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RELATÓRIO DE PESQUISA

Titulo do Projeto/CNPq.
A construção de gênero no campo da saúde:
estudo d@s profissionais de odontologia no Distrito Federal

Equipe de trabalho:

Profa. Lourdes Bandeira – Depto. de Sociologia /UnB – Coordenadora


Prof. Jorge Alberto Cordon – Depto. de Odontologia/ UnB – Pesquisador
Profa. Anália Soria Batista - Depto. de Sociologia /UnB – Pesquisadora
Profa. Ana Liési Thurler - Depto. de Sociologia UnB – Pesquisadora

Processo CNPq: 403.116/05- 8

Recursos do CNPq ( aprovados): R$ 10.000,00 ( em carta datada de 03/08/2006),


depositados na conta corrente do Banco do Brasil No. 334606; Agencia 3603-X.
Edital MCT/CNPq/PR-SPM 45/2005: Relações de Gênero, Mulheres e Feminismo.

Brasília, agosto de 2008.


SUMÁRIO

Apresentação....................................................................................................................3

Introdução....................................................................................................................... 4

Procedimentos Metodológicos........................................................................................7

1. Ciência, trabalho e gênero. Atuação das mulheres no campo científico e


Profissional da saúde ......................................................................................................8

2. A odontologia no Brasil: breve histórico.................................................................13

3. Pesquisando a realidade de profissionais em odontologia na região Centro-Oeste


do Brasil .........................................................................................................................24

3.1. Perfil sócio-demográfico do universo profissional pesquisado.............26


3.2. Anápolis, Goiânia e Brasília: constantes nas composições de gênero .28
3.3.Feminização desses cursos significa desvalorização ou
transformação da área de conhecimento e atividade profissional? ............34
3.4. A divisão sexual do trabalho na odontologia e o quadro brasileiro de
trabalho e gênero..............................................................................................39

4. Relações sociais de gênero: como são percebidas nesse universo profissional.....43

4.1. As desigualdades no campo científico e na prática profissional da


ODT.....................................................................................................................43
4. 2. Representações sociais: condição de gênero e competência
profissional. .......................................................................................................44
4.3. O status profissional das mulheres........................................................... 45
4.4. Obstáculos profissionais e gênero..............................................................46
4.5. Exigências emocionais do trabalho.............................................................47
4.6. Trabalho na saúde em ODT: alegrias e sofrimentos................................ 48

5. Estereótipos e espaços sexuados também na Odontologia.....................................49

5.1. A quem cabe conciliar vida profissional e vida familiar?......................49


5.2. Reproduzindo e reconfigurando papéis sexuais.......................................51
5.3. Relações de gênero ou relações de poder...................................................53

6. Algumas conclusões...................................................................................................53

Referências bibliográficas.............................................................................................56

Anexos I..........................................................................................................................60
Anexo II ( separado)

2
Apresentação

O presente projeto - “A construção de gênero no campo da saúde: estudo dos/as


profissionais de odontologia no Distrito Federal”, foi apresentado ao CNPq, no
contexto do Edital CNPq no. 045/2005 – Seleção pública de projetos de pesquisa
científica, proposto, conjuntamente pela Secretaria Especial de Política para as
Mulheres–SPM/PR, pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, e pelo Conselho Nacional
de Desenvolvimento Tecnológico – CNP. Teve como objetivo: “estimular e fortalecer a
produção de pesquisas e estudos relacionados com temas: Relações de gênero,
Mulheres e Feminismos, mediante o apoio financeiro a projetos com mérito científico
que possam contribuir para o desenvolvimento e reflexão dessas temáticas propostas,
procurando contemplar as interseções com as seguintes dimensões: classe social,
geração, raça, etnia e sexualidade” (Edital/CNPq, 2006: p3).
A pesquisa foi realizada no período de 24 meses, isto é, a partir de julho de 2006
a julho de 2008. Os recursos aprovados pelo CNPq, foram na ordem de R$ 10.000,00
(dez mil reais), depositados em conta Tipo B no Banco do Brasil: no. 334606; Agencia
– no. 36 03- X da Universidade de Brasília/UnB, em 28/07/2006 (conforme Documento
bancário – BB - em anexo).
O projeto foi focado nas relações de gênero presentes no campo profissional da
odontologia, destacando a presença e a participação feminina, no exercício profissional,
cujo objetivo foi realizar uma análise crítica, a partir da chamada “feminização” das
profissões da saúde, pela ótica das relações de gênero, tomando como referência
empírica o caso da categoria odontológica, no Distrito Federal, uma vez que segundo
dados do Conselho Federal de Odontologia (CFO), dos 215.981 cirurgiões-dentistas
espalhados pelo Brasil, 119.220 (55,20%), são mulheres, perfazendo mais de 50% da
categoria profissional1 até fevereiro de 2008. Ou seja, pretendeu-se verificar se houve e
quais foram às mudanças ocorridas tanto na configuração da divisão sexual do trabalho
no interior da formação universitária-profissional, da organização da prática profissional
da/na odontologia, assim como em relação aos princípios profissionais que norteiam a
estruturação da profissão em termos da competência técnico-profissional e das relações
de sociabilidade, na prática cotidiana. Para tanto, este estudo concentrou-se, sobretudo,
nas/os profissionais de odontologia do Distrito Federal, tendo também a participação de

1
Oliveira, Bruna. A Odontologia é delas. In: Jornal da Associação Paulista de Cirurgião Dentistas
(APCO), São Paulo, março, 2008 (p.17,18).

3
alguns profissionais de localidades próximas da região Centro-Oeste. O estudo
empírico, isto é a coleta das informações foi realizada durante o ano de 2007.

Introdução
O papel que vem desempenhando o feminismo desde as três últimas décadas do
século passado estabeleceu como uma de suas tarefas básicas é de discutir o enfoque
androcéntrico ainda presente na construção do conhecimento e da ciência, assim como
no campo das relações de trabalho. O campo científico, no geral, ignora ou omite as
contribuições trazidas pelas mulheres à produção da ciência e do conhecimento,
sobretudo em relação às denominadas ciências exatas e da natureza.
Na história da ciência moderna, as especificidades relativas à produção do
conhecimento se agrupam em torno de alguns eixos levados a cabo pelo pensamento
masculinista predominante, à época, ou seja, a presença de argumentos naturalistas, tais
como: a condição de neutralidade da ciência, o predomínio de uma linguagem
androcêntrica, além da dimensão universal atribuída ao conhecimento científico, assim
como pela crença no caráter progressista da racionalidade científica. A crítica feminista
contrária a esses elementos paradigmáticos predominantes, evidencia-se nas
contribuições relativas às mudanças propostas nos fundamentos da ciência assim como
nas culturas que lhe outorgam valor2 .
Sem dúvida, as pensadoras feministas não foram as primeiras e nem as únicas a
elaborar uma crítica à ciência moderna. Embora antecedidas por outros atores, grupos e
movimentos − anticolonialistas, oriundos da contracultura, ecológicos, antimilitaristas,
entre outros −, realizaram agudas críticas ao processo de conhecimento científico, o
qual, afora outras questões, excluía as mulheres de seu fazer.
Nesse sentido o que se pretendeu evidenciar com este trabalho foi de verificar
em que medida as mulheres não apenas estão presentes no fazer científico do campo
odontológico, como também ingressadas no mercado de trabalho produtivo, em especial
na ODT, como conseguem romper com determinadas situações onde as representações
de gênero vigentes na sociedade “são restritivas” à maior participação das mulheres em
certas áreas de conhecimento e são mais “flexíveis” em relação a outras. Exemplo
recente pode ser buscado nos dados relativos ao percentual de matrícula no ensino

2
A propósito consultar HARDING, Sandra. Ciência y feminismo. Madrid: Ediciones Morata S.L., 1996.

4
superior, nos cursos de graduação: o censo escolar de 2005, evidencia que os cursos de
Engenharia (79,7%), Educação Física (56,9%), e Direito (51,1%) tem mais de 50% de
seus alunos do sexo masculino, enquanto que Pedagogia(91,3%), Enfermagem (82,9%)
e Letras (80,%) têm mais de dois terço de alunas do sexo feminino3. Isso indica a
permanência acentuada da divisão sexual do conhecimento, cuja divisão se inicia desde
os primeiros anos escolares entre os gêneros.
Em que medida a feminização de um campo científico e profissional
específico, garante a superação das resistências androcêntricas - como práticas
profissionais individualistas, determinados valores e normas masculinistas ou sexistas
que regem a ciência e os diversos campos de conhecimento criando possibilidades de
participação mais eqüitativa entre os gêneros?
Esta questão-guia é que se perseguiu no desenvolvimento desta pesquisa. Se os
estereótipos relativos aos papéis para estabelecer o território das mulheres na sociedade
são hoje questionados e se, formal e legalmente, as mulheres têm as mesmas
possibilidades de acesso a uma carreira científica-acadêmica, sem dúvida, encontram
limites reais especialmente na área das ciências exatas e da natureza, na persistência de
práticas profissionais patriarcais transversalmente presentes na sociedade, que ainda se
impõem, como limite. Nem sempre são visíveis e de fácil superação esses limites, pois,
transformam-se em dificuldades nem tão invisíveis e de difícil resolução, que
configuram o que se denomina “ o teto de vidro”. Trata-se de obstáculos invisíveis,
difíceis de advertir e, portanto de denunciar.
Neste sentido, como bem apontou Tossi (2002) as mulheres deste último século
participaram de diversas atividades científicas e técnicas, nas quais a tradicional
habilidade manual, destreza, imaginação e capacidade de trabalho, sempre deram
provas. Não obstante, salvo contadas exceções, só puderam ingressar no campo do
conhecimento científico pela porta dos fundos4.

Nessa direção, historicamente, a profissão odontológica tem se caracterizado


como tipicamente masculina, cujos ethos profissional inicial demandava qualificações
atribuídas ao homem. No entanto, atualmente vem se transformando por um processo

3
Censo Escolar, Ensino INEP, Brasília, 2005.
4
Tossi (2002) aponta que algumas, pertencentes à nobreza ou à burguesia, tiveram a sorte de receber
uma boa educação, o que permitiu superar barreiras e proibições. Ficaram, entretanto, relegadas à
condição marginal de assistente e, no melhor dos casos, colaboradoras de cientistas famosos e
freqüentemente, ignorados pela posteridade.

5
crescente de feminização, contrariando a tendência histórica de que as profissões da
saúde tais como a medicina, odontologia e farmácia eram desempenhadas por
profissionais do sexo masculino, salvo as profissões no campo da saúde que envolvem
as atividades do cuidado, tais como a enfermagem e nutrição, atribuídas histórica e
atualmente ainda às mulheres.
A denominada femininzação da profissão de odontologia pode ser compreendida
como um processo de mudança na constituição quantitativa e qualitativa da profissão de
ODT. Na primeira situação, deve-se, sobretudo ao elevado número de jovens mulheres
que ingressam nos cursos universitários e se diplomam para o exercício da profissão, a
exemplo dos dados mencionados acima. No caso do Estado de São Paulo,
especificamente, de um total de 70.965 cirurgiões-dentistas, 40.013, equivalente a
56,40% são do sexo feminino. No segundo, trata-se de uma mudança material com
seqüelas simbólicas na configuração do curso, isto é, da profissão de ODT que passa a
ser vista como uma profissão da área médica que migra para o domínio dos cuidados,
onde os atributos pessoais femininos deslocados para o espaço profissional da ODT
acabam por ganhar valores e significados novos e diversificados, sendo associados, no
exercício profissional, a determinadas especializações e ocupações - deixaram a
exclusividade na odontopediatria e assumiram outras especializações mais sofisticadas e
de maior prestígio, tais como a endodontia, a odontologia estética e a área dos implantes
dentários. Assim como assumiram postos e funções nas entidades representativas de
classe, no corpo docente em instituições de ensino. A exemplo do que vem sendo
afirmado, o quadro associativo da Associação Paulista de Cirurgião Dentista - APCO
caracteriza-se por uma maior presença feminina, pois, atualmente, 54,40% dos
associados são mulheres. Durante o 26º. Congresso Internacional de Odontologia,
realizado em São Paulo, em 2007, 56% das presenças inscritas foram de profissionais
mulheres.
Portanto, são vários os estudos, as pesquisa e, sobretudo, as evidencias
empíricas, que indicam mudanças profissionais sofridas no campo das relações entre os
gêneros, a partir da década de 1970, quando as jovens mulheres iniciaram o ciclo de
entrada no ensino superior rompendo com a tradição de que a universidade era um
espaço destinado aos homens, ou às mulheres para buscar marido. Os dados censitários
indicam que o aumento das mulheres no ensino superior nos últimos 30 anos chegou a
ultrapassar os 50% com a presença feminina no ensino superior. Para Bruschini (2007),
o ingresso maciço das mulheres no ensino superior, apesar da permanência da divisão

6
sexual do conhecimento, traz várias conseqüências, dentre elas, caracteriza um processo
de modernização e de mudança cultural acentuado, no sentido de estabelecer uma
relação linear entre escolaridade e acesso ao mercado de trabalho e aos espaços
públicos; altera os padrões culturais e os valores relativos à mulher, também
intensificado pelo movimento feminista.
Portanto, neste Relatório se apresentam os procedimentos e os resultados da
pesquisa realizada com as/os profissionais de odontologia, predominantemente,
localizados profissionalmente, no Distrito Federal, conforme explicitado nos
procedimentos metodológicos, uma vez que se torna importante discutir não apenas o
aumento da presença feminina na profissão de odontologia, mas, sobretudo de como
está sendo construída à segmentação sexual no interior dessa profissão, em outras
palavras, como um “outro” ou “ nova” divisão sexual do trabalho se efetiva no campo
odontológico com a presença significativa das mulheres.

Procedimentos metodológicos
A pesquisa realizada compreendeu diferentes procedimentos de coleta de
informações, assim como de fontes de dados e de informações. A interação entre estas
diversas possibilidades, veio a ocorrer motivada por algumas dificuldades, dentre elas
destacam-se: certa inacessibilidade para que o profissional disponibilizasse alguns
minutos de seu tempo para responder.
Resumidamente, em termos metodológicos, a pesquisa compreendeu três
momentos que ocorreram concomitantemente: a) levantamento bibliográfico sobre o
tema estudado, assim como identificação das estatísticas sobre o/a profissional de ODT,
junto a Associação Nacional e a alguns dos Conselhos Regionais; b) levantamento do
“perfil sócio-demográfico e profissional dos/as CDs” no Distrito Federal; c) realização
de entrevistas com aqueles/as que se dispusesse a fazê-lo.

Detalhando um pouco, inicialmente foi realizado um recorrido pelas estáticas


gerais sobre os profissionais, que possibilita indicar como se expressa a distribuição
por sexo do quadro atual destes profissionais considerando, que para fins deste trabalho,
entendemos que a perspectiva de gênero, evidencia como as relações sociais que
demarcam hierarquicamente os papéis sócio-profissionais, culturalmente, associados
às mulheres e aos homens. No geral, a tendência é de atribuir mais valor e conferindo

7
mais poder aos papéis e funções masculinas exercidas por homens e menor valor e
poder às funções e papéis sociais exercidos por mulheres. No caso dos/as profissionais
da ODT, a distribuição pelas especialidades profissionais reafirma o dito acima.

Concomitante foram realizados os levantamentos de dados na ABO/DF assim


como referentes aos estudantes de graduação da Universidade de Brasília-UnB. Vale
destacar que há mais duas instituições que oferecem o curso de odontologia em Brasília,
a Universidade Católica-UCB e a FORPLAC. No entanto, depois de alguns contactos
não houve interesse em participarem da pesquisa, seja em disponibilizar os dados
relativos aos estudantes, currículos, etc, seja em relação aos professores/as e ao corpo
administrativo.
Na seqüência foi elaborado um roteiro guia de entrevista, auto-aplicável (anexo)
que após ser testado, foi enviado via e-mail para cada um dos profissionais que estavam
realizando o Curso de Especialização em Saúde do Trabalhador, na Associação
Brasiliense de Odontologia/ABO durante o ano letivo 2006-2007, em um total de 15
estudantes. Após foi consultada a lista de endereço dos alunos das duas turmas
anteriores referentes a 2005-2006, e 2004-2005, e foram solicitados a responderem mais
15 profissionais por cada turma. Portanto foram encaminhados aproximadamente 45
roteiros de questionários e regressaram 25 (55,5%) respondidos. A maioria se localiza
trabalhando na grande região do entorno do DF, poucas estão localizados em cidades
próximas ao DF. Foi adotado como procedimento de coleta de informação, o auto-
preenchimento, dadas as dificuldade do tempo de trabalho que alegaram ter que
disponibilizar. Sendo encaminhado, responderiam em seus horários mais disponíveis. A
maioria declarou ter gasto, aproximadamente de 45 a 60 minutos para responder ao
roteiro guia da entrevista.

1. Ciência, trabalho e gênero. Atuação das mulheres no campo


científico e profissional da saúde.

A ciência moderna surge e se afirma como defensora de um valor inegociável:


submeter à análise crítica todas as crenças ─ do senso comum às verdades reveladas
pela fé. Preserva, entretanto, uma exceção: ela própria tem se mantido fora da crítica.
Teorias feministas, entretanto, têm ousado produzir críticas à ciência, defrontando-se
com dificuldades derivadas de dogmas empiristas, proponentes de uma neutralidade da

8
ciência. O pensamento feminista, ao contrário, faz severas críticas a essa neutralidade,
defendendo ser a ciência uma atividade plenamente social, tanto quanto todas as demais
atividades humanas ─ políticas, religiosas, educacionais, econômicas, familiares.
Assim, as atividades científicas, tanto quanto todas as atividades que as viabilizam, são,
inescapavelmente, sexuadas/generizadas.

As diferenças entre os gêneros ─ tidas pelo senso comum como revestidas de


neutralidade ─ se expressam em todas as práticas humanas e mesmo nos sistemas
simbólicos, atribuindo a todas as relações sociais, transversalmente, um caráter político
assimétrico, categorizando e hierarquizando mulheres e homens (Devreux, 2005).

Há profunda articulação entre o gênero simbólico, a divisão sexual do trabalho e


o gênero/sexo individual que incidem também sobre a ciência. Masculinidade e
feminilidade não são expressões parciais, combináveis de sistemas simbólicos humanos,
não se tratando somente de a ciência ter estabelecido o masculino como o humano,
questão que se resolveria de modo relativamente simples com a inclusão do feminino
(Harding, 1996).

As relações sociais de sexo/gênero se constituíram estabelecendo a


masculinidade em oposição a tudo o que a cultura define como feminino, o “outro”, e
com o estabelecimento da (pré) dominância masculina e do controle sobre tudo quanto
se considere “feminino” ─ no campo da ciência, especialmente, as intuições, as
emoções. Harding(1996:49), aponta como questão central a ser respondida quando
examinamos a participação de humanas e humanos no mundo da ciência é como os
homens monopolizam o poder político e os valores morais às expensas das mulheres,
argumentando: “O gênero é uma categoria assimétrica do pensamento humano, da
organização social e da identidade e conduta individuais”.

Incidindo sobre a cultura da ciência e a produção do conhecimento há


permanentes tensões entre o simbolismo de gênero, a divisão sexual do trabalho, as
atividades segundo o sexo/gênero e as identidades e desejos sexuados/generizados em
uma dada cultura. A análise crítica feminista busca captar e interpretar interações
presentes nesse campo, desde o nascimento da ciência moderna nos séculos XV até a
contemporaneidade, interferindo sobre a ciência, mas, também, sendo produzidas e
mantidas com a participação da ciência na consolidação dessa cultura androcêntrica.

9
Assim, o acesso das mulheres a um campo de saber e de fazer profissional é
presidido por “princípios limitadores tacitamente aceitos, sem exames” (Le Doeuff,
1998:56). Uma condição desde logo está posta: o ingresso das mulheres em dados
campos científicos, sim, mas permanecendo no estatuto de discípula ou auxiliar, sem
pensar de modo independente, sem colocar em questão a repartição de papéis sexuados,
que resguardam a preponderância intelectual masculina. A permissão de saber é
acompanhada por limites, sendo a forma mais insidiosa, a idéia de que uma mulher
instruída, que produz teoria, perde sua “feminilidade”. A representação social, o mito de
que não há mulheres verdadeiramente criadoras tem sido colocado em cheque por
genealogias produzidas por mulheres, contrapondo à história oficial da ciência e do
pensamento, que ainda mantêm as mulheres no ostracismo. Enfim, a divisão sexual do
trabalho na sociedade amplamente, o simbolismo de gênero ─ processos que contam
com participação da ciência ─ explicam, em grande medida, a escassa presença de
mulheres no campo da ciência e o fato de meninas não estarem dispostas a
desenvolverem habilidades, destrezas e condutas necessárias para atuação exitosa na
ciência.
Le Doeuff apresenta mulheres cientistas eruditas – como Christine de Pizan, na
passagem do século XIV para o século XV5 – e propõe que homens cultos, sem filhos
homens, passavam a filhas uma herança de amor ao conhecimento e trabalho científico
(savoir e savoir-faire).6 Essas mulheres não deixam, entretanto, de constituir exceções,
em um quadro geral de exclusão das mulheres do saber, ligadas a sua situação de
assujeitamento no casamento.

Políticas educacionais ─ buscando universalizar a instrução gratuita, obrigatória,


pública, laica ─ vêm contribuindo para reduzir desigualdades, mas a questão de uma
educação não-sexista ainda permanece não resolvida. E no âmbito da produção do
conhecimento, “a institucionalização dos saberes continua a afastar as mulheres,
admitindo mesmo o anulamento de muitas” (Le Doeuff, 1998:203), ou seja, os
exemplos acima mencionados já reafirmaram esta idéia.

5
Christine de Pizan (c.1364-c.1434), ainda na Idade Média, produziu uma pioneira e emblemática
genealogia de mulheres.
6
Como entre mulheres nas ciências modernas, odontólogas no Brasil Central declararam a influência do
pai na escolha da profissão. Mas não só. Há também na pesquisa desenvolvida, indicações de influências
da mãe, da irmã, da família inteira envolvida com a odontologia.

10
Na área da saúde, historiadores da medicina subestimam a participação das
mulheres médicas, pois elas tocam em uma ordem que dá aos homens o lugar de
sujeitos do conhecimento e do discurso e às mulheres a condição de objetos do
conhecimento, “objetos cientificamente desprezíveis” (id, p. 163). A autora aí coloca o
poder simbólico fundamental dos homens: “decidir o que é uma mulher, apresentá-la
como querem” (id. p. 148). A assimetria das posições entre os sexos acarreta o risco de
o imaginário se antepor ao real, processo a que Le Doeuff designa como “acognição
masculinista” (p. 179). Esse fenômeno se verificaria atualmente, quando em ciências da
saúde a hegemonia do saber por um dos sexos construiria os objetos, os campos e os
métodos, [assim como os corpos] chegando, algumas vezes, a negar “a realidade das
mulheres” (p. 172). Portanto, “uma participação eqüitativa nas atividades científicas
contribui para uma maior consideração das necessidades e direitos das mulheres e uma
redução do poder dos homens” (p. 278-9).
A possibilidade de as mulheres buscarem formação universitária e participação
na esfera pública não foi acompanhada por investimento de tempo por parte dos homens
na esfera privada, configurando-se grave viés de gênero (Sorj, Fontes e Machado,
2007).
Nas últimas décadas ocorreram no Brasil transformações tanto nas estruturas das
famílias quanto no mercado de trabalho e, no caso específico desta pesquisa,
transformações na área da Odontologia. Entretanto, também nesse campo a qualidade da
inserção das profissionais mulheres ─ sobretudo as mães ─ no mercado de trabalho
odontológico seria afetado pelo baixo desenvolvimento de serviços coletivos que
possibilitariam socializar os custos ─ materiais e não materiais ─ dos cuidados com a
família, especialmente com as crianças na primeira infância (Thurler, 2008) e com as/os
idosas/os (Bandeira, 2008 e Batista, 2008).

Examinando o quadro brasileiro, (Sorj, 2007:3, analisa: “O desenvolvimento


insuficiente de políticas públicas que permitam redistribuir ou socializar os custos dos
cuidados familiares e o baixo nível de abrangência das políticas existentes confirmam
que a gestão das demandas conflitivas entre família e trabalho permanece em grande
medida um assunto privado”.

A divisão sexual tradicional do trabalho com os homens no papel de provedores


do domicílio e as mulheres como cuidadoras da família tem mudado com a

11
incorporação das cônjuges ao mercado de trabalho. Apesar de, nas novas configurações
familiares, as cônjuges estarem se escolarizando mais, estão ocupando postos de
trabalho com salários e condições de trabalho inferiores (id., ibidem).

...“a grande procura [das mulheres] por odontologia


é por causa dos horários de atendimento pré-estabelecidos,
que facilitam a tripla jornada de trabalho [das mulheres]”...

(Resposta de odontóloga sobre a predominância de mulheres na profissão)

O quadro de transformações na composição sexual no campo da odontologia não


se trata de caso isolado. Verifica-se, amplamente, no mercado de trabalho brasileiro e
mesmo em nível global.
Observemos a confirmação dessa perspectiva em respostas de algumas
odontólogas ao questionário, destacadas a seguir: “O homem tem mais tempo para o
consultório particular. As tarefas domésticas ficam normalmente sob a responsabilidade
da mulher”; “O homem tem mais facilidade de engrenar em pesquisa, pois as mulheres
acumulam funções e responsabilidades com casamento e filhos limitando-a”; “As
mulheres se dedicam a cuidar dos filhos, enquanto os homens se sentem mais livres para
exercer a profissão”.
Eis como Sorj contribui para a compreensão desse quadro: “A insuficiência de
políticas públicas que facilitem a gestão das demandas conflitivas entre trabalho e
cuidados de família, aliada a uma baixa participação masculina na divisão do trabalho
não remunerado repercute nas oportunidades laborais das mulheres, notadamente das
mães com filhos dependentes e reforça as desigualdades de gênero no mercado de
trabalho” (2007:5).
Portanto, a presença de antigos valores tradicionais relativos à divisão sexual do
trabalho, onde as mulheres eram atreladas à família e maternagem, com
desconsideração em relação as suas aspirações profissionais, sobretudo ao acesso as
algumas profissões de nível superior, ainda permanece. Se a dificuldade não está mais
no acesso, estaria na escolha profissional. Como romperam como tais resistências?
Necessidade de uma socialização – familiar e escolar – voltada à destradicionalização
dos papéis de gênero impostos pela tradição/herança do patriarcado pelo papel da
formação escolar vinculada a novas conformações ou construção de papéis e
identidades de gênero. Fatos esses que ocorreram nos exemplos analisados durante este

12
Relatório, e que atestam o quanto um núcleo familiar, assim como os primeiros anos da
escolaridade, podem atuar para frente ou para trás.

2. A odontologia no Brasil: breve histórico

Desde o longínquo século XVI a odontologia, em alguma medida foi praticada


no Brasil, restringindo-se quase que só as extrações dentárias, com técnicas
rudimentares e com precárias condições de higiene. O denominado “dentista” era
conhecido como sendo o barbeiro ou sangrador, o qual devia ser forte, impiedoso,
impassível e rápido. Tais características já imprimiam um “ethos” masculino à
profissão. Por sua vez, os barbeiros e sangradores tinham pouca escolaridade, eram
geralmente considerados ignorantes e tinham um baixo prestígio na comunidade de
referencia. Seu aprendizado em extrair dentes foi realizado junto aos “dentistas”
considerados mais experientes, alguns destes denominados de mestres 7. Segundo
Rosenthal (1995:2):

“ Somente em 09 de novembro de 1629 houve, através da Carta


Régia, os exames destinados aos cirurgiões e barbeiros [com vistas a
conceder a licença]. A reforma do regimento em 12 de dezembro de
1631 determinava a multa de dois mil réis às pessoas que "tirassem
dentes" sem licença. Parece que sangrador e tiradentes, ofícios
acumulados pelos barbeiros, eram coisas que se confundiam, podendo
o sangrador também tirar dentes, pois nos exames de habilitação
tinham de provar que durante dois anos "sangraram" e fizeram as
demais atividades de barbeiro8.

A primeira Faculdade de Odontologia que se tem registro foi criada em 1840


(Cordón, 1981), localizada em Baltimore, Maryland (EUA). Porém somente quase
três décadas depois (1866), graduou-se como odontóloga, a primeira mulher do

7
Artigo: História da Odontologia no Brasil. Elias Rosenthal, Cirurgião Dentista - Jornal APCD - outubro de
1995.Consulta internet site:

8
Segundo Rosenthal, op. cit. Em 1728, na França, Piérre Fauchard (1678-1761) com seu livro: Le
Chirugien Dentiste au Traité des Dents, revoluciona a odontologia, inovando conhecimentos, criando
técnicas e aparelhos, sendo juntamente cognominado "o pai de Odontologia Moderna". Nesta época
começava a exploração do ouro no Estado de Minas Gerais, com grande afluxo de interessados e José S.
C. Galhardo é nomeado pela Casa Real Portuguesa, cirurgião-mór deste Estado, regulamentando os
práticos da arte dentária.

13
mundo conhecido, fato ocorrido na Universidade de Ohio (EUA), pioneirismo que
naquele momento ocasionou protesto, pois aquele movimento já era indício de que a
profissão poderia vir a ser “invadida” pelas mulheres.

A partir de um decreto do imperador Dom Pedro II, em 1884, a odontologia


brasileira tornou-se uma profissão de nível universitário. O grande responsável pela
instituição do ensino odontológico no Brasil foi o então diretor da Faculdade de
Medicina do Rio de Janeiro, Dr. Vicente Cândido Figueira Saboia. Seu empenho
junto à Corte foi determinante para a criação do curso de Odontologia anexo às
Faculdades de Medicina existentes no Rio de Janeiro e Bahia. Estas ganharam então
novo estatuto através do Decreto nº 9.311, de 25 de outubro de 1884.

No Brasil, o episódio de ingresso da mulher na profissão de odontologia,


foi assim relatado:

“ No número 89 da Rua do Ouvidor, no Rio de Janeiro, nos idos


de 1848, funcionava o “gabinete dentário” da viúva do famoso dentista
francês Arson, que havia aprendido com ele a profissão. Essa é a
primeira notícia que se tem de uma mulher exercendo a Odontologia.
Com a morte de Arson, sua mulher passou a tratar dos pacientes dele - e
porque não ? - até incrementou a clientela. Três décadas depois, Elisa
Elvira Bernard foi a primeira mulher a conquistar o título de dentista, o
que se deu pela faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. O título passou
a ser quesito imprescindível para a prática legal da Odontologia. Em
1899 a paulista Isabella Von Sydow tornou-se a primeira cirurgiã
dentista da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro (havia apenas duas
faculdades de medicina; no Rio de Janeiro e Salvador). Montou seu
consultório próximo ao Largo do Machado, no Catete”. (In: APCD
Jornal, julho, 1997).

Tradicionalmente, a odontologia tem sido uma profissão predominantemente


masculina e liberal, no Brasil, em geral. Masculina porque era uma profissão na qual os
homens ingressavam de maneira hegemônica: feita pelos homens e destinada aos
homens. Foram poucas as mulheres que romperam com esta situação, de inicio. Liberal
pelo seu caráter autônomo, cuja independência e individualidade do profissional
garantia-lhe além de mais autonomia e prestígio, uma valor material que a exclui não
apenas da maioria dos planos de saúde, como se caracteriza em distinção social a
freqüência regular ao dentista, seja preventiva, curativa e sobretudo estética. Na
contramão da profissão odontológica está uma imensa população brasileira desdentada,
onde em torno de 60%, da mesma já não dispõe mais de uma dentição completa .

14
Assim, a odontologia começou como oficio artesanal, semelhantemente a outras
profissões, no Brasil e em muitos países. Mestres na arte dentária formadas/os pela
experiência cotidiana e prática transmitiam seu savoir faire para as/os futuras/os
pretendentes ao oficio. O primeiro curso de odontologia foi instalado em 1884 na
cidade do Rio de Janeiro, como já destacado foi influenciado pelo modelo americano,
de formação de profissionais liberais, fonte inspiradora para algumas das primeiras
escolas de ensino superior no Brasil. É importante destacar que a odontologia se
desenvolveu como um apêndice à prática da medicina e sua trajetória reflete a
perspectiva médica mais focada no tratamento de doenças existentes do que na
prevenção. Em boa parte dos países europeus, a odontologia ainda é considerada uma
“especialização” da medicina, embora tenha formação específica não tem status
profissional próprio.

Em 1951 a profissão foi regulamentada (Lei nº 1.314, de 17/01/1951), sendo


exigida, a partir daí, habilitação por título obtido em escola de odontologia oficial ou
legalmente reconhecida, para o exercício da profissão. O diploma obtido deveria ser
registrado na Diretoria do Ensino Superior e anotado no Serviço Nacional de
Fiscalização da Medicina, na repartição estadual competente. Essas prescrições foram
ratificadas pela regulamentação em vigor, a Lei nº 5.081, de 24/08/1966 (Carvalho,
2006).
A inserção das mulheres nos cursos de odontologia ocorreu muito lentamente e
acompanhou o desenvolvimento histórico-cultural da sociedade ocidental e brasileira.
Como já é conhecido na bibliográfica, as pioneiras mulheres que aparecem exercendo a
prática odontológica o foram como auxiliares de seus respectivos maridos , assumindo o
ofício da odontologia após o falecimento dos mesmos. Segundo nos informa Oliveira
(2008 op. cit. pp. 18):

“Durante o século XVIII até meados do século XIX era muito difícil
para a mulher adquiri um título nas escolas superiores. Somente em 1873, as
universidades de Genebra e de Zurick passaram a aceitá-las . No Brasil
somente em 1899, após quinze anos da criação do curso de odontologia da
Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro (1884), formou-se a primeira
cirurgiã dentista , Isabela Von Sydow. No final do século XIX havia
restrições legais quanto ao ingresso da mulher nas Faculdades de Medicina
do Império. Em 1879, um decreto estabelecia que era facultativa a inscrição

15
de indivíduos do sexo feminino, para as quais haveria nas aulas “lugares
separados”.9

No inicio, os cursos públicos foram responsáveis pelo crescimento da formação


em odontologia. A expansão dos cursos de odontologia privados foi efetivada no
período no qual se defendeu um amplo processo de interiorização das faculdades,
notadamente nas áreas de humanidades e, especificamente, das licenciaturas. Esta
interiorização se deveu à política educacional vinculada à Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional, promulgada em fins de 1961. Além da liberalização do processo de
instalação de faculdades, a nova legislação previu um amparo legal e financeiro à
iniciativa privada no campo do ensino. Daí a maior expansão de faculdades ter se
verificado na rede particular (Fernandes Neto et al., 2006).

Durante o governo militar os cursos universitários adquiriram um caráter


tecnicista, pragmático e utilitarista, em função da orientação política de adequação da
educação às necessidades do desenvolvimento econômico (Teoria do Capital Humano).
Nos anos oitenta essa visão tecnicista do ensino universitário passou a ser questionada e
começou a ser substituída por uma visão humanista. Nesse contexto, o ensino da
odontologia foi repensado, incluindo-se nos currículos disciplinas comportamentais e
sociais.
Visando a necessidade de padronizar o ensino de odontologia no País, o
Conselho Federal de Educação estabeleceu com a Resolução nº 4, de 3/9/1982, o
conteúdo mínimo dos cursos de odontologia, visando à formação de um/a profissional
generalista e determinando cursos com carga horária mínima de 3.600 horas e oito
semestres de duração. Foram introduzidas matérias das áreas de psicologia,
antropologia, sociologia e metodologia científica. Essa mudança foi questionada em
função da percepção sobre as necessidades de formação técnica e profissional. Para
Carvalho (2001) a incorporação de ciências comportamentais e sociais no currículo,
considerada uma evolução na educação odontológica, parece não ter sido amplamente
compreendida nessa oportunidade.

Os esforços para humanização da odontologia podem ser interpretados


considerando alguns fatores de natureza externa e outros de natureza interna ao campo
científico da ODT. Os primeiros dizem respeito às transformações sociais e políticas

9
Grifos da Autora.

16
dos anos oitenta, quando a democratização do país influenciou a superação da visão
tecnicista do ensino universitário consolidada durante o regime militar. Acrescida do
fato de que se iniciava o processo de desmonopolização dos “ serviços de odontologia”,
a medida em que as demandas sociais se configuravam mais persistentes, assim como a
abertura da prática odontológica voltada para outros segmentos da população. Passou-
se a incorporar um horizonte que indicasse para a prevenção e não mais exclusivamente
a perspectiva curativista. Os segundos são relativos às discussões sobre as limitações
do paradigma biomédico na área da saúde e especificamente, na ODT, que tem como
pano de fundo o surgimento de um discurso que aporta uma visão mais holística de
saúde-doença humana. Como indicam Haddad e Morita (2006), tardaram a atingir o
ensino da odontologia os conceitos que significaram grandes evoluções na compreensão
do processo saúde-doença, entendendo a saúde como um bem socialmente determinado.

Entretanto, algum avanço pode ser observado no que diz respeito à estruturação
dos conteúdos, pois as clínicas integradas, que nos anos setenta suscitaram intensas
discussões, foram finalmente introduzidas no currículo, com a regulamentação de 1982.
Um currículo mínimo tornou-se, então, a base para o ensino da odontologia tendo
vigorado por cerca de vinte anos e exercido influência sobre o que se observa ainda hoje
em muitos dos cursos de odontologia como essencial para a formação superior da
profissão. Somente a partir da aprovação da Lei de Diretrizes e Bases (LDB) em 1996 e,
posteriormente, da aprovação das Diretrizes Curriculares Nacionais em 2002, novos
parâmetros foram apresentados.

Em fevereiro de 2002, foram aprovadas as Diretrizes Curriculares Nacionais


(DCN) dos cursos de graduação em odontologia (Brasil, 2002), passando a fundamentar
o planejamento dos cursos de graduação na área. As DCN constituem orientações para
elaboração dos currículos que devem ser necessariamente adotadas por todas as
instituições de ensino superior. Segundo Roncalli (1999), a assistência odontológica
pública no Brasil, durante as décadas de 1950 a 1980, tratou de um modelo excludente,
na medida em que atendia – curativamente- e com exclusividade, escolares na faixa
etária de 7 a 14 anos, e para o restante da população o atendimento ocorria de maneira
pulverizadas, sobretudo para os segmentos sociais populares.
Atualmente, existem cerca de 178 Faculdades de Odontologia, das quais 27
Federais, 19 Estaduais, 8 Municipais e 124 particulares com objetivo privado, porém,

17
uma das rupturas mais significativas que causou mudanças epistemológicas, tanto no
ensino como na prática odontológica foi a implementação do primeiro Sistema de
Fluroetação DE Águas de Abastecimento Público no Brasil implantado pela Fundação
Serviços Especiais de Saúde Pública (FSESP), Em Baixo-Gandu, no Espírito Santo,
culminando com a Lei Federal no.6.050 e com o Decreto no. 76.872(22/12/1975) que
obrigava e regulamentava o uso de flúor em todos os Estados da Federação (Cunha et al.
2006).
No âmbito geral da área da Saúde, entretanto, essas mudanças e Diretrizes
precisam ser entendidas dentro do contexto maior da Reforma Sanitária brasileira
(Morita e Kriger, 2004), ocorrida no final dos anos oitenta com a criação de um sistema
descentralizado e único de saúde , o qual operou mudanças significativas. A criação do
Sistema Único de Saúde (SUS) pela Constituição Federal de 1988 e a atribuição de
ordenamento da formação de recursos humanos na saúde passaram a nortear o
desenvolvimento da educação superior na área. A mudança no paradigma de saúde
deixou de lado a oposição doença-saúde e trouxe a idéia de satisfação e qualidade de
vida. Para a OMS, a saúde é uma questão de “estado completo de bem-estar físico,
mental e social e não somente a ausência de doença ou enfermidade” (Ministério da
Saúde, 2006)10.

As DCN estabelecidas para os cursos da saúde surgem como resultado das novas
conjunturas previstas pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação e a Reforma Sanitária
brasileira, evidenciando dois aspectos fundamentais: a flexibilização na organização dos
currículos pelas Instituições de Educação Superior (IES) e a existência de uma base
comum para os cursos da saúde.

Além disso, as DCN sinalizaram para a necessidade de maior interação entre


ensino, serviço e comunidade (Morita e Kriger, 2005). Ao contrário do currículo
mínimo, adotado até então, que inibia a inovação e a criatividade das instituições
formadoras, com excessivo detalhamento de conteúdos obrigatórios, engessando o
currículo de estudos, as DCN ensejam a flexibilidade curricular e a liberdade das
instituições elaborarem seus Projetos político-pedagógicos. Esse projeto deverá ser

10
Ministério da Saúde, Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa. A construção do SUS. História da
reforma Sanitária e do Processo Participativo, Brasília, 2006.

18
adequado para cada realidade local e regional, compatibilizado às demandas sociais e
aos avanços científicos e tecnológicos.

Essa autonomia tem permitido avanços significativos em várias instituições


brasileiras, com a implantação de projetos pedagógicos modernos, com grande ênfase
na promoção de saúde e na qualidade de vida das pessoas (Kriger, 2005). Entretanto, as
mudanças necessárias para implementar as DCN ainda não constituem a realidade da
maioria dos cursos de odontologia do País, pois a formação em odontologia sempre
esteve pautada principalmente pelo exercício privado da profissão.

Em geral, para 2007 existiam no território nacional 217.413 cirurgiões dentistas,


sendo que destes 55,10% eram do sexo feminino (Ver Quadro 1). Nos dados gerais dos
recursos humanos componentes das diferentes categorias da prática da odontologia,
62,11% são do sexo feminino.

Quadro 1

Recursos humanos atuantes na prática profissional odontológica, segundo


categoria e sexo.
Brasil - 2007.
_______________________________________________________________
Categoria Masculino Feminino %Fem total
--------------------------------- --------- -------- ------ ----------------------------------------
Cirurgião-destista 97613 119800 55,10 217413
Técnico em prótese dentária 12245 5203 29,82 17448
Técnico em higiene dental 468 6778 93,54 7246
Auxiliar de consultório dentário 3373 58908 94,58 62281
Auxiliar de prótese dentária 2891 441 13,23 3332
______________________________________________________________________
Totais 116590 191130 62,11 307720
______________________________________________________________________
Fonte: Sistema de Cadastro do Conselho Federal de Odontologia. Brasília-DF, 2007.

Verifica-se que os profissionais da odontologia têm aumentado


consideravelmente numa taxa média de 5,42% nos últimos 5 anos, fato que se coloca
em contraposição a taxa média de crescimento da população brasileira, uma vez que
essa, nos mesmos últimos 5 anos foi de apenas 1.4%. Tal fato tem conseqüência, por um
lado, vem causar um aumento progressivo do desemprego na profissão, na medida em
que a quantidade de habitantes que pode ter acesso aos serviços odontológicos privados

19
é muito menor em relação a capacidade necessária para manutenção de altos custos em
consultórios odontológicos, espaços físicos e outros. Por outro, a excessiva quantidade
de dentistas profissionais força a um aumento das especializações profissionais, cada
vez mais subdivididas em minúsculas especialidades. Fora disso, a concentração dos
profissionais da odontologia continua localizada nos grandes centros urbanos nacionais
e especialmente nas regiões central e sul do país. (Ver Quadro 2).

Do ponto de vista da responsabilidade social, o aumento progressivo do número


de dentistas em programas de atenção pública é um avanço na ampliação de acesso à
saúde. A/o dentista, antes de tudo, tem um papel fundamental na equipe para melhoria
das condições de saúde da população brasileira (Haddad e Morita, 2006).

Quadro 2
Distribuição das/os Cirurgiões Dentistas do Brasil, segundo sexo e Estado de
exercício profissional.
Brasil - 2007.

ESTADO Masculino Feminino Total % Feminino


1. ACRE 216 155 371 41,78
2. ALAGOAS 748 1126 1874 60,09
3. AMAPÁ 152 158 310 50,97
4. AMAZONAS 790 1003 1793 55,94
5. BAHIA 3107 4211 7318 57,54
6. CEARA 1985 2395 4380 54,68
7. DISTRITO FEDERAL 2308 3009 5317 56,59
8. ESPIRITO SANTO 1665 2387 4052 58,91
9. GOIÁS 3210 3483 6693 52,04
10. MARANHÃO 854 1139 1993 57,15
11. MINAS GERAIS 12229 14570 26799 54,37
12. MATO GROSSO DO SUL 1296 1536 2832 54,24
13. MATO GROSSO 1331 1573 2904 54,17
14. PARÁ 1238 1785 3023 59,05
15. PARAÍBA 889 1935 2824 68,52
16. PERNAMBUCO 2275 3268 5543 58,96
17. PIAUÍ 763 913 1676 54,47
18. PARANÁ 6336 7274 13610 53,45
19. RIO DE JANEIRO 11667 14056 25733 54,62
20. RIO GRANDE DO
NORTE 1010 1336 2346 56,95
21. RIO GRANDE DO SUL 6363 6452 12815 50,35
22. RONDÔNIA 492 512 1004 51,00
23. RORAIMA 147 118 265 44,53

20
24. SANTA CATARINA 4117 3483 7600 45,83
25. SERGIPE 449 843 1292 65,25
26. SÃO PAULO 31376 40461 71837 56,32
27. TOCANTINS 600 609 1209 50,37
TOTAL 97613 119790 217413 55,10
Fonte: Conselho Federal de Odontologia. Brasília, DF, 2007.

No quadro acima podemos observar que dos 27 estados da Federação, apenas


três – Acre Roraima e Santa Catarina apresentam um contingente de profissionais em
odontologia feminino inferior a 50%, enquanto em outros três, Alagoas, Sergipe e
Paraíba o contingente é superior a 60%.
A inserção da saúde bucal na Estratégia de Saúde da Família e a prioridade que
vem sendo dada pelo governo federal à saúde bucal fazem com que os serviços públicos
passem a constituir um significativo mercado de trabalho para as/os profissionais da
odontologia. Entretanto, esse fato não tem sido suficiente para produzir impacto
significativo sobre o ensino de graduação (Morita e Kriger, 2005). Em 2007, 33,5% dos
Cirurgiões Dentistas trabalhavam no Programa Saúde da Família, coordenado pelo
Ministério da Saúde (CFO,2007).

As mudanças no perfil epidemiológico das doenças bucais, as novas práticas


baseadas em evidências científicas e, principalmente, a promoção da saúde no seu
conceito ampliado, exigem a formação de um/a profissional generalista, tecnicamente
competente e com sensibilidade social. As DCN valorizam, além da excelência técnica,
a relevância social das ações de saúde e do próprio ensino. Sem dúvida, isso implica a
formação de um/a profissional capaz de prestar atenção integral e mais humanizada,
trabalhar em equipe e compreender melhor a realidade em que vive a população (Morita
e Kriger, 2004).

As habilidades e competências propostas nas DCN permitem uma reflexão


crítica sobre a formação voltada para a prática clínica tradicional, enfatizando a
necessidade de promover visão holística da atenção em saúde, com a produção social da
saúde e a ênfase na qualidade de vida das/os cidadãs/ãos. Conceitos como
interdisciplinaridade, transdisciplinaridade e integrações curriculares devem permear o
Projeto Pedagógico do Curso e serem incorporados pelas/os dirigentes das instituições,
coordenadoras/es de curso, docentes e discentes. A integralidade da atenção deve ser um
objetivo constantemente perseguido em todos os níveis da atuação clínica, tanto
individual quanto coletiva.

21
Ao definir o perfil profissional desejado para as/os egressas/os dos cursos de
odontologia, as DCN parecem contemplar uma nova prática profissional, que pode ser
realizada para além dos limites do consultório. A formação de um/a profissional
generalista procura romper, no geral, com a dicotomia preventivo-curativo e público-
privado, com a valorização precoce da micro-especialização e com a falta de integração
com outras áreas da Saúde, que tem caracterizado o exercício da profissão (Morita e
Krieger, 2005).

Em 2007, as mulheres já constituíam a maioria (51,48%), também como


especialistas cadastradas oficialmente no Conselho Federal de Odontologia, sendo que
em 50% das especialidades elas já eram a maioria, o que assume significado especial na
hipótese de maior dedicação na capacitação por parte das mulheres, particularmente nas
disciplinas de Odontopediatria, Dentística Restauradora, Dentística e Endodontia. Nas
especialidades de Prótese Dentária e Implantes e Cirurgia Buço Maxilo Facial, os
homens continuam a ser significativa maioria. (Ver Quadro 3).

Embora aprovadas desde 2002, as DCN ainda não estão adequadamente


compreendidas por grande número de dirigentes, coordenadoras/es, professoras/es e
alunas/os dos cursos de odontologia do Brasil. Diante disso, sua implantação e
utilização vêm sendo constantemente retardadas, prejudicando as tentativas de revisão
das estruturas curriculares das instituições de ensino e o próprio desenvolvimento dos
cursos para a formação de um/a profissional compatível com a realidade das demandas
sociais do País (Morita e Kriger, 2005).

Quadro 3.
Cirurgiões Dentistas do Brasil cadastrados no Conselho Federal de Odontologia
segundo especialidade e sexo.
Brasil - 2007
___________________________________________________________________________
Especialidade Masculino Feminino Total

22
___________________________________________________________________________
CIRURGIA E TRAUMATOLOGIA BUCO MAXILO FACIAIS 65 16 81
DENTISTICA RESTAURADORA 65 132 197
ENDODONTIA 142 189 331
ODONTOLOGIA LEGAL 3 2 5
ODONTOLOGIA EM SAUDE COLETIVA 28 40 68
ODONTOPEDIATRIA 18 216 234
ORTODONTIA E ORTOPEDIA FACIAL 155 97 252
PATOLOGIA BUCAL 4 4 8
PERIODONTIA 147 135 282
PROTESE DENTARIA 209 155 364
RADIOLOGIA 60 42 102
IMPLANTODONTIA 128 27 155
ESTOMATOLOGIA 5 3 8
DENTISTICA 10 33 43
SAUDE COLETIVA 6 13 19
ORTODONTIA 26 28 54
RADIOLOGIA ODONTOLOGICA E IMAGINOLOGIA 8 11 19
DISFUNCAO TEMPORO-MANDIBULAR E DOR-OROFACIAL 14 8 22
ODONTOLOGIA DO TRABALHO 2 6 8
ODONTOLOGIA P/ PACIENTES C/ NECESSIDADES ESPECIAIS 2 5 7
ODONTOGERIATRIA 3 3 6
ORTOPEDIA FUNCIONAL DOS MAXILARES 10 13 23
___________________________________________________________________________
TODAS 1110 1178 2288
___________________________________________________________________________
FONTE: CFO, 2007.

No Quadro 3 se pode observar como a presença da divisão sexual do trabalho


odontológico se faz ainda presente, seja pela natureza/tipo de atividade desenvolvida
seja pelo prestígio que representa, seja pelo volume de recursos que aporta.
Comentamos alguns dos exemplos: a odontopediatria é exercida por 92,3% de mulheres
profissionais da ODT. O que isso representa? Que esta especialização está vinculada,
seja em sua representação social e/ou simbólica a atividade vinculada aos cuidados,
especificamente, com as com crianças, uma vez que, o ato do cuidado com as crianças,
ao qual, os profissionais homens reportam ou delegam às profissionais femininas, a
maioria se escusa de fazê-lo. O depoimento de um profissional é bem ilustrativo:

“Você sabe lidar com criança pode não parecer, é ainda mais fácil para a
profissional- mulher (...) elas tema mais proximidade, compreendem mais, são
mais pacientes (...) sabe como é (....) precisa ter calma, tem criança que dá
show de bola(...) chora demais, (...) de certo porque já botaram medo na
cabeça dela sobre o dentista (...) Daí não tem jeito, não, só mulher [entendida
como mãe] é que pode dar jeito...”.

Certamente é também uma especialidade portadora de menor prestígio


profissional embora possa até ser remunerada decentemente11. Outro exemplo são as
profissionais da dentística restauradora, equivale a dizer, aquelas profissionais que são

11
No geral em cada Associação Estadual de Cirurgiões Dentistas, há uma tabela de preços que servem
como referencia.

23
consideradas mais “habilidosas” que fazem as obturações. É exercida por 68,5% por
profissionais mulheres.
No geral, a justificativa atribuída a essa especialidade que se concentra no
universo profissional feminino é devida às habilidades, a paciência, a atenção ao
detalhe, as quais são consideradas “naturalmente” portadoras, dado as minúcias e
detalismos que a especialidade requer. Especializado com menor rendimento em termos
econômicos, e são considerados, entre os profissionais da ODT, as/os de menor valor e
status profissional. Um exemplo contrário da concentração de profissionais masculinos
pode ser observado na especialidade de implantodontia. Ou seja, nesta se concentram
82,6% dos profissionais masculinos. Além de ser a especialidade da moda, atualmente,
é uma das mais caras, onde se exige do profissional nome e reconhecimento, status
profissional, ótima localização comercial, sobretudo, em prédios modernos, com o uso
de muita tecnologia. Embora nesta especialidade, as habilidades não podem ser
desprezadas, o maior valor simbólico está na dimensão estética desta especialidade,
assim como no reconhecimento social do profissional, junto a segmentos sociais
específicos, tais como: artistas,empresários, políticos, entre outros.
Portanto, outros exemplos podem ser observados na divisão sexual e na
distribuição profissional por especialização no quadro acima, que reforçam tais divisões
sexuais sociais, culturais e simbólicas do exercício profissional, pela condição de sexo-
gênero.

3. Pesquisando a realidade de profissionais em odontologia na região


do Centro -Oeste

Para ser conhecido o perfil dos/as cirurgiões dentistas associados no Conselho


Regional de Odontologia do Distrito Federal-CRO/DF foi realizado um levantamento
das informações nas fichas de inscrições dos/as mesmos/as, considerando a
disponibilização dos documentos. No entanto, são muito precárias as
informações/variáveis contidas nestas fichas no CRO/DF. Das poucas informações
existentes, foram disponibilizadas as Fichas, cujo levantamento compreendeu apenas
três variáveis (década de nascimento do/a profissional, número de inscrição no CRO/DF
e sexo do/a profissional). Tal levantamento das Fichas de Inscrições ocorreu durante o
mês de agosto/2007. Os indicadores sócio-demográficos existentes nas mesmas eram:
nome, sexo, data de nascimento e data de ingresso no Conselho. O conjunto de

24
Cirurgiões-dentistas inscritos até agosto/2007 era de 2. 538, sendo que a distribuição
por sexo pode ser visualizada a seguir.

Assim, um perfil sócio-demográfico e profissional mais denso não foi possível


realizar dos/as cirurgiões dentistas; entretanto, as informações disponibilizadas foram
organizadas compreendendo o intervalo (década) de nascimento, número de inscritos
por década e por sexo:

a) nascidos na década de 1930-40 e inscritos no CRO/DF – 109: (82,5%) do sexo


masculino e (17,5%) do feminino;

b) nascidos na década de 1941-50 e inscritos no CRO/DF – 118: (56,8%) do sexo


masculino e (43,2 %) do feminino;

c) nascidos na década de 1951-60 e inscritos no CRO/DF – 329: (40,4,%) do sexo


masculino e (59,6 %) do feminino;

d) nascidos na década de 1961-70 e inscritos no CRO/DF – 596: (44,8,%) do sexo


masculino e (55,2 %) do feminino;

e) nascidos na década de 1971-80 e inscritos no CRO/DF – 1030: (33,9,%) do sexo


masculino e (66,1 %) do feminino;

f) nascidos na década de 1981.... e inscritos no CRO/DF – 255: (34,5,%) do sexo


masculino e (65,5 %) do feminino.

Observa-se pelos dados registrados acima que o avanço da presença maior


feminina começou a ser visibilizada já, em relação aos nascidos na década de 1950-
1960, geração que hoje está na faixa etária entre quarenta e oito e cinqüenta e oito anos.

Portanto, o total geral de inscritos no CRO/DF (2007), há 1505 CD mulheres


inscritas, sendo que destas (4,1%) não declarou a idade; há 1033 CD homens inscritos,
sendo que destes (3,8%) não declararam a data de nascimento. O total de inscritos no
CRO/DF, que é de 2538, (59,3%) são de profissionais femininas e (40,7%) são de
profissionais masculinos. O que os dados do DF nos indicam?

3.1. Perfil sócio-demográfico do universo profissional pesquisado

É apresentado aqui o perfil das/os odontólogas/os pesquisadas/os, que auto-


responderam ao questionário, em um total de 25, seno 18 do sexo feminino (72%) e 7

25
do masculino(28%). Foram consideradas as variáveis tais como: sexo, idade, estado
civil, local e ano de formação, titularidade, especialidade, tempo de exercício
profissional, local de trabalho (público/privado), dedicação à docência e/ou clínica e
nível salarial.

Como já visto, das/os odontólogas/os pesquisadas/os, (18) 72% são mulheres


que tem, em média - 40,6 anos. Em relação ao seu estado civil, 64,3% são casadas.
Dos homens, (7) 28%, têm, em média, 41.4 anos de idade e 35,7% são casados.
Percebe-se aqui uma das primeiras diferenças de gênero, em relação à condição civil, ou
seja, embora a faixa etária seja muito próxima entre os homens e as mulheres CDs,
estas últimas são quase em dobro casadas, o que significa que os padrões sócio-culturais
em relação aos comportamentos transmitidos, através dos processos de socialização
primária, ainda permanecem, uma vez que para a mulher, o casamento se constituía em
seu “destino” principal.
Com relação ao ano de conclusão da formação em ODT das pessoas que
compõem o universo pesquisado, 4.4% se formaram durante os anos setenta; 39,1%
durante os anos oitenta e 56,5% durante a década de noventa. Isso significa que 95.6%
das pessoas pesquisadas se formaram durante período em que os currículos
universitários para a profissão de ODT propunham uma formação generalista para as/os
odontólogas/os, com a introdução nos currículos, de disciplinas como psicologia,
antropologia, sociologia e metodologia científica.
Tabela 1.
Décadas de conclusão de graduação em ODT dos/as
Profissionais entrevistados/as.
Brasil - 2007.

Década Profissionais formados - %


1970 4.4
1980 39.1
1990 56.5
Total 100
Fonte: Questionário da pesquisa. 2007.

Observa-se também que a totalidade dos/as pesquisados/as, após sua formação


inicial, busca realizar um curso de especialização em alguma especialização na área
odontológica, como fica evidenciado pelos dados abaixo. Há um percentual
significativo com mestrado (20%), embora ainda seja pouco expressivo o índice de
profissionais com doutoramento.

26
Tabela 2.
Distribuição dos/as profissionais entrevistados/as
por titulação.
Brasil- 2007
Titulação Odontólogas/os
Doutorado 8%
Mestrado 20%
Especialização 100%
Fonte: Questionário da pesquisa. 2007.

Em recente pesquisa realizada (2006)12 foi constatado que o Curso de


Especialização em Saúde Coletiva, criada em 1993, em pareceria entre a UnB e a
Associação Brasileira de Odontologia/Seção DF já formou cerca de 302 profissionais ,
divididos em 11 turmas sendo que destes, 64.5% são mulheres e 35,5% são homens.
Vale destacar que nos três últimos anos de curso pesquisado (2003/04/05) foi inserido,
no curso, a capacitação para o Programa Saúde da Família (PSF).

No que diz respeito ao local de exercício profissional, 84% declararam trabalhar


no setor privado e 64% no setor publico, significando que 20% dos/as pesquisados/as
trabalham, ao mesmo tempo, no setor público e no setor privado. Em média, o tempo de
serviço destes/as profissionais em instituições públicas ou privadas chega a atingir o
intervalo de 17 a 24 anos, o que indica aquisição de posse de significativa experiência
profissional.
Em relação ao local de procedência dos/as pesquisados/as, são
predominantemente oriundos do Estado de Minas Gerais, representando 56,5%
(Uberaba, Belo Horizonte, Campina Grande e Uberlândia), seguido pelo Distrito
Federal, com 13,0%; os demais profissionais vêm dês estados diversos, tais como (São
Paulo, Goiás, Rio de Janeiro e Bahia), perfazendo um total de 30,5% , conforme
indicado na Tabela no. 3.

Tabela 3.
Distribuição das/os pesquisadas/os por local de procedência.
Brasil, - 2007.

12
CUNHA, Majorie Fonseca da e GRANJA, Tágide Matos e. Análise da prática profissional dos
cirurgiões dentistas após a conclusão do curso de especialização em saúde coletiva. Monografia
apresentada ao Curso de Especialização em Saúde Coletiva , na Associação Brasileira de Odontologia-
Seção/DF, Brasília, março, 2006.

27
Local de procedência Profissionais - %
Uberaba – MG 21.8
Belo Horizonte – MG 17.3
Brasília - DF 13.0
Campina Grande – MG 13.0
Anápolis – GO 8.7
Presidente Prudente – SP 8.7
Itabuna – BA 4.4
Niterói – RJ 4.4
Taubaté – SP 4.4
Uberlândia - MG 4.4
Total 100
Fonte: Questionário da pesquisa. 2007.

3.2. Anápolis, Goiânia e Brasília: constantes nas composições de gênero

Para delinear a situação da odontologia na região do Brasil Central e verificar


como há um jogo de continuidades e de mudanças, em relação ao acesso e formação de
profissionais de ODF foram examinadas situações de Universidades em Anápolis e
Goiânia, no Estado de Goiás, e em Brasília, no Distrito Federal.
Na Universidade Evangélica de Anápolis, entre 2002 e 2006, as mulheres
representaram 72,2% dos formandos e os homens, 27,8%, conforme se pode observar
na Tabela 4.

Tabela 4.
Formados em Odontologia na Universidade Evangélica de Anápolis (Go),
período 2002-2006.
Brasil-2007.
Masculino Feminino
Nºs Total
Ano abs % Nºs abs %
2002 17 26,2 48 73,8 65
2003 19 22,1 67 77,9 86
2004 18 27,7 47 72,3 65
2005 16 38,1 26 61,9 42
2006 18 30,6 41 69,4 59
Total 88 27,8 229 72,2 317
Fonte: Secretaria de Graduação Faculdade de Odontologia de Anápolis.

No ano de 2006, a Faculdade de Odontologia de Anápolis, da Universidade


Evangélica, apresentava uma distribuição por gênero em que dois em cada três alunos
matriculados eram jovens do sexo feminino, conforme registra o Gráfico 1, a seguir .

28
Gráfico1.

Distribuição, por percentagem , dos estudantes m atriculados na


Faculdade de Odontologia de Anápolis , Go., segundo série e gênero,
2006.

80

70
61,3
60

50
38,7 Fem inino
40
Masculino
30

20

10

0
S-1 S-2 S-3 S-4 S-5 S-7 S-8 S-9 Todas

Fonte: Secretaria de Graduação Faculdade de Odontologia de Anápolis.


Goiás, 2007.

Na Universidade Federal de Goiás, de 2001 a 2005, entre os que concluíram o


curso de Odontologia, foi mantida proporcionalidade semelhante: 60,07% de mulheres e
39,93% de homens (tabela 5 e gráfico 2).

Tabela 5.
Distribuição por sexo dos formados em Odontologia na
Universidade Federal de Goiás, 2001-2005.
Brasil- 2007.

Ano Feminino Masculino Total


Nºs abs % Nºs abs %
2001 33 54,1 28 45,9 61
2002 41 69,5 18 30,5 59
2003 28 47,5 31 52,5 59
2004 33 57,9 24 42,1 57
2005 44 71,0 18 29,0 62
Total 179 60,1 119 39,9 298
Fonte: Coordenadoria do Curso de Graduação em Odontologia. FO/UFGO. 2006.

Gráfico 2.
Distribuição por sexo dos formados em Odontologia
da Universidade Federal de Goiás, 2001-2005.

29
80

70
60,07
60

50
39,93
%

40

30

20
10

0
2001 2002 2003 2004 2005 todos Fem inino
Anos Masculino

Fonte: Coordenadoria do Curso de Graduação em Odontologia. FO/UFG


Goiás. 2006.

A composição por gênero nessa Faculdade de Odontologia, em 2006 preservou


essas características, conforme expressam Tabela 6 e Gráfico 3.

Tabela 6
Distribuição por sexo e série acadêmica, dos estudantes de
Odontologia da Universidade Federal de Goiás, 2006.
Brasil – 2007

Séries Feminino Masculino Total


Nºs abs % Nºs abs %
Período 1 20 64,5 11 35,5 31
Período 2 16 55,2 13 44,8 29
Período 3 14 43,7 18 56,2 32
Período 4 21 72,4 8 27,6 29
Período 5 24 82,8 5 17,2 29
Período 6 26 78,8 7 21,2 33
Período 7 22 73,3 8 26,7 30
Período 8 20 69,0 9 31,0 29
Período 9 23 82,1 5 17,9 28
Período 10 21 75,0 7 25,0 28
Total 207 69,5 91 30,5 298
Fonte: Coordenadoria do Curso de Graduação em Odontologia. FO/UFGo. 2006.

Gráfico 3.
Distribuição percentual por sexo e série acadêmica, dos estudantes de
Odontologia da Universidade Federal de Goiás, 2006.

30
Brasil – 2007.

90
80
70 69,46
60
Fem inino
50
%

Masculino
40
30 30,54
20
10
0

s
1

do
o

o
od

od

od

od

od

To


Pe

Pe

Pe

Pe

Pe

Séries

Fonte: Coordenadoria do Curso de Graduação em Odontologia. FO/UFGo.2006.

Na Universidade de Brasília, essa constante foi reafirmada pelas pesquisas.


Observe na Tabela 7 e no Gráfico 4 a passagem de uma participação feminina de 45%
no primeiro semestre de 1995, entre os graduados na UnB, para 73,7% no primeiro
semestre de 2006, tendo uma média aproximada de 56,8% nesse período.

Gráfico 4.
Graduados em Odontologia na Universidade de
Brasília, por semestre e segundo gênero 1995-2006

20
18
16
14
12
#

10
8
6
4
2
0 Masculino
/1

/1

/1

/1

/1

/1

/1

/1

/1

/1

/1

/1

Fem inino
95

96

97

98

99

00

01

02

03

04

05

06
19

19

19

19

19

20

20

20

20

20

20

20

Sem estres

Fonte: Coordenadoria do Curso de Graduação em Odontologia. FO/UFGo.2006.

Tabela 7.
Graduados em Odontologia na Universidade de Brasília,
por sexo, no período 1995-2006.

31
Brasil – 2007

Semestre Masculino Feminino Total


Nºs abs % Nºs abs %
1995/1 11 55,0 9 45,0 20
1995/2 12 54,5 10 45,4 22
1996/1 6 40,0 9 60,0 15
1996/2 6 42,9 8 57,1 14
1997/1 9 47,4 10 52,6 19
1997/2 6 42,9 8 57,1 14
1998/1 10 58,8 7 41,2 17
1998/2 10 52,6 9 47,4 19
1999/1 4 21,0 15 78,9 19
1999/2 8 40,0 12 60,0 20
2000/1 7 50,0 7 50,0 14
2000/2 14 58,3 10 41,7 24
2001/1 7 33,3 14 66,7 21
2001/2 5 35,7 9 64,3 14
2002/1 13 68,4 6 31,6 19
2002/2 12 50,0 12 50,0 24
2003/1 9 45,0 11 55,0 20
2003/2 10 35,7 18 64,3 28
2004/1 11 52,4 10 47,6 21
2004/2 6 31,6 13 68,4 19
2005/1 2 15,4 11 84,6 13
2005/2 5 23,8 16 76,2 21
2006/1 5 26,3 14 73,7 19
Total 188 43,1 248 56,9 436
Fonte: Decanato de Graduação. UnB. 2006

Em 2006, a maioria dos estudantes em oito dos nove semestres era constituída
por mulheres e representavam, no conjunto dos universitários em odontologia naquele
ano, 62,5% (Tabela 8 e Gráfico 5).

Tabela 8

Estudantes de Odontologia, por semestre letivo.


Universidade de Brasília, 2006.
Brasil -2007

32
Semestre Masculino Feminino Total
Nºs abs % Nºs abs %
Primeiro 7 31,8 15 68,2 22
Segundo 14 43,5 18 56,5 32
Terceiro 7 41,2 10 58,8 17
Quarto 3 23,1 10 76,9 13
Quinto 12 57,1 9 42,9 21
Sexto 8 38,1 13 61,9 21
Sétimo 6 35,3 11 64,7 17
Oitavo 4 25,0 12 75,0 16
Nono 5 29,4 12 70,6 17
Total 66 37,5 110 62,5 176
Fonte: DEG/UNB/Set.Brasília, 2006.

Gráfico 5

Distribuição por sexo e porsem estre dos estudantes de odontologia da


UnB em 2006.

20
18
16
14
12
Masculino
#

10
8 Fem inino
6
4
2
0
vo
o

no
o

o
o

o
ro
ro

nt
rt
nd

xt

tim

ita

no
ei

ei

ua

ui

Se
gu
im

rc

O
Q
Q
Te
Se
Pr

Sem estre

Fonte: Decanato de Graduação. UnB. Brasília, 2006.

A situação verificada na odontologia, nos cursos examinados, acompanha o


perfil nacional recente de acentuada presença de mulheres nos cursos universitários.
Dados do MEC/INEP indicaram terem sido as mulheres, em 2004, a maioria entre os
que ingressaram no ensino superior (55,1%), entre os estudantes matriculados em
nossas Universidades (56,4%) e, também, entre os que concluíram a formação
universitária no País (62,6%).

Respostas de profissionais mulheres revelam nítida consciência desse processo:

33
“Percebo que há mais mulheres na odontologia hoje. Nos congressos,
conferências, etc... nossa presença tem sido maior.” Ou: “As mulheres são maioria nos
cursos de especialização e de atualização que faço. Maioria gritante: 80% ou mais.”

3.3.Feminização desses cursos significa desvalorização ou


transformação da área de conhecimento e atividade profissional?

Uma área de estudo que se feminiza pode se constituir em uma área de estudo
como de trabalho que também pode se desvalorizar? É indiscutível que os cursos de
odontologia vêm se feminizando e todos os dados apontam para isso.
Muitos profissionais começam a se questionar se esse processo começa a ser
desvalorizado pela presença majoritária das profissionais de ODT femininas. Entre os
atores envolvidos nesta pesquisa há interpretações divergentes, em relação a maior
presença das mulheres na ODT, assim como ficam evidentes as lógicas assimétricas e
de poder em relação a esta distribuição.

Como interpretar o avanço da feminilização dos cursos de odontologia no


Distrito Federal (Universidade de Brasília) e em Goiás (Anápolis e Goiânia). Quais
seriam outros elementos presentes que justificam tais demandas?

Examinando respostas dadas pelas profissionais mulheres, podem ser destacadas


algumas:

“As mulheres parecem compreender melhor a relação existente entre a vida


saudável e o adoecimento, sob a ótica do cuidar, talvez porque ela vivencia de
perto a administração de vidas que naturalmente estão sob sua tutela, como os
filhos e familiares, que culturalmente já são tarefas predefinidas para sua
condição. Elas são o modelo de gênero preparado para cuidar, ajudar.”

A resposta acima evidencia como ainda as mulheres - ou segmentos destas -, se


vêem como responsáveis pelas tarefas da reprodução, centrada na maternidade e nos
cuidados, destacando suas habilidades ou tendências “naturais” relativas ao bom
desempenho destas funções.

No depoimento que segue, percebe-se o quanto ainda a mulher, embora tenha


consciência de sua condição de “subordinação”, o quanto ainda está atrelada a um
processo de divisão sexual do trabalho que a impede de avançar profisssionalmente.

34
“À mulher ainda cabe a responsabilidade, o cuidado e atenção com a casa e os
filhos, mesmo com companheiro que a ajuda. O planejamento das atividades
domésticas e da rotina de filhos dependentes é da total responsabilidade da
mulher, o tempo para atividade profissional é planejado para que não interfira
na rotina da casa. Ao homem é dada a liberdade de imprevistos e alterações
conforme o interesse profissional. Muitas vezes deixamos para oportunidade
posterior a pós-graduação, quando temos filhos pequenos e estamos longe da
família. Isso resulta em adiarmos um aprimoramento, que pode se traduzir em
insegurança na prática profissional. Precisamos de muita determinação e
resignação para realizar nossos sonhos.”

Percebe-se que a divisão sexual do trabalho, deslocada para o interior de um


campo profissional, passa a sugerir modos para diferenciar ou distinguir – material e
simbolicamente – a maneira como as mulheres e homens se inserem nas relações de
trabalho, de como constroem seus itinerários e trajetórias sócio-profissionais, seus
destinos ocupacionais almejados, e, assim como os padrões salariais que lhes são
destinados e as expectativas profissionais construídas entre os assim designados homens
e as mulheres.

Por sua vez, os profissionais homens afirmam desconhecer as razões da


feminização da profissão ou apontam para características da profissão que,
supostamente, exerceriam maior atração sobre as mulheres, uma vez que “as
profissionais do sexo feminino seriam mais dotadas [competentes] para o desempenho
de certas práticas tradicionais”. Observe-se nas falas abaixo:

“Não sei explicar essa predominância do sexo feminino.”

“Sim acho que predomina o sexo feminino, talvez por ser uma profissão mais
light.”

“[A odontologia teria características da profissão mais concernentes às


mulheres] “Espírito materno-social, cuidado, vontade, predisposição para
trabalhar com as crianças (....), menor envolvimento com as últimas tecnologias
(...), menor condições de investimentos em equipamentos.....”

Para além de todas as “naturalizações” já expressadas por profissionais de ambos


os sexos, pode-se afirmar que outro elemento de clivagem ainda persistente entre
homens e mulheres, especialmente na ODT, é em relação ao uso de tecnologia na
formação. A divisão sexuada de acesso é fundada sobre as representações remetida à
natureza, definida, diferentemente para o masculino e o feminino – submissão para as

35
mulheres, dominação para os homens. Porém, a condição do feminino ligado à natureza
fundamenta a condição de exclusão das mulheres da legitimidade tecnológica. Ora uma
das clivagens mais discriminativas entre as profissões masculinas e femininas repousa
sobre a tecnologia reconhecida no desempenho profissional Portanto, trabalho mais
qualificado do ponto de vista tecnológico, endereçado ao homem, cuja associação
ancestral o remeteria a condição de portador da lógica e da cultura, enquanto que a
mulher da biologia e da natureza. Na prática profissional da ODT tais assertivas se
traduzem no

Por sua vez, as mulheres percebem que a prática da ODT exige razão e
sensibilidade, tanto dos homens quanto das mulheres isto é, habilidades técnicas e
exercício de cuidados, como indica a fala a seguir:

“Não saberia diferenciar por gênero, ainda que ambos devessem ter capacidade
intelectual e habilidades manuais. Algumas pessoas da sociedade pensam que
uma cirurgiã deveria ter força para realizar exodontia e cirurgias maiores.
Após quinze anos trabalhando como cirurgiã posso dizer que a técnica é
fundamental, porem, de tudo, o cuidar, a atenção, o respeito é o que faz a
diferencia e partindo do princípio ético de que ambos os gêneros tem estas
características, quando assumem o seu juramento profissional, daí não vejo
sentido em diferenciá-los.”

Portanto, nos termos descritos acima assumimos a concordância coma a


assertiva de Hirata e Kergoat (2007:2) ao afirmarem que : “Le terme de « division
sexuelle du travail » recouvre en France deux acceptions, distinctes sur le fond. Il s’agit
d’une part d’une acception sociographique : on étudie la distribution différentielle des
hommes et des femmes sur le marché du travail, dans les métiers et les professions, et
les variations dans le temps et dans l’espace de cette distribution ; et l’on analyse
comment elle s’associe au partage inégal du travail domestique entre les sexes » 13.

Quanto ao exercício da docência nas Faculdades de Odontologia, em


Anápolis/GO, as mulheres são a maioria em todos os níveis de titulação e, no total,
representam 53,5% dos professores atuando em 2006.

13
Hirata, Helena e Kergoat, Danièle. Division sexuelle du travail professionnel et domestique. Evolution
de la problématique et paradigmes de la “conciliation”. Seminário Mage/Fundação Carlos Chagas. São
Paulo, maio/2007.

36
Tabela 9.
Titulação dos/as docentes/as da Faculdade de Odontologia da Universidade
Evangélica de Anápolis. 2006.
Brasil – 2007

Especializaçã
Graduação o Mestrado Doutorado Total
Gênero Nºs Nºs Nºs Nºs Nºs
abs. % abs. % abs % abs % abs %
Feminino 20 50,0 82 51,2 35 60,3 7 63,6 144 53,5
Masculino 20 50,0 78 48,8 23 39,7 4 36,4 125 46,5
Total 40 100 160 100 58 100 11 100 269 100 %
Fonte: Universidade Evangélica de Anápolis, Goiás, 2006.

Na Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Goiás, conforme pode


se observar na tabela 10, os profissionais homens constituem-se na maioria entre os
professores contratados, independentemente, da titulação e as mulheres se constituem a
maioria entre professores substitutos especialistas ou mestres (não havia, em 2006,
doutores na condição de professores substitutos).

Tabela 10.
Titulação dos/as professores/as da Faculdade de Odontologia da UFGO, por sexo.
Goiania, 2006
Brasil- 2007

Especialista Mestre Doutor Total


Femini Masculi Feminin Masculi Feminin Feminin Masculi
no no o no o Masculino o no
N N
º º
Situação a a Nºs Nºs Nºs Nºs Nºs Nºs
b % b % abs % abs % abs % abs % abs % abs %
Contrata 17, 64, 44, 26, 50,
do 0 0 4 25,0 3 6 11 7 15 1 19 55,9 18 9 34 7
Substitut 50, 11, 14,
o 8 0 4 25,0 2 8 1 5,9 0 0 0 0 10 9 5 7,5
50, 29, 70, 44, 41, 58,
Total 8 0 8 50,0 5 4 12 6 15 1 19 55,9 28 8 39 2
Fonte: Coordenadoria do Curso de Graduação em Odontologia. FO/UFGo. 2006.

Do total de 67 docentes da Faculdade de Odontologia-UFG, 16 são especialistas,


17 são mestres e 34 têm a titulação de doutores. Os especialistas são metade compostos
por metade de mulheres e metade de homens, mas todas as mulheres estão na condição

37
de professoras substitutas, enquanto somente metade dos ODTs homens estão nessa
situação profissional considerada precária. Entre os 17 mestres, os homens são maioria
(70,6%) e, com exceção de um deles, estão contratados, enquanto as mulheres com essa
titulação representam 17,6% das/os docentes contratadas/os. Ou seja, os docentes
homens contratados são quase quatro vezes mais do que o número das profissionais
mulheres. Tanto na condição de especialistas, quanto de mestres os homens são a
metade das docentes não contratadas. Nessa faixa, as mulheres em trabalho com
características de precarização representam o dobro de seus colegas homens. Não há
profissionais homens precarizados – na situação de substituto - com a titulação de
doutor. No universo total desses profissionais, há uma predominância masculina, em
que 56,4% são homens e 43,6% são mulheres.
Nesse mesmo ano, na Faculdade de Odontologia da Universidade de Brasília, os
profissionais do sexo masculino constituíam a maioria dos docentes com qualquer
titulação e, também, a maioria entre os professores concursados (Tab. 11 e 12).

Tabela 11.
Distribuição dos/as professores/as no curso de Odontologia, por sexo e titulação.
Universidade de Brasília – UnB, 2006.
Brasil – 2007

Título Masculino Feminino


Total
Nºs abs. % Nºs abs. %
Doutor 13 56,5 10 43,5 23
Mestre 5 55,6 4 44,4 9
Especialista 4 57,1 3 42,9 7
Total 22 56,4 17 43,6 39
Fonte: Decanato de Graduação. UnB. Brasília, 2006.

Observe-se que na situação da UnB, apesar da maioria dos professores serem


homens, a titulação de doutor, proporcionalmente é a mesma para os profissionais
homens e mulheres sendo em torno de 59% de ambos os sexos com título de doutor.

Tabela 12.
Distribuição por sexo e tipo de contratação dos/as professores/as no Curso de
Odontologia da UnB.2006
Brasil – 2007.

38
Trabalho Masculino Feminino Total
Nºs abs. % Nºs abs. %
Concurso 15 60,0 10 40,0 25
Substituto 7 50,0 7 50,0 14
Total 22 56,4 17 43,6 39
Fonte: Decanato de Graduação. UnB. 2006

Como já foi desatacado a Tabela 12 evidencia a situação de precarização das


profissionais femininas, considerando que além das condições precárias de vínculo, há
também a fragilidade das condições de trabalho, uma vez que são substitutas, são coloca
em situação de inferioridade para solicitar equipamentos, materiais, etc. Tal situação é
agravada pela quantidade maior de trabalho, pois no geral, na UnB, a regra é que o/a
professor/a substituto/a deve oferecer quatro disciplinas/turmas por semestre, enquanto
um/a professor /a concursado/a tem a responsabilidade de ministrar duas disciplinas por
semestre. Evidente que o restante do tempo deve ser dedicado às demais atividades de
pesquisa e de extensão. Outra dimensão que acentua a condição de precariedade deve-se
ao fato de que os/as professores/as substitutos/as ministram disciplinas para as turmas
iniciais, no geral, as quais são sempre as maiores em termos quantitativos, o que
representa uma carga de horas de trabalho bem mais intensa, em função das correções,
preparações, exposições, entre outras.

3.4. A divisão sexual do trabalho na odontologia e o quadro brasileiro de trabalho


e gênero

Apesar de serem a maioria entre estudantes e formandas, as mulheres


continuavam nas áreas de conhecimento tradicionalmente femininas, preparando-se para
ocupar guetos ocupacionais femininos, tais como, educação (81% de mulheres), saúde e
bem-estar social (74%), humanidades e artes (65%) (Bruschini, 2007). Na área
empresarial verifica-se, em meio a fortes dificuldades, um progresso com características
semelhantes: em 2000, 24% dos 42.276 cargos de diretoria computados pela RAIS eram
ocupados por mulheres e em 2004, cerca de 31% dos 19.167 cargos de diretores gerais
de empresas do setor formal eram ocupados por mulheres. A participação destas nos
cargos de direção ocorre na administração pública, na educação (mais de 50%) e em
outras áreas sociais, como saúde e serviços sociais (46%). Ao examinarmos a

39
especificidade da diretoria, verifica-se que a maioria desse universo (75%) era em
empresas de serviços de saúde, educação e cultura.

Portanto, ainda persiste um padrão de estrutura ocupacional no mercado de


trabalho brasileiro, com os tradicionais guetos femininos, como enfermagem (89% dos
enfermeiros, 84% dos técnicos de enfermagem e 82% do pessoal de enfermagem eram
do sexo feminino em 2002), nutrição (93%), assistência social (95%), psicologia (89%),
magistério nos níveis pré-escolar (95%), fundamental (88%) e médio (74%), secretárias
(85%) (Bruschini, 2007).
A distribuição de campos de saber e de campos profissionais é acompanhada por
distribuição de valorização e poder. Assim, se em 1993, 48% dos homens e 55% das
mulheres recebiam até dois salários mínimos e em 2005, 58% dos homens e 63% das
mulheres ─ significando um nível de ganho inferior das mulheres ─ quando se
considera um setor específico, como o denominado “educação, saúde e serviços
sociais”, um nicho tradicional de inserção feminina, onde 49% das mulheres ganham até
dois salários mínimos ─ contra apenas 35% dos homens (Bruschini, 2007).
Em 2006, a distribuição de docentes homens e mulheres por disciplina, no curso
de Odontologia, por um lado, reunia 100% de profissionais do sexo masculino nas áreas
de cirurgia e ortodontia e, por outro lado, 87,5% de profissionais do sexo feminino, no
campo da Pediatria e da Periodontia.

Tabela 10.
Distribuição dos/as professores/as concursados/as e substitutos/as do
Departamento de Odontologia da Universidade de Brasília,
por sexo e disciplina acadêmica. Brasília, 2006.
Brasil – 2007

Masculino Feminino
Disciplinas Nºs Total
Nºs abs. % abs. %
Cirurgia 3 100,0 0 0,0 3
Ortodontia 2 100,0 0 0,0 2
Prótese 6 75,0 2 25,0 8
Coletiva 2 66,7 1 33,3 3
Clinica 6 60,0 4 40,0 10
Semiologia 2 40,0 3 60,0 5
Pediatria/Periodontia 1 12,5 7 87,5 8
Total 22 56,4 17 43,6 39

40
Fonte: Decanato de Graduação. UnB. 2006

No universo pesquisado, amplamente, as profissionais mulheres se distribuem


nas seguintes áreas: saúde coletiva (52%), odontopediatria (24%), próteses (12%),
periodontia (12%), dentística (12%) e cirurgia (4%), concentrando-se, como se pode
constatar, em áreas com dimensão social (saúde coletiva) e implicando exercício de
cuidado, como odontopediatria. Se considerarmos as atividades do cuidado com as da
área sócia, as profissionais de ODT estudadas perfazem um percentual de dois terços
(76%). Ou seja, esta distribuição reafirma todas as questões discutidas anteriormente,
relativas a divisão social e sexual do trabalho.
Retomando respostas dadas a questões formuladas no questionário aplicado,
cabem destaques, evidenciando as percepções relativas às relações sociais de
sexo/gênero:

Eis alguns extratos retirados das falas dos profissionais masculinos:

“Nossa sociedade toda distribui dessa mesma forma as atividades profissionais


entre homens e as mulheres”, aliás, com muito boa percepção.”

“Odontopediatria - seria a preferência delas -, pelo jeito natural, materno das


mulheres.”

Eis algumas extratos retirados das falas das profissionais femininas:

“... no geral, quando chega uma dentista numa clínica já lhe é direcionado o
atendimento de crianças, a menos que ela já tenha uma preferência ou formação
diferente. No geral isso acontece pouco”.

“A mulher tem atuação maior nos trabalhos em serviços públicos na


odontologia (...) Maior concentração masculina em cirurgia, implantes e
prótese e mulheres em odontopediatria.”

“A presença masculina está mais nas posições de chefia e procedimentos


cirúrgicos protéticos.”

“Homens se dedicam a profissões mais rendáveis, exemplo, prótese; mulheres, a


odontopediatria.”

“ Homens são mais financistas, empreendedores.”

“Mulheres preferem periodontia, odontopediatria, homens cirurgia e prótese.”

“A maioria dos cirurgiões, implantodontistas e protesistas são homens.”

41
“Não só na odontologia especializada, mas em toda a odontologia, vejo que os
homens chegam rápido e ocupam espaço mais fácil no topo. Isso se explica
numa cultura machista.”

“ A mulher busca conquistar igualdade de tratamento, reconhecimento e


respeito na prática laboral, como um ser com a mesma capacidade criativa e
produtiva que o homem.”

Em relação ao trabalho desempenhado no setor público, alguns extratos


dos depoimentos das profissionais mulheres:

“A mulher tem melhor engajamento social. As dificuldades do mercado de


trabalho levam também a esse campo pessoas que não teriam no Programa
Saúde da Família - SF sua primeira opção”.

“Corporativismo masculino, medo de perder o poder ou, pior, não podem


suportar serem subordinados às mulheres”.

“Para o homem é complicado baixar a cabeça e receber uma ordem de uma


mulher, sendo ela superior em hierarquia (...) ainda falta o reconhecimento da
capacidade e competência que, muitas vezes, temos que provar cinco vezes mais
que somos melhores para determinado cargo.”

Vale destacar que as profissionais mulheres têm muita clareza em relação a


divisão sexual do trabalho, seja nos espaços profissionais, seja nos espaços privado. No
entanto, pelas narrativas percebe-se também certo conformismo, passividade em reagir
diante do que elas próprias sabem perceber. Por que tais situações se mantêm? Isso
demandaria um desdobramento /continuidade para esta pesquisa.

Por sua vez, os/as profissionais/as fizeram relevantes registros em relação às


desigualdades derivadas das relações entre os CDs homens e mulheres, relativas ao
setor político e ao engajamento na organização da categoria:

“Certamente, e passa por diversos campos da política, numa situação de quase


ausência das mulheres, que se constitui hoje em grande desafio ao projeto
democrático já que elas são a maioria e pouca participação decisória em
cargos de poder, sobretudo na odontologia, pela questão de gênero na atuação
de direitos e construção de programas em que as mesmas sejam incluídas”;

“Não me recordo de ver mulheres na presidência de Conselhos, ABO, sindicato,


associação. Acredito ser injusto [esse quadro], pois somos tão capazes e
podemos ser melhores frente à categoria. Precisamos romper essa barreira.”

Em nossa cultura, o sexismo, transversalizando toda a sociedade e todas, assim


como todas as atividades humanas, promovem vários níveis de cisões entre, “trabalho

42
emocional” e “trabalho afetivo”; em relação ao “trabalho intelectual”, e ao “trabalho
manual” da casa e do cuidado das crianças. Enquanto não se superar essa tríade de
tensões e de enfrentamentos, considerando que o cuidado com as/os filhas/os constitui
atividades desejáveis para todas/os as/os humanas/os, “o trabalho intelectual e manual
da ciência e da vida pública não parecerão atividades potencialmente [e igualmente]
desejáveis para todas as mulheres” (Harding, 1996:48). E a autora prossegue sua análise
afirmando a existência de fortes razões políticas para não se convocar os homens
dedicados à ciência, às atividades profissionais em níveis de mais alta valorização a se
ocuparem com as crianças e a transformarem seus próprios desejos de sexo/gênero.

4. Relações sociais de gênero: como são percebidas nesse universo


profissional
4.1. As desigualdades no campo científico e na prática profissional da ODT

Tanto os homens, quanto as mulheres apontam, na ODT, a presença de


desigualdades devidas à condição de ser iniciante ou servidor público; ser profissional
em consultório ou em pesquisa. Mas, também, devidas à condição de sexo/gênero, ao
fato de ser mulher, às escolhas de especialidades por mulheres e homens. Neste sentido,
alguns registros podem ser observados em suas percepções:

“Os profissionais de meio científicos já conceituados conseguem melhores


verbas e publicações que os iniciantes, mesmo que os projetos sejam do mesmo
nível científico”( profissional mulher );

“O profissional que atua no serviço público, especialmente sem especialização,


é menos valorizado. Criou-se o mito de que o trabalho feito no posto de saúde é
mal feito, realizado com má vontade, o que nem sempre é verdade. Lá quem
trabalha mais são as mulheres....”.
( profissional mulher );

“As mulheres se dedicam a cuidar dos filhos enquanto os homens se sentem


mais livres para exercer a profissão” (profissional mulher);

“O homem tem mais facilidade de engrenar em pesquisa, pois as mulheres


acumulam funções e responsabilidades com casamento e filhos limitando”
(profissional mulher);

A exclusão relativa das mulheres do espaço público da pesquisa e da ciência, por


exemplo, pode, notadamente, ser lida através do uso desigual que os dois sexos fazem

43
de seu tempo. Tal desigualdade ganha uma dimensão específica quando analisado o uso
do tempo por sexo dedicado as tarefas da reprodução social. Seja em sociedades
desenvolvidas ou não, o trabalho para reprodução social é preferencialmente atribuído
como responsabilidade das mulheres, independentemente, delas terem ou não filhos. A
situação em relação a diminuição do tempo se agrava mais quando há um número de
filhos pequenos. Ademais, o mercado reitera a discriminação das mulheres, seja devida
a ausência de força física, seja em razão dos períodos de licença maternidade ou
ausência para dedicar tempo ao cuidado dos filhos ( Dedecca, 2007)14

4. 2. Representações sociais: condição de gênero e competência profissional

No caso da Odontologia, nesta pesquisa, homens e mulheres tenderam a


perceber a competência profissional vinculada à formação, à dedicação e à
responsabilidade e não ao sexo do profissional.

“Quanto ao gênero não vejo diferenças. A odontologia enquanto área da saúde


necessita de profissionais dedicados e que desempenham sua finalidade dentro
de uma postura responsável ” (profissional homem);

“Não há distinção, depende mais da capacidade e dedicação”


(profissional mulher);

No entanto, observa-se que as mulheres tendem a se perceberem com melhor


desempenho no serviço público e os homens, como profissionais liberais, indicando a
intersecção entre categorização de sexo/gênero, encaminhamentos profissionais e
relações de poder:

“O homem tem mais tempo para consultório particular, as tarefas domesticas


ficam normalmente sob responsabilidade da mulher” (profissional mulher);

Campos de conhecimento e de atividade, social e culturalmente tipificados como


“próprios para mulheres”, afetam tanto a oferta, quanto a demanda por profissionais do

14
A propósito consultar: Dedecca, Claudio Salvadori: Regimes de Trabalho, Uso do Tempo e
Desigualdade entre Homens e Mulheres. Seminário MAGE, São Paulo, Fundação Carlos Chagas, maio,
2007.

44
sexo feminino, manifestando a persistência de um essencialismo, com uma suposta
concordância entre “atributos femininos” e exigências profissionais, como evidenciados
na fala abaixo:

“....As mulheres são [por essência, por natureza] mais delicadas, dedicadas,
detalhistas, atenciosas, inteligentes e muito perceptivas....” (profissional
mulher);

A relação entre “atributos femininos” e exigências profissionais se vincula a


estereótipos de gênero persistentes na sociedade e se associaria ao surgimento de um
“novo” modelo de exercício profissional, crítico do modelo bio - médico, como revela a
fala a seguir:
“O caso da ODT apresenta peculiaridades. É possível afirmar que
constitui uma profissão que demanda cuidado, muito embora durante um tempo
considerável tenha sido espaço de trabalho fundamentalmente masculino, entre
eles, o fato de seu desenvolvimento por muito tempo ter permanecido atrelado à
medicina, a ganhos elevados como produto do exercício privado da profissão e
a um mais alto status” (profissional mulher).

4.3. O status profissional das mulheres

A fala das odontólogas traduz permanência e ruptura de práticas tradicionais


reprodutoras de desigualdades entre homens e mulheres. Poderes e hierarquias desiguais
com relação aos homens permanecem na sociedade e afetariam o status profissional das
mulheres. As odontólogas percebem que são mais exigidas exigências tanto na esfera
familiar como profissional, e isso as leva, no geral, a limitar a dedicação à profissão e
presença de outras interdições simbólicas para acesso a cargos de chefias, como indicam
as falas a seguir:
“A mulher continua com maior variedade e número de papéis. Passou também a
ser provedora, mas continua com antigos papéis como filha, avó, esposa, mãe,
dona de casa, além de ser profissional liberal. Com certeza algo não ficará
100%, e nossa cultura continua cobrando a perfeição feminina. Na maioria das
vezes, ela abre mão do lado profissional em favor da família e do marido”
( profissional mulher);

“Somos maiores em quantidade, mas o machismo ainda é presente, apesar de


estar perdendo espaço, aos poucos. Não desisto de continuar lutando, provando,
me capacitando. Antes nem de votar nos davam o direito, hoje temos até
candidata a presidência e já existem presidentes femininas , é a evolução (...)

45
Ao mesmo tempo algumas mulheres declararam ter conquistado status
profissional igual ou maior do que os homens na profissão.

“Eu achou que está diminuindo muito esse conflito e com uma especialização
nova não consegui sentir diferença” (profissional mulher).

“Todos têm espaço, a mulher está conquistando o seu. É uma questão cultural,
com a qual estamos a cada dia trabalhando. Ainda somos sobrecarregadas,
apesar de esse panorama estar se modificando” (profissional mulher).

“Em um meio em que a atividade intelectual delineia a qualidade profissional,


não há porque as mulheres se sentirem inferiorizadas, a menos que, realmente
não estejam tão bem preparadas como um homem. Eu não percebo esse tipo de
problema. Sou casada com um funcionário público estadual, tenho um filho de
10 meses de idade, leciono na graduação da IES, sou auditora de uma fundação
que atua no âmbito nacional e atuo politicamente como vice-presidente do
sindicato dos Cirurgiões–Dentistas e delegada regional da Federação
Interestadual dos Odontólogos” (profissional mulher).

Alguns odontólogos oscilam entre afirmar a permanência dos padrões


tradicionais de relacionamento entre mulheres e homens e em reconhecer a conquista
feminina do espaço profissional ocupando cargos de mando:

“Uma construção significa que toda sociedade dá significado àquele fazer:


homens e mulheres, negros e brancos. Assim a construção da profissão e suas
especialidades seguem o mesmo padrão. Nossa sociedade toda distribui dessa
mesma forma as atividades profissionais entre homens e mulheres” (profissional
masculino).

“Não vejo assim. Conheço odontólogas mulheres em todas as áreas de


especialização e que gozam de tanto respeito como qualquer outro profissional
(...) (profissional masculino).

(...) no SESC, SESI, GDF temos inúmeras mulheres em cargos de chefia na área
de odontologia, cargos conquistados por méritos próprios” (profissional
mulher).

4.4. Obstáculos profissionais e gênero

Os homens e as mulheres participantes da pesquisa apontaram para certa


proletarização da profissão, sem assinalar qualquer repercussão desigual entre eles e
elas, nesse processo de precarização profissional. Tal fenômeno pode ser evidenciado,
entre outros aspectos pelos baixos salários, nas dificuldades em conseguir clientes e

46
manter um consultório particular, na saturação de profissionais no mercado, entre
outras, como indicado a seguir:

“A maior barreira é a dificuldade de conseguir clientela, o baixo preço pago


pelos convênios, o alto custo de se manter um consultório particular e ainda a
necessidade de atualização constante e cara também” (profissional mulher).

“Não sei se é uma barreira profissional, mas o grande número de faculdades


tem aumentado muito a competição e isso tem gerado uma queda brutal nos
rendimentos dos profissionais com exploração da mão de obra por donos de
clínicas. Acredito que a situação seja idêntica para ambos os sexos”
(profissional mulher).

“Poucos concursos oferecidos, salários ofertados e condições de trabalho


ofertadas” ( entrevistado homem).

“Acho que, tanto para homens como para mulheres, hoje a maior barreira seria
o mercado de trabalho que está saturado”( profissional homem).

4.5. Exigências emocionais do trabalho

Observa-se que o trabalho na ODT da perspectiva da relação profissional –


paciente apresenta demandas emocionais reconhecidas tanto pelos homens como pelas
mulheres: Amor, paciência, respeito, saber escutar, entre outros, pois a odontologia é
uma profissão associada à dor e ao medo, independente da condição ou idade do/a
cliente. Tal elemento, de alguma forma, exige um tratamento mais pessoalizado e
atento ao paciente. Os/as profissionais, por sua vez, estão imbuídos deste “espírito” que
caracteriza a tipicidade de sua profissão, ao manifestararem-se:

“Amor, atenção, paciência, psicologia e alto controle”( profissional mulher).

“Para exercer a odontologia se precisa entender o outro, seus temores, ter


respeito por eles. È saber ouvir, muitas vezes o paciente deseja chorar por seus
problemas e devemos ouvir. Saber apaziguar, orientar para obter sucesso no
tratamento.”( profissional mulher).

“Tratar com seres humanos é muito delicado o paciente deve se ver com
problemas individuais, considerar idade, saúde. Os idosos necessitam de
assistência constante. É necessário paciência e compreensão” (profissional
homem).

Sensibilidade em escutar, em atender (...)” (profissional homem).

47
Ainda, ambos apontam ser importante ter sensibilidade para identificar as
necessidades de grupos sociais específicos, como por exemplo, as crianças e as pessoas
idosas, pessoas portadoras de necessidades especiais, assim como os/as portadores/as de
HIV.

4.6. Trabalho na saúde em ODT: alegrias e sofrimentos

A organização do trabalho implica o prescrito e o real. A primeira dimensão diz


respeito a modos operatórios normalizados, relativos a conteúdo e divisão de tarefas,
responsabilidades, hierarquias, comandos, controles. A segunda dimensão resulta do
inesperado que pode acontecer no cotidiano da pratica profissional. As/os
trabalhadoras/es lutam contra as prescrições do trabalho com o intuito de vivenciar
autonomia e conquistar reconhecimento, transformando o sofrimento no trabalho,
atrelado às prescrições, em prazer (Dejours, 2994).

A pesquisa mostrou que, do ponto de vista das/os odontólogas/os o aspecto que


mais causa sofrimento no trabalho é a falta de reconhecimento: de chefias, colegas,
clientes e, sobretudo entre os próprios colegas homens em relação às mulheres. Há um
reconhecimento, porém, carente da mesma equidsade. Isto é, segundo Dejours (2004), o
julgamento de utilidade e o julgamento de beleza. As falas a seguir são significativas
nesse sentido:

“Dano pessoal? A chefia médica arrogante não incomoda mais. Aprendi a lutar
pelo que acredito. Sinto alegria quando consigo fazer um atendimento e receber
um sorriso e um muito obrigado...”(profissional mulher).

“Falta de estímulo e reconhecimento aos docentes. Alegrias? Colaborar com a


formação profissional de novas/os odontólogas/os e ver diariamente a evolução
delas/es pasarem de alunas/os a profissionais da odontologia...” (profissional
mulher).

“Tristeza quando falta a/o paciente, alegrias com pessoas satisfeitas e


agradecidas...” ( profissional homem).

“Dano emocional vem da insatisfação da/o paciente. Fico extremamente


atingido. O contrário é o que me sustenta e dá sentido a minha escolha
profissional.” ( profissional homem).

48
“A falta de reconhecimento de alguns pacientes e, o contrário, o elogio a nosso
trabalho.” ( profissional homem)..

Já os homens queixam-se mais do sofrimento físico devido às exigências da


profissão e em alguns casos de depressão, como indicado nas falas a seguir:

“Depressão, dores nas mãos, procuro alternar os atendimentos conforme


esforço empregado, procuro sauna para relaxar, alongamento. Adquiri uma
luva especial para relaxar os músculos da mão quando a dor piora...”
(profissional homem).

“Tenho problemas de visão, audição e ergonomia..”( profissional homem).

5. Estereótipos e espaços sexuados também na Odontologia


5.1. A quem cabe conciliar vida profissional e vida familiar?

O que leva homens e mulheres a escolher a ODT como campo profissional? Por
um lado a pesquisa revelou algumas motivações para ingresso na ODT, tais como
vocação, influências familiares e gosto pela área da saúde como um todo, aspectos
apontados nas falas a seguir:

“Segundo relato de meus pais, a brincadeira preferida quando eu era criança,


era a de dentista. A odontologia preencheu expectativas, sem dúvida”(
profissional mulher).

“Opção pessoal. Achava bonita a profissão” (profissional homem).

“Convívio com pessoas admiradas e que incentivaram. Desde a adolescência,


desejei seguir essa profissão ” (profissional mulher).

“Havia um parente dentista que me convidou para conhecer o consultório e me


agradou, troquei a engenharia pela odontologia” (profissional homem).

“Desde o inicio queria a área da saúde. Optei pela odontologia contra vontade
de meus pais que queriam medicina” (profissional mulher)

“Sempre gostei da área da saúde, no inicio optei pela medicina, mas acabei na
odontologia” ( profissional homem).

49
Mais além de uma primeira aproximação, constata-se, na escolha profissional
das mulheres, uma motivação sexuada, com importância decisiva conferida à
experiência do conflito trabalho - família. As falas das mulheres indicam serem elas
influenciadas pela possibilidade de autonomia profissional, no sentido de ter um
emprego de tempo parcial, permitindo combinar as exigências do trabalho com as
demandas de atendimento à família, como apontado a seguir:

“ Minha mãe é dentista e gostaria de ter uma profissão autônoma, com a


possibilidade de emprego em meio período (4h)” (profissional mulher).

“(...)Agradável fazer seu próprio horário de trabalho, ter independência e


autonomia, trabalhar meio expediente e viver a vida no resto do dia. Sempre
pensei em ter filhos e isso parecia viável”(profissional homem).

A escolha profissional das mulheres é motivada pelo imperativo de dar conta, ao


mesmo tempo, das demandas do espaço familiar e do espaço laboral, refletindo a
permanência e a reconfiguração de desigualdades de gênero. Há uma persistência dos
processos de naturalização dessa sobrecarga.

A tese da “conciliação” entre vida familiar e vida profissional, fortemente


sexuada, define uma só protagonista da “conciliação” e consagra desigualdades entre
mulheres e homens na vida profissional, na vida familiar. A contradição está no coração
da proposta de alcançar a igualdade por meio da conciliação (Hirata e Kergoat, 2007).
As respostas das odontólogas sobre motivações são elucidativas. Eis algumas:

“...Perspectiva (ilusória) de trabalhar de forma autônoma, com facilidade de


compatibilizar atividades domésticas e familiares com profissionais.”

“...Facilidade em flexibilizar horários e compatibilizar com a maternidade.”

“A possibilidade de trabalhar num período menos, de administrar com


autonomia seu horário, podendo se adequar às necessidades da sua família.”

“ [com] a dificuldade de acesso devido ao alto custo da formação profissional e a


falta de financiamento do poder público para formação das mulheres no campo
científico odontológico, as mulheres acabam de dedicando a outras atividades ─
casa, filhos, esposo ─ e deixando a carreira profissional.”

“A odontologia é uma profissão muito desgastante e cara. Quando a mulher tem


casa e filho para cuidar, acaba diminuindo o seu tempo de atuação na profissão.
E também quando [o casal] tem que escolher em quem investir (gastar dinheiro e

50
tempo) nos estudos - se com o marido ou com a mulher - na maioria das vezes
opta-se pelo marido. O retorno é mais garantido, pois ele dispõe de mais tempo.”

“Por questões culturais... [a mulher coloca] a família em primeiro lugar sempre.”

A maioria dos homens revelou ausência de percepção de diferenças de papéis e


de desigualdades, ignorando as proezas de suas colegas mulheres com a conciliação, em
respostas como:

“... acho que homens e mulheres têm chances iguais” ou “Dependendo do que a
pessoa tenha estudado, dedicado (...) estar se atualizando”.

Houve, entretanto, homens identificando desigualdades, com declarações em


outra direção:
“Nos órgãos de representação de classe, ainda há uma grande lacuna quanto à
presença feminina, nos cargos de representação majoritária, como presidência da
ABO, CRO, CFO, etc...” Ou: “Apesar de existir essa lacuna, o que observamos
hoje em dia é que os homens é que estão convivendo com essa tensão/conflito.
Definitivamente, as mulheres já conquistaram, e com muito mérito, seu espaço.”

E ainda uma resposta masculina declarou firmemente:

“Ainda existe um grande preconceito machista em nossa sociedade”.

E algumas odontólogas pautaram preocupações políticas e sociais diretamente


ligadas à profissão, como indicado na fala seguinte:

“A possibilidade de mudança de foco dentro da carreira, sair do campo restrito


do consultório, da prática clínica e atingir outro nível na profissão com o cunho
social e político mais efetivo, com o desejo de contribuir para o crescimento e
aprovação da nova especialidade, fomentando junto às entidades da categoria a
necessidade de criar e implementar novas práticas e consciências políticas que
visem prevenir as doenças relacionadas ao trabalho, devolvendo a saúde
integral e qualidade de vida do trabalhador”

Entre as mulheres que responderam (18), quase a metade (8) declararam


trabalhar em tempo parcial. Por conseqüência (talvez, sem se dar conta), uma
constatação:
“Poderia ter avançado, porém me acomodei.”

5.2. Reproduzindo e reconfigurando papéis sexuais

51
A defesa da complementaridade dos sexos se insere na tradição funcionalista da
complementaridade dos papéis (Parsons, 1991) e incluiria, no compartilhamento do
trabalho profissional entre mulheres e homens, a divisão de tipos e modalidades de
emprego que possibilitem a reprodução e a preservação de papéis sexuados (Hirata e
Kergoat, 2007).

O sistema de papéis sexuais se apresenta sob duas formas: um modelo


tradicional, em que os papéis na família ─ parental e doméstico ─ são inteiramente das
mulheres, enquanto os homens assumem o papel de provedores e um modelo de
conciliação, com o suposto de que às mulheres cabe conciliar vida familiar e vida
profissional. Há pesquisadoras – como o caso de Jacqueline Laufer (1995, apud Hirata e
Kergoat, 2007) – que apresentam esse modelo como “condição necessária de igualdade
de oportunidades entre mulheres e homens, em particular no âmbito profissional (...).
Uma eventual recomposição e um novo compartilhamento de papéis estaria ocorrendo
não mais às custas das mulheres, mas do benefício comum de homens e mulheres.”

Algumas pesquisadoras propõem substituir a expressão “conciliação”, e mesmo


“articulação”, por conflito, tensão, contradição para dar visibilidade à natureza
fundamentalmente conflitiva para as mulheres de assumirem responsabilidades
profissionais e familiares. Ocupar-se com as crianças ─ tarefa atribuída às mulheres ─
reduz a disponibilidade de integração em empregos com jornada integral de trabalho. As
responsabilidades familiares têm significativa sobrecarga para as mulheres.

A partir da 4ª Conferência Mundial sobre as Mulheres, em 1995, em Pequim,


disseminou-se o paradigma da parceria entre homens e mulheres e suas relações
sociais, mais em termos de igualdade do que de poder. Pesquisas de emprego do tempo
─ realizadas, por exemplo, na França, em 1986 e 1999, pelo INSEE ─ não confirmam a
vigência desse modelo.

O modelo da delegação se dissemina nos países ricos com a utilização do


trabalho de mulheres imigrantes dos países do Terceiro Mundo. No Brasil esse modelo
se concretiza com os serviços de mais de seis milhões de trabalhadoras domésticas
e babás, além do trabalho infantil, envolvendo em torno de 500 mil crianças, a
grande maioria, meninas. O crescimento de empregos no setor de serviços

52
traria “soluções” ao antagonismo entre responsabilidades familiares e
profissionais (Hirata e Kergoat, 2007).15

5.3. Relações de gênero ou relações de poder.

A conjugação entre os fatores familiares e de mercado indicam que predominam


relações de poder. Senão vejamos. A influência familiar como o fator mais forte na
determinação da escolha do curso universitário, seguido por preocupação com acesso ao
mercado de trabalho evidencia que para os homens há valores de gênero mais
rigidamente presentes na construção das carreiras: Por ex: Inclinação Profissional
para certa autonomia e liberdade: boa parte dos homens que se enquadram nesta
categoria preferem uma carreira (ou um métier) que lhes possibilite mais autonomia,
circulação e liberdade, já que consideram mais importante a oportunidade de realizar o
trabalho ao seu modo para definir suas tarefas, horários e métodos, livres de regras e
delimitações. Portanto, esses profissionais masculinos relutariam em aceitar cargos que
diminuíssem a sua autonomia e liberdade. Nesse grupo pertencem desde profissionais
qualificados – médicos, advogados, economistas qualificados, como também profissões
menos qualificadas: sapateiro, funileiro, eletricista entre outros,
Na contramão, a escola atual deveria atuar não como reprodutora desse modelo
de divisão sexual do trabalho, embora a formação dos curricula nos cursos de
pedagogia, por exemplo, ainda incentiva a formação de professoras de modo muito
tradicional em relação aos desempenhos estudantis masculinos e femininos. Portanto,
em relação ao acesso às diversas carreira para as mulheres, persistem os valores mais
arraigados da perspectiva de gênero, podendo estar relacionada à preocupação da
mulher em conciliar a vida profissional com a vida familiar, havendo investimentos
parciais na carreira em detrimento do tempo de dedicação à família e à vida pessoal.

6. Algumas conclusões

Inicialmente a ODT se desenvolveu, como outros ofícios, na prática artesanal,


em um savoir faire. Sua profissionalização exigiu a organização e sistematização de
conhecimentos e a formalização e regulamentação do seu ensino. Sua trajetória aparece

15
Devreux (2000) analisa mecanismos por meio dos quais a atual política familiar em seu país afirma-se
como uma política de conciliação, continuando a excluir os homens dessa problemática. Políticas
familiares francesas (Allocation Parentale d´Education – APE) tornam-se, na verdade, políticas de
emprego, mantendo uma profunda interdependência entre essas duas modalidades de políticas públicas.

53
atrelada à medicina, influenciada por paradigmas semelhantes, ou seja, a odontologia
comungou com o paradigma bio-médico, significando o tratamento da doença sem
estímulo à prevenção. Posteriormente passou a ser impactada pelo surgimento de um
paradigma mais holístico para tratamento das/dos pacientes e ênfase na prevenção pela
via das políticas públicas. A mudança de paradigma se encontra ainda em trânsito e o
feminismo tem contribuído para uma crítica ao paradigma tradicional e para a
emergência do novo.

Em um primeiro momento a ODT foi uma profissão fundamentalmente


masculina, tendo se feminizado nas últimas décadas. Esse processo foi acompanhado
pelos impactos da Reforma Sanitária, o surgimento de um novo paradigma na medicina
e na odontologia, a saturação do mercado de trabalho e a proletarização da profissão
(Cordón, 1986, 1991, 1998).

Em geral, as falas das/os profissionais da ODT revelam tanto permanência das


desigualdades entre homens e mulheres nas vivências e nas percepções de suas práticas
profissionais, quanto rupturas, apontando para a presença de espaços de transição plenos
de contradições e tensões à medida que negam, ao mesmo tempo em que afirmam,
desigualdades estruturais nas relações sociais entre homens e mulheres. De certa forma,
o “tudo muda, mas nada muda” se expressa nas mudanças da situação das mulheres do
ponto de vista de seu acesso ao campo profissional. A divisão estrutural entre os sexos,
entretanto, permanece reconfigurada nas novas situações, pois as mulheres tendem a
continuar tensionadas pelo conflito trabalho – família. Elas escolhem especialidades que
parecem exigir menos do ponto de vista profissional ou, esforçam-se, de modo heróico,
para cumprir com as atividades familiares e manter um desempenho elevado no
trabalho.

Para as mulheres uma maior presença na profissão é percebida tanto como


conquista do espaço laboral quanto decorrência da possibilidade oferecida pela
profissão em combinar as exigências do trabalho com as demandas da família. Tal
aspecto é enfatizado por alguns homens, que, de certa forma, indicam a persistência da
naturalização dos papéis sexuais, com o espaço doméstico associado estritamente ao
domínio das mulheres.

54
O aumento de mulheres ingressando nas Faculdades de Odontologia e
diplomando-se não tem significado conquista de maior igualdade entre elas e os
homens, mantendo-se, ainda no século XXI, desigualdades em funções, especialidades,
status (Maruani, 2000). Trata-se de interpretar as dinâmicas e as lógicas das relações
sociais de sexo/gênero que promovem deslocamentos e recomposições das fronteiras
entre o masculino e o feminino, onde são negociadas prerrogativas de umas e outros.
“Em todos os campos do conhecimento, o tempo que tem separado a autorização para
prosseguir os estudos e a autorização social para as mulheres exercerem as profissões
plenamente, sem constrangimentos, tem sido longo” (Schweitzer, 2002, apud Ravet,
1003:174). A divisão sexuada do trabalho ainda permanece forte e as mulheres não
estão nas mesmas funções e especialidades que os homens.

Também o campo da odontologia é transversalizado por dinâmicas das relações


sociais de sexo/gênero – tal como Ravet (2003) analisa no campo das/os músicas/os de
orquestra –, que colocam justificativas, reenviam à oposição entre “natureza” masculina
e “natureza” feminina, propõem construções sociais categorizando e hierarquizando
papéis e funções de mulheres e de homens. A feminização dos cursos de Odontologia se
realizou nas últimas décadas do século XX, mas as trajetórias profissionais permanecem
sexuadas. A trajetória profissional é o percurso realmente realizado na construção do
status e da identidade profissional, abarcando experiências anteriores e concomitantes
ao exercício da profissão, especialmente do mundo do trabalho que aparecem
entremeadas com diversas circunstâncias da vida da pessoa, com as dinâmicas das
relações sociais em que a/o profissional está implicada/o. A trajetória é uma construção
quotidiana, constituída pelas inúmeras experiências das/os odontólogas/os nas suas
interações com colegas, chefias, pacientes/clientes e instituições onde trabalham.16

A repartição sexuada do trabalho significa processos de profissionalização


diferenciados para homens e para mulheres. As mulheres ingressaram na profissão, se
tornaram maioria nos cursos de Odontologia, mas não alcançaram os níveis da
hierarquia detentores de maior prestígio, status e valorização material.

16
A carreira, ao contrário, seria o percurso prescrito para cada profissão, que se manifesta na regulação
de ingresso e permanência, estabelecendo critérios de seleção, de formação, duração do curso de
formação específico e conhecimentos técnicos relativos à profissão, etc. No marco dessas prescrições não
há lugar para os significados simbólicos que podem afetar o status social da carreira, assim como a
própria condição identitária das/os profissionais.

55
A profissionalização das mulheres é orientada pela lógica da naturalização de
“qualidades femininas”, essencializadas, colocando as mulheres nas áreas da educação,
do social, da saúde, constituindo verdadeiras maternidades simbólicas, extensões e
reconfigurações de maternidades tradicionais. As mulheres ainda estão no processo com
toda complexidade da aquisição do direito ao exercício da autoridade e da tomada de
decisão. Historicamente, a autoridade das mulheres sobre outras mulheres foi tolerada.
Ao contrário, a autoridade das mulheres sobre homens sofre ainda significativas
resistências.
Homens e mulheres não têm os mesmos projetos quando começam a vida
profissional, menos freqüentemente elas concretizam uma “grande carreira”.
Enfim, reconhecimento e visibilidade são igualmente atingidos por odontólogos e
odontólogas? Uma profissional acena com uma resposta nesse sentido, valorizando esta
pesquisa, como oportunidade de conscientização e de transformação:

“...Na odontologia ainda não ocorreu mobilização com relação à questão de gênero e da
própria política pública de saúde bucal no Brasil. Mas ações como esta pesquisa da
UnB, deixam clara a importância desse trabalho com relação à categoria odontológica.”

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primera infância? Trabalho preparado para integrar a mesa Género,
Reconocimiento e instituciones en Brasil: desafios legales y políticos. 10º
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– Nuevas Fronteras: avances y desafios. La igualdad no es una utopía.
Universidad Complutense de Madrid. Madrid, 3 a 9 de julio de 2008

TOSSI, Lucía. Por la puerta del fondo. In Perspectivas. Ciência y tecnologia. Saberes
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60
ANEXO 1

Roteiro da Entrevista encaminhado via internet aos profissionais de ODT

Pesquisa: Características de sexo/gênero nas práticas de Saúde Bucal: o

caso dos/as profissionais de ODT- Estudo de caso no DF.


Responsáveis pelo instrumento: Profa. Lourdes Bandeira e Jorge Cordon/UnB

Questionário auto-respondido aplicado aos profissionais de ODT MASCULINOS


E FEMININOS que trabalham em instituições públicas (SES-GDF), privadas (Clínicas
Odontológicas) e mistas (GEAP, SESI, SESC, por exemplo),

I. Identificação sócio-profissional

1.1. Sexo:
1.2. Idade:
1.3. Estado Civil (indicar se é casado/a com profissional da ODT):
1.4. Local de formação: (instituição, cidade, ano; especificar se realizou cursos de pós-
graduação em qualquer nível: especialização, mestrado, mais de uma especialização,
etc);
1.5. Tempo de exercício profissional:
1.6. Indicar a área de formação e atuação específica:
1.7. Local de trabalho (especificar se trabalha em mais de uma atividade e em mais de
um setor/instituição: público: qual? Privado: Qual)?
1.8. Área de especialização (assinalar mais de uma se for o caso);
1.9. Indicar a faixa salarial em S.M.
1.10. Se for casado, considera que há uma divisão sexual relativa às atividades
domésticas? Aproximadamente, quantas horas são dedicadas a essas atividades por você
e por seu/sua companheiro/a?
1.11. Há outros membros do grupo familiar que desempenham ou que tinham essa
profissão? Explicitar;

II. A atuação das/dos profissionais no campo científico da ODT:

2.1.Quais foram às motivações da escolha dessa profissão/carreira? Relatar como optou


pela profissão, quais as motivações que a/o levaram a escolher essa profissão, e se tinha
algum desejo de trabalhar como profissional de ODT.

2.2. Quais são as características profissionais que distinguem os/as profissionais da


ODT pela condição de gênero?

61
2.3. Considera que tem uma predominância de profissionais de ODT relativa a um dos
sexos/gêneros? Explique.
2.4. Quais seriam as qualidades características da profissão concernentes mais as
profissionais mulheres da ODT? Por quê?
2.5. Do ponto de vista da formação profissional quem, no geral, é considerado mais
preparado para atuar na profissão de ODT? Por quais razões?
2.6. Considera que a diferença entre os papéis assumidos pelos homens e pelas
mulheres na sociedade tem alguma influencia na sua profissão? Podem produzir uma
prática profissional distinta?
2.7. Explicite quais são as desigualdades existentes no campo científico da ODT
relativo à prática profissional?.
2.8. Para ingressar no campo científico da ODT foi necessária a aquisição de
habilidades próprias para o exercício da profissão?
2.9. Mesmo sendo maioria dentro da profissão, as mulheres não conseguem alcançar
certas escalas de prestígio e de poder no interior da prática da profissão e, no exterior,
em relação à representação profissional. É nessa tensão/conflito que começa a se
delinear o “espaço” das mulheres na profissão de ODTs. É o que a sociologia do
trabalho chamaria de o “chão de fábrica”.
2.10. Outra questão que se coloca: por que as mulheres odontólogas exercem atividades
de menor importância, prestígio social e remuneração e as especializações e os postos
profissionais de destaque não lhe são acessíveis.

III. Predomínio de estereótipos e preconceitos que PODEM discriminar, pela


atuação de gênero:

3.1. Quais profissionais atuam mais em programas como a PSF(Programa da Saúde da


Família? Por quais razões? Pelo tipo de engajamento profissional? Pela livre escolha?
Por outras razões? Justifique sua resposta;
3.2. Que barreiras profissionais estão mais presentes na profissão de ODT para as
mulheres e para os homens?
3.3. O desempenho das atividades ditas “científicas”, na sua forma de pensar deve ser
mais destinado a qual dos sexos/gêneros? Por quê?
3.4. Os profissionais homens da ODT desempenham as mesmas atividades das mulheres
profissionais de ODT? Dê alguns exemplos.
3.5. No exercício da profissão de ODT permanece uma diferença de papéis sexuais, ou
essa somente existe nos espaços de atuação privada?
3.6. A chamada divisão sexual do trabalho, fundamentada em concepções de gênero,
acaba por levar a uma postura de “naturalização” de uma ética profissional, segundo a
qual homens e mulheres definem seus modos de atuação. Tradicionalmente voltadas
para os cuidados, à atuação das mulheres, no campo científico da odontologia, voltadas
ao exercício de lidar com cuidados, seria extensão das atividades exercidas no espaço
privado e dos homens no âmbito público. Considera que essas diferenças existem? Caso
positivo, interferem na ética profissional dos/das profissionais de ODT
3.7. Como considera que a profissão de ODT é vista pela sociedade?
3.8. Refletir sobre quais sentimentos são necessários para realizar o trabalho de
profissional de ODT, principalmente em casos específicos. (exemplo: com crianças,
com idosos, com doentes, etc), o que lhe é exigido moral, emocional, ou afetivamente
como profissional?

62
3.9. Informar como a saúde é afetada (se sente cansado(a) com o trabalho. Tem muita
carga de trabalho? Tem algum problema de saúde, usa medicamentos? Que tipo de
medicamentos? Já sofreu ou sofre de depressão? Tem muita dispensa do trabalho por
motivos de saúde causadas pelo trabalho como profissional da ODT)?

IV. Sentimentos Presentes Em relação à instituição na qual atua.

4.1. Indique quanto tempo de trabalho na instituição, quantas horas semanais se dedica a
ela e como julga as atividades realizadas.
4.2. Como você considera a atuação, em geral, dessa instituição? Quais são as principais
faltas? Como avalia sua atuação na instituição?
4.3. O que mais lhe causa dano pessoal (psicológico, físico, emocional) no trabalho?
Que mais lhe causa alegrias?

V. Registre as Observações que achar necessário.

* Registre o tempo aproximado gasto em responder esta entrevista.

ANEXO II

Prestação de Contas

63

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