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ACÓRDÃO
Documento: 1016996 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 04/11/2010 Página 1 de 12
Superior Tribunal de Justiça
Brasília (DF), 26 de outubro de 2010(Data do Julgamento)
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Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 966.163 - RS (2007/0155661-8)
RELATÓRIO
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Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 966.163 - RS (2007/0155661-8)
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Superior Tribunal de Justiça
VOTO
Não sendo o caso de incidência do art. 542, § 3º, do CPC, passo ao exame do
mérito recursal.
3. A celeuma travada nos autos diz respeito à possibilidade de o Judiciário
determinar a manutenção forçada de contrato de concessão comercial de venda de veículos
automotores, celebrado por prazo indeterminado, malgrado tenha o concedente manifestado
sua vontade em não mais prosseguir na avença.
O Juízo de Direito da 3ª Vara Cível da Comarca de Taquara/RS concedeu a
liminar pleiteada pela concessionária, no sentido de manter o contrato de concessão, tal
como celebrado, até o julgamento da ação principal, da qual não se têm notícias do
ajuizamento, tampouco do seu conteúdo.
Transcrevo, para melhor compreensão da controvérsia, o cerne dos
fundamentos que levaram Sua Exa. a conceder a liminar:
(...) Conforme art. 22, da Lei 6729/79, alterada pela Lei 813290, a
resolução do contrato pode ser promovida por uma das partes, desde que
alegue infração aos dispositivos da lei, das convenções ou do contrato, e de
que seja precedida da aplicação de penalidades gradativas. O § 2º, do
mencionado dispositivo legal, outrossim, estabelece o prazo mínimo de 120
dias, contados da resolução do contrato, para que as partes estabeleçam a
extinção de suas relações e das operações do concessionário.
Analisando a notificação extrajudicial das fls. 155/158 verifico que a ré
aponta como motivos da resolução do contrato o baixo desempenho da
autora nas vendas de veículos e peças, bem como o protesto de 107 títulos
emitidos pela demandante e a a venda pela web sem repasses à GMB. A
requerida menciona correspondências enviadas à autora antes da
notificação, mas nada informa acerca de penalidades gradativas a ela
aplicadas, conforme previsão legal, o que torna a resolução do contrato, ao
menos em sede de cognição sumária, medida abrupta não amparada na
legislação.
É preciso salientar, ainda, que a interrupção da relação contratual sem
fixação de prazo mínimo para que as partes estabeleçam a extinção de suas
obrigações além de ferir o disposto no § 2º, do art. 22, da li supra
mencionada, contraria o princípio da boa-fé objetiva, em que cada parte
deve atuar com lealdade, procurando ajustar a solução do conflito de modo
equilibrado, especialmente considerando o longo período da relação
contratual a criar expectativas de continuidade dos negócios. (fl. 43)
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Vale dizer, muito embora o comportamento exigido dos contratantes deva
pautar-se na boa-fé e na probidade contratual, tal diretriz não obriga as partes a manterem-se
vinculadas contratualmente ad aeternum , mas indica que as controvérsias nas quais o direito
ao rompimento contratual tenha sido exercido de forma desmotivada, imoderada ou anormal,
resolvem-se, se for o caso, em perdas e danos.
5. Em hipótese bastante assemelhada, esta Corte sufragou esse entendimento,
no sentido de mostrar-se inviável a manutenção forçada de contrato de concessão de
veículos automotores, regido pela Lei n.º 6.729/79:
CIVIL E PROCESSO CIVIL. CONCESSÃO COMERCIAL. LEI Nº 6.729/79.
RESCISÃO DE CONTRATO. LIMINAR PARA CONTINUIDADE DA
CONCESSÃO. AUSÊNCIA DE PRESSUPOSTO.
É princípio básico do direito contratual de relações continuativas que
nenhum vínculo é eterno, não podendo nem mesmo o Poder Judiciário
impor a sua continuidade quando uma das partes já manifestou a sua
vontade de nela não mais prosseguir, sendo certo que, eventualmente
caracterizado o abuso da rescisão, por isso responderá quem o tiver
praticado, mas tudo será resolvido no plano indenizatório.
Ausência do fumus boni juris, pressuposto indispensável para concessão de
liminar.
Recurso conhecido e provido.
(REsp 534.105/MT, Rel. Ministro CESAR ASFOR ROCHA, QUARTA TURMA,
julgado em 16/09/2003, DJ 19/12/2003, p. 487)
_________________________
Ora, não haveria razão para a lei pré-conceber uma indenização mínima a ser
paga pela concedente, se esta não pudesse rescindir imotivadamente o contrato.
7. Com efeito, a liminar outrora concedida, em outubro de 2006 - aliás, data a
partir da qual escoou prazo bastante superior aos 120 dias previstos no art. 22, § 2º, da Lei
n.º 6.729/79 -, deve ser revogada por ausência de plausibilidade jurídica (fumus boni iuris) das
alegações deduzidas pela parte autora, ora recorrida.
8. Diante do exposto, conheço do recurso especial e dou-lhe provimento para
revogar a liminar concedida na origem.
É como voto.
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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUARTA TURMA
Relator
Exmo. Sr. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. ANTÔNIO CARLOS PESSOA LINS
Secretária
Bela. TERESA HELENA DA ROCHA BASEVI
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : GENERAL MOTORS DO BRASIL LTDA
ADVOGADOS : SÉRGIO PINHEIRO MARÇAL
RENATO JOSÉ CURY E OUTRO(S)
RECORRIDO : TAVESA VEÍCULOS LTDA
ADVOGADO : FABIO CANDIDO PEREIRA
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia QUARTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A Turma, por unanimidade, conheceu do recurso especial e deu-lhe provimento, nos
termos do voto do Sr. Ministro Relator.
Os Srs. Ministros Raul Araújo, Maria Isabel Gallotti, Aldir Passarinho Junior e João
Otávio de Noronha votaram com o Sr. Ministro Relator.
Brasília, 26 de outubro de 2010
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