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Sergio Fonseca
Mas para que o homem concreto e empiricamente real do Marx possa fazer a
história, ele tem antes que comer, beber, fazer sexo, morar...
Ciência é o estudo das condições empíricas nas quais o homem, enquanto ser
genérico, atua e realiza-se. As relações sociais de produção são o objeto da
ciência histórica.
Nós, interpretes, é que ainda falamos numa filosofia da história como parte
integrante do discurso do Marx porque temos boas razões para suspeitar que o
materialismo histórico e/ou dialético, longe de ser um discurso rigoroso, é mais
uma metafísica da história.
Numa outra entrada, mais de cunho sociológico, Claus Off, defendeu a tese de
que o trabalho não pode ser mais considerado chave explicativa dos processos
sociais (3).
A história hegeliana, como referencia para Marx, não tinha algo real sobre o que
pudesse se desenvolver. O espírito hegeliano era por demais abstrato e ideal para
lhe servir como salvo-conduto de processos históricos.
Agora não. Com a identificação das condições reais nas quais os homens
constróem suas vidas, isto é, as condições do trabalho social, Marx pôde
visualizar algo concreto e que é o fio condutor dos processos históricos.
Creio que o Marx buscou algo em que pudesse apalpar a história, toca-la como
se fosse tangível, mensura-la. Todo esse desejo de tocar a história tem a sua
justificativa no fato de que, do ponto de vista da razão, é possível modificar a
história e fazê-la conscientemente de acordo com metas e valores planejados
coletivamente.
Em Hegel, a história é que se servia dos homens para realizar seus desígnios.
Marx rejeita tal idealismo e parece projetar no processo histórico valores morais
que não ficaram muito claros.
a história de Marx possui, de uma forma não explicita, um conteúdo moral que a
torna um plano previsível e racionalmente factível.
Já vimos que a existência da história estava, para Marx, assegurada pelo fato de
que os homens concretos a fazem com base em suas próprias necessidades.
Todavia, como que necessidades podem se tornar liberdades no sentido da
construção de uma forma de sociedade em que a exploração e domínio do
homem pelo homem fossem extintos?
Como temos visto, o trabalho não pode mais servir de estofo para a explicação
da história e tampouco a consciência operária, que brota da experiência do
trabalho, assume feição universal e vocação racional. Talvez, sorrateiramente, o
trabalho tenha se tornado um estorvo para os ideais da emancipação social.
Para alguns, o materialismo histórico pode muito bem ser rearticulado com base
em outras mediações sociais. Para Habermas, por exemplo, o desenvolvimento
tecnológico não recobre os processos de aprendizagens sociais.
A história que havia sido desnudada nas ações burguesas, agora é o pomo da
racionalidade porque fundiu numa única classe necessidade e liberdade
históricas.
Como Marx saiu de cena em 1883, não podemos afirmar se ele iria confirmar a
revolução bolchevique como a realização da história. É pouco provável que
encontrasse alguma coisa parecida com o seu comunismo.
Ao meu ver, o conceito filosófico de história do século XIX a qual Marx foi um
legítimo representante, explodiu juntamente com o socialismo burocrático. A
história universal e racional mostrou-se ser um mito e um veículo para justificar
formas absurdamente totalitárias de sociedade.
Podemos falar num fim da história enquanto uma pretensão universal que força a
homogeneização das culturas e experiências sociais dos diversos povos, etnias e
grupos das sociedades. Somente nesse sentido.
Na falta desse critério, temos que nos contentar com avaliações flexíveis e
heterogêneas que os indivíduos singulares fazem de suas vidas e de suas
experiências intersubjetivas.
NOTAS
BIBLIOGRAFIA