).

37ENUNCIADO 197 do FPPC - (art. 932, parágrafo único; 1.029, §3º). Aplica-se o disposto no parágrafo único do art.
932 aos vícios sanáveis de todos os recursos, inclusive dos recursos excepcionais.

273
9 DAS ATRIBUIÇÕES DO RELATOR NA APELAÇÃO
Distribuída a apelação e após o seu recebimento, o relator poderá decidir monocraticamente
(CPC, art. 1.011, I c/c 932, III, IV e V).
Afastadas as hipóteses de não conhecimento ou de decisão monocrática (CPC, art. 1.011, I), o
relator elaborará o seu voto para julgamento do recurso pelo órgão colegiado (CPC, art. 1.011, II).

10 TÉCNICA DE AMPLIAÇÃO DO COLEGIADO


Em relação ao direito intertemporal, a data da prolação do resultado do julgamento não unânime
é que define a incidência da técnica de ampliação do colegiado prevista no art. 942 do CPC.
Nos termos do artigo 942 do CPC/2015, quando o resultado da apelação for não unânime, o
julgamento terá prosseguimento em sessão a ser designada, com a presença de outros julgadores, em
número suficiente para garantir a possibilidade de inversão do resultado inicial.
Quanto à natureza jurídica, não se trata de uma nova espécie recursal, diante da ausência de
voluntariedade, porquanto seu emprego será automático e obrigatório e por não haver previsão legal para
sua existência (princípio da taxatividade – CPC/2015, art. 994).
Trata-se de uma técnica de julgamento, a ser aplicada de ofício, independentemente de
requerimento das partes, com o objetivo de aprofundar a discussão a respeito de controvérsia, de natureza
fática ou jurídica, acerca da qual houve dissidência.
O prosseguimento do julgamento com quórum ampliado em caso de divergência tem por
objetivo a qualificação do debate, assegurando-se oportunidade para a análise aprofundada das teses
jurídicas contrapostas e das questões fáticas controvertidas, com vistas a criar e manter uma
jurisprudência uniforme, estável, íntegra e coerente.
Trata-se de instituto processual de natureza automática e observância obrigatória sempre que o
resultado da apelação não for unânime, cuja aplicabilidade só se manifesta de forma concreta no
momento imediatamente posterior à colheita dos votos e à constatação do resultado não unânime, porém
anterior ao ato processual formal subsequente, qual seja a publicação do acórdão.
Diante da natureza jurídica sui generis da técnica de ampliação do colegiado, o marco temporal para
aferir a incidência do artigo 942, caput, do CPC/2015 deve ser a data da proclamação do resultado não
unânime da apelação, em respeito à segurança jurídica, à coerência e à isonomia.
Na apelação, a técnica de ampliação do colegiado deve ser aplicada a qualquer julgamento não
unânime, incluindo as questões preliminares, relativas ao juízo de admissibilidade do recurso.
Uma vez ampliado o quórum, os novos julgadores não ficam restritos aos capítulos nos quais se
estabeleceu a divergência, apreciando a integralidade das apelações.
A incidência do artigo 942, caput, do CPC/2015 não se restringe aos casos de reforma da sentença
de mérito, tendo em vista a literalidade da disposição legal, que não estabelece nenhuma restrição
semelhante ao regime dos extintos embargos infringentes.

274
A técnica de ampliação do julgamento prevista no CPC/2015 possui objetivo semelhante ao que
possuíam os embargos infringentes do CPC/1973, que não mais subsistem, qual seja a viabilidade de
maior grau de correção e justiça nas decisões judiciais, com julgamentos mais completamente instruídos
e os mais proficientemente discutidos, de uma maneira mais econômica e célere.

11 JURISPRUDÊNCIA EM DESTAQUE

O colegiado formado com a convocação dos novos julgadores (art. 942 do CPC/2015)
poderá analisar de forma ampla todo o conteúdo das razões recursais, não se limitando à matéria
sobre a qual houve originalmente divergência. (REsp 1771815/SP, Rel. Ministro RICARDO
VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 13/11/2018, DJe 21/11/2018) (Info 638)

A técnica de ampliação de julgamento prevista no CPC/2015 deve ser utilizada quando o


resultado da apelação for não unânime, independentemente de ser julgamento que reforma ou
mantém a sentença impugnada. (REsp 1733820/SC, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO,
QUARTA TURMA, julgado em 02/10/2018, DJe 10/12/2018) (Info 639)

12 REFERÊNCIAS
DONIZETE, Elpídio. Curso de direito processual civil. 23.ed. São Paulo: Atlas, 2020.

275
RECURSOS ESPECIAL E EXTRAORDINÁRIO E PODER PÚBLICO

RECURSOS ESPECIAL E
EXTRAORDINÁRIO E PODER PÚBLICO

ALMANAQUE DA ADVOCACIA PÚBLICA por Talita Késsia


Andrade Leite

Em quarentena em Belo Horizonte/MG, 28 de abril de 2020

276
1 RECURSO EXTRAORDINÁRIO
1.1 Cabimento
1.1.1 Pressupostos genéricos cumulativos

O recurso extraordinário é cabível contra decisão de última ou única instância; em que ocorrer
o pré-questionamento (art. 102, III, caput da CF); e sob repercussão geral (art. 102, §3º CF). Esses
requisitos se aplicam aos pressupostos alternativos do art. 102, III da CF.

1.1.1.1 Decisão de única ou última instância


O recurso extraordinário somente é cabível contra a decisão proferida pelo último grau ordinário
de jurisdição.

Art. 102, III - julgar, mediante recurso extraordinário, as causas decididas em única ou última
instância, quando a decisão recorrida:
Súmula 281 STF: É inadmissível o recurso extraordinário, quando couber na justiça de origem, recurso
ordinário da decisão impugnada.

Feita essa análise, conclui-se que ele é cabível em face da decisão proferida pelas Turmas Recursais
dos Juizados Especiais e da decisão que julga os embargos infringentes na Execução Fiscal (art. 34 LEF),
proferida pelo órgão prolator da sentença.

Súmula 640 STF: É cabível recurso extraordinário contra decisão proferida por juiz de primeiro
grau nas causas de alçada, ou por turma recursal de juizado especial cível e criminal .

1.1.1.2 Prequestionamento

É instituto que exerce a função impeditiva dos tribunais superiores de conhecerem matérias que
não foram objeto de decisão.
O CPC/15 considera prequestionada a matéria suscitada em embargos de declaração segundo o
chamado “prequestionamento ficto”.

Art. 1.025. CPC Consideram-se incluídos no acórdão os elementos que o embargante suscitou, para fins
de pré-questionamento, ainda que os embargos de declaração sejam inadmitidos ou rejeitados, caso o
tribunal superior considere existentes erro, omissão, contradição ou obscuridade.

A previsão processual encampou o entendimento exarado na Súmula 356 do STF:


Súmula 356 do STF: O ponto omisso da decisão, sôbre o qual não foram opostos embargos
declaratórios, não pode ser objeto de recurso extraordinário, por faltar o requisito do
prequestionamento.

277
Salienta-se que o prequestionamento ficto não é prequestionamento implícito, em que a matéria
constitucional foi alegada em momento anterior à decisão impugnada pelo recurso extraordinário, mas
que não foi objeto de solução pela referida decisão.
Igualmente, o prequestionamento tácito e ficto não exige a indicação expressa da norma
constitucional afrontada na decisão impugnada por recurso extraordinário. Basta que a matéria tenha sido
expressamente decidida.
Por fim, o voto vencido é parte integrante do acórdão, inclusive para fins de prequestionamento.

Art. 941.CPC. Proferidos os votos, o presidente anunciará o resultado do julgamento, designando


para redigir o acórdão o relator ou, se vencido este, o autor do primeiro voto vencedor.
§ 3º O voto vencido será necessariamente declarado e considerado parte integrante do acórdão
para todos os fins legais, inclusive de pré-questionamento.

1.1.1.3 Repercussão geral


Configuram repercussão geral as questões relevantes do ponto de vista econômico, político, social
e jurídico (relevância) que ultrapassem os interesses subjetivos das partes (transcendência).

Art. 1.035. CPC O Supremo Tribunal Federal, em decisão irrecorrível, não conhecerá do recurso
extraordinário quando a questão constitucional nele versada não tiver repercussão geral, nos termos
deste artigo.

§ 1º Para efeito de repercussão geral, será considerada a existência ou não de questões


relevantes do ponto de vista econômico, político, social ou jurídico que ultrapassem os
interesses subjetivos do processo.

Igualmente prevê o Regimento Interno do STF (RISTF):


Art. 322. RISTF. O Tribunal recusará recurso extraordinário cuja questão constitucional não
oferecer repercussão geral, nos termos deste capítulo. (Redação dada pela Emenda Regimental
n. 21, de 30 de abril de 2007)
Parágrafo único. Para efeito da repercussão geral, será considerada a existência, ou não,
de questões que, relevantes do ponto de vista econômico, político, social ou jurídico,
ultrapassem os interesses subjetivos das partes. (Redação dada pela Emenda Regimental
n. 21, de 30 de abril de 2007)

Como é o último requisito de admissibilidade que é analisado na prática recursal, a sua análise
somente é feita quando de fato todos os demais requisitos genéricos e específicos forem preenchidos.

Art. 102, § 3º CF. No recurso extraordinário o recorrente deverá demonstrar a repercussão geral
das questões constitucionais discutidas no caso, nos termos da lei, a fim de que o Tribunal examine
a admissão do recurso, somente podendo recusá-lo pela manifestação de dois terços de seus
membros. (Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
Art. 323, caput. RISTF Quando não for caso de inadmissibilidade do recurso por outra razão, o(a)
Relator(a) ou o Presidente submeterá, por meio eletrônico, aos demais ministros, cópia de sua
manifestação sobre a existência, ou não, de repercussão geral. (Redação dada pela Emenda
Regimental n. 42, de 2 de dezembro de 2010)

O instituto está previsto no art. 1.035 do CPC, que diz:

278
Art. 1.035. O Supremo Tribunal Federal, em decisão irrecorrível, não conhecerá do recurso
extraordinário quando a questão constitucional nele versada não tiver repercussão geral, nos
termos deste artigo.
§ 1º Para efeito de repercussão geral, será considerada a existência ou não de questões relevantes
do ponto de vista econômico, político, social ou jurídico que ultrapassem os interesses subjetivos
do processo.
§ 2º O recorrente deverá demonstrar a existência de repercussão geral para apreciação exclusiva
pelo Supremo Tribunal Federal.
§ 3º Haverá repercussão geral sempre que o recurso impugnar acórdão que:
I - contrarie súmula ou jurisprudência dominante do Supremo Tribunal Federal;
II – ( Revogado ); (Redação dada pela Lei nº 13.256, de 2016) (Vigência)
III - tenha reconhecido a inconstitucionalidade de tratado ou de lei federal, nos termos do art. 97
da Constituição Federal .
§ 4º O relator poderá admitir, na análise da repercussão geral, a manifestação de terceiros, subscrita
por procurador habilitado, nos termos do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal.
§ 5º Reconhecida a repercussão geral, o relator no Supremo Tribunal Federal determinará a
suspensão do processamento de todos os processos pendentes, individuais ou coletivos, que
versem sobre a questão e tramitem no território nacional.
§ 6º O interessado pode requerer, ao presidente ou ao vice-presidente do tribunal de origem, que
exclua da decisão de sobrestamento e inadmita o recurso extraordinário que tenha sido interposto
intempestivamente, tendo o recorrente o prazo de 5 (cinco) dias para manifestar-se sobre esse
requerimento.
§ 7º Da decisão que indeferir o requerimento referido no § 6º ou que aplicar entendimento firmado
em regime de repercussão geral ou em julgamento de recursos repetitivos caberá agravo
interno. (Redação dada pela Lei nº 13.256, de 2016) (Vigência)
§ 8º Negada a repercussão geral, o presidente ou o vice-presidente do tribunal de origem negará
seguimento aos recursos extraordinários sobrestados na origem que versem sobre matéria idêntica.
§ 9º O recurso que tiver a repercussão geral reconhecida deverá ser julgado no prazo de 1 (um)
ano e terá preferência sobre os demais feitos, ressalvados os que envolvam réu preso e os pedidos
de habeas corpus .
§ 10. ( Revogado ). (Redação dada pela Lei nº 13.256, de 2016)
§ 11. A súmula da decisão sobre a repercussão geral constará de ata, que será publicada no diário
oficial e valerá como acórdão.

A demonstração da repercussão geral deverá ser feita de forma fundamentada, dispensável a sua
alegação em tópico específico ou em preliminar:

Enunciado FPPC 224. (art. 1.035, § 2º) A existência de repercussão geral terá de ser demonstrada
de forma fundamentada, sendo dispensável sua alegação em preliminar ou em tópico específico.
(Grupo: Recursos Extraordinários)

Além da existência de questões relevantes do ponto de vista econômico, político, social ou


jurídico, existe repercussão geral nas hipóteses do §3º do art. 1.035 do CPC, que valorizam os
entendimentos consolidados pelo STF.

Art. 1.035 § 3º CPC. Haverá repercussão geral sempre que o recurso impugnar acórdão que:
I - contrarie súmula ou jurisprudência dominante do Supremo Tribunal Federal;
II – ( Revogado ); (Redação dada pela Lei nº 13.256, de 2016) (Vigência)
III - tenha reconhecido a inconstitucionalidade de tratado ou de lei federal, nos termos do art. 97
da Constituição Federal .

Daniel Amorim (NEVES, 2017, p. 1733) cita exemplos de situações em que a transcendência e a
relevância previstas no art. 1.035, §1º do NCPC estão presentes:

a) Divergência entre tribunais a respeito da questão constitucional;


b) Existência de ação de controle concentrado de constitucionalidade;

279
c) Ações coletivas.

A deliberação a respeito da existência ou não de repercussão geral é feita de forma eletrônica,


virtual, contando-se o número de votos suficientes para a rejeição do recurso (art. 323 e 324 do RISTF).
A referida decisão é irrecorrível, mesmo por embargos de declaração (STF ARE 694.294 ED/MG), pois
a decisão que nega a existência de repercussão geral extrapola o interesse das partes no recurso, vez que
permite a aplicação do entendimento a outros recursos extraordinários (art. 1.035, §8º do CPC), admite
a manifestação de terceiros subscrita por procurador habilitado (art.1.035, §4º CPC) e permite a
intervenção do amicus curiae no processo.
O art. 1.036 do CPC disciplina o julgamento dos recursos por amostragem, os quais serão
selecionados pelo presidente ou vice-presidente do tribunal de origem e encaminhados aos Tribunais
Superiores, assunto que será tratado adiante. Por enquanto, pondera-se que a decisão do presidente ou
vice-presidente do tribunal de origem é irrecorrível.

Art. 1.039. CPC. Decididos os recursos afetados, os órgãos colegiados declararão prejudicados os
demais recursos versando sobre idêntica controvérsia ou os decidirão aplicando a tese firmada.

Parágrafo único. Negada a existência de repercussão geral no recurso extraordinário afetado,


serão considerados automaticamente inadmitidos os recursos extraordinários cujo
processamento tenha sido sobrestado.

A respeito do assunto, prevê o RISTF:


Art. 328. RISTF. Protocolado ou distribuído recurso cuja questão for suscetível de reproduzir-se em
múltiplos feitos, a Presidência do Tribunal ou o(a) Relator(a), de ofício ou a requerimento da parte
interessada, comunicará o fato aos tribunais ou turmas de juizado especial, a fim de que observem o
disposto no art. 543-B do Código de Processo Civil, podendo pedir-lhes informações, que deverão ser
prestadas em 5 (cinco) dias, e sobrestar todas as demais causas com questão idêntica. (Redação dada
pela Emenda Regimental n. 21, de 30 de abril de 2007)
Parágrafo único. Quando se verificar subida ou distribuição de múltiplos recursos com
fundamento em idêntica controvérsia, a Presidência do Tribunal ou o(a) Relator(a) selecionará
um ou mais representativos da questão e determinará a devolução dos demais aos tribunais ou
turmas de juizado especial de origem, para aplicação dos parágrafos do art. 543-B do Código
de Processo Civil. (Redação dada pela Emenda Regimental n. 21, de 30 de abril de 2007)

A portaria 138/2009 do STF afirma ainda que não haverá nem mesmo decisão de devolução dos
recursos, bastando um ato administrativo irrecorrível e não impugnável por mandado de segurança,
cabendo a análise da adequação ao tribunal de segundo grau que poderá devolver o RE para o STF, que
novamente poderá devolver ao tribunal de segundo grau, desta vez determinando um novo julgamento.
A irrecorribilidade quanto a inexistência de repercussão geral, prevista no art. 1.035, caput do CPC
não se aplica à decisão monocrática do relator ou presidente, recorrível por agravo interno em 15 dias.

Art. 327.A Presidência do Tribunal recusará recursos que não apresentem preliminar formal e
fundamentada de repercussão geral, bem como aqueles cuja matéria carecer de repercussão geral,
segundo precedente do Tribunal, salvo se a tese tiver sido revista ou estiver em procedimento de revisão.
(Redação dada pela Emenda Regimental n. 21, de 30 de abril de 2007)
§ 1º Igual competência exercerá o(a) Relator(a) sorteado, quando o recurso não tiver sido liminarmente
recusado pela Presidência. (Redação dada pela Emenda Regimental n. 21, de 30 de abril de 2007)

280
§ 2º Da decisão que recusar recurso, nos termos deste artigo, caberá agravo. (Redação dada
pela Emenda Regimental n. 21, de 30 de abril de 2007)

Contra a decisão colegiada da Turma que nega a repercussão geral não cabe recurso, salvo
embargos de declaração em 5 (cinco) dias (art. 1.023 CPC):

Art. 1.035, § 8º CPC. Negada a repercussão geral, o presidente ou o vice-presidente do tribunal de


origem negará seguimento aos recursos extraordinários sobrestados na origem que versem sobre matéria
idêntica.

O STF entende que a suspensão prevista no art. 1.035, §5º do CPC é tomada sob decisão
discricionária do relator do recurso paradigma (STF RE 966.177 RG/RS).

Art. 1.035, § 5º CPC. Reconhecida a repercussão geral, o relator no Supremo Tribunal Federal
determinará a suspensão do processamento de todos os processos pendentes, individuais ou coletivos,
que versem sobre a questão e tramitem no território nacional.

Em hipótese excepcional em que o tribunal superior exerce o juízo de admissibilidade do recurso


extraordinário, prevê o art. 1.035, §6º hipótese de inadmissão de recurso extraordinário intempestivo
afetado, o que obsta o seu sobrestamento e impede o seu trânsito em julgado, nos mesmos moldes do
art. 1.036, §2º do CPC o qual trata sobre os recursos repetitivos.

Art. 1.035, § 6º CPC. O interessado pode requerer, ao presidente ou ao vice-presidente do tribunal de


origem, que exclua da decisão de sobrestamento e inadmita o recurso extraordinário que tenha sido
interposto intempestivamente, tendo o recorrente o prazo de 5 (cinco) dias para manifestar-se sobre
esse requerimento.

Contra essa decisão cabe agravo interno:

Art. 1.035, § 7º CPC. Da decisão que indeferir o requerimento referido no § 6º ou


que aplicar entendimento firmado em regime de repercussão geral ou em
julgamento de recursos repetitivos caberá agravo interno. (Redação dada
pela Lei nº 13.256, de 2016) (Vigência)

Após o reconhecimento da repercussão geral o julgamento do recurso extraordinário seguirá a


técnica de julgamento dos recursos repetitivos prevista no art. 1.038 do CPC, com eficácia ultra partes
gerada conforme os art. 1.039 a 1.041 do CPC, que será estudada a seguir.

1.2 Requisitos específicos


1.2.1. Decisão que contrariar dispositivo constitucional (art. 102, III, a CF).

É a hipótese de cabimento de RE mais cobrada nas provas da advocacia pública.


São recorríveis por RE as decisões que:

• Contrariem norma constitucional;


• Nega a vigência a dispositivo constitucional;

281
• Afronte ou negue vigência a tratado internacional sobre direitos humanos incorporado ao
ordenamento jurídico na forma do art. 5º, §3º da CF.
Não é admitida a ofensa indireta, reflexa ou oblíqua à norma constitucional:

Súmula 636 STF: Não cabe recurso extraordinário por contrariedade ao princípio constitucional
da legalidade, quando a sua verificação pressuponha rever a interpretação dada a normas
infraconstitucionais pela decisão recorrida.

1.2.2 Decisão que declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal (art. 102, III, b, CF) – RE e o
controle difuso de constitucionalidade

Essa hipótese refere-se ao controle difuso de constitucionalidade, permitindo que o STF analise
a declaração incidental de inconstitucionalidade.
Fredie Didier Jr. e Leonardo Carneiro da Cunha se referem a esse processo como a “objetivação”
do recurso extraordinário na consagração do sistema de precedentes obrigatórios no Brasil,
principalmente após a edição do CPC/2015. Esse movimento é fruto de um processo histórico,
conforme os autores (DIDIER JR; CUNHA, 2020, P. 468-9).

1.2.3 Decisão que julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face da Constituição Federal
(art. 102, III, c, CF)

Abrange a decisão que julga válida lei estadual ou municipal contestada em face da CF, a qual
poderá afrontar o texto Constitucional.
Ocorre também com a decisão que julga válido ato administrativo ou normativo das três esferas
de Poder no âmbito estadual ou municipal, contestado em face da CF.

1.2.4 Decisão que julgar válida lei de governo local contestado em face de lei federal (art. 102, III, d, CF).

Diz respeito a competência legislativa sempre que decisão julgar válida lei municipal ou estadual
contestada em face de lei federal.

1.3 Jurisprudência

• Não é possível a desistência de RE no qual a repercussão geral já foi reconhecida.

O Tribunal, por maioria, resolveu questão de ordem no sentido de não se admitir a desistência
do mandado de segurança, firmando a tese da impossibilidade de desistência de qualquer
recurso ou mesmo de ação após o reconhecimento de repercussão geral da questão
constitucional.
(RE 693456, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno, julgado em 27/10/2016,
PROCESSO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-238 DIVULG 18-10-
2017 PUBLIC 19-10-2017)
Art. 998. CPC O recorrente poderá, a qualquer tempo, sem a anuência do recorrido ou dos
litisconsortes, desistir do recurso.

282
Parágrafo único. A desistência do recurso não impede a análise de questão cuja repercussão
geral já tenha sido reconhecida e daquela objeto de julgamento de recursos extraordinários ou
especiais repetitivos.

• Há possibilidade de apreciação do recurso extraordinário com repercussão geral


mesmo que, no caso concreto, haja prejudicialidade do tema discutido. Caso das candidaturas
avulsas.

Ementa: Direito Eleitoral. Agravo em Recurso Extraordinário. Candidatura avulsa. Questão de


ordem. Perda do objeto do caso concreto. Viabilidade da repercussão geral. 1. A discussão acerca
da admissibilidade ou não de candidaturas avulsas em eleições majoritárias, por sua inequívoca relevância
política, reveste-se de repercussão geral. Invocação plausível do Pacto de São José da Costa Rica e do
padrão democrático predominante no mundo. 2. Eventual prejuízo parcial do caso concreto
subjacente ao recurso extraordinário não é impeditivo do reconhecimento de repercussão geral.
3. Repercussão geral reconhecida (ARE 1054490 QO, Relator(a): Min. ROBERTO BARROSO,
Tribunal Pleno, julgado em 05/10/2017, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-045 DIVULG 08-
03-2018 PUBLIC 09-03-2018)

• Repercussão geral e Mandado de Segunda pendente de julgamento no STJ. Não há


suspensão do julgamento do MS.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. DESNECESSIDADE DE SOBRESTAMENTO DE


MANDADO DE SEGURANÇA QUE TRAMITA NO STJ EM RAZÃO DE DECLARAÇÃO
DE REPERCUSSÃO GERAL PELO STF. O reconhecimento da repercussão geral pelo STF
não implica, necessariamente, a suspensão de mandado de segurança em trâmite no STJ, mas
unicamente o sobrestamento de eventual recurso extraordinário interposto em face de acórdão
proferido pelo STJ ou por outros tribunais. Precedente citado: EDcl no MS 13.873-DF, Primeira
Seção, DJe 31/5/2011. MS 11.044-DF, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 13/3/2013.

• Não cabe RE para discutir a possibilidade ou não de retenção de honorários


advocatícios contratuais sobre crédito relativo a diferenças do FUNDEF, pois não serve para
analisar prova e à interpretação de normas legais.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO – MATÉRIA FÁTICA E LEGAL. O recurso extraordinário


não é meio próprio ao revolvimento da prova nem serve à interpretação de normas legais.
AGRAVO – MULTA – ARTIGO 1.021, § 4º, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. Se o agravo é
manifestamente inadmissível ou improcedente, impõe-se a aplicação da multa prevista no § 4º do artigo
1.021 do Código de Processo Civil, arcando a parte com o ônus decorrente da litigância protelatória.
(ARE 1066359 AgR, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Primeira Turma, julgado em 26/11/2019,
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-089 DIVULG 14-04-2020 PUBLIC 15-04-2020)

• Não cabe RE contra decisão do TST que julga PAD instaurado contra magistrado
trabalhista.

Agravo regimental em recurso extraordinário com agravo. 2. Interposição de recurso extraordinário


contra acórdão proferido no âmbito de processo administrativo. Impossibilidade. 3. O recurso

283
extraordinário pressupõe a existência de causa, decidida em única ou última instância por órgão do
Poder Judiciário, no exercício de função jurisdicional. Precedentes. 4. Ausência de argumentos capazes
de infirmar a decisão agravada. 5. Agravo regimental a que se nega provimento.
(ARE 958311 AgR, Relator(a): Min. TEORI ZAVASCKI, Relator(a) p/ Acórdão: Min. GILMAR
MENDES, Segunda Turma, julgado em 27/02/2018, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-216 DIVULG
09-10-2018 PUBLIC 10-10-2018)

• Tempestividade do recurso interposto antes da decisão recorrida ter sido publicada

Admite-se a interposição de embargos declaratórios oferecidos antes da publicação do acórdão


embargado e dentro do prazo recursal. Essa a conclusão do Plenário que, por maioria, converteu
embargos declaratórios em agravo regimental e a ele deu provimento para que o Ministro Luiz Fux
(relator) analise o cabimento de embargos de divergência anteriormente interpostos. O Colegiado
assentou que se a parte tomasse conhecimento do teor do acórdão antes de sua publicação e entendesse
haver omissão, contradição ou obscuridade, poderia embargar imediatamente. A jurisprudência não
poderia punir a parte que estivesse disposta a superar certo formalismo para ser mais diligente, sem
intuito meramente protelatório. Não se trataria de recurso prematuro, porque o prazo começaria
a correr da data de intimação da parte, e a presença do advogado, a manifestar conhecimento
do acórdão, supriria a intimação. Assim, se a parte se sentisse preparada para recorrer
antecipadamente, poderia fazê-lo. Ademais, esse recurso não poderia ser considerado intempestivo,
termo relacionado à prática do ato processual após o decurso do prazo. Vencido, em parte, o Ministro
Marco Aurélio, apenas quanto à conversão. AI 703269 AgR-ED-ED-EDv-ED/MG, rel. Min. Luiz Fux,
5.3.2015. (AI-703269) INFO 776.

• Possibilidade de renúncia ao direito mesmo em fase de recurso extraordinário ainda não


julgado.

EMENTA Questão de ordem no recurso extraordinário. Renúncia ao direito sobre o qual se funda
a ação. Adesão a programa de parcelamento. Julgamento não finalizado. Possibilidade. 1. A
jurisprudência da Corte firmou o entendimento de que é possível se homologar pedido de
renúncia ao direito sobre o qual se funda a ação, na instância extraordinária, desde que
postulado por procurador habilitado com poderes específicos antes do julgamento final
do recurso extraordinário. 2. A questão de ordem se resolve no sentido de se homologar o
pedido de renúncia sobre o qual se funda a ação, nos termos do art. 269, V, CPC. (RE 514639
QO, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Segunda Turma, julgado em 10/05/2016, ACÓRDÃO
ELETRÔNICO DJe-113 DIVULG 02-06-2016 PUBLIC 03-06-2016)

• Juntada intempestiva de prova documental em recursos interpostos no STF.


Possibilidade. Interesse público indisponível.

Ementa: AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO.


INTERPOSIÇÃO EM 11.2.2016. PROCESSO ADMINISTRATIVO PERANTE TRIBUNAL DE
CONTAS ESTADUAL. INTIMAÇÃO DO ORA RECORRIDO PARA A SESSÃO DE
JULGAMENTO. DOCUMENTO JUNTADO PELO AGRAVANTE. CÓPIA DO DIÁRIO
OFICIAL LEGISLATIVO. AUSÊNCIA DE OFENSA AO PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO.
RECONSIDERAÇÃO DA DECISÃO AGRAVADA. RECURSO PROVIDO. 1. Demonstrada a
efetiva ausência de ofensa ao princípio do contraditório no que concerne à intimação do
Agravado para a sessão de julgamento junto ao Tribunal de Contas Estadual, mostra-se possível
a reconsideração da decisão agravada, a fim de acolher a questão de direito da forma como julgada pela
Corte a quo. 2. Admitida a veracidade do documento trazido aos autos, somada ao interesse
público primário presente na lide, é possível levar em conta as informações ali contidas,
reconsiderando decisão primeva, para negar provimento ao apelo extraordinário, mantendo in
totum o acórdão proferido na instância de origem. 3. Agravo regimental provido.

284
(ARE 916917 AgR, Relator(a): Min. EDSON FACHIN, Primeira Turma, julgado em 06/12/2016,
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-058 DIVULG 24-03-2017 PUBLIC 27-03-2017)

● Intervenção estadual de município e deferimento por tribunal de justiça: impossibilidade de


revisão via recurso extraordinário

A jurisprudência sedimentada do Supremo é pacífica em torno do não cabimento de recurso


extraordinário contra acórdão que implica o deferimento de pedido de intervenção estadual em
Município. O Plenário aprovou o Verbete 637 da Súmula, com a seguinte redação: "Não cabe recurso
extraordinário contra acórdão de Tribunal de Justiça que defere pedido de intervenção estadual em
Município".
[AI 548.055 AgR, rel. min. Marco Aurélio, 1ª T, j. 26-6-2012, DJE 159 de 14-8-2012.]

Súmula 637 STF: Não cabe recurso extraordinário contra acórdão de tribunal de justiça que defere
pedido de intervenção estadual em município.

2 RECURSO ESPECIAL
2.1 Cabimento
2.1.1 Pressupostos cumulativos
2.1.1 Decisão de única ou última instância

Para a interposição do recurso especial também se faz necessário o esgotamento das vias
ordinárias de impugnação e em face de decisão colegiada.

Art. 105. CF. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:


III - julgar, em recurso especial, as causas decididas, em única ou última instância, pelos Tribunais
Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a decisão
recorrida:

O recurso especial somente é cabível após julgado o agravo interno pelo colegiado, contra decisão
monocrática (STJ, REsp 1.082.653/SP).
Na mesma situação, é pressuposto de admissibilidade do REsp contra embargos de declaração se
eles forem recebidos como agravo interno ou o mérito da decisão monocrática for julgado
colegiadamente (STJ, REsp 1.231.070, Info 505).

2.1.2. Decisão proferida por tribunal


Conforme antecipado, a decisão impugnada deverá ser colegiada, seja em grau recursal (última
instância) ou ação de competência originária (única instância).
Devido a essa exigência, pressupõe-se incabível o REsp face a recurso inominado no âmbito dos
Juizados Especiais e da decisão dos Embargos Infringentes do art. 34 da LEF.

Súmula 203-STJ: Não cabe recurso especial contra decisão proferida por órgão de segundo grau dos
Juizados Especiais.

285
A atuação do STJ nas ações dos Juizados Especiais Estaduais é feita em recurso contra
Reclamação Constitucional proposta no Tribunal de Justiça, Resolução 03/2016 STJ. Face a acórdão de
Turma Recursal de Juizado Especial Federal e Juizado Especial da Fazenda Pública cabe pedido de
uniformização de jurisprudência, por expressa previsão nas Leis 10.259, art. 14 e 12.153, art. 18 e 19.

Tem-se quadro resumo extraído do Buscador Dizer o Direito:


Qual é o instrumento jurídico cabível contra acórdão de Turma Recursal
que viole entendimento consolidado ou mesmo sumulado do STJ?

1) Juizado Especial Estadual: 2) Juizado Especial Federal: 3) Juizado da Fazenda


Reclamação dirigida ao TJ Pedido de uniformização de Pública:
jurisprudência. Pedido de uniformização de
jurisprudência.

Fundamento:
Fundamento:
art. 14 da Lei nº Fundamento:
Resolução 03/2016 do STJ.
10.259/2001. art. 19 da Lei nº
12.153/2009.
Hipóteses de cabimento:
Hipóteses de cabimento:
Cabível quando a decisão da Hipótese de cabimento:
Turma contrariar Cabível quando a decisão da
STJ Turma contrariar: Cabível quando a decisão da
jurisprudência do
Turma contrariar súmula do
consolidada em: a) jurisprudência dominante
STJ.
a) incidente de assunção de do STJ; ou
competência; b) súmula do STJ.
b) incidente de resolução de
demandas repetitivas
(IRDR);
c) julgamento de recurso
especial repetitivo;
d) Súmulas do STJ;
e) precedentes do STJ.

2.1.3 Prequestionamento
O objetivo do prequestionamento em recurso especial é o mesmo do já tratado anteriormente
em recurso extraordinário, ou seja, exige que o objeto recursal já tenha sido alvo de decisão prévia por
tribunais inferiores.
A tese do prequestionamento ficto por embargos de declaração, que aleguem vícios na decisão
impugnada, também é aplicável ao recurso especial:

286
Art. 1.025. CPC Consideram-se incluídos no acórdão os elementos que o embargante suscitou, para fins
de pré-questionamento, ainda que os embargos de declaração sejam inadmitidos ou rejeitados, caso o
tribunal superior considere existentes erro, omissão, contradição ou obscuridade .

Entende-se, portanto que a corte inadmite embargos de declaração com efeitos infringentes.

2.2 Pressupostos alternativos


2.2.1. Decisão que contrariar ou negar vigência a tratado ou lei federal (art. 105, III, a CF).

É a hipótese de cabimento mais cobrada em concursos da Advocacia Pública.


Inclui-se no conceito de lei federal: a lei nacional; lei federal, inclusive na espécie medida
provisória, que tem força normativa de lei. O tratado internacional tem força de lei ordinária, espécie de
lei federal.
Excluem-se da previsão legal as normas de caráter infralegal, tais como as portarias ministeriais,
resoluções normativas, normas de regimento interno, norma municipal, estadual e as súmulas.

Súmula 518 STJ: Para fins do art. 105, III, «a», da Constituição Federal, não é cabível recurso especial
fundado em alegada violação de enunciado de súmula.

Por fim, é necessário indicar o dispositivo de lei federal violado quando da interposição do recurso
especial com fundamento nas alíneas “a” e “c” do art. 105, III da CF.
DIREITO PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. NECESSIDADE DE
INDICAÇÃO DO DISPOSITIVO LEGAL CONTROVERTIDO. É necessária a indicação do
dispositivo de lei federal que se entende por violado ou que recebeu interpretação divergente
para o conhecimento do recurso especial, seja interposto pela alínea "a", seja pela "c" do art.
105, III, da CF. A função precípua do STJ, por meio do recurso especial, é homogeneizar a
interpretação dada à norma federal pelo ordenamento jurídico pátrio, sendo que a falta de indicação do
dispositivo tido por violado caracteriza deficiência de fundamentação e justifica a aplicação da Súmula
n. 284/STF, que dispõe que "é inadmissível o recurso extraordinário, quando a deficiência na sua
fundamentação não permitir a exata compreensão da controvérsia". Precedentes citados: AgRg no
AREsp 158.478-SP, DJe 5/9/2012; AgRg no AREsp 177.548-SP, DJe 21/8/2012; AgRg no Ag
1.295.872-SP, DJe 28/6/2012, e REsp 1.300.257-SC, DJe 17/04/2012. AgRg no AREsp 135.969-SP.
Rel. Min. Castro Meira, julgado em 9/10/2012.

2.2.2 Decisão que julgar válido ato de governo local contestado em face de lei federal (Art. 105, III, b,
CF).
Considera-se ato de natureza normativa ou administrativa, estadual ou municipal, praticado pelo
Poderes, que ofenda lei federal.

2.2.3 Decisão que der a lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído outro tribunal (Art.
105, III, c, CF).
Nesta situação, o STJ desempenha o importante papel de uniformizar a interpretação da lei federal
em todos os tribunais de segundo grau e na Justiça Estadual e Federal.
Não é cabível o recurso especial pela divergência interna de tribunais. Face às divergências
internas caberá incidente de assunção de competência ou embargos de divergência. O REsp é cabível

287
diante de divergências entre tribunais diferentes, sejam de diferentes estados e regiões, mesmo face ao
Superior Tribunal de Justiça.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. COMPROVAÇÃO DE DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL


EM RESP. Os julgados da justiça especializada não servem à demonstração de dissídio
jurisprudencial para a apreciação em sede de recurso especial, haja vista que seus órgãos não
estão sujeito à jurisdição do STJ. Precedentes citados: REsp 989.912-RS, DJe 23/10/2012, e REsp
824.667-PR, DJ 11/9/2006. AgRg no REsp 1.344.635-SP, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado
em 20/11/2012.

A comparação entre acórdão deverá ser analítica e poderá ser colhida de mídia eletrônica:

Art. 1.029, § 1º CPC Quando o recurso fundar-se em dissídio jurisprudencial, o recorrente fará a prova
da divergência com a certidão, cópia ou citação do repositório de jurisprudência, oficial ou credenciado,
inclusive em mídia eletrônica, em que houver sido publicado o acórdão divergente, ou ainda com a
reprodução de julgado disponível na rede mundial de computadores, com indicação da respectiva fonte,
devendo-se, em qualquer caso, mencionar as circunstâncias que identifiquem ou assemelhem os casos
confrontados.

A divergência deverá ser atual, não superada:


Súmula 83 STJ: Não se conhece do recurso especial pela divergência, quando a orientação do
Tribunal se firmou no mesmo sentido da decisão recorrida.

Deve o recorrente indicar expressamente o dispositivo legal interpretado de forma divergente


pelo acórdão recorrido e pelo paradigma. O STJ entende que a ausência de indicação impede a admissão
do recurso especial, conforme mencionado.

2.3 Jurisprudência

• Recurso especial contra decisão não definitiva. Cabimento.


CABIMENTO DO RECURSO ESPECIAL EM ANTECIPAÇÃO DE TUTELA. DECISÃO
DO CADE SOBRE CLÁUSULA DE RAIO. A Turma, por maioria, entendeu ser cabível
recurso especial contra decisão não definitiva, desde que não se trate de reexame do seu
contexto fático, mas da interpretação da abrangência de norma legal sobre a viabilidade da
aplicação do instituto da tutela antecipada, ou o controle da legitimidade das decisões de
medidas liminares. No mérito, o colegiado deferiu a suspensão provisória - até julgamento definitivo
nas instâncias ordinárias - da execução de decisão administrativa do CADE que, dentre outras medidas,
obrigou shopping center a abster-se de incluir nas relações contratuais de locação de espaços comerciais a
cláusula de raio, pela qual os lojistas se obrigam a não instalar lojas a pelo menos 2 km de distância do
centro de compras. Precedentes citados: AgRg no RESP 1.052.435-RS, DJe 5/11/2008, e REsp.
696.858-CE, DJe 1º/8/2006. REsp 1.125.661-DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado
em 27/3/2012.

• Cabimento de REsp em caso de aplicação de lei nova a situação jurídica já


constituída antes de sua edição. Interpretação dos conceitos de direito adquirido e ato jurídico
perfeito.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. CABIMENTO DE RECURSO ESPECIAL SOB


ALEGAÇÃO DE OFENSA A DIREITO ADQUIRIDO E ATO JURÍDICO PERFEITO.

288
Cabe recurso especial - e não recurso extraordinário - para examinar se ofende o art. 6º da Lei
de Introdução às normas do Direito Brasileiro (LINDB) a interpretação feita pelo acórdão
recorrido dos conceitos legais de direito adquirido e de ato jurídico perfeito a qual ensejou a
aplicação de lei nova a situação jurídica já constituída quando de sua edição. Embora o tema
não seja pacífico, não se desconhece que há acórdãos do STJ segundo os quais, havendo dispositivo
constitucional com o mesmo conteúdo da regra legal cuja violação se alega - como é o caso do direito
adquirido e do ato jurídico perfeito -, a questão é constitucional, não suscetível de apreciação na via do
recurso especial. Todavia, a jurisprudência do STF orienta-se no sentido de que não cabe recurso
extraordinário por ofensa aos princípios constitucionais da legalidade, do devido processo legal, da coisa
julgada, do direito adquirido, entre outros, se, para apreciá-la, for necessária a interpretação de legislação
ordinária (AgRg no AG 135.632-RS, Primeira Turma, DJ 3/9/1999). Os conceitos de direito adquirido,
ato jurídico perfeito e coisa julgada são dados por lei ordinária (art. 6º da LINDB), sem aptidão,
portanto, para inibir o legislador infraconstitucional. Assim, se a lei ordinária contiver regra de cujo texto
se extraia ordem de retroatividade, em prejuízo de situação jurídica anteriormente constituída, a ofensa
será direta ao art. 5º, XXXVI, da CF, passível de exame em recurso extraordinário. Diversamente, caso
se cuide de decidir acerca da aplicação da lei nova a determinada relação jurídica existente quando de
sua edição, a questão será infraconstitucional, impugnável mediante recurso especial. REsp 1.124.859-
MG, Rel. originário Min. Luis Felipe Salomão, Rel. para acórdão Min. Maria Isabel Gallotti,
julgado em 26/11/2014, DJe 27/2/2015.

• REsp sem assinatura de advogado. Recurso inexistente.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL INTERPOSTO SEM


ASSINATURA DE ADVOGADO. Não é possível conhecer de recurso especial interposto
sem assinatura de advogado. Isso porque é firme o entendimento de que se trata, nessa situação,
de recurso inexistente. Ademais, a instância especial é inaugurada tão logo seja manejado recurso
a ela dirigido, sendo inviável a abertura de prazo para a regularização de vício formal, ante a
ocorrência de preclusão consumativa. Assim, é inaplicável às instâncias extraordinárias a norma
do art. 13 do CPC, segundo a qual deve o magistrado marcar prazo razoável para sanar defeito
relativo à capacidade postulatória. Precedentes citados: AgRg no Ag 1.395.500-PR, Primeira
Turma, DJe 22/8/2012; AgRg nos EDcl no Ag 1.400.855-BA, Segunda Turma, DJe 25/4/2012;
AgRg no Ag 1.372.475-MS, Terceira Turma, DJe 11/4/2012; e AgRg no Ag 1.311.580-RJ, Quarta
Turma, DJe 8/11/2010. AgRg no AREsp 219.496-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão,
julgado em 11/4/2013.

• Não se aplica a teoria da causa madura em julgamento de recurso especial

PROCESSO CIVIL. ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.


INCONSTITUCIONALIDADE DE LEI ESTADUAL. TRANSPOSIÇÃO DE CARGOS
PÚBLICOS. DECLARAÇÃO INCIDENTAL DE INCONSTITUCIONALIDADE.
POSSIBILIDADE. CONTROLE DIFUSO. CAUSA DE PEDIR. RETORNOS DOS
AUTOS À ORIGEM PARA REGULAR PROCESSAMENTO DA LIDE. 2. Não é
possível a aplicação da teoria da Causa Madura em recurso especial, porquanto o art. 515,
§ 3º, do CPC refere-se ao julgamento da apelação que devolve ao tribunal a apreciação de
toda matéria, sem adstrição aos fundamentos da sentença, característica esta que não está
presente no recurso especial. Precedentes. (REsp 1569401/CE, Rel. Ministro
HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 08/03/2016, DJe
15/03/2016)

• A parte que junta, no ato de interposição do REsp, calendário disponível no site


do Tribunal de Justiça que mostra os feriados locais, cumpre exigência prevista no art. 1.003, §6º
do CPC.

É admissível a impetração de mandado de segurança para impugnar ato judicial que


decidiu pela intempestividade de recurso que havia sido protocolado dentro do prazo
legal. Isso porque se está diante de uma situação excepcional. STF. 1ª Turma. RMS

289
36114/AM, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 22/10/2019 (Info 957). O calendário
disponível no sítio do Tribunal de Justiça que mostra os feriados na localidade é
documento idôneo para comprovar a ocorrência de feriado local no ato de interposição do
recurso, nos termos do art. 1.003, § 6º, do CPC/2015. STF. 1ª Turma. RMS 36114/AM, Rel.
Min. Marco Aurélio, julgado em 22/10/2019 (Info 957). O STJ possui decisões em sentido
diverso: A jurisprudência do STJ entende que cópia de calendário editado pelo Tribunal de origem
não é hábil a ensejar a comprovação da existência de feriado local, pois é necessária a juntada de
cópia de lei ou de ato administrativo exarado pela Corte a quo, comprovando a ausência de
expediente forense na data em questão. STJ. 3ª Turma. AgInt no REsp 1829351/RJ, Rel. Min.
Nancy Andrighi, julgado em 30/03/2020.

• Não conhecimento de REsp advindo de agravo de instrumento quando o processo


foi extinto sem resolução do mérito e a sentença não foi objeto de apelação.

Não deve ser conhecido o recurso especial tirado de agravo de instrumento quando sobrevém
sentença de extinção do processo sem resolução de mérito que não foi objeto de apelação. Ex:
juiz determinou que os autores fizessem a emenda da petição inicial, sob pena de indeferimento; os
autores não concordaram e interpuseram agravo de instrumento, que não foi conhecido pelo TJ; contra
esta decisão, foi manejado recurso especial; antes que o recurso especial fosse julgado, o juiz extinguiu
o processo sem resolução do mérito indeferindo a petição inicial pelo fato de não ter sido cumprida a
diligência (emenda da petição inicial); neste caso, os autores deveriam ter interposto apelação contra a
sentença; como não interpuseram, o recurso especial tirado do agravo de instrumento – e que ainda
estava pendente de julgamento – não será conhecido porque houve a formação de coisa julgada. STJ. 3ª
Turma. REsp 1750079-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 13/08/2019 (Info 654) .

3 ASPECTOS COMUNS
3.1 Tempestividade. Dispensa de preparo. Procedimento
O prazo para ingresso dos recursos de superposição é de 15 dias úteis (art. 1.003, §5º CPC c/c
art. 219 CPC), sendo que o prazo aplicável à Fazenda Pública é em dobro (art. 183 CPC), como
também na demanda que envolva litisconsortes com pluralidade de patronos de diferentes escritórios de
advocacia (art. 229, CPC) e na hipótese de ambos os litisconsortes tenham ingressado com os recursos
(art. 229, §1º CPC).

Súmula 641 STF: Não se conta em dobro o prazo para recorrer, quando só um dos litisconsortes haja
sucumbido.

A Fazenda Pública é expressamente dispensada de realizar o preparo.

Art. 1.007. CPC. No ato de interposição do recurso, o recorrente comprovará, quando exigido pela
legislação pertinente, o respectivo preparo, inclusive porte de remessa e de retorno, sob pena de
deserção.§ 1º São dispensados de preparo, inclusive porte de remessa e de retorno, os recursos
interpostos pelo Ministério Público, pela União, pelo Distrito Federal, pelos Estados, pelos
Municípios, e respectivas autarquias, e pelos que gozam de isenção legal .

O Recurso Extraodinário é o recurso cabível contra a decisão que julga os Embargos Infringentes
em face de decisões de primeira instância em Execuções Fiscais de valor igual ou abaixo de 50 ORTN,

290
prevista no art. 34 da Lei 6830, a Lei de Execuções Fiscais (LEF). A mesma regra do prazo em dobro é
aplicável neste caso.
É vedada a interposição simultânea de recursos de superposição em face de decisão de Turmas
Recursais de Juizados Especiais e da decisão que julga os Embargos Infringentes do art. 34 da LEF.
Regra geral, não é indispensável a interposição simultânea, exceto quando faltar interesse
recursal na interposição de um dos recursos, neste caso indispensável a interposição de ambos,
caso em que o prazo correrá de forma autônoma.
Súmula 126 STJ: «É inadmissível recurso especial, quando o acórdão recorrido assenta em fundamentos
constitucional e infraconstitucional, qualquer deles suficiente, por si só, para mantê-lo, e a parte vencida
não manifesta recurso extraordinário.»

A súmula 126 é aplicável para Recursos Especial e Extraordinário.

3.1.1 Interposição
A interposição é feita perante o presidente ou vice-presidente do órgão prolator da decisão
(Art. 1.029 CPC), onde também é feito o juízo de admissibilidade e apresentadas as contrarrazões em 15
dias (Art. 1.030 CPC), mesmo que seja em REsp ou RE adesivos.

Art. 1.029. CPC O recurso extraordinário e o recurso especial, nos casos previstos na Constituição
Federal , serão interpostos perante o presidente ou o vice-presidente do tribunal recorrido, em
petições distintas que conterão:
I - a exposição do fato e do direito;
II - a demonstração do cabimento do recurso interposto;
III - as razões do pedido de reforma ou de invalidação da decisão recorrida.

3.1.2 Dissídio jurisprudencial e comprovação

Mesmo possuindo vício formal, se o recurso for tempestivo, o STF e o STJ podem desconsiderar
o vício ao julgá-lo.

Art. 1.029, § 3º O Supremo Tribunal Federal ou o Superior Tribunal de Justiça poderá desconsiderar
vício formal de recurso tempestivo ou determinar sua correção, desde que não o repute grave .

3.2 Admissibilidade

O juízo de admissibilidade é feito perante o Presidente ou Vice-Presidente do Tribunal de


segundo grau. As hipóteses estão elencadas no art. 1.030 do CPC, as quais serão analisadas a seguir.
Daniel Amorim afirma que as hipóteses do inciso I e a inadmissão calcada no V do art. 1.030 do
CPC indicam que foi negado seguimento aos recursos de superposição (NEVES, p. 1.744, 2017).

Art. 1.030. Recebida a petição do recurso pela secretaria do tribunal, o recorrido será intimado para
apresentar contrarrazões no prazo de 15 (quinze) dias, findo o qual os autos serão conclusos ao
presidente ou ao vice-presidente do tribunal recorrido, que deverá: (Redação dada pela Lei nº
13.256, de 2016) (Vigência)
I – negar seguimento: (Incluído pela Lei nº 13.256, de 2016) (Vigência)

291
a) a recurso extraordinário que discuta questão constitucional à qual o Supremo Tribunal Federal não
tenha reconhecido a existência de repercussão geral ou a recurso extraordinário interposto contra
acórdão que esteja em conformidade com entendimento do Supremo Tribunal Federal exarado no
regime de repercussão geral; (Incluída pela Lei nº 13.256, de 2016) (Vigência)
b) a recurso extraordinário ou a recurso especial interposto contra acórdão que esteja em conformidade
com entendimento do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça, respectivamente,
exarado no regime de julgamento de recursos repetitivos; (Incluída pela Lei nº 13.256, de
2016) (Vigência)
[...]
V – realizar o juízo de admissibilidade e, se positivo, remeter o feito ao Supremo Tribunal Federal ou
ao Superior Tribunal de Justiça, desde que: (Incluído pela Lei nº 13.256, de 2016)
a) o recurso ainda não tenha sido submetido ao regime de repercussão geral ou de julgamento de
recursos repetitivos; (Incluída pela Lei nº 13.256, de 2016) (Vigência)
b) o recurso tenha sido selecionado como representativo da controvérsia; ou (Incluída pela Lei
nº 13.256, de 2016) (Vigência)
c) o tribunal recorrido tenha refutado o juízo de retratação. (Incluída pela Lei nº 13.256, de
2016) (Vigência)

O autor também afirma que em relação ao inciso II do art. 1.030 do CPC, se houver retratação
não cabe ao presidente ou vice-presidente realizar a admissibilidade do recurso. Isso é confirmado pelo
inciso V, “a” do mesmo artigo.

Art. 1.030, II CPC – encaminhar o processo ao órgão julgador para realização do juízo de retratação, se
o acórdão recorrido divergir do entendimento do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal
de Justiça exarado, conforme o caso, nos regimes de repercussão geral ou de recursos
repetitivos; (Incluído pela Lei nº 13.256, de 2016) (Vigência)
V – realizar o juízo de admissibilidade e, se positivo, remeter o feito ao Supremo Tribunal Federal ou
ao Superior Tribunal de Justiça, desde que: (Incluído pela Lei nº 13.256, de 2016)
a) o recurso ainda não tenha sido submetido ao regime de repercussão geral ou de julgamento de
recursos repetitivos; (Incluída pela Lei nº 13.256, de 2016) (Vigência)

Se a retratação não ocorrer, a admissibilidade será analisada, e se positiva, o recurso será


encaminhado para o tribunal superior:

Art. 1.030, V CPC – realizar o juízo de admissibilidade e, se positivo, remeter o feito ao Supremo
Tribunal Federal ou ao Superior Tribunal de Justiça, desde que: (Incluído pela Lei nº
13.256, de 2016)
c) o tribunal recorrido tenha refutado o juízo de retratação. (Incluída pela Lei nº
13.256, de 2016) (Vigência)

Se submetido à sistemática de julgamento dos recursos repetitivos, não caberá juízo de


admissibilidade. A única providência cabível é o sobrestamento do recurso afim de esperar o julgamento
dos paradigmas:
Art. 1.030, V CPC – realizar o juízo de admissibilidade e, se positivo, remeter o feito ao Supremo
Tribunal Federal ou ao Superior Tribunal de Justiça, desde que: (Incluído pela Lei nº
13.256, de 2016)
a) o recurso ainda não tenha sido submetido ao regime de repercussão geral ou de julgamento de
recursos repetitivos; (Incluída pela Lei nº 13.256, de 2016) (Vigência)

292
Ademais, é possível que a suspensão se dê apenas em relação a um capítulo da demanda, salvo se
a questão repetitiva afetar as demais matérias.

ENUNCIADO 78 CJF – A suspensão do recurso prevista no art. 1.030, III, do CPC deve se dar
apenas em relação ao capítulo da decisão afetada pelo repetitivo, devendo o recurso ter seguimento
em relação ao remanescente da controvérsia, salvo se a questão repetitiva for prejudicial à solução
das demais matérias.

Ainda em relação ao art. 1.030 do CPC, AMORIM afirma que somente as decisões dos incisos I,
III e V são recorríveis, enquanto as com fundamento nos incisos II e IV são irrecorríveis.
No caso em que houver a interposição dos dois recursos, o REsp será julgado primeiro e após o
julgamento, o RExt será enviado para o STF, se não estiver prejudicado (art. 1.031 CPC).
Art. 1.031. CPC Na hipótese de interposição conjunta de recurso extraordinário e recurso especial,
os autos serão remetidos ao Superior Tribunal de Justiça.
§ 1º Concluído o julgamento do recurso especial, os autos serão remetidos ao Supremo Tribunal
Federal para apreciação do recurso extraordinário, se este não estiver prejudicado.
§ 2º Se o relator do recurso especial considerar prejudicial o recurso extraordinário, em decisão
irrecorrível, sobrestará o julgamento e remeterá os autos ao Supremo Tribunal Federal.
§ 3º Na hipótese do § 2º, se o relator do recurso extraordinário, em decisão irrecorrível, rejeitar a
prejudicialidade, devolverá os autos ao Superior Tribunal de Justiça para o julgamento do recurso
especial.

3.3 Hipóteses de cabimento e mérito – conflito

As hipóteses de cabimento e de mérito podem se confundir. Exemplo disso são as hipóteses do


art. 102, III, a e art. 105, III, a da CF, as quais, segundo Barbosa Moreira, ensejam juízo de admissibilidade
e meritório (NEVES, 2017, p. 1746).

Diferente hipótese está na análise do art. 105, III, c, no qual se analisa se há a divergência como
matéria de cabimento e após, no mérito, a melhor interpretação feita, se segundo o acórdão recorrido ou
o acórdão paradigma.

Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição,


cabendo-lhe:
III - julgar, mediante recurso extraordinário, as causas decididas em única ou última instância,
quando a decisão recorrida:
a) contrariar dispositivo desta Constituição;
b) declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal;
c) julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face desta Constituição.
d) julgar válida lei local contestada em face de lei federal. (Incluída pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)

Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:

293
III - julgar, em recurso especial, as causas decididas, em única ou última instância, pelos Tribunais
Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a
decisão recorrida:
a) contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes vigência;
b) julgar válido ato de governo local contestado em face de lei federal; (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
c) der a lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído outro tribunal.

3.4 Efeitos dos recursos federais


3.4.1 Efeito devolutivo
A princípio, afirma-se que o efeito devolutivo é limitado, pois incabível o simples reexame de
prova.
Súmula 279 STF
Para simples reexame de prova não cabe recurso extraordinário.

Súmula 7 STJ - A pretensão de simples reexame de prova não enseja Recurso


Especial. (Súmula 7, CORTE ESPECIAL, julgado em 28/06/1990, DJ 03/07/1990)

Essa limitação não atinge o reexame da aplicação das regras de direito probatório, tal como a
ilicitude da prova, objeto da convicção, ônus da prova, procedimento probatório. Também são cabíveis
recursos de superposição quanto a qualificação jurídica dos fatos e a inadequada aplicação de conceitos
jurídicos indeterminados e cláusulas gerais.
Exemplo prático são as decisões do STJ que permitem a revisão do valor dos danos morais e
honorários advocatícios sempre que o valor recorrido for irrisório ou exorbitante e a redução das astreintes.

CIVIL E PROCESSUAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. DANO MORAL. DÍVIDA JÁ PAGA.


INSCRIÇÃO NOS CADASTROS DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO. VALOR. EXCESSO.
REDUÇÃO.
I. Reconhecida a responsabilidade da recorrente cabível a indenização, porém em patamar razoável, a
fim de evitar enriquecimento sem causa.
II. Recurso especial conhecido e provido.
(REsp 994.171/AL, Rel. Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR, QUARTA TURMA, julgado em
12/02/2008, DJe 17/03/2008)

AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO.


DESCONTO INDEVIDO EM CONTA CORRENTE. DANO MORAL. MULTA DO ARTIGO
461 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL (CPC). MODIFICAÇÃO.
1. A teor da regra constante do artigo 461 do CPC, pode o magistrado alterar, até mesmo de ofício, o
valor da multa cominatória, quando este se revelar insuficiente ou excessivo, ainda que depois do trânsito
em julgado da sentença, não se aplicando a preclusão.
Precedentes. Incide a Súmula 83 do Superior Tribunal de Justiça (STJ).
2. A apreciação dos critérios adotados para a cominação da multa, ou para a modificação de seu valor,
impõe o reexame de circunstâncias fático-probatórias da causa, o que é inviável em recurso especial nos
termos da Súmula 7 do STJ. Somente em hipóteses excepcionais, quando irrisório ou exorbitante
o valor da multa cominatória, a jurisprudência do STJ permite o afastamento daquele óbice
para possibilitar a revisão. Precedentes.
3. Agravo regimental a que se nega provimento.
(AgRg no AREsp 322.829/PE, Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, QUARTA TURMA,
julgado em 10/03/2016, DJe 16/03/2016)

Também se aplica a extensão do efeito devolutivo da apelação aos recursos de superposição.

294
Art. 1.034. Admitido o recurso extraordinário ou o recurso especial, o Supremo Tribunal Federal ou o
Superior Tribunal de Justiça julgará o processo, aplicando o direito.

Parágrafo único. Admitido o recurso extraordinário ou o recurso especial por um fundamento,


devolve-se ao tribunal superior o conhecimento dos demais fundamentos para a solução do
capítulo impugnado.

Está superada, portanto, a súmula 528 do STF, conforme indica o Enunciado 223 do FPPC.
Enunciado 223 FPPC. (art. 1.034, parágrafo único) Fica superado o enunciado5288 da súmula do
STF após a entrada em vigor do CPCC (“Se a decisão contiver partes autônomas, a admissão parcial,
pelo presidente do tribunal ‘a quo’, de recurso extraordinário que, sobre qualquer delas se manifestar,
não limitará a apreciação de todas pelo supremo tribunal federal, independentemente de interposição
de agravo de instrumento”). (Grupo: Recursos Extraordinários )

3.4.2 Efeito suspensivo


Originariamente os referidos recursos aos Tribunais Superiores não possuem efeito suspensivo
automático, sendo-lhes aplicável o efeito suspensivo impróprio, descrito no art. 1.029, §5º do CPC,
diante da probabilidade do direito e do perigo de grave lesão de difícil ou incerta reparação.

Art. 1.029. CPC O recurso extraordinário e o recurso especial, nos casos previstos na Constituição
Federal , serão interpostos perante o presidente ou o vice-presidente do tribunal recorrido, em petições
distintas que conterão:
§ 5º O pedido de concessão de efeito suspensivo a recurso extraordinário ou a recurso especial
poderá ser formulado por requerimento dirigido:
I – ao tribunal superior respectivo, no período compreendido entre a publicação da decisão de admissão
do recurso e sua distribuição, ficando o relator designado para seu exame prevento para julgá-
lo; (Redação dada pela Lei nº 13.256, de 2016) (Vigência)
II - ao relator, se já distribuído o recurso;
III – ao presidente ou ao vice-presidente do tribunal recorrido, no período compreendido entre a
interposição do recurso e a publicação da decisão de admissão do recurso, assim como no caso de o
recurso ter sido sobrestado, nos termos do art. 1.037 . (Redação dada pela Lei nº 13.256, de
2016) (Vigência)

4 JULGAMENTO POR AMOSTRAGEM


4.1 Cabimento
A aplicação da regra é norma cogente e somente poderá ser dispensada por decisão
fundamentada do Tribunal Superior.

Art. 1.036. CPC Sempre que houver multiplicidade de recursos extraordinários ou especiais com
fundamento em idêntica questão de direito, haverá afetação para julgamento de acordo com as
disposições desta Subseção, observado o disposto no Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal
e no do Superior Tribunal de Justiça.

6.2 Instauração
Será feita por decisão irrecorrível do presidente ou vice-presidente dos Tribunais de Justiça ou
Tribunais Regionais Federais ou pelo relator nos Tribunais Superiores que suspenderá todos os processos
pendentes, individuais ou coletivos nos Estados (TJ) ou Região (TRF).

Art. 1.036. CPC Sempre que houver multiplicidade de recursos extraordinários ou especiais com
fundamento em idêntica questão de direito, haverá afetação para julgamento de acordo com as

295
disposições desta Subseção, observado o disposto no Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal
e no do Superior Tribunal de Justiça.

§ 1º O presidente ou o vice-presidente de tribunal de justiça ou de tribunal regional federal selecionará


2 (dois) ou mais recursos representativos da controvérsia, que serão encaminhados ao Supremo Tribunal
Federal ou ao Superior Tribunal de Justiça para fins de afetação, determinando a suspensão do trâmite
de todos os processos pendentes, individuais ou coletivos, que tramitem no Estado ou na região,
conforme o caso.

O relator em Tribunal Superior poderá entender que não é hipótese de julgamento por
amostragem:

Art. 1.037. CPC. Selecionados os recursos, o relator, no tribunal superior, constatando a presença do
pressuposto do caput do art. 1.036 , proferirá decisão de afetação, na qual:

§ 1º Se, após receber os recursos selecionados pelo presidente ou pelo vice-presidente de tribunal de
justiça ou de tribunal regional federal, não se proceder à afetação, o relator, no tribunal superior,
comunicará o fato ao presidente ou ao vice-presidente que os houver enviado, para que seja revogada a
decisão de suspensão referida no art. 1.036, § 1º .

Contra essa decisão caberá agravo interno, a ser processado pelo mesmo órgão jurisdicional pelo
princípio da prevenção recursal (art. 930, parágrafo único CPC).

Art. 1.021. CPC Contra decisão proferida pelo relator caberá agravo interno para o respectivo órgão
colegiado, observadas, quanto ao processamento, as regras do regimento interno do tribunal.

Poderá também o relator selecionar outros recursos representativos da controvérsia. Há plena


autonomia para tanto.

Art. 1.036, § 4º CPC A escolha feita pelo presidente ou vice-presidente do tribunal de justiça ou do
tribunal regional federal não vinculará o relator no tribunal superior, que poderá selecionar outros
recursos representativos da controvérsia.

Acrescenta-se que a iniciativa do Tribunal Superior de seleção dos recursos representativos da


controvérsia é independente dos tribunais de segundo grau.

Art. 1.036, § 5º O relator em tribunal superior também poderá selecionar 2 (dois) ou mais recursos
representativos da controvérsia para julgamento da questão de direito independentemente da iniciativa
do presidente ou do vice-presidente do tribunal de origem.

§ 6º Somente podem ser selecionados recursos admissíveis que contenham abrangente argumentação e
discussão a respeito da questão a ser decidida.

6.3 Suspensão dos processos que versem sobre a mesma controvérsia jurídica
Conforme visto, em decisão irrecorrível, o presidente ou vice-presidente do tribunal de segundo
grau, ao selecionar os recursos representativos da controvérsia, determinará a suspensão do
processamento de todos os processos afetados. Anote-se que o STF entendeu que a decisão a respeito

296
da suspensão dos processos diante do reconhecimento da repercussão geral é discricionária do relator
(Info 868 STF, RE 966.177)
O STJ possui precedente que admite o julgamento antecipado parcial do mérito do objeto do
processo que não seja vinculado à suspensão (STJ, PET no REsp 1.551.956/SP).
No microssistema de julgamentos repetitivos, o sobrestamento do processo não afasta a
apreciação da tutela de urgência pelo juízo:

Art. 982. CPC Admitido o incidente, o relator:

§ 2º Durante a suspensão, o pedido de tutela de urgência deverá ser dirigido ao juízo onde tramita o
processo suspenso.

ENUNCIADO 41 CJF – Nos processos sobrestados por força do regime repetitivo, é possível a
apreciação e a efetivação de tutela provisória de urgência, cuja competência será do órgão jurisdicional
onde estiverem os autos.

A suspensão independe da fase procedimental e se determinada pelo tribunal de segundo grau é


provisória, pois depende de confirmação ou não, pelo relator no tribunal superior.

Art. 1.037. CPC Selecionados os recursos, o relator, no tribunal superior, constatando a presença do
pressuposto do caput do art. 1.036 , proferirá decisão de afetação, na qual:

II - determinará a suspensão do processamento de todos os processos pendentes, individuais ou


coletivos, que versem sobre a questão e tramitem no território nacional ;

Prazo de julgamento dos recursos afetados: 1 (um) ano.

Art. 1.037. CPC Selecionados os recursos, o relator, no tribunal superior, constatando a presença do
pressuposto do caput do art. 1.036 , proferirá decisão de afetação, na qual:

§ 4º Os recursos afetados deverão ser julgados no prazo de 1 (um) ano e terão preferência sobre os
demais feitos, ressalvados os que envolvam réu preso e os pedidos de habeas corpus .

A respeito da recorribilidade por agravo de instrumento ou interno da decisão que determina o


sobrestamento de processos que versem sobre a mesma questão e que tramitem no território nacional:

Art. 1.037, § 8º CPC. As partes deverão ser intimadas da decisão de suspensão de seu processo, a ser
proferida pelo respectivo juiz ou relator quando informado da decisão a que se refere o inciso II
do caput .

§ 9º Demonstrando distinção entre a questão a ser decidida no processo e aquela a ser julgada no recurso
especial ou extraordinário afetado, a parte poderá requerer o prosseguimento do seu processo.

§ 10. O requerimento a que se refere o § 9º será dirigido:

I - ao juiz, se o processo sobrestado estiver em primeiro grau;

II - ao relator, se o processo sobrestado estiver no tribunal de origem;

III - ao relator do acórdão recorrido, se for sobrestado recurso especial ou recurso extraordinário no
tribunal de origem;

297
IV - ao relator, no tribunal superior, de recurso especial ou de recurso extraordinário cujo
processamento houver sido sobrestado.

§ 11. A outra parte deverá ser ouvida sobre o requerimento a que se refere o § 9º, no prazo de 5 (cinco)
dias.

§ 12. Reconhecida a distinção no caso:

I - dos incisos I, II e IV do § 10, o próprio juiz ou relator dará prosseguimento ao processo;

II - do inciso III do § 10, o relator comunicará a decisão ao presidente ou ao vice-presidente que houver
determinado o sobrestamento, para que o recurso especial ou o recurso extraordinário seja encaminhado
ao respectivo tribunal superior, na forma do art. 1.030, parágrafo único .

§ 13. Da decisão que resolver o requerimento a que se refere o § 9º caberá:

I - agravo de instrumento, se o processo estiver em primeiro grau;

II - agravo interno, se a decisão for de relator.

RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL REPETITIVO.


ORDEM DE SUSPENSÃO DOS PROCESSOS NA ORIGEM. REQUERIMENTO DE
DISTINÇÃO. INDEFERIMENTO. INTERPOSIÇÃO DE AGRAVO DE INSTRUMENTO.
CABIMENTO.
1. Controvérsia em torno do cabimento do recurso de agravo de instrumento contra decisão do juízo
de primeiro grau indeferitória do pedido de reconsideração da decisão de sobrestamento do processo
em razão do reconhecimento pelo Superior Tribunal de Justiça de matéria repetitiva.
2. O Superior Tribunal de Justiça, na vigência do Código de Processo Civil/73, consolidou
entendimento de que a decisão que determinava o sobrestamento dos recursos extraordinários e
recursos especiais repetitivos não selecionados como paradigmas era irrecorrível.
3. Com a entrada em vigor, porém, do novo Estatuto Processual, a decisão que indefere ou
defere o requerimento de distinção passou a ser agravável, conforme expressamente previsto
pelo art. 1.037, § 13, inciso I, do novo Código de Processo Civil.
4. RECURSO ESPECIAL PROVIDO.
(REsp 1717387/PB, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA,
julgado em 08/10/2019, DJe 15/10/2019)

Sobrevindo a decisão durante o prazo de suspensão, o processo retomará o curso para julgamento
e aplicação da tese firmada. A eficácia do julgamento é vinculante.

Art. 1.040. CPC. Publicado o acórdão paradigma:

III - os processos suspensos em primeiro e segundo graus de jurisdição retomarão o curso para
julgamento e aplicação da tese firmada pelo tribunal superior;

O CPC ensina a respeito da desistência de ações idênticas em julgamento por amostragem:

Art. 1.040. CPC Publicado o acórdão paradigma:

§ 1º A parte poderá desistir da ação em curso no primeiro grau de jurisdição, antes de proferida a
sentença, se a questão nela discutida for idêntica à resolvida pelo recurso representativo da controvérsia.

§ 2º Se a desistência ocorrer antes de oferecida contestação, a parte ficará isenta do pagamento de custas
e de honorários de sucumbência.

§ 3º A desistência apresentada nos termos do § 1º independe de consentimento do réu, ainda que


apresentada contestação.

298
Se a suspensão atingir recursos excepcionais interpostos perante o tribunal de segundo grau, mas
intempestivamente, é cabível a exclusão da decisão de sobrestamento.

Art. 1.036. § 2º O interessado pode requerer, ao presidente ou ao vice-presidente, que exclua da decisão
de sobrestamento e inadmita o recurso especial ou o recurso extraordinário que tenha sido interposto
intempestivamente, tendo o recorrente o prazo de 5 (cinco) dias para manifestar-se sobre esse
requerimento.

6.4 Procedimento
Efeitos da decisão de afetação:

Art. 1.037. CPC Selecionados os recursos, o relator, no tribunal superior, constatando a presença do
pressuposto do caput do art. 1.036 , proferirá decisão de afetação, na qual:

I - identificará com precisão a questão a ser submetida a julgamento;

II - determinará a suspensão do processamento de todos os processos pendentes, individuais ou


coletivos, que versem sobre a questão e tramitem no território nacional;

III - poderá requisitar aos presidentes ou aos vice-presidentes dos tribunais de justiça ou dos tribunais
regionais federais a remessa de um recurso representativo da controvérsia.

Prevenção do relator da primeira afetação:

Art. 1.037, § 3º CPC Havendo mais de uma afetação, será prevento o relator que primeiro tiver proferido
a decisão a que se refere o inciso I do caput .

Outras matérias que constem no recurso paradigma serão decididas após a objeto de afetação,
mas sem eficácia vinculante.

Art. 1.037. CPC. Selecionados os recursos, o relator, no tribunal superior, constatando a presença do
pressuposto do caput do art. 1.036 , proferirá decisão de afetação, na qual:

§ 7º Quando os recursos requisitados na forma do inciso III do caput contiverem outras questões além
daquela que é objeto da afetação, caberá ao tribunal decidir esta em primeiro lugar e depois as demais,
em acórdão específico para cada process o.

Demais detalhes procedimentais a respeito da manifestação de terceiros e prestação de


informações:

Art. 1.038. O relator poderá:

I - solicitar ou admitir manifestação de pessoas, órgãos ou entidades com interesse na controvérsia,


considerando a relevância da matéria e consoante dispuser o regimento interno;

II - fixar data para, em audiência pública, ouvir depoimentos de pessoas com experiência e
conhecimento na matéria, com a finalidade de instruir o procedimento;

III - requisitar informações aos tribunais inferiores a respeito da controvérsia e, cumprida a diligência,
intimará o Ministério Público para manifestar-se.

§ 1º No caso do inciso III, os prazos respectivos são de 15 (quinze) dias, e os atos serão praticados,
sempre que possível, por meio eletrônico.

299
§ 2º Transcorrido o prazo para o Ministério Público e remetida cópia do relatório aos demais ministros,
haverá inclusão em pauta, devendo ocorrer o julgamento com preferência sobre os demais feitos,
ressalvados os que envolvam réu preso e os pedidos de habeas corpus .

§ 3º O conteúdo do acórdão abrangerá a análise dos fundamentos relevantes da tese jurídica


discutida. (Redação dada pela Lei nº 13.256, de 2016)

O art. 1.038, I do CPC prevê a figura do amicus curiae, somente admitido até a data da remessa dos
autos à mesa para julgamento:

EMENTA Agravo regimental. Ação direta de inconstitucionalidade manifestamente


improcedente. Indeferimento da petição inicial pelo Relator. Art. 4º da Lei nº 9.868/99. 1. É
manifestamente improcedente a ação direta de inconstitucionalidade que verse sobre norma (art. 56 da
Lei nº 9.430/96) cuja constitucionalidade foi expressamente declarada pelo Plenário do Supremo
Tribunal Federal, mesmo que em recurso extraordinário. 2. Aplicação do art. 4º da Lei nº 9.868/99,
segundo o qual "a petição inicial inepta, não fundamentada e a manifestamente improcedente serão
liminarmente indeferidas pelo relator". 3. A alteração da jurisprudência pressupõe a ocorrência de
significativas modificações de ordem jurídica, social ou econômica, ou, quando muito, a superveniência
de argumentos nitidamente mais relevantes do que aqueles antes prevalecentes, o que não se verifica no
caso. 4. O amicus curiae somente pode demandar a sua intervenção até a data em que o Relator
liberar o processo para pauta. 5. Agravo regimental a que se nega provimento.

(ADI 4071 AgR, Relator(a): Min. MENEZES DIREITO, Tribunal Pleno, julgado em 22/04/2009,
DJe-195 DIVULG 15-10-2009 PUBLIC 16-10-2009 EMENT VOL-02378-01 PP-00085 RTJ VOL-
00210-01 PP-00207)

Os terceiros que são parte nos recursos sobrestados não devem ser admitidos como assistente
simples nos recursos paradigmas, para que os julgamentos dos recursos repetitivos não sejam
inviabilizados:
DIREITO PROCESSUAL CIVIL. ASSISTÊNCIA SIMPLES EM PROCESSO SUBMETIDO
AO RITO DO ART. 543-C DO CPC.

Não configura interesse jurídico apto a justificar o ingresso de terceiro como assistente simples
em processo submetido ao rito do art. 543-C do CPC o fato de o requerente ser parte em outro
feito no qual se discute tese a ser firmada em recurso repetitivo. Isso porque, nessa situação, o
interesse do terceiro que pretende ingressar como assistente no julgamento do recurso submetido à
sistemática dos recursos repetitivos é meramente subjetivo, quando muito reflexo, de cunho meramente
econômico, o que não justifica sua admissão como assistente simples. Outrossim, o requerente não se
enquadra no rol do art. 543-C, § 4º, do CPC, sendo certo ainda que nem mesmo aqueles inseridos da
referida lista podem ser admitidos como assistentes no procedimento de recursos representativos, não
sendo possível, também, a interposição de recurso por eles para impugnar a decisão que vier a ser
prolatada. Ademais, a admissão da tese sustentada pelo requerente abriria a possibilidade de
manifestação de todos aqueles que figuram em feitos que tiveram a tramitação suspensa em vista da
afetação, o que, evidentemente, inviabilizaria o julgamento de recursos repetitivos. REsp 1.418.593-
MS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 14/5/2014 .

Por fim, o conteúdo do acórdão estará adstrito aos fundamentos relevantes da tese:

Art. 1.038, § 3º CPC. O conteúdo do acórdão abrangerá a análise dos fundamentos


relevantes da tese jurídica discutida. (Redação dada pela Lei nº 13.256, de 2016)

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. RECURSO REPRESENTATIVO DE


CONTROVÉRSIA. CPC, ART. 543-C. QUESTIONAMENTOS ACERCA DO
ALCANCE DO JULGADO.
DESCABIMENTO. HIPÓTESE NÃO PREVISTA NO ART. 535 DO CPC.

300
1. Os embargos declaratórios não se prestam a perquirições acerca do alcance do
julgado embargado. Conforme já decidiu esta Corte, "não cabe ao Tribunal, que não é
órgão de consulta, responder a 'questionários' postos pela parte sucumbente, que não
aponta de concreto nenhuma obscuridade, omissão ou contradição no acórdão (...)"
(EDcl no REsp 739/RJ, Rel. Ministro ATHOS CARNEIRO, QUARTA TURMA,
julgado em 23/10/1990).
2. Em julgamentos representativos de controvérsia (CPC, art. 543-C), cabe ao
Superior Tribunal de Justiça traçar as linhas gerais acerca da tese aprovada,
descabendo a inserção de soluções episódicas ou exceções que porventura
possam surgir em outros indetermináveis casos, sob pena de se ter de redigir
verdadeiros tratados sobre todos os temas conexos ao objeto do recurso.
3. Embargos de declaração rejeitados.
(EDcl no REsp 1124552/RS, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, CORTE
ESPECIAL, julgado em 06/05/2015, DJe 25/05/2015)

6.5 Eficácia ultra partes e vinculante do julgamento


A incidência de efeitos do julgamento paradigma sobre os recursos sobrestados não
depende do trânsito em julgado da decisão que fixou a tese no tribunal superior, tal como
entendimento do STJ durante a vigência do CPC/73 (NEVES, 2017, p. 1759).

Art. 1.039. CPC Decididos os recursos afetados, os órgãos colegiados declararão prejudicados os demais
recursos versando sobre idêntica controvérsia ou os decidirão aplicando a tese firmada.

Parágrafo único. Negada a existência de repercussão geral no recurso extraordinário afetado, serão
considerados automaticamente inadmitidos os recursos extraordinários cujo processamento tenha sido
sobrestado.

Os efeitos vinculantes e ultra partes dependerão da fase procedimental em que se encontrem os


processos individuais e coletivos suspensos.
O art. 1.040, III do CPC prevê que os processos suspensos retomarão o curso para julgamento e
aplicação da tese firmada pelo Tribunal Superior, salvo aplicada distinção entre o processo e os recursos
paradigmas.
Diante da não aplicação da tese firmada em julgamento repetitivo caberá Reclamação
Constitucional, nos termos do art. 988, IV do CPC.

Art. 988. CPC Caberá reclamação da parte interessada ou do Ministério Público para:

IV – garantir a observância de acórdão proferido em julgamento de incidente de resolução de demandas


repetitivas ou de incidente de assunção de competência; (Redação dada pela Lei nº 13.256, de
2016) (Vigência)

Se a suspensão atingir processos em que já interpostos os recursos aos Tribunais Superiores, mas
que sobrestados pelo paradigma proceder-se-á da seguinte maneira:

Art. 1.040. CPC. Publicado o acórdão paradigma:

I - o presidente ou o vice-presidente do tribunal de origem negará seguimento aos recursos especiais


ou extraordinários sobrestados na origem, se o acórdão recorrido coincidir com a orientação do
tribunal superior;

301
II - o órgão que proferiu o acórdão recorrido, na origem, reexaminará o processo de competência
originária, a remessa necessária ou o recurso anteriormente julgado, se o acórdão recorrido contrariar
a orientação do tribunal superior;

III - os processos suspensos em primeiro e segundo graus de jurisdição retomarão o curso para
julgamento e aplicação da tese firmada pelo tribunal superior;

IV - se os recursos versarem sobre questão relativa a prestação de serviço público objeto de


concessão, permissão ou autorização, o resultado do julgamento será comunicado ao órgão, ao
ente ou à agência reguladora competente para fiscalização da efetiva aplicação, por parte dos entes
sujeitos a regulação, da tese adotada.

Face a hipótese do inciso I do art. 1.040 caberá agravo interno para o próprio tribunal de segundo
grau (art. 1.030, §2º CPC).
Salienta-se, em relação à Fazenda Pública, a hipótese do art. 1.040, IV quanto aplicação
do acórdão paradigma em processos que versem sobre concessão, permissão ou autorização de
serviços públicos e a fiscalização pelo órgão, ente ou agência reguladora da efetiva aplicação da
tese adotada.
Por fim, o art. 1.041 CPC exara disposições finais sobre a manutenção do acórdão divergente pelo
tribunal de origem e julgamento das demais questões ainda não decididas.

Art. 1.041. CPC Mantido o acórdão divergente pelo tribunal de origem, o recurso especial ou
extraordinário será remetido ao respectivo tribunal superior, na forma do art. 1.036, § 1º .

§ 1º Realizado o juízo de retratação, com alteração do acórdão divergente, o tribunal de origem, se for
o caso, decidirá as demais questões ainda não decididas cujo enfrentamento se tornou necessário em
decorrência da alteração.

§ 2º Quando ocorrer a hipótese do inciso II do caput do art. 1.040 e o recurso versar sobre outras
questões, caberá ao presidente ou ao vice-presidente do tribunal recorrido, depois do reexame pelo
órgão de origem e independentemente de ratificação do recurso, sendo positivo o juízo de
admissibilidade, determinar a remessa do recurso ao tribunal superior para julgamento das demais
questões. (Redação dada pela Lei nº 13.256, de 2016)

5 PRÁTICA
5.1 Estrutura do REsp/RE

1. Petição de interposição
a. Endereçamento ao TJ ou TRF;
b. Qualificação da Fazenda Pública;
c. Identificação do REsp ou RE com fundamento constitucional;
d. Finalização da petição de interposição.
2. Razões recursais
a. Endereçamento (STJ ou STF);
b. Fatos;
c. Hipótese de cabimento constitucional;

302
d. Tempestividade, dispensa de preparo;
e. Prequestionamento
f. Repercussão geral (apenas no RE)
g. Mérito (em itens);
h. Pedido de efeito suspensivo (se houver);
i. Pedidos;
j. Finalização das razões recursais.

6 BIBLIOGRAFIA

CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Não cabe recurso extraordinário para discutir a
possibilidade ou não de retenção de honorários advocatícios contratuais sobre crédito relativo a
diferenças do FUNDEF. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/3d4893419e57449fb290647149f
738d4>. Acesso em: 28/04/2020
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. O recurso extraordinário pressupõe a existência de causa,
decidida em única ou última instância por órgão do Poder Judiciário, no exercício de função
jurisdicional. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/5b4e9aa703d0bfa11041debaa2d
1b633>. Acesso em: 28/04/2020
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Decisão de turma recursal do Juizado Especial da Fazenda
Pública que contraria entendimento do STJ. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/bc7f621451b4f5df308a8e09811
2185d>. Acesso em: 28/04/2020
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. A parte que junta, no ato de interposição do REsp,
calendário disponível no site do Tribunal de Justiça que mostra os feriados locais, cumpre a
exigência prevista no § 6º do art. 1.003, § 6º, do CPC/2015. Buscador Dizer o Direito, Manaus.
Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/8bd2c3f7fd5b165b470beb1cc83
071ab>. Acesso em: 28/04/2020
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Cabe agravo de instrumento contra decisão do juízo de
primeiro grau que resolve o requerimento de distinção de processos sobrestados em razão de
recursos repetitivos (art. 1.037, § 13, I, do CPC/2015). Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível
em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/06358599b7afb2506e063c1ea0a
09fbd>. Acesso em: 28/04/2020
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Não deve ser conhecido o recurso especial tirado de agravo
de instrumento quando sobrevém sentença de extinção do processo sem resolução de mérito
que não foi objeto de apelação. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/5db30d43f3791ae82e8f0907064
7e4cb>. Acesso em: 28/04/2020
BRASIL. Lei 13.105 de 16 de março de 2015. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm>
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>
BRASIL. Súmula 518 STJ. Corte Especial, aprovado em 26.02.2015. DJE, 02/03/2015. Disponível em:
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303
BRASIL. Súmula 281 STF. Plenário, aprovado em 13.12.1963. Disponível em: <
http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/jurisprudenciaSumula/anexo/Enunciados_Sumulas_STF_1_a_73
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BRASIL. Súmula 636 STF. Plenário, aprovado em 24.09.2003. DJ 09.10.2003. Disponível em: <
http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/jurisprudenciaSumula/anexo/Enunciados_Sumulas_STF_1_a_73
6_Completo.pdf>
BRASIL. Enunciado 78 CJF. I Jornada de Direito Processual Civil. Brasília/DF, 24 e 25 de agosto de
2017. Disponível em: <file:///C:/Users/User/Downloads/copy_of_Enunciadosaprovadosvfpub.pdf>
BRASIL. Enunciado 41 CJF. I Jornada de Direito Processual Civil. Brasília/DF, 24 e 25 de agosto de
2017. Disponível em: <file:///C:/Users/User/Downloads/copy_of_Enunciadosaprovadosvfpub.pdf>
BRASIL. Súmula 126 STJ. Corte Especial, aprovado em 09.03.1995. DJ 21.03.1995. Disponível em: <
http://www.stj.jus.br/docs_internet/SumulasSTJ.pdf>.
BRASIL. Súmula 641 STF. Plenário, aprovado em 24.09.2003. Publicado em 09.10.2003. Disponível
em:
<http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/jurisprudenciaSumula/anexo/Enunciados_Sumulas_STF_1_a_7
36_Completo.pdf>
BRASIL. Súmula 7 STJ. Corte Especial, aprovado em 28.06.1990. DJ 03.07.1990. Disponível em: <
http://www.stj.jus.br/docs_internet/SumulasSTJ.pdf>.
BRASIL. Súmula 279 STF. Plenário, aprovado em 13.12.1963. Disponível em:
http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/jurisprudenciaSumula/anexo/Enunciados_Sumulas_STF_1_a_73
6_Completo.pdf>
BRASIL. Enunciado 223 FPPC. V Encontro do Fórum Permanente de Processualistas Civis. V FPPC.
Vitória, 01 a 03 de maio de 2015. Disponível em:
<https://alice.jusbrasil.com.br/noticias/241278799/enunciados-do-forum-permanente-de-
processualistas-civis-carta-de-vitoria>.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal (STF). Regimento interno [recurso eletrônico] / Supremo Tribunal
Federal. – Brasília: STF, Secretaria de Documentação, 2020.
<https://www.stf.jus.br/arquivo/cms/legislacaoRegimentoInterno/anexo/RISTF.pdf>

BRASIL. Enunciado 224 FPPC. V Encontro do Fórum Permanente de Processualistas Civis. V FPPC.
Vitória, 01 a 03 de maio de 2015. Disponível em:
<https://alice.jusbrasil.com.br/noticias/241278799/enunciados-do-forum-permanente-de-
processualistas-civis-carta-de-vitoria>.

DIDIER JR., Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de direito processual civil: o processo civil
nos tribunais; recursos, ações de competência originária de tribunal e querela nullitatis, incidentes de
competência originária de tribunal – 17. ed. rev., atual. e ampl. – Salvador: Ed. JusPodivm, 2020.
NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil – Volume único. 9. ed. –
Salvador: Ed. JusPodivm, 2017.

304
DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA NAS AÇÕES DA FAZENDA

DESCONSIDERAÇÃO DA
PERSONALIDADE JURÍDICAS NAS
AÇÕES DA FAZENDA

ALMANAQUE DA ADVOCACIA PÚBLICA por Karen Muller


Flores

Em quarentena em Farroupilha/RS, 12 de abril de 2020

305
1 CONCEITO
A regra é que a responsabilidade dos sócios em relação às dívidas sociais seja sempre subsidiária,
ou seja, primeiro exaure-se o patrimônio da pessoa jurídica para depois, e desde que o tipo societário
adotado permita, os bens particulares dos sócios ou componentes da pessoa jurídica serem executados
(princípio da autonomia subjetiva da pessoa jurídica). Devido a essa possibilidade de exclusão da
responsabilidade dos sócios ou administradores, a pessoa jurídica, por vezes, desviou-se de seus
princípios e fins, cometendo fraudes e lesando sociedade ou terceiros, provocando reações e culminando
com o surgimento da teoria da desconsideração da personalidade jurídica – teoria do véu ou teoria da
penetração na pessoa física.
A desconsideração da personalidade jurídica permite que se alcancem pessoas e bens que se
escondem dentro de uma pessoa jurídica para fins ilícitos ou abusivos, ou seja, os bens particulares dos
sócios podem responder pelos danos causados a terceiros. O inverso, também, é possível. A
desconsideração inversa ou invertida da personalidade jurídica permite que os bens da empresa
respondam por dívidas dos sócios.
Na desconsideração da personalidade jurídica clássica (art. 50, CC/2002), a sociedade
empresarial figura como devedora e os sócios como responsáveis patrimoniais secundários, ou seja,
mesmo não sendo devedores, responderão com o seu patrimônio pela satisfação da dívida. Na hipótese
da desconsideração da personalidade jurídica inversa, o sócio figura como devedor da sociedade
empresarial como responsável patrimonial secundária, quando se constata que o sócio transferiu seu
patrimônio pessoal para a sociedade empresarial com o objetivo de frustrar a satisfação dos direitos de
seus credores.

2 REQUISITOS

2.1 Direito civil (Lei 10.406/2002)

O Código Civil adotou a Teoria Maior da Desconsideração da Personalidade Jurídica, pois o seu
deferimento exige a presença de dois requisitos: o abuso de personalidade jurídica + o prejuízo ao credor
(art. 50, CC/2002). O desvio de finalidade é a utilização da pessoa jurídica com o propósito de lesar
credores e para a prática de atos ilícitos de qualquer natureza (art. 50, §1º, CC/2002). Não constitui desvio
de finalidade a mera expansão ou a alteração da finalidade original da atividade econômica específica da
pessoa jurídica (art. 50, §5º, CC/2002). A confusão patrimonial a ausência de separação de fato entre os
patrimônios, caracterizada por: cumprimento repetitivo pela sociedade de obrigações do sócio ou do
administrador ou vice-versa; transferência de ativos ou de passivos sem efetivas contraprestações, exceto
os de valor proporcional insignificante; e, outros atos de descumprimento da autonomia patrimonial (art.
50, §2º, CC/2002). Não autoriza a desconsideração da personalidade jurídica a mera existência de grupo
econômico, por si só (art. 50, §4º, CC/2002).

306
2.2 Direito do consumidor (Lei 8.078/90)

O Código de Defesa do Consumidor adotou a Teoria Menor, pois seu deferimento exige um
único elemento, qual seja o prejuízo ao credor. O juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da
sociedade quando, em detrimento do consumidor, houver abuso de direito, excesso de poder, infração
da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social. A desconsideração também será
efetivada quando houver falência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica
provocados por má administração (art. 28, CDC).

2.3 Direito tributário (Lei 5.172/66)

O Código Tributário trata da responsabilidade de terceiros nos art. 134 e 135. A grande diferença
é que, uma situação os terceiros responsáveis atuaram regularmente, sem agressão à lei, ao contrato social
ou aos estatutos (art. 134, CTN); já a outra dispõe sobre a atuação irregular do terceiro (art. 135, CTN).
Oportuno registrar que, a Fazenda Pública pode substituir a certidão de dívida ativa (CDA) até a
prolatação da sentença de embargos, quando se tratar de correção de erro material ou formal, vedada a
modificação do sujeito passivo da execução (Súmula 392 – STJ).

2.4. Direito econômico (Lei 12.529/2011)

A personalidade jurídica do responsável por infração da ordem econômica poderá ser


desconsiderada quando houver da parte deste abuso de direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou
ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social. A desconsideração também será efetivada quando
houver falência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica provocados por
má administração (art.34, Lei 12.529/2011).

2.5. Direito ambiental (Lei 9.605/1998)

A Lei de Crimes Ambientais poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua
personalidade for obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados à qualidade do meio ambiente (art.4º,
Lei 9.605/1988). O Direito Ambiental adotou a Teoria Menor, pois requer um único elemento – que a
personalidade seja obstáculo ao ressarcimento dos prejuízos causados ao meio ambiente.

2.6. Direito do trabalho (Decreto-Lei 5.452/43)

O art. 2º, §2º da CLT estabelece o reconhecimento de duas formas de grupo econômico: a) grupo
econômico por subordinação (relação de controle entre uma ou mais empresas em relação às demais
integrantes), e b) grupo econômico por coordenação (mesmo que as empresas guardem cada uma sua
autonomia, estará configurado o grupo econômico). A consequência jurídica do grupo econômico é a

307
existência da responsabilidade solidária entre as empresas, ou seja, se uma delas não quitar os débitos
trabalhistas, as demais são responsáveis integralmente pela dívida. A prestação de serviços a mais de uma
empresa do mesmo grupo econômico, durante a mesma jornada de trabalho, não caracteriza a
coexistência de mais de um contrato de trabalho, salvo ajuste em contrário (Súmula 129 – TST –
Empregado Único).

3 REGULAMENTO PROCESSUAL
O incidente de desconsideração da personalidade jurídica e desconsideração da personalidade
jurídica inversa estão disciplinados processualmente nos art. 133 até 137 do Código de Processo Civil
(Lei 13.105/2015).

3.1. Cabimento

O incidente de desconsideração é cabível em todas as fases do processo de conhecimento, no


cumprimento de sentença e na execução fundada em título executivo extrajudicial (art. 134, caput,
CPC/2015) e aos processos de competência dos juizados especiais (art. 1.062, CPC/2015).

3.2. Legitimados

Parte ou o Ministério Público, quando lhe couber intervir no processo (art. 133, caput,
CPC/2015). Não há unanimidade na doutrina quando a instauração da desconsideração da personalidade
jurídica ex officio, para Flávio Tartuce é possível quando envolver a ordem pública, por exemplo ações
envolvendo consumidores.

3.3 Procedimento

A desconsideração da personalidade jurídica deverá ser alegada por meio de incidente processual
(art. 795, §4º, CPC/2015), quando suspenderá o processo (art. 134, §4º, CPC/2015), sendo dispensado
quando requerido na petição inicial (art. 134, §2º, CPC/2015). Instaurado o incidente, o sócio ou a pessoa
jurídica será citado para manifestar-se e requerer as provas cabíveis no prazo de 15 (quinze) dias (art. 135,
CPC/2015) resolvendo-se o incidente por decisão interlocutória recorrível por agravo de instrumento
(art. 136, CPC/2015 c/c art. 1.015, IV, CPC/2015). Acolhido o pedido de desconsideração, a alienação
ou a oneração de bens, havida em fraude de execução, será ineficaz em relação ao requerente (art. 137,
CPC/2015).

4 JURISPRUDÊNCIA

4.1. Direito civil

308
A desconsideração da personalidade jurídica, ainda que com fundamento na Teoria Menor, não
pode atingir o patrimônio pessoal de membros do Conselho Fiscal sem que haja a mínima presença de
indícios de que estes contribuíram, ao menos culposamente e com desvio de função, para a prática de
atos de administração. Caso concreto: consumidor comprou um imóvel de um cooperativa habitacional,
mas este nunca foi entregue; o consumidor ajuizou ação de cobrança contra a cooperativa, tendo o pedido
sido julgado procedente para devolver os valores pagos; durante o cumprimento de sentença, o juiz, com
base na teoria menor, fez a desconsideração da personalidade jurídica para atingir o patrimônio pessoal
dos membros do Conselho Fiscal da cooperativa; o STJ afirmou que eles não poderiam ter sido atingidos.
A despeito de não se exigir prova de abuso ou fraude para fins de aplicação da Teoria Menor da
desconsideração da personalidade jurídica, tampouco de confusão patrimonial, o § 5º do art. 28 do CDC
não dá margem para admitir a responsabilização pessoal de quem jamais atuou como gestor da empresa.
STJ. 3ª Turma. REsp 1766093-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, Rel. Acd. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva,
julgado em 12/11/2019 (Info 661).
É possível a penhora de bem de família de condômino, na proporção de sua fração ideal, se
inexistente patrimônio próprio do condomínio para responder por dívida oriunda de danos a terceiros.
Ex: um pedestre foi ferido por conta de um pedaço da fachada que nele caiu. Essa vítima terá que propor
a ação contra o condomínio. Se o condomínio não tiver patrimônio próprio para satisfazer o débito, os
condôminos podem ser chamados a responder pela dívida, na proporção de sua fração ideal. Mesmo que
um condômino tenha comprado um apartamento neste prédio depois do fato, ele ainda assim poderá ser
obrigado a pagar porque as despesas de condomínio são obrigações propter rem. O juiz poderá
determinar a penhora dos apartamentos para pagamento da dívida mesmo que se trate de bem de família,
considerando que as dívidas decorrentes de despesas condominiais são consideradas como exceção à
impenhorabilidade do bem de família, nos termos do art. 3º, IV, da Lei nº 8.009/90. STJ. 4ª Turma. REsp
1473484-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 21/06/2018 (Info 631).
Nas causas em que a relação jurídica for cível-empresarial, a desconsideração da personalidade da
pessoa jurídica será regulada pelo art. 50 do Código Civil. A inexistência ou não localização de bens da
pessoa jurídica não é condição para a desconsideração da personalidade jurídica. O que se exige é a
demonstração da prática de desvio de finalidade ou de confusão patrimonial (art. 50 do CC). Assim, o
incidente de desconsideração da personalidade jurídica pode ser instaurado mesmo nos casos em que não
for comprovada a inexistência de bens do devedor. STJ. 4ª Turma. REsp 1729554/SP, Rel. Min. Luis
Felipe Salomão, julgado em 08/05/2018
A sócia da empresa, cuja personalidade jurídica se pretende desconsiderar, que teria sido
beneficiada por suposta transferência fraudulenta de cotas sociais por um dos cônjuges, tem legitimidade
passiva para integrar a ação de divórcio cumulada com partilha de bens, no bojo da qual se requereu a
declaração de ineficácia do negócio jurídico que teve por propósito transferir a participação do sócio/ex-

309
marido à sócia remanescente, dias antes da consecução da separação de fato. STJ. 3ª Turma. REsp
1522142-PR, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 13/6/2017 (Info 606).
A sócia da empresa, cuja personalidade jurídica se pretende desconsiderar, que teria sido
beneficiada por suposta transferência fraudulenta de cotas sociais por um dos cônjuges, tem legitimidade
passiva para integrar a ação de divórcio cumulada com partilha de bens, no bojo da qual se requereu a
declaração de ineficácia do negócio jurídico que teve por propósito transferir a participação do sócio/ex-
marido à sócia remanescente, dias antes da consecução da separação de fato. STJ. 3ª Turma. REsp
1522142-PR, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 13/6/2017 (Info 606).
O Código Civil, ao tratar sobre a responsabilidade das sociedades simples, estabelece o seguinte:
Art. 1.023. Se os bens da sociedade não lhe cobrirem as dívidas, respondem os sócios pelo saldo, na
proporção em que participem das perdas sociais, salvo cláusula de responsabilidade solidária. Esse
dispositivo NÃO se aplica às associações civis. As associações civis são caracterizadas pela união de
pessoas que se organizam para a execução de atividades sem fins lucrativos. Sociedades simples são
formas de execução de atividade empresária, com finalidade lucrativa. STJ. 3ª Turma.REsp 1.398.438-SC,
Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 4/4/2017 (Info 602).
A fraude à execução só poderá ser reconhecida se o ato de disposição do bem for posterior à
citação válida do sócio devedor, quando redirecionada a execução que fora originariamente proposta em
face da pessoa jurídica. STJ. 3ª Turma. REsp 1391830-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
22/11/2016 (Info 594). O entendimento acima exposto permanece válido com o CPC/2015? Haverá
polêmica, mas pela redação literal do novo CPC, não. Isso porque o CPC/2015 traz uma nova regra, que
não havia no Código passado, afirmando que a fraude à execução tem como marco a data da citação da
pessoa jurídica que é objeto da desconsideração: Art. 792 (...) § 3º Nos casos de desconsideração da
personalidade jurídica, a fraude à execução verifica-se a partir da citação da parte cuja personalidade se
pretende desconsiderar.
O encerramento das atividades ou dissolução da sociedade, ainda que irregulares, não é causa, por
si só, para a desconsideração da personalidade jurídica prevista no Código Civil. STJ. 2ª Seção. EREsp
1306553-SC, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 10/12/2014 (Info 554).
A desconsideração da personalidade jurídica de sociedade empresária falida que tenha sido
decretada em decorrência de fraude contra a massa falida não implica, por si só, o afastamento da
impenhorabilidade dos bens de família dos sócios. Em outras palavras, o simples fato de ter sido
decretada a desconsideração da personalidade jurídica, por si só, não permite que seja penhorado o bem
de família pertencente aos sócios, salvo se os atos que ensejaram a desconsideração também se ajustarem
às exceções legais previstas no art. 3º da Lei 8.009/90. Tais exceções devem ser interpretadas
restritivamente, não se podendo, por analogia ou esforço hermenêutico, apanhar situações não previstas
em lei, de modo a superar a proteção conferida à entidade familiar. STJ. 4ª Turma. REsp 1433636-SP,
Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 2/10/2014 (Info 549).

310
Em uma execução proposta pelo credor contra a empresa devedora, se o juiz determinar a
desconsideração da personalidade jurídica e a penhora dos bens dos sócios, a pessoa jurídica tem
legitimidade para recorrer contra essa decisão, desde que o recurso seja interposto com o objetivo de
defender a sua autonomia patrimonial, isto é, a proteção da sua personalidade. No recurso, a pessoa
jurídica não pode se imiscuir indevidamente na esfera de direitos dos sócios ou administradores incluídos
no polo passivo por força da desconsideração. STJ. 3ª Turma. REsp 1421464-SP, Rel. Min. Nancy
Andrighi, julgado em 24/4/2014 (Info 544).
O advogado que ajuizou ação de execução de honorários de sucumbência não só contra a
sociedade limitada que exclusivamente constava como sucumbente no título judicial, mas também, sem
qualquer justificativa, contra seus sócios dirigentes, os quais tiveram valores de sua conta bancária
bloqueados sem aplicação da teoria da desconsideração da personalidade jurídica, deve aos sócios
indenização pelos danos materiais e morais que sofreram. STJ. 3ª Turma. REsp 1245712-MT, Rel. Min.
João Otávio de Noronha, julgado em 11/3/2014 (Info 539).
Se o sócio controlador de sociedade empresária transferir parte de seus bens à pessoa jurídica
controlada com o intuito de fraudar partilha em dissolução de união estável, a companheira prejudicada,
ainda que integre a sociedade empresária na condição de sócia minoritária, terá legitimidade para requerer
a desconsideração inversa da personalidade jurídica, de modo a resguardar sua meação. É possível a
desconsideração inversa da personalidade jurídica sempre que o cônjuge ou companheiro empresário
valer-se de pessoa jurídica por ele controlada, ou de interposta pessoa física, a fim de subtrair do outro
cônjuge ou companheiro direitos oriundos da sociedade afetiva. A legitimidade para requerer essa
desconsideração é daquele que foi lesado por essas manobras, ou seja, do outro cônjuge ou companheiro,
sendo irrelevante o fato deste ser sócio da empresa. STJ. 3ª Turma. REsp 1236916-RS, Rel. Min. Nancy
Andrighi, julgado em 22/10/2013 (Info 533). - Novo § 3º do art. 50: previsão expressa da
“desconsideração inversa” (Lei 13.874/2019)
Na hipótese em que tenha sido determinada a desconsideração da personalidade jurídica de
sociedade limitada modesta na qual as únicas sócias sejam mãe e filha, cada uma com metade das quotas
sociais, é possível responsabilizar pelas dívidas dessa sociedade a sócia que, de acordo com o contrato
social, não exerça funções de gerência ou administração. STJ. 3ª Turma. REsp 1315110-SE, Rel. Min.
Nancy Andrighi, julgado em 28/5/2013 (Info 524).
O juiz pode determinar, de forma incidental, nos autos da execução singular ou coletiva, a
desconsideração da personalidade jurídica. STJ. 3ª Turma. REsp 1326201-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi,
julgado em 7/5/2013 (Info 524).
No CC-1916 não havia previsão legal que autorizasse os cônjuges a alterarem o regime de bens.
O CC-2002 inovou no tratamento do tema e adotou o princípio da mutabilidade justificada do regime de
bens, afirmando que “é admissível alteração do regime de bens, mediante autorização judicial em pedido
motivado de ambos os cônjuges, apurada a procedência das razões invocadas e ressalvados os direitos de

311
terceiros” (§ 2º do art. 1.639). A jurisprudência do STJ é pacífica no sentido de que é possível a alteração
do regime de bens, mesmo nos matrimônios contraídos ainda sob a égide do CC-1916. Segundo o STJ,
o § 2º do art. 1.639 do CC-2002 não exige dos cônjuges justificativas exageradas ou provas concretas do
prejuízo na manutenção do regime de bens originário, sob pena de se ter que analisar indevidamente a
própria intimidade e a vida privada dos consortes. A divergência conjugal quanto à condução da vida
financeira da família é justificativa, em tese, plausível à alteração do regime de bens. Vale ressaltar que,
para haver a autorização judicial quanto à mudança do regime de bens, é necessária a aferição da situação
financeira atual dos cônjuges, com a investigação acerca de eventuais dívidas e de interesses de terceiros
potencialmente atingidos. STJ. 4ª Turma. REsp 1119.462-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado
em 26/2/2013 (Info 518).

4.2. Direito processual civil

O CPC/2015, de forma inovadora, previu, em seus arts. 133 a 137, um incidente de


desconsideração da personalidade jurídica. Indaga-se: esse incidente aplica-se também para a execução
fiscal? O tema ainda é polêmico no STJ: Para que haja o redirecionamento da execução fiscal, é necessária
a instauração de incidente de desconsideração da personalidade jurídica? NÃO. Julgado da 2ª Turma do
STJ Como foi divulgado no Informativo: É prescindível o incidente de desconsideração da personalidade
jurídica para o redirecionamento da execução fiscal na sucessão de empresas com a configuração de grupo
econômico de fato e em confusão patrimonial. STJ. 2ª Turma. REsp 1.786.311-PR, Rel. Min. Francisco
Falcão, julgado em 09/05/2019 (Info 648). Na ementa, consta, de forma genérica, que o incidente de
desconsideração seria incompatível com a execução fiscal: “A previsão constante no art. 134, caput, do
CPC/2015, sobre o cabimento do incidente de desconsideração da personalidade jurídica, na execução
fundada em título executivo extrajudicial, não implica a incidência do incidente na execução fiscal regida
pela Lei n. 6.830/1980, verificando-se verdadeira incompatibilidade entre o regime geral do Código de
Processo Civil e a Lei de Execuções, que diversamente da Lei geral, não comporta a apresentação de
defesa sem prévia garantia do juízo, nem a automática suspensão do processo, conforme a previsão do
art. 134, § 3º, do CPC/2015. Na execução fiscal a aplicação do CPC é subsidiária, ou seja, fica reservada
para as situações em que as referidas leis são silentes e no que com elas compatível (...)” “Evidenciadas
as situações previstas nos arts. 124, 133 e 135, todos do CTN, não se apresenta impositiva a instauração
do incidente de desconsideração da personalidade jurídica, podendo o julgador determinar diretamente
o redirecionamento da execução fiscal para responsabilizar a sociedade na sucessão empresarial.” SIM,
em algumas hipóteses. Julgado da 1ª Turma do STJ Como foi divulgado no Informativo: É necessária a
instauração do incidente de desconsideração da personalidade da pessoa jurídica devedora para o
redirecionamento de execução fiscal a pessoa jurídica que integra o mesmo grupo econômico, mas que
não foi identificada no ato de lançamento (Certidão de Dívida Ativa) ou que não se enquadra nas
hipóteses dos arts. 134 e 135 do CTN. STJ. 1ª Turma. REsp 1.775.269-PR, Rel. Min. Gurgel de Faria,

312
julgado em 21/02/2019 (Info 643). Para a 1ª Turma, o incidente somente é necessário em algumas
situações de redirecionamento. Podemos assim resumir: • Não é necessária a instauração do incidente de
desconsideração da personalidade jurídica (art. 133 do CPC/2015) no processo de execução fiscal no
caso em que a Fazenda Pública exequente pretende alcançar pessoa distinta daquela contra a qual,
originalmente, foi ajuizada a execução, mas cujo nome consta na Certidão de Dívida Ativa, após regular
procedimento administrativo, ou, mesmo o nome não estando no título executivo, o Fisco demonstre a
responsabilidade, na qualidade de terceiro, em consonância com os arts. 134 e 135 do CTN. • Por outro
lado, é necessária a instauração do incidente de desconsideração da personalidade da pessoa jurídica
devedora para o redirecionamento de execução fiscal a pessoa jurídica que integra o mesmo grupo
econômico, mas que não foi identificada no ato de lançamento (Certidão de Dívida Ativa) ou que não se
enquadra nas hipóteses dos arts. 134 e 135 do CTN.
A fraude à execução só poderá ser reconhecida se o ato de disposição do bem for posterior à
citação válida do sócio devedor, quando redirecionada a execução que fora originariamente proposta em
face da pessoa jurídica. Ex: havia uma execução tramitando apenas contra a sociedade empresária; durante
o curso deste processo, um dos sócios vendeu bem que estava em seu nome; algum tempo depois, o juiz
determinou a desconsideração da personalidade jurídica e o redirecionamento da execução contra o sócio;
esta alienação realizada pelo sócio não ocorreu mediante fraude à execução; isso porque, quando ele
vendeu o bem, ainda não tinha sido citado. STJ. 3ª Turma. REsp 1391830-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi,
julgado em 22/11/2016 (Info 594). O entendimento acima exposto permanece válido com o CPC/2015?
Haverá polêmica, mas pela redação literal do novo CPC, não. Isso porque o CPC/2015 traz uma nova
regra, que não havia no Código passado, afirmando que a fraude à execução tem como marco a data da
citação da pessoa jurídica que é objeto da desconsideração: Art. 792 (...) § 3º Nos casos de
desconsideração da personalidade jurídica, a fraude à execução verifica-se a partir da citação da parte cuja
personalidade se pretende desconsiderar.

5 BIBLIOGRAFIA

ALEXANDRE, Ricardo. Direito tributário. 12º ed. Editora Juspodivm. 2018.

BUSCARDOR DIZER O DIREITO. Disponível em:


https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/listar/?categoria=4&palavra-
chave=DESCONSIDERA%C3%87%C3%83O&criterio-pesquisa=e. Acesso em
31/03/2020.KKKJJFAFHAKJFEBEJI

CORREIA, Henrique. Direito do Trabalho para os concursos de Analista do TRT e MPU. 11º ed.
Editora Juspodivm. 2018.

313
EBEJI. O incidente de desconsideração da personalidade jurídica e a Fazenda Pública. Disponível em:
https://blog.ebeji.com.br/o-incidente-de-desconsideracao-da-personalidade-juridica-e-a-fazenda-
publica/. Acesso em 30/03/2020.

NEVES, Daniel Amorim Assunção Neves. Manual de Direito Processual Civil. Volume Único. 10º ed.
Editora Juspodivm. 2018.

TARTURCE, Flávio. Manual de Direito Civil. Volume Único. 8º ed. Editora Método. 2018.

314
PRERROGATIVAS PROCESSUAIS DA FAZENDA PÚBLICA NA JUSTIÇA DO
TRABALHO

PRERROGATIVAS PROCESSUAIS DA
FAZENDA PÚBLICA NA JUSTIÇA DO
TRABALHO

ALMANAQUE DA ADVOCACIA PÚBLICA por Luciana Souza


da Silva

Em quarentena em Manaus/AM, 15 de abril de 2020

315
1 INTRODUÇÃO
As prerrogativas processuais concedidas à Fazenda Pública estão presentes no direito processual
civil brasileiro como consequência de normas constitucionais, da prevalência do interesse público sobre
o privado, com o propósito de resguardar a Administração Pública, assim garantindo os próprios
interesses da sociedade, ainda que não imediatos.
Os princípios norteadores da Administração Pública - princípio da supremacia do interesse
público sobre o interesse do particular e a indisponibilidade do interesse público pela Administração,
ensejam uma série de peculiaridades que autorizam algumas adaptações ao processo civil a fim de amoldá-
lo ao regime de direito público, para a correta e eficaz defesa dos interesses públicos.
Tradicionalmente, na legislação brasileira, o Poder Público goza de vários benefícios que
decorrem do próprio conceito de Estado, sob o argumento de igualar esse em relação ao particular
quando em juízo. O tratamento diferenciado dado a Fazenda Pública quando de sua atuação em juízo se
materializa ante a existência de vários institutos que podem ser vistos tanto no Código de Processo Civil
quanto na legislação extravagante, o que consolida cada vez mais o reconhecimento da existência de um
sistema processual distinto concedido ao Poder Público.
Observa-se que esses institutos processuais favoráveis à Fazenda Pública, se originaram em face
da necessidade de estabelecer a igualdade na relação processual em que o Poder Público fosse parte, com
o objetivo precípuo de resguardar o interesse público.

2 FAZENDA PÚBLICA
A Fazenda Pública traduz a personificação do Estado em juízo. Os entes abrangidos pelo
conceito de Fazenda Pública são:
a) as pessoas jurídicas de direito público interno (a União, os Estados, os Municípios, o
Distrito Federal, as Autarquias e as Fundações Públicas). É a Administração Pública direta, autárquica e
fundacional;

b) os Conselhos de fiscalização profissional. A ADI 1.717/DF (STF - ADI 1.717/DF, TP,


j. 07/11/2002), que consolidou a exegese pela natureza autárquica destas entidades, reconhecendo a
inconstitucionalidade de normas da Lei n. 9.649/1998 que dispunham que tais entidade exerceriam
atividades em caráter privado, sendo dotadas de personalidade jurídica de direito privado;

c) as agências executivas e agências reguladoras, e;

d) as associações públicas.

O Decreto-lei n. 200/1967 dispõe sobre a organização da Administração federal. Em seu art. 4º:

316
Art. 4° A Administração Federal compreende:
I - A Administração Direta, que se constitui dos serviços integrados na estrutura
administrativa da Presidência da República e dos Ministérios.
II - A Administração Indireta, que compreende as seguintes categorias de entidades,
dotadas de personalidade jurídica própria:
a) Autarquias;
b) Empresas Públicas;
c) Sociedades de Economia Mista.
d) fundações públicas.

Embora façam parte da Administração federal e sejam entidades da administração indireta, as


empresas públicas e as sociedades de economia mista são pessoas jurídicas de direito privado não
abrangidos pelo conceito de fazenda pública, consequentemente sem a aplicação das vantagens
processuais.
As empresas públicas e sociedades de economia obedecem ao regramento do art. 73, §2 o da
Constituição Federal. Há algumas exceções, dentre elas, os Correios que detém regime especial de acordo
com o Decreto-lei n. 509/1969 que outorga aos Correios várias prerrogativas de Fazenda Pública,
prerrogativas estas reconhecidas pelo STJ (STJ - AgRg no REsp 1.400.238/RN, 2a Turma, j. 05/05/2015).

2.1 Isonomia material e formal


O princípio da igualdade, previsto no caput do art. 5º da Constituição Federal, dirige-se ao
próprio legislador, que não pode incorporar na legislação discriminações intoleráveis, destoantes da
razoabilidade. As diferenças previstas em lei devem, portanto, decorrer de razões justificáveis.
No processo civil, o princípio da igualdade está previsto no art. 7º do CPC. A igualdade
processual é assegurada na “paridade de armas” (igualdade formal) e no equilíbrio processual (igualdade
material). O contraditório há de ser exercido pelas partes em igualdade de condições.
O art. 7º do CPC é complementado pelo art. 139, I, segundo o qual cabe ao juiz assegurar às
partes igualdade de tratamento. Ao juiz se impõe o dever de garantir a igualdade.

Art. 7º. É assegurada às partes paridade de tratamento em relação ao exercício de direitos


e faculdades processuais, aos meios de defesa, aos ônus, aos deveres e à aplicação de
sanções processuais, competindo ao juiz zelar pelo efetivo contraditório.

Art. 139. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código, incumbindo-
lhe:
I – assegurar às partes igualdade de tratamento;

O juiz deve conferir às partes igualdade de oportunidades, para que, exercendo o contraditório,
possam ter a chance de tentar participar do seu convencimento, trazendo os elementos necessários e
suficientes a demonstrar o acerto da respectiva tese ou defesa. Como isso, a imparcialidade é reforçada.
A passividade do juiz, diante de uma situação de desequilíbrio ou de desigualdade processual, pode
configurar uma parcialidade. Em casos assim, é preciso que o juiz intervenha para reequilibrar a situação,
em reforço à sua imparcialidade.

317
Há regras no processo que se apresentam diferenciadas, com vistas a alcançar o equilíbrio e
adaptar-se às peculiaridades daquela parte que detém uma nota marcante e diferenciada em relação às
demais.
O art. 926 do CPC estabelece o dever de os tribunais tutelarem a segurança jurídica,
uniformizando sua jurisprudência e mantendo-a estável, íntegra e coerente o que constitui manifestação
do princípio da igualdade.
O juiz ou tribunal, ao decidir caso peculiar ou que mereça solução diversa, poderá deixar de seguir
o precedente, a súmula ou a jurisprudência firmada em torno do tema, desde que faça a distinção,
demonstrando que o caso não se ajusta às razões determinantes que levaram à formação daquele
entendimento (art. 489, §1º, VI CPC).
O que se exige do juiz é que confira às partes igualdade de oportunidades, para que, exercendo o
contraditório, possam ter a chance de tentar participar do seu convencimento, trazendo os elementos
necessários e suficientes a demonstrar o acerto da respectiva tese ou defesa.

2.2 Prerrogativas processuais


Em processo judicial que tramita em face da Fazenda Pública, cabe a esta zelar pela proteção do
interesse público. A Administração Pública não é titular do interesse público, mas apenas sua guardiã;
ela tem que zelar pela sua proteção. Daí a indisponibilidade do interesse público.
Por esse motivo, necessária a estruturação de uma burocracia para fiscalizar e controlar a atuação
dos agentes públicos enquanto representantes do interesse maior. Ao analisar determinado processo, a
Administração Pública precisa percorrer um caminho muito maior que o particular com fulcro em obter
provas para instruir os autos.
As prerrogativas processuais aplicáveis à Fazenda Pública justificam-se em razão da discrepância
processual existente entre esta e o particular, inexistindo inconstitucionalidade a respeito do tema. É a
forma de se dar efetividade ao princípio da igualdade, tratando-se de forma desigual os desiguais.
Como forma de assegurar a isonomia em relação a outras pessoas físicas ou jurídicas, a instituição
de benefícios processuais à Fazenda Pública tem caráter legítimo. Destacam-se as seguintes prerrogativas
processuais:
• Foro privativo: compete à Justiça Federal processar e julgar as causas em que a União,
entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na condição de autoras, rés,
assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça
Eleitoral e à Justiça do Trabalho (art. 109, I, da CF);
• Representação judicial: a União é representada em juízo pela AGU (art. 131 da CF) e, em
relação à execução da dívida ativa de natureza tributária, pela Procuradoria-Geral da Fazenda
Nacional (art. 131, § 3º, da CF). Os Estados e o DF são representados por suas Procuradorias
estaduais e distritais, respectivamente (art. 132 da CF). (...) Os Municípios que possuírem quadro

318
próprio de Procuradores, são representados pelas Procuradorias Municipais e, na sua falta, por
advogados contratados;
• Intimação pessoal: Previsão legal (Lei 6.830/1980, art. 25). O CPC estendeu tal
prerrogativa para todos os Entes Públicos e em todos os processos.

A intimação pessoal poderá ser realizada por carga, remessa ou por meio eletrônico, conforme
disposto no § 1º, do art. 183. A contagem dos prazos deve ser feita a depender da forma de intimação:
i) Por carga: o início da contagem dos prazos deve ser no dia da carga (art. 231, VIII).
ii) Por remesse dos autos – o dia da remessa dos autos com vistas e não da manifestação do
ciente pela Administração Pública.
iii) Por meio eletrônico – o dia útil seguinte à consulta ao teor da intimação ou término do prazo
para que a consulta se dê. (Art. 231, V)

• Prazos diferenciados: as pessoas jurídicas de direito público possuem prazo em dobro


para todas as suas manifestações processuais (art. 183 do CPC), salvo nas hipóteses em que a
legislação específica estabelece prazos próprios (art. 183, § 2º, do CPC). A contagem dos prazos
terá início a partir da intimação pessoal;
• Inaplicabilidade do efeito material da revelia: a ausência de contestação por parte da
Fazenda Pública não acarreta a produção do efeito material da revelia (presunção relativa de
veracidade dos fatos narrados pelo autor), tendo em vista a indisponibilidade do interesse público
(art. 345, II, do CPC) e a presunção de veracidade e de legitimidade dos atos administrativos;
• Restrição à concessão de liminares contra a Fazenda (art. 1.059 do CPC): aplicam-se à
tutela antecipada as restrições consagradas nos arts. 1.º a 4.º da Lei 8.437/1992 (ex.:
impossibilidade de liminar que esgote, no todo ou em parte, o objeto da ação) e no art. 7.º, § 2.º,
da Lei 12.016/2009 (vedação de medida liminar que tenha por objeto a compensação de créditos
tributários, a entrega de mercadorias e bens provenientes do exterior, a reclassificação ou
equiparação de servidores públicos e a concessão de aumento ou a extensão de vantagens ou
pagamento de qualquer natureza;
• Suspensão de liminares e de sentenças: as pessoas jurídicas de direito público podem
requerer a suspensão de liminar ou de sentença perante o presidente do tribunal ao qual couber
o conhecimento do respectivo recurso para evitar grave lesão à ordem, à saúde, à segurança e à
economia pública (exs.: art. 15 da Lei 12.016/2009; art. 12, § 1.º, da Lei 7.347/1985; art. 4.º da
Lei 8.437/1992 etc);
• Intervenção anômala ou amicus curiae: possibilidade de intervenção das pessoas jurídicas
de direito público nas causas cuja decisão tenha potencial reflexos, diretos ou indiretos, de
natureza econômica (art. 5º, parágrafo único, da Lei 9.469/1997);

319
• Remessa necessária (ou reexame necessário): sujeitam-se ao duplo grau de jurisdição, não
produzindo efeito senão depois de confirmadas pelo tribunal, as sentenças (i) proferidas contra a
União, Estados, o Distrito Federal, Municípios, autarquias e fundações de direito público, bem
como as que (ii) julgarem procedentes, no todo ou em parte, os embargos à execução fiscal (art.
496 do CPC);
• Despesas judiciais: a Fazenda Pública somente pagará as despesas judiciais ao final do
processo, quando vencida na demanda (art. 91 do CPC);
• Execução contra a Fazenda: na execução por quantia certa, a fazenda será citada para, se
quiser, opor embargos à execução no prazo de 30 dias, não se admitindo a penhora dos bens
públicos (art. 910 do CPC e art. 1.º-B da Lei 9.494/1997);
• Execução de créditos fazendários: a execução dos valores devidos à Fazenda Pública
(créditos tributários e não tributários) segue o rito especial previsto Lei 6.830/1980 (Lei de
Execução Fiscal – LEF);
• Pagamento de débitos judiciais transitados em julgado: o pagamento devido pela Fazenda
Pública, em virtude de sentença transitada em julgado, deve ser realizado, em regra, a partir da
ordem cronológica dos precatórios (art. 100 da CF), regra inaplicável ás obrigações de fazer, ou
por meio de requisição de pequeno valor (RPV), na forma do artigo 100, § 3º, da CF.

Essas vantagens processuais são constitucionais e legitimadas pelo STF.

2.3 Interpretação e alcance das prerrogativas


A Fazenda Pública gozará das prerrogativas dos prazos diferenciados sempre que atuar em juízo,
seja como parte, assistente ou interveniente. O benefício do prazo previsto no art. 183, CPC aplica-se
apenas aos prazos legais. Os prazos judiciais já levam em consideração a situação da Fazenda Pública.

Art. 183, §2o Não se aplica o benefício da contagem em dobro quando a lei estabelecer,
de forma expressa, prazo próprio para o ente público.

3 As prerrogativas processuais da Fazenda Pública na Justiça do Trabalho


No Processo do Trabalho, o Decreto-Lei n. 779/69 traz prerrogativas processuais conferidas à
Fazenda Pública na Justiça do Trabalho. São elas, conforme dispostas no art. 1 o:

Art. 1º Nos processos perante a Justiça do Trabalho, constituem privilégio da União, dos
Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e das autarquias ou fundações de direito
público federais, estaduais ou municipais que não explorem atividade econômica:
I - a presunção relativa de validade dos recibos de quitação ou pedidos de demissão de
seus empregados ainda que não homologados nem submetidos à assistência mencionada
nos parágrafos 1º, 2º e 3º do artigo 477 da Consolidação das Leis do Trabalho;
II - o quádruplo do prazo fixado no artigo 841, "in fine", da Consolidação das Leis do
Trabalho;

320
III - o prazo em dobro para recurso;
IV - a dispensa de depósito para interposição de recurso;
V - o recurso ordinário "ex officio" das decisões que lhe sejam total ou parcialmente
contrárias;
VI - o pagamento de custas a final salva quanto à União Federal, que não as pagará.

3.1 Formas de comunicação dos atos processuais trabalhistas

Notificação da Fazenda Pública: O art. 1º, II, do decreto-lei 779/69 aduz que a Fazenda Pública
tem o prazo em quádruplo do caput do art. 841 da CLT. Assim, entre o recebimento da notificação e a
data da audiência, deverá decorrer um prazo mínimo de 20 (vinte) dias.

3.2 Recursos

Pagamento de preparo nos recursos: A Fazenda Pública está dispensada do pagamento de preparo
nos Recursos, por força do § 1º, do artigo 1.007, do CPC. No mesmo sentido, tem-se a lei 9.494/97 em
seu artigo 1º-A.
Estão dispensados de preparo, inclusive porte de remessa e retorno, os recursos interpostos pelo
Ministério Público, pela União, pelo Distrito Federal, pelos Estados, pelos Municípios e respectivas
autarquias (CPC, art. 1.007, § 1º).
O enunciado 483 da Súmula do STJ confirma essa regra, ao estabelecer que “O INSS não está
obrigado a efetuar depósito prévio do preparo por gozar das prerrogativas e privilégios da Fazenda
Pública.”

4 JURISPRUDÊNCIA SOBRE O TEMA

AGRAVO DE PETIÇÃO. PRERROGATIVAS DE EMPRESA PÚBLICA. As empresas públicas


submetem-se ao regime próprio das pessoas jurídicas de direito privado, inclusive quanto aos direitos e
obrigações civis, comerciais, trabalhistas e tributários; portanto, não detêm as prerrogativas próprias da
Fazenda Pública, nos termos do art.173, § 1º, II, da Constituição da República. Não se desconhece que
o Excelso Supremo Tribunal Federal tenha estendido parte dos privilégios da Fazenda Pública à
Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos e até mesmo conferindo alguns deles a outras empresas
públicas e sociedades de economia mista. Todavia, é necessário que estas sejam prestadoras de serviço
público próprio do Estado e de natureza não concorrencial, o que não é o caso da Infraero. Em verdade,
os serviços de infraestrutura aeroportuária, consoante o art. 21, XII, da Constituição da República,
podem ser transferidos à iniciativa privada mediante autorização, concessão ou permissão do Poder
Público, não se constituindo em monopólio da União. Dessa forma, a executada submete-se à forma de
execução das empresas privadas, sem gozar das prerrogativas da Fazenda Pública, razão pela qual não
há falar em impenhorabilidade de seus bens, tampouco em execução por meio de precatório. (TRT 3ª
Região. Sétima Turma. 0011998-49.2015.5.03.0092 (PJe). Agravo de Petição. Rel. Mauro Cesar Silva.
DEJT/TRT3/Cad. Jud. 24/09/2019 P.1630).

INFRAERO. INAPLICABILIDADE DAS PRERROGATIVAS PROCESSUAIS ASSEGURADAS


À FAZENDA PÚBLICA. Não se afigura possível a extensão à Infraero das prerrogativas processuais
conferidas à Fazenda Pública nos processos trabalhistas (Decreto-Lei 779/69), pois, ainda que se
reconheça a sua condição de empresa pública prestadora de serviços públicos, inexiste lei garantindo-
lhe a aplicação de tais benefícios. Agravo de instrumento não provido. (TST AIRR-10251-
48.2014.5.18.0006, Relatora Ministra: Delaíde Miranda Arantes, 2ª Turma, Data de Publicação: DEJT
01/07/2016). (TRT18, ROT – 0010105-95.2019.5.18.0017, Rel. Silene Aparecida Coelho, 3ª Turma,
11/02/2020)

321
(TRT-18-ROT: 00101059520194180017 GO 0010105-95.2019.5.18.0017, Relator: Silene Aparecida
Coelho, Data de Julgamento: 11/02/2020, 3ª Turma).

JUROS DE MORA. FAZENDA PÚBLICA. CORREIOS. À Empresa Brasileira de Correios e


Telégrafos – ECT são asseguradas as prerrogativas processuais conferidas à Fazenda Pública tão
somente em relação à impenhorabilidade de seus bens e processamento da execução por meio de
precatório, foro, prazos e custas processuais. Não lhe são extensíveis, outrossim, as demais
prerrogativas, em especial no tocante à redução dos juros de mora, haja vista tal prerrogativa não constar
dentre os benefícios concedidos à ECT pelo art. 12, do Decreto-Lei no 509/69. Assim, continua sendo
aplicável aos débitos trabalhistas o referido art. 39 da Lei no 8.177/91, não se adotando, pois, na espécie,
a Lei no 9494/97, por se tratar de norma dirigida aos débitos da Fazenda Pública de modo geral.
Portanto, determina-se a aplicação de juros de mora de 1% (um por cento) ao mês, contados a partir do
ajuizamento da reclamatória e aplicados por rata die, nos termos do art. 39 da Lei no. 8.177/91.
(TRT-17-AP: 00115008920135170008, Relator: Gerson Fernando da Sylveira Novais, Data de
Julgamento: 30/07/2019, Data de Publicação: 12/08/2019)

5 REFERÊNCIAS

CUNHA, Leonardo Carneiro de. A Fazenda Pública em Juízo. 16. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019
MASTERJURIS. Aula Introdução à Fazenda Pública. Prof. Guilherme Hartmann. Disponível em
www.masterjuris.com.br. Acesso em 10-04-2020.
RACHID, Alysson [et. Al.] Exame de Ordem – Teoria e questões – 1ª fase. 2. Ed. São Paulo: Saraiva
Educação, 2020.

Livro que não tive acesso, mas que aborda o tema:

SOUZA, Caio; NEIVA, Rogerio; PITON, Wendel; SOUTINHO Bruno. Doutrinas Essenciais -
Procuradorias - v.2 - Direito e Processo do Trabalho - Aplicados à Administração e Fazenda Pública. 3.
ed. rev. atual. ampl. Salvador: Juspodivm, 2020

Legislação

Constituição Federal
DECRETO-LEI No 779, DE 21 DE AGOSTO DE 1969.
LEI Nº 13.105, DE 16 DE MARÇO DE 2015 (Código de Processo Civil)

322
TERCEIRIZAÇÃO E PODER PÚBLICO

TERCEIRIZAÇÃO E PODER PÚBLICO

ALMANAQUE DA ADVOCACIA PÚBLICA por Álisson Rubens


da Silva Sousa

Em quarentena em São Pedro/PI, 03 de abril de 2020

323
1 INTRODUÇÃO
A terceirização é um fenômeno no qual determinada empresa (tomadora de serviço) delega
determinada atividade a outra (prestadora de serviço) que presta por meio de seus empregados. Assim,
não há vinculo trabalhista entre a tomadora de serviço e os empregados da prestadora em que pese estes
exercerem seu trabalho, em regra, no estabelecimento da tomadora.
Interessante destacar que antes de 2017 a legislação a cerca da terceirização no ordenamento
pátrio era por demasiado confusa razão pela qual o TST editou a súmula 331 que trazia em seu texto os
regramentos gerais da terceirização. De acordo com tal súmula, havia uma diferenciação entre atividade-
meio e atividade-fim, sendo que a terceirização dessa última era proibida.
Nesse cenário, é necessária a diferenciação entre atividade-fim, que seria o objetivo, a finalidade,
o mister da empresa, ou seja, aquele serviço que consta no objeto social da empresa e que, portanto,
motiva sua existência, e atividade-meio, que seriam aqueles serviços de caráter secundário realizados na
empresa com o intuito de propiciar o arcabouço necessário para o execício da atividade-fim.
No entanto, em março de 2017 foi editada a lei nº 13.429/2017 que modificou a lei nº 6.019/74
para regulamentar de forma mais efetiva a terceirização e o trabalho temporário. Ocorre que o texto era
omisso quanto a possibilidade da terceirização de atividade-fim, o que gerou uma interpretação
permissiva. Essa incerteza jurídica só foi sanada com a promulgação da lei nº 13.467/2017 que trouxe
expressa previsão no sentido de permitir a terceirização tanto de atividade-fim quanto de atividade-meio.
Todavia, pairava ainda uma dúvida sobre a licitude da terceirização de atividade fim antes do
advento da lei nº 13.429/2017, vez que, não havia proibição expressa da legislação da época, mas apenas
proibição em jurisprudência sumulada do TST. É mister lembrar que jurisprudência, por natureza, não
possui condão de criar, extinguir ou modificar direito. Em verdade jurisprudência seria a consolidação de
um posicionamento reiterado dos tribunais sobre o significado de determinada norma. Assim, não há
como um tribunal restringir direitos se não calcado em uma interpretação determinada norma. Ademais,
a proibição de terceirização de atividades-fim representava uma injustificada intervenção estatal no
âmbito privado, sendo uma violação da livre iniciativa bem como da liberdade contratual. Nesse sentido ,

A dicotomia entre “atividade-fim” e “atividade-meio” é imprecisa, artificial e ignora a dinâmica


da economia moderna, caracterizada pela especialização e divisão de tarefas com vistas à maior
eficiência possível, de modo que frequentemente o produto ou serviço final comercializado por
uma entidade comercial é fabricado ou prestado por agente distinto, sendo também comum a
mutação constante do objeto social das empresas para atender a necessidades da sociedade,
como revelam as mais valiosas empresas do mundo. É que a doutrina no campo econômico é
uníssona no sentido de que as “Firmas mudaram o escopo de suas atividades, tipicamente
reconcentrando em seus negócios principais e terceirizando muitas das atividades que
previamente consideravam como centrais” (ROBERTS, John. The Modern Firm:
Organizational Design for Performance and Growth. Oxford: Oxford University Press, 2007).
(RE 958252, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Tribunal Pleno, julgado em 30/08/2018, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-199 DIVULG 12-09-2019 PUBLIC 13-09-2019)

324
Há que ressaltar ainda, que "a terceirização não fragiliza a mobilização sindical dos trabalhadores,
porquanto o art. 8º, II, da Constituição contempla a existência de apenas uma organização sindical para
cada categoria profissional ou econômica, mercê de a dispersão territorial também ocorrer quando uma
mesma sociedade empresarial divide a sua operação por diversas localidades distintas. (RE 958252)".
Assim, a terceirização, por si só não preconiza as relações de trabalho, sendo ferramenta hábil à
dinamização do mercado e ao fomento da concorrência desde que respeitados as regras jurídicas
preestabelecidas.
Por isso, ao analisar a ADPF 324 e o RE 958252, o STF declarou a inconstitucionalidade dos
incisos I, III e IV da súmula 331 do TST de modo a concluir que a terceirização de atividade-fim sempre
foi permitida no âmbito privado. É mister destacar, no entanto, que tal decisão do STF não interfere na
coisa julgada sob pena de violar a segurança jurídica. Nesse sentido, "se algum processo trabalhista
aplicando esses itens da súmula 331 do TST já transitou em julgado, não será possível a sua alteração
agora com base no julgado do STF" (CAVALCANTE, 2020, p.online).

2 TERCEIRIZAÇÃO NO ÂMBITO DO PODER PÚBLICO


Se no âmbito privado a possibilidade de terceirização independente da natureza da atividade é
algo consolidado não há como dizer o mesmo quando o olhar se volta para a Administração Pública. Isso
porque a Constituição Federal prevê, no art. 37, II, o concurso público como requisito essencial para a
investidura em cargo ou emprego público, sendo o cargo em comissão a única exceção a essa regra.
Contudo, há certas atividades que podem ser realizadas tanto pela administração pública quanto pela
iniciativa privada, para esses serviços, ao analisar os art. 170 §único, 173 e 174 da Constituição, percebe-
se que a Carta Magna prega a descentralização como forma de trazer mais eficiência ao Estado que poderá
focar seus esforços em atividades eminentemente públicas. Nesse sentido é importante a leitura do art.
10 §7º do Decreto-lei nº 200/67 abaixo transcrito:

Art.10. § 7º Para melhor desincumbir-se das tarefas de planejamento, coordenação, supervisão e


contrôle e com o objetivo de impedir o crescimento desmesurado da máquina administrativa, a
Administração procurará desobrigar-se da realização material de tarefas executivas, recorrendo, sempre
que possível, à execução indireta, mediante contrato, desde que exista, na área, iniciativa privada
suficientemente desenvolvida e capacitada a desempenhar os encargos de execução.(BRASIL, 25 de
fevereiro de1967, p. online)

Nota-se, pela leitura do supracitado artigo, que o Decreto-lei 200/67 permitiu uma terceirização
de serviço e não de mão de obra. Assim,

Uma leitura mais detida do dispositivo revela que a autorização legislativa é pertinente à
“terceirização de atividade”, e não à “terceirização de mão de obra”. É dizer que existem
determinadas atividades, as quais, sobre não serem consideradas como típicas do órgão ou da
entidade administrativa, podem ser contratadas com terceiros (terceirizadas). Dessa forma,
distinguindo os dois tipos de terceirização, garante-se que não haja uma superposição de funções
entre os terceirizados e os servidores ou empregados de carreira, afastando-se cogitações de

325
infringência à regra do concurso público (artigo 37, II da Constituição). (FERRAZ, 2019, p.
online)

Assim, é permitida terceirização no âmbito da Administração pública, salvo naquelas atividades


eminentemente públicas. Ademais, cabe destacar que no âmbito da União foi editado o Decreto nº
9.507/2018 com o intuito de regular a terceirização no âmbito da administração pública federal. É mister
ressaltar que essa normativa abarca “execução indireta, mediante contratação, de serviços da
administração pública federal direta, autárquica e fundacional e das empresas públicas e das sociedades
de economia mista controladas pela União (art.1º)” (BRASIL, 2018, p.online).
Interessante ressaltar que o Decreto nº 9.507/2018 estabelece no art. 3º vedações para a
terceirização de certos serviços pela administração pública direta, autárquica e fundacional quais sejam:

I - que envolvam a tomada de decisão ou posicionamento institucional nas áreas de planejamento,


coordenação, supervisão e controle;
II - que sejam considerados estratégicos para o órgão ou a entidade, cuja terceirização possa colocar em
risco o controle de processos e de conhecimentos e tecnologias;
III - que estejam relacionados ao poder de polícia, de regulação, de outorga de serviços públicos e de
aplicação de sanção; e
IV - que sejam inerentes às categorias funcionais abrangidas pelo plano de cargos do órgão ou da
entidade, exceto disposição legal em contrário ou quando se tratar de cargo extinto, total ou
parcialmente, no âmbito do quadro geral de pessoal.(BRASIL, 2018, p. online)

Acrescenta-se ainda que os serviços auxiliares aos a cima mencionados podem ser terceirizados,
mas é vedado a transferência de responsabilidade para a prática de atos administrativos. Ao analisar tais
vedações percebe-se que a dicotomia atividade-fim / atividade-meio ainda está presente na terceirização
do âmbito público.
De outro lado, no que se refere as empresas estatais o regramento de terceirização se aproxima
ao das empresas privadas. Nesse sentido o art. 4º do Decreto nº 9.507/2018 determina que não será
cabível execução indireta de serviço que demande a utilização, pela contratada, de profissionais com
atribuições inerentes às dos cargos integrantes dos Planos de Cargos e Salários da tomadora de serviço,
salvo quando isso contrariar os princípios da eficiência, da economicidade e da razoabilidade como se vê
nas seguintes hipóteses:

I - caráter temporário do serviço;


II - incremento temporário do volume de serviços;
III - atualização de tecnologia ou especialização de serviço, quando for mais atual e segura, que reduzem
o custo ou for menos prejudicial ao meio ambiente; ou
IV - impossibilidade de competir no mercado concorrencial em que se insere.

326
Percebe-se que há maior possibilidade de terceirização no que se refere as empresas estatais
abrangendo até mesmo atividades-fim. Nesse sentido cabe destacar o seguinte julgado do STJ:

ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. EMPRESA PÚBLICA. CONTRATAÇÃO DE


ADVOGADO. CONCURSO PÚBLICO. 1. A Caixa Econômica Federal, embora vinculada
como empresa pública ao Estado, executa uma atividade econômica em ambiente de
concorrência. 2. A terceirização pela Caixa Econômica Federal dos serviços jurídicos não se
revela ilegal, porquanto a atividade não se vincula à atividade-fim do órgão. 3. Recurso especial
conhecido em parte e, nessa extensão, não provido. (REsp 1318740/PR, Rel. Ministro
HERMAN BENJAMIN, Rel. p/ Acórdão Ministro OG FERNANDES, SEGUNDA TURMA,
julgado em 16/10/2018, DJe 05/11/2019)

No entanto, é mister lembrar que deve ser respeitado o princípio do concurso público. Sobre isso
cabe destacar o seguinte julgado do STF:

Se existem candidatos aprovados para advogado da sociedade de economia mista e esta, no


entanto, em vez de convocá-los, contrata escritório de advocacia, tal contratação é ilegal,
surgindo o direito subjetivo de que sejam nomeados os aprovados. Segundo entende o STF, a
ocupação precária por terceirização para desempenho de atribuições idênticas às de cargo
efetivo vago, para o qual há candidatos aprovados em concurso público vigente, configura ato
equivalente à preterição da ordem de classificação no certame, ensejando o direito à nomeação.
STF. 2ª Turma. ARE 774137 AgR/BA, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 14/10/2014 (Info
763).

Assim, ainda que em tese seja permitida a terceirização é mister a análise no caso concreto de
forma a perceber se há violação ao princípio do concurso público. Se houver será ilícita a terceirização.

3 RESPONSABILIDADE DO ENTE PÚBLICO ANTE A TERCEIRIZAÇÃO ILÍCITA


Caso a terceirização venha a ser considerada ilícita é mister analisar a responsabilidade do Ente
público pelos débitos trabalhistas. Em primeiro lugar é interessante entender a competência para julgar
causar relacionadas por terceirização. Ao analisar os julgados do STF e STJ constata-se que o exercício
da competência é dividido em dois momentos. O primeiro deles seria a fase pré-contratual que é aquela
correspondente a escolha da empresa prestadora de serviço, a fase licitatória. Nessa fase compete a Justiça
Comum jugar a as controvérsias conforme julgado do STF a seguir:
Compete à Justiça comum processar e julgar controvérsias relacionadas à fase pré-
contratual de seleção e de admissão de pessoal e eventual nulidade do certame em face
da Administração Pública, direta e indireta, nas hipóteses em que adotado o regime
celetista de contratação de pessoal. STF. Plenário. RE 960429/RN, Rel. Min. Gilmar
Mendes, julgado em 4 e 5/3/2020 (repercussão geral – Tema 992) (Info 968).

O segundo momento corresponde as causas referentes ao inadimplemento de obrigações


trabalhistas por parte da empresa terceirizada. Nesse caso a competência será da Justiça do Trabalho
conforme julgado do STJ a seguir:

CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. JUSTIÇA FEDERAL. JUSTIÇA DO


TRABALHO. CONTRATO DE TERCEIRIZAÇÃO. UNIÃO. AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO

327
EM PAGAMENTO DOS SALÁRIOS. RESPONSABILIDADE TRABALHISTA
SUBSIDIÁRIA. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO. 1. A Súmula 331 do eg.
Tribunal Superior do Trabalho, cuidando da terceirização de serviços ligados à atividade-meio
da Administração Pública, reza que "o inadimplemento das obrigações trabalhistas, por parte
do empregador, implica a responsabilidade subsidiária do tomador dos serviços quanto àquelas
obrigações, desde que haja participado da relação processual e conste também do título
executivo judicial". 2. A ação de consignação em pagamento proposta por ente estatal em face
de sociedade empresária contratada para a prestação de serviços terceirizados à Administração
Pública, visando elidir a responsabilidade trabalhista subsidiária, prevista na Súmula 331/TST,
deve ser julgada pela Justiça Laboral. 3. Conflito conhecido para declarar competente a Justiça
do Trabalho. (CC 136.739/RS, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em
23/09/2015, DJe 15/10/2015)

Ainda sobre o tema é necessário compreender a natureza da responsabilidade da administração


pública sobre o inadimplemento das obrigações trabalhistas. Delgado (2019) afirma que sobre o tema há
três interpretação possíveis. A primeira é que vem razão do princípio do concurso público a contratação
ilícita de trabalhador por interposta pessoa não gera vínculo trabalhista com a administração pública e
por isso não geraria qualquer consequência trabalhista ao ente público, ou seja, a entidade estatal não teria
de pagar qualquer verba trabalhista ao empregado ilegalmente contratado.
O segundo posicionamento é que

a prática ilícita não poderia beneficiar aquele que já foi por ela economicamente favorecido (no
caso, a entidade estatal tomadora dos serviços). Desse modo, considera que a presente situação
figurada não foge à situação padrão de nulidade no Direito do Trabalho, sofrendo os efeitos
comuns ao ramo justrabalhista: convalidam-se todos os atos praticados, conferindo-se validade
ao vínculo jurídico com o ente estatal tomador dos serviços, que assume, em consequência, a
posição de empregador desde o início da relação socioeconômica verificada. (DELGADO, 2019,
p. 571)

O terceiro posicionamento seria uma interpretação moderada entre os dois extremos. A empresa
terceirizada responderia pelos débitos trabalhistas e a entidade estatal tomadora do serviço responderia
subsidiariamente (DELGADO, 2019). A esse respeito, é mister analisar o art. 71 da lei nº 8.666/93
transcrito abaixo:

Art. 71. O contratado é responsável pelos encargos trabalhistas, previdenciários, fiscais e comerciais
resultantes da execução do contrato.
§ 1º A inadimplência do contratado, com referência aos encargos trabalhistas, fiscais e comerciais não
transfere à Administração Pública a responsabilidade por seu pagamento, nem poderá onerar o objeto
do contrato ou restringir a regularização e o uso das obras e edificações, inclusive perante o Registro de
Imóveis (BRASIL, 1993, p. online).

Pela leitura do supracitado artigo poderia entender-se que a administração pública não
responderia em nenhuma hipótese pelo inadimplemento das obrigações trabalhistas. Necessário salientar,
no entanto, que o STF ao declarar a constitucionalidade do citado artigo o interpretou de forma que os
encargos trabalhistas não pagos pelas empresas terceirizadas não transfere automaticamente ao poder

328
público. Assim, “para o STF, torna-se necessária a presença da culpa in vigilando da entidade estatal, ou
seja, sua desídia fiscalizatória quanto ao preciso cumprimento das obrigações trabalhistas da empresa
terceirizante (responsabilidade subjetiva, derivada de culpa).” (DELGADO, 2019, p. 573)

4 REFERÊNCIAS
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Mesmo antes das Leis 13.429/2017 e 13.467/2017, já era lícita a
terceirização de toda e qualquer atividade da empresa, seja ela atividade-meio ou fim, de forma que era
inconstitucional a Súmula 331 do TST. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/73983c01982794632e0270cd000
6d407>. Acesso em: 28/04/2020
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Não é ilegal a terceirização de serviços jurídicos pela Caixa
Econômica Federal. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/ed77eab0b8ff85d0a6a8365df18
46978>. Acesso em: 28/04/2020

CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Sociedade de economia mista que contrata escritório em vez de
convocar advogados aprovados. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/99c5e07b4d5de9d18c350cdf64c
5aa3d>. Acesso em: 28/04/2020

BRASIL. Decreto-lei no 200/67. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-


lei/del0200.htm>. Acesso em: 30 abr. 2020.

BRASIL. LEI No 8.666. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8666cons.htm>.


Acesso em: 30 abr. 2020.

BRASIL. Decreto No 9.507. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-


2018/2018/Decreto/D9507.htm>. Acesso em: 30 abr. 2020.

DELGADO, M. G. CURSO DE DIREITO DO TRABALHO. 18. ed. São Paulo: LTR Editora,
2019.

FERRAZ, L. A terceirização na administração pública depois das decisões do STF. Disponível


em: <https://www.conjur.com.br/2019-jan-31/interesse-publico-terceirizacao-administracao-publica-
depois-decisoes-stf>. Acesso em: 30 abr. 2020.

329
CONTESTAÇÃO DO PODER PÚBLICO NA JUSTIÇA DO TRABALHO

CONTESTAÇÃO DO PODER PÚBLICO


NA JUSTIÇA DO TRABALHO

ALMANAQUE DA ADVOCACIA PÚBLICA por Emanuelle


Pereira Moura

Em quarentena em Recife/PE, 03 de abril de 2020

330
1 ASPECTOS GERAIS
Os entes federativos, União, Territórios, Estados, Distrito Federal e Municípios, enquanto
pessoas jurídicas, valem-se das pessoas físicas para alcançarem o objetivo comum do interesse público.
Tais pessoas são denominadas de agentes públicos, cujo vínculo irá variar de acordo com a espécie de
cargo ou emprego que ocupam, podendo ser estatutário, como é o caso dos servidores públicos stricto
sensu, como podem se submeter ao regime trabalhista, tal como ocorre com os empregados públicos.
Também há aqueles que são contratados temporariamente, possuindo regramento próprio.
Daqueles agentes públicos, os que se submetem à Justiça do Trabalho são os empregados
públicos, sendo suas relações regidas pela Consolidação das Leis Trabalhistas, competindo à Justiça do
Trabalho dirimir eventuais controvérsias decorrentes de tais relações.
Por outro lado, a competência será da Justiça Comum, estadual ou federal, quando o vínculo
entre o Poder Público e o servidor se submeter ao regime jurídico-administrativo, seja em caráter efetivo,
seja em caráter temporário.
O Supremo Tribunal Federal – STF também já fez esta distinção:

EMENTA: EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO


AGRAVO REGIMENTAL NA RECLAMAÇÃO. ALEGAÇÃO DE OMISSÃO. RELAÇÃO DE
TRABALHO. VÍNCULO DE NATUREZA CELETISTA. CAUSA DE PEDIR
FUNDAMENTADA EM CONTRATO DE TRABALHO E NA LEGISLAÇÃO TRABALHISTA.
COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO. ART. 114, I, DO TEXTO CONSTITUCIONAL.
INAPLICABILIDADE, IN CASU, DO QUE DECIDIDO NA ADI 3.395/MC. INEXISTÊNCIA
DE VÍNCULO JURÍDICO-ADMINISTRATIVO. ATRIBUIÇÃO DE EFEITOS
MODIFICATIVOS. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO PROVIDOS. RECLAMAÇÃO A QUE SE
NEGA PROCEDÊNCIA.
1. É competente a Justiça do Trabalho para julgar ação que envolva o Poder Público e o trabalhador
regido pela Consolidação das Leis do Trabalho. Precedentes: ARE 859.365-AgR, rel. Min. Teori
Zavascki, Segunda Turma, DJe de 13/4/2015; ARE 846.036-AgR, rel. Min. Luiz Fux, Primeira Turma,
DJe de 14/4/2015; Rcl 16.458-AgR, Rel. Min. Rosa Weber, Primeira Turma, DJe de 9/9/2014; Rcl
16.893-AgR, Rel. Min. Dias Toffoli, Primeira Turma, DJe de 10/10/2014; e Rcl 8.406-AgR, Rel. Min.
Marco Aurélio, Primeira Turma, DJe de 29/5/2014 .
2. A competência da Justiça Comum em confronto com a da Justiça do Trabalho em casos em que
envolvidos o poder público, reclama a análise da natureza do vínculo jurídico existente entre o
trabalhador – termo aqui tomado em sua acepção ampla - e o órgão patronal: se de natureza jurídico-
administrativa o vínculo, a competência fixa-se como da Justiça Comum; se de natureza celetista, a
competência é da Justiça Trabalhista.
3. In casu, diante da natureza celetista do vínculo estabelecido junto aos embargantes, é de se assentar a
competência da Justiça do Trabalho. 4. Embargos de declaração providos e aos quais se atribui efeitos
modificativos, para julgar improcedente a reclamação (Rcl. Nº 5.698 AgR-ED-ED / SP. Relator: Min.
LUIZ FUX. Publicação: 26/05/2015).
EMENTA: Agravo regimental no recurso extraordinário com agravo. Servidor público. Contrato
temporário. Natureza do vínculo. Existência de termo de conduta que determina a natureza jurídico-
administrativa do contrato firmado entre as partes. Competência. Justiça comum. Precedentes.
1 – O Tribunal Superior do Trabalho expressamente consignou a existência de termo de ajustamento
de conduta entre o ora agravado e o Ministério Público do Estado de Santa Catarina, no qual se afirmou
que o contrato existente entre o agravante e a FURB seria de natureza jurídico-administrativa.
2 – Assentada a natureza estatutária do vínculo mantido entre o agravante e a Fundação Universidade
Regional de Blumenau, a competência para o julgamento do feito é da Justiça comum (ADI nº
3.395/DF-MC), consoante a reiterada jurisprudência da Corte.
3 – Agravo regimental não provido, com imposição de multa de 2% (art. 1.021, §4º, do CPC). (ARE
1004808 AgR. Relator: Min. DIAS TÓFFOLI. Publicação: 30/10/2017).

331
Portanto, quando se fala em contestação do Poder Público na Justiça do Trabalho, se está a tratar
das controvérsias atinentes aos chamados empregados públicos, cujo vínculo com a Administração
Pública é regido pela CLT.

2 CONTESTAÇÃO NO PROCESSO DO TRABALHO


A contestação, no processo trabalhista, tal qual no processo civil, é uma das espécies de resposta
do réu. É a peça por meio da qual, em regra, o reclamado se oporá às alegações e pedidos contidos na
reclamação.
Na espécie de resposta em análise, a defesa pode ser processual, como também material, atacando
o próprio direito que o reclamante se arvora como titular. Normalmente, as alegações que atacam a
regularidade do processo são aduzidas de modo preliminar, posto que, apenas quando superadas, é que
se poderá adentrar ao mérito propriamente dito, no qual serão examinados os fatos impeditivos,
modificativos ou extintivos do direito do reclamante.
Logo, o Advogado Público, ao atuar na Justiça do Trabalho, possui função relevante pois defende
o Poder Público, na condição de polo passivo.

3 PRAZO
De acordo com o art. 847, da CLT, frustrada a tentativa de conciliação, a Defesa terá 20 (vinte)
minutos para apresentação da resposta. Noutro giro, se a parte preferir apresentar contestação escrita,
deverá fazê-lo, no âmbito do processo judicial eletrônico, até o dia da audiência de conciliação, nos termos
do disposto no parágrafo único do mencionado dispositivo legal.
Quando se pensa em Fazenda Pública e processo, a primeira questão que surge é o prazo, uma
vez que, conforme prevê o art. 183, do Código de Processo Civil de 2015 – CPC/2015, o Poder Público
possui prazo em dobro para se manifestar. É importante destacar, antes de mais nada, que as disposições
deste Diploma Processual se aplicam à Justiça do Trabalho, desde que não haja regramento específico na
seara trabalhista, conforme o disposto no próprio CPC/2015, no seu art. 15.
Desta forma, a Fazenda Pública, ao atuar na seara trabalhista, assim como no processo civil,
possui prerrogativas processuais. No entanto, por ter regulamentação própria na legislação trabalhista, o
advogado público não se vale do disposto no mencionado art. 183, do CPC/2015.
O diploma que rege a questão, na Justiça do Trabalho, é o Decreto-Lei nº 779/1969, que dispõe
sobre a aplicação de normas processuais trabalhistas à União Federal, aos Estados, Municípios, Distrito
Federal e Autarquias ou Fundações de direito público que não explorem atividade econômica. O referido
diploma legal prevê, em seu art. 1º:

Art. 1º Nos processos perante a Justiça do Trabalho, constituem privilégio da União, dos Estados, do
Distrito Federal, dos Municípios e das autarquias ou fundações de direito público federais, estaduais ou
municipais que não explorem atividade econômica:
...

332
II - o quádruplo do prazo fixado no artigo 841, "in fine", da Consolidação das Leis do Trabalho;
III - o prazo em dobro para recurso;
...
O art. 841, da CLT, possui a seguinte redação:
Art. 841 - Recebida e protocolada a reclamação, o escrivão ou secretário, dentro de 48 (quarenta e oito)
horas, remeterá a segunda via da petição, ou do termo, ao reclamado, notificando-o ao mesmo tempo,
para comparecer à audiência do julgamento, que será a primeira desimpedida, depois de 5 (cinco)
dias.
§ 1º - A notificação será feita em registro postal com franquia. Se o reclamado criar embaraços ao seu
recebimento ou não for encontrado, far-se-á a notificação por edital, inserto no jornal oficial ou no que
publicar o expediente forense, ou, na falta, afixado na sede da Junta ou Juízo.
§ 2º - O reclamante será notificado no ato da apresentação da reclamação ou na forma do parágrafo
anterior.
§ 3o Oferecida a contestação, ainda que eletronicamente, o reclamante não poderá, sem o
consentimento do reclamado, desistir da ação. (Incluído pela Lei nº 13.467, de 2017)

Assim, o entendimento que prevalece é que o prazo em quádruplo se refere à designação da


audiência de conciliação, na qual será oportunizada a apresentação da defesa, quando o advogado público
não preferir juntar eletronicamente a contestação escrita, como já explicado acima.

4 REVELIA
A revelia, em linhas gerais é espécie da chamada contumácia (inércia, por qualquer das partes,
capaz de gerar ônus processuais ao omisso), se dá quando o réu, citado, não contesta a ação, produzindo
efeitos materiais e processuais.
No processo do trabalho, a revelia é tratada no art. 844, da CLT, in verbis:

Art. 844 - O não-comparecimento do reclamante à audiência importa o arquivamento da reclamação, e


o não-comparecimento do reclamado importa revelia, além de confissão quanto à matéria de fato.
§ 1o Ocorrendo motivo relevante, poderá o juiz suspender o julgamento, designando nova
audiência. (Redação dada pela Lei nº 13.467, de 2017)
§ 2o Na hipótese de ausência do reclamante, este será condenado ao pagamento das custas calculadas
na forma do art. 789 desta Consolidação, ainda que beneficiário da justiça gratuita, salvo se comprovar,
no prazo de quinze dias, que a ausência ocorreu por motivo legalmente justificável. (Incluído pela Lei
nº 13.467, de 2017)
§ 3o O pagamento das custas a que se refere o § 2 o é condição para a propositura de nova
demanda. (Incluído pela Lei nº 13.467, de 2017)
§ 4o A revelia não produz o efeito mencionado no caput deste artigo se: (Incluído pela Lei nº 13.467,
de 2017)
I - havendo pluralidade de reclamados, algum deles contestar a ação; (Incluído pela Lei nº 13.467, de
2017)
II - o litígio versar sobre direitos indisponíveis; (Incluído pela Lei nº 13.467, de 2017)
III - a petição inicial não estiver acompanhada de instrumento que a lei considere indispensável à prova
do ato; (Incluído pela Lei nº 13.467, de 2017)
IV - as alegações de fato formuladas pelo reclamante forem inverossímeis ou estiverem em contradição
com prova constante dos autos. (Incluído pela Lei nº 13.467, de 2017)
§ 5o Ainda que ausente o reclamado, presente o advogado na audiência, serão aceitos a contestação
e os documentos eventualmente apresentados. (Incluído pela Lei nº 13.467, de 2017)

Perceba-se que a CLT trata apenas do efeito material da revelia, o que autoriza a aplicação
subsidiária do CPC/2015 quanto aos efeitos processuais:

Art. 346. Os prazos contra o revel que não tenha patrono nos autos fluirão da data de publicação do
ato decisório no órgão oficial.

333
Parágrafo único. O revel poderá intervir no processo em qualquer fase, recebendo-o no estado em que
se encontrar.

A reforma trabalhista, ao inserir o §5º ao art. 844, encerrou a discussão que havia sobre a
admissibilidade ou não da contestação e respectivos documentos quando o reclamado não comparecia à
audiência de conciliação, sendo perfeitamente admissível como aptos a influenciar o convencimento do
magistrado.
Quanto à aplicabilidade dos efeitos da revelia ao Poder Público, o TST, por meio da Seção de
Dissídios Individuais, editou a Orientação Jurisprudencial nº 152, que assim dispõe:

Revelia. Pessoa jurídica de direito público. Aplicável (Art. 844 da CLT). Pessoa jurídica de direito público
sujeita-se à revelia prevista no art. 844 da CLT .

Portanto, ausente o representante do Poder Público à audiência de conciliação, apesar de citado,


será declarado revel, não obstante ser considerada a contestação e documentação oferecidas até a data da
referida audiência, influenciando, assim, o convencimento do magistrado trabalhista.

5 PRELIMINARES
As matérias processuais são normalmente alegadas em preliminares, por serem prejudiciais ao
exame do mérito. Consideradas como matérias de ordem pública, podem ser reconhecidas, de ofício,
pelo juiz.
Neste ponto, ante o silêncio da CLT, aplicam-se as disposições constantes do art. 337 do
CPC/2015:
Art. 337. Incumbe ao réu, antes de discutir o mérito, alegar:
I - inexistência ou nulidade da citação;
II - incompetência absoluta e relativa;
III - incorreção do valor da causa;
IV - inépcia da petição inicial;
V - perempção;
VI - litispendência;
VII - coisa julgada;
VIII - conexão;
IX - incapacidade da parte, defeito de representação ou falta de autorização;
X - convenção de arbitragem;
XI - ausência de legitimidade ou de interesse processual;
XII - falta de caução ou de outra prestação que a lei exige como preliminar;
XIII - indevida concessão do benefício de gratuidade de justiça.
§ 1º Verifica-se a litispendência ou a coisa julgada quando se reproduz ação anteriormente ajuizada.
§ 2º Uma ação é idêntica a outra quando possui as mesmas partes, a mesma causa de pedir e o mesmo
pedido.
§ 3º Há litispendência quando se repete ação que está em curso.
§ 4º Há coisa julgada quando se repete ação que já foi decidida por decisão transitada em julgado.
§ 5º Excetuadas a convenção de arbitragem e a incompetência relativa, o juiz conhecerá de ofício das
matérias enumeradas neste artigo.
§ 6º A ausência de alegação da existência de convenção de arbitragem, na forma prevista neste Capítulo,
implica aceitação da jurisdição estatal e renúncia ao juízo arbitral.

As preliminares acima são plenamente reguladas pelo próprio CPC/2015, sem que a CLT possua
regramento específico, salvo quanto aos critérios para apresentação de exceção de incompetência

334
territorial, previstos nos artigos 799 e 800. Apesar de prever a alegação da incompetência relativa por
meio da peça autônoma da exceção, nas palavras de Simone Soares Bernardes (2019, p. 175): No processo
do trabalho, já era praxe o recebimento da exceção de incompetência na mesma peça da contestação, com base no princípio
da simplicidade vigente nesse ramo da Justiça.
Percebe-se, assim, que a Justiça do Trabalho elevou o Princípio da Instrumentalidade das Formas,
presente no processo civil, para um outro patamar, criando o Princípio da Simplicidade, o qual
fundamenta a aceitação da alegação de incompetência relativa ainda quando apresentada na própria
contestação, não obstante a previsão expressa da peça autônoma da exceção para tal fim.
Outra preliminar que merece algumas considerações é a da convenção de arbitragem, instituto
plenamente aceito no direito coletivo do trabalho. Todavia, no âmbito do direito individual do trabalho,
historicamente, não era aceita tal convenção, ante a presumida hipossuficiência do trabalhador.
No entanto, com a reforma trabalhista, operada pela Lei nº 13.467/17, que introduziu o art. 507-
A à CLT, criou-se a figura do trabalhador “hiperssuficiente”, ao admitir a celebração de convenção de
arbitragem entre empregador e trabalhador, desde que a remuneração deste seja superior a duas vezes o
limite máximo estabelecido para os benefícios do Regime Geral de Previdência Social – RGPS.
Por outro lado, quando o empregador é o Poder Público, não obstante ser possível à
Administração Pública celebrar arbitragem, nos termos das alterações empreendidas pela Lei nº
13.129/2015 na Lei nº 9.307/96, é certo que, em princípio, tal se dá apenas entre pessoas jurídicas, sendo
difícil imaginar sua aplicabilidade às relações trabalhistas, por atentar contra os Princípios da Legalidade
e da Impessoalidade, uma vez que o ajuste entre Poder Público e empregado público, no sentido de
elegerem árbitro para a resolução de eventuais conflitos trabalhistas, só seria possível se houvesse lei
específica a respeito.

6 MÉRITO
A defesa de mérito é a irresignação aos pedidos aduzidos na inicial, que, no caso, é a reclamação
trabalhista. É neste momento em que o reclamado exporá todo e qualquer fato impeditivo, modificativo
ou extintivo do direito do autor.
Mais uma vez, ante a ausência de regramento específico do assunto pela CLT, o CPC/2015 rege
a matéria, o qual estipula, em seu art. 341, a regra da impugnação especificada. Ou seja, o reclamado
deverá contra-argumentar todas as teses expostas na reclamação, sob pena de serem consideradas
verdadeiras aquelas que não foram vergastadas pela contestação.
É importante destacar que aquele ônus processual não é absoluto, uma vez que o mencionado
dispositivo legal autoriza o juiz a apreciar livremente todas as teses da inicial, sem se prender àquela
presunção de veracidade, se:

I - não for admissível, a seu respeito, a confissão;


II - a petição inicial não estiver acompanhada de instrumento que a lei considerar da substância do ato;

335
III - estiverem em contradição com a defesa, considerada em seu conjunto.

Noutra senda, o parágrafo único do art. 341 do CPC/2015 exime o defensor público, o advogado
dativo e o curador especial do dever de impugnar todas as argumentações da inicial.
Como se pode perceber, o legislador processual não incluiu, entre os dispensados do dever de
rebater todas as teses da inicial, o Poder Público, devendo o Advogado Público refutar todas as alegações
da reclamação trabalhista, sob pena de serem presumidas verdadeiras as que não forem atacadas na
contestação.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como se pode notar, a contestação do Poder Público na Justiça do Trabalho possui poucas
peculiaridades, pois é regulada, quase em sua totalidade, pelo próprio CPC/2015, ressalvando-se apenas
o prazo, que, se considerado como aquele existente até o dia da audiência de conciliação, será contado
em quádruplo.
Nas demais questões, o Poder Público se submete aos mesmos deveres e ônus processuais
incidentes sobre os empregadores privados. Assim, o advogado público não foi nem mesmo beneficiado
pela isenção do dever de impugnar especificadamente as teses da reclamação trabalhista, podendo a
Administração Pública eventualmente ser prejudicada pela presunção de veracidade de alguma tese não
afrontada na contestação.
Portanto, a contestação do Poder Público na Justiça do Trabalho é a principal peça de todo o
processo do trabalho, sob a ótica do polo passivo, pois dela decorrerá todas as demais teses
oportunamente levantadas.

6 REFERÊNCIAS
BERNARDES, Simone Soares. Processo do Trabalho. Coleção Resumos para Concursos. 3ª ed. Ver.
Atualiz. Ampl. Bahia: Editora Juspodivm, 2019.
https://www.trt7.jus.br/escolajudicial/arquivos/files/busca/2017/II_JORNADA_-_slides.pdf
https://www.conjur.com.br/2019-fev-15/ana-lopes-penas-revelia-confissaono-processo-trabalhista

336
RECURSO ORDINÁRIO DO PODER PÚBLICO NA JUSTIÇA DO TRABALHO

RECURSO ORDINÁRIO DO PODER


PÚBLICO NA JUSTIÇA DO TRABALHO

ALMANAQUE DA ADVOCACIA PÚBLICA por Eloísa Lopes


Claudino

Em quarentena em João Pessoa/PB, 30 de março de 2020

337
1 INTRODUÇÃO
Além de servidores públicos regidos pelo estatuto do órgão que exercerão cargo público, o Estado
pode contratar empregados públicos, que serão disciplinados pela CLT. A justiça do trabalho será
competente para julgar as lides envolvendo empregados e a Fazenda Pública, segundo o artigo 114, I da
Constituição Federal.
Sendo assim, diante de uma reclamação trabalhista, plenamente cabível se faz a interposição de
Recurso Ordinário por meio do poder Público.

2 CONCEITO E CABIMENTO
O Recurso Ordinário é usado para reformar a decisão, no caso de error in judicando ou anular a
mesma, quando há error in procedendo, caso em que retornará para o juízo a quo.
Recurso Ordinário é usado contra sentença terminativa ou definitiva proferida pela Vara do
Trabalho ou juiz investido a função ou de sentença definitiva prolatada pelo TRT quando for competente
originariamente. Quando a decisão for da vara do trabalho ou do juiz, quem decidirá o recurso será o
TRT. Quando a decisão for do TRT na sua competência originária, como no caso de ação rescisória e
mandado de segurança, o recurso será julgado pela SDI-II do TST (súmulas 158 e 201 do TST). Quando
da decisão em dissídio coletivo, será julgado pela SDC.
Sendo assim, será prejudicado o RO se interposto contra sentença que indefere a petição inicial,
extingue o processo sem resolução de mérito, como quando por falta de pressuposto processual.
A OJ 5 do tribunal pleno do TST estabelece que: “não cabe recurso ordinário contra decisão em
agravo regimental interposto em reclamação correcional ou em pedido de providência”.
Pode ocorrer que, no caso de cumulação de pedidos, algum já esteja em condições de ser julgado,
sendo aplicado o artigo 356 do CPC na legislação trabalhista. Esses casos ocorrem quando um pedido
for incontroverso ou estiver em condições de julgamento, podendo inclusive a sentença ser executada
em relação aquele pedido.
Essa decisão que julga parcialmente o mérito tem natureza de sentença, sendo desafiada por RO.
O Recurso Ordinário será cabível em decisões interlocutórias, desde que tenham natureza
terminativa, como quando o juiz declara incompetência absoluta da justiça do trabalho e remete os autos
a justiça comum, ou quando remete a vara de trabalho competente a julgar aquela lide, ou ao TRT, no
caso de interposição da reclamação em vara diversa daquela da prestação de serviços.

Não cabe a interposição de RO, ou de qualquer recurso, nos dissídios de alçada, ou seja, aqueles
que não ultrapassam 2 salários mínimos.

338
3 JUÍZO DE RETRATAÇÃO
É cabível o juízo de retratação pelo órgão que proferiu a sentença em 5 dias, mesmo se a decisão
indeferir a petição inicial ou julgar liminarmente improcedente o pedido.

• Havendo retratação → seguimento do processo com a citação do réu


• Não havendo retratação → citação do réu para apresentar contrarrazões em 8 dias.

Não interposto o recurso, o processo será transitado em julgado, sendo o réu intimado do
trânsito.

4 EFEITOS
O RO será recebido no efeito devolutivo, podendo ser requerido o suspensivo ao tribunal relator
ou vice presidente do tribunal recorrido.

5 PROCEDIMENTO NO RITO ORDINÁRIO


1. Análise dos pressupostos recursais pelo magistrado, que será feito pelo juízo a quo, não se
aplicando as disposições do CPC que afirmam não ser cabível esse juízo.
2. Se conhecido, abrirá praz ode 8 dias para as contrarrazões.
3. Poderá haver reconsideração, mas não da decisão em si, e sim da decisão dos pressupostos
recursais pelo juízo a quo. No rito sumaríssimo, ele será distribuído imediatamente em 10 dias, sem essa
revisão.
4. Remete os autos para o tribunal, se mantido o recurso.
5. Sorteio do relator que ficará prevento. Ele irá fazer juízo de admissibilidade, julgar
monocraticamente nos casos que couber ou conceder prazo de 5 dias para o recorrente sanar o vício.
6. O relator elabora voto e encaminha os autos a secretaria, que irá encaminhar ao
presidente, e este designará a sessão de julgamento.
7. Relator expõe em 15 minutos a causa.
8. O recorrente, recorrido, Ministério Público (quando couber intervir), falarão em 15
minutos e nessa ordem.
9. Em não se sentindo apto, o relator ou juiz podem solicitar vista por até 10 dias, e o recurso
será incluído em pauta para julgamento na próxima sessão.
10. Se ainda assim não se sentir apto a votar, será substituído.

6 PRIVILÉGIOS DA FAZENDA PÚBLICA NO RECURSO ORDINÁRIO


O prazo para interposição do recurso ordinário, no caso de lides que envolvam particulares, será
de 8 dias, segundo o artigo 895 da CLT. Ocorre que a Fazenda Pública, o Ministério Público do
Trabalho e a Defensoria Pública tem o prazo em dobro, ou seja, 16 dias, inclusive para as contrarrazões.

339
Esse prazo não será em dobro em virtude do CPC/2015, não se aplicando o artigo 183 do código,
e sim pelo fato de a matéria estar disciplinada pelo artigo 1°, inciso III do Decreto-Lei 779/69, ou seja,
pela existência de norma legal própria e mais restrita no direito processual do trabalho.
Além do prazo em dobro, a fazenda pública também está dispensada do recolhimento de custas,
segundo o artigo 790-A da CLT. Porém, deve arcar com o ressarcimento das despesas processuais
antecipadas pela parte contrária, quando ocorre a inversão do ônus de sucumbência no caso de a Fazenda
Pública ser derrotada. Fica dispensado também o poder público do depósito recursal correspondente ao
valor da condenação até os limites estabelecidos para cada recurso, constantes na tabela do TST, segundo
o artigo 1°, inciso IV do Decreto-Lei 779/69.
De acordo com o tema, vale a análise do julgado a seguir a ele correlato:

Agravo de instrumento. Recurso ordinário. Deserção. Conselho de fiscalização profissional. Privilégios


da Fazenda Pública. Os conselhos de fiscalização profissional são autarquias em regime especial, sendo-
lhes aplicáveis os privilégios da Fazenda Pública, previstos no Decreto Lei no 779/69. Assim, estão
dispensados do recolhimento de custas processuais e de depósito recursal Sob esse entendimento, a
SBDI~II, por unanimidade, conheceu do agravo de instrumento e, no mérito, deu-lhe provimento para,
afastada a deserção do apelo, submeter o recurso ordinário do autor a julgamento do colegiado na
primeira sessão subsequente à publicação da certidão de provimento do agravo. TST-AIR0-11086-
96.2012.5.01.0000, SBDI- -ll, rel. Min. Emmanoel Pereira, 23.6.2015 (Informativo. n 111).

7 REFERÊNCIAS

NEIVA, Rogério. Direito e processo do trabalho aplicados à administração pública/Rogério Neiva – Rio
de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2012.

SARAIVA, Renato. Processo do Trabalho/Renato Saraiva, Aryanna Linhares – 14. Ed. rev., atual e ampl.
– Salvador: JusPODIVM, 2018. 624 p.

340
RECURSO DE REVISTA DO PODER PÚBLICO NA JUSTIÇA DO TRABALHO

RECURSO DE REVISTA DO PODER


PÚBLICO NA JUSTIÇA DO TRABALHO

ALMANAQUE DA ADVOCACIA PÚBLICA por Gabriell Portilho


Ribeiro

Em quarentena em São Luís/MA, 31 de março de 2020

341
1 NATUREZA DO RECURSO DE REVISTA

Trata-se de recurso de natureza extraordinária. O que isso significa? Significa que é uma
espécie recursal caracterizada por uma cognição mais limitada, na medida em que enseja a apreciação
apenas de matéria de direito, não comportando a análise de matéria fática e probatória.
Nas palavras de Carlos Henrique Bezerra Leite38:
(i) A sua utilização “não se presta à observância do duplo grau, nem é utilizado, em princípio, para corrigir
justiça ou injustiça da interpretação da matéria fático-probatória” contida no acórdão recorrido.
(ii) Ele se destina, portanto, “à proteção do direito objetivo e não do subjetivo; à regularidade da aplicação da
norma jurídica, em primeiro lugar, e só em segundo plano o direito das partes; à uniformização da jurisprudência e não à
justiça do caso concreto”.

2 COMPETÊNCIA PARA JULGAMENTO

• Regra: O julgamento compete às Turmas do Tribunal Superior do Trabalho.


• Exceção: Julgamento monocrático pelo Relator (art. 251 do RITST e art. 896, § 14, da
CLT).

(i) Art. 251, do RITST:

Distribuído o recurso ou provido o respectivo agravo de instrumento, o relator poderá:


I - não conhecer do recurso de revista inadmissível, prejudicado ou daquele que não tiver impugnado
especificamente todos os fundamentos da decisão recorrida, inclusive nas hipóteses do art. 896, §§ 1º-
A e 14, da CLT;
II - negar provimento ao recurso de revista que for contrário a tese fixada em julgamento de recurso
repetitivo ou de repercussão geral, a entendimento firmado em incidente de assunção de competência
ou de resolução de demandas repetitivas, a súmula vinculante do Supremo Tribunal Federal, a súmula
ou orientação jurisprudencial do Tribunal Superior do Trabalho ou, ainda, a jurisprudência dominante
sobre o tema;
III - dar provimento ao recurso de revista se o acórdão recorrido for contrário a tese fixada em
julgamento de recursos repetitivos ou de repercussão geral, a entendimento firmado em incidente de
assunção de competência ou de resolução de demandas repetitivas, a súmula vinculante do Supremo
Tribunal Federal, a súmula ou orientação jurisprudencial do Tribunal Superior do Trabalho ou, ainda, a
jurisprudência dominante sobre o tema.”

(ii) Art. 896, § 14, da CLT:

O relator do recurso de revista poderá denegar-lhe seguimento, em decisão monocrática, nas hipóteses
de intempestividade, deserção, irregularidade de representação ou de ausência de qualquer outro
pressuposto extrínseco ou intrínseco de admissibilidade.

38 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho (e-book). São Paulo: Saraiva, 2019. p. 1011.

342
3 CABIMENTO
Para fins de cabimento do Recurso de Revista, deve ser observado o tipo de procedimento ou
fase processual em que se encontra o feito. A depender disso, teremos hipóteses mais restritas ou mais
amplas de cabimento para o Recurso de Revista.
Na fase de execução, por exemplo, só cabe Recurso de Revista se houver afronta direta à
Constituição, ao passo que na fase de conhecimento as possibilidades são mais variadas.
Vejamos, então, as hipóteses de cabimento do Recurso de Revista:

REGRA GERAL: ART. 896, CAPUT, DA CLT

O Recurso de Revista será cabível das decisões proferidas em grau de recurso ordinário, em dissídio
individual, pelos Tribunais Regionais do Trabalho, quando:

(i) derem ao mesmo dispositivo de lei federal interpretação diversa da que lhe houver dado outro Tribunal
Regional do Trabalho, no seu Pleno ou Turma, ou a Seção de Dissídios Individuais do Tribunal Superior
do Trabalho;

• Esse é o famoso caso de dissídio jurisprudencial (divergência de entendimentos entre


tribunais).
• O primeiro cuidado a ser tomado aqui diz respeito à Súmula n. 23 do TST, que diz:
Súmula n. 23 do TST.
RECURSO.
Não se conhece de recurso de revista ou de embargos, se a decisão recorrida resolver
determinado item do pedido por diversos fundamentos e a jurisprudência transcrita não
abranger a todos.

O que isso quer dizer? Significa que o acórdão indicado como paradigma para a interposição do
Recurso de Revista deve conter todos os fundamentos divergentes acerca do deferimento ou
indeferimento de determinado item do pedido. Por exemplo, se o acórdão recorrido deferiu a
reintegração de uma empregada por triplo fundamento (membro de CIPA, acidentada e grávida) e o
acórdão indicado como paradigma não rebater cada um dos três fundamentos, não será conhecido o
Recurso de Revista, por não ter atendido o requisito exigido pela súmula acima.

• Outra súmula importante é a de n. 296 do TST:

Súmula n. 296 do TST


RECURSO. DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL. ESPECIFICIDADE.
I - A divergência jurisprudencial ensejadora da admissibilidade, do prosseguimento e do
conhecimento do recurso há de ser específica, revelando a existência de teses diversas na
interpretação de um mesmo dispositivo legal, embora idênticos os fatos que as ensejaram.
II - Não ofende o art. 896 da CLT decisão de Turma que, examinando premissas concretas de
especificidade da divergência colacionada no apelo revisional, conclui pelo conhecimento ou
desconhecimento do recurso.

• Por fim, a comprovação da divergência é explicada pela Súmula n. 337 do TST:

343
Súmula n. 337 do TST
COMPROVAÇÃO DE DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL. RECURSOS DE REVISTA E DE
EMBARGOS.
I - Para comprovação da divergência justificadora do recurso, é necessário que o recorrente:
a) Junte certidão ou cópia autenticada do acórdão paradigma ou cite a fonte oficial ou o
repositório autorizado em que foi publicado; e
b) Transcreva, nas razões recursais, as ementas e/ou trechos dos acórdãos trazidos à
configuração do dissídio, demonstrando o conflito de teses que justifique o conhecimento do
recurso, ainda que os acórdãos já se encontrem nos autos ou venham a ser juntados com o
recurso.
II - A concessão de registro de publicação como repositório autorizado de jurisprudência do
TST torna válidas todas as suas edições anteriores.
III – A mera indicação da data de publicação, em fonte oficial, de aresto paradigma é inválida
para comprovação de divergência jurisprudencial, nos termos do item I, “a”, desta súmula,
quando a parte pretende demonstrar o conflito de teses mediante a transcrição de trechos que
integram a fundamentação do acórdão divergente, uma vez que só se publicam o dispositivo e
a ementa dos acórdãos;
IV - É válida para a comprovação da divergência jurisprudencial justificadora do recurso a
indicação de aresto extraído de repositório oficial na internet, desde que o recorrente:
a) transcreva o trecho divergente;
b) aponte o sítio de onde foi extraído; e
c) decline o número do processo, o órgão prolator do acórdão e a data da respectiva publicação
no Diário Eletrônico da Justiça do Trabalho.
V – A existência do código de autenticidade na cópia, em formato pdf, do inteiro teor do aresto
paradigma, juntada aos autos, torna-a equivalente ao documento original e também supre a
ausência de indicação da fonte oficial de publicação.

(ii) contrariarem súmula de jurisprudência uniforme do Tribunal Superior do Trabalho ou súmula


vinculante do Supremo Tribunal Federal;

• Para além da literalidade dessa hipótese legal, o Tribunal Superior do Trabalho também
admite o Recurso de Revista por contrariedade à Orientação Jurisprudencial (OJ). É o que nos
informa a OJ n. 219 da SBDI-1:

OJ n. 219 da SBDI-1.
RECURSO DE REVISTA OU DE EMBARGOS FUNDAMENTADO EM ORIENTAÇÃO
JURISPRUDENCIAL DO TST.
É válida, para efeito de conhecimento do recurso de revista ou de embargos, a invocação de
Orientação Jurisprudencial do Tribunal Superior do Trabalho, desde que, das razões recursais,
conste o seu número ou conteúdo.

(iii) derem ao mesmo dispositivo de lei estadual, Convenção Coletiva de Trabalho, Acordo Coletivo,
sentença normativa ou regulamento empresarial de observância obrigatória em área territorial que exceda
a jurisdição do Tribunal Regional prolator da decisão recorrida, interpretação divergente;

(iv) proferidas com violação literal de disposição de lei federal ou afronta direta e literal à Constituição
Federal.

• A expressão “lei federal” contempla não apenas a lei federal em sentido estrito, isto é,
aquela editada pelo Congresso Nacional (lei complementar, lei ordinária, decreto legislativo e
resoluções do Congresso Nacional), como também os atos normativos com força de lei, como o
antigo Decreto-Lei e a Medida Provisória.

344
• Sobre a natureza da lei federal, “ela pode ser de conteúdo material ou processual, podendo ser atinente
a direito trabalhista, civil, comercial, tributário, penal ou administrativo, desde que observados os limites de
competência da Justiça do Trabalho”.
• Algumas súmulas e orientações jurisprudenciais importantes a respeito dessa hipótese:
Súmula n. 221 do TST.
RECURSO DE REVISTA. VIOLAÇÃO DE LEI. INDICAÇÃO DE PRECEITO.
A admissibilidade do recurso de revista por violação tem como pressuposto a indicação
expressa do dispositivo de lei ou da Constituição tido como violado.

OJ n. 257 da SBDI-1.
RECURSO DE REVISTA. FUNDAMENTAÇÃO. VIOLAÇÃO DE LEI. VOCÁBULO
VIOLAÇÃO. DESNECESSIDADE.
A invocação expressa no recurso de revista dos preceitos legais ou constitucionais tidos como
violados não significa exigir da parte a utilização das expressões "contrariar", "ferir", "violar",
etc.

Súmula n. 459 do TST.


NULIDADE POR NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL.
O conhecimento do recurso de revista, quanto à preliminar de nulidade, por negativa de
prestação jurisdicional, supõe indicação de violação do art. 832 da CLT, do art. 489 do CPC de
2015 (art. 458 do CPC de 1973) ou do art. 93, IX, da CF/1988.

OJ n. 335 da SBDI-1.
CONTRATO NULO. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. EFEITOS. CONHECIMENTO DO
RECURSO POR VIOLAÇÃO DO ART. 37, II E § 2º, DA CF/88.
A nulidade da contratação sem concurso público, após a CF/88, bem como a limitação de seus
efeitos, somente poderá ser declarada por ofensa ao art. 37, II, se invocado concomitantemente
o seu § 2º, todos da CF/88.

• Violação de disposição de lei federal x reavaliação do quantum fixado para danos morais

Importante destacar entendimento do TST a respeito da desnecessidade de satisfação do


pressuposto da violação de literal disposição de lei nas hipóteses de fixação do valor dos danos morais,
individuais ou coletivos. Isto porque em tais casos não está em jogo a aplicação do princípio da legalidade
e, sim, os princípios da proporcionalidade e razoabilidade. Nesses casos, “o TST mitiga o pressuposto recursal
específico contido na alínea c do art. 896 da CLT para promover, dentro de certos parâmetros, a decisão mais justa para o
caso concreto”39. Exemplo:

INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. DANO MORAL COLETIVO. VALOR DA


INDENIZAÇÃO.
O exame do conhecimento do Recurso de Revista em que se discute o quantum devido a título
de indenização por dano moral não está restrito aos pressupostos inscritos no art. 896 da CLT,
visto que a fixação dessa indenização envolve a observância aos critérios da proporcionalidade
e da razoabilidade; e a aferição da observância aos aludidos critérios não remete,
necessariamente, ao campo da prova. Dessarte, pode a Turma desta Corte, com base no quadro
fático descrito pelo Tribunal Regional, concluir que, no tocante à indenização fixada, foram atendidos
os ditos critérios. Na hipótese dos autos, é possível verificar que o Tribunal Regional, ao fixar a
indenização por dano moral coletivo no valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais), observou os critérios
da proporcionalidade e da razoabilidade. Recurso de Revista de que não se conhece
(TST-RR 1488-05.2012.5.08.0007, Rel. Min. João Batista Brito Pereira, j. 23-10-2013, 5ª T., DEJT 14-
11-2013).

39LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho (e-book). São Paulo: Saraiva, 2019. p. 1038-
1039.

345
OBSERVAÇÃO

Uma última questão: ainda falando sobre essa regra do art. 896, caput, da CLT, é preciso falar um
pouco sobre que tipo de decisões podem ser objeto de Recurso de Revista, pois “decisões” é gênero que
engloba diversos tipos de pronunciamentos judiciais. Observe-se:
• Por “decisões” entende-se acórdão regionais de natureza terminativa ou definitiva;
decisões interlocutórias terminativas do feito (art. 799, § 2º, da CLT); e nas hipóteses da Súmula
n. 214, “a” e “c” do TST, in verbis:

Súmula n. 214 do TST


DECISÃO INTERLOCUTÓRIA. IRRECORRIBILIDADE
Na Justiça do Trabalho, nos termos do art. 893, § 1º, da CLT, as decisões interlocutórias não
ensejam recurso imediato, salvo nas hipóteses de decisão: a) de Tribunal Regional do Trabalho
contrária à Súmula ou Orientação Jurisprudencial do Tribunal Superior do Trabalho; b)
suscetível de impugnação mediante recurso para o mesmo Tribunal; c) que acolhe exceção de
incompetência territorial, com a remessa dos autos para Tribunal Regional distinto daquele a
que se vincula o juízo excepcionado, consoante o disposto no art. 799, § 2º, da CLT.

• É incabível o recurso de revista contra acórdão regional prolatado em agravo de


instrumento (Súmula n. 218, TST).
• E com relação às decisões proferidas pelos TRT’s em grau de remessa ex officio? O TST
firmou entendimento de que, neste caso, só será admitido o recurso de revista se, no Tribunal
Regional, o ente público tiver interposto recurso ordinário voluntário. Nesse sentido é a OJ n.
334 da SBDI-1:

OJ n. 334 da SBDI-1.
REMESSA "EX OFFICIO". RECURSO DE REVISTA. INEXISTÊNCIA DE RECURSO
ORDINÁRIO VOLUNTÁRIO DE ENTE PÚBLICO. INCABÍVEL.
Incabível recurso de revista de ente público que não interpôs recurso ordinário voluntário da
decisão de primeira instância, ressalvada a hipótese de ter sido agravada, na segunda instância,
a condenação imposta.

1. PRIMEIRA EXCEÇÃO: § 2º DO ART. 896, CLT

O Recurso de Revista será cabível das decisões proferidas pelos Tribunais Regionais do Trabalho
ou por suas Turmas, em execução de sentença, inclusive em processo incidente de embargos de
terceiro:

(i) APENAS na hipótese de ofensa direta e literal de norma da Constituição Federal.

• Se o processo está na fase de execução (ou, melhor dizendo, na fase de cumprimento), o


Recurso de Revista só poderá ser utilizado com fundamento em ofensa direta e literal de norma
da Constituição. Desse modo, tal recurso poderia ser interposto, por exemplo, contra acórdão
proferido por Tribunal Regional em sede de Agravo de Petição.
• Nesse sentido é a Súmula n. 266 do TST:

346
Súmula n. 266 do TST
RECURSO DE REVISTA. ADMISSIBILIDADE. EXECUÇÃO DE SENTENÇA.
A admissibilidade do recurso de revista interposto de acórdão proferido em agravo de petição,
na liquidação de sentença ou em processo incidente na execução, inclusive os embargos de
terceiro, depende de demonstração inequívoca de violência direta à Constituição Federal.

• Ressalte-se que, a exemplo do recurso extraordinário para o STF, a VIOLAÇÃO DEVE


SER DIRETA, sendo que a mera violação indireta ou reflexa não autoriza o conhecimento do
recurso.

2. SEGUNDA EXCEÇÃO: § 9º DO ART. 896, CLT

O Recurso de Revista será cabível, se a causa for sujeita ao procedimento sumaríssimo:

(i) por contrariedade a súmula de jurisprudência uniforme do Tribunal Superior do Trabalho ou a súmula
vinculante do Supremo Tribunal Federal;

• Não cabe, nesse caso, Recurso de Revista, por afronta à OJ, nos termos da Súmula n. 422 do
TST:

Súmula nº 442 do TST


PROCEDIMENTO SUMARÍSSIMO. RECURSO DE REVISTA FUNDAMENTADO EM
CONTRARIEDADE A ORIENTAÇÃO JURISPRUDENCIAL. INADMISSIBILIDADE.
Nas causas sujeitas ao procedimento sumaríssimo, a admissibilidade de recurso de revista está
limitada à demonstração de violação direta a dispositivo da Constituição Federal ou
contrariedade a Súmula do Tribunal Superior do Trabalho, não se admitindo o recurso por
contrariedade a Orientação Jurisprudencial deste Tribunal (Livro II, Título II, Capítulo III, do
RITST), ante a ausência de previsão no art. 896, § 6º, da CLT .

(ii) por violação direta da Constituição Federal.

3. TERCEIRA EXCEÇÃO: § 10 DO ART. 896, CLT

O Recurso de Revista será cabível, nas execuções fiscais e nas controvérsias da fase de execução
que envolvam a Certidão Negativa de Débitos Trabalhistas (CNDT):

(i) por violação à lei federal;

(ii) por divergência jurisprudencial;

(iii) por ofensa à Constituição Federal.

4 PRESSUPOSTOS RECURSAIS ESPECÍFICOS


4.1 Prequestionamento

CONCEITO

347
O prequestionamento é requisito diretamente atrelado aos recursos de natureza extraordinária,
como é o caso, além do Recurso de Revista, dos Recursos Especial e Extraordinário.
Esse pressuposto, segundo alguns autores, é extraído da locução “causa decidida”, presente no
inciso III do art. 102 e no inciso III do art. 105, ambos da Constituição, na parte em que esta trata das
hipóteses de cabimento do Recurso Extraordinário e do Recurso Especial, respectivamente.

Assim sendo, nas palavras de Fredie Didier Jr. e Leonardo Carneiro da Cunha 40 ,
prequestionamento significa “o enfrentamento, pelo tribunal recorrido no acórdão impugnado, da
questão de direito que é objeto do recurso excepcional”. Portanto, decorre desse requisito a
necessidade de o Tribunal recorrido ter se manifestado acerca da questão jurídica que o recorrente
consigna no seu recurso.
No campo do processo do trabalho, o conceito de prequestionamento está descrito no item
I da Súmula n. 297 do TST, in verbis:

I. Diz-se prequestionada a matéria ou questão quando na decisão impugnada haja sido adotada,
explicitamente, tese a respeito.

COMO DEMONSTRAR O PREQUESTIONAMENTO

A regra-base de como demonstrar o prequestionamento está no art. 896, § 1º-A, I, da CLT, in


verbis:
§ 1º-A. Sob pena de não conhecimento, é ônus da parte:
I - indicar o trecho da decisão recorrida que consubstancia o prequestionamento da controvérsia objeto
do recurso de revista;

MAS, CUIDADO: a simples reprodução da parte dispositiva do acórdão proferido ou a mera


transcrição da ementa não são suficientes para cumprir o requisito e a disposição legal supramencionada.
O TST entende que:

I. Nos termos do art. 896, § 1º-A, I, da CLT, é necessária a indicação do "trecho da decisão recorrida
que consubstancia o prequestionamento da controvérsia objeto do recurso de revista". A norma em
questão trata de "prequestionamento da controvérsia objeto do recurso de revista", referindo-se, por
isso mesmo, a todas as hipóteses de admissibilidade previstas nas alíneas a, b, c e §§ 2º e 9º do art. 896
da CLT. O ônus da parte é indicar o trecho da decisão recorrida que caracteriza o prequestionamento
da matéria objeto do recurso de revista, "sob pena de não conhecimento". Uma vez que o objetivo do
art. 896, § 1º-A, I, da CLT é a demonstração do prequestionamento, o atendimento a essa
exigência se faz com a indicação do trecho da decisão recorrida que contém a tese que a parte
pretende debater, de forma clara e objetiva. A transcrição integral sem o destaque dos trechos,
o pinçamento de trechos fora do contexto ou a indicação apenas das conclusões, sem a
delimitação fática feita pelo Tribunal Regional, não atende ao art. 896, § 1º-A, I, da CLT.

40 DIDIER JR., Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de direito processual civil: o processo civil nos tribunais,
recursos, ações de competência originária de tribunal e querela nullitatis, incidentes de competência originária de
tribunal. Salvador: Editora Juspodivm, 2016. p. 310.

348
(TST-RR-1987-86.2014.5.05.0561. Data de julgamento: 27/09/2017. DATA DA PUBLICAÇÃO:
DEJT 29/09/2017)

A transcrição integral do tópico do acórdão, sem destaque algum do trecho impugnado, não
atende ao disposto no art. 896, §1°-A, da CLT, uma vez que não há, nesse caso, determinação
precisa da tese regional combatida no apelo, nem o cotejo analítico de teses.
(...)
A transcrição do acórdão, no que diz respeito ao tema recorrido, sem qualquer destaque que
delimite a controvérsia, não atende ao disposto no art. 896, § 1°- A, I, da CLT, uma vez que não
há, nesse caso, determinação precisa da tese regional combatida no apelo, nem o cotejo
analítico de teses. Precedentes. Recurso de revista não conhecido.
(ARR - 794-83.2014.5.09.0671 , Relator Ministro: Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira, Data de
Julgamento: 08/08/2018, 3ª Turma, Data de Publicação: DEJT 17/08/2018)

ALGUMAS PERGUNTAS SOBRE PREQUESTIONAMENTO

(i) É necessário que a decisão reproduza ipsis litteris o dispositivo da lei que o recorrente alega ter sido violado?

Não. O importante é que a tese explícita sobre a matéria questionada faça parte da fundamentação
do julgado. Nesse sentido são as OJs ns. 118 e 256 da SBDI-1:

OJ n. 118 da SBDI-1.
PREQUESTIONAMENTO. TESE EXPLÍCITA. INTELIGÊNCIA DA SÚMULA Nº 297.
Havendo tese explícita sobre a matéria, na decisão recorrida, desnecessário contenha nela
referência expressa do dispositivo legal para ter-se como prequestionado este.

OJ n. 256 da SBDI-1.
PREQUESTIONAMENTO. CONFIGURAÇÃO. TESE EXPLÍCITA. SÚMULA Nº 297
Para fins do requisito do prequestionamento de que trata a Súmula nº 297, há necessidade de
que haja, no acórdão, de maneira clara, elementos que levem à conclusão de que o Regional
adotou uma tese contrária à lei ou à súmula.

(ii) Sabe-se, todavia, que nem sempre o Tribunal Regional se pronuncia adequadamente a respeito de determinada
tese ou matéria cuja alegação será objeto do recurso de revista. O que fazer nesses casos?

Nesses casos, a parte deve opor embargos de declaração com o objetivo de que o Tribunal de
origem supra a omissão, analisando a matéria apontada, fazendo com que ela fique devidamente
prequestionada. Nesse sentido, dispõem as Súmulas n. 297, item III, e n. 184, ambas do TST:

Súmula n. 297 do TST


(...)
II. Incumbe à parte interessada, desde que a matéria haja sido invocada no recurso principal,
opor embargos declaratórios objetivando o pronunciamento sobre o tema, sob pena de
preclusão.

Súmula n. 184 do TST


EMBARGOS DECLARATÓRIOS. OMISSÃO EM RECURSO DE REVISTA. PRECLUSÃO.
Ocorre preclusão se não forem opostos embargos declaratórios para suprir omissão apontada
em recurso de revista ou de embargos.

(iii) E se o acórdão regional, não obstante a oposição de embargos declaratórios, continuar omisso sobre a matéria
de direito invocada nos embargos?

349
Nesses casos, o TST considera a matéria como prequestionada para fins de admissibilidade do
recurso de revista. É o chamado prequestionamento ficto, isto é, presumido. Nesse sentido é o item
III da Súmula n. 297 do TST:

Súmula n. 297 do TST


(...)
III. Considera-se prequestionada a questão jurídica invocada no recurso principal sobre a qual
se omite o Tribunal de pronunciar tese, não obstante opostos embargos de declaração.

O art. 1.025 do atual CPC positivou expressamente essa possibilidade, in verbis:

Art. 1.025. Consideram-se incluídos no acórdão os elementos que o embargante suscitou, para fins de
pré-questionamento, ainda que os embargos de declaração sejam inadmitidos ou rejeitados, caso o
tribunal superior considere existentes erro, omissão, contradição ou obscuridade .

Frise-se que tal disposição é perfeitamente aplicável ao processo do trabalho, por força do art. 9º
da IN n. 39/2016 do TST, que dispõe sobre as normas do CPC de 2015 aplicáveis e inaplicáveis ao
processo do trabalho.
(iv) E as questões de ordem pública, também precisam estar prequestionadas?
Sim. Até mesmo as matérias de ordem pública (aquelas cognoscíveis de ofício pelo julgador)
devem estar prequestionadas. No Recurso de Revista não há lugar para o efeito translativo, na medida
em que o TST somente apreciará as questões ou matérias prequestionadas, ainda que tais questões sejam
de ordem pública.
Assim, por exemplo, se o objeto do recurso de revista é a alegação de incompetência absoluta, tal
questão deve ter sido objeto de análise pelo Tribunal Regional de origem. É o que aponta a OJ n. 62 da
SBDI-1:

OJ n. 62 da SBDI-1
PREQUESTIONAMENTO. PRESSUPOSTO DE ADMISSIBILIDADE EM APELO DE
NATUREZA EXTRAORDINÁRIA. NECESSIDADE, AINDA QUE SE TRATE DE
INCOMPETÊNCIA ABSOLUTA.
É necessário o prequestionamento como pressuposto de admissibilidade em recurso de
natureza extraordinária, ainda que se trate de incompetência absoluta.

(v) E quando a violação à disposição literal de lei surge no próprio acórdão impugnado pelo Recurso de Revista?
É necessário o prequestionamento?

Não. Não se pode exigir o prequestionamento quando a violação à disposição literal de lei surge
no próprio acórdão impugnado pelo Recurso de Revista. Essa situação pode acontecer quando o Tribunal
fundamenta a decisão com base em dispositivo de lei não ventilado no Recurso Ordinário.
É o que dispõe a OJ n. 119 da SBDI-1:

OJ n. 119 da SBDI-1.
PREQUESTIONAMENTO INEXIGÍVEL. VIOLAÇÃO NASCIDA NA PRÓPRIA DECISÃO
RECORRIDA. SÚMULA Nº 297 DO TST. INAPLICÁVEL.

350
É inexigível o prequestionamento quando a violação indicada houver nascido na própria
decisão recorrida. Inaplicável a Súmula n.º 297 do TST.

(vi) E nos casos em que o acórdão regional simplesmente adota como razões de decidir os fundamentos da sentença?
Nesses casos, o recorrente deverá opor embargos de declaração para fins prequestionatórios, pois
decisão regional que simplesmente adota os fundamentos da decisão de primeiro grau não preenche a
exigência do prequestionamento. É o que dispõe a OJ n. 151 da SBDI-1:

OJ n. 151 da SBDI-1.
PREQUESTIONAMENTO. DECISÃO REGIONAL QUE ADOTA A SENTENÇA. AUSÊNCIA
DE PREQUESTIONAMENTO.
Decisão regional que simplesmente adota os fundamentos da decisão de primeiro grau não
preenche a exigência do prequestionamento, tal como previsto na Súmula nº 297 .

PREQUESTIONAMENTO NOS CASOS DE ALEGAÇÃO DE NEGATIVA DE


PRESTAÇÃO JURISDICIONAL

Nos casos de alegação de preliminar de nulidade po negativa de prestação jurisdicional, há uma


regra específica no art. 896, § 1º-A, IV, da CLT, in verbis:

§ 1º-A. Sob pena de não conhecimento, é ônus da parte:


(...)
IV - transcrever na peça recursal, no caso de suscitar preliminar de nulidade de julgado por negativa de
prestação jurisdicional, o trecho dos embargos declaratórios em que foi pedido o pronunciamento do
tribunal sobre questão veiculada no recurso ordinário e o trecho da decisão regional que rejeitou os
embargos quanto ao pedido, para cotejo e verificação, de plano, da ocorrência da omissão.

Além disso, deve-se observar a Súmula n. 459 do TST:

Súmula n. 459 do TST.


NULIDADE POR NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL.
O conhecimento do recurso de revista, quanto à preliminar de nulidade, por negativa de
prestação jurisdicional, supõe indicação de violação do art. 832 da CLT, do art. 489 do
CPC de 2015 (art. 458 do CPC de 1973) ou do art. 93, IX, da CF/1988.

4.2 Transcendência

O requisito da transcendência, apesar de já constar na CLT desde 2001 (com a inserção do art.
896-A), só passou a ser melhor disciplinado a partir da edição da Lei n. 13.467 de 2017, que instituiu a
Reforma Trabalhista. Só a partir deste diploma, foram delineados critérios para aferição da
transcendência.
A ideia desse pressuposto é a de que apenas os recursos mais relevantes sejam apreciados pelo
TST, ou seja, aqueles que tragam matérias que ultrapassem o interesse meramente individual da causa.
Como, então, definir se a causa oferece transcendência ou não? Isso é aferido a partir de quatro
tipos de indicadores (ou quatro tipos de transcendência), nos termos do § 1º do art. 896-A da CLT
(atenção a cada um, pois isso cai em prova):

351
§ 1º São indicadores de transcendência, entre outros:
I - econômica, o elevado valor da causa;
II - política, o desrespeito da instância recorrida à jurisprudência sumulada do Tribunal Superior do
Trabalho ou do Supremo Tribunal Federal;
III - social, a postulação, por reclamante-recorrente, de direito social constitucionalmente assegurado;
IV - jurídica, a existência de questão nova em torno da interpretação da legislação trabalhista.
(Obs. Dispositivos incluídos pela Lei nº 13.467, de 2017)

REGRAS PROCEDIMENTAIS ATINENTES À VERIFICAÇÃO DA TRANSCENDÊNCIA

(i) Segundo o art. 896-A, § 2º, da CLT, poderá o Relator, monocraticamente, denegar seguimento
ao recurso de revista que não demonstrar transcendência
• Tal decisão é recorrível? Sim, a decisão é recorrível mediante Agravo, nos termos do
mesmo dispositivo;
• Mas cuidado, há uma exceção: nos termos do art. 896-A, § 5º, da CLT, “É irrecorrível a
decisão monocrática do relator que, em agravo de instrumento em recurso de revista, considerar ausente a
transcendência da matéria”. Logo, se o Relator considerar ausente a transcendência em sede
de Agravo de Instrumento em Recurso de Revista, não há possibilidade de recurso.

(ii) É possível a realização de sustentação oral sobre a questão da transcendência? Aqui, há dois
dispositivos a respeito, um na CLT e outro no RITST, os quais transcrevemos, pois possuem algumas
diferenças:
• Art. 896-A, § 3º, da CLT: “Em relação ao recurso que o relator considerou não ter transcendência, o
recorrente poderá realizar sustentação oral sobre a questão da transcendência, durante cinco minutos em sessão.”

• Art. 247, § 3º, do RITST: “Caberá agravo apenas das decisões em que não reconhecida a
transcendência pelo relator, sendo facultada a sustentação oral ao recorrente, durante 5 (cinco) minutos em sessão,
e ao recorrido, apenas no caso de divergência entre os componentes da Turma quanto à transcendência da matéria.”

(iii) Se, no recurso contra a decisão do Relator que não reconheceu a transcendência, for mantido
o voto do relator:
• Art. 896-A, § 4º, da CLT: “Mantido o voto do relator quanto à não transcendência do recurso, será
lavrado acórdão com fundamentação sucinta, que constituirá decisão irrecorrível no âmbito do tribunal.”
(iv) Lembre-se, por fim, que os Tribunais Regionais, quando do juízo inicial de admissibilidade
do Recurso de Revista, NÃO ANALISAM A EXISTÊNCIA OU NÃO DE TRANSCENDÊNCIA,
pois esta é apreciada apenas no TST.

ALGUNS JULGADOS EM QUE O TST APRECIOU A TRANSCENDÊNCIA

352
A transcendência, a par de ser um tema bastante sensível, também é novo. Por isso, tal instituto
ainda é demarcado por muitas controvérsias e entendimentos conflitantes dentro do próprio TST. O que
seria, por exemplo, valor elevado da causa para fins de transcendência econômica?
Abaixo, colacionei alguns julgados a respeito da transcendência, destacando sobretudo aqueles
relativos à transcendência econômica (que é o caso que apresenta os maiores debates), aqueles que
tenham alguma relação com à Fazenda Pública e aqueles que trazem alguma explicação sobre o alcance
e o sentido desse pressuposto:

Entendo, portanto, ser presumida a transcendência econômica quando o recurso de revista é


interposto por reclamante e o valor da causa supera o décuplo da remuneração deste
(remuneração do reclamante R$ 7.854,37 - fl. 6). O que não é o caso dos autos.
(TST - AIRR: 18547220175110011, Relator: Augusto César Leite de Carvalho, Data de Julgamento:
05/06/2019, 6ª Turma, Data de Publicação: DEJT 07/06/2019).

(...) o indicador de transcendência econômica deve ser positivo na hipótese de recurso


interposto pelo trabalhador beneficiário da Justiça Gratuita, dada sua presumida
hipossuficiência.
(AIRR-10508-52.2013.5.05.0012, DEJT-05/10/2018).

Entendo, portanto, em aplicação analógica do artigo 97, § 12, II, do ADCT, ser presumida a
transcendência econômica quando o recurso de revista é interposto por município e o valor da
condenação supera o tridécuplo do salário mínimo (limite para RPV de municípios). O que não
é o caso dos autos (R$ 10.000,00 - fl. 106).
(TST - AIRR: 116100420175030052, Relator: Augusto César Leite de Carvalho, Data de Julgamento:
29/05/2019, 6ª Turma, Data de Publicação: DEJT 31/05/2019).

De igual sorte, a transcendência econômica pode ser invocada tanto pelo empregado quanto
pelo empregador, incluindo não apenas o elevado valor dado à causa, mas especialmente o
elevado valor da condenação, além das causas que envolvam interesses difusos, coletivos e
individuais homogêneos, em ações civis públicas, ações civis coletivas, reclamações em
substituição processual ampla da categoria, nas quais se discutem macro lesões ao
ordenamento jurídico trabalhista.
(TST - RR: 253758620165240086, Relator: Ives Gandra Martins Filho, Data de Julgamento:
06/02/2019, 4ª Turma, Data de Publicação: DEJT 15/02/2019).

O rol dos indicadores de transcendência do recurso de revista não é taxativo, uma vez que o §
1º do art. 896-A da CLT usa a expressão "entre outros" para elencá-los. Assim, não será apenas o
desrespeito à jurisprudência sumulada do STF e TST que caracterizará a transcendência política, mas
também aquela oriunda de precedentes firmados em repercussão geral ou em incidente de recursos
repetitivos. Do mesmo modo, a transcendência social não pode ser considerada como via de mão
única para o empregado, pois desde que estejam em discussão os direitos sociais elencados
nos arts. 6º a 11 da CF, independentemente de quem os invoque, patrão ou empregado, a
questão terá relevância social. (...) Diante da possível violação do art. 7º, XXVI, da CF, dá-se
provimento ao agravo de instrumento para determinar o processamento do recurso de revista, quanto
ao tema horas in itinere.
(TST - RR: 2153520165120008, Relator: Ives Gandra Martins Filho, Data de Julgamento: 13/02/2019,
4ª Turma, Data de Publicação: DEJT 15/02/2019).

4.3 Necessidade de impugnar todos os fundamentos do acórdão recorrido

Dois dispositivos da CLT dão o tom do referido pressuposto (e já vi prova cobrando a literalidade
dessas disposições), in verbis:

Art. 896 (omissis)

353
(...)
§ 1º-A. Sob pena de não conhecimento, é ônus da parte:
(...)
II - indicar, de forma explícita e fundamentada, contrariedade a dispositivo de lei, súmula ou orientação
jurisprudencial do Tribunal Superior do Trabalho que conflite com a decisão regional;
III - expor as razões do pedido de reforma, impugnando todos os fundamentos jurídicos da decisão
recorrida, inclusive mediante demonstração analítica de cada dispositivo de lei, da Constituição Federal,
de súmula ou orientação jurisprudencial cuja contrariedade aponte.

Conforme já apontado neste resumo, na hipótese de o acórdão ter mais de fundamento sobre a
mesma matéria, pedido, questão ou capítulo, o conhecimento do Recurso de Revista exige que o
recorrente impugne todos esses fundamentos, ainda que se trate de questão de ordem pública. É o que
explicita a Súmula n. 422 do TST:

Súmula n. 422 do TST.


RECURSO. FUNDAMENTO AUSENTE OU DEFICIENTE. NÃO CONHECIMENTO.
I – Não se conhece de recurso para o Tribunal Superior do Trabalho se as razões do recorrente
não impugnam os fundamentos da decisão recorrida, nos termos em que proferida.
II – O entendimento referido no item anterior não se aplica em relação à motivação secundária
e impertinente, consubstanciada em despacho de admissibilidade de recurso ou em decisão
monocrática.
III – Inaplicável a exigência do item I relativamente ao recurso ordinário da competência de
Tribunal Regional do Trabalho, exceto em caso de recurso cuja motivação é inteiramente
dissociada dos fundamentos da sentença.

Na mesma esteira é o seguinte julgado do TST:

Se a decisão recorrida adota dois (ou mais) fundamentos para rejeitar o Recurso, impõe-se a
obrigação de a parte recorrente atacar todos os fundamentos do decisum, sob pena de o
remanescente prevalecer diante da inexistência de ataque recursal.
(...)
Assim, não tendo a Recorrente infirmado todas as razões de decidir da Corte de origem, a admissão do
presente Recurso de Revista encontra-se obstaculizada pela Súmula n. 422 desta Corte. Recurso de
Revista não conhecido.
(TST-RR 13700-25.2007.5.15.0044, Rel. Min. Maria de Assis Calsing, 4ª T., DEJT 10-6-2011).

4.4 Ausência de jurisprudência contrária à tese de revista

Trata-se de um requisito de admissibilidade intrínseco e negativo41. Nesse sentido é a Súmula n.


333 do TST:

Súmula n. 333 do TST


RECURSOS DE REVISTA. CONHECIMENTO.
Não ensejam recurso de revista decisões superadas por iterativa, notória e atual jurisprudência
do Tribunal Superior do Trabalho.

5 SOBRE A IMPOSSIBILIDADE DE REEXAME DE FATOS E PROVAS

41NEIVA, Rogério. Direito e processo do trabalho aplicados à administração pública e fazenda pública (E-book). Rio
de Janeiro: Forense, 2015. p. 229.

354
O julgamento meritório do Recurso de Revista não pode depender do reexame do acervo fático
e probatório dos autos, pois tal providência é vedada em instância recursal extraordinária. Isso está
expressado na Súmula n. 126 do TST:

Súmula n. 126 do TST


RECURSO. CABIMENTO.
Incabível o recurso de revista ou de embargos (arts. 896 e 894, "b", da CLT) para reexame de
fatos e provas.

NÃO CONFUNDIR: Não se pode confundir reexame de matéria fática e probatória com a
requalificação jurídica dos fatos apurados no acórdão recorrido. Ao contrário da primeira, esta última
providência é possível em sede de Recurso de Revista.
Aponta Carlos Henrique Bezerra Leite que “a errônea qualificação jurídica acerca da matéria fática contida
no acórdão recorrido autoriza a interposição do recurso de revista para que o TST dê a correta interpretação sobre a referida
qualificação jurídica”42. Eis um exemplo de julgado a respeito disso:

Revelando o extenso quadro fático delineado pelo julgado de origem que a prestação de
serviços de jardinagem no âmbito da empresa se dava de forma descontínua, com ampla
autonomia do trabalhador na forma e execução das tarefas de jardinagem e com auxílio de
terceiros escolhidos ao seu alvitre, não há como se reconhecer caracterizados os requisitos do
artigo 3º da Consolidação das Leis do trabalho, em especial no que tange a subordinação
jurídica e a pessoalidade. O controle da motivação dos fatos descritos pela instância regional
importa na qualificação jurídica desses mesmos fatos e, por isso, em questão jurídica e não
questão de fato. Recurso de revista conhecido e provido
(TST-RR 15540-35.2004.5.04.0027, Rel. Min. Luiz Philippe Vieira de Mello Filho, 1ª T., DJ 11-4-2008).

Por fim, destaca Estêvão Mallet o que NÃO constitui reexame de fatos e provas:

não constituem matéria de fato, todavia, admitindo apreciação em recurso de revista, a interpretação da
norma aplicável, a definição de seu alcance ou conteúdo, bem como o problema de sua aplicação ou
não à situação sob julgamento. Tampouco é matéria de fato a qualificação jurídica dos fatos apurados
ou mesmo controvérsia em torno do ônus da prova 43.

6 RECURSOS DE REVISTA REPETITIVOS


Ressalte-se, por fim, que os Recursos de Revista também podem ser julgados sob a sistemática
dos recursos repetitivos, assim como acontece com o Recurso Especial e o Recurso Extraordinário.
O procedimento está delineado no art. 896-C da CLT, competindo o julgamento à Seção
Especializada em Dissídios Individuais ou pelo Tribunal Pleno, após a questão jurídica ter sido afetada
por maioria simples de seus membros.

7 REFERÊNCIAS
1. Curso de direito processual do trabalho, Carlos Henrique Bezerra Leite (2019);
2. Curso de direito processual civil, v. 3, Fredie Didier e Leonardo Carneiro da Cunha (2016);

42 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho (e-book). São Paulo: Saraiva, 2019. p. 1020.
43 Op. cit. p. 1019-1020

355
3. Direito e processo do trabalho aplicados à Administração Pública e Fazenda Pública, Rogério Neiva
(2015).

356
JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE E PODER PÚBLICO. PRINCIPAIS DECISÕES
JURISPRUDÊNCIAIS

JUDICIALIZIZAÇÃO DA SAÚDE E
PODER PÚBLICO. PRINCIPAIS
DECISÕES JURISPRUDÊNCIAIS

ALMANAQUE DA ADVOCACIA PÚBLICA por Álisson Rubens


da Silva Sousa

Em quarentena em São Pedro/PI, 07 de abril de 2020

357
1 INTRODUÇÃO
A saúde é um direito social de segunda geração e um dos três pilares da seguridade social previsto
nos artigos 6º, 194 e 196 a 200 da Constituição Federal. Ressalta-se que a Carta de 1988 deixa expresso
em seu artigo 196 que a saúde é um direito de todos (brasileiros natos ou naturalizados; estrangeiros e
apátridas desde que estando em território nacional) e um dever do Estado, tendo como fundamentos a
redução do risco de doença e outros males além do acesso universal e igualitário às ações e serviços para
a garantia desse direito.
Nesse cenário, nota-se o quão ambicioso é o compromisso constitucional assumido pelo Estado
Brasileiro: a construção de um serviço universal de saúde. Isso, no entanto, está longe de sair da fria letra
da norma, vez que o Estado não é dotado de orçamento ilimitado e precisa assegurar outros direitos
sociais. Em verdade, a histórica administração precária do sistema de saúde aliada as recentes crises
econômicas que forçaram medidas austeras do governo no sentido de limitar os gastos públicos tornaram
ainda mais longe o sonho constitucional. Assim, o Estado tem adotado uma postura restritiva na
implementação de direitos sociais.
Dessa forma, a desresponsabilização do Estado na implementação e execução de políticas
universais e abrangentes, aliada à expansão do desemprego e à desconfiguração de vários direitos
promulgados na Constituição Federal de 1988, dentre outros vetores, provocou uma retração no
enfrentamento da questão social nos moldes tradicionalmente presentes no Brasil. Esse conjunto de
fatores tem levado a população a recorrer ao Poder Judiciário para efetivação individual de direitos
coletivos, tais como o acesso a serviços de saúde, a proteção de idosos etc., gerando o fenômeno
da judicialização dos conflitos sociais. (FGV - Analista Judiciário (TJ GO)/Especializada/Assistente
Social/2014)
Nesse contexto, a análise da garantia dos direitos sociais e mais propriamente do direito a
saúde no âmbito Poder Judiciário é enfrentada por meio da ponderação entre a garantir o direito tutelado
e a reserva do possível.

2 RESERVA DO POSSÍVEL
A teoria da reserva do possível traz para a discussão sobre a concretização de direitos sociais por
meio de políticas públicas a ideia de finitude orçamentária. Nesse sentido, o administrador possui
discricionariedade para a realização de políticas públicas, podendo escolher se, com o orçamento existente,
constrói uma escola ou um hospital. Essa decisão eminentemente política do administrador não pode ser
discutida no âmbito do judiciário sob pena de ferir o princípio da separação dos poderes. O juízo deve
se ater a análise do ato quanto sua legalidade, essa é a aplicação da doutrina chenery.
Diante da judicialização de políticas públicas, o juízo deve analisar o direito a ser concretizado
observando 02 (dois) fatores:

358
• razoabilidade da pretensão: para a configuração desse requisito o julgador deve
questionar as seguintes perguntas: “houve omissão do Estado na prática de encargos que
a Constituição da República lhe atribuiu? Existiu abusividade governamental ou arbítrio estatal
responsável pela inefetividade de direitos sociais, econômicos e culturais?”(BULOS, 2018, p. 377)
Caso as respostas forem afirmativas estará presente o requisito. O Estado, portanto, deve ser
obrigado por lei ou pela Constituição a implementar a pretensão em análise.
• disponibilidade financeira do estado: além do dever de agir do Estado para resguardar
determinado direito social é mister que esse tenha verba para garanti-lo. Assim, para o
atendimento desse requisito o julgador deve realizar as seguintes perguntas: “o Estado tem
dinheiro para saldar os seus deveres constitucionais? Qual a sua realidade econômica? Como estão
as suas finanças, receitas e despesas?”(BULOS, 2018, p. 378). Ressalta-se que o poder público de
responder essas perguntas demonstrando concretamente a existência ou inexistência de recursos
para a concretização da politica pública em questão. Note-se que a alegação genérica de
insuficiência de recurso não é justificativa plausível para não garantir direitos.

Nesse sentido, a lei 13.655 de 2018 incluiu na LINDB, dentre outros, os seguintes artigos:
Art. 20. Nas esferas administrativa, controladora e judicial, não se decidirá com base em valores
jurídicos abstratos sem que sejam consideradas as consequências práticas da decisão.
Parágrafo único. A motivação demonstrará a necessidade e a adequação da medida imposta ou da
invalidação de ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa, inclusive em face das possíveis
alternativas.
Art. 22. Na interpretação de normas sobre gestão pública, serão considerados os obstáculos e as
dificuldades reais do gestor e as exigências das políticas públicas a seu cargo, sem prejuízo dos
direitos dos administrados.

Nota-se que o legislador quis deixar expresso que na análise pelo julgador de implementação de
determinadas políticas públicas esse deve se ater não só ao dever legal do Estado de agir como também
a capacidade concreta que esse possui de efetivar determinada política.
Ademais, o Superior Tribunal de Justiça esclarece de forma professoral a aplicação do princípio
da reserva do possível no julgado que segue:

(...) 1. A tese da reserva do possível assenta-se em ideia de que, desde os romanos, está
incorporada na tradição ocidental, no sentido de que a obrigação impossível não pode ser
exigida (Impossibilium nulla obligatio est - Celso, D. 50, 17, 185). Por tal motivo, a insuficiência
de recursos orçamentários não pode ser considerada uma mera falácia.
2. Todavia, observa-se que a dimensão fática da reserva do possível é questão intrinsecamente
vinculada ao problema da escassez. Esta pode ser compreendida como "sinônimo" de
desigualdade. Bens escassos são bens que não podem ser usufruídos por todos e, justamente
por isso, devem ser distribuídos segundo regras que pressupõe o direito igual ao bem e a
impossibilidade do uso igual e simultâneo.

359
3. Esse estado de escassez, muitas vezes, é resultado de um processo de escolha, de uma
decisão. Quando não há recursos suficientes para prover todas as necessidades, a decisão do
administrador de investir em determinada área implica escassez de recursos para outra que não
foi contemplada. A título de exemplo, o gasto com festividades ou propagandas
governamentais pode ser traduzido na ausência de dinheiro para a prestação de uma educação
de qualidade.
4. É por esse motivo que, em um primeiro momento, a reserva do possível não pode ser oposta
à efetivação dos Direitos Fundamentais, já que, quanto a estes, não cabe ao administrador
público preteri-los em suas escolhas. Nem mesmo a vontade da maioria pode tratar tais direitos
como secundários. Isso porque a democracia não se restringe na vontade da maioria. O
princípio do majoritário é apenas um instrumento no processo democrático, mas este não se
resume àquele. Democracia é, além da vontade da maioria, a realização dos direitos
fundamentais. Só haverá democracia real onde houver liberdade de expressão, pluralismo
político, acesso à informação, à educação, inviolabilidade da intimidade, o respeito às minorias
e às ideias minoritárias etc. Tais valores não podem ser malferidos, ainda que seja a vontade da
maioria. Caso contrário, se estará usando da "democracia" para extinguir a Democracia.
5. Com isso, observa-se que a realização dos Direitos Fundamentais não é opção do governante,
não é resultado de um juízo discricionário nem pode ser encarada como tema que depende
unicamente da vontade política. Aqueles direitos que estão intimamente ligados à dignidade
humana não podem ser limitados em razão da escassez quando esta é fruto das escolhas do
administrador. Não é por outra razão que se afirma que a reserva do possível não é oponível à
realização do mínimo existencial.
6. O mínimo existencial não se resume ao mínimo vital, ou seja, o mínimo para se viver. O
conteúdo daquilo que seja o mínimo existencial abrange também as condições socioculturais,
que, para além da questão da mera sobrevivência, asseguram ao indivíduo um mínimo de
inserção na "vida" social.(...)
11. Todavia, a real insuficiência de recursos deve ser demonstrada pelo Poder Público, não
sendo admitido que a tese seja utilizada como uma desculpa genérica para a omissão estatal
no campo da efetivação dos direitos fundamentais, principalmente os de cunho social. No caso
dos autos, não houve essa demonstração. (...)
STJ. 2ª Turma. AgRg no AREsp 790.767/MG, Rel. Min. Humberto Martins, DJe 14/12/2015.

Conforme julgado citado, percebe-se que a aplicação da reserva do possível encontra limite na
ideia de mínimo existencial que trata das condições mínimas de existência. Lembra-se que tais condições
devem se suficientes para garantir não só a sobrevivência de um indivíduo, mas também a existência digna
desse. Nesse contexto, “não é dado ao poder Público recorrer a cláusula da reserva do possível sempre
que puder resultar, de sua aplicação, comprometimento do núcleo básico que qualifica o mínimo
existencial.” (BULOS, 2018, p.379).

3 JULGADOS SOBRE IMPLEMENTAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS NO ÂMBITO

360
DA SAÚDE

No âmbito da concretização do direito a saúde o Poder Judiciário, mais especificamente o STJ e


o STF tem traçado importantes paradigmas sobre a implementação de políticas públicas nessa área.

4 RESPONSABILIDADE DOS ENTES PÚBLICOS

A Constituição Federal estabelece em seu artigo 23, II que é competência comum da União,
Estados, Distrito Federal e Municípios cuidar da saúde. Para tanto, tais entes são constitucionalmente
obrigados a empregar anualmente uma porcentagem mínima de seus recursos orçamentários, conforme
o artigo 198, §2º da Constituição.
Nesse contexto, percebe-se que a Constituição não estabelece uma divisão de competências sobre
a proteção à saúde entre os entes federativos . Em verdade, a competência dos entes federativos não é
muito clara mesmo analisando a normas infraconstitucionais. Nesse cenário, o STF entende que é
solidária a responsabilidade de demandas prestacionais nas demandas de saúde entre os entes políticos,
conforme o julgado que segue:

Os entes da Federação, em decorrência da competência comum, são solidariamente


responsáveis nas demandas prestacionais na área da saúde e, diante dos critérios
constitucionais de descentralização e hierarquização, compete à autoridade judicial direcionar
o cumprimento conforme as regras de repartição de competências e determinar o
ressarcimento a quem suportou o ônus financeiro.
STF. Plenário. RE 855178 ED/SE, rel. orig. Min. Luiz Fux, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin,
julgado em 23/5/2019 (Info 941).

Entretanto, isso não impede que o juízo direcione o cumprimento da pretensão ao ente
competente ou determine o ressarcimento do ente que suportou o ônus financeiro que a ele não competia.
Para tanto, é mister que o ente em sua defesa esclarecer se a pretensão em análise é ou não de sua
competência tendo por base os artigos 16, 17 e 18 da Lei nº 8080/90.

5 FORNECIMENTO DE MEDICAMENTOS NÃO CONTIDOS NA LISTA DO SUS


O Estado garante a proteção integral a saúde prestando serviços que vão desde a prevenção,
saúde básica, tratamentos simples até os tratamentos de alta complexidade. Ademais, o SUS abarca o
direito a consultas, internações, cirurgias, atendimentos, medicamentos. Nesse sentido, as leis 6.360/1976
e 9.782/1999 regulam os tratamentos e medicamentos utilizados no Brasil.
Cabe destacar que o Estado é responsável por realizar a regulamentação, o controle e a fiscalização
das atividades de saúde. Assim, para que seja aprovado um medicamento há a necessidade que esse passe
por diversos testes no intuito de averiguar sua segurança e eficácia para o fim a que se destina.
Nesse sentido, os medicamentos e tratamentos utilizados no Brasil dependem da aprovação da
ANVISA, de acordo com o art. 12º da lei 6360/76 cumulado com a lei 9782/99. Essa análise busca
garantir a saúde dos usuários face as práticas com resultados ainda não comprovados ou ainda contra

361
aquelas que possam ser prejudiciais ao paciente.
Ademais, para que haja o fornecimento de medicamentos pelo SUS, além da aprovação da
ANVISA (artigo 29 do Decreto 7.508/2011), devem ser atendidos os requisitos previstos no artigo 28
do Decreto 7.508/2011, abaixo transcrito:

Art. 28. O acesso universal e igualitário à assistência farmacêutica pressupõe, cumulativamente:


I - estar o usuário assistido por ações e serviços de saúde do SUS;
II - ter o medicamento sido prescrito por profissional de saúde, no exercício regular de suas funções no
SUS;
III - estar a prescrição em conformidade com a RENAME e os Protocolos Clínicos e Diretrizes
Terapêuticas ou com a relação específica complementar estadual, distrital ou municipal de
medicamentos; e
IV - ter a dispensação ocorrido em unidades indicadas pela direção do SUS.
§ 1º Os entes federativos poderão ampliar o acesso do usuário à assistência farmacêutica, desde que
questões de saúde pública o justifiquem.
§ 2º O Ministério da Saúde poderá estabelecer regras diferenciadas de acesso a medicamentos de caráter
especializado.
Art. 29. A RENAME e a relação específica complementar estadual, distrital ou municipal de
medicamentos somente poderão conter produtos com registro na Agência Nacional de Vigilância
Sanitária - ANVISA.

Ocorre que, em não raras ocasiões esse processo burocrático de autorização de dispensa de
medicamentos pelo SUS acaba por demasiado demorado a ponto de restringir injustificadamente o direito
a saúde de determinados indivíduos podendo chegar a esvaziá-lo. Isso fomentou enorme procura ao
Judiciário para a concessão de medicamentos não incorpora do pelo SUS o que gerou terreno fértil para
que o STJ estabelecesse tese de forma a regulamentar o tema, qual seja a transcrita a seguir:

A concessão dos medicamentos não incorporados em atos normativos do SUS exige a presença
cumulativa dos seguintes requisitos:
i) Comprovação, por meio de laudo médico fundamentado e circunstanciado expedido por
médico que assiste o paciente, da imprescindibilidade ou necessidade do medicamento, assim
como da ineficácia, para o tratamento da moléstia, dos fármacos fornecidos pelo SUS;
ii) incapacidade financeira de arcar com o custo do medicamento prescrito;
iii) existência de registro do medicamento na ANVISA, observados os usos autorizados pela
agência. STJ. 1ª Seção. EDcl no REsp 1.657.156-RJ, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em
12/09/2018 (recurso repetitivo) (Info 633).

Observa-se que o STJ foi muito responsável ao definir requisitos restritivos para o fornecimento
de medicamentos fora da lista do SUS, posto que condicionou tal fornecimento ao registro do
medicamento na ANVISA e a apresentação de laudo técnico comprovando inexistência de tratamento
eficaz fornecido pelo SUS o que afasta do Judiciário análise técnica de ato do poder público (escolha ou
omissão da Administração em não colocar o medicamento na lista do SUS) o que feriria a separação dos
poderes. Além disso, a comprovação de incapacidade financeira de arcar com o custo do medicamento
leva o fornecimento de tal medicamento ao status de preservação do mínimo existencial o que afasta a
aplicação da tese da reserva do possível.

362
6 FORNECIMENTO DE MEDICAMENTOS NÃO REGISTRADOS PELA A ANVISA
Cotidianamente a medicina evolui de modo a superar obstáculos antes considerados
intransponíveis. Esse avanço relativamente célere da ciência não é acompanhado pela norma que caminha
lentamente sendo o contrapeso necessário para o progresso consciente e sustentável.
Ocorre que, em certos momentos, o freio da norma é por demasiado pesado, transformando-se
em burocracia injustificada e prejudicando o mínimo existencial do indivíduo. Esse é o caso do registro
de novos medicamentos pela ANVISA que, por vezes, é tão demorado que inviabiliza certos pacientes
de obter tratamento que os curaria de sua enfermidade.
O art. 17-A da lei nº 6.360 de 1976, incluído pela Lei nº 13.411, de 2017, estabelece como prazos
máximos para conclusão do registro e da alteração do registro os expostos na tabela que segue:
Registro Alteração do registro
Categoria prioritária 120 dias 60 dias
Categoria ordinária 365 dias 180 dias

Nesse sentido, quando a ANVISA não cumpre tais prazos está em mora e, possivelmente,
restringindo direito a saúde de certos indivíduos. Assim, o STF em sede de recurso extraordinário de
repercussão geral aprovou a seguinte tese:

A ausência de registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) impede, como


regra geral, o fornecimento de medicamento por decisão judicial.
É possível, excepcionalmente, a concessão judicial de medicamento sem registro sanitário, em
caso de mora irrazoável da Anvisa em apreciar o pedido (prazo superior ao previsto na Lei
13.411/2016), quando preenchidos três requisitos:
a) a existência de pedido de registro do medicamento no Brasil (salvo no caso de medicamentos
órfãos para doenças raras e ultrarraras);
b) a existência de registro do medicamento em renomadas agências de regulação no exterior;
e
c) a inexistência de substituto terapêutico com registro no Brasil. STF. Plenário. RE
657718/MG, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em
22/5/2019 (repercussão geral) (Info 941).

Sobre o supracitado julgado é mister traçar as seguintes observações:

1. Em nenhuma hipótese haverá o fornecimento de medicamentos experimentais que são aqueles


que não possuem eficácia comprovada;
2. Em caso de medicamentos órfãos para * a existência de registro do medicamento em
doenças raras e ultrarraras o fornecimento será renomadas agências de regulação no exterior;
condicionado aos seguintes requisitos: * a inexistência de substituto terapêutico com
registro no Brasil.
3. Nos demais casos, o fornecimento de * a existência de pedido de registro do
medicamentos sem o registro na ANVISA será medicamento no Brasil;
condicionado aos seguintes requisitos: * a existência de registro do medicamento em
renomadas agências de regulação no exterior;
* a inexistência de substituto terapêutico com
registro no Brasil.

363
7 REFERÊNCIAS
BULOS, Uadi Lamego. Curso de direito constitucional, 11ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2018.
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Judiciário pode determinar a realização de obras de acessibilidade
em prédios públicos. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/3b3fff6463464959dcd1b68d032
0f781>. Acesso em: 04/04/2020
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Fornecimento pelo Poder Judiciário de medicamentos não
registrados pela ANVISA. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/4d7a968bb636e25818ff2a3941d
b08c1>. Acesso em: 07/04/2020
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Requisitos para a concessão judicial de medicamentos não
previstos pelo SUSU. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/27b09e189a405b6cca6ddd7ec86
9c143>. Acesso em: 07/04/2020

364
MEDIDA CAUTELAR FISCAL

MEDIDA CAUTELAR FISCAL

ALMANAQUE DA ADVOCACIA PÚBLICA por Davi Capergiane


de Sousa

Em quarentena em Açailândia/MA, 30 de março de 2020

365
1 ASPECTOS INICIAIS
Ab initio, antes de adentramos ao mérito do tema em debalde merece atenção para memoramos
a ideia central da medida. Somos cônscios que a Fazenda Pública na busca de adimplemento de dívida
ativa possui algumas prerrogativas, dentre ela está presente a medida cautelar fiscal.
Essa prerrogativa se justifica tendo como colorário a supremacia do princípio do interesse público
o qual é basilar na relação vertical do poder de império do Estado. O crédito tributário é a principal
receita para consecução e manutenção do funcionamento dos entes tributantes.
Merece destaque que essas inserções administrativas e jurídicas devem seguir os preceitos da
Constituição Federal e legislações pertinentes. Nesta senda, as garantias e direitos fundamentais deverão
nortear todo e qualquer procedimento que tenha o intuito de esvaziar o patrimônio do contribuinte.
Nesse prima, leva-se em conta as incidências processuais do Código de Processo Civil no
concerne a tutela provisória. Haja vista, devasse auferir no bojo do procedimento as noções elementares
do risco do prejuízo ao fisco e sobrepesar a utilidade prática da medida constritiva.
Por fim, de maneira pontual observar as especificações do CTN em seu art. 110, para aplicação
do instituto levando em conta as observações de conceito do direito privado. Com isto, considerando as
inferências ditas podemos construir a discussão da Medida Cautelar Fiscal com os elementos da Lei nº
8.397/92.

2 CONCEITO
A Medida Cautelar Fiscal é um procedimento acautelatório que visa resguardar a efetividade do
adimplemento de crédito tributário por parte do sujeito passivo. Sendo esta uma ação exacional com
legitimidade exclusiva da Fazenda Pública.
Neste ínterim, se busca na medida a indisponibilidade dos bens do contribuinte em débito para
com o Fisco, até o valor do respectivo débito, acautelando o pagamento devido aos cofres públicos.
Esta ação aplica-se nos casos de créditos da União, do Distrito Federal, dos Estados e
dos Municípios, que demonstrando comportamentos do sujeito passivo imbuídos do propósito de fugir
ao pagamento do tributo. As medidas podem ser requeridas antes ou no curso da execução fiscal, sendo
previsto em lei a possibilidade de ajuizamento independente de prévia constituição do crédito tributário.

3 NATUREZA JURÍDICA
A ação em comento é um instituto de tutela provisória que embora regida por lei específica deva
está em compasso com as definições do CPC/2015. Em sua essência, busca impedir que se torne inócua,
ao final, a ação de execução e não garanta, de pronto, a satisfatividade para a Fazenda Pública com o
imediato ingresso do crédito em seus cofres, dá a segurança de que, ao final do processo de execução,
terá êxito em sua pretensão.

366
4 PROCEDIMENTO
Conforme acentua o art. 1º da lei autoriza ser esta intentada de forma antecedente à execução
ou de forma incidental. Posto que, em certas ocasiões a evasão é projetada antes do ajuizamento da
execução.
Ademais, vale ressaltar que a medida sub examine poderá ser proposta para resguardar de créditos
tributários e não tributários e aplicadas as contribuições do art.195, § 6º, CF.
A efeito, como regra geral se justifica a medida cautelar quando já constituído o crédito
combinado com as incidências legais do art. 2º, in verbis:

I - sem domicílio certo, intenta ausentar-se ou alienar bens que possui ou deixa
de pagar a obrigação no prazo fixado;
II - tendo domicílio certo, ausenta-se ou tenta se ausentar, visando a elidir o
adimplemento da obrigação;
III - caindo em insolvência, aliena ou tenta alienar bens; (Inciso com redação
dada pela Lei nº 9.532, de 10/12/1997)
IV - contrai ou tenta contrair dívidas que comprometam a liquidez do seu
patrimônio; (Inciso com redação dada pela Lei nº 9.532, de 10/12/1997)
V - notificado pela Fazenda Pública para que proceda ao recolhimento do
crédito fiscal;(Inciso com redação dada pela Lei nº 9.532, de 10/12/1997)
a) deixa de pagá-lo no prazo legal, salvo se suspensa sua exigibilidade;(Alínea
acrescida pela Lei nº 9.532, de 10/12/1997)
b) põe ou tenta por seus bens em nome de terceiros; (Alínea acrescida pela Lei
nº 9.532, de 10/12/1997)
VI - possui débitos, inscritos ou não em Dívida Ativa, que somados ultrapasse
trinta por cento do seu patrimônio conhecido; (Inciso acrescido pela Lei nº 9.532, de
10/12/1997)
VII - aliena bens ou direitos sem proceder à devida comunicação ao órgão
Fazenda Pública competente, quando exigível em virtude de lei; (Inciso acrescido pela
Lei nº 9.532, de 10/12/1997)
VIII - tem sua inscrição no cadastro de contribuintes declarada inapta, pelo
órgão fazendário; (Inciso acrescido pela Lei nº 9.532, de 10/12/1997)
IX - pratica outros atos que dificultem ou impeçam a satisfação do
crédito.(Inciso acrescido pela Lei nº 9.532, de 10/12/1997)

Todavia, é destaque no parágrafo único do art. 1º que na hipótese dos incisos V, alínea "b" e VII,
do art. 2º, independe da prévia constituição do crédito tributário.

367
4.1 Legitimados passivos
Importa mencionar que neste contexto a abordagem é bastante ampla a conferir eficácia ao
instituto. Com isto, o sujeito passivo poderá ser tanto o contribuinte como o responsável tributário,
nos moldes do art. 121, CTN.
Nesse enfoque, quando recair sobre pessoa jurídica afetará somente o ativo permanente.
Não obstante poderá alargar sua incidência aos bens do acionista controlador e aqueles que por ocasião
do contrato ou estatuto social tenham poderes para cumprir obrigações fiscais, tornado-os
indisponíveis.
Essa indisponibilidade poderá ser estendida aos bens adquiridos a qualquer título do requerido
ou daqueles que exercem ou exerceram a função de administrador, desde que possa elidir o alcance da
medida.
Nestes termos pode-se dizer que são legitimados passivos para a cautelar fiscal as seguintes
pessoas:
a. Pessoa física devedora;
b. pessoa jurídica devedora;
c. o acionista controlador e os administradores em razão do contrato social ou
estatuto;
d. terceiro que adquira os bens em fraude contra credores ou fraude à execução
(art. 2 , inc. V, b e art. 4° §2° da LMCF);
e. pessoa física ou jurídica considerada responsável tributário (Arts. 128 a 138 do
CTN), incluindo-se aqui a situação dos grupos econômicos de fato.

Após seu processamento deverá a medida constritiva ser devidamente informada aos órgãos
responsáveis pelos registros, como cartório, banco e CVM para o efetivo cumprimento.

4.2 Requisitos da petição inicial e competência

A seu turno, a ação cautelar segue a regra geral de competência para a propositura de ação fiscal.
Com isto, leva-se em conta o domicílio do réu, de sua residência ou lugar onde for encontrado,
art. 46, § 6º, CPC/2015.

Convém informar que se o pedido for incidente e estando a execução pendente de recurso no
Tribunal será esta proposta naquele Juízo com competência preventa ao relator.
Seguindo a sistemática legal exige fundamentação do pedido inicial. Conquanto, as hipóteses
descritas são presumíveis acarretam riscos ao executado e quis o legislador garantir coerência no pedido.

368
Ademais, deverá conter como mencionado acima o Juízo competente, qualificação do devedor, as provas
que se pretende produzir e requerimento de citação.
Mas importa acrescentar que as prescrições do art. 319 e ss do CPC, que regula as formalidades
da petição inicial no processo como tudo são imprescindíveis para o seu recebimento. Nesse caso, é
especial o valor da causa.

5 CONSIDERAÇÕES GENÉRICAS
Conquanto, seja procedimento cautelar que deverá seguir a regra geral, existem formalidades
ímpares. Entre elas cita-se dispensa de justificação e prestação de caução por parte da Fazenda.
Frisa-se que desse despacho concessivo da liminar é passível impugnação por meio de agravo
de instrumento, embora tratado pelo termo atécnico, pois detém caráter decisivo.
O prazo de citação é de 15 dias, não se mencionado se corrido ou úteis, todavia, mais uma vez se
utiliza dos princípios da subsidiariedade do CPC/2015, art. 219, que a contagem processual se dará em
dias úteis.
Estes os quais serão contados da juntada aos autos do mandado:
a) de citação, devidamente cumprido;
b) da execução da medida cautelar fiscal, quando concedida liminarmente.
Destarte, o sujeito passivo deixando escoar o prazo in albis, será declarado revel aplicando-lhe os
seus efeitos, de sorte, que o magistrado neste caso deverá decidir o mérito em 10 dias. Do contrário
passará para uma fase instrutória, com produção de provas requeridas pelo réu.
Vale ressaltar, que a medida de indisponibilidade de bens poderá ser sustada a qualquer tempo
por caução idônea nos moldes do art. 9° da LEF, o qual deverá ser ouvido o ente no prazo de cinco dias,
que não se manifestando é considerado aceite.
Nesse contexto, é salutar descrever que após a concessão da medida, a Fazenda Pública deverá
propor a execução judicial da Dívida ativa, no prazo improrrogável de 60 dias, contados da decisão
administrativa que se tornar estável em procedimento administrativo que discuta o crédito.
De igual modo, a cautelar conservará seus efeitos mesmo que suspenso o crédito tributário ou
não tributário.

Noutro lado, pode esta ser revogada ou modificada a qualquer tempo e ser extinta nas seguintes
situações:
I Se a Fazenda Pública não propuser a execução judicial da Dívida Ativa no
prazo fixado no art. 11 desta lei;
II Se não for executada dentro de trinta dias;
III Se for julgada extinta a execução judicial da Dívida Ativa da Fazenda Pública;

369
IV Se o requerido promover a quitação do débito que está sendo executado.

Por fim, mister se faz mencionar que poderá a Fazenda renovar a medida a qualquer tempo pelos
fundamentos da anterior se esta perder sua eficácia nos termos das incidências acima. Importa esclarecer
que o eventual indeferimento não obstar a propositura da execução fiscal. Desde que, o seu fundamento
não tenha sido em alegação de pagamento, de compensação, de transação, de remissão, de
prescrição ou decadência, de conversão do depósito em renda, ou qualquer outra modalidade
de extinção da pretensão deduzida.
Como procedimento preparatório ou incidental deverá ser apenso a autos de execução e a
sentença não faz coisa julgada nos autos principal, a qual é combatida por apelação.

6 POSICIONAMENTO JURISPRUDENCIAL
Neste prisma é primordial acentuar que Ação Cautelar Fiscal não foi aceita de bom grado pelos
entes federados, tendo sido utilizada timidamente. Assim as discussões nos tribunais, por conseguinte,
também é escassa. Entretanto, as raras exceções vieram esclarecer alguns pontos controversos da Lei nº
8.397/92.

Merecem destaque as principais que poderão ser objeto de discussões em provas objetivas e
discursiva:

1) A liminar será julgada improcedente quando o pólo passivo discutir administrativamente


o crédito;
2) A indisponibilidade dos bens poderá alcançar os bens dos sócios da pessoa jurídica
demanda;
3) Não se sujeitando o crédito a habilitação em recuperação ou falecia poderá ser possível
medida em empresa em liquidação extrajudicial;
4) Tem prevalecido que a lei não exigiu a definitividade do lançamento como requisito para
a medida cautelar fiscal;
5) É incabível medida cautelar fiscal para declarar indisponíveis os bens dos sócios-gerentes
da pessoa jurídica que não praticou ato ilegal ou com abuso de poder;
6) Reconhece o interesse de agir do contribuinte e permite que a garantia seja convertida em
penhora quando do ajuizamento da execução fiscal.

Vejamos algumas decisões, o Tribunal Regional da 4ª Região assim entendeu:

"MEDIDA CAUTELAR FISCAL. Presentes os requisitos autorizadores, correta a medida


cautelar fiscal concedida. Caso em que há fortes indícios de atos tendentes a frustrar a execução
judicial da Dívida Ativa. LIMITES. A indisponibilidade deve ficar LIMITADA AOS BENS DO

370
ATIVO PERMANENTE DA PESSOA JURÍDICA EXECUTADA, observado o limite do
débito pendente (art. 4º, Lei nº 8.397/92). Se insuficiente, alcançará os bens particulares do
sócio executado. Agravo parcialmente provido. Vencida parcialmente a relatora, que negava
provimento ao agravo". (TRF 4ª Região, AgIn. nº 9604207016/PR, 2ª Turma, Rel: Juíza Tânia
Terezinha Cardoso Escobar, DJ 15/01/1997, p. 1034)

"TRIBUTÁRIO. AÇÃO CAUTELAR FISCAL. EMPRESA DE SEGUROS EM REGIME DE


LIQUIDAÇÃO EXTRAJUDICIAL. PEDIDO DE INDISPONIBILIDADE DOS BENS DO
ATIVO PERMANENTE. 1. O art. 187 do CTN estabelece a independência da cobrança do
crédito tributário em face de qualquer outro procedimento, ainda que de caráter universal, tal
como a falência, a concordata ou o concurso de credores. O crédito tributário não se submete
à habilitação nos juízos universais a que a regra se reporta, assegurada à Fazenda Pública a
execução de seus créditos por meio de ação própria, no caso, a Lei nº 6.830/80 (Lei de
Execuções Fiscais). A FAZENDA PODE EXECUTAR DIRETAMENTE OS BENS DO
INSOLVENTE, porquanto seu privilégio se sobrepõe a todos os demais credores, exceto
aqueles cujos créditos decorrem da legislação trabalhista. 2. O INSS, já tendo iniciado a
demanda executiva, possui direito a provimento jurisdicional que garanta a satisfação de seus
créditos, evitando, assim, que a empresa, ainda que em regime de liquidação extrajudicial,
promova a alienação do ativo permanente, ou seja, do patrimônio mobiliário e imobiliário. 3.
Apelação improvida". (TRF 4ª Região, AC nº 235.319, 1ª Turma, Rel: Juíza Eloy Bernst Justo,
DJ de 17/01/2001, p. 70)

“TRIBUTÁRIO. AGRAVO DE INSTRUMENTO. MEDIDA CAUTELAR FISCAL.


PENDÊNCIA. DISCUSSÃO ADMINISTRATIVA. INDISPONIBILIDADE DOS SEUS BENS. O
fato de estar pendente de análise o recurso perante a esfera administrativa enseja a suspensão da
exigibilidade do crédito tributário, mas não impede a autoridade fazendária de tomar as medidas de
cunho cautelar para o fim de ver assegurada a efetividade de eventual cobrança a ser aparelhada pelo
Fisco.” (TRF4, AG 5010546-26.2013.404.0000, Primeira Turma, Relatora p/ Acórdão Maria de Fátima
Freitas Labarrère, juntado aos autos em 24.04.2014)

"RECURSO ESPECIAL. ALÍNEA "A". EXECUÇÃO FISCAL. MEDIDA CAUTELAR FISCAL.


INDISPONIBILIDADE DOS BENS DO SÓCIO. RESPONSABILIDADE DO SÓCIO-
GERENTE. LIMITES. ART. 135, III, DO CTN. ARTIGO 4º, § 2º, DA LEI 8.397/92. NÃO
APLICAÇÃO. A responsabilidade excepcional do sócio-gerente somente se configura quando, no
exercício da atividade de administração da pessoa jurídica, restar demonstrado que este agiu com abuso
de poder, infração à lei, contrato social ou estatutos, a teor do disposto no artigo 135 do CTN, ou, ainda,
se a sociedade foi dissolvida irregularmente. Não deve prevalecer, portanto, o disposto no artigo 4º, §
2º, da Lei 8.397/92, ao estabelecer que, na concessão de medida cautelar fiscal, "a indisponibilidade
patrimonial poderá ser estendida em relação aos bens adquiridos a qualquer título do requerido ou
daqueles que estejam ou tenham estado na função de administrador". Em se tratando de
responsabilidade subjetiva, é mister que lhe seja imputada a autoria do ato ilegal, o que se mostra inviável
quando o sócio sequer era administrador da sociedade à época da ocorrência do fato gerador do débito
tributário pendente de pagamento. Recurso especial não conhecido". (REsp nº 197.278/AL, 2ª Turma,
Rel: Ministro Fraciulli Netto, DJ de 24/06/2002, p. 233)

371
“TRIBUTÁRIO. MEDIDA CAUTELAR FISCAL. LEI Nº 8.397/92. REQUISITOS LEGAIS.
EXTENSÃO AO PATRIMÔNIO DOS SÓCIOS. FALTA DE COMUNICAÇÃO DA
ALIENAÇÃO DE BENS ARROLADOS. CABIMENTO. 1. Nos termos do art. 4º da Lei nº 8.397/92,
‘a decretação da medida cautelar fiscal produzirá, de imediato, a indisponibilidade dos bens do requerido,
até o limite da satisfação da obrigação’. 2. Os requisitos à concessão da medida cautelar fiscal estão
previstos no artigo 3º da Lei nº 8.397/92, quais sejam, prova literal da constituição do crédito fiscal,
ainda que não definitiva, e prova documental de algum dos casos mencionados no artigo 2º da mesma
norma. 3. A lei não exige a constituição definitiva do crédito tributário, ou seja, o manejo da cautelar é
cabível ainda que o crédito tributário esteja suspenso por recurso administrativo, decisão judicial ou
mesmo qualquer das outras hipóteses previstas no artigo 151 do CTN, inclusive o parcelamento de
débitos. 4. [...]. 5. Constatada a subsunção, na espécie, às hipóteses normativas previstas nos incisos VI
e VII do artigo 2º da Lei nº 8.397/92, resta perfeitamente legítima a medida cautelar fiscal para
decretação da indisponibilidade dos bens.”(TRF4, AC 5002250-93.2011.404.7207, Primeira Turma,
Relator p/ Acórdão Jorge AntonioMaurique, juntado aos autos em 04.04.2014) .

7 CONCLUSÃO
A sistemática introduzida pela Lei 8397/92, foi de estabelecer mecanismos que pudesse ser usado
pela Fazenda a evitar à evasão e assegurar o adimplemento de crédito tributário não tributário e as
contribuições do art. 195, § 6º CF.
Em que pese, ter sua constitucionalidade questionada não houve medida concreta para sua
analise. E isso se deve ao uso reduzido da norma pelas procuradorias. Mas usada com maestria é
instrumento de grande valia para ajustar os cofres e diminuir a sonegação fiscal.
Portanto, a medida cautelar fiscal é um procedimento específico infra-constitucional que deverá
ser aplicado de modo sistemático. Posto que, não se observando os limites da Carta Magna estará fardada
a ineficácia.
Assim, como já dito deve sim ser usado pelo ente Federal, Estadual, Municipal e suas autarquias.
A qual poderá fazer bom uso e ter elevado retorno do instrumento jurídico ao seu dispor.

8 REFERÊNCIAS
A FAZENDA PUBLICA EM JUIZO - 16ªED. (2019). autor: Leonardo Carneiro da Cunha. editora:
Forense.
https://www.dizerodireito.com.br Acesso em: 30 mar de 2020.
https://revistadoutrina.trf4.jus.br Acesso em: 30 mar. de 2020.

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