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Fala-se do ideal de perfeição como uma estrada a percorrer, isto é, como uma
direção, um sentido.
Na realidade, porém, a perfeição é em si mesma uma perda do sentido de
orientação; ela afasta da direção correta, ou seja, afasta o ser humano de si
mesmo.
Quem tende à perfeição coloca-se longe de si mesmo, afasta-se de si, jamais se
abraçará nem sentirá compaixão por si próprio. O perfeccionista nunca está
contente, porque sempre acha que não fez “o melhor”, o mais correto, o mais
adequado. Ele se valoriza apenas pelo resultado das suas ações. A própria
exigência de ser perfeito em tudo o que faz está a indicar que ele não se dá
nenhum valor. Termina descontente e frustrado consigo mesmo. Tornar-se
humano é a única maneira de sustentar, a partir da base, todo o edifício da
pessoa finita e limitada que somos.
Mas como se realiza essa proposta? Como nos tornarmos humanos?
É através da compaixão que nos leva a aprender alguma coisa com os erros, a
contrapôr-se à culpa, ao castigo, à autocondenação. É ela que possibilita que
cada um abrace a sua fragilidade.
A fragilidade está sempre presente: olhá-la de frente, acolhê-la, aceitá-la é o
único caminho que nos leva a
sermos mais humanos.
“Tornar-se humano” nada mais é que um gesto de aceitação de si (decisão de
ser um ser finito).
“Tornar-se humano” é um processo de reconciliação com aquilo que somos.
“Tornar-se humano” é simplesmente ficar do lado de nós mesmos, não
importando os fracassos.
Em que consiste essencialmente o exercício da “aceitação de si”?
A essência da aceitação de si é a compaixão. Experimentar a compaixão é um modo de conhecer-
se que abraça toda a existência. O centro do homem é o coração; o centro do coração é a misericórdia.
A misericórdia é o exercício vital que nos orienta para a fragilidade.