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Não há tema que não faça parte das crônicas de costume de Xico Sá: desde a nova moda de esmaltes

coloridos Kama Sutra, passando pelo golpe ‘Boa-noite Cinderela’, até o efeito que uma derrota do
Corinthians para o São Paulo tem na vida de um casal na segunda-feira. Bastou ter uma pitada, ainda
que escondida, de curiosidade, para Xico destilar de seus dedos no teclado o aprofundamento da história.
“Adoro misturar a alta cultura com o mundo brega. Sou seduzido por essa coisa de embaralhar dizeres de
para-choque de caminhão com filosofia alemã.”

Filho de um pequeno agricultor e de uma dona de casa, Francisco Reginaldo de Sá Menezes, o Xico,
nasceu no árido Crato, microrregião do Cariri, no Ceará, em 6 de outubro de 1973. Mas foi no Recife,
onde morou dos 16 aos 28 anos – antes de fixar residência em São Paulo –, que vislumbrou as peças do
quebra-cabeça de seu futuro: boêmia, literatura e jornalismo.

Nas mesas de botequim, ele logo ficou conhecido pela graça e habilidade ao falar sobre o amor – sim, o
amor! –, assunto que permeia boa parte de sua carreira literária, marcada por 20 títulos publicados, entre
individuais e coautorias. Destaque para os mais recentes Modos de macho e modinhas de
fêmea e Chabadabadá. “Hoje em dia, me pedem muito conselho amoroso. E costumo acertar bastante
as previsões, porque me baseio na minha própria canalhice”, brinca.

Nesta entrevista, realizada em um bar da Vila Madalena, em São Paulo, onde o autor costuma se reunir
com outros escritores e boêmios inveterados nas noites de sexta, ele fala sobre sua trajetória de vida,
carreira jornalística, literatura e, claro, sobre o amor – “flor da obsessão máxima”, como costuma dizer.
Como era o menino Xico Sá? No Crato, microrregião do Cariri, você já dava sinais de ser o futuro
jornalista e escritor? Para você ter uma ideia, me criei em um sítio chamado Sítio das Cobras, que fica
no município de Santana de Cariri. Lá, fui conhecer TV já perto dos 10 anos. Agora, se a gente for falar de
comunicação, eu tinha uma relação muito grande com rádio. E nessa época também peguei gosto muito
grande pela leitura. Tive um professor, o Geraldo, que me apresentou Vidas secas, de Graciliano Ramos.
Embora hoje goste mais de Angústia, também dele, foi o Vidas secas que me pegou para ser um leitor..

Quais as imagens mais marcantes da sua infância? As caçadas me marcaram muito. As brincadeiras
eram muito ligadas ao caçar. E lembro que ia com meu pai e ficava a noite toda no mato, com cachorro e
uma lanterna, atrás de tatus.

E você trabalhava na roça também? Sim, claro. Era a brincadeira misturada com a roça, porque a gente
tinha que trabalhar desde muito cedo. Cabia-me a função de espantar pássaros das plantações de arroz.
Mas isso foi até os meus 10 anos. Aos 11, fui com minha mãe e meus irmãos morar em Juazeiro. Lá eu
estudava e vendia passarinhos na frente do cinema.

Como assim? Eu era um passarinheiro sem fim. Ia pro sítio e trazia gaiolas imensas de pintassilgos e
galos-de-campina. E, como era viciado em quadrinhos, fazia uns escambos loucos com os passarinhos.
Nessa época, você já gostava de escrever? Comecei a escrever mais aos 15 anos, principalmente
poesias, influenciadas pelos repentistas, mas o gosto ficou forte quando cheguei ao Recife, por volta dos
16 anos, e fui morar sozinho em uma pensão. Foi lá que conheci muitos poetas, porque são mais de 200
por metro quadrado. Estava em um lugar onde o nego estava tomando cerveja e discutindo com o livro na
mão. Nesse entorno, se reuniam todos os intelectuais, putas e ladrões. Era uma efervescência e tanto.

E como você ganhava dinheiro para sobreviver? ? Fui trabalhar na Mesbla [extinta loja de
departamentos]. Datilografava a ficha do crediário e ligava para o serviço de aprovação de crédito. Mas
trabalhei também em uma ótica e ainda como auxiliar de trânsito, orientando as velhinhas. Quando entrei
na Universidade Federal de Pernambuco, virei bolsista da biblioteca e depois estagiário do jornal
universitário. Em seguida, fui para a livraria Livro Sete [onde hoje é a Livraria Cultura Paço Alfândega, no
Recife], como vendedor.

E as mulheres, quando elas entraram na pauta diária da sua vida? Mulher foi muito tardio, por isso se
tornou a flor da obsessão máxima. Até a época de Juazeiro, eu não tinha noção do que era.

Contudo, no livro Modos de macho e modinhas de fêmea, você relata o “sexo rural”... Sim, era uma
coisa de transar com as cabritas. Mas eu era careta no mundo rural, porque pegava cabrita por ser mais
fácil (risos). Além do mais, a cabrita é mais terna, tinha um olhinho de Sophia Loren.

Mas fazia sexo com a cabra todos os dias? Era circunstancial, quando dava vontade. Claro que você já
tem a sua preferida, a namoradinha (risos). Mas, como disse, ficava mais na maciez ali da cabra,
enquanto meus primos se lambuzavam na pocilga, com jumenta, vaca. Era um épico, porque transar com
uma vaca exige um trabalho de Hércules (risos).

Namorar mesmo aconteceu então com quantos anos? A primeira namorada foi no Recife. A
virgindade com afeto só perdi aos 18 anos.

Você é famoso por escrever muito sobre o amor. Desde quando esta temática é constante? Em
Juazeiro, na época em que comecei a fazer poesia, tinha um vizinho que era locutor de rádio e fazia um
programa chamado ‘Temas de Amor’. Era meio um consultório sentimental. E ele me chamou para
escrever pequenos textos de conforto para a mulher que mandava sua história. Daí, lia no ar a carta e
logo em seguida mandava o som de um Waldick Soriano ou Altemar Dutra.

Mas hoje, depois de tantos textos, o que é o amor? Não tenho a menor ideia ainda (risos), mas tenho
algumas pistas. Acho que o amor é um puta encontro entre duas pessoas e o mais importante é não
pensar mais na eternidade da relação. Quando você mata a eternidade, você ama de forma mais honesta
e muito mais comovida, sem se assustar com o inevitável fim das coisas. ©

Assim sendo, podemos dizer que você é um eterno apaixonado? Minha paixão acontece a cada 15
minutos e tem noite que vai abaixando a cota e, então me apaixono a cada 5 minutos. Para você ter uma
ideia, já morei junto cinco vezes e tive relacionamentos que duraram sempre acima de três anos. Acho
que a verdadeira sacanagem de uma boa relação está numa história mais longa, para existir o erotismo
de fato.

E ter sido casado tantas vezes te dá uma bagagem que possibilita não cometer mais alguns erros
no relacionamento, não? O ruim para a mulher é que o homem sempre vai ser melhor para a próxima,
infinitamente melhor. Já com as mulheres não acho que isso acontece, porque elas são um negócio
maluco, um “claricismo lispectorismo” absurdo. Todas são meio indecifráveis e sensacionais ao mesmo
tempo. Mas a gente melhora. Eu melhorei em tudo a cada gestão (risos).

Você é colunista da Folha de S. Paulo, comentarista de esportes no programa Cartão Verde da TV


Cultura e suas crônicas ainda podem ser lidas em diversos jornais. Como foi sua trajetória
jornalística? Comecei no Recife no Tabloide Esportivo. Depois, cobri esportes e fiz caderno de polícia
no Jornal do Commercio. Fiz frilas para O Estado de S. Paulo e entrei na Veja do Nordeste. Dela fui
levado pelo meu chefe para a sucursal de Brasília. E da Veja fui para a Folha de S. Paulo, veículo para o
qual cobri grandes escândalos políticos nos anos 1990.
Aliás, você ficou conhecido com as reportagens sobre PC Farias, o pivô do escândalo de
corrupção que derrubou Fernando Collor da Presidência. Acompanhei todos os passos do PC desde
que ele se tornou o grande inimigo público. E consegui me dar bem, porque durante muito tempo ele só
dava entrevistas para mim. Acredito muito que devido a essa coisa de a Folha ter um contraponto, de
querer ouvir o outro lado. Cheguei até a ir à Tailândia quando ele foi preso. Uma das imagens mais
marcantes da minha vida é o subsolo da polícia de imigração tailandesa em Bangcoc. O cara que era tido
como o mais rico do Brasil estava ali, num lugar de ratazanas, algo medieval. E foi essa relação até a sua
morte.

Você, no entanto, contou que se sentia angustiado como um jornalista “sério”. Queria ser escritor;
por isso, vivi um grande conflito, uma angústia de estar longe do meu caminho. Mas daí, em 1997, a
Suzana Singer e o Marcos Augusto Gonçalves, como sabiam que eu falava muito sobre temas amorosos
nas conversas de bar, me chamaram para escrever na Revista da Folha uma ‘Coluna Macho’. Era para
ser o contraponto da já existente ‘Coluna GLS’. E então, eu, que escrevia sobre escândalos, corrupção e
tinha ganhado até o Prêmio Esso de Jornalismo, só precisei escrever uma coluna de 1.500 caracteres
para a recepção do público ser imensa. No outro dia, chegavam cartas na redação e as pessoas me
paravam na rua. Mas continuei no jornalismo burocrático um total de 11 anos, de 1990 a 2001. No
paralelo, fazia a coluna. Era um grande alívio, pois via que ela me daria um novo mundo.

Aliás, em suas colunas, além de mulher e futebol, você também vira e mexe fala da feiura. Ser
“feio” é um complexo ou já foi? Hoje, tenho minha escrita para me defender, minha aparição publica.
Mas quando você é um moleque do Cariri feio e vai na festa da padroeira e nenhuma mulher olha para ti,
não posso negar que é uma experiência que fica para o resto da vida.

Tem uma crônica na qual você se baseia em um estudo publicado no Daily Mail, da Inglaterra, para
concluir que as mulheres casadas com homens feios são mais felizes. O que os feios têm a
oferecer a mais? É a sua chance de fazer uma boa propaganda? É autopropaganda, mas os feios têm
mais a oferecer mesmo (risos). Eles têm mais esforço, mais devoção. Eles não têm a arrogância e a
prepotência do galã. Até durante a conquista, comparando com o boxe, o feio ganha por pontos,
enquanto o galã vence pelo nocaute. O feio se esforça mais para manter o casamento, para manter a
história. E o mais maluco é que descobri cedo que as mulheres topam qualquer história amorosa se
gostarem de ti.

Mas suas namoradas são sempre bonitas? No começo, quando comecei a namorar umas mulheres
muito bonitas, achava que era uma pegadinha de Deus. Eu olhava procurando as câmeras escondidas
(risos). E dizia pra mim mesmo: “Não, não tá certo isso para a natureza. Não tá certo... essa diferença de
beleza” (risos). Mas todas com quem casei são lindas.

O que hoje te dá mais dinheiro? Cara, Finalmente comecei a ganhar algo mais substancial. Dá para
mensurar quanto o livro vende. Claro, tudo isso para o nosso universo. Avise o vosso público que, para
nós, qualquer R$ 1.500 é dinheiro. Mas, hoje, o que me banca é a crônica. Depois do livro Modos de
macho e modinhas de fêmea, inventei uma coluna que é vendida para uma agência. Esta, por sua vez,
revende para publicações de todo o país. Também ganho dinheiro com palestras, porque a minha
aparição na TV ajuda muito para aumentar o cachê.

Além dos livros já citados, você publicou um total de dez, como Tripa de cadela & outras fábulas
bêbadas e Catecismo de devoções, intimidades & pornografias. O que vem pela frente em
breve? Além de três livros que estão fora da lista porque são meio amadores, artesanais. Já sobre novos
projetos, vou encerrar uma trilogia involuntária que começou com o Modos de macho e modinhas de
fêmea, na sequência veio o Chabadabadá e agora deve sair o último, em julho, pela Editora Record.
Tem também o romance Big Jato e Ninguém morre de amor nos trópicos, este último com narrativas mais
sujas, um lado B meu mais literário.

O que você está lendo atualmente? Acabei de reler O homem que foi quinta-feira, de G. K.
Chesterton. E tem um livro que é a minha bíblia,Folhas de relva, de Walt Whitman. É o livro mais sábio
da existência. Quando você abrir, no dia que for, onde você estiver, vai ser tocado por ele.

E o que você está ouvindo de boa música? Bom, tenho sempre essa antena muito ligada para o que se
produz lá no Nordeste. Eu posso citar o Cidadão Instigado, Nação Zumbi, além de Otto e Mundo Livre
S/A. E aqui em São Paulo tem umas coisas muito boas, como Romulo Fróes. Outra paixão minha é o
Wander Wildner.

Para encerrar, qual é a melhor definição de Xico Sá? Digamos: “O homem, o mito e a fraude”. Não me
levo a sério nunca (risos). ©

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