Documente Academic
Documente Profesional
Documente Cultură
Ferreira
Matemática Aplicada
2002–2–19 22:50
Capı́tulo 3
O conceito de sinal
57
Paulo J. S. G. Ferreira
Matemática Aplicada
2002–2–19 22:50
0.15
0.1
0.05
amplitude
-0.05
-0.1
-0.15
-0.2
-0.25
0 200 400 600 800 1000
tempo
{. . . , f−2 , f−1 , f0 , f1 , f2 , . . .}
58
Paulo J. S. G. Ferreira
Matemática Aplicada
2002–2–19 22:50
0.15
0.1
0.05
amplitude
0
-0.05
-0.1
-0.15
-0.2
0 200 400 600 800 1000
tempo
amostragem. Ao recı́proco de T ,
1
fa = ,
T
chama-se frequência de amostragem, cadência de amostragem ou ainda taxa
de amostragem. Se T for expresso em segundos, fa vem em Hertz (Hz).
Também é costume utilizar a grandeza
2π
ωa = 2πfa = ,
T
a que nos referiremos também como frequência de amostragem, e que se
exprime em radianos por segundo (rad/s).
Os sinais digitais têm grande importância prática, uma vez que qualquer
operação que se pretenda realizar utilizando computador sobre um dado si-
nal analógico só é possı́vel após a sua conversão num conjunto de números,
isto é, num sinal digital. Lembremo-nos que os computadores operam sobre
representações binárias finitas, (números, num certo sentido), e não sobre
funções. Por isso, para que o computador possa ser usado, é necessário re-
duzir a função (ou sinal) sobre o qual se quer operar a uma sequência de
números. É este o propósito do processo de digitalização, que descreveremos
de modo mais detalhado posteriormente.
59
Paulo J. S. G. Ferreira
Matemática Aplicada
2002–2–19 22:50
0.15
0.1
0.05
amplitude
0
-0.05
-0.1
-0.15
-0.2
0 200 400 600 800 1000
tempo
Figura 3.4: Uma outra representação do sinal digital referido na figura 3.2.
Assim, o conjunto
{. . . , f−2 , f−1 , f0 , f1 , f2 , . . .} (3.1)
bastará para representar um sinal digital.
É frequente dizer-se que os sinais digitais são representáveis por funções
de variável discreta, e não por funções de variável contı́nua. O significado
desta afirmação é claro, uma vez que um sinal digital fica definido por uma
função
k ∈ −→ x(k).
De todas estas interpretações resultam diversos costumes de escrita para o
valor de um sinal digital em determinado ponto k do domı́nio. Assim, pode
usar-se
60
Paulo J. S. G. Ferreira
Matemática Aplicada
2002–2–19 22:50
É útil, mesmo assim, falar de tais sinais como vectores de dimensão infinita,
pelas possibilidades de interpretação geométrica que daı́ advêm.
Para referência a um sinal digital da classe definida por (3.1), pode
empregar-se a notação f ou f . As coordenadas do vector f ou f serão sim-
plesmente as amostras do sinal digital, fi ou f (i).
3.3.1 Amostragem
O efeito da amostragem é reduzir o sinal f a um conjunto de valores
C = {f (0), f (±T ), f (±2T ), f (±3T ), . . .},
que se designa por conjunto de amostras de f , e que é constituı́do pelos
valores que f assume nos instantes de amostragem. Neste caso, estamos
a considerar amostragem uniforme, isto é, os instantes de amostragem são
t = kT (k ∈ ).
Note-se que o conjunto C terá de ter um cardinal finito, para efeitos de
processamento digital. No entanto, é muitas vezes útil, do ponto de vista
teórico, assumir que C é infinito.
3.3.2 Arredondamento
A segunda operação necessária para a obtenção de um sinal digital é a
operação de arredondamento. Por meio desta, cada um dos números f (kT )
é arredondado de modo a ser representável com um número de dı́gitos finito.
Se o número de dı́gitos da representação de um número é finito numa
base b (b inteiro), então esse número é ainda finito em qualquer outra base
b0 de inteiros. A base utilizada para representar quantidades numéricas nos
computadores modernos é a base dois, razão pela qual esta base tem uma
importância especial. Se no sistema decimal (em base dez, portanto) se parte
de uma representação do tipo
+m
X
x= αk 10k
k=−n
61
Paulo J. S. G. Ferreira
Matemática Aplicada
2002–2–19 22:50
0.15
0.1
0.05
amplitude
0
-0.05
-0.1
-0.15
-0.2
0 200 400 600 800 1000
tempo
Figura 3.5: Resultado da conversão do sinal digital das figuras 3.3 e 3.4 em
sinal analógico usando um sample and hold.
onde os αk são inteiros entre zero e nove, no sistema binário (em base dois)
a representação é
+m0
X
x= βk 2k
k=−n0
62
Paulo J. S. G. Ferreira
Matemática Aplicada
2002–2–19 22:50
g(k)
f (t) A/D D/A h(t)
Figura 3.6: O sinal analógico f é convertido num sinal digital g, o qual é por
sua vez convertido num sinal analógico h.
g(t) = f (kT ),
63
Paulo J. S. G. Ferreira
Matemática Aplicada
2002–2–19 22:50
Os espaços `1 (I) e `2 (I) merecem um destaque especial pelo papel que de-
sempenham. Chamaremos aos sinais de `2 (I) sinais digitais de energia finita.
Quando I = omite-se I da notação e escreve-se `1 ou `2 em vez de `1 ( )
ou `2 ( ), por exemplo.
Existem equivalentes para sinais analógicos para todos estes espaços de
sinais digitais. Começamos por mencionar o espaço vectorial L p (I), que é
constituı́do por todos os sinais analógicos x, com valores reais ou complexos,
tais que Z
|x(t)|p < ∞.
t∈I
64
Paulo J. S. G. Ferreira
Matemática Aplicada
2002–2–19 22:50
Também neste caso o número p pode ser qualquer real igual ou superior à
unidade. O conjunto I pode ser constituı́do pelos reais do intervalo [a, b], mas
pode também coincidir com o conjunto dos reais não-negativos, ou mesmo
com .
65
Paulo J. S. G. Ferreira
Matemática Aplicada
2002–2–19 22:50
3.7 Notas 66
δi = ui − ui−1 .
Notas
• Os conceitos de sinal analógico e digital são fundamentais em teoria
de sistemas, controlo, processamento de sinal e muitas outras áreas.
Por isso mesmo são discutidos, em maior ou menor pormenor, em pra-
ticamente todos os livros de nı́vel elementar acerca desses assuntos.
Citamos, de entre muitas outras obras, Jackson (1991); Kuc (1988);
Oppenheim e Schafer (1975); Taylor (1994), ou, mais recentemente,
Denbigh (1998); Mitra (1998). Para mais informação ver o capı́tulo 17.7
“Bibliografia comentada”.
• Os sinais que matematicamente se podem descrever por funções de
variável real, e que neste livro designamos por “sinais analógicos”, são
também frequentemente designados por “sinais de tempo contı́nuo”,
e em livros escritos em lı́ngua inglesa por “continuous-time signals”,
por oposição a “sinais de tempo discreto”, “sinais amostrados”, ou
“discrete-time signals”. Estes últimos são os sinais que matematica-
mente se podem descrever por funções de variável inteira (discreta).
• Muitos autores distinguem entre “sinais amostrados” e “sinais digitali-
zados”, também chamados “sinais digitais”. Os primeiros são resultado
de um processo de amostragem aplicado a sinais analógicos, enquanto
que os segundos são resultado de amostragem e arredondamento. Por
exemplo, o sinal matematicamente descrito pela função real de variável
real f (t) = sin t, conduz, após amostragem a intervalos de um segundo,
ao sinal amostrado f (k) = sin k, com k ∈ . Cada um dos números
reais f (k) seria em seguida arredondado a b bits, e o resultado seria um
“sinal digital”.
66
Paulo J. S. G. Ferreira
Matemática Aplicada
2002–2–19 22:50
3.7 Problemas 67
Problemas
3.1 Considere um sinal analógico qualquer, matematicamente descrito por
uma função f : → contı́nua. Será possı́vel representar com erro
67
Paulo J. S. G. Ferreira
Matemática Aplicada
2002–2–19 22:50
3.7 Problemas 68
3.9 Explique qual o grupo G que se deve tomar para que o conjunto de
funções f com domı́nio G e valores reais
f : G −→
68
Paulo J. S. G. Ferreira
Matemática Aplicada
2002–2–19 22:50
Referências bibliográficas 69
3.10 Seja I um conjunto finito de inteiros. Prove que um sinal que pertença
a `p (I) pertence também a `q (I), para qualquer q ≥ 1.
3.11 Mostre que quando I tem cardinal infinito o resultado do problema 3.10
não se mantém, dando um exemplo de um sinal de `2 que não pertença
a `1 .
3.15 Seja f um sinal majorado por uma constante C (isto é, tal que |f (x)| <
C para qualquer x do domı́nio de f ). Será que f pertence a L p (I), para
qualquer p ≥ 1, quando I é um intervalo finito? Mudaria alguma coisa
na resposta se I fosse um intervalo infinito, como por exemplo [0, ∞)?
3.16 Prove que se um sinal pertence a Lp (I), com I finito, então pertence
também a Lq (I) para qualquer q < p.
Referências bibliográficas
P. Denbigh. System Analysis and Signal Processing with Emphasis on the
Use of Matlab. Addison-Wesley, Harlow, England, 1998.
69
Paulo J. S. G. Ferreira
Matemática Aplicada
2002–2–19 22:50
Referências bibliográficas 70
70