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NOTÍCIAS
05 Julho/Agosto/Setembro 2009
Publicação trimestral • Série V • P.V.P €1.75
DOSSIER
Reunião do Conselho Internacional
O rumo da Amnistia Internacional
para os próximos seis anos
12. 29.
APELOS MUNDIAIS
DOSSIER Interceda em nome do moçambicano
As conclusões da Reunião do Julião Macule, do palestiniano Khaled
Conselho Internacional e o Plano Jaradat, da grega Konstantina Kuneva e
Estratégico Integrado que se inicia do norte-coreano Kang Gun
em 2010
EDITORIAL
Não há mudança sem risco
Por Lucília José Justino, Presidente da Direcção
ENTREVISTA
Raquel Rolnik, Relatora Especial para a Organização das Nações Unidas
sobre Habitação Adequada
A propósito do Dia Mundial do Habitat, que se celebra na primeira segunda-feira de Outubro, o “Notícias
da Amnistia Internacional Portugal” falou com a brasileira Raquel Rolnik, que desde 1 de Maio de 2008
é a Relatora Especial para a Organização das Nações Unidas sobre Habitação Adequada. A arquitecta
e urbanista, a viver em São Paulo, falou sobre o modelo de desenvolvimento actual e os problemas de
direitos humanos que dele advêm
Por Cátia Silva
guns países de África e da Ásia, onde até e pouca mão-de-obra. Além disso, as
há muito pouco tempo havia uma maio- populações estão a ser empurradas ou
ria de moradores na zona rural. expulsas por processos de instalação de
outras actividades no seio de projectos
AI: Mas o que quer dizer exactamente de desenvolvimento, como a construção
com “processo de urbanização”? de barragens, acções relacionadas com
RR: São processos de reterritorialização minas, entre outras que entram em
das populações e de concentração des- choque com a vida das comunidades
tas pessoas nas cidades. tradicionais e com a agricultura familiar
ou de subsistência.
AI: Isto está a acontecer de forma
natural ou é provocado pelos próprios
Estados? “O paradigma dominante é
RR: Se virmos bem, é um fenómeno pensar que habitação é um
histórico. É uma construção social. É problema de mercado e não
um fenómeno que ocorreu, por exemplo, de políticas públicas”
na Europa e na América Latina noutros
momentos e que agora está a acontecer
© Luiz Alonso
com mais intensidade nos continentes AI: Muitas vezes esse “empurrar”,
Africano e Asiático. E isto está directa- ou “expulsão”, é feito com recurso à
mente relacionado com um certo modelo força e às armas, como têm testemu-
Amnistia Internacional (AI): A 5 de Ou-
de desenvolvimento económico e de or- nhado os investigadores da Amnistia
tubro assinalou-se o Dia Mundial do
ganização social. Há uma predominância Internacional...
Habitat e este ano a Organização das
de um modo de produção industrial e de RR: E parece até que os desalojamentos
Nações Unidas dedicou o dia ao tema:
uma economia de mercado. forçados estão cada vez mais intensos.
Planear o nosso futuro urbano, porque,
O que aconteceu nesta era do neo-libe-
segundo o seu Secretário-Geral, Ban
AI: Esse modelo dificulta a vida nos ralismo e da globalização é que as ci-
Ki-moon, é preciso “sublinhar a urgên-
meios rurais? dades tradicionais sofreram um ataque
cia de ir ao encontro das necessidades
RR: O que tem acontecido são, na ver- por parte de investimentos financeiros ao
dos moradores das cidades, no mundo
dade, dois fenómenos. Um de expulsão nível do desenvolvimento imobiliário. Es-
em rápida urbanização”. Em primeiro
do meio rural e um de atracção do meio tes deslocaram, muitas vezes usando a
lugar, o que significa vivermos num
urbano. O primeiro tem muitas vezes si- força e a violência, antigas comunidades
mundo em rápida urbanização?
gnificado uma expulsão concreta, ou que sempre estiveram instaladas nesses
Raquel Rolnik (RR): É importante reco-
seja, uma apropriação das áreas das co- locais. E a forma como tudo isto tem
nhecer que está nesse momento a ocor-
munidades tradicionais e das áreas onde acontecido mostra que não se respeita
rer um processo de urbanização muito
se pratica agricultura de subsistência o direito à habitação como um direito
intenso nas regiões e continentes onde
pela produção agrícola do agro-negócio humano. Este é um problema sério, mas
ainda havia (e há) uma predominância
que, de um modo geral, exige muita terra há ainda factores de expulsão da cidade
de moradores no meio rural. Falo de al-
Notícias • Amnistia Internacional 05
que estão ligados à problemática do cli- aceder ao crédito e ao financiamento. É desenvolvimento, como a Índia ou o
ma, ao facto da seca se estar a agravar basicamente um paradigma neo-liberal Quénia? É nesses que nos habituámos
em algumas regiões. A desertificação vai da política pública, que entende que o a ver imagens de bairros degradados e
também impondo mais impossibilidades Estado não deve ter responsabilidade, de pessoas sem acesso a bens essen-
de sobrevivência nas zonas rurais. nem adoptar a habitação como uma ciais...
política social. Os orçamentos públicos RR: Acontece também nos países de-
AI: Por outro lado, referiu que há fac- nessa área foram diminuindo. senvolvidos. Por exemplo, vou agora
tores de atracção nas cidades. São es- fazer uma missão aos Estados Unidos da
ses que estão ligados ao modelo de or- América para perceber os efeitos, para a
ganização da sociedade de que falava? “Existe uma associação população, do fim da política habitacio-
RR: Sim. Assistimos à disseminação de perversa entre os bairros nal existente no país. Entender o efeito
uma cultura e de um modo de vida urba- onde moram as pessoas disso no aumento dos sem-abrigo. E isto
no e as cidades oferecem oportunidades com menos dinheiro e a numa altura em que houve uma crise
de desenvolvimento económico, cultural, financeira que ocorreu (praticamente)
etc., que as áreas rurais não oferecem.
criminalidade” ao nível do imobiliário e que mostrou a
Por exemplo, a educação superior é pou- falência do modelo do crédito para com-
co acessível nas zonas rurais. AI: Assim, quem não tem dinheiro para pra de habitação. Há pessoas nos Esta-
comprar casa própria, que soluções dos Unidos que não podem ter uma pro-
AI: Com tudo isto surge um segundo terá? priedade privada e pagá-la. Hoje estão
problema, que se prende com propor- RR: Os pobres têm de construir as na rua, a viver em acampamentos. Uma
cionar habitação adequada a todas es- suas próprias habitações e nas piores situação que detectei não só aí, mas
tas pessoas. Antes de mais, esclareça- condições, porque são os que têm me- também em Espanha, por exemplo.
-se, habitação adequada é muito mais nos recursos para o conseguirem fazer
do que quatro paredes e um tecto? sozinhos e porque as políticas e o pla- AI: Tudo isso por efeitos da actual crise
RR: Exactamente. O conceito de habi- neamento urbanos nunca reservam boa ou este era já um problema nos países
tação adequada, como está inscrito localização para esta produção popular. desenvolvidos?
nos padrões internacionais na área dos Isso levou à proliferação de favelas, de RR: Já existia, porque parte da imple-
direitos humanos, vai muito para além estabelecimentos informais precários. mentação do paradigma da habitação
da ideia de abrigo, de um tecto, e inclui Além disso, assume-se que a única como mercadoria e do modelo único da
muitos outros elementos. A habitação forma de ter habitação segura, de ter compra da casa própria foi o desmoronar
deve ser um ponto de partida a partir a segurança de que não se fica na rua das políticas habitacionais. O orçamento
do qual o morador, ou as pessoas que amanhã, é comprar casa própria, quan- do Ministério da Habitação nos Estados
aí habitam, têm acesso a meios de sub- do não é só. Devia haver políticas de pro- Unidos da América foi caindo ao longo
sistência dignos e aos meios de desen- tecção ao aluguer, de habitação coopera- dos anos 80. Isso já vinha a acontecer.
volvimento humano, ou seja, a serviços e tiva e associativa, entre outras opções. A
equipamentos de educação, de saúde, de obrigação do Estado não é dar uma casa AI: O que também parece ser seme-
desenvolvimento cultural, entre outros. própria a cada pessoa, mas garantir que lhante em todo o mundo é a discrimi-
Deve ainda implicar um meio ambiente todas as pessoas podem ter uma habita- nação das populações dos estabe-
digno e sadio, que não esteja exposto a ção adequada. lecimentos informais. Será porque se
riscos, que não seja vulnerável. Um con- associa comummente estes locais à
ceito muito amplo, que se deve aplicar AI: Tudo isso devia ser, aliás, do inte- criminalidade?
tanto no meio urbano, como no rural. resse dos próprios Estados, uma vez RR: Essa é uma questão bastante im-
que o problema da habitação não é iso- portante. Existe um estigma, uma asso-
AI: Essa é uma abordagem ao problema lado. Afecta muitas outras áreas... ciação perversa entre a informalidade, a
da habitação segundo os padrões in- RR: Evidentemente. A questão da habita- irregularidade, os bairros onde moram as
ternacionais de direitos humanos, mas, ção é muito básica e afecta um conjunto pessoas com menos dinheiro e a crimi-
pelo que referiu, não é a que tem sido múltiplo de direitos humanos. O direito nalidade. Isso é muito complexo do ponto
adoptada? à saúde, o direito ao trabalho, o direito de vista da segregação social e do blo-
RR: Não, muito pelo contrário. Assisti- à protecção da criança e do idoso,... queio do acesso às oportunidades que a
mos, a partir dos anos 80 e com muito Tudo isso é consequência da questão da cidade oferece, na medida em que essa
mais intensidade nos anos 90, à disse- habitação. A falta de habitação bloqueia associação criminaliza a população dos
minação de um paradigma de políticas o acesso a outros direitos. Em muitos estabelecimentos informais como um
habitacionais onde a ideia da habitação países – e não me refiro só a um ou dois todo. É uma questão complexa, porque é
como um direito universal, para todos, – viver em estabelecimentos informais exactamente a posição de ambiguidade
foi sendo abandonada em detrimento significa não ter acesso a serviços e equi- desses locais que abre espaço para que
de um conceito de habitação como mer- pamentos sociais básicos. actividades ilegais aconteçam no seu in-
cadoria, como um bem que as pessoas terior... Mas o facto de haver actividades
devem comprar no mercado e, para tal, AI: Isso acontece só em países em ilegais, como o comércio de drogas ou
06 Notícias • Amnistia Internacional
esses bairros são normalmente muito voz. Considera que é parte da solução
bem localizados do ponto de vista ur- para o problema da habitação?
banístico, o solo é caro e nesses lugares RR: É um elemento fundamental. É a
os pobres não podem ficar a morar. ideia de que qualquer processo – seja
de urbanização de um estabelecimento
AI: Mesmo urbanizando as favelas, con- informal, de reinstalação ou de remoção
tinuaria a ser pobre a viver com pobre... ou desalojamento – tem de contar com a
Não seria na mesma um gueto? participação directa da população.
RR: Depende das dimensões. Uma coisa
é falar de um local colocado no meio de AI: Até porque é preciso ter em conta
© UN_HABITAT um bairro, com 200, 300 ou 500 casas, que há pessoas com culturas muito
Raquel Rolnik durante o III Fórum Urbano Mundial, que decorreu outra é uma comunidade com 20.000 diferentes, como os imigrantes, as pes-
em 2006 no Canadá.
casas. São situações diferentes. E o im- soas de etnia cigana, entre outros. As
de armas, não quer dizer que todas as portante é também que as políticas se- necessidades em termos de habitação
pessoas que ali vivem sejam bandidos e jam mistas. É por isso que estou muito diferem muito...
criminosos. interessada em analisar a nova política RR: Esse é um dos elementos da habi-
norte-americana de produzir conjuntos tação adequada, que exige aquilo a que
AI: Talvez tenha sido para tentar mudar habitacionais que misturam rendas, pois chamamos de “adequação cultural”. É
essa realidade que em muitos países pode ser uma alternativa. um problema também bastante sério.
desenvolvidos se quis acabar com as Não adianta trabalhar desrespeitando as
“barracas”, criando bairros sociais AI: Refere-se à política de repartição da culturas das pessoas.
que são verdadeiros guetos. Parece renda das casas, em que o Estado paga
que acabou por ser a mesma coisa. uma parte e o arrendatário outra? AI: Consegue, com tudo o que engloba
Concorda? RR: Exactamente. o termo “habitação adequada”, apon-
RR: Essa é também uma situação muito tar Estados que estejam a ir no bom
interessante. Podemos pensar, por exem- AI: A vantagem seria as pessoas mais caminho?
plo, no Chile, que durante 20 anos teve pobres estarem misturadas com a res- RR: Tenho estado a procurar bons exem-
uma política muito forte para acabar tante sociedade? plos, porque como Relatora Especial da
com as favelas e construir habitação RR: Exacto. Organização das Nações Unidas recebo
subsidiada. O resultado foi a produção denúncias e relatos das situações nega-
de enormes guetos de pobres nas perife- “Há pessoas que não podem tivas. Quero procurar os bons caminhos.
rias, com muitos problemas sociais. No ter uma propriedade privada Há, claro, aqui e ali coisas positivas. Por
Brasil chamamos a isso “refavela”, pois exemplo, no que diz respeito à legisla-
e pagá-la. Hoje estão na rua, ção, há países que adoptaram o direito
são conjuntos habitacionais públicos, de
péssima qualidade, que só são mono- a viver em acampamentos” à habitação nas suas Constituições, na
funcionais, porque são só casas e mais legislação local. Mas o problema, mais
casas, pobres e mais pobres,... E não AI: É interessante que mencione a im- do que a legislação, é a implementação.
são habitação adequada, porque estão portância dessa mistura, pois até os
na periferia, distantes dos empregos, do ricos optaram, nas últimas décadas, AI: E pela negativa, destacaria algum
centro e da riqueza e da heterogeneidade por morar em “guetos”, pois é isso que país?
que a cidade tem. Estão segregados. são, no fundo, os famosos condomínios RR: Não vou sequer começar a citar,
privados... porque recebo diariamente denúncias de
AI: Então porque se terá optado por RR: Essa é uma das medidas adopta- muitos países do mundo.
esta solução? Recorde-se que tal acon- das que é muito mal vista, porque é
uma espécie de feudalização dos ricos Entrevista completa em:
teceu não só no Chile, mas em muitos www.amnistia-internacional.pt (Aprender/Re-
países... da cidade, retirando-os do espaço e vista da Amnistia Internacional)
RR: Quando há casas em estabelecimen- da dimensão públicos. É muito grave,
tos informais que são muito precárias, porque implica uma renúncia à ideia da
existem duas possibilidades. A primeira República, de que há uma rede pública
é uma intervenção no sentido da urba- de todos e uma responsabilidade pública
nização desses locais, ou seja, da sua pela sobrevivência de todos.
transformação, onde estão, em lugares
adequados. Parece que essa é a melhor AI: Por falar nessa ideia, uma das
Para mais informações sobre o Direito à
política, na medida em que os moradores soluções que a Amnistia Internacional
Habitação, não perca a reportagem dos
já estão integrados na cidade, já há uma aponta para acabar com a pobreza e desalojamentos forçados em África, na
rede de trabalho, etc. O que acontece é com a exclusão social é integrar os mais rubrica “Em Acção Internacional” desta
que os Governos e as políticas sobrepõem carenciados no processo de criação e revista, e a “Crónica” escrita por Godelieve
adopção de políticas. Ou seja, dar-lhes Meersschaert.
a tudo isso a valorização do solo. Como
Notícias • Amnistia Internacional 07
RETRATO
Janet MacLean, Presidente da Reunião do Conselho Internacional
Uma mulher de fé
Na reunião bienal do Conselho Internacional da Amnistia, que decorreu no passado mês de Agosto, Janet
MacLean foi chamada a presidir ao próximo encontro, que terá lugar dentro de dois anos. Antes de
assumir mais este importante papel, a voluntária da Amnistia Internacional recordou, com o “Notícias
da AI Portugal”, os vinte anos passados junto da organização e falou sobre os “bastidores” da reunião
global do movimento
Por Cátia Silva
EM FOCO
HONDURAS Novembro, que deram a vitória a Porfírio
Lobo, uma vez que o Brasil, a Venezuela
minais por prática de aborto. A Amnistia
Internacional condena a decisão do Con-
UMA CRISE POLÍTICA SEM FIM À VISTA e a Argentina decidiram não reconhecer o gresso da República Dominicana e já deu
acto eleitoral e pedir o regresso de Zelaya a conhecer às autoridades o desconten-
ao poder. Uma exigência feita também tamento.
pelos apoiantes do dirigente.
A Amnistia Internacional visitou o país PORTUGAL
de 28 de Julho a 1 de Agosto e durante
as últimas eleições presidenciais. Nesta PERCEPÇÕES SOBRE A POBREZA
visita desvendou problemas de direitos
humanos que revelam uma crise maior
nas Honduras, até hoje “escondida” e
© Privado onde se contam, entre outros, a violência
Um apoiante de Zelaya foge quando a polícia lança gás lacri- de género, a ausência de justiça para as
mogéneo para dispersar os manifestantes, no passado mês de
Setembro. centenas de pessoas mortas e desapare-
cidas nas mãos das forças de segurança
No dia 28 de Junho um golpe de Estado e a discriminação sofrida pela população
organizado por um grupo de políticos, LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e trans-
liderado por Roberto Micheletti (ex-líder géneros). A Amnistia Internacional apela
do Congresso Nacional) e apoiado pe- às autoridades do país que realizem uma
las forças militares, depôs o Presidente investigação independente aos aconteci-
democraticamente eleito José Manuel mentos deste Verão e que seja criado um
Zelaya, expulsando-o do país. Têm iní- Plano Nacional de Protecção aos Direitos © Privado
cio as violações de Direitos Humanos, o Humanos.
clima de insegurança e a repressão de A Amnistia Internacional (AI) Portu-
manifestações pacíficas num país ex- gal, em parceria com a Rede Europeia
tremamente polarizado. O regresso de REPÚBLICA Anti-Pobreza (REAPN) e o Centro de In-
vestigação em Sociologia Económica e
Zelaya às Honduras foi diversas vezes
impedido até 21 de Setembro, quando DOMINICANA das Organizações (SOCIUS/ISEG-UTL),
entrou clandestinamente no país refu- MULHERES EM PERIGO DE VIDA lançou, no âmbito do Dia Internacional
giando-se na Embaixada do Brasil na para a Erradicação da Pobreza, as con-
As notícias que todos os dias chegam clusões iniciais do estudo “Percepções
capital hondurenha, Tegucigalpa. Um
até nós ocultam inúmeras realidades da Pobreza em Portugal”. As primeiras
acontecimento que gerou uma nova vaga
de países distantes. Sabia que as mu- conclusões apontam para uma visão
de manifestações e o agravamento das
lheres na República Dominicana enfren- pessimista sobre a pobreza no nosso
violações aos Direitos Humanos por parte
tam perigo de vida? O Congresso deste país, com os inquiridos a sugerirem que
das forças policiais.
país aprovou recentemente alterações mais de metade da população está em
A Amnistia Internacional tem vindo a à Constituição que colocam em risco a situação de pobreza (quando esta se
acompanhar a situação e considera-a vida de mulheres grávidas e contribuem situa nos 18%). Consideram ainda que
alarmante. Mortes causadas pelo uso ex- para o aumento da mortalidade mater- é quase impossível sair da condição
cessivo de força, detenções arbitrárias, na. O Artigo 30.º proíbe o aborto desde de pobre. Um pessimismo e um desco-
violência contra as mulheres, intimida- a “concepção até à morte”, mesmo nos nhecimento que a Amnistia Internacional
ção e agressão a activistas, jornalis- casos de violação, incesto ou quando pretende combater, continuando a apos-
tas, advogados e juízes, maus tratos a os cuidados de saúde são de extrema tar na investigação, promovendo a par-
detidos e o encerramento de meios de necessidade, o que acontece quando a ticipação dos cidadãos e investindo na
comunicação social são exemplos da mãe tem malária, cancro ou SIDA. A nova formação. Saiba mais sobre o estudo em:
política de repressão e do clima de medo lei limita cada vez mais as excepções à www.amnistia-internacional.pt (Apren-
e intimidação vivido nas Honduras. Uma proibição do aborto e criminaliza quem der/Revista da Amnistia Internacional)
situação que não parece vir a alterar-se o comete, mulheres ou profissionais de
com as eleições do passado dia 29 de saúde, com prisão ou outras penas cri-
10 Notícias • Amnistia Internacional
DARFUR / SUDÃO
Uma crise humanitária longe do fim
O ano de 2010 começa com o Darfur (Sudão) a desaparecer dos noticiários, à medida que surgem novos
e mais visíveis conflitos. Porém, é preciso não esquecer que em Abril haverá eleições nacionais que,
provavelmente, vão fazer reacender um conflito cujas cinzas estão ainda em brasa. Uma situação que
fomos perceber melhor com Feliz da Costa Martins, missionário no país há mais de 20 anos
“Hoje não diria que há uma guerra a do sul, em 2011. Fica o aviso: “estão a (leia-se, petróleo) e a água, os detona-
acontecer no Darfur”, anunciou a 27 de entrar armas no país e os rebeldes es- dores do conflito. Seja como for, foi nesta
Agosto Martin Luther Agwai, comandante tão a preparar-se para uma previsível altura que rebentou a guerra que até hoje
da UNAMID (sigla inglesa), missão de guerra”. opõe as forças governamentais, a Norte
manutenção da paz das Nações Unidas – ajudadas pela China e pelos Janjaweed
e da União Africana no Sudão. Para Feliz – aos grupos rebeldes do sul (principal-
DUAS DÉCADAS DE CONFRONTOS
da Costa Martins, Missionário Combo- mente o Movimento para a Justiça e a
niano que chegou ao país há mais de 20 Para a Organização das Nações Unidas, Igualdade, conhecido pela sigla inglesa
anos e que estava de férias em Portugal a guerra que se vive no Darfur desde JEM), cuja luta recebe o apoio da Europa
na altura das declarações, é verdade 2003 é das “piores crises humanitárias e dos Estados Unidos da América.
que “hoje a guerra não é a mesma, de todos os tempos”. Feliz da Costa
Reclamando falta de representativi-
pois já não há aldeias para queimar”. Martins garante que “já houve crises
dade política e negligência da região do
No entanto, salienta, também não se piores” no Sudão, que desde a sua in-
Darfur pelo Governo, os rebeldes do sul
pode dizer que há paz, pois na verdade dependência, em 1956, viu acentuar os
foram ganhando força – com as armas
“a guerra tomou um rumo diferente” diferendos entre “árabes” e “africanos”.
que chegam do exterior –, até ao início
e transformou-se numa “paz podre que O missionário ajuda a explicar as especi-
de 2003, quando realizaram ataques à
está prestes a rebentar”. ficidades de um Estado que, na verdade,
capital do país. O Presidente, al-Bashir,
podia (ou devia) estar dividido em dois:
“Os cidadãos, quaisquer que sejam, respondeu com um sangrento genocídio
o Norte é habitado sobretudo por árabes,
estão armados”, refere aquele que é que colocou o conflito (até aqui esque-
muçulmanos, e o território é desertifica-
conhecido como Padre Feliz, desde 2006 cido) nos noticiários de todo o mundo e
do, com os típicos camelos e areia; a Sul
em missão em Nyala (Darfur). “Nin- levou o Tribunal Penal Internacional a
estão os negros, não seguidores do Islão,
guém pode dizer nada a ninguém” e emitir um mandato de captura ao líder,
e no terreno há uma verdadeira floresta
“os ataques ocorrem a qualquer mo- em Março deste ano. Segundo as esti-
verde.
mento”. Uma realidade a que se somam mativas das Nações Unidas, morreram
sequestros frequentes e roubos de bens Até aos anos 80, árabes e africanos con- até hoje no Darfur 300 mil pessoas e 2,7
materiais. “A guerra de hoje no Darfur viveram pacificamente apesar de ra- milhões continuam deslocadas interna-
é, numa só palavra, anarquia”, garante ramente se misturarem, explica o Mis- mente, vivendo em campos totalmente
o missionário, e a situação pode piorar sionário, que acredita que “é o Governo dependentes da ajuda humanitária.
nos próximos tempos, com o aproximar que põe as pessoas umas contra as Uma realidade que, em breve, pode vir a
das eleições presidenciais de 2010 e do outras”. Alguns autores defendem que agravar-se.
referendo sobre a possível independência foram os escassos recursos, como a terra
SABIA QUE AO FAZER AS SUAS
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AMNISTIA INTERNACIONAL?
Até 28 de Fevereiro de 2010 a
Amnistia Internacional irá receber
donativos dos aderentes do Cartão
de Crédito + Vida do Montepio*.
DOSSIER
REUNIÃO DO CONSELHO INTERNACIONAL
O rumo da Amnistia Internacional nos próximos seis anos
Quando se inicia o novo ano, o “Notícias da Amnistia Internacional Portugal” dá-lhe conta do caminho
traçado para o movimento, para os anos 2010 a 2016, na reunião do Conselho Internacional que decorreu
no passado mês de Agosto
© Amnistia Internacional
Reunião do Conselho Internacional da Amnistia, Turquia, Agosto de 2009.
Entre os dias 8 e 14 de Agosto de 2009 vamente diferente daquela que era base Integrado já foi entretanto preparado,
reuniu-se, em Antalya, Turquia, o Con- inicial de discussão. tendo sido discutido e aprovado (para
selho Internacional da Amnistia. Trata-se ser subsequentemente implementado)
Estiveram presentes cerca de 400 dele-
do órgão magno, uma assembleia geral no Fórum de Directores que teve lugar em
gados que, durante seis dias de trabalho
global em que têm assento os represen- final de Novembro, na Dinamarca.
intenso, concretizaram uma das facetas
tantes do Comité Executivo Internacional
mais admiráveis da Amnistia Internacio- O Plano Estratégico Integrado deu passos
e de todas as Secções e Estruturas do
nal: a construção democrática de con- significativos no enraizamento daquilo
movimento. Reúne-se de dois em dois
senso. Por pessoas de diferentes países, que no Conselho Internacional de 2007
anos e em cada seis dessa sequência
com diferentes culturas, interesses e se designou de “One Amnesty”. Cada vez
tem como ordem de trabalho a discussão
agendas, as discussões redundaram mais uniremos esforços, recursos, prio-
e aprovação do Plano Estratégico Inte-
num conjunto de 15 resoluções com que ridades, com vista a contribuir com im-
grado para os seis anos seguintes, no
todos concordaram. A mais importante e pacto para as mudanças necessárias no
caso: 2010-2016.
marcante destas resoluções é o próximo mundo à luz dos Direitos Humanos. É, por
O trabalho preparatório deste Conselho e Plano Estratégico Integrado (detalhes nas isso, importante que todos os membros,
dos documentos que nele foram discuti- páginas seguintes). Trata-se do docu- apoiantes e interessados na Amnistia
dos e aprovados levou mais de um ano. mento que servirá de farol estratégico conheçam este documento orientador.
A versão de cada documento que chegou para todo o movimento. Todos os planos Será para a sua implementação e con-
ao Conselho foi já produto de sucessivos estratégicos nacionais terão que seguir cretização que, pelo menos nos próximos
processos de consulta, de modo a tor- as orientações deste documento. Este seis anos, trabalharemos.
nar a versão a discutir mais próxima de Plano Estratégico é também guião para
uma eventual versão final [ver “Retrato” a elaboração de um Plano Operacional
desta revista]. Apesar disso, muitas das para todo o movimento, o qual também Por Pedro Krupenski, Director-Executivo da Amnis-
tia Internacional Portugal e um dos três delegados
resoluções apresentadas a discussão será orientação para os planos de activi- da secção portuguesa à Reunião do Conselho In-
no Conselho ficaram pelo caminho por dades de cada país. ternacional, juntamente com Lucília José Justino
não terem reunido consenso suficiente. e Fernando Faria de Castro, respectivamente a
O Plano Operacional para os dois primei-
Muitas das resoluções que foram apro- Presidente e o Tesoureiro da Amnistia Internacio-
ros anos de vida do Plano Estratégico nal Portugal.
vadas foram-no numa versão significati-
Notícias • Amnistia Internacional 13
3. AS VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA terrorista. Este receio (mesmo se fun- O PAPEL DA AMNISTIA INTERNACIONAL:
dado) tem levado muitos governos a
Se analisarmos as campanhas desen- • Exigir a libertação imediata de todos os
legitimarem uma repressão cada vez
volvidas pela Amnistia Internacional prisioneiros de consciência;
mais forte às liberdades de expressão,
nos seus quase 50 anos facilmente per- • Defender o direito a um julgamento
de informação, de associação e de re-
cebemos que a temática da violência é justo para todas as pessoas;
união. Em 2008, segundo o Relatório
transversal: quando defendemos o fim
Anual da Amnistia Internacional, pelo • Dar mais poder aos activistas e de-
da violência de género e da discrimina-
menos 81 países reprimiram os defen- fensores dos direitos humanos, para que
ção; quando pedimos uma moratória à
sores dos direitos humanos ou os dis- sejam ouvidos;
pena de morte; quando exigimos controlo
sidentes políticos. Se, por um lado, as
sobre o comércio de armas; ou quando • Apelar aos Estados para que garantam
novas tecnologias vieram trazer maiores
denunciamos o uso de torturas e outros o direito à discordância;
facilidades ao exercício destes direitos,
tratamentos desumanos. No entanto,
como o Irão tão bem testemunhou nas • Eliminar a discriminação com base na
apesar de todo o trabalho feito e de algu-
últimas eleições, por outro vieram facili- raça, etnia, religião, orientação sexual ou
mas conquistas, a violência continua a
tar a vigilância e a censura. Mecanismos género, que muitas vezes está na origem
estar presente na nossa sociedade e tem
usados pelos governos para “calar” os da repressão às liberdades destas pes-
revelado ser uma das violações aos direi-
seus opositores. Nos seis anos que se soas.
tos humanos mais difíceis de solucionar,
aproximam, a Amnistia Internacional vai
seja porque assume diversas formas, ou
continuar a proteger e defender o direito
porque é perpetuada por vários actores
“à palavra”. Foi assim que o movimento
(Estados, grupos armados ou agentes
começou e é assim que irá continuar!
do crime organizado). Nos próximos seis
anos (pelo menos) não desistiremos des-
ta luta! É preciso continuar a procurar
novas “armas” para erradicar, de uma
vez por todas, as diferentes formas de
violência.
4. A REPRESSÃO AOS
DISSIDENTES
A 11 de Setembro de 2001 dois aviões
embatiam nas Torres Gémeas de Nova
© Amnistia Internacional © Amnistia Internacional
Iorque, catapultando no mundo o sen-
Logótipo antigo da Amnistia Internacional Nova imagem do movimento de defesa e promoção dos direitos
timento de insegurança face à ameaça humanos.
Notícias • Amnistia Internacional 15
Se o mundo nos apresenta novos e ando parcerias estratégicas com grupos 3. APOSTA NOS “PODERES
maiores desafios, é essencial procurar as da sociedade civil que sejam benéficas EMERGENTES”
oportunidades acopladas. Diz a sabedo- para todos;
Até há bem pouco tempo era consen-
ria popular que quando se fecha uma
• Educar para os direitos humanos, pro- sual que os Estados Unidos da América
porta, abre-se uma janela. É nisso que
curando qualificar e informar activistas lideravam o mundo. Com o 11 de Se-
acreditamos e é por elas que a Amnistia
e aumentar o número de defensores dos tembro de 2001 o “gigante” abanou,
Internacional vai espreitar nos próximos
direitos humanos. defende o conceituado economista inglês
seis anos, tendo como objectivo essen-
Jim O’Neill. Para o autor, pai do conceito
cial o crescimento. Novas tecnologias,
BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), o
novos “líderes” mundiais e experiência 2. MAIOR PROACTIVIDADE ataque veio dar força à ideia da globali-
acumulada são alguns dos trunfos que
Há quase meio século nascia a Amnistia zação e em Novembro de 2001 O’Neill
temos de agarrar. Sabemos, porém, que
Internacional. Tendo como logótipo uma defendia que os quatro referidos países
são precisas mudanças... E estamos
vela, presa em arame farpado, “vestiu- iriam em breve liderar a economia mun-
preparados para elas. No contacto com
-se” originalmente de preto em sinal de dial. No passado mês de Junho, aquelas
o mundo que nos rodeia é importante
luto pelas vítimas de violações aos direi- que são (hoje mais consensualmente) as
apostar em três atitudes e a nível interno
tos humanos e, mais concretamente, “novas potências mundiais” reuniram
incorporar duas posturas essenciais...
pelas pessoas que viviam no “escuro”, e prometeram revolucionar o mundo. A
atrás das grades, por defenderem es- este grupo de Estados juntou-se ainda a
A ATITUDE PERANTE O MUNDO ses mesmos direitos. Com o passar dos África do Sul, enquanto país em ascen-
anos o movimento percebeu que a ima- são. Uma realidade que a Amnistia In-
gem pesarosa que assumiu não reflectia ternacional tem de acompanhar. A par do
1. CRIAR PARCERIAS COM A o mundo de hoje, em que as violações lobby feito junto da União Europeia (ver
SOCIEDADE CIVIL aos direitos humanos continuam, é ver- caixa no final) e dos Estados Unidos da
dade, mas onde cidadãos comuns como América, é preciso olhar também para
Nas últimas décadas, assistiu-se ao os “poderes emergentes”. Uma aposta a
todos nós têm muito mais poder para
crescimento exponencial no número de longo prazo que passa também por in-
mudar esta realidade. Percebendo isso,
Organizações Não Governamentais e de centivar novas gerações de activistas.
a Amnistia assumiu o (mais optimista)
movimentos cívicos. Seja em nome de um Os BRICA (ou BRICS em inglês) e os jo-
amarelo e adoptou o famoso post it, que
ambiente menos poluído, do desenvolvi- vens são o nosso futuro!
diariamente nos lembra que há seres
mento humano ou da protecção de grupos
humanos que precisam de nós... E nós
específicos da população, um pouco por
podemos fazer a diferença! Uma ati-
todo o mundo têm surgido cidadãos que OS PRÓXIMOS PASSOS:
tude proactiva, prática e centrada em
se unem por uma determinada causa.
soluções que é preciso desenvolver nos • Investir nos países onde os direitos
Assim, a par do individualismo, da crise
próximos anos, mantendo os olhos pos- humanos são mais fortemente violados,
e das divisões culturais que os média no-
tos no futuro. nomeadamente Estados do hemisfério
ticiam, há hoje uma força maior a que se
chama “sociedade civil”. Nos próximos Sul e países do Leste, bem como nas
seis anos a Amnistia Internacional não economias emergentes, que em inglês se
OS PRÓXIMOS PASSOS: denominam BRICS (Brasil, Rússia, Índia,
pode ficar indiferente a tudo isto e, em-
bora seja um dos movimentos de direitos • Construir relações, ou parcerias, cons- China e África do Sul);
humanos mais antigos do mundo, sabe trutivas e orientadas para objectivos • Envolver os jovens na promoção e de-
que pode aprender e crescer com par- concretos; fesa dos direitos humanos e apostar em
cerias. Os direitos humanos são valores • Manter um relacionamento próximo e novas formas de participação, como o
partilhados por muitos. É preciso unir eficaz com governos, organizações inter- e-membership e as comunidades online,
experiências, esforços e recursos. Este é nacionais e intergovernamentais (como mais atractivas para as novas gerações.
o momento-chave para criar bases mais a Organização das Nações Unidas) e em-
sólidas, mais globais e mais diversas de presas, de forma a conseguir influenciar
luta pelos direitos humanos. as suas agendas; AS MUDANÇAS INTERNAS
• Propor soluções a cada denúncia feita
OS PRÓXIMOS PASSOS: e apostar em metodologias orientadas 1. FOMENTAR O ESPÍRITO
• Dar voz às pessoas cujos direitos hu-
para a solução; ONE AMNESTY
manos são violados, apoiando novos • Construir mecanismos de avaliação do Há quase 50 anos que a Amnistia Inter-
movimentos de direitos humanos e cami- impacto das parcerias e da actuação da nacional sabe, melhor do que qualquer
nhando para um movimento global nesta Amnistia Internacional, para aprender outra organização, que “a união faz a
área; com os erros, correr menos riscos e repe- força”. Os apelos lançados ao longo dos
tir as boas práticas. anos provaram que se cada um de nós
• Partilhar recursos e experiências, cri-
escrever um simples postal, este soma-
16 Notícias • Amnistia Internacional
-se a outros milhares que, em conjunto, investindo nas diferentes fases daque- as violações aos direitos humanos não
ganham peso no mundo das relações le que deve ser um mesmo trabalho: fiquem obscuras e para que todos pos-
internacionais. Há anos que defendemos primeiro, na investigação; depois, nas sam participar no combate a estas reali-
que juntos podemos fazer a diferença! acções criadas para combater a situação dades;
Está agora na altura de transportar este analisada; em seguida, na forma como
• Comunicar mais eficazmente, respon-
espírito (mais fortemente) para o interior estas causas são comunicadas ao mun-
dendo às exigências do imediatismo, que
do movimento. A Amnistia Internacional do e, por último, na avaliação da eficácia
passará por criar “centros noticiosos” a
conta hoje com uma sede em Londres, do trabalho realizado face à situação que
funcionar 24 horas por dia, sete dias por
meia centenas de secções nacionais, se pretendia solucionar. Apostas que exi-
semana;
milhares de estruturas locais e milhões gem voluntários e funcionários capazes e
de activistas, apoiantes e membros, com espírito de liderança, que sejam, ao • Apostar na formação dos voluntários
espalhados por todo o mundo. Uma di- mesmo tempo, mais accountable. e funcionários da Amnistia, para poder
versidade que dificulta a unidade, mas atribuir-lhes mais competências e po-
engrandece o movimento. Assim, nos deres, num movimento que quer con-
próximos seis anos é fundamental criar OS PRÓXIMOS PASSOS: tinuar democrático;
novas formas de participação e de in- • Avaliação regular da investigação de- • Tornar o movimento mais global, apos-
clusão, para que sejamos sempre, e cada senvolvida, mantendo uma análise estra- tando na diversidade de género e de cul-
vez mais, uma (e só uma) Amnistia. tégica do mundo, de forma a identificar turas no seu interior.
ameaças e oportunidades e a apresentar
soluções;
OS PRÓXIMOS PASSOS:
• Utilização das novas tecnologias para
• Maior investimento nos membros e
dar voz aos mais necessitados, para que
apoiantes, orientando-os para diferentes
formas de participação no movimento;
• Apostar no activismo local, nas estru-
turas locais da Amnistia Internacional,
especialmente nos países onde haverá
uma nova aposta: no hemisfério Sul, a
Leste e nos BRICS;
• Investir na criação do espírito “One
Amnesty”, fomentando a união entre
membros, apoiantes, voluntários e fun-
cionários, para que o trabalho seja feito
a uma voz;
• Transmitir a unidade do movimento ao
mundo exterior, através da adopção, por
todos, de uma mesma imagem, priori- Seis palavras de ordem para os próximos seis anos ao nível da “Transformação Necessária”.
dades semelhantes, uma forma comum
de as abordar e de as comunicar e pro-
cedimentos financeiros uniformizados.
2. MAIOR EFICÁCIA E
ACCOUNTABILITY
A APOSTA NOS RECURSOS
No mundo de hoje, complexo e desafiante,
Ao planear os próximos seis anos, a Am- mais e melhor investigação, maior poder
a Amnistia Internacional quer manter o
nistia Internacional tem, pelo menos, para exigir mudanças nos Estados (e
rigor e a qualidade que a caracterizam
duas grandes certezas: 1) há problemas noutros actores internacionais) e uma
e que fizeram da organização uma refe-
de direitos humanos a que não podemos visibilidade mais global para as viola-
rência mundial. Para tal, sabemos que
voltar as costas e 2) é preciso mudar, ções aos direitos humanos. Para além
é essencial tornar o movimento mais
externa e internamente. Tudo isto, de- disso, é preciso distribuir mais eficaz-
accountable, ou seja, criar objectivos
sengane-se quem acredita no contrário, mente esses recursos, evitando a dupli-
mais concretos, mensuráveis em termos
é impossível conseguir só com “boas cação de esforços e utilizando o dinheiro
de impacto e que permitam pedir respon-
intenções”. Para crescer, o movimento onde ele faz mais falta. Assim, a nível
sabilidades pelo seu cumprimento, ou
precisa de recursos financeiros fortes. Só financeiro serão duas as apostas essen-
incumprimento. Isto exige, nos próximos
assim poderá manter a isenção e o rigor ciais nos próximos seis anos...
seis anos, uma aposta a vários níveis,
que lhe são característicos, rumando a
Notícias • Amnistia Internacional 17
OS PRÓXIMOS PASSOS:
• Diversificar os mecanismos de an-
gariação de fundos, apostando em novas
formas de inspirar para os direitos hu-
manos, com o objectivo de aumentar as
receitas do movimento;
• Envolver mais activamente os membros
e apoiantes que assim o desejarem, ape-
sar dos seus donativos serem, só por si,
uma forma muito válida de activismo.
• Estabelecer uma Linha Global de An-
gariação de Fundos para o movimento Seis palavras de ordem para os próximos seis anos ao nível da “Aposta nos Recursos”.
18 Notícias • Amnistia Internacional
AI@50
Um dos momentos-chave para a Amnistia Internacional nos próximos tempos será o
ano de 2011, quando passarem precisamente 50 anos da publicação do artigo “The
Forgotten Prisoners”, de Peter Benenson, no jornal The Observer. O texto centrava-se
em dois portugueses que em 1960 ousaram erguer os copos e brindar à liberdade em
pleno regime de ditadura, tendo por isso sido presos. O artigo de Benenson dava início
a uma campanha de um ano pela amnistia de todos os prisioneiros de consciência do
mundo, detidos apenas por defenderem os seus ideais políticos. Nascia assim o movi-
mento internacional. Em 2011 será tempo de recordar tudo isto e de mostrar que a vela
da Amnistia emana hoje mais luz que nunca. Para celebrar a AI@50 haverá muitas
© Amnistia Internacional
Retrato do falecido fundador da Amnistia Internacional, Peter
surpresas e novidades! Continuem connosco!
Benenson, tirado em 2002.
© Privado
O novo Comité Executivo Internacional.
© Victor Nogueira
Os participantes na Assembleia Geral da Associação da União Europeia da Amnistia Internacional, que decorreu em Junho de 2009.
A definição do Espaço Regional Europeu realizada no passado mês de Junho em pondendo perante um novo tipo de Di-
(ERS, na sigla inglesa) da Amnistia Inter- Îttre, Bélgica, aprovou por unanimidade recção, ficando agora sob a dependência
nacional (AI) e consequentes alterações a mudança do seu nome, estatutos e conjunta das secções/estruturas que a
organizacionais constituem algumas atribuições, dando origem à nova As- constituem e do Secretariado Internacio-
das alterações decorrentes do desenvol- sociação Europeia da Amnistia Interna- nal (IS, na sigla inglesa).
vimento de “One Amnesty”. cional. O actual escritório de Bruxelas
A Assembleia da EUA culminou um longo,
(denominado EU Office) terá as suas
A Assembleia Geral da Associação da complexo e polarizado processo de dis-
funções adaptadas à nova situação, res-
União Europeia (EUA, na sigla inglesa), cussão de quatro anos, envolvendo os
Notícias • Amnistia Internacional 19
Angola 54,3% dos cidadãos sobrevivem África, uma vez que o primeiro país deste
com esta quantia e na Nigéria a situação continente a figurar no já referido Índice
é ainda pior (64,4%). de Desenvolvimento Humano é o Gabão,
que surge em 103º lugar entre os 182
Números que nos ajudam a vislumbrar o
Estados analisados. África é, por isso, o
que será a vida nestes países e a per-
único continente que não tem um único
ceber a raiz das deploráveis condições
país representado entre os considera-
de habitabilidade aí existentes. Condi-
dos de desenvolvimento humano “alto”
cionantes que muito contribuem para
ou “muito alto”. Segundo a Amnistia
uma realidade para a qual a Amnistia
Internacional, para isto contribuem for-
Internacional tem vindo a alertar nos úl-
temente os desalojamentos forçados que
timos anos e que são, ao mesmo tempo,
© George Osodi aí se perpetuam, como iremos ver nos
sua consequência: os desalojamentos
Membros da Igreja procuram os seus bens entre os escombros quatro exemplos que aqui apresenta-
da demolição que ocorreu no bairro degradado de Makoko, em forçados. Demolições que atentam con-
mos. Uma realidade a que nós portu-
Lagos, Nigéria, a 6 de Maio de 2005. tra os tratados internacionais, uma vez
gueses devíamos ser particularmente
Imaginando que todos nós recebíamos que “as pessoas são retiradas contra
sensíveis, uma vez que África está
o Salário Mínimo Nacional, teríamos de a sua vontade das casas ou terras que
cravada no coração de muitos e ficou
viver com 450 Euros mensais, ou 15 Eu- ocupavam, sem protecção legal e sem
gravada na nossa História, quando em
ros por dia nos meses com 30 dias. Ima- que lhes sejam dadas quaisquer alter-
Ceuta, em 1415, começou a incursão por-
ginemos então o que seria ter de parti- nativas ou ressarcimento”, explica Lucy
tuguesa por mares nunca dantes nave-
lhar essa quantia com filhos e outros Freeman, da equipa da Nigéria da Am-
gados. Hoje, quase 600 anos depois, é a
familiares a nosso cargo... Para dificultar nistia Internacional. Uma violação grave
nossa vez de fazermos História! Vamos
ainda mais, pensemos agora por alguns aos direitos humanos que não podíamos
acabar com os desalojamentos força-
minutos como seria viver com menos de deixar de voltar a destacar quando a 5
dos em África! Vamos impedir que em
80 cêntimos por dia... Segundo o Índice de Outubro se assinalou o Dia Mundial
2030 haja dois mil milhões de pessoas a
de Desenvolvimento Humano de 2007, do Habitat.
viverem em bairros degradados e que a
do Programa das Nações Unidas para o Para comemorar a data, a Amnistia lan- pobreza se multiplique ainda mais.
Desenvolvimento, no Quénia esta é uma çou uma campanha internacional cen-
realidade para 19,7% da população, em trada nos desalojamentos forçados em
Notícias • Amnistia Internacional 21
ANGOLA tação, anualmente atribuído pelo Centro qualquer protecção legal no país, ficando
UM PARAÍSO SÓ PARA ELITES para o Direito à Habitação e Desaloja- até vulneráveis a aumentos arbitrários
mento (conhecido pela sigla COHRE). nas rendas das precárias habitações
Para tal muito contribuíram os desa- onde vivem. Pessoas sem qualquer voz,
lojamentos forçados autorizados pelo que o Governo parece ter esquecido.
Governo, que continuam a acontecer
quase todas as semanas desde 1999,
quando a democracia voltou a imperar ZIMBABUÉ
no país, denuncia Lucy Freeman, cam- A SOFRER AS CONSEQUÊNCIAS DOS
paigner da Amnistia Internacional para DESALOJAMENTOS
a Nigéria. Os motivos anunciados têm
© Privado
Beatriz, habitante de um dos muitos bairros demolidos em Lu-
variado, mas são quase sempre os mes-
anda, e o seu filho naquela que outrora foi a sua casa. mos a que recorrem outros Governos: o
desenvolvimento e o embelezamento das
“Em 2001 começámos a registar os de- cidades. Em nome de estradas ou (até)
salojamentos forçados que provavel- de melhores condições de habitabilidade © Tsvangirayi Mukwazhi
mente já vinham a acontecer em An- para as populações, são enviadas para A polícia anti-motim patrulha um bairro de Harare enquanto as
gola”, refere Marise Castro, campaigner os bairros degradados retroescavadoras retroescavadoras cumprem a sua missão, em Junho de 2005.
da Amnistia Internacional para o país. que destroem tudo à sua passagem.
Desde então, pelo menos 10.000 famílias Com poucos antecedentes no que diz
Aos habitantes resta procurarem abrigo
foram desalojadas só na capital, Luanda. respeito a desalojamentos forçados, o
nas áreas circundantes, até serem no-
Um problema que nos obriga a recordar Zimbabué é um bom exemplo de quão
vamente expulsos. Desde o ano 2000, a
os 27 anos de guerra civil no território, duradouras podem ser as suas con-
Amnistia registou mais de dois milhões
quando a destruição e o recrutamento de sequências. Tudo aconteceu a 19 de
de desalojamentos forçados na Nigéria.
militares no meio rural levaram centenas Maio de 2005, quando o Governo zim-
de pessoas a procurar refúgio na capital. babueano colocou em marcha a Ope-
Cresceram assim os bairros degradados, QUÉNIA ração Murambatsvina, que literalmente
que nunca chegaram a ser legalizados, ONDE OS DESALOJAMENTOS SÃO significa “afastar o lixo”. O objectivo
seja porque muitos angolanos não têm “NORMAIS” (anunciado) era a limpeza das cidades.
sequer bilhete de identidade, ou porque Simeon Mawanza, campaigner da Am-
na altura Angola era “terra de nin- nistia Internacional para o país, refere
guém”. Em 2002, a realidade passou a que “houve indícios de que o Governo
ser outra, quando o fim do conflito trouxe queria dispersar as pessoas dos bair-
um grandioso investimento financeiro. ros onde pudessem ocorrer revoltas”.
Multiplicaram-se os projectos de recons- Seja qual for o motivo, cerca de 700.000
trução urbanística e a terra, que antes pessoas foram desalojadas. Uma peque-
poucos queriam, passou a valer muito © Amnistia Internacional na minoria voltou a ter casa, embora sem
dinheiro. Hoje, muitos dos 4,5 milhões Uma criança junto à água poluída que corre num dos maiores título de propriedade, e a grande maioria
bairros degradados do mundo, em Kibera.
de habitantes de Luanda continuam em ficou entregue à sua sorte, o que ajudou
risco de perderem as suas casas. a sobrelotar os muito degradados bairros
Os últimos registos, de 2006, indicam
dos subúrbios do Zimbabué, onde faltam
que só em Nairobi, capital do Quénia,
serviços tão básicos como a água canali-
há 199 estabelecimentos informais que
NIGÉRIA abrigam mais de dois milhões de pes-
zada. Uma situação que muito contribui
UM DOS PRINCIPAIS VIOLADORES para a pobreza existente no país.
soas. Esta forma de vida, sem acesso a
DO DIREITO À HABITAÇÃO recursos essenciais, tornou-se “normal”
no país antes ainda da sua independên-
cia, em 1963. Segundo Amy Agnew, cam-
SAIBA MAIS:
paigner da Amnistia Internacional para Leia os relatórios da Amnistia Internacional sobre cada
o Quénia, estes bairros foram crescendo um dos países e os vídeos realizados nesses locais em
sob “a aprovação do próprio Governo, www.amnistia-internacional.pt (Aprender / Revista da
Amnistia Internacional)
que os deixou serem construídos em
terras que estavam reservadas a pro-
O QUE PODE FAZER:
© George Osodi jectos de infra-estruturas”. Sendo as- A Amnistia Internacional (AI) lançou a campanha “Casa
Um dos habitantes do bairro degradado de Makoko, em Lagos, sim, os desalojamentos forçados têm das Assinaturas”. Sendo Angola o único país de língua
carrega o que foi uma das cadeiras da sua casa, demolida em
2006.
sido uma constante no país e ocorrem portuguesa desta acção, a AI Portugal quer recolher, en-
à medida que os projectos vão sendo tre os portugueses, 10.000 assinaturas para enviar para
o país. Tudo o que tem de fazer é assinar o postal que se
Em 2006 a Nigéria recebeu o “prémio” concretizados. Para tudo isto muito con- encontra no interior da revista e enviar por correio para a
para principal violador do direito à habi- tribui o facto de as populações não terem sede da Amnistia Internacional Portugal.
22 Notícias • Amnistia Internacional
© AI Portugal
As mensagens deixadas no mural da Amnistia, que serão enviadas aos governantes portugueses.
A Amnistia Internacional Portugal agradece
mês de Verão, a Amnistia Internacional o mural dos direitos humanos esteve du- à Câmara Municipal de Sines a possibili-
Portugal mudou radicalmente de registo rante quatro dias bem na frente de uma dade de participar no Músicas do Mundo, à
ao participar no festival Jazz em Agos- das portas principais do recinto. Ritmos e Blues por permitir a presença no
to da Fundação Calouste Gulbenkian. Festival de Paredes de Coura e à Fundação
Por motivos de agenda, não foi possível Apesar da localização privilegiada, a Calouste Gulbenkian por tornar possível fa-
receptividade não foi tão massiva como lar de direitos humanos no Jazz em Agosto.
acompanhar o evento desde o início, mas
JOVEM
X Campo de Trabalho da Amnistia Internacional Portugal
Uma década a educar para os direitos humanos
No fim-de-semana que antecedeu o feriado de 1 de Dezembro muitos portugueses aproveitaram para tirar
umas mini-férias. Mais de meia centena de jovens preferiram passar os quatro dias a falar de direitos
humanos. Assim decorreu o X Campo de Trabalho da Amnistia Internacional Portugal
Realizou-se, pelo décimo ano consecu- dos lados da questão e os jovens, que cos jovens pensam. Em primeiro lugar foi
tivo, o Campo de Trabalho da Amnistia falaram em nome de sete Estados: três apresentada a campanha “Exija Digni-
Internacional (AI) Portugal. Na Colónia retencionistas, um abolicionista para dade”, da Amnistia Internacional, que
de Férias da Praia Azul, em Torres Vedras, crimes comuns e três abolicionistas. Em pretende erradicar a pobreza do mundo
57 jovens com idades entre os 14 e os 18 voto secreto, os participantes expressa- através de três acções: 1) responsabili-
anos estiveram quatro dias – entre 28 de ram a sua opinião sobre a pena de morte zando os que assumiram o compromisso
Novembro e 1 de Dezembro – a falar so- e, caso a Assembleia tivesse sido real, a de erradicar a pobreza; 2) facilitando o
bre direitos humanos e a aprender mais pena capital teria sido abolida do mundo acesso dos mais necessitados aos re-
sobre os problemas do mundo cuja re- com 78% de votos a favor da moratória, cursos necessários para que lutem pelos
solução também depende deles... 14% contra e 5% de abstenções. seus direitos e 3) encorajando a partici-
pação das populações nos processos de
SÁBADO, 28 DE NOVEMBRO À tarde falou-se de discriminação,
decisão que lhes dizem respeito.
que já tinha sido referida pelo facto de
As boas-vindas ao X Campo de Trabalho
existirem mais negros que brancos no Logo depois os jovens falaram com Ta-
da Amnistia Internacional Portugal foram
corredor da morte dos Estados Unidos da tiana Moura, do Núcleo de Estudos para
dadas pelas 14 horas, quando mais de
América. Para abordar a questão, os 57 a Paz do Centro de Estudos Sociais da
meia centena de jovens entraram de ma-
jovens foram divididos em dois grupos. Universidade de Coimbra, sobre bair-
las e bagagens na Colónia da Praia Azul.
Foi através de exercícios práticos que o ros degradados. No centro do debate
Distribuídas as camaratas, a AI Portugal
primeiro explorou a discriminação com estiveram as favelas do Rio de Janeiro,
e a Câmara Municipal de Torres Vedras,
base na orientação sexual e o segundo onde a investigadora desenvolveu uma
parceira no evento, deram início aos tra-
os diferentes tipos de discriminação, tese e tem um projecto ligado à violência
balhos. Seguiu-se depois o lanche, para
que originam exclusão social. Temáticas armada. O mote foi dado por um episódio
abrir o apetite para uma sessão sobre a
polémicas que os grupos apresentaram da série brasileira “Cidade dos Homens”.
Amnistia Internacional e o trabalho rea-
depois um ao outro. Para descompri- Depois da conversa, que serviu para des-
lizado na promoção e defesa dos direi-
mir, a Colónia da Praia Azul recebeu o fazer mitos, os jovens ganharam novo
tos humanos. Para organizar ideias, os
grupo “Ritmical: Da Rua”, constituído ânimo para a última tarde de trabalho,
participantes foram divididos em sete
por jovens com idades semelhantes às dedicada ao activismo. Perceberam en-
grupos e tiveram de criar um cartaz so-
dos participantes do Campo, mas com tão como podem ajudar a salvar o mundo
bre a organização, que depois foi apre-
uma história de vida muito diferente, e em grupo programaram uma actividade
sentado a todos. À noite foram realizados
uma vez que todos vivem ou viveram na para os 50 anos da Amnistia Internacio-
jogos com o objectivo de “quebrar melhor
rua. A noite terminou em festa total com nal, que se assinalam em 2011. A noite,
o gelo” entre os participantes. E este foi
os bombos dos “Ribombar”, da Escola à semelhança do que já vinha a acon-
totalmente quebrado!
Básica Padre Vítor Melícias (Torres Ve- tecer, foi de verdadeira festa com uma
DOMINGO, 29 DE NOVEMBRO dras). Uma noite promovida pela Câmara sessão de karaoke que pôs os 57 jovens
O dia começou com um assunto bem sério: Municipal. a cantar e a dançar.
a pena de morte. A forma adoptada para SEGUNDA-FEIRA, 30 DE NOVEMBRO TERÇA-FEIRA, 1 DE DEZEMBRO
falar sobre o tema foi ainda mais formal:
A manhã do terceiro dia do Campo de O feriado da Restauração da Independên-
simular uma Assembleia Geral da Orga-
Trabalho da Amnistia Internacional foi cia portuguesa foi o dia do adeus para
nização das Nações Unidas onde estava
dedicada à pobreza, um dos assuntos o Campo de Trabalho, que marcou uma
a ser debatida uma Moratória à Pena de
que tem estado na ordem do dia um pou- década passada desde a criação deste
Morte. Para formar uma opinião, foram
co por todo o mundo e no qual muito pou- projecto de educação para os direitos
ouvidos dois representantes de cada um
26 Notícias • Amnistia Internacional
humanos pela secção portuguesa da AI. como fundamento os Dias Internacionais reencontro que terminou mais um Campo
Antes do regresso a casa, houve ainda relacionados com os direitos humanos. E de Trabalho da Amnistia Internacional.
tempo para um último jogo, que tinha foi com muitos abraços e promessas de
A MELHOR ACTIVIDADE: “A da pena de morte, porque é um A MELHOR ACTIVIDADE: “A acção sobre a não discrimina-
problema global, que nos interessa a todos. E a do activismo, ção.Gostei porque era um grupo mais pequeno e podemos
que é uma área muito importante.” abrir-nos mais. Era uma espécie de brainstorming... “
O QUE NUNCA VOU ESQUECER: “O apoio das pessoas e a O QUE NUNCA VOU ESQUECER: “O espectáculo do grupo Rit-
alegria. O sorriso que tiveram sempre para nós [participantes mical e os tambores dos Ribombar.”
no Campo de Trabalho].”
O QUE APRENDI: “Havia coisas em que nunca tinha pen-
O QUE APRENDI: “Não sabia que a Amnistia defendia tanto o sado, embora soubesse do assunto, como alguns dados so-
Ser Humano. E discutimos vários assuntos. Nós estamos aqui, bre a pena de morte. Nunca me tinha passado pela cabeça
mas temos pessoas que estão do outro lado do mundo a sofrer. que no corredor da morte [nos Estados Unidos da América]
E não sabia, por exemplo, que havia casos como o daquela há mais negros que brancos. Apercebi-me que não se trata
mulher que se divorciou e ia ser apedrejada [Amina Lawal] e só da questão de tirar o direito à vida, mas também de dis-
que com a ajuda das pessoas conseguiu ser salva.” criminação.”
Lino Pereira, 15 anos, 10.º ano, Centro de Estudos de Fátima, em represen- Sílvio Vieira, 15 anos, 10.º ano, Colégio de S. Miguel (Fátima), em repre-
tação do Grupo 1 sentação do Grupo 2
A MELHOR ACTIVIDADE: “Pensando em termos de grupo, um A MELHOR ACTIVIDADE: “Todas as actividades obrigaram a
dos trabalhos que ficou mais bem feito foi o do planeamento trabalhar e a pensar muito, mas em termos de grupo a que
de uma actividade para o 50.º aniversário da Amnistia Interna- funcionou melhor foi talvez a primeira, onde tivemos de fazer
cional. Talvez porque era um trabalho mais prático, ou porque um cartaz de um Grupo de Estudantes da Amnistia.”
já estávamos habituados a trabalhar uns com os outros.”
O QUE NUNCA VOU ESQUECER: “O convívio entre as pessoas,
O QUE NUNCA VOU ESQUECER: “A primeira noite, de jogos, principalmente à noite.”
apesar de eu ter um pouco de mau perder.”
O QUE APRENDI: “Sobretudo sobre as favelas no Brasil. Não
O QUE APRENDI: “Já trazia ideias bem formadas em relação a sabia quase nada sobre isso. Pensava que as favelas fos-
vários temas, mas pensando, por exemplo, na pena de morte, sem um sítio onde não há dinheiro, nem comida e onde todos
comecei a ver os dois lados da questão. As pessoas normal- quisessem era ganhar dinheiro para conseguirem sair dali.
mente pensam sempre que ou é sim ou não, mas temos de Mas aquilo é um estilo de vida, as pessoas não querem sair
ponderar vários factos.” de lá...”
Luís Miguel Dias, 15 anos, 10.º ano, Escola Secundária com 3.º ciclo Sá da Beatriz Carvalhana, 15 anos, 10.º ano, Colégio de S. Miguel (Fátima), em
Bandeira (Santarém), em representação do Grupo 3 representação do Grupo 4
Notícias • Amnistia Internacional 27
GRUPO 5 © AI Portugal
do representaram um país abolicio-
nista ou retencionista]. Aumentou o
nosso poder de argumentação.”
• GE DO COLÉGIO DE SÃO MIGUEL
(Fátima)
Sónia Oliveira: ai_csm@live.com.pt
• GE DO COLÉGIO DIOCESANO DE NOSSA
O QUE NUNCA VOU ESQUECER: “A festa com os Ritmical, que foi fantástico, e os SENHORA DA APRESENTAÇÃO (Calvão)
Ribombar.” Jorge Carvalhais: amnistia@colegiocal-
vao.org
O QUE APRENDI: “Primeiro aprendi o que é a Amnistia Internacional, que não sabia. • GE DA ESCOLA SECUNDÁRIA DE
E também não tinha bem a noção como estavam as coisas no mundo. Não sabia ALBUFEIRA
muito sobre a pena de morte, sobre a pobreza,... São coisas em que nunca pensei Rosaria Rego: grupoestudantes_esa_
muito. Aqui fiquei com mais noção dos problemas actuais.” amnistiainternacional@hotmail.com;
Michelle Tomás, 16 anos, 10.º ano, Escola Secundária com 3.º ciclo Sá da Bandeira (Santarém), em grupodaesaai.blogspot.com
representação do Grupo 5 • GE DA ESCOLA SECUNDÁRIA ANTERO
DE QUENTAL (S.Miguel, Açores)
Fernanda Vicente: fpacvicente@sapo.pt
A MELHOR ACTIVIDADE: “A da pena • GE DA ESCOLA SECUNDÁRIA DE
de morte, porque é um assunto ERMESINDE
polémico e obrigou a pensar noutras Maria Arminda Sousa: ai-ese@sapo.pt;
ideias. Tivemos de defender aquela www.ai-ese.pt.vu
• GE DA ESCOLA SECUNDÁRIA DE
que não é bem a nossa opinião
FERNÃO MENDES PINTO (Almada)
[ao representar um país abolicio-
GRUPO 6
Marta Reis: amnistia.internacional@
nista ou retencionista]. Aprendemos esfmp.pt
© AI Portugal a analisar vários pontos de vista.” • GE DA ESCOLA SECUNDÁRIA FILIPA DE
O QUE NUNCA VOU ESQUECER: “As VILHENA (Porto)
pessoas... Na escola estou com muito trabalho e nem sempre sou muito sociável. Carla Ferreira: carlafariaferreira@
hotmail.com
Aqui fiz novos amigos, de todo o país.”
• GE DA ESCOLA SECUNDÁRIA MARIA
O QUE APRENDI: “Tudo o que falámos são coisas implícitas na vida, mas não pen- LAMAS (Torres Novas)
samos nelas porque temos uma vida boa. Não estamos nessas situações. Não so- Teresa Gomes: teresinha_mfrg@hotmail.
mos discriminados. Eu nunca senti isso na pele.... Também gostei muito da sessão com
sobre as favelas.” • GE DA ESCOLA SECUNDÁRIA SANTA
MARIA MAIOR (Viana do Castelo)
Rita Constantino, 15 anos, 10.º ano, Escola Secundária com 3.º ciclo Sá da Bandeira (Santarém), em
representação do Grupo 6 Cristina Soares: crisoaresd@hotmail.
com; amnistisiados.blogspot.com
• GE DA FACULDADE DE DIREITO DE
LISBOA
A MELHOR ACTIVIDADE: “O grupo Ana Matos Ferreira: nucleoai.fdul@
trabalhou muito bem, mas tendo gmail.com
que escolher uma actividade talvez • GE DO ISCTE
a do cartaz que tivemos de criar por Ana Monteiro: amnistiaiscte@yahoo.com
causa do 50.º aniversário da Am- • ReAJ-REDE DE ACÇÃO JOVEM
nistia. Era uma comemoração, uma Gonçalo Marcelo: redejovem.amnistia@
GRUPO 7
gmail.com; www.reajportugal.blogspot.
assunto mais soft, por isso estáva-
com
© AI Portugal
mos todos mais dinâmicos.”
O QUE NUNCA VOU ESQUECER: “As
pessoas. Já fiz colónias de férias, mas nunca tinha vindo para um Campo de Tra-
balho. É um contexto completamente diferente. Há uma maior seriedade e todos
conseguiram aliar a diversão ao trabalho sério.”
O QUE APRENDI: “Não houve nada que me surpreendesse demasiado porque leio Se ainda não existe um Grupo da Amnis-
muito sobre direitos humanos, mas gostei particularmente da sessão sobre a pena tia Internacional na tua escola, podes ser
de morte. As minhas expectativas foram superadas.” tu a criá-lo. Nós dizemos como... Escreve-
Ana Morais, 17 anos, 12.º ano, Escola Secundária 2+3 Filipa de Lencastre (Lisboa), em representação -nos para boletim@amnistia-internacio-
do Grupo 7 nal.pt ou telefona para o 213 861 652.
28 Notícias • Amnistia Internacional
BOAS NOTÍCIAS
ANGOLA Chegam agora boas notícias relativas a O tribunal não conseguiu fazer prova
JOSÉ FERNANDO LELO FOI LIBERTADO este caso: no dia 21 de Agosto Fernando do suposto encontro e baseou a sua
Lelo foi libertado, após ter sido absolvido sentença em declarações dos militares
de todas as acusações pelo Supremo Tri- obtidas sobre tortura. Em Setembro de
bunal Militar. 2008, Fernando Lelo foi condenado a 12
anos de prisão por “atentar contra a se-
Recorde-se que o jornalista tinha sido
gurança nacional” e “incitar a rebelião”.
preso em Novembro de 2007, no seu local
A Amnistia Internacional considerou o
© Amnistia Internacional de trabalho nos arredores de Cabinda, e
julgamento injusto e incoerente com os
mantido 90 dias numa prisão militar
No número 2 do “Notícias da Amnistia padrões internacionais de Direitos Hu-
em Luanda, sem que fosse formalmente
Internacional Portugal” foi lançado um manos.
acusado. Alegadamente teria reunido
apelo em nome de José Fernando Lelo, um com seis soldados, em Julho de 2007, Os nossos membros e apoiantes acredi-
angolano condenado a 12 anos de prisão com o objectivo de planear uma rebelião. taram que era possível ajudar Fernando
num julgamento injusto que decorreu no Em Fevereiro de 2008, o jornalista e os Lelo e juntos conseguimos. Após a liber-
Verão de 2008. A Amnistia Internacional soldados foram presentes a tribunal mili- tação, o jornalista agradeceu à Amnistia
considerou-o um prisioneiro de consciên- tar em Cabinda. Uma vez que Fernando Internacional e aos seus activistas.
cia, uma vez que foi detido na sequência Lelo nunca pertenceu às Forças Arma-
de artigos publicados nos quais criticava A todos, obrigado!
das, não deveria sequer ter sido julgado
o governo angolano e os processos de paz. neste tipo de tribunal.
APELOS MUNDIAIS
Na página anterior demos-lhe conta de casos que, graças à ajuda de centenas de pessoas conseguiram
ser resolvidos ou estão no bom caminho... Se cada um de nós enviar um postal, serão milhares a chegar
às autoridades. E esta é uma forma de pressão internacional que, muitas vezes, é eficaz!
Nesta revista, falamos-lhe de mais quatro pessoas que precisam desta mobilização mundial. Tudo o que
tem de fazer é enviar um postal.
MOÇAMBIQUE
Homem inocente morto pela polícia
Julião Naftal Macule era um homem de negócios, de 46 anos, quando depois de dar en-
trada num hotel em Massinga, Moçambique, no dia 8 de Novembro de 2007, foi confun-
dido por um empregado com Agostinho Chauque, o criminoso mais procurado do país.
A polícia rodeou o hotel e 10 elementos da Polícia de Intervenção Rápida invadiram o
quarto de Julião, atingindo-o mortalmente. A força policial começou por anunciar que
tinha capturado e morto “o inimigo público número um”, mas quando os jornalistas
pediram para ver o corpo a polícia reconheceu que não era Agostinho Chauque. Ainda
assim considerou ter assassinado “um homem perigoso”.
No dia seguinte, a polícia contactou a família de Julião e deu-lhe conta do erro cometi-
do. Os familiares exigiram que fosse realizada uma autópsia, onde se concluiu que
Julião faleceu devido a uma hemorragia que teve origem no ferimento da perna es-
© Amnistia
© JavierInternacional
Verdin/ LA
querda. Nem a polícia, nem o Ministro do Interior, contactaram a família para pedir
desculpa ou oferecer alguma compensação.
Em Junho de 2008 o advogado contratado pela família para procurar justiça foi informado pelo Procurador-Geral que estavam a
decorrer processos criminais contra três polícias, sem esclarecer se estes estavam detidos ou suspensos das suas funções. Em Maio
de 2009 a mesma fonte disse à Amnistia Internacional que sete polícias estavam acusados pelo homicídio de Julião Macule, no
entanto, não houve mais informações.
Este crime deve ser investigado de forma completa e imparcial. Os culpados devem ser presentes a julgamento e a família informada
de cada etapa do processo. Junte-se a nós neste apelo!
Participe! Contamos consigo!
(Postal-apelo em anexo no interior desta revista. Tudo o que tem de fazer é assinar, colocar a cidade e o país de onde envia o apelo e
a data. Depois basta enviar por correio.)
Khaled Jaradat foi detido no dia 3 de Março de 2008 pelas autoridades israelitas e le-
vado para a prisão de Ketziot. O Governo de Israel decretou a sua detenção administra-
tiva durante seis meses, mas esta foi renovada em Outubro de 2008 e em Abril de 2009.
Casado e pai de seis filhos, Khaled é professor de inglês numa escola secundária da
Cisjordânia, um dos Territórios Palestinianos Ocupados, e esteve envolvido em acções
de caridade, como a angariação de fundos para um hospital local.
As autoridades israelitas acreditam que Khaled Jaradat é membro da organização pa-
lestiniana radical Jihad Islâmica e é, por isso, considerado culpado de vários actos de
violência contra cidadãos israelitas. No entanto, os Serviços de Segurança israelitas
não apresentam provas da ligação de Khaled à Jihad Islâmica, o que impossibilita o
seu advogado de contestar a legalidade da detenção. Refira-se que a prisão adminis-
© ITF
trativa é decretada pelo Governo e não pelo poder judiciário.
Na primeira revisão da ordem de detenção, o juiz ordenou que a acusação apresentasse
uma queixa formal e decretou a libertação de Khaled. No entanto, o Exército recorreu e
© Javier Verdin/ LA ganhou, tal como aconteceu na segunda revisão da detenção. Até hoje a pena continua
a ser renovada.
Khaled já foi várias vezes detido por ordem do governo nos anos 80 e 90. Devido às constantes detenções, os seus filhos têm crescido
sem uma presença paterna regular e mesmo as visitas ao estabelecimento prisional estão agora proibidas.
Ajude-nos a libertar Khaled Hussein para que possa voltar para a sua família. Participe! Precisamos de si!
Participe! Contamos consigo!
(Postal-apelo em anexo no interior desta revista. Tudo o que tem de fazer é assinar, colocar a cidade e o país de onde envia o apelo e
a data. Depois basta enviar por correio.)
Notícias • Amnistia Internacional 31
GRÉCIA
Ataque a líder sindical pode ficar impune
Konstantina Kuneva, de 45 anos, foi líder do sindicato das trabalhadoras dos serviços
de limpeza, defensora dos seus direitos e lutou para acabar com problemas laborais
resultantes da subcontratação de mulheres migrantes por parte de Empresas de Lim-
pezas e da elevada competição nesta área.
Como consequência do seu envolvimento em actividades do sindicato, Konstantina
Kuneva, também trabalhadora de limpeza e migrante oriunda da Bulgária, foi atacada
e queimada na cara com ácido quando voltava do trabalho para casa, em Atenas, a 22
de Dezembro de 2008. Passou vários dias em coma, perdeu a visão de um olho e sofreu
danos em vários órgãos vitais. Konstantina tem um filho a seu cargo e foi na tentativa
de lhe proporcionar uma vida melhor que se mudaram para a Grécia.
© Javier Verdin/ LA
A Amnistia Internacional lançou no Dia Internacional da Mulher, que se celebrou a 8
de Março, um apelo em seu nome para que fosse feita justiça. Foram entregues 22.000 assinaturas no dia 25 de Maio ao Ministro
Adjunto do Interior grego, que prometeu investigar o caso e levar os responsáveis à justiça.
O juiz encarregue do caso de Konstantina Kuneva decidiu no passado mês de Junho encerrá-lo, mesmo não tendo sido identificados
os agressores. A ordem foi enviada ao Procurador-Geral e este decidirá se o caso é encerrado ou se a investigação continua, com o
mesmo ou com um novo juiz.
Junte-se a nós num apelo urgente ao Ministro da Justiça grego, para que o caso não seja encerrado até serem encontrados os culpa-
dos. Não podemos deixar que este crime fique impune!
Participe! Contamos consigo!
(Postal-apelo em anexo no interior desta revista. Tudo o que tem de fazer é assinar, colocar a cidade e o país de onde envia o apelo e
a data. Depois basta enviar por correio.)
COREIA DO NORTE
Ex-agente raptado e detido por forças norte-coreanas
Kang Gun, um ex-agente secreto da Coreia do Norte, foi detido na província de Jilin, na
China, no dia 4 de Março de 2005, por agentes norte-coreanos. Tudo indica que terá
sido traído por um dos seus contactos, uma vez que quando foi detido seguia uma
pista. Kang Gun foi obrigado a atravessar a fronteira e ficou preso durante seis meses
na Agência de Segurança do Estado, em Chongjin, onde foi interrogado e torturado.
Posteriormente, foi levado para a prisão de Pyongyang, capital da Coreia do Norte.
O prisioneiro nasceu e cresceu na Coreia do Norte, onde entrou para a Agência Nacional
de Segurança. No entanto, a grave escassez de alimentos que teve início em 1990 levou
Kang Gun a emigrar para a China. Mais tarde, mudou-se para a Coreia do Sul, país do
qual viria a tornar-se cidadão.
Em Fevereiro de 2004, Kang Gun entregou filmagens obtidas secretamente num esta-
© Javier©Verdin/
PrivadoLA
belecimento prisional político norte-coreano a uma estação de televisão japonesa. No
mesmo ano, iniciou acções de sensibilização sobre as violações aos direitos humanos
cometidas na Coreia do Norte e ajudou norte-coreanos a abandonarem o país, refugiando-se na Coreia do Sul.
A última vez que foi conhecido o seu paradeiro, Kang Gun continuava detido na prisão de Pyongyang, onde pode enfrentar tortura e
execução. Ajude-nos a libertar Kang Gun, para que possa voltar à Coreia do Sul, ou exigir que tenha um julgamento justo, segundo os
padrões internacionais, e que seja formalmente acusado de crimes tipificados na lei.
Participe! Contamos consigo!
(Postal-apelo em anexo no interior desta revista. Tudo o que tem de fazer é assinar, colocar a cidade e o país de onde envia o apelo e
a data. Depois basta enviar por correio.)
32 Notícias • Amnistia Internacional
Nesta edição do “Notícias da Amnistia Internacional Portugal” tornamos a apresentar uma análise da
situação financeira da secção portuguesa da organização
Por Departamento de Angariação de Fundos e Financeiro
CONSIGO VAMOS MAIS LONGE O objectivo deste empréstimo, por parte no funcionamento da Amnistia Interna-
UM PASSO IMPORTANTE PARA A SECÇÃO do SI, foi apoiar o financiamento inicial do cional Portugal.
Projecto “Face to Face” (F2F), favorecendo
Na sequência do empréstimo contraído Dada a situação financeira actual, a AI
o crescimento da secção e contribuindo
pela AI Portugal ao Secretariado Inter- Portugal pretende, até ao final de 2009,
para a sua autonomia financeira. O Secre-
nacional (SI, sede da AI em Londres) em liquidar a dívida congelada ainda exis-
tariado Internacional considera a amor-
2006, no valor total de 230.000 euros, foi tente (29.467 euros). Ficando regulari-
tização do empréstimo um passo muito
efectuada em Junho a quarta amortiza- zada esta situação, a Secção Portuguesa
importante para a Secção Portuguesa, do
ção, desta vez no valor de 25.000 euros, tem os seus compromissos financeiros
qual estamos bastante orgulhosos, pois
e por fim em Agosto a última parcela, no para com o Secretariado Internacional
este representa uma grande estabilidade
valor de 50.000 euros. totalmente saldados.
EVOLUÇÃO DE MEMBROS E
APOIANTES
Apresentamos no gráfico 1 o número de 14.000
12.239
membros e apoiantes activos da secção 12.000 11.378
portuguesa da Amnistia Internacional, 10.000 8.132
ou seja, as pessoas que mantêm o seu 8.000
donativo, com base nos registos à data 6.000 4.101
de 31 de Outubro de 2009. 4.000 1.777
Para a AI Portugal, tão importante como 2.000
inscrever novos apoiantes é continuar a Ano 2005 Ano 2006 Ano 2007 Ano 2008 Ano 2009 (até Junho)
AGENDA
DIAS DO DESENVOLVIMENTO PENSAR A EUROPA LEITURAS
A 21 e 22 de Abril de 2010 realiza-se a Desde o passado mês de Outubro que a
terceira edição daquele que é o único Europa Viva-Associação Europeia para THE UNHEARD TRUTH:
evento em Portugal que reúne organiza- a Criatividade e Solidariedade Social POVERTY AND HUMAN RIGHTS
ções e entidades que trabalham, como o está a promover o seminário “Saber Eu-
De Irene Khan,
próprio nome indica, na área do desen- ropa”, dividido em módulos. Para além W.W.Norton
volvimento social. Intitulado “Os Dias dos dedicados à música e à literatura, 256 páginas
do Desenvolvimento”, é uma iniciativa destacamos a “História da Europa” e o PVP: 13,99£ ou
do IPAD-Instituto Português de Apoio ao módulo centrado na “União Europeia”, 16,45€
Desenvolvimento que teve início em 2008 onde pode conhecer melhor a história da
e todos os anos se dedica a uma deter- instituição e a sua estrutura e divisão No ano em que a Amnistia Internacional lan-
çou a campanha “Exija Dignidade”, saiu para
minada temática. Em 2010 a proposta interna. Em Maio, a Europa Viva convida, o mercado, em Outubro, o livro The Unheard
é reflectir sobre “Cidadania e Desenvol- ainda no seio deste módulo, a reflectir Truth: Poverty and Human Rights, escrito
vimento” e mais concretamente sobre: sobre o multilinguismo e o pluralismo pela Secretária-Geral Irene Khan. Baseado
1) Comunicação e desenvolvimento; 2) cultural europeu. Junho será dedicado nas suas investigações e experiência pessoal,
a obra refere o problema da pobreza como
Conhecimento, capacitação, transferên- aos cidadãos e à opinião pública da sendo uma das piores crises de direitos hu-
cia de tecnologia e desenvolvimento e União Europeia. Cada módulo tem um manos no mundo. O livro está a venda no site
3) Democracia, Estado de direito, segu- custo de 45 Euros e inclui diferentes internacional da Amnistia, em http://shop.
amnesty.org/, ou nas livrarias Bulhosa.
rança e desenvolvimento. Uma oportu- conferências. Programa e informações
nidade única para pensar estas temáti- em www.europaviva.eu
cas e trocar ideias com especialistas TOME NOTA
de todo o mundo. Mais informações em
• 11 de JANEIRO
www.diasdodesenvolvimento.org
8.º Aniversário da Abertura do Campo de
Detenção norte-americano de Guan-
tánamo
• 27 de JANEIRO
Dia Mundial do Habitat e o Direito à Habitação Dia Internacional em Memória das
Por Gonçalo Miguel Miranda Pedro (FecoPortugal)
Vítimas do Holocausto
• 6 de FEVEREIRO
Dia Internacional de Tolerância Zero à
Mutilação Genital Feminina
• 20 de FEVEREIRO
Dia Mundial para a Justiça Social
• 8 de MARÇO
Dia Internacional da Mulher
• 21 de MARÇO
Dia Internacional para Eliminação da
Discriminação Racial
• 22 de MARÇO
Dia Mundial da Água
• 25 de MARÇO
Dia Internacional em Memória
das Vítimas de Escravatura e
do Comércio Transatlântico de
Escravos
34 Notícias • Amnistia Internacional
CRÓNICA
“DJUNTA MO”, Juntar das Mãos na Cova da Moura
Por Godelieve Meersschaert*
TORNE-SE
MEMBRO
DA
AMNISTIA
INTERNACIONAL
TODOS OS DIAS, A TODA A HORA E A CADA SEGUNDO, SÃO VIOLADOS DIREITOS HUMANOS FUNDAMENTAIS
A Amnistia Internacional trabalha para acabar com todos eles
Ajude-nos a defender os Direitos Humanos no mundo!
PODE AJUDAR-NOS:
• Tornando-se membro (e passando a participar nas reuniões e assembleias da Amnistia Internacional Portugal)
• Tornando-se um apoiante regular
• Enviando um donativo esporádico
• E participando activamente nas actividades que lhe propomos durante todo o ano
1. Assinale uma das seguintes quatro opções: * 1. Autorizo a minha entidade bancária a debitar da minha
conta ao lado indicada, por sistema de débitos directos
DESEJO TORNAR-ME MEMBRO (SDD), a pedido da Amnistia Internacional - Secção Por-
Quota Anual: €40 €20 (Estudantes, Reformados e Desempregados) tuguesa, as importâncias indicadas e com a regularidade
indicada 2. Estou informado de que os débitos poderão ser
DESEJO TORNAR-ME APOIANTE
efectuados em datas distintas 3. A Amnistia Internacional
Quantia do donativo: €25 €50 €100 €250 Outro: apenas poderá alterar os montantes após uma informação
Regularidade do donativo: Mensal Semestral Trimestral Anual prévia 4. Irei informar a minha entidade bancária, por es-
crito, caso pretenda cancelar as instruções aqui indicadas
DESEJO FAZER UM DONATIVO PONTUAL 5. Tenho conhecimento de que, caso algum débito (efectuado
No valor de € por SDD) não cumpra as instruções aqui indicadas, terei 5
dias úteis para reclamar junto da minha entidade bancária,
QUERO APENAS A REVISTA TRIMESTRAL (poupando sobre o preço da capa) que me devolverá o montante em causa.
Assinatura por 1 ano (4 números) = 6 euros Assinatura por 2 anos (8 números) = 12 euros
** Dados de preenchimento obrigatório
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