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O campo de estudo da argumentação são as obras orais e escritas nos seus mais
distintos domínios, porém alguns locus principais podem ser destacados como áreas
1
A Systematic Theory of Argumentation, p. 1. [tradução nossa]
problemas: elementos não expressos do discurso argumentativo, estruturas de
argumentação, esquemas de argumentos e falácias.
2
Ibid, p. 2.
quando o protagonista retrai seu ponto de vista como uma consequência das reações
críticas do antagonista.»3
Porém, voltemo-nos para a questão dos atos de falas, teoria que remonta a John
L. Austin, que é apropriado criticamente pelo modelo que busca reconstruir uma
discussão argumentativa proposto pela pragma-dialética. Austin dintiguia entre
principalmente três atos de fala (speech acts): em primeiro lugar: o ato locucionário, que
dá a ver a uma elocução, expressão de uma frase que entrelaça as dimensões semânticas,
sintáticas, fonéticas, etc. Em segundo lugar: ato ilocucionário ou a força de expressão
que remete à verdadeira intenção e significação e, em terceiro lugar: um ato
perlocucionário que remete para os efeitos gerados a partir da locução que podem ser
persuasão, convencimento, dúvidas, etc.
3
Ibid, p. 133.
um requerimento direcionado à outra parte, tal como um convite para que o outro
defenda seu ponto de vista, por exemplo. Em último lugar, os atos de fala que declaram
o uso são empregados como definições, especificações, etc.
Passemos então à análise mais detida de cada uma das 14 Regras propostas pela
pragma-dialética para que uma discussão crítica possa resultar numa resolução da
diferença entre pontos de vistas. Apontaremos também as falácias que geralmente se
produzem quando da violação das regras. Achamos importante traduzir fidedignamente
as enunciações de cada uma das regras, que em seguida procuramos explicar
brevemente. (Observação de tradução: preferimos traduzir Parties por interlocutores
e Standpoints por pontos de vistas)
4
Ibid, p. 136.
5
Argumentation, p. 110, [tradução nossa].
Quando alguém ou uma conjuntura histórica restringe a liberdade dos
interlocutores de avançarem seus pontos de vista incorre-se numa falácia, que ficou
conhecida na historiografia como «falácia do bastão» ou argumentum ad
baculum (fallacy of the stick). Isso pode se dar quando alguém é coagido por outro ou
por um grupo a dizer o que não pensa ou não acredita e, também, quando desacredita-se
os argumentos postos pela outra parte com base em ataques pessoais, integridade, etc.
6
A Sytematic Theory of Argumentation, p. 137.
Enunciação forma curta: «Um interlocutor que avança um ponto de vista é
obrigado a defendê-lo quando inquirido a fazê-lo»7
Outro problema que pode surgir é quanto a ordem a ser seguida, quanto defende-
se um ponto de vista assumido. A pragma-dialética atribui que o primeiro a defender um
ponto de vista é aquele que «espera alterar o status quo»8. Há também a possibilidade de
ordenar a discussão de acordo com as teses mais simples de defender à mais complexas.
Existe a possibilidade de uma das partes de uma discussão assumir que seu
ponto de vista não necessita de prova, ou seja, é sagrado ou sacrosanto. Também aqui
encontra-se uma violação da Regra 2, que incorre na falácia conhecido como «iludir a
responsabilidade de prova» (evading the burden of proof). A pragma-dialética não
permite o avançar de pontos de vistas imunes ao criticismo, ou que remetem a noções
essencialistas. Esses pontos de vistas são falaciosos, atentam contra a Regra 2.
7
Argumentation, p. 113.
8
Ibid, p. 115.
Regra 3:
Regra 4:
9
A Sytematic Theory of Argumentation, p. 139.
10
Ibid, p. 142.
de convenções que são tacitamente aceitas num discurso, que seja redigido um texto que
externaliza essas regras. Claro que, a partir do momento em que as partes aceitam
convencionalmente as regras que terão força ao longo da discussão, estas passam a
confinar e limitar o escopo dos argumentos que terão adequabilidade numa determinada
discussão. Além disso, as regras acordadas podem ser postas em discussão, quanto a sua
aceitabilidade, a qualquer momento.
Regra 5:
Regra 6:
«a) O protagonista pode sempre defender o ponto de vista que ele adota na
diferença inicial de opinião ou numa sub-diferença de opinião ao executar um ato de
fala complexo de argumentação, o qual então conta como uma defesa provisória do
ponto de vista.
11
Ibid, p. 143.
b) O antagonista pode sempre atacar o ponto de vista ao colocar em questão o
conteúdo proposicional ou a força justificacional ou refutatória da argumentação.
Regra 7:
12
Ibid, p. 144.
13
Ibid, p. 154.
intersubjetiva render um resultado negativo e o protagonista não defende
satisfatoriamente um sub-ponto de vista positivo com respeito a esse conteúdo
proposicional numa sub-discussão.»14
Regra 8:
14
Ibid, p. 147.
15
Ibid, p. 150.
ataca conclusivamente o ponto de vista do protagonista quando eficazmente ataca ou o
conteúdo proposicional do argumento, ou sua força de justificação ou refutação.
Regra 9:
Regra 10:
16
Ibid, p. 151.
17
Ibid, p. 152.
Regra 11:
Regra 12:
Regra 13:
18
Ibid, p. 152.
19
Ibid, p. 153.
20
Ibid, p. 154.
No estágio de conclusão onde se aplica a Regra 14 são avaliados conjuntamente
a defesa do ponto de vista pelo protagonista e o ataque a este pelo antagonista. Daí a
Regra seguinte determinar em quais situações o protagonista deve retirar o manter seu
ponto de vista ou quais situações o antagonista deve manter ou retirar seu ataque.
Regra 14:
21
Ibid, p. 154.
Regra 15:
Falácias
22
Ibid, p. 157.
23
Ibid, p. 175.
Outros tipos de falácia que já nos referimos e que assolam constantemente os
discursos: fuga do ônus da prova (evading the burden of proof), troca da necessidade da
prova (shifting the burden of proof), a falácia que torna um determinado argumento
sacrossanto ou imune a criticismo e, em último lugar a falácia que apela para as
emoções da outra parte do discurso, comumente conhecida como falácia patética
(pathetic fallacy).
Outro tipo de falácia corriqueira é aquela que uma parte atribui um argumento
como sendo da outra parte, porém este argumento na verdade não é da outra parte. Fala-
se, nesse caso, de falácia do espantalho (fallacy of the straw man). A pragma-dialética
necessita de um estudo detalhado da empiria dos discursos, para identificar as falácias
mais corriqueiras, o que, de fato, os teóricos da disciplina fazem, porém não passaremos
para uma análise de exemplos no nosso caso.
Outra famosa falácia que assola os discursos é aquela que avança temas que não
se referem ao contexto da argumentação que está sendo desenvolvida. Esse tipo de
falácia é conhecida como ignoratio elenchi. Outra importante falácia a ser considerada é
aquela em que uma das partes busca se auto-promover por algum título prévio ou
autoridade instituída o que se identifica com abuso de autoridade ou, a que ficou
tradicionalmente conhecida falácia do argumentum ad verecundiam.
Vimos que uma argumentação sempre implica elementos que não estão
expressos, ou seja, há vários tipos de argumentos tácitos. Há falácia quando uma das
partes sobrevaloriza algum argumento não-expresso conhecida como “aumento do que
foi deixado não-expresso” (magnifying what has been left unexpressed). Além disso, um
protagonista pode não querer aceitar algo que está tacitamente implicado no seu
discurso, ocorrendo falácia de negação da premissa não-expressa (denying an
unexpressed premise).
Encontra-se falácia quando trata-se um todo como mera soma de suas partes ou
quando se assume que toda propriedade do todo se aplica a cada parte. Essas falácias
são nomeadas, respectivamente: falácia da divisão e falácia da composição.