Sunteți pe pagina 1din 8

DEUS E O ESTADO

amor pela liberdade humana: um senhor, por mais que ele faça e por mais
liberal que queira se mostrar, jamais deixa de ser, por isso, um senhor. Sua
existência implica necessariamente a escravidão de tudo o que se encontra
debaixo dele. Assim, se Deus existisse, só haveria para ele um único meio de
servir à liberdade humana; seria o de cessar de existir.

Amoroso e ciumento da liberdade humana e considerando-a como a


condição absoluta de tudo o que adoramos e respeitamos na humanidade,
inverto a frase de Voltaire e digo que, se Deus existisse, seria preciso aboli-lo.

***

A severa lógica que me dita estas palavras é muito evidente para que eu
necessite desenvolver esta argumentação. E me parece impossível que os
homens ilustres, dos quais citei os nomes tão célebres e tão justamente
respeitados não tenham sido tocados e não tenham percebido a contradição
na qual eles caem ao falar de Deus e da liberdade humana simultaneamente.
Para que tenham passado ao longo do problema, foi preciso que tivessem
pensado que esta inconseqüência ou esta injustiça fosse, na prática,
necessária para o próprio bem da humanidade.

Talvez, também, ao falar da liberdade como de uma coisa que é para eles
respeitável e cara, eles a compreendam completamente diferente da que
concebemos, nós, materialistas e socialistas revolucionários. Com efeito, eles
não falam jamais dela sem acrescentar imediatamente uma outra palavra, a
da autoridade, uma palavra e uma coisa que detestamos com toda a força de
nosso coração.

O que é a autoridade? E a força inevitável das leis naturais que se


manifestam no encadeamento e na sucessão fatal dos fenômenos do mundo
físico e do mundo social? Efetivamente, contra estas leis, a revolta é não
somente proibida, é também impossível. Podemos conhecê-las mal, ou ainda
não conhecê-las, mas não podemos desobedecê-las porque elas constituem a
27
DEUS E O ESTADO

base e as próprias condições de nossa existência: elas nos envolvem, nos


penetram, regulam todos os nossos movimentos, pensamentos e atos; mesmo
quando pensamos desobedecê-las, não fazemos outra coisa que manifestar
sua onipotência.

Sim, somos absolutamente escravos destas leis. Mas nada há de


humilhante nesta escravidão. A escravidão supõe um senhor exterior, um
legislador que se situe fora daquele ao qual comanda; enquanto as leis não
estão fora de nós, elas nos são inerentes, constituem nosso ser, todo nosso ser,
corporal, intelectual e moralmente: só vivemos, só respiramos, só agimos, só
pensamos, só queremos através delas. Fora delas não somos nada, não
somos. i)e onde nos viria então o poder e o querer de nos revoltarmos contra
elas?

Em relação às leis naturais, só há, para o homem, uma única liberdade


possível: reconhecê-las e aplicá-las cada vez mais, conforme o objetivo de
emancipação ou de humanização coletiva e individual que ele persegue.
Estas leis, uma vez reconhecidas, exercem uma autoridade que jamais é
discutida pela massa dos homens. E preciso, por exemplo, ser, no fundo, um
teólogo ou um economista burguês para se revoltar contra esta lei, segundo a
qual dois mais dois são quatro. E preciso ter fé para pensar que não nos
queimaríamos no fogo e que não nos afogaríamos na água, a menos que
tenhamos recorrido a algum subterfúgio, fundado sobre qualquer outra lei
natural. Mas estas revoltas, ou melhor, estas tentativas ou estas loucas
fantasias de uma revolta impossível não formam mais do que uma exceção
bastante rara, pois, em geral, se pode dizer que a massa dos homens, na vida
quotidiana, se deixa governar pelo bom senso, o que significa dizer, pela
soma das leis naturais geralmente reconhecidas, de maneira mais ou menos
absoluta.

A infelicidade é que grande quantidade de leis naturais já constatadas


como tais pela ciência, permanecem desconhecidas das massas populares,

28
DEUS E O ESTADO

graças aos cuidados desses governos tutelares que só existem, como se sabe,
para o bem dos povos.

Há, além disso, um grande inconveniente: é que a maior parte das leis
naturais, que estão ligadas ao desenvolvimento da sociedade humana e são
tão necessárias, invariáveis, quanto as leis que governam o mundo físico, não
foram devidamente constatadas e reconhecidas pela própria ciência [5]. Uma
vez tivessem elas sido reconhecidas pela ciência, e que da ciência, através de
um amplo sistema de educação e de instrução popular, elas passassem à
consciência de todos, a questão da liberdade estaria perfeitamente resolvida.
As autoridades mais recalcitrantes devem admitir que aí então não haverá
necessidade de organização, nem de direção nem de legislação políticas, três
coisas que emanam da vontade do soberano ou da votação de um
parlamento eleito pelo sufrágio universal, jamais podendo estar conformes às
leis naturais, e são sempre igualmente funestas e contrárias à liberdade das
massas, visto que elas lhes impõem um sistema de leis exteriores, e
conseqüentemente despóticas.

A liberdade do homem consiste unicamente nisto: ele obedece às leis


naturais porque ele próprio as reconheceu como tais, não porque elas lhe
foram impostas exteriormente, por uma vontade estranha, divina ou
humana, coletiva ou individual, qualquer.

Suponde uma academia de sábios, composta pelos representantes mais


ilustres da ciência; imaginai que esta academia seja encarregada da
legislação, da organização da sociedade, e que, inspirando-se apenas no amor
da mais pura verdade, ela só dite leis absolutamente conforme às mais
recentes descobertas da ciência. Pois bem, afirmo que esta legislação e esta
organização serão uma monstruosidade, por duas razões: a primeira, é que a
ciência humana é sempre necessariamente imperfeita, e que, comparando o
que ela descobriu com o que ainda lhe resta a descobrir, pode-se dizer que
está ainda em seu berço. De modo que, se quiséssemos forçar a vida prática

29
DEUS E O ESTADO

dos homens, tanto coletivo quanto individual, a se conformar estritamente,


exclusivamente, com os últimos dados da ciência, condenar-se-ia tanto a
sociedade quanto os indivíduos a sofrer martírio sobre um leito de Procusto,
que acabaria em breve por desarticulá-los e sufocá-los, ficando a vida sempre
infinitamente maior do que a ciência.

A segunda razão é a seguinte: uma sociedade que obedecesse à legislação


emanada de uma academia científica, não porque ela tivesse compreendido
seu caráter racional - em cujo caso a existência da academia se tornaria inútil -
mas porque esta legislação, emanando da academia, se imporia em nome de
uma ciência que ela veneraria sem compreendê-la, tal sociedade não seria
uma sociedade de homens, mais de brutos. Seria uma segunda edição dessas
missões do Paraguai, que se deixaram governar durante tanto tempo pela
Companhia de Jesus. Ela não deixaria de descer, em breve, ao mais baixo
grau de idiotia.

Mas há ainda uma terceira razão que tornaria tal governo impossível. É
que uma academia científica, revestida desta soberania por assim dizer
absoluta, ainda que fosse composta pelos homens mais ilustres; acabaria
infalivelmente, e em pouco tempo, por se corromper moral e
intelectualmente. E atualmente, com o pouco de privilégios que lhes deixam,
a história de todas as academias. O maior gênio científico, no momento em
que se torna acadêmico, um sábio oficial, reconhecido, decai inevitavelmente
e adormece. Perde sua espontaneidade, sua ousadia revolucionária, e a
energia incômoda e selvagem que caracteriza a natureza dos maiores gênios,
sempre chamada a destruir os mundos envelhecidos e a lançar os
fundamentos dos novos mundos. Ganha sem dúvida em polidez, em
sabedoria utilitária e prática, o que perde em força de pensamento. Numa
palavra, ele se corrompe.

É próprio do privilégio e de toda posição privilegiada matar o espírito e o


coração dos homens. O homem privilegiado, seja política, seja

30
DEUS E O ESTADO

economicamente, é um homem depravado de espírito e de coração. Eis uma


lei social que não admite nenhuma exceção e que se aplica tanto a nações
inteiras quanto às classes, companhias e indivíduos. E a lei da igualdade,
condição suprema da liberdade e da humanidade. O objetivo principal deste
estudo é precisamente demonstrar esta verdade em todas as manifestações
da vida humana.

Um corpo científico, ao qual se tivesse confiado o governo da sociedade,


acabaria logo por deixar de lado a ciência, ocupando-se de outro assunto; e
este assunto, o de todos os poderes estabelecidos, seria sua eternização,
tornando a sociedade confiada a seus cuidados cada vez mais estúpida e, por
conseqüência, mais necessitada de seu governo e de sua direção.

Mas o que é verdade para as academias científicas, o é igualmente para


todas as assembléias constituintes e legislativas, mesmo quando emanadas
do sufrágio universal. Este último pode renovar sua composição, é verdade, o
que não impede que se forme, em alguns anos, um corpo de políticos,
privilegiados de fato, não de direito, que, dedicando-se exclusivamente à
direção dos assuntos públicos de um pais, acabem por formar um tipo de
aristocracia ou de oligarquia política. Vejam os Estados Unidos e a Suíça.

Assim, nada de legislação exterior e nada de autoridade, uma, por sinal,


sendo inseparável da outra, e todas as duas tendendo à escravização da
sociedade e ao embrutecimento dos próprios legisladores.

***

Decorre daí que rejeito toda autoridade? Longe de mim este pensamento.
Quando se trata de botas, apelo para a autoridade dos sapateiros; se se trata
de uma casa, de um canal ou de uma ferrovia, consulto a do arquiteto ou a do
engenheiro. Por tal ciência especial, dirijo-me a este ou àquele cientista. Mas
não deixo que me imponham nem o sapateiro, nem o arquiteto, nem o
cientista. Eu os aceito livremente e com todo o respeito que me merecem sua
31
DEUS E O ESTADO

inteligência, seu caráter, seu saber, reservando todavia meu direito


incontestável de crítica e de controle. Não me contento em consultar uma
única autoridade especialista, consulto várias; comparo suas opiniões, e
escolho aquela que me parece a mais justa. Mas não reconheço nenhuma
autoridade infalível, mesmo nas questões especiais; conseqüentemente,
qualquer que seja o respeito que eu possa ter pela humanidade e pela
sinceridade desse ou daquele indivíduo, não tenho fé absoluta em ninguém.
Tal fé seria fatal à minha razão, à minha liberdade e ao próprio sucesso de
minhas ações; ela me transformaria imediatamente num escravo estúpido,
num instrumento da vontade e dos interesses de outrem.

Se me inclino diante da autoridade dos especialistas, e se me declaro


pronto a segui-la, numa certa medida e durante todo o tempo que isso me
pareça necessário, suas indicações e mesmo sua direção, é porque esta
autoridade não me é imposta por ninguém, nem pelos homens, nem por
Deus. De outra forma as rejeitaria com horror, e mandaria ao diabo seus
conselhos, sua direção e seus serviços, certo de que eles me fariam pagar,
pela perda de minha liberdade e de minha dignidade, as migalhas de
verdade, envoltas em muitas mentiras que poderiam me dar.

Inclino-me diante da autoridade dos homens especiais porque ela me é


imposta por minha própria razão. Tenho consciência de só poder abraçar, em
todos os seus detalhes e seus desenvolvimentos positivos, uma parte muito
pequena da ciência humana. A maior inteligência não bastaria para abraçar
tudo. Daí resulta, tanto para a ciência quanto para a indústria, a necessidade
da divisão e da associação do trabalho. Recebo e dou, tal é a vida humana.
Cada um é dirigente e cada um é dirigido por sua vez. Assim, não há
nenhuma autoridade fixa e constante, mas uma troca contínua de autoridade
e de subordinação mútuas, passageiras e sobretudo voluntárias.

Esta mesma razão me proíbe, pois, de reconhecer uma autoridade fixa,


constante e universal, porque não há homem universal, homem que seja

32
DEUS E O ESTADO

capaz de aplicar sua inteligência, nesta riqueza de detalhes sem a qual a


aplicação da ciência a vida não é absolutamente possível, a todas as ciências,
a todos os ramos da atividade social. E, se uma tal universalidade pudesse
ser realizada em um único homem, e se ele quisesse se aproveitar disso para
nos impor sua autoridade, seria preciso expulsar esse homem da sociedade,
visto que sua autoridade reduziria inevitavelmente todos os outros à
escravidão e à imbecilidade. Não penso que a sociedade deva maltratar os
gênios como ela o fez até o presente momento; mas também não acho que os
deva adular demais, nem lhes conceder quaisquer privilégios ou direitos
exclusivos; e isto por três razões; inicialmente porque aconteceria com
freqüência de ela tomar um charlatão por um gênio; em seguida porque,
graças a este sistema de privilégios, ela poderia transformar um verdadeiro
gênio num charlatão, desmoralizá-lo, animalizá-lo; e, enfim, porque ela daria
a si um senhor.

Resumindo. Reconhecemos, pois, a autoridade absoluta da ciência porque


ela tem como objeto único a reprodução mental, refletida e tão sistemática
quanto possível, das leis naturais inerentes à vida material, intelectual e
moral, tanto do mundo físico quanto do mundo social, sendo estes dois
mundos, na realidade, um único e mesmo mundo natural. Fora desta
autoridade exclusivamente legítima, pois que ela é racional e conforme à
liberdade humana, declaramos todas as outras autoridades mentirosas,
arbitrárias e funestas.

Reconhecemos a autoridade absoluta da ciência, mas rejeitamos a


infalibilidade e a universalidade do cientista. Em nossa igreja - que me seja
permitido servir-me por um momento desta expressão que por sinal detesto:
a igreja e o Estado são minhas duas ovelhas negras; em nossa Igreja, como na
Igreja protestante, temos um chefe, um Cristo invisível, a ciência; e como os
protestantes, até mais conseqüentes do que os protestantes, não queremos
tolerar nem o papa, nem o concilio, nem conclaves de cardeais infalíveis, nem
bispos, nem mesmo padres. Nosso Cristo se distingue do Cristo protestante
33
DEUS E O ESTADO

no fato de este último ser um Cristo pessoal, enquanto o nosso é impessoal; o


Cristo cristão, já realizado num passado eterno, apresenta-se como um ser
perfeito, enquanto a realização e a perfeição de nosso Cristo, a ciência, estão
sempre no futuro: o que equivale a dizer que elas jamais se realizarão. Ao
não reconhecer outra autoridade absoluta que não seja a da ciência absoluta,
não comprometemos de forma alguma nossa liberdade.

Entendo por ciência absoluta a ciência realmente universal, que


reproduziria idealmente, em toda a sua extensão e em todos os seus detalhes
infinitos, o universo, o sistema ou a coordenação de todas as leis naturais,
manifestas pelo desenvolvimento incessante dos mundos. É evidente que
esta ciência, objeto sublime de todos os esforços do espírito humano, jamais
se realizará em sua plenitude absoluta. Nosso Cristo permanecerá pois
eternamente inacabado, o que deve enfraquecer muito o orgulho de seus
representantes titulados entre nós. Contra este Deus, filho, em nome do qual
eles pretendiam nos impor sua autoridade insolente e pedantesca,
recorremos a Deus pai, que é o mundo real, a vida real, do qual ele é apenas a
expressão muito imperfeita, e do qual somos os representantes imediatos,
nós, seres reais, vivendo, trabalhando, combatendo, amando, aspirando,
gozando e sofrendo.

Numa palavra, rejeitamos toda legislação, toda autoridade e toda


influência privilegiada, titulada, oficial e legal, mesmo emanada do sufrágio
universal, convencido de que ela só poderia existir em proveito de uma
minoria dominante e exploradora, contra os interesses da imensa maioria
subjugada.

Eis o sentido no qual somos realmente anarquistas.

***

Os idealistas modernos entendem a autoridade de uma maneira totalmente


diferente. Ainda que livres das superstições tradicionais de todas as religiões
34

S-ar putea să vă placă și