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MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO

MINISTÉRIO PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS


PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE DEFESA DA SAÚDE

Ref. ICP no 08190.050899/20-69 (Hospital de Campanha Mané Garrincha)

TERMO DE RECOMENDAÇÃO nº 012/2020 – PROSUS

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL E


TERRITÓRIOS, por intermédio de seus Promotores de Justiça de Defesa da Saúde do Distrito
Federal, no uso das atribuições que lhes são conferidas pelos arts. 129, inciso III, da
Constituição Federal e 6º, inciso XX, da Lei Complementar nº 75/93 e:

Considerando que ao Ministério Público incumbe a defesa da ordem jurídica,


do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis (art. 127, caput, da
Constituição Federal), em especial a defesa do patrimônio público, podendo para tanto expedir
Recomendações visando o seu efetivo cumprimento (art. 6º, inciso XX, da LC 75/93);

Considerando a formalização do Contrato Emergencial no 069/2020 – SES/


DF, entre a Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal e a empresa HOSPITAL
SERVIÇOS DE ASSISTÊNCIA SOCIAL SEM ALOJAMENTO LTDA, inscrita no CNPJ nº
22.033.994/0001-85, para a prestação de “Serviço de Gestão Integrada de 173 (cento e setenta
e três) leitos de Enfermaria Adulto sem suporte de oxigenioterapia + 20 Leitos de Suporte
Avançado + 04 Leitos de emergência (sala vermelha), por preço global, compreendendo a
locação de equipamentos, gerenciamento técnico, assistência médica multiprofissional (de
forma ininterrupta), com manutenção e insumos necessários para o funcionamento dos
equipamentos (incluindo computadores e impressoras) e atendimento dos pacientes
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(medicamentos, materiais, alimentação) a ser estruturado em local disponibilizado pela


Contratante para o enfrentamento ao COVID-19”;

Considerando as informações colhidas no Inquérito Civil Público nº


08190.050899/20-69, instaurado perante a 4a Promotoria de Justiça de Defesa da Saúde para
acompanhar a instalação, ativação e gestão dos leitos de suporte avançado e de enfermaria no
Hospital de Campanha do Estádio Nacional Mané Garrincha, reservados exclusivamente a
pacientes acometidos da COVID-19;

Considerando o contido no Relatório de Auditoria no 03/2020 –


DATCS/COLES/SUBCI/CGDF (00480-00002968/2020-59), subscrito pela Subcontroladoria
de Controle Interno da Controladoria-Geral do Distrito Federal, o qual analisou as fases interna
(elaboração do Termo de Referência) e externa (seleção do fornecedor) da referida contratação,
e apontou diversas falhas de natureza grave;

Considerando que, nada obstante a complexidade dos serviços contratados,


entre a data da aprovação do Termo de Referência (07/04/2020 – terça-feira) e o prazo final
para encaminhamento das propostas pelas empresas interessadas (13/04/2020 – segunda-feira)
passaram-se apenas seis dias, a indicar possível direcionamento em favor da empresa vencedora
HOSPITAL SERVIÇOS DE ASSISTÊNCIA SOCIAL SEM ALOJAMENTO LTDA;

Considerando que, embora o Termo de Referência tenha descrito o objeto a


ser contratado, deixou de discriminar os custos de operacionalização, em planilha de orçamento
detalhado, dos equipamentos que deveriam compor os leitos de enfermaria e de suporte
avançado a serem gerenciados, e da equipe multiprofissional que deveria estar disponível para o
gerenciamento dos respectivos leitos, facilitando a apresentação de orçamento superestimado;

Considerando que o Parecer Referencial nº 002/2020 – PGDF/PGCONS, que


tratou dos requisitos necessários para a incidência do art. 4º da Lei Federal nº 13.979/2020, fez
referência expressa à necessidade de o Termo de Referência (ou Projeto Básico) simplificado
conter orçamento detalhado dos custos da contratação (art. 7º, § 2º, II, Lei 8.666/93);
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Considerando que, aliada ao prazo exíguo definido para a apresentação das


propostas, tal omissão inibiu a participação no certame de eventuais empresas interessadas,
permitindo que a empresa vencedora HOSPITAL SERVIÇOS DE ASSISTÊNCIA SOCIAL
SEM ALOJAMENTO LTDA fosse a única capaz de oferecer tempestivamente proposta de
preços, prontamente aceitos pela Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal como sendo
valores de mercado, sem contestação;

Considerando que a SES/DF “não se preocupou em discriminar quanto


custaria cada tipo de leito, uma vez que seriam disponibilizados leitos de enfermaria, de
suporte avançado (UCI/UTI) e de sala vermelha, sendo que cada tipo de leito tem sua
complexidade, fato que implicaria em custos distintos”, tendo a empresa vencedora apresentado
proposta com preço único de diária por leito, nada obstante 87% (oitenta e sete) deles
correspondessem a leitos de enfermaria, de menor complexidade e custo;

Considerando que não houve, por parte da empresa vencedora,


discriminação do BDI – Bônus e Despesas Indiretas, compreendendo este todas as despesas não
incluídas no custo direto, impedindo quantificar especialmente o percentual de lucro definido
pela mesma;

Considerando que, ao contrário de outras contratações levadas a efeito


durante a pandemia, a empresa vencedora HOSPITAL SERVIÇOS DE ASSISTÊNCIA
SOCIAL SEM ALOJAMENTO LTDA foi eximida da obrigação de prestar diversos serviços
essenciais, como o fornecimento de quimioterápicos, dieta oral, nutrição parenteral, nutrição
enteral, exames laboratoriais e complementares, serviços de hotelaria, serviços de limpeza,
conservação e segurança patrimonial, esterilização de materiais, energia elétrica, gases
medicinais e água, tendo a SES/DF assumido todos esses custos;

Considerando que, por meio do Despacho – SES/GAB/CGCSS/DGR, de


16/04/2020 – após o prazo final para a apresentação das propostas –, a área responsável técnica
apresentou tabela contendo os custos de leitos de enfermaria em diversos hospitais da rede
pública de saúde do Distrito Federal, com preço médio de R$ 1.515,50 (mil quinhentos e quinze
reais e cinquenta centavos), valor este 32,33% menor que a proposta oferecida pela
empresa vencedora;
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Considerando que, embora houvesse previsão de subcontratação, há


informações de que a empresa vencedora HOSPITAL SERVIÇOS DE ASSISTÊNCIA
SOCIAL SEM ALOJAMENTO LTDA repassou parte substancial da atividade-fim contratada à
entidade Associação Hospitalar Beneficente do Brasil (AHBB) – CNPJ 45.349.461/0001- 02 –
responsável pela contratação formal dos profissionais envolvidos –, sem anuência e autorização
prévia da Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal, a caracterizar a mera
intermediação de serviços;

Considerando a constatação de que, em relação a maio e junho de 2020,


houve pagamentos indevidos por leitos disponibilizados sem todos os equipamentos necessários
– em especial, bombas de infusão e aspiradores cirúrgicos – e sem o número mínimo de
profissionais de saúde para a prestação dos serviços contratados;

Considerando que os serviços prestados pela empresa vencedora encerrou-se


recentemente, em 20 de outubro de 2020, sendo que, nos termos da cláusula 3.5 do contrato,
todos os equipamentos médico-hospitalares enumerados no item 3.2 (“Das Especificações dos
Objetos”) “serão incorporados ao Patrimônio da SES/DF e passam a ser propriedade da
contratante”;

Considerando que, em razão das graves falhas administrativas acima


referidas (sem prejuízo de outras existentes) e da circunstância de que o pagamento dar-se-ia
por leitos disponíveis – e não por leitos efetivamente utilizados, sobreleva a plausibilidade da
ocorrência de sobrepreço na contratação em tela, a evidenciar a necessidade de uma rigorosa
apuração por parte da Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal quanto aos valores
efetivamente devidos à empresa vencedora;

Considerando que é obrigação das empresas concorrentes à prestação de


serviços públicos cumprir a regra definida no art. 43, inciso IV, da Lei n o 8.666/931, ofertando
preços compatíveis com os praticados no mercado, independentemente de eventual erro

1 Art. 43. A licitação será processada e julgada com observância dos seguintes procedimentos: (…)
IV- verificação da conformidade de cada proposta com os requisitos do edital e, conforme o caso, com os preços correntes
no mercado ou fixados por órgão oficial competente, ou ainda com os constantes do sistema de registro de preços, os quais
deverão ser devidamente registrados na ata de julgamento, promovendo-se a desclassificação das propostas desconformes
ou incompatíveis”.
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cometido ou omissão da Administração Pública quando da elaboração do Termo de Referência


ou Projeto Básico;

Considerando que, ao lavrar o Acórdão no 619/2015, sob a relatoria do


Ministro Vital do Rego, o Tribunal de Contas da União concluiu que “...não devem as
empresas tirar proveito de orçamentos superestimados, elaborados por órgãos públicos
contratantes, haja vista incidir, no regime de contratação pública, regras próprias de Direito
Público, mais rígidas, sujeitas a aferição de legalidade, legitimidade e economicidade por
órgãos de controle interno ou externo da Administração Pública. Sem embargo, sua
responsabilização solidária pelo dano resta sempre evidenciada quando, recebedora de
pagamentos por serviços superfaturados, contribui de qualquer forma para o cometimento do
dano...".

Considerando que, mais recentemente, o TCU deliberou que “...as empresas


que oferecem propostas com valores acima dos praticados pelo mercado, tirando proveito de
orçamentos superestimados elaborados pelos órgãos públicos contratantes, contribuem para o
superfaturamento dos serviços, sujeitando-se à responsabilização solidária pelo dano
evidenciado” (Acórdão 7074/2020 – Plenário, Relator Ministro Benjamin Zymler);

Considerando que, conforme informações colhidas no Portal da


Transparência do Distrito Federal (http://www.transparencia.df.gov.br/#/), a empresa vencedora
HOSPITAL SERVIÇOS DE ASSISTÊNCIA SOCIAL SEM ALOJAMENTO LTDA recebeu,
até a presente data, R$ 24.581.074,05 (vinte e quatro milhões, quinhentos e oitenta e um mil,
setenta e quatro reais e cinco centavos) em razão da contratação em questão;

RECOMENDA

Ao Senhor Secretário de Estado de Saúde do Distrito Federal, OSNEI OKUMOTO, que


cautelarmente tome as providências abaixo enumeradas, sob pena de responder pelas
irregularidades constatadas (art. 10 da Lei no 8.429/92):

(a) Realize rigorosa apuração do valor a ser devidamente pago à empresa


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LTDA pela instalação e gestão dos leitos do Hospital de Campanha do


Estádio Mané Garrincha, levando em consideração as recomendações
contidas no Relatório de Auditoria no 03/2020 –
DATCS/COLES/SUBCI/CGDF, em especial quanto à ocorrência de possível
sobrepreço, e procedendo às glosas devidas;

(b) Instale comissão especial para tal fim, se possível com apoio da
Controladoria-Geral do Distrito Federal e das áreas técnicas da SES/DF, com
prazo definido para a conclusão dos trabalhos e emissão de relatório;

(c) Suspenda, até o fim dos trabalhos da referida comissão especial, toda e
qualquer ordem de pagamento em favor da empresa HOSPITAL
SERVIÇOS DE ASSISTÊNCIA SOCIAL SEM ALOJAMENTO LTDA, a
fim de evitar eventual prejuízo ao erário;

(d) Realize o inventário e a patrimonialização de todos os equipamentos


médico-hospitalares fornecidos pela empresa HOSPITAL SERVIÇOS DE
ASSISTÊNCIA SOCIAL SEM ALOJAMENTO LTDA, e que, nos termos da
cláusula 3.5 do Contrato Emergencial no 069/2020 – SES/DF, devem ser
incorporados ao patrimônio da Secretaria de Estado de Saúde do Distrito
Federal.

Fica estabelecido o prazo de 05 (cinco) dias úteis para o encaminhamento ao


Ministério Público do Distrito Federal, através de suas Promotorias de Justiça de Defesa da
Saúde, das providências concretas tomadas para o cumprimento da presente Recomendação.

Brasília/DF, 26 de outubro de 2020.

Marcelo da Silva Barenco Fernanda da Cunha Moraes Clayton da Silva Germano


Promotor de Justiça Promotora de Justiça Promotor de Justiça

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