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Titulo do Projeto/CNPq.
A construção de gênero no campo da saúde:
estudo d@s profissionais de odontologia no Distrito Federal
Equipe de trabalho:
Apresentação....................................................................................................................3
Introdução....................................................................................................................... 4
Procedimentos Metodológicos........................................................................................7
6. Algumas conclusões...................................................................................................53
Referências bibliográficas.............................................................................................56
Anexos I..........................................................................................................................60
Anexo II ( separado)
2
Apresentação
1
Oliveira, Bruna. A Odontologia é delas. In: Jornal da Associação Paulista de Cirurgião Dentistas
(APCO), São Paulo, março, 2008 (p.17,18).
3
alguns profissionais de localidades próximas da região Centro-Oeste. O estudo
empírico, isto é a coleta das informações foi realizada durante o ano de 2007.
Introdução
O papel que vem desempenhando o feminismo desde as três últimas décadas do
século passado estabeleceu como uma de suas tarefas básicas é de discutir o enfoque
androcéntrico ainda presente na construção do conhecimento e da ciência, assim como
no campo das relações de trabalho. O campo científico, no geral, ignora ou omite as
contribuições trazidas pelas mulheres à produção da ciência e do conhecimento,
sobretudo em relação às denominadas ciências exatas e da natureza.
Na história da ciência moderna, as especificidades relativas à produção do
conhecimento se agrupam em torno de alguns eixos levados a cabo pelo pensamento
masculinista predominante, à época, ou seja, a presença de argumentos naturalistas, tais
como: a condição de neutralidade da ciência, o predomínio de uma linguagem
androcêntrica, além da dimensão universal atribuída ao conhecimento científico, assim
como pela crença no caráter progressista da racionalidade científica. A crítica feminista
contrária a esses elementos paradigmáticos predominantes, evidencia-se nas
contribuições relativas às mudanças propostas nos fundamentos da ciência assim como
nas culturas que lhe outorgam valor2 .
Sem dúvida, as pensadoras feministas não foram as primeiras e nem as únicas a
elaborar uma crítica à ciência moderna. Embora antecedidas por outros atores, grupos e
movimentos − anticolonialistas, oriundos da contracultura, ecológicos, antimilitaristas,
entre outros −, realizaram agudas críticas ao processo de conhecimento científico, o
qual, afora outras questões, excluía as mulheres de seu fazer.
Nesse sentido o que se pretendeu evidenciar com este trabalho foi de verificar
em que medida as mulheres não apenas estão presentes no fazer científico do campo
odontológico, como também ingressadas no mercado de trabalho produtivo, em especial
na ODT, como conseguem romper com determinadas situações onde as representações
de gênero vigentes na sociedade “são restritivas” à maior participação das mulheres em
certas áreas de conhecimento e são mais “flexíveis” em relação a outras. Exemplo
recente pode ser buscado nos dados relativos ao percentual de matrícula no ensino
2
A propósito consultar HARDING, Sandra. Ciência y feminismo. Madrid: Ediciones Morata S.L., 1996.
4
superior, nos cursos de graduação: o censo escolar de 2005, evidencia que os cursos de
Engenharia (79,7%), Educação Física (56,9%), e Direito (51,1%) tem mais de 50% de
seus alunos do sexo masculino, enquanto que Pedagogia(91,3%), Enfermagem (82,9%)
e Letras (80,%) têm mais de dois terço de alunas do sexo feminino3. Isso indica a
permanência acentuada da divisão sexual do conhecimento, cuja divisão se inicia desde
os primeiros anos escolares entre os gêneros.
Em que medida a feminização de um campo científico e profissional
específico, garante a superação das resistências androcêntricas - como práticas
profissionais individualistas, determinados valores e normas masculinistas ou sexistas
que regem a ciência e os diversos campos de conhecimento criando possibilidades de
participação mais eqüitativa entre os gêneros?
Esta questão-guia é que se perseguiu no desenvolvimento desta pesquisa. Se os
estereótipos relativos aos papéis para estabelecer o território das mulheres na sociedade
são hoje questionados e se, formal e legalmente, as mulheres têm as mesmas
possibilidades de acesso a uma carreira científica-acadêmica, sem dúvida, encontram
limites reais especialmente na área das ciências exatas e da natureza, na persistência de
práticas profissionais patriarcais transversalmente presentes na sociedade, que ainda se
impõem, como limite. Nem sempre são visíveis e de fácil superação esses limites, pois,
transformam-se em dificuldades nem tão invisíveis e de difícil resolução, que
configuram o que se denomina “ o teto de vidro”. Trata-se de obstáculos invisíveis,
difíceis de advertir e, portanto de denunciar.
Neste sentido, como bem apontou Tossi (2002) as mulheres deste último século
participaram de diversas atividades científicas e técnicas, nas quais a tradicional
habilidade manual, destreza, imaginação e capacidade de trabalho, sempre deram
provas. Não obstante, salvo contadas exceções, só puderam ingressar no campo do
conhecimento científico pela porta dos fundos4.
3
Censo Escolar, Ensino INEP, Brasília, 2005.
4
Tossi (2002) aponta que algumas, pertencentes à nobreza ou à burguesia, tiveram a sorte de receber
uma boa educação, o que permitiu superar barreiras e proibições. Ficaram, entretanto, relegadas à
condição marginal de assistente e, no melhor dos casos, colaboradoras de cientistas famosos e
freqüentemente, ignorados pela posteridade.
5
crescente de feminização, contrariando a tendência histórica de que as profissões da
saúde tais como a medicina, odontologia e farmácia eram desempenhadas por
profissionais do sexo masculino, salvo as profissões no campo da saúde que envolvem
as atividades do cuidado, tais como a enfermagem e nutrição, atribuídas histórica e
atualmente ainda às mulheres.
A denominada femininzação da profissão de odontologia pode ser compreendida
como um processo de mudança na constituição quantitativa e qualitativa da profissão de
ODT. Na primeira situação, deve-se, sobretudo ao elevado número de jovens mulheres
que ingressam nos cursos universitários e se diplomam para o exercício da profissão, a
exemplo dos dados mencionados acima. No caso do Estado de São Paulo,
especificamente, de um total de 70.965 cirurgiões-dentistas, 40.013, equivalente a
56,40% são do sexo feminino. No segundo, trata-se de uma mudança material com
seqüelas simbólicas na configuração do curso, isto é, da profissão de ODT que passa a
ser vista como uma profissão da área médica que migra para o domínio dos cuidados,
onde os atributos pessoais femininos deslocados para o espaço profissional da ODT
acabam por ganhar valores e significados novos e diversificados, sendo associados, no
exercício profissional, a determinadas especializações e ocupações - deixaram a
exclusividade na odontopediatria e assumiram outras especializações mais sofisticadas e
de maior prestígio, tais como a endodontia, a odontologia estética e a área dos implantes
dentários. Assim como assumiram postos e funções nas entidades representativas de
classe, no corpo docente em instituições de ensino. A exemplo do que vem sendo
afirmado, o quadro associativo da Associação Paulista de Cirurgião Dentista - APCO
caracteriza-se por uma maior presença feminina, pois, atualmente, 54,40% dos
associados são mulheres. Durante o 26º. Congresso Internacional de Odontologia,
realizado em São Paulo, em 2007, 56% das presenças inscritas foram de profissionais
mulheres.
Portanto, são vários os estudos, as pesquisa e, sobretudo, as evidencias
empíricas, que indicam mudanças profissionais sofridas no campo das relações entre os
gêneros, a partir da década de 1970, quando as jovens mulheres iniciaram o ciclo de
entrada no ensino superior rompendo com a tradição de que a universidade era um
espaço destinado aos homens, ou às mulheres para buscar marido. Os dados censitários
indicam que o aumento das mulheres no ensino superior nos últimos 30 anos chegou a
ultrapassar os 50% com a presença feminina no ensino superior. Para Bruschini (2007),
o ingresso maciço das mulheres no ensino superior, apesar da permanência da divisão
6
sexual do conhecimento, traz várias conseqüências, dentre elas, caracteriza um processo
de modernização e de mudança cultural acentuado, no sentido de estabelecer uma
relação linear entre escolaridade e acesso ao mercado de trabalho e aos espaços
públicos; altera os padrões culturais e os valores relativos à mulher, também
intensificado pelo movimento feminista.
Portanto, neste Relatório se apresentam os procedimentos e os resultados da
pesquisa realizada com as/os profissionais de odontologia, predominantemente,
localizados profissionalmente, no Distrito Federal, conforme explicitado nos
procedimentos metodológicos, uma vez que se torna importante discutir não apenas o
aumento da presença feminina na profissão de odontologia, mas, sobretudo de como
está sendo construída à segmentação sexual no interior dessa profissão, em outras
palavras, como um “outro” ou “ nova” divisão sexual do trabalho se efetiva no campo
odontológico com a presença significativa das mulheres.
Procedimentos metodológicos
A pesquisa realizada compreendeu diferentes procedimentos de coleta de
informações, assim como de fontes de dados e de informações. A interação entre estas
diversas possibilidades, veio a ocorrer motivada por algumas dificuldades, dentre elas
destacam-se: certa inacessibilidade para que o profissional disponibilizasse alguns
minutos de seu tempo para responder.
Resumidamente, em termos metodológicos, a pesquisa compreendeu três
momentos que ocorreram concomitantemente: a) levantamento bibliográfico sobre o
tema estudado, assim como identificação das estatísticas sobre o/a profissional de ODT,
junto a Associação Nacional e a alguns dos Conselhos Regionais; b) levantamento do
“perfil sócio-demográfico e profissional dos/as CDs” no Distrito Federal; c) realização
de entrevistas com aqueles/as que se dispusesse a fazê-lo.
7
mais poder aos papéis e funções masculinas exercidas por homens e menor valor e
poder às funções e papéis sociais exercidos por mulheres. No caso dos/as profissionais
da ODT, a distribuição pelas especialidades profissionais reafirma o dito acima.
8
ciência. O pensamento feminista, ao contrário, faz severas críticas a essa neutralidade,
defendendo ser a ciência uma atividade plenamente social, tanto quanto todas as demais
atividades humanas ─ políticas, religiosas, educacionais, econômicas, familiares.
Assim, as atividades científicas, tanto quanto todas as atividades que as viabilizam, são,
inescapavelmente, sexuadas/generizadas.
9
Assim, o acesso das mulheres a um campo de saber e de fazer profissional é
presidido por “princípios limitadores tacitamente aceitos, sem exames” (Le Doeuff,
1998:56). Uma condição desde logo está posta: o ingresso das mulheres em dados
campos científicos, sim, mas permanecendo no estatuto de discípula ou auxiliar, sem
pensar de modo independente, sem colocar em questão a repartição de papéis sexuados,
que resguardam a preponderância intelectual masculina. A permissão de saber é
acompanhada por limites, sendo a forma mais insidiosa, a idéia de que uma mulher
instruída, que produz teoria, perde sua “feminilidade”. A representação social, o mito de
que não há mulheres verdadeiramente criadoras tem sido colocado em cheque por
genealogias produzidas por mulheres, contrapondo à história oficial da ciência e do
pensamento, que ainda mantêm as mulheres no ostracismo. Enfim, a divisão sexual do
trabalho na sociedade amplamente, o simbolismo de gênero ─ processos que contam
com participação da ciência ─ explicam, em grande medida, a escassa presença de
mulheres no campo da ciência e o fato de meninas não estarem dispostas a
desenvolverem habilidades, destrezas e condutas necessárias para atuação exitosa na
ciência.
Le Doeuff apresenta mulheres cientistas eruditas – como Christine de Pizan, na
passagem do século XIV para o século XV5 – e propõe que homens cultos, sem filhos
homens, passavam a filhas uma herança de amor ao conhecimento e trabalho científico
(savoir e savoir-faire).6 Essas mulheres não deixam, entretanto, de constituir exceções,
em um quadro geral de exclusão das mulheres do saber, ligadas a sua situação de
assujeitamento no casamento.
5
Christine de Pizan (c.1364-c.1434), ainda na Idade Média, produziu uma pioneira e emblemática
genealogia de mulheres.
6
Como entre mulheres nas ciências modernas, odontólogas no Brasil Central declararam a influência do
pai na escolha da profissão. Mas não só. Há também na pesquisa desenvolvida, indicações de influências
da mãe, da irmã, da família inteira envolvida com a odontologia.
10
Na área da saúde, historiadores da medicina subestimam a participação das
mulheres médicas, pois elas tocam em uma ordem que dá aos homens o lugar de
sujeitos do conhecimento e do discurso e às mulheres a condição de objetos do
conhecimento, “objetos cientificamente desprezíveis” (id, p. 163). A autora aí coloca o
poder simbólico fundamental dos homens: “decidir o que é uma mulher, apresentá-la
como querem” (id. p. 148). A assimetria das posições entre os sexos acarreta o risco de
o imaginário se antepor ao real, processo a que Le Doeuff designa como “acognição
masculinista” (p. 179). Esse fenômeno se verificaria atualmente, quando em ciências da
saúde a hegemonia do saber por um dos sexos construiria os objetos, os campos e os
métodos, [assim como os corpos] chegando, algumas vezes, a negar “a realidade das
mulheres” (p. 172). Portanto, “uma participação eqüitativa nas atividades científicas
contribui para uma maior consideração das necessidades e direitos das mulheres e uma
redução do poder dos homens” (p. 278-9).
A possibilidade de as mulheres buscarem formação universitária e participação
na esfera pública não foi acompanhada por investimento de tempo por parte dos homens
na esfera privada, configurando-se grave viés de gênero (Sorj, Fontes e Machado,
2007).
Nas últimas décadas ocorreram no Brasil transformações tanto nas estruturas das
famílias quanto no mercado de trabalho e, no caso específico desta pesquisa,
transformações na área da Odontologia. Entretanto, também nesse campo a qualidade da
inserção das profissionais mulheres ─ sobretudo as mães ─ no mercado de trabalho
odontológico seria afetado pelo baixo desenvolvimento de serviços coletivos que
possibilitariam socializar os custos ─ materiais e não materiais ─ dos cuidados com a
família, especialmente com as crianças na primeira infância (Thurler, 2008) e com as/os
idosas/os (Bandeira, 2008 e Batista, 2008).
11
incorporação das cônjuges ao mercado de trabalho. Apesar de, nas novas configurações
familiares, as cônjuges estarem se escolarizando mais, estão ocupando postos de
trabalho com salários e condições de trabalho inferiores (id., ibidem).
12
Relatório, e que atestam o quanto um núcleo familiar, assim como os primeiros anos da
escolaridade, podem atuar para frente ou para trás.
7
Artigo: História da Odontologia no Brasil. Elias Rosenthal, Cirurgião Dentista - Jornal APCD - outubro de
1995.Consulta internet site:
8
Segundo Rosenthal, op. cit. Em 1728, na França, Piérre Fauchard (1678-1761) com seu livro: Le
Chirugien Dentiste au Traité des Dents, revoluciona a odontologia, inovando conhecimentos, criando
técnicas e aparelhos, sendo juntamente cognominado "o pai de Odontologia Moderna". Nesta época
começava a exploração do ouro no Estado de Minas Gerais, com grande afluxo de interessados e José S.
C. Galhardo é nomeado pela Casa Real Portuguesa, cirurgião-mór deste Estado, regulamentando os
práticos da arte dentária.
13
mundo conhecido, fato ocorrido na Universidade de Ohio (EUA), pioneirismo que
naquele momento ocasionou protesto, pois aquele movimento já era indício de que a
profissão poderia vir a ser “invadida” pelas mulheres.
14
Assim, a odontologia começou como oficio artesanal, semelhantemente a outras
profissões, no Brasil e em muitos países. Mestres na arte dentária formadas/os pela
experiência cotidiana e prática transmitiam seu savoir faire para as/os futuras/os
pretendentes ao oficio. O primeiro curso de odontologia foi instalado em 1884 na
cidade do Rio de Janeiro, como já destacado foi influenciado pelo modelo americano,
de formação de profissionais liberais, fonte inspiradora para algumas das primeiras
escolas de ensino superior no Brasil. É importante destacar que a odontologia se
desenvolveu como um apêndice à prática da medicina e sua trajetória reflete a
perspectiva médica mais focada no tratamento de doenças existentes do que na
prevenção. Em boa parte dos países europeus, a odontologia ainda é considerada uma
“especialização” da medicina, embora tenha formação específica não tem status
profissional próprio.
“Durante o século XVIII até meados do século XIX era muito difícil
para a mulher adquiri um título nas escolas superiores. Somente em 1873, as
universidades de Genebra e de Zurick passaram a aceitá-las . No Brasil
somente em 1899, após quinze anos da criação do curso de odontologia da
Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro (1884), formou-se a primeira
cirurgiã dentista , Isabela Von Sydow. No final do século XIX havia
restrições legais quanto ao ingresso da mulher nas Faculdades de Medicina
do Império. Em 1879, um decreto estabelecia que era facultativa a inscrição
15
de indivíduos do sexo feminino, para as quais haveria nas aulas “lugares
separados”.9
9
Grifos da Autora.
16
dos anos oitenta, quando a democratização do país influenciou a superação da visão
tecnicista do ensino universitário consolidada durante o regime militar. Acrescida do
fato de que se iniciava o processo de desmonopolização dos “ serviços de odontologia”,
a medida em que as demandas sociais se configuravam mais persistentes, assim como a
abertura da prática odontológica voltada para outros segmentos da população. Passou-
se a incorporar um horizonte que indicasse para a prevenção e não mais exclusivamente
a perspectiva curativista. Os segundos são relativos às discussões sobre as limitações
do paradigma biomédico na área da saúde e especificamente, na ODT, que tem como
pano de fundo o surgimento de um discurso que aporta uma visão mais holística de
saúde-doença humana. Como indicam Haddad e Morita (2006), tardaram a atingir o
ensino da odontologia os conceitos que significaram grandes evoluções na compreensão
do processo saúde-doença, entendendo a saúde como um bem socialmente determinado.
Entretanto, algum avanço pode ser observado no que diz respeito à estruturação
dos conteúdos, pois as clínicas integradas, que nos anos setenta suscitaram intensas
discussões, foram finalmente introduzidas no currículo, com a regulamentação de 1982.
Um currículo mínimo tornou-se, então, a base para o ensino da odontologia tendo
vigorado por cerca de vinte anos e exercido influência sobre o que se observa ainda hoje
em muitos dos cursos de odontologia como essencial para a formação superior da
profissão. Somente a partir da aprovação da Lei de Diretrizes e Bases (LDB) em 1996 e,
posteriormente, da aprovação das Diretrizes Curriculares Nacionais em 2002, novos
parâmetros foram apresentados.
17
uma das rupturas mais significativas que causou mudanças epistemológicas, tanto no
ensino como na prática odontológica foi a implementação do primeiro Sistema de
Fluroetação DE Águas de Abastecimento Público no Brasil implantado pela Fundação
Serviços Especiais de Saúde Pública (FSESP), Em Baixo-Gandu, no Espírito Santo,
culminando com a Lei Federal no.6.050 e com o Decreto no. 76.872(22/12/1975) que
obrigava e regulamentava o uso de flúor em todos os Estados da Federação (Cunha et al.
2006).
No âmbito geral da área da Saúde, entretanto, essas mudanças e Diretrizes
precisam ser entendidas dentro do contexto maior da Reforma Sanitária brasileira
(Morita e Kriger, 2004), ocorrida no final dos anos oitenta com a criação de um sistema
descentralizado e único de saúde , o qual operou mudanças significativas. A criação do
Sistema Único de Saúde (SUS) pela Constituição Federal de 1988 e a atribuição de
ordenamento da formação de recursos humanos na saúde passaram a nortear o
desenvolvimento da educação superior na área. A mudança no paradigma de saúde
deixou de lado a oposição doença-saúde e trouxe a idéia de satisfação e qualidade de
vida. Para a OMS, a saúde é uma questão de “estado completo de bem-estar físico,
mental e social e não somente a ausência de doença ou enfermidade” (Ministério da
Saúde, 2006)10.
As DCN estabelecidas para os cursos da saúde surgem como resultado das novas
conjunturas previstas pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação e a Reforma Sanitária
brasileira, evidenciando dois aspectos fundamentais: a flexibilização na organização dos
currículos pelas Instituições de Educação Superior (IES) e a existência de uma base
comum para os cursos da saúde.
10
Ministério da Saúde, Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa. A construção do SUS. História da
reforma Sanitária e do Processo Participativo, Brasília, 2006.
18
adequado para cada realidade local e regional, compatibilizado às demandas sociais e
aos avanços científicos e tecnológicos.
Quadro 1
19
é muito menor em relação a capacidade necessária para manutenção de altos custos em
consultórios odontológicos, espaços físicos e outros. Por outro, a excessiva quantidade
de dentistas profissionais força a um aumento das especializações profissionais, cada
vez mais subdivididas em minúsculas especialidades. Fora disso, a concentração dos
profissionais da odontologia continua localizada nos grandes centros urbanos nacionais
e especialmente nas regiões central e sul do país. (Ver Quadro 2).
Quadro 2
Distribuição das/os Cirurgiões Dentistas do Brasil, segundo sexo e Estado de
exercício profissional.
Brasil - 2007.
20
24. SANTA CATARINA 4117 3483 7600 45,83
25. SERGIPE 449 843 1292 65,25
26. SÃO PAULO 31376 40461 71837 56,32
27. TOCANTINS 600 609 1209 50,37
TOTAL 97613 119790 217413 55,10
Fonte: Conselho Federal de Odontologia. Brasília, DF, 2007.
21
Ao definir o perfil profissional desejado para as/os egressas/os dos cursos de
odontologia, as DCN parecem contemplar uma nova prática profissional, que pode ser
realizada para além dos limites do consultório. A formação de um/a profissional
generalista procura romper, no geral, com a dicotomia preventivo-curativo e público-
privado, com a valorização precoce da micro-especialização e com a falta de integração
com outras áreas da Saúde, que tem caracterizado o exercício da profissão (Morita e
Krieger, 2005).
Quadro 3.
Cirurgiões Dentistas do Brasil cadastrados no Conselho Federal de Odontologia
segundo especialidade e sexo.
Brasil - 2007
___________________________________________________________________________
Especialidade Masculino Feminino Total
22
___________________________________________________________________________
CIRURGIA E TRAUMATOLOGIA BUCO MAXILO FACIAIS 65 16 81
DENTISTICA RESTAURADORA 65 132 197
ENDODONTIA 142 189 331
ODONTOLOGIA LEGAL 3 2 5
ODONTOLOGIA EM SAUDE COLETIVA 28 40 68
ODONTOPEDIATRIA 18 216 234
ORTODONTIA E ORTOPEDIA FACIAL 155 97 252
PATOLOGIA BUCAL 4 4 8
PERIODONTIA 147 135 282
PROTESE DENTARIA 209 155 364
RADIOLOGIA 60 42 102
IMPLANTODONTIA 128 27 155
ESTOMATOLOGIA 5 3 8
DENTISTICA 10 33 43
SAUDE COLETIVA 6 13 19
ORTODONTIA 26 28 54
RADIOLOGIA ODONTOLOGICA E IMAGINOLOGIA 8 11 19
DISFUNCAO TEMPORO-MANDIBULAR E DOR-OROFACIAL 14 8 22
ODONTOLOGIA DO TRABALHO 2 6 8
ODONTOLOGIA P/ PACIENTES C/ NECESSIDADES ESPECIAIS 2 5 7
ODONTOGERIATRIA 3 3 6
ORTOPEDIA FUNCIONAL DOS MAXILARES 10 13 23
___________________________________________________________________________
TODAS 1110 1178 2288
___________________________________________________________________________
FONTE: CFO, 2007.
“Você sabe lidar com criança pode não parecer, é ainda mais fácil para a
profissional- mulher (...) elas tema mais proximidade, compreendem mais, são
mais pacientes (...) sabe como é (....) precisa ter calma, tem criança que dá
show de bola(...) chora demais, (...) de certo porque já botaram medo na
cabeça dela sobre o dentista (...) Daí não tem jeito, não, só mulher [entendida
como mãe] é que pode dar jeito...”.
11
No geral em cada Associação Estadual de Cirurgiões Dentistas, há uma tabela de preços que servem
como referencia.
23
consideradas mais “habilidosas” que fazem as obturações. É exercida por 68,5% por
profissionais mulheres.
No geral, a justificativa atribuída a essa especialidade que se concentra no
universo profissional feminino é devida às habilidades, a paciência, a atenção ao
detalhe, as quais são consideradas “naturalmente” portadoras, dado as minúcias e
detalismos que a especialidade requer. Especializado com menor rendimento em termos
econômicos, e são considerados, entre os profissionais da ODT, as/os de menor valor e
status profissional. Um exemplo contrário da concentração de profissionais masculinos
pode ser observado na especialidade de implantodontia. Ou seja, nesta se concentram
82,6% dos profissionais masculinos. Além de ser a especialidade da moda, atualmente,
é uma das mais caras, onde se exige do profissional nome e reconhecimento, status
profissional, ótima localização comercial, sobretudo, em prédios modernos, com o uso
de muita tecnologia. Embora nesta especialidade, as habilidades não podem ser
desprezadas, o maior valor simbólico está na dimensão estética desta especialidade,
assim como no reconhecimento social do profissional, junto a segmentos sociais
específicos, tais como: artistas,empresários, políticos, entre outros.
Portanto, outros exemplos podem ser observados na divisão sexual e na
distribuição profissional por especialização no quadro acima, que reforçam tais divisões
sexuais sociais, culturais e simbólicas do exercício profissional, pela condição de sexo-
gênero.
24
Cirurgiões-dentistas inscritos até agosto/2007 era de 2. 538, sendo que a distribuição
por sexo pode ser visualizada a seguir.
25
do masculino(28%). Foram consideradas as variáveis tais como: sexo, idade, estado
civil, local e ano de formação, titularidade, especialidade, tempo de exercício
profissional, local de trabalho (público/privado), dedicação à docência e/ou clínica e
nível salarial.
26
Tabela 2.
Distribuição dos/as profissionais entrevistados/as
por titulação.
Brasil- 2007
Titulação Odontólogas/os
Doutorado 8%
Mestrado 20%
Especialização 100%
Fonte: Questionário da pesquisa. 2007.
Tabela 3.
Distribuição das/os pesquisadas/os por local de procedência.
Brasil, - 2007.
12
CUNHA, Majorie Fonseca da e GRANJA, Tágide Matos e. Análise da prática profissional dos
cirurgiões dentistas após a conclusão do curso de especialização em saúde coletiva. Monografia
apresentada ao Curso de Especialização em Saúde Coletiva , na Associação Brasileira de Odontologia-
Seção/DF, Brasília, março, 2006.
27
Local de procedência Profissionais - %
Uberaba – MG 21.8
Belo Horizonte – MG 17.3
Brasília - DF 13.0
Campina Grande – MG 13.0
Anápolis – GO 8.7
Presidente Prudente – SP 8.7
Itabuna – BA 4.4
Niterói – RJ 4.4
Taubaté – SP 4.4
Uberlândia - MG 4.4
Total 100
Fonte: Questionário da pesquisa. 2007.
Tabela 4.
Formados em Odontologia na Universidade Evangélica de Anápolis (Go),
período 2002-2006.
Brasil-2007.
Masculino Feminino
Nºs Total
Ano abs % Nºs abs %
2002 17 26,2 48 73,8 65
2003 19 22,1 67 77,9 86
2004 18 27,7 47 72,3 65
2005 16 38,1 26 61,9 42
2006 18 30,6 41 69,4 59
Total 88 27,8 229 72,2 317
Fonte: Secretaria de Graduação Faculdade de Odontologia de Anápolis.
28
Gráfico1.
80
70
61,3
60
50
38,7 Fem inino
40
Masculino
30
20
10
0
S-1 S-2 S-3 S-4 S-5 S-7 S-8 S-9 Todas
Tabela 5.
Distribuição por sexo dos formados em Odontologia na
Universidade Federal de Goiás, 2001-2005.
Brasil- 2007.
Gráfico 2.
Distribuição por sexo dos formados em Odontologia
da Universidade Federal de Goiás, 2001-2005.
29
80
70
60,07
60
50
39,93
%
40
30
20
10
0
2001 2002 2003 2004 2005 todos Fem inino
Anos Masculino
Tabela 6
Distribuição por sexo e série acadêmica, dos estudantes de
Odontologia da Universidade Federal de Goiás, 2006.
Brasil – 2007
Gráfico 3.
Distribuição percentual por sexo e série acadêmica, dos estudantes de
Odontologia da Universidade Federal de Goiás, 2006.
30
Brasil – 2007.
90
80
70 69,46
60
Fem inino
50
%
Masculino
40
30 30,54
20
10
0
s
1
do
o
o
od
od
od
od
od
To
rí
rí
rí
rí
rí
Pe
Pe
Pe
Pe
Pe
Séries
Gráfico 4.
Graduados em Odontologia na Universidade de
Brasília, por semestre e segundo gênero 1995-2006
20
18
16
14
12
#
10
8
6
4
2
0 Masculino
/1
/1
/1
/1
/1
/1
/1
/1
/1
/1
/1
/1
Fem inino
95
96
97
98
99
00
01
02
03
04
05
06
19
19
19
19
19
20
20
20
20
20
20
20
Sem estres
Tabela 7.
Graduados em Odontologia na Universidade de Brasília,
por sexo, no período 1995-2006.
31
Brasil – 2007
Em 2006, a maioria dos estudantes em oito dos nove semestres era constituída
por mulheres e representavam, no conjunto dos universitários em odontologia naquele
ano, 62,5% (Tabela 8 e Gráfico 5).
Tabela 8
32
Semestre Masculino Feminino Total
Nºs abs % Nºs abs %
Primeiro 7 31,8 15 68,2 22
Segundo 14 43,5 18 56,5 32
Terceiro 7 41,2 10 58,8 17
Quarto 3 23,1 10 76,9 13
Quinto 12 57,1 9 42,9 21
Sexto 8 38,1 13 61,9 21
Sétimo 6 35,3 11 64,7 17
Oitavo 4 25,0 12 75,0 16
Nono 5 29,4 12 70,6 17
Total 66 37,5 110 62,5 176
Fonte: DEG/UNB/Set.Brasília, 2006.
Gráfico 5
20
18
16
14
12
Masculino
#
10
8 Fem inino
6
4
2
0
vo
o
no
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o
ro
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xt
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ita
no
ei
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ua
ui
Se
gu
im
rc
Sé
O
Q
Q
Te
Se
Pr
Sem estre
33
“Percebo que há mais mulheres na odontologia hoje. Nos congressos,
conferências, etc... nossa presença tem sido maior.” Ou: “As mulheres são maioria nos
cursos de especialização e de atualização que faço. Maioria gritante: 80% ou mais.”
Uma área de estudo que se feminiza pode se constituir em uma área de estudo
como de trabalho que também pode se desvalorizar? É indiscutível que os cursos de
odontologia vêm se feminizando e todos os dados apontam para isso.
Muitos profissionais começam a se questionar se esse processo começa a ser
desvalorizado pela presença majoritária das profissionais de ODT femininas. Entre os
atores envolvidos nesta pesquisa há interpretações divergentes, em relação a maior
presença das mulheres na ODT, assim como ficam evidentes as lógicas assimétricas e
de poder em relação a esta distribuição.
34
“À mulher ainda cabe a responsabilidade, o cuidado e atenção com a casa e os
filhos, mesmo com companheiro que a ajuda. O planejamento das atividades
domésticas e da rotina de filhos dependentes é da total responsabilidade da
mulher, o tempo para atividade profissional é planejado para que não interfira
na rotina da casa. Ao homem é dada a liberdade de imprevistos e alterações
conforme o interesse profissional. Muitas vezes deixamos para oportunidade
posterior a pós-graduação, quando temos filhos pequenos e estamos longe da
família. Isso resulta em adiarmos um aprimoramento, que pode se traduzir em
insegurança na prática profissional. Precisamos de muita determinação e
resignação para realizar nossos sonhos.”
“Sim acho que predomina o sexo feminino, talvez por ser uma profissão mais
light.”
35
mulheres, dominação para os homens. Porém, a condição do feminino ligado à natureza
fundamenta a condição de exclusão das mulheres da legitimidade tecnológica. Ora uma
das clivagens mais discriminativas entre as profissões masculinas e femininas repousa
sobre a tecnologia reconhecida no desempenho profissional Portanto, trabalho mais
qualificado do ponto de vista tecnológico, endereçado ao homem, cuja associação
ancestral o remeteria a condição de portador da lógica e da cultura, enquanto que a
mulher da biologia e da natureza. Na prática profissional da ODT tais assertivas se
traduzem no
Por sua vez, as mulheres percebem que a prática da ODT exige razão e
sensibilidade, tanto dos homens quanto das mulheres isto é, habilidades técnicas e
exercício de cuidados, como indica a fala a seguir:
“Não saberia diferenciar por gênero, ainda que ambos devessem ter capacidade
intelectual e habilidades manuais. Algumas pessoas da sociedade pensam que
uma cirurgiã deveria ter força para realizar exodontia e cirurgias maiores.
Após quinze anos trabalhando como cirurgiã posso dizer que a técnica é
fundamental, porem, de tudo, o cuidar, a atenção, o respeito é o que faz a
diferencia e partindo do princípio ético de que ambos os gêneros tem estas
características, quando assumem o seu juramento profissional, daí não vejo
sentido em diferenciá-los.”
13
Hirata, Helena e Kergoat, Danièle. Division sexuelle du travail professionnel et domestique. Evolution
de la problématique et paradigmes de la “conciliation”. Seminário Mage/Fundação Carlos Chagas. São
Paulo, maio/2007.
36
Tabela 9.
Titulação dos/as docentes/as da Faculdade de Odontologia da Universidade
Evangélica de Anápolis. 2006.
Brasil – 2007
Especializaçã
Graduação o Mestrado Doutorado Total
Gênero Nºs Nºs Nºs Nºs Nºs
abs. % abs. % abs % abs % abs %
Feminino 20 50,0 82 51,2 35 60,3 7 63,6 144 53,5
Masculino 20 50,0 78 48,8 23 39,7 4 36,4 125 46,5
Total 40 100 160 100 58 100 11 100 269 100 %
Fonte: Universidade Evangélica de Anápolis, Goiás, 2006.
Tabela 10.
Titulação dos/as professores/as da Faculdade de Odontologia da UFGO, por sexo.
Goiania, 2006
Brasil- 2007
37
de professoras substitutas, enquanto somente metade dos ODTs homens estão nessa
situação profissional considerada precária. Entre os 17 mestres, os homens são maioria
(70,6%) e, com exceção de um deles, estão contratados, enquanto as mulheres com essa
titulação representam 17,6% das/os docentes contratadas/os. Ou seja, os docentes
homens contratados são quase quatro vezes mais do que o número das profissionais
mulheres. Tanto na condição de especialistas, quanto de mestres os homens são a
metade das docentes não contratadas. Nessa faixa, as mulheres em trabalho com
características de precarização representam o dobro de seus colegas homens. Não há
profissionais homens precarizados – na situação de substituto - com a titulação de
doutor. No universo total desses profissionais, há uma predominância masculina, em
que 56,4% são homens e 43,6% são mulheres.
Nesse mesmo ano, na Faculdade de Odontologia da Universidade de Brasília, os
profissionais do sexo masculino constituíam a maioria dos docentes com qualquer
titulação e, também, a maioria entre os professores concursados (Tab. 11 e 12).
Tabela 11.
Distribuição dos/as professores/as no curso de Odontologia, por sexo e titulação.
Universidade de Brasília – UnB, 2006.
Brasil – 2007
Tabela 12.
Distribuição por sexo e tipo de contratação dos/as professores/as no Curso de
Odontologia da UnB.2006
Brasil – 2007.
38
Trabalho Masculino Feminino Total
Nºs abs. % Nºs abs. %
Concurso 15 60,0 10 40,0 25
Substituto 7 50,0 7 50,0 14
Total 22 56,4 17 43,6 39
Fonte: Decanato de Graduação. UnB. 2006
39
especificidade da diretoria, verifica-se que a maioria desse universo (75%) era em
empresas de serviços de saúde, educação e cultura.
Tabela 10.
Distribuição dos/as professores/as concursados/as e substitutos/as do
Departamento de Odontologia da Universidade de Brasília,
por sexo e disciplina acadêmica. Brasília, 2006.
Brasil – 2007
Masculino Feminino
Disciplinas Nºs Total
Nºs abs. % abs. %
Cirurgia 3 100,0 0 0,0 3
Ortodontia 2 100,0 0 0,0 2
Prótese 6 75,0 2 25,0 8
Coletiva 2 66,7 1 33,3 3
Clinica 6 60,0 4 40,0 10
Semiologia 2 40,0 3 60,0 5
Pediatria/Periodontia 1 12,5 7 87,5 8
Total 22 56,4 17 43,6 39
40
Fonte: Decanato de Graduação. UnB. 2006
“... no geral, quando chega uma dentista numa clínica já lhe é direcionado o
atendimento de crianças, a menos que ela já tenha uma preferência ou formação
diferente. No geral isso acontece pouco”.
41
“Não só na odontologia especializada, mas em toda a odontologia, vejo que os
homens chegam rápido e ocupam espaço mais fácil no topo. Isso se explica
numa cultura machista.”
42
emocional” e “trabalho afetivo”; em relação ao “trabalho intelectual”, e ao “trabalho
manual” da casa e do cuidado das crianças. Enquanto não se superar essa tríade de
tensões e de enfrentamentos, considerando que o cuidado com as/os filhas/os constitui
atividades desejáveis para todas/os as/os humanas/os, “o trabalho intelectual e manual
da ciência e da vida pública não parecerão atividades potencialmente [e igualmente]
desejáveis para todas as mulheres” (Harding, 1996:48). E a autora prossegue sua análise
afirmando a existência de fortes razões políticas para não se convocar os homens
dedicados à ciência, às atividades profissionais em níveis de mais alta valorização a se
ocuparem com as crianças e a transformarem seus próprios desejos de sexo/gênero.
43
de seu tempo. Tal desigualdade ganha uma dimensão específica quando analisado o uso
do tempo por sexo dedicado as tarefas da reprodução social. Seja em sociedades
desenvolvidas ou não, o trabalho para reprodução social é preferencialmente atribuído
como responsabilidade das mulheres, independentemente, delas terem ou não filhos. A
situação em relação a diminuição do tempo se agrava mais quando há um número de
filhos pequenos. Ademais, o mercado reitera a discriminação das mulheres, seja devida
a ausência de força física, seja em razão dos períodos de licença maternidade ou
ausência para dedicar tempo ao cuidado dos filhos ( Dedecca, 2007)14
14
A propósito consultar: Dedecca, Claudio Salvadori: Regimes de Trabalho, Uso do Tempo e
Desigualdade entre Homens e Mulheres. Seminário MAGE, São Paulo, Fundação Carlos Chagas, maio,
2007.
44
sexo feminino, manifestando a persistência de um essencialismo, com uma suposta
concordância entre “atributos femininos” e exigências profissionais, como evidenciados
na fala abaixo:
“....As mulheres são [por essência, por natureza] mais delicadas, dedicadas,
detalhistas, atenciosas, inteligentes e muito perceptivas....” (profissional
mulher);
45
Ao mesmo tempo algumas mulheres declararam ter conquistado status
profissional igual ou maior do que os homens na profissão.
“Eu achou que está diminuindo muito esse conflito e com uma especialização
nova não consegui sentir diferença” (profissional mulher).
“Todos têm espaço, a mulher está conquistando o seu. É uma questão cultural,
com a qual estamos a cada dia trabalhando. Ainda somos sobrecarregadas,
apesar de esse panorama estar se modificando” (profissional mulher).
(...) no SESC, SESI, GDF temos inúmeras mulheres em cargos de chefia na área
de odontologia, cargos conquistados por méritos próprios” (profissional
mulher).
46
manter um consultório particular, na saturação de profissionais no mercado, entre
outras, como indicado a seguir:
“Acho que, tanto para homens como para mulheres, hoje a maior barreira seria
o mercado de trabalho que está saturado”( profissional homem).
“Tratar com seres humanos é muito delicado o paciente deve se ver com
problemas individuais, considerar idade, saúde. Os idosos necessitam de
assistência constante. É necessário paciência e compreensão” (profissional
homem).
47
Ainda, ambos apontam ser importante ter sensibilidade para identificar as
necessidades de grupos sociais específicos, como por exemplo, as crianças e as pessoas
idosas, pessoas portadoras de necessidades especiais, assim como os/as portadores/as de
HIV.
“Dano pessoal? A chefia médica arrogante não incomoda mais. Aprendi a lutar
pelo que acredito. Sinto alegria quando consigo fazer um atendimento e receber
um sorriso e um muito obrigado...”(profissional mulher).
48
“A falta de reconhecimento de alguns pacientes e, o contrário, o elogio a nosso
trabalho.” ( profissional homem)..
O que leva homens e mulheres a escolher a ODT como campo profissional? Por
um lado a pesquisa revelou algumas motivações para ingresso na ODT, tais como
vocação, influências familiares e gosto pela área da saúde como um todo, aspectos
apontados nas falas a seguir:
“Desde o inicio queria a área da saúde. Optei pela odontologia contra vontade
de meus pais que queriam medicina” (profissional mulher)
“Sempre gostei da área da saúde, no inicio optei pela medicina, mas acabei na
odontologia” ( profissional homem).
49
Mais além de uma primeira aproximação, constata-se, na escolha profissional
das mulheres, uma motivação sexuada, com importância decisiva conferida à
experiência do conflito trabalho - família. As falas das mulheres indicam serem elas
influenciadas pela possibilidade de autonomia profissional, no sentido de ter um
emprego de tempo parcial, permitindo combinar as exigências do trabalho com as
demandas de atendimento à família, como apontado a seguir:
50
tempo) nos estudos - se com o marido ou com a mulher - na maioria das vezes
opta-se pelo marido. O retorno é mais garantido, pois ele dispõe de mais tempo.”
“... acho que homens e mulheres têm chances iguais” ou “Dependendo do que a
pessoa tenha estudado, dedicado (...) estar se atualizando”.
51
A defesa da complementaridade dos sexos se insere na tradição funcionalista da
complementaridade dos papéis (Parsons, 1991) e incluiria, no compartilhamento do
trabalho profissional entre mulheres e homens, a divisão de tipos e modalidades de
emprego que possibilitem a reprodução e a preservação de papéis sexuados (Hirata e
Kergoat, 2007).
52
traria “soluções” ao antagonismo entre responsabilidades familiares e
profissionais (Hirata e Kergoat, 2007).15
6. Algumas conclusões
15
Devreux (2000) analisa mecanismos por meio dos quais a atual política familiar em seu país afirma-se
como uma política de conciliação, continuando a excluir os homens dessa problemática. Políticas
familiares francesas (Allocation Parentale d´Education – APE) tornam-se, na verdade, políticas de
emprego, mantendo uma profunda interdependência entre essas duas modalidades de políticas públicas.
53
atrelada à medicina, influenciada por paradigmas semelhantes, ou seja, a odontologia
comungou com o paradigma bio-médico, significando o tratamento da doença sem
estímulo à prevenção. Posteriormente passou a ser impactada pelo surgimento de um
paradigma mais holístico para tratamento das/dos pacientes e ênfase na prevenção pela
via das políticas públicas. A mudança de paradigma se encontra ainda em trânsito e o
feminismo tem contribuído para uma crítica ao paradigma tradicional e para a
emergência do novo.
54
O aumento de mulheres ingressando nas Faculdades de Odontologia e
diplomando-se não tem significado conquista de maior igualdade entre elas e os
homens, mantendo-se, ainda no século XXI, desigualdades em funções, especialidades,
status (Maruani, 2000). Trata-se de interpretar as dinâmicas e as lógicas das relações
sociais de sexo/gênero que promovem deslocamentos e recomposições das fronteiras
entre o masculino e o feminino, onde são negociadas prerrogativas de umas e outros.
“Em todos os campos do conhecimento, o tempo que tem separado a autorização para
prosseguir os estudos e a autorização social para as mulheres exercerem as profissões
plenamente, sem constrangimentos, tem sido longo” (Schweitzer, 2002, apud Ravet,
1003:174). A divisão sexuada do trabalho ainda permanece forte e as mulheres não
estão nas mesmas funções e especialidades que os homens.
16
A carreira, ao contrário, seria o percurso prescrito para cada profissão, que se manifesta na regulação
de ingresso e permanência, estabelecendo critérios de seleção, de formação, duração do curso de
formação específico e conhecimentos técnicos relativos à profissão, etc. No marco dessas prescrições não
há lugar para os significados simbólicos que podem afetar o status social da carreira, assim como a
própria condição identitária das/os profissionais.
55
A profissionalização das mulheres é orientada pela lógica da naturalização de
“qualidades femininas”, essencializadas, colocando as mulheres nas áreas da educação,
do social, da saúde, constituindo verdadeiras maternidades simbólicas, extensões e
reconfigurações de maternidades tradicionais. As mulheres ainda estão no processo com
toda complexidade da aquisição do direito ao exercício da autoridade e da tomada de
decisão. Historicamente, a autoridade das mulheres sobre outras mulheres foi tolerada.
Ao contrário, a autoridade das mulheres sobre homens sofre ainda significativas
resistências.
Homens e mulheres não têm os mesmos projetos quando começam a vida
profissional, menos freqüentemente elas concretizam uma “grande carreira”.
Enfim, reconhecimento e visibilidade são igualmente atingidos por odontólogos e
odontólogas? Uma profissional acena com uma resposta nesse sentido, valorizando esta
pesquisa, como oportunidade de conscientização e de transformação:
“...Na odontologia ainda não ocorreu mobilização com relação à questão de gênero e da
própria política pública de saúde bucal no Brasil. Mas ações como esta pesquisa da
UnB, deixam clara a importância desse trabalho com relação à categoria odontológica.”
Referências Bibliográficas:
BANDEIRA, Lourdes e CORDÓN, Jorge. Feminização e/ou proletarização das
profissões da saúde: o caso da Odontologia no Distrito Federal. 1997. (mimeo).
56
BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico.Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 2003.
BOURDIEU, Pierre. Razões Práticas, sobre a teoria da ação. Campinas, Papirus, 1996.
BRUSCHINI, Maria Cristina Aranha. Trabalho e gênero no Brasil nos últimos dez anos.
Artigo apresentado no Seminário Internacional Gênero e Trabalho. Comparação
Brasil-França, Promoção MAGE e Fundação Carlos Chagas, de 8 a 12 de abril de
2007, São Paulo e Rio de Janeiro.
57
CUNHA, Majorie F. da, Granja, Tágide Matos e. Analise da prática da prática
profissional dos cirurgiões dentistas após a conclusão do curso de especialização
em saúde pública. Monografia de Especialização em Saúde Coletiva apresentada
a ABO/DF. Brasília, março, 2006.
FERNANDES NETO, Alfredo, Julio. et al.; TOLEDO, Orlando Ayrton. In: BRASIL.
Ministério da Educação. Ministério da Saúde. A trajetória dos cursos de
graduação na saúde: 1991-2004. Brasília: Editora INEP/ MEC, 2006. Disponível
em: <http://www.inep.gov.br/pesquisa/publicações> <http://www.saude.gov.br/
sgtes>.
58
LAUFER, Jacqueline. Conciliation vie familiale/vie profissionelle. In Les femmes.
Contours et caractères. Paris: Service de Droits des Femmes/INSEE, p. 163-165.
PARSONS, Talcott, CAMIC, Charles. Early Essays. Chicago University Press, 1991.
PIZAN, Christine de. The book of The City of Ladies. Trad. e Intr. Rosalind Brown-
Grant. London: Penguin Books Ltd., 1999.
59
SCHWEITZER, Sylvie. Les femmes ont toujours travaillé (Une histoire du travail des
femmes aux XIXe et Xxe ciècles). Paris: Odile Jacob, 2002.
TOSSI, Lucía. Por la puerta del fondo. In Perspectivas. Ciência y tecnologia. Saberes
excluídos. Isis Internacional, 25/2002.
60
ANEXO 1
I. Identificação sócio-profissional
1.1. Sexo:
1.2. Idade:
1.3. Estado Civil (indicar se é casado/a com profissional da ODT):
1.4. Local de formação: (instituição, cidade, ano; especificar se realizou cursos de pós-
graduação em qualquer nível: especialização, mestrado, mais de uma especialização,
etc);
1.5. Tempo de exercício profissional:
1.6. Indicar a área de formação e atuação específica:
1.7. Local de trabalho (especificar se trabalha em mais de uma atividade e em mais de
um setor/instituição: público: qual? Privado: Qual)?
1.8. Área de especialização (assinalar mais de uma se for o caso);
1.9. Indicar a faixa salarial em S.M.
1.10. Se for casado, considera que há uma divisão sexual relativa às atividades
domésticas? Aproximadamente, quantas horas são dedicadas a essas atividades por você
e por seu/sua companheiro/a?
1.11. Há outros membros do grupo familiar que desempenham ou que tinham essa
profissão? Explicitar;
61
2.3. Considera que tem uma predominância de profissionais de ODT relativa a um dos
sexos/gêneros? Explique.
2.4. Quais seriam as qualidades características da profissão concernentes mais as
profissionais mulheres da ODT? Por quê?
2.5. Do ponto de vista da formação profissional quem, no geral, é considerado mais
preparado para atuar na profissão de ODT? Por quais razões?
2.6. Considera que a diferença entre os papéis assumidos pelos homens e pelas
mulheres na sociedade tem alguma influencia na sua profissão? Podem produzir uma
prática profissional distinta?
2.7. Explicite quais são as desigualdades existentes no campo científico da ODT
relativo à prática profissional?.
2.8. Para ingressar no campo científico da ODT foi necessária a aquisição de
habilidades próprias para o exercício da profissão?
2.9. Mesmo sendo maioria dentro da profissão, as mulheres não conseguem alcançar
certas escalas de prestígio e de poder no interior da prática da profissão e, no exterior,
em relação à representação profissional. É nessa tensão/conflito que começa a se
delinear o “espaço” das mulheres na profissão de ODTs. É o que a sociologia do
trabalho chamaria de o “chão de fábrica”.
2.10. Outra questão que se coloca: por que as mulheres odontólogas exercem atividades
de menor importância, prestígio social e remuneração e as especializações e os postos
profissionais de destaque não lhe são acessíveis.
62
3.9. Informar como a saúde é afetada (se sente cansado(a) com o trabalho. Tem muita
carga de trabalho? Tem algum problema de saúde, usa medicamentos? Que tipo de
medicamentos? Já sofreu ou sofre de depressão? Tem muita dispensa do trabalho por
motivos de saúde causadas pelo trabalho como profissional da ODT)?
4.1. Indique quanto tempo de trabalho na instituição, quantas horas semanais se dedica a
ela e como julga as atividades realizadas.
4.2. Como você considera a atuação, em geral, dessa instituição? Quais são as principais
faltas? Como avalia sua atuação na instituição?
4.3. O que mais lhe causa dano pessoal (psicológico, físico, emocional) no trabalho?
Que mais lhe causa alegrias?
ANEXO II
Prestação de Contas
63