DECIDIR É ACOLHER A DECISÃO DE DEUS

Os hindus têm ainda um outro símbolo para o discernimento: o CISNE.

Na mitologia indiana, o cisne tinha a habilidade de separar, com seu bico, a água
do leite, de maneira que, se lhe ofereciam leite misturado com água, só bebia o
leite e deixava a água.
O ser humano sensível deve ter a capacidade do cisne de discernir a verdade
quase por natureza, por ação espontânea, pelo fender as águas turvas do mundo
com o fio agudo do entendimento que significa o golpe do duro bico do cisne
sobre as águas.
Toda ave migratória possui o poder real e misterioso de discernir tempos e marés, de fixar estrelas
e constelações, de adivinhar sendas nos céus, de voar dia após dia e pousar no lugar exato e no tempo
predestinado à volta de cada ano, no meio do regozijo e da admiração das pessoas do lugar, que espe-
ram seus amigos alados para inaugurar a primavera.
Que código genético de instinto vital, inscrito nos anais da natureza, desperta nas entranhas da ave quando
chega o dia secreto, sacode todo seu ser e a faz deixar a comunidade de seu ninho e voar, sulcar os céus,
fixar o olhar, medir a distância e encontrar um novo lar nas praias remotas de um clima distante?

Não há cálculo nem mapa e nem máquina que possam traçar a rota e fixar o
paradeiro. Só o sabe a mãe natureza; e a ave, que se deixa levar pela natureza,
sabe-o também.
Discernimento com asas; eleições nos céus; decisões por instinto. É assim
que a natureza funciona; e também a Graça, que sempre parte da natureza.
Cabe-nos confiar no Espírito e deixar que seus impulsos despertem dentro de
nós. Então o milagre da migração para terras prometidas terá lugar em nossa
vida.
Na alegria do Espírito é que floresce a arte de discernir.
As mensagens do Espírito trazem ao coração paz, silêncio e alegria,
e nesta mesma paz e alegria o coração reconhece sua origem e segue suas
indicações.

Para uma pessoa de fé, a busca da decisão correta adquire uma dimensão nova
e profunda ao transformar-se na busca da Vontade de Deus sobre sua vida.
Minhas decisões são, desde o início até o fim, inteiramente de Deus e inteiramente minhas.
Deus não está presente só nas emergências , mas em cada instante e em toda a realidade.
Deus preside minhas decisões desde o primeiro momento em que surge a busca, acompanha minhas dú-
vidas e assiste minhas preferências e chega comigo à opção final. A decisão é construída em Deus.
Ele está a meu lado sempre, quando sou forte e quando sou fraco, quando caminho e quando chego,
quando sofro e quando me regozijo. Vivo minha vida com Sua ajuda e graça e tomo minhas decisões, tal
como são em toda a sua integridade, ao amparo de Sua sabedoria e de Sua luz.
Deus não é um “último recurso”, mas um companheiro constante; não é “exceção”, mas permanência;
não é o Deus da “emergência”, mas o Deus da vida em cada uma das suas palpitações e em cada uma
das suas decisões.
Para reconhecer Sua Vontade em dado momento, tenho de viver primeiro, dia-a-
dia, em contato fiel e permanente com Ele. Para encontrar a Vontade de Deus
tenho de viver com Deus.
Saber o que quero é, em última análise, saber o que Deus quer de mim;
descobrir meus caminhos é descobrir Seus desígnios sobre mim;
ESCOLHER é ARRISCAR e o risco da vida é o exercício da divina Providência.

Para fazer o que agrada a Deus tenho de começar por saber o que é que lhe
agrada.
Averiguar Seus desejos e conhecer Sua Vontade. Já conheço sua Vontade geral,
seus mandamentos e seus preceitos... mas permanece um terreno imenso de
opções, mil decisões
diárias, grandes e pequenas, múltiplas situações nas quais tenho de definir
minha atitude fundamental.
A Vontade de Deus se estende à gama total de minhas ações;
é o descobrir essa Vontade e seguí-la é o compromisso fundamental de
minha vida de fé.
Textos bíblicos: Lc. 12, 54-59 1Rs. 3,4-15

* Todo avanço em sensibilidade, em delicadeza de atenção ao Espírito, todo

aprofundamento em conhecimento próprio, todo entender e distinguir moti-
vos, inclinações, intenções no agir e no escolher, é prosseguir na vida e na graça.