O ser humano levou o egoísmo até às últimas consequências, ou seja, amor a si mesmo até o desprêzo de Deus; disse um “não” à Vida e ao Deus da Vida, gerando fracasso, frustração e morte. A opção contra Deus e contra seu Projeto brota do interior do homem, que por sua liberdade é capaz de recusar o Amor e destruir a relação Deus-outros-mundo. Com isso rompe-se a filiação divina, a fraternidade com os outros e o domínio sobre as coisas. Há uma inversão radical: - o homem, com sua soberba, sente-se como um pequeno deus; concepção de vida centrada em si mesmo e em seus interesses; - as coisas, os bens, o poder, o status... ocupam o lugar de Deus; vive para o ter e o prazer absolu- tos; sua conduta harmoniza-se no mal; - Deus não é mais o fim último, a quem se deve “buscar em primeiro lugar” (busca-se ter mais); - Deus não é mais o Criador que é “amado sobre todas as coisas”; - Deus não é mais o Ser Providente de quem “tudo procede e para quem tudo retorna”; - Deus não é mais o supremo Senhor cuja “vontade deve-se buscá-la”; - a verdade, a honra, a justiça, o serviço, o compromisso... deixam de ser valores; - há sobretudo uma inversão radical nas relações entre as pessoas: * o outro é coisificado, instrumentalizado, manipulado; * direitos são desprezados; o engano, a violência, a injustiça... reinam por toda parte.
Do interior do homem, o egoísmo extremado passa para suas atividades,
instituições, estruturas provocando violência, gerando tensões, divisões... (externalizado), A opção contra o Projeto de Deus nasce do mais profundo da pessoa e se encarna em estruturas injustas, destruidoras, portadoras de morte... O “homem invertido” gera também um “mundo invertido”: - disso resulta uma lista interminável de injustiças, misérias, explorações, crueldades, assassinatos... - há um processo de desumanização, de cristalização do mal nas instituições: família, trabalho, - economia, política, educação, mídia, relações... - legitimação das macro-estruturas injustas (poder do Estado, da Justiça...); há uma corrente terrí- vel de nossa sociedade materialista e egoísta que arrasta todos (todos invertidos). A humanidade está dividida, quebrada interiormente, desintegrada. Como sair dessa situação? Como passar do “homem invertido” ao “homem novo”, da sociedade egoísta à comunidade solidária, do mundo materialista e concentrador ao mundo da partilha?
Para passar do “homem invertido e dividido” ao “homem ideal”,
precisamos de uma ponte. Somos incapazes de dar o salto sozinhos (há um fôsso muito grande). Deus sempre fiel, novamente toma a iniciativa; não abandona o ser humano rebelde à sua própria sorte. Gratuitamente o amou a ponto de enviar ao mundo seu próprio Filho para retomar o Projeto original e vivificar tudo de novo: “Eu vim para que todos tenham Vida e a tenham em abundância” (Jo. l0,l0). Jesus quis fazer-se presente aí onde a Vida não era abundante: o mundo dos enfermos, pobres, pecadores. Jesus gastou sua vida para fazer das vilas e aldeias de seu país um paraíso, onde os homens e as mulheres pudessem aprender a viver como irmãos, livres e solidários. Jesus denuncia todas as divisões criadas pelos homens e as combate através de atitudes bem concretas. Passos para a oração * procure um “lugar sagrado” e uma posição corporal que mais lhe ajude na oração. * Sinta-se “presente” diante do Deus sempre “presente”. * Pedir: “conhecimento interno” do mundo e da realidade injusta que nos oprime. * Texto bíblico: Is. 59 * Contemplação da própria realidade: fazer “memória” (recordar- trazer à tona) situações, fatos... que revelam um mundo “invertido”, contrário ao plano de Deus. * Avaliação: sentimentos que mais apareceram na oração; o que mais lhe impressionou; você se sentiu presente, dócil à ação do Espírito durante a oração?