„Imitacäo (nature, platao) ou representação (nature, aristotélica) em forma d´arte.
1. A arte repousa e tem embasamento na Mímesis, sendo chamada de “arte mimética”.
O conceito surgiu a partir dos primeiros textos de Platão, que negava a criação artística com o mesmo argumento da qual negava a originalidade da criação do mundo, tendo em vista que a arte não passa de uma imitação “terceirizada” da realidade, que também é uma imitação da verdadeira natureza, que é o mundo das idéias. E é de Platão que Aristóteles herda este conceito de “arte mimética”, reagindo à arte como representação do mundo, sem o pressuposto de que o mundo das essências e o mundo das aparências sejam diferentes. Sendo assim, a Mímesis não mais é vista por Aristóteles como imitação da imitação, como distanciamento da verdade, do bem e do real, e sim como contraposto a estes, não mais na determinação de definir a arte, mas de se apropriar dela para compor, criar e tornar verdadeira em sua “cópia” da natureza. O que não faz muito sentido, visto que nas duas teorias só é considerada arte aquela que for imitação ou representação da natureza, o que desapropriaria como elemento artístico as de cunho surreal, tal qual o abstrato, considerado arte também, tal qual belo, segundo Platão. A verossimilhança é a ferramenta/qualidade que faz a arte parecer verdadeira, tendo uma equivalência com o mundo exterior, estabelecendo semelhanças com o real. É esta que, de acordo com Aristóteles, provoca e transforma as emoções humanas, vindo a ser “purificador” sentir a representação e extravasar as sensações mais que em contato direto com o real, tendo na representação e na expressão uma forma de aprendizado e de liberdade.
2. A estética (sendo uma qualidade de percepção/sensação no grego), é para Platão um
dos elementos da tríade da unidade de uma obra, sendo analisada junto à lógica e a ética, para se tornar uma obra digna do belo, do bom e do verdadeiro. Tendo em vista a essência do belo como identificação do bom, e da arte como identificação do belo, e que essa perfeição exista apenas no mundo das idéias, sensitivo e longe da matéria, é contrário à própria natureza que a imitação não original (proveniente do mundo das idéias), mas sim sua reprodução tenha um fundo de valores morais presentes. Se o criador está preso aos códigos de linguagem e conduta invariáveis pelo condicionamento das suas sensações e os valores fundamentais, não tem capacidade de criar a arte em plenitude de sua forma, já que esta cria-se a si mesma. Segundo Platão novamente, em “O Banquete” duas partes como junção que se completam constituem um ser andrógino, que em seu andar perpetua a existência humana, e é este ser a beleza completa, só existindo no mundo das idéias platônico, e não uma simples imitação da natureza. A concepção de tal beleza, então, deve estar afastada da interferência e juízo humanos, e a arte é a beleza sem concepção, pois. (?!? É o ponto a qual minha lógica me induz, mas sem certezas desta minha falsa verdade)
3. O conceito de mimese abordado é o da identificação dos espectadores com a própria
realidade, em ações e atos característicos dos personagens, situações e conflitos derivados do meio que vivem e dos princípios solidificados nas sensações que sentiriam se passassem (ou já passaram) pelas mesmas “ocorrências”, uma espécie de empatia provocada/forcada. A verossimilhança é denotada nestas lacunas, abordado em temas recorrentes e conhecidos do publico, partindo do pressuposto de que para se existir compreensão, é necessário o conhecimento. Algo tal qual o publico-modelo (uma diferente conotação do conceito de leitor-modelo pensado por Umberto Eco) No drama, se a mimese é posta à prova e a verossimilhança atrai o receptor, este virá a ter o reflexo do personagem em si mesmo, sentir, vibrar, chorar, cantar, em suma, deter-se das sensações de energia do que se passa, vivenciar àquilo, portando-se como uma segunda parte da primeira, como se fosse uma simbiose de sentidos, algo comum no que dizem de irmãos univitelinos (exemplificando, não provado). A isto se dá o nome de catarse, uma descarga de emoções que “limpa/purifica” o indivíduo, sem que este esteja realmente vivendo a situação. A motivação da catarse, em teoria, é a de sentimentos primariamente ditos “maus” como vingança, ódio, terror, compaixão, sendo necessário sempre um personagem vil, que seria a materialização estereotipada de nossas angústias, raivas e conceitos. A este designamos nosso ódio, é cabível nosso desejo de vê-lo fracassado em meio às ruínas de escolhas obstinadas de crueldade implacável, de caminhos incertos e contradições que causou, de traumas e intrigas, afins genéricos mais. Tenho de buscar um livro que li, que denotava a isto, sobre o interesse indigesto d´um publico para com uma senhora anciã, daquelas rabugentas que voltava para casa com seu cesto de compras da feira, quando sofreu um ataque cardíaco. Quem importa-se com uma senhorinha dessas? As pessoas querem ler sobre sexo, violência, amores impossíveis e afins, dizia o texto. Ficarei a dever o nome do livro e do autor, mas hei de fazer tal busca. Aspectos culturais são repassados na catarse de um publico massificado, e nem vou ater- me ao texto para exemplificar. Temos, pois, a variação do bebê-diabo do “já inexistente” Noticias Populares, que marcou a ferro e fugas o publico paulistano. Temos a experiência de Orson Welles, em “Guerra dos mundos”(1938), que mostrou com o advento da comunicação em massa o grau de instabilidade social e sua recorrência otimizada ao provocar um caos generalizado de pavor e medo para seis milhões de pessoas estadunidenses. Ainda mais, em meu país de nascença (Hungria), quando foi exibida na televisão a novela “Escrava Isaura“ (brasileira) a comoção dos húngaros foi total, a tal ponto de haver uma campanha de arrecadação de fundos para, pasmem. Libertar a escrava! Essa ressalva hoje faz parte da nossa cultura, e bem mostra essa empatia generalizada para com o sofrimento alheio de um drama bem escrito/narrado/interpretado.
4. A poíesis é a análise para esclarecimento do tipo de atividade que é o conceito
artístico, considerando um ponto de vista do processo mental, material e técnico da criação da obra. Sendo a tékhne a determinação da mímesis, já abordada anteriormente, o processo de criação artístico é fundamentado nos padrões sociais e morais. Nas telenovelas brasileiras, para existir essa capacidade de absorver e tornar límpido não a tentativa, mas o drama, o processo de criação deve ser mimético,