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V CONeGOV .

2009
Anais da Conferência Sul-Americana em Ciência e
Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

17, 18 e 19 de Novembro de 2009


Florianópolis - Santa Catarina - Brasil
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência
e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

CONeGOV 2009
Hugo Cesar Hoeschl, Post. Doc. (org.)
Tânia Cristina D’Agostini Bueno, Dra. (org.)
Sonali Paula Molin Bedin, Msc. (org.)

Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência


e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

CONeGOV 2009

Florianópolis
Editora Digital Ijuris
2009
Copyright © 2009 i3G

ISBN 978-85-89587-23-15

Projeto Gráfico e Editoração


Marcos Carlson, M.Sc.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


Catalogação na Publicação elaborada por Sonali Bedin
————————————————————————————————
H699e

Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao


Governo Eletrônico – CONeGOV (5.: 2009: Florianópolis:Santa Catarina,
SC) / HOESCHL, Hugo Cesar; BUENO, Tânia Cristina d”Agostini;
BEDIN, Sonali Paula Molin (Orgs.). Florianópolis: Editora Digital Ijuris,
2009.

ISBN: 978-85-89587-23-15

1. Governo Eletrônico 2. Inteligência Jurídica 3. Inteligência Artificial 4.


Cidadania Digital 5. Redes Sociais I. Autor II. Título

CDD659.3
————————————————————————————————

Direitos desta edição reservados à


EDITORA DIGITAL IJURIS

Rua Lauro Linhares, 728 / 105 Trindade


88036-002 Florianópolis SC BRASIL
+55 48 3025-6609 / +55 48 3025-5467 fax

editora.digital@i3g.org.br
www.i3g.org.br/editora

Biblioteca Nacional – no. 89587


PREFÁCIO

E
stes Anais contêm os artigos aprovados para a V CONeGOV – Conferência
Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico,
realizada em Florianópolis, SC, Brasil, em 17, 18 e 19 de novembro de
2009, organizada pelo i3G – Instituto de Governo Eletrônico, Inteligências e
Sistemas em parceria com a UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina,
com apoios da Fundação Boiteux, EGC/UFSC – Programa de Pós-Graduação
em Engenharia e Gestão do Conhecimento da Universidade Federal de Santa
Catarina, CCJ/UFSC – Centro de Ciências Jurídicas da Universidade Federal
de Santa Catarina, Universidade de FASTA, DGov – Diretoria de Governança
Eletrônica do Governo do Estado de Santa Catarina e UDESC – Universidade
do Estado de Santa Catarina e patrocínio do CNPq – Conselho Nacional
de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, Capes – Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior e Fapesc – Fundação de Apoio à
Pesquisa Científica e Tecnológica do Estado de Santa Catarina.
Nossos objetivos se consolidam como foco de disseminação, difusão e
extensão das atividades acadêmicas voltadas para o Governo Eletrônico e tem
como objetivo reunir gestores públicos, cientistas, empresários, estudantes e ci-
dadãos atuantes na indústria ou no Governo para apresentação de aplicações e
soluções avançadas em e-Gov, bem como as tecnologias que as suportam. Além
disso, realizada pelo quinto ano consecutivo, a CONeGOV agregou vários pro-
fissionais que, com dedicação e empenho, colaboraram na realização e sucesso
do evento.
Neste ano a Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada
ao Governo Eletrônico se realiza juntamente com o VII EleGov – Encontro
Íbero-Latino-Americano de Governo Eletrônico e Inclusão Digital. Também
foi introduzido como novidade no evento a apresentação de tutoriais, cujo con-
teúdo programático faz parte destes anais. Ainda, ampliando e rede científica
em torno da temática, o evento conta como convidado especial o Dr. Timothy
Waema, professor da School of Computing and Informatics, University of
Nairobi – Kenia.
Como temática principal da Conferência, as questões relativas às redes
Sociais ultrapassaram o âmbito privado, pois os mecanismos utilizados pelos
cidadãos para a formação das redes Sociais na Internet estão sendo utiliza-
dos pelos gestores públicos como importante ferramentas de e-Gov. A rele-
vância da temática favoreceu a realização desta quinta edição na cidade de
Florianópolis/SC, apoiada no grande interesse das instituições públicas nas
questões discutidas na Conferência. Interesse este que mobilizou também a co-
munidade científica que vislumbra a possibilidade de integração, cooperação e
conversão de conhecimentos imprescindíveis à consolidação e fortalecimento
da região.

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Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

Foram submetidos 56 artigos à V CONeGOV. O Comitê Científico é forma-


do por 30 membros dos seguintes países: Brasil, Argentina, Espanha, França,
Portugal, Peru e Estados Unidos da América. Cada artigo foi avaliado por dois
revisores independentes, a fim de garantir a qualidade dos trabalhos aceitos.
Para publicação foram aprovados 21 artigos em versão integral, 16 artigos em
versão reduzida e 09 em versão poster.
A Comissão Organizadora agradece aos autores que submeteram seus arti-
gos e aos membros do Comitê Científico e revisores pela excelência do trabalho
de avaliação. Em especial, a Comissão agradece aos palestrantes, a todos os
estudantes, professores, pesquisadores e profissionais que se motivaram a com-
parecer e enriquecer o encontro.
Por fim, a Comissão deseja a todos uma boa leitura dos artigos aqui disponí-
veis e que estes possam contribuir para o crescimento da comunidade científica
brasileira.

Hugo Cesar Hoeschl, Post Doc. Tânia Cristina D’Agostini Bueno, Dra.
Presidente do Comitê Científico Vice-presidente do Conselho Científico
Presidente do Instituto i3G

Sonali Paula Molin Bedin, M.Sc.


Secretária Executiva
Comissão Organizadora

Florianópolis, 20 de novembro de 2009

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COMITÊ CIENTÍFICO

PRESIDENTE VICE-PRESIDENTE
Hugo Cesar Hoeschl, Post Doc. Tânia Cristina D’Agostini Bueno, Dra.
i3G, Brasil i3G, Brasil

MEMBROS
Aires José Rover, Dr. Janae Gonçalves Martins, Dra.
UFSC, Brasil UNIVALI, Brasil
Alan March, Dr. Jesus Cardeñosa, Dr.
SADIO, Argentina UPM, Espanha
Américo Ricardo M. de Almeida, Dr. José Leomar Todesco, Dr.
UNIRG, Brasil UFSC, Brasil
Ana Maria Pereira, Dra. Maria Alexandra Cunha, Dra.
UDESC, Brasil PUC, Brasil
Andre Bortolon, Dr. Marzely Gorges Farias, Dra.
i3G, Brasil UDESC, Brasil
Christianne C. de S. R. Coelho, Dra. Michel Menou, PhD.
UFSC, Brasil University College London, Reino Unido
Clara Smith, Dra. Olsen da Veiga, Dr.
UNLP, Argentina UFSC, Brasil
Claudia Marina V. Solórzano, M.Sc. Orides Mezzaroba, Dr.
Somece, México UFSC, Brasil
Dayna Maria Bortoluzzi, Dra. Oscar Anselmo Ruiz, Dr.
SED/SC, Brasil Fundación La Buardilla, Argentina
Divino I. Ribeiro Jr., M.Sc. Osny Taborda, Dr.
UDESC, Brasil UNISUL, Brasil
Eduardo Mattos, M.Sc. Paulo de Tarso Mendes Luna, Dr.
i3G, Brasil FURB, Brasil
Ernesto Cuadros-Vargas. PhD. Roberto Giordano Lerena, Ing.
Universidade Católica San Pablo, Peru Universidad FASTA, Argentina
Fabrício Tadeu Donatti, M.Sc. Sonali Paula Molin Bedin, M.Sc.
i3G, Brasil i3G, Brasil
Fernando Galindo, Dr. Tânia Cristina D’Agostini Bueno, Dra.
UNIZAR, Espanha i3G, Brasil
Gabriel Baum, Dr. Thiago Paulo Silva de Oliveira, M.Sc.
UNLP, Argentina i3G, Brasil
Gregorio Varvakis, Dr. Timothy Moema Waema, Dr.
UFSC, Brasil University of Nairobi, Kenya
Hipólito M. Rodriguez Casavilca, M.Sc.
UNMSM, Peru

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Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

PROGRAMAÇÃO

V Conferência Sul-Americana em Ciência


e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico
8º Encontro Íbero Latino-Americano
de Governo Eletrônico e Inclusão Digital

Temática condutora: “Redes Sociais e Governo Eletrônico”

17, 18 e 19 de novembro de 2009


Auditório do Centro Sócio Econômico – CSE (Campus Trindade)
Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC
Florianópolis SC BR ASIL

Terça-feira, 17

V C ONe G OV

08:30 – 09:15 Credenciamento


09:15 – 09:30 Cerimonial de Abertura
09:30 – 10:15 Palestra de Abertura
Hugo Cesar Hoeschl, Post Doc.
Coordenador do Conselho Consultivo de Governo
do Estado de Santa Catarina – CONSULT
10:15 – 11:15 Palestra II
SUCCESSES AND FAILURES OF E-GOVERNANCE
IMPLEMENTATION: LESSONS FROM E-LOCAL
GOVERNANCE RESEARCH IN AFRICA
Timothy Waema, Dr.
School of Computing and Informatics
– University of Nairobi, Kenia
11:15 – 12:30 Mesa I
INTEROPER ABILIDADE
Vagner Diniz, Esp.
Gerente do Escritório Brasil W3C
Marcelo Stopanovski Ribeiro, MSc.
Secretário de Prevenção da Corrupção
e Informações Estratégicas da Controladoria‑Geral
da União da Presidência da República
12:30 – 14:00 Intervalo

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CONeGOV 2009 | PROGRAMAÇÃO

14:00 – 15:15 Mesa II


INOVAÇÃO
Antonio Diomário de Queiroz, Dr.
Presidente da Fundação de Apoio à Pesquisa Científica
e Tecnológica do Estado de Santa Catarina – FAPESC
Tânia Cristina D’Agostini Bueno, Dra.
Presidente do Instituto de Governo Eletrônico,
Inteligências e Sistemas – i3G
Marzely Gorges Farias, Dra.
Coordenadora da Coordenadoria de Inovação
e Propriedade Intelectual da Universidade
do Estado de Santa Catarina – UDESC
15:15 – 16:00 Palestra III
Roberto Lerena, Ing.
Consultor del Centro de Transferencia
Tecnológica y Consultoria de la Universidad
FASTA, Mar del Plata, Argentina
16:00 – 16:30 Intervalo
16:30 – 17:15 Palestra IV
Hipolito M. Rodríguez Casavilca , MSc.
Jefe de la Unidad de Virtualización
de la Universidad Inca Garcilaso de la Vega, Lima, Perú
17:15 – 18:30 Mesa III
E-GOV
Paulo Luna, Dr.
Hugo Cesar Hoeschl, Post. Doc.
Roberto Giordano Lerena, Ing.
18:30 – 19:00 Encerramento

Quarta-feira, 18

8 º E NC ON T RO

08:00 – 09:00 Credenciamento


09:00 – 10:30 Painel 1
PROJETOS DE GOVERNO ELETRÔNICO
PAR A O CONTROLE DO ORÇAMENTO
Aires José Rover, Dr.
UFSC
APRENDIZAGEM VIRTUAL E GOVERNO ELETRÔNICO
Fernando Galindo, Dr.
Zaragoza/Espanha
Luis Adolfo Olsen da Veiga, Dr.
UFSC – Moderador

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Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

10:30 – 12:00 Painel 2


INCLUSÃO DIGITAL E IDENTIFICAÇÃO
Manuel Vázquez, Dr.
Zaragoza/Espanha
ACESSO ELETRÔNICO A ADMINISTR AÇÃO PÚBLICA:
CIDADANIA E O DESENVOLVIMENTO DEMOCR ÁTICO
Francisco Javier Garcia Marco, Dr.
Zaragoza/Espanha
Orides Mezzaroba, Dr.
CPGD/UFSC – Moderador
12:00 – 14:00 Intervalo
14:30 – 16:00 Painel 3
PLATAFOR MAS E-GOV COMO SISTEMAS
SOCIOTECNOLÓGICOS
Vinícius Medina Kern, Dr.
UFSC
EXPERIÊNCIAS DE GOVERNO ELETRÔNICO
NA AMÉRICA LATINA
Ricardo Sebastián Piana, Dr.
Argentina
José Leomar Todesco, Dr.
UFSC – Moderador
16:00 – 18:30 Painel 4
PROCESSO ELETRÔNICO NA JUSTIÇA FEDER AL
Des. Sérgio Renato Tejada Garcia
Justiça Federal
José Miguel Busquets, Dr.
Uruguai
O PROCESSO DIGITAL NO BR ASIL
Rubens Curado
Secretário Geral – CNJ
José Renato Cella, Dr.
PUC/PR – Moderador
18:30 – 19:00 Coffee break
19:00 – 20:30 Painel 5
A TV DIGITAL PÚBLICA INTER ATIVA PODE SER O
CAMINHO MAIS CURTO PAR A A INCLUSÃO DIGITAL
André Barbosa Filho, Dr.
Assessor Especial da Casa Civil
A ADMINISTR AÇÃO TRIBUTÁRIA NA SOCIEDADE DA
INFOR MAÇÃO E DO CONHECIMENTO: O PROCESSO
DE MODERNIZAÇÃO DO FISCO CATARINENSE
Amery Moisés Nadir Júnior, M.Sc.
Gerente de Substituição Tributária e Comércio Exterior
da Secretaria da Fazenda de Santa Catarina
Renato Dias Marques de Lacerda, M.Sc.
Coordenador Técnico dos Programas de Modernização
da Gestão Fiscal Estadual – PROFISCO e PMAE
Tarcísio Vanzin, Dr.
UFSC – Moderador

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CONeGOV 2009 | PROGRAMAÇÃO

Quarta-feira, 18

V C ONe G OV

Tutorial A
PADRONIZAÇÃO E REUSO DE APLICAÇÕES COM
DEMOISELLE FR AMEWOR K (8 HOR AS)
Antonio Carlos Tiboni
Flávio Gomes da Silva Lisboa
Luciana Campos Mota
Tutorial B
WEB 2.0 APLICADA AO GOVERNO
ELETRÔNICO (4 HOR AS)
Thiago Paulo Silva de Oliveira
Sonali Paula Molin Bedin
Thais Garcia
Tutorial C
CONECTIVIDADE E GESTÃO DA INOVAÇÃO (4 HOR AS)
Marli Dias de Souza Pinto
Sessões Técnicas 1 e 2
Apresentação de artigos

Quinta-feira, 19

8 º E NC ON T RO

Apresentação de trabalhos

V C ONe G OV

Apresentação de Artigos
08:30 – 10:00 Sessão Técnica 3
10:00 – 10:30 Intervalo
10:30 – 12:00 Sessão Técnica 4
12:00 – 14:00 Intervalo
14:00 – 15:45 Sessão Técnica 5
15:45 – 16:00 Intervalo
16:00 – 17:15 Sessão Técnica 6
17:15 – 18:00 Sessão de Encerramento
Hugo Cesar Hoeschl, Post. Doc.
Presidente do Comitê Científico da V CONeGOV
Tânia Cristina D’Agostini Bueno, Dra.
Vice Presidente do Comitê Científico da V CONeGOV
Presidente do Instituto de Governo Eletrônico,
Inteligências e Sistemas-i3G

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Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

COMISSÃO ORGANIZADORA
Sonali Paula Molin Bedin
Secretária Executiva

Ângela Iara Zotti

Angélica Gorges

Cesar Ramirez Kejelin Stradiotto

Claudia de Oliveira Bueno

Fabricio Tadeu Donatti

Marcos Carlson

Tarcisio Fischer

Tânia Cristina D´Agostini Bueno

Thiago Paulo Silva de Oliveira

Vinicius O. Mirapalheta

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SUMÁRIO

FULL PAPERS

O governo eletrônico no Brasil e algumas iniciativas de inclusão digital 21

Ontologia para comunidades informacionais em e-gov, utilizando a 33


ferramenta Ontokem

Desenvolvimento de sistemas de gestão da segurança da informação 47


através da integração das normas ISO/IEC 27001:2006 e ISO/IEC
21827 (SSE-CMM)

E-gov e a educação: o exemplo da TV Escola 65

Sistema Federal de Educação Superior na modalidade a distância: o 81


papel do governo eletrônico

Contribuições das tecnologias KDD e DW como ferramentas de 95


gestão do conhecimento aplicadas ao processo de compras do governo
eletrônico

A importancia do CZRM para a implantação do e-gov 115

Ciberincubadora: um modelo para o desenvolvimento regional 131

Redes sociais de cooperação interorganizacional: o estudo de caso do 147


Vale da Eletrônica – Minas Gerais

Observatório de Resíduos Recicláveis e Reciclados do Distrito Federal 167

O software livre e a padronização de sistemas no Governo Federal 185

Participação democrática nos websites dos candidatos a prefeito das 203


capitais da região Sul

Universidade corporativa e aprendizagem organizacional: uma análise 225


conceitual

A importância das redes sociais virtuais para a gestão do conhecimento 239


organizacional: o caso da Embrapa

Escritório de propriedade industrial: estrutura de aproximação entre o 259


trabalhador-inventor, o empregador e o INPI

Contextualização jurídica da EAD no ensino superior 273

15
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

Ciberdireito: uma formulação teórica para a legitimidade do governo 289


eletrônico

NIT Virtual do APL Madeira-Móvel do Alto Vale do Rio Negro: um 313


modelo de gestão da inovação baseado na proteção da propriedade
intelectual

Educação e tecnologia: numa perspectiva de inclusão sócio-digital 329

Commonkads para construção de sistema de conhecimento: uma 343


solução para segurança pública de Santa Catarina

Proposta de melhoria nos serviços de atendimento de TI com aplicação 365


do Commonkads

SHORT PAPERS

O governo eletrônico como evolução da gestão pública: política pública 385


participativa com os observatórios de segurança pública

Redes sociais no governo eletrônico 397

A atitude dos discentes no ensino superior a distância 411

Política pública de inclusão digital: ampliando os horizontes no meio 421


rural de Santa Catarina

Advertmaps: um mashup dos dados de óbitos com um aplicativo de 433


mapas para apoio ao governo eletrônico

Democracia eletrônica no Brasil: princípios e perspectivas do uso das 445


TICs pelo cidadão para participação no governo

Proyecto guía de recomendaciones para usuarios de bienes y servicios 459


informáticos

Contribuição da tecnologia da informação para sustentação do modelo 467


de assistência à saúde implementado no município de Curitiba

Contribuição da tecnologia de informação para a construção de um 477


banco de dados apto a gerar informações estratégicas para a área da
epidemiologia

Abordagem Design Centrado no Usuário para interface digital de e-gov 485

Proteção jurídica ao trabalhador-inventor e ao empregador de parques 499


tecnológicos

16
CONeGOV 2009 | SUMÁRIO

Proposta de uso de RBC na gestão de risco de acidentes de trânsito na 501


malha viária catarinense

Um ensaio sobre as principais barreiras para a disseminação de ações 511


de governo móvel no Brasil

Avaliação do alinhamento estratégico de tecnologia da informação nas 525


organizações

Visão sistêmica na interoperabilidade dos sistemas para segurança 537


pública: estudo do caso de Santa Catarina

Município 2.0: uso de ferramentas colaborativas para participação 555


popular e transparência pública

RESEARCH ABSTR ACTS

Sistemas sociais, tecnologias de controle e ciberespaço: um olhar pela 575


teoria de Santiago

Ontology Graphical Editor for Multilingual Document Search System 579

Trabalhador-inventor e empregador e a gestão da inovação 583

Gestão de contas de usuários e domínios de rede da Prefeitura 585


Municipal de Curitiba

Pregão eletrônico e tecnologia da informação: ferramenta relevante em 587


tempos modernos de gestão pública

TUTORIALS

Padronização e Reuso de Aplicações com Demoiselle Framework 593

WEB 2.0 Aplicada ao Governo Eletrônico 595

Conectividade e Gestão da inovação 597

Índice de Autores 599

17
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

18
FULL PAPERS
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

20
O GOVERNO ELETRÔNICO NO
BRASIL E ALGUMAS INICIATIVAS
DE INCLUSÃO DIGITAL

Denise do Socorro Costa Tavares Mesquita


Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC
denisetmesquita@gmail.com

João Bosco da Mota Alves


Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC
jbosco@inf.ufsc.br

RESUMO

Este artigo versa sobre as concepções de governo eletrônico e faz uma breve análise
sobre a viabilidade do mesmo no Brasil, onde a utilização dos meios eletrônicos não pode
ser um fim em si mesmo e precisa traduzir resultados que engrandeçam as pessoas e a
cidadania. Também, aborda duas iniciativas de inclusão digital e social: os programas
NAVEGAPARÁ e o REDE PIÁ.

PALAVRAS-CHAVE

Inclusão digital; Governo eletrônico; Globalização.

ABSTRACT

This paper presents the concepts of electronic government and makes a brief analysis on its
feasibility in Brazil, where the use of electronic media can not be an end in itself, but it needs
to translate results that enhance people and citizenship. It also points out about two initiatives
concerning digital and social inclusion: the programs NAVEGAPARÁ and REDE PIÁ.

KEYWORDS

Digital Inclusion, E-Government; Globalization.

1. INTRODUÇÃO
A sociedade contemporânea é comumente denominada de ‘Sociedade da
Informação’. Embora o termo seja impreciso e de caráter ideológico, a expressão

21
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

visa descrever as novas configurações socioculturais que foram impulsionadas


pela convergência tecnológica, iniciada nos anos 70 e consolidada nos anos 90,
entre a informática, as telecomunicações e os diversos setores produtivos.
O governo brasileiro está preocupado com esta questão, mas a ausência
de modelos prejudica as ações. A inclusão digital pode ser uma facilitadora de
outras inclusões, como a sócio-econômica, por exemplo.
Neste tocante, é configuração dessa sociedade em rede trazer à baila ne-
cessidades política, social e cultural de inclusão de grande parte da população
mundial à era da informação. Assim, este artigo faz uma breve análise sobre
a viabilidade do governo eletrônico no Brasil e de duas iniciativas de inclusão
digital e social: os programas NAVEGAPARÁ e o REDEPIÁ.

2. O GOVERNO ELETRÔNICO NO BRASIL


Dentro de uma perspectiva histórica e temporal, pode-se afirmar que a
expressão governo eletrônico ou e-gov começou a ser utilizada com mais fre-
quência após a disseminação e consolidação da idéia de comércio eletrônico
(e-commerce), na segunda metade da década passada, assim, a partir daí ficou
completamente associada ao uso das Tecnologias de Informação e Comunicação
- TICs nos diversos níveis de governo (DINIZ, 2000).
Neste sentido, as concepções sobre governo eletrônico, mesmo que associa-
das ao uso de tecnologia de informação no setor público, vão além desta fron-
teira. Em determinadas situações, estão vinculadas à modernização da admi-
nistração pública por meio das TICs e na melhoria da eficiência dos processos
operacionais e administrativos dos governos (OSBORNE, 1997).
De acordo com Ronaghan (2002), em outros casos, está claramente asso-
ciada ao uso de internet no setor público para prestação de serviços públicos
eletrônicos.
Em artigos recentes, alguns autores têm trabalhado no entendimento das
fases da evolução do uso de TIC no setor público no Brasil. Com foco na estru-
tura do processo de informatização, Reinhard e Dias (2005) classificaram quatro
grandes períodos do uso de TIC no setor público: o pioneirismo (dos anos 1950
até meados dos anos 1960), a centralização (de meados dos 1960 até o final dos
1970), a terceirização (anos 1980) e o governo eletrônico propriamente dito (a
partir dos anos 1990).
Segundo Agune e Carlos (2005), governo eletrônico pode ser entendido
como um conjunto de ações modernizadoras vinculadas à administração públi-
ca, que começam a ganhar visibilidade no final de 1990.
Assim, pode-se inferir que governo eletrônico vai além da simples automa-
ção dos processos e disponibilização de serviços públicos, por meio de serviços

22
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

online na internet, mas infere na mudança da maneira como o governo, através


da TIC, atinge os seus objetivos para cumprimento do papel do Estado.
Tal situação provoca a melhoria dos processos da administração pública;
aumento da eficiência; melhor governança; elaboração e monitoramento das po-
líticas públicas; integração entre governos e democracia eletrônica, representada
pelo aumento da transparência, da participação democrática e accountability
(responsabilidade) dos governos (PRADO, 2004).
A implantação do governo eletrônico, em uma gestão pública, nem sempre
representa mais facilidade para a sociedade. Para Nogueira (2006), não se gover-
na no vazio, em abstrato. Governa-se em uma comunidade, com ela e para ela.
Além do mais, não se governa para alcançar maior eficiência, menores custos e
mais agilidade. Como andam dizendo os trabalhadores ingleses, deve-se querer
“governar para melhorar a vida dos cidadãos”.
Com isso, a utilização dos meios eletrônicos não pode ser um fim em si
mesmo e precisa se traduzir em resultados que engrandeçam as pessoas e a cida-
dania. Portanto, o governo precisa se combinar com a presença de uma comuni-
dade preparada para assimilá-lo e, acima de tudo, controlá-lo.
Assim, para que de fato ocorra a implementação efetiva de um programa
de governo eletrônico no Brasil, esse processo precisa ser entendido como um
composto de várias etapas que incorporam aspectos políticos, técnicos e organi-
zacionais, desde a fase de concepção, implantação até a avaliação. Os principais
atores, políticos e técnicos, responsáveis pela execução de cada uma das etapas
descritas no modelo teórico apresentado, são elementos centrais no processo de
construção e legitimação de projetos de e-gov.
Na proposição do modelo, a influência sobre a execução de cada etapa é
dada principalmente pelas características desses atores, que são influenciados
por aspectos externos e por suas preferências. As interações deles ocorrem no
âmbito da arena das políticas, variando entre consenso e conflito conforme o
impacto da política em questão.
Na concepção de Frey (2000), existem quatro tipos de políticas: as distri‑
butivas (geração de benefícios sem custos), as redistributivas (deslocamento de
recursos), as regulatórias (ordens e proibições) e as constitutivas (estruturantes),
as quais indicam que as políticas de caráter distributivo têm menor chance de
gerar conflito, pois têm caráter consensual, ao contrário das políticas redistribu-
tivas, orientadas ao conflito.
Já Pollit e Bouckaert (2000), ao incorporarem a visão dos atores em seu
modelo de reforma da gestão pública, apontam que as ‘elites’, ao serem influen-
ciadas, respondem com um pacote de políticas de implementação viável.
Assim, conclui-se que a história do governo eletrônico no Brasil está di-
retamente ligada ao desenvolvimento dos serviços de informática pública,

23
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

oferecidos pelas empresas estaduais e municipais de processamento de dados,


iniciados nos primeiros anos da década de 1960. Como na área privada, o uso
de TIC foi encabeçado pelo setor financeiro, onde as empresas de prestação de
serviços de informática pública foram criadas inicialmente para processamento
de dados e informações de natureza fiscal e, em geral, para a gestão de receitas
e controle das despesas do governo.
Agune e Carlos (2005) mostram que, a partir dessa demanda, a informática
na gestão pública evoluiu ao longo do tempo para a entrega de serviços ao cida-
dão em vários canais de acesso. Embora essas empresas tenham se empenhado
em acompanhar os avanços tecnológicos e de prestação de serviços, constata-se
que o modelo de negócios adotado por elas é ineficiente e pouco competitivo.
Isso talvez se reflita na falta de convergência entre os modelos de gestão das
empresas de processamento de dados estaduais.
Apesar disso, existem muitas iniciativas de sucesso nos três níveis de go-
verno e em todos os poderes da República Federativa, conforme demonstrado
por Chain (2004): nos níveis estadual e municipal, a adoção de recursos tecno-
lógicos e de sistemas de informática pública permite muitos avanços sociais:
sistemas para o agendamento de consultas médicas em hospitais e postos de
saúde; sistemas automatizados de matrículas escolares, que acabaram com as
filas na porta das escolas públicas; lojas (praças) de atendimento integrado
que, complementados pela entrega de serviços por meio dos portais governa-
mentais na internet, dispensam a necessidade da presença física do cidadão
nos órgãos públicos.

3. OS TRÊS PILARES DA INCLUSÃO DIGITAL


A inclusão digital é sustentada por três pilares que possibilitam que ela
aconteça, formando o tripé fundamental para que se torne realidade o acesso
para todos: as tecnologias de informação e comunicação, ou simplesmente TICs,
renda e educação (SILVA FILHO, 2004).
Qualquer ação desenvolvida para promover a inclusão digital, com a ausên-
cia de qualquer um desses pilares, é ineficaz e fadada ao insucesso. Não é viável
ter acesso às tecnologias e renda se não há educação, uma vez que um dos obje-
tivos da inclusão digital é transformar um mero consumidor passivo de informa-
ções, em alguém que atue de maneira ativa e, portanto, passe a ser o produtor de
informações, promovendo assim a inclusão social como demonstra a Figura 1.
De acordo com Silva Filho (2004), é possível que a inclusão digital contri-
bua para o processo de inclusão social. Mas, para que o processo de inclusão
digital seja concretizado, é preciso haver inclusão social, visto que essa depende
de dois fatores essenciais que compreendem renda e educação. Os dois fatores,
por sua vez, juntamente com as TICs, constituem os pilares da inclusão digital.

24
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

Figura 1. Inclusão Social para fazer Inclusão Digital.

Fonte: Silva Filho, 2004.

A tecnologia de informação e comunicação (TIC) se constitui em um dos


pilares para que a inclusão digital ocorra e caracteriza-se por possibilitar a me-
lhoria na qualidade em diversos aspectos dos negócios, tornando os ambientes
empresariais mais competitivos cada vez que se deflagra com uma nova tecno-
logia, bem como são reduzidos custos e distâncias geográficas entre as pessoas,
influenciando o planejamento das organizações.
De acordo com Amaral e Bohadana (2008), no século XXI, as Tecnologias
da Informação e da Comunicação (TICs) surgem como um determinante crítico
para o desenvolvimento sóciopolítico e econômico dos países e indivíduos e para
a integração de diferentes povos, uma vez que a habilidade em estabelecer uma
relação com as tecnologias digitais tem ganhado notoriedade e os efeitos da sua
utilização estão gerando uma verdadeira revolução nas organizações, inseridas
no contexto da globalização.
A renda é outro elemento que constitui o tripé da inclusão digital, já que
permite o acesso às tecnologias de informação e comunicação pela aquisição de
computadores. Um país que possui uma população com poder aquisitivo razoá-
vel e com distribuição de renda equitativa permite com mais facilidade o acesso
às tecnologias de informação e comunicação, no qual o aumento mais signifi-
cativo se deu em domicílios cuja renda familiar está compreendida entre três e
cinco salários mínimos (AMARAL e BOHADANA, 2008).
É notório que, quanto maior a renda e a escolaridade e quanto mais ricas as regi-
ões, maior será o acesso dos cidadãos às tecnologias de informação e comunicação.
Neste contexto, a realidade brasileira se mostra como um país de excluídos, uma vez
que possui muitas regiões pobres, com difícil acesso à educação, assim como má
distribuição de renda, refletindo diretamente no processo de inclusão digital.
A baixa renda da maioria dos brasileiros inviabiliza a aquisição de equi-
pamentos que permitam o acesso à rede mundial de computadores, uma vez

25
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

que o seu alto custo acaba por dificultar a aquisição de TIC (AMARAL e
BOHADANA, 2008).
Por último, a educação é um dos pilares que sustentam as ações voltadas
para que a inclusão digital seja uma realidade, uma vez que parte do processo de
ensino fornece a educação continuada. Percebe-se, então, que a educação é um
processo de real importância e a inclusão digital é elemento fundamental neste
processo.
Através da educação, de uma redistribuição de renda, o acesso às TICs é
permitido e torna o indivíduo incluso no mundo digital, pois esse obtém infor-
mações e passa a ser um agente transformador do ambiente global no qual está
inserido.
Neste processo, a educação configura-se como o principal vetor capaz de
mudar todos os paradigmas no que concerne à inclusão digital, pois a dinâmica
da sociedade da informação exige que o indivíduo não somente acompanhe as
mudanças tecnológicas, mas que tenha a capacidade de adaptação e inovação, a
fim de garantir autonomia (AMARAL e BOHADANA, 2008).

Brandão (1995, p. 7) ressalta que:


Ninguém escapa da educação. Em casa, na rua, na igreja ou na escola,
de um modo ou de muitos, todos nós envolvemos pedaços da vida com
ela: para aprender, para ensinar para aprender e ensinar. Para saber,
para fazer, para ser ou para conviver, todos os dias, misturamos vida com
educação.
Por conseguinte, conforme Takahashi (2000), educar na era da informação
e das tecnologias de informação e comunicação exige investir na criação de
competências que permitam a produção de bens e serviços, fundamentados no
conhecimento.

4. INCLUSÃO DIGITAL E OS DESAFIOS


DA ERA DA GLOBALIZAÇÃO
Segundo Castells (2002), estamos vivendo em um mundo globalizado, cada
vez mais mediado pelas tecnologias digitais. Assim, a globalização serve para
caracterizar a interdependência universal das nações, nas produções material,
econômica e intelectual.
Com a globalização, aumentou-se o intercâmbio de bens de consumo e
produtos, gerando laços de interdependência e aproximação entre os povos,
através dos intercâmbios comerciais. Por sua vez, isso gera toda uma necessi-
dade de criação de normas culturais e universais para que aconteça da melhor
forma.

26
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

No entanto, há também o lado negativo, pois foram geradas trocas desiguais


de riquezas entre as nações, aumentando ainda mais o fosso existente entre as
sociedades dos países ricos e a dos países pobres. Houve um aumento de con-
centração de riquezas nas mãos da elite e dos países do Primeiro Mundo e um
aumento da pobreza e das desigualdades sociais.
Desse modo, Sorj (2003) enfatiza que, do mesmo modo que a globalização
gerou desigualdades nas condições de vida no interior de cada sociedade e entre
os povos, ela também fez com que o mundo refletisse e criasse condições para
lutar contra essas desigualdades em escala global.
A globalização das sociedades vem gerando uma opinião pública mundial
que se une na defesa dos direitos humanos e do acesso a bens de consumo coleti-
vos para todos. É comum que hoje muitas pessoas, independente de onde tenham
nascido e de sua posição social, queiram ter acesso às melhores condições de
vida, tendo como referência informações e modelos existentes em outras partes
do mundo. Dessa forma, a globalização refere-se à democratização das socieda-
des em escala internacional e à criação de um espaço comum nas expectativas
das pessoas (SORJ, 2003).
Segundo Sacristan (2001), a globalização pode ser descrita como configu-
rada pelos fenômenos, processos em curso, pelas realidades e tendências muito
diversas que afetam diferentes aspectos da cultura, das comunicações, da eco-
nomia e da vida cotidiana, cujo significado é pouco preciso.
Esses são fenômenos típicos de um mundo globalizado, que pode ser descri-
to como um mundo em rede, onde as partes são interdependentes, constituindo-
se uma rede de intercâmbios, de acordos de cooperação que adotam tipos de
comportamento e modelos culturais de outros lugares. Outro aspecto que carac-
teriza a globalização refere-se à internacionalização dos recursos financeiros,
à interdependência da economia e à mundialização dos mercados financeiros
(SACRISTAN, 2001).
Sacristan (2001) também defende que a globalização acelera processos
existentes da dinâmica das culturas e como isso adquire novas dimensões. A
comunicação entre as culturas, a adoção e absorção de elementos culturais pro-
cedentes de outros cantos do planeta, a imposição e universalização de certos
tipos de pensamento, os comportamentos da civilização e a confrontação entre
culturas distintas são elementos que não são novos na história da humanidade,
mas que foram acentuados com o advento das novas tecnologias da informação
e da comunicação no final do século XX.
No entanto, pode-se inferir que por mais que a globalização seja um fenô-
meno que atinja a todos e unifique o mundo, apenas uma pequena parcela da po-
pulação consegue se beneficiar dessa cultura da sociedade em rede, tão comum
na globalização. O restante fica excluído do processo. Os que estão incluídos
no processo, geralmente, fazem parte de uma classe que tem acesso às fontes

27
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

de informação e que dominam os processos de conhecimento, transformando a


informação em construção de conhecimento e produção de saber local. São pes-
soas que desenvolveram a capacidade de aprender a aprender. Essa competência
é necessária para uma sociedade que se encontra cada vez mais interligada e em
processo de mudança frequente.
Com o intuito de aumentar a justiça distributiva e diminuir os efeitos ma-
léficos da globalização, nesse mundo cada vez mais mediado pelas tecnologias
digitais, vêm surgindo iniciativas que diminuem a brecha digital, com a ajuda
de projetos sobre inclusão digital que visam não apenas dar acesso à tecnologia
e à internet, mas fazer com que essas populações possam se beneficiar desses
recursos da melhor forma possível.
A exclusão digital refere-se à distribuição desigual entre os países e, dentro
de uma mesma região, dos recursos relacionados à tecnologia da informação e
da comunicação, e à brecha digital gerada pela falta de fluência tecnológica e
falta de recursos humanos, tais como conteúdo, linguagem, alfabetização (pro-
blema do analfabetismo de crianças, jovens e adultos), metodologia e construção
de uma estrutura institucional ou comunitária (WARSCHAUER, 2003).

5. EXEMPLOS DE EM INCLUSÃO DIGITAL:


O REDE PIÁ E O NAVEGAPARÁ
Segundo Warschauer (2003), grande parte dos projetos de inclusão digital
visa promover a mudança social pela disponibilidade das novas tecnologias di-
gitais. Esse autor considera que a noção de que o simples acesso a computadores
e à internet não é suficiente para a resolução de problemas sociais.
O autor usa como exemplo o caso do projeto Hole in the Wall, na Índia.
Esse projeto tinha como objetivo principal providenciar o acesso à internet para
crianças de rua da cidade de Nova Deli. Para tanto, foram colocados quiosques
com computadores dentro de uma caixa, em que monitores eram visualizados
através de buracos na parede. Foram até criados joysticks especiais, assim como
botões para substituir o mouse. Os computadores estavam conectados à internet
pela linha discada. O que era peculiar nesse projeto, é que não havia professores
nem instrutores que auxiliassem os usuários a utilizarem os equipamentos.
De acordo com os idealizadores do projeto, eles trabalhavam com o concei-
to de educação minimamente invasiva, ou seja, as crianças poderiam aparecer
em qualquer horário do dia e aprender no seu próprio ritmo, sem que necessaria-
mente houvesse uma atividade direcionada por instrutores.
Isso nos remete ao conceito de inclusão social, a participação plena dos
indivíduos, famílias e comunidades na sociedade e no controle dos seus pró-
prios destinos, levando em consideração aspectos como: recursos econômicos,

28
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

emprego, saúde, educação, moradia, recreação, cultura e engajamento cívico


(WARSCHAUER, 2003).
Segundo Steward (2005 apud WARSCHAUER, 2003), a inclusão social tem
a ver não só com a disponibilidade adequada de recursos, mas também com a
participação nas possibilidades de escolhas tanto na vida individual, como cole-
tiva. O conceito de inclusão social não ignora questões de classe, mas reconhece
que existem outras variáveis que modelam como as forças de classe interagem.
Assim, temos o conceito de inclusão social aplicado de forma significativa
e contextualizada utilizando as tecnologias digitais, nos programas REDE PIÁ
E NAVEGAPARÁ.
O programa REDE PIÁ (Reciclagem Digital Educativa Pró-Infância e
Adolescência) foi lançado no dia 30 de novembro de 2007, do estado de Santa
Catarina e tem como objetivo transformar as máquinas caça-níqueis, apreen-
didas em operações de combate à contravenção penal no Estado, em equipa-
mentos de informática para uso didático-pedagógico nas Escolas de Ensinos
Básico e Médio das Redes Públicas Municipal e Estadual e nas organizações
governamentais e não-governamentais de atendimento à comunidades carentes.
Porém, a utilização desses equipamentos é direcionada exclusivamente para alu-
nos matriculados nas referidas escolas e para pessoas dessas comunidades. Da
mesma forma, parte dos equipamentos transformados será adaptada para uso
por estudantes com deficiência. As máquinas adaptadas trazem jogos educativos
auxiliares na alfabetização, no aprendizado da Matemática, de Ciências e outros
setores.
Esse programa é executado por parte das Instituições de Ensino Superior –
IES ou do Estado de Santa Catarina, através das Secretarias de Desenvolvimento
Regionais – SDR, com o apoio técnico e coordenação do Programa de Pós-
Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento da UFSC - EGC e da
Rede de Laboratórios de Experimentação Remota – RExNet. Cada instituição
da RExNet possui um Laboratório de Experimentação Remota - RExLab.
A partir do Termo de Cooperação, os Promotores de Justiça em todas
as Comarcas do Estado de Santa Catarina poderão estabelecer parceria com
as universidades filiadas ao Sistema Acafe e à Associação de Mantenedoras
Particulares de Educação Superior de Santa Catarina - AMPESC. Cerca de três
mil máquinas caça-níqueis, apreendidas em SC, estão disponíveis atualmente
para utilização pela Rede Piá. Como os jogos de azar são instrumentos para a
execução de uma contravenção penal, o Código Penal prevê a perda do direi-
to de propriedade. Portanto, todas os equipamentos apreendidos poderão ser
convertidos à medida que o processo judicial for concluído. As máquinas que
foram apreendidas em determinado local, voltarão convertidas para escolas
da mesma cidade. A conversão dos equipamentos será custeada com parcei-
ros que queiram aderir ao Projeto, bem como pelos recursos arrecadados em
transações penais.

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Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

A proposta do projeto Rede Piá é o de que parte da multa dada pelo Promotor
de Justiça pague alguns equipamentos (como teclado e mouse), além da perda
da máquina em favor do projeto, e também que ela seja usada no custeio da
conversão para compra de teclado e mouse, que custam R$ 14,00 e R$ 10,00,
respectivamente. Ademais, as empresas privadas que desejarem, poderão aderir
ao projeto com seu patrocínio.
No outro extremo do Brasil, no Estado do Pará, o programa Navegapará,
além de otimizar a gestão pública a partir da interligação das principais institui-
ções governamentais, busca garantir a inclusão digital do cidadão paraense à era
do desenvolvimento e da tecnologia.
A partir da implantação dos INFOCENTROS (Centros Públicos de Acesso
à Internet), o Governo Popular disponibilizará, inicialmente, o acesso gratuito
da população à internet e promoverá a capacitação em informática básica, além
de oficinas e outras atividades que objetivam difundir a cultura das diferentes re-
giões do nosso Estado. Os referidos espaços são também um importante instru-
mento de desenvolvimento econômico e social, pois contribuem com a formação
e a qualificação do cidadão.
Os laboratórios de informática garantem a democratização do acesso às
tecnologias de informação e comunicação em espaços públicos, equipados com
microcomputadores e internet, onde é possível o acesso por meio de conexão de
altíssima qualidade.
O programa nasce a partir de dois convênios - com a Eletronorte e a
Metrobel. Três áreas essenciais da gestão pública serão diretamente beneficiadas
pelos convênios: saúde, segurança e educação.
Nesse sentido, o chamado Terceiro Setor vem conquistando seu espaço, até
mesmo como representante de alguns segmentos da sociedade civil organizada.
A participação da comunidade é condição essencial para o sucesso do pro-
jeto. No infocentro, o envolvimento da população ocorre não só através do uso
livre das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) e da participação
nos cursos e oficinas, mas também na gestão desse espaço público para sua
preservação.
Segundo o Governo do Pará (2007), o NAVEGAPARÁ possibilitará ao
cidadão do interior o acesso tanto às ações básicas de medicina como às
ações de média e alta complexidade. Será possível, em casos de urgência,
conseguir um segundo diagnóstico à distância, o que salvará vidas, sobretu-
do no interior.
São ações básicas do NAVEGAPARÁ:
- Metrobel – Utilização da rede de fibra óptica Metrobel para interligar, por
internet de alta velocidade, cerca de 300 unidades administrativas. Principais
áreas beneficiadas: segurança, saúde e educação.

30
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

- Infovias - Integração do Estado com a interligação dos principais órgãos


públicos a partir de convênio para que sejam utilizados 1.800 quilômetros de
fibra óptica da Eletronorte. As infovias são uma rede macro de transmissão, em
que é necessário baixar o sinal para utilização em serviços públicos.
- Cidades Digitais – Construção de pequenas redes para que se baixe o sinal
da Eletronorte, interligando os principais órgãos públicos (federais, estaduais e
municipais), como escolas, hospitais e delegacias.
- Infocentros públicos – Serão construídos infocentros em 13 municípios,
disponibilizando internet de alta velocidade para dois milhões de pessoas no
interior.
- Telecentros de negócios – Será realizada a capacitação e qualificação,
além de seminários e debates à distância de setores produtivos. A Secretaria da
Fazenda ampliará o projeto original, construindo telecentros de negócios nos
principais pólos econômicos, para utilização por sindicatos, empresas, coopera-
tivas e associações. (GOVERNO DO ESTADO DO PARÁ, 2007).

6. CONCLUSÃO
Não se pode negar que as facilidades trazidas pelas novas tecnologias da
informação, aliadas à internet, são ferramentas indispensáveis às vidas das pes-
soas, das empresas e da gestão pública. Não devemos esquecer também que as
eleições no Brasil, através das urnas eletrônicas, é um marco histórico no mun-
do. Mas, ainda falta fazer muito em termos de e-gov.
No caso da gestão pública, é preciso que as ações através do e-government
sejam utilizadas como um instrumento para o exercício da cidadania e para a promo-
ção de ações sociais, não econômicas porque o povo brasileiro já trabalha três meses
e meio somente para pagar impostos e taxas e não tem retorno em benefícios sociais.
O e-government deve servir também para abrir novos espaços para a cidadania.

REFERÊNCIAS
AGUNE, R.; CARLOS, J. Governo eletrônico e novos processos de trabalho. In: LEVY,
E.; DRAGO, P. (Orgs.). Gestão pública no Brasil contemporâneo. São Paulo:
Fundap, 2005.
CASTELLS, Manuel. A Sociedade em Rede. São Paulo: Paz e Terra, 2002.
CHAIN, Ali E-gov.br: a próxima revolução brasileira. São Paulo Prentice Hall, 2004.
FREY, K. Políticas públicas: um debate conceitual e reflexões referentes à prática da
análise de políticas públicas no Brasil. Planejamento e Políticas Públicas, Brasília:
Ipea, v. 21, p. 211-259, 2000.

31
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

OSBORNE, D. Banishing bureaucracy: the five strategies for reinventing government.


New York: Plume, 1997.
PRADO, O. Governo eletrônico e transparência: a publicização das contas públicas
das capitais brasileiras. 2004. 180 p. Dissertação (Mestrado em Administração
de Empresas) - Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação
Getulio Vargas, São Paulo, 2004.
POLLIT, C.; BOUCKAERT, G. Public management reform: a comparative analysis.
New York: Oxford University Press, 2000.
RONAGHAN, S. Benchmarking e-government: a global perspective. Assessing the
progress of the UN member states. United Nations Division for Public Economics
and Public Administration & American Society for Public Administration May,
2002.
SACRISTAN. Educar e convivir com la cultura global. Madri, Espanha: Morata, 2001.
SORJ, A luta contra a desigualdade na era da informação. Rio de Janeiro, RJ: Jorge
Zahar, 2003.
WARSCHAUER, Technology of social inclusion, Cambridge: MIT 2003.

OUTRAS FONTES:
http://www.e.gov.br – E-gov - acesso em 21.05.2009.
http://www.acessa.com/gramsci - Nogueira, Marco Aurélio - acesso em 21.05.2009.
http://www socinfo.org.br – Sociedade da informação – acesso em 21.05.2009.
http://www.navegapara.pa.gov.br/ acesso em 21.05.2009.

32
ONTOLOGIA PARA COMUNIDADES
INFORMACIONAIS EM
E-GOV, UTILIZANDO A
FERRAMENTA ONTOKEM

Joseane Borges de Miranda


Professora da UNISUL
Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
Bairro Trindade CEP 88040-970
Florianópolis – SC – Brasil
joseane.miranda@unisul.br

Juçara Salete Gubiani


Professora da UFSM
Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
Bairro Trindade CEP 88040-970
Florianópolis – SC – Brasil
jucara@smail.ufsm.br

Marcus de Melo Braga


Professor da UFAL
Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
Bairro Trindade CEP 88040-970
Florianópolis – SC – Brasil
mbraga@fapeal.br

Hugo Cesar Hoeschl


Professor da UFSC
Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
Bairro Trindade CEP 88040-970
Florianópolis – SC – Brasil
hugo.hoeschl@ijuris.org

RESUMO

O e-Gov possibilita a ampliação da prestação de serviços à comunidade e, por seu


intermédio, o poder público aproximou-se do cidadão e das unidades produtivas da
sociedade brasileira, principalmente com os recursos proporcionados pelo uso da
internet. No seu estágio atual, há diversos graus de maturidade dos projetos de e-Gov,

33
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

contribuindo para o aperfeiçoamento dos serviços prestados a população. A criação de


Comunidades Informacionais aumenta a eficiência da interação entre e-Gov e o cidadão
onde as discussões governamentais poderão ser centralizadas em um ambiente Web,
possibilitando a ampliação da democracia. O objetivo deste artigo é o de propor uma
ontologia para comunidades informacionais que possa ser utilizada em aplicações de
e-Gov. A sua principal contribuição é o desenvolvimento de um protótipo de ontologia
no domínio apresentado, utilizando as ferramentas ontoKEM e Protégé, que possa ser,
posteriormente, ampliada e reutilizada em aplicações de e-Gov.

PALAVRAS-CHAVE

e-Gov; Ontologia; Comunidades; Engenharia do Conhecimento.

1. INTRODUÇÃO
A nova economia do conhecimento pautada em um fator de produção mais
abstrato requer mudanças em toda a sociedade e na forma como a informação é
tratada. Os três principais agentes econômicos, as famílias, as empresas e o go-
verno precisam se adequar às novas formas de produção demandas do comércio
após o desenvolvimento das TIC’s (Tecnologias de Informação e comunicação).
Castells (2003) destaca a importância da informação para a nova organização da
sociedade em rede. O conhecimento como fator competitivo nas organizações
requer ação humana, como é trabalhado pelos autores de gestão do conheci-
mento, tais como, Terra, (2001), Davenport, (1998), Sveiby, (2001), Nonaka &
Takeuchi (1997).
Neste trabalho aborda-se a formação de comunidades informacionais, como
opção de governo eletrônico e sua interação com os cidadãos dando dinamicida-
de a estas relações e maior possibilidade de resolução de problemas a partir da
utilização de ciências cognitivas e inteligência artificial em prol da democracia
e do crescimento econômico.
O Governo Eletrônico conceitualmente baseia-se no uso da tecnologia da
informação para auxiliar as ações governamentais em suas diferentes instân-
cias, G2G, G2C, G2B, segundo Hoeschl, (2005) e Rover, (2005). Nesse sentido,
as ações no âmbito do governo para o cidadão encontram-se bastante limita-
das a sites informacionais e prestação de serviços on-line, considerando que as
tecnologias emergentes e disponíveis possibilitam um leque bastante amplo de
aplicações indo ao encontro dos princípios do e-Gov. Nesse contexto, as comuni-
dades informacionais apresentam-se como uma das possíveis formas de captar a
opinião do cidadão. Esta interação objetiva construir informações que embasem
políticas públicas de acordo com os anseios e necessidades dos cidadãos, bem
como a transparência das ações.
As Comunidades Informacionais em e-Gov, são espaços de discussão em
ambientes na web, de acesso gratuito. As comunidades são estabelecidas para

34
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

discussão de assuntos de interesse comum através da criação de ontologias. A


intenção é a criação de fóruns sobre temáticas governamentais, enquetes e ple-
biscitos informais, bem como permitir o monitoramento das ações do governo. A
ferramenta proposta resultante da ontologia tem como fontes de informação, ór-
gãos governamentais de mídia eletrônica e fontes digitais comunitárias e livres.
O objetivo deste artigo é propor o desenvolvimento de uma ontologia pró-
pria do contexto de Governo Eletrônico, a qual deverá ser mantida pelas comu-
nidades que se integrarão ao projeto.

2. ONTOLOGIAS
O conceito mais amplo de ontologia, segundo Blanc (1998), está relacionado
com a parte da filosofia que estuda a essência dos seres ou entes, ou seja, procura
explicar e caracterizar o ser enquanto ser, transpondo sua intimidade, qualida-
des, e analisa as características que o tornam um ser único ou um ser comum.
Na década de 90 o termo ontologia passou a ser intensamente utilizado na área
de computação, especificamente em Inteligência Artificial. Nesse contexto, a
ontologia é responsável por definir a estruturação básica para a representação de
uma base de conhecimentos, objetivando assim facilitar sua compreensão e per-
mitir seu compartilhamento. No entanto, segundo Moreira (2003), é necessário
que haja uma clara compreensão dos comprometimentos ontológicos, ou seja,
apenas o que é relevante ao domínio de estudo, para que possa ser representado
em uma base de conhecimentos.

Figura 1. Modelo de desenvolvimento de ontologia.

(Adaptado de Gómez-Pérez, 1999.)

Segundo Grauber (1993) “uma ontologia é uma especificação formal ex-


plícita de uma conceitualização compartilhada”. Freitas (2004), classifica esta
definição da seguinte forma: o termo formal significa que a representação é

35
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

compreensível para sistemas computacionais; explícita denota que os elementos


e suas restrições estão claramente definidos; conceitualização se trata de um mo-
delo abstrato de uma área de conhecimento ou de um universo limitado de dis-
curso; compartilhada, por tratar-se de um conhecimento consensual, seja uma
terminologia comum da área modelada, ou acordada entre os desenvolvedores
dos agentes que se comunicam.
Para Freitas (2004), o desenvolvimento de ontologias envolve as etapas de
desenvolvimento e suporte, conforme Figura 1.
A etapa de desenvolvimento compreende atividades de:
especificação – determina o propósito e escopo da ontologia a ser confec-
cionada, faz-se uma análise preliminar onde deve-se considerar se é possível o
reuso de ontologias já existentes. Com relação ao escopo, sugere-se a elaboração
de uma lista questões de competência Essa lista servirá para avaliar a ontologia
durante o desenvolvimento.
conceitualização – é a fase mais crítica, pois é a mais ligada à definição do
conhecimento. Nela ocorre a maior parte das atividades de suporte de aquisição
e avaliação. Usando a metodologias 101 (NOY e MCGUINNESS, 2001) essa
fase compõe-se das seguintes sub-fases:
1. definição do escopo da ontologia;
2. verificação das ontologias existentes na área, para avaliar a possibilida-
de de reuso ou integração de ontologias;
3. enumeração dos termos importantes da ontologia;
4. definição das classes e a hierarquia das classes;
5. definição das propriedades das classes.
implementação – transformará a ontologia em algo computável. Fará com
que o conhecimento nela representado possa contar com o concurso de máquina
para ser identificado e considerado para vários fins. Esta etapa corresponde à
geração de arquivos em linguagens de representação do conhecimento.
Já a etapa de suporte compreende atividades de:
aquisição – corresponde à elicitação de conhecimentos necessários para a
construção da ontologia;
avaliação – verifica se a ontologia atende aos requisitos e propósitos
planejados;
documentação – todo o registro de requisitos, cenários e motivação, as descri-
ções textuais da conceituação, a ontologia forma e os critérios de projeto adotados;
integração – fusão com ontologias já existentes. Etapa de decisão: sugerir
ou avaliar a possibilidade de integrá-la com outras ontologias disponíveis.
Inúmeras vantagens têm sido apresentadas na literatura para a adoção de
ontologias. Em principio elas não apresentam sempre a mesma estrutura, mas

36
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

existem características e componentes básicos comuns presentes em grande


parte delas. Mesmo apresentando propriedades distintas, é possível identificar
tipos bem definidos Almeida e Bax (2003). Conforme (Gruber, 1996; Noy &
Guinness, 2001) uma ontologia pode ser definida como as regras que regulam a
combinação entre conceitos (organizados em uma taxonomia) e relações (i.e., o
tipo de interação entre os conceitos) em um domínio do conhecimento e permite
aos usuários formularem consultas a instâncias (elementos específicos, ou seja,
os próprios dados) usando conceitos definidos pela ontologia.
É possível identificar alguns benefícios do uso de ontologias em várias áreas
do conhecimento. Já é possível encontrar repositórios de ontologias as quais per-
mitem integração e reuso. Segundo Freitas (2004), algumas vantagens podem
ser elencadas tais como:
• especificar um vocabulário para representação exata do conhecimento,
sem interpretações ambíguas;
• permitir o compartilhamento do conhecimento entre homem e
máquinas;
• possibilitar uma mesma conceitualização em várias linguagens, atra-
vés do mapeamento da linguagem da ontologia;
• permitir aos desenvolvedores reusarem ontologias e bases de conhe-
cimento, promovendo ganhos em termos de esforços, tempo e de
investimentos.
As ontologias, segundo Studer, Benjamins e Fensel (1998), são criadas a
partir de um domínio de conhecimento consensual e são desenvolvidas num
processo cooperativo envolvendo várias pessoas em diferentes localidades.
Qualquer Sistema baseado em Conhecimento é composto, pelo menos, de duas
partes fundamentais: conhecimento do domínio e conhecimento de solução de
problemas. Ontologias podem exercer um papel fundamental na análise, mode-
lagem e implementação de conhecimento de um domínio, além de terem influ-
ência sobre o conhecimento de resolução de problemas.
Ontologias são opções interessantes para facilitar a comunicação entre in-
divíduos nas organizações, por proverem termos, significados, relações e res-
trições que devem ser aceitas por todas as pessoas envolvidas neste processo
de comunicação. Ontologias, no ambiente da Internet, são alternativas interes-
santes para a melhoria da gestão do conhecimento (STUDER, BENJAMINS e
FENSEL, 1998).
Apesar de o termo ontologia ser amplamente usado na Engenharia do
Conhecimento, há vários tipos de ontologias. Mesmo tendo em comum a idéia
de capturar o conhecimento estático de certo domínio, elas variam consideravel-
mente. Segundo Studer, Benjamins e Fensel (1998), elas podem ser classificadas
em quatro grupos:
• Ontologias de Domínio – capturam o conhecimento válido num tipo
particular de domínio;

37
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

• Ontologias Genéricas – têm validade em vários domínios;


• Ontologias de Aplicação – contém todo o conhecimento necessário
para modelar um domínio particular;
• Ontologias de Representação – não se atrelam a nenhum domínio par-
ticular; provêem entidades representacionais sem estabelecer o que
deve ser representado. Um exemplo delas são as ontologias de frame.
A Engenharia do Conhecimento também está relacionada com o conheci-
mento de resolução de problemas e, por isso existem as ontologias de métodos
e de tarefas. Ontologias de tarefas provêem termos específicos para tarefas par-
ticulares e ontologias de métodos provêem termos específicos para Métodos de
Solução de Problemas particulares (STUDER, BENJAMINS e FENSEL, 1998).
Studer, Benjamins e Fensel (1998) afirmam que parte da pesquisa sobre on-
tologias está relacionada com a concepção e construção de tecnologias que pos-
sibilitem o reuso de ontologias em larga escala, a nível mundial. Construir uma
ontologia para um domínio particular requer, basicamente, uma análise profunda,
revelando os conceitos mais relevantes, os atributos, relações, restrições, instân-
cias e axiomas desse domínio. Essa análise do conhecimento resulta normalmen-
te numa taxonomia de conceitos, uma espécie de hierarquia, com seus atributos,
valores e relações. Informações adicionais sobre as classes e suas relações entre
si, como também as restrições de valores dos atributos para cada classe são captu-
rados nos axiomas. Quando um modelo satisfatório do domínio é construído duas
coisas devem ser feitas, antes de ele poder ser considerado uma ontologia:
1) diferentes níveis de generalidade devem ser diferenciados em corres-
pondência com diferentes níveis de reusabilidade;
2) o modelo de domínio deve refletir um entendimento comum ou um
consenso desse domínio.
Para Studer, Benjamins e Fensel (1998) muitas ontologias existentes são
bons modelos de um domínio, mas não podem ser qualificadas como ontologias
porque não satisfazem esses dois critérios. Os autores enumeram os princípios
que devem ser considerados na construção de ontologias:
• modularidade;
• coerência interna;
• expansibilidade;
• problemas de codificação mínimos;
• definições em torno de categorias;
• inclusões mínimas de teorias;
• comprometimento ontológico mínimo.
Uma ontologia é otimizada quando satisfaz, ao máximo, todos esses prin-
cípios, apesar de alguns deles serem contraditórios e, ao satisfazer um, viola-se
outro.
O ideal do reuso no desenvolvimento de ontologias prega a construção por
meio de suas combinações. Existem diversos meios de combinar ontologias.

38
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

Studer, Benjamins e Fensel (1998) apresentam os mais conhecidos: por inclusão,


por restrição e refinamento de polimorfismo. A inclusão de uma ontologia em
outra tem o efeito de estendê-las. A combinação de ontologias por restrição
permite que uma ontologia adicionada à outra se aplique a um subconjunto res-
trito da primeira, para o qual ela é projetada. O terceiro modo de combinação, o
refinamento de polimorfismo deriva das abordagens de orientação a objeto e tem
uma aplicação equivalente.
Para o propósito deste trabalho, sistemas gerenciadores de bancos de da-
dos (SGBD) poderiam ser adotados, entretanto possuem algumas desvantagens
sobre ontologias. No contexto desta pesquisa, a principal dificuldade em usar
SGBD ao invés de ontologia reside no fato de que apesar da linguagem SQL
permitir consultas, ela não possibilita inferências.
As ferramentas utilizadas no desenvolvimento deste trabalho foram o on-
toKEM e o Protégé. A principal motivação se resume na construção de uma on-
tologia que permita o resumo e a utilização estratégica das informações relativas
a e-Gov que possam ser aglutinadas sob a forma de comunidades informacionais
na web.
O ontoKEM (RAUTENBERG et al., 2008), é uma ferramenta de engenharia
do conhecimento desenvolvida pelo Laboratório de Engenharia do Conhecimento
da Universidade Federal de Santa Catarina (LEC-UFSC), para construção de
ontologias, baseado-se nas metodologias 101 (NOY e MCGUINNESS, 2008),
On-to-Knowledge (FENSEL e HERMELEN, 1999) e METHONTOLOGY
(GÓMEZ-PERÉZ et al, 2004).

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Segundo (LÓPEZ, 1999), metodologias são desenvolvidas para buscar a
sistematização na construção e a manipulação de ontologias. O uso de metodo-
logias é importante, pois evita uma prática comum entre os desenvolvedores de
ontologias que é passar diretamente da fase de aquisição do conhecimento para a
implementação. Com o estudo da literatura, verifica-se que não existe ainda uma
metodologia consensual que crie fases padronizadas para o desenvolvimento
de ontologias, mas já existem várias propostas e métodos com fases e técnicas
próprias que podem ser usados no desenvolvimento de ontologias.
Neste trabalho optou-se por aplicar a metodologia proposta por Noy e
McGuinness (2001), usada na ferramenta ontoKEM (RAUTENBERG et al. 2008).
Na ferramenta ontoKEM, é possível implementar classes, relações e proprieda-
des. Restrições e instâncias, neste trabalho, foram implementadas no ambiente
do Protégé desenvolvido pela universidade de Stanford (GENNARI et al, 2003).
O processo inicial do desenvolvimento da ontologia foi apoiado pela fer-
ramenta ontoKEM. A ontologia foi modelada, suas classes e relacionamentos

39
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

definidos para exportação das descrições do modelo de domínio para a lingua-


gem de ontologia OWL (Ontology Web Language), padrão da W3C. Esta trans-
crição constitui uma das funcionalidades da ferramenta OntoKEM, que permi-
te a exportação dos dados para um arquivo OWL, podendo assim, ser editada
posteriormente por uma ferramenta de edição de ontologias como o Protégé,
adotada nesta pesquisa.
A plataforma Protégé suporta a modelagem de ontologias usando a lingua-
gem OWL. O arquivo exportado foi salvo no padrão XML (Extensible Markup
Language) e importado pelo Protégé como XML/RDF. Esse procedimento foi
feito criando um novo projeto no Protégé e selecionando o arquivo salvo ante-
riormente no OntoKEM. A ferramenta ontoKEM fornece total interoperabilida-
de com a ferramenta Protégé por meio da importação direta do código na lin-
guagem OWL. Após a importação do código OWL para o ambiente do Protégé,
foram inseridas algumas instâncias, com o objetivo de responder questões rela-
tivas ao tema do presente trabalho.
A abordagem Protégé, segundo Studer, Benjamins e Fensel (1998), dá su-
porte ao desenvolvimento de Sistemas Baseados em Conhecimento por meio de
reuso de Métodos de Resolução de Problemas e Ontologias. O Protégé enfatiza
a geração de ferramentas customizadas de aquisição do conhecimento por meio
de Ontologias. O Protégé fundamenta-se numa estrutura de tarefa-método-de-
composição. No Protégé a entrada e a saída de um método são especificadas
numa Ontologia de Método que define os conceitos e relacionamentos que são
usados pelo Método de Resolução de Problemas para prover a funcionalidade.
Um segundo tipo, chamado Ontologia de Domínio, define uma conceitualização
compartilhada de um domínio. Ambas as ontologias são componentes reusá-
veis para a construção de um Sistema Baseado em Conhecimento. Um terceiro
componente, a Ontologia da Aplicação, estende a Ontologia de Domínio com os
respectivos conceitos dos Métodos de Resolução de Problemas e seus relaciona-
mentos. A Ontologia de Aplicação é associada à Ontologia de Método por meio
de três mapeamentos dessas relações: Mapeamento de Tradução, Mapeamento
de Filtragem e Mapeamento de Classes. No de Tradução (ou Renomeação) os ter-
mos específicos do Domínio são traduzidos em termos específicos do Método.
No de Filtragem, busca-se selecionar um subconjunto das instâncias do Domínio
como instâncias do respectivo conceito do Método. Finalmente, no mapeamento
de Classes, buscam-se funções para computar as instâncias dos conceitos do
Método a partir das definições dos conceitos da Aplicação em vez das instâncias
da Aplicação.
A abordagem do Protégé recomenda o reuso do conhecimento do Domínio
somente nos casos em que os mapeamentos necessários possam ser relativamen-
te simples. Uma das principais características do Protégé é que ele pode gerar
ferramentas de aquisição de conhecimento a partir das ontologias de Domínio
ou de Aplicação. O Protégé inclui componentes que possibilitam a partir de uma
ontologia gerar uma ferramenta de aquisição que permita que os especialistas

40
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

de um domínio insiram instâncias dos conceitos desse Domínio (STUDER,


BENJAMINS e FENSEL, 1998).

4. RESULTADOS
Nesta seção serão apresentados os resultados obtidos até o momento. Cabe
ressaltar que este é um trabalho ainda em desenvolvimento, portanto apresenta
resultados preliminares. Na subseção seguinte, a ontologia desenvolvida neste
trabalho é apresentada, utilizando-se os princípios de modelagem das ferramen-
tas ontoKEM (RAUTENBERG et al. 2008) e Protégé (GENNARI et al, 2003).
As perguntas de competência projetadas na modelagem feita no ambiente
do ontoKEM, abrangem questões que abordam os diversos tipos de problemas
a serem discutidos pelas comunidades, que variam de esfera administrativa à
estância de e-Gov. Questões que norteiam os temas das possíveis enquetes, fó-
runs e blogs, também foram inseridas nesta primeira tentativa de construção da
ontologia.
A partir de trinta questões elaboradas inicialmente, estabeleceu-se alguns
termos e relações sugeridas. Entre os mais relevantes podemos destacar as ins-
tâncias de e-Gov: G2G, G2B e G2C, os temas dos fóruns, enquete e plebiscitos,
as esferas de governo: União, Estado e Município, os tipos de assuntos aborda-
dos tais como segurança, saúde meio ambiente. Na construção do vocabulário
alguns termos foram descartados e/ou modificados, buscando-se uma melhor
adequação ao tema proposto.

Figura 2. Exemplo de uma questão.

30) O tipo de problema envolve a instância G2B?


Termos sugeridos: G2B;
Relações sugeridas: tem_Gov;

As classes mais relevantes foram os vários assuntos, por exemplo, Assuntos


da Indústria, Agricultura, Educação e assim por diante. Estas classes norteiam
os temas e as relações com as instâncias de e-Gov. Todas estão ligadas a uma
classe inicial (Thing). Outro grupo de classes se refere ao tipo de agente que par-
ticipa das comunidades tais como: os empresários, os cidadãos e políticos, além
dos tipos de discussões possíveis e os tipos de relações de e-Gov.
Na ferramenta ontoKEM pode-se criar e descrever classes, o que facili-
ta a sua documentação, e ao transportar em OWL todas essas descrições são
mantidas. Nas classes criadas, algumas propriedades relevantes são: tem_nome;
tem_tipo_de_agente; tem_problema; grau_de_importancia, dentre outras. O
projeto não estabeleceu nenhuma restrição relevante. As principais relações

41
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

estabelecidas foram funcionais, ou seja, o domínio esta ligado a apenas uma


instância do range.

Figura3. ontoKEM.

Figura 4. Protégé.

Na ontologia proposta temos uma hierarquia de quatro classes: comunida‑


de informacionais, esfera administrativa, tipos de agentes que discutem tipos

42
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

de discussões e tipos de relações de e-Gov. Em comunidades informacionais


temos como subclasses todos os assuntos passíveis de discussão, tais como as-
suntos do judiciário. As subclasses de esfera administrativa são: a União, Estado
e Município, e de tipos de discussão: plebiscito e fórum.
O ontoKEM com a sua metodologia guiada pelas perguntas iniciais e pelo
registro de relatórios que permitem ao usuário documentar todo o processo de
criação de um projeto de ontologia e facilita o trabalho de desenvolvimento de
ontologias. Com relação às classes, elas são facilmente identificadas depois da
criação do vocabulário conforme podemos ver na figura 2. O mais importante
na definição de classe é ter claro que ela define um conjunto de elementos do
mesmo domínio dentro de um projeto de ontologia e que as subclasses devem ser
um tipo pertencente à classe, na hierarquia, ou na herança de hierarquia quando
associamos algumas propriedades podemos perceber se as classes estão bem
definidas.
Exportação para OWL: O ontoKEM possibilita a criação de um arquivo
OWL, que permite a utilização de outras ferramentas de analise de ontologia
garantindo interoperabilidade, neste caso com o Protégé. A figura 3 ilustra as
classes do projeto no Protégé.
O desenvolvimento da ontologia Comunidades Informacionais, contou ini-
cialmente com o auxilio da ferramenta ontoKEM que facilitou a organização das
questões de competência relevantes e produziu relatórios de todo o processo. As
principais dificuldades encontradas foram em estabelecer a clareza do domínio e a
identificação de suas respectivas classes e subclasses. A possibilidade de criar uma
lista de questões de competência auxilia no alcance do objetivo geral da ontologia.

5. CONCLUSÃO
Este trabalho apresentou uma proposta de uma ontologia para modelar de
maneira precisa o conhecimento no domínio de comunidades informacionais
para que possa vir a ser consultado ou até mesmo reutilizado em novas aplica-
ções em e-Gov.
A aplicação da ontologia Comunidades Informacionais permitirá o acom-
panhamento das discussões dos problemas de e-Gov em suas várias esferas ad-
ministrativas, possibilitando maior efetividade nas macro-políticas. No contexto
desta pesquisa, a própria ontologia ao descrever o domínio já é um resultado
importante em termos de avanço na área, cumprindo o objetivo inicial proposto,
ou seja, de disponibilizar uma ferramenta computacional que possibilite a orga-
nização do conhecimento sobre o tema de comunidades informacionais, para a
sua aplicação em e-Gov.
Durante o desenvolvimento da ontologia apresentada, observou-se que a
atividade de construção de uma ontologia não é algo trivial, principalmente em

43
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

áreas em que se exige um nível de conhecimento elevado do domínio a ser mo-


delado. Entretanto, a experiência com o uso das ferramentas de edição de onto-
logias do OntoKEM e do Protégé demonstrou a utilidade e a facilidade de tais
ferramentas na construção de ontologias, permitindo o gerenciamento de todo
o processo de desenvolvimento e obtendo-se um resultado num cenário muito
próximo da realidade.
A ontologia aqui apresentada pode vir a servir de base para trabalhos futu-
ros que utilizem os conceitos de Web Semântica para sistemas de recuperação
de informações. Na próxima etapa da pesquisa, além de instanciar a ontologia
com objetos reais, pretende-se implementar algumas restrições e regras para que
o conhecimento representado possa ser explorado por máquinas de inferência
visando à geração de novos conhecimentos.

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45
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

46
DESENVOLVIMENTO DE SISTEMAS
DE GESTÃO DA SEGURANÇA
DA INFORMAÇÃO ATRAVÉS DA
INTEGRAÇÃO DAS NORMAS ISO/IEC
27001:2006 E ISO/IEC 21827 (SSE-CMM)

Josiane Kroll
Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção (PPGEP) - Universidade
Federal de Santa Maria (UFSM)- Santa Maria, RS - Brasil
josi.unc@gmail.com

Marcos C. d’Ornellas
Laboratório de Computação Aplicada (LaCA) – Universidade Federal de Santa Maria
(UFSM) - Santa Maria, RS - Brasil
marcosdornellas@gmail.com

Lisandra Manzoni Fontoura


Laboratório de Computação Aplicada (LaCA) – Universidade Federal de Santa Maria
(UFSM) - Santa Maria, RS - Brasil
lisandramf@gmail.com

RESUMO

As organizações estão cada vez mais buscando implementar sistemas de gestão da


segurança da informação que estejam atrelados às normas de segurança. No entanto, se
desconhece a relação existente entre as normas de segurança propostas pela literatura, e
se essas podem ser usadas em conjunto de forma a trazer maiores garantias de proteção.
Neste artigo serão analisadas duas normas de segurança, a ISO/IEC 21007:2006 e a ISO/
IEC 21827, que são recomendadas para o desenvolvimento da gestão da segurança da
informação. Cada norma será descrita e discutida com o intuito de encontrar evidências
que forneçam as organizações uma visão conjunta do propósito de implantação de cada
norma. O artigo relaciona e integra as normas de forma a auxiliar as organizações no
estabelecimento e manutenção de sistemas de gestão da segurança da informação que
possam atender as necessidades organizacionais. Também será discutida a Instrução
Normativa GSI Nº 1, de 13 de junho de 2008, que trata disciplina a Gestão de Segurança
da Informação e Comunicações na Administração Pública Federal, direta e indireta, a fim
de relacioná-la com a utilização das normas de segurança.

PALAVRAS-CHAVE

Gestão da Segurança da Informação; ISO/IEC 27001:2006; ISO/IEC 21827; ISO/IEC


17799:2005; Normas de Segurança; Instrução Normativa GSI Nº 1.

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Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

1. INTRODUÇÃO
Há inúmeras razões para se desenvolver sistemas de gestão da segurança
da informação (SGSI), dentre elas garantir a continuidade dos negócios, a boa
reputação, a proteção dos ativos, o cumprimento de leis e regulamentações, o
fortalecimento dos objetivos do negócio, a minimização dos riscos entre outras
(WIANDER, 2007). Sem o SGSI, as organizações podem sofrer as consequên-
cias de violações causadas pela falta de segurança.
A falta de segurança produz o descontentamento tanto dos clientes como
dos próprios funcionários da organização, gerando danos financeiros e morais
que em muitas situações são irreparáveis. Para o desenvolvimento das organi-
zações e de suas soluções, a implementação da gestão da segurança da informa-
ção é um elemento fundamental para o sucesso (BEZERRA; NAKAMURA;
RIBEIRO, 2006).
As organizações que buscam desenvolver um SGSI procuram suporte nas
documentações de segurança. Há várias ferramentas, métodos, checklists e
normas para a construção de sistemas de gerenciamento da segurança da in-
formação (WIANDER, 2007). A norma ISO/IEC 27001:2006 é uma referência
para o desenvolvimento de SGSI e se estabelece como um guia para a organi-
zação (ABNT NBR ISO/IEC 27001, 2006). Outra norma que também é usada
para o desenvolvimento de SGSI é ISO/IEC 21827 (SSE-CMM) que é voltada
ao projeto de engenharia da segurança, sendo de grande valia para implemen-
tação de processos de segurança (SSE-CMM, 2003). Ambas as normas, são
distintas e se desconhece a relação que uma norma de segurança possui com
a outra e como ambas podem contribuir para garantir e fortalecer a segurança
das informações.
Neste artigo serão descritas e analisadas as normas ISO/IEC 27001:2006 e a
ISO/IEC 21827(SSE-CMM) buscando relacioná-las de forma que se possa com-
preender o processo de implementação e estabelecimento de cada uma. O objeti-
vo é verificar como essas normas podem ser integradas para o desenvolvimento
de um SGSI que forneça maiores garantias de proteção. Também será analisada
a abordagem e a estrutura que cada uma fornece para o seu desenvolvimento.
Ainda serão evidenciados os benefícios que podem obtidos através da integração
de normas de segurança.
Este artigo está organizado da seguinte forma: na seção 2, são apresentados
os aspectos de desenvolvimento de um SGSI. Na seção 3, são apresentadas as
normas ISO/IEC 27001:2006 e ISO/IEC 21827 com suas estruturas e abordagens
de implantação. Na seção 4, as normas são analisadas, discutidas e relacionadas.
Na seção 5, é mostrado como as normas descritas podem ser integradas, quais os
benefícios provenientes dessa combinação e também é feita uma discussão sobre
a metodologia definida pela Instrução Normativa GSI Nº 1. Por fim, a seção 6
traz as conclusões obtidas com o desenvolvimento do estudo.

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CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

2. O DESENVOLVIMENTO DE SISTEMAS
DE GESTÃO DA SEGURANÇA
DA INFORMAÇÃO (SGSI)
A necessidade de garantir a confidencialidade, integridade e disponibi-
lidade das informações faz com que as organizações estabeleçam um SGSI
(HERRERA, 2005). Um SGSI é uma maneira de proteger e de gerenciar as
informações sobre uma abordagem de riscos do negócio, que estabelece, im-
plementa, monitora, revisa, mantém e melhora a segurança da informação
(HANASHIRO, 2007). A coleção de componentes de segurança requeridos
para um sistema ser implementado cuidadosamente, evitando o ataque de ame-
aças e a exposição a riscos, é chamado de SGSI (DEY, 2007).
O desenvolvimento de um SGSI não é uma tarefa fácil (DEY, 2007). As
organizações devem analisar e projetar meios de assegurar a segurança para
manter a continuidade dos negócios. Processos necessários devem ser definidos
para proteger os ativos da informação e políticas e procedimentos de segurança
devem ser estabelecidos.
No desenvolvimento de um projeto de SGSI é aplicado um conjunto
adequado de controles tais como políticas, processos, procedimentos, es-
truturas organizacionais e funções de software e hardware (HANASHIRO,
2007). Esse conjunto de controles de segurança é dado por normas e guias
de segurança.
A efetividade de um SGSI desenvolvido por uma organização está con-
dicionada à efetividade dos controles de segurança da informação disponíveis
(HERRERA, 2007). Sem a implementação adequada dos controles ou sem o
apoio das normas de segurança, um SGSI pode não atender às necessidades de
segurança organizacionais.

3. NORMAS DA SEGURANÇA
As normas de segurança fornecem uma abordagem de gerenciamento siste-
mática adotada para melhoria das práticas de segurança. Elas contribuem para
quantificar um nível aceitável de risco e implementar medidas apropriadas de
segurança que garantam a confidencialidade, integridade e disponibilidade das
informações (DEY, 2007).
Nesta seção serão apresentadas duas normas de segurança, a ISO/
IEC 27001:2006 recomendada pela Instrução Normativa GSI Nº 1 e a ISO/
IEC 21827 indicada para a melhoria dos processos de segurança organi-
zacaionais. Essas normas terão descritos seus propósitos e estruturas de
desenvolvimento.

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Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

3.1 Norma ISO/IEC 27001:2006


A norma ISO/IEC 27001:2006 foi construída baseada na norma britânica
BS7799 e na ISO/IEC 17799 (ABNT NBR ISO/IEC 27001, 2006). Seu objetivo é
proporcionar um modelo para o estabelecimento, implementação, funcionamento,
acompanhamento, revisão, manutenção e melhoria de um SGSI documentado den-
tro do contexto dos riscos de negócio globais da organização (FENZ et al, 2007). Ela
pode ser aplicada em todos os tipos de organizações como por exemplo, empreendi-
mentos comerciais, agências governamentais, organizações sem fins lucrativos, etc.
Esta norma é adotada para o estabelecimento de estratégias de segurança
pela organização e pode ser usada para avaliar a conformidade pelas partes inte-
ressadas internas e externas (ABNT NBR ISO/IEC 27001, 2006).
O SGSI projetado pela norma assegura a seleção de controles de seguran-
ça adequados e proporcionados para proteger os ativos de informação e pro-
piciar confiança às partes interessadas. Todos os controles de segurança reco-
mendados pela norma ISO/IEC 27001:2006 são encontrados na norma ISO/IEC
17799:2005. A norma ISO/IEC 17799:2005 está contida na ISO/IEC 27001:2006,
ou seja, a norma ISO/IEC 27001:2006 fornece um processo definido de implan-
tação dos controles da norma ISO/IEC 17799:2005.
A norma ISO/IEC 27001:2006 aplica um sistema de processos dentro de
uma organização, junto com a identificação e interações destes processos. Essa
abordagem de processos enfatiza a importância dos seguintes aspectos:
• Entendimento dos requisitos de segurança da informação de uma orga-
nização e da necessidade de estabelecer uma política e objetivos para a
segurança de informação;
• Implementação e operação de controles para gerenciar os riscos de se-
gurança da informação de uma organização no contexto dos riscos de
negócio globais da organização;
• Monitoração e análise crítica do desempenho e eficácia do SGSI; e
• Melhoria contínua baseada em medições objetivas.
A norma ISO/IEC 27001:2006 incorpora o ciclo Plan-Do-Check-Act
(PDCA), que é adotado em toda a estrutura dos processos do SGSI. O ciclo
PDCA baseia-se no ciclo de melhoria continua que consiste em planejar (Plan
– P), fazer (Do – D), checar (Check – C) e agir (Act – A). O ciclo PDCA é uma
ferramenta importante para a análise e melhoria dos processos organizacionais
contribuindo pra a tomada de decisões gerenciais e para o alcance das metas e
objetivos da organização (KAJAVA et al, 2006).

3.2 Norma ISO/IEC 21827 (SSE-CMM)


A norma ISO/IEC 21827 ou modelo SSE-CMM (Systems Security
Engineering Capability Maturity Model) foi desenvolvida pelo ISSEA

50
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

(International Systems Security Engineering Association) em 1999. Esta norma


descreve as características essenciais que um processo de engenharia da segu-
rança da informação deve possuir para assegurar a boa segurança (SSE-CMM,
2003).
A norma ISO/IEC 21827 não prescreve uma sequência ou um processo
particular, mas captura as práticas que são geralmente observadas na indústria.
Esta norma é designada para todos os tipos de organizações, sendo usada para a
melhoria e avaliação da capacidade de maturidade dos processos de segurança
(SG-SBP, 2008).
A estrutura de desenvolvimento da norma ISO/IEC 21827 é dada por 22
PAs (Process Areas), divididas em dois grupos, Práticas Base de Segurança e
Práticas Base Organizacionais e do Projeto. A estrutura de distribuição das PAs
em seus grupos correspondentes pode ser vista na Tabela 1:

Tabela 1. Estrutura de distribuição da PAs da norma ISO/IEC 21827.

Categorias PAs (Process Areas)


PA01 - Administrar controles de segurança
PA02 - Avaliar impacto
PA03 - Avaliar riscos de segurança
PA04 - Avaliar ameaças
PA05 - Avaliar vulnerabilidades
Práticas Base
PA06 - Construir argumentos de segurança
de Segurança
PA07 - Coordenar a segurança
PA08 - Monitorar a postura da segurança
PA09 - Estabelecer a entrada de segurança
PA10 - Especificar necessidades de segurança
PA11 - Verificar e validar a segurança
PA12 - Assegurar qualidade
PA13 - Gerenciar a configuração
PA14 - Gerenciar riscos do projeto
PA15 - Monitorar e controlar esforço técnico
Práticas Base PA16 - Planejar esforço técnico
Organizacionais PA17 - Definir processos de engenharia de sistemas da organização
e do Projeto PA18 - Melhorar processos de engenharia de sistemas da organização
PA19 - Gerenciar evolução da linha do produto
PA20 - Gerenciar ambiente de suporte a engenharia de sistemas
PA21 - Promover habilidade e conhecimento progressivo
PA22 - Coordenar com fornecedores

A norma ISO/IEC 21827 também define níveis de maturidade dos proces-


sos de segurança da organização que são ampliados após o estabelecimento e

51
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

cumprimento das práticas da segurança (BATISTA, 2007). O processo mais


“maduro” define uma organização cujos processos são melhores definidos e con-
duzidos. São seis níveis de maturidade definidos, onde cada um desses níveis
consiste de um número de Práticas Genéricas - GP (Generic Practices) que su-
portam o desempenho das PAs. Os níveis de maturidade atribuídos pela norma
ISO/IEC 21827 são:
• Nível 0 - Práticas base não são realizadas;
• Nível 1 - Práticas base são realizadas informalmente;
• Nível 2 - Práticas base são planejadas e monitoradas;
• Nível 3 - Práticas base estão bem definidas;
• Nível 4 - Práticas base são controladas quantitativamente;
• Nível 5 - Práticas base estão em contínua melhoria.
O processo de melhoria e maturidade organizacional da norma ISO/IEC
21827 é realizado por meio do modelo IDEAL que foi desenvolvido pelo SEI
- Software Engineering Institute e é usado para definir ações que capacitem
as organizações a melhorar seus processos. O modelo IDEAL serve como um
guia para iniciar, planejar e implementar ações de melhoria. A palavra IDEAL
é um acrônimo do inglês para Iniciar (initiating), Diagnosticar (diagnosing),
Estabelecer (establishing), Agir (acting) e Aprender (learning). O modelo
IDEAL forma uma infra-estrutura de cinco fases para guiar organizações no
planejamento e na implementação de um efetivo programa de melhoria de pro-
cessos (SSE-CMM, 2003).

4. ANÁLISE DAS NORMAS APRESENTADAS


Para que se possa compreender a relação entre as normas ISO/IEC
27001:2006 e ISO/IEC 21827 foram realizadas duas comparações. Na primeira
comparação, as características da norma ISO/IEC 27001:2006 são comparadas
com as norma ISO/IEC 21827. Na segunda comparação, são identificados os con-
troles da norma ISO/IEC 17799:2005 que correspondem as PAs da norma ISO/
IEC 21827. As informações para critério de comparação foram obtidas dos do-
cumentos ABNT NBR ISO/IEC 27001:2006 (ABNT NBR 27001, 2006), ABNT
NBR ISO/IEC 17799:2005 (NBR ISO/IEC 17799, 2005) e Systems Security
Engineering Capability Maturity Model (SSE-CMM) Model Description
Document vesion 3.0 (SSE-CMM, 2003).
Com resultado da primeira comparacão, foi observado que as normas apre-
sentam duas visões que estão permanentemente presentes antes e depois do
SGSI ser implementado: a visão funcional e a visão de processos. A visão fun-
cional é representada pela norma ISO/IEC 27001:2006 que fornece uma estrutu-
ra de recomendações que deve ser seguida para o desenvolvimento de um SGSI.
Já a norma ISO/IEC 21827 representa uma visão de processos, que fornece as
práticas que devem ser implementadas para a construção de um SGSI.

52
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

Com relação ao ciclo de melhoria, que indica uma ferramenta de qualidade


para o desenvolvimento da norma, verifica-se que a ISO/IEC 27001:2006 utiliza
o ciclo de melhoria PDCA para a análise e melhoria dos processos organizacio-
nais, enquanto a ISO/IEC 21827 utiliza o modelo IDEAL. Ambos os modelos
consistem em um ciclo de atividades modelado para guiar a melhoria contínua e
para desenvolvimento adequado de cada norma.
Tanto a norma ISO/IEC 27001:2006 como a norma ISO/IEC 21827 podem
ser adotadas por qualquer tipo de organização, seja ela de pequeno ou grande
porte. Isso indica que não há restrições quanto ao uso das normas e a escolha de
aderir a uma ou a outra norma de segurança, deve ser direcionada ao atendimen-
to dos objetivos de segurança organizacionais.
O desenvolvimento da norma ISO/IEC 27001:2006 está baseada na imple-
mentação dos controles de segurança contidos na ISO/IEC 17799:2005. Dessa
forma, a ISO/IEC 27001:2006 implementa a ISO/IEC 17799:2005. Na ISO/IEC
21827 não há um documento de segurança complementar para o seu desenvolvi-
mento. Ela é implantada por meio da implementação das PAs e é avaliada pelo
método SSAM (SSE-CMM Appraisal Method).

Tabela 2. Quadro comparativo de características das


normas ISO/IEC 27001:2006 e ISO/IEC 21827.

Principais Normas
características ISO/IEC 27001:2006 ISO/IEC 21827
Estabelecer, revisar,
Descrever características de
Propósito da norma implementar, acompanhar,
segurança de um processo
manter e melhorar um SGSI
Ferramenta de qualidade PDCA IDEAL
Organização que
Todas Todas
podem fazer uso
Norma de complemento ISO/IEC 17799:2005 Não apresenta
Recursos de Controles da ISO/
Métricas
gerenciamento IEC 17799:2005
Visão de implementação Controles de segurança Processos de segurança
Controles da ISO/
Base de implementação Áreas do Processo (PAs)
IEC 17799:2005
Pré-condição de
Não apresenta Não apresenta
implementação
Fornecimento de um
Melhoria dos processos
Principal característica conjunto de recomendações
de segurança
de segurança

Uma característica importante da ISO/IEC 21827 é o uso das métricas


para avaliar os processos de segurança e estabelecer níveis de maturidade. Essa

53
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

característica está voltada ao gerenciamento da segurança. Já a norma ISO/IEC


27001:2006 foi projetada para permitir a uma organização alinhar ou integrar
seu SGSI com requisitos de sistemas de gestão relacionados.
As características da norma ISO/IEC 27001:2006 e da norma ISO/IEC
21827 mencionadas anteriormente podem ser vistas no quadro comparativo da
Tabela 2.
A segunda comparação foi realizada entre as normas ISO/IEC 21827 e ISO/
IEC 17799:2005. A norma ISO/IEC 17799:2005 está contida na norma ISO/
IEC 27001:2006, sendo que as recomendações de segurança da norma ISO/IEC
27001:2006 implicam na implementação dos controles da ISO/IEC 17799:2005.
Para essa comparação foram selecionadas 11 PAs referentes as Práticas
Base de Segurança da norma ISO/IEC 21827 e foram selecionados controles
da norma ISO/IEC 17799:2005. O critério adotado para identificar os controles
relacionados com as PAs foi baseado no atendimento dos objetivos e requisitos
(Base Practice - BP) de cada PA. Também foi usado como critério de compa-
ração a literatura relacionada as normas e nas publicações oficiais da ABNT e
do SEI. Na Tabela 4 são apresentados os controles da ISO/IEC 17799:2005 que
estão relacionados com as PAs da ISO/IEC 21827:

Tabela 3. Quadro comparativo das PAs da norma ISO/IEC 21827


com os controles da norma ISO/IEC 27001:2006.

ISO/IEC 27001 ISO/IEC 17799:2005


Descrição das PAs Controles relacionados
• Documento da política de segurança da informação;
• Atribuição de responsabilidades para
a segurança da informação;
• Processo de autorização para os recursos
de processamento da informação;
• Recomendações para classificação;
• Rótulos e tratamento da informação;
• Papéis e responsabilidades;
PA01 – • Responsabilidades da direção;
Administração • Conscientização, educação e treinamento
dos controles em segurança da informação;
de segurança • Documentação dos procedimentos de operação;
• Gestão de mudanças;
• Gerenciamento de mudanças para serviços terceirizados;
• Procedimentos para tratamento de informação;
• Gerenciamento de privilégios;
• Gerenciamento de senha do usuário;
• Sistema de gerenciamento de senha;
• Prevenção de mau uso de recursos de
processamento da informação;

54
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

PA02 - Avaliação • Apresentado no item 4 referente à Introdução


do impacto da norma ISO/IEC 17799:2005;
• Identificação dos riscos relacionados com partes externas;
• Inventário dos ativos;
PA03 - Avaliação dos • Proprietário dos ativos;
riscos de segurança • Uso aceitável dos ativos;
• Apresentado no item 4 referente à Introdução
da norma ISO/IEC 17799:2005;
PA04 - Avaliação • Apresentado no item 4 referente à Introdução
de ameaças da norma ISO/IEC 17799:2005;
PA05 - Avaliação de • Apresentado no item 4 referente à Introdução
vulnerabilidades da norma ISO/IEC 17799:2005;
PA06 - Construção
• Identificando a segurança da informação,
de argumentos
quando tratando com os clientes;
de garantia
• Acordos de confidencialidade;
• Identificando segurança da informação
nos acordos com terceiros;
PA07 - Coordenação • Segregação de funções;
da segurança • Acordos para a troca de informações;
• Procedimentos para controle de mudanças;
• Conformidade com as políticas e normas
de segurança da informação;
• Comprometimento da direção com a segurança da informação;
• Coordenação da segurança da informação;
• Contato com autoridades;
• Análise crítica independente de segurança da informação;
• Gestão de capacidade;
• Controles contra códigos maliciosos;
PA08 - Monitoração • Controles contra códigos móveis;
da postura da • Registros de auditoria;
segurança • Monitoramento do uso do sistema;
• Proteção das informações dos registros (log);
• Registros (log) de administrador e operador;
• Registros (log) de falhas;
• Vazamento de informações;
• Controle de vulnerabilidades técnicas;
• Controles de auditoria de sistemas de informação;
• Documento da política de segurança da informação;
• Análise crítica da política de segurança da informação;
• Processo disciplinar;
• Políticas e procedimentos para troca de informações;
PA09- Fornecer a
• Política de controle de acesso;
entrada segurança
• Registro de usuário;
• Restrição de acesso à informação;
• Desenvolvimento e implementação de planos de
continuidade relativos à segurança da informação;

55
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

• Segurança da documentação dos sistemas;


• Uso de senhas;
• Autenticação para conexão externa do usuário;
• Procedimentos seguros de entrada no sistema (log-on);
• Identificação e autenticação de usuário;
• Análise e especificação dos requisitos de segurança;
• Integridade de mensagens;
PA10 - Especificar
• Incluindo segurança da informação no processo
as necessidades
de gestão da continuidade de negócio;
de segurança
• Continuidade de negócios e análise/avaliação de riscos;
• Estrutura do plano de continuidade do negócio;
• Identificação da legislação vigente;
• Direitos de propriedade intelectual;
• Proteção de dados e privacidade de informações pessoais;
• Proteção de ferramentas de auditoria
de sistemas de informação;
• Entrega de serviços;
• Monitoramento e análise crítica de serviços terceirizados;
• Cópias de segurança das informações;
• Análise crítica dos direitos de acesso de usuário;
PA11 - Verificação
• Validação dos dados de entrada;
e validação da
• Controle do processamento interno;
segurança
• Validação de dados de saída;
• Testes, manutenção e reavaliação dos
planos de continuidade do negócio;
• Verificação da conformidade técnica.

Foi observado que nem todos os controles da ISO/IEC 17799:2005 possuem


uma relação direta com as PAs da ISO/IEC 21827. Os controles manuseio de mídias,
serviço de comércio eletrônico, controles criptográficos, computação móvel e de tra-
balho remoto e alguns outros, não estão contidos na Tabela 3 por não terem ligação
aparentemente direta com o objetivos da PAs. No entanto, a implementação de um
projeto de SGSI recomendado pela norma ISO/IEC 27001:2006 está condicionado
as necessidades de segurança organizacionais e portanto, nem todos os controles
de segurança tem obrigatoriedade de implementação. Na norma ISO/IEC 21827, as
PAs também são selecionadas objetivando atender as necessidades de segurança or-
ganizacionais e podem ser selecionadas PAs tanto da categoria de Práticas Base de
Segurança como do grupo Práticas Base Organizacionais e do Projeto.

5. COMBINAÇÃO DAS NORMAS DE SEGURANÇA


ISO/IEC 27001:2006 E ISO/IEC 21827 (SSE-CMM)

5.1 Modelo de referência para o desenvolvimento de SGSI


A Figura 1 apresenta a integração da norma ISO/IEC 27001:2006 e a norma
ISO/IEC 21827 no modelo de referência, onde se pode observar:

56
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

• Visão orientada por disciplinas funcionais: no modelo diferen-


ciam-se seis disciplinas funcionais incluindo a segurança fundamen-
tal, segurança ambiental e de infra-estrutura, segurança dos siste-
mas, segurança em comunicações e redes, segurança física e segu-
rança pessoal;
• Visão orientada por processos: no modelo estão identificados oito
sub-processos de segurança incluindo a gestão estratégica da seguran-
ça, cumprimento legal e padrões aplicáveis, identificação, classificação
e avaliação de ativos, análise e avaliação de riscos de segurança, tra-
tamento e gestão de riscos de segurança, gestão da segurança opera-
cional, segurança das operações – condições normais e segurança das
operações – condições anormais;
• Segurança Fundamental: Observando a Tabela 4, podemos observar
que a mesma contém um conjunto de controles e sub-processos de-
finidos em ambas as normas ISO/IEC 21827 e ISO/IEC 27001:2006
que são imprescindíveis para que o processo de segurança exista não
só na melhoria da sua capacidade, mas também das necessidades es-
pecíficas de segurança em áreas concretas do negócio. Os controles e
sub-processos indicados neste nível são comuns para o resto das áreas
funcionais.

Figura 1. Integração da norma ISO/IEC 27001:2006 com a norma ISO/IEC 21827 no


modelo de referência (HUMPHREYS, 2007).

Este modelo, em que se integram ambas as visões de segurança, deriva-se da


base de conhecimentos Theoretical and Practical Knowledge Base (TPKB) pro-
duzida pelo International Systemas Security Professional Certification Scheme
(ISSPCS), o qual colabora com o International Systems Security Engineering
Association (ISSEA).

57
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

Tabela 4. Distribuição de controles ISO/IEC 27001:2006 e Áreas de Processo SSE-CMM


(ISO/IEC 21827) no modelo de referência do SGSI.

3. Identificação, Clas-
1. Gestão Estratégi-

Gestão de Riscos
ca da Segurança

iação de Riscos
sificação e Aval-
Segurança nas

4. Análise e Aval-
Organizações

iação de Ativos

8. Segurança em
7. Segurança em
de Segurança

de Segurança
Processo de

5. Tratamento e
cia e Normas

Operacional

Operações –

Operações –
2. Concordân-

Segurança
Aplicáveis

Anormais
6. Gestão da

Normais
A5 (com- A 15.1 A 9.1 A 6.1
A 13
Segurança Fundamental

pleto) A 5.1.5 A 10 (4,6,7)


A 6.2.1 (com-
A6.1 A 6.2.3 A7 (1,2,3) A 10
A 14.1.2 pleto)
(1,2,3,7) A (comple- A 6.1.8 A 11.2 (4,5,6)
PA 02 A 14
PA 06 8.1.1.3 to) A 6.2.2 A 11.6 A10
PA 03 (com-
PA 07 A PA 02 PA 03 PA 01 (7,8,9)
PA 04 pleto)
PA 09 10.8.2 PA10 PA 07 PA 07
PA 05 PA 06
PA 10 PA 10 PA 08 PA 09
PA 10
PA 11 PA 11 PA 11 PA 10

PA 06
PA 02 A 9.2
PA 07 PA 06
Infraestrutura

PA 10 PA 02 PA 03 PA 03 PA 01 PA 07
Ambiental e

PA 09 PA 10
PA 11 PA 10 PA 04 PA 09 PA 07 PA 09
PA 10 PA 07
PA 02 PA 09 PA 05 PA 10 PA 08 PA 10
PA 11 PA 09
PA 09 PA 11
PA 02
A 11.5
A 12.1 A 11.7
PA 06 A 15.2 PA 02 A 12.4 A 12.6
Disciplinas Funcionais

A 12.2
PA 07 A 15.3 PA 02 PA 03 A 12.5 PA 07 PA 06
Segurança dos

A 12.3
PA 09 PA 10 PA 10 PA 04 PA 01 PA 09 PA 10
PA 03
PA 10 PA 11 PA 05 PA 07 PA 10
Sistemas

PA 11 PA 08
PA 11

PA 06 A 11.4
Comunicações e Redes

PA 07 PA 01
PA 02 A 10.10
PA 09 PA 10 PA 07 PA 06
PA 02 PA 03 PA 07
PA 10 PA 11 PA 03 PA 08 PA 07
Segurança em

PA10 PA 04 PA 09
PA 11 PA 02 PA 11 PA 10
PA 05 PA 10
PA 01 PA 09
PA 08 PA 10

PA 06 A9 A 6.2
PA 02 PA 01
PA 07 (comple- (1,2)
PA 10 PA 03 PA 07 PA 06
Segurança

PA 09 to) PA 03 PA 07
PA 11 PA 04 PA 08 PA 10
PA 10 PA 02 PA 09
Física

PA 05 PA 11
PA 11 PA 10 PA 10

PA 06 A 8.1 A 11.3
A 8.3
PA 07 PA 02 PA 01
Segurança

PA 10 PA 02 A 8.2 PA 07 PA 06
PA 09 PA 03 PA 07
PA 11 PA 10 PA 03 PA 09 PA 10
Pessoal

PA 10 PA 04 PA 08
PA 10
PA 11 PA 05 PA 11

58
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

5.2 A integração das normas ISO/IEC 27001:2006 e ISO/


IEC 21827 (SSE-CMM)
A relação da norma ISO/IEC 27001:2006 com a ISO/IEC 21827 está base-
ada no estabelecimento de maiores garantias de proteção. Cada norma fornece
meios para assegurar o desenvolvimento da segurança de forma sistemática e
contínua.
A norma ISO/IEC 17799:2005 que fornece os controles recomendados pela
norma ISO/IEC 27001:2006 foi comparada com as PAs da ISO/IEC 21827 para
se verificar a similaridade de processos. A partir dessa comparação nota-se que
alguns controles não estão diretamente ligados com a ISO/IEC 21827. Com isso,
pode ser observado que a ISO/IEC 21827 é mais indicada para o gerenciamento
de processos de segurança e não para a sua definição dos processos (controles)
que serão implementados.
A definição dos controles de segurança que serão implementados pelo SGSI
seguem a estrutura de segurança organizacional, podendo alguns controles
serem selecionados e outros não. O mesmo acontece com as PAs da ISO/IEC
21827, onde nem todas as PAs são selecionadas e procura-se fazer a seleção de
acordo com a necessidade de segurança organizacional. Dessa maneira, os con-
troles que são selecionados da ISO/IEC 17799:2005 recomendados pela ISO/IEC
27001:2006 podem ganhar níveis de maturidade por meio da implementação da
ISO/IEC 21827.
A integração das normas está no desenvolvimento em conjunto das normas.
Ganhando níveis de maturidade, os controles da ISO/IEC 17799:2005 podem
ser gerenciados e monitorados assegurando o aprimoramento da segurança or-
ganizacional. Cada organização pode definir seus objetivos de segurança se-
lecionando controles e determinando níveis de maturidade que atendam suas
necessidades de segurança.
A integração das normas ISO/IEC 27001:2006 e ISO/IEC 21827 pode trazer
benefícios para as organizações, onde se pode observar:
• Melhoria nos aspectos de definição da segurança fundamental: em uma
organização que não tenha definido o processo global de segurança, a
primeira etapa deveria ser definí-lo, levando em consideração os sub-
processos de segurança e controles que são propostos no modelo de
referência;
• Desenvolvimento de projetos SGSI específicos: em organizações cien-
tíficas como laboratórios ou empresas de desenvolvimento de software
com processos de negócio especializado os projetos de SGSI poderiam
ser desenvolvidos com o objetivo de aprofundar as relações da norma
ISO/IEC 21827. Este conhecimento é importante tanto para conhe-
cer melhor as necessidades de segurança requisitadas por estes seto-
res da economia, como também, as dificuldades inerentes aos setores

59
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

facilitando a criação de padrões para o desenvolvimento de soluções de


segurança setoriais;
• Determinação de níveis de maturidade para os processos de segurança:
em um projeto de SGSI, deve-se exigir que o processo global de segu-
rança projetado e implementado possa ser avaliado como nível maior
de maturidade. Um SGSI de nível 1 teria deficiências. Com a utilização
da ISO/IEC 21827 é possível estipular o nível de capacidade que se
deseja alcançar;
• Atendimento dos requisitos legislativos: uma vez que tanto as leis
quanto seus regulamentos levam em consideração os processos de se-
gurança da informação, os projetos poderiam revisar as próprias leis
conforme a visão de processos de segurança assim como identificar as
falhas que a norma pode apresentar para compreendê-las, melhorá-las
e aplicá-las;
• Redução de custos: com a implementação de controles monitorados
pela ISO/IEC 21827, pode-se assegurar a redução de falhas de seguran-
ça e consequentemente a diminuição de recursos financeiros aplicados
para reparação de danos;
• Definição de estratégias de segurança: o gerenciamento dos proces-
sos de segurança fornece uma visão do quadro de segurança atual da
organização, fornecendo subsídios para a implementação de medidas
preventivas que assegurem o bem estar organizacional;
• Reconhecimento organizacional: a certificação por normas reconheci-
das no ambiente de segurança garante maior confiabilidade por parte
de clientes, colaboradores e terceiros.

5.3 A abrangência das normas de segurança no contexto


organizacional
Desenvolver um SGSI que forneça garantias de segurança não está atre-
lado apenas ao uso de uma norma. Uma norma de segurança pode satisfazer
inúmeros requisitos de segurança, mas não pode abranger todos os aspectos que
asseguram proteção.
A Instrução Normativa GSI Nº 1, de 13 de junho de 2008 que trata disci-
plina a Gestão de Segurança da Informação e Comunicações na Administração
Pública Federal, direta e indireta, têm o propósito de manter seguras as infor-
mações e orientar a condução de políticas de segurança da informação e co-
municações pelos órgãos da Administração Pública Federal, direta e indireta.
Cumprindo o art. 3 da Instrução Normativa GSI Nº 1, o Gabinete de Segurança
Institucional da Presidência da República-GSI ficou responsável por orientar a
condução da Política de Segurança da Informação e Comunicações. Ficou então
definido pelo GSI, que a metodologia de gestão de segurança da informação e co-
municações deve basear-se no processo de melhoria contínua, denominado ciclo
“PDCA” (Plan-Do-Check-Act), estabelecido pela norma ISO/IEC 27001:2006

60
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

e todos os órgãos da Administração Pública Federal, direta e indireta, devem


adotá-la. A escolha realizada pelo GSI levou em consideração três critérios:
• Simplicidade do modelo;
• Compatibilidade com a cultura de gestão de segurança da informação
em uso nas organizações públicas e privadas brasileiras; e
• Coerência com as práticas de qualidade e gestão adotadas em órgãos
públicos brasileiros.
No entanto, o GSI não leva em consideração que as organizações possuem
necessidades de segurança diferentes. O que pode ser adaptado consideravel-
mente bem para uma organização, pode não ser tão bem adaptado para outra.
Definir uma metodologia para a gestão da segurança da informação basea-
da na aplicação de apenas uma norma pode deixar lacunas na segurança, resul-
tando em futuras falhas de segurança, danos financeiros e sociais.
Além disso, uma norma não pode ser recomendada para todo e qualquer
tipo de organização. As organizações são diferentes, possuem necessidades de
segurança específicas e estão em outro contexto cultural. Em muitos casos, a
relação de uma organização com uma norma de segurança não se completa. Isso
ocorre não pela inconsistência da segurança fornecida por uma norma, mas pelo
fato da organização possuir objetivos vinculados as necessidades de segurança
próprias.
A utilização de uma única norma de segurança pode trazer benefícios agre-
gando mais proteção a organização, mas de fato, ela não preenche e nem se
enquadra a todos os aspectos de segurança necessários para fornecer controle
sobre todos os aspectos de segurança organizacional.
As normas de segurança se complementam, de forma a fornecer maiores
garantias de segurança. Com a integração das normas de segurança as organi-
zações podem focar seus objetivos de proteção, prevenindo que incidentes de
segurança ocorram. A integração das normas que se dá pela combinação da
segurança pode adequar-se a maioria das organizações e se enquadrar em um
contexto específico.

6. CONCLUSÃO
O presente trabalho discutiu o desenvolvimento de um SGSI através da in-
tegração das normas ISO/IEC 27001:2006 e ISO/IEC 21827. Buscou-se verificar
como essas normas podem ser integradas de modo proporcionar maiores garan-
tias de segurança as organizações.
Pode-se observar que a norma ISO/IEC 27001:2006 fornece uma estrutu-
ra bem definida para a implementação de um SGSI, enquanto a norma ISO/
IEC 21827 pode ser usada para assegurar que os processos de segurança sejam

61
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

desenvolvidos e mantidos em conformidade com a segurança, adquirindo níveis


de maturidade. Neste sentido, a integração das normas ISO/IEC 27001:2006 e
ISO/IEC 21827 pode ser utilizada com um modelo de referência para o desenvol-
vimento de processos de SGSI.
Com a existência de vários documentos de segurança, destes incluem o
NIST, CSE, BS 7799, ISO/IEC 13335 entre outros, a ISO/IEC 21827 pode ser
entendida como um sistema para a descrição das características essenciais
do processo de engenharia de segurança da organização, que sempre deve
existir para assegurar a boa engenharia de segurança. As organizações de
segurança podem usar o ISO/IEC 21827 para avaliar e refinar as práticas de
engenharia de segurança; os clientes podem usá-lo para avaliar o recurso de
engenharia de segurança de um dado sistema; e as organizações de avalia-
ção de engenharia, para estabelecer valores organizacionais com base nos
recursos.
A ISO/IEC 21827 deve ser usada pelas organizações para examinar a matu-
ridade de um processo de segurança de tecnologia da informação implementado
em uma organização em comum acordo com a ISO/IEC 27007:2006 ou um dos
documentos acima citados. Desta forma, a ISO/IEC 21827 pode e deve ser usada
em conjunto com qualquer documento de segurança.

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Programa de Pós-graduação em Informática do Departamento de Informática da
PUC-Rio. Universidade Pontifícia Católica, Rio de Janeiro.
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63
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

64
E-GOV E A EDUCAÇÃO: O
EXEMPLO DA TV ESCOLA

Marciele Berger Bernardes 1


Universidade Federal de Santa Catarina
marcieleberger@gmail.com

Paloma Maria Santos2


Universidade Federal de Santa Catarina
pmariasantos@yahoo.com.br

Aires José Rover3


Universidade Federal de Santa Catarina
aires.rover@gmail.com

RESUMO

O presente artigo visa levantar as iniciativas do Governo Federal frente à disponibilização


das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) como ferramenta de apoio a
educação, na era digital. Apresenta-se uma breve introdução sobre as principais teorias
da educação e sua relação com as novas tecnologias, seguido de uma aplicação específica
desenvolvida para este fim: o programa TV Escola. Utilizou-se a estratégia de estudo
de caso com métodos qualitativos para levantamento e análise de dados, por meio de
análise de documentos e entrevistas semi-estruturadas. A partir do estudo realizado,
foi possível constatar que a teoria diverge muito da prática e que o fator humano, que
deveria intermediar e facilitar o processo, acaba muitas vezes por criar barreiras para o
uso eficiente das tecnologias dentro da educação.

PALAVRAS-CHAVE

Tecnologias de Informação e Comunicação, Educação, Governo, TV Escola.

1. INTRODUÇÃO
As últimas décadas vêm precedidas por um denominador comum: a mudan-
ça constante e sua valoração positiva. Vive-se um novo conceito de sociedade,

1  Mestranda em Direito pelo CPGD/UFSC. Bolsista CAPES.


2  Mestranda em Engenharia e Gestão do Conhecimento pelo EGC/UFSC. Bolsista
CAPES.
3  Professor dos Programas CPGD e EGC/UFSC.

65
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

uma sociedade em rede que modifica o âmbito social, econômico e tecnológico.


O que caracteriza o atual contexto histórico, marcado pela revolução tecnológi-
ca, não é a centralidade da informação e do conhecimento, mas sim a aplicação
desses para a geração de novos conhecimentos.
As tecnologias da informação e comunicação (TICs), produzidas e consu-
midas numa velocidade como nunca antes se viu, produzem mudanças culturais
que influenciam a maneira de comunicar e de interagir dos indivíduos e conse-
quentemente promovem grandes mudanças no processo de ensino e aprendiza-
gem como um todo.
Assim, cumpre iniciar situando onde se busca a justificativa e a importância
deste trabalho, indicando, a seguir, por onde se constrói seu objeto; se elege um
método; se encontram as dificuldades e se apresentam, então, alguns resultados
parciais, conclusões e agradecimentos.
Como se percebe, o desenvolvimento acelerado da tecnologia está produ-
zindo uma mudança na forma de pensar do ser humano, e esta mudança para-
digmática já atinge também o processo de aprendizagem daquele. Dentro desse
contexto de emergência das novas tecnologias - que está gerando novas perspec-
tivas para a educação -, apresenta-se a relevante a indagação sobre como o uso
efetivo da tecnologia da informação pode contribuir para a educação.
A busca de uma resposta a tal indagação permite constatar que, a partir do
desenvolvimento de novos modos de ensino, baseados na integração entre tecno-
logia e educação, o acesso promove o desenvolvimento econômico e cria condi-
ções para uma maior “tecnologização” da sociedade. É diante desse quadro que
este trabalho sente-se inclinado a abordar como a informática e a internet estão
transformando o aprendizado e o ensino, que nova educação é necessária para o
uso da internet e quais iniciativas do governo estão sendo tomadas nesse sentido.
A implementação de políticas de governo eletrônico, dentre elas, a de pro-
moção de acesso igualitário às tecnologias de informação e comunicação, é um
compromisso do governo – Ministério da Educação, Secretarias Educacionais
- e dever do Estado4, rumo à consolidação/implementação da cidadania. Nesse
sentido, elege-se como objeto nuclear, a análise da influência das tecnologias de
informação e comunicação na educação, partindo das iniciativas propostas pelo
Governo Federal, em especial, para o caso do programa TV Escola.
Adota-se como metodologia, o modelo interdisciplinar, partindo do pressu-
posto que tecnologia, sociedade e educação são categorias multifárias e, como
tal, condensam aspectos históricos, políticos, sociológicos, econômicos, filosó-
ficos, etc., que impossibilitam seu monopólio ou sua apropriação unilateral por
qualquer dos saberes.

4  Art. 205, CF: A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promo-
vida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento
da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

66
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

Visando atingir tais objetivos, o trabalho está estruturado em seis tópicos,


seguido de uma breve projeção dos novos desafios para a educação, no contexto
das novas tecnologias.
A partir de tais premissas, o segundo capítulo desse estudo faz uma introdu-
ção ao fenômeno da educação no contexto das tecnologias de informação e comu-
nicação. No terceiro capítulo, são apresentadas as características das duas escolas
do pensamento educacional. No quarto, é tratado o objeto nuclear do estudo, atra-
vés da abordagem das iniciativas do Governo Federal frente à disponibilização de
tecnologias para a prática da educação. A apresentação dos dados sobre a consti-
tuição do programa TV Escola, é feita no capítulo quinto. No sexto capítulo, são
apresentados os resultados parciais, tendo em vista o método adotado. Por fim, no
capítulo sétimo, tem-se as conclusões do estudo e uma seção de agradecimentos.
O que se espera com esse trabalho é formar um pequeno aporte ao que nós
próximos anos virá a compor uma mudança estrutural na seara educacional, com
a chegada massiva das novas tecnologias, com destaque para o programa TV
escola. Tais medidas, se devidamente conduzidas, constituirão efetivos locus de
construção da cidadania, rompendo com tradicionais barreiras que separam os
centros das periferias do Brasil.
De forma a garantir a confiabilidade das informações relativas a este estudo
de caso, utilizou-se métodos qualitativos para levantamento e análise dos dados.
Foram analisados documentos disponíveis na internet e informações procedentes
das entrevistas semi-estruturadas, aplicadas no mês de junho de 2009, ao coorde-
nador do programa TV Escola para o estado de Santa Catarina e a responsável pelo
Programa “Salto para o Futuro”, integrante da grade de programação da TV Escola.
As limitações do estudo incluem o restrito tempo para a realização do levantamento
de dados, não tendo sido exaustivo e estarem relacionados apenas ao estado de Santa
Catarina, e a realização de entrevista semi-estruturada apenas com os responsáveis
pela coordenação do programa, não tendo envolvido professores e gestores.

2. INTRODUÇÃO AO FENÔMENO DA EDUCAÇÃO


NO CONTEXTO DAS TECNOLOGIAS DE
INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO

Todo homem tem o direito de participar no progresso


científico e dos benefícios que deste resultam 5

Partindo-se da premissa de que na evolução histórica da afirmação dos di-


reitos humanos, o capítulo dedicado à cidadania merece destaque, e que sua pro-

5  ASSEMBLÉIA GERAL DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração Universal dos Direitos


Humanos 1948. Art. 27, extrato.

67
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

moção é a prioridade do governo eletrônico6, o objetivo deste artigo é analisar a


influência das tecnologias de informação e comunicação na educação, haja vista
o ritmo acelerado de evolução daquela e sua complexa gestão que, não raras
vezes, afasta a teoria da prática.
Nesse sentido, surge uma importante questão: Como adaptar a organiza-
ção/método educacional, de forma a utilizar eficientemente todos os benefícios
oferecidos pela incorporação dessas tecnologias? A resposta passa pela compre-
ensão de que o acesso às TICs abrange muito mais do que meramente munir as
instituições com equipamentos e acesso à internet. É preciso, antes de qualquer
coisa, treinar os usuários e, principalmente, fazê-los perceber a importância que
as tecnologias têm quando usadas como ferramentas de apoio ao processo de
ensino aprendizagem. De acordo com Warschauer (2006), para proporcionar
acesso significativo a essas tecnologias, fatores como o conteúdo, a língua, o
letramento7, a educação, bem como as estruturas comunitárias e institucionais,
devem ser considerados.
Para Pierre Lévy, essas tecnologias estão remodelando certas atividades
cognitivas. “A linguagem, a sensibilidade, o conhecimento, a imaginação in-
ventiva, (..) e ensino e o aprendizado, reestruturados por dispositivos técnicos
inéditos, estão ingressando em novas configurações sociais” (1998, p.17).
Considerando que a capacidade de acessar, adaptar e criar novos conheci-
mentos a partir do uso das novas tecnologias é decisiva para o sistema educativo,
é proposta a seguinte questão: Como as TICs podem contribuir para a educação?
Para responder a essa interrogante, parte-se da análise de como a informática
está transformando o aprendizado e o ensino, e que modelo de educação é ne-
cessário para o uso das novas tecnologias.

3. ESCOLAS DO PENSAMENTO EDUCACIONAL


Como o enfoque desse artigo é a relação entre tecnologia e educação, se
torna indispensável fazer uma breve abordagem das duas escolas do pensamento
educacional.
No Brasil, o debate educacional foi dominado por duas escolas de pen-
samento: a instrucionista e a construtivista. A primeira, considera a educação

6  De acordo com Rover (2004), o Governo Eletrônico se traduz numa estrutura de co-
municação entre órgãos públicos onde a tecnologia da informação e da comunicação
é usada para melhorar a gestão pública e o atendimento ao cidadão. Em suma, trata-se
de um governo ao alcance de todos, que busca a incrementação da participação cidadã.
7  De acordo com Warschauer, as ferramentas do letramento incluem: “a própria língua,
assim como diversos artefatos físicos, como papiro, códice, livro, lápis, caneta, papel
ou máquina de escrever” (2006, p. 153).

68
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

como um processo de transmissão. Por este modelo, o conhecimento é transmi-


tido para o aluno (o professor dita, o aluno copia; o professor decide e o aluno
executa), ou seja, o alfabetizador considera que seu aluno nada sabe, e que ele
tem que ensinar tudo. A isso, Freire (2000) chama de “educação bancária” (nesta
o educador simplesmente deposita o seu conhecimento no aluno). Trata-se de
uma abordagem que está, sem dúvida, em desacordo com os imperativos da era
da informação, uma vez que o modo de reprodução e repetição gera um sujeito
que renunciou o direito de pensar e, portanto, desistiu da capacidade de elaborar
e se comunicar com o novo conhecimento a partir de diversas fontes de dados e,
por conseqüência, desistiu de sua cidadania.
Em contraposição à perspectiva da transmissão, passa a ser apontado, como
alternativa, o construtivismo de Piaget (1986). Por esse modelo, busca-se não
apenas transmitir ou reproduzir um conhecimento, mas transformar a ação hu-
mana, mediante novos métodos pedagógicos que instigam a reflexão e a partici-
pação do aluno. Para tanto, a discussão requer uma mudança de atitude dos pro-
fessores, ou seja, uma constante adaptação e renovação de suas ações enquanto
educador para se adaptar às transformações da sociedade globalizada.
Os adeptos dessa teoria defendem a tecnologia educacional e, particular-
mente, o uso de programas de computadores, para estimular o aprendizado da
descoberta. Aqui está o papel do professor da era digital, baseado na dinâmica
da produção e construção do conhecimento.
A partir disso, passa a ser relevante a compreensão do termo “Informática
na Educação”, definida por Valente (1993), como a inserção do computador no
processo de aprendizagem dos conteúdos curriculares de todos os níveis e mo-
dalidades de educação.
Assim sendo, as abordagens instrucionista e construcionista permitem infe-
rir que a informática pode ser usada na educação tanto como máquina de ensinar
quanto como máquina para ser ensinada. O uso das novas tecnologias como má-
quina de ensinar consiste na informatização dos métodos de ensino tradicionais
e não pode ser confundido com o paradigma construtivista moldado por Piaget,
pois este se baseia no modelo de educação reforçada pela informática.
A partir disso, faz-se necessária a compreensão de que a educação refor-
çada pela informática parte de uma premissa oposta, ou seja, como o próprio
nome remete, a metodologia consiste em utilizar eficazmente a tecnologia para
reforçar as finalidades educacionais mais amplas. Aqui se constata que o proces-
so de aprendizagem não acontece simplesmente colocando o aluno na frente do
computador ou da televisão, pois a tecnologia, sozinha, não modifica a natureza
da educação escolar. Na melhor das hipóteses, ela amplifica os processos em
andamento.
Como se depreende da abordagem acima, o emprego da tecnologia para
transformar a educação, ou mesmo melhorá-la, passa por dois caminhos. O

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Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

primeiro, focaliza a educação por via da informática: uma técnica que é muito
questionada uma vez que se baseia apenas no acesso restrito às TICs (disponi-
bilização do equipamento eletrônico: computador, televisão, etc). Já o segundo,
focaliza a educação reforçada pela informática: uma técnica onde o que está em
jogo não é a mera questão da acessibilidade, no sentido de haver um computa-
dor/TV no local, mas sim a capacidade de saber utilizar os instrumentos para
finalidades pessoal e socialmente significativas.
Nas palavras de Silva (2002, p. 23), o papel desses novos recursos é
ligar o que está separado; implica em aprender a lidar com as múltiplas in-
formações, o que significa não ser tragado por elas, mas torná-las conheci-
mento. Em suma, o papel do professor da era digital não se restringe mais a
transmitir o conhecimento de forma linear, dissociando o emissor do recep-
tor, mas sim utilizar das novas tecnologias para a produção e construção do
conhecimento.
Apresentadas as duas escolas do pensamento educacional brasileiro,
bem como a forma como as TICs devem ser absorvidas no contexto edu-
cacional, é chegada a hora de analisar os principais programas e projetos
educacionais no Brasil que envolvem o governo federal, na trajetória da im-
plementação das novas tecnologias no sistema de ensino. Esse é o enfoque
do item seguinte.

4. GOVERNO ELETRÔNICO: EDUCAÇÃO


MEDIADA PELAS NOVAS TECNOLOGIAS
Com o propósito de abordar a tecnologia educacional, no cenário da educa-
ção brasileira, convém tecer um breve apanhado histórico sobre a temática das
novas tecnologias na educação brasileira. Nessa perspectiva, é importante aten-
tar para as principais medidas adotadas pelo governo no sentido da promoção do
acesso e garantia da cidadania.
Sendo assim, convém lembrar que a utilização do computador no cenário
educacional brasileiro, não é recente. De acordo com Andrade e Lima (1996),
foi no ano de 1971 que se discutiu pela primeira vez o uso de computadores no
ensino de Física (USP/São Carlos). Mas, foi na década de 80 que a temática da
informática educativa veio à tona, impulsionada primeiramente pela absorção
dessa tecnologia por outros setores da sociedade, e também pelos resultados de
um seminário nacional em 19828 sobre o uso do computador como ferramenta
auxiliar do processo de ensino-aprendizagem.

8  Em agosto de 1982, foi realizado o I Seminário Nacional de Informática na Educação, sob


a coordenação da Secretaria Especial de Informática (SEI), do MEC e do CNPQ, onde a
principal discussão gravitou em torno da conveniência ou não de se utilizar o computador
como instrumento no processo de ensino aprendizagem (ALMEIDA, 1988, p. 15).

70
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

Nos anos seguintes, importantes avanços ocorreram: - em 1984, foi lançado


o Projeto EDUCOM9; - em 1986, o Programa10 de Ação Imediata em Informática
na Educação de 1º e 2º graus (hoje ensino médio).
Como conseqüência dessa trajetória, em 1989 foi instituído pelo
MEC, através da Portaria Ministerial nº 549/89, o Programa Nacional de
Informática na Educação - PRONINFE11. Os estudos realizados por Almeida
(1988) demonstraram que esse programa gerou, em dez anos, uma cultu-
ra nacional de informática educativa centrada na realidade da escola públi-
ca, constituindo-se como o principal referencial das ações planejadas pelo
Ministério da Educação.
Dentre os principais resultados, durante esses dez anos de Proninfe,
Almeida (1988) destaca:
• Implantação de 44 centros de informática na educação, a maioria com
conexão à internet;
• Implantação de 400 subcentros, a maioria por iniciativas de governos
estaduais e municipais, a partir do modelo de planejamento concebi-
do inicialmente pelo Projeto EDUCOM/UFRGS (destes, 87 estão no
Estado do Rio Grande do Sul);
• Implantação de 400 laboratórios de informática educativa em escolas
públicas, financiados por governos estaduais e municipais;
• Mais de 10.000 profissionais preparados para trabalhar em informáti-
ca educativa no país, incluindo um número razoável de pesquisadores
com cursos de mestrado e doutorado.
Com a proposta de reestruturar o modelo anterior, no ano de 1997, foi criado
o Programa Nacional de Informática na Educação - PROINFO 12.
Para Moraes (1997), a criação do PROINFO se justificou pelo diagnóstico
da situação educacional brasileira e pela necessidade de minimizar os índices
significativos de analfabetismo. A esses fatores, a autora acrescenta ainda a in-

9  O projeto EDUCON foi voltado para a criação de núcleos interdisciplinares de pesquisa


e formação de recursos humanos nas universidades federais (Op. cit. p. 19).
10  Programa destinado a capacitar professores (Projeto FORMAR) e a implantar infra-
estruturas de suporte nas secretarias estaduais de educação (Centros de Informática
Aplicada à Educação de 1o e 2o grau – CIED) (Op. cit. p. 21).
11  O PRONINFE teve como objetivo desenvolver a informática educativa no Brasil, atra-
vés de atividades e projetos articulados e convergentes, apoiados em fundamentação
pedagógica, sólida e atualizada, de modo a assegurar a unidade política, técnica e cien-
tífica imprescindível ao êxito dos esforços e investimentos envolvidos (ALMEIDA,
1988).
12  O Ministério da Educação e do Desporto, através da Secretaria de Educação
à Distância, é responsável pelo atual PROINFO para as escolas públicas do ensi-
no fundamental e médio. Disponível em: http://www.proinfo.gov.br. Acesso em:
março/2009.

71
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

fluência do cenário internacional (transformações sócio-econômicas e culturais)


que ocorreram no final do século XX, impulsionadas pelos avanços da ciência
e da tecnologia, suas influências nas formas de pensar e no fazer educacional.
O MEC, tendo em vista a não-universalização da alfabetização no século
XX e o atendimento das demandas do cenário (inter) nacional, que passou a
exigir uma alfabetização tecnológica, impulsionou o PROINFO numa política
de governo para ampliação de acesso às TICs.
É de se destacar que, em 2003, as ações do PROINFO ganharam novo fôlego
com a implantação do programa do Governo Eletrônico - Sistema de Atendimento
ao Cidadão (Gesac13), uma iniciativa do Ministério das Comunicações, com o
apoio do Ministério da Educação.
Diante desse quadro de investimentos pelo governo em implantação/apri-
moramento das novas tecnologias na educação, é inegável que esses programas
contribuem para a melhoria da educação brasileira. No entanto, não se pode
negar os riscos da mudança do foco para uma alfabetização tecnológica, en-
quanto que problemas básicos, como analfabetismo primário, ainda não foram
erradicados.
Assim sendo, constata-se que, juntamente as mudanças no sistema educa-
cional, é criada uma nova demanda formativa, que vem sendo chamada de alfa-
betização digital. Esse novo modelo educacional demanda mudança de postura
das escolas que devem reinventar sua relação com o conhecimento. Esse cenário
requer educadores e educandos com sólida formação básica, autonomia, capaci-
dade de resolver problemas e expressar sua criatividade, com a visão de totalida-
de, integradas à formação de competências cognitivas e sociais.
Tais atributos, segundo Silva (2002), são indispensáveis para que essas no-
vas tecnologias não sejam subutilizadas. Ademais, se os paradigmas permanece-
rem os mesmos do ensino tradicional, o professor continuará controlando a pro-
dução e a transmissão do conhecimento e, apesar de dispor de ferramentas efi-
cientes para otimizar o processo educacional, continuará considerando os alunos
como recipientes de informações, repetindo o modelo de “educação bancária”.
Assim, para além do modelo linear que aumenta o hiato entre a experiên-
cia cultural de onde falam os professores e aquela outra de onde aprendem os
alunos, é preciso uma nova postura, que mescle os paradigmas e permita que
os alunos transitem da condição de espectadores para a condição de sujeitos
operativos e participativos.

13  O programa GESAC – Governo Eletrônico – Serviço de Atendimento ao Cidadão, do


Governo Federal, teve como meta disponibilizar acesso à internet e mais um conjunto
de outros serviços de inclusão digital às comunidades excluídas do acesso e dos servi-
ços vinculados à rede mundial de computadores. Disponível em: http://www.idbrasil.
gov.br/menu_interno/docs_prog_gesac/institucional/oqueegesac.html. Acesso em:
Maio/2009.

72
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

Na sequência, apresenta-se a TV Escola, uma experiência brasileira que


avança nesse sentido e que permite o diálogo criativo, capaz de atender às de-
mandas educacionais que se apresentam e concretizar uma mudança no panora-
ma educacional.

5. A TV ESCOLA
Hodiernamente, em face do atual desenvolvimento tecnológico que vem
alterando as formas e modelos de comunicação, alguns paradigmas são postos
em discussão, dentre eles pode-se citar muitas formas de ensinar que hoje não
se justificam mais.
De acordo com Silva (2002), um típico exemplo desse processo é a nova
geração de adolescentes do mundo digital, que já chegam nas escolas com o
aparelho cognitivo modificado pela tela do computador (que se baseia na lógica
da interatividade). A criança, acostumada com essas interfaces interativas, an-
seia pela participação, pelo papel de ator dentro do processo e não mais de mero
espectador.
Diante disso, o processo de ensino aprendizagem precisou ser repensado,
exatamente pela necessidade de compreender e incorporar novas linguagens,
desvendar os seus códigos. Nas palavras de Moran (1999, p.06): “é importante
educar para usos democráticos, mais progressistas e participativos das tecnolo-
gias, que facilitem a evolução dos indivíduos”.
Nesse sentido, o Governo Federal, com o objetivo de auxiliar no desenvolvi-
mento profissional dos professores e gestores da rede pública de ensino brasilei-
ra, aprimorar a qualidade da educação e incentivar a aproximação entre a escola
e a comunidade, lançou em março de 1996 um canal de educação chamado TV
Escola.
Dedicado a professores e alunos do ensino fundamental e médio, a proposta
da TV Escola é a de contribuir para a melhoria da educação construída nas esco-
las, através do acesso e da utilização de programas e séries de vídeos educativos
transmitidos diariamente.
Segundo Neves (2004), as faixas de programação são orientadas para o cur-
rículo das escolas brasileiras e estão relacionadas a conteúdos para o ensino
fundamental, ensino médio, capacitação dos educadores (Salto para o Futuro),
cursos e uma programação voltada para a comunidade (Escola Aberta).
Para habilitar o ambiente escolar a receber o sinal da programação da TV
Escola, fez-se necessária a instalação de uma infraestrutura denominada de “kit
tecnológico”, composto de uma televisão, um videocassete (para gravação dos
programas) e uma antena parabólica. O sinal está disponível na Sky (satélite),
na antena parabólica residencial padrão ou ainda na internet. Segundo Neves

73
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

(2004), de 1996 a 2000, 57.395 escolas com mais de cem alunos em todos os es-
tados do país foram beneficiadas com a instalação do kit. Atualmente, de acordo
com informações do site14 da RNP (Rede Nacional de Ensino e Pesquisa), o sinal
da TV Escola está presente em pouco mais de 39 mil escolas e transmite 17 horas
de programação diária.
Tendo em vista a formação dos educadores no uso pedagógico da lingua-
gem audiovisual, também em 2000 deu-se início ao curso de extensão a distân-
cia chamado “Tv Escola e os desafios de hoje”, desenvolvido em parceria com
o consórcio de 27 universidades que integram a Universidade Pública Virtual
do Brasil (UniRede). De acordo com Neves (2004), o curso, que equivale a 180
horas e utiliza impressos e vídeos, tem como proposta básica trabalhar a pers-
pectiva da educação apoiada no uso das tecnologias, motivando o educador a
explorar criativamente o potencial da TV Escola e das outras mídias, no projeto
político-pedagógico.
Com o objetivo de facilitar a gravação dos programas e aproveitar a onda
de digitalização sofrida pelas TICs, ao final de 2003, algumas escolas receberam
receptores digitais, através dos quais tornou-se possível a gravação automática
de até 7 dias de programação, Fusco (2003). Dessa forma, os conteúdos pode-
riam ser gravados posteriormente em CD ou DVD para serem assistidos na tele-
visão ou no computador.

6. RESULTADOS PARCIAIS
O programa TV Escola, em sua concepção pelo Ministério da Educação,
apresenta pontos relevantes, tais como:
1. A TV Escola abraça uma iniciativa muito importante de desenvolvi-
mento e aprimoramento da educação nas escolas públicas de ensino. É
de fundamental importância que se invista pesado na estruturação das
condições para o melhor aprendizado dos jovens e das crianças, que
são o futuro do país.
2. A disponibilização da programação via satélite faz com que não haja
pontos de sombra (locais onde o sinal não chegue). O sinal, dessa for-
ma, está disponível em todo e qualquer lugar em que seja possível
“avistar o céu”. Não há barreiras para a chegada do sinal, o que não
impede que em determinadas regiões o sinal seja mais forte do que
em outras, devido a própria curvatura da Terra e ao posicionamento e
cobertura do satélite em questão.
3. O investimento em programas de capacitação para os educadores
é essencial do ponto de vista do esclarescimento sobre os papéis e
responsabilidades dos professores e de como utilizar os conteúdos

14  Informações disponíveis no site: http://www.rnp.br/noticias/2009/not-090326.html

74
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

e a tecnologia de maneira a aprimorar e diversificar o processo de


ensino-aprendizagem.
4. As parcerias com outras instituições de ensino, consolidadas ao longo
dos anos, dá maior visibilidade ao programa e amplia a rede de relacio-
namentos e possíveis trocas de experiências.
5. O material disponibilizado é produzido com a orientação do Ministério
da Educação, o que dá segurança no quesito de qualidade ao mesmo.
6. A televisão costuma ser um equipamento de uso coletivo, contraria-
mente ao computador. Quando a programação é exibida no ambiente
da sala de aula, cria-se a possibilidade de debater o conteúdo em gru-
po, facilitando o entendimento e o aprendizado e oferecendo aos alu-
nos a chance de aprimorar suas habilidades de expressão e até mesmo
negociação.
O que se imagina vendo os pontos acima é que finalmente as escolas podem
contar com uma ferramenta que veio para se tornar efetiva aliada ao processo
de educação. Mas, a análise e os resultados deste estudo, feitos com base na
metodologia anteriormente descrita e sugerida por Yin (2001), apontam para di-
versos pontos que ainda precisam ser incessantemente trabalhados, dentre eles,
segundo os entrevistados, pode-se destacar:
1. A TV Escola é mantida com os recursos oriundos da arrecadação de
impostos feita pela Governo. É indispensável que qualquer pessoa que
queira, tenha acesso a números e resultados atuais sobre o uso do progra-
ma TV Escola promovido pelo Ministério da Educação. A transparência
desse tipo de ação deve ser solucionada, afinal, como a comunidade vai
se aproximar da escola se ela não sabe o que se passa lá dentro?
2. No estado de Santa Catarina, pode-se dizer que apesar 10% das 1300 es-
colas recebem, via satélite, o sinal da TV Escola, isso não garante ainda
que as mesmas façam uso do programa. Esse número absurdo é resulta-
do principalmente do sucateamento ocorrido nas antenas de recepção do
sinal. De acordo com o coordenador do programa para o estado, devido
a terceirização e muitas vezes “quarteirização” das instalações dos kits
tecnológicos, os equipamentos tinham os códigos de funcionamento e
bloqueio alterados pelos próprios “antenistas”, que visavam “amarrar” o
cliente ao seu serviço, impedindo que qualquer manutenção fosse feita
por outra empresa. Agrege-se a isso fatores ambientais que também con-
tribuiram para a degradação dos equipamentos.
3. Outro fator decisivo refere-se a uma barreira15 tecnológica para a utili-
zação da TV Escola levantada pelos professores e gestores, que muitas

15  De acordo com Silva (2002), a rejeição da televisão entre os educadores é sintomática
e uma dos motivos dessa recusa certamente não é a natureza emissora da TV, mas sua
estética incompatível com a concepção linear de conhecimento centrada na “lógica
convencional”, na relação causa-efeito.

75
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

vezes estão acomodados e não querem ter que mudar seus métodos de
ensino, o que acaba privando os alunos dos benefícios oferecidos pelo
programa. É fato que é preciso um certo tempo para a familiarização
dos educadores com o sistema, mas deve partir deles a vontade de que-
rer incorporar esses recursos a sua sistemática, independente ou não de
ter recebido treinamento.
4. Além disso, os conteúdos audiovisuais apresentam pouca ou nenhu-
ma interatividade16. A grande maioria deles tem caráter meramente
informativo e não abre espaço para que quem assista colabore no apri-
moramento do que está sendo transmitido. A exceção, diz respeito ao
programa de formação de educadores “Salto para o Futuro”. Antes,
conforme informações do portal do Ministério da Educação, os profes-
sores podiam participar em tempo real, em certas ocasiões, de debates
sobre os diversos temas em análise. Para esse fim, o professor precisava
se dirigir a um dos 600 telepostos distribuídos no Brasil para fazer sua
colaboração. Hoje, isso já não é mais feito devido aos altos custos ge-
rados para a realização dessa intervenção ao vivo. A participação dos
educadores se resume a inferências feitas através de emails ou telefone.
5. O sinal da TV Escola é disponibilizado via satélite, que se trata de uma
rede fechada (paga) de transmissão, via internet e via antena parabóli-
ca padrão domiciliar. Os usuários deste último se resumem a 20% da
população. Quando na internet, falamos de 18%. O fato de o sinal da
TV Escola não estar disponível na rede aberta, disponível a 97% da
população, priva a maioria não agraciada pelas tecnologias pagas, de
fazer parte desse contexto de aprendizagem e aproveitar os benefícios
que a programação pode oferecer.
6. Para suprir a falta de acesso ao programa via satélite, devido ao suca-
teamento do parque de antenas instaladas, o Governo tem um projeto
para até o fim de 2010 colocar internet banda larga em todas as esco-
las. Enquanto isso, os programas são gravados diariamente em DVDs
e encaminhados a todas as escolas, que receberam também aparelhos
leitores de DVDs. Apesar de essas mídias auxiliarem na estrutura-
ção de videotecas em cada uma das escolas, os programas já chegam

16  Silva (2003, p. 56-57) destaca que o termo interatividade tem sofrido certa banaliza-
ção, pois tem sido usado para qualificar qualquer coisa, desde estratégias de propa-
ganda de marketing, brinquedos eletrônicos e eletrodomésticos, até computadores e
derivados. Na verdade, em que pese à banalização do termo, esse adjetivo interativo
qualifica a modalidade comunicacional que emergiu no final do séc. XX, apresentando-
se como novo paradigma apto a substituir o modelo de transmissão próprio da mídia
de massa. Assim, é a interatividade o divisor de águas que está redimensionando o
papel de todos os agentes envolvidos com os processos de informação e comunicação,
partindo de uma reforma de base, pois exige a modificação da sala de aula que não raras
vezes é mais unidirecional que a própria mídia de massa.

76
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

“atrasados” e qualquer inferência que pudesse ser feita no momento


da recepção do mesmo, quando da sua primeira exibição, já não pode
mais ocorrer. Sem contar a mão de obra imensa para fazer chegar os
DVDs nas escolas e a não utilização dos mesmos quando em posse
dos gestores. Conforme relato, em algumas escolas, o aparelho leitor
de DVD se encontra “encaixotado” dentro do armário sem sequer ter
sido aberto.
7. O último grande programa de capacitação aos educadores ocorreu em
2002. As pessoas precisam saber da importância e dos benefícios que
essa nova tecnologia pode trazer a metodologia de ensino padrão, para
então, querer utilizar. O incentivo deve ser diário e constante.
8. A rotatividade dos gestores escolares é apontada pelos entrevistados
como o principal problema. Quando estes já incorporaram o “espírito”
de utilização da TV Escola, saem das mesmas, devido as trocas de
liderança, sem repassar o aprendizado para os que estão chegando.

7. CONCLUSÕES
O momento conclusivo desse trabalho não tem a pretensão de apresentar
conclusões definitivas, mas sim, alguns indicadores que encaminhem para novas
investigações na área.
O interesse em estudar os desafios e perspectivas da educação na era tecno-
lógica está baseado na rapidez e facilidade com que as informações são disponi-
bilizadas pelos recursos tecnológicos e meios comunicacionais.
Sendo assim, considerou-se necessária a identificação de importantes ini-
ciativas do Governo Federal tendo em vista contribuir para o aprimoramento da
educação através do uso das tecnologias de informação e comunicação. Neste
sentido, constatou-se que, quando utilizada como ferramenta de apoio, as tecno-
logias podem aprimorar os métodos de ensino e aprendizagem, principalmente
na sala de aula. A geração dos adolescentes virtuais, por seu constante relacio-
namento com as novas mídias, não se contenta mais com a metodologia arcaica,
onde o professor fala e ele ouve, o professor dita, e ele copia. O aluno quer par-
ticipar, que fazer parte, quer ter seu espaço. Talvez, com a disponibilização do
sinal da TV Escola no canal de Educação reservado para o Governo Federal na
Televisão Digital (sinal aberto), essa interação possa ser possível.
A partir disso, foi possível verificar também que a teoria se distancia mui-
to da prática. No caso da TV Escola, apesar de os objetivos delineados para
o programa terem sido os melhores possível, a realidade do funcionamento é
bem diferente. O fator humano infelizmente prejudica o processo, boicota o
uso e priva os alunos de ter contato com novas formas de interação. Como dito
antes, parte dos educadores a vontade de diversificar, de promover a criação

77
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

do conhecimento, aproveitando as competências de cada aluno, fazendo com


que estes compartilhem experiência e se relacionem de forma construtiva,
interativa.
Sendo assim, pode-se inferir que adaptações as metodologias lineares de
ensino são urgentes na era digital, com objetivo maior de tentar diminuir a erra-
dicação escolar e aprimorar a qualidade da aprendizagem. Vale registrar que os
alunos, quando em ambiente agradável, que os estimule a pensar em conjunto,
a debater, que os permita trocar e construir conhecimento de forma prazeirosa,
dificilmente se esvaem da escola.
Recomenda-se para estudos futuros a verificação e análise da mecânica de
funcionamento do programa em outros estados, bem como envolver professores
e gestores no processo de levantamento de dados.

AGRADECIMENTOS
Gostaríamos de fazer um agradecimento especial aos entrevistados do pro-
grama TV Escola, que gentilmente contribuíram para que pudéssemos atualizar
os dados sobre o uso do sistema, além de nos passarem uma visão geral deste
projeto proposto pelo Governo Federal. Estes, apesar de todas as dificuldades
que encontram, são pessoas que acreditam que podemos ter um futuro melhor se
investirmos na educação.
Gostaríamos de agradecer também a CAPES Brasil, por financiar nossas
pesquisas.

REFERÊNCIAS
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Paulo: Cortez, 1988.
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seed/arquivos/pdf/tvescola/projetoseacoes/unirede.pdf>. Acesso em: 02 jun. 2009.
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78
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

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MORAN, José Manuel. O Uso das Novas Tecnologias da Informação e da Comunicação
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Bookman, 2001.

79
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

80
SISTEMA FEDERAL DE EDUCAÇÃO
SUPERIOR NA MODALIDADE
A DISTÂNCIA: O PAPEL DO
GOVERNO ELETRÔNICO

Edemir Costa
Universidade Federal de Santa Catarina
Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do
Conhecimento
ecosta@ccs.ufsc.br

Aires José Rover


Universidade Federal de Santa Catarina
Professor do Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento
Aires_egc@ufsc.br

Silvio Serafim da Luz Filho


Universidade Federal de Santa Catarina
Professor do Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento
silvioserafim@bol.com.br

Fernando José Spanhol


Universidade Federal de Santa Catarina
Professor do Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento
spanhol@led.ufsc.br

RESUMO

Seguindo a política de Governo Eletrônico, o Ministério da Educação instituiu


o e-MEC com o objetivo de dinamizar e dar transparência aos processos de
regulação da educação superior no Brasil. Com sua implantação, a tramitação
dos processos regulatórios de instituições e cursos de graduação e sequenciais
passaram a ser feitos exclusivamente por meio eletrônico no sistema e-MEC. Neste
sentido o presente artigo procura mostrar a aplicação do sistema na modalidade
da Educação a Distância onde, em razão de sua complexidade, as vantagens foram
significativas tanto para o processo de credenciamento das instituições, quanto para
sua aplicação e desenvolvimento. Com a utilização das modernas tecnologias de
informação e comunicação por meio do e-MEC as instituições, além de contarem
com um processo de credenciamento dinâmico e confiável, passaram a ser mais bem
avaliadas no desenvolvimento de seus cursos à distância, permitindo a existência de
uma expanção ordenada e legal, de forma a garantir a democratização da educação
e a consequente formação responsável do cidadão, ampliando a possibilidade de sua
inclusão social.

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Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

PALAVRAS-CHAVE

Governo Eletrônico na Educação Superior. Governo Eletrônico. Educação Superior a


Distância.

1. INTRODUÇÃO
A modalidade de ensino aplicada através da educação a distância corres-
ponde apenas a uma das ações do Estado que se utiliza do Governo Eletrônico.
A idéia de Governo Eletrônico, embora associada ao uso de tecnologia de
informação no setor público, ultrapassa essa dimensão. Em alguns casos está
vinculada à modernização da administração pública e à melhoria da eficiência
dos processos operacionais e administrativos dos governos. (DINIZ, 2009).
Segundo o Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão e o Ministério
da Ciência e Tecnologia, o desenvolvimento de programas de Governo Eletrônico
tem como princípio a utilização das modernas tecnologias de informação e co-
municação (TICs) para democratizar o acesso à informação, ampliar discussões
e dinamizar a prestação de serviços públicos com foco na eficiência e efetividade
das funções governamentais.
De acordo com Sanchez (2003), “o advento e utilização de novas tecnolo-
gias da informação sintetizada na chamada era digital, está modificando a forma
de produzir, de comunicar-se e de relacionar-se entre os agentes sociais”.
O programa de Governo Eletrônico brasileiro visa à transformação das rela-
ções do governo com os cidadãos, empresas e também entre os órgãos do próprio
governo, de forma a aprimorar a qualidade dos serviços prestados, promover a
interação com empresas e indústrias, e fortalecer a participação cidadã por meio
do acesso à informação e a uma administração mais eficiente.
Os níveis de relacionamento sustentados pelo e-gov ressaltam em si mes-
mos categorias de relacionamento entre o governo e a sociedade como um todo,
as quais são caracterizadas por interações do tipo:
a) G2C – Governo para Cidadão: refere-se às iniciativas relacionadas ao
governo eletrônico voltadas para a promoção de informações e servi-
ços aos cidadãos, em que é promovida uma interação entre ambos, com
consequente inclusão digital.
b) G2G – Governo para Governo: destinado às ações na área do governo
eletrônico voltadas para a qualidade da integração entre os serviços
governamentais, envolvendo ações de reestruturação e modernização
dos processos e rotinas do próprio governo.
c) G2B – Governo para Negócios: correspondente às ações no campo do
governo eletrônico destinadas ao provimento de informnações e servi-
ços para investimentos e negócios.

82
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

Independentemente do tipo de interação promovido pelo sistema e-gov


com a sociedade, podemos destacar alguns benefícios importantes, tais como
a desburocratização da administração pública, a integração de soluções, a agi-
lidade dos processos, a segurança, a redução de custo e a transparência, entre
outros.
Com base nos princípios dos programas de Governo Eletrônico descritos
acima, a modalidade de educação a distância corresponde a uma transformação
das relações do governo com os cidadãos no acesso à informação, bem como
do governo com o próprio governo, em que o conjunto de práticas visam à mo-
dernização da gestão pública, caracterizando-se pela interação com diferentes
agentes governamentais e com governos das diferentes esferas administrativas,
permitindo o processamento de transações para o desenvolvimento de suas ati-
vidades de forma colaborativa.
Além de possibilitar a ampliação do acesso à educação, essa transforma-
ção se tornou ainda mais necessária diante das dificuldades para a amplia-
ção das estruturas físicas e dos recursos humanos imprescindíveis à educação
presencial.
A modalidade de ensino/aprendizagem a distância vem sendo aplicada em
diversos países desde meados do século XIX.
No Brasil, as considerações iniciais estão previstas no artigo 80 da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação - Lei no 9.394/1996 e, nos últimos anos, essa
modalidade de ensino passou a ter uma atenção especial por parte do governo
com o objetivo de permitir a expansão, democratização e interiorização da
educação.
De acordo com o Decreto no 5.622, de 19 de dezembro de 2005, que regu-
lamentou o artigo 80 da LDB, educação a distância é a modalidade educacional
na qual a mediação didático-pedagógica nos processos de ensino/aprendizagem
ocorre com a utilização de meios e tecnologias de informação e comunicação,
com estudantes e professores desenvolvendo atividades educativas em lugares e
tempos diversos.
Para Neder (1999),
“A estrutura da EaD modifica o esquema de referência associado à pre‑
sença do professor e do estudante uma vez que compõe o ato pedagógico
em dois momentos e dois lugares: e ensino é mediatizado, a aprendizagem
resulta do trabalho do estudante, a reação do aluno face ao conteúdo vem
indiretamente ao docente, através dos tutores e a interação em sala de
aula é em grande parte reduzida”.
A complexidade na elaboração de seus projetos tem exigido a participação
de um grupo de especialistas de diferentes áreas do conhecimento tanto pedagó-
gico quanto tecnológico, além de um suporte jurídico consistente para permitir
alcançar seus objetivos.

83
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

No entanto, o avanço na área tecnológica nos últimos anos parece ser o


fator que mais tem contribuído para essa mudança de comportamento do go-
verno com relação à democratização da educação brasileira.
Sob a ótica dessa abordagem, enfocaremos no artigo a educação superior
no Brasil na modalidade a distância, e a importância das ações de Governo
Eletrônico aplicadas através do Sistema e-MEC, como fatores de aprimora-
mento do processo da Educação a Distância.

2. CORPO DO ARTIGO

2.1 Modalidade de Educação a Distância (EaD)


Cada vez mais, a possibilidade de melhoria das condições sociais da po-
pulação brasileira está diretamente relacionada com a capacidade de acessar e
processar conhecimentos.
O acesso às redes de informação e comunicação tem sido fundamental para
a integração social em todos os segmentos, incluindo-se o da educação, indepen-
dentemente da sua modalidade.
A educação a distância teve seu início no mundo por volta de 1830, com
a experiência da Suécia num curso de Contabilidade. Contudo, como ação
institucionalizada, seu início deu-se apenas a partir da metade do século
XIX.
Naquele período, os meios utilizados limitavam-se aos serviços postais,
considerados à época eficazes e acessíveis, permitindo aos alunos uma forma
de ensino/aprendizagem diferente da tradicional. O início dessa modalidade de
ensino ocorreu por volta de 1850.
De acordo com Villardi e Oliveira (2000), o primeiro registro de expe-
riências significativas de educação a distância no Brasil remonta à fundação
do Instituto Rádio-Monitor, em 1939, e aos cursos por correspondência, de
qualidade discutível, oferecidos até os anos 1970 pelo Instituto Universal
Brasileiro.
Somente em 1995 o Governo Federal cria a Secretaria de Educação
a Distância, a qual passou a atuar em duas grandes frentes: o progra-
ma denominado “TV Escola” e o Programa Nacional de Informatização
(PROINFO).
Apesar da solução de continuidade, com as primeiras iniciativas de im-
plantação da modalidade de educação a distância no Brasil, a criação de uma
Secretaria específica na área trouxe consigo ações efetivas de interação do
ensino com os programas de Governo Eletrônico.

84
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

É importante lembrar que a criação da Secretaria de Educação a Distância


deu-se na mesma época da implantação da Rede de Alcance Mundial no Brasil
(Web).
Em 1996, com a Lei no 9394/96 (LDB), pela primeira vez é previsto le-
galmente o ensino na modalidade a distância para todos os níveis de educação
continuada de jovens e adultos. A referida lei recomenda, ainda, a adoção de
programas de educação a distância para a qualificação dos docentes que atuam
na educação básica sem formação superior.
A legislação busca oferecer respostas adequadas às demandas sociais e eco-
nômicas, além de promover a articulação entre dois aspectos que, até então, se
colocavam em constante conflito: a formação geral e a formação profissional.
Apesar disso, as dificuldades para a implantação dos programas de educa-
ção a distância eram consideráveis. Os programas eram descontínuos, sem ava-
liação adequada dos resultados e, apesar da existência da Secretaria de Educação
a Distância, eram organizados de forma desvinculada das reais necessidades do
país. Por outro lado, a pouca divulgação dada aos cursos dificultava-lhes atingir
uma participação social abrangente.
As demandas da sociedade contemporânea exigem uma formação que ar-
ticule com organicidade a competência científica e técnica, sem perder a iden-
tidade e a postura. Novas tecnologias devem ser compreendidas como elemen-
tos mediadores para a construção de uma nova representação da sociedade.
(MARTINS, 2006).
Segundo o histórico publicado pelo Ministério do Planejamento, Orçamento
e Gestão, em 2000 o governo brasileiro lançou as bases para a criação de uma so-
ciedade digital através da implantação de um Grupo de Trabalho Interministerial
encarregado de examinar e propor políticas, diretrizes e normas relacionadas
com as novas formas eletrônicas de interação. A partir dessas ações, a educação
a distância deixou de ser apenas uma alternativa ao ensino presencial para se
tornar um importante instrumento na educação da população brasileira.
Dados do Anuário Brasileiro Estatístico de Educação Aberta e a Distância
(ABRAEAD) dão conta que, em 2005, mais de 1,2 milhão de pessoas estudaram
a distância.
Nesse mesmo ano foram levantados dados estatísticos que registram um
número de 217 instituições atuando na modalidade de educação a distância de
forma autorizada e credenciada no Sistema de Ensino. Esse total representa um
crescimento de 30,7% em relação ao número de instituições credenciadas no
ano anterior.
Quanto ao número de alunos, o crescimento foi ainda mais expressivo. Em
2004 havia 309.957 alunos matriculados em cursos a distância, passando em
2005 para 504.204 alunos, o que representa um aumento de 62,6%.

85
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

Mais recentemente, com a implantação da Universidade Aberta do Brasil


(UAB), responsável pelo credenciamento das instituições de ensino federal,
estadual e municipal no Ministério da Educação, para o desenvolvimento de
cursos a distância, houve um avanço significativo dessa modalidade de ensino
em nível superior. Atualmente estão credenciadas 88 instituições, para um total
de 700 cursos que estão sendo desenvolvidos em 646 polos de ensino em todo
o Brasil.

2.2 Educação Superior na Modalidade a distância no


Brasil
De acordo com Moore e Kearsley (2007), a criação dos cursos de educa-
ção a distância deve seguir um modelo de Sistema de Instrução - Instructional
Systems Design (ISD).
Nesse modelo, aplicado também no Brasil, a elaboração dos cursos a serem
desenvolvidos tanto pelas universidades públicas quanto pelas particulares pas-
sa pelos estágios de Análise, Elaboração, Desenvolvimento, Implementação e
Avaliação.
Cabe às instituições interessadas em oferecer cursos de educação a distân-
cia a análise de viabilidade do curso, seu planejamento e seu desenvolvimento,
ou seja, a elaboração do projeto pedagógico a ser implementado.
Somente após essas etapas, é que a instituição interessada submete o projeto
ao Ministério da Educação para obter a autorização para o funcionamento.
Segundo Almeida (2001), para os professores que atuam na Educação a
Distância, participar de um ambiente virtual significa atuar nesse ambiente, ex-
pressar pensamentos, tomar decisões, dialogar, trocar informações e experiên-
cias e produzir conhecimentos
A autorização ou credenciamento da instituição de ensino superior interes-
sada na implantação de cursos de educação a distância dá-se de forma eletrôni-
ca, valendo-se do sistema de Governo Eletrônico.
Entende-se por credenciamento o certificado que atesta que uma institui-
ção de ensino ou curso cumpre um determinado padrão acadêmico. Segundo
Ferreira (1999), credenciar é conferir poderes ou crédito, dar direito ou fazer
merecedor, habilitar, capacitar e/ou qualificar.
Assim, as instituições de ensino superior no Brasil, públicas e privadas, são
submetidas a diferentes procedimentos de criação e de credenciamento.
O credenciamento concedido pelo poder público, conforme o estabelecido
na Lei no 9.394/1996, é temporário, havendo a necessidade do recredenciamento
após as avaliações realizadas no contexto do Sistema Nacional de Avaliação da
Educação Superior (SINAES).

86
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

O SINAES prevê que a instituição de ensino, como um todo, deverá reali-


zar o processo de avaliação interna, para depois ser submetida a uma avaliação
externa conduzida pelo Ministério da Educação.
O processo de credenciamento das instituições privadas é conduzido
pela Secretaria de Educação Superior (SESu), pela Secretaria de Educação
Profissional e Tecnológica (SETEC), e pelo Conselho Nacional de Educação
(CNE), do Ministério da Educação.
As instituições estaduais e municipais estão subordinadas aos Sistemas
Estaduais de Educação Superior, no que diz respeito ao credenciamento e re-
credenciamento, autorização e reconhecimento e renovação de reconhecimento,
embora devam observar os dispositivos da LDB, assim como as diretrizes curri-
culares nacionais dos cursos superiores.
Tratando-se da educação a distância, o ato de credenciamento considera
como abrangência para atuação da instituição de ensino superior nessa modali-
dade a sede da instituição, acrescida dos endereços dos pólos de apoio presen-
cial, mediante avaliação.
A instituição pode requerer a ampliação da abrangência de atuação, por meio
do aumento do número de polos, na forma de aditamento ao ato de credenciamento.
Esse pedido, no entanto, somente poderá ser efetuado após o reconhecimen-
to do primeiro curso a distância da instituição, exceto na hipótese de credencia-
mento para educação a distância limitado à oferta de pós-graduação lato sensu.
Segundo informações contidas na página da Secretaria de Educação
Superior do MEC, universidades e centros universitários que são credenciados
para oferta de cursos superiores na modalidade a distância podem, de acordo
com o Parecer CES/CNE 301/2003, no uso de sua autonomia, criar novos cursos
superiores sem necessidade de autorização do MEC, estando submetidos apenas
aos processos de reconhecimento (BRASIL, 2007c).
Para obtenção do credenciamento no Ministério da Educação, o processo é
analisado, em primeiro lugar, na Secretaria de Educação Superior (SESu), por
uma comissão de especialistas na área do curso pretendido e em educação a
distância, para então ser encaminhado ao Conselho Nacional de Educação, se-
guindo o mesmo trâmite aplicável aos cursos presenciais.
Visando agilizar o trâmite dos processos de credenciamento dos cursos no
MEC e, ao mesmo tempo, dar-lhes transparência, o Ministério da Educação,
através da Portaria no 040/07, instituiu o e-MEC.

2.3 O Governo Eletrônico no Brasil


Dentro de uma perspectiva histórica e temporal, pode-se afirmar que
a expressão Governo Eletrônico ou e-Gov começou a ser utilizada com mais

87
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

frequência após a disseminação e consolidação da idéia de comércio eletrôni-


co (e-commerce), na segunda metade da década passada (Diniz, 2000; Lenk e
Traunmüller, 2002; Diniz, 2009) e, a partir daí, ficou completamente associada
ao uso que se faz das TICs nos diversos níveis de governo.
As ações do Grupo de Trabalho em Tecnologia da Informação (GTTI), for-
malizado através da Portaria no 23 da Casa Civil da Presidência da República,
coadunaram-se com as metas do Programa Sociedade da Informação, coordena-
do pelo Ministério da Ciência e Tecnologia.
Por orientação do Governo, o trabalho do GTTI concentrou esforços em três
linhas de ação do Programa Sociedade da Informação:
• Universalização de serviços
• Governo ao alcance de todos
• Infraestrutura avançada.
Em julho de 2000, o GTTI propôs uma nova política de interação eletrônica
do governo com a sociedade, apresentando um relatório preliminar contendo um
diagnóstico da situação da infraestrutura e serviços do governo federal, as apli-
cações existentes e desejadas e a situação da legislação de interação eletrônica.
Assim, foi estabelecido o Comitê Executivo de Governo Eletrônico, con-
siderado um dos grandes marcos do compromisso do Conselho de Governo em
prol da evolução da prestação de serviços e informações ao cidadão.
O Comitê Executivo de Governo Eletrônico (CEGE) tem o objetivo de for-
mular políticas, estabelecer diretrizes, coordenar e articular as ações de implan-
tação do Governo Eletrônico e, atendendo a um plano de metas, apresentou o
documento “Política de Governo Eletrônico”.
Em outubro de 2003, a Presidência da República criou, através de decreto,
oito Comitês Técnicos de Governo Eletrônico, a saber:
• Implementação do Software Livre;
• Inclusão Digital;
• Integração de Sistemas;
• Sistemas Legados e Licenças de Software;
• Gestão de Sítios e Serviços On-line;
• Infraestrutura de Rede;
• Governo para Governo - G2G, e
• Gestão de Conhecimentos e Informação Estratégica.
Essa estrutura dos Comitês Técnicos de Governo Eletrônico, através de
ações inter-ministeriais, permitiu que as dificuldades existentes no planejamen-
to dos cursos a serem criados e credenciados pelo governo fossem minimizadas.
Atualmente o aporte tecnológico de informação e comunicação (TIC)
entre os vários setores do governo e as iniciativas setoriais definidas no em-
prego das ferramentas de governo eletrônico a favor da melhoria da máquina

88
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

do Estado pressupõem a construção e otmização de infraestruturas capazes


de aproximar o cidadão do governo, dando-lhe qualidade no exercício da
cidadania.
Isso significa produzir e disponibilizar conteúdos que possam dar melhores
condições à sociedade para o exercício do direito à informação, credibilidade e
transparência.
Conforme descrito na introdução deste trabalho, benefícios como a des-
burocratização da administração pública, a integração de soluções, a agilidade
dos processos, a segurança, a redução de custo e a transparência, são resultados
esperados com o emprego dessa nova forma de governança.

2.4 O Sistema e-MEC


O e-MEC é um sistema eletrônico de fluxo de trabalho e gerenciamento
de informações relativas aos processos de regulação da educação superior no
Sistema Federal de Educação.
Com a implantação desse sistema, a tramitação dos processos regulató-
rios de instituições e cursos de graduação e sequenciais, do Sistema Federal de
Educação Superior, passou a ser feita exclusivamente em meio eletrônico, no
sistema e-MEC.
Nele foram observadas as disposições contidas na Portaria no 040/07 e a
legislação federal do processo administrativo, em especial os princípios da fi-
nalidade, motivação, razoabilidade, moralidade, interesse público, economia e
celeridade processual e eficiência.
Para as instituições públicas a ferramenta exige apenas o reconhecimento e
a renovação das graduações.
O acesso ao sistema para inserção de dados pelas instituições, pelo Conselho
Nacional de Saúde e pelos conselhos nacionais de regulamentação profissional,
enunciados nos art. 28, 36 e 37, do Decreto no 5.773/06, bem como por quaisquer
outros agentes habilitados, dar-se-á pela atribuição de chave de identificação
e senha de acesso, pessoal e intransferível, mediante a celebração de termo de
compromisso.
Para a oferta de cursos na modalidade a distância, o credenciamento deve-
rá ser requerido por instituições de ensino superior já credenciadas no Sistema
Federal de Educação, ou nos sistemas estaduais e do Distrito Federal, confor-
me determina o artigo 80 da Lei no 9.394/96, e o art. 9º do Decreto no 5.622/05,
de acordo com o que prevê o art. 44, da Portaria Normativa que instituiu o
e-MEC.
Esse artigo estabelece as normas do credenciamento para a educação a
distância em seus parágrafos:

89
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

Parágrafo 1º – O pedido de credenciamento para EaD observará,


no que couberem, as disposições processuais que regem o pedido de
credenciamento.
Parágrafo 2º – O pedido de credenciamento para EAD tramitará em
conjunto com o pedido de autorização de pelo menos um curso superior
na modalidade à distância, nos termos do art. 67 do Decreto no 5.773/06.
Parágrafo 3º – O credenciamento para EaD tramitará em conjunto com o
pedido de recredenciamento de instituições de educação superior.
Parágrafo 4º – O credenciamento de instituições para oferta de cursos e
programas de mestrado e doutorado na modalidade à distância se sujeita
à competência normativa da CAPES e à expedição de ato autorizativo
específico. (BRASIL, 2007b).
O pedido de credenciamento para a educação a distância, segundo o art. 46
da Portaria 040/07, será instruído de forma a comprovar a existência de estrutura
física e tecnológica e recursos humanos adequados e suficientes à oferta da edu-
cação superior adistância, conforme requisitos fixados no Decreto no 5.622/05, e
nos referenciais de qualidade próprios, com os seguintes documentos:
I – ato autorizativo de credenciamento para educação superior presencial;
II – comprovante eletrônico de pagamento da taxa de avaliação, gerada
pelo sistema, considerando a sede e os pólos de apoio presencial, exceto
para instituições de educação superior públicas;
III – formulário eletrônico de PDI (Planejamento do Desenvolvimento
Institucional), no qual deverão ser informados os pólos de apoio presen‑
cial, acompanhados dos elementos necessários à comprovação da exis‑
tência de estrutura física, tecnológica e de recursos humanos adequados
e suficientes à oferta dos cursos na modalidade a distância, conforme os
requisitos fixados pelo Decreto no 5.622/05, e os referenciais de qualidade
próprios. (BRASIL, 2007b).
Por meio de um cadastro, tanto a instituição quanto o Ministério da
Educação movimentam o processo através de uma assinatura digital; ou seja,
é possível consultar o andamento do processo e saber em que fase e setor ou
departamento do MEC ele se encontra.
O sistema e-MEC está dividido em dois menus principais:
–– Credenciamento;
–– Autorização do Curso.
Depois de preencher os dados da mantenedora e da mantida, o representante
da instituição acessa o menu “Credenciamento” cuja tela principal é a do PDI,
onde serão solicitadas as seguintes informações:
–– perfil institucional;
–– projeto pedagógico;

90
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

–– implantação e desenvolvimento da instituição (programa de abertura


do curso de graduação e seqüencial e de pós-graduação e extensão);
–– organização didático-pedagógica da instituição;
–– perfil do corpo docente;
–– organização administrativa da instituição;
–– infraestrutura e instalações acadêmicas;
–– demonstrativo de capacidade e sustentabilidade financeiras;
–– texto do regimento/estatuto;
–– situação legal;
–– regularidade fiscal;
–– demonstração do patrimônio.
O outro menu principal do e-MEC corresponde à “Autorização do Curso”,
cuja tela principal é a do Plano de Projeto do Curso (PPC), onde são requeridas
as informações:
–– justificativa da oferta do curso;
–– perfil do egresso;
–– representação gráfica de um perfil de formação;
–– forma de acesso ao curso;
–– sistema de avaliação do projeto do curso;
–– sistema de avaliação do processo de ensino/aprendizagem;
–– atividades de conclusão do curso;
–– atividades complementares;
–– estágio curricular;
–– ato de credenciamento da IES.
Para que um pedido de credenciamento EaD seja efetivado, é necessário o
pedido de, pelo menos, um curso de Autorização EaD.
A Figura 1 mostra a página e-MEC do Ministério da Educação utilizada
para a tramitação dos processos regulatórios das instituições e cursos de gradu-
ação e sequenciais, do Sistema Federal de Educação Superior.
O pedido de credenciamento e recredenciamento da instituição de educa-
ção superior e de autorização, renovação e reconhecimento de cursos, além do
pedido de modificação de processo, é feito eletronicamente através do e-MEC.
Para acessá-lo é necessário o uso de uma senha e o CPF da pessoa autorizada
pela instituição pleiteante.
Na página inicial do sistema são observados vários ícones que, ao serem cli-
cados, permitem orientações diversas. O primeiro deles corresponde ao “suporte”,
no qual consta o número do telefone de apoio, o endereço eletrônico e o horário de
funcionamento. Ao lado, encontra-se o ícone “perguntas frequentes”, onde existe
um total de 66 perguntas e respostas, consideradas mais importantes e necessárias
para a correta execução e acompanhamento do processo. Mais à direita encontra-
se o ícone “legislação”, ferramenta pela qual é possível ter acesso a toda a legisla-
ção pertinente ao processo. Ao lado situa-se o ícone “manuais”, através do qual o

91
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

usuário pode obter todas as orientações de uso e navegação do sistema. Por último,
à direita, encontra-se o ícone “Orientações Gerais”, que complementa as informa-
ções necessárias, incluindo o esclarecimento sobre o que é o e-MEC.

Figura 1. Sistema eletrônico de fluxo de trabalho e gerenciamento de informações, relativos


aos processos de regulação da educação superior no Sistema Federal de Educação.

Fonte: http://emec.mec.gov.br/

Após acessar o sistema, o usuário irá entrar no menu “credenciamento” ou “au-


torização curso”, seguindo os passos previstos anteriormente no artigo. Por fim, todo
o acompanhamento do trâmite do processo também se dá através dessa ferramenta.

3. CONCLUSÃO
A modalidade de educação a distância é, sem dúvida, uma das formas de
promover a expansão da educação no Brasil.
Com esse objetivo, o Ministério da Educação vem desenvolvendo ações
para que a educação possa democratizar-se, levando o conhecimento àquele ci-
dadão que não tem oportunidade de frequentar cursos e programas de aprendi-
zagem no modelo presencial.
É preciso, no entanto, que essa democratização seja feita de forma respon-
sável, eficiente e com compromisso institucional, a fim de garantir a adequada
formação do cidadão.

92
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

O documento “Referenciais de Qualidade para Educação Superior a


Distância” elaborado pela Secretaria de Educação a Distância do MEC dá mos-
tras da preocupação do governo com a qualidade do ensino através dessa mo-
dalidade. Nele, são definidos princípios, diretrizes e critérios a serem utilizados
como referência pelas instituições que ofereçam cursos a distância.
Nos últimos anos a rápida expansão da modalidade de educação a distância,
cuja abrangência de atuação da instituição inclui, além da sede, os polosde apoio
presencial, obrigou o governo a criar mecanismos mais eficientes de controle e
agilidade.
Nesse sentido, o Ministério da Educação instituiu o sistema e-MEC através
da Portaria Normativa no 040/07, visando não só agilizar o trâmite crescente de
processos de credenciamento, mas também se preocupando em dar-lhes trans-
parência. Nele serão observadas as disposições contidas na Portaria e na legis-
lação federal do processo administrativo, com destaque para os princípios da
finalidade, motivação, razoabilidade, moralidade, interesse público, economia e
celeridade processual e eficiência.
Como vimos anteriormente, o Programa de Governo Eletrônico tem como
objetivo a transformação nas relações do governo com o cidadão, empresas e
também entre os próprios órgãos do governo, de forma a aprimorar a qualidade
dos serviços prestados. Desse modo, é preciso confiar na modalidade de educa-
ção a distância como uma forma eficiente para a formação do cidadão e acreditar
que se trata essa modalidade de ensino/aprendizagem, de um investimento na
inclusão social, com consequentes reflexos favoráveis à economia do país.
Portanto, é possível considerar que o sistema e-MEC do Ministério da
Educação, como parte do programa brasileiro de governo eletrônico, contribui
com o aprimoramento dos cursos na modalidade de educação a distância, forta-
lecendo a participação cidadã por meio do acesso à informação, garantindo uma
formação responsável do cidadão brasileiro.

REFERÊNCIAS
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ed. Instituto Monitor, São Paulo, SP.
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promulgada em 5 de outubro de 1988. Página consultada a 2 de junho de 2009.
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<http://portal.mec.gov.br/setec/arquivos/pdf1/proejalei9394.pdf>.
BRASIL. Ministério da Educação. Portaria Nº 1.047 de 7 de novembro de 2007.
Diretrizes para a elaboração, pelo INEP, dos instrumentos de avaliação para

93
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

credenciamento de IES para a oferta de cursos superiores na modalidade a


distância. 2007a. Página consultada a 5 de junho de 2009. <http://portal.mec.gov.br/
seed/arquivos/pdf/legislacao/dou_inep1-11.pdf>.
BRASIL. Ministério da Educação. Portaria Normativa nº 40, de 12 de dezembro de
2007. Institui o e-MEC, sistema eletrônico de fluxo de trabalho e gerenciamento de
informações relativas aos processos de regulação da educação superior no sistema
federal de educação.2007b. Página consultada a 5 de junho de 2009. <http://www2.
mec.gov.br/sapiens/portarias/port40.pdf>.
BRASIL. Ministério da Educação. Portaria nº 1.047, de 7 de novembro de 2007.
Diretrizes para a elaboração, pelo INEP, dos instrumentos de avaliação para
credenciamento de IES para a oferta de cursos superiores na modalidade à
distância. 2007c. Página consultada a 05 de junho de 2009. <http://portal.mec.gov.
br/seed/arquivos/pdf/legislacao/dou_inep1-11.pdf>.
BRASIL. Ministério da Educação. Referenciais de qualidade para educação superior a
distância, agosto de 2007. 2007d. Página consultada a 6 de junho de 2009. <http://
portal.mec.gov.br/sesu/arquivos/pdf/referenciaisqualidadeead.pdf>.
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gerenciamento de informações relativas aos processos de regulação da educação
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DINIZ, E.H. et al. O governo eletrônico no Brasil: perspectiva histórica a partir de um
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1.FERREIRA, A.B.H. (1999). Novo Aurélio Século XXI: o dicionário da língua
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profissionalização: desafios. Revista de Administração Educacional, Recife, Pe. v.
2, n. 6, p. 37-47.

94
CONTRIBUIÇÕES DAS TECNOLOGIAS
KDD E DW COMO FERRAMENTAS
DE GESTÃO DO CONHECIMENTO
APLICADAS AO PROCESSO DE
COMPRAS DO GOVERNO ELETRÔNICO

Isamir Machado de Carvalho


Departamento de Engenharia e Gestão do Conhecimento - Universidade Federal de
Santa Catarina
isamir.carvalho@serpro.gov.br

Denise L.C. Muñhoz


Departamento de Engenharia e Gestão do Conhecimento - Universidade Federal de
Santa Catarina
deniselcm@gmail.com

Marcus Vinicius A. S. Ferreira


Departamento de Engenharia e Gestão do Conhecimento - Universidade Federal de
Santa Catarina
marcus.ferreira@unisul.br

Paloma Maria Santos


Departamento de Engenharia e Gestão do Conhecimento - Universidade Federal de
Santa Catarina
pmariasantos@yahoo.com.br

Aires José Rover


Departamento de Direito e de Engenharia e Gestão do Conhecimento - Universidade
Federal de Santa Catarina
aires.rover@gmail.com

Francisco Antônio Pereira Fialho


Departamento de Engenharia e Gestão do Conhecimento - Universidade Federal de
Santa Catarina
fapfialho@gmail.com

RESUMO

O objetivo deste estudo é descrever as contribuições do uso das tecnologias Knowledge


Discovery in Databases - KDD e Data Warehouse - DW como ferramentas de gestão
do conhecimento aplicadas ao processo de compras do governo eletrônico. Explica-
se a gestão do conhecimento com foco em sua importância para a área pública e nas
tecnologias adotadas. Adicionalmente, o processo de compras governamentais é abordado

95
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

bem como o uso de sistemas tecnológicos e seu funcionamento no governo eletrônico.


Utilizou-se a estratégia de estudo de caso com métodos qualitativos para levantamento e
análise dos dados, por meio de análise de documentos e entrevistas semi-estruturadas. Foi
possível constatar que no período de 2004 a 2009 houve evolução no uso de tecnologias
cada vez mais refinadas. A partir das análises deste estudo observam-se evidências de
que tecnologias de inteligência têm apoiado a tomada de decisão e contribuído para a
transparência e a economicidade nas compras no âmbito do governo eletrônico no Brasil.

PALAVRAS-CHAVE

Governo Eletrônico, Compras Governamentais, Data Warehouse – DW, Knowledge


Discovery in Databases – KDD, Data Mining, Gestão do Conhecimento.

1. INTRODUÇÃO
Um dos pontos de destaque da economia contemporânea tem sido o novo
recurso: o conhecimento. Nas organizações da área pública e da área privada
várias propostas de formas de gestão e tecnologias estão em constante discus-
são. Em especial, nas organizações públicas os mais importantes desafios estão
na capacidade dos governos conseguirem rápida adaptação aos novos cenários,
com o uso de tecnologias emergentes, e resposta de forma eficaz aos novos
desafios de melhor servir aos cidadãos (SOARES JR e QUINTELLA, 2002).
Assim, a motivação deste estudo teve base na dúvida quanto ao efetivo uso de
tecnologias que envolvessem a descoberta de conhecimento para a melhoria dos
serviços públicos.
Este artigo tem por objetivo descrever as contribuições do uso de tecnologias
como ferramentas de gestão do conhecimento aplicadas ao processo de compras do
governo eletrônico. Para a identificação das contribuições foi buscada inicialmen-
te fundamentação na literatura a respeito dos conceitos relativos a gestão do co-
nhecimento, ao uso de ferramentas tecnológicas, aos conceitos de governo eletrô-
nico aplicados aos processos de compras, inclusive a regulamentação brasileira de
compras governamentais. Em seguida foram analisadas as experiências do uso das
tecnologias Knowledge Discovery in Databases - KDD e Data Warehouse - DW,
no caso o modelo de compras governamentais brasileiro – o portal ComprasNet,
permitindo assim o vislumbre de algumas conclusões e recomendações.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Gestão do Conhecimento


Muitas explicações a respeito da gestão do conhecimento podem ser encon-
tradas na literatura, no entanto poucos autores a definem. Assim, a gestão do

96
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

conhecimento pode ser entendida, segundo Drucker (1998), como “um modo ou
sistema usado para capturar, analisar, interpretar, organizar, mapear e difundir a
informação, para que ela seja útil e esteja disponível como conhecimento”. Para
Santos et al (2001) a gestão do conhecimento é o processo sistemático de identi-
ficação, criação, renovação e aplicação dos conhecimentos que são estratégicos
na vida de uma organização. Este autor defende que a administração dos ativos
de conhecimento das organizações permite a elas saberem o que sabem, condu-
zindo-as a tomada de decisão com relação a melhor estratégia a ser adotada em
relação aos seus clientes, concorrentes e ciclos de vida de produtos e serviços;
a saberem identificar as fontes de informações; a saberem administrar dados e
informações; e a gerenciarem seus conhecimentos. Trata-se da prática de agre-
gar valor à informação e de distribuí-la. Por sua vez, Terra (2000) define gestão
do conhecimento como  “a capacidade das empresas em utilizarem e combina-
rem as várias fontes e tipos de conhecimento organizacional para desenvolve-
rem competências específicas e capacidade inovadora, que se traduzem, per-
manentemente, em novos produtos, processos, sistemas gerenciais e liderança
de mercado”. O autor sugere que a gestão do conhecimento requer a criação
de novos modelos organizacionais (estruturas, processos, sistemas gerenciais);
novas posições quanto ao papel da capacidade intelectual de cada funcionário;
e uma efetiva liderança disposta a enfrentar as barreiras existentes ao processo
de transformação.  
Conforme Santanna (2006), a gestão do conhecimento, no âmbito do
Programa Brasileiro de Governo Eletrônico, é considerada um instrumento es-
tratégico de articulação e gestão das políticas públicas. Dada a importância do
tema, foi criado o Comitê Técnico de Gestão do Conhecimento e Informação
Estratégica (CT-GCIE), compondo o Comitê Executivo de Governo Eletrônico.
A missão deste comitê técnico é promover a gestão do conhecimento no âmbito
do governo eletrônico na Administração Pública. Parte do pressuposto que o
capital estratégico do Estado reside na experiência dos gestores públicos, o qual
deve ser compartilhado em prol da sociedade brasileira. Para tanto, o comitê téc-
nico atua no sentido de promover o uso dos princípios, conceitos, metodologias,
ferramentas e práticas de gestão do conhecimento na administração pública.
Assim, no âmbito do governo eletrônico, a gestão do conhecimento é compre-
endida como “um conjunto de processos sistematizados, articulados e intencio-
nais, capazes de assegurar a habilidade de criar, coletar, organizar, transferir e
compartilhar conhecimentos estratégicos que podem servir para a tomada de
decisões, para a gestão de políticas públicas e para a inclusão do cidadão com
produtor de conhecimento coletivo”. O autor explica que a gestão do conheci-
mento é fundamental para a difusão das boas práticas do Governo Eletrônico,
pois permite aos funcionários públicos compartilharem práticas melhorando a
relação entre os órgãos públicos, contribuindo para um governo mais transpa-
rente entre si e para a sociedade. Dentre os exemplos de soluções tecnológicas
públicas desenvolvidas por meio de compartilhamento de boas práticas podem
ser destacados: CACIC (Configurador Automático e Coletor de Informações

97
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

Computacionais); Guia de Migração para Software Livre; e Pregão Eletrônico,


disponível no ComprasNet, portal do processo de compras governamentais do
governo brasileiro.  

2.2 Ferramentas de gestão de conhecimento 


Estudo realizado em 2005 pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
– IPEA intitulado “Gestão do Conhecimento na Administração Pública”  aponta
algumas empresas estatais e ministérios que realizam processos de gestão do co-
nhecimento, por meio de práticas e ferramentas, em diferentes níveis de adoção.
Dentre as ferramentas adotadas destacam-se Data Mining e Data Warehouse, a
seguir apresentadas.

2.2.1 Técnica Knowledge Discovery in Databases - KDD e Data


Mining
O termo KDD, iniciais de Knowledge Discovery in Databases (descoberta
de conhecimento em bases de dados), refere-se a um conceito geral de um proces-
so de extrair conhecimento a partir de bases de dados, criado em 1989. Segundo
Fayyad et al (1996), o “KDD é um processo, composto de várias etapas, não trivial,
interativo e iterativo, para identificação de padrões compreensíveis, válidos, novos
e potencialmente úteis a partir de grandes conjuntos de dados”. De acordo com o
autor no processo de KDD o conhecimento útil é extraído e derivado de padrões de
dados, inter-relacionados por tarefas funcionais, podendo auxiliar nas tomadas de
decisões. O interativo diz respeito ao controle humano sobre o processo de KDD
no sentido de analisar e interpretar os dados e padrões, e o iterativo significa a
possibilidade de repetições integrais ou parciais do processo, a fim de aperfeiçoar
e alcançar os resultados satisfatórios. O processo de KDD compõe-se por etapas
operacionais organizadas em sequência, ilustrado na Figura 1.

Figura 1. Etapas do processo de KDD.

Fonte: Adaptado de Fayyad et al (1996).

98
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

O processo de KDD é iniciado com o estabelecimento de objetivos e me-


tas para sua aplicação, identificando quais conhecimentos relevantes devem ser
tratados. Em seguida, a seleção de dados compreende a identificação de quais
informações, dentre as bases de dados existentes, devem ser efetivamente con-
sideradas durante o processo de KDD (Boente, 2008). A etapa de limpeza e
pré-processamento de dados realiza operações como remover e corrigir dados
errôneos ou inconsistentes, coletar informação necessária para modelagem, de-
cidir estratégias para tratar campos perdidos, entre outros . Depois, a transfor-
mação de dados visa encontrar formas práticas para se representarem dados e
métodos de transformação para reduzir o número efetivo de variáveis relevantes
(Ferro, 2001). Logo, segue-se para a mineração de dados, ou Data Mining, quan-
do ocorre a principal etapa do processo de KDD, isto é, efetua-se a busca por
conhecimentos úteis no contexto da aplicação de KDD (Boente, 2008). Isso se
dá pela aplicação de técnicas de Inteligência Artificial e algoritmos específicos
para extrair padrões (modelos) de dados (Frawley, 1992). Podem-se tomar como
exemplos de técnicas as redes neurais, algoritmos genéticos, modelos estatísti-
cos e probabilísticos. Segundo Boente (2008), a escolha da técnica depende do
tipo de tarefa de KDD a ser realizada, que, por sua vez,  podem ser: descoberta
de associação, classificação, regressão, clusterização, sumarização, detecção
de desvios e descobertas de seqüências. Finalmente, a etapa pós-mineração de
dados realiza o tratamento de conhecimento obtido e consiste na elaboração, or-
ganização e representação do conhecimento, para que haja interpretação e ava-
liação desse mesmo conhecimento pelo gestor, por exemplo, a fim de aplicá-lo
em uma tomada de decisão (Fayyad et al,1996).

2.2.2 Data Warehouse - DW


O DW tem origem na necessidade de reunir dados oriundos de muitas fon-
tes e de gerenciar um grande volume de informações. Seu conceito e aplicação
evoluíram com o desenvolvimento de novas tecnologias de informação e me-
todologias. Segundo Inmon (1997), o DW é “um conjunto de dados baseado
em assuntos, integrado, não volátil e variável em relação ao tempo, de apoio
às decisões gerenciais”. De acordo com Han e Kamber (2001), na tecnologia de
armazenamento de dados denominada “bancos de dados relacionais” os dados
são modelados, relacionados e vistos em múltiplas dimensões, que representam
as perspectivas sobre as quais a empresa deseja manter e tratar informações,
tais como produtos, clientes, tempo de produção, entre outros. No entanto, para
Inmon (1997), diferente de um produto acabado, um DW necessita adequar-se
à organização, no sentido de configurar a realidade corporativa e dar suporte
à análise e à tomada de decisões do negócio, como um banco de dados inte-
grado com informações históricas, consistentes, orientadas ao assunto. Afirma
que um modelo útil de DW deve ser capaz de responder às consultas avançadas
de maneira rápida, sem deixar de mostrar detalhes relevantes à resposta. As
principais etapas desse processo configuram-se em modelar os dados; extrair,
tratar, limpar e inserir dados originais no DW; armazenar os dados (repositório

99
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

das informações); criar ambientes de consultas; e, finalmente, analisar as in-


formações disponíveis por meio de aplicações e ferramentas de tecnologia da
informação, conforme ilustrado na Figura 2.

Figura 2. Arquitetura de Data Warehouse.

Fonte: Adaptado de INMON (1997).

Segundo Harison (1998), o DW alcançou uma importância relevante junto


às empresas devido ao sucesso dos Sistemas de Gerenciamento de Banco de
Dados Relacionais (SGBDR), à redução de custos e ao aumento do desempenho
do hardware utilizado. 

2.3 Governo eletrônico e processo de compras


governamental

2.3.1 Governo eletrônico


O governo eletrônico, também denominado e-gov, tem por objetivo
transformar a relação entre os governos, cidadãos e empresas, sobretudo em
termos de agilidade e transparência dos processos. De acordo com Sanchez
(1996), o e-gov visa o fomento aos valores democráticos, tais como a partici-
pação, a transparência, a atenção à dignidade humana, a representatividade
e o controle, pela sociedade, sobre os agentes públicos. De modo semelhante,
para Costa (2004) “há que se prover uma mudança de atitude do prestador
de serviços, com o foco real nas necessidades dos cidadãos”. Assim, o e-
gov tem base na utilização das tecnologias de informação e comunicação
para democratizar o acesso à informação, ampliar discussões e dinamizar

100
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

a prestação de serviços públicos com foco na eficiência e efetividade das


funções governamentais.
Hoeschl (2002) aponta os objetivos estratégicos do e-gov que incluem: me-
lhoria da qualidade, segurança e rapidez dos serviços para o cidadão; simpli-
ficação dos procedimentos e diminuição da burocracia; avanço da cidadania;
democracia da informação; transparência e otimização das ações do governo;
educação para a sociedade da informação; facilidade de acessar o governo; in-
tegração das informações para o cidadão; geração de empregos na iniciativa
privada; otimização no uso e aplicação dos recursos disponíveis; integração
entre os órgãos do governo; aproximação com o cidadão; desenvolvimento do
profissional do serviço público; aperfeiçoamento dos modelos de gestão pública;
e universalização do acesso da informação.
A definição de Governo Eletrônico, segundo Santos (2003) está relacio-
nada ao uso da tecnologia da informação e da comunicação para promover
maior eficiência e maior efetividade governamental, facilitando o acesso aos
serviços públicos, permitindo ao grande público o acesso à informação, e
tornando o governo mais accountable para o cidadão. Por sua vez, Grölund
(2002) revisa definições de governo eletrônico destacando três objetivos co-
muns: tornar o governo mais eficiente, prover melhores serviços aos cida-
dãos e melhorar os processos democráticos.
Grölund e Horan (2004) argumentam que as definições sobre governo
eletrônico derivam da prática e não do suporte de desenvolvimento teórico
consistente. Os autores afirmam que governo eletrônico está mais ligado à
governança que a governo, considerando que o termo governança eletrônica
é mais apropriado. Riley (2004) aponta a distinção entre governo e governan-
ça. Afirma que a função básica do governo é focar a sociedade para atingir os
interesses públicos, enquanto que a governança é uma forma de descrever as
ligações entre o governo e seu macro-ambiente, seja político, social ou admi-
nistrativo. Acrescenta ainda que outra forma de descrever essa diferença seja
que enquanto o governo se relaciona com certas atividades específicas e de
curto prazo, a governança se relaciona com processos e resultados de longo
prazo. O termo governo eletrônico assim, é mais usado pelos pesquisadores
em sistemas de informação e o termo governança eletrônica é mais usado
pelos cientistas sociais (Grölund e Horan, 2004).
Hiller e Bélanger (2001) abordam classificações diferentes para os tipos de
relacionamentos no âmbito do governo eletrônico, quais sejam:
1. Governo prestando serviços aos indivíduos (G2IS). Neste tipo de re-
lacionamento, o governo estabelece maneiras de prestação de serviços
ou de benefícios para os cidadãos, quando, por exemplo, é requerido
um direito na agência de seguro social ou quando é solicitada uma in-
formação para processar um benefício;

101
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

2. Governo com os indivíduos como parte do processo político


(G2IP). Esse é o relacionamento entre o governo e seus cidadãos
como parte do processo democrático. A votação on line e a parti-
cipação em pesquisas durante um processo de regulação são alguns
exemplos;
3. Governo com os negócios no portal de compras (G2BMKT) e di-
retamente com o cidadão (G2BC). Trata-se do relacionamento do
governo com os fornecedores (pessoas físicas e jurídicas), no qual
as oportunidades de negócios no âmbito do Estado são exploradas,
e com cidadãos que podem pagar por serviços especiais, em que a
iniciativa privada pode participar como intermediária para a ofer-
ta de serviços que podem ser cobrados dos cidadãos (concessões e
permissões);
4. Governo com agentes públicos (G2E). Este relacionamento se dá en-
tre as agências governamentais e seus empregados ou servidores. Isso
pode ser feito, por exemplo, mediante uma intranet que provê informa-
ções para seus empregados;
5. Governo com governo (G2G). Trata-se do relacionamento entre agên-
cias do governo colaborando umas com as outras em nível central e
local, bem como com governos estrangeiros.

2.3.2 Processo de compras governamentais


No Brasil, a Lei n° 8666/199 rege o processo de compras e contratações no
governo cuja finalidade é estabelecer normas gerais sobre licitações e contratos
administrativos pertinentes a obras, serviços (inclusive de publicidade), com-
pras, alienações e locações no âmbito dos Poderes da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios. Os princípios aplicados às aquisições gover-
namentais envolvem: Isonomia, Economicidade, Legalidade, Impessoalidade,
Moralidade, Igualdade, Publicidade, Probidade, Vinculação ao instrumento
convocatório e Julgamento objetivo (REZENDE, 2006).
Santos (2004) relata que o sistema de compras governamentais no Brasil,
envolve três modalidades, de acordo com o valor dos negócios, quais sejam:
modalidade para pequenas compras, dispensa licitação; modalidade convite;
modalidade pregão eletrônico. O autor destaca que “as exigências legais para
aquisição de materiais e serviços criam rotinas profundamente morosas para a
manutenção da estrutura administrativa governamental”. Ressalta que, além da
lentidão que perpassa o processo, muitas vezes envolve corrupção, falta de con-
trole sobre os estoques e mais uma lista de outros problemas. Contudo, tornar o
processo de compras governamentais um procedimento on line ajuda a resolver
parte das dificuldades e traz mais transparência.
2.3.2.1 Portal de Compras do Governo Federal - ComprasNet
Instituído pelo Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão – MP,
o ComprasNet é um portal Internet que visa tornar disponível à sociedade

102
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

informações relativas às licitações e contratações promovidas pelo Governo


Federal e permitir a realização de processos eletrônicos de aquisição. Está
disponível no sítio eletrônico www.comprasnet.gov.br (Figura 3) onde podem
ser vistos os avisos de licitação, as contratações realizadas, a execução de pro-
cessos de aquisição pela modalidade de pregão e outras informações relativas
a negociações realizadas pela administração pública federal direta, autárquica
e fundacional.

Figura 3. Portal de Compras do Governo Federal – ComprasNet.

Fonte: http://www.comprasnet.gov.br/

De acordo com Resende (2006), o ComprasNet foi instituído em 1997


para efetuar a publicação eletrônica dos avisos e editais de licitação nas suas
diversas modalidades, bem como dos resumos dos contratos firmados pela
Administração Pública Federal. Tem sido objeto de ajustes com o propósito
de transformá-lo num efetivo Portal de Compras do Governo Federal. A au-
tora explica que o ComprasNet é um módulo WEB do Sistema Integrado de
Administração de Serviços Gerais - SIASG, composto por diversos subsiste-
mas com atribuições específicas voltadas à modernização dos processos ad-
ministrativos dos órgãos públicos federais integrantes do Sistema de Serviços
Gerais – SISG, visando atender a sociedade, fornecedores e Administração
Federal e suas informações estão distribuídas por áreas de conteúdo específico
para cada público.
Para a sociedade estão disponíveis informações que permite a qualquer
cidadão acompanhar as contratações realizadas pela Administração e exercer
o seu direito de fiscalização. Para os fornecedores disponibiliza informações

103
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

relativas às licitações e contratações, além de facilidades que os auxiliam a


efetuar e manter atualizado o seu registro cadastral que permitem o acesso a
avisos e editais de licitação que possibilitam a participação em processos ele-
trônicos de contratação. Para os órgãos e entidades da administração federal
direta, autárquica e fundacional, disponibiliza uma série de facilidades volta-
das para o controle e execução dos processos de contratação. As facilidades
geram muitos benefícios ao possibilitar a redução dos custos das contratações
e tornar mais transparentes as compras governamentais. Assim, os principais
objetivos do ComprasNet são:
Dar total transparência e permitir o controle pela sociedade das ações e de-
cisões que envolvam as compras públicas, no âmbito do Poder Executivo Federal
e dos demais órgãos que aderirem ao SIASG;
Dotar a Administração Pública de um conjunto de ferramentas voltadas à
gestão das compras e contratos firmados pelas entidades governamentais com os
fornecedores de bens e serviços;
Dar aos fornecedores maior oportunidade de participação em processos
licitatórios, em função do aumento da publicidade e da desburocratização do
processo de cadastramento e de habilitação de fornecedores válido para toda a
Administração Pública Federal, e;
Reduzir custos e melhorar a qualidade das compras de bens e da contrata-
ção de serviços.
No que se refere ao desempenho desta solução tecnológica, estudo reali-
zado pelo Banco Mundial (BIRD, 2006) aponta que os processos de licitações
eletrônicas realizados por meio do ComprasNet atingiram patamares máximos
de eficiência nos indicadores que avaliaram a transparência na divulgação das
licitações e de seus respectivos resultados e na utilização de métodos licitatórios
competitivos.
O estudo também mostra que o percentual das licitações eletrônicas do
Governo Federal anuladas é de 0,89%, enquanto o limite satisfatório estabe-
lecido pela análise foi de até 5%, evidenciando que a elaboração dos editais
pelos servidores federais é bastante eficiente. No quesito agilidade, o sistema de
compras eletrônicas do Governo Federal também se superou. Enquanto o BIRD
recomenda um prazo de até 21 dias entre a publicação do edital e a abertura das
propostas encaminhadas pelos fornecedores, o intervalo apresentado por aquele
é de, em média, 13,24 dias.Comparando um processo de contratação por meio
eletrônico e tradicional, o estudo do BIRD relata que, enquanto o pregão ele-
trônico leva cerca de 17 dias, desde a publicação do edital até o resultado final,
no modelo tradicional, o processo mais ágil é o da carta-convite, que leva 22
dias, podendo chegar até 120 dias, no caso da concorrência. Observa-se, por-
tanto, os relevantes ganhos de eficiência com a informatização do processo e o
uso de tecnologias apropriadas.

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CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

3. A IMPORTÂNCIA DE TECNOLOGIAS
DE GESTÃO DE CONHECIMENTO
PARA A TOMADA DE DECISÃO
Mintzberg e Quinn (1996) contribuem para a compreensão relativa à to-
mada de decisões estratégicas. Os autores defendem o “incrementalismo ló-
gico” entendido como o processo de mudança estratégica numa organização
para afirmar que ela dificilmente ocorre de forma racional e analítica, mas
de forma “fragmentada, evolucionária e intuitiva”. Tal entendimento aponta
que os gestores agem de forma flexível e experimental trabalhando com gran-
des idéias até o comprometimento com ações específicas. Os autores, con-
siderando as decisões estratégicas, estimam a existência de fatores diversos
que devem ser tratados em busca de um resultado. Acrescentam que limites
cognitivos podem existir além dos limites do processo decisório. Estes limites
estariam relacionados, principalmente, ao tempo e a seqüência das ações ao
longo do processo decisório.
Segundo Nonaka & Takeuchi (1997) a gestão do conhecimento inclui a
determinação do que a empresa sabe ou deveria saber para atingir seus obje-
tivos estratégicos. De acordo com os autores, o conhecimento passa a ser um
ativo na organização que, como qualquer outro,  necessita ser administrado,
otimizado e utilizado em situações competitivas.  Afirmam que na prática o
conhecimento é matéria-prima para apoio às decisões gerenciais ou até mesmo
subsídios para tomada de decisões em relação qualquer situação organizacio-
nal. Sendo assim, é possível perceber a ligação estreita entre dados, informa-
ções e conhecimentos gerados dentro das empresas decorrentes de tecnologias
de gestão do conhecimento e boa gestão organizacional. E, por meio do uso
de tecnologias de gestão do conhecimento para apoio à tomada de decisão, a
organização pode dispor de armazenamento e de processamento de grandes
volumes de dados.
No âmbito da área publica “é preciso vislumbrar a gestão do conhecimento
de forma ampla, já que estamos numa sociedade impulsionada pelas tecnologias
da informação e comunicações”, afirma Santanna (2006). O autor explica que
a informação é vital na construção da base cultural e comportamental de uma
nova sociedade e de um novo modelo de gestão pública. Explica que o papel
do Estado continua fundamental como agente estratégico para atendimento da
demanda de participação direta dos cidadãos e, também, na tomada de decisões
estratégicas. Entende que a transparência e a diminuição da burocracia se devem
ao crescimento das informações em rede, implicando em maior controle social
sobre o Estado, contribuindo para a democratização do processo decisório e efe-
tividade da ação governamental.
O autor também destaca que o desenvolvimento de uma política de Gestão
do Conhecimento implica em conscientizar a alta gerência das organizações

105
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

para sua incorporação nos processos. As novas tecnologias precisam ser co-
nhecidas pelos tomadores de decisão do governo vislumbrando o potencial
para a adoção de novas práticas que podem ajudar na diminuição da frag-
mentação da informação. Ainda, ressalta que “o Brasil não sabe o que sabe e
é impossível para a sociedade brasileira saber o que o governo deveria estar
informando, se a própria organização não se apropria do seu conhecimento
interno e não o compartilha corretamente”. O autor afirma que ainda há um
longo caminho que requer o desenvolvimento de práticas, gestores capacita-
dos, utilização de ferramentas com eficiência, desenvolvimento de portais e
metodologias que diminuam a fragmentação da informação do Estado, que
aproximem os gestores, que criem comunidades de prática de interesse entre
os diversos órgãos da federação, particularmente da União, e que troquem
informações entre si.

4. MÉTODO ADOTADO
Foi utilizada, para fins de desenvolvimento deste estudo, a estratégia de
estudo de caso com métodos qualitativos para levantamento e análise dos da-
dos tendo sido realizada análise de documentos e entrevistas semi-estrutura-
das, conforme sugere Yin (2001), visando garantir a confiabilidade. O objeto
de pesquisa escolhido foi o processo de compras governamentais incluindo a
solução tecnológica ComprasNet, devido as características de evolução per-
cebidas na literatura disponível. Foram analisadas informações relativas ao
período de 2004 a 2008. O levantamento de dados foi feito em documentos
disponíveis na internet e aqueles recebidos dos entrevistados durante o mês
de abril e maio de 2009. O público entrevistado contou com a participação
de gerentes de nível estratégico e tático-operacional da área de negócio do
SERPRO (Serviço Federal de Processamento de Dados), empresa pública res-
ponsável pelo desenvolvimento da solução tecnológica ComprasNet. Assim, as
entrevistas semi-estruturadas foram aplicadas a dois superintendentes (atual e
anterior), um gerente e em analista (atuais).
As limitações do estudo incluem o restrito tempo para a realização do le-
vantamento de dados, não tendo sido exaustivo; não reaplicação da técnica de
KDD; realização de entrevista semi-estruturada apenas com os responsáveis
pelas tecnologias adotadas, não tendo envolvido clientes.

5. ANÁLISE DOS RESULTADOS


Os resultados deste estudo apontam as principais contribuições das tecno-
logias adotadas para o processo de compras governamentais, conforme apresen-
tado na Tabela 1.

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CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

Tabela 1. Principais tecnologias de gestão do conhecimento adotadas no processo de


compras governamentais e suas contribuições, período de 2004 a 2009..

Tecnologias
Contribuições com o uso das tecnologias
adotadas
2004
Identificação de padrões que podem subsidiar um novo modelo de
compras governamentais.
Padrão 1 – Realização de aquisições por dispensa de licitação de um
mesmo fornecedor destacando-se: Inexistência de competitividade;
Favorecimento de fornecedores; Direcionamento de resultados; Não
Técnica
aplicação dos princípios relativos às compras governamentais.
KDD
Padrão 2 – Realização de aquisições por dispensa de licitação de um mesmo
e Data
material várias vezes em um mesmo ano destacando-se: Fracionamento de
Mining
Licitação; Não aplicação dos princípios relativos às compras governamentais.
Padrão 3 – Realização de aquisições por dispensa de licitação de um
mesmo material várias vezes em um mesmo ano de um mesmo fornecedor
destacando-se: Inexistência de competitividade; Favorecimento de
fornecedores; Direcionamento de resultados; Fracionamento de Licitação;
Não aplicação dos princípios relativos às compras governamentais.
2005 e 2006
Melhora da eficiência e fiscalização do governo a partir do cruzamento
de informações que caracterizam irregularidades ou melhores práticas. A
partir da aplicação das tecnologias de Data Mining, Data Warehouse e de
Data
algoritmos bastante inovadores na área de paralelização do processamento.
Warehouse
Adoção do Tamanduá, sistema de inteligência organizacional, com a
utilização do Data Mining em hardware comoditizado de baixo custo e de
alto desempenho utilizando software livre e algoritmos para determinar
regras não explícitas de comportamento.
2007
Implementação de novas funcionalidades que permitem visões de
Compras, Fornecedores, Empenho e Ata do pregão:
Quanto a Compras: visão do governo pelo Sistema SIASG. Foi
contemplada a modalidade de compra Tomada de Preço, além das
demais modalidades já existentes.
Quanto ao Fornecedor: visão das pessoas físicas ou jurídicas
que participam dos processos de compras do governo no papel de
Data fornecedores de material ou serviços.
Warehouse Quanto ao Contrato: visão dos contratos firmados entre o governo
federal e os fornecedores, decorrentes de um processo de compra ou
contratação de serviço.
Quanto ao Empenho: visão dos registros pelas unidades
administrativas (UASGs) interessadas, decorrentes de um processo de
compra ou contratação. 
Quanto à Ata do Pregão: visão dos dados relativos ao processo de
compras e/ou contratação de serviços firmados entre o governo federal e
os fornecedores na modalidade pregão.

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Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

2008
Cooperação entre usuários que utilizam soluções livres para tratar
Data problemas.
Warehouse Uso do sistema de inteligência Tamanduá com foco em demonstrar que
as soluções livres possibilitam a cooperação dos usuários na resolução
dos problemas, assim como na evolução qualitativa do sistema.
2009
Análises de informações que apóiam os processos decisórios de políticas 
Data
de compras governamentais, fiscalizações e auditorias executadas pelos
Warehouse
órgãos de controle do  Governo Federal (SFC, CGU e TCU), bem como
negociações com o comércio exterior  regidos pela ALCA e o MERCOSUL.

Fonte: Dados coletados em documentos e entrevistas pelos autores.

Em 2004, o estudo de caso de Rezende (2006) mostra a adoção da técnica


de KDD considerando valores gastos nas compras efetuadas, na modalidade de
compras governamentais com dispensa de licitação, com aplicação da técnica
de Data Mining (mineração de dados) para a descoberta de novos padrões. O
estudo resultou em um modelo para a melhoria do processo de compras pelos
gestores da Secretaria de Logística de Tecnologia da Informação, do Ministério
do Planejamento (SLTI/MP), com a seguinte proposta:
• Incentivar o uso de tecnologias que possibilitem o redesenho do pro-
cesso de compras;
• Implementar o uso de uma solução eletrônica de compras;
• Recomendar o uso do Sistema de Cotação Eletrônica que automatiza os
pedidos para compras governamentais com teto de R$ 8 mil;
• Elaborar uma orientação normativa fixando um prazo, tratando as si-
tuações imprevisíveis como exceções, não passíveis de planejamento,
desde que devidamente justificadas;
• Garantir a obediência aos princípios constitucionais da legalidade, da
impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da publicidade e da pro-
bidade administrativa;
• Instruir melhor os processos de dispensa;
• Capacitar e treinar os envolvidos nos processos de aquisição para o
Governo Federal.
Deste modo, Rezende considera que a técnica de KDD é extremamente
útil para a análise de comportamentos e poderia ser aplicada em várias situa-
ções relacionadas às ferramentas de Governo Eletrônico. Os resultados obtidos
e os padrões identificados podem subsidiar o redirecionamento de diversas
ações e melhorias dos processos. Afirma que não percebe restrições no uso
desta técnica em aplicações de Governo Eletrônico, pois a utilização do KDD
gera mais informações possibilitando melhor tomada de decisão. Todavia, jul-
ga importante fazer uma adequada seleção dos dados e definição do que se
pretende estudar, para não correr o risco de obtenção de informações que não
tenham utilidade.

108
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

Em relação a 2005 e 2006, Santanna (2006) aponta o software Tamanduá,


sistema de inteligência organizacional, como apoio importante à tomada de deci-
sões capaz de vasculhar a base de dados de compras governamentais e determi-
nar regras não explícitas de comportamento. Menciona que este sistema resultou
de um projeto de cooperação, entre a Universidade Federal de Minas Gerais e a
Universidade do Amazonas, que desenvolve este tipo de aplicação que permi-
te melhorar a eficiência e a fiscalização do governo. Esclarece que o software
Tamanduá varre diferentes bases de dados e cruza informações em busca de
comportamentos que possam caracterizar irregularidades ou melhores práticas
que podem ser estendidas para o conjunto dos órgãos públicos. Um exemplo é o
teste realizado com esta ferramenta na análise das compras de cartuchos de tinta
para impressoras HP na administração direta. O resultado mostrou que a forma
mais eficiente de comprar é por Pregão Eletrônico e que a forma menos eficiente
para se comprar é por Dispensa de Licitação. O autor afirma que foi possível des-
cobrir que os compradores mais eficientes na compra de cartuchos HP também
eram os mais eficientes na aquisição de outros produtos e vice-versa. Ainda, foi
possível perceber que determinados órgãos compravam sempre da mesma em-
presa e que pagavam mais caro que os demais.
Em 2007, um novo DW-SIASG, desenvolvido pelo SERPRO, ofereceu nova
estrutura de armazenamento para os dados, novos módulos e um novo mode-
lo lógico multidimensional, contemplando todas as bases de dados do SIASG
de origem. Novas funcionalidades e características, tais como, recuperação dos
dados, melhor navegabilidade, segurança, eficiência, rapidez e elaboração de
consultas pré-formatadas, foram destaque para os usuários do alto escalão do
Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão.
Em 2008, o Congresso Internacional de Governo Eletrônico e Sociedade
- Consegi 2008 - além de promover painéis, palestras e atividades culturais,
contou com a 3ª Rodada de Compartilhamento de Softwares da Administração
Pública que apresentou soluções tecnológicas com o objetivo de despertar o in-
teresse de usuários e possíveis colaboradores. O foco foi demonstrar que as solu-
ções livres possibilitam a cooperação dos usuários na resolução dos problemas,
assim como na evolução qualitativa de ferramentas. Dentre eles foi destacado o
software Tamanduá, já mencionado, sistema de plataforma de serviços de mine-
ração de dados para apoio à gestão e decisão governamentais, em particular com
relação a compras e contratações. Nota-se, deste modo, a continuidade do uso
de tecnologias pela administração pública, em especial, no processo de compras
governamentais.
Em 2009, verifica-se no Portal ComprasNet a explicitação dos propósitos
atuais do processo de compras governamentais. Além da declaração do objetivo
do Sistema Integrado de Administração de Serviços Gerais - SIASG, destaca-
se o item Informações Gerencias sobre Compras Governamentais (DW), cuja
finalidade é “prover informações analíticas relativas às compras e contratações
efetuadas  pela Administração Pública Federal, assim como dos fornecedores do

109
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

Governo Federal, sob gestão  do Departamento de Logística e Serviços Gerais


do Ministério do Planejamento,  Orçamento e Gestão.  Estas informações se
baseiam nos critérios de quantidades e valores,  permitindo que os usuários ha-
bilitados criem e executem relatórios que subsidiem os  processos decisórios
em suas áreas de atuação. As informações são atualizadas mensalmente, com
dados extraídos do SIASG, garantindo a disponibilidade das informações do 
último dia do mês de atualização. Destacam-se entre os principais usuários o
Departamento de Logística e Serviços Gerais do Ministério do Planejamento, 
Orçamento e Gestão (MP),  Tribunal de Contas da União (TCU), Secretaria
Federal de Controle (SFC) e Senado Federal.” Portanto, observa-se, o uso de tec-
nologias de DW para o processo de tomada de decisão e controle dos processos
pelos gestores públicos.

6. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
Neste estudo foram identificadas importantes contribuições do uso das tec-
nologias Knowledge Discovery in Databases – KDD e Data Warehouse – DW
como ferramentas de gestão do conhecimento aplicadas ao processo de compras
do governo eletrônico. Constatou-se intenso uso dessas tecnologias que propi-
ciam condições para a gestão do conhecimento, especialmente no que se refere
à descoberta de conhecimentos úteis para a tomada de decisão. Assim, os resul-
tados deste estudo incluem: a) identificação de padrões que podem subsidiar um
novo modelo de compras governamentais; b) melhora da eficiência e fiscalização
do governo a partir do cruzamento de informações que caracterizam irregula-
ridades ou melhores práticas; c) novas funcionalidades que permitem visões de
Compras, Fornecedores, Empenho e Ata do pregão; d) cooperação entre usuá-
rios que utilizam soluções livres para tratar problemas; e) análises de informa-
ções que apóiam o processo decisório de políticas de compras governamentais,
fiscalizações e auditorias.
Foi possível verificar que durante o período pesquisado, de 2004 a 2009,
houve evolução no uso de tecnologias cada vez mais refinadas. Observou-se o
uso de técnicas de KDD, incluindo Data Mining e Data Warehouse, que ge-
rou melhorias contínuas no processo de compras governamentais. Outrossim,
observou-se o estabelecimento de parcerias que permitiram o desenvolvimento
de soluções tecnológicas específicas, cuja adoção tem sido fundamental para o
alcance dos objetivos do ComprasNet.
A respeito do governo eletrônico, percebe-se que o Portal ComprasNet tem
um tipo de relacionamento denominado G2BMKT, que se caracteriza por ter
negócios em portal de compras e diretamente com o cidadão, envolvendo for-
necedores. Também se percebe que as contribuições identificadas neste estudo
apóiam o alcance dos objetivos do e-gov, principalmente no que se refere a: a)
simplificação dos procedimentos e diminuição da burocracia; b) transparência e

110
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

otimização das ações do governo; c) otimização no uso e aplicação dos recursos


disponíveis; d) integração entre os órgãos do governo; e e) aperfeiçoamento dos
modelos de gestão pública.
Oportuno destacar que os resultados deste estudo são corroborados pelos
propósitos apontados por Santanna (2006). O autor aponta que a gestão do co-
nhecimento é fundamental para a interação do Estado com os cidadãos, organi-
zações e empresas, principalmente em um mundo dominado pela tecnologia da
informação e comunicações. Afirma que “ter informação é votar melhor, é fazer
melhores negócios, é ter acesso a melhores oportunidades de emprego e oportu-
nidades econômicas, é ter condições de participar politicamente”. Esclarece que
a sociedade da informação pode diminuir a distância entre incluídos e excluídos,
e entre países pobres e ricos, sendo necessário o repensar da distribuição social
de riqueza. Ainda, Santanna (2006) ressalta a importância de compartilhar o
conhecimento, a educação para onde o Estado está ausente. Explica que o de-
safio do Governo Eletrônico Brasileiro é o compartilhamento do conhecimento
para a promoção da cidadania e redução das desigualdades sociais. Deste modo,
entende ser possível a construção de uma sociedade mais justa e democrática.
Portanto, as análises deste estudo apontam para evidências de que as ferra-
mentas de gestão de conhecimento têm apoiado a tomada de decisão e contribuído
para a transparência e a economicidade das compras governamentais no Brasil.
Recomenda-se para estudos futuros verificar a evolução do DW no sen-
tido de gerar análises de informações que efetivamente apóiem os processos
decisórios de políticas de compras governamentais, fiscalizações e auditorias
executadas pelos órgãos de controle do governo. Sugere-se também pesquisa
que contemple a avaliação da percepção das partes envolvidas no processo de
compras governamentais no ComprasNet.

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113
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

114
A IMPORTÂNCIA DO CZRM PARA
A IMPLANTAÇÃO DO E-GOV

Américo Ricardo Moreira de Almeida


Professor Titular, Centro Universitário UnirG
ricardoalmeida@ricardoalmeida.adm.br

Cejana Marques Borges


Professora Assistente, Centro Universitário UnirG
cejanaborges@hotmail.com

Valdicleia Menezes Ferreira


Administradora
valdicleiamenezes@hotmail.com

RESUMO

Este artigo objetiva a compreensão do que vem a ser o governo eletrônico e os principais
resultados que se deseja alcançar com a aplicação deste novo modelo de gestão. Esta
tendência de administração pública apóia-se nos recursos tecnológicos disponíveis,
proporcionando novas formas de interação com cidadão. Na busca de se obter
resultados efetivos, é imprescindível a utilização do Citizen Relationship Management
(CzRM). Para que se possa compreender a importância deste recurso, faz-se necessária
a abordagem dos conceitos de Customer Relationship Management (CRM), uma
ferramenta do marketing, empregada no setor privado que, no âmbito governamental,
ganha o nome de CzRM. Ambos visam o melhor relacionamento com os clientes/
cidadãos, proporcionando aos mesmos a prestação de melhores serviços, uma vez que,
conhecendo-os, é possível que empresa/governo trace estratégias para melhor atender
as necessidades de seu público-alvo. Assim, acredita-se que, através desta nova forma
de interação e relacionamento entre governo/cidadão seja possível atingir um modelo
de gestão participativa, democrática, que resolva de modo eficaz, problemas existentes
na sociedade contemporânea.

PALAVRAS-CHAVE

Governo eletrônico, Marketing, CzRM.

1. INTRODUÇÃO
No século XXI, a sociedade presencia um processo de mudança global
do modelo de desenvolvimento, um modelo informacional, constituído de no-
vas tecnologias, de um novo modelo econômico, político, organizacional e de

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Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

gestão coletiva, através dos meios de telecomunicação alcançados mediante


avanços tecnológicos. Estas mudanças ganharam novas nomenclaturas e, entre
estas, podem ser citadas “Nova Economia”, “Economia Digital”, “Economia
em Rede”, ou “Sociedade do Risco”, ou ainda, simplesmente “A Economia da
Informação”.
A tecnologia da informação e considerada primordial para a reestrutura-
ção socioeconômica, surgindo assim, o paradigma da “sociedade informacio-
nal” ou sociedade da informação distinguindo-se dos sistemas sociais anterio-
res, uma vez que, a informação, disseminada principalmente através da rede,
abrange todas as esferas da sociedade, causando uma profunda mudança social
e econômica.
Neste contexto, surge o estabelecimento de novos modelos de negócios, no-
vas formas de relação com o cliente e isso ocorre, não só no setor privado, mas,
na esfera pública que também passa a adotar estas novas práticas de modo a
adequar-se a esse paradigma da atual sociedade.
No âmbito governamental, o público-alvo ou o cliente, é o cidadão, que,
assim como o consumidor de bens e serviços, deseja obter um retorno do Estado
que, desde sua concepção, tem como função primordial promover o bem-estar
social, através da regulamentação, controle e gestão dos serviços primordiais
para a comunidade.
O presente artigo busca a compreensão de aspectos relacionados ao gover-
no eletrônico, e as práticas que envolvem este processo, principalmente no que
tange as ferramentas utilizadas para que o novo modelo de gestão do governo
possa alcançar os resultados almejados. Com isso, faz-se necessária a aborda-
gem dos conceitos de Customer Relationship Management (CRM), geralmente
aplicado no setor privado e do Citizen Relationship Management (CzRM), no
âmbito governamental, sendo que ambos objetivam o melhor relacionamento
com os clientes/cidadãos, proporcionando aos mesmos a prestação de melhores
serviços, uma vez que, conhecendo-os, e possível traçar estratégias para melhor
atender suas necessidades.

2. GOVERNO ELETRÔNICO
O conceito de governo eletrônico é ainda emergente e a literatura ainda
não consolidou o mesmo. Uma das dificuldades apontadas para tal definição e o
caráter extremamente abrangente da prática que, nos dias atuais, é chamada de
Governo Eletrônico (JOIA, 2002).
Os autores Zweers e Planque (2001), explicam que o governo eletrônico tem
por objetivos disponibilizar informações, serviços ou produtos aos cidadãos por
meio eletrônico, para que se possa agregar valor a todos que se relacionam com
a área governamental.

116
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

De acordo com a definição de Balutisiv (1999), o Governo Eletrônico é cons-


tituído os seguintes elementos: Comércio Eletrônico; Customer Relationship
Management (CRM); Supply Chain Management (SCM) e ainda, estão extre-
mamente relacionados à Gestão do Conhecimento, ao Business Intelligence (BI)
e as Tecnologias Colaborativas.
Outro autor que discorre sobre este tema é Tapscott (1997), e afirma que
a prática do governo eletrônico envolve tecnologia que liga, através da rede,
os sistemas internos, e, desta forma, a informação e disponibilizada a todos,
como os fornecedores, clientes comerciais, contribuintes, eleitores; bem como
as demais instituições da sociedade, como as escolas, laboratórios, comunica-
ção de massa, hospitais, até mesmo outros níveis de governo e outras nações
em todo o mundo. Ainda, segundo o autor, isso possibilita a quebra de barrei-
ras de tempo e distância, oferecendo ao cidadão, serviços de melhor qualidade,
com custos reduzidos.
Diante dos conceitos relacionados, o e-Government (e-Gov) utiliza as
Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) para a comunicação e
prestação de melhores serviços a sociedade. Este termo – o e-Gov – vem
sendo empregado pela mídia aos novos portais ou websites governamen-
tais devido ao surgimento destes novos canais de distribuiçãao de serviços
públicos.
Deste modo, o governo constitui uma relação mais próxima com o pró-
prio governo, com empresas e com o cidadão. Para as transações no setor
empresarial e no meio tecnológico, são empregadas terminologias para ca-
racterizar os tipos de negócios realizados, por exemplo, a terminologia para
transações entre empresas, B2B (Business to Business) e para transações
entre empresas e cidadãos/clientes B2C (Business to Consumer). No âmbito
das relações de Governo Eletrônico, apresenta-se basicamente três tipos de
transações: a intra ou intergovernos, G2G; transações entre governos e for-
necedores, G2B; e relações entre governos e cidadãos G2C. Podem ser reali-
zadas através de computadores e internet, por meio de telefonia móvel, call
centers e ainda, por meio de computadores pessoais, desde que estes tenham
aplicativos compatíveis.
Porém, FOUNTAIN (2001), afirma que a disponibilização de serviços
on-line exige uma adequação das organizações governamentais abrangendo
aspectos técnico-gerenciais, a reformulação dos processos e a implantação de
um novo modelo de gestão. Para a autora, este certamente é o maior desafio
do e-Gov, e que este processo deve contar com uma rede de agencias virtu-
ais, envolvendo atores federais, estaduais, locais, sem fins lucrativos e pri-
vados, e serviços baseados na Web que conectam os websites de centenas de
organizações.
Para Diniz (2002), a atuação efetiva do governo eletrônico reformula a re-
lação entre o governo e a sociedade, e representa também uma das principais

117
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

formas de modernização do Estado, podendo resultar em um processo de de-


mocratização política, contribuindo para aumentar a legitimação de governos,
e para o estabelecimento de novos modos de gerenciamento das atividades
públicas.
Quando se trata da relação governo-cidadão, outro aspecto a ser conside-
rado, e o da utilização do marketing – segundo Kotler e Armstrong (1999), e a
entrega de satisfação para o cliente em forma de benefício – na obtenção de re-
sultados positivos, dependendo dos objetivos a serem alcançados na esfera públi-
ca. Neste sentido, há uma distinção entre marketing publico, marketing político
e marketing eleitoral, apesar da inter-relação entre estes.
Para Almeida (2006) no marketing público são utilizadas as ferramentas e
os conceitos do Marketing a serviço do governo Federal, estadual e municipal
como também das organizações públicas, que buscam a satisfação das necessi-
dades e desejos de uma comunidade. Pensando assim, seria necessário apenas
seguir o programa de governo colocado na campanha eleitoral, pois, afinal, a
comunidade escolheu aquele programa, aquele candidato com quem se identifi-
cou, e que iria melhor representá-la, ou seja, que teria melhores condições para
atender aos seus desejos e necessidades.
No marketing político, as ferramentas e os conceitos do marketing estão a
serviço dos partidos ou do indivíduo político, que deseja uma construção posi-
tiva de sua imagem. Para isso, pode-se lançar mão dos tradicionais conceitos de
segmentação e posicionamento. É necessário saber exatamente quem o público
(ou eleitor) deseja ter como líder. Busca-se então, “encaixar” o perfil desta pes-
soa ou partido frente a este desejo, ou melhor, deve-se perceber quais são as
qualidades desta pessoa (candidato) que satisfaçam a esses desejos. Aqui o que
mais conta é a história, a trajetória de vida. Suas ações no passado projetam seu
futuro. (ALMEIDA, 2006)
O marketing eleitoral faz uso das ferramentas e os conceitos do marke-
ting para serem utilizados nas Campanhas Eleitorais. De fato, as ações são pla-
nejadas para acontecer em uma seqüência lógica, com objetivo de conquistar
um cargo público. Para isso, e primordial conhecer as necessidades e desejos
da comunidade envolvida. Na verdade, quem é profissional de marketing e não
“marketeiro”, irá buscar, através do planejamento de uma campanha eleitoral,
ações que busquem a satisfação comunidades, de modo a atender seus anseios.
(ALMEIDA, 2006)
Almeida (2006) afirma que apesar das definições e usos diferentes o marke-
ting eleitoral, político e público, para essas variedades de marketing possam ter
efetividade, devem possuir uma seqüência natural, ou seja, no marketing eleito-
ral se fará um discurso que vá de encontro às necessidades e desejos do eleitor.
Isso irá consolidar a carreira política de uma pessoa pública e consequentemente,
fortalecerá o seu marketing político. Quando esse político no exercício de uma
função pública executa o exato discurso que o elegeu, além do fortalecimento

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CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

de sua trajetória estará realizando a verdadeira essência do marketing público e


proporcionando assim aos cidadãos as ações que são seus desejos e necessida-
des. Assim utilizadas essas três formas do marketing servem seguramente para
consolidar a idéia democrática surgida na Grécia antiga.
Desse modo, a filosofia do Citizen Relationship Management (CzRM) se
torna ferramenta indispensável desse processo. O e-Gov através do CzRM fer-
ramenta imperativa para a obtenção de informações que proporcionam o conhe-
cimento do cidadão - poderá fornecer dados sobre população, necessários para a
construção de um planejamento mais adequado que consiga maior alcance e re-
sultados junto ao cidadão, de acordo com o que este, espera de seus governantes.
A Figura 01 apresenta alguns dos resultados e benefícios que se pretende
alcançar com a adoção desta nova ferramenta de relacionamento do governo
eletrônico.

Figura 01. Nova forma de relacionamento do Governo eletrônico.

Fonte: Leão, Paulo Alcântara Saraiva, Painel CONIP 2006.

De acordo com a representação de Leão (2006), o governo eletrônico propi-


ciará um aumento da transparência das ações do governo, o crescimento da dis-
ponibilização de informações na internet para a população e o aperfeiçoamento
dos processos internos dos órgãos públicos. Com isso, haverá um aumento do
controle social sobre o Estado, resultando na democratização do processo deci-
sório e uma maior efetividade da ação governamental.
Na busca de obter estes resultados com a implantação do governo eletrôni-
co, o CzRM surge como instrumento necessário para o planejamento de estra-
tégias que tem como objetivo atender de modo eficiente o cidadão, oferecendo
serviços de melhor qualidade e promovendo maior interação com o mesmo.
Essa ferramenta e uma adaptação e/ou uma evolução do Customer
Relationship Management (CRM), por isso e necessário se entender primeira-
mente os conceitos originais para que se possa entender a importância dessa
ferramenta na gestão de e-Gov.

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Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

3. CRM – CUSTOMER RELATIONSHIP


MANAGEMENT
Este capítulo aborda os conceitos e definições de Customer Relationship
Management (CRM), para a devida compreensão desta ferramenta utilizada, de
um modo geral, por empresas privadas, para que, no momento posterior, seja
realizada a abordagem no Citizen Relationship Management (CzRM), prática do
CRM no âmbito governamental.
De acordo com Cardoso e Filho (2001), o CRM e decisivo para a sobrevi-
vência da empresa no mercado atual, caracterizado pela competição acirrada
causando um maior custo na conquista de consumidores. O CRM é um pro-
cedimento administrativo, onde há uma combinação de processos de negócios
e tecnologia na busca constante de entender os clientes para proporcionar um
melhor entendimento na empresa. Para isto, é necessário o conhecimento destes
consumidores em diversos aspectos como: Quem são? O que fazem? E o que
gostam de fazer?
Segundo os autores anteriormente citados (p.40) “CRM pode ser também
definindo como o planejamento, gerenciamento e operacionalização da expe-
riência do cliente, aplicando-se as mais avançadas tecnologias da informação
visando a fidelização e criação de valor”.
Sob o mesmo ponto de vista, Kalakota e Robinson (2002), definem CRM
“como uma estratégia integrada de vendas, marketing e serviços, que exclui o
isolamento e que depende de ações coordenadas de toda a empresa”.
De acordo com Filho (2001, apud Gartner e Group):
CRM e uma estratégia de negócio voltada ao entendimento e antecipação
das necessidades dos clientes atuais e potenciais de uma empresa. Do
ponto de vista tecnológico, CRM envolve capturar os dados do cliente ao
longo de toda a empresa, consolidar todos os dados capturados interna e
externamente em um banco de dados central, analisar os dados consoli‑
dados, distribuir os resultados dessa análise aos vários pontos de contato
com o cliente e usar essa informação ao interagir com o cliente através de
qualquer ponto de contato com a empresa.
Ainda sob visão de Filho (2001, apud Gartner e Group), o CRM é tam-
bém chamado de Marketing de Relacionamento, Marketing em Tempo Real,
Intimidade com o Cliente, entre outros. Para o autor, o CRM pode ser divido
em: analítico, colaborativo e operacional. O primeiro, tem a função de identi-
ficar os diferentes tipos de clientes existentes em uma empresa, após esta eta-
pa, ele e responsável pela determinação das estratégias mercadológicas para
atender as necessidades destes consumidores. Já o segundo, é composto pela
utilização da Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) que permite a
conexão com todos os pontos de contato entre a empresa e o consumidor, de

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CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

forma a interagir com o cliente. Enquanto que o terceiro também é a aplicação


de TIC, porém, visando o aperfeiçoamento da comunicação entre a empresa
e o cliente.
Os autores consultados afirmam que o CRM possui três fases, também as
denominam como ciclos de vida dos clientes. Para melhor abordagem, este tó-
pico será subdividido em três etapas. Sendo elas: aquisição de novos clientes;
aprimoramento da rentabilidade dos clientes existentes e retenção de clientes
lucrativos para toda a vida, conforme mostra a figura 02.

Figura 2. As três fases do CRM.

Fonte: Kalakotas e Robinson, 2002, p. 170.

Conforme abordagens realizadas sobre o conceito e funções do CRM, bus-


ca-se nos subitens posteriores explorar aplicações desta ferramenta em aspectos
específicos que, inclusive, elucidarão a figura acima, objetivando uma maior
compreensão sobre o tema abordado neste item.

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Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

3.1 Aquisição de novos clientes


No mercado atual, para conquistar novos clientes é preciso promover uma
liderança de produtos e serviços, que possam atingir novos limites de desempe-
nho, sempre respeitando a oportunidade e a inovação. Pois, para o consumidor,
a proposição de valor é o produto oferecido juntamente com uma boa prestação
de serviço. Em todo início de relacionamento, seja de negócios ou pessoais, há
sempre insegurança, perturbação e certo medo. Para haver a conquista deste
consumidor, a empresa deverá vencer tais obstáculos, baseando-se em um pla-
nejamento que resulte em uma experiência integrada entre todos os membros da
organização. De forma que as respostas ao cliente sejam imediatas, satisfazendo
as necessidades do mesmo. Aumentando assim, as possibilidades de efetivação
da venda (CARDOSO; GONÇALVES FILHO, 2001).
Colocar o vendedor diante de uma pretensão de compra de determina-
do cliente, e um dos objetivos do CRM. Este programa busca identificar os
prospects como: nome, telefone, interesses específicos, costumes, preferên-
cia de compra e histórico das ultimas aquisições. Após estas assimilações a
empresa utiliza sua habilidade com a comunicação dirigida e integrada para
estas pretensões de compras por diferentes tipos de mídias, para comunicar-
se individual ou coletivamente com base nas informações do banco de dados
(BRETZKE, 2006).
Sob o ponto de vista de Kalakota e Robinson (2002), a possibilidade de
efetivação da compra aumenta consideravelmente quando o cliente tem uma res-
posta imediata a sua solicitação de informação adicional ao produto. Os autores
citam o exemplo de uma pessoa que navega na internet e solicita outras informa-
ções sobre determinado produto e a resposta vem entre um e três minutos. Esta
estratégia de venda e serviço suaviza a incerteza do primeiro contato e cria uma
suave mudança de possível cliente para cliente.
Deste modo, as ações de CRM são voltadas para que a empresa possa ob-
ter informações que venham a auxiliar na elaboração de estratégias direciona-
das não somente para efetuar uma venda, mas, para fazer com que ocorra o
retorno do cliente à empresa, mediante ações direcionadas para o alcance desses
objetivos.

3.2 Aprimoramento da rentabilidade dos clientes


existentes
Bretzke (2006) diz que o CRM e um dos procedimentos mais sofisticados
e competentes, que alteraram o jeito como as empresas podem alargar a renta-
bilidade dos clientes atuais. Para facilitar e viabilizar este método, a internet e
usada como canal de relacionamento e de vendas. Embora praticado por poucas
empresas, os resultados são amplamente compensadores para os clientes mais

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CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

leais, criando maior satisfação com a marca, proporcionando também alto grau
de proximidade entre as partes como nunca visto anteriormente. Neste contex-
to, e feito um gerenciamento de contato do cliente com a empresa, para que
as respostas, tanto em relação às dúvidas quanto ao atendimento de qualquer
solicitação de compra.
A concorrência do mercado atual tem exigido dos empresários e de toda a
equipe de trabalho, a necessidade de agregar valor a todos os aspectos da em-
presa, tanto para se manter no mercado como buscar novas posições perante os
concorrentes (DIAS e DIAS, 2000). Ainda segundo os autores (p. 17):
O atendimento superior oferece ao cliente uma organização focalizada no
atendimento verdadeiro de suas necessidades e, ainda, proporciona-lhe momen-
tos agradáveis, promovidos por colaboradores bem preparados, através de um
sistema de atendimento planejado... Alem disso, possibilita a empresa um au-
mento do numero de clientes e da fidelidade dos mesmos, ou seja, a organização
passa a ter uma facilidade maior para reter clientes atuais e atrair novos clientes.
Sob a mesma linha de pensamento, Freemantle (1994) afirma que o inves-
timento no atendimento se refere à melhoria da prestação de serviço, mas para
isso, é necessário descobrir como seus clientes vêem a empresa e quais são suas
expectativas e anseios em relação aos serviços por esta oferecidos. Observar
também, quanto tempo, esforço e recursos estão dispostos para este investimen-
to, o que e demonstrado no quadro a seguir. Que segundo o autor, isto significa:

Quadro 1. Quadro de investimentos no atendimento ao cliente.

INVESTIR
Incentivo a melhor prestação de
Treinamento serviço, visando atingir os mais altos
padrões de atendimento ao cliente;
Gerente e equipes confiáveis, voltados
Formação (e seleção) para a satisfação das necessidades
dos clientes internos e externos.
Sistemas (informação, faturamento, Para assegurar que os compromissos feitos
controle, distribuição, telefone, etc) aos clientes sejam sempre atendidos.
Pequenos extras (adornos) Que façam os clientes vibrarem.
Para que seja compatível com os altos
Ambiente padrões de serviço que você quer
que o cliente espere de você.
Para que não possam ser igualados
Produtos e serviços por seus concorrentes e que realmente
seja valorizado pelo cliente.
Isto significa investir num nível de recursos adequado (com reserva de capital suficiente)
para efetuar a operação básica do negócio sem atraso ou prejuízo para o cliente.

Fonte: Baseado em Freemantle (1994, p.91).

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Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

De acordo com o quadro acima, são mencionados aspectos pertinentes a


adequação da empresa, no sentido de promover um atendimento que venha de
encontro às necessidades do cliente. Assim, quando a empresa passa a conhecer
as expectativas do deste em relação à empresa, são delineados par esta, os cami-
nhos a serem seguidos de modo a promover a satisfação e consequentemente a
fidelização deste cliente.

3.3 E-crm (customer relationship management)


Nos negócios de formato digital, o CRM tem igual importância para que se
possa conhecer o cliente, uma vez que, na interação on-line, o mesmo também se
relaciona com a empresa, e esta, deve buscar informações que forneça dados de
modo possibilitar o estabelecimento de uma relação mais estreita com o cliente,
buscando se antecipar, de acordo com suas preferências.
Segundo Bezos, o e-CRM é uma personalização da internet, que permite a
empresa melhor atender as necessidades/desejos dos consumidores, oferecendo-
lhes um tratamento personalizado de acordo com as preferências e costumes de
cada um. Permite a empresa antecipar-se aos anseios dos consumidores, con-
quistando assim a lealdade dos mesmos sem prejudicar a rentabilidade da orga-
nização, mesmo que esta tenha 20 milhões de clientes.
O mercado digital, também demanda mudanças radicais no processo de ma-
rketing, envolvendo assim o CRM. Este sugere acolher cada cliente de maneira
unificada, utilizando-se de diversos meios de comunicação (e-mail, mala-direta,
telefone ou pessoalmente). Como dito anteriormente, a empresa utilizando-se do
CRM visando interação com os consumidores e customização de seus produtos e
serviços. O mesmo acontece com o e-CRM, ou seja, este último é a aplicação do
primeiro, porem no mercado eletrônico. “As possibilidades nesta área são imen-
sas, mas ainda existem erros nas estratégias de empresas, que muitas vezes redu-
zem sua atuação no envio de e-mails ou em publicações de paginas institucionais
na internet”, (KALAKOTA e WHINSTON, 1997 apud TESTA, et al, 2006, p. 06).
Para uma maior visualização desse contexto Luciano e Freitas (2004, p. 2 e 3)
criam um exemplo de um cliente que ao acessar um site procurando um livro, só po-
derá efetivar a compra se houver uma interação entre os sistemas de informação da
organização, seus fornecedores e parceiros. Em outras palavras, quando um cliente
acessa um site e compra um determinado produto, essa compra só será possível
se houver uma interação entre os sistemas de informação da empresa e, também
entre a empresa e seus fornecedores e rede de parceiros. Esse consumidor pode ter
encontrado o livro que necessitava justamente pelo resultado do trabalho de uma fer-
ramenta de CRM (e-CRM). Essa ferramenta pode, através de um banco, ter buscado
as características de perfil e preferências desse consumidor específico e assim ter
sugerido o livro para aquisição. “Para que todos estes sistemas funcionem da velo-
cidade demandada pelas transações via Internet eles precisam estar interligados – a
empresa, fornecedor, parceiros e consumidor”. (LUCIANO E FREITAS, 2004, p. 3)

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CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

Cardoso e Filho (2001) dizem que o operacional e/ou o estratégico devem ter
uma visão geral do cliente dentro da organização, o que ainda não foi atingido.
Os autores definem os principais desafios no oferecimento de um verdadei-
ro e-CRM:
• Consistência para construir uma estratégia de canais interativa e
integrada;
• Equilíbrio entre as interações self-service e os atendimentos pessoais;
• Adoção da tecnologia certa no tempo certo;
• Mudanças no gerenciamento; e
• Avaliação das expectativas dos clientes quanta aos serviços com base
na web.
De acordo com as idéias e conceitos expostos sobre e-CRM, e de vital
importância à adequação das ferramentas de marketing, quanta a interação
com o cliente, de modo a conhecê-lo e adequar os produtos/serviços a suas
necessidades, proporcionando um atendimento personalizado, mais eficien-
te, e faça com que este, mediante sua satisfação, gere inclusive, a captação
de novos clientes.

4. CZRM: O CRM DO GOVERNO ELETRÔNICO


Este capítulo busca o entendimento sobre relação do governo eletrônico e
as ferramentas de CRM que, no âmbito governamental, ganha o conceito de
Citizen Relationship Management (CzRM) – Gestão de Relacionamento com
o Cidadão – bem como, a importância desta prática, para que se possa alcançar
bons resultados com a adoção deste novo modelo de gestão através de recursos
tecnológicos disponíveis atualmente.

4.1 CzRM - citizen relationship management


Com as mudanças ocorridas em função dos avanços tecnológicos, as em-
presas, governos e comunidades passam por uma profunda transformação no
modo de interação. Neste novo cenário que se apresenta, a velocidade, a flexi-
bilidade e a inovação passam a ser fatores imprescindíveis. (CASTELLS apud
BITTENCOURT FILHO, 2001).
Na esfera governamental, um dos principais elementos do e-gov e um sis-
tema de CzRM – Citizen Relationship Management (Gestão de Relacionamento
com o cidadão), que proporciona uma gestão mais eficiente e facilita a intera-
ção com o cidadão. Através de uma plataforma de informação, onde são reu-
nidos dados dos diversos órgãos de governo, é possível que o cidadão obtenha
atendimento com maior rapidez, podendo interagir mediante diversos canais de
comunicação.

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Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

Segundo Santos (2006), a partir do CzRM torna-se possível a obtenção


de informações sobre os cidadãos de modo a conhecê-los melhor. O atendi-
mento por parte dos órgãos governamentais passa a ser realizado de modo
mais consistente e o acesso à informação bem como dos serviços oferecidos
por estes, são disponibilizados aos cidadãos de modo mais rápido e com segu-
rança. Ainda, de acordo com o autor, é possível realizar o monitoramento das
solicitações efetuadas pelos clientes e a medição da eficiência do atendimento
prestado.
De acordo a exposição de Xavier e Golveia (2004), na Conferencia Ibero-
Americana, a pratica do CzRM: “_ procura alcançar, na relação com os cidadãos,
os benefícios que o CRM já demonstrou nas relações com os clientes; - auxiliar
as entidades publicas a conseguir mais e melhor conhecimento dos cidadãos e,
por essa via, satisfazer mais eficazmente suas necessidades; - melhoram o nível
de serviço”.
Para que o CzRM seja adotado com a obtenção de resultados positivos, e
necessário que haja uma mudança cultural, uma reformulação nos processos, de
modo que os objetivos estejam centrados no cliente.
Deste modo, a aplicação de novas tecnologias, a reestruturação e integração
dos processos, são fatores determinantes para a disponibilização de serviços on-
line de forma a facilitar à comunicação, possibilitando novas funcionalidades
que podem ser personalizadas de acordo com o perfil do usuário, com a devida
atenção as necessidades individuais do mesmo.
Ainda de acordo com Xavier e Golveia (2004), se faz necessária uma ade-
quação do modelo de CzRM a região na qual será implantado, ou seja, nas cida-
des e regiões digitais (CDR), e afirma que:
–– o CzRM não e aplicável as situações em que as propostas de CRD não
funcionam em torno do cidadão;
–– e indispensável em modelos de CRD que tenham como preocupação o
espaço público de informação social, para o suporte a vida dos cida-
dãos, e cuja arquitetura contemple a ligação estreita, entre o digital e
o espaço físico.
Deste modo, a filosofia de CzRM deve considerar como ponto de partida a
necessidade de capitação, satisfação e fidelização dos cidadãos. Assim, a melho-
ria na oferta de serviços, a redução de custos de interação, a personalização da
relação e, a qualidade e volume de informações serão alcançados.
Através da obtenção de informações que propiciem o conhecimento não só
dos cidadãos, mas, de todos os stakeholders – todos os envolvidos num proces-
so, por exemplo, colaboradores, investidores, fornecedores – tornam-se possí-
vel avaliação do contexto no qual o governo atua, norteando o planejamento e
auxiliando na tomada de decisões, de modo a realizar ações de acordo com as
condições do ambiente e das expectativas dos atores locais.

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CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

5. CONCLUSÃO
Com o advento das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs), a
sociedade contemporânea tem a oportunidade de realizar, mais do que em qual-
quer tempo anterior da história, o ideal democrático oriundo da Grécia antiga.
É natural que no sistema capitalista, as mudanças ocorram primeiramente
no mercado, impulsionadas pela extrema concorrência que a evolução do siste-
ma econômico impõe as organizações, porem, o Estado, para manter-se eficiente
e eficaz e obrigado a utilizar destas mesmas ferramentas sob pena de não conse-
guir realizar suas funções básicas, como fazia anteriormente.
Se hoje e imprescindível à utilização da ferramenta CRM para as organi-
zações privadas, para que essas possam atrair e reter seus clientes, na esfera
governamental, o CzRM também se mostra imprescindível pois, sem este re-
curso, o governo não conseguira elaborar um planejamento voltado a atender as
necessidades/anseios da população, de forma mais efetiva.
Através do CzRM a implantação de um sistema de e-Gov se apresentara com-
pleto, possibilitando a toda esfera governamental uma total interatividade com o ci-
dadão. Dessa forma, as ações de governo podem ser realizadas seguindo os desejos
e necessidades da população. A gestão dos processos ganha agilidade e confiabilida-
de, tornando transparentes todas as ações realizadas pelos órgãos públicos.
Por tudo isso, fica claro que o CzRM e o e-Gov são duas filosofias que se
completam e que fortalecem o sistema democrático, ou seja, são ganhos funda-
mentais para toda a sociedade.

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129
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

130
CIBERINCUBADORA:
UM MODELO PARA O
DESENVOLVIMENTO REGIONAL

Américo Ricardo Moreira de Almeida


Professor titular, Centro Universitário UnirG
ricardoalmeida@ricardoalmeida.adm.br

Jenilson Alves de Cirqueira


Acadêmico, Centro Universitário UnirG
jenilsoncirqueira@gmail.com

RESUMO

Apresentar uma nova proposta para o conceito de incubação de empresas é o principal


objetivo desse artigo. Ressaltando os principais conceitos envolvidos no planejamento
do desenvolvimento regional sustentável, bem como os modelos existentes de incubação
e suas mais importantes bases conceituais, a pesquisa elege algumas das características
da cibercultura para construir a idéia da ciberincubadora, que busca identificar as novas
necessidades da sociedade contemporânea, para visualizar soluções aos atores envolvidos.

PALAVRAS-CHAVE

Cibercultura, desenvolvimento regional, incubadora de empresas.

1. INTRODUÇÃO
Ao focar sua discussão maior na questão da tecnologia da informação e
comunicação dentro do contexto do desenvolvimento regional sustentável, o
presente artigo não deixa de lado posicionamentos e questões importantes desse
tema. Hoje, quando se pensa em desenvolvimento regional, a questão da susten-
tabilidade se apresenta como indispensável e indiscutível. Porém, muitos outros
aspectos são totalmente discutíveis e, por isso estão longe de um consenso, como
por exemplo, qual seria a melhor perspectiva para o desenvolvimento regional
sustentável: endógeno ou exógeno? Outro ponto é a questão da influencia ainda
existente do pensamento que se batizou de porteriano. Apesar das fortes críticas
sofridas nos últimos anos é notório que o pensamento de Michel Porter ainda in-
fluencia e muito o planejamento e a gestão estratégica de organizações públicas
e privadas. Deste modo, ao se planejar a implantação de um projeto junto a um
município, Estado ou país se faz necessário observar esse fator. Ressalta-se que

131
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

é por esse motivo, que são utilizadas algumas referências mais antigas sobre o
tema, justamente por que se tornaram clássicas nesta discussão.
Dentro desses contextos, o conceito de incubadoras de empresas como
apoio ao desenvolvimento regional sustentável se apresenta já há algum tem-
po como uma solução saudável precisamente por possibilitar o nascimento e
fortalecimento de micro, pequenas e médias empresas. A recente populari-
zação das novas tecnologias possibilitou o surgimento de uma evolução no
conceito de incubadora de empresa que aparentemente ainda se encontra em
um estágio embrionário e que justamente por isso ainda se apresenta com di-
versas roupagens e vertentes, nominadas hora como incubadora digital hora
como incubadora virtual. O artigo discutirá o estado da arte desses conceitos
e também apresentará uma nova visão que nasce com o intuito de ser um novo
instrumento para o desenvolvimento regional sustentável: a ciberincubadora.
Esse novo modelo se utiliza das modernas tecnologias da informação e comu-
nicação disponíveis, assim também como dos diversos e atuais conceitos que
essas tecnologias envolvem.

2. A INOVAÇÃO E O EMPREENDEDORISMO
Tanto o conceito de desenvolvimento regional, quanto o de incubadora de
empresas estão intimamente ligados aos conceitos de inovação e de empreen-
dedorismo. A Organização de Cooperação para o Desenvolvimento Econômico
(OCDE, 1996), afirma que a inovação se caracteriza pela transformação de uma
idéia em um novo produto, de um processo operacional para a indústria ou para
o comércio, ou ainda, em um novo método social. Schumpeter (1988) é o au-
tor que mais trabalhou o tema e melhor define o conceito de inovação, fazendo
pela primeira vez a distinção desse conceito com o da invenção, que antes era
tradicionalmente usada como sinônimo. Schumpeter ensina que a invenção não
possui um caráter necessariamente ligado ao desenvolvimento econômico ao
contrário da inovação.
Para Schumpeter (1988), a inovação deve ser vista como o impulso funda-
mental que, além de colocar, mantém a engrenagem da economia em movimen-
to. Dessa forma, para esse autor o desenvolvimento econômico somente pode
ocorrer em sua plenitude se existir a inovação como base. Neste mesmo sentido,
o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, IPEA (2005) define inovação tec-
nológica como a:
introdução no mercado de um produto (bem ou serviço) tecnologicamente
novo ou substancialmente aprimorado ou pela introdução na empresa de
um processo produtivo tecnologicamente aprimorado ou novo. A inovação
tecnológica pode resultar de novos desenvolvimentos tecnológicos, de
novas combinações de tecnologias existentes ou da utilização de outros
conhecimentos adquiridos pela empresa.

132
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

Com base na definição seguida pelo IPEA ou em outras definições, pode-


mos perceber a tecnologia em dois aspectos: o físico e o social. As tecnologias
físicas são as que normalmente são lembradas quando se usa esse termo. As
tecnologias físicas são ligadas as ferramentas desde a pedra lascada de ontem
até aos microchipes de hoje. É uma tecnologia muito importante e que colabora
de forma significativa com o atual estágio do desenvolvimento econômico da
sociedade contemporânea. Porém, não se pode esquecer o neologismo denomi-
nado como tecnologias sociais, que em um novo entendimento, estão ligadas
as relações sociais, ao modo de como se organizam as pessoas, aos métodos
utilizados nos processos que envolvem os indivíduos e naturalmente como esses
indivíduos se relacionam17.
Assim, o desenvolvimento regional deve ser planejado tendo a inovação
como fator crucial. O IPEA (2005, p.46) demonstra no quadro 1, a importância
que a inovação trás a uma sociedade em se comparando com aquelas economias
que se baseiam na imitação.

Quadro 1. Imitadores, Inovadores e Competitividade.

Para Peter F. Drucker (1986, p.25) “a inovação é o instrumento específi-


co dos empreendedores, o meio pelo qual eles exploram a mudança como uma
oportunidade para um negócio diferente ou um serviço diferente”. Drucker ex-
plica que, assim como no Brasil nos Estados Unidos da América, o termo empre-
endedorismo também é usado de forma errônea para aquele empresário que abre
seu negócio. Esse erro não deve ser cometido, pois pode levar ao entendimento
que um empreendimento sem nenhuma inovação pode trazer a sociedade um
resultado tão bom quanto aquele que carrega a inovação em seus princípios.
Assim, não podemos nos permitir classificar como benéfico um empreen-
dimento que apenas se baseia na imitação, pois como mostra o quadro 1, essa
prática não consegue produzir a tecnologia social. Deve-se então reservar a clas-
sificação de empreendedor, para aqueles que realmente estão dispostos a investir
no desenvolvimento de tecnologias físicas e/ou sociais.

17 �������������������������������������������������������������������������������������
Clemente de Nóbrega escreve sobre esse neologismo no artigo “Por que o Brasil é ruim
de inovação?”, na Revista Época Negócios. <http://epocanegocios.globo.com/Revista/
Epocanegocios/0,,EDG79418-8374-8,00.html>

133
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

3. O DESENVOLVIMENTO REGIONAL
Desenvolvimento regional está diretamente ligado à elevação da qualidade
de vida de determinada população de determinada localidade, observada com
a elevação da renda, a qual deve ser maior do que o crescimento demográfico.
Contudo, a elevação do Produto Interno Bruto (PIB) per capita não significa,
automaticamente, melhor distribuição de renda nem garantias para um cresci-
mento futuro de produção.
Dessa maneira, é imprescindível o crescimento sustentável. Isso quer di-
zer que, durante o processo de crescimento e desenvolvimento, cada fase, se-
quencialmente, propicia as condições necessárias à fase seguinte. Oliveira, et al
(2003, p.31) comentam ainda que:
O desenvolvimento deve ser encarado como um processo complexo de mu‑
danças e transformações de ordem econômica, política e, principalmente,
humana e social. Desenvolvimento nada mais é que o crescimento – in‑
crementos positivos no produto e na renda – transformado para satisfazer
as mais diversificadas necessidades do ser humano, tais como: saúde,
educação, habitação, transporte, alimentação, lazer, dentre outras.
Para Haveri (apud BUARQUE, 1999), seguindo o pensamento de Shumpeter,
esse fenômeno está geralmente associado a iniciativas inovadoras, onde as co-
munidades se utilizam de suas características específicas que geram qualidades
superiores para garantir um diferencial em relação a outras regiões e assim, se-
guindo agora Michel Porter, geram uma vantagem competitiva.
Na visão das teorias clássicas, o desenvolvimento regional apresenta a exis-
tência de uma força exógena que possui a capacidade de mover as atividades
econômicas de uma maneira geral e quase incondicionada. Para os autores que
defendem esse conceito, essas forças são oriundas dos pólos centrais de um país
ou região, baseando-se principalmente nas atividades exportadoras, como fun-
damento do crescimento e difusão do desenvolvimento. Dessa forma, as influên-
cias externas seriam maiores e mais decisivas que as forças internas.
Na dialética dessa discussão existem os autores que defendem que as forças
motrizes internas de uma região são capazes de, por si só, possibilitarem um
desenvolvimento econômico que extrapola os limites regionais, causando um
impulso para toda a sociedade local e influenciando outras regiões. São as forças
endógenas colocadas como primordiais para o planejamento do desenvolvimen-
to regional.
Vários autores já discorreram sobre a forte dualidade que a nova economia
ressaltou: o local e o global. Essas forças na verdade não se mostram contradi-
tórias e sim complementares, pois o global só acontece a partir do local. Essa
condição é potencializada através das novas tecnologias da informação e co-
municação, pois elas possibilitam que diferentes processos que acontecem em

134
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

diversos pontos do globo, possam interagir e se multiplicar com uma velocidade


antes não imaginada.
Para melhor compreensão desse novo contexto, que possibilita essa nova
interação, pode ser citada a idéia do Efeito Moebius de Lévy (2005 apud
ROVERONI 2008, p. 130), onde:
O Efeito Moebius, que é “outro caráter freqüentemente associado à virtu‑
alização: a passagem do interior ao exterior e do exterior ao interior”. Sob
esse efeito sutil, quase imperceptível há um entrelaçamento sobre áreas
que, até o surgimento da virtualização, pareciam estáveis e bem definidas:
as relações entre privado e público, entre próprio e comum, subjetivo
e objetivo, mapa e território, autor e leitor. Apenas para exemplificar
rapidamente, comparemos as organizações tradicionais e as virtuais: o
trabalhador clássico tinha sua mesa de trabalho, o participante da em‑
presa virtual, compartilha seu computador, sua casa, sua conexão com a
rede de comunicação; o trabalhador da empresa habitual passa do espaço
privado da sua casa, para o espaço público da empresa, o teletrabalhador
transforma seu espaço privado em público e vice-versa.
Dessa forma, percebe-se que mesmo se planejando um desenvolvimento
exógeno é necessário se contar com fatores endógenos para que realmente o
desenvolvimento regional aconteça de forma vigorosa. Pode-se dizer que o ideal
do desenvolvimento, frente a essas novas condições existentes, em termos socio-
econômicos e tecnológicos, é que se possa unir as forças endógenas e exógenas
para que de sua síntese surja um resultado superior.
O desenvolvimento local pode ser iniciado por diferentes atores da comu-
nidade ou de fora dela, e por isso é diferenciado do desenvolvimento municipal,
pois esse está diretamente ligado ao poder político-administrativo do município.
Kotler, et al (1994) defende que um planejamento estratégico de marketing de
localidades deve envolver em seu grupo de planejamento os cidadãos, a comu-
nidade empresarial e o poder público local, estadual e nacional, pode-se sem
dúvida alguma hoje incluir os poderes internacionais.
Esse grupo de planejamento deve buscar envolver o maior número possível
de atores da sociedade e terá entre suas atividades três tarefas básicas:
1) diagnosticar as reais condições da cidade e região,
2) elaborar as estratégias para solucionar os problemas a curto, médio e
longo prazos,
3) desenvolver os planos de ação, com suas várias fases de investimento
e transformação.
Todos esses atores devem ter como fio condutor do planejamento regional
a questão da sustentabilidade. Esse tema teve uma evolução histórica. Com cer-
teza ainda encontra-se pensamentos baseados no positivismo e no modelo me-
canicista, porém a mudança desses paradigmas é evidente e acontece mesmo
antes do conhecido Clube de Roma com seu livro “Limites ao Crescimento”

135
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

(MEADOWS,  1972), que evoluiu nos resultados da Eco-92 e desencadeou o


estabelecimento do Protocolo de Kyoto. Naturalmente o resultado do documento
de Kyoto, não tem ainda um apoio absoluto e nem pode ser considerado como
as melhores proposituras, porém é um real avanço do pensamento capitalista
original.
O Relatório Brundtland apresenta o resultado do esforço da Comissão
Mundial (da ONU) sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (UNCED)
afirma que: “Desenvolvimento sustentável é desenvolvimento que satisfaz as
necessidades do presente sem comprometer a capacidade de as futuras gerações
satisfazerem as suas próprias necessidades”. (COMISSÃO MUNDIAL SOBRE
MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO, 1988).
A nova dinâmica internacional, esboçada em nossos dias, possibilita o apa-
recimento de atividades locais que realmente em ressaltando as características
regionais possam ter uma melhor condição de visibilidade em outros espaços
antes não alcançados. Porém, apesar da globalização ter remodelado as ativida-
des comerciais e econômicas, transformando de forma considerável o mercado
de todos os continentes, as mudanças que afetam o desenvolvimento das nações
envolvem em geral apenas uma parcela de suas regiões, e neste cenário, ainda
é possível observar a existência de regiões onde  esse desenvolvimento social,
econômico e tecnológico não aconteceu. Justamente sob essas novas condições,
o conceito de incubadoras surge como uma possibilidade muito mais forte do
que a originalmente pensada.

4. O CONCEITO DE INCUBADORAS
Não existe um consenso em relação ao surgimento do conceito de incuba-
dora de empresas, principalmente quando se estuda as transformações que ocor-
reram em seus fundamentos. Porém, pode-se afirmar que elas se desenvolveram
intimamente ligadas aos parques tecnológicos e as universidades. (IMASATO,
2005)
Segundo Barbieri (1994), os chamados parques tecnológicos são derivados
dos ingleses “science parks” ou dos franceses “technopolis” e tem como maior
expoente mundial o caso californiano do Vale do Silício, ligado desde o seu nas-
cimento a Universidade de Stanford.
No Brasil o surgimento da primeira incubadora se deu em no ano de 1987
e se desenvolveu rapidamente chegando em 2006 a 377 unidades, conforme le-
vantamento da Anprotec, organismo que representa as incubadoras de empre-
sas, parques tecnológicos e empreendimentos inovadores no Brasil. Em terras
tupiniquins pesquisadores apontam que mesmo sendo implantado por universi-
dades, na maioria das incubadoras existentes há uma grande lacuna entre esses
projetos, o ensino e a pesquisa.

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CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

Furtado (1998, p. 25) conceitua incubadora como: “uma instalação orienta-


da e estruturada para receber e desenvolver novas empresas”. Com base nas afir-
mações de Furtado (1998) se pode destacar que em um sentido amplo existem
três tipos básicos de incubadoras atuantes ao redor do globo:
1– como um órgão estatal incumbido de planejar, dirigir e controlar a po-
lítica industrial do país;
2– enquanto um local onde empresários (e/ou empreendedores) iniciantes
tenham condições de desenvolver suas capacidades de analise, planeja-
mento e gestão de negócios;
3– sendo um núcleo no interior de uma grande organização que instigue
seus colaboradores a desenvolverem idéias que possam gerar inova-
ções em produtos, serviços ou processos.
Dessa forma, as organizações que criaram as incubadoras em nosso país,
tinham como missão apoiar novas empresas ou empresas já constituídas com
o objetivo principal de ajudar reduzir a alta taxa de mortalidade das empresas
brasileiras.
Para isso, se apoiariam em suas especialidades, prestando assessoria através
de seus profissionais e de entidades parceiras como o SEBRAE. Essas atividades
gerariam pesquisas e estimulariam o processo de transferência de tecnologia
entre as universidades e a sociedade.
Durante esses anos de evolução foram adotados alguns conceitos comuns
entre as incubadoras existentes, entre eles destacam-se:
• Empresas de Base Tecnológica: são aquelas comprometidas com o pro-
jeto, desenvolvimento e produção de novos produtos e/ou processos,
caracterizando-se ainda pela aplicação sistemática de conhecimento
técnico-científico.
• Empresas Emergentes: são aquelas que se diferenciam pelas perspecti-
vas de crescimento acelerado.
• Graduação de Empresas: processo de saída de uma empresa da incuba-
dora da qual é residente, uma vez que tenha alcançado desenvolvimen-
to suficiente para entrar no mercado.
• Incubação de Empresas: processo de apoio ao desenvolvimento de em-
presas nascentes e emergentes e promoção de condições específicas,
através do qual empreendedores podem desfrutar de instalações físi-
cas, ambiente instrucional e de suporte técnico e gerencial no início e
durante as etapas de desenvolvimento do negócio.
• Incubadora de Empresas de Base Tecnológica: estrutura de suporte ge-
rencial que estimula a criação e apóia o desenvolvimento de micro e
pequenas empresas onde a tecnologia dos produtos, processos ou ser-
viços representa alto valor agregado, disponibilizando um conjunto de
atividades de formação complementar para os empreendedores, bem
como outros serviços especializados nas áreas de gestão tecnológica
e empresarial.

137
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

• Inovação Tecnológica em Tecnologia da Informação: desenvolvimento


e introdução no mercado de produtos, serviços ou processos tecnolo-
gicamente novos ou de melhorias significativas em produtos, serviços
ou processos existentes.
• Plano de Graduação: projeto que detalha as atividades de suporte ao
processo de graduação de uma empresa de base tecnológica residente
em uma incubadora.
• Plano de Incubação: projeto que detalha as atividades de suporte ao
processo de incubação de uma empresa de base tecnológica resi-
dente em uma incubadora, ou em uma instituição sem fins lucra-
tivos que possua finalidade similar, preparando-a para graduação.
• Plano de Negócios: instrumento que define o planejamento da es-
tratégia de uma empresa, visando identificar seu potencial de explo-
ração comercial, econômica e empresarial, abordando os aspectos fi-
nanceiro, organizacional, gerencial, comercial, jurídico de propriedade
intelectual.
• Pré-incubação: concepção de uma nova empresa para futura incubação,
envolvendo um conjunto de atividades de suporte técnico e gerencial.
• Projeto Inovador em Tecnologia com foco em mercado: projeto de pes-
quisa aplicada que apresenta potencial de exploração econômica, seja
por meio da criação de uma empresa para esse fim, seja através da
transferência da tecnologia para uma empresa já constituída.
• Transferência de Tecnologia: conjunto de atividades que viabilizam a
troca de conhecimentos e habilidades tecnológicas entre instituições de
ensino superior e/ou de pesquisa e o setor empresarial. (UNESP, 2003)
O apoio as empresas incubadas, como ressaltado, objetiva tornar essas em-
presas diferenciadas no mercado. Baseando-se além do apoio físico e estrutural,
na assessoria para todos os setores da empresa, na qualificação dos profissionais,
preparando estes para um mercado exigente e competitivo. O estreitamento das
relações com o ambiente externo que influenciam o mercado e a empresa, obje-
tiva contribuir diretamente para o crescimento das empresas, alicerçando-as no
cenário competitivo.
Vale ressaltar que no modelo tradicional de incubadora de empresas exis-
tem duas formas de incubar, uma considerada fechada e outra aberta. Na pri-
meira, a empresa incubada possui um espaço determinado dentro do centro
de incubação. Na  segunda, a empresa não precisa estar dentro do espaço da
incubadora fisicamente, mas recebe todos os serviços de suporte prestados
pela incubadora.
Em um levantamento sobre o panorama dessa modalidade no Brasil,
Imasato (2005) faz um relatório preciso e encontra muitas iniciativas que criati-
vamente expande o conceito original, porém, muitas delas fogem em sua prática
da condição que consideramos básica na idéia original, que é a inovação e o
empreendedorismo em suas características fundamentais. 

138
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

Além das incubadoras de base tecnológicas, Imasato (2005) baseando-se


nas informações da Anprotec e do SEBRAE, cita a existência das seguintes
modalidades:
• Incubadora agroindustrial: para produtos e serviços agropecuários.
• Incubadora cultural: para empreendimentos ligados a cultura.
• Incubadora de artes: voltadas a organizações que visam apoiar as artes
através de produtos e serviços.
• Incubadora de cooperativas: apóia a formação do processo cooperativo.
• Incubadora de empresas de setores tradicionais: abriga empresas liga-
das a setores da economia que possuem tecnologias largamente difun-
didas, porém que estejam dispostas a absorver e colaborar no desenvol-
vimento de novas tecnologias.
• Incubadora mista: incuba ao mesmo tempo empresas com base tecno-
lógica e as de setores tradicionais.
• Incubadora setorial: serve apenas um setor especifico da economia.
• Incubadora social: para empreendimentos que tenham como base um
projeto social, normalmente seu objetivo maior é a criação de emprego
e renda.
• Incubadora virtual: estabelece via internet, objetivando a criação de um
amplo banco de dados que possa viabilizar novos empreendimentos18.
Uma grande parcela das incubadoras brasileiras é voltada realmente
para empreendimentos que possuam forte base tecnológica, entre outras,
por exemplo, as ligadas a Incubadora de Empresas MIDI Tecnológico do
SEBARE/SC ou a Incubadora de Base Tecnológica da UNESP - INCUNESP/
RC.
Porém, como destacado acima, existem incubadoras que são voltadas ao
apoio a empresas comuns, de setores tradicionais, como é o caso da Incubadora
de Empresas do CEULP/ULBRA de Palmas ou do Centro de Incubação
de Empresas de Gurupi (CIEG) do Centro Universitário UnirG, ambas no
Tocantins. Essas incubadoras abrigam micro e pequenas empresas com ativi-
dades e gestão sem nenhuma base tecnológica ou características inovadoras em
seu sentido mais profundo.
No CIEG, por exemplo, no início das atividades, foram incubadas: uma
fábrica de calçados, uma empresa de confecção de uniformes e uma empresa de
serviços na área de limpeza. Um dos maiores problemas percebidos foi que, des-
de a seleção para a incubação, não se levou em conta a inovação e o empreende-
dorismo para a escolha definitiva. Isso poderia ser aceito se, na fase seguinte de
implantação, o planejamento e a pesquisa previssem o desenvolvimento destes
fatores fundamentais, o que não ocorreu.

18 ������������������������������������������������������������������������������������
Para conhecer mais sobre o conceito da incubadora virtual da Fapesp visite: <http://
iv.incubadora.fapesp.br/portal/sobre/o-que-e-a-incubadora>

139
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

O problema inicial refletiu no desenvolvimento das empresas incubadas e


como resultando, duas das três atividades mencionadas já encerraram suas ati-
vidades não somente pela ausência de gestão, planejamento e controle, mas tam-
bém aqui, pelo distanciamento da área acadêmica. Como demonstração deste
distanciamento, em quase oito anos de existência, o CIEG foi tema de apenas um
trabalho de conclusão de curso do Centro Universitário UnirG.
Dessa forma, essas iniciativas se afastam do princípio inicial dos conceitos
de incubadoras ao não possuírem empresas que apresentem uma “novidade”
em seus produtos e uma relevância nos esforços tecnológicos. Outro problema
encontrado nessas incubadoras é a falta de entrosamento direto da área acadê-
mica das IES com a gestão desses empreendimentos, mesmo que ambos estejam
ligados ao SEBRAE/TO, não favorecem, muitas vezes, a possibilidade do desen-
volvimento de novas tecnologias.
Mesmo nas incubadoras que elegeram a base tecnológica como foco de
incubação, os resultados no Brasil não podem ser considerados bons. Em um
estudo para mensurar a densidade de cooperação existente nas empresas de base
tecnológica e seus agentes de fomento, Cortês, et al (2005) concluem que:
a adoção de mecanismos de cooperação é limitada e excessivamente
concentrada nas relações com instituições acadêmicas, tendendo a ca‑
racterizar redes pouco densas e com ligações fracas entre os agentes, um
tipo de arranjo que, em princípio, não é o mais favorável ao desempenho
inovativo. Em compensação, os esforços de cooperação intensificam-se à
medida que as empresas crescem e parecem sensíveis a estímulos prove‑
nientes de políticas públicas.
De acordo com o pensamento dos autores, um dos problemas se encontra na
dependência excessiva existente entre os empreendimentos e a academia que, na
verdade, forma uma rede pouco densa. Mas qual o motivo desta falta de densida-
de? Está no que foi classificado acima de distanciamento, pois, o que se percebe
é que se formam apenas pequenos grupos dentro das academias que participam
efetivamente destas iniciativas o que não propicia a flexibilidade e a transversa-
lidade necessárias para implantação e gestão de um projeto de incubação. Essa
pequena participação, por sua vez, se deve aos parcos recursos existentes, assim
também como a problemas de projetos mal dimensionados que captam recursos
insuficientes.
Dessa maneira, pode-se perceber que existe um longo caminho para se
percorrer no sentido de realmente garantir que a incubação seja uma boa solução
para o planejamento regional. Para isso, se faz necessário corrigir algumas dis-
torções e criar mecanismos que realmente proporcione um maior entrosamento
das áreas de pesquisa acadêmica com as empresas incubadas, para que realmen-
te aconteça a desejada transferência tecnológica.
Além das definições apresentadas por Imasato (2005) ainda se encontra va-
riações, na UNESP (2007) aparece outro conceito, o de incubadora digital:

140
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

iniciativa de trabalho da equipe de Gestão de Conteúdos Digitais e EAD do


GECD – Grupo de Estudos em Cultura Digital – orientada para a difusão
e promoção das tecnologias da informação e comunicação na construção
e gestão de conteúdos dinâmicos em rede. A INCUBADORA DIGITAL visa
atuar de acordo com pontos conceituais fundamentais para a gestão de
ambientes virtuais de ensino/aprendizagem que possibilite a construção
de comunidades de aprendizado colaborativo.
Essa é uma utilização do conceito que mais se diferencia do normalmente
utilizado, mais que por outro lado, demonstra como pode ser versátil o uso da
filosofia da incubação. Com a evolução da tecnologia da informação e comunica-
ção é natural que os conceitos adquiram novos contornos, assim como também
é previsível que as incubadoras existentes e as que serão implantadas utilizem
cada vez mais as novas tecnologias como facilitadoras de suas atividades.
Algumas das incubadoras em funcionamento já utilizam a consultoria re-
mota, feita através da internet, o ensino a distância para capacitação dos gestores
e colaboradores, o banco de dados de idéias para gerar novos processos e/ou
negócios entre outras atividades.
Porém, nos formatos já experimentados de incubação não foi localizado
um formato que baseasse totalmente suas atividades no mundo digital ou que se
beneficiassem de maneira mais eficiente e eficaz dos aspectos da cibercultura.

5. UMA NOVA PROPOSTA: A CIBERINCUBADORA


Para Pierre Lévy (1999, p. 28-29) a inteligência coletiva é um dos principais
motores da cibercultura, ela estabelece uma nova dinâmica no planejamento e na
gestão das organizações sociais, o pensador afirma que a inteligência coletiva é:
o estabelecimento de uma sinergia entre competências, recursos e projetos,
a constituição e manutenção dinâmicas de memórias em comum, a ativa‑
ção de cooperação flexíveis e transversais, a distribuição coordenada dos
centros de decisão, opõem-se à separação estanque entre as atividades, às
compartimentalizações, à opacidade da organização social.
Com poucos ajustes esse pensamento poderia ser utilizado para se definir
o que chamamos no presente artigo de ciberincubadora. Seria uma organização
que utilizaria os melhores aspectos da cibercultura com a sua “universalidade
sem totalidade”, que através da comunicação todos para todos, permite a total
interconexão e justamente por isso um desenvolvimento muito mais democráti-
co e assim mais saudável.
A versatilidade do conceito de incubadoras, aqui já descrito, pode ser poten-
cializado com a proposta da ciberincubadora, pois nela se conseguiria reprodu-
zir todas as vertentes que hoje já existem, porém com algumas diferenças ainda
não efetivadas. Ela pode ser específica para agronegócio, para projetos sociais,

141
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

para as artes e/ou a cultura, banco de dados de idéias, como também pode somar
todas essas atividades em uma só incubação, dependendo apenas das especiali-
dades das entidades envolvidas, bem como das potencialidades que sejam bené-
ficas se agruparem dependendo do contexto onde for implantada.
A ciberincubadora estaria baseada em quase sua totalidade na rede mundial
de computadores e ao se utilizar da filosofia web 2.0, torna possível a realização
da maioria de suas atividades através da virtualidade. Para uma melhor visão do
conceito apresentado, destacam-se os seguintes pontos:
• Atividades virtuais: consultoria, desenvolvimento, divulgação, comer-
cialização, planejamento, pesquisa, comunicação, plano de negócios,
gestão, controle, recrutamento, treinamento, capacitação de pessoal e
banco de dados.
• Princípios básicos: inovação, empreendedorismo, desenvolvimento
sustentável, pesquisa aplicada, transferência de tecnologia, ligação
total entre grande grupo de professores pesquisadores e gestores das
empresas incubadas.
• Diferenciais: somatória das forças endógenas e exógenas, planejamen-
to democrático, rompimento das fronteiras regionais tanto na incuba-
ção quanto na comercialização, rompimento das barreiras de tempo e
espaço, construção coletiva, gestão cooperada, cooperação flexível e
transversal, fortalecimento da cultura empreendedora e democratiza-
ção na participação diversos atores.
Para deixar mais claro as possibilidades imaginadas para o conceito de ci-
berincubadora, descrevemos um exemplo regional e que elege como base um
produto que nos últimos anos, adquiriu um grande sucesso comercial, a partir
do Estado do Tocantins: o capim dourado.
Tento sua origem a região do Jalapão, a 180 km da capital Palmas, o
capim dourado conseguiu proporcionar para alguns moradores da região
uma melhor qualidade de vida, oriunda da exploração dessa matéria prima.
Apesar dos apoios já recebidos do SEBRAE/TO, Governo do Estado entre
outros organismos, pode-se perceber que a atividade ainda não possui um
total controle e sofre com atravessadores, com a falta de uma real regulamen-
tação, com um maior profissionalismo, com a baixa qualidade no design e por
uma política de precificação que não considera em sua plenitude a raridade
e a escassez da matéria prima, fator fundamental em se pensando desenvol-
vimento sustentável.
Dentro desse contexto, poderia ser planejada a criação de uma ciberincu-
badora ligada ao Centro Universitário UnirG, na região sul do Tocantins. Essa
ciberincubadora poderia ter um provedor contratado em qualquer outra região
do globo. Mesmo não estando no mesmo município, seria possível se ter incuba-
do nesse sistema, as cooperativas das artesãs das cidades do entorno da região
do Jalapão.

142
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

Através da rede mundial as cooperativas de artesãs receberiam total consul-


toria nas diferentes áreas das atividades referentes a produção, comercialização,
gestão, capacitação, planejamento e demais necessidades referentes ao bom de-
sempenho de suas atividades.
Nessa mesma rede, um único portal através de diversas interfaces, possi-
bilitaria o desenvolvimento da maioria das atividades necessárias pelos diver-
sos atores envolvidos. As especificidades que o Centro Universitário UnirG não
consiga atender, devido suas características, podem ser sanadas através de acor-
dos cooperativos capazes de agregar outros atores. No caso específico, através
de um acordo de cooperação com uma instituição especialista em design, que
ficaria responsável pela criação das coleções exclusivas para as cooperativas
de artesãs, agregando valor ao produto final e solucionando um problema hoje
existente. No próprio portal seria possível também se realizar pedidos de peças
customizadas, atendendo assim o gosto do cliente final e mais uma vez possibi-
litando uma valorização do produto.
A criação de um selo de origem seria uma das ações possíveis para combater a
pirataria e os produtos comercializados de forma irresponsável. Essa medida, ganha
um contorno mais forte se for disponibilizado um controle de comprovação via web.
Essas são algumas das ações possíveis dentro da imensa quantidade de possibilida-
des abertas pela utilização real das novas tecnologias da informação e comunicação.
Mesmo nesse rápido exemplo, pode-se visualizar que a idéia da ciberin-
cubadora, trás consigo a real utilização das modernas ferramentas, conceitos
e praticas da cibercultura que acreditamos possibilitar a filosofia da incubação
de empresas outros contornos até agora não explorados. Pode ser utilizada para
uma gama muito grande de modelos e agrega em si características que permitem
garantir um planejamento regional sustentável.
Para se planejar os negócios nesse novo contexto é necessário se aprofundar
nos contornos existentes e não se esquecer dos preceitos do Efeito Moebius. Na
rede mundial de computadores o capitalismo se funde ao socialismo, basta lembrar
os modelos de negócios citados por Spyer (2007, p.146) como o estabelecido pelos
criadores do sistema operacional Linux, que é desenvolvido por milhares de progra-
madores ao redor do globo, sem que esses tenham uma remuneração formal sobre
sua produtividade, ou do Wikipédia, uma enciclopédia produzida por milhares de
pessoas que também não obtém nenhum ganho financeiro ao realizar esse trabalho.
Isso não quer dizer que não se possa produzir riquezas a partir na rede
mundial, ao contrário, assim como a Google ou a Amazon.com, muitos já pro-
duziram e continuam a produzir.
O planejamento de uma unidade da ciberincubadora deve levar em consi-
deração todos os fatores descritos e com certeza pode adquirir uma forma maior
do que a inicialmente imaginada, já que nos encontramos no instante inicial de
sua propositura.

143
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

6. CONCLUSÃO
Buscar alternativas saudáveis para o desenvolvimento regional deve ser
um objetivo constante para todos que atuem nessa área. A proposta da cibe-
rincubadora é uma tentativa de contribuição para essa importante questão
econômico-social.
O estudo realizado encontrou um cenário brasileiro em plena evolução, mas
que necessita de um real aprimoramento e de uma prática mais próxima aos
princípios básicos que fizeram do conceito dos parques tecnológicos e, por con-
seguinte das incubadoras de empresas sucessos em outros países.
Incentivar o nascimento e o crescimento de atividades empreendedoras não
pode jamais se afastar dos princípios da inovação. Para isso, a presença da pes-
quisa acadêmica se mostra fundamental. O envolvimento e a participação aca-
dêmica devem ocorrer de forma contundente e permanente.
A gestão desses organismos deve ser feita através de uma participação de-
mocrática das áreas acadêmicas fundamentais para a boa assessoria e condução
do projeto. Exatamente por que o distanciamento e a falta de densidade de pro-
fissionais envolvidos das áreas acadêmicas das Universidades são aspectos que
aparecem como problemas a serem resolvidos.
Outro grande problema, percebido durante a pesquisa é o justamente o
afastamento dos conceitos originais de inovação e empreendedorismo feito pelo
organismo maior no Brasil: o SEBRAE. Essa questão é delicada e deve ser tra-
tada entre as partes envolvidas e principalmente com base nas discussões dos
resultados obtidos durante esses anos de experiência. Devemos discutir e re-
ver o conceito norte americano de empreendedorismo, hoje aceito e inserido,
sem adaptação em nossa cultura. Temos que perceber os contornos de nossos
ambientes empresariais e difundir as reais concepções do verdadeiro espírito
empreendedor. Caso contrário, estaremos comprometendo e engessando as in-
cubadoras brasileiras e principalmente comprometendo o desenvolvimento da
inovação e da tecnologia. Não podemos nos afastar desses conceitos para real-
mente conseguir construir um mercado competitivo e sustentável de maneira
que atenda as necessidades atuais e viabilizem as futuras.
A necessidade de criação de novos modelos organizacionais, como esse
que hora se apresenta, vem de encontro com a potencialidade do campo virtual.
Dessa forma, acreditamos que a ciberincubadora pode se transformar em uma
boa perspectiva de inserção do Brasil na economia sem fronteiras.
Em busca de algumas dessas soluções e na agregação dos conceitos da ci-
bercultura e das novas tecnologias da informação e comunicação é que a propos-
ta hora apresentada se mostra viável e de aplicação ampla e flexível.
Com a visualização do Efeito Moebius o planejamento do desenvolvimento
regional também adquire novos contornos e deve possibilitar o aproveitamento

144
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

dessas novas condições para que os objetivos definidos possam ser plenamente
alcançados.
As discussões apresentadas que versam sobre a criação da ciberincubadora,
é perfeitamente compatível com uma proposta de desenvolvimento sustentável,
em um ambiente favorável às novas idéias, com um serviço prestado de qualida-
de no âmbito das universidades e, conseqüentemente, para a sociedade, permi-
tindo a integração dos demais atores envolvidos em uma visão sistêmica e global
sobre negócios empreendedores.
Por ser uma proposta inicial, baseada em conceitos e no levantamento das
experiências até agora realizada, e principalmente por ainda não ter sido colo-
cada em prática, esse artigo sofre uma limitação natural, porém uma limitação
que deve ser eliminada com a instalação da primeira ciberincubadora, cujo pla-
nejamento já se encontra em curso. Dessa forma, o objetivo central do artigo é
registrar e socializar a idéia para que a partir dela se possa evoluir através da
construção coletiva.

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146
REDES SOCIAIS DE COOPERAÇÃO
INTERORGANIZACIONAL: O
ESTUDO DE CASO DO VALE DA
ELETRÔNICA – MINAS GERAIS

Soraia de Barros Alvarenga


Centro Universitário UNA
soalvarenga@brfree.com.br

RESUMO

No ambiente atual de negócios, percebe-se a tendência de as organizações atuarem


de forma conjunta compartilhando recursos a partir da definição de estratégias de
interesse comum. A cooperação entre as organizações tem sido aprimorada a partir
de diferentes mercados e o desenvolvimento tecnológico global capacitando empresas
a uma releitura das estratégias de gestão, ações conjuntas e desenvolvimento
do conceito de cooperação. As redes de cooperação, como nova configuração
organizacional, possuem a capacidade de reunir empresas com objetivos comuns,
intensamente relacionadas, dispostas a desenvolver e manter resultados por meio
de uma relação de troca e ganhos coletivos. O presente artigo tem por objetivo
ressaltar os benefícios e dificuldades do Vale da Eletrônica tendo a cooperação como
estratégia de gestão para a conquista das metas corporativas. Este trabalho está
estruturado da seguinte forma: primeiramente a introdução como orientador temporal
ressaltando a importância do tema nos dias atuais. Em segundo lugar trabalhar-se-á
o conceito de cooperação por meio de temas como: as motivações para a cooperação
interorganizacional, a governança e os resultados da cooperação interorganizacional.
O terceiro item abordará a metodologia bem como as fases do desenvolvimento da
pesquisa: desenvolvimento conceitual, delimitação da unidade de análise, coleta dos
dados e análise e interpretação dos dados. O quarto item terá o Vale da Eletrônica,
caracterização e forma de gestão encerrando este artigo com o quinto item de
conclusões e considerações finais sobre o assunto proposto.

1. INTRODUÇÃO
Uma das características da economia no século XXI é a transição da efici-
ência individual para a eficiência coletiva. A competitividade está cada vez mais
relacionada ao desempenho da cooperação interorganizacional e não a empresas
que trabalham isoladamente (FLEURY; FLEURY, 2007). No ambiente atual de
negócios, percebe-se a tendência de as organizações atuarem de forma conjunta,
associada, compartilhando todos os tipos de recursos a partir da definição de
estratégias específicas.

147
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

O tema relativo à cooperação entre organizações tem evoluído constan-


temente desde a década de 1980. Devido ao nível de importância conquistado
pela cooperação no cenário de estudos organizacionais, periódicos científicos
internacionais têm conferido edições especiais, analisando um amplo esco-
po de aspectos relacionados à cooperação organizacional. Assim, revistas de
alto conceito científico internacional como Organization Studies, Academy of
Management Journal, Internactional Management, Administrative Science
Quartely e American Sociological Review têm publicado centenas de artigos
nessa área, nos últimos dez anos (PUFFAL; TONDOLO, 2008).
No âmbito acadêmico, a cooperação tem despertado interesse entre alguns
autores nacionais e estrangeiros, ressaltando as condições de entendimento e
prosperidade dos negócios. Assim, os estudos internacionais de Todeva (2006)
e Perrow (1992) descrevem as tipologias de cooperação. Provan e Kenis (2003)
e Grandori e Cacciatori (2006), em seus estudos sobre governança dos sistemas
relacionais de cooperação interorganizacional, fazem menção ao grau de con-
fiança entre empresas. Castells (2000) estuda as redes sociais; Jarillo (1993), a
estratégia cooperativa e custos de transação; e Oliver e Ebers (1998) apresentam
os estudos em redes de cooperação.
No Brasil, as estratégias de cooperação e seus resultados vêm sendo apre-
sentados pelos seguintes autores: Balestrin e Verschoore (2008) apresentam o
impacto nas estratégias coletivas; Garcia e Lima (2004), a análise estratégica das
relações de cooperação entre instituições nacionais; Amato Neto (2000; 2005),
a cooperação produtiva resultantes da inovação conjugada com densos vínculos
entre organizações e eficácia operacional; e Casarotto Filho e Pires (1999), a
preocupação do desenvolvimento local através da cooperação.
Para iniciar este artigo, tratar-se-á primeiramente da cooperação ressaltando
as motivações para a cooperação interorganizacional, a governança e os resulta-
dos relacionais. Em seguida abordar-se-á a metodologia utilizada para a con-
fecção deste bem como as fases de desenvolvimento conceitual e metodológico,
delimitação da unidade de análise, coleta de dados, análise e interpretação dos
dados. No terceiro item apresentar-se-á o Vale da Eletrônica, suas características
e a cooperação intrínseca na região do sul de Minas. As considerações finais
arrematam o conteúdo deste artigo abordando o modo pelo qual a cooperação
contribui para o resultado das PMEs.

2. COOPERAÇÃO
Neste item abordar-se-á primeiramente as motivações das PMEs que, por
meio da cooperação, buscam resultados superiores ao trabalho isolado, apontan-
do os benefícios proporcionados à PME aliada a essa nova configuração organ-
izacional. Em seguida apresentar-se-á as principais tipologias de cooperação e
a forma organizacional de governança estratégica colaborativa. Finalizar-se-á

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CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

este item com os resultados que a PME pode alcançar, diante dos desafios do
mercado, utilizando a cooperação como opção de estratégia de competitividade.

2.1 Motivações das PMEs para a cooperação


interorganizacional
Os conceitos de cooperação entre as organizações vêm atrelados ao obje-
tivo de obter soluções coletivas e têm recebido atenção nos estudos e práticas
organizacionais das últimas décadas (NOHRIA; ECLES, 1992). Estratégias
de colaboração entre empresas também são desenvolvidas com o objetivo de
reduzir incertezas e riscos, organizando atividades econômicas a partir da co-
ordenação e cooperação entre si. Para Powell (1998), as relações de cooperação
são novas formas de organização social. As trocas econômicas, para este autor,
estão associadas ao contexto particular da estrutura social, dependentes de con-
exões, interesses mútuos, reputação e pouco guiadas por uma estrutura formal
de autoridade.
Pode-se inferir, portanto, que as relações de cooperação são formas de as-
sociação por afinidade de natureza informal e que deixam cada uma das em-
presas responsável por seu próprio desenvolvimento, podendo tornar-se uma
governança formal. É uma escolha de estrutura bem adaptada à PME, em que a
sinergia de interesses contribui para o crescimento da empresa que dificilmente
se manteria sozinha.
A cooperação, segundo Johanson e Johanson (1999), pode ser entendida
como o cominho trilhado pelas empresas envolvidas nas relações de cooperação,
ou seja, é a performance e a sinergia de recursos a fim de garantirem benefí-
cios mútuos através da parceria. Não existe uma regra de atuação e de vanta-
gens para as PMEs manterem-se cooperando, mas alguns pontos são comuns à
participação dessas - a interatividade, a especialização e o aprendizado -, que
tornam as empresas diferenciadas entre si. Para os autores, interatividade ou
conectividade alinham as empresas, preparando-as para a conquista de objetivos
em comum. A especialização, a expertise da produção e o domínio do processo
tornam-se ativos intangíveis da organização, e, por fim, o aprendizado, como
ferramenta ou diferencial estratégico de gestão.
Na estratégia de cooperação percebe-se a condição de complementaridade
de recursos, pesquisa e desenvolvimento (P&D), tecnologia, produção, dis-
tribuição, dentre outros recursos necessários para a globalização da empresa.
Segundo Brass et al. (2004), trata-se de uma união de interesses presentes nos
cinco fatores: relação social, redução de custos e riscos, aprendizado e inovação,
aumento de escala e poder de mercado, e acessibilidade às soluções.
As motivações para a cooperação interorganizacional para Lagemann
(2004) estão na formação de reputação e adaptabilidade para mudanças
no mercado; no acesso a informações; na entrada em novos mercados; na

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Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

difusão de tecnologia; na redução de custos de produção; na maior facili-


dade para a introdução de produtos no mercado; na superação de barreiras
legais; nos ganhos de escala; no compartilhamento de riscos; na melhoria do
material comprado; na manutenção da estabilidade de mercado; na aquisição
de novas tecnologias; na diminuição da rivalidade ou ameaças contratuais;
na aprendizagem organizacional; e na superação de barreiras à entrada em
outros mercados.
Um dos esquemas conceituais que facilitam as decisões de quando é mais
vantajosa a estratégia de cooperação pode ser visualizado na Matriz CPC
(Compra, Produz, Coopera), inicialmente desenvolvida por Child et al. (2005) e
adaptada por Balestrin e Verschoore (2008). Tal matriz CPC auxilia os gestores
a determinar a maneira mais adequada de conduzir as atividades e tomar as
decisões de viabilidade de comprar do mercado, produzir internamente ou coop-
erar com um parceiro conforme ilustrado na figura 1. Assim, segundo os autores,
há uma combinação de importância estratégica de uma determinada atividade
e a competência da empresa em relação aos demais produtores para realizar
qualquer atividade.
A lógica dessa matriz CPC está associada ao entendimento de que nem
mesmo a grande empresa pode executar todas as atividades produtivas interna-
mente. A nova abordagem colaborativa vem auxiliar o desenvolvimento e a ca-
pacitação das PMEs, seja por conta própria, seja por meio de incentivos políticos
que vêm sendo desenvolvidos por vários estados do Brasil para o fortalecimento
dessas redes de cooperação.

FIGURA 1. Matriz CPC.

Fonte: CHILD et al., 2005, e adaptado por BALESTRIN e VERSCHOORE, 2008.

150
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

Coletivamente, as firmas integrantes das relações de cooperação terão


maior capacidade de adaptação às mudanças. Para Perrow (1992), as empresas,
ao participarem de uma relação de cooperação, tornam-se mais seguras e pas-
sam a ser percebidas com distinção por parte do público, garantindo a legiti-
midade nas ações comerciais. Essas vantagens são importantes, pois apontam a
cooperação como parte do cenário econômico atual.
Dessa forma, observam-se múltiplos benefícios que as empresas encontram
ao se organizarem de forma cooperativa. Diante dos argumentos apresentados
até o momento, percebe-se que esse procedimento de cooperação consiste em
um modelo eficaz para as empresas alcançarem competitividade nos mercados
por meio de relacionamentos estabelecidos nas inter-relações ou laços estratégi-
cos, contribuindo para ganhos intangíveis que se tornam mensuráveis quando
analisados nos resultados financeiros da empresa.

2.2 Governança da cooperação interorganizacional


As evidências empíricas estudadas por Grandori e Cacciatori (2006) apre-
sentam atividades interorganizacionais baseadas na cooperação, entretanto en-
volvem empresas em relações cujos procedimentos e trocas de experiências não
são devidamente esclarecidos. Esse ambiente de incertezas provoca conflitos no
intercâmbio de conhecimentos interfirmas, dificultando a disseminação e a pe-
renidade da estratégia cooperativa interorganizacional.
A governança da cooperação interorganizacional vem apresentar mecanis-
mos de coordenação que regem as relações entre empresas. Para Provan e Kenis
(2003), existem três tipos de governança interorganizacional que são identifi-
cadas como: autogestão (self- governed); governança a partir de uma empre-
sa líder (lead-organization governed); e governança a partir de uma entidade
administrativa (network administrative organization), que é representada pela
reciprocidade das decisões, colaboração e envolvimento coletivo de indivíduos
e empresas.
Nas relações de cooperação, segundo Provan e Kenis (2003), a governança
trabalha os conflitos de forma equilibrada, fazendo interface com os cooperados
relacionais. A legitimidade é balanceada, levando em consideração as tensões
internas e externas da relação de cooperação, promovendo um empate entre as
forças.
A governança formal, segundo Lorenzoni e Baden-Fuller (1995), é inflexív-
el na medida em que não permite negociação após formalização. Os contratos,
para os autores, limitam a criatividade dos envolvidos na cooperação e inibem
futuras parcerias na base da confiança. O clima institucional é considerado um
pilar de sustentação organizacional. Para os autores, criar um clima de confiança
e reciprocidade é dinamizar a organização por meio das relações de bom senso
entre as empresas envolvidas na cooperação.

151
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

Por outro lado, Woolthuis et al. (2005) destacam três aspectos do contrato
e a influência sobre governança. Primeiramente, o contrato apresenta-se como
inibidor do oportunismo entre as organizações e motivador das oportunidades
de negócios. Em seguida, os autores apresentam o contrato como redutor de
conflitos interorganizacionais, uma vez que ambas as partes firmaram o acordo
e concordaram formalmente com as condições negociadas, não há o que se dis-
cutir. E, em terceiro lugar, o cumprimento do contrato firmado gera satisfação
aos envolvidos e desenvolve a credibilidade entre as empresas, tornando o con-
trato apenas um protocolo da negociação.
A governança informal, pautada na confiança entre as empresas envolvidas
na cooperação, permite interpretações diversas. Para Locke (2001), confiança é
um atributo pessoal; algumas pessoas são confiáveis e outras não. Confiar em
uma pessoa significa acreditar que, uma vez oferecida a chance, ela não se com-
portará de forma a prejudicar o outro. Portanto, segundo o autor, a confiança é
situacional e/ou relacional, algo que se desenvolve entre dois ou mais indivíduos
em um contexto ou relacionamento particular. Adicionalmente, os autores con-
cordam que a confiança está presente nas relações de cooperação e que suas
definições são numerosas e muitas vezes contraditórias.
A ideia da confiança é bastante abordada por Humphrey e Schmitz (1998),
por meio de conceitos de sanções e credibilidade. Trabalhos em conjunto formu-
lam, segundo os autores, condições de relacionamento e cooperação dentro da
rede. Isso torna a discussão sobre cooperação mais real sem partir do princípio
de que os empresários vão preferir um comportamento de lealdade em vez de
um comportamento oportunista. Sanções reduzem os riscos associados à confi-
ança. A traição/deserção não provoca apenas a perda do negócio, mas também
a sanção social.
Mesmo assim, Meyer-Stamer (2001) lembra que é frequentemente o fra-
casso de experiências que tentam estimular a cooperação entre empresas, dado o
problema da falta de confiança. Portanto, para se obter o tipo de comportamento
colaborativo, precisam-se estabelecer sanções desde o nível macro (a partir das
políticas do Estado) até o nível micro (formas de ações conjuntas entre as em-
presas que possibilitem o estabelecimento da confiança baseada em processo).
A combinação dessas sanções, somadas às oportunidades que as empresas
terão de trabalhar em conjunto, levará a um comportamento voltado para o re-
lacionamento na direção de fortalecimento da cooperação em lugar de buscar
comportamentos oportunistas. Espera-se que essa condição de envolvimento de
todos, Estado e sociedade, leve a um círculo virtuoso em que as ações conjun-
tas tragam vantagens na eficiência coletiva, proporcionando o fortalecimento da
confiança para a melhoria coletiva do desempenho.
Balestro (2002) destaca que, quando se tem confiança em uma relação in-
terorganizacional, há uma elevação de investimentos para maximizar retornos
futuros, pois se tem uma predisposição para investir em ativos específicos na

152
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

relação com aquele parceiro, tendo em vista o longo prazo da relação. Afirma o
autor que existem casos de fornecedores que reestruturam todo o seu processo
produtivo a fim de atender a um determinado cliente. A confiança está dire-
tamente relacionada às trocas de informações e à motivação para a solução de
problemas conjuntos, podendo propiciar, em um estágio extremamente negativo,
o oportunismo entre firmas.

2.3 Resultados da cooperação interorganizacional


O aprendizado está intrínseco ao ganho relacional associado à baixa capaci-
dade de recursos das PMEs, que, ao estabelecerem uma parceria colaborativa,
compartilharão de experiências e tecnologias jamais alcançadas isoladamente.
Segundo Human e Provan (1997), os resultados transformacionais são promovi-
dos pela forma de gestão, por meio da aprendizagem interorganizacional. Os
resultados transformacionais são mudanças de gestão e de conduta promovidas
pelo aprendizado das empresas e indivíduos envolvidos, a fim de obterem gan-
hos que dificilmente seriam alcançados na condição isolada. O novo conceito de
resultados transformacionais, sugeridos por Human e Provan (1997), agrega nos
seus estudos de estratégias de cooperação, até então de resultados transacionais,
que por meio de relação comercial se estabelece uma complementaridade de
conhecimentos, enquanto os resultados transformacionais propõem completa
ou parcial alteração na gestão proporcionada pelos ganhos relacionais vigentes.
No entendimento de Perrow (1992), a cooperação interorganizacional de
PMEs possui produção flexível, informações diretas, além do compartilhamento
de pesquisa e desenvolvimento (P&D), pesquisas de mercado, marketing, treina-
mentos técnicos e transportes.
Uma relação de cooperação promove acesso a informação, recursos, mer-
cados e tecnologias, contribuindo para economia de escala e compartilhamento
de riscos, segundo Gulati et al. (2000). Esses autores avaliam ainda as con-
dições adequadas de produção, compra ou cooperação (make, buy or ally) entre
as PMEs, associadas à realidade econômico-cultural bem como à condição de
redução de custos e oportunismo. Human e Provam (1997) ressaltam que a con-
fiança construída reduz o oportunismo e consequentemente o custo de transação
envolvido nas operações de compra e venda de produtos.
Inibidor do oportunismo a cooperação é, segundo Ebers e Grandori (1997),
a forma de degradação da especificidade de ativos e os aspectos ligados à con-
fiança, ou seja, a busca pela redução do custo de transação, custo imensurável
financeiramente, que, se não for bem conduzido pelos colaborados, pode causar
a fragilidade da relação, chegando à dissolução dos laços de cooperação entre
as firmas.
A evolução e os níveis de aprendizado interorganizacional são abordados
por Knight (2002), além dos laços entre o indivíduo, o grupo de indivíduos,

153
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

a organização e a interação nos grupos de organizações. O autor descreve o


aprendizado desde a formação da cooperação até os resultados, performance e
implicações das relações interoganizacionais.
Cabe destacar, portanto, que as vantagens encontradas no ambiente de co-
operação podem se tornar inviáveis para as PMEs que atuam de forma isolada,
pois tais empresas, ao atuarem individualmente, dificilmente conseguirão obter
uma ampla interação com seus concorrentes, tornando-se, dessa forma, mais
difícil e custoso o acesso a novas informações e conhecimentos para a busca da
inovação (POWELL, 1998).
Com as estratégias de cooperação, Lorenzoni e Baden-Fuller (1995) apre-
sentam ganhos de escala e poder de mercado, traduzindo-os no maior poder de
negociação do aglomerado cooperativo para com seus fornecedores e clientes.
É pelas estratégias de cooperação que as PMEs ampliam seu poder de mercado,
benefício de que as PMEs isoladas não conseguiriam usufruir facilmente.
Para as PMEs, as estratégias de cooperação permitem que elas tenham aces-
so a soluções para seus projetos de forma facilitada. Segundo Balestro (2004), as
soluções apresentadas pelos aglomerados colaborativos assumem a forma de in-
fraestrutura coletiva e de apoio a ações de maior amplitude. Tal ganho se traduz
na entrada de novos mercados, acesso a tecnologias e qualificação de produtos,
dentre outros aspectos.
Ebers e Grandori (1997) apontam a redução dos custos e riscos como gan-
hos das relações de cooperação. Trata-se de dividir com os associados os custos
e os riscos de determinadas ações e investimentos comuns aos envolvidos.
Desse modo, não há uma receita formada para uma determinada empresa
ou grupo (GULATI et al., 2000). Existe a avaliação criteriosa da organização e
a ponderação estratégica. O melhor caminho é conhecer a empresa e suas am-
bições, trabalhar estrategicamente para conquistar os objetivos traçados pelos
gestores, o que pode ser determinante no sucesso organizacional, proporcio-
nando condições de constantes avaliações de desenvolvimento de recursos. O
importante é o dinamismo, ou seja, a frequência de avaliação da empresa e sua
capacidade adaptativa diante das novas condições e recursos, de acordo com
Gulati et al. (2000).
Finalizando o assunto teórico conceitual sobre cooperação, passar-se-á à
metodologia utilizada no presente artigo como forma de aproximação do objeto
estudado: o Vale da Eletrônica.

3. METODOLOGIA
O presente artigo responde por um estudo de caso exploratório com dados
qualitativos coletados por meio de entrevistas em profundidade em empresas

154
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

e instituições do sistema produtivo local (SPL) do Sul de Minas Gerais, con-


hecido como o Vale da Eletrônica. Tal SPL é composto por 132 PMEs, uma
escola técnica, uma universidade e um instituto de pesquisa, governos (federal,
estadual e municipal), instituições de fomento financeiro e demais instituições
intermediadoras de negociações. Buscou-se, a partir da pesquisa de campo,
identificar os atores-chave do SPL em entrevistas semiestruturadas, para se ter
uma visão específica da estratégia de cooperação utilizada no Vale visando à
internacionalização.
A pesquisa foi subdividida em quatro fases a saber: desenvolvimento con-
ceitual e metodológico; delimitação da unidade de análise, o Vale; coleta de
dados; degravação, análise e interpretação dos dados.
Fase 1: Desenvolvimento conceitual e metodológico
A primeira fase teve por finalidade alinhar os conceitos teóricos ao prob-
lema de pesquisa, visando subsidiar o estudo de caso proposto na segunda fase.
Visando à elaboração de uma pesquisa semiestruturada em profundidade,
alinhada à proposta deste trabalho, desenhou-se o quadro síntese dos ambientes
micro e meso, que serão explicados no próximo item (Fase 2), como integrantes
do contexto institucional do Vale da Eletrônica, inseridos neste estudo de caso.
Buscou-se a interpretação da problemática apresentada e dos objetivos es-
pecíficos para pontuar a ordem lógica deste artigo. A pesquisa permitiu, de um
modo geral, conhecer o perfil das empresas e dos gestores do Vale bem como
identificar a estratégia utilizada na conquista de novos mercados, gerando infor-
mações de atuação, iniciativa e organização do SPL.
Diante dessa exposição de conceitos e teorias, definiu-se o instrumento de
coleta de dados a ser utilizado para compreender como as estratégias de coop-
eração têm sido desenvolvidas e quais os resultados para a internacionalização
de PMEs.
Fase 2: Delimitação da unidade de análise: O Vale da Eletrônica
Na segunda fase buscou-se delimitar o ambiente a ser estudado. A pesquisa
tem o Vale da Eletrônica como unidade de análise, ou seja, um aglomerado de
PMEs, que, em cooperação, compõe o SPL participante do projeto estruturador
da Secretaria de Ciência e Tecnologia do Ensino Superior do Estado de Minas
Gerais (SECTES). O Vale da Eletrônica foi escolhido para protagonizar este es-
tudo principalmente por apresentar um cenário característico da proposta inicial
deste artigo: a relação de cooperação entre PME´s.
Os SPLs são concentrações geográficas de empresas de um mesmo segmento
ou de um mesmo complexo industrial. Eles funcionam como um conjunto de in-
dústrias que trabalha de forma cooperada, com tecnologias de produção flexível.
Existe também a articulação com órgãos de governo, entidades representativas do
empresariado, instituições de crédito, de ensino e de pesquisa. Como resultado,

155
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

elevam-se os patamares gerenciais e tecnológicos e é esperado um crescimento


significativo, gerando novos empregos na indústria, e, como consequência, ab-
sorvendo mão-de-obra no comércio e na prestação de serviços (SECTES, 2008).
Foram efetuadas periódicas visitas à Secretaria de Ciência e Tecnologia
para acompanhamento da evolução do projeto estrutural no Vale. A coleta pre-
liminar dos dados aconteceu em junho 2008, em dois encontros na Secretaria do
Estado, entre o coordenador do projeto estrutural do governo, o orientador deste
projeto e a autora.
Dentro da amostra de 132 PMEs do Vale da Eletrônica, propõe-se estudar
vinte empresas previamente selecionadas, seguindo os critérios: empresa asso-
ciada ao Sindicato das Indústrias de Aparelhos de Elétricos Eletrônicos do Vale da
Eletrônica (SINDVEL); empresa exportadora; limite mínimo de dez colaborador-
es; e tempo de existência superior a quatro anos. Entretanto duas dessas empresas,
por incompatibilidade de agenda, não participaram da pesquisa, sendo entrevista-
das dezessete delas. Com o objetivo de preservar a confidencialidade das empresas
entrevistadas, nomearam-se, de forma fictícia, as empresas que compõem o ambi-
ente micro como E1, E2, E3 ... a E17. Nessas entrevistas levou-se em consideração
o ambiente micro da contextualização do Vale da Eletrônica. Com a ferramenta
metodológica de pesquisa, as entrevistas semiestruturadas, estudou-se o ambiente
micro na contextualização do Vale da Eletrônica. Para o ambiente meso foram
entrevistadas quatro instituições, seguindo os critérios de capacitação técnica
(INATEL), incentivo político e diplomático (Governo de Minas Gerais), incentivo
profissionalizante (SEBRAE) e incentivo à cooperação e governança (SINDVEL).
Em primeiro contato com o Vale da Eletrônica identificou-se o contexto
institucional, conforme ilustrado na Figura 2. O ambiente micro emprega 9.500
colaboradores, disponibilizando mais de 11.000 produtos no mercado nas áreas
de eletroeletrônica, telecomunicações, radiodifusão, informática, automação in-
dustrial, predial e comercial, segurança, tecnologia da informação, equipamen-
tos industriais e prestação de serviços. Todo esse conjunto gera um faturamento
bruto anual aproximado de R$ 780 milhões (SINDVEL, 2008).
Diante do ambiente exposto, buscar-se-á um alinhamento do tema, a coop-
eração, e a realidade do Vale da Eletrônica conforme apresentado no item O caso
do Vale da Eletrônica.
Fase 3: Coleta de dados
A coleta de dados deu-se em visitação in locus por meio de entrevistas
semiestruturadas aos gestores do Vale da Eletrônica (SINDVEL, SEBRAE), à
instituição de capacitação tecnológica da cidade (INATEL) e ao coordenador do
projeto estrutural do Governo de Minas (SECTES), caracterizando o ambiente
meso, e em visitas às PMEs do Vale da Eletrônica, buscando entender o ambi-
ente micro. Participou-se ainda de feiras para melhor percepção da atuação das
empresas no mercado e visitas à Secretaria do Estado.

156
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

Foi efetuado um total de vinte e uma entrevistas, sendo dezessete às PMEs


do Vale – ambiente micro - e quatro às instituições de apoio e governança – am-
biente meso.
Utilizou-se um gravador como ferramenta de apoio à captação integral da
entrevista para melhor apuração e análise das respostas. A duração média de
cada entrevista foi de aproximadamente 90 minutos totalizando, vinte e cinco
horas e trinta minutos em 7 dias de estada em Santa Rita do Sapucaí.
Fase 4: Análise e interpretação dos dados
Os dados coletados em entrevista foram “degravados” inicialmente e in-
terpretados de acordo com a relevância para esse estudo. Analisou-se a lineari-
dade das respostas traduzindo as etapas propostas na pesquisa: características
gerais das empresas, percepção de cooperação, a forma de atuação internacional
e estratégias de cooperação para a internacionalização das PMEs entrevistadas.
Diante das variáveis de verificações empíricas propostas no item de coopera-
ção deste artigo buscar-se-á identificar as evidências detectadas na pesquisa de
campo, trabalho que será detalhadamente apresentada no próximo item.

4. O CASO DO VALE DA ELETRÔNICA


À primeira vista parece mais uma típica cidade do interior mineiro, com
paisagem de morros e plantações de café. Porém a verdadeira vocação de Santa
Rita do Sapucaí, no sul de Minas Gerais, já há algum tempo, é desenvolver novas
tecnologias. A agropecuária, ainda importante atividade econômica na região,
foi cedendo espaço para os produtos tecnológicos. Dados do IBGE (2008) apre-
sentam o resultado da indústria com 39% em relação ao PIB da região e uma
receita orçamentária de aproximadamente R$ 29,5 bilhões. A população possui
uma taxa de crescimento de 10% em média a cada cinco anos e a expectativa de
faturamento para 2009 do Vale da Eletrônica está estimado em US$ 1,8 bilhão
(SINDVEL, 2008).
A cidade possui aproximadamente 35 mil habitantes, abriga mais de 130
PMEs nas áreas telecomunicação, informática, automação industrial, segu-
rança, TI, equipamentos industriais e prestação de serviços. O polo eletrônico
conta com o apoio de universidades e centros de pesquisa da região, destacando
a Escola técnica de Eletrônica Francisco Moreira da Costa (ETE), a primeira
da América Latina, o Instituto Nacional de Telecomunicações (INATEL), a
Faculdade de Administração e Informática (FAI), o Serviço Social da Indústria
(SESI) e o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI). O Sindicato
das Indústrias de Aparelhos Elétricos, Eletroeletrônicos e Similares do Vale da
Eletrônica (SINDVEL), além do Governo Federal e Estadual, APEX do Brasil,
instituições de fomento financeiro, como BDMG, Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) e Financiadora de Estudos e

157
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

Projetos (FINEP), e SEBRAE proporcionam ao Vale a capacitação para o desen-


volvimento da região em termos reais.
Analisando-se, em profundidade, o contexto institucional do Vale da
Eletrônica perceberam-se três níveis ambientais de negociação mercadológica:
micro, meso e macro. O ambiente micro é formado de empresas que, em coop-
eração, buscam a internacionalização de seus produtos contando com a gover-
nança do SINDVEL, como empresa gestora do Vale.
O ambiente meso constitui-se de entidades incentivadoras do projeto Vale
da Eletrônica no aspecto técnico, financeiro e estrutural. Ilustrativamente apon-
taram-se as principais instituições atuantes no Vale, respeitadas as devidas seg-
mentações educacionais (FAI, ETE, INATEL), Governos (Federal, Estadual e
Municipal), apoio à internacionalização (APEX do Brasil), fomento financeiro
(FINEP, FAPEMIG e BDMG), governança (SINDVEL, SEBRAE e FIEMG),
conforme Figura 2.
Por fim, o ambiente macro é caracterizado pelas relações entre o Vale da
Eletrônica e os mercados doméstico e internacional conforme ilustrado na figura
2. Esse nível de ambiente não será avaliado na pesquisa de campo por não fazer
parte da proposta deste estudo de caso.

FIGURA 2: Contexto institucional do Vale da Eletrônica.

Fonte: Elaborado pela autora.

As empresas que compõem o ambiente micro, foco deste artigo, são em sua
maioria PMEs fabricantes de aparelhos eletroeletrônicos. Conforme apresentado
na delimitação da unidade de análise da pesquisa, o ambiente micro foi escol-
hido como foco deste artigo de modo a atender aos objetivos iniciais deste tra-
balho: analisar a forma e os resultados das estratégias de cooperação das PMEs
inseridas no Vale da Eletrônica, polo nacional de produtos eletroeletrônicos, lo-
calizado em Santa Rita do Sapucaí, sul de Minas Gerais.

158
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

Finalizando a apresentação do foco deste artigo o próximo item trabalhará as


características da cooperação no Vale da Eletrônica, a fim de identificar as contri-
buições que esta nova abordagem de gestão proporciona às PMEs do Sul de Minas.

4.1 Cooperação no Vale da Eletrônica


Para entender a dinâmica do funcionamento do Vale de Eletrônica bem
como suas estratégias de cooperação, buscou-se identificar as motivações que
levaram cada empreendedor a atuar na região do Sapucaí. As empresas pesqui-
sadas valorizam a “política da boa vizinhança”, em que o bom relacionamento
está no respeito mútuo e colaboração entre si. As estratégias de cooperação se
evidenciam quando se avaliam a conectividade e a sintonia entre as empresas em
aspectos de produção padronizada e os objetivos comuns.
Perceberam-se situações de constante troca de produtos entre as PMEs na
urgência de atendimento de um cliente. A competição é tratada com lealdade,
respeitando os limites da empresa concorrente. A entrevista ao empresário da
E1 comprova essa percepção: “[...] a cooperação existe na região para que Santa
Rita seja ‘o Vale da Eletrônica’, contando com incentivos do governo, apoio das
instituições de ensino e, sobretudo, objetivos comuns entre os empreendedores
formando assim uma região de contínuo progresso [...].”
No aspecto projetos de cooperação no Vale da Eletrônica, identificou-se
forte trabalho do SINDVEL, proporcionando aos colaborados abrangência do
mercado nacional e maior participação no mercado externo em feiras interna-
cionais, missões e rodadas de negócios, treinamento e capacitação de empreend-
edores em negociações internacionais, participação no PSI, conquistando novas
parcerias para o Vale da Eletrônica, destacando os estados de São Paulo e Rio
Grande do Sul. Atualmente, segundo o Vice-Presidente do SINDVEL, o fatura-
mento com as exportações chega a 8% do faturamento total do Vale. A meta
para março de 2010 é de 15%. O percentual de matérias-primas importadas é
normalmente de 60% de um produto, embora alguns componentes já estejam
sendo desenvolvidos no Brasil.
Quando a questão envolve disponibilidade das empresas em desenvolver
novos projetos de interesse comum entre as empresas do Vale da Eletrônica e
outros parceiros, percebe-se a unanimidade na resposta, e as empresas apresen-
tam-se disponíveis às novas parcerias, desde que seja bom negócio para ambas
as partes. A E3, representada pelo seu administrador, argumenta:
Acredito que a cooperação traz diferenciação no produto. Hoje em dia, com
as empresas tão próximas fisicamente, pode-se criar um produto completo
para a segurança comercial/industrial ou residencial [...] em nosso nicho de
mercado buscamos oferecer o alarme fabricado em nossa empresa associa‑
do ao porteiro eletrônico que poderá ser monitorado pela central de PABX e
fazer a captação de um porteiro eletrônico ou monitor alarme [...].

159
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

O surgimento e a evolução das estratégias de cooperação no sul de Minas


são consequência da maturidade organizacional em escolher o crescimento sus-
tentável de seus empreendimentos. De acordo com depoimentos e apurações da
pesquisa, pode-se inferir, portanto, que a cooperação está presente no Vale da
Eletrônica como uma nova abordagem organizacional, visando à conquista de
novos cenários de flexibilidade e agilidade na colocação de seus produtos no
mercado externo. No próximo item, trabalhar se á as evidências de variáveis de
verificação sobre a cooperação no Vale.

4.1.1 Evidências das variáveis de verificação sobre a cooperação no


Vale
Notou-se em depoimentos retirados das entrevistas junto ao empresariado
santa-ritense que a idéia de cooperação está claramente envolvida no negócio do
Vale. Apresentar-se-á algumas citações para efeito ilustrativo da questão:
Ganhos Relacionais “[...] percebemos que o SPL é um modelo. Nossa
empresa tem contatos frequentes com outros SPLs e percebemos uma sinergia
diferenciada no Vale da Eletrônica. As empresas interagem em busca de obje-
tivos comuns, empresas menores parecem departamentos de outras empresas,
tamanha é a integração. Até diante de nossos concorrentes dentro do Vale per-
cebemos o espírito de ajuda, isto é a riqueza da relação de cooperação.” (E6)
Aprendizado “As empresas são muito unidas, abertas ao trabalho em
parcerias proporcionando a troca de experiências e conhecimento. [...] A com-
petição é saudável fazendo com que as empresas saiam da zona de conforto e
estejam em constante aprendizado buscando melhorias de produto, de atendi-
mento e pós-venda.” (E10)
Confiança versus Oportunismo “Nós temos uma parceria com outra em-
presa daqui do Vale da Eletrônica, onde nossos produtos somados ao produto de-
sta parceira perfazem um produto atendendo às necessidades do mercado. Nesta
parceria, a confiança é fundamental [...]” (E5)
Complementaridade “Todos os nossos produtos são desenvolvidos com
um grupo de parceiros daqui de Santa Rita de Sapucaí. Eu tenho poucos fun-
cionários, utilizo apenas a inteligência do SPL” (E16)
Matriz MBA “[...] vemos grandes oportunidades de parcerias no Vale da
Eletrônica, e utilizamos algumas delas com empresas de menor porte. [...] recon-
hecemos ser a segunda maior empresa em eletroeletrônica do Vale e nem por
isso conseguimos executar todas as nossas atividades produtivas sozinhos [...]
escolhemos cooperar e somos beneficiados por esta estratégia” (E6)
Informações benéficas à cooperação “Temos uma relação saudável en-
tre as empresas do Vale, mesmo porque algumas empresas acabam conhecendo
uma parte do produto da outra empresa ao montar ou desenvolver o seu produto.”
(E11)

160
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

Governança “Hoje o SINDVEL é responsável pela governança do Vale da


Eletrônica e ele promove a maior parte das oportunidades de negócios organi-
zando feiras, missões, é fantástico. A E14 é uma pequena empresa, mas temos
conseguido grandes oportunidades por meio dos eventos promovidos pelo Vale.
[...] E digo mais, a E14 é hoje uma empresa estruturada e atuante no mercado na-
cional e internacional graças ao excelente trabalho desenvolvido pelo SINDVEL
[...].” (E14)
Finalizando a parte prática deste estudo, passar-se-á para as considerações e
conclusões finais, focando o diferencial identificado na região estudada.

5. CONCLUSÃO
Em se tratando de parcerias, percebe-se uma forte influência do espírito
cooperativo, em que a conectividade, os objetivos comuns e a governança carac-
terizam o aglomerado do Vale da Eletrônica. Para o representante do SINDVEL,
essa proximidade das PMEs está relacionada com o ambiente de nascimento do
Vale, principalmente entre as instituições de ensino de Santa Rita do Sapucaí,
representadas pelas incubadoras e as PMEs. Destaca ainda que, em um ambi-
ente concentrado em eletroeletrônica, existem produtos similares em alguns
setores como o de segurança eletrônica, havendo assim a competição. Mas trata-
se de uma competição saudável e respeitosa segundo o representante legal do
SINDVEL.
De modo geral, percebe-se que há colaboração entre as empresas, em que
os produtos são complementares, daí a cooperação. Relações de cooperação
entre as empresas superam as relações de boa vizinhança. Quando uma em-
presa precisa de um determinado material ou produto e não tem tempo hábil
para fabricar, busca-o na empresa vizinha, relata o representante do SEBRAE.
Assim é importante que as empresas mantenham um nível de qualidade
de produto similar para que tenham padrão na negociação e nas trocas de
mercadorias.
Em se tratando da governança, tanto as empresas quanto as instituições
entrevistadas reconhecem uma estruturada governança no Vale da Eletrônica
composta pelos três pilares: público, privado e acadêmico. Conforme estudos
de Provan e Kenis (2003), a governança do Vale está representada por uma en-
tidade administrativa, network administrative organization, conforme ilustrado
na Figura 3.
Entretanto admitem necessitar de lapidação contínua desse “tripé relacio-
nal”, ou seja, o empresário precisa desenvolver uma visão macro do mercado que
o cerca e não apenas focalizar seu negócio. Os setores públicos e acadêmicos
devem desenvolver laços de confiança de forma a solidificar a base da região
vivenciando o verdadeiro polo tecnológico em eletroeletrônica.

161
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

Exemplificando, o setor público, na figura do Governo de Minas e seu proje-


to estruturador, visam diminuir as desigualdades regionais, levando desenvolvi-
mento social e geração de emprego para todas as regiões do Estado. A FINEP, a
FAPEMIG e o BDMG participam dessa governança do Vale por meio de incenti-
vos financeiros em projetos de pesquisa e desenvolvimento de produtos.

FIGURA 3. Os três pilares da governança do Vale da Eletrônica.

Fonte: Elaborado pela autora

Com referência ao clima organizacional, concorda-se com os estudos de


Lorenzoni e Baden-Fuller (1995), que dizem ser a lealdade e o respeito entre
empresas e instituições a base de sustentação organizacional. No Vale, a postura
do empresariado é de reciprocidade, fornecer à empresa vizinha a confiança
necessária para promover a reciprocidade das relações organizacionais.
O setor privado tem a participação do SINDVEL, que utiliza mecanismos
de coordenação do Vale, viabilizando missões empresariais, rodadas de negó-
cios internacionais, feiras e projetos compradores e vendedores, entre outros
programas; do SEBRAE e seu projeto GEOR, conquistando o envolvimento do
empresariado santa-ritense no desenvolvimento do Vale; da APEX do Brasil, na
função de intermediadora de negociações internacionais, facilitando os projetos
para a exportação; e, por fim, das empresas componentes do Vale, motivo prin-
cipal do envolvimento de todas as instituições citadas com foco no negócio em
eletroeletrônica.
As relações de cooperação são identificadas nas negociações entre firmas, e,
uma vez conquistadas a confiança do parceiro, as negociações se tornarão mais
amigáveis. Confirmando esse posicionamento entre as organizações, Fukuyama
(2000) coloca que agir honestamente em uma negociação torna-a duradoura e
frequente. Ao passo que aquele que trapaceia será lembrado e desligado das
negociações.
A academia contribui com a capacitação técnica de futuros empreendedores
e de mão- de-obra especializada, a geração de empresas em incubadoras, as con-
tribuições em pesquisas e a formação de fundamentos teóricos para fomentar a

162
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

prática em eletroeletrônica. Assim, FAI, INATEL e ETE atuam ativamente na


consolidação técnica do Vale da Eletrônica como parceiros do conhecimento, da
pesquisa e do desenvolvimento.
Partindo-se para a forma, percebe-se na governança do Vale a presença dos
dois tipos de laços: formais e informais. Os primeiros, por meio de contratos e
acordos entre o SINDVEL e as PMEs, envolvem negociações nacionais e in-
ternacionais, vendas de produtos e compras conjuntas de matéria-prima. Já os
laços informais são claramente identificados em palestra e encontros informais,
em que se percebem trocas de experiências, dicas de abordagem de vendas no
mercado externo, instruções administrativas, enfim, uma cooperação que se
confunde com a vivência fraternal de cidade do interior.
A confiança foi abordada pelos entrevistados de forma positiva e pre-
sente nas relações entre as empresas. Destaca-se que, até na concorrência
entre as empresas do Vale, existe lealdade. Esse cenário é característico de
uma convivência harmônica e respeitosa, envolvendo pessoas que se conhe-
cem desde a infância ou adolescência e que acreditam no potencial de cada
um, crescendo devido os próprios méritos e não prejudicando o próximo com
oportunismo.
Entretanto no Vale da Eletrônica não existe só a governança informal,
existem também regras e contratos. Segundo Meyer-Stamer (2001), para se
obter o tipo de comportamento colaborativo, precisam ser estabelecidas san-
ções e normas para os três níveis da governança bem como entre as empresas
do SPL.
Finalizando este estudo sobre o Vale da Eletrônica, identificou-se então que
a estratégia de cooperação contribui para o desenvolvimento de seus produtos
em diversos aspectos. De acordo com estudos de Brass et al. (2004), a união dos
interesses em reduzir custos e riscos se traduz: na homologação e certificação
dos produtos do Vale de forma conjunta, atendendo às normas nacionais e inter-
nacionais; no trabalho em parceria por meio da cadeia produtiva, dos projetos de
inteligência, utilizando-se da capacidade técnica dos profissionais da região, ou
elaborando produtos complementares; nas feiras, missões e projetos, cujo foco
é conquistar mercados que isoladamente não teriam condições técnicas nem re-
cursos para tal.
As contribuições apresentadas neste artigo visam motivar, dentre vários
ganhos relacionais proporcionados pelas redes de cooperação, reflexões espe-
cíficas sobre a estratégia de cooperação entre PMEs. Como sugestão para pes-
quisas futuras, ressalta-se a compreensão e o aprofundamento da relação entre
o ambiente macro, o mercado, com as PMEs, ambiente micro, incentivando
os aspectos da cooperação para conquistar objetivos em comum. Sugere- se
ainda que outras configurações de redes que possam ser estudadas visando ao
complemento de aprendizado e buscando evidências possam contribuir com a
presente pesquisa.

163
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

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166
OBSERVATÓRIO DE RESÍDUOS
RECICLÁVEIS E RECICLADOS
DO DISTRITO FEDERAL

Marcelo Felipe Moreira Persegona


Universidade de Brasília – Laboratório do Ambiente Construído, Inclusão e
Sustentabilidade da Universidade de Brasília - LACIS
Universidade de Brasília – Centro de Desenvolvimento Sustentável – Doutorado em
Política e Gestão Ambiental
marcelo.persegona@gmail.com

Raquel Naves Blumenschein


Universidade de Brasília – Laboratório do Ambiente Construído, Inclusão e
Sustentabilidade da Universidade de Brasília - LACIS
raquelblum@terra.com.br

Maria Vitória Ferrari Tomé


Universidade de Brasília – Laboratório do Ambiente Construído, Inclusão e
Sustentabilidade da Universidade de Brasília - LACIS
vitferrari@gmail.com

Edmar Moretti
Universidade de Brasília – Laboratório do Ambiente Construído, Inclusão e
Sustentabilidade da Universidade de Brasília - LACIS
edmar.moretti@mma.gov.br

André Luiz Moreira Persegona


Universidade de Brasília – Laboratório do Ambiente Construído, Inclusão e
Sustentabilidade da Universidade de Brasília - LACIS
andre.persegon@ipconsultores.com.br

Luiza Franco Dias


Universidade de Brasília – Laboratório do Ambiente Construído, Inclusão e
Sustentabilidade da Universidade de Brasília - LACIS
luizafd@gmail.com

RESUMO

A pesquisa tratou da criação de um ambiente computacional que permitisse


disponibilizar e facilitar o acesso a grandes volumes de informações sobre resíduos
recicláveis disponíveis em todo território nacional, que pudessem ser utilizadas para
geração de novos conhecimentos. O Observatório da Cadeia de Resíduos Recicláveis
e Reciclados do Distrito Federal (ObsR3DF) está composto de três módulos: um
sistema de gestão do conhecimento da cadeia de resíduos recicláveis, um sistema
de georreferenciamento e um sistema para representação da rede de agentes que

167
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

tratam dessa questão. A integração dos softwares mencionados permite a coleta de


informações, tratamento, armazenamento, disseminação e uso das informações pelo
público, permitindo sua apresentação em diversos formatos, tais como: gráficos,
página de internet, mapas geográficos temáticos, relatórios textuais, cruzamento
de informações de diversas fontes e representação da rede de relacionamentos dos
agentes na forma de árvore do conhecimento. Estas formas de representação dos
dados permitem a captura, armazenamento, tratamento, análise e disponibilização
de informações referenciadas geograficamente, agregando efetividade no processo
de obtenção de conhecimento. Adicionalmente, apresenta vantagens como baixo
custo no desenvolvimento, liberdade de acrescentar e retirar informações, realizar o
cruzamento sem importar a origem dos dados, suporte fácil e amigável, tendo grande
utilidade no foco de inclusão social.

PALAVRAS-CHAVE

Resíduos Recicláveis, Softwares livres, Sistema de Informação Geográfica, Árvore


Hiperbólica, Google Maps, I3Geo.

1. INTRODUÇÃO
Este artigo apresenta os resultados obtidos no projeto de pesquisa aplica-
da do Observatório de Resíduos Sólidos Recicláveis e Reciclados (ObsR3DF)
do Distrito Federal (DF). O ObsR3DF faz parte do Plano de Ação propos-
to pelo Laboratório do Ambiente Construído, Inclusão e Sustentabilidade
(LACIS) da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) junto com o
Centro de Desenvolvimento Sustentável (CDS) da Universidade de Brasília
(UnB) para o fortalecimento da gestão dos resíduos sólidos reciclados e re-
cicláveis no DF.
O LACIS visa à pesquisa, ensino e extensão em diferentes áreas do conheci-
mento e tem como foco a sustentabilidade do ambiente construído, considerando
a inclusão social e a Educação Ambiental com o fortalecimento do sistema de
aprendizado de indústrias, cadeias produtivas e de outras organizações, o qual
se constitui em um laboratório de criação, testes e compartilhamento de tecno-
logias que visam a sustentabilidade do ambiente construído, reunindo talentos e
recursos por meio de pesquisa aplicada, educação ambiental e a constituição de
redes para difusão tecnológica e inclusão social.
O ObsR3DF é um projeto de pesquisa proposto com base nos resultados
de outros dois projetos de pesquisa coordenados pelo LACIS: o Programa
de Integração de Atores Sociais para Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos
(PROATOS-DF) e a cadeia de valor dos resíduos sólidos recicláveis e reciclados
do DF que faz parte do estudo do Arranjo Produtivo Local (APL) de resíduos só-
lidos reciclados e recicláveis do DF. O projeto do ObsR3DF recebeu apoio finan-
ceiro da Secretaria de Ciência e Tecnologia para Inclusão Social do Ministério
de Ciência e Tecnologia (SECIS/MCT).

168
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

2. OS RESÍDUOS RECICLÁVEIS
NO DISTRITO FEDERAL
Um dos maiores desafios da administração urbana atual é a gestão de re-
síduos sólidos. A verificação das estatísticas do volume de resíduos gerados,
os custos do tratamento e da disposição final, o número de pessoas que vivem
como catadores no Brasil impõem que as dimensões econômica, ambiental e
social sejam consideradas na busca de soluções e de minimização de impactos.
Faz-se necessário ainda reconhecer a importância de ferramentas de integração
e disseminação de informação e conhecimento.
No Distrito Federal são gastos, anualmente, em torno de R$300 milhões de
Reais com a gestão de resíduos sólidos. A destinação inadequada desses resídu-
os causa impactos ambientais que potencializam vetores de doenças e poluição.
Implantar o aproveitamento dos resíduos sólidos urbanos em processos de re-
ciclagem fortalecendo a cadeia produtiva de resíduos reciclados e recicláveis,
implica no fortalecimento dos agentes produtivos locais (como catadores e ca-
tadoras e micro empresas). O que traz como resultados o aumento da inclusão
sócio-econômica, redução dos vetores de doenças, como a dengue e a lepstopi-
rose, e economia de matérias primas retiradas da natureza.
Diferentes agentes no DF, como a UnB e vários de seus departamentos e
faculdades, setores do Governo do DF e do governo Federal, do setor produtivo
e do terceiro setor, vêm desenvolvendo ações e projetos que visam contribuir e
fortalecer a gestão de resíduos sólidos urbanos. A complexidade do problema,
a ausência de instrumentos de planejamento e a falta de integração dos atores
envolvidos no DF exigem o desenvolvimento de programas que fortaleçam e
integrem as ações já existentes.
O observatório é um projeto que resulta da análise do contexto atual da
gestão dos resíduos sólidos no DF e da cadeia produtiva dos resíduos sólidos,
por meio da elaboração e implementação do PROATOS e do APL de Resíduos
Sólidos Reciclados e Recicláveis do DF. O APL de Resíduos Sólidos Recicláveis
e Reciclados do DF (APLRS) teve início a partir das ações desenvolvidas no pro-
jeto Excelência das Empresas Coletoras de Resíduos de Obras do DF, no Geor/
Sebrae-DF.
A parte mais importante dos agentes da cadeia de recicláveis no Distrito
Federal está organizada em três estruturas agregadoras e promotoras do
APLRS/DF: Associação das Empresas Coletoras de Entulho e Similares do
Distrito Federal (ASCOLES), Associação dos Recicladores de Brasília e Entorno
(ARECIBRAS) e Central de Cooperativas de Catadores de Materiais Recicláveis
do Distrito Federal e Entorno (Centcoop/DF). O APLRS/DF aglomera agentes
que estão envolvidos em todos os elos da cadeia de recicláveis no DF como:
a coleta, a preparação, a comercialização, a reciclagem, o desenvolvimento de
pesquisa e metodologias que fortalecem o sistema de aprendizado local.

169
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

O Programa de Integração de Atores Sociais na Gestão de Resíduos Sólidos


do DF (PROATOS) foi elaborado e é coordenado pelo LACIS/FAU/CDS/UnB,
com o apoio financeiro da Fundação Banco do Brasil. O objetivo principal do
PROATOS é contribuir para a Gestão Integrada de Resíduos Sólidos Urbanos
no Distrito Federal, fortalecendo o fluxo de comunicação entre o Governo do
Distrito Federal e a Centcoopdf, integrando agentes, ações e instrumentos e pro-
movendo a geração de trabalho e renda por meio do adensamento da cadeia de
recicláveis. Com o desenvolvimento do PROATOS ficou evidente a fragmenta-
ção das fontes de dados, assim como as limitações impostas pela dispersão das
informações e desperdícios por sobreposições de ações de agentes desintegrados.
A pesquisa para a criação do Observatório da Cadeia de Resíduos Recicláveis
e Reciclados, tendo como piloto a região do Distrito Federal (ObsR3DF) é um
instrumento de gestão do conhecimento da cadeia de resíduos recicláveis e re-
ciclados com vistas a preencher as lacunas e gargalos identificados. Este ob-
servatório permite a coleta de informações, tratamento, armazenamento, for-
matação em diversos formatos (gráficos, página de internet, geração de mapas
geográficos temáticos, relatórios textuais tabulares, cruzamento de informações
de diversas fontes etc.), disseminação e uso das informações pelo público inte-
ressado pelo tema. O principal objetivo do ObsR3DF foi criar um sistema geor-
referenciado que permitisse a integração, interação e geração de conhecimento
sobre reciclagem de resíduos sólidos no Distrito Federal, agregando valor para
os agentes participantes da rede proposta pelo PROATOS-DF e aos agentes que
constituem o APL de Resíduos Sólidos Recicláveis e Reciclados do DF, entre
outros.
Além de ser um ambiente integrador que possibilita o compartilhamento de
dados, imagens, artigos técnicos, treinamentos, resultados de projetos, identifi-
cação de resíduos depositados irregularmente em tempo real, bolsa de negócios,
o ObsR3DF proporciona a oportunidade de analisar a morfologia e a fisiologia da
rede de atores sociais da cadeia de resíduos sólidos do Distrito Federal, tornando
possíveis análises em cenários integrados, facilitando a tomada de decisões de
gestores nos diversos níveis, assim como todas as organizações participantes.
A justificativa para propor este ambiente está fundamentada na necessidade
de:
• disponibilizar e integrar informações relevantes aos agentes ligados à
rede de resíduos sólidos no DF;
• centralizar informações;
• integrar informações agregando valor para os agentes;
• contribuir com a estruturação da cadeia produtiva de resíduos reciclá-
veis e reciclados do DF;
• fortalecer a inclusão digital de agentes como cooperativas e micro em-
presários – inclusão digital além do aprendizado de manipular; utili-
zar ferramentas da informática, incluindo a oportunidade de partici-
par efetivamente de um espaço de divulgação, amplo e irrestrito; e ter

170
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

acesso à conhecimentos específicos e relevantes para o fortalecimento


dos seus sistemas de aprendizado.

3. ANÁLISE DA CADEIA DE VALOR


DOS RESÍDUOS SÓLIDOS NO DF
Há duas linhas de abordagem com relação ao resíduo sólido reciclável, e a
sua gestão: de um lado têm-se os que acreditam que estamos consumindo os re-
cursos naturais do planeta tão rapidamente que poderá faltar às gerações futuras;
de outro lado, existem outros que olham para os resíduos e vêem um ativo que
a cada dia se torna mais competitivo na economia, e que pode representar uma
fonte de riqueza.
Para assegurar que a riqueza gerada irá beneficiar a todos, uns diretamente
e outros indiretamente, é preciso pensar no desenvolvimento sustentável dessa
cadeia, sob pena de estarmos criando problemas futuros com as soluções que
advogamos hoje. A sustentabilidade da cadeia de recicláveis, além da dimensão
ambiental e a econômica destacadas acima, há também a social.
Da perspectiva ambiental têm-se questões como sobrevivência, economia
de recursos, redução de emissões, desperdícios e assim sucessivamente. O obje-
tivo econômico tem que vir ao encontro do ambiental, enquanto busca a melho-
ria de resultados, está atento à competição e a economia de recursos.
Do lado social tem-se a tarefa de pensar em tópicos como condições de
trabalho, salários, informalidade, produtividade etc. Sem o equilíbrio destas
questões a reciclagem é usada como roupagem para vestir questões que irão
emergir de forma negativa. Fortalecer a capacidade de avaliação de ações e ope-
rações dos agentes atuando no setor ajuda na separação de caminhos sustentá-
veis. Inicialmente, por meio de questionários, a pesquisa deverá aprofundar na
identificação dos objetivos e motivações das partes envolvidas, a forma como
imaginam ser possível alcançar objetivos gerais, avaliar o grau de entendimen-
to e limitações que estes têm da operação como um todo, e finalmente, como
o somatório destas características se compõe para formar o cenário em que o
ObsR3DF se desenvolve.
Em um segundo momento, indicadores deverão ser pesquisados e selecio-
nados, já adotados na economia para atividades similares, que são ou não utili-
zados na cadeia de resíduos sólidos recicláveis, mas que poderiam se adaptar ao
contexto desta cadeia.
Um terceiro passo é avaliar os dados disponíveis e compará-los a objetivos e
motivações, e aos indicadores selecionados como pertinentes. Fazer a construção de
interfaces e do relacionamento entre indicadores, ações, atores e empreendimentos.
O resultado da análise destes aspectos será uma lista com três categorias: indicado-
res viáveis inicialmente; indicadores prioritários; e indicadores desejáveis.

171
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

O objetivo desta parte do trabalho é fortalecer a capacidade de avaliação


da sustentabilidade econômica de empreendimentos dentro da cadeia de reci-
cláveis, e quais informações devem ter a disponibilização encorajada, como
forma de acelerar o aperfeiçoamento da cadeia. A análise da sustentabilida-
de envolve principalmente três dimensões: ambiental, social e econômica.
A ambiental está preocupada com o desempenho ambiental do processo e
do produto objeto da atividade proposta. A social olha para o impacto da
atividade sobre a qualidade do trabalho e de vida do trabalhador, e da comu-
nidade na área de influência do empreendimento. O econômico visa avaliar
se há suporte na realidade que justifique o investimento no empreendimento
proposto.
Desta forma, um empreendimento será dito sustentável, se oferecer uma
alternativa ao mercado que não comprometa a capacidade das gerações futuras
atenderem suas necessidades, melhore a qualidade de trabalho e vida da comu-
nidade alcançada pelos resultados da atividade, e ainda ofereça uma taxa de
retorno sobre o capital empregado superior às disponíveis para o investidor, de
acordo com a sua percepção.

4. METODOLOGÍA UTILIZADA
Para a criação do ObsR3DF foi utilizado a integração de diversas funcionali-
dades existentes em vários programas livres (técnica de Mashup), entre eles está
a API de mapas do Google, a Interface Integrada para Internet de Ferramentas
de Geoprocessamento (I3Geo) do Ministério do Meio Ambiente (MMA) para a
criação de mapas temáticos e a árvore hiperbólica de conhecimento da Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) para a criação da rede das
relações dos agentes cadastrados. Também foi utilizado a linguagem de progra-
mação PHP, base de dados PostgreSQL com PostGIS, e o visualizador de dados
geográficos Mapserver. O ObsR3DF está hospedado em <http://www.resisduos.
reciclaveis.unb.br/obsr3df>.
O projeto da infra-estrutura considerou o fato de que as aplicações seriam
executadas na Internet e utilizadas por usuários de todo o Brasil, sem prejudi-
car os aspectos operacionais da solução proposta que exigiu disponibilidade,
facilidade de uso e agilidade. A plataforma tecnológica utilizada obedeceu os
seguintes requisitos:
• o sistema deve dispensar a instalação de qualquer ferramenta na esta-
ção cliente, ou seja, deverá exigir apenas o browser instalado;
• deve ser desenvolvido nas linguagens HTML, Javascript e PHP
MapScript;
• deve estar em consonância com as políticas e especificações técnicas
constantes nos Padrões de Interoperabilidade de Governo Eletrônico
– e-PING;

172
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

• a base de dados centralizada para o acesso de todos os usuários em


diferentes lugares do país;
• Web Services devem ser empregados em pontos de interoperabilidade
definidos;
• o software não pode exigir que o cliente tenha que instalar qualquer
tipo de plug-in;
• os servidores de aplicação e de banco de dados devem ter a capacida-
de de serem processados em diferentes arquiteturas de hardware, ten-
do em vista a necessidade de manter o princípio de independência de
fornecedor;
• os servidores de aplicação, Web e banco de dados devem ser operáveis
em ambiente GNU/LINUX, tendo em vista a necessidade de atender às
diretrizes do Governo Eletrônico (e- Gov);
• o módulo cliente deve ser operável por meio de interfaces gráficas in-
tuitivas e passíveis de serem utilizadas por usuários não técnicos;
• os dados devem ser acessíveis e contemplar múltiplos formatos, em
especial os suportados por padrões ODBC e JDBC, tendo em vista a
necessidade de garantir interoperabilidade entre ambientes; e
• Portabilidade e Compatibilidade: o sistema deve ser projetado de forma
a ser facilmente portado a outro banco de dados.
A infra-estrutura de TI criada propicia que os gestores de informação
e usuários possam realizar várias ações sobre as informações armazenadas,
tais como: localizar, recuperar, tratar, armazenar, disseminar e usar. Por
meio da gestão da informação que o sistema de georreferenciamento pro-
posto realiza, os dados do banco de dados passam por um processo de tra-
tamento que consiste na contextualização, categorização, análise, correção
e condensação.
Este processo é importante, porque permite determinar quais os dados se-
rão armazenados e quais serão descartados, a fim de não haver redundância e
inconsistência no banco. Isso permite a utilização das informações armazenadas
de uma maneira mais eficiente. A gestão da informação e conhecimento em sis-
temas de georreferenciamento proporciona a análise de informações para obten-
ção de respostas rápidas para o processo de tomada de decisões (PERSEGONA
et al, 2007).
Outra conseqüência, da gestão da informação e do conhecimento com sis-
temas de georreferenciamento é o armazenamento e a seleção de informações
que proporcionam no ambiente organizacional o compartilhamento de conheci-
mentos. A gestão do conhecimento permite que as organizações desenvolvam
competências inovadoras, a fim de desenvolver novos produtos ou novos servi-
ços de informações.
A interatividade é outro ponto forte do sistema de georreferenciamen-
to baseado em tecnologias Web, uma vez que permite ao usuário selecio-

173
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

nar diversas camadas temáticas, cruzá-las e aplicar nelas diversas funções


disponíveis.

5. RESULTADOS OBTIDOS
Como resultado da pesquisa do ObsR3DF, confeccionou-se três sistemas
que foram integrados: um sistema para gestão do conhecimento da cadeia de
resíduos recicláveis e reciclados, outro para a criação de mapas temáticos geor-
referenciados (Geo) e, por último, um sistema para a representação da rede de re-
lacionamentos dos agentes cadastrados, que se ocupam da questão dos resíduos
recicláveis e reciclados no Distrito Federal. Os sistemas de georreferenciamento
e de rede de relacionamentos permitem a navegação pelos dados de forma grá-
fica. E o sistema de rede de relacionamento permite a navegação simultânea nos
dados com o sistema de gestão do conhecimento.

5.1. Sistema para gestão do conhecimento da cadeia


de resíduos recicláveis e reciclados
A Gestão do Conhecimento é um processo sistemático, articulado e inten-
cional, apoiado na geração, codificação, disseminação e apropriação de conhe-
cimentos, com o propósito de atingir a excelência organizacional, e pode ser
entendida como sendo a gestão daquilo que já é conhecido, e para isso se vale do
conhecimento interior do indivíduo (capital intelectual) e do conhecimento ins-
titucional acumulado nas organizações (capital organizacional). Na atualidade,
existem várias definições para “conhecimento”, de uma forma informal, pode-se
dizer que conhecimento é aquilo que já se conhece sobre algo ou sobre alguém.
O conhecimento relaciona-se com algo existente no “mundo real” do qual
se tem uma experiência direta e usa-se a Tecnologia da Informação (informática)
para modelar um pedaço desse “mundo real”, para se obter uma melhor e maior
compreensão desse pedaço da realidade. Para Sianes (2005, p. 259), conheci-
mento é definido como sendo “a informação agregada de valor. É um grupo de
informações avaliadas quanto a sua relevância e confiabilidade e assimiladas
pelo indivíduo ou pela organização, integrando-se ao saber anterior”.
O sistema de gestão do conhecimento da cadeia de resíduos recicláveis e
reciclados do Distrito Federal, é a concretização dos conceitos exposto em forma
de um sistema que armazena informações textuais, arquivos, imagens, link e
rede de relacionamento com capacidade de representar a rede de relacionamento
do agente consultado na forma de mapas temáticos. Os agentes cadastrados es-
tão classificados em seis categorias: cooperativa, financeiro, pesquisa, privado,
público e terceiro setor. Na Figura 1 são identificadas as diversas funcionalida-
des do sistema de gestão do conhecimento que possibilitam ao usuário consultar
as informações e realizar cruzamentos de dados.

174
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

Figura 1. Sistema de gestão do conhecimento da cadeia de resíduos recicláveis e


reciclados do Distrito Federal.

Os diversos componentes do sistema de gestão do conhecimento da cadeia


de resíduos recicláveis e reciclados do Distrito Federal estão descritos abaixo:
1. Exibe informações sobre o Observatório de Cadeia de Resíduos
Recicláveis e Reciclados do Distrito Federal.
2. Exibe um formulário para envio de crítica, sugestão ou pedido de
esclarecimento.
3. Exibe o mapa do Observatório, o qual permite ao usuário visualizar o
conteúdo integral Observatório.
4. Atalho que permite retornar à página principal.
5. Carrega a ferramenta de análise de dados georreferenciados.
6. Carrega a ferramenta de relacionamentos dos agentes cadastrados no
Observatório, exibindo-os na forma de uma árvore hiperbólica.
7. Carrega a ferramenta de rotas, na qual o usuário pode definir a rota
entre dois pontos de seu interesse.
8. Exibe o formulário envio de denúncias.

175
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

9. Carrega a ferramenta de fórum, na qual podem ser enviadas pergun-


tas, respostas e discussões sobre assuntos relacionados aos temas do
Observatório.
10. Campo de preenchimento onde deve ser digitado o objeto de
busca, ou seja, o que o usuário deseja encontrar.
11. Permite ao usuário acessar a ferramenta de pesquisa básica do
Observatório para encontrar um conteúdo do seu interesse.
12. Permite ao usuário acessar a ferramenta de pesquisa avança-
da do Observatório para encontrar um conteúdo do seu interesse. Esta
ferramenta exibe diversas opções de busca, filtrando os itens encontra-
dos pelas áreas de interesse do usuário.
13. Menu de seleção de agentes cadastrados no Observatório
classificados por tipo.
14. Menu de seleção de conhecimentos cadastrados no
Observatório classificados por tipo.
15. Menu de seleção de instrumentos cadastrados no
Observatório classificados por tipo.
16. Menu de seleção de produtos cadastrados no Observatório
classificados por tipo.
17. Permite ao usuário acessar a ferramenta de comércio eletrônico, na
qual o usuário pode procurar por produtos ou serviços de seu interesse
e realizar contato com a outra parte interessado em fazer negócios.
18. Permite ao usuário acessar a ferramenta de envio do jornal
eletrônico do Observatório por meio do preenchimento do campo de
e-mail. Esta ferramenta se constitui em um instrumento de divulgação
de informações dos temas tratados no Observatório.
19. Botão de envio do e-mail para cadastro de recebimento ou
não, do Jornal Eletrônico do Observatório.
20. Ferramenta que permite ao usuário se cadastrar ou desca-
dastrar do recebimento do Jornal Eletrônico do Observatório.
21. Botão de acesso à área de administração do Observatório.
Na figura 2, é exibido um exemplo de consulta aos dados de um agente da
cadeia de resíduos recicláveis. Para este agente, o sistema de gestão do conhe-
cimento exibe cinco tipos de informações: a lista de agentes que se relacionam
com o agente selecionado; arquivos cadastrados , que podem ser apresentações,
planilhas eletrônicas, arquivos de texto, arquivos PDF, entre outros; imagens e
fotografias; lista de links e um mapa com a localização dos agentes que com-
põem a rede de relacionamento do agente selecionado.
Na janela de informações do agente, figura 2, no canto superior direito do
mapa, está disponível um conjunto de ferramentas – – que possibilita
ao usuário organizar as informações do agente em um formato para impressão,
ou enviar o link desse conteúdo por e-mail, ou, ainda, acessar outras informa-
ções do agente no formato texto e, quando estiver neste último tipo de consulta,
voltar ao modo mapa.

176
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

Legenda dos ícones da tela de consulta dos agentes:


Versão para impressão.
Enviar para um amigo.
Consulta textual aos dados do agente.
Consulta na forma de mapa.

Figura 2. Consulta a informações sobre um agente da cadeia de resíduos recicláveis do DF.

5.2 Sistema de criação de mapas temáticos


georreferenciados
A geo representação da informação pode ser utilizada na modelagem de
um instrumento facilitador para compreensão das informações que constituem

177
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

o mundo real, para isso, se utiliza de instrumentos computacionais da Ciência da


Computação, e de técnicas da Ciência da Informação, Cartografia e Geografia
para auxiliarem nesse processo de modelagem e representação das informações.
O uso de um sistema de informação geográfica (SIG) permite ao usuário ler
e analisar informações que no modo tradicional de relatórios textuais tabulares
ou na forma de gráficos geométricos (pizza, barras ou linhas) não seria possí-
vel, devido ao grande volume de dados a serem analisados (PERSEGONA et
al, 2006). Este tipo de sistema acrescenta à informação mais uma dimensão, a
espacial, a qual permite correlacionar a informação com território a que ela se
refere, permitindo ainda, sobrepor e acrescentar outras informações espaciais
que agregam mais valor a informação original.
O SIG possibilita entender o comportamento de cidades, regiões e países,
pela representação visual dos dados em forma de mapas temáticos possibili-
tando a percepção de tendências e de informações que no formato textual não
seriam percebidas. Este tratamento dado à informação, agrega maior qualidade
e precisão à informação, permitindo maior presteza, efetividade e transparência
nas análises realizadas.
O sistema de criação de mapas temáticos georreferenciados do Observatório
utiliza o software público I3Geo (Interface Integrada de Informações
Georreferenciadas), o qual permite cruzar os dados dos sistemas de gestão do
conhecimento com informações geográficas, conforme pode ser visto na figura
3. O acesso a este sistema se dá pelo link Análise de Dados na interface do siste-
ma de gestão do conhecimento.

Figura 3. Sistema de criação de mapas temáticos georreferenciados.

O I3Geo utiliza principalmente o software Mapserver e PHPMapscript como


motor para o processamento de dados geográficos e uma interface baseada na
linguagem Javascript. A interação navegador-servidor é implementada via Ajax.

178
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

A arquitetura adotada baseia-se na criação de um arquivo mapfile19 temporá-


rio, armazenado no servidor, que pode ser alterado conforme a demanda do usuá-
rio que está acessando o mapa interativo. Com base em um “armazém” de mapfiles
temáticos, pré-definidos pelos administradores do I3Geo, o usuário da ferramenta
tem acesso aos dados, podendo montar seu próprio mapa personalizado.
Além do mais, o I3Geo possui um conjunto de ferramentas e funções que
possibilitam ao usuário interagir com o mapa temático criado. Dentre essas fer-
ramentas estão: mapa de referência, aproximação e afastamento de região do
mapa; inserção de ponto e legenda; representação dos dados locais no Google
Maps e Google Earth; exportação de dados; medidas de distâncias lineares e
tamanho de áreas; geração de gráficos; consulta a banco de dados com relação
ao ponto clicado; integração com Wikipedia; lupa de aumento; geração de mapas
em 3D; inserção de legendas dos dados consultados; consulta a dados remotos
(localizados em computadores de outros países).

5.3 Sistema de rede de relacionamentos


O sistema de rede de relacionamentos é uma ferramenta que implementa a
técnica de árvore hiperbólica nos relacionamentos dos agentes que participam da
cadeia de resíduos recicláveis do Distrito Federal, a qual utiliza a teoria das redes
sociais para exibir os dados. Os agentes nesse sistema são agrupados em tipos
com seus respectivos relacionamentos.
A árvore hiperbólica é uma técnica “foco+contexto” baseada na geometria
hiperbólica, usada na visualização de dados de grandes estruturas hierárquicas.
O termo foi introduzido por John Lamping, Ramana Rao, and Peter Pirolli, em
1995, no artigo “A Focus+Context Technique Based on Hyperbolic Geometry
for Visualizing Large Hierarchies”.
A árvore hiperbólica, no contexto da ciência da computação, é uma
estrutura de dados que herda as características das topologias em árvore,
conceitualmente é diferente das listas encadeadas, em que os dados se en-
contram em uma seqüência, nas árvores os dados estão dispostos de forma
hierárquica.
A árvore é uma rede de nós que contêm informações que se desdobram em
seus componentes hierarquicamente dependentes, representadas por seus nós fi-
lhos. Os nós permitem a inclusão de textos e qualquer outro tipo de informações
adicionais. O sistema de relacionamento foi integrado com o sistema de gestão
do conhecimento, onde a seleção de um nó gera uma consulta integrada no sis-
tema de gestão do conhecimento.

19 ����������������������������������������������������������������������������������������
O mapfile é um arquivo texto que possui os comandos necessários para representar uma ca-
mada de informação georreferenciada, na forma de mapa temático, no programa Mapserver,
o qual interpreta esses comandos gerando uma figura que é exibida no programa I3Geo.

179
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

Figura 4. Sistema de rede de relacionamentos.

Figura 5. Localização de um agente na rede de relacionamentos.

O elemento principal da árvore hiperbólica é chamado de raiz, o qual possui


ligações para outros elementos, que são denominados de galhos ou filhos. Estes
galhos levam a outros elementos que também possuem outros galhos. O elemen-
to que não possui galhos é conhecido como folha ou nó terminal.
O sistema de rede de relacionamento implementado segundo a técnica de
árvore hiperbólica é interativo, permitindo ao usuário movimentar os agentes

180
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

e seus relacionamentos para qualquer lado da área de trabalho, a fim de possi-


bilitar uma visualização melhor dos dados, seja clicando em um dos galhos ou
folhas caixas, seja arrastando o galho ou folha pela área de trabalho, exibindo
desta maneira as informações, conforme figura 4.
Também foi adicionado o recurso de busca por palavras-chave ao sistema de
relacionamento, conforme destacado na parte superior da figura 5. Para utilizá-lo,
o usuário digita os termos que deseja procurar e o sistema irá identificar onde
ocorre esses termos na árvore hiperbólica, destacando as linhas do relacionamento
na cor vermelha e marcando com um ponto vermelho a localização do termo.

6. CONCLUSÃO
O ObsR3DF tem como finalidade pesquisar, coletar, analisar, processar, ar-
mazenar, integrar e compartilhar dados, informações, conhecimento e tecnolo-
gias de toda a natureza que tenham correlação com resíduos sólidos recicláveis
e reciclados e, ainda, subsidiem a elaboração de políticas, planos e programas
de inclusão social.
As etapas de concepção e desenvolvimento foram concluídas e a partir de
abril de 2009 passou-se à fase de consolidação e ampliação do ObsR3DF. O que
significa que o primeiro piloto já está em fase de implantação no DF e está pron-
to para ser disseminado para outras localidades do país. Em 2008 desenvolveu-
se o sistema e a infra-estrutura da tecnologia de informação. Neste processo
algumas consideração referentes à dificuldades são relevantes, como:
a) Acessar o conhecimento gerado pelas informações e dados contidos
pelas organizações ligadas ao manejo de resíduos sólidos recicláveis;
b) Convencer os parceiros a compartilhar dados, informações e
conhecimento;
c) Convencer os parceiros a utilizar o observatório como uma ferramenta
informatizada de gestão do conhecimento
A idéia de uma célula de inteligência única que seja capaz de centralizar
informações de várias organizações é inovadora, ousada e requer um processo
de convencimento pela demonstração, uso e experimentação.
Esse trabalho demanda tempo e dedicação da equipe do ObsR3DF e tem
requerido várias visitas às organizações parceiras, contatos contínuos para en-
trevistas, e coletas de dados e informações, que geralmente estão dispersos, ou
não estão publicados. O processo de trazer os parceiros para dentro do ObsR3DF
tem evoluído lentamente.
Por outro lado, todas as vezes que o ObsR3DF foi apresentado houve um
consenso de sua relevância para a gestão dos resíduos sólidos reciclados e reci-
cláveis do DF. Além disso, há o reconhecimento de sua replicabilidade em todo
o país e no exterior.

181
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

Muitas organizações parceiras não possuem banco de dados, não possuem


sistema integrado de gestão, e, ou tem dificuldade de usar ferramentas informa-
tizadas de gestão. Um grande desafio a ser vencido é a postura pessoal e as cul-
turas organizacionais, de que devem manter suas informações protegidas contra
terceiros e a falta de percepção de que a melhor maneira de uma informação
perpetuar, é que ela seja compartilhada.
Percebe-se que a gestão informatizada, e mais a gestão do conhecimen-
to informatizada ainda não é uma pratica usual, na maioria das organizações.
Entrevistas têm demonstrado que as pessoas ‘acham muito interessante’, fi-
cam entusiasmadas com a idéia, reconhecem o potencial e a importância do
ObsR3DF, acreditam que é uma ferramenta importante, mas há um efeito de
inércia no modus operandi tradicional, dificultando a mudança na postura de
trabalho.
Em 2009 o objetivo é institucionalizar o ObsR3DF, consolidando sua fun-
ção maior a qual inclui: estimular a criação de redes visando o desenvolvimento
de pesquisas aplicadas para a geração e o compartilhamento de tecnologias que
fortalecem o aprendizado organizacional e a inclusão social; pesquisar sobre re-
síduos sólidos recicláveis e reciclados; produzir estatísticas sobre resíduos sóli-
dos recicláveis e reciclados e comunicar resultados e oportunidades com a socie-
dade. Entre os objetivos permanentes do ObsR3DF a serem consolidados cita-se:
1. Estimular a criação de redes para o desenvolvimento e compartilha-
mento de tecnologias que promovam a aceleração do aprendizado de
associações e cooperativas de catadores e micro empresas ligadas ao
arranjo produtivo local de resíduos sólidos reciclados e recicláveis.
2. Centralizar e facilitar o acesso a todas as informações úteis sobre resí-
duos sólidos recicláveis e reciclados no Brasil e no exterior auxiliando
planejamentos e execução de atividades.
3. Constituir-se em um banco de dados dinâmico, responsável pela inte-
gração e disponibilização de informações sobre resíduos sólidos re-
cicláveis e reciclados e, ainda, de todas as informações destinadas a
subsidiar atividades, eventos, programas e planos sobre o tema.
4. Localizar fontes, definir indicadores e coletar informações, determi-
nando seu nível de confiabilidade e utilidade, de modo a torná-las com-
patíveis, comparáveis nacional e internacionalmente, e facilitadoras
das ações de propor, orientar, coordenar, controlar e avaliar as ativida-
des de planejamento, de estatística e de avaliação relacionadas com a
área de atuação do ObsR3DF.
5. Oferecer meios técnicos e institucionais para coletar e disseminar in-
formações nacionalmente, que permitam as atividades de gestão da
Política Nacional para os Resíduos Sólidos Recicláveis, incluindo a
formulação, elaboração, implementação, avaliação e retroalimentação
desse processo.

182
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

6. Permitir a troca de informações e experiências com pessoas, empresas,


instituições e governos interessados no problema de resíduos sólidos
recicláveis e reciclados, bem como a capacitação e a atualização à dis-
tância de seus técnicos, professores, alunos, funcionários e demais in-
teressados nas matérias pertinentes.
O projeto cumpre com a meta estratégica de fortalecer sistemas de aprendi-
zados em gestão de resíduos sólidos contribuindo com a gestão urbana e com a
cadeia produtiva de resíduos sólidos recicláveis e reciclados. Para desenvolver e
aplicar novas estratégias, considera-se que o desafio social envolve coordenação
e integração de esforços criando sinergia que permite avanços no desenvolvi-
mento e capacidade de absorver tecnologias, na gestão do conhecimento, apren-
dizado organizacional e inovação gerencial com modelos adaptados à dinâmica
de organizações com dificuldade de acessar recursos, informações, políticas,
dados, conhecimentos, entre outros.

AGRADECIMENTO
Agradecemos ao Ministério da Ciência e Tecnologia, na pessoa do Sr.
Joe Carlo Viana Valle - Secretário de Ciência e Tecnologia para Inclusão
Social e a toda a sua equipe, pelo apoio recebido para realização da pesqui-
sa do Observatório da Cadeia de Resíduos Recicláveis e Reciclados do Distrito
Federal (ObsR3DF).

REFERÊNCIAS
BRASIL, 2007. I3Geo. Ministério do Meio Ambiente. Disponível em: <http://
pt.wikibooks.org/wiki/I3geo>. Acesso em: 08/07/2009.
CAMPOS, K., 2007. Governo, sociedade e inclusão: o papel do Ministério do
Desenvolvimento Social e Combate à Fome na promoção e articulação de ações
para inclusão social. Inclusão Social, v. 2; n.1. Open Journal Systems. IBICT.
Disponível em <http://www.ibict.br/revistainclusaosocial> Acesso em: 08/03/2007.
MAPSERVER, 2004. MapServer Documentation Project. . Disponível em: <http://
mapserver.cttmar.univali.br> Acesso em: 08/07/2009.
OLIVIERI, L., 2002. A importância histórico-social das redes. In: Manual de redes
sociais e tecnologia. São Paulo: CONECTAS/Friedrich Ebert Stiftung.
PERSEGONA, M. F. M., 2008. Gestão de Recursos Naturais com o uso de Sistemas
Geográficos. In: IV ENANPPAS - Encontro da Associação Nacional de Pesquisa e
Pós-Graduação em Ambiente e Sociedade, Brasília.
PERSEGONA, M. F. M.; et al, 2007. Obtenção de conhecimento cognitivo por meio de
mapas geográficos utilizando softwares livres. In: IV Conferência Sul-Americana
em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico - CONEGOV, Palmas.

183
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

184
O SOFTWARE LIVRE E A
PADRONIZAÇÃO DE SISTEMAS
NO GOVERNO FEDERAL

Flávio Gomes da Silva Lisboa


Serviço Federal de Processamento de Dados
flavio.lisboa@serpro.gov.br

Luciana Campos Mota


Serviço Federal de Processamento de Dados
luciana.mota@serpro.gov.br

RESUMO

Este artigo trata sobre a padronização do desenvolvimento de sistemas utilizados pelo governo
federal do Brasil. Em sua introdução, ele apresenta o cenário do Software Livre no contexto do
governo, ao final da qual aponta a necessidade do uso de padrões. O desenvolvimento do artigo
é o relato da criação de uma estratégia de governo para a área de tecnologia da informação,
e de como isso culminou na criação de uma arquitetura de referência para aplicações e no
desenvolvimento de uma infraestrutura de construção de software (um framework) livre e de
código-aberto. São abordados o histórico do projeto do framework e uma visão geral sobre
sua arquitetura e a das aplicações por ele geradas. A artigo também expõe de forma sucinta
o desenvolvimento colaborativo em comunidade, os projetos relacionados e conclui com as
vantagens oferecidas pelo uso do framework e seu impacto na sociedade.

PALAVRAS-CHAVE

Arquitetura, Framework, Integração, Java, Padronização, Software Livre.

1. INTRODUÇÃO
Segundo Pinheiro (2008), “o software livre há muito que extrapolou as fron-
teiras da Academia, sendo um dos sistemas preferenciais das grandes indústrias,
devido a utilização de padrões, o reaproveitamento de códigos, a adequação de
ferramentas, além da não necessidade de licença para cada aplicação da ferramen-
ta. No governo federal, a cada dia assume uma posição ainda mais estratégica”.
Para o Estado, o software livre apresenta diversas vantagens, de acordo com
Almeida (2009):
–– garante o domínio sobre a tecnologia, o que é fundamental para o de-
senvolvimento do país, por abrir caminho para a inovação;

185
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

–– garante que as gerações futuras tenham acesso à informação pública


hospedada no governo;
–– traz economia ao não enviar royalties ao exterior por direitos de
licença;
–– torna as aplicações mais seguras, pois como o código está disponível,
qualquer fragilidade pode ser rapidamente corrigida.
A Administração Pública deve assumir em sua organização funções pri-
mordiais à coletividade, no interesse desta. De modo a regrar e viabilizar a exe-
cução de tais funções, buscando atingir da melhor maneira possível o interes-
se público visado, o artigo 37 da Constituição determina que a Administração
Pública siga os princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicida-
de e eficiência.
Pelo princípio da legalidade, ninguém será obrigado a fazer ou deixar de
fazer alguma coisa senão em virtude de lei. A lei 8666/03 estabelece as nor-
mas gerais sobre licitações e contratos administrativos pertinentes a obras e
serviços prestados para a Administração Pública. No inciso I de seu parágrafo
primeiro, essa lei veda aos agentes públicos a admissão, previsão, inclusão ou
tolerância de “cláusulas ou condições que comprometam, restrinjam ou frus-
trem o seu caráter competitivo”. A competitividade de serviços de desenvolvi-
mento e manutenção de sistemas de informação fica comprometida quando o
acesso à tecnologia utilizada nos mesmos é restrita, o que ocorre em softwares
proprietários.
O princípio da impessoalidade, de acordo com Nogueira (2005), no pris-
ma da relação com os administrados, significa que “a Administração Pública
não poderá atuar discriminando pessoas de forma gratuita, a não ser que esteja
presente o interesse público.” Ele está ligado aos princípios de finalidade, que
se traduz na busca da satisfação do interesse público, e no princípio da isono-
mia, “que determina tratamento igual a todos perante a lei”. Segundo o citado,
essa isonomia é meramente formal, havendo necessidade da atuação do Poder
Público para garantir a isonomia material, concreta. Em relação aos sistemas de
informação, não basta estabelecer editais de licitação se existe uma limitação de
acesso tecnológico para os interessados. Ou seja, as regras podem ser iguais para
todos, mas isso é insuficiente se nem todos têm acesso igual à tecnologia exigida
na licitação ou na contratação.
A imoralidade administrativa é uma forma de ilegalidade. A lei 8429/92
define os atos de improbidade administrativa e a responsabilização de seus agen-
tes. Um dos exemplos de atos é o denominado superfaturamento, que consiste
na aquisição de bens ou serviços acima do valor de mercado. O problema é que
o valor de mercado pode ser afetado se a competitividade for restrita, no caso da
existência de monopólios ou oligopólios de tecnologias de software. Isso torna o
Estado refém de poucos fornecedores ou prestadores de serviço, o que pode até
resultar em um problema de soberania nacional caso os mesmos sejam empresas
pertencentes a outros países.

186
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

O princípio da publicidade trata do dever que a Administração tem de dar


transparência a todos os atos que praticar e fornecer as informações solicitadas
pelos particulares. A regra geral é que nenhum ato administrativo pode ser sigi-
loso. Segundo Nogueira (2005), um dos conceitos de ato administrativo é o de
“exteriorização da vontade de agentes da Administração Pública” com a finali-
dade de “atender ao interesse público”. A produção de sistemas de informação
para o controle da Administração Pública se encaixa nesse contexto de forma
que os sistemas de informação também devem ser transparentes, excluídas as
exceções. Dessa forma, a não abertura do código-fonte dos sistemas impede o
pleno seguimento desse princípio.
O princípio da eficiência, introduzido pela emenda constitucional 19/98,
visa “aperfeiçoar os serviços e as atividades prestados, buscando otimizar os
resultados e atender o interesse público com maiores índices de adequação, efi-
cácia e satisfação.” (Central Jurídica, 2009). Costabile (2003) ressalta que, “cada
vez mais, os governos vivem o desafio de promover o desenvolvimento e de pro-
duzir melhores serviços públicos sem onerar o contribuinte com mais impostos”.
A e-PING afirma que “um governo moderno, integrado e eficiente, exige sis-
temas igualmente modernos, integrados e interoperáveis, trabalhando de forma
íntegra, segura e coerente em todo o setor público”. Por outro lado, Frid (2004) afir-
ma que “existe ainda uma grande carência de processos informatizados em quase
toda a Esplanada dos Ministérios” e que “uma das razões para o baixo rendimento
das verbas aplicadas pelos ministérios em Tecnologia da Informação é a falta de
um gerenciamento adequado dos recursos financeiros e humanos envolvidos”.
Frid aponta que “as empresas (privadas) ganham contratos, porém, não os
supervisionam, não definem critérios de produtividade ou qualidade dos seus
empregados alocados. Com isso, ministérios e órgãos públicos ficam na depen-
dência de pessoas que não exercem sua função como uma missão de Estado, mas
como trabalho temporário. Isto é grave, porque se se afastam, levam consigo o
conhecimento, e deixam o Estado vulnerável.”
O problema de acesso à tecnologia utilizada no desenvolvimento de siste-
mas para o governo pode ser resolvida com a adoção de software livre, o que
cumpre simultaneamente os princípios da legalidade e impessoalidade.
Ele também atende ao princípio da moralidade, ao dificultar justificativas
de gastos com licenças de software em tentativas de superfaturamento. O acesso
ao código-fonte e sua livre execução, cópia e alteração permite um acesso mais
amplo e igual para empresas que querem concorrer em licitações ou serem con-
tratadas diretamente pelo governo. O aumento da concorrência tende a tornar os
preços mais competitivos, desonerando o Estado e ajudando-o a se enquadrar no
princípio da eficiência.
Segundo Cassino (2009), o software livre impede que a questão do armazena-
mento de dados na Administração Pública fira o princípio da publicidade, pois ele

187
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

permite que os mesmos estejam acessíveis durante décadas, uma vez que o domínio
da tecnologia proporcionado pelo modelo livre garante a abertura das informações.
A segurança nacional também é atendida, segundo Saleh (2004), pois
“como o software livre é distribuído acompanhado dos códigos fontes, fica fácil
para as organizações governamentais auditá-lo, e garantir que não há seções ma-
liciosas, que poderiam eventualmente transmitir informações sem autorização
ou quebrar dados confidenciais.”
Sendo assim, o software livre parece ser a solução ideal para o desafio
imposto pelos princípios constitucionais que regem a Administração Pública.
Costabile (2003), entretanto, afirma que o software livre traz outro desafio, a
padronização. Segundo ele, “se todo o governo resolver usar software livre sem
padronizar” poderá “ter problemas de comunicação entre os sistemas, inviabili-
zando conquistas anteriores.” Ele ressalta que “não podemos esquecer que o pro-
grama de governo (da administração iniciada em 2003) recomenda a integração
entre os órgãos como meio de se atingir a sinergia.” Ele alerta que “sem padrão
não teremos comunicação, mas aumento da entropia.”

2. UMA SOLUÇÃO LIVRE PARA PADRONIZAÇÃO


E INTEGRAÇÃO DE SISTEMAS

2.1 A estratégia
O alinhamento do governo federal com o movimento de software livre faz
parte da estratégia do mesmo para sua área de tecnologia da informação (TI).
Essa estratégia foi traçada a partir da ciência da diversidade de equipes, clientes,
plataformas, demandas, pessoas e recursos envolvidas no desenvolvimento de
sistemas para governo.
O Serpro, empresa pública de tecnologia da informação do Ministério da
Fazenda, a partir de sua experiência como principal provedor de soluções para
o governo federal, considerou, para o estabecimento da estratégia de TI para
governo os seguintes elementos de decisão:
–– Os atores institucionais dos sistemas de governo (servidor público, fir-
mas e cidadãos) precisam de globalidade, conexão, mobilidade e faci-
lidade de acesso.
–– A implementação de software baseada em conhecimento maduro é
preferível às soluções ad hoc.
–– É necessário promover a integração entre os sistemas de governo, eli-
minando o insulamento provocado pela diversidade (citada anterior-
mente), permitir a busca e recuperação de informação em bases de da-
dos diferentes e preservar a identidade e privacidade dos usuários.

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CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

–– Os sistemas de informação devem ter escalabilidade, o que significa


que devem permitir a agregação de novos recursos, ou aumento da dis-
ponibilidade de serviços, sem perda de desempenho.
–– As aplicações de governo devem ser sustentáveis pelo mesmo, evitando
aprisionamento tecnológico por parte de fornecedores e, consequentemen-
te, evitando onerar o cidadão com custos de tecnologia da informação.
O governo federal assumiu um papel de incentivador do software livre, tra-
tando do uso de padrões abertos, licenciamento livre de softwares e formação de
comunidades de usuários e desenvolvedores. Em consonância com esse papel,
o Serpro estabeleceu como componente estratégico da área de TI a evolução da
cultura de desenvolvimento de aplicações. A nova cultura deveria envolver um
desenvolvimento compartilhado, integrado, produtivo e gerenciável, que fizesse
uso de tecnologias abertas.
Ao mesmo tempo, a estratégia estabelecida incluía que governo deveria ter
a capacidade de manter e estender suas próprias aplicações.
Para isso, era necessário definir uma infraestrutura tecnológica de aplica-
ções. Os requisitos definidos para essa infraestrutura era que ela deveria ser
distribuída, escalável e habilitada para a Web. Ela também deveria ter alta dis-
ponibilidade e ser preparada para contingência. E finalmente, essa base para
aplicações deveria ter um baixo custo de propriedade.
O Serpro criou uma arquitetura de referência para aplicações, que orien-
tasse a construção da infraestrutura tecnológica de software. Essa arquitetura
compõe-se de oito itens:
–– Computação distribuída;
–– Aplicações baseadas em componentes;
–– Processos orientados a eventos;
–– Acoplamento fraco de funções de negócio;
–– Infraestrutura para suporte a decisões;
–– Automação de processos;
–– Acesso por Internet;
–– Software livre.

2.1.1 Computação distribuída


A computação distribuída em uma infraestrutura de aplicações é necessária
para o governo dado que:
–– O número de usuários de seus sistemas tende a crescer, assim como os
dados a serem persistidos;
–– O escopo de funcionalidades das aplicações aumenta com o tempo;
–– As aplicações devem estar alinhadas a distribuição geográfica do governo;
–– As aplicações devem ter suporte para várias tecnologias e tem de es-
tar baseadas em padrões de interoperabilidade para que trabalhem de
forma integrada.

189
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

2.1.2 Aplicações baseadas em componentes


O código-fonte produzido para as aplicações deve preferencialmente consti-
tuir-se em blocos de construção que sejam reusáveis, aderentes aos domínios de
suas aplicações e que possam ser tratados em diferentes níveis de escopo. Essas
características permitirão que esses blocos sejam integrados em outras estrutu-
ras de software, diminuindo o esforço na construção de aplicações ao longo do
tempo e melhorando a manutenção.

2.1.3 Processos orientados a eventos


Este item de arquitetura refere-se à diminuição do emprego de transferên-
cia de arquivos e filas de entrada, de processos dinâmicos e desenho (projeto)
simples de aplicações.

2.1.4 Acoplamento fraco


Este item refere-se a preocupação com operações assíncronas (que não fi-
cam aguardo resposta), com a eliminação de gargalos do modo de operação sín-
crono (que espera resposta para prosseguir), e à separação de interfaces, regras
de negócio e persistência (separação da aplicação em camadas).

2.1.5 Suporte à decisões


A infraestrutura de software deve gerar aplicações que forneçam ao ser-
vidor público, visto agora como um “trabalhador do conhecimento”, acesso
às informações de que necessita para a tomada de decisões. A plataforma de
construção de software deve facilitar a recuperação de informações de situação,
exceções, registros históricos e qualquer conhecimento relevante ao servidor pú-
blico, usuário do sistema. A infraestrutura deve criar meios para implementação
de inteligência computacional, que capacite as aplicações a fazerem associações
de dados e predição com base nos mesmos.

2.1.6 Automação de processos


A plataforma de construção de software deve facilitar o gerenciamento de
processos de negócio, permitir transações de longa duração, possibilitar a in-
tegração com barramentos de serviços. A plataforma também deve permitir a
composição de processos de negócio por meio de web services, seja por coreo-
grafia ou orquestração (Wikipedia, 2009).

2.1.7 Acesso por Internet


Dada a existência de um enorme legado de aplicações de governo, sendo
que a possibilidade de migração é muito remota, a integração dos sistemas le-
gados com interfaces Web é necessária para permitir melhor navegabilidade,
usabilidade e consolidação de dados de fontes diversas, além do acesso a partir

190
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

de qualquer lugar, por meio de conexão a Internet e disponibilidade de um


navegador.
O acesso por Internet também coloca para a infraestrutura de software os
desafios de permitir a navegação baseada em semântica, por meio de aplicações
sensíveis ao modo de navegação (Web 2.0) e ao contexto (Web 3.0). As aplicações
podem ter interfaces baseadas em navegador, para acesso direto por usuários, ou
interfaces de aplicações (web services) para integração com outros sistemas.

2.1.8 Software Livre


A infraestrutura de software deve ser constituída preferencialmente de sof-
tware e deve ser licenciada como software livre de modo que proporcione:
–– Compartilhamento de soluções;
–– Desenvolvimento em rede;
–– Redução de custos;
–– Simplificação de práticas de segurança;
–– Gerenciamento compartilhado de conhecimento;
–– Estímulo à inovação;
–– Sustentabilidade em longo prazo.
No ano de 2008, segundo cálculo do Serpro (2009), o uso de software livre
gerou uma economia de R$ 370 milhões para o governo federal do Brasil.

2.2 A implementação
Os funcionários do Serpro, ao longo dos anos, fizeram várias tentativas de
criar uma plataforma de construção de aplicações padronizada, que servisse
toda a empresa. Mas foi com a entrada do diretor- presidente Marcos Mazoni,
que houve finalmente um patrocínio da diretoria para a concretização dessa
idéia. Oriundo da Celepar, empresa paranaense de informática, da qual era pre-
sidente, Mazoni estabeleceu um intercâmbio entre as duas empresas, focando as
soluções em software livre.
A Celepar já havia criado a sua infraestrutura de aplicações, denominada
Pinhão Paraná. O Serpro estudou a plataforma, para saber se poderia simples-
mente adotá-la, mas chegou a conclusão de que deveria construir a sua própria.
Assim, baseado em sua experiência interna e no compartilhamento de conheci-
mento com a Celepar, o Serpro iniciou em 2008 a construção do seu arcabouço
de software.
A tecnologia Java foi escolhida para constituir a base da plataforma, em
virtude dos recursos oferecidos por ela, da experiência da empresa na mesma, e
na consequente disponibilidade de mão-de-obra especializada.
Em março de 2008, era lançada para consumo interno, a primeira versão
(0.1) do framework JEE (Java Enterprise Edition) do Serpro. Alguns projetos

191
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

foram selecionados para a utilizarem, e contribuirem com sua construção. Em


abril do mesmo ano foi criada a equipe gestora do framework, lotada na regional
Curitiba do Serpro. Trabalhando de forma colaborativa com as equipes de de-
senvolvimento, a equipe gestora conseguiu lançar uma segunda versão (0.2) em
agosto de 2008, até que em dezembro do mesmo ano no Free Software Rio, foi
anunciada oficialmente a versão 1.0, batizada de Demoiselle Framework. Após
análise jurídica, em abril de 2009 o código-fonte foi liberado sob a licença LGPL
3, e hospedado no Sourceforge, um dos maiores repositórios de projetos de sof-
tware livre do mundo, para ser mantido em comunidade.
Em 14/07/2009, segundo levantamento feito pelos arquitetos de software
regionais do Serpro, 26 projetos estavam utilizando o Demoiselle Framework.

2.3 A arquitetura da solução


A Figura 1 é a representação da arquitetura do Demoiselle Framework. Ela
(a figura) é dividida em blocos retangulares, que representam as camadas de
software que compõem a solução. A primeira camada inferior
(OS) é o sistema operacional da máquina. O sistema operacional controla
as operações básicas de hardware e gerencia os recursos do computador. Essa
camada não é passível da imposição de padrão, porque a escolha do sistema ope-
racional depende de vários fatores, como os tipos de aplicação que serão execu-
tadas, a necessidade de customização (adaptação do sistema) e a disponibilidade
de recursos financeiros (para pagamento de licenças e contrato de suporte) ou s
humanos (para manutenção do sistema por conta própria).

Figura 1. Arquitetura do Demoiselle Framework.

192
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

Na construção da arquitetura, um dos requisitos elencados foi o da portabi-


lidade das aplicações, ou seja, uma vez construídas, as aplicações deveriam ser
capazes de rodar (serem executadas) em qualquer sistema operacional (ou pelo
menos na maioria disponível/usada no mercado). Esse foi um dos itens que pe-
sou para o uso de Java, pois a mesma implementa o conceito de máquina virtual,
que constitui a segunda camada (de baixo para cima) do Demoiselle Framework.
A máquina virtual é um software que simula um hardware genérico. Dessa
forma, as aplicações são construídas não para rodar em um determinado siste-
ma operacional, mas para rodar sobre a máquina virtual. Ela traduz as instru-
ções dos programas para a linguagem do sistema operacional sobre a qual está
baseada.
Prosseguindo para as camadas superiores, o próximo bloco é da plataforma.
Como a implementação atual do Demoiselle está direcionada a construção de
aplicações Web, então a plataforma se constitui de servidores de aplicação Web.
De forma a não prender as aplicações a um determinado servidor, foi estabele-
cido que as aplicações deveriam ser executáveis em servidores que seguissem o
padrão JEE. O Serpro, em seus projetos, fez uso de JBoss e Tomcat, soluções
abertas, e entregou para a comunidade a incumbência de testar o uso em outros
servidores.
A próxima camada, dos frameworks de fundamento, constitui-se da reu-
nião de especificações da tecnologia Java que norteiam as implementações de
software utilizadas pelo framework. A idéia é que as aplicações não fiquem pre-
sas a produtos de software específicos. A adoção dos padrões definidos pelas
especificações garante uma certa liberdade na troca de tecnologias especialistas.
As tecnologias especialistas, ou melhor, os frameworks especialistas, fazem
parte da camada seguinte. Este é o ponto de mutação do Demoiselle Framework.
Os frameworks especialistas são integrados pela última camada, o framework
arquitetural, que constitui efetivamente o Demoiselle. O gerenciamento de mu-
danças deve se concentrar nessas duas camadas superiores, sendo que o fra-
mework arquitetural deve permanecer estável.
A idéia é proteger as aplicações do impacto das mudanças, conservando a
mesma interface para as classes e métodos utilizados, mas alterando os com-
ponentes que implementam as funcionalidades conforme for necessário. Em
uma de suas aulas na Universidade Tecnológica Federal do Paraná, o professor
Gustavo Alberto Gimenez Lugo afirmava que, com a tecnologia Java, finalmente
alguém se preocupava com o desenvolvedor de software. Não vamos provar essa
afirmação, mas usá-la como um ponto de referência. Considerando que ela seja
verdadeira, o Demoiselle vem prosseguir no intento da tecnologia Java, e facili-
tar a vida do desenvolvedor, tirando a sua preocupação com as implementações
de baixo nível, que constituem a infraestrutura de software, ou seja, a estrutura
mínima que o software necessita para poder executar as tarefas desejadas pelo
cliente.

193
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

Todas as tecnologias integradas pelo Demoiselle podem ser perfeita-


mente usadas sem o framework. Porém, nesse caso, o desenvolvedor divide
a sua preocupação com diversas estruturas, precisa gerenciar isso por conta
própria e torna as aplicações dependentes de determinadas tecnologias, for-
temente sujeitas à mudança.
Ao programar para o Demoiselle Framework, o desenvolvedor conse-
gue criar uma estrutura de software reutilizável, de duas formas. Primeiro,
se algum framework especialista tiver de ser substituído, a aplicação irá
ignorar essa mudança, pois sua interface com o framework permanecerá
inalterada. A mudança ocorrerá na implementação do framework que faz a
integração, sendo que o resultado final permanecerá o mesmo.
Larman (2004), define um framework como “um conjunto coeso de in-
terfaces e classes que colaboram para fornecer serviços para a parte básica e
constante de um subsistema lógico”. O Demoiselle Framework encaixa-se nessa
definição, mas a extrapola quando comparado com outras soluções similares,
por integrar tecnologias em vez de implementá-las.
Na verdade, segundo Macias (2008), “os frameworks podem ser classifi-
cados, quanto à forma onde são utilizados, ou seja, quanto ao seu escopo, em
três categorias: dos frameworks de middleware de integração; dos frameworks
de aplicação e dos frameworks especialistas”. O problema reside no uso desses
últimos.

Figura 2. Integração de tecnologias Java sob o Demoiselle Framework.

194
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

Na construção de software baseado em camadas, cada camada tem


uma responsabilidade que pode ser implementada pelo uso de padrões
de projeto e de frameworks de infraestrutura ou especialistas. Segundo
Macias, “existe, no mercado, uma grande quantidade de frameworks open
source disponíveis, que solucionam problemas de cada camada específi-
ca, tornando a escolha da implementação mais apropriada uma atividade
onerosa e não padronizada”. De acordo com a autora, “ para solucionar
esses problemas surgiu o conceito de Framework Integrador, que realiza
a integração entre vários frameworks especialistas e garante a evolução,
manutenibilidade e a compatibilidade entre cada um deles. Assim, facilita
a construção de aplicações e o aumento de produtividade das equipes de
desenvolvimento”.
O Demoiselle Framework é um framework integrador, pois, baseando em
especificações, ele agrega várias soluções já implementadas, definido as tecnolo-
gias a serem utilizadas e a estrutura das aplicações, padronizando a codificação
e orientando as decisões dos projetos.

2.4 A arquitetura de referência para as aplicações


A Figura 3 representa uma aplicação construída com o Demoiselle
Framework. Ela mostra as camadas que compõem a aplicação e os contextos
acessados por essas camadas.
Essa figura traz uma inovação na representação visual de aplicação em
camadas, pois dispõe as camadas de forma vertical. Na verdade, na prática,
as camadas estão uma sobre a outra, sendo que o usuário tem contato com a
superior (no caso à da direita) enquanto a aplicação se comunica com o am-
biente externo de software ou hardware pela camada mais inferior (no caso à
da esquerda).
Fowler (2006), defende um padrão de projetos chamado MVC, que propõe
a divisão das aplicações em três partes, denominadas camadas, em uma metá-
fora de bolos e tortas. Essa divisão visa melhorar a manutenção das aplicações,
permitir o desenvolvimento simultâneo de partes da aplicação e produzir com-
ponentes de sotware reutilizáveis.
Um padrão de projetos, segundo Gamma (2000) é algo que “nomeia, abs-
trai e identifica os aspectos- chave de uma estrutura de projeto comum para
torná-la útil para a criação de um projeto orientado a objetos reutilizável. O
padrão de projetos identifica as classes e instâncias participantes, seus papéis,
colaborações e a distribuição de responsabilidades. Cada padrão de projeto
focaliza um problema ou tópico participar de projeto orientado a objetos. Ele
descreve em que situação pode ser aplicado, se ele pode ser aplicado em fun-
ção de outras restrições de projeto e as consequencias, custos e benefícios de
sua utilização”.

195
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

Figura 3. Arquitetura de aplicação em camadas.

O padrão MVC disseminou-se pelo mercado, produzindo uma gama de


frameworks, em diversas linguagens, que facilitam sua implementação. Nesse
padrão, a aplicação divide-se uma parte específica para cuidar da interface com
o usuário (visão), uma para conter os dados manipulados pela aplicação (modelo)
e finalmente uma que realiza o controle da aplicação, enviando para a visão os
dados do modelo, após o adequado processamento.
O Demoiselle propõe uma adaptação do MVC, da seguinte forma: no lugar
da letra M (modelo), a camada Persistence que faz uso de dois padrões referentes
a dados e sua recuperação, POJO e DAO; as letras VC (visão e controle) são fun-
didas em uma única camada chamada View & Controller, onde uma implemen-
tação JSF cuida da visão enquanto uma implementação Servlet faz o controle;
entre essas duas camadas fica a Business, onde residem as regras de negócio da
aplicação.
Essa proposta vem resolver uma questão frequente em implementações
MVC: onde ficam as regras de negócio?

196
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

Permeando essas três camadas, estão os contextos da aplicação, classes que


realizam o controle de funcionalidades referentes a mais de uma camada, como
controle de mensagens, segurança e transações. O Demoiselle Framework ofe-
rece uma implementação de localizador de contexto, que permite um controle
fácil e unificado dos contextos. Essa estrutura, na forma de diagrama de classes
da UML está na figura 4.

Figura 4. Localizador de contextos e contextos.

A figura 3 ainda traz um bloco retangular permeando as camadas, chamado


Aspect. Não é um contexto, como os outros, ele está assim disposto na figura
para indicar que a injeção de dependências por meio de aspectos ocorre em todas
as camadas.
A orientação a aspectos é uma técnica que veio complementar a orientação
a objetos na parte em que essa não consegue reutilizar e modularizar todo o
código, permitindo a existência de blocos de código repetitivos em locais dife-
rentes da aplicação.
No caso do Demoiselle, a técnica foi utilizada para permitir a criação de
referências indiretas quando da criação de objetos, por meio da combinação do
uso de interfaces de classe com anotações. As interfaces de classe são definições
de comportamento, que criam padrões de classe, sem definir a implementação
das funcionalidades. As anotações são diretivas do Java que permitem o envio
de instruções para o compilador, antes da geração do bytecode (o código inter-
mediário que a máquina virtual traduzirá em código executável). Dessa forma,
uma camada não sabe exatamente qual classe irá utilizar, até que o código seja
compilado. Isso permite uma mudança rápida e fácil de implementação, já que
os comportamentos são padronizados.
Segundo Ximenes (2009), “esta técnica é chamada de injeção de dependên-
cia e tem como responsabilidade instanciar as classes concretas para prover a

197
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

comunicação entre as camadas”. No Demoiselle, essa técnica é implementada


a partir da anotação @Injection que deve ser colocada antes das propriedades a
serem injetadas.
O módulo Web do framework garante que a classe concreta só será instan-
ciada caso realmente vá ser utilizada. Em vez de injetar diretamente a classe
contreta, um proxy é injetado garantindo que ela será instanciada apenas na
primeira vez que a propriedade for utilizada. Esse processo automatizado é pos-
sível pelo estabelecimento de uma convenção de nomes de classes e interfaces.
No entanto, algumas aplicações precisam de um comportamento específico
para a instanciação de seus objetos. Nesse caso, é necessário o uso de fábricas
customizadas. Com o Demoiselle Framework é possível indicar qual será a fábri-
ca utilizada na classe ou até mesmo em todo o pacote. Para isso basta utilizar a
anotação @Factory sobre a classe ou dentro da classe package-info.java.
Dessa forma, o framework consegue evitar o chamado “engessamento” dos
sistemas, ao combinar padronização com flexibilidade. “Engessamento” é um
termo utilizado quando a estrutura de um sistema é tão fechada, que qualquer
mudança torna-se complicada ou até impossível. Por isso, a adoção de padrões
abertos e flexíveis torna-se necessária.

2.5 Desenvolvimento colaborativo em comunidade


Conforme descrito no item 2.2, o Demoiselle Framework está disponível
como software livre, no Sourceforge pela URL http://sourceforge.net/projects/
demoiselle. Ocorre porém, que, pela sua proposta, o framework constitui ape-
nas uma infraestrutura mínima de software, que deve ser o mais generalista
possível. Dessa forma, funcionalidades específicas devem ser acopladas ao fra-
mework por meio de componentes que sigam seu padrão de implementação.
Durante o desenvolvimento dos projetos no Serpro que fizeram, e ainda
fazem, uso do Demoiselle, diversos componentes foram fabricados. Após a li-
beração do Demoiselle, esses componentes foram reunidos em um subprojeto
denominado Demoiselle Components, também hospedado no Sourceforge.
Em seu ambiente de desenvolvimento, o Serpro faz uso do IDE (Integrated
Development Environment) Eclipse. Para facilitar a criação de projetos com a es-
trutura definida pelo framework, foi construído um plugin chamado Demoiselle
Wizard, que faz geração automática de código pelo preenchimento de dados
em telas intuitivas, que inclusive seguem os padrões de acessibilidade para go-
verno eletrônico (e-MAG). Esse plugin também foi disponibilizado para uso no
Sourceforge.
Além da documentação disponível no site do projeto, tanto na forma de
páginas Web como manuais e tutoriais em arquivos independentes, também
foi desenvolvido um projeto com aplicações de exemplo. Ele nasceu durante

198
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

os treinamentos realizados para capacitar os desenvolvedores no uso do fra-


mework. Inicialmente, ele constava de uma aplicação denominada escola, que
traz em seu código os principais exemplos de uso do framework. Essa aplicação
foi disponibilizada pelo subprojeto Demoiselle Samples, que tem por objetivo
hospedar exemplos de aplicações que usam o framework para servirem de re-
ferência para os programadores. Hoje já existem várias aplicações de exemplo,
além da escola, disponíveis.
Finalmente, foi criado um subprojeto chamado Demoiselle Process, que
pretende propor um processo de desenvolvimento utilizando o framework. A
motivação para isso é a crença de que apenas deter a ferramenta não é o bastante,
é necessário técnica.
Os projetos Demoiselle estão todos hospedados no Sourceforge (http://
sourceforge.net), um web site que hospeda gratuitamente mais de 230 mil pro-
jetos de software de código aberto e conta com mais de 2 milhões de usuários
registrados. O Sourceforge oferece um ambiente com ferramentas para o de-
senvolvimento colaborativo, como fóruns, listas de discussão, blog, wikipages,
repositório de código-fonte com controle de versão e ferramenta de rastreamento
de novas funcionalidades e registro de bugs, entre outras.
Como cada projeto tem um site, o acesso a todos eles foi centralizado por
meio de um portal, o www.frameworkdemoiselle.gov.br, que resume as princi-
pais informações sobre cada um deles, traz notícias e o calendário de eventos de
promoção do framework.
Segundo a ferramenta Piwik, disponível no Sourceforge, o projeto Demoiselle
Framework contava em 05/10/2009 com mais de 6 mil e duzentos acessos no ano,
provenientes do Brasil (esmagadora maioria), Estados Unidos da América, França
e Portugal. A quantidade de downloads ultrapassava 3 mil. Um crescimento ex-
pressivo, considerando que o código-fonte foi liberado no mês de abril.

3. CONCLUSÃO
O propósito do Demoiselle Framework era criar uma infraestrutura de sof-
tware que padronizasse as aplicações do governo. Para que isso se torne reali-
dade, é necessário que todos os organismos do governo que trabalhem com de-
senvolvimento de TI adotem o Demoiselle como padrão. Também é necessário
que o mercado e a academia adotem a plataforma, e contribua com ela, de modo
que o governo consiga assimilar as experências e inovações trazidas por ambos.
Aqui há um conflito entre a necessidade da padronização e o problema de
impor um padrão. Obrigar o uso do framework não é uma solução satisfatória,
visto que parte do sucesso de um projeto de software livre baseia-se na contri-
buição dos usuários, e se os mesmos forem obrigados a utilizá-lo, certamente
não se sentirão motivados a contribuir.

199
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

O documento de referência da e-PING informa que “a adoção dos padrões


e políticas contidos na e-PING não pode ser imposta aos cidadãos e às diversas
instâncias de governo, dentro e fora do país. O governo brasileiro, no entanto, es-
tabelece essas especificações como o padrão por ele selecionado e aceito, ou seja,
estes são os padrões em que deseja interoperar com as entidades fora do governo
federal – Poder Executivo brasileiro. A adesão dessas entidades dar-se-á de forma
voluntária e sem qualquer ingerência por parte da Coordenação da e-PING.”
Uma motivação para aderir ao e-PING é a disponibilização de uma plata-
forma de desenvolvimento de software que siga seus padrões.
O direcionamento tecnológico é extremamente importante, tanto para o go-
verno quanto para as empresas privadas, que desejem trabalhar com ele ou não.
Os interessados em prestar serviço para o governo podem se especializar
nas tecnologias que foram definidas como o padrão a ser utilizado. Pequenas e
médias empresas, ou até desenvolvedores ou consultores independentes que tra-
balhem como pessoa jurídica, podem participar de concorrências públicas junto
com grandes empresas, pois todos terão acesso ao Demoiselle e às tecnologias
relacionadas sem qualquer custo.
A iniciativa privada ganha como um todo, pois a padronização dos sistemas
democratiza a concorrência, evitando que um grupo de privilegiados tenha o
mercado governo reservado para si. Essa é uma estratégia baseada na crença
de que o melhor resultado virá quando todos do grupo fizerem o melhor para si
mesmos e também para o grupo como um todo.
Além disso, qualquer empresa pode utilizar a plataforma para desenvol-
ver sistemas para qualquer cliente. E esse cliente terá a segurança de que não
dependerá do criador da aplicação para mantê-lo. Não ficará refém ou prisio-
neiro, mas terá liberdade de tomar conta de seus sistemas de informação e de
implementar funcionalidades sem ter que esperar por próximas versões. Tudo
o que alguém precisará para fazer manutenção em uma aplicação desenvolvida
pelo Demoiselle será conhecer os requisitos, o framework e a arquitetura de
referência, sendo que somente os primeiros irão mudar a cada caso. E ainda se
beneficiará de toda a experiência do Serpro.
Para o governo, o direcionamento significa que todos os seus órgãos terão
condições de compartilhar suas experiências, pois utilizam as mesmas tecnolo-
gias e seguem os mesmos padrões. A cooperação e reutilização não é possível
quando cada um faz uso de padrões diferentes.
O Demoiselle pode ser visto como uma imposição, com o intuito de criar uma
reserva de mercado para empresas estatais, mas isso é um ledo engano. Costabile
(2003) afirma que o Serpro tem de se colocar como entidade colaboradora e referen-
cial no novo cenário do software livre. Ele diz que “isso não significa que todos terão
que usar” os sistemas do Serpro, pois “o conceito de software livre não é criar um pa-
drão e obrigar todos a usá-lo, mas ter um padrão e uma metodologia a ele vinculado.”

200
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

O trabalho em comunidade também parece não ser novidade, já que o


Serpro é uma das organizações que participam do desenvolvimento do
Expresso, uma ferramenta de e-mail livre adotada pela empresa. A diferença
é que o Expresso já é uma aplicação final, enquanto o Demoiselle é uma plata-
forma de desenvolvimento. O Serpro está oferecendo uma infraestrutura para
a construção de aplicações, que concentra toda a experiência da empresa na
tecnologia Java.
A criação da comunidade do Demoiselle atende não só ao princípio da pu-
blicidade, pois o cidadão interessado a possibilidade de ver como os sistemas
que administram seu país são construídos, como lhe dá o poder de participar
mais diretamente das decisões tecnológicas do governo. Isso é inédito, pois o go-
verno pode se beneficiar do trabalho cooperativo entre empregados de empresas
públicas e qualquer cidadão que queira contribuir com os padrões e a arquitetura
dos sistemas governamentais. É como se houvesse um acréscimo nos modos de
exercício da soberania popular, descritos no artigo 14 da Constituição, específico
para a tecnologia da informação.
Tudo isso faz parte do esforço do Serpro em atuar de forma mais compar-
tilhada com a sociedade e os demais órgãos do governo. Esse esforço é uma
quebra do paradigma de construção de código de forma isolada e estabelece um
“modelo novo de governança, baseado principalmente na filosofia de construção
coletiva e cooperada” (Mazoni, 2002). Isso é possibilitado pela plataforma ser
totalmente baseada em software livre.

AGRADECIMENTO
Queremos agradecer a todos os desenvolvedores do Serpro, cujo trabalho
ao longo de anos culminou com o Demoiselle Framework. Em especial, aos que
integraram o conhecimento de várias pessoas em um único projeto e aos que
patrocinaram o Demoiselle.

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201
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202
PARTICIPAÇÃO DEMOCRÁTICA
NOS WEBSITES DOS CANDIDATOS
A PREFEITO DAS CAPITAIS
DA REGIÃO SUL

Andressa Silvério Terra França


Universidade Federal do Paraná (UFPR)
andressastf@gmail.com

María Alejandra Nicolás


Universidade Federal do Paraná (UFPR)
alejandranicolas@gmail.com

Sérgio Soares Braga


Universidade Federal do Paraná (UFPR)
ssbraga@uol.com.br

RESUMO

O objetivo deste artigo é analisar a presença de espaços destinados à participação dos cidadãos
nos websites dos candidatos a prefeito de Florianópolis, Curitiba e Porto Alegre nas eleições
de 2008. Norteiam nosso trabalho as seguintes questões: Em que medida estes espaços foram
utilizados pelos candidatos para interagir e se comunicar com os possíveis eleitores? Estes
espaços representam uma ampliação da participação democrática em campanhas eleitorais?
Nossa hipótese de trabalho é que os espaços de participação tais como, chat, fórum, enquetes,
envio de comentários, dentre outros são utilizadas de maneira desigual pelos candidatos em
seus websites, se comparado com outras ferramentas já de utilização mais homogênea.

PALAVRAS-CHAVE

Internet e política; eleições 2008; participação democrática.

1. INTRODUÇÃO20
O surgimento das novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs)
no final do século XX e seu posterior desenvolvimento e massificação nestes

20 A presente pesquisa foi desenvolvida no Núcleo de Pesquisa: “Democracia, Instituições


Políticas e Novas Tecnologias”, do Departamento de Ciências Sociais da Universidade
Federal do Paraná. Uma versão preliminar deste artigo foi apresentada no XIV Congresso
Brasileiro de Sociologia, realizado entre os dias 28 e 31 de julho de 2009, no Rio de Janeiro.

203
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

últimos anos vem suscitando importantes debates acerca de seu papel nas socie-
dades contemporâneas e, mais particularmente, sobre a participação civil nas
democracias liberais. Teóricos, políticos, governos e imprensa têm disseminado
a idéia de que, essas novas tecnologias, principalmente a Internet, ao abrir canais
de comunicação mais práticos e econômicos, tem modificado a forma como as
pessoas se relacionam. A Política, como parte integrante do conjunto das rela-
ções sociais, também não deixaria de sofrer sua influência.
Refletindo o interesse cada vez maior dos estudiosos sobre os impactos da
internet nos processos de representação política e nos sistemas políticos contem-
porâneos de uma maneira geral, devemos mencionar a existência de uma biblio-
grafia crescente, especialmente nos EUA e no continente europeu, sobre o uso de
websites, blogs e redes sociais na Net nas campanhas eleitorais (DAVIS, 1999;
IRELAND & NASH, 2001; BIMBER & DAVID, 2003; CORNFIELD, 2004;
TRIPPI, 2004; COHEN, 2006; PARKIN, 2007; GAINOUS & WAGNER, 2007).
Também neste sentido, começam a surgir no Brasil alguns estudos dedicados es-
pecificamente a analisar o papel da Internet na organização dos pleitos eleitorais.
Podemos mencionar um primeiro tipo de estudos que partem da ótica da comu-
nicação política, destacando-se a esse respeito os estudos de ALDÉ & BORGES
(2004) sobre o papel das home pages dos candidatos presidenciais às eleições
de 2002 na construção da pauta dos órgãos da grande mídia. BRANDÃO &
BATISTA (2007) analisam o perfil dos eleitores que participaram dos debates
políticos na internet durante a campanha presidencial de 2006, para isso utilizam
os e-mails enviados aos candidatos em seus websites, a troca de mensagens nas
comunidades mais importantes dos candidatos no site de relacionamento Orkut
e também os websites dos candidatos.
Um segundo grupo de estudos vem se desenvolvendo nos últimos anos no
Brasil e influenciou mais de perto a elaboração deste trabalho, ou seja, aquele
que parte da ótica do cientista político interessado nos múltiplos aspectos do
uso da Internet por candidatos nas democracias representativas (FERNANDEZ,
2005; IASULAITIS, 2007; BRAGA et. al., 2007). Essa vertente de estudos visa
à elaboração de estudos mais abrangentes sobre a utilização da web pelos can-
didatos, interessa-se em aprofundar a reflexão sobre as múltiplas dimensões da
atuação política dos candidatos em seus blogs ou websites (navegação, informa-
ção, comunicação, participação, interação, comunicação vertical e horizontal,
dentre outras dimensões), sem possuir necessariamente um viés estritamente
“comunicacional”.
O objetivo deste artigo é empreender uma reflexão no caminho aberto por
essa vertente de estudos. Sendo assim, tem-se por intuito mapear os mecanismos
de participação e interação que os candidatos a prefeito de Florianópolis, Curitiba
e Porto Alegre utilizaram em seus websites durante a campanha eleitoral de 2008.
Esse objetivo de ordem mais geral desdobra-se em dois objetivos específicos: a)
Aplicar uma planilha de análise de conteúdo aos websites dos candidatos a prefeito
da região sul visando avaliar o grau de presença das múltiplas dimensões de sua

204
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

atuação política; b) Aplicar instrumentos teórico-metodológicos para a análise de


tais dados, especialmente para a avaliação da participação democrática em cam-
panhas eleitorais. Nossa hipótese de trabalho é que os espaços de participação
tais como, bate-papos, fórum, enquetes, envio de comentários, dentre outros são
utilizados de maneira desigual pelos candidatos em seus websites, se comparados
a outras ferramentas já de utilização mais homogênea.
Para cumprir estes objetivos, organizaremos nossa exposição da seguin-
te forma: 1) Inicialmente, faremos uma pequena revisão dos efeitos que o uso
das TICs tem produzido nos sistemas políticos democráticos contemporâneos,
principalmente no que se refere às seguintes dimensões: i) Navegabilidade/
Acessibilidade; ii) Informação; iii) Accountability; iv) Comunicação e Mídia; v)
Participação e Interação; 2) Posteriormente, apresentamos a metodologia empre-
gada; 3) Em seguida, examinaremos algumas evidências empíricas da pesquisa;
4) Por fim, encerraremos o artigo com uma análise qualitativa, destacando as
principais experiências de participação e interação detectadas na web.

2. REVISÃO DE LITERATURA
Com efeito, diversos autores têm procurado analisar os impactos que o uso
das Novas Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs)21, especialmente
a internet, provoca e pode provocar sobre a democracia contemporânea. Estes
novos meios possuem potencialidades técnicas de interação mais horizontais,
quando comparados aos meios anteriores como a televisão, o rádio e a imprensa
escrita. Diante deste potencial interativo, haveria agora novas possibilidades de
melhorar a participação do cidadão nos negócios públicos, na tomada de decisão
política e até mesmo, em alguns casos, de fazer com que a própria esfera civil
tome as decisões até então restritas à esfera política (SILVA, 2005).
Em princípio verificamos posições polarizadas entre os autores, que se dividem
entre visões pessimistas, otimistas ou céticas sobre as potencialidades das TICs para
revitalizar as democracias parlamentares e os partidos políticos contemporâneos.
Alguns teóricos chegam a vislumbrar a emergência, por meio da Internet, de uma
nova modalidade de democracia, a “democracia direta eletrônica”, sistema no qual
os cidadãos se encontrariam em um ambiente virtual de deliberação sobre os te-
mas de interesse comum: a “Ágora Virtual” (MORAES, 2000). Outros estudiosos
“cyberpessimistas” ou “cybercéticos” reconhecem que a Internet tem um grande
potencial democratizante, mas sem chegar aos extremos de instaurar, por si mesma,
alguma variante de “democracia deliberativa” ou mesmo uma “democracia partici-
pativa direta” nas sociedades contemporâneas, e nem residiria aí necessariamente
sua principal contribuição ao aperfeiçoamento do processo político.

21 As Tecnologias da Informação e Comunicação compreendem três áreas: as telecomu-


nicações, as emissões radiais e televisas e a Internet (FRICK, 2006, p.175).

205
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

Cabe destacar aqui os trabalhos de Pippa Norris (2000; 2001), que represen-
ta uma linha de estudos de visão mais moderada sobre as relações entre inter-
net e política. A autora acima rejeita a idéia tanto de autores “cyberotimistas”,
segundo os quais a Internet levará a uma democracia direta virtual ou “delibe-
rativa”, como dos “cyberpessimistas”, que crêem que nada será mudado com a
emergência da web, baseados no argumento de que as TICs apenas irão reforçar
os padrões de comunicação (e de poder) existentes atualmente. As TICs po-
dem, de fato, aproximar elites dirigentes e cidadãos comuns, mas tal fenômeno
ocorrerá dentro dos quadros do modelo democrático representativo parlamentar.
Norris desenvolve o argumento de que há duas principais influências da Internet
sobre as democracias parlamentares modernas: ampliar os canais de informação
pública acessíveis à população e dinamizar a comunicação da sociedade com as
instituições políticas representativas. Cidadãos e grupos de interesse poderão
participar mais ativamente do processo político em virtude das facilidades de
comunicação, partidos políticos terão à frente novas condições para a compe-
tição, a sociedade civil poderá organizar mobilizações de modo mais fácil e a
transparência do poder público será ampliada, devido à difusão de informações
públicas. Os efeitos cumulativos desse processo poderão potencializar a consci-
ência cívica dos cidadãos e eventualmente redundar na criação de “subsistema
político virtual” que fortaleceria as instituições políticas mais relevantes e os
atores políticos mais engajados (cidadãos esclarecidos, imprensa, movimentos
sociais, grupos de interesse, partidos políticos, etc.), sobretudo nas democracias
em processo de consolidação.
Também dentro dessa linha representada por autores “cyberotimistas mo-
derados”, podemos destacar o enfoque de EISENBERG (2002; 2003), que admi-
te que a Internet produzirá impactos sobre a ação política e que poderá promover
a ampliação da democratização nas sociedades contemporâneas, embora consi-
dere precipitada a visão dos otimistas de que a web criará uma “Ágora Virtual”
ou de que será a solução para os problemas da legitimidade da democracia mo-
derna, especialmente de alguns países desenvolvidos, tais como a apatia eleito-
ral e ou o desinteresse de segmentos consideráveis da população em relação à
atividade política. A potencialidade de uma alta capacidade de interação entre
receptor e emissor (o que não era possível ou, ao menos, era muito difícil, por
meio das mídias tradicionais) propiciada pela Internet, é destacada pelo autor
como a principal característica democratizante de tal ferramenta tecnológica,
embora também sublinhe a existência de alguns riscos e aspectos negativos no
uso da Internet, do ponto de vista da emergência de uma cidadania autentica-
mente “republicana”.
Por fim, mais recentemente, acreditamos que vem surgindo outra vertente
de estudos, formada por “cyberpessimistas moderados” que, embora reconhe-
cendo alguns avanços propiciados pela internet no que se refere à ampliação
do fluxo de informação e de comunicação entre os diferentes atores que intera-
gem nos sistemas políticos democráticos contemporâneos, constatam o pouco

206
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

espaço ocupado nos websites por linguagens mais inovadoras, fora dos limites
das mídias tradicionais e do controle estrito dos dirigentes ou elites partidárias.
Sobretudo, esses estudos buscam desafiar a idéia comum de “política como usu-
al” , segundo a qual nada mudou com os impactos das TICs sobre os sistemas
políticos contemporâneos.
Dentro dessa linha podemos destacar a literatura crescente sobre campa-
nhas políticas na internet, onde podemos mencionar os estudos de LUSOLI
(2005a; 2005b) sobre a internet nas eleições parlamentares européias. Este autor
contraria os argumentos de que a internet irá reverter a ignorância, a apatia elei-
toral e o cinismo político; ou que a internet, em virtude de seu caráter descentra-
lizador, necessariamente irá equalizar as disputas de poder entre os produtores
de comunicação política nas democracias européias avançadas: “the ‘potential’
is on display, although on the shelf”. Essa nova tecnologia propicia estruturas
complexas de ação política para um número crescente de atores, mas isso de-
pende de uma série de fatores como: interesses individuais e coletivos, sistema e
recursos organizacionais, cultura política, desenho institucional e eleitoral, de-
senvolvimento tecnológico e anseios políticos dos cidadãos. O autor ainda lem-
bra que a internet não se limita à extensão da infra-estrutura física da campanha,
mas representa um espaço de comunicação política/pública híbrida para uma
gama mais ampla de comunicadores do que simplesmente partidos e candidatos,
onde estratégias inovadoras e campanhas interativas podem ser experimentadas:
“The internet does attract a younger audience and forces politicians to come to
terms with the new medium. It provides structure to the election and to election
issues. The electoral politics enacted through the internet is both ‘Machiavellian’
and discursive, as predicted by Blumler and Kavanagh”. (LUSOLI, 2005, p.160)
Mais recentemente, podemos mencionar outras pesquisas empíricas como
as de Lilleker & Jackson (2009), sobre a utilização das novas tecnologias da Web
2.0 (uso de blogs e sites de relacionamento – SNS) pelos parlamentares do Reino
Unido. Os autores trabalham com o seguinte modelo de análise dos websites:
Como observamos na Figura 1, a interatividade pode ser agrupada em seis
grupos de acordo à direção da comunicação (uma via, duas e três), e pelo nível
de controle que o parlamentar faz das ferramentas de interatividade, ou seja, dos
instrumentos que propiciem uma “entrada” para o internauta. A Internet permite
aos representantes políticos quer entrar em diálogo ou monólogo, dependendo
da forma como eles usam a Internet e quem são os destinatários. O feedback
direto dos visitantes por meio de questionários, sondagens, fóruns de discussão,
petições etc. é um dos elementos centrais para definição do que o autor entende
por interatividade. Na comunicação de duas vias (mutual discourse, responsive
dialogue) se encoraja um retorno ou resposta dos visitantes, isto pode acontecer
quando os internautas deixam comentários em notícias postadas pelos parla-
mentares (responsive dialogue), ou quando o parlamentar responde aos comentá-
rios dos internautas (mutual discourse). A terceira via de comunicação incentiva
uma abordagem mais interativa, em que três ou mais pessoas participam de um

207
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

fórum, por exemplo, debatem sobre um tema específico. No entanto, os resul-


tados apresentados pelos autores alertam para o fato de que a internet tem sido
utilizada mais como ferramenta para publicar do que para engajar (LILLEKER
& JACKSON, 2009, p.21).

Figura 1. MODELO DE INTERATIVIDADE (adap. FERBER et. al., 2007.

Fonte: LILLEKER & JACKSON (2009)

Além destas visões distintas sobre a potencialidade política das TICs, é pos-
sível ainda localizar diferentes retóricas que disputam o modelo de democracia no
ciberespaço. Como aponta Gomes (2005; 2007), a expressão “democracia digital”
e outras que lhe são próximas ou correspondentes22, é cada vez mais extensiva-
mente empregada por pesquisadores, políticos e militantes sociais e, enfim, pelo
discurso público, no entanto, sem explicitar realmente o que significa “democracia
digital” ou o que entendem pela expressão “democracia”. A questão levantada pelo
autor é que todo o desenho de dispositivos, aplicativos, ferramentas para um portal
ou um site político, pressupõe, antes de tudo, um conceito de democracia digital;
e que por sua vez, por trás dela há sempre um modelo de democracia. Portanto,
quem trabalha com questões da chamada democracia digital precisa levar em con-
ta seriamente os balizamentos teóricos do que se entende por democracia para, a
partir daí, analisar as variadas ferramentas que se encontram disponíveis na web,
como adverte: “Acredito que, numa agenda conseqüente, distinguir entre a idéia de

22 Tais como “democracia eletrônica”, “ciberdemocracia”, “democracia virtual”, teledemocra-


cia” e suas variantes “e-democracy”, “electronic democracy”, “virtual democracy” etc.

208
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

democracia e os modelos e ênfases em que tal idéia se materializa, nos permitirá


alcançar um patamar um pouco mais elevado na fundamentação da idéia de demo-
cracia digital” (GOMES, 2007, p.26).
Os liberais clássicos, por exemplo, enfatizam basicamente o papel da infor-
mação que promova transparência, abertura e prestação de contas dos agentes
políticos. A participação é um elemento importante, mas também o são, por exem-
plo, “a capacidade que a internet tem de produzir informação que promova a trans-
parência, a abertura e a accountability das agências governamentais em níveis
nacional e internacional, bem como a capacidade de fortalecer canais interativos
de comunicação entre os cidadãos e as instituições intermediárias” (NORRIS,
2000, p. 5). Já os adeptos da idéia de uma democracia deliberativa incluem outros
elementos importantes: oportunidades de participação pública e de engajamento
cívico, canais de comunicação entre os cidadãos e instituições intermediárias etc.
Uma perspectiva que nos auxilia sobre esta questão é saber qual o lugar e
a que tipo de participação nos referimos, se direta ou representativa, se todos
podem ser sujeitos dessa participação, ou se deve restringir ao nível local ou
nacional, se todo tipo de decisão deve ser submetido à apreciação e ao crivo
da opinião pública etc. Isto nos remete novamente à discussão acerca da teoria
democrática e formas de participação civil nos negócios públicos.
É importante destacar que os estudos sobre a relação entre democracia e
participação possuem diferentes ênfases . Os modelos apontados seguem uma
escala que vai crescendo em intensidade desde graus mais moderados de reivin-
dicações até formas mais radicais de defesa da participação popular. Para HELD
(1987), por exemplo, os modelos de democracia podem ser divididos em dois
grandes tipos: a democracia direta ou participativa (um sistema de tomada de
decisões sobre assuntos públicos no qual os cidadãos estão diretamente envol-
vidos) e a democracia liberal ou representativa (um sistema de governo que en-
volve “oficiais” eleitos que tomam para si a tarefa de ‘representar’ os interesses
e/ou pontos de vista dos cidadãos dentro do quadro de referência do ‘governo da
lei’). Discussões mais atuais trazem outros modelos de democracia como liberal-
individualista, comunitarista, deliberacionista etc.23
Cabe destacar nesta discussão as contribuições de SILVA (2005) e GOMES
(2005; 2007), sobre os graus de participação popular proporcionados pela infra-
estrutura da internet. Segundo estes dois autores, a participação na democracia
digital seguiria de um pólo ao outro em cinco níveis, correspondentes à escala
de reivindicação dos modelos de democracia participativa e sobre os quais os
experimentos e discursos poderiam ser enquadrados:
a) Primeiro grau de democracia digital – pode ser caracterizado pela
ênfase na disponibilidade de informação e na prestação de serviços

23 A bibliografia sobre este tema é bastante vasta, entretanto, por questões de espaço, não
nos será possível entrar extensivamente nesse debate aqui.

209
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

públicos através da rede. As TICs e o ciberespaço (incluiu-se a internet)


seriam instrumentos democráticos na medida em que circulam infor-
mações governamentais genéricas e melhoram a prestação de serviços
públicos.
b) Segundo grau de democracia digital – consiste no emprego das TICs
para colher a opinião pública e utilizar esta informação para a tomada
de decisão política.
c) Terceiro grau de democracia digital – é representado pelos princípios
da transparência e da prestação de contas (accountability), gerando
uma maior permeabilidade da esfera governamental para alguma in-
tervenção da esfera civil.
d) Quarto grau de democracia digital – está baseado na “democracia de-
liberativa”. Consiste na criação de processos e mecanismos de discus-
são, visando o convencimento mútuo para se chegar a uma decisão po-
lítica tomada pelo próprio público, definindo práticas mais sofisticadas
de participação democrática. É o mais intenso do ponto de vista da
participação civil nos negócios públicos.
e) Quinto grau de democracia digital – neste último grau, as TICs te-
riam uma função fundamental: retomar o antigo ideal da democracia
direta. A tomada de decisão não passaria por uma esfera política re-
presentativa, mas estaria centrada fundamentalmente nas mãos dos
cidadãos.
Os autores ainda lembram que esses graus não devem ser compreendidos
como “excludentes” entre si. Também não devem ser vistos de forma rígida
como parâmetros estanques. As experiências de democracia podem eventual-
mente situar-se entre graus, estando às vezes mais propensas a um determinado
grau sob um aspecto e a outro grau sob outro. No entanto, o que se nota, é que
existem níveis de participação bastante elementares, que levam ao predomínio
de democracias digitais de primeiro grau:
Em suma, apesar das enormes vantagens aí contidas, a comunicação
on-line não garante instantaneamente uma esfera de discussão pública
justa, representativa, relevante, efetiva e igualitária. Na internet ou
“ fora” dela, livre opinar é só opinar. Além disso, com o predomínio de
democracias digitais de primeiro grau, os sites partidários são em geral
meios de expressão de mão única, e os sites governamentais se consti‑
tuem como meios de delivery dos serviços públicos mais do que formas
de acolhimento da opinião do público com efeito sobre os produtores de
decisão política. Assim, se por um lado, a internet permite que eleitores
forneçam aos políticos feedbacks diretos a questões que eles apresentam,
independentemente dos meios industriais de comunicação, por outro lado,
não garantem que este retorno possa eventualmente influenciar a decisão
política (GOMES, 2005, p.221).
Tendo em vista os pressupostos teóricos acima, que não se esgotam nos
autores acima mencionados, busca-se examinar as experiências dos websites

210
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

dos candidatos a prefeito de Florianópolis, Curitiba e Porto Alegre nas últimas


eleições de 2008. A perspectiva presente neste trabalho parte de alguns pressu-
postos fundamentais que permeiam nossas análises: (i) há possibilidades distin-
tas de mecanismos de informação, comunicação, accountability e participação
dentro dos quadros das democracias representativas ou parlamentares, mas sem
dar lugar a uma forma de democracia radicalmente nova (democracia “participa-
tiva”, “liberal” ou “delibetiva”), ou a modelos mutuamente excludentes de demo-
cracia (“comunitária”; “direta”, etc.). (ii) O que há são diferentes possibilidades
de articulação entre essas várias dimensões do funcionamento das instituições
democráticas, dentro dos quadros das democracias representativas contemporâ-
neas. E ainda, (iii) o que é válido para as instituições de uma maneira geral, pode
ser válido para os candidatos individualmente considerados que pleiteiam cargos
eletivos. Com isso afirmamos que eles podem articular entre si com diferentes
graus de intensidades estes elementos de democracia.

3. METODOLOGIA
Nossa metodologia estruturou-se no sentido de desenvolver instrumentos
que possibilitassem uma análise comparativa da presença de espaços de partici-
pação e interação nos websites dos candidatos. Assim sendo, podemos dividi-la
em dois momentos básicos: 1) Em primeiro lugar, na avaliação do grau de uso
de cada dimensão especificada abaixo pelos candidatos em seus websites; 2) Em
segundo lugar, a partir do modelo desenvolvido por Lilleker & Jackson (2009),
analisaremos as experiências de participação e interação encontradas nos web-
sites analisados.
Embora nosso objetivo principal seja analisar a presença de mecanismos
de participação e interação nos websites dos candidatos, o rendimento analítico
desse objetivo de ordem geral complementa-se com a necessidade de mapear
outras dimensões que consideramos relevantes na atuação política dos candi-
datos em seus websites e que dizem respeito a aspectos do funcionamento das
instituições democráticas.
Procuramos cumprir o primeiro momento de nossa metodologia através da
elaboração e preenchimento de uma planilha específica com cerca de 60 itens
empregados para a coleta e sistematização de informações sobre diversos aspec-
tos ou variáveis passíveis de ser localizados em sites de candidatos.
Com base na bibliografia pesquisada e através da consulta aos mapas dos
sites de diferentes websites, listamos uma série de elementos presentes e que
consideramos relevantes para os fins e enquadramentos teóricos da presente pes-
quisa. A pontuação máxima corresponde a um website hipotético que, em tese,
conteria todos os itens classificados.
Os elementos mapeados foram reagrupados em cinco categorias:

211
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

1. Navegabilidade/acessibilidade: São recursos nos websites de candida-


tos que estimulam o primeiro contato do internauta com o site, ou seja,
mecanismos de navegação oferecidos aos visitantes.
2. Informação: São informações básicas dos candidatos, que permitem ao
internauta ter um conhecimento sobre o candidato. Incluímos desde a
biografia, trajetória política, legenda partidária até informação sobre os
comitês de campanha.
3. Accountability: São informações que dizem respeito à prestação de
contas da candidatura, desde lista de doações até funcionários traba-
lhando na campanha.
4. Comunicação e mídia: Ferramentas de informação mais refinadas atra-
vés de arquivos sonoros, vídeos e imagens. Também incluímos infor-
mação mais substantiva sobre a candidatura, desde material promocio-
nal até os programas de governo ou propostas.
5. Participação e interação: São dispositivos que possibilitam a participa-
ção dos internautas através de diversas ferramentas, e que incentivam
a comunicação entre o candidato e os eleitores. Incluímos deste chat,
fóruns, comunidade no site de relacionamento Orkut, enquetes de opi-
nião até a possibilidade de ajudar na campanha do candidato.
Os critérios adotados para pontuar as várias dimensões baseiam-se em
metodologia desenvolvida pelo grupo de pesquisa , que já foram aplicados de
forma um pouco distinta em estudos anteriores (BRAGA, 2007; BRAGA &
NICOLÁS, 2008). Deve-se sublinhar ainda que, além de constatar a presença
de cada item nos sites, testamos a funcionalidade de cada uma das variáveis
analisadas, por isso atribuímos três códigos de preenchimento: i) Informação
completa/satisfatória – o item funciona; ii) Informação incompleta/insatisfatória
– há o link, porém funciona de maneira incompleta; iii) Não existe o item, as
informações ou os links.
O segundo momento da nossa metodologia consistiu na exemplificação das
principais experiências que encontramos de participação e interação nos websi-
tes dos candidatos analisados, e será exposto no último item.

4. ANÁLISE E RESULTADOS
Nosso universo empírico se constituiu em 20 websites de candidatos a
prefeito das capitais da região sul. A pesquisa foi realizada na última semana
de campanha e a través de diferentes programas salvamos os sítios com o in-
tuito de realizar pesquisas mais aprofundadas. Utilizamos como fonte a base
de dados dos websites dos candidatos a prefeitos nas capitais dos estados no
primeiro e no segundo turno da eleição de 2008, organizada pelo Núcleo de
Pesquisa.
A tabela a seguir apresenta a relação de websites analisados:

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CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

Tabela 1. Websites dos candidatos a prefeito da região Sul, eleição 2008 – outubro 2008.

Nº CANDIDATO ESTADO PARTIDO WEBSITE


1 José Fogaça Porto Alegre PMDB www.fogaca15.com.br
2 Luciana Genro Porto Alegre PSOL www.psolrs.org.br/lucianagenro
3 Manuela Porto Alegre PCdoB www.manuela65.com.br
4 Maria Do Rosário Porto Alegre PT www.mariadorosarioprefeita.com.br
5 Marchezan Jr. Porto Alegre PSDB www.marchezan.com.br
6 Onyx Porto Alegre DEM www.onyx25.can.br
7 Afrânio Boppré Florianópolis PSOL www.afranio.org
8 Angela Albino Florianópolis PCdoB www.angela65.com.br
9 Cesar Souza Jr. Florianópolis DEM www.cesarsouzajunior25.com.br
10 Dário Florianópolis PMDB www.dario15.can.br
11 Esperidião Amin Florianópolis PP www.amin11.com.br
12 Nildão Florianópolis PT www.nildao13.can.br
13 Bruno Meirinho Curitiba PSOL www.brunomeirinho50.can.br
14 Beto Richa Curitiba PSDB www.betoricha45.can.br
15 Reitor Moreira Curitiba PMDB www.reitormoreira15.can.br
16 Fabio Camargo Curitiba PTB www.fabiocamargo14.can.br
17 Gleisi Curitiba PT www.gleisi13.can.br
18 Lauro Rodrigues Curitiba PT do B www.laurorodrigues70.can.br
19 Mauricio Furtado Curitiba PV www.mauriciofurtado43.can.br
20 Ricardo Gomyde Curitiba PCdoB www.gomyde65.can.br

Fonte: NPDIP

O Tribunal Superior Eleitoral, em Resolução Nº 22.718, estabeleceu dire-


trizes sobre a utilização da propaganda eleitoral na Internet nas eleições muni-
cipais de 2008:
Art. 18. A propaganda eleitoral na Internet somente será permitida na pá‑
gina do candidato destinada exclusivamente à campanha eleitoral. Art. 19.
Os candidatos poderão manter página na Internet com a terminação can.
br, ou com outras terminações, como mecanismo de propaganda eleitoral
até a antevéspera da eleição (Resolução nº 21.901, de 24.8.2004 e Resolução
nº 22.460, de 26.10.2006). § 3º Os domínios com a terminação can.br serão
automaticamente cancelados após a votação em primeiro turno, salvo os
pertinentes a candidatos que estejam concorrendo em segundo turno, que
serão cancelados após esta votação. (TSE, Resolução nº 22.718, art.5)
Os candidatos tinham que registrar os websites no Comitê Gestor da
Internet no Brasil (CGI.br), e aqueles sites que tivessem terminações diferentes
a can.br deviam ser retirados pelo candidato.
Na próxima seção é apresentada a análise das cinco dimensões mais rele-
vantes e que estão presentes nos vinte websites analisados.

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Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

4.1 Navegabilidade/Acessibilidade
A primeira dimensão da análise trata dos mecanismos de “Navegabilidade/
acessibilidade” disponíveis ao público. Representa uma espécie de “porta de en-
trada” dos sites, onde ocorre o primeiro contato do internauta com os candidatos
na web. Neste tópico, avaliamos as informações que constavam nas páginas ini-
ciais dos websites e que buscavam facilitar e tornar mais atrativa a navegação do
cidadão-internauta, tornando mais acessível seu contato com o candidato. Dentre
os as ferramentas pesquisadas, podemos mencionar: existência de mecanismos de
busca nos sites, existência de mapa do site e aumento/diminuição de letras.
O gráfico a seguir oferece as porcentagens das informações contidas nos
websites examinados sobre o item navegabilidade/acessibilidade.

Gráfico 1. Navegabilidade/Acessibilidade – outubro 2008.

Fonte: NPDIP

Com efeito, pelo gráfico acima podemos observar que dos itens analisados, o
mecanismo de busca foi o item mais utilizado pelos candidatos (40%), seguido pelo
cadastro para newsletter na página inicial e por link para página inicial, porém outras
variáveis que poderiam facilitar a navegabilidade do cidadão-internauta, propician-
do recursos básicos para uma navegação mais ativa foram quase que inexistentes. A
dimensão de navegabilidade apresentou frequências relativamente baixas, pelo que
nem a metade dos candidatos analisados se muniu destes itens em seus websites.

4.2 Informação
A dimensão “informação” abrange itens utilizados pelos candidatos para
dar a conhecer sua candidatura, ou seja, informações básicas que permitem ao
cidadão-internauta construir uma opinião sobre o candidato.

214
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

As informações constantes nos websites sobre a dimensão “informação”


dos websites dos candidatos analisados estão resumidas no gráfico abaixo:

Gráfico 2. Informação – outubro 2008.

Fonte: NPDIP

Pelo gráfico acima, constamos que, à diferença do gráfico anterior, a utiliza-


ção destes itens é mais homogênea, e apresenta maiores porcentagens. Todos os
websites (100%) ofereciam links sobre biografia/história de vida, e 90% dos we-
bsites possuíam informações sobre o perfil político do candidato e sobre o perfil
do vice-prefeito, o que revela o uso já institucionalizado destes itens. Mais da
metade dos candidatos disponibilizou informação sobre o partido e a coligação,
e sobre os vereadores que integravam a coligação, porém por outro lado, somen-
te um 25% dos websites possuía a relação dos endereços dos comitês eleitorais, o
que evidencia o baixo interesse por parte dos candidatos em incentivar ou moti-
var o contato do internauta com os organizadores ou militantes do partido. E por
último, somente 30% dos candidatos disponibilizou link para o site nacional do
partido, e 10% para o site municipal do partido. Podemos correlacionar a fraca
vinculação dos candidatos aos seus partidos e o peso do candidato nas eleições
brasileiras, uma vez que o sistema de lista aberta vigente no país privilegia o
voto no candidato em detrimento do partido.

4.3 Accountability
A dimensão “Accountability” abrange os itens utilizados pelos candidatos
para divulgar a relação de gastos de campanha, doações, patrimônio e funcioná-
rios trabalhando na campanha. Como pode ser observado, pelo gráfico abaixo,
foi quase inexistente a presença desses itens nos websites analisados, não supe-
rando a 5% dos candidatos (quando houve alguma informação). Dos itens anali-
sados, somente o candidato Bruno Meirinho (PSOL) de Curitiba possuía em seu

215
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website o link com a relação de doações e gastos de campanha, o que revela o


pouco interesse por parte dos candidatos em disponibilizar aos internautas estes
tipos de informações.

Gráfico 3. Accountability – outubro 2008.

Fonte: NPDIP

4.4 Comunicação e mídia


A dimensão “Comunicação e Mídia” abrange os itens utilizados pelos candida-
tos para divulgar suas atividades e informações de campanha. Trata-se basicamente
dos recursos destinados a potencializar as funções de comunicação e informação
estabelecidas pelos candidatos com os eleitores de uma maneira geral, utilizando
recursos de mídia (vídeos, imagens, arquivos de radio). Incluímos informações que
propiciam a construção não somente da imagem do candidato, mas também a forma-
ção de uma opinião ancorada em manifestações e posturas do candidato.
A presença dos diferentes itens na dimensão “comunicação e mídia” nos
websites dos candidatos nós é informada pelo gráfico abaixo.

Gráfico 4. Comunicação E Mídia – Outubro 2008.

Fonte: NPDIP

216
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

Com efeito, como pode ser observado pelo gráfico, 90% dos websites pos-
suía arquivos de rádio de campanha, 85% acervo de fotos e 70% as propostas de
políticas governamentais, notícias de campanha e matérias promocionais. Estes
porcentagens revelam a vontade generalizada dos candidatos em disponibilizar
na net a maior quantidade de informações sobre a campanha através de diferentes
recursos. Como constatamos, em termos gerais, o uso dos itens dessa dimensão
pelos candidatos foi bastante homogêneo, com exceção a artigos do candidato
(20%), atualização de links (20%) e programas e ações já desenvolvidas (25%).

4.5 Participação e Interação


A análise desta dimensão é o foco do nosso estudo. Incluímos na dimensão
“participação e interação” itens que dizem respeito a mecanismos oferecidos
pelos candidatos que propiciem aos internautas a possibilidade de colocar suas
opiniões ou manifestar seu apoio ao candidato. Pode-se observar que dos 22
itens que avaliamos nos websites dos candidatos, o de maior freqüência foi o link
“contato por e-mail ou fale conosco” (80,0%) o que revela a vontade generaliza-
da de disponibilizar um canal mínimo de comunicação para os eleitores se ma-
nifestarem. No entanto, como constamos, não foram utilizadas outras variáveis
que permitiriam a participação mais ativa dos eleitores nos websites, tais como,
sala de bate-papo e chat. Verificamos que o único website que oferecia link de
chat e efetivamente funcionava foi o do candidato Ricardo Gomyde (PCdoB) de
Curitiba24.
Lembrando que as regras do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) foram impre-
cisas sobre a liberação do uso de sites de redes sociais, como Orkut e MySpace
para realizar campanha. A recomendação do TSE foi que cada zona eleitoral
julgasse os casos de maneira individual. Possivelmente, este vácuo na legislação
pode ter contribuído para a pouca utilização deste tipo de recurso pelos candi-
datos. Segundo pesquisa realizada pelo Comitê Gestor da Internet sobre o uso
das Tecnologias da Informação e da Comunicação no Brasil de 2008, 69% do
total de entrevistados participava de sites de relacionamento como o Orkut. Este
dado nos proporciona um indício sobre o uso generalizado de sites deste tipo no
Brasil, ou seja, se pensarmos no alto acesso pelos internautas brasileiros, resulta
evidente que fazer campanha no site Orkut, teria levado informação a uma parte
considerável do público que acessa a internet.
Os websites dos candidatos analisados apresentaram diversos mecanismos
e ferramentas que permitem em grande parte a veiculação de informação e pro-
paganda de campanha, pelo que foi constatado através das dimensões analisas
de “informação” e “comunicação e mídia”. No entanto, o uso de mecanismos que
possibilitam a participação dos internautas foi bastante baixo e desigual. Tendo

24 A candidata Manuela (PCdoB/PA) possuía os links de chat e fórum, porém estes não
funcionavam.

217
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

como referência o modelo de interatividade de Lilleker & Jackson (2009) exem-


plificado na primeira parte do trabalho, podemos evidenciar, a partir de nossa
pesquisa, que os candidatos analisados se concentraram basicamente no grupo
de uma via: monologue, ou seja, os candidatos colocaram informações básicas
em seus websites (dimensões de “informação e comunicação”) e em raríssimos
casos, que ilustraremos a seguir, aconteceu algum tipo de feedback ou dialogue
no qual os internautas podiam participar ou emitir alguma opinião através das
ferramentas disponibilizadas nos sites.

Gráfico 5. Participação E Interação – Outubro 2008.

Fonte: NPDIP

Ilustramos a seguir alguns destes mecanismos encontrados nos websites


dos candidatos a prefeito das capitais da região sul.

5. PRINCIPAIS EXPERIÊNCIAS DE
PARTICIPAÇÃO NA WEB
Aprofundando a análise dos principais instrumentos de participação políti-
ca nos websites dos candidatos às eleições majoritárias nas cidades observadas,

218
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

podemos partir para uma breve análise de conteúdo de algumas das principais
experiências de participação política por nós observadas, à luz do Lilleker &
Jackson (2009).

5.1 Envio de perguntas e respostas


O website do candidato Amin (PP) de Florianópolis, disponibilizou vá-
rias ferramentas para os internautas participarem, seja enviando sugestões
de governo, denúncias sobre problemas que estivessem acontecendo nos
bairros ou perguntas ao candidato. Na figura a seguir se ilustra o link “você
pergunta, Amin responde”, os internautas enviavam perguntas e o candidato
respondia em formato de áudio. Vale lembrar que a maioria dos candidatos
possuía links do estilo “fale conosco”, também como foi mencionado, 80%
dos candidatos ofereciam e-mail, porém somente o candidato Amin publi-
cou as perguntas e respostas, convertendo-se numa experiência diferenciada
de participação. Poderíamos classificar este exemplo, segundo o modelo de
Lilleker & Jackson (2009) como “mutual discourse”, ou seja, os internautas
enviaram perguntas ou questionamentos e o candidato postou as respostas
no site.

Figura 2. Experiências de participação no website do candidato Amin (PP).

Fonte: http://www.amin11.com.br.

219
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

5.2 Participar da campanha, enquete, depoimentos


Outro recurso de participação utilizado pelos candidatos foi a possibilidade de
ajudar na campanha: divulgação do candidato pela internet, reuniões ou encontros
com amigos, dentre outras opções que eram oferecidas nos sites. Outros desses
recursos eram as enquetes sobre temas de campanha e depoimentos com fotos dos
internautas. Em alguns casos, como o do candidato à reeleição de Curitiba, Beto
Richa, o site oferecia a possibilidade de enviar um vídeo de apoio ao candidato.
A candidata Manuela (PCdoB) de Porto Alegre disponibilizou enquetes sobre
temas da campanha, assim como, críticas ao prefeito José Fogaça (PMDB), que ten-
tava sua reeleição. Os eleitores podiam enviar depoimentos de apoio à candidata com
fotos. O website também possuía o link: “participar da campanha”, com uma série
de atividades nas quais os eleitores poderiam participar. As ferramentas disponibili-
zadas no site de Manuela ofereciam a possibilidade dos internautas emitirem algum
tipo de opinião ou apoio à candidata, ou seja, existiu feedback direto dos visitantes.

Figura 3. Experiências de participação no website da Candidata Manuela (PCdoB).

Fonte: http://www.manuela65.com.br/novo.

O website da candidata Maria do Rosário (PT) de Porto Alegre também dis-


ponibilizou mecanismos de participação, e foi um dos poucos sites juntamente com
os mencionados em que se ofereciam diversos mecanismos para os internautas emi-
tirem suas opiniões, como pode ser observado abaixo. Podemos mencionar os se-
guintes mecanismos no site da candidata: “Boca no Trombone”: para realizar denun-
cias, “Doe Ideias”: enviar sugestões de temas e propostas de campanha, “Vem com
Maria”: formas de apoiar e participar da campanha, “Depoimentos”: manifestações
de apoio de políticos e internautas.

220
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

Figura 4. Experiências de participação no website da candidata Maria do Rosário (PT).

Fonte: http://www.mariadorosarioprefeita.com.br.

Figura 5. Website do Beto Richa (PSDB).

Fonte: http://www.betoricha45.can.br.

221
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

Também no website do candidato Beto Richa (PSDB) de Curitiba, verifi-


cou-se o envio de vídeos com pequenos depoimentos que, na maioria das ve-
zes, como ilustrado a seguir, eram depoimentos de crianças. Ainda assim não
constatamos críticas aos candidatos, porém sublinhamos que não realizamos um
estudo aprofundado sobre esses depoimentos.

6. CONCLUSÃO
Retomando os questionamentos que nortearam nosso trabalho, os mecanis-
mos de participação e interação foram pouco utilizados nos websites dos can-
didatos, a exceção de alguns exemplos como ilustramos. Esse dado nos leva em
direção à nossa hipótese inicial, ou seja, a de que os espaços de participação e
interação, tais como bate-papos, fórum, enquetes, envio de comentários, dentre
outros são utilizados de maneira desigual pelos candidatos em seus websites, se
comparados a outras ferramentas de utilização mais homogênea.
Como constatamos, as dimensões de “informação” e “comunicação” foram as
mais utilizadas pelos candidatos. Mostra-se evidente que essas funções, que dizem
respeito ao funcionamento das instituições democráticas representativas e conside-
radas básicas na relação candidato-eleitor, foram atingidas num grau satisfatório.
Porém, outras dimensões-chave não atingiram esse nível, como já foi mencionado, o
que demonstra que apesar das enormes vantagens contidas nestas novas tecnologias,
a comunicação on-line ainda se caracteriza por um via de mão única (monologue),
situando nossa experiência de democracia digital em nível ainda muito elementar.
A partir da amostra analisada, podemos afirmar que os candidatos não utili-
zaram de maneira substantiva os mecanismos da Web 2.0. em seus sítios. Este ter-
mo se popularizou durante a campanha do democrata Barak Obama nos Estados
Unidos (2008) e se relaciona com campanhas na Net que são participativas, na
qual existe uma utilização intensiva de redes sociais, blogs, YouTube, entre outras
ferramentas que disponibilizam interação e participação dos internautas.
O presente estudo se constituiu numa primeira aproximação ao tema, acre-
ditamos que estudos futuros que pudessem conciliar, por um lado, uma quanti-
dade de websites de campanha significativos por regiões, e por outro, mecanis-
mos mais sofisticados de avaliação do uso dos websites viriam a se constituir
em importantes avanços para área de estudo, além de oferecer um panorama do
grau de uso das ferramentas que os políticos do Brasil estão dispostos a utilizar
em seus sítios de campanha.

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224
UNIVERSIDADE CORPORATIVA E
APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL:
UMA ANÁLISE CONCEITUAL

CORPORATIVE UNIVERSITY AND


LEARNING ORGANIZACIONAL:
A CONCEPTUAL ANALYSIS

Israel Honorino Nunes


Docente no Complexo de Ensino Superior da Santa Catarina – CESUSC, Fpólis, SC,
Brasil
Doutorando no Programa de Pós-graduação em Engenharia e Gestão do
Conhecimento. UFSC.
israelhn@click21.com.br

Lourdes de Costa Remor


Enfermeira na Secretaria de Estado da Saúde de Santa Catarina, Fpólis, SC, Brasil
lu@saude.sc.gov.br

Roberto Martins da Silveira


Docente no Complexo de Ensino Superior Anita Garibaldi – CESAG
Doutorando no Programa de Pós-graduação em Engenharia e Gestão do
Conhecimento. UFSC
rmsilveira@hotmail.com

Angélica C. D. Miranda
Docente no Instituto de Ciências da Informação, ICHI, Fundação Universidade de Rio
Grande, Rio Grande, RS, Brasil
Doutoranda no Programa de Pós-graduação em Engenharia e Gestão do
Conhecimento. UFSC
angelicam@furg.br

Neri dos Santos


Professor no Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento-
EGC, na Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, FPÓLIS, SC, BRASIL
neri@deps.ufsc.br

Andréa Steil
Professora no Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento-
EGC, na Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, FPÓLIS, SC, BRASIL
andrea@stela.org.br

225
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

RESUMO

O artigo aborda os conceitos de universidade corporativa e aprendizagem organizacional.


Mostra a relevância da aprendizagem organizacional no processo de mudança das
organizações, mostrando a visão dos autores referente à literatura atual. Ressalta que as
empresas começam a perceber que o conhecimento é o grande diferencial competitivo,
a educação passa a te um papel de destaque nas empresas. Destaca a importância nas
universidades corporativas como estratégia de negócio. Aborda a relação existente
entre aprendizagem organizacional e universidade corporativa e a interferência que a
universidade corporativa exerce nos tipos de aprendizagem. Nas considerações finais os
autores argumentam a importância e inter-relação dos termos citados.

PALAVRAS-CHAVE

Universidade Corporativa, Aprendizagem Organizacional, Conhecimento.

ABSTRACT

In this paper we will see the concepts of corporate university and organizational
learning. Showing  the relevance of the organizational learning in the process of change
of the organizations, showing the authors’ vision regarding the current literature. The
emphasizes of this companies begin to notice that the knowledge is the competitive
differential. the education begins to have a prominence job in this companies. It shows the
importance in the corporate universities as business strategy. It approaches the existent
relationship among organizational learning and corporate university and the interference
that the corporate university exercises in the learning types. n the final considerations the
authors speaks about the  interrelation of the mentioned terms argue.

KEYWORDS

Corporative university, Organizacional Learning, Knowledge.

1. INTRODUÇÃO
Diante das inúmeras mudanças que vêm ocorrendo no contexto social e
econômico, as organizações sentem necessidade de se adaptar às novas exigên-
cias, isto é, a realidade atual está exigindo das empresas uma capacidade de
aprendizagem cada vez maior.
No âmbito das organizações, ao longo do tempo, a modernização do sis-
tema produtivo vem requerendo agilidade no processo de qualificação dos pro-
fissionais. Como o sistema educacional tradicional não vem acompanhando na
mesma velocidade o desenvolvimento de novos produtos e tecnologia, as em-
presas têm buscado desenvolver estratégias de aprendizagem organizacional

226
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

que possibilitem conhecer a estrita relação entre o investimento realizado em


educação e o sucesso da empresa. Uma das estratégias é a criação de universi-
dade corporativa dentro das empresas. O presente trabalho tem como objetivo
conceituar e discutir questões relativas a aprendizagem organizacional e a uni-
versidade corporativa, para tanto se utiliza da literatura corrente.

2. APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL
Há concepções diversificadas acerca do que vem a ser aprendizagem orga-
nizacional (AO). Tais variações ocorrem em virtude dos pressupostos dos quais
utilizam os autores.
Para Motta e Vasconcelos (2002), a importância conferida à aprendizagem
no contexto da teoria das organizações não foi sempre tão grande quanto hoje
em dia. Embora os estudos sobre o tema aprendizagem organizacional datem
dos anos 70, quando Schön (1971) e Argyris (1976) lançaram as primeiras ques-
tões sobre aprendizado organizacional, foi a partir da divulgação dos trabalhos
de Peter Senge (1990) sobre as chamadas organizações voltadas para a aprendi-
zagem (learning organizations) que o assunto ganhou destaque, extrapolando o
mundo acadêmico e o campo das ciências da educação.
Dentre as várias definições de aprendizagem organizacional, algumas res-
saltam a necessidade da mudança comportamental para a aprendizagem, outras
apontam para novas formas de pensamento, enquanto outras ainda a descrevem
como um processo que se desenvolve ao longo do tempo e associam-no com
aquisição de conhecimento e melhora de desempenho.
Estudiosos da área organizacional sugerem algumas definições. Para
Argyris e Schön (1978), aprendizagem organizacional é o processo de detecção
e correção de erros. Fiol e Lyles (1985) definem aprendizagem organizacional
como o processo de melhorar as ações por meio do aumento do conhecimento e
da compreensão.
Para Swieringa e Wierdsma (1992), aprendizagem organizacional sig-
nifica a mudança do comportamento organizacional. Já na visão de Dibella
et al. (1996), aprendizagem organizacional é a capacidade (ou processo) de
uma organização que mantém ou aumenta o desempenho baseado na expe-
riência. O conceito inclui a aquisição, o compartilhamento e a utilização do
conhecimento.
Como o atual contexto organizacional tem influenciado as organiza-
ções na busca da aprendizagem, a temática aprendizagem organizacional,
conforme Fleury (1997, p.151), “assume crescente relevância em razão dos
processos de mudanças por que passam as sociedades, as organizações e
as pessoas”. Daí a relevância como um locus possível para o processo de
aprendizagem.

227
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

Nesse contexto, na literatura atual, a abordagem conceitual da aprendiza-


gem organizacional é considerada como uma vantagem competitiva com foco no
desempenho dos negócios das empresas.
Na visão de Morin (2002), precisamos redimensionar o aprendizado, talvez
necessitemos compreender um pouco mais a conexão que existe hoje e as dife-
rentes formas de apreender.
Para López, Péon e Ordaz (2005, p. 228),
A aprendizagem organizacional pode ser definida como um processo
dinâmico de criação, aquisição e integração do conhecimento visando
o desenvolvimento dos recursos e das capacidades que contribuem para
melhorar o desempenho organizacional.
Esses autores destacam que nos últimos anos a aprendizagem organizacio-
nal passou a ser vista como um fator determinante no desempenho dos negócios,
afirmando que é considerada uma das fontes fundamentais da vantagem compe-
titiva dentro do contexto da administração estratégica.
De acordo com esse conceito, pode-se destacar que AO é o processo de
aprendizagem na organização que se relaciona às pessoas e ao ambiente onde
procura meios efetivos para sua melhoria.
Corroborando essa visão, cita-se o dizer de Ortiz Laverde et al. (2003, p. 1):
Durante os últimos anos, houve um interesse crescente para a aprendiza‑
gem e os processos de criação de conhecimento. O resultado de tudo isso
é o aparecimento de vários modelos teóricos que buscam explicar como o
conhecimento organizacional é criado, transferido e cristalizado.
Conforme se percebe, os autores consideram que a aprendizagem é um
componente crítico para o desenvolvimento estratégico dos recursos humanos.
Afirmam que sem a aprendizagem não é possível acoplar as diferentes faculda-
des criativas dos indivíduos, das equipes e das organizações.
Dessa forma, compreende-se que a AO conquista seu espaço a cada dia.
As organizações direcionam esforços e passam a investir no potencial humano.
Aprender significa sobreviver numa época de mudanças tempestuosas onde a
moeda mais forte passa a ser o conhecimento.

2.1 Tipos de aprendizagem


Há discussão sobre o consenso em definir a conceituação de Aprendizagem
Organizacional entre os estudiosos e corre também na literatura a divergência
entre a conceituação dos tipos de aprendizagem. O foco deste artigo consiste
em analisar os tipos de aprendizagem de Argyris e Schön (1978), Tipo I – Laço
Simples (Single Loop Learning), Tipo II – Laço Duplo (Double Loop Learning)
e Tipo III – Deutero (Deutero Learning).

228
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

A Aprendizagem de Laço Simples (Single Loop Learning) tem por objeti-


vo melhorar a capacidade das organizações de alcançar seus objetivos conhe-
cidos e mesmo associados com aprendizagem de rotina e comportamento. O
aprendizado é apenas operacional, ou seja, superficialmente seus problemas são
resolvidos, não há mudanças significativas nas premissas da organização, e o
comportamento é ajustado por metas, normas e pressupostos fixos.
O Laço Simples se baseia na correção e detecção de problemas (diferença
entre situação atual e desejada). O aprendizado de Single Loop Learning é a
manutenção do aprendizado, ou seja, fazer melhor o que a empresa já sabe como
fazer. Relaciona-se com o conceito de Eficiência Argyris e Schön (1978).
A Aprendizagem de Laço Duplo (Double Loop Learning) avalia a natureza
dos objetivos, dos valores e das crenças subliminares a elas. Essa aprendizagem
envolve mudança da cultura organizacional. É preciso conhecer os problemas
profundamente para resolver suas causas e sua natureza.
O objetivo desse tipo de aprendizagem é enfatizar a experimentação e o fee‑
dback dentro de um contexto de revisão contínua sobre a forma como é realizada
a definição, solução e análise do problema. Consiste em aprender como aprender.
Nessa aprendizagem de Laço Duplo, metas, normas e pressupostos são
também mutáveis. Se uma empresa ou organização quer evoluir para uma insti-
tuição duradoura, esse aprendizado transformador é necessário. É basicamente
perguntar se nós estamos fazendo a coisa certa. Relaciona-se com o conceito de
Eficácia de Argyris e Schön (1978).
A aprendizagem Tipo III Deutero (Deutero Learning) é a construção de
regras de mais alta ordem baseada em experiências e insight. As empresas ne-
cessitam aprender a colocar em prática o Single e o Double Loop Learning,
resultando o Deutero Learning. Conforme Argyris & Shön (1978), quando
uma organização acopla Deutero Learning seus membros aprendem sobre con-
textos precedentes para aprendizagem, criando-se estratégias para aprender
(ARGYRIS e SCHÖN, 1978).
No contexto organizacional, a aprendizagem Tipo I (Single Loop Learning),
Tipo II (Double Loop Learning) e Tipo III Deutero (Deutero Learning) repre-
sentam pontos de diferenciação e vantagem competitiva que devem ser fomenta-
das no modelo de Universidade Coorporativa.

3. HISTÓRICO DA UNIVERSIDADE
CORPORATIVA
As Universidades Corporativas tiveram sua origem nos Estados Unidos. Uma
das mais antigas faculdades corporativas nos Estados Unidos foi a General Motors
Institute em 1919. Em 1945 o Conselho dos Regentes do Instituto aprovou uma

229
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

proposta para a GMI de conceder um diploma em Engenharia, e os primeiros gra-


duados receberam seus diplomas em 1946. Na concepção original da Universidade
Corporativa, havia autorização para concessão de diplomas (THOMPSON 2000).
Segundo Thompson (2000), “As mudanças dramáticas ocorreram no in-
vestimento corporativo em educação dos empregados nos Estados Unidos e no
Canadá, desde o final da Segunda Guerra Mundial”. O autor cita ainda que os
investimentos maciços em educação corporativa surgidos naquela época foram
decorrentes da insatisfação com o conhecimento e as habilidades dos graduados
do sistema educacional público e da necessidade de uma mão-de-obra educada
para a competitividade em uma economia globalizada. O autor destaca que vá-
rias faculdades corporativas tinham sido criadas nos anos 40 e 50, mas a maioria
ficou estabelecida nos anos 70 e 80.
Teixeira (2001, p.29) afirma que “Nas décadas de 50 a 70, nos Estados
Unidos, as empresa formaram grupos para melhorar as competências profissio-
nais de seus trabalhadores”. Ainda o autor destaca que essas infra-estruturas
educacionais dentro das organizações proliferaram em todo o país e ficaram
conhecidas como universidades corporativas, institutos ou faculdades corpo-
rativas. A meta da educação corporativa era manter os profissionais a par dos
acontecimentos, ou melhor, adiante deles.
Assim, um número crescente de empresa percebeu a necessidade de trans-
ferir o foco de seus esforços de treinamento de eventos únicos em sala de aula,
cujo objetivo é desenvolver qualificações isoladas, para a criação de uma cultura
de aprendizagem contínua, em que os funcionários aprendam uns com os outros
e compartilhem inovação e melhores práticas com o objetivo de solucionar pro-
blemas empresariais reais.
O uso da expressão “Universidade Corporativa” é reflexo da tradução livre
da expressão recorrente na literatura americana: corporate university. O uso do
termo corporate é decorrente do fato de que essas instituições estão ligadas ou
são controladas por empresas, revelando que, pelo menos a princípio, a presta-
ção de serviços educacionais não constitui per se o seu objetivo fundamental.
Por outro lado, a adoção do termo university é justificada pelos empresários
de diferentes formas. Todas, porém, voltadas para denotar uma seriedade de pro-
pósitos em termos de comprometimento com os objetivos pretendidos. Meister
(1999) destaca que também é considerado, como justificativa para uso do termo, o
objetivo de criação de uma marca para os seus programas educacionais, materiais
didáticos e processos. Em casos extremos é usado como apelo mercadológico.

4. UNIVERSIDADE NO AMBIENTE CORPORATIVO


A chamada concepção brasileira de Universidade Corporativa é a im-
plantação do modelo americano em empresas brasileiras ou em empresas

230
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

multinacionais no território brasileiro. Por meio de estudos de pesquisadores no


Brasil, principalmente professores das universidades de educação superior, tais
como USP, UFRGS, UFMG e diretores de educação corporativa, construiu-se
uma concepção de universidade brasileira.
Estudiosos como Tobin (apud EBOLI, 1999), Alperstedt (2001), Junnkeira e
Vianna (2005), Rodriguez (2003), Eboli (2004), entre outros, procuram identifi-
car as características das universidades corporativas brasileiras e indicar quais
os caminhos para implantar essa estratégia de aprendizado organizacional.
Para Eboli (2004), a Universidade Corporativa no Brasil ganhou espaço tanto
na esfera pública quanto na privada. Outro ponto ainda que merece destaque é a
forma como a Educação Corporativa contribui na criação de competências nas
empresas.
De acordo com Oliveira (2005, P. 23), “ O número de universidades corpora-
tivas no Brasil, que em 2004 era aproximadamente de 100, atualmente passa de
400.” Para Pires (2008, p. 2) “...há o aumento da demanda por serviços educacio-
nais, que impulsiona a proliferação das, então denominadas, universidades cor-
porativas”. Acredita-se que a necessidade de investimentos educacionais possa
servir como mola propulsora dessa avanço.
A literatura atual que discute as questões sobre Universidade Corporativa, so-
bretudo Alperstedt (2003), Eboli (2003), Loverro (2004) e Meister (1998), só para
citar autores que discutem os prós e contras do assunto, leva a crer que cada caso tem
que ser examinado segundo o contexto em que se insere. Não há receitas prontas.
As abordagens de pesquisadores e especialistas em estratégia empresarial e
educação de adultos apontam a Educação Corporativa (EC) como um forte e re-
presentativo elemento da Gestão do Conhecimento Organizacional, para criar e
manter vantagens competitivas. (MEISTER, 1999; NONAKA, 1997; PORTER,
1999; SENGE, 1999; SOUZA, 2000).
A Universidade Corporativa tem provocado uma série de discussões em
torno do tema, e a primeira discussão que surge é a conceitual.
O conceito apresentado por Meister (1999) diz que Universidade Corporativa:
é o guarda-chuva estratégico para o desenvolvimento e educação de fun‑
cionários, clientes e fornecedores, com o objetivo de atender às estratégias
empresariais de uma organização. Com ênfase no autogerenciamento, nas
realizações individuais e de equipe e na identificação com o aperfeiçoa‑
mento da carteira de qualificações do funcionário, ou seja, o aprendizado
permanente.
Eboli (2004, p. 48) destaca que Universidade Corporativa é um sistema de
desenvolvimento de pessoas pautado pela gestão de pessoas por competências,
evidenciando-se como mudança significativa em relação a ultrapassar centro de
treinamento.

231
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

Considerando-se essa questão, é necessário repensar o papel da educa-


ção dentro das empresas. Os moldes tradicionais de ensino, as metodologias
e o próprio processo de aprendizado utilizado atualmente nos programas de
treinamento empresariais não estão coerentes com as demandas deste cenário
competitivo.
Meister (1999) confirma esta posição:
O modelo da Universidade Corporativa para treinamento tornou-se o ca‑
minho que elas encontraram para atualizar as qualificações de sua força
de trabalho para atender a essas novas demandas. O tema comum que
emana do currículo básico de inúmeras Universidades Corporativas é a
necessidade de desenvolver trabalhadores que conheçam o retrato global
da organização, tenham qualificações empresariais amplas, porém pro‑
fundas, e estejam bastante afinados com a identidade e missão estratégica
da empresa.
Para a autora, um departamento de treinamento de empresa tende a ser
reativo descentralizado e serve à ampla audiência, enquanto a Universidade
Corporativa tem orientação pró-ativa e centralizadora para o encaminhamento
de soluções de aprendizagem para cada negócio dentro da empresa.
Esses departamentos propõem programas de treinamento à medida que es-
tes se tornam necessários, sendo muitas vezes identificada a sua necessidade no
contexto de um departamento específico. Já nas universidades corporativas, os
programas de educação e treinamento são permanentes e orientados com visão
de futuro. Nesse sentido, as universidades corporativas têm um escopo mais
estratégico, enquanto os departamentos de treinamento são mais táticos.
Para permitir uma melhor visualização das diferenças de paradigmas des-
ses dois construtos, o centro de treinamento e a Universidade Corporativa, Eboli
(1999) apresenta o comparativo a seguir (Tabela 1) com as principais caracterís-
ticas, que ilustra esse cenário.

Tabela 1. Mudança de paradigma de centro de T&D para Universidade Corporativa.

Centro de Treinamento Tradicional —> Universidade Corporativa


Habilidades Objetivo Competências críticas
Aprendizagem individual Foco Aprendizagem organizacional
Tático Escopo Estratégico
Necessidades individuais Ênfase Estratégias de negócios
Interno Público Interno e externo
Espaço real Local Espaço real e virtual
Aumento das habilidades Resultado Aumento do desempenho

Fonte: EBOLI, Marisa. Coletânea Universidade Corporativa, 1999, p. 115.

232
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

A tabela acima evidencia a Universidade Corporativa com foco na


aprendizagem organizacional, escopo mais estratégico, e destaca a ênfase
nas estratégias de negócios com o objetivo de aumentar o desempenho das
organizações.

5. A INTERAÇÃO ENTRE
APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL
E UNIVERSIDADE CORPORATIVA
Apresentamos a seguir uma análise conceitual, ou mais especificamente,
as correlações entre a universidade corporativa e a aprendizagem organizacio-
nal, considerando para esta análise a classificação dos tipos de aprendizagem de
Argyris e Shön (1978), aprendizagem tipo I ou Laço Simples, tipo II ou Laço
Duplo e Tipo III – Deutero (Deutero Learning).
Ao discutir a correlação entre Universidade Corporativa e a aprendiza-
gem organizacional, cabe estabelecer as diferenças de abordagens. A apren-
dizagem organizacional é uma abordagem descritiva, com o objetivo de des-
crever e compreender processos e comportamentos. É a própria teoria. Essa
abordagem trata a aprendizagem organizacional como um tópico de estudo
dos pesquisadores acadêmicos, abrangendo uma visão de que a aprendiza-
gem pode ser boa ou má, ligada ou não à efetiva ação ou aos resultados
desejados.
Já na Universidade Corporativa, a abordagem é prescritiva, não é teoria, é
prático-orientada, comprometida com a agregação de valor.
Analisando os três tipos de aprendizagem de Argyris e Schön (1978) e sua
relação com a Universidade Corporativa, percebe-se que ela utiliza as teorias da
aprendizagem organizacional e vem sendo adotada pelas empresas como uma
estratégia voltada para resultados e alinhada à estratégia de negócio das empre-
sas. Organiza e sistematiza uma política de aprendizagem organizacional volta-
da à realidade de mercado em busca de resultados imediatos e de longo prazo,
capaz de criar uma cultura de educação continuada e permanente, com vistas a
alcançar eficácia organizacional.
Segundo Fialho et al. (2005, p. 81),
as Universidades Corporativas representam um modelo de unidade de
negócio cujo compromisso é o de estabelecer um processo em que funcio‑
nários de todos os níveis estejam envolvidos em um aprendizado contínuo
e permanente para melhorar seu desempenho no trabalho.
Na figura 01, são apresentadas as relações entre a aprendizagem orga-
nizacional e Universidade Corporativa integradora e articuladora desses
conceitos.

233
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

Figura 01. Relação entre aprendizagem organizacional e universidade corporativa.

Fonte: Os autores

Referente aos tipos de aprendizagem, percebe-se que a aprendizagem orga-


nizacional ocorre em todas as organizações, mas nem sempre ela agrega valor.
Nesse caso específico, caracteriza-se o tipo de aprendizagem de Laço Simples.
Nesse sentido, Kim (1998, p.61) corrobora com esta posição:
“Todas as organizações aprendem, tenham elas escolhido isso conscien‑
temente ou não – é um requisito fundamental para a sua existência sus‑
tentada. Algumas empresas deliberadamente promovem a aprendizagem
organizacional, desenvolvendo capacitações que sejam consistentes com
seus objetivos; outras não fazem esforços localizados e, portanto, adqui‑
rem hábitos contraproducentes. Seja como for, todas as organizações
aprendem.”
Nesse contexto, a Universidade Corporativa influencia no tipo de aprendi-
zagem de Laço Duplo – tipo II –, pois a aprendizagem em Laço Duplo depende
de ser capaz de “olhar duplamente” a situação, questionando a relevância das
normas de funcionamento. A aprendizagem de Laço Duplo busca “o porquê” da
existência dos problemas. Envolve a revisão crítica da teoria em uso por meio do
questionamento dos princípios e regras vigentes, que são então adequadamente
alterados (ARGYRIS e SCHÖN, 1978).
A Universidade Corporativa interfere à medida que cria uma cultura, va-
lores e uma mentalidade que permeia toda a organização voltada para os in-
teresses das organizações. Desta forma, as diferentes dimensões do processo

234
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

de aprendizagem – de Laço Simples, de Laço Duplo e Deutero – influenciam


positivamente na ação de resposta e nos resultados organizacionais.
Pode-se deduzir também que, entre os diferentes níveis do processo de apren-
dizagem, a de Laço Duplo é a que apresenta a maior influência direta sobre a apren-
dizagem organizacional e, conseqüentemente, sobre o desempenho organizacional.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A aprendizagem organizacional assume crescente relevância em razão do
processo de mudança nas organizações. Na literatura atual, a abordagem concei-
tual da aprendizagem organizacional é considerada como uma vantagem compe-
titiva com foco no desempenho dos negócios das empresas.
Educar não é mais um tema restrito á academia. Na economia atual o suces-
so das empresas está diretamente vinculado à capacidade do conhecimento, de
inovação e de educação continuada. Educar continuadamente deixou de ser uma
ação isolada do profissional, da empresa ou da universidade tradicional, cada vez
mais uma ação conjunta de todos, a fim de formar um dos pilares de sustentação
das vantagens competitivas.
Neste contexto, surgem as Universidades Corporativas, como uma unida-
de de negócio com o objetivo de estabelecer um processo em que funcionários
de todos os níveis estejam envolvidos em um aprendizado contínuo e perma-
nente para melhorar seu desempenho no trabalho. O estudo demonstrou que a
Universidade Corporativa interfere nos tipos de aprendizagem, Tipo I – Laço
Simples (Single Loop Learning), Tipo II – Laço Duplo (Double Loop Learning)
e Tipo III – Deutero (Deutero Learning), à medida que utiliza as teorias, siste-
matiza e organiza a aprendizagem organizacional, utilizando como uma estraté-
gia voltada para resultados alinhados ao negócio das empresas.

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237
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

238
A IMPORTÂNCIA DAS REDES SOCIAIS
VIRTUAIS PARA A GESTÃO DO
CONHECIMENTO ORGANIZACIONAL:
O CASO DA EMBRAPA

Eliana da Rosa Freire Quincozes


Mestranda na Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento – UFSC
Analista de Sistemas – Embrapa Clima Temperado
eliana.quincozes@gmail.com

Gisely Jussyla Tonello Martins, M. Sc.


Mestre em Administração – UFSC
Professora do Centro Educação Superior Única
giselytm@gmail.com

Maurício Fernandes Pereira, Dr.


Doutor em Engenharia da Produção – UFSC
Professor do Mestrado em Administração - UFSC
mpereira@cse.ufsc.br

RESUMO

Na atual sociedade o conhecimento vem sendo reconhecido como o principal fator


de produção. Neste contexto, as organizações estão constantemente buscando
formas de gerar, compartilhar e disseminar o conhecimento de modo a manterem-
se competitivas e atuantes no mercado. Em meio a este ambiente complexo surge
a figura das redes sociais virtuais, nas quais o conhecimento é gerado a partir
das interações sociais entre os seus membros, agora potencializadas pela internet.
Diante desta realidade, este artigo tem por objetivo identificar de que maneira as
redes sociais virtuais contribuem para a produção e disseminação do conhecimento
nas organizações. Para atender este objetivo realizou-se uma revisão de literatura a
respeito do tema e, posteriormente um estudo de caso em uma Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária, a Embrapa. Os resultados deste estudo mostram exemplos
de redes virtuais identificadas no contexto organizacional da Embrapa, onde foi
possível observar o modo como se constituem as relações entre os indivíduos que
delas participam e de que forma as interações entre eles contribuem para a construção
do conhecimento organizacional. Desta forma, este trabalho poderá contribuir para o
avanço das práticas e inovações nesta área.

PALAVRAS-CHAVE

Gestão do conhecimento; redes sociais; comunidades de prática; comunidades virtuais.

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Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

1. INTRODUÇÃO
Na sociedade moderna, o conhecimento tem se constituído em um impor-
tante fator de transformação social, e o principal elemento de geração de valor
(DAVENPORT e PRUSAK, 2003). Relacionado ao conhecimento está o fenôme-
no das redes sociais, cujo estudo pressupõe o entendimento de como se constróem
as relações sociais na atual era do conhecimento. Neste ambiente de complexida-
de, as redes sociais atuam como agentes de geração e disseminação do conheci-
mento, uma vez que constituem múltiplas relações entre indivíduos, grupos e/ou
organizações (TOMAÉL, 2007).
Neste sentido, pode-se afirmar que o conhecimento é construído através da
interação social que constitui as relações de determinado grupo. Isto se funda-
menta no pressuposto de que o conhecimento nasce da colaboração, no contexto
social da comunidade.
Aliado a este cenário, está o fato de que, nos dias de hoje, as relações sociais
têm sido mediadas por tecnologias da informação e têm encontrado um grande
espaço de proliferação na internet, que constitui-se em uma nova forma de inte-
rações sociais da atualidade (UGARTE, 2009).
Assim, é preciso que as empresas também se adaptem aos novos cenários
oferecendo um espaço de colaboração entre seus empregados e parceiros. Este
espaço deve proporcionar a troca de informações, conhecimentos, recursos e
interação, onde as redes sociais passam a contar com o apoio das redes virtuais.
Diante disto, o objetivo deste artigo é identificar de que maneira as redes
sociais virtuais contribuem para a produção e disseminação do conhecimento
nas organizações. Para atender este objetivo realizou-se uma revisão de litera-
tura a respeito do tema e, posteriormente um estudo de caso em uma Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária, a Embrapa.
O trabalho está organizado em etapas: discute-se inicialmente a Gestão do
Conhecimento Organizacional e as Redes Sociais Virtuais nas Organizações.
Em seguida, descreve-se os procedimentos metodológicos utilizados para o de-
senvolvimento desta pesquisa. E, por fim, aborda-se o resultado do estudo de
caso realizado na Embrapa onde são identificados exemplos de redes sociais
virtuais que auxiliam no processo de gestão do conhecimento na empresa.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 A gestão do conhecimento organizacional


O mundo atual passa por um período de mudanças, em que o conhecimento
está se tornando a principal fonte de valor no contexto social. A transição da era

240
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

industrial para a era do conhecimento provoca inúmeras alterações na sociedade


que acabam por afetar também o ambiente corporativo, onde é preciso que as
organizações se adaptem a esta nova dinâmica de relações.
A crescente complexidade do mundo dos negócios traz também consequ-
ências sobre a disseminação do conhecimento, sua importância e seu valor. O
conhecimento se torna um valor indiscutível para as organizações quando se
trata de buscar vantagens competitivas e garantir a sua posição no mercado e a
sua sobrevivência (DAVENPORT e PRUSAK, 2003).
Assim, na sociedade atual, o conhecimento é o único ativo capaz de diferen-
ciar as organizações (NONAKA e TAKEUCHI, 1997). Surge então o conceito
de organizações intensivas em conhecimento.
Alvesson (2004) define as organizações intensivas em conhecimento como
aquelas que oferecem ao mercado o uso de conhecimento razoavelmente sofis-
ticado ou produtos (bens ou serviços) baseados no conhecimento. Neste tipo de
organização, a maior parte da sua força de trabalho é baseada no capital intelec-
tual de seus empregados.
Desta forma, segundo Choo (2006), a organização baseada no conhecimen-
to torna-se única por ser hábil em aprender e inovar constantemente, elementos
importantes para a sobrevivência no mercado no atual mundo complexo.
Dada esta nova realidade, Davenport e Prusak (2003) salientam sobre a im-
portância de as organizações se ocuparem com a gestão do conhecimento, uma
vez que nesta nova economia estarão aptas a sobreviver as empresas que forem
capazes de gerenciar este seu importante ativo.
Sveiby (1998, p.33) amplia e defende este ponto de vista a partir do argu-
mento de que “a economia da era do conhecimento oferece recursos ilimitados
porque a capacidade humana de gerar conhecimentos é infinita”. Sendo assim,
as organizações encontram no conhecimento uma fonte de vantagem competi-
tiva e de diferenciação, um caminho para o sucesso e o lucro. Isto se confirma
no fato de que,
Quando uma empresa é formada em grande parte por profissionais qualifi‑
cados que utilizam sua criatividade para solucionar problemas complexos
para seus clientes, essa empresa opera de uma forma especial que reflete
as forças que influenciam e controlam a organização (SVEIBY, 1998, p. 63).
Neste sentido, gestão do conhecimento é um termo que possui uma cono-
tação ampla, e vem sendo utilizado nas organizações para apontar processos
ou práticas que buscam a apreensão, distribuição e uso do conhecimento com
o fim de incrementar a performance organizacional (BORGHOFF, 1998 apud
AKOUMIANAKIS, 2008).
Na gestão do conhecimento, considera-se o conhecimento um ativo intangí-
vel capaz de originar produtos e serviços tangíveis desde que seja utilizado para

241
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

o desenvolvimento de inovações capazes de gerar valor para os clientes e trazer


vantagem competitiva para a organização (ROSSATTO, 2003).
Segundo Duchessi (2001) a política de gestão do conhecimento motiva os
indivíduos a contribuírem para as atividades, uma vez que possibilita o aumen-
to do conhecimento pessoal, organizacional e da produtividade de todos. Além
disso, os indivíduos que compartilham o conhecimento diretamente com outros
permitem a transferência do conhecimento pessoal ao conhecimento coletivo.
No contexto organizacional, o conhecimento pode ser explícito ou tácito
(DUCHESSI, 2001). Segundo Melo (2003), o conhecimento explícito pode ser
disseminado mediante técnicas estruturadas e o conhecimento tácito é incorpo-
rado ao indivíduo resultante de suas experiências e portanto, difícil de codificar.
Para Sveiby (1998) o conhecimento tácito é individual, orientado para a
ação, mutante e assentado em regras. É tácito porque fundamenta-se na experi-
ência prática do indivíduo. E, sendo assim, é pessoal ou individual, de proprie-
dade do indivíduo e não de uma coletividade ou mesmo de uma organização.
O conhecimento também é orientado para a ação, uma vez que impele a
uma ação dinâmica através do processo de saber que denota a capacidade do
indivíduo de adquirir e gerar novos conhecimentos a partir de suas percepções
sensoriais.
Sua natureza mutante o transforma em impossível de ser expresso em pa-
lavras, uma vez que, o conhecimento que é expresso é menor do que o que se
sabe como conhecimento tácito. Por fim, o conhecimento é sustentado por regras
de procedimento que auxiliam na aquisição e aperfeiçoamento das habilidades,
mas que por outro lado geram padrões um tanto fixos de resposta a diferentes
situações.
Probst, Raub e Romhardt (2002) salientam que “o conhecimento é o con-
junto total incluindo cognição e habilidades que os indivíduos utilizam para re-
solver problemas”. Segundo ele, o conhecimento abrange tanto a teoria quanto a
prática, incluindo as dicas sobre as formas de agir, e as instruções do dia-a-dia
que relacionam-se sempre com as pessoas, os dados e as informações.
Sendo assim, o conhecimento nasce no indivíduo e se desenvolve através de
suas vivências e experiências, porém, a parte dele que é explicitada é infinita-
mente menor que o seu todo.
Compreender a natureza do conhecimento é um desafio que transforma
o modo como o mundo moderno lida com este ativo intangível, uma vez que
não é possível apropriar-se dele ou mesmo moldá-lo, é possível apenas forne-
cer condições propícias para que ele se desenvolva e torne-se passível de ser
transferido.
Para o mundo organizacional esta situação não é diferente. Neste contexto,
sob o ponto de vista das organizações,

242
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

Administrar ou gerenciar o conhecimento não implica exercer controle di‑


reto sobre o conhecimento pessoal. Significa, sim, o planejamento e controle
do contexto, ou ba; enfim, das situações nas quais esse conhecimento possa
ser produzido, registrado, organizado, compartilhado, disseminado e utili‑
zado de forma a possibilitar melhores decisões, melhor acompanhamento
de eventos e tendências externas e uma contínua adaptação da empresa a
condições sempre mutáveis e desafiadoras do ambiente onde a organização
atua. [...] Para Nonaka e Kono (1998, p. 40), ba “pode ser concebido como
um espaço compartilhado para relacionamentos emergentes”. Esse espaço
pode ser físico (por exemplo, escritórios), virtual (por exemplo, e-mail,
teleconferências) ou mental (experiências compartilhadas, idéias, ideais) ou
qualquer combinação destes (BARBOSA, 2008, p.11).
Nesta nova dinâmica de relações sociais, a interação e a comunicação tor-
nam-se parte do processo de construção do conhecimento, e, sendo assim, as
organizações passam a fornecer espaços de criação de conhecimento, que per-
mitem a interação entre seus membros e o compartilhamento de informações.
É possível afirmar que o conhecimento organizacional resulta da combina-
ção de pessoas, tecnologias e processos. Em relação às pessoas destacam-se suas
competências individuais e os relacionamentos pessoais. As tecnologias incluem
as funcionalidades técnicas e as interações entre seres humanos e máquinas. E
os processos, compreendem aos procedimentos, manuais e padrões da produção
(SANTOS et al., 1997).
Como forma de permitir que o conhecimento flua através de sua estrutura
e de seus processos, as organizações lançam mão de ferramentas diversas, com
importante destaque para as virtuais, tais como, as comunidades virtuais e os
ambientes de colaboração que serão abordados na próxima seção.

2.2 As redes sociais virtuais nas organizações


As profundas transformações que estão ocorrendo no mundo moderno es-
tão de algum modo ligadas ao conceito das Redes Sociais, que já há muito tempo
estão presentes no cotidiano das relações sociais, mas que no entanto, pouco são
compreendidas (UGARTE, 2009).
A atuação em redes de indivíduos, grupos e organizações há muito des-
perta o interesse de acadêmicos de várias áreas do conhecimento que procuram
observar o modo como se configuram e quais suas implicações nos diversos
ambientes em que se desenvolvem (AGUIAR, 2006).
A busca de um maior entendimento sobre o ambiente complexo da atua-
lidade via de regra passa pela compreensão dos conceitos de conhecimento e
relações sociais. E, isto se dá pelo fato de que as redes sociais passam a se tornar
importante instrumento de construção, compartilhamento e disseminação do
conhecimento dentro de variados ambientes.

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Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

Uma rede social é formada a partir de dois elementos: os atores (indivíduos,


grupos ou instituições) e suas conexões (relações sociais que ligam os indivíduos
a partir da interação social) (RECUERO, 2005). Segundo Tomaél, (2007), nas
redes sociais é comum que o conhecimento e a informação se disseminem, pelo
fato de que há uma maior aproximação entre os atores, por diversos tipos de
relações sociais: profissionais, pessoais, comerciais, entre outras.
Em especial nas organizações, o conceito de redes sociais vêm ocupando
espaço nas análises da gestão do conhecimento. Para Sveiby (1998), a cons-
trução do conhecimento no contexto organizacional se dá a partir também das
redes sociais, que referem-se às relações firmadas pelos indivíduos dentro da
organização.
Neste ambiente, as redes sociais podem se desenvolver através de relações
de trabalho, de amizade ou simplesmente de interesses em comum, inclusive
podendo exceder os limites organizacionais, invadindo o ambiente externo à
organização.
Segundo Ugarte (2009), atualmente dois novos elementos estão sendo in-
corporados ao antigo conceito das redes sociais: a internet e a disseminação de
informações sobre o tema. A internet atua como plataforma de auxílio e poten-
cialização do funcionamento da rede, enquanto que a exploração do tema das
redes sociais só colabora para o seu maior entendimento e popularização. Neste
trabalho interessa compreender a relação entre as redes sociais e o conhecimen-
to, a partir desta nova esfera de relações sociais, a internet.
As tecnologias da informação e comunicação têm contribuído para a ex-
pansão de novas formas de redes sociais na atual sociedade do conhecimento.
Segundo Rheingold (1996 apud COSTA, 2005), uma comunidade virtual consti-
tui-se em um meio para se atingir vários objetivos, através de um contrato social,
sendo que, a sinergia das pessoas via web, em geral, pode ser multiplicada com
sucesso.
E, uma vez que o conhecimento cresce quando é compartilhado (SVEIBY,
1998), pode-se perceber a potencialidade do alcance das relações sociais através
da internet, que conectam milhares de indivíduos todos os dias.
Além disso, a utilização das tecnologias da informação e comunicação por
funcionários de uma empresa é um dos fatores responsáveis pelo aumento da
eficiência empresarial, pois a informatização das atividades possibilita também
o aumento da eficiência técnica (Menéndez et al., 2009). Sendo assim, o uso
pró-ativo destas ferramentas pelas empresas pode trazer grandes contribuições
à produção e disseminação do conhecimento.
Este trabalho analisa as redes sociais virtuais, a partir do processo de cons-
trução, compartilhamento e disseminação do conhecimento. Neste contexto,
destacam-se as comunidades de prática no ambiente virtual como importantes
ferramentas da gestão do conhecimento nas organizações.

244
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

Comunidades de prática são grupos informais de indivíduos que regular-


mente dividem sua expertise e experiências; não são formuladas ou controladas
pela gestão; escolhem seu próprio líder; e seguem sua própria agenda (BURK,
2000 apud BRAUN, 2002).
Muitas das comunidades de prática são formadas por redes internas às or-
ganizações, entretanto, elas podem surgir também entre membros de diferentes
organizações. Estas comunidades se constróem a partir de reuniões pessoais,
email, redes de compartilhamento de conhecimento, intranets e conferências
mediadas pela tecnologia (BRAUN, 2002).
Segundo Akoumianakis (2008), as comunidades de prática colaboram com
a gestão do conhecimento, uma vez que estimulam o compartilhamento dos co-
nhecimentos. Este tipo de comunidade está se tornando um aspecto importante
do aprendizado organizacional e da gestão do conhecimento (BRAUN, 2002).
Convém observar que uma tarefa importante em uma organização baseada
no conhecimento é a transferência deste conhecimento (SVEIBY, 1998) e, neste
sentido, as comunidades de prática no ambiente virtual destacam-se como uma
alternativa para a criação e transferência deste conhecimento. São as chamadas
comunidades virtuais, ou grupos sociais mediados por computador.
Segundo Rheingold (1993), “as comunidades virtuais são agregados sociais
que emergem da Net, quando um número suficiente de pessoas realizam discus-
sões públicas por um tempo suficiente, com suficientes sentimentos humanos,
para formar redes de relacionamentos pessoais no ciberespaço”.
Desta forma, as comunidades virtuais são lugares onde as pessoas se encon-
tram, sendo que também atuam como ferramentas; e, neste sentido, os aspectos
lugar e ferramenta se sobrepõem parcialmente (RHEINGOLD, 1993). A partir
desta visão, observa-se que uma comunidade virtual caracteriza-se por ser um
ambiente na internet onde ocorrem discussões públicas entre indivíduos, ao lon-
go de um certo tempo, em geral permeadas por conteúdo emocional.
Tem-se assim a idéia de inteligência coletiva (COSTA, 2005), uma vez que
estas comunidades virtuais são compostas por diversos indivíduos que lidam
diretamente com o conhecimento.
Uma vez que muitos membros das comunidades virtuais são trabalhadores
cuja reputação é baseada naquilo que sabem, as comunidades virtuais
podem ser instrumentos práticos. Se você precisa de uma informação
específica ou uma opinião de um expert ou a localização de um recurso,
uma comunidade virtual é como uma enciclopédia viva. As comunidades
virtuais podem ajudar seus membros a lidarem com a sobrecarga de
informação [...] (RHEINGOLD, 1993).
Assim, as comunidades virtuais funcionam também como filtros eficazes
capazes de peneirar os dados que são úteis para cada membro da comunidade
(RHEINGOLD, 1993).

245
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

A combinação de todos estes elementos no ciberespaço formam as redes de re-


lações sociais, que constituem as comunidades virtuais. Sendo que, “a comunidade
virtual é, assim, um grupo de pessoas que estabelecem entre si relações sociais, que
permaneçam um tempo suficiente para que elas possam constituir um corpo organi-
zado, através da comunicação mediada por computador.” (RECUERO, 2005, p.12).
Entretanto, no ciberespaço a interação social ocorre de um modo peculiar,
uma vez que é mediada pelo computador, o que gera interações mútuas entre
os atores ou reativas (no caso de links, por exemplo), o que pode causar grande
impacto social (RECUERO, 2005).
A interação que acontece dentro de uma determinada rede é a base do
estudo de sua organização. Ela pode ser cooperativa, competitiva ou
geradora de conflito. A interação que é cooperativa pode gerar a sedi‑
mentação das relações sociais, proporcionando o surgimento de uma
estrutura. Quanto mais interações cooperativas, mais forte se torna o laço
social desta estrutura, podendo gerar um grupo coeso e organizado. Na
organização da comunidade virtual, portanto, é necessário que exista uma
predominância de interações cooperativas, no sentido de gerar e manter
sua estrutura de comunidade (RECUERO, 2005, p.13).
É importante que as comunidades virtuais formadas nas organizações te-
nham por filosofia a cooperação em torno de objetivos comuns, que devem estar
alinhados à gestão estratégica do conhecimento organizacional. Assim, estas
comunidades poderão contribuir efetivamente e de modo sustentável para a cria-
ção e construção de conhecimento dentro da empresa.
Embora a tecnologia seja uma grande aliada na disseminação de conhe-
cimentos no ambiente empresarial, é importante ressaltar que estes recursos
não geram conhecimentos, funcionam apenas como condutores, ou seja, meios
de armazenagem que proporcionam a troca de conhecimentos (ROSSINI e
PALMISANO, 2006). E, cabe à organização buscar a melhor forma de gerenciar
o conhecimento que passará a ser gerado pelas interações sociais ocorridas nos
ambientes virtuais, nas comunidades de prática online.
Sendo assim, torna-se imprescindível que o ambiente virtual oferecido pela
empresa seja capaz de gerar a interação e a colaboração espontâneas entre os
seus usuários, de modo que o intercâmbio de informações flua naturalmente
para a construção do conhecimento no ambiente organizacional. E, a forma
como o produto final destas interações será administrado é o que irá determinar
o sucesso do gerenciamento do conhecimento organizacional.

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A pesquisa é caracterizada como um estudo descritivo, na forma de um
estudo de caso, sendo analisada sob uma abordagem predominantemente

246
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

qualitativa. O estudo de caso foi realizado na Empresa Brasileira de Pesquisa


Agropecuária – EMBRAPA.
Após a revisão de literatura a respeito do tema, realizou-se a coleta de dados
através da observação e análise documental. A observação permitiu interação do
pesquisador com os informantes em seu ambiente de trabalho. Deste modo, con-
forme destaca Neto (1995), a importância da observação está na possibilidade
de captar uma variedade de situações ou fenômenos os quais não são alcançados
por meio de perguntas, pois são observados diretamente em sua realidade.
Entre os documentos utilizados para a análise documental destacam-se o
V Plano Diretor da Embrapa, o Manual do CATIR, o site da Embrapa, o site
da Agência de Informação da Embrapa, o Manual do Gestor de Conteúdos da
Agência de Informação da Embrapa, o site do Compartilhar, entre outros.
A análise de dados foi um processo contínuo que começou juntamente com
a coleta de dados até o término do trabalho. A análise de dados em um estudo
de caso, segundo Merriam (1998) é “o processo de formar sentido, a partir dos
dados de outro”. Esse processo envolveu identificação, organização e filtragem
de informações importantes para atingir o objetivo do estudo.

4. ESTUDO DE CASO: APRESENTAÇÃO


E DISCUSSÕES

4.1 A Embrapa
A Embrapa é uma Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, vinculada
ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). A Embrapa
atua no Brasil por meio de suas unidades centrais localizadas em sua sede em
Brasília – DF, além de 41 unidades descentralizadas distribuídas nas diversas
regiões do Brasil.
No exterior a empresa atua por intermédio de escritórios de negócios loca-
lizados na África (Gana), Venezuela (Caracas), bem como, laboratórios virtuais
(labex) situados na Holanda, França e Estados Unidos.
Neste contexto, a missão da Embrapa é:
Viabilizar soluções de pesquisa, desenvolvimento e inovação, entendidas
como a introdução de novidade ou aperfeiçoamento no ambiente produ‑
tivo ou social, que resultem em novos produtos, processos ou serviços.
A transferência de tecnologia faz parte do processo de inovação, o que
confere aplicabilidade efetiva às tecnologias geradas (EMBRAPA, 2008).
Outro aspecto importante a ser destacado diz respeito aos valores da em-
presa, que, segundo seu V Plano Diretor (EMBRAPA, 2008), compreendem:

247
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

Excelência em pesquisa e gestão; Responsabilidade socioambiental; Ética;


Respeito à diversidade e à pluralidade; Comprometimento e Cooperação.
Neste sentido, a visão da Embrapa é “ser um dos líderes mundiais na ge-
ração de conhecimento, tecnologia e inovação para a produção sustentável de
alimentos, fibras e agroenergia” (EMBRAPA, 2008).
A Embrapa destaca em seu V Plano Diretor que nas próximas décadas,
o conhecimento e a capacidade de inovar e operar com a informação
serão cada vez mais determinantes para a geração de riqueza, para a
capacidade de estabelecer relações de poder e para a criação de novos có‑
digos culturais. Assim, as tecnologias que facilitam o acesso à informação
e aceleram a sua disseminação serão amplamente incorporadas de modo
que contribuam para o desenvolvimento dos países (EMBRAPA, 2008).
Sendo assim, a Embrapa é uma organização intensiva em conhecimento, que
atua no cenário Nacional e Internacional, e caracteriza-se principalmente por criar
e disseminar o conhecimento através da pesquisa, desenvolvimento e inovação.
Deste modo, muitas atividades desenvolvidas na Embrapa exigem a forma-
ção de equipes interdisciplinares que, geralmente estão espalhadas pelo Brasil
ou até mesmo no exterior, pois as atividades de pesquisa, desenvolvimento e
inovação não acontecem de forma isolada.
Estes aspectos evidenciam a importância das redes sociais virtuais como
ferramentas capazes de facilitar a interação entre as pessoas, contribuindo para
a gestão do conhecimento na empresa.
Diante disto, é importante ressaltar que existem diversas redes sociais vir-
tuais no contexto organizacional da Embrapa. Porém, não foi objetivo desta pes-
quisa identificar todas essas redes virtuais, e sim, caracterizar algumas, visando
identificar na prática de que maneira essas ferramentas contribuem para a gestão
do conhecimento.
Assim, as redes virtuais identificadas neste estudo foram o Catir, o
Compartilhar e a Agência de Informação da Embrapa.

4.2 Catir
A utilização do sistema Catir na Embrapa, surgiu em consequência da apro-
vação de um projeto no final de 2004, cujo objetivo principal era de “fomentar o
compartilhamento e a criação de conhecimentos pelos pesquisadores e técnicos,
visando impactar positivamente o processo de geração de inovações tecnológi-
cas da Empresa” (EMBRAPA, 2005).
Uma das metas desse projeto era disseminar a utilização de comunidades
virtuais na empresa, a fim de que pudessem contribuir para a gestão do conhe-
cimento, proporcionando o compartilhamento de experiências, a realização de

248
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

trabalhos e a criação de novos produtos, tecnologias e serviços para inovação


(EMBRAPA, 2005).
Diante disto, o Catir - Comunidades de Aprendizagem, Trabalho e Inovação
em Rede “é um espaço virtual que visa facilitar a interação e a troca de conheci-
mento entre os participantes das diversas Comunidades de Prática formados com o
intuito de apoiar a Embrapa na obtenção de seus objetivos e da sua missão” (CATIR,
2009). Deste modo, as pessoas interagem trocando informações relacionadas às vá-
rias temáticas em discussão neste ambiente, como projetos, pesquisas, entre outras.
No contexto da Embrapa, um exemplo de utilização da comunidade de prá-
tica é a troca de informações entre componentes de um projeto de pesquisa,
desenvolvimento e inovação - PD&I, o qual exige uma equipe interdisciplinar
formada por pessoas de várias áreas do conhecimento e, por instituições parcei-
ras. Neste sentido, a comunidade de prática caracteriza-se por ser um local onde
as informações estão centralizadas, e todos os componentes trocam conheci-
mentos, em busca de um objetivo comum.
No entanto, a contribuição de redes virtuais não facilita apenas a troca de
conhecimentos entre as equipes de projetos de PD&I, mas sim, em qualquer
área de interesse da empresa. São encontradas, atualmente, no Catir, mais de 30
comunidades de prática relacionadas aos mais variados temas, entre os temas
destacam-se: Gestão do conhecimento, Gestão da informação técnico-científica,
Software livre na Embrapa, Sistema integrado de apoio a projetos, Educação
Ambiental, Biossegurança, entre outros.
Estes aspectos evidenciam a importância das redes sociais e virtuais para
a produção e disseminação do conhecimento. Neste sentido, “as CATIR, im-
plementadas com o apoio de tecnologias da informação baseadas na Web e em
Software Livre, podem ampliar o escopo, eficiência e efetividade dos processos
de compartilhamento e geração de novos conhecimentos que ocorrem entre os
membros dessas redes” (EMBRAPA, 2005).
Diante disto, é importante ressaltar que a infra-estrutura tecnológica do sis-
tema Catir baseia-se no OpenACS (Open Architecture Community System), que
caracteriza-se por ser uma plataforma de aplicações web orientada à construção
de comunidades virtuais de alta demanda, além de ser construída com software
livre e open source. O servidor web utilizado é o AOLserver que é comumente
usado quando o planejamento das aplicações envolve necessidade de escalabi-
lidade e performance. E o banco de dados é o Postgresql (EMBRAPA, 2005).
As comunidades de prática criadas no Catir podem contar com uma série
de recursos para facilitar a troca de conhecimento neste ambiente, entre eles
destacam-se: fóruns de discussão, calendário de reuniões, pasta de arquivos com
assuntos de interesse, área de levantamento (que compreende a coleta de opi-
niões sobre determinado assunto), FAQs (perguntas e respostas frequentes) e
mural de informações.

249
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

Todos estes recursos facilitam a troca de informações em rede, sendo que os


usuários muitas vezes estão dispostos em diferentes regiões geográficas do país.
O acesso ao Catir deve ser autorizado pelo administrador do sistema, bem
como, por moderadores das comunidades virtuais existentes no ambiente. Neste
sentido, destacam-se dois níveis de acesso a saber: público e aos empregados da
Embrapa.
O acesso público é destinado a qualquer pessoa que se relacione com a
Embrapa de alguma forma, seja através de parcerias nos projetos de PD&I, pres-
tação de serviços, consultoria, entre outros, e, que tenha interesse em conhecer
o Catir.
Já o acesso aos empregados da Embrapa é destinado a todos os empregados
da empresa os quais devem ter alguma relação ou interesse na temática da comu-
nidade virtual que desejam participar.
Além disso, existem dois tipos de acesso: Membro da comunidade ou
Moderador (EMBRAPA, 2005). O membro de uma comunidade poderá partici-
par de discussões, trocando informações e participando do processo de criação
de novos conhecimentos.
Já os moderadores, são os responsáveis por associarem as pessoas interes-
sadas em participar da comunidade virtual da qual ele é moderador, além disso,
cabe ao moderador fomentar o conteúdo e motivar os membros da comunidade
para a troca de conhecimentos em prol da inovação.
Dessa maneira, os recursos oferecidos pela comunidade são importantes
para que o moderador consiga exercer o seu papel, entre os recursos mais utili-
zados por ele destacam-se os fóruns e os chats.
Para a Embrapa as redes virtuais podem proporcionar a criação de valores
tangíveis e intangíveis aos participantes das comunidades virtuais (EMBRAPA,
2005).
Os valores tangíveis contemplam a aprendizagem, a ampliação das redes
sociais, os conhecimentos adquiridos para a sua carreira profissional, entre ou-
tros. Já os valores intangíveis compreendem à confiança profissional nos seus
colegas, a capacidade de indagação e a importância de pertencer a uma comu-
nidade virtual.

4.3 Compartilhar
Outro exemplo de redes sociais virtuais, encontrado na Embrapa é o
ambiente Compartilhar. Este é um ambiente interno à empresa cujo objetivo
é “organizar os projetos da Embrapa em um único local, com infra-estrutura
adequada para o seu gerenciamento e maior visibilidade da sua produção”
(COMPARTILHAR, 2009).

250
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

O Compartilhar facilita a comunicação entre os profissionais da área de tec-


nologia da informação da empresa, uma vez que, os projetos desenvolvidos por
determinada equipe são disponibilizados neste ambiente, e, deste modo, todas as
atualizações de determinado projeto são inseridas no Compartilhar.
A utilização deste ambiente, evita a redundância de trabalhos desenvolvidos
em busca de um objetivo comum, pois, quando um projeto é disponibilizado no am-
biente do Compartilhar torna-se disponível para toda a Embrapa e suas unidades.
Desta forma, é possível, que as demais unidades façam o download de de-
terminado projeto e modifique-o de acordo com suas necessidades, o que está de
acordo com a política de software livre implantada na empresa.
Sendo assim, o Compartilhar possibilita “o desenvolvimento colaborativo
entre as diversas unidades descentralizadas da empresa para a convergência de
esforços e redução de retrabalhos” (COMPARTILHAR, 2009).
Neste sentido, o Compartilhar promove a interação das pessoas e a colabo-
ração em busca de um determinado objetivo, pois as unidades da Embrapa mui-
tas vezes possuem demandas de desenvolvimento de sistemas semelhantes. Ao
centralizar os projetos em desenvolvimento em um único ambiente, é possível
unir esforços para que todos trabalhem em equipe.
É importante ressaltar que o termo “projeto” no ambiente Compartilhar não
refere-se apenas a projetos de tecnologia da informação, e sim, pode ser traba-
lhado de uma forma mais ampla, contemplando ações de pesquisa, experimentos
de tecnologia, grupos de trabalho, entre outras (COMPARTILHAR, 2009).
A tecnologia utilizada para a infra-estrutura do Compartilhar basea-se no
GForge, uma distriuição livre construída na linguagem PHP e que utiliza o ban-
co de dados PostgreSQL.
O acesso aos projetos pode ser realizado por meio da intranet da Embrapa.
Um cadastro no ambiente é necessário para que o usuário participe de uma equi-
pe de projeto ou possa criar o seu próprio projeto. Cada projeto tem o seu admi-
nistrador e a sua equipe.
Os usuários do portal Compartilhar podem contar com uma série de recur-
sos oferecidos como fóruns e listas de discussão, gerenciamento de atividades,
registro de defeitos, registro de sugestões de evolução, suporte ao download de
arquivos, suporte ao download de documentação e integração com ferramentas
de controle de versão.
Outro aspecto importante a ser destacado é a ferramenta Wiki disponível
neste ambiente. Esta ferramenta permite a “edição colaborativa online de textos,
e geralmente se apresenta na forma de um website cujo conteúdo pode ser edi-
tado diretamente pelos seus leitores, como a popular wikipedia e diversas áreas
de documentação de projetos de software livre” (COMPARTILHAR, 2009). O
Compartilhar utiliza o PHPWiki para a criação da Wiki.

251
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

Todas essas funcionalidades caracterizam o Compartilhar como um am-


biente organizado e facilitador para a troca, produção e disseminação de conhe-
cimentos entre os empregados no contexto interno da empresa.
Desta maneira, quando os indivíduos colaboram e interagem para a reali-
zação de uma tarefa, surgem espécies diferentes de conhecimentos os quais são
compartilhados por todos (ROGERS, 1997), beneficiando assim a organização.

4.4 Agência de Informação Embrapa


A Agência de Informação Embrapa é outro exemplo importante de forma-
ção das redes sociais no contexto da Embrapa.
“A Agência de Informação Embrapa é um sistema web que possibilita a or-
ganização, o tratamento, o armazenamento, a divulgação e o acesso à informa-
ção tecnológica e ao conhecimento gerados pela Embrapa e outras instituições
de pesquisa” (AGENCIA DE INFORMAÇÃO EMBRAPA, 2009).
É importante ressaltar que a Agência de Informação pode ser analisada sob
dois aspectos: o ambiente externo e o ambiente interno.
O ambiente externo compreende as informações e conhecimentos dispo-
nibilizados para a sociedade, através do site da Agência de Informação (www.
agencia.cnptia.embrapa.br) onde o usuário pode escolher diferentes formas de
navegação para a obtenção de conhecimentos.
Assim, é possível navegar por meio da árvore hiperbólica (forma gráfica
com nós e subnós da árvore do conhecimento), por hipertexto ou por meio do
mecanismo de busca.
No entanto, neste estudo, o foco está no ambiente interno da Agência de
Informação, o qual caracteriza-se por envolver grandes redes sociais, todas uni-
das em prol de um objetivo comum: a organização do conhecimento.
Na Agência de Informação da Embrapa “as informações estão organiza-
das numa estrutura ramificada em forma de árvore, denominada Árvore do
Conhecimento, na qual o conhecimento é organizado de forma hierárquica”
(AGENCIA DE INFORMAÇÃO EMBRAPA, 2009). Deste modo, a Agência de
Informação reúne todas as árvores do conhecimento produzidas pelas unidades
descentralizadas da Embrapa, sendo que para o desenvolvimento de cada árvo-
re do conhecimento é necessária a formação de uma equipe chamada Equipe
Editorial, conforme mostra Figura 1.
A equipe editorial, responsável pelo desenvolvimento de cada árvore do
conhecimento nas unidades da Embrapa, é uma equipe multidiscplinar que deve
ser formada por profissionais das mais variadas áreas como informática, letras,
jornalismo, biblioteconomia, e, pesquisadores especialistas na área do conheci-
mento em que a árvore será desenvolvida. Por exemplo, no desenvolvimento da

252
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

árvore do conhecimento do pêssego, os autores dos textos serão pesquisadores


com experiência na área do pêssego, e assim sucessivamente.
Isto evidencia a necessidade e importância das redes sociais para que a
Agência da Informação seja disponbilizada para a sociedade.
Os membros da equipe se reunem para determinar quais conteúdos serão
disponibilizados e de que forma, pois a Agência da Informação é um ambien-
te destinado a disseminação da informação para o público em geral, estudan-
tes, produtores rurais, pesquisadores, extensionistas, professores, entre outros,
conforme mostra Figura 1. Portanto, a Agência deve disponibilizar conteúdos
em uma linguagem de fácil acesso, como também, conteúdos com informações
técnicas mais aprofundadas. A catalogação dos recursos fica a cargo do biblio-
tecário e a adequação do texto para uma linguagem acessível a todos, a cargo do
profissional de comunicação.

Figura 1. Organização da Agência da Informação.

Fonte: Santos et al. (2005).

Sendo assim, para o desenvolvimento das árvores do conhecimento, a


Agência da Informação conta com um Gestor de Conteúdos, desenvolvido pela
Embrapa Informática Agropecuária, disponibilizado por meio da internet e com
acesso restrito às equipes editoriais.
O sistema Gestor de Conteúdo da Agência versão 2.0 utiliza os softwares
Hipereditor e Hipernavegador - árvore hiperbólica, desenvolvidos pela
Embrapa Informática Agropecuária, para organizar informações de forma
hierárquica. As ferramentas também são usadas por outras instituições,
para a construção e visualização de conteúdo na internet (CNPTIA, 2009).

253
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

Após a organização dos conteúdos realizada pelas equipes editorias, a árvore


do conhecimento é submetida a uma auditoria realizada na Embrapa Informação
Tecnológica e, posteriormente é publicada na Agência da Informação tornando-
se disponível para os seus usuários, conforme mostra Figura 1.
Outro aspecto importante a ser destacado no desenvolvimento das árvores
do conhecimento na Embrapa, é que em alguns casos, uma árvore do conheci-
mento é desenvolvida por mais de uma unidade ao mesmo tempo, sendo cada
unidade responsável por determinados nós da árvore, o que evidencia a presen-
ça das redes sociais, neste caso envolvendo equipes de unidades diferentes da
Embrapa.
Além disso,
as Árvores do Conhecimento contêm informações validadas sobre todas
as etapas da cadeia produtiva dos produtos (cultivo e criação) e sobre
os temas diversos. Além dessas informações, a Agência de Informação
Embrapa possibilita ao usuário o acesso a recursos de informação
(artigos, livros, arquivos de imagem e som, planilhas eletrônicas etc.) na
íntegra (AGENCIA DE INFORMAÇÃO EMBRAPA, 2009).
Deste modo, além das informações textuais disponíveis para cada nó da
árvore do conhecimento, no site da Agência, o usuário pode ter acesso também
a outros recursos de informações que estejam disponíveis sobre aquele conteúdo
específico.
Diante de todos estes aspectos é possível verificar de que maneira as redes
sociais virtuais podem contribuir para o processo de produção e disseminação
do conhecimento em uma organização, principalmente no que diz respeito ao
conhecimento coletivo.
Estas tecnologias possuem um papel estratégico, pois auxiliam o processo de
criação do conhecimento coletivo, facilitando o compartilhamento de opiniões,
dúvidas, expectativas e soluções entre as pessoas (ROSSINI e PALMISANO,
2006, p. 104-124).

5. CONCLUSÃO
O estabelecimento de laços entre as pessoas com objetivo de transformar o
conhecimento pessoal em conhecimento organizacional resulta nos benefícios
da gestão do conhecimento. Porém, esta interação só é evidente quando várias
forças se movem para que ocorra a transferência do conhecimento, o que eviden-
cia a importância das redes sociais nas organizações.
Uma organização, ao ser compreendida como um sistema de significados
compartilhados, pode aprender, mudar e evoluir ao longo do tempo através da
interação social entre seus membros, entre si mesma e o ambiente (NONAKA,

254
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

2000). Este processo contínuo de aprendizagem é fundamental para que ocor-


ram as inovações de produtos e processos, e garanta que a empresa obtenha
ganhos significativos de competitividade.
Este estudo de caso realizado na Embrapa possibilitou compreender de
que maneira as redes sociais auxiliam as interações entre os indivíduos des-
ta empresa facilitando assim, a geração e a transferência do conhecimento na
organização.
A Embrapa utiliza as redes sociais a fim de que possa atingir suas metas e
objetivos estratégicos. Mas, não basta apenas incentivar o desenvolvimento das
redes sociais, é preciso oferecer tecnologias apropriadas para que a rede social
se desenvolva.
Assim, os mecanismos proporcionados pela aliança entre as tecnologias
da informação e da comunicação, oferecem condições para a existência de um
espaço próprio capaz de facilitar a interação das pessoas por meio da internet.
Deste modo, a Embrapa investe no desenvolvimento de redes virtuais que
são ambientes capazes de proporcionar a interação, a troca de conhecimentos e
a produção de novos conhecimentos entre seus empregados e colaboradores e,
posteriormente disseminá-los para a sociedade.
Cabe ressaltar a existência de diversas redes sociais virtuais no contexto
organizacional da Embrapa. Porém, não foi objetivo desta pesquisa identificar
todas as redes virtuais da empresa, e sim, caracterizar algumas, visando identi-
ficar na prática a importância dessas ferramentas para a gestão do conhecimento.
As redes virtuais identificadas nesta pesquisa foram o Catir, o Compartilhar
e a Agência de Informação da Embrapa. Todos estes ambientes exigem a forma-
ção de redes sociais, onde a comunicação é considerada um recurso essencial.
O exercício da comunicação proporcionado pelas redes sociais virtuais
permite aos membros de uma equipe a criação de novas perspectivas, o ques-
tionamento das premissas existentes e a obtenção de novos conhecimentos
(NONAKA e TAKEUCHI, 1997).
Além disso, a utilização das tecnologias que envolvem a informação e a
comunicação permite uma redução das distâncias, assim como uma acentuada
diminuição do tempo necessário para o desenvolvimento das atividades. Estes
aspectos são essenciais para auxiliar a comunicação em uma organização como
a Embrapa que dispõe de 41 unidades espalhadas pelo Brasil, além de atuar tam-
bém no cenário internacional.
Os resultados deste estudo destacam a utilização das redes sociais virtu-
ais como importantes ferramentas para o processo de criação e disseminação
do conhecimento em uma organização baseada no conhecimento, o que poderá
contribuir com o aprofundamento das práticas, experiências e inovações nesta
área.

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Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

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257
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

258
ESCRITÓRIO DE PROPRIEDADE
INDUSTRIAL: ESTRUTURA
DE APROXIMAÇÃO ENTRE O
TRABALHADOR‑INVENTOR,
O EMPREGADOR E O INPI

Cláudia Pomar
Instituto de Governo Eletrônico, Inteligências e Sistemas – i3G
claudiapomar@gmail.com

RESUMO

Independentemente da área de atuação, o trabalhador é capaz de inovar em termos de


tecnologia passível de proteção industrial. Estes ativos têm potencial econômico e
devem ser protegidos para evitar controvérsias e os correspondentes litígios onerosos,
especialmente entre trabalhador-inventor e empregador ou tomador de serviços. Assim,
entendendo que há muito a ser implementado no campo da gestão da propriedade
intelectual a fim de que o trabalhador brasileiro tenha acesso a essa cultura de proteção
de sua capacidade criativa, é que se vislumbra a concepção de um Escritório de Apoio
à Propriedade Industrial. Propõe-se assim, uma inovadora estrutura de atendimento ao
trabalhador-inventor (tanto àquele que tem o trabalho intelectual como objeto do contrato
como aquele cujo trabalho intelectual não tenha relação com o contrato de trabalho) e
também ao empregador ou tomador de serviços, que se constitui num atendimento
especializado, oferecido sob a forma de um Escritório de Apoio à Propriedade Industrial
que aproxime os atores deste processo do Instituto Nacional da Propriedade Industrial –
INPI.

PALAVRAS-CHAVE

Propriedade industrial, propriedade intelectual, INPI.

1. DIMENSÃO CONCEITUAL DA TEMÁTICA


PROPRIEDADE INDUSTRIAL
As discussões teóricas acerca da estrutura conceitual de propriedade inte-
lectual se alongariam de forma interminável, especialmente porque há tantas
conceituações quanto autores que tratam do assunto. Aspecto positivo, vez que a
variabilidade de conceitos amplia as evidências do fenômeno.

259
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

O resultado da justaposição entre propriedade e produção do intelecto é pre-


visto pela Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, art. 7º, que cita textualmente
em seu caput:
Art. 7º. São obras intelectuais protegidas as criações do espírito, expressas
por qualquer meio ou fixadas em qualquer suporte, tangível ou intangível,
conhecido ou que se invente no futuro, como.
I - os textos de obras literárias, artísticas ou científicas;
II - as conferências, alocuções, sermões e outras obras da mesma
natureza;
III - as obras dramáticas e dramático-musicais;
IV - as obras coreográficas e pantomímicas, cuja execução cênica se fixe
por escrito ou por outra qualquer forma;
V - as composições musicais, tenham ou não letra;
VI - as obras audiovisuais, sonorizadas ou não, inclusive as
cinematográficas;
VII - as obras fotográficas e as produzidas por qualquer processo análogo
ao da fotografia;
VIII - as obras de desenho, pintura, gravura, escultura, litografia e arte
cinética;
IX - as ilustrações, cartas geográficas e outras obras da mesma natureza;
X - os projetos, esboços e obras plásticas concernentes à geografia, enge‑
nharia, topografia, arquitetura, paisagismo, cenografia e ciência;
XI - as adaptações, traduções e outras transformações de obras originais,
apresentadas como criação intelectual nova;
XII - os programas de computador;
XIII - as coletâneas ou compilações, antologias, enciclopédias,
dicionários, bases de dados e outras obras, que, por sua seleção,
organização ou disposição de seu conteúdo, constituam uma criação
intelectual.
§ 1º Os programas de computador são objeto de legislação específica,
observadas as disposições desta Lei que lhes sejam aplicáveis.
No entender de Antonio Grillo Neto25, propriedade intelectual, trabalho in-
telectual e capital intelectual são sinônimos, seja sob a forma de uma tecnologia
de ponta que toma forma coerente pelas mãos e idéias do homem, seja sob a
forma de remédios oriundos do conhecimento tradicional indígena, ou ainda,
aquele plus que torna um advogado especial e procurado por clientes – também

25 GRILLO NETO, 2005, p.6.

260
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

conhecido por expertise, [...]. Juan Farina26 declara que propriedade intelectual e
direito intelectual são sinônimos.
Outras manifestações da propriedade intelectual, não abrangidas pelos di-
plomas legais anteriormente citados, foram incluídas: as novas variedades ve-
getais ou cultivares27, a proteção a topografias de semicondutores28, os registros
de programas de computador (software)29 e a proteção aos direitos oriundos dos
conhecimentos tradicionais relativos à biotecnologia e à biodiversidade, bem
como as manifestações folclóricas, dentre outros. Com o correr da história, algo
de novo adentra o conteúdo da propriedade intelectual, que é variável no tempo
e no espaço: é a “multiplicidade do uno”.30
Nas conceituações supracitadas, constata-se não ter sido estabelecida
uma necessária distinção: propriedade intelectual e propriedade industrial,
não são sinônimas. A propriedade intelectual é gênero de que são espécies
os direitos autorais e conexos (em tempos remotos, parte do Direito Civil),
e, neste universo, inscreve-se também o direito à propriedade industrial (an-
teriormente, parte do Direito Comercial). As espécies que o constituem, e
que possuíam autonomia, é que se aglutinaram. A convergência dos direitos
autorais e conexos, que em tempos remotos eram parte do Direito Civil, e do
direito à propriedade industrial, anteriormente, parte do Direito Comercial,
em um só megameio, deram origem ao Instituto da Propriedade Intelectual,
acontecimento de grande envergadura que veio agregar valor ao cenário
mundial.
No que concerne aos direitos autorais, há limitações legais, antes que con-
ceitos. Assim, a Lei n.º 9.610/98, ao tratar dos direitos do autor preconiza no
artigo 22 pertencerem ao autor tantos os direitos morais como os patrimoniais

26 FARINA, 1997, p. 633.


27 São protegidas no Brasil pela Lei n.º 9.456 de 25 de abril de 1997, a chamada Lei de
Proteção de Cultivares (LPC). O órgão governamental encarregado dos registros é
o Serviço Nacional de Proteção de Cultivares – SNPC, vinculado ao Ministério da
Agricultura e Abastecimento.
28 O s semicondutores vão muito além da eletrônica de consumo e da informáti-
ca. Encontram-se em inúmeros ramos de atividade, como as telecomunicações,
controles industriais, indústria aeroespacial, saúde, agropecuária e aplicações
militares.
29 Os registros de tais obras intelectuais são regulados no Brasil pela Lei n.º 9.609 de 19
de fevereiro de 1998, e o regime de proteção é o mesmo conferido às obras literárias
pela legislação de direitos autorais e conexos vigentes na Lei 9.610/98. No Brasil, os
programas de computador tem tutela de direitos assegurada pelo prazo de cinqüenta
anos, contados a partir de 1º de janeiro do ano subseqüente ao da sua publicação, ou na
ausência desta, da sua criação.
30 Expressão utilizada por Bergson. In: PINTO FERREIRA, Luiz. Princípios gerais
do Direito Constitucional Moderno. 6. ed., 2 volumes. São Paulo: Saraiva, 1983, p.
12.

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Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

da obra que criou. E, tratando dos direitos morais do autor, o artigo 24, em
seus incisos, cita os seguintes: o de conservar a obra inédita (inciso III), o de
modificar a obra, antes ou depois de utilizada (inciso V) e o de retirar de cir‑
culação a obra ou mesmo suspender qualquer forma de utilização já autori‑
zada, quando a circulação ou utilização estiverem afrontando sua reputação
e imagem (inciso VII). O artigo 27 da mesma lei, adita: Os direitos morais do
autor são inalienáveis e irrenunciáveis. Acrescente-se o artigo 28, in verbis:
Cabe ao autor o direito exclusivo de utilizar, fruir e dispor da obra literária,
artística ou científica.
Tratando-se do perfil conceitual de propriedade industrial, o que transpa-
rece nas análises, também é um enfoque restritivo. Não há, na literatura concer-
nente, discussões teóricas acerca de sua estrutura conceitual. Não há definições.
Os conceitos resumem-se a delimitações do campo de atuação. Neste sentido
delimitativo, a Convenção de Paris31 determinou o conteúdo da propriedade in-
dustrial, prescrevendo, in verbis:
Art. 1.º (...)
A proteção da propriedade industrial tem por objeto as patentes de in‑
venção, os modelos de utilidade, os desenhos ou modelos industriais, as
marcas de fábrica ou de comércio, as marcas de serviço, o nome comercial
e as indicações de proveniência ou denominações de origem, bem como a
repressão da concorrência desleal.
Mas observe-se que este ramo do Direito não se resume às criações in-
dustriais propriamente ditas, aplicando-se também ao comércio, às indústrias
agrícolas e extrativas e a todos os produtos manufaturados ou naturais. Neste
sentido, sua designação é questionada pelo Instituto da Propriedade Industrial
da Argentina32:
Se podrá pensar que la expresión “propiedad industrial” no es estricta‑
mente lógica puesto que, únicamente en lo que respecta a las invenciones,
el principal segmento de la economía que se interesa en ellas es la indus‑
tria. De hecho, en una situación normal, las invenciones se explotan en
plantas industriales. Pero las marcas de fábrica o de comercio, las marcas
de servicio, los nombres y designaciones comerciales, son de interés no
sólo para la industria sino también, y principalmente, para el comercio.
A pesar de esta falta de lógica, la expresión “propiedad industrial” ha
adquirido, al menos en los idiomas europeos, un significado que abarca
claramente no sólo las invenciones sino también todos los objetos que se
acaban de mencionar.

31 A Convenção da União de Paris (CUP), de 1883, deu origem ao hoje denominado


Sistema Internacional da Propriedade Industrial, e foi a primeira tentativa de uma har-
monização internacional dos diferentes sistemas jurídicos nacionais relativos a pro-
priedade industrial.
32 site do INPI argentino.

262
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

A Lei de Propriedade Industrial brasileira, Lei 9.279 de 15 de maio de


199633, instituiu:
Art. 2° - A proteção dos direitos relativos à propriedade industrial, consi‑
derado o interesse social e o desenvolvimento tecnológico e econômico do
País, se efetua mediante:
I - concessão de patentes de invenção e de modelo de utilidade;
II - concessão de registro de desenho industrial;
III - concessão de registro de marca;
IV - repressão às falsas indicações geográficas; e
V - repressão à concorrência desleal.
O elenco exposto não é taxativo, vez que deixou de abarcar a totalidade dos
objetos da propriedade industrial, previstos na legislação de outros Estados, e
resultantes de novas relações econômicas.
Frisada uma compreensão básica geral do fenômeno propriedade intelectu-
al, e determinado o critério diferenciador de suas categorias, passamos a colocar
a situação num termo mais específico: os direitos de propriedade industrial e o
contrato de emprego. A intenção é estreitar a abrangência da temática, particu-
larizando-a, até que se evidencie o foco do trabalho.

2. DIREITOS DE PROPRIEDADE INDUSTRIAL


E CONTRATO DE EMPREGO
O ordenamento jurídico que regulamentava os direitos de propriedade in-
telectual do trabalhador-inventor e do empregador ou tomador de serviços – a
CLT, foi revogado pelo Código de Propriedade Industrial – Lei n. 5.772/71, o
qual veio a ser revogado pela Lei de Patentes – Lei n. 9.279/96.
O Código de Propriedade Industrial preconiza em seu art. 2º que os direitos de
propriedade industrial se efetivam através da concessão de privilégios de invenção,
de modelo industrial e de desenho industrial; da concessão de registros de marca e
industrial e de comércio ou de serviço, e de expressão ou sinal de propaganda; e ain-
da, repressão a falsas indicações de procedência e repressão à concorrência desleal.
Aduz ainda o supracitado código, em seu art. 3º, que “As disposições
deste Código são aplicáveis também aos pedidos de privilégios e de registros

33 Atualmente, a matéria relativa aos direitos de Propriedade Industrial é balizada pela


Lei n.º 9.279 de 14 de maio de 1996, cujos efeitos só entraram em vigor em 15 de maio
de 1997, seguindo uma tendência mundial da harmonização legislativa, de acordo com
os preceitos contidos no Acordo sobre Aspectos de Direitos de Propriedade Intelectual
Relativos ao Comércio – TRIPS. Veio a substituir a Lei 5772, de 20 de dezembro de 1971.

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Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

depositados no estrangeiro e que tenham proteção assegurada por tratados ou


convenções de que o Brasil seja signatário, desde que depositados no País”.
O art. 40, mais especificamente, trata do invento ocorrido na vigência de
contrato de trabalho ou de prestação de serviços, determinando:
Art. 40. Pertencerão exclusivamente ao empregador os inventos, bem
como os aperfeiçoamentos, realizados durante a vigência de contrato ex‑
pressamente destinado a pesquisa no Brasil, em que a atividade inventiva
do assalariado ou do prestador de serviços seja prevista, ou ainda que
decorra da própria natureza da atividade contratada.
§ 1° Salvo expressa disposição contratual em contrário, a compensação
do trabalho ou serviço prestado será limitada à remuneração ou ao salá‑
rio ajustado.
§ 2º Salvo ajuste em contrário, serão considerados feitos durante a vigên‑
cia do contrato os inventos, bem como os aperfeiçoamentos, cujas patentes
sejam requeridas pelo empregado ou pelo prestador de serviços até um
ano depois da extinção do mesmo contrato.
Acrescente-se ainda a Lei de Patentes, que, no capítulo referente à invenção e
ao modelo de utilidade realizado por empregado ou prestador de serviço, vaticina:
Art. 88. A invenção e o modelo de utilidade pertencem exclusivamente ao em‑
pregador quando decorrerem de contrato de trabalho cuja execução ocorra
no Brasil e que tenha por objeto a pesquisa ou a atividade inventiva, ou resulte
esta da natureza dos serviços para os quais foi o empregado contratado.
§ 1º Salvo expressa disposição contratual em contrário, a retribuição pelo
trabalho a que se refere este artigo limita-se ao salário ajustado.
§ 2º Salvo prova em contrário, consideram-se desenvolvidos na vigência do
contrato a invenção ou o modelo de utilidade, cuja patente seja requerida
pelo empregado até 1 (um) ano após a extinção do vínculo empregatício.
Art. 89. O empregador, titular da patente, poderá conceder ao empregado,
autor de invento ou aperfeiçoamento, participação nos ganhos econômi‑
cos resultantes da exploração da patente, mediante negociação com o
interessado ou conforme disposto em norma da empresa.
Parágrafo único. A participação referida neste artigo não se incorpora, a
qualquer título, ao salário do empregado.
Neste mesmo sentido, o § 4º do art. 40 do Código de Propriedade Industrial:
“A circunstância de que o invento ou o aperfeiçoamento resultou de contrato,
bem como o nome do inventor, constarão do pedido e da patente”.
O ilustre jurista Maurício Godinho Delgado34 esclarece que o permissivo
legal para que “a exploração industrial e comercial do invento e modelo de uti-

34 DELGADO, 2009.

264
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

lidade mantenha-se exclusivamente com o empregador não transfere a este a


autoria da invenção, que, obviamente, preserva-se com o empregado inventor”.
Adita o autor que a autoria intelectual é direito personalíssimo.
O art. 41 da Lei 5.772/71 e o art. 90 da Lei de Patentes normatizam a situa-
ção de invento ocorrido fora da vigência de contrato de trabalho ou de pres-
tação de serviços. Neste sentido, preconiza o art. 41, do Código de Propriedade
Industrial que: “Pertencerá exclusivamente ao empregado ou prestador de ser-
viços o invento ou o aperfeiçoamento realizado sem relação com contrato de
trabalho ou prestação de serviços ou, ainda, sem utilização de recursos, dados,
meios, materiais, instalações ou equipamentos do empregador”.
Neste giro, a determinação do art. 90 da Lei de Patentes: “Pertencerá ex-
clusivamente ao empregado a invenção ou o modelo de utilidade por ele desen-
volvido, desde que desvinculado do contrato de trabalho e não decorrente da
utilização de recursos, meios, dados, materiais, instalações ou equipamentos do
empregador”.
No que concerne aos inventos do trabalhador efetivados fora da previsão
contratual, mas propiciados pelo instrumental empregatício, é possível de-
terminar que tal hipótese também está prevista no ordenamento jurídico pátrio
em diferentes dispositivos.
O Código de Propriedade Industrial faz esta previsão em seu art. 42, ao
determinar:
Salvo expressa estipulação em contrário, o invento ou aperfeiçoamento
realizado pelo empregado ou pelo prestador de serviços não compre‑
endido no disposto no artigo 40, quando decorrer de sua contribuição
pessoal e também de recursos, dados, meios, materiais, instalações
ou equipamentos do empregador, será de propriedade comum, em
partes iguais, garantido ao empregador o direito exclusivo da licença
de exploração, assegurada ao empregado ou prestador de serviços a
remuneração que for fixada.
Aduz ainda o § 1º: “A exploração do objeto da patente deverá ser inicia-
da pelo empregador dentro do prazo de um ano, a contar da data da expedi-
ção da patente, sob pena de passar à exclusiva propriedade do empregador ou
do prestador de serviços o invento ou o aperfeiçoamento”. Tal entendimento
é complementado pelo § 2°: “O empregador poderá ainda requerer privilégio
no estrangeiro, desde que assegurada ao empregado ou prestador de serviços a
remuneração que for fixada”.
No mesmo sentido, o art. 91 da Lei de Patentes: “A propriedade de inven-
ção ou de modelo de utilidade será comum, em partes iguais, quando resultar
da contribuição pessoal do empregado e de recursos, dados, meios, materiais,
instalações ou equipamentos do empregador, ressalvada expressa disposição
contratual em contrário”.

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Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

O § 2º deste mesmo artigo atenta para o fato de que: “É garantido ao empre-


gador o direito exclusivo de licença de exploração e assegurada ao empregado a
justa remuneração”. Neste sentido, importante ressaltar que, face a invenção do
empregado, lhe é devida uma retribuição a qual não constitui verba trabalhista
em sentido estrito e, sublinhe-se, muito menos salarial. Corroborando com tal
assertiva, preconiza Delgado:
“É que, embora ambos os (sic) textos legais valham-se do vocábulo remune‑
ração, na verdade estão referindo-se a uma retribuição por título jurídico
não trabalhista, isto é, um contrato paralelo ao contrato empregatício e
a este acoplado. Isso fica claro ao se saber que o pagamento pelo invento
seria feito mesmo que o inventor não fosse empregado, mas mero prestador
autônomo de serviços. Desse modo, o pagamento tem como causa o invento
e não a prestação de serviços ou o conteúdo contratual trabalhista”.
A natureza jurídica não salarial dessa retribuição está sedimentada no art.
89, parágrafo único da Lei de Patentes: “A participação referida neste artigo não
se incorpora, a qualquer título, ao salário do empregado”.

3. ESCRITÓRIO DE APOIO À PROPRIEDADE


INDUSTRIAL COMO INSTITUTO
DE APROXIMAÇÃO ENTRE O
TRABALHADOR‑INVENTOR, EMPREGADOR,
TOMADOR DE SERVIÇOS E O INPI
Independentemente da área de atuação, o trabalhador é capaz de inovar em
termos de tecnologia passível de proteção industrial. Estes ativos têm potencial
econômico e devem ser protegidos para evitar controvérsias e os corresponden-
tes litígios onerosos, especialmente entre trabalhador-inventor e empregador ou
tomador de serviços.
Assim, entendendo que há muito a ser implementado no campo da gestão da
propriedade intelectual a fim de que o trabalhador brasileiro tenha acesso a essa
cultura de proteção de sua capacidade criativa, é que se vislumbra a concepção
de um Escritório de Apoio à Propriedade Industrial como estrutura propícia a:
• Fomentar a proteção jurídica do produto do intelecto do
trabalhador-inventor;
• Intensificar a aproximação entre o trabalhador-inventor e o mercado;
• Orientar o trabalhador-inventor e o empregador ou tomador de serviços
quanto aos contratos de trabalho que envolvam direitos de Propriedade
Industrial;
• Fortalecer a conexão entre proteção intelectual do trabalhador e mercado;
• Aproximar trabalhador-inventor e empregador ou tomador de serviços
do INPI.

266
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

Propõe-se assim, uma inovadora estrutura de atendimento ao trabalhador-


inventor (tanto àquele que tem o trabalho intelectual como objeto do contrato
como aquele cujo trabalho intelectual não tenha relação com o contrato de tra-
balho) e também ao empregador ou tomador de serviços, que se constitui num
atendimento especializado, oferecido sob a forma de um Escritório de Apoio
à Propriedade Industrial que aproxime os atores deste processo do Instituto
Nacional da Propriedade Industrial – INPI.
A intenção é aproveitar a estrutura de atendimento do INPI fundamentada
num ambiente virtual que consiste no portal WEB, utilizando, inclusive, os sis-
temas e-INPI, que se consubstancia num sistema eletrônico para requisição de
serviços ao INPI, onde atualmente são disponibilizados o sistema e-Marcas e a
Guia de Recolhimento Eletrônica.

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Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

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CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

Propõe-se um escritório que tenha como meta prestar a trabalhadores/in-


ventores, empregadores e tomadores de serviço, assistência técnica - a fim de
verificar da maturidade do invento e a melhor maneira de encaminhar ao INPI;
e assistência jurídica - em questões relativas à proteção da propriedade intelec-
tual e seus desdobramentos.
Em conformidade com as normas do Instituto Nacional da Propriedade
Industrial - INPI, este Escritório fará o acompanhamento preliminar das ino-
vações, encaminhando pedidos de concessão de patente, registro de softwares,
marcas, contratos de transferência de tecnologia, entre outros, vez que o registro
dos direitos referentes à propriedade intelectual é indispensável.
O Escritório de Apoio à Propriedade Industrial objetiva auxiliar trabalha-
dor-inventor do setor produtivo, empregador e tomador de serviços, a elabora-
rem com precisão e clareza a redação dos pedidos de concessão de patentes,
registro de marcas e de programas de computador, pois considera alto o número
de indeferimento entre as empresas nacionais: dos pedidos de patentes encami-
nhados junto ao INPI, em média somente 20% são de companhias ou trabalha-
dores nacionais e, desses, menos de 10% são aprovados pelos avalistas do INPI.
A deficiência na redação é a grande motivadora de recusa dos pedidos pelo INPI,
por isso é premente que o trabalhador/inventor seja auxiliado na confecção dos
requerimentos direcionados ao órgão.35
O processo no Instituto Nacional da Propriedade Industrial é extenso e len-
to, perfazendo um total de aproximadamente 3 anos para registro de marca e de
5 a 8 anos para concessão de patente.36 Assim, um pedido indeferido por falha
na redação pode gerar grandes prejuízos ao inventor, afinal, ficará retardada
por mais um longo tempo a concessão ou registro que poderia ter sido obtida
caso a redação dos pedidos tivessem contado com experiência de profissionais
especializados.
Para atender a essa necessidade o Escritório de Apoio à Propriedade
Industrial pressupõe uma equipe de profissionais externos, qualificados na reda-
ção de pedidos de registros de marcas, patentes, desenhos industriais, programas
de computador e nomes de domínio. E ainda, pretende utilizar-se da consulta
aos bancos de patentes do INPI como ferramenta para diminuir o indeferimento
dos pedidos.
Preliminarmente, o Escritório de Apoio à Propriedade Industrial indicará
que não se divulgue ou dê publicidade à nova tecnologia que se quer proteger a
fim de que não venha a cair em domínio público. Posteriormente, o Escritório
fará a busca prévia em banco de dados de patentes, no propósito de verificar se

35 Dados retirados do site do Instituto Nacional da Propriedade Industrial – INPI. www.


inpi.gov.br. Acesso em 05.12.2009.
36 Dados retirados do site do Instituto Nacional da Propriedade Industrial – INPI. www.
inpi.gov.br. Acesso em 05.12.2009.

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Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

já não há concessão ou registro anterior, e ainda, de utilizar-se da pesquisa como


fonte de informações tecnológicas, vez que permite o conhecimento do estado
da técnica naquela área que se aborda. Na seqüência, realizadas a análise e a ava-
liação, será emitido parecer sobre a conveniência ou não da proteção pretendida.
Julgado procedente o parecer, constituir-se-á uma banca avaliadora com-
posta por experts externos, que após assinarem Termo de Compromisso de
Sigilo e Confidencialidade, serão apresentados à nova tecnologia pelo pesqui-
sador/inventor que a desenvolveu. Deste processo, resultará novo parecer, que
indicará a viabilidade de se proteger a tecnologia junto ao Instituto Nacional da
Propriedade Industrial.
As tecnologias aprovadas pelo Escritório de Apoio à Propriedade Industrial
serão depositadas no INPI, e terão o andamento do pedido acompanhado pelo
Escritório, que viabiliza ainda, contratos de transferência de tecnologia; acordo
de cooperação técnica e financeira; termos de sigilo e confidencialidade; licença
de exploração de patentes; licença de uso de marcas; e licença de uso de progra-
mas de computador.

4. CONCLUSÕES
Entendendo que há muito a ser implementado no campo da proteção da
propriedade intelectual, é que se vislumbra a concepção de um Escritório de
Apoio à Propriedade Industrial como estrutura propícia a fomentar a proteção
jurídica de tecnologias inovadoras desenvolvidas no ambiente laboral e a orien-
tar o trabalhador-inventor e seu empregador ou tomador de serviços quanto aos
contratos de trabalho que envolvam direitos de Propriedade Industrial resultan-
tes do capital intelectual auferido no decorrer da relação de trabalho.
Pretende-se que o Escritório conforme-se como ambiente apto a fortalecer
a conexão entre o trabalhador-inventor, o empregador e a proteção jurídica do
capital intelectual gerado nesta ambiência.
Na intenção de confirmar a originalidade da pesquisa, é possível acrescentar
que, destacado número de obras científicas, de evidente cunho teórico, versam
sobre o conteúdo da propriedade intelectual, compondo interessante referencial
deste âmbito. No entanto, tem-se a intenção de estabelecer neste trabalho, além
de interpretações desta ambiência, um projeto concreto no propósito de que a
práxis fundamente-se na teorização e a ultrapasse.
Nestes termos, a presente pesquisa torna-se justa pela intenção diferen-
cial de concentrar uma proposição de natureza concreta, em complementação
à reflexão teórica, e que se consubstancia num projeto de Escritório de Apoio à
Propriedade Industrial abarcante de uma infraestrutura física que se utiliza da
virtual-tecnológica oferecida pelo INPI.

270
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

Esta objetividade determina uma pesquisa com possibilidade concreta de


execução, e ainda, produtiva e contemporânea, com interesse científico, e apli-
cabilidade no contexto social, especialmente naquele concernente às relações
de trabalho.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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da propriedade intelectual. Disponível em: < http://wwwt.senado.gov.br/legbras/>
Acesso em: 20 dez. 2004.
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271
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

272
CONTEXTUALIZAÇÃO JURÍDICA
DA EAD NO ENSINO SUPERIOR

Cláudia Pomar
Instituto de Governo Eletrônico, Inteligências e Sistemas – i3G
claudiapomar@gmail.com

RESUMO

Pretende-se, neste artigo, apontar determinados aspectos significativos do processo de


normatização da Educação a Distância no ensino superior, quando enfocar-se-a sua
organização legal, apreciando-se o conteúdo das leis, decretos, portarias e regulamentos
que foram responsáveis por sua construção jurídica no Brasil.

PALAVRAS-CHAVE

EAD, normatização da EAD.

1. INTRODUÇÃO
Tendo constatado, no decurso de nossas atividades no Laboratório de
Ensino a Distância (LED) do Programa de Engenharia de Produção (PPGEP) da
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), uma total escassez de referências
bibliográficas no que se refere aos problemas de alcance jurídico e de processos
de instrumentalização de análise no âmbito da temática Educação a Distância,
especialmente no ensino superior, concluímos ser oportuna a elaboração de prévia
contextualização da temática. Demonstramos ainda nossa preocupação com as
instituições de ensino superior que se propõe a investir nesta importante moda-
lidade educacional, uma vez que a dificuldade de acesso a bibliografias especia-
lizadas nesta esfera reflete a inconstância da normatização, e principalmente, a
imaturidade com que o assunto vem sendo tratado no âmbito político, aspectos
que obstacularizam a concretização da Educação a Distância no ensino superior.

2. CONTEXTUALIZAÇÃO JURÍDICA
DA EAD NO ENSINO SUPERIOR
É a Educação a Distância um fenômeno que por ser constantemente atin-
gido pelos movimentos hipervelozes das novas tecnologias comunicacionais, a

273
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

cada dia impõe seu espaço e dita novos parâmetros, imprimindo seu ritmo ao
contexto educacional, e neste sentido, uma legislação fixa e rígida não atenderia
aos seus pressupostos.
Na primeira Lei de Diretrizes e Bases para a Educação no Brasil, Lei
4.024/61, a EAD foi apresentada como um paliativo, sendo oferecida através
de cursos supletivos por “rádio, televisão, correspondência e outros meios de
comunicação que permitam alcançar o maior número de alunos” (art. 25, § 2º).
No entanto, passadas quatro décadas, e após veementes críticas lançadas contra
a LDB, ela retorna repensada junto ao cenário da ordem jurídico-educacional
sob a forma da Lei nº 9.394/96.
Começaria assim a delinear-se a legislação da EAD no Brasil, especial-
mente através do artigo 80 da LDB _ que declarou ser a Educação a Distância
válida e equivalente para todos os níveis de ensino, devendo desenvolver-se e
ampliar-se sob o respaldo do Poder Público _ e que viria a ser regulamentado
pelo Decreto 2.494, de 10 de fevereiro de 1998,o qual teve alterados seus artigos
11 e 12 pelo Decreto 2.561, de 27 de abril de 1998, entremeando-se a estes a
Portaria Ministerial n. 301, de 7 de abril de 1998, onde são indicados os procedi-
mentos para o credenciamento de instituições para a oferta de cursos a distância.
Tais regulamentações tiveram como pontos relevantes a definição de
Educação a Distância, a certificação, a delegação de competência para os conse-
lhos estaduais de educação no que concerne a credenciamento de instituições e
da autorização de programas de EAD para o ensino básico, para a educação de
jovens e adultos e para a educação profissional de nível técnico.
Esta declaração inicial de confiabilidade na EAD foi seguida por especifica-
ções outras que impuseram restrições à autonomia do processo impedindo que o
mesmo se superasse e conquistasse mais espaço, restringindo as possibilidades
para o processo, especialmente nos programas de mestrado e doutorado. Em se
tratando de ensino superior, apenas os cursos de graduação, nas modalidades
bacharelado e licenciatura e de formação de tecnólogos, haviam sido regula-
mentados. Somente com a Portaria n. 301/98, em seu artigo 2º, contemplou-se a
pós-graduação stricto sensu.
Muito embora o Decreto n. 2.494/98, em seu art. 2º §2, determine o creden-
ciamento apenas para instituições do sistema federal de ensino, esta exigência
se estende também aos cursos a distância oferecidos por instituições de ensino
superior dos sistemas estaduais. Quanto aos cursos superiores seqüenciais, de
extensão e pós-graduação lato sensu, não houve exigência expressa de creden-
ciamento específico para EAD, no entanto, as instituições de ensino devem estar
credenciadas pela União para sua oferta.
Finalmente, em abril de 2001 homologou-se a resolução CES/CNE n.
1/2001, a qual especifica que os cursos de pós-graduação stricto sensu, mestrado
e doutorado, presenciais ou a distância, devam ter autorização, reconhecimento

274
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

e renovação de reconhecimento concedidos por tempo determinado pela Câmara


de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação, através de parecer
fundado em avaliação da CAPES. Esta norma determina que tais cursos a dis-
tância sejam ofertados por instituições credenciadas para este fim pela União.
Prevê-se nesta resolução a exigência, para os cursos a distância, de presen-
cialidade para provas, atividades, exames de qualificação e defesa de trabalho de
conclusão de curso, dissertação ou tese. Foram contemplados ainda nesta norma
os cursos de graduação lato sensu, inclusive os Master Business Administration
(MBA) ou equivalentes, os quais, diferentemente do preconizado pelo artigo 80
da LDB para os cursos a distância, independem de autorização, reconhecimento
e renovação de conhecimento, sendo condição pétrea o credenciamento da insti-
tuição pela União. Não estabeleceu-se nesta resolução critérios e procedimentos
para o credenciamento, mas estabeleceu-se que os cursos stricto sensu sejam
avaliados periodicamente pela CAPES na intenção de garantir equivalência de
qualidade entre educação presencial e a distância.

3. LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO


A normatividade da Educação a Distância (EAD) ampliou-se com o adven-
to da Lei nº 9.394/96, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB).
No entanto, existe um universo de temas adstritos à EAD para os quais não há
resposta na estrutura formal normativa, são “situações para as quais as respostas
oficiais até aqui vigentes não são suficientes, materializando notórias lacunas
axiológicas do direito pátrio [...] . Tratam-se de questões para as quais o modelo
tradicional de soluções jurídico-normativas não encontra mecanismo de inci-
dência” (Hoeschl, 1999). Dentre esta diversidade de problemas em EAD, para
as quais não houve solução, pode-se destacar a regulamentação para o ensino
superior a distância.
Na primeira Lei de Diretrizes e Bases para a Educação no Brasil, Lei
4.024/61, a EAD foi apresentada como solução atenuante para as dificuldades
impostas pela distância através de cursos supletivos por “rádio, televisão, cor-
respondência e outros meios de comunicação que permitam alcançar o maior
número de alunos” (art. 25, § 2º).
A Educação a Distância deixa de ser, por força de sua inclusão nas
Disposições Gerais da Lei 9.394/96, a esporádica freqüentadora das ses‑
sões de órgãos normativos dos sistemas de ensino dedicadas aos projetos
experimentais; ou a solução paliativa (proclamada como panacéia) para
atender as demandas educativas de jovens e adultos excluídos do acesso e
permanência na escola regular, na idade própria; ou o alvo preferido de
preconceitos à direita e à esquerda, (...) ou ainda, como projetos peregrinos
ao sabor de momentâneas e despóticas arbitrariedades, definindo sobre
continuidades e interrupções, repasses ou cortes de verbas, manutenção

275
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

ou dispersão de equipes, criação ou demolição de instituições (Lobo Neto,


1998).
No entanto, foi somente através da Lei nº 9.394/96 que a Educação a
Distância conseguiu imprimir uma parcela significativa do seu caráter inovador,
ficando a exigência de presencialidade limitada a avaliação da aprendizagem:
“A validação dos modelos de EAD está em função da performance apresentada
pelos alunos na saída, que deve ser equivalente à dos alunos de cursos presen-
ciais, uma vez que os dois sistemas se equivalem perante a LDB” (Vianney et
al., 2003).
Hoeschl (1999) manifesta-se acerca da necessidade da avaliação da EAD
ser presencial:
Ocorre que, embora estejam sendo oferecidos cursos nacionais à nível de
mestrado, baseados em tecnologia e filosofia de proa, a normatividade
nacional vigente impede que o ciclo seja aperfeiçoado, pois, nos momentos
decisivos, volta-se aos moldes tradicionais, com os alunos preenchendo
manualmente respostas em folhas de papel para que possam obter a res‑
pectiva certificação. O ordenamento jurídico educacional não consegue
formular uma solução para o problema e isso impede a realização plena
do ensino a distância (idem).
A regulamentação da Educação a Distância no Brasil até o advento da Lei
9.394/96 estava restrita ao ensino médio, secundário e profissionalizante. A nova
LDB estendeu sua incidência sobre a Educação a Distância, ao determinar em
suas Disposições Gerais, que sua abrangência se estenderia a todos os níveis e
modalidades de EAD, o que incluiria o ensino superior, tendo o legislador trata-
do especificamente desta questão no art. 80, in verbis:
Art. 80. O Poder Público incentivará o desenvolvimento e a veiculação
de programas de ensino a distância, em todos os níveis e modalidades de
ensino, e de educação continuada.
§ 1º. A educação a distância, organizada com abertura e regime especiais,
será oferecida por instituições especificamente credenciadas pela União.
O projeto da LDB, após tramitar na Câmara dos Deputados e no Senado
Federal por oito anos, introduziu parcela de inconstitucionalidade com o pará-
grafo supracitado, quando destinou à União competência para credenciamento
da Educação a Distância em todos os seus âmbitos.
Como solução paliativa, optou-se pela “delegação de competência” para os
Estados, com as normas sendo expedidas pelo Governo Federal às instituições
de ensino superior (IES) mantidas pela União, e às instituições privadas. As IES,
mantidas pelos Estados ou Municípios, têm legislação definida pelos Estados.
Quanto ao ensino básico, compreendido como infantil, fundamental e médio, en-
contra-se este sob responsabilidade exclusiva dos Estados e Municípios, exceção
feita às escolas públicas vinculadas à União, como é o caso das escolas técnicas.

276
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

§ 2º. A União regulamentará os requisitos para a realização de exames e


registro de diploma relativos a cursos de educação a distância.
§ 3º. As normas para produção, controle e avaliação de programas de edu‑
cação à distância e a autorização para sua implementação, caberão aos
respectivos sistemas de ensino, podendo haver cooperação e integração
entre os diferentes sistemas.
Este parágrafo 3º atribui ao órgão normativo do sistema de ensino estadual
a competência para definir normas para produção, controle e avaliação dos pro-
gramas, e para autorizar sua implantação, observadas as diretrizes do Conselho
Nacional de Educação. Enquanto que o parágrafo 4º, num claro incentivo à EAD,
oferece vantagens a este instituto no que se refere aos canais de transmissão. No
entanto, tais políticas não foram implementadas:
§ 4º. A educação à distância gozará de tratamento diferenciado, que
incluirá:
I - custos de transmissão reduzidos em canais comerciais de radiodifusão
sonora e de sons e imagens;
II - concessão de canais com finalidades exclusivamente educativas;
III - reserva de tempo mínimo, sem ônus para o Poder Público, pelos
concessionários de canais comerciais.
Outros artigos da Lei de Diretrizes e Bases da Educação fazem referência
à educação a distância: “Art. 32 § 4º. O ensino fundamental será presencial,
sendo o ensino a distância utilizado como complementação da aprendizagem
ou em situações emergenciais”. Há aqui uma determinação no sentido de que
o ensino fundamental seja presencial, restringindo a educação a distância nesta
área, conferindo-lhe caráter de suporte ao ensino convencional, desempenhando
apenas função complementar.
Art. 37. A educação de jovens e adultos será destinada àqueles que não
tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e médio
na idade própria.
§ 1º. Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente aos jovens e aos
adultos, que não puderam efetuar os estudos na idade regular, oportunida‑
des educacionais apropriadas, consideradas as características do alunado,
seus interesses, condições de vida e de trabalho, mediante cursos e exames.
Lobo Neto (1998) vê neste art. 37 uma alusão implícita à educação a distân-
cia. Este artigo destaca como clientela trabalhadores que não adentraram ou não
complementaram seus estudos no ensino fundamental e médio na idade regular,
prevendo a estes gratuidade no acesso aos sistemas de ensino.
Art. 47. Na educação superior, o ano letivo regular, independente do
ano civil, tem, no mínimo, duzentos dias de trabalho acadêmico efetivo,
excluído o tempo reservado aos exames finais, quando houver.

277
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

§ 3º. É obrigatória a freqüência de alunos e professores, salvo nos progra‑


mas de educação a distância.
A Lei 4.024 de 1961, antiga LDB, determinava a obrigatoriedade de 75% de
freqüência às aulas, o que se define como incoerência em se tratando de Educação
a Distância. Com relação ao ensino supletivo esta contraditoriedade foi superada
através da Lei 5.692/71, pois esta permite a realização de exames supletivos ofi-
ciais sem a exigência de freqüência. No entanto, permaneceu como condição na Lei
5.540 do mesmo ano, que regulamentava o ensino superior. Tal inflexibilidade é
superada com a instituição do Art. 87 que em seu § 3º deixa de imprimir caráter de
exigibilidade no que se refere a critérios de presencialidade ou à sua quantificação.
Art. 87. É instituída a Década da Educação, a iniciar-se um ano a partir
da publicação desta Lei.
§ 3º. Cada Município e, supletivamente, o Estado e a União, deverá:
II – prover cursos presenciais ou a distância aos jovens e adultos insufi‑
cientemente escolarizados;
III - realizar programas de capacitação para todos os professores em exer‑
cício, utilizando também, para isto, os recursos da educação a distância;
§ 4º. Até o fim da Década da Educação somente serão admitidos professo‑
res habilitados em nível superior ou formados por treinamento em serviço.
O artigo 87, que em seu caput institui a Década da Educação, contempla no
§ 3º a educação a distância, numa clara referência a sua possibilidade de atingir
jovens e adultos e de concretizar o objetivo central que é capacitar todos os pro-
fessores em exercício. Neste ponto, a Lei prevê que a formação dos professores se
dê em nível superior, admitindo, no entanto habilitação em magistério, no nível
médio, para o exercício profissional nas séries iniciais do Ensino Fundamental.
E ainda, que parte dos recursos financeiros destinados à remuneração dos pro-
fissionais do magistério seja investida na capacitação de professores leigos em
atuação no Ensino Fundamental.
O § 4º determina que até o ano de 2006 somente serão admitidos profes-
sores habilitados em nível superior ou formados por treinamento em serviço.
Esta determinação resultou numa enorme procura por cursos de licenciatura, e
considerando-se o volume desta demanda, as dimensões continentais do País, e
a dispersão de sua ocupação geográfica, conclui-se mais uma vez que a solução
é a Educação a Distância.

4. DECRETO 2.494, DE 10 DE FEVEREIRO DE 1998


O Decreto 2.494, sobrevém à LDB, definindo o entendimento do Ministério
de Educação e Cultura (MEC) sobre EAD, e disciplinando as normas operativas
gerais. O relatório preambular do decreto incluía os programas de mestrado e

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CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

doutorado a distância. No entanto, a Sociedade Brasileira para o Progresso da


Ciência (SBPC), demonstrando hegemonia, fez prevalecer junto ao MEC sua
intenção de excluir estes programas do decreto:
Art. 1º Educação a distância é uma forma de ensino que possibilita a
auto-aprendizagem, com a mediação de recursos didáticos sistematica‑
mente organizados, apresentados em diferentes suportes de informação,
utilizados isoladamente ou combinados, e veiculados pelos diversos meios
de comunicação.
O legislador deixa de acompanhar as inovações da EAD ao reproduzir na
definição de EAD o conceito de auto-aprendizagem, desconsiderando a figura
do tutor de educação, ator que revigora as relações interativas entre a instituição
de ensino e o educando.
Parágrafo Único – O cursos ministrados sob a forma de educação a
distância serão organizados em regime especial, com flexibilidade de
requisitos para admissão, horários e duração, sem prejuízo, quando for
o caso, dos objetivos e das diretrizes curriculares fixadas nacionalmente.
Art. 2º Os cursos a distância que conferem certificado ou diploma de con‑
clusão do ensino fundamental para jovens e adultos, do ensino médio, da
educação profissional, e de graduação serão oferecidos por instituições
públicas ou privadas especificamente credenciadas para esse fim, nos
termos deste Decreto e conforme exigências pelo Ministro de Estado da
Educação e do Desporto.
No caso de oferta de cursos de graduação e educação profissional em nível
tecnológico, o processo será igual ao aplicável aos cursos presenciais. A ins-
tituição tem seu credenciamento efetuado junto ao Ministério de Educação e
Cultura. O processo será submetido à apreciação da Secretaria de Educação
Superior (SESU), por uma Comissão de Especialistas na área do curso e por
especialistas em Educação a Distância, quando por fim, será encaminhado ao
Conselho Nacional de Educação (CNE).
§ 1º A oferta de programas de mestrado e de doutorado na modalidade a
distância será objeto de regulamentação específica.
Os critérios para reconhecimento desses cursos ficaram a cargo da Câmara de
Educação Superior do Conselho Nacional de Educação, que para tanto veiculou a
Resolução n. 1, de 3 de abril de 2001. Tal regulamentação específica, em seu art. 3º
§ 1º, repetiu o verbo do artigo 80 da LDB, que em seu § 1º determina que os cursos
de pós-graduação stricto sensu a distância serão oferecidos exclusivamente por
instituições credenciadas para tal fim pela União. Preconiza ainda a Resolução,
que sejam obedecidas as mesmas exigências de autorização, reconhecimento e
renovação de reconhecimento estabelecidas determinadas por aquela Lei.
A Resolução supracitada regulamentou também a questão das provas, im-
portante requisito que havia ficado indeterminado pelo § 2º do art. 80, indicando

279
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

que os cursos de pós-graduação stricto sensu a distância devem incluir provas


e atividades presenciais. Regulamentou ainda que os exames de qualificação e
as defesas de mestrado e doutorado dos cursos de pós-graduação stricto sensu
oferecidos a distância sejam presenciais, e que a banca examinadora constitua-se
de pelo menos um membro externo.
Fica determinado também pelo art. 3º da Resolução n. 1 que a avaliação
feita pela CAPES dos cursos em questão “se utilizará de critérios que garantam
o cumprimento do preceito de equivalência entre a qualidade da formação asse-
gurada por esses cursos e a dos cursos presenciais” (Art. 3º § 4º).
O artigo 48 §3º da LDB permite o reconhecimento do diploma estrangei-
ro. Decorre disto que a determinação de limitar a educação a distância, expro-
priando-lhe o direito à pós-graduação, está abrindo espaço para as universidades
internacionalizadas.
As posições conservadoras assumidas pela SBPC e por lideranças do meio
acadêmico talvez não possam ser facilmente revertidas. Dentro da própria SBPC,
6 meses após a bateria de críticas e pressões contrárias à regulamentação da pós-
graduação pela modalidade de EAD, o grupo de Pesquisadores do Ciberespaço
propõe a criação de uma rede nacional de comunicação, para coordenar progra-
mas de pós-graduação a distância. Com uma única condição: que os programas
sejam gerenciados pela própria SBPC (Barcia et alii, 1998).
No que se refere aos cursos de pós-graduação lato sensu, ou seja, às es-
pecializações, estas eram independentes de autorização para funcionamento
ou reconhecimento do MEC. No entanto, com o advento do Parecer n.º 908/99,
aprovado em 02/12/98 e da Resolução n.º 3 de 05/10/99, da Câmara de Educação
Superior do Conselho Nacional de Educação, fixou-se condições de validade
dos certificados de cursos presenciais de especialização, o que determinou que a
Secretaria de Educação a Distância estabelecesse uma regulamentação para tais
cursos na modalidade a distância.
§ 2º O Credenciamento de instituição do Sistema Federal de Ensino, a
autorização e o reconhecimento de programas a distância de educação
profissional e de graduação de qualquer sistema de ensino, deverão
observar, além do que estabelece este Decreto, o que dispõem as normas
contidas em legislação específica e as regulamentações a serem fixadas
pelo Ministro de Educação e do Desporto.
Podem oferecer cursos de graduação a distância instituições públicas ou
privadas legalmente credenciadas para o ensino superior, através de Parecer do
Conselho Nacional de educação, homologado pelo Ministro da Educação por
meio de Portaria publicada no Diário Oficial, nos termos da Lei 9.394/96, do
Decreto 2.494/98 e da Portaria MEC n. 301/98.
A instituição de ensino superior interessada em credenciar-se para ofere-
cer cursos de graduação a distância deverá apresentar o pedido à Secretaria de

280
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

Educação Superior do Ministério, a ser encaminhada ao Protocolo Geral do


MEC. A solicitação de credenciamento, juntamente com o projeto e informações
sobre a instituição de ensino e sua mantenedora, deverá incluir obrigatoriamente
os projetos de cursos a distância a serem autorizados. Ao credenciamento de
IES a distância, aplicam-se ainda, os procedimentos determinados pela Portaria
MEC n. 670/97, de acordo com a Portaria MEC n. 301/98.
À autorização de cursos superiores a distância também se aplicam, no que
couber, as orientações das Portarias MEC n. 640/97 e 641/97. Devendo ser ainda
observados os padrões de qualidade para cursos de graduação a distância, bem
como as diretrizes curriculares e padrões de qualidade definidos para os cursos
de graduação, em cada área.
§ 3º A autorização, o reconhecimento de cursos e o credenciamento de
instituições do Sistema Federal de Ensino que ofereçam cursos de edu‑
cação profissional a distância deverão observar, além do que estabelece
este Decreto, o que dispõem as normas contidas em legislação específica.
§ 4º O credenciamento das instituições e a autorização dos cursos serão
limitados a cinco anos, podendo ser renovados após a avaliação.
§ 5º A avaliação de que trata o parágrafo anterior, obedecerá a procedi‑
mentos, critérios e indicadores de qualidade definidos em ato próprio, a
ser expedido pelo Ministro de Estado da Educação e do Desporto.
§ 6º A falta de atendimento aos padrões de qualidade e a ocorrência de
irregularidade de qualquer ordem serão objeto de diligências, sindicân‑
cia, e, se for o caso, de processo administrativo que vise a apurá-los,
sustentando-se, de imediato, a tramitação de pleitos de interesse da
instituição, podendo ainda acarretar-lhe o descredenciamento.
Este parágrafo § 6º decorre do exposto no parágrafo 2º.
Art. 3º A matrícula nos cursos a distância do ensino fundamental para
jovens e adultos, médio e educação profissional será feita independente‑
mente de escolarização anterior, mediante avaliação que define o grau
de desenvolvimento e experiência do candidato e permita sua inscrição
na etapa adequada, conforme regulamentação do respectivo sistema de
ensino.
Parágrafo Único – A matrícula nos cursos de graduação e pós-graduação
será efetivada mediante comprovação dos requisitos estabelecidos na
legislação que regula esses níveis.
Art. 4º Os cursos a distância poderão aceitar transferência e aproveitar
créditos obtidos pelos alunos em cursos presenciais, da mesma forma que
as certificações totais ou parciais obtidas em cursos a distância poderão
ser aceitas em cursos presenciais.
A Lei admite a igualdade entre educação presencial e a distância, fato
que dá suporte para a consecução de Educação a Distância no Brasil e confere

281
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

crédito às certificações expedidas pelas instituições nacionais que desenvolvem


esta modalidade de educação.
Art. 5º Os certificados e diplomas de cursos a distância autorizados pelos
sistemas de ensino, expedidos por instituições credenciadas e registrados
na forma da lei, terão validades nacional.
Art. 6º Os certificados e diplomas de cursos a distância emitidos por
instituições estrangeiras, mesmo quando realizados em cooperação
com instituições sediadas no Brasil, deverão ser revalidados para ge‑
rarem efeitos legais, de acordo com as normas vigentes para o ensino
presencial.
A fim de que gerem efeitos legais, há exigência de revalidação dos di-
plomas expedidos por instituições estrangeiras, mesmo quando em parceria
com instituições sediadas no Brasil. Não existe aqui intenção de preservar o
mercado nacional, mas sim de garantir que o Ministério da Educação exerça
controle “sobre os cursos e a uniformidade dos procedimentos e currículos”
Rodrigues (1998).
Tal exigência não se estende à certificação e validade jurídica da instituição
estrangeira, pois esta deriva da soberania do país de origem, importando apenas
certificar-se se a instituição está constituída conforme àquela lei. Esse é o prin-
cípio vigente no Brasil, encontrando-se disposto na Lei de Introdução do Código
Civil, in verbis:
Artigo 11. As organizações destinadas a fins de interesse coletivo, co‑
mo as sociedades e as fundações, obedecem à lei do Estado em que se
constituírem.
§1º. Não poderão, entretanto, ter no Brasil filiais, agências ou estabele‑
cimentos antes de serem os atos constitutivos aprovados pelo Governo
brasileiro, ficando sujeitas à lei brasileira.
Os diplomas e certificados emitidos pelas universidades americanas sujei-
tam-se ao exame da validade jurídica no exterior, no que se refere ao registro e
reconhecimento destes. Assim, quando reconhecidos ou revalidados pelas uni-
versidades brasileiras, legalmente ou através de acordos internacionais, terão
validade em todo território brasileiro.
A política interna de reconhecimento de diplomas nos EUA é diferencia-
da da brasileira, pois este documento não é reconhecido em todo território
americano, apenas nos Estados em que foi conferido, ou entre aqueles que
mantêm acordos educacionais. Há distinção também, quanto à autonomia:
as universidades americanas não estão subordinadas a órgãos do governo,
enquanto que no Brasil existe a figura do MEC como órgão responsável por
este processo.
Preti faz uma análise dos tipos de universidade americanas e suas especifi-
cidades quanto à certificação e currículo:

282
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

Tabela 4. Modelos organizacionais emergentes em educação superior.

Tipos de
CERTIFICAÇÃO CURRÍCULO
UNIVERSIDADES
1. Extensão de instituições A mesma da instituição Estável, pode ser mais flexível
tradicionais à qual pertence
2. Particular, centrada na Oficial por região. Foco nas oportunidades
formação de adultos Programas específicos do mercado de trabalho.
ou disciplinas também Orientada para adultos
são certificados
3. Educação a Distância Oficial por região. Currículo mais flexível,
- base tecnológica Muitas ainda sem voltado para competência
reconhecimento formal e desenvolvimento da
força dde trabalho
4. Corporativas Oficial por região. Voltado para as competências
Muitas sem e filosofia da empresa
reconhecimento formal
5. Alianças universidade/ A universidade traz Desenvolvimento
indústria sua certificação para e competência
os programas da força de trabalho
6. Certificação por Oficial por região. Gera o certificado com base na
competência Muitas ainda sem experiência e competência dos
reconhecimento formal alunos, sem oferecer cursos
7. Multinacionais Parcerias com Restrições no currículo.
instituições locais Ênfase em áreas sem
especificidades culturais

Fonte: Preti (2000, p. 168)

Preti (idem) observa ainda que “uma questão permanece sem solução de-
finitiva em todas as opções que não envolvam uma instituição formal ou que
adotem um modelo que busque performances já consolidadas no mercado: a
certificação.” Aduz o autor que o estabelecimento de critérios da avaliação pa-
dronizados seria adequado para a obtenção de aval junto às organizações res-
ponsáveis pela certificação. E ainda, que os critérios devem ser iguais aos do
curso presencial, ou aceitos pelo sistema educacional vigente. E mais, sugere
uma padronização internacional destes critérios.
A determinação da SBPC, em fazer prevalecer uma regulamentação restriti-
va para a pós-graduação scricto sensu a distância no Brasil, está contribuindo para
a abertura do mercado brasileiro às universidades internacionalizadas. Como uma
estratégia de defesa obliterada, argumenta-se que o Ministério da Educação (MEC)
não reconhece as titulações a distância oferecidas por instituições estrangeiras. No
entanto, tal medida não é abrangente: “(...) Na prática, apenas o mercado de contra-
tação de professores está subordinado à chancela do MEC quanto à pós-graduação.
Ou seja, a restrição para a contratação de pós-graduados por universidades de outros
países está limitada ao ambiente acadêmico (Barcia, et alii 1998, p.61)”.

283
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

O propósito definido no artigo 7º é de garantir a autenticidade dos diplomas


e evitar a sua comercialização. A instituição responsável pode criar centros de
atendimento nos locais para onde estende seu programa, ou estabelecer parceria
com outras instituições.
Art. 7º A avaliação do rendimento do aluno para fins de promoção, certifi‑
cação ou diplomação, realizar-se-á no processo por meio de exames pre‑
senciais, de responsabilidade da Instituição credenciada para ministrar o
curso, segundo procedimentos e critérios definidos no projeto autorizado.
Parágrafo Único: Os exames deverão avaliar competência descritas nas
diretrizes curriculares nacionais, quando for o caso, bem como conteúdos
e habilidades que cada curso se propõe a desenvolver.
A avaliação deve obedecer as diretrizes curriculares nacionais, e os conteú-
dos e habilidades próprios de cada curso.
Art. 8º Nos níveis fundamental para jovens e adultos, médio e educação
profissional, os sistemas de ensino poderão credenciar instituições exclu‑
sivamente para a realização de exames finais, atendidas às normas gerais
da educação nacional.
Regulamenta o credenciamento das instituições para a realização dos exa-
mes finais.
§ 1º Será exigência para credenciamento dessas Instituições a construção
e manutenção de banco de itens que será objeto de avaliação periódica.
§ 2º Os exames dos cursos de educação profissional devem contemplar
conhecimentos práticos, avaliados em ambientes apropriados.
§ 3º Para exame dos conhecimentos práticos a que refere o parágrafo
anterior, as Instituições credenciadas poderão estabelecer parcerias, con‑
vênios ou consórcios com Instituições especializadas no preparo profis‑
sional, escolas técnicas, empresas e outras adequadamente aparelhadas.
O art. 9º determina a divulgação, pelo Poder Público, das instituições cre-
denciadas e dos cursos autorizados.
Art. 9º O Poder Público divulgará, periodicamente, a relação das
Instituições credenciadas, recredenciadas e os cursos ou programas
autorizados.
Observe-se ainda os artigos 10º e 11º:
Art. 10º As Instituições de ensino que já oferecem cursos a distância deve‑
rão, no prazo de um ano da vigência deste Decreto, atender às exigências
nele estabelecidas.
Art. 11º Fica delegada competência ao Ministro de Estado da Educação
e do Desporto, em conformidade ao estabelecimento nos art. 11 e 12 do
Decreto-Lei nº 200 de 25 de Fevereiro de 1967, para promover os atos

284
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

de credenciamento de que trata o § 1º do art. 80 da Lei nº 9.394, de 20


de dezembro de 1996, das Instituições vinculadas ao sistema federal de
ensino e das Instituições de educação profissional e de ensino superior
demais sistemas.
O artigo 12º regula a promoção dos atos de credenciamento de instituições,
delegando-os ao Ministro de Estado da Educação e do desporto, ou às autorida-
des integrantes dos demais sistemas de ensino, conforme for o caso.
Art. 12º Fica delegada competência às autoridades integrantes dos demais
sistemas de ensino de que trata o art. 80 da Lei 9.394, para promover
os atos de credenciamento de Instituições localizadas no âmbito de suas
respectivas atribuições, para oferta de cursos a distância dirigidos à
educação de jovens e adultos e ensino médio.
Lobo Neto (1998) doutrina no sentido de que o Decreto não foi suficiente
para definir a situação das instituições que desenvolvem programas de Educação
a Distância. Há questões essenciais, cuja definição está sendo remetida para re-
gulamentações mais específicas, de alçada do Ministro de Estado da Educação
e do Desporto, quais sejam:
• o credenciamento institucional obedecerá a “exigências a serem esta-
belecidas em ato próprio” do Ministro de Estado (Art. 2º caput);
• dependem de “regulamentações a serem fixadas pelo Ministro de
Estado”, tanto o credenciamento de instituições do sistema federal de en-
sino, quanto a autorização e reconhecimento de programas a distância de
educação profissional e de graduação de qualquer sistema (Art. 2º §2º);
• a avaliação para recredenciamento e renovação de autorização de cursos,
terão seus procedimentos, critérios e indicadores de qualidade definidos
em ato próprio, a ser expedido pelo Ministro de Estado (Art. 2º §5º).

5. DECRETO 2.561, DE 27 DE ABRIL DE 1998


Sucessivamente ao Decreto 2.494/98, o Ministério da Educação publica a
Portaria 301 em 7 de abril de 1998, determinando os procedimentos para o cre-
denciamento de instituições para a oferta de cursos por Educação a Distância;
e que é imediatamente retificado pelo Decreto 2.561, de abril do mesmo ano,
no que se refere às competências estaduais e federais para o credenciamento de
cursos. No que tange a cursos a distância geridos à educação fundamental de jo-
vens e adultos, ensino médio e educação profissional de nível técnico, o Decreto
2.494/98 veio a ser alterado pelo Decreto 2.561/98, o qual delegou competência
às autoridades integrantes dos sistemas de ensino - municipal ou estadual - de
que trata o artigo 8º da LDB, para promover o credenciamento de instituições
localizadas no âmbito de suas respectivas atribuições, exceção feita às institui-
ções vinculadas ao sistema federal de ensino, cujo credenciamento está a cargo
do Ministério da Educação.

285
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

Art. 8º A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organiza‑


rão, em regime de colaboração, os respectivos sistemas de ensino.
§ 1º Caberá à União a coordenação da política nacional de educação,
articulando os diferentes níveis e sistemas e exercendo função normativa,
redistributiva e supletiva em relação às demais instâncias educacionais.
§ 2º Os sistemas de ensino terão liberdade de organização nos termos
desta Lei.
O Decreto n.º 2.561 de 27 de abril de 1998, altera a redação dos artigos 11 e
12 do Decreto n.º 2.494 de 10 de fevereiro de 1998, que regulamenta o disposto
no artigo 80 da LDB, ficando estes com a seguinte redação:
Art. 11. Fica delegada competência ao Ministro de Estado da Educação
e do Desporto, em conformidade ao estabelecido nos arts. 11 e 12 do
Decreto-Lei nº 200, de 25 de fevereiro de 1967, para promover os atos
de credenciamento de que trata o §1º do art. 80 da Lei nº 9.394, de 20
de dezembro de 1996, das instituições vinculadas ao sistema federal de
ensino e das instituições de educação profissional em nível tecnológico e
de ensino superior dos demais sistemas.
Art. 12. Fica delegada competência às autoridades integrantes dos demais
sistemas de ensino de que trata o art. 8º da Lei nº 9.394, de 1996, para pro‑
mover os atos de credenciamento de instituições localizadas no âmbito de
suas respectivas atribuições, para oferta de cursos a distância dirigidos
à educação de jovens e adultos, ensino médio e educação profissional de
nível técnico.

6. CONCLUSÕES
Em nenhum outro momento da história da política educacional a sensibili-
dade do legislador foi tão exigida para a regulamentação de um instituto como
o tem sido no que concerne a Educação a Distância no Ensino Superior. Neste
sentido, várias questões devem ser rediscutidas no campo jurídico, dentre as
quais a mais evidente é a necessidade de suprimir o credenciamento específico
para que as instituições já autorizadas para atuar presencialmente, possam atuar
a distância. Seria suficiente que se constituíssem mecanismos para o controle
das atividades desenvolvidas neste meio que ao invés de reguladores fossem
regulamentadores.
Esta proposição baseia-se no fato de que o atual quadro normativo da edu-
cação no Brasil, na tentativa de delimitar o escopo da EAD, acabou por restrin-
gir-lhe a abrangência e o sentido, enquanto que seria suficiente que se regula-
mentassem suas especificidades, aquelas inerentes ao seu caráter de desterrito-
rialização e atemporalidade. Tal processo seria determinante na superação das
reticências iniciais, e contribuiria para sua acepção qualitativa.

286
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

Fixou-se através destas análises a proposição de que a Educação a Distância,


apesar de encontrar resistência em diversos níveis, é um processo irreversível,
e que resta-nos decidir se iremos acompanhar a curva ascendente que ela vem
traçando, ou se vamo-nos postar à margem do processo. Ela deixou de ser poten-
cial à medida que já foi criada, está implantada, e em franca disseminação, tanto
internamente como de forma supranacional. Não é um “por vir”, é uma realidade
efetiva e atual. Ela tem formato e é real, obrigando àqueles que se debatem sobre
o assunto a buscar soluções inéditas para este desafio inovador.
Assim, o Sistema Jurídico Nacional, que representa o modo de regulação
dos Estados, tem sido alvo de questionamentos em torno do surgimento de uma
ordem jurídica dirigida especificamente à Educação a Distância, e consoante
seus interesses, pois a normatividade brasileira e seus mecanismos de aplicação
encontram-se em atraso com relação à sociedade contemporânea, efetivando-se
uma desconformidade entre estas. A construção jurídica da EAD precisa ser
redefinida, seus delineamentos absolutos reconfigurados, pois seu contorno se
tornará mais aparente e preciso à medida que forem reavaliados conceitos ante-
riormente sedimentados.

BIBLIOGRAFIA
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perspectivas. Instituto de Pesquisas Avançadas em Educação: Rio de Janeiro, 1994.
ALVES, João Roberto Moreira. A educação a distância no Brasil: Administração
da Educação a Distância. Revista Educação a Distância. Instituto de Pesquisas
Avançadas em Educação: Rio de Janeiro, 1998
AXT, Margarete. Informática na educação: teoria & prática. Programa de Pós-
Graduação em Informática na Educação. Vol. 3, n. 1 (set. 2000). Porto Alegre:
UFRGS. Programa de Pós-Graduação em Informática na educação, 2000.
BARCIA, Ricardo Miranda. Et alii. Pós-graduação a distância: a construção de um
modelo brasileiro. In: Estudos. Revista da Associação Brasileira de Mantenedoras
de Ensino Superior. Brasília: ano 16, n. 23, p. 51-70, nov., 1998.
BELLONI, Maria Luíza. Educação a distância. Campinas: Autores Associados, 1999.
BOLZAN, Regina de Fátima F. de Andrade. O conhecimento tecnológico e o paradigma
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Federal de Santa Catarina, 1998.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 13. ed. Rio de Janeiro: Paz e terra, 1988.
HOESCHL, Hugo Cesar. A telemática e o Direito. 1997. 90 p. Trabalho de conclusão de
curso (Especialização)-Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), Biguaçu, 1997.
Disponível em: <http://www.ijuris.org>. Acesso em 24 jun. 2001.
MCLUHAN, Marshall. Os meios de comunicação como extensões do homem. São
Paulo, Cultrix, 1964.

287
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

MCLUHAN, Marshall. A galáxia de Gutenberg: a formação do homem tipográfico. São


Paulo: Nacional e Editora da Universidade de São Paulo, 1972.
PRETI, Oreste. Formação de professores em educação a distância: módulo 4: Educação
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RODRIGUES, Rosângela Schwarz. Modelo de avaliação para cursos no ensino a
distância: estrutura, aplicação e avaliação. Florianópolis, 1998. 125 f. Dissertação
(Mestrado) – Universidade Federal de Santa Catarina.
RODRIGUES, Rosângela Schwarz. Modelos de educação a distância. In: PRETI, Oreste
(Org.). Educação a distância: construindo significados. Cuiabá: NEAD?IE –
UFMT; Brasília: Plano, 2000.
SPANHOL, Fernando José. Estruturas tecnológica e ambiental de sistemas de
videoconferência na educação a distância: estudo de caso do Laboratório de Ensino
a Distância da Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 1999. 121 f.
Dissertação (Mestrado) – UFSC.

288
CIBERDIREITO: UMA FORMULAÇÃO
TEÓRICA PARA A LEGITIMIDADE
DO GOVERNO ELETRÔNICO

Adriano de Oliveira Resende


Acadêmico de Direito, Centro Universitário UnirG – Gurupi/TO
adriano@unirg.edu.br

Andrey Cesar Marques Ferreira da Silva


Acadêmico de Direito, Centro Universitário UnirG – Gurupi/TO
andsempr@hotmail.com

Antonio J. Roveroni
Mestre em Direito, Centro Unisal – Lorena/SP
aroveroni@gmail.com

RESUMO

O artigo enfoca, na perspectiva epistemológica do e-Gov, e à luz da Filosofia do Direito e da


Teoria Geral do Estado, o problema da legitimidade das ordens de comando editadas pelo
Governo para a consecução de seus objetivos. Seu pressuposto é que, sem um direito legítimo,
a aceitação das normas jurídico-administrativas, por parte dos cidadãos administrados se
torna excessivamente conturbada. No sentido de formular um modelo teórico que sirva de
embasamento para uma relação pacífica nesse cenário, o artigo discorre sobre as origens
do poder estatal e as conexões entre o direito, a ética e a política, sempre sob o paradigma
da sociedade do conhecimento. No seu desenvolvimento, propõe a necessidade de
institucionalização, pelo governo eletrônico, de ágoras virtuais que se consubstanciem em
comunidades ideais de deliberação, tendo por base a ética do discurso (APEL) parametrizada
pelo agir comunicativo (HABERMAS) como forma de resgatar o ideal rousseaniano de
interesse dos cidadãos pela participação responsável nos atos do poder público e na fiscalização
da vida pública, fundamentos da legitimidade do governo, por aproximação da vontade geral.

PALAVRAS-CHAVE

Democracia. Discurso. Entendimento. Direito. Ética. Política.

1. INTRODUÇÃO
Construído desde os primórdios da civilização por um sistema de valores,
normas e regras, o Direito se consubstancia em uma tecnologia requintada e de
fundamental importância para convivência da espécie política que é a humanidade.

289
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

Buscando suas fontes na Moral, erigindo seus vetores através da Ética Prática e
tendo por objeto o homem na, e pela, sociedade, o Sistema Jurídico garante aos
grupos e indivíduos segurança de conduta frente à alteridade, norteando toda es-
pécie de atos práticos e recobrindo-lhes de garantias através de um sistema de
“normas de ação” comissivas e omissivas (direitos e deveres).
Na perspectiva de que é impossível ignorar o impacto técnico-histórico na
sociedade, em matéria de soluções institucionais, o sistema jurídico é estudado
no presente trabalho como um elemento estrutural do Estado, sob o paradigma
da cibercultura, da sociedade do conhecimento e dos “sistemas inteligentes”,
auxiliares do governo eletrônico.
O objetivo do artigo é propor uma solução institucional para o que podemos
chamar de Ágoras Virtuais, ou Espaços Públicos Estatais de Deliberação, ou
seja: como o governo eletrônico pode produzir suas normas de ação, partindo da
idéia de que o Estado tem uma causa instrumental, que é o direito por ele pro-
duzido e garantido, este mesmo direito que, num efeito de retroalimentação, tem
supremacia sobre o Estado, limitando-lhe o poder e conferindo-lhe legitimidade,
pela participação democrática pluralista.
Isto porque, diferente dos insetos, que formam comunidades que absorvem
seus indivíduos em amálgamas indistintos, a comunidade política humana é for-
mada por seres únicos, livres e iguais, que são capazes de criar universos morais
(verdades), em razão da incidência de vetores éticos construídos pela experi-
ência histórico-cultural de cada um, logo, a exigência civilizada de convivên-
cia pacífica através da busca das condições que devem ser satisfeitas para uma
participação satisfatória em argumentações, bem como a formulação de bases
teóricas para atingir tal desiderato, é a justificativa.
Como recursos, utilizamos a exploração bibliográfica, e o método é o dialé-
tico, buscando a síntese das deduções frutificadas na pesquisa.
Nas conclusões, fazemos proposições e indicamos possíveis vetores de mo-
delização de sistemas especialistas gestores de ágoras virtuais no sentido de o
governo eletrônico poder configurar-se como forma de solução legítima para os
problemas advindos da convivência social de nosso tempo.

2. O DIREITO COMO CAUSA


INSTRUMENTAL DO ESTADO
A forma de pensar e de agir do ser humano nos dias atuais tem provocado pro-
fundos impactos no convívio social, sobretudo, por meio da evolução tecnológica
da informação e comunicação, que aproxima, em tempo real, os universos morais
de diferentes comunidades. Como conseqüência de tais avanços, é o surgimento
de inéditos desafios para o Estado e o direito, na manutenção da sociedade.

290
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

Com a evolução das tecnologias associadas à Ciência, antigas fronteiras


foram quebradas, possibilitando a formação de uma civilização global, na qual,
a vida de cada ser humano se encadeia em uma interconexão de todas as comuni-
dades. Esta interconexão de todas as regiões do planeta se dá através do uso em
massa de uma malha de redes, criando assim uma realidade planetária global,
intermediada por uma realidade virtual, que podemos chamar de ciberespaço37.
Neste panorama, as ações do homem contemporâneo sofrem mudanças
incomensuráveis em todo o prisma da vida social. A vida cotidiana tem sido
cada vez mais interrelacionada com a política e a economia, em nível global, em
relações de causa e efeito: “Essas profundas mudanças científico-tecnológicas
implicam mudanças profundas no homem e na realidade humana e a tal ponto
que se fala do surgimento do homus ciberneticus como o sucessor do homus
sapiens” (COSTA, 2006, p. 164).
Em decorrência de tais avanços, essa atração entre comunidades proporcio-
na vários choques, entre outros, os mais notados, de culturas, costumes, política
e crenças, cujas conseqüências para a humanidade e a vida planetária, como um
todo, são, apenas parcialmente conhecidas.
É, sem dúvida, um momento histórico sem precedentes, pois, é somente
com o ciberespaço, que nos encontramos na inédita situação de poder ver a in-
formação difundir-se livremente sem nenhuma intermediação para fundir-se,
deduzir-se e, num constante movimento de ação e retroação, construir-se coleti-
vamente em renovado conhecimento.
Entretanto, vale aqui a advertência de Pierre Lévy:
Mas compreendam bem: Não quero dizer que todas as novas dominações
de um meio de comunicação determinam automaticamente o regime polí‑
tico correspondente, mas sim que certas mudanças políticas só se tornam
possíveis – pensáveis até – pela via da existência de media apropriados.
De resto, parece-me que os regimes políticos arcaicos não conseguem
manter-se eternamente quando uma proporção significativa da população
que subjugam acede a novos meios de comunicação38. O receio que as
ditaduras têm pela imprensa livre, pelos media audiovisuais planetários

37 O termo ciberespaço, estudado, entre outros, por LÉVY (2004, 2002, 2001 e 1999)
e CASTELLS (2006 e 2003), foi criado pelo escritor William Gibson no livro
Neuromancer (1984), é entendido, para os efeitos deste trabalho, como: espaço-tempo
eletrônico criado pelas redes de comunicação e as interconexões entre seres humanos,
comunidades, dispositivos e computadores multimídia (LQES, 2009).
38 I nteressante notar que temos fatos diários corroborando com esta última afirmação.
Para exemplificar, citamos: (1) as imagens veiculadas, por telefones celulares, sobre a
explosão de violência após as eleições presidenciais no Irã (FOLHA, 2009); e (2) o blo-
queio, pelo governo chinês, ao acesso à Loja Online “iTunes”, da Apple, após a página
de crítica do álbum Songs for Tibet ter atraído intenso debate entre ativistas pró-Tibete
e nacionalistas chineses (BBC, 2008).

291
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

difundidos por satélite e pela Internet é perfeitamente justificado (2002, p.


36 - grifamos).
Essa conjuntura permitiu ao citado Autor formular a tese de que passamos
a viver em um novo “espaço antropológico39”, que denominou “espaço do saber”,
e que nos impõe admitir que passamos a habitar um universo ético transformado
pelo saber e pela inteligência coletiva (2007, p. 24).
A constatação desse novo espaço se dá por vários fatores: velocidade, pois
jamais a evolução das ciências e das técnicas foi tão rápida; massa, pois se tor-
nou impossível reservar o conhecimento a classes de especialistas; e ferramen‑
tas, pela existência de instrumentos (motores de busca) para filtrar a informação
pertinente e efetuar comparações segundo significações e necessidades: “A in-
formática comunicante se apresentaria então como a infra-estrutura técnica do
cérebro coletivo ou do hipercórtex de comunidades vivas” (LÉVY, 2007, p. 25).
Nesse sentido, o laço social passa a estar imbricado com a relação com o sa‑
ber, onde as dimensões éticas e estéticas são tão importantes quanto os aspectos
tecnológicos e organizacionais. E isto, sem dúvida, favorece a idéia de igualda-
de, possibilita o diálogo multicultural e facilita o entendimento.
Para esclarecer melhor essa idéia, Pierre Lévy exemplifica com o que chama
de “Governação Democrática através do Mercado”, sem, antes, advertir:
A causa parece óbvia: o capitalismo somente procura “ganhar” sempre
mais numa corrida sem fim em que a moeda, a informação e a mercadoria,
já quase indissociáveis, se geram reciprocamente sem finalidade humana
atribuível, cavando sempre mais o fosso entre os abastados e os excluídos.
Este processo cego apenas seria limitado pelas relações de força impostas
por movimentos sociais ou pelas restritivas leis decretadas pelos governos
sob a pressão dos povos. Por um lado, a “lei dos lucros”, insensível, uni‑
camente preocupada com o cálculo econômico; pelo outro, a democracia,
a lei da cidade, que faz prevalecer o interesse comum, a vida concreta da
comunidade e os valores humanos. Num caso, pelo que se diz, a pretensa
“liberdade” neoliberal transforma-se em “ditadura dos mercados”, em
poder do dinheiro, em opressão e em exploração dos mais fracos. No outro,
em contrapartida, do lado certo, encontra-se o cuidado por solidariedade,
fraternidade e igualdade, que não pode ser apenas formal (2002, p. 147).
Por este ponto de vista, a “mundialização” através do ciberespaço, repre-
sentaria o “triunfo do mercado sobre a democracia”, uma vez que o direito, por
ser predominantemente nacional, não consegue mediar – e compensar – as de-
sigualdades. Contudo, LÉVY nos lembra que a conexão mundial dos computa-
dores, sob o paradigma do Espaço do Saber, abre justamente a perspectiva de

39 [...] um sistema de proximidade (espaço) próprio do mundo humano (antropológico)


e, portanto, dependente de técnicas, de significações, da linguagem, da cultura, das
convenções, das representações e das emoções humanas (2007, p. 22).

292
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

governo democrático mundial, tendo a economia como locomotiva. Exemplos


utilizados pelo Autor, sob a orientação desse novo espaço antropológico, são
bastante esclarecedores. Primeiro, se partirmos do princípio que sabemos, logo,
sabemos que, hoje, a economia se move pelo consumo, e não pela oferta:
Cada um dos atos de consumo contribui para orientar a economia.
Favorecer esta ou aquela evolução só depende de nós. Por conseguinte,
proponho esta conversão do olhar: em vez de considerar o mercado e,
particularmente, o em linha, como um ditador antidemocrático, olhemo-lo
como um instrumento de pilotagem, um vasto sistema eleitoral permanente
no seio do qual todo e qualquer ato de compra representa um voto. Quanto
mais considerarmos o mercado – e, particularmente, o cibermercado,
mais transparente que o clássico – desta forma, mais ele se tornará um
instrumento de pilotagem da economia com fins cívicos ou ecologistas
(2002, p. 149).
Segundo. Da mesma forma, se sabemos, logo, sabemos que a maioria dos
capitais que nutrem as empresas – e também boa parte das receitas dos governos
–, hoje, são provenientes das poupanças de pessoas físicas (os fundos de pensão
geridos por sindicatos são um bom exemplo). Nesse sentido, ao decidirmos so-
bre uma aplicação de longo prazo, e nos comprometemos com um investimento
socialmente responsável, chegaremos à conclusão de que raciocínios éticos e
econômicos coincidem, uma vez que: “Num mundo cada vez mais interligado,
deteriorar o seu meio ambiente natural e humano não constitui um comporta-
mento são”:
Por esta ordem de idéias, certos grupos de acionistas movidos por obje‑
tivos éticos, políticos ou ecologistas podem ter acesso aos conselhos de
administração das grandes companhias e desempenhar um papel muito
ativo na determinação de suas políticas. É o movimento do shareholder
activism40 (2002, p. 151) .
E é nesse sentido, que concordamos com Pierre Lévy, quando diz:
O cidadão do mundo e o profissional que pratica a inteligência coletiva
em linha são a mesma pessoa. Por conseguinte, não existe “capitalismo”
de um lado e “democracia” do outro. Nós fabricamos, constantemente e
juntos, o mundo em que vivemos. A solução dos grandes problemas, as
guerras, a miséria, as catástrofes ecológicas, também pode ser coorde‑
nada e aplicada no exercício das nossas responsabilidades profissionais,
não somente pela via das eleições. Com a Internet, a política torna-se um
assunto doméstico: estamos “entre conhecidos” numa sociedade mundial
transparente cujos agentes estão cada vez mais estreitamente interligados.
Pensamos todos juntos na mesma rede: a da inteligência coletiva (2002, p.
153, grifos nossos).

40 Ativismo dos Acionistas (N. dos A.: eventuais traduções do inglês constantes deste
ensaio são feitas pelos A., utilizando o DICIONÁRIO MICHAELIS – UOL [S.d.]).

293
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

Com isso, fica claro que o saber se torna uma infra-estrutura, pois nunca
a prosperidade de nações, regiões, empresas e indivíduos dependeram tanto de
sua capacidade de se adaptar e navegar neste espaço.
Estas relações de comunidades “híbridas” trazem à tona, a necessidade de
se pensar numa nova forma de estruturação do Estado e sua Administração,
com vistas na compreensão da democracia desse novo tempo. Nesse sentido,
ZUGMAN: “no início do século XXI, é inaceitável que as pessoas tenham de
perder horas e dias para fazer, de maneira presencial, o que se pode ser feito a
distância com auxilio da eletrônica” (2006, p. 12).
Neste cenário, o Governo Eletrônico que se diga “Democrático”, na for-
mulação de modelos para seu desenvolvimento, e principalmente na regulação
social, não pode prescindir do Direito, com todo seu arcabouço de normas de
ação e omissão resolutórias de juízos práticos, como elemento estrutural para
alcançar soluções justas e eficientes para os cidadãos.
E todo esse contexto provoca o rejuvenescimento da Teoria Geral do Estado,
principalmente, em suas bases jusfilosóficas, que, no dizer de SOUZA JUNIOR,
abrem em leque os temas de base do direito público, como a posição dos direitos
fundamentais, os valores norteadores do ordenamento, e a institucionalização,
divisão e o controle dos poderes e dos atos das autoridades, porque “as institui-
ções jurídicas não podem ser isoladas do contexto sóciopolítico e cultural de ori-
gem, nem dos fundamentos axiológicos do convívio humano” (2002, p. 18-19).
Conforme deduzimos da afirmação de MIRANDA: “a essência do político
encontra-se, sobretudo, na dialética do grupo humano e do poder”. O grupo hu‑
mano empresta enquadramento ao poder, pelo fator cultural, que modela os ho-
mens que o exercem e, dessa maneira, reconhece legitimidade no poder. Por sua
vez, o poder político gera um modo próprio de agir que, no Estado, chamamos
de “autonomia” – ou poder de mando. Logo, o Estado é a “institucionalização
do poder” (2007, p. 1-3).
Ora, tendo por certo que o modelo de Estado que nos apresentam os tempos
hodiernos da civilização ocidental é o Estado Democrático de Direito41, importa
na conclusão de que o direito assume status de elemento estruturante do Estado,
uma vez que, se este é “comunidade e poder juridicamente organizados”, somen-
te o “Direito permite passar, na comunidade, da simples coexistência à coesão
convivencial e, no poder, do facto à instituição” (MIRANDA, 2007, p. 3).
Reconhecemos que é sobremaneira difícil a apreensão da idéia de Estado,
por isso, socorremo-nos de João Baptista Machado:

41 Entendemos despiciendo citar mais que a “queda do Muro de Berlim”, como marco
histórico para a hegemonia da cultura democrática atual. Sem embargo, na contramão,
há notícias de resistências totalizantes, que tomamos a liberdade de encarar com “rarís-
simas exceções” que sequer gozam da mínima credibilidade entre a diplomacia, q.v. in
Golpe em Honduras 'não vai durar 2 ou 3 meses', diz Amorim (BBC, 2009).

294
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

[...] o Estado não parece ser uma realidade com assento exclusivo na
esfera do cultural, mas representa uma realidade de ordem mediadora
entre dois mundos – entre o mundo ideal da cultura (universo cultural)
e o mundo da faticidade social empírica, o mundo das necessidades, dos
interesses e das forças que impulsionam a sociedade (apud MIRANDA,
2007, p. 3, Nota 10).
Daí forçoso concluir que o homem está imbricado nesse ambiente, sobre-
tudo por consubstanciar-se em um ser político, que depende de uma ordem de
convivência, uma ecologia, “onde todos e cada um encontrem espaços abertos e
seguros para a busca da felicidade pessoal” (SOUZA JUNIOR, 2002, p. 24-25).
E por que o Direito é fundamental nesse processo? Qual sua relação com a
política e, sobretudo, com a ética?
Antes de nos aprofundarmos nessa seara, é importante ressaltar que não
podemos confundir essas três esferas. Inicialmente, temos que a política – em
cuja essência, como vimos, está a relação mando-obediência – ocupa-se primor-
dialmente da realização prática de um “bem comum” erigido pela consciência
ética de uma dada comunidade em um dado momento histórico; para tanto, in-
dubitável requerer – a política – autonomia legítima (a que podemos chamar
justiça) para a criação e manutenção concreta de uma ordem segura de convívio
(direito).
Ensina-nos SOUZA JUNIOR, que vários Autores atribuem a MAQUIAVEL
a descoberta da autonomia do político frente ao ético, ou, mais precisamente,
que há o mundo do Estado e o mundo pessoal, socorrendo-se em FREUND
para sintetizar o pensamento do ilustre Secretário Florentino:
Qual é, então, o papel da ordem política? Não é o de ser, em primeiro
lugar, justa, mas o de ajudar os seres humanos a viver juntos, oferecendo
as condições para que cada um busque realizar aquilo que se sinta capaz.
Importa, pois, que a ordem harmonize as desigualdades, para atenuar
seus efeitos, suscitando o consentimento a outras desigualdades. Nenhum
dos regimes escapa a este destino: diferem entre eles porque transigem,
cada vez, sobre desigualdades diferentes (2002, p. 29, Nota 24).
E, a partir da constatação de que ética e política não podem ser colocadas
no mesmo plano ontológico, SOUZA JUNIOR nos explica que os teorizadores
do Estado e do Direito passaram a contribuir para a construção e renovação de
um consenso político sobre valores éticos; estes, que deveriam ser postos em
uma Constituição, se convertendo, então, em instrumento último e fundamental
para garantir e presidir a supremacia de uma ordem jurídica atenta à governabi-
lidade, sem perder de vista os imperativos éticos revelados pela História: “Deste
esforço vem resultando uma convergência prática impressionante, em torno da
arquitetura tradicional do Estado Democrático constitucional pluralista de nos-
sos dias (2002, p. 35-36).
É, no mesmo sentido, a constatação de HABERMAS:

295
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

[...] é possível mostrar que determinadas estruturas da consciência


moral devem ter desempenhado um papel importante na simbiose entre
direito e poder do Estado. Um papel semelhante é desempenhado pela
consciência moral, na passagem do direito tradicional para o profano,
através do direito positivo colocado à disposição do legislador político.
Esse momento de indisponibilidade, que no direito moderno forma
um contrapeso evidente à instrumentalização política do medium do
direito, resulta no entrelaçamento entre política, direito e moral (2003b,
p. 234).
Daí, temos que, ao invés de perdermo-nos em confusão, podemos extrair a
relação entre direito, ética e política, que se inicia no momento em que:
Na experiência concreta da História, a política questiona, dia a dia,
no trato dos assuntos públicos, às vezes muito delicados, a consciência
ética da comunidade. Essa, lastreada no lado bom do ser humano – que é
capaz de criticar suas próprias misérias e, a partir daí, de aspirar aper‑
feiçoamento na direção do bem vai propondo, em resposta, desafios éticos
(SOUZA JUNIOR, p. 36, grifos do A.).
Na passagem, temos que o direito enfrenta esses desafios éticos e, segundo
várias condicionantes, dentre as quais, as econômicas, sociais, políticas, histó-
ricas etc. – que são da própria sociedade e da política nela praticada – “recorta-
os”, transmudando o substrato, pela técnica normativa, em “preceitos jurídicos
legislados”, que “são executados, pelo aparelho político estatal, visando produ-
zir, na comunidade de destino, os avanços éticos-sociais esperados” (SOUZA
JUNIOR, 2002, p. 36-37, grifos do A.).
A comunidade, por sua vez:
[...] vai se adaptando às mudanças, em diálogo circular cumulativo com
os preceitos jurídicos inovadores. Nessa relação, novos questionamentos
e novos desafios são levantados pela consciência ética ao poder político
estatal, gerando intervenção do direito. Diálogos bipolares abrem-se a
trílogos. E o ciclo continua e avança (SOUZA JUNIOR, 2002, p. 37, grifos
do A., sublinhados nossos).
Vemos aqui, que SOUZA JUNIOR se demonstra otimista ao concluir que a
incidência dialética da História sobre a maquinaria Estatal produz um processo
ascendente de filtragem, depuração e enriquecimento dos valores éticos, no que
não somos, de inteiro, de acordo42. Contudo, impossível não concordar com o

42 Particularmente, preferimos manter certa precaução quanto a um “avanço ético as-


cendente”, ficando mais ao estilo de SOROKIN e sua “teoria das flutuações dos su-
persistemas socioculturais” (conf. GUSMÃO, 1972). Sobretudo, porque ultrapassa
os limites deste ensaio perquirições no que concerne à influência negativa ainda pre-
tensamente totalizante das mídias tradicionais – embora em visível derrocada, q.v. in
Estatísticas, dados e projeções atuais sobre a Internet no Brasil (TO BE GUARANY!,
2009) – entendemos por bem, deixar aqui apenas esta pequena nota de advertência.

296
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

Autor, quando adverte: “onde a consciência ética enfraquece, o próprio direito


se enfraquece” (2002, p. 38).
De qualquer maneira, fica evidente a relação estrutural no Estado entre a
política, a ética e o direito, concebendo, este último, como uma escolha política,
ou, mais precisamente, pelo:
[...] sentimento humano profundo do direito: o de ponte que interliga
ética e política, respeitando a autonomia de ambas. O direito vem a ser,
em síntese, a arte ou a techne devotada à dificílima e crucial missão de
aproximar e harmonizar o ético e o político [...] (SOUZA JUNIOR, 2002,
p. 33-34, sublinhado nosso).
E essa harmonia surge na fenomenologia, diante do caso concreto, pela in-
cidência da razão prática, que é o universo tecnológico do direito.
Ora, temos, portanto, que, ao mesmo tempo em que o direito necessita do
Estado – como institucionalização do poder – para ter força cogente (obrigató-
ria), o Estado, por sua vez, não pode prescindir do direito, para institucionali-
zar-se e operar. Em outras palavras: o direito é causa instrumental do Estado,
porque direito e Estado estão ligados por um nexo de operacionalização da
ação.
Pois bem! Diante de tudo que se colocou até agora, desde a constatação
da interconexão mundializante em tempo real dos universos morais particula-
res, via ciberespaço, até a imbricação operacional entre Estado – e, a reboque,
Governo e Administração – e o direito na realização ética através da política,
temos por certo, então, que essa realidade altera mundialmente a forma dessa
“governação” gerir suas relações internas e externas, requerendo a edificação
de critérios na criação de normas legítimas que estejam de acordo com estas
concepções.
Desse modo, a “governança eletrônica” – que tomamos, aqui, para designar
toda esta complexa maquinaria43, para atender à demanda por justiça política
de uma sociedade cada vez mais inteligente no todo, deve ir além dos procedi-
mentos meramente formais, se faz impreterível a necessidade de ser observada
a validade material das normas que produz e, para se alcançar esse objetivo, o
governo precisa atentar para a necessidade de se pensar em um relacionamen‑
to discursivo aberto e amplo para a produção de leis, pois, como nos lembra
HABERMAS, “o processo legislativo forma no sistema do Direito o lugar pró-
prio da integração social” (2003a, p. 48-63).
É sobre algumas premissas possíveis para esse ambiente é que nos debru-
çamos, a seguir.

43 Logo, não se confundindo, scricto sensu, com os sentidos técnicos de governo e admi-
nistração – e muito menos com a simplória gestão administrativa via implantação de
sistemas leitores de bancos de dados do Estado Tecnoburocrático.

297
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

3. PARÂMETROS PARA A LEGITIMIDADE


DO CIBERDIREITO
Entendemos por bem iniciar este item, trazendo para nossa época, o debate
de ROUSSEAU sobre a legitimidade do Governo que, se resultou em duvidas a
mais de 200 anos, hoje encontra outras condições para se desenvolver.
Ao falar da política, o famoso genebrino já alertava sobre os problemas
de comunicação gerados pela relação entre governados e governantes, na qual,
estes, que deveriam ser subordinados à vontade geral do povo, acabavam, ao
contrário, subordinando aqueles ao seu governo.
O debate atual não é diferente do iniciado por ROUSSEAU no século XVIII,
nossos governantes continuam, mesmo em um ambiente e época marcada pela
evolução da democracia, mantendo comportamentos indiferentes ao princípio
democrático, permanecendo, o povo, com um mera participação formal na esco-
lha de seus “representantes”.
No desenvolvimento de sua teoria política ROUSSEAU já observava a per-
da do estado natural e a transformação do estado civil em um ambiente domina-
do por governos que governavam para si e não para o povo: “[...] os direitos do
povo face ao poder não podem ser defendidos por aqueles que se acham compro-
metidos com esse mesmo poder” (apud OLIVEIRA, 2000, p. 63).
O que faz OLIVEIRA concluir:
O princípio moderno de representação resulta, inevitavelmente, num
aumento progressivo do poder do Estado sobre a sociedade, uma vez que
torna débil e inibe continuamente os poderes intra-sociais que tornam efe‑
tivas a independência e o caráter consistente da sociedade. A ambivalên‑
cia da representação está em que o poder representativo tem a tendência
a dominar, sozinho, a sociedade que ele apenas deveria “representar”.
Assim, um sem número de vezes não nos sentimos representados, mas
oprimidos por um Estado que deveria apenas expressar nossa vontade
(2000, p. 104-105).
E fazia o próprio ROUSSEAU dizer:
Desde que o serviço público deixe de constituir a atividade principal dos
cidadãos e eles preferem servir com sua bolsa a servir com sua pessoa,
o Estado já se encontra próximo da ruína. Se lhes for preciso combater,
pagarão tropas e ficarão em casa; se necessário ir ao conselho, nomearão
deputados e ficarão em casa. À força de preguiça e de dinheiro, terão,
por fim, soldados para escravizar a pátria e representantes para vendê-la
(1997, p. 185).
Diante disto, sobrevivem questões sobre a possibilidade de se extrair do “di-
reito político” regras para a convivência e para a unidade social. Ou, em outras
palavras: se é possível o poder legítimo na organização social?

298
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

Sob este prisma, e considerando tudo o que foi colocado até agora, sobre-
tudo com relação à idéia de um homo ciberneticus legislador, podemos afirmar
que a norma legítima será aquela que garante a cada ser social as mesmas liber-
dades. Assim como leis morais, que, em sua essência, possuem essa condição,
não obstante, as normas jurídicas precisam ser assim constituídas pelo legislador
político sem negligenciar o princípio democrático.
Dessa maneira, as leis criadas por estes novos legisladores devem procurar
alcançar a vontade dos indivíduos, que as aceitam por estarem de acordo com
suas necessidades, uma vez que o legislador tem a função política de representar
a vontade do povo, assim como afirmava ROUSSEAU: “O indivíduo é livre, não
somente porque a lei o protege contra arbitrariedades de vontades individuais,
mas sobretudo porque ele mesmo passa a desempenhar o papel de autor das leis”
(apud OLIVEIRA, 2000, p. 84).
Para isso, esse novo legislador deve ser capaz de encontrar a verdadeira
função da comunicação pela linguagem, que é produzir o entendimento mais
universal possível, abstendo-se de agir como um ente privado que busca seu
sucesso pessoal, conforme postulado de HABERMAS: “[...] os legisladores não
são autorizados a agir na posição estratégica de sujeitos privados que buscam
seu próprio sucesso [...]” (apud LUCHI, 2009, p. 57).
E há várias vantagens para que a ação humana seja norteada por regras, má-
xime porque estas são “normativas” conforme, na esteira de WITTGENSTEIN,
nos esclarece HABERMAS (2002b, p. 94):
a) “coagem” a vontade, de modo que os sujeitos agentes procuram evitar
possíveis choques com elas (seguir uma regra significa a abstenção a
uma “transgressão”);
b) quem segue uma regra pode cometer erros e se expõe à crítica sobre
possíveis erros (em oposição ao conhecimento prático, o modo como se
segue uma regra exige o juízo a respeito de se um dado comportamento
está correto, um saber explícito da regra);
c) fundamentalmente, aquele que segue uma regra deve poder justificar-
se perante uma crítica;
d) com isto, ninguém pode seguir uma regra solipsisticamente, apenas
para si (o domínio prático de uma regra significa a capacidade de par-
ticipação social em uma prática familiar, na qual os sujeitos já se en-
contram, tão logo mutuamente se certifiquem reflexivamente de seu
conhecimento intuitivo em relação aos objetivos da justificação).
Além disso, para o universo epistêmico do governo eletrônico, pensar em
comportamento segundo regras é usar a linguagem binária do direito, que é tam-
bém a da tecnologia digital (0 e 1), conforme podemos deduzir do filósofo de
Frankfurt:
Wittgenstein esclarece a generalidade de sentido de Frege com a “concor‑
dância” já mantida dos participantes em uma prática comum. Por aí se

299
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

expressa o reconhecimento intersubjetivo implícito das regras seguidas.


Diante de um tal fundamento, podem os participantes “tomar” uma
conduta particular como exemplo de uma regra, ou compreendê-la como
“satisfação” de uma regra. Porque fundamentalmente se pode chegar a
controvérsias sobre a correção de uma conduta determinada, o “sim” ou
“não” implicitamente em jogo, de um possível crítico, pertencem ao sen‑
tido de validez normativa de uma regra. Com a codificação binária como
“verdadeiro” ou “ falso”, é introduzido simultaneamente um mecanismo
de autocorreção no próprio comportamento guiado por regras (2002b, p.
94-95).
Assim, como preceituava ROUSSEAU: “A vontade geral, como regra su-
prema ou princípio regulador, exigirá a mediação da lei para se manifestar
concretamente, pois esta é nada mais que a declaração daquela. A lei é um
“ato”, o meio, o veículo de expressão dessa vontade” (apud OLIVEIRA, 2000,
p. 86).
Logo, fica claro que a questão da legitimidade não se encerra apenas na
esfera formal – vencer uma eleição44 significa ter o privilégio de exercer o poder
ditando normas pelo tempo de um mandato – nem muito menos em um sim-
ples reconhecimento das pessoas dos governantes, mas, como diz MIRANDA:
“Trata-se também do projecto ou desígnio que pretendem realizar e dos meca-
nismos institucionais em que se inserem” (2007, p. 19).
Não se trata só de adesão ou de consentimento de facto (que pode assumir
diferentes graus, desde o meramente aclamatório às formas complexas
de representação política). O problema da legitimidade é um problema
de Direito, da ideia de Direito, de um conjunto de valores que, de uma
forma ou de outra, liguem governantes e governados (MIRANDA, 2007,
p. 19).
Nesse sentido – como vimos a pouco – se o direito funciona como uma
ponte entre a ética e a política, as normas jurídicas não podem estar dissociadas
do universo moral a que se destinam – ou, ao qual pretendem governar – elas
devem provir do “projeto político” da comunidade, que passou pela forma do
direito, ou seja, sobreviveram a critérios de adequação à realidade (possibilida-
de, cabimento, aceitação, não rejeição etc.) e receberam a dose de poder origi‑
nário do Estado (coação) que, por sua vez, foi instituído pelo direito. Como diz
MIRANDA: “[...] legitimar o poder equivale a limitá-lo de acordo com os fins
correspondentes à legitimidade” (2007, p. 22).
Desse modo a legitimidade só pode ser garantida pela aceitabilidade,
ou seja, inserção do princípio democrático da norma, no qual cada cidadão,
sem coação aceita as regras jurídicas que lhe são apresentadas em razão
destas estarem intimamente ligadas ao consenso de liberdade. É o princípio
kantiano, resgatado por HABERMAS: “uma norma é legítima quando os

44 Sabe-se lá com que técnicas de propaganda política.

300
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

cidadãos a aceitam como se eles a tivessem dado a si mesmos” (2003a, p.


49).
E qual o caminho para a produção desse direito legítimo? Qual o lugar desse
“espaço dialogal”?
Para SOUZA JUNIOR:
A democracia é o ideal contemporâneo de organização institucional do
Estado que, pressupondo e envolvendo todo o processo de representação
e de participação da comunidade na esfera do poder, consegue substan‑
tivamente respeitar a autonomia da ética e da política, articulando-se de
forma legítima (2002, p. 41-42)
Para MIRANDA:
A menção da democracia na Constituição incorpora uma regra prescri‑
tiva, não uma regra negativa ou proibitiva. Obriga que na expressão e
na organização políticas se observem as regras inerentes a uma ordem
constitucional democrática, obriga a que se siga o “método democrático”
de acção política, e não qualquer método assente na subversão ou na
violência (2007, p. 34-35).
Porém, cabe a advertência deste último, ao ensinar que por sistema de go‑
verno “democrático” podemos entender tanto no sentido de favorável à demo-
cracia (sendo antidemocrático o que propugna um sistema político não democrá-
tico) quanto no sentido de conforme à democracia (sendo antidemocrático o que
utiliza métodos não democráticos de acção política para realizar o seu programa,
democrático ou não) (2007, p. 33).
Como vemos, buscar esse caminho sem esquecer os paradigmas cul-
turais e, sobretudo, as possibilidades colocadas na primeira parte deste en-
saio, conduz a uma liberdade política que, inexoravelmente, desemboca no
pluralismo:
A livre formação e a livre comunicação de idéias e opiniões conduz
ao reconhecimento de existência de diversas correntes políticas ou
politicamente relevantes, bem como a possibilidade de organização
dos cidadãos para a crítica dos governantes e para sua substituição
pacífica, maxime através de partidos políticos (MIRANDA, 2007, p.
28).
Por fim, para alcançarmos, na atual realidade, a efetiva realização da so-
berania de uma democracia participativa e solucionar os questionamentos de
ROUSSEAU sobre a possibilidade de um poder legítimo, há a necessidade de se
pensar em uma nova linguagem em que o indivíduo possa ter uma participação
nas deliberações do poder público de forma mais presente do que a mera forma-
lidade de se escolher um representante. Só assim poderemos alcançar uma de-
mocracia participativa e legítima, admitindo-se que existam, hoje, necessidades
diferentes de cidadãos e comunidades de cidadãos.

301
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

Na sua teoria política ROUSSEAU, afirma, ainda, a necessidade da es-


truturação do poder político e apresenta uma dinâmica participativa entre o
governante e o governado de forma educativa e democrática, como esclarece
OLIVEIRA:
Esta dinâmica revela, na verdade, um duplo caráter educativo da teoria
política rousseaniana, que forma como que um círculo de implicação
mútua entre educação e participação política. Tomando-se a relação
numa das direções, e sabendo-se que a vontade geral é a essência da
soberania, estará implícito que tanto menos permanecerá muda e mais
vigorosamente se manifestará, quanto mais continuamente for exercida
(2000, p. 87-88).
Desta forma, a vontade geral como essência da soberania do povo, tende
a ser exercida se for manifestada expressivamente pelo princípio da demo-
cracia participativa e, o cidadão dos dias atuais, poderá ter a ferramenta que
proporcionará essa efetiva participação nas deliberações da gestão da máquina
pública.
Esse quadro pressupõe, então, direitos de comunicação e expressão nunca
antes experienciados na construção das normas editadas pelo governo “tradicio-
nal”, mas que não são nada estranhas ao governo eletrônico. Em outras palavras:
temos diante de nós a condição de apreender, em toda sua plenitude, a afirmação
de que: “[...] todos os seres humanos são livres e iguais que devem ser titula-
res de direitos políticos e, assim, interferir conjuntamente, uns com os ou-
tros, na definição dos rumos do Estado e da sociedade em que têm de viver”
(MIRANDA, 2007, p. IX).
Do exposto, uma formulação de sistema de comunicação para uma efetiva
participação popular na elaboração de um corpo normativo, que se aproxime
de um consenso de liberdade e de materialização do princípio democrático das
Ágoras Virtuais, pode tomar por base o que APEL chama de comunidade ideal
de comunicação, pois o surgimento do ciberespaço traz consigo a necessidade
da humanidade pensar em uma nova sociedade, com um novo modelo discursi-
vo, em âmbito global.
É impossível negar que a incorporação de tecnologias de informação e co-
municação, como a inteligência artificial e a realidade virtual, condicionam a
existência de uma sociedade voltada para uma relação discursiva desprendida de
crenças e paradigmas, até então tidos como verdades absolutas.
Esta comunidade ideal de comunicação seria, portanto capaz de uma deli-
beração universal de todas as pretensões, pois a discussão argumentativa subs-
tituiria as visões particulares por um consenso coletivo dotado de uma ética
normativa, pressuposto básico para, através da reciprocidade discursiva, fundar
um ciberdireito dotado de legitimidade. Nas palavras de Karl Otto Apel: “Com
a suposição a priori necessária, de uma comunidade ideal de comunicação [...]
também a validade intersubjetiva de uma ética normativa da comunidade ideal

302
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

de comunicação já deve ser sempre suporte e subjacente” (apud COSTA, 2006,


p. 168).
Significa dizer que o avanço da tecnologia da informação atingindo am-
plamente todo o planeta, traz a necessidade de se pensar em um novo modelo
de comunicação argumentativa, dentro do âmbito do ciberespaço para alcan-
çar uma ética normativa dotada de legitimidade no espaço do ciberdireito.
Assim como COSTA, baseando-se na teoria da comunidade de argumenta-
ção de APEL afirma: “O a priori da comunidade de argumentação implica na
pressuposição de uma ética comunicativa intersubjetiva ou ética do discurso”
(2006, p. 168).
Como a rede planetária também traz problemas e riscos com alcance pla-
netário, temos que ir além de crenças e paradigmas individualistas para buscar
uma resposta à altura desses novos desafios. Há, portanto a necessidade de al-
cançar um resultado ético voltado para a responsabilidade de cada ser humano
em prol de um todo, apontando para uma cooperação solidária.
Assim, nesse sentido:
A ética do discurso, como ética da responsabilidade intersubjetiva so‑
lidária, aponta, pois, para a institucionalização dos discursos práticos
como mediação necessária da cooperação racional voluntária planetária
de todos os indivíduos humanos corresponsáveis e de tal modo que os in‑
divíduos enquanto membros da comunidade de comunicação, capacitados
para o discurso, se coloquem em última instância, com a competência de
decidir e deliberar racionalmente, isto é, de forma intersubjetivamente
vinculante, frente às escolhas humanas e frente às instituições (COSTA,
2006, p. 167).
Essa comunidade ideal de comunicação baseada na ética do discurso apon-
ta, então, para o futuro da sociedade global, para uma idéia de avanço no sentido
moral e jurídico, podendo alcançar uma democracia participativa em seu sentido
mais amplo, tendo como conseqüência um poder político que resulta em normas
legítimas atendendo a vontade geral da sociedade, e por fim sanando os questio-
namentos de ROUSSEAU, já apresentados.
Essa comunidade ideal de comunicação, então, com base na teoria discur-
siva argumentativa de uma ética do discurso prático, somente pode ser consti-
tuída em um ambiente de deliberação livre de repressão, que é o ciberespaço,
pois é a tecnologia da informação e comunicação a ferramenta para se alcançar
esse ambiente de forma igualitária, de acesso a todos, que por essa interconexão
estão ligados em uma rede global de informação que pode se transformar, por
conseqüência, numa comunidade de deliberação.
É nesse sentido que caminha COSTA:
Esta instituição de deliberação universal, planetária, está implícita no a
priori da comunicação e deve ser vista não só como meta-instituição de

303
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

todas as instituições sociais contingentes surgidas na história, mas como


a instância de legitimação e de deslegitimação de todas as instituições de
fato existentes ou a serem criadas (2006, p. 169).

Dentro desse âmbito deliberativo há a necessidade de se pensar em uma


responsabilidade solidária entre os membros da sociedade conciliando todos os
interesses individuais com os interesses de todos.
Neste horizonte APEL afirma: “A exigência da responsabilidade solidária
dos seres humanos deve ser cumprida, embora que as condições de possibilidade
de seu cumprimento nem sequer tenham sido constituídas” (apud COSTA, 2006,
p. 169).
A essa altura, temos que as “condições de possibilidade” não visuali-
zadas por APEL para a sua comunidade ideal de comunicação, se tornam
realidade a partir do momento em que seus pressupostos são possíveis quan-
do aceitamos o ambiente técnico-cultural do e-GOV, onde Ágoras Virtuais
consubstanciam-se em espaços do saber (LÉVY), máxime de observados
os pressupostos do processo de discussão racional (HABERMAS), no
ciberespaço.
Isto nos permite formular a hipótese que é plenamente possível se pensar na
existência de comunidades ideais de deliberação, como modelo teórico de espa‑
ço do saber-fazer democrático, norteador da produção de sistemas especialistas
de governança eletrônica.
Nesse contexto, é importante trazer para as Ágoras Virtuais, os pressupos-
tos de HABERMAS para que haja a participação satisfatória em argumentações.
Estes exigem: publicidade e inclusão cada vez maior; igualdade de direitos co-
municativos; exclusão de enganos e ilusões; e, por fim, não-coação (2002b, p.
20).
Tais pressupostos, que podem ser tomados como regras básicas para a ela-
boração de instruções de cruzamento de dados, bem como para a inclusão ou
exclusão de participantes naqueles espaços democráticos, caso haja adequação
ou inadequação as mesmas, são esquematizados na Tabela 1.
Como se vê, a observação destes pressupostos torna o processo de argu-
mentação um procedimento autocorretivo. No dizer de HABERMAS: “Neste
momento se percebe quando novos argumentos, sob os aspectos das vozes ex-
cluídas ou maginalizadas, devem ser levados a sério (2002b, p. 68-69, grifos
do A.).
E justifica: “Qualidades procedimentais do processo de argumentação fun-
damentam a esperança racional de que as informações e fundamentos decisivos
sejam “postos na mesa” e “venham à tona” (2002b, p. 69).

304
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

Tabela 1. O Processo de Discussão Racional Comunicativa.

Pressuposição Enunciado Finalidade Consequências Função


Ninguém que,
à vista de uma estabelece
exigência de evitar que o cír- ampliação da as regras do
validez contro‑ culo de partici- agenda e aper- processo de
1. Publicidade
versa, possa pantes não seja feiçoamento argumentação
e Inclusão
trazer uma suficientemente da base da (procedimen‑
contribuição representativo informação to), tornando-o
relevante, deve autocorretivo
ser excluído
considerar
a todos são
2. Igualdade igualmente
dadas as mes‑
de Direitos os interesses
mas chances idem Idem
Comuni- e orientações
de se expressar
cativos de valores de
sobre as coisas
cada envolvido
a comunicação
deve estar livre
Garantir liber-
de restrições,
dade de opinião
3. Não-coação que impedem ibidem Ibidem
e evitar funda-
que o melhor
mentalismos
argumento
venha à tona
Abertura her-
os partici‑
menêutica.
pantes devem
Sensibilidade dar condições
pretender o
crítica ao auto- para que as
que dizem Ponderação
4. Exclusão engano (tanto expressões
(porque nos correta e im-
de Enganos em relação linguísticas
discursos práti- parcial dos
e Ilusões à autocom- possam man-
cos os partici- argumentos
preensão, ter o mesmo
pantes são si-
como à compre- significado
multaneamente
ensão do mun-
os envolvidos)
do dos outros)

FONTE: Os Autores, com base em (HABERMAS, 2002b, p. 67-74).

O Autor é mais claro nesta passagem:


As qualidades formais da argumentação ganham relevância na considera‑
ção da diferença entre assertabilidade e verdade. Porque “no último instan‑
te” evidências concludentes e argumentos convincentes falham e opiniões
mesmo tão bem fundamentadas podem ser falsas, somente a qualidade do
processo discursivo de certificação da verdade fundamenta a esperança ra‑
cional de que as melhores informações e fundamentos a cada vez acessíveis
estejam realmente disponíveis e, no final, também “contem”. Inconsistências
percebidas, que despertam a suspeita “de que aqui sobretudo não se

305
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

argumenta” se manifestam primeiramente quando participantes evidente‑


mente relevantes são deixados de fora, contribuições relevantes são reprimi‑
das, e tomadas de posição de sim e não são manipuladas ou condicionadas
através de influências de outro tipo (2002b, p. 69, grifos nossos).
Em outra passagem, mais claro ainda:
[...] objeções sempre novas, desde fóruns sempre mais amplos, perante
um público sempre mais competente e maior. Esta dinâmica construída
na prática da argumentação põe em movimento uma descentralização de
perspectivas singulares de interpretação sempre mais ampla, na qual não
se trata de certificação de exigências de verdade, porém na construção e
do uso competente de normas morais (e do direito) (2002b, p. 70).
Como vemos, o filósofo de Frankfurt parte da perspectiva de que a socie-
dade civil, antes de entregar-se a “verdades” transcendentais pré-estabelecidas,
é capaz de influir constantemente sobre si mesma através de processos discur‑
sivos instituídos inteligentemente e, na esteira de PREUS, afirmar que: “Uma
sociedade é constituída a partir do momento em que for capaz de confrontar-se
consigo mesma em formas institucionais adequadas e em processos normativos
de adaptação, de resistência e de auto-correção” (2003b, p. 189, grifos do A.).
E, dessa forma, atingir um “processo de argumentação que não deve perder
o seu sentido”, onde:
[...] a forma de comunicação dos discursos deve ser constituída de tal modo,
que todos os esclarecimentos e informações os mais relevantes possíveis sejam
verbalizados e de tal forma ponderados, que a tomada de posição do parti‑
cipante possa ser motivada intrinsecamente apenas através da capacidade
revisora dos fundamentos flutuando livremente (HABERMAS, 2002b, p. 66).
É pertinente esclarecer, que as pressuposições constantes na Tabela 1, fa-
zem parte de um universo bem maior, que é a Teoria do Agir Comunicativo, de
HABERMAS. Pela referida teoria, tais pressuposições, por sua vez, partem de
três pressupostos pragmático-formais, que são: (1) suposição comum a respeito
de um mundo objetivo; (2) racionalidade que os sujeitos supõem reciprocamen‑
te; e (3) validez incondicional dos atos de fala.
Partindo de tais pressupostos, os parceiros da comunicação conseguem se
entender vencendo dos limites dos mundos da vida divergentes45, porque eles,

45 O mundo vivido (lebenswelt) é o lugar das relações sociais espontâneas, das certezas pré-re-
flexivas, dos vínculos que nunca foram postos em dúvida. Ele tem três componentes estrutu-
rais: cultura, sociedade e personalidade. A cultura é o estoque de saber da comunidade, que
contém os conteúdos semânticos da tradição, onde os indivíduos se abastecem dos modelos
de interpretação necessários ao convício social. A sociedade, stricto sensu, é composta dos
ordenamentos legítimos pelos quais os membros da comunidade regulam suas solidarie-
dades. A personalidade é um conjunto de competências que qualificam um indivíduo para
participar da vida social (ROUANET apud MOREIRA, 2004, p. 44-45, Nota 50).

306
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

com visão de um mundo objetivo comum, se orientam pela exigência da verda-


de, isto é, da validade incondicional de suas afirmações. Dessa forma, o agir co‑
municativo requer uma amplitude considerável de fundamentos: (a) epistêmicos,
para a verdade das asserções; (b) pontos de vista éticos, para a autenticidade de
uma escolha de vida; e, experiências estéticas, explicações narrativas, padrões
de valores culturais, exigência de direitos, convenções, etc., como (c) indicado-
res para a sinceridade das declarações (HABERMAS, 2002b, p. 46-49).
Desta maneira, nenhum procedimento que proteja qualquer argumento
pode ser aceito racionalmente: “O processo de argumentação como tal deve per-
manecer aberto para todas as objeções relevantes e para todos os aperfeiçoamen-
tos das circunstâncias epistêmicas” (HABERMAS, 2002b, p. 59).
Com isso:
Podemos apresentar o processo de aprendizagem moral como o alarga‑
mento inteligente e a limitação recíproca do mundo social, que ainda não
se recompôs suficientemente, em um caso de conflito dado. Os partidos
litigantes aprendem a se incluir mutuamente em um mundo comum, cons‑
truído de tal modo que podem julgar e resolver consensualmente as ações
controversas à luz de padrões e valores concordantes (HABERMAS,
2002b, p. 64).
Temos, portanto, que o processo de discussão racional somente vem acres-
centar vantagens ao universo moral:
À vista de que exclusivamente sob pontos de vista morais as normas que
são igualmente boas para todos ganham reconhecimento, o discurso ra‑
cional se oferece como o processo apropriado para a solução de conflitos,
porque representa um procedimento que assegura a inclusão de todos os
envolvidos e a consideração eqüitativa de todos os interesses aludidos
(HABERMAS, 2002b, p. 65).
De todo o exposto, podemos postular que a instituição de Ágoras Virtuais
em sistemas de e-GOV, que atentem para os pressupostos ora colocados, são con-
dições de possibilidade para a cidadania participativa e responsável. Sobretudo
em nosso caso, dadas às atuais perspectivas de vida existentes para o cidadão
brasileiro comum, onde a maioria concebe a política como um processo falido,
distante e irreversível, num cenário desanimador.
Não será inoportuno lembrar que a plena participação popular nos rumos da
política brasileira pelos cidadãos sempre encontrou óbice na burocracia disfun-
cional estabelecida e herdada desde o tempo colonial trazida pelos portugueses,
conforme explica FAORO:
[...] o estado, português, diferente de outros países da Europa, inerentemen‑
te feudalista, possui um histórico patrimonialista. O rei, senhor das terras,
administrava o país como sua propriedade. O estamento, um grupo político
de origem aristocrática, atuava ao lado do rei recebiam cargos e salários

307
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

da monarquia, de uma forma que o Estado era sistematicamente explorado


por esse grupo. O objetivo dos membros do estamento e da monarquia era
alcançar o máximo de proveito próprio (apud ZUGMAN, 2006, p.23).
Essa cultura reflete diretamente na Administração Pública que, apesar do
inexorável avanço tecnológico e a iminente modernização da estrutura pública,
ainda depara-se com duas correntes distintas: as modernizantes, que buscam tra-
zer as modernas teorias de administração e gestão para prática burocrática; e as
moralizantes que, formalistas e centralizantes, procuram frear o processo, pois
obtém vantagens com a opacidade da máquina pública (ZUGMAN, 2006, p. 19).
A comunidade ideal de deliberação seria uma resposta aos problemas aci-
ma apontados, uma vez que a tecnologia da informação e comunicação é uma
ferramenta indispensável para a interação entre governantes e governados. Por
meio desta, haveria uma maior transparência nos atos dos representantes, na
forma da lei constituídos, permitindo a efetividade do princípio democrático:
“será a materialização daquilo que alguns autores gostam de chamar de fishbowl
policy, a política do aquário, metáfora que compara a gestão pública a um aquá-
rio permanentemente sob a observação do seu dono” (ZUGMAN, 2006, p. 11).
Com a implementação pelos governos eletrônicos de ágoras virtuais base-
adas em comunidades ideais de deliberação, é real a possibilidade do ressur-
gimento de uma maior participação da grande massa de cidadãos na troca de
informações e valores através de trílogos com seus representantes, em períodos
juridicamente estabelecidos. De forma simultânea, haveria uma participação
maior possível nos rumos e diretrizes da política nacional, na qual uma efetiva
realização do princípio democrático e a presunção das liberdades individuais
estariam estampados no corpo das normas legítimas provenientes desse contato.

4. CONCLUSÃO: POR UM DIREITO


CIBERDEMOCRÁTICO46
Conforme todo o apresentado, podemos afirmar, nesse momento, que a institu-
cionalização de ágoras virtuais, nos termos em que foram colocados no desenvolvi-
mento, fortalece o pluralismo democrático, uma vez que, na perspectiva da política
do aquário, os parâmetros para que a comunidade ideal de deliberação possa chegar
a pontos de convergência, se apoiando na dialética dos valores confrontantes, é uma
forma possível de legitimação do poder político que nosso tempo oferece.
Nesses ambientes, observadas as regras procedimentais de discussão ra-
cional (HABERMAS), a convivência de fundamentos das teorias políticas

46 Convém lembrar que Norbert Wiener (1968, p. 15), criou o termo cibernética, derivan-
do-o do grego kubernetes (piloto do navio), esta mesma que chegou até nossos dias
como raiz da palavra “governador”.

308
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

modernas, como, por exemplo, as de RAWLS e DWORKING, que defendem a


visão liberalista e postulam pela rigidez na conservação da liberdade sedimenta-
da nas garantias constitucionais, impondo limites à esfera pública e procurando
assegurar a autonomia privada do individuo frente ao Estado, podem, civiliza-
damente, dialogar com os fundamentos do comunitarismo de TAYLOR, que
partem de uma posição antagônica, pois determinam como ponto primordial o
bem comum, num sentido teleológico, para orientar os princípios constitucio-
nais, adaptando o texto normativo de acordo com a realidade histórica.
Logicamente, se faz necessário pensar em uma comunidade ideal de co‑
municação (APEL) habitando o espaço do saber (LÉVY) para, num movimen-
to progressivo, com os pressupostos procedimentalistas de discussão racional
(HABERMAS), evoluirmos finalmente no sentido de que Ágoras Virtuais sejam
comunidades ideais de deliberação. Temos, portanto, como válida a proposta
de que a incorporação da tecnologia da informação e comunicação na máquina
pública, por meio do governo eletrônico, se revela um modelo de discussão de-
mocrática em Rede que está em consonância com o nosso tempo.
Temos, também, clara consciência de que a presente proposta postula por
um universalismo bastante inclusivo e é altamente idealizadora. Por isso, antes
que qualquer pretensão totalizante venha nos impingir a pecha de ser “idealista
demais”, entendemos dever enfatizar que, ao propormos que do encontro do par-
ticularismo de cada comunidade de linguagem, possa brotar o direito legítimo,
não estamos avançando além dos limites da própria função original da lingua-
gem, que é fazer o entendimento.
Por outro lado, não será de todo desarrazoado, pensar que estes novos pa-
radigmas são apenas “condições de possibilidade47” para começarmos a procurar
entender o que pode ser uma democracia presentativa como uma forma de atra-
ção do cidadão para a esfera pública e, dessa maneira, repensarmos a utilidade
da figura da “representação” como “única” tecnologia ainda disponível para a
democracia.
Certamente não se trata de tarefa fácil a edificação de Ágoras Virtuais nos
termos em que são aqui propostas. Contudo, convém ressaltar que o desenvolvi-
mento de redes sociais cada vez mais eficientes é uma realidade que não pode-
mos ignorar. Ademais, nunca foi “fácil” o convívio democrático, essa forma de
governo tão cheia de defeitos e, no entanto, preferível a todas as outras por todos
aqueles que se encontrem convivendo em uma sociedade formada por seres úni-
cos, livres e iguais.
De qualquer maneira, admitir a possibilidade de que o governo eletrônico
se utilize de “decisões em tempo real”, não pode nunca se descuidar de que o
direito, como causa estruturante do Estado, não se distancia de seu outro vetor,

47 Condicionantes, sobretudo de ordem técnica, de que ROUSSEAU não dispu-


nha em seu tempo.

309
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

que é a segurança, base da formação etimológica da palavra jurisprudência.


Nesse sentido, cabe aqui a advertência que os limites deste ensaio não nos per-
mitem avançar além da formulação das preposições contidas em seu bojo, e que,
certamente, novas e extensas investigações se impõem.

AGRADECIMENTO
Entendemos por bem deixar registrados nossos sinceros agradecimentos
aos Profs. Mscs. Gomercindo Tadeu Silveira e Adriano Fernandes Moreira, pelo
sempre renovado incentivo na busca pelo conhecimento e por nos fornecer o
trabalho do Prof. Dr. Cezar Saldanha de Souza Junior, que deitou luzes sobre
nossas idéias, quando ainda embrionárias.

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CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

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311
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

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ZUGMAN, Fábio. 2006. Governo Eletrônico: Saiba tudo sobre essa revolução. Livro
Pronto, São Paulo.

312
NIT VIRTUAL DO APL
MADEIRA‑MÓVEL DO ALTO VALE
DO RIO NEGRO: UM MODELO
DE GESTÃO DA INOVAÇÃO
BASEADO NA PROTEÇÃO DA
PROPRIEDADE INTELECTUAL

Angélica Gorges1; Claudia O. Bueno1; Fabrício T. Donatti1; Tânia C. D. Bueno1;


Iara Zotti1; Sonali Bedin1; Thiago Paulo Silva de Oliveira1; Aline Junckes1;
Marzely G. Farias2; Grasiela Gruber2; Sabrina Monteiro2; Marli Pinto2; Sarah
Linke2.
1
I3G - Instituto de Governo Eletrônico Inteligências e Sistemas, Florianópolis,
SC,Brasil, +5548 30256609, CEP 88036-002
{angelica.gorges; claudia.bueno; fabricio.donatti; tania.bueno; sonali.
bedin; thiago.paulo; aline.junckes; iara.zotti}@i3g.org.br.
2
UDESC– Universidade do Estado de Santa Catarina, Florianópolis, SC, Brasil
r2mgf@hermes.udesc.br; grasi.gruber@gmail.com; sabrina.udesc@gmail.com;
sah_linke@hotmail.com; marli@marlidias.pro.br.

RESUMO

O NIT Virtual é uma estrutura composta em meio eletrônico dos processos e


procedimentos orientados, convencionalmente, por seus escritórios físicos de
inovação tecnológica. A criação de Núcleos de Inovação Tecnológica - NIT é resultado
da implantação da Lei de Inovação Federal e Estadual nos últimos anos em Santa
Catarina e visa incentivar a identificação do potencial inovador e difundir a cultura
inventiva e de proteção de propriedade intelectual de processos e produtos originados
em pesquisas científicas nas diversas áreas de atuação de instituições de ensino e
pesquisa e o setor produtivo brasileiro. Em particular, neste trabalho será apresentado
o modelo de Gestão da Inovação, baseado na proteção da Propriedade Intelectual
do NIT Virtual gerido pela UDESC/i3G/FETEP que tem por missão a prospecção e
salvaguarda de inovações no Arranjo Produtivo Local Madeira Móvel do Alto Vale
do Rio Negro, no Estado de Santa Catarina. Desta forma, faz-se uso dos elementos da
web 2.0, gestão do conhecimento e inteligência aplicada para ampliar a capacidade de
processamento e gestão de inovações.

PALAVRAS-CHAVE

Núcleos de inovação tecnológica; desenvolvimento regional; arranjo produtivo local;


gestão da inovação; ferramentas tecnológicas.

313
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

1. INTRODUÇÃO
Desde a promulgação da Constituição da República Federativa do Brasil
em 1988 iniciou-se o processo de reforma político-administrativa, na qual o
Estado central, que historicamente concentrou competências e funções, começa
a devolvê-las aos governos locais. Nesse novo cenário, uma nova forma de ges-
tão pública descentralizada vem sendo construída em um intenso processo de
transformação.
Para acompanhar a modernização da administração pública, os Núcleos de
Propriedade Intelectual e de Transferência de Tecnologia (NITs) deixaram os
limites das fundações públicas, consolidando a atividade de pesquisador pú-
blico, concedendo assim, direitos a proteção de suas criações. Amparado pela
política Nacional de Inovação e de Desenvolvimento Tecnológico os Núcleos de
Inovação Tecnológica (NIT) vem sendo criados para ser um elo profissional nas
interações universidade – empresa - governo, observando a tríplice hélice do
Manual de Oslo48, que é a principal fonte internacional de diretrizes para coleta e
uso de dados sobre atividades inovadoras da indústria. 
A Lei de Inovação federal 10.973/2004 e a Lei do estado de Santa
Catarina 14.328/2008; e o Decreto 2.372/2009, tratam de promover uma po-
lítica de incentivo ao desenvolvimento tecnológico e econômico de interesse
social no país. Atendendo a este objetivo, criaram-se algumas diretrizes para
identificação de resultados de pesquisas que podem ser protegidos dando
os encaminhamentos necessários para a efetivação dessa proteção. Nesse
contexto, a consolidação do NIT instalado em São Bento do Sul, vem ao
encontro dos anseios da Política Nacional de Inovação e de Desenvolvimento
Tecnológico, cujos objetivos, organizar as instituições públicas e privadas de
pesquisa para se integrarem mais efetivamente com os Arranjos Produtivos
Locais – APLs.
Assim, na intenção de atender as indicações supracitadas, e consideran-
do a importância do papel do NIT nesse processo e resultados, se faz presente
identificar resultados de pesquisas que podem ser protegidos dando os encami-
nhamentos necessários para a efetivação dessa proteção. Tais encaminhamentos
têm como principal motivador o acelerado processo de internacionalização da
economia em que se encontra o País, resultante da eficiência e da velocidade da
inovação tecnológica.
Esta produção encontra respaldo na Propriedade Industrial, que se confi-
gura na garantia da segurança jurídica e econômica das tecnologias desenvol-
vidas através dos serviços prestados pelo sistema nacional ou internacional,
como pedidos de patentes, registros de marcas, contratos de transferência de

48 Disponível em: <www.finep.gov.br/imprensa/sala_imprensa/manual_de_oslo.pdf>.


Acesso em: 18 maio 2009.

314
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

tecnologia, desenho industrial, registro do software, e que se constituem em


formas de assegurar os direitos de exclusividade na produção, uso e comerciali-
zação da criação. Evidencia-se ainda a Propriedade Industrial como instrumento
de política tecnológica e industrial que regulamenta as negociações no comércio
tecnológico. No entanto, muitas tecnologias inovadoras encontram-se restritas
em nível acadêmico, dificultando sua identificação e, conseqüentemente, crian-
do um déficit no mercado.
O NIT é um órgão de incentivo à inovação e pesquisa científica e tecnológi-
ca para o ambiente produtivo, nas atividades relacionadas à criação, adaptação
e absorção, fomentando a integração mais efetiva com os Arranjos Produtivos
Locais – APLs que nesse contexto, são os aglomerados de empresas no ramo
de madeira móvel localizas na região do Alto Vale do Rio Negro, no Estado de
Santa Catarina, Brasil.
Diante desta realidade, objetivando ampliar fronteiras e estimular a inte-
gração com o mercado nacional e internacional, além do escritório do NIT desta
APL, localizado em São Bento do Sul/SC, buscou-se utilizar com sucesso a fer-
ramenta da mídia virtual, instalando-se assim o primeiro NIT Virtual do Brasil.
O NIT e a Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC com este
projeto piloto procuram estar em sintonia com a política de incentivo ao desen-
volvimento tecnológico e econômico de interesse social no país.
Este trabalho esta organizado da seguinte forma: no item 2, está contextu-
alizado o tema da inovação com a propriedade intelectual no estado de Santa
Catarina, no item 3, núcleo de inovação tecnológica o modelo de gestão de PI, no
item 4, considerações finais e no item 5, bibliografia.

2. CONTEXTUALIZAÇÃO DO TEMA DA
INOVAÇÃO E PROPRIEDADE INTELECTUAL
Mas o que é afinal a inovação? Ela é realmente necessária para a manuten-
ção da competitividade empresarial? Conforme a Lei de Inovação nº 10.973/
2004 em seu art. 2º,  inovação é a introdução de novidade ou aperfeiçoamento
no ambiente produtivo ou social que resulte em novos produtos, processos ou
serviços.
Traduzindo o conceito, inovação está vinculada não apenas na produção de
conhecimento científico, mas principalmente na sua conversão em tecnologia
útil para a sociedade e para o setor produtivo. A empresa para se tornar líder em
seu setor ou mesmo conseguir sobreviver nesta economia globalizada precisam
desenvolver a capacidade de inovar - diferenciar seus produtos (bens e serviços)
e beneficiar-se de processos produtivos mais eficientes e também, criar novos
mercados, exportar e empreender novos negócios.

315
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

Para que as empresas realizem inovações é necessário, em primeiro lugar, a


consciência da importância de inovar no cenário competitivo vigente, entenden-
do o que é inovação, qual a sua dinâmica para em seguida, definir uma estratégia
em relação à inovação na qual deve estar alinhada com a estratégia geral da
empresa e com a sua visão de futuro.
Para desenvolver e internalizar ferramentas de gestão do processo de ino-
vação deve ser levado em consideração entre os vários fatores, o tamanho da
empresa, o setor de atuação, a cultura e a estrutura organizacional, o sistema de
agentes no qual ela está inserida, a visão de futuro e suas ambições.
Segundo a Organização Mundial da Propriedade Intelectual (2008)49 no
Brasil são registradas somente 2,7 patentes para cada bilhão de dólares do PIB,
contra 22 da Alemanha, 103 do Japão e 129 da Coréia do Sul. Entre 2004 e 2006,
o Brasil obteve apenas 304 patentes. Em 2007, o Brasil ficou em 72º lugar entre
131 países no índice de competitividade do Fórum Econômico Mundial.
A inovação e a educação, mais do que nunca, são agora decisivas para a
competitividade internacional. Uma economia baseada no conhecimento depen-
de de um sistema econômico ágil e regras institucionais sólidas; de uma po-
pulação educada e criativa; de uma infra-estrutura dinâmica, e de sistemas de
inovação eficientes.
Ao encontro desta política, diz a Lei de Inovação n. 10.973/200450 no seu
Art. 1o “estabelece medidas de incentivo à inovação e à pesquisa científica e
tecnológica no ambiente produtivo, com vistas à capacitação e ao alcance da
autonomia tecnológica e ao desenvolvimento industrial do País, nos termos
dos arts. 218 e 219 da Constituição. ” As empresas que tem como valores a
qualidade dos processos e resultados precisam ter presente à criação de algu-
mas diretrizes para identificação de resultados de pesquisas que podem ser
protegidos dando os encaminhamentos necessários para a efetivação dessa
proteção.
O acelerado processo de internacionalização da economia em que se en-
contra o País é resultante da eficiência e da velocidade da inovação tecnológica.
Esta produção encontra respaldo na Propriedade Industrial, que se configuram
na garantia da segurança jurídica e econômica das tecnologias desenvolvidas
através dos serviços prestados pelo sistema nacional ou internacional, como
pedidos de patentes, registros de marcas, contratos de transferência de tecno-
logia, desenho industrial, registro do software, e que se constituem em formas
de assegurar os direitos de exclusividade na produção, uso e comercialização da

49 A Propriedade Intelectual Disponível em: http://www5.inpi.gov.br/menu-superior/


imprensa/clipping/marco-2009-1/2-03-2009/impressao_view >. Acesso em:22 abr.
2009.
50 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2004/Lei/
L10.973.htm. Acesso em: 22 abr. 2009.

316
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

criação. Hoeschl51 evidencia ainda a Propriedade Industrial como instrumento


de política tecnológica e industrial que regulamenta as negociações no comércio
tecnológico.

2.1 A interação Universidade/Empresa frente ao


desenvolvimento regional
Outro aspecto muito importante levantado por Oenning52 esta na “necessidade
de minimizar o distanciamento entre o mercado e os centros geradores de conheci-
mento em Santa Catarina. Os centros geradores de conhecimento catarinense têm
potencial para figurar como fortes produtores de tecnologia inovadora, fator de com-
petitividade nos mercados corporativos e de desenvolvimento sócio-econômico.”
Ressalta-se, portanto, a necessidade de garantir acesso a serviços de apoio à
proteção de tecnologias a uma parcela considerável de usuários que ainda conta
com um serviço precário e insuficiente. Por isso surgiu à necessidade de criar
um Núcleo de Inovação Tecnológica - NIT, para apoiar a desenvolvimento de
soluções aos problemas relacionados à produção, melhorando a eficiência, a qua-
lidade dos produtos e processos, a fim de aperfeiçoar recursos, reduzir custos e
desperdícios, contribuindo para a competitividade da organização.
Nesse contexto a presença de um NIT – núcleo de inovação tecnológica
é medida imprescindível à regularidade da empresa, atendendo aos anseios da
Política Nacional de Inovação e de Desenvolvimento Tecnológico.

2.2 O Panorama do estado de Santa Catarina


O Estado de Santa Catarina tem como política pública estadual promover o de-
senvolvimento econômico regional sustentável. A indústria catarinense participa do
cenário nacional com uma grande diversidade produtiva. Esta diversidade, além de
impulsionar movimentos migratórios internos, impulsiona o desenvolvimento eco-
nômico diferenciado das regiões do Estado. Acompanhando os mercados interna-
cionais e, ciente das necessidades de aperfeiçoamento e atualização para fazer frente
à concorrência, a indústria catarinense tem se fortalecido como um setor competiti-
vo apoiado muitas vezes em profundas transformações estruturais, descentralização
administrativa e estratégias de expansão. Esta força produtiva garante o desenvolvi-
mento do estado apoiado nas suas especificidades locais.

51 HOESCHL, Hugo C. et. al. Núcleo catarinense de tecnologia da informação: uma es-
tratégia de aproximação entre universidades e mercado. Disponível em: www.cori.
unicamp.br/.../Nucleo%20Catarinense%20de%20Tecnologia%20da%...> Acesso em:
22 abr. 2009.
52 OENNING, Gláucia, et al. SERPI - sistema de registro de produção de propriedade
industrial. Disponível em: <http://www.buscalegis.ufsc.br/revistas/index.php/buscale-
gis/article/view/6290/5859> ou Anais CONEGOV 2004. Acesso em: 23 abr. 2009.

317
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

O Estado de Santa Catarina apresenta diversificação econômica e com pólos


regionais bem consolidados. O destaque fica por conta da Região do Alto Vale
do Rio Negro, que está compreendida pelos municípios de São Bento do Sul, Rio
Negrinho e Campo Alegre.
Muitos projetos, desenvolvidos por esta equipe de pesquisa vem sendo de-
senvolvidos para consolidar esse pólo econômico, fortalecendo o NIT, salva-
guardando, assim as inovações no arranjo produtivo local madeira móvel do
Alto Vale do Rio Negro, para ilustrar cita-se:
• projeto Núcleo Catarinense de Tecnologia da Informação- NECATI
aprovado e apoiado pelo CNPq/ 2003-2005;
• projeto NECATI aprovado pela FAPESC em 2003-2005, projeto
Programa de Gestão da Propriedade Intelectual – Apoio a Núcleos de
Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual - PROGEPI aprovado
pela FAPESC/ 2006-2007
• projeto Capacitação e atividades de apoio para construção de mode-
los de gestão da informação para o desenvolvimento tecnológico do
APL Madeira Móveis do Alto Vale do Rio Negro aprovado pelo CNPq/
2008-2009.

2.3 Caracterização do APL Madeira Móvel do Alto Vale


do Rio Negro
O APL Madeira Móveis do Alto Vale do Rio Negro congrega empresas
da região do Planalto Norte Catarinense com o objetivo de fortalecer as em-
presas de toda a cadeia produtiva garantindo o acesso às informações relevan-
tes para o setor, aproximando as indústrias das inovações desenvolvidas nas
Universidades, dos mercados interno e externo e das ações governamentais, que
apóiam os APLs no Brasil.
A característica forte da região do Alto Vale do Rio Negro está na capaci-
dade exportadora de móveis residenciais, em especial de madeira maciça. Seus
principais mercados de comercialização dos produtos são os Estados Unidos da
América, o Canadá, a Austrália e os países Europeus.
A indústria de móveis da Região do Alto Vale do Rio Negro responde por
aproximadamente 40% da exportação brasileira de móveis gerando uma neces-
sidade direta junto a essas empresas e sua cadeia produtiva, de terem nível de
competitividade internacional.
Desenvolver o arranjo produtivo local é fundamental para a sobrevi-
vência e melhoria da competitividade das empresas do ramo moveleiro e de
sua cadeia produtiva madeira móveis possibilitando através do aumento da
produtividade e da competitividade gerar emprego e renda para a comuni-
dade local.

318
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

3. NÚCLEO DE INOVAÇÃO TECNOLÓGICA


- O MODELO DE GESTÃO DE PI
O Núcleo de Inovação Tecnológica – NIT53 é uma unidade de uma Instituição
Científica e Tecnológica - ICT, que é constituído com a finalidade de orientar as
atividades de inovação de interesse interno ou da sociedade. Sua existência permi-
te a articulação entre os atores e a difusão dos mecanismos para promover a inova-
ção tecnológica no setor de madeira móvel, que tem papel fundamental na integra-
ção entre os fatores econômicos, sociais e ambientais na empresa, pois será a partir
das inovações que serão propostos novos modelos de desenvolvimento regional
sustentável com a utilização racional de recursos, bem como, as condicionantes,
que interferem no processo de difusão e implementação de uma nova tecnologia.
A implantação do NIT é uma imposição da Lei de Inovação (Lei Nº.
10973/2004), ratificado pela lei de inovação catarinense (Lei Nº. 14.328/2008), que
prevê em seu Art. 16, que toda Instituição Científica e Tecnológica - ICT deverá
dispor de um Núcleo de Inovação Tecnológica com a finalidade de gerir sua po-
lítica de inovação e sua política de propriedade intelectual. Além do NIT físico
instalado na Fundação de Ensino Tecnologia e Pesquisa-FETEP em uma sala no
centro de gestão empresarial com toda a infra-estrutura necessária, desenvolveu-
se o NIT virtual54, projeto piloto brasileiro que por utilizar-se de um ambiente
virtual permite integrar e ampliar sua atuação para outros NITs no país.
É fato também, que a utilização do meio virtual e de tecnologias acessíveis
ao cidadão, amplia consideravelmente o canal de comunicação e de transpa-
rência, pois o escritório virtual permite disponibilizar informações públicas as
mais diversas além da economia de tempo e rapidez de retorno à informação
solicitada pelo interessado.
Para consolidar o NIT no estado de SC, a UDESC, através da coordenadoria
de propriedade intelectual, vem executando um conjunto de ações voltadas a
geração de inovação e propriedade intelectual.
O Núcleo de Inovação Tecnológica, cujo programa de implantação teve inicio
em janeiro de 2008 com a aprovação e liberação dos recursos financeiros em dezem-
bro de 2007 do Edital 10/2006 do PROGEPI - Programa de Gestão da Propriedade
Intelectual da FAPESC - Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de Santa
Catarina – FAPESC como parte da política pública estadual para implementação
e estruturação dos núcleos de inovação tecnológica descritos conforme a Lei de
Inovação Federal nas Instituições de Ensino Superior do Estado de Santa Catarina -
I.E.S. no total de 05 NIT’s distribuídas por cada mesoregião do Estado, que deverão
prestar serviços à comunidade na área de inovação e propriedade intelectual.

53 Disponível em: http://nitvirtual-sbs.blogspot.com/2009/04/conceito-de-nit-nucleo-de-


inovacao.html> Acesso em: 22 abr. 2009.
54 <http://nitvirtual-sbs.blogspot.com/2009/04/conceito-de-nit-nucleo-de-inovacao.html>.

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Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

Figura 1. Sistema de registro de propriedade intelectual.

A UDESC, em parceria com a FETEP55 – Fundação de Ensino, Tecnologia


e Pesquisa de São Bento do Sul e o Instituto i3G, foram contemplados na meso-
região norte do estado de Santa Catarina-SC com o APL madeira móveis do Alto
Vale do Rio Negro – área de atuação do CEPLAN – Centro de ensino Planalto
norte da UDESC. Complementar ao Projeto FAPESC PROGEPI foi apresen-
tado o projeto de pesquisa institucional, que propõe o “Desenvolvimento de
um Modelo de Gestão para a implantação do NIT na UDESC com estudo de
caso no APL madeira Móveis do Alto Vale do Rio Negro”, que incluiu um
estágio na CIPI no período de agosto de 2006 a março de 2007 supervisiona-
do pelo Pró-Reitor de Planejamento da UDESC e Professor da ESAG - Prof.
M.Sc. Arlindo Carvalho Rocha. Como resultado estão sendo apresentados: (1)
modelo de gestão organizacional do NIT da CIPI da UDESC; (2) Ferramentas
tecnológicas para a gestão da informação em inovação e Propriedade intelec-
tual; e, (3) Modelo para a regulamentação Jurídica de Inovação e propriedade
intelectual da UDESC.
A Estrutura Organizacional da coordenadoria de propriedade intelec-
tual possui atualmente o Escritório de Direitos Autorais - EDA em fase de

55 LEI Nº 5.329, de 30 de junho de 1977, Art. 1º Fica declarada de utilidade pública a


Fundação de Ensino, Tecnologia e Pesquisa de São Bento do Sul – FETEP, com sede e
foro na cidade de São Bento do Sul

320
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

revitalização e o NIT, que abraçam as seguintes áreas: Setor de apoio a gestão de


PI e o Setor de apoio a Gestão do Conhecimento em Inovação e PI.
O foco de atuação está integrando as seguintes ações:
(1) Capacitação: elaboração de ementas de disciplinas para os cursos de
graduação e pós-graduaçào da UDESC, bem como elaboração e organização
de seminários e cursos de curta duração à distância e presencial para os pesqui-
sadores e gestores da UDESC e das instituições parceiras nas mesoregiões do
estado de Santa Catarina.

Figura 2. Página inicial do curso de Propriedade Intelectual a distância.

Disponível em: <.http://www.i3g.org.br/ead/>

(2) Regulamentação: definição e consensualização de procedimentos e


normas sobre propriedade intelectual, transferência de tecnologia e proteção dos
conhecimentos tradicionais conforme exigência da lei;
(3) Articulação: participação no Fórum Nacional de Direitos Autorais e
em redes de NIT’s como o FORTEC – Fórum Nacional de Gestores de Inovação
Tecnológica e de Transferência de Tecnologia para promover o intercâmbio de
experiências de gestão da inovação e da propriedade intelectual, bem como da
tansferência da tecnologia. Intercâmbio de experiências e desenvolvimento de
projetos em conjunto;

321
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

(4) Informação e Prospecção Tecnológica: Difundir os conceitos de


informação e prospecção tecnológica nas atividades complementares, de
extensão e de disciplinas de inovação e propriedade intelectual nos cursos
da UDESC; promover a identificação de material com potencial de; e dar
suporte técnico e administrativo, conforme exigência da lei, à Pró-Reitoria
de Pesquisa e de Pós-Graduação na análise para a aprovação de propostas
de projetos de pesquisa, que tenham como resultado inovação e propriedade
intelectual;
(5) Informação: criação e manutenção de página na internet para a difusão
de informações e troca de experiência entre instituições de CT&I sobre proprie-
dade intelectual e a proteção do conhecimento, além de assistência ao autor e ao
pesquisador inovador;

Figura 3. Site de divulgação do Núcleo de inovação tecnológica - NIT- UDESC.

Disponível em: <http://www.i3g.org.br/testenit/>

(6) Estímulo ao Empreendedorismo Sustentável: Apoiar mecanismos


novos ou já existentes como, por exemplo, o Programa FAPESC Sinapse da
Inovação, para incentivar à transformação do conhecimento gerado nas pes-
quisas e trabalhos de conclusão de curso em todos os níveis em substrato
para a geração de novos negócios e novos empreendimentos de base tecno-
lógica; e,

322
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

(7) Transferência de Tecnologia: prospecção de investidores para os novos


empreendimentos e de empresas interessadas em utilizar as tecnologias desen-
volvidas pela UDESC, como fonte de receita externa e para a difusão do conhe-
cimento em prol da geração de mais empregos e renda e de produtos e serviços,
que melhorem a qualidade de vida do homem nas regioes do Estado de Santa
Catarina.
São atribuições do NIT, segundo os termos da legislação de inovação fede-
ral e estadual e do Estatuto e Regimento Geral da UDESC:
• Zelar pela manutenção da política institucional de estímulo a proteção
das criações, à inovação, ao licenciamento e outras formas de transfe-
rências de tecnologia;
• Avaliar e classificar os resultados de atividades e projetos de pesquisa
para o atendimento das disposições da lei de incentivo à inovação e à
pesquisa científica e tecnológica no ambiente produtivo;
• Avaliar os pedidos de adoção de invenção apresentados por inventor
independente;
• Opinar pela conveniência e promover a proteção das criações desenvol-
vidas no âmbito da Universidade;
• Opinar quanto à conveniência de divulgação das criações desenvolvi-
das no âmbito da Universidade, passíveis de proteção intelectual;
• Acompanhar o processamento dos pedidos e a manutenção dos títulos
de propriedade intelectual da Universidade;
• Identificar e incentivar, no ambiente produtivo, oportunidades de reali-
zação de projetos de inovação, que poderão ser executados em conjunto
com a Universidade;
• Opinar quanto à celebração de contratos e convênios envolvendo a ino-
vação e a propriedade intelectual e a pesquisa científica e tecnológica,
que incluem cláusulas de propriedade intelectual e de segredo;
• Divulgar amplamente os resultados obtidos com os projetos de ino-
vação e desenvolvimento no âmbito da Universidade, resguardando o
dever de segredo previsto em contratos e convênios firmados.

3.1 O registro de propriedade intelectual - NUGESCO


O Núcleo para Gestão do Conhecimento - NUGESCO faz parte do NIT.
O encaminhamento da tecnologia ao mercado que tem como escopo fomentar
negócios relativos à Gestão do Conhecimento com maior foco em Tecnologias
da Informação.
O NUGESCO desenvolve planejamento estratégico, analisando os negó-
cios sob os enfoques comercial, econômico-financeiro, de recursos humanos
e de marketing e faz uma prévia análise da viabilidade econômica e da ma-
turidade da pesquisa, identificando as tecnologias inovadoras com projeção
econômica.

323
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

A consultoria prestada pelo Núcleo compreende: avaliação, definição e sele-


ção de soluções de TI; avaliação da estrutura tecnológica; gerenciamento de riscos
tecnológicos; planejamento Estratégico da Tecnologia da Informação, englobando
diagnóstico do estado atual, análise das alternativas de solução, com aplicativos de
mercado, desenvolvimento próprio e terceirização, definição de ambientes de gestão,
sistemas e tecnologia, adequação de processos, determinação do plano estratégico
e cronograma de implementação; business Intelligence: realinhamento de processos
para adequá-los à estratégia de negócios, promovendo o aumento da produtividade e
a redução dos custos; transferência de Tecnologia (produtos e serviços) que possam
ser viabilizados pelo núcleo e destinadas a comercialização da tecnologia.
Esta metodologia do NUGESCO se fundamentará em etapas que compre-
endem: formação de grupo de especialista, cadastramento, análise de mercado,
metodologia para desenvolvimento tecnológico, a fim de validar métodos para
avaliação e validação de softwares em T I.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O primeiro Núcleo de Inovação Tecnológica da UDESC foi criado para ser
um elo profissional nas interações universidade – empresa - governo, observan-
do a tríplice hélice do Manual de Oslo.
Na UDESC, a coordenadoria de Propriedade Industrial Intelectual, desde
2006, tem por objetivo estabelecer uma rede de relacionamentos com a socieda-
de para incrementar as atividades de pesquisa, ensino e avanço de conhecimen-
to. (UDESC. Relatório de gestão. 2008). A UDESC vem cumprindo plenamente
sua missão institucional e apoiando, de forma decisiva, o aprimoramento dos
setores produtivos: público e privado, e colaborando conseqüentemente, para o
desenvolvimento do APL Madeira-Móvel do Alto Vale do Rio Negro fortalecen-
do o estado de Santa Catarina no cenário nacional.
O NIT Virtual veio consolidar a interação das ICTs com as empresas do
Arranjo Produtivo Local madeira móvel do Alto Vale do Rio Negro, através da
gestão da informação estruturada pelo NIT da UDESC.
Essa ferramenta virtual associada ao presencial integra ainda mais o conglo-
merado das indústrias do APL Madeira móveis, possibilitando principalmente a me-
lhoria da produtividade e a recuperação da competitividade das empresas do ramo
madeira móveis da região do Alto Vale do Rio Negro no mercado global de móveis.

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327
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

328
EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA:
UMA PERSPECTIVA DE
INCLUSÃO SÓCIO-DIGITAL

Carla Silvanira Bohn


Aluna do PPGEGC – UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina
carlasbohn@hotmail.com

RESUMO

A criação de um ambiente sócio - educativo tecnologicamente adequado que atenda as


necessidades e as transformações sociais vivenciadas no dia a dia, pressupõe desenvolver
um programa que integre toda a comunidade, garanta acessibilidade, sustentabilidade e
continuidade do mesmo. Não obstante as dificuldades no âmbito financeiro, regulatório
ou tecnológico, a montagem de redes municipais de acesso a novas mídias e formas
de comunicação multiplica-se por todo país, na maioria dos casos, apontam melhoria
nos indicadores sociais, educacionais e econômicos. Pautado em exemplos tanto
embrionários como já vigentes de Cidades chamadas Digitais, apresenta-se a implantação
e implementação das Novas TICs como ferramenta de inclusão sócio – educativa, tendo
como foco principal e seu catalisador, a comunicação e desenvolvimento cognitivo,
através de seus corpos docentes, discentes e suas famílias. Nessa ótica, intencionado um
protótipo e modelagem tecnológico-pedagógico, busca-se com um programa de Inclusão
Digital, uma interpretação da realidade tecnológica com perspectiva de alavancagem e
estímulo, tornando assim possível visualizar o ensino em sua excelência, socializando,
externalizando, combinando e internalizando saberes através da gestão do conhecimento
- cognição e mídias, mediando com eficiência à construção do conhecimento.

PALAVRAS-CHAVE

Ambiente Sócio-Educativo – Sustentabilidade – Inclusão Digital – Construção do


conhecimento.

ABSTRACT

The creation of a social educational environment technologically adjusted to the needs


and social transformations observed daily, means to develop a program integrating
the whole community granting accessibility, support and continuity of itself. Despite
the financial, technological or regulatory difficulties the assembly of municipal nets of
access to the new medias and forms of communication are multiplied for all country,
in the majority of the cases, showing improvement in the social, educational and

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economic factors. Based in effective embryonic examples as already seen on so called


digital cities, presents it implantation and implementation of the New ITCs as tool of
social educative inclusion, having as main focus and its catalyzer, the communication and
cognitive development, through its faculties, students and its families. Thru this point
of view, intentioned an archetype and technological-pedagogical modeling, we search
within a program of Digital Inclusion, an interpretation of the technological reality with
leverage perspective and stimulation, thus becoming possible to visualize education in its
excellency, socializing, externalizing combining internalizing and to know through the
management of the knowledge - cognition and medias, mediating with efficiency to the
construction of the knowledge.

KEY WORDS

Social-Educative environment - Sustainability - Digital Inclusion – Building knowledge.

1. INTRODUÇÃO
A dinâmica do fluxo de informações nos dias atuais, através da acessibili-
dade por novas mídias, fenômeno da sociedade contemporânea, entendido por
“globalização”, remete a uma constante busca pelo aprimoramento dos conhe-
cimentos nas mais diversificadas áreas de concentração do conhecimento. A
velocidade em que os meios de comunicação avançam, transformam o cotidia-
no dos indivíduos e promovem mudanças de comportamento e padrões sociais
pré-estabelecidos.
Com a evolução das contradições modernas entre o desenvolvimento tec-
nológico e as relações humanas, a educação em seus diferentes níveis, tem um
papel de fundamental importância, compreender, e, visando diminuir as adver-
sidades, incluir tanto alunos e suas famílias, quanto professores a esta nova era,
de maneira que oportunize e promova uma aliança propositiva e positiva entre
as novas tecnologias e a prática pedagógica docente.
Percebe-se claramente a necessidade de não se ignorar a presença positiva
do novo “homem virtual” e conseqüentemente a tecnologia trazida por ele, in-
clusive para a educação. Mas paralela a esta posição, a dificuldade de aceite nas
escolas para o uso de novas tecnologias ainda é, sobremaneira, proporcionada
pela impotência diante das máquinas. Professores e alunos enfrentam diaria-
mente dificuldades, por um lado, suas restrições financeiras, que acabam impe-
dindo o uso direto dos equipamentos aos quais somente a escola é sua porta de
acesso, por outro se deparam com sério agravante, inevitavelmente encontram
àqueles que dominam fácil e habilmente as ferramentas e este conflito torna
ainda mais complexa a integração de alunos e professores ao processo, pois se
sentem à deriva, incapazes frente ao computador, seja por desestímulo de ordem
pessoal ou falta de capacitação e atualização profissional.
Esta realidade está presente nos bancos escolares.

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Neste contexto, a implantação de um programa de Inclusão Sócio Educativo


Digital Municipal converge às necessidades atuais, e, se bem estruturado e organi-
zado torna-se um forte aliado no processo de construção do conhecimento. Partindo
do pressuposto que a educação pertence ao âmbito imaterial, das idéias, conceitos,
símbolos, atitudes, hábitos e habilidades é mais do que significativo e coerente adi-
cionar às suas práticas cotidianas um ambiente moderno e virtualmente educativo.
A influência das novas tecnologias na educação no tocante ao desenvolvi-
mento do aluno como ser social é indiscutível, mediante a isso se faz necessário
à educação considerar a relevância, a significância, a representatividade, a va-
riabilidade e a confiabilidade desse processo no que tange o comportamento e
atinge diretamente seus discentes.
Nesta prática, visando uma mediação significativa, é possível direcionar a
reflexão sobre o uso dos equipamentos e delimitar, como e quando serão utiliza-
dos, ponderando o tempo em que o aluno disponibilizará para cada efetiva ativi-
dade, seja nas relações familiares, sociais, pessoais e não obstantes, seu tempo
ocioso, ao qual exige maior cautela, visto que, no espaço virtual não existem
fronteiras, ou amarras que coíbam o acesso.
Aliando-se a tecnologia, a educação estará proporcionando ao docente e ao
educando uma interpretação do mundo mais abrangente, permitindo que tanto
um quanto o outro transformem o conhecimento adquirido em competência,
apropriando-se daquilo que realmente é adequado, construindo uma visão mais
crítica e seletiva, aperfeiçoando a prática pedagógica e conquistando com êxito
o processo de ensino aprendizagem.
Considerando essa “nova” gênese da educação, e tentando encontrar cami-
nhos que norteiem esta aliança, educação e tecnologia, sob o ponto de vista da
cognição, inclusão e construção do conhecimento, este artigo discorre fazendo
referência a autores como, GARDNER (1995) que aponta as ciências cognitivas
como uma nova forma de compreender e explicar a cognição, como um em-
preendimento contemporâneo que busca base empírica para responder a impor-
tantes questões epistemológicas sobre a natureza, origem, desenvolvimento e
emprego do conhecimento pelo homem.

2. EDUCAÇÃO NO CONTEXTO SÓCIO-DIGITAL


Partindo do princípio de que, segundo MARIOTTI, “a vida é um processo
de conhecimento” (apud MATURANA, 2007, p. 07) e também se espelhando
em HANDY (apud NONAKA & TAKEUCHI, 2008, p.17) “quanto mais turbu-
lentos os tempos, quanto mais complexo o mundo, mais paradoxos existem”, é de
fundamental importância que a educação interceda interpretando e traduzindo
as relações sociais, enfrente os paradoxos e assuma efetivamente seu papel na
construção e estímulo ao desenvolvimento cognitivo do indivíduo.

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Assumir uma postura ética e justa em um âmbito coletivo não é tarefa fácil,
discutindo e refletindo neste aspecto ELIAS (1994, p. 17) afirma:
“Na vida social de hoje, somos incessantemente confrontados pela
questão de se e como é possível criar uma ordem social que permita uma
melhor harmonização entre as necessidades e inclinações pessoais dos
indivíduos...”.
Como resistir ao sedutor mundo da informação que envolve a sociedade
num estímulo constante pelo consumo, criando necessidades artificiais, detur-
pando mentes em busca incessante pelos apelos da mídia do “belo” da “perfei-
ção”, situação esta perigosa, mas real e extremamente tentadora no mundo vir-
tual. O cenário globalizado é um fenômeno da sociedade contemporânea e que
atinge diretamente o dia-a-dia dos indivíduos, modificando relações e abrangen-
do praticamente todas as áreas: a economia, as finanças, a ciência, a tecnologia,
as comunicações, a política e é claro, afetando diretamente a educação.
Citando a educação, já mencionado anteriormente seu papel, é relevante
acrescentar, que segundo AGUILAR (2003, p.10) “conhecimento é nada, ou
quase nada se não soubermos usá-lo adequadamente, apropriadamente e cor-
retamente nas mais variadas situações da vida pessoal e profissional”, portanto,
encontrar meios que promovam a qualificação do ensino é o desafio constante
dos educadores, que comprometidos a sua função, buscam atualmente nas TIC
uma maneira de aperfeiçoar o processo e garantir competência no exercício de
suas funções.
Neste aspecto, SANCHO aborda que, “as escolas devem integrar os novos
meios para todos os alunos em todos os aspectos do currículo (...) é preciso
revisar as visões sobre o currículo, assim como nossas convicções sobre como
propiciar os melhores processos de ensino e aprendizagem”. (SANCHO, 2006,
P. 28)
Introduzir as TIC num ambiente educacional favorável às necessidades
emergentes, e não como uma disciplina isolada, é um dos grandes desafios da
educação, a inserção de um programa de Inclusão Digital no coletivo requer um
minucioso trabalho investigativo e incentivador, porque não é possível prever
as reações e/ou aceitações no cotidiano social, visto que, as intenções podem
não estar voltadas aos interesses de toda uma comunidade, ao qual muitas vezes
desconhece os benefícios dos recursos tecnológicos.
Segundo DANTAS, “Os diferentes modelos de cidade digital – inteiramen-
te público, inteiramente privado ou mediante parcerias público-privadas (PPP)
– têm se multiplicado pelo país, com resultados surpreendentes em alguns ca-
sos.” (2008, p.11). E ancorando aos mais diversos exemplos já existentes, afigu-
ram-se muitas dificuldades, entre elas: são inteiramente inclusivos?; atendem
as necessidades específicas de toda população?; transforma em sua totalidade
informação em conhecimento?; maximizam o processo ensino-aprendizagem?;
garantem a sustentabilidade e continuidade?

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Mediante a todos esses questionamentos, as adversidades convergem para


uma reflexão mais apurada e delicada, situação esta que LEVY (2001, p. 48)
compreende como
“nova forma de apreensão dos conflitos”, onde a cada segundo geram-se
disparidades, e ademais, geradas pelo próprio homem e que tendem a
tornarem-se cada vez mais profundas, pois suas necessidades aumentam
dia após dia e acrescenta ainda, “os homens têm um extraordinário
apetite para a interconexão (...) indícios apontam para um futuro cada
vez mais marcado pelo mercado capitalista, ciência e a técnica” (LEVY,
2001, p. 57).
Portanto, pensar em “como” aliar este novo espaço definido pelo autor como
“ciberespaço” é provocante, e para a educação um desafio.
Na medida em que a intervenção se processa e rompe o tradicional, o indi-
víduo adere e incorpora ao seu cotidiano as mudanças, estabelecendo conexão
em seus aspectos culturais e tornando-as corriqueiras a sua vivência diária. Este
é o momento oportuno para que a escola intervenha no intuito de “propiciar
sistematicamente a interpretação das mensagens veiculadas nos meios de comu-
nicação eletrônicos e a familiarização com a estética, a linguagem e o funciona-
mento das tecnologias em geral”. (SAMPAIO, 1999, p. 62)
Neste sentido a intervenção da escola num plano tecnológico-pedagógico,
pode promover uma releitura das relações interpessoais e uma interpretação
mais coerente quanto às informações e valores transmitidos via tecnologia.
LEVY (2001, p.152) interpreta a intervenção da tecnologia à cultura social
como “cibercultura” e acrescenta que, o ciberespaço será o principal ponto de
apoio de um processo ininterrupto de aprendizagem e de ensino da sociedade
por si mesma (...) todas as instituições humanas irão se entregar e convergir para
uma inteligência coletiva sempre capaz de produzir e explorar novas formas.
(LEVY, 2001, p.152).
Nessa convergência, a utilização de ambientes informáticos de aprendiza-
gem tem que estar atrelados a uma filosofia de educação que ajude a superar o
processo de exclusão escolar intramuros que atualmente acontecem em nosso
país. E garantindo que propostas pedagógicas sejam realizadas, evidentemente,
os computadores e seus aplicativos por si só não trarão mudanças efetivas, se não
vierem acompanhados de propostas metodológicas que valorizam a construção
do conhecimento e de sua importância na realidade social do aluno.
Numa perspectiva de aprendizagem flexível e aberta às Novas TIC, a im-
plantação de um ambiente tecnologicamente favorável às necessidades pedagó-
gicas existentes, responde as expectativas de fazer uso da tecnologia no intuito
de promover o desenvolvimento econômico e social.
Intenções como esta, já vem sendo aplicada e multiplicada por todo país,
em projetos como “Cidade Digital”, que visam à inclusão sócio-digital, e que

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mesmo enfrentando uma série de obstáculos, dificuldades no âmbito financeiro,


regulatório ou tecnológico, a montagem de redes municipais de acesso à inter-
net aponta melhoria nos indicadores sociais, educacionais e econômicos. Perfil
este desejado por municípios de pequeno porte, de baixa arrecadação, pois, for-
talecendo indicadores, conseqüentemente remete-se a análise positiva da im-
plantação de programas tecnológicos e acabam, por conseguinte, atraindo mais
recursos para o município.
Neste aspecto, DIAS (2007, p. 12) aponta que dispor de uma infra-estrutura
de comunicação faz tremenda diferença para a economia dos municípios e cita
o projeto Piraí Digital como um excelente modelo a ser repicado pelo país, reco-
nhecido internacionalmente como o mais bem sucedido projeto de inclusão di-
gital e premiado recentemente, tanto pela estrutura, quanto pelo projeto pedagó-
gico. Bem articulado e bem sucedido em suas parcerias o projeto ainda enfrenta
um entrave: a questão da sustentabilidade, tendo em vista que num município de
pequeno porte acaba inevitavelmente gerando despesas onerosas e “desatar o nó
da sustentabilidade requer uma fórmula legal que permita às prefeituras cobrar
de quem pode pagar, ou seja, o cliente residencial”. (DIAS, 2007, p.11)
A solução para problemas como este não se apresenta em uma “fórmula”,
e se a intenção é promover integração, acessibilidade e conexão a toda socie-
dade, é preciso ponderar as dificuldades e pensar estratégias que assegurem a
conectividade, pois não somente no âmbito econômico, existe ainda o problema
topográfico, ao qual assola grande parte do território brasileiro. Os acidentes ge-
ográficos encontrados na maioria das cidades localizadas nas proximidades das
serras brasileiras comprometem a qualidade do sinal da rede e dificultam a fre-
qüência, é o caso de Mangaratiba (RJ), DANTAS aponta o programa do municí-
pio, implantado em 2005, como um desafio, por suas características geográficas:
“localizado entre a Serra das Araras e Baía de Sepetiba, o município
abriga muitos morros, um litoral recortado e diversas ilhas. (...) hoje, a
infra-estrutura sem fio da cidade é formada por cinco torres e seis antenas
WiMAX, 35 antenas Wi-Fi, oito rádios WiMAX, 50 rádios Wi-Fi, dois
roteadores e 260 computadores.” (DANTAS, 2008, p. 13)
Analisando este exemplo, que mesmo com obstáculos naturais atende esco-
las, tele centros comunitários, postos de saúde, centros de informação turística
órgãos da administração municipal e subprefeituras, e vitoriosa no ponto de vis-
ta inclusivo, outros projetos também estão em expansão e despontam à possibili-
dade de promover a tão desejada mudança significativa. Mangaratiba Digital não
se consolidou definitivamente em termos de cobertura total ao município, mas
garante que não há risco de descontinuidade, “pois a tecnologia já se incorporou
à rotina do cidadão, que utiliza nos tele centros, nas escolas, nos postos de saúde
e em suas residências”. (Lemelle apud DANTAS, 2008 p.13)
Planejar a Inclusão Digital, neste sentido, terá sua ancora efetivada na edu-
cação, porque a partir do momento em que se pensar em mudança, incorporar

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a tecnologia na rotina do cidadão, conseqüentemente afetará a mudança de pa-


drões e comportamentos dos cidadãos, o que perpassa a reflexão: inclusão digi-
tal começa com a palavra cidadania.
Independente de classe social, localização geográfica, dificuldades de acesso, é
providencial incluir o maior número de pessoas possível na sociedade da informação.
Na holística da sociedade de consumo LEVY descreve que,
“as classes sociais não existem senão no reino da concupiscência. A idéia
de classe social é um impasse tanto quanto a idéia de nação. Não há senão
seres em formação. A identificação de classe (...) é um retraimento da
consciência, um fechamento na sufocante prisão da consciência dividida.”
(LEVY, 2001, p.159)
Portanto, objetivando promover a interpretação da realidade tecnológica
numa perspectiva de transformação e construção do conhecimento, faz-se ne-
cessário esclarecer que sociedade pretende-se construir, que caminho orientar,
se diariamente confronta-se ao estímulo do gozo material. Alimentado pela mí-
dia, o cidadão busca incessantemente a inovação de padrões, em contrapartida
diariamente produz-se uma massa de excluídos, um público que não consegue
acompanhar o processo e inerente as suas condições financeiras, isola-se e por
interiorizar sua impotência passa a dividir-se em classes.
Numa perspectiva educacional, de transformação e construção, o “aprender
a apreender” pode ser mediado, do ponto de vista do docente e pautado em ações
mais dinâmicas e interativas, com o “aprender a empreender”, direcionando e
estimulando sua atividade em uma prática focada em resultado e não tentativas
de sucesso mal sucedidas.
Criar um ambiente estimulante, atrativo e dinâmico requer uma análise
mais apurada, que imerso em uma visão organizacional converge para a prática
empreendedora, na capacidade de criação e inovação, ao qual na abordagem
neo-shumpeteriana (apud VALE, 2008) define como “agente de inovação”, que
por excelência, é o agente detentor dos mecanismos de mudança.
Na concepção de Schumpeter (apud VALE, 2008) o empreendedor é o res-
ponsável pelo processo de destruição criativa, é aquele que destrói a ordem eco-
nômica existente pela introdução de novos produtos e serviços, pela criação de
novas formas de organização ou pela exploração de novos recursos e materiais.
O que demonstra, a viabilidade de aplicar a gestão empreendedora como agente
ativo e criativo no processo de ensino-aprendizagem.
Neste contexto, a ação empreendedora permite por sua capacidade de
inovação e criatividade, a resolução de problemas, sejam de ordem econômi-
ca, social ou educacional. E como agente inovador pode promover no âmbito
educacional o impulso e estímulo para que espontaneamente ocorra um insight,
que o processo de construção do conhecimento efetivamente aconteça e seja a o
despertar pelo interesse e sagacidade da busca pelo saber.

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Fazendo um adendo ao processo de criação, Amábile (apud ANGELONI, 2008),


considera criatividade como produção de idéias novas e apropriadas por um indiví-
duo ou grupo pequeno que trabalhe em conjunto, portanto, promover a simbiose
entre criatividade, empreendedorismo, tecnologias e processo ensino-aprendizagem
é salutar, visto a necessidade de encontrar agentes que facilitem a mediação. Além
do estímulo e da busca por agentes facilitadores, a autora preconiza que a tecnologia
possibilita novos comportamentos ligados ao conhecimento. Salienta ainda que,
“a tecnologia desempenha papel essencial na Era do Conhecimento,
consistindo na adoção de ferramentas e métodos que objetivam facilitar a
captação, a estruturação e a disseminação do conhecimento anteriormen‑
te desestruturados e disperso na organização ou restrito a poucas pessoas
por meio de manuais e normas complexos, tendo em vista a sua utilização
de forma estratégica e racional por todos os colaboradores.” (ANGELONI
org., 2008 p. 247)
Se o advento da era digital impulsionou e permitiu maior velocidade
e agilidade na comunicação e tendo em vista que é essencial para a Era do
Conhecimento, o campo educacional deve prover de mecanismos que associem
a dinâmica de seu entorno com suas práticas diárias, para que no cerne da apren-
dizagem seu público alvo, que vem sedento pelo conhecimento, não se depare
com uma realidade completamente aquém de capacidade cognitiva.
Entre os desafios diários e a necessidade de mudança, é de fundamental
importância pensar em ações conjuntas, sincronizar a prática docente como po-
tencializador do processo criativo e cognitivo, mediar sua prática numa ótica de
ação – inovação, como empreendedor na gestão do conhecimento, aliar-se as
TIC´s numa perspectiva de alavancagem e estímulo, tornando assim possível vi-
sualizar o ensino em sua excelência, socializando, externalizando, combinando
e internalizando saberes.

2.1 Relação da gestão do conhecimento – cognição e


mídias no processo ensino-aprendizagem
Entender a gestão do conhecimento, a cognição e as mídias no processo de
ensino-aprendizagem remetem-nos a pensar em como uma organização será o
agente facilitador e/ou potencializador do processo, pois, segundo Aguiar (2006),
“as organizações, enquanto meio social no qual os indivíduos estão inseridos, exer-
cem uma função estimuladora ou bloqueadora do desenvolvimento cognitivo”.
Nesse sentido o processo de aprendizagem nas organizações está intima-
mente ligado à cognição, sendo essa individual, mas que gera nas organizações
um processo de aprendizagem coletiva.
Segundo Fleury & Fleury (2007), “a aprendizagem é um processo neural,
que leva a construção de memória, aquilo que se aprender depois de esquecer é
como se nunca tivesse aprendido” (p. 39).

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Porém antes de falarmos sobre o processo de aprendizagem e a cognição


existe uma fase anterior que envolve a informação. Bastos (2007) diz que:
“O processamento de informação envolve uma seqüência serial de opera‑
ções simbólicas que incluem capturar, codificar, comparar, transformá-las
e armazená-las atualizadas. Tais ciclos captura-opera-armazena ocorrem
em uma escala temporal compatível com as demandas ambientais (tempo
real), dentro de um postulado de linearidade e aditividade”. (p. 87)
Assim o processo de informação também está diretamente ligado à apren-
dizagem, pois ambos possuem uma relação direta com a cognição. São inúmeras
as formas de aprender e cada pessoa é única nesse processo, pode-se aprender
lendo, ouvindo, errando, na prática, vivenciando e observando entre outras.
“... a conjugação de situações de aprendizagem que podem propiciar a
transformação do conhecimento em competência, essa transformação,
só acontece em um contexto profissional específico, pois a realização da
competência deverá não apenas agregar valor ao indivíduo, mas também
a organização.” (Fleury & Fleury, 2007 p. 41).
No cerne deste processo, as mídias, independente da sua forma de expres-
são, ou veículo de condução da informação, geram nos indivíduos, desejos,
curiosidades, anseios, e afloram necessidades latentes, seja por cor, odor, forma,
calor, tempo, visualização, que reportam na ancoragem emocional a memória
seletiva.
Assim, tanto pelo senso comum, como pelo formador de opinião podem
direcionar o consumo de produtos e serviços. As formas de expressar das mídias
são focadas para cada tipo de público e se classificam, por renda, idade, sexo,
costumes, culturas, comportamentos e outros subgrupos de classificação.
Especificamente na condição de ensino–aprendizagem, independentemente
do ambiente interno ou externo (dentro ou fora da escola) as mídias disponibi-
lizadas hoje são as mesmas de qualquer ambiente social. Isso permite ao aluno
um senso crítico maior, no entanto, ao mesmo tempo em que o torna mais crítico
o torna mais vulnerável, pois o volume de informação e a diversidade ofertada
a ele sem uma orientação docente qualificada e atualizada, o coloca a mercê do
mercado, seja ele qual for. A escola, como facilitadora na formação do caráter do
aluno, gestora, e mediadora do conhecimento tem a responsabilidade solidária
de orientar o melhor caminho, e assim agir, inferir, intervir, prever, se antecipar
e se adequar nesse processo..
Neste sentido, fazendo um adendo ao ambiente virtual, observa-se a dina-
micidade e velocidade da comunicação como um agente não apenas modifica-
dor, mas também capaz de pluralizar e acelerar as competências do educando no
que diz respeito à atratividade e interatividade do meio educacional.
Percebendo a inquietude do corpo discente, o termo “ciberespaço” defen-
dido por LEVY é definido por LEMOS (apud FREIRE, 2008) como “hipertexto

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mundial interativo auto - organizante” e por sua multiplicidade de ações, “é o


ambiente de circulação de discussões pluralistas, reforçando competências dife-
renciadas e aproveitando o caldo de conhecimento que é gerado dos laços comu-
nitários, podendo potencializar a troca de competências, gerando a coletivização
dos saberes”. (FREIRE, 2008 p.81)
O autor acrescenta ainda que “a escola contemporânea precisa ser proble-
matizadora, desafiadora, agregadora de indivíduos pensantes que constroem
conhecimento colaborativamente e de maneira crítica”. (FREIRE, 2008 p.73)
No que tange o processo de aquisição de conhecimento é clara a relação
entre a gestão do conhecimento, as ciências cognitivas e as mídias no processo
ensino-aprendizagem.
Nas instituições educacionais a relação dos mesmos também fica evidente,
como já foi mencionado o processo de aprendizagem acontece tanto pelo indiví-
duo, quanto pelas relações que o mesmo estabelece com as relações sociais, e as
escolas devem ser ambientes facilitadores desse processo de aprendizagem. Isso
por que segundo Aguiar (2006) sem esse estímulo, muitos indivíduos jamais
atingirão realmente sua capacidade mental.
Aguiar (2006) diz ainda que:
“As organizações podem, portanto, controlar o desenvolvimento cognitivo
de seus membros, à medida que selecionam as ações do indivíduo e as
orientam em dada direção desejada por ela. Para que o indivíduo, em da‑
do contexto social, possa desenvolver seu processo de perceber e pensar,
é necessário que os instrumentos para esse desenvolvimento lhe sejam
possibilitados”. (AGUIAR, 2006 p. 259)
Perante a necessidade de ordenação e estruturação de uma organização
sócio-digital, a utilização de ferramentas contempla e dinamiza o processo, pro-
movendo mais facilmente a transformação e estímulo às habilidades mentais dos
grupos de indivíduos.
Nesta ótica, podemos perceber que, numa perspectiva cognitivista, a utilização
e implementação de um ambiente virtualmente educativo atende a necessidade de
compreensão e interiorização do conhecimento. O uso das redes eletrônicas, como
uma nova forma de interação no processo educativo, amplia a ação de comunicação
entre aluno e professor e o intercâmbio educacional e cultural e, desenvolvendo suas
habilidades de maneira dinâmica e estimulante, fazendo da prática pedagógica um
ambiente atrativo onde o aluno é capaz, através da auto-aprendizagem e de seus pro-
fessores, tirar proveito na sua preparação para a vida e para o trabalho.
Neste contexto, fazendo referencia a interpretação de NONAKA E
TAKEUCHI (2008, p.39),
“em uma economia onde a única certeza é a incerteza, a fonte de van‑
tagem competitiva duradoura é o conhecimento. Quando os mercados

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transformam-se, as tecnologias proliferam, os competidores multiplicam-


se e os produtos tornam-se quase obsoletos quase toda noite, as empresas
bem sucedidas são as que criam consideravelmente novos conhecimentos,
disseminam-no amplamente pela organização e o incorporam rapidamen‑
te em novas tecnologias e produtos. Essas atividades definem a empresa
como “criadora do conhecimento”, cujo negócio principal é a inovação
constante.” NONAKA E TAKEUCHI (2008, p.39)
No tocante da reflexão, cabe a nós projetarmos a eficiência da utilização da
TI como ferramenta potencializadora do processo de ensino-aprendizagem, crer
em uma nova dimensão qualitativa para o ensino, através da qual se coloca o ato
educativo voltado para uma visão mais internacionalizada e colaborativa, onde a
mediação possa além de permitir, disseminar a partilha do conhecimento.

3. CONCLUSÃO
Percebendo a partir dos pilares já conhecidos – aprender a conhecer, a fazer,
a conviver, e a ser – que um novo conceito desponta e vem quebrando estruturas
e rompendo paradigmas educacionais pré-estabelecidos, o “aprender a empreen-
der”, remete a uma nova discussão no ambiente educacional, onde o professor
deve contribuir como gestor do conhecimento, mediando o processo sendo o
facilitador cognitivo.
A proposta apresentada neste trabalho foi, de fazer uma revisão da literatu-
ra, procurando descrever os aspectos a respeito das TIC, a relação entre a gestão
do conhecimento, as mídias, e ensino-aprendizagem no processo cognitivo, e
a atuação das mesmas frente às modificações e exigências ao novo processo
educativo.
A partir dessa revisão fica clara a relação entre esses temas no que tange a
necessidade de buscar instrumentos facilitadores que promovam uma mediação
significativa. As instituições educacionais são responsáveis pelo estímulo aos
indivíduos, pois só a partir deste, é que, o processo de criatividade remete ao
desenvolvimento da cognição. Mesmo sabendo que se pode aprender individu-
almente, a aprendizagem é maior nos contextos sociais, pensados e defendidos
aqui no âmbito da inclusão digital.
Assim sendo, elucidamos que o tema não se esgota aqui, que a pesquisa
bibliográfica nos remete a identificação do quanto é vasto o campo do estudo
da aceleração do processo de ensino-aprendizagem numa perspectiva cognitiva
tecnológica, objetivando impulsionar e potencializar o desenvolvimento do pro-
cesso de interiorização e posterior partilha do conhecimento.
Neste contexto percebendo a relevância da discussão sobre o tema apre-
sentado, o artigo visa provocar uma reflexão de forma a nortear o estudo, per-
cebendo a atual conjuntura, ampliando a ótica educacional, onde, os segmentos

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participantes, absorvam as oportunidades que lhe são ofertadas, permitindo as-


sim, os encaminhamentos e direcionamentos de alavancagem do processo de
ensino e aprendizagem.

AGRADECIMENTO
Agradeço sinceramente ao PPGEGC, pela luz irradiada, ao qual tem me
oportunizado viajar no mundo do conhecimento.
Aos meus dois amores, meu companheiro Walter e meu filho Arthur, pela
paciência, amor e carinho.

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341
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

342
COMMONKADS PARA CONSTRUÇÃO
DE SISTEMA DE CONHECIMENTO:
UMA SOLUÇÃO PARA SEGURANÇA
PÚBLICA DE SANTA CATARINA

Edson Rosa Gomes da Silva


Secretaria de Segurança Pública de Santra Catarina
Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento – EGC/UFSC
edsoneconomia@gmail.com

Sonali Paula Molin Bedin


Instituto de Governo Eletrônico Inteligências e Sistemas-i3G
Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento – EGC/UFSC
Sonali.bedin@i3g.org.br

Thiago Paulo Silva de Oliveira


Instituto de Governo Eletrônico Inteligências e Sistemas-i3G
thiago.paulo@i3g.org.br

Aires José Rover


Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento – EGC/UFSC
aires.rover@gmail.com

Roberto Carlos dos Santos Pacheco


Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento – EGC/UFSC
pacheco@egc.ufsc.br

RESUMO
O problema de criminalidade se faz presente na maior parte do globo e afeta todas as
classes sociais. A maneira de atuar no controle, na prevenção e no combate para coibir
seus malefícios é que vai ditar as regras para cercear suas ações e seu crescimento. Para
que ocorra esse cerceamento os governos devem seguir as mais modernas formas para
seu enfrentamento. A sociedade do conhecimento propicia através da engenharia e gestão
do conhecimento as técnicas e métodos necessários. Entretanto é de vital importância
seguir uma metodologia para realizar a explicitação do conhecimento humano através
de sistemas de conhecimento. A metodologia CommoKads é utilizada, neste artigo, pois
está na vanguarda das metodologias, focando primordialmente nos sistemas intensivos de
conhecimento. Neste artigo, ela é utilizada para auxiliar o desenvolvimento de um sistema
de conhecimento para a Segurança Pública do Estado de Santa Catarina.

PALAVRAS-CHAVE
Segurança Pública. Interoperabilidade. Modelagem de Conhecimento. CommonKads.
Governo Eletrônico.

343
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

1. INTRODUÇÃO
A criminalidade não é um problema exclusivo dos países em desenvolvi-
mento, como pode parecer à primeira vista, mas sim um fenômeno global que
toma, cada vez mais, grandes proporções. A capacidade de organização e es-
truturação das facções criminosas aliadas ao seu grande poder econômico tem
favorecido sobremaneira a prática de crimes tidos como tradicionais e também o
surgimento de novas formas de ação.
Como forma de aplacar as ações dos criminosos, o poder público se volta,
aos poucos, à utilização de tecnologias pautadas em um novo paradigma da so-
ciedade do conhecimento, que busca utilizar de forma eficiente a tecnologia a
serviço do cidadão.
Esta nova sociedade, exposta a todo tipo de desenvolvimento, se moderni-
zou e globalizou em todos os aspectos, exigindo que uma eficiente defesa social
seja apoiada em estratégias eficazes, que garantam a segurança pública. Estas
estratégias, por sua vez, devem utilizar todos os recursos tecnológicos disponí-
veis, além de priorizar análises técnicas e cruzamento de dados e informações
para produzir conhecimento.
A adoção de sistemas inteligentes se configura em aplicação de premissas
de governo eletrônico, onde as tecnologias da informação (TI) são postas a ser-
viço do cidadão, neste caso, para contribuir para a sua segurança pública.
Para fazer frente a esta nova realidade, a Secretaria de Segurança Pública
(SSP) de Santa Catarina tem se empenhado em modernizar suas instituições,
garantindo aos órgãos atuantes tecnologias inteligentes para uso e aplicação em
todas as esferas.
Assim, este artigo pretende discorrer sobre o assunto segurança e a utili-
zação da TI como forma de produzir conhecimento para subsidiar a tomada de
decisão dos agentes públicos, visando à prevenção e o combate à criminalidade.
Para isso, pretende-se dar primeiramente um contexto organizacional, com ado-
ção de uma metodologia para buscar uma visão holística da organização em es-
tudo e suas atividades. Assim, será utilizada a conceituação de sistemas apresen-
tada por BUNGE [3], através de seu modelo CESM (Composition – Environment
– Structure – Mechanism) e, para uma modelagem mais descritiva, os processos
da metodologia CommonKads. Aplicando conceitos de governo eletrônico e re-
cursos de engenharia do conhecimento, juntamente com a utilização da metodo-
logia referenciada para a representação da temática, pretende se demonstrar que
é possível o desenvolvimento de um sistema de conhecimento com o cruzamento
das informações das instituições da Secretaria de Segurança Pública. Também
pretende se evidenciar como a integração das bases de dados com suporte de
ferramentas computacionais e técnicas de engenharia auxilia no processo de
busca através da criação de ontologias em um domínio, por facilitar a análise e
interpretação das informações e posterior estratégia de ação.

344
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

2. GESTÃO DO CONHECIMENTO
NA SEGURANÇA PÚBLICA
Gerir as informações produzidas em larga escala se configura como um
grande gargalo em todas as áreas governamentais. Além de serem dotadas de
confiabilidade, estas informações devem ser precisas e corretas para garantir a
sua utilização. Nos projetos de políticas públicas ou privadas, há consenso que
os melhores recursos estratégicos são as informações produzidas [11].
No caso da SSP, a tomada de decisão ou a modelagem de uma estratégia de
ação é imperativamente definida a partir da análise dos dados disponíveis. E,
sob este aspecto, pelo bem do cidadão, não é possível errar ou falhar. Importante
lembrar que podem ocorrer problemas com a geração de um número muito gran-
de de informações, pois a utilização sem os cuidados devidos no armazenamen-
to pode inviabilizar o acesso e o reaproveitamento.
Aprimorar as tecnologias existentes não é tarefa fácil, pois a utilização das
tecnologias de informação não garante, por si só, o sucesso e o alcance dos ob-
jetivos, mas sim a combinação inteligente com base nas competências organi-
zacionais, ou seja, a excelência nos processos de trabalho; dinâmica na relação
com a comunidade; valorização e motivação do capital humano; simplificação
dos métodos gerenciais; conhecimento do domínio de atuação; conhecimento
dos processos organizacionais; das atividades intensivas de conhecimento e dis-
seminação rápida dos conhecimentos que irão fomentar as estratégias, além de
trazer benefícios para o governo e para a sociedade como conseqüência. Rocha
[14] menciona que Estados e Municípios não alcançarão seu inteiro desenvolvi-
mento se não usarem informações precisas, atualizadas e de forma rápida sobre
os melhores meios de otimizarem os recursos gerados em sua sociedade.
Sob este aspecto, é sabido que os obstáculos enfrentados na gestão da segu-
rança pública são cada dia mais complexos. Segundo Melo [11]: “A criminalida-
de do fim do século se caracteriza por ser complexa; e é este o atributo que vai
direcionar a forma precisa e eficiente de combatê-la ou controlá-la”.
Podemos perceber que há uma necessidade clara da utilização de um
sistema intensivo de conhecimento para dinamizar o processo de análise das
informações, mas não parece ser uma tarefa simples. O filósofo Argentino,
Mário Bunge [3], afirma que qualquer sistema pode ser modelado através
da quádrupla do modelo CESM (Composition – Environment – Structure
– Mechanism). Ele acredita que para se conceber um sistema é necessário
saber a composição (coleção de todas as partes do sistema), ambiente (co-
leção de itens que não pertencem ao sistema e atuam ou sofrem a ação por
algum ou todos os componentes do sistema), estrutura (coleção de relações,
em particular ligações (bonds), entre os componentes do sistema ou entre es-
ses e seu ambiente) e mecanismo (coleção de processos que fazem o sistema
se comporta da maneira que tem de se comportar). Apresentamos a seguir o

345
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

enfoque do sistema de conhecimento para segurança pública na visão pro-


posta. Como contextualização, podemos dizer que o Sistema Integrado é
subsistema do Sistema de Segurança Pública, tendo a função de fiscalizar,
controlar e desenvolver mecanismos de atendimento ao cidadão pelas autori-
dades de segurança, que fazem parte da Secretaria de Segurança Pública. As
autoridades necessitam de automatização dos processos de análise das infor-
mações contidas nas bases de dados institucionais por meio de representa-
ções multifacetadas do conhecimento implícito. Para isso, podemos utilizar
a visão do modelo CESM na Tabela 1.

Tabela 1. Revisão do sistema de conhecimento segundo o modelo CESM.

Agentes, sistemas de recuperação de informação, autoridades,


Composição policiais civis e militares, interoperabilidade, elementos da
sociedade, cultura, estrutura de comunicação, imprensa.
A Secretaria de Segurança Pública, os sistemas
Ambiente
das instituições e o governo.
Policiamento, prestação de serviços a comunidade,
Estrutura
monitoramento da criminalidade e análise.
As inferências dos analistas sobre as informações dos vários sistemas
Mecanismo das instituições com foco a gerar conhecimento para ser usado
nas políticas de segurança e enfrentamento da criminalidade.

3. ASPECTOS CONTEXTUAIS DO SISTEMA


SEGUNDO A METODOLOGIA COMMONKADS
O sistema de gestão do conhecimento na SSP consiste na seleção dos
dados relevantes nos vários sistemas das instituições que a compõem, a
saber:
• Informações da Polícia Militar;
• Informações da Polícia Civil;
• Informações do Instituto Geral de Perícias, em especial do Instituto de
Identificação;
• Informações do Sistema Prisional;
• Informações do Departamento de Trânsito e
• Informações do Corpo de Bombeiros Militar.
Este é, sem sombra de dúvidas, um sistema complexo e vamos observar
seu desenvolvimento através do suporte da metodologia CommonKads, que será
apresentada por planilhas que são propostas por esta metodologia.
Antes porém, é necessário fazer algumas considerações a respeito da me-
todologia CommonKads. A metodologia CommonKads é uma metodologia vol-
tada ao desenvolvimento de sistemas intensivos em conhecimento e segue uma

346
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

criteriosa e profunda análise organizacional visando identificar a viabilidade do


sistema de conhecimento, ou seja, a melhor técnica de engenharia do conheci-
mento a ser empregada e a direção para o desenvolvimento.
A utilização da metodologia, através da primeira planilha, Tabela 2, vis-
lumbra o Modelo de Organização (Planilha OM-1), e apresenta os problemas e
oportunidades da organização para adoção de um sistema.

Tabela 2. Modelo da organização, planilha OM-1: Problemas e Oportunidades.

Modelo da Organização: Secretaria de Segurança Pública


organização Planilha OM-1 Problemas e Oportunidades
* O crescente aumento do índice de criminalidade e a sensação de
insegurança na sociedade.
* A cobrança da sociedade, através da opinião pública, por soluções
Problemas e oportunidades

efetivas contra a criminalidade.


* As sofisticadas formas de atuação das organizações criminosas com
planejamento nas ações.
* A utilização do enfrentamento direto através de operações mal planejadas
das autoridades que visa apenas ao combate da criminalidade.
* A pouca atuação na prevenção que necessita de formas mais eficazes
para dar suporte as ações.
* O pouco investimento nas TICs.
* A não utilização dos bancos de dados e informações de forma
compartilhada.
* A utilização de sistemas transacionais estanques nas instituições.
Missão:
* Dotar as instituições da SSP com meio de controlar, combate e
Contexto organizacional

prevenir a criminalidade.
* Dar suporte financeiro as suas instituições para realizar suas missões
constitucionais.
* Criar as políticas necessárias para nortear as ações das instituições da SSP.
* Realizar os convênios necessários para alcançar a finalidade de suas
instituições.
* Planejar as macro ações de segurança pública.
* Acompanhar os índices criminais e os apresentar mensalmente para o
Governo Federal e publicar em diário oficial do estado.
* Observar os preceitos legais.
* Realizar a interoperabilidade dos sistemas das instituições da SSP para
ter uma visão mais abrangente das informações contidas nos sistemas.
* Fomentar o planejamento com base no cruzamento das informações
(Inferências) das instituições, como forma de alcançar um retorno das
ações mais eficiente.
Soluções

* Apresentar as informações em forma multivariada com a utilização de


relatórios dinâmicos, geoprocessamento e rede de relacionamentos.
* Criar um ambiente computacional facilitador para apoiar a tomada de
decisão das autoridades.
* Inserir no ambiente recursos computacionais automáticos para apoiar
as ações de combate, prevenção e controle da criminalidade.

347
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

A segunda planilha retrata os aspectos de mudança criados pela solução


proposta (Planilha OM-2), a Tabela 3 mostrando o as possíveis soluções.

Tabela 3. Aspectos de mudanças da solução proposta.

Modelo da Organização: Secretaria de Segurança Pública


organização Planilha OM-2 Aspectos de mudança criados pela solução proposta
Estrutura Vide Figura 1
Processo Vide Figura 2
Pessoas -
* Recursos humanos para análise das informações;
* Infra-estrutura tecnológica - Servidores,
Recursos Computadores, Infra-estrutura de Rede;
* Software de gestão - Rede de Relacionamento,
Text Mining, Data Mining.
* Cruzamento das informações gerando novas formas
de observar e analisar os cenários apresentados;
Conhecimento * Visão multifacetada dos problemas de segurança;
* Utilização dos dados de várias instituições fomentando a troca
de informação e o cruzamento para gerar novos conhecimentos.
* As instituições geralmente não querem compartilhar
as informações de suas instituições;
* As instituições têm papeis definidos pela
constituição e estão em constantes brigas;
Cultura & * As ações de atendimento aos cidadãos são divididas, mas as
poder instituições executam atividades que não são de suas esferas;
* As regras nas políticas de segurança são de responsabilidade
de SSP, mas as instituições criam algumas também;
* Não há uma visão sistêmica das informações
para gerar conhecimento.

Na Figura 1 podemos perceber uma estrutura que visa analisar a estrutura


organizacional para entender do seu processo interno. As figuras 4 e 5 abordam
o trâmite dos dados para as instituições e o fluxo sintetizado das informações
internas às instituições respectivamente. A Figura 1 apresenta a estrutura da
SSP e mostra as ações em cada camada estratégica.
Na Figura 2 podemos verificar o processo primário e secundário,
onde o primeiro é a recepção das informações e o segundo a análise das
informações.
Os dados repassados pelos cidadãos introduzidos nos sistemas transacio-
nais das instituições e arquivados nos bancos de dados como vemos na Figura 3.
Pois esse processo, os dados são acessados pelos analistas de segurança
no processo secundário, para realizar os cruzamentos (inferências) necessários
para gerar os conhecimentos.

348
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

Figura 1. Estrutura da SSP.

Figura 2. Processo das instituições da SSP.

349
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

Figura 3. Fluxo sintetizado das informações.

A planilha OM-3, Tabela 4, apresenta as principais tarefas do processo de-


senvolvido nas instituições e verifica-se as atividades intensivas em conheci-
mento, e que devem e podem ser automatizadas através das técnicas de enge-
nharia do conhecimento. Nessa tabela podemos verificar que foram identificadas
três tarefas intensivas em conhecimento. Pôde se verificar que embora as tarefas
apresentem a mesma necessidade de inferência, elas são utilizadas por aplica-
ções distintas, ou seja, visando diferentes fins.

Tabela 4. Principais tarefas do processo de negócio.

Organização: Secretaria de Segurança Pública


Modelo da organização
Planilha OM-3 Principais tarefas do processo de negócio
Nº Tarefa Executada por Ativo de conhecimento Intensivo?
Informar o problema ocorrido
Solicitação de
1 Cidadão a instituição responsável Não
atendimento
pelo atendimento
Servidor Enquadramento da
2 Atendimento Não
Público solicitação no processo
Registro do
Servidor Conhecimento de uso
3 acontecimento Não
Público de computadores
no sistema
Analisar as informações
Análise das Sttaf da de sua instituição e das
4 informações para Instituição outras instituições para Sim
traçar estratégias e gerentes aumentar as eficiências
nas ações de segurança

350
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

Capacidade crítica e
Análise das
Diretorias analítica de informações
informações para
da SSP e multifacetadas das instituições
5 traçar políticas Sim
assessores do através das inferências
públicas de
secretário dos analistas e geração do
segurança
conhecimento fundamental
Utilização das Consultar nos bancos de dados
informações de de outras instituições e ter a
outras instituições Servidor capacidade de análise para
6 Sim
para solucionar Público cruzar as informações e extrair
problema em soluções para problemas
sua instituição específicos na instituição.

Na Tabela 5 podemos visualizar os ativos do conhecimento e verificar a par-


te do processo e os envolvidos no seu desenvolvimento, as atividades, bem como
sua execução no local correto, no tempo certo e com a qualidade pretendida, que
se espera do ativo de conhecimento produzido.

Tabela 5. Ativos de conhecimento.


Organização: Secretaria de Segurança Pública
Modelo da organização
Planilha OM-4 Ativos de conhecimento
Possuído Forma
Ativo de conhecimento Qualidade correta?
por correta?
Depende da pessoa
Informar o problema ocorrido
Às (o servidor utiliza técnica
à instituição responsável Cidadão
vezes de entrevista para obter as
pelo atendimento
informações necessárias)
Enquadramento da Servidor
Sim Sim
solicitação no processo Público
Depende do Servidor
Conhecimento de uso Servidor
Sim (Alguns necessitam
de computadores Público
de treinamento)
Analisar as informações de Depende da informação
Sttaf da
sua instituição e das outras Não na base de dados
Instituição
instituições para aumentar a (O sistema deve analisar
e gerentes
eficiências nas ações de segurança inconsistências)
Capacidade crítica e analítica Dificilmente, pelo
Diretorias
de informações multifacetadas tempo necessário
da SSP e Não
das instituições através das (Através da engenharia do
assessores
inferências dos analistas e geração conhecimento é possível
do secretário
do conhecimento fundamental melhorar a qualidade)
Consultar nos bancos de Não
dados de outras instituições (Devido a não integração
e ter a capacidade de análise Servidor Não das informações e
para cruzar as informações e Público a não obtenção de
extrair soluções para problemas acesso aos sistemas de
específicos na instituição. outras instituições)

351
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

A Tabela 6 é apresentada como um “divisor de águas”, ou seja, ela verifica


se há viabilidade de desenvolver o sistema baseado em conhecimento de acordo
com as informações fornecidas pelas planilhas anteriores. Mas, embora se tenha
a resposta da viabilidade, ainda é necessário escolher qual técnica de engenha-
ria do conhecimento ou quais delas são necessárias para a construção destes
sistemas.

Tabela 6. Check-list da decisão de viabilidade.

Modelo da Organização: Secretaria de Segurança Pública


organização Planilha OM-5 Check-list da decisão de viabilidade
Tendo em vista que os dados necessários para realizar o cruzamento das
informações estão nos sistemas transacionais das instituições da SSP é
Viabilidade
do negócio

correto afirmar a viabilidade do negócio, que exige, apenas a elaboração


de um projeto de engenharia do conhecimento para possibilitar
as inferências necessárias. Desta forma, auxiliando o processo de
inteligência da SSP e garantindo ações mais céleres e eficazes frente ao
aumento da criminalidade.
Com os avanços das TICs e da engenharia do conhecimento é possível
viabilizar tecnicamente o cruzamento de informações com base no
Viabilidade

conhecimento dos analistas e disponibilizar um ambiente integrado de


técnica

consulta e agregar ferramentas para dar suporte a tomada de decisão


das instituições da SSP. Além da engenharia do conhecimento, o avanço
tecnológico se traduz na existência de poderosos hardwares, essenciais
ao sistema, pela existência de uma vasta base de informações e pela
necessidade da realização de inferências entre elas.
O projeto se justifica pela redução do tempo necessário ao acesso em
bases de informações das várias instituições da SSP, além da rapidez
no processo de inferência entre as informações das bases. Além desse
fator, há uma redução do número de recursos humanos necessários,
possibilitando a alocação de servidores em outras áreas da instituição.
Viabilidade
do projeto

O projeto também possibilita o cruzamento das informações que


poderão ser reutilizadas com o emprego de ferramentas analíticas
(geoprocessamento, relatórios dinâmicos e gráficos estatísticos)
para auxiliar na tomada de decisão das autoridades nas estratégias
de enfretamento e políticas de segurança pública. Além desses
fatores, a prioridade de programas do governo na área de segurança
permite a utilização de recursos financeiros do governo federal para o
planejamento e execução de projetos
Desenvolver um modelo de cruzamento de informações utilizando o
conhecimento dos analistas de segurança para dar suporte nas ações
propostas

desenvolvidas na SSP e suas instituições. Verificar as ferramentas


Ações

analíticas para incorporar no sistema e automatizar a produção dos


conhecimentos necessários à utilização da confecção do planejamento
das ações de segurança pública. Criar os critérios de acesso as
informações nos vários níveis estratégicos da SSP e suas instituições.

352
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

Da Tabela 7 em diante vamos analisar apenas uma das tarefas intensivas de


conhecimento, porque o objetivo aqui não não é detalhar a explicação, mas mos-
trar a utilização da metodologia CommonKads. Assim, vamos utilizar a ativida-
de de conhecimento n° 5 que é a análise das informações para traçar estratégias.
Lembrando que na construção de um sistema de conhecimento seria necessário
abordar todas as atividades intensivas de conhecimento nesta planilha.

Tabela 7. Análise da tarefa escolhida para ser trabalhada.

Modelo da Organização: Secretaria de Segurança Pública


organização Planilha TM-1 Análise da tarefa
Tarefa 5. Análise das informações para traçar estratégias
Tarefa desenvolvida no processo de análise estratégica.
Organização Realizada pelo analista de segurança em vários sistemas,
provavelmente terá grande alívio em tê-la automatizada.
Garantir uma visão geral das informações das instituições de
Objetivo
forma cruzada para apoio a tomada de decisão. Diminuição do
e valor
tempo de análise e planejamento de ações de forma mais efetiva.
* Tarefas de entrada: Relatórios com informações relevantes fornecidas
Dependência pelos cidadãos e análise com emprego de técnicas de referencia cruzada.
e fluxo * Tarefas de saída: Análise critica dos analistas sobre os problemas
encontrados nas instituições por bairro, município e no Estado.
* Objetos de entrada: Informações sobre efetivo, viaturas, número
de delitos por local e por necessidade, recursos disponíveis
e recursos futuros, dados de servidores prestados.
Objetos * Objetos de saída: Relatório correlacionando variáveis, previsão
manipulados de emprego de recursos e efetivo, aumento do número de viaturas
por local de atendimento (demanda X oferta de serviço).
* Objetos internos: Dar eficiência nos serviços
prestados e reduzir a criminalidade.
A análise será realizada por um pequeno número de analistas
capacitados, mas que permitirá a análise de um número de informações
muito grande. O controle do tempo pode ser auferido pela redução
Controle no tempo das investigações policiais que necessitem de informações
de tempo,
fornecidas pelo serviço de inteligência da SSP. A pré-condição
pré e
necessária está na capacidade analítica dos gestores e na confiabilidade
pós-
condições das informações fornecidas ao sistema. As pós-condições são
relacionadas a agilidade na análise da informações e emprego efetivo
dos conhecimento gerados na prestação do serviço público, nas
ações de segurança, na política de segurança e no planejamento.
Na situação antiga: Pelos analistas de segurança sem suporte e de forma
Agentes
manual. Na nova situação: Com auxílio do sistema de conhecimento.
Conhecimento em análise de dados e informações das instituições de
Conhecimento
segurança, processo internos, além de conhecimento multidisciplinar
e competência
socioeconômica de problemas correlatos a criminalidade.

353
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

Na situação antiga: Bancos de dados estanques, falta de


interoperabilidade, tabulação das informações, inferências
sobre os dados, interpretação dos resultados a verificação no
Recursos
contexto do ambiente, geração de relatórios. Na nova situação:
Hardwares, Softwares de gestão e de relacionamento e recursos
humanos capacitados à análise relatórios dinâmicos.
Frente os problemas fracionados ou gerais é necessário a análise
estrutural e conjuntural das variáveis e a utilização do conhecimento
Qualidade e
na adoção de forma eficientes de atuação para coibir e neutralizar as
desempenho
ações anti sociais. Quanto à qualidade, tem que atender aos requisitos
e preferências explicitados conforme o problema apresentado.

Com base na análise da planilha, podemos escolher uma tarefa que acreditamos
necessária antes da aplicação das inferências (cruzamento) das informações para
gerar o conhecimento. Podemos perceber que, como há um grande número de infor-
mações recebidas nos sistemas, umas das dificuldades encontradas pelos analistas e,
sem sobra de dúvidas, as recuperações das informações dos sistemas transacionais
das instituições da SSP. Servidores com diferentes perfis, executando atividades
distintas e em situação heterogenias utilizam jargões diferentes, ou seja, as informa-
ções nos bancos de dados podem ter conteúdo semântico diferente, embora a única
diferença seja a sua representação. Assim, a utilização da engenharia de ontologia,
técnica da engenharia do conhecimento, pode auxiliar no processo de obtenção dos
dados relevantes para analise dos especialistas. Outras inferências se fazem neces-
sárias no sistema pretendido, mas por hora vamos nos concentrar nas ontologias.

4. MODELO DE COMUNICAÇÃO
NO CONTEXTO DA SSP
Uma exemplificação simples de interdependência das ações no universo da
segurança pública está no estabelecimento de linha hierárquica de ação que deve
abastecer a base com soluções, procurando aumentar a eficiência. Contudo, para que
ocorra o fornecimento destas soluções, a base deve alimentar a equipe de comando
com informações relevantes das demandas a serem sanadas. Assim, acontece um
processo de realimentação constante do fluxo das informações que são usadas em
prol da instituição, a fim de atenuar possíveis erros de concepção na gestão da infor-
mação e na conversão desta, em conhecimento reutilizável. Esse fluxo hierárquico
de informação pode ser denominado como sendo o modelo de comunicação.
O conhecimento produzido ou a informação devem ser transferidos para ou-
tras partes que os utilizam na realização de sua própria tarefa. Assim, o modelo
de conhecimento especifica procedimentos de troca de informação para realizar a
transferência de conhecimento entre agentes. A Figura 4 apresenta o processo de
comunicação entre os níveis dentro das instituições. Entretanto, o retorno deveria

354
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

ser dado através das inferências (cruzamento) das informações dentro dos sistemas
das instituições, coisa que acontece muito precariamente devido a falta de processos
de engenharia e gestão do conhecimento dentro de muitas instituições públicas.

Figura 4. Processo de comunicação entre os níveis dentro das instituições.

A Figura 5 dá uma idéia mais precisa do modelo de comunicação na visão


geral dos sistemas que compõem o todo nas organizações, onde há um processo
de comunicação interno e externo entre os sistemas, aferindo as informações e
verificando inconsistências entre os dados armazenados. Um ponto importante
a esclarecer é que a base operacional da SSP é composta pelas instituições que
pertencem a ela, pois a SSP é um órgão meramente administrativo e gerencial
nas ações de segurança pública.

Figura 5. modelo de comunicação na visão geral dos sistemas.

355
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

5. MODELO DE CONHECIMENTO
O sistema de gestão do conhecimento na SSP consiste na seleção dos dados
relevantes nos vários sistemas das instituições que a integram por um grupo de coor-
denação do processo, sendo armazenado em uma base de estagiamento e tratamento
das informações. Essa Base de estagiamento foi adotada devido a disparidade de
tecnologias encontradas nas instituições, onde algumas dificultavam o acesso direto
às informações. Outro ponto importante é que o acesso direito às bases de dados dei-
xaria, de certa forma, engessada a evolução dos sistemas, pois qualquer mudança da
estrutura na base de dados seriam necessárias alterações na base de inferências (cru-
zamento) das informações. Assim podemos optar pela transferência de um arquivo
de texto (XML) e a leitura automatizada das informações pelo sistema, e realizar a
carga de dados para a base. Na base, as informações são armazenadas em tabelas
do banco de dados e o sistema realiza o tratamento das inconsistências, organizando
os dados para posterior consulta. Devido à disparidade encontrada nas tecnologias
existentes, como mencionado, alguns sistemas foram desenvolvidos e outros rees-
truturados para se moldar à filosofia da gestão do conhecimento adotada.
Para garantir a segurança no processo, a Diretoria de Informação e
Inteligência gerencia o processo de gestão do conhecimento e os disponibiliza
inter instituições e realiza o controle nos acesso as informações, valendo-se da
legislação vigente da atividade de inteligência.
O sistema realiza a leitura na base de dados de acordo com a solicitação,
pois esta pode ser uma solicitação estática ou dinâmica, ou seja, o conhecimento
pode ser acessado simultaneamente das várias instituições ou necessitar de cru-
zamentos (inferências) entre as instituições para alcança o conhecimento pre-
tendido. Assim, se faz a apresentação dos dados de forma organizada, gerando
valor agregado às informações que são cruzadas entre as instituições.
O sistema evita que um analista de segurança tenha que entrar em vários
sistemas e realize o cruzamento dos dados de forma manual. Tudo é realizado
de forma automatizada graças as inferências que foram incutidas no sistema e
fazem com que apenas as informações relevantes para o emprego na tomada de
decisão sejam cruzadas, já que metodologia de cruzamento das informações foi
modelada com base no conhecimento dos analistas.
A visualização pode ser feita através de relatórios, redes de relacionamen-
tos, mapas geo-estatísticos, relatórios gráficos e uma série de formas de repre-
sentação do conhecimento. A Figura 6 apresenta uma idéia sucinta. Para facilitar
a interoperabilidade das informações foram desenvolvidos os alicerces necessá-
rios que são três os pilares (Figura 7):
a) Índice de pessoas;
b) Índice de logradouros;
c) Padronização de dados.

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CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

Figura 6. Estrutura das Informações para Inferências.

Figura 7. Alicerces do SISP (Sistema Integrado de Segurança Pública).

Esta interoperabilidade vem reforçar a necessidade de compreensão da in-


terdependência de ações dos vários subsistemas que compõem a sociedade.
a) O índice de pessoas é um dos principais controles do sistema, pois
é através deste controle que é garantido o critério de unicidade de pessoa nos
sistema da SSP.
O índice consiste basicamente na adoção de uma base onde são inseridos
os nomes das pessoas que fazem parte dos sistemas de registros e processos de
órgãos da SSP.

357
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

Quando um sistema da SSP vai realizar a abertura de um procedimento


interno, o sistema começa a inserção através da consulta na base de índice para
verificar a existência do nome na base de dados. Uma consulta através da digi-
tação do nome da pessoa no sistema é realizada, onde o computador verifica as
pessoas que têm o nome com a mesma grafia digitada, e também com a utiliza-
ção de fonética. Depois da verificação o sistema devolve o resultado da pesquisa
e o funcionário verifica na lista a pessoa certa a ser localizada.
O critério de aferição ocorre através da triangulação de dados, que é chama-
do de verificação do onomástico, para diminuir o número de respostas quando o
nome for muito comum. A verificação do onomástico é a verificação de algumas
variáveis como o nome da pessoa com a correta grafia ou fonética, nome da mãe,
data de nascimento e local de nascimento. Caso o funcionário, por alguma razão
tentar, inserir um nome já existente na base, o sistema, através do controle do
onomástico, informa que o individuo está cadastrado na base do índice, e forne-
ce uma mensagem perguntando se ele deseja inserir realmente o nome daquela
pessoa. Caso o funcionário resolva inserir é disparada uma mensagem contendo
a data, hora e local da inserção do nome no sistema. O controle de acesso remete
o nome da pessoa responsável pela inserção errônea e essas informações são en-
viadas para o setor de controle do índice, que toma as medidas necessárias para
realizar a junção da pessoa duplicada na base.
A verificação de onomástico é muito importante, pois garante a unicidade
de pessoas no sistema e faz com que todos os sistemas da SSP trabalhem com as
mesmas pessoas da base de índice. Por estar relacionado com pessoas o instituto
de identificação é o responsável pelo controle do índice de pessoas.
b) O índice de logradouros é um catálogo de endereços que vai auxiliar
na integração das informações, facilitando a utilização do geoprocessamen-
to das ocorrências das instituições e facilitando a representação em mapa dos
atendimentos e os delitos registrados entre outras informações. Desta forma
cada instituição poderá acompanhar as ocorrências por tonalidade e realizar o
planejamento das ações de segurança com base nas informações de todas as
instituições da SSP, e não apenas de sua organização. Por exigir mobilidade
para verificação dos endereços antigos e inserção de novos a Polícia Militar será
responsável pelo controle da base de logradouro.
c) O Controle de tabelas é outro ponto importante, já que ao optar por
um sistema integrado, as informações de um sistema devem possuir uma tabela
similar no outro sistema. Pode parecer injustificada essa afirmação, devido a
especificidade do serviço de atendimento em alguns sistemas da SSP, mas não
basta apenas ter as informações tabeladas, pois elas podem ser subdivididas em
informações especificas em seus sistemas, tem de ocorrer a utilização das infor-
mações de forma descentralizada. Entretanto é necessário que as tabelas tenham
ligações entre seus códigos para que seja possível extrair relatórios cruzando as
informações e podendo gerar estatísticas confiáveis.

358
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

Entretanto, devemos mencionar que o tripé do SISP não é suficiente para


garantir a recuperação das informações de forma satisfatória nas bases de dados
das instituições como já mencionamos, é preciso ter mecanismos para garimpar
as informações nos domínios distintos. A ontologia é uma técnica de engenharia
do conhecimento que faz a “descrição explícita de conceitos e relações refe-
rentes a determinado domínio. Essa conceitualização refere-se ao conjunto de
conceitos, relações, objetos e restrições que são definidos para um modelo se-
mântico de algum domínio de interesse.” LUTOSA [9].

6. A REPRESENTAÇÃO DAS INFORMAÇÕES


NA BASE DE CONHECIMENTO
A grande produção e disseminação de informação fizeram surgir me-
canismos voltados ao registro dos dados de forma uniforme e com estrutura
bem definida. Estes mecanismos têm como objetivo garantir a indexação, re-
cuperação, cruzamento e utilização dos dados que fazem parte das bases de
conhecimento.
McGarry [12] afirma que: “A informação deve ser ordenada, estruturada
ou contida de alguma forma, senão permanecerá amorfa e inutilizável. [...] A
informação deve ser representada para nós de alguma forma, e transmitida por
algum tipo de canal.”
Pesquisas recentes têm indicado que grandes volumes de informação são
recuperados, porém nem sempre atendendo às expectativas de buscas, conside-
rando que os conteúdos produzidos e indexados em robustos sistemas informa-
cionais esbarram na complexidade dos próprios sistemas.
Segundo Bedin [1], “Indexar os conteúdos e recuperá-los de maneira satis-
fatória envolve práticas e caminhos que incluem sempre o binômio: homens e
máquinas, usuários e sistemas.” Assim, a linguagem de representação e recu-
peração das informações exerce papel fundamental como elo entre o usuário e
o sistema.
No planejamento das estratégias de buscas, considerando que as linguagens
adotadas nos sistemas são consideradas “artificiais”, precisam ser inseridas tam-
bém, etapas de estudo sobre a dificuldade de representação do conhecimento e a
linguagem a ser adotada para esse fim.
Para Bueno [2], a melhor forma de resolver esta complexidade é a adoção de
linguagens chamadas ontologias.
Estas linguagens têm se apresentado como uma alternativa na resolução de
problemas semânticos prejudiciais à recuperação de informação. Construída em
linguagem natural, apresenta possibilidade de aproximação entre o usuário e o
sistema aumentando a eficiência das buscas.

359
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

Por ser mais flexível e passível de avaliação constante, seus recursos acom-
panham o desenvolvimento dos SRIs (Sistemas de Recuperação de Informação)
e das expectativas dos usuários, agregando as evoluções lingüísticas correntes.
Bedin [1]
Tradicionalmente, quando se pretende definir ontologia, busca-se na
Filosofia que diz “o estudo do ser enquanto ser” ou a “teoria do ser”, e estuda as
coisas como elas existem ou como são. Pode-se dizer que as ontologias favore-
cem ou permitem o entendimento de como as ligações se estabelecem no mundo.
Sua adaptação para a Ciência da Computação adiciona ao termo taxonomia
às especificações das relações entre as entidades mais um conjunto de regras
automáticas de inferência e ações associadas. Parreiras [13]
Na Gestão do Conhecimento, Guillén, Moreno e Badaya [6] afirmam que:
[...]as ontologías se encasillana dentro de las LISTAS RELACIONADAS,
como tipo de sistema de ORGANIZACIÓN DEL CONOCIMIENTO. Una
ONTOLOGÍA define el vocabulario de un área mediante un conjunto de
términos básicos y relaciones entre dichos conceptos, así como las reglas
que combinan términos y relaciones
[...]La GESTIÓN DEL CONOCIMIENTO está desarrollando ontologías
como modelos de conceptos específicos. Pueden representar relaciones
complejas entre los objetos, e incluyen las reglas y los axiomas que faltan
en los tesauros.
Na Inteligência Artificial (IA), as ontologias se apresentam como lingua-
gens ou formas de representação do conhecimento que possibilitam a comu-
nicação entre os SRI e os usuários, além de favorecer o entendimento dos con-
teúdos pelo compartilhamento do conhecimento, representado nos termos ou
expressões construídos com base nos conceitos. É uma forma de representar e
organizar, considerando os princípios semânticos.
Voltados para a estruturação e representação do conhecimento, Swartout
[20] se refere a ontologia como um conjunto de termos estruturados que descre-
vem algum domínio e são a estrutura para uma base de conhecimento.

7. UMA ONTOLOGIA PARA A SSP


Ontologias construídas com objetivo de representação do conhecimento, de
acordo com suas características, buscam abranger todo um domínio alvo de re-
presentação. Os termos utilizados nesta construção pretendem um entendimento
comum de seus conceitos e suas respectivas relações.
Neste sentido, Gómez-Pérez [5] diz que as ontologias fornecem um vocabu-
lário comum de uma área e definem – com diferentes níveis de formalismo – o
significado dos termos e as relações entre eles.

360
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

No caso específico da SSP aqui apresentado, a idéia é apresentar uma onto-


logia que permita a representação do conteúdo inserido no sistema para utilizá-
los no SISP (Sistema Integrado de Segurança Pública), contribuindo para a recu-
peração, interpretação e gestão do conhecimento.
Dentro do domínio Segurança Pública, monitorados e analisados pelo
SISP, encontram-se subdomínios: Polícia Militar, Polícia Civil, Instituto de
Identificação, Sistema Prisional, Detran e Corpo de Bombeiros.
Como domínio, entende-se a área onde se pretende trabalhar, ou seja, o
tema que se vai representar. Sendo aqui a Segurança Pública o domínio do SISP,
os subdomínios se caracterizam como as subdivisões que compõem o sistema,
conforme Figura 8.
Para exemplificar a representação do conteúdo através da linguagem ontológica,
o subdomínio escolhido foi o da Polícia Civil. Nele foi identificado o maior motivador
de crimes contra o cidadão, e para o qual foi construída a ontologia composta de um
termo principal e suas relações de sinônimo, de associação e de parte e tipo. Estas re-
lações obedecem aos princípios da lei da qualidade, lei da proximidade, lei das partes
e lei da atração entre idéias, respectivamente de acordo com Bueno [2]. Assim, foi
construída a ontologia a partir do termo “Organização Criminosa”, conforme figura 9.
Na construção dos termos para o subdomínio “Organização Criminosa”,
são considerados os conceitos comuns a todos os membros da equipe da SSP que
vai interagir entre si e utilizar o sistema para análise e definição de estratégias
Considerando que todos os sistemas das instituições são interligados no SISP, a
definição de termos que encerrem conceitos comuns é fundamental para o sucesso
das atividades.Para cada subdomínio é possível construir ontologias, com expres-
sões indicativas que tenham a abrangência de todo o conteúdo inserido no sistema.

Figura 8. Domínio SSP-SISP.

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Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

Figura 9. Exemplo de Ontologia com o termo Organização Criminosa.

8. CONSIDERAÇÕES
É inquestionável a importância de um sistema de conhecimento para ser uti-
lizado nas atividades de inteligência das instituições da SSP, desta forma, os siste-
mas devem ter inteligência incorporada para subsidiar a área de segurança pública,
voltadas ao combate da criminalidade e garantia da segurança ao cidadão.
As funcionalidades modeladas para o SISP trazem em seu escopo a condi-
ção de permitir o intercâmbio de dados, informações e conhecimento de todas
as instituições que compõem a segurança pública catarinense.
O sistema pretende a partir de uma base de conhecimento única de todas as
atividades praticadas pelas equipes das instituições, subsidiar análise e desen-
volvimento de estratégias pela equipe de inteligência e as autoridades da SSP.
Aqui se pretendeu mostrar uma iniciativa de Governo Eletrônico que se
consolida em um sistema voltado a otimizar e garantir a qualidade da gestão da
informação em uma área tão sensível atualmente. O sucesso da adoção sistemá-
tica desta prática, pioneira no país por iniciativa do governo do Estado de Santa
Catarina, poderá ser replicado em todos os estados brasileiros.
O caso apresentado pretendeu apresentar também, sob a temática da ne-
cessidade de interação entre usuário e sistemas, uma alternativa de modelagem
de linguagem de representação dos conteúdos, a partir de conceitos de amplo
conhecimento dos agentes de inteligência envolvidos nos processos de análise.
Por fim, a partir da demonstração das funcionalidades do sistema, se espera
que novos estudos sejam empreendidos na tentativa de ampliar conhecimento de
gestão inteligente na área de Segurança Pública e ações de e-Gov, objetivando o
bem estar do cidadão.

362
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

REFERÊNCIAS
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Florianópolis: UFSC. Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação) -
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representação do conhecimento para construção de ontologias em sistemas
baseados em conhecimento. Florianópolis: UFSC. Tese (Doutorado em Engenharia
de Produção) – Universidade Federal de Santa Catarina, 2005.
BUNGE, Mario Emergence and Convergence: Qualitative Novelty and the Unity of
Knowledge. University of Toronto Press, 2003.
DINIZ, Eduardo. Relatório Final Governo Digital. v. 22, 170p, 09/2002.
GOMÉZ-PÉREZ, A. Ontological engineering: a state of the art. Expert Update. 1999.
Disponível em < http://citeseer.ist.psu.edu/cache/papers/cs/22343/http:zSzzSzwww.
csc.liv.ac.ukzSz~franszSzExpertUpdatezSzontologies.pdf/ontological-engineering-
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GUILLÉN, A. I. S.; MORENO, J. M. P.; BADAYA, D. M. Ontologías para la gestión del
conocimiento. Disponível em: < http://es.geocities.com/ontologia04/index.htm >.
Acesso em 13 nov. 2005.
HOESCHL, Hugo Cesar. Aplicações Inteligentes para Governo Eletrônico. 2003.
(Relatório de Pós-Doutorado).
HOESCHL, Hugo Cesar, et. al. Interoperabilidade de Sistemas de Informação como
Estratégia de Investigação. In ICAIL 2005.
LUTOSA, Pollyane de Almeida; FAGUNDES, Fabiano;BRITO, Parcilene F. de. OWL e
Protégé-2000 na definição de uma ontologia para o domínio “Universidade”. Anais
do V Encontro de Estudantes de Informática do Tocantins. Palmas, TO. outubro,
2003. pp. 303-312.
MÁXIMO, Alexandre A.. A importância do mapeamento da criminalidade utilizando-se
tecnologia de sistema de informação geográfica para auxiliar a segurança pública
no combate à violência. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção).
PPGEP, Universidade Federal de Santa Catarina, 2004.
MELO, Ronidalva Andrade de. Repressão à Violência de Proteção de Direitos. Junho,
1999.
McGARRY, Kevin. O contexto dinâmico da informação. Brasilia: Briquet de Lemos, 1999.
PARREIRAS, F. Introdução à construção de ontologias. Disponível em: <http://www.
fernando.parreiras.nom.br/palestras/engeonto.pdf>. Acesso em 13 nov. 2005.
ROCHA, Cézar Henrique Barra. Geoprocessamento: tecnologia transdisciplinar. Juiz de
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Disponível em:<http://www.infojur.ufsc.br/aires/princi.html>. Acesso em 21 julho
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363
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

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and Management – The CommonKADS Methodology, 2002.
Schreiber, G.; Akkermans, H.; Shadbolt, Walter V.; Vielinga, B. UN Global
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Social Affairs, 2004. Disponível em: <http://unpan1.un.org/intradoc/groups/public/
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SILVA, Edson R. G.. Análise Qualitativa da Criminalidade com Particular Referência à
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SWARTOUT, Bill, et.al. Toward Distributed Use of Large-Scale Ontologies. Disponível
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Acesso em 20 maio 2006.

364
PROPOSTA DE MELHORIA NOS
SERVIÇOS DE ATENDIMENTO DE TI
COM APLICAÇÃO DO COMMONKADS

Almir dos Santos Albuquerque


Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do
conhecimento, Universidade Federal de Santa Catarina – EGC/UFSC
Analista de Sistemas - Tribunal de Justiça do Estado de Rondônia (TJ/RO)
almir@tjro.jus.br

Tárik Kamel de Oliveira


Analista de Sistemas - Tribunal de Justiça do Estado de Rondônia (TJ/RO)
tarik@tjro.jus.br

RESUMO

No fluxo de informação que ocorre nas atividades dos serviços de atendimento


relacionados a TI, são utilizados conhecimentos tácitos que ficam em poder dos
expertises. É importante explicitar, disseminar e multiplicar esses conhecimentos,
para o bom desempenho da equipe de TI. Este trabalho apresenta uma proposta
de melhoria nos serviços de atendimento de TI do Tribunal de Justiça do Estado
de Rondônia, utilizando a metodologia CommonKADS com o foco na Gestão do
Conhecimento.

PALAVRAS-CHAVE

Fluxo de informação, Gestão do conhecimento, CommonKADS, TI.

1. INTRODUÇÃO
O TJRO (Tribunal de Justiça do Estado de Rondônia) tem como objetivo
geral a prestação jurisdicional de forma célere, eficaz e eficiente. Nesse contexto,
ao longo dos quase 30 anos de existência do Poder Judiciário de Rondônia, os
investimentos em ações para atender tal finalidade tem contribuído para destacá-
lo no cenário nacional.
Em uma vertente dessas ações estão os investimentos em tecnologia. Desde
1997 a alta administração do TJRO tornou a equipe de informática indepen-
dente de fornecedores de mercado no tocante a conduta dos seus sistemas de
informação.

365
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

A essa postura devemos o cenário atual de uma renomada equipe de TI


(Tecnologia da Informação) que vem gerenciando toda propriedade intelectual
aplicada aos sistemas de informações judiciais do TJRO.
Contudo, a perspectiva de mapear esse conhecimento tácito vem sendo o
grande desafio dessa equipe ao longo dos anos. Com a evolução e anos que se
passaram cabe a atual equipe o desafio de armazenar todo o conhecimento da-
queles pioneiros do judiciário de Rondônia para dotar todos os sistemas legados
do conhecimento tácito daqueles que logo se aposentarão e todo conhecimento
explicito das boas práticas adquiridas.
Nos últimos anos a TI vem buscando mapear todo o conhecimento para
melhorar o fluxo de informações dos sistemas e adquirir o nível de excelência
descrita em seus objetivos estratégicos.
A equipe de TI através de treinamentos, atendimentos (presencial e remo-
to) e ferramentas de controle gerencial vem colaborando de forma substancial
nessa expectativa. Cabe, à equipe de atendimento em TI a função primordial de
documentar, coletar e repassar todo o conhecimento através da identificação e
melhoria do fluxo de informações dos processos.
Claramente observa-se que o atual fluxo de informações não atende a con-
tento os atendimentos presenciais e remotos, já que há necessidade de uma me-
lhoria no fluxo de informações para que o conhecimento seja explicitado e por-
tanto, possa efetivar a gestão do conhecimento (GC).
Permanece, porém, a questão: que mudanças, melhorias ou ações deverão
ser feitas para otimizar o fluxo de informações na perspectiva de efetivar a GC
nos serviços de TI no Poder Judiciário de Rondônia?
O objetivo deste artigo é elaborar uma proposta de melhoraria nos fluxos de
informação dos serviços de atendimento ao usuário de TI do TJRO, com foco
na GC.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 A informação como recurso estratégico


Para Bio (1989), o constante crescimento das organizações geralmente im-
plica no afastamento dos gestores da supervisão direta das operações de tra-
balho, tornando cada vez mais crítico o recurso da informação, já que as deci-
sões se tornam mais complexas e delicadas, e os volumes de dados, em muitos
casos, aumentam exponencialmente. Esse autor, considera que a informação é
simultaneamente a base e o resultado das ações gerenciais. A informação dis-
ponibilizada aos gestores deve possibilitar-lhes a verificação da eficiência dos

366
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

resultados das operações da empresa no seu todo, viabilizando o planejamento


futuro, enquanto que, nos níveis intermediários da organização, a informação
deve permitir o controle de áreas específicas.
Seguindo as recomendações de Choo (1998), a informação deve ser uti-
lizada pelas organizações para dar sentido às mudanças do ambiente externo,
para gerar novos conhecimentos por meio do aprendizado e para tomar decisões
importantes. Afirma ainda o autor que criar significado, construir conhecimento
e tomar decisões, constituem processos interligados. A percepção da informa-
ção sobre o ambiente da organização propicia a construção do seu significado e
orienta os processos de construção do conhecimento, que por sua vez, deve ser
compartilhado entre os indivíduos e a organização, para que possa ser transfor-
mado em inovação.
Portanto, para fazer o uso eficiente da informação, a organização deverá ser
capaz de integrar eficientemente os processos de criação de significado, constru-
ção do conhecimento e tomada de decisão.

2.2 Gestão da informação e gestão estratégica da


informação
Para Freitas (1992), ao lado das funções tradicionais (tais como produção,
comércio, pesquisa, finanças e pessoal), surgiu uma função nova e fundamen-
talmente transversal: a função informacional, que não se limita aos muros da
empresa mas, pelo contrário, atravessa a empresa de departamento em departa-
mento, para ligá-los ao ambiente externo.
Segundo Rezende e Abreu (2006), o nível gerencial das empresas não
pode ignorar como a organização utiliza a informação, quais são seus princi-
pais fluxos de informação, qual é a necessidade de informação de cada nível
hierárquico e a competência de seu corpo gestor em administrar os recursos
informacionais. Para esses autores, a utilização e a gestão da informação
favorecerão as decisões, as soluções e a satisfação dos clientes (externos e
internos).
Na visão de Bergeron (1996), a gestão da informação é uma estratégia uti-
lizada pelas organizações, visando a solução dos seus problemas informacio-
nais através da disponibilização de informações corretas para uma determinada
pessoa ou grupo de pessoas, no momento e na forma adequados. Desta forma,
a qualidade das decisões tomadas pelos gestores é diretamente afetada pela dis-
ponibilidade de informações completas, atualizadas e relevantes para a solução
dos problemas da organização.
A visão de Beal (2004), está baseada em uma perspectiva mais tecno-
lógica, afirmando que a expressão gestão estratégica da informação deve
designar a administração dos recursos informacionais de uma organização,

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Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

a partir de um referencial estratégico. Segundo a autora, adotar uma gestão


estratégica da informação não implica abandonar a perspectiva permanen-
te da gestão da informação (voltada para a coleta, o tratamento e a dispo-
nibilização de informação que dê suporte aos processos organizacionais,
tendo em vista o alcance de seus objetivos permanentes), mas adicionar a
ela a perspectiva situacional (cujo foco é a informação direcionada para a
consecução dos objetivos estratégicos estabelecidos para um determinado
período).
Portanto, a gestão estratégica da informação para a autora, exige o estabe-
lecimento de definições, formatos, estruturas, domínios e regras que permitam
tratar a informação como um recurso a ser administrado, com responsabilidades
claras com relação a provimento, padronização, distribuição, acesso, armazena-
mento e proteção.

2.3 Tecnologia da informação e sistemas de informação


De acordo com Balarine (2002), a tecnologia da informação diz respeito
a objetos (hardware) e veículos (software) destinados a criar sistemas de infor-
mação. Cruz (2002) define tecnologia da informação como um conjunto de dis-
positivos individuais, como hardware, software, telecomunicações ou qualquer
outra tecnologia que faça parte ou gere tratamento da informação ou, ainda, que
a contenha.
O’Brien (2001) define os sistemas de informação como um conjunto de
componentes inter-relacionados e interdependentes que, através de insumos
(entradas) produzem resultados (saídas) em um processo de transformação de
informação, visando ao atendimento de uma meta estabelecida. Freitas et al.
(1997) entende que os sistemas de informação são instrumentos que devem
ser utilizados para fornecer informações para qualquer uso que se possa fazer
delas.
Rezende e Abreu (2006) observam que a finalidade dos sistemas de
informação deve ser a de auxiliar os processos de tomada de decisão na
organização, ou seja, deve estar direcionado para otimizar o negócio da
empresa.
Um sistema de informação eficiente pode ter um grande impacto na es-
tratégia corporativa e no sucesso da empresa, gerando benefícios tais como:
fornecimento de suporte ao processo de tomada de decisão, geração de valor
agregado aos produtos e serviços, produção de melhores serviços e vantagens
competitivas, geração de produtos de melhor qualidade, apoio na identificação
de oportunidades de negócio e aumento da rentabilidade, geração de infor-
mações mais seguras, com menos erros e mais precisas, redução da carga de
trabalho, de custos e desperdícios, fornecimento de maior controle das opera-
ções e outros.

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CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

2.4 Transferência da Informação e do Conhecimento


Davenport e Prusak (1998) afirmam que a tarefa de transferência de co-
nhecimento nas organizações se resume simplesmente em descobrir maneiras
eficazes de permitir que os indivíduos conversem e escutem o que se tem a
dizer. Acrescentam ainda que quando precisamos transferir conhecimento, o
método utilizado deve ser sempre compatível com a cultura da organização
em questão.
Transferências cotidianas são localizadas e fragmentadas, visto que quan-
to maior e mais complexa a organização, menor a probabilidade de se encon-
trar o melhor conhecimento. Sugerem ainda os autores que existe uma profu-
são de conhecimento na organização, mas a sua existência não assegura o uso.

2.5 Gestão do Conhecimento (GC)


O conhecimento é o único meio para ampliar as capacidades do principal
componente existente em qualquer ambiente: o ser humano. O capital inte-
lectual que as pessoas possuem e representam é a força motriz de uma orga-
nização, portanto, a maneira de se compartilhar o conhecimento é de grande
relevância.
De acordo com Davenport et al. (1996), a expressão gestão do conhe-
cimento assume significados diversos, de acordo com o contexto em que se
aplica. Com o avanço das TIC’s (Tecnologia da informação e comunicação)
e com o avanço nas práticas de gestão organizacional, a GC tem sido enten-
dida sob a forma de diferentes estratégias, a partir das quais as organizações
lidam com o conhecimento, interna e externamente, para obter vantagens
competitivas.
Sveiby (2003) apresenta a seguinte classificação para abordar o campo da
GC, tanto em termos das áreas do conhecimento, que a compõem, quanto em
relação aos níveis de percepção, que caracterizam o processo:
Áreas do conhecimento:
• gestão de pessoas: envolve as áreas de filosofia, psicologia, sociologia
e administração, para o entendimento da dinâmica dos processos de
criação e difusão de conhecimento tácito;
• gestão da informação: envolve as áreas de tecnologia e ciência da infor-
mação, para a construção da base de conhecimento codificado.
Níveis de percepção:
• perspectiva individual: inclui as motivações e as capacidades dos
indivíduos;
• perspectiva organizacional: inclui os recursos e as competências essen-
ciais das organizações.

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Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

Salim (2001), define a GC como um processo articulado e intencional, desti-


nado a sustentar ou a promover o desempenho global de uma organização, tendo
como base a criação e a circulação de conhecimento.
Para Davenport e Prusak (1998, p.130), “a gestão do conhecimento deve ser
parte do trabalho de cada um dos membros da empresa”. Então, GC é a gestão
dos ativos intangíveis baseada, sobretudo, na competência dos colaboradores de
uma determinada organização.

2.6 Modelagem de Sistemas de Conhecimento


Segundo Schreiber et al (2002), o CommonKADS originou-se da neces-
sidade de se construir sistemas de conhecimento com qualidade em larga es-
cala, de forma estruturada, controlável e replicável. É uma metodologia para
desenvolvimento de sistemas baseados em conhecimento, resultante do pro-
jeto ESPRIT-II (P5248) e KADS II (Knowledge Analisys and Documentation
System, posteriormente Knowledge Analisys and Design Support) iniciado em
1990 e terminado em 1994.
É um instrumento útil para dividir e estruturar o processo de engenharia do
conhecimento, visando o contexto da organização, seus conceitos e construção
de artefatos (aplicativos). Possui um conjunto predefinido de modelos, onde cada
um foca um aspecto específico, mas fornecendo no conjunto uma visão compre-
ensiva do projeto. Os modelos são:
a) Modelo da Organização - apóia a análise das maiores características
da organização, a fim de descobrir problemas e oportunidades para sistemas de
conhecimento, estabelecer sua viabilidade e acessar o impacto na organização
das ações de conhecimento pretendidas;
b) Modelo de Tarefa - tarefas são subpartes relevantes de um processo
de negócio. Esse modelo analisa o layout da tarefa global, suas entradas, saídas,
pré-condições e critérios de performance, bem como recursos e competências
necessárias;
c) Modelo de Agente - agentes são executores de uma tarefa. Um agente
pode ser humano, um sistema de informação ou qualquer outra entidade capaz
de realizar uma tarefa. Esse modelo descreve as características dos agentes, em
particular suas competências, autoridades e restrições para agir. Além disso,
relaciona os links de comunicação entre agentes necessários para executar uma
tarefa;
d) Modelo de Conhecimento - o propósito desse modelo é explicar em de-
talhes os tipos e estruturas de conhecimentos utilizados para realizar uma tarefa.
Permite uma descrição independente de implementação do perfil dos diferentes
componentes de conhecimento na resolução de problemas, de uma forma que
seja compreensível por seres humanos. Isso o torna, um importante veículo para

370
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

comunicação com especialistas e usuários sobre os aspectos da resolução do


problema de um sistema de conhecimento, durante tanto desenvolvimento como
execução;
e) Modelo de Comunicação - dado que muitos agentes podem estar
envolvidos em uma tarefa, é importante modelar a transação de comuni-
cação entre os agentes envolvidos. Isso é feito por esse modelo, de forma
independente de implementação ou de conceito, como ocorre no modelo de
conhecimento;
f) Modelo de Projeto - os modelos anteriores podem ser vistos como
constituintes dos requisitos de especificação de um sistema de conhecimento,
dividido em diferentes aspectos. Com base nesses requisitos, esse modelo for-
nece a especificação técnica do sistema em termos de arquitetura, plataforma
de implementação, módulos de software, representações e mecanismos com-
putacionais necessários para implementar as funções descritas nos modelos de
comunicação e conhecimento.

Figura 1. Conjunto de modelos CommonKADS (SCHREIBER et al, 2002).

3. METODOLOGIA
O TJRO tem uma representatividade substancial junto à sociedade, por-
tanto urge a necessidade da construção de um Poder Judiciário mais célere
e condizente com os anseios da população que deposita neste, sua confiança
na solução das questões mais complexas da sociedade democrática em que
vivemos.
Nessa conduta durante dois anos consecutivos o TJRO tem o reconhecimen-
to do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) como o tribunal estadual com a menor

371
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

taxa de congestionamento de processos judiciais do país (CNJ, Gráficos – Justiça


em Números 2008, p. 30). Uma das contribuições para tão louvável reconheci-
mento são os investimentos e ações em TI.
Esse estudo busca descrever um modelo de comunicação do fluxo de in-
formações para efetivar a GC no Judiciário com o diagnóstico e proposição dos
processos de melhoria na comunicação entre a equipe dos serviços de atendi-
mento de TI do TJRO, visando a efetiva Gestão do Conhecimento tão buscada
por este egrégio.
Para tanto, muitas atividades foram realizadas ao longo dessa pesquisa,
dentre as quais destacamos:
• Mapeamento dos processos de atendimento dos serviços de TI.
• Análise do f luxo de informações tácitas e explícitas dos proces-
sos de atendimento dos serviços de TI do TJRO, visando suas
melhorias.
• Proposição de ações para efetivar a otimização dos fluxos de
informações.
• Aplicação da metodologia CommonKADS para explicitar o conheci-
mento no atual fluxo de informações tácitas dos serviços de atendimen-
to de TI, em especial o processo de comunicação.

3.1 Coleta de Dados


No que tange ao delineamento desta pesquisa, a mesma se caracteriza como
qualitativa, descritiva e exploratória, sendo desenvolvida através de um estudo
de caso.
Para Yin (2001), a coleta de dados para a realização de um estudo de caso pode
se basear em inúmeras fontes. Assim, no presente estudo combina-se registros em
arquivos, entrevistas e documentação (memorandos e CIs).
Os dados baseados de registros em arquivos foram coletados através de verifi-
cação de chamados (solicitações) de usuários num período de 06 meses. Os dados
das entrevistas foram coletados dos usuários do Sistema de Atendimento ao Usuário
– HelpDesk e os dados coletados da documentação foram oriundos de documenta-
ção interna do TJRO.

3.2 Análise dos Dados


Os dados foram analisados realizando-se uma leitura e análise minuciosa
no material coletado, em seguida foram analisadas as estatísticas geradas no
sistema de Atendimento ao Usuário – Help-Desk On-line, com uma amostra
extraída do período de novembro/2009 a abril/2009.

372
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

4. PROPOSTA

4.1 Atividades de Modelagem

A aplicação dos modelos do CommonKADS numa organização, depen-


derá da necessidade e da experiência que o engenheiro do conhecimento pos-
sui. Os modelos são independentes, não sendo necessário que todos sejam
aplicados.
Os mesmos têm ainda, o objetivo de responder três questionamentos prin-
cipais, através dos quais serão definidos os caminhos a serem seguido e as solu-
ções a serem escolhidas. De acordo com Schreiber et al, 2002, estes questiona-
mentos são da seguinte forma:
a) Por quê? – Porque um sistema de conhecimento é uma solução em
potencial? Para quais problemas? Que benefícios, custos e impactos organiza-
cionais ele terá? O entendimento do ambiente e do contexto organizacional é o
ponto mais importante deste questionamento.
b) Qual? – Consiste em entender qual é a natureza e estrutura do conhe-
cimento envolvido, bem como a natureza e estrutura de comunicação correspon-
dente. Obter a descrição conceitual do conhecimento utilizado na realização de
uma tarefa é um dos pontos chaves deste questionamento.
c) Como? – Como o conhecimento deve ser implementado no sistema
computacional? E como deve ser a infra-estrutura tecnológica necessária para a
construção e execução do sistema? Os aspectos técnicos da implementação é o
principal foco neste questionamento.

4.2 Modelando os serviços de atendimento de TI


do TJRO no aspecto da melhoria do fluxo de
informação

Por motivos de síntese, nos próximos subitens serão apresentados apenas


alguns documentos (planilhas) que são utilizados nos modelos da metodologia
CommonKADS.

4.2.1 Domínio do conhecimento


O domínio do conhecimento que compreende esse Modelo está baseado no
conhecimento tácito e explícito utilizados pelos colaboradores da COINF, no
atendimento aos usuários de TI do TJRO.

373
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

4.2.2 Modelo da Organização

Tabela 1. Aspectos organizacionais variados (planilha OM-2).

Modelo
Aspectos organizacionais variados (OM-2)
organizacional

Estrutura

Processos

374
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

• Os papéis de cada agente envolvido estão representados


Pessoas
nos diagramas de processos (Atividades) acima.
Computacionais:
• Ferramentas de e-mail, mensagens instantâneas e edição de
texto, navegador web, software para gerenciamento de chamados
técnicos, banco de dados, servidor web, repositório de documentos
e equipamentos (servidor, rede intranet, computadores pessoais).
Recursos Humanos:
• Habilidades e competências pessoais, conhecimentos técnicos em TI.
Documentais:
• Os protocolos de troca de mensagens instantâneas, de
manipulação de e-mails, padrões de formatação de documentos,
armazenamento, recuperação e indexação dos dados requeridos.
Conhecimento sobre as competências requeridas (Expertise);
• Conhecimento das tarefas da equipe;
Conhecimento • Habilidades de extrair informações sobre o
conhecimento dos colaboradores;
• Habilidades de atendimento ao público.
Considerando tratar-se de um processo relação humana/profissional
é possível que hajam alguns reflexos no comportamento das
pessoas envolvidas, como por exemplo:
• Inadequação da formação interpessoal no que se refere ao
Cultura
envolvimento com os usuários durante/após o atendimento;
e poder
• Os valores éticos a serem observados;
• Preferências por um determinado atendente ou usuário;
• Usuários insatisfeitos pela falta de uma solução
imediata e/ou demora no atendimento/solução.

4.2.3 Modelo de Tarefas

Tabela 2. Análise de Tarefa (planilha TM-1).

Modelo de tarefa Análise de Tarefa (TM-1)


Tarefa 1 – Solicitar chamado técnico.
Organização Usuário
• Tem como objetivo organizar as ações relativas às
necessidades do Usuário quanto à procura de atendimento
Objetivo ou técnico, visando a solução de um problema;
valor agregado • O valor agregado concentra-se na organicidade
do Usuário possibilitando um direcionamento
adequado do Técnico para atendimento.
Dependências • Tarefa Precedente: Nenhuma
e Fluxo • Tarefa de Continuação: 2 - Realizar triagem.
Objetos • Objeto de Entrada: Telefone, email e Software de Help_Desk.
manuseados • Objeto de Saída: Chamado técnico registrado.

375
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

• Considerando todas as variáveis envolvidas e as peculiaridades


Tempo e de cada problema técnico, o atendimento pode ser de acordo
Controles com a conveniência do Usuário e disponibilidade de Técnicos.
• Os controles serão baseados nas limitações dos objetos de entrada.
Agentes • Usuário, Técnico e Software de Help-Desk.
• Os conhecimentos exigidos para esta atividade são de natureza tácita/
Conhecimento
operacional, envolvendo a compreensão dos objetos manuseados para
e competência
o efetivo atendimento, como também conhecimento em TI.
• Tempo disponível de acordo com as necessidades
Recursos
do Usuário e gravidade do seu problema.
Qualidade e • A métrica mais indicada é decorrente da cronometragem entre a fase
Performance inicial e final de cada tarefa executada pelos agentes envolvidos.

Tabela 3. Itens de Conhecimento (planilha TM-2).

Modelo de tarefa Itens de Conhecimento (TM-2)


Nome: Noções básicas de TI
Pertence: Usuário
Usado em: 1 – Solicitar chamado técnico
Domínio: Necessidades do Usuário
Natureza do Conhecimento Afirmativa Gargalos/Melhorias
Empírico, Rigoroso Não Aplicação de treinamento específico
Empírico, quantitativo Sim
Heurístico, Regras Não
Altamente especializada Não
Baseado em experiência Sim
Baseado em atividades Sim
Incompleto Sim
Incerto, pode estar incorreto Sim
Mudando rapidamente Sim
Difícil de verificar Não
Tácito, difícil de transmitir Sim/Não
Formato do conhecimento Afirmativa Gargalos/Melhorias
Mente Sim Aplicação de treinamento específico
Papel Sim/Não Utilizar documentação padronizada
Formato eletrônico Sim/Não
Habilidade da ação Sim
Outros -
Disponibilidade do conhecimento Afirmativa Gargalos/Melhorias
Limitações de tempo Sim Aplicação de treinamento específico
Limitações de espaço Sim/Não
Limitações de acesso Não
Limitações de qualidade Sim
Limitações de forma Sim

376
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

4.2.4 Modelo de Agentes

Tabela 4. Agentes (planilha AM-1.1).

Modelo de Agentes Agentes (AM-1.1)


Nome Usuário
Este agente é humano. É a pessoa (Usuário) que tem um
Organização
problema de TI e procura o Técnico para resolvê-lo.
Está envolvido em 1 – Solicitar chamado técnico
Comunica-se com Técnico/Atendente
Conhecimento Habilidades técnicas em TI
Capacidade de comunicação, operar aparelho
Outras competências
telefônico ou computador pessoal.
Responsabilidades e
Atender chamados e solucionar problemas técnicos.
Restrições (Regras)

Tabela 5. Agentes (planilha AM-1.2).

Modelo de Agentes Agentes (AM-1.2)


Nome Técnico
Este agente é humano. É a pessoa (Técnico) que
Organização
solucionará o problema de TI do Usuário.
1 – Solicitar chamado técnico, 2 - Realizar triagem, 3 -
Está envolvido em Verificar problema, 4 - Emitir parecer técnico, 5 - Simular
problema, 6 - Corrigir/Solucionar problema, 7 - Testar solução.
Comunica-se com Usuário.
Conhecimento Noções básicas de TI
Capacidade de comunicação, operar aparelho
Outras competências
telefônico ou computador pessoal.
Responsabilidades e
Solicitar atendimento técnico.
Restrições (Regras)

377
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

4.2.5 Modelo de Conhecimento

Figura 2 - Diagrama do Esquema de Domínio.

4.2.6 Modelo de Comunicação


4.2.6.1 Diagrama de Comunicação
As transações entre os agentes estão representadas no diagrama abaixo. Obtidas
do modelo de conhecimento, mais especificamente do esquema de domínio.

Figura 3. Diagrama de comunicação.

378
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

Tabela 6. Descrição de Transação (planilha CM-1).

Modelo de Comunicação Descrição da Transação 1 (CM-1)


Transação 1 Solicitação de chamado
Objeto de informação Descrição do problema
Agentes envolvidos Usuário, Atendente/Técnico
Plano de comunicação Registro detalhado do chamado
Restrições Meio de comunicação utilizado para registro do chamado
Especificação das Diálogo verbal, ou via telefone, ou via email, ou via
informações transferidas software de Help-Desk, ou via documentação.

Tabela 7. Especificação das informações transferidas (planilha CM-2).

Modelo de Comunicação Especificação das informações transferidas – (CM-2)


Transação 1 Solicitação de chamado
1 – “sender”: Usuário
Agentes envolvidos
2 – “receiver”: Atendente/Técnico
Diálogo verbal, ou via telefone, ou via email, ou via
Itens de informação
software de Help-Desk, ou via documentação.
1 – Tipo de comunicação: verbal
Especificação das
2 – Conteúdo: “desejo abrir um chamado técnico”
mensagens
3 – Referência: Jargão da TI
Controle da mensagem Registro no Software de Help-Desk

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Atualmente ainda é escassa a literatura que aborde especificamente o fluxo


de informação em TI com foco na GC.
De acordo com Rossetti & Morales (2007), provavelmente essa lacuna de-
corre da falta da clara distinção entre TI e GC, de modo que a interação ade-
quada entre ambas aumente substancialmente o desempenho organizacional,
permitindo às empresas posição de destaque no mercado.
Os resultados deste estudo propiciaram a implementação de um modelo
onde buscou-se convergir a gestão do fluxo de informação à GC, utilizando
como ferramenta a metodologia CommomKADS. Este modelo pode ser ainda
aperfeiçoado a partir da sua efetiva utilização nos serviços de atendimento de
TI do TJRO.
Com a aplicação do modelo proposto, até julho/2009, chegou-se aos resul-
tados apresentados abaixo.

379
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

Figura 4. Tabela de estatística mensal de solicitações de atendimento.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
É importante ressaltar que este estudo alinha o fluxo de informação à GC
tendo como suporte a metodologia CommomKADS. Pretendeu-se a criação de
um modelo para melhoria nos serviços de atendimento de TI do TJRO, focan-
do para a GC. Portanto, o esforço principal, ao propor um modelo conceitual
de fluxo de informação voltado para o ambiente de TI do Poder Judiciário, foi
delinear e estabelecer a convergência entre os dois tópicos de estudo visando a
implementação do modelo. Um dos resultados desse esforço foi a estruturação
do fluxo de informação no ambiente de TI da organização.
Para o efetivo sucesso desse trabalho, algumas ações deverão ser implemen-
tadas no futuro, tais como: avaliação periódica e ajustes do modelo (em especial
o modelo de comunicação), disseminação e replicação do modelo para outras
unidades do TJRO.

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380
CONeGOV 2009 | FULL PAPERS

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REZENDE, D.A.; ABREU, A.F, 2006 Tecnologia da Informação aplicada a Sistemas de
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YIN, R. K, 2001. Estudo de Caso - Planejamento e Método. Bookman, São Paulo.

381
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

382
SHORT PAPERS
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

384
O GOVERNO ELETRÔNICO COMO
EVOLUÇÃO DA GESTÃO PÚBLICA:
POLÍTICA PÚBLICA PARTICIPATIVA
COM OS OBSERVATÓRIOS DE
SEGURANÇA PÚBLICA

Edson Rosa Gomes da Silva


Universidade Federal de Santa Catarina
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento
Secretaria de Segurança Pública de Santa Catarina
edson@egc.ufsc.br

Aires José Rover


Universidade Federal de Santa Catarina
Professor do Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento
Aires.rover@gmail.com

RESUMO
Este artigo procura abordar e a evolução da gestão pública na sociedade brasileira e apresentas
suas diferenças ou longo do processo de maturidade administrativa governamental.
Mostra o governo eletrônico como uma possível forma de atingir e manter a tão esperada
maturidade na gestão pública, através dos seus componentes que evoluíram e estão cada
vez mais procurando uma maior interação com o cidadão e o governo. Expõe os resultados
de uma pesquisa bibliográfica e análise da pesquisa exploratória em site da internet para
evidenciar como a sociedade está se mobilizado para participar na constante melhoria e
aperfeiçoamento da segurança pública, com a criação dos observatórios de segurança. Frisa
que esses observatórios procuram coletar, armazenar e difundir conhecimentos e boas
práticas de segurança pública e realizar vários estudos para pontuar os problemas e procurar
as melhores soluções com a participação dos cidadãos. Por fim, fomenta a utilização, por
parte do governo das tecnologias de informação e comunicação para receber informações e
produzir conhecimentos profícuos para as políticas de segurança pública.

PALAVRAS-CHAVE
Governo Eletrônico; Segurança Pública; Gestão pública; Políticas Públicas.

1. INTRODUÇÃO
A gestão pública brasileira passou e vem passando por grandes transforma-
ções, essas transformações visam, sobretudo, aumentar a eficácia, a eficiência e a

385
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

efetividade nos serviços prestados ao cidadão, que galga a prerrogativa de ter seus
anseios satisfeitos, através de uma boa prestação de serviço pelos órgãos públicos.
Entretanto para se chegar a este nível de maturidade, que estamos procu-
rando atingir hoje, ocorreu uma enorme escalada para mudar a forma de admi-
nistrar a coisa pública.
Pode se fazer uma pequena verificação em algumas formas de gestão pú-
blica que foram empregadas em nossa sociedade. Não vamos fazer aqui juízo de
valor, tampouco versar sobre quão certo ou errado foi sua utilização, mas vamos
apresentar a evolução da visão do administrador público ao longo do tempo.
Claro que os tipos de gestão estão intrinsecamente ligados ao momento histórico
que a sociedade vivia. Entretanto, apenas com uma análise criteriosa da gestão
pública, vamos evoluir para alcançar a primazia na oferta dos serviços públicos
de qualidade e fugir dos erros do passado. Fazendo assim, que estas antigas for-
mas de gestão pública não floresçam de forma dissimulada.
Como forma de análise foi utilizada a pesquisa bibliográfica e através de
consultas a site da internet. Com uma verificação empírica nos sites, vislum-
braram-se as formas de interessam entre o governo e a sociedade pautada em
ferramentas tecnológicas.

2. A EVOLUÇÃO DA GESTÃO PÚBLICA


Para começar vamos verificar as formas de atuação da gestão publica e suas
denominações ao longo da procura pela excelência na prestação de serviço a
sociedade.
Para começar, citamos o Coronelismo que segundo Carvalho (1997, p 01) é:
[...] um sistema político nacional, baseado em barganhas entre o governo
e os coronéis. O governo estadual garante, para baixo, o poder do coronel
sobre seus dependentes e seus rivais, sobretudo cedendo-lhe o controle dos
cargos públicos, desde o delegado de polícia até a professora primária.
Desta forma, a gestão pública se fundamentava em interesses pessoais das
pessoas que trabalhavam no governo e eram envolvidas na administração públi-
ca, e das minorias procurando auferir vantagens da administração pública, neste
caso os coronéis.
O patrimonialismo, por sua vez se caracterizava por um Estado que não
possui distinções entre os limites do público e os limites do privado. Como men-
ciona Durante e Zavataro (2009, p. 02) a “principal função do estado patrimo-
nial era garantir emprego e sobrevivência dos funcionários públicos por meio de
prebendas e sinecuras”. Os critérios de tomada de decisão dos gestores públicos
eram pessoais e não existia nenhuma preocupação com os resultados que deve-
riam ser alcançados pela administração pública.

386
CONeGOV 2009 | SHORT PAPERS

A Burocracia se caracteriza por um forte sistema hierárquico, que tem alta


divisão de responsabilidade e seus membros executam invariavelmente regras e
procedimentos padrões. Esta forma de gestão tinha premissas que bem aplicadas
resolveriam problemas gerados pelas formas de gestão públicas acima mencio-
nadas. Como coloca Durante e Zavataro:
• Agir buscando a promoção de uma mudança cultural reforçando a se-
paração das esferas pública e privada, principalmente no tocante ao
patrimônio;
• Estabelecimento de rotinas formalizadas que controlam a atuação dos
funcionários públicos segundo regras definidas a priori;
• Valorização da impessoalidade e neutralidade do corpo de funcioná-
rios no sentido da separação entre o ocupante e o cargo, estabelecendo
que o burocrata deve reagir, não como pessoa, mas como ocupante do
cargo;
• Valorização da seleção meritocrática dos funcionários e da profissiona-
lização da carreira administrativa;
• A Institucionalização do controle legal como critério de avaliação da
ação administrativa e a eficácia como principio norteador da raciona-
lidade; e
• Rígida divisão entre a ordem política e burocratas e o estabelecimento
de uma hierarquia funcional vertical no interior do órgão público.
Entretanto, o que poderia ser um avanço, tornou-se, na maioria dos casos,
um problema para a administração pública, devido as distorções causadas por
interpretações equivocadas, fazendo com que os processos sofressem morosida-
des nos trâmites institucionais.
Assim, ficou fácil o surgimento do clientelismo que se parece muito com o
coronealismo, porém acontecem muitas vezes devido a fragilidade que certas
pessoas, que desconhecem seus direitos, uma vez que recebem vantagens e pro-
teção em troca do fornecimento de apoio político.
Já o gerencialismo puro que segundo Durante e Zavataro, envolveu princi-
palmente a adoção de instrumentos de racionalização orçamentária e de avalia-
ção de desempenho organizacional. Nesta concepção, se propunha a necessidade
de uma significação clara dos objetivos organizacionais, visando sua importân-
cia e não analisando somente enquanto processo administrativo. Desta forma,
seria necessária a valorização dos gerentes em função da suas habilidades e
criatividades para encontrar novas soluções aos problemas dando celeridade aos
processos.
Entretanto, novas formas de ajudar a controlar e fiscalizar a prestação de ser-
viços públicos com eficiência e transparência veio com a utilização do governo ele-
trônico que vem sendo empregado ainda de forma muito incipiente pelo governo.
Contudo, podemos ter mais retornos através das tecnologias da informa-
ção e comunicação que podem e estão sendo empregadas gradativamente na

387
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

esfera pública, primeiramente no nível operacional, tático e agora cada vez


mais no nível estratégico. Vejamos o governo eletrônico no contexto da gestão
pública.

3. GOVERNO ELETRÔNICO COMO


FERRAMENTA DE GESTÃO PÚBLICA
O Governo necessita de uma estrutura para atender o cidadão, por maior
ou menor que essa estrutura. Assim, atender o cidadão é um papel vital para a
manutenção do Estado moderno de direito e essa estrutura tende a ser afetada
nos dias de hoje pela tecnologia da informação. Uma definição de Governo, se-
gundo Hoeschl:
[...] é a gestão do poder público, em suas esferas e funções. Suas funções
são consideradas a partir da clássica tricotomia “legislativo”, “executi‑
vo” e “ judiciário”. Suas esferas, referenciadas pelo pacto federativo e pe‑
lo contexto constitucional, são a “municipal”, a “estadual” e a “ federal”.
Um importante ponto a ser esclarecido preliminarmente é a necessidade
de não se confundir a expressão “governo” com “poder executivo federal”
(Hoeschl, 2003).
O relatório e-readness da organização das Nações Unidas (United Nations)
(2004) os governos dos países subdesenvolvidos começam a perceber os ganhos
provenientes da sinergia entre a interação das novas tecnologias da informação
e comunicação, a educação da população e um ambiente propício para o desen-
volvimento tecnológico.
Essas relações econômicas que compõe a circulação de recursos na socieda-
de podem ser categorizadas, basicamente, em comércio eletrônico (e-commerce)
e governo eletrônico (e-government ou abreviadamente e-gov). Nessa divisão
básica há uma separação entre o setor privado e o setor governamental.
As Nações Unidas, por sua vez, apresentam uma definição de governo ele-
trônico ampla, caracterizando o conceito como qualquer serviço prestado pelo
governo por meio da Internet. Segundo as nações unidas o governo eletrônico
tem abrangido serviços de informação e prestação de serviços aos cidadãos, em-
presários, e entre órgãos do governo por meio eletrônico. O governo eletrônico
pode ser ainda considerado, segundo essa instituição como o uso da tecnologia
da informação para aumentar a eficácia das agências governamentais. Rover
(2005) apresenta uma visão genérica:
De uma forma mais genérica, o governo eletrônico é uma forma de or‑
ganização do conhecimento que permetirá que muitos atos e estruturas
meramente burocráticas simplesmente desapareçam e a execução de
tarefas que exijam uma atividade humana mais complexa seja facilitada
(Rover, 2005).

388
CONeGOV 2009 | SHORT PAPERS

A respeito ainda sobre as relações entre instituições no meio digital, há


ainda uma classificação bastante usual, exposta por O’Braian (2004), que ca-
tegoriza as relações econômicas da economia digital, conforme os agentes
envolvidos nas relações econômicas, que podem ser basicamente: empresa-
a-consumidor, do inglês “bussines-to-consumer”, ou abreviadamente B2C;
empresa-a-empresa, do inglês Business-to-business ou abreviadamente B2B;
consumidor-a-consumidor (do inglês Business-to-consumer ou abreviada-
mente C2C), e o Governo-ao-cidadão, (do inglês Government-to-Citizen ou
abreviadamente G2C), que trata de atividades voltadas para o provimento de
informações e serviços aos cidadãos, assim como de interação entre o cidadão
e o governo.
Adicionalmente ainda há a circulação de informação entre órgãos do go-
verno, Governo-a-governo, do inglês Government-to-government, ou abrevia-
damente G2G.
Embora se utilize esta classificação o governo eletrônico se substancia com
a utilização das tecnologias da informação e das telecomunicações, integradas
em rede, a fim de prover serviços e informações para toda a sociedade, a qual-
quer hora e em qualquer lugar, fortalecendo a democracia.
Visto isto, podemos dizer que o governo eletrônico tem seus componentes,
sendo apresentados da seguinte forma:
• e-Administração = Administração Eletrônica
• e-Serviços = Serviços Eletrônicos
• e-Negócios = Negócios Eletrônicos
Contudo esta visão sofreu alterações no cenário internacional, e essa mu-
dança não foi acompanhada pelas organizações Brasileiras no tocante ao go-
verno eletrônico. O Relatório Organização das Nações Unidas (ONU) Un
E-Government Survey 2008: from e-government to connected governance, faz
uma crítica a postura de muitos paises que caíram no ranking mundial do go-
verno eletrônico. O próprio Brasil amargou uma queda de 12 posições em 2008
comparado com o ano de 2005. A mudança ocorreu, sobretudo, na forma de
interação e prestação de serviços à sociedade. Novos componentes que estão no
foco são as seguintes formas de interação com a sociedade:
• E-Participação = Participação Eletrônica
Uso de TIC´s no processo de contribuição da melhoria da qualidade
de vida e estimulo ao envolvimento da população na identificação de
problemas e procura de soluções.
• E-Cidadania = Cidadania Eletrônica
Uso de TICs para aproximar o gestor público do cidadão, com base na
transparência, na eficiência e na melhora do bem estar do cidadão. Bem
como o uso de TICs para auxiliar e mobilizar o cidadão no exercício
da cidadania.

389
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

• E-Democracia = Democracia Eletrônica


Compreendida como a emergência das TICs e da participação direta do
cidadão na política mediante o uso das novas tecnologias. É uma opção
ao processo existente, não necessariamente um substituto. É a facilida-
de, comodidade e a redução de custos para que a população participe
de plebiscitos e eleições.
Outro ponto que deve ser mencionado é a utilização da internet 2.0 (WEB
2.0). A WEB 2.0 é considerada a segunda geração dos serviços de internet,
dotada de maior interação, criação de comunidades e redes de relacionamento
(Gregório e Bolliger, 2008).
Segundo a wikipedia, que é um aplicativo da WEB 2.0 “a regra mais impor-
tante é desenvolver aplicativos que aproveitem os efeitos de rede para se torna-
rem melhores quanto mais são usados pelas pessoas, aproveitando a inteligência
coletiva”.
Neste sentido as TICs podem ser empregadas em uma gestão pública mais
profícua, através do governo eletrônico na prestação, na interação, na participa-
ção e na busca por uma cidadania mais efetiva.
Rocha (2000), menciona que Estado e Municípios não alcançam seu inteiro
desenvolvimento se não usarem informações precisas, atualizadas e de forma
rápida sobre os melhores meios de otimizarem os recursos gerados em sua socie-
dade. Acreditamos que o governo federal tem papel importante nesse processo e
deva ser o órgão fomentador.
Entretanto, a gestão pública tem que se preparar para essas formas de bus-
car a interação e motivar a sociedade a participar efetivamente interagindo com
a administração.
Alguns setores da administração pública estão procurando interatuar com
os cidadãos, buscando retornos para desenvolver suas políticas públicas.
A segurança pública por ser mais conservadora e adotar métodos mais
convencionais de trabalhar com a criminalidade deve aderir gradativamente as
novas formas de interação. Até por que a sociedade está procurando jeitos de
ajudar a segurança pública.
Caso da iniciativa do site que foi desenvolvido em WEB 2.0, o nome utili-
zado é Wikicrimes. Este site mapeia, de forma colaborativa, crimes praticados
no Brasil, permitindo que qualquer pessoa com acesso a internet marcar em um
mapa o local onde foi vítima de um crime.
Outras iniciativas podem ser utilizadas, pois existe vários site, alguns de
Organizações Não Governamentais (ONGs), que recebem informações sobre as-
suntos de segurança pública. O governo pode incentivar a adoção de ferramentas
via internet, celular e outras para interagir com a sociedade e ter informações
que subsidiem a criação das políticas publicas.

390
CONeGOV 2009 | SHORT PAPERS

4. A PARTICIPAÇÃO DA SOCIEDADE PARA


MELHORAR A SEGURANÇA PÚBLICA
A sociedade está se sentindo insegura e cobra das autoridades solução para
o problema da falta de segurança, principalmente nos grandes centros. Formas
arcaicas de fazer segurança pública, que não procuram diagnosticar as causas
e efeitos, verificar a incidência e apontar os gargalos para agir na prevenção,
repressão e combate ainda são empregadas pelos governos.
Vendo este desencontrar de ações a sociedade se organiza para auxiliar as
autoridades a corrigir os erros de aplicação dos recursos públicos em segurança.
Entretanto, os órgãos públicos, na sua maioria, não estão preparados para
receber o auxilio de sociedade. Muitos se querem estão atuando dentro deste
novo contexto da sociedade da informação. Não utilizam as tecnologias da in-
formação e comunicação - TIC para implantar um governo eletrônico que satis-
faça os anseios da comunidade.
Segundo Silva (2006, p 26) com os avanços espantosos das tecnologias nas
áreas mais significativas da esfera global, os grupos de criminosos utilizam as
novas formas de comunicação e transporte. Saindo assim na frente dos gover-
nos, utilizando técnicas avançadas de gerenciamento, controle de produção e
distribuição. Este é o caso dos cartéis de drogas no mundo.
As ações do governo se resumem as páginas na internet dos órgãos de se-
gurança, algumas possuem Net denúncia, ou seja, disponibiliza um espaço as
pessoas encaminharem e-mail sobre denúncias, mas sem se preocupar com dú-
vidas e sugestões. Outras disponibilizam registro de ocorrências através da web
para perda de documento.
Estes órgãos não estão preocupados, com raríssimas exceções, na opinião
da sociedade para formular suas políticas de segurança de forma participativa.
Quando o estado não desempenha suas atribuições de forma satisfatória
surgem ações nas duas vertentes maniqueístas para resolver o problema. Por
um lado os criminosos com sua política assistencialista recebendo a demanda
da sociedade carente e procurando sanar esta demanda para poder legitimar
suas ações e camuflar seus interesses de obter lucro com a exploração de atos
ilícitos. Caso da distribuição de sextas básicas transporte para doentes, for-
necimento de remédios e até proteção contra furtos e roubos. Segundo Melo
(1999): “A criminalidade do fim do século se caracteriza por ser complexa; e
é este o atributo que vai direcionar a forma precisa e eficiente de combatê-la
ou controlá-la”.
Outro lado é a sensibilização da sociedade que procura criar organizações
não governamentais para monitor, estudar, armazenar e difundir boas práti-
cas implantadas. Estas ações são boas e devem ser analisadas e copiadas pelos

391
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

governos. É caso dos observatórios que estão ganhando terreno nos estados. O
verbo que dá origem a palavra em si vem do latim: observare; que no nosso idio-
ma gerou o verbo observar que adquiriu vários sentidos os quais necessariamen-
te teremos de compreender para definir o significado correto de um observatório
- local de onde se observa: O primeiro deles é examinar minuciosamente; olhar
com atenção; estudar.
Portanto um Observatório deverá possuir instrumentos que permitam exa-
minar minuciosamente a realidade que cerca os fatos e atos da órbita do objeto
a que se destina.
Outro significado para observar é espiar, espreitar; ver sem ser visto é um
atributo da observação que é complementar ao seu próprio sentido, quem ob-
serva não interfere naquilo que observa, pois necessita compreender o fato para
entendê-lo.
Também é significado de observar cumprir ou respeitar as prescrições ou
preceitos de alguma instituição ou acordo; obedecer a estas prescrições; praticar
o que foi estabelecido entre as partes. Um observatório deverá constituir um pro-
tocolo claro de ações para cumprir com as partes envolvidas no procedimento
de observar.
Mas observar também é notar, advertir alguém ou alguma organização ou
instituição por uma falha cometida ou por um procedimento errado ou inade-
quado. Esta interpretação do sentido de observar pode produzir uma sensação de
incoerência entre ver sem ser visto e a ação de advertir. Porém neste sentido não
existe aí contraditório, trata-se de temporalidade, só pode advertir aquele que
observou com atenção, que ponderou os pesos e medidas do ato ou fato e pode,
assim, exarar sua advertência.
Os observatórios pesquisados neste artigo são referentes a segurança públi-
ca, abaixo estão os links de acesso as páginas web. As informações disponíveis
vão desde noticias de jornais, denúncias, noticias da mídia e apresentação de
entrevistas e vídeos.
Entre as informações disponíveis, podemos destacas as melhores práticas
de segurança, que são focos de alguns destes sites.
Alguns dos sites disponibilizam espaço para interação com o cidadão e
procuram montar uma base sólida para aprofundar análise sobre vitimização e
ações de segurança.
Verificamos os seguintes observatórios de segurança:
• Observatório Interdisciplinar de Segurança Pública do Território
Bahia;
• O Observatório das Violências Policiais-SP;
• O Observatório de Segurança Pública da UNESP – OSP; e
• O Observatório de Favelas;

392
CONeGOV 2009 | SHORT PAPERS

Como o próprio observatório do território da Bahia destaca o papel do ob-


servatório que versar para:
Acrescentam-se as qualidades de uma observação ou de um observatório
a capacitação advinda da interdisciplinaridade ou de várias áreas do
conhecimento, permitindo-se a construção a partir dos fatos observados,
de conhecimento além e acima do que se esperaria de uma única fonte de
análise ou de um único procedimento de análise. À análise sociológica
- compreensão dos fatos sociais - é acrescida a análise regional - sócio-
econômica - e a análise sob a ótica da administração estratégica - a gestão
- produzindo-se novos conhecimentos acima e além da pura e simples
observação - coleta dos dados. (Observatório do Território da Bahia,
acesso em: 22/10/2008).
Enquanto alguns portais procuram dar voz à comunidade, contra os abusos
cometidos pelos agentes de segurança pública, outros disponibilizam informa-
ções sobre segurança pública. Boas práticas em programas de segurança tam-
bém são alvos da divulgação. Outros observatórios são mais atuantes e tem seu
foco em direções mais ousadas como o caso do Observatório de Favelas que “é
uma organização social de pesquisa, consultoria e ação pública dedicada à pro-
dução do conhecimento e de proposições políticas sobre as favelas e fenômenos
urbanos”.
Muitas iniciativas destes tipos estão surgindo, mas resta saber por que o
governo não utiliza o governo eletrônico como meio de comunicação entre a
sociedade e o governo para procurar alinhar as ações de segurança pública e
até mesmo subsidiar na construção das políticas de segurança públicas. Diniz
(2003, p. 5) esclarece que uma das principais formas de modernização do estado
é resultado do uso estratégico e intensivo das tecnologias de informação e comu-
nicação (TIC), nas relações internas dos próprios órgãos de governo e também
das relações do setor público com os cidadãos e as empresas.
Este é sem dúvidas um desafio às autoridades governamentais para buscar
uma segurança pública participativa, que trate a sociedade como protagonista
nas ações implementadas pelo governo para segurança pública.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Embora haja a preocupação e se procure evoluir e melhorar a gestão pública
há sempre pessoas que não achem que a adoção de novas formas de atuação pe-
rante problemas pontuais, como o caso da administração pública e mais precisa-
mente falando da segurança pública. Estas ações devem ficar a cargo apenas dos
administradores públicos e políticos numa espécie de monopólio administrativo
e político. No Brasil, as ações para separar a máquina pública de interesses pes-
soais, vêm sendo desenvolvidas ao longo das décadas e atingiu pontos inimagi-
náveis, mas ainda está um pouco longe o ideal.

393
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

Algumas poucas pessoas sejam pelas facilidades que encontram retirar


vantagens indevidas, por comodidade ou até para manutenção de sua posição,
relutam em adotar meios mais eficiente de interagir com a sociedade e buscar
soluções de forma conjunta.
O governo eletrônico tem obtido sucesso em muitos países, pois utiliza as
tecnologias de informação e comunicação para buscar a participação do contri-
buinte. Com estas TICs o governo atende de forma mais efetiva os cidadãos que
procuram auxiliar o governo com a identificação dos problemas, a busca pelas
soluções e nas prioridades de aplicação dos recursos.
Os observatórios de segurança pública são uma clara demonstração de que
as TICs podem ajudar nas estratégias de prevenção e combate a criminalidade. A
sociedade está ávida por soluções e quer participar de forma efetiva nas políticas
de segurança pública. Portanto, basta o governo se preparar para interagir com
seus cidadãos e o governo eletrônico é a forma ideal para que se mude drastica-
mente o jeito de governar.

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395
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

396
REDES SOCIAIS NO GOVERNO
ELETRÔNICO

Gisele Dziekaniak
Professora do Instituto de Ciências Humanas e da Informação da Universidade Federal
do Rio Grande
Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do
Conhecimento da Universidade Federal de Santa Catarina
giseledziekaniak@yahoo.com.br

RESUMO

Aborda a comunicação através das redes sociais eletrônicas como possibilidade ao


cidadão ter voz e vez em processos e decisões sociais, políticas, culturais e econômicas
de seu país. Este novo modus operandi, que vem a ser o uso das redes sociais para
trocas simbólicas, está se consolidando sobretudo devido às possibilidades permitidas
pela internet. Para melhor avaliar e promover a disseminação deste recurso enquanto
canal efetivo de comunicação, as redes sociais precisam ser estudadas e, principalmente
assumidas pelo Estado, como uma possibilidade de interação significativa para propostas
de desenvolvimento de governo eletrônico na utilização destas tecnologias visando
à promoção da sociedade do conhecimento. Neste sentido o artigo busca discutir e
apresentar algumas possibilidades pelas quais a prática da disseminação e fomento de
redes sociais não é bem utilizada no âmbito do governo eletrônico e discutir brevemente
questões relacionadas à cidadania. Pretende-se apontar possíveis razões que denotam por
que o governo ainda resiste em utilizar as tecnologias da informação, como é o caso das
redes sociais, para desenvolver e envolver o cidadão no universo político, tornando-o
partícipe e igualmente responsável por suas decisões, considerando o cidadão um ator
efetivo na gestão governamental. Acredita-se que a promoção do uso de redes sociais
pelo governo seja um catalisador para que o cidadão comum se desenvolva intelectual e
socialmente, fornecendo a ele instrumental que o torne apto ao exercício da cidadania e
ao amplo acesso às informações que possibilitará ser a sociedade do conhecimento, uma
realidade para todos.

PALAVRAS-CHAVE

Redes sociais; governo eletrônico; e-cidadania; sociedade do conhecimento.

1. INTRODUÇÃO
As denominadas tecnologias de informação e comunicação (TICs) oportu-
nizaram e possibilitaram novos formatos de comunicação e trocas simbólicas
entre indivíduos. Barreiras geográficas foram rompidas e serviços on-line 24/7

397
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

(vinte quatro horas por dia durante os sete dias da semana) estão a cada dia mais
comuns e de uso corrente.
Grandes mudanças ocorreram na sociedade contemporânea, as quais trou-
xeram consigo o emblema de uma nova sociedade, a sociedade do conhecimen-
to. Contudo, sabe-se que esta mudança não se deu, nem se dá de forma homogê-
nea em todos os continentes do mundo nem mesmo dentro de um mesmo país. O
Brasil, por exemplo, apesar de contar com grandes pesquisas de ponta, conside-
ráveis investimentos em P&D (pesquisa e desenvolvimento), e sediar empresas
nacionais que operam com grande volume de exportação, ainda falta muito para
se caracterizar como sendo uma sociedade do conhecimento.
O que mais chama a atenção na promessa da sociedade do conhecimento é
o axioma defendido quanto ao crescimento do conhecimento quando comparti-
lhado. Este novo paradigma, obscurecido pelo ideal capitalista de acúmulo de
conhecimento para geração de riqueza, vem à tona nos discursos dos defensores
desta nova ideologia de sociedade. As atividades humanas, na promessa desta
nova sociedade, deixam de ser individualizadas e passam a ser colaborativas em
um devir acerca do ofertar para receber. No entanto, grande parcela de sua popu-
lação permanece alheia à informação e principalmente alheia ao conhecimento.
Paradoxalmente, de acordo com os últimos dados disponibilizados pelo
Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI), por meio da Pesquisa TIC Domicílios
2007, mais da metade da população brasileira já teve acesso a computador e,
cerca de 40% possui pelo menos um em sua residência. A pesquisa revela que
cerca de 34% da população afirmou ter navegado na internet nos últimos três
meses à época da pesquisa.
Diante desta realidade, se percebe a capacidade que o país possui e, que
comportaria, de melhor direcionar os serviços públicos através da internet, fa-
cilitando o atendimento das demandas da sociedade por permanente interação
e comunicação 24/7 entre os cidadãos e o Estado (G2C) e, gerando canais de
comunicação entre os próprios cidadãos (C2C).
Isto, porém, não vem acontecendo com a devida intensidade, deixando de
responder a um dos novos modus operandi de comunicação entre as pessoas: as
redes sociais.
Esta nova tendência facilitadora da comunicação em tempo real e sem fron-
teiras gera nos cidadãos a perspectiva de ser cada vez mais possível ter voz e
vez, independente do lugar em que se esteja. E, quando se fala em “lugar”, não
está se referindo somente à localização geográfica espacial, mas principalmente
acerca do lugar social, político, cultural e econômico que o indivíduo ocupa na
sociedade.
Outra característica que as redes sociais possibilitam e fomentam diz res-
peito à capacidade de tomada de decisão em diversos fóruns de discussões e opi-
niões espalhados pelo ciberespaço. Ambientes que vêm se consolidando e que

398
CONeGOV 2009 | SHORT PAPERS

servem de escola ao cidadão nos processos próximos se não plenos, ao menos


próximos, do exercício da cidadania.
Estes novos costumes e tendências estão se consolidando, sobretudo pela
internet na sociedade brasileira, e necessitam ser estudadas e assumidas pelo
Estado, como possibilidades de interação significativa para propostas de desen-
volvimento de governo eletrônico na utilização destas tecnologias, visando a
promoção da sociedade do conhecimento.
Fleury (2003 apud OLIVEIRA, 2008, p. 17) classifica a Era do Conhecimento
e da Informação como uma:
Sociedade caracterizada por alto nível de intensidade de informação no
cotidiano da maioria dos cidadãos, empresas e locais de trabalho, pelo
uso de tecnologia comum e compatível para um amplo espectro de ativi‑
dades pessoais, sociais, educacionais e empresarias; e pela capacidade
de transmitir, receber e trocar dados digitais rapidamente entre locais
distintos, independentemente da distância entre os mesmos.
Sociedade esta que tem como uma de suas características a valorização da
disseminação de informações, capacitando o cidadão a ser seu próprio represen-
tante na estrutura do Estado. Representação legitimada pela consistência intelec-
tual e moral desenvolvida pelos indivíduos através das trocas simbólicas, também
permitidas e estimuladas pelos fóruns eletrônicos (redes sociais eletrônicas).
Esta reunião de coletivos e o apontar de algumas possibilidades para a au-
sência do estímulo para fomento desta estrutura de redes de comunicação no
âmbito governamental, tanto entre cidadãos como entre governo e cidadão, é o
objeto de estudo deste texto que visa demonstrar, antes de tudo, a importância da
reunião de atores como governo e cidadãos com o foco no interesse social atra-
vés das redes sociais eletrônicas e desvelar alguns motivos pelos quais as redes
sociais não são ainda uma realidade efetiva no governo eletrônico.

2. REDES SOCIAIS ELETRÔNICAS


OU E-REDES SOCIAIS
Como um dos maiores fenômenos mundiais da prática da comunicação
à distância, as redes sociais eletrônicas vem ganhando terreno, influenciadas
pela internet alterando assim o modus operandi da sociedade contemporânea.
Tal prática favorece a comunicação sem fronteiras e a existência de coletivos,
reunidos virtualmente em prol de objetivos comuns, formando e consolidando
identidades de grupos sociais.
De acordo com Wasserman e Faust (1998) “Uma rede social (do inglês so‑
cial network) consiste de um ou mais conjuntos finitos de atores [e eventos] e
todas as relações definidas entre eles”.

399
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

As redes sociais existem sob diversos interesses e atendem a distintos obje-


tivos. Existem redes especializadas em identificar a árvore genealógica e auxi-
liar as pessoas na construção de suas árvores, como é o caso da MeusParentes,
rede social que conta com mais de 30.000.000 de membros em vários lugares
do mundo.
Para quem deseja formar sua rede de relacionamentos sociais, existe o
Orkut, o MySpace e o Facebook americano, dentre outros,. Estes três contam
juntos com mais de 308.000.0001 de usuários no mundo todo.
Além destas redes existem as redes que interessam a esta discussão: as re-
des sociais com o objetivo de favorecer a promoção do desenvolvimento cultu-
ral, social, político e econômico, visando uma sociedade mais igualitária, que
se distancie cada vez mais da exclusão social, cultural e digital. Estas redes,
preocupadas também em atingir a e-democracia e a e-participação, primam por
tornar horizontais as “relações de poder” e os círculos de decisão na sociedade
contemporânea, oportunizando, a todos os cidadãos interessados, a participarem
efetivamente de decisões de interesse comum da sociedade.
Por tal movimento de comunicação, denominado de e-participação, se pode
compreender o fenômeno tecnológico oportunizado pelos canais de tecnologia
de informação e comunicação que, teoricamente, possibilitam a participação dos
cidadãos, via ambiente eletrônico (internet, celular). Estas vias de comunicação
prestam-se em ofertar ou receber informações e favorecer a troca de conheci-
mento entre os cidadãos interessados nas mesmas temáticas ou com os mesmos
objetivos.
Para tanto, no estágio atual da sociedade brasileira, marcada por profunda
heterogeneidade social, cultural e econômica, ações em torno de estimular os
cidadãos a participarem destes canais são fundamentais.
Atingir-se-á a plena e-cidadania no país (se é que isso um dia será possível),
quando os cidadãos se tornarem conscientes de seus direitos e deveres sociais
e, isto pode ser oportunizado pelo estímulo a e-participação, uma vez que é ela
quem possibilita às pessoas, não precisarem teoricamente se deslocar de casa
para discutirem e decidirem temas de seu interesse, sobre sua cidade, bairro ou,
sobre os horários em que a biblioteca do Senado estará aberta para receber e
auxiliar o seu público na busca por informações.
Quanto à e-cidadania, esta pode ser concebida como um dos modelos ideais
do exercício cidadão. Em dias atribulados como os que vivenciam a sociedade
contemporânea torna-se complicado encontrar espaço para sair do trabalho para
eleger ou decidir in loco sobre uma pauta de votação na prefeitura da cidade. Os
serviços denominados “e” (abreviação de eletrônico) favorecem e possibilitam

1 O Orkut conta com aproximadamente 120.000.000 de usuários, o MySpace com


30.000.000 e o Facebook com cerca de 58.000.00 usuários nos Estados Unidos. (Fonte:
WIKIPÉDIA, Nov. 2008)

400
CONeGOV 2009 | SHORT PAPERS

esta comunicação e participação à distância, inserindo (ainda que na teoria, por


enquanto) o cidadão nas decisões da sociedade.
Mas como se pode perceber, a e-cidadania não é só uma possibilidade adi-
cional de se exercer a cidadania. O movimento que se está tentando realizar
através dela é fazer o que a busca pela cidadania tradicional não conseguiu dar
conta: oportunizar e estimular a criação de canais formais de comunicação efe-
tivos, para que os cidadãos possam exercê-la junto à sua comunidade, sociedade
e poderes legislativos e executivos.
Inclusive despertar nas pessoas a consciência pela importância do exercício
desta cidadania, compreendendo o que a mesma vem a ser e, aquilo que ela pode
agregar à sociedade, quando várias consciências se reúnem como medida de
política social.
Por outro prisma, não se pode reincidir no que Carvalho (2008) denomi-
nou de “ingenuidade no entusiasmo”, quando devido ao fim da ditadura militar
no Brasil em 1985, políticos, intelectuais, jornalistas, associações e os cidadãos
comuns, passaram a acreditar que a democratização das instituições traria a “fe-
licidade nacional”. Segundo o referido autor: “a manifestação do pensamento é
livre, a ação política e sindical é livre. De participação também.” (CARVALHO,
2008, p. 7).
Porém essa participação e liberdade de pensamento, segundo ele, não ga-
rante a resolução dos problemas sociais. Até mesmo porque, essa liberdade de
pensamento não permite automaticamente a apropriação de outros direitos como
segurança ou a resolução de mazelas sociais.
Pensamento sofisticado acerca de uma das problemáticas da possibilidade
do exercício de cidadania foi posto por Boaventura (1997), ao expor que a reno-
vação da teoria democrática não estaria confinada apenas ao direito ao ato do
voto. Mas sim na articulação entre a democracia representativa e a participativa,
o que implica na necessidade de que o campo político seja ampliado. Uma vez
que, para Boaventura (1997), a própria teoria liberal modificou o espaço polí-
tico em uma dimensão especializada da práxis social; confinando o espaço da
cidadania ao Estado. Através disso, “todas as outras dimensões da prática social
foram despolitizadas e, com isso, mantidas imunes ao exercício da cidadania.”
(BOAVENTURA, 1997, p. 271).
Mesmo vislumbrando de modo não ingênuo as facetas sobre as dimensões
da cidadania, ainda assim é preciso exercitar formas de compreendê-la, não ne-
gá-la como projeto possível, para bem implementá-la. Neste contexto, discute-se
a importância das redes sociais, não as compreendendo como o resumo de tudo
que de melhor e ímpar se pode construir e estabelecer para se constituir a cida-
dania, mas como uma das tantas oportunidades dentre o conjunto das melhores
práticas para o seu exercício, no âmbito da comunicação-ação.
Nesta mesma linha, Jacobi (2002, p. 143) faz a seguinte afirmação:

401
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

A construção da cidadania no Brasil, num contexto crescente de desigual‑


dades, implica necessariamente a superação das formas de dominação de
uma cultura política baseada na tutela, no clientelismo e no patrimonia‑
lismo político. Cumpre subsidiar as práticas sociais existentes por novas
formas de relação que tenham na participação um componente essencial.
(...) O desafio que se impõe é construir novos hábitos, neutralizar o clien‑
telismo e aproximar o cidadão do processo decisório.
Neste sentido pode-se considerar como uma das principais contribuições
das redes sociais, a união e articulação dos indivíduos, de certo modo não tutela-
dos, autores autônomos, os quais através destas redes, se organizam de maneira
igualitária, práxis que favorece a potencialização da realização do desenvolvi-
mento social, cultural, econômico e político. Participar de uma rede social é um
exercício, sobretudo político.
De acordo com Santaliestra (2007, p. 13-14), sob o aspecto histórico da exis-
tência das redes sociais, ele aborda que:
Ainda no contexto de reconstrução da nossa democracia, muitos outros
grupos sociais se organizaram em redes, em torno de idéias, identidades
e causas. Desde o início dos anos 1990, novas redes sociais surgiram e,
depois, redes de redes, constituindo um movimento rico e desafiador, que
tem envolvido cada vez mais pessoas, e que vem criando novos padrões de
relação entre sociedade civil e Estado.
As redes sociais devem ser entendidas como instrumento de agregação de
valor às relações entre a sociedade civil organizada e o Estado, no fomento pelo
desenvolvimento social, econômico e cultural de uma nação.

3. GOVERNO ELETRÔNICO (E-GOV)


Pretende-se a partir da discussão das redes sociais identificar a importância
do governo fazer uso destas redes como ferramenta de apoio para a comunicação
na busca pela satisfação das demandas sociais e intelectuais da sociedade em
geral. Uma sociedade conectada necessita de um governo também conectado e
preocupado em oferecer serviços e produtos em rede.
De mesma relevância torna-se a importância do surgimento de redes sociais
que viabilizem a existência do e-Gov participativo, por meio da análise de al-
guns fatores considerados como pontos focais para a resistência ao fomento de
canais efetivos de comunicação entre o governo e o cidadão, sempre com um
olhar que torna parceiros governo e cidadão. Para isso importante se faz compre-
ender quais seriam as melhores práticas de uso e aplicação de redes sociais pelo
governo. Entendendo este como o provável facilitador e promotor destes canais.
O chamado governo eletrônico, entendido muitas vezes apenas como a
governança pública via tecnologias de informação e comunicação, precisa se

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CONeGOV 2009 | SHORT PAPERS

revitalizar e incorporar em sua filosofia de desenvolvimento e atuação, o fo-


mento a projetos de redes sociais e, igualmente, fazer uso delas para, junto
com os cidadãos, chegar a melhores práticas de democracia e participação
popular em busca das melhores decisões governamentais de modo plenamente
democrático.
Apesar de existirem projetos governamentais pelos quais se torna reduzida
a carga de impostos de computadores visando sua aquisição pelas classes sociais
menos favorecidas, estes programas não contemplam “o que fazer com estes
computadores”. Há ainda o Programa Banda Larga nas Escolas, mas o mesmo
ronda em torno da disponibilização e apenas sob os termos do como usar e não
do por que usar?, ou ainda, para que usar?
Tais perguntas precisam estar atreladas à filosofia de um Estado que visa
não somente aparelhar, mas também e, principalmente favorecer a educação via
tecnologia da informação preparando a população para a entrada na sociedade
do conhecimento (não só com o conhecimento tecnológico).
Prova de quando uma nação quer, ela consegue, este programa mencionado,
acerca da diminuição dos impostos nas vendas dos computadores, alavancou de
tal modo o consumo de computadores, que acabou tornando o Brasil o maior
mercado de computadores da América Latina (SANTOS, 2008).
Quanto às redes sociais, elas podem ser utilizadas para potencializar o go-
verno eletrônico, uma vez que elas estão inseridas em um contexto relativamente
novo, talvez com a mesma idade do próprio governo eletrônico, que é o contexto
da comunicação eletrônica e à distância, fomentando novas práticas sociais junto
ao cidadão.
De acordo com Ribas e Ziviani (2008, p.3), acerca das possibilidades das
redes sociais, pode se compreender que
O grande potencial existente no contexto das redes se refere ao fato de que
a informação não se encontra mais centralizada, o seu detentor não é mais
uma única pessoa, ou seja, ampliam-se as fontes de informação. Nesse
sentido, o seu poder de circulação é muito maior e dinâmico e a tecnologia
trabalha justamente em prol dessa disseminação.
Com isso amplia-se o poder de interação social do cidadão comum, bem
como se expande a possibilidade de todo e qualquer cidadão que desejar partici-
par das discussões que são focadas pela rede (ou até mesmo propor novos temas
para discussão) assim o faça independente de onde esteja fisicamente.
Quando se vislumbra boas práticas de e-Gov deve estar incluída nesta dis-
cussão, a filosofia da transparência, da confiabilidade, e do direito a privacidade
do cidadão, além da possibilidade de comunicação real time, onde a relação G2C
(government to citizen), que é a relação constituída entre governo e cidadãos,
é priorizada e tornada capaz de fluir e acontecer sem que o governo caia no
descrédito por ausência de respostas em tempo hábil às demandas da sociedade.

403
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

De acordo com Carvalho (2007) a democracia e a descentralização das


ações públicas compõem uma substantiva mudança exigindo da governança pú-
blica “a participação dos diversos sujeitos do fazer social: o Estado, a sociedade
civil, a iniciativa empresarial [o mercado], a comunidade e o próprio público-
alvo da ação pública.” (CARVALHO, 2007, p.4).
E, quanto à apropriação das tecnologias da informação e comunicação no
âmbito do Governo, elas possibilitam que esta organização saia do plano tá-
cito, e passe a atuar no plano estratégico, oferecendo, quando bem utilizadas,
informações privilegiadas aos gestores públicos, como é o caso das informa-
ções acerca de demandas sociais importantes e pontuais em diferentes níveis de
complexidade.
A seguir discutem-se prováveis motivos para as precárias condições de co-
municação entre governo e cidadão via ciberespaço.

4. REFLEXÕES ACERCA DOS MOTIVOS PARA


NÃO OCORRER COLABORAÇÃO EFETIVA
ENTRE GOVERNO E SOCIEDADE ATRAVÉS
DO E-GOV E DAS REDES SOCIAIS
O que se tem hoje, em termos de iniciativas na utilização de ferramentas
para o desenvolvimento de redes sociais no âmbito governamental e o estímulo
realizado pelo governo para a promoção de espaços coletivos para discussões,
decisões e a efetiva comunicação entre os cidadãos e entre o governo e os cida-
dãos, pode ser considerado como irrelevante diante das possibilidades que as
TICs oferecem, inclusive por meio da filosofia de software livre.
O cidadão já aprendeu a se comunicar eletronicamente, ele possui hábitos já
mapeados de acesso a internet; logo, a problemática está em por que o governo
ainda resiste em utilizar desse saber-fazer para desenvolver e envolver o cidadão
no universo político? Torná-lo partícipe e igualmente responsável por suas deci-
sões, sendo ele uma espécie de gestor auxiliar nas decisões do governo.
De acordo com o Comitê Gestor da Internet no Brasil, em outubro de 2009
havia um total de 1.866.261 de domínios registrados somente no Brasil entre
pessoas físicas, jurídicas, profissionais liberais, universidades e domínios gené-
ricos. O que denota grande utilização da Internet por brasileiros.
Algumas possibilidades se revelam sobre a ausência da existência de canais
de comunicação férteis e efetivos entre o governo e o cidadão, em que a prática
do uso de redes sociais estimularia o cidadão a exercer a e-cidadania. Acredita-
se que a maioria destas causas estejam relacionadas ao desinteresse governa-
mental para que as redes sociais obtenham sucesso. E, mais ainda, acredita-se
que este desinteresse não seja tão desinteressado assim.

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CONeGOV 2009 | SHORT PAPERS

Em princípio, entende-se que falta ao Estado compreender os motivos e


demandas que levariam o cidadão a deixar seus fazeres e responsabilidades par-
ticulares diárias para se dedicarem ao exercício da e-participação. Em outras
palavras o Estado talvez ainda questione se vale à pena investir nestes canais.
Se haveria foro efetivo com amplo acesso e disseminação de boas práticas, em
contrapartida aos investimentos realizados pelo Governo. Isso ainda ocorre por
conta da desatualização deste seguimento acerca das práticas culturais e sociais,
uma vez que a Internet é uma realidade consolidada e as relações sociais se dão
cada vez mais neste âmbito.
Outra possibilidade da lacuna comunicacional seria o desinteresse por parte
do governo em envolver o cidadão em consultas, o que de fato daria poder de-
cisório à população. O culto à manutenção da representatividade dentro dos go-
vernos é algo existente no cenário político mundial e é um dos fatores a impedir
a distribuição de decisões entre a população.
Ao mesmo tempo, quando a idéia é divulgar notícias de programas e projetos
que deram certo no âmbito do Governo, este parece compreender que vale à pena
investir em divulgação e comunicação via Internet como o faz através do Blog do
Planalto, lançado em abril de 2009. O qual infelizmente deixa de ser um canal de
comunicação aberto, dado o fato de que o cidadão não pode interagir neste blog.
Ele apenas recebe informações, mas não pode manifestar-se sobre elas.
Porém tal ausência de dados não pode servir de justificativa para a omissão
das esferas governamentais acerca da importância desta prática tão presentes no
cotidiano do brasileiro, que vem a ser a comunicação via Internet. Muito pelo
contrário, devem ser realizadas pesquisas junto à sociedade pelo Governo, as
quais devem servir para desvelar os hábitos de acesso atualizados a fóruns de
discussões pelos cidadãos.
Por outro lado, o fator dependência por colaboração, que vem a ser o tônus
das redes sociais, (para uma rede funcionar, é preciso que os indivíduos se mani-
festem, troquem informações, divulguem idéias, abram pautas para discussões
e pleitos) pode ocasionar por vezes o desestímulo à sua perpetuação. Uma vez
que, o cidadão precisa mantê-la, alimentá-la. Ele é o ator e o fator principal de
sucesso ou fracasso desta estrutura. Caso o cidadão deixe de atuar neste espaço,
a rede fenece.
Igualmente é temerário a muitos governos prestar contas das decisões para
as quais seus representantes públicos foram eleitos, talvez porque algumas des-
sas decisões não sejam de real interesse a ninguém, exceto a quem a tomou.
Logo, melhor para alguns, se torna a prática da decisão representativa, onde o
representante civil decide pelo povo, teoricamente optando pela melhor deci-
são, aquela que agradaria a população a quem ele deveria servir e representar
(muitas vezes isso somente ocorre no campo da retórica enquanto na prática
as decisões acabam por desagradar o povo e este tem que fórum público para
reclamar ou questionar?).

405
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

Outra possível razão para a existência do gap na comunicação eletrônica


entre governo/cidadão seria diagnosticar o desinteresse do cidadão em participar
ao não encontrar espaço para isso. O governo na maioria das vezes não oportu-
niza, não fomenta e não mantém efetivamente estes espaços.
Crê-se que um dos principais motivos que impedem ou dificultam o cida-
dão de participar ativamente de fóruns eletrônicos governamentais populares
para opinar e tomar decisões, seja o fato de que o cidadão tem o sentimen-
to de que suas demandas não seriam respondidas. Em outras palavras há um
sentimento de descrédito enraizado, possivelmente desde quando a sociedade
percebeu que o final da ditadura militar não garantiu efetivamente os seus
direitos sociais.
O cidadão não preza por fóruns apenas representativos, ele deseja ter es-
paço privilegiado como indivíduo, para defender e, principalmente, eleger seus
interesses, quer coletivos, quer pessoais (por que se deve sempre esquecer os
interesses pessoais em prol do coletivo se, de certo modo, o próprio governo
estimula a livre negociação financeira e um mercado globalizado, onde o que
vale é a liberdade de escolha por boas ofertas e, concede aos mais favorecidos
economicamente, poder de barganha?)
Quanto à descentralização da informação e do conhecimento, possibilitado
pela geração de discussões profícuas entre cidadãos através de redes sociais, é
outro fator gerador de medo por parte dos governantes. Ao se descentralizar o
acesso ao conhecimento, está se descentralizando o poder de acesso à tomada de
decisões coerentes, com argumentação bem sustentada, ferramentando o cida-
dão comum, com habilidades já citadas neste texto, para escolhas conscientes,
inclusive no pleito eleitoral.
Crê-se que o principal fator para o e-Gov não se valer do fomento a redes
sociais diz respeito às redes sociais serem formadoras de opiniões. Elas tornam
cidadãos comuns “formiguinhas com alto falantes”. Todos envolvidos na mes-
ma rede, ao discutirem temas específicos, acabam por eleger uma resposta ao
possível problema tratado, ou seja, os sujeitos apontam caminhos a serem per-
corridos, decisões a serem tomadas, seguidas e estimuladas pela sociedade civil,
ou ao menos, pelo grupo partícipe da rede. Esta atitude é geralmente coletiva,
o pensamento se unifica, toma o poder de desestabilizar estruturas tradicionais,
até então irrevolvidas e inquestionadas.
Porém, apesar de haver uma grande demanda para tais práticas sociais e
no geral, serem identificas pequenas iniciativas, se percebe algumas altera-
ções em certos Estados brasileiros, como Paraná, Rio Grande do Sul e Santa
Catarina, onde iniciativas no âmbito do governo eletrônico estão oportuni-
zando ao cidadão comum um espaço maior para diálogo entre governo e so-
ciedade, iniciativas apresentadas neste texto, inclusive pelo desenvolvimento
de redes sociais ativas, as quais potencializam a voz do sujeito, através de
coletivos.

406
CONeGOV 2009 | SHORT PAPERS

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Entende-se que as redes sociais eletrônicas podem contribuir para fomentar
a sociedade do conhecimento, a e-participação e a e-cidadania no cenário do
governo eletrônico. Entretanto, a realidade social aponta lacunas existentes na
comunicação Estado-Sociedade. Por conta disto o texto procurou, além de de-
fender a possibilidade de trabalhar com o foco no desenvolvimento social atra-
vés das redes sociais, buscou igualmente apontar alguns fatores que estão difi-
cultando o amplo acesso às redes sociais com fins políticos-sociais pelo cidadão
comum, em busca do diálogo governo-sociedade.
Em contrapartida não defende que as redes sociais sejam a única saída para o
exercício da cidadania ou da e-cidadania, uma vez que a cidadania possui dimen-
sões complexas e não necessariamente proporcionais, à medida que, a liberdade
de expressão concedida, pelas redes sociais, não abona à priori, a garantia a outros
direitos sociais como é o caso do direito à segurança ou ao voto consciente.
As reflexões propostas pretenderam possibilitar a identificação das redes
sociais como facilitadoras, as quais podem permitir, facilitar e instrumentalizar
o cidadão ao exercício da democracia direta, aquela em que cada um tem voz e
vez, sem a habitual total representatividade que ocorre no cenário político das
sociedades contemporâneas.
Sem dúvida ainda há carência de estudos acerca das melhores práticas sobre
redes sociais eletrônicas e sobre as demandas sociais e as soluções que essas
redes já proveram e atenderam. Bem como interessante seria elaborar estudos
sobre o prisma de uma rede das redes sociais a fim de identificar uma matriz
sobre elas e diagnosticar a realidade acerca de sua implementação no âmbito
governamental uma vez que ainda há quem não faz uso deste importante instru-
mento político, educativo e social, além do que, este mapeamento teoricamente
demonstraria o perfil destas redes bem como suas características.
Ao mesmo tempo em que a grande parcela da população não possui acesso
à internet, por outro lado têm-se os governos omitindo-se da responsabilidade
em prover acesso a ela, uma vez que, ao conceber a existência, ou pelo menos
uma tendência à sociedade do conhecimento, marcada pela ampla disseminação
da informação e o seu acesso sem fronteiras é preciso oportunizar aos cidadãos
comuns, ofertas de acesso a esta informação, para que a sociedade do conheci-
mento não seja o que hoje representa apenas a parcela dos indivíduos envolvidos
com o governo, o ensino e a iniciativa privada.
Quanto à disponibilização de acesso à informação, essa pode se constituir pela
criação de novos e muitos terminais conectados à rede (telecentros), ou pelo acesso
gratuito a sites de ensino, do governo e de redes sociais via aparelho celular ou ainda
através de terminais de auto-atendimento bancário, onde se pode aproveitar a estru-
tura de conexão já existente para promover acesso a informações que instrumentali-
zem e capacitem o cidadão a ser um agente atuante em canais sociais.

407
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

Não basta crer que a sociedade do conhecimento é uma realidade, se esta


realidade existe apenas para poucos. A sociedade já pensa em rede, se comunica
por redes, faz uso de muitas tecnologias de informação e comunicação em seu
cotidiano. Questiona-se então o que está faltando para que o cidadão passe a ser
um agente capacitado para exercer a cidadania e ele mesmo ser apto a participar
na construção desta infovia em busca do desenvolvimento cultural, do exercício
político e social.
Estudos e considerações entre o que se tem e o que se almeja atingir para
a promoção da sociedade do conhecimento, através de ambientes colaborativos,
como é o caso das redes socias, devem ser estimulados.
Acredita-se que o compartilhamento de aplicações e a explosão de idéias
vindas destes ambientes de comunicação em tempo real (as redes sociais), sem
fronteiras geográficas, onde coletivos, reunidos virtualmente em prol de obje-
tivos comuns se aliam e discutem idéias, seja um dos pilares da sociedade do
conhecimento e do fomento ao exercício cidadão.
Por fim, entende-se como necessário e urgente, o repensar acerca de uma
possível superação da filosofia de representação e participação popular nas so-
ciedades ditas democráticas. A própria filosofia existente na sociedade do co-
nhecimento, rumo ao qual se espera estar-se indo em direção, favorece a liberda-
de de escolha, de expressão e de decisões, baseados no acesso ao conhecimento
sem barreiras, gerando um círculo virtuoso acerca do participar aprendendo e
aprendendo a participar.
Obviamente isto ainda é uma utopia diante da realidade social, econômica,
intelectual, científica e principalmente política que vivencia o Brasil, porém uma
utopia que não encontra barreiras tecnológicas. Sendo assim, é possível por este
veio questionar a ausência de projetos para tornar a sociedade do conhecimento
uma realidade para a sociedade brasileira, a qual possui demandas legítimas em
tantos segmentos ainda não contemplados.

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WASSERMAN, Stanley; FAUST, Katherine. 1998. Social Network Analysis: methods
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409
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

410
A ATITUDE DOS DISCENTES NO
ENSINO SUPERIOR A DISTÂNCIA

Joseane Borges de Miranda


Professora da UNISUL
Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
Bairro Trindade CEP 88040-970
FLORIANÓPOLIS – SC – Brasil
joseane.miranda@unisul.br

Joni Fusinato
Professor do CEDUP
jfusinato@gmail.com

Alexandre Carvalho dos Reis Lima


Professor do CEDUP
prof.alexandre.lima@gmail.com

Hugo Cesar Hoeschl


Professora da UFSC
Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
Bairro Trindade CEP 88040-970
FLORIANÓPOLIS – SC – Brasil
hugo.hoeschl@ijuris.org

RESUMO

O artigo investigou as atitudes dos discentes em um curso de graduação ofertado na modalidade


de ensino a distância (EAD) com relação as diferentes categorias de análise tais como professor,
flexibilidade e conveniência, ambiente de aprendizagem, material didático, satisfação e
comprometimento com o curso de graduação escolhido. A investigação foi realizada através de
pesquisa exploratória, de natureza descritiva e quantitativa. Responderam ao questionário 97
discentes matriculados entre os anos de 2007 e 2008 na disciplina de Finanças Internacionais.
A análise geral mostra o predomínio de atitudes positivas dos discentes frente às categorias
supracitadas sendo que, a flexibilidade espaço-temporal proporcionada pela educação a
distância, assim como o uso de diferentes suportes tecnológicos para mediar o processo de
ensino aprendizagem foram ressaltados. Pode-se afirmar que os resultados obtidos estão em
consonância com pesquisas similares na área de educação à distância.

PALAVRAS-CHAVE

Educação a distância, discente, atitude.

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Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

1. INTRODUÇÃO
Com a revolução das tecnologias de comunicação e informação a modali-
dade de educação a distância cresceu significativamente. Dependendo das ca-
racterísticas do acadêmico envolvido neste processo temos resultados de maior
interação ou não.
Este artigo descreve os resultados obtidos de uma pesquisa exploratória
que investigou as atitudes dos discentes com relação a um curso de gradua-
ção à distância. Os discentes estavam matriculados na disciplina de Finanças
Internacionais de uma universidade privada do sul do Brasil. A pesquisa teve
como objetivo encontrar elementos que sugerissem a aderência ou não à pro-
posta de ensino a distância por parte dos discentes, assim como colaborar com a
inclusão de novas informações a pesquisas similares.
O artigo está dividido em três partes: em primeiro lugar se apresenta
um marco contextual para situar o leitor sobre os conceitos no qual se baseia
o artigo tais como: ensino à distância e atitude dos discentes. Na seqüência
será apresentado o questionário e as tabelas usadas para a coleta de dados.
Para finalizar são apresentadas as respostas dadas pelos discentes e con-
siderações feitas pelos autores dessa pesquisa partindo dos questionários
que foram respondidos e auxiliados pela literatura especializada sobre o
assunto.

2. EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

2.1 Marco contextual


A educação a distância (EAD) não é uma alternativa de ensino recente e
também não surgiu ao acaso, apresentando uma longa história de sucessos e
fracassos. “Desde as cartas de Platão, chegando a educação por correspondência
no final do século XVIII, com sua evolução acelerada a partir de meados do
século XIX, culminando com o avanço tecnológico do século XX, a educação a
distância passou por varias experiências e desenvolvimento até chegar aos nos-
sos dias” (Spanhol, 1999).
Por não ser recente, encontra-se certo consenso na literatura especializada
que diferencia momentos importantes na educação a distância atrelada a inclu-
são de novos suportes de comunicação como mediadores do processo educativo
a distância. Esses momentos diferenciados são chamados de geração. As infor-
mações apresentadas a seguir foram construídas a partir de anotações de aula
dos professores Fernando Spanhol e Araci Catapan, da disciplina de “Introdução
a Educação a Distância”, no Programa de Pós-Graduação em Engenharia de
Gestão do Conhecimento da UFSC (2008):

412
CONeGOV 2009 | SHORT PAPERS

1ª Geração – final do século XIX até meados do ano de 1970, tem como
característica principal o material impresso, normalmente um guia de estudos,
com tarefas e outros exercícios enviados pelo correio. No Brasil ficaram popula-
rizados e conhecidos os cursos do Instituto Universal Brasileiro.
2ª Geração – Compreendido entre os anos de 1970 e 1990, destacam-se
nesse período a transmissão de cursos com aulas via televisão, complementadas
por material impresso, rádio, fitas de áudio e vídeo. A interação é basicamente
via telefone e/ou carta. No Brasil a Fundação Roberto Marinho reformula os
modelos de telecurso desenvolvidos desde 1978 e lança o Telecurso 2000 e em
1996 entra em operação o canal da TV Escola.
3ª Geração – Evidencia-se a partir do ano de 1990, sendo fortemente ca-
racterizada pelo uso intensivo de tecnologias da informação e comunicação de
base digital, Internet e videoconferência. Para Spanhol (2008) alguns marcos
importantes dessa geração no Brasil foram: a oferta de cursos de pós-graduação
a distância com uso de sistema de videoconferência, na UFSC (1996), a criação
do projeto Virtus, na UFPE, para uso de Internet na EAD (1996), cursos de ex-
tensão em Turismo, Marketing e Administração, via Internet, pela Universidade
Anhembi-Morumbi (1997); cursos de graduação a distância oferecidos pela
Unisul com tutoria somente on-line (2006) e os cursos do sistema Universidade
Aberta do Brasil (UAB) oferecido pela UFSC (2007).
Portanto a idéia de educação a distância é basicamente: professores e alu-
nos estão em locais diferentes durante todo ou em grande parte do tempo em
que aprendem e ensinam. Estando em locais distintos, eles dependem de algum
tipo de tecnologia que permita a mediação e/ou interação entre eles (Dohmen,
1967; Peters, 1973; M. Moore, 1973; Keegan, 1991; Moore e Kearsley, 2007,
entre outros).
Os avanços tecnológicos e entre eles, os dos meios de comunicação
ocorridos nas últimas décadas, assim como a crescente necessidade por mão
de obra qualificada e o acirramento da competitividade tanto entre organi-
zações como entre profissionais formam um cenário favorável à educação
continuada. Entre as possibilidades de educação continuada, a educação à
distância, particularmente a de 3ª geração, apresenta características que per-
mitem conciliar satisfatoriamente a crescente demanda por formação conti-
nuada aos diversos níveis de educação com as limitações oriundas do campo
profissional e/ou pessoal. São características dessa modalidade de ensino:
flexibilidade de tempo dedicado ao estudo, formas de interação síncrona e
assíncrona entre professor/aluno e aluno/aluno através de diferentes meios
de comunicação, economia de tempo com idas menos freqüentes a institui-
ção de ensino se comparado a um curso presencial, o que em cidades com
trânsito lento devido aos constantes engarrafamentos podem representar um
substancial aproveitamento do tempo para outras atividades, entre outras.
Essa possibilidade de conciliar estudos e trabalho tem sido considerada mais

413
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

dinâmica e flexível por parte dos discentes do que as encontradas nos cursos
presenciais fazendo com que um número crescente de estudantes optem pela
EAD e estimulam a criação de novos cursos em diferentes níveis de edu-
cação na modalidade a distância no Brasil. Segundo o Anuário Brasileiro
Estatístico de Educação Aberta e a Distância (AbraEAD, 2008) 2,5 milhões
de brasileiros estudaram em cursos dos mais diversos níveis com metodolo-
gias a distância só no ano de 2007. No que tange especificamente os cursos de
graduação de acordo com os dados do Censo (INEP, 2007), 97 instituições
ofereceram, em 2007, cursos de graduação a distância, sendo 19 instituições
de ensino superior (IES) a mais em relação às registradas no ano de 2006.
Comparado ao ano de 2006, foram criados 59 novos cursos a distância, re-
presentando um aumento de 16,9% no período. O número de vagas ofereci-
das em 2007 chegou a quase o dobro das oferecidas em 2006, com um au-
mento de 89,4%, ou seja, uma oferta de 727.520 vagas a mais. Esse fenômeno
também tem sido observado em diversos países, entre eles, Estados Unidos,
Inglaterra e México (Rodrigues, 2008).
As inovações que foram introduzidas na Educação a distância de 3ª geração
despertou o interesse de muitos pesquisadores buscando compreender as atitu-
des de estudantes e professores frente à adoção de inovações educacionais (Steil,
Pillon, Kern, 2005, Berge, 2002, McGorry, 2002). A atitude pode ser entendida
como “disposições mentais para avaliar um objeto psicológico, expressas em
dimensões de atributos, como bom/mau, agradável/desagradável, etc.” (Steil, et
al. 2005, p. 254). Para os autores Alexander (2001) e Valenta (2001) respostas
rápidas ( feedback) e a facilidade de interação entre alunos e professores estão
entre os atributos que afetam positivamente as atitudes dos alunos para com o
ensino a distância.
Da mesma forma que a educação mediada pela tecnologia permite a adoção
de novas estratégias de ensino-aprendizagem e a oferta de cursos à distância,
para o discente concluir um curso a distância também é necessário atitudes tais
como: assumir a responsabilidade em administrar o seu horário de estudo, se-
guir os prazos estabelecidos para as atividades propostas, adquirir hábitos de
estudo que minimizem as distrações e saber trabalhar de maneira assíncrona.
Moore e Kearsley (2007) apontam como sendo os hábitos e as aptidões de estu-
do dos alunos que determinam, em grande parte, o sucesso das aulas, caracte-
rísticas essas encontradas com freqüência no público adulto. Para os referidos
autores: “Alunos que planejam seu tempo de estudo e estabelecem horários para
concluir o curso têm maior possibilidade de obter sucesso na educação a distân-
cia (Moore e Kearsley, 2007, p. 187)”.
Finalizando pode-se inferir que os cursos de ensino a distância favorecem
discentes que buscam autonomia nos seus estudos, maduros e dispostos a en-
frentar desafios na busca pelo conhecimento mediado por ambientes de apren-
dizagem que facilitem a interação entre os atores envolvidos no processo de
ensino-aprendizagem.

414
CONeGOV 2009 | SHORT PAPERS

2.2 Método usado na pesquisa


A pesquisa investigou as atitudes dos discentes em um curso de graduação ofer-
tado na modalidade de ensino a distância (EAD) com relação as diferentes categorias
de análise tais como professor, flexibilidade e conveniência, ambiente de aprendiza-
gem, material didático, satisfação e comprometimento com o curso de graduação
escolhido. A investigação foi realizada através de pesquisa exploratória, de natureza
descritiva e quantitativa. O público alvo foram 455 alunos matriculados na disciplina
de Finanças Internacionais entre os anos de 2007 e 2008 na modalidade à distância.
O curso é ofertado por pela Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL), Brasil.
A disciplina de Finanças Internacionais é obrigatória, com quatro créditos (60
horas/aula). O único encontro presencial ocorre para a realização da avaliação. Ao
longo da oferta da disciplina o aluno tem o apoio técnico de monitores e apoio aca-
dêmico de um professor tutor. Este professor é formado na área afim da disciplina e
possui titulação de mestre ou doutor. As aulas à distância demandam participação
de fóruns de discussão orientados pelo professor tutor, resolução de exercícios e in-
teração entre os discentes/discentes e discentes/professor/ através dos fóruns e chats.
Para a coleta de dados foi usado um questionário formatado no Google
Docs. A ferramenta usada não registrou nome, e-mail ou qualquer outra forma
de identificação do respondente, apenas a hora e data, garantindo assim o anoni-
mato. O questionário investigou a atitude dos discentes com relação as diferentes
categorias de análise e foi dividido em tabelas.
Na Tabela 1 investiga-se as atitudes dos discentes pesquisados com relação à
categoria professor (tutor). A Tabela 2 investiga as atitudes dos discentes com rela-
ção à flexibilidade e conveniência. Já a tabela 3 investiga as atitudes dos discentes
com relação ao ambiente de aprendizagem. Na Tabela 4 investiga-se as atitudes
dos discentes com relação ao material didático e finalizando a Tabela 5 investiga
as atitudes dos discentes com relação à categoria dinâmica do grupo no fórum.
Com relação às escalas de graduação para a resposta do questionário, foram
apresentadas questões com cinco opções de resposta: (1) discordo plenamente;
(2) discordo; (3) neutro; (4) concordo e (5) concordo plenamente.
Antes de se aplicarem os questionários foi feito um teste tanto operacional
como de validação semântica. Após a validação do teste o questionário foi en-
viado por e-mail aos 455 alunos.
Na primeira chamada 6% dos e-mails retornaram por problemas de sistema,
tais como caixa cheia, e-mail inexistente ou aviso de que o aluno estava ausente.
Uma semana após o primeiro envio, o mesmo questionário foi reenviado. Ao
todo, 97 questionários foram respondidos. A população efetivamente alcança-
da foi bem menor do que o alvo inicial. A expectativa inicial admitia um erro
amostral de 5% (Barbetta, cap. 3, 2003). Com o recebimento de 97 questionários
o erro amostral aproximou-se de 10%. Embora elevado, não invalidada os resul-
tados, mas reduz o intervalo de confiança das respostas.

415
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

Para se analisar o grau de homogeneidade nas respostas, utilizou-se o coefi-


ciente de variação (CV), que segundo Lapponi, (2000) é determinado pela razão
entre o desvio-padrão e a média da série o que expressa a dispersão das respostas
em termos relativos, tirando a influência da ordem de grandeza da variável. O
questionário foi elaborado com base no artigo publicado por Steil, Pillon e Kern
(2005).

2.3 Apresentação e discussao dos resultados


A população estudada é formada predominantemente por adultos e 90%
deles estavam empregados no momento da matrícula. Essa característica con-
firma o que muitos autores, entre eles Moore e Kearsley (2007) destacam como
freqüentes do público que estuda em cursos a distância.
Na seqüência serão apresentadas e comentadas as tabelas com as médias
das respostas por questões levantadas e os coeficientes de variação. As médias
foram alcançadas após a tabulação da freqüência simples de cada opção de res-
posta. A partir da escala utilizada, as médias mais próximas de 5 (cinco) refe-
rem-se à concordância máxima com a questão e as médias próximas de 1 (um) a
máxima discordância.

Tabela 1. Atitudes dos alunos pesquisados com relação à categoria professor (tutor).

Questões Média CV
1. De maneira geral, o professor tem auxiliado
3,77 0,23
efetivamente o grupo a aprender.
2. O tutor tem encorajado a aprendizagem dos alunos por
3,78 0,23
meio de questionamentos, desafios e críticas.
3. O tutor tem promovido um ambiente de
3,54 0,26
aprendizagem agradável e estimulante.
4. O tutor tem respondido às questões encaminhadas por e-mail ou
3,24 0,41
pelo ambiente de aprendizagem on-line em, no máximo, 24 horas.

Fonte: pesquisa de campo

Na Tabela 1, no que tange ao desempenho do professor, a opinião dos alunos


manteve-se próximo do concordo. Para os alunos, o professor auxilia no aprendiza-
do do grupo (média 3,77), assim como os questionou e os encorajou com desafios e
críticas (média 3,78). Ambas as questões apresentam alto grau de homogeneidade,
ou seja, um baixo coeficiente de variação. Também é a positiva a avaliação dos alu-
nos quanto a forma com que o tutor da disciplina conduz os trabalhos, considerado
agradável e estimulante (média 3,54). A questão que ficou mais próxima da neutra-
lidade no conjunto de questões que procuraram avaliar o desempenho do professor
tutor foi a que abordava o tempo de resposta aos questionamentos dos alunos, a
variabilidade das respostas neste item também é bem maior em comparação aos

416
CONeGOV 2009 | SHORT PAPERS

outros aspectos levantados, isso pode ser motivado pelo fato que nem todos os
entrevistados tenham precisado de auxilio via ferramenta tutor ou via e-mail, o
que impossibilitaria a avaliação por parte de alguns.
Estes resultados estão de acordo com estudos que apontam para valorização
dos alunos no que tange um feedback rápido e o auxilio do professor no proces-
so de ensino aprendizagem assim como facilitação da interação entre alunos e
professores afeta de forma positiva as atitudes dos alunos para com o ensino a
distância. Então apesar da quase neutralidade quanto ao tempo de resposta do
professor tutor pode-se inferir que as atitudes dos alunos são positivas quando
destacam o auxilio e o encorajamento do professor tutor em seu aprendizado.

Tabela 2. Atitudes dos alunos pesquisados com relação à categoria flexibilidade e


conveniência de se estudar à distância.

Questões Média CV
5. O fato do curso ser a distância faz com que eu
4,42 0,20
possa aprender em meu próprio ritmo
6. O curso na modalidade a distância está sendo conveniente
4,72 0,10
para mim, pois aumenta a minha flexibilidade.

Fonte: pesquisa de campo

Na Tabela 2, referente a flexibilidade e conveniência de se fazer um curso


à distância, os resultados indicam uma atitude positiva dos alunos pesquisados,
convergindo com estudos já publicados, que apontam para um consenso de que
a educação a distância possibilita aos alunos terem maior flexibilidade sobre seu
processo de aprendizagem uma vez que podem planejar o seu horário de estudo
conforme seu ritmo.
Percebe-se um baixo grau de variabilidade, apenas 10%, na questão sobre
conveniência e o reflexo desta conveniência no aumento da flexibilidade, ou seja,
a média próxima da categoria 5 (concordo plenamente) apresenta alto grau de
homogeneidade.

Tabela 3. Atitudes dos alunos pesquisados com relação à ambiente de aprendizagem.

Questões Média CV
7. O ambiente de aprendizagem on‑line é estável e de fácil utilização 4,16 0,20
8. Eu posso acessar o curso de qualquer lugar onde
4,75 0,11
tenha um computador e acesso à internet
9. Os chats têm auxiliado a minha aprendizagem. 2,96 0,36
10.O ambiente de aprendizagem on-line facilita a
3,31 0,29
integração com o professor e com os colegas

Fonte: pesquisa de campo

417
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

Na Tabela 3, a categoria ambiente de aprendizagem contém uma questão


sobre usabilidade e outra sobre flexibilidade. A usabilidade diz respeito à capa-
cidade que um sistema interativo oferece ao seu usuário, em um determinado
contexto de operação, para a realização de tarefas de maneira eficaz, eficiente e
agradável (ISO 9241, 1999).
Fato muito importante no estímulo a educação a distância. Em relação a
esses aspectos, os alunos reconhecem como positivo o fato de poderem acessar
o curso em qualquer lugar com acesso à internet (média 4,75), e concordam que
o ambiente de aprendizagem on-line é estável e de fácil utilização, ou seja, é
amigável.
A atitude dos alunos entrevistados em relação aos chats com auxilio da
aprendizagem ficou próxima da neutralidade tendendo a uma avaliação nega-
tiva, isso pode ser justificado pelo fato que o chat é uma ferramenta síncrona,
o que dificulta a participação de alguns dado a diversidade de horários dispo-
níveis. As características dos alunos de EAD, ou seja, uma maioria de adultos
com família e que trabalham, muitas vezes, mais de oito (8) horas diárias é uma
barreira para efetiva participação em chats.

Tabela 4. Atitudes dos alunos pesquisados com relação à categoria material didático.

Questões Média CV
11. O material didático on-line está adequadamente
4,04 0,20
formatado para o estudo a distância.

Fonte: pesquisa de campo

Na Tabela 4, as atitudes dos alunos em relação ao material didático foram


positivas (média 4,04). Quanto ao material didático o maior cuidado está na não
adaptação de material de cursos presenciais para a modalidade a distância e
sim, no desenvolvimento de materiais apropriados, com uma escrita amigável e
muitos recursos gráficos.

Tabela 5. Atitudes dos alunos pesquisados com relação à categoria dinâmica do grupo no
fórum.

Questões Média CV
12. O formato da disciplina tem facilitado a minha
2,88 0,33
interação com os meus colegas de sala
13. A discussão do grupo no fórum tem auxiliado
3,31 0,30
a minha compreensão da disciplina
14. Eu contribuo regularmente nas discussões do fórum 3,09 0,34
15. Eu aprendi com outros alunos durante as discussões no fórum 3,18 0,35

Fonte: pesquisa de campo

418
CONeGOV 2009 | SHORT PAPERS

Na Tabela 5, a atitude dos alunos com relação a categoria dinâmica de grupo,


obteve uma média geral próxima da neutralidade (média 3,12). Os alunos admi-
tiram que não contribuíram regularmente nas discussões do fórum (média 3,09).
Já que o fórum é criado pelo professor tutor e este foi bem avaliado (ver
Tabela 3), podemos inferir que os resultados da tabela 5 não são influenciados
por falta de estímulo do professor, mas possivelmente porque o fórum, nesta
disciplina, não faz parte das atividades obrigatórias para aprovação.

3. CONCLUSÃO
De maneira geral podemos destacar que os resultados das tabelas de 1 a
5 mostram que os discentes pesquisados possuem uma atitude positiva diante
da maioria das categorias investigadas e os resultados obtidos se somam a ou-
tras pesquisas e estudos publicados usados como referência (Alexander, 2001;
Valenta, 2001, Steil, Pillon e Kern, 2005; Moore e Kersley 2007). Contudo, a
tabela 5, referente às “Atitudes dos alunos pesquisados com relação à categoria
dinâmica do grupo no fórum” apresenta média próximo ao neutro (3). Esse resul-
tado diferiu do que é apresentado na literatura especializada. Possíveis motivos
para divergência encontrada podem ser que a participação nos fóruns não fazem
parte da avaliação nesse curso ou que as técnicas de ensino usada pelo professor
não enfatizaram o uso do fórum ou ainda que esse não se fez necessário median-
te a estratégia de ensino adotada.
A flexibilidade de horário e de local proporcionados pelas tecnologias in-
formacionais impulsionam o ensino a distância, atendendo um público cada vez
maior que encontra nessa modalidade a possibilidade de formação e estudo que
de outra forma dificultaria ou mesmo impossibilitaria sua continuidade. Essa
flexibilidade demanda, por parte do aluno, uma autonomia e disciplina em seus
estudos e, por parte da instituição que oferece os cursos, um planejamento rigo-
roso das atividades e investimentos em tecnologias.
Finalizando, recomenda-se um estudo focado na questão de “dinâmicas do
grupo no fórum”, nesta instituição de ensino, para investigar como o fórum po-
deria ser usado de maneira mais efetiva do que está sendo usado até o presente
momento.

REFERÊNCIAS
ABRAEAD - Associação Brasileira de Ensino a Distância. Consulta realizada em
19/06/2009 disponível no site <http://www.abraead.com.br/noticias.cod=x1.asp>.
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419
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

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Retrieved July, 2004 from <http://www.col.org>.
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Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Consulta
realizada em 19/06/2009. Disponível no site: <http://www.inep.gov.br/download/
superior/censo/2007/Resumo_tecnico_2007.pdf>.
McGORRY, S. Y. (2002). Online, but on target? Internet-based MBA courses. A case
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[tradução Roberto Galman] São Paulo, Thonson Learning.
RODRIGUES, R. S. (2008) Anotações de aula da disciplina Tecnologias de Informação
e Comunicação na Educação Superior (PCI 3215) do Programa de Pós-Graduação
em Engenharia de Gestão do Conhecimento, UFSC, Florianópolis.
SPANHOL, F. J.(1999) Estruturas tecnológica e ambiental de sistemas de
videoconferência na educação a distância: estudo de caso do Laboratório de Ensino
a Distância da UFSC. 1999. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) –
Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, UFSC, Florianópolis.
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Valenta A., Therriault, D., Dieter, M. e Mrtek, R. (2001) Identifying student attitudes
and learning styles I distance education. Journal of Asynchronous Learning
Networks, 5(2).

420
POLÍTICA PÚBLICA DE INCLUSÃO
DIGITAL: AMPLIANDO OS
HORIZONTES NO MEIO RURAL
DE SANTA CATARINA

Antonio Marcos Feliciano2


Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina - EPAGRI
feliciano@agricultura.sc.gov.br

Edis Mafra Lapolli3


Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC
edismafra@gmail.com

Inara Antunes Vieira Willerding4


Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC
inara.antunes@gmail.com

Vitória Augusta Braga de Souza5


Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC
vitbraga@hotmail.com

RESUMO

O presente estudo apresenta o Programa de Inclusão Digital Beija-Flor, ação pública


em atividade no meio rural catarinense. Partindo do pressuposto de que a inclusão
digital amplia os horizontes pelo acesso e disseminação do conhecimento, no bojo da
argumentação são apresentados, dados estatísticos sobre inclusão digital abordando o
cenário mundial e brasileiro, também são explicitados alguns resultados de uma pesquisa
realizada em 2008, no âmbito do Programa estudado, que dentre outros, dimensiona suas
ações e os impactos sobre as comunidades rurais de Santa Catarina. A abordagem teórica,
mais do que nortear o estudo, aponta desafios futuros e a complexidade da inserção social

2 Mestre em Engenharia e Gestão do Conhecimento (PPGEGE/UFSC). Graduado em


Ciências Sociais (UFSC). Pesquisador da Epagri. Professor de Sociologia.
3 Doutora e Mestre em Engenharia de Produção pela UFSC com Pós-Doutorado em
Sistemas de Informação pela Université de Montpellier - França. Engenheira Civil.
Pesquisadora e Professora do Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do
Conhecimento da UFSC e dos cursos de Pós-Graduação da FGV Management.
4 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento
(PPGEGC/UFSC). Graduada em Administração de Empresas (FEAN) – Florianóplis
- Brasil.
5 Mestre em Engenharia de Produção – UFSC – Florianópolis – Brasil.

421
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

e digital em um país como o Brasil. Permite também reflexões sobre o surgimento de


oportunidades que se descortinam às organizações e às pessoas, pelo uso das ferramentas
de tecnologia da informação e comunicação (TICs), como meio para exercício da
cidadania e para a produção e disseminação do conhecimento.

PALAVRAS-CHAVE

Inclusão Digital. Políticas Públicas. Sociedade do Conhecimento.

1. INTRODUÇÃO
Na história da humanidade alguns adventos contribuíram para a ideia de
que uma das saídas para as crises sociais e econômicas passa, necessariamente
pela adoção de medidas que visem oportunizar aos excluídos acesso à informa-
ção e ao conhecimento. Nesse início de século XXI, o acesso ao conhecimento,
por meio do domínio das tecnologias da informação e comunicação (TICs) ca-
racteriza um importante diferencial competitivo individual e coletivo.
Antes de outras linhas, que sejam feitas algumas perguntas a fim de susci-
tar reflexões: Quantos excelentes profissionais não conseguem colocação devido
à exclusão digital? Quanto de conhecimento perdeu-se pela exclusão social e
digital? Quanto de informações o setor público deixa de agregar às suas ações
pela inexistência de canais de comunicação tão próximos dos cidadãos? Quanta
solução criativa e tecnologicamente consistente seria encontrada se tivéssemos
uma ampla e inclusiva rede de comunicação disponível à sociedade?
Levy (1993) argumenta que novas maneiras de pensar e de conviver estão
sendo elaboradas no mundo das telecomunicações e da informática. As relações
entre as pessoas, o trabalho, a própria inteligência dependem da metamorfo-
se incessante de dispositivos informacionais de todos os tipos. Para Waiselfisz
(2007), o atual momento da sociedade mundial é caracterizado pela relação mui-
to próxima entre as atividades humanas e as tecnologias digitais, onde os margi-
nalizados encontram-se na periferia do conhecimento.
Castells (2003) argumenta que pensar em desenvolvimento sem a internet
seria o equivalente à industrialização sem eletricidade na era industrial. É por
isso que a declaração frequentemente ouvida sobre a necessidade de se começar
com os problemas reais do terceiro mundo, designando com isso: saúde, edu-
cação, água, eletricidade, dentre outros, antes de chegar à internet, revela uma
profunda incompreensão das questões atuais relativas ao desenvolvimento, por-
que sem uma economia e um sistema de administração baseados na internet,
qualquer país tem poucas chances de gerar recursos necessários para suprir suas
necessidades de desenvolvimento num terreno sustentável.
O analfabetismo digital a que estão submetidas atualmente as famílias do
campo é um importante fator de exclusão social. A inclusão digital dos cidadãos

422
CONeGOV 2009 | SHORT PAPERS

menos favorecidos, como os agricultores, possibilita melhoria na qualidade de


vida e inclusão social, enquanto permite acesso a informação e ao conhecimento.
Agregar valor aos não incluídos passa pela implantação de ações que dispo-
nham recursos tecnológicos e processos educacionais integrados que, associa-
dos ao uso intensivo de práticas de gestão do conhecimento, modificam positi-
vamente o comportamento de instituições e indivíduos.
Bhatt (2001) defende que, para expandir o conhecimento coletivo é neces-
sário utilizar todos os esforços visando desenvolver interações bem sucedidas
entre as práticas comunitárias. Afirma que os equipamentos técnicos são res-
ponsáveis por organizar dados, cabendo às pessoas a garantia da capacidade de
interpretação das informações, produção e aplicação dos conhecimentos.
As políticas públicas de inclusão digital permitem a criação de um dinâ-
mico canal de comunicação, no qual os cidadãos passam da passividade do
recebimento de informações à condição de produtores críticos e sugestivos.
Nesse sentido, há a possibilidade real de as organizações do setor público atuar
estratégicamente na perspectiva melhor aproveitar e potencializar os conheci-
mentos originados dessa interação, principalmente quando tais conhecimentos
possibilitam o desenvolvimento de novos projetos, pesquisas, produtos e/ou
serviços.

2. INCLUSÃO DIGITAL

2.1 Visão contextual, conceitos e definições


De forma geral, a inclusão digital é entendida como uma atividade inserida
em contextos sociais estimulando e permitindo a democratização da informação
e a promoção do espaço de inclusão digital como um meio para produção de
conhecimento, práticas comunitárias pluriativas e exercício da cidadania.
A inclusão digital é fenômeno relativamente recente, datando seus primei-
ros registros, do último quartel do século passado. Naquele momento, a inter-
net era restrita à academia, uso militar e uma ínfima fração da sociedade, que
se conectava por rede telefônica (linha discada) que, além de manter ocupado
o telefone, possuía custo elevado e oferecia baixa velocidade de transferência
e navegação. Além desses fatores, os computadores tinham baixo desempenho
para processamento e elevado custo financeiro. Por outro lado, os centros de
inclusão digital eram vistos como simples escolas de informática para aten-
dimento às comunidades de baixo poder aquisitivo ou de risco social. Nesse
sentido, pode-se considerar que, apesar dos desafios, a inclusão digital abria
uma janela de oportunidades para o mundo, ampliando os horizontes de seus
usuários.

423
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

De Masi (2000) argumenta que com a popularização das TICs o achatamen-


to do mundo passa a ser inevitável. O avanço desse processo deverá produzir
informação e conhecimentos em profundidade e quantidade sem precedentes na
história humana.
A exclusão digital não significa apenas que as políticas públicas de in-
clusão social falharam, ou que em dado momento deveriam ter atuado de
forma mais consistente no sentido de melhor priorizar o cidadão. A exclu-
são digital é também mais uma consequência das macro desigualdades so-
ciais, econômicas e políticas que caracterizam a divisão de poder e renda na
sociedade.
Balboni (2007) afirma que a exclusão digital refere-se à distribuição desi-
gual dos recursos relacionados às TICs entre os países e dentro de uma mesma
região. Além desse aspecto, pode ser vista como uma das formas de manifesta-
ção da exclusão social, considerando que os acessos, sobretudo à internet, po-
dem reduzir o desequilíbrio social.
Perceber o potencial social das TICs no mundo moderno possibilita po-
tencializar ações pluriativas e permite usos de conhecimentos ainda não explo-
rados. Os conceitos e definições podem balizar o atual momento, contudo, a
capacidade criativa e empreendedora da sociedade possui dimensões ainda des-
conhecidas ou inexploradas.
Silveira (2001) define inclusão digital como “a universalização do acesso ao
computador conectado à internet, bem como ao domínio da linguagem básica
para manuseá-lo com autonomia”.
Gasparetto (2006) entende que o analfabetismo digital, ao afetar a capaci-
dade de aprendizado, a conectividade e a disseminação de informações, gera
consequências virtualmente em todos os campos da vida do indivíduo. A trans-
formação de informações em conhecimentos pelo usuário permitirá configurar
um verdadeiro mapa de oportunidades políticas de informação digital.
Segundo o Digital Divide Network, publicado pela União Internacional
de Telecomunicações – (ONU/UIT-2005), inclusão digital se refere à bre-
cha existente entre aqueles que conseguem efetivamente acessar as tecnolo-
gias da informação e comunicação, tais como a internet, e aqueles que não
conseguem.
O Instituto de Tecnologia Social – ITS (2008) entende que a tecnologia so-
cial compreende o conjunto de técnicas e metodologias transformadoras, desen-
volvidas e/ou aplicadas na interação com a população e apropriadas por ela, que
representam soluções para inclusão social e melhoria das condições de vida das
pessoas.
Inúmeros são os sentimentos que afloram quando o debate gira em torno dos
temas exclusão social e digital. Fica claro, pelo mencionado, que há necessidade

424
CONeGOV 2009 | SHORT PAPERS

de integração dos esforços entre as pessoas e instituições que atuam em torno do


tema, bem como há um razoável entendimento sobre o que é e quais os objetivos
da inclusão digital.

2.2 Números sobre inclusão digital no Brasil e no mundo


A ausência de estatísticas sobre inclusão digital deixou de ser um problema,
hoje há diversas agências produzindo e publicando informações acerca do tema.
Os números mundiais de acesso à internet surpreendem pela magnitude, tanto
pela quantidade de usuários conectados, como pelo expressivo percentual da
população mundial sem acesso.
Conforme dados do Internet World Stats (2009), a comunidade mundial de
internautas está composta por 1,59 bilhões de pessoas ou 23,8% da população
global. Desses: 41,2% estão na Ásia; 24,6% na Europa; 15,7% na América do
Norte; 10,9% na América Latina e Caribe; 3,4% na África; 2,9% no Oriente
Médio e, 1,3% residem na Oceania. O percentual de penetração da Internet na
população de cada região é o seguinte: 74,4% na América do Norte, 60,4% na
Oceania, 48,9% na Europa, 29,9% na América Latina e Caribe, 17,4 na Ásia,
23,3% no Oriente Médio e 5,6% da população africana.
Segundo a mesma fonte, em se tratando da América do Sul, o Brasil possui
48,1% dos usuários de internet da parte meridional do continente. A mesma
fonte estima que entre 2000 e 2007 houve um incremento de 900% no total de
usuários de internet no país.
No que tange ao cenário brasileiro, segundo o Centro de Estudos Sobre
as Tecnologias da Informação e da Comunicação (CETIC.BR-2009), em 2008,
dentre as principais barreiras para o uso de ferramentas de TICs nos domicílios,
o alto custo do computador figura como o principal impeditivo. Sobre esse fator,
79% dos ouvidos na pesquisa, residentes no meio rural e 74% no espaço urbano,
assim opinaram. Com relação aos custos financeiros para conexão de internet,
50% dos habitantes do meio rural e 54% do urbano elegeram como uma impor-
tante barreira.
Cabe mencionar que 27% dos habitantes do meio rural identificaram a au-
sência de cobertura de sinal (conectividade) como principal barreira para a não
adoção da internet. Dados da mesma fonte indicam que 28% dos domicílios no
Brasil possuem computador, sendo que apenas 7% estão localizados no meio
rural.
Alguns números, apesar de animadores, apontam claramente para a necessida-
de do apoio governamental a uma política pública mais efetiva de inclusão digital.
Por um lado, mais do que incluir, deve também desvincular os espaços para inclusão
digital das escolas de informática, e por outro, que a esses espaços sejam percebidos
como importantes celeiros para uso e produção intensiva do conhecimento.

425
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

3. PROGRAMA DE INCLUSÃO
DIGITAL BEIJA‑FLOR
A necessidade das organizações do setor público agrícola catarinense
em levar ao agricultor familiar, informações, foi o embrião que fez nascer o
Programa de Inclusão Digital Beija-Flor. Feliciano (2004) recomendava a es-
sas organizações, que tornassem parceiras de iniciativas de projetos de inclusão
digital no meio rural, com o objetivo de dinamizar seus processos de acesso e
disseminação de informações, fazendo com que seus clientes, os agricultores,
passassem à acessá-las com maior facilidade.
Com o início das atividades em 2004, a Secretaria de Estado da Agricultura
e Desenvolvimento Rural – SAR instalou a primeira unidade de inclusão digital,
das 129 em atividade. Abrangendo 44% dos municípios do Estado Catarinense,
o Programa Beija-Flor, por meio de suas ações, visa garantir, dentre outros, a
universalização do acesso às TICs, e a qualificação permanente do trabalho hu-
mano no processo de formação de uma nova geração de agricultores, valorizan-
do e fortalecendo as relações econômicas e sociais no meio rural, ampliando
os horizontes de atuação por meio do acesso ao conhecimento, permitindo um
canal para produção e disseminação de conhecimentos produzidos nas comuni-
dades rurais de Santa Catarina.
É importante destacar que o Programa Beija-Flor atua na perspectiva
dos telecentros comunitários, cujos princípios são os seguintes: Participação
Comunitária, Consolidação de uma Visão Social, Gestão e Utilização de
Tecnologias Apropriadas, Formação e Capacitação Permanente. A prática des-
ses fatores consolida e diferencia as ações de inclusão digital.
O Programa Beija-Flor procura estimular seus facilitadores ou monitores,
que atuam nos telecentros, no oferecimento de atividades buscando chamar a
atenção da comunidade para as várias possibilidades de uso do espaço de inclu-
são digital. Dessa forma, orienta e oferece material didático-pedagógico para
desenvolvimento de ações, tais como: cursos de informática básica, utilização da
internet no agronegócio, gestão informatizada de pequenas propriedades rurais,
ações de governo eletrônico; oficinas culturais; conceitos básicos em empreen-
dedorismo; práticas empreendedoras, dentre outras. Com relação às práticas de
gestão do conhecimento, o Programa Beija-Flor adota as seguintes: lista de dis-
cussão e melhores práticas. Por se tratar de uma iniciativa recente, por não con-
tar com orçamento próprio e possuir uma equipe técnica reduzida, o Programa
Beija-Flor busca continuamente mecanismos e processos que dinamizem suas
operações, bem como, promovam a adequada administração informacional ca-
paz de gerar melhor desempenho e agregar valor às tomadas de decisão. Nesse
sentido, seus gestores optaram por adotar práticas de gestão do conhecimento
por entender que são capazes de criar condições favoráveis à captura e registro
do conhecimento existente nas comunidades rurais.

426
CONeGOV 2009 | SHORT PAPERS

A lista de discussão foi adotada pela necessidade em promover a interação


entre as unidades de inclusão digital, sobretudo pelas barreiras que o distancia-
mento geográfico impõe. Com relação às melhores práticas, até maio de 2008
ocorreram doze encontros regionais objetivando estabelecer uma abordagem
teórica e o relato ou a apresentação por parte dos telecentros os primeiros cases.
Cabe ressaltar que essas práticas estão em permanente avaliação e que, apesar
de incipientes, apresentam resultados satisfatórios, alguns publicados no site do
Programa Beija-Flor ou relatórios gerenciais.
Mais do que permitir que as comunidades rurais tenham um espaço para de-
senvolver ideias e atividades sociais empreendedoras e inovadoras, o Programa
Beija-Flor amplia a visão dos agricultores e das organizações que compõem o
setor público agrícola catarinense, pois amplia o espectro de atuação e possibi-
lita o surgimento de novos nichos de pesquisa, pela dinâmica estabelecida pelo
canal de comunicação com e entre as comunidades rurais.

3.1 Resultados
Os resultados apresentados a seguir, compõem parte de uma pesquisa rea-
lizada pela Secretaria de Estado da Agricultura e Desenvolvimento Rural, ges-
tora e principal executora do Programa de Inclusão Digital Beija-Flor, feita com
multiplicadores do conhecimento, que atuam nos telecentros. Tendo como obje-
tivo, obter informações de contexto e gerenciais, além de uma posição sobre as
demandas das comunidades, dentre outros aspectos. Os resultados da pesquisa
apontam para novas formas de atuação para o setor público agrícola catarinense,
sobretudo no que tange aos processos de acesso e disseminação de informações
por parte de seus clientes. Por outro lado, mostram os impactos nas comunidades
rurais que percebem no espaço de inclusão digital, uma significativa oportuni-
dade de comunicação, uso de informações à distância, relacionamentos, dentre
outros.
Com relação ao entendimento da definição de inclusão digital, 14% das res-
postas afirmaram entender a inclusão digital a partir de atividades promotoras
do desenvolvimento social, enxergando nesse processo oportunidades signifi-
cativas para que os usuários formem e/ou ampliem suas redes de relacionamen-
to, promovendo e facilitando o empreendedorismo nas comunidades, elemen-
tos importantes para a efetiva participação social e política. Cabe destacar que
para 23% das respostas, os multiplicadores do conhecimento afirmaram que os
telecentros contribuem positivamente no combate ao êxodo rural. As demais
respostas ressaltam a importância do espaço de inclusão digital como local para
contato com uma nova tecnologia e com a internet, que projeta o indivíduo para
fora de seu meio, contudo, nessas respostas, há implicitamente uma vinculação
excessiva do entendimento da inclusão digital ao uso restrito das TICs.
Com respeito aos aspectos relacionados à motivação para debates comuni-
tários no espaço e por meio do telecentro, 61% responderam que tais atividades

427
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

não são desenvolvidas. Em 39% dos casos são promovidas atividades que moti-
vam as pessoas, usuárias do espaço de inclusão digital, a discutir os problemas
comunitários. São promovidas palestras, encontros comunitários, reuniões de
grupos (jovens, terceira idade, etc), dentre outras, que caracterizam a impor-
tância do telecentro o debate comunitário. Esse é mais um importante aspecto,
pois atua na direção do aculturamento sobre os debates coletivos, mostrando,
por um lado, a importância do positivo exercício da cidadania e seus prováveis
impactos sobre a produção de conhecimento e por outro, que as TICs possuem
papel social relevante.
No tocante ao destino dado aos resultados das atividades desenvolvidas no
telecentro, a distribuição das respostas é a seguinte: 23% afirmaram que são
objeto de discussão pelo grupo de usuários, 15% afirmaram que os trabalhos
são publicados em outros meios de comunicação, com exceção da Internet, 12%
responderam que os trabalhos são devolvidos aos usuários. Conforme 10% dos
multiplicadores do conhecimento os trabalhos são publicados na Internet. Cabe
ressaltar que a SAR, a partir de junho de 2007, disponibilizou espaço no site
do Programa Beija-Flor para que cada telecentro tenha sua página na internet e
publique seu próprio conteúdo, fato encarado com importante diferencial, pois
fortalece a rede dos telecentros, aumenta a auto-estima dos que publicam, dentre
outros fatores que contribuem para a consolidação das ações de inclusão digital.
Quando questionados sobre a contribuição do projeto na produção de in-
formações e conhecimentos, sem objeções, não resta dúvida para os multiplica-
dores do conhecimento de que as ações de inclusão digital contribuem positiva-
mente para a produção ou o consumo de informações nas comunidades. Para a
equipe de acompanhamento pedagógico, os resultados apresentados nos eventos
“Melhores Práticas”, apontam nessa direção. Consideram que apesar de ainda
muito explorados os processos de formação técnica em informática, o acesso à
internet proporciona um canal de consumo e produção de informações até então
inexistente nas comunidades. A produção é constatada, principalmente nas es-
colas, onde os trabalhos e pesquisas de alunos e professores contam com dados e
informações postados na internet. Outro aspecto relevante diz respeito à produ-
ção de informações de interesse comunitário, por meio de boletins informativos
ou jornais comunitários.
No que diz respeito à identificação dos impactos do projeto de inclusão
digital sobre os usuários e a comunidade, foi solicitado que os entrevistados
apontassem: quais impactos se houve aumento na conscientização social, maior
participação política e espontaneidade para discutir temas comunitários? As res-
postas apresentadas mostram que os impactos são positivos, no entanto ainda
superficiais. De forma geral, os telecentros ainda mantêm os cursos de infor-
mática básica, pelo fato de haver um elevado índice de excluídos digitais. Por
outro lado, há uma parcela de telecentros que promovem debates sobre temas
de interesse comunitário. Evidentemente que, abrindo-se um importante canal
de comunicação, como o é a internet e em se criando condições para debates,

428
CONeGOV 2009 | SHORT PAPERS

haverá maior possibilidade de espontaneidade e conscientização social por parte


dos membros das comunidades, o que se constata é que não há ainda como men-
surar esses aspectos.
De forma geral, os resultados permitem várias abordagens. A gama de in-
formações e conhecimentos existentes nas comunidades rurais deve ser enca-
rada como uma fonte potencial, carecendo então, de práticas que permitam sua
codificação, armazenamento, compartilhamento, enfim, que possam ser vistos,
sobretudo pelas organizações públicas, como oportunidades, não somente mer-
cadológicas, mas sociais.
Apesar de incipiente, já se percebe que os trabalhos desenvolvidos pelo
Programa Beija-Flor contribuem para fortalecer a comunidade na perspectiva
da geração de conhecimentos e do exercício da cidadania. Para Ferreira (2007),
o compartilhamento do conhecimento e experiências em trabalhos sociais enri-
quece todos os participantes, gerando mais conhecimento e estabilidade social.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pelo apresentado, pode-se inferir que o Programa Beija-Flor está criando
condições e permitindo acesso ao conhecimento e o uso cidadão de ferramentas
de TICs, pouco acessíveis às remotas comunidades rurais de Santa Catarina. O
fato de a comunidade manter contato com instrumentos tecnológicos, até então
inexistente em seu meio, representa grande benefício. Outro aspecto relevante
diz respeito ao fator comunicação, haja visto que muitos dos locais onde estão
instalados os telecentros não possuem infra-estrutura de telefonia. Do ponto de
vista do conhecimento, seu uso e reuso produz mais conhecimentos, num ciclo
benéfico à sociedade.
Perceber que a tecnologia disponível nos telecentros é meio para acesso e
não consiste em um fim em si mesmo é importante ao discernimento acerca das
possibilidades de relacionamentos no mundo virtual e para o próprio desenvol-
vimento de atividades no espaço de inclusão digital. Um telecentro comunitário
prima pelo relacionamento pessoal, pelos debates, enfim, que a tecnologia seja
potencializada, principalmente em comunidades geograficamente isoladas fo-
cando seu desenvolvimento econômico e social. Deve também ser considerado
que as políticas públicas são desenvolvidas para os cidadãos, dessa forma, o
contato entre o agente público e seus clientes não pode se resumir em bytes. As
organizações públicas devem encarar essas ações como investimentos e procu-
rar potencializar seus resultados em novas pesquisas, produtos e/ou serviços.
A criação de uma rede virtual para telecentros, que permita o intenso com-
partilhamento de dados e informações e que agregue conhecimento das e às
práticas locais, auxilie no desenvolvimento econômico e social local/regional,
consiste numa boa oportunidade para que os programas/projetos de inclusão

429
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

digital/social atuem de forma integrada e com base em informações por eles ge-
radas, pautadas na realidade onde atuam. Por outro lado, os programas/projetos
de inclusão digital ganham em escala na medida da integração, que buscam na
adoção de práticas de gestão administrativa e do conhecimento, potencializar
ações, recursos financeiros e capital humano, além de criarem condições para
sua expansão e significativa contribuição à sociedade.
Estar inserido na sociedade do conhecimento não significa ter optado por
ela, dessa forma, dispor minimamente infraestrutura para que a sociedade des-
frute de ferramental tecnológico visando o exercício da exploração e constru-
ção do próprio conhecimento significa reconhecer que o amplo desenvolvimen-
to econômico e social reside no conhecimento. Nesse sentido, os programas/
projetos de inclusão digital tendem à contribuição relevante, já que concentram
uma variedade de atividades que buscam gerar melhores condições de vida às
pessoas e consequente equidade social, além de oportunidades mercadológicas,
sobretudo aos empreendedores, que por vezes, pela falta de informações e/ou
oportunidades, não conseguem espaço.

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consumo e a produção de informação em centros públicos de acesso à Internet no
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CONeGOV 2009 | SHORT PAPERS

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431
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

432
ADVERTMAPS: UM MASHUP
DOS DADOS DE ÓBITOS COM UM
APLICATIVO DE MAPAS PARA APOIO
AO GOVERNO ELETRÔNICO

Aírton José Ruschel¹


airtonruschel@gmail.com

Nelson Luiz Rocha Silveira¹


nlrs@terra.com.br

Christianne Coelho de Souza Reinish Coelho¹


ccsrcoelho@terra.com.br

Aires José Rover¹


aires.rover@gmail.com

1 Programa de Pós Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento (EGC) da


Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC),
Campus Universitário, 88040-970
Florianópolis-SC, Brasil.

RESUMO

Este artigo objetiva explorar as possibilidades de criação de um aplicativo  mashup, o


AdvertMaps. Ele integrará  num ambiente web a base de dados de atestados de óbitos do
Ministério da Saúde do Brasil e a base de dados do Índice de Desenvolvimento Humano
(IDH) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com o aplicativo de mapas
do Google Maps. Com isto, o cidadão e   o empresário  poderão acessar na web dados
de localização destes eventos, e fazer análise quantitativa e plotar os eventos no mapa,
para uma melhor compreensão do entorno geográfico, e avaliar ações e investimentos. As
autoridades públicas dos governos federal, estadual e municipal, poderão fazer relações
com o IDH e decidir por investimentos e tentar equalizar o problema da segurança
pública, dos acidentes de trânsito e epidemias que vitimam o povo brasileiro. A efetivação
do Governo Eletrônico, através da utilização de ferramentas modernas (plataformas
abertas e colaborativas) que permitam um rápido desenvolvimento de soluções dentro da
sistemática mashup, permitirá um aumento do fluxo de comunicação do governo com o
cidadão, empresas e as próprias instituições da administração pública. A grande vantagem
é a disseminação da informação de forma analítica e geograficamente apresentada.  Como
desvantagem do sistema pode-se apontar o fato de que mesmo sendo os dados públicos
neste momento, por uma mudança política, estes dados poderão ser restringidos. Para
tentar evitar isto, seria necessário uma parceria com o fornecedor dos dados. O impacto
da disponibilização do AdvertMaps para a sociedade ainda precisa ser medido.

433
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

PALAVRAS-CHAVE

Mashup. Governo Eletrônico. Atestado de óbito. IDH. Mapas.

1. INTRODUÇAO
O desenvolvimento tecnológico tem influenciado o cotidiano das pessoas
em qualquer parte do mundo, principalmente com o uso da internet. As novas
maneiras de relacionamento pessoal através de e-mails e chats, de organização
em grupos de interesse e de consumo, trabalho colaborativo e comércio eletrô-
nico, trazem muitas facilidades às demandas sociais. Neste sentido, a adminis-
tração pública também precisa se apropriar das novas tecnologias e oferecer à
sociedade um melhor canal de comunicação de informações. Com isto, poderá
qualificar seus serviços, aproveitando a emergência das idéias do capital intelec-
tual da sua população que vive a era da internet. A democratização das informa-
ções contidas nos bancos de dados, até então restritos às repartições públicas,
poderá dar à sociedade, e em especial aos gestores públicos, com o uso do gover-
no eletrônico (e-gov), uma nova dinâmica para a satisfação dos anseios públicos.
O governo eletrônico tem sido definido como o uso intensivo da Tecnologia
da Informática e Comunicação (TIC) para promover um governo mais eficiente
e efetivo. Isto é: para facilitar a acessibilidade ao serviço governamental, atra-
vés de um maior acesso público à informação e para fazer um governo mais
prestador de contas aos cidadãos. (BUSQUETS, 2006) Vários sistemas infor-
matizados, que consistem de informações e serviços, podem ser abrangidos pelo
governo eletrônico, tipificados aqui, quanto ao seu alcance:
• G2G, governo para governo;
• G2C, governo para cidadão; e
• G2B, governo para negócio (business).
As esferas governamentais podem ser em nível do governo federal, estadual
e municipal. O poder executivo, quase sempre o mais desenvolvido na questão
do governo eletrônico, vem seguido pelo judiciário e daí pelo legislativo.
O fluxo das informações pode acontecer nos dois sentidos de comunicação
e em volumes que variam nas diversas esferas governamentais. Neste contexto
de globalização, tanto o Brasil quanto os demais países da América Latina e
do mundo, investem com maior ou menor intensidade no governo eletrônico.
Conforme Busquets (2006) o grau de desenvolvimento do governo eletrônico
pode ser avaliado sobre os seguintes aspectos: serviços on-line, serviços eletrô-
nicos, política de privacidade, política de segurança, qualidade informática do
site, modalidades de financiamento e alcance público de interação. Para ele o go-
verno eletrônico pode também aprimorar a democracia (eletrônica), permitindo:
• Incrementar a transparência do processo político;
• Elevar o envolvimento direto e participativo dos cidadãos; e

434
CONeGOV 2009 | SHORT PAPERS

• Melhorar a qualidade na informação da opinião pessoal, abrindo novos


espaços de informação e deliberação (BUSQUETS, 2006).
Para atender principalmente este último aspecto é que as infra-estruturas
das TICs devem estar bem desenvolvidas, permitindo um diálogo pela internet
através de portais que suportem registrar, avaliar e dar feedback às solicitações
do cidadão (G2C), tornando o conjunto de registros e sua avaliação, um indica-
tivo para apoiar a tomada de decisão governamental.
No Brasil, o Ministério da Saúde gerencia o Sistema de Informação sobre
Mortalidade (SIM), o qual é um repositório de dados sobre os atestados de óbitos
registrados principalmente pelo médico legista dos Institutos Médicos Legais.
A disponibilização destas informações na internet, de forma inteligente e geo-
graficamente referenciada, poderá auxiliar na tomada de decisão do cidadão ou
empresário que queira fazer um investimento.

2. OS ATESTADOS DE ÓBITO
Em meio às adversidades da vida, onde os compassos e descompassos são
inerentes a determinadas áreas, quer sejam por condições naturais ou impos-
tas pelos mecanismos econômicos e sociais que as propiciam, faz-se necessário
levantar dados sobre as condições de ocorrência das mortes no Brasil. Estes
registros, ao serem analisados e geograficamente avaliados podem servir de
apoio às ações das autoridades governamentais para estipular políticas públicas.
No Sistema de Informação Sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde
os óbitos são informados de acordo com o CID106 (cadastro internacional de
doenças) mesmo que tenham sido mortes naturais ou mortes consideradas vio-
lentas (homicídio, suicídio, acidentes de trânsito). Ainda que as mortes violentas
tenham tido algum controle nos últimos anos, o governo e o CONASS (Conselho
Nacional de Secretários de Saúde) classificam o problema como “epidemia”. A
avaliação, de que essas cifras têm dimensões epidêmicas, resultou na organiza-
ção de uma série de encontros para discutir propostas de enfrentamento à violên-
cia no país, com apoio de cinco agências da ONU, entre elas o PNUD7(Programa
das Nações Unidas para o Desenvolvimento).
Atualmente o Ministério da Saúde coordena o trabalho de orientação e pre-
enchimento do atestado de óbito, que é um documento que atesta as circuns-
tâncias em que uma morte ocorreu. Pode-se tipificar estes eventos  em mortes
“naturais” e mortes “violentas”. Os eventos que mais causam impacto social são
as mortes violentas, dando-se ênfase ao homicídio. O atestado de óbito é preen-
chido por um médico legista, que quase sempre atua no ambiente do Instituto
Médico Legal, fazendo uma autópsia técnica. Ele também informa no atesta-

6 Disponível em http://www.datasus.gov.br/cid10/webhelp/cid10.htm
7 Disponível em http://www.pnud.org.br/home/

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Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

do de óbito, informações contidas no boletim de ocorrência da Delegacia de


Polícia, ou dos “comunicantes” que quase sempre são policiais ou familiares.
Este formulário é digitado e os arquivos de dados ficam disponíveis na internet,
organizados por estado. Existe hoje uma interface simples que permite a tabu-
lação de dados com algumas das variáveis. Com algum conhecimento técnico é
possível baixar estas bases de dados e “abrir” o seu conteúdo para enxergar as
informações do atestado de óbito na sua íntegra, e disponibilizar uma interface
moderna para o cidadão.

3. A TECNOLOGIA DO GOOGLE MAPS


Com tantos avanços tecnológicos, muitas vezes dados armazenados para
uso em referenciais estatísticos, quando plotados num mapa, traduzem e cla-
reiam situações que podem ser usadas em ações que diminuam as taxas de mor-
talidade, através de políticas públicas tecnicamente avaliadas.
No livro “O mundo inteiro é um palco e você é o astro” os autores Tapscott
& Williams (2007) citam o esforço que em maio de 2005, Paul Rademacher
estava tendo para achar uma casa para morar no Vale do Silício na Califórnia,
Estados Unidos, mesmo já fazendo procuras pela internet. Ele se cansou das pi-
lhas de mapas do Google para cada uma das casas que queria visitar. Então teve
uma idéia e criou um novo site que combina astutamente anúncios classificados
do service online Craigslist8 com o serviço de mapas do Google. Ele sugere que
o usuário escolha uma cidade e uma faixa de preço e logo aparece um mapa com
tachinhas indicando a localização e descrição de cada aluguel. Ele chamou sua
criação de housingmaps. Embora seja uma ferramenta útil para ajudar as pessoas
a achar lugares para morar, não se trata, a principio, de nada tão revolucionário.
Porém, o site de Rademacher logo se tornou um exemplo do que a nova web está
se tornando, não pelo o site em si, mas por causa da maneira como foi criado.
(TAPSCOTT & WILLIAMS, 2007)
O housingmaps foi um dos primeiros mashups da web. Depois de o hou‑
singmaps ter popularizado esse conceito, mashups semelhantes eram anuncia-
dos diariamente. Sites dedicados a rastrear o fenômeno dos mashups agora cata-
logam quase mil implementações únicas.
A maioria delas é uma variação do que Rademacher fez: liga uma fonte de
dados ou conteúdo a um aplicativo de mapas para criar uma visualização geo-
gráfica de informações baseadas em localizações.
Os mashups com o Google Maps, por exemplo, surgiram para fazer qual-
quer coisa, como identificar a localização de cenas de crime (Chicago Crime9),

8 Disponível em http://www.craigslist.org
9 Disponível em http://chicago.everyblock.com/crime/

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CONeGOV 2009 | SHORT PAPERS

revelar onde ficam as casas de celebridades, permitir o cálculo de distâncias,


localizar lojas onde determinados produtos estão mais baratos. Outra aplicação
é localizar postos onde o combustível está mais em conta (CheapGas10), isto apri-
morado para uma interface web no telefone celular. Por mais intrigantes que se-
jam, os mashups do Google Maps são apenas a ponta do iceberg da colaboração.
O mundo está entrando em uma nova fase em que as vastas plataformas abertas
para participação servem de base para que grandes comunidades de parceiros
possam inovar e criar valor na internet.
Quando o Google Maps11 foi lançado, o mesmo foi vítima de inúmeros ha‑
ckers, que tentaram “quebrar” seu código.  Os  desenvolvedores e usuários es-
tavam encantados com esta nova geração chamada de aplicação Ajax e expu-
seram suas opiniões positivamente e que nunca viram tamanha aplicabilidade.
Desenvolvedores de todo o mundo queriam saber como funcionava e como po-
deriam utilizar esta API (interface de programação de aplicativos) e suas espe-
cificações para criação de novas aplicações. A Google, numa demonstração de
atuação colaborativa, liberou a API do Google Maps para uso público. Outros
exemplos que usam a API Google Maps são:
• Chicago Crime12 para visualizar os crimes nas áreas da cidade de
Chicago;
• Incident Log13 para visualizar os crimes e acidentes em todo os Estados
Unidos;  
• Housing Maps14 para visualizar  propriedades para locação ou venda
contidos nos classificados do Craigslist15;
• Cell Phone Reception and Towers16 para visualizar torres de telefones
celulares.
O programador que quiser usar a API Google Maps, usa uma conta ca-
dastrada no Gmail (interface de correio eletrônico), acessa o site17 e  pode ob-
ter a  API key, indicando a URL (Localizador de Recursos Universal) que é o
endereço onde a API vai ser usada. O uso gratuito do Google Maps apresenta
algumas restrições. Uma delas é que o site a ser criado não pode passar de 50.000
páginas visitadas por dia. Esta situação pode “ser negociada com o Google”. A
janela do mapa gerado, ou dos anúncios do Google, não pode ser obstruída. O
desenvolvedor terá que usar sempre a última versão da API, mesmo que isto

10 Disponível em http://www.getmobio.com/learn/cheapgas/
11 Disponível em http://maps.google.com
12 Disponível em http://www.chicagocrime.org
13 Disponível em http://www.incidentlog.com
14 Disponível em http://www.housingmaps.com
15 Disponível em http://www.craigslist.org
16 Disponível em http://www.cellreception.com
17 Disponível em http://www.google.com/apis/maps/signup.html

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Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

requeira algum esforço de programação Java. O Google Maps API deve ser aces-
sado diretamente do servidor Google Maps. Para que um endereço seja plotado
no mapa, o programador passará para a API a latitude e a longitude de um ende-
reço. O Google Maps também tem capacidade de localizar, de forma aproximada
(e sujeito a erros), um endereço geográfico informado.
Como foi visto, um mashup é um aplicativo na web que combina uma fonte
de dados com uma API (Interface de Programação de Aplicativos). Para Brian
Lamb18, da University of British Columbia, o mashup envolve o reuso, ou “re-
mix”, de trabalhos de arte, de conteúdo e/ou dados para propósitos não comuns
ou jamais imaginados pelos criadores originais. Para ele o termo mashup de
dados descreve um site na web ou aplicação que combina os dados e a funciona-
lidade de múltiplos sites da web numa experiência integrada. Isto pode ser enten-
dido que o usuário irá ver na frente do computador, informações reorganizadas
e apresentadas de forma ainda não vista.
Como esta nova metodologia de integração está se aperfeiçoando, os prin-
cipais players do mercado, como  eBay, Google, Amazons, Sap, Yahoo! Pipes
e a própria IBM estão disponibilizando kits de ferramentas para acesso aos seus
dispositivos. Esta ferramentas vêm com orientação de uso e muitas vezes não
precisam de programação (java por exemplo), mas somente a passagem de parâ-
metros entre aplicativos (como se fosse uma função).

4. O ADVERTMAPS
Dentro do escopo das idéias descritas é possível unir as informações dispo-
nibilizadas pelos Atestados de Óbito do Sistema de Informações sobre Mortes
(SIM) do Ministério da Saúde e Índice de Desenvolvimento Humano do IBGE
por município; e usar conceitualmente um mashup, plotando estes dados no
mapa através da API Google Maps, transformando assim os dados em infor-
mações que poderão ter além de uma medida estatística a visão geográfica onde
acontecem os problemas.
Este AdvertMaps proposto será desenvolvido por um órgão governamental
ou outro programador independente. Ele poderá ser um programa na linguagem
Java e em ambiente web, rodando num browser (Explorer, Mozilla). Outra opção
é utilizar as próprias ferramentas do Google, como a planilha ou o banco de
dados, restringindo-se aos seus limites da interface.
A tela de consulta do AdvertMaps apresenta os seguintes campos de pesquisa:
• Unidade da Federação (UF);
• Município;
• Bairro;

18 Disponível em http://weblogs.elearning.ubc.ca/brian/

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CONeGOV 2009 | SHORT PAPERS

• Logradouro;
• Código do CID10;
• Data inicial; e
• Data final.
O resultado desta pesquisa será totalizado, sendo apresentado somente o
número total e não os registros individuais que o compõe. O IDH do município
será apresentado ao lado do nome do município. O usuário terá a opção de plotar
os resultados no Google Maps. A Figura 1 mostra um exemplo de como os regis-
tros serão plotados no mapa.

Figura 1.

Fonte: API Google Maps

Para tanto, o AdvertMaps passará como parâmetros para a API do Google


Maps a latitude e a longitude dos endereços e o nível inicial  de zoom, conforme
o comando: “oMap.centerAndZoom(newGPoint(latitude,longitude),nível inicial
de zoom)”. A consulta poderá ser repetida e novos mapas poderão ser gerados.
A partir daí, as funções do sistema operacional do computador poderão salvar a
pesquisa num editor de texto, ou enviá-la por e-mail.
O AdvertMaps e a metodologia mashup apresentam muitas vantagens.
Como foi sugerido haverá um incremento das ações de Governo Eletrônico
(E-gov). O desenvolvimento terá pequeno custo o que possibilitará que desen-
volvedores individuais criem soluções novas ou aprimorem as existentes. Desta
forma teremos muitos programadores desenvolvendo aplicativos a partir de
idéias inovativas.
Para o cidadão (G2C) novos aplicativos disponíveis, com constante apri-
moramento, e gratuitamente na internet, a partir de dados governamentais. Os

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Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

usuários poderão conhecer bases de dados que até então não estavam disponíveis
com certa facilidade. O cidadão poderá escolher a região geográfica que melhor
lhe interesse para morar ou trabalhar. As empresas (G2B) tendo esta consulta do
AdvertMaps como referência, poderão avaliar melhor seus investimentos.
Os próprios órgãos governamentais (G2G) terão melhores informações para
fazer investimentos pontuais em políticas públicas para tentar evitar epidemias e
principalmente as mortes violentas (homicídio, suicídio e acidentes de trânsito).
A própria população (massa crítica), sendo abastecida por informações apre-
sentadas de forma qualificada pelo AdvertMaps poderá sugerir soluções para
problemas em determinados fóruns apropriados através da internet. Haverá um
aumento do interesse pelo assunto/problema e com isto, surgirão sugestões de
resolução de problemas. Como o interesse pela base de dados de Atestados de
Óbito aumentará, haverá a necessidade de aprimorar a consistência da base de
dados e da velocidade de acesso com melhoria da infra-estrutura de TIC (tecno-
logia de informação e comunicação).
Algumas desvantagens podem ocorrem. Por exemplo, o governo, por uma
opção política pode bloquear a liberação das fontes de dados. O AdvertMaps
poderia ficar desacreditado, por não disponibilizar o “prometido”. Para resolver
esta questão, o desenvolvedor ou seu financiador teriam que fazer parcerias com
os órgãos governamentais que detêm os repositórios de dados.
Outro problema é que novos aplicativos com as mesmas funções do
AdvertMaps poderiam ser criados facilmente, o que poderia desestimular o in-
teresse criativo do autor inicial. O mashup não dá dividendos de direitos intelec-
tuais ao seu autor. O grande uso do sistema também seria inicialmente um pro-
blema, pois havendo muitas consultas do sistema por parte do cidadão usuário,
o sistema poderia se tornar lento. Neste caso teria que ser feito investimento em
infra-estrutura por um parceiro financiador.
Quanto à colaboração do cidadão, no sentido dele fazer muitas sugestões
através do fórum de participação, o governo talvez não tenha como dar respostas
rápidas às sugestões dadas, mesmo que elas tenham sido apontadas a partir de
análise técnicas.
Considerando as plataformas abertas, é uma vantagem para a empresa que
disponibiliza APIs a inovação e criatividade por baixo custo e com rapidez. Já
para o parceiro que cria soluções (mashup), este poderá alavancar infra-estru-
turas de primeira classe por uma fração do valor  e do tempo que gastaria para
desenvolvê-las sozinho.
Já uma desvantagem das plataformas abertas para a empresa é a diminuição
do valor intelectual de produção das APIs, pois antes eram cobradas e agora são
gratuitas. Já para o parceiro, pode ocorrer que desenvolvedores concorrentes
terão acesso às mesmas APIs. Com a grande difusão da metodologia mashup,
poderá ocorrer uma obsolecência rápida das aplicações.

440
CONeGOV 2009 | SHORT PAPERS

Para vencer no ecossistema das plataformas abertas, tanto as empresas pro-


dutoras de APIs quanto os parceiros devem levar em conta que todas as aplica-
ções de uma determinada tecnologia passam por uma idealização, experimenta-
ção, seleção e consolidação (ou não). Da mesma forma, as idéias também passam
por este ciclo. O sucesso da abertura de um negócio está em fechar os parâme-
tros certos e recompensar a inovação sem destruir as características do sistema
que o tornaram inovador. As plataformas para participação só permanecerão
viáveis enquanto todos forem recompensados adequadamente.
No caso do AdvertMaps é interessante que, numa ação de governo eletrôni-
co, o próprio governo disponibilize esta aplicação, ou faça um concurso público
para estimular desenvolvedores a produzirem a melhor interface possível para o
AdvertMaps. A grande conquista será a ampliação do fluxo de informações para
com o cidadão (G2C) e do cidadão com o governo (C2G).
Numa evolução do aplicativo AdvertMaps, poderiam ser integrados os con-
ceitos dos portais web, permitindo a criação de uma Ideagora conforme Tapscott
& Williams (2007), com o uso de chats, blogs e outros recursos da web. Ao
AdvertMaps poderiam ser incorporadas novas bases de dados públicas. O apli-
cativo poderia permitir exportação das análises e dos mapas para softwares mais
sofisticados, a possibilidade de acompanhamento e avaliação histórica das ações
comparadas com o incremento ou diminuição das mortes violentas e epidemias,
ou outros conjuntos de óbitos controláveis.
Nesta Ideagora poderiam ser cadastrados pessoas especialistas para opinar
sobre as mortes registradas nos atestados de óbito e de como evitá-las, sugerin-
do ações qualificadas. Estas idéias seriam analisadas por um comitê gestor que
repassaria ao Governo um plano com ações justificadas, que acompanharia o
resultado das ações postas em prática. Aqueles que contribuíssem com idéias
que fossem efetivadas poderiam ser remunerados.

4. CONCLUSÃO
Como foi mostrado, este artigo explora a possibilidade de criação do
AdvertMaps: um mashup que combina bases de dados de atestados de óbito
e o índice de desenvolvimento humano (IDH) dos municípios brasileiros com
o aplicativo de mapas Google Maps. Esta ação de governo eletrônico pretende
disponibilizar, de maneira inovativa e analítica, informações contidas nestas ba-
ses de dados. Isto, para que o cidadão (G2C), as empresas (G2B) e as próprias
instâncias do governo (G2G) consigam considerar a tipificação dos óbitos que
acontecem em sua jurisdição, para avaliar onde morar, onde investir, e para de-
finir políticas públicas pontuais a aplicar nos locais mais problemáticos. Uma
preocupação seria diminuir principalmente os óbitos considerados violentos
(homicídio, suicídio, acidentes de trânsito).

441
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

O desenvolvimento de aplicativos por grandes equipes (comunidades)


de programadores na metodologia mashup, se utilizando de APIs gratuitas
e consolidadas para o ambiente web, irá baratear cada vez mais o custo da
obtenção de informações com qualidade e interfaces mais interessantes e
amigáveis.
Muitas bases de dados que formam os acervos dos órgãos públicos, tendem
agora a serem abertos para análise da sociedade. Pesquisadores irão desenvolver
aplicativos sob demanda, e cada um destes aplicativos poderá ser uma nova API.
É o momento que a criatividade colaborativa das redes sociais irá aflorar e tra-
zer ao ambiente web soluções inovativas que deixarão os usuários “perplexos”.
Neste momento o social passará por uma elevação e o internauta experimentará
uma nova integração de informações diante de seus olhos, que certamente in-
fluenciarão na sua vida.

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Estrategias y Resultados. In: GALINDO, Fernando (Coord.). Gobierno, Derechos y
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442
CONeGOV 2009 | SHORT PAPERS

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443
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

444
DEMOCRACIA ELETRÔNICA NO
BRASIL: PRINCÍPIOS E PERSPECTIVAS
DO USO DAS TICS PELO CIDADÃO
PARA PARTICIPAÇÃO NO GOVERNO

Hélio Santiago Ramos Júnior


Assistente Jurídico do Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) Mestre em
Engenharia e Gestão do Conhecimento EGC/UFSC
http://egovbrasil.blogspot.com
egovbrasil@gmail.com

Márcio Marcelo Piffer


Mestre em Ciências da Computação pela UFSC
mmpiffer@gmail.com

RESUMO

Este trabalho tem o objetivo de refletir sobre novas perspectivas para a democracia
brasileira a partir do fenômeno do governo eletrônico com o uso das tecnologias da
informação e da comunicação (TICs) pelos cidadãos para sua participação mais efetiva
no governo, dissertando sobre os princípios de implementação da democracia eletrônica
no Brasil, a necessidade de potilizar a sociedade e a perfectibilização de uma democracia
eletrônica voltada à consolidação dos direitos fundamentais dos cidadãos na era digital
visando, assim, o fortalecimento do Estado Democrático de Direito.

PALAVRAS-CHAVE

Democracia; Direitos Fundamentais; Governo Eletrônico; Sociedade da Informação.

1. INTRODUÇÃO
A democracia se encontra em uma encruzilhada nesta sociedade contem-
porânea que vivenciamos. Ela tem como meta ser uma garantia de que as so-
ciedades sejam capazes de solucionar seus problemas de uma maneira menos
traumática que no século passado. O impacto que as tecnologias podem fazer
está apenas em seu início e a revolução da informação e do governo eletrônico
começa a ter sentido.
Neste contexto, os órgãos governamentais passam a exercer um papel fun-
damental na organização e gerenciamento das tecnologias da informação e da

445
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

comunicação (TICs) para que estas sejam feitas da forma mais homogênea e
igualitária possível a toda a população.
Disto resulta uma sistemática para poder politizar a sociedade de manei-
ra uniforme. Todo este paradigma que está sendo imposto tem por objetivo a
expansão, no entanto, a vida cotidiana de uma parcela relevante da população
pode estar compelida a permanecer em uma sociedade digitalmente analfabeta.
Com a utilização das TICs, objetiva-se um avanço no desenvolvimento social,
econômico, tecnológico e sustentável, com o surgimento de novas perspectivas e
possibilidades para perfectibilizar uma democracia eletrônica abrangendo toda a
sociedade. Para que isso aconteça, torna-se necessária a participação de agentes
com disposição e compromisso para gerar e disseminar a informação no sentido
de produzir o conhecimento almejado.
O principal objetivo da disseminação da tecnologia é desenvolver formas
práticas, legais, tecnológicas e mecanismos politicamente corretos que assegu-
rem, de maneira global, a toda a sociedade, o acesso às TICs como pressuposto
básico para a democracia eletrônica e consolidação de direitos fundamentais na
era digital. O rápido crescimento e o avanço tecnológico são inerentes à vontade
dos cidadãos. Desta forma, a adoção de medidas que contemplem o número má-
ximo de indivíduos possível de uma sociedade se faz necessária a fim de melhor
articular as idéias de democratização da educação tecnológica. Todavia, esta
nova modalidade de educação passa por meandros que necessitam ser transcor-
ridos de forma a proporcionar treinamento dos trabalhadores do conhecimento e
a criação de uma sociedade baseada no conhecimento.
Cada idéia dessa leva consigo um enorme número de inovações, políticas e
práticas a ela atinentes. Sendo assim, existe um grande desafio, ao qual estamos
diante, de explorar a aprendizagem ao longo da vida, no contexto dessas diversas
e fundamentais noções de desenvolvimento na civilização humana contemporâ-
nea, em face dos desafios de globalização. Estes é um pequeno índice de como
as Novas Tecnologias da Informação e das Comunicações então modificando em
todo o mundo a sociedade, a cultura e a política (PIANA, 2006, p. 116).
Com o advento das TICs, e principalmente com a Internet e o crescente
desenvolvimento do governo eletrônico (e-Gov), surgem novas perspectivas,
como, por exemplo, a possibilidade de criação de novos institutos democráti-
cos ou mesmo a sua adequação à democracia eletrônica, que deve ser entendida
em todas as suas dimensões tanto teleologicamente, de cima para baixo, bem
como examinada a partir da emergência da Internet e da participação direta do
cidadão na política mediante o uso das novas tecnologias. (RAMOS JUNIOR,
BRAGA & MIRANDA, 2007, p. 36-37)
Desta forma, pretende-se estudar a democracia eletrônica apresentando al-
guns pressupostos e princípios para a sua implementação no Brasil, fazendo
comentários sobre modelos de democracia eletrônica e trazendo algumas pers-
pectivas para a consolidação da democracia eletrônica em nosso país.

446
CONeGOV 2009 | SHORT PAPERS

Em seguida, pretende-se aprofundar este debate, discutindo a necessidade


de politizar a sociedade da informação, mais especificamente, a sociedade bra-
sileira. Ao final, apresenta-se a conclusão do trabalho visando identificar contri-
buições significativas a partir das reflexões suscitadas tanto no âmbito do direito
constitucional e das garantias fundamentais quanto aos aspectos relacionados à
humanização das TICs.

2. PRESSUPOSTOS ESSENCIAIS PARA


A EFETIVA IMPLEMENTAÇÃO DA
DEMOCRACIA ELETRÔNICA NO BRASIL
Em uma sociedade que se torna cada vez mais complexa e informatizada, as
TICs desempenham um papel importante na medida em que podem contribuir
para fortalecer a democracia através da criação de mecanismos ou novos institu-
tos que permitam ao cidadão participar do processo político e influir diretamen-
te na tomada de decisões. (PETRAUSKAS, 2006, p. 85).
Observa-se que o processo democrático se apresenta como um sistema te-
leológico, de cima para baixo, onde as formas de exercício da cidadania estão
estabelecidas nos limites da Carta Magna, que em seu art. 1º, parágrafo único,
estabelece que todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de represen-
tantes eleitos ou diretamente, nos termos da Constituição Federal.
Neste cenário, a Internet surge como um fenômeno emergente, de baixo
para cima, um ambiente democrático e descentralizado, onde todo cidadão, que
esteja conectado à rede e indignado com os problemas do país, poderá exercer a
sua cidadania digital. Assim, “a inclusão digital que envolve o direito de acesso
à Internet apresenta-se como fundamental na sociedade da informação, pois a
inclusão digital configura-se como um requisito necessário para o exercício ple-
no da cidadania”. (RAMOS JUNIOR, 2007, p. 67)
Conforme a interpretação de Hartmann (2007), é possível afirmar que o acesso
à Internet constitui um direito fundamental assegurado pela Constituição Federal já
que, com o advento do governo eletrônico, o uso da rede mundial de computadores
torna-se imprescindível para garantia e exercício de direitos do cidadão:
O direito ao acesso à Internet representa uma garantia do indivíduo de
respeito de sua esfera particular, na medida em que viabiliza a identi‑
ficação dos dados pessoais que sobre ele circulam e são armazenados,
decorrência do direito fundamental a proteção de dados pessoais ou di‑
reito a liberdade informática. Na mesma linha, caracteriza direito contra
o Estado e particulares, pois efetiva o direito a liberdade de expressão.
Ainda, representa uma garantia contra o Estado ao permitir o controle
da atuação do mesmo, através da realização daquilo que é postulado pelo
princípio da publicidade.

447
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

Sem dúvida, existem vários obstáculos para a construção da democracia


eletrônica, dentre eles, certamente um dos mais significativos é a necessidade
de assegurar a participação dos excluídos neste processo, pois é justamente a
participação dos excluídos, que são a maioria em nosso país, que confere legi-
timidade ao governo, fazendo com que este seja verdadeiramente um Estado
Democrático de Direito.
Entretanto, verifica-se que a sociedade brasileira se depara diante de um
problema que é o fato de não estarem garantidos os direitos sociais funda-
mentais de todo indivíduo, principalmente no que se refere à educação para
o desenvolvimento de uma opinião formada dotada de senso crítico e filosó-
fico acerca da política que contribuísse para o efetivo avanço da democracia.
Destaca-se ainda que “o ato de educar contém em si processos de escolhas e,
como tal, requer uma postura ética de compromisso com os sujeitos envolvidos
no processo, e com a construção de uma sociedade democrática” (SANTOS,
2003, p. 81).
Partindo da premissa de que todo o poder emana do povo, depreende-se
que a falta de participação da grande massa excluída da tomada de decisões
pode ocasionar a perda de legitimidade do governo, dada ainda a necessidade
de se criar condições mínimas para a participação dos excluídos no sistema dito
democrático:
A democracia e grande exclusão social são variáveis que, por serem
incompatíveis, não podem conviver harmoniosamente por muito tempo.
A falta de participação política ativa de amplos setores excluídos da po‑
pulação pode levar, ao longo do tempo, a um processo de deslegitimação
da própria Constituição, vez que esta deixa sucessivamente de cumprir
suas promessas, passando a ser desacreditada e perdendo a sua força
normativa. (VIEIRA, 2006, p.82).
O Estado vem constantemente se organizando em rede e promovendo políti-
cas de inclusão digital e prestação de serviços de governo eletrônico para reduzir
a burocracia e garantir eficiência na Administração Pública, porém é preciso
repensar o governo eletrônico sob uma ótica do humanismo, saindo do discurso
vazio, tantas vezes repetido, e promover uma efetiva transparência e revolução
digital, mas sem olvidar a garantia e proteção de outros direitos fundamentais
que são igualmente importantes, como, por exemplo, o direito à dignidade hu-
mana, à saúde, à informação, à educação, à privacidade, à proteção dos direitos
da criança e do adolescente, dos direitos das pessoas portadoras de deficiência,
dos idosos e do meio ambiente. Portanto, acredita-se que os pressupostos es-
senciais para a implementação da democracia eletrônica no Brasil ultrapassa
a simples adoção de políticas de inclusão digital; deve-se buscar a criação de
mecanismos que permitam ampliar a influência dos cidadãos no processo de-
mocrático utilizando as TICs, permitindo uma ampla participação, tornando-se
necessária a reconstrução do governo eletrônico a partir da efetiva promoção
dos direitos fundamentais consagrados na Constituição Federal.

448
CONeGOV 2009 | SHORT PAPERS

3. GOVERNO ELETRÔNICO E
PRINCÍPIOS DE IMPLEMENTAÇÃO
DA DEMOCRACIA ELETRÔNICA
O uso das TICs pelo cidadão adquire grande relevância nos tempos ho-
diernos em que nos deparamos diante da realidade do governo eletrônico que
se destaca como um fenômeno importante para a consolidação da democracia e
prestação de serviços públicos de forma mais eficiente. Pode-se definir o gover-
no eletrônico como sendo “a contínua otimização da prestação de serviços do
governo, da participação dos cidadãos e da administração pública pela transfor-
mação das relações internas e externas através da tecnologia, da Internet e dos
novos meios de comunicação” (FERGUSON, 2002, p. 104).
No entanto, verifica-se a existência de alguns desafios que precisarão ser en-
frentados, pois o problema do governo eletrônico em si não é simplesmente o fato
de ser “eletrônico”, mas, principalmente, por ser um “governo” e, por isto mesmo,
dotado de características subjetivas e influências políticas que muitas vezes não
levam em consideração o real interesse da coletividade e do bem comum.
Outro aspecto é que a informação se destaca como uma riqueza pública, e o
governo precisa gerir melhor as informações e o conhecimento das organizações
públicas para prestar melhores serviços ao cidadão, tais dificuldades se nota em
razão da própria complexidade das estruturas burocráticas da Administração
Pública (GARCÍA-PELAYO, 1996). Hoeschl, Nicolini e Barcia (2004) advertem
que “como o governo eletrônico é fenômeno que não vai parar e tendo em vista
que as tecnologias avançam exponencialmente é necessária uma reflexão dos
governantes mundiais para que as disparidades sejam amenizadas e a tecnolo-
gia seja utilizada de forma ética e coerente, respeitando as diferenças etnicas e
econômicas dos países”.
Mesmo diante de tais desafios, o governo eletrônico aparece como uma al-
ternativa viável para possibilitar a implementação de uma democracia eletrônica
que seja mais participativa e direta no Brasil. Assim, o governo eletrônico trata
de implementar os seguintes princípios de democracia eletrônica: 1) Todos ou
pelo menos a grande maioria dos cidadãos devem participar da tomada de de-
cisões; 2) Importante interação entre os cidadãos e assistência mútua; 3) Toda
a informação necessária deveria ser acessível à sociedade; 4) Todo o benefício
obtido deve ser dividido igualmente entre os cidadãos; 5) Haveria de tratar de
conseguir a decisão mediante o consenso e persuasão; 6) Depois da tomada de
decisão se espera a colaboração de todos os cidadãos na implementação da deci-
são. (PETRAUSKAS, 2006, p. 89-90).
Enfatiza-se aqui a necessidade da participação dos excluídos, que compõem
a grande maioria da parcela da sociedade brasileira, para que todos ou o maior
número possível de cidadãos participem das tomadas de decisões. É neste senti-
do que todo o indivíduo deve participar sem que haja discriminação quanto à sua

449
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

raça, sexo, cor e tampouco preconceito em relação ao nível cultural e de conhe-


cimento da pessoa. Todos devem participar da tomada de decisões e o voto deve
continuar tendo igual valor para todos, tendo o mesmo peso independentemente
do grau de formação e educação do sujeito.
Desta forma, é preciso propor um novo modelo de democracia para o nosso
país que permita uma maior participação e interação do cidadão com o governo,
promovendo de forma efetiva a inclusão digital e o exercício pleno da cidadania.
A professora Débora Bonat explica que “a democracia baseada meramente
na representação política encontra-se em crise, pois restringe a participação po-
pular ao exercício do voto e a possibilidade, uma vez preenchidas as condições
de elegibilidade, de disputar os cargos eletivos. Uma vez realizada a eleição e
escolhidos os representantes, o povo não possui mecanismos e instrumentos vi-
áveis para a participação efetiva e para o controle dos atos dos eleitos” (BONAT,
2003, p. 35). Neste sentido, o governo eletrônico representa a esperança de fa-
zer mudar esta realidade, permitindo uma maior participação e influência do
cidadão na política mediante novas formas de participação através do uso das
TICs no processo democrático. A interação entre os cidadãos e assistência mú-
tua se apresenta como o segundo princípio para a implementação da democracia
eletrônica. Deve haver interação não apenas entre o governo e o cidadão, mas
também entre os próprios cidadãos.
Para construir um Estado Democrático de Direito não basta que os cidadãos
participem da tomada de decisões, pois a participação de todos é apenas um dos
requisitos básicos para a existência de um sociedade democrática, solidária, mais
humana e engajada na efetiva resolução dos problemas sociais do nosso país.
É fundamental fazer com que o cidadão desperte a consciência da impor-
tância do seu voto e que a sua decisão seja consciente e tenha como objetivo pri-
mordial a busca pelo bem comum, ou seja, segundo este princípio, “cada pessoa
soluciona problemas comuns desde seu próprio ponto de vista, mas está disposta
a sacrificar voluntariamente parte de seus interesses para o benefício comum”
(PETRAUSKAS, 2006, p. 90).
De antemão, percebe-se que aqui reside um dos principais desafios para a
democracia eletrônica brasileira, pois, no que concerne à assistência mútua, des-
tacam-se questões principalmente de ordem cultural que não contribuem para o
aproveitamento máximo da democracia quanto a este aspecto.
Acontece que “a sociedade brasileira sempre se caracterizou, em razão de
suas condicionantes geográficas e culturais, pelo mais extremo individualismo,
sendo pequena a taxa de coesão social, de espírito comunitário indicador de uma
solidariedade catalisadora dos seus membros em torno de um interesse coletivo”
(REALE JUNIOR, 2002, p. 148).
Uma vez que os problemas que precisam ser enfrentados são de ordem cul-
tural é preciso dispender muitos esforços na tentativa de mudar este paradigma

450
CONeGOV 2009 | SHORT PAPERS

social, salientando a importância de tomar decisões tendo como fundamento o


bem estar de toda a coletividade, visando a manutenção da ordem, a garantia
e respeito aos direitos fundamentais e a convivência pacífica na sociedade da
informação e do conhecimento.
O terceiro princípio para implementação da democracia eletrônica, segundo
Petrauskas, é o acesso à informação necessária para o exercício da cidadania;
que deve estar disponível ao cidadão brasileiro. É praticamente unânime o reco-
nhecimento da importância da informação nos tempos atuais, de maneira que o
acesso à informação se apresenta como essencial para que o povo possa tomar
decisões melhores, de forma responsável e consciente, devendo ser instruído
quanto às possíveis conseqüências de cada decisão.
No que se refere ao princípio segundo o qual todo benefício obtido deve
ser dividido igualmente entre os cidadãos, tem-se que as decisões tomadas pe-
los cidadãos devem estar baseadas no bom senso e na eqüidade, evitando-se a
predominância de interesses de grupos privilegiados em detrimento do restante
da população. Reconhece-se que “todos os problemas do governo de fato são
difíceis e os modos de solução dos mesmos tocam a distintas pessoas de modo
distinto – uns ganham algo, outros perdem. Portanto há que tratar de balancear o
benefício obtido entre os cidadãos e seus grupos” (PETRAUSKAS, 2006, p. 90).
Nesta ótica de democracia eletrônica, as decisões devem ser obtidas me-
diante o consenso e persuasão. Deve-se buscar o consentimento de todos ou
da grande maioria para que tais decisões sejam dotadas de legitimidade e força
normativa. Para que isto seja alcançado é que se torna interessante criar fóruns
de discussão ou outras formas de consultas e participação do cidadão não apenas
para saber a opinião da população, mas também criando a possibilidade de se
refletir e orientar o cidadão sobre as conseqüências de cada escolha, advertindo
sobre os eventuais impactos que as decisões poderão trazer para a sociedade.
Por fim, outro princípio igualmente relevante é a colaboração de todos os
cidadãos para a implementação da decisão após a votação. Como conseqüência
do regime democrático, as decisões obrigam a todos os indivíduos, inclusive aos
que votaram em sentido contrário ao da decisão que prevaleceu. Não obstante,
todos os cidadãos devem colaborar para que a decisão seja implementada, o que,
em geral, não ocorre na sociedade brasileira onde prevalece o individualismo e
a competição ao invés da conciliação e colaboração.

4. LIMITES E PERSPECTIVAS PARA A


IMPLEMENTAÇÃO DA DEMOCRACIA
ELETRÔNICA NO BRASIL
A democracia é um instituto que está presente no ordenamento jurídico de mui-
tos países. Percebe-se que todo sistema jurídico é organizado de forma teleológica,

451
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

onde as normas infraconstitucionais somente são consideradas válidas se estiverem


de acordo com o que estabelece a lei fundamental do país, não podendo contrariá-la.
Esta lei hierarquicamente superior a qualquer outra norma é a Constituição Federal,
a qual estabelece, por exemplo, direitos e garantias fundamentais do cidadão para a
manutenção da convivência pacífica e harmoniosa na sociedade.
O exercício da cidadania se encontra limitado nos termos do texto constitu-
cional, sendo importante compreender de que forma o governo eletrônico poderá
contribuir para a implementação da democracia eletrônica, ou melhor, é preciso
conhecer os limites estabelecidos pela Constituição Federal a fim de verificar
algumas perspectivas para o desenvolvimento da democracia eletrônica no país.
Não se pretende aqui esgotar o assunto, mas apenas fazer observações im-
portantes a partir do disposto no mandamento constitucional a fim de refletir
sobre as possibilidades de participação direta do cidadão com a perfectibiliza-
ção de uma democracia eletrônica e, se for o caso, a adaptação dos institutos
jurídicos existentes à realidade do governo eletrônico sem que para isso fosse
necessário mudança no texto normativo superior.
A soberania popular é consagrada como um princípio fundamental da
República Federativa do Brasil, sendo exercida pelo sufrágio universal e pelo
voto direito e secreto, com igual valor para todos, e, nos termos da lei, mediante
plebiscito, referendo e iniciativa popular, conforme disposto no art. 14, caput e
incisos, da Constituição Federal.
O plebiscito é uma consulta popular que visa decidir previamente uma ques-
tão política ou institucional, antes de sua formulação legislativa, ao passo que o
referendo versa sobre aprovação de textos de projeto de lei ou de emenda cons-
titucional, já aprovados; enquanto o plebiscito autoriza a formulação da medida
requerida, o referendo ratifica ou rejeita o projeto aprovado (SILVA, 2003, p.142).
Tanto o plebiscito quanto o referendo podem ser realizados mediante vo-
tação em urna eletrônica ou através de formas alternativas de participação que
poderão ser desenvolvidas tais como voto pela Internet, por telefone móvel, te-
levisão digital dentre outras que utilizem as novas tecnologias para tornarem
mais atraentes o processo democrático, devendo haver um controle para evitar
fraudes, por exemplo, para evitar que o cidadão vote mais de uma vez, o que
pode ser feito através de certificados e assinaturas digitais. O mesmo se pode
dizer quanto ao instituto da iniciativa popular que, com a Internet, ganha novas
dimensões. Assim, a comunicação com o governo e as possibilidades de partici-
pação na tomada de decisões políticas também devem ser acessíveis através de
outros meios técnicos, pois “quanto mais atraentes e produtivas sejam as condi-
ções de participação cidadã utilizando as TICs, mais rapidamente se desenvolve-
rá a democracia eletrônica” (PETRAUSKAS, 2006, p. 85-86).
O voto eletrônico para escolha dos representantes políticos como ocorre em
nosso país é apenas uma das formas de exercício da cidadania, pois o conceito

452
CONeGOV 2009 | SHORT PAPERS

de cidadania na era do governo eletrônico passa a adquirir um sentido amplo,


abrangendo a participação do indivíduo em consultas e fóruns eletrônicos dentre
outras formas de participação a tal ponto que todo cidadão passa a ser conside-
rado um agente colaborador do Estado que o auxilia na tomada de decisões, na
consolidação dos direitos fundamentais e na pacificação social.
Neste sentido, define-se a participação eletrônica como “a possibilidade
para os cidadãos de participar na tomada de decisões, iniciar os atos de legisla-
ção, utilizando os meios eletrônicos de comunicação e especialmente a Internet.
A participação eletrônica é a relação do governo e dos cidadãos baseada na cola-
boração utilizando o espaço eletrônico” (PETRAUSKAS, 2006, p. 93).
No que concerne ao nível de interação e envolvimento do cidadão brasi-
leiro com o governo, é fácil perceber que, de modo geral, o nosso país ainda
se encontra na fase inicial de prestação unilateral de informação pelo governo,
sendo que em alguns estados brasileiros já se nota uma transição para a fase de
relação bilateral e interação entre o cidadão e o governo, a maioria relacionada
à prestação de serviços.
Por outro lado, há municípios que sequer possuem um sítio de governo con-
tendo informações para a população dada a complexa realidade social do país.
Percebe-se, assim, que há um longo caminho pela frente em busca de atingir o
ideal de colaboração dos cidadãos na qualidade de sócios do governo.
É muito importante que os municípios criem sítios governamentais conten-
do informações úteis para os cidadãos, estruturadas de forma clara e compreen-
sível, e que adotem políticas de inclusão digital para que a população possa ter
acesso às informações e aos serviços do governo, podendo, inclusive, criar fó-
runs de discussões sobre temas relacionados à política e interesses locais, incen-
tivando a participação dos cidadãos. Segundo Pierre Lèvy, “o ciberespaço abre
hoje imensas perspectivas de um aprofundamento das práticas democráticas”
(LÈVY, 1998, p. 81). Resta saber se a sociedade brasileira saberá apreender estas
novas possibilidades. Diante da crise de representação política já evidenciada
no país, acredita-se que “a democracia direta será o primado da legitimidade
que porá fim à crise constituinte da Nação brasileira, crise cujas origens remon-
tam à fase balbuciante de formação das suas primeiras instituições de governo”
(BONAVIDES, 2004, p. 31).
Para Klaus Frey (2002), “a Internet não foi criada com a finalidade de pro-
mover a cidadania democrática, mas tem grandes potencialidades democráticas
e pode ser usada para renovar os modos de participação participação política e
tomadas de decisões” (FREY, 2002).
As tecnologias da informação aparecem nestes termos como um meio para
viabilizar a democracia eletrônica no país, sendo o Brasil um país com exten-
sões continentais, com profundos contrastes e muita diversidade. A sociedade
do conhecimento tem contribuído para formar competências e colaboração entre

453
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

as ciências além de ser o princípio básico para o desenvolvimento de uma for-


ma geral. As TICs, porém, não estão ao alcance de toda a sociedade. Torna-
se necessária a criação de estratégias que propiciem, de uma maneira global
e democrática, a inclusão digital, e desta forma, capacitando a população para
a utilização destas tecnologias, moldadas a necessidade de cada pessoa. Desta
forma, a inclusão digital deve ser considerada como um processo que facilite e
auxilie o desenvolvimento humano, que promova a educação, a cidadania e o
exercício dos demais direitos fundamentais inerentes ao indivíduo na sociedade
da informação:
(...) a democracia mantém forte vínculo com a garantia dos direitos fun‑
damentais, pois todo o poder emana do povo e a finalidade de outorga
deste poder aos representantes políticos é justamente para que sejam
concretizados os objetivos constitucionalmente estabelecidos na Carta
Magna que passam pela garantia de tais direitos, pois a inclusão digital
pressupõe a inclusão social, assegurando a todos um mínimo ético, ou
seja, condições essenciais para que o indivíduo possa desenvolver-se
plenamente na sociedade da informação, como um ator social importante
por meio do exercício da sua cidadania. (RAMOS JÚNIOR, 2007, p. 73)
Há diversos modelos de democracia eletrônica com a adaptação ou criação
de novos institutos nos quais o cidadão aparece como um ator importante para o
implemento do governo eletrônico, ou seja, caracteriza-se como um agente co-
laborador do Estado que poderá atuar mediante sua participação em consultas,
fóruns e referendos eletrônicos dentre outras formas de participação, garantin-
do a todos o acesso às novas tecnologias. Steven Clift propõe um modelo de
democracia eletrônica no qual o foco principal é o cidadão que está no centro,
mantendo relacionamentos com grupos políticos, setor privado, meios de comu-
nicação e governo.
Já Coleman e Gotze estabelecem quatro modelos de envolvimento dos cida-
dãos nos processos de democracia eletrônica: democracia direta ou plebiscitária;
comunidades eletrônicas; investigação da opinião pública; envolvimento da so-
ciedade em rede com a deliberação da política.
Por sua vez, Caldow classifica os modelos de democracia eletrônica a partir
de diferentes níveis de influência do cidadão através do uso das TICs para se
relacionarem com o governo: relações entre cidadãos e governo passivas e uni-
laterais; participação dos cidadãos nas consultas eletrônicas; comunicação inte-
rativa com o governo; relações interativas globais entre o governo e a sociedade,
sendo utilizadas todas as ferramentas eletrônicas de política. (PETRAUSKAS,
2006, p. 92-93)
A democracia eletrônica no Brasil deve ter como foco central o cidadão e
surgem novas perspectivas para uma maior participação do cidadão no governo
com o uso das TICs a partir da adaptação dos institutos democráticos existentes
ao meio eletrônico, pois estes (eleições, plebiscito, referendo, iniciativa popular

454
CONeGOV 2009 | SHORT PAPERS

etc) podem ser realizados através de meios eletrônicos com o uso das novas tec-
nologias pelo cidadão desde que sejam respeitados os pressupostos básicos de
identificação e segurança das partes envolvidas no processo.
Por último, com o intuito de pôr fim à crise de representação política no país,
seria importante também criar instrumentos que possibilitem à sociedade brasilei-
ra exigir dos representantes eleitos o cumprimento de suas promessas ou mesmo
a sua responsabilidade civil por aquilo que prometeram e não cumpriram durante
o mandato eletivo, sendo fundamental a mudança de paradigma do governo ele-
trônico que deve ir além da adoção de políticas de inclusão digital para construir a
democracia eletrônica, porém não poderá olvidar a necessidade de efetivar os de-
mais direitos fundamentais do cidadão nesta sociedade cada vez mais complexa.

5. CONCLUSÃO
Diante do estudo realizado, foi possível constatar que existem diversos
desafios para o governo eletrônico na tentativa de implementar a democracia
eletrônica no Brasil mediante a participação dos cidadãos através do uso das
TICs, dentre eles, identificou-se como um dos mais significativos a necessidade
de assegurar a participação dos excluídos neste processo, sem olvidar os demais
direitos fundamentais do cidadão, já que é a participação dos excluídos, que são
a maioria em nosso país, que confere legitimidade ao governo, fazendo com que
este seja verdadeiramente um Estado Democrático de Direito.
A participação de todos os cidadãos é pressuposto para a democracia ele-
trônica, mas além de incluir o cidadão no mundo digital e habilitá-lo para lidar
com as novas tecnologias, é importante promover a sua educação para que tenha
consciência da importância de sua decisão para ajudar na construção de um país
melhor e mais democrático, inclusive, criando novas formas de participação a
partir do seu maior envolvimento com o governo através das TICs, sendo que é
preciso que o governo também adote políticas de inclusão digial e que crie ins-
trumentos que contribuam para tornar esta interação possível.
Destaca-se também que a informação constitui uma riqueza pública e que
é preciso que o governo saiba gerir melhor as informações e o conhecimento
das organizações públicas para prestar melhores serviços ao cidadão. Apesar
dos desafios e incertezas quanto aos impactos do uso das TICs, acredita-se que
o governo eletrônico poderá atingir os seus objetivos desde que continue tendo
como foco central o cidadão e, principalmente, a humanização das tecnologias
para a efetividade dos demais direitos fundamentais.
Há alguns pressupostos e princípios de implementação da democracia ele-
trônica que foram evidenciados ao longo deste estudo e que, se forem observa-
dos, contribuirão certamente para uma maior eficácia da democracia eletrônica
com uma participação mais consciente do cidadão na tomada de decisões.

455
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

O voto eletrônico para escolha dos representantes políticos como ocorre em


nosso país representa apenas uma das formas de exercício da cidadania, pois o
conceito de cidadania na era do governo eletrônico adquire um sentido amplo,
abrangendo a participação do indivíduo em consultas e fóruns eletrônicos dentre
outras formas de participação a tal ponto que todo cidadão passa a ser considera-
do um agente colaborador do Estado que o auxilia na tomada de decisões.
Ressalta-se a importância de que os municípios criem sítios governamen-
tais contendo informações úteis para os cidadãos, estruturadas de forma clara e
compreensível, e que adotem políticas de inclusão digital para que a população
possa ter acesso às informações e aos serviços do governo, podendo criar fóruns
de discussões sobre temas relativos à política e interesses locais, incentivando a
participação dos cidadãos.
As tecnologias da informação e da comunicação, porém, não estão ao al-
cance de toda a sociedade. Então, torna-se necessário a criação de estratégias
que propiciem, de uma maneira global e democrática, a inclusão digital, e desta
forma, capacitando a população para a utilização destas tecnologias, moldadas
a necessidade de cada pessoa, merecendo aplauso as iniciativas que estão sendo
adotadas neste sentido.
No que concerne ao nível de interação e envolvimento do cidadão brasileiro
com o governo, o Brasil ainda se encontra na fase inicial de prestação unilateral de
informação pelo governo, sendo que em alguns estados brasileiros já se nota uma
transição para a fase de relação bilateral e interação entre o cidadão e o governo.
Por outro lado, há municípios que sequer possuem um sítio de governo contendo
informações para a população dada a complexa realidade social do país. Percebe-
se, assim, que há um longo caminho pela frente em busca de atingir o ideal de co-
laboração dos cidadãos na qualidade de sócios do governo e da humanização das
tecnologias em prol do interesse público e do bem comum de toda a coletividade.

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457
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

458
PROYECTO GUÍA DE
RECOMENDACIONES PARA
USUARIOS DE BIENES Y
SERVICIOS INFORMATICOS

Bibiana Beatriz Luz Clara, Dra.


Abogada, Profesora e Investigadora de la Universidad FASTA
Presidente del Instituto de Derecho Informatico del Colegio de Abogados de Mar del
Plata

Ana Haydee Di Iorio, Ing.


Profesora e Investigadora de la Universidad FASTA
Perito Informatico del Poder Judicial de Mar del Plata

ABSTRACT

Los problemas que sufren los consumidores de bienes y servicios informaticos casi a
diario dieron origen al planteamiento del estudio del tema en profundidad mediante un
trabajo de investigación con la finalidad de redactar una guia de recomendaciones que
sirva al momento de concretar una contratación conociendo las circunstancias que la
rodean y derechos que asisten a los consumidores.

1. INTRODUCCIÓN
El proyecto surgió como consecuencia de analizar las necesidades del mer-
cado de bienes y servicios informaticos donde los usuarios y consumidores se
encuentran en una situación de evidente desigualdad frente a los proveedores
que poseen todos los conocimientos sobre la materia que los ocupa.
Frente a esta situación y siendo que la ley de Defensa del consumidor 24240
poco o nada refería sobre este tema, se pensó en elaborar el presente proyecto,
realizado en forma interdisciplinaria entre abogados e ingenieros.
Las conclusiones arribadas luego del estudio de campo efectuado apartir
de encuestas a proveedores y clientes, permitieron el armado de una guía de
recomendaciones que seria deseable siguiera el consumidor de bienes y servi-
cios informaticos en sus contrataciones ya sean presenciales o virtuales a fin de
evitar situaciones no queridas.
Por último, se brindaron las indicaciones a seguir para la confección de un
contrato tipo que contenga las cláusulas que se consideran mínimas para otorgar

459
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

la debida protección. Es importante destacar que en el curso de la investigación


se sancionó la nueva ley de Defensa del Consumidor 26361, por lo cual hubo que
adaptar el trabajo al nuevo entorno legal.
A continuación se transcriben las recomendaciones a las que se arribó lue-
go del estudio.

2. GUÍA DE RECOMENDACIONES
1) Se recomienda la realización y firma de contratos escritos que brinden
un marco de formalidad a las contrataciones. Es reconocido por los en-
trevistados el nivel de informalidad asociado muchas veces a la adqui-
sición de bienes y servicios informáticos, indicada ésta modalidad tanto
por parte del cliente como del proveedor. Es importante, por lo tanto,
concientizar al cliente, el eslabón más débil en ésta relación, respecto a la
necesidad de exigir algún tipo de documento escrito que le permita luego
defenderse en caso de sentir vulnerados sus derechos como usuario o
consumidor. El contrato regirá la relación comercial entre las partes que
lo llevan adelante basadas en la autonomía de la voluntad en tanto no
vulneren la legislación vigente, de allí la importancia de que sea lo mas
completo posible teniendo en cuenta las situaciones que puedan ocurrir.
2) Se recomienda poner énfasis en el deber de información respecto de
los distintos aspectos que hacen a la contratación. Se observa que exis-
te mucho desconocimiento de parte del cliente en cuanto a los siguien-
tes puntos: código fuente, requerimientos y manuales. – sobre todo en
el caso del software-. Independientemente del tipo de contratación que
se establece entre el cliente y el proveedor, solo el 62,07% de los clien-
tes indicó recibir información sobre los productos que adquiere. Tal
como lo menciona la ley en su art. 4: “El proveedor está obligado a
suministrar al consumidor en forma cierta, clara y detallada todo lo
relacionado con las características esenciales de los bienes y servicios
que provee, y las condiciones de su comercialización. La información
debe ser siempre gratuita para el consumidor y proporcionada con
claridad necesaria que permita su comprensión.”
3) Se recomienda en base a lo indicado en el punto anterior solicitar in-
formación respecto de los requerimientos funcionales y no funcio-
nales, análisis y diseño de sistemas y pedir la entrega de los manu-
ales de usuario. La importancia de brindar información radica en el
hecho de que el consumidor comprenda porqué adquiere determinado
producto y saber que el mismo se ajusta a sus necesidades. Hay que
considerar que el cliente no siempre conoce la terminología, el funcio-
namiento y las características técnicas que le permitan comparar entre
productos similares como para tomar una decisión, por lo tanto, sue-
le guiarse por lo que pueda aconsejarle el vendedor. La información

460
CONeGOV 2009 | SHORT PAPERS

debe tener las siguientes características: ser concreta, previa, detalla-


da, absoluta, clara y gratuita, para que pueda garantizar el derecho
constitucional del consumidor a elegir con libertad expresando su real
voluntad.
4) Del análisis realizado en este trabajo podemos concluir, que se encuen-
tra más formalizada la entrega de documentación en la adquisición de
software empaquetado, cualquiera sea su fuente, que en los desarrollos
a medida, donde el cliente debe exigir mayor información. Se reco-
mienda solicitar información especialmente en los desarrollos de
software a medida.
5) Se recomienda hacer conocer al cliente que el código fuente es el ob-
jeto de mayor valor del programa, y que podría solicitarse para hacer
las modificaciones que fueren necesarias para el cliente, sin depender
del proveedor.
6) Respecto a la Propiedad Intelectual, el 70% de los clientes que so-
licitan desarrollos a medida manifestó que la propiedad corresponde
al proveedor del software, el 20% dijo que desconocía saber a quien
corresponde ésta propiedad y el 10% dijo que el software desarrollado
se encuentra bajo la licencia de Open Source. Tal como se desprende
de estos datos, nadie a manifestado que la propiedad intelectual del sof-
tware, sobre el que ha solicitado un desarrollo, corresponda al cliente.
Sin embargo, debería ser más usual que esta propiedad corresponda al
cliente, en lugar de al proveedor. Esto es un punto importante relaciona-
do al deber de información, que el proveedor debiera aclarar o al menos
el cliente considerar al momento de contratar el desarrollo. Conforme
la ley 25036 de Propiedad Intelectual que modifica la ley 11723 cuando
el cliente contrata el servicio de un profesional para realizar el software
y este se encuentra bajo relación de dependencia de aquel, la propiedad
del software le pertenece y puede registrarlo a su nombre.
7) Se recomienda la compra de hardware a proveedores especializados
en informática, quienes podrán brindar mayores datos sobre los reque-
rimientos y utilidades que podrá obtener el cliente de los productos que
adquiere, en comparación a las compras que se realizan en los locales
de electrodomésticos, frente a la posible existencia de publicidad con-
fusa o engañosa.
8) Se hace saber que el cliente debe exigir que se le entregue el corres-
pondiente ticket o factura por la compra de los productos, o caso
contrario no tendrá los elementos necesarios en el caso de tener que
realizar un reclamo En la factura se deberán detallar los elementos ad-
quiridos, la fecha de adquisición y el nombre del proveedor, y el precio
pagado por el producto.
9) Se advierte que en general las empresas cuentan con un referente en el
área informática, pero no en todos los casos se trata de un profesional
con titulo habilitante por lo cual seria deseable contar con este requi-
sito para un mejor desempeño y atención.

461
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

10) Se recomienda fijar pautas para realizar las futuras modificacio-


nes de software que fueran necesarias, incluir cláusulas de pena-
lización por incumplimientos, y fondos de reserva de garantía de
producto. En el 40% de los casos, los contratos celebrados prevén la
realización de modificaciones limitadas durante los primeros meses de
uso. Esto, sumado a que sólo en el 16,67% de los contratos están esta-
blecidas cláusulas de penalización, que en ningún caso se establecen
fondos de reserva de garantía y que, además, sólo en el 21,43% de los
casos están estipuladas las atribuciones de responsabilidades para cada
una de las partes, se conforma, claramente, un panorama altamente
desfavorable para el cliente, donde prácticamente no posee instrumen-
tos para defenderse de un accionar desleal o un retraso importante en la
entrega del producto. El 15,38% de los clientes encuestados se encuen-
tran en esta situación de desamparo.
11) Se recomienda requerir especial información respecto del régimen
de garantía que se otorga al producto, ya que de conformidad con
la ley de defensa del consumidor debe darse garantía por los plazos de
ley.( artículos 11 a l8 ley 26361) Esto en vista de que respecto de las
garantías que la empresa proveedora de software brinda a sus clientes,
observamos que en gran mediada las mismas recaen sobre el funciona-
miento del producto ( 85,71 %) , la instalación del mismo (71,43%), la
puesta en marcha del sistema ( 57,14%), y sobre capacitación (57,14 %)
En este contexto el plazo por el cual se otorgan las garantías suele ser
muy variable, siendo el máximo seis meses.
12) Se debe conocer que las garantías comienzan a regir desde el mo-
mento de la entrega “llave en mano” del producto. No hay problema
para determinar el momento de la entrega en el caso de productos de
hardware, pero en el caso especifico de los programas de software he-
cho a medida se considera tal circunstancia una vez que el cliente ha
probado y aceptado el producto.
13) Se recomienda la firma de pactos o convenios de confidencialidad,
ya que el profesional de informática por el ejercicio de sus tareas llega
a tomar conocimiento de datos que pueden resultar sumamente sensi-
bles para el cliente. El 93,75% de los clientes no firma ningún código o
pacto de confidencialidad con el proveedor respecto a la información
a la que éste accede para poder desarrollar sus tareas. Como tampoco,
establece ninguna cláusula al respecto en el contrato firmado a tal fin.
Esto es de suma importancia, considerando que el proveedor puede es-
tar accediendo a datos de terceros que se encuentran en la base de datos
del cliente, de los cuales, éste último es responsable ante la Dirección
Nacional de Protección de Datos Personales, según lo establece ésta
ley. Además, ningún cliente indicó firmar un pacto de confidenciali-
dad respecto al “know how” o conocimiento del negocio de su com-
pañía, así como tampoco indicaron incluir una cláusula al respecto en
el contrato.

462
CONeGOV 2009 | SHORT PAPERS

14) Se debe tener especialmente en cuenta el manejo de los datos perso-


nales de los clientes respetando en todo las directivas de la ley nacional
25326 de protección de datos personales y su decreto reglamentario
1558 para no caer en situaciones no deseadas que generen litigios o
multas que por manejo inadecuado aplica la Dirección Nacional de
Protección de Datos Personales.
15) Existe un cambio de paradigma respecto a la actitud de compra por
parte de los consumidores, tendiente a la internacionalización, por lo
que seria deseable una reforma legislativa a nivel global con tendencia
a la unificación del Derecho, para brindar un marco igualitario de
seguridad jurídica . En este sentido la UNCITRAL realiza una labor
destacada en la preparación de normas uniformes en distintos temas
relacionados al comercio internacional, que luego los países podrán
tomar como ejemplo para sus propias leyes.
16) Se recomienda tener en cuenta que los plazos de entrega de las mer-
caderías y el cumplimiento de los contratos se debe ajustar a los
requisitos de la ley local, - es decir la del lugar en donde se ejecuta el
contrato-.
17) Se recomienda tener en cuenta que las compras en el exterior no
están amparadas por la ley argentina, dejando aclarado que exis-
ten dos variantes de compra: a) compra directa en el exterior en
forma personal; b) compra vía Internet desde el país de origen del
comprador.
18) Se recomienda hacer saber a los consumidores que según el art. 2 de
la ley de Defensa del Consumidor texto actualizado No. 26361, se esta-
blece que no queda comprendido el ejercicio de profesionales libe-
rales, este hecho es un punto importante que debiera conocer el cliente
a la hora de la contratación. Si estaría amparado de ser solicitado el
servicio o desarrollo a una empresa constituida como tal. En el caso
de generarse un problema con un profesional liberal deberá acudirse al
colegio profesional correspondiente a realizar la respectiva denuncia
de su situación. Será dicho colegio quien tome las medidas tendientes
a sancionar las conductas de sus profesionales por medio de sus tribu-
nales de ética.
19) La ley 24.240 y su modificatoria ley 26361, deberían prever la apli-
cabilidad de su normativa también a aquellos contratos en que, aún
cuando la parte “débil” no sea consumidor final, las circunstancias
permiten advertir un evidente desequilibrio o falta de equidad en el
contenido de la contratación, como consecuencia de la posición do-
minante en el mercado de una de las partes”. Debería estar amparado
todo aquel que debe someterse a condiciones impuestas, como ocurre
habitualmente en la firma de contratos de adhesión, regulados por la
ley en su articulo 38. Planteada la ley como protectora en las relaciones
-B2C-, Business to Consumer, deja al amparo de otras leyes la relación
-B2B- Business to Business, aunque la realidad indica que también hay

463
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

disparidad en estas últimas de acuerdo a la envergadura y el conoci-


miento de cada una de las empresas.
20) Se recomienda tener en cuenta que por la definición de consumidor
o usuario que brinda el articulo 1 de la ley de defensa del consu-
midor se considera tal a la persona física o jurídica que adquiere
o utiliza bienes y servicios como destinatario final en beneficio
propio o de su grupo familiar, y a quien de cualquier manera
este expuesto a una relación de consumo. En los casos donde se
producen situaciones limites entre las compras destinadas a uso o
consumo personal, o que fueren complementarias de una actividad
económica se deberá estar a los efectos de la aplicación de la ley
de defensa del consumidor, a tomar en cuenta si al momento de la
contratación, fue adquirido para uso personal y no para volcarse a
un proceso productivo.
21) Se recomienda la inclusión de una cláusula de sometimiento a la
justicia arbitral en caso de litigio o conflicto entre las partes, con la
finalidad de mantener un trato lo mas amigable posible entre cliente y
proveedor y evitar las demoras y gastos de los pleitos ante la justicia
ordinaria. Para ello el Colegio de Abogados de Mar del Plata tiene un
Tribunal Arbitral que funciona adecuadamente resolviendo los casos
que se le plantean sometiéndolos a previa conciliación donde el por-
centaje de acuerdos asciende al 90% de las demandas que atiende. La
cláusula arbitral debe ser redactada por escrito en el contrato que vin-
cula a las partes. Esta posibilidad esta prevista en el articulo 59 de la
ley 26361.
22) Las cuestiones emergentes de la ley de Defensa del Consumidor ope-
ran en el marco de un Derecho- Deber con lo cual se recomienda te-
ner en cuenta que no solamente encontramos amparo en la normativa
aludida, sino también, en el marco de los artículos relativos a la au-
tonomía de la voluntad art. 1197, buena fe art. 1198, que a su vez
tiene su base en el abuso del derecho art. 1071, como por tratarse de
una transacción en donde en la mayoría de los casos quienes deciden
desconocen la temática propio del producto o servicio, para lo cual será
en algunos casos el vicio de lesión art. 953 todos estos artículos del
Código Civil argentino, ya que la inexperiencia como factor desenca-
denante de perjuicios encuentra en esta actividad un caldo de cultivo
alimentado por la vertiginosidad de los cambios que se producen en el
mercado de oferta de bienes.
23) Para cerrar estas recomendaciones es interesante tener en cuenta
el momento en el que nos encontramos inmersos en la esfera de la
contratación.
Se advierte una doble visión de la realidad en cuanto al tema en cuestión:
a) La visión actual: la ley de defensa del consumidor se aplica mas que
nada a la comercialización convencional.

464
CONeGOV 2009 | SHORT PAPERS

b) La visión en perspectiva: Con el desarrollo del comercio electrónico,


cambian las modalidades de compra, la actitud de las partes, los tiem-
pos, la metodología de información, y la legislación.
Del estudio de la legislación comparada se advierte que se limitan mas los
plazos del consumidor para accionar, pero ello quizás tiene una explicación cul-
tural en la actitud de los contratantes al momento de cumplir con sus obligacio-
nes. De hecho, el mayor respeto por el consumidor se observa en comunidades
como la europea o en Chile, donde se ha aceptado como regla de juego un prin-
cipio de respeto hacia el consumidor muy diferente que el nuestro. Esta conducta
colectiva nace como consecuencia de aceptar sin hesitaciones las obligaciones
fiscales derivadas del tráfico comercial. Ello ha dado como respuesta popular
desde hace de 20 años que a nadie se le ocurre como comerciante no entregar
un ticket o comprobante de venta, por mas ínfimo que sea la contraprestación.
Esta conducta fiscal colabora eficazmente en implementar ciertas normas como
las derivadas de la defensa del consumidor, adecuándose mucho mas rápido que
otras culturas a su aplicación. Idéntico diagnóstico se puede hacer en Europa en
general donde las sanciones que se aplican no solo resultan gravosas sino que
están muy mal vistas por la sociedad en su conjunto lo cual crea una suerte de
discriminación mercantil que trae como consecuencia pérdidas de beneficios.
Así quedan muchos interrogantes por estudiar que exceden el marco de este
trabajo de investigación y que se derivan específicamente de la contratación di-
gital via Internet modalidad que crece día a día sin que este debidamente con-
templada aun en la legislación, para brindar el marco adecuado de protección
que seria deseable alcanzar.

465
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

466
CONTRIBUIÇÃO DA TECNOLOGIA DA
INFORMAÇÃO PARA SUSTENTAÇÃO
DO MODELO DE ASSISTÊNCIA
À SAÚDE IMPLEMENTADO NO
MUNICIPIO DE CURITIBA

Rosane Tumelero Fanchin


rfanchin@sms.curitiba.pr.gov.br

Getulio Bellino Tumelero


Lourdes Faresin Tumelero
Ana Luiza Schneider Gondim
Lothario Schneider
Maria Aparecida Schneider
aschneider@sms.curitiba.pr.gov.br

RESUMO

Através do trabalho em questão o autor demonstra como a utilização da Tecnologia da


Informação permitiu à Secretaria Municipal de Saúde evoluir em capacidade de gestão
e governabilidade sobre todos os pontos de atenção à saúde que integram a rede do SUS/
Curitiba. Neste trabalho, são expostos os mecanismos eletrônicos, implementados pela gestão
municipal, que potencializaram a sua capacidade de acompanhar, supervisionar, regular,
controlar e auditar os serviços em desenvolvimento na rede de Estabelecimentos de Saúde,
que integram o seu Sistema de Atenção à Saúde. Destaque especial é dado, pelas autoras,
aos mecanismos eletrônicos utilizados para garantir, nas redes de atenção organizadas para a
prestação de serviços, o cumprimento dos processos e fluxos que sustentam a integridade do
Modelo Assistencial estabelecido para o Sistema do SUS/Curitiba.

PALAVRAS-CHAVE

Rede de Atenção, Modelo assistencial.

1. INTRODUÇÃO
A Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba (SMS), desde 1998, vem
implementando um ambicioso projeto que tem como objetivo alcançar a

467
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

informatização integral de todos os processos técnicos e administrativos, volta-


dos à saúde dos usuários do SUS/Curitiba, que se encontra sob sua plena gestão.
Esse projeto, cujo aplicativo foi denominado “Cartão Qualidade Saúde”, tem
como objetivo fundamental obter, a vinculado ao cadastro único dos Usuários
do Sistema e ao cadastro único dos Estabelecimentos de Saúde alocados pelo
Sistema, o registro de todos os eventos técnicos e administrativos ocorridos
quando da relação de seus usuários com os estabelecimentos de saúde a serviço
do Sistema.Este trabalho apresenta a forma como a SMS, utilizando-se desse
produto da tecnologia da informação, obteve êxito na modelagem de suas redes
de atenção, assim como na manutenção do modelo de assistência implementado
através dessas suas redes.
O aplicativo disponibiliza-se ao conjunto de estabelecimentos de saúde pró-
prios do município na forma de um Prontuário Eletrônico, ao qual se associa um
conjunto de funcionalidades auxiliaras, de natureza administrativo-gerencial, e
disponibiliza-se ao conjunto de estabelecimentos de saúde conveniados e con-
tratados através de um módulo composto exclusivamente de funcionalidades
administrativo-gerenciais. Aperfeiçoada ao logo dos últimos 10 (dez) anos, essa
ferramenta vem se consolidando, a cada dia, como de fundamental importância
para garantir à SMS exponencial ampliação de sua capacidade gerencial e gerir
todo o Sistema sob sua responsabilidade.

2. CORPO DO ARTIGO
Modelo de Sistema que o Município de Curitiba concebeu e imple-
mentou, constitui-se, basicamente, de duas grandes redes de atenção, uma
voltada ao atendimento das demandas de natureza ELETIVA e outra vol-
tada ao atendimento das demandas caracterizadas como de URGÊNCIA/
EMERGÊNCIA.
As redes em questão, foram concebidas e implementadas considerando
pressupostos organizacionais que definiram, para cada estabelecimento de saú-
de que as integram, suas atribuições e competências. Esses pressupostos fun-
damentaram ainda a normalização dos processos e fluxos de interação entre os
estabelecimentos de saúde integrantes das redes. Informatizando, através do
“Cartão Qualidade Saúde”, todos os processos e fluxos que sustentam o Modelo
implementado, a SMS teve exponencialmente aumentada a sua capacidade de
acompanhar e, se necessário intervir, no desenvolvimento da produção de servi-
ços em todos os seus pontos de atenção.

2.1 Rede de Atenção Eletiva


Esta Rede tem como porta de entrada obrigatória o conjunto de Unidades
Básicas do Município, às quais se disponibilizam como retaguarda, uma rede de

468
CONeGOV 2009 | SHORT PAPERS

Ambulatórios Especializados e de Serviços Auxiliares de Diagnose e Terapias.


Esses Ambulatórios, por sua vez, contam com retaguarda, leitos eletivos, aloca-
dos em Hospitais. Essa rede desenvolve suas atividades, de conformidade com
pressupostos organizacionais, que tem por objetivo garantir a integridade da
concepção do Modelo. Um esquema sumário da Configuração desse Modelo de
Sistema encontra-se abaixo.

2.1.1 Configuração da Rede de Atenção Eletiva

Figura 1. Configuração da Rede de Atenção Eletiva.

Nos tópicos abaixo, estaremos apontando a forma como o sistema infor-


matizado vem viabilizando à SMS o cumprimento dos pressupostos a rede de
Atenção Eletiva.

2.1.2 Conjunto de UMS básicas


As Unidades Básicas de Saúde (UBS) tem como missão, no Modelo adotado
em Curitiba, responder pela sanidade de toda a população residente na sua área
de abrangência. Para que sua equipe possa planejar as atividades que essa mis-
são lhes atribui é necessário que, inicialmente, essa população seja identificada.
O CQS disponibiliza a esse conjunto de unidades uma ferramenta denominada
Cadastro de Usuários e Domicílios que lhes possibilita não apenas identificar
seus usuários, mas caracterizá-los através do registro de dados demográficos,
antecedentes mórbidos, condições e hábitos, como também situar seus domicí-
lios em seu território (micro áreas).
A partir do conhecimento das populações sob sua responsabilidade, as
UBS podem organizar seus processos internos de trabalho (recepção, vacinas,

469
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

dispensação de medicamentos, consulta-atendimentos de livre demanda, para


gestão de patologias, para gestão de casos, etc). Todos os procedimentos realiza-
dos sobre seus usuários são, obrigatoriamente, registrados no CQS, que retorna,
aos diversos níveis de gestão, informações de interesse técnico, administrativo
e gerencial.
Como responsável sanitária pela população de seu território, a UBS detém
a atribuição de viabilizar o acesso de seus usuários aos níveis mais complexos
de atenção, sempre que tal se caracterizar como necessário. Essa prerrogativa
é atribuída pelo CQS, através do subsistema da CMCE/SADT, exclusivamente
ao conjunto de UBS, caracterizando-as, dessa forma, como a porta de entrada
obrigatória do sistema.
Fortalecendo ainda mais a confiança e o grau de credibilidade das UBS
junto aos seus usuários, o CQS disponibiliza a essa rede também um subsistema
que as integra ao Laboratório Municipal, viabilizando a coleta descentralizada
de materiais e a captura eletrônica de resultados, diretamente pelo Prontuário
Eletrônico.

2.1.3 Conjunto de ambulatórios especializado


Este conjunto de Estabelecimentos de Saúde não dispõe de mecanismos
de admissão direta de pacientes. Toda a agenda de atendimentos iniciais de pa-
cientes, desse conjunto, é gerenciada pelo sistema informatizado da Central de
Marcação de Consultas (CMCE), que a disponibiliza para a rede de UBS.
Para a maior agilização dos processos administrativos, o subsistema da
CMCE é integrado ao subsistema do Prontuário Eletrônico.
Para garantir meios de acompanhamento do fluxo dos pacientes direciona-
dos a essa rede o sistema da CMCE atribui, para cada consulta inicial agendada,
um código identificador (código de transação).
Esse código é pré - requisito eletrônico para o agendamento de atendimen-
tos de retorno, para acesso eletivo a procedimentos de alto custo ambulatorial
(emissão eletrônica de laudo para APAC), assim como acesso ao internamento
hospitalar (emissão eletrônica de laudo para AIH). Garantindo, dessa forma, que
o acesso a recursos de maior complexidade se faça de forma hierarquizada, con-
forme o modelo proposto.
Dessa forma, o sistema tem meios de gerar informações que permitirão
ao gestor proceder ao rastreamento de seus pacientes ao longo de toda a rede, a
partir de uma consulta inicial.

2.1.4 - Conjunto de ambulatórios de alto custo


Os procedimentos de alto custo disponibilizados em ambulatório somente
se disponibilizam a usuários com demandas eletivas se previamente autorizados.

470
CONeGOV 2009 | SHORT PAPERS

Essa autorização se efetiva mediante auditoria eletrônica sobre um Laudo


para emissão de APAC.
O preenchimento do Laudo eletrônico somente se viabiliza, ao prestador
de serviços, após a identificação da consulta médica especializada (código de
transação) que gerou a indicação para o procedimento de alto custo.
O fato do processo de preenchimento desse laudo ser automatizado garante
ainda ao auditor / gestor o acesso a um conjunto mínimo de informações, consi-
deradas indispensáveis para a auditoria.
A auditoria prévia permite ainda ao gestor proceder à regulação físico - fi-
nanceira do fluxo de liberação de autorizações.
Os internamentos eletivos, eventualmente necessários no curso da realiza-
ção desse tipo de procedimento, poderão se viabilizar através da identificação
(no laudo eletrônico para emissão de AIH) do número da APAC correspondente
ao procedimento que resultou na indicação da internação eletiva.

2.1.5 Conjunto de unidades de internamento


A internação hospitalar eletiva somente se viabiliza após auditoria eletrôni-
ca sobre o Laudo para emissão de AIH Eletiva.
Dessa forma o gestor dispõe de meios para identificar previamente a deman-
da eletiva que se lhe apresenta e, se for de seu interesse, proceder a sua regulação
técnica e ou físico-financeira.
O sistema informatizado permite ainda ao gestor cotejar os processos de inter-
namento e alta hospitalar (subsistema da Central de Leitos) permitindo-lhe interven-
ções sobre sua ocupação, sempre que julgar necessário. Sustentando o pressuposto
de integralidade da atenção, o sistema informatizado viabiliza ao estabelecimento de
saúde responsável pela internação, quando do registro de alta, reintroduzir o pacien-
te na atenção ambulatorial, gerando-lhe, sempre que necessário, um agendamento
de consulta especializada com o correspondente código de transação ou um agenda-
mento de retorno à UBS, que se caracteriza como sua responsável sanitária.
Finalmente, o sistema informatizado permite ao gestor comparar os re-
gistros de solicitação/autorização de procedimentos com os registros de fatura
apresentada contra o Sistema pelo Estabelecimento de Saúde, facilitando-lhe,
significativamente, os procedimentos de auditoria sobre faturas.

2.2 Rede de Atenção à Urgência


Esta rede constitue-se do conjunto de UBS, dos Centros Municipais de
Urgências Médicas (Cmums), dos Pronto Socorros de Hospitais (P.S) e dos
Leitos Hospitalares de retaguarda para Urgências/ Emergências (em enferma-
rias e em UTIs).

471
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

Um esquema sumário da Configuração desse Modelo de Sistema encontra-


se abaixo.

2.2.1 Configuração da Rede de Atenção à Urgência

Figura 2. Configuração da Rede De Atenção à Urgência.

Nos tópicos abaixo, estaremos apontando a forma como o sistema informa-


tizado vem viabilizando à SMS o cumprimento dos pressupostos definidos para
a rede de Atenção à Urgência.

2.2.2 Conjunto de UMS básicas


No escopo das atribuições das UBS figura o atendimento às urgências de
baixo risco. Esses atendimentos são realizados e integralmente registrados no
Prontuário Eletrônico do Paciente. Quando demandadas para atendimentos que
superam a sua capacidade operacional e ou técnica, as UBS dispõem de meca-
nismos eletrônicos que lhes permite realizar o encaminhamento de seus pacien-
tes aos CMUMs, onde terão seus atendimentos, automaticamente, priorizados.
As urgências de maior complexidade podem, de conformidade com proto-
colos definidos pela SMS, ser direcionadas diretamente aos Pronto Socorros de
Hospitais.

2.2.3 Conjunto de CMUMs


Os CMUMs (Centros Municipais de Urgências Médicas) caracterizam-se
como unidades de atendimento pré hospitalar. Contam com a retaguarda de
um hospital geral, onde, obrigatoriamente, se encontra em funcionamento um

472
CONeGOV 2009 | SHORT PAPERS

Pronto Socorro e uma ou mais unidades de internamento (enfermarias e UTIs).


Esses Centros tem como missão o atendimento resolutivo das urgências mé-
dicas de média complexidade (procura direta ou referenciada), cabendo-lhes
referenciar ao seu PS de retaguarda os casos que superam a sua capacidade
técnico/operacional. Para o registro dos serviços realizados nos CMUMs, o
Prontuário Eletrônico, é obrigatório. Esse aplicativo, que permite ao profissio-
nais dos CMUMs acesso ao histórico dos seus pacientes, lhes oferece campos
para registro especificamente desenvolvidos para esse tipo de unidade assis-
tencial (pronto atendimento, sala de urgência, leitos de curta permanência,
etc.).

2.2.4 Conjunto de Pronto Socorro (retaguarda hospitalar)


Os Pronto Socorros vinculados aos Hospitais Gerais, que integram a rede de
urgência/emergência, se caracterizam como o mais sofisticado nível de atenção
ambulatorial desta rede.
Recebe, especialmente, pacientes encaminhados de outros pontos de atenção
que integram níveis inferiores da rede para atenção às urgências e emergências.
Todos os PS que integram esta rede operam, obrigatoriamente, um sub-
sistema do CQS, denominado Ficha Amarela (F.A.).
A F.A. eletrônica permite à SMS monitorar, em tempo real, todos os proce-
dimentos realizados os seus pacientes.
Os registros eletrônicos da Ficha Amarela passam a integrar o Prontuário
Eletrônico do Paciente.
Superada, no PS, a situação de urgência/emergência, o paciente pode ter
viabilizado o seu ingresso em ambulatórios eletivos especializados ou ter agen-
dado o seu atendimento de continuidade na BPS responsável. utilizado o número
da Ficha Amarela como chave para a abertura do sistema da CMCE.
Casos que demandem internação, a partir do PS, tem acesso viabilizado, à
Central Eletrônica de Leitos.
Todos os acessos a essas opções de continuidade de atenção são viabiliza-
dos através do “marcador” número da Ficha Amarela.

2.2.5 Conjunto de Unidades de Internamento


Os leitos hospitalares destinados aos internamentos de urgência/emergência
no município de Curitiba somente são acessados através do subsistema do CQS
denominado Central de Leitos, cuja “chave” de abertura é o número da Ficha
Amarela Eletrônica.
Esses internamentos se viabilizam sem previa auditoria/autorização do ges-
tor, porém podem ser monitorados em tempo real.

473
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

O registro eletrônico do internamento de urgência, que deve ser realizado


no subsistema da Central de Leitos, é pré-requisito para que o Hospital possa
realizar o cadastro do Laudo para emissão de AIH no subsistema, do CQS, de
auditoria.
Uma vez inserido nesse subsistema o Laudo é automaticamente remetido à
auditoria, que também se processa eletronicamente.

2.2.6 Outras contribuições do sistema informatizado


Aumento da produtividade e agilidade do Laboratório Municipal (automa-
ção, coleta e laudos eletrônicos e gestão eletrônica da distribuição de exames
para a rede credenciada);
Elevação do índice de notificação de Doenças de Interesse Epidemiológico
(notificação gerada automaticamente a partir dos registros de atendimento);
Maior eficiência e agilidade na contabilização de dados das Campanhas de
Vacinas (Sistema informatizado para registro de Campanhas);
Mais sensibilidade e agilidade na identificação de “anormalidades” no per-
fil de morbidade (monitoração em tempo real - dos registros de diagnósticos).

3. CONCLUSÃO
O sistema informatizado, denominado CQS, determinou mudanças impor-
tantes nos processos de gestão da SMS visto que, dispensando seu corpo técnico
de atividades passíveis de serem automatizadas, permitiu que este concentrasse
seus esforços em suas atividades fim (atenção à saúde) e em “intelligentsia”. A
habilidade para produzir, coletar e organizar dados, de transformá-los em infor-
mações, de analisar as informações obtidas, gerando conhecimento e produtos
capazes de mudar a realidade, desenvolveu-se em um significativo contingente
de usuários do CQS, fenômeno que fez crescer, exponencialmente, a capacidade
da Instituição de inovar e evoluir, positivamente, na gestão do seu negócio.

REFERÊNCIAS
FANCHIN, Rosane T.; SCHNEIDER, Ana Luiza. Central Informatizada de
Procedimentos Subsistema Integração – Monitoramento da Integralidade da
Atenção a Saúde a Usuários do SUS/Curitiba. In 1ª Expogest: Mostra Nacional
de Vivências Inovadoras de Gestão do SUS: Premio Eleutério Rodriguez Neto:
Eixo1: Organização da Atenção Integral em Saúde/Ministério da Saúde, Secretaria
Executiva, Departamento de Apoio à Descentralização - Brasilia, 2006.
MENDES, Eugenio V. Os sistemas de serviços de saúde:oque os gestores precisam saber
sobre estes Sistemas Complexos. Escola sa Saúe Pública do Ceará.Fortaleza,2002.

474
CONeGOV 2009 | SHORT PAPERS

SCHNEIDER, Ana Luiza; MARGARIDA, Alexandre; DUCCI, Luciano. Informatização


dos Processos de Trabalho em Curitiba – A História do Cartão Qualidade Saude
de Curitiba. In Curitiba: a Saude de braços abertos organizado por Luciano Ducci,
Maria Alice Pedotti, Mariangela Galvão Simão e Samuel Jorge Moyses. Rio de
Janeiro, CEBES, 2001.

475
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

476
CONTRIBUIÇÃO DA TECNOLOGIA DE
INFORMAÇÃO PARA A CONSTRUÇÃO
DE UM BANCO DE DADOS APTO A
GERAR INFORMAÇÕES ESTRATÉGICAS
PARA A ÁREA DA EPIDEMIOLOGIA

Angelo Roberto Massuchetto


amassuchetto@sms.curitiba.pr.gov.br

RESUMO

Através do trabalho em questão o autor demonstra como a utilização da tecnologia da


informação permitiu à Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba monitorar - em tempo
real - e arquivar em banco de dados, especificamente desenvolvido para o projeto, todos
os diagnósticos firmados em atendimentos realizados em sua rede de estabelecimentos
de saúde. O autor demonstra a forma como, através desse instrumento, a sensibilidade
para a detecção de surtos, assim como da ocorrência da sub-notificação de agravos de
interesse epidemiológico se fez possível, de forma ágil e fácil. Demonstra também como
o banco de dados, gerado pelo acúmulo dos registros de diagnósticos associados a dados
demográficos de seus portadores, pode ser explorado por uma ferramenta de mineração
de dados (BI-Business Inteligent) de modo a gerar informações de relevante importância
para a elaboração de diagnósticos epidemiológicos locais, regionais e mesmo municipais,
objetivados à orientação de políticas públicas. Conclui, finalmente, apontando o projeto
em questão como um subproduto nobre do prontuário eletrônico do paciente, que já se
encontra em fase bastante evoluída, no município de Curitiba.

PALAVRAS-CHAVE

Monitoramento, tempo real, ferramenta de mineração, decisão.

1. INTRODUÇÃO
A informação como instrumento para a tomada de decisão é uma consta-
tação sem dúvida. As influencias que uma informação pode ocasionar nas de-
cisões de um gestor estão diretamente ligadas aos seus fatores qualitativos e
quantitativos.
A quantidade de informação, que um sistema pode oferecer, tem impor-
tância no sentido de apropriar o gestor quanto ao tamanho dos problemas, a

477
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

extensão dos limites do conhecimento da verdade a que se propõe mostrar esse


sistema, a precisão ou a aproximação possível com a realidade contemporânea.
Ou seja, enxergar o quanto de acontecimentos considerados relevantes pelo ges-
tor estão ocorrendo no espaço territorial e temporal adstrito para atuação. Aqui
nem um evento relevante deve deixar de ser registrado.
A qualidade das informações por sua vez subsidia o gestor na tomada de
decisão proporcionando a materialização da medida dos problemas. É um apro-
fundamento da verdade existente, é a revelação dos diversos panos de fundo que
envolvem, transpassam, sobrepõem a quantidade. Aqui a radicalização no segui-
mento das regras de preenchimento dos instrumentos de registro, na fidelidade
de uso dos protocolos, na apropriação e execução correta dos padrões estabele-
cidos para o uso do sistema é imprescindível para as avaliações do contexto que
revelam a verdade possível e subsidiam a gestão.
A precisão das medidas adotadas serão mais ou menos impactantes sobre os
desafios encontrados quanto melhor for a coleta e a aferição dos dados qualitati-
vos e quantitativos. Os indicadores que serão apontados podem corresponder ou
não com a realidade. Dependem entre outros da efetividade no uso do sistema de
informação e da capacidade de análise e síntese do gestor.
A Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba utiliza; no atendimento pres-
tado aos cidadãos curitibanos; um sistema informatizado de informação em saú-
de. A origem das informações vem do atendimento ao cidadão nas Unidades
Básicas, nas Unidades de Saúde da Família, nas Unidades de atendimento de
Urgência e Emergência intituladas CMUM – Centros Municipais de Urgências
e Emergências Médicas, CE-Centros de Especialidades, das diversas interfaces
correlacionadas como Apoio Diagnóstico – Laboratório Municipal, Central de
Leitos, Central de Marcação de Consultas Especializadas.
A proposição deste estudo pretende utilizar os dados agregados deste sis-
tema para subsidiar a tomada de decisão do gestor com base nas informações
qualitativas e quantitativas encontradas. Com o uso de uma ferramenta de mi-
neração chamada de “Business Inteligent (BI)”, capaz de desdobrar as variáveis
de freqüência a partir dos diagnósticos feitos, na rede de atendimento SUS do
município de Curitiba, utilizando o CID10.

2. OBJETIVOS
Listar os agravos mais diagnosticados por Grupo do CID10, na rede de UMS
distribuídos por gênero e faixa etária, no período de janeiro a abril de 2009.
Cruzar essas variáveis entre si georeferenciando-as à Unidade Municipal de
Saúde do domicilio sanitário do usuário e/ou a do atendimento realizado.
Identificar o perfil de morbidade no período.

478
CONeGOV 2009 | SHORT PAPERS

3. METODOLOGIA
Utilizando a ferramenta de mineração do BI, selecionar as variáveis de pe-
ríodo de tempo e de localização geográfica dos diagnósticos realizados e com os
recursos disponíveis exportá-las para o Microsoft Excel em forma de planilhas.
Estruturar essas planilhas em tabelas e gráficos distribuídos conforme as
variáveis de freqüência dos CID’s desagregadas por gênero e faixas etárias.
Disponibilizá-las aos gestores das UMS como subsídio para analise de ce-
nário do território no que se refere ao perfil de morbidade encontrado.
Telas do Business Inteligent (BI).

Figura 1. Demonstrativo da tela inicial da ferramenta Business Inteligent (BI).

Figura 2. Demonstrativo da tela Diagnósticos da ferramenta Business Inteligent (BI).

479
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

As lingüetas no rol de menus da tela inicial da ferramenta BI relacionam


as alternativas disponíveis ao operador do sistema na “garimpagem” dos dados.
O referencial inicial é o diagnóstico feito nos atendimentos nas Unidades
Municipais de Saúde (UMS). Aqui estão disponibilizados os cruzamentos com
o referencial geolocalizado do local do atendimento e do domicílio sanitário
do usuário/paciente bem como a do distrito sanitário em que a UMS de domi-
cílio está vinculada. As variáveis de gênero e faixa etária, bem como do tipo
de diagnóstico, primário ou secundário, definitivo ou provisório, podem ser
selecionados.

Figura 3. Demonstrativo da tela Diagnósticos da ferramenta Business Inteligent (BI).

Figura 4. Demonstrativo da distribuição dos diagnósticos por faixa etária no BI.

480
CONeGOV 2009 | SHORT PAPERS

A ferramenta permite o aprofundamento da variável diagnóstico desagre-


gando os dados a partir do grupo do CID10 até as subcategorias inerentes ao
grupo, subgrupo e a categoria. O operador do sistema tem a opção de agregar os
dados dos diagnósticos, dentro do nível de aprofundamento inerente ao CID10,
grupo, subgrupo, categoria e subcategoria, por faixas etárias.

Figura 5. Demonstrativo dos recursos de exportação do Business Inteligent (BI).

A possibilidade de exportar os dados para o Microsoft Excel oportuniza


ao operador criar tabelas e gráficos que potencializam o alcance de análise dos
dados. Este recurso está disponibilizado no BI para todas as variáveis e gráficos
que aparecem na tela padrão bastando selecionar com o botão direito do mouse
o gráfico na tela e optando pelo envio dos dados para o Excel.

Tabela 1. Demonstrativo do modelo de gráfico em coluna elaborado no Excel após


exportação dos dados do BI.

481
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

Tabela 2. Demonstrativo do modelo de gráfico em coluna elaborado no Excel após


exportação dos dados do BI.

A possibilidade de visualização, através de gráficos, do perfil das ocor-


rências dos agravos diagnosticados e com o recurso de captação destes dados
e a correlação das variáveis capturadas pelo BI e alocadas em um banco
específico; do qual é possível compor inúmeras associações; oportunizam
ao gestor nos diferentes níveis da administração dos serviços de saúde uma
amplitude do diagnóstico epidemiológico da área de abrangência do seu nível
de gestão.

Tabela 3. Demonstrativo de modelo de gráfico em coluna elaborado no Excel após


exportação dos dados do BI.

482
CONeGOV 2009 | SHORT PAPERS

A amplitude de visualização da realidade encontrada, com a atualização


dos dados a cada vinte e quatro horas, transfere aos gestores um potencial dife-
renciado para a apropriação do território sob sua responsabilidade administrati-
va. Este diferencial corrobora de forma positiva para uma análise aprofundada
da situação epidemiológica no tempo e espaço geográfico. Subsidiando a tomada
de decisão com mais precisão.

4. CONCLUSÃO
A utilização da ferramenta de mineração (BI) proporcionou ao autor a pos-
sibilidade de “garimpar” os diagnósticos efetuados nos atendimentos das uni-
dades municipais de saúde de Curitiba criando um banco de dados específico.
Com este banco à disposição e com essa ferramenta de agregação possibilitou os
cruzamentos das variáveis correlacionadas aos atendimentos nos quais foi defi-
nido o diagnóstico com código do CID10 e desagregá-los desde sua classificação
por grupo até em nível de subcategoria.
A distribuição das freqüências pôde ser vinculada geograficamente ao esta-
belecimento de saúde que realizou o atendimento e à Unidade de Saúde respon-
sável pelo domicílio sanitário do usuário. Nesta adstrição territorial foi possível
identificar e correlacionar as freqüências também ao Distrito Sanitário aonde se
vincula a Unidade de moradia do usuário.
Com o leque de possibilidades de cruzamentos e com a facilidade de ex-
portação destes dados para o Microsoft Excel foi possível criar tabelas, gráficos
que puderam expor as diferentes realidades correlacionadas aos perfis de mor-
bidade e com esse panorama disponibilizados aos gestores locais, distritais e da
administração central, do sistema de saúde do município, fomentar as análises
necessárias para a tomada de decisão e as medidas cabíveis para cada uma das
situações encontradas.
A ferramenta de mineração (BI) mostrou-se extremamente efetiva para ser
utilizada na agregação de variáveis sendo na concepção do autor viável como
instrumento oficial de formatação dos relatórios do sistema de informação em
saúde para o município de Curitiba.

REFERÊNCIAS
CHAHIN, Ali et alii . A próxima revolução brasileira, São Paulo: Editora Pearson -
2004.
SCHNEIDER, Ana Luiza; MARGARIDA, Alexandre e DUCCI, Luciano.
Informatização dos Processos de Trabalho em Curitiba - A História do Cartão
Qualidade-Saúde de Curitiba in Curitiba a saúde de braços abertos – Rio de
Janeiro: pg 43 a 62, CEBES - 2001.

483
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

484
ABORDAGEM DESIGN CENTRADO
NO USUÁRIO PARA INTERFACE
DIGITAL DE E-GOV

Marisa Araújo Carvalho, M.Sc.


Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC
marisa19@gmail.com

Aires José Rover, PhD


Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC
aires.rover@gmail.com

RESUMO

Pretende-se neste artigo levantar a questão de maior interesse na área de Interação


Humano-Computador, o conceito da emoção na discussão da concepção projetual
da interface digital de e-Gov. O resultado da investigação da inter-relação dos
termos emoção e cognição estabelece o entendimento contribuindo para a concepção
projetual da interface digital de e-Gov a partir de uma abordagem Design Centrado no
Usuário. Ressaltando a importância fundamental dessa inter- relação nas questões que
permeiam a usabilidade, devido o aumento do acesso às Tecnologias de Informação
e Comunicação.

PALAVRAS-CHAVE

Design, Emoção, Cognição, Interação Humano-Computador, Interface, e-Gov

1. INTRODUÇÃO
A proposta deste artigo vem de encontro aos estudos recentes na área de
Design voltados a aplicação de e- Gov, na qual a investigação muitas vezes está
restrita às práticas projetuais no âmbito do processo cognitivo do usuário na
execução de uma tarefa de interface digital. Não abordando o processo emo-
cional enquanto aspecto integrado aos níveis de processamento da informação,
verificados na abordagem da neurobiologia. Baseando-se na teoria de Antônio
Damásio (1998), que utiliza o estudo neurobiológico com a investigação psico-
lógica, numa abordagem integrativa das emoções e da razão, verificam-se os
conceitos emoção, razão, cérebro, e como o processo de tomada de decisão está
diretamente ligado à emoção.

485
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

Os estudos de Norman (2003;2004) tem por objetivo levantar e compre-


ender questões importantes como emoção e cognição na concepção projetual
de objetos esteticamente atraentes que “funcionem” melhor. O autor propõe
nos seus estudos a discussão do equilíbrio dos principais elementos de um bom
Design: estética e usabilidade. O resultado do estudo demonstra que toda ação
tem um componente emocional e cognitivo. E que o estado emocional, seja po-
sitivo ou negativo, provoca mudanças a forma de pensar. O autor afirma que os
objetos esteticamente atraentes funcionam melhor, desde que a abordagem da
inter- relação entre emoção e cognição esteja inserida no processo de concepção
projetual da interface digital.
O bom Design está no equilíbrio entre estética e usabilidade, portanto, é
coerente na discussão da inter- relação emoção e cognição como elementos prin-
cipais no processo de concepção projetual que se estende na Interação Humano-
Computador. Norman (2004) começou seus estudos em Design com ênfase na
dimensão cognitiva no processo de concepção projetual. No entanto, seus estu-
dos mais recentes na área da psicologia levam a considerar a dimensão emocio-
nal como fator predominante tanto na tomada de decisão como na concepção
projetual da interface digital.
Norman (2004) defende que embora a análise cognitiva da usabilidade e
função seja importante, a análise afetiva também é, pois a sustentação de um
bom Design estará cada vez mais baseados nas experiências dos usuários, ou
seja, na compreensão do uso, na facilidade de execução das tarefas, e por ofere-
cer na interação prazer e satisfação, assim pode-se definir usabilidade.
O resultado dos estudos de Norman (2003;2004) demonstram que toda
ação tem um componente emocional e cognitivo. E que o estado emocional,
seja positivo ou negativo, provoca mudanças na forma de pensar. Afirma-se que
os objetos esteticamente atraentes funcionam melhor, desde que a inter-relação
emoção e cognição esteja inserida no processo de concepção projetual da inter-
face digital. Ou seja, se a emoção é expressa pela experiência do usuário, a forma
de interagir permite essa expressão. Por fim, aborda-se o surgimento de novos
paradigmas de Interação Homem-Computador.
Os aspectos cognitivos do Design, seja pela usabilidade, pela estética ou
pela funcionalidade, estando associados aos aspectos da emoção, ou seja, emo-
ção e cognição estão inter-relacionadas, é entendido quando se faz uma escolha.
O ser humano não escolhe objetos apenas pela forma ou função, mas também
pelo significado que o objeto proporciona, afirma Norman (2002). Verifica-se
nos estudos do autor a inter- relação da emoção e cognição, pois os dois concei-
tos têm como estrutura o Sistema Humano, capaz de contribuir para a discussão
da problemática com enfoque na concepção projetual de interface digital a partir
de uma abordagem do Design Centrado no Usuário.
O artigo não está apenas na discussão da definição do termo emoção, e sim na
concepção de uma interface digital que propícia ao desenvolvimento da emoção

486
CONeGOV 2009 | SHORT PAPERS

enquanto dimensão humana. Estabelecendo uma nova abordagem de investiga-


ção para a Interação Humano-Computador por meio das disciplinas Biologia,
Psicologia, Neurologia e Design, levantando a definição do processo emocional e
o entendimento que cerca os seus elementos. Outra questão muito discutida nesse
artigo é a Interação Homem-Computador, portanto a experiência do usuário quan-
to à estética, tomada de decisão e a mediação do Design como resultado emergente
na concepção projetual da interface digital do Governo Eletrônico (e-Gov).
Mas como evidenciar o caráter mediador do Design na atuação da Interação
Humano-Computador? Verificando e compreendendo a inter-relação emoção e
cognição como elementos principais no processo de concepção projetual de in-
terface digital, favorecendo a abordagem do Design Centrado no Usuário para
melhor adequação de interfaces digitais do e-Gov.
Design Centrado no Usuário tem como objetivo o ser humano e sua intera-
ção com as interfaces digitais. Esta abordagem tem como foco o estudo do usu-
ário em seus fatores cognitivos e emocionais (percepção, memória, aprendizado
e resolução de problemas), suas principais tarefas e objetivos, o nível de experi-
ência com a interface digital, verificando qual o tipo de informação é necessária,
como usarão a interface digital para agregar valor ao seu trabalho, qual a melhor
forma de apresentação da informação para atendê-los e levá-los a colaboração
tornando-se co-designers na concepção projetual de interface digital.
Pode-se afirmar que o Design Centrado no Usuário é uma abordagem de
aplicação da usabilidade que garante o envolvimento de usuários, durante to-
dos os estágios do na concepção projetual de interface digital, e considera suas
necessidades, limitações e preferências. Compreendendo suas características
físicas e capacidades, diversidade cultural, e se atingiriam seus objetivos com
mais eficiência. As informações da experiência do usuário podem ser usadas
para alimentar o Design, ou seja, na concepção projetual de interface digital
(PREECE et al., 2005).
Com o aumento do acesso às novas Tecnologias de Informação e
Comunicação (TICs), vêm afetando o setor público que procura absorver e usu-
fruir os benefícios que estas oferecem para melhorar a relação com os cidadãos.
Os governos democráticos têm procurado investir na digitalização das informa-
ções e dos procedimentos de administração pública, por meio das TICs, afirma
Felice (2008). Segundo o autor, as TICs alteraram as relações sociais promo-
vendo participação em decisões coletivas, já que o modo como as informações
são armazenadas, construídas e socializadas permitem uma maior interação por
parte do usuário. A passividade do usuário já seria excluída na simples interação
com as interfaces, conclui o autor.
A participação eletrônica por meio das TICs tem transformado as relações
entre os cidadãos e os governantes, construindo uma evolução do modelo clás-
sico de democracia (Ekelin, 2006). Rasmussm et al. (2006) argumentam que o
conceito de participação eletrônica está associado à parceria entre o governo e o

487
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

cidadão na busca por informações e no processo de decisão. Segundo Koh et al.


(2005), e-Gov pode ser definido como o uso da Internet e das TICs para simpli-
ficar ou melhorar o método pelo qual cidadãos, funcionários, parceiros e outras
organizações de governo interagem e realizam negócios.
Para Zweers e Planqué (2001) e-Gov é um conceito emergente e que objetiva
fornecer ou disponibilizar informações, serviços e produtos, através de meio
eletrônico/digital, a partir ou através de órgãos públicos, a qualquer momento,
local e cidadão, de modo a agregar valor a todos os envolvidos com a esfera
pública. Moody (2007) complementa ao afirmar que a participação eletrônica
corresponde à criação de canais de comunicação mais eficientes entre o cidadão
e o governante, com o intuito de aumentar a democracia.
A idéia central do e-Gov é conferir aos cidadãos maior transparência. A
questão da instauração da hiperconectividade é compreendida como um pro-
cesso coletivo, segundo Felice (2008), a conectividade conduz o homem da in-
dividualidade à coletividade novamente. Yamaoka (2007) relata que a sociedade
conectada requer um governo conectado. Desta forma, surgiram os programas
de e-Gov através do ideal de governo democrático, sem limites espacial e tem-
poral, ou seja, o governo para todos, a qualquer hora, de qualquer lugar. Uma
sociedade hipertextual cria uma nova forma de relação com os saberes onde o
conhecimento é na atualidade co-construído e de caráter situado, afirma Pireddu
(apud FELICE,2008).
Portanto, a melhoria da relação se estabelece na concepção de interfaces
digitais para E-gov considerando as características e necessidades específicas
de seus usuários, fazendo com que os cidadãos enquanto usuários não se dis-
tanciem da intenção da esfera pública de promover uma maior interação entre
o conteúdo informacional e serviços disponibilizados pelos e-Gov. Seguir uma
abordagem de Design Centrado no Usuário pode ser uma forma de evitar que
isso aconteça.

2. INTER-RELAÇÃO EMOÇÃO E COGNIÇÃO


As emoções são a forma que a natureza encontrou para proporcionar aos
organismos comportamentos rápidos e eficazes orientados para a sua sobrevi-
vência, afirma Damásio (1998). Para o autor as emoções são processos biologica-
mente determinados como padrões químicos e neurais, que tem como finalidade
ajudar o organismo a manter a vida. Para Damásio (1998) a função biológica
das emoções é dupla: por um lado produz uma reação específica para a situação
indutora, e por outro regula o estado interno do organismo com vista a essa rea-
ção específica. Norman (2003) concorda com o autor quando diz que a emoção
regula a forma como se resolve problemas, executa as tarefas e na tomada de de-
cisão. As emoções informam ao sistema cognitivo fazendo escolher alternativas,
e também são informados pelo cognitivo sobre estados do mundo e conclusões

488
CONeGOV 2009 | SHORT PAPERS

possíveis. Compreensão e avaliação formam assim um todo poderoso, influen-


ciando um ao outro, afirma o autor.
Damásio (1998) verifica como as emoções são indispensáveis na gêne-
se e na expressão do comportamento. De acordo com Damásio (apud Tomaz
e Giugliano, 1997), a inter-relação entre a emoção e a razão remonta a história
evolutiva dos seres vivos. Durante a evolução natural o estabelecimento de res-
postas comportamentais adaptativas são moldadas por processos emocionais e a
escolha de respostas em determinadas situações reflete o uso da razão. Ou seja,
o estabelecimento de repertórios adaptativos seriam moldados pelas emoções e
a seleção de comportamentos no futuro determinados pela razão.
Damásio (1998) citando James Willians diz que “cada objeto que excita um
instante, excita também uma emoção”. A dor e o prazer são as alavancas de que
o organismo necessita para que as estratégias instintivas e adquiridas atuem com
eficácia. Muito provavelmente, foram também esses os instrumentos que contro-
laram o desenvolvimento das estratégias sociais de tomada de decisão, afirma
o autor. Para Damásio (1998) existe um elo em termos anatômicos e funcionais,
entre emoção e razão e entre esses e o corpo. Um impulso emerge quer como
sentimento quer como predisposições não conscientes que orientam a tomada de
decisão. Pode-se dizer que o sistema emocional está intimamente associado a
fatores comportamentais. A emoção emite respostas ao corpo adequadas a cada
situação. Para Norman (2002), a cognição a interpreta e compreende o mundo,
enquanto a emoção permite tomar decisões mais rápidas.
Segundo Damásio (apud Tomaz e Giugliano, 1997), a razão, por si só, não
sabe quando começar ou parar de avaliar custos e benefícios para uma tomada
de decisão. É o quadro referencial das nossas emoções que seleciona as opções.
As emoções auxiliam na tomada de decisão. A escolha de um objeto, não está
relacionada apenas na usabilidade. O aspecto da estética também tem uma inter-
ferência relevante no processo de decisão. Desta forma, a escolha por um objeto
em detrimento de outro está relacionado diretamente com as emoções.
Para Norman (2004) a escolha do Design depende da ocasião, do contexto,
e, acima de tudo, do humor, ou seja, a escolha do Design depende do estado de
espírito. Para isso o autor descreve no livro Emotional Design: Why we love (or
hate) everyday things o exemplo das três diferentes chaleiras, uma enfatizando
usabilidade; uma outra, a estética; e a última, a funcionalidade. A descrição do
exemplo indica que o Design “prazeroso”, ou seja, que traz satisfação pela sua
forma, não é necessariamente usável, mas o resultado da interação que emerge
da escolha do objeto, por exemplo, a chaleira, em um determinado contexto,
ocasião e humor, fazem com que o chá tenha um ótimo gosto. Verifica-se nessa
experiência relatada que Design resulta em uma interação significativa. Pode-se
afirmar que o termo “funciona melhor” é resultado dessa interação emergente
do contexto, da beleza, do prazer, da utilidade e no significado atribuído aos
objetos, portanto é isto define o termo interação.

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Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

O indivíduo é o mais complexo de todos os animais, com estruturas cere-


brais adequadamente complexas. Várias preferências são inatas e fazem parte
do sistema básico de proteção e sobrevivência. Os indivíduos possuem habili-
dades qualificadas, que permitem serem artistas, músicos, atletas, escritores ou
carpinteiros. Tudo isso requer uma estrutura cerebral mais complexa que está
envolvido em respostas automáticas para o mundo. E finalmente, sem igual entre
animais, tem-se a linguagem, arte, humor e música. O indivíduo é consciente do
seu papel no mundo e pode refletir sobre as experiências prévias, afirma Norman
(2004). Nos seus estudos sobre a emoção sugere que os atributos humanos sejam
o resultado de três níveis de processamento cerebral: visceral, comportamental
e reflexivo.
Para Norman (2004) as ações humanas envolve os três níveis de processa-
mento cerebral, com ordens de ativação e intensidades diferentes. O resultado é
que todas as ações têm um componente cognitivo mas também um emocional:
cognitivo para associar significado e emocional para associar valor. Os níveis
interagem entre si, um modulando o outro. Estes níveis fazem parte da atividade
projetual do Design e estão relacionadas com a emoção e cognição.
Portanto, observa-se que o conceito de Design é composto dos seguintes
elementos que estão relacionados com os níveis de processamento cerebral cita-
dos pelo autor respectivamente: na forma, estética (visceral), na função, prazer e
efetividade do uso (comportamental) e no significado, auto-imagem, satisfação
pessoal, lembranças (reflexivo) e que variam conforme o contexto, a ocasião, o
humor, a experiência vivenciada pelos tipos diferentes de usuários. Pode-se ve-
rificar esta afirmação, por exemplo, de um produto como uma montanha-russa,
os níveis que mais atuam seriam o visceral e o reflexivo. O visceral aproveita a
sensação de medo durante o trajeto, mas o reflexivo não deixa a situação sair
de controle, trazendo conforto com fatos: como as margens de segurança dos
brinquedos de parques de diversão, leis, etc. E no nível reflexivo depois de usar
o brinquedo, pensar de forma prazerosa sobre a experiência.

3. DESIGN CENTRADO NO USUÁRIO


O conceito de Design tem como objetivo projetar os objetos baseados em
valores culturais, estéticos e funcionais. Os objetos desenvolvidos por meio da
forma, função e significado conseguem ser mais atraentes. O processo de con-
cepção projetual centrado no usuário, preocupado com a maneira através da qual
o usuário vê, interpreta e convive com os objetos, tem garantido a individuação
e a interação mediada pelo Design.
Para Krippendorff (2000) na evolução do paradigma de Design Centrado
no Objeto para Design Centrado no Usuário, leva a compreensão que o indi-
víduo não reage às qualidades físicas dos objetos, mas ao que elas significam
para os indivíduos. Norman (2004) observa que os objetos evocam memórias. O

490
CONeGOV 2009 | SHORT PAPERS

indivíduo não escolhe somente pelos elementos da forma e função, mas também
pelo significado, que surge pela interação, pelo gosto ou memória à atribuída ao
objeto. E que independe muitas vezes do resultado planejado do Design, ou seja,
os designers não conseguem controlar o que emerge da interação, ou mesmo
controlar, quando o indivíduo recorda um dado objeto, um rosto ou uma cena.
Para Damásio (1998) quando ocorre a recordação não se obtém uma reprodução
exata, mas antes uma interpretação, uma nova versão reconstruída do original.
Mais ainda, à medida que a idade e experiência se modificam, as versões da
mesma coisa evoluem, afirma o autor.
O Design é uma atividade prática e criativa, cujo objetivo final consiste
em desenvolver interfaces digitais que ajude os usuários a atingir suas metas.
Subjacente a um bom Design está abordagem do Design Centrado no Usuário,
isto é, uma abordagem que consiste em vê-los no processo de concepção de
interfaces digitais. Design é um plano ou esquema concebido na mente, com o
intuito de ser posteriormente executado. Para que se possa vir a ser executado,
deve-se ter fundamentalmente o conhecimento sobre seu uso e domínio-alvo,
bem como o de restrições práticas quanto ao material, custo e viabilidade, afir-
ma Preece et al. (2005). Nesta abordagem significa que as preocupações dos
usuários direcionam a concepção, mais do que as preocupações técnicas. Pode-
se então afirmar que as interfaces digitais precisam ser concebidas, captadas e
avaliadas pelos usuários.
Design Centrado no Usuário é uma abordagem multidisciplinar que incor-
pora fatores humanos, conhecimento de ergonomia e técnicas com o objetivo de
aumento da eficácia e eficiência, melhorando as condições humanas de trabalho,
segurança, desempenho e evitar possíveis efeitos contra a saúde do homem. Faz
referência ao contexto da qualidade em uso, ou seja, da usabilidade, que não é
uma característica intrínseca do produto, só pode ser analisado com relação ao
seu uso dentro de um contexto específico (ISO 9241). A qualidade em uso é a vi-
são do usuário sobre a qualidade de uma interface digital e é medida em termos
de resultados de utilização da interface e não em função de suas propriedades
(BEVAN, 1999).
Entende-se por usabilidade a qualidade de uma aplicação sob uma pers-
pectiva de uso, tradicionalmente relacionado a cinco atributos: facilidade de
aprendizado, eficiência, facilidade de reter o conhecimento sobre a aplicação
obtido em usos anteriores (memorização), baixo índice de erros, e satisfação
dos usuários (Nielsen, 2008). Pode-se resumir o conceito de usabilidade como à
facilidade de uso, ou seja, o quão fácil é utilizar um determinado uma interface
digital, podendo oferecer diversas funcionalidades e informações. A eficácia de
uma interface digital depende, porém, da capacidade que tem o usuário de lidar
com ela.
Nesta perspectiva Rubin (1994) destaca que o Design Centrado no
Usuário representa a utilização de técnicas e métodos que busquem trazer

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Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

os usuários para processo de Design, a fim de se desenvolver produtos, que


além de possuir usabilidade, sejam adequados às reais necessidades dos usu-
ários. De acordo com o autor os três princípios básicos do Design Centrado
no Usuário seriam os seguintes: 1 - O foco deve estar sempre no usuário e
na sua tarefa. Isto significa mais do que identificar e categorizar usuários.
O processo implica contato direto entre usuários e a equipe de designers,
durante todo o ciclo de vida do produto. O objetivo é coletar informações
sobre usuários de modo sistemático e estruturado; 2 - A utilização do pro-
duto deve ser mensurada empiricamente. A ênfase deve estar direcionada à
coleta de dados comportamentais sobre facilidade de aprendizado e uso, com
usuários reais do produto; 3 - O produto deve ser concebido, modificado e
testado repetidamente. O verdadeiro processo determina a possibilidade de
repensar o conceito do projeto, através de testes de modelos conceituais. Não
mudanças apenas estéticas, mas alterações profundas na própria formulação
do produto.
Complementando os princípios básicos, Preece et al. (2005) sugerem, sobre
a abordagem do Design Centrado no Usuário, outros cinco pontos fundamentais:
1- As tarefas e metas do usuário são a força condutora por trás do desenvol-
vimento; 2- Comportamento do usuário e contexto de uso são estudados, e o
sistema é projetado para fornecer suporte a eles; 3- As características do usuário
são capturadas para o Design atendê-las; 4- Os usuários são consultados durante
o desenvolvimento, desde as primeiras fases até as últimas, e sua contribuição é
seriamente levada em conta; 5- Todas as decisões de Design são tomadas dentro
do contexto dos usuários, seu trabalho e seu ambiente. Para as autoras é funda-
mental que o usuário esteja ativamente envolvido na concepção, projetando o
produto em cooperação com os designers.
Para Sommerville (2003) deve-se envolver o usuário no processo de con-
cepção projetual, isto é, adotar a abordagem Design Centrado no Usuário que
depende da prototipação. O Design Centrado no Usuário tem como princípio fo-
calizar, desde a concepção projetual da interface digital, os usuários e as tarefas
que desenvolvem num determinado ambiente, medir a utilização do produto ob-
servando a sua interação e utilizar um processo de iteração, onde o Design pode
ser modificado após as fases de prototipação ou testes. Iteração entende-se como
repetição de um procedimento. A iteração permite reiniciar o Design com base
em feedback. A iteração é inevitável, pois os designers não conseguem encontrar
a solução na primeira vez. A iteração é um componente-chave da abordagem do
Design Centrado no Usuário, isso se deve em parte às necessidades dos usuários
em constante mudança ao longo do tempo, mas também à complexidade inerente
da produção de soluções de Design que possam tratar de necessidades diversas
(PREECE et al., 2005). Pode-se evidenciar o conceito de Damásio (1998) quanto
à importância da evolução do aspecto da experiência do usuário. Portanto, as
versões da interface digital devem acompanhar a evolução da interação sob este
aspecto.

492
CONeGOV 2009 | SHORT PAPERS

Para Krippendorff (2000) “a atividade projetual é intrinsecamente motiva-


dora, é uma atividade humana por natureza”, e para o sucesso do Design, o es-
paço para a interação com usuários é fundamental. Essa interação tem ocorrido,
por exemplo, com as interfaces digitais. Permitindo que os usuários (re)projetem
os seus próprios mundos. A reprojetabilidade propaga as práticas projetuais para
além dos limites do Design, enfatiza o autor. Pode-se afirmar, que por outro
lado, permitem que as práticas projetuais sejam mais efetivas na compreensão
da Interação Humano-Computador.
O Design atualmente impulsionado pelas novas Tecnologias de Informação
e Comunicação (TICs), trás a questão da mediação da práxis em sistemas mul-
timídia, procurando refletir sobre seu papel e importância neste novo contexto
da Interação Humano-Computador. A interação não segue apenas a idéia de de-
codificação, mas amplia para a interpretação, afirma Gruszynski (2000). Esta
ampliação pode ser verificada quando há uma efetiva abordagem do Design
Centrado no Usuário. Pois esta leva à uma cultura projetual que reconhece a
sua realidade como construída e não descoberta e entende-se como reprojetá-
vel, afirma Krippendorff (2000). Para o autor a sobrevivência dessa abordagem
depende de uma cultura projetual que promova e estimule o usuário, pois as
práticas projetuais não são tão mais controladas e sim distribuídas, pode-se se
verificar nesta afirmação as aplicações de Governo Eletrônico (e-Gov).
As TICs têm potencial catalisador e profundas alterações políticas e sociais.
As estruturas organizacionais da maioria dos governos do mundo não são ainda
capazes de apoiar as aplicações de e- Gov, nem conectar o Estado com o cidadão.
A sua reestruturação é difícil, devido à longa e quase imutável permanência do
modelo existente, comenta Agner (2007). Como afirmou Fountain (2001), “as
organizações evoluem tecnologicamente sem alterar as suas práticas, empregan-
do a tecnologia de maneira subótima para garantir a manutenção do status quo”.
Lan (2005) acrescenta que o modelo de Democracia Eletrônica (e-Democra-
cia) é a expansão do e-Gov, sendo que este é um meio para se atingir aquela, que
é definida como uma nova forma de democracia onde o uso das TICs promoverá
a capacitação dos cidadãos e sua participação na elaboração, debate e votação de
propostas a fim de acelerar um processo que levará a uma inédita sociedade de-
mocrática. Desta forma, a e- Democracia por meio do uso das TICS promoverá
maior relacionamento entre o cidadão e o governante, visando participação nos
processos deliberativos e decisórios que interfiram diretamente no seu cotidiano.
Com o desenvolvimento dos espaços colaborativos e interativos, portanto
nos contextos digitais, tem gerado uma nova visão de esfera pública e política
no que diz respeito à participação dos cidadãos em tomar decisões. O sistema
que dá mais autonomia ao usuário no que se refere ao conhecimento de que o
governo vem fazendo ou se comportando se chama: e-Gov. Reduzem-se as buro-
cracias e há mais transparência nos processos administrativos. “É deixar público
um serviço público”, afirma FELICE (2008).

493
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

Na discussão da Interação Humano-Computador Shneiderman (2006) pro-


põe que “o efeito mais saudável da tecnologia seria o empoderamento dos cida-
dãos para que possam exigir bons serviços do governo e construir o consenso
dentro do processo democrático”. “O cidadão - que deveria participar do desen-
volvimento dos sites, num processo de Design participativo - é negligenciado.
Além disso, ainda são pouquíssimos os sites de governo que se adequam aos
padrões de acessibilidade do W3C (World Wide Web Consortium)”, comenta
AGNER (2006).
A visão do e-Gov envolve a participação e o controle social. Esta visão
inclui atender as necessidades e demandas dos cidadãos individualmente, mas
a vincula a princípios de universalidade. Para Agner (2007) o envolvimento dos
usuários na concepção projetual de interface digital é fundamental. Considera-
se na concepção projetual de interface digital a interação do usuário, enfatizan-
do comportamentos de busca de informação, tarefas e modelos mentais, em con-
traponto ao volume de dados disponibilizados e à sua complexidade. A avaliação
periódica, com foco nas necessidades dos usuários, de questões básicas devem
ser analisadas e afetarão a usabilidade, conclui o autor.
Para Agner (2007) questões como tecnologia, a linguagem utilizada e o
formato ou o estilo de apresentação podem ter diferentes efeitos para os diversos
tipos de usuários. “É vital conhecer quem são os usuários e como eles vão aces-
sar as informações do e-Gov. Essas informações devem direcionar o Design e a
preparação das publicações eletrônicas do governo”, afirma o autor. Para isso, os
serviços fornecidos pelo Estado precisariam ser repensados em favor da abor-
dagem centrada no usuário. Implementados em etapas, os programas de e-Gov
pressupõem mais do que a digitalização de procedimentos e devem alavancar
mudanças organizacionais, conclui AGNER (2007).
Constata-se que nos estudos existentes em análise de interfaces digitais de
e-Gov permeia apenas o contexto de especialistas, ou seja, a abordagem cen-
trada no objeto. Cita-se, por exemplo, o documento “Ciência e Tecnologia para
a Construção da Sociedade da Informação no Brasil”, ideário que norteia as
políticas governamentais estabelecidas para o setor, desenvolvido pelo Grupo
de Trabalho sobre Sociedade da Informação, no âmbito do Conselho Nacional
de Ciência e Tecnologia (CCT/MCT). Pode-se citar, outro exemplo, nos estudos
de Barboza (2000) que discorre na análise do conteúdo e da forma de apresen-
tação de uma parcela das home pages dos sites do governo federal brasileiro,
sob o ponto de vista de suas características ergonômicas, ou seja, a usabilidade
que elas oferecem aos usuários. Verifica-se que os estudos geralmente adotam
a abordagem analítica, portanto a abordagem centrada no objeto, realizada sem
a presença do usuário. Especialistas de ergonomia, qualidade, comunicação se
reúnem para avaliar as interfaces digitais desenvolvidas pelo governo federal
brasileiro e aplica-se a lista de critérios definidos para avaliação das interfa-
ces digitais. No estudo de Barboza (2000) foi recomendada uma revisão dos
sites necessitam para maior adequação aos critérios ergonômicos, criando uma

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CONeGOV 2009 | SHORT PAPERS

estratégia de fortalecimento de suas características e naquilo que lhes seja único


na oferta de serviços. Desta forma entende-se que neste estudo com a abordagem
centrado no objeto há deficiências na usabilidade e estética e que incluindo a
abordagem do Design Centrado no Usuário pode-se planejar melhor as interfa-
ces digitais acompanhando a evolução da interação do usuário.
Destacando o campo específico do Design que envolve na sua práxis o so-
cial, a técnica e a significação na produção de objetos gráficos digitais e multi-
mídias. A abordagem centrada no usuário traz uma nova práxis em Design inse-
rido no mundo digital que tem como conseqüência uma nova compreensão para
Interação Homem-Computador e, portanto, pertinente às aplicações de e-Gov.
Com princípios adequados de Interação Homem-Computador pode-se orientar
a concepção projetual de interfaces digitais e a sua sustentação à partir da expe-
riência do usuário/cidadão que se enquadrem dentro da filosofia do e-Gov, foca-
dos nas necessidades dos cidadãos conferindo na relação maior transparência e
participação democrática efetiva.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pode-se observar que a interface digital é projetada no entendimento da in-
ter-relação emoção e cognição na Interação Homem-Computador. Interferindo
na forma como se pensa, ou seja, fazendo com que o sistema emocional con-
duza o funcionamento do sistema cognitivo. Essa inter-relação conduz á uma
experiência estética entre usuário e a interface digital associando um significado
próprio, entendendo o conceito de interação. Permitindo que o usuário (re) pro-
jete o Design na evolução da interação, constante na adequação da concepção
projetual da interface digital.
Neste aspecto, a implementação da abordagem do Design Centrado no
Usuário na concepção de interfaces digitais de e-Gov, pode trazer vantagens no
que diz respeito à compreensão de certos padrões de processamento cerebral. E
também para o entendimento das respostas comportamentais na escolha de in-
terface digital e na experiência vivenciada pelos diferentes tipos de personalida-
de, especialmente, na compreensão da forma como o usuário “vê” um produto,
quais a emoções que lhe provoca e como reage a este, ou seja, estabelecendo um
diálogo emocional entre o usuário e a interface digital.
Deve-se, portanto utilizar a tríade Design, TICs e usuário, enquanto par-
ticipação eletrônica, para constituir uma nova forma de Interação Homem-
Computador e fortalecer a relação com o Estado por meio das aplicações de
e-Gov. Oferecendo para isso interfaces digitais com melhor usabilidade, objeti-
vando ampliar a cidadania, ou seja, aumentar a participação eletrônica no desen-
volvimento de programas políticos mais direcionados aos cidadãos estabelecen-
do o conceito de e-Democracia.

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Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

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497
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

498
PROTEÇÃO JURÍDICA AO
TRABALHADOR-INVENTOR
E AO EMPREGADOR DE
PARQUES TECNOLÓGICOS

Cláudia Pomar
Instituto de Governo Eletrônico, Inteligências e Sistemas – i3G
claudiapomar@gmail.com

RESUMO

A virtualização do ambiente de Núcleos de Inovação Tecnológica inseridos em Parques


Tecnológicos, e sua consequente apropriação do espaço cibernético, possibilitam que os
diversos atores envolvidos otimizem suas interações; e ainda, que as relações dentro do
próprio Parque Tecnológico se reinventem, oportunizando que suas multifárias empresas
tecnológicas passem a atuar em rede na proteção dos ativos de propriedade industrial.
Mais especificamente, a pesquisa volta-se para a inserção da infraestrutura virtual-
tecnológica do projeto NECATI como suporte a Núcleos de Inovação Tecnológica de
Parques Tecnológicos: um portal composto por um sistema de informação acerca do tema
e seus desdobramentos, munido de uma ferramenta de multibusca, voltada também para
a temática. Apresenta-se este ambiente virtual como solução inédita para o desafio de
reverter a situação atual, e global, de insuficiência de estruturas de apoio à proteção e
transferência da tecnologia inovadora.

PALAVRAS-CHAVE

Propriedade intelectual, núcleo de inovação tecnológica, parque tecnológico

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARBOSA, Denis. Uma Introdução à Propriedade Intelectual. 2. ed., Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2003.
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499
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500
PROPOSTA DE USO DE RBC NA
GESTÃO DE RISCO DE ACIDENTES
DE TRÂNSITO NA MALHA
VIÁRIA CATARINENSE

Evilásio Garcia
Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento - PPEGC
Universidade Federal de Santa Cataria - UFSC
evilasiorg@gmail.com

Rogério Cid Bastos


Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento - PPEGC
Universidade Federal de Santa Cataria - UFSC
rogerio@inf.ufsc.br

Lilian Elizabeth Diesel


Programa de Pós Graduação em Engenharia Civil - PPGEC
Universidade Federal de Santa Cataria - UFSC
lidiesel@gmail.com

RESUMO

O principal objetivo deste artigo é validar a aderência de Raciocínio Baseado em Casos


(RBC) ao contexto da gestão de risco de acidentes de trânsito ocorridos na malha
rodoviária catarinense. A proposta é utilizar essa ferramenta para analisar de maneira
automática e sistemática, todos os quilômetros da malha, sugerindo ações de prevenção
à acidentes. Aqui será avaliada a acurácia entre os resultados sugeridos pelo RBC e os
resultados esperados por especialistas humanos.

PALAVRAS-CHAVE

RBC, Gestão de Risco e Geo-inteligência.

1. INTRODUÇÃO
Acidentes de trânsito no Brasil são responsáveis por grandes custos sociais e
econômicos. Todo e qualquer acidente em via de alta velocidade gera danos, que po-
dem ir desde somente perdas materiais até perdas humanas. A complexidade e a gra-
vidade dependem de múltiplos fatores. As perdas por morte e a invalidez temporária
ou permanente dos feridos são os produtos mais trágicos dos acidentes de trânsito.

501
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

Embora nos últimos anos o desenvolvimento científico e tecnológico tenha


trazido inovações que aumentam a segurança dos veículos e as estradas tenham
melhorado do ponto de vista de pavimento e estrutura (número de faixas) os
acidentes com vítimas feridas ou fatais aumentaram quase proporcionalmente.
Inúmeros são os fatores contribuintes para isso, como por exemplo o aumento
brutal do fluxo e o aumento da potência dos veículos, as exigências mercadoló-
gicas de prazos e tempos de entrega, e é o conhecimento desses fatores causais
a base para uma intervenção capaz de melhorar as condições e reduzir a quanti-
dade de vítimas e danos.
A magnitude dos danos pode ser estimada pelo indicador de saúde, mor-
talidade por causas externas, onde acidentes de trânsito são a principal causa
quando se analisa o indicador de anos potenciais de vida perdidos.
Monitorar, gerenciar e prever situações de risco, mais do que exeqüível é a
maneira mais correta de prevenir esses acontecimentos, e essa é a questão cen-
tral da pesquisa a ser tratada neste artigo.

2. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
Afim de que se possa aplicar de maneira satisfatória o uso de Raciocínio
Baseado em Casos (RBC) para a gestão de risco na malha viária catarinense é
necessário, conhecer o ambiente onde esse se aplicará. Após o entendimento do
probelma a ser tratado, passa-se então objetivamente ao estudo do que é RBC e
como este foi efetivamente utilizado.

2.1 Situação problema


Para uma medida de redução das ocorrências dos acidentes de trânsito e
suas vitimas é necessário conhecer o diagnóstico de suas causas. O conhecimen-
to do diagnóstico é de fundamental importância para que sejam tomadas me-
didas efetivas para evitar a ocorrência dos acidentes (MARÍN, L., QUEIROZ,
2000; CDC, 1999.)
A redução dos acidentes de trânsito requer um conjunto de intervenções que
vão desde a construção de passarelas, redutores de velocidade até a aplicação
rigorosa do Código de Trânsito Brasileiro (OLIVEIRA et. al., 2008). Devemos
esperar uma redução dos acidentes de trânsito quando compreendermos os ver-
dadeiros fatores que influenciam sua ocorrência e então adotarmos medidas que
os evitem total ou parcialmente (CARDOSO, 2006).
O entendimento multicausal das ocorrências dos acidentes passa pela iden-
tificação do risco, servindo de base para o processo de intervenções, que é apro-
fundada com as análises epidemiológicas; estas são as avaliações mais precisas
para determinar o risco (OLIVEIRA, 2007).

502
CONeGOV 2009 | SHORT PAPERS

O risco da ocorrência do acidente de trânsito pode ser trabalhado através da


gestão de risco. A gestão de risco é um tema abordado universalmente por mui-
tos autores, entre os quais se faz destaque a Lavell (1996, 2000, 2003), Cardona
(2001), Velásquez e Rosales (1999), Velásquez e Jiménez (2004), entre outros.
Esses autores conceituam a gestão de risco como um processo composto pela
identificação e instrumentação de busca constante de alternativas para a redução
dos riscos e dos efeitos de acidentes e desastres já ocorridos, através do planeja-
mento e execução de medidas e ações de prevenção e resposta, articuladas por
políticas públicas claras.
Com base em buscas bibliográficas sobre os temas riscos, segurança viária,
saúde pública e áreas afins, constata-se que estão sendo realizados muitos estudos
sobre acidentes de trânsito. Porém, poucos são os trabalhos considerando variáveis
múltiplas como fatores contribuintes a ocorrência de acidentes de trânsito. Por exem-
plo, poucos estudos sobre as relações entre acidentes e as condições do contexto
físico e territorial local (clima, condições técnicas das vias e condições de uso e ocu-
pação do solo) foram encontradas, talvez pela quantidade de dados e informações a
serem tratados em conjunto. Autores internacionais apontam à necessidade de um
monitoramento das condições climáticas em relação à severidade dos acidentes de
trânsito, como visto nos trabalhos de Khattak e Kantor (1998) e Brisbane (1999). No
Brasil, destacam-se os trabalhos de Oliveira (2003) e Diesel (2005).
Analisar causas (naturais ou não) de acidentes de trânsito, e propor ações de
prevenção a fim de reduzir o seu volume ou até mesmo eliminá-lo é uma tarefa
bastante complexa, a qual envolve peritos de diversas áreas (trânsito, engenharia
de tráfego, policiais, psicólogos e outros). Simplificar e sistematizar essa análise,
é algo bastante ambicioso, porém, o aumento vertiginoso de acidentes e o nú-
mero vasto de rodovias de nosso país, faz com que o desejo de automatizar essa
análise seja cada vez mais pungente.

2.2 Raciocínio Baseado em Casos - RBC


Raciocínio Baseado em Casos é um enfoque para a solução de problemas e
o aprendizado é baseado em experiência passadas. O RBC resolve problemas ao
recuperar e adaptar experiências passadas armazenadas em uma base de casos.
Um novo problema é resolvido com base na adaptação de soluções de problemas
similares já conhecidos.
A técnica de RBC, teve origem em uma pesquisa na área da ciência cognitiva
realizada por Roger Schank e Abelson em 1977. Neste trabalho, os autores afir-
mam que o conhecimento é armazenado através de scripts. Estes scripts descre-
vem informações sobre situações que ocorrem com seres humanos, por exemplo,
ir a um museu, jantar, almoçar. Porém, experimentos com fatos mostraram que
somente os scripts não representavam todo o conhecimento armazenado na me-
mória. Era comum pessoas misturarem fatos parecidos, como consulta médica e
consulta dentária, no momento da recuperação da informação (SHANK, 1982).

503
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

Em 1980, Schank fez um trabalho sobre memória dinâmica, de como a lem-


brança é utilizada para situações padrões de resolução e aprendizagem de proble-
mas. A memória dinâmica usa uma estrutura hierárquica denominada de Pacotes de
Organização de Memória (MOP’s), que agrupam um conjunto de casos com carac-
terísticas similares. Nesta estrutura, os casos são caracterizados pelos episódios aos
quais estão associados e seus atributos não são apenas nomes próprios, mas atributos
das abstrações que juntas modelam um contexto do caso (AAMDOT, 1994).
As experiências passadas são as entidades denominadas “casos”. Segundo
Kolodner (1993), um caso é a abstração de uma experiência, que deve estar des-
crita em termos de seu conteúdo e contexto. O caso pode assumir diferentes
formas de representação. O exemplo mais simples de um caso é uma experiência
descrita por meio de atributos valorados.
Para se recuperar casos de uma base de casos, há a necessidade de se criar um
mecanismo de busca chamado de máquina de inferência. Essa máquina de infe-
rência é constituída basicamente dos seguintes itens: dicionário de termos técnicos
do domínio do problema, indexação dos casos e função de similaridade. Cada um
desses itens é descrito de maneira mais completa nos parágrafos que seguem.
Devido às variações de vocabulário técnico contida nos valores das va-
riáveis dos casos, faz-se necessário a elaboração de um dicionário de termos.
Assim, por meio desses léxicos se poderia inferir ao mecanismo de busca de um
RBC que “boa visibilidade”, “dia de sol” e “tempo bom” são similares e equiva-
lentes entre si (SILVA, 2004).
Para construção desse vocabulário, faz-se necessária a construção de índices. Os
índices são tem o objetivo de prever que tipos de situação de consultas irão surgir e
que tipos de informações serão necessárias para recuperar casos em situações futuras
de maneira mais eficaz e eficiente. Muitos esforços foram feitos para estabelecer re-
gras gerais de vocabulário de índices em RBC, mas esta tarefa acaba ainda tendo que
ser desenvolvida de acordo com cada aplicativo que use RBC (LAGEMANN, 1998).
O processo de indexação é uma oportunidade de superar a deficiência de
experiências mal descritas e torná-las úteis e valiosas para o sistema. Esta meta
é conduzida pela correta interpretação da experiência a partir da perspectiva do
especialista, permitindo a identificação do significado intrínseco e da correlação
entre as entidades ativas participantes na experiência. Uma forma de buscar tais
relações é tentar representar as correspondências entre as causas e conseqüên-
cias, razões e soluções (WEBBER-LEE, 1998).
Parte integrante da análise realizada pelo RBC é a busca de casos similares.
Há funções numéricas para determinar essa similaridade. Uma das fórmulas fre-
qüentemente utilizada é a do “vizinho mais próximo”. Segundo Watson (1997), a
técnica do vizinho mais próximo é, talvez, a mais utilizada para o estabelecimento
da similaridade. Os aspectos de definição e identificação dos índices são fatores
fundamentais para uma recuperação de sucesso. A similaridade entre o caso alvo e

504
CONeGOV 2009 | SHORT PAPERS

um caso na base de casos é calculada para cada atributo. Esta medida deve ser mul-
tiplicada por um fator peso. A somatória de todos os atributos é calculada e per-
mite estabelecer a medida de similaridade entre os casos da base de casos e o caso
alvo. A fórmula para o cálculo da técnica do vizinho mais próximo é a seguinte:

Fórmula 1. Fórmula de similaridade de casos (vizinhos mais próximos).

onde:
T é o caso alvo
S é um dos casos da base de casos
n é o número de atributos em cada caso
i é cada atributo individual variando de 1 a n
f é a função de similaridade para o atributo i no caso T e S
w é o peso relativo ao atributo i
Portanto, após enteder como a técnica de RBC funciona, conclui-se que a
utilização de RBC no contexto da gestão de risco mostra-se uma possibilida-
de promissora. Memorizar quilômetros de rodovias onde um grande número de
acidentes ocorreram no passado e, evidenciar ocorrências do mesmo problema
em outros quilômetros para que se possa aplicar a mesma ação de prevenção de
acidente que comprovadamente resolve o problema, deixa de ser um desejo e
passa a ser uma possibilidade real e passível de ser executada.

2.3 Contrução do sistema e resultados


A elaboração da proposta de gestão de risco de acidentes de trânsito na malha
viária catarinense através do uso de RBC, gera resultados para o auxílio à tomada de
decisão. A base de casos é composta de 30550 ocorrências de acidentes de trânsito re-
ferentes aos anos de 2007 e 2008, ocorridos nas rodovias federais do Estado de Santa
Catarina. Foram transformadas em casos do RBC, 7367 ocorrências de acidentes.
As variáveis aqui utilizadas foram identificadas por um grupo multidis-
ciplinar de especialistas em riscos viários. Essas variáveis foram devidamente
classificadas pelo engenheiro do sistema (em parceiria com os especialistas do
domínio do problema) em um conjunto de valores finitos, aqui definido como
vocabulário do RBC, conforme a Tabela 1.
O grupo multidisciplinar é composto por um médico com mestrado
em saúde pública, um estatístico e advogado com mestrado e doutorado em

505
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

engenharia de produção, uma arquiteta com mestrado e doutorado em geografia


na UNIVERSITÉ NANCY II– França, uma geógrafa com mestrado e doutorado
em engenharia civil em acidentes de trânsito e desastres, um cientista da compu-
tação com especialização em banco de dados e desenvolvimento de sistemas em
liguagem C++, e policiais rodoviários.

Tabela 1. Tabela das variáveis e valores do RBC - Vocabulário.

Tomando-se por base as variáveis supracitadas, o mecanismo de consulta


do RBC foi concebido. Levantou-se quais as variáveis necessárias para se fazer
uma boa indexação e os seus respectivos graus de importância (pesos). Também
se verificou junto ao grupo de especialistas multidisciplinar qual o número de
soluções mínimas (aqui chamadas de ações sugeridas) para avaliar a eficiência
do sistema. O resultado é apresentado nas Tabelas 2 e 3.

Tabela 2. Variáveis e pesos utilizados para indexação de casos.

Tabela 3. Ações sugeridas possíveis para um caso.

506
CONeGOV 2009 | SHORT PAPERS

Para demonstração da proposta optou-se pelo quilômetro (km) 131 da


BR101, que corta o município de Balneário Camboriú. Esse quilômetro foi se-
lecionado devido às grandes ocorrências de acidentes do tipo atropelamento de
pedestre, saída de pista e capotamento.
Para buscar as soluções dos casos de acidentes ocorridos no km 131 fo-
ram utilizadas as variáveis de indexação, e seus respectivos pesos, definidas na
Tabela 2. O resultado (caso) recuperado da base de casos é mostrado na Tabela 4.

Tabela 4. Caso recuperado pelo sistema de RBC para o km 131 da BR101.

A área selecionada para esta demonstração é considera de alta vulnerabili-


dade, pelo fato de cortar a área urbana de Balneário Camboriú, que possui gran-
de densidade populacional e alto dinamismo econômico. As ações sugeridas se
aplicadas poderão diminuir consideravelmente a vulnerabilidade do km 131 da
BR101.
Sendo assim, a aplicação sistemática de RBC para análise da malha viária
catarinense, poderá trazer de maneira rápida é pratica aos gestores possíveis
soluções de graves problemas. Pode-se investir mais energia na execução de
soluções do que na sua concepção.

3. CONCLUSÃO
Analisar causas de acidentes de trânsito, e propor ações de prevenção a fim
de reduzir o seu volume ou até mesmo eliminá-lo; simplificar e sistematizar a
análise da malha viária; memorizar quilômetros de rodovias onde um grande
número de acidentes ocorreram no passado e, evidenciar ocorrências do mesmo
problema em outros quilômetros para que se possa aplicar a mesma ação de pre-
venção de acidente que comprovadamente resolve o problema; trazer de maneira
rápida é pratica aos gestores possíveis soluções de graves problemas; investir
mais energia na execução de soluções do que na sua concepção, mostram cer-
tamente o potencial benéfico do uso de RBC na gestão de riscos de acidentes.

507
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

Pretende-se estender a base de casos em 100% das ocorrências de acidentes


ocorridas nos anos de 2007 e 2008. Verificando-se a eficiência do sistema na sé-
rie de casos acima citada, pretende-se então trabalhar com toda a série histórica
de ocorrências de acidentes que se tem disponível (dados entre 1986 à 2009).
Após a comprovação da eficiência do sistema, o mesmo será posto para ser testa-
do no Departamento e Policia Rodoviária Federal de Santa Catarina - DPRF/SC.

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Engenharia Civil.

509
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

510
UM ENSAIO SOBRE AS
PRINCIPAIS BARREIRAS PARA
A DISSEMINAÇÃO DE AÇÕES DE
GOVERNO MÓVEL NO BRASIL

Everson Lopes Aguiar


everson.aguiar@gmail.com
everson.aguiar@planejamento.gov.br

RESUMO

Este ensaio apontará os resultados de uma pesquisa aplicada, do tipo exploratória,


instrumentada por um questionário portal, que teve o objetivo de identificar as principais
barreiras na implantação de serviços públicos por canais móveis uma vez que o cenário de
modernização do Estado, a alta penetração dos aparelhos celulares no Brasil, a demanda
social crescente por serviços de maior valor agregado e de qualidade são cada vez mais
latentes. O estudo tentará por fim, gerar subsídios para a formulação de políticas públicas
de governo de forma multicanal principalmente, para a construção de aplicações de
governo móvel.

PALAVRAS-CHAVE

Governo móvel, barreiras, governo multicanal, governo eletrônico.

1. INTRODUÇÃO
O uso das tecnologias da informação e comunicação (TICs) nas diversas es-
feras do governo brasileiro vem crescendo consideravelmente nos últimos anos.
O Estado vem paulatinamente explorando diversos canais eletrônicos para se
relacionar com cidadãos e empresas e para elevar a eficiência e seu patamar
de gestão. Nesse processo algumas ações de governo móvel já demonstraram o
quanto podem gerar impactos positivos e propiciar maior comodidade e conve-
niência para os usuários.
Como em vários países no mundo a privatização do setor de telecomu-
nicações no Brasil provocou uma massificação de acesso aos serviços desse
segmento econômico. No caso brasileiro, a telefonia fixa foi considerada ser-
viço público universal e as operadoras assinaram um contrato com obrigações
enquanto que a telefonia móvel foi definida como serviço privado e avançou
significativamente apenas após regulação da modalidade pré-paga. Segundo

511
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

Lima (2008) a telefonia móvel se tornou mais importante que a telefonia fixa e
vem atingindo todas as camadas da população. Todavia, até o presente, apenas
as cidades com mais de 30 mil habitantes recebem o Serviço Móvel Pessoal
(SMP), pois, ele está disponível somente em áreas de maior concentração
populacional.
Assim, cada vez mais se confirma que o principal recurso tecnológico da
população brasileira é o celular mas, até o presente, poucas sãos as aplicações
públicas disponibilizadas à sociedade por esse canal eletrônico. Diante disto,
este trabalho pretende identificar as principais barreiras para a disseminação de
ações de governo móvel no Brasil.
O primeiro tópico deste artigo denominado “contextualização e justificativa
da investigação” descreve o potencial dos dispositivos móveis em especial dos
celulares sua densidade e capilaridade no Brasil. Para isto, se expõe o cresci-
mento mundial do setor, o posicionamento do Brasil e a massificação dos dispo-
sitivos no país.
Em seguida será dedicado um tópico aos “problemas do estudo” que aponta
o objetivo da pesquisa. Após este será redigido um tópico para “metodologias e
procedimentos” onde será apresentado o Método de abordagem e a delimitação
do estudo, o universo e a amostra, os tipos e a coleta de dados.
Posteriormente será descrito o marco teórico com a evolução conceitual
entre o governo eletrônico e o governo multicanal e a construção do concei-
to de governo móvel. Por fim, este artigo demonstrará os resultados mais
significativos da pesquisa e as “conclusões” do mesmo.

2. CONTEXTUALIZACAO E JUSTIFICATIVA
DA INVESTIGACAO

2.1 O potencial dos dispositivos móveis em especial dos


celulares sua densidade e capilaridade
Segundo a consultoria Teleco o Brasil ocupa atualmente a quinta po-
sição no ranking mundial em linhas de telefonia celular habilitadas. Na
América Latina o país se situa na liderança seguido de México, Argentina e
Colômbia. Vale citar que essa região concentra mais de 80% dos Celulares
em seis países.
Já a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) afirma que apenas
3.820 municípios brasileiros possuem serviços de telefonia móvel. São 56,34
milhões de computadores no Brasil (FVG, 2007) contra mais de 164,5 milhões
de celulares (Anatel, ago-2009). Enquanto apenas 25,5% dos domicílios (PNAD,

512
CONeGOV 2009 | SHORT PAPERS

2007) dispõe de computadores a densidade nacional de telefonia móvel é de


85,91/ 100 hab (Anatel, ago-2009). O cenário deste setor é tão promissor que a
Anatel prevê que a base de celulares deverá ter um crescimento exponencial até
2022 e ultrapassará os 320 milhões.
A Pesquisa “TIC domicílios e Usuários 2008” do Comitê Gestor de Internet
do Brasil (CGI), apontou que cerca de 56% dos entrevistados tem telefone celu-
lar, dos quais 41% dispõe de acesso a Internet. Aquela pesquisa indicou que 51%
dos respondentes tem na mensagem de texto (SMS) a principal funcionalidade
utilizada no telefone celular seguido de 15% que utilizam a função de envio e
recebimento de fotos e imagens.
Enfim, a evolução das tecnologias móveis, a facilidade de uso dos aparelhos
celulares, a alta comunicabilidade e o baixo custo de aquisição desses apare-
lhos vem provocando uma nova dinâmica no mercado ao passo que os cidadãos
começam a pressionar o Estado pelas mesmas facilidades na prestação de ser-
viços governamentais. Junto a isso, a comoditização de tecnologias integradas
e convergentes em detrimento a canais tradicionais de contato com cidadãos e
empresas pode ser um excelente caminho para ampliar a interação entre governo
e sociedade.

3. PROBLEMAS DO ESTUDO
A proposta principal da investigação foi identificar as principais barreiras
que impedem ou limitam a disseminação de ações de governo móvel no Brasil.
Para tanto foi realizado uma pesquisa exaustiva das dificuldades encontradas
pelos diversos entes envolvidos no desenvolvimento de tais ações.
O objetivo deste trabalho foi estudar as barreiras encontradas em todas as
esferas de governo, junto as operadoras de serviços de telecomunicações e aos
principais provedores de conteúdo, que limitam a exploração de serviços gover-
namentais por meio de canais móveis.

4. METODOLOGIA E PROCEDIMENTOS

4.1 Método de abordagem e delimitação do estudo


A abordagem principal deste trabalho foi desenvolvida por uma pesquisa
aplicada, longitudinal e exploratória, do tipo não experimental. Ela foi, quanto
à classificação do propósito do tipo aplicada, porque como argumenta Salomon
(1974) “se destinam a aplicar leis, teorias e modelos, na solução de problemas
que exigem ação e/ou diagnóstico de uma realidade (geográfica, social, econô-
mica, política etc).”

513
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

4.2 Universo e amostra


Esta pesquisa teve por universo os diversos entes envolvidos direta e indire-
tamente no desenvolvimento e manutenção de ações de governo móvel no Brasil.
A população investigada foram todos os participantes (mailing list) dos princi-
pais eventos de informática pública do país bem como, outras listas de grande
significância para a área de tecnologia da Administração Pública Federal (APF)
e para a prestação de serviços a sociedade nos estados. Foram elas: as listas do
CONIP – Congresso de Informática Pública (13ª e 14ª edição); CONEGOV –
2007 Conferência Sul-Americana de Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo
Eletrônico; SECOP – Seminário de Tecnologia da Informação 2007; M-gov
cidadania móvel 2006 e 2007; Centrais de Atendimento.Gov 2007; Lista dos
Coordenadores-Gerais de Modernização e Informática da esfera federal e a
Lista dos Dirigentes das Centrais de Atendimento Integrado ao Cidadão.
O tipo de amostragem deste estudo foi não-probabilístico pois, segundo
Apolinário (2007) essa “pode ser útil quando os custos e o trabalho envolvido no
desenvolvimento de uma estrutura de amostragem são inconvenientes.” A amostra
foi intencional uma vez que foram considerados elementos de acordo com deter-
minados critérios julgados pelo pesquisador por representarem a população alvo.

4.3 Tipos e a coleta de dados


A pesquisa foi instrumentada por questionário portal padronizado desen-
volvido na ferramenta de software livre LimeSurvey versão 1.52, com perguntas
em formatos variáveis, codificadas, simples, atrativas e semi-estruturadas.
Ao construir o questionário foi utilizado em sua maioria questões objetivas
(fechadas), não obrigatórias, com alternativas fixas para facilitar a tabulação e a
análise de dados. O instrumento de coleta também apresentou em sua composi-
ção questões de múltipla escolha a fim de apresentar aos respondentes possíveis
respostas com várias dimensões do que está sendo investigado. Algumas dessas
questões apresentaram alternativas seguindo a escala de Likert com adaptações.
Como recomenda a metodologia, o instrumento de coleta de dados foi tes-
tado em 54 indivíduos por cinco vezes. Entre esses testes 13 manifestaram con-
siderações que o aprimoraram.
Um convite para participar da pesquisa foi enviado para 2.329 endereços
eletrônicos das listas citadas como amostra. Esse convite apresentava uma url
para um breve cadastro com nome, sobrenome e endereço eletrônico. Em se-
guida o respondente recebia um link para preencher o questionário. A pesquisa
coletou dados no período de 14 de maio a 15 de julho de 2008.
Por fim, as ferramentas utilizadas para tratar os dados foram o Microsoft Excel
versão 2003 para Windows XP e LimeSurvey versão 1.52 para Ubuntu 8.04 LTS.

514
CONeGOV 2009 | SHORT PAPERS

5. MARCO TEÓRICO

5.1 Conceitos: do governo eletrônico ao governo


multicanal
A utilização das TICs pelos governos recebeu a denominação de governo
eletrônico. Contudo este conceito é multidisciplinar, multifacetado, abrangente
e em construção. Assim, este objeto de muitos pesquisadores apresenta várias
percepções como destaca Cardona (2002). Embora haja essa diversidade de com-
preensões todas envolvem a utilização das TICs como suporte para gestão de
processos nas interações ou dimensões realizadas no próprio governo ou com os
diversos entes da sociedade.
Dentre as diversas tentativas de compreensão desse termo vale citar o decla-
rado pela Divisão de Administração Pública e Gestão para o Desenvolvimento do
Departamento de Economia e Assuntos Sociais das Nações Unidas - UNDESA/
UN: “Governo eletrônico é um governo que aplica as TICs para transformar suas
relações internas e externas para otimizar a execução de suas funções.”
Assim, no contexto de modernização do Estado emerge o que alguns teóri-
cos denominam governo multicanal ou governo 360° como prefere Annenberg
(2006). Para Rubiano (2006) na estrutura multicanal o “cidadão pode eleger o
canal que melhor se adeque as suas necessidades e contextos”. Então, é neces-
sário que os canais estejam sincronizados de forma que cidadãos e empresas em
suas interações percebam a administração como única independente de qual
canal seja estabelecida a interação.

5.2 A construção do conceito de governo móvel


Rossel, Finger & Misuraca (2006) em alusão a Vundavalli , Kushchu and
Kuscu afirmam que o “governo móvel pode ser compreendido minimamente
como um subconjunto ou um complemento para o governo eletrônico possibi-
litando acesso flexível e serviços de valor agregado em contextos ou processos
que o uso da mobilidade para os usuários faz-se relevante.” Ao passo que para
Lallana (2007) o governo móvel é também a transformação das relações entre
cidadãos e governo pois, além de prover e entregar informações e serviços ele
possibilita a ampliação do relacionamento e pode estimular a participação polí-
tica e a seleção de lideranças.
Kushchu & Kuscu (2004) em seus estudos explicitam que o governo móvel
“está sendo construído sobre os esforços do governo eletrônico.” Para esses pes-
quisadores do mgovlab o diferencial de ações de governo móvel se situa no fato
da capacidade das aplicações suportarem mobilidade para cidadãos, empresas e
para a gestão interna do próprio governo. Isso pelo fato de que tais aplicações

515
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

agregam valor para a integração, comunicação flexível e mecanismos de troca de


dados entre unidades governamentais.
Cunha; Annenberg & Agune (2007) referem-se ao novo termo “m-gov” e
afirmam que há três entendimentos possíveis para essa denominação. Em prin-
cípio se refere à possibilidade de que os governos usem dispositivos portáteis
como canais de entrega de serviços e informações. Uma outra compreensão se
refere a utilização dispositivos por agentes públicos em ações de campo. Por
fim, esses mesmos autores, entendem também por governo móvel a montagem
de unidades móveis de serviços onde o governo vai de encontro a localidades
que não dispõe de acesso a serviços públicos. Essa última se destaca por não
obrigar o interessado a possuir dispositivos. Ela é uma ação pró-ativa do go-
verno que visa atender os desejos sociais e levar cidadania a segmentos popu-
lacionais menos privilegiados. Pessi (2007) afirma que “a Secretaria de Gestão
do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão confirma a existência
de cerca de 150 centrais de atendimento divididas por 23 estados e Distrito
Federal”. Todavia, se supõe que esse cômputo compreende tanto centrais fixas
como móveis.
A partir dos argumentos desses pensadores se compreende que as unidades
de serviços móveis são uma das variantes do modelo one-stop-government e se-
guem uma inclinação internacional de serviço a cidadãos e empresas em guichê
único (single window). Portanto, elas também podem se enquadrar no conceito
de governo móvel. O objetivo maior desse modelo é reduzir o tempo e os esfor-
ços dos cidadãos para conseguir os serviços de que necessitam. Iniciativas dessa
natureza foram desenvolvidas em várias regiões brasileiras. Em alguns casos,
como citam Cunha; Annenberg & Agune (2007) foram construídos veículos es-
peciais para atender localidades remotas: “barcos, no Pará, Amazonas e Amapá;
e, caminhões adaptados, carretas ou ônibus na Bahia e em São Paulo.” No Brasil
a transformação de mini centrais de serviço ofertando à sociedade um número
de serviços reduzido por intermédio desses meios de transporte se tornou uma
boa prática de governo eletrônico e foi replicada e estendida a praticamente todo
território.
Assim, a construção deste marco teórico nos permite inferir que tal como
as ações de governo móvel o próprio conceito se encontra em desenvolvimento.
Todavia, é nítido que ele permeie o uso intensivo de tecnologias e dispositivos
portáteis por parte dos governos.

6. ANÁLISE DE DADOS
Iniciando a análise de dados cabe destacar que foram respondidos 57 ques-
tionários que visaram identificar entre os respondentes de todas as esferas de
governo, das operadoras de serviços de telecomunicações e dos principais pro-
vedores de conteúdo quais as principais dificuldades que limitam a exploração

516
CONeGOV 2009 | SHORT PAPERS

de serviços governamentais por meio de canais móveis. A seguir serão detalha-


das os resultados mais significativos do estudo.
Todos os respondentes do instrumento de coleta concordaram que entre as
vantagens e benefícios de ações de governo móvel estão a melhora da presta-
ção de serviços públicos e a maior mobilidade, conforto e satisfação aos cida-
dãos e empresas. Também foi apontado por 87,72% que essas ações permitem
ao Estado entregar serviços personalizados. Por fim, 71,93% dos respondentes
concordaram que as ações de governo móvel propiciam redução dos custos ope-
racionais e de níveis hierárquicos para as organizações públicas. Ao passo que
apenas 12,28% acreditam que os serviços entregues pelo Estado por intermédio
destas ações não possam ser seguros e não são confiáveis.
No que se refere a segurança dos dispositivos, bem como do acesso as apli-
cações móveis alguns especialistas já apontam que essas poderão ser mais segu-
ras que as via Internet pelo fato do acesso ser dedicado.
Outra questão é que já existem empresas brasileiras que desenvolveram
aplicações de m-banking que utilizam long-codes dinâmicos ambientes a fim
de evitar fraudes e ampliar a opção de serviços. Isso, poderia perfeitamente
ser utilizado em ações de governo móvel. Junto a isto a autenticação prévia
do aparelho e do usuário e a utilização de senhas, sistemas de confirmação
e criptografia podem ser alternativas para garantir segurança as aplicações
públicas móveis.
Entre os que concordaram que ações de governo móvel propiciam redução
de custos operacionais e de níveis hierárquicos para as organizações públicas
75,6% também acreditam que essas ações permitem ao Estado entregar serviços
de forma segura e confidencial. Todos os que consideraram que as aplicações de
governo móvel melhoram a prestação de serviços públicos e propiciam maior
mobilidade, conforto e satisfação aos cidadãos e empresas também concordaram
que ele permite que o Estado entregue serviços de forma personalizada.
O principal motivo apontado por 36,84% dos respondentes que impacta no
desenvolvimento de ações de governo móvel foi atribuído a falta de interesse e
de conhecimentos dos dirigentes e das equipes de informáticas dos órgãos pú-
blicos. Seguido de muito perto foi considerado como dificultador com 33,33% o
pouco encorajamento dos gestores por motivos diversos embora estes conheçam
todo o potencial de ações por intermédio de canais móveis.
A pesquisa apontou que 47,37% dos respondentes consideraram a burocra-
cia, desafios culturais e a perda de poder entre outros como uma dificuldade
interna “muito importante” para o desenvolvimento de ações de governo mó-
vel. Em seguida os resultados demonstraram como dificultadores “muito im-
portantes” a integração da arquitetura e dos sistemas legados e a padronização
desses sistemas com 45,61% e 38,60%, respectivamente. Muitos projetos de go-
verno eletrônico e conseqüentemente de governo móvel padecem com questões

517
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

orçamentárias e financeiras. Neste sentido, os dados apontaram que 66,66% con-


sideram esse quesito como de “muita” e “média importância”.
Os respondentes que apontaram como principal motivo que impacta no de-
senvolvimento de ações de governo a seleção de um modelo de negócio susten-
tável 70% atribuem a burocracia como “muito” ou “média importância” entre as
dificuldades internas para desenvolvimento das ações de governo móvel.
Neste sentido gestores das iniciativas de m-banking no país sugerem como
alternativa a criação de tarifas flats pelas operadoras de forma que a tarifação
ocorra conforme a quantidade de utilização.
Segundo a pesquisa os respondentes que consideraram a burocracia, desa-
fios culturais, receio de perda de poder entre outros como de “muita” ou “média
importância” entre as dificuldades internas 82% compreendem na mesma inten-
sidade as limitações de recursos orçamentários e financeiros.
Os colaboradores com a pesquisa que apontaram com “muita” ou “média
importância” a identificação do (s) serviço (s) a ser (em) disponibilizado (s) mais
de 93,5% consideraram a falta de padronização dos sistemas legados na mesma
intensidade.
Este estudo buscou também identificar as dificuldades encontradas pelas
empresas integradoras/ provedoras de conteúdo ou de infra-estrutura no desen-
volvimentos de ações de governo móvel. A procura de representantes dessas
empresas se deu pelo fato deles apresentarem experiências bem sucedidas em m-
banking, em leilões reversos via SMS na televisão brasileira, e em ações de go-
verno móvel. Todavia, 40,35% dos respondentes de praticamente todos os itens
da pergunta que buscou compreender as barreiras tidas por esses representantes
informaram não representar esses atores.
Por fim, finalizando a análise em torno da discussão sobre as dificulda-
des internas das organizações publicas encontradas em ações de governo mó-
vel compreende-se que os problemas orçamentários e financeiros tanto para o
desenvolvimento das aplicações quanto para manutenção podem ser sanadas
a partir de Parcerias Público-Privadas (PPPs) uma vez que já existe no país
amparo legal . Outra questão é que poderiam ser efetuadas concessões e per-
missões de serviços públicos. Em um nível talvez um pouco mais burocrático
poderiam ser explorados fundos de programas de modernização da gestão, de
qualidade no serviço público bem como, de agências de fomento e de coopera-
ção internacional.
Retomando os comentários sobre o estudo o mesmo apontou que todos
que consideram o SMS como melhor tecnologia para massificação 42% atri-
buem “muita” ou “média importância” as limitações dos dispositivos uma vez
que a grande maioria dos celulares de posse da população possui funcionali-
dades limitadas. Se registre que mais de 80% da base de celulares no país é
pré-paga.

518
CONeGOV 2009 | SHORT PAPERS

A carga tributária do setor de telecomunicações no Brasil é a mais elevada


do mundo. A necessidade de que haja uma redução fiscal sobre este setor foi
demandado por 56,14% dos respondentes. Infelizmente, essa carga tributária
atingiu o patamar de 40,15% em 2007 entre tributos indiretos, contribuições e
taxas setoriais. Isso corresponde a 46,9% da receita líquida das operadoras. Esse
problema aliado a baixa receita média mensal por usuário constitui dificuldade
para o desenvolvimento de ações de governo móvel segundo 47,3% dos respon-
dentes que atribuíram “média” ou “muita importância” a este item.
Na linha de sustentabilidade e de desenvolvimento podem ser exploradas
ações de publicidade como links patrocinados em ferramentas de busca de servi-
ços públicos, conteúdo patrocinado etc. Neste sentido Paiva (2007) defende por
exemplo, que a mensagem de texto se diferencia de outras formas de publicidade
por sua interatividade junto ao fato que campanhas de marketing com SMS são
mais baratas e mais eficientes que malas diretas para as empresas privadas. Esse
autor chama atenção para o momento de revisão da lei de licitações brasileira n°
8.666 que poderia incluir propaganda ou outras ações de publicidade em ações
do Estado. Se registre que a forma de exploração comercial de modelos asso-
ciativos de governo eletrônico vem cada vez mais se consolidando nos países
desenvolvidos.
O estudo também identificou entre as dificuldades encontradas por empre-
sas integradoras/ provedoras de conteúdo ou de infra-estrutura que 92% dos
respondentes atribuíram “muita” ou “média importância” à extensão territorial
do país em relação a cobertura das redes móveis. Esses também compreen-
dem no mesmo grau de importância as barreiras educacionais e culturais do
público-alvo.
Durante o estudo foi apontado pelos gestores de diversas iniciativas de go-
verno móvel que o modelo de negócio é considerado como um grande problema
a ser transposto para o sucesso da ação. Segundo os dados coletados 36,84%
consideraram o modelo de pagamento do serviço compartilhado entre governo
e iniciativa privada como o mais adequado para a massificação de ações de go-
verno móvel por meios eletrônicos. Vale ressaltar que 14,04% dos respondentes
consideram como factível na mesma proporção para a universalização de servi-
ços móveis tanto o pagamento compartilhado entre governo e cidadão quanto o
pagamento custeado pelo governo - modelo por volume mensal .
A melhor tecnologia considerada pelos respondentes para o desenvolvimen-
to de ações de governo móvel foi o SMS segundo 33,33% dos respondentes.
As aplicações WAP foram considerados por 12,28% ao passo que a tecnologia
GPRS foi apontada como a pior forma de entregar serviços móveis totalmente
por meios eletrônicos com apenas 7,02%. Cabe esclarecer que 31,58% dos res-
pondentes desta questão não se manifestaram.
Não obstante Diniz e Gregório (2007) defendem que microaplicações in-
termediadas por tecnologia GPRS disponibilizadas gratuitamente a sociedade

519
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

podem ser uma alternativa para ações de governo móvel. Esses pesquisadores
apontam que a ação “Informa Fácil” do governo do estado do Piauí tem um custo
acessível uma vez que na consulta o trafego de 1,5 mil caracteres sai por menos
de R$ 0,10 ao passo que o SMS ultrapassa o triplo desse valor. Se ressalte que
alguns planos permitem a contratação de mensagens de texto em pacotes onde o
custo se torna mais acessível e pode chegar entre R$ 0,06 a R$ 0,10 enquanto a
tarifa normal cobrada pelas operadoras é R$ 0,36.
Os dados coletados demonstraram que os respondentes que consideraram o
SMS como a melhor tecnologia para entregar serviços portáteis 39% compreen-
deram que o pagamento compartilhado entre governo e iniciativa privada (divisão
de despesas) é a melhor opção para o desenvolvimento da ações de governo móvel.
Por fim, a pesquisa indagou aos respondentes sobre como os diversos atores
poderiam colaborar no desenvolvimento ou manutenção de ações de governo
móvel. Entre as sete alternativas apresentadas 87,72% apontaram a cobrança
menor pela infra-estrutura/tráfego de dados, se a demanda for alta, como a mais
adequada. Em seqüência 84,21% consideraram a necessidade de que o Governo
Federal defina uma política pública de entrega de serviços por múltiplos canais,
inclusive canais móveis.

7. CONCLUSÕES
No presente estudo se concluiu que ao contrário do que apontam especialistas
os principais motivos que impactam no desenvolvimento de ações de governo móvel
são a falta de vontade política, de liderança, de conhecimento por parte dos gestores
entre outros motivos ao invés do modelo de negócio. Se percebe que algumas destas
barreiras ocorrem da mesma forma que em ações de governo eletrônico.
A pesquisa confirmou que a burocracia, desafios culturais, perda de poder,
a integração da arquitetura e dos sistemas legados, a padronização de sistemas,
questões orçamentárias e financeiras são os principais limitadores de ações de
governo móvel.
A análise dos resultados demonstrou limitações no método e no instrumento
de coleta de dados. Embora o questionário tenha sido testado várias vezes a cole-
ta apontou falhas de interpretação ou de formulação do instrumento. Outra limi-
tação é que o estudo não permitiu inferências estatísticas generalizadas devido
ao tipo de amostragem bem como, a amostra na qual foi aplicado o questionário.
Sabe-se que no momento o Governo Federal brasileiro está elaborando uma
Agenda Brasil Digital o que representa uma oportunidade para que o Estado
re-avalie sua política de entrega de serviços públicos e de relacionamentos do
governo. Tal como constatado neste estudo e descrito na análise de dados deve
haver uma política pública federal por múltiplos canais de entrega, inclusive por
canais móveis.

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CONeGOV 2009 | SHORT PAPERS

Outra questão a ressaltar é que as ações de governo móvel devem ser cons-
truídas e consolidadas como projetos de Estado e não de governo para evitar
problemas de continuidade, confiabilidade e credibilidade. Para Rossel, Finger
& Misuraca (2006) o governo móvel deve ser considerado como objetivo estraté-
gico tal como consideram os governos pioneiros de Malta, Dubai, Reino Unido,
o estado de Idaho - USA, entre outros.
Todavia, além de disponibilizar serviços é necessário que seus usuários os
conheçam e saibam utilizá-los. Assim, como expõe Antovski & Gusev (2005) as
ações de governo móvel devem contemplar campanhas publicitárias que apre-
sentem claramente os benefícios e os procedimentos do uso de tais serviços.
Vale esclarecer que 38,60% dos respondentes do questionário apontaram barrei-
ras educacionais e culturais do público-alvo como um dificultador.
Não se poderia deixar de referenciar o problema da carga tributária. Sobre
este assunto o parlamento brasileiro vem debatendo uma proposta de simpli-
ficação tributaria federal, de redução de alíquota de impostos estaduais e de
unificação de impostos. Caso isso se conforme, diversos setores econômicos
dentre eles o de Telecom serão consideravelmente desonerados e o custo de ma-
nutenção das aplicações móveis será impactado. Segundo especialistas do por-
tal Teleco (http://teleco.com.br/default.asp) os governos da China e da Filipinas
provocaram uma explosão de crescimento do uso de SMS ao reduzirem a tarifa
do serviço.
Concluindo, se afirma que mesmo diante de tantas barreiras elencadas e
estudadas ao longo deste trabalho compartilhamos o pensamento de Kushchu &
Kuscu (2004) segundo o qual o governo móvel é inevitável devido aos avanços
tecnológicos nas áreas de Internet móvel, os benefícios da adição de valor a
partir de modelos de negócios propiciados pelas aplicações móveis e as expec-
tativas dos cidadãos para acessarem melhores e mais convenientes serviços de
governo. Esses pesquisadores apontam também que a penetração de dispositivos
móveis, a convergência de redes de telecomunicações sem fio e da Internet e o
movimento em direção a terceira geração de serviços possibilitará altas taxas de
transferência de dados. Contudo, no Brasil, esta realidade se encontra ainda, em
fase embrionária e cabe ao Governo Federal coordenar ações entre os diversos
atores para que haja uma gestão de resultados mais efetiva e para que a prestação
de serviços públicos propicie a melhor experiência possível com a maior adição
de valor visando atingir patamares de excelência.

AGRADECIMENTO
À Deus por me permitir produzir este artigo. À memória de meu pai e a
minha mãe que me ensinaram a ser perseverante e por sempre me incentivarem
em meus estudos. À minha esposa por ser compreensível nas horas de estudo e
por me estimular a finalizar meu mestrado. À memória de meu irmão que me

521
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

inspirou na infância a gostar de estudar. Aos professores Dr. José Ignácio Porras
Martínez e Evelyn Karina Arraigada Oyarzún por me orientarem no proces-
so de desenvolvimento deste estudo. Ao professor Dr. Murilo Bastos Cunha da
Universidade de Brasília por colaborar na elaboração do instrumento de coleta
de dados. A Senhora Lúcia Porto chefe de gabinete da Secretaria de Logística e
Tecnologia da Informação do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão
que sempre me incentivou profissionalmente e me auxiliou para obtenção da
bolsa para o mestrado. Ao meu chefe Msc. João Batista Ferri de Oliveira Diretor
do Departamento de Governo Eletrônico da Secretaria de Logística e Tecnologia
da Informação (SLTI) do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão por
colaborar na realização deste estudo e aos colegas de trabalho da que colabora-
ram direta o indiretamente para realização da investigação.

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Vargas – FGV, São Paulo, 2009. Disponível em: http://www.eaesp.fgvsp.br/default.
aspx?pagid=JTECNOSN. Acesso: 10/10/2009.

523
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

524
AVALIAÇÃO DO ALINHAMENTO
ESTRATÉGICO DE TECNOLOGIA DA
INFORMAÇÃO NAS ORGANIZAÇÕES

Maria Lúcia da Silva


SERPRO – Serviço Federal de Processamento de Dados
maria-lucia.silva@serpro.gov.br
mlucias30@hotmail.com

RESUMO

A Tecnologia da Informação tem-se tornado uma área cada vez mais necessária na
estratégia de negócios de uma organização; o alinhamento estratégico, apoiado em
práticas de governança efetivas, poderá inserir e situar a organização em posição
diferenciada da concorrência nos competitivos cenários da realidade atual. O objetivo
do trabalho é apresentar os conceitos e aplicação do instrumento elaborado por
LUFTMAN (2000) selecionada para avaliar o nível de maturidade do alinhamento
Negócios e Tecnologia da Informação para uma organização, oferecendo elementos
para a formulação de ações de melhorias. Aplicou-se uma pesquisa baseada no estudo
do autor em uma empresa, prestadora de serviços de desenvolvimento de software,
abrangendo empregados perfis diversos e lotados em áreas distintas. Os dados foram
tabulados e organizados e, a partir das médias e dos desvios padrões, concluiu-se que
é possível identificar o nível de maturidade da organização, obter diagnóstico mais
preciso da situação atual e definir uma proposta de ações que colaborem para a evolução
do nível de maturidade da organização e possibilitem um melhor posicionamento
estratégico no cenário competitivo atual.

PALAVRAS-CHAVE

Alinhamento estratégico, competitividade, governança, negócios, tecnologia da


informação (T.I.), dissonância cognitiva.

1. INTRODUÇÃO
A Tecnologia da Informação (TI) tem deixado de ser uma área somente de
suporte e passe a ocupar uma posição cada vez mais estratégica nas organiza-
ções. O presente trabalho visa investigar em que estágio uma empresa de de-
senvolvimento de software se encontra na maturidade do alinhamento estraté-
gico Negócios com a Tecnologia a Informação. A abordagem apresentada pode
ser estendida para as organizações de forma geral e ser utilizada como apoio
na avaliação da maturidade das práticas de governança das organizações. A

525
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

partir dessa avaliação torna-se possível promover instrumentos de gestão ali-


nhados com o planejamento estratégico, estabelecendo compromissos com
as pessoas envolvidas no processo de planejamento e no alcance das metas
planejadas.

2. ALINHAMENTO ESTRATÉGICO DA
TECNOLOGIA INFORMAÇÃO
O objetivo da avaliação do para o alinhamento estratégico de T.I. é iden-
tificar o quanto a Tecnologia da Informação está em harmonia com o negócio
(visão, missão e as estratégias de negócio da organização) e como o negócio está
em harmonia com a T.I.
Identificamos as etapas na aplicação da metodologia que pode ser estendido
para as demais organizações e relacionamos abaixo:
2.1 Conceituação dos critérios de maturidade nas áreas propostas por
LUFTMAN (2000).
2.2 Conceituação do nível de maturidade na avaliação do alinhamento es-
tratégico de T.I.
2.3 Fatores propiciadores e inibidores do alinhamento estratégico de
T.I.
2.4 Metodologia aplicada ao estudo de caso e resultados obtidos (pesquisa,
perfil, apresentação dos resultados obtidos).
2.5 Percepção do Nível de Maturidade a partir dos resultados obtidos.
2.6 Análise dos pontos de melhorias na organização.
2.7 Algumas ações de Melhorias identificadas.
2.8 Comparação dos resultados da pesquisa com Ciclo de Planejamento
Estratégico.

2.1 Critérios de maturidade


Relacionam-se abaixo os critérios de maturidade considerados na metodo-
logia adotada para avaliar e classificar uma organização:

2.1.1 Maturidade nas Comunicações


Avalia a efetiva troca de idéias e o entendimento claro do que é necessário
para assegurar estratégias de sucesso. Um dos objetivos é assegurar o contínuo
compartilhamento de conhecimentos na empresa observando-se que:

526
CONeGOV 2009 | SHORT PAPERS

• Negócios entende de TI
• TI entende de negócios
• Aprendizagem organizacional estabelecida
• Flexibilidade de protocolos
• Compartilhamento do conhecimento
• Vínculos TI e negócios efetivos

2.1.2 Maturidade nas Métricas (medição de competência/valor)


Verifica se há indicadores que possam demonstrar o valor da contribuição
da TI para os negócios, em termos que o pessoal de negócios possa compreender.
A empresa deve possuir instrumentos que possam medir os fatores de desem-
penho da TI e dos negócios e tomar decisões baseadas nos resultados desses
fatores, ou seja:
• Métricas de TI e negócios implantadas
• Métricas balanceadas entre clientes, parceiros e fornecedores
• Acordo de Nível de Serviço (SLA – Service Level Agreement)
• Benchmarking
• Avaliações e revisões formais
• Melhoria contínua

2.1.3 Maturidade na Governança


Avalia se as pessoas de negócio e as de TI discutem e revisam formalmente
as prioridades e a alocação de recursos. Os níveis de autoridade do processo
decisório devem ser claramente definidos para assegurar:
• Planejamento estratégico de negócios
• Planejamento estratégico de T.I.
• Estrutura organizacional de reporte
• Controle Orçamentário
• Gestão de Investimentos de T.I.
• Comitê executivo
• Priorização

2.1.4 Maturidade na Parceria


Trata da avaliação do relacionamento entre TI e as unidades de negócios.
Avalia qual o papel que a área de TI possui na definição das estratégias de negó-
cios. Nesse critério deve-se verificar se:
• Negócio vê valor em T.I.
• T.I. atua no planejamento estratégico
• Metas e riscos são compartilhados
• Gestão do relacionamento
• Relacionamento de confiança
• Patrocinador

527
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

2.1.5 Maturidade na Tecnologia (Escopo e Arquitetura)


Avalia a maturidade da TI com relação a ir além das atividades de retaguar-
da e de frente da organização; ter papel de apoio e uma infra-estrutura flexível
e transparente para todos os parceiros de negócios e clientes; avaliar e aplicar
efetivamente as tecnologias emergentes; facilitar ou orientar os processos e es-
tratégias de negócios e prover soluções adequadas às necessidades dos clientes.
Nesse critério busca-se implementar:
• Nível propiciador das estratégias da empresa
• Padrões articulados na organização
• Integração na organização e com clientes, parceiros e fornecedores
• Arquitetura transparente e flexível

2.1.6 Maturidade nas Habilidades Pessoais dos Recursos


Humanos
Além das considerações tradicionais sobre treinamento, salário, feedback
de desempenho e oportunidades de carreira, avalia a cultura e o ambiente social
da organização. Quesitos a serem verificados:
• Inovação/empreendedorismo
• Nível de influência da TI e/ou negócios nas decisões de RH
• Estilo Gerencial
• Capacidade de mudar
• Carreira Lateral
• Capacitação interdisciplinar
• Ambiente colaborativo e de confiança
• Atração e Retenção de talentos

2.2 Nível de maturidade na avaliação do alinhamento


estratégico de T.I.
A partir da avaliação de cada um dos 6 critérios descritos, obtêm-se a
gradação equivalente ao nível de maturidade do alinhamento estratégico en-
tre negócios e TI. Esses níveis de maturidade também são instrumentos utili-
zados para classificar a organização como um todo. Analogamente ao Modelo
de Maturidade das Capacitações (CMM) são associados níveis ao alinhamento
estratégico e conforme LUFTMAN (2000) descreve-se:
Nível 1 ad hoc – feito quando necessário, fragmentado; imprevisível, sem
controle;
Nível 2 processo de engajamento, inicial; a organização está comprometi-
da para se tornar alinhada;
Nível 3 processo com focos estabelecidos, consistentes com o objetivo do
negócio;

528
CONeGOV 2009 | SHORT PAPERS

Nível 4 processo gerencial, previsível e controlado, apto a melhorias.


Reforçado o conceito de TI como centro de valor;
Nível 5 processo otimizado, planejamento de negócios e TI integrados.

2.3 Fatores propiciadores e inibidores do alinhamento


estratégico de T.I.

Tabela 1.

Fatores que podem propiciar o Fatores inibidores do alinhamento


alinhamento estratégico de T.I. estratégico de T.I.
T.I./negócios demonstram ausência
Suporte e comprometimento de relacionamento próximo
do executivo sênior a T.I. T.I. não encontra comprometimento
do executivo sênior
T.I. envolvida com Falta de engajamento da
planejamento estratégico organização com T.I.
T.I. entende da área de negócios T.I. não entende de negócios
Priorização adequada de projetos de T.I. não prioriza seus projetos
T.I. (gerenciamento de porfólio) adequadamente
T.I. demonstra liderança Falta liderança a T.I.

Fonte: Adaptado de Luftman (2000).

2.4 Metodologia aplicada ao estudo de caso e resultados


Foi elaborada uma pesquisa e divulgada para empregados da empresa con-
forme o modelo proposto por LUFTMAN (2000). Os resultados da pesquisa fo-
ram tabulados, calculados médias e desvios padrões e neles foram aplicado um
procedimento para avaliar cada critério de maturidade da organização. Após o
tratamento e análise dos dados foi possível definir os níveis de maturidade indivi-
dual e global. Foram diagnosticados fatores problemas que podem contribuir para
níveis considerados baixos e, inclusive, dissonância cognitiva do corpo funcional.
As partir das causas do desvio investigadas, recomenda-se ações para que a orga-
nização possa evoluir no grau de maturidade do alinhamento estratégico de T.I.

2.4.1 Pesquisa
A pesquisa composta de 30 questões foi divulgada para uma amostragem
de gerentes, analistas e programadores da empresa alocados em algumas das
unidades regionais.
Após a divulgação da pesquisa houve um total de 39 questionários preenchidos.

529
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

2.4.2 Perfil da empresa avaliada – empresa X


A empresa X é uma empresa que presta serviços de desenvolvimento
de software à esfera pública, que possui unidades distribuídas nas principais
capitais e núcleos operacionais em cidades de porte médio dos estados brasi-
leiros, desenvolve sistemas em diversas plataformas. Como referência apre-
senta-se abaixo o quadro definido no último ciclo de planejamento estratégico
para o biênio 2008/2010, elaborado pelo corpo funcional e gerencial, com
o uso da metodologia do PES Planejamento Estratégico Situacional Matus
(1997).

Tabela 2.

Líder em soluções de Tecnologia da Informação e


Visão
Comunicações para realização das Políticas Públicas
Prover e integrar soluções em Tecnologia da Informação e
Missão
Comunicações para o êxito da gestão das finanças públicas
e da governança do Estado, em benefício da sociedade.
Negócio Tecnologia da Informação e Comunicações
Produtos e Sistemas de Informação, Serviços de Tecnologia da Informação
Serviços e Integração de Soluções, Consultoria e Informações

Fonte: Extraído do material de divulgação do Planejamento Estratégico da Empresa X.

2.4.3 Apresentação Gráfica Geral dos resultados da pesquisa

Figura 1. Percentual de Entrevistados e Nível de maturidade atribuído aos 6 critérios e


média global.

Fonte: Elaboração Própria

530
CONeGOV 2009 | SHORT PAPERS

2.5 Diagnóstico do Nível de Maturidade a partir dos


resultados obtidos
A partir da análise dos resultados, a empresa X situa-se no início do
nível 3 de maturidade do alinhamento estratégico, ou seja, a empresa pos-
sui processo com focos estabelecidos. As habilidades desenvolvidas em
Recursos Humanos estão em um nível 2 (estágio inicial, de engajamento)
, isto é, menos avançado que as demais competências e valores. O nível de
maturidade percebido encontra-se entre os níveis 2 a 4 e o desvio padrão
encontrado mostra-se bastante alto, fato este que demonstra haver diver-
gência na percepção dos empregados da organização das estratégias de TI
e negócios.
O aspecto que indica causar maior dissonância refere-se a área de lotação
dos empregados. A área de desenvolvimento de sistemas atribui a empresa nível
de maturidade em geral menor que 3 e o nível é menor, na opinião dos entrevis-
tados com nível gerencial. Certas áreas como as de relacionamento comercial
(negócios), administrativa e de infra-estrutura atribuíram nível de maturidade
próximo de 4 ou maior. A área de suporte técnico teve percepção intermediária,
situada um pouco acima do nível 3.
Da análise dos resultados de cada critério podem-se fazer algumas
considerações:
Comunicação foi o critério que recebeu o grau mais alto e teve o padrão de
comportamento considerado ‘normal’, com valores distribuídos uniformemente
em torno do nível médio 3,75. O desvio padrão foi o mais baixo de todos, mos-
trando assim convergência significativa da percepção dos entrevistados quanto
à matuidade da comunicação da empresa.
Governança teve o segundo maior nível de maturidade, o desvio padrão
relativamente baixo e o nível de percepção das pessoas ficou muito diluído de
1,80 a 4,60, verificando-se desconhecimento dos aspectos de investimentos e
recursos de TI e níveis de autoridade e autonomia nos processos decisórios na
empresa.
Parcerias apresentou uma percepção de nível de maturidade 3,5 a 4,0.
Observa-se divergência nas áreas de suporte técnico/administrativo/negó-
cios com a área de desenvolvimento e infra-estrutura. Os resultados denotam
que existe a percepção de que a TI tem papel influente nas estratégias de
negócios.
Tecnologia teve desvio padrão baixo e os entrevistados atribuíram, no ge-
ral, níveis no intervalo de 3 a 5. Os entrevistados da área de desenvolvimento
de sistemas atribuíram valores mais uniformes entre 3,00 a 3,44 o que mostra
convergência na área, porém divergência com as demais áreas que assinalaram
valores mais extremos.

531
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

Métricas apontou o desvio padrão mais baixo e o intervalo de nível entre


2,80 e 4,50. É difícil encontrar padrão de comportamento para esse critério na
organização. Há divergências para pessoas da mesma área e mesmo cargo sobre
a empresa possuir, ou não, instrumentos que possam medir os fatores de desem-
penho da TI e dos negócios e tomar decisões baseadas nos resultados desses
fatores.
Habilidade mostrou uma grande divergência na percepção dos entrevis-
tados, o desvio padrão obtido foi alto e o nível atribuído entre 1,66 e 4,66. Em
geral as pessoas com menos tempo de empresa demonstraram uma percepção
mais negativa desse critério.

2.6 Pontos de melhorias


Buscou-se correlacionar visualmente os resultados obtidos e, em geral, ob-
serva-se uma considerável divergência na percepção dos entrevistados.
Fatores como tempo de empresa, idade, área de lotação, cargo gerencial e
escolaridade afetam a percepção dos entrevistados em graus diversos. Porém,
os resultados demonstram que as políticas implantadas não propiciam o mesmo
nível de satisfação e percepção para todos os empregados e podem justificar
dissonâncias cognitivas observadas.
Os resultados indicam que os processos de compartilhamento de resultados
e de políticas corporativas ainda não são efetivos na organização. Também indi-
cam que as estratégias de negócios não são disseminadas com abrangência; que
as unidades de negócio se mantêm compartimentadas; que os processos apre-
sentam baixa integração e o nível de colaboração entre as áreas de tecnologia é
pouco expressivo.
Alcançar alinhamento estratégico é evolutivo e dinâmico e requer desen-
volver as relações internas e externas de toda a organização nos seguintes
aspectos:
• Forte suporte do Executivo Sênior da organização
• Bom relacionamento de trabalho
• Forte liderança
• Adequada priorização
• Confiança
• Comunicação efetiva
• Entendimento do negócio de do ambiente tecnológico
Do ponto de vista de cada critério de maturidade, a empresa precisa
melhorar os processos de forma a evoluir na maturidade e, em paralelo,
minimizar as causas de dissonância cognitiva. Define-se por ordem de
priorização:

532
CONeGOV 2009 | SHORT PAPERS

1. Habilidades Recursos Humanos – implantar ações efetivas para cami-


nhar em rumo do nível 3.
2. Métricas Medição de competência/valor – implantar ações efetivas
para consolidar-se no nível 3 e iniciar o caminho para o nível 4.
3. Tecnologia – implantar ações efetivas para consolidar-se no nível 3 e
buscar evoluir para o nível 4.
4. Parcerias – implantar ações efetivas para consolidar-se no nível 3 e
buscar evoluir o nível 4.
5. Governança – implantar ações efetivas para consolidar-se no nível 3 e
buscar evoluir para o nível 4.
6. Comunicação – implantar ações efetivas para consolidar-se no nível 3
e iniciar o caminho para o nível 4.

2.7 Algumas ações de melhorias identificadas


Identificam-se algumas ações que podem levar a empresa a maior maturida-
de na sua atuação e a uma maior transparência e um grau menor de dissonância
na percepção do seu corpo funcional:
• Implementar processos integração entre as diversas partes da empresa
(internas e com fornecedores e cliente) por intermédio de sistemas de
informação.
• Alinhar processos e métricas na organização e com clientes, parceiros
e fornecedores.
• Identificar fatores que causam dissonância cognitiva e buscar minimi-
zá-los através de ações como Endomarketing e conscientização.
• Divulgação das ações estratégicas aos parceiros, fornecedores e
clientes.
• Estabelecer ações de promoção dos recursos humanos com maior
transparência e flexibilidade; aumentar e incentivar as possibilidades
de mobilidade na carreira; gerir política de atração, capacitação e re-
tenção de talentos em toda a empresa; consolidar política de merito-
cracia; investir em ações de desenvolvimento profissional. Implantar
gestão de competências eficaz que permita a avaliação de desempenho
mais criteriosa.
• Estabelecer política de gestão por resultados de desempenho indi-
vidual, da equipe e da organização para permitir atribuição de PLR
(Participação nos Lucros e Resultados) e promoção por mérito.

2.8 Comparação com ciclo de planejamento estratégico


da empresa X
A empresa X no seu ciclo de planejamento no biênio 2009/2010 definiu re-
sultados desejados na empresa para situações críticas identificadas.

533
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

Tabela 3. Resultados do ciclo de planejamento do biênio 2009/2010.

Problema Resultados desejados


Falta definição de prioridades Atender com qualidade e prazo as demandas
no atendimento das demandas prioritárias de interesse do Estado,
de interesse do Estado garantindo os níveis de serviço acordados
São aceitas mais demandas Garantir a satisfação do cliente com
que a capacidade instalada o atendimento das demandas
Contratos padronizados com serviços bem
A relação de negócio com o
especificados, itens faturáveis bem definidos,
cliente não está adequadamente
preços bem formulados e compatíveis com
estruturada, sistematizada,
os serviços e níveis de serviços exeqüíveis,
institucionalizada
com foco no serviço e não nos insumos
A atendimento da empresa não
está estruturado para atender de Atuar como proponente de soluções
forma integrada e compartilhada de integração do estado
aos macro-processos do governo
As áreas possuem definições Buscar melhoria na qualidade do serviço e
tecnológicas diferentes para aumento de produtividade com a redução de
problemas semelhantes custos de tic orientado fundamentalmente
(entropia tecnológica) pela integração das tecnologias
Fortalecer a imagem da empresa como prestadora
Dificuldade de garantir a entrega
de serviço de TIC - Tecnologia da Informação
de serviços conforme acordado
e Comunicação - para o Governo Federal
Capacitação funcional e Empregados capacitados e com
gerencial inadequada desempenho satisfatório
Inadequação qualitativa e
quantitativa do quadro de pessoal Melhoria da produtividade
frente às necessidades da empresa
A comunicação não flui Ter política e estrutura de comunicação
adequadamente pela social implementadas, com o corpo gerencial
cadeia hierárquica atuando como agente efetivo do processo
O modelo de gestão
Ter um modelo de gestão atualizado e compatível
facilita a fragmentação e
com as necessidades de funcionamento da empresa
as disputas internas

Fonte: Planejamento Estratégico da Empresa pesquisada realizado


com o uso da metodologia elaborada por Matus (1997).

3. CONCLUSÃO
A partir da análise dos resultados da pesquisa, na percepção dos profis-
sionais em, conclui-se que a Empresa X possui alinhamento entre TI e negó-
cios com focos estabelecidos, consistentes com os objetivos de negócio. Em

534
CONeGOV 2009 | SHORT PAPERS

determinados segmentos, apresenta um nível controlado e previsível. No modelo


de LUFTMAN (2000) classifica-se a empresa no nível 3.
Pode-se observar compatibilidade do diagnóstico elaborado a partir da me-
todologia proposta com os resultados do ciclo do planejamento estratégico da
Empresa X. Destacam-se os problemas relacionados a habilidades dos recursos
humanos; ao fluxo de comunicação na organização, ao relacionamento clientes
e parceiros e fragmentação do modelo de gestão onde as unidades de negócio
atuam de forma compartimentada e com expressiva falta de sinergia.
Como trabalho futuro sugere-se desenvolver a pesquisa em toda a empresa,
abrangendo amostragens de profissionais de todas as unidades. Seria importante
proceder-se a estudos estatísticos mais formais que permitissem correlacionar
a percepção do nível de maturidade com informações do perfil funcional tais
como idade, alocação e tempo de empresa.
Dessa forma é possível identificar uma percepção mais acurada do nível de
maturidade, obter um diagnóstico mais preciso da situação atual da organiza-
ção e definir proposta de ações que colaborem para a evolução do seu nível de
maturidade. A sustentabilidade da organização pode ser alcançada ao se buscar
definir a tecnologia necessária para o negócio e não simplesmente aguardar a
demanda.

REFERÊNCIAS
JUNIOR, F. Teixeira, Vera Maria Rodrigues, Alinhamento Estratégico: Estudo
Comparativo das Percepções dos Executivos de Negócios e de TI, ENAMPAD
2004.
LUFTMAN, Jerry. Assessing Business IT Alingment Maturity, Communications of
AIS, Volume 4, Article 14, 2000.
MATUS, Carlos. O Método PES: roteiro de análise teórica. São Paulo: FUNDAP, 1997.

AGRADECIMENTOS
Ao Prof. Luiz Antônio Jóia, professor do MBA de Gestão Estratégica de
Tecnologia da Informação da FGV/SP pela orientação.
À Maria José S. Dias, educadora e irmã, pela revisão e a toda a minha famí-
lia pelo carinho e incentivo.
Às pessoas do SERPRO que me fazem acreditar que:
Se você quer construir um navio, não reúna as pessoas só para tarefas e
trabalho: ensine-as a almejar a infinita imensidão do mar. (Saint-Exupéry)

535
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

536
VISÃO SISTÊMICA NA
INTEROPERABILIDADE DOS SISTEMAS
PARA SEGURANÇA PÚBLICA: ESTUDO
DO CASO DE SANTA CATARINA

Edson Rosa Gomes da Silva


Secretaria de Segurança Pública
Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento-EGC/UFSC
edsoneconomia@gmail.com

Aires José Rover


Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento-EGC/UFSC
aires.rover@gmail.com

Thiago Paulo Silva de Oliveira


Instituto de Governo Eletrônico Inteligências e Sistemas-i3G
thiago.paulo@i3g.org.br

Sonali Paula Molin Bedin


Instituto de Governo Eletrônico Inteligências e Sistemas-i3G
Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento-EGC/UFSC
sonali.bedin@i3g.org.br

RESUMO

O presente artigo aborda a temática da engenharia e gestão do conhecimento com foco


no governo eletrônico aplicada à Segurança Pública. A utilização das tecnologias de
informação e comunicação (TICs) aumenta a abrangência dos regimes de informação,
além da sua conectividade, e auxiliam na resolução dos problemas de comunicação entre
sistemas de informação. Aborda-se a interoperabilidade dos sistemas de informação -
aplicado na Secretaria de Segurança Pública do Estado de Santa Catarina - como forma
de gerar conhecimento para tomada de decisão e apresenta a utilização de ferramentas
informacionais como um importante aliado na busca de maior eficiência no processo de
inteligência, investigação policial e criação das políticas públicas de segurança. Desta
forma, a integração de sistemas de informações precisa ser idealizada para conceber
regimes de informação que atendam com maior precisão às demandas informacionais,
conforme será exposto pelo artigo. Isto tudo, aliado a uma metodologia de integração
das informações de segurança pública, auxiliando as autoridades na tomada de decisão a
cerca das melhores formas de lidar com a prevenção e o combate a criminalidade.

PALAVRAS-CHAVE

Governo Eletrônico; Sistemas Inteligentes; apoio à decisão; gestão do conhecimento.

537
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

1. INTRODUÇÃO
Muitas preocupações envolvem a sociedade nesta era, pesando sobre ela
a tradicional condição de organização sistêmica em que ações se desenvolvem
interagindo entre si e sendo interdependentes. Entretanto, uma tem gerado pre-
ocupação maior pela força com que determina, sob aspectos psicológicos, um
novo ordenamento do cidadão: a segurança.
A criminalidade não é um problema exclusivo de países em desenvolvimen-
to, como pode parecer à primeira vista, mas sim um fenômeno global que avança
em proporções intoleráveis.
Como forma de aplacar as ações dos criminosos, o poder público busca, aos
poucos, através da utilização de tecnologias pautadas em um novo paradigma da
sociedade da informação, utilizar de forma eficiente recursos que a serviço do
cidadão revertam em seu benefício.
Segundo o artigo 144 da Constituição Federal [3], a segurança pública é de-
ver do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação
da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio.
Segundo especialistas convocados pela Organização das Nações Unidas
(ONU) em Tashkent, em 1990, segurança se define como: “Uma condição pela
qual os Estados consideram que não existe perigo de uma agressão militar, pres-
sões políticas ou coerção econômica, de maneira que podem dedicar-se livre-
mente a seu próprio desenvolvimento e progresso” [6].
Nesta perspectiva, a integração de esforços para garantir o bom andamento
das relações dos cidadãos entre si e com o meio onde se inserem, tem norteado
esforços dos governos em todas as esferas.
A proposta aqui é intensificar a noção de que o ingresso na era da infor-
mação passa primordialmente pelo G2G (Governo para Governo) com a ado-
ção de sistemas inteligentes de governo eletrônico [16]. Segundo HOESCHL
[8] “o conceito de governo abrange a gestão do poder público em seus três
poderes e três esferas (municipal, estadual e federal)”, enquanto que “ele-
trônico” refere-se aos “qualificativos digitais”. Assim, temos que governo
eletrônico é “um governo qualificado digitalmente, por ferramentas, mídias
e procedimentos...”.
Este artigo pretende discorrer sobre o assunto segurança com a utilização
das tecnologias da informação e comunicação (TICs) como forma de subsidiar
a tomada de decisão dos agentes públicos visando à prevenção e o combate à
criminalidade.
Partindo da visão sistêmica da segurança, conceitos de governo eletrônico
e tendo como objetivo o emprego das TICs na integração das bases de dados
das instituições da Secretaria de Segurança Pública (SSP), buscando evidenciar

538
CONeGOV 2009 | SHORT PAPERS

como o cruzamento das informações, com suporte de ferramentas computacio-


nais, auxiliam o processo de análise das informações e posterior interpretação
dos responsáveis. Vale ressaltar que a análise e interpretação das informações
coletadas permitem a construção de uma base de conhecimento sólida e passível
de reutilização.
Por fim a topologia escolhida para integração dos sistemas será exposta para
apresentar as estratégias de visualização dos dados cruzados, por meio de um
estudo teórico-empírico, utilizando-se de pesquisa documental e um estudo do
caso da Secretaria de Segurança Pública de Santa Catarina (SSP/SC).

2. A INTEGRAÇÃO DE INFORMAÇÕES
GARANTINDO UMA VISÃO SISTÊMICA
Na contemporaneidade, falar de informação caiu no “lugar comum”.
Inconteste a necessidade de introduzir massivamente no desenvolver diário das
atividades, recursos informacionais de toda ordem. Como recursos se enqua-
dram livros, compêndios, relatórios, registros em diversos suportes, bancos e
bases de dados, sistemas de informação, dentre outros.
Segundo LAUDON & LAUDON [9]: “Um sistema de informação (SI) pode
ser definido como um conjunto de componentes inter-relacionados trabalhando
juntos para coletar, recuperar, processar, armazenar e distribuir informação com
a finalidade de facilitar o planejamento, o controle, a coordenação, a análise e o
processo decisório em empresas e outras organizações.”
Assim, é possível perceber que os sistemas de informação (SI) são con-
cebidos com objetivo de, a partir de análises apuradas, construir uma ampla
visão do ambiente foco de aplicação. Fazendo a análise das informações co-
letadas, é possível estabelecer, por exemplo, padrão de ações de determinado
grupo, perfil de grupos da sociedade, linhas de evolução de comportamento,
dentre outros.
Considerando a sociedade como um sistema onde há a interação dinâmica
de todos os seus elementos, os SI se inserem como fatores essenciais para estru-
turação e visualização dos relacionamentos estabelecidos. Segundo ALVES [1],
chama-se sistema “o todo que emerge a partir da organização de seus compo-
nentes”. Esta organização, historicamente, se estabelece em níveis hierárquicos
formando subsistemas autônomos em suas características e padrões de compor-
tamento, interferindo, entretanto, no desenvolver de ações do sistema onde se
inserem.
Incluindo os SI na visão sistêmica da sociedade, LAUDON & LAUDON
[9] afirmam que “os sistemas de informação contêm informação sobre pessoas,

539
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

lugares e coisas de interesse, no ambiente ao redor da organização e dentro da


própria organização.”
Da mesma forma, SENGE [12] fala no pensamento sistêmico, por con-
siderar que o mundo é um conjunto integrado, e todo e qualquer aconteci-
mento possui algum tipo de relação. Por essa razão, é importante ter conhe-
cimento sobre as variáveis presentes em uma análise, para que a tomada de
decisão não prejudique a globalidade ou suas vizinhanças, já que elas são
constituídas por um conjunto de partes ou elementos coordenados entre si,
e que funcionam de forma estrutura organizada, além de se influenciarem
mutuamente.
Sob essas abordagens, é possível evidenciar a importância da integração
das informações dos elementos que compõem a sociedade, garantindo formas
de visualização do seu funcionamento, permitindo que o gestor faça uma análise
apurada dos elementos presentes em um sistema.

3. INTEGRAÇÃO DE INFORMAÇÕES
DE SISTEMAS DE GOVERNO
Segundo estabelece o Livro Verde da Sociedade da Brasileira da
Informação [2], o governo, nas suas três instâncias – municipal, estadual
e federal - tem o papel de assegurar o acesso universal às tecnologias de
informação e comunicação a seus benefícios, independentemente da locali-
zação geográfica e da situação social do cidadão, garantindo níveis básicos
de serviços.
A utilização de informações nas áreas governamentais para subsidiar as
tomadas de decisões pelos agentes públicos configura uma forte arma para com-
bater a má utilização da máquina pública. É sabido que essas informações de-
vem ser geradas de forma correta, confiável e com precisão, pois do contrário,
podem vir a inviabilizar a sustentação necessária para estratégias fundamentais
para a gestão.
A tomada de decisão se configura em ação presente tanto na esfera pública
como privada, mas a objetividade e celeridade por parte dos órgãos públicos
acontecem ainda de forma insatisfatória em decorrência da pouca tradição do
governo em inovar seus métodos de administração. Observando, podemos per-
ceber que a absorção das técnicas adotadas no setor privado é vagarosamente
incorporada na gestão pública.
Muitas vezes, os grupos criminosos se antecipam e utilizam métodos
e técnicas como menciona SILVA: “Com os avanços espantosos das tecno-
logias nas áreas mais significativas da esfera global, os grupos de crimino-
sos utilizam as novas formas de comunicação e transporte. Saindo assim

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CONeGOV 2009 | SHORT PAPERS

na frente dos governos, utilizando técnicas avançadas de gerenciamento,


controle de produção e distribuição. Este é o caso dos cartéis de drogas no
mundo” [13].
Assim, podemos perceber que há um hiato na forma de utilização das tec-
nologias existentes, além do investimento no desenvolvimento de outras para
incorporar as melhores práticas na administração pública.
Quando bem implementada, a incorporação de uma nova tecnologia tende
a promover ganhos de eficiência.
A globalização favoreceu e, em muitos casos, determinou uma grande
difusão das tecnologias que foram transferidas das economias de centro às
economias periféricas gerando aumento no fluxo de informações e compar-
tilhamento de conhecimento em grandes esferas. Fato este que esbarrou no
excesso de burocracia das instituições, na acomodação e desconfiança de seus
agentes que refutaram os benefícios adotando critérios de ressalva quanto à
modernização.
Os avanços foram determinantes para a era do conhecimento que vem
fornecendo critérios que apóiam a mudança de comportamento anteriormente
citada.
Este conhecimento cada vez mais está se consolidando numa sociedade
“tecnológica”, com grandes fluxos de informação, potentes veículos de comu-
nicação, velozes redes de transmissão de dados que aproximam tudo e todos.
Neste esteio, uma grande massa de informações foi criada nas instituições.
Porém, de nada valem ou valeriam, sem ser possível trabalhar de forma consis-
tente e consciente com essas informações. Segundo MÁXIMO [10], para que
ocorra o desenvolvimento dos países é preciso que eles tenham capacidade de
gerar informações precisas e corretas para a tomada de decisão. Pois nos pro-
jetos de políticas públicas ou privadas, há consenso que os melhores recursos
estratégicos são as informações produzidas.
Inegável que tudo está girando de forma muito rápida e CASTELLS [4]
evidencia bem este acontecimento como se pode perceber: o ambiente onde os
governos, as empresas e as comunidades interagem vem sendo mudado pela
economia da informação. O recebimento, tratamento e armazenagem das in-
formações estão mudando fundamentalmente e a velocidade, a flexibilidade e a
inovação são as palavras de ordem neste novo ambiente [4].
Conscientes do problema, a utilização dos serviços eletrônicos pelos gover-
nos vem tendo várias iniciativas, embora ainda de forma bastante tímida. A as-
similação dos conceitos de e-Gov e o entendimento que sua implementação vai
além da criação de páginas na internet para os cidadãos ou portais para emissão
de guias, mas desemboca na exploração de uma gama enorme de possibilidades.
ROVER apresenta uma visão genérica: “De uma forma mais genérica, o governo

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Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

eletrônico é uma forma de organização do conhecimento que vai permitir que


muitos atos e estruturas meramente burocráticas simplesmente desapareçam e
a execução de tarefas que exijam uma atividade humana mais complexa seja
facilitada” [15].
Uma compreensão ampla de governo eletrônico, empregando uma expres-
são futurista, apresenta G2C, G2B e G2G que respectivamente são as relações
entre governo e cidadão, governo e fornecedores/empresas e governo inter ou
intra-governo [17].
Um ponto interessante apresentado por HOESCHL [8] sobre a definição
de governo eletrônico: “[...] é a gestão do poder público, em suas esferas e
funções. Suas funções são consideradas a partir da clássica tricotomia ‘le-
gislativo’, ‘executivo’ e ‘judiciário’. Suas esferas, referenciadas pelo pacto
federativo e pelo contexto constitucional, são a ‘municipal’, a ‘estadual’ e
a ‘federal’. Um importante ponto a ser esclarecido preliminarmente é a ne-
cessidade de não se confundir a expressão ‘governo’ com ‘poder executivo
federal’” [7].
Assim, governo eletrônico não são apenas as iniciativas do governo federal,
mas as iniciativas para fornecer serviços aos cidadãos, empresas e também para
o próprio governo.
Entretanto, antes de propiciar os benefícios advindos da era da informação
para o público externo, o governo deve somar esforços no sentido de aprimorar
as tecnologias existentes criando mecanismos de auto-sustentação, primando
pela eficiência de suas organizações.
Aprimorar estas tecnologias existentes não é tarefa fácil, pois a sua uti-
lização não garante, por si só, o sucesso e o alcance dos objetivos. A com-
binação inteligente com base nas competências organizacionais, ou seja, a
excelência nos processos de trabalho; dinâmica na relação com a comuni-
dade; valorização e motivação do capital humano; simplificação dos méto-
dos gerenciais e disseminação rápida dos conhecimentos é que irá fomentar
as estratégias e trazer benefícios para o governo e para a sociedade como
conseqüência.
ROCHA [14] menciona que Estados e Municípios não alcançarão seu intei-
ro desenvolvimento se não usarem informações precisas, atualizadas e de forma
rápida sobre os melhores meios de aperfeiçoarem os recursos gerados em sua
sociedade. Acreditamos que o governo federal tem papel importante nesse pro-
cesso e deva ser o órgão fomentador.
Com a alusão feita por ROCHA [14], é possível observar que o tratamento
adequado das informações pode ser uma forma de auxiliar as instituições nas
soluções de problemas de várias instâncias, podendo ser econômicos, adminis-
trativos ou sociais.

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CONeGOV 2009 | SHORT PAPERS

Sob este aspecto, utilizar a TI para aplacar um dos problemas sociais – um


dos mais relevantes nos últimos tempos que é a violência na sociedade – pode ser
uma forma engenhosa de combater este mal que nos aflige de uma forma mais
intensa. Segundo MELO [11]: “A criminalidade do fim do século se caracteriza
por ser complexa; e é este o atributo que vai direcionar a forma precisa e eficiente
de combatê-la ou controlá-la”.
Assim o uso da gestão do conhecimento aliado a TI pode ser um diferencial
para a prevenção e o combate da criminalidade nestes novos tempos que exi-
gem ações que encerram uma ambivalência: ser enérgicas e ao mesmo tempo
sutis, ser determinantes e também presumíveis, ser antecipatórias, mas também
reativas.
Desnecessário dizer que para que se concretize, o investimento em tecno-
logia específica necessita ser de grande porte, garantindo condições de planeja-
mento nas ações e estas por sua vez, coroadas de êxito.

4. SISTEMA INTEGRADO DE CONHECIMENTO


NA SEGURANÇA PÚBLICA
Se constituindo em um subsistema dentro do sistema social, com hierar-
quias, leis e padrões de ações próprios, o universo do crime cresce a níveis quase
incontroláveis.
Cada vez mais organizado, o “setor do crime” se empenha em utilizar tudo
o que estiver ao alcance para dar continuidade às suas atividades.
Assim, a ação das autoridades se faz cada vez mais necessária e assertiva
para neutralizar ações que são investidas contra a sociedade. Conhecer o cenário
onde se desenvolve a criminalidade, o perfil de seus integrantes e a diversidade
dos padrões adotados, permite a elaboração de projetos de ação que podem ser
implementados imediatamente ou ações futuras.
A Segurança Pública, por suas características, se insere na compreensão de
sistemas proposta por ALVES [1], onde diz que “Um sistema é uma coleção de
objetos de alguma forma interligados ou interdependentes que leva a um todo
com alguma funcionalidade”.
A forma usual com que o governo vem atuando no problema pede uma
readaptação da estratégia e a utilização de formas mais eficientes de combate e
prevenção ao crime.
Para LAUDON [9], o conhecimento de sistemas de informação consiste
em três elementos: um conhecimento e uma habilidade prática com tecnologias
de informação; uma compreensão ampla de organizações e indivíduos, com

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Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

uma perspectiva comportamental; uma compreensão ampla de como analisar e


resolver problemas.
Buscando subsidiar as autoridades (federais, estaduais e municipais), as-
sim como os poderes constituídos (executivo, legislativo e judiciário), a aposta
é no cruzamento e análise das informações criminais e civis e na capilarização
das informações como forma de antecipar ações adversas, através da projeção
de cenários e posterior elaboração de estratégias para neutralizar as atuações
criminosas.
No âmbito do governo federal, vários esforços têm sido empreendidos na
gestão da informação para gerar o diferencial que faltava nas ações de seguran-
ça para combate da criminalidade. No âmbito estadual, alguns estados também
agem individualmente com este objetivo.
O estado de Santa Catarina é um deles com a criação do Sistema Integrado
de Segurança Pública (SISP) que tem no intere de suas ações a utilização de
um ambiente de inteligência para obter informações nos vários sistemas das
instituições da Secretaria de Segurança (PM, PC, DEAP, BM, DETRAN e
IGP).

5. OS SISTEMAS DAS INSTITUIÇÕES DA SSP


A Secretaria de Segurança Pública se caracteriza em um universo com-
posto por vários segmentos. Estrategicamente estruturado em subsistemas que
operam individual e independentemente, administra uma grande massa de
informações.
Para fazer jus a sua proposta de integração do sistema, no sentido mais
amplo do conceito que é “a integração de componentes e ações”, a SSP utilizou
os sistemas de informações das seguintes instituições para viabilizar o proje-
to de integração: informações da Polícia Militar; informações da Polícia Civil;
informações do Instituto Geral de Perícias, mais precisamente do instituto de
identificação; informações do Sistema Prisional; informações do Departamento
de Trânsito e informações do Corpo de Bombeiros Militar.
Cabe aqui uma descrição sucinta dos sistemas mencionados para garantir o
entendimento do funcionamento e utilização, além das informações encontradas
em cada um.
Importante ressaltar que os sistemas eram usados para auxiliar os afazeres
diários das instituições, ou seja, eram sistemas transacionais até certa forma
estanques que não realizavam o cruzamento das informações geradas. Assim,
os sistemas se furtavam em gerar conhecimentos interinstitucionais para as au-
toridades na tomada de decisão.

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CONeGOV 2009 | SHORT PAPERS

Um diferencial adotado para facilitar a interoperabilidade dos sistemas da


SSP é a base do Sistema Integrado de Segurança Pública (SISP) que está alicer-
çado em três pilares:
a) Índice de pessoas;
b) Índice de logradouros e
c) Padronização de dados.
Esta interoperabilidade vem reforçar a necessidade de compreen-
são da interdependência de ações dos vários subsistemas que compõem a
sociedade.

Figura 1. Alicerces do SISP.

a) O índice de pessoas é um dos principais controles do sistema, pois


é através deste controle que é garantido o critério de unicidade de pessoa nos
sistemas da SSP. O índice consiste basicamente na adoção de uma base onde
são inseridos os nomes das pessoas que fazem parte dos sistemas de registros e
processos de órgãos da SSP. Quando um sistema da SSP vai realizar a abertura
de um procedimento interno, o sistema começa a inserção através da consulta
na base de índice para verificar a existência do nome na base de dados. Uma
consulta através da digitação do nome da pessoa no sistema é realizada, onde o
computador verifica as pessoas que tem o nome com a mesma grafia digitada, e
também com a utilização de fonética. Depois da verificação o sistema devolve
o resultado da pesquisa e o funcionário verifica na lista a pessoa certa a ser
localizada.
O critério de aferição ocorre através da triangulação de dados, que é chama-
do de verificação do onomástico, para diminuir o número de respostas quando o
nome for muito comum. A verificação do onomástico é a verificação de algumas
variáveis como o nome da pessoa com a correta grafia ou fonética, nome da mãe,
data de nascimento e local de nascimento. Caso o funcionário, por alguma razão
tentar, inserir um nome já existente na base, o sistema, através do controle do
onomástico, informa que o individuo está cadastrado na base do índice, e forne-
ce uma mensagem perguntando se ele deseja inserir realmente o nome daquela
pessoa. Caso o funcionário resolva inserir é disparada uma mensagem contendo

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Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

a data, hora e local da inserção do nome no sistema. O controle de acesso remete


o nome da pessoa responsável pela inserção errônea e essas informações são en-
viadas para o setor de controle do índice, que toma as medidas necessárias para
realizar a junção da pessoa duplicada na base.
A verificação de onomástico é muito importante, pois garante a unicidade
de pessoas no sistema e faz com que todos os sistemas da SSP trabalhem com as
mesmas pessoas da base de índice. Por estar relacionado com pessoas o instituto
de identificação é o responsável pelo controle do índice de pessoas.
b) O índice de logradouros é um catálogo de endereços que vai auxiliar
na integração das informações, facilitando a utilização do geoprocessamento
das ocorrências das instituições e facilitando a representação em mapa dos aten-
dimentos e os delitos registrados entre outras informações. Desta forma cada
instituição poderá acompanhar as ocorrências por tonalidade e realizar o pla-
nejamento das ações de segurança com base nas informações de todas as ins-
tituições da SSP e não apenas de sua organização. Por exigir mobilidade para
verificação dos endereços antigos e inserção de novos a Polícia Militar será res-
ponsável pelo controle da base de logradouro.
c) O Controle de tabelas é outro ponto importante, já que ao optar por
um sistema integrado, as informações de um sistema devem possuir uma
tabela similar no outro sistema. Pode parecer injustificada essa afirmação,
mas devido à especificidade do serviço de atendimento em alguns siste-
mas da SSP, não basta apenas ter as informações tabeladas, elas podem ser
subdivididas em informações específicas em seus sistemas, tem de ocorrer
a utilização das informações de forma descentralizada. Entretanto é neces-
sário que as tabelas tenham ligações entre seus códigos para que seja possí-
vel extrair relatórios cruzando as informações e podendo gerar estatísticas
confiáveis.
As atividades transacionais que os sistemas executam diariamente geram
informações diversas de acordo com sua finalidade, conforme segue:

5.1 O sistema da Polícia Militar


A Polícia Militar realiza o atendimento das ocorrências através do Centro
de Operações da Polícia Militar (COPOM) utilizando sistema específico que
atende os chamados realizados pela população por meio do telefone.
As ocorrências são atendidas e informadas por rádio às viaturas que reali-
zam os atendimentos e retornam as medidas adotadas de acordo com a solução
que o problema necessita. Após o atendimento, as informações com as conclu-
sões são repassadas e inseridas no sistema, fechando o ciclo de atendimento. Os
tipos de ocorrências atendidas são inúmeros e de natureza diversa, tais como
auxílio á comunidade ou ocorrência criminal.

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CONeGOV 2009 | SHORT PAPERS

No registro da ocorrência ficam as informações da viatura que atendeu o


fato, os policiais que estavam presentes, as vítimas, os agressores ou testemu-
nhas dos fatos, o tipo de ocorrência que foi atendida, o local, a hora e o relato
sucinto do acontecido e o desfecho dado. O importante é que depois do encerra-
mento, as informações ficam armazenadas na base de dados do sistema e podem
ser utilizadas para subsidiar as análises posteriores.

5.2 O sistema do Corpo de Bombeiros


Similar ao sistema da Polícia Militar, o Corpo de Bombeiros Militar tem
um procedimento de atendimento que segue o mesmo padrão. O sistema re-
aliza a mesma forma de armazenamento de dados, mas as atividades atendi-
das, na sua maioria, são de auxílio à comunidade como socorro a acidente
de trânsito, busca e salvamento, incêndio e vistorias de funcionamento em
estabelecimentos.

5.3 O sistema da Polícia Civil


O sistema de atendimento policial é chamado de Boletim Informatizado
(BO Eletrônico). Neste sistema são registrados os boletins de ocorrências das
pessoas que se deslocam até as delegacias para prestar informações a respeito de
inúmeras denúncias e queixas, se caracterizando um número elevado de crimes.
As mais comuns são perda de documentos, furto, assalto, roubo e agressões.
O sistema tem a possibilidade de agregar fotos e outros documentos que serão
utilizados para dar subsídios às investigações.

5.4 O sistema do Departamento de Administração


Prisional – (DEAP)
O sistema de Identificação e Administração Prisional (I-PEN) é um sistema
que realiza o controle administrativo das unidades prisionais e a identificação
dos presos nas unidades do Estado.
O sistema foi concebido em módulos que fazem o cadastramento dos sen-
tenciados com foto e impressões digitais. Na parte de cadastro podem ser in-
cluídos os procedimentos judiciais, as visitas, os advogados e os pertences dos
presos. Existem ainda, os módulos que recebem outras informações. Como o
módulo hospitalar que recebe as informações referentes à saúde do preso confor-
me o CID (Classificação Internacional de Doenças) das doenças do Ministério
da Saúde, sendo possível inserir os remédios que os sentenciados utilizam e as
patologias; o módulo de remissão realiza o cálculo de dias trabalhados no mó-
dulo de laborterapia e desconta do restante da pena (conforme legislação a cada
três dias trabalhados diminui um dia da pena) a ser cumprida pelo sentenciado e

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Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

o módulo de comunicação é responsável pelo monitoramento das cartas que são


trocadas entre os presos e os familiares.

5.5 O Sistema do Departamento Estadual de Trânsito


(DETRAN)
O sistema do Departamento Estadual de Trânsito – DETRAN realiza todos
os procedimentos administrativos e operacionais dos veículos e das habilitações.
Neste sistema são registrados todos os veículos e, no decorrer da vida útil em cir-
culação, as alterações de trânsito e tributos também são controlados pelo sistema.
Na parte das habilitações são cadastradas as pessoas que adquirem as permissões
e futuramente as carteiras permanentes de habilitação para condução de veículos
automotores. O sistema auxilia os funcionários a controlar a frota em circulação e
as pessoas habilitadas, além de controlar a receita do DETRAN através das guias
de recolhimento pagas pelos serviços solicitados pela população.

5.6 O Sistema de Laudos Periciais Eletrônicos


O sistema de laudos periciais eletrônicos está na fase de projeto e vai possi-
bilitar que os peritos criminais confeccionem seus laudos em um sistema espe-
cialista e os disponibilizem eletronicamente para serem anexados aos inquéritos
policiais e processos judiciais. Com esse sistema será possível agregar o legado
existente através da gestão eletrônica de documentos e com a consolidação do
sistema, no futuro, programar um sistema baseado em caso para dar subsídio aos
peritos na formulação de laudos.

6. GESTÃO DA INFORMAÇÃO NA
SECRETARIA DE SEGURANÇA PÚBLICA
O sistema de gestão da informação na SSP consiste na seleção dos dados rele-
vantes nos vários sistemas das instituições que a integram, como apresentado, por
um grupo de coordenação do processo, sendo armazenado em uma base de esta-
giamento e tratamento das informações. Na base, as informações são armazenadas
em tabelas do banco de dados e o sistema realiza o tratamento das inconsistências,
organizando os dados para posterior consulta. Devido à disparidade encontrada nas
tecnologias existentes nas organizações, alguns sistemas foram desenvolvidos e ou-
tros reestruturados para se moldar à filosofia da gestão de informação adotada.
Para garantir a segurança no processo, a Diretoria de Informação e
Inteligência gerencia o processo de gestão das informações, disponibiliza as
informações inter instituições aos órgãos e controla os acesso as informações,
valendo-se da legislação vigente da atividade de inteligência.

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CONeGOV 2009 | SHORT PAPERS

O sistema realiza a leitura na base de dados de acordo com a solicitação e faz


a apresentação dos dados de forma organizada e assim gerando um valor agregado
às informações que são cruzadas entre as instituições. O sistema evita que um
analista de segurança tenha que entrar em vários sistemas e realize o cruzamento
dos dados de forma manual. Tudo é realizado de forma automatizada graças às
inferências que foram incutidas no sistema que a fazem com que apenas as infor-
mações relevantes para o emprego na tomada de decisão sejam cruzadas, já que a
metodologia de cruzamento das informações foi modelada com base nos conhe-
cimento dos analistas. A visualização pode ser feita através de relatórios ou redes
de relacionamentos, denominada árvore hiperbólica (ou rede de relacionamento).
Esta forma de exibição facilita a visualização e análise, pois apresenta as
informações agrupadas por instituição. Como exemplo pode-se verificar as in-
formações do registro de ocorrência, passagens por estabelecimentos prisionais
e perícias, e são apresentadas de forma simultânea não havendo necessidade do
analista de segurança entrar em vários sistemas despendendo tempo na procura
de suspeitos. Outra forma de utilização que está em estudos é através da refe-
rência cruzada de dados de órgãos distintos para auxiliar no planejamento com
o geo-processamento em mapas das ocorrências atendidas pelas várias institui-
ções da SSP.
Embora o sistema da SSP já esteja em funcionamento, ele está longe de ser
considerado completo, pois a gama de informações que poderão ser agregadas
fará com que a ferramenta se torne o ícone nas investigações, operações de in-
teligência e planejamento das ações de Segurança Pública. Ela vai possibilitar
a busca de informações em instituições internas e nos órgãos externos a SSP e
através das inferências gerar conhecimentos para o emprego eficiente dos recur-
sos na segurança da sociedade. O passo seguinte, após a incorporação das in-
formações, é o convênio de interação on-line com o judiciário. Exemplificando,
informações dos mandados de prisões ou outros processos, serão cruzadas com
informações dos parentes que visitam nos presídios como forma de delimitar a
área de busca de um possível fugitivo.
Sem extrapolar as funcionalidades que uma ferramenta deste porte pode
disponibilizar para a segurança pública, também podem ser agregadas infor-
mações coletadas das empresas de serviço como água e luz. Esta possibilidade
vem reforçar a condição de interdependência de todas as atividades dentro do
sistema “sociedade”.

7. PLANEJANDO A UTILIZAÇÃO
DA INFORMAÇÃO
O planejamento na utilização da informação passa por uma série de estraté-
gias que devem seguir algumas premissas:

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Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

1) Confidencialidade: garantia de que os dados a serem utilizados sejam


acessados apenas por quem tenha autorização para fazê-lo;
2) Integridade: confiança da exatidão das informações e que ela seja o
mais completa possível;
3) Disponibilidade: segurança para quando os usuários autorizados tive-
rem necessidade de acessar as informações, que elas estejam disponí-
veis de forma oportuna e com ferramentas analíticas.
Uma exemplificação simples de interdependência das ações no universo
da segurança pública está no estabelecimento de linha hierárquica de ação que
deve abastecer a base com soluções para aumentar a eficiência. Contudo, para
que ocorra o fornecimento destas soluções, a base deve alimentar a equipe de
comando com informações relevantes das demandas a serem sanadas para oti-
mização do desenvolvimento dos trabalhos.
Assim, acontece um processo de realimentação constante do fluxo das in-
formações que são usadas em prol da instituição, a fim de atenuar possíveis erros
de concepção na gestão da informação e na conversão desta em conhecimento
reutilizável. A Figura 02 apresenta este processo.

Figura 2. Fluxo de informações.

As informações apresentadas pela base operacional auxiliam na ideali-


zação do sistema de inteligência para tomada de decisão. Os sistemas tran-
sacionais, utilizados nas instituições pela base operacional, em sua maioria,
são ferramentas que executam o registro e o controle das rotinas diárias.
As informações são depositadas nos bancos de dados idealizados, na sua
maioria, para apresentarem relatórios simples sem que ocorra o cruzamento das
informações internas e também externas à instituição. O cruzamento dos dados

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CONeGOV 2009 | SHORT PAPERS

e informação entre sistemas faz com que sejam gerados novos conhecimentos
oferecendo uma visão holística do arcabouço analisado.
O sistema de inteligência auxilia na exploração e análise das informações
gerenciais e táticas das instituições públicas e privadas. Sem produzir novas
informações, mas criando visões ou perspectivas administrativas e operacionais
diferenciadas para aplicações e atuações eficientes.
O sistema de inteligência agiliza o acesso aos dados, gerando rapidez para
coordenação por não haver necessidade de utilizar muitos sistemas para obter as
informações necessárias, possibilitando uma análise mais consistente dos dados
obtidos. Em conseqüência, o gestor da informação pode agir de maneira mais
confiável com auxílio da tecnologia, como enfatiza DINIZ: “[...] uma das prin-
cipais formas de modernização do estado é resultado do uso estratégico e inten-
sivo das tecnologias de informação e comunicação (TIC), nas relações internas
dos próprios órgãos de governo e também das relações do setor público com os
cidadãos e as empresas [...]” [5].
Dentro desse processo de informatização das instituições, através da ado-
ção de um sistema que possibilite o cruzamento dos dados é fundamental res-
peitar as autonomias tecnológicas dos setores, órgãos ou instituições. Haja vista
que uma das vantagens proporcionada pela nova era do conhecimento é a possi-
bilidade de integrar as mais variadas bases de dados às diversas tecnologias do
mercado.
Com um bom estudo é possível cruzar as informações com base nas
inferências dos analistas fazendo com que os resultados sejam exibidos de
forma dinâmica aos usuários finais. A figura 03 representa a arquitetura do
sistema.

Figura 3. Inteligência Artificial e Gestão do Conhecimento.

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Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

Entretanto, para chegar ao estágio do processo de desenvolvimento de um


sistema de inteligência voltado à gestão da informação e produção do conheci-
mento, algumas etapas não podem ser negligenciadas, como as expostas a se-
guir, mas não necessariamente nessa ordem, pois a ordem dependerá da parte do
processo no qual o órgão se encontre.
• Etapa de Implementação do Software: Estabelece a estratégia de imple-
mentação de migração e adoções de soluções com base em softwares
específicos, previamente analisados e em conformidade com o objetivo
pretendido.
• Etapa de Inclusão Digital: Estabelecem diretrizes e coordenação estra-
tégicas das ações institucionais de controle das informações.
• Etapa de Integração de Sistemas: Estabelece procedimentos e formas
para integração de sistemas dos órgãos do governo.
• Etapa de Sistemas herdados e Permissões de uso: Estabelece critérios
para a evolução dos sistemas herdados, além das formas e normas para
a renegociação de contratos com grandes fornecedores, visando à redu-
ção de custos e diminuição da dependência.
• Etapa de Gestão de Sites e Serviços On-line: Estabelece formas e polí-
ticas para integração e otimização dos serviços e informações on-line
prestados pelo governo.
• Etapa de Infra-Estrutura de Redes: Estabelece o levantamento e cria-
ção das infra-estruturas de rede existentes, visando à integração (voz,
dados e imagem) do governo.
• Etapa Governo para Governo: Estabelece a criação de formas de in-
tegração das aplicações inter e intra-órgãos dos entes da federação,
estados, municípios e demais poderes.
• Etapa de Gestão do Conhecimento e Informação Estratégica: Estabelece
a análise e criação de formas para a geração e gestão de bases de co-
nhecimento das instituições para gerar o conhecimento estratégico.

8. CONCLUSÃO
Como apresentado, a SSP tinha em suas instituições sistemas que reali-
zavam o armazenamento das rotinas diárias dos serviços prestados à comuni-
dade. Mas com a nova visão, pautada na difusão e utilização do conhecimento
e na gestão da informação, a secretaria dá um salto de qualidade realizando a
integração de suas informações através da utilização de um sistema de traba-
lho, realizando cruzamento das informações com relacionamento através de
redes. Esta tecnologia auxilia na visualização das informações e na análise do
cruzamento.
Os sistemas de segurança têm em suas premissas captar e armazenar infor-
mações essenciais para garantir a segurança da sociedade. Neles devem constar,
além de dados individuais, dados que quando cruzados e analisados, indiquem

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CONeGOV 2009 | SHORT PAPERS

cenários, apresentem rotinas e “modus-operandi”, ou ainda, permitam traçar um


perfil da criminalidade de forma setorizada, mas gerando uma visão holística
para as autoridades traçarem as formas de combate aos criminosos e desenvolver
de forma eficiente as políticas de segurança pública.
No sistema brasileiro, o Ministério da Justiça tem desenvolvido ações que
buscam atingir objetivamente a estruturação de sistemas de informação que se-
jam integrados aos sistemas de segurança de cada Estado. O objetivo é garantir
que a partir das informações e da sua gestão, seja possível gerar conhecimento
que possa apoiar a tomada de decisão e realizar a modelagem de estratégias de
ação.
A SSP de Santa Catarina tem canalizado esforços para utilizar a engenha-
ria do conhecimento na gestão da informação para gerar condições efetivas de
combate à criminalidade.
A criação do Sistema Integrado de Segurança Pública (SISP), que tem no
âmago de suas ações a utilização de um ambiente de inteligência para obter
informações nos vários sistemas das instituições que fazem parte da SSP para
gerar conhecimento efetivo. Esta é uma iniciativa reconhecida nacionalmente, e
que vai ao encontro das urgências da sociedade, apoiada nas tecnologias vasta-
mente desenvolvidas e disponibilizadas.

REFERÊNCIAS
ALVES, J. M. Bosco. Teoria Geral de Sistemas. Preprint 2006.
BRASIL. Ministério da Ciência e Tecnologia. Sociedade da informação no Brasil – livro
verde. Brasília, 2000.
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cultura. v. 1; 8. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1999.
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LUDON, Kenneth C., LAUDON, Jane Price. Sistemas de Informação com Internet. 4.
ed. Rio de Janeiro: LTC, 1999
MÁXIMO, Alexandre A.. A importância do mapeamento da criminalidade utilizando-se
tecnologia de sistema de informação geográfica para auxiliar a segurança pública

553
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

no combate à violência. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção).


PPGEP, Universidade Federal de Santa Catarina, 2004.
MELO, Ronidalva Andrade de. Repressão à Violência de Proteção de Direitos. Junho,
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SENGE, Peter M. A quinta disciplina: arte e pratica da organização de aprendizagem.
22. ed. rev. e ampl Rio de Janeiro: Best Seller, 2006. 443p. ISBN 8571236216
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ROVER, Aires José. Governo eletrônico: quando a tecnologia faz a diferença.
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Graduação em Engenharia de Produção da Universidade Federal de Santa Catarina,
Florianópolis: UFSC, 2003.

554
MUNICÍPIO 2.0: USO DE FERRAMENTAS
COLABORATIVAS PARA PARTICIPAÇÃO
POPULAR E TRANSPARÊNCIA PÚBLICA

Thiago Paulo Silva de Oliveira


Instituto i3G
Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento
thiago.paulo@i3g.org.br

Hugo Cesar Hoeschl


Instituto i3G
Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento
hugo.hoeschl@i3g.org.br

Sonali Paula Molin Bedin


Instituto i3G
Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento
sonali.bedin@i3g.org.br

Tânia Cristina D’Agostini Bueno


Instituto i3G
tania.bueno@i3g.org.br

RESUMO

Reformas administrativas promovidas pelos governos buscam aumentar a eficiência da


gestão pública através da maximização dos recursos investidos, seja através da alteração
da estrutura administrativa, seja através da alteração da estrutura de custos pelo uso de
tecnologia. O uso de tecnologia permite que organizações atinjam seus objetivos com
prazos e custos inferiores, quando comparadas a realização de trabalhos manuais. Porém,
o uso de tecnologias pelos governos não acontece de maneira convergente, visualiza-
se o uso mais intensivo de tecnologias pelos Governos Federal e Estadual, porém não
evidencia-se, em mesma proporção, o uso de tecnologias pelos governos locais. A baixa
dotação orçamentária e a baixa cultura tecnologica de governos locais inibem a realização
de projetos capazes de aumentar a transparência das contas públicas e a participação
popular em processos decisórios. Desta forma, pautado em ferramentas colaborativas
gratuitas, de fácil utilização pelos usuários de internet, este artigo tem por objetivo
apresentar o potencial de utilização de ferramentas WEB 2.0, por governos locais, para
promoção da transparência pública e participação popular.

PALAVRAS-CHAVE

Gestão Pública Local, Governo Eletrônico, Democracia Eletrônica, WEB 2.0

555
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

1. INTRODUÇÃO
O crescente uso das tecnologias propõe uma nova relação entre governo e
cidadãos. O Governo Eletrônico conceitualmente baseia-se no uso da tecnologia
da informação para auxiliar as ações governamentais em suas diferentes instân-
cias, G2G (governo para governo), G2C (governo para cidadão), G2B (governo
para negócios). Acompanhando a literatura corrente, é possível identificar que
estudos recentes têm demonstrado a importância da descentralização das ativi-
dades do Estado e os benefícios que podem advir desta descentralização.
Apoiado em estruturas bastante formais e rígidas, o Estado se categoriza
em três esferas que tem padrões próprios e relações diferentes com o cidadão.
Estas relações tanto podem estar voltadas à prestação de serviços como à intera-
ção, permitindo maior participação do cidadão na tomada de decisão.
Apesar do crescente uso da tecnologia no suporte às ações governamentais
com foco na sociedade brasileira, verifica-se que poucas são as soluções voltadas
especificamente para a interação entre governo e cidadãos e para o pleno exercí-
cio da cidadania, além do aumento da transparência pública.
As ações no âmbito do governo para o cidadão encontram-se bastante limi-
tadas a sites informacionais e prestação de serviços on-line geralmente ligados
ao pagamento de tributos, considerando que as tecnologias emergentes e dispo-
níveis possibilitam um leque bastante amplo de aplicações indo ao encontro dos
princípios do e-gov.
Por essa razão, pautados nos conceitos da WEB 2.0, e buscando fortalecer
os laços de cidadania entre o governo e o cidadão, governos locais, predomi-
nantemente em países desenvolvidos, investem em tecnologias que facilitam a
interação entre o gestor e o cidadão.
Nesta perspectiva, o uso de ferramentas tecnológicas, em especial aquelas
desenvolvidas para a internet, permitem maior aproximação do gestor público
com o cidadão, pois além do acesso a informações e serviços, a rede mundial
de computadores também permite a realização de debates com vista a proposta
de ações e programas, fornecendo informações estratégicas para a tomada de
decisão pública.
A participação do cidadão através de ferramentas online é definida
como democracia eletrônica (e-Democracia), pois o cidadão intervém em
processos decisórios através da internet, ou sistemas online. As principais
ferramentas utilizadas pelos gestores são baseadas em serviço de email,
redes de relacionamento, blogs e fórum, permitindo amplo debate entre os
gestores e o cidadão.
Este artigo pretende avaliar o potencial uso de ferramentas colaborativas
por gestores públicos locais na tentativa de promoção da participação popular e
aumento da transparência das ações e contas públicas.

556
CONeGOV 2009 | SHORT PAPERS

Os autores utilizaram a pesquisa exploratória visando identificar ferramen-


tas colaborativas que podem ser utilizadas para auxiliar a interação gestor públi-
co/cidadão. A pesquisa exploratória, associada à revisão bibliográfica, forneceu
a fundamentação teórica para o trabalho e permitiu que os autores identificas-
sem as ferramentas colaborativas de potencial uso pelos gestores públicos.
O estudo está apoiado na identificação e abordagem de artigos, manuais
técnicos e livros que tratam dos temas acima, procurando evidenciar a forma
como eles estão inseridos na atual sociedade.

2. GOVERNO ELETRÔNICO
Ainda dando seus primeiros passos, o governo eletrônico vem se consoli-
dando através de iniciativas de sucesso quanto à utilização dos recursos tecno-
lógicos disponíveis na web.
No âmbito das aplicações na administração pública, várias iniciativas têm
sido tomadas nas três esferas de governo, sendo que independem entre si. Esta
polaridade de ações vem comprovar a imobilidade do Estado em relação à te-
mática, notadamente oposta às ações da iniciativa privada no que se refere a
utilização das tecnologias de informação e comunicação.
A definição de governo eletrônico ainda carece de consolidação conceitual.
Comumente entende-se como a utilização da tecnologia da informação para o
acesso do cidadão aos serviços e melhorar o fornecimento destes para os cida-
dãos. HOESCHL (2002, pag. 8) teoriza que “governo eletrônico” não se resume
nem a portais nem ao poder executivo. Para o autor, diversos são
os efeitos positivos do governo via bits: melhoria da qualidade, segurança
e rapidez dos serviços para o cidadão; simplificação dos procedimentos e
diminuição da burocracia; avanço da cidadania; democracia da informa‑
ção; transparência e otimização das ações do governo; educação para a
sociedade da informação; facilidade de acessar o governo; integração das
informações para o cidadão; geração de empregos na iniciativa privada;
otimização no uso e aplicação dos recursos disponíveis; integração entre
os órgãos do governo; aproximação com o cidadão; desenvolvimento do
profissional do serviço público; aperfeiçoamento dos modelos de gestão
pública; universalização do acesso da informação.
Para Pacheco, Kern e Steil (2007), o governo eletrônico é o instrumento
que habilita a transição do governo da era industrial para o da sociedade da
informação.
Iniciativas de governo eletrônico têm fornecido subsídios para ampliação
das práticas democráticas necessárias à modernização das organizações públicas
e a transparência nas ações do Governo. Estas aplicações de e-gov concretizam
a democratização do poder público e garantem o pleno exercício da cidadania.

557
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

Segundo Garcia e Hoeschl (2003), governo eletrônico pode ser definido


como a nova dinâmica da gestão do poder público através do uso da tecnologia
da informação, visando ampliar a cidadania pela possibilidade de agilização e
transparência na gestão interna, além de oportunizar a melhoria na integração
com a sociedade e o mercado.
Consolidando o entendimento de e-gov, adota-se Hoeschl (2003) onde a for-
ma de interação entre o governo e os cidadãos no ambiente virtual, se converten-
do em um fator de promoção do exercício da cidadania.
A Internet teve papel fundamental no processo de globalização por permitir
a integração de informações, a baixo custo, de forma quase instantânea ao redor
do mundo. Porém, ela ainda não é utilizada como suporte à crescente necessi-
dade de comunicação entre o cidadão e seus representantes, muito embora ela
ofereça um ambiente onde cidadãos e gestores públicos têm a oportunidade de
diálogo direto, sem a necessidade de intermediação de outros agentes, viabili-
zando questões que dependam apenas direta, ou indiretamente, da participação
do cidadão (MÄRKER, 2000).

2.1 Democracia eletrônica


Antes de conceitualizar e-Democracia, é preciso entender o conceito de
democracia, que remete a idéia de um Estado que assegura aos seus cidadãos
o efetivo exercício dos seus direitos civis e políticos, bem como os direitos eco-
nômicos, sociais e culturais, que são indispensáveis para proclamação daqueles
direitos (MENDES, 2008). Pode-se complementar com a idéia de conjunto de
regras que estabelecem os procedimentos que devem ser adotados para a tomada
de decisão, bem como seus responsáveis.
O ideal democrático é próprio da natureza humana, sendo difícil imaginar
um futuro longe desses ideais. Desde a Grécia antiga, nas “polis”, discute-se for-
mas de governar em parceria com a sociedade (GARCIA E HOESCHL, 2003).
Desta forma, a democracia pode ser vista como um regime onde o poder é exer-
cido por muitos, sendo que a vontade geral é convertida em decisão política.
Democracia eletrônica é vista como a expansão do governo eletrônico, sen-
do que este é um meio para se atingir aquela, sendo definida como uma nova for-
ma de democracia onde o uso das TIC’s promoverá a capacitação dos cidadãos e
sua participação na elaboração, debate e votação de propostas a fim de acelerar
um processo que levará a uma inédita sociedade democrática (Lan, 2005).
Boyd (2007, p. 401) trata a democracia eletrônica como o processo de “de‑
mocratization of democracy” onde o uso de tecnologias é essencial para promo-
ção da participação do cidadão na vida política.
Segundo Maciel (2008, p. 16), democracia eletrônica pode ser definida
como:

558
CONeGOV 2009 | SHORT PAPERS

o uso de TIC’s e de Comunicação Mediada por Computador (CMC) para


intensificar a participação ativa dos cidadãos e dar suporte à colaboração
entre os diversos atores, tais como cidadãos, governos, sociedade civil,
entre outros, na elaboração de políticas públicas.
Desta forma, a democracia eletrônica deve ser vista como o uso de tecno-
logias de comunicação e informação em prol do maior relacionamento entre o
cidadão e o gestor público, visando participação nos processos deliberativos e
decisórios que interfiram diretamente no seu cotidiano.
Essa característica de relacionamento entre usuários de internet, aqui carac-
terizados pelo cidadão e o governante, remete ao conceito de comunidades de
prática que, segundo Davies et. all (2004, p. 37):
Communities of practice are groups within (or sometimes across) organi‑
sations who share a common set of information needs or problems. They
are typically not a formal organisational unit but an informal network,
each sharing in part a common agenda and shared interests or issues.
Ainda segundo os autores, as organizações têm apoiado o uso de comuni-
dades de prática pela interação entre as pessoas em um local virtual e flexível
apoiado por tecnologias da internet.
Muitos autores tratam a democracia eletrônica como uma forma de reinsta-
lar a democracia ateniense, porém este artigo utiliza o conceito de democracia
eletrônica como instrumento para reduzir a distância entre o cidadão e a deci-
são política, e não como uma forma de decisão direta pelo cidadão em todas as
questões relacionadas à sociedade, que é tratada por muitos autores como e-voto
(MAMBREY, 2004; MACINTOSH, 2002).
Participação Eletrônica (e-Participação) é outro conceito que se confunde
com Democracia Eletrônica. Para Rasmussm et al. (2006), o conceito de partici-
pação eletrônica está associado à parceria entre o governo e o cidadão na busca
por informações e no processo de decisão.
Moody (2007) complementa ao afirmar que a participação eletrônica cor-
responde à criação de canais de comunicação mais eficientes entre o cidadão e
o gestor público, com o intuito de aumentar a democracia quando as pessoas
tiverem autorização para votar.
A participação eletrônica deve ser vista como o uso potencial de ferramen-
tas de informação e comunicação para transformar as relações entre os cidadãos
e os governantes, que deve ser construído com a evolução do modelo clássico de
democracia (EKELIN, 2006).
A UNPAN (2008, p. 18) define o processo de participação eletrônica em
três níveis:
• e-Informações: O governo oferece um portal de informações contendo
as diretrizes das políticas públicas, programas, ações, leis, orçamento

559
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

fiscal e outras informações de interesse público. Essas informações são


disseminadas entre os cidadãos através do portal e de outras ferramen-
tas, tais como: redes de relacionamento, blogs, fóruns na web, grupos
de notícias e listas de email;
• e-Consulta: O governo oferece um portal com ferramentas que pos-
sibilitam a consulta eletrônica, permitindo definir agendas de debate.
O governo também garante a comunicação direta entre o cidadão e os
gestores, além de arquivar todos os documentos para servir de feedba‑
ck aos cidadãos;
• e-Tomada de Decisão: O governo abre um canal de comunicação direto
com o cidadão, que tem a possibilidade de debater e tomar decisões
em conjunto, onde o governo trás o cidadão para dentro da esfera da
decisão. O governo também deve fornecer feedback aos cidadãos, após
decidir com base nos debates realizados.
O processo de participação popular via internet já pode ser considerado
como parte do presente e o futuro do sistema democrático, sendo hoje apenas
uma opção ao atual processo democrático, e não um substituto, pois os meios de
comunicação entre o cidadão e o gestor público não estão disponíveis em 100%
dos lares, especialmente o Brasil.

3. WEB 2.0: FERRAMENTAS COLABORATIVAS


O conceito de Web 2.0 é utilizado para descrever uma suposta segunda ge-
ração da world wide web, pois muitos autores discordam dessa afirmação. O
certo é que a Web 2.0 é caracterizada por uma tendência centrada no conceito
de troca de informações e colaboração entre os usuários da internet através de
websites e serviços online, sendo que essa troca de informações é organizada de
acordo com idéias e conceitos (LYTRAS, 2009). Segundo Gibson (2008, p. 331)
The term Web 2.0 has come to refer to the next generation of the Web which
is characterized by awareness, participation, real-time interaction, col‑
lective intelligence, and access to and presentation of data. The Web has
moved from publishing to participation. No longer is it sufficient to provide
p.es of static information; Web 2.0 allows for and encourages interactivity
and inclusion.
Desta forma, a Web 2.0 se configura como um ambiente dinâmico e inte-
rativo onde os usuários são responsáveis pela organização do conteúdo. O uso
das tags, uma espécie de palavra chave que associa um termo a uma informação,
corresponde à forma mais usual de organização do conteúdo pelos usuários em
websites 2.0. Em websites estáticos, o conteúdo é organizado pelo responsável
ou desenvolvedor. Atualmente, em websites 2.0, o conteúdo é organizado e clas-
sificado pelo usuário através de tags, que gera uma taxonomia onde o conteúdo
é organizado por categorias.

560
CONeGOV 2009 | SHORT PAPERS

Essa verdadeira mudança na forma de utilizar a internet não aconteceu


por acaso. Hoje, os websites possuem uma estrutura muito mais robusta,
deixando para trás um ambiente estático, hoje se assemelhando aos apli-
cativos no servidor. Para Herrington (2008) o que caracteriza a Web 2.0 é
a ênfase na interatividade, representada pelas comunidades, e a ênfase nos
serviços web. Morato et al. (2008), fornece algumas informações a respeito
da Web 2.0.

Tabela 1. Algumas características da Web 2.0.

Origem Surgiu com a evolução natural da Web


Disseminação Muito Alta
Coordenação Inexistente
Foco Pessoas
Primeira citação 2003, primeira conferência em 2004
Linguagem livre com uso de folksonomias (marcação
Expressão de dados e palavras-chave em linguagem natural por
meio de tags). Problemas de sinonímia e polissemia.
Descrição de recursos para melhorar a distribuição gratuita
Algumas
dos serviços, arquitetura colaborativa, alta usabilidade e
Características
quanto maior a utilidade de um recurso, mais utilizado ele é

Fonte: Morato et al. (2008)

Como visto, o fenômeno da Web 2.0 ainda é muito recente, se comparada às


tecnologias já existentes para a Web, porém o foco nas pessoas, a alta usabilida-
de, a organização de conteúdo por usuários e a arquitetura colaborativa auxiliam
para sua rápida disseminação.
As ferramentas de desenvolvimento também sofreram alterações, pois a
interface com o usuário precisa ser mais eficiente para proporcionar uma na-
vegação mais intuitiva. Os sites desenvolvidos sob o conceito Web 2.0 também
se mostram mais adaptados a outros dispositivos de acesso, tal como celular.
Segundo Lee et al. (2008, p. 336)
Technologies such as AJAX, RSS, XML, and web APIs, and platforms such
as podcasting, social networking, and user generated content, all have
specific definitions. Any combination of these technologies and platforms
are tools that can be used [...] as developing new products and services,
offering better support for existing products and services, increasing
customer satisfaction, and attracting new customers.
A versão beta é outra característica comum aos serviços Web 2.0, pois
a constante utilização e o feedback dos usuários, associado ao surgimento
de novas tecnologias, denotam a necessidade de evolução ininterrupta, caso
contrário o serviço fica obsoleto e é substituto com bastante velocidade por
outro.

561
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

Outra característica bastante marcante da Web 2.0 corresponde à facilida-


de na publicação de conteúdo, pois a tecnologia utilizada, muito mais flexível,
permite que qualquer usuário consiga publicar conteúdos ou documentos, uma
atividade antes restrita aos profissionais da área. Abaixo, um subtópico que con-
tém uma relação de serviços Web 2.0 que podem ser utilizados para promoção
da interatividade entre governo e cidadão.

3.1 Serviços web 2.0


a) Blog: O blog é uma espécie de site que possui uma estrutura dinâmica
que permite a atualização rápida de informações por meio de acréscimos textu-
ais, chamados de artigos, ou “posts”. A organização do conteúdo e a estrutura
do blog são definidas pelo usuário, sendo que as tags são utilizadas para definir
informações, e seu conteúdo publicado de forma cronológica inversa. A inserção
de novas informações é muito simples, basta fazer autenticação no website e
preencher os campos relacionados ao título e ao texto da manchete. O serviço se
configura como um excelente canal de comunicação, pois além de disseminar a
informação, ele também permite a criação de comentários de quem às lê.
b) Enquete: Funcionam como uma forma de inquérito estatístico que per-
mite colher informações quantitativas através da escolha de respostas previa-
mente estruturadas e padronizadas. As enquetes, nada mais são do que votações
online, onde o usuário pode escolher uma opção de resposta dentre as opções
disponíveis, sendo uma forma rápida e prática para tabulação de dados de gran-
des amostras. Os governos podem utilizar essa ferramenta para fazer consultas
junto à população.
c) Flickr: O Flickr disponibiliza o serviço de hospedagem e comparti-
lhamento de imagens (fotos, gráficos, desenhos, ilustrações, etc.), além desse
serviço, o Flickr se caracteriza como uma rede social que permite a criação de
álbuns e o contato entre os usuários das mais diversas partes do mundo, pois
muitos álbuns podem ter alguma afinidade. O Flickr é um serviço clássico da
Web 2.0, dado o seu nível de interatividade. O serviço pode ser utilizado para
disponibilizar a população imagens sobre a cidade.
d) Fórum: Os fóruns de internet são serviços web que possibilitam a
criação de debates entre usuários. Eles se caracterizam como uma opção mais
interativa ao blog, onde os diversos usuários podem debater determinado tema.
A estrutura simples também facilita a postagem de comentários. Os fóruns são
utilizados por gestores que desejam debater, junto à sociedade, assuntos relacio-
nados à criação de políticas públicas.
e) Twine: O Twine é um serviço web que permite a organização e o com-
partilhamento de informações disponibilizadas na web. O usuário organiza
suas informações através das tags, que permitem agrupar usuários de acordo
com as tags mais utilizadas. Da mesma forma, o Twine possui um sistema de

562
CONeGOV 2009 | SHORT PAPERS

recomendações, onde quanto mais o usuário acessa o serviço, mais o serviço


sabe sobre suas preferências, propondo informações de seu interesse.
f) Twitter: O Twitter é uma rede social e servidor para microblogging,
que é utilizado por usuários que necessitam fazer constantes e pequenas atuali-
zações de informações. Como é um serviço de microblogging, o Twitter permite
apenas a inserção de texto com limite de 140 caracteres, que pode ser enviado
via Systems Management Server (SMS), mensageiro instantâneo, e-mail, site
oficial ou programa especializado (Really Simple Syndication). As atualiza-
ções serão exibidas no perfil do usuário e também podem ser enviadas a outros
usuários que tenham assinado para recebê-las O serviço pode ser utilizado por
gestores para disseminação de informações de pequenos projetos, mantendo o
cidadão atualizado.
g) Youtube: O youtube é um serviço web que permite ao usuário acessar
e publicar vídeos. Em geral, são vídeos relacionados ao entretenimento (clip,
show, partes de filmes), mas que também permite a publicação de vídeo pessoal.
O youtube também permite a criação de canais, onde o usuário pode disponibili-
zar em um endereço fixo todos os seus vídeos. Esse serviço é utilizado pelo pre-
sidente dos Estados Unidos e pelo primeiro ministro da Inglaterra para se comu-
nicar com a população. O Serviço também permite a postagem de comentários.
h) Wiki: O wik” é um serviço colaborativo da Web 2.0 que permite a
edição coletiva de documentos através de um sistema online. A principal carac-
terística desse serviço corresponde à facilidade com que as páginas são criadas e
alteradas, pois geralmente não há qualquer revisão ou necessidade de aceite por
moderadores. Desta forma, qualquer usuário da internet, mesmo sem a necessi-
dade de registro, pode acessar um serviço de Wiki e editar o conteúdo.

4. PROPOSTA DE MUNICÍPIO 2.0


Pesquisadores e organizações de todo mundo publicam estudos eviden-
ciando a importância da descentralização das atividades do governo e dos be-
nefícios que a maior autonomia dos governos locais pode proporcionar (CDG,
2000; OCDE, 2005; SWINBURN, 2006). Entretanto, mesmo sendo uma região
de menor proporção, se comparado aos Estados ou a União, governos locais
enfrentam dificuldades semelhantes no processo de interação com a sociedade
(OLIVEIRA, 2006).
Pinto (2004, pág. 111) conclui sobre a questão da representatividade em
processos deliberativos, onde o ponto principal não corresponde a eficácia de
grupos representativos, mas sim na construção de instrumentos capazes de apro-
ximar os cidadãos da política institucional:
A teoria normativa da democracia participativa não parece ter desenvol‑
vido um arcabouço institucional capaz de assegurar realmente o processo

563
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

democrático, isto é, não criou pesos e contrapesos capazes de evitar as


distorções no processo participativo, como, por exemplo, a superpartici‑
pação de um grupo ou uma hipertrofiada presença do Estado na organi‑
zação da participação. [...] parece mais razoável pensar que a resposta
não se encontra na restrição das possibilidades, mas na capacidade de
desenvolver instrumentos de interação entre a sociedade civil e a política
institucional.
De forma concomitante, Amartya Sen (2000), em seu livro Desenvolvimento
com Liberdade, aborda a questão das liberdades instrumentais, que contribuem
para melhoria do bem estar dos cidadãos e, conseqüentemente, servem de via ao
desenvolvimento. O autor aborda cinco tipos de liberdade, classificadas como
instrumentais: Liberdades Políticas, Facilidades Econômicas, Oportunidades
Sociais, Garantias de Transparência e Segurança Protetora.
Destas, a Liberdade Política merece atenção especial, pois está relacio-
nada à forma como o Estado garante a participação do cidadão junto aos seus
representantes, “abarcando oportunidades de diálogo político, dissensão e crí-
tica, bem como direito de voto e seleção participativa de legisladores e execu-
tivos” (SEN, 2000, p. 55). A Garantia de Transparência é outro tipo de liber-
dade que merece atenção, pois corresponde ao acesso as informações sobre as
diretrizes e projetos públicos, bem como a publicação das contas do governo,
pelo cidadão.
Ainda segundo o autor, agora em seu livro Sobre Ética e Economia (1999),
os cidadãos devem ter poder de influência sobre a administração pública local,
aumentando os níveis de participação democrática para garantir uma ampla dis-
cussão sobre temas pertinentes ao dia a dia do município.
Desta forma, os gestores terão conhecimento sobre a demanda da popula-
ção, despertando seu interesse em atendê-la. O nível de participação elevado
permite que demandas da população possam ser atendidas e debates envol-
vendo pontos de vistas diferentes, que correspondem a demandas individuais,
possam ser realizados, além de maior transparência na condução das políticas
públicas.
Da mesma forma, Pindyck (1999, p. 301) afirma que uma das suposições
básicas para a teoria dos mercados perfeitos corresponde a questão da simetria
informações, ou seja, cidadãos, governo e empresários possuem todas as infor-
mações necessárias para a tomada de decisão. Porém, a chamada informação
assimétrica é uma realidade e um dos principais problemas enfrentados pelos
tomadores de decisão.
A informação é um dos fatores mais importantes para a eficiência do mer-
cado, pois é através dela que os agentes ajustam os níveis de produção e preços,
promovendo o máximo de bem-estar. Quando a informação não é completa,
ocorre uma falha, que resulta em benefício de uma parte em detrimento de outra.
Esse é o caso da informação assimétrica.

564
CONeGOV 2009 | SHORT PAPERS

Governos locais, aqui caracterizados como municípios, devem primar por


instrumentos capazes de promover a interação com o cidadão com vistas a re-
dução da assimetria de informações, além de aumentar a transparência pública.
Governos locais também possuem difilculdades em estabelecer planos dire-
tores de tecnologia em razão do baixo orçamento, se comparado aos Estados ou
a União, e em razão da baixa cultura tecnologica dos recursos humanos.
Desta forma, se faz necessário pensar em soluções tecnológicas acessíveis
aos governos locais, além de fácil usabilidade pelos seus recursos humanos.
Ferramentas da WEB 2.0 se enquandram nesse escopo, pois o serviço é gratuito
e possui grande usabilidade, pois são intuitivos.
A seção abaixo propõe o uso de serviços WEB 2.0 para solucionar o proble-
ma de falta de interatividade e transparência dos governos locais.

4.1 Serviços web 2.0 para municípios


Serviços WEB 2.0 são desenvolvidos para garantir a alta usabilidade pe-
los internautas, sendo de fácil uso também aos recursos humanos de adminis-
trações públicas locais, pois basta ter conhecimento em internet para utilizar
as ferramentas. Bastaria, apenas, criar metodologias para uso dessas ferra-
mentas, com vistas a interatividade e transparência entre o gestor público local
e o cidadão.
O uso de Blog pelo gestor público permite informar os cidadãos das diretri-
zes do governo, além da necessidade de execução de programas e obras públicas.
Por ser uma ferramenta predominantemente informativa, o Blog seria utilizado
para manter os cidadãos informados sobre os projetos e obras em execução, além
dos problemas e potencialidades do município. Em sintese, o Blog seria utilizado
para informar os cidadãos sobre o dia a dia do município, e das ações que serão
executadas para solucionar os problemas e induzir o desenvolvimento local.
O Blog serviria como página inicial, e o seu acesso levaria ao uso de outros
serviços WEB 2.0.
Todo serviço de Blog possui, ao final da postagem, um campo para comen-
tários. Porém, o ideal, para a promoção da interação, é criar um ambiente de
debate para as informações que foram postadas. Dessa forma, o gestor desabi-
litaria o campo de comentários e criaria um link que remeteria a um Fórum de
dabates sobre o tema central da postagem.
O Fórum permite que o gestor estruture o debate, facilitando o comparti-
lhamento de conhecimento entre os cidadãos. Essa estrutura permite identificar
cidadãos com idéias afins que buscam soluções para problemas do município.
O Fórum, além do debate entre o gestor e o cidadão, também permite o deba-
te entre os próprios cidadãos, que podem se organizar visando solucionar um

565
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

problema, onde a própria administração pública local poderia ser parceira, e não
única executora.
O debate entre o gestor público e o cidadão, além do debate entre os pró-
prios cidadãos, permite que o gestor identifique agentes divergentes e conver-
gentes com as suas ações, facilitando o debate entre as partes antes da execução
de um programa ou ação. Além dos debates, o Fórum permite a criação de en-
quetes, auxiliando na motivação dos debates e na análise quantitativa dos ideias
dos cidadãos.
Porém, o gestor não deve ter como única preocupação a motivação dos
debates, pois as informações debatidas devem ter total consonância com
o tema do Fórum. Sendo assim, o gestor precisa utilizar outros serviços
WEB 2.0, visando concentrar documentos e informações relacionadas com
o tema.
A Wiki é uma alternativa, pois ela é um serviço de edição coletiva de
documentos, onde o gestor e os recursos humanos da administração pública
local podem inserir informações sobre um determinado projeto ou ação, e o
cidadão poderá acessar informações antes de fazer um comentário no Fórum.
A Wiki não permite apenas a inserção de textos, ela também permite anexar
documentos. Como a Wiki será utilizada para informar os cidadãos sobre os
projetos e ações, ela tem papel fundamental na transparência das contas públi-
cas, pois os gestores devem criar uma página que informe todo o cronograma
financeiro do projeto.
Em caso de projetos em elaboração, ela pode servir como meio de publi-
cação de editais e informações preliminares sobre o projeto, haja vista que,
muitas vezes, a administração pública local divulga essas informações em
meios de comunicação pouco utilizados pelos cidadãos. No que diz respeito
aos projetos em fase de elaboração, os próprios participantes do Fórum podem
propor medidas de alteração para torná-lo mais convergente com a realidade
do município. Aqui, cidadão, pode ser caracterizado, inclusive, como empre-
sas que tem interesse em prestar determinado serviço para a administração
pública local.
Além da Wiki, o gestor público pode utilizar o Twine para disponibilizar
as informações ao cidadão. A Wiki deve servir como documento base para o
início do debate e o Twine poderia agregaria informações e documentos dispo-
nibilizados na web, ou até mesmo matérias de jornais e revistas sobre o assunto
debatido.
A ideía, é que o Twine forneça um serviço mais dinâmico, pois sua base de
informação cresce a medida que novas informações sobre o tema são postadas
na internet. Importante lembrar que, incialmente, o gestor público deve ter a
preocupação em formar uma base, após sua formação, o serviço irá propor in-
formações relacionadas ao tema.

566
CONeGOV 2009 | SHORT PAPERS

A Wiki e o Twine são serviços predominantemente textuais e, por razão,


prospecta-se a necessidade de oferecer um serviço visual ao cidadão, onde,
mesmo que ele não seja residente em determinada localidade que está sob de-
bate, ele tenha condições de avaliar a situação através da analise de fotos e
vídeos.
Sendo assim, tanto o Fórum, quanto a Wiki e o Twine, devem remeter o
cidadão a serviços de compartilhamento de fotos e vídeos, como o Flickr e o
Youtube.
O Flickr deve ser utilizado pelo gestor para a postagem de fotos relaciona-
das a programas ou ações. Por ser um serviço de compartilhamento, o próprio
cidadão também pode utilizar o serviço para postar fotos sobre o tema do debate,
sendo que a recuperação só será possível se o cidadão utilizar a mesma tag que
o gestor público.
Além desse fator, muitas vezes, o próprio gestor não tem conhecimento
sobre determinada realidade, então o cidadão, ao compartilhar a sua foto, e fa-
zer o devido comentário no Fórum, estará auxiliando o gestor na elaboração e
execução de planos ou ações que induzam ao desenvolvimento.
De forma concomitante, o Youtube teria a mesma usabilidade do Flickr, po-
rém, ao invés de compartilhar fotos, seriam compartilhados vídeos e os links de
acesso seriam disponibilizados no Fórum. Além do compartilhamento de vídeo,
o Youtube poderia ser utilizado, pelo gestor público, como um canal de comuni-
cação gratuito com a sociedade.
O Flickr e o Youtube também são importantes serviços de acompanhamen-
to de obras e programas públicos. O gestor, e a própria sociedade, podem postar
fotos e vídeos que irão demonstrar a execução de obras e projetos no município,
sendo que a sociedade, e o próprio gestor, podem fiscalizar sua execução sem a
necessidade de estar in loco. Tanto os cidadãos, quanto o gestor público, podem
inserir o link das fotos e dos vídeos no Twine, utilizando a mesma tag do Blog
e do Fórum.
Por fim, o Twitter, que é o serviço responsável pela dinamicidade da pro-
posta de uso. Por ser um serviço de microblogging, o Twitter teria a função de
informar os cidadãos sobre as atualizações de conteúdo nos serviços, ou seja,
sempre que houver uma nova postagem no Blog, ou quando novos documentos
ou fotos e vídeos forem inseridos nos serviços descritos acima.
Desta forma, o Twitter informaria o cidadão sobre a existência de novas
informações relevantes ao debate, não havendo a necessidade do cidadão acessar
todos aqueles serviços na expectativa de encontrar novos documentos postados
pela administração pública local, tornando o processo mais dinâmico e prático
ao cidadão. Para receber as informações, basta o cidadão seguir o Twitter da
administração pública local. A figura abaixo exemplifica o fluxo da proposta
para o município 2.0.

567
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

Figura 1. Proposta de Uso de Serviços WEB 2.0 por Municipios.

Fonte: Elaboração do Autor

Um caso prático, por exemplo. Com relação ao reinício das aulas em agosto
e a questão da gripe A. O gestor público poderia fazer nota da questão em seu
Blog e criar um Fórum para debater o tema com os cidadãos. O tema princi-
pal seria: “As escolas públicas municipais devem reiniciar as aulas no prazo
normal?”
O gestor público faria uma postagem no Blog, com motivos a favor e contra
o adiamento do reinicio das aulas e, a partir do texto base, levaria o debate, com
os cidadãos, para o Fórum. No Fórum, os cidadãos se posicionariam de acordo
com base no exposto pelo gestor público, e motivariam o debate com documen-
tos na internet e notícias na WEB. Esses documentos e notícias seriam postados
no Wiki, pelo gestor público, e no Twine, pelo gestor e pelos cidadãos.
Na Wiki, por exemplo, o gestor poderia inserir documentos relacionados
ao status da gripe A no município, bem como as medidas de combate a doen-
ça estabelecidas pela gestão local. Além, de um possível calendário caso haja
necessidade de adiar o reinício das aulas. O Twine poderia ser utilizado para

568
CONeGOV 2009 | SHORT PAPERS

manter os cidadãos informados com as últimas notícias e documentos técnicos


sobre a doença.
Da mesma forma, o gestor público poderia postar fotos, no Flickr, das salas
de aula do município, mostrando se são, ou não, arejadas, além das unidades dos
postos de saúde, caso haja necessidade de medicar algum estudante com sinto-
mas da doença. O Youtube fornece uma série de vídeos relacionados a Gripe A,
que podem ser visualizados pelos gestores públicos e cidadãos durante o debate.
Durante o processo, o gestor público pode fazer pequenas enquetes, para ana-
lisar a utilidade do debate, pois muitos cidadãos, quando melhor esclarecidos,
podem mudar de opinião.
Depois do debate, o gestor público decide sobre o adiamento, ou não, do rei-
nício das aulas. Porém, a decisão será tomada com a construção de um ambiente
de confiança, havendo uma divisão de responsabilidades pela decisão, já que
o cidadão auxiliou o gestor público. Desta forma, o cidadão poderá participar
ativamente da gestão pública local, aumentando o nível de governança da admi-
nistração pública local e tendo maior responsabilidade e comprometimento com
as decisões e o desenvolvimento local.
Porém, não basta apenas disponibilizar um composto de serviços para
garantir a interação com a sociedade, é preciso trabalhar ações que induzam
os cidadãos ao seu uso, pois são as informações fornecidas por eles que ga-
rantiram decisões mais acertadas. Publicidade e propaganda, medidas de com-
pensação, utilização de jogos sociais e uso estratégico da infra-estrutura, que
resultaria no uso de equipamentso e prédios da administração pública local
pelos cidadãos, são apenas alguns exemplos de políticas de indução ao uso
dos serviços.
O uso desses serviços WEB 2.0, associado as políticas de promoção dos ser-
viços pela gestão pública local, resultaria em um portal classificado como nível
cinco, de acordo com os estudos de Belanger e Hiller (2006), sendo, portanto, o
maior nível de governo eletrônico.

5. CONCLUSÃO
Como reflexo do desenvolvimento tecnológico, é evidente, nos últimos
anos, à expansão da presença do governo em ações no espaço digital, nas suas
diversas esferas e níveis, constituindo-se no chamado governo eletrônico, com
implicações significativas para a sociedade e o cidadão.
Embora o governo eletrônico compreenda uma vasta gama de aplicações
tecnológicas no âmbito dos processos governamentais, uma de suas faces mais
visíveis e com maior possibilidade de interação com o cidadão está na Web.
O que antes eram simples sites institucionais, hoje são complexos portais que
oferecem uma amplitude de informações e serviços públicos, cujo acesso foi

569
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

formidavelmente facilitado pela incorporação das tecnologias de informação e


de comunicação.
O conceito de e-Democracia é visto como uma evolução e futuro do con-
ceito de governo eletrônico, e suas principais vantagens estão associadas ao
aumento da eficiência das atividades do governo, a dinamicidade dos sistemas
online, a comunicação interativa e participativa, onde o gestor tem acesso ao
conhecimento do cidadão, a existência de um ambiente colaborativo, permitindo
que o cidadão participe ativamente da gestão.
O desenvolvimento de serviços WEB 2.0, tais como os apresentados nes-
te artigo, permitem a criação de um canal de comunicação interativo entre o
cidadão e o gestor público. O uso crescente de ferramentas de interação dispo-
nibilizadas pelo avanço da Web 2.0 tem mostrado a sua relevância através das
possibilidades de seus mecanismos.
Além do uso gratuito, os serviços WEB 2.0 são de alta usabilidade, sendo
que o único pré-requisito necessário é o conhecimento em navegação na inter-
net. Esses dois fatores são essenciais para projetos em nível local, pois a restrição
orçamentária inibe a execução de projetos tecnológicos, e a baixa cultura tecno-
lógica dos recursos humanos inibe o melhor uso de ferramentas proprietárias.
O uso dos serviços WEB 2.0, pela sua gratuidade, não compromete as con-
tas da administração local, além de garantir a utilização dos serviços pelos re-
cursos humanos da prefeitua, haja vista seu uso intuitivo.
Um novo e mais eficiente canal de comunicação entre o gestor público e
o cidadão, que resultda na maior participação e responsabilidade da sociedade
em processos decisórios, tornando as decisões mais eficazes, além da troca de
experiências entre os cidadãos, são os principais resultados esperados com o uso
de serviços WEB 2.0 pelos municípios.

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572
RESEARCH ABSTRACTS
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

574
SISTEMAS SOCIAIS, TECNOLOGIAS
DE CONTROLE E CIBERESPAÇO: UM
OLHAR PELA TEORIA DE SANTIAGO

Alexandre Pesserl1
Universidade Federal de Santa Catarina
pesserl@gmail.com

Marciele Berger Bernardes2


Universidade Federal de Santa Catarina
marcieleberger@gmail.com

Aires José Rover3


Universidade Federal de Santa Catarina
aires.rover@gmail.com

RESUMO

Este artigo analisa a imposição de sistemas de controle social de complexidade crescente


no ciberespaço, em contraponto com a necessidade de garantia de existência de liberdades
fundamentais.A metodologia utilizada é a teoria sistêmica de Maturana e Varela aplicada
aos sistemas sociais. Tais relações não são determinativas, já que certa estrutura não
necessariamente determina certo comportamento. Ao invés disso, tais formas são sempre
influências modificativas, e quando elas são alteradas, elas alteram o comportamento
afetado.

PALAVRAS-CHAVE

Controle, sistemas sociais, ciberespaço, autopoiese, trocas culturais, teoria sistêmica.

1. INTRODUÇÃO
O crescente uso das tecnologias da informação no âmbito governamen-
tal, tanto para a entrega dos produtos e serviços do Estado aos cidadãos
quanto no conhecimento dos seus processos internos, traz consigo uma
ref lexão sobre as consequências e resultados das escolhas tecnológicas
realizadas.

1 Mestrando em Direito pelo CPGD/UFSC, bolsista da CAPES.


2 Mestranda em Direito pelo CPGD/UFSC, bolsista da CAPES.
3 Professor dos Programas CPGD e EGC/UFSC.

575
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

Para que tal processo reflita os valores republicanos e democráticos cons-


titucionalmente insculpidos, impedindo abusos de poder, é necessária a imple-
mentação de freios e contrapesos (checks and balances) nesse processo. Nesta
perspectiva, este artigo busca examinar essa questão sob o prisma da Teoria de
Santiago, proposta por Maturana e Varela em seus trabalhos sobre a biologia
cognitiva.. A teoria permite a elaboração de estudos sobre sistemas complexos,
bem como de suas co-relações internas e externas.

2. A VISÃO SISTÊMICA DE MATURANA E VARELA


Na “teia da vida”, todos os fenômenos e organismos vivos estão interconec-
tados. Organismos vivos são caracterizados por uma troca constante de energia
e matéria. Deste modo, os nós da rede são sistemas vivos e a teia (web) da vida é
composta por redes dentro de redes.
Este novo olhar sobre nossos fenômenos complexos em termos de redes e
relações assemelhadas entre seus nós tem se tornado mais premente à medida
em que entramos num novo sistema econômico e social no qual a compartilha-
ção de informação, conhecimento e mudanças tecnológicas estão se tornando
os recursos mais valiosos. Logo, a teoria dos sistemas vivos deve ser percebida
não como uma teoria peculiar relacionada com um fenômeno determinado,
mas como uma teoria geral de organização afetando tudo e todos na “teia da
vida”.
Assim, para Maturana, não há contradição entre o social e o individual;
são de fato inseparáveis, e a contradição em que vive a humanidade é de origem
cultural. Resulta de cegueira na competição pela subsistência, e da exclusão que
toda sociedade faz de todo ser que não satisfaz as condições de permanência que
a definem.
Os problemas sociais são sempre problemas culturais, porque tem a ver com
os mundos que construímos na convivência. Por isso a solução passa sempre
pelo domínio da ética: a aceitação da legitimidade do outro, de sua condição de
igual, Maturana (1998, p. 77).

3. CIBERESPAÇO E CONTROLE
Esta é uma apertada síntese de como a visão abrangente da teoria dos sis-
temas vivos descreve os sistemas sociais humanos. Um de seus aspectos fun-
damentais é sua resposta às situações de double bind, de contradição aparen-
te: assim como células realizando sua autopoiese em troca cultural se tornam
tecidos, e este se tornam órgãos, que por sua vez se tornam organismos, que
formam sociedades, cada vez que a complexidade se verticiza em atratores ela
“sobe de nível” e é passível de exame por uma “subida de nível” correspondente

576
CONeGOV 2009 | RESEARCH ABSTRACTS

no observador. As antinomias aparentes se resolvem como parte da dinâmica


daquele sistema examinado.
O ciberespaço representa talvez um destes vórtices, um dos atratores capa-
zes de alterar as condições da sociedade de forma a demandar uma visão mais
abrangente do fenômeno social. Esta denominação – ciberespaço – utilizada pri-
meiro no romance Neuromancer, de William Gibson, tem suas raízes na ciber-
nética, “the study of control at a distance through devices”( LESSIG, 1999. p. 5).
É importante lembrar que o ciberespaço, materializado e virtualizado na
Internet, surge como um derivado de um projeto de computação distribuída,
fruto de tecnologia militar destinada a sobreviver à guerra nuclear (Arpanet),
que contou com contribuições ou inspiração de nomes como Norbert Wiener,
Von Neumann ou Parsons. A cibernética marcou o “início de uma revolução
epistemológica cujo alcance só agora se começa a perceber na sua plenitude”
(LAFONTAINE, 2007. p. 15). O modelo informacional com seus conceitos de
entropia, informação e feedback (retroação) conheceu uma difusão sem igual.
Como se percebe as tecnologias digitais tornam possível – pela primeira vez
na história – a visão de Thomas Jefferson ao fundar a Biblioteca do Congresso
dos EUA: “to sustain and preserve a universal collection of knowledge and cre‑
ativity for future generations”. Ao garantir que a informação governamental
possa ser rapidamente localizada e transmitida entre os setores público e pri-
vado, mantidas as obrigações de privacidade e segurança, o governo auxilia no
aproveitamento máximo deste ativo, impulsionando e estimulando a economia.
Mas Lessig argumenta que a “mão invisível do ciberespaço” está construin-
do uma arquitetura que é oposta àquela de seu nascimento. Esta mão invisível,
com o manejo do governo e do comércio, está construindo uma arquitetura que
irá tornar o controle perfeito possível, bem como uma regulação altamente efi-
caz. A luta em tal mundo não será do governo. Será para assegurar que liberda-
des essenciais sejam preservadas neste ambiente de controle perfeito (LESSIG,
2006, p.4).

4. CONCLUSÕES
Como visto, devido ao caráter conservador de todo sistema social, toda ino-
vação social é, ao menos inicialmente, resistida e, às vezes, de maneira extre-
ma. O ciberespaço, que apesar de nascido num contexto de tecnologia militar
ofereceu a seus primeiros frequentadores a promessa de um brave new world
libertário, em pouco tempo demonstrou sua capacidade de se tornar o espaço
perfeitamente regulado.
Aplicando o pensamento de Maturana, vemos como a inovação social se
impõe. Some-se ao fato de que as mudanças na arquitetura, ainda que não di-
retamente ligadas à alterações no comportamento de seus usuários, certamente

577
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

influenciam tais alterações; que tais alterações se dão no código, e que este per-
tence ao domínio da linguagem; e temos um mundo no qual, caso não se inter-
venha politicamente nos processos de regulamentação privada hoje em curso,
se verificará uma rigidez condutual máxima,. Nessa perspectiva, o papel do go-
verno deve ser a intervenção, em escala mínima, quando atos privados tenham
consequências públicas negativas; quando ações miópicas possam causar danos
de longo prazo, e quando a não-intervenção corroa valores constitucionais e di-
reitos individuais. E tais intervenções devem ser sempre no sentido de garantir o
espaço para escolhas individuais.
O paralelo traçado entre a teoria dos sistemas complexos e a cibernética é
possível porque as comunicações humanas, assim como a mente, funcionam de
modo similar a ecossistemas; se fugirmos ao imperativo da ética, da aceitação
do outro em sua totalidade e em condições de igualdade a nós, o que resta é um
cenário desolador, palco de tecnologias totalizantes e desumanas.

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pensamento máquina. Instituto Piaget: 2007.
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Artes Médicas: Porto Alegre, 1998. 3a. ed.

578
ONTOLOGY GRAPHICAL
EDITOR FOR MULTILINGUAL
DOCUMENT SEARCH SYSTEM

Cesar R. K. Stradiotto1,3, Tânia C. D. Bueno1, Hugo C. Hoeschl 1,3


1 I3G - Instituto de Governo Eletrônico, Inteligência e Sistemas, Florianópolis - Brasil
+5548 30256609, CEP 88036-002
{cesar.stradiotto; tania.bueno; hch}@i3g.org.br
3 Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, Florianópolis, Brasil

ABSTRACT

This research does a comparison between two methods for ontology creation and its
corresponding tools. The main objective is the implementation of a graphical editor for
ontology construction, based on software usability criteria. This comparison shows which
methods used in anterior tools will remain inside the new editor, and which new tools
can be developed to improve the ontology management process, that was done by the
old ontology editor. The Ontojuris Project is described inside this document. The project
is a multilingual information system for legal information retrieval, together with an
ontology editor, called Knowledge Management System. It accepts queries in a given
language, and allows information retrieval based on similarity between documents,
written in many languages. The multilingual ontology editor works with the concept of
universal words (UW´s) which are universal representations of objects and things, and are
developed inside the UNL Project (Universal Networking Language) and allows the query
expansion to domains on many idioms, improving the searching process, required by the
user, including additional terms which have more significations for the original query. In
this research, the Ontojuris group proposes a new expansion method which is based on
domain ontologies and UW´s, to reach a better performance for an information retrieval
system. This Project was created with the intention to facilitate access in legal areas about
Intellectual Property, Consumer Rights, and Informatics Law, inside a consortium formed
by researchers in Brazil, Chile, Spain, and Argentina.

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HEER J.; CARD, S. K.; LANDAY, J. A. Prefuse: A Toolkit for Interactive Information
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Practice Stream, August 21-24, 2006, Santiago, Chile. IFIP 218 Springer 2006,
ISBN 0-387-34655-4

580
CONeGOV 2009 | RESEARCH ABSTRACTS

THORSTEN, J.. A Probabilistic Analysis of the Rocchio Algorithm with TFIDF for
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www.undl.org/ Accessed on September 2008.
VALDES-PEREZ, R. INTRODUCING CLUSTERING 2.0 http://searchdoneright.
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VALDES-PEREZ, R. HOW TO EVALUATE A CLUSTERING SEARCH ENGINE.
http://searchdoneright.com/2007/03/how-to-evaluate-a-clustering-search-engine/
Accessed on November 2008.

581
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

582
TRABALHADOR-INVENTOR
E EMPREGADOR E A
GESTÃO DA INOVAÇÃO

Cláudia Pomar
Instituto de Governo Eletrônico, Inteligências e Sistemas – i3G
claudiapomar@gmail.com

RESUMO

No limiar do novo milênio aporta uma nova sociedade, com instituições e nações
moldadas na propriedade e no controle do conhecimento e da inovação. Sucede um novo
instituto da propriedade intelectual, revisto frente às revoluções tecnológicas que ora se
apresentam, e que ainda está sendo remodelado. Neste mesmo passo, emerge uma nova
relação de trabalho, baseada em contratos abarcantes das novas posições jurídicas frentes
aos direitos de propriedade intelectual do trabalhador-inventor, do empregador e do
tomador de serviços. Emerge neste novo tempo um novo trabalhador, com capacidade de
se renovar e, na mesma medida, modernizar seu ambiente profissional, o setor produtivo
em que se encontra inserido, e de forma mais ampla, o mundo que o cerca.

PALAVRAS-CHAVE

Propriedade Intelectual, propriedade industrial, gestão da inovação.

A inovação gerada no setor produtivo encontra respaldo no Sistema de


Propriedade Industrial, que se configura na garantia da segurança jurídica e eco-
nômica das tecnologias desenvolvidas através de serviços tradicionais como con-
cessão de patentes, registros de marcas, desenho industrial, contratos de transfe-
rência de tecnologia, registro do software, e que se constituem em formas de asse-
gurar os direitos de exclusividade na produção, uso e comercialização da criação.
Neste sentido, se propõe um Escritório de Gestão da Inovação que dê supor-
te a toda energia criativa desenvolvida, especialmente no ambiente laboral. Uma
estrutura de Gestão da Inovação que apresenta uma nova perspectiva: possibi-
lidade de estreitamento das relações entre o mercado, sedento por novas tecno-
logias, e os trabalhadores-inventores e empresários do setor produtivo, carentes
de estrutura de apoio à proteção e transferência da produção intelectual gerada
no ambiente de trabalho.
O Escritório de Gestão da Inovação conforma-se como uma iniciativa
que tem o intuito de fomentar negócios relativos à gestão da inovação. Suas

583
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

atividades compreendem inicialmente uma análise prévia da viabilidade econô-


mica e da maturidade da invenção, identificando as tecnologias inovadoras com
projeção econômica. O gerenciamento de invenções e de gestão da inovação é
uma estratégia competitiva para agregar valor ao negócio e permitir que a em-
presa e o trabalhador-inventor tenham destaque no mercado.
Atuar como agente de fomento e facilitador do processo de interação entre
a invenção e sua projeção econômica, entre o trabalhador-inventor que desen-
volveu sua inovação fora de uma relação contratual trabalhista e de potencial
interessado na transferência da tecnologia, é função do Escritório de Gestão da
Inovação, que pretende ainda, viabilizar e estimular a criação de projetos, em
parceria com instituições públicas [nas suas diferentes esferas] e privadas, que
incluam estas tecnologias inovadoras.
Determinada a possibilidade de transformar a invenção em negócios, o
Escritório de Gestão da Inovação prestará assessoria continuada de apoio geren-
cial e técnico na gestão da tecnologia, a fim de ampliar a capacidade de adicionar
valor ao negócio. O escritório desenvolverá planejamento estratégico, analisan-
do os negócios sob os enfoques comercial, econômico-financeiro, de recursos
humanos e de marketing. Com isso, o escritório introduz um novo modelo de
gestão que, através da assistência comercial e jurídica necessárias, privilegia
invenção e gestão da inovação.
Nestes termos, o acesso a este instituto é essencial para trabalhadores-
inventores e empregadores ou tomadores de serviço, especialmente quando se
encontram nas regiões mais afastadas dos principais centros mercadológicos.
Esta necessidade de minimizar o distanciamento entre a inovação e sua proteção
jurídica e econômica, é premente. Um Escritório de Gestão da Inovação contri-
buiria para uma maior expansão no setor industrial em relação à inovação tec-
nológica, e a consequente ampliação da demanda dos seus produtos. São todos
aspectos que determinam um aproveitamento do capital financeiro e intelectual
empreendido, e também, fomentam novos investimentos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. SENADO FEDERAL. Subsecretaria de Informações. Legislação brasileira
da propriedade intelectual. Disponível em: < http://wwwt.senado.gov.br/legbras/>
Acesso em: 20 dez. 2004.
BOBBIO, Norberto. O futuro da democracia: uma defesa das regras do jogo. 3. ed. Paz e
Terra . São Paulo. 1987.
DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 8ª ed. São Paulo: LTr,
2009.

584
GESTÃO DE CONTAS DE USUÁRIOS E
DOMÍNIOS DE REDE DA PREFEITURA
MUNICIPAL DE CURITIBA

Edival Vilar de Araujo Júnior


Instituto de Planejamento e Pesquisa Urbana de Curitiba – IPPUC
edival@ippuc.org.br

Estevão Thomacheski Rodrigues


Instituto Curitiba de Informática – ICI
erodrigues@ici.curitiba.org.br

Fábio Fernando de Souza


Instituto Curitiba de Informática – ICI
fasouza@ici.curitiba.org.br

Jaqueline Oliveira Salles Gonçalves


Instituto Curitiba de Informática – ICI
jgoncalves@ici.curitiba.org.br

Juliana Jenny Kolb


Digidata Consultoria e Serviços de Processamento de Dados
jkolb@digidata.com.br

RESUMO

Os programas de Governo Eletrônico tem como princípio a utilização de tecnologias da


informação e comunicação para democratizar o acesso à informação, disponibilizando
serviços eficientes em todas as esferas governamentais. Porém, para que este princípio
possa ser aplicado, é necessário que as organizações tenham uma infraestrutura de
redes adequada, que permita a transmissão de dados de forma íntegra, confiável
e segura. Tanto a comunicação interna quanto a comunicação externa de uma
instituição é realizada por uma ou mais redes de computadores, e esta infraestrutura
é gerenciada por um software gerenciador de contas de usuários e domínios de
rede. Atualmente, o domínio de soluções proprietárias neste setor de mercado faz
com que as organizações sejam reféns de seus produtos, sendo que cada compra ou
atualização corresponde a um alto custo financeiro. No entanto, o Instituto Curitiba
de Informática (ICI) desenvolveu uma solução inovadora, baseada em software livre,
que visa revolucionar a administração de redes em empresas públicas e privadas,
proporcionando a gestão segura e confiável da informação. Este trabalho tem como
objetivo apresentar uma solução eficaz na gestão de contas de usuários e domínios
de rede, baseado na experiência obtida com a PMC, através do comparativo técnico e
financeiro entre a ferramenta Windows Server 2008 da Microsoft Corporation® e o
openDoc, idealizado e desenvolvido pelo ICI.

585
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

REFERÊNCIAS 
BATTISTI, Júlio. Windows Server 2003, Curso Completo. Rio de Janeiro: Axcel Books,
2003.
CONARQ, Câmara Técnica de Documentos Eletrônicos. Modelo de Requisitos para
Sistemas Informatizados de Gestão Arquivística de Documentos. Versão 1, 2006.
DANESH, Arman. Dominando o Linux, São Paulo: Makron Books, 1999.
ENEC, Executiva Nacional dos Estudantes de Computação. Cartilha de Software Livre.
Bahia: Projeto Software Livre, 2005.
GOMES, Yuri Marx P. Java na Web com JSF, Spring, Hibernate e Netbeans 6. Ciência
Moderna, 2008.
KERIEVSKY, Joshua  Refatoração para Padrões. Porto Alegre: ArtMed, 2008.
MINASI, Mark. Dominando o Windows NT Server 4. São Paulo: Makron Books, 1997.
PACITTI, Tércio. Paradigmas do Software Aberto. Rio de Janeiro: LTC – Livros
Técnicos e Científicos, 2006.
QUINTANILHA, Leandro. Sobra empregos para Técnicos. http://www.arede.inf.br, 22
de setembro de 2009.
SÊMOLA, Marcos. Gestão da Segurança da Informação. Rio de Janeiro: Campus, 2003.
TANENBAUM, Andrew. Redes de Computadores. São Paulo: 4ª Edição, 2003.
SITES CONSULTADOS:
www.openldap.org. Acesso em 10/08/2009.
www.java.sun.com. Acesso em 10/08/2009.
www.openldap.org/jldap. Acesso em 13/08/2009.
www.centos.org. Acesso em 13/08/2009.
www.samba.org. Acesso em 12/08/2009.
www.tomcat.apache.org. Acesso em 13/08/2009.
www.postgresql.org. Acesso em 13/08/2009.
www.openssh.org. Acesso em 13/08/2009.
www.arede.inf.br Acesso em 13/08/2009.
www.fsfeurope.org Acesso em 13/08/2009.

586
PREGÃO ELETRÔNICO E TECNOLOGIA
DA INFORMAÇÃO: FERRAMENTA
RELEVANTE EM TEMPOS
MODERNOS DE GESTÃO PÚBLICA

Amauri Domakoski
a.domakoski@hotmail.com

Denis Alcides Rezende


Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUCPR
Programa de Mestrado e Doutorado em Gestão Urbana – PPGTU
Rua Imaculada Conceição, 1155 - Parque Tecnológico - Bloco 3
Prado Velho - Curitiba - PR. CEP: 80215-901 Fone: 55(41) 3271.2623 e 9974.1168
denis.rezende@pucpr.br

RESUMO

A modalidade de licitação denominada pregão eletrônico, que acontece por meio


da tecnologia da informação, foi instituída em 2005 no contexto de mudanças e
inovações na Administração Pública, para possibilitar aos gestores municipais,
agilidade, segurança, inibição na formação fraudes e cartéis e também, economia
nas contratações. O pregão eletrônico é considerado a sexta modalidade de licitação e
constitui-se uma inovadora modalidade licitatória que possibilita a desburocratização
dos procedimentos de compras públicas, configurando-se, em uma quebra de
paradigma na história. O artigo tem por objetivo analisar o uso da tecnologia da
informação como ferramenta relevante nas contratações públicas. A metodologia da
pesquisa enfatiza um estudo de caso na Prefeitura Municipal de Almirante Tamandaré,
em face da complexidade da Lei de Licitação, nº. 8.666/93, e a recente criação da Lei
que regulamentou a nova modalidade de licitação por meio do Decreto, nº. 5.450/05.
No entanto, a Lei oferece limitações, uma vez que, só é possível contratação de bens e
serviços comuns. Conclui-se que, contratar com a utilização do recurso da tecnologia
da informação, contribui com a agilidade, segurança, economicidade e transparência,
nos procedimentos de compras no município, suprindo a ausência de normativas na
lei de licitação.

PALAVRAS-CHAVE

Pregão eletrônico: tecnologia da informação; processo licitatório; pregão eletrônico,


transparência; economia, licitação tradicional.

587
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

1. INTRODUÇÃO
Até o ano de 1967, as compras públicas eram formalizadas para atendi-
mento a Lei Complementar 4.320/64. O Decreto Lei 200/67 regulamentava as
compras públicas, a contabilidade pública e outras atribuições.
A partir de 1993 as compras públicas foram regulamentadas pela Lei de
Licitações e Contratos Administrativos 8.666/93, que contempla cinco modali-
dades de licitação: convite; tomada de preços; concorrência; concurso; e leilão.
Já o pregão eletrônico, que se divide em presencial e eletrônico, denomina-
do, a sexta modalidade de compras públicas, foi instituído pela MP 2.026/2000,
convertida na Lei 10.520/2002, e posteriormente, o pregão eletrônico foi regula-
mentado pelo Decreto Lei 5.450/2005.
Apesar de um tema recente, contratações públicas por meio da tecno-
logia da informação, em especial por meio do pregão eletrônico, pode ser
considerado um aprimoramento dos procedimentos de compras públicas.
Esta nova modalidade, o pregão eletrônico, pode possibilitar o incre-
mento da competitividade entre os licitantes interessados e a ampliação das
oportunidades de participantes nas licitações, contribuindo para a redução
de custos de aquisição por parte dos órgãos públicos.
O pregão eletrônico também pode permitir agilidade nas aquisições, ao
desburocratizar os procedimentos para a habilitação dos licitantes interessa-
dos e respectivos processos pertinentes.
A informação é um recurso efetivo e inexorável para as organizações, prin-
cipalmente quando planejada e disponibilizada de forma personalizada, com
qualidade inquestionável e preferencialmente antecipada para facilitar as deci-
sões (REZENDE, 2007, p. 18).

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E
METODOLOGIA DO TRABALHO
A fundamentação teórica versa sobre: pregão eletrônico; bens e serviços
comuns; modalidades tradicionais (concorrência pública; tomada de preços;
convite; concurso; e leilão).
Esta pesquisa se caracterizou por um estudo de caso. A amostra está di-
recionada para a Prefeitura Municipal de Almirante Tamandaré, localizada na
Região Metropolitana, porção norte de Curitiba.

588
CONeGOV 2009 | RESEARCH ABSTRACTS

3. PREGÃO ELETRÔNICO E TECNOLOGIA DA


INFORMAÇÃO: FERRAMENTA RELEVANTE
EM TEMPOS MODERNOS DE GESTÃO PÚBLICA
Elabora as análises: dos aspectos inovadores; da formação de cartéis; e da
transparência; da economicidade; e da agilidade, quando da utilização do pregão
eletrônico.

4. CONCLUSÃO
A adoção das contratações por meio da tecnologia da informação, na
Prefeitura Municipal de Almirante Tamandaré, vem suprindo parte das dificul-
dades existentes na lei de licitações e contratos administrativos que oferece as
modalidades tradicionais, como por exemplo, do excesso de burocracia, baixo
índice de economicidade, de competitividade, e transparência, entre outros. As
licitações auferidas por meio da tecnologia da informação, “o pregão eletrôni-
co”, é a melhor opção no que se refere às compras do município de Almirante
Tamandaré para bens e serviços comuns. Visa à diminuição da corrupção até a
sua total extinção, por mais que pareça uma realidade distante na nossa Nação.
Deve-se, focar com determinação todas as pessoas envolvidas na administração
pública, que acreditam na justiça, e em um futuro digno e respeito pelos atores
sociais, em especial, por aqueles menos favorecidos, em Almirante Tamandaré,
ou seja, os munícipes.
A economia proporcionada pelo pregão eletrônico, constitui uma vantagem
considerável aos cofres públicos do município, proporcionando oportunidade de
novos investimentos em outros projetos pelo gestor municipal, em atendimento e
melhoria da qualidade de vida da sociedade em geral. Outro benefício crucial do
pregão eletrônico é a agilidade nos processos. Em Almirante Tamandaré, a pre-
sente pesquisa indica que um processo licitatório tradicional, demora em torno
de 60 a 120 dias, enquanto que as licitações realizados por meio da tecnologia da
informação aquela de forma eletrônica reduz para em média 60 (sessenta) dias,
embora não seja o ideal, pois estudos indicam que deveriam demorar em média
apenas 30 (trinta) dias.
O pregão eletrônico, considerado por muitas como sendo a sexta modali-
dade de licitação, constitui-se em uma inovadora e jovem modalidade de com-
pras, que acontece por meio da tecnologia da informação, oferecendo, condições
e instrumentos que desburocratizam os procedimentos de licitações públicas,
tornando-as ágeis, eficazes, transparentes, competitivas, incluindo a possibili-
dade de inibição de formação de cartel e fraude. Rende discussões no que diz
respeito à quebra de paradigmas, nunca antes evidenciados ou aceitos na história
da administração pública das contratações públicas. O pregão eletrônico está

589
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

diretamente ligado ao princípio constitucional da eficiência, agilizando, trans-


parência, simplificando os procedimentos de licitações, garante a inversão de
fases, que lhe confere maior funcionalidade e agilidade, viabilizando aos parti-
cipantes a chance a apresentação de seus preços antes mesmo da apresentação
dos documentos de habilitação, transpondo assim a barreira da burocracia, e da
insatisfação pela demora da conclusão da licitação na modalidade tradicional.
A licitação na modalidade pregão eletrônico atende ao disposto no princípio
da economicidade, pois obtém resultados satisfatórios, conseguindo uma grande
redução nos valores dos lances, além de conferir maior rapidez às contratações,
que, normalmente, são morosas, por meio da utilização de procedimentos des-
burocratizados. O modelo licitatório aplicado nas modalidades tradicionais dá
margens a superfaturamentos de preços e direcionamento de compras para for-
necedores susceptíveis à corrupção.

REFERÊNCIAS
Livros, artigos, leis e pesquisa de campo.

590
TUTORIALS
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

592
PADRONIZAÇÃO E REUSO
DE APLICAÇÕES COM
DEMOISELLE FRAMEWORK

Antonio Carlos Tiboni

Flávio Gomes da Silva Lisboa

Luciana Campos Mota

BREVE APRESENTAÇÃO DO TEMA


Serão apresentados o contexto de governo que gerou a necessidade de um
arcabouço de integração de tecnologias e a arquitetura tecnológica da solução.
Uma demonstração prática envolvendo instalação, configuração e uso do fra-
mework Demoiselle será realizada para ilustrar os aspectos técnicos de reuso e
padronização. Finalmente, será apresentado o ambiente livre, aberto e colabora-
tivo e a estrutura e funcionamento da comunidade.

Tópicos a serem desenvolvidos


O contexto da diversidade no desenvolvimento da tecnologia da informação.
Os elementos de decisão para definir uma estratégia de TI para governo.
A estratégia definida para a área de tecnologia do governo.
As diretivas da arquitetura tecnológica.
A definição de uma arquitetura de referência para aplicações.
Criação de um framework integrador.
Demonstração da criação de uma aplicação com o framework Demoiselle.
Instalação e configuração do ambiente de desenvolvimento
Criação de uma aplicação em três camadas.

Roadmap do projeto
Criação e expansão da comunidade Demoiselle, sua estrutura e modelo de
governança.
Duração
8 horas.

593
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

594
WEB 2.0 APLICADA AO
GOVERNO ELETRÔNICO

Thiago Paulo Silva de Oliveira1

Sonali Paula Molin Bedin 2

Thais Garcia3

BREVE APRESENTAÇÃO DO TEMA


A Web 2.0 se configura como um ambiente dinâmico e interativo onde os
usuários são responsáveis pela criação, organização e disseminação do conte-
údo, sendo caracterizada por uma tendência centrada no conceito de troca de
informações e colaboração entre os usuários da internet através de websites e
serviços online, onde as informações são organizadas de acordo com idéias e
conceitos. Este tutorial tem por objetivo inserir os participantes na nova ótica
da sociedade do conhecimento, apresentando serviços Web 2.0 e seu potencial
uso por governos.

Tópicos a serem desenvolvidos


Introdução aos conceitos da Web 2.0
Serviços Web 2.0
Aplicação de Serviços Web 2.0 ao Governo Eletrônico

Roadmap do projeto
Apresentar aos participantes novos métodos e formas de organizar o conhe-
cimento através de serviços Web 2.0, com especial ênfase ao governo eletrônico.
Duração
3 horas e 30 minutos.

1 Economista e Mestre em Engenharia do Conhecimento pela Universidade Federal de Santa


Catarina; gerente de projetos em Governo Eletrônico e coordenador de TI do Instituto i3G.
2 Graduada em Tecnologia de Serviços e em Biblioteconomia, Mestre em Ciência da
Informação e doutoranda em Engenharia do Conhecimento na Universidade Federal de
Santa Catarina; coordenadora de Engenharia do Conhecimento do Instituto i3G.
3  Graduada em Biblioteconomia.

595
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

596
CONECTIVIDADE E GESTÃO
DA INOVAÇÃO

Marli Dias de Souza Pinto

BREVE APRESENTAÇÃO DO TEMA


Dar apoio para o desenvolvimento de cultura da inovação como base para
promover mudanças no DNA das empresas em ambientes virtuais.
Oportunizar aos participantes um conjunto de competências interdiscipli-
nares de gestão e atitudes inovadoras, para serem aplicadas na realidade organi-
zacional com sustentabilidade necessária para os gestores de equipes.

Tópicos a serem desenvolvidos


Gestão da Inovação e Criatividade
Redes Sociais – interligando o mundo do conhecimento
Ferramentas de Gestão
e-empresas

Roadmap do projeto
Capacitação e atividades de apoio para a construção de modelos de gestão
da informação para o desenvolvimento tecnológico do APL Madeira Móveis do
Alto Vale do Rio Negro.
Duração
3 horas e 30 minutos.

597
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

598
ÍNDICE DE AUTORES

AGUIAR, Everson Lopes 511


ALBUQUERQUE, Almir dos Santos 365
ALMEIDA, Américo Ricardo Moreira de 115, 131
ALVARENGA, Soraia de Barros 147
ALVES, João Bosco da Mota 21
ARAUJO Júnior, Edival Vilar de 585

BASTOS, Rogério Cid 501


BEDIN, Sonali Paula Molin 313, 343, 537, 555, 595
BERNARDES, Marciele Berger 65, 575
BLUMENSCHEIN, Raquel Naves 167
BOHN, Carla Silvanira 329
BORGES, Cejana Marques 115
BRAGA, Marcus de Melo 33
BRAGA, Sérgio Soares 203
BUENO, Claudia O. 313
BUENO, Tânia Cristina D’Agostini 313, 555, 579

CARVALHO, Isamir Machado de 95


CARVALHO, Marisa Araújo 485
CIRQUEIRA, Jenilson Alves de 131
CLARA, Bibiana Beatriz Luz 459
COELHO, Christianne Coelho de Souza Reinish 433
COSTA, Edemir 81

DIAS, Luiza Franco 167


DIESEL, Lilian Elizabeth 501
DOMAKOSKI, Amauri 587
DONATTI, Fabrício T. 313
DZIEKANIAK, Gisele 397
D’ORNELLAS, Marcos C. 47

FANCHIN, Rosane Tumelero 467


FARIAS, Marzely G. 313
FELICIANO, Antonio Marcos 421
FERREIRA, Marcus Vinicius A. S. 95
FERREIRA, Valdicleia Menezes 115
FIALHO, Francisco Antônio Pereira 95
FONTOURA, Lisandra Manzoni 47
FRANÇA, Andressa Silvério Terra 203
FUSINATO, Joni 411

599
Anais da V Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

GARCIA, Evilásio 501


GARCIA, Thais 595
GONDIM, Ana Luiza Schneider 467
GONÇALVES, Jaqueline Oliveira Salles 585
GORGES, Angélica 313
GRUBER, Grasiela 313
GUBIANI, Juçara Salete 33

HOESCHL, Hugo Cesar 33, 411, 555, 579

IORIO, Ana Haydee Di 459

JUNCKES, Aline 313

KOLB, Juliana Jenny 585


KROLL, Josiane 47

LAPOLLI, Edis Mafra 421


LIMA, Alexandre Carvalho dos Reis 411
LINKE, Sarah 313
LISBOA, Flávio Gomes da Silva 185, 593
LUZ Filho, Silvio Serafim da 81

MARTINS, Gisely Jussyla Tonello 239


MASSUCHETTO, Angelo Roberto 477
MESQUITA, Denise do 21
Socorro Costa Tavares 225
MIRANDA, Angélica C. D. 33, 411
MIRANDA, Joseane Borges de 313
MONTEIRO, Sabrina 167
MORETTI, Edmar 185, 593
MOTA, Luciana Campos 95
MUÑHOZ, Denise L. C.

NICOLÁS, María Alejandra 203


NUNES, Israel Honorino 225

OLIVEIRA, Thiago Paulo Silva de 313, 343, 537, 555, 595


OLIVEIRA, Tárik Kamel de 365

600
CONeGOV 2009 | ÍNDICE DE AUTORES

PACHECO, Roberto Carlos dos Santos 343


PEREIRA, Maurício Fernandes 239
PERSEGONA, André Luiz Moreira 167
PERSEGONA, Marcelo Felipe Moreira 167
PESSERL, Alexandre 575
PIFFER, Márcio Marcelo 445
PINTO, Marli Dias de Souza 313, 597
POMAR, Cláudia 259, 273, 499, 583

QUINCOZES, Eliana da Rosa Freire 239

RAMOS Júnior, Hélio Santiago 445


REMOR, Lourdes de Costa 225
RESENDE, Adriano de Oliveira 289
REZENDE, Denis Alcides 587
RODRIGUES, Estevão Thomacheski 585
ROVER, Aires José 65, 81, 95, 343, 385, 433, 485, 537, 575
ROVERONI, Antonio J. 289
RUSCHEL, Aírton José 433

SANTOS, Neri dos 225


SANTOS, Paloma Maria 65, 95
SCHNEIDER, Lothario 467
SCHNEIDER, Maria Aparecida 467
SILVA, Andrey Cesar Marques Ferreira da 289
SILVA, Edson Rosa Gomes da 343, 385, 537
SILVA, Maria Lúcia da 525
SILVEIRA, Nelson Luiz Rocha 433
SILVEIRA, Roberto Martins da 225
SOUZA, Fábio Fernando de 585
SOUZA, Vitória Augusta Braga de 421
SPANHOL, Fernando José 81
STEIL, Andréa 225
STRADIOTTO, Cesar R. K. 579

TIBONI, Antonio Carlos 593


TOMÉ, Maria Vitória Ferrari 167
TUMELERO, Getulio Bellino 467
TUMELERO, Lourdes Faresin 467

WILLERDING, Inara Antunes Vieira 421

ZOTTI, Iara 313

601

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