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CARUARU, 2010
0
Diretores
Diretora Executiva
Diretora Acadêmica
Professora Orientadora
1
ROSIVALDO PINHEIRO SOARES
Monografia apresentada à
Faculdade do Vale do Ipojuca -
Favip, como requisito para a
obtenção do título de Bacharel em
Comunicação Social com Habilitação
em Jornalismo.
CARUARU, 2010
2
Catalogação na fonte -
CDU 070[11.1]
3
ROSIVALDO PINHEIRO SOARES
Monografia apresentada à
Faculdade do Vale do Ipojuca -
Favip, como requisito para a
obtenção do título de Bacharel em
Comunicação Social com Habilitação
em Jornalismo.
Banca examinadora
_______________________________________
Professor orientador
_________________________________________
1º prof. examinador
__________________________________________
2º prof. examinador
4
AGRADECIMENTOS
Ao Mestre dos Mestres, meu Grandioso Deus, autor da minha fé, que nunca
me deixou fraquejar e me carregou nos braços quando minhas forças se esgotaram.
Por fim, a todos meus colegas e amigos que juntos compartilharam minhas
vitórias e conquistas nas atividades corriqueiras deste curso, por contribuírem para
minha formação acadêmica, e principalmente pelos momentos felizes que passamos
juntos.
5
“Se o que é sólido se desmancha no ar, nada é
menos sólido do que a maioria das notícias que
os jornais publicam. O fato que provoca barulho
não é necessariamente importante. Importa o
fato destinado a produzir mudanças na vida
das pessoas.”
(Ricardo Noblat)
6
RESUMO
7
ABSTRACT
8
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO.......................................................................................................10
2. JORNALISMO OPINATIVO...................................................................................13
2.1. Linguagem opinativa...........................................................................................13
2.2. Um pouco da história...........................................................................................14
2.3. Gêneros jornalísticos...........................................................................................16
3. GÊNERO CHARGE...............................................................................................20
3.1. Linguagem visual.................................................................................................20
3.2. Definindo o gênero charge..................................................................................21
3.3. Uma linguagem local...........................................................................................25
4. UMA VISÃO CIENTÍFICA......................................................................................28
4.1. Uma olhada por cima..........................................................................................28
4.2. Um olhar mais detalhado.....................................................................................33
5. DESENVOLVIMENTO..........................................................................................39
5.1. Levantamento......................................................................................................39
5.1.1. Dados Físicos: Localização e Dimensão nos Jornais......................................39
5.1.2. Classificação por Dimensão de Temas Abordados..........................................40
5.1.3. Classificação por Assuntos Abordados............................................................42
5.1.4. Classificação por Características do Gênero...................................................44
9. ANEXO...................................................................................................................64
9
1. INTRODUÇÃO
10
necessidade do tempo e do espaço presente que ocupa, bem como entender como
essas adaptações de gêneros opinativos são necessárias para a formação de um
leitor crítico e atualizado sobre os fatos que o cercam.
11
Diante do crescimento da área de comunicação, no Agreste pernambucano,
este trabalho de análise buscou provocar um profissionalismo mais criativo nos
chargistas locais, os quais deveriam procurar abordar assuntos ligados à atualidade
de nossa região, formando leitores mais atentos à opinião pública e política local.
A razão pela qual se optou por este tema como objeto de estudo é a
necessidade de registrar a qualidade do trabalho chargista neste momento histórico,
ressaltando a necessidade de mais profissionalismo e qualidade nas charges, que
são um poderoso instrumento democrático.
12
2. JORNALISMO OPINATIVO
A linguagem opinativa sempre quer nos impulsionar a algo, seja ele, contra
administração dos mais diversos órgãos públicos, sistema administrativo de uma
rede privada, à política social que se adota e aos governantes em geral, ou a
imprensa, ou seja, a qualquer pessoa ou causa que mereça sua atenção. Uma das
formas é utilizando-se de argumentos lógicos que possam convencer o leitor, outra é
explorar a crítica, provocar ironia e deboche, que são usados como recursos para
criar vínculo com o leitor e persuadi-lo a aceitar as ideias do discurso, ou seja, na
comunicação sempre nos deparamos com diversas formas de opinião e crítica que
também muitas vezes vai apenas de encontro aos interesses dos veículos de
comunicação ou autoridades vinculadas, como afirma Santaella:
13
restando ao receptor apenas aceitar a verdade do emissor. E é usada, ainda hoje,
em muitas editorias jornalísticas. Mas independente do mau uso da opinião por parte
dos profissionais ou empresas de comunicação, não podemos nos esquecer da
importância e necessidade da opinião no desenvolvimento da sociedade, que
também deposita nos meios de comunicação ou na imprensa certa confiança, no
decorrer das informações da atualidade que precisam para se orientarem no tempo
e no espaço político, como defende Roger Clausse, no comentário de José Marques
de Melo:
14
E, como podemos observar, o crescimento das cidades também foi um fator
decisivo para o surgimento das primeiras manifestações jornalísticas, mediante a
necessidade de informação da população, assim, na forma de avisos e gazetas que,
além de transmitir os acontecimentos, também deveriam fazê-lo de forma acessível
à coletividade, interpretando os fatos. Entre os séculos XV e XVI, surgiram as
primeiras manifestações noticiosas precursoras do jornal.
15
Com relação ao modelo do jornal brasileiro, podemos observar que o mesmo
apesar de possuir hoje uma característica própria, é fruto de uma mistificação de
formatos que foram implantados por influências de várias culturas que, de certa
forma, enriqueceram e contribuíram para o crescimento do jornalismo nacional.
17
dos jornais nacionais e internacionais, o qual nos propõe uma categoria mais ampla,
historicamente situada.
Melo parte da classificação feita por Luíz Beltrão, que foi o pioneiro no Brasil
em classificação dos gêneros, e nos apresenta uma nova classificação que chamou
de jornalismo informativo (compreendendo os gêneros nota, notícia, reportagem e
entrevista), e o jornalismo opinativo (composto por editorial, comentário, artigo,
resenha, coluna, crônica, caricatura, carta).
18
Sabendo que o objetivo principal deste trabalho é analisar o conteúdo do
gênero charge, que faz parte da classificação editorial e opinativa do jornal
impresso, não vamos nos deter em explicar cada gênero em seus detalhes ou
características particulares. Assim, reafirmamos que cada gênero opinativo obedece
a uma necessidade de adaptação de linguagem ou abordagem de emissor para com
seu público-alvo, ou receptor específico, podendo utilizar-se das mais diversas
formas de linguagem, por isso não podem ser definidos como algo fixo, mas
possuem formas de adaptações e estão sujeitos às mudanças de acordo com as
necessidades de seu público.
19
3. GÊNERO CHARGE
Por isso, a “imagem” pode ser vista como um conteúdo jornalístico na medida
em que passa uma informação ou complementa uma mensagem, portanto, pode ser
20
considerada como notícia, como complemento de notícias ou até mesmo como
reportagem dependendo da clareza da informação transmitida.
21
acontecimentos. “Sua intenção é representar o real, criticando.” [...] (MELO, 2003, p.
168).
Mas como podemos definir dois gêneros com características tão parecidas,
como é a charge e a caricatura? Ou até onde vão suas semelhanças como conteúdo
jornalístico?
A palavra charge é francesa, vem do verbo charger, que significa (carregar,
exagerar, atacar), uma forma de representação pictórica de caráter bulesco e
caricatural em que se satiriza um fato específico, tal qual uma idéia, situação ou
pessoa, em geral de caráter político e do conhecimento público, segundo afirma
Fonseca (1999, p. 26).
No entanto, com relação às origens da “caricatura”, segundo José Marques
de Melo, a palavra tem “origem semântica (do italiano caricare) corresponde a
ridicularizar satirizar, criticar.” (MELO, 2003, p. 165). Mas só se desenvolveu com o
avanço da tecnologia, atuando nos jornais locais como complemento dos textos
ilustrados.
22
[...] Lendo esse jornal, a impressão recolhida por Gilberto Freyre é quase a
de folhear-se um jornal caricato, tão forte e a sugestão pictórica –
grotescamente pictórica - das palavras vivas, picantes e às vezes cheias de
cor. (MELO, 2003, p. 165)
23
Portanto, a liberdade de imprensa é fundamental para a concretização de
segmentos opinativos, que utilizam pontos de vistas constantemente: transmitindo
ideias, compartilhando pensamentos, ridicularizando maus comportamentos políticos
e sociais, enfim, algo que surge com as primeiras manifestações do espírito
democrático na história da imprensa.
24
No entanto, pelo fato de passar expressões faciais ou características pessoais
pesadas, a caricatura sempre passa uma mensagem crítica e satírica. Deve ser por
isso que as histórias da “charge” e da “caricatura” estão sempre paralelas ou
entrelaçadas, justamente pelo fato de ambas se completarem na missão jornalística
opinativa. Mas através de uma percepção mais detalhada, José Marques procurou
avaliar cada gênero separadamente e chegou a uma conclusão sobre a real
definição da caricatura identificando-a como um retrato humano isolado que procura
exagerar nos traços mais fortes.
26
desapareceram como focos de leitura inteligente.” (LAGE, 2001, p. 41). Isso faz
desse conteúdo jornalístico um instrumento fraco perante o potencial democrático
que poderia exercer a favor de seu público.
27
4. UMA VISÃO CIENTÍFICA
Mas, obviamente, pode ser que essa informação não seja clara o suficiente
por parte do emissor, provocando uma confusão mental no leitor, que, mesmo de
posse das bases da informação, não compreendeu a ironia proposta ou
personagens da atualidade envolvidos na trama. Portanto, estamos diante de
problemas de codificação que podem ocorrer em qualquer processo de
comunicação quando uma ou ambas as partes não apresentam uma semelhança de
códigos que possam ser processados, ou comparados, e substituídos no
pensamento. Segundo Joly, a falta e o excesso de semelhança na imagem pode ser
algo perigoso, classifica-os como problemas da imagem:
28
ideias e se provocar na mente daquele ou daqueles que o percebem uma atitude
interpretativa” (JOLY, 1996, p. 29).
29
Podem ser identificados dentro de uma mesma imagem vários signos
possuidores de leis próprias e com sentidos e significados, nesse caso segundo
Joly:
30
pensamento em signos, através da qual representamos e interpretamos o
mundo. (SANTAELLA, 1983, p. 50-51)
Mas, para que a definição da charge como um signo seja melhor dividida,
convém esclarecer que o mesmo tem dois objetos e três interpretantes: O “objeto
31
imediato” (dentro do signo, no próprio signo) diz respeito ao modo como o “objeto
dinâmico” (aquilo que o signo substitui) está representado. (SANTAELLA, 1983, p.
59-60). No caso da caricatura/signo, poderíamos dizer que existe um exagero nos
traços mais fortes do personagem/imediato abordado, pois este trata-se de um
“desenho figurativo”, de um personagem/dinâmico que o mesmo deseja se
assemelhar.
A partir dessa visão lógica, das partes que interagem na constituição de todo
e qualquer signo, percebemos que o desenho representativo ou objeto imediato,
assim como é a charge, nos permite uma compreensão mais óbvia com valores e
características que já temos em comparação ao seu “signo” ou “objeto dinâmico”,
por assumir semelhanças e traços que são facilmente identificados em nossa
percepção de mundo, não se utilizando assim de símbolos ou ícones de difícil
compreensão, “sua validade humorística advém do real, da apreensão de facetas ou
de instantes que traduzem o ritmo de vida da sociedade, que flagram as expressões
hilariantes do cotidiano.” (MELO, 2003, p. 169)
32
efetivamente produz na minha ou na sua mente, mas daquilo que,
dependendo de sua natureza, ele pode produzir. (SANTAELLA, 1983, p. 60)
E, por fim, o “interpretante em si”, que diz respeito àquele signo convencional
ao primeiro, produzido por lei. O mesmo é, portanto, o resultado desejado, formando
um signo de mesma natureza. Nesse caso, a mensagem da charge atingiu o efeito
esperado, ou se manifesta de forma lógica, pelo fato que, qualquer pensamento teria
a mesma percepção.
Se o signo for convencional, ou seja, signo de lei, por exemplo, uma palavra
ou frase, o interpretante será um pensamento que traduzirá o signo anterior
em um outro signo da mesma natureza, e assim ad infinitum. Este outro
signo de caráter lógico é o que Peirce chama de interpretante em si. Este
consiste não apenas no modo como sua mente reage ao signo, mas no
modo como qualquer mente reagiria, dadas certas condições. Assim, a
palavra casa produzirá como interpretante em si outros signos da mesma
espécie: habitação, moradia, lar, "lar-doce-lar" etc. (SANTAELLA, 1983, p.
61)
33
quadro (ou limite) diferentes categorias de signos: “Imagens” no sentido
teórico do termo (signos ícones, analógicos), mas também signos plásticos
(cores, formas, composição materna, textura) e a maior parte do tempo
também signos lingüísticos (linguagem verbal). É sua relação, sua
interação, que produz o sentido que aprendemos a decifrar mais ou menos
conscientemente e que uma observação mais sistemática vai ajudar a
compreender melhor. (JOLY, 1996, p. 38)
Aí estão explanadas as três grandes tríades dos signos. Como se pode ver,
trata-se de uma divisão lógica a mais genérica, espécie de mapeamento
panorâmico das grandes matrizes sígnicas e das fronteiras que as definem.
A partir disso, por combinação lógica entre essas matrizes, Peirce
estabeleceu 10 classes principais de signos que dizem respeito às misturas
entre signos que são logicamente possíveis.
Como matrizes abstratas, as três tríades definem campos gerais e
elementares que raramente serão encontrados em estado puro nas
linguagens concretas que estão aí e aqui, conosco e em uso. Na produção
e utilização prática dos signos, estes se apresentam amalgamados,
misturados, interconectados. (SANTAELLA, 1983, p. 69)
É por isso que, se o signo aparece como simples qualidade, na sua relação
com seu objeto, ele só pode ser um ícone. Isso porque qualidades não
representam nada. Elas se apresentam. Ora, se não representam, não
podem funcionar como signo. Daí que o ícone seja sempre um quase-signo:
algo que se dá à contemplação. (SANTAELLA, 1983, p. 63-64)
Ainda segundo Santaella, “as formas de criação na arte [...] têm a ver com
ícones” (Santaella, 1983, p. 65). É nessa classificação que entra o desenho, pois
sempre será a tentativa de semelhança de algo real.
34
Joly, também faz uma aplicação mais concreta com o objetivo principal deste
trabalho, comparando o desenho a um ícone por medida de tentativa de semelhança
do mesmo. Nesse caso, é aceitável dizer que em uma caricatura ou charge
podemos encontrar vários ícones a partir do momento em que existe uma
semelhança ou imagem identificada pelos nossos sentidos de percepção. “[...]
enquanto um retrato desenhado ou pintado já será um signo 'motivado' pela
semelhança, um vestígio de passos ou da mão, pela contiguidade física que
constitui sua causalidade." (JOLY, 1996, p. 31)
Pois, segundo a própria Joly, “um ponto comum” do que venha significar o
que é “imagem” é simplesmente o fato de algo se assemelhar a outra coisa. A
mesma apresenta uma classificação em três dimensões:
35
faça lembrar imediatamente de outro. Nesse caso, ocorre uma substituição ou
ligação através de referências pessoais que ambos têm em comum, de acordo com
nossa percepção e interpretação. Essa relação dual ocorre bastante no contexto
charge, pois a mesma procura sempre nos elevar a outro nível de pensamento, que
fisicamente está representado no desenho por meios de índices com duplas facetas
de interpretação.
O índice corresponde à classe dos signos que mantém uma relação causal
de contigüidade física com o que representam. É o caso dos signos ditos
"naturais", como a palidez para o cansaço, a fumaça para o fogo, a nuvem
para a chuva, e também as pegadas deixadas pelo caminhante na areia ou
as marcas deixadas pelo pneu de um carro na lama. (JOLY, 1996, p. 35).
A ligação entre esses dois signos é algo direto, ou seja, de signo para signo,
algo bastante usado na criação da imagem crítica que compõe a trama na charge,
pois se utiliza de uma imagem para se dizer outra coisa, que é geralmente o
contrário, que só pode ser compreendida quando alguém faz a ligação imaginária
entre ambos os fatos ou realidades.
[...] o índice como real, concreto, singular é sempre um ponto que irradia
para múltiplas direções. Mas só funciona como signo quando uma mente
interpretadora estabelece a conexão em uma dessas direções. Nessa
medida, o índice é sempre dual: ligação de uma coisa com outra. O
interpretante do índice, portanto, não vai além da constatação de uma
relação física entre existentes. E ao nível do raciocínio, esse interpretante
não irá além de um dicente, isto é, signo de existência concreta.
(SANTAELLA, 1983, p. 66)
Por fim, no nível da terceiridade, temos o “símbolo”, o mesmo nos faz ligação
com o objeto, mas de forma abstrata, ou seja, não se trata de semelhanças físicas
aparentes, trata-se de leis de códigos em geral de representação, assim como as
“letras” do alfabeto representam um “som” fonético qualquer. Percebemos sua
presença frequente na charge justamente pela necessidade de representar
instituições, times ou grupos através da imagem desenhada do mascote, signo,
brasão, etc.
[...] o símbolo corresponde à classe dos signos que mantém uma relação de
convenção com seu referente. Os símbolos clássicos, como a bandeira para
o país ou a pomba para a paz, entram nessa categoria junto com a
Iinguagem, aqui considerada como um sistema de signos convencionais.
(JOLY, 1996, p. 36)
36
Portador de uma lei de significações, o símbolo constitui um sistema de
códigos e não se refere exatamente a uma coisa só, mas sim a um conjunto à parte,
de regras e significados.
Daí que os símbolos sejam signos triádicos genuínos, pois produzirão como
interpretante um outro tipo geral ou interpretante em si que, para ser
interpretado, exigirá um outro signo, e assim ad infinitum. Símbolos crescem
e se disseminam, mas eles trazem, embutidos em si, caracteres icônicos e
indicais. O que seria de uma frase, por exemplo, sem o diagrama sintático,
ordem das palavras, padrão de sua estrutura, isto é, justamente seu caráter
icônico que nos leva a compreendê-la? O que seria de uma frase, sem
índices de referências? Esses caracteres, contudo, estão embutidos no
símbolo, pois o que lhe dá o poder de funcionar como signo é o fato
proeminente de que ele é portador de uma lei de representação. (Santaella,
1983, p. 68)
37
[...] Interpretar uma mensagem, analisá-la, não consiste certamente em
tentar encontrar ao máximo uma mensagem preexistente, mas em
compreender o que essa mensagem, nessas circunstâncias, provoca de
significações aqui e agora, ao mesmo tempo que se tenta separar o que é
pessoal do que é coletivo. De fato, são necessários, é claro, limites e pontos
de referência para uma análise. Será possível, exatamente, ir buscar esses
pontos de referência nos pontos comuns que minha analise pode ter com a
de outros leitores comparáveis a mim. Com certeza, não nas hipotéticas
intenções do autor. (JOLY, 1996, p. 44)
38
5. DESENVOLVIMENTO
5.1. LEVANTAMENTO
39
enviadas aos veículos pelos profissionais autônomos: Luiz Fernandes (para o
“Vanguarda”); e Lucas Ferreira (para o “Extra de Pernambuco”).
1
Ver anexo (charge 17).
2
Ver anexo (charges 03, 08, 16, e 16).
3
Ver anexo (charge 19).
40
TABELA 1 (Distribuição de assuntos abordados por área geográfica)
NÍVEL CHARGE JORNAL CHARGE JORNAL TOTAL GERAL
GEOGRÁFICO EXTRA VANGUARDA
LOCAL/ZONAL 1 2 3
ESTADUAL 3 3 6
NACIONAL 2 4 6
MUNDIAL 7 4 11
TOTAL 13 13 26
4
Ver anexo (charge 18).
5
Ver anexo (charge 05).
6
Ver anexo (charge 20).
7
Ver anexo (charges 08 e 14).
8
Ver anexo (charges 10, 11, e 22).
41
Percebemos que, em nível local e zonal, as imagens/charges ficaram muito a
desejar em relação ao conteúdo, tendo em vista fatos internos do sistema político
muito relevantes para a sociedade civil a serem debatidos, como foi o processo de
investigação em cima das denúncias sobre o mau uso do dinheiro público
envolvendo os ex-prefeitos da cidade de Caruaru Tony Gel e Manuel Teixeira. No
entanto, não vemos nenhum tipo de manifestação, por parte das charges, a respeito
desse assunto, em ambos os jornais, o que é lamentável tendo em vista o potencial
que representa o gênero charge para assuntos políticos, por ser um instrumento
eficaz de persuasão e mobilização pública no combate a corrupção.
9
Ver anexo (charge 25).
42
nossa pesquisa, abordando temas esportivos como a Copa do Mundo em 10
charges,10 e o “pentacampeonato” conquistado pelo “Sport Futebol Clube do Recife”,
em duas charges,11 dando um total de 12 charges que optaram pelo o “esporte”
como assunto principal. Dentre elas um fato curioso, ou antecipação de fatos
referente à “Copa do mundo”, na disputa entre Brasil e Portugal, onde as imagens se
antecipam e mostram um duelo bastante esperado, que por ironia do destino acabou
não acontecendo entre os jogadores Cristiano Ronaldo de Portugal e o brasileiro
Kaká, intitulada como “duelo de titãs”.12 Nas imagens os jogadores se enfrentam em
uma divisão de bola.
10
Ver anexo (charges 03, 06, 07, 08, 09, 12, 19, 21, 24, e 25).
11
Ver anexo (charges 02 e 05).
12
Ver anexo (charge 06).
13
Ver anexo (charge 14).
14
Ver anexo (charge 23).
43
da Mata pernambucana e no Estado de Alagoas, durante o mês de junho de 2010,
por ambos os jornais.15 No entanto, a respeito dessa tragédia, no Jornal Extra de
Pernambuco ocorre um fato inédito: o jornal publica a mesma charge na edição da
semana seguinte,16 sabendo-se que dentro desse assunto existiam muitas críticas a
serem feitas, principalmente ao governo do Estado, mediante o descaso e a falta de
verbas para catástrofes naturais, mas as charges dos dois jornais apenas ilustram a
situação, ou atribui a Deus a culpa, como dá a entender nos textos que compõem a
charge do Jornal Vanguarda.17
E por fim, as imagens/charges que tiveram como tema o “São João de
Caruaru”,18 representam apenas “duas” charges do total de 26 imagens/charges
analisadas por nossa pesquisa.
15
Ver anexo (charges 10 e 22).
16
Ver anexo (charge 11).
17
Ver anexo (charge 22).
18
Ver anexo (charge 05 e 18).
44
campo e encontrou, mesmo em uma proporção baixa, as características necessárias
no perfil/charge, as quais são: a “atualidade” nos assuntos escolhidos; a presença
do “humor”; a utilização da “opinião” por meio de “críticas”, e expressões de “ironia”
perante um fato; o uso de “textos” e “caricaturas” com a finalidade de uma
comunicação mais clara; e a exposição de imagens ilustrativas. Portanto, todas
estas características foram encontradas em nossa pesquisa, em maior ou em menor
grau, mediante a necessidade de expressão do autor (chargista). E é evidente
também que, dependendo do grau de uso de determinadas características, podemos
classificar a charge como mais clara ou menos objetiva, ou menos opinativa e mais
informativa ou ilustrativa, determinando assim sua qualidade. Com base nesse
pensamento, elaboramos o seguinte gráfico:
10
9
8
7
6
5
4
3
2
1
0
INFORMATIVAS OPINATIVAS
JORNAL EXTRA 8 5
JORNAL VANGUARDA 4 9
19
Ver (apêndice – C) (tabela 4).
45
GRÁFICO 2 (Classificação das charges por gêneros)
CHARGES
INFORMATIVAS OPINATIVAS
46%
54%
Como vemos, 46%, quase metade dos temas abordados pelas imagens não
incorporam na charge um gênero opinativo, mesmo estando localizada no espaço
editorial, ou página de opinião.
46
da charge que aborda a aplicação da “lei ficha limpa”,20 do Jornal Vanguarda, onde o
autor/chargista ironiza ao generalizar o perfil dos deputados, classificando todos
como corruptos ao ilustrar uma estrada que se dividia com a indicação de duas
placas informativas: a placa “planalto” sinalizando à direita, onde todos os índices de
pegadas de deputados seguiram; e a estrada “ficha limpa” sinalizando à esquerda,
onde só um fóssil de dinossauro podia seguir. Temos nessa charge um contexto
completo no que se refere às características apresentadas por esse trabalho, pois a
mesma fez uso da “ironia”, abordou um tema político da “atualidade”, usou de
“criatividade” com os fatos e passou uma “opinião” com bastante “humor”.
O gênero “caricatura”, que é uma forma mais direta de persuasão, por ser
provido de características imagéticas que remetem ao signo representado uma fácil
identificação, pois atua de forma direta, principalmente quando a função é identificar
ou denunciar o personagem abordado no tema, pois se trata de um desenho de
representação humana, ou ícone que identifica os detalhes, dentre outras
qualidades e funções levantadas por esse trabalho. Portanto, durante nossa
pesquisa, não percebemos sua presença na identificação e representação de
personagens da arena política/local.
Quanto à utilização do gênero “caricatura” nas charges, a mesma tem
presença em mais da metade do total das imagens apresentadas por esta pesquisa,
como vemos no (gráfico 3).
Charges
38%
Fez uso de Caricaturas
Não Fez Uso de Caricaturas
62%
20
Ver anexo (charge 17)
47
A utilização da “caricatura”, que representa uma forma de expressão mais
direta e objetiva, está presente em 16 do total de 26 charges,21 que significam 62%,
como vemos no (gráfico 3), nesse caso, consideramos como caricatura apenas as
expressões faciais humanas popularmente já conhecidas ou identificadas por grupos
sociais.
Mas com relação às imagens e características das autoridades políticas,
apenas 7 charges desse total de 16 charges incorporaram personalidades de
políticos através de “caricaturas”.22 Dentre elas, podemos destacar como irônica à
charge que faz menção a polêmica nacional em torno da escolha do deputado
federal Índio da Costa (DEM), do Estado do Rio de Janeiro, para ser o vice na chapa
do candidato José Serra (PSDB) na disputa pela presidência da República. A charge
faz uma sátira e façanha em torno do sobrenome “Costa”, dando idéia de duplo
sentido. Intitulada “o peso do vice”, o deputado Índio da Costa aparece com uma
pena na cabeça e pendurado nas costas de José Serra, simbolizando mais um peso
na campanha do candidato, por ser considerado desconhecido pelos adversários, e
ficar famoso nacionalmente como conversador de bobagens.23 Outro caso político
que podemos destacar, como opinião explicita, diz respeito à campanha do
candidato Jarbas Vasconcelos (PMDB), no Jornal Vanguarda, depois do resultado
das pesquisas de intenções de votos que apontavam crescimento disparado do
candidato e atual governador Eduardo Campos (PSB). Na charge divulgada no início
do mês de julho, vemos a caricatura de Jarbas Vasconcelos armada, espingarda na
mão e com expressões de raiva, perseguindo o candidato da oposição, Eduardo
Campos. A imagem também faz uso do humor ao utilizar um ditado popular.24
Os assuntos que mais utilizaram a caricatura como forma de expressão foram
os temas esportivos com 9 caricaturas,25 tendo o ex-técnico da seleção brasileira
Dunga como um dos principais alvos de críticas, principalmente no período de
divulgação da lista de jogadores escalados para atuação na “Copa do Mundo 2010”,
criticada pelos mais diversos meios de comunicação. Com relação a esse fato, o
Jornal Extra de Pernambuco divulgou uma charge onde a caricatura de Dunga
caminhava para Copa do Mundo de “jumento”, que logo é percebida como
21
Ver anexo (charges 01, 03, 06, 07, 08, 09, 12, 13, 14, 16, 18, 19, 21, 23, 25, e 26).
22
Ver anexo (charges 1, 4,13, 14, 23, 25, e 26).
23
Ver anexo (charge 26).
24
Ver anexo (charge 23).
25
Ver anexos (charges 03, 06, 07, 08, 09, 12, 16, 19, 21).
48
capacidade e potencial do time escalado e sinal de falta de inteligência por parte do
técnico “Dunga”.26 No mesmo dia, a charge do Jornal Vanguarda aborda o mesmo
tema, nesse caso a ironia já é feita em torno dos comentários que sofria o técnico
em torno da escala, pois tanto a população como os comentaristas dos mais
diversos meios de comunicação cobravam a presença de certos jogadores na
escala, como o jogador “Ganso”, do time do “Santos”. Na charge, ocorre uma
ironização do fato, em que a caricatura do técnico “Dunga” aparece em um
restaurante fazendo a escolha do cardápio do dia, onde a única opção é a “carne de
ganso”.27
Com relação às charges que ilustraram “caricaturas” de personagens
estrangeiros, podemos citar um total de 5 charges, dentre elas apenas “uma” faz um
comentário opinativo na política mundial, e se trata de um desentendimento do atual
Presidente da República, Lula, com a Secretária de Estado americana, Hillary
Clinton, que mostrou pessimismo com a possibilidade de o Brasil convencer o Irã a
cooperar com a comunidade internacional sobre o polêmico programa nuclear
iraniano. Na charge a caricatura de Hillary Clinton demonstra ar de superioridade e
expressões faciais de tolerância em relação ao Presidente Lula, que é representado
em uma caricatura bem menor, expressando inferioridade com relação à secretária
americana.28
As outras quatro charges que ilustram personagens internacionais dizem
respeito aos temas da “Copa do Mundo”, entre as que exprimiram opinião, podemos
citar a famosa discussão entre os técnicos Carlos Alberto Parreira, da África do Sul e
o técnico da França, Raymond Domenech. O fato entre os dois aconteceu na
terceira e última partida da primeira fase do mundial, depois da vitória da África do
Sul sobre a seleção da França, quando Raymond se recusou cumprimentar o
brasileiro Parreira, que procurou conciliação. Nas imagens da charge, vemos a
opinião quando o texto justifica o fato da seleção da França não se encontrar entre
as favoritas devido à falta de educação do seu treinador.29
No (gráfico 4) vemos um empate no número de caricaturas opinativas
utilizadas nos jornais.
26
Ver anexo (charge 03).
27
Ver anexo (charge 16).
28
Ver anexo (charge 04).
29
Ver anexo (charge 09).
49
Gráfico 4 ( Divisão de caricaturas opinativas entre os dois jornais)
Caricaturas
Não ultilizou Caricaturas Caricaturas Ilustrativas
Caricaturas Opinativas Jonal Extra Caricaturas Opinativas Jonal Vanguarda
27%
19%
38%
19%
35%
30
Ver anexo (charge 05).
31
Ver anexo (charge 20).
50
5.2. ANÁLISE DOS DADOS LEVANTADOS
32
Ver anexo (charges 5, 18 e 20)
51
GRÁFICO 5 (Distribuição dos assuntos por dimensão geográfica)
12%
42% LOCAL/ZONAL
23%
ESTADUAL
NACIONAL
23% MUNDIAL
Constatamos que não existe uma preocupação por parte desses veículos em
utilizar a charge em suas diversas façanhas de duplo sentido ou poder de crítica
para se debater problemas dos mais variados seguimentos de nível local, pois
desconhecem tamanha capacidade da mesma, procurando destacar de forma
isolada eventos mundiais e outros assuntos a nível nacional, sem, no entanto,
realizar uma adaptação dessa linguagem ao contexto regional. Não há nenhum
problema em se debater assuntos nacionais nos jornais locais, portanto é necessário
que haja uma adaptação e aplicação na realidade local, como afirmam Moroni e
Ruas: “Consideremos, ainda, o fato de o jornal regional não apenas editar notícias
nacionais e internacionais que chegam pelas agências de notícias, mas também
abordá-las e discuti-Ias no contexto regional.” (MORONI; RUAS, 2006, p. 43)
52
Em segundo, vem a classificação por temas debatidos ou simplesmente
ilustrados por essas imagens/charges, destacamos os assuntos de festividades
locais, ou apenas o “São João” de Caruaru, com apenas “duas” charges, que
representam apenas 8 %, como vemos no (gráfico 6), e os problemas urbanos e
comunitários, que, consequentemente, significam apenas 15 % desse total.
4% 8%
53
No entanto, de acordo com as características do gênero “charge” levantadas
nesse trabalho, deixamos claro que a mesma não é um desenho comum, e
principalmente deve passar uma mensagem opinativa ou pelo o menos fazer uso do
bom humor e da crítica nos temas da atualidade abordados, mas todavia, em nossa
pesquisa de campo, observamos imagens que não sintetizam nenhumas dessas
características. Há casos em que a charge apenas informa ou ilustra um situação
dos fatos reais ou é usada como homenagem ou ilustração, desconsiderando assim
seu caráter opinativo e o espaço editorial que estão localizadas, já que, segundo
Melo, “a opinião deve ser confinada, quase religiosamente, na página editorial; a
interpretação é uma parte essencial do noticiário" (2003, p. 31). Segundo Moroni e
Ruas, é extremamente necessário para os jornais de nível local incorporar a
sociedade, dando abertura à mesma, ao abordar e debater os problemas do
cotidiano.
54
de redação e edição de ambos os jornais, ao decidirem publicar ou não uma charge
enviada por esses profissionais.
33
Ver (apêndice - A).
34
Ver (apêndice - B).
55
vista antes”, apesar de se manter atualizado sobre os acontecimentos da cidade.
Luiz afirmou que pretende a partir de então focar mais assuntos locais.
35
Ver apêndice (tabela 3).
56
na concretização de um pensamento crítico. Segundo Lage, isso acontece devido a
articulações de capitais externos:
57
6. CONCLUSÃO
Dessa forma, com base nas análises, podemos concluir que as charges
publicadas nos dois jornais impressos da cidade de Caruaru, os quais são: “Extra de
Pernambuco” e “Vanguarda”, nas referentes edições coletadas durante o período
58
estabelecido por essa pesquisa, demonstram em seu conteúdo geral semelhanças e
características que conferem ao perfil científico construído na fundamentação teórica
desse trabalho, no entanto, em uma porcentagem bastante baixa e desigual que
desvaloriza o potencial deste gênero opinativo, resultando em falta de qualidade e
profissionalismo, pois quase a metade das charges analisadas não incorporam um
perfil opinativo, fator essencial para consideração deste gênero, fazendo dessas
imagens, apenas mero efeito informativo ou ilustrativo.
59
7. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SANTAELLA, Lúcia. O que é semiótica. 1ª. ed. – São Paulo: Brasiliense, 1983.
(Coleção primeiros passos: 103)
60
APÊNDICE
61
APÊNDICE – B:
62
APÊNDICE – C:
63
ANEXO
64
CHARGE 01: Extra de Pernambuco, p. A11, de 01.05.2010
65
CHARGE 02: Extra de Pernambuco, p. A11, de 08.05.2010
66
CHARGE 03: Extra de Pernambuco, p. A11, de 15.05.2010
67
CHARGE 04: Extra de Pernambuco, p. A11, de 22.05.2010
68
CHARGE 05: Extra de Pernambuco, p. A11, de 29.05.2010
69
CHARGE 06: Extra de Pernambuco, p. A11, de 05.06.2010
70
CHARGE 07: Extra de Pernambuco, p. A11, de 12.06.2010
71
CHARGE 08: Extra de Pernambuco, p. A11, de 19.06.2010
72
CHARGE 09: Extra de Pernambuco, p. A11, de 26.06.2010
73
CHARGE 10: Extra de Pernambuco, p. A11, de 03.07.2010
74
CHARGE 11: Extra de Pernambuco, p. A11, de 10.07.2010
75
CHARGE 12: Extra de Pernambuco, p. A11, de 17.07.2010
76
CHARGE 13: Extra de Pernambuco, p. A11, de 24.07.2010
77
CHARGE 14: Vanguarda, p. 12, de 01.05.2010
78
CHARGE 15: Vanguarda, p. 18, de 08.05.2010
79
CHARGE 16: Vanguarda, p. 14, de 15.05.2010
80
CHARGE 17: Vanguarda, p. 10, de 22.05.2010
81
CHARGE 18: Vanguarda, p. 18, de 29.05.2010
82
CHARGE 19: Vanguarda, p. 18, de 05.06.2010
83
CHARGE 20: Vanguarda, p. 18, de 12.06.2010
84
CHARGE 21: Vanguarda, p. 16, de 19.06.2010
85
CHARGE 22: Vanguarda, p. 14, de 26.06.2010
86
CHARGE 23: Vanguarda, p. 09, de 03.07.2010
87
CHARGE 24: Vanguarda, p. 11, de 10.07.2010
88
CHARGE 25: Vanguarda, p. 11, de 17.07.2010
89
CHARGE 26: Vanguarda, p. 13, de 24.07.2010
90
91