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Proémio
«Estrangeiro absoluto» 1, divisa gnóstica por excelência, foi o cognome conferido por
Eduardo Lourenço a Fernando Pessoa, em cuja obra - magno labirinto alquímico -
podemos surpreender em actividade a visão gnóstica na motivação profunda de uma
criação literária, também simultaneamente filosófica pelo seu móbil expressivo se
exprimir numa poética demanda do conhecimento. Segundo as palavras de Yvette K.
Centeno, «uma raíz antiga, maniqueísta, e outras formas de gnosticismo e catarismo
mais recentes, explicam talvez parte da dificilmente explicável filosofia de Pessoa,
hermética, sem dúvida, mas numa multiplicidade de sentidos, só comparáveis aos
múltiplos da heteronimia». 2
abater.
Tais tópicos proliferam ramificados em toda a escrita de Pessoa, preocupada que está
em transmutar conhecimento a partir da forma do verbo literariamente trabalhado, e
um estudo deles daria lugar para longa e redobrada exegese que não se acomoda à
modesta brevidade prevista para este texto. Optámos por seguir um pólo temático que
nos encaminhasse o sinóptico trajecto; e foi a ideia do tempo que nos despertou para,
através dela, apreciar motivos gnósticos da visão pessoana. O tempo, emblema e
corredor que empareda o fenómeno de existir, de existirmos como indivíduos, é na
interpretação gnóstica do Génesis o avatar nuclear da queda ancestral, condicionadora
do humano tal como ele hoje se encontra. O tempo é um simulacro inferior e
degradado da eternidade, que o transcende e o anula, de acordo com o que Platão já
no Timeu descreve; se bem que o demiurgo platónico, a quem se deve a harmónica
arquitectura de um universo dotado de perfeição volumétrica, não seja coincidente
com a imagem do demiurgo desastrado e nefasto do pessimismo objectivo dos
gnósticos. O Timeu terá inspirado as reflexões sobre o tempo desses profetas sem
credo, embora não satisfizesse a sua exasperação diante da existência concreta.
Mesmo assim, a herança platónica, com o seu dualismo cosmológico e a sua
fundamentação filosófica da transmigração pitagórica, é sem dúvida a contribuição
mais decisiva que a cultura ática fornece para o sincretismo gnóstico que floresceu na
4
Em tradução literal, contra-gramatical: Eu sei não o que o amanhã trará. Uma frase em
inglês classicizante que fez o infatigável Jorge de Sena espiolhar as obras de
Shakespeare, com resultado infrutífero, pois convencera-se que o verso de adeus de
Pessoa seria uma citação do autor que o poeta mais admirara. Interessa-nos aqui ler
nessa frase o modo como o tempo e a busca do conhecimento se unem em gnóstica
máxima: o amanhã da morte e a metamorfose que ela produzirá no sujeito que no
ocaso da vida se interroga.
Mas neste «poeta animado pela filosofia, não um filósofo com faculdades poéticas» 6,
como o Pessoa jovem a si próprio se identificou, não esperemos ver uma teoria
articulada acerca da concepção do tempo. Por mais filosófica que seja a palavra
pessoana, ela não se despoja dessa convicção poética ou, se preferirmos, estética, que
sabe ser, em última análise, deveras fútil sustentar a unicidade de um sistema de
pensamento, quando a realidade não se conforma e furta-se à rede desse mesmo
sistema, de acordo com o que é dito na célebre frase que Hamlet dirige a Horácio e
que consta, aliás, na epígrafe de um dos poucos ensaios filosóficos que Pessoa deu por
terminado: Da Impossibilidade de uma Ciência do Léxicon. 7 Num aforismo seu, o
poeta define, com a ironia que lhe conhecemos, a caução irracional inscrita no discurso
filosófico:
«É inútil argumentar com qualquer filósofo pois a sua filosofia não depende do seu
intelecto mas sim do seu carácter.» 8
Existir, como o étimo latino o indica, implica o ser-se através do tempo, com um fim e
um início, esse mesmo tempo que se esgota nas ampulhetas individuais que
constituem a clepsidra arbitrária da História. Não é de surpreender, portanto, que as
teses das filosofias do existencialismo, imanentistas/ateístas, do nosso século, de
Heidegger a Camus e a Sartre - relativamente às quais se pode argumentar ser Pessoa
um precursor e/ou um contemporâneo que poeticamente as ultrapassa, graças ao seu
génio noético-literário e à sua hierologia provocatoriamente conscientizada -
apresentem fortes analogias genéricas com o cósmico pessimismo gnóstico (por isso
um Stuart Holroyd, na linha de Hans Jonas, chama gnosticismo secularizado ao
existencialismo materialista do séc. XX). Tais teses são, contudo, pseudo-gnósticas
porque carecem da dimensão de transcendência espiritual, inscrita no sujeito e no
Deus longínquo; isto é, uma realidade metafísica que encoraja positivamente a deriva
vivente do gnóstico - metafísica esta que se aloja no Pessoa ortónimo, polvilha-se em
outros heterónimos, e está presente apenas por demonização nas máscaras de
Campos.
Pessoa seguira a segunda destas vias, para nosso gáudio de aprendizes seus neófitos.
Mas nem as palavras camuflam o abismo da condição onde fomos despejados, como o
sentido dos versos de Natal no-lo deixam perceber:
A primeira quadra ressuma uma amargura pelo politeísmo que sucumbe diante da
emergência do éon histórico do cristianismo. Se há uma outra nova eternidade, mas
era melhor a que passou, isso significa que o fluir temporal não augura progressos
substanciais, projectado no futuro que anuncia. Aqui, a visão gnóstica do tempo
consiste em afirmar o inelutável declínio gravado no próprio tempo em si: a Eternidade
que temos, ainda que maiusculada, não releva senão do Erro, também maíusculo, e
portanto é uma fraude ontológica. A ilusão deceptiva permanece na História a despeito
da mutabilidade do zeitgeist. O niilismo pessimista de Pessoa - que Eduardo Lourenço
situou algures entre Nietzsche e Beckett, dois autores quasi-gnósticos 11 - atinge
neste poema uma altitude extrema, a começar no anti-hegelianismo da primeira
estrofe, que abala toda a confiança em esperar que o tempo histórico esteja dotado de
7
Sob a mesma luz com que se invoca, a escrita descobre-se como tarefa salvífica que
permite à consciência percepcionar o espírito interno que nela lateja, cativo, de outra
forma indiscernível. Ao distinguir as diferentes temporalidades helénica, cristã e
gnóstica, Henri-Charles Puech projecta em alegoria geométrica o carácter descontínuo
da vivência gnóstica do tempo, sujeito à ruptura liberadora, que coincide com esta
auto-descoberta da flâmula subjectiva iluminante.
A linha quebrada do tempo gnóstico, tal como este é experienciado pelo sujeito,
manifesta não só a conquista solar volitiva de um saber e o desejo imperioso do auto-
reconhecimento que é redenção vivida, mas também a atormentada dúvida lunar; a
suspensão do eu no tempo reflexivo que busca: ou uma clarabóia nos túneis
enganosos do mundo demiúrgico material ou, por outro lado, fugir à crença acrítica em
falsos ídolos anestesiantes do intelecto. Seja qual for a modalidade prevalecente, a
experiência religiosa gnóstica do tempo jamais será um caminho simples e previsível,
pois nela tudo se perde quando se julga ter sido tudo ganho - numa analogia que
podemos encontrar mimetizada estética, ritual e psicoterapeuticamente nas tibetanas
mandalas de areia, que, por mais maravilhosas e complexas, se desfazem com um
sopro. A travessia desse caminho virtual não termina na morte física, já que os
condicionalismos de cada vida - sujeitos que estão à temporalidade externa -
dificilmente terão meios amplos e aptos a esgotar os requisitos transumanos do périplo
transmigrante; esse cosmodrama no qual vamos sucessivamente vestindo novos
figurinos psicofísicos. Numa das suas mais recentes leituras da poética pessoana
(Tempo e Melancolia em Fernando Pessoa, 1997), Eduardo Lourenço analisa esta
imortalidade atemporal, neoplatónica e gnóstica, tendo em mente os poemas
9
iniciáticos ortónimos.
«Por ser naturalmente "divina", a alma é naturalmente imortal, isto é, fora do tempo.
Tempo e espaço são as formas originais da queda da alma no corpo. São o próprio
corpo, incapaz de se pensar como alma, como manifestação primordial da unidade,
única realidade, mesmo que não possamos pensá-la senão na ordem da pura
ausência.» 14
Dir-se-ia que este Deus funciona na vida e obra pessoanas como o fantasma do pai de
Hamlet, introduzindo um dilacerado dramatismo no tempo vital que percorre.
Enquanto Hamlet hesita febrilmente até cumprir o pedido do pai, e ao matar por fim o
tio morrerá junto com ele, assim também Pessoa se vê compelido por um rei
10
desconhecido a aniquilar a vida em si, para num serviço sacrificial se oferecer na obra
alquímica do verbo à humanidade vindoura (num processo que nos permitiu identificar
um psicomítico complexo de Inês; isto é, a pulsão de reinar depois de morrer, tão
comum entre criadores, incompreendidos ou silenciados no seu tempo de vida 17).
Mas esse oculto rei de que falam os versos de Pessoa não tem ascendência familiar ou
dinástica sobre a esfera dos mortais, pois nele vemos a personificação do Deus
gnóstico, que remete o sujeito para o que nele perdura para além das fronteiras do
tempo existencial do indivíduo. A criação artística ou a acção virtuosa desenrolam-se
sob o regime de uma outra lei que não a da natureza biológica, um tempo outro que
não o da vida orgânica; um conselho profundo que Pessoa dirige a todos nós diz isto de
forma inigualável, e avistamos nessa sentença o farol de sentido que alumiou o
caminho do poeta.
«Tu és tudo o que a vida não é; o que de bom e de belo se souber deixar e não existe.»
18
Mas como aceitar que o bom e o belo não existem se podem ser marcas que
permanecem, deixadas pela nossa passagem através da vida? Afigura-se-nos uma
resposta: porque este não existir deve compreender-se como concernente àquele tipo
de realidades que se evadem à tirania do tempo, colocando o sujeito humano em
contacto com experiências evanescentes que não pertencem intrinsecamente à «Cruz
Morta do Mundo». 19 A qualificação ontológica deste não existir em concretude surge
frequentemente em textos pessoanos; e já que falávamos do rei metafórico de que ele
se diz enviado, é oportuno ora referir um dos mais famosos, e citados, sonetos seus -
musicado por Milton Nascimento -, o XIII do ciclo Passos da Cruz, que assim principia:
As altas tradições da letra do poema integram a gnose pois incluem as crenças órfico-
pitagóricas na metempsicose, reformulada por Platão e tornada lugar-comum por
teósofos lidos e traduzidos por Pessoa. Na simbólica viagem do espírito entre os
mundos, momentos há de lembrança emotiva, de saudade gnosticamente percebida,
que aproximam esse eu primevo de um tempo ancestral que é em si a negação do
tempo, ou a suspensão dele. Podemos lê-lo num fragmento incluído no Livro do
Desassossego.
«O que nos faz livres é o conhecimento de quem fomos, [e] no que nos tornámos; onde
estávamos, [e] naquilo em que fomos atirados; para onde velozmente vamos, [e] de
onde nós somos redimidos; o que é o nascimento e o renascimento.» 23
Mas esse saber revolutivo, dada a sua eclosão no sujeito ser de ordem não empírica,
isto é, não fenoménica, presta-se à dúvida mais inquietante; convicção que flutua ao
sabor dos estados de alma e da disposição da psique individual. Tratando-se de um
peculiar caso de poeta-filósofo como Pessoa o é, o tempo existencial e psicológico
introduzirá as tensões e os antagonismos no modo de aceitar a possibilidade em
descortinar algo do mistério do mundo - mesmo se o sujeito poético heteronímico
insista no embuste de não haver mistério do mundo nenhum.
Num texto redigido em inglês, teria Pessoa os seus vinte e dois anos, cujas palavras
iniciais já aqui inserimos no tocante à auto-interpretação feita da aliança dialéctica
entre poesia e filosofia, podemos ler uma magnífica declaração do sentido gnóstico da
sua poesia; prosa autopsicográfica na qual se articulam, em harmonia inesperada
neste indisciplinador de almas, vários nexos teóricos que vivamente corroboram o
nosso discurso, como sejam: a captação da beleza do mundo no tempo momentâneo
que deflagra a criação poética; a explicação da poesia como o testemunho atónito de
alguém que experimentou uma queda abrupta na realidade terrena; e o desejo de
conservar a recordação de um outro mundo, pela reminiscência platónica, que é
12
«I was a poet animated by philosophy, not a philosopher with poetic faculties. I loved
to admire the beauty of things, to trace in the imperceptible through the minute the
poetic soul of the universe.
For poetry is astonishment, admiration, as of a being fallen from the skies taking full
consciousness of his fall, astonished about things. As of one who knew things in their
souls, striving to remember this knowledge, remembering that it was not thus he knew
them, not under these forms and these conditions, but remembering nothing more.»
24
De nada mais se recorda o poeta, embora saiba que, desse lugar exterior ao nosso
cósmico tempo, é a poesia o receptáculo de um conhecimento quase oracular - tal nos
diz ele, no soneto parcialmente citado, acerca das «bruscas frases» que a seus «lábios
vêm» e lhe soam a «um outro e anómalo sentido». 25 Como o comentávamos antes,
de modo algum o optimismo gnoseológico de Pessoa se confessa assim
invariavelmente confiante nos conteúdos achados pelo espírito ou despertados por
epifanias sensoriais. O gnosticismo pessoano é dilacerante e atormentado, mas
iluminante até à cegueira, amplificador até ao silêncio; predicados afinal de toda a
genuína gnose - do dualismo mais radical ao gradativo -, interpretada como
consciencialização aguda da nossa fissão ontológica, do exílio em que estamos face ao
lugar abissal de onde outrora proveio a essência de nós mesmos. Pessoa enuncia-o
com a sua habitual lucidez de um redactor de epitáfios.
O sono é topos omnipresente da palavra pessoana, que com ele se debate e é também
no sono, dissémo-lo, que incide uma das caracterizações que os textos gnósticos
apontam para a imperfeição do nosso estado; o espírito subsiste alienado numa
duração vital soporífera de forma a não conseguir alcançar a verdade de si próprio. O
narrador da desassossegada prosa expressa-o em frase desgarrada e frustre:
Não obstante ser esta uma versão da queda do Antropos primordial que originou o
13
Antes de regressarmos a Pessoa, vejamos ainda como Harold Bloom analisa esta
questão no seu Omens of Millennium - The Gnosis of Angels, Dreams and Resurrection,
ao sopesar a ambivalência com que a visão hermética do humano no tempo se
desdobra; se bem que a experiência da encarnação terrena esteja subordinada à
premonição da morte que o sono simboliza e à incompletude exposta no dimorfismo
sexual, para a gnose hermética a nossa essência persiste inalterada para além do
tempo, vigilante, andrógina e inquilina da eternidade.
Fascinado pela cosmovisão pagã, não raro afirmando que Cristo é simplesmente o
deus que faltava no panteão, Pessoa reflecte na sua obra os propósitos e a tenacidade
do filósofo hermético, embora tal máscara não se ajuste inteiramente ao seu rosto
aturdido pela percepção do nada absoluto e da mentira universal como verdade do
mundo sem mistério dentro. Mesmo assim, a alquimia operada na criação poética - tal
como o veria Artaud em relação à criação teatral -, que casa o animus e a anima do
14
«L'homme n'était pas destiné à être ce qu'il est: il n'est devenu tel que par la Chute.
Retrouver la Parole c'est retrouver la vraie Loi Humaine, l'Adam primitif et androgyne,
fait ainsi à l'image de Elohim. Faire en soi même le mariage des deux principes - c'est
là la Loi Humaine retrouvée, la vraie création de la pierre philosophale.» 30
emoldurada não é disfórico, mas ironicamente prazeroso - pois pensar é estar doente
dos olhos - não se quebrando essa concórdia ilusória com a entrada em cena de um
travesso Jesus-menino, patrono herético no altar íntimo do poeta-pastor.
«a ideia de ser criança é muito cara ao poeta. Por um lado liga-se ao único tempo em
que terá sido feliz, por outro lado liga-se à ideia que ele tem de que na criança não se
põe o problema de uma sexualidade definida e assumida, de que na criança não existe
o desejo. Nos poemas juvenis de Alexander Search podemos já encontrar o seu horror
do sexo e a conotação do sexo com o mal. Em Regret, imagina-se criança junto
doutras crianças, sem ter sexo, sem sentir amor.» 32
«Quando vim primeiro para Lisboa, havia, no andar lá de cima de onde morávamos,
um som de piano tocado em escalas, aprendizagem monótona da menina que nunca
vi. Descubro hoje que, por processos de infiltração que desconheço, tenho ainda nas
caves da alma, audíveis se abrem a porta lá de baixo, as escalas repetidas, tecladas,
da menina hoje senhora outra, ou morta e fechada num lugar branco onde verdejam
negros os ciprestes.
(...)
Não choro a perda da minha infância; choro que tudo, e nele a ( minha ) infância, se
perca. É a fuga abstracta do tempo, não a fuga concreta do tempo que é meu, que me
dói no cérebro físico pela recorrência repetida, involuntária, das escalas do piano lá de
cima, terrivelmente anónimo e longínquo. É todo o mistério de que nada dura que
martela repetidamente coisas que não chegam a ser música, mas são saudade, no
fundo absurdo da minha recordação.» 34
Esta saudade dirigida para um pretérito infantil subjectivo povoa densamente a obra
pessoana - paralelamente a essa outra (meta)saudade gnóstica pelo Cais Absoluto e
arquetípico, expresso na Ode Marítima, de onde o ser partiu antes desta irreal
navegação pela temporalidade. A insistência com que o sujeito poético evoca o som do
sino antigo da sua aldeia urbana ou o tempo em que festejavam o dia dos seus anos,
transfigura esta saudade impossível de confortar, a não ser pelo testemunho artístico
que finge a verdade que a motiva. Há nela uma intensidade e dor inapeláveis diante
do vazio do seu presente que é um fruto letal da sua consciente lucidez. Há nela uma
intensidade e dor inapeláveis diante do vazio do seu presente que é um fruto letal da
sua consciente lucidez. Como o analisou com argúcia antes de muitos Natália Correia
(em ensaio de 1957: Poesia de Arte e Realismo Poético), o horizonte da poesia
pessoana é o da liberadora chama gnóstica, em que «o lume subversivo que o poeta
trazia na ponta da espada» quebra as categorias ilusórias do real convencionado (real
este que se compraz em ver-se traduzido esteticamente na modalidade menor que a
autora designa por poesia de arte), para se dirigir ao domínio arquetípico do imaginário
activo/alquímico (ou seja, a esfera de onde brotará um genuíno realismo poético,
segundo Natália).
estigmatiza a higiene dos prosélitos da poesia de arte não é uma derrota psicológica. É
uma conquista que lhe permite sair das categorias do imediato para lançar uma ponte
entre o real e o imaginário.» 35
«Não sei o que é o tempo. Não sei qual a verdadeira medida que ele tem, se tem
alguma. A do relógio sei que é falsa: divide o tempo espacialmente, por fora. A das
emoções sei também que é falsa: divide, não o tempo, mas a sensação dele. A dos
sonhos é errada; neles roçamos o tempo, uma vez prolongadamente, outra vez
depressa, e o que vivemos é apressado ou lento conforme qualquer coisa do decorrer
cuja natureza ignoro.
Julgo, às vezes, que tudo é falso, e que o tempo não é mais do que uma moldura para
enquadrar o que lhe é estranho. (...)
Que coisa, porém, é esta que nos mede sem medida e nos mata sem ser? E é nestes
momentos, em que nem sei se o tempo existe, que o sinto como uma pessoa, e tenho
vontade de dormir.» 37
Num outro apontamento solto, vindo a público mais recentemente, o poeta cogitador
pergunta-se acerca do que é o tempo, depois de lhe identificar três dimensões: a
duração, a direcção e a mudança. Esta última parece ser a dimensão que mais lhe
interessa, quando aplica o princípio da identidade para afirmar que as coisas
existentes diferem de si mesmas em virtude do regime imposto pelo tempo - anotação
bilingue anglo-lusa de que citamos um excerto originalmente escrito em inglês:
«Será o tempo coexistência? Então, enquanto uma coisa dura coexiste consigo
própria? Mas porque não há dois coexistentes iguais, um coexistente não é igual a si
18
«É difícil, evidentemente, compreender o que significa União com Deus, mas é possível
dar alguma ideia do sentido que tal é suposto ter. Mas assumamos (pondo de lado a
falsidade de usar um termo verbal, isto é, algo que implica tempo), assumamos que,
qualquer que tenha sido a maneira como Deus criou o mundo, a substância dessa
criação foi a conversão por Deus da sua própria consciência nas consciências plurais
dos seres separados. O grande grito da Divindade Indiana 'Oh, que eu seja muitos!' dá
a ideia sem a ideia de realidade. (...)
São, assim, bem mais comuns, na escrita pessoana, os sinais das cinzas resultantes
desses fogos alucinatórios. Reconhecemos os traços de um pensamento de desespero
vivido em estóica soberania, quando Pessoa identifica a vida com o fogo e não com a
luz, e por isso a temporalidade da existência aparecer como uma eternidade de
incerteza enquanto dura, um tempo presidido pelo nada e pela desrazão. São três
frases únicas, redigidas em inglês, incluídas na compilação dos seus Textos Filosóficos:
O ensaísta retirou estes versos do primeiro de um ciclo de três sonetos cujo título e
epígrafe nos transporta para átrios esotéricos: No Túmulo de Christian Rosencreutz
(1935). Em poesia Pessoa aí evoca a condição de um Deus enfraquecido que nos terá
criado, mas a quem o Abismo metafísico veda a obtenção da verdade; e embora seja o
mundo o corpo de tal Deus menorizado, como corpo que é, não possui conhecimento
de si. Esse Deus, chamado por Pessoa Adão Supremo, é por sua vez Homem para outro
Deus superior a Ele, instaurando um jogo de mise-en-abîme genesíaco, que nos
distancia irreparavelmente da fonte original do Ser. A consciência gnóstico consiste
antes de mais no reconhecimento de uma ausência e de uma distância, que dinamiza
o viajante espírito humano a sondar avidamente, num labirinto de Morfeu, a sua
autêntica origem. Essa distância é agravada pelo decurso do tempo existencial e
cósmico. Pela simbologia mitológica, Cronos, personificação do tempo, figura a
dilatação desse exílio, na medida em que é aquele que devora sem cessar os seus
próprios filhos; num dos seus escritos hierológicos, Pessoa identifica mesmo
Cronos/Saturno com o Diabo e a limitação, isto é, com o mal, e portanto com o que nos
21
Mas a salvação gnóstica, por não depender da adopção de dogmas rígidos, nem
convencionais nem tranquilizantes, é uma doutrina elitista que faz recair o porvir do
sujeito sobre o caminho que este mesmo abrir na fracção cronológica de cada vida, de
acordo com o que o seu olhar interior nela descobre de irrisório e deficitário. Herança
do pugilato agónico dos gregos, que a igualitarização cristã adoça e atenua, é a feição
aristocrática da gnóstica heresia que vinca estas palavras heróicas de Pessoa.
«Para ser imortal a alma tem que fazer degrau do corpo, (cada qual tem de fazer de si
próprio, degrau para uma maior altura em si mesmo). (...)
Não são imortais todos os homens. A imortalidade tem a sua aristocracia. Ser homem
não traz ser imortal: Torna possível sê-lo. Mas para ser imortal é preciso viver entregue
ao que tenha em si a imortalidade. (...)
Ser mortal é pertencer à vida, que é das coisas que mudam; ao espaço que é de seres
que se transformam; ao tempo, que é de momentos que passam. Para ser imortal
pertencer a onde não haja vidas, nem tempo, nem espaços. Para ser imortal é preciso
pertencer a mais do que a vida.
Forçoso é reconhecer, que a despeito das máscaras atrás das quais se fingiu ocultar -
melhor será dizer graças a elas -, Fernando Pessoa foi inteiramente coerente com
estas normas de orientação existencial, endereçadas tanto a si como a outros que as
compreenderem, ao fazer da sua vida degrau para um além da sua individualidade
mortal, constituindo a sua obra a marca legível de uma infinitude ambicionada.
Na estrutura dispersa mas vertebrada dessa mesma obra, cuja complexa riqueza não
cessa de espantar-nos, Pessoa exibe um importante carácter gnóstico que
designaremos por condição teatral ou dramatúrgica do humano. Já aqui sublinhámos
que a hierologia gnóstica, isto é, a filosofia que se prende com esta rebelde e
individualista religiosidade, baseia-se na crença em uma entidade espiritual que reside
no mais íntimo reduto de nós próprios; no entanto, esse deus interior, submetido à
punição do ciclo das encarnações, é peregrino sob diferentes trajes físicos, conforme a
individuação humana que lhe couber por sorte na cósmica lotaria. A nossa condição
pessoal é mesmo a de sermos máscaras, e, de acordo com os versos de Campos, a de
termos a máscara colada à cara do espírito. Aquilo que nos faz reconhecer conscientes
de nós mesmos em cada uma das jornadas do existir é essa máscara corporal,
psicofísica, enganosa mas auto-identificadora do tempo de uma vida. Soaria portanto
bem profunda para Pessoa a concepção shakespeareana da vida como palco, ocupado
22
por humanos actores que, por sua vez segundo a gnose, são as personagens efémeras
das divinas centelhas em trânsito pela cena terrestre. O drama-em-gente desenrolar-
se-á por isso sobre uma visão gnóstica do tempo da acção. Esse tempo é o da sua
própria vida divisível, já que Pessoa, ao invés de inventar personagens exteriores e
neutralizadas em relação a si - como é típico do dramaturgo -, transforma-se nelas,
numa espécie de possessão com algo de xamânico; tentando, no jogo supremo dos
paradoxos, desmascarar o eu oculto mascarando-se metodicamente. Encenador da sua
multidão privada, é como se Pessoa justificasse, a partir dela, a espantosa doutrina
que diz ter cada ser humano uma pluralidade heterogénea de almas, de faúlhas várias
do fogo de Deus derramado no início dos tempos; tese defendida por Isaac Luria, judeu
gnóstico do Renascimento, nomeado no título de um dos poemas iniciáticos de Pessoa.
46
«Todo este mundo quotidiano e visível, toda esta gente que boia à superfície da vida,
todas estas coisas que constituem os nomes e os feitos da história não são mais que
erro e ilusão. Somos todos, não agentes, senão agidos-títeres de maiores que nós.
Todo o nosso orgulho de conscientes e a nossa soberba de racionais são o títere que se
orgulha de seus gestos. Na verdade o combate é aqui, mas não é nosso; não é
connosco, somos nós. Não somos actores de um drama: somos o próprio drama - a
antestreia, os gestos, os cenários. Nada se passa connosco: nós é que somos o que se
passa.» 46
Pessoa recorre em vários textos seus à alegoria cenológica, por vezes colorida em tons
sinistros, para exprimir esta convicção de uma efectiva ausência de liberdade no
arbítrio humano; convicção que, ao incluí-la, vai muito para além da metáfora teatral
hegeliana que entende a acção de cada ser humano como expressão inconsciente dos
ditames do espírito absoluto, ou seja, Deus, que no indivíduo se realiza e manifesta
objectivamente.
A nova Lei traduz-se na revelação trazida por Cristo; já que segundo a interpretação
gnóstica em geral, Cristo é emissário do Deus verdadeiro e não do Javé
veterotestamentário, que é tão-só um disfarce do demiurgo. Sendo Cristo um espírito
liberador enviado aos humanos pelo rival superior ao demiurgo, este tratará de vingar-
se nele, fazendo com que crucifiquem o seu invólucro físico, pois não possui poder de
aniquilá-lo para além das vestes carnais; vestes estas que são, aliás, ilusórias para as
correntes de interpretação gnóstica defensoras do docetismo, ou seja, que separam e
independentizam a individualidade humana e corpórea de Jesus, relativamente à
entidade espiritual que «é Cristo, e não pertence a este mundo senão como Deus, que
o criou, e é substância dele, lhe pertence.» Pessoa, ao comentar este espiritualismo
dualista, refere-se-lhe a partir de um entendimento esotérico do tempo da história
humana - movida por determinismos ocultos de implacavéis condutores-arcontes -,
pois se bem que «sendo justa a interpretação dos hierólogos radicais» gnósticos, seria
ela um dos motivos exteriores para que a sua mensagem revolucionária fosse
violentamente expulsa do palco histórico em que surge.
«Os Gnósticos, que eram ocultistas, ou pelo menos místicos superiores, assim viram,
mas separaram as duas naturezas, adorando só a divina, que lhe era necessariamente
superior, e não a humana, que, quando muito, só em grau, que não em género, o
poderia ser. Mas os Gnósticos foram condenados por hereges, e como hereges
repulsos, e extintos, pelo menos aparentemente. Não foi porém a Igreja que os
extinguiu assim, senão o Destino que fez a Igreja poder assim extingui-los. A ideia que
apresentavam vinha fora do seu tempo, nem poderia servir aos fins dos Condutores do
mundo, embora estes soubessem bem que era mais verdadeira que a que iria ser
espalhada e desenvolvida entre as nações pela Igreja Católica.» 49
«Pessoa é um místico que quer crer, mas descrê por tentação e por princípio. "Crer é
morrer; pensar é duvidar" afirma. O espírito religioso que é leva-o a crer mas o
pensador põe tudo em dúvida.» 50
Por isto, igualmente, o facto de Pessoa se reencontrar no gnosticismo, pela fusão que
este labora entre crer e inteligir, com o fito de se guindar a uma via espiritual outra
situada para além de ambas essas funções da psique.
Quanto à imagem do tempo, ela somente ganha uma positividade se for tomada como
a simulação que pressupõe graus analógicos, apontando para a afirmação gnóstica de
um Deus ausente, denominado por Pessoa, nesta significativa passagem, de Deus
imanifesto.
«Espaço e tempo são dois atributos ou manifestações do Infinito, que o simulam sem o
ser. Parecem-nos infinitos (...) - são, porém, somente indefinidos. (...)
Este Infinito é, porém, só Deus Imanifesto - não manifesto como Mundos senão
manifesto como Deus. Para além, supremo deveras, está o Deus Imanifesto - a
ausência até de Infinito. » 51
Cristo é para Pessoa o laço entre o mundo e esse Deus longínquo, despertando o seu
contacto, nos humanos receptores da sua mensagem, o desejo de as suas centelhas
de luz a Ele regressarem, «o desejo de Liberdade» 52 e de fuga ao império do tempo,
do fado, do destino.
25
É desarmante a simplicidade com que nos fala disto o poema, chamado com concisão,
Liberdade, que tantos de nós conhecem de cor. No seu último ano de vida, o Pessoa
ortónimo concilia nele o despojamento iniciático com uma gnose cristã límpida,
surpreendente na sua luminosidade ingénua, rebelde e compassiva.
O Dogma, pelo qual ele está preso aos outros; a Ciência, pela qual ele está preso à
Natureza; a Filosofia, pela qual ele está preso aos intelectos dos outros; a sua própria
filosofia, pela qual está preso a si próprio. Porque o Mundo é tudo isto.» 53
«Não se pode porém ser um iniciado, nas formas e maneiras deste mundo sem ser um
grande artista, nem ter o comando da inspiração [ou intuição], sem que primeiro se o
obtenha da palavra e do raciocínio.
Mais pesa na balança da Alma [ou da Gnose] o verdadeiro poeta que pensa o que não
sabe, que aquele falso iniciado que sabe o que não pensou.» 54
Na imensa herança que nos legou do tempo de vida sublimado em obra, Pessoa
reitera-nos sempre que a mais alta forma de música não reside na exclusividade da
filosofia, ao contrário do que supusera o Sócrates platónico antes do último dia da sua
vida narrado no Fédon. A música do pensamento está sim no cântico do verbo, mas só
quando a demanda do belo artístico se reune com a busca gnóstica da sabedoria;
pelas palavras de Álvaro de Campos, diríamos que um tal fruto se obtém das núpcias
entre o binómio de Newton e a Vénus de Milo. De qualquer modo, para o Pessoa
pitagórico, a música do verbo consistirá no meio mais eficaz de aplacar o tempo,
emancipando-nos, por momentos breves inspirados, do seu jugo tirânico sobre o ser
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NOTAS
2 CENTENO, Yvette K., O Pensamento Esotérico de Fernando Pessoa, Lisboa, & etc,
1990, p. 13.
4 PESSOA, Fernando, Poemas de, vol. I, 1934-35, edição crítica de Luís Prista, Lisboa,
Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 2000, p. 63.
5 in SENA, Jorge de, Fernando Pessoa & Cª Heterónima, Lisboa, Edições 70, 1984, p.
161.
10 PESSOA, Fernando, Obra Poética, Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 1981, p. 73.
Cosmos, 2000.
15 CENTENO, Yvette, K., O Pensamento Esotérico de Fernando Pessoa, op. cit., p. 29.
18 PESSOA, Fernando, Obras em Prosa, vol. IV, Textos Filosóficos, op. cit., p. 115.
22 PAGELS, Elaine, Os Evangelhos Gnósticos, trad. de Luís Torres Fontes, Porto, Via
Optima, 1999, p. 18.
23 «What makes us free is the knowledge who we were, what we have become; where
we were, wherein we have been thrown; whereto we speed, wherefrom we are
redeemed; what is birth and what rebirth.» VALENTINO, cit por, JONAS, Hans, The
Gnostic Religion - The Message of the Alien God and the Beginnings of Christianity,
Londres, 2ª edição, Routledge, 1992, p. 334.
24 «Eu era um poeta animado pela filosofia, não um filósofo com faculdades poéticas.
Eu gostava de admirar a beleza das coisas, rastrear no imperceptível do minuto que
passa a alma poética do universo.
Porque a poesia é espanto, admiração, como de um ser caído dos céus, tomando plena
consciência da sua queda, atónito com as coisas. Como alguém que conhecesse as
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coisas nas suas almas, debatendo-se para recordar este conhecimento, lembrando-se
de que não fora assim que as conhecera, nem sob estas formas nem nestas condições,
mas de nada mais se lembrando.» [tradução nossa] PESSOA, Fernando, Obra em Prosa
- Escritos Íntimos, Cartas e Páginas Autobiográficas, op. cit., p. 23.
Repare-se como este texto, com a data presumível de 1910 conforme atribuição de
António Quadros, faz perceber que os estádios nos quais este comentador pessoano
dividiu o percurso intelectual do autor só ganham sentido efectivo enquanto focos de
aproximação metodológica à obra labiríntica do poeta, mas não parecem deter
definição periodológica estritamente sequencial, pois rapidamente esta seria
contrariada pela evidência despistante das datações textuais. Com efeito, o assim
chamado estádio gnóstico pessoano não se acomoda a um culminar cronobiográfico de
síntese dialéctica, depois de um estádio filosófico tético e de um estádio neo-pagão
antitético, visto que Pessoa escreve desde cedo - como é o exemplo desta precoce
introspecção - de uma perspectiva manifestamente gnóstica; por muitos lugares
teóricos que percorra entretanto, ele próprio disse não se reconhecer no evoluir, mas
sim no viajar. Melhor que ninguém, Pessoa mostrou-nos que a gnose brota de um olhar
inato interior que se aprofunda, e não é um mero produto dos circunstancialismos de
assimilação cognitiva; o sujeito busca no tempo de vida as fontes que o saciem, e não
são as fontes que despertam, por si só, a sede subjectiva dessa procura.
29 « Schooled as we are by Jewish and Christian accounts of this event, or by the angry
Gnostic inversions of those accounts, we are likely at first to be lulled by the equable
tone of this Hermetist version. Its affect is subtle and nostalgic, and also
preternaturally quiet, even though it describes catastrophe rather than a fortunate Fall.
To be drugged by the embrace of nature into what we call most natural in us, our
sleepiness and our sexual desires, is at once a pleasant and an unhappy fate, since
what remains immmortal in us is both androgynous and sleepless. The Pagan
Gnosticism of the Hermetists is far gentler and more resigned concerning this paradox
than anything to be encountered in Jewish or Christian Gnosticism.» BLOOM, Harold,
Omens of Millennium - The Gnosis of Angels, Dreams, and Resurrection, op. cit., pp.
180-181.
30 «O homem não estava destinado a ser aquilo que é: ele só veio a tornar-se assim
pela Queda. Reencontrar a Palavra é reencontrar a verdadeira Lei Humana, o Adão
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31 CAMPOS, Álvaro de, Livro de Versos, edição crítica de Teresa Rita Lopes, 2ª edição,
Lisboa, Estampa, 1994, p. 165.
38 «Is time coexistence? Then a thing while lasts coexists with itself? But since no two
coexistents are equal, a coexistent is not equal to itself if it coexists with itself; hence
change.» PESSOA, Fernando, Pessoa Inédito, edição coordenada por Teresa Rita Lopes,
Lisboa, Horizonte, 1993, (trecho nº 262 traduzido por A. M. Nunes dos Santos), p. 415.
41 A temática da união mística com Deus, avançada neste trecho, bem como as
referências à mitologia hindu e a uma orientalizante inconsciência universal são ecos
prováveis do convívio textual de Pessoa com Helena Blavatsky, teósofa de quem o
poeta traduziria: Luz sobre o Caminho, Karma e A Voz do Silêncio (cfr. ANES, José
Manuel, Fernando Pessoa e a Teosofia, prefácio a BLAVATSKY, Helena, A Voz do
Silêncio, tradução e notas de Fernando Pessoa, Lisboa, Assírio & Alvim, 1998, p. 9).
42 JUNG, Carl Gustav, Aion. Estudos sobre o Simbolismo do Si-Mesmo, trad. de Dom
Mateus Ramalho Rocha, Petrópolis, Vozes, 5ª edição, 1998, p. 141.
45 PESSOA, Fernando, Moral, Regras de Vida, Condições de Iniciação, op. cit., p. 103.
49 PESSOA, Fernando, Rosea Cruz, edição de Pedro Teixeira da Mota, Lisboa, Edições
Manuel Lencastre, 1989, p. 238.
53 ibidem.
http://www.triplov.com/coloquio_4/armando.html