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Curso de Retórica, Argumentação e Filosofia

Dissertação Final da Disciplina – Segundo Ciclo

Tema: As Regras da Argumentação na Pragma-Dialética

Docente: Professor Dr. Henrique Jales Ribeiro

Discente: Rafael Antonio Blanco


O objetivo desse trabalho é elucidar como operam e em que contexto faz-se
necessário um determinado conjunto de regras, propostas por uma escola de teoria da
argumentação chamada pragma-dialética, que quando aplicadas por interlocutores
razoáveis num diálogo crítico, podem levar à resolução de uma diferença de pontos de
vistas. A pragma-dialética busca fornecer os elementos necessários para a criação de um
modelo que permita a reconstrução da linguagem ordinária e permita a análise e a crítica
à argumentação.

A pragma-dialética é uma teoria da argumentação desenvolvida, principalmente


por Frans H. van Eemeren e Rob Grootendorst da Universidade de Amsterdã, com a
finalidade de analisar e julgar uma argumentação entre interlocutores que buscam
resolver uma diferença de pontos de vista. Nesse sentido, a pragma-dialética entende
por argumentação: «A argumentação é uma atividade verbal, social e racional com
vistas de convencer um crítico razoável da aceitabilidade de um ponto de vista
apresentando uma constelação de proposições, justificando ou refutando a proposição
expressada pelo ponto de vista.»1

A argumentação se dá por vias verbais e através do uso da linguagem, é


endereçada a alguém, portanto é social e principalmente é uma atividade racional
baseada em considerações intelectuais. A argumentação consiste na defesa de um ponto
de vista contra a dúvida levantada pelo ouvinte ou leitor. A argumentação é, então, um
processo de persuasão dos oradores sobre os ouvintes ou de um escritor sobre seus
leitores, com vistas de os convencer da aceitabilidade do ponto de vista defendido. O
próprio conteúdo proposicional de qualquer tipo de assertiva avançada por uma parte e
sua força de justificação ou refutação do argumento serão partes inerentes do que aqui
chamaremos argumentação.

Para se jogar o jogo argumentativo é necessário atribuir racionalidade, ou


melhor, razoabilidade, ao público final do discurso ou texto. Se o argumento for do tipo
«É o caso que» então o que se buscará é sua justificação. Se for do tipo “Não é o caso
que” então se buscará a sua refutação.

O campo de estudo da argumentação são as obras orais e escritas nos seus mais
distintos domínios, porém alguns locus principais podem ser destacados como áreas

1
A Systematic Theory of Argumentation, p. 1. [tradução nossa]
problemas: elementos não expressos do discurso argumentativo, estruturas de
argumentação, esquemas de argumentos e falácias.

Exploremos cada um desses campos problemas brevemente. Pois nem todas as


atividades verbais são discursos argumentativos. O contexto indicará o caso ou não de
ocorrência da argumentação, como já nos apontava de forma geral o The Uses of
Argument de Stephen Toulmin e o Traité de l´argumentation: La Nouvelle
Rhetoriqué de Perelman e Olbrechts-Tyteca.

Primeiro campo problema: Haverá casos em que a argumentação estará implícita


no discurso na forma de premissas inexpressas, que podem ser extremamente difícieis
de serem “descobertas” em análises lógicas baseadas em critérios de validade formais.
Daí a necessidade do uso de contextos linguísticos pragmáticos, voltados para a própria
práxis do uso da linguagem.

Segundo campo problema: A defesa ou a tentativa de refutação de uma


proposição pode ter várias estruturas argumentativas. A argumentação pode se
apresentar de forma simples ou complexa que se subdivide em: argumentação múltipla,
coordenada, subordinada, etc. Também aqui a prática da argumentação é a chave para
distinguirmos a argumentação simples da complexa.

Terceiro campo problema: Além desse contexto externo da forma da


argumentação, há também um interesse pelo seu conteúdo interno. Ou seja, procura-se
pelo esquema do argumento esboçado. Olha-se para a relação da premissa avançada
com a proposição que se busca defender ou refutar. Há três grandes grupos de esquemas
de argumento: causal, sintomático ou através de sinal e o baseado em comparação.

Quarto campo problema: O último macro campo temático de interesse aos


teóricos da argumentação é o do estudo das falácias. Estas foram vistas ao longo da
história, basicamente, como argumentos inválidos que pareciam válidos. A pragma-
dialética pretenderá expandir o sentido de falácia, que será uma violação explícita a
qualquer uma das 15 Regras que exporemos a seguir.

A pragma-dialética buscará integrar o estudo desses quatro campos de trabalho


e fornecerá uma teoria normativa, ou seja, que busca dizer como deve ser uma
argumentação, teoria esta que releva o campo prático onde ocorre o ato linguístico como
sendo privilegiado para a resolução dos entraves à argumentação.

A pragma-dialética desenvolve uma noção de razoabilidade essencialmente


crítica, na esteira do legado de The Uses of Argument de Stephen Toulmin e de Traite de
l´argumentation: La Nouvelle Rhétorique de Perelman e Olbrechts-Tyteca. A
razoabilidade que se fala na pragma-dialética está em algum ponto entre a razoabilidade
geométrica de uma lógica formal e a razoabilidade da razão antropológica que tem no
consenso social e, portanto na empiria, a sua base de operação.

A escolha de uma terceira via da razoabilidade, esboçada na pragma-dialética, se


coloca para escapar da necessária escolha de uma das três alternativas do
Justificacionismo, que concerne tanto à razoabilidade geométrica quanto à
antropológica. Estas alternativas ficaram conhecidas como trilema de Münchhausen: (1)
regresso infinito de justificações (regressus in infinitum). (2) círculo de argumentos que
se suportam mutuamente ou (3) quebra do processo de justificação em algum ponto
arbitrário.

A pragma-dialética então propõe um modelo crítico/dialético de razoabilidade.


Nesse sentido a argumentação desponta como uma prática com fins de resolução de
uma diferença de opinião sobre a aceitabilidade de um ou mais pontos de vistas. Nesse
processo são relevados os insights de diversas metodologias distintas, como a lógica
formal, a antropologia, a retórica, a dialética, etc.

Dada a necessidade de uma teoria da argumentação lidar com o âmbito da


linguagem ordinária, a pragma-dialética assume que: «um falante ou escritor avança um
ponto de vista e age como protagonista, e um ouvinte ou escritor expressa dúvida a
respeito do ponto de vista e age como antagonista.»2 Quando não há violação de
nenhuma das regras que exporemos a seguir, então pode-se descobrir se o ponto de vista
do protagonista é capaz de resistir ao criticismo do antagonista. Se o ponto de vista
defendido é positivo, faz-se sua justificação. Se é negativo procede-se à sua refutação
(prova ou justificação da falsidade). «A diferença de opinião se resolve quando os
argumentos avançados levam o antagonista a aceitar o ponto de vista defendido, ou

2
Ibid, p. 2.
quando o protagonista retrai seu ponto de vista como uma consequência das reações
críticas do antagonista.»3

Se isso ocorre, então houve um intercambiamento de atos de fala de linguagem


entre as redessemânticas do protagonista e do antagonista, de forma dialética. Porém as
resoluções só são possíveis, quando os interlocutores observam uma série de regras.

As regras procedimentais se aplicam a várias partes da discussão crítica e


pretendem ser, também, contribuições para a resolução de problemas que são inerentes à
argumentação. Claro que as regras não garantem por si só a resolução da diferença de
pontos de vistas, nem garantem que os interlocutores irão segui-las estritamente.

Visto que na pragma-dialética a falácia está estritamente vinculada com a


violação de cada uma das regras da argumentação, procuramos exemplificar alguns
tipos de falácias que podem incorrer os interlocutores.

Porém, voltemo-nos para a questão dos atos de falas, teoria que remonta a John
L. Austin, que é apropriado criticamente pelo modelo que busca reconstruir uma
discussão argumentativa proposto pela pragma-dialética. Austin dintiguia entre
principalmente três atos de fala (speech acts): em primeiro lugar: o ato locucionário, que
dá a ver a uma elocução, expressão de uma frase que entrelaça as dimensões semânticas,
sintáticas, fonéticas, etc. Em segundo lugar: ato ilocucionário ou a força de expressão
que remete à verdadeira intenção e significação e, em terceiro lugar: um ato
perlocucionário que remete para os efeitos gerados a partir da locução que podem ser
persuasão, convencimento, dúvidas, etc.

No caso da pragma-dialética consideram-se quatro atos de fala distintos, porém


que na maioria das vezes aparecem entrelaçados na linguagem cotidiana, originando o
que veremos repetidamente a partir daqui, um ato de fala complexo. Os quatro atos de
fala propostos pela pragma-dialética são: assertivos, “de comprometimento”
(commissives), diretivos e declarativos de uso. Os assertivos indicam uma afirmação,
um avanço de um juízo e um ponto de vista. Os atos de fala de comprometimento
remetem para uma aceitação ou rechaçar de algum ponto de vista, aceitação do convite
para defender um ponto de vista, etc. Os atos de fala diretivos são os que externalizam

3
Ibid, p. 133.
um requerimento direcionado à outra parte, tal como um convite para que o outro
defenda seu ponto de vista, por exemplo. Em último lugar, os atos de fala que declaram
o uso são empregados como definições, especificações, etc.

A pragma-dialética assume a existência de quatros fases distintas que podem ser


aplicadas para possibilitar a reconstrução de qualquer tentativa de resolução de opiniões
distintas. Esse modelo que prevê a reconstrução de uma argumentação detém, para além
de uma função crítica evidente, uma função heurística. E talvez aqui resida a grande
contribuição da pragma-dialética. As regras procedimentais pretendem ser facilitadores
e, quiçá, contribuir ativamente para a solução da diferença de opinião. Os quatro
estágios que devem estar contidos em qualquer argumentação passível de reconstrução
pela pragma-dialética são os seguintes: estágio de confrontação, estágio de abertura,
estágio de argumentação e estágio de conclusão. Falemos brevemente de cada um deles,
pois serão importantes para enquadrarmos cada uma das regras que apresentaremos a
seguir em um determinado estágio.

O estágio de confrontação é o que ilumina a diferença de opinião entre os


interlocutores, que faz ver a diferença entre os pontos de vistas. Se essa identificação
não ocorre, a própria argumentação em si é despropositada. Além disso, qualquer
violação da Regra número 1, ou seja, da regra de liberdade impede que a diferença de
opiniões se estabeleça, o que resulta numa falácia.

O segundo estágio distinguido na pragma-dialética é o de abertura. Neste estágio


os interlocutores procuram identificar qual o limite de seus
backgrounds compartilhados, até que medida há compartilhamento das mesmas crenças,
desejos, conhecimento, etc. Isso será fundamental para que haja o mínimo de
convenções que possibilitarão todo o desenrolar da argumentação. As regras que
concernem ao estágio de abertura são da 2 à 5.

O terceiro estágio, que propriamente o estágio da argumentação, é aquele na


qual o protagonista avança os argumentos para seus pontos de vistas que são atacados
pela argumentação do antagonista, caso soem a este como irrazoáveis. As regras a
seguir que terão relação com o estágio de argumentação são da Regra 6 à 13.
Por último lugar, temos o estágio de conclusão, em que as partes envolvidas
consideram conjuntamente o resultado da argumentação que se desenvolveu. Se o
protagonista defende eficazmente sua argumentação, então o antagonista deve retirar a
sua dúvida sobre a questão. Se o antagonista eficazmente critica a premissa ou a
argumentação do protagonista, então este deve retirar seu ponto de vista. A Regra que
concerne ao estágio de conclusão é a Regra 14.

Passemos então à análise mais detida de cada uma das 14 Regras propostas pela
pragma-dialética para que uma discussão crítica possa resultar numa resolução da
diferença entre pontos de vistas. Apontaremos também as falácias que geralmente se
produzem quando da violação das regras. Achamos importante traduzir fidedignamente
as enunciações de cada uma das regras, que em seguida procuramos explicar
brevemente. (Observação de tradução: preferimos traduzir Parties por interlocutores
e Standpoints por pontos de vistas)

Regra 1 ou Regra de Liberdade:

Enunciação forma longa: «a) Condições especiais não se aplicam nem ao


conteúdo proposicional das assertivas pelas quais um ponto de vista é expressado, nem
ao conteúdo proposicional da negação do compromisso pelos meios os quais um ponto
de vista é posto em questão.

b) Na execução desses compromissos assertivos e negativos, nenhuma condição


especial preparatória se aplica à posição ou status do falante ou escritor e do ouvinte ou
leitor.»4

Enunciação forma curta: «Os interlocutores não devem impedir um ao outro de


avançarem pontos de vistas ou dúvidas sobre pontos de vistas.»5

A pragma-dialética se propõe à resolução da diferença de opiniões esboçadas por


dois interlocutores, ou apenas um sujeito, que aplica as regras propostas. Porém, para
que isso ocorra, é necessário que os pontos de vistas concernidos sejam esboçados com
a maior clareza e liberdade possível. Se isso acontece, cumpre-se a fase de
externalização da discussão.

4
Ibid, p. 136.
5
Argumentation, p. 110, [tradução nossa].
Quando alguém ou uma conjuntura histórica restringe a liberdade dos
interlocutores de avançarem seus pontos de vista incorre-se numa falácia, que ficou
conhecida na historiografia como «falácia do bastão» ou argumentum ad
baculum (fallacy of the stick). Isso pode se dar quando alguém é coagido por outro ou
por um grupo a dizer o que não pensa ou não acredita e, também, quando desacredita-se
os argumentos postos pela outra parte com base em ataques pessoais, integridade, etc.

Essa coação pode se processar de muitas formas: da ameaça física à tentativa de


pressionar a outra parte da discussão apelando a argumentos que pretendem atuar na
sensibilização e na emotividade do outro, conhecido como «apelo à pena» ou
(argumentum ad misericordiam). Podemos relacionar com este ponto como uma
tentativa do interlocutor manipular, segundo o jargão aristotélico, o pathos, a paixão da
outra parte, resultando num argumento falacioso conhecido como falácia patética.

Como dissemos, pode-se atacar também o caráter e a credibilidade de outra


parte, que limite ou impede seu livre avançar de pontos de vistas numa
discussão. Fazendo novamente referência a Aristóteles, podemos afirmar que esse tipo
de falácia se processa por ataque ao éthos da outra parte de um diálogo. O tipo de
falácia que decorre daqui ficou conhecido na historiografia como argumentum ad
hominem.

Referimo-nos, então a três tipos de falácias que decorrem da violação da Regra


número 1. De maneira geral, quando há entraves a liberdade de uma parte em avançar
argumentos, diz-se que existe a «falácia do bastão». Derivadas dessa, quando há um
apelo às emoções do outro, nota-se a falácia do apelo à pena. (ad misericordiam). E, por
último, quando há ataques contra a credibilidade da outra parte revela-se a falácia ad
hominem.

Regra 2 ou Regra do Ónus da Prova:

Enunciação: «O debatedor que põe em pauta um ponto de vista de outro


debatedor no estágio de confrontação é sempre autorizado a convidar este debatedor
para defender seu ponto de vista.»6

6
A Sytematic Theory of Argumentation, p. 137.
Enunciação forma curta: «Um interlocutor que avança um ponto de vista é
obrigado a defendê-lo quando inquirido a fazê-lo»7

Com a finalidade de resolver uma diferença de opinião entre dois interlocutores,


qualquer um deve estar preparado para defender seu ponto de vista, quando
questionado. Quando isso se dá, distingue-se entre um protagonista da argumentação,
que defende o ponto de vista de partida, e um antagonista, que ataca o ponto de vista de
partida. A Regra do Ónus da Prova se aplica quando há uma aceitação convencional, ou
seja, entre ambas as partes, das regras procedimentais da argumentação. Quando a outra
parte na segue um ou mais das regras acordadas e, portanto, incorre em falácias, a outra
parte fica “livre” da necessidade de prova do seu ponto de vista.

Há falácia e, por conseguinte, violação na Regra 2, quando alguém não está


disposto a defender seu ponto de vista numa discussão. Uma das principais formas de
isso se processar é quando uma parte atribui a outrem a responsabilidade da prova duma
premissa. Quando isso ocorre fala-se na falácia do «deslocamento da responsabilidade
da prova» (shifting the burden of proof).

Outro problema que pode surgir é quanto a ordem a ser seguida, quanto defende-
se um ponto de vista assumido. A pragma-dialética atribui que o primeiro a defender um
ponto de vista é aquele que «espera alterar o status quo»8. Há também a possibilidade de
ordenar a discussão de acordo com as teses mais simples de defender à mais complexas.

Existe a possibilidade de uma das partes de uma discussão assumir que seu
ponto de vista não necessita de prova, ou seja, é sagrado ou sacrosanto. Também aqui
encontra-se uma violação da Regra 2, que incorre na falácia conhecido como «iludir a
responsabilidade de prova» (evading the burden of proof). A pragma-dialética não
permite o avançar de pontos de vistas imunes ao criticismo, ou que remetem a noções
essencialistas. Esses pontos de vistas são falaciosos, atentam contra a Regra 2.

7
Argumentation, p. 113.
8
Ibid, p. 115.
Regra 3:

Enunciação forma longa: «O debatedor que é convidado por outro debatedor


para defender o ponto de vista avançado no estágio de confrontação é sempre obrigado a
aceitar esse convite, ao menos que o outro debatedor não esteja preparado para aceitar
qualquer premisa compartilhada e as regras de discussão; O debatedor permanece
obrigado a defender o ponto de vista enquanto ele não o retirar e enquanto ele não o
houver defendido de forma bem sucedida contra outro debatedor sob bases de premissas
e regras discursivas aceitas.»9

Podemos assumir essa regra como um desenvolvimento da Regra 2. Ambos os


interlocutores detém o ónus da prova, devem provar seus pontos de vistas. O problema
que pode surgir é quanto a ordem na exposição da defesa, como referimos.

A próxima regra aponta para a necessidade inerente a busca de resolução de uma


diferença de pontos de vistas de um assumir, por parte dos interlocutores dos papéis de
protagonista e antagonista, passíveis de inversão ao longo do discurso. Aquele que
avança um ponto de vista imediatamente faz o papel de protagonista o qual buscará
argumentar razoavelmente com um antagonista que duvida da premissa posta em causa.

Regra 4:

«O debatedor que, no estágio de abertura, aceitou o convite do outro debatedor


para defender seu ponto de vista assumirá o papel de protagonista no estágio de
argumentação, e o outro debatedor assumirá o papel de antagonista, ao menos que eles
concordem de outra forma; a distribuição dos papéis é mantida até o final da
discussão.»10

No estágio de argumentação, aquele que assume o papel de protagonista busca


defender o ponto de vista inicial contra a parte que assumiu o papel de antagonista. Para
que a argumentação se proceda é necessária uma série de pré-acordos entre as partes
concernidas numa discussão, que fornecem uma grelha que será usada como critério
normativo para a reconstrução do discurso. Daí o caráter convencional das regras que
detém validade num determinado discurso. Existe também a possibilidade de, para além

9
A Sytematic Theory of Argumentation, p. 139.
10
Ibid, p. 142.
de convenções que são tacitamente aceitas num discurso, que seja redigido um texto que
externaliza essas regras. Claro que, a partir do momento em que as partes aceitam
convencionalmente as regras que terão força ao longo da discussão, estas passam a
confinar e limitar o escopo dos argumentos que terão adequabilidade numa determinada
discussão. Além disso, as regras acordadas podem ser postas em discussão, quanto a sua
aceitabilidade, a qualquer momento.

Regra 5:

«O debatedores que assumirem os papéis de protagonistas e antagonistas no


estágio de argumentação concordam de antemão ao estágio de argumentação quais
regras serão seguidas: como o protagonista deve defender o ponto de vista inicial e
como o antagonista deve atacá-lo. Essas regras se aplicam ao longo de toda a discussão
e não devem ser postas em questão durante a discussão ela mesma por nenhuma das
partes.»11

Voltemos rapidamente a falar de atos de fala, pois o conhecimento da teoria é


que fundamental. Há três tipos de atos de falas que surgem no estágio de argumentação.
Primeiro tipo de ato de fala: assertivas (assertives) que expressam um ponto de vista e
avançam a defesa de pontos de vistas, etc. Segundo tipo de ato de fala: que externalizam
um comprometimento (commissives) com determinados pontos de vistas, aceitação, não
aceitação, etc. Terceiros tipos de atos de fala: directivas (directives) que convidam a
outra parte para a defesa de um ponto de vista, demanda para que a argumentação se
inicie, etc. Somente esses atos de falas são meios aceitos para o curso de uma discussão
crítica.

Regra 6:

«a) O protagonista pode sempre defender o ponto de vista que ele adota na
diferença inicial de opinião ou numa sub-diferença de opinião ao executar um ato de
fala complexo de argumentação, o qual então conta como uma defesa provisória do
ponto de vista.

11
Ibid, p. 143.
b) O antagonista pode sempre atacar o ponto de vista ao colocar em questão o
conteúdo proposicional ou a força justificacional ou refutatória da argumentação.

c) O protagonista e o antagonista não podem defender ou atacar os pontos de


vista de nenhum outro modo.»12

As regras procedimentais devem indicar claramente quando a defesa do ponto de


vista pelo protagonista alcançou êxito. Se for assim, o antagonista deve aceitar os
argumentos avançados pelo protagonista. Se o protagonista não alcançou eficazmente a
defesa do ponto de vista, então o antagonista alcançou êxito em atacar o ponto de vista.
Para que ambos os casos possam ser verificados é necessário estabelecer quais as bases
de aceitabilidade que serão adotadas entre os interlocutores. Isso resulta numa «lista de
proposições que ambos aceitam e como eles decidirão juntos sobre a aceitabilidade de
outras proposições.»13

Considerando isso, a pragma-dialética propõe, então, um procedimento de


identificação intersubjetiva que abrangerá quaisquer fatos, verdades, normas e valores
compartilhados entre os interlocutores. Essas premissas ganharão status de premissas
compartilhadas, que acompanharão todo o contexto da discussão e da argumentação que
se seguirá. Além da lista de premissas compartilhadas propriamente ditas, os
interlocutores podem decidir nessa fase a regulação de sub-discussões que poderão
surgir ou não.

Regra 7:

«a) O protagonista defende satisfatoriamente o conteúdo proposicional de um


ato de fala de argumentação complexo contra um ataque pelo antagonista se a aplicação
do procedimento de identificação intersubjetiva rende um resultado positivo ou se o
conteúdo proposicional é em segunda instância aceito por ambas as partes como um
resultado de uma sub-discussão na qual o protagonista defende satisfatoriamente um
sub-ponto de vista com respeito a esse conteúdo proposicional.

b) O antagonista ataca satisfatoriamente o conteúdo proposicional de um ato de


fala de argumentação complexo se a aplicação do procedimento de identificação

12
Ibid, p. 144.
13
Ibid, p. 154.
intersubjetiva render um resultado negativo e o protagonista não defende
satisfatoriamente um sub-ponto de vista positivo com respeito a esse conteúdo
proposicional numa sub-discussão.»14

A pragma-dialética também propõe um procedimento de inferência


intersubjetiva, na qual o pode-se recorrer a regras lógicas para medir a validade da
argumentação apresentada por uma das partes. Esse procedimento busca checar a
validade dos argumentos, que poderão indicar a aceitabilidade ou não dos argumentos
avançados.

Além disso, é proposto também um procedimento de explicitação intersubjetiva,


na qual tanto o protagonista quanto o antagonista se esforçarão para explicitar as
premissas que estão implícitas na argumentação avançada. Com isso poderá se alcançar
um consenso sobre os esquemas de argumentos que serão admissíveis na argumentação.

Regra 8:

«a) O protagonista defende satisfatoriamente um ato de fala de argumentação


complexo contra um ataque pelo antagonista com respeito a sua força de justificação ou
refutação se a aplicação do procedimento de inferência intersubjetiva ou (após a
aplicação do procedimento de explicitação intersubjetiva) a aplicação do procedimento
de teste intersubjetivo render um resultado negativo.

b) O antagonista ataca satisfatoriamente a força de justificação ou refutação da


argumentação se a aplicação do procedimento de inferência intersubjetiva ou (após a
aplicação do procedimento de explicitação intersubjetiva) a aplicação do procedimento
de teste intersubjetivo render um resultado negativo.»15

É necessário fixar como e quando o protagonista defende conclusivamente um


ponto de vista e como e quando um antagonista ataca conclusivamente o ponto de vista
avançado pelo protagonista. Para que o protagonista tenha conclusivamente defendido
seu ponto de vista é necessário que ambos, o conteúdo proposicional e a força de
argumentação tenham sido conclusivamente defendidos. O antagonista, pelo contrário,

14
Ibid, p. 147.
15
Ibid, p. 150.
ataca conclusivamente o ponto de vista do protagonista quando eficazmente ataca ou o
conteúdo proposicional do argumento, ou sua força de justificação ou refutação.

Regra 9:

«a) O protagonista defende conclusivamente um ponto de vista inicial ou sub-


ponto de vista pelos meios de um ato de fala de argumentação complexo se ele defendeu
ambos o conteúdo proposicional posto em questão pelo antagonista e sua força de
justificação ou refutação posta em questão pelo antagonista.

b) O antagonista ataca conclusivamente o ponto de vista do protagonista se ele


ataca satisfatoriamente tanto o conteúdo proposicional ou a força de justificação ou
refutação do ato de fala de argumentação complexa.»16

Se o antagonista concede que o conteúdo proposicional avançado pelo


protagonista e sua força de justificação ou refutação foram conclusivamente defendido
porém, num segundo momento se arrepende dessa concessão, então ele pode requerer
que a argumentação seja retomada, naquele ponto específico. A Regra 10 busca deixar
isso claro. Essa regra é denominada de: «uso ótimo do direito ao ataque».

Regra 10:

«O antagonista retém, ao longo de toda a discussão, o direito de pôr em questão


ambos o conteúdo proposicional e a força de justificação ou refutação de cada ato de
fala de argumentação complexo do protagonista que este ainda não defendeu
satisfatoriamente.»17

Se o protagonista concede que o antagonista ataca conclusivamente o conteúdo


proposicional avançado ou sua força de justificação ou refutação, porém se arrepende
dessa concessão, o protagonista pode requerer que a argumentação seja retomada,
naquele ponto específico. Resulta daí o que é denominado de: uso ótimo do «direito de
defesa», explicitado na Regra 11.

16
Ibid, p. 151.
17
Ibid, p. 152.
Regra 11:

«O protagonista retém, ao longo de toda a discussão, o direito de defender


ambos o conteúdo proposicional e a força de justificação ou refutação de cada ato de
fala de argumentação complexo que ele executa e ainda não tenha defendido
satisfatoriamente contra cada ataque do antagonista.»18

O protagonista pode fazer um melhor uso do seu poder de defesa da


argumentação avançada se ele puder retirar qualquer assertiva a qual ele tenha se
comprometido anteriormente. A Regra 12 atenta-nos que isso pode ser levado a cabo
pelo protagonista em qualquer momento da discussão.

Regra 12:

«O protagonista retém, ao longo de toda a discussão, o direito de retirar qualquer


ato de fala de argumentação complexo que ele executou, e a partir daí remove a
obrigação de defendê-lo.»19

A pragma-dialética se preocupou em estabelecer uma regra que impede uma


discussão de se tornar repetitiva ao adotar o que se convencionou a chamar de non bis in
idem, ou seja, o que já foi matéria de discussão não deve retornar num contexto
idêntico. A Regra 13 o enuncia.

Regra 13:

«a) O protagonista e o antagonista podem executar o mesmo ato de fala ou o


mesmo ato de fala complexo com o mesmo papel na discussão somente uma vez.

b) O protagonista e o antagonista devem, um após o outro, mudar para atos de


fala (complexos) com um papel particular na discussão.

c) O protagonista e o antagonista não podem executar mais que uma mudança de


atos de fala (complexos) num determinado momento.»20

18
Ibid, p. 152.
19
Ibid, p. 153.
20
Ibid, p. 154.
No estágio de conclusão onde se aplica a Regra 14 são avaliados conjuntamente
a defesa do ponto de vista pelo protagonista e o ataque a este pelo antagonista. Daí a
Regra seguinte determinar em quais situações o protagonista deve retirar o manter seu
ponto de vista ou quais situações o antagonista deve manter ou retirar seu ataque.

Regra 14:

«a) O protagonista é obrigado a retirar o ponto de vista inicial se o antagonista o


atacou conclusivamente (na maneira prescrita na regra 9) no estágio de argumentação (e
tem também observadas as outras regras da discussão).

b) O antagonista é obrigado a retirar o pôr em questão do ponto de vista inicial


se o protagonista o defendeu conclusivamente (na maneira prescrita na regra 9) no
estágio de argumentação (e tem também observadas as outras regras da discussão).

c) Em todos os outros casos, o protagonista não é obrigado a retirar o ponto de


vista inicial, nem o antagonista é obrigado a retirar o seu pôr em questão do ponto de
vista inicial.»21

Em qualquer momento em que houver uma retirada do ponto de vista pelo


protagonista ou a retirada do ataque pelo antagonista a discussão alcança um fim. Claro
que não há, nesse caso, uma resolução da diferença entre os pontos de vistas distintos.
Quando finalizada uma discussão, apontado quem foi o seu ganhador, de acordo com a
regra 14, os interlocutores podem deliberar conjuntamente em iniciar outra discussão
que também estarão sob a imposição das regras da discussão crítica propostas.

Além disso, é importante o emprego e reconhecimento dos declarativos de uso,


que apontam para uma amplificação, especificação ou ampliação de algum ponto
determinado da discussão. A Regra 15 regula a execução e demanda do emprego de
declarações de uso.

21
Ibid, p. 154.
Regra 15:

«a) Os debatedores têm o direito, ao longo de toda a discussão, de demandar o


outro debatedor a executar uma declaração de uso e a executar uma [declaração de uso]
eles mesmos.

b) O debatedor que é demandado a executar uma declaração de uso pelo outro


debatedor é obrigado a agir de acordo.»22

Falácias

Desenvolveremos a seguir uma breve exposição sobre o estudo das falácias


partindo da concepção da pragma-dialética. De forma muito ampla, uma falácia será:
«Toda violação de qualquer uma das regras do procedimento da discussão para conduzir
uma discussão crítica (por quaisquer das partes e a qualquer momento da discussão) é
uma falácia»23.

Anteriormente classificamos as regras conforme as fases da discussão propostos


pela pragma-dialética. A Regra 1 regula o estágio de confrontação. As Regras 2 à 5
visam o estágio de abertura. As Regras 6 à 13 conformam o estágio da argumentação e a
Regra 14, finalmente, rege o estágio de conclusão. Podemos então separar o estudo das
falácias como violações de cada uma das regras tendo em vista esses quatro estágios da
discussão. Porém, nos limitamos aqui a citar as falácias classificadas como mais
corriqueiras.

As violações da Regra 1 são aquelas que restringem a liberdade de ação de uma


das partes com vistas de impedi-lo de tomar parte na discussão. Se uma das partes não
consegue avançar um ponto de vista pela pressão da outra parte constata-se falácia. Se
uma parte é desacreditada pela outra ou desmoralizada também se constata falácia e
quebra da Regra 1. Já citamos três tipos de falácias que podem ser encontradas, nesse
ponto: a falácia do “bastão”, ou argumentum ad baculum. A falácia que faz um apelo às
emoções da outra parte ou, argumentum ad misericordiam. E, em terceiro lugar a falácia
que tem como alvo diretamente a credibilidade moral e integridade da outra parte, ou
argumentum ad hominem.

22
Ibid, p. 157.
23
Ibid, p. 175.
Outros tipos de falácia que já nos referimos e que assolam constantemente os
discursos: fuga do ônus da prova (evading the burden of proof), troca da necessidade da
prova (shifting the burden of proof), a falácia que torna um determinado argumento
sacrossanto ou imune a criticismo e, em último lugar a falácia que apela para as
emoções da outra parte do discurso, comumente conhecida como falácia patética
(pathetic fallacy).

Outro tipo de falácia corriqueira é aquela que uma parte atribui um argumento
como sendo da outra parte, porém este argumento na verdade não é da outra parte. Fala-
se, nesse caso, de falácia do espantalho (fallacy of the straw man). A pragma-dialética
necessita de um estudo detalhado da empiria dos discursos, para identificar as falácias
mais corriqueiras, o que, de fato, os teóricos da disciplina fazem, porém não passaremos
para uma análise de exemplos no nosso caso.

Outra famosa falácia que assola os discursos é aquela que avança temas que não
se referem ao contexto da argumentação que está sendo desenvolvida. Esse tipo de
falácia é conhecida como ignoratio elenchi. Outra importante falácia a ser considerada é
aquela em que uma das partes busca se auto-promover por algum título prévio ou
autoridade instituída o que se identifica com abuso de autoridade ou, a que ficou
tradicionalmente conhecida falácia do argumentum ad verecundiam.

Vimos que uma argumentação sempre implica elementos que não estão
expressos, ou seja, há vários tipos de argumentos tácitos. Há falácia quando uma das
partes sobrevaloriza algum argumento não-expresso conhecida como “aumento do que
foi deixado não-expresso” (magnifying what has been left unexpressed). Além disso, um
protagonista pode não querer aceitar algo que está tacitamente implicado no seu
discurso, ocorrendo falácia de negação da premissa não-expressa (denying an
unexpressed premise).

Também acompanhamos que no decorrer de nosso trabalho que a pragma-


dialética considera que a argumentação só pode ocorrer quando todos os pontos de
partidas de ambos os debatedores forem plenamente compartilhados entre si. Há falácia
quando isso falsamente ocorre, ou seja, quando algo assumido como compartilhado não
o é, ou quando é negada uma premissa que de fato ambos, o protagonista e o
antagonista, compartilham.
O que está sendo debatido, ou o que é justamente objeto de discordância entre
um protagonista e um antagonista não pode pertencer às premissas que são
compartilhadas por ambos no ponto de partida da discussão. Se isso acontece, há falácia
de argumentação circular, conhecida como petitio principii.

Outra falácia comumente encontrada em vários tipos de discursos é a que apela


ao conhecimento prévio de um povo ou grupo, como justificativa para a questão em
pauta. Essa falácia é conhecida como argumentum ad populum. Além dessa falácia,
identifica-se outra que ocorre quando há mau uso das relações de causa e consequência,
há confusão entre os próprios fatos e os julgamentos: essa falácia é conhecida com
argumentum ad consequentiam. Associada a esta última encontra-se a falácia conhecida
como secundum quid, que opera uma má generalização de determinado acontecimento.
Também aqui encontramos a falácia “post hoc ergo propter hoc”, que se traduz em
“depois disso, entretanto, por causa disso”, mais um caso de confusão entre causa e
consequência.

Encontra-se falácia quando trata-se um todo como mera soma de suas partes ou
quando se assume que toda propriedade do todo se aplica a cada parte. Essas falácias
são nomeadas, respectivamente: falácia da divisão e falácia da composição.

Na fase de conclusão da discussão podemos encontrar algumas falácias. A


primeira ocorre quando o protagonista se recusa a retirar um ponto de vista que não foi
defendido. A segunda ocorre quando o antagonista não retira sua crítica de um
argumento eficazmente defendido. Uma terceira falácia ocorre quando o protagonista
acredita que seu ponto de vista é verdadeiro, apenas porque não foi eficazmente
criticado pelo antagonista. A quarta falácia da fase de conclusão, conhecida como
argumentum ad ignorantiam, ocorre quando um dos lados acredita que seu ponto de
vista é verdadeiro porque a outra parte não pode defender eficazmente seu ponto de
vista.

Temos consciência que para se tratar com toda a propriedade da vastíssima


questão das falácias na pragma-dialética teríamos que recorrer a exemplos, ou seja,
teríamos que realizar uma pesquisa empírica para identificar nas falas corriqueiras as
falácias apontadas acima. Reservamos esse estudo mais aprofundado para outro lugar.
BIBLIOGRAFIA

EEMEREN, Frans van Eemeren. GROOTENDORST, Rob. Systematic Theory of


Argumentation, Cambridge University Press, 2004.

EEMEREN, Frans van Eemeren. GROOTENDORST, Rob. HENKEMANS, Francisca


Snoeck. Argumentation, Lawrence Erlbaum Associates, Inc, 2002.

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