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ALTERAÇÕES DA PERCEPÇÃO
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Porto, 2009
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Escola Superior de Enfermagem do Porto
Curso de Licenciatura em Enfermagem
2º Ano – 2º Semestre
Unidade Curricular de Comportamento e Relação
ALTERAÇÕES DA PERCEPÇÃO
Orientador:
Maria Olga de Castro e Silva
Carlos Alberto Cruz Sequeira
(s.a.)
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RESUMO
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ÍNDICE
Pág.
INTRODUÇÃO 5
1. ALTERAÇÕES DA PERCEPAÇÃO 6
1.1 ALUCINAÇÕES 7
1.2 ILUSÕES 10
2. ESTRATÉGIAS DE INTERVENÇÃO 13
CONCLUSÃO 14
BIBLIOGRAFIA 15
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INTRODUÇÃO
1. ALTERAÇÕES DA PERCEPAÇÃO
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As sensações são estimulações que provocam alterações dos órgãos receptivos
através de estimuladores físicos, químicos e/ou biológicos com origem externa (meio)
ou interna (próprio organismo) (Jorge, 2006). A variedade de sensações depende de
órgãos sensitivos como os olhos, o nariz, a boca, os ouvidos e a pele, mas também de
órgãos internos ao organismo que igualmente mantêm a capacidade de transmissão do
estímulo, através de feixes nervosos até ao córtex cerebral onde se tornam conscientes,
entre outros estão o coração, o estômago, os músculos e os pulmões (Costa, 2008).
A percepção é uma função psíquica através da qual interagimos e identificamo-
nos com o mundo exterior e connosco próprios (Matos et al, 2003). A selecção e
organização da informação que captamos do meio dependem de estruturas nervosas
periféricas e sensoriais que transmitem informação a estruturas nervosas superiores.
Esta ligação com a memória individual torna a percepção pessoal e humana, ou seja,
não é a reprodução fidedigna do que observamos, mas sim uma imagem subjectiva e
condicionada por factores pessoais. Assim, segundo Jorge (2006), a percepção é
encarada como a tomada de consciência pelo indivíduo do estímulo sensorial, é a
transformação de estímulos puramente sensoriais em fenómenos perceptivos
conscientes.
As alterações da percepção constituem assim, variações na interpretação da
realidade observada e podem ser estruturadas em percepção normal, hiperestesia,
hipoestesia, anestesia, analgesia, ilusão e alucinação. A percepção normal, esta designa
a média comparável entre a população na ausência de qualquer tipo de alteração. A
hiperestesia define-se como um aumento da intensidade das percepções (cores mais
intensas e gostos mais fortes, por exemplo), ao contrário da hipoestesia, ou diminuição
da intensidade das percepções. Quanto à anestesia e analgesia estas designam ausência
de dor, consciência e todas as outras sensações e ausência única de estímulos dolorosos
respectivamente. As duas últimas alterações referidas acima serão as tratadas mais
detalhadamente neste trabalho, visto serem as alterações que mais rapidamente se
colocam em consonância com quadros patológicos. (Costa, 2008).
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Assim, sumariamente, as ilusões ocorrem quando, na presença de um
determinado estimulo, este é percebido de forma diferente (Costa, 2008). As ilusões
podem dever-se a estados diminuídos da consciência, estados de fadiga ou até certos
estados afectivos e mostram-se como visuais e auditivas (Jorge, 2006). Quanto ás
alucinações, estas surgem quando há uma percepção sem que exista qualquer estímulo e
podem estruturar-se em alucinações auditivas, visuais, cenestésica, sinestética,
cinestésica e hipnagógicas e hipnópômpicas entre outras. (Costa, 2008). A esquizofrenia
pode desencadear diversas alterações da percepção, sendo que as mais observadas são
as alucinações, as ilusões e as percepções distorcidas.
A pesquisa das alterações da percepção é uma constituinte do exame do doente
psiquiátrico (Matos et al, 2003). Existe um conjunto de métodos e intervenções que
podem contribuir para a melhoria da qualidade de vida destas pessoas. Nos capítulos
que se seguem iremos abordar mais detalhadamente que acima foram já referenciados.
1.1 ALUCINAÇÕES
As alucinações são uma percepção que surge sem um estímulo sensorial e que
são sentidas de forma clara, autónoma e percepcionadas mesmo que por momentos,
como reais. Pavlov (1954, cit. por Aranha, 2004) tenta explicar o mecanismo
fisiopatológico das alucinações através da concentração da inércia patológica do
processo de excitação. Isto é, há uma hiperexcitatibilidade cerebral que origina a
repetição padrão de estímulos sensoriais, apesar da ausência real destes. As sensações
são percepcionadas como externas, concretas e nítidas, sendo desta forma irredutíveis
pela lógica (Matos et al, 2003). Existe uma forte propensão em apresentar argumentos
lógicos ao paciente que alucina num esforço racional, tentando desta forma demover
este do distúrbio de que é alvo. Contudo, a supressão de uma alucinação através da
argumentação é improcedente e caso seja possível não estamos perante uma verdadeira
alucinação mas sim de um simples engano sensorial (Aranha, 2003). As alucinações são
patognomónicas das psicoses (Harrison et al, 2006). Estas, segundo Matos et al. (2003),
poderão surgir nos indivíduos sem patologia em situações especiais, como a situação da
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privação sensorial, antes e/ou após os períodos de sono (alucinações hipnagógicas e
hipnopômpicas) (Matos et al, 2003).
Porém, perante certas patologias estas manifestações são bastante comuns e
ocorrem frequentemente na esquizofrenia, em psicoses tóxicas e por vezes estão
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também presentes na epilepsia, depressão tipo major e psicóticas, e em estados
de grandeza na mania (Harrison et al, 2006).
As alucinações são classificadas como simples ou complexas, de acordo com a
maior ou menor complexidade que a sua construção envolve. Estamos perante uma
alucinação simples quando aparecem imagens, sons, ruídos ou outras sensações simples.
Já as alucinações complexas envolvem outro tipo de construções e em que a alucinação
é percepcionada em três dimensões. Exemplos de alucinações complexas são
percepcionar uma pessoa k não existe, um objecto ou um animal, entre outros (Aranha,
2003). As alucinações podem ainda ser classificadas segundo os órgãos dos sentidos
que são afectados e é possível distinguir vários tipos de alucinações (Matos et al, 2003).
Assim, no caso das alucinações auditivas o órgão sensorial afectado é o ouvido e
este tipo de alucinação é frequentemente recebida pelo paciente com bastante ansiedade,
pois na maioria das vezes o conteúdo das vozes ouvidas é infame, acusatório e
caluniador. As alucinações auditivas podem surgir de forma simples, em que alucinação
é constituída por sons inespecíficos tais como ruídos e zumbidos, ou podem surgir de
forma mais complexa em que o doente diz ouvir vozes bem definidas que podem
mesmo criar um diálogo entre si. Destacam-se três tipos de alucinações auditivas:
Automatismo Mental (as vozes provenientes da alucinação determinam ordens ao
paciente às quais ele obedece; é uma alucinação que acarreta uma certa perigosidade
pois na maioria das vezes as ordens proferidas são eticamente condenáveis e
socialmente desaconselháveis), Sonorização do Pensamento (ocorre sempre que existem
vozes que ditam de forma antecipada as atitudes do paciente; é como se pensasse em
voz alta) e Vozes sobre a forma de diálogo (é percebido como uma diálogo que ocorre
entre duas pessoas e os temas da conversa são muitas vezes auto – referenciais; é
comum a existência de duas vozes diferentes, sendo que uma apresenta conteúdos
condenatórios e outra defensivos relativamente ao paciente) (Aranha, 2003). As
alucinações auditivas mais frequentes são as Auditivo na terceira pessoa, em que uma
voz fala acerca do doente, sobre o seu pensamento ou sobre os seus actos, podendo
julgar ou influenciar o comportamento como forma de censura ocasional (Matos et al,
2003).
Quanto as alucinações visuais os órgão sensoriais afectados são os olhos e
segundo Santos (2006), caracterizam-se por, na maioria dos casos, serem desagradáveis
e estarem associadas a um estado afectivo intensivo e angustioso. Consideramos como
alucinação visual simples a visualização de vultos, clarões ou sombras, e como
alucinação visual complexa a visualização de formas bem definidas tais como pessoas,
animais ou monstros. Em caso de intoxicação por substâncias como álcool e drogas, as
alucinações surgem por vezes de forma microscópica, ou com imagens estáveis ou
instáveis, isto é, dotadas de forma e cor que podem até assumir uma determinada
sequência (como se fosse um filme). Podemos distinguir de entre as alucinações visuais
as seguintes: Alucinação Oniróide (o paciente experimenta uma espécie de sonho em
quanto está acordado; Heidegger (s.d., cit.por Santos, 2006) refere que a alucinação é
um fenómeno da vigilância enquanto que o sonho apenas pode ser pensado a partir
deste mesmo estado), Zoopsias (é característico das psicoses tóxicas, em que há grande
consumo de álcool; o conteúdo alucinatório traduz-me em animais que causam repugna
tais como cobras, aranhas e lagartos, causando frequentemente sentimentos de
ansiedade e apreensão), Alucinação Autoscópia (o paciente percepciona-se como se
estivesse fora do seu próprio corpo) e Alucinação Extracampina (quanto o doente
consegue visualizar cenas fora do alcance do seu campo visual, como por exemplo ver
através de uma parede) (Aranha, 2003).
Falando agora da alucinação táctil, é um tipo de alucinação em que há a
percepção de estímulos tácteis sem a existência do objecto correspondente provocador
do estímulo. É uma alucinação frequente em psicoses tóxicas e o doente sente como que
todo o seu corpo repleto de insectos estranhos ou vermes que o picam e penetram sobre
a sua pele ou algum orifício corporal. Também sentem pancadas, queimaduras e
frequentemente há relatos da ocorrência de tentativas de estrangulamentos durante a
noite (Aranha, 2003).
Existem também relatos de alucinações cenestésicas e cinestésicas. As primeiras
estão relacionadas com os órgãos internos e o próprio esquema corporal, e são exemplos
disto o doente afirmar que “o seu cérebro está a apodrecer” ou que “os intestinos lhe
foram arrancados”. Já as alucinações cinestésicas estão relacionadas com alterações no
ambiente que rodeia o paciente, assim são relatos possíveis o doente afirmar que as
paredes se movem em direcção a si ou que o próprio se move no espaço (Aranha, 2003).
As alterações olfactivas e gustativas estão frequentemente associadas e são
consideradas raras. Na maioria dos casos expressam estados de delírio correspondentes
a sabores e odores muito desagradáveis. Alguns dos temas frequentes nas alucinações
gustativas são o sabor a sangue, terra ou putrefacção e nas alucinações olfactivas são
frequentes odores que vão desde os perfumes mais exóticos às fezes (Aranha, 2003).
As alterações somáticas são um outro tipo de alucinação referente a percepções
oriundas do interior do próprio corpo. O doente refere sentir dor, pressões e calores em
determinadas zonas corporais. Já as alucinações liliputianas se referem à existência de
seres minúsculos que o doente percepciona e que acompanham a uma percepção normal
de uma situação ou objecto, isto é, o doente pode estar a olhar para um objecto que de
facto existe e vê-lo rodeado de pequenos seres que têm origem numa alucinação
(Aranha, 2003).
Um outro tipo de alucinação que se contrasta com as anteriormente descritas é a
alucinação psíquica. A principal característica deste tipo de alucinação que a distingue
das anteriores é a ausência de elementos sensoriais. O doente refere estabelecer uma
espécie de comunicação telepática, é uma linguagem interior, uma comunicação
silenciosa (Aranha, 2003).
Três outros fenómenos que são muitas vezes associados a alucinações são: a
pseudo – alucinação (as imagens e vozes estão localizadas no interior da cabeça mas
focalizadas para o exterior; são percebidas num espaço subjectivo), a visão fantástica
(são imagens projectadas no campo visual subjectivo; manifestam-se espontânea ou
volitivamente)e a alucinose (ocorrem de facto alucinações, com grande nitidez
sensorial, contudo há preservação da consciência e uma certa orientação crítica (Aranha,
2003).
Em suma, podemos concluir que as alucinações são alterações da percepção que
podem condicionar gravemente as vivências individuais e ainda todas as actividades
sociais pois causam transtorno tanto a nível pessoal, familiar e social. È possivel intervir
no âmbito da enfermagem de modo a diminuir o sofrimento destas pessoas melhorando
a sua qualidade de vida e a qualidade dos cuidados prestados.
1.2 ILUSÕES
A ilusão é uma alteração da percepção, das mais observadas, e que tal como as
alucinações, podem afectar todos os sentidos (Matos et al, 2003). Pode designar-se
como uma percepção errada, distorcida ou ainda como uma percepção real falsificada
(Harrison et al, 2002; Matos et al, 2003; Aranha, 2003; Jorge, 2006).
Enquanto que, na alucinação não existe estimulo externo sensorial, na ilusão
existe um estimulo sensorial de um objecto real, na qual gera um processo de
sensoprecepção embora que esta seja deformada e adulterada por diversos factores,
internos e externos. São subdivididos em três internos, segundo Jorge (2006), quando
existe uma diminuição da consciência e atenção, em estados de fadiga grave e ainda em
estados afectivos intensos (ilusão catatímica), e como factores externos podemos ter
simplesmente a baixo luminosidade, a distância e a semelhança de formas como o
confundir um arbusto com um ser humano (Matos et al, 2003), entre outros.
O contexto da desfiguração dos objectos presente na ilusão, encontra-se
agregada a certas patologias, fazendo parte dos seus sintomas. Elas podem acontecer em
qualquer doença mental, apesar de haver uma predominância para as alterações da
tonalidade sentimental e afectiva. São exemplo de certas patologias a esquizofrenia,
psicoses maníaco depressivas, determinadas neuroses e em epilepsias do lobo temporal
(Aranha, 2003).
Assim como nas alucinações, estas são caracterizadas pelo órgão afectado, sendo
que as mais comuns são as visuais e auditivas, onde nas visuais através da distorção
mental de um estímulo os utentes podem visualizar pessoas, monstros, animais, roupas,
objectos, entre outros; enquanto que, nas ilusões auditivas, a partir de um estimulo
inespecífico sonoro e real, o paciente ouve o próprio nome, palavras significativas ou
chamamentos (Jorge, 2006).
Em particular, as ilusões catatímicas, supra referenciadas, correspondem ao
estado de emoção presente no momento, ou seja, se está presente um mecanismo em
que o utente tem medo, a ilusão é amedrontadora, por sua vez, se o utente se sentir
ameaçado, como no acto de um beijo social ele pensar que é perigoso e mortal, estamos
perante uma ilusão ameaçadora. Assim sendo, podem existir diversos estados ilusórios
dependendo da emoção presente no doente. (Matos et al, 2003).
As pareidolias e as alucinações fantásticas, segundo Matos et al (2003), são
consideradas como ilusões patológicas, sendo que a primeira é referente à criação e
transformação de imagens reais em ilusões intencionais, apenas se estas ocorrerem com
grande intensidade, frequência e exuberância, já as segundas são muito raras e é onde
existe uma ilusão para algo fantástico como, ao olhar-se ao espelho ver a cabeça de um
porco em vez da sua.
As ilusões podem estar presentes tanto em indivíduos saudáveis como em
indivíduos com patologias, visto que, um acontecimento de ilusão isolado não possui
significado diagnóstico (Harrison et al, 2002), mas em contexto terapêutico, o juízo
crítico ou o raciocínio reflectivo podem corrigir o significado das ilusões por esforço na
percepção (Matos et al, 2003). Desta forma é importante actuar a nivel individual de
forma a reduzir o impacto negativo que estas alterações da percepção causam na vida do
cliente. Este é o ponto fulcral das intervenções a nivel da prática clinica sendo o alvo
mais relevante sobre o qual nos vamos debruçar de forma a minimizar o impacto
negativo que este tipo de perturbação acarreta.
Assim, pode-se concluir que, as ilusões e as alucinações enquanto alterações da
percepção, são não só as alterações externas no meio mas, mais a impressão que
elaboramos do mundo ao nosso redor no nosso aparelho psíquico, sendo assim mais que
uma consequência normal da nossa actividade fisiológica (Aranha, 2003).
2. ESTRATÉGIAS DE INTERVENÇÃO
CHANG, J.S.; YI, J.S.; AHN, Y.M.; KIM, J.H.; KIM, Y.S. – Stabilization of the
internal structure of persistent auditory verbal hallucinations in schizophrenia.
Australian & New Zealand Journal of Psychiatry. [Em linha]. Vol.43 (3) (2009).
[Consult. 10 Jun. 2009]. Disponível na Internet: < URL:
http://search.ebscohost.com/login.aspx?
direct=true&db=pbh&AN=36518368&site=ehost-live>