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Resumo
Introdução
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Trabalho apresentado na forma de comunicação oral, no Seminário de pôsteres do III Encontro Nacional sobre
Hipertexto, Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2009.
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Graduanda em Letras - bolsista BIC/UFJF - elaine_leitearaujosilva@yahoo.com.br
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Belo Horizonte, MG – 29 a 31 de outubro de 2009
crítica, a fim de que eles possam, segundo Allred (2008), construir seus próprios significados,
e não somente fazer uma reprodução do que estão estudando, expressando, assim, sua voz
autêntica.
Nesse contexto, o presente trabalho de iniciação científica, de natureza exploratória,
objetiva relatar e avaliar uma experiência de uso do fórum de discussão na formação inicial
dos graduandos de Letras como espaço de reflexão sobre as novas tecnologias no ensino-
aprendizagem de língua estrangeira, o que, a nosso ver, pode contribuir significativamente
para que estes insiram de forma crítica essas tecnologias em sua prática pedagógica.
Arcabouço Teórico
A partir de teóricos da Lingüística Aplicada (Allred, 2008; Almeida, 2007; Coscarelli,
2007) que têm discutido recentemente as novas tecnologias como ferramenta de ensino de
línguas estrangeiras e que apontam a consequente necessidade de capacitar o professor para
usá-las criticamente na sala de aula, utilizamos, nessa pesquisa, o fórum de discussão como
uma ferramenta para inserir tais tecnologias na formação inicial dos graduandos de Letras da
UFJF. Segundo Alves (2008) esta é uma ferramenta de interação em ambiente digital que
objetiva a comunicação e a colaboração entre os membros de um grupo a fim de realizarem
uma tarefa específica, abrindo espaço para que cada um se coloque e juntos tentem construir
um saber comum.
Assim, faz-se necessário o oferecimento ao professor de um letramento digital crítico,
pois, conforme Allred (2008), o professor necessita dessa inclusão em sua formação inicial e
continuada oportunizando a aquisição de estratégias e ferramentas que o ajudem a avaliar o
material que selecionará e usará com seus alunos. Com isso, os alunos poderão aprender a ler
e a usar o material multimídia com uma visão mais questionadora, e não simplesmente
aceitarão o que lhes for apresentado ou indicado, mas também contribuirão com sua visão
particular.
Para o autor, o professor necessita de saber quando e como usar as tecnologias na sala
de aula, pois os recursos tecnológicos e os avanços nessa área são muito rápidos e a formação
do professor, ainda está deficitária nesse campo.
Embora os estudantes tenham mais conhecimento dessas tecnologias e saibam manejá-
las mais facilmente que os seus professores, isso não implica que esses alunos saibam avaliar
a tecnologia e a informação que recebem de forma crítica. Assim, os professores necessitam
de preparo para ajudá-los a utilizar essas tecnologias criticamente, examinando-as no uso
diário. Isso, porque atualmente os estudantes não devem ser receptores de informações,
devem se tornar cidadãos críticos, com habilidades para acessar os vários tipos de tecnologias
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as quais estão expostos e ter ferramentas para usá-las criticamente a seu favor como cidadãos
participativos desse meio. Sobre isso fala Martins (2008):
(...) O uso de diferentes mídias pode contribuir para o indivíduo desenvolver compreensões
sobre o mundo e sobre a cultura em que vive, além de provocar tranformações nas formas de
perceber e apreender a realidade. (MARTINS, 2008, p. 204).
Jordão (2007) também corrobora essa ideia ao dizer que o letramento crítico
possibilita o entendimento das várias maneiras de construir sentidos e compreender o mundo,
tanto nos seus aspectos positivos quanto negativos. Nesse sentido, o conhecimento está
sempre em construção e demanda um pensamento não-linear que contemple os múltiplos
letramentos (verbal e não-verbal) que fazem parte das várias formas de comunicação
utilizadas atualmente.
Nessa perspectiva, Buzato (2007) diz que um “modelo de letramento digital deve ser,
também, essencialmente, um modelo de letramento crítico”. Para o autor o foco não são as
tecnologias que proporcionam a leitura e a escrita em ambiente digital, mas sim o leitor dos
textos digitais, que assumirá o papel de sujeito (leitor / produtor) e poderá se posicionar a
favor ou contra qualquer tipo de texto (verbal e/ou visual) apresentado a ele.
Metodologia
Contexto da pesquisa
O Letramento digital foi oferecido aos graduandos do curso de Letras da UFJF, através
da disciplina Lingüística IV, no ano de 2008. Este se constituiu de exposições teóricas e
discussões e aplicações práticas a partir da ferramenta fórum de discussão.
O fórum de discussão, objeto de nosso estudo, disponibilizado na plataforma
MOODLE, foi utilizado na proposta de Letramento Digital para estender as discussões
teóricas sobre as aplicações e os limites do uso do computador no ensino de línguas iniciadas
em sala de aula e para oportunizar aos graduandos de Letras a experiência prática de uso do
fórum de discussão em seu próprio aprendizado.
Sujeitos da pesquisa
Participaram dessa pesquisa 13 alunos matriculados na disciplina Linguística IV, da
faculdade de Letras da UFJF, no segundo semestre do ano de 2008, em 3 fóruns de discussão.
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Instrumentos da pesquisa
O instrumento da pesquisa foi o fórum de discussão, disponibilizado na plataforma
Moodle, com o objetivo de fornecer uma experiência concreta de uso do mesmo para o
aprendizado.
Segue, na Tabela 1, a descrição dos fóruns, seus objetivos e sua duração.
A3 (...) Não podemos abrir mão das discussões feitas em sala de aula e a
participação digital seria uma forma do aluno se inserir nas novas tecnologias para
expor suas opiniões no contexto fora de sala. Acho que uma complementa a outra, e
o papel do professor além de mediador deve ser o de auxiliar seus alunos a
refletirem e se tornarem cidadãos críticos e competentes em qualquer contexto
social do dia-a-dia.
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A3 (...) essa ferramenta auxilia e muito na aprendizagem de LE, visto que pode
contribuir para a ampliação dos conhecimentos e para a divisão dos mesmos de
maneira mais rápida e eficiente. E ainda, não podemos nos esquecer da
flexibilidade de hora e lugar.
A7 (...) Por exemplo, ensinar o aluno a fazer pesquisa em sites da língua de interesse
pode ser uma ótima iniciativa, pois com isso ele terá acesso às informações e saberá
como se movimentar dentro de um ambiente "estrangeiro" - um processo de
simulação da vida real, como se situar, se localizar num processo de interação real.
A6 Concordo totalmente com você A9. O professor não deve usar essa ferramenta
só para mostrar que sabe operar a máquina ou para querer passar para os
alunos a imagem de que sua aula é moderna, quando a utilização da mesma
não é relevante para a aprendizagem.
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Além disso, apontou-se que o computador não substitui o ensino presencial. Têm-se a
clara noção de que este tipo de ferramenta possui peculiaridades que devem ser respeitadas e
não pode ser usada em qualquer contexto, conforme apontado nas participações de A1 e A2 a
seguir:
A1 (...) por mais interessantes e atrativas que possam ser as novas tecnologias
(principalmente para o aluno), é necessário ter em mente que nenhum tipo de
ferramenta substitui o diálogo, a conversa "real".
A2 (...) cada tipo de interação tem seu valor e não acredito que usar chats e emails
substitua a interação em sala de aula, mesmo porque é fundamental conversar
para aprender uma língua estrangeira.
A2 (...) acho que o (3) não é um hipertexto rizomático, pois não há ligações diretas
entre os textos e nem para a página principal, que deve ser acessada pelo botão de
voltar. Achei legal o link serem figuras, mas assim eles não informam qual o assunto
do texto, o que pode ser um problema para alguns leitores, e não para outros, que
apreciem o elemento surpresa. Gostei da riqueza de figuras do (2).
A4 Eu não gostava muito de, quando estava lendo um texto, me deparar com um
link que levasse para outra página ou outro assunto. Porém, senti falta desse
mecanismo nos textos 1 e 3.
A9 (...) colocar links nos textos que levem a outro texto ajuda a interligá-los ainda
mais. Parece que assim os textos, ao mesmo tempo que estão relacionados uns com
os outros, se mostram também independentes. E, pelo que eu entendi, essa é a idéia
principal desse tipo de hipertexto (rizomático, não é?).
A12 (...) se tinha que ser um hipertexto rizomático... fiz com que quase todas as
páginas se conectassem, tendo sempre um link para se voltar para a página principal,
onde estão os tópicos. E foi justamente isso que eu senti falta nos hipertextos já
postados...uma maior flexibilidade (...)
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os recursos de cores, barra de rolagem e links, como é mostrado nas falas de A4, A6, A7, A9
e A10 a seguir:
A4 Como o hipertexto n° 2 foi feito por nós (R., P. e eu) e nós já sabíamos como
ele estava, não prestei atenção nesse ponto. Foi muito bom você ter destacado essa
falha (O leitor tem que rolar a tela pra ver o resto da apresentação). Para um leitor
desatento e pouco curioso, isso se torna um grande problema.
A7 Gostei muito dos Hipertextos principalmente o primeiro, que tem os links para se
poder ir a uma notícia, a página de abertura também é muito interessante pois tem
algumas perguntas chaves que guia o "leitor" na página gostei muito.
A9 Senti a preocupação em usar as cores certas para cada tema, com panos de fundo
diferentes em cada texto. Acho que isso é importante, pois é uma forma de atrair
o seu leitor. O ato de adequar o efeito visual com o conteúdo do texto é um
importante aliado do autor.
A10 (...) achei legal os links serem figuras, mas confesso que tive um pouco de
dificuldade, no princípio de me situar, pois cliquei em várias coisas...rsrs, já que as
figuras não informam sobre o que irão abordar. A princípio isso causa um pouco de
confusão.
(...) também achei a seleção de figuras do texto nº2 muito boa, principalmente para
o público jovem que se identifica com os jogos.
A3 (...) todos são hipertextos, pois trazem conexões (links) com outras partes do
texto e assim se conectam em uma rede de textos. Aproveitando o texto da última
aula, gostaria de citar Lévy (1993) usou a palavra hipertexto como metáfora do
conhecimento. Ela retoma a teoria dos esquemas, na qual o conhecimento é uma
rede de relações que se acredita haver entre os constituintes de um determinado
conceito. Assim, tanto os hipertextos quanto a teoria dos esquemas
buscam explicar mecanismos mentais usados na compreensão, na construção
do conhecimento.
A11 (...) É claro que o hipertexto deve ser algo bem planejado e organizado por
quem o faz. O objetivo com que ele é utilizado é fator essencial para o seu
elaboramento. O recurso visual utilizado pelo G. é interessante, e o formato 'site' da
A2 também.
No último fórum (fórum 3), os alunos tiveram que resumir as dicas mais importantes
para a construção de um hipertexto ideal, dadas pelos graduandos no fórum anterior (fórum
2), as quais seriam utilizadas posteriormente por uma dupla de alunos para construírem o
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hipertexto final da turma: “Gostaria que vocês deixassem registrado suas dicas para a dupla
construir o nosso hipertexto”.
Os alunos fizeram uma relação de dicas que reforçaram o que foi discutido no fórum
anterior e ainda postaram algumas análises críticas, destacando pontos positivos e negativos,
baseadas em teorias estudadas em sala de aula e na própria prática de construção dos
hipertextos. Como exemplos podemos citar as falas de A3; A9 e A13; A2 e A12, que
relacionaram suas dicas sobre a importância do público alvo (leitores dos hipertextos) que são
os destinatários desse trabalho, como se segue:
A9 e A13 (...) sugestão para a tela principal é que sejam definidos os ícones a serem
linkados para que o leitor saiba o tópico principal do link.
A13 (...) Concordo com as colocações abordadas acima, mas vale lembrar né gente,
que para ser um site atraente ele deve estar de acordo com as novidades dos
jovens (do público em geral). (...) acho q a questão de ser atrativo é muito
relativa... e o q pode nos agradar talvez não agrade aos outros, entenderam?
A9 e A13 (...) lembrando o que foi colocado por A3, os textos 1 e 3 não são
rizomáticos, já que não possuem links dentro dos textos para interligá-los.
Entretanto, o hipertexto 1 apresenta um grau elevado de "interligação", se é que
podemos usar esse termo (...)
(...) Outra coisa importante a ser destacada, é a importância dos diversos recursos
semióticos. As cores utilizadas no hipertexto, assim como as figuras, a fonte, etc,
devem chamar a atenção do leitor e motivá-lo à leitura. Em relação ao conteúdo do
hipertexto, relembrando o que lemos no texto de Coscarelli, deve-se dar
prioridade às informações mais relevantes, tornando o texto mais sucinto (...)
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Conclusão
Os dados gerados pela pesquisa apontam o fórum de discussão como uma ferramenta
que proporciona, na formação dos graduandos de Letras, um ambiente de reflexão e troca de
opiniões acerca das novas tecnologias da informação e comunicação no ensino de línguas. A
utilização dessa ferramenta também pode contribuir nas práticas e relações educacionais que
se transformam no contexto sócio-histórico possibilitando a formação de professores que
possam utilizar essas tecnologias de maneira mais eficiente e crítica na sua prática pedagógica
incentivando, assim, seus alunos a terem uma postura crítica frente às novas mudanças
sociais, culturais e tecnológicas que estão ocorrendo no ambiente educacional.
Referências bibliográficas
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Disponível em:
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JORDÃO, C.M. As lentes do discurso: letramento e criticidade no mundo digital. In: Trabalhos em
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MARTINS, M.C. Integração de Mídias e Práticas Pedagógicas. In: GIL, G.; VIEIRA-ABRAHÃO,
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