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O Método em Marx - José Paulo Netto (2002)

Aula 1: A filosofia do direito hegeliano e a crítica de Marx (1843) / fita 1

José Paulo Netto: assumidamente luckacsiano.

- Três pilares obra marxiana - método dialético; perspectiva da revolução (engajamento


de Marx influenciou a genética de sua obra); e teoria do valor-trabalho.
- Socialdemocracia alemã no final do séc. XIX (via E. Bernstein): crítica justamente a
essas três dimensões.

1842: a experiência de Marx como jornalista levou-o a identificar as insuficiências das


ideias liberais na Alemanha e, mais do que isso, o fezele perceber que havia conflitos de
classe. Na questão da madeira, toma posição dos camponeses, mas num sentido
estritamente ético ("o mais fraco"); porém, nota que é uma argumentação insatisfatória,
insuficiente (já percebia que não adianta pedir ética na política!).

Após casar-se em 1843, Marx lê um texto fundamental para o pensamento alemão -


Filosofia do Direito, de Hegel (1821).

Problema central na época da produção do texto: relação entre Estado e sociedade civil
(questão da Teoria Política desde seu nascimento). Hegel, conservador, critica
severamente a sociedade civil burguesa, afirmando que só se torna um espaço de
realização humana através do Estado; este funda e organiza a sociedade.
-> É desta obra que vem a determinação hegeliana segundo a qual "O que é real, é
racional". Ela pode ser interpretada de duas maneiras: 1) O que é real, o que existe,
atende as exigências da razão. Logo, será a não-razão que moverá sua contestação (o
real seria intocável). Linha da "direita hegeliana"; 2) o que é real, o que existe, pode ser
submetido à crítica da razão. Esta interpretação antípoda da anterior é feita pela
"esquerda hegeliana".

-> Tríade hegeliana: afirmação (Espírito - "Deus") -> negação (alienação de si,
originando o Mundo) - > negação da negação (reconciliação com si - Espírito-Mundo).
- Ludwig Feuerbach fez uma crítica materialista a essa consagração da idéia de Deus:
não é Deus que cria os homens; eles, desconhecendo suas reais potencialidades, as
alienam numa figura ideal, que é (são) Deus (es). São os homens que criam Deus.

Neste momento Marx enxerga a mesma inversão: não é o Estado que funda a sociedade
civil; é esta que permite a compreensão do Estado. E surge a pergunta: como entender a
sociedade civil? Com que instrumentos teóricos?
- Marx já percebeu a limitação de uma análise filosófica e/ou jurídico-política para
esclarecer a sociedade, o "reino da miséria", dos negócios, e compreender o Estado.

1844: após leitura de Esboço de uma crítica da economia política, de F. Engels, Marx
percebe a importância da economia política como resposta ao seu questionamento
(como entender a sociedade civil burguesa).
- Além disso, é a partir de sua mudança para Paris que Marx começará a levar a sério o
estudo da tradição do movimento socialista, desde a Conjuração dos Iguais (1797),
capitaneada por Graco Babeuf ("pai" do socialismo revolucionário moderno). Mais do
que isso, ele vai conhecer o movimento socialista através de aproximação com o próprio
movimento operário.

* Aqui, Marx já não é o graduado em Filosofia de 1841, nem o democrata radical


de 1842. Ele fez uma opção política (torna-se comunista), combinada com uma
questão teórica (como entender a sociedade burguesa). É a obra de Marx que
associa a tradição socialista com o movimento operário (basta lembrar-se de
Robert Owen para perceber que ambos não são intrínsecos um ao outro).

Contato de Marx com a Liga dos Justos em Bruxelas. Note-se a dinâmica da associação:
Liga dos Proscritos, Liga dos Justos, Liga dos Comunistas. Publicação do Manifesto do
Partido Comunista em 1848.
-> 1848 é o ano em que o proletariado se coloca enquanto sujeito revolucionário, ou
seja, que percebe ter interesses históricos específicos, e que não cabem no limite da
ordem burguesa.

* Significado da concomitância dos acontecimentos: o Manifesto expressa do ponto


de vista da consciência social a irrupção de um novo sujeito histórico. Expressa no
plano ideal aquilo que se estava gestando no plano socio-material.

1857/58: Os Grundrisse. Nesta obra Marx atinge o patamar teórico-metodológico que


lhe permitirá compreender a sociedade civil da ordem burguesa.

- Elementos a destacar de todo o percurso de Marx - todo grande pensador é


caracterizado por dois elementos: 1) Uma questão central, uma preocupação nuclear,
que o acompanha a vida inteira. A magnitude e relevância dela determinam magnitude e
relevância do pensador. No caso de Marx, o objeto foi a ordem burguesa; 2) Todo
grande pensador é a expressão de um movimento social. No caso de Marx, trata-se do
proletariado, que se põe como sujeito político autônomo a partir de 1848 (ainda que o
proletariado revolucionário não o saiba).
-> "Jovem Marx/Velho Marx" - fratura filológica equivocada. Deve-se tratar o
pensamento de Marx como uma unidade, mas em movimento.

Três grandes blocos de manuscritos - 1857/58, 1861/63, 1863/65. Dão origem a "O
Capital - I" (publicado por Marx), "O Capital - II" (publicado por Engels), "O Capital -
III" (reformulado por Engels devido à deterioração do material), e "O Capital - IV"
(descoberto e publicado por K. Kautsky. Hoje a norma é publicar até o III; aquele
último é publicado como "Histórias da mais-valia").
-> Rosa Luxemburgo, Lenin, Plekhanov, Gramsci: não conheceram as obras fundantes
do marxismo, que foram publicadas tardiamente.

Aula 1: A filosofia do direito hegeliano e a crítica de Marx (1843) / fita 2

* Distinção entre "obra marxiana" e "tradição marxista. Marx foi um teórico


ligado à revolução. Esta não é um problema teórico; é um problema prático-
político. Ou seja, Lenin, Gramsci, Alvaro Cunhal (PCP), Mao Tse-Tung,
Mariátegui e outros foram marxistas que leram "diferentes" Marx. Ele não é um
pensador que se resolve na academia, como Weber ou Durkheim.
Propor uma volta a Marx não é achar que a programática dele nos é contemporânea;
mas sua problemática é.
-> E qual é o objeto de Marx? Aquela sua questão central se expressa no seguinte objeto
de pesquisa: gênese, desenvolvimento, consolidação e crise da ordem burguesa. Seu
objeto é aquela formação societal que se funda na dominância do modo de produção
capitalista.
-> Marx oferece uma teoria social a respeito da gênese, desenvolvimento, consolidação
e crise da ordem burguesa. Mas o que é teoria para ele? É reprodução ideal,
reconstrução no plano das ideias (expressa algo que é ontologicamente anterior a
tais ideias, do movimento do objeto real. Não é uma descrição, uma fotografia.
"Não existe teoria sobre aquilo que não existe". Suposto marxiano, herdado de
Hegel, a respeito da construção do conhecimento: a factualidade, a empiria, é o
ponto de partida do conhecimento; não há conhecimento que se inicie senão a
partir da expressão fenomênica. Mas esta aparência, apesar de início do processo
de conhecimento (e por isso, não é descartável, secundária), não esgota a estrutura
do processo de que é sinal. Pressuposto marxiano (textual): "Se a aparência dos
fenômenos coincidisse com sua essência, toda ciência seria supérflua". A aparência
é necessária ao conhecimento, é seu ponto de partida. Todavia, ao mesmo tempo
em que revela oculta; ao mesmo tempo em que mostra, esconde. Por isso, essa
reprodução não é espelhamento da realidade: se trata de romper, de ir além da
aparência, para localizar o movimento essencial. Consequência: não existe (ou, não
pode existir) uma construção metodológica que o sujeito pesquisador elabora
independentemente da natureza do objeto pesquisado. É daí a distinção de Marx
entre "técnica de pesquisa" e "método de pesquisa". Para ele, método é a relação
que permite ao sujeito apreender o movimento de um objeto.

- Marx é da tradição segundo a qual é possível conhecer a verdade, a "coisa em si", que
remonta a Aristóteles.

- Validez da teoria marxiana: se o objeto é correto, se a construção da teoria dá-se de


acordo com o estabelecido, é óbvio que essa teoria só vale para a ordem burguesa.

* Ontologia geral - materialismo dialético -, e sua aplicação à sociedade -


materialismo histórico.

- Universalidade e limite da obra de Marx: faz sentido em todas as formações sociais


dirigidas pelo trabalho sob a dominância do capital.

Os Grundrisse (1857/58): ponto de chegada e de partida de Marx. Após 15 anos de


estudos em cima de seu objeto (1843 - 1858), ele acumulou um saber que marca seu
pensamento, sendo chegada e partida.
-> Isso posto, quais são as categorias fundamentais de Marx? Ora, se o processo de
conhecimento é a reprodução ideal do movimento constitutivo do objeto, as categorias
não são criações humanas. São traços característicos desse próprio movimento de
constituição do objeto pesquisado. Marx não nos deu uma lógica; ele elaborou uma
lógica específica - a do capital (afirmação de Lenin).

Aula 2: Introdução: a especificidade da obra de Marx / fita 1


- Em Marx, há uma subordinação das preocupações lógicas, metodológicas e
epistemológicas à ênfase ontológica.
-> Ele se contrapôs a uma tendência fortíssima no pensamento ocidental desde o séc.
XVIII, cuja principal fonte é Kant, ao não discutir a questão do conhecimento tomada
em si mesma. Não problematiza as condições de conhecer; problematiza as condições
do conhecimento de um objeto determinado. Não há em Marx uma discussão
metodológica autônoma. Ele dedica poucas páginas a isso em A Ideologia Alemã,
Miséria da Filosofia, introdução dos Grundrisse, prefácio e pósfacio (2ª edição) de O
Capital. Nele não se trata de elaboração de uma lógica; trata-se de apreensão de uma
lógica, de uma estrutura movente de um objeto determinado.

- Problema: é possível estabelecer um recorte entre a análise histórica e social e o


método, em Marx? Só é possível apreender sua forma de tratar objeto apreendendo-se
de sua análise teórica. Em suma, conhecer o método de Marx é ler O Capital.
-> Opção feita por JP Netto na temática: acompanhar ao longo da evolução e da
maturação da obra marxiana quais foram as análises que Marx realizou. Citação de
Lenin (quando questionado sobre o que seja marxismo): "análise concreta da situação
concreta".

- Nesta aula, o que interessa é o pensamento de Marx no período 1843 (Manuscritos de


Kreuznach) / 1846 (Teses sobre Feuerbach [1845], A Ideologia Alemã): é onde ele
transita de um questionamento filosófico do mundo para a crítica da economia política
como instrumento de conhecimento da sociedade civil.
-> 43: Manuscritos de Kreuznach (1ª crítica a Hegel); A Questão Judaica (2ª crítica a
Hegel); 44: Crítica da Filosofia do Direito de Hegel [a Introdução foi indicada para os
cursistas]; A Questão Judaica; Manuscritos Econômico-Filosóficos ("Manuscritos de
44"); Cadernos de Paris; 45: A Sagrada Família - ou Crítica da crítica crítica; 45/46: A
Ideologia Alemã; 11 Teses Acerca de Feuerbach.

- Hegel (1770-1831): domina a cultura alemã até 1848. Seu pensamento é uma das
fontes fundamentais da arquitetura marxiana. A relação entre ambos os pensamentos
não se resume à inversão materialista e incorporação do método dialético. Marx
retrabalha o universo categorial de Hegel; atribui novos sentidos e significados às
categorias hegelianas; articula o que incorpora criticamente numa concepção bastante
original em face de Hegel.

* Relação entre Estado e sociedade civil: questão central em Hegel, e também em


Marx (em 1843). Hegel resolve a questão descrevendo o primeiro como fonte da
racionalidade e universalizador, enquanto a segunda é o reino do privatismo, do
particularismo, da "miséria social e moral". Para Marx, o Estado também é
expressão da universalidade, mas de uma universalidade alienada. O que Hegel vê
como realização da razão na história, Marx vê como mistificação.
-> "O Estado expressa a sociedade civil. Só é possível entendê-lo a partir da
sociedade civil. Ele é alienado, uma falsa universalidade, porque ele expressa uma
sociedade civil na qual é impossível uma dimensão universalizadora”.
Consequência prática: como o Estado não pode engendrar uma universalidade
verdadeira, Marx toma uma programática que não é a de Hegel - mudar o Estado
mudando-se a sociedade civil que ele expressa.
* Entre 1ª e 2ª crítica a Hegel, há um giro no pensamento de Marx. Na segunda,
aparecem duas categorias que estavam ausentes na primeira (onde se colocou questões
que não conseguia responder): "revolução" e "classe". A alternativa não está mais em
qualquer questão teórica, mas em questão prática; não é mais o povo, é o proletariado.
-> Apesar da brutal diferença, ainda não tem nenhum aparato conceitual que lhe permita
compreender a sociedade civil. Ainda é principista, em torno de princípios.

- Marx mergulha na Economia Política. E.P., no tempo aqui colocado, se desenvolve na


Europa Ocidental, fundamentalmente na Inglaterra, entre os séc. XVII e 1825/1830.
Quem eram os economistas políticos? Eram aqueles que, percebendo o surgimento de
uma nova forma de riqueza - imobiliária (propriedade da terra) para mobiliária
(dinheiro) -, e a mudança dos grupos sociais concomitante, percebem a constituição de
uma nova forma societal, e irão dar-se ao trabalho de compreendê-la. Com algumas
exceções, a maioria deles defenderá tal forma. Ou seja, os e.p. eram os ideólogos da
sociedade burguesa, pois a consideram a sociedade mais adequada aos homens (há juízo
de valor). Problema comum: de onde vem a valorização? De onde vem o lucro e o
salário? Para explicar isso, tinham que percorrer "classes", "Estado" (regulamentação
monetária etc.), e outras questões não-econômicas, no sentido que a academia entende
Economia hoje (os cursos não discutem Estado, p. ex.). "De onde vem o valor?".
Respondem sem dúvida que vem do trabalho. Assim, se todo mundo trabalhar, todo
mundo vai ganhar - o capitalista exerce várias funções que, posteriormente, tornar-se-ão
especializações, e ele irá empregar gestores.
-> Essa E.P. é o embrião do conhecimento científico da nossa sociedade moderna. Mas,
a partir de 1825, as crises capitalistas tornam-se crônicas, e as promessas de igualdade,
desenvolvimento, justiça, colocadas pelos economistas políticos, dissolvem-se perante o
movimento real. A partir de 1830, o movimento socialista, herdeiro da teoria do valor-
trabalho ricardiana, começa a se perguntar o que fazer com os capitalistas (que NÃO
trabalham). Vêm as revoluções de 1848. E vem Marx, refunda a teoria do valor-
trabalho, extrai daí a teoria da mais-valia, e conclui que esta sociedade se funda na
exploração. Não é à toa que, desde 1848 até hoje, afirma-se a insustentabilidade da
teoria do valor-trabalho, e retirou-se ela do horizonte da Economia Política.
-> Marx chama essa de "economia política vulgar", tendo respeito pela economia
política clássica. Afirma que sua contribuição foi fundamental, principalmente Smith e
Ricardo, por descobrir categorias sem as quais é impossível compreender a sociedade
capitalista. O problema é que pensaram como categorias a-históricas, naturais. O "jus
naturalismo" fornecerá a base para a defesa do direito de propriedade. Não vêem a
relação capital-trabalho como constituída historicamente. Ou seja, pela crítica da
economia política clássica é possível desvendar o funcionamento da sociedade civil
burguesa.

* Para Marx, fazer a crítica é tomar todo processo por todos seus fundamentos e
trazê-los à consciência ("reprodução ideal do movimento..."). Na ótica marxiana,
crítica é constitutivo de qualquer teoria.

Aula 2: Introdução: a especificidade da obra de Marx / fita 2

- Mergulho na E.P.: Manuscritos Econômico-Filosóficos (“Manuscritos de 1844”).


Escritos para estudo; não eram para publicação. Claramente uma obra de transição.
-> Marx confronta seu conhecimento teórico-filosófico com a argumentação dos
economistas políticos. Utiliza três categorias: propriedade/capital, dinheiro e trabalho.
Carrega a distinção entre emancipação política (resultado da revolução burguesa) e
emancipação humana (vinculada à revolução, radical, levada adiante por uma classe
com necessidades radicais), que já havia feito em A Questão Judaica.
-> Nesta primeira leitura, Marx compreende pouco os economistas políticos; seu texto é
marcado por um forte tom ético.

* É na categoria do trabalho que aparecerá a originalidade do pensamento


marxiano: afirma que o homem é uma constante tensão entre a sua genericidade
humana (o ser social histórico, cultural) e a sua singularidade imediata, tensão
insolúvel. O homem é um ser objetivo: só se mantém enquanto tal na medida em
que se objetiva; a condição da existência humana é a condição da objetivação dos
sujeitos singulares. Objetivação que se dá em formas pouco perenes (gestos, riso
etc.), mas também em formas duradouras (produto do trabalho, ciência, arte,
literatura). Este conjunto de objetivações pode ser apropriado, pode ser
subjetivado, pelos indivíduos ("O homem é aquele que é; não aquele que tem. O
domínio da humanidade é o do ser, não o do ter"; o homem rico é aquele que
conseguiu subjetivar uma riqueza de objetivações). Marx está pensando aqui no
indivíduo socialmente construído: ninguém nasce mais rico ou mais pobre; a
sociedade nos torna mais ricos ou mais pobres. Para Marx, é o sistema de
objetivações humanas que faz emergir e desenvolver o ser social. E para ele, o
TRABALHO é objetivação elementar, aquela a partir da qual todas as outras se
desenvolvem, e ao desenvolver-se se autonomizam (p.ex., ciência, arte etc.). E ao
conjunto de objetivações, a esse sistema de objetivações, estaria reservado o
conceito de PRÁXIS.

- Para ele, o homem é antes de tudo um ser prático e social. Este caráter do antropos é
exemplificado paradigmaticamente pelo trabalho. Nesta concepção, trabalho não é
obrigação, penitência, algo fortuito; é aquela objetivação privilegiada que garante a
condição humana. "O trabalho é condição eterna do homem" (O Capital); ou seja,
suprimido o intercâmbio do homem com a natureza, não existe humanidade. Trabalho é
a realização dos homens enquanto seres específicos.

- Mas, justamente na forma de sociedade na qual Marx está inserido, o trabalho é


sentido opostamente a esta visão por aqueles que o executam.
* O trabalho, nesta sociedade, faz as pessoas que o executam viverem uma
oposição em três níveis: a) em relação àquilo que fazem (o produto do trabalho não
lhes pertence; não se reconhecem nele, que se impõe como um objeto que lhes é
alheio); b) em relação àqueles que também trabalham (não se reconhecem uns nos
outros como iguais; pelo contrário, se antagonizam; não são fins, são meios
uns dos outros); c) em relação a si mesmas (o ser delas é um no local do trabalho e
outro fora. Ou seja, o trabalho como está sendo realizado, ao invés de ser
afirmação dos homens, se põe como sua negação. Em certas condições sociais,
históricas e específicas, algumas objetivações adquirem um caráter tão estranho, se
autonomizam em face do criador, a criatura ganha uma vida própria e oprime o
criador. O que se realiza não é uma objetivação; é uma objetivação, que em
negando seu sujeito, volta-se como ALIENAÇÃO.
-> Marx ainda está confrontando Hegel. Para este toda objetivação é uma alienação,
pois nele esta é uma categoria sem elementos críticos-valorativos. Já com Feuerbach,
alienação passa a ter um caráter crítico, e em Marx tem uma crítica radical: distingue
claramente objetivação de alienação (o que não havia em Hegel). Alienação em Marx é
tudo aquilo que mutila, impede o desenvolvimento da essência humana (como
construção histórica). Em confronto com a econ. pol., Marx reconstrói uma série de
categorias filosóficas.
-> O que é próprio da sociedade burguesa é tornar o conjunto das relações alienadas. O
trabalho alienado determina a alienação da vida dos homens; trata-se de uma sociedade
alienada.
-> Como objetivação fundamental que sustenta o ser social, a partir de uma visão
fáustica, prometéica do homem (de um homem total - conhece por processo de negação,
e desenvolve-se ilimitadamente), Marx pensa-o não apenas como ser objetivo, mas
como ser criador ("ser produtivo").
* Aqui, Marx coloca-se um novo problema: ainda está vinculado a Feuerbach; porém, a
concepção de homem neste, sua antropologia, é de um ser sofredor e passivo
(Feuerbach parte de uma antropologia naturalista, empiricista, naturalista), o que é
incompatível com uma noção de homem como ser criador. Ao mesmo tempo, descobre
em Hegel uma centralidade do trabalho (mesmo que do Espírito) semelhante à sua.
Interessante observar que todo esse movimento dialético de negação/afirmação foi
mediado pela descoberta da econ. pol. por Marx.

Aula 3: Da filosofia à crítica da economia política / fita 1

- O trato com a econ. pol. obriga-o a repensar seu universo filosófico. Colocada a
necessidade de Marx discutir a filosofia de Feuerbach, coloca-se a necessidade, na
verdade, de discutir a filosofia pós-Hegel.

- 1845: A Sagrada Família (primeira parceria significativa com Engels). Subtítulo:


Crítica da crítica crítica. Polêmica na Alemanha pós-1840 que ambos travam com
Bruno Bauer e amigos deste. O centro da crítica deles é à intelectualidade alemã que
não deu um passo para uma crítica da filosofia hegeliana com implicações políticas
progressistas. A obra é um balanço do debate filosófico alemão dos anos 1840. Não
enfrentam ainda Feuerbach.

- 1845/46: A Ideologia Alemã. Continuidade do balanço anterior, enfrentamento duro


com Feuerbach, e desenvolvimento das concepções dos autores a respeito de história,
sociedade e economia.
-> Importância do enfrentamento com Feuerbach: acerto de contas com o próprio
passado intelectual, ao mesmo tempo em que cria um patamar teórico ao qual os autores
sempre vão se remeter.
* IDEOLOGIA - a palavra surge na primeira década do séc. XIX, por um filho do
Iluminismo, Destutt de Tracy. A partir de uma polêmica entre seus discípulos e
Napoleão (que chamava os primeiros, pejorativamente, de "ideólogos", "que
vivem com os pés nas nuvens"), a palavra e seus derivados se espalhou pela
Europa. Com Marx e Engels a palavra adquire status de conceito: é toda e
qualquer representação ideal que, prenhe de interesses materiais, não os reconhece
como tais. As estruturas, configurações, típicas da ideologia são elaborações ideias
que desconhecem seus condicionalismos históricos, e, portanto se apresentam como
demiúrgicas da própria história, como autoras dela. É próprio do pensamento
ideológico não se reconhecer como produto de condições sociohistóricas
determinadas, e por isso ele expressa necessariamente uma falsa consciência (não
significa "consciência errada", "mentira"). Graficamente: inversão da imagem na
câmara escura. Ao desconhecer seus condicionalismos, a ideologia oferece da
realidade uma visão unilateral, parcial. Toma elementos da realidade, os
reconfigura sem conseguir estabelecer os nexos entre essa representação e as
condições históricas daquilo que pretende representar, e aparece como uma
construção que não pode ser questionada desde dentro; é uma falsa consciência
que se auto legitima. É um conceito crítico-negativo, usado para caracterizar a
filosofia alemã pós-hegeliana.
-> O conceito tem que ser relativizado historicamente. Depois de 1848, não é mais tão
simples aceitar que as ideias produzidas e seus autores não reconhecem os interesses aos
quais estão conectados. Pós-1848 grande parte dos ideólogos estão
CONSCIENTEMENTE contribuindo para mistificações históricas, pois já foram dadas
as condições de reconhecimento dos limites históricos e dos condicionantes materiais
das ideias.
* TEORIA DA DINÂMICA HISTÓRICA - "Como a história funciona?". A
história não é uma história que passa por cima da vida dos homens; ela é
constituída pela vida dos homens. Os homens fazem a história; mas não idealmente
(e sim cotidianamente). Ela não é feita nos grandes eventos, pelas grandes
personagens. É feita pelo conjunto dos homens. Assim, o primeiro passo para
compreender isso é saber como os homens produzem sua própria vida
("compreender a produção material da vida social"). Tal processo envolve
produção material (para satisfazer necessidades fundamentais), mas isso é suporte
para a "vida social". Ou seja, "vida social" envolve "produção material", mas é
mais que isso. É no interior, sobre, a partir, desta "base material" que os homens
se reproduzem. Este é o dado primário a partir do qual tudo tem que ser pensado.
-> Os homens precisam de certos bens, certas coisas, as quais devem ser produzidas.
Para tal, eles devem colocar em ação um conjunto de instrumentos, capacidades e
conhecimentos que lhes permitam transformar a natureza. Tudo aquilo que concorre
para essa produção são as FORÇAS PRODUTIVAS, as quais se apresentam sempre
EM DESENVOLVIMENTO (mais complexas, ricas, mediatizadas e potentes). Mas no
processo de trabalho - mediação entre a natureza e a sociedade, para suprir necessidades
desta - os homens não apenas implementam suas forças e instrumentos; isso se dá no
marco de relações entre os homens, que passam pela posse/propriedade dos
instrumentos, por hierarquias sociais e, sobretudo, pela questão central de saber quem
fica com o que é produzido além das necessidades imediatas.
* A característica do trabalho é que o resultado dele transcende sempre aquilo que
é gasto para que ele se execute; é próprio do trabalho humano gerar um excedente
além daquilo que é utilizado na sua realização (a constituição do excedente é
distinta ao longo da história). Toda a questão na história é a luta pela apropriação
e destinação do excedente, obtido a partir do trabalho do PRODUTOR DIRETO
(aquele que coloca sua força e instrumentos no processo de transformação da
natureza). São as relações de propriedade que determinam quem se apropriará do
excedente; elas determinarão as relações de produção próprias de uma
determinada sociedade.
* O processo de reconstrução do concreto, da história, deve ter um ponto de
partida para ser integralizado no pensamento. Para Marx e Engels este é a
produção material da vida social. Esta produção é feita na relação entre os meios e
modos de produzir e a configuração social onde esses meios e modos são
empregados. Não importa aquilo que os homens produzem, mas sim a forma social
na qual produzem, a estrutura no interior da qual produzem, que distingue
aqueles que possuem instrumentos e aqueles que não possuem. É essa relação
social que vai determinar a apropriação do excedente. Desvendar tal relação é
desvendar a história. Isso porque o desenvolvimento das forças produtivas é
cumulativo, e não é simétrico nem necessariamente compatível com as relações
sociais de produção (que são RELAÇÕES JURÍDICAS DE PROPRIEDADE) no
interior das quais se dá (os elementos da produção material da vida social - FP e
RSP - têm dinâmicas diversas). Numa formação societal, as RSP favorecem o
desenvolvimento das FP; em certo nível desse desenvolvimento, as mesmas RSP
impedem, entravam tal desenvolvimento. Abre-se uma contradição entre o
desenvolvimento das FP e as RSP, e a tendência é a implosão das RSP.
-> Esta é uma teoria da história. E há sujeito: a principal FP é o trabalho.

- Porém, para Marx e Engels esta é só a produção material. Mas trata-se da produção
material da VIDA SOCIAL. Isso quer dizer que na dinâmica entre FP e RSP, os homens
não apenas comem, se vestem e habitam; eles pensam, constroem sistemas ideais - que
só são compreensíveis a partir daquela estrutura econômica; mas não são redutíveis a
isso. A produção material é o dado primário, o que não significa "único" ou "exclusivo".
O que há aqui é uma precedência ontológica, um sistema de determinações (não um
determinismo). A produção material da vida social coloca determinações que,
ontologicamente, precedem tudo. Compreendê-la é indispensável para compreender a
vida social; mas é apenas o PRIMEIRO PASSO; a consciência não é menos importante.
Em outras palavras, a produção material é indispensável na compreensão da consciência
social; mas não esclarece a respeito do conteúdo desta. Os conflitos presentes na
produção material - que envolvem a apropriação do excedente - rebatem na consciência
social.
* "NÃO É A CONSCIÊNCIA QUE DETERMINA O SER SOCIAL. É O SER
SOCIAL QUE DETERMINA A CONSCIÊNCIA SOCIAL". "Determina" tem o
sentido de "coloca determinações"; não de estabelecer condição de derivação.

- Para entender a relação da produção material no conjunto da vida social, torna-se


operativo o conceito de ideologia. É no âmbito da consciência social que a ideologia
gesta uma falsa representação dos processos sociais. Ao desconhecer a própria relação
com os processos materiais, o pensamento se pensa autonomizadamente. Mais do que
isso, supõe que tais resultam do seu pensar (daí a imagem da câmara invertida).

- Em que rumo estão Marx e Engels? Não é possível pensar a sociedade burguesa, o
Estado, pela filosofia; ela não pode ser a "ciência piloto". Ela deve ser refundada, ou
estará fadada a ser ideologia.
-> Qual será a ciência que permitirá a compreensão dessa base material (e que não vai
prescindir da filosofia; irá metamorfoseá-la)? Crítica da econ. política. A partir de
Ideologia Alemã, Marx não faz mais crítica filosófica; faz teoria social.

Aula 3: Da filosofia à crítica da economia política / fita 2

- 1847: Miséria da Filosofia. Polêmica com Proudhon (a obra foi motivada pela própria
influência que este exercia no movimento operário, que incorporava concepções e
teorias das quais Marx discordava profundamente). Importância da obra: (1) Marx
levanta a categoria da totalidade como categoria teórica e ontológica fundamental. E
enquanto categoria teórica é expressão de um modo de ser da realidade; é constitutiva
da realidade; (2) Marx explicita sua primeira análise do modo de produção capitalista.
Entre as várias caracterizações importantes, aparece pela primeira vez explicitado o
produto político da dinâmica do modo de produção capitalista: o conceito de "classe" é
concretizado, na análise do movimento dos trabalhadores na Europa. Aparece a célebre
distinção - fundamental para a prática política de quem se remete a Marx - entre "classe
em si" e "classe para si".

* A análise do modo de produção capitalista nesta obra é a primeira que vincula


uma estrutura histórica dada com seu movimento histórico. É uma vinculação
numa unidade; não há em Marx uma dualidade entre estática social e dinâmica
social (positivismo). Não é um paradigma para se pensar a realidade; é a
reconstrução ideal do movimento real do objeto. Mas é um objeto em processo
("ser é processo"), movido pelo sistema de contradições inerentes a esse mesmo
processo (dialética). Ele apreendeu o movimento do objeto, suas TENDÊNCIAS
ESTRUTURAIS.

- Mesmo com a importância da obra e com o avanço do pensamento de Marx, neste


momento ele tem apenas três anos de econ. pol., e o desenvolver do seu conhecimento
lhe mostrará que algumas concepções que tinha aqui eram equivocadas. Ex.: ele ainda
não trabalha com a categoria "força de trabalho" (pensa "força de trabalho" como
"trabalho", impossibilitando-o ainda de apreender a constituição da mais-valia); ele
deriva uma teoria dos salários que, no limite, o capitalismo implica uma pauperização
sempre absoluta dos trabalhadores (que está presente no Manifesto do Partido
Comunista; algo que ele vai levar 10 anos para superar).

- 1848: Manifesto do Partido Comunista. É um documento político, que não traz


inovação na FORMA DE EXPRESSÃO. O que há de absolutamente novo é que uma
programática política é precedida de uma fundamentação teórica.
-> Por que Marx e Engels apresentaram uma análise teórica antes do programa? Por que
não apresentaram apenas os pontos do programa? Por necessidade de destruir qualquer
utopismo. Para eles, utópicos eram aqueles que não conseguiam propor um programa
factível baseado no movimento real. Fizeram a análise teórica na primeira parte do MPC
para mostrar que o programa por eles proposto era viável e factível, que não era
resultado de desejos, e não tinha brotado na cabeça. Era uma sociedade que podia ser
factivamente constituída, pois já se mostravam as tendências de sua possibilidade.

-> Nem por isso Marx e Engels não diferenciavam teoria de política; sabiam das
especificidades de cada uma. Teoria se faz com indagação, questionamentos, pesquisa,
para se chegar a uma pretensão de verdade, que ainda pode ser revisada e refutada. E
política se faz com convicção; não se dirige, mobiliza, convoca, lidera com indagações,
perplexidades. Assim, as propostas do documento, baseadas na análise teórica, tinham o
duplo objetivo de romper com qualquer utopismo, e lidar com a diferença entre
possibilidade (colocada pela própria dinâmica do capitalismo) e realidade. Para a
possibilidade se concretizar é necessária a vontade política organizada dos homens. A
possibilidade pode se concretizar na vitória da classe que traz o futuro nas mãos, ou na
aniquilação das classes em luta.

- Assim como na Miséria da Filosofia, o Manifesto também revela as insuficiências dos


seus autores. A tendência de fundo que eles levantam é a tendência de pauperização
absoluta dos trabalhadores (que posteriormente Marx reconhece e supera). Além disso,
há uma caracterização da classe dominante: ora falam em "opressores", ora em
"exploradores".
-> Entretanto, essas debilidades não tiraram a relevância histórica do documento. E,
mais do que isso, o documento dá uma plena radiografia de onde Marx chegou em
1848: ele tem consolidadas suas matrizes de análise da ordem burguesa. O que mudará
daí pra frente será o aprofundamento delas.

Aula 4: A crítica da economia política e a teoria social / fita 1

1889 (II Internacional): começa a circular a figura e a obra de Marx dentro do


movimento operário.
-> 1881 – passa a ser usado o termo “marxismo”. O núcleo da II Internacional concebia
marxismo como uma concepção de mundo, constituída de uma ideologia (sentido de
“conjunto de valores”, ethos) que caracterizaria o universo cultural proletário e
socialista; de uma prática política (necessária à realização dessa ideologia), vinculada à
revolução e à necessidade do poder político pós-revolução; de uma filosofia, cujo cerne
seria o materialismo dialético (espécie de fundamento filosófico, de ontologia geral,
para aquela ideologia e prática política; seria chave para compreensão do ser - e não do
“ser social” - em todos os tempos), ao qual estaria acoplado o materialismo histórico
(seria a aplicação do materialismo dialético ao ser social, à história/sociedade).
* “Marxismo” concebido como um sistema de saber: em Marx haveria uma teoria
econômica, uma política, uma sociológica etc. Essa concepção, proveniente da II
Internacional, é a dominante até hoje nas áreas onde o marxismo se faz sentir com
força.

- O que está contido nesta concepção? Que a partir de Marx formou-se um sistema de
saber que permite a compreensão de todas as formações históricas. Há uma
universalidade atemporal.

- José P. Netto: acredita que é um grande equívoco. Concebe a obra de Marx como uma
teoria social (“teoria” no sentido já descrito) do mundo modelado e comandado pelo
capital. Há uma universalidade no âmbito do capital. Marx será superado quando o
mundo do capital for mera lembrança.
-> Para a construção dessa teoria social Marx teve que se remeter a formações sociais
pré-capitalistas (com algumas referências a pós-capitalismo), e se basear num conjunto
de teorias que não são válidas apenas para o mundo do capital. São determinações
trans-históricas; estão sujeitas a mudanças históricas, mas são determinações da
própria sociabilidade. Se forem verdadeiras, são válidas para formações pré-capitalistas,
capitalistas e pós-capitalistas.
* Esse caminho, ao contrário do dominante (materialismo dialético/materialismo
histórico), parece atender os limites da teoria social marxiana – que são os limites
do capital, ao mesmo tempo em que revela a transversalidade dos seus
fundamentos.

- O ser social é específico: implica teleologia (trabalho), o que carrega a categoria da


liberdade. Quem fala em teleologia, fala em liberdade. Essas duas categorias só
existem no ser social. Lukács problematiza toda a tradição marxista que vem desde
“dialética da natureza/dialética da sociedade”. O materialismo dialético supõe que
existem processos de mesma natureza cortando o conjunto do ser. Se Lukács sustenta
que é só no ser social que você tem a possibilidade da teleologia e da liberdade, como é
que se tem a mesma dialética operando na sociedade e na natureza? [polêmica em
aberto].
1851/52: Marx dissolve a Liga dos Comunistas, e passa a se dedicar exclusivamente aos
seus estudos. Escreve um dos textos mais importantes seus da década de 50, O 18
Brumário de Luis Bonaparte.
-> Texto escrito para um jornal, após Luis Bonaparte decretar estado de sítio em
dezembro de 1851. Por que tal título? Marx faz um paralelo entre a restauração
monárquica de Napoleão Bonaparte (“tragédia”), em 1804, e a de Luis Bonaparte
(“farsa”). Porém, a segunda restauração se dará apenas em dezembro de 1852; o texto
de Marx antecipa o que vai acontecer. É uma análise primorosa de como o fracasso da
revolução de 1848 repercute eleitoralmente no espírito anti-1848, e da estrutura de
classes na França. É um exemplo paradigmático de uma análise de conjuntura.
-> Dois elementos importantes no texto: 1) como pode haver uma hipertrofia do
Executivo no marco constitucional (“ditadura do Executivo”); 2) como alguém que não
representa nenhuma das classes colocadas é aceito por todos (bonapartismo).

1856: Marx, percebendo a aproximação de uma crise econômica de proporções


continentais, resolve sistematizar seus estudos como socialização do conhecimento
sobre o modo de produção capitalista com o movimento operário.
-> 1857/58: Momento de clímax de sua produtividade intelectual. O resultado desse
período é um enorme manuscrito, publicado pela primeira vez entre 1939 e 1941 (1954
foi publicado numa edição confiável). O original não tinha título, e os editores
chamaram de Elementos para uma crítica da economia política – Rascunho; não foi
preparado por Marx para publicação. Em alemão, a primeira palavra do título é
Gründrisse, que é como o texto é conhecido. Marx só publicará um livro de novo, após
Miséria da Filosofia, em 1859, com o título Para a crítica da economia política, que é
apenas um resumo com algumas das conclusões a que chegara nos Gründrisse
[“Introdução” foi indicada aos cursistas].
-> Esses manuscritos são a síntese crítica de todo o percurso de Marx, desde 1843
(Manuscritos de Kreuznach); são um ponto de chegada. Mas o período entre 1857 e
1867 (publicação de O Capital) é o mais rico em termos de pesquisa e descobertas; por
isso, os manuscritos são também ponto de partida. É neste texto que Marx está pronto
para tratar metodologicamente seu objeto, daí sua importância.

* Os manuscritos de 1857/58, de 1861/63 e de 1863/65 culminaram n’O Capital.


Entretanto, esta obra não é os manuscritos; não espelha toda sua riqueza. Isso
porque Marx sempre fez uma distinção formal entre método de investigação (ponto
de partida é a pergunta) e método de exposição (ponto de partida é a resposta).

Aula 4: A crítica da economia política e a teoria social / fita 2

- Para que a afirmação sobre a teoria ser reprodução ideal do movimento real do objeto,
ser satisfatória, é necessária uma instância na qual se verifique a fidelidade da
reprodução em relação ao real.
-> Essa questão só se coloca para quem compartilha de uma concepção ontológica do
conhecimento. Isso se diferencia da visão de verdade do conhecimento enquanto uma
questão de “consenso subjetivo”, pois independe de qualquer consenso (o problema da
teoria é um problema prático-social).
* Para Marx o critério de verdade é a prática sócio-histórica (e não apenas
“prática”). A verdade teórica é uma verdade relativa – o que não significa erros,
mas limites. “O Capital” não está superado historicamente, mas é insuficiente para
entender a dinâmica da sociedade burguesa contemporânea. Ao mesmo tempo, isso
quer dizer que toda análise contemporânea deve partir d’O Capital.
** Isso é bem diferente de algo que, frequentemente, deriva-se de tal constatação:
uma teoria relativista do conhecimento, segundo a qual nenhuma teoria dá conta
da realidade, e portanto todas as concepções teóricas têm os mesmos limites.
Ainda, acopla-se um ecletismo: se todas têm os mesmos limites ao tentarem atingir
o cerne da realidade, elas são intercambiáveis.

Aula 5: Fundamentos teórico-metodológicos da crítica marxiana / fita 1

- O fundamento da crítica social de Marx é a crítica da economia política.


* É nos Grundrisse que aparece a determinação marxiana do método; é onde
Marx adquire domínio da perspectiva teórico-metodológica que lhe permite a
análise da sociedade burguesa [reparar: em aula, R. Musse aponta para o método já na
Ideologia Alemã]. Na “Introdução” está condensada a configuração do método de
Marx.
-> Ponto de partida de Marx é sempre um fato ou conjunto de fatos – a expressão
empírica/fenomênica da realidade. Para ele, o conhecimento parte da aparência, e ela é
importante; mas ela é ponto de partida. “Se a aparência revelasse sua essência, toda
ciência seria desnecessária”. Ela, ao mesmo tempo, revela e oculta, mostra e esconde.
-> Aparência: é um sinal, um indicador, de processo e processos. “Ser é processo”
(herança hegeliana), é movimento.
* O conhecimento nega a aparência, a empiria, a factualidade. Negar no sentido de
que a reflexão teórica vai além da aparência, supera-a. Ou seja, a sistematização
dos dados empíricos é fundamental à constituição do conhecimento, mas não é o
próprio conhecimento. Cabe à razão identificar o(s) processo(s).

FATO(S)

Movimento de abstração (faculdade racional de descolar-se do imediato, do dado)

PROCESSO(S)

* O movimento de abstração é essencial à elaboração do conhecimento. E é só por


esse movimento que se pode abandonar o domínio do abstrato: é através dele que
se inicia o essencial do método marxiano, a elevação do abstrato ao concreto. A
abstração permite à razão, que pesquisa/investiga, superar o caráter abstrato da
expressão factual.
-> Porém, os processos identificados no movimento de abstração expressam-se, por sua
vez, empiricamente, têm sinais fáticos. O pesquisador retorna à forma factual de onde
partiu.
-> O movimento teórico não modificou os fatos. O movimento do pensamento não cria
ou modifica o objeto; apenas o reconstrói idealmente, buscando determinações.

FATO(S) <------------FATO(S)

Abstração

PROCESSO(S) ---------------^

DETERMINAÇÕES
** Marx não trabalha com uma lógica de definições. É uma lógica de saturação de
determinações. O conhecimento é o conhecimento das determinações, que são de
múltiplas naturezas. Essas determinações são traços constitutivos, efetivos, reais,
do movimento que constitui o real. O empírico, por sua vez, é a epiderme do real.
- Essas determinações não são somadas. Há um processo de mútuas interações entre
elas. Encontrar as determinações e suas relações é buscar suas mediações.

MÉTODO DE PESQUISA
FATO(S) <------------FATO(S)

Abstração

PROCESSO(S) ---------------^

DETERMINAÇÕES

MEDIAÇÕES

- Relação imediata x relação mediada: o conhecimento teórico é a ultrapassagem do


dado imediato – do abstrato – à síntese de múltiplas determinações – ao que Marx
denominou de concreto.
-> Essa concreticidade já estava dada. Era a imediaticidade que impedia que ela
emergisse. Não foi criada pelo movimento do pensamento; este reproduz, reconstrói o
processo de constituição do concreto.

- Fato(s) - Marx sempre olha para os fenômenos que estuda sob duas óticas
concomitantes: a do aqui, agora, da estrutura do fenômeno (através do processo de
abstração), ou seja, de um eixo sincrônico. E não perde de vista o desenvolvimento
histórico do fenômeno, seu eixo diacrônico (gênese e desenvolvimento).
-> A origem não coincide com as funções e a estrutura atuais: o fenômeno é o mesmo,
mas sua função, seu papel, seu significado social muda radicalmente entre modos de
produção. A pesquisa histórica é essencial para a compreensão contemporânea, mas de
forma alguma é suficiente.
-> Marx fazia os dois movimentos através de análise documental (tanto do passado
quanto do seu presente) e de exame da realidade. Confrontava a pesquisa histórica com
a factualidade.
* Nos vários manuscritos legados pode-se acompanhar o processo de investigação.
Em O Capital o que existe é a exposição da pesquisa realizada. Os manuscritos de
1857/58 são o ponto de chegada da investigação; mas também se torna um ponto
de partida, um pressuposto – patamar teórico-metodológico. Não se levando em
conta toda a investigação, imaginar-se-á que é um pressuposto apriorístico.

1º pressuposto (a partir de 1857/58) - As determinações, enquanto traços constitutivos


do movimento do ser do real, existem independentemente do conhecimento. Mesmo que
o conhecimento não os reconstitua, eles operam. Daí sua efetividade.
* Como esses traços constitutivos são capturados teoricamente? Como categorias.
A categoria teórica não é uma invenção da mente; ela é o produto da análise do
real pela razão. São a representação ideal de um traço efetivo da realidade. São
CATEGORIAS ONTOLÓGICAS. Expressam formas de ser, modos de ser, da
realidade.
-> O pesquisador precisa partir de um arsenal categorial para proceder ao movimento de
abstração. Não é possível partir do nada.
2º pressuposto – Concepção de realidade (para J. P. Netto, realidade sócio-histórica.
Tem cautela em generalizar tanto como realidade natural como sócio-histórica). A
realidade, para Marx, tem um caráter dinâmico-processual.
-> Dizer que a realidade é dinâmica não significa nada. Toda a modernidade concebe o
real enquanto movente (inclusive os positivistas mais ortodoxos – estática/dinâmica).
-> Para Marx, essa dinâmica é imanente/constitutiva do mundo histórico-social. Ela não
é uma característica; é a própria essencialidade.
-> A determinação dessa dinâmica, seu centro, são as contradições, os antagonismos,
que são necessariamente gestados nas instâncias constitutivas dessa realidade histórico-
social.

Aula 5: Fundamentos teórico-metodológicos da crítica marxiana / fita 2

* A realidade sociohistórica constitui sempre uma totalidade.


-> Pensadores que abrem caminho para a pós-modernidade fazem aqui uma das mais
‘cretinas’ operações mistificação: identificam a categoria teórico-ontológica da
totalidade com fenômenos políticos de totalitarismo. A “teoria do totalitarismo” foi
criada a partir dos anos 1930, colocando no mesmo saco fascismo e stalinismo (!).
-> Totalidade, para Marx, não é um todo constituído de partes funcionais; ele não é
funcionalista (como Durkheim, Radcliffe-Brown, etc.). Para ele a totalidade é um
complexo de complexos, um conjunto de complexidades, onde a menor unidade
constitutiva é ela mesma de extrema complexidade.

- Não existe sociedade sem indivíduos; e ela também não é a soma deles. Ela é o
sistema de relações que vincula os indivíduos. A menor unidade social é o indivíduo;
são indivíduos sociais. Esta menor unidade é de extrema complexidade.
-> Mas os indivíduos não estão soltos. Primeiramente, estão numa família – seja de
origem, seja de constituição, com configuração própria. Em segundo lugar, estas
famílias compõem classes sociais, no interior das quais há diferentes camadas. Em
terceiro, essas classes estão em sociedades nacionais, em nações. E por fim, as
sociedades nacionais inserem-se numa sociedade mundial. Cada um desses “níveis” é
uma complexidade estrutural. Mas, além delas, os próprias objetivações são
complexidades – arte, política, literatura, etc.
* A totalidade é um complexo de totalidades. E se o conhecimento teórico é o
conhecimento que busca as determinações, as determinações de cada complexo, de
cada totalidade, são específicas. E só é possível compreender esse complexo de
totalidades se o ponto de partida do modo de produção da vida social. Conhecer o
modo de produção capitalista não resulta em conhecer os indivíduos sociais que
estão sob o capitalismo; mas só se pode conhecê-los se for conhecida a dinâmica do
modo de produção capitalista. Isso vale para a família, para as instituições,
sistemas de objetivação, etc.

- Mas a totalidade mais ampla – a sociedade – não é um caos, de relações aleatórias


entre as determinações. É uma totalidade articulada. Exige do pesquisador identificar
a(s) totalidade(s) que ontologicamente constitui o momento da determinação. O que
Marx descobriu é que neste complexo de complexos, a sociedade burguesa, o
momento ontologicamente determinante é aquele da produção material da vida
social. Mas isto não é algo eterno; e somente a pesquisa constante pode revelar, em cada
momento, qual é o momento determinante.
-> Mas, sobretudo, cada totalidade se apresenta com suas particularidades, com
natureza e característica próprias. Isso significa que as contradições, os
antagonismos, não cortam igualmente cada totalidade específica.
-> Exemplo: as lutas de classes (Marx sempre usou o plural) são uma das expressões
das contradições e antagonismos sociais; e na sociedade burguesa, a luta entre burguesia
e proletariado é uma “força motriz da história”. Na fábrica, a luta de classes passa –
fundamentalmente – por quem vai ficar com o trabalho excedente, pelo que vai além do
consumo da força de trabalho. Na escola, a mediação é o saber, o conhecimento, e por
isso a luta de classes não pode passar aí como é na fábrica; não passa por “opressores e
oprimidos”, e sim pela direção social do conhecimento. Na família, a luta de classes
passa por sua própria constituição; sua especificidade é ser uma instância de
socialização; está em conta controle dos filhos, partilha da propriedade, caminho da
herança, etc.

- “O Capital” -> teoria social -> a busca das determinações e mediações oferece a Marx
um arsenal categorial. O universo de categorias marxiano é riquíssimo; mas ele não as
sistematizou, pois para ele só fazem sentido na análise concreta do movimento do
capital. Ou seja, perdem seu sentido quando fora do objeto de onde foram retiradas. As
categorias marxianas só têm validade heurística se forem consideradas em todo o
circuito analítico onde aparecem.
-> 1) as categorias não são externas ao objeto; 2) as categorias são imbricadas umas nas
outras, conectam-se num mesmo circuito de análise. Essas observações são válidas
especificamente para Marx. Não levadas em conta, as categorias ontológicas marxianas
passam a ser tratadas como categorias intelectivas, que “explicam” qualquer coisa.
* Há 3 categorias nucleares, que fundam esse arsenal de Marx: a) totalidade; b)
contradição; c) mediação. A concepção de realidade de Marx assenta na estrutura
de totalidade que a realidade tem. Mas “totalidade” perde qualquer sentido se não
estiver imediatamente vinculada à categoria de “contradição”; sem a contradição,
as totalidades são mortas. O que dinamiza as totalidades é o sistema de
contradições que elas necessariamente portam; elas são constituídas por sistemas
de contradição. A realidade é uma totalidade unitária, mas não identitária;
unidade é unidade de diversos, pois não há unidade de idênticos. Porém,
“totalidade” e “contradição” só têm sentido com a categoria de “mediação”:
precisamente porque a totalidade concreta é unitária e contraditória, a
dinamicidade posta pelos sistemas de contradição perpassa diferencialmente os
diversos elementos dessa unidade.
-> Esse sistema de categorias tem caráter sistemático porque seu próprio objeto tem
uma estrutura de sistema; ele é um sistema em aberto (diferente do hegeliano, onde a
lógica das categorias encerra a lógica do movimento). Além disso, este sistema deve ser
sempre verificado – pois o movimento do capital pode anacronizar categorias que
estavam centralmente em sua gênese, mas que podem ser subalternizadas em seu
desenvolvimento.

- “O Capital”: primeiro, tem-se a exposição da investigação. A estrutura expositiva da


obra é específica; os manuscritos de 1857, p. ex., têm estrutura bem diferente.
-> O método de exposição marxiano reproduz teoricamente o movimento do capital na
ordem burguesa, em determinado momento de seu desenvolvimento. Exemplo: a
expressão Kfinanceiro, usada no livro III (que trata da circulação), refere-se
especificamente ao Kbancário, e não à fusão Kindustrial + Kbancário. Marx não viveu
para ver esse processo.
* Marx nos dá, em sua obra, uma teoria que é capaz de capturar a modalidade
específica da produção material na produção da vida social burguesa. Apesar de
tematizar a cultura, a ação política, o Estado, etc., esse era o centro da sua
preocupação. Em pleno século XXI, é mero ponto de partida; a obra em si é muito
pouco. Ele deixou um “filme” de como, na ordem burguesa, os homens produzem
materialmente sua vida social; mas isso não esgota a riqueza da produção da vida
social. Marx nos ofereceu apenas a porta de entrada para a compreensão da mais
complexa de todas as formações societais.
-> A tarefa que restou aos pesquisadores que se vinculam a Marx é enorme: sem derivar
da produção material o estudo da vida social, ancorar na produção material o estudo
da vida social.

- Isso tudo só faz sentido partindo-se do pressuposto da totalidade. Se ela é vista como
insuficiente ou anacrônica, o “edifício” é pulverizado e os fragmentos (conceitos,
dimensões, noções, etc.) são usados para se construir outro “edifício”.
-> Teóricos pós-modernos: a categoria de totalidade já não tem mais vigência, ou nunca
teve.
* Para quem se reivindica no campo de análise marxista, o caminho da
compreensão metodológica é a apreensão, no marco da exposição do movimento do
capital, a incorporação, a apropriação das categorias analíticas de Marx, que só
têm sentido no seu sistema categorial.

- Luckács: a viagem começa quando o caminho acaba. É somente após a apropriação


das categorias em seu próprio movimento analítico – ponto de chegada – que começa a
produção de conhecimento, a ampliação da massa crítica – ponto de partida.
-> Porém, nem o caminho acabou. O movimento do capital não acabou, e nem é o
mesmo do século XIX; Marx é ponto de partida para apreensão do movimento
contemporâneo do capital, mas insuficiente. Deve-se pesquisar para descobrir as
categorias determinantes atualmente.

- Como é que fica a possibilidade hoje de apanhar a realidade?


-> Com quem Marx “conversou”? Ou seja, quem Marx leu? Autores diferentes dele,
que não partilhavam dos mesmos pressupostos teórico-metodológicos.

* Três caminhos: 1) “suicídio”; agarrar-se a tudo o que Marx disse para explicar o
tempo presente. Essa interpretação fundamentalista de Marx interdita qualquer
produção de conhecimento; 2) marxismo “aberto”, “heterodoxo”; já que o
marxismo “ortodoxo” é dogmático, cerrado, fechado em si, abre-se às influências
de todos os ventos do pensamento. É a moda contemporânea acadêmica. Do ponto
de vista da elaboração teórica, é altamente problemático; é uma incorporação
acrítica. Conduz a “unidades” de estratos não apenas diferentes, mas por vezes
excludentes, de naturezas teórico-epistemológicas excludentes. Se o primeiro é
“suicídio”, este caminho é o do sucesso imediato. Claro, aqui há o suposto de que a
construção teórica, a prática das análises, deve ter congruências (o que aqui é
colocado como problema, para um pós-moderno é solução); 3) incorporação
crítica. Primeiro, recupera-se as questões que os grandes e representativos autores
contemporâneos colocam - são legítimas? Pertinentes? Ou são falsas questões?
Reconhecida a pertinência, cabe ao pesquisador incorporar essas questões; outra
coisa é incorporar as respostas que eles dão (que é o caso da “heterodoxia”). Isso
implica diálogo e crítica constante com esses pensadores.
-> Com a monumental revolução legada por Marx, o papel do pesquisador deve ser o
“três”.

CONCLUSÕES

- Não existe um “método de Marx”, que pode ser formalizado em tantas regras para
tratar qualquer objeto.

- “Não basta que o pensamento tenda à realidade; é preciso que a realidade tenda ao
pensamento” (Marx, 1844). É absolutamente imprescindível que a preocupação do
pesquisador tenda para o real, queira apreendê-lo, reproduzi-lo; todo grande pensador o
foi porque pensou seu tempo. Mas não basta esse desejo; é preciso que a realidade
favoreça essa apreensão, esse movimento do pensamento, até porque esse movimento
não é individual, ele está tecido socialmente.
-> Nosso tempo presente favorece um pensamento que tenda para a realidade? Os
automatismos do domínio da vida cotidiana, necessários a ela, são transladados ao
comportamento da razão. O tempo presente é pouco propício ao movimento do
pensamento em sua direção [à realidade].
-> Não é por acaso que o dominante, hoje, no mundo cultural obedeça a 3 matrizes
(compatíveis e auto-implicadas): 1) Irracionalismo (O mundo é incompreensível, a
razão é repressora, os sentidos devem ser liberados). O caminho do irracionalismo é
sempre o da barbárie; é o falso caminho da falsa emancipação. Ora, o ser social se
constituiu exatamente na medida em que disciplinou e reprimiu sua naturalidade;
desenvolvimento social é recuo de barreira natural (que implica um tipo de repressão).
“Aparente rebeldia”; 2) Racionalismo de prancheta (projeções virtuais). “Aparente
racionalismo”; 3) Preservação do compromisso com a herança iluminista, ilustrada
(herança prometéica do humanismo). Não encontra estímulos da realidade para se
desenvolver.

*A redução minimalista da teoria social está diretamente vinculada a uma redução


minimalista das expectativas de mundo.
-> Consequência da análise: certo pessimismo contemporâneo. Desbloqueio: o espaço
público, a vocação sociocêntrica (partidos políticos, movimentos, formas de
intervenção comum). Independente de qualquer caracterização das organizações atuais,
elas são as da nossa sociedade; deve-se trabalhar com aquelas que forem mais próximas.
-> “Suicídio” transitar do princípio para a ação sem mediações. Deve-se ter uma
exigência teórica o mais rigorosa possível; a ação política é mediada pelas
possibilidades de conjuntura. O “principismo” veda as possibilidades de incorporação
crítica, que só é possível em interação com o outro.

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