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“Dar ao pente funções de não pentear. Até que ele fique à disposição de ser uma begônia.

Ou uma gravanha.”
Manoel de Barros

Dos princípios - uma didática da invenção

Ana Tereza Melo Brandão

Coordenadora do Núcleo de Desenvolvimento Metodológico da Associação Imagem Comunitária (AIC)

Como aprender a inventar? Ou, como ensinar a inventar? Talvez esta deva ser a
preocupação central para aqueles que têm a tarefa de ensinar o fazer artístico. Pesquisar
metodologias de trabalho que busquem a expressão é o ponto de confluência entre o
trabalho do compositor e professor canadense Murray Schafer e da pesquisadora norte-
americana Viola Spolin.

Viola Spolin desenvolveu sua pesquisa junto a grupos de teatro improvisacional, na década
de sessenta. Buscavam uma renovação na linguagem teatral através da reflexão acerca do
processo de criação. A técnica era aprendida durante workshops que exploravam novas
formas de comunicação, jogos teatrais em que todos, não apenas os “talentos natos” (noção
questionada por Spolin), eram levados a improvisar. Spolin defendia que a potencialidade
de qualquer indivíduo podia ser evocada pelo aprimoramento de sua capacidade de
“experienciar” – termo que designa a vivência de uma experimentação, sua apreensão em
todos os níveis, intelectual, físico e intuitivo.

Assim como Spolin, o compositor Murray Schafer sustenta hoje a idéia de que qualquer
aluno pode experimentar a arte, de forma consciente, espontânea e inventiva. Schafer
participou da elaboração da proposta de restruturação dos currículos de ensino musical no
Canadá, sugerindo uma grande ruptura com as antigas maneiras de ensinar. Ele dedica sua
pesquisa à busca de propostas para uma educação musical integral, que não privilegie
somente a técnica, mas também a percepção, a emoção e a criação. Schafer acredita que é
preciso encontrar um nexo entre as diversas formas de arte, ensiná-las de maneira não
compartimentada. Seu método privilegia sempre as formas, sejam elas sonoras, verbais ou
textuais. Em seu livro “O Ouvido pensante”, o autor descreve experiências variadas nas
quais utiliza recursos expressivos da dança, das artes plásticas, da fotografia.
Levantar interrogações sobre o processo de educação artística, questionar a tradicional
forma de ensino da técnica e pensar o aluno como sujeito na construção do seu
conhecimento são premissas comuns às pesquisas de Schafer e Spolin, autores que se
tornaram referência na experimentação em educação midiática da AIC.

As primeiras oficinas de educação midiática foram realizadas durante o projeto TV Sala de


Aula, em agosto de 96. O TV Sala de Aula foi um projeto de oficinas de vídeo, TV e jornal
em escolas públicas da região nordeste de Belo Horizonte. As oficinas envolviam uma
série de jogos e brincadeiras que convidavam os participantes à apropriação dos meios de
produção midiática. Desde as primeiras experiências, pesquisamos técnicas e fundamentos
que elucidassem práticas em oficinas de comunicação. Como despertar para um fazer que
não reproduza modelos de produção de massa vigentes e que revele os sujeitos envolvidos
no processo? Como ensinar técnicas de linguagem sem estabelecer formas discursivas
fechadas, pré estabelecidas?

O jogo ideal 1– a criação no processo de construção do conhecimento

Os jogos teatrais de Spolin, assim como as proposições de Schafer, denotam a preocupação


com o processo de descoberta, assim como destacam a importância de não trabalharmos
compulsivamente por um resultado. Isto significa privilegiar o processo de construção
coletiva, incorporando erros e acasos, buscando a experimentação, incentivando
descobertas. Valorizar o processo requer do professor uma consciência do seu papel, que
não deve ser o de instruir, mas o de transformar.

O sistema de Viola consiste na proposição (regras do jogo, divisão do grupo em times,


preparação do espaço e do equipamento), prática (os participantes solucionam os
problemas de jogo a seu modo) e avaliação (discussão dos resultados, socialização das
experiências pessoais, generalização dos conhecimentos locais). Tais proposições não são
fechadas e exigem a participação ativa do aluno na elaboração do exercício.

Sobre a elaboração de proposições, Schafer sugere aos professores que criem problemas que
exijam concentração dos alunos e permitam soluções inusitadas. A grande tarefa do professor,
segundo Schafer, é colocar na cabeça dos alunos a centelha de um tema que faça crescer,
mesmo que este crescimento tome formas imprevisíveis. Tal prática exigiria do educador uma

1
Cf. Deleuze, G. O Jogo Ideal. In. Lógica do Sentido. São Paulo, Perspectiva, 1974. p. 61 e ss. Os jogos
ideais têm como objetivo a continuidade do jogo (não a vitória); cada jogada transforma as regras e o espaço
de jogo (não se acumulam em ganhos ou perdas).
grande atenção para aproveitar, no decorrer da atividade, qualquer oportunidade para
questionar, dialogar, incorporar imprevistos, transformar... Portanto, os professores e suas
proposições não podem ser inflexíveis, sendo fundamentais a mudança e adaptação dos planos
quando necessário. O professor deve compreender o seu papel como mediador – e não como
instrutor. Ele deve garantir a organicidade do trabalho como crescente apropriação criativa dos
alunos e participar da criação coletiva do grupo, reinventando suas proposições. Sua função é
zelar para que o ato de ensinar se torne experimentação.

Nas oficinas de comunicação comunitária da AIC trabalhamos como uma mídia-processo:


os participantes elegem questões que consideram importantes e são convidados a trabalhá-
las sob a forma de um produto midiático. Ao longo da elaboração destes produtos, os
elementos constitutivos do processo de produção midiática vão sendo descobertos pelos
alunos. As oficinas envolvem jogos e brincadeiras que buscam a desmistificação do
aparato tecnológico e ilustram as informações técnicas básicas.

“Desaprender 8 horas por dia ensina os princípios”2

O que é ensinado, segundo Schafer, provavelmente importa menos que o espírito com que
é comunicado e recebido. O ato de ensinar e aprender é o ato de comunicar.Toda a
construção de conhecimento deve ser baseada numa relação que supere as tradicionais
dicotomias da relação professor x aluno. Isto não significa negar as experiências e os
conhecimentos do professor, mas estabelecer novas formas de relação nas quais o ato de
ensinar e o de aprender sejam complementares. Para que isso aconteça, professor e aluno
devem em primeiro lugar descobrir-se um ao outro. É somente através desta descoberta
que é possível o verdadeiro diálogo, tão declamado por Paulo Freire como a única via
possível para uma educação libertadora.

Acreditamos que as formas didáticas mais coerentes com a expressão crítica são aquelas
fundadas na ludicidade. Schafer e Spolin trabalharam com crianças na idade pré-escolar e
destacaram a relação da brincadeira com a criação artística. Na brincadeira a criança está
inteira, todos os sentidos entregues; o jogo, o faz-de-conta, constitui o principal processo
de conhecimento do mundo e construção da identidade do sujeito. A prática de jogos
midiáticos resignifica a tradicional forma de uso dos meios, possibilitando variadas formas
de expressão e de produção.

2
Versos poema Didática da Invenção - Manoel de Barros.
É comum encontramos propostas de ensino de mídia e de arte em que a técnica é a única
finalidade. No entanto, o domínio da técnica por si só não garante uma apropriação
expressiva dos meios, gerando muitas vezes meras reproduções de produtos da mídia
massiva ou um fetiche tecnológico. Esse aprendizado pode deixar de ser um adestramento
para tornar-se descoberta e experimentação – para que a técnica e a tecnologia sejam
entendidas como meio para a expressão criativa, passíveis de serem reinventadas.

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