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BŘ/ĚXPŘĚȘȘǾ/)
Ǻčǿřđǿ vǿŀțǿų ǻ șěř đįșčųțįđǿ pěŀǿș pǻíșěș đǻ Ǻméřįčǻ Ŀǻțįňǻ ǻ pǻřțįř đě 2014 ě é ųm đǿș ǻșșųňțǿș čěňțřǻįș đě ěvěňțǿ ěm
Břǻșíŀįǻ
A América Latina é onde mais se mata (https://www.nexojornal.com.br/entrevista/2016/10/27/%E2%80%98OEstadod%C3%A1otom.Eeletemdadoumtom
maisagressivo%E2%80%99dizdiretoradaOxfamsobreassassinatosdeativistas) ativistas ambientais no mundo. Agora, 23 países da região e do Caribe chegam a
Brasília para a sexta rodada de uma série de reuniões, tentando construir um acordo para melhorar o acesso à informação e à Justiça em questões relacionadas ao
meio ambiente.
A ideia é que uma vez que os governos adotem práticas de participação pública em temas que atinjam diretamente a preservação ambiental, haverá maior legitimidade
nas suas ações e uma redução de danos sociais — como as perseguições a ativistas e deslocamentos forçados de comunidades que existem hoje.
41%
dos assassinatos de ativistas na América Latina estão relacionados com a causa ambiental, segundo relatório da Oxfam
(https://www.oxfam.org.br/sites/default/files/arquivos/defensores_em_perigooutubro_2016.pdf)
A iniciativa está relacionada ao documento final da Rio92 (http://www.senado.gov.br/noticias/Jornal/emdiscussao/rio20/ario20/conferenciario92sobreomeio
ambientedoplanetadesenvolvimentosustentaveldospaises.aspx), conferência internacional que aconteceu na capital fluminense para debater questões
relacionadas ao meio ambiente e ao desenvolvimento sustentável.
Como resultado das conversas do encontro de 1992, os governos participantes escreveram uma carta de princípios
(http://www.onu.org.br/rio20/img/2012/01/rio92.pdf) que deveriam guiar o futuro das políticas ambientais. Eram sugestões. Nada daquilo tinha efeito de lei nem
geraria obrigações aos signatários.
Mas em 2014, os países da região iniciaram os debates para criar um documento que desenvolvesse a ideia expressa no Princípio 10 da carta da Rio92, e que tivesse
peso de lei.
“A melhor maneira de tratar as questões ambientais é assegurar a participação, no nível apropriado, de todos os
cidadãos interessados. No nível nacional, cada indivíduo terá acesso adequado às informações relativas ao meio
ambiente de que disponham as autoridades públicas, inclusive informações acerca de materiais e atividades perigosas
em suas comunidades, bem como a oportunidade de participar dos processos decisórios”
Trecho do Princípio 10
A ideia é abstrata, mas significa que mais do que focar em ações que evitem diretamente a destruição do meio ambiente, os governos devem trabalhar na
democratização das políticas ambientais. Partese do princípio que ampliar o acesso popular à política ajuda no desenvolvimento de todas as outras metas criadas
tanto na Rio92 quanto na Rio+20 (http://www.rio20.gov.br/) e em outros fóruns, como o Acordo de Paris (https://www.nexojornal.com.br/expresso/2015/12/13/O
AcordodeParisn%C3%A3ovaisalvaroplanetadoaquecimentoglobal.Mas%C3%A9umpassonessadire%C3%A7%C3%A3o).
Por exemplo, a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte (https://www.nexojornal.com.br/expresso/2015/11/29/Quaiss%C3%A3oaspend%C3%AAncias
sociaiseambientaisdeBeloMonte), na bacia do Rio Xingu, no Pará, foi alvo de mais de 20 processos do Ministério Público pela insuficiência de consultas públicas.
As comunidades locais — sobretudo indígenas — consideram que foram excluídas do processo de planejamento, e esse é um dos principais fatores para a grande
amplitude dos impactos socioambientais. O governo brasileiro se defende e diz (http://arte.folha.uol.com.br/especiais/2013/12/16/belomonte/capitulo2
ambiente.html) que promoveu 142 eventos de participação popular.
Os debates começaram em 2014, e o Brasil nunca recebeu uma rodada de reuniões. Isso muda segundafeira (20), quando começa em Brasília a sexta rodada de
conversas. Quem representa o Brasil é a Comissão de Desenvolvimento Sustentável do Itamaraty (http://www.itamaraty.gov.br/ptBR/desenvolvimentosustentavele
meioambiente). Hoje, o responsável é o diplomata Mário Mottin. Mas essa será sua última participação, uma vez que ele será enviado em missão para a Alemanha e
deverá ser substituído por outro membro da comissão.
O documento discutido pelos governos foca em três eixos centrais, segundo estudo
(https://www.imaflora.org/downloads/biblioteca/5721f9a0b3e43_DemocraciaAmbientalePrincpio10noBrasil
Panoramaestudosdecasoeopotencialdoacordoregional.pdf) das organizações Artigo 19 e Imaflora.
Reafirma o direito popular ao processo de formulação de políticas e projetos ambientais, e prevê a obrigatoriedade do governo em justificar
publicamente o porquê de não incluir sugestões populares em suas políticas — o que não acontece hoje. Além disso, o governo brasileiro tem
hoje poder discricionário, e escolhe quando quer ou não ouvir a população na criação de uma nova lei ambiental, o que também seria
mudado.
2 ǺČĚȘȘǾ À İŇFǾŘMǺÇÃǾ
Também reafirma o direito já garantido na legislação brasileira de a população acessar toda a informação sobre projetos e ações públicas
sobre o tema. Uma das principais inovações é que esse direito se estenderia também a projetos privados que impactam o meio ambiente. Ou
seja, se uma empresa pretende extrair um recurso natural de determinada região, a população local pode obter detalhes do projeto e
influenciálo.
3 ǺČĚȘȘǾ À JŲȘȚİÇǺ
Hoje a legislação brasileira tem poucos mecanismos legais que garantem o acesso à Justiça para pessoas ou grupos sem condições financeiras
de fazêlo. O acordo muda isso, e garante a gratuidade para populações em desvantagem tanto do processo em si quanto da assistência
técnica jurídica necessária.
A Europa já adotou leis baseadas nesse princípio, em um documento conhecido como Convenção de Aarhus (http://ec.europa.eu/environment/aarhus/). Outros
lugares do mundo, como o Japão, observam a iniciativa da América Latina para replicarem em suas legislações locais.
ĿÍĐĚŘ MŲŇĐŲŘŲĶŲ FǺĿǺ ĐŲŘǺŇȚĚ ǾČŲPǺÇÃǾ ĐǺ FŲŇǺİ ČǾŇȚŘǺ Ǻ ĦİĐŘĚĿÉȚŘİČǺ ĐĚ BĚĿǾ MǾŇȚĚ
Durante a crise hídrica (https://www.nexojornal.com.br/ensaio/2016/Desafiosurgentesparaa%C3%A1guanoBrasil) em São Paulo, iniciada em 2014, um estudo
(http://artigo19.org/wpcontent/uploads/2014/12/Relat%C3%B3rioSistemaCantareiraeaCriseda%C3%81guaemS%C3%A3oPaulo%E2%80%93afaltade
transpar%C3%AAncianoacesso%C3%A0informa%C3%A7%C3%A3o.pdf) da ONG Artigo 19 demonstrou que nenhum dos 11 órgãos estaduais que cuidam do
assunto poderiam ser classificados com “alta transparência”. Sem disponibilizar as informações necessárias, é impossível que a população cobre as medidas necessárias
para acabar com o problema.
A construção de usinas hidrelétricas na Amazônia também são um estudo de caso. Embora o Ministério Público tenha entrado com ações — e vencido — para a
suspensão de projetos por problemas com o licenciamento ambiental, o governo federal entrou com Suspensões de Segurança, um artifício jurídico criado em 1932 que
garante a suspensão do julgamento até a decisão em última instância. Quando essa decisão final sair, anos depois, pode ser tarde demais.
Joara Marchezini, da Artigo 19 (http://artigo19.org/), e Renato Morgado, da Imaflora (http://www.imaflora.org/), falaram com o Nexo sobre o processo de
negociação do acordo. Eles afirmam que o texto representa um avanço tanto na democratização das políticas ambientais quanto no próprio processo de participação
coletiva como um todo.
“Uma das falhas desses instrumentos de participação que nós [já] temos é que a população apresenta, participa de
uma consulta pública, mas depois não sabe como as opiniões dela foram levadas em consideração no final. Então esse
é um mecanismo que se for mantido no acordo e virar uma obrigação vai melhorar muito a qualidade dos
instrumentos de participação em temas ambientais”
Renato Morgado
Řěpřěșěňțǻňțě đǻ İmǻfŀǿřǻ, ǻǿ Ňěxǿ
Os dois especialistas ressaltam a importância do texto final que está em negociação se transformar, de fato, em um acordo internacional, e não em uma simples
declaração. A diferença é que, se for um acordo, ele é vinculante e ganha status de lei em todos os países, após ser ratificado nacionalmente pelo Parlamento.
Chile, Costa Rica e Panamá são alguns dos governos que já se colocaram a favor do texto virar um acordo, mas o Brasil ainda não definiu sua posição, e diz esperar o
fim das discussões sobre o texto. Segundo Marchezini, o país, que sempre foi referência na liderança do debate ambiental na região, vem tendo uma postura "tímida"
nas reuniões do Princípio 10.
“Já temos várias [declarações com a temática dos direitos ambientais]. E não surtiram efeito. Então seria repetir parte
do que já existe, se ele não for vinculante. Para mudar alguma coisa, ele precisa ser vinculante [...] para podermos
cobrar uma aplicação”
Joara Marchezini
Řěpřěșěňțǻňțě đǻ Ǻřțįģǿ 19, ǻǿ Ňěxǿ
VĚJǺ ȚǺMBÉM