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Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL Nº 966.163 - RS (2007/0155661-8)

RELATOR : MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃO


RECORRENTE : GENERAL MOTORS DO BRASIL LTDA
ADVOGADOS : SÉRGIO PINHEIRO MARÇAL
RENATO JOSÉ CURY E OUTRO(S)
RECORRIDO : TAVESA VEÍCULOS LTDA
ADVOGADO : FABIO CANDIDO PEREIRA
EMENTA

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. DECISÃO CONCESSIVA DE LIMINAR.


RECURSO ESPECIAL RETIDO. ART. 542, § 3º, DO CPC.
NÃO-INCIDÊNCIA. ROMPIMENTO CONTRATUAL IMOTIVADO. LEI N.º
6.729/79 - "LEI FERRARI". BOA-FÉ OBJETIVA. LIBERDADE
CONTRATUAL. MANUTENÇÃO FORÇADA DO CONTRATO.
IMPOSSIBILIDADE.
1. Cuidando-se de decisão concessiva de liminar em ação cautelar,
descabe a incidência do art. 542, § 3º, do CPC, uma vez que a retenção
do recurso, nesse caso, inviabilizaria a própria solução da controvérsia
tratada nesse momento processual, haja vista que, por ocasião da
eventual ratificação do recurso, o próprio mérito da ação já teria sido
julgado e mostrar-se-ia irrelevante a discussão acerca da tutela provisória.
2. O princípio da boa-fé objetiva impõe aos contratantes um padrão de
conduta pautada na probidade, "assim na conclusão do contrato, como
em sua execução", dispõe o art. 422 do Código Civil de 2002. Nessa linha,
muito embora o comportamento exigido dos contratantes deva pautar-se
pela boa-fé contratual, tal diretriz não obriga as partes a manterem-se
vinculadas contratualmente ad aeternum , mas indica que as controvérsias
nas quais o direito ao rompimento contratual tenha sido exercido de forma
desmotivada, imoderada ou anormal, resolvem-se, se for o caso, em
perdas e danos.
3. Ademais, a própria Lei n.º 6.729/79, no seu art. 24, permite o
rompimento do contrato de concessão automobilística, pois não haveria
razão para a lei pré-conceber uma indenização mínima a ser paga pela
concedente, se esta não pudesse rescindir imotivadamente o contrato.
4. Recurso especial conhecido e provido.

ACÓRDÃO

A Turma, por unanimidade, conheceu do recurso especial e deu-lhe


provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Raul Araújo, Maria
Isabel Gallotti, Aldir Passarinho Junior e João Otávio de Noronha votaram com o Sr. Ministro
Relator.

Documento: 1016996 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 04/11/2010 Página 1 de 12
Superior Tribunal de Justiça
Brasília (DF), 26 de outubro de 2010(Data do Julgamento)

MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃO


Relator

Documento: 1016996 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 04/11/2010 Página 2 de 12
Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 966.163 - RS (2007/0155661-8)

RECORRENTE : GENERAL MOTORS DO BRASIL LTDA


ADVOGADOS : SÉRGIO PINHEIRO MARÇAL
RENATO JOSÉ CURY E OUTRO(S)
RECORRIDO : TAVESA VEÍCULOS LTDA
ADVOGADO : FABIO CANDIDO PEREIRA

RELATÓRIO

O EXMO. SR. MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃO (Relator):


1. Tavesa Veículos Ltda. ajuizou ação cautelar em face de General Motors do
Brasil Ltda., noticiando ser concessionária exclusiva da rede "Chevrolet", na cidade de
Taquara e região, desde 01.01.1973, em razão de contrato de concessão para venda de
veículos automotores, celebrado com a requerida. Informou que a ré notificou a requerente
acerca da rescisão do contrato de concessão em 06.10.2006, impedindo-a de dar
continuidade às suas atividades. Alegou que a rescisão do contrato é nula, configurando
abuso do poder econômico e exercício arbitrário de posição dominante, em face do que
dispõem os arts. 21, 22 e 30, todos da Lei n.º 6.729/79. Pleiteou a concessão de liminar para
impor à ré a continuidade do contrato, nos seus exatos termos, até o final da demanda
principal a ser proposta, abstendo-se a requerida de nomear outra concessionária para a
região de exclusividade, sob pena de multa, bem como para permitir à requerente a utilização
da integralidade do saldo depositado em sua conta no "Fundo de Capitalização".
A liminar foi concedida pelo juízo de piso, em outubro de 2006 (fls. 42/44,
e-STJ) e contra a decisão foi interposto agravo de instrumento, improvido monocraticamente
(art. 557, caput , do CPC) e pelo colegiado, em sede de agravo interno.
O acórdão recebeu a seguinte ementa:
"AGRAVO INTERNO. DECISÃO QUE NEGA SEGUIMENTO A RECURSO DE
AGRAVO DE INSTRUMENTO. MANTIDO O ENTENDIMENTO ESPOSADO
NA MONOCRÁTICA, ANTE A AUSÊNCIA DE ELEMENTOS NOVOS
CAPAZES DE INFIRMÁ-LO.
Ação Cautelar Inominada. Resolução de contrato de concessão comercial
para revenda de veículos. Notificação extrajudicial rescindindo o contrato
(LEI N. 6729/79). Risco de dano irreversível ou de difícil reparação para a
concessionária. Resolução abrupta do contrato após mais de 30 anos de
contratualidade. Medida de prudência e acautelatória. Mantida decisão que
suspendeu a rescisão extrajudicial, restaurando-se a contratação nos
termos do status quo ante. Utilização do Plano de Capitalização. Necessário
para evitar a inadimplência da concessionária. Caução. Pode ser prestada
por terceiro. Art. 828 do CPC. Alteração de sede aprovada em contrato.
Ausência de prova da notificação extrajudicial.
Agravo Interno desprovido, à unanimidade".
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Sobreveio recurso especial, fundado nas alíneas "a" e "c" do permissivo
constitucional, no qual se alega, além de dissídio jurisprudencial, ofensa ao art. 473 do Código
Civil, art. 22, inciso III, e 24, caput , da Lei n.º 6.729/79. Assevera a recorrente ser descabida a
manutenção forçada do contrato de concessão, configurando a determinação do acórdão
recorrido em atentado ao princípio da autonomia da vontade e da liberdade de contratar.
Afirma, ademais, "ocorrendo o rompimento de uma relação contratual, as partes podem até
ficar sujeitas a eventuais perdas e danos, mas não podem ser obrigadas a continuar a
contratação" (fl. 398, e-STJ).
Em contrarrazões, a recorrida refuta as teses deduzidas no especial,
afirmando, como preliminar, a exigência de retenção do recurso especial, nos termos do art.
542, § 3º, do CPC (fls. 468/526, e-STJ).
Admitido o especial (fls. 644/646, e-STJ), os autos ascenderam a esta e. Corte
Superior.
É o relatório.

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RELATOR : MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃO


RECORRENTE : GENERAL MOTORS DO BRASIL LTDA
ADVOGADOS : SÉRGIO PINHEIRO MARÇAL
RENATO JOSÉ CURY E OUTRO(S)
RECORRIDO : TAVESA VEÍCULOS LTDA
ADVOGADO : FABIO CANDIDO PEREIRA
EMENTA
CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. DECISÃO CONCESSIVA DE LIMINAR.
RECURSO ESPECIAL RETIDO. ART. 542, § 3º, DO CPC.
NÃO-INCIDÊNCIA. ROMPIMENTO CONTRATUAL IMOTIVADO. LEI N.º
6.729/79 - "LEI FERRARI". BOA-FÉ OBJETIVA. LIBERDADE
CONTRATUAL. MANUTENÇÃO FORÇADA DO CONTRATO.
IMPOSSIBILIDADE.
1. Cuidando-se de decisão concessiva de liminar em ação cautelar,
descabe a incidência do art. 542, § 3º, do CPC, uma vez que a retenção
do recurso, nesse caso, inviabilizaria a própria solução da controvérsia
tratada nesse momento processual, haja vista que, por ocasião da
eventual ratificação do recurso, o próprio mérito da ação já teria sido
julgado e mostrar-se-ia irrelevante a discussão acerca da tutela provisória.
2. O princípio da boa-fé objetiva impõe aos contratantes um padrão de
conduta pautada na probidade, "assim na conclusão do contrato, como
em sua execução", dispõe o art. 422 do Código Civil de 2002. Nessa linha,
muito embora o comportamento exigido dos contratantes deva pautar-se
pela boa-fé contratual, tal diretriz não obriga as partes a manterem-se
vinculadas contratualmente ad aeternum , mas indica que as controvérsias
nas quais o direito ao rompimento contratual tenha sido exercido de forma
desmotivada, imoderada ou anormal, resolvem-se, se for o caso, em
perdas e danos.
3. Ademais, a própria Lei n.º 6.729/79, no seu art. 24, permite o
rompimento do contrato de concessão automobilística, pois não haveria
razão para a lei pré-conceber uma indenização mínima a ser paga pela
concedente, se esta não pudesse rescindir imotivadamente o contrato.
4. Recurso especial conhecido e provido.

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VOTO

O EXMO. SR. MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃO (Relator):


2. Primeiramente, ressalte-se não ser o caso de recebimento do recurso
especial na forma retida, por força do art. 542, § 3º, do CPC, malgrado seja oriundo,
originariamente, de decisão interlocutória proferida em processo cautelar.
Isso porque a decisão interlocutória concedeu a liminar pleiteada em ação
cautelar, hipótese em que esta Corte tem temperado a regra ordinária de retenção do
especial.
Nesse sentido, a retenção do recurso inviabilizaria a própria solução da
controvérsia tratada nesse momento processual, relativa que é à legalidade da liminar
concedida na origem, haja vista que, por ocasião da eventual ratificação do recurso, o próprio
mérito da ação já teria sido julgado e mostrar-se-ia irrelevante, com efeito, a discussão
acerca da liminar.
Confiram-se os precedentes:
AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO ESPECIAL. RETENÇÃO. ART.
542, § 3º, DO CPC.
1. O Superior Tribunal de Justiça vem interpretando, com temperança, a
norma contida no art. 542, § 3º, do CPC, deixando de aplicar a regra do
Recurso Especial retido em situações excepcionais, como na concessão ou
indeferimento de medida liminar ou antecipação de tutela.
2. Agravo Regimental não provido.
(AgRg no REsp 1162579/DF, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA
TURMA, julgado em 18/03/2010, DJe 06/04/2010)
_________________________

PROCESSUAL CIVIL - RECURSO ESPECIAL- RETENÇÃO NA ORIGEM -


ART. 542, §3º DO CPC - MEDIDA CAUTELAR PARA O STJ - LIMINAR
CONCEDIDA - DECISÃO INTERLOCUTÓRIA QUE INDEFERIU PEDIDO DE
ANTECIPAÇÃO DE TUTELA - NECESSIDADE DE PROCESSAMENTO DO
ESPECIAL - PRECEDENTES DO STJ.
I - A norma que elenca as hipóteses em que o recurso especial deve ficar
retido na origem comporta exceções. A decisão que defere ou indefere a
tutela antecipada provém de cognição sumária, eis que lastreada em juízo
de probabilidade. Logo, nos casos em que o recurso especial desafia
decisão interlocutória concessiva de tutela antecipada, é razoável
determinar-se o seu imediato processamento, sob pena de se tornar inócua
a apreciação da questão pelo STJ.
II - Presentes os pressupostos autorizadores da concessão da Medida
Cautelar, defere-se a liminar para determinar o imediato processamento do
recurso especial, na origem, retido.
(MC 2411/RJ, Rel. Ministro WALDEMAR ZVEITER, TERCEIRA TURMA,
julgado em 04/05/2000, DJ 12/06/2000, p. 102)
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_________________________

Não sendo o caso de incidência do art. 542, § 3º, do CPC, passo ao exame do
mérito recursal.
3. A celeuma travada nos autos diz respeito à possibilidade de o Judiciário
determinar a manutenção forçada de contrato de concessão comercial de venda de veículos
automotores, celebrado por prazo indeterminado, malgrado tenha o concedente manifestado
sua vontade em não mais prosseguir na avença.
O Juízo de Direito da 3ª Vara Cível da Comarca de Taquara/RS concedeu a
liminar pleiteada pela concessionária, no sentido de manter o contrato de concessão, tal
como celebrado, até o julgamento da ação principal, da qual não se têm notícias do
ajuizamento, tampouco do seu conteúdo.
Transcrevo, para melhor compreensão da controvérsia, o cerne dos
fundamentos que levaram Sua Exa. a conceder a liminar:
(...) Conforme art. 22, da Lei 6729/79, alterada pela Lei 813290, a
resolução do contrato pode ser promovida por uma das partes, desde que
alegue infração aos dispositivos da lei, das convenções ou do contrato, e de
que seja precedida da aplicação de penalidades gradativas. O § 2º, do
mencionado dispositivo legal, outrossim, estabelece o prazo mínimo de 120
dias, contados da resolução do contrato, para que as partes estabeleçam a
extinção de suas relações e das operações do concessionário.
Analisando a notificação extrajudicial das fls. 155/158 verifico que a ré
aponta como motivos da resolução do contrato o baixo desempenho da
autora nas vendas de veículos e peças, bem como o protesto de 107 títulos
emitidos pela demandante e a a venda pela web sem repasses à GMB. A
requerida menciona correspondências enviadas à autora antes da
notificação, mas nada informa acerca de penalidades gradativas a ela
aplicadas, conforme previsão legal, o que torna a resolução do contrato, ao
menos em sede de cognição sumária, medida abrupta não amparada na
legislação.
É preciso salientar, ainda, que a interrupção da relação contratual sem
fixação de prazo mínimo para que as partes estabeleçam a extinção de suas
obrigações além de ferir o disposto no § 2º, do art. 22, da li supra
mencionada, contraria o princípio da boa-fé objetiva, em que cada parte
deve atuar com lealdade, procurando ajustar a solução do conflito de modo
equilibrado, especialmente considerando o longo período da relação
contratual a criar expectativas de continuidade dos negócios. (fl. 43)

O Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, na mesma linha,


manteve a concessão da liminar e determinou a manutenção forçada do contrato de
concessão, nos termos da seguinte fundamentação:
Realmente, nosso ordenamento jurídico assegura o princípio da autonomia
da vontade, porém ele deve ser analisado caso a caso, principalmente
porque a nova ordem jurídica – leia, novo Código Civil – inovou quanto as
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relações jurídicas contratuais, estabelecendo o princípio da boa-fé objetiva
(art. 422 do CCB).
Existe, portanto, um temperamento ao princípio da autonomia da vontade,
devendo ser observada, outrossim, a lealdade e honestidade dos sujeitos
participantes da relação contratual.
Em situação similar a presente, inclusive envolvendo a ora agravante, assim
restou decidido pela 19ª Câmara Cível deste colendo Tribunal de Justiça:

A prudência e a segurança das relações jurídicas devem ser objeto de


relevante zelo nesses casos, pelo simples fato de a lei atribuir ônus muito
maior às empresas concedentes causadoras dos motivos de
desfazimento do contrato. Não se pode olvidar ter a Lei Ferrari,
vislumbrando o princípio da boa-fé objetiva, na mesma linha da
principiologia do direito civil posteriormente instaurada pelo CDC e
consagrada no CC/2002, normas gerais a serem aplicadas, na
ocorrência das suas lacunas nos termos do art. 4º da LICC, reconheceu
a hipossuficiência do concessionário frente ao concedente, vislumbrando
inúmeros deveres deste no caso de desfazimento ou de não prorrogação
do contrato (arts. 23 a 25). Também tratou tal lei de promover a
relativização da autonomia da vontade privada, ao atribuir competência
às associações representativas das indústrias automobilísticas e das
distribuidoras poder regulamentar mediante convenções, conforme
menciona o parecer de Miguel Reale, juntado às fls. 192/203. (Agravo de
Instrumento n. 70008208720, 18 ª C. .Cível, TJ RS, Rel. Des. Mário Rocha
Lopes Filho).

Inconteste o fato da notificação extrajudicial, rescindindo o contrato de


concessão, indiscutível também se torna o risco de grave dano a que
exposta a Agravada, motivo pelo qual, em nome da prudência e do bom
senso, estou revendo o meu posicionamento, o que se justifica, dentro da
situação em concreto, da hipossuficiência econômica da recorrente
frente à poderosa multinacional General Motors, que simplesmente é a
maior indústria automobilística do planeta. Ademais, não se pode fechar
os olhos ao provável destino da recorrente a partir da suspensão do
fornecimento de veículos e peças por parte da GM da qual a agravante é
concessionária exclusiva há sessenta anos. Muito possivelmente, o fato
da GM não mais fornecer veículos e peças vai gerar a bancarrota da
agravante, sem falar nos nefastos efeitos sociais que daí decorrem,
como, obviamente, nos empregos diretos e indiretos.
(...)
E enquanto se discute em juízo, alternativa não resta que não a de
manter o contrato em seus termos. Nisto reside o poder de cautela do
Poder Público, através do Judiciário. O Estado-Juiz pode sim interferir na
relação entre as partes. Não para substituir suas vontades, mas para
preservar direitos e buscando minimizar, tanto quanto possível, os efeitos
nefastos que a ação unilateral de uma das partes pode gerar à outra.
(...)
Importa destacar que, nos termos do Artigo 22, III, da Lei 6.729/79, para
a resolução unilateral a parte inocente que alegar descumprimento da lei,
do contrato, ou convenção, deverá cercar-se de um amplo e contundente
contexto probatório a justificar a inviabilidade da continuidade contratual,
eis que as relações reguladas pelo mencionado diploma, versam valores
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expressivos, múltiplas contratações, além de penalidades gradativas que
devem ser obedecidas e cumpridamente demonstradas.
(...)

Seguindo os termos da decisão acima citada, e levando-se em conta que o


caso em apreço também envolve relação de distribuição comercial que
remonta há mais de 30 anos, entendo que é medida prudente e
acautelatória manter tal vínculo contratual, tal como decidido na origem, a
fim de evitar que a empresa concessionária sofra eventuais danos
irreparáveis ou de difícil reparação. (fls. 293/296, e-STJ)

4. Malgrado os judiciosos fundamentos levantados pelo acórdão recorrido,


insculpidos todos na boa-fé objetiva, afigura-se-me por demais elastecido o alcance atribuído
pelo Tribunal a quo ao mencionado princípio.
Em realidade, o princípio da boa-fé objetiva impõe aos contratantes um padrão
de conduta pautada na probidade, "assim na conclusão do contrato, como em sua
execução", dispõe o art. 422 do Código Civil de 2002.
Essa linha não implica que os contratos devam ser mantidos contra a vontade
dos contraentes, salvo, é bem verdade, e em situações excepcionais, contratos de evidente
cunho social, como os relativos à saúde, transporte, por exemplo, ou, ainda, naqueles em
que um dos contratantes exerça o monopólio sobre bens e serviços essenciais (VIEIRA,
Jacyr de Aguilar. A autonomia da vontade no Código Civil brasileiro e no Código de Defesa do
Consumidor , RT, 791/61).
Também no âmbito da e. Terceira Turma afirmou-se que "a boa-fé objetiva se
apresenta como uma exigência de lealdade, modelo objetivo de conduta, arquétipo social pelo
qual impõe o poder-dever de que cada pessoa ajuste a própria conduta a esse modelo,
agindo como agiria uma pessoa honesta, escorreita e leal" (REsp 981.750/MG, Rel. Ministra
NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 13/04/2010).
Nada obstante - como asseverei na relatoria do REsp. 1.112.796/PR -, não se
quer com esse posicionamento afirmar que os contratos devam ser mantidos a todo custo,
sem observância da vontade das partes. "A opção de contratar e manter-se em um contrato
é expressão máxima da autonomia da vontade, que não desapareceu, é evidente. Porém,
deve-se ter em mente que, partindo-se do fato de que há um contrato de longa data, a
faculdade de distrato exercida de forma disfuncional, anormal, imoderada ou distanciada da
boa-fé e dos bons costumes comerciais, pode acarretar danos a outrem que devem ser
reparados em sua plenitude".
"Com efeito" - concluí naquela ocasião -, "deve-se considerar que, muito
embora a celebração de um contrato seja, em regra, livre, o distrato é um ônus, que pode,
por vezes, configurar abuso de direito".

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Vale dizer, muito embora o comportamento exigido dos contratantes deva
pautar-se na boa-fé e na probidade contratual, tal diretriz não obriga as partes a manterem-se
vinculadas contratualmente ad aeternum , mas indica que as controvérsias nas quais o direito
ao rompimento contratual tenha sido exercido de forma desmotivada, imoderada ou anormal,
resolvem-se, se for o caso, em perdas e danos.
5. Em hipótese bastante assemelhada, esta Corte sufragou esse entendimento,
no sentido de mostrar-se inviável a manutenção forçada de contrato de concessão de
veículos automotores, regido pela Lei n.º 6.729/79:
CIVIL E PROCESSO CIVIL. CONCESSÃO COMERCIAL. LEI Nº 6.729/79.
RESCISÃO DE CONTRATO. LIMINAR PARA CONTINUIDADE DA
CONCESSÃO. AUSÊNCIA DE PRESSUPOSTO.
É princípio básico do direito contratual de relações continuativas que
nenhum vínculo é eterno, não podendo nem mesmo o Poder Judiciário
impor a sua continuidade quando uma das partes já manifestou a sua
vontade de nela não mais prosseguir, sendo certo que, eventualmente
caracterizado o abuso da rescisão, por isso responderá quem o tiver
praticado, mas tudo será resolvido no plano indenizatório.
Ausência do fumus boni juris, pressuposto indispensável para concessão de
liminar.
Recurso conhecido e provido.
(REsp 534.105/MT, Rel. Ministro CESAR ASFOR ROCHA, QUARTA TURMA,
julgado em 16/09/2003, DJ 19/12/2003, p. 487)
_________________________

Também a e. Terceira Turma o entendimento ora exposto foi acolhido:


PROCESSO CIVIL. AÇÃO CAUTELAR. MEDIDA LIMINAR. INTERVENÇÃO
JUDICIAL EM CONTRATO. Medida liminar, garantindo a continuidade de
contrato já denunciado por uma das partes, ao fundamento de que a
resilição deixou de observar as formalidades nele previstas para esse efeito.
Infração contratual que – acaso existente – se resolve em indenização por
perdas e danos, não justificando a manutenção do contrato contra a
vontade de uma das partes. Recurso especial conhecido e provido.
(REsp 200856/SE, Rel. Ministro WALDEMAR ZVEITER, Rel. p/ Acórdão
Ministro ARI PARGENDLER, TERCEIRA TURMA, julgado em 15/02/2001, DJ
04/06/2001, p. 169, REPDJ 17/12/2004, p. 512)
_________________________

6. Ademais, ainda que não fosse por fundamentação de índole principiológica, a


própria Lei n.º 6.729/79 permite o rompimento do contrato de concessão automobilística,
conforme se extrai da exegese do art. 24, caput e incisos:
Art . 24. Se o concedente der causa à rescisão do contrato de prazo
indeterminado, deverá reparar o concessionário:
I - readquirindo-lhe o estoque de veículos automotores, implementos e
componentes novos, pelo preço de venda ao consumidor, vigente na data
da rescisão contratual;
II - efetuando-lhe a compra prevista no art. 23, inciso II;
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III - pagando-lhe perdas e danos, à razão de quatro por cento do
faturamento projetado para um período correspondente à soma de uma
parte fixa de dezoito meses e uma variável de três meses por quinqüênio de
vigência da concessão, devendo a projeção tomar por base o valor
corrigido monetariamente do faturamento de bens e serviços concernentes
a concessão, que o concessionário tiver realizado nos dois anos anteriores
à rescisão;
IV - satisfazendo-lhe outras reparações que forem eventualmente ajustadas
entre o produtor e sua rede de distribuição.

Ora, não haveria razão para a lei pré-conceber uma indenização mínima a ser
paga pela concedente, se esta não pudesse rescindir imotivadamente o contrato.
7. Com efeito, a liminar outrora concedida, em outubro de 2006 - aliás, data a
partir da qual escoou prazo bastante superior aos 120 dias previstos no art. 22, § 2º, da Lei
n.º 6.729/79 -, deve ser revogada por ausência de plausibilidade jurídica (fumus boni iuris) das
alegações deduzidas pela parte autora, ora recorrida.
8. Diante do exposto, conheço do recurso especial e dou-lhe provimento para
revogar a liminar concedida na origem.
É como voto.

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUARTA TURMA

Número Registro: 2007/0155661-8 PROCESSO ELETRÔNICO REsp 966163 / RS

Números Origem: 10600046899 70017860966 70019116722

PAUTA: 26/10/2010 JULGADO: 26/10/2010

Relator
Exmo. Sr. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. ANTÔNIO CARLOS PESSOA LINS
Secretária
Bela. TERESA HELENA DA ROCHA BASEVI

AUTUAÇÃO
RECORRENTE : GENERAL MOTORS DO BRASIL LTDA
ADVOGADOS : SÉRGIO PINHEIRO MARÇAL
RENATO JOSÉ CURY E OUTRO(S)
RECORRIDO : TAVESA VEÍCULOS LTDA
ADVOGADO : FABIO CANDIDO PEREIRA

ASSUNTO: DIREITO CIVIL - Obrigações

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia QUARTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A Turma, por unanimidade, conheceu do recurso especial e deu-lhe provimento, nos
termos do voto do Sr. Ministro Relator.
Os Srs. Ministros Raul Araújo, Maria Isabel Gallotti, Aldir Passarinho Junior e João
Otávio de Noronha votaram com o Sr. Ministro Relator.
Brasília, 26 de outubro de 2010

TERESA HELENA DA ROCHA BASEVI


Secretária

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