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PRESCRIÇÃO DE EXERCÍCIO FÍSICO PARA

PORTADORES DE DOENÇAS CARDIOVASCULARES


VANZELLI AS e cols.
Prescrição de exercício
físico para portadores
QUE FAZEM USO DE BETABLOQUEADORES
de doenças
cardiovasculares que
fazem uso de ANDRÉA SOMOLANJI VANZELLI, JAN BARBOSA BARTHOLOMEU,
betabloqueadores
LUCIANA NAGEM JANOT DE MATTOS, PATRICIA CHAKUR BRUM

Laboratório de Fisiologia Celular e Molecular do Exercício —


Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) — Universidade de São Paulo
Unidade de Reabilitação Cardiovascular e Fisiologia do Exercício —
Instituto do Coração (InCor) — HC-FMUSP

Endereço para correspondência: Escola de Educação Física e Esporte da


Universidade de São Paulo — Departamento de Biodinâmica do Movimento
do Corpo Humano — Av. Professor Mello Moraes, 65 — Butantã —
CEP 05508-900 — São Paulo — SP

O treinamento físico aeróbio tem sido utilizado como coadjuvante ao tratamento far-
macológico de diversas doenças cardiovasculares. Além disso, o exercício físico regular
está associado à redução significante da morbidade e da mortalidade. No entanto, al-
guns cuidados devem ser tomados na prescrição de treinamento físico para portadores
de doença cardiovascular, pois os mesmos são mais suscetíveis a intercorrências cardi-
ovasculares durante o esforço.
Para que a prescrição seja segura para esses indivíduos, em que os benefícios
superem os riscos, devem ser considerados inúmeros fatores, como anamnese ade-
quada e teste de esforço com escolha do ergômetro e protocolo de teste mais adequa-
dos.
Outro fator que deve ser considerado é se o portador de doença cardiovascular faz
uso de medicamentos que modifiquem a freqüência cardíaca, já que os valores da fre-
qüência cardíaca máxima e de repouso obtidos durante o teste de esforço são utilizados
para determinação da intensidade de exercício a ser adotada na prescrição do treina-
mento físico. Nesta revisão será dada ênfase ao uso de betabloqueadores.
Assim, primeiramente serão abordados os principais cuidados a serem tomados
antes e durante a realização do teste de esforço. Na segunda parte, serão abordados os
efeitos cardiovasculares dos betabloqueadores, os quais, dentre outros medicamentos,
reduzem a freqüência cardíaca, tanto em repouso como durante o exercício, e podem
modificar a prescrição de exercício físico para portadores de doença cardiovascular.

Palavras-chave: exercício físico, betabloqueadores, doenças cardiovasculares, pres-


crição de exercício físico.

(Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo. 2005;2 Supl A:10-6)


RSCESP (72594)-1517

INTRODUÇÃO tratamento farmacológico de inúmeras doenças cardi-


ovasculares(3). Alguns cuidados devem ser tomados,
Estudos epidemiológicos têm demonstrado que a porém, em relação às variáveis que compõem o trei-
prática regular de exercício físico aeróbio está intima- namento físico, tais como intensidade, duração e fre-
mente associada à redução significante da morbidade qüência(4), principalmente em indivíduos portadores de
e da mortalidade cardiovasculares(1, 2). Além disso, o doenças cardiovasculares. Esses indivíduos, na maior
exercício físico tem sido utilizado como coadjuvante ao parte das vezes, apresentam capacidade funcional re-

10 Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — No 2 (supl A) — Março/Abril de 2005
duzida e anormalidades No caso de teste diagnóstico para isquemia, há neces-
eletrocardiográficas, o que sidade de suspensão. Outra observação importante a
os torna mais suscetíveis ser relatada durante as instruções prévias diz respeito
a intercorrências cardio- à vestimenta a ser usada durante o teste, que deve ser
VANZELLI AS e cols. vasculares durante a rea- confortável e não prejudique a livre movimentação das
Prescrição de exercício lização do exercício físico. articulações. Além disso, as roupas devem facilitar o
físico para portadores Por isso, avaliações pré- posicionamento de eletrodos para o registro do eletro-
de doenças
teste de esforço, como a cardiograma e do manguito para aferir a pressão arte-
cardiovasculares que
anamnese, são imprescin- rial. É importante salientar que será necessária a reali-
fazem uso de
betabloqueadores díveis, pois permitem ava- zação da tricotomia para indivíduos do sexo masculino
liar o histórico familiar e para facilitação do posicionamento dos eletrodos.
doenças pregressas. Os
testes ergométrico ou er- Seleção do tipo de teste
goespirométrico são essenciais para que se faça uma Os testes de tolerância ao esforço têm por objetivo
prescrição adequada do exercício físico, respeitando a avaliar a condição física do indivíduo, assim como pos-
individualidade biológica. síveis anormalidades cardiovasculares detectáveis du-
Como a prescrição do exercício físico é realizada rante o esforço físico, tais como isquemia. Esses tes-
tomando-se como indicador de intensidade do treino a tes podem ser ergométricos ou ergoespirométricos. No
freqüência cardíaca, cabe à equipe multidisciplinar, prin- teste ergométrico, são obtidos o registro do eletrocar-
cipalmente ao médico cardiologista, averiguar se o in- diograma, que, além de informar a freqüência cardía-
divíduo, ao iniciar um programa de condicionamento ca, é capaz de nos mostrar alterações no ritmo cardía-
físico, faz uso de medicamentos que modifiquem os co do indivíduo durante o esforço, a pressão arterial,
valores de freqüência cardíaca, tanto em repouso como além da percepção subjetiva do esforço. Já no teste
durante a realização do exercício físico. O uso desses ergoespirométrico, além das medidas obtidas no teste
medicamentos modificará sensivelmente a prescrição ergométrico convencional, é obtida a análise metabóli-
do exercício físico. ca, como o consumo de oxigênio e a produção de gás
Na primeira parte desta revisão, serão abordados carbônico, dentre outras variáveis, que nos auxiliam na
os cuidados a serem tomados para a prescrição do detecção dos limiares ventilatórios usados para deter-
exercício físico baseado nas variáveis cardiovascula- minação da intensidade do exercício físico a ser reali-
res obtidas no teste de esforço. Na segunda parte, se- zado.
rão abordados os efeitos cardiovasculares dos beta- Os testes de tolerância ao esforço são comumente
bloqueadores, os quais, dentre outros medicamentos, realizados em dois ergômetros: a) bicicleta ergométri-
reduzem a freqüência cardíaca e podem modificar a ca; b) esteira rolante. A bicicleta ergométrica apresen-
prescrição de exercício físico para portadores de do- ta a vantagem de ser mais barata e ocupar menos es-
ença cardiovascular. paço físico(7). O fato de o teste realizado na bicicleta
enfatizar principalmente membros inferiores permite
CUIDADOS A SEREM TOMADOS EM RELAÇÃO que o registro tanto eletrocardiográfico como de pres-
AOS TESTE DE ESFORÇO são arterial seja facilitado, por diminuir as interferênci-
as provocadas pelos movimentos dos membros supe-
Avaliações pré-teste de esforço riores; por outro lado, subestima a capacidade cardior-
Antes do teste de esforço, é importante a realiza- respiratória por causar fadiga periférica precoce. A es-
ção da anamnese, que permite ao professor de educa- teira rolante como ergômetro, por sua vez, apresenta a
ção física conhecer o histórico médico do avaliado. O vantagem da especificidade da prática do exercício fí-
histórico médico deve conter informações tais como sico, na medida em que geralmente a modalidade pres-
qualquer tipo de problema clínico, sintomas, medica- crita para exercício físico em programas de reabilita-
mentos utilizados ou informações referentes a testes ção e condicionamento físico é a caminhada ou a cor-
realizados anteriormente. Além disso, informações rida. Além disso, os valores obtidos do consumo de
como o histórico de atividade física pregressa e o his- oxigênio no teste de esforço são 10% a 20% maiores
tórico familiar para doenças cardiovasculares e meta- que os obtidos em bicicleta, o mesmo acontecendo com
bólicas devem fazer parte das informações obtidas na a freqüência cardíaca (5% a 20%); dessa forma, a pres-
anamnese(5). Na Tabela 1 nota-se que pacientes com crição do treinamento físico por meio do teste realiza-
contra-indicações relativas devem ser submetidos ao do em esteira não subestima valores referentes ao es-
teste de esforço apenas depois de cuidadosa avalia- forço máximo do paciente, possibilitando que a intensi-
ção risco-benefício(6). Além disso, devem ser dadas ins- dade de treinamento seja mais próxima do real. Por
truções escritas e verbais sobre evitar a ingestão de apresentar essas vantagens, a esteira rolante é o er-
alimentos, álcool, cafeína e cigarros três horas antes gômetro mais utilizado em testes de esforço em porta-
do teste de esforço. Deve ser indicado também, repou- dores de doenças cardiovasculares.
so algumas horas antes do teste, ressaltando a neces-
sidade de não interromper a medicação (quando o tes- Critérios para a interrupção do teste
te tem como objetivo a prescrição de exercício físico). Na Tabela 2 podem ser observados os principais

Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — No 2 (supl A) — Março/Abril de 2005 11
critérios de interrupção de É importante ressaltar que, após o término do tes-
teste de esforço, tanto no te, os pacientes só devem deixar o local (na presença
teste ergométrico como no do médico responsável) após normalização dos níveis
teste ergoespirométrico. É de pressão arterial e de freqüência cardíaca.
VANZELLI AS e cols. importante avaliar, ao lon-
Prescrição de exercício go do teste, o nível de fa- PRESCRIÇÃO DO EXERCÍCIO FÍSICO PELA
físico para portadores diga e dispnéia do pacien- FREQÜÊNCIA CARDÍACA
de doenças
te avaliado(6, 8). Um critério
cardiovasculares que
importante de interrupção A freqüência cardíaca apresenta relação linear com
fazem uso de
betabloqueadores do esforço é o platô, tanto o aumento da intensidade do exercício físico. Em con-
de freqüência cardíaca seqüência disso, é uma variável muito útil para o con-
como de consumo de oxi- trole da intensidade de treino, ressaltando sua fácil men-
gênio. A presença do pla- suração durante o exercício físico, tanto pela palpação
tô durante o teste indica que o indivíduo avaliado atin- do pulso como pela utilização de freqüencímetros, cujo
giu o pico de esforço. custo é acessível à maioria das pessoas.
A presença de sinais clínicos que indiquem a para- Para uma prescrição de exercício eficaz, faz-se ne-
lisação do teste, como dispnéia, fadiga excessiva, do- cessária a utilização da freqüência cardíaca obtida no
res, pressão arterial elevada, assim como angina do teste ergométrico, a partir da qual obtém-se a freqüên-
peito e/ou isquemia miocárdica, representa aumento cia cardíaca máxima de cada indivíduo, que, muitas
do risco ao indivíduo que está realizando o teste. Por vezes, pode ser superior ou inferior à predita para a
isso, tais critérios são importantes variáveis para de- idade. Além disso, em casos de testes positivos (como,
terminar a paralisação do teste, critérios estes que ca- por exemplo, isquemia) a freqüência a ser utilizada
bem à interpretação médica. como máxima para prescrição deve ser a de positiva-

Tabela 1. Contra-indicações absolutas e relativas para realização do teste de esforço.

Contra-indicações absolutas Contra-indicações relativas

1. Alteração significativa recente no 1. Pressão diastólica em repouso > 115 mmHg


eletrocardiograma no repouso ou pressão sistólica em repouso > 200 mmHg
2. Infarto do miocárdio recente 2. Cardiopatia valvular moderada
complicado (a menos que o paciente
esteja estável e sem dor)
3. Angina instável 3. Anormalidades eletrolíticas conhecidas
(hipocalemia, hipomagnesemia)
4. Arritmia ventricular não-controlada 4. Marcapasso de freqüência fixa (usado
raramente)
5. Arritmia atrial não-controlada que 5. Ectopia ventricular complexa ou freqüente
compromete a função cardíaca
6. Bloqueio cardíaco atrioventricular 6. Aneurisma ventricular
de 3º grau sem marcapasso
7. Insuficiência cardíaca congestiva aguda 7. Doença metabólica não-controlada
(diabetes, tireotoxicose, mixedema)
8. Estenose aórtica grave 8. Doença infecciosa crônica (mononucleose,
hepatite, AIDS)
9. Suspeita ou certeza de aneurisma 9. Distúrbios neuromusculares,
dissecante musculoesqueléticos ou reumatóides
exacerbados por exercício
10. Miocardite ou pericardite suspeita 10. Gravidez avançada ou complicada
ou ativa
11. Tromboflebite ou trombo intracardíaco
12. Êmbolo pulmonar ou sistêmico recente
13. Infecções agudas
14. Distúrbio emocional significativo (psicose)

Adaptado de Shephard e Miller(5).

12 Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — No 2 (supl A) — Março/Abril de 2005
ção do teste. Por isso, o Tabela 2. Critérios para a interrupção do teste de es-
teste de esforço é alta- forço segundo o Colégio Americano de Medicina do
mente recomendável e in- Esporte (ACSM).(6)
dispensável para portado-
VANZELLI AS e cols. res de doenças cardiovas-
Prescrição de exercício — Platô de consumo de oxigênio.
culares.
físico para portadores — Platô de freqüência cardíaca.
Basicamente existem
de doenças
duas formas de se pres- — Pressão arterial sistólica > 230 mmHg.
cardiovasculares que — Pressão arterial distólica > 120 mmHg.
crever a intensidade do
fazem uso de — Alteração eletrocardiográfica importante.
betabloqueadores exercício físico pela fre-
qüência cardíaca, segun- — Coeficiente respiratório > 1,1.
do o Colégio Americano — Percepção de esforço (Borg) > 18.
de Medicina do Esporte(6): — Sinais clínicos que indiquem paralisação do teste.
a) por meio do cálculo da porcentagem da freqüência — Angina excessiva que impeça continuação do exer-
cardíaca máxima obtida no teste; e b) por meio do cál- cício.
culo da porcentagem da freqüência cardíaca de reser-
va. A prescrição pela porcentagem da freqüência car-
díaca máxima é realizada pelo valor obtido no teste dáveis, em que se preconiza atividade moderada de
ergométrico, a partir do qual, após a obtenção da fre- gasto energético de aproximadamente 1.000 kcal/se-
qüência cardíaca máxima, calcula-se a porcentagem mana, com freqüência e duração supervisionadas pelo
recomendada para cada população: de 55% a 65% para professor de educação física. Pacientes de risco cardi-
cardiopatas, de 60% a 75% para sedentários, e de 70% ovascular moderado a alto devem seguir sistematica-
a 85% para indivíduos fisicamente ativos. mente a prescrição e as recomendações efetuadas,
A prescrição pela porcentagem da freqüência car- cujo volume não pode exceder um gasto calórico se-
díaca de reserva se dá também pela obtenção da fre- manal de 1.000 kcal, para não aumentar a carga meta-
qüência máxima durante o teste ergométrico, porém bólica que é recomendada para evitar intercorrências
devem ser levados em consideração os valores da fre- cardiovasculares. Mesmo em pacientes limitados fun-
qüência cardíaca de repouso para cálculo da intensi- cionalmente, reduzidas quantidades de exercício físi-
dade do exercício físico. co são benéficas no sentido de manutenção de uma
A fórmula para o cálculo é a que se segue: vida independente(9). É importante ressaltar, porém, que,
para indivíduos com risco cardiovascular moderado a
FC de reserva alto, existe a necessidade de seu treinamento físico
ser realizado em ambiente supervisionado, em que se
possa contar com uma equipe multidisciplinar composta
FC treino = [(FC máx - FC repouso) x porcentual de médico cardiologista, professor de educação física,
desejado] + FC repouso, nutricionistas e psicólogos, entre outros profissionais
em que FC = freqüência cardíaca. da área da saúde.
A porcentagem da freqüência cardíaca de reserva Para indivíduos portadores de doença cardiovascular
recomendada para sedentários é de 50% a 70% e para são indicadas sessões com duração de 30 a 60 minutos
ativos, de 60% a 80%. e com freqüência de três a cinco vezes por semana para
Na Tabela 3 observa-se o exemplo de prescrição que se otimizem os benefícios cardiovasculares ao longo
de exercício físico para indivíduo sedentário de 20 anos do período de condicionamento físico.
de idade, com freqüência cardíaca máxima de 210 bpm
e freqüência cardíaca de repouso de 60 bpm. A fre- USO DE MEDICAMENTOS QUE MODIFICAM A
qüência cardíaca de treinamento determinada a partir FREQÜÊNCIA CARDÍACA E QUE PODEM ALTERAR
da fórmula da freqüência cardíaca máxima foi de 126 A PRESCRIÇÃO DO EXERCÍCIO FÍSICO
bpm a 158 bpm e por meio do cálculo da freqüência
cardíaca de reserva foi de 135 bpm a 165 bpm. As fai- Dentre os medicamentos que alteram os valores ba-
xas de freqüência cardíaca de treino variam dependen- sais e de exercício da freqüência cardíaca, ressaltam-
do da fórmula utilizada. Recomenda-se, no entanto, o se, na presente revisão, os bloqueadores beta-adre-
uso da fórmula da freqüência cardíaca de reserva, pois nérgicos. Os betabloqueadores, por meio do bloqueio
a mesma leva em consideração a freqüência cardíaca dos receptores beta-adrenérgicos, reduzem a freqüên-
de repouso, que sofre influência tanto do condiciona- cia cardíaca e são bastante utilizados no tratamento
mento físico do indivíduo como do uso de betabloque- da hipertensão arterial, pois, ao diminuírem a freqüên-
adores. cia cardíaca, reduzem o débito cardíaco e controlam
os níveis pressóricos. Os betabloqueadores também
Volume, duração e freqüência das sessões de são amplamente utilizados no tratamento de diversas
exercício físico cardiomiopatias e da insuficiência cardíaca, pois impe-
Pacientes com baixo risco cardiovascular podem dem os efeitos tóxicos diretos das catecolaminas no
participar de programas similares aos de indivíduos sau- tecido cardíaco e têm impacto direto na sobrevida des-

Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — No 2 (supl A) — Março/Abril de 2005 13
Tabela 3. Prescrição de exercício físico por meio da freqüência cardíaca máxima e
da freqüência cardíaca de reserva segundo o Colégio Americano de Medicina do
Esporte (ACSM)(6).
VANZELLI AS e cols.
Prescrição pela Prescrição pela
Prescrição de exercício
físico para portadores
freqüência cardíaca máxima freqüência cardíaca de reserva
de doenças
cardiovasculares que Intensidade recomendada: Intensidade recomendada:
fazem uso de 60%-75% da FC máxima 50%-70% da FC de reserva
betabloqueadores Limite inferior: 60% da FC máxima Limite inferior: [(FC máxima –
210 x 0,6 = 126 bpm FC de repouso) x 0,5] + FC de repouso
[(210 – 60) x 0,5] + 60 = 135 bpm
Limite superior: 75% da FC máxima Limite superior: [(FC máxima –
210 x 0,75 = 158 bpm FC de repouso) x 0,7] + FC de repouso
[(210 – 60) x 0,7] + 60 = 165 bpm
FC de treino: 126-158 bpm FC de treino: 135-165 bpm

Considere um indivíduo sedentário aos 20 anos de idade. A freqüência cardíaca


(FC) de repouso era de 60 bpm e a máxima atingida no teste ergométrico era de
210 bpm.

ses pacientes. Seu uso a longo prazo resulta em melhor na freqüência cardíaca como indicador de intensidade
desempenho cardíaco, com significante melhora da fun- de esforço, deve-se ter maior cuidado com usuários de
ção cardíaca(10, 11), sendo esse efeito documentado tanto betabloqueadores, pois estes atuam diretamente na
em repouso como durante o exercício físico(11). freqüência cardíaca(14, 15), reduzindo-a, ou seja, a fre-
Pode-se afirmar, portanto, que o conhecimento dos qüência cardíaca máxima em um teste ergométrico e a
mecanismos deletérios que envolvem a estimulação freqüência cardíaca de repouso de usuários de beta-
adrenérgica no coração favorece o conceito de que o bloqueadores estão sempre diminuídas. Além disso, a
bloqueio do sistema adrenérgico pelos betabloquea- competência cronotrópica durante o exercício físico
dores poderia melhorar o prognóstico das cardiopati- também está diminuída.
as, prevenindo sua evolução por meio de vários meca- Assim, para não haver erro na prescrição do exer-
nismos(12, 13), como, por exemplo, menor consumo de cício físico para esses indivíduos, é importante que
oxigênio pelo miocárdio, melhora da função diastólica, seja realizado teste de esforço sob o uso de betablo-
aumento do fluxo coronariano e redução de isquemia, queadores, para que o médico possa avaliar o com-
arritmias ventriculares e morte súbita(12, 13). portamento das variáveis cardiovasculares durante
Atualmente existem três diferentes tipos de beta- o esforço e, posteriormente, o professor de educa-
bloqueadores utilizados na clínica médica, os quais po- ção física possa prescrever adequadamente a inten-
dem ser divididos em três gerações, como pode ser sidade de exercício a ser realizado e a faixa de fre-
observado na Tabela 4. Os betabloqueadores de pri- qüência cardíaca a ser controlada nas sessões de
meira geração são bloqueadores não-seletivos, pois condicionamento físico. Dessa forma, o comporta-
bloqueiam receptores dos subtipos β1 e β2-adrenérgi- mento da freqüência cardíaca durante o treinamento
cos. Já os betabloqueadores de segunda geração são físico será equivalente ao do teste de esforço. O efeito
seletivos para receptores adrenérgicos do subtipo β1, que o medicamento exerce sobre a freqüência cardí-
buscando, dessa forma, ação mais específica. Final- aca durante o teste de esforço, modulando seu au-
mente, os betabloqueadores de terceira geração acres- mento, será reproduzido quando o indivíduo estiver
centam ao bloqueio dos receptores beta-adrenérgicos se exercitando, fazendo com que, dessa forma, a
uma ação vasodilatadora, por bloquear também os re- prescrição esteja adequada.
ceptores α1-adrenérgicos, além de seu efeito antioxi- Depois de obtidos os valores da freqüência cardía-
dante. ca em repouso e no exercício físico máximo dos usuá-
rios de betabloqueadores, a prescrição de treinamento
Prescrição de exercício físico para indivíduos que físico pela freqüência cardíaca se dá como citado an-
fazem uso de betabloqueadores teriormente, ou seja, pela porcentagem da freqüência
Considerando-se o fato de os betabloqueadores se- cardíaca máxima ou reserva (Tab. 3). Vale a pena res-
rem bastante utilizados para o tratamento de diversas saltar que, em portadores de doença cardiovascular,
cardiopatias, a prescrição do exercício físico para os mesmo com bom condicionamento físico, a prescrição
usuários desses medicamentos deve ser feita sempre de exercício físico deve ser equivalente à de um indiví-
com muita cautela. Como a prescrição da intensidade duo de mesma idade sedentário saudável, ou seja, a
do exercício físico utilizada em programas de preven- intensidade não deve ultrapassar 50% a 70% da fre-
ção e reabilitação cardíacas baseia-se principalmente qüência cardíaca de reserva.

14 Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — No 2 (supl A) — Março/Abril de 2005
Tabela 4. Exemplos de betabloqueadores utilizados na clínica e suas ações.

Exemplos de
betabloqueadores
VANZELLI AS e cols.
Geração utilizados Ação
Prescrição de exercício
físico para portadores 1ª Propranolol Betabloqueador não-seletivo
de doenças 2ª Bisoprolol Betabloqueadores seletivos para
cardiovasculares que
Metoprolol receptores adrenérgicos do subtipo β1
fazem uso de
betabloqueadores
3ª Carvedilol* Betabloqueadores não-seletivos e
Bucindolol com ação vasodilatadora (bloqueio dos
receptores α1-adrenérgicos)

* Ação antioxidante cardíaca.

CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE A PRESCRIÇÃO também a importância da realização do teste de esforço sob
DE EXERCÍCIO FÍSICO o uso de medicamentos que modifiquem a freqüência cardí-
aca, como os betabloqueadores.
Ao se revisar os conceitos relacionados à prática do exer- É importante salientar o trabalho multidisciplinar nos tes-
cício físico, nota-se que a prescrição de treinamento, princi- tes de esforço, em que estão presentes o médico, detectan-
palmente para portadores de doenças cardiovasculares, não do possíveis anormalidades, o professor de educação física,
é tão simples quanto parecia ser inicialmente. Para a realiza- efetuando a prescrição do exercício físico baseado nos parâ-
ção de uma prescrição segura, em que os benefícios supe- metros obtidos no teste, além de outros profissionais da saú-
rem os riscos, devem ser considerados inúmeros fatores, de. Esses profissionais, trabalhando de forma conjunta, auxi-
como anamnese adequada e determinação correta do ergô- liarão tanto na prevenção como no tratamento das doenças
metro e do tipo de teste a ser realizado. É preciso ressaltar cardiovasculares.

EXERCISE PRESCRIPTION FOR CARDIAC PATIENTS


UNDER β-BLOCKADE
ANDRÉA SOMOLANJI VANZELLI, JAN BARBOSA BARTHOLOMEU,
LUCIANA NAGEM JANOT DE MATTOS, PATRICIA CHAKUR BRUM
Exercise training has been used as coadjuvant for treatment of cardiac diseases
and has been associated with decreased morbidity and mortality. However, exercise
prescription for cardiac patients need special care and attention, since they are more
susceptible to cardiac events under effort. Before performing exercise prescription, it
is need to evaluate a preparticipation health screening and risk stratification, and
physical fitness testing.
In patients on β-adrenergic blockers, the heart rate response to exercise is varia-
bly attenuated. Thus, for a safe and accurate exercise prescription, β-blocker users
should perform exercise testing under medication.
The present review will have two parts. In the first one, we will discuss about the
general principles for exercise testing and prescription. And, in the second part, we
will review the cardiovascular effects of different generations of β-adrenergic blo-
ckers, and provide information of how to perform a safe exercise prescription for
patients on β-adrenergic blockers.

Key words: β-adrenergic blockers, cardiovascular disease, exercise prescription.

(Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo. 2005;2 Supl A:10-6)


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