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EXERCÍCIO DA PROFISSÃO
RESUMO
A sociedade vem enfrentando graves problemas que tem origem na ética, mais
precisamente na falta dela. Utilizando-se da pesquisa bibliográfica constatou-se que a
ética é tida como um conjunto de princípio que visam a ação, são historicamente
produzidos e pretendem tornar a sociedade mais humana. É evidente a necessidade de
uma disciplina de ética dentro dos cursos de graduação em Direito, uma formação
humanista dá aos alunos noções essenciais ao cumprimento da profissão formando
verdadeiros cidadãos. A Ordem dos Advogados do Brasil deve fiscalizar o exercício da
advocacia de acordo com seu Código de Ética e seu Estatuto, já que é detentora do
poder disciplinar. Uma boa formação ética, que prive pela humanização e não só pela
transmissão do conhecimento e uma boa fiscalização trará mais credibilidade e
confiança à classe dos advogados, bem como ao Poder Judiciário.
ABSTRACT
The society is facing serious problems that had their origin in the ethics, more precisely
in its lack. Using the bibliographical research we had verified that the ethics is
considered a group of principles that seeks the action; historically, it is produced and
intends to turn the society more human. The inclusion of an ethics subject in the courses
of Law is necessary; a humanist formation gives the students essential notions, when
they start to perform their profession, because it (the humanist formation) forms true
citizens. Brazil’s Lawyers Order should inspect advocacy according to its Code of
Ethics and its Statute, once it is holder of the discipline power. A good ethical formation
that deprives for the humanization and not only for the transmission of the knowledge
∗
Mestranda do Programa de Mestrado em Direito do Centro Universitário Eurípides de Marília –
UNIVEM, membro do Grupo de Pesquisa CNPq: Gramática dos Direitos Fundamentais.
Orientadora: Profa. Dra. Norma Sueli Padilha.
∗∗
Professor do Programa de Mestrado em Direito do Centro Universitário Eurípides de Marília –
UNIVEM e do Centro Universitário Toledo – UNITOLEDO/Araçatuba, pesquisador do Grupo de
Pesquisa CNPq: Gramática dos Direitos Fundamentais.
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and a good inspection will bring more credibility and trust to the lawyers' class, as well
as to the Judiciary Power.
INTRODUÇÃO
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Antes de adentrar na necessidade de vivenciar-se a ética no cotidiano,
necessário se faz conceitua-la e demonstrar sua caracterização como ciência, bem como
seu objeto, qual seja, a moral.
“Ética é a ciência do comportamento moral dos homens em sociedade”.
(VÁZQUEZ, 1995, p. 12)
É considerada uma ciência por ter objeto próprio, ou seja, leis e método
próprios, sendo seu objeto a moral. A moralidade positiva, “conjunto de regras de
comportamento e formas de vida através das quais tende o homem a realizar o valor do
bem” (MÁYNEZ, 1970, p. 12), é o exato objeto dessa ciência.
É preciso ficar claro que ética não se confunde com moral, pois a primeira é a
ciência dos costumes, já a segunda não é uma ciência e sim o objeto da ciência.
Portanto, cabe a ética retirar dos fatos morais os princípios gerais a serem aplicados.
Assim, “a ética é desconstrutora e fundadora, enunciadora de princípios ou de
fundamentos”. (NALINI, 2004, p. 27)
A ética originou-se na civilização em uma seqüência de evoluções do espírito
grego, acompanhou as transformações da sociedade industriais e democráticas. O
primeiro problema por ela enfrentado foi o do trabalho e da riqueza, depois o da cultura
e por último o que tange ao bem agir.
Vaz (1999, p. 61) conceitua a ética como:
[...] uma ciência dos costumes transmitidos na sociedade, dos estilos
permanentes do agir dos indivíduos (hábitos), bem como da
comprovação crítica dos novos valores que a evolução da sociedade
faz surgir.
Disso pode-se extrair que a ética tem como alicerce valores. As condutas
humanas, de acordo com as normas éticas, podem ser desejáveis ou indesejáveis, boas
ou más. Sendo a ética a Ciência do Bom às condutas por ela exigidas sempre devem ser
as desejáveis, considerando-se a preocupação humana em restabelecer os valores morais
por ora perdidos.
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É nítido o contraditório entre a própria Constituição Federal de 1988 que
reconhece a dignidade da pessoa humana que também é tratada na Declaração dos
Direitos do Homem e a forma em que vive a sociedade contemporânea diante de tanta
violência e descaso com a própria pessoa, tão defendida.
A ética segundo Máynez (1970) se classifica em ética empírica, ética de bens,
ética formal e ética valorativa.
“Ética empírica é aquela que pretende derivar seus princípios da observação
dos fatos”. (NALINI, 2004, p. 32) Dessa forma, deve-se analisar as condutas humanas
que ocorrem naturalmente e não as condutas de dever-ser contida nas normas. Aqui não
se consegue defender uma moral universal, haja vista a mudança das condutas em cada
época, chegando-se ao subjetivismo:
Se as idéias morais variam de indivíduo para indivíduo ou de
sociedade para sociedade, o bem e o mal carecerão de existência
objetiva, já que dependem dos juízos estimativos dos homens.
(MÁYNEZ, 1970, p. 37)
Enquadra-se aqui a ética anarquista que é contra toda norma e valor; a ética
utilitarista que considera bom tudo aquilo que é útil; a ética cética onde se desacredita
de tudo; e a ética subjetivista, sendo aquela na qual cada um adota a conduta ética mais
conveniente de acordo com sua escala de valores.
A ética dos bens defende “a existência de um valor fundamental denominado
bem supremo, a vida é um caminhar rumo a um objetivo”. (NALINI, 2004, p. 41) Aqui
cabe a cada um estabelecer suas metas e os meios para alcança-la. Aristóteles considera
como bem supremo a felicidade já que esta é inerente ao ser humano, sendo todos os
bens meios para obtê-la.
[...] o bem é a finalidade da ética. Ou seja, como disciplina, a ética
procura determinar os meios para atingir o bem. Mas pode-se dizer
também, de maneira muito mais ampla, que o bem é a finalidade de
todas as atividades humanas. (CHALITA, 2003, p. 36)
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A ética formal é aquela baseada na pureza da vontade e retidão dos propósitos,
ou seja, mais precisamente no imperativo categórico de Kant (1970, p. 67): “age sempre
de tal modo que a máxima de tua ação possa ser elevada, por sua vontade, à categoria de
lei de universal observância”. Para Kant (1970) a ética tem como fundamento exclusivo
à racionalidade, não há mais lugar para a moral empírica, antes existente no empirismo
e na ética dos bens, que se pautavam nos resultados obtidos por meio das condutas
humanas.
Com Kant o que se leva em consideração é a atitude interior de cada pessoa,
que deve agir espontaneamente de acordo com sua vontade e não com a vontade alheia.
Agora, tem-se a idéia de valor universal. O valor absoluto tem como fundamento à
pessoa humana, sendo que somente elas são portadoras da dignidade.
“No reino dos fins tudo tem ou um preço ou uma dignidade. Quando uma coisa
tem um preço, pode-se pôr em vez dela qualquer outra como equivalente; mas quando
uma coisa está acima de todo preço, e portanto não permite equivalente, então tem ela
dignidade”. (KANT, 1974, p.77)
Em suma, aqui se desvincula a moral das idéias de prazer e utilidade. Não cabe
ao agente atuar esperando alguma recompensa por sua ação e sim, de modo que a sua
motivação seja unicamente o reconhecimento do bem.
Na ética valorativa “o valor moral não se baseia na idéia de dever, mas dá-se ao
inverso: todo dever encontra fundamento em um valor”. (NALINI, 2004, p. 55)
O valor passa a ser conceito ético essencial, porém eles não foram criados, mas
sim descobertos, concluindo-se assim a já existência dos mesmos. Isso é facilmente
constatável por qualquer pessoa e não se vinculam a nenhuma forma de exteriorização.
Os valores integram o mundo imaterial não podendo, portanto, serem visualizados ou
sentidos.
A filosofia atual reconhece dois tipos de existência: o ser real e o ser
ideal. Pertencem ao primeiro todas as coisas e sucessos que ocupam
lugar no espaço ou no tempo. O ser real se encontra, por isso, espacial
e temporalmente localizado. Por sua mesma índole, pode ser objeto de
um conhecimento sensível. Na esfera prática têm essa forma de
existência os atos humanos, ou, mais precisamente, as variadíssimas
manifestações do agir: intenções, propósitos, decisões voluntárias,
juízos estimativos, sentidos de responsabilidade, consciência da culpa
etc. (MÁYNEZ, 1970, p. 217)
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Cabe ressaltar que os valores fazem parte do mundo do ideal, não integrando,
portanto, a ordem da realidade. Porém, isso não pode levar à conclusão de que o ideal
não existe. São as pessoas que atribuem valoração a coisas e ações (boas, ruins, úteis,
belas), tal conduta faz parte da índole intuitiva e emocional de cada ser humano, porém
não são eles capazes de intuir todos os valores existentes. Daí a missão dos pedagogos,
familiares entre outros de desenvolver o conhecimento em busca dos valores eticamente
relevantes.
Se o homem é capaz de propor-se um alvo e alcança-lo, isso se deve a
que o acontecer causal não se orienta de maneira inexorável até uma
meta estabelecida de antemão, senão que pode ser desviado, ao menos
dentro de certos limites. Para desvia-los só faz falta o conhecimento
das relações entre fenômenos. Isto é o que expressa o velho aforismo:
à natureza não se domina, senão obedecendo-a. E obedece-la é
orientar suas forças na direção de nossos desígnos. (MÁYNEZ, 1970,
p. 266)
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com as futuras gerações, como já assegura a própria Constituição Federal de 1988.
Então, as obrigações éticas não estão ligadas somente por aquilo que já se tem e sim,
por tudo aquilo que se poderá ter, realizar e ser.
Depois de breves considerações do que vem a ser a ética e um pouco de sua
trajetória passar-se-á a analisar a importância de seu estudo como disciplina no curso de
Direito e far-se-á breves considerações sobre a ética no desenvolvimento da profissão de
advogado e sua fiscalização pela Ordem dos Advogados do Brasil.
Com base na obra Ensino jurídico OAB: 170 anos de cursos jurídico no Brasil
(1997) far-se-á um escorço histórico da disciplina ética nos cursos de graduação em
Direito no Brasil.
A ética, num primeiro momento, dentro dos cursos de Direito era estudada
dentro de um segmento mais amplo, qual seja, o da Filosofia. Desde a criação dos
cursos de Direito no Brasil em 1827 a disciplina de Filosofia só passou a ser obrigatória
em 1891 e era ministrada em conjunto com a disciplina História do Direito.
Em 1895 uma nova legislação reorganizou as Faculdades de Direito no Brasil,
a partir daí a disciplina de Filosofia passou a ser ministrada separadamente da História
do Direito e era dada no primeiro ano letivo.
A Reforma Francisco Campos, em 1931, procurou dar um caráter
profissionalizante aos cursos jurídicos. Assim, ocorreu um desdobramento: o
bacharelado e o doutorado; ao primeiro cabia a formação dos operadores técnicos e ao
segundo a preparação dos pesquisadores e futuros professores. A disciplina de Filosofia
do Direito deixou de ser obrigatória no curso de bacharelado sendo obrigatória apenas
no curso de doutorado. Porém, as Faculdades tinham autonomia para ministrar outras
matérias além daquelas exigidas como obrigatórias.
Em 30 de dezembro de 1994 foi editada a Portaria 1886 que fixou as diretrizes
curriculares e o conteúdo mínimo dos cursos jurídicos. A disciplina de Filosofia voltou
a ser uma disciplina obrigatória, além disso, dividiu as disciplinas em dois grupos: as
disciplinas fundamentais e as profissionalizantes.
Assim diz o art. 6º da Portaria 1886/94:
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O conteúdo mínimo do curso jurídico, além do estágio, compreenderá
as seguintes matérias que podem estar contidas em uma ou mais
disciplinas do currículo pleno de cada curso:
I - Fundamentais: Introdução ao Direito, Filosofia (geral e jurídica,
ética geral e profissional), Sociologia (geral e jurídica), Economia e
Ciência Política (com teoria do Estado);
II – Profissionalizantes: Direito Constitucional, Direito Civil, Direito
Administrativo, Direito Tributário, Direito Penal, Direito Processual
Civil, Direito Processual Penal, Direito do Trabalho, Direito
Comercial e Direito Internacional.
Parágrafo único: As demais matérias e novos Direitos serão incluídos
nas disciplinas em que se desdobrar o currículo pleno de cada curso,
de acordo com suas peculiaridades e com observância de
interdisciplinaridade.
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especialmente nas atividades relacionadas com o estágio curricular
durante o qual a prática jurídica revele o desempenho do perfil
profissional desejado, com a devida utilização da Ciência Jurídica e
das normas técnico-jurídicas. (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2006,
grifo-nosso)
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visto, não há um melhor lugar para essa educação que os cursos de graduação em
Direito, já que é ele o responsável pela formação dos futuros dirigentes do Poder
Judiciário, bem como de muitos políticos que decidirão o futuro da nação.
Em 1943 foi criado o Instituto dos Advogados Brasileiros sendo sua finalidade
a organização da Ordem dos Advogados em provento geral da ciência e da
jurisprudência. Tal Instituto era tido como um conselho e não estava ligado ao Estado.
A Ordem dos Advogados do Brasil foi criada pelo Decreto 19.408 de 18 de
novembro de 1930, assinado por Getúlio Vargas, chefe do Governo Provisório. Em 06
de março de 1933 se deu a instalação do Conselho Federal da Ordem dos Advogados.
As primeiras tarefas enfrentadas foram: a organização da Instituição, das
Secções Estaduais e a elaboração de um Código de Ética.
Pode-se dizer que um código de ética é um acordo explícito entre os membros
de um órgão social, uma categoria profissional, um partido político, uma associação
civil, dentre outros. Seu objetivo é explicitar como determinado grupo social, aquele
que o constitui, pensa e define a própria identidade política e social, bem como define
como o grupo se compromete a realizar seus objetivos particulares de modo compatível
com os princípios universais da ética.
Inicia-se a construção desse código definindo os princípios que o fundamentam
e o mesmo se articula em dois eixos, quais sejam, os direitos e os deveres. Ao definir os
primeiros, o código cumpre a função de delimitar o perfil de seu grupo, já quanto ao
segundo abre o grupo à universalidade. Estas são suas principais funções.
A produção de tal código deve ser um processo de exercício da própria ética,
deve envolver os membros do grupo social que abrangerá e representará. Essa
elaboração, portanto, se dá como um processo educativo no interior do próprio grupo,
resultando num produto tal que cumpra ele também uma função educativa e exemplar
de cidadania diante dos demais grupos sociais e dos próprios cidadãos.
O primeiro Código de Ética e Disciplina dos Advogados foi aprovado em 25 de
julho de 1934. Em 4 de julho de 1994 foi criado o Estatuto da Ordem dos Advogados do
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Brasil pela Lei nº 8906. O Código de Ética e o Estatuto trouxeram os princípios
norteadores da classe dos advogados, bem como seus deveres e direitos, regulando o
exercício da advocacia em todo território nacional. Além disso, criou um sistema de
punição para as faltas éticas cometidas por esses profissionais, cabendo a Ordem dos
Advogados do Brasil punir os inscritos que infringirem tais normas devido o exercício
do poder disciplinar a ela atribuído.
Com isso, verifica-se que cabe à corporação a fiscalização do exercício
profissional do advogado, sendo ela autônoma para punir aqueles que descumprirem as
condutas éticas estabelecidas.
[...] nem à sociedade em seu conjunto, nem ao Estado pode ser
atribuída a missão de regulamentar moral e juridicamente a profissão.
A atividade de uma profissão só pode ser regulamentada eficazmente
por um grupo que viva constantemente bem próximo desta profissão
para conhecê-la em seu pleno funcionamento e sentir todas as suas
necessidades seguindo-lhe em todas as variações. (SODRÉ, 1967, p.
370)
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profissão, bem como o da Ordem dos Advogados do Brasil em puni-los para ao menos
amenizar a sensação de impunibilidade na sociedade.
Portanto, a conduta idônea é uma prática que deve ser cada vez mais
estimulada, não só na área do Direito, mas em todas as demais profissões. Com isso ter-
se-á o resgate da consciência ética utilizando-se cada vez menos o poder disciplinar
melhorando a convivência em sociedade.
CONCLUSÃO
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E, assim, com essa formação mais humanística englobando dentro dos cursos
jurídicos a ética, os professores poderão trabalhar cada vez mais os valores essenciais ao
exercício da profissão. E a tendência será diminuir as condutas reprováveis e quem sabe
em um futuro breve a sociedade possa contar com profissionais sérios e capazes de
controlar um dos poderes que ainda tem um pouco de credibilidade social, o Poder
Judiciário.
REFERÊNCIAS
CHALITA, Gabriel. Os dez mandamentos da ética. São Paulo: Nova Fronteira, 2003.
MÁYNEZ, Eduardo García. Ética – Ética empírica. Ética de bens. Ética formal.
Ética valorativa. 18. ed. México: Editorial Porrua, 1970.
NALINI, José Renato. Ética Geral e Profissional. 4. ed. São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais, 2004.
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ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL (Brasil). Ensino jurídico OAB: 170 anos
de cursos jurídicos no Brasil. Brasília: OAB, Conselho Federal, 1997.
REALE, Miguel. Filosofia do Direito. 19. ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2002.
RODRIGUES, Horácio Wanderlei. Novo currículo mínimo dos cursos jurídicos. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 1995.
SODRÉ, Ruy de Azevedo. O advogado, seu estatuto e a ética profissional. 2. ed. São
Paulo: RT, 1967.
VAZ, Henrique Cláudio de Lima. Ética e razão moderna. In: Ética na virada do
milênio. 2. ed. São Paulo: LTr, 1999.
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