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WILSON COIMBRA LEMKE

TRIBUTOS MUNDIAIS
O PODER SUPRANACIONAL DE
TRIBUTAÇÃO

Londrina/PR
2019
SOBRE O AUTOR

WILSON COIMBRA LEMKE


Pós-graduado em Direito Tributário e Processo Tributário pela Faculdade de
Direito de Vitória. Graduado em Direito pela Universidade Vila Velha.
Advogado e pesquisador.
AGRADECIMENTOS

A Deus, dedico o meu agradecimento maior, porque tem sido tudo em minha
vida e por ter me dado saúde e força para superar todos os obstáculos que
encontrei nesta caminhada, pelo que não ouso exaltar qualquer mérito que
porventura tenha esta obra, na certeza de que a tua graça me basta, porque o
teu amor se aperfeiçoa nas minhas fraquezas.
À minha família, por ter acreditado nos meus sonhos e investido para que
eles tornassem realidade. A minha formação como profissional não poderia
ter sido concretizada sem a ajuda de meus amáveis e eternos pais, Waldir e
Eunice, que, no decorrer da minha vida, proporcionaram-me, além de extenso
carinho e amor, os conhecimentos da integridade, da perseverança e de
procurar sempre em Deus à força maior para o meu desenvolvimento como
ser humano. Por essa razão, gostaria de dedicar e reconhecer a vocês, minha
imensa gratidão e sempre meu amor.
Um agradecimento especial ao meu querido irmão Bruno, minha grande fonte
de inspiração, que permaneceu sempre ao meu lado, nos bons e maus
momentos; à minha sobrinha Elisa, pela alegria de viver ao seu lado e por
iluminar nossos dias com a luz mais bela e perfeita, a luz do amor; à minha
querida tia Penha, que além de me fazer feliz, ajudou-me, durante todo o
percurso de minha vida acadêmica, compreendendo-me e ensinando-me para
que eu conquistasse um lugar ao sol, à minha maravilhosa avó Glória, que
sempre me deu atenção, carinho e preciosos conselhos.
À Faculdade de Direito de Vitória, seu corpo docente, direção e
administração que oportunizaram a janela que hoje vislumbro um horizonte
superior, eivado pela acendrada confiança no mérito e na ética desta
instituição. Agradeço a todos os professores do Curso de Especialização em
Direito Tributário, que foram tão importantes para minha vida acadêmica е
para o desenvolvimento desta pesquisa, especialmente ao professor Ricarlos
Almagro, pela orientação desta monografia e pela amizade sincera.
A todos vocês que, direta ou indiretamente, contribuíram para esta imensa
felicidade que estou sentindo nesse momento, meu muito obrigado.
A Deus, que iluminou o meu caminho durante toda esta
caminhada. Seu fôlego de vida em mim me foi sustento e me
deu coragem para questionar realidades e propor sempre um
novo mundo de possibilidades.
“Se, por serem superiores em número, aprouver
aos pobres dividir os bens dos ricos, não será
isso uma injustiça? E, se for preciso considerar
justo todo decreto que emanar de tal soberano, o
que se qualificará de extrema iniquidade? Da
mesma forma, se, na totalidade dos habitantes, a
maioria decide usurpar os pertences da parte
menos numerosa, isto não equivale a desagregar
a sociedade? Ora, sendo a justiça o principal
bem do Estado, não é possível que ela o dissolva.
Ela não tolera tal roubo. Não é possível que
decretos tão injustos tenham valor de lei”.

― Aristóteles
APRESENTAÇÃO

Recentemente um tributarista capixaba sugeriu que o livro “O capital no


século XXI” de Thomas Piketty – cujos direitos autorais, com o livro
publicado em muitas línguas, foram polpudos – devesse ser chamado de
“punição ao capital no século XXI”, porquanto revelaria que as ideias do
Piketty estariam mais próximas da utopia de Morus do que das de Karl Marx,
em seu livro inolvidável “O Capital”. É dele o livro que estou a apresentar.
De sobredobro, Piketty, por mais que tenha tentado, deixa entrever um
socialismo romântico em busca de uma poção mágica capaz de solucionar, ao
menos em parte, alguns disfunções supostamente decorrentes do capitalismo,
o que é inverídico, porque o relativo no histórico mostra que os povos, desde
o início da “revolução industrial” nas cidades inglesas, se apresentaram
perante o mundo em etapas extremamente diversas no tempo e no espaço:
tribalismo, nomadismo, sob o estado de colônias à serviço de potencias
europeias ou forçadas por elas a se manterem estáticas fornecedores de
matérias primas e mão de obra baratas. Houve até quem na literatura dissesse
que a Europa era “um acidente histórico” e outras a chamaram de “a grande
prostituta” a dar satisfação a seus povos vendendo à dinheiro graúdo os
valores mais caros do mundo ocidental (liberdade, igualdade, fraternidade,
progresso e democracia).
O autor, Dr. Wilson Coimbra Lemke, cujo livro tenho a honra de apresentar,
deu ao seu trabalho o título de “TRIBUTOS MUNDIAIS: O PODER
SUPRANACIONAL DE TRIBUTAÇÃO”, a combater a utopia de um
imposto mundial sobre o capital no século XXI, para solucionar em termos
locais, mas com validez mundial, alguns transtornos como concentração
mundial da riqueza, desigualdades sociais decorrentes das desigualdades
patrimoniais, crises financeiras e/ou bancárias, et caterva.
O livro é rico, não apenas em razão do nosso sistema constitucional
tributário, mas por força da diversidade econômica e cultural das mais de
duzentas nações existentes no planeta, sendo irreal, portanto em todos os
sentidos, que analisou minudentemente, o que, só por isso, o recomenda
(deve ser lido e meditado).
Diz o autor com sabedoria: “É de se verificar, destarte, que esse imposto
seria, talvez, o de legislação mais complexa de quantos possam, ainda,
integrar o sistema tributário de vários países. E, além de complexa, sua
legislação seria das mais dinâmicas ante as transformações sociais, políticas e
econômicas que as diversas regiões do mundo vêm sofrendo nos últimos
anos.
A natural diversidade dos objetos e pessoas alcançados pela tributação,
atrelada às peculiaridades regionais (tanto de conteúdo social, quanto de
conteúdo econômico), além da ideologia política dominante em cada país,
tornam absolutamente impossível a supranacionalização da atividade
tributária.
Em razão de todas essas variáveis, não seria medida aconselhável (nem
praticamente exequível) estender a tributação para além das fronteiras
territoriais da autoridade estatal, sem que isto representasse, exatamente, a
tentativa de desenvolver, no plano supranacional, uma espécie de luta
revolucionária pela conquista e manutenção do poder político, contrapondo a
potência econômica do capitalismo, e desrespeitando as peculiaridades e as
características nacionais.
Se é certo que na tributação de âmbito nacional se percebe sempre uma
irredutível dose de injustiça fiscal, muito mais iníquo seria o sistema
financeiro que inaugurasse o regime da tributação supranacional para todos
os cidadãos do mundo. A injustiça do gravame, sua inoportunidade e
inconveniência à economia de cada país são alguns pontos abertos à censura
deste instrumento fiscal.
Ante todo o exposto, conclui-se que a instituição de qualquer espécie de
tributo mundial mostra-se de todo incompatível com o espírito do
ordenamento jurídico brasileiro, por ir de encontro ao interesse público
existente na defesa da soberania estatal, da segurança nacional, e da estrita
obediência às normas tributárias, sobretudo àquelas de caráter eminentemente
constitucional”.
Nada mais, preciso acrescentar. O livro fala por si, e nos alerta, ilustra e
opulenta a tributaristica nacional.

Sacha Calmon Navarro Coêlho


Doutor em Direito pela UFMG. Fundador e presidente honorário
da Associação Brasileira de Direito Tributário (ABRADT).
Presidente da Associação Brasileira de Direito Financeiro
(ABDF). Membro da Academia Brasileira de Direito Tributário
(ABDT). Membro da Conselho de Arbitragem de Minas Gerais.
Membro Titular Acadêmico, Titular Imortal da Cátedra 002 na
Academia Nacional de Economia (ANE). Membro do Conselho
Jurídico da Fecomércio, São Paulo. Membro do Conselho de
Catedráticos no Inst. Internacional de Estudos de Direito do
Estado (IIEDE). Membro Titular Acadêmico e Titular Imortal da
Cátedra 31 na Academia Mineira de Letras Jurídicas. Sócio
Honorário do IBED. Sócio Honorário no IDEPE. Representante
do International Fiscal Association (IFA). Representante da
Associação Latino-Americana de Direito Tributário (ILADT).
Partícipe do Conselho Editorial de mais de 30 Revistas Jurídicas.
Conselheiro na Associação Americana de Direito Tributário.
Conferencista na Câmara Americana de Comércio. Articulista no
jornal “Estado de Minas” e jornal “O Correio Braziliense”. Ex-
auditor da Receita Estadual. Ex-Assessor da Secretaria do Estado
da Fazenda, Minas Gerais. Ex-Procurador-Chefe da Procuradoria
Fiscal do Estado de Minas Gerais. Ex-Juiz Federal. Ex-Professor
de Direito Tributário na PUC/MG, UFMG e UFRJ. Ex-diretor,
Instituto dos Advogados do Estado de Minas Gerais; Ex-
Conselheiro da OAB/MG.
PREFÁCIO

O livro do professor Wilson Coimbra Lemke é de particular atualidade.


As crises cíclicas do capitalismo, sempre menores que as crises permanentes
do socialismo, em suas diversas facetas, são examinadas pelo eminente
mestre, à luz de uma análise serena e objetiva do livro sobre o capitalismo do
século XXI de Thomas Piketty.
Tendo lido aquela obra, ainda no original e antes da tradução para o
português, constatei, de um lado, um dos mais bem feitos levantamentos
sobre a evolução das classes sociais nos últimos 300 anos em alguns países e,
de outro lado, no que concordo inteiramente com Wilson Coimbra, a
inviabilidade da teoria por ele formulada de um tributo mundial para
distribuir riquezas por meio do Poder Público, em todas as nações.
Desde o início, elogiei e critiquei o livro de Piketty em relação a ambas as
facetas, algo que, na bem elaborada obra do professor do Espirito Santo, é
destacado, à luz da impossibilidade de sua adoção no Brasil, em face do
sistema nacional.
No livro que coordenei com a colaboração de eminentes tributaristas
brasileiros e internacionais “O tributo – Uma análise multidisciplinar”
(Antonio Delfim Netto, Arion Sayão Romita, Arnaldo Niskier, Cássio
Mesquita Barros, Dejalma de Campos, Diogo Leite de Campos, Ernane
Galvêas, Eusébio Gonzáles, Fábio Giambiagi, Fernando Rezende, Gustavo
Miguez de Mello, Ives Gandra da Silva Martins, Joacil de Britto Pereira, José
Joaquim Gomes Canotilho, José Pastore, Manuel Porto, Maria Teresa de
Cárcomo Lobo, Marilene Talarico Martins Rodrigues, Mary Elbe Queiroz,
Paulo Nathanael Pereira de Souza, Ricardo Lobo Torres, Rogério
Lindenmeyer V. Gandra da Silva Martins, Rubens Sanabria, Sacha Calmon
Navarro Coelho, Sérgio de Andréa Ferreira, Sérgio Ferraz, Sidney Saraiva
Apocalipse, Victor J. Faccioni e Zelmo Denari), editado pela Forense, realcei
que o tributo não é senão um grande instrumento de exercício do poder, que,
quando excessivo, gera revoluções. Os três movimentos mais relevantes do
constitucionalismo moderno, que o permitiram evoluir em 3 vertentes,
decorreram de movimentos contra o excesso de exação, ou seja, a Magna
Carta Baronorum dos ingleses, imposta ao Rei João Sem Terra em 1215, após
a revolução dos barões de 1214; a Constituição americana, obtida após a
revolução da independência americana, surgida com o aumento de tributação
das Leis Townshend em 1776, e a Constituição francesa contra o excesso de
tributação de Luiz XVI, que culminou com a promulgação, em 1791, da
primeira Constituição escrita daquela nação.
No meu livro “Teoria da Imposição Tributária”, mostrei que o tributo é uma
norma de rejeição social, pois o Estado sempre cobra mais do que necessita
para atender o “Estado prestador de serviços” e as benesses que se auto
outorgaram, os detentores do poder, seja através da corrupção, de privilégios,
ou pelos desperdícios para acomodação dos “amigos do rei”.
Ora, pretender um tributo mundial para distribuição de riquezas, por
intermédio do Poder Público que, notoriamente, distribui mais riquezas “pro
domo sua” do que para o povo que governa, é retirar dinheiro que a sociedade
sabe dar-lhe maior eficiência, passando às mãos menos eficientes do poder
público.
Na análise de Piketty, há um dado que deveria ser melhor estudado, qual seja,
se o diferencial entre os mais ricos e os mais pobres permanece, em muitos
países, estável, o nível socioeconômico da classe menos favorecida há
trezentos anos era incomensuravelmente inferior ao nível desta mesma classe
no ano de 2010, ano da pesquisa. O que vale dizer, a economia cresceu,
praticamente, para toda a humanidade neste período, mas, proporcionalmente,
favoreceu mais aqueles que até então, usufruíam de uma condição pior,
apesar de todas as turbulências políticas porque passaram as nações
desenvolvidas estudadas por Piketty.
O Estado sempre foi um mau empresário e um mau distribuidor de riquezas.
O desenvolvimento econômico sempre foi superior, quando a livre iniciativa
é por ele responsável, do que quando o Poder Público entra nesta função. A
função maior do Estado é dar estabilidade às instituições para que as
empresas possam assegurar investimentos e empregos a longo prazo. Dois
Prêmios Nobel de Economia (Douglas North e Ronald Coase) demonstraram
que a economia de escala só cresce em países com instituições jurídicas
estáveis.
O fracasso de todas as economias socialistas em que o Estado é o distribuidor
de riquezas, depõe contra Piketty, lembrando-se que na China, país comunista
politicamente, só ganhou a posição em que está, pois sua economia é de um
país particularmente liberal.
Meu saudoso amigo, Roberto Campos, dizia que a diferença entre as
economias socialistas e as capitalistas é que naquelas os ideais são superiores
aos resultados e nestas, os resultados são superiores aos ideais.
O livro de Wilson Coimbra tem o mérito de desmistificar o culto a Piketty,
como de demonstrar a inviabilidade de uma tributação mundial à luz do
sistema tributário brasileiro e de sua Federação.
É de se lembrar que a tese de uma tributação mundial sobre o sistema
financeiro, idealizado por outro Prêmio Nobel de Economia (Tobin), foi
discutida no século passado, embora incidente apenas sobre o sistema
financeiro mundial, o que seria de mais fácil imposição e cobrança. Sua
inviabilidade não permitiu sua adoção.
A lição que se tira do bem escrito livro pode se resumir na ideia de que se
elimina a pobreza pela multiplicação da riqueza e não, por sua divisão.
Parabéns ao brilhante autor por sua bem elaborada obra!

Ives Gandra da Silva Martins


Professor Emérito das Universidades Mackenzie, UNIP, UNIFIEO,
UNIFMU, do CIEE/O ESTADO DE SÃO PAULO, das Escolas de Comando
e Estado-Maior do Exército - ECEME, Superior de Guerra - ESG e da
Magistratura do Tribunal Regional Federal – 1ª Região; Professor Honorário
das Universidades Austral (Argentina), San Martin de Porres (Peru) e Vasili
Goldis (Romênia); Doutor Honoris Causa das Universidades de Craiova
(Romênia) e das PUCs-Paraná e RS, e Catedrático da Universidade do Minho
(Portugal); Presidente do Conselho Superior de Direito da FECOMERCIO -
SP; Fundador e Presidente Honorário do Centro de Extensão Universitária -
CEU/Instituto Internacional de Ciências Sociais - IICS.
Sumário
SOBRE O AUTOR
AGRADECIMENTOS
APRESENTAÇÃO
PREFÁCIO
INTRODUÇÃO
CAPÍTULO 1
A TRIBUTAÇÃO COSMOPOLITA
1.1 A soberania estatal
1.2 O fenômeno da supranacionalidade
1.3 O poder (supra)nacional de tributação
CAPÍTULO 2
A TEORIA DA TRIBUTAÇÃO MUNDIAL SOBRE O CAPITAL
Considerações iniciais
2.1 O imposto mundial sobre o capital
2.1.1 Competência tributária
2.1.2 Sujeito ativo
2.1.3 Função
2.1.4 Fato gerador
2.1.5 Base de cálculo
2.1.6 Alíquotas
2.1.7 Sujeito passivo
2.1.8 Lançamento
2.2 Transparência financeira e cooperação internacional
2.2.1 O objetivo de transparência democrática e financeira
2.2.2 A necessidade de cooperação internacional
2.3 Considerações especiais
2.3.1 A lógica da contribuição
2.3.2 A lógica do incentivo
CAPÍTULO 3
OS LIMITES CONSTITUCIONAIS À TRIBUTAÇÃO SUPRANACIONAL
Considerações iniciais
3.1 A SOBERANIA FISCAL
3.2 A territorialidade dos tributos
3.3 A legalidade tributária
3.4 A vedação da bitributação e do bis in idem
3.5 A vedação do efeito confiscatório
3.6 O sigilo de dados bancários
CONCLUSÃO
POSFÁCIO
REFERÊNCIAS
APÊNDICE
INTRODUÇÃO

Talvez nenhum outro livro de economia, publicado nos últimos anos,


provocou tanta exaltação de ânimo na comunidade internacional quanto O
capital no século XXI, do economista francês, Thomas Piketty. Seus estudos
sobre a concentração mundial de riqueza e a evolução das desigualdades
sociais e econômicas ganharam as primeiras páginas dos mais prestigiados
jornais do mundo, provocaram grandes debates nas redes sociais e colheram
os comentários, as críticas e os elogios de diversos ganhadores do Prêmio
Nobel.
Após quinze anos de estudos, Thomas Piketty chegou a conclusões de grande
repercussão internacional, baseadas em dados que remontam ao século
XVIII, colhidos de diversos países e reunidos nas páginas de sua principal
obra. Apesar do crescimento econômico dos grandes Estados nacionais,
juntamente com a ampla difusão do conhecimento humano, ter impedido que
se concretizasse no mundo um cenário sombrio e tenebroso, tal como
previsto por Karl Marx no século XIX, Thomas Piketty tentou demonstrar,
com base em registros históricos, que o capitalismo tende a criar um círculo
vicioso de desigualdades sociais e econômicas, e isso se deveria ao fato de
que, em longo prazo, a taxa de retorno sobre os ativos seria maior que o ritmo
do crescimento econômico dos países, o que se traduziria numa concentração
cada vez maior da riqueza.
Se, por um lado, uma situação de extrema desigualdade pode causar a
decepção geral de uma nação e até mesmo ameaçar os valores democráticos;
por outro lado, Thomas Piketty lembra que a intervenção política já foi um
instrumento eficaz para reverter tal quadro no passado e poderá voltar a fazê-
lo nos tempos do presente.
O capital no século XXI, que já se tornou uma referência de estudo para os
economistas, talvez tenha contribuído para que muitos deles tivessem suas
mentes renovadas sobre a dinâmica do capitalismo globalizado, deste século,
ao fixar sua principal contradição na íntima e necessária relação entre o
crescimento econômico e o rendimento do capital.
Com efeito, esta obra tem levado diversos leitores a refletir, principalmente
do ponto de vista econômico, sobre algumas das questões mais prementes da
contemporaneidade, dentre elas: a necessidade de instituir-se uma espécie de
Imposto Mundial sobre o Capital, como tentou demonstrar o autor, mais
especificamente no Capítulo 15 de sua obra.
Mas, sob a óptica da Ciência do Direito – especialmente do Direito Tributário
e de seus preceitos magnos –, seria possível instituir, no Brasil, uma espécie
de tributo mundial, tal como proposta por Thomas Piketty, em O capital no
século XXI?
A partir da publicação da mencionada obra, a comunidade acadêmica se
deparou com um novo problema a ser enfrentado pelos teóricos do Direito, a
saber: o da tributação em face da globalização.
Objetivou-se, com esta pesquisa, analisar os pressupostos teóricos de uma
tributação cosmopolita; identificar os elementos característicos do Imposto
Mundial sobre o Capital, a partir da teoria econômica de Thomas Pikkety;
confrontar os argumentos favoráveis e contrários à instituição de uma espécie
de tributo mundial; e identificar as implicações práticas de uma eventual
introdução dessa nova espécie tributária no sistema jurídico brasileiro.
Quanto à metodologia adotada nesta obra, recorreu-se às investigações
teóricas que apontam possibilidades de análise acerca do Imposto Mundial
sobre o Capital, enquanto manifestação de um poder supranacional de
tributação.
Assim, a validade científica desta pesquisa está consubstanciada no estudo
bibliográfico, com método dialético de análise, com base no qual foi possível
verificar, com mais rigor, a validade da “Teoria da Tributação Mundial sobre
o Capital”, de Thomas Piketty, justamente por ter sido posta frente a frente
com o teste de suas possíveis contradições.
Esta obra está dividia em três capítulos. Inicialmente, este trabalho busca
compreender o que seria uma tributação cosmopolita, levando-se em
consideração os conceitos de soberania estatal, supranacionalidade e poder
tributário. A partir desta contextualização, num segundo momento, examina-
se detidamente a “Teoria da Tributação Mundial sobre o Capital”, de Thomas
Piketty, destacando-se, ainda que de forma incipiente, os aspectos jurídicos
da hipótese de incidência tributária do Imposto Mundial sobre o Capital. Ao
final, este estudo traça os limites constitucionais ao poder supranacional de
tributação, revelando as principais (in)compatibilidades de uma eventual
introdução do Imposto Mundial sobre o Capital no sistema jurídico brasileiro.
Em função das mais variadas espécies de tributos, da elevada e crescente
carga tributária, do número de cidadãos-contribuintes no Brasil e no mundo,
os conflitos em matéria tributária têm se tornado cada vez mais frequentes,
inclusive em nível internacional, exigindo dos profissionais que atuam nesta
área um grau maior de especialização.
Apesar do grande número de publicações na área tributária, existe ainda uma
enorme carência de conhecimento jurídico acerca do Imposto Mundial sobre
o Capital. A maioria dos livros, ou trata apenas da parte geral do Direito
Tributário; ou, simplesmente, de alguns tributos nacionais, em espécie.
Imprescindível, portanto, que o estudante e o profissional do Direito tenham
em mãos uma obra que contribua para a melhor compreensão destes novos
fenômenos, bem como para o aprimoramento do debate acadêmico acerca
dos tributos mundiais, enquanto manifestação de um poder supranacional de
tributação.
CAPÍTULO 1

A TRIBUTAÇÃO COSMOPOLITA
1.1 A soberania estatal
A história nos mostra que, para conservarem mutuamente as suas vidas, suas
liberdades e seus bens, os indivíduos se associaram, formando um corpo
político e, desta convenção mútua, nasceu uma autoridade pública, uma
soberania.
Com extrema didática e clareza, o douto Conselheiro José Maria de Avellar
Brotero, primeiro professor universitário de Curso Jurídico a ser nomeado no
Brasil, traça as seguintes explanações sobre os diversos sentidos em que se
emprega este termo, dizendo que:
Soberania é a supereminência, a elevação e a primazia que tem uma
associação em geral sobre cada um de seus membros em particular;
soberania é a independência absoluta em que está um estado de outro
estado; soberania é o poder supremo que tem um povo de se reger e
governar; soberania é este grau mais elevado de dignidade e poder que
não tem nenhum homem considerado como indivíduo, e que só tem o
povo considerado como uma nação, que se compõe das vontades e
liberdades de todos os homens que formam a mesma associação;
soberania é, finalmente, esta autoridade política de um estado que,
fazendo-o independente de outro qualquer, como já fica dito, o faz ao
mesmo tempo senhor de suas instituições constitucionais, orgânicas,
administrativas e civis.[1]
O termo soberania (do latim medieval, superanus e, mais recentemente, do
francês, souveraineté) foi utilizado por Jean Bodin para caracterizar a
realidade então nascente no mundo moderno,[2] que Nicolau Maquiavel
designara por Estado (do latim, stato),[3] de certa forma já concretizado em
alguns reinos como a Inglaterra, França, Castela, Aragão, Navarra e Portugal,
bem como nas comunas e cidades livres.
Trata-se, assim, de uma construção conceitual da modernidade, “expressão da
reivindicação da plenitudo potestatis por parte dos reinos medievais [...] face,
por um lado ao Império e à Igreja (rectius ao Papado) e, por outro, aos
poderes feudais e comunais”.[4] Na definição de Jean Bodin, “souveraineté est
la puissance absolue et perpétuelle d’une République”,[5] o que pode ser
traduzido como o poder político de um Estado que não está submetido a
nenhum outro organismo.
Daí porque quase a totalidade dos estudiosos do Estado reconhecem a
soberania como sendo una, indivisível, inalienável e imprescritível –
características estas que não só revelam a plenitude do seu próprio conceito,
mas que também distingue o poder estatal de todos os demais centros de
imputação política.[6]
Apesar de ter sido uma construção conceitual da modernidade, a ideia de
soberania tem suas raízes na Idade Média, mais precisamente entre os séculos
XII e XIII, quando se andava afirmando, na Europa, a nova realidade dos
Estados nacionais e no momento em que a ideia do Império universal
começava a se aproximar de sua crise. Foi exatamente neste contexto que o
princípio da soberania apareceu às consciências, expresso na seguinte
fórmula: rex in regno suo est imperator.[7]
A partir deste paradigma medieval, os elementos intrínsecos ao conceito de
soberania, vale dizer, a plenitude de poderes e independência de todos os
outros poderes, começaram a se consolidar na era dos Estados Absolutos.
Neste período, o poder soberano do Estado não conhecia limites de qualquer
espécie. Só mais tarde, com o advento das revoluções liberais e o
consequente triunfo do Estado de Direito, é que a soberania passou a
compreendida como um poder sujeito a certos limites, constituídos estes,
sobretudo, pelos princípios superiores de justiça e pelo Direito Internacional.
Com uma tal compreensão, percebe-se que a soberania consiste, sem
qualquer sombra de dúvida, num elemento essencial do Estado, que, por um
lado, indica a posição de independência em relação a qualquer outro ente ou
organismo existente fora dele (soberania externa); e, por outro, a supremacia
em face de todas as outras pessoas, físicas e jurídicas, que se encontram em
seu território (soberania interna) e, consequentemente, o mesmo poder de
governo do ente estatal.
Em síntese, a soberania estatal traduz-se naquele poder supremo e
independente: supremo, porque não está limitado por nenhum outro poder na
ordem interna; e independente, porque não deve obediência a ordens de
governo ou organismo estrangeiro, estando em pé de igualdade com os
demais poderes soberanos dos outros Estados, na ordem internacional.[8]
Referindo-se à posição do Estado na ordem internacional, o professor Dalmo
de Abreu Dallari observa que:
O mundo é uma sociedade de Estados, na qual a integração jurídica dos
fatores políticos ainda se faz imperfeitamente. Para o jurista, o Estado é
uma pessoa jurídica de direito público internacional, quando participa
da sociedade mundial. Na prática, entretanto, apesar de todas as
restrições dos teóricos e dos próprios líderes políticos, o
reconhecimento de um Estado como tal não obedece a uma regulação
jurídica precisa, ficando na dependência da comprovação de possuir
soberania. Com efeito, independentemente de atos formais de
reconhecimento, o que se exige é que a sociedade política tenha
condições de assegurar o máximo de eficácia para sua ordenação num
determinado território e que isso ocorra de maneira permanente, não
bastando a supremacia eventual ou momentânea. Assim, pois, o que
distingue o Estado das demais pessoas jurídicas de direito internacional
público é a circunstância de que só ele tem soberania. Esta, que do
ponto de vista interno do Estado é uma afirmação de poder superior a
todos os demais, sob o ângulo externo é uma afirmação de
independência, significando a inexistência de uma ordem jurídica
dotada de maior grau de eficácia.[9]
Todavia, não se pode negar que, desde o entardecer da modernidade, já se
podia observar, no céu das relações internacionais, um eclipse da soberania
estatal. No atual século, aquele fenômeno que, antes, ainda era um pouco
nebuloso ficou, agora, nitidamente inteligível: a plenitude do poder estatal
está sendo ofuscada pela interposição de um outro astro, de grandeza superior
aos tradicionais Estados soberanos, a saber: as chamadas comunidades
supranacionais.
Fazendo uma leitura atenta dos fenômenos políticos que estão ocorrendo na
contemporaneidade, com destaque para a atual crise pela qual vem passando
o conceito de soberania, o cientista político italiano, Nicola Matteucci, aduz
que:
No nosso século, o conceito político-jurídico de Soberania entrou em
crise, quer teórica quer praticamente. Teoricamente, com o prevalecer
das teorias constitucionalistas; praticamente, com a crise do Estado
moderno, não mais capaz de se apresentar como centro único e
autônomo de poder, sujeito exclusivo da política, único protagonista na
arena internacional. Para o fim deste monismo contribuíram, ao mesmo
tempo, a realidade cada vez mais pluralista das sociedades
democráticas, bem como o novo caráter dado às relações
internacionais, nas quais a interdependência entre os diferentes Estados
se torna cada vez mais forte e mais estreita, quer no aspecto jurídico e
econômico, quer no aspecto político e ideológico. Está desaparecendo a
plenitude do poder estatal, caracterizada justamente pela Soberania; por
isso, o Estado acabou quase se esvaziando e quase desapareceram seus
limites.[10]
Portanto, este esvaziamento dos entes estatais deve-se, basicamente, a dois
fatores: ao pluralismo das sociedades democráticas; e ao processo, cada vez
mais estreito, de colaboração internacional entre os Estados.
Mas, como bem observou Nicola Matteucci, neste processo de
obscurecimento da soberania estatal, “o golpe maior veio das chamadas
comunidades supranacionais, cujo objetivo é limitar fortemente a Soberania
interna e externa dos Estados-membros”, colocando-se acima de cada um
deles.[11]
Assim, forçoso reconhecer que houve uma relativização tanto da posição de
independência, até então assumida pelos tradicionais Estados soberanos em
relação a qualquer outro ente ou organismo existente fora dele; como da
supremacia exercida em face de todas as outras pessoas, físicas e jurídicas,
que se encontram em seu território e, consequentemente, do mesmo poder de
governo do próprio ente estatal.
Convém destacar, todavia, que – não obstante a plenitude do poder estatal,
caracterizado pela Soberania, esteja em via de extinção – isto não significa
que o poder, em si, isto é, enquanto fenômeno social, tenha desaparecido.
Pois, caso contrário, desapareceria também a relação entre os homens,
mantida por esta força que se está a serviço de uma ideologia cristalizada na
consciência coletiva.[12]
Portanto, mediante uma leitura atenta deste complexo fenômeno político,
verifica-se que, na verdade, “desaparece apenas uma determinada forma de
organização do poder, que teve seu ponto de força no conceito político-
jurídico de Soberania”,[13] dando lugar, assim, a um novo modelo de
organização do poder, cuja expressão máxima encontra-se no conceito de
“supranacionalidade”, que será estudado a seguir.
1.2 O fenômeno da supranacionalidade
A história da humanidade sempre foi marcada por movimentos de união e
dispersão, sendo esta uma característica peculiar das relações humanas ao
longo dos séculos. Se, por um lado, o “nacionalismo-regional” luta,
constantemente, para (re)desenhar os (novos) limites territoriais; por outro, o
“supranacionalismo” quer apagar as antigas fronteiras do mapa e, como
ideologia, ele se opõe ao nacionalismo, que defende a soberania absoluta das
nações.[14]
Em que pese à constante luta do “nacionalismo-regional”, não se pode negar
que, nos últimos cem anos, principalmente depois da Segunda Guerra
Mundial, tem-se multiplicado a formação de entes políticos supranacionais.
Expondo com clareza e exatidão os caracteres distintivos deste fenômeno,
Martin Große Hüttmann, explica que:
Der Begriff supranational [dt.: überstaatlich] beschreibt eine
besonders enge Form der politischen, rechtlichen und wirtschaftlichen
Zusammenarbeit und Verflechtung von Staaten, die sich durch die
Übertragung von Kompetenzen und Ressourcen auf eine den Staaten
übergeordnete politische Ebene und die Errichtung eines supranational
Rechtssystems ergibt.[15]
O fenômeno da supranacionalidade diz respeito, portanto, a algo que está fora
da competência do governo de uma nação, vale dizer, além dos limites do
próprio Estado nacional. Trata-se, portanto, da capacidade de uma
organização internacional (ou, mais especificamente, de uma Comunidade
Supranacional) ir além da soberania dos Estados tradicionais, ao adotar
normas jurídicas e impor medidas, sobretudo de natureza política e
econômica, suscetíveis de atingir seus cidadãos.
A supranacionalidade se distingue em duas esferas de competência: uma
normativa, e outra executiva. Enquanto a primeira indica as relações e a
hierarquia existentes entre as medidas político-jurídicas acatadas pelos órgãos
de uma organização internacional e aquelas adotadas pelos Estados-membros;
a segunda, por sua vez, se ocupa dos órgãos e da forma de atuação dessa
organização internacional frente às medidas imprescindíveis para a
consecução de suas finalidades.[16]
Esse fenômeno associativo certamente foi intensificado pela globalização,
que traz consigo algumas questões de ordem política, econômica e social, as
quais superam as possibilidades dos tradicionais Estados soberanos,
resultando na necessidade destes entes se associarem para encontrar melhores
condições para enfrentá-las. Posta assim a questão, é de se dizer, juntamente
com Massimo Jasonni, que:
De fato, a conseqüente formação de organismos supranacionais,
dotados de poder efetivo e exercendo funções concretas, tornou
evidente a posição subsidiária do Estado, obrigando não raro a
subordinar suas próprias decisões governamentais a opções econômicas
e desígnios políticos que lhe são externos.[17]
Não se pode negar, portanto, que essas entidades, de âmbito supranacional,
moldam efetivamente a maneira pela qual o direito deve ser aplicado pelos
Estados-membros, em cada caso concreto. Com muita propriedade, o douto
Ives Gandra da Silva Martins traça as seguintes explanações sobre o assunto:
À medida que os direitos comunitários vão ganhando expressão no
mundo, nitidamente os direitos locais perdem relevância e um conceito
de ‘soberania subordinada’ passa a vigorar, pois os países, ao
abdicarem de sua soberania de dizer o direito para acatarem o direito
dito pela comunidade, conformam um novo tipo de relação jurídica a
que denomino o direito da ‘Federação Comunitária’.[18]
Com efeito, um dos grandes desafios que o Direito já está enfrentando neste
século diz respeito a essa transição do conceito clássico de soberania estatal
para o conceito pós-moderno de soberania comunitária.
Isto implica, inevitavelmente, numa mudança de responsabilidades legais do
Estado-nação para um nível superior, denominado “Comunidade
Supranacional” (ou “Federação Comunitária”), que significa “ogni unione
internazionale di stati istituzionalmente organizzata, dotata cioè di organi
proprî, agendo per mezzo dei quali viene naturalmente a porsi ‘sopra gli
stati’”,[19]
Hoje, a União Europeia, representa o modelo mais avançado de integração
econômica e política e, portanto, de uma ordem supranacional. Assim, o
conceito de “Comunidade Supranacional” é, por vezes, utilizado para
descrever a União Europeia como um novo tipo de entidade política.
Como bem acentuado por Sérgio Pistone, a escolha do interesse nacional por
esta forma de integração política consiste, basicamente, numa “abdicação
progressiva da soberania nacional absoluta a favor de instituições
supranacionais, mediante as quais um conjunto de povos, que perderam a
capacidade de uma real autonomia internacional, tende a recuperá-la, não
individual, mas coletivamente”.[20]
As Comunidades Supranacionais diferem-se das demais Organizações
Internacionais – como, por exemplo, a Organização Mundial do Comércio e a
própria Organização das Nações Unidas – pelo grau mais acentuado de
integração entre seus membros.
Isto pode ser observado, a título exemplificativo, pela existência de uma
ordem jurídica autônoma, de um tribunal de justiça com poderes vinculantes
ou de instituições com legitimidade direta (como o Parlamento Europeu).
Assim, a principal característica de uma Comunidade Supranacional – que a
diferencia das demais Organizações Internacionais acima mencionadas –, está
na existência de uma ordem jurídica própria, fundada no primado da lei
supranacional.
Com base nessas premissas, pode-se dizer que o poder supranacional de
tributação seria aquele exercido sobre um grupo de Estados, estando acima
do poder tributário nacional. Assim, essa nova forma de organização do
poder seria caracterizada, particularmente, pela estreita cooperação entre os
Estados em matéria tributária, resultando na transferência de parte da
soberania fiscal e de recursos financeiros para um nível político mais alto,
bem como no estabelecimento de um sistema tributário supranacional.
Não obstante os elementos postos de relevo, cumpre refletir, todavia, acerca
da real possibilidade de se sustentar, nos dias de hoje, dada a limitada
casuística, a existência de comunidades supranacionais que promovessem a
captação de recursos financeiros, por meio de uma tributação de cunho
supranacional, com vistas à consecução de interesses de toda a comunidade,
dentre eles: a redução das desigualdades socioeconômicas.
Como remate a este tópico, melhor não se faça que transcrever mais uma vez
o abalizado pensamento de Ives Gandra da Silva Martins, que, por um lado,
reconhece que “os espaços comunitários que conseguirem vencer os
preconceitos ideológicos e a força nacionalista serão os que mais se
desenvolverão no futuro”, mas, por outro, não se esquece de que “as nações,
mesmo quando agregadas, tendem a se defender, e, em momentos de crise,
respeitam pouco os acordos internacionais”.[21]
1.3 O poder (supra)nacional de tributação
Como se sabe, o Estado, em regra, não está autorizado a exercer atividade
econômica, cujo exercício encontra-se reservado à iniciativa privada. Por isto,
não restam muitas opções ao ente estatal que não sejam explorar seu próprio
patrimônio, ou transferir compulsoriamente a riqueza produzida pelo setor
privado para os cofres públicos, mediante o exercício do poder tributário.
Na precisa lição de Carlos Fonrouge, a expressão “poder tributário” significa
“la facultad o la posibilidad de exigir contribuiciones con respecto a
personas o bienes que se hallan en su jurisdicción”.[22] Trata-se, portanto, do
poder estatal de avançar sobre a propriedade privada, por meio dos tributos.
Em trabalho inexcedível, o grande constitucionalista brasileiro, José Afonso
da Silva, também apresenta o conceito de poder tributário, de forma precisa e
juridicamente escorreita, dizendo que este poder:
É a capacidade de impor tributos. É inerente ao Estado. Fundamenta-se
no poder político ou poder de império, que é atributo das entidades
estatais, únicas que podem impor condutas aos particulares, mediante
lei. Por isso, só a entidade pública que dispõe de capacidade normativa
pode lançar contribuições compulsórias. Em última análise, o poder de
tributar é manifestação do poder constituinte, que o outorga, pela
Constituição, e nos limites nela estabelecidos, às entidades estatais.
Nele fundamenta-se a faculdade de criar tributos. Ao se instituir o
tributo – o que implica sua criação, fixação do fato gerador da
obrigação tributária principal, estabelecimento de suas alíquotas –, está-
se exercendo o poder de tributar. A competência tributária é função do
poder de tributar.[23]
O poder de tributar consiste, portanto, naquele poder estatal de transferir,
compulsoriamente, parcela da propriedade privada para os cofres públicos, a
fim de assegurar ao Estado a obtenção de recursos financeiros necessários à
manutenção da máquina estatal e à promoção do bem comum, conforme as
finalidades impostas pela ordem jurídica vigente.
Para Liam Murphy e Thomas Nagel, professores de Filosofia da
Universidade de Nova York, a tributação tem duas funções principais, in
verbis:
(1) Ela determina que proporção dos recursos da sociedade vai estar
sob o controle do governo para ser gasta de acordo com algum
procedimento de decisão coletiva, e que proporção será deixada, na
qualidade de propriedade pessoal, sob o arbítrio de indivíduos
particulares. Essa é a repartição entre o público e o privado. (2) Ela é
um dos principais fatores que determinam de que modo o produto
social é dividido entre os diversos indivíduos, tanto sob a forma de
propriedade privada quanto sob a forma de benefícios fornecidos pela
ação pública. Esta é a distribuição.[24]
Em outras palavras, a atividade tributária caracteriza-se tanto pela partilha
das riquezas produzidas pela sociedade, destinando uma porção para o
Estado, e reservando a outra para os cidadãos-contribuintes; como pela
distribuição do produto social entre os diversos indivíduos para a satisfação
das necessidades coletivas.
Apesar do processo contemporâneo de descentralização estatal, o núcleo
essencial do poder tributário, ainda hoje, permanece exclusivamente nas
mãos do Estado, e sendo a soberania um atributo inerente às entidades
estatais, não se pode negar que este poder também mereça o qualitativo de
soberano.
Por isto que, a priori, só os Estados dispõem de capacidade normativa para
lançar contribuições pecuniárias compulsórias sobre as pessoas ou bens que
se encontrem sob sua jurisdição.
Com efeito, a jurisdiction to tax seria um simples corolário lógico da
soberania estatal, sendo ambas duas grandezas inversamente proporcionais,
de tal modo que aquela só se estende até os limites da primeira e,
inversamente, perde seu âmbito de incidência onde tais limites cessarem.
Considerando que a Constituição, enquanto expressão da vontade geral e
estatuto fundante do Estado, institui os poderes que por ele serão exercidos
em nome do povo, não se pode negar que assim também se dá em relação aos
tributos lançado ao povo pelo ente estatal. Neste sentido, oportuna a lição de
Sacha Calmon Navarro Coêlho, ao enfatizar que:
O poder de tributar é exercido pelo Estado por delegação do povo. O
Estado, ente constitucional, é produto da Assembleia Constituinte,
expressão básica e fundamental da vontade coletiva. A Constituição,
estatuto fundante, cria juridicamente o Estado, determina-lhe a
estrutura básica, institui poderes, fixa competências, discrimina e
estatui os direitos e as garantias das pessoas, protegendo a sociedade
civil.[25]
Com o advento do Estado Constitucional de Direito, o poder de tributar
passou a ser o campo de labor preferido do constituinte, estando seu conteúdo
previsto, não raramente, em diversos textos constitucionais, e isto se justifica
por duas razões:
A uma, porque o exercício da tributação é fundamental aos interesses
do Estado, tanto para auferir as receitas necessárias à realização de seus
fins, sempre crescentes, quanto para utilizar o tributo como instrumento
extrafiscal, técnica em que o Estado intervencionista é pródigo. A duas,
porque tamanho poder há de ser disciplinado e contido em prol da
segurança dos cidadãos.[26]
Dessa forma, o poder de criar impostos tem, necessariamente, por
fundamento jurídico a própria Constituição, seja porque sua titularidade
resulta dela, seja porque o seu exercício deva ocorrer dentro dos estritos
limites constitucionais, de modo a manter a tributação dentro de um quadro
tolerável para os cidadãos-contribuintes.
Partindo-se, então, dessas premissas, pode-se dizer que um poder
supranacional de tributação compreenderia a capacidade de impor tributos
mundiais. Seria inerente àqueles Estados inseridos em Organizações
Internacionais. Encontrar-se-ia, todavia, alicerçado na soberania de um Ente
Supranacional; ou, ao menos, na soberania estatal, vista, agora, não mais sob
o aspecto absoluto, mas compreendida a partir dos conceitos de abertura,
cooperação e integração.[27]
De toda sorte, não se pode negar que, embora a soberania seja ainda um
atributo das entidades estatais, num eventual exercício da capacidade
normativa para lançar contribuições compulsórias no âmbito supranacional o
Estado deixaria de atuar de forma absoluta, compartilhando essa competência
com outros Estados, mediante tratados e convenções internacionais.
Em última análise, pode-se dizer que, havendo uma ruptura das premissas de
organização dos Estados tradicionais, o poder supranacional de tributação
passaria a ser considerado uma manifestação do poder constituinte
supranacional,[28] que o outorgaria, pela Constituição comunitária, e nos
limites nela estabelecidos, às entidades estatais. Nele estaria abalizada a
faculdade de criar tributos mundiais. Neste caso, ao se instituir um tributo
mundial, estar-se-ia exercendo o poder supranacional de tributação.
CAPÍTULO 2

A TEORIA DA TRIBUTAÇÃO MUNDIAL


SOBRE O CAPITAL
Considerações iniciais
Como se sabe, ainda hoje prevalece na doutrina a divisão histórica da
tributação em cinco etapas, incidentes sobre fenômenos distintos de
manifestação de riqueza, sendo elas: 1. Tributação sobre o indivíduo ou
classe (capitação); 2. Tributação sobre o patrimônio; 3. Tributação sobre a
despesa individual; 4. Tributação sobre o produto do capital; e 5. Tributação
sobre a renda.[29]
Não obstante a tributação sobre o patrimônio remontar à antiguidade e
preceder historicamente à tributação sobre a renda, a principal proposta
apresentada por Thomas Piketty para reduzir as desigualdades sociais e
econômicas está ligada a um acordo internacional abrangente que estabeleça
um imposto mundial e progressivo sobre a riqueza individual, incluindo todo
tipo de ativos – o que, a priori, representaria um retrocesso no modelo
impositivo.
Mas, segundo a concepção pikettyana, isso se justificaria porque “não basta
repensar o modelo fiscal e social do século XX e adaptá-lo ao mundo de
hoje”.[30] É indispensável que haja “uma reatualização adequada do programa
social-democrata e fiscal-liberal do século passado”.[31] Ou seja, é necessário
que haja uma reforma financeira apropriada ao século XXI.
Então, na expectativa de regular o capitalismo patrimonial globalizado do
século XXI, preservando-se, em última instância, o Estado de bem-estar
social, o economista francês elege duas grandes políticas fiscais que devem
ser tomadas para que se possa alcançar esta finalidade, sendo elas: (1) a
instituição de um Imposto Mundial sobre o Capital (2) acompanhada de uma
transparência financeira e democrática, garantida por meio de uma
cooperação internacional, conforme será analisado, com mais rigor, ao longo
deste capítulo.
Com base nesta perspectiva, o que ele chama de “capitalismo patrimonial” –
que significa uma concentração de riqueza acompanhada pela transmissão do
poder político, de geração em geração, numa ordem social baseada em classe
–, estaria corroendo o compromisso do Estado Social com a igualdade de
oportunidades.
Assim sendo, o que será abaixo analisado, sobretudo do ponto de vista
jurídico, é a proposta de um economista que abre uma série de possibilidades
para a alteração do paradigma do século passado, com vistas a uma reforma
financeira adequada aos dias de hoje. Mas, em virtude de ainda não ter sido
criado, o debate sobre os elementos jurídicos da hipótese de incidência deste
tributo estará adstrito a aspectos teóricos e conjecturais.
Posta assim a questão, é de se dizer que uma explanação científica de uma
espécie tributária, que ainda não foi instituída em lei, nem tampouco
verificada na realidade fenomênica, como é o caso de um Imposto Mundial
sobre o Capital, justifica-se na medida em que serve de instrumento de
estudo, investigação e influência prévia na compreensão da
(in)constitucionalidade de uma lei que venha a instituir um tributo mundial,
sendo contemporânea na sua interpretação e aplicação.
2.1 O imposto mundial sobre o capital
2.1.1 Competência tributária
No Brasil, caso realmente fosse instituído um Imposto Mundial sobre o
Capital, este tributo estaria reservado à competência federal, porque somente
a União pode criar, na porção de sua competência residual, outros impostos
além daqueles que já lhe foram assegurados pela Constituição, ex vi do
disposto na literalidade do artigo 154, inciso I, da Lei Fundamental.[32]
Por ser tratar de um imposto residual (ou imposto previamente
indeterminado), a competência tributária seria exclusiva da União, e o
exercício desta competência estaria sob reserva de lei complementar,
conforme será analisado mais adiante.
Em razão disso, esse imposto também não poderia ser cumulativo, nem ter a
mesma hipótese de incidência e a mesma base de cálculo daqueles impostos
discriminados na Constituição Brasileira e adjudicados aos Estados, ao
Distrito Federal e aos Municípios.
Ademais, levando-se em consideração os parâmetros constitucionais de
repartição das receitas tributárias, 20% (vinte por cento) do produto da
arrecadação do imposto que a União instituir no exercício da competência
residual deverá ser repassado aos Estados e ao Distrito Federal, por força do
disposto no artigo 157, inciso II, da Constituição Federal.[33]
Observando-se, então, essa mesma sistemática, se realmente fosse
introduzido um Imposto Mundial sobre o Capital no sistema jurídico
brasileiro, os outros 80% (oitenta por cento) do produto dessa arrecadação
seriam repassados a instituições financeiras especializadas que
desempenhassem o papel de depositário central, conforme será estudado a
seguir, o que nos levaria a entender que, neste caso específico, a União
receberia uma parcela da competência impositiva, mas, exercendo-a, não
participaria do produto do arrecadação do imposto mundial.
2.1.2 Sujeito ativo
Em regra, o polo ativo da relação jurídica tributária será ocupado pela pessoa
político-constitucional competente para instituir o tributo, de acordo com os
critérios de repartição de competências tributárias estabelecidos na
Constituição. Entrementes, poderá ocorrer delegação da capacidade tributária
ativa, sendo esta atribuída à pessoa diversa daquela que tem a titularidade da
competência tributária.
Com efeito, não se pode confundir competência tributária com capacidade
tributária ativa. A esse propósito, é de todo oportuno trazer à baila o
entendimento do preclaro mestre, Paulo de Barros Carvalho, que obtempera,
verbo ad verbum:
Uma coisa é poder legislar, desenhando o perfil jurídico de um
gravame ou regulando os expedientes necessários à sua funcionalidade;
outra é reunir credenciais para integrar a relação jurídica, no tópico de
sujeito ativo. O estudo da competência tributária é um momento
anterior à existência mesma do tributo, situando-se no plano
constitucional. Já a capacidade tributária ativa, que tem como
contranota a capacidade tributária passiva, é tema a ser considerado no
ensejo do desempenho das competências, quando o legislador elege as
pessoas componentes do vínculo abstrato, que se instala do instante em
que acontece, no mundo físico, o fato previsto na hipótese normativa.
[34]

Escudado nesta sólida distinção terminológica, entende-se que, no caso sub


examine, a competência tributária seria da União Federal, enquanto que a
capacidade tributária ativa estaria delegada a uma instituição financeira
especializada.
Considerando que “o imposto sobre o capital seria uma forma de cadastro
financeiro mundial, algo que não existe hoje”,[35] a capacidade tributária
ativa seria delegada a instituições financeiras especializadas que
desempenhassem o papel de um depositário central, e que reunissem todos os
ativos (financeiro, imobiliários ou corporativos) detidos por uma mesma
pessoa, seja ela física ou jurídica.[36]
Tais instituições privadas figurariam, portanto, como sujeito ativo da
obrigação tributária. Ou seja, aquelas instituições financeiras teriam, à luz da
concepção pikettyana, aptidão para arrecadar e fiscalizar o tributo mundial.
2.1.3 Função
Quanto às funções que o legislador imprime na lei tributária, quase a
totalidade dos tributaristas classificam os tributos em três categorias, quais
sejam: a) fiscal, quando seu objetivo principal for carrear recursos financeiros
aos cofres públicos; b) extrafiscal, quando seu objetivo principal for intervir
numa situação econômica ou social; ou, c) parafiscal, quando seu objetivo
principal for arrecadar recursos financeiros para o custeio de atividades que, a
priori, não agregam funções próprias do Estado, mas este as desenvolve por
meio de entidades específicas.[37]
Não excede recordar que, para Thomas Piketty, um Imposto Mundial sobre o
Capital teria “o mérito de preservar a abertura econômica e a globalização ao
mesmo tempo que regula com eficiência e distribui os lucros de maneira justa
dentro de cada país e entre os países”.[38] À luz dessa concepção, essa nova
política tributária seria de grande importância para a redistribuição das
riquezas mundiais, não apenas em razão de pessoas, como também de
lugares.
Sua finalidade principal não consistiria em carrear recursos aos cofres
daquelas instituições financeiras especializadas, mas intervir numa situação
econômica ou social, em escala global. Teria, portanto, função nitidamente
extrafiscal porque seu principal objetivo seria a redistribuição de riqueza, em
âmbito mundial.
Com isso, este novo sistema de tributação cumpriria um duplo papel, qual
seja, “evitar uma espiral desigualadora sem fim e regular de forma eficaz a
inquietante dinâmica da concentração mundial da riqueza [...], além de
possibilitar um controle eficaz das crises financeiras e bancárias”.[39]
Mas, não se pode negar, também, a importância que esta figura impositiva
teria para o orçamento daquela entidade ou organização internacional, onde
figuraria como a principal fonte de receita tributária em nível global. Assim,
pode-se afirmar que o Imposto Mundial sobre o Capital, embora tivesse
função predominantemente extrafiscal, desempenharia também função fiscal
altamente relevante.
Na prática, estas novas receitas poderiam ser utilizadas, como sugere Thomas
Piketty, “para reduzir as arrendações existentes ou para financiar outras
necessidades” como, por exemplo, “ajudas internacionais ou a redução da
dívida”.[40]
Enfim, o Imposto Mundial sobre o Capital teria, dentre outros objetivos,
reduzir a desigualdade de renda, regulamentar o sistema financeiro e
bancário, estabelecer regras para avaliar ativos, passivos e riquezas líquidas, e
compartilhar dados financeiros e bancários.
2.1.4 Fato gerador
No contexto geral da obra O capital no século XXI, Thomas Piketty define o
capital como sendo “o conjunto de ativos não humanos que podem ser
adquiridos, vendidos e comprados em algum mercado”,[41] o que inclui,
portanto, todo tipo de riqueza pertencente a algum indivíduo e que possa ser
comercializada.
Registra-se, por oportuno, que deste conceito está excluído aquilo que os
economistas denominam de “capital humano”, que compreende, basicamente,
a força de trabalho, as qualificações, a formação, as capacidades individuais.
No conceito utilizado pelo economista francês, o capital abrange, de modo
mais específico, “o conjunto formado pelo capital imobiliário (imóveis,
casas), utilizado para moradia, e pelo capital financeiro e profissional
(edifícios e infraestrutura, equipamentos, máquinas, patentes etc.), usado
pelas empresas e pela administração pública”.[42]
Partindo deste conceito, entende-se que o fato gerador (isto é, o âmbito
material de incidência) do Imposto Mundial sobre o Capital seria um fato
econômico, uma demonstração global de riqueza do contribuinte, sobre o
qual incidiria uma alíquota.
Neste caso, o fato gerador seria a aquisição de capital individual, assim
entendido o valor líquido dos ativos financeiros (sobretudo, os depósitos e
contas bancárias, ações, títulos e participações de qualquer espécie dentro de
empresas cotadas em bolsas de valores ou não) e não financeiros
(especialmente, imobiliários ou corporativos), sem exceção, controlados por
cada pessoa.[43]
Exemplificando, se “determinada pessoa tem um apartamento no valor de
400.000 euros, uma carteira de ações valendo 200.000 euros e um
empréstimo de 100.000 euros [...] (no total, essa pessoa detém um patrimônio
líquido de 500.000 euros)”,[44] o que corresponderia ao valor líquido de seus
ativos financeiros e imobiliários.
Com efeito, este imposto teria a conveniência de não se basear apenas nos
ativos imobiliários, de tal sorte que o patrimônio financeiro não fosse
ignorado por completo, e os empréstimos pudessem ser deduzidos do valor
dos bens, de modo que uma pessoa com grandes dívidas não fosse taxada da
mesma maneira que um indivíduo que não tem dívida alguma.
Na concepção pikettyana, esta nova figura impositiva seria de incidência
anual, o que significa que o seu fato gerador seria da espécie dos fatos
continuados. E em virtude de ser o capital individual o resultado de um
conjunto de fatos que acontecem durante determinado período, seria razoável
afirmar, por conseguinte, que se trataria de fato gerador complexo.
Sendo assim, iniciado o período, estaria definido o regime jurídico do
Imposto Mundial sobre o Capital. Vale dizer, nenhuma lei poderia mais
modificar os critérios de determinação do valor desse imposto.
Além disso, o Imposto Mundial sobre o Capital seria uma espécie de tributo
não vinculado,[45] pois seu fato gerador não decorreria de nenhuma atividade
(supra)estatal específica, não havendo que se falar, portanto, em
contraprestação/referibilidade.
2.1.5 Base de cálculo
Analisando os impostos progressivos sobre o patrimônio global exigidos em
alguns países da Europa (por exemplo, França, Suíça, Espanha e, mais
recentemente, Alemanha e Suécia), Thomas Piketty aduz que:
Na prática, porém, tais impostos são muitas vezes tolhidos pelos
regimes derrogatórios: vários ativos são isentos, outros são avaliados
em bases cadastrais ou valores fiscais arbitrários e sem relação com os
valores de mercado. Assim, muitos países acabaram por eliminar esses
impostos.[46]
Ou seja, embora alguns países europeus tributem de forma progressiva o
patrimônio global, tais impostos estão repletos de isenções e os valores dos
ativos estão muito longe dos valores de mercado.
Além disso, no que diz respeito aos impostos sobre o patrimônio imobiliário,
cobrados em quase todos os países do mundo, o economista francês esclarece
que:
Esses impostos têm o inconveniente de se basearem unicamente nos
ativos imobiliários (o patrimônio financeiro é totalmente ignorado, e os
empréstimos não podem ser deduzidos do valor dos bens, de modo que
uma pessoa com grandes dívidas é taxada da mesma maneira que um
indivíduo sem dívida alguma) e, na maioria das vezes, numa taxa
proporcional ou quase.[47]
Vale dizer, tais impostos têm a desvantagem de se basearem apenas na
riqueza bruta, de tal sorte que uma pessoa profundamente endividada é
tributada da mesma forma que uma pessoa sem dívida alguma.
Por estas e outras razões, a base de cálculo do imposto sobre o capital,
idealizado por Thomas Piketty, deveria ser “o valor líquido dos ativos
controlados por cada pessoa”.[48] A forma de determinação da base de cálculo
deveria variar, também, de acordo com o tipo de contribuinte (pessoa física, e
pessoa jurídica) e a expressão econômica do patrimônio (patrimônios
modestos e médios, e grandes fortunas).
Quanto ao tipo de contribuinte, seria “recomendável instituir um imposto
com taxa baixa sobre o patrimônio líquido das empresas (os fundos próprios),
juntamente a um imposto com taxa mais elevada sobre o patrimônio líquido
dos indivíduos”.[49]
No que diz respeito à expressão econômica do patrimônio, em se tratando das
pessoas mais ricas do planeta, a base de cálculo desse imposto seria as
“fortunas individuais estimadas por revistas como a Forbes”.[50] Para todo o
restante dos indivíduos, a base de cálculo seria o “valor de mercado de todos
os ativos”[51] (imobiliários, financeiros ou corporativos), com dedução dos
valores das dívidas.
Em síntese, a base de cálculo seria a “riqueza líquida”, isto é, o valor de
mercado dos ativos financeiros e não financeiros (v.g., depósitos bancários,
ações, títulos, sociedades e/ou parcerias empresariais, participações em
empresas registradas e não cotadas em bolsas de valores, patentes, imóveis,
etc.), líquidos de dívidas.
2.1.6 Alíquotas
Também existiriam diversas alíquotas para o Imposto Mundial sobre o
Capital, e para a determinação da alíquota aplicável dever-se-ia considerar
que esse imposto tem diversos regimes jurídicos: um para as pessoas mais
ricas do planeta; e outro para os demais indivíduos.
Em ambos os casos, a alíquota do Imposto Mundial sobre o Capital seria
progressiva, isto é, aumentaria na medida em que se aumentaria a base de
cálculo. Nas palavras de Thomas Piketty: “trata-se de tributar mais os
patrimônios maiores e de levar em consideração o total dos ativos, quer sejam
imobiliários, financeiros ou corporativos, sem exceção”.[52] Ou seja, quanto
maior a base de cálculo, maior seria a alíquota desse imposto.
Sobre tal aspecto, merece ser trazido à baila o raciocínio utilizado pelo
economista francês:
Em relação ao cálculo a ser aplicado para essa base de tributação,
podemos, por exemplo, imaginar uma taxa igual a 0% para menos de 1
milhão de euros de patrimônio, 1% entre 1 e 5 milhões e 2% para além
de 5 milhões. Contudo, também podemos preferir um imposto sobre o
capital com uma progressão muito mais abrupta sobre as maiores
fortunas (por exemplo, com uma taxa de 5% ou 10% para patrimônios
acima de 1 bilhão de euros). Podemos ainda encontrar vantagens em se
ter uma taxa mínima sobre os patrimônios modestos e médios (por
exemplo, 0,1% para menos de 200.000 euros e 0,5% entre 200.000 e 1
milhão de euros).[53]
O exemplo utilizado pelo autor sobre o critério quantitativo da regra matriz
de incidência tributária do Imposto Mundial sobre o Capital pode ser
unificada, tomando como base os dois regimes jurídicos aplicáveis à espécie,
conforme tabelas abaixo.
Tabela 1 – Progressividade do Imposto Mundial sobre o Capital para
patrimônios modestos e médios.
Base de cálculo Alíquota
1ª Menos de 1 milhão de euros de
0%
Opção patrimônio
Menos de 200.000 euros de patrimônio
2ª 0,1%
Entre 200.000 e 1 milhão de euros de
Opção 0,5%
patrimônio

Fonte: Elaborada pelo autor com base em Piketty, 2014.

Tabela 2 – Progressividade do Imposto Mundial sobre o Capital para grandes


fortunas.
Base de cálculo Alíquota
Entre 1 e 5 milhões de euros de patrimônio 1%
Entre 5 milhões e 1 bilhão de euros de patrimônio 2%
Mais de 1 bilhão de euros de patrimônio 5% ou 10%
Fonte: Elaborada pelo autor com base em Piketty, 2014.

Como se pode notar, o Imposto Mundial sobre o Capital seria uma espécie de
tributo pessoal, já que levaria em conta as características individuais do
contribuinte, a exemplo de suas alíquotas progressivas.
2.1.7 Sujeito passivo
O sujeito passivo da obrigação tributária relacionada ao Imposto Mundial
sobre o Capital pode ser tanto uma pessoa física, quanto uma pessoa jurídica,
obrigada ao seu cumprimento.[54] Pessoa física é a pessoa natural, o
indivíduo; ao passo que, pessoa jurídica é aquela criada pelo Direito. Ambas
detentoras de direitos e obrigações, mas sendo esta distinta daquela ou
daquelas pessoas naturais que a compõe.
Vê-se, na imagem abaixo, a relação jurídica tributária, pertinente ao Imposto
Mundial sobre o Capital, representada na sua integralidade – abrangendo o
complexo formado pelo direito subjetivo do sujeito ativo (instituições
financeiras), pelo dever jurídico do sujeito passivo (pessoas física ou
jurídica), e pelo objeto da prestação pecuniária (tributo mundial).
Imagem 1 – Relação jurídica tributária do Imposto Mundial sobre o Capital

Fonte: Elaborada pelo autor.


2.1.8 Lançamento
O lançamento do imposto sobre o capital seria feito “segundo a lógica da
declaração pré-preenchida pelo governo”.[55] A ratificar o exposto, o autor
argumenta que tal sistema já está vigorando em vários países e sendo
aplicável ao imposto sobre a renda como, “por exemplo, na França, onde
cada contribuinte obtém um documento indicando os salários declarados por
seus empregadores e as rendas financeiras declaradas pelos bancos”.[56]
Com base neste sistema, cada contribuinte receberia uma declaração, na qual
estariam inclusos todos os seus ativos e passivos conhecidos pela
administração fiscal. Este sistema seria semelhante àquele aplicado em vários
estados norte-americanos na constituição do crédito tributário referente ao
property tax, no qual o contribuinte recebe, anualmente, uma reavaliação do
valor de mercado de suas propriedades imobiliárias, calculado pelo governo
com base nos preços observados nas transações de bens similares, sendo que
o contribuinte pode contestar a avaliação feita pelo governo e sugerir outro
valor, desde que o justifique.[57]
Sob esse ponto de vista, o lançamento por declaração pré-preenchida teria
uma dupla vantagem: “ela simplifica a vida do contribuinte e evita a grande
tentação de reduzir um pouco o valor de seus bens”,[58] além de ser um
sistema “mais apropriado ao século XXI do que a solução arcaica de contar
com a memória e a boa-fé de todos ao preencher a declaração”,[59] devendo,
por isto, ser aplicado automaticamente a toda população mundial.
2.2 Transparência financeira e cooperação internacional
2.2.1 O objetivo de transparência democrática e financeira
Para Thomas Piketty, a instituição de um Imposto Mundial sobre o Capital
deveria vir acompanhada por uma grande transparência democrática e
financeira no que diz respeito aos patrimônios e aos ativos detidos pelos
indivíduos, em escala global.[60]
A ideia seria “estabelecer um cálculo de tributação para ser aplicada a todas
as fortunas do mundo e depois redistribuir harmoniosamente essas receitas
entre os países”.[61] Ou seja, cada tipo de capital seria tributado da mesma
maneira e depois redistribuída equitativamente essas receitas entre os países
que adotassem esse sistema fiscal ideal.
No entendimento de Thomas Piketty, essa regulação ideal teria o mérito de
preservar a abertura econômica e a globalização, permitindo, ao mesmo
tempo, regular com eficiência e distribuir os lucros de maneira justa dentro de
cada país e entre os países que adotassem esse sistema.[62]
Para o economista francês, seria “perfeitamente possível perseguir essa
instituição ideal em etapas, a começar por colocá-la em prática em escala
continental ou regional e organizar a cooperação entre os instrumentos
regionais”.[63]
Vale destacar que, de acordo com esta concepção, o Imposto Mundial sobre o
Capital não teria nenhuma vocação para substituir todos os recursos fiscais
existentes. Ou seja, seria um imposto a mais para os países que aderissem a
essa nova política fiscal. Em termos de receitas, explica Thomas Piketty,
“trata-se apenas de um complemento relativamente modesto na escala do
Estado social moderno: alguns pontos da renda nacional”.[64]
Em primeiro lugar, este objetivo de transparência financeira “permitiria gerar
conhecimento e informação sobre os patrimônios e as fortunas”,[65] fundando,
assim, as bases para a instituição de um imposto anual e progressivo sobre o
capital.
Tal transparência “possibilitaria também pavimentar o caminho para uma
regulação mais justa e eficaz das crises bancária (tais como a crise cipriota),
por meio, se necessário, de arrecadações excepcionais progressivas e bem
calibradas”.[66]
E, por fim, a instituição de um Imposto Mundial sobre o Capital obrigaria “a
especificar e ampliar o conteúdo dos acordos internacionais sobre as
transmissões automáticas de informações bancária”,[67] de forma a incluir, nas
declarações pré-preenchidas, os ativos detidos em instituições bancárias
situadas no exterior.
Aliás, isso já ocorre entre os bancos e as administrações fiscais de vários
países (por exemplo, Estados Unidos, França e Alemanha). Mas, de acordo
com a concepção pikettyana, esse sistema deve abranger, também, os bancos
localizados nas ilhas Cayman ou na Suíça.
Refletindo sobre os desafios a serem enfrentados, nos dias de hoje, para se
efetivar a transmissão automática de informações bancárias em âmbito
mundial, Thomas Piketty enfatiza que:
Entre outras desculpas que costumam ser evocadas pelos paraísos
fiscais para preservar o sigilo bancário e não transmitir essas
informações automaticamente, há muitas vezes a ideia de que os
governos poderiam fazer mau uso delas. O argumento é pouco
convincente: por que o mesmo também não se aplicaria às informações
bancárias daqueles que são incautos o suficiente para deixar o dinheiro
no próprio país? O motivo mais plausível para os paraísos fiscais
defenderem o sigilo bancário é que assim seus clientes evitam encarar
suas obrigações fiscais, passando a esses paraísos fiscais uma parte dos
ganhos obtidos dessa maneira. O problema, é claro, é que isso não tem
estritamente nada a ver com os princípios de economia de mercado. O
direito de estabelecer sua própria taxa de tributação não existe. Não se
pode enriquecer por meio do livre comércio e da integração econômica
com os vizinhos e depois desviar impunemente sua base fiscal. Isso
parece roubo, pura e simplesmente.[68]
Em outras palavras, devido às lacunas existentes em diversas legislações
tributárias, os indivíduos mais ricos e as grandes corporações acabam
estabelecendo, grosso modo, sua própria tributação, de tal modo que a
quantidade de riqueza escondida nos paraísos fiscais seja algo surpreendente.
Mas, por outro lado, os paraísos fiscais defendem o sigilo bancário porque,
com isso, seus clientes evitam os encargos fiscais, repassando para eles uma
parcela dos ganhos obtidos dessa forma, e não porque a privacidade seja
valorizada por si mesma. O livre-comércio e o Estado de bem-estar social
são, sob essa óptica, inconsistentes com os paraísos fiscais.
Por isto, o primeiro passo para a regulamentação dos mercados bancário e
financeiro seria, de acordo com a concepção pikettyana, a transmissão
automática de dados bancários em todos os países. Com efeito, o livre
comércio de bens, serviços e capital requer, sob esse ponto de vista, um
intercâmbio de informações bancárias.
2.2.2 A necessidade de cooperação internacional
Além do objetivo de transparência financeira e democrática, Thomas Piketty
defende a necessidade de cooperação internacional na implementação deste
novo instrumento fiscal adequado ao século XXI.
Para o economista francês, a tentativa mais avançada na implementação dessa
política de cooperação internacional seja, talvez, a lei americana conhecida
como “Fatca” (Foreign account tax compliance act) que, desde 2015, exige
que todos os bancos estrangeiros informem ao Departamento do Tesouro dos
Estados Unidos sobre contas bancárias e investimentos realizados no exterior
por contribuintes norte-americanos. Mas, como destaca Thomas Piketty, esta
lei continua a ser insuficiente, por duas razões:
Para começar, sua redação não é precisa e sistemática o bastante, de
modo que há motivos para acreditarmos que alguns ativos financeiros,
sobretudo aqueles detidos por meio de trust funds e fundações,
consigam escapar legalmente à transmissão automática de informações.
Além disso, as sanções previstas — a saber, uma taxa adicional de 30%
sobre as rendas que os bancos recalcitrantes obtêm com suas atividades
nos Estados Unidos — são insuficientes.[69]
Logo, para se evitar a propagação de pequenos estabelecimentos bancários
especializados na gestão de carteiras estrangeiras sem, todavia, realizar
nenhum investimento nos Estados Unidos, o economista francês entende que
a única maneira de se obter resultados tangíveis seria a imposição de sanções
automáticas não apenas aos bancos, mas também aos países que se
recusassem a impor a transmissão automática de informações a todos os
estabelecimentos financeiros que funcionassem dentro de seus respectivos
territórios.[70]
Este mesmo raciocínio se aplicaria quando da instituição de um Imposto
Mundial sobre o Capital, que exigiria, por sua vez, uma cooperação
internacional para que se pudesse alcançar aquele objetivo de transparência
financeira e democrática.
Logo, a lei que o instituísse deveria ter uma redação precisa e sistemática o
bastante para garantir que nenhum ativo escaparia àquela transmissão
automática de informações, além de prevê sanções suficientes contra os seus
infratores.
Como se pode ver, qualquer espécie de tributo mundial seria, por sua própria
natureza, objeto de tratados internacionais, celebrados entre dois ou mais
Estados e/ou organizações internacionais, por meio de seus respectivos
órgãos competentes.
No Brasil, todavia, os tratados internacionais não são dotados de efeito direto
nem de aplicabilidade imediata, necessitando, assim, da manifestação e
atuação conjunta dos órgãos dos Poderes Legislativo e Executivo para
produzirem efeitos no âmbito interno.[71]
Assim, para que haja a incorporação de tratado internacionais ao
ordenamento jurídico brasileiro, deve-se obedecer, basicamente, quatro fases
solenes, sendo elas: (1) Negociações preliminares e assinatura do respectivo
documento pelo Presidente da República ou por outra pessoa detentora de
plenos poderes; (2) Manifestação do Congresso Nacional por meio de decreto
legislativo; (3) Ratificação do tratado internacional pelo Presidente da
República, ato mediante o qual o Brasil assume um compromisso perante a
comunidade internacional; e, (4) Promulgação por decreto do Presidente da
República e publicação oficial do texto desse tratado.
Somente depois de obedecidos todos estes trâmites legais é que este ato
internacional passaria a ser executável no Brasil. Mas, ainda assim, não
estaria criado o Imposto Mundial sobre o Capital. Isto porque, sendo o tributo
uma norma jurídica, sua criação está condicionada à tarefa legislativa. Neste
caso, a introdução desta nova espécie tributária no ordenamento jurídico
brasileiro estaria condicionada à edição de lei complementar, por se tratar de
imposto de competência residual.
Com isso, a União Federal teria a competência tributária para instituir o
imposto mundial; enquanto uma “instituição financeira especializada” teria a
capacidade tributária ativa para arrecadar e fiscalizar este tributo, cujo
produto da arrecadação seria, posteriormente, (re)distribuído de forma
equitativa entre os diversos países signatários do mesmo tratado.
2.3 Considerações especiais
2.3.1 A lógica da contribuição
São dois os principais argumentos apresentados por Thomas Piketty que
justificam a instituição de um imposto anual e progressivo sobre o capital:
um, fundado na lógica da contribuição; e, outro, baseado na lógica do
incentivo.
Quanto à lógica da contribuição, Thomas Piketty explica que esta “baseia-se
no fato de a renda ser, na prática, um conceito frequentemente mal definido
[e mensurado] pelos detentores de patrimônios muito elevados”,[72] de tal
sorte que “apenas uma tributação direta sobre o capital permitiria captar da
forma correta a capacidade contributiva dos titulares de fortunas
importantes”.[73] Assim, a maneira mais adequada de taxar bilionários, com
base nessa concepção, seria por meio de um Imposto Mundial sobre o
Capital.
Exemplificando, imagine uma pessoa física que disponha de uma fortuna de
10 bilhões de euros e tenha um acréscimo patrimonial de 5% ao ano, ou seja,
500 milhões de euros. Se essa pessoa fosse residente ou domiciliada no
Brasil, ela seria tributada pelo imposto de renda, na forma da legislação
brasileira vigente, isto é, em 27,5%, devendo pagar ao Fisco o valor de 137,5
milhões de euros.
Mas, se esta mesma pessoa fosse tributada segundo a lógica da contribuição,
tal como apresentada por Thomas Piketty, ela pagaria 5% ou 10% (conforme
tabela progressiva do Imposto Mundial sobre o Capital para grandes fortunas)
sobre seu patrimônio global, o que corresponderia a um valor entre 500
milhões e 1 bilhão de euros. Ou seja, em vez de se tributar a renda, tributar-
se-ia o capital e, com isso, privilegiaria melhor o princípio da capacidade
contributiva, em nível internacional.
2.3.2 A lógica do incentivo
No que diz respeito à lógica do incentivo, Thomas Piketty explica que esta
baseia-se “no fato de que um imposto sobre o capital pode incentivar os
detentores de patrimônios a obter os melhores rendimentos possíveis”,[74] de
tal sorte que, aqueles que utilizam mal suas fortunas, seriam obrigados a se
desfazerem delas para pagar seus impostos. Existiriam, de acordo com esta
concepção, fortes razões meritocráticas pelas quais dever-se-ia instituir essa
espécie de tributo mundial.
Exemplificando, imagine um tributo mundial com alíquota de 1% ou 2%
sobre o patrimônio global. Para um empreendedor mais talentoso e esforçado,
que conseguisse obter um retorno de 10% ao ano sobre seu patrimônio, talvez
não fosse tão pesado arcar com os encargos tributários. Mas, por outro lado,
para aquele empreendedor mais inexperiente ou menos esforçado, que
conseguisse obter um retorno de apenas 2% ou 3% ao ano sobre seu
patrimônio – ou, na pior das hipóteses, que não obtivesse rendimento anual
algum – aquela mesma tributação atingiria, com maior intensidade, o seu
patrimônio.
Por isso, o economista francês deixa claro que: “Na lógica do incentivo, o
objetivo do imposto sobre o capital é precisamente obrigar aquele que utiliza
mal seu patrimônio a, aos poucos, se desfazer dele a fim de pagar os impostos
e, assim, ceder seus ativos a detentores mais dinâmicos”.[75]
Seguindo essa lógica, aquele empreendedor que, no exemplo acima, não
conseguisse obter rendimento anual algum, veria seu patrimônio diluído, aos
poucos, pelo efeito corrosivo da carga tributária; ou, senão, ver-se-ia
“incentivado” a desenvolver melhor suas habilidades empresariais, a fim de
obter os melhores rendimentos possíveis.
Em síntese, um imposto progressivo sobre a riqueza líquida desencoraja
investimentos ineficientes, e incentiva a tomada de riscos. Com isso, o
sistema fiscal ideal equilibra o incentivo para assumir riscos e o incentivo
para suavizar a receita. O primeiro, o coração do investimento; o segundo, a
alma do consumo.
Diante destas primeiras premissas, buscar-se-á, no próximo capítulo, extrair
diretamente do conteúdo do texto constitucional as balizas às quais uma
eventual lei que instituísse um tributo desta natureza, no Brasil, estaria
submetida.
CAPÍTULO 3

OS LIMITES CONSTITUCIONAIS À
TRIBUTAÇÃO SUPRANACIONAL
Considerações iniciais
O poder tributário do Estado tem por alicerce jurídico, essencialmente, a
Constituição, em cujo conteúdo encontra-se fixada a titularidade desse poder
e o quadro de princípios em que o mesmo deve ser exercido. Daí porque
pode-se falar num “arquétipo constitucional do tributo”.
Antes de adentrar neste assunto, convém ponderar que “a Jurisprudência,
apesar de possuir categorias lógicas universais e uma linguagem que
acomuna os juristas de todo o mundo, não pode, nem deve prescindir das
características e das circunstâncias de cada povo”, isto porque “o Direito é
experiência social concreta, processo vital que obedece a motivos peculiares
a cada Nação, e não fruto arbitrário das construções legislativas”.[76]
Sensíveis à esta preciosa lição de Miguel Reale, neste último capítulo,
procederemos à análise dos limites constitucionais à tributação supranacional,
de sorte que uma eventual introdução do Imposto Mundial sobre o Capital no
sistema de direito positivo interno não seja turvada pela mera incorporação de
princípios de economia política formulados em razão de valores que nem
sempre mereceram prestígio entre nós, ou para a profilaxia de males que
jamais nos afligiram.
Assim sendo, os institutos próprios do Direito Tributário devem ser
analisados sob a óptica do Direito Constitucional, uma vez que a Constituição
da República confere todo o fundamento de validade do sistema jurídico
tributário como um dos aspectos relevantes na construção do federalismo
brasileiro.
Com efeito, o exercício do poder (supra)nacional de tributação está sujeito à
observância das limitações jurídicas emanadas do próprio texto
constitucional. Isso significa que nenhum valor jurídico terão os tratados e
convenções internacionais sobre tributação, que, ao serem incorporados na
ordem jurídica interna, transgredirem, formal ou materialmente, a autoridade
normativa da própria Constituição da República.
3.1 A SOBERANIA FISCAL
À luz do conceito de Estado apresentado por Dalmo de Abreu Dallari como
sendo a “ordem jurídica soberana que tem por fim o bem comum de um povo
situado em determinado território”,[77] pode-se dizer, juntamente com Ives
Gandra da Silva Martins, que “são os fatos econômicos aqueles que mais dão
ou não estabilidade a um governo e as instituições jurídicas, como a história
tem demonstrado, cabendo ao Direito regular, como subordinar tal
fenomenologia”.[78]
Este mesmo raciocínio também se aplica ao campo dos Direitos Tributário e
Financeiro, que devem sujeitar os fenômenos de ordem econômica ao
Império da Lei para que não haja uma desestabilização do governo e das
próprias instituições jurídicas. Pode-se dizer, então, que, num Estado de
Direito, os elementos indispensáveis à política econômica devem adequar-se
a formas jurídicas, institucionalizando-se, tanto para a garantia dos indivíduos
como para a garantia do próprio Estado.
Com base nos quatro elementos (povo, território, soberania e finalidade) que
se encontram presentes no conceito de Estado acima apresentado, pode-se
dizer que a soberania fiscal consiste num dos aspectos – por sinal, dos mais
relevantes e visíveis – da soberania do Estado em geral. Assim, o
entendimento daquela requer, naturalmente, que se trace o quadro da
compreensão desta.
Enquanto a soberania fiscal indica a autoridade suprema de cobrar tributos; a
soberania estatal, por sua vez, pode ser compreendida como a capacidade de
que dispõe o Estado de impor seu ordenamento jurídico dentro do seu
território, além de não se submeter a qualquer outro ente ou organismo, no
âmbito externo. Sobre tal aspecto, imperioso se faz trazer à baila a
ponderação de José Francisco Rezek, no sentido de que:
O fato de encontrar-se sobre certo território bem delimitado uma
população estável e sujeita à autoridade de um governo não basta para
identificar o Estado enquanto pessoa jurídica de direito das gentes:
afinal, esses três elementos se encontram reunidos em circunscrições
administrativas várias, em províncias federadas como a Califórnia e o
Paraná, até mesmo em municípios como Diamantina e Buenos Aires.
Identificamos o Estado quando seu governo — ao contrário do que
sucede com o de tais circunscrições — não se subordina a qualquer
autoridade que lhe seja superior, não reconhece, em última análise,
nenhum poder maior de que dependam a definição e o exercício de suas
competências, e só se põe de acordo com seus homólogos na
construção da ordem internacional, e na fidelidade aos parâmetros
dessa ordem, a partir da premissa de que aí vai um esforço horizontal e
igualitário de coordenação no interesse coletivo. Atributo fundamental
do Estado, a soberania o faz titular de competências que, precisamente
porque existe uma ordem jurídica internacional, não são ilimitadas;
mas nenhuma outra entidade as possui superiores.[79]
Dessa forma, para que se possa caracterizar o Estado como personalidade
originário de direito internacional público, necessário se faz que o mesmo,
além de ostentar seus elementos constitutivos, não se submeta a qualquer
autoridade que lhe seja superior, o que implica reconhecer, em última análise,
a supremacia de seu próprio poder soberano.
Vale dizer, ainda, que do mesmo modo que o Estado tem, como elementos
constitutivos materiais, o povo (elemento humano) e o território (base física),
assim também o poder soberano se desdobra em soberania pessoal
(Personalhoheit) e soberania territorial (Gebietshoheit). Enquanto a primeira
indica o poder de império do Estado sobre as pessoas que, pela
nacionalidade, vinculam-se a ele, onde quer que elas estejam, ainda que no
exterior ou em espaços retirados da jurisdição estatal; a segunda, por sua vez,
indica a competência legislativa exercida com exclusividade pelo Estado
sobre às pessoas, coisas ou fatos que se localizam em seu território.
Por causa destas duas faces da soberania, é que “o Direito Internacional
Público reconhece automaticamente aos Estados o poder de tributar até aos
limites onde ela se estende, mas recusa-lhes tal poder na medida em que esses
limites forem ultrapassados”.[80] Por isto, seria totalmente inconcebível
qualquer espécie de tributação cosmopolita, dentre as quais se encontra a
proposta pikettyana da tributação mundial sobre o capital.
Apesar do atual fenômeno de mitigação da soberania estatal, o exercício do
poder de tributar, como expressão latente desta soberania, ainda se encontra
adstrito aos limites territoriais de seus respectivos Estados nacionais. Isto
porque, embora se encontre relativizada, não significa que tenha cessado a
sua existência. Pelo contrário, o limite de liberdade legislativa dos Estados,
em matéria tributária, vai até onde for a sua soberania e, inversamente, perde
o seu título onde ela cessar.
Logo, seria inconcebível a existência de um poder supranacional de
tributação sem que, com isto, não houvesse a violabilidade dos territórios
nacionais, ante a transferência da soberania para uma Comunidade
Supranacional, com base num tratado ou convenção internacional.
Com efeito, o desaparecimento de qualquer um dos elementos constitutivos
do Estado (mais especificamente, o território determinado e o governo
soberano), ocasionaria, inevitavelmente, um esvaziamento do próprio ente
estatal.
Deste modo, a instituição de um tributo mundial contraria a própria noção de
soberania estatal, conforme se depreende do alcance do artigo 1º, inciso I, da
Carta Magna brasileira[81] e, consequentemente, a forma federativa de Estado,
prevista como cláusula pétrea no artigo 60, § 4º, incido I, da Lei Maior.[82]
É de se dizer, portanto, que, no contexto brasileiro, os dois termos (soberania
e Estado federal) se interpenetram estreitamente, sendo um indispensável à
correta compreensão do outro. Assim, o Estado federal, enquanto pessoa
jurídica de direito público internacional, revela-se como o único titular da
soberania, entendida como poder supremo fundado na capacidade de
autodeterminação.
A própria natureza jurídica do poder de tributar não dá margem a dúvida de
que o Estado consiste numa instituição política soberana, estando aquele
poder baseado na sua autogênese, vale dizer, gerado exclusivamente a partir
de si próprio, à margem de qualquer ordem jurídica interna ou externa. Não
há como, portanto, dissociar a tributação da soberania estatal.
Se, por um lado, os Estados nacionais podem ter sua soberania mitigada, por
meio da cláusula de supranacionalidade; por outro, não se pode esquecer que
o Estado brasileiro repousa sobre cinco pilares, sendo a soberania um deles –
e, enquanto tal, imprescindível à própria subsistência da República Federativa
do Brasil. E, se a soberania é um dos fundamentos do Estado, qualquer
ameaça de sua extinção, colocaria em xeque o próprio conceito de Estado
soberano.
Refletindo sobre a relação necessária entre soberania e tributação, Antônio
Roberto Sampaio Dória, enfatiza que:
O poder fiscal é atributo inerente e essencial à soberania.
Indispensavelmente vinculado à organização política das nações, dele
prescindem apenas ideologias políticas ainda utópicas, como o
anarquismo e o derradeiro estágio do marxismo, e não menos
sonhadoras teorias financeiras, como a da inflação dirigida.[83]
Em virtude dessas considerações, compreende-se que o poder tributário só
existe no Estado e não pode ser concebido fora dele. Por sua própria natureza,
a tributação é inseparável da soberania estatal, dela abstraindo-se apenas
ideologias políticas utópicas, como o marxismo, e não menos fantasiosa
“teoria da tributação mundial sobre o capital”, de Thomas Piketty.
Logo, para se instituir um tributo mundial, seria necessário que houvesse a
transferência da soberania dos Estados-membros para a Comunidade
Supranacional, processo este complexo e irreversível, que colocaria num
point of no return a soberania daqueles Estados.
Mas, como bem destacou José Casalta Nabais, o poder tributário, enquanto
revelação da soberania estatal, possui as mesmas características desta, sendo
um de seus elementos características a própria noção de indisponibilidade:
O que significa, por um lado, que não pode ser transferida ou alienada a
sua titularidade, ou seja, a título definitivo (falando-se, a tal propósito,
de caráter intransmissível, inalienável ou inderrogável), nem delegado
o seu exercício, ou seja, a título temporário (daí o seu caráter
indelegável). Por outro lado, a indisponibilidade do poder tributário
implica a sua irrenunciabilidade, não podendo pois o seu titular
abandonar a sua titularidade ou o seu exercício.[84]
Assim sendo, a instituição de qualquer espécie de tributo mundial – além de
abalar a estrutura da soberania, de grande importância para a sobrevivência
do próprio Estado como tal – desvirtuaria o arquétipo democrático-
constitucional indispensável não só para o exercício da atividade tributária,
mas também para o ideal desenvolvimento de todas as atividades ligadas à
vida social, econômica ou política do país.
3.2 A territorialidade dos tributos
Como visto atrás, o poder de tributar (jurisdiction to tax) baseia-se na
soberania do Estado e, tal como esta, encontra-se adstrito aos limites de seu
território privativo. Isto significa dizer que o Estado, enquanto ente soberano,
exerce, sobre seu próprio território, jurisdição geral e exclusiva.
Enquanto a generalidade da jurisdição “significa que o Estado exerce no seu
domínio territorial todas as competências de ordem legislativa, administrativa
e jurisdicional”, a exclusividade, por outro lado, “significa que, no exercício
de tais competências, o Estado local não enfrenta a concorrência de qualquer
outra soberania. Só ele pode, assim, tomar medidas restritivas contra pessoas,
detentor que é do monopólio do uso legítimo da força pública”.[85] Daí porque
não se pode invocar, por exemplo, o chamado princípio da justiça fiscal para
legitimar uma tributação de natureza cosmopolita.
Assim, o princípio da territorialidade dos tributos, como postulado
tradicional do direito dos povos, se explica, no dizer de Antônio Roberto
Sampaio Dória, “em termos de mera ausência de poderes do Estado para
além de suas fronteiras geográficas”,[86] sendo tal postulado “a natural
limitação que primeiro acode ao espírito, quando se cogita de circunscrever a
soberania fiscal das nações em suas eventuais incursões extraterritoriais”.[87]
Embora a globalização da economia tenha também seus reflexos no que se
refere à territorialidade dos tributos, sendo esta até mesmo criticada como
impedimento ao dinamismo da evolução dos mercados, não se pode negar
que este princípio ainda se reveste de verdadeira limitação ao poder de
tributar.
Neste sentido, oportuna a lição de José Casalta Nabais, ao enfatizar que “um
estado, cuja constituição não pode deixar de respeitar o direito internacional
geral ou comum, em que se integra o princípio da igualdade soberana dos
estados, todo o seu poder tem carácter territorial, ou seja, tem por âmbito de
aplicação apenas o seu território”.[88] Este mesmo raciocínio também se aplica
em relação ao poder tributário do Estado, que se encontra limitado ao seu raio
de ação territorial.
Por isto, não se pode negar que, se por um lado, a territorialidade consiste
num limite jurídico ao poder tributário do Estado; por outro, a
extraterritorialidade representa um defloramento de sua soberania.
Daí porque a tributação, ato privativo da soberania, é, como ela,
essencialmente territorial, o que significa dizer que o poder de tributar cessa
seu âmbito de incidência nos exatos limites fronteiriços da autoridade
imperante.
Em consequência disso, a instituição de um modelo de organização política
supranacional, com a criação de um organismo ou de um poder posto acima
do governo de cada Estado nacional, acarretaria o desaparecimento de suas
fronteiras territoriais e, consequentemente, a fragmentação de sua própria
soberania.
3.3 A legalidade tributária
Uma das pedras angulares do Estado moderno é a legalidade, também
conhecida como reserva de lei, considerada pelos publicitas como norma
fundamental do Direito Público. Este princípio está no bojo de diversas
Constituições modernas e se relaciona com a ideia de democracia.
No Brasil, o princípio da legalidade se manifesta de duas formas: a) genérica,
válida para toda a plenitude do ordenamento jurídico; b) estrita, dirigida
especialmente, e com maior severidade, ao setor dos fenômenos jurídicos-
tributários.
Quanto ao princípio da legalidade genérica, ninguém será obrigado a fazer
ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei, nos termos do artigo
5º, inciso II, da Constituição da República.[89] Resta claro, da leitura deste
dispositivo constitucional, que só o Poder Legislativo pode emanar normas
genéricas e abstratas contendo preceitos vinculantes, para que se possa,
assim, garantir a segurança do cidadão e de eventuais terceiros submetidos à
ordem estatal.
Não se pode olvidar que neste princípio constitucional já se encontra
albergado, em sua completude, o próprio conceito de liberdade, que
“consiste, dum modo geral, no fato da atividade dos indivíduos não poder
encontrar outro óbice além do contido na lei”,[90] por estar nesta contida a
própria vontade do povo. Disto resulta que, “a Administração Pública deve
apenas cumprir a vontade do povo, contida na lei”, e ao cumpri-la, “submete-
se ao senhor absoluto da coisa pública”.[91]
Em outras palavras, o princípio da legalidade pode ser visto sob dois
ângulos: o do indivíduo, que tem o direito de fazer tudo quanto a lei não lhe
proíba (cuique facere licet nisi quid jure prohebetur); e o da Administração,
que só pode fazer aquilo que a lei, expressamente, lhe prescreve (princípio da
conformidade com as normas legais).
Por outro lado, no que diz respeito ao princípio da estrita legalidade
(também denominado princípio da tipicidade fechada ou princípio da
tipicidade regrada), nenhum tributo será criado ou majorado, senão em
virtude de lei, conforme previsto no artigo 150, inciso I, da Carta
Constitucional,[92] combinado com o disposto no artigo 97, incisos I e II, do
Código Tributário Nacional.[93]
A legalidade tributária, por ser mais específica e restrita à matéria tributária,
extrapola o próprio conteúdo normativo da legalidade genérica, tanto que
costuma ser expresso no aforismo nullum tributum sine lege.
Traçando uma breve relação histórica entre Tributo e Estado de Direito,
Antônio Roberto Sampaio Dória, lavrou com pena de ouro o seguinte asserto:
Fenômeno inseparável da história dos povos desde imemorial
antiguidade, é igualmente o tributo, por largos séculos, o instrumento
de que mais arbitrária e abusivamente se lança mão o poder político.
Fonte de intranqüilidades, opressões e revoltas, as exações fiscais
civilizam-se apenas quando emerge da decadência das monarquias
européias o Estado de Direito (Rechtsstaat). Regime político em que,
no aparente paradoxo de López de Oñate: “o legislador se vale do
arbítrio para eliminar o arbítrio”, reservas especiais se impuseram ao
exercício do poder tributário, exatamente por ser “the strongest, the
most pervading of all the powers of government”.[94]
O princípio da legalidade tributária foi consignado pela primeira vez na
Magna Carta inglesa de 1215, rezando na língua original: “Nullum scutagium
vel auxilium ponatur in regno nostro, nisi per commune consilium regni”.[95]
E, ainda hoje, trata-se de um postulado cardial dos sistemas fiscais modernos
e das teorias constitucionais contemporâneas, sendo ambos frutos da
substituição do arbítrio real pelo Estado de Direito, onde o poder encontra-se
balizado pela lei.
As raízes da legalidade dos tributos estão fixadas, por conseguinte, na própria
origem histórico-política dos regimes democráticos, e deles tiram sua melhor
nutrição. Neste sentido, oportuna a lição de Aliomar Baleeiro, ao enfatizar
que, a legalidade tributária:
[...] prende-se à própria razão de ser dos Parlamentos, desde a penosa e
longa luta das Câmaras inglesas para a efetividade da aspiração contida
na fórmula “no taxation without representation”, enfim, o direito de os
contribuintes consentirem – e só eles – pelo voto de seus representantes
eleitos, na decretação ou majoração de tributos. As Constituições,
desde a Independência Americana e a Revolução Francesa, o trazem
expresso, firmando a regra secular de que o tributo só se pode decretar
em lei, como ato da competência privativa dos Parlamentos.[96]
O texto constitucional brasileiro também consagra de modo explícito estes
propósitos, vedando aos entes federados exigir ou aumentar tributos sem lei
que o estabeleça, conforme se depreende da leitura do artigo 150, inciso I, da
Carta da República.[97] Assim, o exercício do poder de tributar encontra-se
submetido à máxima de que nenhum tributo será majorado ou criado sem que
haja a edição de lei em sentido estrito, por ser este um ato de competência
exclusiva das Câmaras Legislativas nos países constitucionais.
Aliás, por força da reserva da lei fiscal, a soberania se exprime,
fundamentalmente, na função legislativa do Estado, traduzindo, assim, na
mais importante manifestação do “poder jurídico supremo” ou do “nível
supremo do poder jurídico” do Estado.[98]
Em regra, a lei apta a instituir um tributo é a lei ordinária, elaborada pelos
órgãos do Poder Legislativo competente (federal, estadual e municipal), nos
termos da Constituição, observado o processo legislativo nela estabelecido.
Isto significa que, um tributo federal deverá ser criado ou majorado por meio
de lei ordinária federal, editada pelo Congresso Nacional. Da mesma forma,
um tributo estadual deverá ser exigido ou aumentado por meio de lei
ordinária estadual, editada pela respectiva Assembleia Legislativa. Assim
como um tributo municipal deverá ser instituído ou majorado por meio de lei
ordinária municipal, editada pela respectiva Câmara Municipal.
Não obstante, alguns tributos (como, por exemplo, os empréstimos
compulsórios e os impostos residuais, previstos, respectivamente, nos artigos
148 e 154, inciso I, da Constituição Federal)[99] devem ser criados mediante
lei complementar, por força de dispositivo constitucional expresso.
Além disso, o artigo 62, § 2º, da Constituição Brasileira, admite,
excepcionalmente, a instituição ou majoração de tributos por meio de medida
provisória,[100] desde que tais tributos não devam ser instituídos mediante lei
complementar.
Em resumo, isso significa que as pessoas políticas de direito público interno
(União, Estados, Distrito Federal e Municípios) poderão instituir novos
tributos ou majorar os existentes, tão somente mediante a expedição de três
instrumentos legislativos: lei ordinária, lei complementar e medida
provisória.
À luz desse raciocínio, poder-se-ia imaginar que, num âmbito supranacional,
qualquer espécie de tributo mundial seria criada por meio de tratado
internacional, celebrado pelos Estados e/ou por organizações internacionais
– caso em que as normas internacionais seriam dotadas de uma hipótese de
incidência, cujo critério material possibilitaria o surgimento in concreto de
um fato gerador de tributos mundiais que, formando uma “obrigação
tributária supranacional”, pudesse vir a ser cobrado mundialmente, onde quer
que ocorresse.
É importante esclarecer, todavia, que os tratados e convenções internacionais
não possuem, por si só, força vinculante, sendo necessário, “por decorrência
do princípio da legalidade, que a ordem jurídica recolha a matéria desses atos
multilaterais de vontade, sem o que não se dá a produção de normas válidas
no direito pátrio”.[101] Daí a importância significativa do decreto legislativo
como instrumento primário de introdução de normas tributárias no Direito
brasileiro.
Com isso, pode-se dizer que “o tratado internacional não é norma jurídica (ou
não é ‘fonte’ de Direito), mas sim o decreto legislativo que o referenda
(artigo 49, I, c/c 59, VI, da CF)”.[102] É da competência exclusiva do
Congresso Nacional, mediante a elaboração de decreto legislativo, resolver
sobre tratados e convenções internacionais, que acarretem encargos ou
compromissos gravosos ao patrimônio nacional.
Tratados e convenções internacionais, portanto, não criam tributos, apenas
regulamentam alguns aspectos do fenômeno jurídico-tributário. Somente a lei
em sentido estrito (lei ordinária e lei complementar) pode instituir um tributo
– e, excepcionalmente a medida provisória, desde que não seja matéria de lei
complementar.
Ainda assim, se considerasse que os tratados internacionais – com exceção
daqueles que versam sobre direitos humanos[103] – ingressam no direito
positivo brasileiro com natureza de lei ordinária, poder-se-ia imaginar que
não haveria qualquer óbice à instituição de um tributo mundial no Brasil.
Entretanto, esta concepção seria de todo equivocada, haja vista que os
tributos de competência residual somente podem ser instituídos pela União,
mediante lei complementar, conforme determina o artigo 154, inciso I, da
Constituição Brasileira,[104] sendo este, portanto, o veículo legislativo mais
adequado para definir todos os aspectos daquela norma tributária impositiva.
Ainda que se cogitasse a hipótese de aprovação deste tratado internacional
por maioria absoluta do Congresso Nacional, com vistas a equipará-lo à lei
complementar, ex vi do disposto no artigo 69 da Lei Maior,[105] haveria
inconstitucionalidade formal, com vícios de natureza objetiva, por
desobediência ao processo legislativo. Assim, essa norma seria nula, não
obrigando os contribuintes ao pagamento do tributo mundial.
É importante não perder de vista a posição que a jurisprudência pátria vem
assumindo acerca da incompatibilidade de tratados internacionais com
matérias reservadas à lei complementar, conforme se depreende da ementa
abaixo transcrita:
TRATADO INTERNACIONAL E RESERVA CONSTITUCIONAL
DE LEI COMPLEMENTAR. - O primado da Constituição, no sistema
jurídico brasileiro, é oponível ao princípio pacta sunt servanda,
inexistindo, por isso mesmo, no direito positivo nacional, o problema
da concorrência entre tratados internacionais e a Lei Fundamental da
República, cuja suprema autoridade normativa deverá sempre
prevalecer sobre os atos de direito internacional público. Os tratados
internacionais celebrados pelo Brasil - ou aos quais o Brasil venha a
aderir - não podem, em conseqüência, versar matéria posta sob reserva
constitucional de lei complementar. É que, em tal situação, a própria
Carta Política subordina o tratamento legislativo de determinado tema
ao exclusivo domínio normativo da lei complementar, que não pode ser
substituída por qualquer outra espécie normativa infraconstitucional,
inclusive pelos atos internacionais já incorporados ao direito positivo
interno.[106]
Logo, qualquer tratado internacional celebrado pelo Brasil com vistas à
instituição de um tributo mundial não poderia ser incorporado ao direito
positivo pátrio, pois tributos de competência residual somente podem ser
instituídos por meio de lei complementar, que não poderá ser substituída por
nenhuma outra espécie normativa infraconstitucional, devendo todo o
ordenamento jurídico, inclusive os atos internacionais, conformar-se com os
preceitos da Constituição, seja sob o enfoque formal, seja do ponto de vista
material.
A legalidade tributária, por implicar limitação constitucional ao poder de
tributar do Estado, deve necessariamente ser vista como uma garantia
fundamental do contribuinte, constituindo-se, portanto, em cláusula pétrea,
conforme se depreende do alcance do artigo 60, § 4º, inciso IV, da Carta
Magna brasileira.[107] As atenuações a este princípio são apenas aquelas
previstas, taxativamente, no texto constitucional, não admitindo ampliação
nem sequer por Emenda à Constituição.
Em tal caso, conclui-se que, por não ser instituída por lei, conforme
determina o artigo 3º, do Código Tributário Nacional,[108] esta espécie de
“tributo cosmopolita”, denominada equivocadamente por Thomas Piketty de
“Imposto Mundial sobre o Capital”, na verdade, não teria qualquer natureza
jurídica tributária, não podendo ser exigida indistintamente de quem quer que
seja.
Mas, ainda que se admitisse tal possibilidade, argumentando que este tributo
seria uma forma de homenagear o princípio da solidariedade social, por ser
um instrumento idealizado para diminuir as desigualdades sociais e
econômicas, regulando de forma eficaz a concentração mundial da riqueza,
tem-se em mente que tal argumento não merece prosperar porque a
solidariedade social não deve ser interpretada de modo a implicar restrições a
outros princípios constitucionais, sobretudo àqueles destinados a proteger o
cidadão-contribuinte contra o arbítrio do Estado – dentre eles, o princípio da
legalidade.
Analisando as implicações entre tributação, solidariedade social e legalidade
trib1utária, Hugo de Brito Machado, com maestria e apurado senso crítico,
destaca que:
A tese que coloca o princípio da solidariedade como fundamental na
atividade de tributação é extremamente sedutora e perigosa. É sedutora
porque apresenta a solidariedade como algo moderno e a legalidade
como algo antiquado e inseparável do individualismo. É perigosa
porque tende a destruir as mais importantes conquistas da Humanidade
no controle do exercício do Poder estatal.[109]
Embora o tributo possa ser um instrumento de política fiscal para a atuação
do Estado na redistribuição de renda, tendo como fundamento a promoção da
solidariedade social, isso não significa que esta política há de ser conduzida
em total desrespeito ao princípio da legalidade, até porque um princípio não
se sobrepõe, nem tampouco se contrapõe, ao outro.
Não se pode negar que, no contexto brasileiro, a solidariedade social não é
apenas uma ideia, mas um princípio de Direito Positivo, albergado
expressamente no artigo 3º, inciso I, da Carta Magna de 1988, segundo o qual
constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil, dentre
outros: “construir uma sociedade livre, justa e solidária”.[110]
Mas, analisando este dispositivo constitucional, cum grano salis, um dos
mais brilhantes tributaristas do Brasil, expõe, de forma clara e precisa, que:
É exatamente porque devemos construir uma sociedade justa que
admitimos a atuação do Estado promovendo a redistribuição de renda.
Mas nossa Constituição preconiza também uma sociedade livre — e,
assim, não se pode prescindir da legalidade. Não se pode esquecer que
esta é uma conquista da civilização contra o arbítrio do Estado. E não
se pode, de modo algum, amesquinhar essa conquista a pretexto de
colocar em prática a solidariedade, que pode e deve ser posta em
prática dentro dos padrões da lei.[111]
Disso resulta que, no campo da tributação, legalidade e solidariedade são
como as duas faces de uma mesma moeda; não se excluem, mas se
complementam. Entender de forma contrária seria violar o próprio espírito da
Constituição.
Como remate a este tópico, melhor não se faça que transcrever mais uma vez
o abalizado pensamento de Hugo de Brito Machado sobre a relação entre
solidariedade e legalidade no campo do Direito Tributário, in verbis:
Na relação de tributação temos um forte, que é o Estado, e um fraco,
que é o contribuinte, e não podemos esquecer que “nas relações entre o
forte e o fraco a liberdade escraviza e só a lei liberta”. Legalidade e
solidariedade são os princípios que se completam na difícil tarefa de
controlar o Poder, em benefício da liberdade, não se devendo admitir
que a invocação do princípio da solidariedade possa ser útil para
justificar a violação da lei.[112]
Parece claro, portanto, que expedientes de ordem prática, justificativas
“morais” ou econômicas, ou até mesmo o desejo de promover uma reforma
financeira apropriada ao século XXI, não podem se sobrepor a este princípio
cardeal.
A teoria da tributação mundial sobre o capital, de Thomas Piketty, se for
adotada no contexto brasileiro, implicará grave violação da ordem jurídica,
colocando a solidariedade social como justificativa para a cobrança de
tributos sem amparo na lei, baseada apenas na capacidade contributiva, como
típica tese do Nazismo. Não obstante apresentada como uma “utopia útil”,
ela, na verdade, apenas ressuscitaria o autoritarismo, no atual contexto
geopolítico mundial.
3.4 A vedação da bitributação e do bis in idem
Por se tratar de uma competência residual, caso realmente fosse instituída, no
sistema jurídico brasileiro, qualquer espécie de tributo mundial, já estariam
vedados, consequentemente, o bis in idem e a bitributação.
A bitributação consiste num fenômeno jurídico-tributário que ocorre quando
entes tributantes diversos exigem do mesmo contribuinte tributos
relacionados ao mesmo fato gerador. O bis in idem, por outro lado, consiste
num fenômeno jurídico-tributário que ocorre quando o mesmo ente tributante
exige do mesmo contribuinte mais de um tributo decorrente do mesmo fato
gerador.
A ponderação sobre esses aspectos nos permite asseverar que, entre as
interpretações jurídicas possíveis, uma delas há de reconhecer que, se
realmente fosse instituído um Imposto Mundial sobre o Capital, haveria uma
bitributação, devido a própria abrangência do conceito de capital.
Exemplificando, se a União cobrasse IMC sobre determinada propriedade de
veículo automotor e o Estado, entendendo que essa propriedade estaria dentro
de sua competência, cobrasse IPVA sobre o mesmo fato gerador. No Brasil, a
instituição de um Imposto Mundial sobre o Capital entraria, portanto, em
conflito com outros tributos sobre o patrimônio, como, por exemplo, o
imposto de transmissão de bens imóveis, o imposto predial e territorial
urbano, o imposto sobre a propriedade territorial rural, o imposto sobre
transmissão causa mortis e doação de quaisquer bens ou direitos, e o imposto
sobre a propriedade de veículos automotores. Neste caso, o patrimônio já
seria tributado, durante o ciclo produtivo, em diversas ocasiões. Dessa forma,
haveria uma possibilidade concreta de ocorrer uma situação de dupla ou tripla
tributação econômica do patrimônio, com consequente efeito confiscatório.
Outra interpretação, quem sabe mais consistente, entenderá que, se realmente
fosse instituído um Imposto Mundial sobre o Capital, haveria um bis in idem,
já que o mesmo ente tributante (no caso, a União) exigiria do mesmo
contribuinte mais de um tributo decorrente do mesmo fato gerador, por
exemplo, em relação ao imposto sobre renda e proventos de qualquer
natureza – o que restaria vedado pelo artigo 154, inciso I, da Constituição
Federal.[113]
Resgatando o conceito de imposto adicional, como sendo aquele que tem o
mesmo fato gerador de outros impostos já existentes no sistema jurídico,
Hugo de Brito Machado adverte que: “Não pode a União, invocando a
competência residual, instituir adicionais aos impostos discriminados na
Constituição. A vedação está expressa no art. 154, inciso I, e não admite
qualquer dúvida”.[114] Logo, fatos geradores diferentes seria um dos requisitos
que deveriam ser observados para que a instituição desse imposto fosse
constitucional.
O mesmo raciocínio se aplicaria em relação a outros tributos nacionais (quer
fossem eles de competência federal, estadual ou municipal), cujos respectivos
fatos geradores já estivessem abrangidos pela situação que constitua fato
gerador do Imposto Mundial sobre o Capital, a exemplo do imposto sobre
heranças e doações.
Portanto, não há qualquer pragmatismo em propostas dessa natureza. Aliás, o
próprio Piketty admite que uma tributação mundial seria uma utopia. Nem na
própria União Europeia existe uma soberania supranacional que garanta tal
possibilidade. A tributação é feita por cada país isoladamente.
Em vez de pensarmos numa tributação em escala global, de base idealista,
talvez o caminho mais adequado fosse o que já seguimos com os tratados
sobre dupla tributação e cooperação em matéria fiscal. Com esses tratados,
não necessariamente todos os países tem que tributar fortunas, mas
cooperarem entre si para uma harmonização das cargas tributárias.
3.5 A vedação do efeito confiscatório
Na precisa definição de Regina Helena Costa, confisco é “a absorção total ou
substancial da propriedade privada pelo Poder Público, sem correspondente
indenização”[115] – que, em virtude da proteção constitucional conferida à
propriedade privada, seria uma medida de caráter sancionatório, admitida de
forma excepcional pelo ordenamento jurídico brasileiro.
Mas, em matéria tributária, a temática sobre as linhas demarcatórias do
confisco ainda não foi desenvolvida de modo satisfatório, sendo, por isto,
bastante problemático o entendimento, por parte da doutrina e da
jurisprudência, do que venha a ser um tributo com efeito confiscatório.
Não obstante o grau de dificuldade na apreensão do verdadeiro significado de
confisco tributário, alguns autores se aventuraram em traçar algumas
considerações sobre essa temática. Para Antônio Roberto Sampaio Dória, “o
poder tributário, legítimo, se desnatura em confisco, vedado, quando o
imposto absorva substancial parcela da propriedade ou a totalidade da renda
do indivíduo ou da empresa”.[116] De acordo com Marcos André Ramos
Vieira, o confisco em matéria tributária seria “a apreensão em favor da
Fazenda de um bem de conteúdo econômico sem contrapartida ao
expropriado”.[117] Com maior precisão técnica, Vinícius Casalino ressalta que
a Constituição não menciona diretamente o confisco, mas veda a “utilização
do tributo com efeito de confisco”, vale dizer, “proíbe que o tributo seja
utilizado com o intuito de retirar a propriedade privada do particular ou da
empresa” – sendo que, neste contexto, o verbo retirar significa “tornar
inviável a manutenção do bem no patrimônio privado ou o exercício de
atividade econômica por parte do empresário”.[118]
Apesar dessas divergências conceituais, certo é que o artigo 150, inciso IV,
da Constituição Federal de 1988, veda aos Entes Tributantes utilizar tributo
com efeito de confisco,[119] posto que isto implicaria violação do direito
fundamental de propriedade, constitucionalmente garantido.
É importante relembrar aqui, como bem o fez Jean-Jacques Rousseau, que “o
fundamento do pacto social é a propriedade, e sua primeira condição que
cada um seja mantido na agradável fruição daquilo que lhe pertence”.[120]
Neste sentido, qualquer violação ao direito fundamental de propriedade
representaria, por si só, um descumprimento do próprio contrato social.
Analisando o princípio da vedação do efeito confiscatório sob a ótica dos
Direitos Constitucional, Tributário e Financeiro, Regis Fernandes de Oliveira
e Estevão Horvath afirmam que:
Mesmo quando não expresso este princípio, os autores o extraem do
direito de propriedade privada, geralmente colocado nos países não
socialistas entre os direitos fundamentais. A Constituição de 1988
seguia a tradição histórica, garantindo o direito de propriedade (art. 5.º,
XXII). Só com isso seria suficiente para que se pudesse afirmar que
tampouco a tributação pode pretender confiscar a propriedade.
Tornando-o mais explícito no que tange ao Direito Tributário, o inc. IV
do art. 150 da Lei Fundamental determinou ser vedado à União, aos
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios “utilizar tributo com
efeito de confisco”.[121]
E, adiante, um derradeiro esclarecimento: “Quer isso dizer que o legislador
ordinário, ao criar um tributo ou pretender majorá-lo, não pode fazê-lo de
molde a, sub-repticiamente, pretender apossar-se da propriedade do
particular”.[122] Assim, não se pode admitir que, por via dos impostos, os
Entes Tributantes venham privar os cidadãos-contribuintes do seu direito
fundamental de propriedade.
Compartilhando o mesmo entendimento, o professor Roque Antonio
Carrazza sustenta que, em homenagem ao princípio da não-confiscatoriedade,
“os impostos devem ser graduados de modo a não incidir sobre as fontes
produtoras de riqueza dos contribuintes e, portanto, a não atacar a
consistência originária das suas fontes de ganho”.[123] Estes seriam, portanto,
os limites dados pela característica fundamental do Estado constitucional, em
que se reconhece o direito de propriedade como inviolável.
Faz-se mister, por conseguinte, ressaltar, mais do que nunca, a natureza
tautológica desta vedação constitucional. Neste sentido, oportuna a lição de
Juan Martín Queralt et al., ao enfatizarem que: “En rigor, a previsión
constitucional que veda la confiscatoriedad del sistema tributario constituye,
en principio, una previsión tautológica, porque la confiscación constituye un
concepto que, por su propia esencia, permanece extramuros del ordenamento
tributario”.[124]
Dito isso, não excede recordar que, para Thomas Piketty, o Imposto Mundial
sobre o Capital seria um instrumento de estímulo para os detentores de
patrimônios moderados e médios, ou de grandes fortunas, obterem os
melhores rendimentos possíveis (lógica do incentivo), de modo que, aqueles
que utilizassem mal suas fortunas, fossem obrigados a se desfazerem delas
para pagar seus impostos.
Relembrando o exemplo utilizado no capítulo anterior, imagine um tributo
mundial com alíquota de 1% ou 2% sobre o patrimônio global. Para um
empreendedor mais talentoso e esforçado, que conseguisse obter um retorno
de 10% ao ano sobre seu patrimônio, talvez não fosse tão pesado arcar com
os encargos tributários. Mas, por outro lado, para aquele empreendedor mais
inexperiente ou menos esforçado, que conseguisse obter um retorno de
apenas 2% ou 3% ao ano sobre seu patrimônio – ou, na pior das hipóteses,
que não obtivesse rendimento anual algum – aquela mesma tributação
atingiria, com maior intensidade, o seu patrimônio.
Com base na concepção pikettyana, o objetivo do Imposto Mundial sobre o
Capital seria constranger aquele que administra mal seu patrimônio a,
gradativamente, se desfazer dele para arcar com suas obrigações tributárias,
cedendo, assim, seus ativos a detentores mais dinâmicos.
Seguindo essa lógica, aquele empreendedor que, no exemplo acima, não
conseguisse obter rendimento anual algum, veria seu patrimônio diluído, aos
poucos, pelo efeito corrosivo da carga tributária; ou, senão, ver-se-ia
“incentivado” a desenvolver melhor suas habilidades empresariais, a fim de
obter os melhores rendimentos possíveis.
O Estado, todavia, no exercício do poder de tributar, não pode absorver uma
parte substancial da propriedade ou da renda de seus contribuintes, nem
tampouco suprimi-las totalmente. A ponderação sobre esses aspectos nos
permite asseverar que, dentre as interpretações jurídicas possíveis, a melhor
delas há de reconhecer que, nesta hipótese, “la interpretación es amplia,
puesto que incluye el capital y también su producido, la renda; y no podría
ser de otra manera, porque la riqueza se trasformaría em uma palabra
carente de sentido, si los individuos no pudieran gozar de su rendimiento”.
[125]

Em que pese às razões expedidas por Thomas Piketty, o Imposto Mundial


sobre o Capital teria caráter flagrantemente confiscatório, uma vez que seu
principal objetivo seria esgotar a riqueza tributável das pessoas, sem revelar a
real capacidade contributiva daqueles que o suportam, impondo-lhes um ônus
que vai além do razoável.
O princípio do não confisco – que encerra direito fundamental do
contribuinte – restaria, portanto, violado em seu núcleo essencial em face da
sistemática adotada pela lógica do incentivo. As restrições aos direitos
patrimoniais para o atendimento das necessidades (extra)fiscais não podem
ser distendias a ponto de implicar na total absorção da propriedade privada
pelo Estado.
A proibição do efeito confiscatório, no campo da fiscalidade, se traduz numa
vedação constitucional a qualquer prática ou pretensão de natureza
governamental (tanto na ordem interna, como na ordem internacional) que
possa levar, ao fim e ao cabo, à injusta apropriação estatal do patrimônio ou
dos rendimentos dos contribuintes, comprometendo-lhes, por conseguinte: o
direito a uma existência digna, conforme os ditames da justiça social; o
exercício de atividade profissional ou econômica lícita; ou, ainda, a regulação
satisfatória de suas necessidades vitais básicas, ante a insuportabilidade da
alta carga tributária.
Só mesmo numa visão muito pedestre ou desassistida do mínimo bom senso
é que se poderia imaginar que uma tributação mundial sobre o capital não
teria efeito confiscatório. Essa teoria fracassa, portanto, em decorrência de
seus próprios critérios, pois, caso contrário, ter-se-ia que admitir que um
milionário não estaria respaldado por este princípio constitucional.
Ainda que alguns governos revolucionários tenham aceitado, na prática, a
socialização da economia brasileira, num modelo constitucional que teoriza a
livre iniciativa privada, não se pode esquecer do excelente magistério trazido
pelo grande tributarista brasileiro, Ives Gandra da Silva Martins, no sentido
de que:
Não apenas em relação ao reino dos céus é impossível servir a dois
senhores com objetivos opostos, ao mesmo tempo. Em Economia,
também, a lição evangélica se faz presente. É impossível viver uma
economia de mercado com as técnicas socialistas, ou uma economia
socialista com as técnicas neocapitalistas.[126]
Ora, admitir que os empresários sofram uma diminuição patrimonial
relevante, em razão da carga tributária exigida no Brasil e no restante do
planeta, seria o mesmo que o excluir da vedação constitucional do efeito
confiscatório do tributo e, por conseguinte, do primado da igualdade e da
propriedade, além de desestabilizar definitivamente aquele setor que atua
como uma espécie de catalizador da economia nacional.
Ainda que se alegasse a finalidade extrafiscal deste tributo para se justificar
uma tributação confiscatória, esta alegação seria de todo equivocada e
incompatível com os preceitos magnos insculpidos na Constituição da
República.
Sobre tal aspecto, endossamos o coro daqueles que sustentam que essa
suposta incompatibilidade entre capacidade contributiva e extrafiscalidade
esvazia, em muito, o conteúdo daquele princípio de índole constitucional,[127]
até porque não existe espécie tributária que se possa dizer pura, no sentido, de
realizar tão somente a fiscalidade, ou, unicamente, a extrafiscalidade –
devendo, ambas as funções, observância obrigatória aos parâmetros
constitucionais.[128]
Posta assim a questão, é de se dizer que o Poder Público, sobretudo no
exercício do poder de tributar, não pode agir de forma imoderada, tendo em
vista que a atividade governamental se encontra, necessariamente, vinculada
ao princípio da razoabilidade que, por sua vez, se impõe como verdadeiro
parâmetro de aferição da constitucionalidade material dos atos estatais.
Ademais, a lógica do incentivo, de Thomas Piketty, não leva em
consideração a carga tributária global, as condições pontuais do mercado,
nem tampouco a conjuntura social e econômica de cada país. Trata-se, na
verdade, de um instrumento próprio de governos nazistas, utilizado para
lograr o mesmo fim da confiscação de bens, e manipulado com tamanha
sutiliza e astúcia para suprimir totalmente a propriedade privada de seus
contribuintes.
Vê-se, por aqui, que o poder de tributar, embora seja uma expressão da
soberania do Estado (ou, até mesmo, de um ente supranacional), não pode
ultrapassar os limites previstos na própria Constituição, de modo que,
qualquer que seja a autoridade imperante, ela jamais poderá pretender, no
exercício da tributação, confiscar a propriedade privada, pois, caso contrário,
seu poder já não será mais legítimo, convertendo-se em verdadeira ditadura
fiscal.
Com efeito, fica demonstrada, à saciedade, que a introdução de um Imposto
Mundial sobre o Capital no sistema jurídico brasileiro violaria frontalmente o
princípio da vedação do efeito confiscatório, consagrado expressamente no
texto constitucional pátrio.
3.6 O sigilo de dados bancários
Como visto anteriormente, Thomas Piketty defende que a instituição de um
Imposto Mundial sobre o Capital deva ser acompanhada por uma grande
transparência democrática e financeira no que diz respeito aos patrimônios e
aos ativos pertencentes às pessoas (física e jurídica), em escala internacional.
À vol d’oiseau, isso se justificaria por três razões: (1) Permitiria ter amplo
acesso aos dados sobre os patrimônios e as fortunas de todos os contribuintes,
em nível internacional, para fundar, então, as bases de um imposto anual e
progressivo sobre o capital; (2) Possibilitaria construir uma regulação mais
justa e eficaz das crises bancárias como, por exemplo, por meio de
arrecadações extraordinárias, progressivas e razoáveis; (3) Permitiria incluir,
nas declarações pré-preenchidas, os ativos detidos em instituições bancárias
situadas em outros países.[129]
Todavia, esse objetivo de transparência financeira, quando analisado sob a
óptica do contexto brasileiro, se traduziria num confronto entre o dever de
pagar tributos e o direito ao sigilo bancário, ambos referidos aos cidadãos-
contribuintes, em particular, e ao Estado Brasileiro, em geral.
Quanto ao pagamento de tributos, tem-se que estes devem ser graduados
segundo a capacidade econômica do contribuinte, conforme determina o
artigo 145, § 1º, da Carta Constitucional.[130] O cidadão-contribuinte, por sua
vez, está vinculado a um Estado soberano comprometido, na ordem interna,
com a satisfação das necessidades coletivas de seu povo – não podendo se
comprometer de igual modo, na ordem internacional, com a satisfação das
necessidades de toda a humanidade, por absoluta impossibilidade prático-
jurídica.
No que diz respeito ao sigilo bancário, embora não esteja claramente
expresso no texto constitucional, tal instituto pode ser entendido como um
desdobramento do direito fundamental à privacidade, previsto no artigo 5º,
inciso X, da Lei Fundamental.[131] Sob a óptica do sistema jurídico brasileiro,
o sigilo bancário pode ser visto como as duas faces de uma mesma moeda: de
um lado, como o direito dos clientes de instituições financeiras e de terceiros
de terem preservada a privacidade de seus dados pessoais e das operações
que celebram junto a elas; do outro, como o dever que essas mesmas
instituições e seus agentes têm de manter a devida confidencialidade daquelas
informações, sob pena de sanções civis, penais e/ou administrativas.[132]
Não obstante a regra seja a inviolabilidade dessa esfera de privacidade,
admite-se excepcionalmente a desclosure das informações bancárias, para
efeitos de inquérito ou persecução criminais (inclusive por meio de acordos
internacionais de assistência judiciária em material penal) e por ordem
judicial, diante de interesse público relevante e indícios razoáveis de prática
criminosa, sempre com a devida e necessária observância do procedimento
legal e com respeito ao princípio da razoabilidade.
Dessa forma, a quebra de sigilo bancário não pode ser manipulada,
arbitrariamente, pelo Poder Público ou por seus agentes. Caso contrário,
descaracterizar-se-ia sua finalidade legítima, convertendo-se em instrumento
de busca generalizada e de investigação indiscriminada da esfera íntima,
privada e da personalidade dos contribuintes, o que daria ao Estado – em
desconformidade com os postulados consagrados no texto constitucional,
sobretudo aqueles que informam o regime democrático – o poder absoluto de
vasculhar, sem quaisquer limitações, registros sigilosos alheios, mantidos
pelas instituições financeiras.
Neste sentido, deveras interessante o entendimento de Luís Roberto Barroso,
que abordando o tema sob um enfoque mais abrangente, considera o sigilo
como uma garantia de interesse público, que homenageia a credibilidade e
estabilidade do sistema bancário, bem como a segurança do Estado e da
sociedade,[133] não obstante seja também uma manifestação do direito
fundamental à privacidade do cliente, em particular, e um dever profissional
de discrição das instituições financeiras, em geral.
A rigor, os dados bancários dos contribuintes devem ser preservados de
ingerências ou ofensas, consideradas arbitrárias ou ilegais, de quem quer que
seja, inclusive por parte do Estado ou do próprio banco e demais instituições
financeiras.
Com efeito, a celebração de tratados internacionais com o objetivo de
compartilhar informações bancárias seria totalmente inconstitucional. Tal
comportamento se encontra vedado pelo ordenamento jurídico brasileiro,
pois, a inviolabilidade desse sigilo é imprescindível à segurança da sociedade
e do Estado. Conflitar-se-ia, assim, com a Carta da República tratado
internacional que eventualmente viesse atribuir à Receita Federal do Brasil, o
afastamento do sigilo de dados bancários relativos aos seus contribuintes em
prol de um objetivo de transparência “democrática” e financeira.
O alcance do poder fiscalizatório da Administração Fiscal deve ser medido
com vistas a garantir a proteção da intimidade do contribuinte e do sigilo das
operações bancárias para que essa prerrogativa atribuída ao Fisco não se dê
de forma arbitrária e com violação aos direitos fundamentais do contribuinte.
Assim sendo, a transmissão automática de dados bancários, em nível
internacional, configurar-se-ia em grande ofensa à intimidade das pessoas,
ensejando indenização por dano moral e patrimonial, além de ser tal prática
de caráter ditatorial e, de igual modo, inconstitucional, por ofender preceitos
máximos insculpidos na Constituição Brasileira.
CONCLUSÃO

Na teoria econômica francesa, surgiu um tópico ao redor do qual se reuniu


um grupo de autores como em torno de uma bandeira, proclamando, com
grande alarde, a necessidade de se instituir uma tributação mundial sobre o
capital.
O instrumento ideal que eles criaram, como uma fórmula mágica, para
resolver todos os problemas do capitalismo (verbi gratia, desigualdades
patrimoniais, concentração mundial de riqueza, crises financeiras e bancárias)
foi o Imposto Mundial sobre o Capital, e um renomado estudioso, professor
Thomas Piketty, é o porta-estandarte da nova escola.
Apesar de o autor d’O capital no século XXI, que pode ser considerada a obra
“capital” dessa nova teoria econômica, salientar com insistência não ter
elaborado nada de realizável (ou, na melhor das hipóteses, de realização num
futuro imprevisível), mas apenas uma “utopia útil”, um “instrumento ideal”,
um “sistema ideal” – mantendo, com isso, a possibilidade de uma retirada
estratégica – é possível ter em mente, ao menos, uma ideia daquilo que essa
teoria, com a sua “descoberta”, realmente deseja.
Em vez de “O capital no século XXI”, Thomas Piketty poderia ter intitulado
sua obra de “Punição capital no século XXI”. Com isso, talvez, sua real
intenção ficasse mais clara, sem que a escolha do novo título perdesse
qualquer semelhança com alguma outra obra de Karl Marx.
O que se tem, ao final deste trabalho, é o completo desmascaramento de uma
falsa ciência econômica que não serve à verdade, mas ao poder; uma
ideologia socialista construída apenas para uso do fortalecimento da
autoridade imperante, seja ela legítima ou não.
Seu real propósito fica evidente diante da própria necessidade de se instituir
uma unidade jurídica supranacional, sobretudo quando se traz à memória que
o internacionalismo socialista (tido como uma das últimas e mais
significativas acepções histórias do ideário de supranacionalidade)
questionava claramente as organizações políticas nacionais, no sentido de que
o proletariado (e, a partir dessa nova proposta, o contribuinte) não tem pátria.
Infelizmente, na formulação de sua teoria, Thomas Piketty usa o
conhecimento e a inteligência em defesa do autoritarismo. Todavia, nenhuma
sociedade minimamente civilizada pode admitir que a relação tributária seja
simples relação de poder, e por isso mesmo, sua tese deve ser rechaçada.
Caso contrário, haveria um grande retrocesso: caminharíamos da liberdade à
opressão fiscal.
Por isso, a proposta de Thomas Piketty encontra-se desprovida da consciência
de que, numa sociedade civilizada, a relação tributária deve ser sinônimo de
relação jurídica, e jamais de relação de poder.
Convém notar, outrossim, que a eleição do Imposto Mundial sobre o Capital
como mecanismo de efetivação da justiça fiscal não passa de mera retórica,
desprovida de maiores reflexões jurídicas sobre seus reais impactos na
Constituição de cada país.
Resgatando, então, o problema desta pesquisa, e examinando-o à luz do
Direito Constitucional Tributário, questiona-se: seria possível instituir, no
Brasil, um Imposto Mundial sobre o Capital, tal como proposto por Thomas
Piketty?
Em que pese às razões expendidas pelo economista francês, a resposta para
esta indagação só poderia ser negativa, por se tratar de uma espécie tributária
inconveniente, inválida e de difícil implementação no cenário brasileiro.
Diversas são as razões, de ordem prática e teórica, que desaconselhariam a
instituição deste imposto no Brasil, dentre elas destacam-se: as dificuldades
administrativas para arrecadar e fiscalizar este tributo, o risco de redução da
poupança interna, o estimulo à prática criminosa de evasão de divisas, a
grande probabilidade de confisco, além de ser uma espécie tributária que
entraria em conflito com os tributos sobre a renda e patrimônio já existentes
no contexto brasileiro.
Mesmo que se cogitasse de uma proposta de Emenda à Constituição para
ampliar a competência residual da União, com vistas à instituição desta
espécie de tributo mundial, ela seria totalmente inconstitucional, por ser uma
proposta tendente a abolir a forma federativa de Estado, e os direitos e
garantia fundamentais, sobretudo o direito de propriedade e de sigilo
bancário, este último como desdobramento do direito fundamental à
intimidade.
Não se pode perder de vista que a instituição de um Imposto Mundial sobre o
Capital teria alguns desafios a serem enfrentados, como, por exemplo,
aqueles relacionados: a um programa fiscal aplicável à riqueza global; a
regras para repartição de receitas; e ao apoio democrático.
É de se verificar, destarte, que esse imposto seria, talvez, o de legislação mais
complexa de quantos possam, ainda, integrar o sistema tributário de vários
países. E, além de complexa, sua legislação seria das mais dinâmicas ante as
transformações sociais, políticas e econômicas que as diversas regiões do
mundo vêm sofrendo nos últimos anos.
A natural diversidade dos objetos e pessoas alcançados pela tributação,
atrelada às peculiaridades regionais (tanto de conteúdo social, quanto de
conteúdo econômico), além da ideologia política dominante em cada país,
tornam absolutamente impossível a supranacionalização da atividade
tributária.
Em razão de todas essas variáveis, não seria medida aconselhável (nem
praticamente exequível) estender a tributação para além das fronteiras
territoriais da autoridade estatal, sem que isto representasse, exatamente, a
tentativa de desenvolver, no plano supranacional, uma espécie de luta
revolucionária pela conquista e manutenção do poder político, contrapondo a
potência econômica do capitalismo, e desrespeitando as peculiaridades e as
características nacionais.
Se é certo que na tributação de âmbito nacional se percebe sempre uma
irredutível dose de injustiça fiscal, muito mais iníquo seria o sistema
financeiro que inaugurasse o regime da tributação supranacional para todos
os cidadãos do mundo. A injustiça do gravame, sua inoportunidade e
inconveniência à economia de cada país são alguns pontos abertos à censura
deste instrumento fiscal.
Ante todo o exposto, conclui-se que a instituição de qualquer espécie de
tributo mundial mostra-se de todo incompatível com o espírito do
ordenamento jurídico brasileiro, por ir de encontro ao interesse público
existente na defesa da soberania estatal, da segurança nacional, e da estrita
obediência às normas tributárias, sobretudo àquelas de caráter eminentemente
constitucional.
POSFÁCIO

Toda solicitação de posfácio é naturalmente uma distinção com que o autor


do livro prestigia alguém de algum modo ligado à matéria no livro versada. E
por isto mesmo é uma solicitação sempre acolhida com prazer. No caso deste
livro de Wilson Coimbra Lemke, talvez eu possa interpretar o pedido de
posfácio como uma forma gentil e interessante de provocação para que eu me
manifeste sobre a sua tese, aliás muito bem elaborada.
Realmente, este interessante livro “TRIBUTOS MUNDIAIS: O PODER
SUPRANACIONAL DE TRIBUTAÇÃO”, de Wilson Coimbra Lemke,
opõem-se radicalmente à tese sustentada por Thomas Piketty, como se pode
ver em suas conclusões, nas quais, entre outras coisas, afirma:
Apesar de o autor d’O Capital no Século XXI, que pode ser considerada
a obra “capital” dessa nova teoria econômica, salientar com insistência
não ter elaborado nada de realizável (ou, na melhor das hipóteses, de
realização num futuro imprevisível), mas apenas uma “utopia útil”, um
“instrumento ideal”, um “sistema ideal” – mantendo, com isso, a
possibilidade de uma retirada estratégica – é possível ter em mente, ao
menos, uma ideia daquilo que essa teoria, com a sua “descoberta”,
realmente deseja.
Em vez de “O capital no século XXI”, Thomas Piketty poderia ter
intitulado sua obra “Punição capital no século XXI”. Com isso, talvez,
sua real intenção ficasse mais clara, sem que a escolha do novo título
perdesse qualquer semelhança com alguma outra obra de Karl Max.
O que se tem, ao final deste trabalho, é o completo desmascaramento
de uma falsa ciência econômica que não serve à verdade, mas ao poder,
uma ideologia socialista construída apenas para uso do fortalecimento
da autoridade imperante, seja ela legítima ou não.
[...]
Resgatando, então, o problema desta pesquisa, e examinando-o à luz do
Direito Constitucional Tributário, questiona-se: seria possível instituir,
no Brasil, um imposto Mundial sobre o capital, tal como proposto por
Thomas Piketty?
Em que pese às razões expendidas pelo economista francês, a resposta
para essa indagação só poderia ser negativa, por se tratar de uma
espécie tributária inconveniente, inválida e de difícil implementação no
cenário brasileiro.
Diversas são as razões, de ordem prática e teórica, que
desaconselhariam a instituição deste imposto no Brasil, dentre elas
destacam-se: as dificuldades administrativas para arrecadar e fiscalizar
este tributo, o risco de redução da poupança interna, o estímulo à
prática criminosa de evasão de divisas, a grande probabilidade de
confisco, além de ser uma espécie tributária que estaria em conflito
com os tributos sobre a renda e patrimônio já existentes no contexto
brasileiro.
Mesmo que se cogitasse de uma proposta de Emenda à Constituição
para ampliar competência residual da União, com vistas à instituição
desta espécie de tributo mundial, ela seria totalmente inconstitucional,
por ser uma proposta tendente a abolir a forma federativa de Estado, e
os direitos e garantias fundamentais, sobretudo o direito de propriedade
e de sigilo bancário, este último como desdobramento do direito
fundamental à intimidade.
[...]
É de se verificar, destarte, que esse imposto seria, talvez, o de
legislação mais complexa e de quantos possam, ainda, integrar o
sistema tributário de vários países. E, além de complexa, sua legislação
seria das mais dinâmicas ante as transformações sociais, políticas e
econômicas que as diversas regiões do mundo vêm sofrendo nos
últimos anos.
A natural diversidade dos objetos e pessoas alcançados pela tributação,
atrelada às peculiaridades regionais (tanto de conteúdo social, quanto
de conteúdo econômico), além da ideologia política dominante em cada
país, tornam absolutamente impossível a supranacionalização da
atividade tributária.
Em razão de todas essas variáveis, não seria medida aconselhável (nem
praticamente exequível) estender a tributação para além das fronteiras
territoriais da autoridade estatal, sem que isto representasse,
exatamente, a tentativa de desenvolver, no plano supranacional, uma
espécie de luta revolucionária pela conquista e manutenção do poder
político, contrapondo a potência econômica do capitalismo, e
desrespeitando as peculiaridades e as características nacionais.
Se é certo que na tributação de âmbito nacional se percebe sempre uma
irredutível dose de injustiça fiscal, muito mais iníquo seria o sistema
financeiro que inaugurasse o regime de tributação supranacional para
todos os cidadãos do mundo. A injustiça do gravame, sua
inoportunidade e inconveniência à economia de cada país são alguns
pontos abertos à censura deste instrumento fiscal.
Ante o exposto, conclui-se que a instituição de qualquer espécie de
tributo mundial mostra-se de todo incompatível com o espírito do
ordenamento jurídico brasileiro, por ir de encontro ao interesse público
existente na defesa da soberania estatal, da segurança nacional, e da
estrita obediência às normas tributárias, sobretudo àquelas de caráter
eminentemente constitucional.
Como se pode ver do que acima transcrevemos, a tese que consta deste livro
de Wilson Coimbra Lemke, que estamos com prazer a escrever este posfácio,
merece algumas considerações que a seguir vamos fazer. Entretanto, quando
nos manifestarmos sobre qualquer assunto, qualquer que seja a área do
conhecimento humano na qual esteja situado, é importante lembrarmos que
tudo é absolutamente relativo no mundo. Sobre esse relativismo, Radbruch
invoca lição de Goethe, a dizer que “as diversas maneiras de pensar acham
afinal o seu fundamento na diversidade dos homens e por isso será sempre
impossível criar neles convicções uniformes.”[134]
Nesse contexto é também muito importante o respeito que devemos ter pelas
opiniões contrárias às nossas, porque é inevitável a existência de opiniões
contrárias, como escreveu David Hume, no início dos anos mil e setecentos.
[135]
E o nosso direito de ter opinião implica o nosso dever de respeitar as
opiniões dos outros.
Aliás, merece a maior atenção a advertência de Souto Borges, segundo a
qual:
Quem é propenso a defender intolerantemente suas próprias teorias ou,
num giro subjetivista, as suas convicções pessoais, as suas opiniões, já
se demitiu, sem o saber, da comunidade científica. Porque se opõe, essa
tendência conservadora, ao espírito aberto que ousadamente prefere o
método de “tentativas e erros”, pela formulação de hipóteses testáveis
independentemente.[136]
Ressaltamos desde logo que nem o Brasil, nem qualquer outro país, pode
instituir um imposto mundial, porque é óbvio que nenhum país pode impor a
sua legislação fora do seu próprio território. Entretanto, se com a expressão
imposto mundial estivermos a indicar um imposto que venha a ser instituído
por todos os países do mundo para incidir de forma mais ou menos
equivalente sobre a riqueza, pensamos ser isto perfeitamente possível,
embora não nos pareça que venha a acontecer.
O livro que estamos a escrever este posfácio refere-se à impossibilidade da
instituição desse imposto no Brasil. A nosso ver, porém, é perfeitamente
possível a instituição desse imposto, no segundo sentido da expressão que
incidamos acima, pois a competência da União Federal para tanto está
prevista na Constituição Federal de 1988, em seu artigo 153, inciso VI, que
atribui competência à União para instituir imposto sobre grandes fortunas.
Sobre esse imposto, aliás, em meu Curso de Direito Tributário, citado por
Wilson Coimbra Lemke, no livro que estamos com prazer a escrever este
posfácio, escrevemos:
A Constituição Federal de 1988 atribui à União competência para
instituir imposto sobre grandes fortunas, nos termos de lei
complementar (art. 153, VII). Não obstante, até agora esse imposto não
foi instituído, nem editada lei complementar para definir o que se deve
entender por “grandes fortunas”. É caso raro de competência tributária
não exercitada, e a razão para essa inércia do legislador é
exclusivamente política.
Há quem aponte dificuldades técnicas para a tributação das grandes
fortunas. Seriam problemáticas a identificação e a avaliação dos bens.
O argumento é inconsistente. Os bens que integram as grandes fortunas
são os mesmos cuja transmissão de propriedade é tributada. Se a título
oneroso, pelo Município. Se a título gratuito, ou em virtude de sucessão
por causa da morte, pelo Estado. E ninguém sustentou a inviabilidade
do imposto de transmissão causa mortis e doação, de que trata o art.
156, II, da CF.
O verdadeiro motivo da não instituição do imposto sobre grandes
fortunas é de ordem política. Os titulares de grandes fortunas, se não
estão investidos de poder, possuem inegável influência sobre os que o
exercem.
Entre os vários projetos apresentados ao Congresso Nacional, tivemos
um, de autoria do então senador Fernando Henrique Cardoso, que
ensejou o oferecimento de um substitutivo por parte do deputado
federal Roberto Campos. Tal substitutivo, porém, constitui verdadeira
imoralidade. Para demonstrá-lo basta a referência a um de seus
dispositivos, segundo o qual os bens adquiridos por doação integram a
base de cálculo do imposto pelo valor que lhe seja atribuído pelo
doador. A prevalecer tal dispositivo, as maiores fortunas do País
facilmente serão excluídas da tributação, através de doações gravadas
com cláusula de usufruto vitalício.
Não acreditamos na instituição do imposto sobre grandes fortunas por
uma razão muito simples: quem manda no mundo, seja pelo poder seja
pela influência sobre os que o exercem, é sempre titular de grande
fortuna, e certamente não vai admitir essa tributação. Se um dia ocorrer
a instituição de um imposto com esse nome, não será devido pelos
ricos, mas pela classe média, incrementando a enorme carga tributária
por esta já suportada.[137]
Considerando que o Imposto sobre Grandes Fortunas está contaminado por
preconceitos ideológicos, tanto dos que defendem a sua criação como dos que
a ela se mostram contrários, preconizamos em seu lugar o Imposto sobre o
Patrimônio Líquido das Pessoas Físicas, assunto sobre o qual já escrevemos:
O imposto sobre o patrimônio líquido das pessoas naturais substituirá o
imposto sobre grandes fortunas, que constitui o único exemplo de
competência tributária não exercitada, talvez pela enorme carga de
preconceito ideológico que carrega. E substitui também outros
impostos sobre parcelas do patrimônio, como são o Imposto sobre
Veículos Automotores – IPVA, dos Estados, o Imposto sobre
Propriedade Territorial Rural – ITR, da União, o Imposto sobre
Propriedade Predial e Territorial Urbana – IPTU, dos Municípios.
Registre-se que a União Federal já dispõe dos instrumentos de controle
que lhe permitem conhecer a evolução patrimonial das pessoas
naturais: a declaração de bens que todas as pessoas naturais estão
obrigadas a fazer anualmente, de sorte que o Imposto sobre o
Patrimônio Líquido das Pessoas Naturais pode ser implantado e
administrado facilmente.
Esse imposto, por outro lado, com o formato que imaginamos, tem a
virtude de atingir o patrimônio de pessoas que por opção pessoal
decidem fazer aplicações em bens não produtivos, como obras de arte
ou sítios suntuosos para o lazer pessoal de seus proprietários. Ele seria
calculado sobre o patrimônio líquido, com alíquota expressiva, mas do
valor então apurado seria deduzido o total do imposto de renda de
pessoa física pago no período correspondente.
É mais fácil ocultar um rendimento do que ocultar um bem. Assim, o
imposto que imaginamos permitirá a exigência do tributo daqueles que
ocultam seus rendimentos, inclusive com a utilização de paraísos
fiscais. [138]
Em síntese, com o devido respeito aos que os sustentam, podemos afirmar
que os argumentos contrários ao Imposto sobre Grandes Fortunas são
falaciosos e na sua maioria carregados de preconceitos ideológicos. A
verdadeira razão pela qual o Imposto sobre Grandes Fortunas não foi
instituído é a decisiva influência dos titulares de grandes fortunas, que por
uma razão óbvia não querem ser por ele onerados.
Em face dos preconceitos ideológicos que o cercam, aliás, nos parece que
esse imposto deve ter outro nome, a saber, Imposto sobre o Patrimônio
Líquido das Pessoas Físicas, que contribuirá significativamente para a
simplificação do sistema tributário, com a substituição de outros impostos
que incidem sobre parcelas desse patrimônio, como o Imposto Territorial
Rural, o Imposto sobre Propriedade Predial e Territorial Urbana e o Imposto
sobre Veículos Automotores.
Ressaltamos, mais uma vez, que a União Federal já dispõe do instrumento
adequado para o controle da evolução patrimonial, que é a declaração anual
de bens, integrante da declaração de rendimentos das pessoas físicas. E o
Imposto sobre o Patrimônio Líquido das Pessoas Físicas, com o formato que
imaginamos, realiza a justiça fiscal, ao atingir o patrimônio de pessoas que
por opção pessoal decidem fazer aplicações em bens não produtivos, como
obras de arte ou sítios suntuosos para o lazer pessoal de seus proprietários.
Não aumentaria o ônus para aqueles que aplicam suas riquezas em atividades
produtivas, porque poderia ser calculado sobre o patrimônio líquido, com
alíquota expressiva, mas do valor então apurado seria deduzido o total do
imposto de renda de pessoa física, além de todos os demais tributos
suportados pelo contribuinte no período correspondente. E assim não
afugentaria os investimentos de nosso país, pois o que importa para o
investidor é a carga tributária total suportada em cada país.
Seja como for, o livro de Wilson Coimbra Lemke merece elogios, porque
suscita o debate sobre um tema da maior relevância, que é a tributação da
riqueza como forma de reduzir as desigualdades sociais. E com este posfácio
esperamos contribuir para o debate.

Hugo de Brito Machado


Advogado, especialista, mestre e doutor em Direito,
conferencista, consultor tributário e parecerista. Foi Procurador
da República e Juiz Federa em 1ª Instância, Juiz do Tribunal
Regional Federal da 5ª Região, cargos que lhe renderam grande
experiência no trato de questões inerentes ao Direito Tributário e
ao Direito Constitucional. É professor titular de Direito
Tributário da Universidade Federal do Ceará (UFC), onde
leciona nos cursos de especialização e de mestrado. É presidente
do Instituto Cearense de Estudos Tributários. É autor de mais de
300 artigos de doutrina em livros de autoria coletiva e em
revistas jurídicas especializadas e de dezenas de livros.
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Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Tribunal Pleno,
julgado em 17/06/1998, DJ 10-08-2000 PP-00006 EMENT
VOL-01999-01 PP-00042. Disponível em:
<http://www.stf.jus.br>. Acesso em: 18 jul. 2018.
______. Posição hierárquica dos tratados internacionais de
direitos humanos. In: SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL.
Coletânea temática de jurisprudência: Direitos humanos.
Brasília: STF, Secretaria de Documentação, 2017.
______. ADI 1480 MC, Relator(a): Min. CELSO DE
MELLO, Tribunal Pleno, julgado em 04/09/1997, DJ 18-
05-2001 PP-00435 EMENT VOL-02031-02 PP-00213.
Disponível em: <http://www.stf.jus.br>. Acesso em: 08 jul.
2018.
______. ADI 1480 MC, Relator(a): Min. CELSO DE
MELLO, Tribunal Pleno, julgado em 04/09/1997, DJ 18-
05-2001 PP-00435 EMENT VOL-02031-02 PP-00213.
Disponível em: <http://www.stf.jus.br>. Acesso em: 08 jul.
2018.
VIEIRA, Marcos André Ramos. Direito Tributário
Definitivo. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014.
WEILER, Joseph. The Constitution of Europe: “Do the
New Clothes have an Emperor?” and other Essays on
European Integration. Cambridge: Cambridge University
Press, 1999.
XAVIER, Alberto. Direito Tributário Internacional do
Brasil. 6. ed. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2004.
APÊNDICE

O ESTADO “ROBIN HOOD”: AS AVENTURAS DO “PRÍNCIPE DOS


LADRÕES” NO BOSQUE DA TRIBUTAÇÃO COSMOPOLITA

O Estado “Robin Hood”, como o próprio nome sugere, faz alusão àquele
herói do folclore inglês, um fora-da-lei que roubava dos ricos para dar aos
pobres, pelo que ficou imortalizado como “O Príncipe dos Ladrões”.[139]
Por meio da política fiscal defendida por Thomas Piketty, todos os países do
mundo deveriam se transformar numa espécie de “Arqueiro Verde”, que não
fosse uma simples ideia, mas uma força viva.
Mas, para lograr êxito neste objetivo, o Estado “Robin Hood” deve sustentar
numa das mãos o arco com o qual lança o “Imposto Mundial sobre o
Capital”, enquanto na outra segura a flecha, por meio da qual fere as pessoas
ricas em favorecimento dos pobres.
Nesta figura mítica, ambos os instrumentos se completam e a verdadeira
“justiça fiscal” só se realiza quando o arqueiro empunha o arco de
lançamento com a mesma habilidade com que maneja as flechas da
tributação.
Apesar do pseudônimo de Estado “Robin Hood”, a ideia de roubar da
nobreza para dar aos pobres é mera falácia. Não porque a redução da
desigualdade socioeconômica não seja um fim nobre, mas, sim, porque este
não é o melhor meio para alcançá-la.
Basta relembrar a péssima experiência que diversos países europeus tiveram
em relação ao “imposto sobre grandes fortunas”, sendo posteriormente
revogados pelo efeito adverso que provocaram tanto na economia quanto na
arrecadação fiscal.
Se, no âmbito interno de cada país, que em algum momento adotou essa
prática, não foi capaz de realizar a tão sonhada justiça fiscal, quanto mais se
fosse admitida a instituição de um imposto dessa natureza no âmbito
supranacional, em que seriam maiores as dificuldades administrativas para a
instituição e arrecadação desta nova espécie tributária, que seria taxada,
ainda, como sendo de caráter confiscatório, além de entrar em conflito com
os outros tributos sobre a renda e patrimônio já existentes no âmbito interno
de cada país.
Então, pode-se dizer, com isso, que o projeto pikettyano de se instituir uma
tributação mundial sobre o capital padece dos vícios da inadequação jurídico-
sistemática, da demagogia de propósitos altruístas, da restrição abusiva da
propriedade de cada cidadão-cosmopolita, da absoluta ineficácia em relação
às suas finalidades (extra)fiscais, além de estar em total contradição com o
objetivo de desenvolvimento econômico e sustentável. O Brasil, portanto,
não pode cair nesta nova emboscada.
Mas, caso sintamos, em algum momento, seduzidos pelo canto de algum
jurista que venha admitir tal possibilidade no cenário brasileiro, utilizando-se
como pretexto a competência da União Federal para instituir o “Imposto
sobre Grandes Fortunas”, devemos guardar na nossa memória as belas
palavras de Eurico Marcos Diniz de Santi, quando afirma, com intrepidez,
que: “A inesgotável capacidade criativa para gerar novos sentidos sobre um
mesmo texto legal, alargando-se a competência tributária, não é conduta
digna do Poder Público: ESPERTEZA e OPORTUNISMO não fazem rima
com LEGALIDADE e DEMOCRACIA”.[140]
E isto se justifica, de acordo com o entendimento do nobre professor, por
uma simples razão: “Direito sem ética é um direito cruel com vocação para o
não direito”.[141] E, quando o Direito perde sua essência, ele deixa de ser
Direito e passa a ser Arbítrio!
Por isso, o “Bosque da Tributação Cosmopolita” continua sendo um mundo
obscuro, cheio de mistérios, os quais cabe a nós desvendar, uma vez que, em
se tratando de um novo, escuro e imenso bosque, de tudo podemos encontrar
e pelo que entendo, já nos basta ter sobrevivido aos perigos de seus encantos
e magias, desde quando o adentramos no início desta expedição.

Aristóteles
Apresentação
Recentemente um tributarista capixaba sugeriu que o
livro “O capital no século XXI” de Thomas Piketty – cujos
direitos autorais, com o livro publicado em muitas línguas,
foram polpudos – devesse ser chamado de “punição ao
capital no século XXI”, porquanto revelaria que as ideias
do Piketty estariam mais próximas da utopia de Morus do
que das de Karl Marx, em seu livro inolvidável “O
Capital”. É dele o livro que estou a apresentar.
De sobredobro, Piketty, por mais que tenha tentado,
deixa entrever um socialismo romântico em busca de uma
poção mágica capaz de solucionar, ao menos em parte,
alguns disfunções supostamente decorrentes do
capitalismo, o que é inverídico, porque o relativo no
histórico mostra que os povos, desde o início da “revolução
industrial” nas cidades inglesas, se apresentaram perante o
mundo em etapas extremamente diversas no tempo e no
espaço: tribalismo, nomadismo, sob o estado de colônias à
serviço de potencias europeias ou forçadas por elas a se
manterem estáticas fornecedores de matérias primas e mão
de obra baratas. Houve até quem na literatura dissesse que
a Europa era “um acidente histórico” e outras a chamaram
de “a grande prostituta” a dar satisfação a seus povos
vendendo à dinheiro graúdo os valores mais caros do
mundo ocidental (liberdade, igualdade, fraternidade,
progresso e democracia).
O autor, Dr. Wilson Coimbra Lemke, cujo livro
tenho a honra de apresentar, deu ao seu trabalho o título de
“TRIBUTOS MUNDIAIS: O PODER
SUPRANACIONAL DE TRIBUTAÇÃO”, a combater a
utopia de um imposto mundial sobre o capital no século
XXI, para solucionar em termos locais, mas com validez
mundial, alguns transtornos como concentração mundial da
riqueza, desigualdades sociais decorrentes das
desigualdades patrimoniais, crises financeiras e/ou
bancárias, et caterva.
O livro é rico, não apenas em razão do nosso sistema
constitucional tributário, mas por força da diversidade
econômica e cultural das mais de duzentas nações
existentes no planeta, sendo irreal, portanto em todos os
sentidos, que analisou minudentemente, o que, só por isso,
o recomenda (deve ser lido e meditado).
Diz o autor com sabedoria: “É de se verificar,
destarte, que esse imposto seria, talvez, o de legislação
mais complexa de quantos possam, ainda, integrar o
sistema tributário de vários países. E, além de complexa,
sua legislação seria das mais dinâmicas ante as
transformações sociais, políticas e econômicas que as
diversas regiões do mundo vêm sofrendo nos últimos anos.
A natural diversidade dos objetos e pessoas
alcançados pela tributação, atrelada às peculiaridades
regionais (tanto de conteúdo social, quanto de conteúdo
econômico), além da ideologia política dominante em cada
país, tornam absolutamente impossível a
supranacionalização da atividade tributária.
Em razão de todas essas variáveis, não seria medida
aconselhável (nem praticamente exequível) estender a
tributação para além das fronteiras territoriais da autoridade
estatal, sem que isto representasse, exatamente, a tentativa
de desenvolver, no plano supranacional, uma espécie de
luta revolucionária pela conquista e manutenção do poder
político, contrapondo a potência econômica do capitalismo,
e desrespeitando as peculiaridades e as características
nacionais.
Se é certo que na tributação de âmbito nacional se
percebe sempre uma irredutível dose de injustiça fiscal,
muito mais iníquo seria o sistema financeiro que
inaugurasse o regime da tributação supranacional para
todos os cidadãos do mundo. A injustiça do gravame, sua
inoportunidade e inconveniência à economia de cada país
são alguns pontos abertos à censura deste instrumento
fiscal.
Ante todo o exposto, conclui-se que a instituição de
qualquer espécie de tributo mundial mostra-se de todo
incompatível com o espírito do ordenamento jurídico
brasileiro, por ir de encontro ao interesse público existente
na defesa da soberania estatal, da segurança nacional, e da
estrita obediência às normas tributárias, sobretudo àquelas
de caráter eminentemente constitucional”.
Nada mais, preciso acrescentar. O livro fala por si, e
nos alerta, ilustra e opulenta a tributaristica nacional.
Sacha Calmon Navarro Coêlho
Doutor em Direito pela UFMG. Fundador e
presidente honorário da Associação Brasileira
de Direito Tributário (ABRADT). Presidente
da Associação Brasileira de Direito Financeiro
(ABDF). Membro da Academia Brasileira de
Direito Tributário (ABDT). Membro da
Conselho de Arbitragem de Minas Gerais.
Membro Titular Acadêmico, Titular Imortal
da Cátedra 002 na Academia Nacional de
Economia (ANE). Membro do Conselho
Jurídico da Fecomércio, São Paulo. Membro
do Conselho de Catedráticos no Inst.
Internacional de Estudos de Direito do Estado
(IIEDE). Membro Titular Acadêmico e Titular
Imortal da Cátedra 31 na Academia Mineira
de Letras Jurídicas. Sócio Honorário do IBED.
Sócio Honorário no IDEPE. Representante do
International Fiscal Association (IFA).
Representante da Associação Latino-
Americana de Direito Tributário (ILADT).
Partícipe do Conselho Editorial de mais de 30
Revistas Jurídicas. Conselheiro na Associação
Americana de Direito Tributário.
Conferencista na Câmara Americana de
Comércio. Articulista no jornal “Estado de
Minas” e jornal “O Correio Braziliense”. Ex-
auditor da Receita Estadual. Ex-Assessor da
Secretaria do Estado da Fazenda, Minas
Gerais. Ex-Procurador-Chefe da Procuradoria
Fiscal do Estado de Minas Gerais. Ex-Juiz
Federal. Ex-Professor de Direito Tributário na
PUC/MG, UFMG e UFRJ. Ex-diretor,
Instituto dos Advogados do Estado de Minas
Gerais; Ex-Conselheiro da OAB/MG.
Prefácio
O livro do professor Wilson Coimbra Lemke é de particular
atualidade.
As crises cíclicas do capitalismo, sempre menores que as crises
permanentes do socialismo, em suas diversas facetas, são examinadas pelo
eminente mestre, à luz de uma análise serena e objetiva do livro sobre o
capitalismo do século XXI de Thomas Piketty.
Tendo lido aquela obra, ainda no original e antes da tradução para o
português, constatei, de um lado, um dos mais bem feitos levantamentos
sobre a evolução das classes sociais nos últimos 300 anos em alguns países e,
de outro lado, no que concordo inteiramente com Wilson Coimbra, a
inviabilidade da teoria por ele formulada de um tributo mundial para
distribuir riquezas por meio do Poder Público, em todas as nações.
Desde o início, elogiei e critiquei o livro de Piketty em relação a
ambas as facetas, algo que, na bem elaborada obra do professor do Espirito
Santo, é destacado, à luz da impossibilidade de sua adoção no Brasil, em face
do sistema nacional.
No livro que coordenei com a colaboração de eminentes tributaristas
brasileiros e internacionais “O tributo – Uma análise multidisciplinar”
(Antonio Delfim Netto, Arion Sayão Romita, Arnaldo Niskier, Cássio
Mesquita Barros, Dejalma de Campos, Diogo Leite de Campos, Ernane
Galvêas, Eusébio Gonzáles, Fábio Giambiagi, Fernando Rezende, Gustavo
Miguez de Mello, Ives Gandra da Silva Martins, Joacil de Britto Pereira, José
Joaquim Gomes Canotilho, José Pastore, Manuel Porto, Maria Teresa de
Cárcomo Lobo, Marilene Talarico Martins Rodrigues, Mary Elbe Queiroz,
Paulo Nathanael Pereira de Souza, Ricardo Lobo Torres, Rogério
Lindenmeyer V. Gandra da Silva Martins, Rubens Sanabria, Sacha Calmon
Navarro Coelho, Sérgio de Andréa Ferreira, Sérgio Ferraz, Sidney Saraiva
Apocalipse, Victor J. Faccioni e Zelmo Denari), editado pela Forense, realcei
que o tributo não é senão um grande instrumento de exercício do poder, que,
quando excessivo, gera revoluções. Os três movimentos mais relevantes do
constitucionalismo moderno, que o permitiram evoluir em 3 vertentes,
decorreram de movimentos contra o excesso de exação, ou seja, a Magna
Carta Baronorum dos ingleses, imposta ao Rei João Sem Terra em 1215, após
a revolução dos barões de 1214; a Constituição americana, obtida após a
revolução da independência americana, surgida com o aumento de tributação
das Leis Townshend em 1776, e a Constituição francesa contra o excesso de
tributação de Luiz XVI, que culminou com a promulgação, em 1791, da
primeira Constituição escrita daquela nação.
No meu livro “Teoria da Imposição Tributária”, mostrei que o tributo
é uma norma de rejeição social, pois o Estado sempre cobra mais do que
necessita para atender o “Estado prestador de serviços” e as benesses que se
auto outorgaram, os detentores do poder, seja através da corrupção, de
privilégios, ou pelos desperdícios para acomodação dos “amigos do rei”.
Ora, pretender um tributo mundial para distribuição de riquezas, por
intermédio do Poder Público que, notoriamente, distribui mais riquezas “pro
domo sua” do que para o povo que governa, é retirar dinheiro que a sociedade
sabe dar-lhe maior eficiência, passando às mãos menos eficientes do poder
público.
Na análise de Piketty, há um dado que deveria ser melhor estudado,
qual seja, se o diferencial entre os mais ricos e os mais pobres permanece, em
muitos países, estável, o nível socioeconômico da classe menos favorecida há
trezentos anos era incomensuravelmente inferior ao nível desta mesma classe
no ano de 2010, ano da pesquisa. O que vale dizer, a economia cresceu,
praticamente, para toda a humanidade neste período, mas, proporcionalmente,
favoreceu mais aqueles que até então, usufruíam de uma condição pior,
apesar de todas as turbulências políticas porque passaram as nações
desenvolvidas estudadas por Piketty.
O Estado sempre foi um mau empresário e um mau distribuidor de
riquezas. O desenvolvimento econômico sempre foi superior, quando a livre
iniciativa é por ele responsável, do que quando o Poder Público entra nesta
função. A função maior do Estado é dar estabilidade às instituições para que
as empresas possam assegurar investimentos e empregos a longo prazo. Dois
Prêmios Nobel de Economia (Douglas North e Ronald Coase) demonstraram
que a economia de escala só cresce em países com instituições jurídicas
estáveis.
O fracasso de todas as economias socialistas em que o Estado é o
distribuidor de riquezas, depõe contra Piketty, lembrando-se que na China,
país comunista politicamente, só ganhou a posição em que está, pois sua
economia é de um país particularmente liberal.
Meu saudoso amigo, Roberto Campos, dizia que a diferença entre as
economias socialistas e as capitalistas é que naquelas os ideais são superiores
aos resultados e nestas, os resultados são superiores aos ideais.
O livro de Wilson Coimbra tem o mérito de desmistificar o culto a
Piketty, como de demonstrar a inviabilidade de uma tributação mundial à luz
do sistema tributário brasileiro e de sua Federação.
É de se lembrar que a tese de uma tributação mundial sobre o sistema
financeiro, idealizado por outro Prêmio Nobel de Economia (Tobin), foi
discutida no século passado, embora incidente apenas sobre o sistema
financeiro mundial, o que seria de mais fácil imposição e cobrança. Sua
inviabilidade não permitiu sua adoção.
A lição que se tira do bem escrito livro pode se resumir na ideia de
que se elimina a pobreza pela multiplicação da riqueza e não, por sua divisão.
Parabéns ao brilhante autor por sua bem elaborada obra!
Ives Gandra da Silva Martins
Professor Emérito das Universidades Mackenzie, UNIP,
UNIFIEO, UNIFMU, do CIEE/O ESTADO DE SÃO
PAULO, das Escolas de Comando e Estado-Maior do
Exército - ECEME, Superior de Guerra - ESG e da
Magistratura do Tribunal Regional Federal – 1ª Região;
Professor Honorário das Universidades Austral (Argentina),
San Martin de Porres (Peru) e Vasili Goldis (Romênia);
Doutor Honoris Causa das Universidades de Craiova
(Romênia) e das PUCs-Paraná e RS, e Catedrático da
Universidade do Minho (Portugal); Presidente do Conselho
Superior de Direito da FECOMERCIO - SP; Fundador e
Presidente Honorário do Centro de Extensão Universitária -
CEU/Instituto Internacional de Ciências Sociais - IICS.
Introdução
Talvez nenhum outro livro de economia, publicado nos últimos anos,
provocou tanta exaltação de ânimo na comunidade internacional quanto O
capital no século XXI, do economista francês, Thomas Piketty. Seus estudos
sobre a concentração mundial de riqueza e a evolução das desigualdades
sociais e econômicas ganharam as primeiras páginas dos mais prestigiados
jornais do mundo, provocaram grandes debates nas redes sociais e colheram
os comentários, as críticas e os elogios de diversos ganhadores do Prêmio
Nobel.
Após quinze anos de estudos, Thomas Piketty chegou a conclusões de grande
repercussão internacional, baseadas em dados que remontam ao século
XVIII, colhidos de diversos países e reunidos nas páginas de sua principal
obra. Apesar do crescimento econômico dos grandes Estados nacionais,
juntamente com a ampla difusão do conhecimento humano, ter impedido que
se concretizasse no mundo um cenário sombrio e tenebroso, tal como
previsto por Karl Marx no século XIX, Thomas Piketty tentou demonstrar,
com base em registros históricos, que o capitalismo tende a criar um círculo
vicioso de desigualdades sociais e econômicas, e isso se deveria ao fato de
que, em longo prazo, a taxa de retorno sobre os ativos seria maior que o ritmo
do crescimento econômico dos países, o que se traduziria numa concentração
cada vez maior da riqueza.
Se, por um lado, uma situação de extrema desigualdade pode causar a
decepção geral de uma nação e até mesmo ameaçar os valores democráticos;
por outro lado, Thomas Piketty lembra que a intervenção política já foi um
instrumento eficaz para reverter tal quadro no passado e poderá voltar a fazê-
lo nos tempos do presente.
O capital no século XXI, que já se tornou uma referência de estudo para os
economistas, talvez tenha contribuído para que muitos deles tivessem suas
mentes renovadas sobre a dinâmica do capitalismo globalizado, deste século,
ao fixar sua principal contradição na íntima e necessária relação entre o
crescimento econômico e o rendimento do capital.
Com efeito, esta obra tem levado diversos leitores a refletir, principalmente
do ponto de vista econômico, sobre algumas das questões mais prementes da
contemporaneidade, dentre elas: a necessidade de instituir-se uma espécie de
Imposto Mundial sobre o Capital, como tentou demonstrar o autor, mais
especificamente no Capítulo 15 de sua obra.
Mas, sob a óptica da Ciência do Direito – especialmente do Direito Tributário
e de seus preceitos magnos –, seria possível instituir, no Brasil, uma espécie
de tributo mundial, tal como proposta por Thomas Piketty, em O capital no
século XXI?
A partir da publicação da mencionada obra, a comunidade acadêmica se
deparou com um novo problema a ser enfrentado pelos teóricos do Direito, a
saber: o da tributação em face da globalização.
Objetivou-se, com esta pesquisa, analisar os pressupostos teóricos de uma
tributação cosmopolita; identificar os elementos característicos do Imposto
Mundial sobre o Capital, a partir da teoria econômica de Thomas Pikkety;
confrontar os argumentos favoráveis e contrários à instituição de uma espécie
de tributo mundial; e identificar as implicações práticas de uma eventual
introdução dessa nova espécie tributária no sistema jurídico brasileiro.
Quanto à metodologia adotada nesta obra, recorreu-se às investigações
teóricas que apontam possibilidades de análise acerca do Imposto Mundial
sobre o Capital, enquanto manifestação de um poder supranacional de
tributação.
Assim, a validade científica desta pesquisa está consubstanciada no estudo
bibliográfico, com método dialético de análise, com base no qual foi possível
verificar, com mais rigor, a validade da “Teoria da Tributação Mundial sobre
o Capital”, de Thomas Piketty, justamente por ter sido posta frente a frente
com o teste de suas possíveis contradições.
Esta monografia está dividia em três capítulos. Inicialmente, este trabalho
busca compreender o que seria uma tributação cosmopolita, levando-se em
consideração os conceitos de soberania estatal, supranacionalidade e poder
tributário. A partir desta contextualização, num segundo momento, examina-
se detidamente a “Teoria da Tributação Mundial sobre o Capital”, de Thomas
Piketty, destacando-se, ainda que de forma incipiente, os aspectos jurídicos
da hipótese de incidência tributária do Imposto Mundial sobre o Capital. Ao
final, este estudo traça os limites constitucionais ao poder supranacional de
tributação, revelando as principais (in)compatibilidades de uma eventual
introdução do Imposto Mundial sobre o Capital no sistema jurídico brasileiro.
Em função das mais variadas espécies de tributos, da elevada e crescente
carga tributária, do número de cidadãos-contribuintes no Brasil e no mundo,
os conflitos em matéria tributária têm se tornado cada vez mais frequentes,
inclusive em nível internacional, exigindo dos profissionais que atuam nesta
área um grau maior de especialização.
Apesar do grande número de publicações na área tributária, existe ainda uma
enorme carência de conhecimento jurídico acerca do Imposto Mundial sobre
o Capital. A maioria dos livros, ou trata apenas da parte geral do Direito
Tributário; ou, simplesmente, de alguns tributos nacionais, em espécie.
Imprescindível, portanto, que o estudante e o profissional do Direito tenham
em mãos uma monografia que contribua para a melhor compreensão destes
novos fenômenos, bem como para o aprimoramento do debate acadêmico
acerca dos tributos mundiais, enquanto manifestação de um poder
supranacional de tributação.
CAPÍTULO 1
A TRIBUTAÇÃO COSMOPOLITA
1.1 A soberania estatal
A história nos mostra que, para conservarem mutuamente as suas vidas, suas
liberdades e seus bens, os indivíduos se associaram, formando um corpo
político e, desta convenção mútua, nasceu uma autoridade pública, uma
soberania.
Com extrema didática e clareza, o douto Conselheiro José Maria de Avellar
Brotero, primeiro professor universitário de Curso Jurídico a ser nomeado no
Brasil, traça as seguintes explanações sobre os diversos sentidos em que se
emprega este termo, dizendo que:
Soberania é a supereminência, a elevação e a primazia que
tem uma associação em geral sobre cada um de seus
membros em particular; soberania é a independência
absoluta em que está um estado de outro estado; soberania é
o poder supremo que tem um povo de se reger e governar;
soberania é este grau mais elevado de dignidade e poder que
não tem nenhum homem considerado como indivíduo, e que
só tem o povo considerado como uma nação, que se compõe
das vontades e liberdades de todos os homens que formam a
mesma associação; soberania é, finalmente, esta autoridade
política de um estado que, fazendo-o independente de outro
qualquer, como já fica dito, o faz ao mesmo tempo senhor de
suas instituições constitucionais, orgânicas, administrativas e
civis.[142]
O termo soberania (do latim medieval, superanus e, mais recentemente, do
francês, souveraineté) foi utilizado por Jean Bodin para caracterizar a
realidade então nascente no mundo moderno,[143] que Nicolau Maquiavel
designara por Estado (do latim, stato),[144] de certa forma já concretizado em
alguns reinos como a Inglaterra, França, Castela, Aragão, Navarra e Portugal,
bem como nas comunas e cidades livres.
Trata-se, assim, de uma construção conceitual da modernidade, “expressão da
reivindicação da plenitudo potestatis por parte dos reinos medievais [...] face,
por um lado ao Império e à Igreja (rectius ao Papado) e, por outro, aos
poderes feudais e comunais”.[145] Na definição de Jean Bodin, “souveraineté
est la puissance absolue et perpétuelle d’une République”,[146] o que pode ser
traduzido como o poder político de um Estado que não está submetido a
nenhum outro organismo.
Daí porque quase a totalidade dos estudiosos do Estado reconhecem a
soberania como sendo una, indivisível, inalienável e imprescritível –
características estas que não só revelam a plenitude do seu próprio conceito,
mas que também distingue o poder estatal de todos os demais centros de
imputação política.[147]
Apesar de ter sido uma construção conceitual da modernidade, a ideia de
soberania tem suas raízes na Idade Média, mais precisamente entre os séculos
XII e XIII, quando se andava afirmando, na Europa, a nova realidade dos
Estados nacionais e no momento em que a ideia do Império universal
começava a se aproximar de sua crise. Foi exatamente neste contexto que o
princípio da soberania apareceu às consciências, expresso na seguinte
fórmula: rex in regno suo est imperator.[148]
A partir deste paradigma medieval, os elementos intrínsecos ao conceito de
soberania, vale dizer, a plenitude de poderes e independência de todos os
outros poderes, começaram a se consolidar na era dos Estados Absolutos.
Neste período, o poder soberano do Estado não conhecia limites de qualquer
espécie. Só mais tarde, com o advento das revoluções liberais e o
consequente triunfo do Estado de Direito, é que a soberania passou a
compreendida como um poder sujeito a certos limites, constituídos estes,
sobretudo, pelos princípios superiores de justiça e pelo Direito Internacional.
Com uma tal compreensão, percebe-se que a soberania consiste, sem
qualquer sombra de dúvida, num elemento essencial do Estado, que, por um
lado, indica a posição de independência em relação a qualquer outro ente ou
organismo existente fora dele (soberania externa); e, por outro, a supremacia
em face de todas as outras pessoas, físicas e jurídicas, que se encontram em
seu território (soberania interna) e, consequentemente, o mesmo poder de
governo do ente estatal.
Em síntese, a soberania estatal traduz-se naquele poder supremo e
independente: supremo, porque não está limitado por nenhum outro poder na
ordem interna; e independente, porque não deve obediência a ordens de
governo ou organismo estrangeiro, estando em pé de igualdade com os
demais poderes soberanos dos outros Estados, na ordem internacional. [149]
Referindo-se à posição do Estado na ordem internacional, o professor Dalmo
de Abreu Dallari observa que:
O mundo é uma sociedade de Estados, na qual a integração jurídica dos
fatores políticos ainda se faz imperfeitamente. Para o jurista, o Estado é
uma pessoa jurídica de direito público internacional, quando participa
da sociedade mundial. Na prática, entretanto, apesar de todas as
restrições dos teóricos e dos próprios líderes políticos, o
reconhecimento de um Estado como tal não obedece a uma regulação
jurídica precisa, ficando na dependência da comprovação de possuir
soberania. Com efeito, independentemente de atos formais de
reconhecimento, o que se exige é que a sociedade política tenha
condições de assegurar o máximo de eficácia para sua ordenação num
determinado território e que isso ocorra de maneira permanente, não
bastando a supremacia eventual ou momentânea. Assim, pois, o que
distingue o Estado das demais pessoas jurídicas de direito internacional
público é a circunstância de que só ele tem soberania. Esta, que do
ponto de vista interno do Estado é uma afirmação de poder superior a
todos os demais, sob o ângulo externo é uma afirmação de
independência, significando a inexistência de uma ordem jurídica
dotada de maior grau de eficácia.[150]
Todavia, não se pode negar que, desde o entardecer da modernidade, já se
podia observar, no céu das relações internacionais, um eclipse da soberania
estatal. No atual século, aquele fenômeno que, antes, ainda era um pouco
nebuloso ficou, agora, nitidamente inteligível: a plenitude do poder estatal
está sendo ofuscada pela interposição de um outro astro, de grandeza superior
aos tradicionais Estados soberanos, a saber: as chamadas comunidades
supranacionais.
Fazendo uma leitura atenta dos fenômenos políticos que estão ocorrendo na
contemporaneidade, com destaque para a atual crise pela qual vem passando
o conceito de soberania, o cientista político italiano, Nicola Matteucci, aduz
que:
No nosso século, o conceito político-jurídico de Soberania entrou em
crise, quer teórica quer praticamente. Teoricamente, com o prevalecer
das teorias constitucionalistas; praticamente, com a crise do Estado
moderno, não mais capaz de se apresentar como centro único e
autônomo de poder, sujeito exclusivo da política, único protagonista na
arena internacional. Para o fim deste monismo contribuíram, ao mesmo
tempo, a realidade cada vez mais pluralista das sociedades
democráticas, bem como o novo caráter dado às relações
internacionais, nas quais a interdependência entre os diferentes Estados
se torna cada vez mais forte e mais estreita, quer no aspecto jurídico e
econômico, quer no aspecto político e ideológico. Está desaparecendo a
plenitude do poder estatal, caracterizada justamente pela Soberania; por
isso, o Estado acabou quase se esvaziando e quase desapareceram seus
limites.[151]
Portanto, este esvaziamento dos entes estatais deve-se, basicamente, a dois
fatores: ao pluralismo das sociedades democráticas; e ao processo, cada vez
mais estreito, de colaboração internacional entre os Estados.
Mas, como bem observou Nicola Matteucci, neste processo de
obscurecimento da soberania estatal, “o golpe maior veio das chamadas
comunidades supranacionais, cujo objetivo é limitar fortemente a Soberania
interna e externa dos Estados-membros”, colocando-se acima de cada um
deles.[152]
Assim, forçoso reconhecer que houve uma relativização tanto da posição de
independência, até então assumida pelos tradicionais Estados soberanos em
relação a qualquer outro ente ou organismo existente fora dele; como da
supremacia exercida em face de todas as outras pessoas, físicas e jurídicas,
que se encontram em seu território e, consequentemente, do mesmo poder de
governo do próprio ente estatal.
Convém destacar, todavia, que – não obstante a plenitude do poder estatal,
caracterizado pela Soberania, esteja em via de extinção – isto não significa
que o poder, em si, isto é, enquanto fenômeno social, tenha desaparecido.
Pois, caso contrário, desapareceria também a relação entre os homens,
mantida por esta força que se está a serviço de uma ideologia cristalizada na
consciência coletiva.[153]
Portanto, mediante uma leitura atenta deste complexo fenômeno político,
verifica-se que, na verdade, “desaparece apenas uma determinada forma de
organização do poder, que teve seu ponto de força no conceito político-
jurídico de Soberania”,[154] dando lugar, assim, a um novo modelo de
organização do poder, cuja expressão máxima encontra-se no conceito de
“supranacionalidade”, que será estudado a seguir.
1.2 O fenômeno da supranacionalidade
A história da humanidade sempre foi marcada por movimentos de união e
dispersão, sendo esta uma característica peculiar das relações humanas ao
longo dos séculos. Se, por um lado, o “nacionalismo-regional” luta,
constantemente, para (re)desenhar os (novos) limites territoriais; por outro, o
“supranacionalismo” quer apagar as antigas fronteiras do mapa e, como
ideologia, ele se opõe ao nacionalismo, que defende a soberania absoluta das
nações.[155]
Em que pese à constante luta do “nacionalismo-regional”, não se pode negar
que, nos últimos cem anos, principalmente depois da Segunda Guerra
Mundial, tem-se multiplicado a formação de entes políticos supranacionais.
Expondo com clareza e exatidão os caracteres distintivos deste fenômeno,
Martin Große Hüttmann, explica que:
Der Begriff supranational [dt.: überstaatlich] beschreibt eine
besonders enge Form der politischen, rechtlichen und wirtschaftlichen
Zusammenarbeit und Verflechtung von Staaten, die sich durch die
Übertragung von Kompetenzen und Ressourcen auf eine den Staaten
übergeordnete politische Ebene und die Errichtung eines supranational
Rechtssystems ergibt.[156]
O fenômeno da supranacionalidade diz respeito, portanto, a algo que está fora
da competência do governo de uma nação, vale dizer, além dos limites do
próprio Estado nacional. Trata-se, portanto, da capacidade de uma
organização internacional (ou, mais especificamente, de uma Comunidade
Supranacional) ir além da soberania dos Estados tradicionais, ao adotar
normas jurídicas e impor medidas, sobretudo de natureza política e
econômica, suscetíveis de atingir seus cidadãos.
A supranacionalidade se distingue em duas esferas de competência: uma
normativa, e outra executiva. Enquanto a primeira indica as relações e a
hierarquia existentes entre as medidas político-jurídicas acatadas pelos órgãos
de uma organização internacional e aquelas adotadas pelos Estados-membros;
a segunda, por sua vez, se ocupa dos órgãos e da forma de atuação dessa
organização internacional frente às medidas imprescindíveis para a
consecução de suas finalidades.[157]
Esse fenômeno associativo certamente foi intensificado pela globalização,
que traz consigo algumas questões de ordem política, econômica e social, as
quais superam as possibilidades dos tradicionais Estados soberanos,
resultando na necessidade destes entes se associarem para encontrar melhores
condições para enfrentá-las. Posta assim a questão, é de se dizer, juntamente
com Massimo Jasonni, que:
De fato, a conseqüente formação de organismos supranacionais,
dotados de poder efetivo e exercendo funções concretas, tornou
evidente a posição subsidiária do Estado, obrigando não raro a
subordinar suas próprias decisões governamentais a opções econômicas
e desígnios políticos que lhe são externos.[158]
Não se pode negar, portanto, que essas entidades, de âmbito supranacional,
moldam efetivamente a maneira pela qual o direito deve ser aplicado pelos
Estados-membros, em cada caso concreto. Com muita propriedade, o douto
Ives Gandra da Silva Martins traça as seguintes explanações sobre o assunto:
À medida que os direitos comunitários vão ganhando expressão no
mundo, nitidamente os direitos locais perdem relevância e um conceito
de ‘soberania subordinada’ passa a vigorar, pois os países, ao
abdicarem de sua soberania de dizer o direito para acatarem o direito
dito pela comunidade, conformam um novo tipo de relação jurídica a
que denomino o direito da ‘Federação Comunitária’.[159]
Com efeito, um dos grandes desafios que o Direito já está enfrentando neste
século diz respeito a essa transição do conceito clássico de soberania estatal
para o conceito pós-moderno de soberania comunitária.
Isto implica, inevitavelmente, numa mudança de responsabilidades legais do
Estado-nação para um nível superior, denominado “Comunidade
Supranacional” (ou “Federação Comunitária”), que significa “ogni unione
internazionale di stati istituzionalmente organizzata, dotata cioè di organi
proprî, agendo per mezzo dei quali viene naturalmente a porsi ‘sopra gli
stati’”,[160]
Hoje, a União Europeia, representa o modelo mais avançado de integração
econômica e política e, portanto, de uma ordem supranacional. Assim, o
conceito de “Comunidade Supranacional” é, por vezes, utilizado para
descrever a União Europeia como um novo tipo de entidade política.
Como bem acentuado por Sérgio Pistone, a escolha do interesse nacional por
esta forma de integração política consiste, basicamente, numa “abdicação
progressiva da soberania nacional absoluta a favor de instituições
supranacionais, mediante as quais um conjunto de povos, que perderam a
capacidade de uma real autonomia internacional, tende a recuperá-la, não
individual, mas coletivamente”.[161]
As Comunidades Supranacionais diferem-se das demais Organizações
Internacionais – como, por exemplo, a Organização Mundial do Comércio e a
própria Organização das Nações Unidas – pelo grau mais acentuado de
integração entre seus membros.
Isto pode ser observado, a título exemplificativo, pela existência de uma
ordem jurídica autônoma, de um tribunal de justiça com poderes vinculantes
ou de instituições com legitimidade direta (como o Parlamento Europeu).
Assim, a principal característica de uma Comunidade Supranacional – que a
diferencia das demais Organizações Internacionais acima mencionadas –, está
na existência de uma ordem jurídica própria, fundada no primado da lei
supranacional.
Com base nessas premissas, pode-se dizer que o poder supranacional de
tributação seria aquele exercido sobre um grupo de Estados, estando acima
do poder tributário nacional. Assim, essa nova forma de organização do
poder seria caracterizada, particularmente, pela estreita cooperação entre os
Estados em matéria tributária, resultando na transferência de parte da
soberania fiscal e de recursos financeiros para um nível político mais alto,
bem como no estabelecimento de um sistema tributário supranacional.
Não obstante os elementos postos de relevo, cumpre refletir, todavia, acerca
da real possibilidade de se sustentar, nos dias de hoje, dada a limitada
casuística, a existência de comunidades supranacionais que promovessem a
captação de recursos financeiros, por meio de uma tributação de cunho
supranacional, com vistas à consecução de interesses de toda a comunidade,
dentre eles: a redução das desigualdades socioeconômicas.
Como remate a este tópico, melhor não se faça que transcrever mais uma vez
o abalizado pensamento de Ives Gandra da Silva Martins, que, por um lado,
reconhece que “os espaços comunitários que conseguirem vencer os
preconceitos ideológicos e a força nacionalista serão os que mais se
desenvolverão no futuro”, mas, por outro, não se esquece de que “as nações,
mesmo quando agregadas, tendem a se defender, e, em momentos de crise,
respeitam pouco os acordos internacionais”.[162]
1.3 O poder (supra)nacional de tributação
Como se sabe, o Estado, em regra, não está autorizado a exercer atividade
econômica, cujo exercício encontra-se reservado à iniciativa privada. Por isto,
não restam muitas opções ao ente estatal que não sejam explorar seu próprio
patrimônio, ou transferir compulsoriamente a riqueza produzida pelo setor
privado para os cofres públicos, mediante o exercício do poder tributário.
Na precisa lição de Carlos Fonrouge, a expressão “poder tributário” significa
“la facultad o la posibilidad de exigir contribuiciones con respecto a
personas o bienes que se hallan en su jurisdicción”.[163] Trata-se, portanto, do
poder estatal de avançar sobre a propriedade privada, por meio dos tributos.
Em trabalho inexcedível, o grande constitucionalista brasileiro, José Afonso
da Silva, também apresenta o conceito de poder tributário, de forma precisa e
juridicamente escorreita, dizendo que este poder:
É a capacidade de impor tributos. É inerente ao Estado. Fundamenta-se
no poder político ou poder de império, que é atributo das entidades
estatais, únicas que podem impor condutas aos particulares, mediante
lei. Por isso, só a entidade pública que dispõe de capacidade normativa
pode lançar contribuições compulsórias. Em última análise, o poder de
tributar é manifestação do poder constituinte, que o outorga, pela
Constituição, e nos limites nela estabelecidos, às entidades estatais.
Nele fundamenta-se a faculdade de criar tributos. Ao se instituir o
tributo – o que implica sua criação, fixação do fato gerador da
obrigação tributária principal, estabelecimento de suas alíquotas –, está-
se exercendo o poder de tributar. A competência tributária é função do
poder de tributar.[164]
O poder de tributar consiste, portanto, naquele poder estatal de transferir,
compulsoriamente, parcela da propriedade privada para os cofres públicos, a
fim de assegurar ao Estado a obtenção de recursos financeiros necessários à
manutenção da máquina estatal e à promoção do bem comum, conforme as
finalidades impostas pela ordem jurídica vigente.
Para Liam Murphy e Thomas Nagel, professores de Filosofia da
Universidade de Nova York, a tributação tem duas funções principais, in
verbis:
(1) Ela determina que proporção dos recursos da sociedade vai estar
sob o controle do governo para ser gasta de acordo com algum
procedimento de decisão coletiva, e que proporção será deixada, na
qualidade de propriedade pessoal, sob o arbítrio de indivíduos
particulares. Essa é a repartição entre o público e o privado. (2) Ela é
um dos principais fatores que determinam de que modo o produto
social é dividido entre os diversos indivíduos, tanto sob a forma de
propriedade privada quanto sob a forma de benefícios fornecidos pela
ação pública. Esta é a distribuição.[165]
Em outras palavras, a atividade tributária caracteriza-se tanto pela partilha
das riquezas produzidas pela sociedade, destinando uma porção para o
Estado, e reservando a outra para os cidadãos-contribuintes; como pela
distribuição do produto social entre os diversos indivíduos para a satisfação
das necessidades coletivas.
Apesar do processo contemporâneo de descentralização estatal, o núcleo
essencial do poder tributário, ainda hoje, permanece exclusivamente nas
mãos do Estado, e sendo a soberania um atributo inerente às entidades
estatais, não se pode negar que este poder também mereça o qualitativo de
soberano.
Por isto que, a priori, só os Estados dispõem de capacidade normativa para
lançar contribuições pecuniárias compulsórias sobre as pessoas ou bens que
se encontrem sob sua jurisdição.
Com efeito, a jurisdiction to tax seria um simples corolário lógico da
soberania estatal, sendo ambas duas grandezas inversamente proporcionais,
de tal modo que aquela só se estende até os limites da primeira e,
inversamente, perde seu âmbito de incidência onde tais limites cessarem.
Considerando que a Constituição, enquanto expressão da vontade geral e
estatuto fundante do Estado, institui os poderes que por ele serão exercidos
em nome do povo, não se pode negar que assim também se dá em relação aos
tributos lançado ao povo pelo ente estatal. Neste sentido, oportuna a lição de
Sacha Calmon Navarro Coêlho, ao enfatizar que:
O poder de tributar é exercido pelo Estado por delegação do povo. O
Estado, ente constitucional, é produto da Assembleia Constituinte,
expressão básica e fundamental da vontade coletiva. A Constituição,
estatuto fundante, cria juridicamente o Estado, determina-lhe a
estrutura básica, institui poderes, fixa competências, discrimina e
estatui os direitos e as garantias das pessoas, protegendo a sociedade
civil.[166]
Com o advento do Estado Constitucional de Direito, o poder de tributar
passou a ser o campo de labor preferido do constituinte, estando seu conteúdo
previsto, não raramente, em diversos textos constitucionais, e isto se justifica
por duas razões:
A uma, porque o exercício da tributação é fundamental aos interesses
do Estado, tanto para auferir as receitas necessárias à realização de seus
fins, sempre crescentes, quanto para utilizar o tributo como instrumento
extrafiscal, técnica em que o Estado intervencionista é pródigo. A duas,
porque tamanho poder há de ser disciplinado e contido em prol da
segurança dos cidadãos.[167]
Dessa forma, o poder de criar impostos tem, necessariamente, por
fundamento jurídico a própria Constituição, seja porque sua titularidade
resulta dela, seja porque o seu exercício deva ocorrer dentro dos estritos
limites constitucionais, de modo a manter a tributação dentro de um quadro
tolerável para os cidadãos-contribuintes.
Partindo-se, então, dessas premissas, pode-se dizer que um poder
supranacional de tributação compreenderia a capacidade de impor tributos
mundiais. Seria inerente àqueles Estados inseridos em Organizações
Internacionais. Encontrar-se-ia, todavia, alicerçado na soberania de um Ente
Supranacional; ou, ao menos, na soberania estatal, vista, agora, não mais sob
o aspecto absoluto, mas compreendida a partir dos conceitos de abertura,
cooperação e integração.[168]
De toda sorte, não se pode negar que, embora a soberania seja ainda um
atributo das entidades estatais, num eventual exercício da capacidade
normativa para lançar contribuições compulsórias no âmbito supranacional o
Estado deixaria de atuar de forma absoluta, compartilhando essa competência
com outros Estados, mediante tratados e convenções internacionais.
Em última análise, pode-se dizer que, havendo uma ruptura das premissas de
organização dos Estados tradicionais, o poder supranacional de tributação
passaria a ser considerado uma manifestação do poder constituinte
supranacional,[169] que o outorgaria, pela Constituição comunitária, e nos
limites nela estabelecidos, às entidades estatais. Nele estaria abalizada a
faculdade de criar tributos mundiais. Neste caso, ao se instituir um tributo
mundial, estar-se-ia exercendo o poder supranacional de tributação.
CAPÍTULO 2
A TEORIA DA TRIBUTAÇÃO MUNDIAL
SOBRE O CAPITAL
Considerações iniciais
Como se sabe, ainda hoje prevalece na doutrina a divisão histórica da
tributação em cinco etapas, incidentes sobre fenômenos distintos de
manifestação de riqueza, sendo elas: 1. Tributação sobre o indivíduo ou
classe (capitação); 2. Tributação sobre o patrimônio; 3. Tributação sobre a
despesa individual; 4. Tributação sobre o produto do capital; e 5. Tributação
sobre a renda.[170]
Não obstante a tributação sobre o patrimônio remontar à antiguidade e
preceder historicamente à tributação sobre a renda, a principal proposta
apresentada por Thomas Piketty para reduzir as desigualdades sociais e
econômicas está ligada a um acordo internacional abrangente que estabeleça
um imposto mundial e progressivo sobre a riqueza individual, incluindo todo
tipo de ativos – o que, a priori, representaria um retrocesso no modelo
impositivo.
Mas, segundo a concepção pikettyana, isso se justificaria porque “não basta
repensar o modelo fiscal e social do século XX e adaptá-lo ao mundo de
hoje”.[171] É indispensável que haja “uma reatualização adequada do
programa social-democrata e fiscal-liberal do século passado”.[172] Ou seja, é
necessário que haja uma reforma financeira apropriada ao século XXI.
Então, na expectativa de regular o capitalismo patrimonial globalizado do
século XXI, preservando-se, em última instância, o Estado de bem-estar
social, o economista francês elege duas grandes políticas fiscais que devem
ser tomadas para que se possa alcançar esta finalidade, sendo elas: (1) a
instituição de um Imposto Mundial sobre o Capital (2) acompanhada de uma
transparência financeira e democrática, garantida por meio de uma
cooperação internacional, conforme será analisado, com mais rigor, ao longo
deste capítulo.
Com base nesta perspectiva, o que ele chama de “capitalismo patrimonial” –
que significa uma concentração de riqueza acompanhada pela transmissão do
poder político, de geração em geração, numa ordem social baseada em classe
–, estaria corroendo o compromisso do Estado Social com a igualdade de
oportunidades.
Assim sendo, o que será abaixo analisado, sobretudo do ponto de vista
jurídico, é a proposta de um economista que abre uma série de possibilidades
para a alteração do paradigma do século passado, com vistas a uma reforma
financeira adequada aos dias de hoje. Mas, em virtude de ainda não ter sido
criado, o debate sobre os elementos jurídicos da hipótese de incidência deste
tributo estará adstrito a aspectos teóricos e conjecturais.
Posta assim a questão, é de se dizer que uma explanação científica de uma
espécie tributária, que ainda não foi instituída em lei, nem tampouco
verificada na realidade fenomênica, como é o caso de um Imposto Mundial
sobre o Capital, justifica-se na medida em que serve de instrumento de
estudo, investigação e influência prévia na compreensão da
(in)constitucionalidade de uma lei que venha a instituir um tributo mundial,
sendo contemporânea na sua interpretação e aplicação.
2.1 O imposto mundial sobre o capital
2.1.1 Competência tributária
No Brasil, caso realmente fosse instituído um Imposto Mundial sobre o
Capital, este tributo estaria reservado à competência federal, porque somente
a União pode criar, na porção de sua competência residual, outros impostos
além daqueles que já lhe foram assegurados pela Constituição, ex vi do
disposto na literalidade do artigo 154, inciso I, da Lei Fundamental.[173]
Por ser tratar de um imposto residual (ou imposto previamente
indeterminado), a competência tributária seria exclusiva da União, e o
exercício desta competência estaria sob reserva de lei complementar,
conforme será analisado mais adiante.
Em razão disso, esse imposto também não poderia ser cumulativo, nem ter a
mesma hipótese de incidência e a mesma base de cálculo daqueles impostos
discriminados na Constituição Brasileira e adjudicados aos Estados, ao
Distrito Federal e aos Municípios.
Ademais, levando-se em consideração os parâmetros constitucionais de
repartição das receitas tributárias, 20% (vinte por cento) do produto da
arrecadação do imposto que a União instituir no exercício da competência
residual deverá ser repassado aos Estados e ao Distrito Federal, por força do
disposto no artigo 157, inciso II, da Constituição Federal.[174]
Observando-se, então, essa mesma sistemática, se realmente fosse
introduzido um Imposto Mundial sobre o Capital no sistema jurídico
brasileiro, os outros 80% (oitenta por cento) do produto dessa arrecadação
seriam repassados a instituições financeiras especializadas que
desempenhassem o papel de depositário central, conforme será estudado a
seguir, o que nos levaria a entender que, neste caso específico, a União
receberia uma parcela da competência impositiva, mas, exercendo-a, não
participaria do produto do arrecadação do imposto mundial.
2.1.2 Sujeito ativo
Em regra, o polo ativo da relação jurídica tributária será ocupado pela pessoa
político-constitucional competente para instituir o tributo, de acordo com os
critérios de repartição de competências tributárias estabelecidos na
Constituição. Entrementes, poderá ocorrer delegação da capacidade tributária
ativa, sendo esta atribuída à pessoa diversa daquela que tem a titularidade da
competência tributária.
Com efeito, não se pode confundir competência tributária com capacidade
tributária ativa. A esse propósito, é de todo oportuno trazer à baila o
entendimento do preclaro mestre, Paulo de Barros Carvalho, que obtempera,
verbo ad verbum:
Uma coisa é poder legislar, desenhando o perfil jurídico de um
gravame ou regulando os expedientes necessários à sua funcionalidade;
outra é reunir credenciais para integrar a relação jurídica, no tópico de
sujeito ativo. O estudo da competência tributária é um momento
anterior à existência mesma do tributo, situando-se no plano
constitucional. Já a capacidade tributária ativa, que tem como
contranota a capacidade tributária passiva, é tema a ser considerado no
ensejo do desempenho das competências, quando o legislador elege as
pessoas componentes do vínculo abstrato, que se instala do instante em
que acontece, no mundo físico, o fato previsto na hipótese normativa.
[175]

Escudado nesta sólida distinção terminológica, entende-se que, no caso sub


examine, a competência tributária seria da União Federal, enquanto que a
capacidade tributária ativa estaria delegada a uma instituição financeira
especializada.
Considerando que “o imposto sobre o capital seria uma forma de cadastro
financeiro mundial, algo que não existe hoje”,[176] a capacidade tributária
ativa seria delegada a instituições financeiras especializadas que
desempenhassem o papel de um depositário central, e que reunissem todos os
ativos (financeiro, imobiliários ou corporativos) detidos por uma mesma
pessoa, seja ela física ou jurídica.[177]
Tais instituições privadas figurariam, portanto, como sujeito ativo da
obrigação tributária. Ou seja, aquelas instituições financeiras teriam, à luz da
concepção pikettyana, aptidão para arrecadar e fiscalizar o tributo mundial.
2 . 1.3 Função
Quanto às funções que o legislador imprime na lei tributária, quase a
totalidade dos tributaristas classificam os tributos em três categorias, quais
sejam: a) fiscal, quando seu objetivo principal for carrear recursos financeiros
aos cofres públicos; b) extrafiscal, quando seu objetivo principal for intervir
numa situação econômica ou social; ou, c) parafiscal, quando seu objetivo
principal for arrecadar recursos financeiros para o custeio de atividades que, a
priori, não agregam funções próprias do Estado, mas este as desenvolve por
meio de entidades específicas.[178]
Não excede recordar que, para Thomas Piketty, um Imposto Mundial sobre o
Capital teria “o mérito de preservar a abertura econômica e a globalização ao
mesmo tempo que regula com eficiência e distribui os lucros de maneira justa
dentro de cada país e entre os países”.[179] À luz dessa concepção, essa nova
política tributária seria de grande importância para a redistribuição das
riquezas mundiais, não apenas em razão de pessoas, como também de
lugares.
Sua finalidade principal não consistiria em carrear recursos aos cofres
daquelas instituições financeiras especializadas, mas intervir numa situação
econômica ou social, em escala global. Teria, portanto, função nitidamente
extrafiscal porque seu principal objetivo seria a redistribuição de riqueza, em
âmbito mundial.
Com isso, este novo sistema de tributação cumpriria um duplo papel, qual
seja, “evitar uma espiral desigualadora sem fim e regular de forma eficaz a
inquietante dinâmica da concentração mundial da riqueza [...], além de
possibilitar um controle eficaz das crises financeiras e bancárias”.[180]
Mas, não se pode negar, também, a importância que esta figura impositiva
teria para o orçamento daquela entidade ou organização internacional, onde
figuraria como a principal fonte de receita tributária em nível global. Assim,
pode-se afirmar que o Imposto Mundial sobre o Capital, embora tivesse
função predominantemente extrafiscal, desempenharia também função fiscal
altamente relevante.
Na prática, estas novas receitas poderiam ser utilizadas, como sugere Thomas
Piketty, “para reduzir as arrendações existentes ou para financiar outras
necessidades” como, por exemplo, “ajudas internacionais ou a redução da
dívida”.[181]
Enfim, o Imposto Mundial sobre o Capital teria, dentre outros objetivos,
reduzir a desigualdade de renda, regulamentar o sistema financeiro e
bancário, estabelecer regras para avaliar ativos, passivos e riquezas líquidas, e
compartilhar dados financeiros e bancários.
2 . 1.4 Fato gerador
No contexto geral da obra O capital no século XXI, Thomas Piketty define o
capital como sendo “o conjunto de ativos não humanos que podem ser
adquiridos, vendidos e comprados em algum mercado”,[182] o que inclui,
portanto, todo tipo de riqueza pertencente a algum indivíduo e que possa ser
comercializada.
Registra-se, por oportuno, que deste conceito está excluído aquilo que os
economistas denominam de “capital humano”, que compreende, basicamente,
a força de trabalho, as qualificações, a formação, as capacidades individuais.
No conceito utilizado pelo economista francês, o capital abrange, de modo
mais específico, “o conjunto formado pelo capital imobiliário (imóveis,
casas), utilizado para moradia, e pelo capital financeiro e profissional
(edifícios e infraestrutura, equipamentos, máquinas, patentes etc.), usado
pelas empresas e pela administração pública”.[183]
Partindo deste conceito, entende-se que o fato gerador (isto é, o âmbito
material de incidência) do Imposto Mundial sobre o Capital seria um fato
econômico, uma demonstração global de riqueza do contribuinte, sobre o
qual incidiria uma alíquota.
Neste caso, o fato gerador seria a aquisição de capital individual, assim
entendido o valor líquido dos ativos financeiros (sobretudo, os depósitos e
contas bancárias, ações, títulos e participações de qualquer espécie dentro de
empresas cotadas em bolsas de valores ou não) e não financeiros
(especialmente, imobiliários ou corporativos), sem exceção, controlados por
cada pessoa.[184]
Exemplificando, se “determinada pessoa tem um apartamento no valor de
400.000 euros, uma carteira de ações valendo 200.000 euros e um
empréstimo de 100.000 euros [...] (no total, essa pessoa detém um patrimônio
líquido de 500.000 euros)”,[185] o que corresponderia ao valor líquido de seus
ativos financeiros e imobiliários.
Com efeito, este imposto teria a conveniência de não se basear apenas nos
ativos imobiliários, de tal sorte que o patrimônio financeiro não fosse
ignorado por completo, e os empréstimos pudessem ser deduzidos do valor
dos bens, de modo que uma pessoa com grandes dívidas não fosse taxada da
mesma maneira que um indivíduo que não tem dívida alguma.
Na concepção pikettyana, esta nova figura impositiva seria de incidência
anual, o que significa que o seu fato gerador seria da espécie dos fatos
continuados. E em virtude de ser o capital individual o resultado de um
conjunto de fatos que acontecem durante determinado período, seria razoável
afirmar, por conseguinte, que se trataria de fato gerador complexo.
Sendo assim, iniciado o período, estaria definido o regime jurídico do
Imposto Mundial sobre o Capital. Vale dizer, nenhuma lei poderia mais
modificar os critérios de determinação do valor desse imposto.
Além disso, o Imposto Mundial sobre o Capital seria uma espécie de tributo
não vinculado,[186] pois seu fato gerador não decorreria de nenhuma atividade
(supra)estatal específica, não havendo que se falar, portanto, em
contraprestação/referibilidade.
2 . 1.5 Base de cálculo
Analisando os impostos progressivos sobre o patrimônio global exigidos em
alguns países da Europa (por exemplo, França, Suíça, Espanha e, mais
recentemente, Alemanha e Suécia), Thomas Piketty aduz que:
Na prática, porém, tais impostos são muitas vezes tolhidos pelos
regimes derrogatórios: vários ativos são isentos, outros são avaliados
em bases cadastrais ou valores fiscais arbitrários e sem relação com os
valores de mercado. Assim, muitos países acabaram por eliminar esses
impostos.[187]
Ou seja, embora alguns países europeus tributem de forma progressiva o
patrimônio global, tais impostos estão repletos de isenções e os valores dos
ativos estão muito longe dos valores de mercado.
Além disso, no que diz respeito aos impostos sobre o patrimônio imobiliário,
cobrados em quase todos os países do mundo, o economista francês esclarece
que:
Esses impostos têm o inconveniente de se basearem unicamente nos
ativos imobiliários (o patrimônio financeiro é totalmente ignorado, e os
empréstimos não podem ser deduzidos do valor dos bens, de modo que
uma pessoa com grandes dívidas é taxada da mesma maneira que um
indivíduo sem dívida alguma) e, na maioria das vezes, numa taxa
proporcional ou quase.[188]
Vale dizer, tais impostos têm a desvantagem de se basearem apenas na
riqueza bruta, de tal sorte que uma pessoa profundamente endividada é
tributada da mesma forma que uma pessoa sem dívida alguma.
Por estas e outras razões, a base de cálculo do imposto sobre o capital,
idealizado por Thomas Piketty, deveria ser “o valor líquido dos ativos
controlados por cada pessoa”.[189] A forma de determinação da base de
cálculo deveria variar, também, de acordo com o tipo de contribuinte (pessoa
física, e pessoa jurídica) e a expressão econômica do patrimônio (patrimônios
modestos e médios, e grandes fortunas).
Quanto ao tipo de contribuinte, seria “recomendável instituir um imposto
com taxa baixa sobre o patrimônio líquido das empresas (os fundos próprios),
juntamente a um imposto com taxa mais elevada sobre o patrimônio líquido
dos indivíduos”.[190]
No que diz respeito à expressão econômica do patrimônio, em se tratando das
pessoas mais ricas do planeta, a base de cálculo desse imposto seria as
“fortunas individuais estimadas por revistas como a Forbes”.[191] Para todo o
restante dos indivíduos, a base de cálculo seria o “valor de mercado de todos
os ativos”[192] (imobiliários, financeiros ou corporativos), com dedução dos
valores das dívidas.
Em síntese, a base de cálculo seria a “riqueza líquida”, isto é, o valor de
mercado dos ativos financeiros e não financeiros (v.g., depósitos bancários,
ações, títulos, sociedades e/ou parcerias empresariais, participações em
empresas registradas e não cotadas em bolsas de valores, patentes, imóveis,
etc.), líquidos de dívidas.
2 . 1.6 Alíquotas
Também existiriam diversas alíquotas para o Imposto Mundial sobre o
Capital, e para a determinação da alíquota aplicável dever-se-ia considerar
que esse imposto tem diversos regimes jurídicos: um para as pessoas mais
ricas do planeta; e outro para os demais indivíduos.
Em ambos os casos, a alíquota do Imposto Mundial sobre o Capital seria
progressiva, isto é, aumentaria na medida em que se aumentaria a base de
cálculo. Nas palavras de Thomas Piketty: “trata-se de tributar mais os
patrimônios maiores e de levar em consideração o total dos ativos, quer sejam
imobiliários, financeiros ou corporativos, sem exceção”.[193] Ou seja, quanto
maior a base de cálculo, maior seria a alíquota desse imposto.
Sobre tal aspecto, merece ser trazido à baila o raciocínio utilizado pelo
economista francês:
Em relação ao cálculo a ser aplicado para essa base de tributação,
podemos, por exemplo, imaginar uma taxa igual a 0% para menos de 1
milhão de euros de patrimônio, 1% entre 1 e 5 milhões e 2% para além
de 5 milhões. Contudo, também podemos preferir um imposto sobre o
capital com uma progressão muito mais abrupta sobre as maiores
fortunas (por exemplo, com uma taxa de 5% ou 10% para patrimônios
acima de 1 bilhão de euros). Podemos ainda encontrar vantagens em se
ter uma taxa mínima sobre os patrimônios modestos e médios (por
exemplo, 0,1% para menos de 200.000 euros e 0,5% entre 200.000 e 1
milhão de euros).[194]
O exemplo utilizado pelo autor sobre o critério quantitativo da regra matriz
de incidência tributária do Imposto Mundial sobre o Capital pode ser
unificada, tomando como base os dois regimes jurídicos aplicáveis à espécie,
conforme tabelas abaixo.

Tabela 1 – Progressividade do Imposto Mundial sobre o Capital para


patrimônios modestos e médios
Base de cálculo Alíquota
1ª Menos de 1 milhão de euros de 0%
Opção patrimônio
Menos de 200.000 euros de patrimônio 0,1%
2ª 0,5%
Entre 200.000 e 1 milhão de euros de
Opção
patrimônio

Fonte: Elaborada pelo autor com base em Piketty, 2014.

Tabela 2 – Progressividade do Imposto Mundial sobre o Capital para


grandes fortunas
Base de cálculo Alíquota
Entre 1 e 5 milhões de euros de patrimônio 1%
Entre 5 milhões e 1 bilhão de euros de
2%
patrimônio
Mais de 1 bilhão de euros de patrimônio 5% ou
10%

Fonte: Elaborada pelo autor com base em Piketty, 2014.


Como se pode notar, o Imposto Mundial sobre o Capital seria uma espécie de
tributo pessoal, já que levaria em conta as características individuais do
contribuinte, a exemplo de suas alíquotas progressivas.
2 . 1.7 Sujeito passivo
O sujeito passivo da obrigação tributária relacionada ao Imposto Mundial
sobre o Capital pode ser tanto uma pessoa física, quanto uma pessoa jurídica,
obrigada ao seu cumprimento.[195] Pessoa física é a pessoa natural, o
indivíduo; ao passo que, pessoa jurídica é aquela criada pelo Direito. Ambas
detentoras de direitos e obrigações, mas sendo esta distinta daquela ou
daquelas pessoas naturais que a compõe.
Vê-se, na imagem abaixo, a relação jurídica tributária, pertinente ao Imposto
Mundial sobre o Capital, representada na sua integralidade – abrangendo o
complexo formado pelo direito subjetivo do sujeito ativo (instituições
financeiras), pelo dever jurídico do sujeito passivo (pessoas física ou
jurídica), e pelo objeto da prestação pecuniária (tributo mundial).
Imagem 1 – Relação jurídica tributária do Imposto Mundial sobre o
Capital

Fonte: Elaborada pelo autor.

2 . 1.8 Lançamento
O lançamento do imposto sobre o capital seria feito “segundo a lógica da
declaração pré-preenchida pelo governo”.[196] A ratificar o exposto, o autor
argumenta que tal sistema já está vigorando em vários países e sendo
aplicável ao imposto sobre a renda como, “por exemplo, na França, onde
cada contribuinte obtém um documento indicando os salários declarados por
seus empregadores e as rendas financeiras declaradas pelos bancos”.[197]
Com base neste sistema, cada contribuinte receberia uma declaração, na qual
estariam inclusos todos os seus ativos e passivos conhecidos pela
administração fiscal. Este sistema seria semelhante àquele aplicado em vários
estados norte-americanos na constituição do crédito tributário referente ao
property tax, no qual o contribuinte recebe, anualmente, uma reavaliação do
valor de mercado de suas propriedades imobiliárias, calculado pelo governo
com base nos preços observados nas transações de bens similares, sendo que
o contribuinte pode contestar a avaliação feita pelo governo e sugerir outro
valor, desde que o justifique.[198]
Sob esse ponto de vista, o lançamento por declaração pré-preenchida teria
uma dupla vantagem: “ela simplifica a vida do contribuinte e evita a grande
tentação de reduzir um pouco o valor de seus bens”,[199] além de ser um
sistema “mais apropriado ao século XXI do que a solução arcaica de contar
com a memória e a boa-fé de todos ao preencher a declaração”,[200] devendo,
por isto, ser aplicado automaticamente a toda população mundial.
2.2 Transparência financeira e cooperação internacional
2 . 2.1 O objetivo de transparência democrática e financeira
Para Thomas Piketty, a instituição de um Imposto Mundial sobre o Capital
deveria vir acompanhada por uma grande transparência democrática e
financeira no que diz respeito aos patrimônios e aos ativos detidos pelos
indivíduos, em escala global.[201]
A ideia seria “estabelecer um cálculo de tributação para ser aplicada a todas
as fortunas do mundo e depois redistribuir harmoniosamente essas receitas
entre os países”.[202] Ou seja, cada tipo de capital seria tributado da mesma
maneira e depois redistribuída equitativamente essas receitas entre os países
que adotassem esse sistema fiscal ideal.
No entendimento de Thomas Piketty, essa regulação ideal teria o mérito de
preservar a abertura econômica e a globalização, permitindo, ao mesmo
tempo, regular com eficiência e distribuir os lucros de maneira justa dentro de
cada país e entre os países que adotassem esse sistema.[203]
Para o economista francês, seria “perfeitamente possível perseguir essa
instituição ideal em etapas, a começar por colocá-la em prática em escala
continental ou regional e organizar a cooperação entre os instrumentos
regionais”.[204]
Vale destacar que, de acordo com esta concepção, o Imposto Mundial sobre o
Capital não teria nenhuma vocação para substituir todos os recursos fiscais
existentes. Ou seja, seria um imposto a mais para os países que aderissem a
essa nova política fiscal. Em termos de receitas, explica Thomas Piketty,
“trata-se apenas de um complemento relativamente modesto na escala do
Estado social moderno: alguns pontos da renda nacional”.[205]
Em primeiro lugar, este objetivo de transparência financeira “permitiria gerar
conhecimento e informação sobre os patrimônios e as fortunas”,[206]
fundando, assim, as bases para a instituição de um imposto anual e
progressivo sobre o capital.
Tal transparência “possibilitaria também pavimentar o caminho para uma
regulação mais justa e eficaz das crises bancária (tais como a crise cipriota),
por meio, se necessário, de arrecadações excepcionais progressivas e bem
calibradas”.[207]
E, por fim, a instituição de um Imposto Mundial sobre o Capital obrigaria “a
especificar e ampliar o conteúdo dos acordos internacionais sobre as
transmissões automáticas de informações bancária”,[208] de forma a incluir,
nas declarações pré-preenchidas, os ativos detidos em instituições bancárias
situadas no exterior.
Aliás, isso já ocorre entre os bancos e as administrações fiscais de vários
países (por exemplo, Estados Unidos, França e Alemanha). Mas, de acordo
com a concepção pikettyana, esse sistema deve abranger, também, os bancos
localizados nas ilhas Cayman ou na Suíça.
Refletindo sobre os desafios a serem enfrentados, nos dias de hoje, para se
efetivar a transmissão automática de informações bancárias em âmbito
mundial, Thomas Piketty enfatiza que:
Entre outras desculpas que costumam ser evocadas pelos paraísos
fiscais para preservar o sigilo bancário e não transmitir essas
informações automaticamente, há muitas vezes a ideia de que os
governos poderiam fazer mau uso delas. O argumento é pouco
convincente: por que o mesmo também não se aplicaria às informações
bancárias daqueles que são incautos o suficiente para deixar o dinheiro
no próprio país? O motivo mais plausível para os paraísos fiscais
defenderem o sigilo bancário é que assim seus clientes evitam encarar
suas obrigações fiscais, passando a esses paraísos fiscais uma parte dos
ganhos obtidos dessa maneira. O problema, é claro, é que isso não tem
estritamente nada a ver com os princípios de economia de mercado. O
direito de estabelecer sua própria taxa de tributação não existe. Não se
pode enriquecer por meio do livre comércio e da integração econômica
com os vizinhos e depois desviar impunemente sua base fiscal. Isso
parece roubo, pura e simplesmente.[209]
Em outras palavras, devido às lacunas existentes em diversas legislações
tributárias, os indivíduos mais ricos e as grandes corporações acabam
estabelecendo, grosso modo, sua própria tributação, de tal modo que a
quantidade de riqueza escondida nos paraísos fiscais seja algo surpreendente.
Mas, por outro lado, os paraísos fiscais defendem o sigilo bancário porque,
com isso, seus clientes evitam os encargos fiscais, repassando para eles uma
parcela dos ganhos obtidos dessa forma, e não porque a privacidade seja
valorizada por si mesma. O livre-comércio e o Estado de bem-estar social
são, sob essa óptica, inconsistentes com os paraísos fiscais.
Por isto, o primeiro passo para a regulamentação dos mercados bancário e
financeiro seria, de acordo com a concepção pikettyana, a transmissão
automática de dados bancários em todos os países. Com efeito, o livre
comércio de bens, serviços e capital requer, sob esse ponto de vista, um
intercâmbio de informações bancárias.
2 . 2.2 A necessidade de cooperação internacional
Além do objetivo de transparência financeira e democrática, Thomas Piketty
defende a necessidade de cooperação internacional na implementação deste
novo instrumento fiscal adequado ao século XXI.
Para o economista francês, a tentativa mais avançada na implementação dessa
política de cooperação internacional seja, talvez, a lei americana conhecida
como “Fatca” (Foreign account tax compliance act) que, desde 2015, exige
que todos os bancos estrangeiros informem ao Departamento do Tesouro dos
Estados Unidos sobre contas bancárias e investimentos realizados no exterior
por contribuintes norte-americanos. Mas, como destaca Thomas Piketty, esta
lei continua a ser insuficiente, por duas razões:
Para começar, sua redação não é precisa e sistemática o bastante, de
modo que há motivos para acreditarmos que alguns ativos financeiros,
sobretudo aqueles detidos por meio de trust funds e fundações,
consigam escapar legalmente à transmissão automática de informações.
Além disso, as sanções previstas — a saber, uma taxa adicional de 30%
sobre as rendas que os bancos recalcitrantes obtêm com suas atividades
nos Estados Unidos — são insuficientes.[210]
Logo, para se evitar a propagação de pequenos estabelecimentos bancários
especializados na gestão de carteiras estrangeiras sem, todavia, realizar
nenhum investimento nos Estados Unidos, o economista francês entende que
a única maneira de se obter resultados tangíveis seria a imposição de sanções
automáticas não apenas aos bancos, mas também aos países que se
recusassem a impor a transmissão automática de informações a todos os
estabelecimentos financeiros que funcionassem dentro de seus respectivos
territórios.[211]
Este mesmo raciocínio se aplicaria quando da instituição de um Imposto
Mundial sobre o Capital, que exigiria, por sua vez, uma cooperação
internacional para que se pudesse alcançar aquele objetivo de transparência
financeira e democrática.
Logo, a lei que o instituísse deveria ter uma redação precisa e sistemática o
bastante para garantir que nenhum ativo escaparia àquela transmissão
automática de informações, além de prevê sanções suficientes contra os seus
infratores.
Como se pode ver, qualquer espécie de tributo mundial seria, por sua própria
natureza, objeto de tratados internacionais, celebrados entre dois ou mais
Estados e/ou organizações internacionais, por meio de seus respectivos
órgãos competentes.
No Brasil, todavia, os tratados internacionais não são dotados de efeito direto
nem de aplicabilidade imediata, necessitando, assim, da manifestação e
atuação conjunta dos órgãos dos Poderes Legislativo e Executivo para
produzirem efeitos no âmbito interno.[212]
Assim, para que haja a incorporação de tratado internacionais ao
ordenamento jurídico brasileiro, deve-se obedecer, basicamente, quatro fases
solenes, sendo elas: (1) Negociações preliminares e assinatura do respectivo
documento pelo Presidente da República ou por outra pessoa detentora de
plenos poderes; (2) Manifestação do Congresso Nacional por meio de decreto
legislativo; (3) Ratificação do tratado internacional pelo Presidente da
República, ato mediante o qual o Brasil assume um compromisso perante a
comunidade internacional; e, (4) Promulgação por decreto do Presidente da
República e publicação oficial do texto desse tratado.
Somente depois de obedecidos todos estes trâmites legais é que este ato
internacional passaria a ser executável no Brasil. Mas, ainda assim, não
estaria criado o Imposto Mundial sobre o Capital. Isto porque, sendo o tributo
uma norma jurídica, sua criação está condicionada à tarefa legislativa. Neste
caso, a introdução desta nova espécie tributária no ordenamento jurídico
brasileiro estaria condicionada à edição de lei complementar, por se tratar de
imposto de competência residual.
Com isso, a União Federal teria a competência tributária para instituir o
imposto mundial; enquanto uma “instituição financeira especializada” teria a
capacidade tributária ativa para arrecadar e fiscalizar este tributo, cujo
produto da arrecadação seria, posteriormente, (re)distribuído de forma
equitativa entre os diversos países signatários do mesmo tratado.
2.3 Considerações especiais
2.3.1 A lógica da contribuição
São dois os principais argumentos apresentados por Thomas Piketty que
justificam a instituição de um imposto anual e progressivo sobre o capital:
um, fundado na lógica da contribuição; e, outro, baseado na lógica do
incentivo.
Quanto à lógica da contribuição, Thomas Piketty explica que esta “baseia-se
no fato de a renda ser, na prática, um conceito frequentemente mal definido
[e mensurado] pelos detentores de patrimônios muito elevados”,[213] de tal
sorte que “apenas uma tributação direta sobre o capital permitiria captar da
forma correta a capacidade contributiva dos titulares de fortunas
importantes”.[214] Assim, a maneira mais adequada de taxar bilionários, com
base nessa concepção, seria por meio de um Imposto Mundial sobre o
Capital.
Exemplificando, imagine uma pessoa física que disponha de uma fortuna de
10 bilhões de euros e tenha um acréscimo patrimonial de 5% ao ano, ou seja,
500 milhões de euros. Se essa pessoa fosse residente ou domiciliada no
Brasil, ela seria tributada pelo imposto de renda, na forma da legislação
brasileira vigente, isto é, em 27,5%, devendo pagar ao Fisco o valor de 137,5
milhões de euros.
Mas, se esta mesma pessoa fosse tributada segundo a lógica da contribuição,
tal como apresentada por Thomas Piketty, ela pagaria 5% ou 10% (conforme
tabela progressiva do Imposto Mundial sobre o Capital para grandes fortunas)
sobre seu patrimônio global, o que corresponderia a um valor entre 500
milhões e 1 bilhão de euros. Ou seja, em vez de se tributar a renda, tributar-
se-ia o capital e, com isso, privilegiaria melhor o princípio da capacidade
contributiva, em nível internacional.
2 . 3.2 A lógica do incentivo
No que diz respeito à lógica do incentivo, Thomas Piketty explica que esta
baseia-se “no fato de que um imposto sobre o capital pode incentivar os
detentores de patrimônios a obter os melhores rendimentos possíveis”,[215] de
tal sorte que, aqueles que utilizam mal suas fortunas, seriam obrigados a se
desfazerem delas para pagar seus impostos. Existiriam, de acordo com esta
concepção, fortes razões meritocráticas pelas quais dever-se-ia instituir essa
espécie de tributo mundial.
Exemplificando, imagine um tributo mundial com alíquota de 1% ou 2%
sobre o patrimônio global. Para um empreendedor mais talentoso e esforçado,
que conseguisse obter um retorno de 10% ao ano sobre seu patrimônio, talvez
não fosse tão pesado arcar com os encargos tributários. Mas, por outro lado,
para aquele empreendedor mais inexperiente ou menos esforçado, que
conseguisse obter um retorno de apenas 2% ou 3% ao ano sobre seu
patrimônio – ou, na pior das hipóteses, que não obtivesse rendimento anual
algum – aquela mesma tributação atingiria, com maior intensidade, o seu
patrimônio.
Por isso, o economista francês deixa claro que: “Na lógica do incentivo, o
objetivo do imposto sobre o capital é precisamente obrigar aquele que utiliza
mal seu patrimônio a, aos poucos, se desfazer dele a fim de pagar os impostos
e, assim, ceder seus ativos a detentores mais dinâmicos”.[216]
Seguindo essa lógica, aquele empreendedor que, no exemplo acima, não
conseguisse obter rendimento anual algum, veria seu patrimônio diluído, aos
poucos, pelo efeito corrosivo da carga tributária; ou, senão, ver-se-ia
“incentivado” a desenvolver melhor suas habilidades empresariais, a fim de
obter os melhores rendimentos possíveis.
Em síntese, um imposto progressivo sobre a riqueza líquida desencoraja
investimentos ineficientes, e incentiva a tomada de riscos. Com isso, o
sistema fiscal ideal equilibra o incentivo para assumir riscos e o incentivo
para suavizar a receita. O primeiro, o coração do investimento; o segundo, a
alma do consumo.
Diante destas primeiras premissas, buscar-se-á, no próximo capítulo, extrair
diretamente do conteúdo do texto constitucional as balizas às quais uma
eventual lei que instituísse um tributo desta natureza, no Brasil, estaria
submetida.
CAPÍTULO 3
OS LIMITES CONSTITUCIONAIS À
TRIBUTAÇÃO SUPRANACIONAL
Considerações iniciais
O poder tributário do Estado tem por alicerce jurídico, essencialmente, a
Constituição, em cujo conteúdo encontra-se fixada a titularidade desse poder
e o quadro de princípios em que o mesmo deve ser exercido. Daí porque
pode-se falar num “arquétipo constitucional do tributo”.
Antes de adentrar neste assunto, convém ponderar que “a Jurisprudência,
apesar de possuir categorias lógicas universais e uma linguagem que
acomuna os juristas de todo o mundo, não pode, nem deve prescindir das
características e das circunstâncias de cada povo”, isto porque “o Direito é
experiência social concreta, processo vital que obedece a motivos peculiares
a cada Nação, e não fruto arbitrário das construções legislativas”.[217]
Sensíveis à esta preciosa lição de Miguel Reale, neste último capítulo,
procederemos à análise dos limites constitucionais à tributação supranacional,
de sorte que uma eventual introdução do Imposto Mundial sobre o Capital no
sistema de direito positivo interno não seja turvada pela mera incorporação de
princípios de economia política formulados em razão de valores que nem
sempre mereceram prestígio entre nós, ou para a profilaxia de males que
jamais nos afligiram.
Assim sendo, os institutos próprios do Direito Tributário devem ser
analisados sob a óptica do Direito Constitucional, uma vez que a Constituição
da República confere todo o fundamento de validade do sistema jurídico
tributário como um dos aspectos relevantes na construção do federalismo
brasileiro.
Com efeito, o exercício do poder (supra)nacional de tributação está sujeito à
observância das limitações jurídicas emanadas do próprio texto
constitucional. Isso significa que nenhum valor jurídico terão os tratados e
convenções internacionais sobre tributação, que, ao serem incorporados na
ordem jurídica interna, transgredirem, formal ou materialmente, a autoridade
normativa da própria Constituição da República.34.2 A SOBERANIA
FISCAL
À luz do conceito de Estado apresentado por Dalmo de Abreu Dallari como
sendo a “ordem jurídica soberana que tem por fim o bem comum de um povo
situado em determinado território”,[218] pode-se dizer, juntamente com Ives
Gandra da Silva Martins, que “são os fatos econômicos aqueles que mais dão
ou não estabilidade a um governo e as instituições jurídicas, como a história
tem demonstrado, cabendo ao Direito regular, como subordinar tal
fenomenologia”.[219]
Este mesmo raciocínio também se aplica ao campo dos Direitos Tributário e
Financeiro, que devem sujeitar os fenômenos de ordem econômica ao
Império da Lei para que não haja uma desestabilização do governo e das
próprias instituições jurídicas. Pode-se dizer, então, que, num Estado de
Direito, os elementos indispensáveis à política econômica devem adequar-se
a formas jurídicas, institucionalizando-se, tanto para a garantia dos indivíduos
como para a garantia do próprio Estado.
Com base nos quatro elementos (povo, território, soberania e finalidade) que
se encontram presentes no conceito de Estado acima apresentado, pode-se
dizer que a soberania fiscal consiste num dos aspectos – por sinal, dos mais
relevantes e visíveis – da soberania do Estado em geral. Assim, o
entendimento daquela requer, naturalmente, que se trace o quadro da
compreensão desta.
Enquanto a soberania fiscal indica a autoridade suprema de cobrar tributos; a
soberania estatal, por sua vez, pode ser compreendida como a capacidade de
que dispõe o Estado de impor seu ordenamento jurídico dentro do seu
território, além de não se submeter a qualquer outro ente ou organismo, no
âmbito externo. Sobre tal aspecto, imperioso se faz trazer à baila a
ponderação de José Francisco Rezek, no sentido de que:
O fato de encontrar-se sobre certo território bem delimitado uma
população estável e sujeita à autoridade de um governo não basta para
identificar o Estado enquanto pessoa jurídica de direito das gentes:
afinal, esses três elementos se encontram reunidos em circunscrições
administrativas várias, em províncias federadas como a Califórnia e o
Paraná, até mesmo em municípios como Diamantina e Buenos Aires.
Identificamos o Estado quando seu governo — ao contrário do que
sucede com o de tais circunscrições — não se subordina a qualquer
autoridade que lhe seja superior, não reconhece, em última análise,
nenhum poder maior de que dependam a definição e o exercício de suas
competências, e só se põe de acordo com seus homólogos na
construção da ordem internacional, e na fidelidade aos parâmetros
dessa ordem, a partir da premissa de que aí vai um esforço horizontal e
igualitário de coordenação no interesse coletivo. Atributo fundamental
do Estado, a soberania o faz titular de competências que, precisamente
porque existe uma ordem jurídica internacional, não são ilimitadas;
mas nenhuma outra entidade as possui superiores.[220]
Dessa forma, para que se possa caracterizar o Estado como personalidade
originário de direito internacional público, necessário se faz que o mesmo,
além de ostentar seus elementos constitutivos, não se submeta a qualquer
autoridade que lhe seja superior, o que implica reconhecer, em última análise,
a supremacia de seu próprio poder soberano.
Vale dizer, ainda, que do mesmo modo que o Estado tem, como elementos
constitutivos materiais, o povo (elemento humano) e o território (base física),
assim também o poder soberano se desdobra em soberania pessoal
(Personalhoheit) e soberania territorial (Gebietshoheit). Enquanto a primeira
indica o poder de império do Estado sobre as pessoas que, pela
nacionalidade, vinculam-se a ele, onde quer que elas estejam, ainda que no
exterior ou em espaços retirados da jurisdição estatal; a segunda, por sua vez,
indica a competência legislativa exercida com exclusividade pelo Estado
sobre às pessoas, coisas ou fatos que se localizam em seu território.
Por causa destas duas faces da soberania, é que “o Direito Internacional
Público reconhece automaticamente aos Estados o poder de tributar até aos
limites onde ela se estende, mas recusa-lhes tal poder na medida em que esses
limites forem ultrapassados”.[221] Por isto, seria totalmente inconcebível
qualquer espécie de tributação cosmopolita, dentre as quais se encontra a
proposta pikettyana da tributação mundial sobre o capital.
Apesar do atual fenômeno de mitigação da soberania estatal, o exercício do
poder de tributar, como expressão latente desta soberania, ainda se encontra
adstrito aos limites territoriais de seus respectivos Estados nacionais. Isto
porque, embora se encontre relativizada, não significa que tenha cessado a
sua existência. Pelo contrário, o limite de liberdade legislativa dos Estados,
em matéria tributária, vai até onde for a sua soberania e, inversamente, perde
o seu título onde ela cessar.
Logo, seria inconcebível a existência de um poder supranacional de
tributação sem que, com isto, não houvesse a violabilidade dos territórios
nacionais, ante a transferência da soberania para uma Comunidade
Supranacional, com base num tratado ou convenção internacional.
Com efeito, o desaparecimento de qualquer um dos elementos constitutivos
do Estado (mais especificamente, o território determinado e o governo
soberano), ocasionaria, inevitavelmente, um esvaziamento do próprio ente
estatal.
Deste modo, a instituição de um tributo mundial contraria a própria noção de
soberania estatal, conforme se depreende do alcance do artigo 1º, inciso I, da
Carta Magna brasileira[222] e, consequentemente, a forma federativa de
Estado, prevista como cláusula pétrea no artigo 60, § 4º, incido I, da Lei
Maior.[223]
É de se dizer, portanto, que, no contexto brasileiro, os dois termos (soberania
e Estado federal) se interpenetram estreitamente, sendo um indispensável à
correta compreensão do outro. Assim, o Estado federal, enquanto pessoa
jurídica de direito público internacional, revela-se como o único titular da
soberania, entendida como poder supremo fundado na capacidade de
autodeterminação.
A própria natureza jurídica do poder de tributar não dá margem a dúvida de
que o Estado consiste numa instituição política soberana, estando aquele
poder baseado na sua autogênese, vale dizer, gerado exclusivamente a partir
de si próprio, à margem de qualquer ordem jurídica interna ou externa. Não
há como, portanto, dissociar a tributação da soberania estatal.
Se, por um lado, os Estados nacionais podem ter sua soberania mitigada, por
meio da cláusula de supranacionalidade; por outro, não se pode esquecer que
o Estado brasileiro repousa sobre cinco pilares, sendo a soberania um deles –
e, enquanto tal, imprescindível à própria subsistência da República Federativa
do Brasil. E, se a soberania é um dos fundamentos do Estado, qualquer
ameaça de sua extinção, colocaria em xeque o próprio conceito de Estado
soberano.
Refletindo sobre a relação necessária entre soberania e tributação, Antônio
Roberto Sampaio Dória, enfatiza que:
O poder fiscal é atributo inerente e essencial à soberania.
Indispensavelmente vinculado à organização política das nações, dele
prescindem apenas ideologias políticas ainda utópicas, como o
anarquismo e o derradeiro estágio do marxismo, e não menos
sonhadoras teorias financeiras, como a da inflação dirigida.[224]
Em virtude dessas considerações, compreende-se que o poder tributário só
existe no Estado e não pode ser concebido fora dele. Por sua própria natureza,
a tributação é inseparável da soberania estatal, dela abstraindo-se apenas
ideologias políticas utópicas, como o marxismo, e não menos fantasiosa
“teoria da tributação mundial sobre o capital”, de Thomas Piketty.
Logo, para se instituir um tributo mundial, seria necessário que houvesse a
transferência da soberania dos Estados-membros para a Comunidade
Supranacional, processo este complexo e irreversível, que colocaria num
point of no return a soberania daqueles Estados.
Mas, como bem destacou José Casalta Nabais, o poder tributário, enquanto
revelação da soberania estatal, possui as mesmas características desta, sendo
um de seus elementos características a própria noção de indisponibilidade:
O que significa, por um lado, que não pode ser transferida ou alienada a
sua titularidade, ou seja, a título definitivo (falando-se, a tal propósito,
de caráter intransmissível, inalienável ou inderrogável), nem delegado
o seu exercício, ou seja, a título temporário (daí o seu caráter
indelegável). Por outro lado, a indisponibilidade do poder tributário
implica a sua irrenunciabilidade, não podendo pois o seu titular
abandonar a sua titularidade ou o seu exercício.[225]
Assim sendo, a instituição de qualquer espécie de tributo mundial – além de
abalar a estrutura da soberania, de grande importância para a sobrevivência
do próprio Estado como tal – desvirtuaria o arquétipo democrático-
constitucional indispensável não só para o exercício da atividade tributária,
mas também para o ideal desenvolvimento de todas as atividades ligadas à
vida social, econômica ou política do país.
3.1 A territorialidade dos tributos
Como visto atrás, o poder de tributar (jurisdiction to tax) baseia-se na
soberania do Estado e, tal como esta, encontra-se adstrito aos limites de seu
território privativo. Isto significa dizer que o Estado, enquanto ente soberano,
exerce, sobre seu próprio território, jurisdição geral e exclusiva.
Enquanto a generalidade da jurisdição “significa que o Estado exerce no seu
domínio territorial todas as competências de ordem legislativa, administrativa
e jurisdicional”, a exclusividade, por outro lado, “significa que, no exercício
de tais competências, o Estado local não enfrenta a concorrência de qualquer
outra soberania. Só ele pode, assim, tomar medidas restritivas contra pessoas,
detentor que é do monopólio do uso legítimo da força pública”.[226] Daí
porque não se pode invocar, por exemplo, o chamado princípio da justiça
fiscal para legitimar uma tributação de natureza cosmopolita.
Assim, o princípio da territorialidade dos tributos, como postulado
tradicional do direito dos povos, se explica, no dizer de Antônio Roberto
Sampaio Dória, “em termos de mera ausência de poderes do Estado para
além de suas fronteiras geográficas”,[227] sendo tal postulado “a natural
limitação que primeiro acode ao espírito, quando se cogita de circunscrever a
soberania fiscal das nações em suas eventuais incursões extraterritoriais”.[228]
Embora a globalização da economia tenha também seus reflexos no que se
refere à territorialidade dos tributos, sendo esta até mesmo criticada como
impedimento ao dinamismo da evolução dos mercados, não se pode negar
que este princípio ainda se reveste de verdadeira limitação ao poder de
tributar.
Neste sentido, oportuna a lição de José Casalta Nabais, ao enfatizar que “um
estado, cuja constituição não pode deixar de respeitar o direito internacional
geral ou comum, em que se integra o princípio da igualdade soberana dos
estados, todo o seu poder tem carácter territorial, ou seja, tem por âmbito de
aplicação apenas o seu território”.[229] Este mesmo raciocínio também se
aplica em relação ao poder tributário do Estado, que se encontra limitado ao
seu raio de ação territorial.
Por isto, não se pode negar que, se por um lado, a territorialidade consiste
num limite jurídico ao poder tributário do Estado; por outro, a
extraterritorialidade representa um defloramento de sua soberania.
Daí porque a tributação, ato privativo da soberania, é, como ela,
essencialmente territorial, o que significa dizer que o poder de tributar cessa
seu âmbito de incidência nos exatos limites fronteiriços da autoridade
imperante.
Em consequência disso, a instituição de um modelo de organização política
supranacional, com a criação de um organismo ou de um poder posto acima
do governo de cada Estado nacional, acarretaria o desaparecimento de suas
fronteiras territoriais e, consequentemente, a fragmentação de sua própria
soberania.
3.2 A legalidade tributária
Uma das pedras angulares do Estado moderno é a legalidade, também
conhecida como reserva de lei, considerada pelos publicitas como norma
fundamental do Direito Público. Este princípio está no bojo de diversas
Constituições modernas e se relaciona com a ideia de democracia.
No Brasil, o princípio da legalidade se manifesta de duas formas: a) genérica,
válida para toda a plenitude do ordenamento jurídico; b) estrita, dirigida
especialmente, e com maior severidade, ao setor dos fenômenos jurídicos-
tributários.
Quanto ao princípio da legalidade genérica, ninguém será obrigado a fazer
ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei, nos termos do artigo
5º, inciso II, da Constituição da República.[230] Resta claro, da leitura deste
dispositivo constitucional, que só o Poder Legislativo pode emanar normas
genéricas e abstratas contendo preceitos vinculantes, para que se possa,
assim, garantir a segurança do cidadão e de eventuais terceiros submetidos à
ordem estatal.
Não se pode olvidar que neste princípio constitucional já se encontra
albergado, em sua completude, o próprio conceito de liberdade, que
“consiste, dum modo geral, no fato da atividade dos indivíduos não poder
encontrar outro óbice além do contido na lei”,[231] por estar nesta contida a
própria vontade do povo. Disto resulta que, “a Administração Pública deve
apenas cumprir a vontade do povo, contida na lei”, e ao cumpri-la, “submete-
se ao senhor absoluto da coisa pública”.[232]
Em outras palavras, o princípio da legalidade pode ser visto sob dois
ângulos: o do indivíduo, que tem o direito de fazer tudo quanto a lei não lhe
proíba (cuique facere licet nisi quid jure prohebetur); e o da Administração,
que só pode fazer aquilo que a lei, expressamente, lhe prescreve (princípio da
conformidade com as normas legais).
Por outro lado, no que diz respeito ao princípio da estrita legalidade
(também denominado princípio da tipicidade fechada ou princípio da
tipicidade regrada), nenhum tributo será criado ou majorado, senão em
virtude de lei, conforme previsto no artigo 150, inciso I, da Carta
Constitucional,[233] combinado com o disposto no artigo 97, incisos I e II, do
Código Tributário Nacional.[234]
A legalidade tributária, por ser mais específica e restrita à matéria tributária,
extrapola o próprio conteúdo normativo da legalidade genérica, tanto que
costuma ser expresso no aforismo nullum tributum sine lege.
Traçando uma breve relação histórica entre Tributo e Estado de Direito,
Antônio Roberto Sampaio Dória, lavrou com pena de ouro o seguinte asserto:
Fenômeno inseparável da história dos povos desde imemorial
antiguidade, é igualmente o tributo, por largos séculos, o instrumento
de que mais arbitrária e abusivamente se lança mão o poder político.
Fonte de intranqüilidades, opressões e revoltas, as exações fiscais
civilizam-se apenas quando emerge da decadência das monarquias
européias o Estado de Direito (Rechtsstaat). Regime político em que,
no aparente paradoxo de López de Oñate: “o legislador se vale do
arbítrio para eliminar o arbítrio”, reservas especiais se impuseram ao
exercício do poder tributário, exatamente por ser “the strongest, the
most pervading of all the powers of government”.[235]
O princípio da legalidade tributária foi consignado pela primeira vez na
Magna Carta inglesa de 1215, rezando na língua original: “Nullum scutagium
vel auxilium ponatur in regno nostro, nisi per commune consilium regni”.[236]
E, ainda hoje, trata-se de um postulado cardial dos sistemas fiscais modernos
e das teorias constitucionais contemporâneas, sendo ambos frutos da
substituição do arbítrio real pelo Estado de Direito, onde o poder encontra-se
balizado pela lei.
As raízes da legalidade dos tributos estão fixadas, por conseguinte, na própria
origem histórico-política dos regimes democráticos, e deles tiram sua melhor
nutrição. Neste sentido, oportuna a lição de Aliomar Baleeiro, ao enfatizar
que, a legalidade tributária:
[...] prende-se à própria razão de ser dos Parlamentos, desde a penosa e
longa luta das Câmaras inglesas para a efetividade da aspiração contida
na fórmula “no taxation without representation”, enfim, o direito de os
contribuintes consentirem – e só eles – pelo voto de seus representantes
eleitos, na decretação ou majoração de tributos. As Constituições,
desde a Independência Americana e a Revolução Francesa, o trazem
expresso, firmando a regra secular de que o tributo só se pode decretar
em lei, como ato da competência privativa dos Parlamentos.[237]
O texto constitucional brasileiro também consagra de modo explícito estes
propósitos, vedando aos entes federados exigir ou aumentar tributos sem lei
que o estabeleça, conforme se depreende da leitura do artigo 150, inciso I, da
Carta da República.[238] Assim, o exercício do poder de tributar encontra-se
submetido à máxima de que nenhum tributo será majorado ou criado sem que
haja a edição de lei em sentido estrito, por ser este um ato de competência
exclusiva das Câmaras Legislativas nos países constitucionais.
Aliás, por força da reserva da lei fiscal, a soberania se exprime,
fundamentalmente, na função legislativa do Estado, traduzindo, assim, na
mais importante manifestação do “poder jurídico supremo” ou do “nível
supremo do poder jurídico” do Estado.[239]
Em regra, a lei apta a instituir um tributo é a lei ordinária, elaborada pelos
órgãos do Poder Legislativo competente (federal, estadual e municipal), nos
termos da Constituição, observado o processo legislativo nela estabelecido.
Isto significa que, um tributo federal deverá ser criado ou majorado por meio
de lei ordinária federal, editada pelo Congresso Nacional. Da mesma forma,
um tributo estadual deverá ser exigido ou aumentado por meio de lei
ordinária estadual, editada pela respectiva Assembleia Legislativa. Assim
como um tributo municipal deverá ser instituído ou majorado por meio de lei
ordinária municipal, editada pela respectiva Câmara Municipal.
Não obstante, alguns tributos (como, por exemplo, os empréstimos
compulsórios e os impostos residuais, previstos, respectivamente, nos artigos
148 e 154, inciso I, da Constituição Federal)[240] devem ser criados mediante
lei complementar, por força de dispositivo constitucional expresso.
Além disso, o artigo 62, § 2º, da Constituição Brasileira, admite,
excepcionalmente, a instituição ou majoração de tributos por meio de medida
provisória,[241] desde que tais tributos não devam ser instituídos mediante lei
complementar.
Em resumo, isso significa que as pessoas políticas de direito público interno
(União, Estados, Distrito Federal e Municípios) poderão instituir novos
tributos ou majorar os existentes, tão somente mediante a expedição de três
instrumentos legislativos: lei ordinária, lei complementar e medida
provisória.
À luz desse raciocínio, poder-se-ia imaginar que, num âmbito supranacional,
qualquer espécie de tributo mundial seria criada por meio de tratado
internacional, celebrado pelos Estados e/ou por organizações internacionais
– caso em que as normas internacionais seriam dotadas de uma hipótese de
incidência, cujo critério material possibilitaria o surgimento in concreto de
um fato gerador de tributos mundiais que, formando uma “obrigação
tributária supranacional”, pudesse vir a ser cobrado mundialmente, onde quer
que ocorresse.
É importante esclarecer, todavia, que os tratados e convenções internacionais
não possuem, por si só, força vinculante, sendo necessário, “por decorrência
do princípio da legalidade, que a ordem jurídica recolha a matéria desses atos
multilaterais de vontade, sem o que não se dá a produção de normas válidas
no direito pátrio”.[242] Daí a importância significativa do decreto legislativo
como instrumento primário de introdução de normas tributárias no Direito
brasileiro.
Com isso, pode-se dizer que “o tratado internacional não é norma jurídica (ou
não é ‘fonte’ de Direito), mas sim o decreto legislativo que o referenda
(artigo 49, I, c/c 59, VI, da CF)”.[243] É da competência exclusiva do
Congresso Nacional, mediante a elaboração de decreto legislativo, resolver
sobre tratados e convenções internacionais, que acarretem encargos ou
compromissos gravosos ao patrimônio nacional.
Tratados e convenções internacionais, portanto, não criam tributos, apenas
regulamentam alguns aspectos do fenômeno jurídico-tributário. Somente a lei
em sentido estrito (lei ordinária e lei complementar) pode instituir um tributo
– e, excepcionalmente a medida provisória, desde que não seja matéria de lei
complementar.
Ainda assim, se considerasse que os tratados internacionais – com exceção
daqueles que versam sobre direitos humanos[244] – ingressam no direito
positivo brasileiro com natureza de lei ordinária, poder-se-ia imaginar que
não haveria qualquer óbice à instituição de um tributo mundial no Brasil.
Entretanto, esta concepção seria de todo equivocada, haja vista que os
tributos de competência residual somente podem ser instituídos pela União,
mediante lei complementar, conforme determina o artigo 154, inciso I, da
Constituição Brasileira,[245] sendo este, portanto, o veículo legislativo mais
adequado para definir todos os aspectos daquela norma tributária impositiva.
Ainda que se cogitasse a hipótese de aprovação deste tratado internacional
por maioria absoluta do Congresso Nacional, com vistas a equipará-lo à lei
complementar, ex vi do disposto no artigo 69 da Lei Maior,[246] haveria
inconstitucionalidade formal, com vícios de natureza objetiva, por
desobediência ao processo legislativo. Assim, essa norma seria nula, não
obrigando os contribuintes ao pagamento do tributo mundial.
É importante não perder de vista a posição que a jurisprudência pátria vem
assumindo acerca da incompatibilidade de tratados internacionais com
matérias reservadas à lei complementar, conforme se depreende da ementa
abaixo transcrita:
TRATADO INTERNACIONAL E RESERVA CONSTITUCIONAL
DE LEI COMPLEMENTAR. - O primado da Constituição, no sistema
jurídico brasileiro, é oponível ao princípio pacta sunt servanda,
inexistindo, por isso mesmo, no direito positivo nacional, o problema
da concorrência entre tratados internacionais e a Lei Fundamental da
República, cuja suprema autoridade normativa deverá sempre
prevalecer sobre os atos de direito internacional público. Os tratados
internacionais celebrados pelo Brasil - ou aos quais o Brasil venha a
aderir - não podem, em conseqüência, versar matéria posta sob reserva
constitucional de lei complementar. É que, em tal situação, a própria
Carta Política subordina o tratamento legislativo de determinado tema
ao exclusivo domínio normativo da lei complementar, que não pode ser
substituída por qualquer outra espécie normativa infraconstitucional,
inclusive pelos atos internacionais já incorporados ao direito positivo
interno.[247]

Logo, qualquer tratado internacional celebrado pelo Brasil com vistas à


instituição de um tributo mundial não poderia ser incorporado ao direito
positivo pátrio, pois tributos de competência residual somente podem ser
instituídos por meio de lei complementar, que não poderá ser substituída por
nenhuma outra espécie normativa infraconstitucional, devendo todo o
ordenamento jurídico, inclusive os atos internacionais, conformar-se com os
preceitos da Constituição, seja sob o enfoque formal, seja do ponto de vista
material.
A legalidade tributária, por implicar limitação constitucional ao poder de
tributar do Estado, deve necessariamente ser vista como uma garantia
fundamental do contribuinte, constituindo-se, portanto, em cláusula pétrea,
conforme se depreende do alcance do artigo 60, § 4º, inciso IV, da Carta
Magna brasileira.[248] As atenuações a este princípio são apenas aquelas
previstas, taxativamente, no texto constitucional, não admitindo ampliação
nem sequer por Emenda à Constituição.
Em tal caso, conclui-se que, por não ser instituída por lei, conforme
determina o artigo 3º, do Código Tributário Nacional,[249] esta espécie de
“tributo cosmopolita”, denominada equivocadamente por Thomas Piketty de
“Imposto Mundial sobre o Capital”, na verdade, não teria qualquer natureza
jurídica tributária, não podendo ser exigida indistintamente de quem quer que
seja.
Mas, ainda que se admitisse tal possibilidade, argumentando que este tributo
seria uma forma de homenagear o princípio da solidariedade social, por ser
um instrumento idealizado para diminuir as desigualdades sociais e
econômicas, regulando de forma eficaz a concentração mundial da riqueza,
tem-se em mente que tal argumento não merece prosperar porque a
solidariedade social não deve ser interpretada de modo a implicar restrições a
outros princípios constitucionais, sobretudo àqueles destinados a proteger o
cidadão-contribuinte contra o arbítrio do Estado – dentre eles, o princípio da
legalidade.
Analisando as implicações entre tributação, solidariedade social e legalidade
tributária, Hugo de Brito Machado, com maestria e apurado senso crítico,
destaca que:
A tese que coloca o princípio da solidariedade como fundamental na
atividade de tributação é extremamente sedutora e perigosa. É sedutora
porque apresenta a solidariedade como algo moderno e a legalidade
como algo antiquado e inseparável do individualismo. É perigosa
porque tende a destruir as mais importantes conquistas da Humanidade
no controle do exercício do Poder estatal.[250]

Embora o tributo possa ser um instrumento de política fiscal para a atuação


do Estado na redistribuição de renda, tendo como fundamento a promoção da
solidariedade social, isso não significa que esta política há de ser conduzida
em total desrespeito ao princípio da legalidade, até porque um princípio não
se sobrepõe, nem tampouco se contrapõe, ao outro.
Não se pode negar que, no contexto brasileiro, a solidariedade social não é
apenas uma ideia, mas um princípio de Direito Positivo, albergado
expressamente no artigo 3º, inciso I, da Carta Magna de 1988, segundo o qual
constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil, dentre
outros: “construir uma sociedade livre, justa e solidária”.[251]
Mas, analisando este dispositivo constitucional, cum grano salis, um dos
mais brilhantes tributaristas do Brasil, expõe, de forma clara e precisa, que:
É exatamente porque devemos construir uma sociedade justa que
admitimos a atuação do Estado promovendo a redistribuição de renda.
Mas nossa Constituição preconiza também uma sociedade livre — e,
assim, não se pode prescindir da legalidade. Não se pode esquecer que
esta é uma conquista da civilização contra o arbítrio do Estado. E não
se pode, de modo algum, amesquinhar essa conquista a pretexto de
colocar em prática a solidariedade, que pode e deve ser posta em
prática dentro dos padrões da lei.[252]
Disso resulta que, no campo da tributação, legalidade e solidariedade são
como as duas faces de uma mesma moeda; não se excluem, mas se
complementam. Entender de forma contrária seria violar o próprio espírito da
Constituição.
Como remate a este tópico, melhor não se faça que transcrever mais uma vez
o abalizado pensamento de Hugo de Brito Machado sobre a relação entre
solidariedade e legalidade no campo do Direito Tributário, in verbis:
Na relação de tributação temos um forte, que é o Estado, e um fraco,
que é o contribuinte, e não podemos esquecer que “nas relações entre o
forte e o fraco a liberdade escraviza e só a lei liberta”. Legalidade e
solidariedade são os princípios que se completam na difícil tarefa de
controlar o Poder, em benefício da liberdade, não se devendo admitir
que a invocação do princípio da solidariedade possa ser útil para
justificar a violação da lei.[253]
Parece claro, portanto, que expedientes de ordem prática, justificativas
“morais” ou econômicas, ou até mesmo o desejo de promover uma reforma
financeira apropriada ao século XXI, não podem se sobrepor a este princípio
cardeal.
A teoria da tributação mundial sobre o capital, de Thomas Piketty, se for
adotada no contexto brasileiro, implicará grave violação da ordem jurídica,
colocando a solidariedade social como justificativa para a cobrança de
tributos sem amparo na lei, baseada apenas na capacidade contributiva, como
típica tese do Nazismo. Não obstante apresentada como uma “utopia útil”,
ela, na verdade, apenas ressuscitaria o autoritarismo, no atual contexto
geopolítico mundial.
3.3 A vedação da bitributação e do bis in idem
Por se tratar de uma competência residual, caso realmente fosse instituída, no
sistema jurídico brasileiro, qualquer espécie de tributo mundial, já estariam
vedados, consequentemente, o bis in idem e a bitributação.
A bitributação consiste num fenômeno jurídico-tributário que ocorre quando
entes tributantes diversos exigem do mesmo contribuinte tributos
relacionados ao mesmo fato gerador. O bis in idem, por outro lado, consiste
num fenômeno jurídico-tributário que ocorre quando o mesmo ente tributante
exige do mesmo contribuinte mais de um tributo decorrente do mesmo fato
gerador.
A ponderação sobre esses aspectos nos permite asseverar que, entre as
interpretações jurídicas possíveis, uma delas há de reconhecer que, se
realmente fosse instituído um Imposto Mundial sobre o Capital, haveria uma
bitributação, devido a própria abrangência do conceito de capital.
Exemplificando, se a União cobrasse IMC sobre determinada propriedade de
veículo automotor e o Estado, entendendo que essa propriedade estaria dentro
de sua competência, cobrasse IPVA sobre o mesmo fato gerador. No Brasil, a
instituição de um Imposto Mundial sobre o Capital entraria, portanto, em
conflito com outros tributos sobre o patrimônio, como, por exemplo, o
imposto de transmissão de bens imóveis, o imposto predial e territorial
urbano, o imposto sobre a propriedade territorial rural, o imposto sobre
transmissão causa mortis e doação de quaisquer bens ou direitos, e o imposto
sobre a propriedade de veículos automotores. Neste caso, o patrimônio já
seria tributado, durante o ciclo produtivo, em diversas ocasiões. Dessa forma,
haveria uma possibilidade concreta de ocorrer uma situação de dupla ou tripla
tributação econômica do patrimônio, com consequente efeito confiscatório.
Outra interpretação, quem sabe mais consistente, entenderá que, se realmente
fosse instituído um Imposto Mundial sobre o Capital, haveria um bis in idem,
já que o mesmo ente tributante (no caso, a União) exigiria do mesmo
contribuinte mais de um tributo decorrente do mesmo fato gerador, por
exemplo, em relação ao imposto sobre renda e proventos de qualquer
natureza – o que restaria vedado pelo artigo 154, inciso I, da Constituição
Federal.[254]
Resgatando o conceito de imposto adicional, como sendo aquele que tem o
mesmo fato gerador de outros impostos já existentes no sistema jurídico,
Hugo de Brito Machado adverte que: “Não pode a União, invocando a
competência residual, instituir adicionais aos impostos discriminados na
Constituição. A vedação está expressa no art. 154, inciso I, e não admite
qualquer dúvida”.[255] Logo, fatos geradores diferentes seria um dos requisitos
que deveriam ser observados para que a instituição desse imposto fosse
constitucional.
O mesmo raciocínio se aplicaria em relação a outros tributos nacionais (quer
fossem eles de competência federal, estadual ou municipal), cujos respectivos
fatos geradores já estivessem abrangidos pela situação que constitua fato
gerador do Imposto Mundial sobre o Capital, a exemplo do imposto sobre
heranças e doações.
Portanto, não há qualquer pragmatismo em propostas dessa natureza. Aliás, o
próprio Piketty admite que uma tributação mundial seria uma utopia. Nem na
própria União Europeia existe uma soberania supranacional que garanta tal
possibilidade. A tributação é feita por cada país isoladamente.
Em vez de pensarmos numa tributação em escala global, de base idealista,
talvez o caminho mais adequado fosse o que já seguimos com os tratados
sobre dupla tributação e cooperação em matéria fiscal. Com esses tratados,
não necessariamente todos os países tem que tributar fortunas, mas
cooperarem entre si para uma harmonização das cargas tributárias.
3.4 A vedação do efeito confiscatório
Na precisa definição de Regina Helena Costa, confisco é “a absorção total ou
substancial da propriedade privada pelo Poder Público, sem correspondente
indenização”[256] – que, em virtude da proteção constitucional conferida à
propriedade privada, seria uma medida de caráter sancionatório, admitida de
forma excepcional pelo ordenamento jurídico brasileiro.
Mas, em matéria tributária, a temática sobre as linhas demarcatórias do
confisco ainda não foi desenvolvida de modo satisfatório, sendo, por isto,
bastante problemático o entendimento, por parte da doutrina e da
jurisprudência, do que venha a ser um tributo com efeito confiscatório.
Não obstante o grau de dificuldade na apreensão do verdadeiro significado de
confisco tributário, alguns autores se aventuraram em traçar algumas
considerações sobre essa temática. Para Antônio Roberto Sampaio Dória, “o
poder tributário, legítimo, se desnatura em confisco, vedado, quando o
imposto absorva substancial parcela da propriedade ou a totalidade da renda
do indivíduo ou da empresa”.[257] De acordo com Marcos André Ramos
Vieira, o confisco em matéria tributária seria “a apreensão em favor da
Fazenda de um bem de conteúdo econômico sem contrapartida ao
expropriado”.[258] Com maior precisão técnica, Vinícius Casalino ressalta que
a Constituição não menciona diretamente o confisco, mas veda a “utilização
do tributo com efeito de confisco”, vale dizer, “proíbe que o tributo seja
utilizado com o intuito de retirar a propriedade privada do particular ou da
empresa” – sendo que, neste contexto, o verbo retirar significa “tornar
inviável a manutenção do bem no patrimônio privado ou o exercício de
atividade econômica por parte do empresário”.[259]
Apesar dessas divergências conceituais, certo é que o artigo 150, inciso IV,
da Constituição Federal de 1988, veda aos Entes Tributantes utilizar tributo
com efeito de confisco,[260] posto que isto implicaria violação do direito
fundamental de propriedade, constitucionalmente garantido.
É importante relembrar aqui, como bem o fez Jean-Jacques Rousseau, que “o
fundamento do pacto social é a propriedade, e sua primeira condição que
cada um seja mantido na agradável fruição daquilo que lhe pertence”.[261]
Neste sentido, qualquer violação ao direito fundamental de propriedade
representaria, por si só, um descumprimento do próprio contrato social.
Analisando o princípio da vedação do efeito confiscatório sob a ótica dos
Direitos Constitucional, Tributário e Financeiro, Regis Fernandes de Oliveira
e Estevão Horvath afirmam que:
Mesmo quando não expresso este princípio, os autores o extraem do
direito de propriedade privada, geralmente colocado nos países não
socialistas entre os direitos fundamentais. A Constituição de 1988
seguia a tradição histórica, garantindo o direito de propriedade (art. 5.º,
XXII). Só com isso seria suficiente para que se pudesse afirmar que
tampouco a tributação pode pretender confiscar a propriedade.
Tornando-o mais explícito no que tange ao Direito Tributário, o inc. IV
do art. 150 da Lei Fundamental determinou ser vedado à União, aos
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios “utilizar tributo com
efeito de confisco”.[262]
E, adiante, um derradeiro esclarecimento: “Quer isso dizer que o legislador
ordinário, ao criar um tributo ou pretender majorá-lo, não pode fazê-lo de
molde a, sub-repticiamente, pretender apossar-se da propriedade do
particular”.[263] Assim, não se pode admitir que, por via dos impostos, os
Entes Tributantes venham privar os cidadãos-contribuintes do seu direito
fundamental de propriedade.
Compartilhando o mesmo entendimento, o professor Roque Antonio
Carrazza sustenta que, em homenagem ao princípio da não-confiscatoriedade,
“os impostos devem ser graduados de modo a não incidir sobre as fontes
produtoras de riqueza dos contribuintes e, portanto, a não atacar a
consistência originária das suas fontes de ganho”.[264] Estes seriam, portanto,
os limites dados pela característica fundamental do Estado constitucional, em
que se reconhece o direito de propriedade como inviolável.
Faz-se mister, por conseguinte, ressaltar, mais do que nunca, a natureza
tautológica desta vedação constitucional. Neste sentido, oportuna a lição de
Juan Martín Queralt et al., ao enfatizarem que: “En rigor, a previsión
constitucional que veda la confiscatoriedad del sistema tributario constituye,
en principio, una previsión tautológica, porque la confiscación constituye un
concepto que, por su propia esencia, permanece extramuros del ordenamento
tributario”.[265]
Dito isso, não excede recordar que, para Thomas Piketty, o Imposto Mundial
sobre o Capital seria um instrumento de estímulo para os detentores de
patrimônios moderados e médios, ou de grandes fortunas, obterem os
melhores rendimentos possíveis (lógica do incentivo), de modo que, aqueles
que utilizassem mal suas fortunas, fossem obrigados a se desfazerem delas
para pagar seus impostos.
Relembrando o exemplo utilizado no capítulo anterior, imagine um tributo
mundial com alíquota de 1% ou 2% sobre o patrimônio global. Para um
empreendedor mais talentoso e esforçado, que conseguisse obter um retorno
de 10% ao ano sobre seu patrimônio, talvez não fosse tão pesado arcar com
os encargos tributários. Mas, por outro lado, para aquele empreendedor mais
inexperiente ou menos esforçado, que conseguisse obter um retorno de
apenas 2% ou 3% ao ano sobre seu patrimônio – ou, na pior das hipóteses,
que não obtivesse rendimento anual algum – aquela mesma tributação
atingiria, com maior intensidade, o seu patrimônio.
Com base na concepção pikettyana, o objetivo do Imposto Mundial sobre o
Capital seria constranger aquele que administra mal seu patrimônio a,
gradativamente, se desfazer dele para arcar com suas obrigações tributárias,
cedendo, assim, seus ativos a detentores mais dinâmicos.
Seguindo essa lógica, aquele empreendedor que, no exemplo acima, não
conseguisse obter rendimento anual algum, veria seu patrimônio diluído, aos
poucos, pelo efeito corrosivo da carga tributária; ou, senão, ver-se-ia
“incentivado” a desenvolver melhor suas habilidades empresariais, a fim de
obter os melhores rendimentos possíveis.
O Estado, todavia, no exercício do poder de tributar, não pode absorver uma
parte substancial da propriedade ou da renda de seus contribuintes, nem
tampouco suprimi-las totalmente. A ponderação sobre esses aspectos nos
permite asseverar que, dentre as interpretações jurídicas possíveis, a melhor
delas há de reconhecer que, nesta hipótese, “la interpretación es amplia,
puesto que incluye el capital y también su producido, la renda; y no podría
ser de otra manera, porque la riqueza se trasformaría em uma palabra
carente de sentido, si los individuos no pudieran gozar de su rendimiento”.
[266]

Em que pese às razões expedidas por Thomas Piketty, o Imposto Mundial


sobre o Capital teria caráter flagrantemente confiscatório, uma vez que seu
principal objetivo seria esgotar a riqueza tributável das pessoas, sem revelar a
real capacidade contributiva daqueles que o suportam, impondo-lhes um ônus
que vai além do razoável.
O princípio do não confisco – que encerra direito fundamental do
contribuinte – restaria, portanto, violado em seu núcleo essencial em face da
sistemática adotada pela lógica do incentivo. As restrições aos direitos
patrimoniais para o atendimento das necessidades (extra)fiscais não podem
ser distendias a ponto de implicar na total absorção da propriedade privada
pelo Estado.
A proibição do efeito confiscatório, no campo da fiscalidade, se traduz numa
vedação constitucional a qualquer prática ou pretensão de natureza
governamental (tanto na ordem interna, como na ordem internacional) que
possa levar, ao fim e ao cabo, à injusta apropriação estatal do patrimônio ou
dos rendimentos dos contribuintes, comprometendo-lhes, por conseguinte: o
direito a uma existência digna, conforme os ditames da justiça social; o
exercício de atividade profissional ou econômica lícita; ou, ainda, a regulação
satisfatória de suas necessidades vitais básicas, ante a insuportabilidade da
alta carga tributária.
Só mesmo numa visão muito pedestre ou desassistida do mínimo bom senso
é que se poderia imaginar que uma tributação mundial sobre o capital não
teria efeito confiscatório. Essa teoria fracassa, portanto, em decorrência de
seus próprios critérios, pois, caso contrário, ter-se-ia que admitir que um
milionário não estaria respaldado por este princípio constitucional.
Ainda que alguns governos revolucionários tenham aceitado, na prática, a
socialização da economia brasileira, num modelo constitucional que teoriza a
livre iniciativa privada, não se pode esquecer do excelente magistério trazido
pelo grande tributarista brasileiro, Ives Gandra da Silva Martins, no sentido
de que:
Não apenas em relação ao reino dos céus é impossível servir a dois
senhores com objetivos opostos, ao mesmo tempo. Em Economia,
também, a lição evangélica se faz presente. É impossível viver uma
economia de mercado com as técnicas socialistas, ou uma economia
socialista com as técnicas neocapitalistas.[267]
Ora, admitir que os empresários sofram uma diminuição patrimonial
relevante, em razão da carga tributária exigida no Brasil e no restante do
planeta, seria o mesmo que o excluir da vedação constitucional do efeito
confiscatório do tributo e, por conseguinte, do primado da igualdade e da
propriedade, além de desestabilizar definitivamente aquele setor que atua
como uma espécie de catalizador da economia nacional.
Ainda que se alegasse a finalidade extrafiscal deste tributo para se justificar
uma tributação confiscatória, esta alegação seria de todo equivocada e
incompatível com os preceitos magnos insculpidos na Constituição da
República.
Sobre tal aspecto, endossamos o coro daqueles que sustentam que essa
suposta incompatibilidade entre capacidade contributiva e extrafiscalidade
esvazia, em muito, o conteúdo daquele princípio de índole constitucional,[268]
até porque não existe espécie tributária que se possa dizer pura, no sentido, de
realizar tão somente a fiscalidade, ou, unicamente, a extrafiscalidade –
devendo, ambas as funções, observância obrigatória aos parâmetros
constitucionais.[269]
Posta assim a questão, é de se dizer que o Poder Público, sobretudo no
exercício do poder de tributar, não pode agir de forma imoderada, tendo em
vista que a atividade governamental se encontra, necessariamente, vinculada
ao princípio da razoabilidade que, por sua vez, se impõe como verdadeiro
parâmetro de aferição da constitucionalidade material dos atos estatais.
Ademais, a lógica do incentivo, de Thomas Piketty, não leva em
consideração a carga tributária global, as condições pontuais do mercado,
nem tampouco a conjuntura social e econômica de cada país. Trata-se, na
verdade, de um instrumento próprio de governos nazistas, utilizado para
lograr o mesmo fim da confiscação de bens, e manipulado com tamanha
sutiliza e astúcia para suprimir totalmente a propriedade privada de seus
contribuintes.
Vê-se, por aqui, que o poder de tributar, embora seja uma expressão da
soberania do Estado (ou, até mesmo, de um ente supranacional), não pode
ultrapassar os limites previstos na própria Constituição, de modo que,
qualquer que seja a autoridade imperante, ela jamais poderá pretender, no
exercício da tributação, confiscar a propriedade privada, pois, caso contrário,
seu poder já não será mais legítimo, convertendo-se em verdadeira ditadura
fiscal.
Com efeito, fica demonstrada, à saciedade, que a introdução de um Imposto
Mundial sobre o Capital no sistema jurídico brasileiro violaria frontalmente o
princípio da vedação do efeito confiscatório, consagrado expressamente no
texto constitucional pátrio.
3.5 O sigilo de dados bancários
Como visto anteriormente, Thomas Piketty defende que a instituição de um
Imposto Mundial sobre o Capital deva ser acompanhada por uma grande
transparência democrática e financeira no que diz respeito aos patrimônios e
aos ativos pertencentes às pessoas (física e jurídica), em escala internacional.
À vol d’oiseau, isso se justificaria por três razões: (1) Permitiria ter amplo
acesso aos dados sobre os patrimônios e as fortunas de todos os contribuintes,
em nível internacional, para fundar, então, as bases de um imposto anual e
progressivo sobre o capital; (2) Possibilitaria construir uma regulação mais
justa e eficaz das crises bancárias como, por exemplo, por meio de
arrecadações extraordinárias, progressivas e razoáveis; (3) Permitiria incluir,
nas declarações pré-preenchidas, os ativos detidos em instituições bancárias
situadas em outros países.[270]
Todavia, esse objetivo de transparência financeira, quando analisado sob a
óptica do contexto brasileiro, se traduziria num confronto entre o dever de
pagar tributos e o direito ao sigilo bancário, ambos referidos aos cidadãos-
contribuintes, em particular, e ao Estado Brasileiro, em geral.
Quanto ao pagamento de tributos, tem-se que estes devem ser graduados
segundo a capacidade econômica do contribuinte, conforme determina o
artigo 145, § 1º, da Carta Constitucional.[271] O cidadão-contribuinte, por sua
vez, está vinculado a um Estado soberano comprometido, na ordem interna,
com a satisfação das necessidades coletivas de seu povo – não podendo se
comprometer de igual modo, na ordem internacional, com a satisfação das
necessidades de toda a humanidade, por absoluta impossibilidade prático-
jurídica.
No que diz respeito ao sigilo bancário, embora não esteja claramente
expresso no texto constitucional, tal instituto pode ser entendido como um
desdobramento do direito fundamental à privacidade, previsto no artigo 5º,
inciso X, da Lei Fundamental.[272] Sob a óptica do sistema jurídico brasileiro,
o sigilo bancário pode ser visto como as duas faces de uma mesma moeda: de
um lado, como o direito dos clientes de instituições financeiras e de terceiros
de terem preservada a privacidade de seus dados pessoais e das operações
que celebram junto a elas; do outro, como o dever que essas mesmas
instituições e seus agentes têm de manter a devida confidencialidade daquelas
informações, sob pena de sanções civis, penais e/ou administrativas.[273]
Não obstante a regra seja a inviolabilidade dessa esfera de privacidade,
admite-se excepcionalmente a desclosure das informações bancárias, para
efeitos de inquérito ou persecução criminais (inclusive por meio de acordos
internacionais de assistência judiciária em material penal) e por ordem
judicial, diante de interesse público relevante e indícios razoáveis de prática
criminosa, sempre com a devida e necessária observância do procedimento
legal e com respeito ao princípio da razoabilidade.
Dessa forma, a quebra de sigilo bancário não pode ser manipulada,
arbitrariamente, pelo Poder Público ou por seus agentes. Caso contrário,
descaracterizar-se-ia sua finalidade legítima, convertendo-se em instrumento
de busca generalizada e de investigação indiscriminada da esfera íntima,
privada e da personalidade dos contribuintes, o que daria ao Estado – em
desconformidade com os postulados consagrados no texto constitucional,
sobretudo aqueles que informam o regime democrático – o poder absoluto de
vasculhar, sem quaisquer limitações, registros sigilosos alheios, mantidos
pelas instituições financeiras.
Neste sentido, deveras interessante o entendimento de Luís Roberto Barroso,
que abordando o tema sob um enfoque mais abrangente, considera o sigilo
como uma garantia de interesse público, que homenageia a credibilidade e
estabilidade do sistema bancário, bem como a segurança do Estado e da
sociedade,[274] não obstante seja também uma manifestação do direito
fundamental à privacidade do cliente, em particular, e um dever profissional
de discrição das instituições financeiras, em geral.
A rigor, os dados bancários dos contribuintes devem ser preservados de
ingerências ou ofensas, consideradas arbitrárias ou ilegais, de quem quer que
seja, inclusive por parte do Estado ou do próprio banco e demais instituições
financeiras.
Com efeito, a celebração de tratados internacionais com o objetivo de
compartilhar informações bancárias seria totalmente inconstitucional. Tal
comportamento se encontra vedado pelo ordenamento jurídico brasileiro,
pois, a inviolabilidade desse sigilo é imprescindível à segurança da sociedade
e do Estado. Conflitar-se-ia, assim, com a Carta da República tratado
internacional que eventualmente viesse atribuir à Receita Federal do Brasil, o
afastamento do sigilo de dados bancários relativos aos seus contribuintes em
prol de um objetivo de transparência “democrática” e financeira.
O alcance do poder fiscalizatório da Administração Fiscal deve ser medido
com vistas a garantir a proteção da intimidade do contribuinte e do sigilo das
operações bancárias para que essa prerrogativa atribuída ao Fisco não se dê
de forma arbitrária e com violação aos direitos fundamentais do contribuinte.
Assim sendo, a transmissão automática de dados bancários, em nível
internacional, configurar-se-ia em grande ofensa à intimidade das pessoas,
ensejando indenização por dano moral e patrimonial, além de ser tal prática
de caráter ditatorial e, de igual modo, inconstitucional, por ofender preceitos
máximos insculpidos na Constituição Brasileira.
Conclusão
Na teoria econômica francesa, surgiu um tópico ao redor do qual se reuniu
um grupo de autores como em torno de uma bandeira, proclamando, com
grande alarde, a necessidade de se instituir uma tributação mundial sobre o
capital.
O instrumento ideal que eles criaram, como uma fórmula mágica, para
resolver todos os problemas do capitalismo (verbi gratia, desigualdades
patrimoniais, concentração mundial de riqueza, crises financeiras e bancárias)
foi o Imposto Mundial sobre o Capital, e um renomado estudioso, professor
Thomas Piketty, é o porta-estandarte da nova escola.
Apesar de o autor d’O capital no século XXI, que pode ser considerada a obra
“capital” dessa nova teoria econômica, salientar com insistência não ter
elaborado nada de realizável (ou, na melhor das hipóteses, de realização num
futuro imprevisível), mas apenas uma “utopia útil”, um “instrumento ideal”,
um “sistema ideal” – mantendo, com isso, a possibilidade de uma retirada
estratégica – é possível ter em mente, ao menos, uma ideia daquilo que essa
teoria, com a sua “descoberta”, realmente deseja.
Em vez de “O capital no século XXI”, Thomas Piketty poderia ter intitulado
sua obra de “Punição capital no século XXI”. Com isso, talvez, sua real
intenção ficasse mais clara, sem que a escolha do novo título perdesse
qualquer semelhança com alguma outra obra de Karl Marx.
O que se tem, ao final deste trabalho, é o completo desmascaramento de uma
falsa ciência econômica que não serve à verdade, mas ao poder; uma
ideologia socialista construída apenas para uso do fortalecimento da
autoridade imperante, seja ela legítima ou não.
Seu real propósito fica evidente diante da própria necessidade de se instituir
uma unidade jurídica supranacional, sobretudo quando se traz à memória que
o internacionalismo socialista (tido como uma das últimas e mais
significativas acepções histórias do ideário de supranacionalidade)
questionava claramente as organizações políticas nacionais, no sentido de que
o proletariado (e, a partir dessa nova proposta, o contribuinte) não tem pátria.
Infelizmente, na formulação de sua teoria, Thomas Piketty usa o
conhecimento e a inteligência em defesa do autoritarismo. Todavia, nenhuma
sociedade minimamente civilizada pode admitir que a relação tributária seja
simples relação de poder, e por isso mesmo, sua tese deve ser rechaçada.
Caso contrário, haveria um grande retrocesso: caminharíamos da liberdade à
opressão fiscal.
Por isso, a proposta de Thomas Piketty encontra-se desprovida da consciência
de que, numa sociedade civilizada, a relação tributária deve ser sinônimo de
relação jurídica, e jamais de relação de poder.
Convém notar, outrossim, que a eleição do Imposto Mundial sobre o Capital
como mecanismo de efetivação da justiça fiscal não passa de mera retórica,
desprovida de maiores reflexões jurídicas sobre seus reais impactos na
Constituição de cada país.
Resgatando, então, o problema desta pesquisa, e examinando-o à luz do
Direito Constitucional Tributário, questiona-se: seria possível instituir, no
Brasil, um Imposto Mundial sobre o Capital, tal como proposto por Thomas
Piketty?
Em que pese às razões expendidas pelo economista francês, a resposta para
esta indagação só poderia ser negativa, por se tratar de uma espécie tributária
inconveniente, inválida e de difícil implementação no cenário brasileiro.
Diversas são as razões, de ordem prática e teórica, que desaconselhariam a
instituição deste imposto no Brasil, dentre elas destacam-se: as dificuldades
administrativas para arrecadar e fiscalizar este tributo, o risco de redução da
poupança interna, o estimulo à prática criminosa de evasão de divisas, a
grande probabilidade de confisco, além de ser uma espécie tributária que
entraria em conflito com os tributos sobre a renda e patrimônio já existentes
no contexto brasileiro.
Mesmo que se cogitasse de uma proposta de Emenda à Constituição para
ampliar a competência residual da União, com vistas à instituição desta
espécie de tributo mundial, ela seria totalmente inconstitucional, por ser uma
proposta tendente a abolir a forma federativa de Estado, e os direitos e
garantia fundamentais, sobretudo o direito de propriedade e de sigilo
bancário, este último como desdobramento do direito fundamental à
intimidade.
Não se pode perder de vista que a instituição de um Imposto Mundial sobre o
Capital teria alguns desafios a serem enfrentados, como, por exemplo,
aqueles relacionados: a um programa fiscal aplicável à riqueza global; a
regras para repartição de receitas; e ao apoio democrático.
É de se verificar, destarte, que esse imposto seria, talvez, o de legislação mais
complexa de quantos possam, ainda, integrar o sistema tributário de vários
países. E, além de complexa, sua legislação seria das mais dinâmicas ante as
transformações sociais, políticas e econômicas que as diversas regiões do
mundo vêm sofrendo nos últimos anos.
A natural diversidade dos objetos e pessoas alcançados pela tributação,
atrelada às peculiaridades regionais (tanto de conteúdo social, quanto de
conteúdo econômico), além da ideologia política dominante em cada país,
tornam absolutamente impossível a supranacionalização da atividade
tributária.
Em razão de todas essas variáveis, não seria medida aconselhável (nem
praticamente exequível) estender a tributação para além das fronteiras
territoriais da autoridade estatal, sem que isto representasse, exatamente, a
tentativa de desenvolver, no plano supranacional, uma espécie de luta
revolucionária pela conquista e manutenção do poder político, contrapondo a
potência econômica do capitalismo, e desrespeitando as peculiaridades e as
características nacionais.
Se é certo que na tributação de âmbito nacional se percebe sempre uma
irredutível dose de injustiça fiscal, muito mais iníquo seria o sistema
financeiro que inaugurasse o regime da tributação supranacional para todos
os cidadãos do mundo. A injustiça do gravame, sua inoportunidade e
inconveniência à economia de cada país são alguns pontos abertos à censura
deste instrumento fiscal.
Ante todo o exposto, conclui-se que a instituição de qualquer espécie de
tributo mundial mostra-se de todo incompatível com o espírito do
ordenamento jurídico brasileiro, por ir de encontro ao interesse público
existente na defesa da soberania estatal, da segurança nacional, e da estrita
obediência às normas tributárias, sobretudo àquelas de caráter eminentemente
constitucional.
Posfácio
Toda solicitação de posfácio é naturalmente uma distinção com que o
autor do livro prestigia alguém de algum modo ligado à matéria no livro
versada. E por isto mesmo é uma solicitação sempre acolhida com prazer. No
caso deste livro de Wilson Coimbra Lemke, talvez eu possa interpretar o
pedido de posfácio como uma forma gentil e interessante de provocação para
que eu me manifeste sobre a sua tese, aliás muito bem elaborada.
Realmente, este interessante livro “TRIBUTOS MUNDIAIS: O
PODER SUPRANACIONAL DE TRIBUTAÇÃO”, de Wilson Coimbra
Lemke, opõem-se radicalmente à tese sustentada por Thomas Piketty, como
se pode ver em suas conclusões, nas quais, entre outras coisas, afirma:
Apesar de o autor d’O Capital no Século XXI, que pode ser
considerada a obra “capital” dessa nova teoria econômica,
salientar com insistência não ter elaborado nada de
realizável (ou, na melhor das hipóteses, de realização num
futuro imprevisível), mas apenas uma “utopia útil”, um
“instrumento ideal”, um “sistema ideal” – mantendo, com
isso, a possibilidade de uma retirada estratégica – é possível
ter em mente, ao menos, uma ideia daquilo que essa teoria,
com a sua “descoberta”, realmente deseja.
Em vez de “O capital no século XXI”, Thomas Piketty poderia ter
intitulado sua obra “Punição capital no século XXI”. Com isso, talvez,
sua real intenção ficasse mais clara, sem que a escolha do novo título
perdesse qualquer semelhança com alguma outra obra de Karl Max.
O que se tem, ao final deste trabalho, é o completo desmascaramento
de uma falsa ciência econômica que não serve à verdade, mas ao poder,
uma ideologia socialista construída apenas para uso do fortalecimento
da autoridade imperante, seja ela legítima ou não.
[...]
Resgatando, então, o problema desta pesquisa, e
examinando-o à luz do Direito Constitucional Tributário,
questiona-se: seria possível instituir, no Brasil, um imposto
Mundial sobre o capital, tal como proposto por Thomas
Piketty?
Em que pese às razões expendidas pelo economista francês,
a resposta para essa indagação só poderia ser negativa, por
se tratar de uma espécie tributária inconveniente, inválida e
de difícil implementação no cenário brasileiro.
Diversas são as razões, de ordem prática e teórica, que
desaconselhariam a instituição deste imposto no Brasil,
dentre elas destacam-se: as dificuldades administrativas para
arrecadar e fiscalizar este tributo, o risco de redução da
poupança interna, o estímulo à prática criminosa de evasão
de divisas, a grande probabilidade de confisco, além de ser
uma espécie tributária que estaria em conflito com os
tributos sobre a renda e patrimônio já existentes no contexto
brasileiro.
Mesmo que se cogitasse de uma proposta de Emenda à
Constituição para ampliar competência residual da União,
com vistas à instituição desta espécie de tributo mundial, ela
seria totalmente inconstitucional, por ser uma proposta
tendente a abolir a forma federativa de Estado, e os direitos e
garantias fundamentais, sobretudo o direito de propriedade e
de sigilo bancário, este último como desdobramento do
direito fundamental à intimidade.
[...]
É de se verificar, destarte, que esse imposto seria, talvez, o
de legislação mais complexa e de quantos possam, ainda,
integrar o sistema tributário de vários países. E, além de
complexa, sua legislação seria das mais dinâmicas ante as
transformações sociais, políticas e econômicas que as
diversas regiões do mundo vêm sofrendo nos últimos anos.
A natural diversidade dos objetos e pessoas alcançados pela
tributação, atrelada às peculiaridades regionais (tanto de
conteúdo social, quanto de conteúdo econômico), além da
ideologia política dominante em cada país, tornam
absolutamente impossível a supranacionalização da
atividade tributária.
Em razão de todas essas variáveis, não seria medida
aconselhável (nem praticamente exequível) estender a
tributação para além das fronteiras territoriais da autoridade
estatal, sem que isto representasse, exatamente, a tentativa
de desenvolver, no plano supranacional, uma espécie de luta
revolucionária pela conquista e manutenção do poder
político, contrapondo a potência econômica do capitalismo,
e desrespeitando as peculiaridades e as características
nacionais.
Se é certo que na tributação de âmbito nacional se percebe
sempre uma irredutível dose de injustiça fiscal, muito mais
iníquo seria o sistema financeiro que inaugurasse o regime
de tributação supranacional para todos os cidadãos do
mundo. A injustiça do gravame, sua inoportunidade e
inconveniência à economia de cada país são alguns pontos
abertos à censura deste instrumento fiscal.
Ante o exposto, conclui-se que a instituição de qualquer
espécie de tributo mundial mostra-se de todo incompatível
com o espírito do ordenamento jurídico brasileiro, por ir de
encontro ao interesse público existente na defesa da
soberania estatal, da segurança nacional, e da estrita
obediência às normas tributárias, sobretudo àquelas de
caráter eminentemente constitucional.

Como se pode ver do que acima transcrevemos, a tese que consta


deste livro de Wilson Coimbra Lemke, que estamos com prazer a escrever
este posfácio, merece algumas considerações que a seguir vamos fazer.
Entretanto, quando nos manifestarmos sobre qualquer assunto, qualquer que
seja a área do conhecimento humano na qual esteja situado, é importante
lembrarmos que tudo é absolutamente relativo no mundo. Sobre esse
relativismo, Radbruch invoca lição de Goethe, a dizer que “as diversas
maneiras de pensar acham afinal o seu fundamento na diversidade dos
homens e por isso será sempre impossível criar neles convicções
uniformes.”[275]
Nesse contexto é também muito importante o
respeito que devemos ter pelas opiniões contrárias às
nossas, porque é inevitável a existência de opiniões
contrárias, como escreveu David Hume, no início dos anos
mil e setecentos.[276] E o nosso direito de ter opinião
implica o nosso dever de respeitar as opiniões dos outros.
Aliás, merece a maior atenção a advertência de Souto Borges,
segundo a qual:
Quem é propenso a defender intolerantemente suas próprias
teorias ou, num giro subjetivista, as suas convicções
pessoais, as suas opiniões, já se demitiu, sem o saber, da
comunidade científica. Porque se opõe, essa tendência
conservadora, ao espírito aberto que ousadamente prefere o
método de “tentativas e erros”, pela formulação de hipóteses
testáveis independentemente.[277]
Ressaltamos desde logo que nem o Brasil, nem qualquer outro país,
pode instituir um imposto mundial, porque é óbvio que nenhum país pode
impor a sua legislação fora do seu próprio território. Entretanto, se com a
expressão imposto mundial estivermos a indicar um imposto que venha a ser
instituído por todos os países do mundo para incidir de forma mais ou menos
equivalente sobre a riqueza, pensamos ser isto perfeitamente possível,
embora não nos pareça que venha a acontecer.
O livro que estamos a escrever este posfácio refere-se à
impossibilidade da instituição desse imposto no Brasil. A nosso ver, porém, é
perfeitamente possível a instituição desse imposto, no segundo sentido da
expressão que incidamos acima, pois a competência da União Federal para
tanto está prevista na Constituição Federal de 1988, em seu artigo 153, inciso
VI, que atribui competência à União para instituir imposto sobre grandes
fortunas.
Sobre esse imposto, aliás, em meu Curso de Direito
Tributário, citado por Wilson Coimbra Lemke, no livro que
estamos com prazer a escrever este posfácio, escrevemos:
A Constituição Federal de 1988 atribui à União competência
para instituir imposto sobre grandes fortunas, nos termos de
lei complementar (art. 153, VII). Não obstante, até agora
esse imposto não foi instituído, nem editada lei
complementar para definir o que se deve entender por
“grandes fortunas”. É caso raro de competência tributária
não exercitada, e a razão para essa inércia do legislador é
exclusivamente política.
Há quem aponte dificuldades técnicas para a tributação das
grandes fortunas. Seriam problemáticas a identificação e a
avaliação dos bens. O argumento é inconsistente. Os bens
que integram as grandes fortunas são os mesmos cuja
transmissão de propriedade é tributada. Se a título oneroso,
pelo Município. Se a título gratuito, ou em virtude de
sucessão por causa da morte, pelo Estado. E ninguém
sustentou a inviabilidade do imposto de transmissão causa
mortis e doação, de que trata o art. 156, II, da CF.
O verdadeiro motivo da não instituição do imposto sobre
grandes fortunas é de ordem política. Os titulares de grandes
fortunas, se não estão investidos de poder, possuem inegável
influência sobre os que o exercem.
Entre os vários projetos apresentados ao Congresso
Nacional, tivemos um, de autoria do então senador Fernando
Henrique Cardoso, que ensejou o oferecimento de um
substitutivo por parte do deputado federal Roberto Campos.
Tal substitutivo, porém, constitui verdadeira imoralidade.
Para demonstrá-lo basta a referência a um de seus
dispositivos, segundo o qual os bens adquiridos por doação
integram a base de cálculo do imposto pelo valor que lhe
seja atribuído pelo doador. A prevalecer tal dispositivo, as
maiores fortunas do País facilmente serão excluídas da
tributação, através de doações gravadas com cláusula de
usufruto vitalício.
Não acreditamos na instituição do imposto sobre grandes
fortunas por uma razão muito simples: quem manda no
mundo, seja pelo poder seja pela influência sobre os que o
exercem, é sempre titular de grande fortuna, e certamente
não vai admitir essa tributação. Se um dia ocorrer a
instituição de um imposto com esse nome, não será devido
pelos ricos, mas pela classe média, incrementando a enorme
carga tributária por esta já suportada.[278]
Considerando que o Imposto sobre Grandes Fortunas está
contaminado por preconceitos ideológicos, tanto dos que defendem a sua
criação como dos que a ela se mostram contrários, preconizamos em seu
lugar o Imposto sobre o Patrimônio Líquido das Pessoas Físicas, assunto
sobre o qual já escrevemos:
O imposto sobre o patrimônio líquido das pessoas naturais
substituirá o imposto sobre grandes fortunas, que constitui o
único exemplo de competência tributária não exercitada,
talvez pela enorme carga de preconceito ideológico que
carrega. E substitui também outros impostos sobre parcelas
do patrimônio, como são o Imposto sobre Veículos
Automotores – IPVA, dos Estados, o Imposto sobre
Propriedade Territorial Rural – ITR, da União, o Imposto
sobre Propriedade Predial e Territorial Urbana – IPTU, dos
Municípios.
Registre-se que a União Federal já dispõe dos instrumentos
de controle que lhe permitem conhecer a evolução
patrimonial das pessoas naturais: a declaração de bens que
todas as pessoas naturais estão obrigadas a fazer anualmente,
de sorte que o Imposto sobre o Patrimônio Líquido das
Pessoas Naturais pode ser implantado e administrado
facilmente.
Esse imposto, por outro lado, com o formato que
imaginamos, tem a virtude de atingir o patrimônio de
pessoas que por opção pessoal decidem fazer aplicações em
bens não produtivos, como obras de arte ou sítios suntuosos
para o lazer pessoal de seus proprietários. Ele seria calculado
sobre o patrimônio líquido, com alíquota expressiva, mas do
valor então apurado seria deduzido o total do imposto de
renda de pessoa física pago no período correspondente.
É mais fácil ocultar um rendimento do que ocultar um bem.
Assim, o imposto que imaginamos permitirá a exigência do
tributo daqueles que ocultam seus rendimentos, inclusive
com a utilização de paraísos fiscais. [279]
Em síntese, com o devido respeito aos que os
sustentam, podemos afirmar que os argumentos contrários
ao Imposto sobre Grandes Fortunas são falaciosos e na sua
maioria carregados de preconceitos ideológicos. A
verdadeira razão pela qual o Imposto sobre Grandes
Fortunas não foi instituído é a decisiva influência dos
titulares de grandes fortunas, que por uma razão óbvia não
querem ser por ele onerados.
Em face dos preconceitos ideológicos que o
cercam, aliás, nos parece que esse imposto deve ter outro
nome, a saber, Imposto sobre o Patrimônio Líquido das
Pessoas Físicas, que contribuirá significativamente para a
simplificação do sistema tributário, com a substituição de
outros impostos que incidem sobre parcelas desse
patrimônio, como o Imposto Territorial Rural, o Imposto
sobre Propriedade Predial e Territorial Urbana e o Imposto
sobre Veículos Automotores.
Ressaltamos, mais uma vez, que a União Federal já dispõe do
instrumento adequado para o controle da evolução patrimonial, que é a
declaração anual de bens, integrante da declaração de rendimentos das
pessoas físicas. E o Imposto sobre o Patrimônio Líquido das Pessoas Físicas,
com o formato que imaginamos, realiza a justiça fiscal, ao atingir o
patrimônio de pessoas que por opção pessoal decidem fazer aplicações em
bens não produtivos, como obras de arte ou sítios suntuosos para o lazer
pessoal de seus proprietários. Não aumentaria o ônus para aqueles que
aplicam suas riquezas em atividades produtivas, porque poderia ser calculado
sobre o patrimônio líquido, com alíquota expressiva, mas do valor então
apurado seria deduzido o total do imposto de renda de pessoa física, além de
todos os demais tributos suportados pelo contribuinte no período
correspondente. E assim não afugentaria os investimentos de nosso país, pois
o que importa para o investidor é a carga tributária total suportada em cada
país.
Seja como for, o livro de Wilson Coimbra Lemke merece elogios,
porque suscita o debate sobre um tema da maior relevância, que é a tributação
da riqueza como forma de reduzir as desigualdades sociais. E com este
posfácio esperamos contribuir para o debate.
Hugo de Brito Machado
Advogado, especialista, mestre e doutor em Direito,
conferencista, consultor tributário e parecerista. Foi
Procurador da República e Juiz Federa em 1ª Instância,
Juiz do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, cargos que
lhe renderam grande experiência no trato de questões
inerentes ao Direito Tributário e ao Direito Constitucional.
É professor titular de Direito Tributário da Universidade
Federal do Ceará (UFC), onde leciona nos cursos de
especialização e de mestrado. É presidente do Instituto
Cearense de Estudos Tributários. É autor de mais de 300
artigos de doutrina em livros de autoria coletiva e em
revistas jurídicas especializadas e de dezenas de livros.
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______. ADI 1480 MC, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Tribunal
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XAVIER, Alberto. Direito Tributário Internacional do Brasil. 6. ed. Rio
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APÊNDICE

O ESTADO “ROBIN HOOD”: AS AVENTURAS DO “PRÍNCIPE DOS


LADRÕES” NO BOSQUE DA TRIBUTAÇÃO COSMOPOLITA
O Estado “Robin Hood”, como o próprio nome sugere, faz alusão àquele
herói do folclore inglês, um fora-da-lei que roubava dos ricos para dar aos
pobres, pelo que ficou imortalizado como “O Príncipe dos Ladrões”.[280]
Por meio da política fiscal defendida por Thomas Piketty, todos os países do
mundo deveriam se transformar numa espécie de “Arqueiro Verde”, que não
fosse uma simples ideia, mas uma força viva.
Mas, para lograr êxito neste objetivo, o Estado “Robin Hood” deve sustentar
numa das mãos o arco com o qual lança o “Imposto Mundial sobre o
Capital”, enquanto na outra segura a flecha, por meio da qual fere as pessoas
ricas em favorecimento dos pobres.
Nesta figura mítica, ambos os instrumentos se completam e a verdadeira
“justiça fiscal” só se realiza quando o arqueiro empunha o arco de
lançamento com a mesma habilidade com que maneja as flechas da
tributação.
Apesar do pseudônimo de Estado “Robin Hood”, a ideia de roubar da
nobreza para dar aos pobres é mera falácia. Não porque a redução da
desigualdade socioeconômica não seja um fim nobre, mas, sim, porque este
não é o melhor meio para alcançá-la.
Basta relembrar a péssima experiência que diversos países europeus tiveram
em relação ao “imposto sobre grandes fortunas”, sendo posteriormente
revogados pelo efeito adverso que provocaram tanto na economia quanto na
arrecadação fiscal.
Se, no âmbito interno de cada país, que em algum momento adotou essa
prática, não foi capaz de realizar a tão sonhada justiça fiscal, quanto mais se
fosse admitida a instituição de um imposto dessa natureza no âmbito
supranacional, em que seriam maiores as dificuldades administrativas para a
instituição e arrecadação desta nova espécie tributária, que seria taxada,
ainda, como sendo de caráter confiscatório, além de entrar em conflito com
os outros tributos sobre a renda e patrimônio já existentes no âmbito interno
de cada país.
Então, pode-se dizer, com isso, que o projeto pikettyano de se instituir uma
tributação mundial sobre o capital padece dos vícios da inadequação jurídico-
sistemática, da demagogia de propósitos altruístas, da restrição abusiva da
propriedade de cada cidadão-cosmopolita, da absoluta ineficácia em relação
às suas finalidades (extra)fiscais, além de estar em total contradição com o
objetivo de desenvolvimento econômico e sustentável. O Brasil, portanto,
não pode cair nesta nova emboscada.
Mas, caso sintamos, em algum momento, seduzidos pelo canto de algum
jurista que venha admitir tal possibilidade no cenário brasileiro, utilizando-se
como pretexto a competência da União Federal para instituir o “Imposto
sobre Grandes Fortunas”, devemos guardar na nossa memória as belas
palavras de Eurico Marcos Diniz de Santi, quando afirma, com intrepidez,
que: “A inesgotável capacidade criativa para gerar novos sentidos sobre um
mesmo texto legal, alargando-se a competência tributária, não é conduta
digna do Poder Público: ESPERTEZA e OPORTUNISMO não fazem rima
com LEGALIDADE e DEMOCRACIA”.[281]
E isto se justifica, de acordo com o entendimento do nobre professor, por
uma simples razão: “Direito sem ética é um direito cruel com vocação para o
não direito”.[282] E, quando o Direito perde sua essência, ele deixa de ser
Direito e passa a ser Arbítrio!
Por isso, o “Bosque da Tributação Cosmopolita” continua sendo um mundo
obscuro, cheio de mistérios, os quais cabe a nós desvendar, uma vez que, em
se tratando de um novo, escuro e imenso bosque, de tudo podemos encontrar
e pelo que entendo, já nos basta ter sobrevivido aos perigos de seus encantos
e magias, desde quando o adentramos no início desta expedição.

[1]
BROTERO, José Maria de Avellar. A Filosofia do Direito Constitucional. São Paulo:
Malheiros Editores, 2007. p. 33.
[2]
Cf. BODIN, Jean. Les six livres de la République. Un abrégé du texte de l’édition de
Paris de 1583. Paris: Librairie générale française, 1993. 607 p. (Classiques de la
philosophie). Disponível em: <http://aberkane.yolasite.com>. Acesso em: 07 jul. 2018.

[3]
Cf. MACHIAVELLI, Niccolò di. Il Principe. Torino: Einaudi, 1961. 99 p. (Letteratura
italiana Einaudi). Disponível em:
<http://www.letteraturaitaliana.net/pdf/Volume_4/t324.pdf>. Acesso em: 07 jul. 2018.

[4]
NABAIS, José Casalta. O Dever Fundamental de Pagar Impostos: Contributo para a
compreensão constitucional do estado fiscal contemporâneo. Coimbra: Almedina, 2009.
p. 291.

[5]
Em português: “soberania é o poder absoluto e perpétuo de uma República”. BODIN,
Jean. Les six livres de la République. Un abrégé du texte de l’édition de Paris de 1583.
Paris: Librairie générale française, 1993. p. 74. Disponível em:
<http://aberkane.yolasite.com>. Acesso em: 07 jul. 2018.

[6]
Sobre as características da soberania. Cf. DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de
Teoria Geral do Estado. 31. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 81-91. ACQUAVIVA,
Marcus Cláudio. Teoria Geral do Estado. 3. ed. Barueri: Manole, 2010. p. 51-57. DE
CICCO, Cláudio; GONZAGA, Alvaro de Azevedo. Teoria Geral do Estado e Ciência
Política. 6. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015. p. 61-64.

[7]
Sobre a origem deste adágio, cf. RIVIÈRE, Jean. Sur l’origine de la formule juridique:
“Rex imperator in regno suo”. In: Revue des Sciences Religieuses, tome 4, fascicule 4,
1924. pp. 580-586. Disponível em: <https://www.persee.fr/doc/rscir_0035-
2217_1924_num_4_4_1277>. Acesso em: 23 maio 2018.

[8]
Sobre o conceito de soberania, cf. SILVA, José Afonso da. Curso de Direito
Constitucional Positivo. 37. ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2014. p. 106.
CAETANO, Marcelo. Direito Constitucional. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1987. p.
169. NERY JUNIOR, Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade (Coord.). Constituição
Federal comentada e Legislação Constitucional. 5. ed. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2014. p. 193.

[9]
DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de Teoria Geral do Estado. 31. ed. São
Paulo: Saraiva, 2012. p. 259.
[10]
MATTEUCCI, Nicola. Soberania. In: BOBBIO, Norberto; MATTEAUCCI, Nicola;
PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de Política. 12. ed. Brasília: Editora Universidade
de Brasília, 2004. v. 2. p. 1.187.
[11]
MATTEUCCI, Nicola. Soberania. In: BOBBIO, Norberto; MATTEAUCCI, Nicola;
PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de Política. 12. ed. Brasília: Editora Universidade
de Brasília, 2004. v. 2. p. 1.187.

[12]
Sobre o fenômeno do poder, cf. BURDEAU, Georges. O Estado. São Paulo: Martins
Fontes, 2005. p. 1-33. MARTINS, Ives Gandra da Silva. O Poder. São Paulo: Saraiva,
1984.

[13]
MATTEUCCI, Nicola. Soberania. In: BOBBIO, Norberto; MATTEAUCCI, Nicola;
PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de Política. 12. ed. Brasília: Editora Universidade
de Brasília, 2004. v. 2. p. 1.187.

[14]
Sobre essa tensão entre “espaços comunitários” e “espaços nacionais”, cf. MARTINS,
Ives Gandra da Silva. A era das contradições: Desafios para o novo milênio. São Paulo:
Futura, 2004. p. 83-85.

[15]
Em português: “O termo supranacional [em alemão: überstaatlich] descreve uma
forma particularmente estreita de cooperação política, jurídica e econômica e
interdependência de estados, resultando na transferência de competências e recursos
para um nível político mais alto e o estabelecimento de um sistema legal supranacional”.
SUPRANATIONAL. In: HÜTTMANN, Martin Große. Das Europalexikon. Bonn:
Dietz, 2013. Disponível em: <http://www.bpb.de/nachschlagen/lexika/das-
europalexikon/177292/ supranational>. Acesso em 05 jun. 2018.

[16]
Cf. WEILER, Joseph. The Constitution of Europe: “Do the New Clothes have an
Emperor?” and other Essays on European Integration. Cambridge: Cambridge
University Press, 1999.

[17]
MATTEUCCI, Nicola. Concordata Eclesiástica. In: BOBBIO, Norberto;
MATTEAUCCI, Nicola; PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de Política. 12. ed.
Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2004. v. 1. p. 217.

[18]
MARTINS, Ives Gandra da Silva. A era das contradições: Desafios para o novo
milênio. São Paulo: Futura, 2004. p. 74.

[19]
Em português: “[...] toda união internacional de estados que é institucionalmente
organizada, isto é, equipada com órgãos, agindo por meio dos quais ela naturalmente se
coloca ‘acima dos estados’”. SOVRANNAZIONALE. In: TRECCANI, Enciclopedia.
Disponível em: <http://www.treccani.it/vocabolario /sovrannazionale/>. Acesso em: 07
jun. 2018.
[20]
PISTONE, Sergio. Interesse Nacional. In: BOBBIO, Norberto; MATTEAUCCI,
Nicola; PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de Política. 12. ed. Brasília: Editora
Universidade de Brasília, 2004. v. 1. p. 642.

[21]
MARTINS, Ives Gandra da Silva. A era das contradições: Desafios para o novo
milênio. São Paulo: Futura, 2004. p. 84.

[22]
Em português: “A expressão poder tributário significa a faculdade ou a possibilidade
de exigir contribuições em relação a pessoas ou bens que estão em sua jurisdição”.
FONROUGE, Carlos M. Giuliani. Derecho Financiero. 9. ed. Buenos Aires: La Ley,
2004. v. 1. p. 260.

[23]
SILVA, José Afonso da. Comentário contextual à Constituição. 8. ed. São Paulo:
Malheiros Editores, 2012. p. 666.

[24]
MURPHY, Liam; NAGEL, Thomas. O mito da propriedade: Os impostos e a justiça.
São Paulo: Martins Fontes, 2005. p. 101.

[25]
COÊLHO, Sacha Calmon Navarro. Curso de Direito Tributário Brasileiro. 15. ed. Rio
de Janeiro: Forense, 2016. p. 34.

[26]
COÊLHO, Sacha Calmon Navarro. Curso de Direito Tributário Brasileiro. 15. ed. Rio
de Janeiro: Forense, 2016. p. 34.

[27]
Sobre esses conceitos, cf. MALISKA, Marcos Augusto. Estado e Século XXI: A
integração supranacional sob a óptica do Direito Constitucional. Rio de Janeiro:
Renovar, 2006. p. 147.

[28]
Sobre o poder constituinte supranacional, cf. RODRIGUES, Maurício Andreiuolo.
Poder Constituinte Supranacional: Esse Novo Personagem. Porto Alegre: Fabris Editor,
2000.

[29]
Cf. SELIGMAN, Edwin Robert Anderson. Essays in taxation. 9. ed. New York:
MacMillan, 1921. Disponível em: <https://archive.org>. Acesso em: 15 maio 2018.
NOGUEIRA, Ruy Barbosa. Curso de Direito Tributário. 14. ed. São Paulo: Saraiva,
1995. p. 7-15. CORREA, Walter Barbosa. História Legislativa do Imposto de Renda no
Brasil. In: MARTINS, Ives Gandra da Silva. Imposto de Renda: Conceitos, Princípios e
Comentários. São Paulo: Atlas, 1996. CALIENDO, Paulo. Direito Tributário e Análise
Econômica do Direito: Uma visão crítica. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009.

[30]
PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2014.
p. 501.

[31]
PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2014.
p. 501.

[32]
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. 2. ed.
Brasília: Senado Federal, Coordenação de Edições Técnicas, 2017a. p. 97.

[33]
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. 2. ed.
Brasília: Senado Federal, Coordenação de Edições Técnicas, 2017a. p. 101.

[34]
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 28. ed. São Paulo:
Saraiva, 2017. p. 232-233.

[35]
PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2014.
p. 506.

[36]
Cf. PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca,
2014.

[37]
Sobre a função dos tributos, cf., por todos, MACHADO, Hugo de Brito. Curso de
Direito Tributário. 35. ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2014.

[38]
PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2014.
p. 502.

[39]
PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2014.
p. 501 e 504.

[40]
PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2014.
p. 623.

[41]
PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2014.
p. 51.

[42]
PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2014.
p. 51-52.

[43]
Cf. PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca,
2014.
[44]
PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2014.
p. 507.

[45]
Sobre a distinção entre “tributos vinculados” e “tributos não vinculados”, cf.
ATALIBA, Geraldo. Hipótese de Incidência Tributária. 6. ed. São Paulo: Malheiros
Editores, 2004. p. 131-136.

[46]
PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2014.
p. 503-504.

[47]
PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2014.
p. 503.

[48]
PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2014.
p. 502.

[49]
PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2014.
p. 623.

[50]
PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2014.
p. 503.

[51]
PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2014.
p. 503.

[52]
PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2014.
p. 503.

[53]
PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2014.
p. 503.

[54]
Cf. PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca,
2014.

[55]
PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2014.
p. 506.

[56]
PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2014.
p. 506.
[57]
Cf. PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca,
2014.

[58]
PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2014.
p. 507.

[59]
PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2014.
p. 507.

[60]
PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2014.
p. 504.

[61]
PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2014.
p. 501.

[62]
PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2014.
p. 502.

[63]
PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2014.
p. 502.

[64]
PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2014.
p. 504.

[65]
PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2014.
p. 504.

[66]
PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2014.
p. 505.

[67]
PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2014.
p. 506.

[68]
PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2014.
p. 507-508.

[69]
PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2014.
p. 509.
[70]
PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2014.
p. 509.

[71]
Sobre essa temática, cf. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. CR 8279 AgR,
Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Tribunal Pleno, julgado em 17/06/1998, DJ 10-
08-2000 PP-00006 EMENT VOL-01999-01 PP-00042. Disponível em:
<http://www.stf.jus.br>. Acesso em: 18 jul. 2018.

[72]
PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2014.
p. 511.

[73]
PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2014.
p. 511.

[74]
PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2014.
p. 513.

[75]
PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2014.
p. 513.

[76]
REALE, Miguel. Filosofia do Direito. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2002. p. 584.

[77]
DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de Teoria Geral do Estado. 31. ed. São Paulo:
Saraiva, 2012. p. 122.

[78]
MARTINS, Ives Gandra da Silva. Uma breve introdução ao Direito. 2. ed. São Paulo:
Migalhas, 2015. p. 276.

[79]
REZEK, José Francisco. Direito Internacional Público: Curso Elementar. 13. ed. São
Paulo: Saraiva, 2011. p. 259.

[80]
XAVIER, Alberto. Direito Tributário Internacional do Brasil. 6. ed. Rio de Janeiro:
Editora Forense, 2004. p. 13.

[81]
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. 2. ed.
Brasília: Senado Federal, Coordenação de Edições Técnicas, 2017a. p. 11.

[82]
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. 2. ed.
Brasília: Senado Federal, Coordenação de Edições Técnicas, 2017a. p. 52.
[83]
DÓRIA, Antônio Roberto Sampaio. Direito constitucional tributário e “Due process
of Law”: Ensaio sobre o Controle Judicial da Razoabilidade das Leis. 2. ed. Rio de
Janeiro: Forense, 1986. p. 1.

[84]
NABAIS, José Casalta. O Dever Fundamental de Pagar Impostos: Contributo para a
compreensão constitucional do estado fiscal contemporâneo. Coimbra: Almedina, 2009.
p. 302.

[85]
REZEK, José Francisco. Direito Internacional Público: Curso Elementar. 13. ed. São
Paulo: Saraiva, 2011. p. 194.

[86]
DÓRIA, Antônio Roberto Sampaio. Direito constitucional tributário e “Due process
of Law”: Ensaio sobre o Controle Judicial da Razoabilidade das Leis. 2. ed. Rio de
Janeiro: Forense, 1986. p. 93.

[87]
DÓRIA, Antônio Roberto Sampaio. Direito constitucional tributário e “Due process
of Law”: Ensaio sobre o Controle Judicial da Razoabilidade das Leis. 2. ed. Rio de
Janeiro: Forense, 1986. p. 106.

[88]
NABAIS, José Casalta. O Dever Fundamental de Pagar Impostos: Contributo para a
compreensão constitucional do estado fiscal contemporâneo. Coimbra: Almedina, 2009.
p. 304.

[89]
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. 2. ed.
Brasília: Senado Federal, Coordenação de Edições Técnicas, 2017a. p. 13.

[90]
CARRAZZA. Roque Antonio. Princípios Constitucionais Tributários e Competência
Tributária. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1986. p. 94.

[91]
CARRAZZA. Roque Antonio. Princípios Constitucionais Tributários e Competência
Tributária. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1986. p. 95.

[92]
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. 2. ed.
Brasília: Senado Federal, Coordenação de Edições Técnicas, 2017a. p. 95.

[93]
BRASIL. Código Tributário Nacional. 3. ed. Brasília: Senado Federal, Coordenação
de Edições Técnicas, 2017b. p. 33.

[94]
DÓRIA, Antônio Roberto Sampaio. Direito constitucional tributário e “Due process
of Law”: Ensaio sobre o Controle Judicial da Razoabilidade das Leis. 2. ed. Rio de
Janeiro: Forense, 1986. p. 1.

[95]
Em português: “Nenhum tributo será lançado sem o consentimento do conselho geral
do reino”. BÉMONT, Charles. Chartes des libertés anglaises (1100-1305). Paris:
Alphonse Picard, 1892. p. 29. Disponível em:
<https://archive.org/details/chartesdesliber01bmgoog>. Acesso em: 26 maio 2018.

[96]
BALEEIRO, Aliomar. Direito Tributário Brasileiro. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense,
1981. p. 74.

[97]
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. 2. ed.
Brasília: Senado Federal, Coordenação de Edições Técnicas, 2017a. p. 95.

[98]
NABAIS, José Casalta. O Dever Fundamental de Pagar Impostos: Contributo para a
compreensão constitucional do estado fiscal contemporâneo. Coimbra: Almedina, 2009.
p. 299.

[99]
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. 2. ed.
Brasília: Senado Federal, Coordenação de Edições Técnicas, 2017a. p. 94 e 97.

[100]
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. 2. ed.
Brasília: Senado Federal, Coordenação de Edições Técnicas, 2017a. p. 54.

[101]
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 28. ed. São Paulo:
Saraiva, 2017. p. 95.

[102]
HORVATH, Estevão; CARVALHO, Nelson Ferreira de. Tratado internacional, em
matéria tributária, pode exonerar tributos estaduais? Revista de Direito Tributário, São
Paulo, n. 64, p. 267, abr.-jun. 1993.

[103]
Sobre a hierarquia normativa dos tratados e convenções internacionais sobre direitos
humanos, cf. MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público.
7. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013. p. 865-900. Sobre a tese da
supralegalidade dos tratados internacionais sobre direitos humanos, cf. SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL. Posição hierárquica dos tratados internacionais de direitos
humanos. In: ______. Coletânea temática de jurisprudência: Direitos humanos.
Brasília: STF, Secretaria de Documentação, 2017. p. 13-15.

[104]
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. 2. ed.
Brasília: Senado Federal, Coordenação de Edições Técnicas, 2017a. p. 97.
[105]
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. 2. ed.
Brasília: Senado Federal, Coordenação de Edições Técnicas, 2017a. p. 56.

[106]
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. ADI 1480 MC, Relator(a): Min. CELSO DE
MELLO, Tribunal Pleno, julgado em 04/09/1997, DJ 18-05-2001 PP-00435 EMENT
VOL-02031-02 PP-00213. Disponível em: <http://www.stf.jus.br>. Acesso em: 08 jul.
2018.

[107]
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. 2. ed.
Brasília: Senado Federal, Coordenação de Edições Técnicas, 2017a. p. 52.

[108]
BRASIL. Código Tributário Nacional. 3. ed. Brasília: Senado Federal, Coordenação de
Edições Técnicas, 2017b. p. 11.

[109]
MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário. 35. ed. São Paulo:
Malheiros Editores, 2014. p. 46.

[110]
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. 2. ed.
Brasília: Senado Federal, Coordenação de Edições Técnicas, 2017a. p. 11.

[111]
MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário. 35. ed. São Paulo:
Malheiros Editores, 2014. p. 46.

[112]
MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário. 35. ed. São Paulo:
Malheiros Editores, 2014. p. 46.

[113]
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. 2. ed.
Brasília: Senado Federal, Coordenação de Edições Técnicas, 2017a. p. 97.

[114]
MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário. 35. ed. São Paulo: Malheiros
Editores, 2014. p. 299.

[115]
COSTA, Regina Helena. Curso de Direito Tributário: Constituição e Código Tributário
Nacional. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 75.

[116]
DÓRIA, Antônio Roberto Sampaio. Direito constitucional tributário e “Due process of
Law”: Ensaio sobre o Controle Judicial da Razoabilidade das Leis. 2. ed. Rio de
Janeiro: Forense, 1986. p. 195.

[117]
VIEIRA, Marcos André Ramos. Direito Tributário Definitivo. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2014. p. 90.

[118]
CASALINO, Vinícius. Curso de Direito Tributário e Processo Tributário: Teoria
Geral e Direito Constitucional Tributário. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais,
2012. v. 1. p. 203.

[119]
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. 2. ed.
Brasília: Senado Federal, Coordenação de Edições Técnicas, 2017a. p. 95.

[120]
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre a economia política. Petrópolis: Vozes,
2017. p. 45.

[121]
OLIVEIRA, Regis Fernandes de; HORVATH, Estevão. Manual de Direito
Financeiro. 5. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2002. p. 67.

[122]
OLIVEIRA, Regis Fernandes de; HORVATH, Estevão. Manual de Direito Financeiro.
5. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2002. p. 67.

[123]
CARRAZZA, Roque Antonio. Curso de Direito Constitucional Tributário. 24. ed. São
Paulo: Malheiros, 2008. p. 101.

[124]
Em português: “A rigor, a disposição constitucional que proíbe o confisco do sistema
tributário constitui, em princípio, uma previsão tautológica, porque o confisco constitui
um conceito que, por sua própria essência, permanece fora dos muros do ordenamento
tributário”. MARTÍN QUERALT, Juan; et al. Curso de Derecho Financiero y
Tributario. 18. ed. Madrid: Tecnos, 2007. p. 122.

[125]
Em português: “A interpretação é extensiva, posto que inclui o capital e também seu
produto, a renda; e não poderia ser de outra maneira porque a riqueza se transformaria
em uma palavra carente de sentido, se os indivíduos na pudessem desfrutar de seus
rendimentos”. FONROUGE, Carlos M. Giuliani. Derecho Financiero. 9. ed. Buenos
Aires: La Ley, 2004. v. 1. p. 298.

[126]
MARTINS, Ives Gandra da Silva. O Poder. São Paulo: Saraiva, 1984. p. 60.

[127]
Cf., por todos, COSTA, Regina Helena. Princípio da Capacidade Contributiva. 2. ed.
São Paulo: Malheiros Editores, 1996.

[128]
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 28. ed. São Paulo:
Saraiva, 2017. p. 248-249.
[129]
Cf. PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca,
2014.

[130]
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. 2. ed.
Brasília: Senado Federal, Coordenação de Edições Técnicas, 2017a. p. 93.

[131]
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. 2. ed.
Brasília: Senado Federal, Coordenação de Edições Técnicas, 2017a. p. 13.

[132]
Cf. CÁRNIO. Thaís Cíntia. Sigilo bancário na atualidade. In: MESSA, Ana Flávia;
CRACKEN, Roberto Nussinkis Mac (Coord.). Tendências Jurídicas Contemporâneas:
Estudos em Homenagem a Nuncio Theophilo Neto. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 401-
420.

[133]
BARROSO, Luís Roberto. Banco Central e Receita Federal: comunicação ao
Ministério Público para fins penais; obrigatoriedade da conclusão prévia do processo
administrativo. Revista de Direito Bancário, do Mercado de Capitais e da Arbitragem,
São Paulo, Revista dos Tribunais, v. 5, n. 17, 2002, p. 212.

[134]
RADBRUCH, Gustav. Filosofia do Direito. Tradução de L. Cabral de Moncada. 5. ed.
Coimbra: Arménio, 1974. p. 59.

[135]
HUME, David. Tratado da Natureza Humana. Tradução de Débora Donowski. 2. ed.
São Paulo: Editora UNESP, 2009. p. 19 e 20.

[136]
BORGES, José Souto Maior. Obrigação Tributária: Uma introdução metodológica.
São Paulo: Saraiva, 1984. p. 86.

[137]
MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário. 35. ed. São Paulo:
Malheiros, 2014. p. 355.

[138]
MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Constitucional Tributário. 2. ed. São
Paulo: Malheiros, 2015. p. 387.

[139]
Cf. DUMAS, Alexandre. As aventuras de Robin Hood. Rio de Janeiro: Zahar, 2016.

[140]
SANTI, Eurico Marcos Diniz de. Tributação & desenvolvimento, o direito em rede na
era da informática e resgate da relação fisco-contribuinte: entre legalidade e democracia.
In: SOUZA, Arivaldo Santos de; SANTOS, Guilherme; MACHADO, Hugo de Brito;
MARTINS, Ives Gandra da Silva (Coords.) Direito Tributário: Estudos Avançados em
Homenagem a Edvaldo Brito. São Paulo: Editora Atlas, 2014, p. 289-290.

[141]
Ibidem, p. 290.

[142]
BROTERO, José Maria de Avellar. A Filosofia do Direito Constitucional. São Paulo:
Malheiros Editores, 2007. p. 33.

[143]
Cf. BODIN, Jean. Les six livres de la République. Un abrégé du texte de l’édition de
Paris de 1583. Paris: Librairie générale française, 1993. 607 p. (Classiques de la
philosophie). Disponível em: <http://aberkane.yolasite.com>. Acesso em: 07 jul. 2018.

[144]
Cf. MACHIAVELLI, Niccolò di. Il Principe. Torino: Einaudi, 1961. 99 p. (Letteratura
italiana Einaudi). Disponível em:
<http://www.letteraturaitaliana.net/pdf/Volume_4/t324.pdf>. Acesso em: 07 jul. 2018.

[145]
NABAIS, José Casalta. O Dever Fundamental de Pagar Impostos: Contributo para a
compreensão constitucional do estado fiscal contemporâneo. Coimbra: Almedina, 2009.
p. 291.

[146]
Em português: “soberania é o poder absoluto e perpétuo de uma República”. BODIN,
Jean. Les six livres de la République. Un abrégé du texte de l’édition de Paris de 1583.
Paris: Librairie générale française, 1993. p. 74. Disponível em:
<http://aberkane.yolasite.com>. Acesso em: 07 jul. 2018.

[147]
Sobre as características da soberania. Cf. DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de
Teoria Geral do Estado. 31. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 81-91. ACQUAVIVA,
Marcus Cláudio. Teoria Geral do Estado. 3. ed. Barueri: Manole, 2010. p. 51-57. DE
CICCO, Cláudio; GONZAGA, Alvaro de Azevedo. Teoria Geral do Estado e Ciência
Política. 6. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015. p. 61-64.

[148]
Sobre a origem deste adágio, cf. RIVIÈRE, Jean. Sur l’origine de la formule juridique:
“Rex imperator in regno suo”. In: Revue des Sciences Religieuses, tome 4, fascicule 4,
1924. pp. 580-586. Disponível em: <https://www.persee.fr/doc/rscir_0035-
2217_1924_num_4_4_1277>. Acesso em: 23 mai. 2018.

[149]
Sobre o conceito de soberania, cf. SILVA, José Afonso da. Curso de Direito
Constitucional Positivo. 37. ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2014. p. 106.
CAETANO, Marcelo. Direito Constitucional. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1987. p.
169. NERY JUNIOR, Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade (Coord.). Constituição
Federal comentada e Legislação Constitucional. 5. ed. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2014. p. 193.
[150]
DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de Teoria Geral do Estado. 31. ed. São
Paulo: Saraiva, 2012. p. 259.

[151]
MATTEUCCI, Nicola. Soberania. In: BOBBIO, Norberto; MATTEAUCCI, Nicola;
PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de Política. 12. ed. Brasília: Editora Universidade
de Brasília, 2004. v. 2. p. 1.187.

[152]
MATTEUCCI, Nicola. Soberania. In: BOBBIO, Norberto; MATTEAUCCI, Nicola;
PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de Política. 12. ed. Brasília: Editora Universidade
de Brasília, 2004. v. 2. p. 1.187.

[153]
Sobre o fenômeno do poder, cf. BURDEAU, Georges. O Estado. São Paulo: Martins
Fontes, 2005. p. 1-33. MARTINS, Ives Gandra da Silva. O Poder. São Paulo: Saraiva,
1984.

[154]
MATTEUCCI, Nicola. Soberania. In: BOBBIO, Norberto; MATTEAUCCI, Nicola;
PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de Política. 12. ed. Brasília: Editora Universidade
de Brasília, 2004. v. 2. p. 1.187.

[155]
Sobre essa tensão entre “espaços comunitários” e “espaços nacionais”, cf. MARTINS,
Ives Gandra da Silva. A era das contradições: Desafios para o novo milênio. São
Paulo: Futura, 2004. p. 83-85.

[156]
Em português: “O termo supranacional [em alemão: überstaatlich] descreve uma
forma particularmente estreita de cooperação política, jurídica e econômica e
interdependência de estados, resultando na transferência de competências e recursos para
um nível político mais alto e o estabelecimento de um sistema legal supranacional”.
SUPRANATIONAL. In: HÜTTMANN, Martin Große. Das Europalexikon. Bonn:
Dietz, 2013. Disponível em: <http://www.bpb.de/nachschlagen/lexika/das-
europalexikon/177292/ supranational>. Acesso em 05 jun. 2018.

[157]
Cf. WEILER, Joseph. The Constitution of Europe: “Do the New Clothes have an
Emperor?” and other Essays on European Integration. Cambridge: Cambridge
University Press, 1999.

[158]
MATTEUCCI, Nicola. Concordata Eclesiástica. In: BOBBIO, Norberto;
MATTEAUCCI, Nicola; PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de Política. 12. ed.
Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2004. v. 1. p. 217.

[159]
MARTINS, Ives Gandra da Silva. A era das contradições: Desafios para o novo
milênio. São Paulo: Futura, 2004. p. 74.

[160]
Em português: “[...] toda união internacional de estados que é institucionalmente
organizada, isto é, equipada com órgãos, agindo por meio dos quais ela naturalmente se
coloca ‘acima dos estados’”. SOVRANNAZIONALE. In: TRECCANI, Enciclopedia.
Disponível em: <http://www.treccani.it/vocabolario /sovrannazionale/>. Acesso em: 07
jun. 2018.

[161]
PISTONE, Sergio. Interesse Nacional. In: BOBBIO, Norberto; MATTEAUCCI,
Nicola; PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de Política. 12. ed. Brasília: Editora
Universidade de Brasília, 2004. v. 1. p. 642.

[162]
MARTINS, Ives Gandra da Silva. A era das contradições: Desafios para o novo
milênio. São Paulo: Futura, 2004. p. 84.

[163]
Em português: “A expressão poder tributário significa a faculdade ou a possibilidade
de exigir contribuições em relação a pessoas ou bens que estão em sua jurisdição”.
FONROUGE, Carlos M. Giuliani. Derecho Financiero. 9. ed. Buenos Aires: La Ley,
2004. v. 1. p. 260.

[164]
SILVA, José Afonso da. Comentário contextual à Constituição. 8. ed. São Paulo:
Malheiros Editores, 2012. p. 666.

[165]
MURPHY, Liam; NAGEL, Thomas. O mito da propriedade: Os impostos e a justiça.
São Paulo: Martins Fontes, 2005. p. 101.

[166]
COÊLHO, Sacha Calmon Navarro. Curso de Direito Tributário Brasileiro. 15. ed.
Rio de Janeiro: Forense, 2016. p. 34.

[167]
COÊLHO, Sacha Calmon Navarro. Curso de Direito Tributário Brasileiro. 15. ed.
Rio de Janeiro: Forense, 2016. p. 34.

[168]
Sobre esses conceitos, cf. MALISKA, Marcos Augusto. Estado e Século XXI: A
integração supranacional sob a óptica do Direito Constitucional. Rio de Janeiro:
Renovar, 2006. p. 147.

[169]
Sobre o poder constituinte supranacional, cf. RODRIGUES, Maurício Andreiuolo.
Poder Constituinte Supranacional: Esse Novo Personagem. Porto Alegre: Fabris
Editor, 2000.

[170]
Cf. SELIGMAN, Edwin Robert Anderson. Essays in taxation. 9. ed. New York:
MacMillan, 1921. Disponível em: <https://archive.org>. Acesso em: 15 mai. 2018.
NOGUEIRA, Ruy Barbosa. Curso de Direito Tributário. 14. ed. São Paulo: Saraiva,
1995. p. 7-15. CORREA, Walter Barbosa. História Legislativa do Imposto de Renda no
Brasil. In: MARTINS, Ives Gandra da Silva. Imposto de Renda: Conceitos, Princípios
e Comentários. São Paulo: Atlas, 1996. CALIENDO, Paulo. Direito Tributário e
Análise Econômica do Direito: Uma visão crítica. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009.

[171]
PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca,
2014. p. 501.

[172]
PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca,
2014. p. 501.

[173]
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. 2.
ed. Brasília: Senado Federal, Coordenação de Edições Técnicas, 2017a. p. 97.

[174]
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. 2.
ed. Brasília: Senado Federal, Coordenação de Edições Técnicas, 2017a. p. 101.

[175]
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 28. ed. São Paulo:
Saraiva, 2017. p. 232-233.

[176]
PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca,
2014. p. 506.

[177]
Cf. PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca,
2014.

[178]
Sobre a função dos tributos, cf., por todos, MACHADO, Hugo de Brito. Curso de
Direito Tributário. 35. ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2014.

[179]
PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca,
2014. p. 502.

[180]
PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca,
2014. p. 501 e 504.

[181]
PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca,
2014. p. 623.
[182]
PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca,
2014. p. 51.

[183]
PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca,
2014. p. 51-52.

[184]
Cf. PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca,
2014.

[185]
PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca,
2014. p. 507.

[186]
Sobre a distinção entre “tributos vinculados” e “tributos não vinculados”, cf.
ATALIBA, Geraldo. Hipótese de Incidência Tributária. 6. ed. São Paulo: Malheiros
Editores, 2004. p. 131-136.

[187]
PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca,
2014. p. 503-504.

[188]
PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca,
2014. p. 503.

[189]
PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca,
2014. p. 502.
[190]
PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca,
2014. p. 623.

[191]
PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca,
2014. p. 503.

[192]
PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca,
2014. p. 503.

[193]
PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca,
2014. p. 503.

[194]
PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca,
2014. p. 503.

[195]
Cf. PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca,
2014.

[196]
PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca,
2014. p. 506.

[197]
PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca,
2014. p. 506.

[198]
Cf. PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca,
2014.

[199]
PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca,
2014. p. 507.

[200]
PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca,
2014. p. 507.

[201]
PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca,
2014. p. 504.

[202]
PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca,
2014. p. 501.

[203]
PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca,
2014. p. 502.

[204]
PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca,
2014. p. 502.

[205]
PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca,
2014. p. 504.

[206]
PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca,
2014. p. 504.

[207]
PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca,
2014. p. 505.

[208]
PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca,
2014. p. 506.
[209]
PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca,
2014. p. 507-508.

[210]
PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca,
2014. p. 509.

[211]
PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca,
2014. p. 509.

[212]
Sobre essa temática, cf. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. CR 8279 AgR,
Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Tribunal Pleno, julgado em 17/06/1998, DJ 10-
08-2000 PP-00006 EMENT VOL-01999-01 PP-00042. Disponível em:
<http://www.stf.jus.br>. Acesso em: 18 jul. 2018.

[213]
PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca,
2014. p. 511.

[214]
PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca,
2014. p. 511.

[215]
PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca,
2014. p. 513.

[216]
PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca,
2014. p. 513.

[217]
REALE, Miguel. Filosofia do Direito. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2002. p. 584.

[218]
DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de Teoria Geral do Estado. 31. ed. São
Paulo: Saraiva, 2012. p. 122.

[219]
MARTINS, Ives Gandra da Silva. Uma breve introdução ao Direito. 2. ed. São
Paulo: Migalhas, 2015. p. 276.

[220]
REZEK, José Francisco. Direito Internacional Público: Curso Elementar. 13. ed. São
Paulo: Saraiva, 2011. p. 259.

[221]
XAVIER, Alberto. Direito Tributário Internacional do Brasil. 6. ed. Rio de Janeiro:
Editora Forense, 2004. p. 13.
[222]
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. 2.
ed. Brasília: Senado Federal, Coordenação de Edições Técnicas, 2017a. p. 11.

[223]
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. 2.
ed. Brasília: Senado Federal, Coordenação de Edições Técnicas, 2017a. p. 52.

[224]
DÓRIA, Antônio Roberto Sampaio. Direito constitucional tributário e “Due process
of Law”: Ensaio sobre o Controle Judicial da Razoabilidade das Leis. 2. ed. Rio de
Janeiro: Forense, 1986. p. 1.

[225]
NABAIS, José Casalta. O Dever Fundamental de Pagar Impostos: Contributo para a
compreensão constitucional do estado fiscal contemporâneo. Coimbra: Almedina, 2009.
p. 302.

[226]
REZEK, José Francisco. Direito Internacional Público: Curso Elementar. 13. ed. São
Paulo: Saraiva, 2011. p. 194.

[227]
DÓRIA, Antônio Roberto Sampaio. Direito constitucional tributário e “Due process
of Law”: Ensaio sobre o Controle Judicial da Razoabilidade das Leis. 2. ed. Rio de
Janeiro: Forense, 1986. p. 93.

[228]
DÓRIA, Antônio Roberto Sampaio. Direito constitucional tributário e “Due process
of Law”: Ensaio sobre o Controle Judicial da Razoabilidade das Leis. 2. ed. Rio de
Janeiro: Forense, 1986. p. 106.

[229]
NABAIS, José Casalta. O Dever Fundamental de Pagar Impostos: Contributo para a
compreensão constitucional do estado fiscal contemporâneo. Coimbra: Almedina, 2009.
p. 304.

[230]
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. 2.
ed. Brasília: Senado Federal, Coordenação de Edições Técnicas, 2017a. p. 13.

[231]
CARRAZZA. Roque Antonio. Princípios Constitucionais Tributários e
Competência Tributária. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1986. p. 94.

[232]
CARRAZZA. Roque Antonio. Princípios Constitucionais Tributários e
Competência Tributária. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1986. p. 95.

[233]
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. 2.
ed. Brasília: Senado Federal, Coordenação de Edições Técnicas, 2017a. p. 95.

[234]
BRASIL. Código Tributário Nacional. 3. ed. Brasília: Senado Federal, Coordenação
de Edições Técnicas, 2017b. p. 33.

[235]
DÓRIA, Antônio Roberto Sampaio. Direito constitucional tributário e “Due process
of Law”: Ensaio sobre o Controle Judicial da Razoabilidade das Leis. 2. ed. Rio de
Janeiro: Forense, 1986. p. 1.

[236]
Em português: “Nenhum tributo será lançado sem o consentimento do conselho geral
do reino”. BÉMONT, Charles. Chartes des libertés anglaises (1100-1305). Paris:
Alphonse Picard, 1892. p. 29. Disponível em:
<https://archive.org/details/chartesdesliber01bmgoog>. Acesso em: 26 mai. 2018.

[237]
BALEEIRO, Aliomar. Direito Tributário Brasileiro. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense,
1981. p. 74.

[238]
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. 2.
ed. Brasília: Senado Federal, Coordenação de Edições Técnicas, 2017a. p. 95.

[239]
NABAIS, José Casalta. O Dever Fundamental de Pagar Impostos: Contributo para a
compreensão constitucional do estado fiscal contemporâneo. Coimbra: Almedina, 2009.
p. 299.

[240]
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. 2.
ed. Brasília: Senado Federal, Coordenação de Edições Técnicas, 2017a. p. 94 e 97.

[241]
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. 2.
ed. Brasília: Senado Federal, Coordenação de Edições Técnicas, 2017a. p. 54.

[242]
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 28. ed. São Paulo:
Saraiva, 2017. p. 95.

[243]
HORVATH, Estevão; CARVALHO, Nelson Ferreira de. Tratado
internacional, em matéria tributária, pode exonerar tributos estaduais? Revista de
Direito Tributário, São Paulo, n. 64, p. 267, abr.-jun. 1993.

[244]
Sobre a hierarquia normativa dos tratados e convenções internacionais sobre direitos
humanos, cf. MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Curso de Direito Internacional
Público. 7. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013. p. 865-900. Sobre a tese
da supralegalidade dos tratados internacionais sobre direitos humanos, cf. SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL. Posição hierárquica dos tratados internacionais de direitos
humanos. In: ______. Coletânea temática de jurisprudência: Direitos humanos.
Brasília: STF, Secretaria de Documentação, 2017. p. 13-15.

[245]
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. 2.
ed. Brasília: Senado Federal, Coordenação de Edições Técnicas, 2017a. p. 97.

[246]
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. 2.
ed. Brasília: Senado Federal, Coordenação de Edições Técnicas, 2017a. p. 56.

[247]
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. ADI 1480 MC, Relator(a): Min. CELSO DE
MELLO, Tribunal Pleno, julgado em 04/09/1997, DJ 18-05-2001 PP-00435 EMENT
VOL-02031-02 PP-00213. Disponível em: <http://www.stf.jus.br>. Acesso em: 08 jul.
2018.

[248]
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. 2.
ed. Brasília: Senado Federal, Coordenação de Edições Técnicas, 2017a. p. 52.

[249]
BRASIL. Código Tributário Nacional. 3. ed. Brasília: Senado Federal, Coordenação
de Edições Técnicas, 2017b. p. 11.

[250]
MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário. 35. ed. São Paulo:
Malheiros Editores, 2014. p. 46.

[251]
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. 2.
ed. Brasília: Senado Federal, Coordenação de Edições Técnicas, 2017a. p. 11.

[252]
MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário. 35. ed. São Paulo:
Malheiros Editores, 2014. p. 46.

[253]
MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário. 35. ed. São Paulo:
Malheiros Editores, 2014. p. 46.

[254]
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. 2.
ed. Brasília: Senado Federal, Coordenação de Edições Técnicas, 2017a. p. 97.

[255]
MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário. 35. ed. São Paulo:
Malheiros Editores, 2014. p. 299.

[256]
COSTA, Regina Helena. Curso de Direito Tributário: Constituição e Código
Tributário Nacional. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 75.

[257]
DÓRIA, Antônio Roberto Sampaio. Direito constitucional tributário e “Due process
of Law”: Ensaio sobre o Controle Judicial da Razoabilidade das Leis. 2. ed. Rio de
Janeiro: Forense, 1986. p. 195.

[258]
VIEIRA, Marcos André Ramos. Direito Tributário Definitivo. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2014. p. 90.

[259]
CASALINO, Vinícius. Curso de Direito Tributário e Processo Tributário: Teoria
Geral e Direito Constitucional Tributário. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais,
2012. v. 1. p. 203.

[260]
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. 2.
ed. Brasília: Senado Federal, Coordenação de Edições Técnicas, 2017a. p. 95.

[261]
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre a economia política. Petrópolis: Vozes,
2017. p. 45.

[262]
OLIVEIRA, Regis Fernandes de; HORVATH, Estevão. Manual de Direito
Financeiro. 5. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2002. p. 67.

[263]
OLIVEIRA, Regis Fernandes de; HORVATH, Estevão. Manual de Direito
Financeiro. 5. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2002. p. 67.

[264]
CARRAZZA, Roque Antonio. Curso de Direito Constitucional Tributário. 24. ed.
São Paulo: Malheiros, 2008. p. 101.

[265]
Em português: “A rigor, a disposição constitucional que proíbe o confisco do sistema
tributário constitui, em princípio, uma previsão tautológica, porque o confisco constitui
um conceito que, por sua própria essência, permanece fora dos muros do ordenamento
tributário”. MARTÍN QUERALT, Juan; et al. Curso de Derecho Financiero y
Tributario. 18. ed. Madrid: Tecnos, 2007. p. 122.

[266]
Em português: “A interpretação é extensiva, posto que inclui o capital e também seu
produto, a renda; e não poderia ser de outra maneira porque a riqueza se transformaria
em uma palavra carente de sentido, se os indivíduos na pudessem desfrutar de seus
rendimentos”. FONROUGE, Carlos M. Giuliani. Derecho Financiero. 9. ed. Buenos
Aires: La Ley, 2004. v. 1. p. 298.

[267]
MARTINS, Ives Gandra da Silva. O Poder. São Paulo: Saraiva, 1984. p. 60.
[268]
Cf., por todos, COSTA, Regina Helena. Princípio da Capacidade Contributiva. 2.
ed. São Paulo: Malheiros Editores, 1996.

[269]
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 28. ed. São Paulo:
Saraiva, 2017. p. 248-249.

[270]
Cf. PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca,
2014.

[271]
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. 2.
ed. Brasília: Senado Federal, Coordenação de Edições Técnicas, 2017a. p. 93.

[272]
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. 2.
ed. Brasília: Senado Federal, Coordenação de Edições Técnicas, 2017a. p. 13.

[273]
Cf. CÁRNIO. Thaís Cíntia. Sigilo bancário na atualidade. In: MESSA, Ana Flávia;
CRACKEN, Roberto Nussinkis Mac (Coord.). Tendências Jurídicas
Contemporâneas: Estudos em Homenagem a Nuncio Theophilo Neto. São Paulo:
Saraiva, 2011. p. 401-420.

[274]
BARROSO, Luís Roberto. Banco Central e Receita Federal: comunicação ao
Ministério Público para fins penais; obrigatoriedade da conclusão prévia do processo
administrativo. Revista de Direito Bancário, do Mercado de Capitais e da
Arbitragem, São Paulo, Revista dos Tribunais, v. 5, n. 17, 2002, p. 212.

[275]
RADBRUCH, Gustav. Filosofia do Direito. Tradução de L. Cabral de Moncada. 5. ed.
Coimbra: Arménio, 1974. p. 59.

[276] HUME, David. Tratado da Natureza Humana. Tradução de Débora Donowski. 2. ed.
São Paulo: Editora UNESP, 2009. p. 19 e 20.

[277]
BORGES, José Souto Maior. Obrigação Tributária: Uma introdução metodológica.
São Paulo: Saraiva, 1984. p. 86.

[278]
MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário. 35. ed. São Paulo:
Malheiros, 2014. p. 355.

[279]
MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Constitucional Tributário. 2. ed. São
Paulo: Malheiros, 2015. p. 387.
[280]
Cf. DUMAS, Alexandre. As aventuras de Robin Hood. Rio de Janeiro: Zahar, 2016.

[281]
SANTI, Eurico Marcos Diniz de. Tributação & desenvolvimento, o direito em rede na
era da informática e resgate da relação fisco-contribuinte: entre legalidade e democracia.
In: SOUZA, Arivaldo Santos de; SANTOS, Guilherme; MACHADO, Hugo de Brito;
MARTINS, Ives Gandra da Silva (Coords.) Direito Tributário: Estudos Avançados em
Homenagem a Edvaldo Brito. São Paulo: Editora Atlas, 2014, p. 289-290.

[282]
Ibidem, p. 290.

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