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Desenvolvimento integrado de

projeto, gerenciamento de obra e


manutenção de edifícios hospitalares
Hospital building integrated design development,
construction management and maintenance

Michele Caroline Bueno Ferrari Caixeta


Alexandra Figueiredo
Márcio Minto Fabrício

Resumo
s edificações hospitalares são complexas e possuem uma grande

A importância social e econômica. Além disto, o rápido avanço da


tecnologia e dos procedimentos médicos fazem com que a produção
destas edificações demandem novas formas de gerenciamento e
desenvolvimento. Esta pesquisa busca investigar e caracterizar novos modelos de
estruturação e integração das atividades de desenvolvimento do produto para esse
tipo de edificação, considerando a sua inerente complexidade. Assim, o objetivo
do presente trabalho é analisar o processo de desenvolvimento de edifícios
hospitalares de médio porte, considerando-se as macrofases de projeto,
gerenciamento da obra e gerenciamento de manutenção, através de um estudo de
caso descritivo realizado numa empresa especializada em projetos hospitalares.
Desta forma, pode-se obter uma visão integrada do processo de desenvolvimento
desse tipo de produto. Como resultado, são apresentados os modelos de cada uma
das macrofases do processo de desenvolvimento dos empreendimentos estudados
de forma a constituir uma referencia genérica para o desenvolvimento integrado de
Michele Caroline Bueno novos empreendimentos hospitalares. Assim, o trabalho contribui para discussão
Ferrari Caixeta sobre a gestão do processo de projeto em geral e, particularmente, das práticas de
Escola de Engenharia de São
Carlos desenvolvimento de projetos hospitalares.
Universidade de São Paulo
Av. Trabalhador Sancarlense, Palavras-chave: Arquitetura hospitalar. Gestão de projetos. Desenvolvimento de
400 produtos.
Parque Arnold Schimidt
São Carlos – SP – Brasil
CEP 13566-590 Abstract
Tel.: (16) 3373-9279
E-mail: michele@sc.usp.br Hospital buildings are complex and have a significant social and economic
importance. In addition, the rapid development of new medical technology and
Alexandra Figueiredo
procedures requires new forms of hospital building project management and
Escola de Engenharia de São development. This study aimed at investigating and identifying new models for
Carlos structuring and integrating product development activities in this kind of project,
Universidade de São Paulo
Tel.: (16) 3373-9312 considering its inherent complexity. This paper discusses the development process
E-mail: of medium-sized hospital buildings, including design macro-stages, production
alexandrafig@hotmail.com
management, and maintenance management, based on a descriptive case study
Márcio Minto Fabrício undertaken in a firm specialized in hospital design. This has provided an
Escola de Engenharia de São integrated vision of the development process for this kind of product. As a result,
Carlos
Universidade de São Paulo the models of each product development macro-stage were devised as a generic
Tel.: (16) 3373-9279 reference for the integrated development of new hospital buildings. This study
E-mail: marcio@sc.usp.br contributes for the discussion of the design process management in general, and
particularly on the practice of developing hospital buildings.
Recebido em 31/01/09
Aceito em 23/05/09 Keywords: Hospital design. Design management. Product development.

Ambiente Construído, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 57-72, abr./jun. 2009. 57


ISSN 1678-8621 © 2005, Associação Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído. Todos os direitos reservados.
Introdução
O desenvolvimento de edificações hospitalares se acompanhamento do uso e a manutenção,
caracteriza por elevada complexidade. Além das viabilizando o escopo amplo da pesquisa realizada.
questões comuns em projetos arquitetônicos, é
Com os dados levantados, foi possível gerar um
necessário considerar diversos conceitos, como
modelo básico do processo de projeto de
capacidade de expansão e flexibilidade, para
arquitetura e de tecnologias médicas. Adotou-se
acompanhar os avanços da área médica e
uma divisão em macrofases, fases, atividades e
comportar a inserção de novas tecnologias.
saídas, com base no modelo de referência para o
No projeto de hospitais é comum a setorização por projeto integrado de edificações proposto por
atividades, para garantir maior funcionalidade, Romano (2003).
facilitar o uso e a prestação dos serviços e atender
a diversos fluxos, estruturados por tipo de
usuários, e diferentes processos, ligados aos Arquitetura hospitalar
procedimentos médicos. O hospital é descrito por Karman (1995, p. 11)
Os hospitais contemporâneos demandam também como “[ . . . ] um organismo dinâmico, sempre em
humanização dos ambientes e mais atenção quanto mutação [ . . . ]”. Segundo esse autor, são
à prevenção de infecções, entre outros requisitos exemplos dessas mutações as paredes e divisórias
técnicos e psicológicos atrelados ao objetivo do que são “seguidamente removidas, deslocadas e
edifício, que é dar suporte a atividades médicas e acrescidas; alterações espaciais que se sucedem em
promover/recuperar a saúde dos usuários. decorrência de exigências administrativas e
técnicas”, além da inserção constante de novos
A importância social e econômica do atendimento
equipamentos que necessitam de suportes, apoios,
à saúde e o rápido avanço da tecnologia e dos
suprimentos e instalações.
procedimentos médicos demandam novas formas
de gerenciamento e desenvolvimento dos edifícios Góes (2004, p. 29) coloca o hospital como “[ . . . ]
hospitalares. Esta pesquisa tem como objetivo um dos programas mais complexos a ser atendido
investigar e caracterizar novos modelos de pela composição arquitetônica [ . . . ]”, pelo fato de
estruturação e integração das atividades do edificações desse setor apresentarem múltiplas
processo de desenvolvimento de produtos (PDP) faces, dentro das quais ocorrem diversas
para esse tipo de edificação. interações. Pode-se citar como exemplo dessas
interações a concentração, numa mesma
O método de pesquisa utilizado foi o de estudo de
edificação, de serviços de cunho industrial –
caso descritivo, uma vez que o processo
lavanderia, nutrição e transportes –, atividades de
investigado trata-se de um fenômeno social
alta tecnologia e processos refinados de atuação
contemporâneo.
médica.
A pesquisa abrange o planejamento, o
Mascaró (1995, p. 15) também aborda o hospital
gerenciamento de obra, o acompanhamento do uso,
como “[ . . . ] um dos tipos mais complexos de
a manutenção da edificação e a retroalimentação
edifícios [ . . . ]”, em que geralmente se reúnem
do processo de projeto. Para isso, procurou-se
nove setores funcionais distintos, cada um com
mapear o processo de desenvolvimento como um
uma configuração arquitetônica totalmente
todo, propiciando um entendimento amplo das
distinta: administração, ambulatório, diagnóstico,
fases e interfaces desse processo.
tratamento, pronto-atendimento, internação,
Para dar suporte ao estudo de caso, foram serviços de apoio, serviços gerais e circulações
utilizados alguns conceitos provenientes da teoria intersetoriais. Para Carr (2009), a forma básica dos
de PDP, que serviram de base para a formulação hospitais é definida, idealmente, por essas funções.
dos instrumentos de pesquisa de campo e,
Carr (2009) também coloca alguns conceitos que
principalmente, para a sistematização dos dados
devem ser considerados em projetos de edificações
coletados e a análise do caso.
hospitalares, que são: eficiência, flexibilidade e
O estudo de caso foi realizado numa empresa de expansibilidade, humanização, facilidade de
projetos e gerenciamento especializada em limpeza, acessibilidade, controle de circulação,
arquitetura hospitalar. Esta tem como segurança e sustentabilidade, entre outros.
particularidade um plano de trabalho estendido,
Como exemplo de eficiência, o autor cita diversas
que oferece serviços desde o planejamento da
características, como a proximidade nos percursos
edificação hospitalar até a construção, o
mais freqüentes dos funcionários, a fácil
supervisão visual dos ambientes, a inclusão de

58 Caixeta, M. C. B. F.; Figueiredo, A.; Fabrício, M. M.


todos os ambientes necessários, mas sem necessárias e o planejamento da retirada do
redundâncias, e o agrupamento de áreas funcionais produto do mercado e seu desmonte e retorno dos
similares. materiais à natureza. Para e Ulrich e Eppinger
A flexibilidade e a expansibilidade também são (2004), essas atividades devem permitir a
colocadas em Corbioli (2000) como fundamentais retroalimentação do processo, de forma a se
em projetos de hospitais, para que a edificação aprender com cada projeto e a incrementar a
tenha uma vida longa e possa incorporar os capacidade da equipe em desenvolver novos
“vertiginosos avanços” da medicina. produtos, a partir da experiência acumulada.

Já a humanização é importante para contribuir com Para a eficiência do PDP, torna-se essencial criar
a recuperação dos pacientes. Para Carr (2009), o um modelo de referência. Segundo Rozenfeld et
projeto do interior do hospital deve se basear num al. (2006, p. 32), o desempenho do processo
entendimento das características da edificação e do depende, principalmente, “[ . . . ] do modelo geral
perfil dos pacientes. para sua gestão [ . . . ]”, que “[ . . . ] determina a
capacidade de as empresas controlarem o processo
A hierarquia da circulação é outro ponto abordado de desenvolvimento e de aperfeiçoamento dos
por diversos autores. Os fluxos devem ser produtos e de interagirem com o mercado e com as
separados para as equipes, o público e os serviços, fontes de inovação tecnológica [ . . . ]”.
possibilitando a agilidade para o trabalho dos
funcionários e reduzindo o risco de infecções Segundo Tzortzopoulos et al. (1998), o modelo do
(CORBIOLI, 2000). processo de projeto é um plano geral para o
desenvolvimento deste, em que são definidas as
Outro fator importante é a previsão da atividades principais e suas relações de
manutenção. Como o tratamento de pacientes não precedência. Além disso, define os papéis dos
pode ser interrompido, essas atividades devem ser intervenientes do processo e suas
previstas em projeto, para causar interferência responsabilidades.
mínima no funcionamento do hospital.
Romano (2003) apresenta um modelo de referência
para gerenciamento de projetos focado na
Processo de desenvolvimento construção de edifícios e, para tanto, segue
requisitos tais como uma representação que se
de produto baseia na visão de processo, gráfica e descritiva.
Neste trabalho, foram adotadas as terminologias Além disso, subdivide o processo em macrofases e
processo de desenvolvimento de produto e gestão fases, nas quais se indica uma seqüência lógica das
do PDP, dado que as investigações e análises fases e atividades, bem como as avaliações ao final
realizadas abrangem todo o processo de de cada fase.
desenvolvimento do produto edifício hospitalar. Dickerman e Barach (2008) apresentam uma
Na definição de Rozenfeld et al. (2006), o PDP descrição clara do processo de projeto geralmente
engloba diversas atividades concatenadas de utilizado em edificações hospitalares. Segundo
planejamento, concepção, amadurecimento, eles, esse processo costuma ser linear, ou seja,
validação e detalhamento de soluções. Através inicia-se com o trabalho do arquiteto em cima dos
delas, procura-se chegar às soluções e dados recebidos, desenvolve-se para uma definição
especificações de projeto de um novo produto e do geral da planta e da volumetria, e, por fim, são
projeto para sua produção, de forma interativa e acrescentados equipamentos, tecnologia da
incremental. Para tanto, consideram-se as informação, sistemas prediais, mobiliário e outros
necessidades do mercado, as possibilidades e equipamentos. Os autores afirmam que há uma
restrições tecnológicas e as estratégias tendência, justificada inclusive por questões
competitivas e de produto da empresa. financeiras, de não se retornar e avaliar as questões
envolvidas com uma visão holística.
Para Tzortzopoulos (2004), o PDP de um edifício
pode ser conceituado como o conjunto de Um bom projeto de hospital, para Carr (2009),
atividades necessário para seu projeto desde a integra os requisitos funcionais e as necessidades
identificação das oportunidades dos mercados até humanas de todos os seus usuários, que podem ser
as especificações dos requisitos e características a pacientes, acompanhantes, visitantes, diversos
serem entregues aos clientes. tipos de funcionários, entre outros.
O PDP deve abranger também, segundo Rozenfeld Os projetos para as edificações hospitalares
et al. (2006), o acompanhamento do produto no exigem o trabalho conjunto de uma equipe
período após o lançamento, possibilitando a multidisciplinar, para garantir a funcionalidade do
realização de mudanças que possam ser conjunto e a adequação às tecnologias embarcadas.

Desenvolvimento integrado de projeto, gerenciamento de obra e manutenção de edifícios hospitalares 59


Para Góes (2004), por exemplo, enquanto as responsáveis pelas áreas de cada empresa ou
instalações prediais constituem uma fração mínima processos em discussão.
das dificuldades do projeto de edifícios
A pesquisa foi estruturada em cinco estágios,
residenciais e até comerciais, numa edificação
conforme mostra a Figura 1. O primeiro estágio
hospitalar elas podem se tornar extremamente
contemplou um panorama teórico do processo de
complexas, chegando até a comprometer o projeto.
projeto de hospitais, levantamento de empresas de
Portanto, a equipe multidisciplinar responsável projeto especializadas nesse nicho de mercado e
pelo desenvolvimento de projetos hospitalares seleção do caso. O segundo contemplou um estudo
deve contemplar profissionais especializados nos exploratório inicial da empresa selecionada e a
projetos de arquitetura, estruturas, instalações formulação dos questionários e roteiros para o
elétricas, hidrossanitárias, ar-condicionado, gases desenvolvimento do estudo de caso. Os três
medicinais, entre outros, que devem ser últimos estágios da pesquisa corresponderam ao
compatibilizados para que se possam evitar estudo de caso propriamente dito, sendo cada um
interferências. correspondente a uma das macrofases do PDP.
Ressalta-se a necessidade de coordenação efetiva e No primeiro estágio foi consultada a bibliografia
eficiente, e a gestão de todo o processo, para técnica pertinente, a imprensa especializada em
promover a interação entre os profissionais das divulgação de produtos e serviços destinados à
diferentes disciplinas durante todo o PDP e área hospitalar, revistas de arquitetura de cunho
controlar prazos, custos, qualidade e o atendimento geral, bem como foram realizados levantamentos
dos requisitos dos clientes e usuários. informais com profissionais da área médica e de
administração hospitalar sobre empresas
especializadas em arquitetura hospitalar.
Estudo de Caso
A partir desses levantamentos exploratórios foram
Delineamento da pesquisa selecionadas sete empresas de potencial interesse
para a pesquisa, ou seja, que trabalhavam com
O presente trabalho tem como objetivo estudar e projetos de edificações hospitalares no Estado de
analisar de forma ampla o processo de São Paulo. Com elas foram feitos contatos
desenvolvimento do edifício hospitalar. telefônicos e enviados questionários semi-
Ressalta-se que o estudo realizado se restringiu a estruturados, abrangendo questões gerais sobre o
hospitais gerais de porte médio da rede particular. processo de projeto, gerenciamento e manutenção
Devido à vasta gama de empreendimentos nesse dos edifícios hospitalares. O objetivo foi delinear
setor e às peculiaridades de cada tipo de edificação sumariamente a organização interna de cada
hospitalar, seriam necessários estudos mais empresa e suas características principais. Das sete
abrangentes, que compreendessem as demais empresas, quatro aceitaram participar desse estágio
tipologias, para que se possa verificar a da pesquisa e responderam aos questionários.
possibilidade de generalização do modelo de A partir da compilação desses dados e da
desenvolvimento de produto para o setor como um disponibilidade das empresas contatadas em
todo. participar da pesquisa mais aprofundada, foi
A pesquisa consistiu, de acordo com Yin (2005), definida a realização de um estudo de caso único,
em um estudo de caso descritivo, desenvolvido a na empresa selecionada. Essa opção se justificou
partir de visitas à empresa estudada, entrevistas pela viabilidade da condução da pesquisa, atrelada
abertas e questionários estruturados com pessoas- ao tempo disponível pelos pesquisadores. Além
chave, análises de documentos (contratos e disso, as características singulares da empresa de
projetos), acompanhamento de práticas e reuniões estudo de caso em relação às demais empresas,
de trabalho, e visita à obra, que forneceram como será exposto a seguir, impossibilitariam
subsídios para a análise do caso e foram análises comparativas ao longo de todo o processo
confrontados com a literatura técnica referente aos em um estudo de caso múltiplo.
temas PDP e arquitetura hospitalar. Assim, a seleção da empresa de estudo de caso se
A validade dos dados recolhidos em campo foi deu pelo critério de que ela era a única a
realizada mediante checagens cruzadas entre contemplar em seu processo de desenvolvimento
diferentes instrumentos de coletas de dados (por de produto as macrofases de projeto,
exemplo, dados provenientes de acompanhamento gerenciamento da montagem (construção) e
de reuniões de projeto versus dados obtidos em gerenciamento da manutenção de hospitais, ou
entrevistas). As análises derivadas desses dados e seja, fornecer um serviço diferenciado, com um
da descrição do caso foram validadas por meio de enfoque mais amplo dentro do ciclo de vida da
consultas e aval dos profissionais das empresas edificação.

60 Caixeta, M. C. B. F.; Figueiredo, A.; Fabrício, M. M.


Figura 1 – Delineamento da pesquisa

A empresa escolhida presta serviços de de um empreendimento no decorrer dessas três


manutenção pelos primeiros cinco anos de macrofases. No entanto, o tempo necessário para o
funcionamento da edificação e desenvolve um desenvolvimento do projeto e da construção de um
acompanhamento da obra, possibilitando a hospital é longo e inviabilizaria a pesquisa. Optou-
retroalimentação dos projetos. se então pela realização da pesquisa utilizando dois
Com a definição do caso, iniciou-se o segundo empreendimentos similares que aqui são
estágio da pesquisa. Foram realizadas uma denominados Hospital 1 (H1) e Hospital 2 (H2).
primeira visita à empresa estudada e uma Ambos pertencem à mesma cooperativa médica,
entrevista semi-estruturada com o arquiteto diretor sendo hospitais gerais de médio porte, situados em
executivo, quando se abordou a formação de cidades do interior de São Paulo.
equipes, coordenação de projetos, projetos Esse fato ratifica a escolha da empresa em questão,
complementares, gerenciamento de obra, pois, devido a seu porte, possuía diversos projetos
qualidade, gestão do conhecimento e manutenção. concomitantes, em diversas macrofases,
O objetivo foi coletar informações que permitindo a realização da pesquisa ao longo do
esclarecessem a organização do escritório e as tempo disponível (cerca de dois anos), por haver
questões que envolvem a gestão do PDP dentro da dois empreendimentos com porte e características
empresa. Os dados coletados foram analisados à de gestão similares.
luz da literatura estudada.
A escolha dos empreendimentos se pautou na
Para investigação do PDP nos estágios posteriores similaridade dos seguintes aspectos: porte do
da pesquisa, seria necessário o acompanhamento hospital, tipo, se público ou privado e se obra

Desenvolvimento integrado de projeto, gerenciamento de obra e manutenção de edifícios hospitalares 61


nova, inacabada, recuperação ou ampliação. Assim disciplinas, principalmente arquitetos. Em seu
sendo, os projetos escolhidos pertenciam a uma portifólio, a empresa possui desde clínicas
cooperativa médica particular, sendo obras novas, particulares até hospitais de grande porte e
de médio porte e destinadas ao atendimento geral. estabelece como critério de trabalho o enfoque no
O programa do H1 prevê internação, unidade semi- aumento do ciclo de vida dos ambientes de saúde.
intensiva, hospital-dia, centro de tratamento Como mostra a Figura 2, desenvolvida pelos
oncológico, centro cirúrgico e obstétrico, centro de autores, a empresa divide-se em duas diretorias: o
diagnósticos, pronto-atendimento e laboratório, escritório de arquitetura (80% do capital); e o setor
com área de 1.654,00 m2. Nesse hospital foram de gestão de espaços e tecnologias (20%).
realizados os estágios 3 e 4 da pesquisa, e no H2, Subordinado a essas diretorias há ainda
com características similares, o estágio 5. coordenações gerais, formadas por dezesseis
No terceiro estágio da pesquisa, iniciou-se o estudo coordenadores em três áreas funcionais:
de caso propriamente dito. Neste estágio foi arquitetura, gerenciamento da montagem e
manutenção.
estudada a macrofase de projeto. Para tanto, foi
realizada a coleta de dados através da aplicação de Com habilidades específicas, esses profissionais se
entrevistas presenciais, complementadas por deslocam pelas equipes de projeto e pelas áreas
questionários enviados a pessoas-chave e funcionais de acordo com as necessidades de cada
acompanhamento de práticas e reuniões de projeto projeto.
do H1, que se encontrava na etapa de concepção. Foi verificado que a articulação entre as áreas da
Analisou-se também o material desenvolvido pelo empresa ocorre muito mais quando há problemas
escritório: plantas, vistas, cortes, caderno de
de incompatibilidade entre o projeto e a montagem
detalhes e caderno de ambientação. Os ou a manutenção que de forma proativa. Trata-se
questionários foram aplicados a três pessoas
de um estágio de maturidade em que a empresa
consideradas fundamentais no desenvolvimento do identifica a necessidade de integração entre suas
projeto investigado: a gerente – coordenadora geral áreas funcionais e busca desenvolver novas
dos projetos da empresa, a coordenadora do
práticas orientadas a esse objetivo, que ainda não
projeto estudado e a arquiteta, que, juntamente foi plenamente alcançado.
com o diretor executivo, é responsável pela
elaboração de todos os planos diretores dos A idéia de níveis de maturidade 1 na gestão do
hospitais da empresa. desenvolvimento de produto é importante porque
dá a exata noção de que o aprimoramento do PDP
No quarto estágio da pesquisa, foram verificados demanda a identificação do objetivo e o
os procedimentos utilizados durante o engajamento da direção da empresa com as novas
gerenciamento da obra do H1, principalmente práticas e com a necessidade de buscar melhorias
através de entrevista com o coordenador geral da contínuas para que novas práticas sejam
fase de montagem, que é um arquiteto da empresa. implementadas na empresa. Notou-se que a
Essa macrofase é denominada pela empresa como empresa ainda não atingiu a maturidade plena de
montagem do empreendimento, uma vez que se seu PDP, pois ora aplica o planejamento com
busca o uso de soluções industrializadas. sucesso, ora parcialmente ou com deficiências.
No último estágio, explorou-se o gerenciamento da Os projetos complementares são contratados
manutenção, a gestão preditiva e de tecnologias, externamente à empresa, realizados por parceiros,
junto ao H2. O método adotado foi entrevista pois a empresa não possui uma equipe interna de
semi-estruturada com o coordenador geral de engenheiros para os projetos de especialidades.
manutenção da empresa e do empreendimento
estudado, que é tecnólogo de formação. Por possuir departamentos bem definidos, que são o
setor de arquitetura, de marketing nacional e
A pesquisa contemplou a análise das diferentes internacional, de montagem e execução, de manutenção
etapas de atuação da empresa, confrontando as e de administração e finanças, a empresa pode ser
práticas e a organização empregadas com a caracterizada como uma organização funcional. No
literatura de PDP, permitindo a modelagem e uma entanto, há vestígios de uma organização matricial no
descrição genérica do processo de setor de arquitetura, pois as equipes de projetistas são
desenvolvimento de edifícios hospitalares gerais organizadas em função do número e especialidade de
de médio porte. cada projeto (VERZUH, 2000).

Descrição da empresa 1
“O grau de maturidade de uma empresa indica o quanto ela
aplica das melhores práticas de desenvolvimento de produtos,
Com sede em São Paulo, a empresa estudada conta resultando em um melhor desempenho do processo.”
com cinqüenta profissionais de diferentes (ROZENFELD et al., 2006, p. 481).

62 Caixeta, M. C. B. F.; Figueiredo, A.; Fabrício, M. M.


Figura 2 – Organograma da empresa

Resultados envolvidos no processo de projeto de estrutura,


instalações, paisagismo e imagens.
Análise do processo de projeto da O cliente selecionou uma comissão que
empresa do estudo de caso representaria a cooperativa no processo de
projeto, composta de cinco médicos mais o
Para a concepção de H1, a equipe da empresa foi administrador do H1. Esta participou das reuniões
composta de um coordenador, dois arquitetos, e assembléias, e o administrador participou
uma arquiteta especializada em ambientação e um ativamente de todo o processo.
tecnólogo para tecnologias médicas. Além disso,
Quanto à documentação, a empresa estudada
houve profissionais externos à empresa
utiliza o contrato como diretriz de projeto e para a

Desenvolvimento integrado de projeto, gerenciamento de obra e manutenção de edifícios hospitalares 63


montagem do cronograma de trabalho, com é utilizado para aprovação do cliente. Nesta fase
características semelhantes ao documento de os projetistas das diferentes disciplinas devem
Declaração de Trabalho. 2 A empresa não utiliza trocar informações com maior freqüência e há a
minuta de projeto, documento que anuncia a intensificação da coordenação. No caso estudado,
função de cada membro da equipe para os a empresa terceirizada de engenharia, parceira da
profissionais da empresa e o cliente. Também não empresa do estudo de caso, foi responsável por
é utilizada pela empresa a matriz de projetos de estrutura, elétrica, hidráulica, ar-
responsabilidades. Comparado com a literatura, condicionado e segurança. O processo de
denota-se certa informalidade na documentação. comunicação e troca de arquivos se deu por meio
de correio eletrônico. Não se verificou a
Por outro lado, o plano de comunicação, que é o
meio de comunicação entre o escritório, clientes, utilização de extranet para comunicação entre os
terceirizados e se caracteriza por uma tabela com diferentes projetistas.
o número de reuniões com cada participante e o A fase de projeto legal contou com projetos de
prazo de resposta, não é utilizado na fase de arquitetura, estruturas, hidráulica e elétrica, que
projeto, mas é importantíssimo e utilizado pela foram submetidos para a análise dos órgãos
empresa na fase de construção. competentes. A principal norma técnica utilizada
pelo escritório para a elaboração deste e dos
No projeto do H1, o primeiro passo foi o estudo
da viabilidade físico-financeira, que foi analisado outros hospitais é a RDC 50, da Agência
pelo escritório e principalmente pelo cliente, que Nacional de Vigilância Sanitária.
se mostrou favorável. Após auxiliar na aquisição Na fase de confecção do projeto executivo, o
do terreno para a construção, a empresa em papel do coordenador do projeto torna-se
estudo executou as demais fases de fundamental, porque, além de coordenar o
desenvolvimento de projeto, que foram: plano trabalho das equipes internas e externas à
diretor, estudo preliminar, anteprojeto, projeto de empresa, intensifica-se o trabalho de
aprovações e projeto executivo. compatibilização. No caso estudado, as maiores
exigências de compatibilização foram entre o
A fase de elaboração do plano diretor inicia-se a
partir da análise da demanda e do perfil social dos projeto de ar-condicionado e o projeto de
usuários, dos médicos e, em alguns casos, da iluminação, e entre o projeto de exaustão e o
alinhamento das saídas de ar. As reuniões de
especialidade. Na maioria dos casos, a empresa
também fornece o plano diretor de equipamentos coordenação foram quinzenais e fizeram parte
e tecnologias médicas, mas, a pedido do corpo dessa etapa – internamente, os projetos de
arquitetura e comunicação visual, e,
administrativo do H1, esta etapa não foi
realizada. externamente, os projetos de elétrica, hidráulica,
gases medicinais, ar-condicionado, estruturas e
O plano diretor do H1 indicou as diretrizes de paisagismo.
implantação, gabarito, distribuição em áreas
A fase do plano diretor das tecnologias médicas
funcionais, modulação, eixos de circulação,
vetores de expansão e cronograma físico- se desenvolve paralelamente à fase do plano
financeiro de todas as etapas de expansão. As diretor de arquitetura. A partir de então, o projeto
arquitetônico se desenvolve sempre um passo à
peças gráficas produzidas foram: planta de
implantação com distribuição das zonas frente do projeto de tecnologias médicas, ou seja,
funcionais, gráficos, planilhas e textos. a partir do projeto executivo de arquitetura é que
se dá o início do projeto básico de tecnologias
Na fase de desenvolvimento do estudo preliminar médicas. Com isso, o projeto executivo de
as diretrizes do plano diretor se solidificaram, e tecnologias médicas é finalizado durante a etapa
foram estabelecidas a volumetria e a distribuição de montagem do hospital, o que permite que
espacial e funcional do projeto. Nesse momento, atualizações e pequenos ajustes no edifício e
segundo a empresa, o cliente pode visualizar o principalmente no seu layout interno sejam
projeto. realizados com a obra em curso, quando se inicia,
Após a aprovação do estudo preliminar pelo por parte dos gestores do hospital, a seleção e a
corpo administrativo do H1, iniciou-se o encomenda dos equipamentos médicos que
desenvolvimento da fase de anteprojeto, quando o ocuparão os espaços.
estudo se desenvolve para o projeto básico de De fato, pode ser observado que a unidade de
arquitetura e o básico de tecnologias médicas, que projeto de tecnologias médicas se encontra
presente nas três macrofases do processo de
2
Declaração de Trabalho: documento que relata de modo desenvolvimento do edifício hospitalar: no
sucinto os pontos vitais do projeto para os envolvidos (VERZUH, processo de projeto, no processo de
2000).

64 Caixeta, M. C. B. F.; Figueiredo, A.; Fabrício, M. M.


gerenciamento da montagem e, até mesmo, Essa macrofase é realizada na empresa mediante
durante o gerenciamento da manutenção, várias fases seqüenciais. Para cada fase há
oferecido como serviço pela empresa de projeto. avaliações e aprovações (representadas por
losangos), sejam elas feitas pelo cliente, pelos
Nas Figuras 3 e 4, são apresentados modelos do
processo de projeto para a unidade de arquitetura órgãos competentes ou pela empresa, por
e de tecnologias médicas, com base em Romano intermédio de seus coordenadores. Além disso,
são demonstradas as saídas de cada fase: dados e
(2003) e Rozenfeld et al. (2006).
produtos que alimentarão as fases seguintes.

Figura 3 – Modelo da macrofase de processo de desenvolvimento de projeto na unidade de arquitetura

Figura 4 – Modelo da macrofase de processo de desenvolvimento de projeto na unidade de tecnologias


médicas

Desenvolvimento integrado de projeto, gerenciamento de obra e manutenção de edifícios hospitalares 65


Figura 5 – Modelo das macrofases de gerenciamento da montagem de arquitetura

Figura 6 – Modelo das macrofases de gerenciamento da montagem de tecnologias médicas

Análise do gerenciamento de responsável pelo projeto é chamada para atuar


montagem do empreendimento nessa macrofase.
O tipo de processo de montagem utilizado no H1
A equipe de funcionários da empresa atuante
é com licitação segmentada por etapas de obra,
nessa macrofase é formada pelo gerente de
que é o mais utilizado atualmente pela empresa,
produção, que é subordinado ao coordenador
pois, segundo as informações fornecidas, reduz
geral e permanece no canteiro de obra, e por um
custos e o tempo da obra. Nesse hospital, as
estagiário de engenharia. Essa equipe é
etapas de obra foram fundação, estrutura e
responsável pela verificação do cronograma de
alvenaria externa, instalações (elétrica, hidráulica
obra, gerenciamento, organização e projeto do
e logística), gases medicinais, caixa d’água, gesso
canteiro, gerenciamento da execução e da
acartonado, ar-condicionado, marcenaria,
qualidade dos materiais e das empresas
cobertura, serralheria e impermeabilização. Todas
terceirizadas. Sendo a ligação entre a empresa e o
essas etapas foram licitadas separadamente,
canteiro, deve emitir relatórios para a empresa e
dando origem a contratos distintos, mas três
para o cliente. Em caso de dúvidas ou
etapas – fundações, estrutura e alvenaria externa,
necessidade de alterações, a equipe que foi

66 Caixeta, M. C. B. F.; Figueiredo, A.; Fabrício, M. M.


e cobertura – foram executadas pela mesma médicas, com base em Romano (2003) e
empresa. Rozenfeld et al. (2006). Diferentemente da
Apesar de aumentar a complexidade de macrofase anterior, neste caso detalharam-se as
gerenciamento e de compatibilização de atividades desenvolvidas em vez das saídas, pois,
diferentes contratos, equipes e prazos, essa pelo fato de se tratar do gerenciamento da
segmentação aumenta o poder de barganha da montagem, as atividades descrevem melhor o
contratante. processo, e tem-se como saída a própria
edificação. Os losangos também representam
A empresa estudada divide a macrofase do avaliações e aprovações, sejam elas pelo cliente,
processo de montagem de um hospital em duas pelos órgãos competentes ou pela empresa,
fases: a montagem física do edifício e a através de seus coordenadores.
montagem das tecnologias médicas. O processo
inicia-se com a contratação da empresa pelo
cliente para a realização dessa macrofase. Análise do gerenciamento da
Para o desenvolvimento da fase correspondente à
manutenção
montagem física do edifício, realiza-se uma A estrutura de funcionários da fase de
reunião chamada kick off, em que o produto a ser gerenciamento da manutenção e tecnologias é
desenvolvido é explicitado para todos os bem similar à fase de gerenciamento da
integrantes da equipe de montagem. Essa reunião montagem. Existe um coordenador geral, que tem
tem duração média de três dias, dependendo do como subordinados os coordenadores visitantes,
porte do hospital. que, por sua vez, supervisionam os gerentes de
A atividade seguinte consiste na solicitação de manutenção (GeMan) e os gerentes de bancada.
uma série de licenças e alvarás junto à Prefeitura Todos são funcionários da empresa do estudo de
Municipal, com base na análise das exigências do caso e trabalham em conjunto com uma equipe de
plano diretor e do código de obras da referida auxiliares do hospital.
cidade. Os serviços oferecidos pela empresa estudada,
Na seqüência, elabora-se um cronograma de obra, nesta macrofase, são explicitados a seguir e
determinando quais serão as etapas de podem ser contratados em conjunto ou
construção. Nessa atividade, ocorre a abertura dos separadamente.
processos de licitação das etapas da obra para (a) GeMan: gestão e gerenciamento de
construtoras. tecnologias médicas. A empresa é responsável
A empresa também realiza o projeto as built, que pelo gerenciamento do parque tecnológico do
mostra as alterações que ocorreram com o projeto hospital, determinando o ciclo de vida dos
executivo no decorrer da obra. aparelhos médicos, gerenciando custos e
prevendo atualizações das tecnologias;
A segunda fase de montagem refere-se à inserção
das tecnologias médicas, cujas fases anteriores (b) bancada de tecnologias e equipamentos:
assemelham-se às da montagem da edificação: neste caso, a empresa estudada possui um ou
plano diretor de tecnologias médicas, projeto mais funcionários, responsáveis por consertar e
básico de tecnologias médicas e projeto executivo manter os equipamentos do hospital, como
de tecnologias médicas, como colocado no item macas, leitos hospitalares, réguas, entre outros. A
anterior. No entanto, diferentemente do projeto de bancada não é responsável, no entanto, pelas
arquitetura, o projeto executivo de tecnologias tecnologias médicas; e
médicas é realizado durante a macrofase de (c) gets: gestão dos espaços e tecnologias de
montagem, ou seja, durante a construção do saúde. Este é o pacote completo de serviços de
edifício. manutenção, englobando a gestão de tecnologias
Ressalta-se que a empresa é responsável pelo médicas e a gestão de manutenção predial. São
gerenciamento das tecnologias – ou seja, descritas, em contrato, as áreas do hospital em
determinar qual equipamento é viável para aquele que a Gets atuará. A complexidade e o tempo de
tipo específico de hospital –, mas é o cliente que execução são os parâmetros utilizados para
terá a decisão final sobre a compra. A empresa escolha.
volta a atuar na inserção desses equipamentos na No H2, o corpo administrativo do hospital optou
obra. por contratos separados, um para GeMan e outro
Apresentam-se nas Figuras 5 e 6 os modelos para bancada. Por esse motivo, os gerentes
desenvolvidos pelos autores para representar as trabalham como unidades autônomas e se
macrofases de arquitetura e de tecnologias reportam ao coordenador visitante. No caso do

Desenvolvimento integrado de projeto, gerenciamento de obra e manutenção de edifícios hospitalares 67


H1, onde a escolha foi por um único contrato com manutenção é centrado na confiabilidade e
GeMan e bancada, o gerente de bancada se necessita da classificação dos aparelhos em
reporta ao gerente de GeMan, que, por sua vez, é críticos, semicríticos e não-criticos.
o único que se reporta ao coordenador visitante.
A empresa destaca que o equilíbrio entre os três
Dentro da macrofase da gestão da manutenção, a tipos de manutenção é o ideal para que a gestão
primeira atividade é realizar um cadastramento do de manutenção funcione perfeitamente. Segundo
acervo tecnológico do hospital. O H2 possui um o profissional responsável por identificar os
acervo tecnológico de 350 aparelhos, processos de gestão, seria razoavelmente fácil
classificados em: críticos, cujo mau basear a manutenção apenas na manutenção
funcionamento traz risco de morte para o corretiva, ou preditiva. No entanto, estabelecer
paciente; semicríticos, que não trazem riscos de uma gestão de manutenção baseada na relação
morte por mau funcionamento, mas interferem no custo-beneficio entre os equipamentos e sistemas,
tratamento de casos graves; e não-críticos, que em que serão definidos os componentes que
podem ser substituídos por outros ou que não são podem quebrar e os que devem esperar quebrar, é
os únicos no acervo tecnológico do hospital. extremamente complexo e pode ser considerado
Como este hospital só possui contrato para até utópico. O que a empresa procura é estar o
GeMan e estrutura de bancada, o cadastramento mais próximo possível desse ideal, para satisfazer
realizado foi apenas dos equipamentos. A análise o cliente e usuário numa ação contínua.
é constituída da seguinte forma: inventário ou No momento da pesquisa, a empresa do estudo de
cadastro de tecnologias, análise de segurança caso buscava o aprimoramento de seus processos,
elétrica, calibração de equipamentos médicos, principalmente os que dizem respeito à
análise de confiabilidade das tecnologias médicas manutenção preventiva. Os problemas no
e plano de renovação e reparos das tecnologias processo já foram detectados, mas existem
médicas. De posse dessa análise, é possível barreiras em convencer os coordenadores de
definir a gestão de manutenção para as produto a mudar sua dinâmica, pois, segundo
tecnologias médicas e traçar um plano diretor estes, a implantação das alterações tende a
para futura renovação do acervo tecnológico. sistematizar os processos, burocratizando o
A manutenção predial percorre atividades trabalho.
similares à manutenção de tecnologias médicas, Com relação ao fluxo de informações, o cliente é
que são: inventário ou cadastro predial, análise notificado sobre as condições do edifício e do
das condições do edifício, análise da parque tecnológico do hospital por meio de
confiabilidade predial, confecção ou análise do relatórios mensais, emitidos pelos gerentes de
manual de operação predial e plano de renovação manutenção. No caso do H2, os relatórios são
predial. Esses dados permitem que a empresa do emitidos pelo gerente do GeMan e têm como
estudo de caso organize a gestão de manutenção conteúdo a produtividade da equipe, o índice de
predial, possibilitando o aumento da vida útil do quebra de equipamentos, a quantidade de
hospital. chamadas para reparos e emergências, o tempo de
A empresa utiliza os três tipos de manutenção: a resposta de atendimento, os cronogramas e o
corretiva, a preventiva e a preditiva. A gerenciamento de custos.
manutenção corretiva, que não é recomendada As Figuras 7 e 8 apresentam o modelo
principalmente para aparelhos críticos, é feita desenvolvido pelos autores, com base nos dados
após a danificação de um equipamento. A coletados e nas referências já citadas nos outros
manutenção preventiva é a realizada antes que o modelos. Seguem a mesma representação dos
aparelho apresente defeitos, indicada modelos anteriores. Nesse caso, tanto as
principalmente nos aparelhos críticos. Já a atividades quanto as saídas foram representadas,
manutenção preditiva é a manutenção pois são importantes para a caracterização da
programada, em que todo o acervo é verificado e macrofase.
calibrado periodicamente. Esse tipo de

68 Caixeta, M. C. B. F.; Figueiredo, A.; Fabrício, M. M.


Figura 7 – Modelo da macrofase de gerenciamento da manutenção nas unidades de arquitetura

Figura 8 – Modelo da macrofase de gerenciamento da manutenção nas unidades de tecnologias médicas

Processo de desenvolvimento de As linhas da figura representam as três


produtos na empresa do estudo de caso macrofases do PDP e as fases que pertencem a
cada uma delas, para as unidades de arquitetura e
A partir dos dados obtidos ao longo de toda a tecnologias médicas. As colunas representam em
pesquisa, foi possível modelar todo o PDP dentro que macrofase as fases são realmente realizadas e
da empresa em estudo, conforme apresentado na a relação temporal entre as fases da unidade de
Figura 9. arquitetura e da unidade de tecnologias médicas.

Desenvolvimento integrado de projeto, gerenciamento de obra e manutenção de edifícios hospitalares 69


Figura 9 – Modelo do PDP na empresa em estudo

Além disso, são representados os marcos do Considerações finais


início e da conclusão da obra, e a relação
temporal destes com as fases do PDP. Indicam-se A empresa investigada se mostrou bastante
também os pontos em que ocorre a adequada para os objetivos da pesquisa e para a
retroalimentação do sistema. condução do estudo de caso, uma vez que
desenvolve um leque amplo de serviços e integra
Com isso, é possível visualizar a relação de
diferentes fases do PDP de hospitais.
dependência entre as diversas fases e as unidades
de arquitetura e tecnologias médicas. É também Para ser viabilizado, o estudo de caso envolveu o
possível visualizar que a fase de confecção do acompanhamento simultâneo de dois
projeto executivo de tecnologias médicas, que empreendimentos similares em diferentes fases
pertence à macrofase de processo de projeto, é de projeto e obra, de forma a permitir
realizada durante a macrofase posterior, ou seja, acompanhar todo o PDP desenvolvido pela
de gerenciamento da montagem. Fica também empresa.
visível como os marcos de “início da obra” e de Apesar das particularidades inevitáveis de cada
“conclusão da obra” separam as macrofase empreendimento de construção, a similaridade
entre os programas e o fato de ser o mesmo

70 Caixeta, M. C. B. F.; Figueiredo, A.; Fabrício, M. M.


cliente para ambos os empreendimentos (obra) e o gerenciamento da manutenção e das
permitiram desenvolver o estudo de caso em alterações no edifício.
partes, sem comprometer a análise integrada do
O presente trabalho caracterizou uma empresa de
PDP.
arquitetura hospitalar brasileira que possui uma
De fato, essa abordagem em paralelo (ao mesmo prestação de serviços diferenciada, que pode
tempo) de empreendimentos similares se mostrou abranger desde o planejamento da edificação
uma estratégia de pesquisa pertinente para hospitalar até a etapa de manutenção dela, de
estudos organizacionais e gerenciais no setor, que acordo com o contrato. As vantagens levantadas
se caracteriza por elevado tempo de ciclo de para esse formato de prestação de serviços
produção, muitas vezes incompatível com o incluem, entre outros, um maior controle da
tempo e recursos disponíveis para uma pesquisa. produção da edificação e a possibilidade de uma
O modelo de PDP apresentado coloca o processo retroalimentação efetiva, pois a empresa tem
de desenvolvimento de edificações hospitalares controle dos resultados do projeto ao longo da
de médio porte dentro de um contexto mais construção e do uso da edificação. Além disso:
amplo de desenvolvimento de edifícios. Buscou- Clientes da construção inexperientes – por
se a construção de um modelo genérico de exemplo, profissionais da saúde – têm
desenvolvimento de edifícios, identificando dificuldades em entender o processo de projeto
particularidades e etapas de especial importância e construção, e portanto, em fornecer
informações apropriadas no tempo certo para
nos empreendimentos de hospitais, a partir do dar suporte a estas atividades. A gestão dos
caso específico estudado. requisitos é desafiadora devido à
Apesar de ter sido desenvolvido com base em complexidade dos componentes hospitalares e
projetos de edificações hospitalares, o modelo também devido ao grupo de stakeholders
envolvido. (TZORTZOPOULOS et al., 2008, p.
apresentado pode ser relativamente adequado
227).
quando se trata do projeto de arquitetura de
outros tipos de empreendimento de edificações. A pesquisa relatada contribuiu com o
As principais especificidades do modelo estão mapeamento desse processo de desenvolvimento
principalmente relacionadas à unidade de de edificações hospitalares, elucidando suas
tecnologias médicas e de suas relações com a macrofases, fases, atividades e saídas, além de
unidade de arquitetura. ilustrar as relações de precedência entre estas e
discorrer sobre os agentes envolvidos em cada
O primeiro ponto a ser destacado como resultado
uma delas.
da pesquisa é a crescente necessidade de
especialização dos escritórios de arquitetura para A pesquisa também caracterizou um novo modelo
o desenvolvimento de projetos hospitalares, dada de negócio para empresas de projetos
a complexidade desse tipo de edificações. especializadas em nichos de mercado que podem
agregar valor não só pelo projeto no sentido
Como visto, a constante evolução das tecnologias
tradicional de produto informacional, mas por
médicas impele os edifícios hospitalares a se
serviços complementares, caracterizando uma
tornarem palco de atualizações para comportarem
atuação voltada verdadeiramente para o
essa evolução, numa freqüência muito maior do
desenvolvimento integrado (entre várias fases do
que as edificações destinadas a outros usos, para
ciclo de vida) do produto edifício.
que aqueles não se tornem precocemente
obsoletos. Sendo assim, é importante pensar o Um importante desdobramento dessa forma de
desenvolvimento dos projetos dessas edificações atuação é que a relação entre projetista e cliente
a partir de seu ciclo de vida, para que seja se prolonga no tempo e abarca diferentes etapas
possível antecipar no projeto a flexibilidade do empreendimento. Assim, mais do que
necessária para permitir as alterações. contratos de projetos isolados e com tempo
predefinido, buscam-se relações de parceria na
Os dados e as práticas caracterizados a partir do
prestação continuada de serviços de projeto,
estudo de caso demonstram que a necessidade de
apoio e consultoria durante as etapas de
futuras alterações e adaptações passa não só pelo
construção, alteração e manutenção de edifícios.
desenvolvimento de soluções de projeto do
Esse novo tipo de relação permite agregar valor
produto adequadas às atualizações periódicas,
ao projeto e ampliar as receitas de empresas de
mas também demanda novas formas de gestão do
projeto, tradicionalmente mal remuneradas no
processo de desenvolvimento desse tipo de
mercado de construção brasileiro, mas exige um
produto, abrindo oportunidade para agregação de
maior grau de conhecimento e de especialização,
serviços complementares ao projeto inicial de
uma vez que a empresa de projeto também se
produto, tais como o gerenciamento da montagem
responsabiliza pelo gerenciamento da montagem

Desenvolvimento integrado de projeto, gerenciamento de obra e manutenção de edifícios hospitalares 71


e da manutenção do edifício e será cobrada pelo ROMANO, F. V. Modelo de Referência para o
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72 Caixeta, M. C. B. F.; Figueiredo, A.; Fabrício, M. M.

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