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Escrita:
Uma Forma de Multiplicar os Sentidos
ou para uma escrita que ensina a ler
um pouco do que ficou de um projecto de autoformação cooperada
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Escrita: Uma Forma de Multiplicar os Sentidos
ou para uma escrita que ensina a ler
um pouco do que ficou de um projecto de autoformação cooperada
COORDENAÇÃO
Daniel Lousada
e ssentia
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2010
TITULO: Escrita uma forma de multiplicar os sentidos
ou Para uma Escrita que "Ensina" a Ler
Autores: Aristides Custódio, Cláudia Xavier, Cristina Miranda,
Daniel Lousada, Dulce Barreiros, Fernanda Santos,
Mª Júlia Lousada, Mónica Teixeira, e Paula Martins
2010 Euedito
Impressão: Euedito
Depósito Legal: 314628/10
ISBN: 978-989-96852-0-8
Euedito
geral@euedito.com
www.euedito.com
As(os) Autoras(es)
6
No que respeita à pedagogia, não sabemos se
haverá, ainda, alguma invenção por inventar, se
teremos alguma técnica não experimentada já.
Não estamos amarrados ao compromisso com a
novidade, mas na expectativa de encontrarmos a
inteligência que suporta as propostas de trabalho
que vamos pensando.
Tudo o que fazemos já foi experimentado. Mas
isto não quer dizer que, nalguns momentos, não
vivêssemos a ilusão de ter criado, se não uma
proposta nova, pelo menos uma nova forma de a
por em prática. Acreditamos que nem isto acon-
teceu!
Mas como, em matéria de educação, não existe,
até ver, um registo de patentes, podemos sem-
pre, em dias cinzentos, pintar o céu de azul,
desde que a busca da originalidade não seja o
nosso propósito mas, tão só, o desejo de fazer
um dia mais claro.
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APRESENTAÇÃO E AGRADECIMENTOS
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aquele papel com o registo inútil, ou descrição da “tarefa para a foto-
grafia”, de que dependem os pequenos poderes, para justificarem a
existência do lugar que ocupam, ou a reunião interminável sem senti-
do, que desespera… O que transborda, escola fora, é o espaço de
encontro que permite pensar o trabalho com prazer! Um espaço que,
hoje em dia, só fora da escola é possível encontrar.
Por tudo isto, não temos outros agradecimentos que não sejam
os que devemos a nós mesmos e àqueles que, fora da escola, nos
apoiam com a sua disponibilidade.
Julho, 2010
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ÍNDICE
INTRODUÇÃO……………….…………………………………………………………….……..... 13
PARTE I
DA CÓPIA À LIBERTAÇÃO DA ESCRITA
Quando não souberes copia………….…………………………..………….… 19
Entre fazer a cópia e copiar………..……..…………..............................……. 20
Dar forma às ideias……………………………...…...……..………...…………...... 22
Motivar provocando os sentidos……...…………………………….…….....… 25
As portas que um texto abre……………..........………………….……..…..… 27
Inventar as palavras………………………………………………………………… 33
Libertar a escrita para libertar o texto………………………………...……… 34
Do controlo externo àquele outro puramente interno da activi-
dade linguística ……………………………………………………………………….. 37
Trabalho de texto e gramática ………………………………………………… 40
Concluindo ……………………………………………………………………………... 42
PARTE II
AS PRÁTICAS DE LEITURA E ESCRITA TAL COMO AS VIVEMOS
Uma nota a propósito do “plano nacional de leitura”……………...….. 47
Desenvolvimento do currículo de língua portuguesa, neste
projecto……………………………………………..……………………………………... 48
Trabalhar o texto literário…………….……………………………………………. 48
Alguns Exemplos do que fizemos: ……………………………………………. 51
“Quasi” – Mário de Sá-Carneiro……..……..…………….....……………….…... 52
“Frutos” – Eugénio de Andrade…………………..……………..………...…….... 55
“Faz de conta” – Eugénio de Andrade ……………….……….…………….… 57
“Antântico” – Sophia de Mello Breyner e “Aquela nuvem”- Eugé-
nio de Andrade………………………………………………………..…………..……. 58
Entre Inverno e Primavera: recriar “O Fim do Verão” de José
Agostinho Baptista…………………………………………………………………..… 61
“Rifão Quotidiano” de Mário Henrique-Leiria……………………………….. 64
“Livro de Perguntas” de Pablo Neruda………………………………….…. 68
“Ou Isto ou Aquilo” de Cecília Meireles. ……………………………..………. 71
Entre as “Nuvens” de Jorge Sousa Braga, e “O Segredo do Rio”
de Miguel de Sousa Tavares………………...……………………..…………...….. 75
A sopa da bruxa………………………………………………………………………. 82
“Histórias de chocolate” de José Jorge Letria ………………….…………. 84
“Escrita formal” ………………………………………………………….…………….. 85
“Já sei ler a novidade da Joana ao contrário” …………………….……. 88
Quando eu morava no jardim…………………………………………………… 90
11
A imaginação aprende-se……………………………………………….…….….. 92
Trabalho de texto sobre um texto livre…………………………………….... 94
A questão ortográfica……………………………….…………………………….… 97
CONCLUSÃO
O ensino da escrita e as TIC – uma questão por resolver………... 103
Uma nota final………………………………………………………………………….. 106
BIBLIOGRAFIA…………………………………………………...………………………………… 107
Outras referências…………………………………...…………………………..….. 108
Obras que contêm os textos trabalhados……………….…...…………… 109
CONTEÚDO DOS TEXTOS DITOS…………………………………………………………….. 109
SOBRE OS AUTORES………………………………...………………………………………….. 110
12
INTRODUÇÃO
13
Em todas as definições de leitura, que a ciência das línguas nos
traz, a voz está presente, mas sempre escondida (desvalorizada) nos
outros fenómenos que a compõem. O que lhes sobressai, então, é
uma leitura que retira o sentido da palavra como se fosse possível
tirar sentido de uma palavra sem voz. E as consequências pedagógi-
cas estão à vista: práticas de leitura que apostam na extracção de
sentido numa hiper-valorização da leitura silenciosa e que esquecem
que, mesmo silenciosamente, a leitura não é feita de silêncio. A leitura
como pesquisa, que procura apenas a informação necessária à
extracção do acontecimento, até pode esquecer que a palavra escrita
tem um som que lhe reforça o sentido, mas a leitura que se faz com
todo o prazer que a leitura pode dar, não se faz verdadeiramente sem
“o som de uma voz que dá som às palavras”.
“Escrever em voz alta” sugere que a leitura e a escrita estão
presas pelo movimento. E é na tradução deste movimento que a voz
se implica, também, na construção do sentido do texto. Neste sentido,
aprender a ler é, também, aprender a reflectir na leitura o movimento
que a escrita imprime ao texto. E não vemos forma de ensinar a sentir
(ler) o movimento da escrita sem passar, em simultâneo, a experiên-
cia, mesma, de escrever!
*
Questionarmo-nos sobre a nossa relação com a escrita, para
além da que resulta da avaliação que fazemos das produções dos
nossos alunos, foi o desafio que nos impusemos, permanentemente,
na certeza de que só com uma relação descomplexada com esta for-
ma de expressão é possível perceber os constrangimentos dos nos-
sos alunos na sua relação com a escrita. Através dos textos que tra-
balharam ou criaram connosco e da escrita que, sobre estes proces-
sos de criação, experimentamos entre nós, percebemos que defender
a escrita, num processo mais alargado de expressão livre, não signifi-
ca deixar quem escreve ao abandono, até porque a escrita só é real-
mente livre se tiver condições para se desenvolver, se tiver ouvidos
que a escutem, ouvidos que a acompanhem e saibam compreender
os impasses em que, por vezes, o texto cai: uma ideia que não encon-
tra a palavra que lhe dê o sentido desejado ou uma palavra que tem
14
dificuldade em encontrar o seu lugar na frase mas que é fundamental
que esteja lá pela força que transmite.
*
Ensinar a escrever e a ler passa por não separar, nunca, a leitu-
ra da escrita, contrariando a dicotomia entre ler e escrever que, de
acordo com Paulo Freire, nos tem perseguido a vida toda. Cabe-nos,
então, ensinar a encontrar a escrita nos textos que damos a ler, e a
encontrar a leitura nos trabalho de escrita que propomos: a leitura de
um texto não pode esgotar-se na extracção do acontecimento, precisa
de ser vivida na apreciação da sua estética, contida no critério de
escolha das palavras, na forma como estas se arrumam na frase e as
frases no texto…; por sua vez, o domínio da escrita vai além da aqui-
sição da técnica de tradução escrita de uma ideia, assentando, antes,
no desenvolvimento daquela mesma consciência estética, que se ini-
cia quando aprendemos a projectar-nos no leitor que queremos para o
texto que escrevemos.
*
A escola tem duas formas de convocar o texto escrito: a redac-
ção ou composição (livre ou sugerida, no formato e no tema) entendida
como uma tarefa que ocorre num tempo e num espaço determinados,
por solicitação do(a) professor(a), e o “texto livre” que, na tradição de
Freinet, nos chega, à partida, sem agenda ou conteúdo a condicioná-
lo.
15
num programa que vê a língua, não como objecto que precisamos
aprender a usar (portanto, com um sentido social preciso), mas unicamente
como objecto de estudo.
16
Parte I
DA CÓPIA À LIBERTAÇÃO DA ESCRITA
PARA UMA ESCRITA QUE CONVIDA A LER
PARA UMA LEITURA COM ESCRITA DENTRO
Texto registado por Daniel Lousada e Mª Júlia Lousada, a partir das reflexões produzi-
das pelos professores envolvidos no projecto,
17
O prazer de ler ensina-se numa leitura com prazer
só possível com a escrita presente
18
QUANDO NÃO SOUBERES COPIA
Hoje diabolizamos a cópia como prática escolar. Acontece
(acreditamos) que não é na cópia que o problema está, mas nos usos
que dela fazemos e, para a qual, a “precária consciência dos critérios
que sustentam as práticas escolares”1, não deixa 1 Colello, 2007, p.129
perspectivar usos mais inteligentes. Quer dizer, acei-
tamos a actividade sem a questionarmos, afastados da coerência que
apenas um saber pedagógico lhe pode oferecer. ”De um professor
que sempre deixava copiar passamos para outro que se aterroriza por
ter um aluno que quer copiar”, observa Emília Ferreiro,2 colo- 2 2001, p.41
cando em evidência a nossa dificuldade em reconceptualizar
a cópia, o que nos impede de descobrir quando ela nos pode ser útil.
Andamos de extremo a extremo à procura do “movimento” que fun-
ciona “o que é muito típico dos movimentos pendulares educativos”.
Diabolizada a cópia como prática escolar, esta transforma-se em
prática que ninguém assume mas que pratica clandestinamente. E
perde-se a possibilidade de investir na utilidade que a cópia pode tra-
zer, reconceptualizando-a nas nossas práticas presentes, como mais
um instrumento ao serviço do desenvolvimento da escrita e das leitu-
ras que dela e sobre ela podemos fazer, libertando-a, assim, da con-
dição de reprodução de um produto que a fez nascer.
Quando não souberes pergunta, aconselhamos tantas vezes! E
não nos damos conta do difícil que é, por vezes, seguir um tal conse-
lho. É que nem sempre sabemos ao certo que pergunta temos para
fazer! Ora, na escrita, mais do que noutra actividade qualquer, somos
muitas vezes confrontados com dilemas deste tipo: ter um texto para
escrever e não encontrar a pergun- 3 Escrever é apenas o reflexo de uma coisa
ta que nos faz iniciar a tarefa.3 E que pergunta (Clarice Lispector, citada por
quando assim é, ou deixamo-nos Solange Souza, 1994)
estar onde estamos, ou então… podemos procurar, na “cópia”, a res-
posta para a pergunta que não temos! Então propomos, com Fernan-
do Tordo, “quando não souberes 4 Título de um Livro de poemas de Fernando
copia”!4 Tordo (Lisboa, Campo das Letras, 2007)
19
ENTRE FAZER A CÓPIA E COPIAR
Na nossa escola fizemos muitas cópias e copiámos muitas
vezes. Julgámos, aliás, ter sido através de actividades deste género,
conjuntamente com o ditado, também ele uma forma de cópia, que
entrámos no mundo da escrita. E aqui distinguimos a cópia do copiar.
Desde logo, porque copiar foi, e ainda é, frequentemente, encarado
como transgressão. O “fazer a cópia” e o “copiar” não têm, assim, o
mesmo sentido para nós.
“Fazer a cópia” começava por ser uma repetição de gestos na
busca da forma perfeita que desenha a palavra. O importante não era
a palavra, a frase, o texto… mas a perfeição do contorno da letra. E
depois, ou em simultâneo, era ainda o instrumento que ajudava a gra-
var na memória. Por isso “copiávamos, às vezes, vezes sem conta,
5 tantas vezes também por castigo, as palavras que
Daniel Lousada, 2006
errávamos no ditado”.5 Mas se pela cópia repetimos,
imitando apenas o gesto do outro, o que aprendemos é, tão só, a
repetir gestos que não são nossos. Foi esta dimensão rotineira que
6
granjeou à cópia a fama que ainda
“(…) embora a cópia, como prática social, 6
possa ter propósitos legítimos e também tem.
associados aos processos psicológicos
superiores (registo de informações, arquivo Longe vai o tempo em que a
de documentos e apoio à memória, entre cópia era pedida (obsessivamente
outros), é certo que a escrita capaz de con-
na generalidade dos casos) como
tribuir na evolução das formas de pensamen-
to supera a reprodução mecânica dos tra-
desenho de um texto já escrito para,
çados” (Colello, 2006: p.94)
“passado a limpo”, fazê-lo mais
agradável ao olhar. Nesse tempo, a cópia tinha uma função social
precisa: fazer um produto que reunisse condições óptimas para ser
lido. Mas hoje, o desenvolvimento tecnológico afastou a cópia desta
função e, mesmo na correspondência escolar, as formas mais expedi-
tas de correio electrónico fizeram cair em desuso este passar a limpo
que esta escrita pedia. Não queremos com isto dizer que a perfeição
do contorno que desenha a palavra não deva ser valorizada. Apenas
entendemos que, se não percebermos a diferença entre valorização e
obsessão, corremos o risco de confundir as nossas prioridades.
20
para nós, e aceitamos o instrumento que ajuda a procurar a forma que
pode dar forma às nossas ideias, numa busca que procura, nas pala-
vras dos outros, as palavras que escondem as nossas próprias pala-
vras, libertos, agora, do sentimento de transgressão que lhe estava
associado.
21
sobre a cópia das formas que podem acolher pensamentos que são
nossos. Então, ao introduzir, nestes termos, a exploração da cópia em
contexto escolar, é para a apropriação das formas que a “palavra”
pode tomar quando escrita, que começamos por focalizar a atenção
do escritor aprendiz.
*
Na escola, com frequência, esquecemos que, no que respeita à
escrita, o importante é começar a escrever, nem que para tanto preci-
semos de tomar palavras de empréstimo. Mas este empréstimo traz
22
em si uma promessa que só
muito dificilmente aprende-
mos a cumprir sozinhos: a
promessa de devolver o que
um dia pedimos emprestado,
que o mesmo é dizer, a pro-
messa de nos libertarmos do
que tomámos por emprésti-
mo. Então, ao copiar, fazemo-
lo como quem usa um instru-
mento de apropriação de um
saber, repetindo o gesto
copiado não para não errar
mas para, ao fazê-lo nosso
gesto, construirmos, a partir
dele, os nossos próprios ges-
tos, na perspectiva defendida
atrás com Bakhtin (Figura 1).
Nesta cópia treinamos uma
escrita feita a partir da leitura
que fazemos da escrita do
outro: é a cópia como treino
de uma técnica, o aprender a
esculpir formas, tendo as
formas do outro como mode-
lo. Quer dizer, não se trata de
FIGURA 1 – Em cima, um poema de Eugénio de fazer a apologia da cópia (no
Andrade; em baixo, a cópia que confronta o
nosso gesto com o gesto do outro. sentido literal do termo) ou de
plagiar os textos que gosta-
mos de ler ou de ouvir ler. Trata-se de aprender a escrita através da
escrita dos outros, apropriando-nos, não das suas ideias, mas das
diferentes formas que a escrita tem, treinando processos de fixar a
nossa interpretação, a nossa visão do mundo. Então, tal como acon-
tece, por exemplo, na iniciação às artes plásticas, durante algum tem-
po as nossas formas são decalcadas de formas alheias, modificando
aqui e ali um ou outro elemento, fazendo do texto lido uma reescrita
que traduz a nossa experiência.
23
Aqui afastamo-nos da cópia da “nossa escola”, que apenas
prendia o movimento ao olhar, sem qualquer compromisso com o sen-
tido. E promovemos a cópia como a procura da forma que bata certo
com o que temos para contar, como instrumento que ensina a cons-
truir “(…) o vínculo entre o texto e o objecto por ele abordado (a retóri-
ca e o conteúdo)” que, para além de representar “o grau de conheci-
mento linguístico, traduz a óptica do autor sobre o mundo; o modo de
14 compreende-lo e de com ele se relacionar”.14
Colello, 2007, p.220
Ensinar a escrever passa, também, por desen-
volver a capacidade de apreciar estruturas já formadas (diferentes
formas de combinar as palavras na frase) e a usá-las para dar forma
às ideias que o pensamento é desafiado a compor. É certo que um
texto assim criado corre o risco de não ser original na sua forma; mas
não é na procura da originalidade da forma que esta cópia se situa,
mas no desvendar os segredos que a produção escrita esconde. A
Criança, dizia Vygotsky, precisa crescer para alcançar capacidade
literária, e “para tanto deverá acumular múltiplas experiências, alcan-
çar um grau também muito elevado de desenvolvimento no
15
1986: p.54 seu mundo interior”.15 Então, até lá, levamo-la a escrever com
a forma dos outros, ou numa mistura de formas que batam
certo com o que tem para contar, através da apropriação das diferen-
tes técnicas de esculpir a palavra que colocamos ao seu dispor,
apoiados numa leitura que não é apenas leitura, mas uma forma parti-
cular de ler, e que identificamos como leitura da escrita: uma leitura
que não joga apenas com o conteúdo mas com tudo o que a escrita
envolve e que só uma leitura que convoca o “escrever” é capaz de
16
16
“Ler como um escritor”, para proporcionar. Como refere Geraldi, “é
utilizar o título de um livro de necessário mobilizar recursos linguísticos
Francine Prose
para enfrentar um tema (…), que não são
previamente aprendidos para depois serem postos em funcionamento,
mas estão em funcionamento quando aprendidos. (…) Debruçar-se
sobre a língua em funcionamento, lendo textos, debatendo temas,
esquematizando intervenções, fazendo anotações, revisando concei-
tos e concepções: eis a preparação para escrever textos: conviver
17 com a expressão e não analisar ou descrever os recursos
2008: p.46-65
de expressão.17
24
Neste sentido, esta cópia apresenta-se como instrumento fun-
damental ao serviço deste propósito. Ao escrevermos, copiando as
estruturas que servem a nossa escrita, abrimos uma porta para
entrarmos bem dentro das formas que a limitam e, uma vez dentro,
criamos as condições para, um dia, descobrirmos as saídas que a
libertam: só nos libertamos dos gestos alheios se os copiamos um dia
na procura dos nossos próprios gestos.
25
Esta é uma forma muito antidia- guir com ele. Quer dizer, a motivação situa-
lectica de entender a motiva- se, algures, entre o prazer e a utilidade que
ção.(…). O currículo padrão lida
com a motivação como se esta retiramos das tarefas que temos para reali-
fosse externa ao acto de estudar. zar: nem tudo o que é útil nos dá prazer (mas
A melhor coisa é sempre aquela
que você não está fazendo no fazemos porque tem para nos oferecer algo
momento» (Paulo Freire e Ira que podemos usar)21 e nem sempre o que
Shor, 1986, p. 15).
nos dá prazer tem outra utilidade, para além
21
Quando a gramática transporta do bem que nos faz sentir.
este sentido, aceitámo-la, ou
procuramo-la mesmo Com este modo de solicitar a escrita o
que buscamos é, essencialmente, o prazer de fazer entrar as nossas
palavras num jogo de palavras que esconde sentidos a revelar, a par-
tir do jogo proposto pelas palavras do outro, onde a utilidade é apenas
uma dimensão a que podemos aceder se quisermos investir a expe-
riência adquirida em projectos futuros, por exemplo, na abordagem a
outras leituras, no “texto livre” que escrevemos. Mas só escreve livre-
mente quem adquiriu os instrumentos que lhe permitem ser livre na
sua escrita e nas escolhas que faz.22
22
O “texto livre”, na tradição que
nos vem de Freinet, “dá aos alu- Na maior parte das vezes, o texto (se
for poético mais intensamente) precisa de
nos a possibilidade de se exprimi-
rem livremente” (Schneuwly,
1994), ajudando a resolver o um leitor que aceite entrar neste jogo, que
problema da motivação para a esteja disponível para apreciar as diversas
escrita.
combinações que as palavras podem tomar
23
2000 na frase. É o encontro com um leitor que, no
dizer de C. S. Lewis,23 mais do que querer
saber o que se passa a seguir, quer saber tudo o que as palavras
constroem, cultivando a disponibilidade para a pausa que lhe permite
entrar no jogo, só possível se não se deixar ficar apenas pelo que
acha necessário à extracção do acontecimento, investindo na procura
de significados escondidos, que só buscamos se o texto, pela combi-
nação dos elementos que lhe dão forma, nos segredar que existem.
Os desafios lançados pelo poema de Eugénio de Andrade (Figu-
ra 1) e pelo excerto do poema de Mário da Sá-Carneiro (Figura 2)
fazem parte de um jogo assim, e que convida o leitor a mexer no texto
através de uma espécie de cópia que não é outra coisa mais do que
uma forma de ler o texto: dar ao texto lido o sentido que é o nosso,
dentro dos sentidos que ele tem para nos dar.
26
AS PORTAS QUE UM TEXTO ABRE
Com os “Frutos” de Eugénio
de Andrade, as palavras são con-
vocadas pelo jogo de sentidos que
o olhar, o cheiro, ou o sabor con-
vocam. Dir-se-ia que as palavras
surgem à cadência da evocação
dos sentidos e os sentidos que
revelam vêm mediatizados, na sua
maior parte, por significantes que
remetem para significados que não
se afastam muito, ou não se afas-
tam mesmo, dos seus sentidos lite-
rais.
Em “Quasi”, de Mário Sá-
FIGURA 2 – Usar a forma do outro pa-
ra dar forma ao que temos para dizer.Carneiro, são outras as sensações
presentes. São estados de alma,
nem sempre fáceis de trabalhar nestas idades pois os sentidos das
palavras que os revelam não estão mediatizados, somente, por signi-
ficantes relativos a significados com sentido literal. Dizer, por exemplo,
“um pouco mais de azul – eu era além” recusa um significado literal
(nem o significante “azul” é aqui relativo a cor, nem o significante
“além” refere, neste caso, uma distância ou afastamento), antes reme-
tendo, na expressão que os integra, para um sentido não-literal, que
uma informação visual apenas, não com- 24
“A leitura sempre envolve uma
porta.24 São, muitas vezes também, sentidos combinação de informação visual
que se integram num tipo de sentidos a que e não-visual. Ela é uma interac-
ção entre o leitor e o texto”
só podemos aceder se entrarmos primeiro no (Smith, Frank, 1989, p. 86). E
movimento que a escrita imprimiu ao texto. quanto mais informação não-
visual trouxer para a leitura do
Dir-se-ia que o movimento (que é forma tam- texto mais fácil se torna esta
bém) esconde o sentido e que este só nos é interacção, ou seja, a sua leitura.
dado se fizermos o texto mexer com a leitura
que a sua escrita pede, fazendo, com esta leitura, a forma de sol-
tar o sentido. Então, como refere George Jean25, antes de nos 25 2000
lançarmos na leitura, precisamos conhecer a música particular do
texto que vamos ler (a sua partitura) e que apenas a “voz” nos dá: “A
língua é para mim uma experiência sonora. Música” – diz Rubem
27
26 Alves –. Eu escrevo o rumor das palavras.26
2004, p.28
Recriando Padre António Vieira, as palavras
George Jean, referindo-se ao
debate que procura saber se a precisam da voz que as anima.27
leitura em voz alta é uma vocali-
zação a posteriori ou um modo de *
apreender a relação entre fonema
e grafema, defende a primeira Tanto para a leitura de “Quasi” como
tese, acreditando, no entanto, “na
eficácia das aprendizagens de “Frutos”, pedimos vozes emprestadas: as
baseadas na passagem directa de Germana Tanger e de Manuela de Frei-
dos signos para o significado na
medida em que, necessariamen- tas. E ouvimos…, E repetimos a escuta… E
te, a viva voz fixa o significado na encostamos a nossa voz às vozes que
sua continuidade, fluidez, fiabili-
dade e variantes. É por isso que a pedimos de empréstimo. Sem chamar a
poesia é uma ajuda preciosa e, atenção para o conteúdo, sem perguntas de
na maior parte dos casos, não
existe (não existe plenamente) interpretação, repetimos a leitura do poema
sem ser dita” (Georges Jean, todo e, depois, verso a verso, lendo e
1995, p. 190).
recriando modos de ler, a partir das leituras
27
“Os sermões “sem a voz que os
animava, ainda que ressuscita-
dos leitores que leram para nós. E partimos
dos, são cadáveres” (p. 11). à conquista dos textos através da nossa
escrita.
Eugénio de Andrade chamou frutos para o seu poema. Mas nós
queremos um poema que fale sobre o Inverno (Figura 1), usando uma
forma igual. Então começamos por listar as coisas que o Inverno nos
pode trazer. E seleccionamos nove dos elementos que nos fazem
lembrá-lo.
O primeiro sentido a ser chamado nos “Frutos” foi o sabor. Para
o nosso Inverno veio o olhar (“pura delícia dos olhos”) que nos permite
ver a “paisagem que me fascina”; e para substituir o cheiro vem o tac-
to com a “frescura das sílabas”… … … …
Mário de Sá-Carneiro, como já referimos, chega-nos com um
desafio diferente: traz sensações que necessitam mais do que os
“cinco sentidos” para serem captadas. Para percebe-las precisamos
de “ouvir” os sentidos que nos chegam pelo movimento que a leitura
imprime ao texto – por isso começamos por ouvir o poema encosta-
28
dos ao sentido que o movimento da leitura
Sobre o tratamento do poema
na sala de aula, Ana Gebara de Germana Tanger lhe deu, procurando,
(1998) defende que nos anos assim, despertar os sentidos escondidos em
iniciais a ênfase deve ser dada à
fruição, daqui decorrendo um nós28 – e, ao mesmo tempo, precisamos
conhecimento mais intuitivo. fazer o que raramente fazemos, ou não
28
fazemos nunca: conversar com o autor do texto a partir do seu texto.
30
da escrita, a procurar os sentidos que a superfície das palavras por si
só não traz. De certa forma, estamos perante uma experiência algo
parecida com a experiência vivida por Jorge, personagem em “Sinais
de Fogo” de Jorge de Sena:
“(…) de repente ouvi dentro da minha cabeça uma frase: «Sinais
de fogo as almas se despedem, tranquilas e caladas, destas cinzas
frias» (…). Que sentido tinha aquela frase? Tentei repeti-la para
mim mesmo: Sinais de fogo… Mas esquecera-me do resto (…).
Repeti mentalmente: «Sinais de cinza os homens se despedem,
lançando ao mar os barcos desta vida». (…) as palavras eram
outras, ou quase as mesmas diversamente. Tirei um papel do bol-
so, e escrevi: «Sinais de fogo os homens se despedem, lançando
ao mar os barcos desta vida». E depois? (…) «Nas vastas
águas»… Nas vastas águas… Era absurdo. Eu fazendo versos?
Porquê?”
*
Com o que temos vindo a reflectir corremos o risco de passar a
ideia de que defendemos que nem tudo o que lemos ou escrevemos
precisa de fazer imediatamente sentido (ter um significado). Acontece
que um texto pode oferecer-nos mais do que “um sentido” se estiver-
mos disponíveis para aceitá-los. Como dizia Sophia de Mello Breyner,
numa das suas cartas a Jorge de Sena, “em verso não preciso de
compreender, mas em prosa sim”. Quer dizer, o sentido não nos che-
ga apenas no significado que uma palavra fixa; o sentido é também,
tantas vezes, o efeito de sentir um sentido que simplesmente encon-
tramos, mas que não conseguimos traduzir com palavras. Sentimos e
pronto. E um sentir assim tem todo o sentido para nós. Quer dizer,
quando lemos, não lemos apenas com uma leitura que busca o signi-
ficado preciso da palavra como se de uma qualquer definição se tra-
tasse. Às vezes, fazemo-lo pelo puro encantamento que o ecoar da
palavra nos traz. Mas, tal como Jorge em “Sinais de fogo”, desafiamo-
nos, de seguida, a tentar encontrar o sentido das palavras que chega-
ram até nós.
Acontece que ao impor, obsessivamente, o significado preciso
de tudo o que dá a ler, a escola raras vezes oferece a uma criança a
possibilidade de interagir com o texto, numa leitura que vá além dos
significados que a sua experiência atribui às palavras. Então fica-se
31
pela compreensão que a superfície do texto lhe dá, absorvendo ape-
nas o seu sentido mais literal e concreto. Mas interpretar é saber
entrar no sentido profundo da palavra – “saber revelar a metáfora por
31
A. Silva e R. Carbonari, 1977
trás dela”31 –, no exercício de um saber que
precisa entrar bem dentro dos segredos da
escrita e que só o escrever permite plenamente: há impressões para
as quais não temos palavras que cheguem para descreve-las, ou fal-
ta-nos a habilidade para, com as palavras que temos, encontrarmos a
arrumação que nos permite desocultar as impressões que o texto
fixou em nós.
Ora, o que temos vindo a propor é, precisamente, esta impossi-
bilidade de aprender a revelar estes sentidos não-visíveis (talvez,
menos acessíveis) de um texto se, num dado momento, não fizermos
entrar a escrita num jogo que não é outra coisa mais do que aprender
a escrever, desenvolvendo, a nossa escrita a partir da escrita do
outro. Quer dizer, a leitura e a escrita são duas faces de uma mesma
moeda, que se implicam na forma de expressão a que dão forma: da
expressão escrita. A escrita é objecto e objectivo, sendo a leitura
(apenas!) o meio de acedermos a ela. A leitura, no sentido aqui tra-
tado, não existe fora do acto (mesmo) de escrever, e a escrita sem
leitura é impossível: “Não é possível ler sem escrever e escrever sem
ler – diz Paulo Freire – Um dos equívocos que cometemos está em
dicotomizar ler de escrever, desde o começo, mesmo da experiência
em que as crianças ensaiam os seus primeiros passos na prática da
leitura e da escrita (…). Essa dicotomia entre ler e escrever nos
32 acompanha sempre como estudantes e professores”32. E o
1993, p. 36
“aprender a ler lendo” ou o “aprender a escrever escreven-
do”, se levados à letra, acentuam esta dicotomia. Mas há, algures, um
lugar onde estes dois movimentos se encontram. Cabe-nos, então,
ajudar a construir este lugar: o lugar que permite ajudar a ver quando
a leitura dos textos de autor poder ser útil à escrita que queremos
ensinar, e quando a escrita pode ajudar a encontrar o sentido dos
textos que damos a ler. E, então, talvez seja possível ler como quem
escreve, que o mesmo é dizer “escrever em voz alta
33
33
Miguel Cintra, 2004 com o som de uma voz que dá som às palavras” .
32
INVENTAR AS PALAVRAS
“Nós não somos do século d’ inventar as palavras. As palavras já
foram inventadas. Nós somos do século d’ inventar outra vez as
palavras que já foram inventadas”
Almada Negreiros
Claro que a escrita do outro não está apenas nos textos que
damos, para ler e, lendo, provocar a escrita na aula: ela está, também,
nas apreciações que se expressam no decurso de um trabalho de
texto, que o “texto livre” solicita, já presente nos modos de ler que
explorámos até aqui
O “texto livre”, como espaço de solicitação do texto, caracteriza-
se pela sua diversidade de espaços: de escrita livre, de liberdade de
36
36
No texto livre a liberdade define escrita, de liberdade de expressão…
o texto; uma liberdade que, para
Clanché (1977) “não reside no A Escrita Livre, vemo-la sem amarras,
conteúdo, assunto, inspiração, sem espaço/tempo marcado para se soltar.
etc., mas no modo de solicitação”,
actuando num espaço de liberda-
A “escrita livre” é escrita e é livre, não tem
de psicológica materialmente horários a cumprir, ambiciona alcançar o
instituída: “é a escrita enquanto
estatuto da arte que vive para além do autor.
corpo que deve, em primeiro
lugar, se libertada; então esta Como texto livre, na tradição que nos vem
liberdade desenvolve-se segui- de Freinet, não nasce por encomenda: não
damente, ao mesmo tempo no
plano epistémico e no plano psi- podemos dizer que nos comprometemos a
cológico. A hipótese central que escrever um texto livre. A expressão livre
Freinet desenvolve é que a liber-
dade psicológica – não decretada não é compatível com compromissos de
mas materialmente instituída – produção. Por isso não conseguimos ver um
condiciona e facilita o acesso ao
domínio epistémico, e isto não “texto livre” num qualquer plano de trabalho:
graças a uma espécie de milagre o que vemos é escrita que só no fim sabe-
empírico que faria com que a
criança, quando escrevesse remos se é texto livre ou não. Neste sentido,
livremente, mais correctamente o texto livre que escrevemos é o texto que
escreveria o que sem qualquer
espécie de dúvida, é uma ilusão”. não nos comprometemos a escrever.
A Liberdade de Escrita é a liberdade
de quem escreve. Não arrasta obrigatoriamente o “texto livre” que, no
entanto, precisa deste espaço para se manifestar.
34
A escola promove a escrita livre, criando estes espaços de liber-
dade de escrita e implicando outros espaços fora do espaço que a
sala de aula marca. Mas um espaço onde escrita livre acontece só é
possível se a escrita não for obrigatória, se nos for permitida a alterna-
tiva de outras realizações nesse espaço. No texto livre a liberdade
marca o texto e o autor.37 37
”(…) a criança escreverá o seu
texto espontâneo à noite, num
Finalmente, o texto precisa de espaços canto da mesa; nos joelhos
de Liberdade de Expressão onde, então ouvindo a avó recordar histórias
surpreendentes do passado;
livre, pode dizer presente: espaços que con- encima da pasta, antes de entrar
vocam outros sentidos atentos às criações na aula e também, naturalmente,
durante as horas de trabalho livre
livres que acontecem em diferentes lugares e que reservamos na utilização do
tempos não marcados em horários ou agen- tempo” (Freinet, 1976).
das. É o espaço por excelência de socialização do texto, fundamental
para o ensino da língua. É o espaço onde a leitura e a escrita se
cruzam, servindo-se mutuamente; onde se ensina a trazer para o
nosso texto a experiência da leitura feita escrita, que vamos
fazendo dos textos que não são nossos.
*
Se falamos de escrita livre é porque existe uma escrita amarra-
da, que não consegue libertar-se. Por vezes liberta-se do tema, mas
mantém-se presa ao espaço e ao tempo que a agenda escolar coloca
atrás de si. A escola, pressionada pela obrigatoriedade da escrita, faz
do aprender a escrever e do escrever como manifestação deste
saber, a sua primeira preocupação. É a aprendizagem da escrita e a
demonstração da sua apropriação que solicita o texto: escrevemos,
não porque tenhamos algo de importante para dizer, mas porque
somos obrigados a revelar como somos capazes de manipular a escri-
ta.38 38
O trabalho de texto sobre o
texto de autor que descrevemos,
Com o “texto livre” a escola depara-se se não for enquadrado no espaço
com um outro modo de convocar a escrita, que o texto livre marca, a prazo
não passará de mais uma activi-
alterando as prioridades da produção do tex- dade rotineira, igual a tantas
to: escrevemos porque perseguimos um sen- outras desenvolvidas na escola.
tido preciso para a nossa escrita; não escrevemos para aprender a
escrever, se bem que aprendamos a escrever no decurso do proces-
so. Não é a aprendizagem da escrita que nos motiva mas o que
podemos fazer com ela que nos atrai. Assim, no texto livre, “a escrita,
35
no sentido mais literal do termo, não é mais do que a primeira etapa
da produção do texto enquanto produto: é ao longo deste processo de
socialização que se faz a aquisição do epistema”. Quer dizer, quando
o escritor escreve um texto ele “(…) trabalha no sentido social do
39 termo, isto é, produz; pelo contrário, a criança quando
Clanché, 1977
escreve não produz, aprende (…)”39
Escrevemos porque temos algo para contar ou porque precisa-
mos que a escrita nos ajude a pensar. A escrita não serve apenas
para comunicar. Atrevemo-nos até a dizer que a comunicação não é a
principal função que atribuímos à escrita, embora esta venha sempre
associada em todas as outras funções que a escrita tem: hoje, já não
escrevemos cartas; temos e-mail e sms para cumprir esta função.
Mas o sms e o e-mail têm escrita dentro, dirá alguém. Pois tem, mas
são outra escrita: mesmo o e-mail, sem abreviaturas, tem uma forma
parecida com o telegrama, próxima da fala, portanto; pede um leitor
na ponta do terminal para ler a mensagem, mas, diferentemente da
norma tradicional de escrita, não exige a sua presença, com a mesma
intensidade, no decurso da produção da mensagem. Na escrita, preci-
samos de convocar o leitor, virtual ou real, que traz as perguntas que
nos fazem avançar; o leitor não é apenas consumidor, é elemento
fundamental no processo de produção.
“O texto escrito implica, entre o autor e o respectivo leitor, uma
40
Steiner, 2007 promessa de sentido”.40 Por isso precisamos
41
“O outro é a medida; é para o fazer com que este se implique tanto na
outro que se produz o texto. E o escrita daquele.41 Ora, a qualidade da nossa
outro não se inscreve no texto
apenas no seu processo de pro-
relação com a escrita resulta do nível de
dução dos sentidos na leitura. O consciência que temos desta promessa. O
outro insere-se já na produção,
como condição necessária para
“texto livre”, sendo sempre escrito para o
que o texto exista” (Geraldi, citado outro (que pode ser o outro virtual que pensa
por Colello, 1993). o texto connosco42), “para todas as pessoas
42
Quando a escrita é instrumento participantes de uma forma ou de outra na
que ajuda a pensar, a comunica- 43
ção, obviamente presente, não é vida da classe” , facilita a materialização
a prioridade, mas a clareza dos desta promessa; a situação comunicativa,
pensamentos que penso. Quanto
mais sentido tiver para o outro, geradora de sentido, está sempre presente,
mais sentido terá para mim. fabricando laços entre a vida que se vive na
43
Schneuwly, 1994) escola e a experiência social exterior, defi-
nindo um contexto no qual produzir um texto tem um sentido preciso
36
para os alunos. Mas esta é uma perspectiva que uma criança muito
dificilmente consegue adoptar sozinha. Nem todas são capazes de
convocar o diálogo, nos diferentes tipos de escrita, que ajuda à
expressão dos sentidos prometidos.
FIGURA 6
37
volve este movimento: através das interpelações que o texto convoca,
na procura dos sentidos prometidos, questionam-se as falas que a
escrita permite ver.
Em fases iniciais é fundamental a presença de leitor para que o
autor perceba que a escrita mexe na fala, que não é apenas discurso
falado feito de um modo que pode ver, mesmo que, num primeiro
momento, comece por ser o registo daquilo que diz. Mas a escrita,
para ser escrita, precisa de ser discurso pensado depois de falado. E
aprender a escrever é aprender a pensar um discurso assim. É neste
movimento (fala – escrita – leitura – reescrita…) em que se coloca o
texto que a aprendizagem se dá e se desenvolve. Um movimento
sempre presente na escrita de qualquer autor.
Um autor competente encontra argumentos que o libertam da
presença do leitor real (físico); quer dizer, dando conta das distinções
entre fala e escrita, desenvolve o seu discurso ajudado por um diálogo
interior com o leitor virtual que lhe lê o texto (projecta-se no leitor que
deseja para os seus textos). Mas o aprendiz de escritor precisa de um
outro físico que o ajude no diálogo para, com persistência, passar de
um processo interpessoal (controlo externo) a um processo intrapes-
soal (controlo interno) necessário à sua emancipação da fala, e trans-
formar a escrita numa forma de pensar, que lhe permite ser autónomo
44
Para Marcus Richter (2003) no reconhecimento dos sentidos que a escri-
“competência comunicativa é, ta força.44
antes de tudo, uma competência
semiótica; logo, a passagem da
fala para a escrita, no processo *
de escolarização, implica o acrés-
cimo de outro código na mente, e Aprendemos a fazer fazendo o que
assim, uma «segunda língua» no
sentido semiótico do termo
queremos aprender e não a fazer coisa
diversa. Não é possível pensar sobre uma
escrita que não temos! É preciso escrevê-la primeiro para depois ser
possível pensá-la. Por isso se diz que a primeira regra da escrita é
escrever, não é pensar: «Não penses, escreve! – dizia William Forres-
ter ao jovem Jamal – Primeiro escreves com o coração, depois voltas
45
a escrever com a cabeça».45 Não é esta a
In Descobrir Forrester, filme de
Gus Van Sant. tradição da escola. Enquanto alunos ensina-
ram-nos que a primeira regra é pensar para
não errar – “não pensas antes de escrever e depois dá isto”. Pela
nossa parte, entendemos que pensar é fundamental, mas preferimos
38
dizer que é preciso pensar no texto que escrevemos antes de dá-lo
como pronto, o que é bem diferente.
Escrevemos com o coração aquela emoção do momento. Mas
depois precisamos ter a certeza de que a experiência vivida mantém
todo o sentido na leitura que outros farão do nosso texto. Então
vemos o que escrevemos com a razão. Por isso, na instituição do
texto livre de Freinet, a redacção, a leitura e a discussão sobre/e a
propósito dos textos lançam mão de “um conjunto de patamares entre
o controlo exterior (ligados à conversação: leitura pública e comentá-
rios dos textos) e o controlo interno (aspectos ligados à produção
escrita: influência provocada pelas reacções
46
Clanché, citado por Schneuwly,
oferecidas pelo grupo/classe)”.46 O autor,
1994
incentivado a não se contentar com a “escrita
pela escrita”, porque recusa “escrever para nada”, é levado a distan-
ciar-se do seu texto para, estimulado pelas interpelações do grupo,
procurar com ele a frase perfeita que traduz o pensamento que pre-
tende transmitir (Figura 8).
Neste sentido, o texto livre
assume a escrita, também,
como um trabalho/jogo de pala-
vras: se, por um lado, é no que
temos para contar que o texto
encontra sentido, por outro, é
no processo de escrita, neste
jogo/encontro de palavras e
frases que o texto provoca os
sentidos, nos faz sentir e gostar
(ou não) do que ouvimos quan-
FIGURA 8 do lemos. Quer dizer, de certa
forma, escrever é também pro-
curar uma frase ou palavra com a caneta e deixarmo-nos ir num texto
pensado para ser escrito. Mas não é qualquer palavra que se deixa
pensar deste modo: umas dão-se a estes convites e outras (tantas
vezes) resistem a dar a cara.
Na procura do texto definitivo, a escrita tem esta possibilidade,
que a fala tem menos, de jogar com as palavras: na fala, como defen-
demos já, a palavra dissolve-se no ar, mas na escrita ela fica para ser
39
lida. E nesta leitura reforça-se o trabalho de texto, feito do encontro de
ideias com as palavras que as revelam. A leitura faz ecoar o som das
palavras que faz frente ao sentido, diz Julien Gracq: “não se é escritor
sem o sentimento de que o som na palavra vem carregar o sentido”.
Esta dimensão sonora de um texto só a “leitura da escrita” nos traz: “o
47 autor lê em voz alta e compreende a sua partitu-
Citado por Jean, G., 1999
ra.”47 Então não trabalhamos só as ideias; traba-
lhamos as ideias com as palavras que acrescentam ao texto a sonori-
dade que o sentido do texto precisa (Figura 9).
A prática do texto
livre ao valorizar a pers-
pectiva comunicacional da
escrita faz do texto o
objecto da análise. Não
sendo a avaliação, expres-
sa na nota que o professor
tem para dar, o motivo do
encontro, o autor tem a
possibilidade de, ao des-
FIGURA 9
centrar-se do seu texto,
ver-se como observador
crítico da escrita que produz, ajudado pela interpelação que o grupo
oferece.
40
José Cardoso Pires, ao referir-se à condição essencial para se
ser escritor afirmava: Em primeiro lugar precisamos conhecer a fundo
gramática da língua portuguesa, em segundo lugar esquecê-la. Por
seu lado, Paulo Freire, em conversa com Iran Shor, dizia que “em
certo sentido você tem que lutar contra a gramática para ter liberdade
para escrever. (…) a beleza e a criatividade não podem viver escravas
da devoção à correcção gramatical”.49 Duas formas, aparentemen- 49 1987
te semelhantes, que vêem a gramática como principal instrumento
de condicionamento social da linguagem, mas distintas no modo esco-
lhido para interagir com ela: esquecimento e luta.
Paulo Freire soa-nos mais simpático. Preferimos a escrita como
luta: luta entre modos de dizer e de escrever, com o trabalho de texto
como palco; luta pela busca ou conquista daquela palavra ou frase
que traduz o que temos para contar e que a fala espontânea, só por
si, não chega para revelar. E no decurso desta luta temos a oportuni-
dade de aprender gramática. É o encontro com a gramática que Frei-
net chama de “natural” ou com a gramática que Álvaro Gomes identifi-
ca como “gramática da vida”50: a gramática 50 A gramática da vida é feita de
que aponta a regra e ajuda a compreender regras que não se vêem. É ela
mas recusa ser lei; a gramática que não quer que nos permite notar a estranhe-
za de uma frase e nos faz pergun-
fazer de quem ensina polícia, nem trata quem tar porquê.
transgride como fora da lei…, porque, como 51
Citado por Madeira, 2005.
refere Hymes,51 a propósito da noção de
“competência comunicativa”, a escola precisa de saber ensinar quan-
do utilizar ou quando não utilizar as regras que a gramática impõe.
“O que aprendi sobre a língua não aprendi nos compêndios de
gramática”, diz Rubem Alves, “desrespeito sabendo que estou a des-
respeitar o que dizem os cientista da lín- 52 “O gramático está para a lin-
gua”.52 Mas desrespeitar a gramática obriga a guagem da mesma forma que a
saber como. O desrespeito não se baseia na dona de casa está para casa
arrumada. (…) Sou formado em
ignorância: só desrespeitamos quem ou o desencontros. A sensatez me
que queremos. O desrespeito da gramática absurda. Os delírios verbais me
terapeutam” (2004).
precisa nascer de uma intenção pois, quando
tal, transforma-se em desrespeito da língua. Desrespeito feito de igno-
rância é um sem querer. Em certo sentido, o que fazemos agora é um
desrespeito: “um sem querer” não existe. Sem querer não é nome,
não leva determinante artigo atrás.
41
CONCLUINDO
O “texto livre” é um produto da escola, refere Bernard Sch-
neuwly. Nasceu na escola, colhendo deste facto, a vantagem de não
ser considerado um capricho enganador. Trata-se de um instrumento
que não poderia ser criado por quem não tivesse tomado e vivido “a
escola a sério, como lugar social de aprendizagem colectiva e que
utiliza as particularidades da escrita para melhor fazer funcionar este
lugar, dando aos alunos a possibilidade de se exprimirem livremente”.
É neste contexto, continua Schneuwly, que a escrita escapa ao esta-
tuto de sagrado, de qualquer coisa inacessível, antes apresentando-
se, de imediato, como uma ferramenta que acolhe inúmeras funções
na vida da classe.
Se é verdade que não é suficiente escrever livremente para
aprender a escrever, e não ser legítimo estabelecer uma relação de
causa/efeito entre escrita livre e competência escrita, no entanto,
quer-nos parecer que o texto livre, com tudo o que ele envolve, ajuda
a resolver um dos problemas maiores que o ensino da escrita levanta:
o da motivação. Ao situá-la no interior dos processos de solicitação e
produção do texto, não deixa que apareça como personagem de um
engano: afinal o que anuncio é o que não tenho para dar.
Com a liberdade que o define, e actuando num lugar onde a
escrita é obrigatória, o texto livre oferece a liberdade que a escrita
precisa. Sendo a escrita obrigatória e não escrever na escola não ser
opção, marca um espaço onde a escrita é livre, ao permitir outras rea-
lizações neste espaço; o espaço de “liberdade psicológica material-
mente instituída”, referido atrás com Pierre Clanché.
Como vimos, o texto livre não é um tipo de texto, nem tão pouco
se identifica com um estilo de escrita. É uma forma de solicitar o texto,
um espaço, um tempo onde coabitam todas as formas de escrita: do
poema à prosa, da narrativa, ao ensaio, ou mesmo ao relato de uma
notícia. A única condição para ser um produto que o “texto livre” mar-
ca é ter nascido da vontade de quem o escreveu. Mas não marca a
legitimidade de um texto.
Houve tempos em que se falava de “texto livre” por oposição a
outras formas de escrita: de um lado a escrita livre e do outro todas as
42
outras, numa espécie de confronto moral que procurava desacreditar
as formas tradicionais de solicitar a escrita de um texto.
Ora, o “texto livre” não é uma “instituição absoluta” que procura
excluir da escola uma escrita que não seja escrita livremente. E aqui
distinguimos o “texto livre” como espaço, do texto que, como texto, se
quer livre: nada impede um texto de se libertar da vontade que o cha-
mou.
Defender o “texto livre” como única forma legitima de solicitar um
texto seria defender que, na escola, a criança escreveria unicamente
o que quisesse, quando quisesse, se quisesse. E isto seria um absur-
do. Há coisas que só aprendemos a gostar porque alguém insistiu que
experimentássemos, colocando-se a nosso lado para participar con-
nosco da experiência. Mas esta insistência, esta participação solidá-
ria, precisa de amarrar prazer: quem insiste precisa, na forma como
insiste, de mostrar que gosta do que está a oferecer. E então, perante
uma experiência bem sucedida, o mais provável é que ela se repita,
sem necessidade de um novo convite, no “espaço de liberdade psico-
lógica” instituído na sala de aula, que dá pelo nome de “texto livre” e
que, no entendimento que defendemos, pode também ser apenas
leitura de um texto já pronto (de autor ou outro). Daqui a necessidade
de criação deste espaço, para que esta possibilidade, mesmo que
seja apenas possibilidade, exista!
43
44
Parte II
AS PRÁTICAS DE LEITURA E ESCRITA
TAL COMO AS VIVEMOS
45
Paulo Freire refere-se ao analfabetismo como uma violência
que se exerce sobre os homens e as mulheres “proibindo-os
de ler e de escrever, com que se limita na capacidade de,
lendo o mundo, escrever sua leitura dele e, ao fazê-lo,
repensar a própria leitura”.
Daqui o sentido desta construção didáctica que aposta, des-
de o início, no escrever, desvendando os segredos que a
escrita esconde e nos permite ler o que escrevemos, sozi-
nhos ou solidariamente com quem nos acompanha, livre-
mente ou na resposta a um desafio. Então, enquanto desco-
brimos os segredos escrevendo, atrevemo-nos a descobrir o
que dizem os textos que outros escreveram para nós.
46
UMA NOTA A PROPÓSITO DO “PLANO NACIONAL DE LEITURA”
47
DESENVOLVIMENTO DO CURRÍCULO DE LÍNGUA PORTUGUESA,
NESTE PROJECTO
Tratando-se de um trabalho preocupado com o desenvolvimento
de competências relacionadas com a área de língua portuguesa, pro-
curou-se também incluir, ao longo do texto, a título de exemplo, a refe-
rência a conteúdos do programa (ou com ele relacionadas) que as activi-
dades propostas permitem desenvolver.
Assim, a descrição das práticas desenvolvidas é antecedida por
uma curta reflexão teórica que as sustenta e pela referência a algu-
mas das competências que se espera promover.
Trata-se, portanto, de um texto centrado em práticas de escrita, com
intenções didácticas, ele mesmo fruto do trabalho de texto a que foi
sujeito pelos seus autores.
48
sentir, do mesmo modo que o pensamento pensou. E isto é o que
uma mão que apenas fotografa palavras não é capaz de fazer.
Recriar os textos de autor, copiando-os para libertar a escrita,
como sugere o título do texto que fundamenta este projecto, é fazer
da forma escrita uma fala: em vez de traduzir a palavra falada para
ser escrita, propomos, também, o percurso inverso.
Neste sentido, abordar o texto literário, num programa de ensino
da escrita, passa por ensinar o que podemos fazer com as palavras
quando escritas. Podemos lê-las, obviamente, numa forma de tradu-
ção também, e mais: podemos manipulá-las, juntá-las às nossas, tro-
car-lhes as voltas, sentir-lhes a forma para descobrir como são feitas.
Até aqui, pode dizer-se que trabalhar um texto literário, um texto
informativo ou um outro texto qualquer não tem qualquer diferença:
todos se baseiam no mesmo processo de tradução. Acontece que
com o texto literário, em especial com a poesia, o processo de tradu-
ção (o modo como se jogam as palavras na frase) é mais visível e, por
conseguinte, mais fácil de mostrar.54 A difi- 54 ”O poema esconde uma histó-
culdade está em não fazer de tudo isto um ria, contando-a incompletamente.
É feito de emoções e de tensões
exercício de escrita que esta história não completa-
mente contada deixou. Alguns
Mas será possível ensinar a ler e a poemas escondem de tal forma o
escrever sem dar exercícios de leitura e de enredo que é impossível ler a
trama que o fez assim. Outros,
escrita? com a porta entreaberta, deixam
Claro que não! Mas para isso não fal- sair um pouco da história num
convite a preencher lacunas; e
tam exercícios de leitura e de escrita! Não abre-se, assim, espaço à nossa
precisamos de inventar mais um! escrita para com ela entrarmos
melhor no sentido do texto,
recriando-o”.
49
50
Alguns Exemplos do que fizemos:
ESCRITA APOIADA NA LEITURA DE TEXTOS DE AUTOR,
ESCRITA LIVRE,
OU…
51
“O primeiro momento é o da leitura de fruição- Explorar a escrita de poemas
prazer, no qual todas as impressões, a emoção Ler em voz alta
Dizer poemas de memoria
estética, afloram, sensibilizando o leitor para as Identificar palavras da mesma
próximas etapas. família e da mesma área voca-
No segundo, sugere-se a elaboração de uma bular
Descobrir soluções alternativas
paráfrase” (Gebara, A. 1998). E é neste momento
que fazemos entrar a nossa escrita.
O momento de fruição,
de leitura prazer, chegou-
nos, primeiro, através dos
sons que a voz de Ger-
mana Tanger nos trouxe.
A nossa voz chegou
depois, criando e recrian-
do diferentes modos de
ler.
FIGURA 10 E passamos ao momento
seguinte: olhar as pala-
vras que o texto tem,
procurando perceber a importância que elas têm na frase. Nalguns
textos, esta importância pode medir-se pela falta que a palavra faz.
Foi o que experimentamos
Um pouco mais de sol - eu era brasa nos dois primeiros versos,
um pouco mais de____- eu era_____ para descobrirmos que o
sentido deles se esconde na
Um pouco mais de azul - eu era além
Um pouco mais de____ - eu era____
relação entre sol/brasa e
azul/além (Figura 11). E
FIGURA 11 fomos à procura de outras
palavras capazes de se
associarem a estas numa relação idêntica (Figura 12).
Uma vez percebida a
lógica da relação entre
as palavras, que dão
sentido aos dois versos,
partimos à descoberta
de outras palavras com
as quais podemos pro-
duzir sentidos seme-
FIGURA 12 lhantes (Figura 13).
52
Saber procurar no dicionário o significado de uma Usar o dicionário;
palavra adequada à expressão que estamos a Encontrar o significado de uma
palavra de acordo com o con-
trabalhar, não é uma competência que se adquire texto de uma expressão
com facilidade. O dicionário não dá resposta para Identificar/aplicar expressões
todos os problemas de interpretação que temos idiomáticas, ditados e provér-
pela frente, exigindo do utilizador o esforço de bios
reflexão que permite decidir sobre o termo certo.
Precisamos, então, de proporcionar aos nossos
alunos múltiplas experiências de leitura em que o
uso do dicionário se justifica.
53
Interpretar o texto não é outra coisa mais do que Recriar textos
reescrever o texto, mostrando, num outro jogo de Descobrir soluções alternativas
Partilhar ideias, sentimentos,
palavras, o sentido que o texto tem. Mas pode- sensações
mos, num jogo idêntico, criar alternativas ao sen-
tido que o texto propõe.
Com … …. …
Atingirei, alcan-
çarei, consegui-
rei … … …
FIGURA 15
Figura 16
Ouvir faixas 1, 2 e 3
descarregar em: www.essentia.pt.vu
54
As listas de palavras, porque organizam a infor- Escrever/ler listas de palavras
mação de acordo com um critério seleccionado, de acordo com um atributo
dado;
ajudam o escritor aprendiz a trabalhar numa das Identificar palavras que come-
mais importantes funções da escrita: a função de çam/terminam pela mesma
memória. Por outro lado, como evidenciam mais sílaba/letra
facilmente a dimensão sonora na relação com a Reconhecer globalmente
extensão gráfica da palavra, são frequentemente palavras
utilizadas nos anos de iniciação à escrita.
55
Primeiro fizemos a lista dos alimentos e depois dos pratos que pode-
mos fazer com eles (Figura 19).
FIGURA 20 FIGURA 21
Ouvir faixas 4, 5 e 6 do CD
descarregar em: www.essentia.pt.vu
56
Não é possível criar a partir do nada. Mesmo no Fazer de conta
mundo do faz de conta os ambientes que criamos Inventar a partir do real
Identificar palavras da mesma
são sempre projecções de experiências vividas família e da mesma área voca-
recriadas numa história que inventamos. O bular
desenvolvimento da capacidade para inventar Reconhecer/aplicar adjectivos
histórias alimenta-se, pois, desde muito cedo, de
pequenas incursões a estes mundos, num diálo-
go permanente com as experiências que vive-
mos.
58
Aquela Nuvem
FIGURA 26
FIGURA 28 FIGURA 29
Ouvir Faixas 9, 10 e 11
descarregar em: www.essentia.pt.vu
59
E, por fim, experimentámos relacionar Sophia de Mello Breyner com
Eugénio de Andrade através dos dois poemas.
Vimos como escritores diferentes podem ter ideias que se podem cru-
zar. E, então juntámo-los em recriações nossas.
Estrela
Metade da minha alma é feita a brilhar
É tão bom ser estrela
Ter um corpo brilhante
E piscar, piscar…
Criança
Metade da minha alma é feita de brincadeira
É tão bom ser criança
Ter amigos e amigos
E crescer, crescer…
60
Quando falamos de utilização de modelos de Identificar palavras da mesma
escrita ou contacto com a escrita do outro é de área vocabular
Escrever listas de palavras
contacto com a escrita do outro, mesmo, que relacionadas com um tema
falamos e não com a leitura dos seus textos ape- Completar frases
nas. E isto só se faz se nos apropriarmos desta Relacionar ideias
escrita, fazendo-a nossa numa reescrita que
integra o que queremos escrever. E esta aproxi-
mação à escrita do outro faz-se em sessões de
trabalho colectivo, fortemente directivo, que con-
voca a participação de todos: lançamos pistas,
fazemos perguntas, iniciamos frases…
61
que pudesse ajudar-nos a recriar o poema Entre o Inverno e a Prima-
vera (Figura 31).
Verão Inverno Primavera
tardes quentes frio, neve, chuva, Dias mornos, amenos
esplanadas temporal, lareira Flores, andorinhas,
cães aquecedores Borboletas
Uvas de Setembro gatos (Fevereiro e Janeiro cerejas
meses dos gatos)
FIGURA 31
62
FIGURA 34
Ouvir faixas 12 e 13
descarregar em:
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FIGURA 35
64
Não houve outro tipo de exploração, nenhuma outra atenção ao con-
teúdo, nenhum lugar a perguntas de interpretação. Apenas ler e
recriar modos de ler, tendo como mote a leitura de Mário Viegas. Nem
o título mereceu, inicialmente, qualquer reparo. Só a proposta “vamos
aproveitar esta história para inventarmos outros rifões quotidianos”
provocou a pergunta, “o que é um rifão quotidiano?”
E outras histórias surgiram, umas decalcadas do texto original
Um velho
estava na praia
deitado
muito calado
a ver
o que acontecia
chegou o crocodilo
e disse
- Olha um velho
e zás comeu-o
É o que acontece
aos velhos
que ficam deitados
calados
a esperar
o que acontece
FIGURA 38 FIGURA 39
FIGURA 40
65
Aparentemente, as propostas apresentadas pretendem apenas
(re)contar uma história com outros actores num outro contexto, sem
ter em conta a forma e os detalhes que caracterizam o ambiente. As
reacções à leitura em voz alta foram o pretexto para analisar os tex-
tos. A comparação com o texto original foi a estratégia encontrada
para puxar a debate os problemas formais, observando-se o papel
representado pelos detalhes na definição da forma de um texto e na
criação do clima que se pretende passar.
O exercício de ajustamento dos textos à estrutura do rifão original
permitiu, por um lado, perceber as diferenças na sua forma, pos-
sibilitando, por outro, encontrar no conteúdo as analogias necessárias
ao seu enriquecimento.
PROPOSTA DO ALUNO
66
ORIGINAL DO ALUNO AJUSTADA À No trabalho de texto sobre
ESTRUTURA ORIGINAL o “Pedro” não esteve ape-
Uma nêspera O pedro nas em causa a integração
estava na cama estava na rua de uma ideia numa estrutu-
deitada a jogar bola ra pré-existente, exigindo,
muito calada ____________
a ver ____________
assim, um esforço de refle-
o que acontecia. _____________ xão mais profundo sobre o
Chegou a velha Chegou a mãe seu conteúdo.
e disse: e disse: Contrariamente à acção de-
- olha uma nêspera - Pedro anda para casa
e zás comeu-a. senvolvida com o “aluno
distraído” que, pela sua
É o que acontece É o que acontece
às nêsperas a quem não diz semelhança (passividade),
que ficam deitadas à mãe aonde* vai permitiu colocá-lo com a
caladas mesma expectativa (ver o
* Na proposta do Pedro está
a esperar
o que acontece.
escrito “onde”, permitindo que acontecia), apontando
explorar as situações em que para uma conclusão idênti-
se escreve um e outro termo
FIGURA 42
ca, a mensagem retida do
texto do Pedro vincula uma
moral diferente. A expecta-
tiva não está, aqui, no “ver o que acontece”, mas nas consequências
da violação de uma regra, implícita no desenrolar da acção.
67
Compiladas as ideias sugeridas pela história do Pedro, reescreve-se o
texto, auxiliado pela comparação, linha a linha, com o rifão original
(Figura 43).
68
Mesmo na escrita de histórias que se inventam, a Aprender a fazer “boas” per-
investigação é muito importante. É preciso apren- guntas
Identificar o lugar que o adjec-
der a procurar a informação que dá conteúdo às tivo pode ocupar na frase
histórias. E daqui, a importância de aprender a Identificar/aplicar o presente do
fazer a pergunta que traz a informação que preci- indicativo e/ou o pretérito per-
samos. feito
Identificar/aplicar sinais de
Num encontro sobre a organização de pequenos pontuação
projectos de investigação na sala de aula, discu-
tia-se a importância de ensinar as nossas crian-
ças e jovens a fazerem “boas” perguntas. Quando
é, então, que uma pergunta é boa ou má?
Para Vergílio Ferreira, “perguntar é abrir a distân-
cia que está sempre em nós. E quando essa
distância é máxima, a resposta está no infinito”
(1992).
Ora, se esta distância máxima não trouxer outras
distâncias, que podemos abrir com perguntas de
resposta ao alcance de um olhar, a pergunta não
é, certamente, uma boa pergunta.
Então, perante uma pergunta que coloca a res-
posta num lugar que pressentimos mas não con-
seguimos alcançar, precisamos encontrar a per-
gunta que ajuda a encurtar a distância.
69
Acabado o tempo para esta tarefa,
registei as respostas que nos iriam
dar algumas das ideias de que preci-
sávamos para escrever a nossa histó-
ria.
Ao analisarmos as respostas, elogiei a
criança que indicou “golpe d’asa”, por
recordar o que aprendeu com o traba-
lho de texto sobre o poema “Quasi” de
FIGURA 45 Mário de Sá-Carneiro. E destaquei
“orientação”: falamos dos pontos car-
deais, da posição das estrelas, do sol…, de mapas, de GPS…, que
iríamos estudar futuramente.
INICIÁMOS A HISTÓRIA:
Era uma vez uma andorinha [Não. Era uma vez, não] Uma andori-
nha [pois…, mas a andorinha tem nome] chamada Salomé [Oh…
chamada?!] Salomé é uma andorinha [como é a andorinha?] jovem,
muito gira e brincalhona [às vezes soa melhor se um dos adjectivos
vier antes do nome].
Salomé é uma jovem andorinha, muito gira e brincalhona, mas
com um grande defeito: nunca chega a horas ao colégio, porque
é muito dorminhoca e por isso não acorda a tempo [recordamos o
que aprendemos sobre os dois pontos].
Experimentos outras formas:
71
O saber também é feito das memórias que guar- Identificar/aplicar pronomes e
damos da história das histórias que aprendemos adjectivos
Identificar/aplicar discurso
a contar. directo e discurso indirecto
De vez em quando, desafiamo-nos a registar tudo Identificar estrofes e versos
o que acontece no decurso de um trabalho de
texto. E, então, registamos tudo o que é escrito
no quadro. E registar tudo significa registar tudo,
mesmo o que acabamos por concluir que não
está certo (ou gostamos menos) e então apago
no quadro. Mas nos cadernos dos alunos leva um
risco por cima, para que se perceba onde está o
engano ou como era a frase de que não gosta-
mos tanto: são registos que servem para escre-
vermos a história (uma espécie de acta) do texto
que escrevemos em conjunto.
Este relato é a história de um destes textos, que
escrevemos para ensinar/aprender a escrever e a
chamar as coisas pelos nomes que elas têm.
72
A professora escreveu no quadro os versos que mais gostámos de
ouvir e lemos para ver se continuávamos a gostar.
Ou se tem o brilho do sol e não se tem o brilho da lua
Ou se tem o brilho da lua e não se tem o brilho do sol
Ou se tem o brilho do diamante e não se tem o brilho da estrela
Ou se tem o brilho da estrela e não se tem o brilho do diamante
FIGURA 48
Ou se tem o arco-íris e não se tem o céu azul
Ou se tem o céu azul e não se tem o arco-íris
FIGURA 49
FIGURA 50
73
A Cecília Meireles escreveu no seu poema que não é possível estar
ao mesmo tempo em dois lugares. Para escrevermos uma coisa um
pouco diferente, resolvemos
escrever sobre o que podemos Mas há coisas que posso
ter ou fazer ao mesmo tempo. A Fazer ao mesmo tempo:
estrofe número seis também foi Ou caminhar e sentir o ar no rosto
escrita de outro modo. Ou sentir o ar no rosto, caminhando
Ou ver o céu enquanto subo a montanha
Lemos o poema todo para ver Ou subir a montanha enquanto vejo o céu
como ficou e fizemos mais al- Ou isto ou aquilo, ou isto ou aquilo
gumas alterações. e passo o dia a escolher o que quero
FIGURA 51
FIGURA 52
74
E a professora disse que tínhamos que arranjar outro lugar para a
última estrofe, porque os versos anteriores falavam de coisas que
podemos fazer ao mesmo tempo. Depois de descobrirmos o melhor
lugar para esta estrofe, completamos a última começada pela profes-
sora (Figura 53).
E em vez de ou isto ou aquilo
Tenho, então, isto e aquilo
FIGURA 53
Ouvir faixas 14 e 15
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75
“Tive a sorte de começar pela tradição oral, a Escrever listas de palavras de
sorte de conhecer o poema antes de conhecer a acordo com um tema
Identificar substantivos e
literatura. (…) Pensava que os poemas não eram adjectivos
escritos por ninguém, que existiam em si mes- Exprimir ideias , sentimentos,
mos, por si mesmos, que eram como que um emoções
elemento natural, que estavam suspensos, ima-
nentes. E que bastaria estar quieta, calada e
atenta para os ouvir.
Desse encontro inicial ficou em mim a noção de
que fazer versos é estar atento e de que o poeta
é um escultor” (Sophia de Mello Breyner Andre-
sen, 2004).
FIGURA 57
FIGURA 58
*
Com a turma do 4º ano o processo foi idêntico, iniciado, também,
com a leitura das duas primeiras linhas. Mas, aqui, com a primeira
pergunta, quis que as crianças descobrissem o que sentiam se vives-
sem dentro de uma nuvem (Figura 59).
A indicação do lugar para onde o vento empurrou a nuvem foi a per-
gunta que se seguiu (Figura 60) para, finalmente querer saber o que
fizeram no local onde o vento a deixou (Figura 61)
77
Sinto Fui até Fiz
Conforto, calma, Destino, paraíso, outra Buscar cor para o meu
feliz, vento no ros- nuvem, espaço, além, quadro, visitar outros
to, relâmpagos, campo do dragão, céu, sol, países, bolas de
calor, a voar, des- alto das montanhas, palá- nuvens, ver o futuro,
cansada, dormir, cio de cristal, pólo norte, despejei a nuvem, falei
relaxada, paz, sos- imaginação, arco-íris, outro com o sol, brinquei às
sego, leve lado do mundo, florestas, caçadinhas, corri na
montanhas grandes montanha
FIGURA 59 FIGURA 60 FIGURA 61
FIGURA 62
78
Passamos à escolha do local onde a nuvem parou e do que fizemos
enquanto lá estivemos. E escrevemos frases para continuar o poema
(Figura 64).
FIGURA 64
Lemos e relemos o
que escrevemos para Sinto-me como se vivesse dentro de uma
encontrarmos o tom nuvem. Branca. Uma calma enorme toma
certo. E fizemos mais conta de mim. Invade-me. Sinto-me como
um acerto: trocámos se estivesse deitada numa cama. De algo-
“chego” por “paro”. dão. Fecho os olhos e deixo-me arrastar.
Finalmente voltamos Pelo vento.
ao poema original,
Chego Paro ao no arco-íris. E encho uma
todo. E comparamo-lo
com a nossa escrita. lata de cores para pintar o meu quadro.
FIGURA 65
Ouvir Faixas 16 e 17
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79
No meu tempo de escola aprendi (talvez seja Saber associar os sinais de
mais correcto dizer tentaram ensinar-me) a pon- pontuação com o sentido e o
tuação como sinais gráficos que servem a sintaxe ritmo na escrita.
de um texto, na medida em que, na gramática
tradicional, “a sintaxe está na base da própria
caracterização da pontuação” (Chacom, 1983),
sugerindo um vinculo estreito entre o emprego da
pontuação e os conhecimentos sobre a sintaxe.
Talvez por isso tenha sido sujeito a exercícios
imensos de divisão de orações sem que tenha
resolvido os meus problemas com a pontuação
de um texto.
Sem querer entrar na polémica, entendo a lógica
do sentido como a única lógica que faz sentido
trabalhar neste nível de ensino.
FIGURA 66
seguir, pedi que lessem com Fecho os olhos e deixo-me
a leitura que a pontuação arrastar pelo vento.
encontrada pedia.
A diferença entre ter ponto final ou não ter, foi o tema do debate que
propus.
Que passou pela cabeça do poeta para separar o adjectivo do nome?
Às tantas – sugeri – quis chamar a atenção para a palavra “branca”.
Que terá esta palavra de tão importante para ser destacada?
Com o impasse instalado, vou lançando contributos para o debate:
- “Branca” é a cor da nuvem. Mas as nuvens podem ser de outra cor.
- Ela é branca e não cinzenta por alguma razão.
- Quando é que a nuvem é branca? E quando é cinzenta?
Recordamos outra forma semelhante de organização do texto, que
experimentamos noutras ocasiões, para reforçar uma ideia. E anali-
sámos o ritmo a dar à leitura, que esta pontuação pedia.
81
mais ou menos transpostas”. Podemos lê-lo todo, ou dá-lo a ler, antes
de qualquer pergunta, que os espaços a preencher abrem-se vazios a
convidar a escrita feita das respostas às perguntas que temos para
fazer.
Mas com “O Segredo do Rio” os espaços que se abrem, com as
perguntas que vamos fazendo, estão já preenchidos pela história.
Podem ou não ser preenchidos com outras respostas; mas se faze-
mos as perguntas depois do texto lido, elas vêm condicionadas pelas
respostas que a história já traz. Daqui fazermos acompanhar a leitura
do texto com estas perguntas que marcam os espaços a preencher,
permitindo apenas a resposta que vem da experiência do leitor. E,
então, de vez em quando, surpreendíamo-nos ao ver que, aqui e ali,
parecia termos vivido experiências idênticas: só as palavras e o seu
jogo eram, muitas vezes, diferentes.
82
“A ideia que temos sobre a produção de textos Usar frases complexas para
escritos é muitas vezes a de uma actividade indivi- exprimir sequências e rela-
dual, a ser realizada solitariamente, em oposição a ções
uma actividade colectiva própria da fala, de uma
conversa na qual diversos interlocutores constroem
o discurso.” (TEBEROSKY, ANA 1990)
“O diálogo sela o acto de aprender que nunca é
individual, embora tenha uma dimensão individual”
(FREIRE, P. e SHOR, I 1986)
cozinhou tudo com água (só com água? É a sopa de uma bru-
xa!) e sangue de galinha.
83
Com esta forma de escrever histórias, trazemos para a escrita, o que
fizemos muitas vezes na “hora do conto”, num modelo em tudo seme-
lhante ao modelo que utilizamos na leitura-escrita de “O Segredo do
Rio”, de Miguel Sousa Tavares” ou da “Nuvem” de Jorge Sousa Bra-
ga. Só que, neste caso, não é a leitura de um texto que solicita a
escrita.
84
Num mundo de conto de fadas não é preciso Identificar personagens
explicar a razão de tudo; podemos sempre dizer Identificar, no enredo de uma
história, o problema descrito e
que aquilo é assim porque a fada quis assim: é a solução encontrada
magia. Identificar de soluções alterna-
Daqui apreciarmos este tipo de propostas de tivas
escrita quando se trata de ensinar a escrever em
fases de iniciação, pela possibilidade que dá de
sair rapidamente do impasse em que por vezes o
texto cai: quando o enredo corre o risco de se
arrastar podemos sempre convocar a persona-
gem mágica que traz o fim, sem serem necessá-
rias grandes explicações.
FIGURA 71
85
“A língua é para mim uma experiência sonora. Descobrir aspectos funda-
Música. Desrespeito sabendo que estou a des- mentais da estrutura e do fun-
cionamento da língua, em
respeitar o que dizem os cientistas da língua. situações de uso
(…) Eu escrevo o rumor das palavras”. (ALVES,
Ruben. 2004). “Mas desrespeitar a gramática
obriga a saber como. O desrespeito não se
baseia na ignorância. O desrespeito nasce de
uma intenção. Só desrespeitamos quem ou o
que queremos. Se é feito de ignorância é um
sem querer. Em certo sentido o que fazemos
agora é um desrespeito: ‘um sem querer’ não
existe. ‘Sem querer’ não é um nome, não leva
determinante atrás” (D. Lousada). Mas há tex-
tos que se dão mais ao desrespeito que outros.
Daqui o preferirmos os textos que se dão mais
ao respeito para submeter à ditadura da gramá-
tica: recados, avisos, notícias…
86
1. Vamos dizer “realizou-se uma reu-
nião” com uma só palavra. – perante a
No dia 12 de Outubro
perplexidade dos olhares vem a pista – de 2006, o 4º Ano reu-
É uma forma verbal. niu para falarmos*
sobre o jornal escolar,
2. Se nos reunimos claro que é para
falar! Mas o que é que queremos com A Padeirinha.
a conversa? * Falar ou falarmos: registamos a
dúvida na concordância para
Encontrar outro aspecto para o jornal trabalhar mais tarde.
87
9. Encontrar? Até parece que está ali à nossa espera! Vamos lá…
uma palavra com mais força que indique que estamos a trabalhar…
88
Numa primeira fase do processo de iniciação à Reconhecer que, numa
escrita, é muito importante a presença da escrita da frase, a posição de uma
palavra conta;
professora que regista a fala das crianças. A escrita, Relacionar produções orais
enquanto traçado das suas falas, é construída pela com a sua forma escrita
mediação de uma espécie de cópia feita a partir do Encontrar diferentes formas
modelo da professora. E dizemos numa espécie de de escrever duas ou mais
cópia porque a cópia está apenas no traçado, já que frases numa só
Juntar uma ou mais frases
o mais importante – a sua fala, que a escrita da
professora regista, - não é cópia nenhuma.
Depois de escrito numa tira de papel, a Joana leu o seu texto para a
turma. O Jorge, um dos miúdos mais participativos, também quis ler.
― Está bem. Mas vais tentar ler do fim para o princípio
― Assim não consigo ― respondeu depois de hesitar
― Lê como sabes, então.
89
Começamos por tentar integrar a informação da primeira resposta:
― Para juntar estas duas frases temos que apagar algumas palavras.
Quais são?
FIGURA 74
A professora pediu uma palavra para substituir o “na” porque não gos-
tava dele naquele sítio. E a frase ficou assim:
A Joana tem uma pomba no galinheiro da sua avó.
90
“A criança é capaz de aprender a palavra e a frase Falar de coisas que vejo,
vivo sinto
antes de distinguir os seus elementos constitutivos, Retirar e usar informação
mas com a condição de esta frase estar intimamen- de registos de tempo, pre-
te inserida no contexto de vida dos indivíduos (FREI- senças, tarefas…
NET, C. 1977) .
91
Ficamos a saber que todos sabem o seu nome próprio, mas nem
todos sabem o seu nome completo e alguns (muito poucos) não
sabem o nome do pai e da mãe; que quase todos reconhecem o seu
nome escrito em maiúsculas no Registo de Quem Somos e as pala-
vras PAI e MÃE
92
É verdade que não há limites para a imaginação. E Experimentar percursos
sem limites, não se lhe reconhece princípio nem fim. individuais ou em grupo que
proporcionem o prazer da
Aparece e pronto. Mas isto não significa que não escrita
seja necessário aprender a detectar os sinais que Usar frases complexas para
anunciam a sua chegada. exprimir sequências e rela-
Alberta Menéres conta que, conversando com um ções
grupo de crianças, uma lhe perguntou onde dormia
o verde! Ora, é com perguntas como esta que, tan-
tas vezes, a imaginação se agarra e desenvolve.
Algas Tartaruga
Arco-íris Arco-íris
Relva
Fogo Lareira Estar à lareira
Vermelho
FIGURA 77
Malmequer Canário
Canário Pintainhos
Lua Arco-íris
O meio do ovo
93
Enquanto as crianças ensaiam os seus registos a professora circula,
responde às perguntas que lhe são colocadas, muitas vezes, com
novos desafios, dá pistas…
Quantas vezes abres a boca para dizer essa palavra?
Como se pronuncia (como dizes) o primeiro bocadinho?
Que outras palavras conheces que começam da mesma maneira?
Registadas as palavras construiu-se, no quadro, uma tabela de dupla
entrada com as propostas sugeridas para cada cor para, finalmente,
se escrever uma frase para cada uma delas, tendo a tabela como
guia:
O Azul mora no céu
com as estrelas
e gosta de voar
Sou o azul
moro no céu
com as estrelas
e gosto de voar
com os pássaros
em dias de sol
FIGURA 80
FIGURA 82
96
E, aparentemente, o texto ficou arrumado, de acordo com as inten-
ções projectadas pelo seu autor.
Como o Luís não quis ser interpelado sobre o seu desabafo, não pas-
sámos à fase de perguntas sobre o conteúdo do texto. Dir-se-ia que,
continuando a comparação com a música, não se introduziu o som de
outros instrumentos, não se passou à orquestração. Houve apenas
lugar a um desafio do professor: encontrar uma arrumação diferente
para as frases 3, 4 e 5, juntando o conteúdo da 3 e da 5 numa só.
a. Gostava que tudo ficasse como era dantes e voltássemos a ser
amigos;
b. Gostava que voltássemos a ser amigos e tudo ficasse como era
dantes;
c. Gostava que tudo ficasse como era dantes, que voltássemos a
ser amigos;
d. Gostava de votássemos a ser amigos, que tudo ficasse como
era dantes.
FIGURA 83
FIGURA 84
97
Os erros corrigem-se. Não se “valorizam” com uma Descobrir e aplicar regas
avaliação que penaliza. ortográficas;
Investir na correcção ortográ-
Os pontos fracos não se escondem. Usam-se como fica.
trampolim para crescer no conhecimento. Mas para
que tal aconteça é necessário colocar o erro em
condições de cumprir esta função.
Nesta perspectiva, transformamos o “status do erro”
para, no dizer de Ives Beal, colocá-lo na condição
de hipótese formulada pelo sujeito que constrói o
seu saber, que aprende em interacção com os
outros a partir das avaliações que faz.
A QUESTÃO ORTOGRÁFICA
Uma ortografia descuida-
da realça os defeitos de
um texto, por vezes, não
deixa ver o que está
escrito, obriga a uma
leitura silabada, palavra a
palavra, que oculta o que
de bom este possa con-
ter. Daqui o cuidado que
temos na transcrição do
texto a trabalhar, evitando
que o número de erros
visíveis prejudique a sua
apreciação.
Então, perante um texto
FIGURA 85 com muitas palavras
erradas, começamos por
corrigir todos os erros que não tenham nada para nos ensinar, ou
seja, que não é possível reverter a partir das informações que a análi-
se da palavra nos oferece. Para este tipo de erros, feitos em palavras
de uso frequente, que não nos dizem o porquê de se escreverem
assim, temos o local das Palavras que é Proibido Errar. “Escrevem-
56
56
Quando o uso de uma letra ou se assim porque sim” , reflectindo uma difi-
digrafo é justificado apenas pela culdade que pode acompanhar-nos por
tradição de uso ou pela origem – algum tempo. Mesmo com o estatuto de
etimologia da palavra – (in Artur “escritor” competente, encontraremos sem-
Morais, 2001
pre palavras novas para as quais é possível
encontrar mais do que uma hipótese de escrita. Se “hipótese” fosse
uma destas palavras, teríamos, com certeza, à cabeça, quatro manei-
98
ras de fixar a sua escrita (ipótese, ipóteze, epótese, epóteze) e, às
tantas, dificilmente, nos ocorreria a norma que hoje usamos.
Mas a aprendizagem da ortografia não se centra apenas na memória,
pode e deve servir-se de outros recursos cognitivos para se desenvol-
ver.
Este é um dos trabalhos em que a nossa intervenção na sala de aula
é mais directiva, permitindo interpelar, fazer perguntas, dar pistas,
propor desafios numa espécie de jogo de descoberta. Mas o modo
como esta interpelação é feita depende da natureza do erro, da ava-
liação que fazemos.
Para perceber a natureza dos erros detectados e melhor determinar
os recursos cognitivos que podemos mobilizar, construímos, com fre-
quência, quadros de análise que nos ajudam a avaliar as dificulda-
des reveladas.
A análise do Quadro da figura 86, construído a partir dos erros detec-
tados no texto, permite observar três tipos de dificuldades:
- de correspondência fonográfica regular directa
- de correspondência regular morfológica gramatical
- de correspondência fonográfica irregular.
FIGURA 86
É esta avaliação que nos vai dizer como é que uma determinada difi-
culdade ortográfica vai ser trabalhada:
- Numa aula com toda a turma, durante um trabalho de texto, ou
noutro momento agendado para o efeito;
- Individualmente ou em pequena grupo, com o professor, no tempo
de trabalho autónomo.
De todos os erros analisados, seleccionamos três para trabalhar no
decurso do trabalho de texto:
99
- ficase/ficasse; emfim/enfim – porque são um erros frequentes, par-
tilhados por outras crianças e temos a possibilidade de relembrar
regras já estudadas;
- secalhar/ se calhar – porque ocorre, por vezes, com outras formas
verbais;
100
CONCLUSÃO
101
102
O ENSINO DA ESCRITA E AS “TIC – UMA QUESTÃO POR RESOLVER
103
implicam, não conseguirmos fazer qualquer distinção entre a mensa-
gem e o meio que a materializa.
*
“(…). Hoje não sei se me agrada uma escola que deixa o mundo
entrar. Agrada-me mais uma escola dentro do mundo, com grandes
janelas para poder olhar e agarrar…, e que avance, de vez em quan-
do, mundo fora. Uma escola aberta ao mundo, não sendo mundo, não
saberia o que fazer com o mundo todo a querer entrar. De certa forma
é o que acontece agora: a escola não sabe o que fazer com o mundo
que, continuamente, lhe entra portas adentro. Daqui esta tentativa de
se fechar a este mundo todo que a empanturra e mal a deixa respi-
61
61
D. Lousada, 2009 rar”
104
livro são mais que muitos: para quê investir esforço na leitura de uma
história se a podemos encontrar num qualquer clube de vídeo, pronta
a consumir, sem o trabalho de imaginar o que as palavras, só por si,
não são capazes de mostrar; para quê investir horas, folheando livros
e enciclopédias, na procura da informação, se a “revolução informáti-
ca” colocou-nos o conhecimento(?) à distância de um click? Talvez
por isso há quem aposte no fascínio das novas tecnologias como
meio de promover a adesão de crianças e jovens à leitura e à escrita.
Não cremos que este seja o melhor motivo para fazer entrar na escola
uma tecnologia que não tem no prazer de ler mas na aceleração do
acesso à informação, se não o seu propósito, pelo menos a sua prin-
cipal motivação.
Escrever é uma actividade que parece incompatível com o tem-
po acelerado que vivemos hoje. Por isso mesmo, talvez, a escrita
nunca foi tão necessária, pela pausa a que obriga e de que o pensa-
mento necessita tanto. Mas para que a escrita recupere o lugar que foi
perdendo, a favor de outras formas de expressão mais expeditas, é
necessário equacionar o trabalho sobre as suas funções em função
das necessidades da vida presente, sem dogmatismos ou preconcei-
tos, conscientes da distinção, que o texto digital tornou mais evidente,
entre “leitura da necessidade” (que alargamos à escrita da necessidade) e
“leitura apaixonada” (alargada aqui à escrita apaixonada).
Centrar a escrita que se ensina na escola na função de comuni-
cação, é olhar a escrita por uma lente que deixa ver apenas o menos
importante: “já não se escrevem cartas como antigamente”; enviam-se
e-mails e sms numa escrita que é outra escrita, que procura, ainda,
nome próprio. E isto significa ver na escrita, mais do um meio de
comunicar, uma forma de dizer e de pensar, que convoca, no mesmo
modo, o pensamento do outro.
*
Muitos têm criticado o lugar que os programas de língua portu-
guesa reservam ao prazer da leitura e da escrita, afirmando que a
escola primeiro tem que ensinar a ler! É verdade! Mas não é em pri-
meiro ou em segundo. Tem de ensinar e pronto. Não percebem, ou
não perceberam então, que a primazia do prazer que o “programa” dá
ao ensino da língua, não é conteúdo que se ensina, mas uma forma
105
de vivê-la que se constrói ao longo do processo todo. Quer dizer, não
passamos o gosto pela escrita para ensinar a escrever depois. Como
poderíamos passar o prazer de uma coisa que não damos a viver
plenamente?!
Mesmo sem dados de quaisquer estudos a acompanhar-nos,
não temos dúvidas em afirmar que um leitor que aprendeu a ler com
prazer, tem mais condições de vir a ser um leitor competente e investir
a sua competência leitora na “leitura da necessidade”, que dá mais
trabalho e não dá tanto (ou nenhum) prazer.
106
BIBLIOGRAFIA
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“Poemas Reunidos”, de Gastão Cruz.. Lisboa, Dom Quixote
“Sinais de Fogo”, de Jorge de Sena. Lisboa, Guimarães Editora
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OBRAS QUE CONTÊM OS TEXTOS TRABALHADOS
“Aquela Nuvem e as Outras”, de Eugénio de Andrade. Porto: Campo das Letras,
2006.
“Cecília de Bolso: uma antologia poética”, de Cecília Meireles. Porto Alegre:
L&PM Pocket, 2008
“Deste Lado Onde”, de José Agostinho Baptista. Lisboa: Assírio & Alvim, 1976.
“Histórias de Chocolate” (CD), escritas e contadas por José Jorge Letria. Lisboa:
Ovação, 2009
“O Livro das Perguntas”, de Pablo Neruda. Porto: Campo das Letras, 2008.
“O Segredo do Rio”, de Miguel Sousa Tavares. Lisboa: Oficina do Livro, 2004
“O Poeta Nu”, de Jorge Sousa Braga. Lisboa: Assírio & Alivim, 2007
“Poemas de Almada Negreiros, Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro”. Anto-
logia de poemas ditos por Germana Tânger. Lisboa: Assírio & Alvim, 2004
“Poemas de Bibe”. Antologia de poemas ditos por Mário Viegas e Fernanda de
Freitas. Porto: Jornal Público
“Poesia” de Sophia de Mello Breyner Andresen, Lisboa: Caminho, 2007
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SOBRE OS AUTORES
ARISTIDES CUSTÓDIO
Concluiu o curso de professor do 1º ciclo na Escola Superior de Educação Jean Piaget,
em 1995, e a licenciatura na variante de Matemática e Ciências da Natureza, exercendo,
actualmente, a sua actividade no Agrupamento de Escolas Adriano Correia de Oliveira,
em Vila Nova de Gaia ■ Tem participado em projectos de formação contínua de professo-
res e publicado artigos sobre educação, em revistas da especialidade ■
CLÁUDIA XAVIER
Concluiu a licenciatura em professora de 1º ciclo variante de português/francês na Escola
Superior de Educação de Bragança, em 1995, exercendo actualmente a sua actividade
no Agrupamento de Escolas Adriano Correia de Oliveira, em Vila Nova de Gaia ■ Tem
participado em projectos de formação contínua de professores ■
CRISTINA MIRANDA
Concluiu o curso de professora do 1º ciclo na Escola do Magistério Primário do Porto, em
1978, exercendo actualmente a sua actividade no Agrupamento de Escolas Adriano
Correia de Oliveira, em Vila Nova de Gaia ■ Concluiu a licenciatura de Complemento de
Formação Científica e Pedagógica para Professores do 1º ciclo do Ensino Básico, Espe-
cialização em Estudo do Meio, na Universidade Aberta, em 2005 ■ Tem participado em
projectos de formação contínua de professores ■
DANIEL LOUSADA
Concluiu o curso do Magistério Primário do Porto em 1973, tendo exercido a sua activi-
dade, como professor do 1º ciclo do ensino básico, até 2005 ■ Especializou-se em edu-
cação especial, na área da deficiência mental e dificuldades múltiplas, na ESE Jean Pia-
get de V. N. Gaia, em 1994, e concluiu o mestrado em ciências da educação na Faculda-
de de Psicologia e Ciências da Educação, da Universidade do Porto, em 2002 ■ Foi
professor de educação especial e membro de uma equipa de coordenação de apoios
educativos, do concelho de V. N. Gaia ■ Leccionou na Escola do Magistério Primário de
Chaves e na ESE Jean Piaget. Actualmente é formador certificado pelo IEFP, em cursos
de formação pedagógica de formadores ■ Tem participado em projectos de formação
contínua de professores, e publicado artigos em revistas de educação que reflectem
sobre a prática pedagógica ■ É sócio do Movimento da Escola Moderna, tendo integrado
a Coordenação do Núcleo Regional do Porto e o Conselho Nacional de Coordenação
Pedagógica, de 1988 a 2003. Actualmente integra o grupo de intervenção cívica “Essen-
tia-grupo de reflexão”, sediado na cidade do Porto ■
DULCE BARREIROS
Concluiu o curso de professora do 1º ciclo na Escola do Magistério Primário do Porto, em
1978, exercendo actualmente a sua actividade no Agrupamento de Escolas Adriano
Correia de Oliveira, em Vila Nova de Gaia ■ Especializou-se em Gestão e Coordenação
pedagógica, em 1999, encontrando-se, actualmente, a concluir mestrado em ciências da
educação ■ Tem participado em projectos de formação contínua de professores ■
FERNANDA SANTOS
Concluiu o curso de professora do 1º ciclo na Escola do Magistério Primário do Porto, em
1979, exercendo actualmente a sua actividade no Agrupamento de Escolas Adriano
Correia de Oliveira, em Vila Nova de Gaia ■ Especializou-se em Direcção Pedagógica e
Administração Escolar, na ESE Jean Piaget – V. N. Gaia, em 1993 e em Educação Espe-
cial, na área da deficiência mental e dificuldades múltiplas, em 1995 ■ Foi professora de
educação especial ■ Tem participado em projectos de formação contínua de professores
e publicado artigos sobre educação, em revistas da especialidade. É sócia do Movimento
da Escola Moderna, tendo feito parte da coordenação do Núcleo Regional do Porto ■
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Mª JÚLIA LOUSADA
Concluiu o curso do Magistério Primário do Porto em 1973, tendo exercido a sua activi-
dade, como professora do 1º ciclo do ensino básico, até 2006 ■ Especializou-se em
animação cultural de escola, na ESE Jean Piaget – V. N. Gaia, em 2002 ■ Tem participa-
do em projectos de formação contínua de professores ■ É sócia do Movimento da Escola
Moderna, tendo participado activamente nas actividades do Núcleo Regional do Porto ■
MÓNICA TEIXEIRA
Concluiu o curso de professora do 1º ciclo na Escola Superior de Educação Jean Piaget
de Vila Nova de Gaia, em 1997, exercendo, actualmente, a sua actividade no Agrupa-
mento de Escolas Anes de Cernache, em Vila Nova de Gaia ■ Especializou-se na área
de Estudo do Meio, em 2005, na Universidade Aberta ■ Foi coordenadora de vários
estabelecimentos de ensino. É actualmente conselheira no Conselho Geral do Agrupa-
mento de que faz parte. Tem participado em projectos de formação contínua de professo-
res ■ Actualmente é formadora certificada pelo IEFP.
PAULA MARTINS
Concluiu o curso de professora do 1º ciclo na Escola Superior de Educação do Porto, em
1995, e a licenciatura na variante de Educação Física, exercendo actualmente a sua
actividade no Agrupamento de Escolas Adriano Correia de Oliveira, em Vila Nova de
Gaia ■ Tem participado em projectos de formação contínua de professores ■
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