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As Configurações
Subjetivas do Câncer:
um Estudo de Casos
em uma Perspectiva
Construtivo-Interpretativa
Cancer Subjective Configurations :
A Case Study in a Constructive-Interpretative Approach

Las Configuraciones Subjetivas del Cáncer:


Un Estudio de Casos en Una Perspectiva Constructivo-
Interpretativa

Fernando Luis
González Rey

Centro
Universitário
de Brasília
Artigo

PSICOLOGIA CIÊNCIA E PROFISSÃO, 2010, 30 (2), 328-345


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PSICOLOGIA
CIÊNCIA E PROFISSÃO, Fernando Luis González Rey
2010, 30 (2), 328-345

Resumo: O presente artigo aborda o estudo das configurações subjetivas do câncer a partir de uma visão
da subjetividade em uma perspectiva histórico-cultural. A pesquisa foi realizada através do estudo de casos
em mulheres com diferentes tipos de câncer. A aproximação metodológica se apoiou na epistemologia
qualitativa, enfatizando o caráter construtivo-interpretativo e dialógico da pesquisa. No artigo, são discutidos
dois casos, através dos quais se tenta demonstrar o processo de construção da informação nesse tipo de
pesquisa. O processo de construção da informação se apoia em hipóteses levantadas pelo pesquisador
no curso da pesquisa, que se apoiam, por sua vez, em indicadores construídos pelo próprio pesquisador
no processo de construção da informação. A convergência de diferentes indicadores em relação a uma
hipótese a transforma em uma construção teórica sobre a questão estudada, trazendo inteligibilidade sobre
os possíveis sentidos subjetivos relacionados com as experiências de se viver com câncer.
Palavras-chave: Configuração subjetiva. Câncer. Sentido subjetivo. Subjetividade.

Abstract: This paper is oriented to the study of cancer subjective configurations based on the understanding
of subjectivity from a historical-cultural standpoint. The research was carried out through the case study
of women who had different types of cancer. It was used a constructive-interpretative methodological
approach based on the qualitative epistemology. Two cases by which the author attempts to demonstrate
how the construction of information is done under this qualitative research orientation are discussed in
the paper. The construction of information is oriented by the hypotheses the researcher arose based on
the indicators of the research process. When different indicators converge in regard to one hypothesis, it
becomes a theoretical construction concerning the studied topic. This theoretical construction brings into
light possible subjective senses and configurations related to the experience of living with cancer.
Keywords: Subjective configuration. Cancer. Subjective sense. Subjectivity.

Resumen: El presente artículo aborda el estudio de las configuraciones subjetivas del cáncer a partir de
una visión de la subjetividad en una perspectiva histórico-cultural. La pesquisa fue realizada a través del
estudio de casos en mujeres con diferentes tipos de cáncer. La aproximación metodológica se apoyó en la
epistemología cualitativa, enfatizando el carácter constructivo-interpretativo y dialógico de la pesquisa. En
el artículo, son discutidos dos casos, a través de los cuales se intenta demostrar el proceso de construcción
de la información en ese tipo de pesquisa. El proceso de construcción de la información se apoya en
hipótesis recogidas por el investigador en el curso de la pesquisa, que se apoyan, por su vez, en indicadores
construidos por el propio investigador en el proceso de construcción de la información. La convergencia
de diferentes indicadores en relación a una hipótesis la transforma en una construcción teórica sobre la
cuestión estudiada, trayendo inteligibilidad sobre los posibles sentidos subjetivos relacionados con las
experiencias de vivir con cáncer.
Palabras clave: Configuración subjetiva. Cáncer. Sentido subjetivo. Subjetividad.

As doenças crônicas representam um setores das ciências da saúde em relação a


importante campo de estudo para a esses elementos nos últimos 20 anos.
Psicologia, considerando o impacto que têm
na subjetividade dos pacientes bem como a No presente artigo, iremos apresentar, a
importância do envolvimento dos mesmos partir da perspectiva histórico-cultural sobre
a subjetividade, um estudo qualitativo com
nas mudanças de seu modo de vida, as quais
o objetivo de produzir certa inteligibilidade
são essenciais tanto para o tratamento das
sobre as diferentes configurações subjetivas
doenças como para assegurar a sua qualidade
do câncer em pessoas. A partir de nosso
de vida.
referencial, temos como perspectiva transpor
o nível puramente descritivo das falas dos
Até hoje, as ciências da saúde, profundamente sujeitos estudados, para identificar os sentidos
apoiadas no modelo biomédico tradicional, subjetivos que configuram a experiência do
não consideram no devido lugar a importância adoecer nesses pacientes.
dos aspectos subjetivos sociais e culturais
nos processos de saúde-doença, apesar das A questão da subjetividade, que tem sido
grandes mudanças ocorridas em determinados desenvolvida em diferentes campos teóricos

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na Psicologia, é apresentada neste trabalho do século XX, ela se divide em um conjunto


a partir da perspectiva histórico-cultural, na de tendências, umas dominantes na esfera
qual o fenômeno subjetivo é considerado acadêmica, e outras que caracterizam sua
não apenas em seu aspecto individual mas prática clínica.
também constituinte dos diferentes espaços
sociais da atividade humana (Castoriadis, A área acadêmica é dominada, em particular
1982; González Rey, 2002). nos Estados Unidos, por um empirismo
crescente que também teve forte expressão,
A partir do posicionamento teórico que mesmo que não tão homogênea, na Europa.
serviu de base à pesquisa que fundamenta Nesse período, entre final do século XIX
este artigo, tento apresentar o valor e primeira metade do XX, a pesquisa em
heurístico da teoria histórico-cultural para o Psicologia se identificou rigidamente com
campo da saúde, uma vez que essa teoria, a experimentação, e sua orientação prática
tradicionalmente, tem sido mais associada esteve dominada pela psicometria, apoiada
às áreas da Psicologia da educação e, mais nos mesmos princípios epistemológicos
recentemente, à Psicologia social. positivistas que dominaram a pesquisa. Foi
esse o período que K. Danziger (1990) definiu
Embora tenha se desenvolvido no Brasil um como metodolatria da Psicologia e que S. Koch
importante campo de pesquisa sobre os (1992), outro grande historiador da Psicologia,
aspectos psicológicos do câncer, como é o definiu como fetichismo metodológico.
caso da psico-oncologia (conforme Ribeiro,
1994; Gimenes, 1997, entre outros), o qual Nesse período, temos também o
tem constituído um espaço particular de desenvolvimento da psicanálise, que, tendo
pesquisa que integra trabalhos apoiados em suas bases no campo da Medicina, apareceu
diferentes perspectivas teóricas, o presente como teoria associada à prática clínica e
estudo não se apoia nos pressupostos orientada para o estudo do inconsciente em
desenvolvidos por essa interface disciplinar. uma perspectiva dinâmica. Com a psicanálise,
Tendo em vista que nosso interesse é o tema da subjetividade, mesmo que não
estudar a dimensão subjetiva dessa doença, definida de forma explícita por Freud, aparece
buscamos nossa fundamentação teórica na associado à estrutura psíquica da pessoa,
perspectiva histórico-cultural, que nos aponta na qual o inconsciente representa o núcleo
a relevância da questão da subjetividade na dinâmico essencial.
constituição do ser humano.
A psicanálise, como qualquer outra teoria
A noção de subjetividade: que se institucionalizou e se perpetuou na
sua especificidade em uma história da Psicologia, não representou uma
perspectiva histórico-cultural teoria monolítica, mas caracterizou-se como a
evolução de uma complexa família de teorias
A Psicologia vai aparecer e se estabelecer que, organizadas ao redor de alguns núcleos
como campo científico no contexto da teóricos compartilhados, tem se desenvolvido
modernidade pautando-se em princípios de forma permanente. Uma das características
teóricos e epistemológicos de outros saberes mais marcantes dessa evolução tem sido o
mais desenvolvidos na época: a Medicina, reconhecimento crescente do aspecto social
o saber jurídico e as ciências naturais, e da cultura na formação da subjetividade
principalmente a Física clássica. No início (Castoriadis, 1982; Guattari, 1992; Elliott,

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1992). De certa forma, o conceito de de subjetividade. Sobre essa relação, que


complexo em Jung vai também nessa direção. ele apenas apresenta, mas não desenvolve
no curso de sua obra, escreve: “A palavra é
Também no início do século XX vai se uma fonte infinita de novos problemas. Seu
desenvolver a psicologia soviética, que, sentido nunca é completo. Finalmente, o
dentro de sua pluralidade, se preocupa com sentido da palavra depende da compreensão
o caráter sistêmico e complexo da psique da palavra como todo e da estrutura interna
humana. Vigotski (1987) e Rubinstein (1967), da personalidade” (Vigotski, 1987, p. 276).
dois autores clássicos dessa psicologia, tomam
os temas da personalidade e da motivação Pelo caráter incompleto e contraditório do
como centrais em suas obras. termo sentido encontrado nas formulações
de Vigotski, assim como pelas inúmeras
O tema da subjetividade não aparece de definições de sentido existentes na literatura
forma explícita no campo da psicologia (Schpet, 1996; Bakhtin, 1997; Merleau-Ponty,
soviética em razão do caráter materialista 1991, entre outros), considerei importante
mecanicista que dominava a interpretação do introduzir o conceito de sentido subjetivo
marxismo, interpretação essa realizada pelo como a unidade teórica para o estudo da
subjetividade. Quero me referir ao termo
grupo que estava no poder político e que
sentido subjetivo como unidade psicológica
terminou se tornando parte do imaginário
que expressa o caráter subjetivo dos processos
da própria sociedade soviética. Os teóricos
psíquicos humanos nas condições da cultura
soviéticos se aproximam desse tema de forma
(González Rey, 2002, 2005, 2007). Assim, o
implícita, ao buscarem os sistemas dinâmicos
sentido subjetivo se caracteriza por:
do funcionamento da psique através da
unidade do cognitivo e do afetivo. Tanto
1 - Estar sempre envolvido na subjetividade
Vigotski quanto Rubinstein consideravam
como sistema. O sentido subjetivo representa
esses sistemas processos desenvolvidos
um momento de unidade e de confrontação
dentro da cultura. A relevância da categoria
entre a subjetividade social e individual, e
de reflexo para essa psicologia, porém, que
aparece na ação do sujeito estreitamente
ganhou peso político a partir de sua definição
associado à organização atual de sua
por Lênin, limitou a compreensão do caráter
subjetividade individual assim como aos
gerador da psique, reduzindo-o à noção de
processos da subjetividade social, dentro
reflexo. dos diferentes espaços e contextos em que
a pessoa atua. O sentido subjetivo não é
O conceito de subjetividade que trabalharei um reflexo, é uma produção subjetiva que
neste artigo parte de um dos últimos se organiza em configurações subjetivas
conceitos desenvolvidos por Vigotski, o que representam verdadeiros sistemas em
conceito de sentido, que, na obra desse desenvolvimento;
autor, nos aproxima de uma compreensão
da unidade do afetivo e cognitivo, o que 2 - Expressar a unidade inseparável do
não é equivalente à soma de ambos os simbólico com o emocional, unidade onde
processos tomados em separado, mas a uma cada um desses aspectos evoca o outro, sem
relação dialética entre esses elementos. É se converter em sua causa. O emocional e
na relação que Vigotski estabelece entre o o simbólico se expressam em uma relação
sentido e a personalidade que se abre uma recursiva nos sentidos subjetivos, como
importante perspectiva para nova definição processos sempre em desenvolvimento;

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3 - Estarem sempre relacionados à definição 3 - Os sentidos subjetivos têm caráter


de espaços simbólicos produzidos pela cultura, patogênico não pelo seu conteúdo, mas pelo
como gênero, moralidade, religião, parentesco, tipo de emoções neles envolvidas. Esse é um
sexualidade, etc., mas alimentarem-se de processo que não é regulado racionalmente
emoções singulares configuradas na história pelo sujeito, embora o seu posicionamento
de cada sujeito. racional seja parte do processo de produção
dos sentidos subjetivos.
Nesse caso, em relação ao campo da saúde, as
representações das doenças se convertem em Partindo do que foi colocado, reconhecemos
uma produção social de caráter simbólico, em que os sentidos subjetivos estão em
permanente processo, como momentos de
relação ao qual é construída uma multiplicidade
subjetivação da ação do sujeito em seus
de sentidos subjetivos em decorrência dos
diferentes contextos. Atribuímos a eles
discursos e das representações sociais em que
também uma forma de organização em
se define a construção social da doença e das
que a história do sujeito está presente como
configurações subjetivas dos sujeitos que se
organização subjetiva do vivido. Essas formas
relacionam nesses espaços sociais.
de organização da subjetividade individual
constituem as configurações subjetivas, que
O conceito de sentido subjetivo tem as
não são causas da ação do sujeito, mas que
seguintes características para que se possa
representam apenas mais uma fonte de
entender a dimensão psíquica das doenças: produção de sentido subjetivo dentro da ação.

1 - Nenhuma doença em si é portadora de Os sentidos subjetivos não aparecem explícitos


um sentido subjetivo. Os sentidos subjetivos de forma direta, na expressão intencional do
se produzem como resultado da articulação sujeito, não estão dados no que o sujeito
dialética entre as emoções e os processos fala. Eles aparecem de forma indireta, por
simbólicos, que aparecem como o resultado expressões muito diversas e não associadas
dos modos como cada sujeito vive sua doença. de forma imediata entre si. Os sentidos
Viver a doença não é apenas uma expressão subjetivos têm que ser definidos em um
da relação direta do sujeito com as suas processo construtivo-interpretativo por
consequências, mas das produções do sujeito parte do pesquisador. Esse fato implicou um
sobre ela a partir de seus recursos psicológicos questionamento epistemológico que levou
atuais; à definição da epistemologia qualitativa
(González Rey, 1997) como fundamento
2 - Não existem elementos universais a partir de uma nova proposta de pesquisa capaz
dos quais se possa predizer as possibilidades de responder aos desafios do estudo da
de uma doença, tendo em vista o tipo de subjetividade.
organização psicológica da pessoa. A doença
é uma complexa organização de fatores A subjetividade assim representada, através
diferentes que, em sua integração e diante dos sentidos subjetivos e das configurações
de determinadas condições, produzem uma subjetivas que se desenvolvem na ação do
mudança qualitativa no funcionamento do sujeito, é inseparável da rede simbólico-
organismo. Os sentidos subjetivos são apenas subjetiva que configura cada ação humana.
um dos elementos que participam desse Nessa rede, emoções e processos simbólicos
complexo processo; atuais são inseparáveis de outros sentidos

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subjetivos que resultaram dos efeitos em uma troca permanente de ideias com
colaterais de experiências já vividas, e que as pessoas que participam do projeto,
hoje representam a configuração subjetiva convertendo o espaço da pesquisa em novo
da pessoa em que se expressaram as espaço social para os participantes.
experiências anteriores. Nessa forma de
compreender a subjetividade, é rompida Nessa perspectiva, os instrumentos se tornam
definitivamente a tendência de compreendê- simples indutores de informação, recursos
la a priori, através de categorias universais. para conseguir a expressão comprometida
das pessoas que se expressam através deles.
Metodologia Os instrumentos são usados dentro de uma
perspectiva que vai além do instrumentalismo,
O presente trabalho parte de uma tão dominante na Psicologia. Não são os
metodologia qualitativa de caráter critérios de sua construção que definem o
construtivo-interpretativo que se apoia valor dos instrumentos, mas é a qualidade da
nos princípios da epistemologia qualitativa informação que eles propiciam que deve ser
(González Rey, 1997, 1999, 2005): o caráter construída e interpretada pelo pesquisador.
construtivo-interpretativo do processo de Nesse sentido, supera-se algo muito bem
produção do conhecimento, a comunicação colocado por Adorno ao expressar: “Em
como espaço de produção da informação e o geral, a objetividade da pesquisa empírica
reconhecimento do singular como instância é uma objetividade dos métodos, não do
de produção de conhecimento científico. pesquisado” (Adorno, 2001, p. 22).
Nessa perspectiva, o nosso posicionamento
metodológico se apresenta como um processo Os instrumentos usados na pesquisa foram
dialógico orientado ao envolvimento ativo o complemento de frases e de várias sessões
dos participantes da pesquisa, condição de conversações individuais com cada
essencial para que os sentidos subjetivos participante. O complemento de frases
possam emergir no processo. Defendemos não foi trabalhado como prova projetiva,
uma perspectiva metodológica que parte de como tem sido usado na Psicologia, mas
uma epistemologia da construção, e não da como instrumento aberto para o estudo
resposta. da subjetividade, segundo a definição
de instrumento assumida neste trabalho
Assim, o sujeito participante da pesquisa (González Rey & Mitjáns Martinez, 1989;
é compreendido a partir de sua expressão González Rey, 1999, 2005) O complemento
aberta, autêntica, capaz de expressar seus de frases se organiza em torno de um número
desejos, necessidades e contradições, variável de frases que a pessoa estudada deve
processos esses que não aparecem de forma completar, e que sempre tomam formas
direta na palavra, mas através de elementos singulares a partir do que é relevante para
indiretos que recebem significado pela quem as responde.
interpretação do pesquisador. A pesquisa se
baseia em uma relação dialógica orientada O complemento de frases é sempre
para a abertura de novos espaços de troca apresentado aos participantes da pesquisa
e reflexão que, pela sua autenticidade, vão depois que o clima dialógico foi constituído
envolver as emoções do sujeito, condição dentro do grupo pesquisado. Cada instrumento
essencial para a emergência dos sentidos usado na pesquisa é um momento de um
subjetivos. O pesquisador aparece envolvido processo dialógico, que se caracteriza por uma

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sequência de conversas com os participantes modelo teórico em desenvolvimento, capaz


da pesquisa. Qualquer instrumento de de gerar inteligibilidade sobre os sentidos
expressão escrita como o que foi referido e as configurações subjetivas associadas ao
antes pode desdobrar-se em um instrumento câncer. Não se pretende chegar à configuração
dialógico em si quando, logo após a análise subjetiva do câncer, pois não existe somente
do pesquisador, é devolvido aos sujeitos uma, mas muitas e diversas, dependendo
com o objetivo de estabelecer uma conversa dos recursos subjetivos da pessoa e de seus
sobre o que a pessoa pensa, tendo em vista contextos de vida social.
aquilo que escreveu. Esses desdobramentos
nos permitem, com frequência, a obtenção A generalização, nesse tipo de pesquisa,
de uma informação muito rica sobre o sujeito está muito mais associada à qualidade do
estudado. modelo teórico em andamento, formado pelas
hipóteses que vão se legitimando no curso da
Os casos apresentados neste artigo foram pesquisa, pelos sistemas de informação que
extraídos da pesquisa em andamento ganham visibilidade nas construções teóricas.
Identidade e representação subjetiva da Os modelos teóricos aparecem como resultado
doença: seu significado para repensar a da construção teórica sobre um sistema de
prevenção de saúde no câncer e no enfarto informação empírica, que se legitima pela
do miocárdio. Atualmente, somos um total de sua capacidade de gerar inteligibilidade sobre
35 pessoas, que trabalham, usando dinâmicas aspectos dessa informação que, fora dessas
grupais e conversas individuais, com grupos representações, não teriam significado para o
focais de até 10 participantes sobre temas problema em estudo. Como expressa Mitchell
que, em geral, são decididos pelos próprios (1983), “... o problema pode ser tratado em
participantes. O grupo sempre começa depois termos de generalidade, mais em relação
de uma sequência de conversas individuais. a proposições teóricas que a população ou
universos” (Mitchell como citado por Bryman
Nos casos que apresentamos a seguir, & Burguess, 1994, p.160).
foram realizadas varias sessões de conversa
de até uma hora e meia cada uma (as Os modelos teóricos representam uma
conversas não são reguladas por um tempo construção que permite dar visibilidade a
padronizado, mas sua duração depende da aspectos e formas de organização do problema
riqueza, do envolvimento e da necessidade estudado, os quais não são acessíveis de forma
vivenciada pelas pessoas envolvidas) e, direta pela observação, mas que ganham
complementarmente, foi usado o instrumento visibilidade para o pesquisador em suas
complemento de frases, que foi apresentado múltiplas e recursivas inter-relações, por
quando o vínculo já havia sido estabelecido meio do modelo produzido. Um instrumento
em conversas individualizadas (Bayer, 2004; muito importante na organização do modelo
Silva, 2005). teórico que acompanha a construção do
conhecimento sobre o problema da pesquisa
Os casos foram trabalhados como estudo de é a definição de indicadores no curso do
casos, sem nenhum tipo de padronização processo de análise da informação empírica.
dos instrumentos ou dos procedimentos Os indicadores são significados hipotéticos
seguidos. A relevância do estudo de caso que se definem a partir de elementos ou
nesse tipo de pesquisa se caracteriza pelos conjuntos de elementos da informação
elementos que esses casos aportam a um analisada (González Rey, 1999, p. 112).

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Os indicadores são significados que o assumido. Esse posicionamento está orientado


pesquisador vai gerando perante certos para superar a forma direta e linear que,
trechos de informação. A concorrência de com frequência, é usada nas pesquisas
indicadores diferentes em relação a um psicológicas, categorias mais gerais associadas
mesmo significado permite a definição de a um referente teórico para se referir a
hipóteses que, na sua inter-relação, definem
processos e eventos do nível empírico. Com
o modelo teórico.
isso, as categorias terminam se impondo como
significados a priori, que não são construídos
Finalmente, em relação a nossa aproximação
desde a especificidade da informação
metodológica, é importante destacar o
lugar que atribuímos às hipóteses dentro empírica que se analisa.
desse processo construtivo-interpretativo.
As hipóteses representam construções em Antes de começar a pesquisa, foi feita uma
andamento, que não têm como objetivo a reunião com os possíveis participantes, o
verificação empírica, mas que representam o que constituiu o cenário social de pesquisa
fio teórico condutor usado pelo pesquisador (cf. González Rey, 2005), compreendido
para integrar o complexo sistema de como o primeiro momento no qual o tema é
informações, ideias e reflexões que, no curso apresentado de forma amena e instigante, que
da pesquisa, vão conduzindo as construções facilite o estabelecimento da comunicação
que definiram o modelo teórico em uma
entre o pesquisador e os participantes assim
pesquisa concreta.
como o interesse dos participantes.

Como destacam Bourdieu, Chamboredon e


No presente artigo, serão apresentados
Passeron (1975),
dois estudos de caso com as seguintes
um sistema de hipóteses contém seu valor características gerais :
epistemológico na coerência que constitui
sua plena vulnerabilidade; por um lado, um
só fato pode questioná-lo integralmente, – MG, mulher, 30 anos, mãe de dois filhos, um
e, por outro, construído sob as aparências menino e uma menina, divorciada. Apresenta
fenomenais, não pode receber a confirmação
imediata e fácil que os fatos, tomados em câncer na cabeça há, aproximadamente,
seu valor superficial, ou os documentos, cinco anos.
em forma literal, proporcionariam. Em
efeito, ao preferir expor-se a perder tudo a
fim de ganhar tudo, o cientista confronta- – MT, mulher, 50 anos, mãe de dois filhos,
se a todo o momento com os fatos que um menino e uma menina, casada, que fez
interroga, aquilo que o respalda em seu
questionamento dos fatos. (p. 92) mastectomia radical no ano 2000.

O modelo teórico é uma construção que não Ambas se ofereceram como voluntárias
pretende aplicar conceitos de uma teoria logo depois que a pesquisa e suas questões
assumida a priori, mas avançar no tecido de norteadoras foram apresentadas ante um
informações empíricas a partir de hipóteses grupo de mulheres submetidas ao tratamento
que vão sendo geradas nesse processo com do câncer. O fato de ambas terem recebido o
base nos indicadores levantados e que diagnóstico de câncer no período de gravidez
permitem dar significado, no caso concreto só foi conhecido logo depois de ter sido
em estudo, a categorias do referente teórico iniciado o processo de pesquisa.

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Análise e construção da não em um sentido de desmobilização, mas


informação como base motivacional de uma elaboração
sobre o viver que, mais do que uma reflexão
intelectual isolada, representa uma produção
Tanto MG quanto MT tiveram o diagnóstico
de sentido subjetivo, o que se evidencia
de câncer durante o período da gravidez
na elaboração carregada de emoção que
de um dos filhos, o que confere as suas
expressa quando afirma “eu vou viver mesmo
experiências um caráter muito particular
até o último dia de minha vida”, o que
no estudo das configurações subjetivas do
representa uma forma de se posicionar ante
câncer. Para ambas, a gravidez e os filhos
sua situação atual. É precisamente essa teia
constituem fontes de sentidos que marcaram
de processos simbólicos e emocionais em
a organização de suas configurações subjetivas
que, de forma simultânea, coexistem aspectos
em relação à doença.
conscientes, intencionais e inconscientes,
que definem uma configuração subjetiva,
MG expressa, durante a conversa: “(...) acho
que representa um novo sistema em relação
que se eu não estivesse grávida, de repente
àqueles sentidos subjetivos que a ela dão
eu não teria encarado como eu encarei”; um
origem.
pouco mais à frente, nesse mesmo encontro,
ela afirma:
Segundo a posição teórica sobre subjetividade
“(...) eu pensei: meu Deus, eu vou morrer! assumida neste trabalho (González Rey,
Só que, ao mesmo tempo, eu falei: ‘não, 2002, 2004, 2005), a subjetividade como
eu não posso morrer. Eu acabei de ter um sistema de configurações subjetivas é
bebê, isso não é justo, minha filha esta aí’.
Então era aquela coisa de ficar acordada de inconsciente, sendo a consciência o resultado
manhã e falar assim: ‘eu vou morrer, mas eu das representações contidas na linguagem da
vou viver mesmo até o último dia de minha pessoa. Os processos simbólico-emocionais
vida, acreditando que eu vou viver’. Então,
eu tô viva até hoje, e eu sei que vou ficar até em que aparece organizada na psique a
mais um bom tempo”. experiência vivida não têm nenhuma relação
imediata e direta com a consciência.
Essas expressões representam um indicador
da relevância da filha em uma produção Os sentidos subjetivos não podem se
simbólico-emocional associada à doença, substancializar, eles não são identificáveis pelo
mas que parece atuar como uma filosofia da seu conteúdo, mas representam um sistema
vida que irá marcar não só o vínculo com em que coexistem fenômenos diferentes,
a filha mas também a sua própria posição de diversas ordens e até contraditórios, que
ante a vida. Essas reflexões, sem dúvida, tomam uma expressão simbólico-emocional
estão carregadas de emoções que lhe dominante sempre dentro de um contexto; de
permitem posicionar-se, centrar-se em um modo diferente das configurações subjetivas,
foco e desconhecer outros. A delimitação os sentidos subjetivos expressam uma
clara dos sentidos subjetivos (González Rey, elevada variabilidade. A estabilidade de certa
2002) envolvidos nessa forma de encarar produção de sentidos subjetivos é dada pela
a doença precisa de maiores informações. organização de uma configuração subjetiva.
Observa-se como o posicionamento frente à Unida à trama subjetiva explicada antes,
doença decorre de uma avaliação do vínculo cabe destacar a capacidade do sujeito para se
com a filha, e como a morte, decorrente da posicionar ativamente, a sua capacidade de
representação social do câncer, está presente, decisão em relação à definição de um caminho

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vital frente à doença. Nessa capacidade de É precisamente a pluralidade de aspectos


decisão, emerge, em todas as suas nuances, a considerados que mostram como informações
pessoa como sujeito da doença, sujeito capaz diversas convergem em seu valor simbólico-
de tomar posições, de elaborar seus medos e emocional, o que permite falar de sentidos;
dores e de se posicionar de frente aos desafios o sentido subjetivo sempre aparece no curso
subjetivamente produzidos (Touraine, 2004, de uma construção, não pela mera descrição
2006; González Rey, 2002). de quem fala.

A relevância dos filhos para sua produção O marco teórico assumido (González
subjetiva evidencia-se não apenas em Rey, 2002, 2004, 2005) permite, a partir
múltiplos trechos da conversa mas também no das categorias de sentido subjetivo e da
complemento de frases, no que ela expressa : configuração subjetiva, construir a diversidade
de sentidos subjetivos associados à forma de
– Meu maior medo: deixar meus filhos viver a doença. Não é o câncer em si, mas
desamparados suas configurações subjetivas que estão na
– Minha preocupação principal: criar meus base das expressões psicológicas da pessoa
filhos que adoece.
– Sempre que posso: brinco com meus filhos
– Amo: meus filhos Em outro fragmento, MG expressa :
– Farei o possível para: conseguir criar meus
filhos. Tem determinado tempo que eu tô bem,
que eu olho para mim, às vezes até esqueço,
só lembro na sexta feira (o dia que vai à
Essas frases, junto aos trechos apresentados quimioterapia)... mas às vezes eu passo
da conversa, constituem um indicador do tão bem durante a semana que eu chego a
esquecer. E já tem uma fase que eu já estou
lugar dos filhos no desenvolvimento dos mais assim, eu não sei o que acontece que
sentidos subjetivos associados à doença. Nas eu estou carente, sabe de, poxa, por que eu
frases exemplificadas acima, o significado tenho isso?... Aí eu olho para meus filhos,
aí vem: será que eu vou conseguir criar,
subjetivo dos filhos aparece não apenas será que eu vou conseguir ver a Maria na
frente a indutores diretos em frases em que, formatura, fazer a festinha de quinze anos
de forma direta, os filhos são mencionados, dela?

mas também frente a indutores indiretos;


uma frase de particular relevância para Nesse trecho, vemos como sentidos subjetivos
avaliar o valor dos filhos na sua produção de diferentes se entrelaçam, entram em tensão,
sentidos subjetivos frente à doença é aquela alimentam-se de desdobramentos emocionais
em que afirma: “sempre que posso, brinco e simbólicos que vão em direções opostas.
com seus filhos”. Aqui se evidencia que eles Nesse momento, observa-se como o estado
não representam apenas uma preocupação, emocional dominante que se apropria dela se
mas um interesse, uma fonte de prazer a desdobra em processos simbólicos, imagens,
que dedica seu tempo livre. Essa frase é representações e reflexões que, por sua vez,
também um indicador de que ela mantém são fontes de novas emoções, que se mantêm
sua alegria, sua disposição vital. A informação em desenvolvimento dentro de um processo
portadora de sentido subjetivo não é aquela de sentido subjetivo diferente daquele que
enfatizada no plano intencional, mas a que aparece nos momentos de otimismo, de
expressa um estado emocional produzido vontade de luta e de definição de projetos,
na ação, além de qualquer juízo valorativo. que marcam a maior parte da sua vida.

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Novamente diante de situações como a Neste momento, namora D., e tem planos
descrita no último trecho citado de MG, de casar-se logo. Seu posicionamento forte e
ela volta a aparecer como sujeito que se aberto, expressão do sentido subjetivo hoje
posiciona frente a seus estados emocionais, dominante na sua configuração da doença, se
o que a ajuda a reverter esse estado afetivo expressa na sua capacidade de luta, otimismo,
dominante e se converte em um elemento vínculo com os filhos, interesses, amor pelos
essencial na emergência dos sentidos outros e triunfo frente à doença, o que
subjetivos hegemônicos na configuração aparece com clareza em sua reação frente ao
subjetiva da doença. Ela diz: “E... aí nessas ex-marido e em seu posicionamento atual em
horas eu dou uma parada, entro em contato relação a ele. Sobre esse aspecto, ela disse:
com alguém que seja de confiança, ou da
Quando foi diagnosticado o tumor, o meu
família e peço: ‘oh! estou desse jeito, me ex-marido passou a ser outra pessoa, ficou
ajuda!’” muito atencioso, muito ali colado, cuidando
de mim, e isso se desgastou. Com o tempo,
isso também foi se desgastando a ponto dele
Os sentidos subjetivos sofrem metamorfoses, continuar vivendo a vida dele e dizer: ‘olha,
são susceptíveis de desdobramentos, nos eu não tenho mais...’ Eu não lembro qual
quais o que parecia se acompanhar de um o termo que ele utilizou, mas foi como se
fosse assim: ‘eu não tenho mais forças para
tipo de emoção de repente se transforma em continuar’. (...) E eu disse: ‘eu não quero te
outras emoções. Nesse processo, coexistem obrigar a fazer nada, essa cruz é minha, e você
momentos dominantes diferentes associados não tem que carregar com ela, não’. Eu acho
que ele começou a ficar um pouco cansado
a sentidos subjetivos semelhantes que, em daquela situação.
suas inter-relações com outros aspectos da
vida psíquica frente a contextos diferentes, Aqui se evidencia um outro aspecto da
levam a novas emoções e processos configuração subjetiva da doença em MG, a
simbólicos, como foi dito no trecho anterior. emergência de um posicionamento humano
A subjetividade não é estática nem ocorre a aberto em relação ao outro, reconhecendo
priori em relação à trama vivida; ela é parte os limites desse outro, respeitando-os. O
dessa trama, antecipando-se, mas também caminho da vida não é uma expressão linear
mudando no curso da vida desse sujeito. de caráter racional, mas o processo complexo
de configuração subjetiva do vivido, que é
A conversa, o contato com os outros o responsável pela motivação das opções
representou, naquele momento de baixa do sujeito. Essa nova filosofia de vida, essa
relatado por ela, uma fonte de novas capacidade de produzir sentidos subjetivos
capazes de acompanhar emocionalmente
produções psicológicas, facilitadoras da
a superação de um egoísmo centrado
emergência de novos sentidos subjetivos.
na doença, representa um indicador de
Esses sentidos subjetivos que se tornaram
desenvolvimento da esfera moral, responsável
dominantes podem ser subordinados em
por novos valores morais que passam a
determinados momentos frente a outros. É
integrar a configuração subjetiva da doença,
importante destacar a relevância da decisão possibilitando a emergência de valores como
da pessoa na procura de atividades e relações o reconhecimento à independência do
capazes de produzir novos estados psíquicos. outro e sua responsabilidade pessoal frente à
doença, sem assumir uma posição de vítima.
MG mantém o seu interesse pela vida, Esse posicionamento descrito antes se revela
pelos estudos, pelos seus projetos de vida. também como um indicador da forma como

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ela assumiu a doença, como sua, sem – Casamento: vou casar com R. (namorado
romper sua identidade como pessoa. É a atual)
sua doença, e, portanto, tem que enfrentar – Acredito que minhas melhores atitudes:
todas as consequências que derivam dela, nunca ter mágoa de ninguém
como é assumir as consequências de
qualquer decisão pessoal que se toma na Nas frases acima, evidenciam-se a riqueza
vida. Entre as pessoas com quem gosta de e diversidade de seus interesses e projetos.
conversar até hoje, está o ex-marido. Esse Nesse instrumento, ela revelou um tom
elemento aparentemente insignificante é um emocional positivo em geral e também
importante indicador do tipo de emoção que reconheceu seu sofrimento e o mal-estar da
acompanha as suas reflexões sobre o espaço doença em frases pontuais, o que evidencia
do outro, um indicador do sentido subjetivo que ela não foge da doença, mas assume e
dos valores assinalados anteriormente. reconhece a sua presença, sem fazer dela o
centro de sua vida. É interessante observar que
Esse posicionamento moral próprio, unido indutores diretos como fracassei, não gosto
à sua capacidade de produzir sentidos e lamento não estão associados à doença, o
subjetivos nas diferentes áreas de sua vida que representa um outro indicador de que
e a sua capacidade para elaborar projetos ela não está centrada na doença e de que
para o futuro representam, pela relação esta não monopoliza sua capacidade de mal-
entre eles, um importante indicador do estar, expressando este em relação a outras
desenvolvimento de sua identidade nas motivações fortes de sua vida pessoal, como
condições da doença; ela é capaz de a perda do pai.
reconhecer a si mesma em suas posições
próprias e de gerar alternativas frente aos Outro elemento de sentido subjetivo
conflitos que vão aparecendo, frente aos importante no caso de MG é sua representação
quais se posiciona como protagonista. A da doença em relação à sua vida pessoal, que
identidade é um sistema vivo, em processo, é totalmente congruente com as construções
de muita importância na produção de novos que temos apresentado até aqui. Ela declara:
sentidos subjetivos frente às realidades
imprevistas que vão aparecendo. Eu penso que nada acontece por acaso... eu
acho assim, eu estou aprendendo muita coisa,
eu estou mudando como pessoa de uma forma
Essa orientação para o futuro, esses novos assim, eu posso estar até doente na carne,
interesses e o significado de seu novo mas tem muita coisa no meu consciente, no
meu coração, psicologicamente falando, no
relacionamento ficam claros tanto nos trechos meu espírito, que está sendo curado através
das conversações quanto no complemento dessa experiência.
de frases, no qual se destacam as seguintes:
Ela consegue ver a doença não como trauma
– Gosto: de ler muito ou fatalidade; a doença é também uma opção
– Sofro: quando passo mal de vida! Novos sentidos subjetivos têm sido
– Desejo: ficar curada produzidos nesse viver doente, o que têm
– O sucesso: fazer meu doutorado facilitado o acesso a novas experiências, o
– A felicidade: depende de mim que tem permitido que ela veja novas coisas
– Lamento: pela perda de meu pai da vida. Esse sentir é uma experiência de vida
– Não posso: fazer mais judô e de crescimento pessoal que ela vivencia e
– O trabalho: minha terapia reconhece e que representa outro indicador

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de sua identidade, da visibilidade que do mundo que lhe permite assumir sua
manteve em todo momento sobre si mesma responsabilidade frente à doença, aproveitar
e dessa capacidade de crescer a partir de do outro o melhor que ele tem para lhe
novas dimensões de si mesma. oferecer são todos aspectos de sentido
subjetivo que se relacionam como expressões
É muito interessante a construção teórica da configuração subjetiva da doença, nos
sobre o lugar do sujeito na produção quais ela se reconhece no processo de viver
de sentidos subjetivos sobre a doença: nas condições da doença.
a construção, por parte de MG, de um
sistema de relacionamentos favorecedores Esse sistema de sentidos diversos
de sentidos subjetivos que vão na direção e em movimento, com seus múltiplos
do bem-estar e do desenvolvimento de desdobramentos simbólicos e emocionais,
alternativas de vida frente à doença. Nesse forma a configuração subjetiva da doença,
sentido, ela expressa: na qual as mudanças que afetam um dos
aspectos envolvidos atuam como o início de
eu tenho pessoas que vestiram a camisa junto um processo de mudança que afetará todo
comigo, e elas podem até sofrer, mas elas não
mostram na minha frente... O Paulo sempre
o sistema. É desse sistema subjetivo que,
foi um amigo de chegar e falar assim: ‘olha, em última instância, se definem os estados
bola para frente, menina, levanta a cabeça, se psíquicos associados ao seu cotidiano.
você abaixar a cabeça, você não sai do lugar’.
E é esse o tipo de amigo que eu preciso por
perto... O Paulo às vezes é um pouco duro Para MT, que também recebeu o diagnóstico
até demais. Ele faz igual ao meu ex-marido, de câncer durante a gravidez, esta se
que é um ótimo amigo.
transformou também em um elemento de
Esse trecho evidencia seu posicionamento sentido subjetivo da doença, mesmo que
ativo em relação às pessoas, que é relevante os filhos, no seu caso, não tenham tido a
em sua produção subjetiva atual. A última mesma relevância subjetiva que para MG.
frase é um outro indicador, convergente com Assim ela diz:
o que ela já tinha citado no complemento
Eu não fiquei muito desesperada não, você
de frases, de não ser uma pessoa de guardar leva um choque (refere-se ao momento do
mágoas e ressentimentos, pois, de forma diagnóstico)... Não sei se a minha situação
totalmente espontânea e em um contexto de gravidez me deu mais força para ficar
mais tranquila, não tive os meus momentos
em que não lhe foi perguntado, ela reafirma de desespero, mas tive os meus momentos
o valor de seu ex-marido como amigo. de tristeza... Mas acho que eu aceitei bem, a
minha preocupação era resolver logo...
Na análise do presente caso, é interessante
destacar como a configuração subjetiva da MT, desde o primeiro momento, se posiciona
doença expressa sentidos subjetivos que frente à doença, supera o impacto inicial e
se integram de forma inseparável em uma assume a decisão de enfrentar rapidamente a
rede subjetiva. Não existem motivos simples cirurgia. Ela se mostra firme quanto aos seus
e pontuais, existem fontes diferentes que, relacionamentos, aceitando somente aqueles
na sua integração, são as responsáveis pelos que contribuíram com seu esforço para que
seus estados subjetivos dominantes: um ela transcendesse a doença e continuasse
envolvimento emocional e espontâneo com vivendo com objetivos e interesses. Mesmo
os filhos, um desfrutar de novas coisas que tendo posicionamentos muitos semelhantes
antes não era capaz de ver, uma filosofia aos assumidos por MG como sujeito da

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doença, o sistema de sentidos da configuração Repete-se, no relato de MT, algo que já


subjetiva de MT é diferente, o que continua tínhamos comentado na análise de MG, a
nos apoiando na ideia do caráter singular das importância das expressões associadas de
configurações subjetivas. forma espontânea pelo sujeito à ação, que
são diferentes das que estão centradas em
No que diz respeito aos relacionamentos, ela adjetivos de caráter descritivo que, com
valoriza a naturalidade dos outros ao falar da frequência, fazem parte de um estereótipo
doença, e, em relação a isso, destaca: social de resposta positiva. Seu posicionamento
ativo, engajado, interessado pela vida,
...a gente conversava sobre o que eu estava
fazendo, sobre o tratamento, conversava não é declaração, aparece construído na
muito com o meu marido, qual era minha representação da ação.
melhor opção... Eu achava bom quando a
pessoa vinha e me perguntava: como é que
é, caiu o cabelo mesmo? Com naturalidade, As declarações das pessoas não são lineares,
porque, na verdade, as pessoas têm muita não são as respostas que levam de forma direta à
curiosidade em saber, mesmo. identificação dos sentidos subjetivos que estão
na base dessas declarações. Na compreensão
O fato de a pessoa assumir a sua condição da subjetividade em que nos situamos, a
de doente é uma expressão essencial do configuração subjetiva representa um sistema
desenvolvimento de sua identidade frente ao
de sentidos subjetivos muito complexo que,
forte impacto da doença, que lhe permitirá
em seu relacionamento permanente, pode ter
autorreconhecer-se em sua condição atual,
momentos muito diversos e contraditórios em
e não negá-la ou ocultá-la. Disso decorre o
contextos diferentes da vida do sujeito. Isso
mal-estar dessas duas pessoas ao não serem
se evidenciou com clareza em MG e volta a
tratadas de forma espontânea, aberta, o que,
aparecer no depoimento de MT, no qual se
de fato, representa a sua negação como
aprecia a sua mudança de decisão em relação
pessoas.
ao trabalho.

A produção de identidade frente à nova


Um processo essencial da identidade é a
situação da doença é essencial precisamente
pessoa gostar de si mesma, em relação ao
para se manter uma vida ativa e diversa,
qual MT nos falou:
de tal forma que a doença não ocupe o
centro, mantendo a pessoa seu envolvimento Na verdade, eu não conseguia emagrecer
naquelas áreas que constituem sentidos (refere-se ao período da quimioterapia),
então eu estava engordando, estava careca,
subjetivos importantes de sua vida pessoal. e, como a quimio resseca muito os olhos, eu
Também de forma muito semelhante a MG, não podia usar muito lente de contato, tinha
MT conserva seus interesses e se esforça que ficar usando óculos. Foi um período que
eu me sentia muito mal, me sentia péssima,
para manter-se ativa. Ela assim se expressa esta parte de minha auto-estima... Enfim,
quanto a isso: logo depois desse período, você sente uma
motivação, eu fui para a academia, fui malhar,
comecei a fazer regime, foi uma delícia, o
Eu estava até agora de licença e, durante um
cabelo começou a crescer, começou a ficar
bom tempo, eu até pensei em me aposentar,
porque a doença dá chance de você se superlegal. Nossa, era muito bom!
aposentar, mas desse ano para cá, desisti
completamente dessa ideia, porque eu já não Sua fala nos mostra como ela é capaz de
suportava mais ficar sem produzir, sem ir para
o trabalho. Eu já estava contando os meses. reagir a seu aspecto físico, o que é mais

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um indicador da sua identidade e de seu sentindo aquele calor, aquele sol, suando,
posicionamento subjetivo diante da doença; aquele barulho... Era essa a impressão, a

esta não eliminou sua capacidade de sentir impressão que você está viva, está pulsando.

suas diferentes dimensões como ser humano,


de permanecer ligada à vida, assim como de Observa-se a alegria de viver, de desfrutar
lutar para alcançar a melhora do seu aspecto a vida em suas pequenas coisas. O fato de
físico, que é um sentido subjetivo importante estar vivo, que normalmente se naturaliza
para ela. O fato de o físico e de a aparência ao extremo de não ser percebido no prazer
serem importantes para ela lhe permite de ser, é desfrutado por ela em seus detalhes
confrontar-se com o meio da academia, mais simples, os que, nesse momento,
assumir-se perante um espaço social de passam a ser mais uma fonte dos sentidos
mulheres em geral jovens e bonitas, o que de sua configuração subjetiva atual. As
representa um importante indicador de sua novas emoções que aparecem em todo esse
capacidade para atuar e vencer dificuldades, processo e o envolvimento reflexivo de MT
aspecto essencial da saúde emocional. A com essa experiência se tornam uma fonte
expressão “Nossa, era muito bom!” revela sua de novos sentidos, e aparecem expressões de
capacidade de sentir alegria plena, que ela foi sentido subjetivo associadas a sua esfera moral
capaz de vivenciar suas conquistas em relação que estimulam nela uma sensibilidade especial
a seu corpo e sua aparência, o que denota sua em relação aos outros. No complemento de
identidade, denota que ela continua gostando frases, ela escreve:
de si mesma, que tem capacidade de lutar
– Sofro : com a saúde de nosso país
com as sequelas da doença e do tratamento. – Sinto que estou melhor: quando estou em
meu trabalho como voluntária no Hospital
de Base
MT, tal qual MG, tem uma grande quantidade
– Os estudos: gostaria de fazer enfermagem
de interesses e se posiciona de forma reflexiva – Vale a pena seguir: os meus ideais em termos
frente à experiência da doença, que teve de voluntariado
– Necessito: de saúde para continuar meu
um impacto na sua subjetividade, mas,
trabalho
mesmo gerando sofrimento, esse estado não
prevaleceu, mas integrou-se em um processo
Ela se refere a sua saúde somente em uma
de produção subjetiva que representou
das frases do complemento; em geral, está
um momento de desenvolvimento frente à
centrada em seus interesses, entre os quais se
situação vivida. Assim ela relatou tal situação,
destacam seu trabalho em prol dos outros, em
em outro momento da conversa:
particular com as pessoas carentes com câncer.
Acho que hoje eu dou muito menos valor A nova situação em que se encontra levou-a
para o dinheiro, dou muito mais valor para à produção de novos sentidos subjetivos, que
a qualidade de vida, dou muito mais valor a
possibilitaram que ela se envolvesse em novas
você estar cercada pelas pessoas que você
gosta, estar vivendo momentos bons, falando atividades, como o voluntariado, dentro das
coisas boas, estar produzindo, trabalhando, quais desenvolveu novos valores, como sua
porque, quando você tem um câncer, você
tem a impressão de estar vendo a morte de sensibilidade e solidariedade com as pessoas
perto, e todas essas coisas que fazem parte de baixa renda que sofrem de câncer, e novos
de seu dia a dia, que viram rotina, passam a interesses, como o de ser enfermeira.
ter um valor diferente, tudo é diferente. Aí
teve um dia que... peguei aquele trânsito,
estava um sol quente e eu dentro do Todos esses elementos evidenciam uma nova
carro, mas gente, que felicidade de estar
configuração subjetiva associada a novas
no congestionamento, que coisa boa estar

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práticas sociais e à fundação de novos O modelo de configuração subjetiva que


espaços sociais, que constituem a base apresentamos no trabalho permite-nos
subjetiva de seu posicionamento frente à compreender a organização subjetiva da
doença e frente à vida. pessoa em seu caráter contraditório, processual
e singular. Na configuração subjetiva do
Considerações finais câncer, em cada paciente, são expressam-
se sentidos subjetivos contraditórios que
O câncer, em seu caráter objetivo, não define mantêm uma relação de tensão entre si,
as configurações subjetivas que, frente a sua que podem ser dominantes em diferentes
emergência, são desenvolvidas pelo sujeito momentos da expressão do sujeito segundo
e que lhe permitem diversas formas de viver seus próprios estados subjetivos e a forma
e sentir subjetivamente essa experiência. como se inserem nos diferentes contextos em
A subjetividade não é um reflexo de uma sua vida cotidiana.
condição objetiva, mas a capacidade de
Como se evidencia nos casos que apresentamos,
produzir alternativa frente à experiência
o câncer é uma doença portadora de forte
vivida a partir dos recursos subjetivos atuais
carga social, que se expressa de diferentes
da pessoa.
formas nos sistemas de relacionamentos dos
pacientes, mas seu sentido subjetivo será a
É interessante destacar, nestas conclusões,
produção singular de cada paciente, em que
que as respostas das pessoas nos instrumentos
se articulam os aspectos sociais e emocionais
de fato expressam os próprios sentidos
que circunscrevem a vida de cada um.
subjetivos que resultaram do processo
de comunicação que caracterizou o
A qualidade de vida do paciente com câncer
desenvolvimento da pesquisa, no contexto
está relacionada à possibilidade dos pacientes
da qual elas se entrosaram em atividades
em conseguir produzir sentidos subjetivos
relacionais que promoveram a emergência
que os envolvam emocionalmente em suas
de novas reflexões e emoções em relação
diferentes atividades e relacionamentos.
ao câncer.
Nos dois casos estudados, a diversidade de
interesses, a capacidade de manter projetos,
O sujeito e seus posicionamentos ativos
a determinação de luta e o envolvimento
frente aos outros são fatores essenciais reflexivo com a doença constituem aspectos
na evolução subjetiva da doença. Foi facilitadores do desenvolvimento do paciente
observado, em ambos os sujeitos estudados, na situação da doença.
um posicionamento ativo frente à vida e aos
outros, o que lhes permitiu criar sistemas Só o estudo de casos, com a diversidade de
de apoio social facilitadores de estados fontes de informação que permite e com
subjetivos favoráveis. Isso também lhes a possibilidade de aprofundamento nessas
tem permitido se assumir como sujeitos da fontes, seria capaz de nos fornecer essas
doença e desenvolver uma nova identidade informações diferenciadas que nos permitem
frente a ela, passando a produzir um novo avançar cada vez mais na compreensão das
mundo subjetivo em que a doença está configurações subjetivas da doença e de sua
incorporada a um sistema de sentidos relevância como fator da qualidade de vida e
subjetivos, e não negada. do desenvolvimento desses pacientes.

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Fernando Luis González Rey


Doutor em Psicologia. Professor titular do Centro Universitário de Brasília, Brasília, DF – Brasil.

Endereço para envio de correspondência:


SQS 407, Bloco R, ap. 206, Asa Sul - Brasília, DF – Brasil - CEP 70256-180.
E-mail: gonzalez_rey49@hotmail.com

Recebido 7/4/2009, 1ª Reformulação 24/7/2009, Aprovado 15/8/2009.

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