Mais uma vez o Brasil assiste cenas trágicas e tristes no lugar de
comemorações e, mais uma vez, a engenharia ocupa a mídia ao lado de fotos de ambulâncias, carros do corpo de bombeiros e estatísticas fúnebres. Começam então os procedimentos padrão para momentos de crise: autoridades indignadas, promessas de apurações de responsabilidades e dedos apontados em todas as direções. O resultado, porém já é conhecido pela população: muito falatório, muitas desculpas esfarrapadas, famílias lutando por indenizações que não vem e tudo continua na mesma, pois a burocracia estatal parece ser criada e aperfeiçoada com o objetivo único de acobertar seus próprios erros. Porém, a verdade é que não é preciso ir muito longe para identificar os repensáveis pela morte dos 7 torcedores do Bahia, ou dos 199 passageiros do vôo 3054, ou das 7 vítimas do Metrô de São Paulo. São aquelas mesmas pessoas cujos esforços em isentar-se de culpa são transmitidos em rede nacional entre uma novela e outra. O Estádio da Fonte Nova ruiu por falta de manutenção, por descaso das autoridades baianas e da CBF frente aos avisos recebidos, pela ineficiência da justiça brasileira ao atender aos pedidos de interdição feitos pelo ministério público e pelo desinteresse da imprensa. Ao torcedor, cujo interesse é sempre invocado nas manobras contra qualquer tentativa de interdição, fica a alternativa de correr risco de vida sempre que quiser prestigiar seu time no estádio. O poder público tem repetidamente ignorado os avisos dados pelas autoridades técnicas sobre a infra-estrutura brasileira. Associações de engenheiros e de engenharia têm realizado estudos, debates, simpósios e outros tantos eventos, apresentando às autoridades competentes um retrato fiel do estado precário das obras públicas brasileiras, mas nenhuma medida efetiva de proteção à população é tomada até que seja tarde demais. Hoje o gestor público brasileiro assume seu cargo com uma mentalidade de curto prazo, seu horizonte resume-se à próxima eleição a vista e seus projetos duram entre dois e quatro anos, priorizados pelo potencial de geração de votos. Os interesses e necessidades dos cidadãos que se adaptem a isso, ou se lixem. Pois é preciso manter a máquina eleitoral em funcionamento e a manutenção das obras de gestões anteriores elege, no máximo, o síndico do condomínio. É preciso desenvolver na sociedade brasileira a cultura da preservação do patrimônio público. Pressionar candidatos e partidos a incluir programas de manutenção nas propostas eleitorais. Informar à imprensa e meios de comunicação dos riscos oferecidos pelas obras mal conservadas. Colaborar com a justiça para acelerar os processos de interdição e recuperação de estruturas comprometidas. Enfim será necessário tomar as rédeas do combate ao descaso e lutar pela conservação dos investimentos feitos no passado, sob pena de comprometer o futuro. Pois a alternativa, baseada na perda de vidas e obras de reconstrução, sempre será mais cara e moralmente condenável.