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X Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Santiago, Chile, 18 - 21 Oct.

2005

A história do uso da tecnologia da informação na gestão pública brasileira através do


CONIP – Congresso de Informática Pública

Vagner Diniz 1

1) Introdução

A história da informática na gestão pública brasileira seguiu a mesma trajetória que a


sua inserção no setor privado. Teve início, na década de 70, fundamentado na gestão das
receitas e despesas e prosseguiu até as experiências mais recentes, com foco na entrega de
serviços ao cidadão, Nesses 30 anos, o que se convencionou chamar de informática pública
- o uso intensivo das tecnologias da informação e comunicação pelas administrações
públicas – experimentou as mais diversas tecnologias, alguns modelos de gestão da
informação e não ficou indiferente às dezenas de siglas que surgiram como ondas nesse
período (downsizing, engenharia reversa, ERP, CRM, free software). Em nada foi diferente
da trajetória do setor privado, a não ser no espaço de tempo maior para a adoção da
tecnologia, tanto para decidir quanto para implementá-la.

Não só a trajetória da informática pública é semelhante à do setor privado, mas


também os agentes patrocinadores das inovações (stakeholders). Desde o princípio, á área
das finanças públicas responde pelos movimentos mais importantes de inovação no uso da
tecnologia da informação na gestão pública.

O Congresso de Informática Pública (CONIP) é o principal fórum brasileiro de debates


sobre as práticas inovadoras no setor público sustentadas pelas ferramentas de informática.
Além de ser um espaço de reflexão entre governos, setor privado e sociedade civil, é
também um lugar privilegiado de visibilidade das boas práticas.

Desde 1995, o CONIP reúne as principais autoridades brasileiras responsáveis pelas


decisões de uso das tecnologias da informação e comunicação no setor público para trazer à
luz a visão estratégica desses gestores, bem como discutir com a sociedade a agenda de
inovação do governo com o uso de tecnologias. Também no CONIP dezenas de iniciativas
de uso da informática na prestação de serviços públicos são apresentadas a partir de uma
rigorosa seleção avalizada por um grupo de pesquisadores de nove centros universitários
das mais respeitadas universidades brasileiras. Tais iniciativas, inseridas em um marco
competitivo do Prêmio CONIP de Excelência, têm origem nos três poderes – Executivo,
Legislativo e Judiciário, nas 3 esferas de governo – Federal. Estadual e Municipal e na quase
totalidade dos Estados brasileiros.

Essa combinação de práticas de gestão e reflexão política permite compor um


mosaico revelador da proximidade ou distância do binômio discurso-prática. A programação
do CONIP é composta de painéis de debates sobre temas da agenda nacional e
internacional de gestão pública (dimensão das políticas públicas) e de casos bem sucedidos
de aplicação das tecnologias da informação e comunicação nos mais variados cenários
organizacionais e políticos (dimensão das práticas). No primeiro, dá-se o encontro dos
gestores públicos com o setor privado e a sociedade civil revelando divergências e buscando

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Vagner Diniz é presidente do Instituto CONIP Conhecimento, Inovação e Práticas de TI na Gestão Pública.

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consensos na formulação e implementação de políticas públicas. No segundo, os mais


diferentes níveis de governos se revelam quando ficam transparentes, na prática, as suas
opções de aplicação da tecnologia da informação e comunicação na gestão pública.

Um olhar sobre a história do conteúdo do CONIP nos últimos dez anos, com seus
temas, palestras e palestrantes é também um olhar sobre a história da informática pública
brasileira. São muitos discursos que não viraram práticas, práticas que não foram vistas
pelos discursos, muitas práticas que desapareceram sem deixar rastros, muita futurologia
que não virou realidade e muitas práticas de anônimos que continuam fazendo história.

Esse trabalho não é um estudo ou pesquisa sobre o conteúdo das 10 edições CONIP
com fundamentos e metodologia acadêmica, mas uma observação empírica de quem
coordenou a programação do CONIP nos oito últimos anos, em nome de seu Comitê
Gestor 2 . Foram mais de 1000 palestras e debates, a metade com seus registros
preservados, que certamente merecem um estudo aprofundado por pesquisadores mais
abnegados e podem ser objetos de uma base de dados de um observatório de práticas.

No contexto deste trabalho são apresentadas observações sobre:

- a evolução das aplicações – as principais características das aplicações que mais se


destacaram e as mudanças de foco e tecnologias que elas sofreram;

- as experiências de modelo de gestão da informática pública – os diversos modelos


de gestão que foram tentados ao longo deste período, sem chegar a algum paradigma;

- as tendências que vão ganhando importância nas experiências esparsas que estão
em desenvolvimento e implementação.

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O Comitê Gestor do CONIP é uma instância deliberativa que tem a responsabilidade de prover a organização do evento
de:
- diretrizes de conteúdo e formato, que são os balizadores do foco, abrangência e como o evento se apresenta;
- tendências, que são as referências para que o evento cumpra seu papel de permanente sensibilidade para inovações;
- indicações de experts, que são os garantidores de consistência de conteúdo.
O Comitê Gestor do CONIP é composto, em 2005, pelas seguintes instituições e representantes:
. Ministério da Ciência e Tecnologia – Marcelo Lopes
. Ministério do Planejamento – Patrícia Pessi
. Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio – Rogério Vianna
. Casa Civil da Presidência da República – Denise Direito
. Governo do Estado de São Paulo – Roberto Agune
. Comitê Gestor da Internet no Brasil – Hartmut Richard Glaser
. Pontifícia Universidade Católica – Maria Alexandra Cunha
. Universidade de São Paulo – Faculdade de Economia e Administração – Nicolau Reinhard
. Universidade de São Paulo – Instituto de Estudos Avançados – Gilson Schwartz
. Fundação de Desenvolvimento Administrativo – Fundap – Maria Luíza Pascale
. Instituto Polis – José Carlos Vaz
. Sucesu – Sociedade de Usuários de Informática e Telecomunicações de São Paulo
Além do Comitê Gestor, o CONIP tem uma instância colaborativa que tem o papel de refinar as diretrizes do Comitê Gestor
e de prover capilaridade às iniciativas da organização do CONIP. São cerca de 30 instituições públicas, não governamentais
e organismos internacionais.

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2) A evolução das aplicações

A evolução do uso da tecnologia da informação na gestão pública brasileira pode ser


percebida em três fases organizadas segundo os focos predominantes nas aplicações
desenvolvidas. Em cada fase, novas prioridades foram dominando a cena de acordo com as
políticas em vigor ou em decorrência de um amadurecimento de uma determinada
tecnologia.

De 1970 a 1992 – foco na gestão interna: aplicações voltadas para a melhoria da


gestão interna e mais eficiência dos processos administrativos financeiros;

De 1993 a 1998 – foco no serviço e informações ao cidadão: aplicações e processos


voltados para apoiar a prestação de serviços ao cidadão pessoalmente ou via telefone;

De 1999 a 2004 – foco na entrega de serviços via Internet: aprendizado e domínio das
tecnologias da Internet como ferramenta e canal de entrega de serviços;

A apresentação de um caso de sucesso de cada uma dessas fases ajudará a


compreender melhor cada uma delas.

a) fase 1970 a 1992 – gestão interna

A iniciativa mais simbólica e de maior expressão dessa primeira fase é a aplicação da


Receita Federal, órgão do Ministério da Fazenda responsável para execução das ações
relativas à arrecadação dos impostos e tributos de natureza federal, que implementou a
Declaração de Imposto de Renda por meios eletrônicos. Muito embora ela tenha surgido no
início da década de 90, ela é até hoje uma das aplicações classe mundial por suas
características de eficiência, volume e confiabilidade.

A Declaração de Imposto de Renda por meios eletrônicos em seu início surgiu como
uma facilidade para o contribuinte fazer a sua declaração eletronicamente, em substituição
ao processo manual. Processo este muito sujeito à falhas em função das regras complexas
sobre que receitas devem ou não ser registradas, que despesas podem ou não ser
deduzidas do imposto na declaração, quais bens devem ser declarados à Receita Federal e,
não menos complexo, o cálculo do imposto efetivo.

O processo eletrônico de declaração do imposto de renda automatizou parte desses


processos para o cidadão contribuinte, principalmente cálculos e registros de bens que não
sofrem grandes variações de um ano para outro. Ao fim do processo eletrônico, as
inconsistências eram resolvidas e os cálculos feitos automaticamente. Todo o conteúdo da
Declaração, armazenado em um disquete (floppy disk), era entregue pessoalmente na rede
bancária ou nos escritórios da Receita Federal.

Muito embora sejam evidentes as vantagens para o cidadão contribuinte, mais


relevantes são os benefícios para a maior eficiência dos processos do órgão público. A
declaração eletrônica do Imposto de Renda substituiu todo o processo de digitação de cerca
de 15 milhões de declarações feitas manualmente, atividade consumidora de tempo e de
potencial acréscimo de erros no processo como um todo. Ela também reduziu a quase zero
as necessidades de recursos humanos e físicos nas agências bancárias e nos órgãos da

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Receita Federal somente para realizar a recepção da declaração. E, finalmente, criou


melhores condições para introduzir inteligência na análise das declarações entregues.

Hoje, quase 100% das declarações são entregues eletronicamente e via Internet. É
uma aplicação consolidada, de alta confiabilidade e positivamente reconhecida pelo
contribuinte.

O uso das tecnologias da informação, em sua fase inicial, na década de 70, estava
restrito as áreas financeiras, mormente a automação do controle de arrecadação (gestão
tributária) e das despesas, em especial a folha de pagamento. As Secretarias de Fazenda
tiveram um papel relevante na definição do modelo da gestão da informação, que em larga
medida perdura até hoje, baseado em empresas públicas prestadoras de serviços,
detentoras do monopólio dos serviços de tecnologia da informação para o setor público.

Os principais trabalhos apresentados no início do CONIP (1995) refletiam ainda o


período final dessa fase de longa duração. Os sistemas desenvolvidos, baseados em
ambiente mainframe e linguagem de programação Cobol, eram muito eficientes no controle e
segurança das informações processadas. Tais sistemas trouxeram para a gestão pública
mais velocidade no processamento da informação, maior segurança em seu armazenamento
e maior capacidade de gestão.

O sucesso baseado nos sistemas de controle levou os gestores públicos a investirem


na criação dos sistemas estruturadores (Gestão financeira completa, Gestão de recursos
humanos e gestão administrativa). O surgimento das tecnologias de banco de dados, como
data warehouse, possibilitou uma integração desses sistemas.

O modelo centralizado da gestão pública e o conseqüente modelo centralizado da


gestão da informação propiciaram a existência desses sistemas em um ambiente fechado,
de baixo risco e de grande eficiência.

Como os governos levam muito tempo para refletir nas suas aplicações de tecnologia
de informação as mudanças em curso nas relações Estado – cidadão, as três primeiras
edições do CONIP ainda são caixa de ressonância do antigo modelo centralizado de gestão,
cujo foco é eficiência da gestão pública interna.

A primeira versão do Prêmio CONIP de Excelência, já em 1998, ainda contemplou


como melhor iniciativa a experiência de informatização do Hospital das Clínicas de São
Paulo. Esse projeto foi tipicamente um representante dessa fase final de modelo de gestão
da informação.

b) fase 1993 a 1998 – serviços e informações

A experiência mais relevante desse período são os SACs – Serviço de Atendimento


ao Cidadão, cujas iniciativas pioneiras foram o SAC do Estado da Bahia e a Rua da
Cidadania, em Curitiba, Paraná. Esta, de menor importância no contexto deste texto, por
usar pouca tecnologia da informação em sua concepção e operação. O SAC do Estado da
Bahia caracteriza-se por reunir em um único lugar físico os mais diversos serviços públicos.
Até então, cada órgão público cuidava do atendimento ao cidadão em seus mais diferentes
endereços, na sua especificidade tão somente. A fragmentação dos serviços de atendimento

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em cada órgão gerava um grande número de deslocamentos dos usuários dos serviços e
falta de integração das informações quando estas eram geradas por órgãos diferentes.

O surgimento dos SACs trouxe novos conceitos no atendimento ao cidadão:

- reunião dos serviços em um único local;

- integração dos serviços e processos;

- pessoal especializado no atendimento ao público;

- espaço físico adequado e confortável para o público.

Tais iniciativas levaram os serviços públicos, mediados pelo uso da tecnologia, para
mais perto do cidadão. Proximidade identificada pelo atendimento personalizado e
qualificado, rápido e eficiente.

A expressão mais aprimorada dessa iniciativa é o Programa Poupatempo do Governo


do Estado de São Paulo. São vários postos de atendimento ao cidadão espalhados pelo
Estado, que usam intensivamente a tecnologia da informação. Os serviços mais procurados
são os relativos à carteira de identidade, motorista e concessionárias (utilities). Todos esses
serviços são realizados em seu ciclo completo em um mesmo dia. O Poupatempo atende
milhões de pessoas anualmente com eficiência medida em 98% de índice de satisfação
Excelente.

Na década de 90, duas “revoluções” marcaram indelevelmente os destinos das


aplicações informatizadas até então desenvolvidas no setor público brasileiro. No campo da
tecnologia, o impacto da micro-computação e no quadro político, a emergência do novo
Código do Consumidor. Cada um na sua esfera de impacto foram marcos importantes no
reposicionamento do indivíduo (cidadão) como centro das atenções. A micro-computação
rapidamente trouxe para o cenário o que se convencionou chamar de computação pessoal.
Muito mais que equipamentos menores e mais baratos, alterou-se quantitativa e
qualitativamente o centro da produção de conhecimento mediado pelo computador. Muito
mais pessoas passaram a usar o computador como ferramenta de produção de
conhecimento, como também estes novos agentes introduziram novas demandas por
aplicações.

No campo do comportamento, o novo Código Brasileiro do Consumidor garantiu


direitos aos cidadãos antes nunca vistos, chamando a atenção para o personagem central da
cadeia de valores nos negócios. O Código consolidou um conjunto de aspirações dos
cidadãos no que se convencionou chamar de Direitos do Consumidor. Assim como a micro-
computação permite a individualização e a personalização do uso das ferramentas de
tecnologia da informação, os direitos do consumidor também personalizam a expressão da
opinião e vontades pessoais no campo do consumo de bens e serviços.

Nesse ambiente de mudanças de foco surge a primeira edição do CONIP, em 1995.


Porém, somente em 1998 aparece em seu tema central, com sutileza, a palavra
“modernização da administração pública”. Em 1999, com mais vigor, o tema foi
“Transformando o governo para o século XXI”. E em 2000, “Cidades do Futuro: para além do

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ano 2000”. As apresentações do CONIP começam então a refletir a mudança de foco na


gestão interna para o atendimento ao cidadão. Outro destaque para esse período é a
experiência premiada no CONIP, do Governo do Estado do Pará denominada Barco Cidadão
Pará. Com o objetivo de atender as populações ribeirinhas no interior da região amazônica,
completamente isoladas do resto do mundo, tendo no rio o único caminho de comunicação, o
Governo do Estado equipou um barco com recursos tecnológicos suficientes para uso de
computador, acesso a Internet e áudio-visual.

A cada período, esse barco saindo da capital do Estado, Belém, por um rio, parava em
cada vilarejo para desenvolver programas que permitiam a realização de diferentes serviços
de inclusão da população nos programas sociais do governo, a inclusão digital com
treinamento em informática e acesso a Internet e cursos de prevenção a doenças. Depois,
voltando para capital, seguia por um outro rio.

c) fase 1999 a 2004 – serviços via Internet

O programa de Governo Eletrônico do Governo do Estado de São Paulo é a iniciativa


que melhor representa a era dos portais de serviços públicos via Internet. Esse programa
consolidou um conjunto de iniciativas do Governo do Estado que usa Internet como canal de
prestação de serviços. São dezenas de serviços, dos quais destacam-se:

- “Plantão Eletrônico” – essa aplicação permite o registro, via Internet, de ocorrências


policiais, de natureza não complexa (furtos simples, desaparecimentos, denúncias) sem a
intermediação policial. Os registros das ocorrências acontecem em ambiente seguro e
autenticado, oferecendo aos cidadãos o documento oficial necessário para esses casos e ao
órgão de segurança pública as informações necessárias para eventual ação policial.

- Veículos – um conjunto de aplicações destinadas ao acompanhamento e


regularização da situação de automóveis e motoristas. Por meio delas é possível verificar a
situação de regularidade do veículo perante a autoridade competente (registro e multas),
fazer pagamentos de licenças e multas, em ação conjunta com a rede bancária e a
verificação da situação de regularidade do motorista (registro e pontuação). Todos estes
serviços estão disponíveis em seu ciclo completo, via Internet.

- “Pregão eletrônico” – aplicação que permite ao Governo do Estado de São Paulo a


realização de compras eletrônicas completamente via Internet. O processo é simples e
eficiente: as unidades compradoras tornam pública a sua intenção de compra. No prazo
determinado, os fornecedores cadastrados podem registrar a sua intenção de participação no
leilão. Em dia publicamente divulgado e ajustado, os fornecedores participantes do pregão
eletrônico entregam as suas propostas. E de acordo com regras de um leilão reverso, os
fornecedores podem oferecer lances cujos preços sejam menores que o menor oferecido.
Dessa forma, a disputa pública em um pregão eletrônico aumentou a competição entre
fornecedores e gerou economia nos gastos do Governo do Estado de São Paulo próximo de
20%.

As novas tecnologias da Internet, o aumento do poder de computação dos micro


computadores e a nova Lei de Responsabilidade Fiscal fizeram crescer enormemente o
número de portais de órgãos públicos. A nova Lei obriga os governos a publicarem na
Internet suas receitas e despesas mensais como prestação de contas aos cidadãos. Muito

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embora a maioria dos sítios existentes ainda esteja restrita a fornecer apenas informações e
poucos serviços completos, há sem dúvida um grande crescimento no uso desse canal de
comunicação para melhorar a qualidade e o acesso às informações e serviços dos governos.
Por outro lado, os cidadãos mais conhecedores e exigentes dos seus direitos têm
pressionado os governos a disponibilizarem serviços da mesma forma que estão disponíveis
serviços semelhantes pelo setor privado.

Essa fase ainda está em expansão com as tecnologias de informação e comunicação.


Porém, se ela representou uma mudança substancial do foco das aplicações de serviços
públicos, ela não resolveu o problema da universalização do acesso, não propiciou a
inclusão dos excluídos da sociedade da informação. A maioria da população já excluída
socialmente continua à margem dos benefícios dos serviços públicos entregues com o uso
intensivo das novas tecnologias.

3) As experiências de modelo de gestão da informática pública

Diversos modelos de gestão das tecnologias da informação e comunicação foram


experimentados ao longo desse período. Desde um modelo centralizado e monopolista até
um modelo de completa terceirização dos serviços.

A grande preocupação do regime militar com controle do aparelho do Estado na


década de 70 levou a área financeira (Ministério e Secretarias da Fazenda) a ter um papel
relevante na definição do modelo da gestão da informação, que em larga medida perdura até
hoje, baseado em empresas públicas prestadoras de serviços, detentoras do monopólio dos
serviços de tecnologia da informação para o setor público.

Esse modelo criou um corpo de funcionários altamente especializados nos processos


missão-crítica (core-business) e nas tecnologias baseadas totalmente em ambientes
mainframes. Formou uma elite de base tecnológica, concentradora da produção de
conhecimento de informática para o setor público.

Com o modelo monopolista e concentrador e a redução da capacidade de


investimento do Estado na década de 80, essas empresas não receberam os investimentos
necessários à incorporação das tecnologias que determinaram os novos rumos que se
delinearam na década de 80 para o setor privado. A defasagem entre o que se tinha no
privado e no público foi se tornando um forte motivo para questionamentos da existência
dessas instituições diante de um mercado efervescente recheado de soluções inovadoras e
práticas de baixo custo comparativo.

As empresas públicas desse modelo foram criadas como prestadoras de serviços de


tecnologia da informação e comunicação, geralmente subordinadas a um órgão da área
financeira. Eram remuneradas pelos serviços prestados aos seus clientes, porém, detentoras
do monopólio da prestação de serviços, não tinham compromissos com prazos, preço e
qualidade de seus produtos.

Com a redução dos investimentos no setor, as empresas não conseguiram


acompanhar a velocidade das mudanças tecnológicas, as novas exigências dos clientes
públicos, agora sob a égide da computação pessoal. Esse modelo começou, então,
apresentar sinais de esgotamento, no início da década de 90.

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A situação obrigou novas formas de organização, investimentos e práticas


administrativas de forma a tornar as empresas públicas de tecnologia mais modernas e
competitivas. Porém, a falta de alternativas que pudessem responder efetivamente às
necessidades dos governos não gerou modelos substitutos. Algumas iniciativas apontadas
abaixo resumem algumas diferentes tentativas de alteração nesse modelo tradicional:

Local:
Prefeitura de Curitiba, Paraná

Situação anterior:
Toda a gestão e execução dos serviços de informática sob a responsabilidade de um único
órgão da administração direta, o IPPUC, Instituto de Planejamento Urbano de Curitiba, cujo
negócio principal não era informática.

Nova situação:
Toda a execução dos serviços transferidos para uma organização não governamental, ICI –
Instituto Curitiba de Informática, cuja missão é a permanente produção de inovações em
soluções para a gestão municipal, com autonomia para desenvolver novos clientes.

Local:
Governo do Estado de São Paulo

Situação anterior:
Toda a gestão e execução dos serviços de informática sob a responsabilidade de uma
empresa pública, a PRODESP – Companhia de Informática do Estado de São Paulo.

Nova situação:
Todo planejamento e gestão dos serviços sob a responsabilidade de um colegiado, o Comitê
de Qualidade da Gestão Pública (CQGP) que reúne os gestores públicos de todos os órgãos
do Estado. A PRODESP permanece como executora de boa parte dos sistemas missão-
crítica.

Local: Governo Federal

Situação anterior:
Concentração da gestão e execução dos serviços de informática em 2 empresas públicas –
SERPRO e DATAPREV

Nova situação:
Descentralização da gestão e execução dos serviços de informática para cada órgão,
propiciando a terceirização dos serviços em larga escala.

Durante as edições do CONIP, as diversas discussões sobre modelos de gestão da


informática pública apresentaram pelo menos uma das limitações abaixo:

- baixa velocidade de produção de soluções demandadas

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O tempo de desenvolvimento das aplicações não atende às necessidades de


modernização da gestão pública. Essa limitação é mais típica do modelo monopolista, seja
pela falta de investimento e conhecimento das novas tecnologias, seja pela incapacidade de
atender a todas as demandas com os recursos existentes.

- ausência de conhecimento dos processos do negócio


O setor privado não conhece os processos do setor público. A transferência de
conhecimento é um processo demorado e geralmente doloroso, recheado de resistências
culturais. Raramente soluções desenvolvidas para o setor privado são adaptáveis pela base
legal que rege a maioria dos processos no setor público.

- dependência de fornecedores externos


O modelo baseado na adoção de soluções e serviços do setor privado sem uma
proteção de acordos de níveis de serviços tem gerado uma dependência dos órgãos públicos
em relação aos fornecedores externos. Muitos órgãos públicos têm todo o seu corpo de
funcionários da área de informática terceirizado, sem uma garantia de retenção da
inteligência dos negócios. A situação torna-se mais grave quando todas as soluções
utilizadas são de terceiros. Algumas empresas faliram ou deixaram o país e os órgãos
públicos sem solução de continuidade.

Situações assim reforçam o desconforto muito grande por parte dos funcionários
públicos em deixar dados e aplicações aos cuidados de terceiros.

Nenhuma dessas tentativas se consolidou com modelo hegemônico de gestão da


tecnologia da informação no setor público. Ainda persiste a busca por um modelo que
responda às demandas sem as limitações apontadas acima.

4) As tendências

A definição do foco das aplicações guarda relação com a definição das tecnologias a
serem utilizadas. A definição do modelo de gestão guarda relação com a maior ou menor
eficiência da implementação das aplicações.

Nas últimas edições do CONIP surgiram diversas iniciativas de inclusão digital, muitas
delas com base no conceito de Telecentros, pontos públicos de uso de computadores e
acesso a Internet. Embora seja certo que este modelo de inclusão digital ainda não se
mostrou consolidado, não resta dúvida que o tema inclusão digital está na agenda nacional e
internacional dos governos. Uma resposta possível para o futuro surgiu na edição do CONIP
2005 com diferentes governos buscando uma comunicação multicanal com o cidadão.

A convergência das tecnologias de voz, dados e imagem abriu um campo vasto para
os serviços públicos móveis, também conhecido como M-Gov (Móbile Government). A
quantidade cada vez maior de aparelhos que acompanham o cidadão para qualquer lugar
(telefones celulares, handhelds, PDAs, notebooks) é um estímulo para a implementação de
novos serviços ou serviços complementares aos já existentes.

Por outro lado, a eficiência do uso de diversos canais de comunicação com o cidadão
exige a construção de uma plataforma comum de integração dos serviços e aplicações. As
iniciativas conhecidas como Plataformas de Interoperabilidade, que buscam a padronização

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de um ambiente comum de troca de informação e de entrega de serviços, independente dos


sistemas que processam as informações, são vitais para tornar viáveis as iniciativas de
Governo Eletrônico.

O CONIP 2004 premiou o projeto “e-Ping – Programa de Interoperabilidade do


Governo Federal”. A comissão julgadora avaliou e apoiou firmemente o projeto pela
importância e necessidade que ele tem de tornar-se realidade.

Em 2005, surge no CONIP como um consenso entre as diversas esferas de governo a


necessidade de maior atuação na governança da tecnologia da informação. Os governos já
passaram a etapa da sensibilização sobre a importância de investimentos em tecnologia da
informação em seus processos de modernização da gestão e de entrega de serviços.
Também já passaram a etapa de exposição às mais recentes tecnologias. Os fornecedores
fazem permanente plantão nos órgãos públicos apresentando a mais nova solução para
todos os problemas. É chegada a hora de determinar indicadores e métricas que possam
permitir governar a utilização dos recursos já existentes e orientar os novos investimentos.

E como um guarda-chuva protetor desses novos caminhos a serem percorridos, a


certificação digital é um elemento de segurança necessário para garantir a confiabilidade das
transações, a privacidade do cidadão e a legitimidade do ato público. Diante de tanta
vulnerabilidade da Internet espera-se um “boom” no uso dos certificados digitais.

E, finalmente, o software livre, tema de discussões ainda apaixonadas, ganha corpo


dentro de vários governos. Os debates no CONIP sobre modelo de negócios e gestão de
ambientes com software livre mostraram que ainda há um longo caminho a percorrer em
direção a maturidade das soluções e do mercado. Há mais consistência nos fundamentos
políticos e teóricos do debate que nas soluções disponíveis. O tempo certamente levará a
uma compreensão maior dos lugares e papéis do software livre e software proprietário. Por
enquanto, permanece a máxima: “Software livre, sempre que possível. Software proprietário,
sempre que necessário”.

RESENHA BIOGRÁFICA

Vagner Diniz é presidente do Instituto CONIP Conhecimento, Inovação e Práticas de TI na


Gestão Pública, uma organização não governamental dedicada à disseminação do conhecimento
sobre o uso das novas tecnologias da informação e comunicação na gestão pública para o
fortalecimento da democracia, desenvolvimento da cidadania e mais eficiência da gestão pública.
É formado em Engenharia Eletrônica pelo Centro Federal de Tecnologia do Rio de Janeiro,
com especializações em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas e em Educação
e Cultura, pela Universidade de Genebra.
A carreira profissional tem foco na promoção do uso intensivo das TICs nos governos. No
setor público atuou como responsável pelo planejamento estratégico de informações e pela área de
tecnologia da informação da Secretaria de Administração da Prefeitura de São Paulo e da Prefeitura
de São José dos Campos, respectivamente. No setor privado foi gerente de suporte para a vertical
Governo da Unisys, foi consultor de organizações não governamentais como AGEN, Instituto Polis e
Ildes – Instituto Latinoamericano para o Desenvolvimento e diretor geral do CONIP Congresso de
Informática Pública desde 1997.
Instituto CONIP Conhecimento, Inovação e Práticas de TI na Gestão Pública
Rua Major Sertório, 92 – 7º andar – Vila Buarque, São Paulo, SP – Brasil
CEP 01222-000. E-mail: nvagner@conip.org.br Sítio: http://www.conip.org.br

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