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A utilização de técnicas de biologia molecular na

genética forense: uma revisão*


The use of molecular biology techniques in foresinc genetis: a review
Analara Koch1 & Fabiana Michelsen de Andrade2
RESUMO - Os avanços nas tecnologias de DNA surtiram um enorme impacto no campo da ciência forense. Com uma incrível sensi-
bilidade e um alto poder de discriminação, a análise de DNA tem sido uma poderosa ferramenta para a identificação humana e inves-
tigações criminais. O presente estudo fará uma revisão sobre as técnicas de Biologia Molecular mais significativas – RFLP, VNTR, PCR
e STR – que foram desenvolvidas nas últimas décadas, tendo como princípio o estudo de diferentes polimorfismos de DNA para a iden-
tificação precisa de indivíduos. Por um longo tempo, estes polimorfismos foram detectados por técnicas que possuíam como base a ele-
troforese. Outra técnica que também será exposta, Southern Blotting, visa a identificação de uma seqüência de bases específicas do
DNA, que foi por muito tempo aplicada tanto na detecção de SNPs como de VNTRs e STRs. Além disto, será descrita a reação em
cadeia da polimerase (PCR), um método laboratorial capaz de copiar milhões de vezes um segmento do DNA, que se destaca peran-
te outras técnicas por ser um procedimento relativamente simples e fácil de realizar em laboratório, gerando resultados precisos e sa-
tisfatórios, em um curto espaço de tempo. Por fim, serão descritos os métodos automatizados que, a partir de PCR, permitem a de-
tecção rápida de marcadores moleculares, a fim de facilitar e tornar mais precisa a identificação forense.
PALAVRAS-CHAVE - Técnicas de biologia molecular, Genética forense, Tipagem de DNA, Perfil de DNA, Investigações criminais,
RFLP, VNTR, PCR, STR.

SUMMARY - The advent of DNA-based technologies promoted significant impact in the field of forensic science. According to its high
sensibility and powerful discrimination, the DNA analyses have been a powerful tool to human identification and criminal investiga-
tions. The present study will be taken to produce a review about the most important techniques of molecular biology developed in re-
cent decades, such as RFLP, VNTR, PCR and STR. These techniques are based in the study of different polymorphisms in the DNA
and it could be used in the precise subjects identification. For a period, these polymorphisms were detected through techniques ba-
sed in electrophoresis. Besides, other procedures will be explained, like Southern Blotting that aims to identify specific DNA sequen-
ces and could be applied in the research of SNPs, VNTRs and STRs. It will be also described the Polimerase Chain Reaction (PCR), a
laboratorial method able to amplify millions of a short DNA segment. This technique has some advantages through the others becau-
se it is a simple and easy procedure to be done in laboratories, and could offer accurate and satisfactory results in a short period of ti-
me. Concluding, automated techniques based in PCR will be present that permit fast detection of molecular evidences in order to fa-
cilitate and promote reliable forensic identification.
KEYWORDS - Molecular Biology Techniques, Forensic Genetic, DNA typing, DNA profiling, Criminal investigation, RFLP, VNTR, PCR, STR.

INTRODUÇÃO As primeiras técnicas forenses de identificação humana


eram convenientes apenas para análise de DNA de evi-
dências biológicas que contivessem células nucleadas.
O avanço da ciência e tecnologia a nível forense teve seu
ponto culminante em meados dos anos 80, quando as
técnicas de identificação, fundamentadas na análise direta
Atualmente, com a implementação do seqüenciamento do
DNA mitocondrial, essa limitação tem sido superada (LEE
do ácido desoxirribonucléico (DNA), tornaram-se uma das e LAAD, 2001). Se antes, impressões digitais e outras pis-
mais poderosas ferramentas para a identificação humana e tas eram usadas para desvendar crimes; hoje, são inúmeros
investigações criminais (BENECKE, 1997). A determinação os espécimes biológicos dos quais o DNA pode ser extraí-
de identidade genética pelo DNA pode ser usada para de- do. Podemos encontrá-lo em pequenas amostras de san-
monstrar a culpabilidade dos criminosos, exonerar os ino- gue, ossos, sêmen, cabelo, dentes, unhas, saliva, urina, en-
centes, identificar corpos e restos humanos em desastres tre outros fluidos, e análises cuidadosas desse material aju-
aéreos e campos de batalha, determinar paternidade com dam a identificar criminosos (BENECKE, 2002).
confiabilidade praticamente absoluta, elucidar trocas de As aplicações da Biologia Molecular no laboratório criminal
bebês em berçários e detectar substituições e erros de ro- centralizam-se, em grande parte, na capacidade da análise
tulação em laboratórios de patologia clínica (PENA, 2005). do DNA em identificar um indivíduo a partir de cabelos,
O primeiro método de utilização da análise do DNA para manchas de sangue e fluidos corporais, entre outros itens
identificar indivíduos foi desenvolvido em meados da dé- recuperados no local do crime. Essas técnicas são conheci-
cada de 1980 por Sir Alec Jeffreys, da Universidade de Lei- das como datiloscopia genética (genetic fingerprinting),
cester e, apesar do seu enorme poder potencial, houve sé- embora o termo mais preciso e utilizado para designá-las
rias reservas quanto o seu uso real, pois no início, havia seja perfil de DNA (BROWN, 2001). O perfil de DNA se ba-
muitas dúvidas quanto à reprodutibilidade e à confiabili- seia no fato de que gêmeos idênticos são os únicos indiví-
dade dos métodos (DUARTE et al., 2001; BROWN, 2001). duos que possuem cópias idênticas do genoma humano,
Com o conhecimento atual, ao menos duas grandes vanta- mas este, em indivíduos diferentes, contém muitos polimor-
gens devem ser citadas sobre a tipagem molecular: o DNA fismos, que são posições onde a seqüência de nucleotídeos
possui uma alta estabilidade química mesmo após um lon- difere em cada membro da população. Para ser considera-
go período de tempo e está presente em todas as células do um polimorfismo, o alelo raro de um determinado loco
nucleadas do organismo humano, o que facilita a obtenção deve estar presente em mais de 1% dos indivíduos da po-
do mesmo (MALAGHINI et al., 2006). pulação. Assim, com esta grande variação no número e no

Recebido em 27/12/2006
Aprovado em 18/10/2007
*Instituto de Ciências da Saúde, Centro Universitário Feevale, Novo Hamburgo, Rio Grande do Sul, Brasil
1
Aluna formanda do curso de Biomedicina do Centro Universitário Feevale
2
Doutora em Genética e Biologia Molecular, Professora Titular de Genética Humana, Curso de Biomedicina do Centro Universitário Feevale

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tipo de variações, fica possível identificar uma pessoa com gues ao laboratório forense e, para minimizar a deterio-
base no seu padrão de polimorfismos (BROWN, 2001). ração da amostra e os itens, devem ser guardados em am-
A tipagem do DNA para finalidades forenses se baseia nos biente frio e seco até que sejam submetidos à testagem
mesmos princípios fundamentais e usa as mesmas técnicas (BENECKE, 2005).
que são rotineiramente empregadas em uma ampla varie- Em casos de justiça, se a evidência não for documentada,
dade de situações médicas e genéticas, tais como: o diag- coletada, embalada e preservada com muito cuidado, ela
nóstico e o mapeamento genético (DUARTE et al., 2001). O pode não preencher os requisitos legais e científicos para
DNA é resistente a muitas condições que destroem a mai- serem admitidos num tribunal, pois, se ela não foi apropri-
oria dos outros compostos biológicos, como as proteínas. adamente documentada antes da coleta, sua origem pode
Além disso, somente poucas células nucleadas, que conte- ser questionada e se tiver sido mal coletada ou embalada,
nham pequenas quantidades de DNA, são necessárias pa- a possibilidade de contaminação aumentará, levando a
ra a identificação de um indivíduo. Por essas razões, as uma maior possibilidade de discordância nos resultados da
análises diretas do DNA freqüentemente dão resultados análise do DNA. Na perspectiva dos desafios legais, para
úteis em situações em que os métodos mais antigos, como uma confiabilidade nos resultados dos métodos aplicados,
os que empregavam grupos sangüíneos e enzimas, fracas- é essencial que medidas estritas de cuidados com contami-
savam (DUARTE et al., 2001; SCHNEIDER, 1997). nação sejam seguidas (LEE e LAAD, 2001).
Com uma incrível sensibilidade e poder de discriminação, Toda a atividade humana está associada a algum tipo de er-
a análise de DNA tem sido a “figura-chave” e promete ro. Existem fontes potenciais de erro durante todo o estágio
grandes progressos no campo da ciência forense (LEE e do processamento da prova física, desde a coleta em campo,
LAAD, 2001). Por possuir um alto poder de discriminação, passando pela análise no laboratório, até a interpretação dos
a tipagem do DNA tem fornecido aos investigadores uma resultados dessa análise. Nem todos os erros têm conse-
grande chance de excluir suspeitos que não estão relacio- qüências prejudiciais; muitos nem tem conseqüências. Mui-
nados à cena do crime (BAECHTEL e COMEY, 1996). O tos são prontamente identificados e podem ser corrigidos.
número de tribunais que têm aceitado evidências baseadas Os lapsos que mais preocupam, são aqueles que possam le-
no DNA cresce a cada dia, levando-nos a crer que, em um var a uma falsa semelhança. Falsas exclusões são importan-
futuro não muito distante, esta tecnologia será empregada tes, mas é improvável que levem a falsas condenações. Para
em todo o Sistema Legal (PRIMORAC et al., 2000). Porém, conseguir resultados precisos, cuidados e atenção a deta-
para que não ocorra nenhum tipo de erro e para a precisão lhes, devem ser utilizados em todos os estágios do processo
dos resultados, regras rígidas de coleta e processamento de identificação pelo DNA (DUARTE et al., 2001).
das amostras devem ser adotadas (LEE e LAAD, 2001).
Nas últimas décadas, muitas técnicas foram desenvolvidas, MARCADORES MOLECULARES PARA A
objetivando a identificação genética precisa de indivíduos. IDENTIFICAÇÃO HUMANA
Dentre elas, as mais significativas são: RFLP, VNTR, PCR e
STR (ALBUQUERQUE, 2004). Assim, o objetivo deste arti- Nos testes de determinação de identidade genética são es-
go é descrever estas e outras técnicas relacionadas à inves- tudadas regiões genômicas em que há variação entre pes-
tigação forense, ao mesmo tempo em que uma revisão de soas normais. Essas regiões são chamadas de “polimorfis-
suas aplicações em diferentes situações será realizada. mos de DNA” ou “marcadores de DNA”. Nos últimos anos
foram desenvolvidas diversas técnicas para estudo de dife-
COLETA E PRESERVAÇÃO DE rentes tipos de polimorfismos de DNA, formando assim um
EVIDÊNCIAS BIOLÓGICAS verdadeiro cardápio, no qual os cientistas e laboratórios
podem escolher o método mais adequado para solucionar
A capacidade de introduzir achados de DNA no tribunal o problema em mãos (PENA, 2005).
sofre um grande impacto pela coleta das provas e métodos O método mais usado hoje em dia é o estudo de regiões repe-
de preservação. Do ponto de vista técnico e criminalista, o titivas de DNA, chamadas de “minissatélites” (VNTR’s) e “mi-
DNA pode ser coletado da maioria dos espécimes biológi- crossatélites” (STR’s). A chave da diversidade nessas regiões é
cos, pois sendo uma molécula estável em ambiente seco e que o número de repetições varia entre indivíduos e pode ser
frio, se armazenado em tais condições, tem grandes chan- estudada com sondas de DNA, ou através de PCR, como vem
ces de resultados confiáveis (BENECKE, 2005). Protocolos sendo feito em maior escala atualmente (PENA, 2005).
de coleta de amostras detalhados têm sido previamente VNTRs: (do inglês variable number of tandem repeats ou
descritos. O método de coleta específico dependerá do es- “número variável de repetições em tandem”): também de-
tado e condição da evidência biológica. Em geral, uma nominados de minissatélites, são polimorfismos de DNA
quantidade significativa de material deve ser coletada pa- que consistem numa série de comprimento de repetições
ra garantir a extração de DNA suficiente para os testes. No de fragmentos de DNA. Uma região VNTR típica consiste
entanto, é importante preservar a coleta de sujeira adicio- de 500 a 1000 pb, compreendendo principalmente unida-
nal, gorduras, fluidos e outros materiais que possam afetar des repetidas em seqüência, cada qual com cerca de 15 a
o processo de tipagem de DNA (LEE e LAAD, 2001). Deve- 35 pb de comprimento. Os locos VNTR são particularmen-
se, também, levar em conta que o material biológico recu- te convenientes como marcadores para a identificação hu-
perado na cena do crime pode sofrer alterações ambientais mana, pois possuem um número muito grande de alelos di-
(luz, altas temperaturas, reativos químicos, etc) que po- ferentes e, sendo assim, é provável que não existam dois
derão ocasionar quebras e alterações da cadeia de nucleo- indivíduos não aparentados que compartilhem o mesmo
tídeos e, como conseqüência, modificar a composição e a genótipo (THOMPSON, 1993; DUARTE et al., 2001;
estrutura normal do DNA, impossibilitando a análise (BO- KASHYAP et al., 2004).
NACCORSO, 2004). STRs (do inglês short tandem repeats ou “repetições curtas
Cada espécime biológico deve ser recolhido de acordo com em tandem”): STRs ou microssatélites são polimorfismos
as práticas forenses estabelecidas. Uma vez que as amos- muito similares aos VNTRs, mas diferindo em seu tamanho
tras foram coletadas, elas devem ser imediatamente entre- (em geral não ultrapassam 200pb) e no comprimento das

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unidades de repetição em tandem, que variam de 2 a 7 nu- nho e forma. Quando submetido a um campo elétrico, as
cleotídeos. Estes locos são muito abundantes no genoma moléculas de DNA migram para o pólo positivo, pois são
humano (KASHYAP et al, 2004), e cada um deles possui carregadas negativamente, e como força oposta à migração
um grande número de diferentes alelos, inclusive maior do existe o atrito com o suporte (gel). Quanto maior a molécu-
que o encontrado em VNTRs, o que os torna ainda mais útil la, maior o atrito e mais lenta a migração; portanto, molécu-
para identificação humana. las de tamanhos diferentes terão migrado uma distância di-
Marcadores bi-alélicos: além dos minissatélites e microssa- ferente depois de algum tempo. A distância que o fragmen-
télites há dois grandes grupos de polimorfismos no genoma to percorreu a partir do ponto de aplicação é comparada
humano - os polimorfismos de substituição de nucleotídeos com a distância que outros fragmentos de tamanhos conhe-
únicos (single nucleotide polymorphisms, ou SNPs) e os po- cidos percorreram no mesmo gel (VIEIRA, 2006). O DNA
limorfismos de inserção ou deleção de um ou mais nucleotí- pode ser visualizado na presença de compostos intercalan-
deos (polimorfismos de inserção - deleção; ins/del). Ambos tes, sendo que o mais utilizado é o brometo de etídio. Em
polimorfismos apresentam a grande vantagem de que po- presença desse composto, o DNA emite fluorescência por
dem ser estudados em produtos de amplificação muito cur- exposição à luz UV e, assim, moléculas de um mesmo tama-
tos (50 pb ou menos) e, assim, apresentam distintas vanta- nho são visualizadas em um mesmo ponto do gel, formando
gens sobre os microssatélites no estudo de DNA extrema- uma faixa fluorescente (ZAHA et al., 2003). Se na amostra
mente degradado (PENA, 2005). Os mais abundantes e os submetida à corrente elétrica existir mais de um tamanho
melhor estudados desse grupo são os SNPs. Cerca de 5,3 de molécula, estas serão separadas na migração e, então,
milhões deles foram encontrados no genoma humano, o que serão visíveis bandas em diferentes localizações do gel.
corresponde a um SNP a cada 600pb (XIAO J et al, 2006). Basicamente, duas matrizes sólidas são utilizadas atualmen-
Recentemente, várias publicações têm analisado a possibili- te para eletroforese: géis de agarose e géis de acrilamida. A
dade de que SNPs marcadores ins/del possam vir a substitu- escolha do tipo de gel depende do tamanho do fragmento e
ir os STRs na identifcação de criminosos. Porém, embora es- da diferença de tamanho de diferentes fragmentos de DNA
tes marcadores possam oferecer algumas vantagens, os ban- que se quer visualizar. As duas substâncias formam tramas
cos de dados já foram montados com microssatélites e, por- de poros de tamanhos variáveis, possibilitando a separação
tanto, a facilidade de comparações entre um dado biológico dos fragmentos, que terá sua eficiência dependente da con-
e uma seqüência armazenada é muito maior para marcado- centração do polímero e da intensidade da voltagem e am-
res STRs. Além disto, a tipagem dos SNPs é relativamente peragem aplicadas. Em qualquer um dos casos, estas subs-
complexa mas por outro lado, os ins/del são muito mais fá- tâncias são dissolvidas numa solução-tampão eletrolítica,
ceis de serem tipados porque seus alelos diferem somente obrigatoriamente a mesma que recobrirá o gel na cuba de
em tamanho (PENA, 2005). Na área de identificação huma- eletroforese e possibilitará a passagem de corrente elétrica
na, estes marcadores apresentam a desvantagem de possuí- (Tampão de Corrida). Para eletroforese de DNA, normal-
rem somente dois alelos, o que torna muito maior a possibi- mente utiliza-se o TBE (Tris-Borato EDTA) e o TAE (Tris-
lidade de dois indivíduos compartilharem o mesmo genóti- Acetato EDTA). Quanto à aplicação das amostras no gel, é
po, mesmo sem serem aparentados ou relacionadas à cena importante ressaltar que antes disso elas são misturadas a
do crime. Uma maneira de superar esta desvantagem seria uma outra solução (Tampão de amostra), que tem como
a tipagem de um número maior de marcadores ins/del, de função aumentar a viscosidade da amostra e assim impedir
maneira que fosse possível uma identificação precisa. que esta comece a flutuar no tampão de corrida antes que a
Por muito tempo, estes polimorfismos foram detectados por voltagem seja aplicada no sistema. Além disso, o tampão de
técnicas que possuíam como base a eletroforese, cujos fun- amostra possui um corante que possibilita a visualização do
damentos permitiram o desenvolvimento de métodos auto- andamento da corrida. Usualmente, pode-se utilizar uma
matizados que serão discutidos mais adiante. Assim, a pri- mistura de Azul de Bromofenol (corante), Xileno-Cianol e
meira técnica a ser descrita neste trabalho é a de eletrofo- Glicose (aumentam a viscosidade) dissolvidos no tampão de
rese. Logo após uma técnica que foi utilizada por um lon- corrida apropriado para cada reação (VIEIRA, 2006).
go tempo, denominada de southern blotting, será breve- Para agarose são utilizadas concentrações de 0,5 a 4% no
mente descrita, tanto na detecção de SNPs como de gel. Quanto maior a concentração maior a sua capacidade
VNTRs ou STRs. Com o advento da reação em cadeia da de distinguir fragmentos de tamanhos próximos. Já para
polimerase (PCR), todos os tipos de marcadores molecula- acrilamida, normalmente, utiliza-se géis com concentrações
res passaram a ser detectados a partir de quantidades me- de 4 a 25%. Estes últimos apresentam uma definição muito
nores de amostras, com um tempo menor e, assim, uma maior do que a agarose: um gel de 10% pode, em certas
atenção especial será dada para esta técnica. E, por último, condições, separar fragmentos de DNA diferentes em tama-
uma apresentação será feita sobre os métodos automatiza- nho por apenas um par de bases (VIEIRA, 2006).
dos, que a partir do PCR detectam um grande número de Apesar de sua versatilidade e relativo baixo nível de difi-
marcadores em um pequeno espaço de tempo. culdade de realização, a eletroforese convencional tem a
desvantagem de identificar os fragmentos apenas quanto
ao tamanho e não quanto à seqüência (VIEIRA, 2006).
TÉCNICAS UTILIZADAS PARA A GENOTIPAGEM DE
MARCADORES GENÉTICOS SOUTHERN BLOTTING:
O DNA com uma seqüência de bases específica pode ser
ELETROFORESE: identificado por um procedimento desenvolvido por Edwin
Por meio dessa técnica é possível separar moléculas em Southern, conhecido como Southern blotting. Esse proce-
função da sua massa (tamanho), forma e compactação. Tra- dimento utiliza a capacidade de a nitrocelulose ligar-se for-
ta-se de uma técnica rápida, sensível e precisa. A molécula temente ao DNA fita simples, mas não à fita dupla. O pri-
em questão, por exemplo o DNA, migra em suportes (géis meiro passo é a realização de uma eletroforese com o DNA
de agarose ou acrilamida) por ação de uma corrente elétri- genômico total, geralmente após a clivagem com uma ou
ca, com diferentes velocidades, dependendo do seu tama- mais enzimas de restrição. Após a eletroforese do DNA fita

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dupla, o gel é embebido em NaOH para converter o DNA à Essa informação é utilizada para desenhar dois oligonucle-
sua forma de fita simples. O gel é então recoberto por uma otídeos iniciadores, denominados primers, os quais são es-
folha de nitrocelulose. As moléculas no gel são forçadas a pecíficos para a seqüência-alvo e apresentam cerca de 15
deslocarem-se para a nitrocelulose por capilaridade que re- a 25 nucleotídeos de extensão. Após os primers terem sido
tira o líquido usando uma pilha de papel absorvente pelo adicionados ao DNA-molde desnaturado, eles se ligam es-
outro lado da nitrocelulose. O DNA de fita simples liga-se à pecificamente às seqüências de DNA complementares ao
membrana de nitrocelulose na mesma posição em que esta- seu sítio-alvo, flanqueando e delimitando a região a ser
va no gel. Após a secagem a 80° C, que fixa o DNA perma- analisada. Na presença de uma DNA-polimerase termoes-
nentemente no lugar, a membrana de nitrocelulose é ume- tável apropriada e dos quatro desoxirribonucleosídeos tri-
decida com uma quantidade mínima de uma solução con- fosfatos (dATP, dCTP, dGTP e dTTP), é iniciada a síntese
tendo uma sonda de DNA de fita simples. Esta sonda con- de novas fitas de DNA, que são complementares a cada
siste de uma seqüência de DNA conhecida, que pode inclu- uma das fitas de DNA do segmento-alvo de DNA, forman-
ir uma parte de um gene de interesse para alguma patolo- do, desta maneira, um fragmento de DNA com seqüência
gia ou, simplesmente, uma região polimórfica se a intensão idêntica à do DNA a ser analisado, e previamente selecio-
for somente a discriminação entre indivíduos. Outra carac- nado pelo par de primers (STRACHAN et al., 2002).
terística desta sonda é que a molécula de DNA fita simples Uma vez que este ciclo de duplicação molecular é repetido
está ligada a um isótopo radioativo. A nitrocelulose umede- várias vezes, a PCR é uma reação em cadeia porque as fi-
cida é mantida em uma temperatura adequada por algumas tas de DNA, recentemente sintetizadas, irão atuar como
horas para permitir a renaturação, isto é, a hibridização da moldes para mais uma síntese de DNA nos ciclos subse-
sonda à(s) seqüência(s) alvo. A membrana é lavada para re- qüentes. Após cerca de 25 ciclos de síntese de DNA, os
mover a sonda radioativa não-ligada, secada, e é feita uma produtos da PCR irão incluir, além do DNA que iniciou a
autoradiografia pela exposição a um filme de raio X. A po- reação, cerca de 105 cópias da seqüência-alvo específica,
sição das moléculas complementares à sonda radioativa é uma quantidade que é facilmente visualizada como uma
indicada pelo surgimento de manchas escuras no filme banda distinta de tamanho específico quando submetida à
revelado (VOET et al., 2002). eletroforese em gel de agarose (STRACHAN et al., 2002).
A técnica de Southern Blotting pode ser utilizada na iden- O processo é relativamente simples e fácil de realizar em
tificação de polimorfismos que determinam a alteração do laboratório. Os resultados podem ser obtidos em um es-
padrão de clivagem (devido a mutações pontuais em sítios paço curto de tempo, freqüentemente menos do que 24 ho-
de restrição) obtido a partir de uma determinada região do ras, em contraste com uma análise do genoma total com
DNA (Restriction fragment length polymorphism – RFLP). Southern, que exige até mesmo semanas.
Esses diferentes padrões são detectados utilizando-se a
própria região potencialmente polimórfica como sonda. Principais vantagens da técnica de PCR
Padrões de RFLP obtidos com uma determinada sonda Velocidade e facilidade de utilização: a clonagem de DNA
(usualmente de uma região de DNA repetitivo) podem ser por PCR pode ser realizada em poucas horas usando-se um
utilizados no estabelecimento de uma “impressão digital” equipamento relativamente simples, cuja função funda-
de DNA, que permite a diferenciação entre dois indivídu- mental é a variação de temperatura em cada passo da téc-
os quaisquer (ZAHA et al., 2003). nica. Uma reação de PCR consiste de 30 ciclos contendo as
Os primeiros testes usados para a detecção de minissatéli- etapas de desnaturação, síntese e pareamento, com cada
tes eram baseados em Southern e conhecidos como MLPs ciclo individual levando em geral 3 a 5 minutos em um ter-
(multi lócus probes), capazes de identificar polimorfismos mociclador automatizado, o que totaliza menos de três ho-
de múltiplos locos simultaneamente. Estes testes utilizavam ras para todo o processo. Evidentemente, algum tempo
como sondas seqüências de repetição em tandem e, quan- também é necessário para a construção e a síntese dos oli-
do hibridizados por Southern, detectavam uma família de gonucleotídeos que servirão como primers, mas isso foi
minissatélites, onde todos compartilham a mesma seqüên- simplificado pela disponibilidade de programas de compu-
cia de repetição, gerando impressões digitais de DNA espe- tador para projetar primers e pela síntese comercial rápida
cíficas para cada pessoa. No entanto, os padrões gerados dos oligonucleotídeos desejados (STRACHAN et al., 2002).
eram complexos e essas provas não podiam ser usadas pa- Sensibilidade: a PCR é capaz de amplificar seqüências a
ra detectar alelos de diferentes locos. Isto marcou o adven- partir de quantidades ínfimas do DNA-alvo e, até mesmo,
to de SLPs (single lócus probes, sonda de um único locos), do DNA de uma única célula. Esta vantagem torna a técni-
que compreendia uma única seqüência de DNA flanquea- ca particularmente útil na análise forense, quando, em mu-
dora de um VNTR. Assim, dependendo do número de repe- itos casos, a quantidade de material biológico, e portanto
tições do VNTR, era possível determinar o alelo do indiví- de DNA extraído de algumas amostras, é muito pequena,
duo. Diversos SLPs usados em uma série, poderiam gerar como em fios de cabelo ou traços de saliva em tocos de ci-
perfis individuais e específicos (KASHYAP et al., 2004). garro. Desta maneira, a técnica possibilita a tipagem do
DNA em amostras de prova que não poderiam ser analisa-
REAÇÃO EM CADEIA DA POLIMERASE (PCR) das através de outras técnicas, como por exemplo o Sou-
A reação em cadeia da DNA-polimerase (do inglês Polime- thern, uma vez que esta técnica necessita de uma grande
rase Chain Reaction) revolucionou a genética molecular quantidade de DNA total. Além disso, a pequena quanti-
por permitir a rápida clonagem e a análise do DNA. É um dade de DNA, necessária para a PCR, torna mais fácil
método in vitro rápido e versátil para a amplificação de se- guardar porções de amostras para repetir os testes no mes-
qüências-alvo de DNA definidas, presentes em uma prepa- mo ou em outro laboratório (DUARTE et al., 2001).
ração de DNA. Geralmente, o método é programado para Tal sensibilidade excelente tem fornecido novos métodos
permitir a amplificação seletiva de uma seqüência-alvo de para o estudo da origem molecular de doenças e tem en-
DNA específica a partir de DNA total previamente extraí- contrado numerosas aplicações na ciência forense, no di-
do. Para permitir tal amplificação seletiva, alguma infor- agnóstico, na análise de ligações genéticas, utilizando a
mação prévia, a respeito das seqüências-alvo, é necessária. classificação de um único tipo de esperma, e nos estudos

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paleontológicos em que as amostras podem conter um nú- thern, se fazia necessário que o DNA genômico inteiro es-
mero insignificante de células. No entanto, a sensibilidade tivesse no gel (KASHYAP et al., 2004). Com o advento dos
extrema do método implica que enormes cuidados devem métodos automatizados, uma série de kits comerciais para
ser tomados para evitar a contaminação da amostra com tipagem de STRs estão disponíveis, o que demonstra a im-
DNA de outras fontes (STRACHAN et al., 2002). portância destes marcadores na genética forense.

Robustez e possibilidade de análise de amostras degrada- SEQÜENCIAMENTO MANUAL DE DNA


das: a PCR pode permitir a amplificação de seqüências es- O DNA pode ser seqüenciado produzindo-se fragmentos
pecíficas a partir de material no qual o DNA está grave- pela “interrupção controlada da replicação enzimática”. A
mente degradado ou embebido em um meio onde o isola- DNA polimerase é utilizada para copiar uma determinada
mento de DNA é problemático. Como o Southern utiliza seqüência de um DNA unifilamentar, como em uma reação
DNA genômico total, é necessário que este DNA esteja em de PCR comum. A diferença destas reação é que, além dos
bom estado, ou seja, que as moléculas estejam intactas. quatro desoxirribonucleosídeos (dATP, dTTP, dCTP, dGTP,
Mas em genética forense, nem sempre as amostras biológi- marcados com radioatividade), a mistura de incubação
cas são novas e se encontram em um bom estado de con- contém um análogo 2’, 3’-didesoxi de um deles. A incorpo-
servação, o que compromete a integridade do genoma da ração desse análogo bloqueia o posterior crescimento da
célula a ser analisada. Uma vez que somente um fragmen- nova cadeia porque ele não tem a hidroxila 3’ terminal ne-
to do DNA é isolado e amplificado pela PCR, uma enorme cessária para formar a ligação fosfodiéster seguinte. Assim,
vantagem desta técnica é permitir a utilização, com suces- são produzidos fragmentos de vários comprimentos, nos
so, de amostras que contenham DNA degradado. Assim, quais o análogo didesoxi está na ponta 3’. A mesma amos-
através da PCR, é possível a tipagem do DNA em amostras tra é submetida à esta reação em quatro eppendorfs dife-
que de outra maneira não poderiam ser analisadas, como rentes e em cada eppendor existe um dos quatro nucleotí-
amostras antigas e já decompostas, restos mortais de víti- deos modificados diferentes. O resultado final em cada
mas de incêndios ou acidentes e corpos em decomposição, reação são fragmentos de diferentes tamanhos, devido à
por exemplo (DUARTE et al., 2001). parada da reação a cada vez que o nucleotídeo amplifica-
do é incorporado. Estes conjuntos de fragmentos (um para
Principais limitações da técnica de PCR cada análogo didesoxi) são então submetidos à eletrofore-
Apesar de sua enorme popularidade, uma limitação da se e a seqüência de bases do novo DNA é lida na auto-ra-
técnica de PCR é a questão da contaminação. Se o DNA diografia (STRYER, 1996).
contaminante estiver presente em níveis comparáveis aos
do DNA alvo, sua amplificação pode confundir a interpre- MÉTODOS AUTOMATIZADOS
tação dos resultados da tipagem, possivelmente levando a Seqüenciamento automático de DNA
uma conclusão errônea (DUARTE e cols, 2002). Com o ob- Com o crescimento do interesse em desvendar a totalidade
jetivo de minimizar esta possibilidade, algumas providên- dos genomas de diferentes organismos, incluindo o ho-
cias devem ser tomadas, como utilização de um controle mem, técnicas mais sofisticadas para o seqüenciamento do
negativo, no qual é feita a mesma reação de PCR, mas ne- DNA tiveram que ser desenvolvidas. Os seqüenciadores de
nhuma amostra é colocada, e a separação física das áreas DNA analisam automaticamente as fitas de DNA previa-
do laboratório destinadas para o trabalho com PCR e com mente amplificadas, cujos didesoxirribonucleotídeos
produto já amplificado (BOROVIK et al., 2006). (dNTPs) incorporados na PCR foram previamente marca-
dos com compostos fluorescentes, de diferentes cores para
RFLP, VNTR e STR associados à PCR cada dNTP. O produto da PCR é aplicado em um gel no in-
A tipagem de RFLP foi a primeira tecnologia usada em tes- terior de um capilar, e assim, a migração do DNA acontece
tes de DNA forense, sendo adotada para uso em diversos até passar pelo detector do equipamento. Um feixe de la-
países. Devido à necessidade de uma grande quantidade ser rastreia o gel, excitando os marcadores, que emitem luz
de DNA não-degradado, a tecnologia RFLP não é mais o em um comprimento de onda específico, de acordo com o
protocolo de escolha dos laboratórios que realizam testes corante utilizado. A luz é detectada e o padrão do espectro
de DNA forense. O método de PCR tem uma significante analisado com ajuda de programas que permitem gerar as
vantagem sobre a técnica anterior de RFLP, baseada em seqüências de DNA (VOET et al., 2002).
Southern, pois necessita de uma quantidade bem menor de Usando detectores de fluorescência controlados por computa-
DNA para análise e, além disto, é um teste muito mais rá- dor, os sistemas automáticos podem identificar aproximada-
pido, podendo utilizar amostras muito degradadas, tendo a mente 10 mil bases por dia, bem mais do que as 50 mil bases
certeza de resultados satisfatórios (SHULLER et al., 2001). por ano obtidas pelos métodos manuais (VOET et al., 2002).
Assim, todos os polimorfismos descritos anteriormente são, Em genética forense, o seqüenciamento do DNA é utilizado
atualmente, investigados através de PCR. principalmente para DNA mitocondrial, que é extremamente
Quando a tipagem de DNA através de PCR é avaliada, rico em SNPs, e sem polimorfismos do tipo VNTRs ou STRs.
uma série de vantagens são percebidas. A mais importan-
te delas é a de que amostras com alto grau de degradação Genotipagem de STRs utilizando o seqüenciador automático
podem ser analisadas, uma vez que não é necessário que Atualmente, entre as técnicas de tipagem de DNA usadas
as moléculas de DNA estejam intactas, pois a extensão de na identificação humana, a genotipagem automatizada de
DNA a ser investigada é pequena. Além disto, outras van- DNA com STR Multiplex, baseada em fluorescência é, sem
tagens são também importantes como a possibilidade de dúvida, a mais informativa, precisa, robusta e de maior ra-
utilização de pequenas quantidades de DNA, a avaliação pidez (KASHYAP et al., 2004).
concomitante de um grande número de locos, garantindo Nesta metodologia, vários STRs são amplificados utilizan-
um maior poder de discriminação, e a rapidez do procedi- do-se vários pares de primers (PCR multiplex) que compõe
mento. Enquanto que, na análise de STRs através de PCR, um kit comercial. O produto da reação de amplificação dos
apenas a região de interesse será amplificada: com o Sou- STRs pode ser facilmente detectado através de seus res-

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pectivos tamanhos, através da migração em gel de eletro- 2001), pois uma vez que a taxa de mutação é muito alta,
forese de alta resolução, localizado dentro de um capilar, uma diferença de seqüência não significa necessariamente
como ocorre no seqüenciamento automático. Quando utili- que os indivíduos comparados não sejam relacionados.
zada a tecnologia de coloração fluorescente com detecção
por laser, é possível inclusive avaliar STRs de mesmo tama- O CROMOSSOMO Y NA IDENTIFICAÇÃO HUMANA
nho, bastando para isto que cada um seja marcado com
uma coloração diferente. Cada kit de PCR multiplex utiliza Assim como a análise do DNAmt é muito utilizada em
diferentes colorações, e amplifica diferentes STRs, como os questões relacionadas à linhagem materna, a análise de
kits comerciais Profiler PlusTM que analisa simultaneamen- STRs do cromossomo Y tem sido uma excelente técnica
te 10 marcadores, o kit Power Plex® para 16 STRs, e o Iden- usada em identificações humanas para solucionar disputas
tifilerTM para 16 marcadores (KASHYAP et al., 2004). de paternidade de filhos do sexo masculino, uma vez que o
A técnica para a análise de STRs utilizando laser é signifi- mesmo é característica única da linhagem paterna. O cro-
cativamente mais sensível em comparação a outras meto- mossomo Y presente no DNA nuclear, encontra-se com
dologias padrão. Geralmente é necessário apenas entre 0,5 uma freqüência de apenas uma cópia por célula e é trans-
e 2 ng de DNA para a genotipagem. Somente 1 a 2% dos mitido para todos os descendentes masculinos. Investi-
produtos de 28 ciclos PCR são necessários para a tipagem gações de STRs do cromossomo Y tem sido úteis, por exem-
alélica, o que significa que o material amplificado pode ser plo, em casos de estupro, onde são encontradas misturas de
estocado para uma nova análise, quando necessário. Essas secreção vaginal com sêmen (KASHYAP et al., 2004).
metodologias que utilizam fluorescência são aproximada- Kits comerciais para tipagem STR-Y tornaram-se recente-
mente 200 vezes mais sensíveis do que qualquer outra téc- mente disponíveis pela empresa Relia Gene tecnologies,
nica de coloração (KASHYAP et al., 2004). Inc. Uma característica particularmente útil destes kits é a
escala alélica que permite a identificação de alelos em
O DNA MITOCONDRIAL NA IDENTIFICAÇÃO HUMANA amostras com comparação direta. Os kits Y-PLEXTM6 e Y-
PLEXTM5, fazem a tipagem de 6 e 5 locos de STR-Y respec-
Embora a grande maioria dos genes se localize no núcleo, tivamente. O Instituto nacional de Padronização e Tecnolo-
um subgrupo pequeno, mas importante, reside no citoplas- gia (NIST) U.S.A. também desenvolveu um sistema de 20-
ma, especificamente nas mitocôndrias. São eles os genes PLEX p/ tipagem STR-Y que permite a amplificação simul-
mitocondriais que exibem herança exclusivamente mater- tânea de 20 STRs em uma única reação (KASHYAP et al.,
na. Todas as células humanas possuem centenas de mito- 2004; WALSH, 2004).
côndrias, cada uma contendo várias cópias de uma peque-
na molécula circular, o cromossomo mitocondrial BANCOS DE DADOS DE DNA FORENSE
(THOMPSON et al., 1993).
A principal vantagem do DNA mitocondrial, em compa- Em termos de aplicações forenses específicas, de tecnolo-
ração com o DNA nuclear, é que ele está presente num to- gias moleculares, nada teve um efeito mais profundo do
tal aproximado de 500 a 2.000 cópias por célula. Nesse que a implementação global dos bancos de dados de DNA
contexto a análise do DNAmt é particularmente útil em in- forense. Eles têm alterado a paisagem do sistema de justiça
vestigações criminais, uma vez que esta abundância ofere- criminal e remodelado o campo da ciência forense, princi-
ce uma maior chance de algumas cópias suportarem a de- palmente por fornecerem a chance da identificação de in-
gradação das amostras obtidas para a análise forense. Ape- divíduos e resolução de casos em que não existem suspei-
sar de o DNA nuclear possuir um ótimo poder para as iden- tos, e portanto, não existem amostras para serem compara-
tificações criminais, ele aparece com uma freqüência de das com o material coletado na cena do crime. Com o for-
apenas duas cópias por célula diplóide (ALBUQUERQUE, necimento de novos desafios de mecanismos pelos quais as
2004; PARSONS e COBLE, 2001). provas forenses podem ser utilizadas, o ônus de responsa-
Uma característica importante do DNA mitocondrial é que bilidade daqueles que administram seu uso, tem aumenta-
ele é herdado uniparentalmente, pois apenas as mitocôndri- do. Os bancos de dados necessitam de um nível apropria-
as do gameta materno estão presentes no embrião e conse- do de sofisticação e também um bom suporte legislativo,
qüentemente no indivíduo adulto. Sendo assim, as relações político e financeiro (WALSH, 2004).
familiares pela linhagem materna são reconhecidas facil- O primeiro banco de dados de perfis genéticos de crimino-
mente (ALBUQUERQUE, 2004; SCHULLER et al., 2001). sos foi criado na Inglaterra mas, sem dúvida, o banco mais
Os alvos do seqüenciamento do DNA mitocondrial são du- importante, criado pelo FBI nos Estados Unidos, é o Siste-
as regiões específicas do cromossomo, denominadas de re- ma de Índice de DNA Combinado (Codis). Ele começou co-
giões hipervariáveis I e II (HV1/HV2). A taxa de mutação mo um projeto piloto em 1990 e ganhou impulso com o
“DNA Identification Act” de 1994, que deu ao FBI a auto-
nestas regiões é de cinco a dez vezes maior em compa-
ridade de estabelecer um banco de dados em nível nacio-
ração com o DNA nuclear. Espécimes biológicos são anali-
nal para fins de investigação criminal. O sistema é estrutu-
sados comparando o polimorfismo encontrado nas regiões
rado em laboratórios estaduais com uma coordenação cen-
HV1 e HV2 com aqueles encontrados na linhagem mater-
tral. Existem dois arquivos diferentes de perfis genéticos
na, ou a partir de um banco de dados evolucionário, bioló-
com objetivos complementares. O “Índice Forense” (“Fo-
gico ou antropológico da população, quando se deseja en-
rensic Index”) contém atualmente 96.473 perfis genéticos
quadrar um suspeito em algum grupo étnico, por exemplo, obtidos a partir de cenas de crimes e o “Índice de Crimino-
uma vez que cada população de origem distinta possui um sos” (“Offender Index”) contém 2.072.513 perfis genéticos
conjunto específico de SNPs nesta região (KASHYAP et al., de criminosos condenados por crimes sexuais e outros cri-
2004; PARSONS e COBLE, 2001). mes violentos. Até dezembro de 2004, o Codis havia permi-
Entretanto, deve-se levar em conta que a tipagem de DNA tido 19 mil identificações de suspeitos, demonstrando sua
mitocondrial só dará um resultado correto e definitivo se a grande utilidade (PENA, 2005).
variação do DNA do indivíduo em questão for concordan- O Brasil deveria estabelecer como uma prioridade nacional
te com a de seus parentes maternos (PARSONS e COBLE, à implementação de um programa eficiente de determi-

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nação de identidade genética que possa ajudar em investi- REFERÊNCIAS
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passo que neste sentido seria mais significativo o exame de ce. Croatian Medical Journal, v. 42, n. 3, p. 225 - 228, 2001.
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DER, Vicente J. Análises de Material Genético na Investigação Criminal – um re-
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coloridas, que possa ser encontrado nas evidências biológicas, nation of Mitochondrial DNA Testing through Analysis of the Entire Mitochon-
drial DNA Genome. Croatian Medical Journal, v .42, n .3, p. 304 - 309, 2001.
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Apesar de certas limitações da análise de DNA, deve-se pelo DNA. In: Seminários Temáticos para a 3ª Conferência Nacional de C, T
acima de tudo enfatizar sua importância como prova extre- & I. Parcerias Estratégicas, v. 20, p. 447 - 460, 2005.
PRIMORAC, Dragan.; SCHANFIELD1, Moses.S.; PRIMORAC2, Damir. Applica-
mamente poderosa, se realizada segundo as recomen- tion of Forensic DNA Testing in the Legal System. Croatian Medical Journal,
dações técnicas exigidas (BONACCORSO, 2004). v. 41, n. 1, p. 32 - 46, 2000.
SCHNEIDER, Peter M. Basic issues in forensic DNA typing. Forensic Science
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CONCLUSÃO
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book on DNA Data Exchange an Practice: Recommendations from the Inter-
A análise do DNA é um dos maiores progressos técnicos da pol DNA Monitoring Expert Group, v. 1, 2001, 70p.
investigação criminal desde a descoberta das impressões di- STRACHAN, Tom.; READ, Andrew P. Genética Molecular Humana. 2.ed. Porto
Alegre: Artmed 2002. 576p.
gitais. Métodos para determinar o perfil do DNA estão fir- STRYER, Lubert. Bioquímica. 4.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan 1996. 1000p.
memente embasados na tecnologia molecular. Quando a de- THOMPSON, Margaret W.; McINNES, Roderick R.; WILLARD, Huntington F.
terminação do perfil é feita com cuidados adequados, os re- Thompson & Thompson Genética Médica. 5.ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan 1993. 339p.
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apenas uma pequena quantidade de material e podem for- VOET, Donald; VOET, Judith.; PRATT, Charlotte W. Fundamentos de Bioquími-
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A tecnologia do perfil e os métodos relacionados à análise ZAHA, Arnaldo.; SCHRANK, Augusto.; LORETO, Élgion S.; FERREIRA.; HENRI-
de DNA progrediram a ponto de não colocar em dúvida a QUE B.; SCHRANK, Irene S. Biologia Molecular Básica. 3.ed. Porto Alegre:
admissibilidade dos dados sobre o DNA quando adequa- Mercado Aberto 2003. 421p.
damente coletados e analisados (DUARTE et al., 2001).
________________________________________
No futuro, espera-se que as técnicas de biologia molecular ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA:
existentes sejam aprimoradas e que novos e melhores mé- Profa. Dra. Fabiana Michelsen de Andrade
todos para análise sejam desenvolvidos, a fim de que a Centro Universitário Feevale
RS 239, no. 2755
grande maioria dos casos de investigações forenses cíveis PROPTEC – Prédio Lilás, sala 201 E
e criminais tenham um desfecho que não possa ser questi- CEP 93352-000 Novo Hamburgo - RS
onado nos tribunais. email: fabiana.andrade@feevale.br

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