Documente Academic
Documente Profesional
Documente Cultură
Resumo: Este artigo tem como objetivo estudar, de uma forma breve, as possibilidades de
revisão contratual, tendo como foco principal a Teoria da Imprevisão. Abordam-se ainda as
diferenças entre os institutos da teoria da imprevisão, da onerosidade excessiva e da lesão,
bem como quais os efeitos destas revisões contratuais frente ao princípio da obrigatoriedade
dos contratos.
Abstract: This article has as purpose to study, briefly, the possibilities of the contractual
revision, having as main focus the Frustration. It is reviewed also the differences between the
frustration, excessive onerousness of contracts and the injury, as well as which effects of these
contractual revisions for the principle of the contractual obligatoriness.
1
Samuel Martini Casagrande - Bacharelando em Direito – Aluno da Faculdade da Serra
Gaúcha (FSG). Artigo elaborado em junho de 2008.
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O artigo 317 é considerado por grande parte dos doutrinadores - e com razão -
a mais importante norma da Seção III, Título III do Código Civil. Ele trata da onerosidade
excessiva quando, por motivos imprevisíveis às partes, houver uma desproporção manifesta
entre o valor da prestação na ocasião da celebração e o momento da execução da obrigação.
Destarte o juiz poderá corrigir, a pedido da parte, o valor da prestação de modo a garantir,
quanto for possível, o valor real da prestação.
A onerosidade excessiva apresenta-se mais ampla do que a teoria da
imprevisão, pois aquela não se restringe apenas ao mundo dos contratos, pelo contrário, a
onerosidade excessiva abarca as obrigações em geral. Ao celebrar um contrato, uma
obrigação, sempre se deve ter em mente a boa-fé entre as partes. Com isso em vista o ideal é
buscar sempre que possível a preservação e o adimplemento da obrigação. Justamente por
elas serem um processo dinâmico e cooperativo, que procura a satisfação das legítimas
expectativas das partes, há um claro interesse em adaptar a relação jurídica às mudanças
repentinas que o passar do tempo pode produzir. (Farias, et al., 2008)
Diferentemente do instituto da lesão – abordado anteriormente – a excessiva
onerosidade se dá em um momento posterior à celebração, ou seja, não está presente no
momento de sua feitura. Em outras palavras, esse exagero no valor da prestação constituir-se-
á nas obrigações de execução diferida ou sucessiva. Se essa onerosidade se der em uma
obrigação imediata, por exemplo, então será objeto de estudo da lesão. Essas relações
obrigacionais duradouras podem sofrer influências das mais diversas circunstâncias,
imprevisíveis às partes, onerando excessivamente uma delas. Desse modo, há uma alteração
no valor da prestação que impede de adimpli-la de acordo com as expectativas dos sujeitos no
momento da celebração da obrigação.
A letra do Art. 317 do CCB é deveras salutar, pois existem acontecimentos
que, por maior que seja a diligência dos protagonistas, não há como prever. Seu objetivo
maior é proteger parte lesada por tal acontecimento evitando - como já falado - uma
desproporção manifesta entre as prestações. Esses fatos imprevisíveis podem causar, e
causam, grande impacto no valor da obrigação, fazendo com que seu adimplemento se torne
sacrificante e muito difícil para uma das partes. Porém, é certa a necessidade de avaliar o caso
concreto para se definir se, de fato, houve uma desproporção manifesta - necessária prova dos
motivos imprevisíveis - na prestação devido ao fato superveniente. Sendo assim, a parte
prejudicada pode entrar em juízo para que o valor da prestação seja então corrigido, para que
o juiz estipule o preço justo dela. Importante lembrar que é necessária a prova dos motivos
imprevisíveis para que surja o direito à revisão. Muitos poderão alegar que essa intervenção
estatal a pedido da parte fere a autonomia privada. É muito fácil pensar desse modo quando,
devido a algum fato imprevisível que venha a onerar excessivamente outrem, se obtém um
benefício maior do que fora pactuado, enquanto a outra parte literalmente sofre para honrar o
adimplemento, até mesmo contraindo outras dívidas para saldar a excessivamente onerada
pelo fato superveniente. Quem age desse modo age sem o menor princípio da boa-fé que rege
as obrigações. É importante sim preservar o vínculo jurídico e não simplesmente resolver a
obrigação. É justamente isso que diz a letra do Art. 317, porém com a ressalva de que este
dispositivo de modo algum atinge a autonomia privada e sim enaltece o valor do vínculo
jurídico. Nas palavras dos mestres Farias e Rosenvald: “... a autonomia privada não pode
conduzir à injustiça ou à opressão econômica”.
A doutrina por vezes ignora o art. 317. Muitas vezes a própria jurisprudência o
ignora. O motivo para isso não é a sua não efetividade ou um mero esquecimento por parte do
jurista, mas sim em razão do status dado ao art. 478 do CCB - que será apreciado no capítulo
seguinte – que disciplina o modelo jurídico da resolução contratual por onerosidade excessiva.
Estes dois artigos apresentam características em comum como o seu fundamento e o momento
da incidência. Ambos versam sobre a cláusula rebus sic stantibus, porém, enquanto o art. 317
abrange as obrigações em geral, o art. 478 restringe-se aos contratos. Nas palavras de Renan
Lotufo, citado pelos professores Chaves e Rosenvald, o art. 317 “não se restringe às questões
contratuais. Por outro lado, por ter aplicação mais ampla (a toda e qualquer obrigação), não
colide nem invalida as disposições expressas relativas à onerosidade excessiva, estipuladas
para serem de aplicação estrita ao campo contratual” [8].
O art. 317 se mostra próximo da teoria da excessiva onerosidade do Direito
Italiano. O referido artigo substitui a idéia de haver um fato extraordinário que atinja a
prestação, contido na letra do art. 478, por somente a desproporção manifesta entre estas
prestações. Essa desproporção manifesta pode ser entendida como uma prova objetiva do
desequilíbrio superveniente que, apesar de toda a diligência das partes, não poderia ser
previsível por elas, resultando em uma onerosidade excessiva e grande sacrifício de um dos
contratantes. No intuito de verificar se a desproporção é ou não um fato imprevisível deve-se
afastar ao máximo as interpretações subjetivistas. Não há uma fórmula para definir o que é
um fato imprevisível mas, certamente, a melhor maneira para buscar essa definição é a análise
do caso concreto de acordo com as diretrizes da boa-fé juntamente com o “poder de previsão”
de pessoas de boa índole que desempenhem “o mesmo ramo de atividades e encontrem-se em
idêntica posição sociocultural dos contratantes” [9].
O mais importante é que o art. 317 tem em vista a preservação do vínculo
obrigacional e as expectativas dos pactuantes, não sua resolução, ou seja, afastar a situação de
excessiva onerosidade pela revisão ou modificação de dispositivos contratuais. Interpretando
o artigo aqui exposto, vê-se estar em conformidade com o princípio da solidariedade e ao
princípio da confiança, necessários ao equilíbrio das relações humanas. Porém, relações
humanas são de difícil trato e muitos tendem a agir de má-fé. Tanto o credor ao tentar
ludibriar ou onerar excessivamente o devedor abusando de seus direito, quanto o mau
devedor, que pode alegar querer resolver a obrigação, ao invés de revisá-la, para que não
precise pagar o que contratou. E cabe ressaltar novamente que a desproporção deve ser
manifesta e que deve ser analisada a concretude do caso. Sempre que possível, o melhor a ser
feito é a revisão.
Além das diferenças já explanadas entre o art. 478 e o art. 317, o segundo
mostra-se mais alinhado com a idéia de obrigação como processo do que o art. 478 Código
Civil Brasileiro. Este último apresenta como solução do problema a resolução do negócio
jurídico, isto é, o devedor terá o direito, se quiser, de resolver o contrato a não ser que a outra
parte, voluntária e eqüitativamente, decida por restaurar a situação de equilíbrio. Já o art. 317
do CCB permite que - à pedido da parte – o magistrado conserve o vínculo obrigacional
mediante a revisão dos seus termos com a finalidade de projetar seus efeitos econômicos e
sociais com o adimplemento da relação. Para pleitear a revisão contratual, deve-se ajuizar
uma ação de revisão contratual. A sentença trará ao processo “o princípio da igualdade
substancial, corrigido pela força do direito aquilo que foi desvirtuado pela força natural do
mercado” [10].
Assim, o art. 317 abrange com sua eficácia as mais diversas obrigações, como
já explicado. Não se pode pensar que a incidência desse dispositivo seja somente nas
obrigações pecuniárias. Terá validade seja a obrigação de dar, fazer ou não fazer, proveniente
das variadas fontes, seja ela um ato jurídico, um ato ilícito (obrigação de indenizar) ou uma
obrigação imposta por norma.
Para finalizar essa explicação segue um interessante exemplo dos juristas
Farias e Rosenvald ilustrando como o art. 317 pode ser abrangente na sua aplicação. Dizem
os ilustres professores que “é possível que a parte que sofreu uma lesão provocada por ato
ilícito, e tenha gerado incapacidade parcial para o trabalho, possa futuramente pleitear o
aumento da prestação em face do causador do dano, caso evento imprevisível à época do
acidente acarrete a progressão das seqüelas para incapacidade total do trabalho. Da mesma
forma, outro contratante poderá se exonerar da verba indenizatória caso haja uma inesperada
recuperação da vítima, retomando elas suas atividades normais”. Ficando claro que é
necessária a demonstração do desequilíbrio das prestações, porém sem a necessidade de
provar que as novas circunstâncias infligiram ao lesado uma situação de empobrecimento. E
também não esquecendo que é perfeitamente possível a sua aplicação nas relações contratuais.
2.3. Da Teoria da Imprevisão (Art. 478 do Código Civil Brasileiro)
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
DINIZ, Maria Helena. 2007. Curso de Direito Civil Brasileiro - Teoria das Obrigações
Contratuais e Extracontratuais. 23ª Edição. São Paulo : Saraiva, 2007. Vol. III.
FARIAS, Cristiano Chaves de e ROSENVALD, Nelson. 2008. Direito das Obrigações. 3ª
Edição. Rio de Janeiro : Lumen Juris, 2008. Vol. II.
GAGLIANO, Pablo Stolze e PAMPLONA FILHO, Rodolfo. 2002. Novo Curso de Direito
Civil - Parte Geral. 2ª Edição. São Paulo : Saraiva, 2002. Vol. I.
MORAES, Renato José de. 2001. Cláusula Rebus Sic Stantibus. 1ª Edição. São Paulo :
Saraiva, 2001.
PEREIRA, Caio Mario da Silva. 2004. Instituições de Direito Civil - Contratos. 11ª Edição.
São Paulo : Forense Jurídica, 2004. Vol. III.
SANTOS, Antônio Jeová. 2002. Função Social: Lesão e Onerosidade Excessiva nos
Contratos. São Paulo : Método, 2002.
SILVEIRA, Carlos Roberto de Arruda. 2004. Contratos de Acordo com o Novo Código
Civil. 1ª Edição. s.l. : Mundo Jurídico, 2004.
VENOSA, Silvio de Salvo. 2008. Direito Civil - Teoria Geral das Obrigações e Teoria
Geral dos Contratos. 8ª Edição. São Paulo : Altlas, 2008. Vol. II.
5. NOTAS
[1] VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil – Teoria Geral das Obrigações e Teoria Geral
dos Contratos, Pag. 447, Vol. II.
[2] VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil – Teoria Geral das Obrigações e Teoria Geral
dos Contratos, cit., pág. 450, Vol. II.
[3] Código Civil, art. 157.
[4] GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito
Civil – Parte Geral, cit., pág. 374.
[5] GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito
Civil – Parte Geral, cit., pág. 374.
[6] SANTOS, Antonio Jeová. Função Social: Lesão e Onerosidade Excessiva nos Contratos,
cit., pág. 186.
[7] 10ª Câmara Cível – RS – Ap. Cível Acórdão Nº 70021028238 – Rel. Des. Paulo
Antonio Kretzmann.
[8] FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Direito das Obrigações, cit.,
pág. 285.
[9] FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Direito das Obrigações, cit.,
pág. 285.
[10] FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Direito das Obrigações, cit.,
pág. 286.
[11] VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil – Teoria Geral das Obrigações e Teoria Geral
dos Contratos, cit., pág. 448, Vol. II.